rua direita, esta rua não acaba aqui

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Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui (This street doesn't end here) is a project of 15 artistic or architectural interventions in the town of Viseu, Portugal. Artistic curatorship: Joana Astolfi Text: Joana Astolfi, João Luís Oliva Photography: Luís Belo Graphic design: Nuno Rodrigues Collaborators: Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Sandra Oliveira, João Luis Oliva, Liliana Rodrigues, Nuno Rodrigues, Dona Alda

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Rua diReita ,

esta Rua não acaba aqui.

Projecto inserido nos

Jardins Efémeros 2013

Biblioteca Nacional de Por tugal

Catalogação na Publicação

Aa. Vv.

Rua Direita, esta rua não acaba aqui

Viseu, Câmara Municipal de Viseu, 2013, _ _ págs.

CDU: 7 11. 5 + 725. 2 + 747 (469. 32) “2013”

TÍTULO

Rua Direita, esta rua não acaba aqu i

AUTORES

Texto Joana Astolfi, João Luís Oliva

Fotografia Luís Belo

Capa, infografia e design gráf ico Nuno Rodrigues

DEPÓSITO LEGAL

EDIÇÃO

Câmara Municipal de Viseu, 2013

TIRAGEM

600 exemplares

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Tipografia Beira alta

© Autores e CMV

este livro é dedicado à sandra oliveira, Fernando Ruas e todos os lojistas da Rua direita.

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Page 4: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

Mais ou menos directa, mais ou menos direita, a rua é via e símbolo de sociabili-

dade e comunicação com o outro e o quotidiano; lugar de convergência e con-

flito; confronto, consenso e compromisso; liberdade, diferença e opção. Lugar

profano, secular. Lugar do tempo.

Mas esta Rua Direita, palco e plateia de vida em passados remotos e recentes,

esvaziou-se. De gente e, por isso, da própria vida, pelo menos como ela era.

Muito longe vão medievais idades em que a também chamada «Rua das Tendas»

ligava duas portas da cidade directa, por isso ou, depois, na aurora da moderni-

dade, as suas casas cresciam em profundidade e altura, cada vez mais cheias, e

era nervo social e comercial da urbe (Liliana Castilho*).

Mas, ainda em 1968, «a Rua Direita de Viseu é [era], porventura, a que melhor

conserva[va], ao mesmo tempo, a fisionomia e as funções tradicionais, que

continua[va] a desempenhar no contexto moderno da velha cidade» (Orlando Ribeiro*).

E, numa contemporaneidade ainda mais breve, ela mantinha-se fervilhante de

miúdos que estreavam a vida na carica e no berlinde e lambiam com os olhos a

montra de brinquedos do Bazar do Porto; e de gaiatas mais espigadotas que via-

javam fantasias nos manequins do Borges-Noivas. As domésticas necessidades

ou mais sofisticados anseios de consumo formigavam de gente a enormidade do

comércio disponível e a rua, ela própria; e tascas e cafés pontuavam intervalos

cigarrados mais ou menos longos. Ou, então, preocupações mais intelectuais

e cosmopolitas levavam muitos a percorrer as escadas do Tempo Livre, livraria,

galeria de arte, discoteca e bar (à maneira da Opinião, de Lisboa), em alternativa

ou complementaridade ao associativismo mais ou menos bairrista do Orfeão de

Viseu, umas dezenas de passos à frente.

Hoje, nos quinhentos metros da que foi, até ao princípio do século XX, a rua com

as casas mais altas de Viseu e ainda há bem pouco tempo tinha quase centena e

meia de lojas abertas, residem pouco mais de… dez pessoas (Emília Amaral*).

Várias, complexas e interligadas as razões. Desde estratégias políticas ou falta

A RUA, LUGAR DE GENTE E DE VIDA

Page 5: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

delas de requalificação e reocupação urbana, até aceleradas e radicais altera-

ções de modelos e espaços comerciais, passando pelo conservadorismo reacti-

vo com que os próprios actores encararam o cenário; e tantas são as causas de

tal estado que a «culpa» de Judas é muito mais um puzzle de responsabilidades

múltiplas: individuais e colectivas, institucionais e de estrutura.

A acção agora realizada, na efemeridade dos próprios «jardins» de que faz parte,

não tem a pretensão pueril de dar uma resposta global à situação. Talvez nem

sequer de dar nenhuma resposta, mas formular uma simples pergunta; é que é

das perguntas que parte tudo… E quer-se, através de uma intervenção estética

e, sobretudo, da agitação por ela provocada, levantar a poeira do debate sobre

estas questões sem a atirar para os olhos de ninguém.

Perante poderes e cidadãos, expor, não esconder. Alertar, não silenciar. Desafiar

e surpreender, não enrolar quietudes mornas.

É que a volta completa que isto tudo tem de dar vai muito além da consideração

das lojas e da actividade comercial. Até porque a sua ressurreição será o laico

resultado de uma profunda e substantiva criação de condições para um efec-

tivo (e afectivo) repovoamento residencial (cultural, portanto…) da rua; e não de

pontuais e adjectivas intervenções de termo-lacado fachadismo.

Em tempos de fácil deslumbramento tecnológico, não se quer aqui algo que seja

comparável a um site virtual, com passwords e links, embora hoje isso seja um

indispensável meio e pista de informação.

Para que esta rua não acabe aqui, é preciso que ela seja um verdadeiro sítio, lugar

real, com gente e alma, que sempre é o inexorável fim e meta da própria vida.

João Luís Oliva

*referências expressasAMARAL, Emília, «Endireitar a Rua Direita», Jornal do Centro, nº 575, Viseu, 27 de Janeiro de 2012, pp. 6-7.

CASTILHO, Liliana, «Espaços e Materiais na arquitectura doméstica da Rua Direita de Viseu no século XVI», Ciências e Técnicas do Património. Revista da Faculdade de Letras, I Série, vol. V-VI, Porto 2006-2007, pp. 115-128.

RIBEIRO, Orlando, «A Rua Direita de Viseu», Geographica. Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, nº 16 (Ano IV), Lisboa, 1968, pp. 49-63.

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Alfaiates e sapateiros, relojoeiros e padeiros, oculistas e dentistas, engraxado-

res, amoladores, cabeleireiros, barbeiros e confeiteiros, cervejarias, drogarias,

livrarias, pensões e tascas. Panelas, tachos, dedais, plásticos, elásticos, pentes,

pulseiras, anéis, carapaus fritos, selos, esfregões, vassouras, móveis, gaiolas, cha-

péus de palha, camisas e camisetas. Durante séculos, a Rua Direita de Viseu foi

o ‘shopping center’ da cidade. Uma rua comprida e torta, com um comércio em

cada porta. O ponto de encontro privilegiado de todo o distrito.

Hoje, a Rua Direita de Viseu é uma rua triste. Uma rua esquecida. Uma rua arru-

mada para canto. Um espaço moribundo onde se multiplicam placas de “vende-

-se” e “arrenda-se”. “Isto já não dá para viver!” gritam os proprietários das lojas

ao longo dos quase 500m da sua extensão. Hoje assiste-se à morte lenta desta

artéria e de todo o seu comércio tradicional.

O projecto ‘Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui’ é o ponto de partida para o

renascer desta rua através da Arte. A rua transformou-se numa galeria onde as

obras surgem inesperadamente nas montras, nas fachadas ou no interior das 15

lojas seleccionadas. Os lojistas da Rua Direita precisam de amor e as suas lojas

merecem uma segunda oportunidade. Procurámos olhar para os produtos de

cada loja como se fosse a primeira vez, olhar para além do pó para encontrar o

potencial de cada espaço. Potencial = capacidade de transformação. As inter-

venções foram trabalhadas cruzando a arte com o design e com a arquitectura.

Criámos tensão entre o antigo e o contemporâneo, sempre evidenciando o inter-

valo entre o ‘antes’ e o ‘depois’. Todas as peças são únicas e exclusivas e surgem

de um click conceptual ligado à verdade de cada loja. Cada loja passa a ser muito

mais do que um espaço de comércio para ser um happening, uma experiência,

um momento que faz pensar e que traz um sorriso aos lábios. Todas as lojas que

integraram o projecto têm uma história para contar e uma verdade só sua que

serviu como inspiração para o nosso trabalho e que foi respeitada, reinterpreta-

da e celebrada.

Joana Astolfi

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ficha artística e técnica do projecto

CONCEPÇÃO E CURADORIAJoana Astolfi

COLABORADORESFernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Sandra Oliveira, João Luis Oliva, Liliana Rodrigues, Nuno Rodrigues, Dona Alda

ALUNOS DE ARqUITECTURA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE VISEUJoão Almeida, César Pereira, Tiago Frutuoso, Sérgio Rodrigues, Vitor Sousa, Kátia Valverde, Rita Joana Monteiro, Ricardo Duarte, Rui Ferreira, Pedro Vieira, Joana Martins, Vanessa Monteiro, Diogo Pinto, Ricardo Silva, Daniela Páscoa, André Alves, Ricardo Costa, Ricardo Afonso

FOTOGRAFIALuís Belo

AGRADECIMENTOSDr. Fernando Ruas, Filipa Santos Guerra, João Rocha, Carlos Cruz, Francisco da Cria Verde, António Carvalho, Hugo Pessoa, Bárbara Osório, Dora Mariano, João Filipe, Hotel Palácio dos Melos, Dona Irene das Nandita Miudezas, Sr. Honésimo e Paulo Domingues da Sapataria Paulo Domingues, João da Foto Batalha, José Manuel da Sapataria Égê, Dona Eunice da Casa Eunice, Dona Maria do Bazar Litos, Carlos da Marisqueira, Andreia e Verónica da Drogaria Cedofeita, Sr. Alberto da Casa Sol, Dona Carmo da Casa Joaninha, Sr. Arnaldo da Casa Tininha, Sr. José Alcides, Sr. Jorge e Dona Alda da Tinturaria ‘A Nova Económica’, Sr. Joaquim e Dona Carmen da Livraria Cami, Sr. António da Casa Guimarães

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o processo

Para conhecer um lugar é preciso comer, dormir e acordar nesse lugar. Não é

possivel fazer um projecto com esta escala social sem um envolvimento pro-

fundo emocional. É difícil falar sobre arte contemporânea com uma geração

que tem uma bagagem visual tão diferente da nossa. O processo foi intenso e,

por vezes, envolveu confrontos de gerações, mentalidades, e posturas. O que

encontrámos na Rua Direita foi um autêntico livro de reclamações. Um misto de

impotência, conformismo e culpabilização mútua. A verdade é que nem tudo ia

mal na Rua Direita.

Para mudar é preciso força de vontade. É preciso combater o medo. É preciso ar-

riscar. Esta transformação tem que se dar de dentro para fora. Temos que sair da

nossa zona de conforto e pisar o terreno, meter a mão na massa, sujar as mãos.

Foi um processo feito na raça.

Alguns comerciantes acreditaram no projecto desde o início e até participa-

ram na construção das suas peças. Mas a maior parte teve que ver para crer. A

resistência inicial de muitos transformou-se num abraço. Passear esta rua após

a conclusão do projecto, sentir a dinâmica que estas 15 intervenções trouxeram

à rua, a conquista da cumplicidade com os lojistas envolvidos no projecto, tudo

isto faz-nos crer que nunca devemos deixar de sonhar . ‘É preciso que algo mude

para que tudo continue na mesma’ como afirma Giuseppe di Lampedusa.

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12 Nandita Miudezas

69 Sapataria Paulo Domingos

81 Foto Batalha

99 Sapataria Égê

120 Casa Eunice

139 Bazar Litos

148 A Marisqueira

151 Drogaria Cedofeita

165 Casa Sol

180 Joaninha

200 Casa Tininha

234 José Alcides

248 Tinturaria A Nova Económica

250 Papelaria Cami

256 Casa Guimarães

Lojas intervencionadas

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RU

A D

IRE

ITA

12

Rua Formosa

Lgº Mouzinho de Albuquerque

67

81

99

139

151

165

120

148

180

234

200

248250

256

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Nandita é o nome da filha da Dona Irene, de 86 anos, proprietária desta loja que

vende as pantufas mais bonitas e confortáveis do mundo. quando entrámos

neste espaço pequenino, pouco cuidado, abandonado e degradado, sentimos

que a Dona Irene já tinha (quase) desistido. O potencial para transformar o espa-

ço tornou-se logo evidente.

quisemos destacar as pantufas e os chinelos artesanais que a Dona Irene vende.

A nossa intervenção baseou-se na criação de uma bancada de 2 degraus em

madeira que serve simultaneamente como banco corrido, expositor para as

pantufas/chinelos e montra da loja. Recuperámos a parede de fundo da bancada

expositiva com uma ilustração do ‘Manual das Pantufas Nandita’ desenhada à

mão pela Liliana. Criámos um tapete inspirado nas pantufas, um tapete que pode

ser calçado, uma peça única. Criámos ainda um logotipo e um slogan para a loja ,

‘Ora ponha aqui o seu pézinho’.

Lojista Dona Irene

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, João Almeida e César Pereira

IlustraçãoLiliana Rodrigues

Montagem / ApoioCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa

NANDITA MIuDezAs, 12

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ANTESDona Irene

DEPOISMontra

DEPOISPantufas + etiqueta

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ANTES DEPOIS

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DEPOISTapete Pantufa

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quando visitámos os pisos superiores da loja do Paulo e do seu pai, o Sr Honé-

simo, e eles nos mostraram a sua colecção de milhares de sapatos, autênticas

raridades que vêm desde os anos 50, sentimos que tínhamos que prestar home-

nagem à história desta família. Daí surgiu a criação de um ‘cemitério’, um ‘tesouro

desenterrado’ que destaca a vida dos milhares de sapatos e de clientes que

passaram por esta casa.

A instalação consiste numa caixa de terra com os sapatos inseridos na vertical

como lápides. Os espelhos nas faces interiores da caixa multiplicam o número de

sapatos. A iluminação da peça foi feita através da suspensão de 24 cabos com

lâmpadas de vigília. Os sapatos expostos nas paredes envolventes do espaço

foram anulados através de cortinas brancas, permitindo o ‘respiro’ da peça.

quando montámos esta peça, foi feito um minuto de silêncio.

sApATArIA pAulo DoMINgos, 69

Lojista Paulo Domingos, Sr. Honésimo

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Fernando Nobre, Rita Monteiro e Ricardo Duarte

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Visotela, Pedroso & Osório, Viseuropa, A Vidreira

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ANTES

DEPOIS

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foTo BATAlhA, 81

A Casa Batalha sobreviveu ao seu fundador, o Sr Batalha, e já vai na sua 3ª ge-

ração. quando subimos ao 1º piso da loja, encontrámos uma galeria de vitrines

antigas com um enorme potencial para aqui fazer uma exposição de fotografias

de todo o projecto. Recuperámos as vitrines e desafiámos o fotógrafo Luís Belo

para fotografar o ‘antes’ e o ‘depois’ de cada loja da Rua Direita. Na montra da loja

convidámos o publico a ‘espreitar’ para dentro de algumas lojas da Rua Direita.

Lojista João Batalha

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, André Alves, Ricardo Duarte

FotografiaLuís Belo

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Visotela, Viseuropa

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sApATArIA égê, 99

A sapataria Égê estava sempre fechada. No interior um caos, caixas e caixas de

sapatos empilhadas, sapatos a granel espalhados pelo chão, uma loja esquecida.

Até que um dia encontrámos o Sr Zé Manuel, uma figura conhecida e enigmática

da cidade, estimado por todos os lojistas da Rua Direita. Apaixonámo-nos pela

personagem, pelas suas histórias, pela sua bondade e delicadeza. O Sr Zé Manuel

pediu-nos ajuda e confiou-nos a chave. Entregou a loja nas nossas mãos de

coração aberto.

O conceito para este espaço partiu das centenas de caixas de sapatos que se

encontravam espalhadas aleatoriamente pela loja, sem qualquer ordem. Pri-

meiro, tivemos que ‘arrumar a casa’. A nossa intervenção baseou-se na ‘limpeza

visual’ do espaço e na criação de uma etiqueta Égê para identificar e catalogar

cada par de sapatos.

Além da organização do espaço, achámos também fundamental trazer o Sr Zé

Manuel de volta para a sua loja através da criação de uma zona de ‘sala de estar’

no interior do espaço. Intervimos nas montras, expondo os sapatos em cabos

de enxadas e de vassouras, destacando um sapato com a foto do Sr Zé Manuel

estampada na sola de couro. Criámos também uma nova imagem gráfica para

a sapataria que aplicámos numa tabuleta de rua, em cartões de visita para o Sr

Zé Manuel e em merchandising da loja (escovas de sapatos, sacos, etc). Esta loja

precisava de amor.

Lojista José Manuel de Figueiredo

ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Kátia Valverde

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra,Pedroso & Osório, A Vidreira

AgradecimentoPrograma Leonardo da Vinci

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ANTES

DEPOIS

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cAsA euNIce, 120

Quem disse que as flores de plástico não têm vida? Sempre quis fazer uma ins-

talação com flores falsas, lembram-me a casa da minha avó. Ela tratava-as como

se estivessem vivas quando lhes limpava o pó. O interior da loja da Dona Eunice

parecia um jardim de plástico, um mundo sobrecarregado de cor e variedade de

flores. Uma loja com muita informação e sem espaço físico para intervir. Viemos

para a rua e habitámos uma parede de pedra lateral, junto à montra da loja, com

uma ‘green wall’, uma ‘parede verde’, de 4 metros de altura, feita com ramagens

e plantas falsas. queríamos trazer o verde para a rua, anulando a cor. Suspen-

demos um regador por cima da peça, transformando-o num candeeiro que, de

noite, ‘rega’ a peça com luz.

Lojista Dona Eunice

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Rita Monteiro

Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela

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ANTES

DEPOIS

DEPOISMerchandise

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BAzAr lITos, 139

A loja da Dona Maria, tal como a da Dona Eunice, destacava-se pelo excesso de

informação, cor e luz que normalmente abunda numa loja de brinquedos. O nos-

so conceito para este espaço foi criar um ‘playground’ interactivo, transformando

o chão num quadro de escrever gigante onde as crianças pudessem desenhar

e brincar. Recuperámos as vitrines da loja, pintando-as e iluminando-as para

destacar os seus conteúdos. Na rua, à entrada da loja, pendurámos um baloiço e

substituímos o nome da loja impresso no toldo por letras de madeira.

Lojista Dona Maria

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Diogo Pinto, Ricardo Silva

Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Viseuropa, Visotela

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ANTES

DEPOIS

Page 36: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

A MArIsqueIrA, 148

Pouca gente sabe que ‘A Marisqueira’ existe na Rua Direita. A entrada para o

restaurante faz-se através de um corredor no vão de escadas de um prédio. Este

restaurante/casa de pasto serve comida caseira portuguesa em conta, feita com

muito amor por uma família unida que luta pela sobrevivência do seu restau-

rante. O nosso conceito partiu da vontade de convidar o público a entrar na

Marisqueira. Trouxemos a praia para a Rua Direita. Criámos um cenário ligado à

pesca no corredor da entrada, trazendo o mar para o tecto através da suspensão

de uma rede de pesca gigante repleta de conchas e peixes. Cobrimos o chão de

areia e habitámos este espaço com ‘mobiliário’ de praia (guarda sol, cadeiras de

praia, baldes e pás). Criámos também uma instalação sonora com o som do mar.

O lado irónico desta intervenção é que neste restaurante não se serve marisco!

Na grande sala de refeições do restaurante, habitámos a parede principal deste

espaço com uma exposição de 22 quadros com imagens alusivas à arte de

comer. Estas imagens baseiam-se na transformação da comida em ‘objet d’art’ -

uma outra forma de olhar o que comemos.

Proprietário Carlosa

ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel, Tiago Frutuoso, Sérgio Rodrigues

GrafismoLiliana Rodrigues

Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela, Mediaspot

Page 37: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

ANTESEntrada

DEPOISEntrada

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ANTESSala de jantar

Page 39: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

DEPOISSala de jantar

Page 40: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

DrogArIA ceDofeITA, 151

As drogarias são espaços que nos permitem ‘sonhar alto’ na criação de inter-

venções artísticas, dada a estética, a cor e a forma dos produtos que vendem.

Escolhemos uma vitrine de rua à entrada da loja e recriámos a imagem de um

dos produtos com maior força visual - o pincel de barbear - usando centenas de

rolhas que funcionam como ‘pixeis’. Ao lado da instalação, criámos um display

de dezenas de pincéis para realçar e destacar o produto que nos inspirou a criar

esta peça. As rolhas, afinal, não servem só para tapar garrafas e frascos! Criámos

também um merchandising para esta loja que consiste no packaging dos objec-

tos mais típicos desta drogaria com um sticker que identifica a loja através do slo-

gan ‘Cedofeita, Not Made in China’. Obrigado às ‘irmãs Cedofeita’ por nos terem

acompanhado nesta viagem.

Lojista Andreia e Verónica

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Vanessa Monteiro, Liliana Rodrigues

Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela

Page 41: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

ANTES

Page 42: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

DEPOISMONTRA

Page 43: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

DEPOISMERCHANDISE

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cAsA sol, 165

O Sr Alberto é exemplar na organização da sua loja e no mimo que lhe dá. Aqui

encontra-se a agulha no palheiro! Tal como na Drogaria Cedofeita, queríamos ce-

lebrar o produto da loja, mostrando-o de uma forma nunca antes vista. Criámos

a peça ‘Banho de Lã’ que consiste num chuveiro em que a água é representada

pelos fios de lã azul. Uma peça única que fala por si. Criámos também um novo

produto para a Casa Sol, o ‘Kit de Tricot’, que consiste num novelo de lã, 2 agulhas

de tricot e um livrinho que ensina a tricotar.

Lojista Sr. Alberto

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Daniela Páscoa

GrafismoLiliana Rodrigues, Daniela Páscoa

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Page 46: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

cAsA joANINhA, 180

A Casa Joaninha vende fogões, lareiras e salamandras. Nada melhor do que um

fósforo para ascender o rastilho da criatividade! Escrevemos a palavra ‘AMOR’

com fósforos de cabeça vermelha e a palavra ‘MEDO’ com fósforos queima-

dos. Uma peça delicada que envolveu um trabalho minucioso e muitas horas a

queimar fósforos! Esta peça é um statement das duas forças que dominaram o

projecto da Rua Direita: o amor que tínhamos para dar e o medo dos lojistas.

Lojista Dona Carmo

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel

Montagem / ApoiosVisotela

Page 47: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui
Page 48: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

cAsA TININhA, 200

Nesta loja de roupa interior decidimos homenagear as míticas cuecas de gola alta.

Trouxemos a loja para a rua através da criação de um lustre gigante, suspenso no

eixo da rua, forrado com um estendal de inúmeras cuecas. Criámos uma montra

luminosa que celebra o produto da loja de uma forma inédita e humorística.

Lojista Sr. Arnaldo

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel, Joana Martins

Montagem / ApoiosCustódio Santos Guerra, Visotela

Page 49: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui
Page 50: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

josé AlcIDes, 234

O Sr. José Alcides é um dos homens mais simpáticos e charmosos da Rua Direi-

ta. Foi a partir dos aventais de diversos padrões que se vendem nesta loja, que

nasceu a Dona Josefina, mulher da limpeza, que agora habita a montra desta loja.

Esta peça tem uma forte componente cenográfica, criando uma montra viva para

a Casa José Alcides. Viva a Dona Josefina!

Lojista José Alcides

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Viseuropa, Drogaria Cedofeita

Page 51: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui
Page 52: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

TINTurArIA A NovA ecoNóMIcA, 248

Esta loja divide-se em 2 espaços: a lavandaria, onde trabalha a Dona Alda que

abraçou o projecto da revitalização deste espaço desde o início, e o pátio que era

uma lixeira a céu aberto.

A lavandaria foi completamente remodelada: paredes, chão e tecto. As paredes

foram descascadas revelando a pedra original deste espaço. O chão foi substi-

tuído por um jogo de xadrez de azulejo preto e branco, típico das ‘laundrettes’

americanas. O tecto foi descascado para revelar as tábuas e barrotes de madeira

que fazem parte da verdade do espaço. Foi criado um sistema de suporte para a

roupa através de tubos de ferro galvanizado que celebram a circulação da água

nas lavandarias e simultaneamente incorporam a iluminação do espaço.

Lojistas Sr. Jorge, Dona Alda

ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel,Ricardo Afonso, Ricardo Costa, Ricardo Duarte, André Alves

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa, Visotela, Pedroso & Osório, Cria Verde

Page 53: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

ANTES

DEPOIS

Page 54: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

O pátio da lavandaria foi um trabalho

de limpeza exaustiva. quilos e quilos

de lixo e sucata foram retirados e

transportados para a rua. A tangerinei-

ra que habita o pátio foi podada para

permitir a entrada de luz e a circulação

dentro do espaço. Nela foram também

pendurados candeeiros em cerâ-

mica para iluminar o pátio de noite.

O telhado de lusalite do alpendre foi

substituído por tábuas de madeira. De

repente o espaço ganhou amplitude e

começou a respirar. Dezenas de plan-

tas foram colocadas dentro do pátio

transformando-o num jardim interior.

O chão foi coberto com gravilha bran-

ca. Foi criado um sofá de almofadões

em cima de paletes com tecidos cedi-

dos pela Pedroso & Osório. O pátio re-

cebeu ainda um casal de passarinhos

e mobiliário em madeira para exterior

emprestado pelo horto da Cria Verde.

Este espaço tem todo o potencial para

vir a ser o ‘Café Laundrette’ da Rua

Direita! Vale a pena uma visita!

ANTES

“E nas tardes de Verão, as pessoas

vinham sentar-se debaixo da larga

sombra e admiravam a grossura ru-

gosa e bela do tronco, maravilhavam-

-se com a leve frescura da sombra, o

suspirar da brisa entre as folhagens

perfumadas.

Assim foi durante varias gerações”... na

Rua Direita!

(‘A Árvore’, Sophia de Mello Breyner

Andresen)

Page 55: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

DEPOIS

Page 56: Rua Direita, Esta Rua Não Acaba Aqui

pApelArIA cAMI, 250

A Papelaria Cami foi durante todo o processo o quartel general deste projecto,

a nossa base, a nossa casa. O Sr Joaquim e a Dona Carmen estiveram sempre

presentes e passaram a ser família. A intervenção conceptual na montra desta loja

tem um ‘twist’ que se manifesta através do posicionamento das lombadas dos li-

vros viradas para dentro da loja e não para fora como é habitual. A muralha de livros

exposta na montra celebra o passar do tempo através do amarelado das páginas.

A curiosidade que esta peça desperta convida o público a entrar na loja para ver as

lombadas dos livros que constituem esta muralha. No interior da loja foi criado um

espaço de leitura com dois bancos construídos com livros empilhados e amarra-

dos por 2 cintos e uma almofada no topo. Há quanto tempo não lê um livro?

Lojistas Sr. Joaquim, Dona Carmen

ConcepçãoJoana Astolfi, Wiktoria Szawiel

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Pedroso & Osório, Foto Batalha

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cAsA guIMArães, 250

Esta é a última montra da Rua Direita. Daí o slogan ‘Esta Rua Não Acaba Aqui’ es-

crito com milhares de pregos que ao longe permitem a leitura da frase que celebra

este projecto. Uma peça que se destaca pelas dezenas de horas passadas a mar-

telar pregos e pela sua força visual. Esta rua começa e acaba aqui!

Lojistas Sr. António

ConcepçãoJoana Astolfi, Fernando Nobre, Wiktoria Szawiel,João Filipe

Montagem / ApoiosCarpintaria Casanova, Custódio Santos Guerra, Viseuropa

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ANTES DEPOIS

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apoios

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Para que esta rua não acabe aqui, é preciso que ela seja um verdadeiro sítio, lugar real,

com gente e alma, que sempre é o inexorável fim e meta da própria vida.

João Luís Oliva

Este livro não acaba aqui.www.facebook.com/RuaDireitaEstaRuaNãoAcabaAqui