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Página 1 de 21 RVCC/NS – NG 1 – DIREITOS E DEVERES DR1- Liberdade e Responsabilidade Pessoal “Responsabilidade é saber que cada um dos meus actos me vai construindo, me vai definindo, me vai inventando. Ao escolher aquilo que quero vou-me transformando pouco a pouco. Todas as minhas decisões deixam a sua marca em mim antes de a deixarem no mundo que me rodeia.” Fernando Savater, Ética para um Jovem. D. Quixote Editora, Lisboa, 2005. SOBRE A RESPONSABILIDADE (…) E em bom rigor, definir o que é a Responsabilidade não deixa de ser uma tarefa de risco, sobretudo pelos diversos níveis a que se pode referir - falamos de responsável como traço de uma pessoa, como caraterística de uma ação; da responsabilidade como uma categoria legal, como dever associado a uma função ou papel, como valor ou princípio da ação, tanto em termos individuais como coletivos. Roque Cabral definiu-a como “a capacidade e a obrigação de responder ou prestar contas pelos seus atos e efeitos”. "Obrigação de responder pelas acções próprias, pelas dos outros ou pelas coisas confiadas" 1 . Todos nós temos muitos papéis - professores, estudantes, funcionários, pais e mães, filhos e filhas, irmãos, tios, sócios da coletividade do bairro, praticantes de algum desporto, cidadãos do país - e percebemos que temos responsabilidades de diferentes ordens, conforme os lugares, o tempo e as metamorfoses da nossa vida. Além dos cruzamentos das responsabilidades, alguns conflitos de responsabilidade agitam, por certo, a nossa existência. (…) Responsabilidade entre outras aceções é a capacidade de responder pelos seus atos – dizer eu sou responsável, sou a causa, fui o princípio de uma série causal . E se o responsável responde pelos seus atos, a verdade é que o ato, uma vez realizado, tem um conjunto de consequências que partem em feixe do ato, como se acendêssemos uma lanterna no escuro – o foco de luz na minha mão é bastante menor do que o círculo do cone luminoso lá ao fundo. Por vezes medimos mal até que ponto se encadeiam causas e efeitos - e desta medida advém uma gradação de responsabilidades; Algumas vezes, lá acontece que os efeitos contradizem a nossa intenção - costumamos chamar-lhe efeitos perversos. (…) Um responsável é-o sempre por alguma coisa ou por alguém. Mais, a “verdadeira responsabilidade não é senão a que se exerce a respeito de alguém ou alguma coisa frágil, que nos é confiada” 2 , dizia Ricoeur. Preciso que alguma coisa ou alguém me seja confiado para que eu possa ser tido por responsável; a ideia de “tomar a cargo” é absolutamente central: algo ou alguém posto à minha guarda, sob a minha

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RVCC/NS – NG 1 – DIREITOS E DEVERES

DR1- Liberdade e Responsabilidade Pessoal

“Responsabilidade é saber que cada um dos meus actos me vai construindo, me vai definindo, me vai inventando. Ao escolher aquilo que quero vou-me transformando pouco a pouco. Todas as minhas decisões deixam a sua marca em mim antes de a deixarem no mundo que me rodeia.”

Fernando Savater, Ética para um Jovem. D. Quixote Editora, Lisboa, 2005.

SOBRE A RESPONSABILIDADE

(…) E em bom rigor, definir o que é a Responsabilidade não deixa de ser uma tarefa de risco,

sobretudo pelos diversos níveis a que se pode referir - falamos de responsável como traço de uma pessoa,

como caraterística de uma ação; da responsabilidade como uma categoria legal, como dever associado a

uma função ou papel, como valor ou princípio da ação, tanto em termos individuais como coletivos.

Roque Cabral definiu-a como “a capacidade e a obrigação de

responder ou prestar contas pelos seus atos e efeitos”.

"Obrigação de responder pelas acções próprias, pelas dos outros

ou pelas coisas confiadas"1.

Todos nós temos muitos papéis - professores, estudantes,

funcionários, pais e mães, filhos e filhas, irmãos, tios, sócios da

coletividade do bairro, praticantes de algum desporto, cidadãos

do país - e percebemos que temos responsabilidades de

diferentes ordens, conforme os lugares, o tempo e as

metamorfoses da nossa vida. Além dos cruzamentos das

responsabilidades, alguns conflitos de responsabilidade agitam,

por certo, a nossa existência. (…)

Responsabilidade entre outras aceções é a capacidade de responder pelos seus atos – dizer eu sou

responsável, sou a causa, fui o princípio de uma série causal. E se o responsável responde pelos seus atos,

a verdade é que o ato, uma vez realizado, tem um conjunto de consequências que partem em feixe do ato,

como se acendêssemos uma lanterna no escuro – o foco de luz na minha mão é bastante menor do que o

círculo do cone luminoso lá ao fundo.

Por vezes medimos mal até que ponto se encadeiam causas e efeitos - e desta medida advém uma

gradação de responsabilidades; Algumas vezes, lá acontece que os efeitos contradizem a nossa intenção -

costumamos chamar-lhe efeitos perversos. (…)

Um responsável é-o sempre por alguma coisa ou por alguém. Mais, a “verdadeira responsabilidade

não é senão a que se exerce a respeito de alguém ou alguma coisa frágil, que nos é confiada”2, dizia

Ricoeur.

Preciso que alguma coisa ou alguém me seja confiado para que eu possa ser tido por responsável; a

ideia de “tomar a cargo” é absolutamente central: algo ou alguém posto à minha guarda, sob a minha

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protecção. Neste sentido, é exemplar o modelo da responsabilidade parenteral em que o «encargo

confiado» se relaciona com a ideia de tomar conta, no caso de uma criança que se tem o encargo de

proteger, de ajudar a crescer, um ser frágil e em que a minha responsabilidade é de a conduzir à

maturidade (para que ela possa, um dia, tornar-se responsável e tomar a cargo alguém, que não ela). No

plano moral, “é pelo outro, que se é considerado responsável”.

A nossa responsabilidade ética de uns para com os outros aparece, por exemplo, na base da figura

jurídica do dever de auxílio (e do crime de omissão de auxílio) em que "o princípio legitimador que

consagra um dever de auxílio é o da solidariedade humana, face à vivência em comunidade ética"3. (…)

O conceito crucial que faz a passagem do assumir-se como causa a interiorizar como valor é a noção

do dever. Dito de outra forma, "fazer da responsabilidade um valor, é indicar deveres. Se sou responsável

por, devo fazer isto e não aquilo; mas devo agir; e, mais ainda, não devo ser negligente. O dever impõe-

se à minha consciência."4

Talvez seja agora claro que quando falamos de responsabilidade estamos perante a reflexão sobre

as consequências do comportamento humano. (…)

Savater afirmou que a “Responsabilidade é saber que cada um dos meus atos me vai construindo,

me vai definindo, me vai inventando. Ao escolher aquilo que quero, vou-me transformando pouco a pouco.

Todas as minhas decisões deixam a sua marca em mim antes de a deixarem no mundo que me rodeia” 5.

Para nosso consolo, não se nasce responsável, vamo-nos tornando responsáveis.

Antes de mais, a responsabilidade é uma questão de formação. Como a responsabilidade opera a

síntese entre os conhecimentos e a ação e os seus efeitos, o nosso conhecimento é sempre enriquecido

quando confrontamos a intenção e os resultados; por isso nunca se é responsável de uma vez por todas.

Mais, tende a ser cumulativa – o seu exercício torna-nos cada vez mais responsáveis. (…)

Sou diretamente responsável pelas coisas que faço; e há também a responsabilidade por atos que

não cometi diretamente, em que posso ter colaborado para que ocorressem; ou ter-me omitido e

permitido que algo ocorresse ou deixasse de ocorrer, sendo imputável por isso. “a responsabilidade

estende-se tão longe quanto os nossos poderes no espaço e no tempo”6. Com grandes poderes vêm

grandes responsabilidades.

E os prejuízos das nossas ações, sejam possíveis, previsíveis ou prováveis, estendem-se igualmente

tão longe quanto os nossos poderes, ou seja, quanto a nossa capacidade de provocar prejuízos e a nossa

responsabilidade pelos danos. (…)

Todos temos direitos e deveres. Estão consagrados nos diferentes normativos legais que são a

expressão dos valores próprios de uma determinada sociedade. Assim, há uma relação entre direitos e

deveres. (…)

Lucília Nunes, SOBRE A RESPONSABILIDADE. OU A CONSCIÊNCIA DA LIBERDADE. Escola Superior de Saúde In https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/19383/1/Sobre%20a%20Responsabilidade_2017%2010%2009.pdf, acedido em 14-02-2020

1 Cf. Cabral, Roque – «Responsabilidade», in Logos, vol. 4: 724 - “a capacidade e obrigação de responder ou prestar contas pelos próprios actos e seus efeitos, aceitando as consequências”

2 «Etre responsable, en ce sens, ce n’est pas simplement pouvoir se désigner comme l’agent d’une action déjà commise, mais comme l’être en charge d’une certaine zone d«efficacité, où la fidélité à la parole donnée est mise à l’épreuve.» Aeschlimann, J-C – Entretien. In Éthique et responsabilité. Paul Ricœur,p.31.

3 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, 4310/2003.

4 Etchegoyen, Alain (1995) A era dos responsáveis. Lisboa: Difel, p. 21.

5 Savater, Fernando (1997) Ética para um jovem. Lisboa: Ed. Presença. p. 81-82. 6 Ricœur, Paul (1997) O Justo ou a dimensão da justiça. Lisboa: Instituto Piaget. p.55.

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RESPONSABILIDADE E A LIBERDADE

(…) Hannah Arendt afirmou que “a pedra de toque de um acto livre – desde a decisão de saltar da cama

todas as manhãs até às mais altas resoluções pelas quais nos comprometemos para o futuro – é sempre que

sabemos que podíamos ter deixado por fazer o que efectivamente fizemos”1.

Em bom rigor, se pensarmos na definição de responsabilidade, os atos e as consequências veêm-se. Mas

há um elemento anterior, invisível, a menos que o tornemos explícito. Anterior, porque acontece antes dos

atos, quando tomamos decisões.

Tomar uma decisão é proceder a uma escolha que orienta os atos que realizamos. E agimos sempre,

ainda que decidamos não agir. É por escolher entre duas ou mais possibilidades que realizamos os nossos

atos, habitualmente por preferência e medindo tão longe quanto conseguimos as consequências possíveis. A

essa possibilidade de fazer ou não fazer, de dizer sim ou não a atos que dependem de cada um, chamamos

liberdade. E assumir a nossa liberdade implica aceitar a responsabilidade pelo que fazemos ou tentámos

fazer e mesmo pelas consequências menos desejáveis dos nossos atos.

É conhecida (e reconhecida) a relação entre responsabilidade e liberdade - aliás, em bom rigor, são

correlativas; somos responsáveis pelos atos que decidimos realizar pois a condição primordial da ação é a

liberdade. E a liberdade é essencialmente capacidade de escolha.

A escolha supõe duas ou mais alternativas pois com uma só opção não existiria nem escolha nem

liberdade. Em síntese, só se pode falar de responsabilidade quando exista espaço para diferentes

possibilidades de ação - até porque, por definição, escolher é optar por uma alternativa e renunciar à outra

ou às outras. Como afirmou Ortega y Gasset, escolher é sempre rejeitar.

O ato livre é, necessariamente, um ato pelo qual se responde e se responsabiliza. Porque sou livre

tenho que assumir as consequências das minhas ações. Na verdade, face a uma situação, cabe-nos

estabelecer os critérios para as decisões quanto às nossas ações concretas. Seja agir ou omitir, trata-se

sempre de uma ação que decidimos levar a cabo.

E se a intencionalidade é a característica fundamental da consciência, ser livre é comprometer-se e

responsabilizar-se. Ora, "é preciso acrescentar um dado importante: a minha liberdade cruza a liberdade

dos outros, os quais também tomam livremente iniciativas que interferem com os meus atos. Portanto, ao

conhecer-se livre a minha liberdade é levada a reconhecer também a liberdade dos outros, cuja atividade

interfere com a minha."2

E aqui toda a gente sabe a «resposta», citando Sartre, que «a minha liberdade termina onde começa a

liberdade do Outro». Portanto, a liberdade tem condicionalismos decorrentes da convivência dos seres

humanos no mesmo mundo - mas os limites da liberdade não são só os que decorrem do Outro; são os

meus, do meu lugar, do meu passado, do meu mundo, do que eu sei, da minha consciência sobre a minha

liberdade. Por isso é que a consciência se torna a ideia mais forte, nesta relação entre a liberdade e a

responsabilidade. Pois cada um de nós tem o seu grau de autoconsciência, que potencia, que suporta, as

escolhas que faz. A consciência sobre Si, enquanto ser que trabalha, consciente e livre.

A consciência é a capacidade de perceber as realidades (internas e externas), a nossa capacidade de

avaliar, o nosso juízo prático sobre nós e os outros. Estarmos mais conscientes da nossa liberdade e da

nossa responsabilidade permite, por exemplo, percebermos que as circunstâncias não decidem a nossa vida;

"as circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso

caráter".3

A nossa vida, e neste aspeto penso que tanto a pessoal como a vida organizacional, decorre do que

fazemos com as circunstâncias.

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De facto, como reiterou Savater, não decidimos o que nos acontece mas decidimos o que fazemos com

o que nos acontece. Quem somos inclui a nossa realidade circunstancial, que é histórica, temporal, mutável,

assim como as decisões que tomamos e os percursos que escolhemos.

Gostaria de concluir mantendo-me na companhia de Ortega y Gasset, que no seu primeiro livro, em

1914, Meditaciones del Quijote, afirmou «sou eu e a minha circunstância e se não a salvo a ela não me salvo

a mim»4. Salvar a circunstância é compreendê-la, ligar as coisas, dar-lhes significado, na irredutível

consciência que a circunstância me constitui ainda que não determine por si só. A nossa vida é concreta, com

limites individuais, desenvolvida em inter-relação, intersubjectividade, associada aos limites da relação com

os Outros e o Mundo. Cada um de nós faz o que é capaz de fazer mas a nossa capacidade depende da

preparação, do conhecimento e da reflexão. E se a dignidade humana requer reconhecimento, respeitá-la

significa promover a capacidade para pensar, decidir e agir. No cenário ético da responsabilidade e na

assunção que «sou eu e a minha circunstância e se não a salvo a ela não me salvo a mim».

Lucília Nunes, SOBRE A RESPONSABILIDADE. OU A CONSCIÊNCIA DA LIBERDADE. Escola Superior de Saúde In https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/19383/1/Sobre%20a%20Responsabilidade_2017%2010%2009.pdf, acedido em 14-02-2020

1 Arendt, Hannah (2000) A Vida do Espírito. Vol. II – Querer. Lisboa: Instituto Piaget, p. 33.

2 Renaud, M. ; Renaud, I. (2017) A teoria da acçao. In Neves, M.C.P. (org.) Ética aplicada. Dos fundamentos às práticas. Lisboa: Almedina. p. 56.

4 25 Ortega Y Gasset (2000) A Rebelião das Massas. Lisboa: Relógio d' Água. (V.)

3 Ortega Y Gasset Meditaciones del Quijote - "Yo soy y o y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo" p.12

SUGESTÕES DE EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES DE VIDA A INTERGRAR NO PORTEFÓLIO

• Explorar situações de responsabilidades para com a família, por exemplo, a educação partilhada dos filhos (mesmo em caso de divórcio), a gestão partilhada do orçamento familiar (partilha de conta bancária, de despesas, a necessidade de fazer opções, na partilha de tarefas no dia a dia...).

• Explorar situações de responsabilidades enquanto cidadão designadamente a responsabilidade para com os vizinhos, com o condomínio, no negócio, na condução de viaturas, no cumprimento do Código da Estrada, no pagamento do seguro do carro, na posse de animais domésticos, na utilização dos espaços públicos como jardins, praias, recintos, situações em que apresentou uma reclamação.

• Explorar situações em que agiu no sentido do bem comum, em detrimento dos seus interesses pessoais, em que se viu perante o binómio liberdade versus responsabilidade.

OBSERVAÇÃO: Na Página Direitos e Deveres dos Cidadãos da responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos pode encontrar inúmeras questões geradoras relativas a assuntos que poderão ser abordados no Portefólio com relevância para a evidenciação e competências no Núcleo Gerador Direitos e Deveres. Poderá aceder a essa página aqui no endereço electrónico: https://www.direitosedeveres.pt/.

DR2 – Direitos e Deveres Laborais

DIREITOS E DEVERES DOS TRABALHADORES

O trabalho ocupa um espaço fundamental na vida da generalidade das pessoas. Garante, antes de mais, uma recompensa financeira, permitindo pagar as despesas do dia a dia e, ainda, concretizar alguns sonhos. No entanto, o salário não é o único fim do trabalho. A atividade profissional é também, para muitas pessoas, fonte de realização e satisfação pessoal.

Para ser feliz no local de trabalho é importante conhecer os direitos e deveres laborais básicos previstos na Constituição portuguesa e no Código do Trabalho.

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O que diz a Constituição Portuguesa?

A Constituição Portuguesa salvaguarda, no artigo 59.º, um conjunto de direitos do trabalhador, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas.

Salário e segurança no trabalho

Dita a Lei Fundamental que qualquer trabalhador tem direito à retribuição do seu trabalho, segundo a quantidade, natureza e qualidade. Além disso, deve trabalhar em condições de higiene, segurança e saúde e socialmente dignificantes, permitindo a sua realização pessoal e conciliação da atividade profissional com a vida familiar.

Férias, descanso semanal e jornada de 8 horas

Estão igualmente acautelados os direitos ao repouso e lazer, a um limite máximo da jornada de trabalho (atualmente de oito horas diárias), ao descanso semanal e a férias periódicas pagas. Longe estão os tempos em que os operários trabalhavam 13 horas diárias sem direito a descanso semanal, em condições perigosas de trabalho e sem quaisquer garantias salariais. Este cenário esteve na origem das manifestações de trabalhadores no final da década de 1880. Essa luta motivou a criação do Dia Internacional do Trabalhador.

Subsídios e indemnizações

A Constituição também determina o direito a “assistência material”, sempre que os cidadãos se encontrem involuntariamente em situação de desemprego. E prevê ainda a “assistência e justa reparação”, quando sejam vítimas de acidentes de trabalho ou doença profissional.

Deveres do Estado

A Constituição impõe ainda um conjunto de deveres ao Estado, no sentido de assegurar as condições de trabalho, retribuição e repouso a que o trabalhador tem direito. Assim, cumpre ao Estado:

Estabelecer e atualizar o salário mínimo nacional, tendo em conta as necessidades do trabalhador, o aumento do custo de vida e as exigências da estabilidade económica e financeira, entre outros fatores;

Fixar os limites da duração do trabalho;

Prover uma especial proteção do trabalho das mulheres durante a gravidez e após o parto, bem como do trabalho dos menores, diminuídos e dos que desempenhem atividades em condições insalubres, tóxicas ou perigosas;

Proteger as condições de trabalho dos trabalhadores emigrantes e dos trabalhadores estudantes;

Desenvolver sistematicamente uma rede de centros de repouso e de férias, em cooperação com organizações sociais.

O que diz o Código do Trabalho

O Código do Trabalho tem uma secção dedicada exclusivamente aos deveres do trabalhador e do empregador. No artigo 126.º estão definidos os deveres gerais das partes, que incluem: proceder de boa-fé no exercício dos seus direitos e no cumprimento das respetivas obrigações e, ainda, colaborar na obtenção da maior produtividade e na promoção humana, profissional e social do trabalhador.

O trabalhador deve…

O trabalhador tem de cumprir uma série de deveres, refletidos no artigo 128.º do Código do Trabalho, como sejam:

Apresentar-se no local de trabalho com assiduidade e pontualidade;

Trabalhar com zelo e diligência;

Respeitar e tratar com gentileza e retidão o empregador, os superiores hierárquicos e os colegas, entre outros;

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Cumprir ordens e instruções do empregador e superior hierárquico, relativas à execução e disciplina do trabalho e segurança e saúde no trabalho;

Ser leal com o empregador, nomeadamente não negociando por conta própria ou alheia em concorrência com ele. O sigilo em relação aos métodos de trabalho ou negócio é outro ponto a cumprir;

Zelar pela conservação e boa utilização de bens relacionados com o trabalho;

Contribuir para o aumento da produtividade da empresa.

O empregador deve…

Por sua vez, a entidade empregadora tem de cumprir um conjunto de deveres, tais como:

Garantir boas condições de trabalho, do ponto de vista físico e moral;

Pagar pontualmente a retribuição, que deve ser justa e adequada ao trabalho;

Contribuir para o aumento da produtividade e empregabilidade do trabalhador;

Proporcionar formação profissional que contribua para desenvolver a qualificação do trabalhador;

Respeitar a regulamentação ou deontologia profissional a que o trabalhador esteja sujeito;

Prevenir riscos e doenças profissionais, tendo em conta a proteção da segurança e saúde do trabalhador;

Garantir condições de trabalho que favoreçam a conciliação da atividade profissional com a vida familiar e pessoal.

O empregador não pode…

O artigo 129.º do Código do Trabalho salvaguarda diversas “garantias do trabalhador”, que consistem, na prática, em proibições para o empregador, nomeadamente:

Opor-se, por qualquer forma, a que o trabalhador exerça os seus direitos, bem como despedi-lo, aplicar-lhe outra sanção, ou tratá-lo desfavoravelmente por inerência desse exercício;

Atrapalhar a prestação de trabalho do colaborador sem justificação para tal;

Pressionar o colaborador para que atue no sentido de influir desfavoravelmente nas condições de trabalho dele ou dos companheiros;

Diminuir a retribuição do trabalhador, mudá-lo para categoria inferior, transferi-lo para outro local de trabalho ou cedê-lo para utilização de terceiro, com exceção dos casos previstos no Código do Trabalho ou em instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho;

Obrigar o colaborador a comprar-lhe bens ou serviços ou a pessoa por ele indicada;

Explorar para fins lucrativos a cantina, refeitório, economato ou outro estabelecimento diretamente relacionado com o trabalho para fornecer bens ou prestar serviços aos seus trabalhadores;

Rescindir o contrato de trabalho e depois readmitir o trabalhador com o objetivo de o prejudicar a nível dos direitos decorrentes da antiguidade.

O trabalhador tem direito a…

No Código do Trabalho estão ainda definidos os direitos dos trabalhadores. Os mais importantes são:

Igualdade de oportunidades e de tratamento no acesso ao emprego, à formação e promoção ou carreira profissionais e às condições de trabalho. Dessa forma, não pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever por motivos

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discriminatórios relacionados com ascendência, idade, sexo, orientação sexual, identidade de género, estado civil, situação familiar e situação económica, entre outros. Contudo, em certas situações, a lei permite diferenças de tratamento baseadas na idade;

Retribuição do trabalho, de acordo com o princípio constitucional “a trabalho igual salário igual”;

Férias pagas e subsídios de férias e de Natal;

Gozo de um período anual de férias de 22 dias úteis e de feriados obrigatórios.

E ainda…

Faltas por casamento; falecimento de cônjuge, parente ao afim; assistência a filho ou membro do agregado familiar; e doença. São igualmente consideradas faltas justificadas as ausências ao trabalho para prestação de provas em estabelecimento de ensino. E ainda deslocações à escola do filho até quatro horas por trimestre, por cada um;

Proteção na parentalidade (maternidade e paternidade). No caso de uma trabalhadora grávida, o Código do Trabalho prevê, por exemplo, o direito a licença em situação de risco clínico durante a gravidez e dispensa para consulta pré-natal. Após o nascimento, a mãe e o pai podem usufruir de licença parental e dispensa para assistência ao filho, entre outros direitos.

In https://www.montepio.org/ei/pessoal/emprego-e-formacao/e-trabalhador-estes-sao-os-seus-direitos/, consultado em 14-02-2020

DIREITOS E DEVERES DOS TRABALHADORES (estrangeiros e nacionais)

Estainformação tem como objectivo esclarecer a população dos seus direitos e deveres laborais ao nível das relações de trabalho e em matéria de segurança, higiene e saúde no trabalho.

NAS RELAÇÕES DE TRABALHO - DIREITOS

– Ser tratado com igualdade no acesso ao emprego, formação e promoção profissional;

– Receber retribuição, devendo ser entregue ao trabalhador documento que contenha, entre outros elementos, a

retribuição base e as demais prestações, os descontos e deduções efectuados e o montante líquido a receber;

– Trabalhar o limite máximo de 40 horas por semana e 8 horas por dia, com excepção de situações especiais como,

por exemplo, em regime de adaptabilidade;

– Descansar pelo menos um dia por semana;

– Receber uma retribuição especial pela prestação de trabalho noturno;

– Receber uma retribuição especial pela prestação de trabalho suplementar, que varia consoante o trabalho seja

prestado em dia de trabalho ou em dia de descanso;

– Gozar férias (em regra o período anual é 22 dias úteis, que pode ser aumentado até 3 dias se o trabalhador não

faltar);

– Receber subsídio de férias, cujo montante compreende a remuneração base e as demais prestações retributivas e

que deve ser pago antes do início do período de férias;

– Receber subsídio de Natal de valor igual a um mês de retribuição que deve ser pago até 15 de Dezembro de cada

ano;

– Recorrer à greve para defesa dos seus interesses;

– Ser protegido na maternidade e paternidade (a trabalhadora tem direito a uma licença por maternidade de 120 dias

consecutivos, podendo optar por uma licença de 150 dias);

– Segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa, ou por motivos políticos ou ideológicos;

– Regime especial caso seja trabalhador estudante;

– Constituir associações sindicais para defesa e promoção dos seus interesses socioprofissionais;

– Receber por escrito do empregador informações sobre o seu contrato de trabalho como, por exemplo, a

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identificação do empregador, o local de trabalho, a categoria profissional, a data da celebração do contrato, a

duração do contrato se este for celebrado a termo, o valor e periodicidade da retribuição (normalmente mensal), o

período normal de trabalho diário e semanal, o instrumento de regulamentação colectiva aplicável, quando seja o

caso.

NAS RELAÇÕES DE TRABALHO - DEVERES

– Respeitar e tratar com educação o empregador, os companheiros de tra- balho e as demais pessoas com quem

estabeleça relações profissionais;

– Comparecer ao serviço com assiduidade e pontualidade;

– Realizar o trabalho com zelo e diligência;

– Cumprir as ordens do empregador em tudo o que respeite à execução do trabalho, salvo na medida em que se

mostrem contrárias aos seus direitos e garantias;

– Guardar lealdade ao empregador, nomeadamente não negociando por conta própria ou alheia em concorrência com

ele, nem divulgando informações referentes à sua organização, métodos de produção ou negócios;

– Velar pela conservação e boa utilização dos bens relacionados com o seu trabalho que lhe forem confiados pelo

empregador;

– Promover ou executar todos os actos tendentes à melhoria da produtividade da empresa.

EM MATÉRIA DE SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO DIREITOS - DIREITOS

– Trabalhar em condições de segurança e saúde;

– Receber informação sobre os riscos existentes no local de trabalho e medidas de protecção adequadas;

– Ser informado sobre as medidas a adoptar em caso de perigo grave e iminente, primeiros socorros, combate a

incêndios e evacuação de trabalhadores;

– Receber formação adequada em matéria de segurança e

saúde no trabalho aquando da contratação e sempre que

exista mudança das condições de trabalho;

– Ser consultado e participar em todas as questões relativas à

segurança e saúde no trabalho;

– Ter acesso gratuito a equipamentos de protecção individual;

– Realizar exames médicos antes da sua contratação e depois

periodicamente;

– Receber prestação social e económica em caso de acidente

de trabalho ou doença profissional;

– Afastar-se do seu posto de trabalho em caso de perigo grave e iminente;

– Possuir o mesmo nível de protecção em matéria de segurança e saúde, independentemente de ter um contrato sem

termo ou com carácter temporário;

– Recorrer às autoridades competentes (Autoridade para as Condições do Trabalho e Tribunais de Trabalho).

EM MATÉRIA DE SEGURANÇA, HIGIENE E SAÚDE NO TRABALHO - DEVERES

– Cumprir as regras de segurança e saúde no trabalho e as instruções dadas pelo empregador;

– Zelar pela sua segurança e saúde e por todos aqueles que podem ser afectados pelo seu trabalho;

– Utilizar correctamente máquinas, aparelhos, instrumentos, substâncias perigosas e outros equipamentos e meios

colocados à sua disposição;

– Respeitar as sinalizações de segurança;

– Cumprir as regras de segurança estabelecidas e utilizar correctamente os equipamentos de protecção colectiva e

individual;

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– Contribuir para a melhoria do sistema de segurança e saúde existente no seu local de trabalho;

– Comunicar de imediato superiormente todas as avarias e deficiências por si detectadas;

– Contribuir para a organização e limpeza do seu posto de trabalho;

– Tomar conhecimento da informação e participar na formação sobre segurança e saúde;

– Comparecer aos exames médicos;

– Prestar informações que permitam avaliar a sua aptidão física e psíquica para o exercício das funções que lhe são

atribuídas.

Autoridade para as Condições de Trabalho. Cadernos Informativos. In file:///C:/Users/user/Desktop/02%20-%20Direitos_Deveres_Trabalhadores.pdf, consultado em 12 de fevereiro de 2019

SUGESTÕES DE EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES DE VIDA A INTEGRAR NO PORTEFÓLIO

• Explorar algumas situações relacionadas com alguns dos direitos do trabalhador previstos na Constituição da República Portuguesa e no Código do Trabalho tais designadamente: direito ao trabalho, ao salário, aos subsídios de alimentação, férias e Natal, à licença de parentalidade, à proteção social, higiene e segurança no trabalho, à igualdade no acesso ao trabalho, à greve, ao estatuto de trabalhador-estudante, à proteção no desemprego, à proteção na doença, à sindicalização, etc.

• Evidenciar ser capaz de invocar os referidos normativos legais para agir em favor do exercício dos seus direitos e deveres laborais.

• Explorar algumas situações de cumprimento dos diversos deveres laborais.

• Explorar situações em que viu os seus direitos, enquanto trabalhador, ameaçados e foi necessário bater-se por eles.

DR3 – Democracia Representativa e Participativa

A democracia e outros regimes políticos ao longo da história

A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor do que ela.

Winston Churchill

Hoje em dia, para benefício de todos nós a democracia é o regime ou sistema político com mais representatividade no mundo, apesar de haver ainda alguns, demais até, países que não chegaram ainda ao reconhecimento deste sistema como o melhor possível ou exequível. (…)

Para aprofundar os seus conhecimentos sobre o tema em registo histórico e comparativo com outros sistemas políticos poderá consultar o artigo “A democracia e outros regimes políticos ao longo da história”disponível em:

https://sites.google.com/site/noportefas/cidadania-e-profissionalidade/direitos-e-deveres/democracia-representativa-e-participativa.

DEMOCRACIA REPRESENTATIVAVERSUS DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

Democracia representativa é uma forma de exercício do poder político em que o povo de um país elege

os seus representantes, através do voto nas eleições.

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Os candidatos eleitos são legitimados como representantes do povo. Por ser uma forma de exercício

indireto da democracia, através dos representantes escolhidos, a democracia representativa também é

chamada de democracia indireta.

Como funciona a democracia representativa

A escolha dos representantes dos cidadãos é feita através do voto direto e secreto, que é a forma de

colocar em prática o sufrágio universal. O sufrágio é um

direito garantido pela Constituição.

A eleição acontece tanto para os representantes do

Poder Executivo (presidente, governadores e prefeitos),

como para os representantes do Poder Legislativo

(senadores, deputados federais, deputados estaduais e

vereadores). Esses representantes são eleitos para garantir

e trabalhar pelos interesses dos cidadãos durante o seu

mandato.

Por exemplo: os membros das Juntas e Assembleias de

Freguesia representam os eleitores das suas freguesias; os membros das Assembleias Municipais e Câmaras

Municipais representam a os eleitores dos Municípios. Já os deputados, tem como função principal trabalhar

para garantir que as prioridades do estado que representam na Assembleia da República sejam colocadas em

prática.

Críticas à democracia representativa

O sistema de democracia representativa recebe algumas críticas. A maior delas está ligada ao facto de

que o poder sobre as decisões do país fica concentrado nas mãos de poucas pessoas.

A concentração de poder pode gerar desvio nas finalidades dos cargos ou aproveitamento de vantagens

em benefício próprio.

Democracia participativa

A democracia participativa é um sistema em que o povo participa diretamente das decisões. Por isso,

recebe também a designação de democracia direta. É uma realidade praticamente inexistente à escala da

governação do país. Contudo há muitos países onde este sistema é complementar da democracia

representativa sendo designado de democracia semidireta.

Portugaltem consagrado na sua Constituição, no seu artigo 2.º, além da democracia representativa a

democracia participativa, já que em algumas situações a participação popular é permitida. Tal acontece,

nomeadamente, quando os cidadãos são chamados para dar sua opinião na escolha de projetos e ideias,

através da expressão da sua opinião sobre o que é mais importante ou que deve ser solucionado pelo

governo. Mas a participação popular pode acontecer de muitas outras formas: pela votação em referendos e

plebiscitos, através da participação em audiências públicas, mediante a apresentas de petições e iniciativas

legislativas, e no quadro da intervenção de diferentes organizações como, por exemplo, clubes, etc.

Tié Lenzi, in https://www.todapolitica.com/democracia-representativa/, adaptado

DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA, PEQUENOS E GRANDES!

É corrente, no mercado da distribuição turística, ouvirmos dizer que os interesses dos grandes grupos

estão permanentemente protegidos em detrimento dos pequenos agrupamentos ou pequenos

empresários.

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Em abono da verdade, entendo que esta visão é redutora e que, em muitos casos, materializa uma

justificação individual para a demissão das nossas responsabilidades enquanto agentes económicos do

sector.

Esta demissão, e fazendo aqui um paralelismo com a nossa responsabilidade enquanto cidadãos, traduz-

se nos níveis de abstenção a que assistimos nos actos eleitorais para os órgãos centrais, locais ou regionais

do Estado e, também, nos actos eleitorais para as Associações representativas dos sectores económicos,

como a APAVT (Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo).

Numa democracia representativa, a ausência de participação nesses momentos, estratégicos por

natureza, impede-nos de conseguirmos assegurar, ainda que indiretamente, a defesa dos nossos

princípios, das nossas opções ou dos nossos interesses! Mas parece não nos impedir de ser agentes

críticos das decisões que são tomadas nos diferentes órgãos de decisão, sejam eles políticos ou

associativos. Assim, em vez de agentes de mudança, tornamo-nos meros espetadores, opinativos, mas

escassamente interventivos.

Esta crítica, mais não tem subjacente do que a perceção de que existe uma demissão individual e

colectiva nas decisões de aspectos fundamentais do nosso dia-a-dia ou do nosso futuro, que começa na

falta de participação nos actos eleitorais ou nos diferentes fóruns cívicos.

Muitas vezes, é mais fácil encontrar justificações para a inércia, para a omissão, para o afastamento

progressivo das instâncias de decisão. No entanto, urge adotar posição, assumir perspetivas, promover a

discussão e o debate, ouvir e ser ouvido. É altura de cada um de nós, dentro do sector, assumir

responsabilidade pelos desígnios coletivos, defendendo a nossa posição no mercado e, consequentemente,

um turismo de qualidade e com qualidade. É altura de assumirmos responsabilidades individuais para o

bem coletivo.

Nos últimos dois anos, entendeu a Direcção da APAVT assumir um papel activo na evolução do seu

modelo democrático representativo, indo ao encontro dos seus associados, numa lógica mais participativa,

tentando recuperar quase o ideal da democracia direta grega, onde se privilegiava a participação ativa e

efetiva dos cidadãos na vida pública.

Para esse efeito, para além das reuniões dos diferentes capítulos, passou a fazer a maior parte das suas

reuniões de direção nas diferentes regiões do território nacional, promovendo sempre reuniões abertas aos

associados com o intuito de promover o debate e os esclarecimentos sobre os diferentes aspetos que

afetam a nossa actividade.

A verdade é que o sucesso desta medida, depende e muito, da participação dos associados, sejam eles

pequenos ou grandes.

Aquilo que constatamos, é que os ditos grandes não perdem a oportunidade para participar nos

diferentes encontros da APAVT e entendem que a participação associativa é fundamental para a defesa dos

seus interesses, seja na definição de uma estratégia comum, seja no acesso ou partilha de informação, seja

na criação de enquadramentos políticos que facilitem a defesa dos seus interesses, seja no mero exercício

do seu direito de participação, independentemente da temática.

Estes entendem que o mero exercício democrático representativo não é suficiente para acautelar os

seus interesses e estratégias futuras em relação às suas organizações, independentemente da sua

dimensão.

Talvez boa parte da razão da afirmação inicial se traduza nessa participação cívica ou na sua demissão,

conforme a perspetiva.

Na verdade, quanto menor for a participação de cada um de nós em cada um dos momentos de

participação associativa, menor será a nossa capacidade de influenciar as decisões e apresentar soluções

para os desafios que temos pela frente, ficando à mercê de um pequeno grupo de decisores (pequenos

ou grandes)!

Será que cada um de nós está a fazer a sua parte?

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Por Tiago Raiano, presidente da Mesa de Assembleia Geral da APAVT, Publicado em 11 Novembro 2019 em: https://www.ambitur.pt/opiniao-democracia-representativa-e-a-democracia-participativa-pequenos-e-grandes/

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os direitos fundamentais são as posições jurídicas básicas reconhecidas pelo direito português,

europeu e internacional com vista à defesa dos valores e interesses

mais relevantes que assistem às pessoas singulares e coletivas em

Portugal, independentemente da nacionalidade que tenham (ou até, no

caso dos apátridas, de não terem qualquer nacionalidade).

O Estado tem a obrigação respeitar os direitos fundamentais e de

tomar medidas para os concretizar, quer através de leis, quer nos

domínios administrativo e judicial. Estão obrigadas a respeitá-los tanto

as entidades privadas quanto as públicas, e tanto os indivíduos quanto

as pessoas colectivas. Mesmo os cidadãos portugueses que residam no

estrangeiro gozam da protecção do Estado para o exercício dos direitos

fundamentais, desde que isso não seja incompatível com a ausência do

país.

À luz da nossa Constituição, existem duas grandes categorias de

direitos fundamentais: os direitos, liberdades e garantias, por um

lado, e os direitos e deveres económicos, sociais e culturais, por outro.

Os primeiros — por ex., o direito à liberdade e à segurança, à integridade física e moral, à propriedade

privada, à participação política e à liberdade de expressão, a participar na administração da justiça —

correspondem ao núcleo fundamental da vivência numa sociedade democrática. Independentemente da

existência de leis que os protejam, são sempre invocáveis, beneficiando de um regime constitucional

específico que dificulta a sua restrição ou suspensão.

Em contraste, os direitos económicos, sociais e culturais — por exemplo, o direito ao trabalho, à

habitação, à segurança social, ao ambiente e à qualidade de vida — são, muitas vezes,

de aplicação diferida. Dependem da existência de condições sociais, económicas ou até políticas para os

efectivar. A sua não concretização não atribui a um cidadão, em princípio, o poder de obrigar o Estado ou

terceiros a agir, nem o direito de ser indemnizado.

Direitos e Deveres dos Cidadãos. Perguntas e respostas para uma cidadania responsável. Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Disponível em https://www.direitosedeveres.pt/.

TRATADO DA UNIÃO EUROPEIA

Artigo 2.º

A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.

Artigo 10.º

1. O funcionamento da União baseia-se na democracia representativa.

2. Os cidadãos estão diretamente representados, ao nível da União, no Parlamento Europeu. Os Estados-Membros estão representados no Conselho Europeu pelo respetivo Chefe de Estado ou de Governo e no

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Conselho pelos respetivos Governos, eles próprios democraticamente responsáveis, quer perante os respetivos Parlamentos nacionais, quer perante os seus cidadãos.

3. Todos os cidadãos têm o direito de participar na vida democrática da União. As decisões são tomadas de forma tão aberta e tão próxima dos cidadãos quanto possível.

Feito em Maastricht, em sete de fevereiro de mil novecentos e noventa e dois

Publicado em https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-01aa75ed71a1.0019.01/DOC_2&format=PDF

Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

O Parlamento Europeu, o Conselho e a Comissão proclamam solenemente como Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia o texto a seguir reproduzido.

Os povos da Europa, estabelecendo entre si uma união

cada vez mais estreita, decidiram partilhar um futuro de

paz, assente em valores comuns.

Consciente do seu património espiritual e moral, a União

baseia-se nos valores indivisíveis e universais da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdade e da

solidariedade; assenta nos princípios da democracia e do Estado de direito. Ao instituir a cidadania da União e ao

criar um espaço de liberdade, segurança e justiça, coloca o ser humano no cerne da sua ação.

A União contribui para a preservação e o desenvolvimento destes valores comuns, no respeito pela diversidade das

culturas e tradições dos povos da Europa, bem como da identidade nacional dos Estados-Membros e da organização

dos seus poderes públicos aos níveis nacional, regional e local; procura promover um desenvolvimento equilibrado e

duradouro e assegura a livre circulação das pessoas, dos serviços, dos bens e dos capitais, bem como a liberdade de

estabelecimento. (…)

O gozo destes direitos implica responsabilidades e deveres, tanto para com as outras pessoas individualmente

consideradas, como para com a comunidade humana e as gerações futuras.

Assim sendo, a União reconhece os direitos, liberdades e princípios a seguir enunciados.

Proclamada em 7 de dezembro de 2000, adquiriu valor jurídico vinculativo a1de dezembro de 2009 na sequência da entrada em vigor do Tratado de Lisboa. Consultada em:https://www.europarl.europa.eu/charter/pdf/text_pt.pdf

Nos termos do artigo 9.º do TUE e do artigo 20.º

do TFUE, é cidadão da União qualquer pessoa que

tenha a nacionalidade de um Estado-Membro.

Todo o nacional de um Estado-Membro da União

é automaticamente um cidadão europeu. A

nacionalidade é definida com base na legislação

nacional desse Estado-Membro. A cidadania da União é complementar à cidadania nacional, mas não a

substitui. A cidadania da União comporta um conjunto de direitos e deveres que vêm associar-se aos que

decorrem da qualidade de cidadão de um Estado-Membro.

A cidadania da União confere certos direitos . O estatuto de cidadão da União implica para todos os

cidadãos da União:

o direito à livre circulação e o direito de residir livremente no território dos Estados-Membros;

o direito de eleger e ser eleito nas eleições para o Parlamento Europeu e nas eleições municipais do

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Estado-Membro de residência nas mesmas condições que os nacionais desse Estado;

o direito de petição ao Parlamento

Europeu e o direito de recorrer ao

Provedor de Justiça instituído pelo

Parlamento Europeu no que toca a casos

de má administração na atuação das

instituições e dos órgãos comunitários;

o direito de se dirigir por escrito a

qualquer das instituições ou órgãos da

União numa das línguas dos Estados-

Membros e de obter uma resposta

redigida na mesma língua;

o direito de acesso aos documentos do Parlamento Europeu, do Conselho e da Comissão, em

determinadas condições.

Alguns direitos consagrados nas Declarações e Tratados da União Europeia e sua promoção

Igualdade de oportunidades – A proibição da discriminação e a proteção dos direitos fundamentais

são elementos importantes da ordem jurídica da União. Mesmo assim, a discriminação contra certos

grupos continua a existir na União. Áreas a destacar: Todas as pessoas são iguais perante a lei; A

igualdade entre mulheres e homens; Os direitos das pessoas com deficiência; A luta contra o racismo e a

xenofobia; Os direitos das pessoas LGBTI

Protecção de dados (a adaptação à era digital): – Numa sociedade digital em que dados pessoais

são continuamente recolhidos, utilizados e distribuídos, os cidadãos devem poder decidir

livremente como utilizar os seus próprios dados pessoais para evitar abusos. O artigo 8.º da Carta

consagra o direito de todas as pessoas à proteção dos dados de caráter pessoal que lhes digam respeito.

Áreas a destacar: As restrições e limitações ao

direito à protecção de dados; pacote legislativo

relativo à proteção de dados (Regulamento e

Diretiva); Os direitos dos titulares dos dados

relativamente ao tratamento dos seus dados

pessoais.

A garantia do acesso à justiça - O respeito dos

direitos fundamentais na União tem de ser efetivo. Consequentemente, toda a pessoa cujos direitos

sejam violados tem direito a uma ação perante um tribunal.

Direito de asilo - Toda a pessoa que está em fuga a perseguição ou ofensa grave no seu país de

origem tem direito a solicitar proteção internacional. O asilo é um direito fundamental e a sua

concessão às pessoas que cumprem os critérios estabelecidos na Convenção de Genebra de 1951

relativa ao Estatuto dos Refugiados é uma obrigação internacional para os Estados Partes,

nomeadamente os Estados-Membros da União.

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Se os direitos fundamentais individuais não forem respeitados, os tribunais nacionais devem decidir

sobre a questão. As pessoas singulares podem também recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos

Humanos, que se pronuncia sobre violações dos direitos civis e políticos consagrados na Convenção para a

Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais. Em casos específicos, se um Estado-

Membro não respeitar o direito da União e violar os direitos de qualquer pessoa, a Comissão Europeia pode

também levar o Estado-Membro em causa ao Tribunal de Justiça da União Europeia.

In https://www.europarl.europa.eu/about-parliament/pt/democracy-and-human-rights/fundamental-rights-in-the-eu/upholding-citizens-rights

SUGESTÕES DE EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES DE VIDA A INTEGRAR NO PORTEFÓLIO

Explorar e refletir sobre situações relacionadas com o exercício dos direitos e deveres cívico-políticos consagrados na Constituição da República, posicionando-se sobre o seu grau de cumprimento na sociedade portuguesa, em domínios como, a participação na vida política, (voto, eleições, órgãos de soberania) pagamento de impostos, vida, liberdade, associativismo, emprego, trabalho, justiça, proteção dos consumidores, Segurança Social, mobilidade, saúde, habitação, ambiente, qualidade de vida, educação, cultura e ciência, etc.

Explorar as suas possibilidades de participação cívico-política tendo em conta os sistemas políticos atuais, com incidência na democracia e as suas diferentes dimensões (representativa, e participativa).

Redija uma petição à Assembleia da República, um requerimento/exposição à Junta de Freguesia/Câmara Municipal sobre um assunto que evidencia a sua preocupação com o bem comum.

DR4 – Direitos e Deveres em Contexto Global

O QUE SÃO OS DIREITOS HUMANOS?

Enquanto alguns dicionários definem a palavra “direito” como “um privilégio”, quando usada no contexto dos “direitos humanos”, estamos a falar de algo mais básico.

Todas as pessoas estão intituladas a certos direitos fundamentais, simplesmente pelo facto de elas serem um ser humano. Estes são chamados de “direitos humanos”. Eles não são apenas privilégios, que podem ser tirados por capricho de alguém.

São “direitos” porque são coisas que lhe são permitidas ser, fazer ou ter. Estes direitos estão aí para a sua proteção contra pessoas que poderão querer prejudicá-lo ou magoá-lo. Estão também aí para nos ajudar a darmo-nos bem uns com os outros e a viver em paz.

Muitas pessoas sabem algo sobre os seus direitos. Geralmente elas sabem que têm o direito à alimentação e a um lugar seguro onde ficar. Elas sabem que têm direito a serem pagas pelo trabalho que fazem. Mas, para além disso, existem muitos outros direitos.

Quando os direitos humanos não são bem conhecidos pelas pessoas, abusos como a discriminação, a intolerância, a injustiça, a opressão e a escravidão podem surgir.

Nascida das atrocidades e da enorme perda de vidas durante a II Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas foi assinada em 1948 para estabelecer uma compreensão comum sobre o que são os direitos de todos nós. Ela forma a base para um mundo construído sobre a liberdade, a justiça e a paz.

Para ler a Declaração Universal dos Direitos do Homem num formato simplificado, clique aqui.

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Continuar a ler em http://www.juventudeparaosdireitoshumanos.pt/what-are-human-rights.html

Declaração universal dos direitos humanos: 70 anos depois

A 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotava, em Paris, na sua resolução 217/A, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH). A Humanidade tinha ainda bem abertas as feridas provocadas pela II Guerra Mundial, uma barbárie nunca antes vista e uma violência nunca antes experimentada. Era uma Humanidade em choque que se unia para gritar o nunca mais a tamanhas atrocidades.

Nem sequer vale a pena evocar tudo o que de mau, de horrível tinha acontecido poucos anos antes no maior conflito da história da Humanidade. Tinham sido evidentes e gritantes as violações sistemáticas dos mais elementares direitos humanos e os atentados de toda a espécie à dignidade da pessoa.

A 24 de Outubro de 1945 tinha sido criada a Organização das Nações Unidas (ONU) por 51 estados-membros – hoje são 193. Os principais objetivos eram o de promover a cooperação internacional e de evitar a repetição de conflitos do género do que há bem pouco tinha terminado e que tantos estragos tinha causado a toda a Humanidade.

70 anos depois, como estamos no respeito dos direitos proclamados na DUDH? Acreditamos que os princípios e valores ali consignados estão presentes nas relações entre Estados e na consciência da maioria. Mas há ainda tanto a fazer! A prática está longe de corresponder à bondade dos tratados assinados, porque diariamente se cometem violações e atentados aos mais elementares direitos que deveriam ser universais, isto é, que deveriam ser de todas e de cada uma das pessoas.

Na celebração dos 70 anos da DUDH, temos de continuar a gritar bem alto que a dignidade da pessoa, de toda a pessoa, é um valor inviolável e que todo o atentado a essa dignidade é uma negação da beleza e da bondade da ordem das coisas queridas por Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança, iguais em dignidade, em direitos e em deveres mútuos.

Há muitos irmãos nossos que continuam a precisar da nossa solidariedade, da nossa voz, da nossa indignação. Como diz muitas vezes o Papa Francisco, não podemos deixar-nos contagiar pela globalização da indiferença, porque aquilo que acontece aos nossos irmãos, especialmente aos mais desfavorecidos e desamparados da nossa Humanidade, também nos diz respeito. Não podemos permanecer calados e indiferentes perante a multidão de irmãos nossos que vivem muito longe de ser respeitados e promovidos na sua dignidade, que são marginalizados, explorados, maltratados, vendidos…

Sejamos capazes de dar o nosso contributo, pequeno ou grande, para que a Humanidade passe dos tratados à prática na defesa e proteção dos direitos fundamentais de todos os seres humanos.

P. José Agostinho Sousa, disponível em :https://www.dehonianos.org/portal/declaracao-universal-dos-direitos-humanos-70-anos-depois/

Human Rights Watch, uma organização em defesa dos direitos de pessoas no mundo inteiro

A Human Rights Watch é uma organização internacional de direitos humanos, não-governamental,

sem fins lucrativos, contando com aproximadamente 400 membros que trabalham em diversas localidades

ao redor do mundo. É formada por profissionais de direitos humanos tais como advogados, jornalistas e

especialistas e académicos de diversas origens e nacionalidades. Fundada em 1978, a Human Rights Watch

é reconhecida por investigações aprofundadas sobre violações de direitos humanos, elaboração de

relatórios imparciais sobre essas investigações e o uso efetivo dos meios de comunicação para informar e

sensibilizar diversos públicos sobre suas causas. Contando com o apoio de organizações locais de direitos

humanos, já publicou mais de 100 relatórios e artigos sobre direitos humanos em todo o mundo todo os

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anos. A partir de casos concretos de violações, a HRW reúne com governos e organizações internacionais

para propor políticas públicas e reformas legais necessárias para proteger direitos e garantir a reparação

para vítimas de violações passadas.

A Human Rights Watch defende os direitos de pessoas no mundo inteiro. Investigadetalhadamente

violações de direitos humanos, expõe os casos que documenta, reúne com governos, as Nações Unidas e

grupos regionais como a União Europeia e Africana para cobrar políticas públicas e práticas que promovam

os direitos humanos e a justiça.

Para saber mais, consultar: https://www.hrw.org/pt/sobre-human-rights-watch

Relatório Mundial 2020

O Relatório Mundial 2020 é a revisão anual realizada pela Human Rights Watch sobre a situação dos direitos humanos em todo o mundo. Na sua 30 ª edição, o relatório de 652 páginas analisa quase 100 países. Em 2020, deveríamos ver uma tendência crescente de governos nacionais exigindo que empresas cumpram as suas responsabilidades para com trabalhadores, comunidades e meio ambiente.

No mundo todo, milhões de adultos e crianças sofrem abusos a trabalhar na extracção de matérias-primas, atuando em fazendas e fabricando produtos para o mercado global. Eles estão na base das cadeias globais, produzindo desde produtos para o quotidiano, como alimentos, até bens de luxo, como jóias e roupas de estilo que vão parar nas prateleiras de lojas em todo o mundo.

"Ruth", de 13 anos, é uma delas. Conhecemo-la durante as nossa pesquisa nas Filipinas, perto de uma mina. Ela tratava o ouro misturando, com as mãos desprotegidas, mercúrio tóxico e minério de ouro moído. Ruth disse-nos que trabalha desde os 9 anos, depois de ter deixado a escola – embora muitas vezes não recebesse um pagamento do homem que lhe entregou as sacolas de minério de ouro que ela tem de tratar.

É perigoso estar no nível mais baixo dessa cadeia global. Em 2013, mais de 1.100 trabalhadores morreram e 2.000 ficaram feridos quando o edifício Rana Plaza, que abrigava cinco fábricas de roupas, desabou em Dhaka, Bangladesh. Desde então, assistiu-se a alguns avanços para tornar as fábricas de Bangladesh mais seguras, mas ainda não houve reformas sustentáveis lá ou noutros países.

Para responder à procura dos consumidores, as mulheres continuam a enfrentar uma série de abusos no Bangladesh e noutros setores, noutras partes do mundo. Em janeiro de 2019, no Brasil, a barragem de Brumadinho rompeu, matando pelo menos 250 pessoas – a maioria deles trabalhadores – e libertando uma onda de lama e resíduos tóxicos. A barragem recebia resíduos de uma mina de extração de minério de ferro, metal usado globalmente nas indústrias de construção, engenharia, automóvel e outras. Em dezembro de 2019, mais de 40 pessoas, a maioria trabalhadores, morreram num incêndio numa fábrica na capital da Índia, Delhi. Os trabalhadores estavam a dormir dentro da fábrica, que produz mochilas escolares, quando o incêndio começou.

Empresas multinacionais, algumas das entidades mais ricas e poderosas do mundo – 69 das 100 entidades mais ricas do mundo são empresas, não países – frequentemente não são responsabilizadas quando as suas operações causam danos aos trabalhadores, comunidades locais ou ao meio ambiente. E governos alinhados com empresas poderosas frequentemente falham em regular a atividade corporativa, além de não garantir, ou mesmo desmantelar, as proteções existentes para trabalhadores, consumidores e o meio ambiente.

Os Princípios Orientadores das Nações Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos dão diretrizes voluntárias para as empresas no que diz respeito às suas responsabilidades em direitos humanos, mas não são vinculativas. Os padrões voluntários e os esquemas de certificação orientados pelo setor, que têm crescido nos últimos anos, podem ser úteis, mas não são suficientes: muitas empresas agem apenas quando a lei exige que o façam. Esses padrões também não cobrem os principais direitos humanos e questões ambientais nas cadeias de produção das empresas, e os sistemas para monitorar a conformidade com os padrões estabelecidas nem sempre conseguem detetar e corrigir problemas. Tanto a fábrica do Rana Plaza quanto a barragem de Brumadinho foram inspecionadas por auditores contratados pelas empresas apenas alguns meses antes dos desastres. (…)

O Relatório a pode ser consultado em https://www.hrw.org/pt/world-report/2020

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Relatório da amnistia Internacional 2017/2018

A situação de Portugal “As condições habitacionais de pessoas das comunidades ciganas e de ascendência africana

continuaram inadequadas. Portugal recolocou menos requerentes de asilo face ao compromisso assumido no âmbito do Programa de Recolocação da UE. O Governo propôs legislação para fortalecer a proteção dos direitos das pessoas transgénero e intersexo. O Parlamento alargou a proteção contra o discurso de ódio e a discriminação. (…)”

Para continuara a ler aceder emhttps://www.amnistia.pt/wp-content/uploads/2018/02/PORTUGAL_RA201718.pdf

Problemas de direitos humanos persistem em Portugal apesar de progressos

O mais recente relatório da Amnistia Internacional (AI) sobre direitos humanos indica que em Portugal "ainda persistem" desigualdades no acesso a habitação condigna, e diferentes formas de discriminação de pessoas e comunidades mais vulneráveis.

O documento hoje divulgado, refere ainda que, "decorridas décadas de compromissos internacionais em matéria de direitos humanos e de significativos progressos registados em Portugal", também persistiam problemas na integração de requerentes e beneficiários de protecção internacional.

O relatório da AI destaca que foram ainda reportados por órgãos internacionais de monitorização de direitos humanos situações de maus-tratos por parte das forças de segurança, problemas nos estabelecimentos prisionais.

Este ano comemoram-se os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e em Portugal é o ano em que se assinalam quatro décadas da entrada em vigor dos dois pactos internacionais -- o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais -- , que, com a declaração histórica, constituem o âmago do direito internacional dos direitos humanos das Nações Unidas, bem como os 40 anos da adesão à Convenção Europeia de Direitos Humanos do Conselho da Europa.

A AI refere que, à semelhança do ocorrido pelo mundo, 2018 foi também o ano em que em Portugal a luta pela igualdade foi marcada pela defesa dos direitos das mulheres.

O documento acrescenta que em Portugal as mulheres continuam a ser as mais afectadas pela violência de género, segundo dados do Relatório Anual de Segurança Interna publicado em Março passado.

O Relatório Preliminar do Observatório de Mulheres Assassinadas indica que o número de mulheres que foram assassinadas em contextos de intimidade ou relações familiares próximas foi este ano já superior ao registado em todo o 2017.

No contexto da luta contra a violência de género, a AI regista ainda dados da Direção-Geral de Políticas da Justiça, que revelam que o número de condenações por violência doméstica é residual quando comparado com os números de participações registadas pelas forças de segurança.

De modo análogo ao ocorrido em outros países, uma luta eficaz pela erradicação da violência contra as mulheres e pela igualdade e não-discriminação de género também se exigiu nas ruas de várias cidades de Portugal, sobretudo o combate à violência sexual de género após divulgação de um acórdão do Tribunal da Relação do Porto que, recorrendo a uma fundamentação da qual emergem evidentes estereótipos de género, condenou os dois arguidos, homens, pela prática de um crime de abuso sexual de uma mulher quando inconsciente.

O documento sublinha que uma semana após a publicação do referido acórdão, o Governo anunciou reconhecer a necessidade de alterar o Código Penal no sentido de melhor acomodar os pressupostos da Convenção do Conselho da Europa para a Prevenção e o Combate à Violência contra as Mulheres e a Violência Doméstica (Convenção de Istambul) em matéria de crimes sexuais.

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O relatório aponta que no último ano persistiram problemas de inadequação das condições habitacionais no país, que afectam particularmente pessoas afrodescendentes e comunidades ciganas.

"Foram recomendadas mudanças por parte da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI, na sigla em inglês), no relatório sobre Portugal no contexto do quinto ciclo de controlo, relativamente aos desalojamentos forçados e anunciado pelo Governo o compromisso de garantir o acesso de todos a uma habitação adequada", acrescenta.

A AI salienta que continuaram a ser relatados longos atrasos nos procedimentos legais de apreciação dos pedidos de protecção internacional, que causaram entraves à integração, tendo sido recentemente denunciados problemas por parte de algumas das entidades de acolhimento no programa de recolocação.

Este ano foram motivo de particular preocupação os relatórios divulgados por órgãos internacionais de monitorização, o Comité Europeu para a Prevenção da Tortura e das Penas ou Tratamentos Desumanos ou Degradantes (CPT) e a ECRI, sobre maus-tratos e uso excessivo da força, condições das prisões, racismo e discriminação, também por parte das forças e serviços de segurança.

A existência de um órgão independente externo ao Ministério da Administração Interna há muito que é defendida pela Amnistia Internacional e foi igualmente recomendada por órgãos internacionais de monitorização, incluindo o CPT.

No seu relatório de 2018 sobre Portugal, o CPT recomendou também acções relacionadas, entre outras, com as alegações de maus-tratos de reclusos por guardas prisionais e violência entre reclusos, sobrelotação, condições das celas, reforço do pessoal existente e formação e cuidados de saúde nas prisões.

As pessoas afrodescendentes, as comunidades ciganas e lésbica, gay, bissexual, transgénero e intersexual (LGBTI+) continuaram a enfrentar diferentes formas de discriminação, tendo sido recomendado pela ECRI o reforço da luta contra a discriminação, a exclusão e a segregação, adianta a AI.

A AI adianta que em 2019 não pode deixar de encorajar mudanças efectivas e o alinhamento com as obrigações internacionais de direitos humanos, pelo respeito, protecção e cumprimento dos direitos de todos.

O próximo ano será o da entrada em vigor da nova lei para promoção da igualdade remuneratória entre mulheres e homens por trabalho igual ou de igual valor.

A AI diz esperar que seja também o ano da alteração da legislação nacional à luz da Convenção de Istambul, anunciada em Outubro pelo Governo, e que poderá permitir a retirada de Portugal da lista dos 23 países europeus cujas legislações não têm definições legais de violação baseadas no consentimento, conforme análise realizada pela Amnistia Internacional.

A Amnistia acrescenta, contudo, que a igualdade de género e a luta contra a discriminação e todas as formas de violência de género implica mais do que alterações legislativas. Impõe alterações políticas e práticas contínuas, sustentadas e sustentáveis, que promovam mudanças nos padrões sociais e culturais de comportamento de pessoas de todos os géneros, bem como a erradicação de estereótipos e mitos de género prejudiciais.

Mariline Alves, in Jornal de Negócios, fonte Lusa, 10 de dezembro de 2018

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Fonte: Amnistia Internacional, disponível em https://www.amnistia.pt/wp-content/uploads/2018/11/Kit-de-atividades-para-

comemora%C3%A7%C3%A3o-dos-70-anos-da-Declara%C3%A7%C3%A3o-Universal-dos-Direitos-Humanos_web.pdf

Recursos - Video: O que são os Direitos Humanos. Animação produzida pela Amnistia Internacional para crianças e jovens.

https://www.youtube.com/watch?v=GAcequhD0Lo&feature=youtu.be

DOCUMENTAÇÃO E LIGAÇÕES

Carta das Nações Unidas

Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça

Declaração e Programa de Acção de Viena

Carta Internacional dos Direitos Humanos

Declaração Universal dos Direitos do Homem

Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais

Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos

Prevenção da Discriminação

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial

Direitos da Mulher

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres

Direitos da Criança

Convenção sobre os Direitos da Criança

Declaração dos Direitos da Criança

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Direitos dos Idosos

Princípios das nações unidas para as pessoas idosas

Escravatura, Trabalhos Forçados e Práticas Similares

Convenção n.º 29 da OIT sobre Trabalho Forçado ou Obrigatório

Convenção n.º 105 da OIT sobre a Abolição do Trabalho Forçado

Emprego

Convenção n.º 97 da OIT relativa aos Trabalhadores Migrantes

Convenção n.º 100 da OIT relativa à Igualdade de Remuneração entre a Mão-de-obra Masculina e a Mão-de-obra Feminina em Trabalho de Valor Igual

Direito dos Refugiados

Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados

Direito Internacional Humanitário

Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio

Convenção I de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos e Doentes das Forças Armadas em Campanha

Convenção II de Genebra para Melhorar a Situação dos Feridos, Doentes e Náufragos das Forças Armadas no Mar

Convenção III de Genebra relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra

Convenção IV de Genebra relativa à Protecção das Pessoas Civis em Tempo de Guerra

Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional

Direitos Humanos na Administração da Justiça

Prevenção e punição da tortura e outras graves violações de direitos humanos

Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradan

SUGESTÕES DE EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES DE VIDA A INTEGRAR NO PORTEFÓLIO

Explorar os marcos legislativos produzidos nos últimos séculos e que foram consagrando sucessivamente novos direitos do homem: direitos cívicos e políticos (1.ª geração), sociais, económicos e culturais (2.ª geração), qualidade de vida, paz, autodeterminação dos povos e outros (3.ª geração), de acesso às TIC, à privacidade, a ver consideradas as questões éticas, etc.).

Explorar situações concretas de violação de alguns direitos humanos no mundo atual (sugere-se três) tendo por base uma notícia, uma imagem que considere robusta. Justifique a sua opção e evidencie de que modo a situação explorada representa uma violação de direitos e deveres humanos consagrados nos documentos/declarações internacionais aprovados sobre a matéria. Aproveite para reflectir sobre a necessidade de atuar solidariamente com as sociedades mais desfavorecidas (situações associadas à pobreza, à fome, às desigualdades, ao racismo, às migrações, à guerra, etc.) visando a sua generalização.

Emitir uma opinião sob o grau de cumprimento da DHDU em Portugal.