rota ig nª srª rosário torrecoelheiros

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Organização da Parceria GAPAE - Gabinete de Arquitectura e Património da Arquidiocese de Évora | Comissão dos Bens Culturais Diocesana | Câmara Municipal de Évora telf. 266 748 855 | email: [email protected] ROTA DAS IGREJAS D’ÉVORA | 08.03.2014 Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Torre de Coelheiros A igreja paroquial da Torre dos Coelheiros é dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Segundo Túlio Espanca, no Inventário Artístico de Portugal, “o corpo principal do edifício é antecedido por um alpendre de dois arcos redondos, com terraço, (...) é do género contrafortado, rústico, coberto por cúpula octogonal na parte cruzeira (…). A portada principal, de molduras e verga renascentista, simplificadas, é de xisto regional.” Quanto à sua origem e transformações ao longo dos séculos é todavia mais interessante a descrição que faz da igreja o padre Agostinho Crespo Leal que foi seu pároco entre os anos de 1984 e 1990, que teve acesso a mais informações que as produzidas por Túlio Espanca. Num livro de notas das actividades paroquiais, ao descrever as obras a que a igreja foi sujeita durante a sua vigência, aproveita para historiar resumidamente as principais etapas da história do edifício. Deve ter começado por ser “uma capela da família dos Cogominhos” e, embora acrescente como provável que tenha sido construída “em fins do século XIV ou princípios do século XV”, é muito natural que tenha sido mais cedo, logo após a constituição, por D. Afonso IV em 1357, do morgado da Quinta da Fonte dos Coelheiros entregue ao cavaleiro fidalgo e meirinho-mor Fernão Gonçalves Cogominho e a sua mulher Maria Anes. A inscrição da grande arca tumular, com jacente, em que foi sepultado, colocada em capela própria na Igreja conventual de São Francisco de Évora e hoje no Museu de Évora, atesta-o: “Aqui jaz o muito honrado Fernão Gonçalves Cogominho, senhor que foi das vilas de Aguiar e Oriola, instituidor do morgado da Torre dos Coelheiros e fidalgo d’el-rei D. Afonso, o quarto. Faleceu na era de 1364 anos”. Foi um seu descendente, Nuno Fernandes Cogominho, que conseguiu do Papa Paulo III que a igreja fosse erigida em paroquial em 1535, no reinado de D. João III. As bulas papais impunham, todavia, determinadas condições que Nuno Fernandes Cogominho se apressou a cumprir. Assim, continua o Padre Agostinho Leal, “por volta de 1554, mandou construir o baptistério, a sacristia, o púlpito, a capela-mor, no lugar da pequena abside primitiva, e o alpendre da entrada da igreja”. Foi praticamente reconstruída toda a igreja. A inscrição da pedra tumular, dominada ao centro pelo brazão de família, as cinco chaves em aspa, documenta-o: “Sepultura dos filhos de Nuno Fernandes Cogominho que fez de novo esta igreja. Falecera na era de 1554”. A nota paroquial acrescenta: “por volta de 1754, Diogo Xavier de Mello mandou fazer de novo a capela-mor, “por se achar sumamente arruinada com o tempo” e “ ampliou-a quatro anos mais tarde”, mandou fazer a tribuna para a sua família assistir aos ofícios divinos, construiu o zimbório com as quatro janelas e os altares laterais de São João e de Santo António. Mandou fazer em Évora o retábulo do altar-mor, em talha dourada, hoje [1990] encontra-se bastante danificado. Substituiu a imagem de Nossa Senhora do Rosário, “a pequena”, pela imagem que hoje veneramos [1990]. Fechou a porta que dava para a sacristia e abriu as duas portas grandes que temos no cruzeiro da igreja. Em 1882, foi construído o campanário, onde se encontra o relógio”. Em 1984, quando o Padre Agostinho Leal é nomeado pároco, a igreja e as casas anexas necessitavam de obras urgentes, sobretudo a nível dos telhados. Chamada a Comissão Diocesana de Arte Sacra a verificar e dar parecer, encetaram-se as obras com as ajudas do Estado, da Fundação Eugénio de Almeida, de várias empresas, trabalhadores, emigrantes da terra e da população local. Após o arranjo dos telhados, seguindo as novas orientações litúrgicas, o altar-mor, agora de granito, foi fixado no centro da capela-mor; refeito todo o piso da igreja; dois capiteis vindos de S. Bento de Pomares foram colocados “nos topos do corpo da igreja”, foi feito um novo campanário para “o sino da arruinada igreja de São Jordão”. Entretanto, durante as obras nas casas anexas, apareceram ossadas do antigo cemitério junto à igreja; um resto de construção que, pela forma e material, “fez suspeitar de um tanque romano”; no reboco das paredes do templo surgiram nichos da primitiva capela e, numa das paredes, a pedra de mármore trabalhada que “seria a pedra de topo da abóbada da antiga abside”. É de salientar no acervo da igreja, um pequeno núcleo de boas imagens, sobretudo a quinhentista de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora da Assunção do século XVIII, uma excelente cruz processional, em liga metálica, da segunda metade do século XVI, e uma pintura a óleo representando “O Repouso na Fuga para o Egipto e Casamento Místico de Santa Catarina”, atribuída por Vítor Serrão ao pinto eborense Francisco Nunes Varela (1621-1699) e proveniente da igreja de São Jordão. Dr. Artur Goulart

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Igreja de Nossa Senhora do Rosário - Évora - Torre de Coelheiros

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Organização da Parceria GAPAE - Gabinete de Arquitectura e Património da Arquidiocese de Évora | Comissão dos Bens Culturais Diocesana | Câmara Municipal de Évora

telf. 266 748 855 | email: [email protected]

ROTA DAS IGREJAS D’ÉVORA | 08.03.2014

Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Torre de Coelheiros

A igreja paroquial da Torre dos Coelheiros é dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Segundo Túlio Espanca, no Inventário Artístico de Portugal, “o corpo principal do edifício é antecedido por um alpendre de dois arcos redondos, com terraço, (...) é do género contrafortado, rústico, coberto por cúpula octogonal na parte cruzeira (…). A portada principal, de molduras e verga renascentista, simplificadas, é de xisto regional.” Quanto à sua origem e transformações ao longo dos séculos é todavia mais interessante a descrição que faz da igreja o padre Agostinho Crespo Leal que foi seu pároco entre os anos de 1984 e 1990, que teve acesso a mais informações que as produzidas por Túlio Espanca. Num livro de notas das actividades paroquiais, ao descrever as obras a que a igreja foi sujeita durante a sua vigência, aproveita para historiar resumidamente as principais etapas da história do edifício. Deve ter começado por ser “uma capela da família dos Cogominhos” e, embora acrescente como provável que tenha sido construída “em fins do século XIV ou princípios do século XV”, é muito natural que tenha sido mais cedo, logo após a constituição, por D. Afonso IV em 1357, do morgado da Quinta da Fonte dos Coelheiros entregue ao cavaleiro fidalgo e meirinho-mor Fernão Gonçalves Cogominho e a sua mulher Maria Anes. A inscrição da grande arca tumular, com jacente, em que foi sepultado, colocada em capela própria na Igreja conventual de São Francisco de Évora e hoje no Museu de Évora, atesta-o: “Aqui jaz o muito honrado Fernão Gonçalves Cogominho, senhor que foi das vilas de Aguiar e Oriola, instituidor do morgado da Torre dos Coelheiros e fidalgo d’el-rei D. Afonso, o quarto. Faleceu na era de 1364 anos”. Foi um seu descendente, Nuno Fernandes Cogominho, que conseguiu do Papa Paulo III que a igreja fosse erigida em paroquial em 1535, no reinado de D. João III. As bulas papais impunham, todavia, determinadas condições que Nuno Fernandes Cogominho se apressou a cumprir. Assim, continua o Padre Agostinho Leal, “por volta de 1554, mandou construir o baptistério, a sacristia, o púlpito, a capela-mor, no lugar da pequena abside primitiva, e o alpendre da entrada da igreja”. Foi praticamente reconstruída toda a igreja. A inscrição da pedra tumular, dominada ao centro pelo brazão de família, as cinco chaves em aspa, documenta-o: “Sepultura dos filhos de Nuno Fernandes Cogominho que fez de novo esta igreja. Falecera na era de 1554”. A nota paroquial acrescenta: “por volta de 1754, Diogo Xavier de Mello mandou fazer de novo a capela-mor, “por se achar sumamente arruinada com o tempo” e “ ampliou-a quatro anos mais tarde”, mandou fazer a tribuna para a sua família

assistir aos ofícios divinos, construiu o zimbório com as quatro janelas e os altares laterais de São João e de Santo António. Mandou fazer em Évora o retábulo do altar-mor, em talha dourada, hoje [1990] encontra-se bastante danificado. Substituiu a imagem de Nossa Senhora do Rosário, “a pequena”, pela imagem que hoje veneramos [1990]. Fechou a porta que dava para a sacristia e abriu as duas portas grandes que temos no cruzeiro da igreja. Em 1882, foi construído o campanário, onde se encontra o relógio”. Em 1984, quando o Padre Agostinho Leal é nomeado pároco, a igreja e as casas anexas necessitavam de obras urgentes, sobretudo a nível dos telhados. Chamada a Comissão Diocesana de Arte Sacra a verificar e dar parecer, encetaram-se as obras com as ajudas do Estado, da Fundação Eugénio de Almeida, de várias empresas, trabalhadores, emigrantes da terra e da população local. Após o arranjo dos telhados, seguindo as novas orientações litúrgicas, o altar-mor, agora de granito, foi fixado no centro da capela-mor; refeito todo o piso da igreja; dois capiteis vindos de S. Bento de Pomares foram colocados “nos topos do corpo da igreja”, foi feito um novo campanário para “o sino da arruinada igreja de São Jordão”. Entretanto, durante as obras nas casas anexas, apareceram ossadas do antigo cemitério junto à igreja; um resto de construção que, pela forma e material, “fez suspeitar de um tanque romano”; no reboco das paredes do templo surgiram nichos da primitiva capela e, numa das paredes, a pedra de mármore trabalhada que “seria a pedra de topo da abóbada da antiga abside”. É de salientar no acervo da igreja, um pequeno núcleo de boas imagens, sobretudo a quinhentista de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora da Assunção do século XVIII, uma excelente cruz processional, em liga metálica, da segunda metade do século XVI, e uma pintura a óleo representando “O Repouso na Fuga para o Egipto e Casamento Místico de Santa Catarina”, atribuída por Vítor Serrão ao pinto eborense Francisco Nunes Varela (1621-1699) e proveniente da igreja de São Jordão.

Dr. Artur Goulart