rompendo os muros das imagens: mulheres … · segundo kabenguele munanga, o belo é subjetivo e se...
TRANSCRIPT
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
ROMPENDO OS MUROS DAS IMAGENS: MULHERES NEGRAS NO GRAFFITI
Bianca Dantas Gomes da Silva1
Resumo: Esta comunicação pretende compreender como as mulheres negras atuam no mundo do graffiti e quais são as
possíveis transformações presentes nesse campo majoritariamente ocupado por representações masculinizadas. Atém-se
a produção de duas grafiteiras negras do sudeste brasileiro, a Negahamburguer de São Paulo/SP e a Criola, de Belo
Horizonte/MG, artistas que utilizam a característica comunicativa do graffiti para difundir mensagens que transpõem
padrões de cultura disseminados pelas grandes mídias. O graffiti surge nos muros como uma tentativa de romper com o
cinza produzido pela poluição exprimindo contestações através de mensagens diretas e produzindo uma arte condizente
com esse tempo: volátil a cada instante. Essa característica comunicativa permite que as mensagens sejam transmitidas
por meio de linguagens dinâmicas, de modo a evidenciar sua representação artística e política ao emitir as vozes
suprimidas pelas constantes transformações sociais. Neste contexto, as mulheres negras produtoras de graffiti adotam
tais características para reivindicarem o direito ao espaço público, expressarem suas próprias percepções da realidade e,
sobretudo, assumirem o papel de agência nessa manifestação cultural. Isto posto, investigaremos a produção artística
das duas grafiteiras: ambas vivem em regiões de grandes centros urbanos, iniciaram seus trabalhos no universo do
graffiti por afinidades com o movimento e utilizam suas artes para contestar padrões sociais.
Palavras-chave: Mulheres Negras. Graffiti. Teorias de Gênero.
O graffiti presente desde as pinturas rupestres surge como uma necessidade humana de
registrar o seu tempo. A prática ganha notoriedade na sociedade contemporânea a partir da década
de 1960, com as movimentações de jovens negros, hispânicos e caribenhos nas periferias de Nova
Iorque através do Movimento Hip-Hop; com as manifestações dos estudantes na capital parisiense
em Maio de 1968; em forma de resistência e denúncia à Ditadura Civil e Militar no Brasil, fazendo
dos muros um veículo de comunicação; e também como expressão cultural das periferias brasileiras
com dado a chegada do movimento Hip-Hop no país. Considerado uma forte expressão da arte de
rua, o graffiti presente nos muros urbanos apresenta elementos correspondentes à comunicação não
verbal, ressaltando a importância da imagem ao registrar fenômenos que fogem à fala (Maresca,
1995).
Responsável por difundir nos muros as diferentes perspectivas geradas pelo Hip-Hop, o
graffiti compõe um dos elementos do movimento, acompanhado pelo o rap, expressão musical
realizada pelos MC’s, o break em que as b-girls e os b-boys manifestam as contestações através do
corpo e o DJ, responsável por mixar músicas de diferentes gerações, promovendo o resgate e o
diálogo com seus antepassados.
Viviane Magro (2003) foi pioneira ao investigar a produção de graffiti sob a perspectiva de
gênero, observando as estratégias de jovens e adolescentes na região periférica de Campinas/SP que
participavam de um universo historicamente remetido às representações masculinas. A partir do
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara,
UNESP - Universidade Estadual Paulista. Integra o NEGAr – Núcleo de Estudos de Gênero de Araraquara/UNESP.
Araraquara, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected].
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
estudo empírico e analítico, Magro verifica os desafios materiais e simbólicos presentes no ato de
grafitar, como os altos custos dos sprays e o desafio de ocupar o espaço público. Ao romperem as
esferas do espaço privado, essas jovens vivenciam o processo de autoafirmação identitária, se
posicionando socialmente por meio da arte, da cultura e da ação política. A autora observa que o
Hip-Hop no Brasil possui a característica de promover o autoconhecimento às/aos jovens, à medida
que as/os ajudam a compreender a diáspora africana por meio da linguagem oral, corporal e
imagética, possibilitando reconstruir a identidade negra no novo mundo (Magro, 2003).
Nesse sentido, nos perguntamos: e as mulheres negras produtoras de graffiti? Quais são suas
atuações nesse universo? Como enfrentam o racismo e o machismo ainda presentes na sociedade
atual? A considerar que a população negra permanece enfrentando os estigmas discriminatórios
oriundos do período colonial escravocrata (FREYRE, 2003; RODRIGUES, 2010; FERNANDES,
2008; ORTIZ, 1994), os estudos acerca das mulheres negras contribuem para fornecer perspectivas
diferentes da história, ao observá-las enquanto participantes ativas das transformações sociais. As
contribuições epistemológicas do Feminismo Negro (GONZALEZ, 1982, 1984; CARNEIRO,
2011; RIBEIRO, 2015), nos apontam a proposta de investigações acerca da participação das
mulheres negras na História (Gonzalez, 1984), observando suas ações enquanto agentes do processo
de construção e transformação cultural, de modo a contribuir para a compreensão da formação e
desenvolvimento das estruturas sociais do país.
As mulheres antes vistas meramente como companheiras afetivas dos grafiteiros (Weller,
2005), passam a reivindicarem o direito de ocupar o espaço público, expressar suas próprias
demandas, suas visões de mundo e demonstrar suas vivências no espaço urbano, à medida que
assumem a condição de agentes da produção cultural. Margarida Morena (2011), pesquisadora do
graffiti feito por mulheres em Salvador/Bahia, considera que as grafiteiras ao ocuparem um espaço
de predominância masculina, rompem duas vezes com a ordem normativa, oriunda do sexismo e do
machismo. Nessa perspectiva, as mulheres negras ao ocuparem os espaços urbanos para promoção
da arte, rompem também com estigmas racistas e com o histórico processo de invisibilidade
herdado do período colonial, demonstrando seu protagonismo na criação e produção cultural, bem
como nos processos de transformação social.
Produção de novas imagens: o graffiti feito por Criola e Negahamburguer
Criola e Negahamburguer são artistas visuais e grafiteiras que se aproximaram do universo
do graffiti por afinidades com o movimento, utilizando seus trabalhos para contestar padrões sociais
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
de beleza, corpo e estética, apresentando novas formas de representação de diferentes corpos. O
corpo pode ser compreendido enquanto o primeiro instrumento do ser humano (Mauss, 1974 apud
Gomes, 2003), o qual possibilita o contato com diferentes percepções, bem como está sujeito a
constantes alterações provocadas pelo meio social, sendo constantemente modelado e modificado.
Ou seja, cada sociedade tem sua forma de ensinar a usar o corpo, à medida que é a representação
exterior do que somos, é nosso contato com o mundo, com o outro e por isso carrega a ideia de
relação (Gomes, 2003, p.80).
Evelyn Queiróz, a ilustradora que criou a Negahamburguer, começou a desenhar desde
criança. Embora tenha frequentado escolas de design, não concluiu as graduações. Seus desenhos
são oriundos de sua experiência, de suas vivências e por isso, estão em constante mudança.
Desenvolveu a personagem ainda na adolescência, quando começou a grafitar e levou cerca de dois
anos para chegar aos traços encontrados em seus desenhos. Foi desenvolvendo a personagem ao
longo desse processo, incorporando discussões sobre a violência contra as mulheres, feminismo,
racismo e machismo. Suas ilustrações mostram que as mulheres são plurais e que não se encaixam
em padrões pré-estabelecidos. Segundo a artista, a personagem surgiu:
(...) quando eu quis começar a fazer graffiti. A Negahamburguer surgiu da minha vontade
de não querer que minhas ilustrações fossem 'em vão'. Eu quis anexar à imagem que eu crio
uma mensagem importante. Mas não uma mensagem qualquer. Uma mensagem que mexa
com a opinião, que ajude de uma forma mais inusitada a entender os problemas que existem
na sociedade, com foco no feminismo e seus conceitos. Foi quando pensei em criar uma
personagem que fosse tudo isso, e a nomeei de Negahamburguer, em homenagem à minha
boneca que me acompanha há 25 anos" (NEGAHAMBURGUER, 2015)2.
Evelyn Negahamburguer ficou conhecida pelo seu projeto Beleza Real, em que retratava os
relatos de pessoas que se identificavam com seus desenhos, por meio de graffiti, lambes e aquarelas.
Com uma campanha de financiamento colaborativo, o projeto virou um livro com 53 relatos sobre
casos de violência sexual e/ou psicológica contra a mulher, em que a artista tinha como principal
objetivo.
(...) mostrar [as histórias] de um jeito bonito, a superação que ela [mulher] pode ter naquele
caso. E pra quem não tem nem noção – que tem muita gente também que não tem noção do
que acontece com a mulher – [dos] vários casos de (...) estupro, de tentativa de suicídio...
que são essas histórias que eu recebo (...) de muita humilhação por ser gorda, por ser magra,
por ser... enfim... por ser fora do padrão. (...) Eu tento pegar a parte positiva daquela fala e
transformar em desenho (NEGAHAMBURGUER, 2015).3
2 Entrevista concedida ao portal Modefica. Disponível em <http://www.modefica.com.br/conheca-uma-artista-evelyn-
queiroz-a-garota-por-tras-da-negahambuguer/#.WVugGLBtm00>. Acesso 20 jun 2017. 3 Entrevista concedida ao programa Art é Arte, da Rede TVT. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?
v=K7CwQw3u4NM>. Acesso 20 jun 2017.
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Se cada grupo cultural define o que é belo, falar de corpos nos remete a pensar os padrões de
beleza impostos a eles. Segundo Kabenguele Munanga, o belo é subjetivo e se fixa no olho do
contemplador (Munanga, 1988 apud Gomes, 2003), ou seja, a concepção do que é belo varia em
cada cultura. Ao pensarmos nos padrões hegemônicos presentes na sociedade brasileira, nos
remeteremos aos padrões eurocêntricos incondizentes com a realidade social do país, em que mais
da metade da população se autodeclara negra (Censo do IBGE, 2010)4. Gomes aponta que a partir
do século XV, se construiu um padrão hegemônico de beleza e proporcionalidade baseado na
Europa colonial. Esse ideal de beleza visto por alguns como universal é, (“...) construído
socialmente, num contexto histórico, cultural e político, e por isso mesmo pode
ser ressignificado pelos sujeitos sociais” (Gomes, 2003, p.81).
Tainá Lima apresenta em seus trabalhos medidas para contestar o padrão hegemônico de
beleza, trazendo em seus graffiti representações oriundas de matrizes africadas. A grafiteira mais
conhecida como Criola, acentua a importância de seu trabalho em recriar a imagem da população
negra, rompendo com a figura inferiorizada, ressaltando seus significados e sua
beleza. Para Nilma Gomes, a herança ancestral africana recriada no Brasil orienta e traz inspiração
para os negros da diáspora (Gomes, 2003, p.79), mesmo que de forma inconsciente. A grafiteira
mineira considera que a maior motivação para suas criações, é ter e dar voz a mulheres que ainda
não se conscientizaram do seu poder, do seu direito e da sua voz. Ter sua arte como um veículo de
transmissão de mensagens impactantes capazes de promoverem mudanças comportamentais e
estruturais, a impulsiona a prosseguir com seus trabalhos. Segundo Criola:
Isso me faz querer pintar e usar os muros como suporte. Essas reflexões que decorrem da
minha vivência como mulher negra e também a soma das vivências da minha mãe e da
minha avo, enfim da ancestralidade feminina que permeia o meu sangue, me trazem muita
força. Minha avo e a minha mãe acabam sendo também as minhas duas maiores inspirações
quando o assunto se trata de quais sentimentos e elementos eu preciso resgatar e
materializar nas ruas (CRIOLA, s/d)5.
O fato de não ver mulheres negras serem bem representadas tanto nas ruas, quanto em
campanhas publicitárias e mídias televisivas, motivou Criola a buscar ferramentas para desenvolver
seus trabalhos. Como uma crítica as representações objetificadas das mulheres negras, Criola se
4 Disponível em <http://www.brasil.gov.br/educacao/2012/07/censo-2010-mostra-as-diferencas-entre-caracteristicas-
gerais-da-populacao-brasileira>. Acesso 29 jun 2017. 5 Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29 jun 2017.
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
expressa nas ruas para dar voz a essas mulheres, a esse lugar do qual eu faço parte e pra que seja
ampliada a visão acerca da mulher negra brasileira, para que ela seja valorizada6.
Nilma Gomes considera que em uma sociedade racista, há várias estratégias para discriminar
o negro, como transformar as diferenças inscritas no corpo em marcas de inferioridade e
estabelecer padrões de superioridade, beleza e feiura. Sendo assim, Gomes observa que o cabelo
crespo é um dos argumentos usados para retirar o negro do lugar da beleza, e estuda como as
formas de cuidado com o cabelo crespo apresentam impressões de uma herança cultural africana.
Em um dos seus trabalhos de maior destaque Orí - a raiz negra que sustenta é a mesma que
floresce. Criola representa as matrizes africanas através das raiz, criando uma metáfora com os
cabelos crespos, que assim como as raízes podem crescer livres para florescer e ganhar força. Em
iorubá, ori significa cabeça e condiz com a parte do corpo que melhor representa a ancestralidade
africana.
José Carlos Rodrigues , aponta que a forma de manipular o corpo pode significar hierarquia,
idade, símbolo de status e poder. O corpo expressa metaforicamente os princípios estruturais da
vida coletiva (...) [podendo] simbolizar aquilo que uma sociedade deseja ser, assim como o que se
deseja negar (Rodrigues, 1986 apud Gomes, p. 79, 2003). Ou seja, o corpo se apresenta como um
importante mecanismo de inclusão e exclusão social à medida que sofre padronizações do
coletivo. Segundo Leandro José dos Santos (2007), a corporalidade é manipulada para mascarar
relações sociais, comerciais, relações de poder e dominação de um segmento populacional em
detrimento do outro.
Portanto, a hierarquização racial no Brasil parte de um sistema de representações construído
socialmente por meio de tensões, conflitos, acordos e negociações sociais (Gomes, 2003). Ao
considerar esse pressuposto, a figura da mulher negra carrega marcas de estigma de inferioridade,
em (...) torno da submissão, da sensualidade, do perigo e do prazer (...) relacionado à pobreza, à
miséria e à desordem (...) [se tornando] um ser duplamente discriminado: por ser mulher e por ser
negra (Santos, p.15, 2007). Para Nilma Gomes, a diferença entre negros e brancos foi:
Construída, pela cultura, como uma forma de classificação do humano (...) essas diferenças
foram transformadas em formas de hierarquizar indivíduos, grupos e povos. As
propriedades biológicas foram capturadas pela cultura e por ela transformadas. Esse
processo, que também acontece com o sexo e a idade, apresenta variações de uma
sociedade para outra (GOMES, 2003, p.76).
6 Entrevista a TV Campos de Minas. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Ky7QadcdomE>. Acesso 28
jun 2017.
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
As teorias racialistas do século XIX adotavam medidas e análises craniométricas para
identificar uma beleza associada à evolução e a perfeição. O corpo e a corporeidade foram
importantes ferramentas para regular hábitos e comportamentos humanos. Segundo Santos, os
corpos negros foram apresentados como uma característica negativa pela teoria científica do século
XIX, pois sinalizavam representações sócio-culturais e político-religiosas contrastantes à ideologia
da classe dominante e à estética clássica (Santos, 2007, p.20), enquanto a feminilidade foi
construída como a principal via de contato com o prazer, o mistério e a desordem. Santos entende
que o fato de o imaginário da sociedade escravista não ter se alterado com a passagem para o
trabalho livre, fez com que se mantivesse os (...) mecanismos de dominação encontrados
anteriormente, alimentando o imaginário brasileiro com a imagem que liga a negritude a um
passado de escravização (Santos, 2007, p.20). Desta maneira, Criola e Negamburguer apresentam
novas perspectivas acerca da história e das possíveis representações no universo do graffiti.
As diferentes óticas das produtoras de graffiti
Criola – o corpo ancestral como expressão
Criola considera que o graffiti é uma arte democrática7 e vê a importância das pessoas
estarem em contato com essa arte. Embora haja muita curiosidade acerca do graffiti são poucas as
pessoas que sanam suas dúvidas com aquelas e aqueles que realmente realizam a prática, sendo essa
uma das origens do preconceito.
"Vejo muitas pessoas definindo o que é [graffiti], o diferenciando de [pixação], sem ao
menos considerar as definições dos próprios autores. As pessoas parecem ter doutorado
quando o assunto é street art, principalmente depois da ação do prefeito de São Paulo, sem
procurar entender essa manifestação urbana. Levando em consideração a origem do termo
“graffiti”, que não pode ser traduzido por grafite: (...) se eu fizer sem pedir autorização ao
morador ele é irregular. Mas se eu for autorizada, ele deixa de ser grafite e passa a ser um
mural. Isso porque a essência conceitual do [grafitti] é marginal e ilegal" (CRIOLA, 2017)8.
A grafiteira se considera feminista por ser mulher e por não querer ver outras mulheres
sofrendo com o machismo. Desse modo, ela não vê uma necessidade de levantar uma bandeira, pois
acredita que ser feminista é partilhar desse desejo: “(...) Eu sou feminista porque eu sou mulher, não
7 Entrevista a TV Campos de Minas. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=Ky7QadcdomE>. Acesso 28
jun 2017. 8 Entrevista concedida ao portal Tão Feminino. Disponível em < http://www.taofeminino.com.br/cultura/entrevista-
grafiteiras-nina-pandolfo-taina-lima-criola-s2136247.html> Acesso 20 jun 2017.
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
quero morrer por ser mulher e não quero que nenhuma mulher seja aniquilada pela violência
machista. Se você é mulher e concorda comigo, pasme! Você é feminista e nem sabia!"9
Figura 1 – Projeto “Orí A raiz negra que sustenta é a mesma que floresce”;
Graffiti representando os cabelos crespos.10
Nesse sentido, Criola diz já ter sofrido preconceito por ser mulher, tendo sua arte
questionada devido a os seus poucos anos no graffiti. Entretanto, considera que esse preconceito
seja oriundo de uma estrutura social machista. Quando questionada se já sofreu preconceito por ser
mulher no graffiti, Criola afirma:
Sim. Sinto, mas nao exclusivamente por conta do meu trabalho ou por conta dos colegas
em si. E sim porque vivemos numa sociedade estruturalmente machista, homofobica e
racista. Os homens, dessa forma, sao desde cedo ensinados em sua esmagadora maioria a
nos silenciar a todo momento, a nao escutarem, a interromperem a nossa fala,
ridicularizando e questionando a validade do que apresentamos enquanto mulheres. E o pai,
e o amigo, o tio, o vizinho. Nao precisamos ir longe. E importante que ao se reconhecerem
parte de uma estrutura machista os homens tenham humildade e consciencia necessaria para
se calarem e escutar o que temos a dizer, ja que essa desconstrucao masculina parte de um
processo primeiramente de escuta e ser um homem que apoia o feminismo ja te obriga a ter
essa postura. Quando isso nao ocorre talvez seja necessario rever e refletir sobre a sua real
empatia a causa feminista (CRIOLA, s/d)11.
Criola tem a arte como seu instrumento de cura, para além da militância negra, das questões
estéticas e do feminismo. Vivencia a arte para se conhecer, se reconhecer e se transformar, sendo
um veículo importante para se conectar com as pessoas. Desse modo, considera essa sua principal
fonte de inspiração: as pessoas que encontra em seu cotidiano. A combinação de cores e vivências
são expressas em seus trabalhos
9 Entrevista concedida ao portal Tão Feminino. Disponível em < http://www.taofeminino.com.br/cultura/entrevista-
grafiteiras-nina-pandolfo-taina-lima-criola-s2136247.html> Acesso 20 jun 2017. 10 Foto por Athos Souza. Disponível em <http://www.conexaocultural.org/blog/2014/11/criola-do-preconceito-a-arte-
urbana/>. Acesso 29 jun 2017. 11 Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29 jun 2017.
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Para alem de me inspirar em artistas, escritores, filosofos e etc, eu me inspiro com mais
profundidade e verdade em pessoas negras comuns que cruzam o meu caminho no dia a
dia. No percurso dentro do busao, entre um graffiti e outro, no perfil do Ori da vozinha que
benze a criancada do bairro. As vezes a combinacao de cores da camisa que o velhinho,
vendedor de frutas na rua do meu bairro, usou em determinado dia me inspira a criar ate um
conceito e sentimento por tras das cores que utilizo em um graffiti (CRIOLA, s/d)12.
Negahamburguer – a real beleza fora do padrão
Autodidata, Evelyn começou a desenhar ainda criança. Chegou a frequentar escolas de
design, mas não concluiu as graduações. Seus desenhos são oriundos de sua experiência, de suas
vivências e por isso estão em constante mudança. Nesse universo se deparou com o ativismo negro,
e acredita que o mundo das artes ainda necessite considerar mais os trabalhos de artistas negros e
negras. Segundo Evelyn:
Ainda é necessário ampliar as possibilidades para que artistas negros sejam valorizados no
mercado das artes. Acredito que, com muita luta, estamos aparecendo e nos mostrando cada
dia mais, mas ainda há chão pela frente (NEGAHAMBURGUER, 2015)13.
Segundo Evelyn, sua arte é feita para as mulheres, como uma forma de comunicar e de
trocar experiências com elas. Seu interesse pelo feminismo lhe fez buscar mais informações à
medida que recebia os relatos e os desenhava, de modo que seus desenhos são resultado dessa troca.
Tenta demonstrar em seus trabalhos “(...) coisas do cotidiano de mulheres que (...) de algum modo
não se aceita, [são] sempre julgadas e muito cobradas. [Dos] (...) problemas com estereótipo, com
muitas cobranças de ser o que elas não são... aí eu quis colocar esse tema no meu desenho”
(Negahamburguer, 2015)14.
Evelyn comenta que em alguns espaços de graffiti, os grafiteiros viam a sua presença como
um possível interesse afetivo a eles, e não como uma prática de grafitar, assim como eles. Segundo
a artista:
No graffiti tinha muito homem. Quando eu quis começar, tem uns cinco anos [2014]... você
vai num evento de graffiti e tem uns caras – não eram do meu ciclo – (....) acham que você
tá lá pra pintar por causa deles, pra se mostrar pra eles, sabe? Ahh... ela tá aqui no nosso
rolê, sabe? Ou ela quer se mostrar pra gente, ou ela quer parecer que é melhor que a gente,
ou ela quer dar pra gente. Não consideram que você está lá porque gosta de pintar também
(NEGAHAMBURGUER, 2014).15
12 Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29 jun 2017. 13 Entrevista concedida ao portal Modefica. Disponível em <http://www.modefica.com.br/conheca-uma-artista-evelyn-
queiroz-a-garota-por-tras-da-negahambuguer/#.WVugGLBtm00> Acesso 20 jun 2017. 14 Entrevista concedida ao programa Art é Arte, da Rede TVT. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?
v=K7CwQw3u4NM>. Acesso 20 jun 2017. 15 Entrevista concedida ao Portal Capitolina. Disponível em <http://www.revistacapitolina.com.br/capitolina-entrevista-
negahamburguer/ > . Acesso 20 jun 2017.
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Dentre outros projetos, Evelyn participou da campanha Todo dia é dia 18, promovida pelo
Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Interlagos, em que registrou
em forma de desenho 12 relatos de crianças violentadas. Entre os anos de 2014 e 2015, foram
lançados 12 cartazes – um por mês – com frases de crianças e adolescentes. A campanha tinha
como objetivo sensibilizar a população sobre a violência sexual infanto-juvenil ao longo do ano, e
promover os meios de denúncia, como o Disque 100 (serviço gratuito e anônimo de denúncia
mantido pela Secretaria de Direitos Humanos).
Figura 2 – À esquerda, o livro “Beleza Real”.
À direita, a campanha “Todo dia é dia 18”, promovida pelo CEDECA Interlagos/SP16.
Rompendo os muros das imagens
As formas de expressar e de viver o corpo são oriundas da educação e de toda a sociedade
da qual se faz parte, bem como do lugar que se ocupa nela. O social faz parte das menores ações
humanas, embora possa parecer insignificante ou não ser apresentado de forma consciente, define o
certo e errado, o belo e o feio.
Em vista disso que o trabalho realizado por Criola e Negahamburguer assume o
compromisso de ressignificar as concepções de beleza e promover novas perspectivas.
Recentemente em março desse ano (2017), em comemoração ao Dia Internacional da Mulher,
ambas foram convidadas pela marca de cerveja Skol para recriarem suas campanhas machistas. Por
16 Foto do livro por Ludmilla Rossi. Disponível em <https://www.juicysantos.com.br/mais/arte-e-design/a-beleza-real-
da-negahamburger/>. Acesso 29 jun 2017. Cartazes da campanha disponível em <http://periferiaemmovimento.com.br/
a-dor-nos-relatos-de-criancas-e-adolescentes-que-sofreram-violencia-sexual/>. Acesso 29 jun 2017.
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
meio do projeto Repôster17, a empresa publicitária responsável pelas campanhas da Skol, convidou
dentre elas, mais quatro ilustradoras para reconstruir seus antigos anúncios publicitários.
Isso evidencia que seus graffiti ultrapassam os limites dos muros e geram repercussões na
opinião pública, à medida que evidenciam a importância dos corpos simbolizarem diferentes
identidades sociais e valorizarem as marcas de suas vivências.
Referências
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. 1955. Disponível
em:<http://www.mariosantiago.net/Textos%20em%20PDF/A%20obra%20de%20arte%20na%20er
a%20da%20sua%20reprodutibilidade%20técnica.pdf>. Acesso 20 abr 2017.
CARNEIRO, Sueli. Enegrecer o feminismo: a situação da mulher Negra na América Latina a
partir de uma perspectiva de gênero. 2011. Disponível em: <http://arquivo.geledes.org.br/em-
debate/sueli-carneiro/17473-sueli-carneiro-enegrecer-o-feminismo-a-situacao-da-mulher-negra-na-
america-latina-a-partir-de-uma-perspectiva-de-genero>. Acesso 20 abr 2017.
CRIOLA. Criola – do preconceito à arte urbana. Conexão Cultural. Disponível em
<http://www.conexaocultural.org/blog/2014/11/criola-do-preconceito-a-arte-urbana/>. Acesso 2 fev
2017.
___________. Grafite valoriza a mulher brasileira. Portal NAMU. Disponível em
<http://www.namu.com.br/materias/grafite-valoriza-mulher-brasileira>. Acesso 2 fev 2017.
Entrevista concedida a Vanessa Cancian.
___________. Cores e valores. Revista TRIP. Disponível em
<http://revistatrip.uol.com.br/tpm/conheca-a-grafiteira-criola>. Acesso 2 fev 2017. Entrevista
concedida a Camila Eiroa.
___________. Projeto Curadoria. Disponível em <http://projetocuradoria.com/criola/>. Acesso 29
jun 2017.
___________. Público da 20ª Mostra de Cinema em Tiradentes acompanha produção da artista
Crioula. TV Campos de Minas, 2017. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=Ky7QadcdomE>. Acesso 28 jun 2017.
___________. Grafiteiras, sim! Um papo com Nina Pandolfo e Criola. Portal Tão Feminino.
Entrevistadora: Mirela Mazzola. Disponível em
<http://www.taofeminino.com.br/cultura/entrevista-grafiteiras-nina-pandolfo-taina-lima-criola-
s2136247.html>. Acesso 20 jun 2017.
FERNANDES, F. A Integração do Negro na Sociedade de Classes, Vol.1, São Paulo: Globo,
2008.
17 Disponível em <http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2017/03/09/skol-assume-passado-machista-
e-ressalta-a-importancia-de-evoluir.html> Acesso 20 jun 2017.
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
FREYRE, G. O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro (continuação). In: Casa-
grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal.
Apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 48ª ed. São Paulo: Global, 2003.
GITAHY, Celso. O que é graffiti? Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1999.
GOMES, Nilma Lino. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro,
n°3, mai/jun/jul/ago, 2003. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/S1413-
24782003000200006>. Acesso 2 jun 2017.
GONZALES, Lelia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje,
ANPOCS, 1984, p. 223-244. Disponível em
<http://disciplinas.stoa.usp.br/mod/resource/view.php?id=156696>. Acesso 16 jun 2016.
___________. A mulher negra na sociedade brasileira: uma abordagem político-econômico. In:
LUZ, Madel T (org.). O lugar da mulher: estudos sobre a condição feminina na sociedade atual.
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982.
GONZALES, L; HOSENBALG, C. O Movimento Negro na última década. Lugar de negro. Rio
de Janeiro: Marco Zero, 1982.
LIMA, Marina Poncio de. Muros, cores e ideias: uma análise sociológica com grafiteiros de
Curitiba e de São Paulo. Dissertação de Graduação Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2013.
Disponível em:<http://www.humanas.ufpr.br/portal/cienciassociais/files/2013/09/Monografia-
Mariana-Poncio-de-Lima.pdf>. Acesso 14 abr 2017.
MAGRO, Viviane Mendonça Melo. Meninas do Graffiti: Educação, Adolescência, Identidade e
Gênero nas Culturas Juvenis Contemporâneas. Campinas, 2003. 224f. Tese (Doutorado em
Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2003.
MORENA, Margarida. Mulheres no Muro: Grafites e Grafiteiras em Salvador. Tese de mestrado
apresentada a Universidade Federal da Bahia. Disponível em
<http://www.poscultura.ufba.br/sites/poscultura.ufba.br/files/Mulheres%20no%20Muro%20-
%20Grafites%20e%20Grafiteiras%20e%20Salvador.pdf>. Acesso 20 mai 2017.
NEGAHAMBURGUER, Evelyn. Arte & Opinião - Episódio 01 com Evelyn Negahamburguer.
Manacá Filmes. Disponível em <https://vimeo.com/74399989>. Acesso 16 abr 2017.
___________. Beleza Real. 1ª edição. São Paulo: Evelyn Cardoso Queiróz dos Santos, 2014
___________. Projeto Beleza Real. Disponível em <https://vimeo.com/74681775> Acesso 16 abr
2017.
___________. Conheça Uma Artista: Evelyn Queiroz, A Garota Por Trás Da Negahambuguer,
Conta Porque Resolveu Unir Ativismo À Arte. Portal Modefica. Entrevistadora: Marina Colerato.
Disponível em <http://www.modefica.com.br/conheca-uma-artista-evelyn-queiroz-a-garota-por-
tras-da-negahambuguer/#.WVugGLBtm00> Acesso 20 jun 2017.
___________. Art é Arte! #13 Arte e Fatos 3/3. Rede TVT, 2015. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=K7CwQw3u4NM>. Acesso 20 jun 2017.
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
___________. Capitolina Entrevista: Negahamburguer. Portal Capitolina, 2014. Entrevistadoras:
Helena Zelic e Laura Viana. Disponível em <http://www.revistacapitolina.com.br/capitolina-
entrevista-negahamburguer/>. Acesso 20 jun 2017.
RIBEIRO, Djamila. (2015). Quem tem medo do feminismo negro? Disponível em
<http://www.cartacapital.com.br/blogs/escritorio-feminista/quem-tem-medo-do-feminismo-negro-
1920.html> Acesso 15 mai 2016.
RODRIGUES, Raimundo Nina. Valor social das raças e povos negros que colonizaram o Brasil, e
dos seus descendentes. In: Os Africanos no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas
Sociais, 2010. Disponível em: <http://static.scielo.org/scielobooks/mmtct/pdf/rodrigues-
9788579820106.pdf>. Acessado 21 mai 2017.
SANTOS, Leandro José dos. Expressão do corpo feminino negro na mídia impressa brasileira.
Monografia. UNESP/ Araraquara, 2007.
SCAVONE, Lucila. Estudos de Gênero: uma sociologia feminista? Revista Estudos Feministas.
vol. 16, n.1, jan/abril. 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n1/a18v16n1.pdf>.
Acesso 20 mai 2017.
SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre,
v.16, n. 2, 1990. p.5-22.
SIMMEL, G. (1902). A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio Guilherme (org.) O
Fenómeno Urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
ORTIZ, Renato. Da raça à cultura: a mestiçagem e o nacional. In: Cultura Brasileira e Identidade
Nacional. 5ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 36 – 44.
WELLER, Wivian. Presença Feminina Nas (Sub)Culturas Juvenis: A Arte De Se Tornar Visível.
Revista Estudos Feministas, v.13 n.1, Florianópolis, jan./abr. 2005. Disponível em
<http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2005000100008> Acesso 30 abr 2017.
Breaking the walls of images: Black women in graffiti
Astract: This communication intends to comprehend how black women act in the graffiti ground
and which are the possible transformations present in this field that it is mostly occupied by
markedly male representations. Based on the case study of two black female peripheral graffiti
artists, Negahamburguer from São Paulo and Criola from Belo Horizonte, in which they use the
communicative characteristics of graffiti in order to spread messages that cross the cultural patterns
widespread by the mainstream media. The Graffiti emerges in the walls as an attempt of break with
grey caused by pollution expressing contestation through direct messages and creating an arte that
accords with this present time: volatile in every instant. In this context, the black women that
produce graffiti enhance such characterizes in order to claim the right to use the public space, to
express their own perceptions of reality and overall, to assume a protagonist role in this cultural
manifestation. For that matter, this research will investigate the artistic production of two female
graffiti artists from the southeast of Brazil, Negahamburguer and Criola. Both live in regions with
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
big urban centers and also began their work in the graffiti universe through affinity with the
movement and use their art in order to contest social patterns.
Keywords: Black Woman. Graffiti. Gender Studies.