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  • 7/26/2019 Roberto Iglesias, Pedro Veiga - Promoo de Exportaes via Internacionalizao Das Firmas de Capital Brasileiro CAP LIVRO

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    9Promoo deExportaes viaInternacionalizao

    das Firmas deCapital Brasileiro

    Roberto Magno Iglesias*

    Pedro da Motta Veiga**

    C:\BNDES\Relatrio\Relatrio-1.Vp - Abreus System - E-mail: [email protected]

    * Secretrio-adjunto de Poltica Econmica do Ministrio da Fazenda.** Scio-diretor da EcoStrat Consultores e consultor da Funcex e da CNI.

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    1. Introduo

    Existe um alto grau de insatisfao com o nvel de internacionalizao dasfirmas brasileiras, que vai desde a magnitude e a diversificao das opera-es de exportao at o montante do investimento direto no exterior. re-conhecido que a economia brasileira tem uma baixa relao exporta-es/PIB, um baixo coeficiente mdio de exportao na indstria e umaalta concentrao das exportaes em um nmero pequeno de firmas e deprodutos. Os investimentos no exterior das empresas brasileiras so relati-

    vamente baixos, especialmente quando comparados com empresas corea-nas ou de outros pases do Sudeste asitico ou com alguns pases lati-no-americanos.

    A anlise da experincia exportadora brasileira indica que a conquista e amanuteno de certos mercados externos podem requerer das firmas ex-portadoras a realizao de investimentos nesses mercados, o que tem sidoapontado recentemente como um importante fator potencial para alavan-car as exportaes. Esses investimentos esto relacionados s estratgiasdas firmas para superarem diversos obstculos resultantes das caractersti-cas do mercado barreiras no-tarifrias, institucionais ou culturais ou doproduto exportado.1 Normalmente, alm dos gastos para a prospeco do

    mercado, as despesas consistem em:a) rede de distribuio;b) armazena-mento do produto e logstica de transporte; e c) cumprimento de requisitostcnicos ou de demandas especficas do mercado. Tambm no caso de ou-tros pases, a experincia de internacionalizao das firmas indica que o in-vestimento para conquistar novos mercados (market seeking)pareceserim-portante, havendo consenso em que a deciso de investir depende do tipode produto e das caractersticas do mercado.

    Normalmente, o investimento no exterior para apoiar as exportaes rea-lizado com fundos prprios ou com financiamento externo (via emprsti-mos ou colocao de ttulos). Mas muito provvel que o fundingdessetipo de estratgia seja uma restrio relevante para muitas firmas exporta-

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    1 Apesar de no se dispor de dados quantitativos que permitam avaliar a importncia des-se tipo de investimentos e o seu impacto sobre o valor exportado, estudos de casos deexperincias exportadoras voltadas para o mercado americano indicam que, freqente-mente, esses investimentos foram cruciais para a penetrao no mercado e a manuten-o e expanso da clientela.

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    doras brasileiras (mdias e grandes), dada a baixa capacidade de poupanainterna de muitas delas, as restries do mercado de capital domstico e asdificuldades de aceso ao mercado financeiro internacional. O fato de que ofinanciamento das necessidades de investimentos em novos mercados tor-nou-se um instrumento explcito no arcabouo de apoio ao esforo expor-tador de alguns pases de renda mdia um reconhecimento da importn-cia desse tipo de investimento e de que o fundingpode ser uma restriorelevante para esse tipo de operao.

    Nesse contexto, os objetivos deste trabalho so trs:

    entender melhor por que o nvel de investimentos no exterior das firmasbrasileiras baixo, inclusive os investimentos em comercializao e dis-tribuio nos mercados compradores;

    analisar a necessidade e a importncia da demanda por investimentos deapoio exportao, isto , identificar quem o demandante potencialdesse tipo de investimento tipo de exportador, tipo de produto/setor emercados , procurando estabelecer que tipos de investimentos so osmais necessrios; e

    delinear uma proposta de atuao do Estado no apoio internacionali-

    zao via investimento, e para isso, por um lado, se identifica que tiposde restries (isto , financeiras, legais, institucionais) as empresas brasi-leiras enfrentam para realizar esse tipo de investimento e, por outro, seanalisa a experincia internacional de apoio pblico nessa matria.

    O trabalho est organizado em quatro sees, alm desta introduo. NaSeo 2, discutem-se algumas idias conceituais sobre os determinantes doinvestimento no exterior, procurando entender por que as firmas se inter-nacionalizam e investem no exterior ou por que, depois de alcanaram es-tgios iniciais na internacionalizao, no evoluem para formas de maiorcomprometimento com o mercado externo. Os condicionantes das multi-nacionais dos pases desenvolvidos so tambm discutidos, para compre-

    ender melhor as limitaes das empresas brasileiras. Na Seo 3, aborda-da a experincia de investimento no exterior das firmas brasileiras, revisan-do alguns trabalhos anteriores sobre o tema, e so analisados resultados deuma pesquisa especialmente preparada para esta coletnea, discutindo-seainda as restries para a realizao dos empreendimentos e os produ-tos/setores com maiores necessidades de investimento no exterior. A Seo

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    4 examina os efeitos do investimento direto sobre a economia do pasemissor e os problemas de poltica que o investimento direto no exteriorcoloca, revisando-se algumas experincias internacionais de apoio expor-tao e sugerindo-se algumas linhas bsicas de apoio internacionalizaodas firmas brasileiras. A Seo 5 resume as principais concluses do traba-lho e procura responder se h realmente necessidade de uma poltica deapoio ao investimento do exportador no exterior e que tipo de poltica seriaessa.

    2. A Deciso de Investir no Exterior para Apoiar aExpanso das Exportaes: Algumas QuestesConceituais

    Nesta seo discutem-se alguns problemas conceituais sobre a deciso doinvestimento externo como instrumento de apoio s exportaes. Trata-sede entender um momento especfico da internacionalizao das firmas: adeciso de realizar um investimento em um determinado mercado de des-tino das exportaes para ampliar e fortalecer as vendas nesse mercado.

    A deciso de investir em um mercado externo para facilitar as exportaes2deve ser entendida como parte do processo de expanso das vendas exter-nas de uma firma, o que faz parte domarketinginternacional da produolocal. A primeira questo desta seo entender as razes e motivaesque levam uma firma que exporta atravs de representantes comerciaisexternos ou diretamente para um certo importador a abrir escritrios co-merciais, armazns, centros de distribuio e laboratrios ou montar ou fi-nalizar o produto no mercado de destino.

    A anlise terica e aplicada tende a ver essa deciso, que normalmente im-plica umupgradeno posicionamento no mercado externo, como parte deum processo de penetrao gradual no mercado externo (ou de evoluo

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    2 O tipo de investimento que se est analisando consiste basicamente em: escritrio co-mercial, infra-estrutura de logstica e distribuio, instalaes e servio de assistnciaps-venda, investimentos para o acompanhamento das tendncias do mercado e labo-ratrios e oficinas para o desenvolvimento e adaptao do produto s caractersticas doconsumidor externo.

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    da internacionalizao da firma) ou como parte da estratgia de transfor-mao da empresa domstica em multinacional, a qual depende das carac-tersticas da firma, do setor ou do ambiente macroeconmico e legal.

    A internacionalizao da firma, entendida no sentido amplo de exportare/ou produzir no exterior, tratada tanto na literatura de administrao ede negcios como na anlise econmica. Na rea de administrao, os mo-delos dominantes so os comportamentalistas (ou teorias sobre o com-portamento exportador), que visualizam o processo de internacionalizaocomo sendo gradual ou evolutivo, focando nas razes e caractersticas des-se gradualismo. Na anlise econmica, o paradigma principal o da teoriaecltica da internacionalizao, que aplica o conceito de custos de transa-o s decises de internacionalizao da firma e procura explicar as carac-tersticas das firmas e dos mercados que estimulam a internacionalizaoda produo de uma firma, diferenciando esse processo em termos das ca-ractersticas do produto e dos mercados.

    Mas, no caso dos pases em desenvolvimento, a grande maioria das firmasexportadoras no tem investimentos no exterior, nem produtivos nem decomercializao. No Brasil, por exemplo, grande parte das firmas exporta-doras, cuja propriedade majoritariamente nacional, no passou da fase

    simplesmente exportadora, sem investimentos em instalaes comerciaisou fabris no exterior. A percepo existente que firmas brasileiras com umalto grau de internacionalizao exportadora tm um baixo nvel de investi-mento no exterior. Essa situao pode ser resultado da falta de necessidadepara suas estratgias ou resultado de algum tipo de barreira ou restrio.

    Esse fato caracterstico do Brasil e de muitos pases em desenvolvimentoleva segunda questo desta seo: por que nem todas as firmas que se in-ternacionalizam via exportao chegam etapa de investimento no exte-rior?; quais so as razes dessa falta de investimento?; quais so as barrei-ras/restries que afetam a possibilidade de investir?

    A seguir analisam-se os modelos comportamentalistas e, depois, apresen-ta-se a teoria ecltica da internacionalizao da firma, procurando identi-ficar os determinantes do processo de investimento para a exportao.Nessa reviso da literatura, procura-se identificar as principais restries edificuldades para a expanso da internacionalizao das firmas, para passardeumaetapaunicamenteexportadoraaumaoutraemquesecombinaex-

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    portao com diversos arranjos para a comercializao e, eventualmente,produo. Aps a reviso da literatura, discutem-se as aplicaes da teoriaecltica anlise das firmas multinacionais dos pases em desenvolvimen-to, com o objetivo de assinalar fatores especficos adicionais que podemafetar a trajetria de internacionalizao das firmas nesses pases. Final-mente, as concluses levantam algumas hipteses explicativas sobre o bai-xo grau de internacionalizao das firmas brasileiras.

    2.1. Modelos Comportamentalistas

    Os modelos comportamentalistas, no campo da literatura de administra-o, entendem que existem outros fatores, alm do econmico, que mol-dam as decises das firmas em relao internacionalizao. Esses fatoresso de natureza diversa, estando relacionados com o ambiente externo dafirma, as caractersticas da organizao e as atitudes psicolgicas dos seusadministradores.

    Uma hiptese-chave desses modelos que a internacionalizao da firma um processo gradual, que implica um envolvimento crescente da firma

    com os mercados externos e que pode tomar, primeiro, a forma de expor-tao via agentes, depois passar exportao via subsidirias e, finalmente,chegar fabricao local no mercado externo. As distintas fases pelas quaispassa o relacionamento com o mercado externo indicam um crescentecomprometimento de recursos da firma com aquele mercado. As formasorganizacionais desse maior envolvimento podem se dar atravs da forma-o dejoint ventures, licenciamento, ou subsidirias, tanto para o atendi-mento comercial como para a produo fabril.

    Uma linha importante dentre os modelos comportamentalistas a escolade Uppsala.3 Em sua concepo, o processo de internacionalizao gra-dual porque existem diferenas culturais e distncia psicolgica entre o ex-

    portador, por um lado, e o mercado a ser conquistado, por outro. Essas di-ferenas ou distncias geram incertezas sobre os resultados das transaese s podem ser diminudas pelo conhecimento da outra cultura. O proces-

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    3 O principal autor da escola de Uppsala Johanson. Para uma anlise representativa daescola, ver os trabalhos de Johanson e Vahlne (1977 e 1990).

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    so de conhecimento do mercado externo gradual e, principalmente, em-prico. A firma deve aprender a outra cultura pela experincia no prpriomercado. Na medida em que ela vai conhecendo o mercado externo, en-tendendo as caractersticas da outra cultura, diminuem as incertezas iniciaise, dessa maneira, pode ser aumentado o comprometimento de recursosnesse mercado.

    Para a escola de Uppsala, o processo de internacionalizao tem duas ca-ractersticas bsicas: conhecimento do mercado e comprometimento derecursos. Para avanar nesse processo, a firma deve se envolver em ativida-des comerciais (que lhe permitem conhecer) e tomar decises de com-prometimento de recursos. Os escritrios comerciais, as subsidirias comer-ciais e fabris indicam uma seqncia de maior comprometimento de recur-sos, como resultado do maior conhecimento.

    Na mesma linha, Cavusgil (1980) considera que o padro gradual de inter-nacionalizao decorre das maiores incertezas, dos custos de informaomais elevados e da falta de conhecimento emprico em atividades demar-ketingno exterior, especialmente para empresas mdias e pequenas. A ex-portao teria as caractersticas de uma inovao para a firma, pois h nessaatividade, tal como em pesquisa e desenvolvimento, uma grande incerteza,

    que s pode ser reduzida gradualmente atravs do conhecimento, fruto daprpria experincia exportadora. Na medida em que a firma reduz a incer-teza com a experincia e o conhecimento adquirido na atividade, podecomprometer mais recursos.

    Uma das principais crticas escola de Uppsala o fato de ser muito deter-minista, no reconhecendo que a firma pode se manter em um determi-nando estgio e no evoluir, assim como pode fazer uma escolha estratgi-ca diferente quanto aos modos de entrada e expanso no mercado interna-cional. Em uma crtica consistncia terica dos modelos, Andersen (1993)considerou esses modelos como conceituais e metodologicamente insufici-entes. Questes do tipo por que o processo acontece (ou no acontece)?

    ou como predizer a passagem de um estgio da internacionalizao para oseguinte? no estariam adequadamente tratadas.

    Os modelos comportamentalistas no explicam suficientemente por que asfirmas podem no evoluir da maneira prevista e quais seriam as restries eas dificuldades para avanar na trajetria esperada de internacionalizao.

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    Para explicar essa indeterminao, tais modelos argumentam que no exis-te um tempo padro entre o incio da exportao e o investimento no exte-rior. A falta de investimento (ou comprometimento de recursos) de muitasfirmas pode refletir simplesmente a continuao das incertezas sobre omercado, ou a no reduo da distncia psicolgica e cultural.4

    Mas as decises de investimento no exterior parecem estar tambm relacio-nadas com as caractersticas dos ativos e do produto da firma. As teorias dainternacionalizao que enfatizam esses fatores, assim como os custos detransao e imperfeies nos mercados, podem ajudar a entender a noevoluo das firmas para a fase de investimento no exterior.

    2.2. A Teoria Ecltica da Internacionalizao da Firma

    A teoria ecltica da internacionalizao da firma foi desenvolvida principal-mente por Dunning (1980 e 1988) e procura explicar a deciso de produzirou no em um mercado externo.5 Os autores dessa abordagem entendemque determinadas falhas de mercado (custos de informao e transao,oportunismo dos agentes e especificidades de ativos) levariam uma empre-sa a utilizar o investimento direto, ao invs de licenciamento ou exporta-

    o, como modo de entrada em um mercado externo e quando dispusessedevantagens diferenciaiscom relao a outras firmas e desejasse protegertais vantagens utilizando-se de sua prpria estrutura. Para entender a deci-so de produo internacional, deve-se adicionar o condicionamento cria-do por algumas variveis estruturais e conjunturais, tais como caractersti-cas do pas e da indstria, assim como variveis operacionais e estratgicasespecficas da firma.

    Uma empresa pode contar com trs tipos de vantagens diferenciais: as delocalizao, que so as oferecidas por um pas ou uma regio determina-dos; as depropriedade, ou de capacidades prprias desenvolvidas pela or-

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    4 As restries para o investimento nos mercados externos no so muito discutidas nessaliteratura. H, sim, uma discusso das dificuldades de internacionalizao das firmas,no tanto pelos aspectos financeiros, mas pelas questes culturais, ambientais, de distn-cia psicolgica.

    5 Alm de Dunning, outros autores da teoria ecltica da internacionalizao da firma fo-ram Buckley e Casson (1976) e Rugman (1981).

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    ganizao, que so as que lhe permitem se posicionar relativamente me-lhor no mercado estrangeiro quando comparada com os produtores locaisou outros produtores estrangeiros; e as de internalizao, que indicam que,se os custos de incorporao e organizao produtiva so menores que oscustos de transao6 associados transferncia dessas capacidades a umprodutor local, a firma investir na produo nesse mercado.

    As vantagens de propriedade de uma firma podem ser de natureza estrutu-ral, derivada da posse de ativos intangveis (patentes, marcas, capacidadestecnolgicas e demanagement, habilidade para a diferenciao de produ-

    tos),7 e/ou de natureza transacional, derivada da capacidade de hierarquia,decorrente docommon governancede atividades diversas que resultam daprpria caracterstica multinacional da empresa.

    A explorao dessas vantagens de propriedade em terceiros mercadospode ser feita de diversas maneiras. Uma opo a exportao dos bens eservios que produz desde seu pas de origem. Uma segunda opo con-ceder licenas de produo desses bens a outras firmas instaladas nos ter-ceiros mercados. Uma terceira opo internalizar essas vantagens de pro-priedade, instalando plantas prprias em outros mercados. A escolha de-pende de uma anlise de custos e benefcios entre as distintas alternativas,

    que so afetadas por um conjunto de fatores, tais como: forma de concor-rncia no setor, grau de imperfeio da informao disponvel no pas dedestino, nvel de proteo e enforcementdos direitos de propriedade, ca-ractersticas do pas emissor e receptor do investimento e variedade e tipode produtos que a firma pretenda produzir no mercado externo.

    Dado um determinado contexto legal e econmico, a deciso de produzirno exterior, ao invs de licenciar ou exportar, est fortemente influenciadapela natureza dos ativos intangveis, alguns dos quais, especialmente os queresultam das prticas tecnolgicas, de management, ou de comercializao

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    6 Os aspectos envolvidos nos custos de transao seriam relativos a variveis do ambiente

    (incerteza e complexidade) e do comportamento humano (racionalidade limitada eoportunismo). A racionalidade limitada poderia implicar dificuldade de comunicaoentre as partes em uma transao, particularmente se esta ocorresse entre culturas distin-tas. O oportunismo pode surgir quando o controle sobre o contrato imperfeito. A em-presa pode preferir internalizar para evitar o oportunismo.

    7 Muitos desses ativos intangveis esto associados a prticas tecnolgicas e internas da fir-ma.

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    da firma, so o conhecimento implcito, que a firma pode usar, mas novender nem licenciar.8 Esse tipo de ativos intangveis estimula o investi-mento na produo internacional da firma.

    Os motivos para que a firma deseje internalizar um mercado de insumos oude produtos ou seja, que deseje produzir em lugar de comprar ou ven-der9 podem ser:a) o risco e a incerteza;b) a obteno de economias deescala;c) os decorrentes do fato de uma transao de bens ou servios po-der produzir custos e benefcios externos quela transao, que no se re-fletiriam nos termos negociados pelas partes envolvidas. A firma internaliza,decide produzir, para obter economias de escala ou para reduzir custos detransao e coordenao, resultantes da incerteza e da existncia de exter-nalidades.10

    Da mesma forma que os ativos intangveis, resultantes do conhecimentoimplcito, a existncia de vantagens de localizao tambm favoreceria aproduo local ao invs da exportao ou do licenciamento. Algumas dasvantagens de localizao so: abundncia de recursos naturais (importam,nesse caso, a magnitude, o custo e a qualidade dos recursos) e humanos,know-howtecnolgico, infra-estrutura, instituies, tamanho do mercado,estabilidade poltica e econmica, regime cambial e esquema de poltica

    econmica.Como uma maneira de ordenar as inmeras alternativas que podem surgirdas diferentes combinaes das vantagens de propriedade, internalizaoe localizao, Dunning (1988) classifica o investimento estrangeiro em qua-tro grandes tipos, de acordo com o seu objetivo principal:resource based,market based, rationalized specialization (efficiency based)etrade and dis-tribution. Na Tabela 1 podem ser observadas as vantagens de propriedade,localizao e internalizao necessrias para cada tipo de investimento, as-

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    8 A vendae o licenciamento desses ativos esto sujeitos a diferentes falhas de mercado, di-ficultando a captura da rentabilidade desses ativos e facilitando os comportamentos

    oportunistas dos licenciados ou compradores.9 Nesse caso, a firma vai produzir no mercado externo ao invs de exportar desde o mer-cado domstico.

    10 Dunning (1988) menciona outros fatores de internacionalizao, tais como: a necessida-de de o vendedor proteger a qualidade do produto final, evitar ou usufruir as polticasgovernamentais (comercial, tributria e de preos) e controlar cadeias de distribuio nomercado de destino.

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    sim como o tipo de produto/setor que combina com mais freqncia essasvantagens, originando cada um dos tipos de investimento direto.

    Os dois tipos de investimento que este trabalho est interessado em anali-sar sotrade and distributionemarket based. No primeiro caso, trata-se deum investimento fundamentalmente comercial, cujo objetivo seria, comrelao exportao, colocar melhor os produtos no mercado de destino.As vantagens de propriedade necessrias para esse tipo de investimentono seriam muito sofisticadas: acesso aos mercados e disponibilidade deprodutos a distribuir. A vantagem de internalizao estaria em evitar amis-representationdo agente comercial (oportunismo do agente e proteo daqualidade do produto final) e garantir um fluxo adequado de vendas (con-trolar diretamente as cadeias de distribuio). Esse tipo de investimento se-ria feito perto do mercado consumidor e onde fosse mais conveniente pararealizar os servios de ps-venda do produto. O tipo de produto que re-quereria esse tipo de investimento seria aquele que, por suas caractersti-cas, necessita manter contato com os consumidores finais ou sua oferta nomercado de destino dependente de servios adicionais.

    J o tipo market based um investimento produtivo realizado com o objeti-vo de explorar o mercado domstico do pas receptor do investimento. Os

    requerimentos de vantagens de propriedade so bem maiores do que nocaso do trade and distribution. A firma precisaria contar com capital, tecno-logia, habilidades organizacionais e administrativas, marca diferenciada nomercado e clientela cativa. possvel para uma firma diferenciar sua marcae obter uma clientela cativa no processo de vender via exportaes, maspara produzir no mercado de destino precisa de vantagens proprietriasadicionais, para compensar os custos adicionais da internalizao, cujasvantagens seriam as usuais: reduo de custos de transao, proteo dosdireitos de propriedade e manuteno da qualidade do produto. As vanta-gens de localizao estariam relacionadas com os custos de produo nomercado de destino (materiais e trabalhistas), as caractersticas dos merca-dos (do pas emissor e receptor), as polticas governamentais e os custos de

    transportes. Alguns exemplos de indstrias nas quais se requereriam essetipo de investimento so: informtica, produtos farmacuticos, veculos au-tomotores, cigarros e publicidade.

    O investimentomarket seeking e em menor medida o tipo trade and dis-tribution permite no s o acesso a um mercado determinado, mas tam-

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    bm facilita a expanso das vendas, pois permite: a) adaptar produtos aosgostos locais; b) melhorar as relaes com os usurios que precisam debens adaptados a necessidades especficas; ec) projetar uma imagem decorporao local. Em indstrias nas quais os gostos e modas mudam rpi-da e sistematicamente, o investimentoefficiency basedou market seekingpode permitir a atualizao da firma em relao s tendncias do mercado,o que tambm pode melhorar as capacidades de desenho e atualizao dafirma.

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    Tabela 1Classificao dos Investimentos Diretos das Empresas MultinacionaisTipos de Investi-

    mento

    Vantagens de

    Propriedade(O Porqu da Ativi-dade Multinacional)

    Vantagens deLocalizao

    (Onde Ser Feita a Ati-vidade Multinacional)

    Vantagens deInternalizao

    (Como Ser Feita aAtividade)

    Tipos de Produto/Setor

    Resource Based Capital, tecnologia,accesso a mercados;ativoscomplementrios

    Possesso de recursosnaturais, infra-estruturaadequada;mo-de-obrano-qualificada eabundante

    Estabilidade da ofertaa preos certos;controle dosmercados; domnioda tecnologia

    Petrleo, cobre,bauxita, bananas,cacau, hotis,produo paraexportao de bensintensivos emmo-de-obrano-qualificada

    Market Based Capital, tecnologia,informao,

    habilidadesorganizacionais eadministrativas;excesso de P&D,economias de escala,trade markse

    goodwill

    Custos de materiais etrabalhistas;

    caractersticas domercado; polticasgovernamentais; custosde transporte

    Reduzir custos detransao e

    informao eincertezas docomprador; protegerdireitos depropriedade equalidade

    Informtica, produtosfarmacuticos,

    veculosautomotores,cigarros, seguros,publicidade

    RationalizedSpecialization(Efficiency)a)Produtosb)Processos

    As mesmas que nocaso anterior, maisacesso a mercados;economias de escopoe diversificaogeogrfica

    a) Economias deespecializao doproduto econcentrao;b) Baixos custostrabalhistas e incentivospara a produo local

    a) As mesmas que asdo tipo anterior, maisganho de economiasdecommon

    governance;b) Economias deintegrao vertical

    a) Veculosautomotores,aparelhos eltricos,servios de negciose P&D;b) Eletrnica deconsumo, txteis evesturio, indstriafotogrfica efarmacutica

    Trade and

    Distribution (Importand ExportMerchanting)

    Acesso a mercados;

    produtos paradistribuir

    Fonte de insumos e

    mercado local;necessidade de estarperto dosconsumidores; serviosps-venda

    Necessidade de

    proteger a qualidadedos insumos;necessidade degarantir as vendas enecessidade de evitarmisrepresentationdoagente

    Uma grande

    variedade deprodutos,particularmente osque requeremcontato comsubcontratistas ouconsumidores finais

    Fonte: Dunning (1988).

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    Segundo a teoria ecltica, uma firma vai continuar o seu processo de inter-nacionalizao passando a produzir no mercado de destino se possuirvantagens proprietrias que tornem necessrio ou vantajoso internalizarmercados.11 Podemos esperar, ento, que em indstrias nas quais os ativosproprietrios intangveis sejam importantes haver possibilidade de encon-trar um nmero importante de firmas multinacionais. Igualmente, pasescom infra-estrutura e desenvolvimento tecnolgicos que propiciem a cria-o de vantagens de propriedade tendero a ter um nmero maior de fir-mas com investimentos produtivos no exterior. Por outro lado, firmas semvantagens proprietrias muito sofisticadas no tero incentivos para inter-nalizar mercados e localizar a produo em outros mercados e, assim, de-tero seu processo de internacionalizao na etapa exportadora ou, no m-ximo, realizaro alguns investimentos no exterior para comercializar o pro-duto feito no mercado domstico.

    A teoria ecltica coloca, ento, uma questo importante para a discussoda formao de multinacionais brasileiras. Para produzir no exterior ne-cessrio ter vantagens de propriedade muito significativas, pois sem elas asfalhas de mercado e a existncia de custos de transao no justificariam ainternacionalizao da produo. Por que haveria necessidade de interna-lizar mercados e de integrar a produo para a frente sem ativos especficos

    a proteger?

    2.3. As Multinacionais dos Pases em Desenvolvimento

    Se, de acordo com a teoria ecltica, a existncia de vantagens de proprie-dade (ativos especficos) da firma crucial para a internacionalizao daproduo, quais poderiam ser essas vantagens das firmas nos pases em de-senvolvimento (PED) que permitiriam investir e concorrer em outros pases.

    Chudnovsky e Lopez (1999a) assinalam que existem dois tipos de explica-es para a existncia de firmas multinacionais dos PEDs: por um lado, a

    explicao de tipo microeconmica, que enfatiza a aprendizagem tecnol-gica das firmas, processo que permitiria o desenvolvimento de algumas

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    11 Nesse caso, a firma internaliza para a frente o mercado de exportao , passando aproduzir no mercado de destino e protegendo os direitos de propriedade sobre seus ati-vos especficos (e intangveis) e a qualidade de seus produtos.

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    vantagens proprietrias especficas; e, por outro, a explicao macroeco-nmica, que vincula as etapas de desenvolvimento econmico do pas coma condio de receptor e emissor de investimento estrangeiro direto. O de-senvolvimento econmico de um pas permitiria a expanso das vantagensproprietrias das firmas, mudando gradualmente tanto os setores dentro dopas que emitiriam investimento quanto os pases de destino desse investi-mento (primeiro outros PEDs e, posteriormente, pases desenvolvidos).

    Dentre as explicaes microeconmicas, parece relevante para a experin-cia brasileira a idia12 de que as firmas dos PEDs poderiam desenvolver cer-tas habilidades ou ativos especiais, aprendendo e desenvolvendo a partirde tecnologias difundidas, assim como conhecimentos especiais demarke-tingou habilidades gerenciais. Estas vantagens, mais a capacidade paraadaptar produtos s condies dos PEDs e para operar no ambiente dessespases, permitiriam a algumas firmas dos PEDs internacionalizar sua produ-o, principalmente em outros pases do mesmo nvel de desenvolvimento.Com esse tipo de vantagens proprietrias, seria muito difcil operar nos pa-ses desenvolvidos, a no ser emjoint venturescom firmas de maior capaci-dade tecnolgica, de maneira a poder operar nas mesmas condies dasfirmas locais.

    Cantwell e Tolentino (1990) formularam uma outra justificativa microeco-nmica para a expanso multinacional da firma dos PEDs,13 reconhecendoque muitos deles teriam um estgio tecnolgico mais avanado que a sim-ples adaptao de tecnologias difundidas. A gradual transformao da es-trutura industrial de um conjunto de PEDs teria resultado na expanso decompetncias tecnolgicas genuinamente inovadoras de um nmero im-portante de firmas, atravs de distintas formas de aprendizagem e do pr-prio processo de internacionalizao. Essas vantagens proprietrias permiti-riam s firmas dos PEDs investir no somente em outros PEDs, mas tambmnos pases desenvolvidos e em setores tecnologicamente mais complexos.

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    12 Segundo Chudnovsky e Lopez (1999a), Lall (1983) seria o autor representativo dessa ex-plicao, cujo desenvolvimento analtico seria resultado da experincia da segundaonda de investimento direto dos PEDs, quando as firmas desses pases concentraram in-vestimentos em pases de igual nvel de desenvolvimento.

    13 Essa explicao, segundo Chudnovsky e Lopez (1999a), seria uma racionalizao da ex-perincia mais recente das firmas multinacionais dos PEDs, com investimentos nos pa-ses desenvolvidos e em setores mais complexos,

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    A explicao macroeconmica foi desenvolvida por Dunning (1988) eDunning, Hoesel e Narula (1997). A relao entre investimento direto es-trangeiro (IDE) emitido e recebido em um PED passa por uma srie de eta-pas medida que a economia se desenvolve, em um caminho de desen-volvimento dos investimentos (CDI) que poderia ser caracterizado pelaexistncia de cinco etapas.

    Na primeira etapa do CDI, o pas muito pouco desenvolvido para atrairinvestimento direto e as firmas locais no tm vantagens proprietrias denenhum tipo para poder investir no exterior. Na segunda etapa, um grau

    maior de desenvolvimento possibilita atrair investimento direto, enquantoo desenvolvimento em alguns setores de bens de consumo ou de baixograu de diferenciao de vantagens pas-especficas14 permite a emissode investimento resource e market based em pases vizinhos ou outrosPEDs receptores, que ofereceriam, normalmente, vantagens de localizaocomo resultado da alta proteo.

    Na terceira etapa do processo, se o pas perseguir uma estratgia de relativoisolamento, a emisso do IDE ser pouca, porque o governo estimular oinvestimento domstico, devido aos problemas de balano de pagamentos.Se o pas se inserir mais abertamente na economia mundial, as firmas po-dem continuar desenvolvendo vantagens proprietrias pas-especficas e,tambm, de atividades de inovao.15 Os destinos do investimento conti-nuam sendo os pases vizinhos (ou a regio) e outros PEDs, mas as firmascomeam a ter uma base mais global. H tambm investimentos para pa-ses desenvolvidos em atividades comerciais ou montagem de produtos.

    Na quarta e quinta etapas, as firmas desenvolvem vantagens proprietriasfirma-especficas (tecnologia, capacidade de diferenciao de produto,know-howemmarketinge habilidades gerenciais para organizar a ativida-de multinacional). Os setores emissores de investimento direto seriam maiscapital e conhecimento-intensivos e os pases de destino seriam dependen-tes das estratgias das multinacionais locais.

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    14 Alguns exemplos de vantagens proprietrias pas-especficas na segunda etapa seriam:tecnologia emanagementadaptados ao grau de desenvolvimento e insumos de baixoscustos (includos os gerenciais e tcnicos).

    15 Alguns exemplos de vantagens proprietrias na terceira etapa do CDI seriam: capacida-de de diferenciao de produto, habilidades de marketinge controle sobre o mercadode insumos e produtos.

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    As fases de Dunning, Hoesel e Narula (1997) guardam correspondnciacom as ondas de investimentos das firmas dos PEDs observadas pelos espe-cialistas. Na primeira onda, as vantagens proprietrias eram basicamentepas-especficas, como resultado da adaptao de tecnologias s condiesde alta proteo e mercados reduzidos, o que permitia a essas firmas inves-tir em outros PEDs, tambm fechados, usufruindo as vantagens de localiza-o resultantes da proteo.16

    A segunda onda de investimento dos PEDs j esteve associada com vanta-gens firma-especficas, como resultado do desenvolvimento econmico etecnolgico dos PEDs e pelas prprias polticas de estmulo ao desenvolvi-mento industrial. Esses investimentos se dirigiram tanto aos PEDs como aospases desenvolvidos. Nesse ltimo caso, os investimentos procuravam nos mercados, mas tambm a obteno de ativos especficos (strategic assetseeking) para melhorar os ativos proprietrios.

    Segundo Dunning, Hoesel e Narula (1997), as reformas estruturais tiveramum papel importante para melhorar as vantagens proprietrias e para obrigaras firmas locais a serem competitivas globalmente, o que se tornou possvelcom a liberalizao comercial, pois reduziu seus market-sharesno mercadodomstico, obrigando-as a exportar e a investir no exterior. Mas, dada a debi-

    lidade das firmas dos PEDs uma base de vantagens competitivas deficientesem matria de ativos intangveis , elas devem reforar suas vantagens pro-prietrias, associando-se com detentores de tecnologia, investindo no mer-cado domstico e no exterior e buscando ativos intangveis.

    A anlise das multinacionais nos PEDs mostra que a criao e o desenvolvi-mento de vantagens proprietrias especficas necessrias para justificar oprocesso de investimento no exterior podem se revelar um processo gra-dual, que depende da prpria histria da firma, mas que est muito influ-enciado pelas polticas domsticas, basicamente as polticas educacional etecnolgica, assim como as polticas comercial e de concorrncia. O inves-timento direto no pas pode ajudar a internacionalizao das firmas doms-

    ticas na medida em que contribua para o desenvolvimento de seus ativosproprietrios especficos.

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    16 Com a abertura comercial, as vantagens baseadas na adaptao de tecnologias obsoletasperderam relevncia, porque as firmas devem concorrer com as firmas dos pases desen-volvidos.

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    2.4. Por que as Firmas Brasileiras no Investem Mais noExterior para Apoiar suas Exportaes?

    O grau de investimento no exterior das firmas de um pas est associado aonvel de desenvolvimento desse pas, ao ambiente de estmulo para o de-senvolvimento de ativos proprietrios especficos e s caractersticas da suaoferta domstica.

    Nos modelos comportamentalistas, a internacionalizao produtiva da fir-

    ma o resultado de uma seqncia em que ela reduz incertezas em rela-o ao mercado externo e pode, portanto, comprometer recursos. Na teo-ria ecltica da internacionalizao, o investimento produtivo no exterior re-presenta uma escolha que depende de condies necessrias (existnciade vantagens proprietrias), mas que est condicionada pela existncia deoutras vantagens e do contexto econmico-legal em que a firma est inse-rida.

    O interessante do enfoque da teoria ecltica que coloca em discusso umvasto conjunto de condicionantes da internacionalizao das empresas.No h um destino de investimento predeterminado para a empresa quese inicia como exportadora. Para investir no exterior, o exportador, alm dereduzir incertezas, deve ter condies e ser estimulado pelo contexto eco-nmico-legal nos pases emissor e receptor. Esses estmulos mudam com onvel de desenvolvimento do pas, com o grau de concorrncia no mercadodomstico e com o marco jurdico.

    As polticas tecnolgicas e educacionais domsticas, alm de decisivas parao desenvolvimento de ativos proprietrios firma-especficos, so tambminstrumentos-chave para a internacionalizao produtiva das firmas. Masas polticas comercial e de concorrncia no so menos importantes paracriar incentivos internacionalizao. Por exemplo, em muitos pases, in-cludo o Brasil, as reformas estruturais recentes contriburam para aumentar

    o processo de internacionalizao das firmas ao forar a procura de novosmercados e de novos ativos especficos que permitiriam enfrentar a con-corrncia internacional.17

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    17 Ver, a esse respeito, as concluses de Goulart, Brasil e Arruda (1994) e Rocha (2001) so-bre o papel da liberalizao comercial na internacionalizao das empresas brasileiras.

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    Mas o investimento tipotrade and distributionno requer grandes vanta-gens proprietrias especficas. Por que, ento, as firmas brasileiras exporta-doras apresentam baixos nveis desse tipo de investimento? Sua falta nopode ser atribuda exclusivamente ao baixo grau de desenvolvimento nems falncias da poltica de estmulos inovao tecnolgica de um pas. Nocaso brasileiro, a insuficincia de investimentos no exterior para apoiar ex-portaes parece estar fortemente relacionada a trs razes: a) ao processomacroeconmico, que afetou a taxa de investimento global da economia;b) a algumas caractersticas da exportao; ec) ao baixo coeficiente expor-tao-vendas da maioria dos exportadores brasileiros de manufaturas.

    O desempenho macroeconmico do Brasil afetou fortemente a internacio-nalizao de suas empresas. Em primeiro lugar, o ambiente macroecon-mico interno vivido entre 1980 e 1994 foi altamente instvel, afetando asdecises de exportar e de investir dentro e fora do pas. Os planos de esta-bilizao que se sucederam nesse perodo tinham como caracterstica cen-tral diminuir os incentivos para exportar ao apreciar a taxa de cmbio realou ao ampliar, ainda que temporariamente, o mercado domstico. Todosos planos de estabilizao contraram as quantidades exportadas de manu-faturados e desaceleraram o quantum de semimanufaturados. O PlanoReal combinou de forma expressiva as duas caractersticas dos planos de

    estabilizao anteriores, deprimindo fortemente as exportaes em 1995,mas o sucesso da estabilizao e o ambiente competitivo criado pela libera-lizao comercial mantiveram os incentivos para a conquista e a defesa dosmercados externos.18

    O contexto macroeconmico no s alterou reiteradamente os incentivospara exportar e se internacionalizar, mas tambm reduziu o mercado decapitais e de crdito e gerou uma incerteza muito forte sobre o futuro dospreos relativos. Financiamento e relativa estabilidade de preos relativosso precondies para o investimento. As firmas brasileiras no tiveram es-sas precondies e, portanto, investiram pouco no plano domstico na d-cada de 80 e na primeira metade da de 90. A contrapartida disso foi uma

    magnitude de investimento no exterior pouco expressiva para o tamanhoda economia brasileira.

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    18 A partir de1996e at 1998, os quantuns exportados de todos as classes de produtos vol-taram a crescer a taxas expressivas. No caso de manufaturados, a taxa mdia anual decrescimento doquantumexportado foi de cerca de 6%.

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    Na segunda metade dos anos 90, a estabilizao trouxe a possibilidade detraar um horizonte de mdio prazo para os preos relativos, mas subsisti-ram os problemas de financiamento, pela impossibilidade de criar um mer-cado de financiamento de longo prazo para as empresas. O mercado finan-ceiro internacional foi uma alternativa para as firmas grandes e algumasmdias, mas certamente no foi um recurso possvel para a maioria das m-dias e pequenas. No mercado domstico, os recursos financeiros de longoprazo foram, basicamente, ofertados pelo BNDES, e o mercado de capitaiscontinuou estreito e fechado s firmas mdias e pequenas, o que afetou oprocesso de investimento na economia local e as possibilidades de expan-so no exterior. Apesar de contar com um requisito essencial a estabilida-de , a economia brasileira no conseguiu eliminar uma restrio existenteno processo de investimento, criando mecanismos de poupana de longoprazo que pudessem ser utilizados como funding do processo de ampliaoda capacidade produtiva.

    O segundo fator que dificulta o processo de investimento est relaciona-do com algumas caractersticas da estrutura das exportaes brasileiras,isto , os tipos de produtos exportados, a origem do capital dos exporta-dores nos setores em que so necessrios investimentos e a concentraode destinos.

    Em relao ao tipo de produto exportado, a pauta est concentrada empoucos produtos, muitos deles com caractersticas homogneas, ou seja,sem marcas ou especificidades que demandem instalaes no exterior paracontrolar a qualidade e evitar misrepresentationdo agente comercial/im-portador ou para realizar servios de ps-venda. Normalmente, so vendi-dos a clientes com contratos de longo prazo contendo especificaes dequalidade e preo do produto ou a dealers que atuam no Brasil ou no pasde destino. Essas so as caractersticas de um conjunto muito representati-vo das exportaes brasileiras, formado pelos produtos do complexo soja,caf, acar, fumo, minrio de ferro, alumnio, celulose e pasta e semima-nufaturados de ferro e ao, que em 2000 representava aproximadamente

    30% das exportaes, um grau de participao j significativo, mas quepode ser ainda maior em um momento de recuperao de preos interna-cionais decommoditiesprimrias e industrializadas.

    Os bens de consumo, os bens intermedirios diferenciados (autopeas, la-minados e fundidos de ao, outros produtos metalrgicos) e os bens de ca-

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    pital requerem investimento no exterior para formar redes de servios deps-venda, fornecer peas de reposio ou estar prximos do cliente, como objetivo de adaptar o produto s necessidades do mercado. Como sever na prxima seo, no caso dos bens de capital e dos bens intermedi-rios diferenciados os exportadores avanaram na instalao de unidades detrade and distributionno exterior.

    Com relao aos bens de consumo semidurveis e no-durveis, os produ-tores necessitam de investimentos no exterior se sua estratgia de penetra-o privilegiar a marca e a diferenciao do produto. Se esse no for o caso,normalmente os produtos so vendidos para um atacadista ou uma rede devarejo, que coloca a marca e distribui. Um exemplo dessa ltima alternati-va foram os calados, produto mais representativo da pauta exportadora debens de consumo semidurveis, cujos produtores utilizaram, pelo menosat recentemente, uma estratgia baseada no preo, operando com marcasde terceiros ou de grandes distribuidores. S marginalmente, em mercadoslatino-americanos, os produtores de calados se aventuraram com marcasprprias. Pode-se observar, no entanto, uma mudana de estratgia recen-te, com esforos de utilizar redes de distribuio com marca prpria. A car-ne um outro exemplo da baixa diferenciao dos bens de consumono-durveis.

    Os bens durveis com mais peso na pauta so os automveis, cuja produ-o e comercializao est em mo de firmas multinacionais estrangeiras. Aindstria de autopeas comercializa seus produtos dentro de redes interna-cionais de produo e fornecimento.19 O exemplo de automveis nos levaa uma outra caracterstica que pode ter ajudado a inibir o investimento dosexportadores no exterior: a origem do capital das firmas exportadoras nossetores de bens intermedirios, de bens de capital e de bens de consumo.Uma alta participao de firmas estrangeiras na exportao no estimulainvestimentos no exterior, pois elas utilizam a rede de distribuio e atendi-mento ao cliente das filiais no mercado de destino ou da matriz. Moreira(1999) analisou o desempenho exportador das firmas estrangeirasvis--visas firmas nacionais entre 1995 e 1997.

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    19 Nesse setor estavam os exemplos mais significativos de internacionalizao de produto-res industriais nas dcadas de 80 e 90. Os estudos de internacionalizao da Funcex fo-ram majoritariamente de empresas nacionais desse setor, muitas das quais foram vendi-das para firmas estrangeiras na dcada de 90.

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    A Tabela 2 mostra a participao das firmas com controle estrangeiro no to-tal exportado por setor da Classificao Nacional de Atividades Econmicas(CNAE) do IBGE a dois dgitos. A concluso que se pode extrair que, namaioria dos setores em que preciso investimento no exterior para apoiaras vendas externas, a participao de firmas estrangeiras muito forte. Porexemplo, a participao do capital estrangeiro foi significativa nos setoresprodutores de mquinas e equipamentos, indo de 60% at 80% das expor-taes, e em veculos automotores.

    Alternativamente, nos setores em que a necessidade de investimento noexterior para apoiar as exportaes relativamente menor, a prepondern-cia das firmas brasileiras entre os exportadores nacionais foi maior, comonos casos de trs setores exportadores de commodities industriais: metalur-gia bsica, papel e celulose e alimentos e bebidas.

    Finalmente, existem setores produtores de bens intermedirios diferencia-dos (produtos de metal, de papel e de madeira, minerais no-metlicos eprodutos txteis) e de bens de consumo (vesturio, calados, mveis e ali-mentos) em que haveria necessidade e possibilidade de investimento, por-que tais produtos precisam de investimentos em logstica e servios prxi-mos ao cliente no mercado de destino e porque os exportadores, segundo

    Moreira (1999), foram preponderantemente firmas nacionais.Adicionalmente s caractersticas mencionadas da pauta exportadora (con-centrao, tipo de produto e origem dos exportadores/tipo de produto), adistribuio dos destinos das exportaes de manufaturados, em particular,e das exportaes, em geral, muito concentrada. Os mercados de produ-tos manufaturados eram, at muito pouco tempo, bastante concentradosnos Estados Unidos e na Argentina, o que implica que as firmas manufatu-reiras podem apoiar perfeitamente suas vendas externas concentrandoseus investimentos de comercializao em poucos mercados.

    O terceiro fator condicionante da internacionalizao produtiva o coefi-

    ciente de exportao (exportao/vendas totais). A maioria das firmas in-dustriais exportadoras tem um baixo coeficiente de exportao, mesmopara as que mantm uma atividade contnua ou permanente de vendas ex-ternas. Um baixo coeficiente de exportao pode ser um dos fatores res-ponsveis do no aprofundamento da internacionalizao produtiva, poisvalores relativamente reduzidos de exportaes nas receitas totais no justi-

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    Tabela 2Participao das Empresas Estrangeiras no Total das Exportaes daIndstria de Transformao 1995/97(Em %)

    Setores CNAE 1995 1996 1997 Variao1995/97

    Produtos Txteis 15,2 13,9 20,6 35,0

    Produtos Qumicos 38,9 43,1 43,0 10,5

    Metalurgia Bsica 12,3 12,0 12,5 2,2

    Produtos de Metal 44,3 48,9 49,8 12,4

    Mquinas e Equipamentos 64,5 61,6 65,7 1,8

    Mquinas para Escritrio e Informtica 71,0 82,5 86,0 21,0

    Mquinas, Aparelhos e Materiais Eltricos 78,0 81,8 80,9 3,7

    Material Eletrnico e de Comunicaes 84,8 83,9 80,0 -5,6

    Instrumentos Mdico-Hospitalares, de Preciso e ticos 79,5 86,0 85,3 7,2

    Veculos Automotores 83,1 83,9 85,8 3,3

    Outros Equipamentos de Transporte 26,4 25,0 6,3 -76,3

    Vesturio e Acessrios 19,4 24,4 26,6 36,8

    Couros e Calados 3,3 3,3 3,7 13,3

    Celulose, Papel e Produtos de Papel 14,2 14,8 14,5 2,3

    Editorial e Grfica 5,3 5,8 8,3 57,9

    Mveis e Indstrias Diversas 19,0 22,2 24,6 29,4

    Alimentos e Bebidas 14,7 14,0 22,7 54,3

    Fumo 95,3 95,6 92,2 -3,2

    Produtos de Madeira 10,0 12,5 8,8 -12,8

    Borracha e Plstico 68,6 71,5 71,5 4,1

    Minerais No-Metlicos 22,7 25,7 23,3 2,7

    Mdia Geral 41,5 43,4 43,4 9,5

    Fonte: Moreira (1999, Tabela 13).

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    ficariam grandes investimentos da firma no exterior para apoiar essasvendas nem brindariam estmulos para realizar esforos adicionais para am-pliar e sustentar as vendas ao exterior.

    Markwald (2001) encontrou queda do coeficiente de exportao, medidocomo exportao/receitas lquidas de vendas, em uma amostra representa-tiva de firmas industriais exportadoras20 entre 1992 e 1996 (de 18% para15%), mas identificando uma recuperao parcial que levou o coeficientepara 16,4% em 1998. Houve diferenas importantes de acordo com o por-te das empresas e a freqncia exportadora. As micro e pequenas apresen-taram um crescimento importante do coeficiente entre 1992 e 1998, pas-sando de 9,8% para 20% (micro) e de 8,6% para 14,3% (pequenas). Maselas no so muito representativas dentro das exportaes industriais, poisresponderam por menos de 4% das vendas externas em 1998. As firmasgrandes, que representavam 76% das exportaes e exportavam em mdiaUS$ 33 milhes em 1998, diminuram o coeficiente de exportao de20,1% em 1992 para 15% em 1996, em linha com a estrutura de incentivosgerada pela poltica macroeconmica. Mas a partir desse ano as exporta-es voltaram a crescer dentro das receitas lquidas das empresas grandes,chegando a 17% em 1998. As firmas mdias permaneceram com coefici-entes entre 13,5% e 15% no perodo analisado.

    Os resultados de Markwald (2001) no so muito diferentes quando seanalisam as firmas do ponto de vista da regularidade exportadora. As ex-portadoras permanentes que exportaram em todos os anos da amostra apresentaram coeficientes de exportao entre 18% e 20%, enquanto ascontnuas exportadoras em mais da metade dos anos da amostra mos-tram coeficientes oscilantes, mas que no superam 11% das vendas dessasfirmas.

    Moreira (1999, Tabela 12) encontrou evidncias de que as firmas estrangei-ras tm, em mdia, maior propenso a exportar (coeficiente de exporta-o) em todos os setores da manufatura. Com isso, os coeficientes de ex-

    portao das firmas nacionais tendem a ser, em geral, inferiores mdia emqualquer setor da indstria. Tais evidncias indicam, segundo o autor, que

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    20 A amostra representava 95% das firmas industriais exportadoras em 1998 e em torno de90%na mdia dos cinco anos analisados. A seleo de firmas por porte e freqncia pro-curou reproduzir a mesma distribuio da populao exportadora.

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    justamente as firmas que mais precisam investir para apoiar exportaes as de propriedade total e majoritariamente nacional so as que menoresincentivos tm do ponto de vista do volume relativo de vendas ao exteriorsobre as vendas totais.

    Nunca demais lembrar que baixos coeficientes de exportao so reflexodos incentivos para exportarvis--vispara vender no mercado domstico edo prprio tamanho do mercado domstico. Portanto, mudar o coeficientede exportao significa alterar os incentivos relativos das vendas externas

    sobre as vendas domsticas. O tamanho do mercado continuar sendo umatrativo para as empresas domsticas, fator que constitui uma diferenafundamental das grandes firmas brasileiras em relao s grandes firmaschilenas ou argentinas, por exemplo, que, por seus mercados domsticospequenos, mantm um grau de internacionalizao produtiva relativamen-te maior.

    Em resumo, dada a perspectiva de manuteno do cenrio macroeco-nmico de estabilidade, devemos lembrar que ser preciso mudar doiscomponentes da realidade atual da exportao para aumentar o investi-mento no exterior e, assim, potencializar exportaes: a estrutura dasexportaes (tipo de produtos, concentrao em poucos produtos e

    destinos e origem do capital dos exportadores nos setores em que sonecessrios investimentos) e a importncia relativa das vendas externasnas vendas totais para uma grande maioria de produtores manufaturei-ros brasileiros. Comear a mudar essas caractersticas de nossas exporta-es parece ser precondio de um processo maior e sustentado de in-vestimento no exterior.

    Para mudar as caractersticas da estrutura exportadora, parece fundamentala manuteno da estabilidade macroeconmica, combinada com uma altataxa de cmbio real, pois isso permitir investimentos na produo de co-mercializveis, o que certamente aumentar o volume e a diversificao de

    produtos e de destinos da pauta exportadora. Por sua vez, um maior volu-me de exportaes e a permanncia dessas receitas por unidade expor-tadora, particularmente no caso de firmas nacionais produtoras de bens deconsumo, de bens de capital e de bens intermedirios diferenciados, in-centivar os investimentos em comercializao e a conquista de mercadosexternos.

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    3. A Experincia Brasileira de Investimento Diretono Exterior

    O objetivo desta seo analisar a experincia brasileira de investimentodireto no exterior. Para isso, revisam-se, primeiro, as tendncias agregadasdo investimento no exterior, as diferentes fases e alguns de seus determi-nantes. Depois, apresentam-se os resultados de alguns estudos de casos deempresas que realizaram investimentos fora do pas. Esses estudos nor-malmente procuraram identificar as motivaes para o investimento no ex-

    terior de uma amostra de firmas, assim como as restries e dificuldadesque elas enfrentaram para a realizao desses investimentos. Por ltimo,so analisados os resultados da pesquisa de campo realizada neste estudo,que tinha como objetivo identificar as motivaes e as restries que em-presas enfrentam para o investimento no exterior.

    3.1. As Tendncias do Investimento Brasileiro no Exterior

    Os diversos autores [p. ex., Dias (1994), Goulart, Brasil e Arruda (1994) eLopez (1999)] que analisaram a evoluo e as caractersticas do investi-mento brasileiro no exterior coincidem em que existem diversas fases noprocesso, com diferenas nas especificidades setoriais, nas motivaesestratgicas, nas modalidades de financiamento e nas formas de implemen-tao do investimento. Esses mesmos autores tambm coincidem em vin-cular os determinantes dessas fases ao macrocontexto do pas. Assim, porexemplo, a estabilizao ou o processo de integrao regional (Mercosul)tiveram impactos muito fortes no processo de investimento no exterior.

    A dependncia do contexto macroeconmico parece ser uma caracters-tica dos processos de internacionalizao das empresas da Amrica doSul. Em funo da extrema instabilidade das polticas econmicas e da altavariabilidade dos preos relativos, o macrocontexto podia viabilizar pro-

    jetos, assim como inibir investimentos privados no exterior. Em outrosPEDs, como os asiticos, a internacionalizao esteve muito mais associa-da a variveis da estrutura da economia e das caractersticas das firmas.

    A primeira fase do investimento de empresas brasileiras no exterior, no pe-rodo de meados dos anos 60 ao ano de 1982, foi um processo basicamen-

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    te concentrado na Petrobras, em instituies financeiras e em empresas deconstruo.21

    Os investimentos da Petrobras estavam motivados pela procura de fontesalternativas de fornecimento de petrleo para o pas (resource-seeking). Aexpanso dos investimentos de bancos no exterior, frente das firmas na-cionais, foi considerada chamativa por Guimares (1986), porque normal-mente os bancos seguem, e no precedem, o movimento de investimentono exterior das firmas nacionais produtoras de bens e servios. Segundo suainterpretao, os investimentos de bancos no exterior estavam vinculados

    com as atividades de captao no mercado financeiro internacional e, emmenor medida, com os fluxos de residentes para o exterior. Os investimen-tos das empresas construtoras estavam relacionados ao desenvolvimentode ativos especficos (know-howem grandes obras pblicas), resultantes doprocesso de expanso da construo de obras pblicas, realizado pelo Bra-sil na dcada de 70. As companhias construtoras se inseriram basicamentenos pases produtores de petrleo, aproveitando o surto de investimentopblico neles ocorrido aps as altas do preo internacional do petrleo.

    A implementao de diversos instrumentos (cambiais, fiscais e financeiros)alentou o crescimento e a mudana da composio das exportaes at1980, com o crescimento das vendas de firmas manufatureiras, mas nohouve uma expanso de seus investimentos diretos no exterior. Os poucosque foram efetuados correspondiam aos da Copersucar, do grupo Gerdau,da Gradiente e da Caloi.22

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    21 Segundo Lopez (1999), o investimento no exterior no teve importncia at 1972. Entre1972 e 1976, as cifras oficiais registram um investimento acumulado de US$ 238 mi-lhes, para passar a um acumulado de US$ 863 milhes entre 1977 e 1982. O autor en-fatiza que as cifras oficiais de investimento no exterior, particularmente nos PEDs nosanos 70, subestimavam o valor dos recursos domsticos no exterior. As cifras oficiais in-cluam somente operaes autorizadas e realizadas taxa de cmbio oficial, mas haviaum outro conjunto de operaes realizadas com recursos existentes no exterior e no in-gressados no pas. Por isso, a importncia da Petrobras na poca, que devia registrar suas

    operaes, pode estar superestimada. Os clculos de Guimares (1986) assinalam umestoque de investimento no exterior muito superior ao acumulado das cifras oficiais.22 Segundo Guimares (1986), at 1982 os investimentos estavam concentrados em pou-

    cas firmas e tambm geograficamente. As trs primeiras firmas absorviam 66% dos inves-timentos e as 21 primeiras tinham uma participao de 90% do total investido no exte-rior. Os pases desenvolvidos receberam 64% do investimento, principalmente por cau-sa das decises da Petrobras.

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    Na dcada de 80, a economia brasileira enfrentou srios problemas macro-econmicos, assim como dificuldades com os instrumentos de promoodo comrcio exterior e estagnao da produo industrial. Esse conjuntode fatores reduziu o ritmo de expanso das exportaes de produtos ma-nufaturados, principalmente aps 1986. Embora a manuteno de algunsincentivos para exportar e as altas taxas de cmbio reais tivessem permitidoum crescimento da internacionalizao de muitas firmas domsticas, osproblemas macroeconmicos e as incertezas derivadas da alta inflao ter-minaram reduzindo os incentivos expanso da produo de comerciali-zveis, levando assim diminuio ou postergao dos investimentos, tan-to no mercado local como no exterior.

    No perodo 1983/92, os investimentos diretos no exterior chegaram a tota-lizar US$ 2,5 bilhes, mas concentrados nos ltimos trs anos do perodo.O setor financeiro, segundo dados do Banco Central consignados no traba-lho de Lopez (1999), continuou sendo um investidor importante, com 37%do total investido no perodo, a Petrobras participou com 30% e as empre-sas do setor manufatureiro representaram somente 10%.

    A pesquisa sobre caracterizao do processo de internacionalizao feitapelo BNDES (1995) detectou importantes diferenas nas caractersticas dos

    investimentos nos anos 70. Em primeiro lugar, diferena dos anos 70,quando s grandes empresas com faturamento acima de US$ 500 mi-lhes tinham investimentos no exterior, observou-se uma participaomaior daquelas com faturamento entre US$ 200 milhes e US$ 500 mi-lhes e daquelas com faturamento inferior a US$ 100 milhes. Em segundolugar, o nmero de subsidirias instaladas no exterior aumentou mais rapi-damente do que nos anos anteriores a 1979, especialmente o nmero desubsidirias produtivas. Em terceiro lugar, a pesquisa detectou um fortecrescimento da participao da Amrica do Sul como localizao dos in-vestimentos, chegando a ser a regio com o maior nmero de implantaesde subsidirias na dcada. Finalmente, houve uma diversificao dos seto-res da indstria de transformao com investimentos no exterior, deixando

    de ser um processo concentrado na indstria mecnica e de alimentos paraapresentar implantao de subsidirias em material de transporte, txtil esiderurgia, entre outros gneros da indstria.

    Na primeira metade da dcada de 90, a abertura econmica estimulou umprocesso de reestruturao empresarial e houve, simultaneamente, uma

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    nova fase de internacionalizao exportadora das empresas manufaturei-ras. Segundo Goulart, Brasil e Arruda (1994), as importaes e a concorrn-cia externa foram estmulos para que as firmas manufatureiras se ajustas-sem e passassem a investir e concorrer no mercado internacional, comoforma de enfrentar a concorrncia no mercado domstico das multinacio-nais. A liberalizao comercial reduziu o grau de controle das firmas locaissobre o mercado domstico, levando-as a encarar as exportaes e a pre-sena nos mercados externos como uma estratgia permanente.

    Algumas das caractersticas dos anos 80 detectadas pela pesquisa doBNDES (1995) se acentuaram na primeira metade da dcada de 90, apon-tando para uma diversificao maior em termos de porte de empresas, umaalta concentrao das localizaes no Cone Sul e uma proporo maior deunidades produtivas no total de unidades implementadas no exterior. Emambos os perodos, a construo foi o setor individual com o maior nmerode instalaes de unidades no exterior.

    Comparando os dois perodos, a difuso de investimentos em faixas meno-res de faturamento se aprofundou nos anos 90, com os grupos com vendasinferiores a US$ 500 milhes chegando a participar com 53% dos investi-mentos realizados entre 1990 e 1994. O crescimento do nmero de subsi-

    dirias continuou se acelerando, particularmente de unidades produtivas,o que propiciou que, em 1994, esse tipo de unidade representasse 45% dototal das unidades no exterior, no caso dos grupos do setor industrial daamostra, e 44%, no caso dos grupos do setor servios. A participao daAmrica do Sul na localizao dos investimentos no exterior foi maior quena dcada de 80, chegando a mais de 50% do total investido no perodo.Finalmente, em termos de setores da indstria, material de transporte emecnica foram os gneros com o maior nmero de investimentos e, emambos os casos, com uma forte participao de unidades produtivas no to-tal de unidades implantadas no perodo.

    Em meados da dcada de 90, como resultado da estabilizao macroecon-

    mica, houve uma ampliao significativa do mercado domstico, juntamen-te com uma apreciao da taxa de cmbio real. Esses dois fatores desestimu-laram a expanso internacional das firmas domsticas, particularmente nosdois primeiros anos do programa de estabilizao. Por essa razo, obser-vou-se um menor investimento no exterior na poca, porm as estratgias deinternacionalizao exportadora no foram totalmente revertidas.

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    Aps a interrupo temporria da expanso da internacionalizao, por cau-sa das oportunidades geradas pela estabilizao no mercado domstico, oinvestimento no exterior, na segunda metade da dcada de 90, esteve basi-camente concentrado no Mercosul, como resultado das oportunidadesabertas pelo processo de integrao, movimento que representou umanova fase de expanso da internacionalizao de firmas brasileiras. A des-valorizao do real e a crise recessiva da Argentina reduziram a intensidadedo processo investidor naquele pas por parte das firmas brasileiras.

    Ainda que no tenha sido possvel dispor dos dados do Banco Central sobre

    investimento no exterior para os ltimos anos da dcada de 90, as evidn-cias indicam que o processo investidor foi mais intenso nas empresas pro-dutoras de bens manufaturados, particularmente siderurgia, material detransporte e bens intermedirios. As firmas produtoras de bens intermedi-rios internacionalizaram sua produo como parte de estratgias de inte-grao em redes de produo global, especialmente na indstria de auto-peas. O crescimento das exportaes manufatureiras e as demandas demercados exigentes, como o americano, estimularam a maior presena dasfirmas manufatureiras no exterior.

    3.2. Reviso dos Estudos sobre as Decises deInvestimentos no Exterior das Firmas Brasileiras

    Nesta subseo, so apresentados os resultados de alguns estudos de caso epesquisas sobre firmas investidoras no exterior. O objetivo dessa reviso identificar as motivaes e as restries ou dificuldades para avanar na in-ternacionalizao.

    Alguns desses estudos estiveram motivados pela literatura de administra-o, procurando, portanto, descrever a seqncia gradual para a internacio-nalizao, os modos de entrada (escolha e seqncia dos modos de entra-da) e otimingadotado pelas firmas investidoras, enfatizando, entre outras

    coisas, o papel das diferenas culturais entre as firmas brasileiras e o pas re-ceptor. Quando se parte do marco fornecido pela teoria ecltica de inter-nacionalizao, a identificao das hipteses dessa corrente sempre maisdifcil, pelos problemas para identificar as vantagens proprietrias e as van-tagens de internalizao nas decises de investimento no exterior. O estu-do de casos de Dias (1994), analisado a seguir, pode ser visto como um

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    exemplo de utilizao de algumas ferramentas da teoria ecltica de inter-nacionalizao.

    3.2.1. O Estudo de Dias (1994)

    O trabalho de Dias (1994) analisou uma amostra de 22 empresas seleciona-das entre as 500 maiores do Brasil que realizaram investimentos no exteriorentre 1989 e 1991. A maioria delas era de capital nacional, predominando as

    de controle familiar, mas de administrao profissionalizada.Para a quase tota-lidade desse grupo de empresas, as receitas com as exportaes represen-tavam entre 10% e 20% de sua receita total. Em sua maioria, elas eram forne-cedoras de peas e componentes ou de produtos acabados para grandesconsumidores industriais ou comerciais. Uma outra caracterstica importantedas empresas da amostra era o elevado grau de desenvolvimento tecnolgi-co dentro de tecnologias e produtos de conhecimento disseminado.

    Segundo o estudo, uma das principais razes para o investimento no exteriorera a necessidade de estabelecer parcerias com as empresas compradoras,em funo das mudanas nas relaes ocorridas entre as empresas e os seusfornecedores. Para essa amostra de firmas, a instalao de subsidirias era vis-ta como necessria para oferecer solues a problemas tecnolgicos e de es-pecificao do produto (desenho de novas peas, ajuste da especificao parareduzir defeitos e novas formas logsticas do fornecimento dos insumos).

    Dadas as diferentes caractersticas setoriais das firmas da amostra, seguindoDias (1994), as razes mais especficas para o investimento no exterior fo-ram agrupadas segundo o ramo industrial:

    Indstria de alimentos (Copersucar, Perdigo e Sadia), que no tinhamintenes de estabelecerplantas produtivasno exterior, contentando-secom escritrios comerciais ou acordos de pesquisa e desenvolvimento

    tecnolgico.23A disponibilidade da matria-prima era a motivao prin-

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    23 O caso da Copersucar foi paradigmtico. Em realidade, a empresa instalou-se nos Esta-dos Unidos com o objetivo de processar o gro de caf e fazer caf solvel para venderno mercado americano. O fracasso da estratgia esteve motivado pela falta de amadure-cimento gerencial para esse empreendimento.

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    cipal (vantagem de localizao) para manter as unidades produtivas emterritrio brasileiro.

    Indstrias txtil e de confeces (Artex, Hering, So Paulo Alpargatas eStaroup). O propsito das operaes dessas indstrias no exterior foi ode vender produtos com maior valor agregado e, alm disso, aumentar amargem de lucro, atravs de joint venturesnos pases importadores. Asempresas brasileiras tinham condies de realizar transferncia de tec-nologia gerencial e de produo, residindo nesses aspectos suas vanta-gens especficas.

    Indstria de embalagens (Toga e Itap). A embalagem um produto quedeve ser projetado especificamente para um cliente. Por isso, as plantasdevem se instalar junto a ele. As duas empresas includas no estudo ex-portavam as bobinas de embalagens (matria-prima) do Brasil e termina-vam o produto no exterior.

    Indstria siderrgica e de bens de capital (Grupo Gerdau, Prensas Sch-ler, Fupresa, Weg Motores e Villares). O grupo Gerdau j tinha, nomomento do estudo, usinas no exterior para atender aos mercados re-gionais. As outras empresas da amostra, como normalmente acontececom as produtoras de bens de capital que atingem um estgio exporta-dor avanado, tinham plantas para montagem de peas de grande porte

    e de escritrios para assistncia tcnica. Indstria de autopeas (Cofap, Metal Leve, Sab e Sifco). Os movimen-

    tos de internacionalizao dessas empresas foram originados pelas mu-danas da indstria automobilstica. A estrutura mundial da indstriaconsumidora e a existncia de grandes clientes em mercados externos,que precisam ser atendidos com rapidez e flexibilidade, obrigaram-nas ainstalar unidades no exterior, para apresentar solues tecnolgicas emtempo curto. A vantagem especfica dessas empresas era a capacidadede resposta, em tempo e com um alto padro tecnolgico, s demandasde seus clientes globais.

    Indstria aeronutica (Embraer). O estudo assinala que a Embraer desen-volveu um produto de qualidade internacional e identificou um nicho demercado. A existncia de aeronaves no exterior obrigava a firma a insta-lar unidades de manuteno e reparos.

    A Tabela 3 apresenta um resumo das empresas da amostra, de seus empre-endimentos no exterior e das principais motivaes.

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    Empresa AtividadePrincipal

    Empreendimentos no Exterior

    Caractersticas Localizao Ano Motivaes

    Artex S.A. Roupa de Cama,Mesa, Banho eRoupas

    Escritrio Comercialcom Armazm

    Estados Unidos Expandir exportaesnos Estados Unidos

    GrupoBrasmotor

    Linha Branca deEletrodomsticos

    Empresa Argentina 1990/91 Empresa pertencia Philips holandesacomprada pelaWhirlpool

    Cofap Autopeas,Amortecedores,Anis, Pisto,Blocos e Cabeotesde Motores

    Escritrio comercialFbrica

    Escritrio ComercialFbricaFbrica

    AlemanhaOhio (EstadosUnidos)Uruguai

    ArgentinaPortugal

    19911991

    Assistncia tcnica eps-venda

    Copersucar Alimentos: Acar,Caf e lcool

    Fbr ica Estados Unidos 1976/86 Penetrao demercados de alto valoragregado (caf solvel)

    Embraer Aeronaves de PorteMdio

    Escritrio Comercial

    Escritrio Comercial

    Flrida (EstadosUnidos)Frana

    19791983

    Assistncia tcnica eps-venda

    Fupresa Fundio dePreciso

    Escritrio Comercial eAssistncia Tcnica

    Alemanha 1983 Proximidade comcliente/estoque eInternacionalizao

    Grupo Gerdau Produtos de Ao

    Plano

    Usinas Uruguai, Chile

    Canad eAlemanha

    1981

    1989 e1992

    Sinergia com os

    mercados locais eexportar para osEstados Unidos e a

    sia

    Gradiente Equipamentos deudio e Vdeo

    FbricaFbrica

    MxicoInglaterra

    1973/861979

    Marca e distribuio

    Hering Confeces eMalharia

    FbricaLicenaComercial/Tituraria

    EspanhaArgentinaEstados Unidos

    1988 Para o atendimento decurto prazo

    Itap Matrias Plsticas,Embalagens,Resinas ePigmentos

    TBC Packaging Estados Unidos 1983 Produtos eacabamento deprodutos exportadosdo Brasil

    Metal Leve S.A. Autopeas,Metalurgia,Mquinas e

    Ferramentas

    Assistncia Tcnica

    Grupo de De-senvolvimentoBase de produo

    Reino Unido,Estados Unidos e

    Amrica Latina

    Estados UnidosEstados Unidos

    1985

    1987/891988

    Assistncia tcnica ecomercial, estoque deprodutos acabados

    para os mercadosamericano e europeue descentralizaogeogrfica

    PerdigoAgroindustrial

    AlimentosIndustrializados(Produtos Sunos,Frangos)

    Escritrio Comercial Hamburgo eMadri

    1990/91 Comercializao

    Tabela 3Investimento no Exterior de uma Amostra de Firmas

    (continua)

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    Empresa AtividadePrincipal

    Empreendimentos no Exterior

    Caractersticas Localizao Ano Motivaes

    Prensas Schler Prensas Hidrulicase Mecnicas

    Assistncia Tcnica Estados Unidos 1986 Assistncia tcnica

    Sab Industrial Autopeas Transferncia deTecnologiaFbrica de Juntas(Aquisio)

    AlemanhaArgentinaAlemanha

    19921993

    Penetrar no mercadoalemo e atender aclientesjust-in-time

    Sadia Alimentos EscritriosComerciais

    TquioMiloBuenos Aires

    199119911991

    Acompanhamentomais prximo domercado

    So PauloAlpargatas Confeces,Tecidos e Calados FabricaFbricaComercializao

    AlemanhaEspanhaEstados Unidos

    198919881988

    Flexibilidade noatendimento aocliente e penetrar emsegmentos de maiormargem

    Sharp do Brasil Eletroeletrnica eTelecomunicaes

    Machline ServiosMTB Managementand Technology forBankingSBI International Ltd.

    Portugal

    BudapesteNova York(Estados Unidos)

    1989

    1989

    1985

    Projetos industriais naEuropa Ocidental eidentificao de novasoportunidades naEuropa Central.O escritrio dosEstados Unidosassessora naimportao de partese equipamentos

    Sifco Produtos Forjadose Usinados

    Firmas de Usinagem Estados Unidos 19891991

    Cumprir prazos decontratos

    Staroup S.A. Confeces deJeans FbricaTransferncia deTecnologiaCriao de MarcaPrivatizao deEmpreas da Famlia

    PortugalURSSEstados Unidos

    Hungria

    1989/91 Agregar valor aoproduto e melhorar asmargens de lucro

    Toga EmbalagensFlexveis eSemi-Rgidas

    Escritrio ComercialEscritrioFbrica

    DallasMenphisTennessee

    198419881988

    Comercializao comrede das empresasamericanas

    Vil lares Elevadores,Mquinas eEquipamentos eInformtica

    Assistncia Tcnicae Comercializao

    Argentina,Chile,Colmbia,Estados Unidos,Mxico,Paraguai eUruguai

    Weg Motores Motores Eltricos,

    Bombas e MotoresTrifsicos

    Empresa Comercial

    Escritrio/Assistncia

    Estados Unidos

    Blgica

    1991 Atuar junto aos

    fabricantes demquinas eequipamentos dosEstados Unidos

    Fonte: Dias (1994).

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    3.2.2. A Pesquisa da Fundao Dom Cabral: Brasil, Leonel, Arruda eGoulart (1996)

    Com ajuda de informaes jornalsticas e do banco de dados da prpriaFundao Dom Cabral, os pesquisadores detectaram que, entre 1990 e1994, 150 empresas brasileiras tinham realizado algum tipo de investimen-to produtivo ou instalado escritrios ou depsitos no exterior. O nmerototal de empreendimentos foi de 285, distribudos da seguinte maneira:112 na Amrica Latina, 80 nos Estados Unidos, Mxico e Canad, 68 na

    Europa e 25 na sia.

    A amostra utilizada para a pesquisa foi integrada por essas empresas e maisalgumas com antigos investimentos no exterior, totalizando 160. O nmerode respostas foi de 57, e a pesquisa estava interessada em identificar fatoresdeterminantes da internacionalizao, os principais obstculos e o papeldos condicionantes culturais e da prpria histria da organizao, na linhadas preocupaes dos modelos comportamentalistas.

    Os fatores determinantes da expanso, listados por ordem de importncia,se encontram na Tabela 4. Tal como nos estudos de caso de Dias (1994), a

    razo principal foi a necessidade de estar prximo ao cliente, para ajustar aespecificao do produto, melhorar a logstica de fornecimento ou brindarservios de assistncia tcnica.

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    Tabela 4Fatores Determinantes para a Expanso Internacional

    1 Necessidade de estar prximo ao cliente

    2 Conquista de novos mercados

    3 Acesso tecnologia

    4 Estar presente em blocos regionais

    5 Fontes internacionais de financiamento

    6 Ultrapassar barreiras protecionistas7 Ajustar-se s regulamentaes do mercado local

    8 Acesso rede de fornecedores

    9 Reao ao comportamento da concorrncia

    Fonte: Brasilet alii(1996).

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    Segundo os autores, esses fatores determinantes esto condicionados adois aspectos, que podem ajudar ou retardar a internacionalizao das em-presas: o papel da liderana na organizao e o estabelecimento de alian-as e parcerias para conquistar o mercado externo.24Assim, no caso do pa-pel das lideranas, a menor distncia cultural em relao Europa de al-guns executivos devido s origens pessoais e familiares facilitou ainternacionalizao naquele continente (Staroup, Weg, Mangels). Em relaos alianas e parcerias, os autores identificaram que as alianas foram centraispara o acesso tecnologia, o conhecimento de mercado, o perfil da concor-

    rncia e a superao de barreiras culturais. Procurar colaborao para enfren-tar a concorrncia foi muito importante nos casos das empresas Metal Leve,Freios Varga, Biobrs, Andrade Gutierrez, Cofap e Oxford. As parcerias tam-bm foram fundamentais para o acesso tecnologia de produto e processo,como no caso da Weg e da Usiminas. Os autores entendem que uma lideran-a mais internacionalizada positiva para facilitar e estimular as alianas.

    Em relao aos obstculos, a amostra tinha restries para detect-los cor-retamente, porque estava concentrada em empresas j internacionaliza-das. Apesar disso, a pesquisa identificou que o maior obstculo para as em-presas foi de carter interno, relacionado a aspectos burocrticos e de legis-

    lao no Brasil.25

    O segundo aspecto por ordem de importncia foi a ques-to do financiamento, pelas dificuldades encontradas no acesso s fontesde financiamento internacionais. Questes legais e culturais foram outrosdois fatores importantes. Segundo os autores, as diferenas jurdicas po-dem obrigar a mudar os tipos de contratos e a prtica legal das firmas, en-quanto as diferenas culturais podem produzir importantes prejuzos paraas empresas que no estiverem atentas a esse aspecto.

    As maiores dificuldades na gesto de negcios internacionais foram locali-zadas no acesso informao. A identificao de parceiros, a carncia derecursos financeiros e o desconhecimento de prticas de negcios em ou-tros pases foram os outros fatores assinalados.

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    24 A identificao desses aspectos condicionantes foi resultado dos estudos de caso feitospelos autores durante o projeto, que continuaram uma linha de pesquisa feita anterior-mente com Carvalho Junior na Funcex Srie de Empresas e Negcios Internacionais.

    25 A pesquisa foi feita sobre experincias em um perodo de importantes restries s sa-das de divisas.

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    3.2.3. A Pesquisa do BNDES (1995)

    O estudo do BNDES foi realizado com as respostas de 30 grandes gruposeconmicos nacionais. Ao mesmo tempo, a rea de Planejamento do Ban-co consolidou as repostas juntamente com informaes econmicas, ela-borando um cadastro de grupos econmicos privados brasileiros com sub-sidirias no exterior. Os 30 grupos informantes da pesquisa instalaram 101subsidirias no exterior em um perodo que vai desde comeos da dcadade 70 at 1994. As subsidirias da amostra estavam concentradas nos seto-

    res de mecnica, material de transporte e construo. Tal como nos dois es-tudos anteriores, tambm foi identificado que o investimento no exteriorpressupe uma expanso anterior das exportaes. Assim, as empresascom coeficiente exportao/faturamento baixo (< 10%) tinham uma pro-poro pequena (21%) das subsidirias no exterior.

    Um outro elemento que se tentou identificar foi a forma de implantaodas subsidirias produtivas da indstria. De acordo com os modelos com-portamentalistas, que enfatizam a reduo gradual das distncias com omercado estrangeiro, a maioria das subsidirias produtivas implantadas(63%) foi resultado de compras ou de associao com firmas existentes, oque permite aproximar a firma investidora da realidade cultural e organiza-

    cional do pas receptor. Mas essa atitude das firmas tambm pode ser en-tendida pelo enfoque dos custos de transao. A compra ou associaopermite obter as vantagens proprietrias da firma existente (tecnolgicas ouresultantes de adaptao de processos ou produtos) e reduzir os custos detransao da implementao no novo mercado.