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RODA-VIVA DE CHICO BUARQUE O TEATRO NACIONAL A SERVIÇO DE UMA ANÁLISE CONSTITUCIONAL Texto Publicado na Obra: Direito Constitucional Intertextual O Teatro na Cultura Jurídica Editora Memória Jurídica Organizado por Maria Garcia São Paulo / 2010 Autor: Carla Fuentes Sales, I O TEATRO NACIONAL A SERVIÇO DE UMA ANÁLISE CONSTITUCIONAL A proposta deste trabalho, é ressaltar a importância do nosso patrimônio cultural, a serviço de uma interpretação critica de nosso sistema constitucional. No caso em análise, faremos um paralelo entre a contextualidade da peça de Teatro Brasileiro Roda-Viva, de autoria de Chico Buarque, mais precisamente o trecho onde os atores cantam a música de mesmo nome, a Constituição Federal de 1967, finalizando com o sistema constitucional vigente. Esta análise foi inspirada nos ensinamentos do filósofo Edgar Morin, o qual afirma que “em toda grande obra, de literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura, de escultura, há um pensamento profundo sobre a condição humana”1. Por outro lado, observamos os ensinamentos de Aristóteles, que conclui em sua obra de nome “Política” que constituição e governo têm o mesmo significado, e, de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o qual afirma que “constituição passou a ser empregado para designar o corpo de regras que definem a organização fundamental do Estado” 2. Desta forma, é possível analisar o pensamento que extraímos da peça Roda-Viva, em face da análise do sistema constitucional vigente à época até a atualidade. II RODA-VIVA DE CHICO BUARQUE MÚSICA, TEATRO, BIOGRAFIA A canção Roda-Viva de Chico Buarque é datada de 1967, e faz parte da peça de mesmo nome, dirigida por José Celso Martinez. Chico Buarque, ou melhor, Francisco Buarque de Holanda, é musico, cantor, compositor, teatrólogo, e escritor. Nasceu em 19 de julho de 1944 no Rio de Janeiro, filho de Sergio Buarque de Holanda (historiador e jornalista) e de Maria Amélia Cesário Alvim, aos dois anos de idade passou a residir em São Paulo com sua família. 1 MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita, Repensar a reforma, reformar o pensamento. 12ª Edição. Tradução Eloá Jacobina. Bertrand Brasil. 2006. Pág. 45 2 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Curso de Direito Constitucional. 21ª Edição. Saraiva. 1994. Pág. 3

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RODA-VIVA DE CHICO BUARQUE – O TEATRO NACIONAL A SERVIÇO DE UMA

ANÁLISE CONSTITUCIONAL

Texto Publicado na Obra: Direito Constitucional Intertextual – O Teatro na Cultura Jurídica

Editora Memória Jurídica

Organizado por Maria Garcia

São Paulo / 2010

Autor: Carla Fuentes Sales,

I – O TEATRO NACIONAL A SERVIÇO DE UMA ANÁLISE CONSTITUCIONAL

A proposta deste trabalho, é ressaltar a importância do nosso patrimônio cultural, a

serviço de uma interpretação critica de nosso sistema constitucional.

No caso em análise, faremos um paralelo entre a contextualidade da peça de Teatro Brasileiro Roda-Viva, de autoria de Chico Buarque, mais precisamente o trecho onde

os atores cantam a música de mesmo nome, a Constituição Federal de 1967, finalizando com o sistema constitucional vigente.

Esta análise foi inspirada nos ensinamentos do filósofo Edgar Morin, o qual afirma que “em toda grande obra, de literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura,

de escultura, há um pensamento profundo sobre a condição humana”1.

Por outro lado, observamos os ensinamentos de Aristóteles, que conclui em sua obra de nome “Política” que constituição e governo têm o mesmo significado, e, de Manoel

Gonçalves Ferreira Filho, o qual afirma que “constituição passou a ser empregado para designar o corpo de regras que definem a organização fundamental do Estado”2.

Desta forma, é possível analisar o pensamento que extraímos da peça Roda-Viva, em face da análise do sistema constitucional vigente à época até a atualidade.

II – RODA-VIVA DE CHICO BUARQUE – MÚSICA, TEATRO, BIOGRAFIA

A canção Roda-Viva de Chico Buarque é datada de 1967, e faz parte da peça de

mesmo nome, dirigida por José Celso Martinez.

Chico Buarque, ou melhor, Francisco Buarque de Holanda, é musico, cantor,

compositor, teatrólogo, e escritor. Nasceu em 19 de julho de 1944 no Rio de Janeiro, filho de Sergio Buarque de Holanda (historiador e jornalista) e de Maria Amélia Cesário Alvim, aos dois anos de idade passou a residir em São Paulo com sua família.

1 MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita, Repensar a reforma, reformar o pensamento. 12ª Edição. Tradução Eloá Jacobina. Bertrand Brasil. 2006. Pág. 45

2 FERREIRA, Manoel Gonçalves Filho. Curso de Direito Constitucional. 21ª Edição. Saraiva. 1994. Pág. 3

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Estudou violão com sua irmã Miucha, e sob a influencia de João Gilberto faz suas

primeiras composições. Cursou até o terceiro ano da faculdade de arquitetura e urbanismo da USP.

Foi casado com a atriz Marieta Severo, com quem teve três filhas.

A carreira no teatro começou em 1965, a convite de Roberto Freire, para que

musicasse o poema Morte e Vida Severina, para o Teatro da Universidade Católica de São Paulo – TUCA, sendo que em abril de 1966, a montagem foi premiada na França

no IV Festival de Teatro Universitário de Nancy, e em decorrência deste sucesso, apresentou-se em Lisboa, Porto e Coimbra, tendo sido consagrado em Paris no Teatro das Nações.

Iniciou suas participações em festivais promovidos pela TV Excelcior, em abril de 1965 com a música Sonho de um Carnaval, também conhecida como Carnaval da

Ilusão e Vestido de Rei, esta música ficou entre as doze finalista, mas devido ao erro de afinamento no tom, não foi premiada.

Em outubro de 1966, estourou com seu grande sucesso, Banda, no II Festival de Música Popular Brasileira, o que lhe rendeu em algumas horas, a contratação de mais de 30 shows. A música referida, vendeu mais de 100.000 cópias em menos de

uma semana, e no mesmo mês foi lançado seu 1° LP, momento que consolidou sua condição de celebridade.

A música Roda-viva, foi premiada com o 3° lugar no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record em outubro de 1967.

Neste período houve a explosão do momento tropicalista, ao qual Chico não se rendeu, momento em que deixou de ser “unanimidade nacional”, expressão criada pelo humorista Millôr Fernandes, com quem Chico Buarque, teve mais tarde, um

violento rompimento, quando aquele acusou que Chico seria um idealista que explora seu ideal.

A peça Roda-Viva, conta à história de um artista popular massacrado pelo Showbiz, tido pelos críticos como resposta de Chico Buarque ao rótulo de unanimidade

nacional.

A peça é um musical, e foi escrita por Chico em apenas 25 dias, contando com 50 laudas, sendo que a montagem foi confiada ao diretor José Celso Martinez Correa.

As principais músicas da peça, são: Roda-viva e Sem Fantasia. Estreou em 15 de janeiro de 1968 no Rio de Janeiro, no Teatro Princesa Isabel, o cenário era ladeado

por uma estátua de São Jorge e uma majestosa garrafa de Coca-Cola. A peça envolvia os próprios expectadores, sendo que muitos acabavam com respingos de sangue de

fígado cru que os atores dilaceravam com os dedos.

A critica afirmava que a agressividade da peça partia do diretor e não de Chico Buarque, porém este não se opôs em momento algum à sua direção.

Em 17 de julho de 1967, após grande aceitação da peça no Rio de Janeiro, estreou no Teatro Galpão em São Paulo, onde “CCC - Comando de Caça aos Comunistas”

invadiram a apresentação, destruiram os cenários, e espancaram os atores.

Em 3 de outubro de 1968, a peça estreou em Porto Alegre, e no segundo dia de

espetáculo, dois atores foram seqüestrados e abandonados em um matagal distante. O hotel onde o grupo esta hospedado foi cercado, e por fim retirados do mesmo e embarcados para São Paulo em um ônibus, com isto, Roda Viva, não teve mais

nenhuma apresentação.

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E em 13 de dezembro de 1968, o Ministro da Justiça, Luiz Antonio da Gama Silva,

anunciou em rede nacional a decretação de um novo Ato Institucional o de n° 5.

Em 1969, Chico Buarque, esteve exilado na Itália ameaçado pelo Regime Militar, e ao

voltar ao Brasil continuou com suas composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais, tendo que utilizar um pseudônimo, Julinho de Adelaide, para

driblar a censura.

O primeiro contratempo de Chico Buarque, com a censura, foi em Julho de 1966, no

show organizado com várias músicas de sua autoria, chamado de Meu Refrão, do qual teve a música Tamandaré proibida, por ter sido considerada ofensiva ao patrono da Marinha, a qual nunca chegou a ser gravada.

III – COMPREENDENDO A PEÇA E A MÚSICA

A peça musical - Roda-Viva, foi escrita por Chico Buarque, após o grande sucesso da

música de mesmo nome, premiada com o 3º lugar no Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record em outubro de 1967.

No meio cultural, a peça é conhecida pela sua agressividade, em decorrência do uso

de palavrões, dos insultos dos atores para com o público, considerada por alguns críticos como um momento de ruptura com a arte produzida até aquele momento.

Por outro lado, a radicalidade do espetáculo é considerada como a revelação de segmentos da esquerda que lutavam contra a situação apática da sociedade,

tentando através da música e do teatro, conscientizar o público e envolvê-lo na luta social. Por isto a música foi composta por Chico Buarque com cifras e metáforas a fim de despistar a censura, e evitar represálias em face dos obscuros anos de

autoritarismo, de repressão, do fim da liberdade de expressão vividos na época de sua composição.

Curiosamente, Chico Buarque, relata em seu livro Letra e Música, que até o Ato Institucional nº5, em dezembro de 1968, a censura era suave, e:

“os primeiro anos que se seguiram ao golpe de 1964 foram, de qualquer forma, marcados por uma intensa produção cultural. Neles frutificou boa parte do que se restara na estimulante Era JK, entre 1956 e 1960, e no agitado período que precedeu o golpe. O processo começou a ser freado em abril de 1964, mas não parou imediatamente. Nesse ano surgiram, por exemplo, quatro clássicos do cinema

brasileiro: Deus e o diabo na terra do sul, de Glauber Rocha, Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, Os Fuzis, de Ruy Guerra, e Garrincha, alegria do povo, de Joaquim

Pedro de Andrade.

Em 1965 os militares extinguiram os partidos políticos e acabaram as eleições diretas para a Presidência da República e começaram a intervir na universidade. Mas a cena

cultural, ao mesmo tempo, dava sinais de grande vitalidade – inclusive reagindo ao progressivo fechamento que se observava no país. O mais importante pensador católico

brasileiro, Alceu de Amoroso Lima, criava a expressão “terrorismo cultural” para qualificar as ações do governo nessa área. Surgia, com muito vigor, a Revista

Civilização Brasileira, importante publicação que circularia até o AI-5. Sintomaticamente, um dos livros mais vendidos, nesse ano, foi o Festival de besteira

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que assola o país, ou, mais sinteticamente, o Febeapá de Stanislaw Ponte Preta,

pseudônimo do jornalista Sérgio Porto”3.

De acordo com Pedro Demo, temos que além de ler, entender e compreender o texto.

Sendo que “compreender é uma atividade hermenêutica, que apanha forma alfabética e conteúdo, texto e contexto, o significado e as condições da significação, o sentido”4.

Desta forma, propomos neste trabalho, a compreensão da música Roda-viva, a qual instiga a inteligência do ouvinte das rádios, da platéia nos espetáculos, e ora do

leitor, pois, como afirmamos acima, o compositor, utilizou “cifras”, e “metáforas” na elaboração dos versos para driblar a censura e a repressão, e expressam o

sentimento social da época, os quais passamos a analisar:

Roda Viva

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente

Ou foi o mundo então que cresceu A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar Mas eis que chega a roda-viva E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante Roda-moinho, roda pião

O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir Na volta do barco é que sente O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda-viva E carrega a roseira pra lá

Roda mundo (...)

A roda da saia, a mulata Não quer mais rodar, não senhor Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou A gente toma a iniciativa

Viola na rua, a cantar Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a viola pra lá Roda mundo (....)

O samba, a viola, a roseira Um dia a fogueira queimou

3 BUARQUE, Chico. Letra e música. 3ª reimpressão. Companhia das letras.

4 DEMO, Pedro. Pesquisa e Construção de Conhecimento – Metodologia cientifica no caminho de Habermas , Pág. 80.

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Foi tudo ilusão passageira

Que a brisa primeira levou No peito a saudade cativa

Faz força pro tempo parar Mas eis que chega a roda-viva

E carrega a saudade pra lá

Roda mundo (...)

Iniciamos nossa análise, com o próprio nome da peça e música, que de acordo com o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, Roda-viva significa: “movimento incessante, corrupio, cortado; é ainda confusão, barulho”5.

Observamos portanto, que de uma pequena palavra, o compositor, informa que a musica irá retratar, movimentos incessantes, que cortam, interrompem alguma ação,

ou seja, a ação repressiva do governo em face da população, em meio á uma confusão de valores, direitos e obrigações.

Esta metodologia, também ocorre com as palavras: estancou, fluxo de sangue estagnado, ou seja, as pessoas estão estagnadas, paradas, não lutam pelos seus

ideais; e, roseira, viola, e samba, referem-se à liberdade, queimada pela ação do governo, que por outro lado, é citada através da palavra roda-viva.

Os versos representam os movimentos sociais, passivos ou ativos, os quais são

interrompidos pela roda-viva, que por sua vez, simboliza a repressão, a censura, e o autoritarismo da época, enfim, a repressão dos sonhos mencionados nos primeiros

versos:

Mas eis que chega a roda-viva

E carrega o destino pra lá

Roda mundo, roda-gigante

Roda-moinho, roda-pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração

Observamos que o primeiro verso simboliza a morte do cidadão, contradizendo o tema e refrão da música, que seria a passividade social em face do movimento da roda-viva, ou seja, atitudes do governo:

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

No verso acima, o compositor diz que a sociedade parou de evoluir, como um fluxo de sangue que estanca, mas o mundo ao redor, e os controladores da roda-viva, continuaram a crescer, e em seguida, desabafa:

5 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário Aurélio. 6ª Edição, revista e atualizada. Editora Positivo, 2004

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A gente quer ter voz ativa

No nosso destino mandar

Mas, a roda-viva os impede, através da repressão, da censura, da limitação ou

exclusão dos direitos individuais e sociais.

Na segunda estrofe, o compositor demonstra mais uma vez, o movimento social

contra a repressão, dizendo:

A gente vai contra a corrente

Até não poder resistir.

E, Conclui que:

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

A roseira, o samba, a viola, como já dissemos representam a liberdade de expressão, de associação, que acabam sendo queimadas, portanto, destruídas, limitadas,

impedidas pela roda-viva, novamente.

Outra peculiaridade, é a ilusão passageira, de que o período autoritário teria

acabado, e que a liberdade passaria a ser respeitada, porém, isto não acontece, pois a roda-viva queima qualquer ilusão.

No último trecho, como se fosse a última esperança, o compositor afirma que a

liberdade continua cativa e saudosa no coração, lutando contra o tempo, na esperança de uma nova vida social, entretanto a conjunção “mas” aparece

novamente, interrompendo a ação, e acabando com qualquer ilusão.

IV – UMA ANÁLISE CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal de 1967, que corresponde a época da peça em comento, foi

promulgada em 24 de janeiro do mesmo ano, em seus 189 artigos, organizava a sociedade, a política e a economia, sob os títulos: I – Da Organização Nacional; II – Da

Declaração dos Direitos; III – Da Ordem Econômica e Social; IV – Da família, da Educação e da Cultura; e, V – Das disposições Gerais e transitórias.

Quando de sua promulgação o país era governado por atos legislativos supra-constitucionais, como o Ato Institucional n° 5, que prevaleceu sobre os textos constitucionais por mais de 10 anos, e durante sua vigência foram instituídos um

total de treze Atos Institucionais6.

6 AI -17 de 14.10.1969, Publicado no DOU de 15.10.1969: Atribui ao Presidente da República o direito de transferir para a reserva, por período determinado, os militares que hajam atentado, ou venham a atentar comprovadamente,

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Em 14 de outubro de 1969, foi decretado o Ato Institucional nº 16, permitindo a

aplicação do disposto no art. 2º parágrafo 1º do AI-5, pelo qual o Presidente da

contra a coesão das forças armadas, esclarece que terminado o prazo de transferência temporária o Ministério Militar promoverá ou a reversão do militar ao serviço ativo, ou a sua transferência definitiva para a reserva, exclui de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este ato Institucional e atos complementares dele decorrentes, bem como os seus respectivos efeitos.

AI - 16 de 14.10.1969, Publicado no DOU de 15.10.1969:Retificado no DOU de 16.10.1969Declara a vacância do cargo de Presidente da República, visto que o seu titular, Marechal Arthur da Costa e Silva, está inabilitado para exercê-lo, em razão da enfermidade que o acometeu.

AI - 15 de 11.9.1969, Publicado no DOU de 11.9.1969: Dá nova redação ao Artigo 1º, do Ato Institucional 11, esclarecendo que, no dia 30/11/1969, realizar-se-ão eleições para Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores nos Municípios que, durante o ano de 1969, devessem realizar eleições gerais ou parciais, ainda que algum desses Municípios se encontrem sob o regime de Intervenção Federal, nos termos do Artigo 3º do Ato Institucional 5, de 13/12/1968, ou Parágrafo 1º de Artigo 7º do Ato Institucional 7, de 26/02/1969.

AI - 14 de 5.9.1969, Publicado no DOU de 10.9.1969: Dá nova redação ao Artigo 150, da Constituição do Brasil, acrescentando que não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo nos casos de guerra externa, psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva, nos termos que a lei determinar, esta disporá, também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao erário, ou no caso de enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na administração pública direta e indireta

AI - 13 de 5.9.1969, Publicado no DOU de 9.9.1969, Retificado no DOU de 10.9.1969: Banimento do Território Nacional Brasileiro que comprovadamente se tornar nocivo a Segurança Nacional. Esclarece que, enquanto perdurar o banimento, ficam suspensos o processo ou execução da pena a que por ventura esteja respondendo ou condenado o banido, assim como a prescrição da ação ou da condenação e que ficam excluídos de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato Institucional e Atos Complementares dele decorrentes, bem como os respectivos efeitos.

AI - 12 de 1º.9.1969, Publicado no DOU de 1º.9.1969, Retificado no DOU de 10.9.1969: Esclarece que, enquanto durar o impedimento temporário do Presidente da República, Marechal Arthur da Costa e Silva, por motivo de saúde, as suas funções serão exercidas pelos Ministros da Marinha de Guerra do Exército e da Aeronáutica Militar, nos termos dos Atos Institucionais e Complementares, bem como da Constituição de 1967.

AI - 11 de 14.8.1969, Publicado no DOU de 14.8.1969: Fixa a data das Eleições para Prefeitos, Vice-Prefeitos e Vereadores, suspensas em virtude do disposto no Artigo 7º, do AIT 7/1969, de 26/02/2969, bem como as eleições gerais visando a mesma finalidade, e para os Municípios em que tenha sido decretada a intervenção federal, com fundamento no artigo 3º do AIT 5/1968, de 13/12/1968, ou cujos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito estejam vagos por outro motivo, e as estabelecidas pelo artigo 80, do DEL 411/1969, de 08/01/1969, serão realizadas no dia 30/11/1969, extingue a justiça de paz eletiva, respeitados os mandatos dos atuais juízes de paz, até o seu término.

AI - 10 de 16.5.1969, Publicado no DOU de 19.5.1969: Acrescenta sanções aos que hajam sido ou venham a ser atingidos pelas disposições dos Atos Institucionais 1/1964, 2/1965, 5/1968 e 6/1969.

AI - 9 de 25.4.1969, Publicado no DOU de 25.4.1969: Dá nova redação ao parágrafo 1º, substitui o 5º e revoga o 11º, todos do Artigo 157 da Constituição Federal.

AI - 8 de 2.4.1969, Publicado no DOU de 2.4.1969: Fica atribuída ao Poder Executivo dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios de população superior a duzentos mil habitantes, competência para realizar, por Decreto, a respectiva reforma administrativa, observados os Princípios Fundamentais adotados para a Administração Federal.

AI - 7, de 26.2.1969, Publicado no DOU de 27.2.1969, Retificado no DOU de 17.3.1969: Dispõe sobre os subsídios e ajuda de custo dos Deputados Estaduais e Vereadores, limita o número de sessões extraordinárias das Assembléias Legislativas, suspende quaisquer eleições parciais para Cargos Executivos ou Legislativos da União, dos estados, dos Territórios e dos Municípios.

AI - 6, de 1º.2.1969, Publicado no DOU de 3.2.1969: Modifica a composição e altera a competência do supremo Tribunal Federal, do superior Tribunal Militar, ratifica as emendas constitucionais feitas por Atos Complementares e subseqüentes ao Ato Institucional 5, de 13/12/1968 e exclui de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos complementares.

AI - 5, de 13.12.1968, Publicado no DOU de 13.12.1968: São mantidas a Constituição de 24/01/1967 e as Constituições Estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.

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República poderia decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias

Legislativas e das Câmeras dos Vereadores por Ato Complementar, momento em que o Poder Executivo ficava autorizado a legislar todas as matérias e exercer as

atribuições previstas nas Constituições e Lei Orgânica dos Municípios.

Assim, no uso deste direito, o Poder Executivo altera todo o texto constitucional,

através da Emenda Constitucional nº 1 de 17 de outubro de 1969, porém observamos que sua estrutura, permaneceu a mesma, ou seja, continuou com os cinco capítulos,

distribuídos em 217 artigos.

Entretanto, houve uma profunda alteração em face dos poucos direitos sociais, dispostos na Constituição de 1967, dos quais apenas 12 artigos, tratavam dos

direitos voltados ao cidadão de uma forma geral, ou seja, no Título II – Da Declaração de Direitos, e seus capítulos que regulavam: nacionalidade, direitos políticos,

partidos políticos, direitos e garantias individuais, e estado de sítio.

Com a Emenda Constitucional de 1969, o Título III – Da Declaração dos Direitos,

passou a ter 15 artigos, tratando dos mesmos assuntos, porém tais direitos passaram a serem mais restringidos.

Esta estrutura constitucional vigorou até a promulgação da Constituição Federal de

1988, a qual foi elaborada por um poder Constituinte, convocado por meio da Emenda Constitucional n° 26, de 27 de novembro de 1985, por esta emenda os

membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, reuniriam-se em Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1° de fevereiro de 1987, na

sede do Congresso Nacional, e em 05 de outubro de 1988, promulgaram a constituição vigente.

Seus 250 artigos, estão organizados em nove títulos: I – Dos Princípios

Fundamentais; II – Dos Direitos e Garantias Individuais, III - Da organização do Estado; IV – Da organização dos poderes; V – Da defesa do Estado e das Instituições

democráticas; VI – Da tributação e do orçamento; VII – Da ordem Econômica e Financeira; VIII – Da ordem social, IX – Das Disposições Constitucionais. E, temos

ainda, 94 artigos dispostos nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórios.

Superando a análise histórica, iniciamos nossa análise com a interpretação do sentido de democracia nas duas constituições citadas, ou seja de 1967 e 1988, uma

vez que a de 1969, praticamente ratificou o texto de 1967, para tanto, nos socorremos primeiramente da definição de democrático/democracia, em dicionário

de língua portuguesa7, que assim define:

Democracia: 1. Governo do povo; soberania popular. 2. Doutrina ou regime político

baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder.

Democrático: 1. Relativo ou pertencente à democracia; democrata. 2. Que emana do povo, ou que a ele pertence.

Tomando como base o texto Constitucional de 1967, a palavra democrático foi utilizada em três momentos, quais sejam:

a) Art 148 - A lei complementar poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade visando à preservação:

I - do regime democrático;

7 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário Aurélio. 6ª Edição, revista e atualizada. Editora Positivo, 2004.

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(...)

b) Art 149 - A organização, o funcionamento e a extinção dos Partidos Políticos serão regulados em lei federal, observados os seguintes princípios:

I - regime representativo e democrático, baseado na pluralidade de Partidos e na garantia dos direitos fundamentais do homem;

(...)

c) Art 166 - São vedadas a propriedade e a administração de empresas

jornalísticas, de qualquer espécie, inclusive de televisão e de radio difusão:

(...)

§ 2º - Sem prejuízo da liberdade de pensamento e de informação, a lei poderá

estabelecer outras condições para a organização e o funcionamento das empresas jornalísticas ou de televisão e de radiodifusão, no interesse do

regime democrático e do combate à subversão e à corrupção.

Podemos observar, que nos três casos, a palavra democrático foi utilizada para limitar direitos dos cidadãos, e não consolidação dos mesmos.

No primeiro, ou seja, art. 184, dispõe sobre a inelegibilidade, o segundo, art. 149, a

forma de organização de partidos políticos, e o terceiro e último, art. 166, refere-se ao funcionamento de empresas jornalísticas, televisão ou radiodifusão, no sentido de

limitar, negarem direitos.

Por outro lado, não podemos deixar de citar que a palavra democrático, em seu

significado puro, foi aplicado no Parágrafo 1° do artigo 1º da Constituição de 1967:

Art. 1º O Brasil é uma República Federativa, constituída sob o regime

representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios:

Parágrafo 1º - Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido.

Porém, ao analisarmos mais atentamente, o sentido destas disposições, concluímos que: esta norma é utilizada como mero expediente para legalizar o regime representativo, pois, a Constituição de 1967, tem como destinatário da norma o

poder, o governo, contrapondo aos escassos direitos dos cidadãos.

Por outro lado, com a Constituição vigente, a palavra democrático é mencionada nove

vezes, e no Parágrafo único do artigo 1°, é utilizada também em seu verdadeiro significado:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

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Entretanto, o que difere nos dois casos é a análise sistemática de ambas as

Constituições, pois como a de 1967, concluímos que o destinatário da norma era o poder e o governo, e na de 1988, o destinatário é o povo, observamos profundas

diferenças.

Primeiramente, alertamos que não podemos dizer que uma ou outra forma de

democracia é anômala, pois ambas estão amparadas pela lei, e respeitam o sistema da democracia indireta, ou seja realizada por meio de representantes, e no caso

especifico da Constituição de 1988, podendo ser exercido também de forma direta.

Independentemente dos questionamentos de Rousseau, quanto a representatividade, em sua obra Do Contrato Social, o qual entende que o sistema representativo não

atinge todo o povo, e sim, apenas uma parcela da população, isto porque o representante não consegue suprir as vontades, anseios, necessidades do povo em

geral.

Devemos reconhecer que a pessoa eleita sofre suas paixões, possui suas próprias

convicções, sendo realmente impossível a representatividade do governo fidedigna à vontade do eleitor.

Assim, não podemos finalizar qualquer interpretação constitucional com base nestes

argumentos, devemos compreender toda a estrutura constitucional, para concluir se é ou não democrática, se é ou não justa ou injusta, se estão violando direitos, etc.

A interpretação normativa precede de princípios, costumes, objetivos, sejam explícitos ou implícitos, não cabendo interpretação aleatória.

Em relação a Constituição Federal de 1967 e sua convalidação, Emenda Constitucional 1/69, observamos que os direitos dos cidadãos se restringiam ao direito relacionado à nacionalidade, ao sufrágio universal, a permissão de

organizarem partidos políticos, e aos direitos e garantias individuais, e SÓ!

Tais direitos eram organizados em 12 artigos, contra 177 artigos que dispunham

sobre a organização nacional, divisão de poderes, competências dos entes federados, ordem econômica, família, educação, cultura e disposições gerais e transitórias.

O sistema constitucional de 1967, e conseqüentemente de 1969, esta voltado para regulamentar o poder e governo, o povo não era a finalidade da norma, portanto, as manifestações sociais, como a que ora analisamos, se faziam em face do texto

constitucional.

Entretanto, não podemos responsabilizar o texto, ou o sistema constitucional de

1967, 1969, Atos Institucionais, dentre outros, como os grandes e únicos vilões do autoritarismo que vigorou por longos e duros anos em nosso país.

Logicamente que devemos questionar principalmente o uso do sistema constitucional em favor de interesses que não representem a vontade social, como bem já discutira Rousseau. Temos que concordar que um país com aproximadamente 40mil

habitantes, a representação é falha! E, por outro lado, de acordo com o sistema constitucional de 1967 os interesses dos governantes, portanto do governo, se

sobrepunham aos direitos individuais e coletivos de toda a população, reforçando a crise do período autoritarista e a insatisfação popular, como verificamos na

musicalidade da peça Roda-Viva.

Nossa proposta, é justamente compreender o pensamento social, relatado na musicalidade da transcendental peça de nome Roda-Viva, através da uma base

constitucional, e não questionar, analisar a legalidade ou ilegalidades dos atos praticados pelos representantes do poder.

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Conforme já citamos, Aristóteles afirma que Governo e Constituição têm o mesmo

significado, por outro lado, Ives Grande da Silva Martins, afirma que toda Constituição possui duas vertentes, ou seja: indica a forma que a sociedade controla

os governos, e determina como o governo serve à sociedade (direitos e garantias individuais)8.

Diante disto, a principal diferença entre a Constituição Federal de 1967 e a vigente, são os direitos dos cidadãos, principalmente dispostos no Preâmbulo e no artigo 1º

desta ultima, determinando que o destinatário da norma é o povo.

O Preâmbulo e o artigo 1º, estabelecem a forma de interpretação e mais precisamente, a forma de aplicação do sistema constitucional vigente, portanto,

dispõe sobre a forma de governo.

Iniciando pelo “Preâmbulo”, temos:

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de

uma sociedade fraterna na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,

promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da Republica Federativa do Brasil.

No próprio preâmbulo, constatamos que o Estado instituído pela Constituição de 1988, é um Estado Democrático, ou seja, o Estado emana do povo, e a ele pertence,

portanto sua função é assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, assim como a liberdade, segurança, dignidade da pessoa humana, etc.

Portanto, o preâmbulo a Constituição Federal de 1988, já difere o sistema constitucional vigente em face do anterior. No mesmo sentido, o artigo 1°, assim

como os próximos 17 artigos, inovaram o Sistema Constitucional Brasileiro, nos quais o legislador constituinte relaciona os direitos voltados à sociedade em geral, ou seja, ao povo propriamente dito, tratando: dos direitos e garantias fundamentais, dos

direitos e deveres individuais e coletivos, dos direitos sociais; da nacionalidade, e dos direitos políticos.

Diante disto, podemos concluir que o Estado sob a égide da Constituição Federal de 1967 , que tinha como parâmetros legais o “poder”, “governo”, acabava representando

um modelo de governo autoritário, pois o poder e o governo que deveriam ser protegidos em primeiro lugar.

Diferentemente, o sistema Constitucional vigente, esta repleto de fundamentos,

princípios em que o homem, povo, são os destinatários da norma, e portanto seus interesses e direitos se sobrepõe a qualquer outra finalidade.

Assim, o Estado Democrático de Direito Brasileiro, vigente, assegura: a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa, assim como o pluralismo político, não apenas como princípio

8 As constituições Brasileiras. Análise Histórica e Proposta de Mudança. Pág. 72.

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interpretativo, e sim como norma auto-aplicável, de conceito legal indeterminado,

denominado de cláusula geral.

A função da cláusula geral de direito é interagir com os demais princípios de direito,

mas de forma vinculante e obrigatória, sua finalidade, aplicabilidade acaba por ser subjetiva, indutiva, o que permite a melhor exploração e evolução sistemática da

aplicabilidade e extensão destes princípios positivados.

Tomemos como exemplo o principio da dignidade da pessoa humana, é um conceito

legal indeterminado, cabendo diversas interpretações, e o “preenchimento de sua indeterminação será feito pelo juiz por meio de valores éticos, morais, sociais, econômicos e jurídicos, o que transforma o conceito legal indeterminado em conceito

determinado pela função”9, corroborando para uma sociedade mais justa.

CONCLUSÃO

A peça de teatro brasileira, Roda-Viva de Chico Buarque, assim como a música de mesmo nome, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, por permanecerem vivas, mesmo após 40 anos de sua composição, isto porque, tanto a

musica como a peça, representaram o meio de manifestação e comunicação que o compositor utilizou para verbalizar a insatisfação do povo em relação ao governo, e,

conseqüentemente ao sistema constitucional vigente à época.

Com sua análise, foi possível contextualizarmos e aproximarmos dos sentimentos

sociais de um período histórico de grande importância para nossa nação, a partir destas manifestações pôde-se observar, a evolução social, através da profunda alteração de nossa Carta Magna, que representa o principal instrumento jurídico, que

define e orienta, toda a organização econômica, política, social e cultural de nosso país.

Considerando que a Constituição Federal é um produto cultural, esta pode ser interpretada através de fenômenos culturais históricos, como a peça de Teatro e a

música Roda-Viva, permitindo uma melhor compreensão dos sentimentos sociais à época, assim como uma melhor interpretação do antagonismo dos dois sistemas

constitucionais, ou seja, de 1967 e 1988.

A insatisfação social, e a verbalização desta insatisfação através da musicalidade da peça de teatro Roda-viva, nos faz questionar, compreender e aprimorar, os conceitos

e valores aceitos pela sociedade, e transcende qualquer sistema legal, em qualquer época e local.

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9 NERY, Nelson Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery, Código Civil Comentado, pág. 157-158

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Outros

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