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Relatório sobre a Política de Concorrência 2004 Volume 1 Comissão Europeia

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  • Preo no Luxemburgo (IVA excludo):Volume 1 (disponvel em 2 lnguas): gratuitoVolume 2 (disponvel em EN): Preo de venda (incluindo uma cpia do volume 1: 25 EUR

    KD-A

    A-05-001-PT-C

    ISSN 1606-2965

    ,!7IJ2H9-aabejj!

    Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volum

    e 1

    Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia

    2004

    Volume 1

    Comisso Europeia

  • Comisso Europeia

    RELATRIO SOBRE A POLTICA DE CONCORRNCIA

    Volume 1

  • Europe Direct um servio que o/a ajuda a encontrarrespostas s suas perguntas sobre a Unio Europeia

    Nmero verde nico (*):

    00 800 6 7 8 9 10 11(*) Alguns operadores de telecomunicaes mveis no autorizam o acesso a nmeros 00 800 ou

    podero sujeitar estas chamadas telefnicas a pagamento.

    Encontram-se disponveis numerosas outras informaes sobre a Unio Europeia na rede Internet, via servidor Europa (http://europa.eu.int)

    Uma fi cha bibliogrfi ca fi gura no fi m desta publicao

    Luxemburgo: Servio das Publicaes Ofi ciais das Comunidades Europeias, 2006

    ISBN 92-79-00149-3

    Comunidades Europeias, 2006Reproduo autorizada mediante indicao da fonte

    Printed in Belgium

    IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO

    http://europa.eu.int

  • 3

    PREFCIO DE NEELIE KROESMembro da Comisso responsvel pela Poltica de Concorrncia

    No incio do seu mandato, a Comisso props uma nova parceria para o crescimento e o emprego centrada em medidas que so essenciais para relanar o processo de reforma iniciado em Lisboa no ano 2000. O objectivo desta parceria consiste em mobilizar os interessados a todos os nveis (instituies da UE, Estados-Membros, empresas e cidados), a fi m de garantir que o desenvolvimento econmico da Unio ao mesmo tempo sustentado e sustentvel. A poltica de concorrncia constitui um motor essencial do crescimento econmico e da criao de empregos duradouros. Os benefcios da competitividade, do crescimento e do desenvolvimento sustentvel nos planos ambiental e social reforam-se mutuamente. Um ambiente empresarial adequado contribui para apoiar e promover a competitividade, a produtividade e o crescimento em mercados mundiais, nacionais e regionais.

    A Unio Europeia no atingiu ainda todo o seu potencial de crescimento e produtividade. A Europa defronta-se com verdadeiros problemas estruturais declnio do crescimento da produtividade, envelhecimento demogrfi co e diminuio das taxas de emprego para os quais necessrio encontrar solues urgentes. A Europa no pode ignorar a dinmica global dos mercados e so as empresas que enfrentam uma forte concorrncia interna que tm xito escala mundial. A Comisso est empenhada numa poltica industrial assente numa concorrncia vigorosa dentro e fora da Unio. Tencionamos prosseguir objectivos polticos que criem e mantenham condies favorveis para os negcios numa economia cada vez mais global, contribuam para o desenvolvimento de condies concorrenciais a nvel mundial e apoiem a abertura dos nossos mercados.

    As recentes propostas apresentadas pela Comisso para dar um novo impulso ao processo de reformas econmicas e sociais de Lisboa atribuem grande importncia poltica de concorrncia. A estratgia assenta no reconhecimento de que so os mercados que geram riqueza e emprego e no os governos. Sendo a concorrncia um elemento essencial para o bom funcionamento dos mercados, a estratgia inclui vrias vertentes importantes relativas poltica de concorrncia.

    Defesa da concorrncia e inquritos sectoriais

    Uma poltica de defesa da concorrncia permite promover prticas concorrenciais adequadas no mercado. A abertura dos sectores regulamentados concorrncia constitui um aspecto importante desta poltica e as relaes entre as autoridades de concorrncia e as autoridades reguladoras sectoriais desempenham um papel essencial neste domnio.

    Quando se revela necessria regulamentao, devemos assegurar-nos de que esta bem orientada e no tem efeitos secundrios susceptveis de entravar a concorrncia. Tanto o quadro regulamentar como a sua aplicao devem favorecer a concorrncia transfronteiras.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    Os inquritos sectoriais permitem-nos compreender melhor o funcionamento de certos mercados e ajudam a identifi car os obstculos que ainda existem livre concorrncia, independentemente de resultarem de prticas comerciais, de disposies regulamentares ou de subvenes pblicas. Os esforos centrar-se-o principalmente nos sectores com incidncia directa sobre a competitividade global, como os servios fi nanceiros e a energia.

    Aplicao efectiva de um direito comunitrio da concorrncia actualizado

    A poltica de concorrncia pode ser uma verdadeira mais-valia para a competitividade e o crescimento, combatendo efi cazmente os cartis, os abusos de posio dominante e outras prticas anticoncorrenciais e impedindo as concentraes que restrinjam a concorrncia.

    A aplicao das regras antitrust incumbe agora Comisso e s autoridades de concorrncia dos Estados-Membros, que formam em conjunto, a partir de 1 de Maio de 2004, a rede europeia da concorrncia. Por fora do novo regime antitrust, os tribunais dos Estados-Membros so tambm cada vez mais solicitados a aplicarem as regras do Tratado relativas s prticas e acordos anticoncorrenciais. Dispomos, alm disso, de um sistema de controlo das concentraes comprovado, baseado em fundamentos econmicos slidos e concebido para combater todas as formas de concentraes susceptveis de suscitar problemas a nvel da concorrncia.

    As autoridades de concorrncia continuaro a velar, com fi rmeza e persistncia, pela aplicao das regras de concorrncia. Por outro lado, preciso desenvolver outros meios que permitam aos consumidores e aos concorrentes prejudicados por prticas anticoncorrenciais obterem compensaes desses prejuzos. Tais medidas complementares podem reforar signifi cativamente o efeito de dissuaso das regras de concorrncia, nomeadamente no domnio dos cartis. Os prejuzos importantes que os cartis acarretam para os interesses das empresas e dos consumidores foram amplamente comprovados e por isso a luta contra os cartis mais graves continuar a ser uma prioridade. Gostaria de felicitar o meu predecessor pelos excelentes resultados obtidos na luta contra estes cartis graves e confi rmar a determinao da Comisso na erradicao dos mesmos, onde quer que ocorram.

    A Comisso prosseguiu a luta contra os cartis graves atravs de vrias decises de proibio, acompanhadas da aplicao de coimas. Adoptou igualmente vrias decises contra abusos de posio dominante, entre as quais uma deciso contra a Microsoft , que gostaria de mencionar, uma vez que diz respeito a um domnio de grande importncia para a implantao das tecnologias da informao na Europa. Em 2004, a Comisso preparou tambm o terreno para um exame reforado do respeito das regras de concorrncia no sector da energia, com uma deciso antitrust no sector do gs e uma deciso relativa a uma concentrao no sector da electricidade.

    O presente relatrio revela que, em 2004, a Comisso lanou as bases de inmeras iniciativas para os prximos anos. O novo quadro regulamentar antitrust alarga o

  • Prefcio de Neelie Kroes

    5

    mbito de aplicao dos inquritos sectoriais, que conferem Comisso instrumentos adequados para basear a sua aco num conhecimento slido dos mercados em causa. Graas ao novo regulamento de iseno por categoria para os acordos de transferncia de tecnologia e a uma iseno por categoria para os auxlios investigao e desenvolvimento a favor das PME, as empresas dispem agora de maior latitude para inovar e para responder aos desafi os do mercado. Trata-se de sinais claros que vo ao encontro dos objectivos prosseguidos pela nova agenda de Lisboa.

    Reforma dos auxlios estatais

    De um ponto de vista da UE, o instrumento nico que constitui o controlo dos auxlios estatais reveste-se de uma importncia considervel. As subvenes pblicas podem falsear a concorrncia entre as empresas e, a longo prazo, impedir as foras do mercado de recompensarem as empresas mais competitivas, prejudicando assim a competitividade global. por esta razo que tais subvenes so em princpio proibidas pela legislao europeia.

    A adopo de novas orientaes relativas aos auxlios de emergncia e reestruturao, bem como uma srie de importantes processos de auxlios estatais neste domnio testemunham a determinao da Comisso em agir de forma construtiva, a fi m de garantir a viabilidade de programas de recuperao e reestruturao que permitam o necessrio processo de reestruturao da forma mais suave possvel. O controlo dos auxlios estatais deve centrar-se nos processos que mais prejudicam a concorrncia. A simplifi cao do sistema de notifi cao operada com o novo regulamento de execuo prenuncia as reformas dos auxlios estatais previstas para o efeito.

    Um importante estaleiro refere-se aos servios pblicos, que fazem parte integrante do modelo europeu. Em 2004, a Comisso props um pacote de medidas destinadas a reforar a segurana jurdica na aplicao das regras em matria de auxlios estatais s compensaes de servio pblico. Os resultados decorrentes das discusses sobre este tema devem garantir segurana jurdica na aplicao das regras dos auxlios estatais aos servios de interesse econmico geral, luz da jurisprudncia aplicvel.

    Comisso que incumbe o controlo da conformidade das subvenes pblicas com as regras comunitrias, tendo por objectivo a concesso de menos e melhores auxlios. Nos prximos anos tenciona rever a poltica europeia em matria de auxlios estatais, a fi m de garantir que a concesso de subvenes pblicas se traduz em valor acrescentado. Dessa forma, as lacunas resultantes das verdadeiras defi cincias do mercado podem ser colmatadas e aumenta o nmero de empresas que se podem tornar concorrentes activos. As novas regras devem facilitar aos Estados-Membros a utilizao de fundos pblicos a um nvel adequado, tendo em vista apoiar iniciativas que favoream a inovao, facilitem o acesso ao capital de risco e incentivem a investigao e o desenvolvimento.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    Actividades internacionais

    Comecei por explicar que a poltica de concorrncia deve incorporar a procura da competitividade a nvel europeu e internacional. Uma cooperao estreita e intercmbios de experincias com autoridades de concorrncia do mundo inteiro inserem-se no quadro deste compromisso. Em 2004 foram incentivadas novas relaes frutuosas com autoridades de concorrncia do Extremo Oriente, enquanto os contactos transatlnticos estreitos se mantiveram e devem mesmo intensifi car-se. A cooperao multilateral no quadro da rede internacional da concorrncia, para citar apenas um dos importantes fruns de cooperao, deu origem a valiosos resultados, tanto na luta contra os cartis como no domnio das concentraes. Uma participao activa da Comisso na prossecuo destas ambies internacionais um corolrio necessrio aco de defesa da concorrncia, que tenciono desenvolver na cena europeia, e permitir que a aplicao na UE das regras em matria de concorrncia continue a constituir um instrumento efi caz para a promoo do bem-estar dos consumidores.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia2004

    Volume 1

    (publicado conjuntamente com o Relatrio Geral sobre a Actividade

    da Unio Europeia de 2004)

    SEC(2005) 805 fi nal

  • 9

    NDICE

    Introduo 13

    Caixa 1: Economista principal para a concorrncia na DG Concorrncia em 2004 17

    I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante: artigos 81.o, 82.o e 86.o do Tratado CE 23

    A Quadro legislativo e regras de interpretao 23

    1. Modernizao das regras em matria de acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante (antitrust): Regulamento de execuo n.o 773/2004, orientaes e comunicaes 23

    2. Regulamento e orientaes relativos iseno por categoria da transferncia de tecnologia 263. Regulamentos de iseno por categoria no domnio dos transportes 284. Reviso das regras processuais: nova comunicao sobre o acesso ao processo 31

    B Aplicao dos artigos 81.o, 82.o e 86.o 32

    1. Abusos de posio dominante (artigo 82.o do Tratado CE) 32

    Caixa 2: Aplicao das regras de concorrncia comunitrias aos servios Internet mveis e de banda larga 37

    2. Cartis 40

    Caixa 3: Resumo da actividade em matria de cartis graves 40

    3. Outros acordos e prticas concertadas 47

    Caixa 4: Mercados de gesto de direitos na UE 49

    Caixa 5: Distribuio e reparao de veculos automveis 54

    4. Medidas estatais (empresas pblicas e empresas com direitos especiais ou exclusivos) 57

    C REC: Panormica da cooperao 59

    1. Panormica geral 592. Aplicao das regras de concorrncia comunitrias pelos tribunais nacionais da UE:

    relatrio sobre a aplicao do artigo 15.o do Regulamento (CE) n.o 1/2003 613. Energia 634. Transportes 645. Servios fi nanceiros 64

    D Alguns acrdos dos tribunais comunitrios 65

    E Estatsticas 71

    II Controlo das concentraes 73

    A Regras legislativas e interpretativas 74

    1. Reformulao do regulamento das concentraes, novas comunicaes e alterao do regulamento de execuo 74

    Caixa 6: Simplifi cao do sistema de remessa ao abrigo do novo regulamento das concentraes 80

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

    10

    B Processos tratados pela Comisso 86

    1. Decises tomadas ao abrigo do artigo 8.o 862. Decises tomadas ao abrigo do n.o 1, alnea b), do artigo 6.o e do n.o 2 do artigo 6.o 96

    Caixa 7: Um primeiro passo para a consolidao da aviao europeia: concentrao da Air France/KLM e aliana Air France/Alitalia 104

    3. Remessas de processos 1104. Retirada de notifi caes 112

    C Alguns acrdos dos tribunais comunitrios 113

    D Estatsticas 118

    III Evoluo sectorial 121

    A Sectores liberalizados 121

    1. Energia 1212. Comunicaes electrnicas 1233. Transportes 1254. Servios fi nanceiros 126

    B Outros sectores 127

    1. Profi sses liberais 127

    IV Controlo dos auxlios estatais 133

    A Regras legislativas e interpretativas 133

    1. Regulamentos, orientaes e comunicaes 1332. Construo naval 1403. Agricultura: evoluo poltica e iniciativas legislativas em 2004 1414. Pescas 1445. Carvo e transportes 1456. Servios pblicos/servios de interesse (econmico) geral 1467. Transparncia 148

    B Processos 149

    1. Mercados liberalizados 1492. Auxlios de emergncia e reestruturao 152

    Caixa 8: Auxlios reestruturao e noo de empresa nova 159

    3. Auxlios com fi nalidade regional 1634. Deciso de inexistncia de auxlio 1685. Auxlios fi scais 1696. Auxlios investigao e desenvolvimento 1737. Auxlios a favor do ambiente 1768. Alargamento 1809. Construo naval 18210. Agricultura 18411. Pescas 19112. Carvo e transportes 19113. Radiodifuso pblica, banda larga e indstria cinematogrfi ca 197

  • ndice

    11

    C Controlo da execuo das decises de auxlios estatais 201

    1. Introduo 2012. Processos individuais 203

    D Alguns acrdos dos tribunais comunitrios 204

    E Estatsticas 207

    V Actividades internacionais 209

    A Alargamento e Balcs Ocidentais 209

    B Poltica de vizinhana 210

    C Cooperao bilateral 210

    1. Introduo 2102. Acordos com os EUA, Canad e Japo 2113. Cooperao com outros pases e regies 214

    D Cooperao multilateral 216

    1. Rede Internacional da Concorrncia 2162. OCDE 219

    VI Perspectivas para 2005 223

    1. Antitrust 2232. Operaes de concentrao 2233. Auxlios estatais 2244. Actividades internacionais 224

    Anexo Processos referidos no Relatrio 225

    1. Artigos 81.o, 82.o e 86.o 2252. Controlo das concentraes 2263. Auxlios estatais 227

  • 13

    INTRODUO

    INTRODUO PELO DIRECTOR-GERAL DA CONCORRNCIA

    Em 2004, o trabalho da Direco-Geral da Concorrncia (DG Concorrncia) foi afectado por importantes alteraes: alargamento da Unio Europeia (UE) para 25 membros, modernizao do quadro legislativo, incio de funes em Novembro de uma nova Comisso e reorganizao interna da DG na sequncia da modernizao. Estes acontecimentos refl ectem-se nos objectivos gerais da poltica da Comisso em matria de concorrncia para 2005 e anos seguintes, que se baseiam na deciso relativa estratgia poltica anual (EPA) da Comisso para 2005 e nas prioridades polticas estabelecidas pela nova Comisso. O Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia de 2004 proporciona, por conseguinte, a ocasio adequada para expor, a um pblico mais vasto, a orientao que o trabalho da Comisso seguir a mdio prazo no domnio da poltica da concorrncia.

    A interaco da poltica de concorrncia e outras polticas da Comisso

    Na sua deciso EPA de 2005, que foi bem acolhida pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, a Comisso sublinhou o relanamento do crescimento como objectivo poltico central, procurando melhorar a competitividade do modelo europeu e mantendo simultaneamente a prosperidade, o emprego, a coeso e a proteco do ambiente. A adeso de dez novos Estados-Membros acrescentou uma nova dimenso geogrfi ca ao objectivo de incentivar o crescimento econmico no mercado interno. O objectivo primordial da agenda poltica da nova Comisso o reforo do processo de Lisboa lanado pelo Conselho Europeu em 2000, cujo objectivo global consiste em fazer da UE a economia baseada no conhecimento mais dinmica e competitiva do mundo. A Comisso tomar em considerao as recomendaes apresentadas pelo Grupo de Alto Nvel presidido por Wim Kok no que respeita prossecuo dos objectivos de Lisboa.

    Em apoio do programa-quadro para a competitividade estabelecido na EPA de 2005, a Comisso avanar com o seu ambicioso processo de reviso legislativa no domnio da poltica da concorrncia, com especial referncia aos auxlios estatais, e prosseguir a modernizao das regras antitrust, bem como as importantes reformas do controlo das concentraes iniciadas em 2004. Neste contexto, a Comisso tenciona promover a aplicao pr-activa das regras de concorrncia em toda a UE.

    Juntamente com a aplicao rigorosa da poltica de concorrncia, a anlise da legislao europeia em vrios sectores econmicos, tais como as actividades de rede liberalizadas e os servios fi nanceiros, a fi m de estimar o seu impacto em termos de concorrncia, pode exercer uma infl uncia muito positiva sobre a competitividade e o crescimento da economia europeia e o funcionamento do mercado interno, reforando os interesses e a confi ana dos consumidores.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

    14

    Sendo uma das reas polticas prioritrias identifi cadas no relatrio Kok como essenciais para a realizao dos objectivos de Lisboa, a poltica de concorrncia pode contribuir de forma signifi cativa em trs aspectos:

    Fomentar a sociedade baseada no conhecimento. Uma forte presso competitiva constitui um poderoso incentivo para as empresas realizarem continuamente inovao e investigao e desenvolvimento (I&D). Ao reforar os incentivos inovao, centrando-se simultaneamente nas restries que podem entravar gravemente a concorrncia, a poltica de concorrncia pode contribuir para tornar as economias da UE mais dinmicas, ajudando desta forma a prosseguir os objectivos de Lisboa. Em especial, a poltica em matria de auxlios estatais pode contribuir para a sociedade baseada no conhecimento atravs de uma melhor orientao dos recursos disponveis para apoio pblico em domnios como a investigao e o desenvolvimento, a inovao e a formao.

    Desenvolver o mercado interno. Doze anos aps a sua concluso no papel, o mercado interno no atingiu ainda o seu pleno potencial. Uma das razes que no existe uma ligao automtica entre a supresso dos obstculos ao comrcio transfronteiras e uma concorrncia efectiva. Tanto o quadro regulamentar como a sua aplicao tm de criar um ambiente que realmente induza e favorea a concorrncia, novas entradas no mercado e a inovao. A aplicao das regras de concorrncia e a sua defesa podem contribuir para um melhor funcionamento do mercado interno, especialmente em sectores determinantes para a agenda de Lisboa, uma vez que dizem respeito a factores essenciais para a economia europeia. A existncia de mercados europeus abertos e competitivos tornar as empresas europeias mais competitivas a nvel internacional, benefi ciar os consumidores e o emprego na Europa. A prpria aplicao das regras de concorrncia, que tem por objectivo a supresso dos principais obstculos competitividade no mercado, contribuem para criar condies slidas para o crescimento.

    Promover um clima empresarial favorvel. A poltica de concorrncia pode contribuir de forma signifi cativa para a criao de condies favorveis s empresas. As regras em matria de auxlios estatais desempenham um papel importante nos esforos envidados para aumentar a disponibilidade de capital de risco para empresas em fase de arranque e pequenas e mdias empresas. Do mesmo modo, a poltica de concorrncia internacional contribui para o desenvolvimento de uma coeso global e para a previsibilidade de que as empresas necessitam. Finalmente, os princpios da concorrncia podem permitir analisar quadros regulamentares novos e existentes noutros importantes domnios de poltica, de forma a garantir que a regulamentao no diminua desnecessariamente a concorrncia. A defesa da concorrncia pode assim contribuir para modelar os quadros regulamentares nacionais e da UE, a fi m de promover um regime favorvel concorrncia e competitividade.

  • Introduo

    15

    Objectivos gerais da poltica de concorrncia

    Prioridades no controlo da aplicao das regras: centrar estas aces nas prticas anticoncorrenciais mais prejudiciais para a economia europeia A nova regulamentao em matria antitrust e das concentraes permitiro DG Concorrncia estabelecer melhor as suas prioridades a nvel das suas actividades de controlo, a fi m de se centrar nas prticas e concentraes mais prejudiciais em termos de impacto no bem-estar dos consumidores.

    No domnio antitrust, o Regulamento (CE) n.o 1/2003 criou um novo sistema de controlo de aplicao das regras, em que a Comisso e os Estados-Membros dispem de competncia para aplicar plenamente as regras comunitrias em matria de concorrncia. Para o efeito, a Comisso e os 25 Estados-Membros criaram uma rede europeia de concorrncia (REC), em que a DG Concorrncia desempenha um papel primordial. Este facto cria um potencial signifi cativo para uma aplicao mais efectiva e pr-activa das regras de concorrncia. Todavia, exigir uma melhor superviso dos mercados, a fi m de identifi car as prticas susceptveis de mais prejudicarem a concorrncia e os consumidores. O novo regulamento constituiu tambm a primeira etapa para o reforo das possibilidades de recurso pelos particulares junto dos tribunais nacionais, conferindo a estes poderes para aplicarem igualmente o n.o 3 do artigo 81.o O controlo da aplicao das regras continuar a centrar-se nos cartis, abusos de posio dominante, auxlios estatais incompatveis e aplicao das regras de concorrncia em sectores recentemente liberalizados e outros sectores regulamentados da economia.

    No domnio do controlo das concentraes, o novo regulamento aumentou as possibilidades de remessa de processos dos Estados-Membros para a Comisso e vice-versa, o que deve contribuir para que a Comisso centre as suas actividades de controlo em processos com um claro impacto transfronteiras. Alm disso, o novo critrio substantivo de um entrave signifi cativo concorrncia efectiva clarifi cou que todas as concentraes anticoncorrenciais so abrangidas pelo novo regulamento.

    No domnio dos auxlios estatais, a DG Concorrncia centrar-se- mais especialmente na aplicao das decises negativas e no reembolso de auxlios estatais incompatveis. Alm disso, uma melhor cooperao internacional, tanto bilateral como multilateral, continuar a ser crucial para garantir a efi ccia da poltica europeia de concorrncia na luta contra as prticas anticoncorrenciais de mbito internacional.

    Aumentar a competitividade na UE ajudando a desenvolver o quadro regulamentar. A regulamentao, tanto a nvel comunitrio como nacional, pode travar a concorrncia intil e involuntariamente e diminuir o potencial do mercado interno. Em determinados sectores, como as actividades de rede liberalizadas e em especial no sector da energia, necessrio promover um quadro regulamentar que crie condies para incentivar a entrada de novas empresas no mercado e fomente a concorrncia. A defesa da concorrncia e a anlise das polticas devem, por conseguinte, ser utilizadas para infl uenciar a legislao nacional e comunitria, a fi m de garantir que tomada em devida considerao a salvaguarda de mercados competitivos.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

    16

    As regras de concorrncia em matria de controlo dos auxlios estatais devem ser revistas a fi m de garantir que atendem mais s defi cincias de mercados especfi cos, que afectam o nvel de investimento da UE em I&D e o acesso ao capital, por um lado, bem como a persistncia de disparidades no desenvolvimento regional, por outro. A adaptao do regime regulamentar em matria de controlo dos auxlios estatais proporcionar um contributo directo para os esforos da Comisso no sentido de favorecer a inovao.

    Centrar a aco em sectores essenciais para o mercado interno e a agenda de Lisboa. Deve ser dada nfase supresso dos obstculos concorrncia nos sectores recentemente liberalizados, bem como noutros sectores regulamentados, nomeadamente as telecomunicaes, os servios postais, a energia e os transportes. Estes sectores fornecem contributos essenciais a muitos outros sectores econmicos e so de importncia capital para a competitividade europeia. Permitir a um maior nmero de prestadores de servios entrar em concorrncia deve conduzir a uma escolha mais vasta, melhoria da qualidade e a preos mais baixos para os consumidores. A evoluo do sector das telecomunicaes nos ltimos dez anos constitui um bom exemplo dos benefcios da liberalizao.

    Os sectores recentemente liberalizados so, contudo, afectados por vrias distores da concorrncia, desde prticas comerciais prejudiciais por parte das empresas em causa at uma regulamentao inadequada ou mesmo auxlios estatais inadaptados. Deve ser tomado na devida considerao o facto de estes sectores poderem ser caracterizados por obrigaes de servio pblico, no que se refere prestao de servios de interesse econmico geral (SIEG), que devem ser cumpridas. No entanto, a Comisso tem de garantir que as subvenes concedidas para o funcionamento destes servios pblicos no ultrapassam o estritamente necessrio. Alm disso, necessrio ser mais explcito na identifi cao dos problemas susceptveis de serem mais apropriadamente resolvidos atravs da aplicao do direito da concorrncia. Quanto a este aspecto, importante procurar uma poltica regulamentar e de controlo sectorial integrada.

    Alguns sectores importantes para a competitividade global da economia europeia caracterizam-se por uma auto-regulao considervel ou um misto de auto-regulao e regulamentao por parte do Estado. o que acontece em especial nos servios fi nanceiros. A criao de um mercado de capitais efi ciente e com liquidez constitui um dos objectivos essenciais do plano de aco para os servios fi nanceiros. Foram lanadas durante o mandato da ltima Comisso vrias iniciativas de polticas do mercado interno, culminando com a nova directiva Servios de investimento, a fi m de suprimir os obstculos s transaces transfronteiras dos valores mobilirios e facilitar a concorrncia entre empresas de investimento. A poltica de concorrncia constitui um complemento importante deste processo de liberalizao. Alm disso, os servios fi nanceiros de retalho desempenham um papel importante na vida quotidiana dos cidados da Unio Europeia. Estes servios devem ser prestados em condies competitivas, o que pressupe que o consumidor individual dispe de uma escolha mais vasta de produtos e de servios de maior qualidade ao melhor preo possvel.

  • Introduo

    17

    CAIXA 1: ECONOMISTA PRINCIPAL PARA A CONCORRNCIA NA DG CONCORRNCIA EM 2004

    A equipa do economista principal constitui uma unidade distinta dependente directamente do director-geral. Dispe de 10 membros, todos com um doutoramento em economia industrial. As suas tarefas e o seu papel podem ser descritos da seguinte forma:

    fornecer orientaes sobre questes metodolgicas do domnio econmico e economtrico na aplicao das regras comunitrias em matria de concorrncia;

    fornecer orientaes gerais sobre processos individuais de concorrncia desde a fase inicial;

    fornecer orientaes especializadas nos processos de concorrncia mais importantes, que envolvam questes econmicas complexas, em especial os que exijam anlises quantitativas sofi sticadas. Pode acontecer neste contexto o destacamento de um membro da equipa do economista principal para trabalhar na equipa do processo;

    contribuir para a elaborao de instrumentos de poltica geral com contedo econmico.

    Contribuio para os processos e as orientaes

    Em 2004, a equipa do economista principal participou num total de 33 processos (11 processos de concentraes, 15 processos antitrust e sete processos de auxlios estatais). Alm disso, a equipa do economista principal contribuiu de forma signifi cativa para a elaborao das orientaes e para a anlise de questes de poltica geral.

    Os processos so seleccionados de acordo com o director-geral e com base na necessidade de uma anlise econmica mais sofi sticada, em especial uma anlise quantitativa. Nesses casos, um membro da equipa do economista principal afectado equipa do processo, com acesso a todas as informaes e participao em todas as reunies com peritos externos e as partes. Dentro da equipa do processo, os membros destacados da equipa do economista principal tm um estatuto especfi co e independente e dependem directamente do economista principal em matria de concorrncia em relao orientao que seguem. Dada a importncia da orientao dada anlise econmica de um processo, a equipa do economista principal costuma envolver se o mais cedo possvel.

    A equipa do economista principal assiste tambm audio oral e participa nos debates do grupo de apreciao interna.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    O economista principal em matria de concorrncia participa na reunio semanal com o Comissrio. Alm disso, emite um parecer escrito sobre todos os processos em que participa.

    Contribuio para o desenvolvimento dos conhecimentos econmicos na DG

    O economista principal em matria de concorrncia contribui para o debate global sobre questes econmicas em toda a DG Concorrncia, organizando aces de formao, seminrios e discusses. Alm disso, mantm e refora as ligaes com o mundo acadmico. Reestruturou o Grupo Consultivo Econmico para a Poltica de Concorrncia (GCEPC), um grupo de eminentes acadmicos que trabalham na rea da economia industrial. Uma importante funo do GCEPC consiste em emitir pareceres independentes sobre questes de poltica geral. O GCEPC est organizado em trs subgrupos: concentraes, antitrust e auxlios estatais.

    MENSAGEM DO AUDITORA Comisso criou o cargo de auditor a fi m de confi ar a conduo do procedimento administrativo nos processos antitrust e de concentraes a uma pessoa independente, com experincia em matria de concorrncia e com a integridade necessria para contribuir para a objectividade, transparncia e efi ccia desses processos. O mandato do auditor defi ne um certo nmero de mecanismos que regem o cumprimento desta funo. Entre eles fi gura nomeadamente a obrigao de elaborar um relatrio fi nal sobre cada projecto de deciso apresentado ao Colgio dos Comissrios, em que se pronuncia sobre o respeito do direito a ser ouvido. Por conseguinte, os dois auditores intervm formalmente em todos os processos em que dado incio e encerrado um procedimento formal desta forma. Desde Maio de 2000 incluem-se aqui as decises relativas a compromissos ao abrigo do artigo 9.o do Regulamento (CE) n.o 1/2003, a primeira das quais foi no processo DFB, objecto de uma deciso em Janeiro de 2005. A ttulo excepcional, os auditores podem igualmente ser consultados antes do incio de um processo formal, por exemplo quando se colocam questes de confi dencialidade em relao a informaes a incluir numa comunicao de objeces ou relativamente verso pblica de uma deciso. Globalmente, os auditores estiveram ofi cialmente implicados em cerca de 40 processos em 2004. Certos aspectos essenciais dessas intervenes so seguidamente explicados.

    Garantir o direito a ser ouvido atravs da concesso de acesso adequado ao processo

    Tendo em conta o interesse legtimo das pessoas que fornecem informaes na proteco das informaes confi denciais, o interesse pblico em que as regras de concorrncia

  • Introduo

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    sejam respeitadas e os direitos de defesa dos destinatrios de uma comunicao de objeces, os auditores tomaram vrias decises atravs das quais concederam ou recusaram s partes o acesso a documentos constantes do processo.

    De entre as decises desse tipo tomadas em 2004, algumas diziam respeito aos direitos de acesso das partes a que foi dirigida a designada exposio dos factos (letter of facts), na qual so informadas de elementos complementares a tomar em considerao na deciso fi nal. As decises Microsoft e Clearstream constituem exemplos de processos em que, em circunstncias semelhantes, foi concedido s partes o acesso s informaes complementares.

    Garantir a proteco dos segredos comerciais das empresas e o interesse legtimo na confi dencialidade

    Em caso de desacordo entre o servio competente da Comisso e as partes em causa, incumbe aos auditores tomarem as decises relativas proteco dos segredos comerciais das empresas e ao interesse legtimo na confi dencialidade. Este interesse tem se ser ponderado tendo em conta o interesse das partes em divulgar as informaes em causa ou, quando se tratar da publicao de uma deciso, o interesse pblico em informar a comunidade jurdica e empresarial do resultado do processo.

    No processo Ordem dos Arquitectos belga, o risco de represlias levou os auditores a recusarem o acesso a um documento constante do processo, que teria permitido s partes identifi car o informador.

    Em 2004, a maior parte das decises do auditor sobre a divulgao de informaes potencialmente confi denciais disse respeito legalidade da publicao das decises fi nais da Comisso. Estas decises contriburam para estabelecer vrios princpios a aplicar em futuros processos.

    Em primeiro lugar, em conformidade com a jurisprudncia, qualquer pedido de confi dencialidade deve demonstrar por que razo a divulgao das informaes alegadamente confi denciais poderia lesar gravemente a empresa (1). Em segundo lugar, o risco de a divulgao de informaes dar origem a um litgio privado no , em si mesmo, um motivo vlido. Uma indemnizao por perdas e danos concedida na sequncia de uma violao do direito da concorrncia constituiria a consequncia legtima e desejvel do comportamento anticoncorrencial em causa (2). Em terceiro lugar, no cabe aos auditores decidirem se indispensvel publicar certas passagens

    (1) Em conformidade com o processo T-353/94 Postbank NV, ponto 87, entende-se por segredos comerciais as informaes em relao s quais no apenas a divulgao ao pblico, mas tambm a simples transmisso a um sujeito jurdico diferente daquele que forneceu a informao podem gravemente lesar os interesses deste ltimo.

    (2) O artigo 30.o do Regulamento (CE) n.o 1/2003 e o artigo 21.o do Regulamento n.o 17/62 estabelecem que a Comisso s deve ter em conta o legtimo interesse das empresas na proteco dos seus segredos comerciais.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    das decises fi nais para garantir a boa compreenso das mesmas. A importncia de uma determinada informao para garantir a compreenso global da deciso s ser analisada se a passagem em causa constituir uma informao confi dencial.

    Alm disso, em 2004 foi introduzido um procedimento aplicvel antes da adopo de uma deciso juridicamente vinculativa relativamente divulgao de informaes confi denciais, a fi m de evitar o mais possvel litgios. Os auditores podem, numa primeira fase, emitir um ponto de vista preliminar. S no caso de esta proposta ser contestada num determinado prazo que os auditores tomaro uma deciso vinculativa, que pode ser objecto de recurso para o Tribunal de Primeira Instncia. Em muitos casos, esta nova prtica contribuiu para evitar os denominados processos Akzo, em que os auditores tomam uma deciso formal e vinculativa em nome da Comisso relativamente divulgao de informaes potencialmente confi denciais. Esta deciso susceptvel de controlo jurisdicional pelo Tribunal de Primeira Instncia.

    Organizar e realizar as audies orais

    As audies orais do s partes a oportunidade de complementarem a sua resposta escrita s preocupaes manifestadas pela Comisso em termos de concorrncia, apresentando oralmente as principais questes perante uma vasta audincia, com possibilidade de responder a perguntas e iniciar uma discusso directa com os servios competentes da Comisso e representantes dos Estados-Membros. Pode ser igualmente a nica oportunidade de os autores das denncias ou terceiros implicados no processo ouvirem e apresentarem directamente observaes sobre os pontos abordados. Foi exactamente o que aconteceu no processo Microsoft em que, aps uma investigao em procedimento escrito de cinco anos, incluindo trs comunicaes de objeces, respostas escritas e observaes escritas de inmeros terceiros, representantes de todas as partes implicadas se reuniram pela primeira vez e durante trs dias apresentaram os seus prprios pontos de vista e observaes sobre os dos outros, em benefcio de todos os interessados.

    Os auditores verifi caram que as apresentaes efectuadas em audies orais, juntamente com as questes suscitadas, conduzem invariavelmente a uma melhor compreenso das questes suscitadas. Por conseguinte, a tarefa dos auditores de organizar e realizar audies orais nos processos antitrust e de concentraes importante, tendo em conta a sua relevncia no contexto do processo global. A organizao propriamente dita efectuada em estreita colaborao com as partes em causa. Em termos de participao, so convidadas as autoridades responsveis pela concorrncia dos Estados-Membros e todos os servios da Comisso implicados no processo. Os auditores estabeleceram a obrigao de participao na audio do director responsvel pela instruo do processo, obrigao confi rmada pelo comissrio.

    Durante a audio, os auditores podem decidir aceitar novos documentos, a pedido do servio competente da Comisso, das partes ou de terceiros em causa. A nova legislao introduzida em 2004 em relao aos processos de concentraes e antitrust

  • Introduo

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    prev expressamente a possibilidade de todas as partes em causa colocarem questes sob a autoridade dos auditores. Apesar de continuar a ser aplicada apenas numa base experimental, esta nova prtica reforou a interaco.

    Em certas circunstncias, tais como no processo cloreto de colina, os auditores aceitaram que novos elementos de prova fossem apresentados aquando da audio oral. Tal como comprovado pelos relatrios fi nais publicados em 2004, no fi nal de certas audies orais, por exemplo no processo de concentrao Sony/BMG, podem surgir alteraes abordagem dos processos.

    Alm disso, as audies orais sensibilizam os auditores para aspectos crticos do processo e permitem-lhes participar mais activamente nas etapas posteriores do processo, por exemplo formulando observaes sobre os progressos a alcanar, em conformidade com o seu mandato.

    Actuar como consultor junto do comissrio responsvel pela poltica de concorrncia

    A principal tarefa dos auditores consiste em garantir o respeito dos direitos de defesa das partes, bem como a legalidade processual para todas as partes em causa. Contudo, no mbito do seu relatrio intercalar ou, mais em geral, quando apresentam um relatrio ao comissrio, especialmente no que diz respeito ao desenrolar da audio, os auditores podem utilizar a possibilidade de que dispem para alertar o comissrio para uma questo de fundo suscitada pelo processo, quando considerarem que tal reforar a qualidade da deciso fi nal. Em 2004, os auditores trabalharam a favor de uma redaco mais clara das decises fi nais. Formularam, em vrios processos, nomeadamente em processos de cartis, observaes que contriburam para melhorar o processo de tomada de decises e, em ltima anlise, a qualidade das decises fi nais.

    Os auditores debateram tambm uma srie de questes de poltica de concorrncia com a Direco-Geral da Concorrncia. Tais discusses centraram-se nomeadamente na reviso da comunicao relativa ao acesso ao processo, na adaptao das regras respeitantes s declaraes no quadro da poltica de imunidade em matria de coimas da Comisso s regras de divulgao aplicadas por tribunais estrangeiros, respeitando em simultneo o direito de acesso ao processo, bem como no papel dos auditores enquanto mediadores potenciais nos diferendos entre a DG Concorrncia e as empresas, no que se refere confi dencialidade de um documento.

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    I ACORDOS, DECISES E PRTICAS CONCERTADAS E ABUSOS DE POSIO DOMINANTE: ARTIGOS 81.o, 82.o E 86.o DO TRATADO CE

    A QUADRO LEGISLATIVO E REGRAS DE INTERPRETAO

    1. Modernizao das regras em matria de acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante (antitrust): Regulamento de execuo n.o 773/2004, orientaes e comunicaes

    1. Em 1 de Maio entrou em vigor o novo regime de aplicao dos artigos 81.o e 82.o do Tratado e foi revogado o Regulamento 17/62. A fi m de completar o Regulamento (CE) n.o 1/2003 (3) e na sequncia de consultas alargadas, a Comisso adoptou o pacote Modernizao, que consiste num novo regulamento da Comisso sobre os procedimentos antitrust, bem como seis novas comunicaes da Comisso destinadas a dar orientaes sobre uma srie de aspectos que assumem uma importncia especial no mbito do novo regime de execuo. Este pacote compreende os elementos seguintes.

    Regulamento de execuo (4)

    2. O regulamento de execuo defi ne regras pormenorizadas relativas, em especial, ao incio do procedimento, s declaraes orais, s denncias, s audies das partes, ao acesso ao processo e ao tratamento das informaes confi denciais em processos antitrust instrudos pela Comisso.

    Comunicao relativa rede de autoridades de concorrncia (5)

    3. A comunicao estabelece os principais pilares da cooperao entre a Comisso e as autoridades de concorrncia dos Estados-Membros no mbito da Rede Europeia da Concorrncia (REC). Enuncia os princpios aplicveis diviso do trabalho relativa aos processos entre os membros da rede. Quanto a este aspecto, a comunicao d sequncia declarao do Conselho e da Comisso (6) publicada na data da adopo do Regulamento (CE) n.o 1/2003. Foram criadas disposies especfi cas

    (3) Regulamento (CE) n.o 1/2003 do Conselho, de 16 de Dezembro de 2002, relativo execuo das regras de concorrncia estabelecidas nos artigos 81.o e 82.o do Tratado (JO L 1 de 4.1.2003), com a redaco que lhe foi dada pelo Regulamento (CE) n.o 411/2004 (JO L 68 de 6.3.2004).

    (4) Regulamento (CE) n.o 773/2004 da Comisso, de 7 de Abril de 2004, relativo instruo de processos pela Comisso para efeitos dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE (JO L 123 de 27.4.2004).

    (5) Comunicao da Comisso sobre a cooperao no mbito da rede de autoridades de concorrncia (JO C 101 de 27.4.2004).

    (6) Disponvel no registo do Conselho em http://register.consilium.eu.int (documento n.o 15435/02 ADD 1).

    http://register.consilium.eu.int

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    para a interface entre trocas de informaes entre autoridades nos termos dos n.os 1 e 2 do artigo 11.o e do artigo 12.o do Regulamento (CE) n.o 1/2003 e para o funcionamento dos programas de imunidade em matria de coimas ou de reduo do seu montante. As autoridades nacionais dos Estados-Membros (7) assinaram uma declarao em que se comprometem a respeitar os princpios enunciados na comunicao da Comisso.

    Comunicao sobre a cooperao com os tribunais nacionais (8)

    4. Esta comunicao pretende servir de instrumento prtico aos tribunais nacionais que aplicam os artigos 81.o e 82.o em conformidade com o Regulamento (CE) n.o 1/2003. Rene a jurisprudncia relevante do Tribunal de Justia, clarifi cando desta forma o contexto processual em que os juzes nacionais trabalham. dada uma ateno especial s situaes em que os tribunais nacionais tratam um processo em simultneo com a Comisso ou depois desta. Alm disso, o Regulamento (CE) n.o 1/2003 estabelece uma base jurdica expressa ao abrigo da qual os tribunais nacionais podem solicitar Comisso um parecer ou informaes de que esta dispe e prev a possibilidade de a Comisso, em determinadas circunstncias, apresentar aos tribunais nacionais observaes escritas e orais. A comunicao explica o funcionamento desses mecanismos de cooperao.

    Comunicao relativa s denncias (9)

    5. Esta comunicao comea por dar informaes de carcter geral sobre os papis respectivos das autoridades de concorrncia e dos tribunais e convida os potenciais autores de denncias a, com conhecimento de causa, optarem por apresentar o caso Comisso, a uma autoridade nacional responsvel pela concorrncia ou a um tribunal nacional, luz das orientaes fornecidas. A comunicao contm essencialmente explicaes sobre a apreciao das denncias efectuada pela Comisso no domnio antitrust, bem como os procedimentos aplicveis. A comunicao menciona tambm um prazo indicativo de quatro meses, no qual a Comisso se compromete a informar o autor da denncia se tenciona ou no realizar uma investigao completa sobre uma denncia.

    (7) Uma lista das autoridades nacionais signatrias da declarao respeitante comunicao da Comisso relativa cooperao no mbito da rede das autoridades de concorrncia fi gura no stio web da Comisso.

    (8) Comunicao da Comisso sobre a cooperao entre a Comisso e os tribunais dos Estados--Membros da UE na aplicao dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE (JO C 101 de 27.4.2004).

    (9) Comunicao da Comisso relativa ao tratamento de denncias pela Comisso nos termos dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE (JO C 101 de 27.4.2004).

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    Comunicao relativa s cartas de orientao (10)

    6. O Regulamento (CE) n.o 1/2003 prossegue o objectivo de conduzir a Comisso a reorientar as suas actividades de controlo na deteco das infraces mais graves. A supresso do sistema de notifi cao constitui um elemento crucial neste contexto. Contudo, parece igualmente razovel que, num nmero limitado de casos, em que surge uma questo verdadeiramente indita relativa aos artigos 81.o ou 82.o, a Comisso possa, sem prejuzo das suas prioridades em matria de aplicao do direito, fornecer por escrito indicaes s empresas (carta de orientao). A comunicao aborda em pormenor este instrumento.

    Comunicao sobre a afectao do comrcio (11)

    7. O conceito de afectao do comrcio constitui um critrio de competncia que determina a aplicabilidade dos artigos 81.o e 82.o. Determina tambm o mbito de aplicao do artigo 3.o do Regulamento (CE) n.o 1/2003. Face a este contexto, os Estados--Membros exprimiram um forte desejo de que fosse publicada uma comunicao interpretativa deste conceito. A comunicao descreve a actual jurisprudncia e no procura de modo algum limitar o mbito de competncia dos artigos 81.o e 82.o Defi ne tambm um limiar quantitativo que a Comisso considerar, nos seus prprios processos, como sendo uma presuno ilidvel, quando o volume de negcios anual mdio realizado na Comunidade pelas empresas em causa com os produtos abrangidos pelo acordo no ultrapassar 40 milhes de euros e a parte de mercado (total) das partes no for superior a 5% em qualquer mercado comunitrio afectado pelo acordo.

    Orientaes relativas aplicao do n.o 3 do artigo 81.o (12)

    8. A competncia dos tribunais e das autoridades de concorrncia dos Estados--Membros para aplicarem o n.o 3 do artigo 81.o constitui um dos principais pilares da reforma da modernizao. A comunicao desenvolve um quadro para a aplicao do n.o 3 do artigo 81.o e fornece orientaes sobre a aplicao de cada uma das quatro condies cumulativas includas nesta disposio do Tratado. A comunicao enumera vrios tipos de efi cincias que podem constituir vantagens econmicas objectivas na acepo da primeira condio. Explica tambm o conceito de consumidor e a condio segundo a qual uma parte equitativa do benefcio resultante do acordo deve ser reservada aos consumidores. Os aspectos anticoncorrenciais do acordo so analisados

    (10) Comunicao da Comisso sobre a orientao informal relacionada com questes novas relativas aos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE que surjam em casos individuais (cartas de orientao) (JO C 101 de 27.4.2004).

    (11) Orientaes sobre o conceito de afectao do comrcio entre os Estados-Membros previsto nos artigos 81.o e 82.o do Tratado (JO C 101 de 27. 4. 2004).

    (12) Comunicao sobre as orientaes relativas aplicao do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE (JO C 101 de 27.4.2004).

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    ao abrigo do n.o 1 do artigo 81.o e os elementos favorveis concorrncia so analisados e compensados com os elementos anticoncorrenciais ao abrigo do n.o 3 do artigo 81.o

    2. Regulamento e orientaes relativos iseno por categoria da transferncia de tecnologia

    9. No quadro da reforma fundamental das regras de execuo da UE em matria antitrust, a Comisso adoptou, em 7 de Abril, novas regras sob a forma de um novo regulamento de iseno por categoria da Comisso, o Regulamento (CE) n.o 772/2004 (a seguir denominado RICTT) (13), bem como um conjunto de orientaes (14) respeitantes concesso de licenas de patentes, de saber-fazer e de direitos de autor para suportes lgicos. A partir de 1 de Maio de 2004, os acordos de concesso de licenas benefi ciam de maior proteco, permitindo que muitos acordos evitem um exame individual. As novas regras facilitam a concesso de licenas e reduzem a carga regulamentar para as empresas, garantindo simultaneamente um controlo efi caz dos acordos de licena entre empresas com um poder de mercado signifi cativo. As novas regras devem contribuir para a divulgao das tecnologias na UE, bem como para os objectivos de Lisboa.

    10. As novas regras foram objecto de um vasto processo de consulta (15), em que as partes interessadas revelaram um vivo interesse e apresentaram contributos pormenorizados e de elevada qualidade. Substituram o Regulamento (CE) n.o 240/96 (16), que fora criticado devido ao seu mbito de aplicao limitado e ao seu carcter formalista. As novas regras, que se alinham rigorosamente pela nova gerao de regulamentos de iseno por categoria da Comisso, apresentam as seguintes caractersticas:

    o RICTT contm apenas uma lista negra (17): tudo o que no est expressamente excludo da iseno por categoria est a partir de agora isento. Tal permite s empresas uma maior liberdade para conclurem os seus acordos de concesso de licenas em funo das suas necessidades comerciais;

    (13) Regulamento (CE) n.o 772/2004 da Comisso relativo aplicao do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado a certas categorias de acordos de transferncia de tecnologia (JO L 123 de 27.04.2004).

    (14) Comunicao sobre as orientaes relativas aplicao do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE aos acordos de transferncia de tecnologia (JO C 101 de 27.4.2004). O RICTT e as orientaes encontram-se igualmente disponveis em http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust//legislation/entente3_en.html#technology.

    (15) Foram recebidas mais de 70 contribuies do sector e de associaes profi ssionais, sociedades de advogados e associaes de direitos de autor, autoridades nacionais, empresas, universidades e consultores.

    (16) Regulamento (CE) n.o 240/96 da Comisso, de 31 de Janeiro de 1996, relativo aplicao do n.o 3 do artigo 85.o do Tratado CE a certas categorias de acordos de transferncia de tecnologia (JO L 31 de 9.2.1996). Para uma avaliao deste regulamento, ver o relatrio de avaliao da Comisso, COM(2001) 786 fi nal.

    (17) O regulamento anterior de 1996 continha listas brancas e cinzentas.

    http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/legislation/entente3_en.html#technology

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    o mbito das novas regras abrange todos os tipos de acordos de transferncia de tecnologia para a produo de bens ou servios: no apenas a concesso de licenas de patentes e de saber-fazer, mas tambm as licenas de modelos, desenhos e direitos de autor de programas informticos. Quando a Comisso no tenha poderes para adoptar um regulamento de iseno por categoria (18), como o caso dos agrupamentos de licenas de direitos de autor em geral, as orientaes daro instrues claras quanto poltica de aplicao futura;

    as novas regras estabelecem uma distino clara entre a concesso de licenas entre concorrentes (que so mais susceptveis de prejudicar a concorrncia) e a concesso de licenas entre no concorrentes. Em especial, as listas de restries graves so diferentes;

    o RICTT prev o benefcio da proteco apenas abaixo de certos limiares de quota de mercado, nomeadamente uma quota cumulada de 20% para acordos de concesso de licenas entre concorrentes e de 30% cada para os acordos entre no concorrentes. As quotas de mercado devem ser calculadas tanto no(s) mercado(s) do produto relevante afectado(s) como no mercado das tecnologias (19);

    um acordo de licena no pode benefi ciar da iseno por categoria se contiver uma restrio grave da concorrncia;

    certas restries esto excludas da iseno por categoria, mas a parte restante do acordo pode continuar a benefi ciar dela (20).

    11. A lista de restries graves constante do artigo 4o do RICTT especifi ca as restries que implicam que o acordo no pode benefi ciar na ntegra da iseno por categoria, bem como as restries em relao s quais pouco provvel uma aplicao individual do n.o 3 do artigo 81.o (21).

    12. No que diz respeito concesso de licenas entre concorrentes, a) a fi xao dos preos, b) a limitao da produo, c) a repartio dos mercados ou dos clientes, d) a restrio de o licenciado explorar a sua prpria tecnologia e e) a limitao de as partes realizarem I&D (a no ser que seja indispensvel para impedir a divulgao do

    (18) O Regulamento n.o 19/65/CEE do Conselho, regulamento de habilitao, apenas permite a adopo de regulamentos de iseno para acordos de transferncia de tecnologia entre duas partes e relativos a direitos de propriedade industrial.

    (19) A quota no mercado da tecnologia baseia-se tambm no mercado do produto, na medida em que defi nida em termos da quota de mercado dos produtos fabricados com a tecnologia licenciada. Para o clculo da quota de mercado, devem normalmente ser utilizados os dados relativos ao valor das vendas realizadas no ano civil anterior. Est previsto um perodo de tolerncia de dois anos no caso de o limiar relevante ser ultrapassado.

    (20) Isto diz especialmente respeito a obrigaes impostas ao licenciado de retroceder ou de ceder exclusivamente ao licenciante melhoramentos separveis ou novas aplicaes da tecnologia licenciada, bem como s clusulas de no contestao.

    (21) O RICTT abrange agora um certo nmero de restries normalmente utilizadas, tais como: as restries do domnio de utilizao, as restries de vendas activas e passivas entre o licenciante e o licenciado a fi m de proteger os seus territrios exclusivos e as restries de utilizao cativa.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    saber-fazer licenciado) so consideradas restries graves, enquanto para os acordos de concesso de licenas entre no concorrentes as restries graves so: a) a fi xao vertical dos preos, b) a restrio das vendas passivas do licenciado e c) a restrio das vendas activas e passivas do licenciado dentro de um sistema de distribuio selectiva. O artigo 4.o contm excepes especfi cas s listas de restries graves tanto no que diz respeito aos acordos de concesso de licenas entre concorrentes como entre no concorrentes.

    13. As orientaes indicam claramente que no existe uma presuno de ilegalidade fora da zona de segurana constituda pela iseno por categoria, desde que o acordo no contenha uma restrio grave. Assim, no existe qualquer presuno de aplicabilidade do n.o 1 do artigo 81.o pelo simples facto de os limiares de quota de mercado serem ultrapassados. exigida uma avaliao individual baseada nos princpios enunciados nas orientaes.

    14. A fi m de promover a previsibilidade para alm da aplicao do RICTT e de limitar a anlise pormenorizada a casos susceptveis de apresentarem verdadeiras preocupaes em termos de concorrncia, a Comisso criou uma segunda zona de segurana no interior das orientaes. Considera que fora do mbito das restries graves pouco provvel que o n.o 1 do artigo 81.o seja infringido, uma vez que, para alm das tecnologias controladas pelas partes no acordo, existem quatro ou mais tecnologias controladas independentemente que podem ser substituveis da tecnologia licenciada a custos comparveis para o utilizador.

    15. As orientaes no s proporcionam um quadro geral para a anlise dos acordos de licena, como tambm contm seces especfi cas consagradas aplicao do artigo 81.o a vrios tipos de restries constantes dos acordos de concesso de licenas, nomeadamente as obrigaes em matria de royalties, os acordos de licena exclusivos e as restries de vendas, as restries da produo, as restries do domnio de utilizao, as restries de utilizao cativa, as obrigaes de subordinao e de agrupamento e as obrigaes de no concorrncia. Contm igualmente uma seco relativa apreciao dos agrupamentos de tecnologia (22).

    3. Regulamentos de iseno por categoria no domnio dos transportes

    3.1. Transportes martimos

    Reviso do Regulamento (CEE) n.o 4056/86 do Conselho

    16. A Comisso realizou progressos considerveis em termos da reviso do Regulamento (CEE) n.o 4056/86, um exerccio lanado em Maro de 2003. Este regulamento aplica as regras de concorrncia da UE ao sector dos transportes martimos

    (22) Isto , acordos atravs dos quais duas ou mais partes agrupam um conjunto de tecnologias que so licenciadas no apenas s partes no agrupamento, mas igualmente a terceiros.

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    e uma das principais questes que se coloca no mbito da reviso saber se continuam a verifi car-se as condies que justifi cam a iseno, nos termos do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado, da fi xao de preos e regulao das capacidades das conferncias martimas.

    17. Com base numa consulta aprofundada (foram recebidas 36 contribuies em resposta a um documento de consulta e foi organizada uma audio), a Comisso debateu em 28 de Maio numa reunio informal com as autoridades responsveis pela concorrncia e pelos transportes dos Estados-Membros os resultados at ao momento decorrentes do processo de consulta. Tal conduziu adopo, em 13 de Outubro, de um livro branco (23), no qual a Comisso considera que no existe qualquer dado econmico que permita concluir que as consideraes em que se baseou a iseno por categoria aquando da sua adopo, em 1986, continuam a existir na actual situao do mercado e com base nas quatro condies cumulativas previstas no n.o 3 do artigo 81.o do Tratado. Nesta base, a Comisso previa propor a revogao da actual iseno por categoria em relao s conferncias martimas. No seu livro branco, a Comisso deixou contudo a porta aberta a outras solues possveis para substituir o actual sistema de conferncias em rotas com destino e a partir da UE. Os fornecedores de servios de transporte martimo regular, representados pela European Liners Aff airs Association (ELAA), apresentaram j ideias concretas relativamente ao novo enquadramento. Todavia, antes de tomar posio sobre essas ideias, a Comisso convidou as partes interessadas a apresentarem as suas observaes, bem como a sugerirem opes alternativas.

    Modernizao do Regulamento (CE) n.o 823/2000 da Comisso (consrcios)

    18. O Regulamento (CE) n.o 823/2000 da Comisso relativo aplicao do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE a certas categorias de acordos, decises e prticas concertadas entre companhias de transportes martimos regulares (consrcios) prev uma iseno por categoria em relao a acordos de consrcio no sector dos transportes martimos. O objectivo de um acordo de consrcio entre dois ou mais transportadores que exploram navios que fornecem servios martimos internacionais regulares consiste em estabelecer uma cooperao para a explorao em comum de um servio de transporte martimo de forma a melhorar a produtividade e a qualidade do servio e a incentivar uma maior utilizao dos contentores e a utilizao mais efi ciente possvel da capacidade de transporte.

    19. Uma vez que este regulamento cessa a sua vigncia em 25 de Abril de 2005, a Comisso lanou uma consulta pblica (24) em Junho sobre as vrias opes de poltica para a futura legislao neste domnio e, em especial, para recolher os pontos

    (23) Livro branco relativo reviso do Regulamento (CEE) n.o 4056/86 que determina as regras de aplicao das normas europeias da concorrncia aos transportes martimos, COM(2004) 675 fi nal. Ver igualmente o comunicado de imprensa da Comisso IP/04/1213.

    (24) Para documento de consulta e respostas recebidas pela Comisso, ver: http://europa.eu.int//comm/competition/antitrust/others/#consult_823.

    http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/others/#consult_823

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    de vista do sector, dos Estados-Membros e de outras partes interessadas. Esta consulta realizou-se no contexto da reviso em curso da iseno por categoria para acordos entre conferncias martimas regulares includa no Regulamento (CEE) n.o 4056/86. Em 23 de Dezembro, a Comisso publicou um anteprojecto de regulamento que altera o Regulamento (CE) n.o 823/2000 da Comisso, convidando as partes interessadas a apresentarem as suas observaes (25).

    3.2. Transportes areos

    Extenso dos poderes de execuo no domnio da concorrncia no sector dos transportes areos internacionais: alterao dos Regulamentos (CEE) n.o 3975/87 e n.o 3976/87

    20. Em 26 de Fevereiro, o Conselho adoptou o Regulamento (CE) n.o 411/2004 (26), que altera dois regulamentos em vigor no sector dos transportes areos (27), bem como o Regulamento (CE) n.o 1/2003. Em substncia, o Regulamento (CE) n.o 1/2003 ser, por conseguinte, igualmente aplicvel aos transportes areos entre a Comunidade Europeia e os pases terceiros. Alm disso, o mbito de aplicao do regulamento do Conselho que permite Comisso adoptar regulamentos de iseno por categoria em relao a uma lista de actividades de transporte areo (que afecta tambm os voos de longo curso) alargado. At adopo deste regulamento, a Comisso no dispunha de poderes efectivos de execuo neste domnio dos transportes areos entre a UE e os pases terceiros, apesar de no haver dvidas de que as regras de concorrncia eram igualmente aplicveis a estes voos (28). A aplicao do Regulamento (CE) n.o 1/2003 a todos os transportes areos, independentemente das rotas em causa, faz fi nalmente entrar o sector dos transportes areos no quadro geral de aplicao das regras antitrust. O Regulamento (CE) n.o 411/2004 entrou em vigor em 1 de Maio, juntamente com o pacote modernizao.

    Reviso do Regulamento (CEE) n.o 1617/93 da Comisso

    21. O elemento central do Regulamento (CEE) n.o 1617/93 da Comisso, que cessa a sua vigncia em 30 de Junho de 2005, a iseno actualmente em vigor para as Conferncias Tarifrias da IATA no que diz respeito s rotas intracomunitrias. A

    (25) JO C 319 de 23.12.2004.(26) JO L 68 de 6.3.2004. Ver igualmente o comunicado de imprensa IP/04/272.(27) Regulamento (CEE) n.o 3975/87 do Conselho que estabelece o procedimento relativo s regras

    de concorrncia aplicveis s empresas do sector dos transportes areos e Regulamento (CEE) n.o 3976/87 do Conselho relativo aplicao do n.o 3 do artigo 85.o do Tratado a certas categorias de acordos e de prticas concertadas no sector dos transportes areos.

    (28) Ver processos apensos 209-213/84 Nouvelles Frontires, Colectnea 1986, p. 1425. Anteriormente, a avaliao de alianas areas internacionais obrigava a Comisso a separar, do ponto de vista processual, as rotas intracomunitrias das rotas com pases terceiros, o que conduziu a um cenrio de manta de retalhos pouco satisfatrio.

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    Comisso deu incio este ano reviso do Regulamento (CEE) n.o 1617/93 e publicou um documento de consulta em 30 de Junho, convidando os governos, as empresas do sector e os consumidores a apresentarem as suas observaes e a fornecerem elementos de informao sobre questes essenciais em relao apreciao dessas Conferncias Tarifrias ao abrigo do n.o 3 do artigo 81.o do Tratado CE.

    22. Foi recebido e analisado pela Comisso um total de 52 respostas. Essa anlise revelou a necessidade de examinar algumas questes mais aprofundadamente. Para o efeito, foi elaborado um documento de discusso tendo em vista garantir uma tomada de deciso transparente e permitir aos poderes pblicos e ao sector apresentarem uma ltima srie de observaes.

    4. Reviso das regras processuais: nova comunicao sobre o acesso ao processo

    23. O acesso ao processo constitui uma importante etapa processual, bem como uma salvaguarda para os direitos da defesa em todos os processos antitrust e de concentraes contenciosos. Quando a Comisso emite uma comunicao de objeces, o acesso ao processo permite aos destinatrios familiarizarem-se com os elementos de prova includos no processo da Comisso, tendo em vista exprimir efi cazmente os seus pontos de vista sobre as concluses a que a Comisso chegou na comunicao de objeces (29). A fi m de reforar a transparncia e a clareza do procedimento seguido pela Comisso no tratamento dos pedidos de acesso ao processo (30), a Comisso procedeu a uma reviso da actual comunicao relativa ao acesso ao processo, que data de 1997 (31). Na sequncia da experincia adquirida com a aplicao da comunicao de 1997, a reviso toma em considerao a evoluo da prtica da Comisso (32) e da recente jurisprudncia (33). A reviso procura tambm garantir a compatibilidade das

    (29) O Regulamento (CE) n.o 1/2003 (antitrust), o Regulamento (CE) n.o 139/2004 (concentraes) e os respectivos regulamentos de execuo [Regulamentos (CE) n.o 773/2004 e (CE) n.o 802/2004] prevem que o acesso ao processo deve ser garantido em todos os processos que impliquem decises ao abrigo dos artigos 7.o, 8.o, 23.o e n.o 2 do artigo 24.o do Regulamento (CE) n.o 1/2003 e do n.o 3 do artigo 6.o, do n.o 3 do artigo 7.o, dos n.os 2 a 6 do artigo 8.o e dos artigos 14.o e 15.o do regulamento das concentraes.

    (30) O direito de acesso em processos antitrust e de concentrao distinto do direito geral de acesso aos documentos ao abrigo do Regulamento (CE) n.o 1049/2001, que est sujeito a critrios diferentes e prossegue um objectivo diferente.

    (31) Comunicao da Comisso relativa s regras de procedimento interno para o tratamento dos pedidos de consulta do processo nos casos de aplicao dos artigos 85.o e 86.o [actualmente 81.o e 82.o] do Tratado CE, dos artigos 65.o e 66.o do Tratado CECA e do Regulamento (CEE) n.o 4064/89 do Conselho (JO C 23 de 23.1.1997, p. 3).

    (32) A prtica da Comisso evoluiu devido a situaes novas e sem precedentes, tais como a implicao de um nmero muito elevado de partes nos processos, mas tambm tendo em vista melhorar a efi ccia do acesso ao processo atravs das novas tecnologias.

    (33) Nomeadamente no processo Cartel do cimento junto do Tribunal de Primeira Instncia: acrdo nos processos apensos T-25/95, etc. Cimenteries CBR SA e outros, Colectnea 2000, p. II-491.

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    regras de acesso ao processo com as regras modernizadas em matria antitrust e de concentraes, bem como com o actual mandato dos auditores (34).

    24. Aps discusso com os Estados-Membros, a Comisso publicou em 21 de Outubro um projecto de comunicao relativa s regras de acesso ao processo da Comisso em processos antitrust e processos de concentrao (35) e lanou uma consulta pblica sobre o projecto. Em resposta a esta consulta foram enviadas cerca de 20 contribuies, a maior parte das quais provenientes de juristas, mas tambm de associaes de consumidores e de sindicatos.

    25. Os principais aspectos do projecto so os seguintes:

    estabelecer uma distino entre o direito de acesso ao processo (por parte dos destinatrios de uma comunicao de objeces) e o acesso a certos documentos (previsto para autores de denncias em processos antitrust e para outros terceiros interessados em processos de concentrao);

    defi nir os elementos constitutivos do processo da Comisso e estabelecer uma distino clara entre documentos acessveis e no acessveis;

    estabelecer uma distino entre os processos antitrust e os processos de concentrao quanto ao momento em que o acesso ao processo concedido;

    descrever os procedimentos de tratamento das informaes confi denciais e de acesso ao processo, bem como o procedimento de resoluo dos diferendos relativos a pedidos de confi dencialidade, incluindo o papel do auditor.

    B APLICAO DOS ARTIGOS 81.o, 82.o E 86.o

    1. Abusos de posio dominante (artigo 82.o do Tratado CE)

    1.1. Decises

    CEWAL

    26. Em 30 de Abril, a Comisso adoptou uma deciso que aplicava uma coima de 3,4 milhes de euros Compagnie Maritime Belge (CMB), uma empresa de navegao belga. A coima foi aplicada CMB devido ao papel que esta desempenhou

    (34) Deciso da Comisso de 23 de Maio de 2001 relativa s funes do auditor em determinados processos de concorrncia (JO L 162 de 19. 6. 2001).

    (35) Projecto de comunicao da Comisso relativa s regras de acesso ao processo nos casos de aplicao dos artigos 81.o e 82.o do Tratado CE e do Regulamento (CE) n.o 139/2004 do Conselho (JO C 259 de 21.10.2004). Disponvel em: http://europa.eu.int/comm/competition/general_info//access_to_documents.html.

    http://europa.eu.int/comm/competition/general_info/access_to_documents.html

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    em termos de comportamento abusivo, no fi nal da dcada de 80, na conferncia martima Associated Central West Africa Lines (CEWAL), de que fazia parte (36).

    27. Uma deciso anterior (37), atravs da qual a Comisso tinha j aplicado coimas a quatro membros da CEWAL, incluindo a CMB, tinha sido parcialmente anulada pelo Tribunal de Justia no que diz respeito s coimas (38). O Tribunal de Justia considerou que a Comisso tinha cometido um erro processual ao no indicar claramente na comunicao de objeces, que precedeu a deciso, que tencionava aplicar coimas aos membros individuais da CEWAL.

    28. Para que as infraces no fi cassem impunes (o recurso apresentado contra as concluses relativas s infraces tinha sido rejeitado tanto pelo Tribunal de Primeira Instncia como pelo Tribunal de Justia), a Comisso adoptou uma nova deciso que aplicou uma coima CMB na sequncia de um novo processo, em conformidade com as concluses do Tribunal de Justia (39). Esta deciso inteiramente baseada nas concluses de fundo da deciso inicial.

    29. O clculo da coima baseia-se numa apreciao da incidncia das prticas ilcitas por parte da CMB em comparao com a implicao dos outros membros da CEWAL. Foi aplicada uma coima inferior aplicada na primeira deciso, uma vez que j no foram tomadas em considerao certas circunstncias agravantes, que prevaleciam no momento dessa deciso.

    Clearstream (40)

    30. Em 2 de Junho, a Comisso adoptou uma deciso considerando que a Clearstream Banking AG e a sua empresa-me Clearstream International SA (Clearstream) infringiram o artigo 82.o do Tratado CE ao terem recusado fornecer

    (36) A CEWAL existiu entre o incio da dcada de 70 e meados da dcada de 90. Agrupava companhias martimas que prestavam um servio de linha regular entre os portos do Zaire e de Angola e do mar do Norte, excepo do Reino Unido. O secretariado da CEWAL tinha sede em Anturpia.

    (37) Deciso da Comisso 93/82/CEE, de 23 de Dezembro de 1992, relativa a um processo de aplicao dos artigos 85.o do Tratado CE (IV/32.448 e 32.450: CEWAL, COWA e UKWAL) e 86.o do Tratado CE (IV/32.448 e 32.450: CEWAL) (JO L 34 de 10.2.1993). A coima inicial de 9,6 milhes de euros aplicada CMB pela Comisso foi reduzida pelo Tribunal de Primeira Instncia para 8,64 milhes de euros atravs do acrdo proferido nos processos apensos T-24/93, T-25/93, T-26/93 e T-28/93 CMB e outros, Colectnea 1996, p. II-1201.

    (38) Acrdo nos processos apensos C-395/96 P CMB, CMBT e C-396/96 P Dafra-Lines, Colectnea 2000, p. I-1365.

    (39) O Regulamento 2988/74 relativo prescrio quanto a procedimentos e execuo de sanes no domnio do direito dos transportes e da concorrncia prev um prazo de prescrio susceptvel de interrupo de cinco anos e um prazo de prescrio global de 10 anos para a aplicao de uma coima. Estes prazos de prescrio no tinham terminado, dado que tinham sido suspensos durante os processos judiciais.

    (40) COMP/38.096.

  • Relatrio sobre a Poltica de Concorrncia 2004 Volume 1

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    servios transfronteiras de compensao e liquidao (41) Euroclear Bank SA (Euroclear Bank) e ao aplicarem preos discriminatrios em detrimento deste cliente.

    31. A Clearstream Banking AG a nica Wertpapiersammelbank (Central de Depsito de Ttulos) da Alemanha (42). A Comisso considerou que durante o perodo de referncia, ou seja, de 1997 at ao fi nal de 2001, a Clearstream tinha uma posio dominante no fornecimento de servios transfronteiras de compensao e de liquidao a intermedirios estabelecidos noutros Estados-Membros.

    32. A recusa de fornecimento dizia respeito a aces nominativas (43) emitidas ao abrigo do direito alemo. Embora o direito da concorrncia reconhea a liberdade de as empresas escolherem livremente os seus parceiros comerciais, as empresas em posio dominante tm uma responsabilidade especial. No caso em apreo, o comportamento da Clearstream foi considerado como uma recusa de fornecimento pelas seguintes razes:

    a Clearstream Banking AG o nico depositrio fi nal de ttulos alemes mantidos em depsito colectivo, que a nica forma importante de depsito existente actualmente para os ttulos negociados no mercado. Uma nova entrada neste mercado no constitui uma hiptese realista num futuro prximo. Por conseguinte, a Clearstream Banking AG pode ser considerada um parceiro comercial incontornvel;

    a Euroclear Bank no estava em condies de produzir os servios que solicitava;

    e

    o comportamento da Clearstream teve o efeito de entravar a capacidade de a Euroclear Bank fornecer a clientes do mercado nico servios efi cientes de compensao e de liquidao transfronteiras.

    33. A Euroclear Bank obteve os servios pretendidos em Novembro de 2001, mais de dois anos aps os ter solicitado. Durante todo este perodo, a Clearstream Banking AG recusou Euroclear Bank servios de compensao e de liquidao em relao a

    (41) A compensao e a liquidao constituem passos necessrios para a realizao de uma operao sobre ttulos. Por compensao entende-se o processo atravs do qual so estabelecidas as obrigaes contratuais do comprador e do vendedor. Por liquidao a transferncia dos ttulos do vendedor para o comprador e a transferncia dos fundos correspondentes do comprador para o vendedor.

    (42) As centrais de depsito de ttulos garantem a conservao de ttulos e o tratamento de operaes sobre valores mobilirios escriturais. No seu pas de origem, uma central de depsito de ttulos fornece esses servios de tratamento para operaes que impliquem os ttulos em depsito fi nal. Pode igualmente oferecer servios de tratamento enquanto intermedirio de uma compensao e liquidao transfronteiras, em relao a ttulos principalmente conservados num outro pas.

    (43) As aces alems mais negociadas nos mercados internacionais (que so aces de primeira ordem, como as aces Daimler Chrysler, Siemens, Allianz, Deutsche Post, Deutsche Telekom, Deutsche Bank, Lufthansa e outras) so aces nominativas por oposio s aces ao portador.

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    aces nominativas. O comportamento dilatrio da Clearstream face Euroclear Bank contrasta com o prazo normal de quatro meses no mximo aplicado a outros clientes para os mesmos servios.

    34. No que se refere prtica de preos discriminatrios, a Comisso verifi cou que, entre Janeiro de 1997 e Janeiro de 2002, a Clearstream cobrou, por servios equivalentes, um preo mais elevado por transaco Euroclear Bank do que a outros depositrios de ttulos estabelecidos fora da Alemanha. A Comisso analisou em pormenor o contedo dos servios fornecidos e os custos do seu fornecimento, a fi m de estabelecer se a diferena de preos era justifi cada e concluiu que tal no acontecia.

    35. A Comisso decidiu no aplicar coimas. Teve em conta, entre outros factores, o facto de no existir jurisprudncia comunitria relativa anlise concorrencial em matria de compensao e de liquidao. Alm disso, est em curso um amplo debate sobre a compensao e a liquidao com diferentes instituies e instncias, a fi m de melhor defi nir o papel dos diversos intervenientes do sector.

    Microsoft

    36. Em 24 de Maro, a Comisso adoptou uma deciso de proibio, acompanhada da aplicao de coimas Microsoft Corporation (Microsoft ), nos termos do artigo 82.o do Tratado CE (44). Esta deciso concluiu que a Microsoft tinha abusado de duas formas da sua posio dominante no mercado dos sistemas operativos para PC (45).

    1) Recusa de fornecer informaes relativas interoperabilidade

    37. A Microsoft recusou-se a fornecer aos seus concorrentes no mercado dos sistemas operativos para servidores de grupos de trabalho as informaes necessrias para que os seus produtos possam interoperar plenamente com o seu sistema operativo de PC dominante, Windows. Embora a Microsoft tenha anteriormente divulgado este tipo de informaes relativas interoperabilidade, quando entrou no mercado dos sistemas operativos para servidores de grupos de trabalho adoptou uma poltica de recusa de fornecer tais informaes aos seus concorrentes, provocando deste modo uma ruptura em relao aos nveis de fornecimento anteriores. Em 1998, a Microsoft rejeitou um pedido formal da Sun sobre tais informaes. Com base num vasto inqurito realizado junto do mercado, a Comisso concluiu que as informaes em causa eram indispensveis para entrar em concorrncia no mercado dos sistemas operativos para servidores de grupos de trabalho e que, ao recusar fornec-las, a Microsoft tinha conseguido estabelecer uma posio dominante e ameaava eliminar qualquer concorrncia que subsistisse nesse mercado. A Comisso concluiu ainda que a recusa de fornecimento por parte da Microsoft limitou o desenvolvimento tcnico,

    (44) Processo COMP/37.792 disponvel em: http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/cases//decisions/37792/en.pdf.

    (45) A Microsoft possui cerca de 95% deste mercado.

    http://europa.eu.int/comm/competition/antitrust/cases/decisions/37792/en.pdf

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    em detrimento dos consumidores: se os concorrentes tivessem acesso s informaes que lhes foram recusadas, teriam podido fornecer aos consumidores produtos novos e melhorados sem copiar os oferecidos pela Microsoft .

    2) Venda subordinada do Windows Media Player e do Windows

    38. A Microsoft prejudicou a concorrncia no mercado dos leitores multimedia de difuso em contnuo associando ao seu sistema operativo para PC dominante Windows um produto distinto: o Windows Media Player. Esta prtica de venda subordinada conferiu ao Windows Media Player a mesma omnipresena de que o Windows benefi cia, o que levou artifi cialmente os fornecedores de contedos e os editores de suportes lgicos a basearem-se na tecnologia Windows Media e impediu os fornecedores concorrentes de leitores multimedia de difuso em contnuo de entrar em concorrncia atravs da qualidade intrnseca dos seus produtos. A deciso demonstra que a Microsoft atingiu uma posio de lder distinta sobre os seus concorrentes, uma vez que comeou a praticar a sua estratgia de vendas subordinadas em meados da dcada de 90.

    39. A Comisso concluiu que o comportamento abusivo da Microsoft constituiu uma infraco muito grave s regras comunitrias em matria de concorrncia, tendo--lhe aplicado uma coima de 497,196 milhes de euros (46).

    40. A fi m de pr termo infraco, a Comisso exigiu que a Microsoft tomasse as seguintes medidas correctivas:

    divulgar as informaes relativas interoperabilidade relevantes e permitir a sua utilizao para o desenvolvimento de produtos para sistemas operativos para servidores de grupo de trabalho compatveis (medida correctiva relativa interoperabilidade);

    disponibilizar uma verso do seu sistema operativo Windows para PC que no inclua o Windows Media Player (medida correctiva relativa dissociao). Os fabricantes de PC e os consumidores podem assim obter o Windows com o leitor multimedia da sua escolha;

    alm disso, a Microsoft devia apresentar uma proposta para a criao de um mecanismo de controlo, incluindo a designao de um mandatrio. A Microsoft apresentou uma proposta nesse sentido.

    41. A Microsoft introduziu um recurso de anulao da deciso junto do Tribunal de Primeira Instncia (TPI) (47), bem como um pedido de medidas provisrias destinado a suspender a medida correctiva relativa interoperabilidade e a relativa

    (46) Esta coima corresponde a 1,62% do volume de negcios da Microsoft a nvel mundial no ltimo exerccio fi nanceiro.

    (47) Processo T-201/04.

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    dissociao, na pendncia do resultado do seu pedido de anulao (48). A Comisso decidiu no mandar executar estas medidas aguardando a deciso do presidente do TPI relativamente ao pedido de medidas provisrias da Microsoft (49). Em 22 de Dezembro, o presidente rejeitou na integralidade o pedido de medidas provisrias (50).

    CAIXA 2: APLICAO DAS REGRAS DE CONCORRNCIA COMUNITRIAS AOS SERVIOS INTERNET MVEIS E DE BANDA LARGA

    Em 2004, a concorrncia no sector das comunicaes electrnicas intensifi cou-se e o crescimento foi acentuado em alguns segmentos do mercado (1). Numa UE alargada, com 25 Estados-Membros, os dois principais motores de crescimento do sector foram os servios fi xos de banda larga e os servios mveis. O crescimento registado no sector da banda larga foi superior ao do sector mvel.

    No domnio antitrust, a Comisso centrou as suas actividades nestes dois segmentos de importncia primordial. No contexto do novo quadro regulamentar para as comunicaes electrnicas, em vigor desde 25 de Julho de 2003, a poltica de concorrncia continua a desempenhar um papel importante no alinhamento da regulamentao sectorial sobre os princpios do direito da concorrncia.

    No domnio dos servios de acesso Internet de banda larga, a aco realizada pela Comisso relativa a uma estratgia presumida de compresso das margens conduziu a Deutsche Telekom (o operador tradicional de telefonia fi xa na Alemanha) a reduzir signifi cativamente as suas tarifas de partilha de linhas (2). Tendo em conta estas redues de tarifas, a Comisso encerrou a sua investigao sobre o alegado abuso de posio dominante por parte da Deutsche Telekom no mercado do fornecimento de acesso de banda larga sua rede fi xa de telecomunicaes. A Comisso aceitou o compromisso da Deutsche Telekom de pr termo compresso das margens com efeitos a partir de 1 de Abril de 2004 (3).

    (1) Ver o dcimo relatrio da Comisso relativo aplicao da regulamentao em matria de telecomunicaes.

    (2) Tarifa que os concorrentes tm de pagar Deutsche Telekom pelo acesso partilhado aos lacetes locais.

    (3) Comunicado de imprensa IP/04/281.

    (48) Processo T-201/04 R.(49) Realizaram-se em 30 de Setembro e 1 de Outubro de 2004 as audies sobre o pedido de

    medidas provisrias. (50) Ver, adiante, a seco I.C REC: Panormica de cooperao.

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    No que se refere s comunicaes mveis, a Comisso emitiu duas comunicaes de objeces em 26 de Julho relativamente itinerncia internacional no Reino Unido. As objeces diziam respeito aos preos que a O2 e a Vodafone cobravam a outros operadores de rede mvel por servios grossistas de itinerncia internacional. Com base na sua investigao, a Comisso considerou que estas duas empresas tinham cobrado preos desleais e excessivos, a Vodafone entre 1997 e pelo menos Setembro de 2003 e a O2 entre 1998 e pelo menos Setembro de 2003 (4). Finalmente, no que diz respeito aos servios de itinerncia mvel internacionais, a Comisso examina igualmente os efeitos concorrenciais resultantes da recente criao de alianas estratgicas mveis (tais como a Freemove e a Starmap).

    (4) Comunicado de imprensa IP/04/994.

    1.2. Outros processos e rejeies de denncias

    Interbrew (abuso) (51)

    42. Em 30 de Abril, a Comisso encerrou a sua investigao, iniciada em 1999 ao abrigo do artigo 82o por sua prpria iniciativa, do comportamento da Interbrew NV (actualmente Inbev NV) para com os grossistas de cerveja belgas, depois de a empresa ter apresentado uma srie de compromissos. A Interbrew comprometeu-se principalmente a alterar os seus sistemas de descontos, bem como os seus acordos comerciais e de parceria com grossistas, para que os fornecedores seus concorrentes deixassem de ser impedidos de entrar efectivamente em concorrncia com a Interbrew na Blgica.

    43. Primeiro, a Interbrew concordou em tornar o seu sistema normalizado de descontos de quantidades inteiramente transparente para todos os grossistas, em vez de lhes fornecer apenas a taxa de desconto correspondente fraco da quantidade em que se situam as suas aquisies por tipo de cerveja e as taxas correspondentes s fraces das quantidades imediatamente superiores e inferiores sua prpria fraco. Um outro sistema de descontos, especifi camente destinado aos grossistas dispostos a vender os diferentes tipos de cerveja da Interbrew nos seus prprios estabelecimentos retalhistas vinculados, ser igualmente alterado, de modo que os descontos deixaro de aumentar em funo do nmero de estabelecimentos vinculados propriedade do grossista, mas representaro um montante fi xo por hectolitro de um determinado tipo de cerveja, independentemente do nmero de estabelecimentos vinculados.

    (51) COMP/37.409. Ver comunicado de imprensa IP/04/574 de 30 de Abril de 2004.

  • I Acordos, decises e prticas concertadas e abusos de posio dominante

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    44. No mbito dos seus acordos de parceria, a Interbrew deixar de ter acesso aos segredos comerciais dos grossistas e de ter o direito de bloquear a proposta de um concorrente para a aquisio das actividades do grossista, apresentando por sua vez a sua prpria proposta (supresso do direito de preferncia). Finalmente, no que diz respeito aos acordos comerciais, atravs dos quais a Interbrew concede aos grossistas uma srie de incentivos, tais como apoio fi nanceiro ou brindes, principalmente em contrapartida de actividades promocionais, a Interbrew aceitou a) suprimir qualquer clusula de exclusividade dos produtos, b) tornar totalmente transparentes os critrios de admissibilidade e c) especifi car que os mesmos incentivos sero acessveis a todos os grossistas sem excepo.

    Scandlines/porto de Helsingborg (52) e Sundbusserne/porto de Helsingborg (53)

    45. Em 23 de Julho, a Comisso adoptou duas decises (54) atravs das quais rejeitou denncias apresentadas por operadores de ferries (a Scandlines Sverige AB e a Sundbusserne AS) contra o porto de Helsingborg, na Sucia. Estas duas denncias paralelas por alegados abusos na acepo do artigo 82.o do Tratado CE diziam respeito s taxas porturias excessivas cobradas pelo porto de Helsingborg por servios prestados aos operadores de ferries na rota Helsingborg-Elsinore, entre a Sucia e a Dinamarca.

    46. Aps uma investigao aprofundada, a Comisso chegou concluso de que os elementos de prova disponveis eram insufi cientes para demonstrar juridicamente que os preos em questo eram excessivos. As decises apontam para difi culdades mais gerais suscitadas pela aplicao do artigo 82.o do Tratado CE nos processos de fi xao de preos excessivos, especialmente na ausncia de pontos de referncia teis. Uma vez que a jurisprudncia actual sobre esta questo bastante limitada (55), as decises podem fornecer orientaes teis para a determinao do valor econmico de um servio e para saber se um preo excessivo/desleal, constituindo, por conseguinte, um abuso de posio dominante na acepo do artigo 82.o do Tratado CE.

    Tarifas de terminao de chamadas mveis da KPN (56)

    47. A Comisso informou a empresa em causa de que a MC