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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA RISCOS AMBIENTAIS E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA: O CASO DA DEPLEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS EM BARREIRAS, BA Tiago de Almeida Moreira Orientadora: Prof a Dr a Waleska Valença Manyari Brasília - DF: Abril / 2013

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

RISCOS AMBIENTAIS E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA:

O CASO DA DEPLEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

EM BARREIRAS, BA

Tiago de Almeida Moreira

Orientadora: Profa Dr

a Waleska Valença Manyari

Brasília - DF: Abril / 2013

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Tiago de Almeida Moreira

RISCOS AMBIENTAIS E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA:

O CASO DA DEPLEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

EM BARREIRAS, BA

Orientadora: Profa Dr

a Waleska Valença Manyari

Brasília - DF: Abril / 2013

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Departamento de Geografia da Universidade

de Brasília - Programa de Pós-Graduação em

Geografia, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre

em Geografia com ênfase em Gestão

Ambiental e Territorial.

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End.: Rua Beira Rio, no 85 A, Barreirinhas, Barreiras - BA, CEP: 47.809-999 - Brasil

Email: [email protected]

TERMO DE APROVAÇÃO

TIAGO DE ALMEIDA MOREIRA

RISCOS AMBIENTAIS E MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA:

O CASO DA DEPLEÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

EM BARREIRAS, BA

Dissertação aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Geografia,

Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília, pela seguinte banca examinadora:

Orientadora: Profa Dr

a Waleska Valença Maniary

Depto de Geografia, UnB.

Membro Externo: Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Latuf

Depto de Geografia, ICADS/UFBA

Membro Interno: Profa Dr

a Nelba Azevedo Penna

Depto de Geografia, UnB.

Membro Interno - Suplente: Prof. Dr.

Depto de Geografia, UnB.

Brasília, 02 de abril de 2013.

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FICHA CATALOGRÁFICA

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

MOREIRA, Tiago de Almeida. Riscos ambientais e modernização agrícola: o caso da

depleção dos recursos hídricos em Barreiras, BA. (Dissertação de Mestrado), publicação

GEA/IH Departamento de Geografia, Universidade de Brasília, Brasília - DF, 2013. 103 p.

CESSÃO DE DIREITOS

NOME DO AUTOR: Tiago de Almeida Moreira

TÍTULO DA DISSERTAÇÃO: “Riscos ambientais e modernização agrícola: o caso da

depleção dos recursos hídricos em Barreiras, BA”.

GRAU/ANO: Mestre - 2013.

É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta dissertação

de mestrado, para emprestar ou vender tais cópias, somente para propósitos acadêmicos ou

científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação

pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.

________________________

Tiago de Almeida Moreira

MOREIRA, Tiago de Almeida. Riscos ambientais e modernização agrícola: o caso da

depleção dos recursos hídricos em Barreiras, BA. 103 p. (UnB - GEA, Mestrado em

Geografia, Gestão Ambiental e Territorial, 2013).

Dissertação de Mestrado - Universidade de Brasília. Departamento de Geografia.

1. Gestão Ambiental. 2. Recursos Hídricos.

3. Modernização Agrícola. 4. Oeste Baiano.

I. GEA/IH/UNB II.Título (Série).

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A minha mãe Iêda Marques e minha irmã Ciana Sagrilo,

presentes em todos os momentos da minha caminhada.

Por sempre acreditarem nos meus sonhos!

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AGRADECIMENTOS

À cooperação de várias pessoas, coletivos de pessoas e instituições, que direta ou

indiretamente foram de fundamental importância na realização deste trabalho, a todos (as)

estes (as) eu devo o meu sincero agradecimento:

Devo agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -

CAPES, pois sem o apoio financeiro da bolsa concedida por esta instituição esta pesquisa não

teria sido possível.

Agradeço também à Universidade de Brasília, em particular aos membros da Pós-

Graduação em Geografia, coordenação e funcionários por todo o apoio logístico.

Muito obrigado a minha orientadora, Profa. Dra. Waleska Manyari, pelo suporte

teórico e metodológico essencial à boa condução da pesquisa, e à paciência com a minha

ansiedade.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia que muito contribuíram

com minha formação e com os devidos ajustes na pesquisa, em especial aos professores Drs.

Rafael Sanzio e Neio Campos, e às professoras Dras

Lúcia Cony, Marília Steinberger e

Marília Luiza Peluso.

Aos meus colegas de turma de mestrado, pelo companheirismo e profícua relação

acadêmica, em especial a Priscila Gonçalves, pela amizade e pelas caronas, a Jaqueline

Schlindwein, Nina Puglia e Guilherme Carvalho, pela união nas horas mais necessárias, e a

todos os demais.

Agradeço também às minhas colegas de convívio na República do Apertado: Jana,

Lila e Ninha, pelos ótimos momentos que passamos juntos ...

O meu agradecimento mais especial vai para a minha família, a minha mãe Iêda

Marques e a minha irmã Ciana Sagrilo, por tudo, sem o apoio de vocês nada disto tería sido

possível, a meu tio Chicão, pelo suporte no trabalho de campo, a meu irmão Daniel Moreira, a

sua mãe Selma Irene Antonio e a sua avó Dona Noete, pela acolhida sempre calorosa. E a

todos e todas que não foram citados (as) aqui, mas que jamais serão esquecidos.

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RESUMO

Esta dissertação analisou os processos da modernização agrícola e do crescimento

populacional em Barreiras - BA sobre os recursos hídricos do rio Grande. Estes dois

processos vem ocorrendo em Barreiras desde 1980, e têm gerado uma demanda crescente de

recursos hídricos. Foi analisada a produção agrícola e pecuária no município, bem como o

crescimento urbano, que se consolidaram nos últimos trinta anos. Ao mesmo tempo, foi feita

uma análise das vazões do rio Grande entre 1934 e 2012, estabelecendo-se uma periodização

com dois recortes de tempo, um primeiro período entre 1934 e 1979, que precede a

modernização agrícola e o crescimento urbano, e um segundo período, entre 1980 e 2012. Foi

constatado que a vazão do rio Grande vêm sendo reduzida desde 1980 até os dias atuais, e os

órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos em Barreiras, não vem tomando as

devidas medidas para se evitar que se intensifique o risco ambiental quanto à disponibilidade

hídrica do rio Grande a médio ou longo prazo.

Palavras-chave: Gestão Ambiental; Recursos Hídricos; Modernização Agrícola; Oeste

Baiano.

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ABSTRACT

This master thesis analysed the processes by the agricultural modernization and the

populational growth in Barreiras - BA above the water resources by the rio Grande. These two

processes have been occurring in Barreiras since 1980, and are engendering a crescent lawsuit

by hydric resources. Was analysed the agricultural and cattle breeding production in

Barreiras, also the urban growth, that was consolidated between the last thirty years. At the

same time was analysated the flows by the rio Grande between 1934 and 2012, establishing

two periods of time, the first between 1934 and 1979, that precedes the agricultural

modernization, and the second period, between 1980 and 2012. Was verified that the flow of

the rio Grande are being reduced since 1980 until now, and the agencies responsible by the

management by the water resources in Barreiras, are not making actions to avoid the

occurring of an environmental risk related to the hydric availability by the rio Grande in

medium or long term.

Key-words: Enviromental Management; Water Resources; Agricultural Modernization; West

of Bahia.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE QUADROS

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

1. INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVOS

1.2 MÉTODOS E MATERIAIS

1.3 O RISCO AMBIENTAL AOS RECURSOS HÍDRICOS E A MODERNIZAÇÃO

AGRÍCOLA

2. AVANÇO DA FRONTEIRA ECONÔMICA NO BRASIL

3. O OESTE BAIANO E SEU RECENTE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

3.1 ÁREA DE ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO

3.2 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO

3.3 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÍCOLA NO MUNICÍPIO DE BARREIRAS

3.3.1 A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA

3.3.2 A EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA

3.4 CRESCIMENTO POPULACIONAL DE BARREIRAS E NOVA POSIÇÃO NA REDE

URBANA

4. IMPLICAÇÕES DA MODERNIZAÇÃO REGIONAL SOBRE OS RECURSOS

HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE BARREIRAS

4.1 ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO DAS VAZÕES MÉDIAS DO RIO GRANDE

4.2 ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO DAS VAZÕES MÁXIMAS DO RIO

GRANDE

4.3 ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO DAS VAZÕES MÍNIMAS DO RIO

GRANDE

4.4 RISCOS QUANTO AO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS EM BARREIRAS

5. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

6. CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 3.1 - Bacia do rio Grande no contexto estadual e regional..................................... 22

FIGURA 3.2 - Localização da cidade de Barreiras em relação município e ao Estado ......... 23

FIGURA 3.3 - Geomorfologia do município de Barreiras ..................................................... 24

FIGURA 3.4 - Pedologia do município de Barreiras ............................................................. 25

FIGURA 3.5 - Pluviometria do município de Barreiras ......................................................... 26

FIGURA 3.6 - Localização do rio Grande na cidade de Barreiras ........................................ 27

FIGURA 3.7 - Região Oeste (CAR) ....................................................................................... 28

FIGURA 3.8 - Região Oeste (IBGE) ...................................................................................... 28

FIGURA 3.9 - Estado do São Francisco ................................................................................. 30

FIGURA 3.10 - T.I. do Oeste Baiano ..................................................................................... 30

FIGURA 3.11 - Desmembramento de Luis Eduardo Magalhães do município de Barreiras . 31

FIGURA 3.12 - Uso e cobertura das terras no Oeste da Bahia - 1985 e 2000 ........................ 33

FIGURA 3.13 - Hidrografia e pivôs centrais no Oeste baiano em 1993 ................................ 34

FIGURA 3.14 - Região de Planejamento e Gestão das Águas do Rio Grande - RPGA XXI

....................36

FIGURA 3.15 - Expansão do uso do solo em Barreiras - BA entre 1988 e 2008 .................. 37

FIGURA 3.16 - Histórico da produção de soja em Barreiras - BA entre 1990 e 2010 ...................... 40

FIGURA 3.17 - Histórico da produção de algodão e milho em Barreiras e L.E.M. - BA de

1990 a 2010 ................. 41

FIGURA 3.18 - Histórico da produção de arroz, feijão e mandioca em Barreiras, 1990 a 2010

.................. 44

FIGURA 3.19 - Efetivo do rebanho bovino em Barreiras - 1974 a 2010 ............................... 45

FIGURA 3.20 - Efetivos dos rebanhos em Barreiras - 1974 a 2010 ...................................... 46

FIGURA 3.21 - Crescimento da população total em Barreiras 1970 a 2010 .......................... 49

FIGURA 3.22 - Crescimento da população urbana e rural de Barreiras - 1970 a 2010 ......... 50

FIGURA 3.23 - Estimativa da evolução da média diária de consumo urbano de água na cidade

de Barreiras - BA entre 1970 e 2010 ....................................................................................... 51

FIGURA 3.24 - Barreiras e sua rede de influências na região Oeste da Bahia ..................... 53

FIGURA 3.25 - PIB em Barreiras por setor produtivo (Mil reais) ......................................... 54

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FIGURA 4.1 - Alto e médio rio Grande, bacia do rio de Ondas e localização de

Barreiras......... 60

FIGURA 4.2: Fluviograma das vazões médias anuais na Estação Barreiras - 46550000

................. 62

FIGURA 4.3 - Vazões médias mensais médias na Estação Barreiras - 46550000 ................ 63

FIGURA 4.4 - Vazões médias mensais máximas na Estação Barreiras - 46550000 ............. 64

FIGURA 4.5 - Vazões médias mensais mínimas na Estação Barreiras - 46550000 .............. 66

FIGURA 4.6 - Lagoa de tratamento de esgoto no bairro Vila Brasil ..................................... 70

FIGURA 5.1 - Distribuição das vazões de retirada e consumo para diferentes usos ............. 81

FIGURA 5.2 - Expansão da irrigação no Brasil ..................................................................... 81

FIGURA 5.3 - Área irrigada por Região Hidrográfica ........................................................... 83

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LISTA DE TABELAS

TABELA 5.1 - Funções gerenciais na gestão das águas ......................................................... 75

TABELA 5.2 - Modelos de gestão das águas ......................................................................... 77

TABELA 5.3 - Instrumentos, objetivos e órgãos de gestão das águas ................................... 79

TABELA 5.4 - Instrumentos de gestão da oferta e demanda das águas ................................. 80

TABELA 5.5 - Área irrigada por Regiões Geográficas - 2006 .............................................. 82

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 3.1 - Estimativa do consumo de água pelos rebanhos em Barreiras - 2010 .......... 47

QUADRO 4.1- Demandas hídricas por uso consuntivo na bacia do rio Grande - 2000 ........ 55

QUADRO 4.2 - Prognóstico do crescimento da irrigação na bacia do rio Grande - 2000 a

2020 ......................................................................................................................................... 56

QUADRO 4.3 - Prognóstico dos saldos hídricos da irrigação na bacia do rio Grande - 2000 a

2020 ......................................................................................................................................... 56

QUADRO 4.4 - Indicadores de sustentabilidade hídrica para a bacia do rio Grande - 2000

................... 57

QUADRO 4.5 - Valores brutos das vazões médias na Estação Barreiras - 46550000 ........... 64

QUADRO 4.6 - Valores brutos das vazões máximas na Estação Barreiras - 46550000 ........ 65

QUADRO 4.7 - Valores brutos das vazões mínimas na Estação Barreiras - 46550000 ......... 66

QUADRO 4.8 - Vazão igualada ou excedida no rio Grande em “x” por cento entre 1934 e

2012 (m3/s) .............................................................................................................................. 67

QUADRO 4.9 - Variabilidade na vazão do rio Grande em “x” por cento entre 1934 e 2012

(m3/s) ....................................................................................................................................... 68

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRH Associação Brasileira de Recursos Hídricos

AIBA Associação de Irrigantes e Agricultores da Bahia

ANA Agência Nacional das Águas

APA Área de Proteção Ambiental

APP Área de Preservação Permanente

CAR Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional

CEMIG Centrais Elétricas de Minas Gerais

CERB Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia

CERHs Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal

CHESF Companhia Hidroelétrica do São Francisco

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CORESAB Comissão de Regulação dos Serviços Públicos de Saneamento Básico

do Estado da Bahia

CPE Centro de Pesquisas e Estudos

CRA Centro de Recursos Ambientais

DERBA Departamento de Estradas e Rodagens do Estado da Bahia

DDF Diretoria de Desenvolvimento Florestal

DF Distrito Federal

DNAE Departamento Nacional de Águas e Energia

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra a Seca

DNPM Departamento Nacional da Produção Mineral

EBDA Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EMBASA Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A.

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FUNAI Fundação Nacional do Índio

Ha Hectare

IAS Índice de Ativação das Águas Subterrâneas

IAPc Índice de Ativação das Potencialidades Corrigidas

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICV Índice de Condições de Vida

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IEA Instituto de Economia Agrícola

INEMA Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos

INGÁ Instituto de Gestão das Águas e Clima - BA

IUP Índice de Utilização das Potencialidades

L Litro

L.E.M. Luis Eduardo Magalhães

MMA Ministério do Meio Ambiente

MME Ministério de Minas e Energia

MW Megawatt

Kg Quilograma

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km Quilometro

PCH Pequena Central Hidroelétrica

PDRH Plano Diretor de Recursos Hídricos

PDU Plano Diretor Urbano

pH Potencial Hidrogeniônico

PIB Produto Interno Bruto

POLOCENTRO Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos

PRH Plano de Recursos Hídricos

PRODECER Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

PUP Princípio Usuário-Pagador

REGIC Regiões de Influência das Cidades

RH Região Hidrográfica

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

RPGA Região de Planejamento e Gestão das Águas

SEAGRI Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia

SECPLAN-BA Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia

SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia

SEMMAS Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de

Barreiras - BA

SIDRA Sistema IBGE de Recuperação Automática

SIG-BA Sistema de Informações Geográficas da Bahia

SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

SNIRH Sistema Nacional de Informações de Recursos Hídricos

SNRH Sistema Nacional de Recursos Hídricos

SISCO Sistema de Controle de Outorgas

SISGEO Sistema de Informações Georreferenciadas de Outorgas

SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

SQAO Sistema Quali-quantitativo de Outorgas

SRH Superintendência de Recursos Hídricos

T Tonelada

T.I. Território de Identidade

UnB Universidade de Brasília

UPH Unidade de Planejamento Hidrográfico

ZEE Zoneamento Ecológico-Econômico

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1

1. INTRODUÇÃO

Os dois últimos séculos foram pautados por uma acelerada evolução tecnológica. O

homem tem desenvolvido neste período técnicas e máquinas que potencializam sobremaneira

a produção de bens e serviços, em escalas distintas e setores produtivos variados. Ao passo

que se potencializa a produção, amplia-se a demanda por recursos naturais, e

consequentemente, ampliam-se também os efeitos desestabilizantes sobre esses recursos, que

a médio ou longo prazo tendem a comprometer a sua disponibilidade, tanto em qualidade

como em quantidade, sobretudo no que se refere aos recursos hídricos.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que se intensificam as demandas, os usos e seus

possíveis efeitos, disseminam-se também estudos, pesquisas e discussões a respeito de

modelos de uso e gestão dos recursos naturais baseados em parâmetros racionais. Tais

questões mobilizam diversas dimensões de análise, já que o uso e gestão dos recursos

envolvem fatores diversos: históricos, culturais, políticos, econômicos e outros. Neste

contexto, sociedade e ambiente natural não estão dissociados, mas dialeticamente imbricados,

uma vez que os possíveis desequilíbrios nos sistemas naturais terão rebatimentos diretos e

indiretos sobre a qualidade de vida das pessoas.

O Estado da Bahia possui uma rede hidrográfica relativamente densa, sendo cortado

pelo rio São Francisco e seus diversos afluentes, porém esta rede não é muito bem distribuída

no território estadual. Todo o Semiárido baiano tem menor quantidade de rios e menos

volume de recursos hídricos que o Oeste do estado, o qual por sua vez, possui uma densa e

bem distribuída rede hidrográfica. Esta abundância de rios, associada a vastas áreas de relevo

de planaltos, tem propiciado nos últimos trinta anos uma crescente produção agrícola para a

região, e atrelado a este processo também tem ocorrido um expressivo crescimento urbano no

Oeste Baiano.

A partir da década de 1980 iniciou-se a intensificação da expansão agrícola no Oeste da

Bahia, cuja produção destina-se ao mercado externo, sobretudo com a chegada de imigrantes

sulistas - gaúchos e paranaenses, bem como de alguns grupos estrangeiros, sobretudo

japoneses e alemães. Os cultivos de soja, algodão e milho expandiram-se pelo cerrado baiano,

com a difusão do uso de irrigação por pivô central e do sistema de plantio direto, dos insumos

e maquinários agrícolas, das linhas de crédito para os médios e grandes produtores, além do

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2

estabelecimento de empresas de comércio e serviços voltados ao setor agrícola nas cidades da

região.

Os recursos hídricos têm sofrido uma expressiva demanda no Oeste da Bahia face ao

desenvolvimento da região, uma vez que o uso múltiplo destes recursos está atrelado a setores

distintos: uso agropecuário, urbano, industrial, hidrelétrico e outros. Estas necessidades e

interesses distintos têm influenciado em diferentes formas de intervenção e mudanças nos rios

da região sob diversos aspectos. Neste sentido, há que se buscar modelos de uso e gestão das

águas embasados nos princípios de sustentabilidade, normatizados e gerenciados pelo poder

público com ampla participação popular.

A expressiva expansão agrícola na região e o crescimento urbano acelerado da cidade

de Barreiras têm tido consequências notáveis na dinâmica dos rios. Indicadores mostram que

ações inadequadas em relação ao uso e gestão dos recursos hídricos em Barreiras, ao longo

dos últimos 30 anos, têm tido efeitos negativos no rio Grande, principal afluente do São

Francisco. Frente a este cenário, a presente pesquisa buscou analisar quais as consequências

da expansão agrícola no Oeste baiano e do crescimento urbano em Barreiras sobre o rio

Grande, buscando relacionar a demanda pelo uso e a gestão dos recursos hídricos.

1.1 OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa foi analisar possíveis riscos ambientais a que o Rio

Grande, em Barreiras, está sujeito frente ao modelo de desenvolvimento da agricultura

levado a termo no Oeste da Bahia.

A pesquisa possui ainda três objetivos específicos:

1. analisar o aumento da demanda de uso de água em Barreiras associado à expansão

agrícola e ao crescimento populacional;

2. avaliar o crescimento agrícola frente à capacidade do sistema hídrico;

3. verificar se o atual sistema estadual de gestão de recursos hídricos no município de

Barreiras atende aos critérios de sustentabilidade e conservação ambiental.

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3

1.2 MÉTODOS E MATERIAIS

O trabalho de pesquisa foi subdividido em cinco etapas:

- Revisão bibliográfica sobre os temas riscos ambientais e evolução da política de gestão de

recursos hídricos.

- Obtenção de dados sobre a produção agrícola e o crescimento urbano de Barreiras, através

de acesso às bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, bem

como da obtenção de dados das vazões do rio Grande de 1934 a 2012, obtidos no sistema

HidroWeb da Agência Nacional das Águas - ANA, para a Estação Barreiras (46550000). A

partir deste conjunto de dados foi aplicado tratamento estatístico para a elaboração de gráficos

sobre a evolução agrícola e o crescimento populacional em Barreiras, assim como da

elaboração de cálculos de vazões e variabilidades dos dados hidrográficos do rio Grande em

Barreiras. Foram feitos cálculos de vazões médias anuais, vazões médias mensais máximas,

médias e mínimas, além de cálculos de médias para dois períodos, 1934 a 1979, anterior à

expansão agrícola, e 1980 a 2012, período da expansão agrícola, comparando-se a dinâmica

hídrica entre estes dois períodos.

- Visita às entidades ligadas à gestão de recursos hídricos em Barreiras, para a obtenção

informações sobre a gestão dos recursos hídricos do rio Grande: Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; Instituto do Meio Ambiente e

Recursos Hídricos - INEMA; Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A. - EMBASA;

Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Barreiras-BA - SEMMAS;

Associação de Irrigantes e Agricultores da Bahia - AIBA e a Associação Socioambiental

Agência 10 Envolvimento. Em cada uma destas entidades foram realizadas entrevistas semi-

estruturadas com os quadros técnicos de cada instituição, a fim de se obter informações sobre

a atuação de cada uma destas no sistema de gestão de recursos hídricos no Oeste da Bahia.

Foram obtidos também alguns materiais produzidos por algumas destas entidades, trabalhos

estes que serão discutidos ao longo da dissertação.

- Realização quatro saídas de campo, duas no período chuvoso e duas no período seco, ao

longo do ano 2011, para coleta de dados sobre a gestão de recursos hídricos na cidade de

Barreiras. Foram visitadas três das cinco lagoas de tratamento de esgoto no perímetro urbano,

nos bairros Vila Brasil, Bela Vista e Antonio Geraldo, além de cinco bairros localizados às

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margens do rio Grande, os três já citados e os bairros da Barreirinhas e Centro Histórico.

Nestes locais foi feito registro fotográfico e relatório de campo, analisando a atual gestão do

esgoto na cidade e as condições de vida em nestes bairros às margens do rio Grande,

analisando os riscos de inundação nas cheias e disseminação de doenças pela via hídrica a que

alguns destes locais estão sujeitos.

- A última etapa foi de elaboração de mapas e gráficos, a partir do Sistema de Informações

Geográficas da Bahia, elaborado pela extinta Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia

- SIG-BA SRH (2007). Estes dados foram obtidos e organizados pela SRH a partir do sensor

Landsat 5, em formato Shapefile, Datum Córrego Alegre em Projeção UTM, Escala original

de 1:1.000.000. Nesta etapa foi feita a consolidação e análise dos dados e informações obtidos

e produzidos ao longo da pesquisa para elaboração da redação final da dissertação.

Os materiais utilizados na pesquisa estão divididos em duas categorias: uma dos

materiais textuais e gráficos utilizados na revisão bibliográfica (livros, artigos, mapas,

imagens de satélites e fotografias), e a outra dos materiais e equipamentos utilizados no

trabalho de campo (caderneta de campo e câmera fotográfica). Além destes, também foi

utilizado o software ArcView GIS 3.0 para a elaboração de mapas e o software Excel 2007

para o tratamento estatístico dos dados da produção agrícola, do crescimento populacional em

Barreiras, e dos dados das vazões do Rio Grande em Barreiras para a elaboração de gráficos.

1.3 O RISCO AMBIENTAL AOS RECURSOS HÍDRICOS E A MODERNIZAÇÃO

AGRÍCOLA

O modo capitalista de produção envolve múltiplas demandas de uso de recursos

naturais, e os diferentes tipos de usos desses recursos envolvem sistemas de gestão ambiental,

que visam normatizar e fiscalizar diferentes tipos de uso frente aos possíveis riscos ambientais

que esses usos possam acarretar. Os estudos atuais sobre os usos de recursos naturais e sobre

gestão ambiental dão ênfase à identificação e análise de possíveis riscos ambientais a que um

determinado recurso, ou um sistema de recursos naturais possam estar sujeitos. Como

informam Marandola Jr. e Hogan (2004), os estudos de risco ambiental envolvem múltiplas

tendências e diversos tipos de abordagens.

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Antes de se discutir a questão da análise de risco ambiental é preciso, neste primeiro

momento, definir o risco ambiental, a este respeito existe uma grande diversidade de trabalhos

e abordagens sobre o conceito de risco, aqui será utilizada uma definição apresentada por

Dagnino e Carpi Jr. (2007). Os autores afirmam que:

Admitindo a probabilidade como mecanismo de funcionamento do

risco, partimos em direção a uma classificação. Poderíamos dizer que

o risco se apresenta em situações ou áreas em que existe a

probabilidade, susceptibilidade, vulnerabilidade, acaso ou azar de

ocorrer algum tipo de ameaça, perigo, problema, impacto ou desastre.

(...) O risco é sempre um objeto social. Seja quando uma comunidade

ou um indivíduo específico são atingidos, vivenciam ou sofrem um

risco natural ou telúrico (...) o homem é o centro do nosso interesse.

(DAGNINO E CARPI, 2007, p. 57-61).

Dagnino e Carpi Jr. (2007, 70) destacam a vulnerabilidade como um dos aspectos

fundamentais sobre o conceito de risco ambiental, e a este respeito os autores afirmam que:

“A identificação de vulnerabilidades permite entender as carências que apresenta uma

comunidade ou grupo de indivíduos, pois a abordagem de vulnerabilidade pode acontecer em

diferentes escalas e ou a partir de diversos temas”. As escalas podem ser coletivas e ou

individuais e os temas diversos, socioambientais, econômicos e outros. Além disto, os autores

informam que a probabilidade diz respeito a o maior ou menor grau de possibilidade de um

risco ocorrer e se intensificar, a frequência é a possibilidade de recorrência de um risco e seus

possíveis efeitos, e a gravidade relaciona-se com a intensidade dos efeitos do risco.

Marandola Jr e Hogan (2004) apontam que, nos estudos sobre risco ambiental, existem

atualmente quatro grandes abordagens, são elas: 1. Avaliação e gestão do risco, que é a

análise de risco propriamente dita; 2. Percepção do risco, que corresponde à abordagem

cultural do risco; 3. Eventos e sistemas ambientais; 4. Sociedade de risco. Sobre o primeiro

tipo de abordagem citada, os autores informam que a análise de risco é interdisciplinar, pois

envolve saberes de distintas áreas de conhecimento, como a Geografia, a Geologia, a Biologia

e outras, e é também uma abordagem multiescalar, pois pode envolver análises de risco em

escala global, mas também em escalas regionais e locais.

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O primeiro tipo de abordagem citado no parágrafo anterior foi o adotado na presente

pesquisa, analisando a dinâmica fluvial do Rio Grande e seus possíveis riscos ambientais,

bem como a própria atividade agrícola quanto à sua sustentabilidade. Foi feita ainda uma

avaliação introdutória dos vários fatores envolvidos na questão (econômicos, históricos,

geoambientais e da gestão dos recursos hídricos). Esta análise relacionou as influências da

expansão agrícola e do crescimento urbano de Barreiras sobre o Rio Grande.

O gerenciamento do risco ambiental, de acordo com Diniz et al. (2006, p.5), é um dos

aspectos essenciais do análise de risco ambiental, é um processo cujos passos básicos são: “1.

Identificação dos perigos; 2. Análise dos riscos; 3. Implementação de um plano de

controle/redução dos riscos; 4. Monitoração do plano; 5. Reavaliação periódica do plano”.

Nota-se que, a partir do momento em que um risco ambiental é identificado, há um processo

constante de avaliação e gerenciamento do risco, a fim de que o mesmo não se intensifique

cada vez mais e venha a gerar uma degradação irreversível de determinado recurso natural.

Spadotto (2006, p. 7) informa que, a respeito do uso da probabilística na avaliação de

risco: “Alguns autores apregoam que toda e qualquer avaliação de risco tem que ser

probabilística em todas as suas etapas, no entanto, defende-se aqui a importância de se

realizar a avaliação de risco mesmo que não seja probabilística na sua plenitude”. Nem

sempre há a disponibilidade de um conjunto de dados precisos para se elaborar uma

probabilidade da progressão do risco, o que não impede que um risco seja identificado e

gerido, tendo em vista que a própria gestão do risco tem o intuito de minorar a probabilidade

de intensificação do risco identificado e gerido.

Guivant (1998) informa que os estudos de risco ocupam um lugar de destaque no

âmbito das ciências sociais, sobretudo com as contribuições de Ulrich Beck e Anthony

Giddens, que vêm se dedicando a essa discussão desde a década de 1980. Os autores citados,

de acordo com as palavras de Guivant (1998), buscam “dar nova luz a questões referentes aos

conflitos sociais, às relações entre leigos e peritos, ao papel da ciência e formas de fazer e

definir a política”. Os estudos de risco e de sua gestão envolvem, dentre outras questões,

diversos atores, com interesses e racionalidades distintos, além de conflitos e negociações a

cerca do risco.

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A incorporação da análise de risco nas pesquisas e discussões geográficas é cada vez

mais apropriada pelos geógrafos, como informam Castro et al. (2005). Os autores apontam

que o risco pode ser tomado como uma categoria de análise, a ser relacionada às noções de

“incerteza, exposição ao perigo, perda e prejuízos”, sejam esses materiais, econômicos e ou

humanos, podendo ser acarretados por processos naturais, por interferências humanas, ou por

ambos concomitantemente. Citando Giddens (1991) os autores apontam as seis principais

categorias utilizadas nas análises de risco:

a) Globalização do risco [relativa à intensidade e amplitude do risco];

b) Risco derivado do meio ambiente criado [riscos ambientais

derivados das transformações da natureza]; c) Riscos

institucionalizados [podem afetar o âmbito econômico em grandes

escalas, como as oscilações do mercado de investimento]; d)

consciência do risco como um risco [relativo à desnaturalização e

desmistificação do risco, que outrora poderia ser visto como algo

divino - sobrenatural]; e) consciência ampla do risco [trata-se de riscos

amplamente conhecidos e disseminados na sociedade]; f) consciência

das limitações da perícia [sistemas de perícia e monitoramento podem

possuir falhas no processo de análise de um determinado risco].

(GIDDENS, 1991 apud CASTRO et al., 2005: p.14).

As categorias apontadas por Castro et al. (2005), a partir do trabalho de Giddens, são

de suma importância na análise de risco ambiental aplicada aos recursos hídricos, e das seis

categorias de análise citadas foi mobilizada categoria do risco derivado do meio ambiente

criado. Esta categoria diz respeito a externalidades e efeitos adversos oriundos do meio

ambiente criado, como exemplo pode ser citado os impactos gerados pela atividade agrícola

em larga escala ao solo e aos recursos hídricos, ou efeitos da poluição gerada pela produção

industrial à atmosfera e muitos outros.

A justiça ambiental no Brasil tem se mostrado ineficaz, em muitos casos, no que tange

à análise e gestão ambientais, como aponta Acselrad (2002). O autor informa que isto deve

estar relacionado às contrastantes possibilidades de acesso, apropriação e uso dos recursos

naturais entre os diferentes atores produtores do espaço geográfico. O referido autor ressalta

ainda que, em diversas situações, os danos ambientais gerados por determinados

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empreendimentos podem ser externalizados a grande parcela da população, parcela esta que,

quase sempre, não se beneficia dos lucros gerados pelos empreendimentos. A gestão

ambiental dos recursos hídricos está respaldada na justiça ambiental e amparada por

instrumentos legais de gestão, fiscalização e penalização de infratores da legislação ambiental.

Entretanto, nem sempre a legislação é estritamente seguida e as devidas penalizações são

aplicadas, o que acaba por comprometer parcialmente a eficácia da gestão.

Guivant e Jacobi (2003) apontam que, dentre os principais recursos naturais, os

recursos hídricos são aqueles que provavelmente estejam mais sujeitos a riscos ambientais nos

dias atuais. A complexidade e imbricação dos diferentes fatores de risco aos recursos hídricos

demandam uma abordagem interdisciplinar e multiescalar, uma política de gestão integradora

entre os órgãos e entidades envolvidos no processo, além de uma construção coletiva,

democrática e participativa. Os autores apontam que há que ser construída uma ponte entre o

conhecimento técnico dos órgãos gestores e o saber empírico com as demandas sociais das

comunidades expostas ao risco.

Os autores supracitados chamam atenção para a necessidade de priorização das

demandas sociais de uso dos recursos hídricos, bem como da importância da participação

popular na definição de prioridades de uso e de ações a serem tomadas na gestão dos

possíveis riscos ambientais. Contudo, nem sempre a participação popular se faz presente, seja

por omissão de grande parte da população usuária dos recursos hídricos, ou por falta de

fomento à participação popular por parte dos órgãos gestores, ou mesmo pelos dois fatores em

conjunto.

A atividade agrícola, em sua escala agroindustrial, externaliza diversos fatores que

podem influenciar na geração a médio e longo prazo de riscos ambientais, como informam

Soares e Porto (2007). O uso indiscriminado de agrotóxicos pode gerar a contaminação dos

solos e dos recursos hídricos, a disseminação descontrolada de poços tubulares profundos

pode interferir na dinâmica de recarga dos aquíferos, e a construção de barramentos e a

disseminação descontrolada de pontos de captação de água nos rios podem interferir na

dinâmica dos mesmos. As interferências nos corpos d’águas localizados a montante poderão

interferir na quantidade disponível e na qualidade da água em áreas a jusante.

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A respeito da análise de risco ambiental, para além do já foi destacado, Veyret (2007,

p. 19) informa que o risco “... é também uma poderosa alavanca para a ação. Ele deve ser

integrado às práticas de gestão e de organização em diversas escalas”. A autora chama

atenção para a importância do monitoramento constante, por parte dos órgãos gestores, sobre

o surgimento de um possível risco ambiental, e quando isto ocorre, da necessidade de efetivar

a gestão deste risco, buscando sanar os fatores que o geraram e minorar os efeitos do risco.

Veyret (2007, p. 55) afirma ainda a respeito da gestão do risco, que uma das suas premissas

principais deve ser a “transparência da gestão e a participação efetiva do público”.

No contexto da análise de risco ambiental outros aspectos também devem ser

contemplados: a participação dos diferentes setores e atores envolvidos na gestão, bem como

a participação popular no processo; a importância da gestão transparente e participativa do

risco ambiental; a análise do risco derivado do meio ambiente criado e a consciência da

limitação da perícia frente ao risco; a legislação ambiental vigente e sua aplicação; as

externalidades geradas pela agricultura extensiva e mecanizada.

Diante do quadro apresentado acerca de risco ambiental e gestão do risco, Silva (2006)

aponta alguns dos possíveis impactos da atividade agrícola aos recursos hídricos: degradação

das nascentes e dos pequenos cursos d’água, supressão de matas ciliares resultando em erosão

das margens e assoreamento dos rios, redução das vazões e da disponibilidade hídrica por

conta do aumento da demanda e dos barramentos indiscriminados, além da contaminação dos

recursos hídricos pelo uso de agrotóxicos. Neste contexto, a atividade agrícola extensiva pode

gerar desenvolvimento agrícola em várias regiões do país, mas podem também gerar impactos

diversos, impactos estes que não têm sido geridos e mitigados na maioria dessas regiões.

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2. AVANÇO DA FRONTEIRA ECONÔMICA NO BRASIL

Até a primeira metade do século passado os investimentos governamentais estavam

concentrados no setor industrial das duas metrópoles brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro.

A partir da década de 1960 esses investimentos passam a ser direcionados a outro vetor

econômico, à expansão da fronteira econômica no país através da expansão agrícola no

Planalto Central do Brasil. Silva (2000) informa que o estado teve papel decisivo no processo

de ocupação nas áreas de Cerrado entre as décadas de 1960 e 1980. A ocupação do cerrado

começou mesmo antes da década de 1960, na década de 1940, com o Projeto de Colonização

do Cerrado, do governo Vargas. Contudo, com o Plano de Metas de Jucelino Kubistchek

surgiu o Programa de Desenvolvimento do Cerrado - POLOCENTRO e o Programa de

Cooperação Nipo-Brasileira de Desenvolvimento dos Cerrados - PRODECER, acelerando

este processo que iria se intensificar nas décadas seguintes.

O processo de expansão da fronteira econômica no Brasil, uma vez iniciado,

intensifica-se na década de 1980 e se expande para além de Goiás e Mato Grosso, chegando

também a regiões como o Norte de Minas Gerais e o Oeste da Bahia. Este processo não

envolveu estritamente o desbravamento de áreas até então inexploradas, como apontam

Gasques e Verde (1990 p. 14), envolveu também, segundo os autores: a suplantação da

lavoura de subsistência em função da grande produção, ou melhor, substituição dos cultivos

alimentares e de algodão arbóreo pelos cultivos de soja e milho. Aliado ao crescimento

extensivo objetivou-se o aumento da produtividade, com a mecanização agrícola e a utilização

de insumos modernos.

Além dos diversos programas voltados à produção nos Cerrados, houve também outras

formas de incentivo à expansão da produção agrícola, como aponta Pires (2000, p. 112): a

política de preços mínimos; os subsídios creditícios; a implementação de obras de

infraestrutura voltadas à dinamização do fluxo produtivo. Os gastos públicos com

infraestrutura direcionados a esta expansão foram consideráveis, como apontam Gasques et

al. (2010, p. 47): construção de rodovias, a exemplo das BRs 020, 135 e 242, expansão das

redes de energia e comunicação, incentivos à produção através de linhas de crédito. Faz-se

notar entretanto que, como informa Castillo (2007, p. 35), em função da crise fiscal ocorrida

na segunda década de 1980, o Estado passou a reduzir o volume de investimentos através da

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adoção de políticas neo-liberais: privatizações, concessões, diminuição dos subsídios e

abertura de mercados.

Se a expansão econômica teve seu período de intensificação durante a década de 1980,

nas duas décadas seguintes este processo se consolida, através, sobretudo, da predominância

do cultivo de soja frente a outros cultivos. Brandão et al. (2005, p.5) destacam a expansão da

área plantada com soja no Brasil, e ressaltam algumas características importantes desse

processo: a dinâmica produtiva cada vez mais influenciada pela taxa de câmbio e pelos preços

internacionais do produto; a conversão das pastagens em áreas cultivadas com soja; a

supressão de vastas áreas do cerrado para o cultivo, a despeito da substituição das áreas de

pastagens. Estas duas últimas características estiveram presentes no Oeste da Bahia, como em

tantas outras regiões de fronteira agrícola.

A expansão econômica brasileira, baseada na expansão da fronteira agrícola no

Centro-Oeste e no Norte-Nordeste, não se restringe apenas a intervenções no campo, pelo

contrário, ela é, também, eminentemente urbana, como chama atenção Becker (1985, p. 357):

“A circulação comanda os movimentos de organização da rede urbana que é fruto e condição

da estruturação da fronteira ...”, “O núcleo urbano é a base logística da ordenação territorial

da fronteira ...”. Este processo se deu não só no Centro-Oeste, mas também no Oeste da

Bahia, como será visto mais adiante que, as principais cidades desta região tiveram um

crescimento acelerado e atrelado à expansão agrícola. Becker (1990, p. 21) reitera suas

colocações ao afirmar que: “A expansão da fronteira efetua-se num contexto urbano, condição

de organização do mercado de trabalho regional e de ocupação do território”.

Santos (1997, p. 190-192) informa que na contemporaneidade a economia global se

organiza sob a égide do “meio técnico-científico-informacional”, contexto no qual os avanços

tecnológicos e científicos não estão presentes apenas nas grandes cidades, mas, desde a

década de 1970, passam também a estar presentes no meio rural. Neste cenário, “graças aos

avanços da biotecnologia, da química, da organização, é possível produzir muito mais, por

unidade de tempo e de superfície”. A produção agrícola se moderniza e é inserida no mercado

global, é expandida a automação, e o conhecimento técnico e científico torna-se um recurso

imprescindível nos sistemas produtivos. Santos (1997) afirma ainda que:

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A preparação das terras, a sementeira ou o plantio, a utilização de

adubos ou de fungicidas podem ter mais ou menos eficácia segundo as

condições de tempo em que são feitas. Tudo isso tende a favorecer os

empresários, uma vez que tenham prévio conhecimento das condições

meteorológicas em que cada fração do trabalho e cada fração de

capital serão utilizadas. (SANTOS, 1997, p. 193).

As dinâmicas produtivas apontadas por Santos (1997, p. 202) envolvem um maior

investimento público em “fixos”, ou seja em infraestruturas diversas que operacionalizam a

produção, e a mobilização de “fluxos” diversos, fluxos de capital, de informação e de pessoas.

Esses fluxos de mais-valia irão beneficiar irão beneficiar algumas firmas e pessoas, mas não

necessariamente uma comunidade local, sobretudo nas regiões agrícolas. Segundo o autor:

“Essa contradição entre fluxo de investimentos públicos e fluxo de mais-valia consagra a

possibilidade de ver acrescida a dotação regional de capital constante ao mesmo tempo em

que a sociedade local se descapitaliza”. Ao mesmo tempo que pode ocorrer esta

descapitalização das sociedades locais, “a vulnerabilidade ambiental pode aumentar”.

Nas novas dinâmicas de produção agrícola e organização regional no Brasil, algumas

cidades que até a década de 1980 eram eminentemente agrícolas, em uma produção de

pequena e média escala, ao serem inseridas no circuito do agronegócio passam a ter um

crescimento urbano acelerado, como apontam Elias e Pequeno (2007, p. 25). Para os autores:

É possível identificar no Brasil agrícola moderno vários municípios

cuja urbanização se deve diretamente à consecução e expansão do

agronegócio, formando-se cidades cuja função principal claramente se

associa às demandas produtivas dos setores associados à

modernização da agricultura - sendo que nestas cidades se materializa

as condições gerais de reprodução do capital do agronegócio. (ELIAS

e PEQUENO, 2007, p. 25).

As “cidades do agronegócio” como definem Elias e Pequeno (2007), e Barreiras pode

ser enquadrada nesta tipologia, por seu crescimento acelerado e, em muitos casos,

desordenado, ao longo dos últimos trinta anos, e por sua distribuição desigual de renda,

passam a enfrentar alguns problemas estruturais: déficit habitacional, especulação imobiliária,

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aumento da informalidade e do desemprego, problemas ambientais dentre outros. Neste

sentido, os autores apontam que o poder público deve tomar as devidas medidas para

fomentar um crescimento urbano menos desigual para a população local, e não apenas

implementar infraestruturas que atendam sobretudo ao capital do agronegócio.

A partir das análises empreendidas por Becker (1985 e 1990), pode-se perceber que a

expansão citada não é apenas expansão da fronteira agrícola, mas sim uma expansão

econômica mais ampla. Esta expansão econômica influencia no crescimento urbano e

mobilização de capital, bens, informações, tecnologias e pessoas, não só no campo, mas

também na rede urbana das regiões agrícolas, através de atividades ligadas direta ou

indiretamente à produção agrícola.

O processo de expansão econômica no Brasil acaba por influenciar na configuração de

um “novo rural brasileiro”, como afirma Silva (1997, p. 43):

... está cada vez mais difícil delimitar o que é rural e o que é urbano.

Mas isso que poderia ser um tema relevante, não o é: a diferença entre

o rural e o urbano é cada vez menos importante. Pode-se dizer que o

rural hoje só pode ser entendido como um continuum do urbano do

ponto de vista espacial; e do ponto de vista da organização da

atividade econômica, as cidades não podem mais ser identificadas

apenas com a atividade industrial, nem os campos com a agricultura e

pecuária. (SILVA, 1997, p. 43).

O “novo rural brasileiro” apontado por Silva (1997) é uma realidade presente na

maioria das redes urbanas das regiões agrícolas, como no caso do Oeste da Bahia. Como será

visto mais adiante, a cidade de Barreiras, Capital Regional A no Oeste baiano, de acordo com

as Regiões de Influências das Cidades - REGIC/IBGE (2007), e outras da região tiveram seu

crescimento urbano atrelado à expansão agrícola ocorrida desde a década de 1980.

Atualmente, a dinâmica das cidades da rede urbana regional continua fortemente ligada e

influenciada pela dinâmica da produção agrícola.

O processo de expansão agrícola e, concomitantemente, de crescimento urbano em

regiões agrícolas, traz implicações socioeconômicas e ambientais diversas. Alguns

pesquisadores defendem que os dois processos têm gerado desenvolvimento social e produção

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sustentável, outros, em contraponto, alertam que os dois processos geram crescimento

econômico sem desenvolvimento social, além de diversos prejuízos ambientais. Bonelli

(2001, p. 3) defende a idéia de que a expansão agrícola, nos locais onde ela ocorre, tem

gerado um aumento no Índice de Condições de Vida - ICV e no Índice de Desenvolvimento

Humano - IDH. Para tanto, apresenta dados do aumento desses dois índices entre 1970 e

1991. O autor afirma que:

A renda da agropecuária está estreitamente relacionada à dos demais

setores econômicos, ao crescimento populacional e às melhorias da

qualidade de vida (...) há uma ordem de precedência, em que a renda

da agropecuária antecede e causa a renda urbana; tanto a renda da

agropecuária quanto a dos demais setores têm uma influência

importante sobre as receitas correntes dos municípios; há forte

associação entre o nível da renda agropecuária e o Índice de

Condições de Vida. (BONELLI, 2001, p. 3).

O tipo de relação direta e causal entre o aumento da renda agropecuária e a melhoria

das condições de vida, supervaloriza os dados estatísticos em detrimento de análises mais

aprofundadas sobre a real melhoria na qualidade de vida, e encobre o fato de que, o aumento

médio do PIB per capta nos municípios nem sempre reflete na minoração dos contrastes

socioeconômicos. O autor citado a pouco pega o exemplo de municípios inseridos em regiões

agrícolas para sustentar sua argumentação, a exemplo de Barreiras, que em 1970 tinha um

ICV de 0,39, chegando a um ICV de 0,604 em 1991. De fato este índice quase duplicou no

recorte analisado, contudo, é notável que Barreiras ainda enfrenta diversos problemas que

afetam as condições de vida de seus moradores: rede de drenagem pluvial precária, esgoto a

céu aberto em grande parte da cidade, mais da metade das ruas da cidade sem calçamento.

Observando os dados mais recentes disponíveis para Barreiras do Programa das

Nações Unidas Para o Desenvolvimento - PNUD (2003), pode-se observar o aumento de

alguns índices relativos ao desenvolvimento e à qualidade de vida entre 1991 e 2000: o Índice

de Desenvolvimento Humano Minicipal - IDHM aumentou de 0,628 em 1991 para 0,723 em

2000; o IDHM - Renda passou de 0,627 em 1991 para 0, 680 em 2000; já o IDHM -

Longevidade ampliou-se de 0,593 em 1991 para 0,645 em 2000; o IDHM - Educação foi o

que teve um maior aumento, de 0,664 em 1991 para 0,845 em 2000. Cabe observar que o

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índice o IDHM - Renda foi o que teve o menor crescimento entre os dois anos analisados, o

que pode indicar que, a despeito do expressivo desenvolvimento econômico regional,

aparentemente não tem se ampliado a distribuição da renda municipal. O atlas do IDHM para

2013, que irá incorporar o Censo de 2010 ainda não estão disponibilizados no site do PNUD.

Vale ressaltar que o investimento dos recursos arrecadados é papel da Administração

Pública Municipal, o fato de não haver melhoria nas condições de vida não significa que não

esteja havendo arrecadação. Analisando o PIB na Bahia, por municípios, para o mesmo ano

citado a pouco, segundo a Superintendência de Estudos Sociais e Econômicos - SEI (2006),

Barreiras apresentava a décima quarta posição dentre os municípios baianos. Analisando o

PIB per capta, ainda de acordo com a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da

Bahia - SEI (2006), Barreiras ocupava a vigésima terceira posição dentre os municípios da

Bahia. Se for observado o indicador de IDH, segundo estimativa apresentada pelo governo

estadual Barreiras apresentava neste ano um IDH de 0,723, estando em décima primeira

posição entre os municípios baianos. (BAHIA, 2006).

Os dados apresentados no parágrafo anterior se contrapõem as afirmações de Bonelli

(2006), ao evidenciar que, Barreiras que é a principal cidade do Oeste da Bahia, divulgada

como a capital da agroindústria no Estado, apresentava até 2006 índices de IDH, PIB e PIB

per capta bem aquém dos obtidos em diversos outros municípios baianos. Pode-se concluir a

partir disto que, não necessariamente a renda agropecuária causa a renda urbana, ou então,

mesmo que isto ocorra, não implica que haja necessariamente uma maior distribuição desta

renda ampliada na cidade. Pelo contrário, uma ampliação da renda urbana pode influenciar no

aumento do custo de vida e, assim, ampliar ainda mais os contrastes socioeconômicos.

Em contraponto às idéias defendidas por Bonelli (2006), recorre-se aqui as análises

engendradas por Teixeira (2005, p. 41), que defende que, de fato a produção agrícola

extensiva e mecanizada tem gerado divisas consideráveis ao país, e tem também integrado o

Brasil no cenário internacional através do aumento das exportações agrícolas. Entretanto, o

autor chama atenção para o contraditório processo socioeconômico e ambiental da expansão

econômica focada na ampliação da fronteira agrícola. O autor afirma que:

... o capital industrial passou a comandar a economia do país em todos

os setores, inclusive no campo, moldando-o segundo os seus

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interesses. Porém, esse avanço nos meios técnicos produtivos não

atingiu todos os produtores e propriedades, excluindo os menos

favorecidos. Foram favorecidos os grandes proprietários e

determinados segmentos da produção, ou seja, aqueles que eram de

interesse da indústria e aqueles voltados para exportação. Além disso,

aumentaram os impactos ambientais no campo intensificando os

desmatamentos e uso de produtos agrotóxicos. (TEIXEIRA, 2005, P.

41)

Na conta dos custos do crescimento econômico gerado pela expansão agrícola quase

sempre não é levado em conta os prejuízos ambientais, e as externalidades oriundas da

atividade agrícola acabam por comprometer a dinâmica ecológica do Cerrado, podendo ter, a

médio e longo prazo, efeitos no microclima e, também, no regime de chuvas de muitos locais.

Klink e Machado (2005, p. 147) chamam atenção para alguns dos problemas ambientais a que

o Cerrado tem sido exposto:

O cerrado é um dos ‘hotspots’ para a conservação da biodiversidade

mundial. Nos últimos 35 anos mais da metade dos seus 2 milhões de

km2 originais foram cultivados com pastagens plantadas e culturas

anuais. As principais ameaças à biodiversidade do cerrado são a

erosão dos solos, a degradação de diversos tipos de vegetação

presentes no bioma e a invasão biológica causada por gramíneas de

origem africana. (KLINK e MACHADO, 2005, p. 147).

As ameaças à biodiversidade do cerrado são diversas, como pôde ser visto, mas não

apenas à biodiversidade, pois, com a redução desta altera-se também toda a dinâmica do

sistema, a fertilidade dos solos e outros aspectos do ambiente, como reiteram Klink e

Machado (2005, p. 147): “Estudos experimentais na escala ecossistêmica e modelos de

simulação ecológica demonstram que mudanças na cobertura vegetal alteram a hidrologia e

afetam a dinâmica e os estoques de carbono no ecossistema”. Como foi citado pelos autores

pouco acima, mais da metade da área do cerrado foi cultivada com pastagens e culturas

temporárias nos últimos trinta e cinco anos, este recorte de tempo corresponde exatamente ao

período da expansão agrícola sobre as áreas de cerrado.

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Os impactos ao bioma cerrado incidem também, e sobretudo, sobre os recursos

hídricos, Paz et al. (2000, p. 465) discutem os efeitos da agricultura irrigada sobre os recursos

hídricos no cerrado, e destacam algumas questões importantes a respeito da problemática da

gradativa redução da disponibilidade de águas neste bioma:

Reconhece-se cada vez mais a crescente falta de água para irrigação e

outros usos. Também, está-se consciente de que, por sua irregular

disponibilidade, a qual varia marcadamente ao longo do ano, de ano a

ano e de região a região, e uso da água de forma contínua e indefinida

torna-se impossível. Portanto, uma das metas estratégicas para a

preservação da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos

consiste em estabelecer critérios de uso adequado em todas as

atividades produtivas. (PAZ et al., 2000, p. 465).

Os referidos autores chamam atenção para a necessidade de utilizar técnicas e aparatos

que busquem otimizar o uso da água e evitar os desperdícios nos sistemas de irrigação, e

destaca ainda que “Os modelos tecnológicos propostos devem considerar um rigoroso

equilíbrio entre produção agrícola e recursos naturais”. Paz et al. (2000, p. 465). Há três

questões fundamentais nas colocações dos autores: o estabelecimento de critérios de uso, o

que é papel dos órgãos gestores dos recursos hídricos, não só do estabelecimento de tais

critérios, mas da fiscalização de sua aplicação; a otimização do uso por parte dos irrigantes; e

o respeito à capacidade de retroalimentação dos sistemas hidrográficos frente à demanda de

uso, também por parte dos irrigantes usuários.

O processo de expansão agrícola tem seus efeitos não só nas regiões onde ocorre, mas

pode ter conseqüências bem mais amplas, como alerta Navarro (2001, p. 96), ao afirmar que:

A recente crise energética brasileira desnudou, talvez com clareza, que

antes de ser decorrente de investimentos insuficientes e/ou mudanças

no regime de chuvas, a redução do potencial energético deriva de uma

profunda alteração nos sistemas agrícolas e sua expansão nas últimas

três ou quatro décadas. Sua conformação seguiu uma lógica ambiental

predatória que reduziu dramaticamente a capacidade de absorção

hídrica dos solos brasileiros, eliminando nascentes a afetando as

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malhas de cursos de água e, por extensão, a vazão dos rios principais

das diferentes bacias hidrográficas (o caso da Bacia do São Francisco

sendo pragmático). (NAVARRO, 2001, p. 96).

As colocações apresentadas por Navarro (2001) trazem uma importante contribuição à

crítica do modelo de expansão agrícola vigente no país, que tem tido reflexos significativos na

dinâmica dos rios do Cerrado.

A soja tem sido o principal cultivo e o carro chefe no processo de expansão agrícola

brasileiro, como aponta o trabalho de Christoffoli (2006, p. 44), incluindo o Oeste da Bahia:

“... há uma conexão entre o crescimento da cultura da soja e o do desmatamento, mas como

uma relação indireta, já que a cultura da soja, mesmo tendo rentabilidade maior que a do

gado, não pode ser plantada imediatamente após as operações de desmatamento”. Ocorre

assim uma substituição da produção pecuária pelo cultivo de soja, e esta atividade pecuária

necessita de novas áreas para se desenvolver, logo, novos desmatamentos são feitos,

geralmente na mesma região onde já se localizava. Significa dizer que, direta ou

indiretamente, a expansão do cultivo de soja influencia na ampliação das áreas desmatadas.

O Brasil assume atualmente posição de destaque internacional no que tange às

exportações agropecuárias, e para se ter um parâmetro da extensão do cultivo de soja no país,

e da importância estratégica que o Governo Federal tem direcionado a este cultivo, vejamos

alguns dados apresentados por Ribeiro Filho (2012, p. 13), atual Ministro da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento do Brasil:

Na safra 2011/12, o País plantou sua maior área de grãos da história,

51 milhões de hectares, com produção recorde de 166 milhões de

toneladas. Nas exportações do agronegócio, o impressionante

superávit de U$ 78 bilhões em 2011 foi o principal sustentáculo das

reservas cambiais do Brasil. (...) A área plantada de grãos atingiu seu

recorde no ciclo 2011/12 com 25 milhões de hectares plantados,

representando 50% de toda a área cultivada no Brasil. (RIBEIRO

FILHO, 2012, p. 13).

Neste cenário a soja desponta como o principal produto agrícola brasileiro, ocupando

cerca de 50% de toda a área cultivada no país. Toda a soja produzida no país, e voltada à

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exportação tem três tipos principais de destinação: a produção de alimentos (proteína de soja,

leite e outros derivados), para a nutrição animal, através de rações compostas e,

principalmente, a produção de biodiesel. Os dois primeiros tipos de destinação citados não

exigem investimentos vultosos e nem infra-estrutura de grande porte para serem elaborados,

diferententemente das indústrias de produção de biodiesel.

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3. O OESTE BAIANO E SEU RECENTE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

A Bahia despontava em 2009 como o quarto estado brasileiro em potencial para

produção de biodiesel, atrás apenas do Tocantins, Mato Grosso e Goiás, como informa Rocha

(2009, p. 1). A autora aponta que “... dos 9,4 milhões de hectares de cerrado no Estado, 6,5

milhões de hectares têm potencial agrícola”. Para além do potencial de expansão da área

cultivada de soja sobre as atuais áreas de pastagem, expressivos também têm sido os

investimentos direcionados à Bahia, além disso, “... o Estado da Bahia se destaca pelo volume

de investimentos em infra-estrutura logística anunciados pelo governo federal, R$ 12,5

bilhões até 2010, o terceiro maior do País”. Todo este processo de consolidação da Bahia

tendo o Oeste como grande pólo agrícola vem se consolidando ao longo dos últimos trinta

anos.

A chegada dos primeiros imigrantes oriundos da Região Sul do Brasil no Oeste baiano

remonta ao final da década de 1970, atraídos por terras com preços relativamente baixos, até

aquele período, a topografia dos planaltos do Oeste da Bahia favorável á mecanização, além

de uma vasta e bem distribuída rede hidrográfica, esses imigrantes passaram a investir na

agricultura extensiva na região. Junto a isto, a implantação de órgãos diversos voltados ao

incentivo da produção também foram importantes no desenvolvimento das atividades,

entidades como a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA, a Companhia de

Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF e o Plano de Desenvolvimento do

Cerrado - PRODECER. (PITTA, 2000).

Como foi dito anteriormente, a década de 1980 foi o período de início da expansão

agrícola de forma mais efetiva no Oeste baiano, enquanto que na década de 1990 foi

intensificada a mecanização agrícola, a difusão de técnicas modernas de cultivo e de

otimização da produção, de acordo com a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia -

AIBA (2012). Do ano 2000 até os dias atuais foi o período de entrada de sementes

geneticamente modificadas, que aumentaram o rendimento médio da produção, além de ser o

período de inserção mais intensiva desta produção no circuito mundial do comércio. A

difusão da produção de biodiesel representa um fator de incremento no aumento da produção,

em especial da soja.

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Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola - IEA (2012) em 2003 o município

de São Desidério, no Oeste da Bahia era o décimo segundo município do Brasil em produção

de grãos, e Barreiras, município vizinho, o vigésimo sétimo, estando atrás de municípios,

sobretudo, do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Atualmente, segundo o Censo

Agropecuário do IBGE (2012), São Desidério é o primeiro município no Brasil em produção

de algodão, o vigésimo segundo em produção de milho, e o nono em produção de soja.

Segundo os mesmos dados, entre os dez maiores municípios produtores de soja no Brasil, dois

situam-se no Oeste Baiano, Formosa do Rio Preto e São Desidério. Em relação à produção de

algodão, dos dez municípios maiores produtores de algodão no Brasil, cinco estão no Oeste da

Bahia, além dos dois supracitados, Barreiras, Correntina e Riachão das Neves.

O volume de produção de grãos da Bahia, e a participação do Oeste do Estado nos dá

idéia da dimensão do processo de expansão agrícola: dos dez maiores municípios produtores

de grãos na Bahia, os seis maiores estão na Região Oeste; dos dez maiores municípios

produtores de milho no Estado, seis localizam-se no Oeste; dos dez maiores produtores de

soja, sete estão na região Oeste. Barreiras é o terceiro município produtor de algodão e de

milho na Bahia, e o quarto em produção de soja. A expansão agrícola é uma realidade

consolidada na região, e é também o principal vetor econômico.

3.1 ÁREA DE ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO

A área de estudo compreende o município de Barreiras, inserido em uma região de

expressivo desenvolvimento agrícola, que extrapola os limites do Estado da Bahia e envolve

também o Sul do Piauí, Sudeste do Goiás, Nordeste do Tocantins e o Norte de Minas. No

contexto estadual, o município de Barreiras está inserido no Território de Identidade do Oeste

Baiano, regionalização adotada atualmente pelo governo do estado. Esta região articula-se

economicamente nos limites da bacia do rio Grande, principal afluente do rio São Francisco

na Bahia, que corta a cidade de Barreiras. A Figura 3.1, na página seguinte, situa a bacia do

rio Grande em relação ao estado da Bahia e aos estados com os quais faz limites. Vale

destacar que toda a região está inserida no bioma Cerrado, cor amarela.

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Figura 3.1: Bacia do rio Grande no contexto estadual e regional.

Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Barreiras (2012c).

O município de Barreiras faz limite com os de Luís Eduardo Magalhães a Oeste, São

Desidério e Catolândia ao Sul, Cristópolis a Leste, Riachão das Neves e Angical ao Norte. A

sede localiza-se na porção leste do território municipal, situada no vale do rio Grande,

próximo ao encontro deste com o rio de Ondas. A Figura 3.2, a seguir, mostra a localização

do Território de Identidade do Oeste Baiano em relação ao Estado, a localização do município

de Barreiras no T.I. do Oeste Baiano, e no detalhe à esquerda a localização da sede municipal.

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Figura 3.2: Localização da cidade de Barreiras em relação município e ao Estado.

Fonte: BAHIA (2007) e GOOGLE MAPS (2011).

Vale a pena ressaltarmos alguns aspectos relativos ao quadro físico do município, que

trazem implicações nas atividades agrícolas e nas técnicas de cultivo empregadas. De acordo

com o Sistema de Informações Geográficas da Bahia, elaborado pela extinta Superintendência

de Recursos Hídricos – SIG-BA da SRH (2007), o relevo do município é formado por três

sistemas principais: o planalto, que na Figura 3.3 aparece na cor cinza, corresponde às áreas

propícias à agricultura mecanizada, em função de ser um relevo plano e localizado em

maiores altitudes que os vales, tendo melhores médias de chuvas; os chapadões e os vales, que

na região são chamados de veredas; além de pequena área do Pediplano Sertanejo a Nordeste

da área municipal, na cor laranja.

Vale destacar que a tipologia apresentada pela SRH (2007) está desatualizada com as

classificações geomorfológicas mais recentes, deste modo, o que pela SRH é classificado

como planaltos são, em termos mais atuais, planaltos em patamares, o que é classificado como

chapadas apenas, são as chapadas do rio São Francisco, e o que é classificado como pediplano

sertanejo engloba a depressão sertaneja do São Francisco.

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As três figuras a seguir foram elaboradas a partir de dados organizados pela SRH

(2007), a partir do sensor Landsat 5, em formato Shapefile, Datum Córrego Alegre em

Projeção UTM, Escala original de 1:1.000.000.

Figura 3.3: Geomorfologia do município de Barreiras.

Fonte: Elaborado a partir do SIG BA da SRH (2007).

A geologia do município de Barreiras é composta principalmente de rochas

sedimentares, que irão originar os latossolos típicos da região, recobertos originalmente pela

vegetação de Cerrado. Há predominância de arenitos nas áreas altas de planaltos e chapadões,

nos vales, nas áreas marginais ao Rio Grande e Rio de Ondas há o predomínio de argila e

areia, e este último material tem grande importância econômica por sua utilização na

construção civil, sendo extraída tanto artesanalmente, como através de mineradoras

mecanizadas. Há duas unidades geológicas expressivas na região: a Formação Urucuia, com

ocorrência de arenitos silificados no topo e argilito e siltito na base; e também o Grupo

Bambuí formado por rochas carboníticas formadas no Proterozóico. (SRH, 2007).

O tipo de solo predominante no município é o Latossolo vermelho-amarelo distrófico -

Figura 3.4, trata-se de um solo relativamente profundo e bem estruturado, porém com certo

teor de acidez, que na atividade agrícola é corrigido através do processo de calagem. Nas

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áreas de cristas de serras ocorrem os Neossolos Litólicos, solos rasos, que vão diretamente do

horizonte A ao horizonte E, já nos vales, nas margens de rios e áreas de vazantes,

predominam os Gleissolos, além das Areias Quartzosas, segundo a SRH (2007), que

atualmente são classificadas como Neossolos Quartzarênicos.

Figura 3.4: Pedologia do Município de Barreiras.

Fonte: Elaborado a partir do SIG BA da SRH (2007).

O clima no município é do tipo Sub-úmido, com duas estações bem marcadas, uma

estação seca, de abril ao final de outubro e outra estação chuvosa, que vai de novembro ao

final de março. As temperaturas médias anuais são de cerca de 22oC, e os índices

pluviométricos médios no município variam de 900 mm/ano na porção Leste, a 1600 mm/ano

na porção Oeste. (PITTA, 2000). A Figura 3.5, na página seguinte mostra a distribuição das

isoietas no município.

Associado a todos os elementos ambientais citados, o município e a região estão

inseridos no bioma do Cerrado, com áreas de Cerradão típico nos planaltos, manchas de matas

de altitude nos chapadões e áreas de veredas nos vales. Esta vegetação de Cerrado vem sendo

degrada em função da atividade agrícola ao longo dos últimos trinta anos. Nos planaltos a

supressão de extensas áreas contínuas de Cerradão reduz a biodiversidade e biomassa. As

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áreas de chapadões encontram-se mais conservadas, pois que a topografia mais movimentada

não possibilita a atividade agrícola, porém, nos períodos mais secos os incêndios são

recorrentes, inclusive próximo ao perímetro urbano. As veredas também são ambientes que

estão sujeitos à supressão de matas ciliares, derrubada de buritizais nativos, alagamento de

áreas vegetadas, por conta dos barramentos, dentre outros problemas. (MOSS e MOSS,

2007).

Figura 3.5: Pluviometria do Município de Barreiras.

Fonte: Elaborado a partir do SIG BA da SRH (2007).

A cidade de Barreiras é localizada a 12o 08’ 48’’ de latitude Sul e 44

o 50’ 58’’ de

longitude Oeste, dista a 904 km de Salvador e 622 km de Brasília. A área territorial municipal

é de mais de 7 mil km2. (IBGE CIDADES, 2012). A Figura 3.6, na página seguinte, elaborada

a partir do Plano Diretor Urbano de Barreiras (2003), mostra o rio Grande e a cidade de

Barreiras, o rio aparece cruzando a imagem de Sul a Nordeste, passando por Barreiras (área

alaranjada ao centro). Vindo do Leste e encontrando o Rio Grande ao centro da imagem vê-se

o Rio de Ondas, um dos seus principais afluentes, e o manancial que abastece a cidade. A

sede municipal desenvolveu-se ao longo do Vale do Rio Grande e as transformações urbanas

têm influencias diretas no rio: supressão das matas ciliares, com erosão das margens e

assoreamento, sem falar no lançamento de lixo e de efluentes no rio.

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Figura 3.6: Localização do rio Grande na cidade de Barreiras.

Fonte: Plano Diretor Urbano de Barreiras (2003).

3.2 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO

Barreiras teve intenso desenvolvimento durante a segunda metade do século passado,

atrelado à criação de Brasília, à ocupação do Centro-Oeste e sobretudo, à expansão da

fronteira agrícola. Entretanto, o início do povoamento remonta à primeira metade do Século

XVI, período no qual o sítio onde hoje se localiza a sede municipal pertencia à capitania

hereditária que compreendia o hoje estado do Pernambuco. As expedições de Francisco

Garcia D’ávila pela região já indicavam, desde aquela época, as potencialidades da região,

sobretudo pela navegabilidade dos seus rios, que se tornaram importantes hidrovias

comerciais até a primeira metade do Século XX. (PITTA, 2000).

O povoamento inicial do Oeste Baiano está totalmente atrelado à dinâmica social e

econômica do rio São Francisco, que propiciou grande circulação de mercadorias, e fez das

cidades de Barra e Barreiras os dois principais entrepostos comerciais da região até o final do

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Século XVIII. Durante o Século XIX ocorre certa estagnação econômica no Oeste e as

principais rotas comerciais expandem-se para outras regiões do Estado. Somente no século

seguinte, sobretudo a partir da reordenação da produção agrícola brasileira, o Oeste passou a

viver uma nova dinâmica econômica, culminando nas décadas seguintes com a produção

agrícola voltada à exportação. (ARAÚJO et al., 2008).

Ao longo do processo de formação e consolidação da Região Oeste da Bahia, nos

últimos trinta anos, diferentes regionalizações foram propostas para uma melhor gestão

político-administrativa do território regional, relacionados à implementação dos planos de

incentivo à produção agropecuária na região, a exemplo do Programa de Desenvolvimento do

Cerrado - PRODECER. Abaixo vemos duas destas regionalizações propostas. A Figura 3.7, à

esquerda, traz a regionalização proposta pela Companhia de Desenvolvimento e Ação

Regional - CAR (1993), e à direita vê-se a divisão de Meso-Regiões Geográficas do IBGE

(1990) - Figura 3.8.

Figura 3.7: Região Oeste (CAR). Figura 3.8: Região Oeste (IBGE).

Fonte: Adaptado a partir da CAR (1993). Fonte: Adaptado de Haesbaert (2005).

As duas regionalizações apresentadas a pouco vigoraram durante a segunda metade do

século passado, durante a expansão agropecuária no Oeste, e ambas tinham um caráter

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eminentemente político-administrativo, atreladas a um viés economicista de incentivo à

produção agrícola, patrocinada por capitais estrangeiros, e voltada à exportação. Ao mesmo

tempo em que coexistiram por um período, estas duas configurações territoriais

implementadas pelo poder público, uma na esfera Federal e outra na esfera Estadual, a do

IBGE e a da CAR, respectivamente.

Segundo Haesbaert (2005), surge no final da década de 1970, entre as elites políticas e

econômicas regionais, sobretudo da cidade de Barreiras, a discussão a respeito do

desmembramendo do Oeste Baiano do restante do Estado e da criação de uma nova unidade

federativa, o Estado do São Francisco. Esta discussão se arrasta ao longo dos últimos quarenta

anos, com visibilidade maior ou menor de tempos em tempos, tendo maior destaque nos

períodos de eleições eleitorais. A Figura 3.9, na página seguinte, mostra o mapa proposto para

a criação do estado do São Francisco, adaptado a partir de Alfredo (2010).

A Figura 3.10, na próxima página à direita, adaptada de Bahia (2007), apresenta a

última regionalização proposta para a região, o Território de Identidade do Oeste Baiano, uma

proposta do Governo Federal, adotada e implementada pelo Governo Estadual em 2007. Esta

proposta é baseada em aspectos históricos e socioculturais, sendo a regionalização adotada na

presente pesquisa, por ser a regionalização oficial em vigência para a elaboração das políticas

de incentivo à atividade da agricultura.

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Figura 3.9: Estado do São Francisco. Figura 3.10: T.I. do Oeste Baiano.

Fonte: Adaptado a partir de Alfredo (2010). Fonte: Adaptado a partir de Bahia (2007).

O território do município de Barreiras passou por alguns desmembramentos ao longo de

décadas, como informa Pitta (2000). Até 1962, Barreiras era um município que engoblava três

outros municípios atuais: São Desidério, Baianópolis e Catolândia. O desmembramento mais

recente ocorreu no ano 2000, com a criação do município de Luis Eduardo Magalhães. Esta

última informação é importante para o recorte temporal e espacial da pesquisa pois, este

desmembramento ocorreu justamente como fruto do processo de modernização e expansão

agrícola do Oeste Baiano.

A Figura 3.11, na página seguinte, ilustra este desmembramento, mostrando que, até o

ano de 2000 a área de Barreiras era de cerca de 11.800 km2, e com o desmembramento de

Luis Eduardo Magalhães a área municipal passa a ser pouco mais de 7.859 km2. O importante

observar é que, esta área desmembrada de cerca de 33,4% de Barreiras, equivale a cerca de

3.941 km2, é uma área de expressiva produção agrícola, desenvolvida ao longo das bacias dos

rios de Ondas e Rio de Janeiro. O que restou ao atual município de Barreiras é a porção Oeste

do município, ou seja, a área alongada localizada acima de Luis Eduardo Magalhães, e de

intensa atividade agrícola.

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Assim, o desenvolvimento das atividades produtivas em Barreiras deve considerar o

momento anterior e posterior a este desmembramento ocorrido em 2000, já que os dados dos

Censos Agropecuários do IBGE, até o referido ano, englobam a área que atualmente compõe

o município de Luis Eduardo Magalhães. Observando a Figura 3.11 pode-se visualizar as

distintas configurações do território municipal de Barreiras antes e depois do

desmembramento. O desmembramento de uma parte do território municipal com alta

produção agrícola, acaba gerando a falsa impressão de que houve uma redução na área

produtiva e nas quantidades produzidas.

Figura 3.11: Desmembramento de Luis Eduardo Magalhães do município de Barreiras.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Pitta (2000).

3.3 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÍCOLA NO MUNICÍPIO DE BARREIRAS

Reinterando, a modernização agrícola no Oeste Baiano remete ao final da década de

1970 e início da década de 1980, como informa Pitta (2000). Este processo é acompanhado do

crescimento urbano na região, figurando atualmente a cidade de Barreiras como a principal

cidade da região. A incorporação de maquinários, de sistemas de irrigação mecanizada, de

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insumos diversos e sementes geneticamente modificadas poetencializou a produção e

possibilitou a expansão da área cultivada.

A Figura 3.12, na próxima página, mostra a expansão agrícola em parte do Oeste entre

1985 e 2000. Na figura vê-se o uso e cobertura das terras no Oeste da Bahia, em 1985 e 2000,

o material foi elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA

(2012), e evidencia a grande expansão da agricultura de sequeiro, em vermelho, cultivada em

talhões de terras nas áreas de planalto, e os pivôs centrais, nas bordas dos Planaltos, próximos

aos vales dos rios. Nota-se que a expansão do cultivo em talhões foi bem mais expressiva que

a expansão do número de pivôs centrais nas bordas dos Planaltos. Pode haver consorciamento

dos dois tipos de cultivo, ou também a alternância no uso de ambos.

Cabe observar também na Figura 3.12, que com a expansão agrícola ocorre a

progressiva supressão da vegetação original do Cerrado nativo, que aparece em verde claro.

Existem alguns núcleos de reflorestamente na região, cor verde escuro, entretanto, tais

núcleos são replantados com eucalipto e não com árvores nativas, é provável que futuramente

estes eucaliptos possam vir a ter um uso comercial, que não sejam exclusivamente para

recompor uma vegetação original que foi suprimida.

O cultivo irrigado por pivô central pode influenciar em efeitos já citados: supressão da

mata ciliar - erosão das margens - assoreamento dos rios, além da contaminação das águas

pelo carreamento de agrotóxicos. Já os possíveis efeitos do cultivo de sequeiro, em vastas

extensões contínuas de área cultivada nos planaltos, pode influenciar na sobrexploração dos

solos. Com o solo exposto há o aumento do albedo e a elevação da evaporação da umidade

nos horizontes mais superficiais, e o uso de defensivos pode comprometer a dinâmica natural

da microbiota do solo.

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Figura 3.12: Uso e cobertura das terras no Oeste da Bahia - 1985 e 2000.

Fonte: Modificado pelo autor a partir de EMBRAPA Cerrados (2012).

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Haesbaert (2005) apresenta uma figura com a hidrografia e os pivôs centrais em parte da

Região Oeste, no ano de 1993, produzida pela Companhia de Desenvolvimento e Ação

Regional - CAR. A Figura 3.13 mostra três das principais baciais hidrográficas da região e a

distribuição de pivôs centrais em cada uma delas: a bacia do rio Preto, mais ao Norte, a bacia

do rio Grande, na porção central, e a bacia do rio Corrente, na parte Sul da região.

Figura 3.13: Hidrografia e pivôs centrais no Oeste baiano em 1993.

Fonte: CAR (1993) apud. Haesbaert (2005).

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A bacia do rio Grande, na qual se insere a área de estudo desta pesquisa, é a mais

extensa, mais densa hidrograficamente, e também a mais ocupada pela produção agrícola,

como pode ser visualizado no mapa, sendo que na figura mostrada a pouco aparece apenas

uma parte desta bacia. Enquanto a bacia do rio Preto, de acordo com a figura, possuía em

1993 dezessete pivôs mapeados, a bacia do rio Corrente possuía trinta e oito, já a Bacia do

Rio Grande possuía duzentos e sessenta pivôs centrais mapeados.

Lanna (1995) aponta que a adoção da escala de bacia hidrográfica pode ser bastante

eficaz para estudos mais restritos aos processos geoambientais, uma vez que este recorte

permite melhor indicar as relações de causa-efeito nas dinâmicas hidrográficas e

geomorfológicas. Porém, nos estudos geográficos mais voltados a aspectos socioeconômicos -

uso de recursos hídricos e ou político-administrativos - gestão de recursos hídricos, nem

sempre a delimitação de bacia hidrográfica é a mais apropriada, uma vez que, em muitos

casos, a delimitação de uma dada bacia ultrapassa limites territoriais municipais e até

estaduais.

A Lei das Águas - no 9.433/97, aponta que a bacia hidrográfica é a unidade básica de

planejamento e gestão de recursos hídricos, porém, na prática nem sempre este princípio é

adotado. Uma das dificuldades de se estabelecer e estruturar os Comitês de Bacias, uma das

propostas da Política Nacional de Recursos Hídricos, é a dificuldade de fomentar a articulação

entre os comitês de diferentes regiões, já que as bacias interconectam-se umas às outras.

Optou-se aqui por não adotar o recorte de parte da bacia hidrográfica do rio Grande, a

extensão da bacia que interfere nas vazões da Estação Barreiras - 46550000 da Agência

Nacional das Águas. Também será discutido mais adiante sobre parte da bacia do rio de

Ondas, que interfere na disponibilidade hídrica para o abastecimento urbano em Barreiras.

A Figura 3.14, na página seguinte, apresenta a delimitação e a hidrografia da Região de

Planejamento e Gestão das Águas do Rio Grande - RPGA XXI, de acordo com o Instituto de

Meio Ambiente e Águas - INEMA (2012), o órgão estadual responsável pela concessão e

gestão de outorgas. Estão em destaque a localização da cidade de Barreiras, o alto curso do rio

Grande, em azul mais escuro, que interfere nas vazões registradas na Estação Barreiras, e a

bacia do rio de Ondas, em vermelho mais escuro. A bacia do rio de Ondas não interfere nas

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vazões da Estação Barreiras, já que sua foz está a jusante da estação, contudo, toda atividade

desenvolvida ao longo desta bacia pode interferir na disponibilidade hídrica para o

abastecimento urbano de água na sede municipal, pois este é o manancial que abastece a

cidade.

Figura 3.14: Região de Planejamento e Gestão das Águas do Rio Grande - RPGA XXI.

Fonte: Modificado pelo autor a partir do INEMA (2012).

Após discutir o uso e ocupação dos solos e das margens dos rios no Oeste, e de situar a

cidade de Barreiras em relação ao rio Grande e ao rio de Ondas, vale discutir o uso e

ocupação do solo no município de Barreiras. A Figura 3.15, na próxima página, foi elaborada

a partir do trabalho de Flores (2011), que realizou uma análise multitemporal da ocupação e

do uso agrícola do solo no município de Barreiras entre 1988 e 2008, lembrando que, antes de

2000 o recorte municipal era outro, como já foi dito anteriormente. As cores mais quentes,

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variando entre tons de rosa e vermelho correspondem às áreas de expansão agrícola, já as

cores frias - tons de verde, correspondem às áreas com vegetação conservada.

Até o ano de 1988 a área ocupada pela produção agrícola ainda não era tão expressiva,

pois o processo de modernização agrícola ainda estava se implantando, já nos oito anos

seguintes nota-se uma evolução expressiva. No ano 2000 o processo de modernização já era

bastante seconsolida, e deste ano até 2008 a expansão continua ocorrendo, porém em ritmo

menos acelerado. Toda esta produção agrícola que se desenvolve no município de Barreiras se

dá ao longo da bacia do rio de Ondas, que aparece em destaque vermelho, na Figura 3.14 na

página anterior, reinterando o que foi dito anteriormente, esta produção não interfere nas

vazões da Estação Barreiras, mas interfere na disponibilidade hídrica para uso urbano.

Figura 3.15: Expansão do uso do solo em Barreiras - BA entre 1988 e 2008.

Fonte: Modificado pelo autor a partir de Flores (2011).

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Existem dois tipos principais de uso do solo e processo de irrigação: o cultivo

extensivo, seja por irrigação por pivôs centrais, nas bordas dos planaltos, próximo aos vales,

seja o cultivo de sequeiro, localizado no topo dos planaltos; e um segundo tipo de cultivo,

intensivo em pequenas propriedades, às margens dos rios. O cultivo irrigado por pivôs, nas

bordas de planaltos pode contribuir com três efeitos negativos aos rios: a supressão da Área de

Preservação Permanente - APP, a erosão e o assoreamento; com os barramentos interfere-se

nas vazões dos rios; com o cultivo tão próximo pode haver a contaminação das águas na

época das chuvas.

Este tipo de método de cultivo citado a pouco apresenta certas desvantagens: os custos

com a construção e manutenção dos barramentos, bem como dos sistemas de captação,

canalização e irrigação são bem mais altos que o cultivo em sequeiro. Já o cultivo de sequeiro,

em vastas extensões de terra nos planaltos, que depende principalmente da água das chuvas,

podendo ser irrigado apenas nos períodos mais secos, tem custos menores, mas riscos

econômicos maiores, quando da irregularidade das chuvas podem comprometer a lavoura,

como ocorrido nos anos de 2012 e 2013.

No padrão utilizado no cultivo de sequeiro a molhação da lavoura se dá principalmente

pela água das chuvas, no período chuvoso que vai de meados de outubro até o final de março.

Já no período seco, que compreende o restante do ano, a irrigação se dá por aspessores, micro-

asperssores e ou gotejamento, de acordo com informações da CAR (1997). Nos dois modelos

de cultivo extensivo utilizados na região, é adotada a rotação de culturas, plantando-se a soja e

o milho no período chuvoso, e o algodão entre duas lavouras consecutivas de soja e ou milho.

3.3.1 A EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA

Os fatores ambientais que favorecem e possibilitam a expansão agrícola no Oeste da

Bahia e em Barreiras são quatro principais: 1. a bem distribuída rede hidrográfica regional; 2.

os Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos, encontrados nos planaltos, que possuem

fertilidade natural média, mas que com correções de pH, através do uso de calcário,

apresentam uma produtividade expressiva; 3. a geomorfologia dos Planaltos, que é

extremamente propícia à agricultura mecanizada; 4. O clima sub-úmido e a boa média de

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chuvas da porção ocidental do Oeste Baiano possibilitam que a região seja um dos maiores

pólos produtores de grãos do país.

A soja é atualmente o principal produto agrícola em todo o Oeste Baiano e em

Barreiras. Os percentuais agrícolas do último Censo Agropecuário do IBGE (2012a) em

Barreiras mostram que, em 2010, a soja representava pouco mais de 60% de tudo o que foi

produzido no município, vindo em segundo lugar o algodão, com cerca de 17%, seguido do

milho, com pouco mais de 13%. Os outros cerca de 10% representam diversos cultivos que

são produzidos pelo pequenos agricultores, tais como arroz, feijão, mandioca, café, lavouras

permanentes de frutíferas etc. Estes dados mostram que Barreiras é atualmente um município

essencialmente agrícola, e sua produção concentra-se na soja, no algodão e no milho.

O conjunto de três gráficos na página seguinte, Figura 3.16, apresenta a evolução do

cultivo de soja em Barreiras, com dados de médias anuais sobre a área plantada, a quantidade

produzida e o rendimento médio por hectare, IBGE (2012a). A primeira observação a ser feita

é que entre 1990 e 2000 o crescimento da área plantada foi bastante expressivo, variando de

cerca de 50 mil hectares em 1991, até aproximadamente 240 mil hectares em 2000. Neste ano,

ocorre o desmembramento de Luis Eduardo Magalhães, dando a impressão de queda brusca

na produção. Em 2001 chega-se à média de área cultivada, após o desmembramento, cerca de

105 mil hectares, e deste ano até o período mais recente, 2010, nota-se que a área plantada se

estabiliza, e sofre um decréscimo nos últimos três anos, mas a produtividade aumenta, em

função do uso de novas técnicas, sementes e insumos.

Foram incorporados nas figuras a seguir os dados do histórico de produção de soja,

milho e algodão em Luis Eduardo Magalhães, que são quase equiparados aos valores de

Barreiras, o que leva a concluir que, caso não tivesse havido o desmembramento ocorrido em

2000 a produção agrícola do município de Barreiras podería ser o dobro dos valores atuais.

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Figura 3.16: Histórico da produção de soja em Barreiras e L.E.M. - BA entre 1990 e 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Censo Agropecuário do IBGE (2012a).

Quanto à quantidade produzida, observa-se um nítido crescimento, passando de menos

de 100 mil toneladas/ano em 1990 a mais de 500 mil toneladas/ano em 2000. De 2001 a 2010

a média da produção varia de cerca de 200 mil toneladas/ano a pouco mais de 300 mil

toneladas/ano, sofrendo oscilações neste período. Estas oscilações podem estar relacionadas

ao fator chuvas, mas também às oscilações do preço da soja no mercado internacional. Já o

rendimento médio por hectare, apesar de alguns decréscimos em certos anos, teve um notável

crescimento no período mais recente, partindo-se de uma média de 500 kg/hectare em 1990 e

chegando-se a cerca de 3 mil Kg/ hectare em 2010, um incremento de 500% no rendimento

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médio, isto está ligado à incorporação de novas técnicas de produção, sementes geneticamente

modificadas e novos insumos.

A Figura 3.17 mostra o histórico da produção de algodão e milho em Barreiras e em

Luís Eduardo Magalhães, os dois outros cultivos mais importantes no município depois da

soja. Nota-se que até 2001 o cultivo de algodão era inexpressivo em Barreiras, passando por

um crescimento expressivo a partir do ano seguinte e um decréscimo de 2007 até os dias

atuais.

Figura 3.17: Histórico da produção de algodão e milho em Barreiras e L.E.M. - BA de 1990 a 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Censo Agropecuário do IBGE (2012a).

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Nas décadas de 1980 e 1990 o algodão cultivado na região era o algodão arbóreo, de

ciclo longo e sucetível a pragas. A partir da segunda metade da década de 1990, os

agricultores passaram a substituir esta variedade anterior pelo algodão herbáceo, de ciclo mais

curto, e com sementes resistentes às pragas. Atualmente a área cultivada de algodão em

Barreiras está em torno de 30 mil hectares, e a quantidade produzida em 2010 ficou em torno

das 130 mil toneladas, o rendimento médio oscilou bastante no período analisado, podendo

isto estar associado aos períodos de seca e a ocorrência de pragas, (AIBA, 2012).

Quanto ao milho produzido na área dos dois municípios, os gráficos evidenciam um

comportamento similar ao do algodão. A área de cultivo foi expandida e a produção de milho

em Barreiras atingiu o patamar de pouco mais de 200 mil toneladas em 2010. O rendimento

médio das produções de milho e algodão é bastante equiparado entre os municípios, isto deve-

se ao fato desses cultivos serem produzidos sob as mesmas condições climáticas, os mesmos

tipos de solos, com uso das mesmas técnicas, insumos e sementes. Segundo a AIBA (2012),

um dos focos desta instituição é fomentar a padronização do cultivo e da produção na região,

visando atender as exigências do mercado externo.

O milho e o algodão são culturas de importância secundária se comparado com a soja,

como já foi falado anteriormente, mas, estas culturas têm a função de ocupar a entressafra da

soja ou de fazer a rotação de culturas entre uma safra e outra de soja. Os cultivos de soja,

milho e algodão perfaziam cerca de 91% de toda a produção agrícola em Barreiras no ano de

2010: mais de 350 mil T de soja, cerca de 128 mil T de algodão e pouco mais de 212 mil T de

milho. A área cultivada de soja neste mesmo ano foi de 115 mil hectares, correspondendo

também à área mais úmida do município, com médias pluviométricas anuais que variam entre

1500 e 1600 mm/ano. A área de algodão e milho está englobada nestes 115 mil hectares, já

que ambos são cultivados na entressafra da soja.

Observando a dimensão da área cultivada de soja e dos cultivos complementares de

milho e algodão, infere-se que a demanda de uso de água para a irrigação destas três culturas

é expressivo. Contudo, a possível mensuração das quantidades de água utilizadas nos três

cultivos ao longo do ano é algo complexo, pois envolve diversos fatores e várias variáveis: o

tipo de solo em cada área, que irá influenciar no ritmo do crescimento dos cultivos; o tipo de

sementes, que podem ter ciclos mais ou menos rápidos, demandando maior ou menor

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quantidade de água; a média de chuvas a cada ano, já que nos anos com chuvas mais regulares

a demanda de água captada nos rios ou nos poços tende a ser menor, para redução de custos.

O Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - INEMA é o órgão estadual

responsável pela concessão de outorgas e controle sobre o uso das águas na Bahia. Em visita

técnica à sede do INEMA em Barreiras, pôde-se obter a informação de que não há cobrança

pelo uso agrícola da água na região Oeste, as outorgas são concedidas mediante avaliação da

relação entre a capacidade de suporte de captação em dado local em função do volume a ser

utilizado. Estas outorgas têm a duração de dois anos, quando deve ser reavaliada a capacidade

de suporte do local de captação. Entretanto, como foi informado pelo corpo técnico do

INEMA em Barreiras, ao longo dos dois anos de concessão da outorga não há uma

fiscalização dos volumes que são utilizados, o que possibilita que sejam captados volumes

bem maiores que os concedidos pela outorga.

De acordo com Freitas (2009, p. 99) a outorga é “o ato administrativo mediante o qual

o poder público outorgante faculta ao outorgado o uso de recurso hídrico ...”, e este direito de

uso está condicionado “... à disponibilidade hídrica e ao regime de racionamento”. Levando-

se em consideração que, como foi informado no parágrafo anterior, nos municípios do Oeste

da Bahia não há uma fiscalização extensiva do uso da água pelos outorgados, nem há um

regime de racionamento nos períodos mais secos, nos quais a oferta de água diminui e a

demanda aumenta. Pode-se inferir que os recursos hídricos estejam sujeitos a uma

sobrexploração frente à sua capacidade de retroalimentação.

Freitas (2009, p. 101) informa ainda que a cobrança do uso de recursos hídricos é

importante para que os usuários possam “... reconhecer a água como bem econômico e dar ao

usuário uma indicação real de seu valor”. Como já foi dito anteriormente, no Oeste não há

cobrança do uso dos recursos hídricos, e deste modo, há uma aparente cultura que é calcada

na inesgotabilidade do recurso. Em tempo, Freitas (2009) ressalta também a importância da

elaboração e manutenção de um sistema de informações sobre recursos hídricos, a fim de se

ter o controle sobre o aumento da demanda de uso e a oferta passível de ser utilizada. O

INEMA, responsável pelas concessões de outorga no Oeste baiano, não possui nenhum

sistema que dê conta de monitorar todas as captações realizadas.

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As pequenas e médias propriedades baseiam-se na policultura, ou seja, na produção de

alguns gêneros alimentícios básicos da dieta regional e local, principalmente o arroz, o feijão

e a mandioca. Além destas culturas, também há produção de frutas e a criação de gado de

corte e de leite, de suínos, de ovinos e de aves. Estas áreas de cultivo localizam-se nos vales,

em áreas próximas ao perímetro urbano no entorno da sede municipal. Nota-se pelos dados da

Figura 3.18, que o rendimento médio da produção varia muito pouco, pois se trata de um

manejo tradicional, sem utilização de grandes inovações tecnológicas. Esta pequena e média

produção tem tido apoio técnico da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São

Francisco - CODEVASF.

Figura 3.18: Histórico da produção de arroz, feijão e mandioca em Barreiras, 1990 a 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Censo Agropecuário do IBGE (2012a).

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Além das lavouras temporárias citadas a pouco, na média e pequena agricultura existe

também o cultivo de lavouras permanentes, direcionado principalmente à produção de frutas

para o abastecimento local e regional. As principais lavouras permanentes no município são:

mamão, coco-da-baía, banana, limão, laranja, manga, tangerina e maracujá. A soma da área

cultivada para estas lavouras permanentes, no ano de 2010, totalizou pouco mais de 1.300

hectares, isto equivale a cerca de 1% do total da área cultivada de soja neste mesmo ano. No

caso destes cultivos a irrigação se dá por captação nos rios, bombeamento, elevação e

distribuição da água através da gravidade, já que maior parte destas propriedades encontra-se

nas áreas de vales, e a demanda hídrica é muito menor se comparado à da grande produção.

3.3.2 A EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA

Além das lavouras é necessário fazer uma referência aos rebanhos, pois as criações

demandam também uma quantidade expressiva de água. O maior rebanho em Barreiras é o

bovino, que no ano de 2010 era de cerca de 100 mil cabeças de gado. (IBGE, 2012a). A

Figura 3.19 mostra esta evolução do crescimento expressivo do rebanho de bovinos, por

quantidade de cabeças, entre 1974 e 2010.

Figura 3.19: Efetivo do rebanho bovino em Barreiras - 1974 a 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Censo Agropecuário do IBGE (2012a).

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A média de consumo de água de um rebanho bovino é muito variável, como informa

Melo (2012), pois depende de diversos fatores: se o rebanho é de leite ou de corte, a idade dos

rebanhos, se as fêmeas estão ou não em gestação entre outros. Mesmo sendo complexo

estabelecer uma taxa média de consumo para os rebanhos, Melo (2012) informa que, é

possível estabelecer uma média mínima de consumo diário de 45L para um bovino com dois

anos de idade. Levando-se em consideração a média citada acima, e o tamanho do rebanho

bovino em 2010, cerca de 100 mil cabeças, pode-se inferir que o consumo médio diário de

água por estes rebanhos chega aos 4,5 milhões de litros. Esta é uma demanda significativa de

consumo de água, levando-se em consideração que, nos períodos mais secos pode haver um

aumento na demanda.

Além do rebanho bovino, o município de Barreiras possui seis outros tipos principais

de rebanhos, que em 2010 contavam com os seguintes plantéis, por cabeças: cerca de 9 mil

ovinos, 6 mil suínos, 3 mil caprinos, 2,5 mil equinos, e menos de quinhentas cabeças de

asininos e muares, (IBGE, 2012a). A Figura 3.20 mostra esta evolução dos rebanhos:

Figura 3.20: Efetivos dos rebanhos em Barreiras - 1974 a 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Censo Agropecuário do IBGE (2012a).

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O decréscimo dos rebanhos de animais de montaria e carga deve estar associado à

substituição desses animais pelo uso de motos, tanto na cidade quanto no campo, já o

crescimento acentuado de suínos e ovinos deve estar associado ao surgimento de alguns

frigoríficos na cidade e região. Vale ressaltar que os ovinos se adaptam melhor ao clima do

Oeste que os caprinos, são poucas as criações desses últimos, e não são voltadas ao abate

comercial.

De acordo com Melo (2012), é possível estabelecer uma média geral de consumo

diário de água para cada um dos tipos de rebanhos citados a pouco. O Quadro 3.1 traz todos

os tipos de rebanhos criados em Barreiras em 2010, média diária de consumo por tipo de

rebanho, o tamanho do rebanho - por cabeças, e a média diária de consumo de água por cada

rebanho. As maiores demandas são para os rebanhos bovinos e equinos, e a média total de

demanda de consumo de água pelos rebanhos em Barreiras no ano de 2010 passa dos 4

milhões e 700 mil litros diários, atualmente esta demanda deve ser ainda maior.

Quadro 3.1: Estimativa do consumo de água pelos rebanhos em Barreiras - 2010.

Tipo de

rebanho

Consumo

diário médio

(L)

Tamanho em

2010 (cabeças)

Média diária de

consumo (L)

%

Ovinos 5 8.750 43.750 0,9

Suínos 10 6.129 61.290 1,2

Caprinos 2 2.310 4.620 0,01

Equinos 35 2.550 89.250 1,8

Asininos 25 565 14.125 0,2

Muares 20 520 10.400 0,2

Bovinos 45 101.402 4.563.090 95,3

Total: 4.786.525 L 100,0

Fonte: Censo Agropecuário do IBGE (2012a) e Melo (2012).

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Como pôde ser visto, tem havido um significativo aumento da demanda de uso de

água no espaço rural da região Oeste da Bahia, para irrigação e para dessedentação animal.

Contudo, não há a cobrança pelo uso da água, não há um controle dos volumes utilizados

pelos outorgados, nem há um monitoramento das variações hidrográficas frente ao aumento

da demanda de uso. Em vista do que foi informado, a gestão de recursos hídricos no espaço

rural do Oeste Baiano tem sido feita, sem levar em conta, um controle sistemático da relação

entre disponibilidade e a demanda, e das possíveis consequências da sobrexploração.

3.4 CRESCIMENTO POPULACIONAL DE BARREIRAS E NOVA POSIÇÃO NA REDE

URBANA

O crescimento urbano no Oeste Baiano está atrelado ao processo de modernização

agrícola no campo, como já foi informado por Pitta (2000). O surgimento e a expansão das

fazendas de grãos na região demandou, sobretudo em Barreiras e Luis Eduardo Magalhães, o

surgimento de empresas diversas (escritórios de agrimensura, agronomia, implementos,

maquinários, transportadoras dentre outros), este processo influenciou no crescimento urbano

das referidas cidades.

A Figura 3.21, na próxima página, mostra a evolução da população total de Barreiras

entre 1970 e 2010 - IBGE (2012b). Vale ressaltar de início que a população total do município

cresceu expressivamente desde o ano 1980 até os dias atuais, período correspondente à

modernização agrícola na região. A aparente regressão no crescimento populacional entre

1991 e 2000 se dá por conta do desmembramento do até então distrito de Mimoso do Oeste,

que naquele ano se emancipou originando o atual município de Luis Eduardo Magalhães. A

população residente neste novo município para o ano 2000 era de pouco mais de 60 mil

habitantes.

As taxas de crescimento populacional entre uma década e outra dão uma dimensão

mais clara deste processo. Entre 1970 e 1980 a taxa de crescimento foi de pouco mais de 98%,

entre 1980 e 1991 a taxa de crescimento foi de aproximadamente 123%. Já entre 1991 e 2000,

com o desmembramento de Luis Eduardo Magalhães neste último ano, a população de

Barreiras ficou cerca de 16% menor. Entre 2000 e 2010 a taxa de crescimento foi de pouco

mais de 77%. Comparando-se a população total entre 1980, início da modernização agrícola,

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e 2010, nota-se uma taxa de crescimento de cerca de 231%, isto significa que a população

triplicou neste período.

Figuras 3.21: Crescimento da população total em Barreiras 1970 a 2010.

Fonte: IBGE (2012b).

A Figura 3.22, na página a seguir, mostra a relação entre o crescimento das populações

urbanas e rurais de Barreiras entre 1970 e 2012 - IBGE (2012b). Observa-se que a população

urbana teve um crescimento bastante expressivo no período analisado, já a população rural

teve um crescimento mais nítido apenas durante a década de 1980, fase inicial da

modernização agrícola, seguido de uma relativa estabilização. Observando as taxas de

crescimento urbano nota-se que, se em 1970 Barreiras ainda era um município de maioria

rural, na década seguinte a população urbana triplicou, ultrapassando a população rural, a taxa

de crescimento entre 1980 e 1991 foi de cerca de 135%. Entre 1991 e 2000 a população

urbana ficou com cerca de 10 mil habitantes a menos por conta do desmembramento. Entre

2000 e 2010 a taxa de crescimento foi de aproximadamente 103%.

O crescimento expressivo da população urbana e o crescimento modesto da população

rural corrobora uma constatação de Becker (1990, p. 21) sobre regiões de expansão de

fronteira agrícola, segundo a autora: “A expansão da fronteira efetua-se num contexto urbano,

condição de organização do mercado de trabalho regional e ocupação do território”. Este é o

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processo observado em Barreiras e no Oeste da Bahia, ou seja, trata-se de uma região

eminentemente agrícola, contudo, a população rural cresceu inexpressivamente em relação à

população urbana.

Figura 3.22: Crescimento da população urbana e rural de Barreiras - 1970 a 2010.

Fonte: IBGE (2012b).

Duas observações relevantes devem ser feitas em relação à variação entre a população

urbana e rural. Se em 1970 Barreiras ainda era um município com a maioria da população

classificada como rural, na década seguinte a situação se inverte. O início da expansão

agrícola na região e seu desenvolvimento nos últimos trinta anos, consolida o município como

eminentemente urbano e Barreiras como a principal cidade da região. A outra observação é

que a partir de 1991 a população rural decresce, esta fase corresponde à intensificação da

mecanização agrícola, e da consequente redução dos postos de trabalho no campo.

A partir do histórico do crescimento da população em Barreiras, sobretudo na cidade,

pode-se elaborar uma estimativa do consumo de água na cidade no momento atual. Segundo

Falkenberg (2005), a média mínima de consumo diário de água per capta no espaço urbano é

de 110L. Já de acordo com a Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil - ANA (2012), o

consumo médio diário de água de um cidadão urbano no Brasil é de cerca de 200L. A partir

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desta média nacional, relacionando-se com a evolução da população urbana, pode-se estimar a

evolução do consumo diário de água a cada década em Barreiras, como é visto na Figura 3.23.

O consumo médio diário de água em Barreiras em 1970 era de quase 2 milhões L/dia, este

consumo vai aumentando nas décadas seguintes em função do crescimento urbano já

detalhado anteriormente. No ano de 2010, considerando-se uma população urbana com mais

de 123 mil habitantes, o uso urbano médio era de mais de 24 milhões e 740 mil L/dia, um

aumento de mais de 788% de consumo urbano no intervalo de quarenta anos. Vale lembrar

que, com o aumento da população urbana, ocorre também o aumento da produção de dejetos a

serem tratados.

Toda esta demanda de consumo urbano de água interfere nas vazões do rio de Ondas,

que é o manancial que abastece Barreiras. Atualmente a Estação de Tratamento de Água em

Barreiras, de acordo com o site da EMBASA (2013), produz 325 L s-1

, o que em 24 horas

equivale a 140 mil L. Levando em conta que esta estimativa feita abaixo não engloba os usos

comerciais, industriais e de diversas instituições públicas, como escolas, hospitais e outros, a

demanda urbana deve ser expressivamente maior do que a aqui estimada. Levando em conta

ainda que no período das secas há recorrentes falta de água e racionamento, a estação de

tratamento pode estar trabalhando no seu limite de atendimento da demanda em certos

períodos.

Figura 3.23: Estimativa da evolução da média diária de consumo urbano de água na cidade de

Barreiras - BA entre 1970 e 2010.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da ANA (2012) e do IBGE (2012b).

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Somando-se apenas o uso pelos rebanhos animais e pela população urbana, o consumo

médio diário de água em Barreiras, no campo e na cidade chega a mais de 29 milhões e 534

mil litros por dia, não englobando o uso na agricultura irrigada, nem os outros tipos de uso

urbano (comércio, indústria, instituições públicas). A estimativa precisou ser feita pela

dificuldade de acesso aos dados junto aos órgãos responsáveis.

Barreiras é atualmente a principal cidade da região, contando com a maior população

dentre os catorze municípios que compõem o Território de Identidade do Oeste Baiano. A

cidade abriga o maior hospital público da região, o Hospital do Oeste, que atende pessoas

outros municípios vizinhos, conta também com duas universidades públicas, além de

universidades e faculdades privadas, cursos técnicos, centros profissionalizantes dentre

outros. A cidade sedia um aeroporto que está na rota entre Brasília e Salvador, um setor de

bancos e comércio bem estruturado, e um setor de serviços voltado a atender à dinâmica de

circulação da produção na região. Abriga também diversos órgãos públicos de abrangência

regional, escritórios de agrimensura e agronomia, lojas de implementos e maquinários, a sede

da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. A cidade de Barreiras é classificada

como um Centro Regional na Bahia no que refere ao fluxo do transporte rodoviário

intermunicipal de passageiros, polarizando 27 cidades, com ligações que abrangem mais de 5

mil viagens mensais de ônibus intermunicipais, (SOUZA Fo E SILVA, 2009).

As Regiões de Influência das Cidades - REGIC 2007 é uma publicação do IBGE

destinada a caracterizar a rede urbana brasileira, e de acordo com este trabalho, Barreiras é

classificada como uma Capital Regional C, inserida na Zona de Influência de Brasília. A

principal cidade do Oeste Baiano aparece como grande polarizadora na região, atraindo

investimentos para o setor de serviços e a produção agroindustrial, e por conseqüência,

atraindo um número crescente de imigrantes em busca de trabalho, (CALDAS e SOUZA,

2009).

De acordo com o IBGE (2007), nas Regiões de Influências das Cidades - REGIC,

Barreiras figura como uma Capital Regional C, como pode ser visto na Figura 3.24 - na

página seguinte. Este recorte do mapa nacional das Regiões de Influências das Cidades, trás

Barreiras em primeiro plano, ao centro da figura, os traços que se direcionam à sede da cidade

demonstram exatamente a polarização que Barreiras exerce sobre os municípios vizinhos.

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Outra questão importante a ser observada, é que, pelo fato de estar mais próxima de Brasília,

do que de Salvador, a capital estadual, a cidade de Barreiras possui ligação mais forte com a

Capital Federal.

Figura 3.24: Barreiras e sua rede de influências na região Oeste da Bahia.

Fonte: Modificado pelo autor a partir de IBGE (2007).

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A economia do município de Barreiras é movida basicamente por três setores

produtivos: a atividade agropecuária, a indústria e o setor de comércio e serviços, como pode

ser visto na Figura 3.25. A cidade contava até 2009 com pouco mais de 3200 empresas em

atuação, a média salarial no município era de cerca de 2,1 salários mínimos. Naquele ano

haviam pouco mais de 20 mil trabalhadores com ocupação na cidade, pouco mais de 16 mil

com trabalho assalariado, um contingente de trabalhadores temporários, seja nas fazendas ou

no comércio, além de grande parcela da população atuando na informalidade, (IBGE

CIDADES, 2011).

Figura 3.25: PIB em Barreiras por setor produtivo (Mil reais).

Fonte: IBGE CIDADES (2011).

A partir do que foi discutido neste capítulo pôde-se constatar que a modernização

agrícola e o crescimento de Barreiras têm gerado uma demanda crescente por recursos

hídricos, no campo a demanda é voltada à agricultura mecanizada e à dessedentação dos

rebanhos, e na cidade para o abastecimento urbano. Estes dois processos geram externalidades

ao rio Grande e ao rio de Ondas, e pode implicar a médio ou longo prazo em riscos

ambientais.

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4. IMPLICAÇÕES DA MODERNIZAÇÃO REGIONAL SOBRE OS RECURSOS

HÍDRICOS NO MUNICÍPIO DE BARREIRAS

A expansão agrícola no Oeste da Bahia implicou na supressão de extensas áreas

contínuas da vegetação do Cerrado, na exploração extensiva e intensa dos solos e no aumento

da demanda de água. É de se presumir que a criação deste novo espaço agrícola e urbano

venha interferir na disponibilidade dos recursos hídricos da região. Os próximos itens

discutem algumas das alterações que vêm ocorrendo na bacia do rio Grande.

A gestão de recursos hídricos, de acordo com os trabalhos de Marandola Jr e Hogan

(2004) e Veyret (2007), deve ser fundamentada na constante avaliação de risco ambiental a

que os recursos hídricos possam estar sujeitos. Esta avaliação de risco não vem sendo

desenvolvida, pelo órgão gestor dos recursos hídricos na Bahia, a respeito de alterações na

dinâmica fluvial nas bacias do rio Grande e rio de Ondas.

O principal órgão gestor de recursos hídricos no Estado da Bahia, a antiga

Superintendência de Recursos Hídricos - SRH, que atualmente foi convertida em Instituto de

Meio Ambiente e Recursos Hídricos - INEMA, elaborou alguns documentos que serão

analisados a seguir. O Plano Estadual de Recursos Hídricos da Bahia, da Superintendência de

Recursos Hídricos da Bahia - SRH (2004) apresenta os dados mais recentes disponíveis sobre

demandas hídricas na bacia do rio Grande, por tipo de uso da água para o ano 2000, como

pode ser observado no Quadro 4.1:

Quadro 4.1: Demandas hídricas por uso consuntivo na bacia do rio Grande - 2000.

Tipo de uso consuntivo Demanda

População rural 0,126 m3/s

Dessedentação de rebanhos 0,391 m3/s

População urbana 0,498 m3/s

Indústrias 0,656 m3/s

Irrigação 26,800 m3/s

Total 28,472 m3/s

Fonte: SRH (2004).

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O quadro anterior evidencia que as demandas hídricas das populações urbana e rural,

bem como para a dessedentação animal na bacia do rio Grande são bem menores que a

demanda hídrica para as atividades industriais. Vale destacar que todos os quatro primeiros

segmentos juntos não chegam a dez por cento da demanda para a irrigação. É bom lembrar

que a Política Nacional de Recursos Hídricos preconiza que as demandas para uso humano e

para dessedentação dos rebanhos são prioridade em relação às outras. De fato, a

disponibilidade de água para o consumo humano, tanto no espaço urbano como no rural, têm

sido afetada nos períodos mais secos.

O mesmo Plano Estadual de Recursos Hídricos - SRH (2004, p. 52) compõe dois

cenários prognósticos para a irrigação na bacia do rio Grande, entre 2000 e 2020, mostrando a

previsão do crescimento da área irrigada e do aumento da demanda para irrigação:

Quadro 4.2: Prognóstico do crescimento da irrigação na Bacia do Rio Grande - 2000 a 2020.

CRESCIMENTO DA IRRIGAÇÃO 2000 2005 2010 2015 2020

Área irrigada (ha) 62.245 74.860 90.033 108.281 130.227

Demanda hídrica (m3/s) 26,8 30,8 35,4 40,9 47,5

Fonte: SRH (2004).

Como foi citado há pouco, a demanda hídrica para a irrigação é a maior demanda na

região, e pelo prognóstico estabelecido pela SRH (2004) deve crescer cerca de 77,2% até o

ano de 2020, o que deve interferir ainda mais nas vazões do rio Grande e na disponibilidade

hídrica para outros usos. O mesmo trabalho da SRH (2004) constrói também um prognóstico

dos saldos hídricos na bacia do rio Grande entre 2000 e 2020:

Quadro 4.3: Prognóstico dos saldos hídricos da irrigação na Bacia do Rio Grande - 2000 a

2020.

Ano 2000 2001-2005 2006-2010 2011-2015 2016-2020

Saldos hídricos (m3/s) 313,157 302,717 290,427 275,791 258,111

Fonte: SRH (2004).

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O quadro anterior evidencia que os saldos hídricos (relação entre a disponibilidade e a

demanda) da irrigação na bacia do rio Grande tendem a ir decrescendo ao longo do tempo, ou

seja, ao mesmo tempo em que a área irrigada e a demanda hídrica crescem a disponibilidade

hídrica deverá ir diminuindo paulatinamente. Isto poderá ocorrer com maior ou menor

velocidade a depender justamente do ritmo da expansão da área irrigada e da demanda que

isto implica. É de se presumir que, diante deste cenário possa ocorrer riscos quanto à

disponibilidade hídrica na bacia do rio Grande, como aliás também sinaliza o trabalho da SRH

(2004) através de alguns indicadores de sustentabilidade no Quadro 4.4, abaixo:

Quadro 4.4: Indicadores de sustentabilidade hídrica para a bacia do rio Grande - 2000.

Indicadores de Sustentabilidade Classe de risco

Índice de Ativação das Potencialidades Corrigidas - IAPc Médio

Índice de Utilização das Potencialidades - IUP Médio

Índice de Ativação das Águas Subterrâneas - IAS Médio

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de SRH (2004).

Em relação aos indicadores constantes da tabela, temos que:

IAPc - relação entre as disponibilidades hídricas e as potencialidades de uso;

IUP - relação entre a soma das demandas hídricas consuntivas e ecológicas e a vazão média;

IAS - indica o nível de exploração dos aquíferos, representado pelo quociente entre a

disponibilidade efetiva instalada e a potencialidade de água subterrânea.

Há três aspectos muito importantes da dinâmica hídrica da bacia do rio Grande: a

relação entre disponibilidade e potencialidade de uso, a relação entre as demandas e a vazão

média, bem como a relação entre a exploração dos aqüíferos e a potencialidade dos mesmos.

A depender do ritmo de crescimento da demanda de uso, e do tipo de gestão que será feita

frente a isto, estes graus de risco ambiental podem passar de médios a altos. Lembra-se,

igualmente, que tal estudo da SRH (2004) foi realizado faz nove anos.

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O trabalho que trata dos Recursos Hídricos do Oeste da Bahia - Relatório de

diagnóstico das condições atuais, destaque: Bacia do Rio Grande e Sub-Bacia do Rio do

Cachorro, realizado pela SRH informa que: a vazão de referência do rio Grande - 80% da

Q90, para o ano de 2002 era de 154,50 m3/s, e o volume total outorgado era de pouco mais de

3 milhões e 500 mil m3/dia, o que correspondia à esta época a cerca de 32,8% da vazão de

referência. O documento afirma que “Pela lei pode-se outorgar até 80% desta vazão, isto é

10.679.040 m3/dia, correspondendo a 123,60 m

3/s, sem que haja riscos para a vazão natural do

rio”. (SRH, 2002, p. 16). Como será visto no próximo item, as vazões do rio Grande vêm se

reduzindo nos últimos trinta anos.

O documento citado acima - SRH (2002, p. 32), destaca ainda os principais problemas

ambientais ocorrentes na bacia do rio Grande e os “responsáveis legais” por sua resolução:

a) Inexistência da reserva legal: assunto da alçada do Ministério

Público e IBAMA;

b) Licenciamento ambiental: é uma das responsabilidades do CRA

[Centro de Recursos Ambientais];

c) Inobservância do respeito às áreas de preservação permanente:

responsabilidade do DDF [Diretoria de Desenvolvimento

Florestal]/IBAMA;

d) Uso das veredas: impacto ambiental a ser controlado pelos órgãos

competentes - CRA/DDF;

e) Construção de barramentos irregulares e hidroelétricos: para serem

outorgados exigem-se EIA/RIMA [Estudo de Impacto Ambiental e

Relatório de Impacto Ambiental] e licenciamento ambiental

antecipados. O IBAMA/CRA devem atuar para reverter o quadro;

f) Desmatamento irregular e queimadas: responsabilidade do

DDF/IBAMA;

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g) Disposição inadequada de defensivos agrícolas: fiscalização do

meio ambiente e do setor competente, a SEAGRI [Secretaria de

Agricultura do Estado da Bahia]. (SRH, 2002, p. 32).

Marandola Jr e Hogan (2004) apontam que a gestão de recursos hídricos deve ser

interdisciplinar, multiescalar e interestitucional. Este último aspecto não tem se efetivado na

região Oesta da Bahia, ou seja, os órgãos gestores dos recursos hídricos não têm trabalhado

em parceria. Pelo contrário, como pôde ser observado pelo texto citado a pouco, o trabalho da

SRH (2002) apontou diversos problemas ambientais na Bacia do Rio Grande, os prováveis

responsáveis pela conivência quanto à ocorrência e agravamento destes problemas.

Entretanto, a SRH não aponta possíveis soluções nem de que maneiras a sua atuação poderia

contribuir para minorar tais problemas, através, sobretudo, do Plano de Bacia.

Vale destacar um dos problemas apresentados, e que ocorre nas bacias do Rio Grande

e rio de Ondas, a questão dos barramentos irregulares. Na construção destes barramentos

irregulares, o EIA/RIMA e o licenciamento ambiental são ignorados pelos produtores

infratores, já que um produtor que constrói um barramento irregular e não apresenta

EIA/RIMA, não irá também solicitar outorga, pois esta prescinde dos outros dois. Assim, em

relação aos dados apresentados há pouco nos quadros 4.3 e 4.4, é possível inferir que a

crescente demanda, e as alterações na vazão e no regime fluvial estejam subavaliadas. Nestes

empreendimentos irregulares, que em muitos casos e que por algum tempo conseguem driblar

a fiscalização, corre-se o risco também, com o uso inadequado dos defensivos, de haver

contaminação do solo e das águas.

Outro estudo a ser citado é o Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio

Grande - SRH (2006) que identifica uma série de impactos ambientais relevantes, que

influenciam direta ou indiretamente nos recursos hídricos, relacionando-os com a atividade

agrícola e com o crescimento urbano: agricultura (cultivo de grãos), promovendo alterações

no relevo, processos erosivos, denudação prolongada dos solos, compactação dos solos,

alteração da qualidade da água (uso de corretivos e fertilizantes), risco de contaminação das

águas superficiais e subterrâneas (uso de agrotóxicos); crescimento urbano, alterando a

qualidade das águas superficiais (despejos domésticos e industriais), disseminação de doenças

de veiculação hídrica (tratamento sanitário ineficiente).

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Uma análise introdutória com respeito às alterações nas vazões do rio Grande pode ser

feita através de procedimentos estatísticos básicos (cálculos de médias, mínimas e máximas,

comparação entre as mínimas e máximas, variação entre o período seco e o chuvoso). A

Estação Barreiras - 46550000, localiza-se na sede municipal, e reúne dados da vazão do rio

Grande entre 1934 e 2012, o que possibilita um levantamento sobre a dinâmica natural do rio.

A estação localiza-se a jusante de grande parte da Bacia do Rio Grande - em vermelho

na Figura 4.1, a jusante da área destinada à agricultura nos municípios de São Desidério, a Sul

de Barreiras, e Luis Eduardo Magalhães a Oeste do município. Em destaque azul escuro na

imagem está evidenciada a bacia do rio de Ondas, o manancial que abastece a sede municipal,

toda a atividade agrícola realizada em Barreiras tem influencias sobre esta bacia.

Figura 4.1: Alto e médio rio Grande, bacia do rio de Ondas e localização de Barreiras.

Fonte: Modificado pelo autor a partir de Moss e Moss (2007).

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Há que se fazer algumas observações a cerca da imagem da página anterior, a

atividade da agricultura extensiva está localizada na porção Oeste da região, próximo às

bordas de planalto que servem de divisores de água entre a Bahia, Goiás e Tocantins. Nestas

áreas de cultivo se localizam as nascentes dos principais rios da região, e, segundo

informações diretas do corpo técnico do INEMA em Barreiras, muitas destas nascentes

encontram-se em estado precário de conservação. Vale destacar ainda que, o Rio de Janeiro,

um dos grandes afluentes do rio Grande, deságua a jusante da Estação Barreiras, deste modo,

o volume de água oriundo deste afluente não foi incorporado a esta análise.

As vazões médias anuais na Estação Barreiras entre 1934 e 2009 são apresentadas na

Figura 4.2, na página seguinte. O fluviograma demonstra claramente a diminuição das vazões

do rio Grande. Ao longo do período analisado ocorrem picos de vazões, associados aos anos

mais chuvosos, e decréscimo nos períodos mais secos, além de algumas lacunas, quando

houve indisponibilidade de dados. Constatou-se que houve uma nítida redução das vazões do

rio Grande desde o início da década de 1980 até os dias atuais, período que corresponde à

modernização agrícola na região, ratificando o impacto decorrente desta atividade no sistema

fluvial.

A partir do reconhecimento de uma mudança no padrão de vazões do rio Grande a

partir de 1980, é possível estabelecer uma periodização em relação às mudanças de vazões na

bacia. Temos um período que se inicia em 1934 indo até 1979, caracterizado pela prevalência

das condições naturais, visto que as atividades desenvolvidas na área da bacia do rio Grande

causavam interferências menos expressivas no sistema fluvial regional. O segundo período se

estabelece a partir de 1980, quando acontecem as maiores transformações no uso do solo, e

passa a ocorrer um aumento crescente da demanda de água para a irrigação. Esta periodização

será aplicada aos dados de vazões médias, máximas e mínimas, logo a seguir, fazendo-se um

comparativo entre os dois períodos citados.

Uma última observação a respeito das vazões há que ser feita, o trabalho da SRH

(2002) informa que a vazão de referência para o rio Grande naquele ano era de 154,50 m3/s,

uma vazão maior do que as registradas nos gráficos a seguir. Isto se dá porque esta vazão não

foi estabelecida na Estação Barreiras, mas a jusante dela, no baixo curso do rio Grande, onde

o rio é mais caudaloso e as vazões são maiores que na estação aqui utilizada como referência.

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Figura 4.2: Fluviograma das vazões médias anuais na Estação Barreiras - 46550000.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

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4.1 ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO DAS VAZÕES MÉDIAS DO RIO GRANDE

A Figura 4.3 mostra a variação das vazões médias mensais entre dois períodos, o

primeiro entre 1934 e 1979 e o segundo entre 1980 e 2012. A principal constatação feita é que

a diminuição das vazões médias foi bem maior para o período chuvoso, entre novembro e

abril, que as vazões médias no período seco, entre maio e outubro. Esta observação implica

que tem havido uma redução das vazões médias justamente no período chuvoso, momento no

qual os rios e lençóis freáticos deveriam receber a recarga hídrica para recuperar a baixa no

período seco, com esta redução no período chuvoso a recuperação nas vazões tende a ser cada

vez mais comprometida.

Figura 4.3: Vazões médias mensais médias na Estação Barreiras - 46550000.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

O Quadro 4.5, no início da página seguinte, apresenta os valores brutos para as vazões

mensais médias na Estação Barreiras relacionado ao gráfico acima. Comparando-se os doia

períodos em destaque, 1934 a 1979 e 1980 a 2012, nota-se uma redução entre o primeiro e o

segundo recorte de tempo, sobretudo entre as médias dos meses de setembro e outubro, época

entre o final da estação seca e o início da estação chuvosa. Já as médias da estação chuvosa,

entre novembro e fevereiro não sofreram uma redução tão expressiva.

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Quadro 4.5: Valores brutos das vazões médias na Estação Barreiras - 46550000.

Meses

Período Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

1934-

1979 141,1 147,1 145,1 133,8 111,3 99,9 95,3 91,5 90,7 101,0 122,2 144,8

1980-

2012 109,1 104,1 104,1 95,9 80,0 72,0 67,7 64,8 63,3 68,0 86,8 105,7

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

4.2 ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO DAS VAZÕES MÁXIMAS DO RIO

GRANDE

As vazões médias mensais máximas levam em consideração as maiores vazões obtidas

a cada mês, entre 1934 e 2012, ficando evidenciado principalmente no período chuvoso, de

novembro a março, no qual são registradas as maiores vazões - Figura 4.4. Durante este

período chuvoso a demanda de água captada nos rios ou em poços é bem menor que no

período seco, já que a rega das lavouras é feita através do uso da águas das chuvas.

Figura 4.4: Vazões médias mensais máximas na Estação Barreiras - 46550000.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

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Em relação às vazões máximas observou-se uma nítida diminuição nas vazões médias

máximas do Rio Grande entre o primeiro e o segundo período em destaque. Enquanto as

vazões máximas entre 1934 e 1989, durante o período chuvoso eram próximas a 200 m3/s,

entre 1980 e 2012 estão próximas de 150 m3/s, ou seja, uma diminuição de cerca de 50 m

3/s

desde 1980 até os dias atuais, como pode ser observado no Quadro 4.6. Um destaque

importante deve ser feito em relação a estes dados, no primeiro período analisado as médias

de vazão máxima para os meses de janeiro, fevereiro e março (período chuvoso) apresentam

menor variabilidade que no período de 1980 a 2012.

Quadro 4.6: Valores brutos das vazões máximas na Estação Barreiras - 46550000.

Meses

Período Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

1934-

1979 193,6 192,6 194,2 166,6 128,5 104,2 98,0 94,1 95,2 117,8 172,4 198,5

1980-

2012 153,8 136,5 136,2 118,6 90,9 75,5 70,3 67,3 68,5 81,6 121,5 154,1

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

4.3 ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO DAS VAZÕES MÍNIMAS DO RIO

GRANDE

As vazões médias mínimas destacam principalmente as vazões mínimas registradas no

período seco, entre abril e outubro. Assim como foi observado na figura anterior, a redução

das vazões mínimas no período seco foram bem menos expressivas que no período chuvoso,

comparando-se os dois recortes de tempo em análise. Vale ressaltar que a redução das vazões

médias mínimas desde 1980 até os dias atuais foi expressiva levando em consideração a

sazonalidade do rio Grande.

A Figura 4.5 na página seguinte evidencia que as duas curvas de vazões mínimas

apresentam um delineamento semelhante, o que pode indicar que não houve uma redução no

espectro hidrográfico, ou seja, não há uma variação muito expressiva entre as menores e as

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maiores mínimas entre os dois períodos. Evidencia-se sim é que houve um rebaixamento nas

vazões médias mínimas no rio Grande.

Figura 4.5: Vazões médias mensais mínimas na Estação Barreiras - 46550000.

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

O Quadro 4.7 apresenta os dados brutos das vazões médias mínimas entre 1934 a 1979

e 1980 a 2012, corroborando o que foi informado a pouco, a redução nas médias mínimas foi

relativamente proporcional do primeiro para o segundo período. A redução mais nítida entre

os dois períodos foi nos meses de fevereiro e março, período do final das chuvas.

Quadro 4.7: Valores brutos das vazões mínimas na Estação Barreiras - 46550000.

Meses

Período Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

1934-1979 118,0 122,8 121,6 114,5 103,0 97,2 93,3 89,2 86,9 88,5 99,3 116,6

1980-2012 86,7 88,4 84,6 83,6 74,0 67,2 65,7 62,5 60,0 60,8 70,0 86,0

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

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O Quadro 4.8 compara a vazão igualada ou excedida no rio Grande em “x” por cento

nos dois períodos citados. No período entre 1934 e 1979, foram realizadas 15.810 medições

de vazão na Estação Barreiras, de todas essas medições a faixa dos 5% encontra-se próxima

aos valores de 79,4 m3/s, a faixa dos 50% com valores na faixa dos 112 m

3/s de vazão, e a

faixa de 95%, que corresponde às maiores vazões, por volta dos 199 m3/s. Já para o período

que cobre a expansão agrícola até os dias atuais, 1979 a 2012, houve 12.512 medições, sendo

que a faixa dos 5% foi próxima a 57,1 m3/s, a dos 50% com valores próximos a 81,2 m

3/s, e a

faixa dos 95% com valores de vazão com valores de 127 m3/s.

Comparando os dois períodos pode-se constatar uma variação de vazão para as três

faixas de valores analisadas, na faixa dos 5% houve uma redução nos valores de vazão de

cerca de 28% entre o primeiro e o segundo período, na faixa dos 50% a redução foi de 27,5%,

e na faixa de 95%, que corresponde às maiores vazões a redução foi de pouco mais de 36%.

Nota-se, sobretudo pela faixa de valores de 95% das medições realizadas, que vem ocorrendo

uma nítida diminuição das vazões do rio Grande.

Quadro 4.8: Vazão igualada ou excedida no rio Grande em “x” por cento entre 1934 e 2012

(m3/s).

X = 5% X = 50% X = 95%

1934-1979 1980-2012 1934-1979 1980-2012 1934-1979 1980-2012

79,4 57,1 112 81,2 199 127

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

O quadro acima mostra a variação dos valores absolutos das vazões do rio Grande por

diferentes faixas de valores frente ao total de medições realizadas, já no Quadro 4.6, na página

seguinte, é feita uma comparação entre as médias diárias das vazões mínimas e máximas e da

média dos dois períodos. A média diária mínima entre 1934 e 1979 foi de 53 m3/s, entre 1980

e 2012 foi de 42,7 m3/s, houve uma redução de 19% entre o primeiro e o segundo recorte de

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tempo. A média diária máxima foi de 436 m3/s no primeiro período e de 348 m

3/s no segundo,

com uma variação percentual de 20,1% a menos.

Quadro 4.6: Variação percentual na vazão do rio Grande em “x” por cento entre 1934 e 2012

(m3/s).

Vazões médias diárias

Períodos Variação

percentual 1934-1979 1980-2012

Mínimas (m3/s) 53 42,7 -19%

Máximas (m3/s) 436 348 -20,1%

Média do período (m3/s) 118,2 84,5 -28,5%

Fonte: Elaborado pelo autor a partir da ANA (2012).

O quadro acima evidencia que houve uma redução nas vazões médias diárias máximas

e mínimas, bem como na média dos dois períodos analisados. Neste último aspecto analisado

a variação percentual foi de 28,5% a menos nas vazões, ou seja, as vazões do rio Grande vêm

passando uma redução desde 1980 até os dias atuais, processo que está associado à

modernização agrícola na região, com o aumento gradativo de demanda e consequente

redução na disponibilidade.

4.4 RISCOS QUANTO AO USO DOS RECURSOS HÍDRICOS EM BARREIRAS

Os principais riscos ambientais a que os recursos hídricos estão sujeitos no espaço

urbano são o da contaminação das águas, por conta de uma gestão ineficiente do esgoto

gerado, e o risco da disseminação de doenças transmissíveis pela água em função desta

contaminação. Na cidade de Barreiras o esgoto não tem tido o devido tratamento, como será

visto logo a seguir. Vale destacar que, além do risco de contaminação da água e da

disseminação de doenças, um outro risco que pode ocorrer é o da redução na disponibilidade

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de água, a médio e longo prazo, em função da demanda crescente em contraste com a redução

das vazões.

A cidade de Barreiras possui uma rede de esgotamento inicial realizada entre 1992 e

1996, que engloba sete bairros da cidade. Entre 1996 e 2010 não houve trabalho de expansão

desta rede pré-existente. Em dezembro de 2010 foi lançado pela Prefeitura Municipal o Plano

Setorial de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Barreiras (2010b), sendo

iniciadas no ano seguinte as obras de expansão do esgotamento sanitário. Esta obra tem

recebido muitas críticas por parte da mídia local e de estudiosos da gestão urbana, tanto de

órgãos públicos, quanto das universidades locais.

As críticas à condução das obras se referem à falta de transparência em relação à obra,

em relação aos novos Bairros que estarão sendo contemplados, e em relação à proficiência da

empresa executora, que tem gerado situações como a má compactação das valas abertas para a

tubulação em ruas de terra, que depois de cobertas, em muitos locais sofrem afundamento por

conta do peso dos carros e desalinhamento dos canos.

O sistema de esgotamento que havia até 2010 contava com cinco estações de

tratamento de esgoto, estações estas que foram finalizadas e ativadas em 1996. Através de

visita de campo a três destas estações, pôde-se observar alguns problemas graves em relação

ao tratamento de esgoto em Barreiras. As três lagoas de maturação são localizadas nos bairros

Vila Brasil, Antonio Geraldo (Lagoa do Ribeirão) e Bela Vista. Esta última estação encontra-

se isolada de áreas residenciais, diferente das outras duas, que possuem casas no entorno, a

uma distância média de vinte metros. Para as lagoas do Centro Histórico e do Conjunto

Habitacional Barreiras não houve acesso possível.

A Figura 4.6, a seguir, mostra a lagoa de tratamento localizada no bairro Vila Rica, um

bom exemplo da precariedade destas lagoas, a começar pela questão do isolamento físico da

lagoa, não existe um cercamento eficiente, e a comunidade do entorno tem livre acesso, o que

gera risco de contato e contágio, sobretudo para crianças e animais. Ao visitar as lagoas pôde-

se perceber que não tem ocorrido a remoção tanto dos sólidos flutuantes quanto dos sólidos

decantados. Esta informação foi corroborada através de depoimentos de moradores locais, que

informaram que, quando as lagoas foram ativadas em 1996 haviam funcionários fixos e o

trabalho de remoção dos sólidos era constante, porém, de alguns anos para cá, este trabalho

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não tem sido mais realizado, o dejeto apenas se decanta, a parte líquida é direcionada pelo

emissário ao rio Grande, e a parte sólida se mantém, saturando as lagoas.

Figura 4.6: Lagoa de tratamento de esgoto no bairro Vila Brasil.

Fonte: Autoria nossa.

A partir desta constatação, foi possível colher informações desses moradores próximos

às lagoas que alguns incômodos têm afligido os moradores: mau cheiro intenso, proliferação

de insetos diversos (moscas, pernilongos, baratas), além do risco de contato direto de crianças

e animais com a área de tratamento. Em estudos futuros, e mais aprofundados, seria

interessante realizar análises físico-químicas da água nos locais de lançamento dos emissários,

a fim de se buscar como se encontra a qualidade da água que está sendo encaminhada a

jusante de Barreiras em função do tipo de tratamento que está sendo realizado.

Esta questão é de suma importância ser melhor analisada, pois existem no espaço

intra-urbano e em seus arredores, tanto a montante quanto a jusante, diversos tipos de uso das

águas pela população local: uso recreativo, pesca, lavagem de roupas etc. Todos estes tipos de

uso podem ser vias de contaminação através de águas não devidamente tratadas. Segundo

dados do Censo do IBGE (2010), naquele ano houve 73 óbitos por doenças parasitárias. Isto

pode indicar que, tendo ou não consciência dos riscos a que a população está exposta ao

utilizar a água do rio, as pessoas continuam utilizando e algumas sofrendo enfermidades.

A questão do uso da água do rio pelos moradores mais carentes pode estar associada

também à deficiência no abastecimento. A cidade de Barreiras é localizada no vale do rio

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Grande, e em certos bairros localizados nas partes mais altas, nas vertentes, é corriqueiro

faltar água, ou o abastecimento ser irregular. Se a população mais carente já recorre à água do

rio corriqueiramente, em casos como estes mais ainda, permanecendo sujeitos à precariedade

do serviço de abastecimento oferecido e aos riscos ambientais que as águas do rio podem

propiciar.

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5. A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

A Lei das Águas, Lei No 9.433 de 1997, é o principal marco legal na gestão dos

recursos hídricos no Brasil, embora hajam outros anteriores, é com esta lei que se institui a

atual Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, da Agência Nacional das Águas - ANA

(2009). O Artigo 5o estabelece os principais instrumentos de gestão da atual PNRH, a saber: o

plano de recursos hídricos - PRH; o enquadramento dos corpos d’água segundo os usos

preponderantes; a outorga do direito de uso das águas; a cobrança pelo uso; o sistema de

informações sobre os recursos hídricos. Dentre os instrumentos citados, Silva (2006) destaca a

outorga do direito de uso como um dos mais importantes da atual PNRH, pois é através dela

que se faz o controle quantitativo do uso das águas, bem como sobre os direitos de acesso aos

recursos hídricos.

A Seção III da lei supracitada, em seu Artigo 11 define os objetivos da Outorga de

Direitos de Uso dos Recursos Hídricos: “... assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos

usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água”. Isto implica que o órgão que

seja responsável pela concessão e fiscalização das outorgas mantenha um sistema de

informações sobre os recursos hídricos, com dados quantitativos (relação entre a

disponibilidade e a demanda), mas também qualitativo (controle da qualidade da água e

detecção de possíveis contaminações). O Parágrafo único do Artigo 13 afirma que: “A

outorga de uso dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes”. Ou seja, a

demanda gerada por um dado tipo de uso não poderá afetar a disponibilidade a outros

usuários. Ministério do Meio Ambiente - (MMA, 2002, p. 26-27).

A outorga é o principal instrumento de controle sobre o uso da água, e ela implica,

dentre outras coisas, a cobrança pelo uso, a compensação aos municípios e a manutenção de

um sistema de informações sobre os recursos hídricos. No caso do Oeste da Bahia, como

informado pelo Escritório do INEMA em Barreiras, não ocorre a cobrança pelo uso, não tem

havido compensações ao município e o sistema de informações consta apenas dos dados

brutos sobre as outorgas concedidas (localização, característica do corpo d’água, valor

outorgado e outros). Porém, estes dados foram indisponibilizados ao autor deste estudo, e o

próprio órgão não possui estudos analíticos a respeito deste sistema de informações, trabalhos

que busquem relacionar a disponibilidade hídrica e suas recentes transformações frente à

crescente demanda. Com isto, tem-se que não há um monitoramento eficiente do uso, o que

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pode implicar em sobrexploração do recurso e possível desenvolvimento de risco ambiental

quanto à sua disponibilidade futura.

A gestão dos recursos hídricos é uma sub-área da gestão dos recursos minerais - águas,

solos e minérios, e de maneira mais abrangente parte integrante da gestão ambiental, ou seja,

da gestão dos recursos naturais renováveis e ou não-renováveis, sejam eles de origem mineral,

vegetal ou animal. Esta é uma temática de pesquisas, discussões e regulamentações que

passou a receber maior atenção a partir da segunda metade do século passado, tendo como

alguns dos marcos fundamentais a Conferência de Estocolmo, na Alemanha, em 1972, e a

ECO 92, no Rio de Janeiro, de acordo com Lanna (2000).

A efetividade e eficácia de uma boa política de gestão de recursos hídricos deve estar

atrelada a alguns pré-requisitos fundamentais: diagnóstico da realidade a ser trabalhada;

consulta e participação popular permanente; planejamento do modelo de gestão a ser adotado;

gestão tecnicamente qualificada e legalmente amparada; fiscalização e controle sobre as

formas de uso; avaliação e ajustes periódicos do modelo de gestão adotado. Os quatro

próximos itens tratarão de maneira mais detalhada dos tópicos supracitados, (MARANDOLA

JR e HOGAN, 2004).

A gestão dos recursos hídricos pode ser caracterizada, grosso modo, como a ação de

administrar, controlar e utilizar as águas, com o intuito da obtenção do máximo benefício

social possível, por tempo indeterminado, visando também a garantia desses recursos para as

futuras gerações, segundo Leal (2001). O benefício social referido pelo autor é vinculado a

três variáveis principais, o padrão de consumo vigente, a condição sociocultural dos usuários

e a qualidade ambiental almejada.

Assim como existem diversas formas de uso dos recursos hídricos, e distintos tipos de

usuários, vários também são os agentes envolvidos na gestão dos recursos hídricos, a saber: o

poder público, a sociedade civil organizada e os quadros técnicos. Oliveira (2008) apresenta a

gestão dos recursos hídricos como sendo um conjunto coordenado e articulado de ações, nas

diferentes escalas do poder público, embasadas no conhecimento técnico e com ampla

participação popular. Esta tem sido a perspectiva presente nos instrumentos legais já

existentes no país acerca de gestão das águas, mas nem sempre este pressuposto tem sido

colocado em prática efetivamente.

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O uso e gestão dos recursos hídricos envolve uma gama de interesses, ora convergentes,

ora discordantes, como aponta Lanna (2000). Os interesses econômicos, socioculturais e

ambientais se sobrepõem, e deste processo muitas vezes surgem conflitos entre os grupos de

usuários, e o poder público e o comitê de bacia têm o papel de mediar tais conflitos, a fim de

compatibilizar as diferentes formas de uso, bem como controlar a relação entre a

disponibilidade dos recursos e a demanda existente. Neste sentido, tem sido elaborados

diversos instrumentos legais, que servem ou deveriam servir, como parâmetro para a gestão

das águas.

A gestão dos recursos hídricos no Brasil, como destaca Barros (2000), quase sempre

tem sido associada aos termos gerenciamento e administração, dando-se um acento

economicista à questão. Porém, para o autor, gerenciamento e administração são etapas do

processo de gestão, que deve ser encarado como algo mais complexo e abrangente. Esta

ambiguidade que permeia o termo em discussão, tem desviado o foco das questões principais

relativas ao tema, tem invertido a ordem nas prioridades das ações a serem implementadas,

bem como mascarado muitos dos efeitos adversos ao ambiente natural.

Leal (2001) aponta que, a bacia hidrográfica é a unidade básica na análise e gestão dos

recursos hídricos, mas que este tipo de delimitação possui vantagens e desvantagens. As

vantagens relacionam-se ao fato de que este é um recorte de fácil delimitação em campo, e

que permite melhor estudar processos de relações causais, sobretudo nas pesquisas da

Geografia Física. Por outro lado, a delimitação de bacia muitas vezes extrapola limites

territoriais municipais e até mesmo estaduais, gerando impasses de gestão.

O trabalho de gestão de recursos hídricos, de acordo com Lanna (1995), deve ter uma

abordagem sistêmica, relacionando-se dialeticamente sociedade e natureza, compatibilizando-

se as diferentes formas de uso e os interesses dos diferentes grupos de usuários. O autor

destaca que a gestão deve englobar cinco funções gerenciais básicas, são elas: gerenciamento

dos usos setoriais; gerenciamento interinstitucional; gerenciamento das intervenções na bacia

hidrográfica; gerenciamento da oferta de água; gerenciamento ambiental. A Tabela 5.1, na

página seguinte, apresenta uma síntese destas funções.

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Tabela 5.1: Funções gerenciais na gestão das águas.

Fonte: Adaptado pelo autor a partir de LANNA (1995), apud. SILVA (2006).

\

Barth e Pompeu (1987) defendem que a gestão dos recursos hídricos deve considerar a

disponibilidade das águas e seu ciclo natural de renovação, a demanda social por recursos

hídricos e as demandas voltadas à produção, em seus vários setores. Para os autores, a gestão

e o gerenciamento das águas deve ser desenvolvido observando vários princípios norteadores

básicos. A seguir, de acordo com os autores supracitados, três destes princípios aparecem de

forma mais detalhada:

- Qualidade da água: Solvente universal, a água pode sofrer alterações de qualidade mesmo

na dinâmica natural do ciclo hidrológico, mas sobretudo, em função de ações humanas. Os

corpos d’água possuem capacidade de assimilar esgotos e de se auto-depurar, porém esta

capacidade é limitada, e certas substâncias tóxicas podem contaminar as águas de forma

irreversível. A erosão dos solos além de poluir as águas obstrui os canais. Neste sentido, o

monitoramento e controle sobre a qualidade das águas é primordial na gestão.

- Água como insumo energético: Os corpos d’água represados permitem, por força da

gravidade, movimentar turbinas para a produção de energia hidroelétrica, sendo que esta é a

principal matriz energética do país. No entanto, os represamentos podem interferir na

dinâmica dos rios a jusante das represas e na qualidade da água a jusante, quando há

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inundação de áreas com densa vegetação. Além disso, a disponibilidade energética está sujeita

às alterações sazonais do ciclo hidrológico.

- Aproveitamento das águas: A água, assim como o ar, é um elemento essencial à

sobrevivência, são recursos naturais de uso comum e de propriedade de todos, neste sentido, o

seu aproveitamento deve ser racional, buscando-se respeitar a disponibilidade e atender as

diferentes necessidades. Em momentos de escassez a água tende a assumir altos valores

econômicos, como de fato já ocorre em muitas regiões do planeta. Deste modo, o controle

sobre os usos e a otimização do aproveitamento são imprescindíveis na gestão.

A legislação ambiental relativa à gestão de recursos hídricos tem tido avanços

consideráveis nos últimos anos, porém, como apontam Braga et al. (2006), ainda existem

alguns desafios a serem enfrentados: aperfeiçoamento da legislação via experiência prática;

operacionalização da gestão descentralizada; integração entre os estados e a união; articulação

entre o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos - SINGREH e os demais

sistemas nacionais de gestão, sobretudo o Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA;

adoção do Plano de Recursos Hídricos - PRH como normativo para a atuação intersetorial;

estabelecimento de políticas públicas específicas a cada setor usuário; real inserção dos

municípios na gestão, e conservação das bacias hidrográficas.

Salati et al. (2006) apontam que mesmo com todos os conflitos, a tendência é que se

busque a utilização da água como fator de cooperação e não de conflito, como já vem

ocorrendo em outros países. Controle baseado na quantidade de água extraída, cobrança pela

água extraída e possibilidade de venda da cota a outros usuários, estes são alguns dos

mecanismos possíveis para se compatibilizar as demandas entre os diferentes usos, de fato,

alguns desses mecanismos já existem e são aplicados.

Cánepa et al. (1999) chamam a atenção para o fato de que há desperdício de expressivas

quantidades de água no abastecimento urbano, um dos principais usos consuntivos dos

recursos hídricos. Os autores defendem a incorporação do Princípio Usuário-Pagador - PUP,

segundo o qual, os usuários urbanos pagariam, não só pelo custo de captação-tratamento-

distribuição da água e pelo serviço de esgotamento sanitário, mas também uma taxa sobre a

quantidade retirada de água além da média necessária de consumo e outra sobre a quantidade

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de esgoto produzido. De acordo com os autores este mecanismo poderia inibir os desperdícios

e estimular o uso racional.

Cada forma de gestão está ligada a um modelo de gestão, modelo este embasado em

pressupostos político-filosóficos, interesses socioeconômicos específicos e instrumentos

legais diferenciados. A seguir serão apresentados os três principais tipos de modelos de gestão

de recursos hídricos, o caráter de cada um destes, bem como seus instrumentos de gestão,

além de uma breve análise crítica sobre cada um dos modelos, seus aspectos positivos e

negativos, sua aplicabilidade nas práticas de gestão.

A gestão dos recursos hídricos, ou mesmo o gerenciamento, como preferem muitos

autores, é um processo que envolve planejamento e ações de instituições públicas, privadas e

da sociedade civil, baseado em um modelo pré-estabelecido, no intuito de controlar os usos

das águas disponíveis em função das demandas existentes. O modelo a ser adotado deve

contemplar a conservação dos recursos hídricos, para evitar que usos inadequados e

desperdícios desnecessários possam vir a comprometer a disponibilidade dos recursos

futuramente, seja em quantidade ou em qualidade dos mesmos. A Tabela 5.2 apresenta uma

síntese dos três principais modelos de gestão utilizados no Brasil:

Tabela 5.2: Modelos de gestão das águas.

Fonte: Adaptado pelo autor a partir de LANNA (1995), apud. SILVA (2006).

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Lanna (1995) apresenta três tipos principais de modelos de gestão: o modelo

burocrático, o modelo econômico-financeiro e o modelo sistêmico de integração participativa.

Os modelos apresentados a pouco se sucedem ou se contrapõem, são modelos com diferentes

abordagens, que podem se justapor e complementar em muitos casos. Embora algum

determinado tipo de modelo seja considerado ultrapassado para a realidade atual, ainda é

possível notar características dos três tipos apresentados, em maior ou menor grau, bem como

a justaposição destes modelos.

Grosso modo, o modelo burocrático esteve bastante em voga na primeira metade do

século passado, sobretudo no período da ditadura militar, e é focado no âmbito legalista; já na

segunda metade do século passado, com a expansão agrícola e o aumento da produção de

energia hidroelétrica, passou-se a valorizar mais o modelo econômico-financeiro, priorizando

os usos que representavam maiores retornos financeiros ao Estado, sem perder a abordagem

burocrática; atualmente, tendo a bacia hidrográfica como recorte territorial de gestão das

águas, as políticas públicas voltam-se ao modelo sistêmico de integração participativa,

sistêmico pois leva em conta os diversos fatores socioambientais que envolvem a gestão, e de

integração participativa, pois busca envolver vários saberes, várias escalas de atuação e vários

segmentos sociais.

Os três tipos de modelos de gestão apontados por Lanna (1995) possuem suas

características específicas: o modelo burocrático dificulta a agilidade no encaminhamento das

decisões tomadas e das ações necessárias no processo de gestão, mas prioriza a legalidade das

ações; o modelo econômico-financeiro prioriza o retorno monetário dos usos, mas deixa em

segundo plano a necessidade da conservação ambiental; já o modelo sistêmico de integração

participativa prioriza a consulta e participação popular nas tomadas de decisão, mas tem

dificuldades de efetivar esta participação popular, tanto pela dificuldade logística na

mobilização social, quanto pela falta de interesse de grande parcela da sociedade.

A questão fundamental em relação aos três modelos citados é que não há um mais ou

menos adequado que o outro, como já foi falado todos possuem suas qualidades e suas

deficiências, e quase sempre se intercalam. Cabe aos órgãos gestores buscarem incorporar as

qualidades de cada modelo e buscarem ultrapassar as suas deficiências.

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A Tabela 5.3 sintetiza os instrumentos citados a pouco, seus objetivos principais e os

órgãos aos quais estão relacionados. Além dos instrumentos específicos de gestão dos

recursos hídricos, existem outros instrumentos mais abrangentes de intervenção e gestão

ambientais, instrumentos estes ligados às normatizações do Conselho Nacional de Meio

Ambiente - CONAMA.

Leal (2001) aponta três principais tipos de instrumentos de gestão utilizados pelo

referido órgão, os instrumentos de intervenção ambiental, os de controle ambiental e os de

controle repressivo. Para o autor, qualquer intervenção ao meio natural deve levar em

consideração a bacia hidrográfica como área de influência de empreendimentos

potencialmente poluidores. Neste sentido, a gestão dos recursos hídricos não é desvinculada

da gestão ambiental de maneira mais ampla, aliás, lhe é sim parte integrante, e todo plano de

gestão ambiental.

Tabela 5.3: Instrumentos, objetivos e órgãos de gestão das águas.

Fonte: Adaptado pelo autor a partir de SILVA (2006).

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A relação entre a oferta e a demanda por recursos hídricos é um dos aspectos

fundamentais na gestão das águas, de acordo com Yassuda (1993). Alguns dos mecanismos

pontuados pelo autor são apresentados de maneira sintética na Tabela 5.4, abaixo:

Tabela 5.4: Instrumentos de gestão da oferta e demanda das águas.

Fonte: Adaptado pelo autor a partir de YASSUDA (1993), apud. SILVA (2006).

A Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil, elaborada pela ANA (2012) aponta que

maior parte das águas retiradas e consumidas no país são destinadas à irrigação, seguido do

uso urbano, do uso industrial, do abastecimento de rebanhos animais e do uso rural. A Figura

5.1, na próxima página, apresenta os dados de retirada e consumo de água em relação aos

diferentes usos. Do total retirado, 54% é destinado à irrigação, 22% ao espaço urbano, 17% ao

setor industrial, 6% para os rebanhos e 1% para uso rural em geral.

O consumo subdividide-se em proporções semelhantes, sendo que do total de recursos

hídricos, 72% são utilizados na irrigação, 11% no abastecimento dos rebanhos animais, 9%

para o uso urbano, 7% para a produção industrial e 1% para o uso rural. Percebe-se que há um

desequilíbrio entre o total retirado e o total consumido no espaço urbano, 22% e 9%

respectivamente, isto pode estar relacionado ao montante desperdiçado durante o consumo,

além das perdas durante a distribuição, o mesmo caso ocorre para o uso industrial.

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Figura 5.1: Distribuição das vazões de retirada e consumo para diferentes usos.

Fonte: ANA (2012).

O aumento da demanda de uso de recursos hídricos para irrigação se acentuou a partir

da década de 1970 - Figura 5.2, a partir da mecanização da produção agrícola e da crescente

expansão das áreas exploradas pelo agronegócio nas áreas do Bioma do Cerrado. A demanda

para irrigação é a maior no Brasil e isto está atrelado à modernização agrícola, (SILVA,

2006).

Figura 5.2: Expansão da irrigação no Brasil.

Fonte: SILVA (2006).

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A distribuição da área irrigada por regiões geográficas brasileiras, para o ano de 2006,

segundo a Agência Nacional das Águas (2009), evidencia que a Região Nordeste é a terceira

em área irrigada, estando atrás do Sul e do Sudeste do país, ver Tabela 5.5. Mesmo sendo a

região com a situação mais crítica em relação à disponibilidade de recursos hídricos, como já

foi mostrado na Figura 5.2, mostrada a pouco, o Nordeste possui mais de um milhão de

hectares de terras irrigadas. A Conjuntura Nacional dos Recursos Hídricos mais recente, do

ano de 2012 não utilizou dados atualizados de irrigação por região, deste modo, foi utilizado

estes dados da Conjuntura anterior, de 2009.

Tabela 5.5: Área irrigada por Regiões Geográficas - 2006.

Fonte: ANA (2009).

Não só a região Nordeste possui uma vasta extensão de áreas irrigadas, como também

em particular a Região Hidrográfica do São Francisco. A Figura 5.3, na página seguinte,

mostra a extensão da área irrigada por Região Hidrográfica - RH, sendo que a RH do São

Francisco aparece como terceira em área irrigada, antecedida pela RH do Paraná e RH do

Atlântico Sul. São cerca de 640 mil de hectares irrigados. Algumas considerações devem ser

feitas a respeito do Oeste baiano e a Bacia do Rio Grande, que faz parte da Região

Hidrográfica do São Francisco. De acordo com Moraes (2003), a área destinada à produção

agrícola no Oeste da Bahia mais do que duplicou em um intervalo de dez anos, passando de

cerca de 470 mil ha em 1993 para aproximadamente 1,2 milhões de ha em 2003, sendo que

deste total, 800 mil ha são voltados à lavoura da soja. Desta área destinada à soja, 90 mil ha

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são de terras irrigadas, e aproximadamente 93% da irrigação ocorre através do sistema de pivô

central.

Figura 5.3: Área irrigada por Região Hidrográfica.

Fonte: ANA (2012).

Pinto et al. (2006) apontam que há perdas consideráveis de água nos sistemas de pivô

central no Oeste Baiano, segundo os autores, a literatura considera como aceitável o índice de

eficiência na irrigação de cerca de 80%, sendo que para a região os índices registrados foram

de pouco mais de 60%. Este índice leva em consideração a quantidade de água captada e a

quantidade de água perdida entre o espelho d’água e o pivô, estas perdas ocorrem em função

de maior ou menor distância entre o rio e o pivô, do estado conservação do sistema de

irrigação, da maior ou menor umidade relativa do ar, do grau de insolação direta e da

velocidade dos ventos.

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Estima-se que o consumo diário médio de água por pessoa em uma cidade

contemporânea seja de cerca de 200 L ANA (2012). Levando-se em consideração esta média

e a população da cidade de Barreiras em 2010, de 123.741 habitantes, estima-se que o

consumo diário de água na cidade seja de mais de vinte quatro milhões e setecentos mil litros.

Se for levado em conta que em cerca de 67% das residências os esgotos de cozinha e

lavanderia são canalizados para a rua ou para o rio, há ainda uma grande quantidade de água

gasta na lavagem da frente das casas, dos canais de esgoto a céu aberto.

O uso industrial também é significativo, tanto para a manutenção da limpeza no

ambiente de trabalho, quanto para fins específicos dos processos produtivos. Frigoríficos

demandam de água para lavar os subprodutos durante o processamento, bem como para a

manutenção das câmaras frias; fábricas de cervejas, refrigerantes e sucos processados

necessitam de água como ingrediente básico de seus produtos; fábricas de estruturas de

concreto (postes, manilhas, pré-moldados) demandam de água para a elaboração da massa

base de concreto.

A cidade de Barreiras - BA possui cinco instrumentos legais, que de forma direta ou

indireta, tratam da gestão de recursos hídricos, a saber: a Lei Orgânica Municipal, elaborada

em 1990 e consolidada em 2010; dois Planos Diretores Urbanos, um de 1990 e outro de 2003;

a Lei No 921/2010 - Código Municipal do Meio Ambiente de Barreiras (2010a), além do

Plano Setorial de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Barreiras (2010b). A

seguir estes documentos serão apresentados e co-relacionados.

A Lei Orgânica de Barreiras (2010), elaborada em 1990, e promulgada em 2010,

informa em seu Título I - Capítulo II que, dentre outras funções, são atribuições do

Município: manter a cooperação entre o município, o estado e a união na gestão dos serviços

públicos; elaborar e executar o plano diretor com ampla participação popular; proteger o meio

ambiente, preservando a fauna e a flora locais, e combatendo a poluição em suas diversas

formas; registrar, acompanhar e fiscalizar as conseções de exploração de recursos hídricos e

minerais em seu território.

O Capítulo II do Título V da Lei Orgânica trata da Política Urbana, e informa que esta

deve ser conduzida buscando-se alguns preceitos básicos: o plano diretor é o instrumento

básico de planejamento e gestão da expansão urbana, e deve ser revisado e alterado a cada

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dois anos; o plano definirá as normas de zoneamento, parcelamento, loteamento, ocupação e

uso do solo; o município deverá implantar e gerir, em parcerias com o estado e a união, os

sistemas de coleta - transporte - tratamento dos resíduos sólidos, de abastecimento de água, de

esgotamento sanitário e de drenagem de águas fluviais.

A Constituição de 1988 já estabelecia o plano diretor como o principal instrumento de

planejamento e gestão urbanos, porém, só a partir de 2001, com a aprovação do Estatuto da

Cidade é que isto se consolida. No bojo deste processo, intensificam-se as discussões sobre

reforma urbana e direito à cidade, tendo o plano diretor como instrumento mediador entre as

necessidades sociais urbanas e a gestão por parte do poder público. Figueiredo (2009) aponta

que, apesar de haver um número cada vez maior de municípios a elaborar seus planos

diretores, muitas vezes as ações preconizadas no plano não são postas em prática, sobretudo

por divergências políticas entre uma gestão municipal e outra precedente.

O PDU de 1990, que teria valência entre este ano e 2005, previu áreas prioritárias para

a conservação do rio Grande: o Parque Ecológico do rio de Ondas, afluente do rio Grande, já

citado anteriormente; o Parque Central do Vale do rio Grande, em toda a APP urbana de

Barreiras, o que envolveria desapropriação de áreas irregulares em diversos pontos da cidade;

um cinturão verde de proteção de encostas; além de duas áreas de projetos da Companhia de

Desenvolvimento do Vale do São Francisco - CODEVASF, dentro do perímetro urbano,

voltada à produção de alimentos. Destas propostas citadas apenas os projetos da CODEVASF

foram implantados, porém estão decadentes nos dias atuais. Estas áreas prioritárias são

importantes não só para o melhor conforto térmico no cidade, mas também para ajudar a

conter a erosão das margens do rio Grande e o assoreamento do rio.

O PDU de 2003, diferentemente do anterior, em seu documento apresenta toda a

estratégia metodológica e as formas de participação popular, porém, tecnicamente aparenta

ser menos criterioso que o anterior, apresentando inclusive propostas contraditórias à atual

política de gestão de recursos hídricos. Um bom exemplo disto é que o referido plano não

prevê áreas urbanas de conservação de margens e encostas, como no anterior, pelo contrário,

prevê ações que estão inclusive em contradição com a legislação federal sobre Área de

Preservação Permanente - APP’s.

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O Novo Código Municipal do Meio Ambiente de Barreiras (2010a, p. 39) - Lei No

921/2010 trata das normas gerais sobre a gestão ambiental no âmbito do município, engloba

diversos instrumentos legais de gestão, e traz alguns pontos específicos sobre os recursos

hídricos. O Artigo 84 deste código afirma que: “É vedado o lançamento ou a liberação nas águas,

no ar ou no solo, de toda e qualquer forma de matéria ou energia, que cause comprovada poluição ou

degradação ambiental, ou acima dos padrões estabelecidos pela legislação”. O monitoramento,

fiscalização e ocasional autuação e punição são papéis da Prefeitura Municipal, através da Secretaria

Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Barreiras - SEMMAS, entretanto, apesar da

atual obra de ampliação do esgotamento sanitário, maior parte das casas da cidade ainda lança seus

dejetos no rio Grande, e o governo local não tem dado conta de controlar tal problemática.

Lembrando que, se os efluentes não devidamente tratados lançados no rio não afetarão

a cidade de Barreiras, eles afetarão localidades a jusante, ou seja, o crescimento urbano de

Barreiras, aliado a uma gestão ambiental deficiente, geram externalidades que irão afetar

outros locais a jusante. Além disto, a biota aquática dos locais próximos ao lançamento dos

efluentes pode ser afetada pela contaminação da água, contaminação esta que pode retornar ao

ser humano através de pescado contaminado, ou de contaminação direta pelo uso da água.

Enfim, pode-se dizer, grosso modo, que o Novo Código Municipal do Meio Ambiente de

Barreiras não saiu do papel, não se efetivou plenamente na prática de gestão.

O Plano Setorial de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário de Barreiras

(2010b) em seu item 5.3, que trata da qualidade das águas superficiais no município, aponta

resultados de análise de qualidade das águas em 2001 para sete pontos de amostragem. Dois

dos pontos de coleta, no que tange às concentrações coliformes fecais e totais na água,

ultrapassam em muito os valores estabelecidos pela legislação, 1000 e 5000 Número Mais

Provável - NPM, respectivamente. Este índice é expresso pela densidade média de bactérias

contidas em 100 mL de amostra. Os pontos com discrepância de concentração de coliformes

situam-se ambos no rio Grande, um a montante da cidade e outro a jusante.

De acordo com Barreiras (2010b, p. 27) o ponto a jusante da sede municipal possui

valores de coliformes fecais e totais de 13 mil e 22 mil NPM/100 mL, respectivamente, ou

seja, estão, pela ordem, treze e cinco e meio vezes acima dos valores indicados pela legislação

ambiental. Já o ponto a montante da cidade possui valores de coliformes fecais e totais de 23

mil e 30 mil NPM/ 100 mL, respectivamente, o que está vinte e três e seis vezes acima dos

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valores limite, respectivamente. Nota-se que os dados apresentados dão fortes indícios de que

as águas que chegam na cidade já chegam contaminadas, e que o atual sistema de tratamento

não tem minorado esta contaminação, pelo contrário, as águas a jusante encontram-se ainda

mais contaminadas.

Discutiu-se até este momento que os problemas ambientais relativos aos recursos

hídricos, relacionando-se com a expansão agrícola e o crescimento urbano são vários, assim

como são vários os instrumentos legais de planejamento e gestão e órgãos envolvidos na

questão.

Frente a toda a problemática pontuada até então, foi oficializado no ano 2009 o

Comitê da Bacia do rio Grande, que possui uma sala sede no Escritório do INEMA em

Barreiras. Atualmente o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Grande é composto por: doze

entidades da organização civil ligadas aos recursos hídricos (duas instituições de ensino e

pesquisa, quatro entidades de classe, quatro ONGs e duas comunidades tradicionais); nove

entidades do poder público (quatro prefeituras, três órgãos estaduais - EBDA, INEMA e

Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia - CERB, e dois órgãos

federais - IBAMA e a Fundação Nacional do Índio - FUNAI); quinze entidades de usuários

das águas (três ligadas à irrigação, três ligadas à indústria e mineração, entidades ligadas à

pesca, ao lazer e turismo e à hidroeletricidade, sendo duas de cada, além da Empresa Baiana

de Saneamento e Águas S/A - EMBASA, enquadrada como abastecimento urbano e

lançamento de efluentes.

O quadro de membros do Comitê da Bacia do rio Grande é bastante heterogêneo,

sendo composto desde comunidades tradicionais ribeirinhas, entidades ambientais,

universidades e a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. Esta diversidade de

membros subentende uma diversidade de interesses e prioridades quanto ao uso dos recursos

hídricos, logo, o diálogo estabelecido entre os membros do comitê serve para mediar e

resolver possíveis conflitos em função do uso múltiplo. Entretanto, o ritmo acelerado da

expansão agrícola, atrelado ao crescimento populacional constante e suas consequentes

influencias no aumento da demanda de uso, tem conduzido a uma gestão que prioriza a

manutenção do atual modelo de uso, a despeito dos indícios de possibilidade de

comprometimentos futuros na disponibilidade hídrica.

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A condução da política pública de recursos hídricos no Brasil, em sua relação com a

agricultura irrigada, implica em decisões que interferem em diversas dimensões: ecológica,

social, econômica e política. Frente aos riscos possíveis ambientais advindos da agricultura

irrigada e do atual modelo de desenvolvimento agrícola, Folegatti et al. (2007, p. 9) afirmam

que: “Os líderes políticos têm a tendência de evitar os riscos, concentrando-se nas soluções

imediatas dos problemas mais cotidianos. Problemas mais complexos, que podem provocar

atritos políticos por envolver princípios econômicos e ecológicos recebem pouca atenção ...”.

Os autores destacam que os interesses político-econômicos têm prevalecido em relação às

questões ecológicas.

O atual modelo de desenvolvimento agrícola no Oeste da Bahia gera expressivas

demandas de uso de água para a agricultura irrigada, este processo interfere nas vazões do Rio

Grande e nos demais rios da região, e pode, a médio e longo prazo, implicar na intensificação

da redução das vazões. Frente a isto, é importante que o atual modelo de uso das águas seja

embasado em uma gestão criteriosa e eficiente, pois como informam Rodrigues e Irias (2004,

p. 6): “São dimensões relevantes para se avaliar os impactos ambientais: as ações de captação

da água, a sua distribuição, o seu uso e a sua descarga. Um dos instrumentos mais importantes

nesse processo é a gestão ambiental ...”.

Faggion et al. (2009, p. 190), destacam que uma das principais premissas da gestão de

recursos hídricos relacionada com o uso agropecuário deve ser o “uso eficiente da água”, que

busca “minimizar as perdas” e “maximizar o aproveitamento da água”. Para os autores isto

deve estar baseado não só na modernização dos sistemas de captação, distribuição e irrigação

mas principalmente, na análise ambiental constante, no monitoramento das mudanças nos

sistemas naturais, e na realização de possíveis adequações nos sistemas de uso e gestão frente

às reduções de disponibilidade dos recursos hídricos, quando estas são detectadas.

As três referências citadas neste tópico ilustram em parte, como tem se dado o atual

modelo de desenvolvimento agrícola no Oeste da Bahia, e como tem sido a relação deste

modelo com a conservação das águas. Nesta região as decisões políticas têm priorizado a

expansão agrícola, ignorando o fato de que as vazões do rio Grande e seus afluentes têm se

reduzido desde o início da expansão agrícola. Se por um lado os médios e grandes irrigantes

buscam realizar o uso eficiente da água, no intuito de reduzir os custos com as possíveis

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perdas, por outro lado a gestão ambiental não tem sido desenvolvida com base na análise

constante dos possíveis riscos ambientais, principalmente a diminuição das vazões dos rios.

De acordo com o que foi discutido, pode-se afirmar que o atual modelo de

desenvolvimento agrícola não tem priorizado a conservação dos recursos hídricos, questão

esta que envolve os gestores e os usuários, tanto no campo quanto na cidade. Caso a

diminuição das vazões do rio Grande e seus afluentes se intensifiquem no ritmo que já está

ocorrendo, e a disponibilidade das águas seja comprometida na região toda a população será

afetada: a agricultura irrigada pode se tornar insustentável e sofrer redução gradativa de

produtividade, afetando a economia regional como um todo; com a redução da

disponibilidade da água o abastecimento urbano em Barreiras poderá ser comprometido;

frente a tudo isto o atual sistema de gestão poderá se mostrar ineficiente frente à problemática

em voga.

Além do que já foi abordado sobre os reflexos da atividade agrícola e do crescimento

urbano sobre a dinâmica do rio Grande e seus afluentes, vale destacar também a questão da

variabilidade climática e seus reflexos tanto na atividade agrícola quanto nos rios da região. A

EMBRAPA (2010) aponta as principais conseqüências das mudanças climáticas na atividade

agrícola:

... alterações no regime de chuvas, temperatura e do zoneamento

agrícola das culturas, com potenciais reflexos no risco econômico da

atividade (por exemplo, em razão da ocorrência de eventos climáticos

extremos, como El Niño e La Niña) (...) além da possibilidade de

distorções de mercado (protecionismo e econômico maquiado).

(EMBRAPA, 2010, P. 26).

A EMBRAPA (2010, p. 25) aponta que há certa incerteza do setor produtivo frente às

oscilações pluviométricas, isto está associado, dentre outros motivos, por conta da

“compreensão ainda limitada da dinâmica atmosférica e climática e de suas relações com a

dinâmica hidrológica”. Lembrando que as oscilações pluviométricas e seus reflexos no regime

hidrológico irão interferir não só na atividade agrícola, mas também, principalmente na

capacidade de recarga dos corpos d’água e na sua dinâmica natural. A EMBRAPA aponta

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ainda as “imprecisões e lacunas no registro dos dados climáticos do passado, que servem

como ponto de partida para as projeções sobre o clima futuro”. Esta incerteza do setor

agrícola gera uma incerteza também da sustentabilidade ambiental e econômica da atividade

agrícola a médio ou longo prazo.

Se o setor produtivo pode estar relativamente vulnerável às oscilações no regime das

chuvas, também estão os rios da região e o próprio abastecimento urbano em Barreiras e

outras cidades do Oeste. Frente a isto, é essencial que haja um melhor conhecimento não só

sobre a variabilidade climática, mas também nas oscilações pluviométricas no Cerrado,

ocorrência natural relativa ao equilíbrio dinâmico dos sistemas e, sobretudo, nas mudanças na

dinâmica hidrográfica do rio Grande e de seus afluentes.

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6. CONCLUSÕES

A análise do modelo de desenvolvimento agrícola levado a termo no Oeste da Bahia

permitiu constatar que os rios Grande e de Ondas, em Barreiras, estão sujeitos a possíveis

riscos ambientais, sobretudo no que se refere à tendência na diminuição da disponibilidade

hídrica em função da redução nas vazões do rio nos últimos trinta anos. O aumento da

demanda de uso de água em Barreiras, associado à expansão agrícola e ao crescimento

urbano, tem sido expressivo desde 1980 até os dias atuais, e a capacidade do sistema hídrico

de suprir esta demanda vem sendo gradativamente comprometida.

As conclusões apontadas acima levam a considerar que, o atual sistema de estadual de

gestão de recursos hídricos e sua atuação no município de Barreiras e na região não vem

atendendo aos critérios de sustentabilidade e conservação ambiental. Há uma demanda

crescente tanto no campo quanto na cidade, há uma redução nas vazões dos rios Grande e de

Ondas, e frente a isto não há um plano específico de análise/avaliação e gestão do risco por

parte dos órgãos gestores. Isto faz com que haja uma incerteza por parte dos médios e grandes

produtores da região a respeito da sustentabilidade do atual modelo produtivo a médio ou

longo prazo. Há também uma incerteza quanto à disponibilidade hídrica para abastecimento

urbano frente à demanda crescente.

O risco quanto à disponibilidade hídrica já foi inclusive detectado por um órgão

gestor, a antiga Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia - SRH, atual Instituto do

Meio Ambiente e Águas - INEMA. Um estudo do referido órgão foi citado ao longo deste

trabalho, apontando que há um prognóstico de redução do saldo hídrico (relação entre a

disponibilidade e a demanda) até o ano de 2020. Porém, este prognóstico não tem sido

considerado para que sejam revistos os atuais parâmetros de gestão e concessão de novas

outorgas, bem como a fiscalização das outorgas já existentes não tem sido eficaz no intuito de

se coibir sobrexplorações aos recursos hídricos.

Atualmente está cada vez mais difícil estabelecer limites entre o que é rural e o que é

urbano, já que a relação dialética entre campo e cidade está cada vez mais dinâmica, e as

ações engendradas nestes dois espaços se influenciam mutuamente. O rural hoje só pode ser

entendido como um continuum do urbano do ponto de vista espacial, e do ponto de vista da

organização da atividade econômica, as cidades não podem mais ser identificadas apenas com

a atividade industrial e o setor de serviços, nem os campos com a agricultura e pecuária. Em

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Barreiras constata-se que o crescimento urbano dos últimos trinta anos está atrelado à

modernização agrícola, e que esta produção depende de toda a base logística existente na

cidade. Isto implica que, se a economia regional está baseada na produção agrícola, a

dinâmica urbana também está a diretamente influenciada por esta atividade econômica.

A base produtiva da atividade agrícola em Barreiras está calcada no cultivo de soja,

milho e algodão, e em menor medida de outros cultivos alimentícios. A demanda de uso de

água para a irrigação é expressiva, contudo, a possível mensuração das quantidades de água

utilizadas ao longo do ano é algo complexo, pois envolve diversos fatores e várias variáveis: o

tipo de solo em cada área, que irá influenciar no ritmo do crescimento dos cultivos; o tipo de

sementes, que podem ter ciclos mais ou menos rápidos, demandando maior ou menor

quantidade de água; a média de chuvas a cada ano, já que nos anos com chuvas mais regulares

a demanda de água captada nos rios ou nos poços tende a ser menor.

O INEMA é o órgão estadual responsável pela concessão de outorgas e controle sobre

o uso das águas. No Oeste da Bahia não há cobrança pelo uso agrícola da água, as outorgas

são concedidas mediante avaliação da relação entre a capacidade de suporte de captação em

dado local em função do volume a ser utilizado. Estas outorgas têm a duração de dois anos,

quando deve ser reavaliada a capacidade de suporte do local de captação, porém, ao longo dos

dois anos de concessão da outorga não há uma fiscalização dos volumes que são utilizados, o

que possibilita que sejam captados volumes bem maiores que os concedidos na outorga.

Como foi dito há pouco, este órgão não tem levado em conta o estudo realizado pelo órgão

que o originou, a antiga SRH, que aponta a tendência de redução da disponibilidade hídrica, e

novas outorgas vêm sendo concedidas, a despeito do risco detectado.

Somando-se apenas o uso pelos rebanhos animais e pela população urbana, o consumo

médio diário de água em Barreiras, no campo e na cidade chega a mais de 29 milhões e 534

mil litros por dia, não englobando o uso na agricultura irrigada, nem os outros tipos de uso

urbano (comércio, indústria, instituições públicas). A estimativa precisou ser feita pela

dificuldade de acesso aos dados junto aos órgãos responsáveis, a saber o INEMA e a

EMBASA, responsáveis pela concessão de outorgas e pelo abastecimento urbano,

respectivamente. A falta de transparência destes órgãos, que têm uma grande relevância

ambiental e socioeconômica, denota que os mesmos são resistentes a possíveis análises

críticas do tipo de gestão de recursos hídricos que vêm desenvolvendo na região.

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Estudos apontam que a gestão de recursos hídricos deve ser interdisciplinar,

multiescalar e interestitucional. Este último aspecto não tem se efetivado na região Oesta da

Bahia, ou seja, os órgãos gestores dos recursos hídricos não têm trabalhado em parceria.

Diversos órgãos ligados direta ou indiretamente à gestão dos recursos hídricos foram visitados

durante a pesquisa, e em todos eles foi informado por seus quadros técnicos que de fato há

uma dificuldade em se conseguir estabelecer parcerias entre os diversos órgãos, o que acaba

dificultando a realização de ações conjuntas envolvendo esses órgãos. São vários também os

instrumentos legais de planejamento e gestão ambiental na esfera municipal, contudo, as

diretrizes preconizadas por estes instrumentos não têm sido implementadas plenamente, e a

gestão tem se mostrado ineficiente frente à demanda crescente e as mudanças na dinâmica

hídrica.

A disposição inadequada de defensivos agrícolas, e seus possíveis efeitos no solos e

nas águas da região, não foi tema desta pesquisa, e ainda é um tema problemático e pouco

explorado. A despeito de haver campanhas periódicas por parte da Associação de Agricultores

e Irrigantes da Bahia acerca da disposição correta dos defensivos e de suas embalagens, a

Secretaria de Agricultura não consegue realizar uma fiscalização constante em todas as

fazendas da região. Sobretudo nas fazendas irregulares, sem o devido licenciamento

ambiental, esta disposição pode ocorrer de maneira inadequada, levando ao risco de

contaminação dos recursos hídricos e do solo.

No espaço urbano os principais riscos ambientais a que os recursos hídricos estão

sujeitos são o risco da contaminação das águas, por conta de um tratamento inadequado do

esgoto, e o risco da disseminação de doenças transmissíveis pela água em função desta

contaminação. Na cidade de Barreiras o esgoto não tem tido o devido tratamento, das cinco

lagoas de tratamento existentes na cidade, três foram visitadas, e nas três foi constatado que

não está havendo o tratamento completo do esgoto, está havendo apenas a decantação do

efluente e lançamento no rio Grande, a jusante de Barreiras. Vale destacar que, além do risco

de contaminação da água e da disseminação de doenças, um outro risco que pode ocorrer é o

da redução na disponibilidade de água para consumo urbano, a médio e longo prazo, em

função da demanda crescente em contraste com a redução das vazões.

Frente à constatação de que as vazões dos rio Grande e de Ondas, em Barreiras, vem

se reduzindo desde 1980 até os dias atuais, período da modernização agrícola na região.

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Aliado às oscilações na incidência das chuvas, que interferem nas vazões, a demanda

crescente e a concessão de outorgas sem levar em conta a paulatina redução das vazões pode

levar, a médio ou longo prazo, a um risco quanto à disponibilidade hídrica na região. Isto

pode comprometer a capacidade de recarga dos aquiferos, e por consequência, afetar o

abastecimento urbano, afetar também a economia regional calcada na atividade agrícola, o

que pode acarretar também em uma estagnação na economia regional. Frente a isto, a

conclusão mais relevante desta pesquisa é que os parâmetros de gestão e concessão de novas

outorgas deve ser revisto, e o risco ambiental detectado deve ser mensurado e gerido.

Frente a toda problemática que envolve o uso múltiplo e gestão das águas, surgiu há

quatro anos o Comitê da Bacia do rio Grande, composto por diversos setores da sociedade,

desde comunidades tradicionais ribeirinhas, entidades ambientais, universidades e a

Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. A despeito da busca de diálogo e

entendimento entre os diferentes tipos de usuários, as decisões do comitê acabam priorizando

a manutenção do atual modelo de uso das águas, a despeito dos indícios de possibilidade de

comprometimentos futuros na disponibilidade hídrica.

A condução da Política Nacional de Recursos Hídricos, em sua relação com a

agricultura irrigada, implica em decisões que interferem em diversas dimensões: ecológica,

social, econômica e política. Frente aos riscos possíveis riscos ambientais advindos da

agricultura irrigada e do atual modelo de desenvolvimento agrícola, os líderes políticos, tanto

na esfera Federal quanto na esfera estadual, têm tido a tendência de evitar os riscos,

concentrando-se nas soluções imediatas dos problemas detectados. Problemas mais

complexos, que podem provocar atritos políticos por envolver princípios econômicos e

ecológicos recebem pouca atenção, os interesses político-econômicos têm prevalecido em

relação às questões ecológicas.

Há também certa incerteza do setor produtivo frente oscilações na incidência de

chuvas, com anos mais ou menos chuvosos, uma ocorrência natural relativa ao equilíbrio

dinâmico dos sistemas. Isto está associado, dentre outros motivos, à compreensão ainda

limitada da dinâmica atmosférica e climática e de suas relações com a dinâmica hidrológica.

Lembrando que as variabilidades climáticas e seus reflexos no regime hidrológico irá

interferir não só na atividade agrícola, mas também, principalmente na capacidade de recarga

dos corpos d’água e na sua dinâmica natural. Esta incerteza do setor produtivo frente a estas

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oscilações pluviométricas gera uma incerteza também da sustentabilidade ambiental e

econômica da atividade agrícola a médio ou longo prazo. Se o setor produtivo pode estar

relativamente vulnerável, também estão os rios da região e o próprio abastecimento urbano

em Barreiras e outras cidades do Oeste.

O modelo agrícola no país tem dado prioridade à produção extensiva voltada à

exportação, sobretudo ao cultivo de soja. A política agrícola brasileira está atrelada ao capital

internacional e aos ditames do mercado, e, neste contexto, o aparato legal sobre a questão

ambiental tem sido deixado em segundo plano, hajam vistas todas as polêmicas envolvendo

reserva legal e áreas de preservação permanente na aprovação do Novo Código Florestal.

Várias leis e instrumentos de gestão de recursos hídricos foram discutidos ao longo do

trabalho, documentos bem elaborados e bem consubstanciados quanto aos parâmetros

sustentáveis para uso e gestão das águas. Porém, a pressão do setor econômico frente aos

governos, em suas três esferas de poder, faz com que as decisões políticas priorizem a

manutenção do atual modelo produtivo.

Frente a tudo o que foi exposto, conclui-se que, o atual modelo agrícola brasileiro, que

tem influenciado no crescimento urbano em regiões de produção agrícola, tem gerado uma

demanda crescente de recursos hídricos. A despeito do desenvolvimento econômico que a

atividade agrícola tem gerado em muitas regiões do país, os indícios mostram que riscos

ambientais podem advir desta atividade, riscos estes que podem tornar esta atividade

insustentável a médio ou longo prazo. Esta insustentabilidade poderá ser não somente

econômica, mas, sobretudo, ecológica, com o comprometimento da disponibilidade dos

recursos hídricos, e social, com a possível estagnação econômica de regiões nas quais a

agricultura é o principal vetor de desenvolvimento. Por conta disto, é necessário rever os

parâmetros para uso e gestão de recursos hídricos, a fim de se evitar possíveis efeitos

socioeconômicos e ambientais irreversíveis no futuro.

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