rui alves de andrade anÁlise da cadeia produtiva … alvez... · aos alunos do curso de ciências...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO RUI ALVES DE ANDRADE ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA MOVELEIRA NA REGIÃO DE IMPERATRIZ Belém 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAR

NCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZNICOS

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLIMENTO SUSTENTVEL DO

TRPICO MIDO

RUI ALVES DE ANDRADE

ANLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA INDSTRIA MOVELEIRA NA REGIO

DE IMPERATRIZ

Belm

2006

2

RUI ALVES DE ANDRADE

ANLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA INDSTRIA MOVELEIRA NA REGIO

DE IMPERATRIZ

Dissertao apresentada para obteno do grau de

Mestre em Planejamento do Desenvolvimento

Orientador: Prof. Dr. Marcos Ximenes Ponte

Belm

2006

3

RUI ALVES DE ANDRADE

ANLISE DA CADEIA PRODUTIVA DA INDSTRIA MOVELEIRA NA REGIO

DE IMPERATRIZ

Dissertao apresentada para obteno do

grau de Mestre em Planejamento do

Desenvolvimento.

Aprovada em: _______/_________/___________.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Dr. Marcos Ximenes Ponte (Orientador)

NAEA/UFPA

______________________________________________ Prof. Dr. Fbio Carlos da Silva

NAEA/UFPA

______________________________________________ Prof. Dr. Alfredo Kingo Oyama Homma

EMBRAPA - Amaznia Oriental

Examinador Externo

4

Produo em grande escala pode ser obtida por unio de

pequenas empresas, concentradas em um territrio,

especializadas em todas as fases de produo,

recorrendo a um nico mercado, nacional ou

internacional.

A cultura da cooperao uma filosofia, uma forma de

pensar e agir, que pressupe a crena em valores e

princpios humansticos de colaborao, em que a unio

promove uma vida de melhor qualidade para todos.

[email protected]

mailto:[email protected]

5

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela concesso da graa de poder concluir mais uma etapa de minha

caminhada com sucesso.

Ao Professor Doutor Marcos Ximenes Ponte, pela serenidade, dedicao e

disponibilidade durante todo o perodo de segura orientao.

Aos Professores Doutores, ndio Campos, Fbio Carlos da Silva e Alfredo K.

Homma, pela contribuio, atravs de sugestes e crticas nos processos de qualificao do

projeto e defesa da dissertao, cujo resultado foi o aperfeioamento do trabalho.

Universidade Federal do Par - UFPA e ao Ncleo de Altos Estudos

Amaznicos NAEA, representados pelas Professoras Doutoras, Teresa Ximenes e Edna

Castro, pela dedicao e crena na realizao plena deste curso de mestrado interinstitucional

Faculdade de Imperatriz - FACIMP, na pessoa do Dr. Antonio Leite Andrade,

Professora Dorlice Andrade, Professor Edgar Oliveira Santos e colaboradores, pelo empenho

dispensado para a viabilizao do curso.

Aos colegas de curso pelo companheirismo, disponibilidade e cooperao durante

os perodos de convivncia.

Ao Administrador de Empresas e consultor do SEBRAE em Imperatriz,

Francisco Barbosa da Silva, pela disponibilizao de informaes e dados, de grande

utilidade para a complementao dos trabalhos de pesquisa.

Diretoria do Centro Federal de Educao Tecnolgica do Maranho CEFET

/ UNED, na pessoa dos Professores, Francisco Alberto G. Filho e Rubeny Brgida Ubaldo, e

em especial, aos servidores lotados na Diviso de Contabilidade, Ubiratan Vicente Gomes

Mascarenhas, Deuselina Lopes da Silva Serejo e Maria Clia Ramos Silva, pela

concordncia sempre dispensada aos meus requerimentos de afastamento para o curso.

6

Universidade Federal do Maranho - UFMA Campos II, atravs do Professor

Doutor Antonio Jefferson de Deus que, na condio de Diretor, foi sempre um

incentivador incondicional da minha ascenso ao mestrado.

Professora Ms. Clia Maria Braga Carneiro da Universidade Federal do Cear

UFC, por me fazer despertar o interesse sobre a importncia temtica das Cadeias

Produtivas, idia que se transformou em objeto deste trabalho.

s colegas de trabalho, Ana Maria Sousa, Renilda Soares, Ana Cristina e ao

Contador Jos G. Teodoro, pelas contribuies na organizao tcnica e normativa.

minha famlia pela dedicao e o apoio em todos os momentos e, em especial a

Valdlia, pelos trabalhos de reviso ortogrfica.

Aos empresrios do setor moveleiro em Imperatriz e Joo Lisboa, Alair Chaves de

Miranda, Moema Mveis, Bismak Jorge Serraria Imperatriz, e Luiz da Silva Dimas D6

Mveis, pelos importantes esclarecimentos prestados pessoalmente, sobre a historicidade e

as perspectivas para indstria moveleira na regio de Imperatriz.

Ao Contador e ex-aluno do Curso de Cincias Contbeis da FACIMP, Francisco

Gonalves de Andrade, pela aplicao dos questionrios de pesquisa sobre a indstria

moveleira no Municpio de Aailndia.

Aos alunos do Curso de Cincias Contbeis da Universidade Federal do

Maranho e da Faculdade de Imperatriz, pelo muito que aprendi atravs do intercmbio de

experincias compartilhadas em sala de aula.

7

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Vantagem associada localizao do arranjo............................................ 88

Grfico 2 Grau de importncia dos atributos da mo de obra local........................... 89

Grfico 3 Grau de importncia das formas de cooperao........................................ 91

Grfico 4 - Atuao das instituies na promoo do desenvolvimento local.............. 93

Grfico 5 Fatores que limitam o desenvolvimento da indstria local........................ 94

Grfico 6 Faixa etria dos empreendedores............................................................... 96

Grfico 7 Grau de instruo....................................................................................... 96

Grfico 8 Situao Patrimonial do Proprietrio......................................................... 97

Grfico 9 Media de vendas mensal............................................................................ 98

8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exportaes brasileiras de mveis por Estado .............................................

25

Figura 2: Localizao de Imperatriz no Estado de Maranho...................................... 29

Figura 3: Localizao de Imperatriz no contexto regional .......................................... 30

Figura 4: Rotas internacionais a partir do Estado do Maranho................................... 60

Figura 5: Sistema Ferrovirio do Estado do Maranho............................................... 61

Figura 6: Cadeia produtiva de madeira e mveis......................................................... 67

Figura 7: Concentrao da indstria brasileira de mveis ........................................... 78

Figura 8: Distritos Industriais Projetados .................................................................... 101

Figura 9: Linha de produo da fbrica D6 Mveis .................................................... 107

9

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Exemplo de uma das caractersticas dos arranjos produtivos locais ........ 43

Quadro 2: Arranjos produtivos locais APL ............................................................... 69

Quadro 3: Grupos e tipos de servios ........................................................................ 72

Quadro 4: Os Plos regionais e as respectivas peculiaridades................................... 77

Quadro 5: Indstrias filadas ao SINDIMIR................................................................ 84

10

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais Estados exportadores de mveis em 2004............................... 24

Tabela 2: Srie histrica e variao do PIB maranhense.......................................... 62

Tabela 3: Srie histria do PIB em relao aos Estados da Regio Nordeste.......... 63

Tabela 4: ndice de Desenvolvimento Humano - IDH dos Estados do Nordeste .... 64

Tabela 5: Nmero de empresas e empregados do setor moveleiro por Estado........ 75

Tabela 6 Principais municpios produtores de mveis no Brasil ............................ 76

Tabela 7: Vantagens associadas localizao do arranjo ........................................ 88

Tabela 8: Grau de importncia dos atributos da mo-de-obra loca........................... 89

Tabela 9: Grau de importncia s formas de cooperao......................................... 90

Tabela 10: Atuao instituies na promoo do desenvolvimento local............... 92

Tabela 11: Fatores que limitam o desenvolvimento local........................................ 94

Tabela 12: Exportaes do Estado do Maranho por Municpio.............................. 99

11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIMOVEL Associao Brasileira da Indstria do Mobilirio

ABNT Associao Brasileira de Norma Tcnicas

ACII Associao Comercial e Industrial de Imperatriz

ADAM Agncia de Desenvolvimento da Amaznia

ADENE Agncia de Desenvolvimento do Nordeste

AMMAR Associao dos Moveleiros de Marco Cear

APL Arranjo Produtivo Local

ASSIMPOLO Associao das Indstrias do Plo Moveleiro de Aailndia

BASA Banco da Amaznia S/A

BB Banco do Brasil S/A

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

CEF Caixa Econmica Federal

CEFET Centro Federal de Educao Tecnolgica

CFN Companhia Ferroviria do Nordeste

COEXIMIR Consrcio de Exportao de Imperatriz

CVRD Companhia Vale do Rio Doce

DLIS Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel

ECIB Estudo da Competitividade Brasileira

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

FACIMP Faculdade de Imperatriz

FAEMA Federao da Agricultura do Estado do Maranho

FGV Fundao Getulio Vargas

FIEMA Federao das Indstrias do Maranho

12

GEPLAN Gerncia Estadual de Planejamento

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IDH ndice de Desenvolvimento Humano

IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

MCT Ministrio da Cincia e Tecnologia

MDF Mdium Density Fiberboard fibra de madeira media densidade

MDIC Ministrio do Desenvolvimento da Indstria e do Comrcio Exterior

MMA Ministrio do Meio Ambiente

NAEA Ncleo de Altos Estudos Amaznicos

OCDE Organizao para a Cooperao do desenvolvimento

ONGs Organizaes No Governamentais

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PBD Programa Brasileiro de Design

PIB Produto Interno Bruto

PMES Pequenas e Mdias Empresas

PROMOVEL Programa Brasileiro de Incremento Exportao de Mvel

PRONAF Programa Nacional de Agricultura Familiar

RAIS Relao de Informaes Sociais

SEBRAE Servio de Apoio Pequena e Mdia Empresa

SECEX Secretaria de Comercio Exterior

SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

SINDIMIR Sindicato da Indstria Madeireira e Moveleira de Imperatriz

SUDAM Superintendncia de Desenvolvimento da Amaznia

SUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste

UFMA Universidade Federal do Maranho

13

UFPA Universidade Federal do Par

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

USP Universidade de So Paulo

14

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar o atual estgio de desenvolvimento em que se encontra

a indstria moveleira na regio de Imperatriz que alm de Imperatriz, inclui os municpios de

Acailndia e Joo Lisboa no Maranho, bem como, a sua importncia social e econmica, por

considerar que o ambiente rene vrios elementos capazes de caracteriz-lo como um arranjo

produtivo local de relativa grandeza, especialmente pela tradio, quantidade de

empreendimentos existentes e a proximidade entre eles. O que se denomina de arranjo

produtivo local, refere-se aos diferentes tipos de aglomeraes produtivas tratados na

literatura e servir de base terica para as outras fundamentaes a seguir. Analisa-se o grau

de cooperao entre as firmas da regio de Imperatriz, e as instituies de apoio e promoo

do setor de madeira e mveis, e os possveis ganhos caractersticos das economias de

aglomerao, por se considerar que a capacitao produtiva em tese, no tem maiores

progressos em ambientes isolados. A evoluo dos arranjos produtivos locais, historicamente

vem acontecendo em espaos que adotam como regra a cooperao e a interao entre os

agentes, sempre no sentido de se criar a ambincia institucional capaz de promover mudanas

positivas. Por fim, de forma individualizada, analisa-se os municpios de Acailndia e Joo

Lisboa, enfocando as suas respectivas peculiaridades durante a trajetria da industrializao

de madeira e mveis.

PALAVRAS-CHAVE: Indstria Moveleira; Arranjos Produtivos Locais; Desenvolvimento

Local; Competitividade; Inovao Tecnolgica; Cadeias Produtivas.

15

ABSTRACT

This work aims to analyze the current level of development in which the furniture industry is

in the area of Imperatriz that besides Imperatriz, includes the districts of Aailandia and Joo

Lisboa in Maranho, as well as, its social and economical importance, by considering that the

environment presents several elements capable of characterizing it as a local arrangement of

productivity of relative greatness, especially for the tradition, amount of existent enterprises

and the proximity among them. What is called of local arrangement of productivity, refers to

the different types of productive agglomeration treated in literature and will be used as

theoretical recital for other basis to be followed. The cooperation degree is analyzed among

the companies in Imperatriz area, and the support institutions and promotion of the log and

furniture sector, and the possible earnings characteristic of economies of agglomeration,

considering that the productive training in theory doesn't have a large progress in isolated

regions. The evolution of the local productive arrangements historically has been happening

in spaces that adopt as rule the cooperation and the interaction among the agents, always in

the sense of creating the institutional environment capable of promoting positive changes.

Finally, in an individualized way, the districts of Aalinadia and Joo Lisboa are analyzed,

focusing their respective peculiarities during the destination of log and furniture

industrialization.

KEY-WORDS: Furniture Industry; Local Productive Arrangements; Local

Development; Competitiveness; Technological Innovation; Productive

Network.

16

SUMRIO

INTRODUO.......................................................................................................... 18

1 PROBLEMATIZACO......................................................................................... 20

1.1 Identificao......................................................................................................... 20

1.2 Objetivo geral....................................................................................................... 26

1.3 Estrutura do Estudo............................................................................................. 27

2 CARACTERIZAO DO MUNICPIO DE IMPERATRIZ............................ 29

2.1 Localizao geogrfica......................................................................................... 29

2.2 Antecedentes histricos........................................................................................ 30

2.3 Potencialidades..................................................................................................... 31

2.4 Problemas estruturais da cidade de Imperatriz e Regio 33

3 DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL............................................... 35

3.1 Perspectivas tericas para o desenvolvimento local..........................................

35

3.1.1Metodologias e proposies................................................................................. 44

3.1.2 Conscientizao dos agentes comunitrios para a participao.......................... 45

3.1.3 Diagnstico preliminar........................................................................................ 46

3.1.4 Elaborao do plano de ao............................................................................... 48

3.1.5 Implantao de aes e avaliaes permanentes................................................. 48

3.2 O desenvolvimento regional no Brasil................................................................ 50

3.2.1 A regionalizao da economia no novo contexto............................................... 51

3.2.2 Fatores condicionantes da atual poltica de desenvolvimento regional.............. 53

3.3Competitividade..................................................................................................... 54

3.3.1 Dimenses da competitividade............................................................................ 55

3.4 Inovao................................................................................................................ 56

17

3.4.1 O sistema brasileiro de inovao........................................................................ 57

4 ARRANJOS E SISTEMAS PRODUTIVOS LOCAIS NO MARANHO. 60

4.1 Os padres de crescimento e de desenvolvimento do Estado........................... 60

4.2 Os Arranjos e sistemas produtivos locais........................................................... 65

4.3 Estratgias em curso para o desenvolvimento.................................................. 70

5 A INDSTRIA DE MVEIS NO BRASIL......................................................... 74

5.1 Caracterizao do setor moveleiro nacional...................................................... 74

5.2 Estimativas de crescimento da indstria moveleira nacional.......................... 79

6 A INDSTRIA DE MVEIS DA REGIO DE IMPERATRIZ ..................... 81

6.1 Caracterizao do arranjo produtivo local sob a perspectiva......................... 81

6.2 Histrica................................................................................................................ 82

6.3 O Municpio de Aailndia ................................................................................. 98

6.3.1 A situao atual das unidades instaladas............................................................. 103

6.4 Joo Lisboa........................................................................................................... 104

6.4.1 A proximidade da matria prima e a facilidade de acesso................................. 106

6.4.2 A disponibilidade de mo-de-obra local............................................................. 106

CONSIDERAES FINAIS................................................................................ 109

REFERNCIAS..................................................................................................... 113

APNDICE............................................................................................................ 118

18

INTRODUO

A regio Sul do Maranho1 j rene e tende a ampliar, uma diversidade de cadeias

produtivas2 baseadas em vrios segmentos especialmente no setor agro-industrial, no entanto,

os estudos e levantamentos realizados por rgos governamentais e outros, revelam que os

elos das respectivas cadeias, ainda se apresentam muito fragmentados, principalmente pela

quantidade de empreendimentos informais ainda existentes.

O trabalho apresentado tem como objetivo principal pesquisar e conhecer os

nveis de interao e cooperao existente entre as firmas do setor moveleiro da regio de

Imperatriz3, e os possveis ganhos decorrentes deste processo de aglomerao, que

naturalmente vem acontecendo no entorno da cidade de Imperatriz e os municpios de Joo

Lisboa, Aailndia, Buriticup e Itinga do Maranho, que juntos j renem algo em torno de

130 estabelecimentos trabalhando na mesma atividade.

O espao delimitado para os fins do estudo, ficou restrito a Imperatriz, Aailndia,

e Joo Lisboa, por serem alem de mais representativos estarem localizados numa proximidade

maior entre si. A obteno das informaes de natureza primria envolveu a aplicao de

questionrios e a realizao de entrevistas junto s empresas e as instituies que atuam na

promoo do desenvolvimento na regio, como os sindicatos associaes, e a representao

local do Sebrae.

O setor de madeira e mveis tradicionalmente representa para a regio uma fonte

importante de gerao de emprego e renda, e em funo da quantidade de estabelecimentos e

1 Os Municpios de Imperatriz, Acailndia, Joo Lisboa, Porto Franco, Campestre, Estreito, Carolina e Balsas,

so exemplos de espaos dos mais importantes inseridos no contexto da economia regional e geograficamente

situados na regio Sul do Estado do Maranho. 2 A abordagem adotada nesse estudo sobre cadeias produtivas refere-se anlise econmica que utiliza o uso

destas para aplicabilidade na construo de clusters, visando o desenvolvimento auto-sustentvel em uma

determinada regio geogrfica, destacando-se nesse trabalho uma investigao sobre a regio de Imperatriz. 3 De acordo com os conceitos de espaos econmicos e regies, a cidade de Imperatriz se constitui como o

centro urbano de uma regio polarizada, por ser um plo que concentra atividades industriais, comerciais e de

servios, em torno do qual gravitam centros menores, com abrangncia aos Estados do Par e Tocantins.

19

proximidade, presume-se a existncia de um certo grau de sinergias proveniente da

especializao produtiva, justificando, portanto, o seu estudo pela da necessidade de se

explicar a sua trajetria e as contradies que se apresentam.

Ao se estudar todos estes aspectos, presume-se que o presente trabalho poder

ainda, servir de instrumento na identificao dos gargalos que de uma forma ou de outra,

dificultam a prosperidade dos empreendimentos, alm de contribuir com as articulaes entre

governos, instituies e outros atores, que estejam direta ou indiretamente envolvidos com o

processo de desenvolvimento do Estado e dos Municpios pesquisados.

Nesta perspectiva, procura-se direcionar o trabalho para uma abordagem de

carter territorial, enfocando a temtica do desenvolvimento da pequena indstria local, entre

os objetivos maiores, priorizando-se por conseguinte, a promoo de um ambiente

institucional mais favorvel ao fortalecimento e a criao de novos estabelecimentos da

cadeia produtiva em estudo.

O trabalho apresentado est dividido em 07 unidades analiticamente abordadas na

seo que desenvolve a estrutura do estudo. Na primeira unidade se faz uma contextualizao

entre a perspectiva terica e a problemtica do arranjo produtivo local de madeira e mveis na

regio de Imperatriz4. Na segunda dos aspectos relativos caracterizao do municpio de

Imperatriz. Na terceira, faz uma abordagem terica sobre a categoria desenvolvimento local e

regional. Na quarta unidade, descreve-se a atual composio dos arranjos produtivos locais no

Estado do Maranho. Na quinta e sexta unidades o enfoque dado sobre a indstria de mveis

no Brasil e na regio de Imperatriz respectivamente. Por fim, na stima ltima, trata-se das

consideraes finais, e as perspectivas para a indstria de madeira e mveis na regio de

Imperatriz.

4 Reitera-se que para os fins especficos deste trabalho, usa-se o termo Regio de Imperatriz para caracterizar

o espao de maior destaque no setor moveleiro em estudo, como tambm, cidade de Imperatriz, Acailndia,

Joo Lisboa, Itinga, e Buriticup, quando se trata de aspectos mais localizados.

20

1. PROBLEMATIZACO

1.1 Identificao

O surgimento de uma nova forma de organizao da produo vem sendo

destaque em toda a literatura da economia industrial, fato que se observa principalmente a

partir de 1980, caracterizada pela formao de conglomerados de empresas. Trata-se de uma

forma de organizao que se sobressai ao capacitar as Pequenas e Mdias Empresas - PMEs a

enfrentarem o processo de liberalizao econmica e a difuso do novo paradigma

tecnolgico.

A importncia dada localidade uma caracterstica paradoxal do debate recente

sobre vantagem competitiva nos mercados globais. A respeito da globalizao e da

emergncia de redes globais de comunicao, os autores tem enfatizado a importncia da

proximidade geogrfica e fontes locais de competitividade. Termos como sinergia,

competitividade sistmica, sistemas de inovao local ou eficincia coletiva tem estado

sempre em evidncia. A organizao das pequenas e mdias empresas em sistemas locais

propicia a gerao de economias de aglomerao definidas como um ativo coletivo

compartilhado por um grupo de firmas, constitudo de uma infra-estrutura fsica ou de

conhecimento, necessria sustentao e crescimento dessas. Os arranjos produtivos tm o

papel de facilitadores na construo de vantagens competitivas dinmicas.

A cooperao5 em aglomerados permite o incremento da base tecnolgica,

produtividade e qualidade do sistema operacional entre PMEs. Dentre muitas vantagens,

algumas merecem destaque, havendo prevalncia da composio entre empresas,

compartilhamento de atividades comuns, desde compras integradas a capacitao de mo-de-

5 O significado genrico de cooperao o de trabalhar em comum, envolvendo relaes de confiana mtua e

coordenao, em nveis diferenciados, entre os agentes.

21

obra, marketing em conjunto, pesquisas de mercados, contratao de servios de logstica,

acessibilidade informao tecnolgica, acelerao de processos produtivos, alcance da

competitividade e minimizao de custos, atravs da qualificao e capacitao das empresas,

agregao de maior valor aos produtos e acesso a crditos.

Para compreender a dinmica das economias regionalizadas, analisa-se o conceito

de cluster aglomeraes de pequenas e mdias empresas concentradas geograficamente.

Essa reunio de diversas empresas do mesmo setor permite a obteno de uma flexibilidade

produtiva com especializao, atravs de aes articuladas de forma cooperativa (eficincia

coletiva) para obter maiores vantagens competitivas.

A caracterizao do cluster e as relaes entre-firmas na indstria, relao

entre-firmas com fornecedores e instituies de apoio, possibilitam conhecer os pontos

fortes e os pontos fracos do conjunto de empresas.

La OCDE destaca la importncia de los clusters y aglomeraciones regionales para la

creacin y el desarrollo de crculos virtuosos de interaccion y retroalimentacin

(virtuous circles of interation and feedback) entre la acumulacin de capital fsico, la

elevacin del capital humano, la acumulacin tecnolgica y la competividad

empresarial. (HURTIENE & MESSNER, 1994, p. 84).

Assim torna-se possvel estabelecer estratgias polticas de promoo de

desenvolvimento do cluster.

A realidade brasileira, no caso da indstria de mveis, assim como tantas outras,

so ainda caracterizada pela informalidade6. A informalidade gera ineficincia em toda a

cadeia industrial dificultando, por exemplo, a introduo de normas tcnicas que atuariam na

padronizao dos mveis, assim como das suas partes e componentes intermedirios.

6 Na regio de Imperatriz os dados da pesquisa realizada pelo SEBRAE 2003, revelam que a informalidade

chega a 72% dos estabelecimentos.

22

A difuso de novas matrias-primas para a confeco do mvel, como as madeiras

reflorestveis, em que o pais teria grandes vantagens competitivas pela dimenso

das florestas plantadas dificultada pelos seguintes fatores: a) fcil acesso s

florestas nativas; b) carncia de fornecedores experientes no plantio especializado,

assim como no processamento primrio e secundrio da madeira (essas ltimas

etapas exigem elevados investimentos na secagem e corte); c) baixos investimentos

no projeto e no desing moveleiro, gerando pequena demanda da indstria por novos

materiais; d) inexistente interao da indstria moveleira com o consumidor final,

prejudicando a identificao de novas tendncias do mercado. (GORINE, 2000, p.

34).

O Governo Federal vem apoiando iniciativas de desenvolvimento do setor,

estudando a cadeia produtiva para estabelecer estratgias de apoio, especialmente pelas

perspectivas exportadoras em possibilidades de gerao de emprego. Em Santa Catarina, na

regio do Planalto Norte, encontra-se o cluster de So Bento do Sul7, especializado na

produo de mveis de alto e mdio padro. A indstria de mveis representa a base da

economia da regio.

J se observou que o termo regio empregado em situaes muito diversas,

apresentando uma variedade de significados. De qualquer forma, a idia de regio

freqentemente associada a certa uniformidade ou homogeneidade. Assim, por

exemplo, Regio do Pantanal, Regio do ABC Paulista, Regio da Baixada

Fluminense, Regio do Cerrado, Regio do Agreste so exemplos que apresentam

implcita a idia de homogeneidade. A Regio txtil de Santa Catarina constitui

uma regio homognea do ponto de vista da presena de fbricas de fios e tecidos.

A regio dos Minrios, nas proximidades de Curitiba, constitui uma regio

homognea quanto presena de atividades de minerao e industrializao de

minerais no metlicos. (CLEMENTE, 2000, p. 16)

O cluster de So Bento do Sul e regio, destaca-se pela alta concentrao de

empresas num espao geogrfico pequeno, com uma evoluo histrico/cultural especfica,

que conduziu especializao do plo moveleiro, sendo um dos mais importantes do Brasil,

7 O cluster industrial moveleiro da regio de So Bento do Sul o principal no Estado de Santa Catarina, e de

maior destaque no Brasil pela sua capacidade exportadora, representando em torno de 37% das exportaes

nacionais e 40% da economia de So Bento do Sul.

23

consolidando a capacidade tecnolgica e especializao produtiva, bem como experincia e

mo-de-obra qualificada, permitindo a sua internacionalizao.

Outros grandes plos moveleiros do Brasil esto concentrados nos Estados de

Minas Gerais, nas cidades de Ub, Bom Despacho e Martinho Campos, no Estado do Esprito

Santo, em Linhares e Colatina, no Estado do Paran em Arapongas, no Estado de So Paulo,

nas cidades de Votuporanga, Mirassol, Jaci, Blsamo, Neves Paulista e Tup, e no Rio Grande

do Sul, em Bento Gonalves e Lagoa Vermelha. O municpio de Bento Gonalves o maior

plo moveleiro do Rio Grande do Sul representa 9% da produo nacional. (GORINE

2000, p. 44).

De acordo com a Relao de Informaes Sociais RAIS 2002, a indstria

brasileira de mveis formada por mais de 16.000 micro, pequenas e medias empresas que

geram mais de 195.000 empregos de capital nacional, em sua maioria, so empresas

familiares, muito fragmentadas e caracteriza-se principalmente por dois aspectos:

a) elevado nmero de micro e pequenas empresas, em um setor de capital

majoritariamente nacional;

b) grande absoro de mo de obra.

Com o aumento havido nas exportaes, nos ltimos anos, a indstria

desenvolveu muito a sua capacidade de produo e apurou significativamente a qualidade dos

seus produtos.

O Brasil o dcimo maior produtor mundial de mveis, mas ocupa a vigsima

quarta colocao em exportaes8. O setor exportou em 2002, US$ 536 milhes, dentro de um

mercado mundial que movimenta US$ 51 bilhes por ano somente em exportaes. Entre os

maiores compradores de mveis brasileiros esto os Estados Unidos (26%), Franca (16%),

8 Alem dos Emirados rabes, o Kwait, Arbia Saudita, Japo e Mxico fazem parte do novo mercado para

exportao de mveis brasileiros, dentro da estratgia definida pelo Pr-Mvel para 2003. O Pr-Mvel um

programa criado h quatro anos pela Abimvel para incrementar as exportaes do setor. Atualmente o

programa conta com a participao de 600 empresas dos 13 plos moveleiros do Brasil. [email protected]

mailto:[email protected]

24

Argentina (13%) Alemanha (10%) e Reino Unido (9%). Na Tabela 1, se demonstra uma

distribuio mais atualizada por Estado onde se pode observar o alto grau de crescimento que

o setor vem experimentando nos ltimos semestres.

Tabela 1: Principais estados exportadores 2004 (valores em US$)

ESTADO

ESPECIFICACES

TOTAL

%

NCM 9491 NCM 9403 NCM 9404

ASSENTOS MVEIS COLCHES

01. Santa Catarina 17.382.206 409.462.260 144.652 426.989.118 45

02. Rio Grande do Sul 45.776.347 230.335.923 407.366 276.519.636 29

03. Paran 30.066.412 61.759.263 108.410 91.934.085 9,7

04. So Paulo 35.978.420 31.466.900 279.953 67.725.273 7,2

05. Bahia 45.218.528 104.489 45.323.017 4,8

06. Minas Gerais 1.611.721 5.590.102 444.689 7.646.512 0,8

07. Esprito Santo 39.984 5.839.300 930 5.880.214 0,6

08. Maranho9 1.715.150 2.605.090 4.320.240 0,4

09. Par 868.525 3.023.566 15.427 3.907.518 0,4

10. Cear 828.310 2.191.698 43.149 3.063.157 0,3

12. Rio de Janeiro 1.672.246 1.059.682 820 2.732.748 0,3

11. Mato Grosso do Sul 621.894 1.186.679 1.808.573 0,2

13. Amazonas 163.956 160.452 324.408 0,03

15. Pernambuco 187.374 475.519 71.774 734.667 0,07

14. Rondnia 28.837 135.239 164.076 0,02

16. Outros 403.640 895.309 131.306 1.435.083 0,1

17. Rio Grande do Norte 66.150 66.150 0,0

TOTAL 182.563.550 756.362.449 1.648.376 940.574.475 100,0%

18,5% 81% 0,5%

Fonte: ABIMOVEL [2005] - adaptada

9 Conforme os dados de 2004, a posio que ocupa o Estado do Maranho como o 8. da federao no ranking

das exportaes, tem como referncia a Regio de Imperatriz com destaque para o Municpio de Joo Lisboa.

25

Observando-se a situao dos Estados do Norte, ou mais precisamente os que

fazem parte da Regio Amaznica, conclui-se que estes Estados embora tenham

historicamente se caracterizado como grandes produtores e exportadores de madeiras nobres,

no tiveram progressos significativos na industrializao de mveis, priorizando, por

conseguinte, a exportao da madeira para abastecer as indstrias de mveis em outros

Estados e Pases.

No grfico 1, se pode verificar, a baixa representatividade dos Estados da Regio

Norte do Brasil no tocante da industrializao de mveis. Uma informao que confirma as

evidncias citadas nessas estatsticas a partir do Tabela 1, o grau de crescimento da indstria

moveleira cearense, prosperando rapidamente em um Estado que no produz madeira e ao

mesmo tempo, no tem a tradio de sua industrializao como o caso dos Estados do Sul,

mesmo assim se constata um substancial progresso na produo e na exportao.

Figura 1 -Nveis das exportaes brasileiras de mveis por Estado (US$).

Fonte: Abimovel 2005. Disponvel

A cidade de Marco na regio do Baixo Acara constitui um exemplo onde

prospera um plo moveleiro com um nmero de fbricas bastante expressivo, no s do ponto

26

de vista quantitativo, mas qualitativo tambm. Atualmente esse tipo de indstria a principal

atividade econmica na regio.10

1.2. Objetivo geral

Conhecer os possveis ganhos amealhados pelas indstrias de mveis da Regio

de Imperatriz, provenientes dos efeitos da aglomerao e de outros fatores pertinentes.

a) Objetivos especficos:

Identificar as vantagens associadas localizao da indstria na regio de

Imperatriz;

Conhecer a importncia dada pela comunidade empreendedora aos aspectos

relacionados com a cooperao e o aprendizado coletivo;

Conhecer o tipo de apoio proveniente de polticas pblicas na forma de

financiamentos, e apoios institucionais;

Identificar os principais obstculos em relao a obteno de crditos;

Avaliar o grau de capacitao tecnolgica;

Mensurar o grau de informalidade entre os estabelecimentos;

Confirmar a existncia de cooperao entre as firmas;

Identificar valores de receitas, custos e volume de matrias-primas;

Conhecer o tipo de produto fabricado na regio e os mercados

consumidores.

10

Do artesanato da madeira, caracterizado pela confeco de cadeiras, comercializadas nas lojas do ramo em

Fortaleza, surgiu a Indstria de Mveis e em 1996 foi constitudo o Plo Industrial de Marco. Atualmente a

atividade moveleira conta com 90% de funcionrios, operrios, artesos do prprio municpio. Especialistas do

Sudeste e Sul do Pas treinaram os trabalhadores, e os qualificam profissionalmente. Atualmente o Municpio

alm de atender o mercado interno, exporta para os Estados Unidos, Itlia, Portugal, Porto Rico e outros, de

acordo com as informaes prestadas pela Associao dos Moveleiros de Marco AMMAR.

27

1.3. Estrutura do Estudo

Alm das informaes obtidas atravs de fontes primrias, buscou-se outras

igualmente vlidas de natureza secundria, utilizando-se de dados contidos nos planos e

programas governamentais e pesquisas encomendadas pelo Servio Brasileiro de Apoio s

Micro e Pequenas Empresas Sebrae. O tipo de questionrio aplicado com as empresas

inicialmente envolveu cinco blocos.

O primeiro aborda uma srie de questes relacionada diretamente com as

vantagens associadas localizao da indstria de mveis na regio de imperatriz,

contemplando alguns fatores como a facilidade de acesso a matrias-primas, a disponibilidade

de mo-de-obra qualificada, a infra-estrutura disponvel, a proximidades com fornecedores de

equipamentos etc.

No segundo, trata-se de aspectos diretamente relacionados com as caractersticas

da mo-de-obra local, procurando avaliar os graus de escolaridade, disciplina, flexibilidade, e

criatividade.

O terceiro avalia a importncia dada s diversas formas de cooperao e de

aprendizado, como compra de equipamentos, venda conjunta, desenvolvimento de processo,

divulgao, capacitao de recursos humanos e outras.

O quarto aborda as polticas pblicas e formas de financiamentos, com

questionamentos especficos sobre a atuao dos trs nveis de governo, instituies de apoio

e bancos oficiais.

Finalmente, o quinto bloco procura identificar os obstculos que limitam ou

impedem o acesso das firmas s fontes de financiamento, procurando evidenciar as

dificuldades alegadas para as suas habilitaes ao crdito.

28

A aplicao dos questionrios envolveu preliminarmente, uma amostra de 07

empresas escolhidas entre as mais representativas tanto pelo porte como pela tradio na

fabricao de mveis.

Complementarmente pesquisa citada, utilizou-se outros dados, que tabulados

especificamente para os fins deste trabalho, contriburam para a compreenso de

questionamentos no contemplados no primeiro momento. A pesquisa foi encomendada pelo

Sebrae e executada no perodo 2002/2003, pela Diles Consultoria Internacional Ltda. De um

total de 193 unidades que compe o parque da regio abrangendo Imperatriz, Aailndia e

Joo Lisboa, foram pesquisados 71 estabelecimentos, o que correspondeu a uma amostra de

36,78% do total de unidades existentes no arranjo.

Os questionrios foram tabulados de forma a se obter dados expressos

graficamente sobre a faixa etria dos empreendedores, o nvel de escolaridade e a renda mdia

obtida com a atividade.

29

2 CARACTERIZAO DO MUNICPIO DE IMPERATRIZ

2.1 Localizao geogrfica

A cidade de Imperatriz onde se polariza os demais municpios que compem a

denominada regio tocantina, est localizada no sudoeste maranhense. Est situada margem

direita do rio Tocantins, inserida no Planalto setentrional Par-Maranho, fazendo parte da

Amaznia Legal. Fica a 630 km da capital, So Luis, 570km de Belm do Par, 800km de

Teresina, Piau e 600km de Palmas Tocantins. Limita-se ao Norte com os municpios de

Davinpolis, Senador La Roque e Governador Edison Lobo; ao Oeste com o rio Tocantins.

Possui uma superfcie de 1.531 quilmetros quadrados, altitude de 116 metros, latitude de

5,52639 e longitude 47,48972. A figura 2 ilustra a posio geogrfica acima descrita.

Figura 2 A localizao de Imperatriz no Estado do Maranho.

Fonte : GPELAN [2005]. Disponvel em: < http://www.gov.ma.br>

http://www.gov.ma.br/

30

2.2 Antecedentes histricos

Em 16 de julho de 1852, na margem direita do rio Tocantins, divisa das provncias

do Maranho e Par, foi fundado um povoado, por ordem do ento presidente da provncia do

Par, Jernimo Francisco Coelho.

Depois de dois anos, os governos das provncias do Maranho e Par chegaram a

um acordo sobre os limites de suas reas e, atravs da Lei 772, de 23 de agosto de 1854, o

vilarejo de Santa Teresa ficou do lado maranhense.

Em 05 de dezembro de 1862, a povoao de Santa Teresa passou a chamar-se Vila

Nova da Imperatriz, que foi elevada categoria de cidade pelo governador Godofredo Viana,

atravs da Lei 1.179, de 22 de abril de 1924. Atualmente o municpio de Imperatriz tem pelo

menos 10% do seu territrio original. Dele desmembraram-se, ao longo desse tempo, os

municpios de Montes Altos, Joo Lisboa, Aailndia, Cidelndia, So Francisco do Brejo,

Vila Nova dos Martrios, So Pedro da gua Branca, Davinpolis e Governador Edison

Lobo, conforme de pode visualizar na figura 3.

Figura 3 A localizao de Imperatriz no contexto regional Fonte : Cty Brazil [2005]. Disponvel em: < http://www.citybrazil.com.br>

http://www.citybrazil.com.br/

31

Atualmente a cidade mais importante do interior do Maranho e est classificada

entre as 100 mais populosas cidades do Brasil. o maior centro de abastecimento regional e

de prestao de servios, influindo fortemente na economia do norte do Tocantins, sul do Par

e todo o Estado do Maranho11

.

2.3 Potencialidades

No Estado do Maranho conforme se poder verificar com mais detalhes em

captulos subseqentes, os dados oficiais de maneira geral indicam um baixo crescimento da

economia e permanncia da pobreza e desigualdades sociais.

No caso particular da cidade de Imperatriz, vale destacar que a mesma apresenta-

se como uma cidade que j ultrapassou vrios ciclos de crescimento econmico. Pode-se

considerar que o primeiro destes ocorreu com a inaugurao da rodovia Belm-Braslia, em

1960. Imperatriz experimentou nas dcadas seguintes, um dos maiores crescimentos

populacionais e econmicos do Pas, em seguida por volta dos anos 1970 e 1980, vieram os

perodos de extrao de madeira na sua regio de influncia e o extrativismo do ouro em Serra

Pelada no Estado do Par e, mais tarde, o inicio da construo da ferrovia Nrote Sul, poca

em que a cidade se consolidou como um grande centro de abastecimento e apoio a outras

regies.

Estas atividades trouxeram para Imperatriz um segmento comercial bastante

expressivo principalmente nos ramos de atacado, que continuou crescendo

independentemente da descontinuidade dos fatores que lhe deram origem.12

11

Os Municpios constantes da figura 3 fazem parte da Gerncia Regional Tocantins com sede em Imperatriz,

rgo criado pelo Governo do Estado em vrias regies para descentralizar a administrao. 12

Imperatriz, cuja instalao se deu no ano de 1856, atualmente tem uma rea territorial de 1.367,90km2 e uma

populao superior a 230.000 habitantes, considerando-se uma taxa media de crescimento de 0,13%. O valor do

PIB da ordem de 360,78 milhes. A situao dos domiclios urbanos a seguinte; 92% com gua tratada,

32

O crescimento da economia de local, foi se direcionando tambm para os setores

de servios e de comrcio varejista. No setor de servios vem acontecendo uma evoluo

substancial na rea de sade, com as construes de hospitais, clnicas e laboratrios muitos

bem dotados de recursos materiais e humanos que atendem, tanto a populao local, como a

de outras cidades da regio, que se deslocam em busca de tratamentos de maior

complexidade.

Imperatriz vem se consolidando tambm, como um plo educacional de influncia

em toda a regio tocantina, onde se atende uma crescente demanda por cursos de graduao e

outros tantos de ps-graduao, j em andamento nas faculdades locais.

Apesar da inexistncia de estudos tcnicos pode-se entrever que Imperatriz ser naturalmente empurrada na direo de ser um grande centro de servios, produtor,

promotor e difusor de mercadorias intangveis como educao, sade, formao

profissional, turismo ecolgico e de eventos. Essa a grande tendncia do mundo e

a realidade presente em diversos pases, regies, Estados e municpios, com

impactos econmicos que j superaram h muito, os cinqenta por cento da

formao do produto interno bruto PIB desses lugares. Isso claro, no descarta a

permanncia do incremento de atividades primrias, secundrias e tercirias j

existentes, como a pequena agricultura, piscicultura, aqicultura, pequenas

indstrias e comrcio atacadista de varejista. Mas deve ficar patente que em

Imperatriz que devero se satisfeitas certas necessidades cujo suprimento to cedo

no ser prioridade nos outros municpios da regio sudoeste e sul do Maranho,

norte do Tocantins e sul do Par. Por exemplo, ainda que mais pela forca da

imposio pragmtica do que pelo desenvolvimento de aes programticas,

Imperatriz corre o saudvel risco de ao lado de ser uma referncia mdico-

hospitalar, tambm deve se firmar como um centro de fazer saber (que o ensino

formal) e de saber fazer (que o ensino instrucional, tcnico, tecnolgico,

empresarial). H espao para as pequenas empresas de alta tecnologia, como a

micro eletrnica, informtica a biotecnologia, a qumica. Campina Grande no

interior da Paraba, e Anpolis no Estado de Gois, j so referncias, nacional e

internacionalmente, em alguns desses campos, a partir da base instalada de

instituies de ensino superior e da vontade poltica e empresarial daquelas

comunidades. (SANCHES, 2004, p.8).

Estas e muitas outras informaes se fazem necessrias para uma melhor

compreenso dos aspectos vocacionais da regio de Imperatriz, tendo em vista o grau de

polarizao que se observa e as possibilidades futuras de desenvolvimento.

67,5% com esgoto sanitrio, e 89,6% com coleta de lixo. O ndice de analfabetismo com idade superior a 15

anos 16,01%. Fonte: City Brasil.

33

2.4 Problemas estruturais da cidade de Imperatriz e Regio

Como se pode observar, trata-se de uma cidade que se desenvolve notadamente

nos setores de comrcio e de servios, entretanto, e a exemplo do que ocorre nas demais

cidades do Estado, este crescimento no tem se verificado em termos de agregao de valor

ao que produzido na regio. A produo da pecuria, agropecuria e da indstria da madeira

comercializada predominantemente sem qualquer beneficiamento ou manufatura, mesmo

assim algumas excees se verificam no segmento de siderurgia em Aailandia, laticnios,

mveis e laminados, onde algumas indstrias que j produzem com o uso tecnologias e

processos mais atualizados.

De acordo com os dados do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comercio

Exterior o municpio o segundo maior exportador do Estado e atingiu no ano de 200413

o

total de US$ 266.810.098, resultado este, influenciado diretamente pela produo de ferro

gusa e laminados de madeira.

O setor de gado de corte, embora conte com frigorficos em funcionamento em

Imperatriz e Aailndia, no atingiu ainda estgios mais evoludos no processamento da carne

e de seus derivados, prevalecendo tambm, a comercializao do gado vivo e abatido, alem do

comrcio de couros bovinos para outros Estados da federao, quando j se poderia ter em

prtica iniciativas concretas para a viabilizao de um plo coureiro caladista.

No Brasil, segundo Informe Setorial do BNDES, as exportaes de couro wet blue

vm apresentando crescimento nos ltimos anos. A indstria de couro constituda

por aproximadamente 450 curtumes, sendo que cerca de 80% so consideradas

pequenas empresas. O setor gera 65.000 empregos diretos e o faturamento

estimado em US$ 2 bilhes /ano. De acordo com a RAIS-MTB, apenas 27.821

empregos so formais, ou seja, registrados. (WET BLUE, 2005, p.17)

13

Informaes divulgadas pela Secretaria de Comrcio Exterior Exportaes do Estado do Maranho por

Municpios. Fonte: SECEX/MDIC 2005.

34

No caderno de economia do jornal o Progresso de 16 de setembro de 2005 traz a

seguinte matria: O cadastro industrial elaborado pela Federao das Indstrias do Estado do

Maranho FIEMA revela: 31% dos empregos no setor industrial so gerados por apenas 13

grandes empresas. Enquanto isso, 1.034 microempresas industriais respondem por apenas 8%

dos empregos. No mapa industrial do Maranho, So Luis, a capital, ocupa o 1. lugar.

Imperatriz est na 2. colocao, Balsas em 3. lugar e Aailndia em 4. Segundo dados do

Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministrio do Trabalho e Emprego, no

ms de julho de 2005 os municpios de Imperatriz, Aailndia e Balsas registraram

desemprego no nvel formal da economia.

Como conseqncia natural de todo este processo, renuncia-se a gerao de

muitos empregos, de renda e de tantas outras perspectivas de progresso que poderiam ser

implementadas como, por exemplo, o fortalecimento de um sistema produtivo local com a

capacidade de se beneficiar conforme j foi evidenciado, de muitas outras vantagens

comparativas, como gua, energia, matrias primas, mo-de-obra, e acesso facilitado aos

mercados por todos os meios de transportes.

35

3 DESENVOLVIMENTO LOCAL E REGIONAL

3.1 Perspectivas tericas para o desenvolvimento local

Contrastando com naes mais desenvolvidas em outras partes do mundo, no

Brasil contemporneo ainda se vive uma cultura estatista, predominando o consenso de que o

processo de desenvolvimento s pode ocorrer diante da expressa ao do Estado14

. Entretanto,

quando se observam as experincias bem sucedidas de desenvolvimento, conclui-se que na

maioria dos casos, existe um elevado nvel de cooperao e parceria entre Estado, Mercado e

Sociedade. A interveno do Estado, mesmo necessria e imprescindvel, no tem sido

suficiente para promover o desenvolvimento isoladamente.

Durante muito tempo acreditamos que o fator econmico era o nico e determinante

do desenvolvimento. Hoje sabemos que o desenvolvimento tem muitas dimenses:

econmica, social, cultural, ambiental e fsico-territorial, poltico-institucional e

cientifico-teconolgica, que mantm, umas em relao s outras, relativo grau de

autonomia. (FRANCO, 2000, p. 30).

Os agentes de maior responsabilidade pelo desenvolvimento de uma localidade,

so as pessoas que nela vivem. Sem o interesse, o envolvimento o compromisso e a adeso da

comunidade local, no haver poltica de promoo do desenvolvimento que prospere. Para

obter esse nvel de participao da comunidade local, preciso adotar estratgias de

planejamento e gesto compartilhada do processo de desenvolvimento. Tais estratgias

14

Durante toda a sua evoluo o Estado Moderno tem assumido funes e responsabilidades que so retornadas

posteriormente sociedade, o que pode est caracterizando um processo cclico de evoluo da civilizao, onde

o Estado tem um papel catalisador na busca da prosperidade econmica e da justia social, constantemente

assumindo funes e devolvendo sociedade. Um dos principais fatores de acelerao no processo de

transformao do Estado o atual contexto das grandes tendncias mundiais relacionadas globalizao,

progressos na tecnologia da informao e emergncia da sociedade civil organizada. Neste momento o Estado

est abandonando algumas funes e assumindo outras, o que est levando a um novo papel, onde o setor

pblico passa de produtor de bens e servios para indutor e regulador do desenvolvimento, atravs e um Estado

gil inovador e democrtico. As principais funes deste novo Estado so a regulao, a representatividade

poltica, a justia e a solidariedade, [Texto de C.S. PIMENTA ].

36

permitem comunidade local, atravs da experincia prtica, o aprendizado necessrio para

que ela seja capaz de identificar potencialidades, oportunidades, vantagens comparativas e

competitivas, problemas, limites e obstculos ao seu desenvolvimento, a partir dos quais

poder escolher vocaes, estabelecer metas, definir estratgias e prioridades, monitorar e

avaliar resultados de forma compartilhada.

A idia de vantagem comparativa remete quase que automaticamente para a idia de

competio, mas a idia de diversidade tambm base para a cooperao. Parece

que estas duas dinmicas cooperativa e competitiva vo estar sempre presentes

nos processos de desenvolvimento local e, esta, talvez, constitua uma das suas

principais caractersticas. A dinmica cooperativa, sem a qual no se efetiva um

processo de desenvolvimento local. A dinmica competitiva insere a localidade em

um processo de desenvolvimento cuja racionalidade dada, em parte pelo mercado.

No entanto, unidades competitivas podem ser constitudas com base na cooperao e

essa parece ser a condio para que pequenos atores locais no sejam destrudos

pela concorrncia com atores maiores em um mbito global (FRANCO, 2000, p.

32).

Por serem participativas, as estratgias de planejamento e gesto compartilhadas,

contribuem para o crescimento do capital humano e social15

, ampliando as possibilidades de

apropriao da populao local e facilitando as condies de desenvolvimento. Uma das

estratgias de planejamento e gesto compartilhada que mais tm se difundido nos pais,

atravs de diversas parcerias entre organizaes governamentais e no governamentais, a

promoo do Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel - DLIS (PAULA, 2000, p.5)

Entende-se por desenvolvimento local o processo de tornar dinmicas as vantagens

comparativas e competitivas de uma determinada localidade, de modo a favorecer o

crescimento econmico e simultaneamente elevar o capital humano, o capital social, a

15

Capital social refere-se a um conjunto de instituies formais e informais, incluindo hbitos e normas sociais,

que afetam os nveis de confiana, interao e aprendizado em um sistema social. A emergncia do tema capital

social vincula-se ao reconhecimento da importncia de se considerarem a estrutura e as relaes sociais como

fundamentais para se compreender e intervir sobre a dinmica econmica. Um elevado nvel de capital social

propicia relaes de cooperao, que favorecem o aprendizado interativo, bem como a construo e transmisso

do conhecimento tcito. Facilita portanto aes coletivas geradores de sistemas produtivos articulado. Esse

termo foi cunhado a partir dos trabalhos dos socilogos Pierre Boudieu, James Coleman e Robert Putmam.

www.ie.br/redesist.

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37

melhoria das condies de governo e o uso sustentvel do capital natural. O DLIS fundamenta

sua estratgia em aspectos como:

a) a participao organizada da sociedade local;

b) a capacitao continuada para o planejamento e a gesto compartilhada do

desenvolvimento;

c) a oferta adequada de crdito para micro e pequenos empreendedores

atravs de instrumentos de crdito produtivo popular.

Quanto ao contedo dos planos de desenvolvimento locais um dos grandes

desafios conseguir que os mesmos no se transformem em um amontoado de reivindicaes

particulares de particulares ou grupos. Na elaborao dos Planos e Agendas, muito

importante discutir conceitos como vocaes, potencialidades, oportunidades, vantagens

comparativas e competitivas, para definir um eixo que oriente o desenvolvimento local.

As empresas alcanam vantagens competitivas atravs de aes de inovao. Elas

abordam a inovao em seu sentido mais amplo, incluindo tanto tecnologias como

novos modos de fazer as coisas. Elas percebem uma nova base para competir ou

para encontrar melhores formas de competir usando velhos meios. A inovao pode

ser manifestada em um novo projeto de produto, um novo processo de produo,

uma nova abordagem de marketing, ou um novo modo de conduzir um treinamento.

(PORTER, 1998, p.146).

Vale ratificar que a questo do desenvolvimento local, no tocante s estratgias

j conhecidas, deve priorizar a busca da sustentabilidade e a da construo de novas formas de

produo e consumo ambientalmente equilibradas, tendo como atores principais o Estado, o

Mercado e a Sociedade. A sustentabilidade, quando a focalizamos em termos econmicos, nos

coloca o objetivo de compartilhar de forma eqitativa os benefcios do desenvolvimento e

garantir um desenvolvimento minimamente sustentvel de longo prazo na gerao de renda e

postos de trabalho de uma localidade, significa ainda criar as condies e ambincia para as

atividades de cooperao e integrao.

38

O exemplo dos distritos industriais16

italianos mostra que o foco que tem sido

dado s PMEs no Brasil pode ir alem das alternativas, associadas s perspectivas de gerao

de emprego e renda para parcelas marginais da populao. Em contraposio s polticas de

desenvolvimento local empreendidas no pas em que tem se preocupado com a atrao de

grandes empresas e unidades fabris atravs da abdicao fiscal e tributria por parte dos

Estados e Municpios, as polticas de promoo de PMEs podem ser pensadas no somente

como alternativas possveis de superao das dificuldades econmicas e sociais mas,

sobretudo, como eixo fundamental e estratgico para o desenvolvimento econmico local.

As dimenses territoriais, cidads e polticas nas quais se fundamentam o modelo de

desenvolvimento da Terceira Itlia demonstram que as polticas pblicas inovadoras

podem contemplar as regies de modo mais abrangente, incorporando amplos

segmentos populacionais nas estratgias de desenvolvimento local. (URANI, 1999,

p.27).

No caso brasileiro, temos que a segmentao de nosso mercado de trabalho

refora a dificuldade de grande parte da massa excluda da formalidade em construir cultura

poltica. Este enorme contingente populacional ocupa os nveis mais baixos de salrio na

hierarquia do mercado de trabalho, dispondo de menos qualificao, renda menor e nenhum

direito formal garantido pelo Estado.

A mobilizao produtiva implica que as polticas urbanas e de promoo

socioeconmica devem ser pensadas em simultaneidade e numa perspectiva dinmica. Seja

nas periferias das metrpoles, seja no interior subdesenvolvido do pas, para planejar o

contexto favorvel s novas formas de desenvolvimento afinadas com o modelo dos distritos,

16

O conceito de distritos industriais introduzidos por Alfred Marshall em fins do sculo XIX deriva de um

padro de organizao comum Inglaterra do perodo, onde pequenas empresas firmas especializadas na

manufatura de produtos especficos aglomeravam-se em centros produtores. As caractersticas bsicas dos

modelos clssicos de distritos industriais indicam em vrios casos: alto grau de especializao e forte diviso do

trabalho; acesso mo-de-obra qualificada; existncia de fornecedores locais de insumos e bens intermedirios;

sistemas de comercializao e de troca de informaes entre agentes. Argumenta-se que, nesse sentido, que a

organizao do distrito industrial permite s empresas particularmente pequenas - obterem ganhos de escala,

reduzindo custos, bem como gerando economias externas significativas. www.ie.br/redesist.

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39

preciso identificar, em nvel local, os arranjos institucionais que permitam a criao das

condies ambientais de proliferao de novas figuras empresariais.

A consolidao destes arranjos institucionais dependeria da articulao de

polticas capazes de envolver parceria de diferentes atores pblicos e privados: governos

municipais, estaduais, instituies de apoio tcnico atividade produtiva (tais como as

agncias locais do SEBRAE do SENAI, empresas pblicas, Organizaes no

Governamentais ONGs, instituies financeiras, associaes de empresrios e produtores

locais, grandes empresas privadas etc. Estas seriam naturalmente as categorias de

envolvimento mais imediato na consolidao dos arranjos institucionais).

O surgimento e a dinamizao das economias locais tm origem diversificada. Se

em alguns casos a interveno estatal, atravs de programas, sejam federais, estaduais ou

municipais, foi o vetor das transformaes, em outros os principais fatores foram iniciativas

de empresas, de sindicatos, de ONGs, e mesmo da Igreja.

A perspectiva ortodoxa coloca em questo as fronteiras de atuao do Estado e do

mercado na promoo de atividades econmicas. A tica desenvolvimentista

prioriza o poder econmico e produtivo das naes no contexto internacional. Na

perspectiva evolucionista o foco est na competncia dos agentes econmicos em

promoverem inovaes que transformem o sistema produtivo. (KUPFER &

HASENCLEVER 2002, p. 545).

Compreender essas experincias, suas limitaes, e suas potencialidades

proporciona ao planejamento estatal mecanismos mais slidos. A identificao de

potencialidades, limitaes e estrangulamentos permitem propor aes coerentes para a

interveno pblica.

As aes que orientam um processo de desenvolvimento local de acordo com as

mais variadas correntes de pensamento, devem procurar integrar as vrias instncias do poder:

40

o poder poltico (federal, estadual e municipal) e o poder local (empresarial, e de lideranas da

populao em geral)17

.

A governanca municipal apontada como ponto central da aplicao de programas

locais, considerando que polticas de cima para baixo (top-down) se mostram

ineficazes por no terem a mesma facilidade na obteno de informaes e aspectos

gerais locais. Recomenda-se ento uma descentralizao poltica, como reforma das

caractersticas globais de administrao, e a centralizao do papel dos atores locais

sociedade civil, setores pblico e privado, ONGs, - para elaborao e

implementao de programas para o desenvolvimento dos recursos internos.

(BARBANTI JR. 2004, p. 18).

Ao mesmo tempo integra valores econmicos, sociais e meio-ambientais,

constituindo-se num modelo de desenvolvimento mais amplo do que os modelos tradicionais.

O desenvolvimento local busca o comprometimento dos agentes no processo de estimular a

proliferao de parcerias e redes que permitam reativar o crescimento da economia.

Diversos autores caracterizam o desenvolvimento local como um processo

dinamizador da sociedade, no sentido de melhorar a qualidade de vida da comunidade, sendo

o resultado de um compromisso, pelo que se entende por espao como lugar de solidariedade

ativa, o que implica mudanas de atitudes e comportamentos de instituies, grupos e todas as

demais categorias. Reafirma-se, portanto, que nos modelos atuais as metas do

desenvolvimento no excluem as metas tradicionais, quando as pessoas na sua

individualidade so partes integrantes e partcipes do seu prprio desenvolvimento.

(Marques, 2001. p. 26). Desta forma os seus fundamentos podem ser descritos como:

a) A poder do lugar. O fenmeno da globalizao est formando uma

complexa rede de relaes entre os lugares do mundo e, nesta realidade, o

local constitui o seu prprio poder de desenvolvimento. A tendncia atual

17

Iniciativas de desenvolvimento local no Brasil: Entre tantas iniciativas deste gnero tais como Comunidade

Ativa, Agendas 21 locais, Programa BNDES/PNUD , Programa Nacional de Agricultura Familiar PRONAF

destaca-se o Farol do Desenvolvimento Apoiado pelo Banco do Nordeste, esta iniciativa visa criar um espao

fsico de debate no municpio, no qual no qual passa a ser discutida a viabilizao de solues para o

desenvolvimento sustentvel local, com nfase econmica (BARBANTI JUNIOR, 2004).

41

da globalizao a de que os lugares se unam verticalmente. Porm, os

lugares tambm podem se unir horizontalmente, reconstituindo as bases da

convenincia local. A eficcia das aes depende da existncia das

virtualidades locais que so relacionadas com as potencialidades e o capital

sinrgico do territrio que adquirem sua totalidade com as formas de

interao.

b) O lugar, como espao de solidariedade ativa. A difuso da

modernidade amplia as possibilidades de interao, gerando sistemas de

solidariedades em diferentes escalas de desenvolvimento local e global. O

espao da globalizao est formado por pontos de interligao mutantes

fazendo com que a solidariedade fique mais no campo organizacional. O

espao local apenas a base territorial da convivncia cotidiana que tende a

se ampliar em funo da convivncia continuada.

c) A cultura popular local. Representando o homem no seu entorno, um

tipo de conscincia e de materialidade social. Sua valorizao permite

fortalecer a individualidade e a auto-estima frente ao mundo e d sentido s

comunidades na busca do desenvolvimento da criatividade em conformidade

com seus valores.

d) O dinamismo do desenvolvimento ainda dependente da articulao e

uso dos recursos naturais sociais locais existentes. E por sua vez, a deciso

poltica sobre o modo e a capacidade de utilizao econmica dos recursos

depende da cultura local, das relaes internas e externas, entre o local e o

global. Atualmente se fala em promover um desenvolvimento auto-

dependente, participativo, com contedos ticos, capaz de criar condies

para harmonizar o crescimento econmico, a solidariedade social e

42

protagonismo de todas as pessoas com mudana na percepo e idealizao

do desenvolvimento: de cima para baixo, do exgeno ao endgeno.

O desenvolvimento local um novo paradigma do desenvolvimento do tipo

endgeno territorial, realizado pelas bases sociais, o oposto dos modelos que partem de cima.

impossvel esgotar esse assunto fazendo uma listagem de todos os fatores e condicionamentos externos que intervm favoravelmente ou desfavoravelmente no

desenvolvimento da localidade. Eles so variados, so mutveis, incidem

diferentemente em cada tipo de organizao e em cada setor de atividade. Ademais

eles se compem em combinaes diferentes, que variam, por sua vez em cada

momento, ao sabor de constelaes imprevisveis de outros fatores conhecidos e

desconhecidos. Num dado momento, um empreendimento d certo porque h um

clima psico-social favorvel no pas. Em outro momento o mesmo empreendimento

fracassa por causa da alta do dlar provocada por crises que ocorrem em outros

pases. (FRANCO, 2001.p.6).

A nova realidade entre a inovao social e o retorno ao territrio demanda

modificaes das mentalidades individuais e coletivas e implica, sobretudo, um vasto trabalho

de formao dos agentes e populaes locais. Considerando-se que o novo modelo de

desenvolvimento local sustentvel demanda novos conceitos, metodologias, enfoques,

comportamento e atitudes, condio necessria um processo permanente de formao,

levando-se em conta que o objetivo principal da formao deveria ser a promoo da

capacidade coletiva para a mudana.

O quadro 1 apresenta os pontos comuns das diferentes abordagens, resumindo as

caractersticas bsicas de arranjos locais enfocados na literatura (CASSIOLATO e LASTRES,

2002).

43

Quadro 1: Exemplo de uma das caractersticas dos arranjos produtivos locais

CARACTERSTICAS BSICAS DOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS

Localizao

Proximidade geogrfica18

Atores Grupos de pequenas empresas

Pequenas empresas nucleadas por grande empresa

Associaes, instituies de suporte, servios, ensino, pesquisa, fomento, financeiras, etc.

Caractersticas Intensa diviso do trabalho entre firmas

Flexibilidade de produo e de organizao

Especializao

Mo-de-obra qualificada

Competio entre firmas baseada em inovao

Estreitas colaboraes entre firmas e demais agentes

Fluxo intenso de informaes

Identidade cultural entre agentes

Relao de confiana entre os agentes

Complementaridades e sinergias Fonte: Lemos, C. (1997) adaptada

A formao associada gerao de novos processos e projetos implica que os

agentes devem aprender juntos com o mesmo problema, em um projeto comum, porque ajuda

a definir oportunidades de desenvolvimento, articular as estratgias e interesses dos atores

locais e mobilizar os recursos internos e externos. Desta forma a gesto do desenvolvimento

local pressupe determinadas prticas de planejamento estratgico medida que pode permitir

a participao dos atores locais e as organizaes na definio dos objetivos e gesto das

decises19

.

Um plano estratgico elaborado com enfoque local se converte em um processo

essencial pra que um territrio, um municpio ou uma cidade possa definir de forma

satisfatria sua situao atual, assim como seu futuro.

18

As relaes de proximidade geogrfica constituem-se assim em ativos especficos valiosos na medida em que

so necessrias para a gerao de spillovers e externalidades positivas num sistema econmico. 19

A crescente mundializaco das economias a criao e manuteno das vantagens competitivas dinmicas se

fazem num processo fortemente localizado. Isso depende das possibilidades de que um espao geogrfico

regional se constitua num territrio e estornos frteis. (Revista Econmica do Nordeste, Fortaleza, v. 28, p. 143,

jul. 1997).

44

3.1.1 Metodologias e Proposies

Apenas para efeito de direcionamento de aes, ou seja, sem a pretenso de se

querer gerar desenvolvimento a partir de simples propostas, procura-se a seguir sistematizar

com base em literatura especfica, alguns procedimentos bsicos que com capacidade de

facilitar a caracterizao do processo de desenvolvimento.

Algumas estratgias de desenvolvimento local tm obtido maior destaque atualmente. Aquelas que pem nfase no desenvolvimento econmico esto

preocupadas com a integrao produtiva, a insero de produo local em outros

mercados, e a capacidade de inovao num ambiente econmico globalizado.

Existem tambm a vertente com maior nfases ambientalistas, que propem a

sustentabilidade do desenvolvimento, com ateno especial a formas de uso dos

recursos naturais (BARBANTI JUNIOR, 2004, p. 8).

Embora j se conhea e de forma muitas vezes tericas, certas metodologias j

debatidas exaustivamente, algumas adaptaes e ajustes nesse sentido sero necessrios em

funo de cada peculiaridade.

Marques (2001) apresenta um mtodo para a implantao de uma estratgia global

de desenvolvimento local, entendida, no como uma formula absoluta, mas como um impulso

que pode guiar as pessoas que querem fazer progredir suas comunidades, na via de um

desenvolvimento econmico, social e cultural. As fases objetivas do processo de

desenvolvimento que so destacadas a seguir mostram-se necessrias medida que a

qualidade dos resultados obtidos em uma etapa influencia os resultados de seguinte.

Baseando-se nessa classificao, descreve-se uma metodologia dividida em cinco etapas:

(conscientizao, diagnstico, plano, implantao e avaliao), que por sua vez podem se

subdividir em vrias aes.

45

Esses procedimentos bsicos tm inspirado os programas que, como no Brasil,

procuram promover condies para o desencadeamento de processos de desenvolvimento

local. o caso do DLIS (Desenvolvimento Local Integrado e Sustentvel).

3.1.2 A Conscientizao dos agentes comunitrios para a participao

A tomada de conscincia por parte dos agentes da comunidade, sobre a validade

da sua mobilizao em prol da melhoria do bem-estar em toda a comunidade, a partir da

participao efetiva de seus membros. Algumas vezes essa conscincia aparece a partir de

fatos que provocam insatisfao entre as pessoas e deflagram uma mobilizao entre elas.

A identificao de lideranas locais recomendada antes de qualquer proposta de

conscientizao j que o grau de envolvimento dos mesmos ser a garantia do sucesso ou

fracasso do projeto. Trata-se de pessoas chaves dentro da comunidade por serem portadores

de uma srie de valores reconhecidos pelos demais, inspirados na confiana junto a

comunidade e promotores de laos de solidariedade, quando comprometidos com o processo

de desenvolvimento. A condio de participao da comunidade e seus representantes eleitos

no processo de desenvolvimento local amplamente reconhecida como uma condio

indispensvel no processo. Ao grau de participao pode ser atrelado ao nvel de instruo das

pessoas. Nesse contexto, preciso inserir na educao da populao metodologias

participativas que as treinem para a ao, a descoberta e o trabalho em grupo. Da a

importncia dos educadores na promoo do desenvolvimento local.

Certamente o baixo grau de instruo de uma comunidade se constitui num dos

problemas fundamentais na questo participativa, independentemente do seu nvel de

instruo formal. As pessoas no tm o hbito de participar e, num processo de

desenvolvimento local, alm do hbito, precisam dispor de informao suficiente sobre o

46

processo, que lhes permitam fazer intervenes eficientes e construtivas. O desenvolvimento

local precisa de uma participao efetiva, tanto no poder de deciso quanto de ao e de

realizao, de cada membro da comunidade.

3.1.3 Diagnstico preliminar

Um diagnstico da situao inicial, constitui a base para a elaborao de um

projeto de ao. Para potencializar as possibilidades de sucesso de um projeto de

desenvolvimento local, normalmente se realiza de forma objetiva e completa, um diagnstico

da situao. Nele sero retratadas as caractersticas da populao com a qual ser promovido o

processo, assim como as condies econmicas, sociais, histricas e culturais do territrio

onde este se insere.

A elaborao dos diagnsticos obviamente se enriquece com a participao dos

agentes locais, at mesmo para facilitar a identificao fiel da realidade, seus problemas e

potencialidades. O diagnstico pode incluir vrias fases descritas a seguir:

a) Descrio da realidade - a descrio da realidade scio-econmica da

comunidade revelar sua capacidade de desenvolvimento. Para tal, buscar-se-

informaes sobre:

caractersticas fsicas, geogrficas, biofsicas e climticas do local:

localizao vizinhanas, topografia, hidrografia, tipos de solos,

vegetao, fauna, recursos minerais e outros;

caractersticas demogrficas: crescimento populacional, densidade

demogrfica, migraes, grau de instruo e outros;

caractersticas sociais: infra-estrutura de educao e de sade,

motivao para o trabalho em grupo e outros;

47

caractersticas culturais: antecedentes histricos da formao da

comunidade, valores e mentalidades, esprito comunitrio, eventos

culturais, produo artesanal e outros;

caractersticas econmicas: atividades produtivas, grau de utilizao

da capacidade produtiva instalada, setores de atividade,

caractersticas das empresas (porte, perfil dos empresrios,

informalidade) situao de emprego, hbitos de consumo, grau de

dependncia externa, servios financeiros e outros;

caractersticas organizacionais: diviso poltico-adminstrativa,

estrutura administrativa do setor pblico, distribuio espacial das

atividades, infra-estrutura de comunicao, parcerias e redes

existentes, associaes e outros;

b) Identificao dos problemas de posse das informaes bsicas sobre a

realidade cujo desenvolvimento pretende-se promover, pode-se chegar s

entrevistas com formadores de opinio da comunidade, no sentido de

sensibiliz-los da importncia da participao da comunidade como um todo;

c) Definio de estratgias de ao O elenco de aes, assim como a sua

viabilidade e priorizao so questes em que os participantes tambm podem

ser envolvidos ativamente.

A coleta de informaes poder incluir no somente dados estatsticos, mas

tambm fontes bibliogrficas (livros, revistas, jornais), visitas ao local, entrevistas, pesquisas

de opinio e outras modalidades de levantamento de ordem qualitativa.

48

3.1.4 Elaborao de um plano de ao

Da mesma forma que convm a qualquer atividade planejada, as aes a serem

implementadas, pressupe um certo grau de sistematizao, levando-se em conta o seu nvel

de prioridade e viabilidade.

a) Priorizao de aes - A criatividade da comunidade para a obteno

de solues originais ser direcionada pela informao sobre as reais

disponibilidades de recursos, tanto materiais como naturais, humanos e

financeiros. Os membros da comunidade, pela sua proximidade com a vida

quotidiana, podero contribuir amplemente para a identificao de aes.

b) Fontes de financiamento20 Enfatizam-se aqui sobre a necessidade de se

garantir uma fonte de recursos financeiros para a implantao de um projeto de

desenvolvimento local, de forma a assegurar seu sucesso. Esses recursos

seriam destinados ao envolvimento de tcnicos qualificados e ao incio de

atividades inerentes a uma estratgia global de desenvolvimento local. O

financiamento no poderia ser, mas muitas vezes um elemento determinante

para a operacionalizao de um desenvolvimento local.

3.1.5 Implantao de aes e avaliao permanente

Esta fase consiste na implantao das aes programadas, promovendo as

iniciativas de desenvolvimento e uma avaliao de resultados.

20

O sistema BNDES possui linha e financiamento para pequenas empresas e uma grande rede de agentes entre

bancos de desenvolvimento e bancos comerciais. Mesmo assim, embora tenha-se abundncia de recursos, o

volume que chega s mos das pequenas empresas industriais relativamente reduzido. Os bancos comerciais se

defrontam com o custo operacional e a baixa remunerao, ao passo que os bancos de desenvolvimento no tm

a capilaridade necessria para atingir a pequena empresa.

49

a) Implantao de aes Uma vez alcanada um nvel de participao e de

planejamento satisfatrio, a etapa de execuo tender a se tornar mais

simples, do contrrio o processo poder ser comprometido.

b) Avaliao permanente - Para a descrio dos indicadores de avaliao do

processo seria razovel uma avaliao permanente sobre os sinais existentes

que possam refletir o desenvolvimento de uma comunidade.

Em concluso, pode-se afirmar que o espao econmico est inserido em um

espao territorial, enfatizando neste termo o seu carter social. Portanto, sua dinamizao no

deve ignorar como j evidenciado, as medidas de ordem social, cultural e ambiental.

O crescimento promove dinamismo econmico e considervel progresso social,

porm, a orientao qualitativa do desenvolvimento pode evitar o aumento das

vulnerabilidades locais/regionais, os desequilbrios e as assimetrias, que no futuro

podero gerar tenses e rupturas no equilbrio social, quebrando a sustentabilidade

do processo de desenvolvimento. A adeso social, sua manuteno e a

internalizaco do conceito de sustentabilidade representam um dos maiores desafios

de um processo estruturado e participativo de desenvolvimento social.

(CASAROTO FILHO, 2001, p.113).

As dificuldades so determinadas pela complexidade das interaes relacionais,

que se criam durante a evoluo desse processo entre os homens e entre estes e o seu

ambiente. Muitos outros obstculos podero ser encontrados e devero ser superados como:

dificuldades tcnicas; falta de tecnologias apropriadas; conflitos de interesse entre grupos

organizados, instituies etc.

50

3.2 Desenvolvimento regional no Brasil

Os antecedentes histricos do desenvolvimento no Brasil revelam, de forma

bastante clara, que somente a partir do sculo XX, que o pas entra para a modernidade

urbana, ou seja, deixando para trs a sua tradio essencialmente rural e dispersa, para se

posicionar na era da industrializao.

A base industrial desenvolvida at o perodo atual, foi se concentrando de forma

bastante expressiva na Regio Sudeste que, do ponto de vista territorial, concentra pouco mais

de 10% do espao brasileiro, onde o Estado de So Paulo gera em torno de 60% de toda a

produo industrial do pas. Entretanto, em perodos recentes comea a acontecer um leve

movimento de desconcentrao espacial da produo nacional.

Da relativa predominncia das posies contrrias idia de que o mercado tende a resolver as disparidades e defensoras da ao estatal com o fito de corrigi-las,

originou-se e ganhou corpo o planejamento regional. Deriva da a implantao da

Poltica Regional atravs do Governo Federal e de seus rgos especficos. No

Brasil, vrias experincias nesse sentido podem ser contabilizadas com graus

variados de xitos e fracassos que no cabe aqui avaliar. De uma maneira geral,

essas polticas visam a implantar em regies menos dinmicas novas atividades, em

geral industriais, de forma a diversificar a base econmica, atrair a poupana

externa e com isso deflagrar um ciclo virtuoso de crescimento do produto, renda e

emprego. (SICSL E LIMA, 1997. p. 171).

Esse movimento se inicia por volta dos anos 1940 e 1950 via ocupao da

fronteira agropecuria, inicialmente no sentido do Sul e depois em direo ao Centro Oeste,

Norte e parte do Nordeste. A partir dos anos 1970 ele se estende industria. Na medida em

que o mercado nacional se integrava, a indstria, buscava novas localizaes, desenvolvendo-

se em vrias regies menos desenvolvidas do pas, principalmente nas regies metropolitanas

21. Em 1990, o Sudeste cara para 69% seu peso industrial do Brasil, So Paulo recuara sua

21

A Economia Espacial e a Economia Regional fornecem elementos substanciais para o entendimento dos

processos de consolidao das atividades nas regies. A concentrao do capital industrial e a aglomerao das

51

importncia relativa pra 49%, enquanto o Nordeste passava de 5,7% para 8,4% seu peso na

produo industrial brasileira, entre 1970 e 1990.

Para citar alguns exemplos de desenvolvimentos de plos industriais fora dos

espaos tradicionais temos a indstria de eletro-eletrnicos na Zona Franca de Manaus,

minerao no Par, txteis e calados no Cear, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco e

outros.

3.2.1 A regionalizao da economia no novo contexto

A economia brasileira a como j se enfatizou, passa por grandes transformaes a

partir dos anos noventa em funo das mudanas ocorridas no cenrio internacional. Pode-se

destacar por exemplo: a poltica de abertura comercial agressiva, a valorizao da

competitividade, as reformas do Estado e a implementao de programas de estabilizao.

Seguindo esta mesma tendncia, o setor privado consolida uma reestruturao produtiva cujos

efeitos so perceptveis em grande parte dos setores da economia. As economias regionais

no so simplesmente verses em escala menor das economias nacionais. Elas representam

especificidades que exigem teorias prprias para explicar o seu processo de desenvolvimento

(HADAD, 1994. p. 338).

Analisando-se especificamente a questo da desconcentrao espacial dos setores

produtivos, conclui-se que alguns fatores tm contribudo de forma decisiva para a

permanncia desta nova ordem, tais como: as mudanas tecnolgicas que favorecem a

reduo de custos de produo e de investimentos, o aumento das exportaes, os aspectos de

ordem logstica que influenciam no fator localizao dos estabelecimentos, onde muitas vezes

a proximidade com os mercados e ou fornecedores, se torna fundamental nas decises, os

atividades econmicas em poucas localizaes geogrficas distribudas regularmente representam, de fato, os

problemas centrais da Economia Espacial e Regional, de tal forma que os problemas de desenvolvimento scio-

econmico regional so tambm problema de localizao.

52

incentivos fiscais, a infra-estrutura disponibilizada, e at a mo de obra qualificada, so

tambm oferecidos plos governos em diversos espaos no sentido de atrair investimentos e

conseqentemente favorecer a desconcentrao.