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    Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 1, n. 1, p. 26 - 28, 2009

    que oi estudada por esses consensos tem as mesmas caractersticas da

    populao onde pretendemos aplicar seus resultados?

    importante termos sempre em mente que os estudos

    experimentais, por mais bem desenhados que sejam, normalmente

    apresentamvalidade externa (capacidade de extrapolao dos resultados)limitada, j que se aplicam somente populao estudada, ainda que,

    repetimos, os estudos normalmente no explicitem as caractersticas

    dessa populao. Por isso cabe a ns, leitores, examinarmos com olhos

    de lince as inormaes contidas nas pesquisas publicadas.

    Vamos voltar aos parausos. bvio que no nada sensato

    pensar em medir o dimetro de todos os parausos produzidos por A

    e por B em um determinado dia. O ideal voc selecionar de orma

    aleatria um determinado nmero n de parausos de A e B, medir

    seus dimetros e comparar suas mdias. A esse subconjunto de uma

    determinada populao damos o nome de amostra.

    Tendo em mente os conceitos undamentais de populao e amostra,

    podemos compreender os dois papis que a estatstica desempenha rente

    aos resultados encontrados: a) anlise descritiva: descreve o resumo das

    medidas da amostra (mdia, mediana, desvio padro, etc.); b) anlise

    inerencial: atravs dos testes de hipteses (valor de p e intervalos de

    confana) diz qual a probabilidade de estarmos corretos ao extrapolar os

    resultados encontrados nas amostras para as populaes estudadas.

    Lembre-se sempre de que a estatstica no trabalha com certezas, e

    sim com probabilidades. Alm disso, a nica coisa que a estatstica e o to

    propalado valor de p podem azer por voc dizer com que rau de certeza

    voc pode extrapolar seus achados para a populao que voc estudou.

    A estatstica no pode dizer mais nada! Muitos pesquisadores esperam

    dessa cincia mais do que ela pode oerecer, muitas vezes eneralizandoresultados ou tomando o valor de p como doma, dizendo estarem

    respaldados pela estatstica, sem perceberem que a estatstica no se presta a

    extrapolar resultados de uma populao delimitada para outras populaes.

    Para que voc consia cumprir seu objetivo, ou seja, tirar

    concluses a respeito das populaes a partir da anlise das

    amostras, claro que essas amostras precisam de ter um tamanho

    (n) tal que permita que elas sejam representativas da populao. A

    perunta que no cala : qual o tamanho de n que arante que

    a amostra representa bem a populao acerca da qual desejamos

    tirar concluses? Uma coisa certa: se o n amostral or sufciente

    para arantir que a amostra representa a populao, ento esse n

    adequado. Dito isto, fca claro que o que importa que a amostra

    seja representativa. Vamos discutir aora as caractersticas que a

    amostra precisa ter a fm de cumprir esse papel.

    3 AMOSTRA REPRESENTATIVA

    Ainda aproveitando o exemplo dos parausos, a primeira

    preocupao que precisamos ter : qual parausos servem para compor

    a amostra (critrios de incluso) e quais no servem (critrios de

    excluso). Um critrio de incluso poderia ser, por exemplo, parausos

    abricados pelas mquinas A e B em um determinado dia. Um exemplo

    de critrio de excluso seria: no entraro na amostra parausos que

    apresentem aluma alterao (deeito, etc.), percebida a olho nu.Uma vez defnidos os critrios de incluso e excluso, o seundo

    passo tentar arantir que todos os elementos da populao tenham

    a mesma probabilidade de serem escolhidos para compor a amostra.

    O ideal seria que essa escolha osse aleatria, atravs alum tipo de

    sorteio (randomizao), como por exemplo: a cada 10 parausos

    produzidos, escolher sempre o dcimo para compor a amostra, at

    completar o n desejado. Muitas vezes o pesquisador se v obriado a

    utilizar uma amostragem por convenincia, ou seja, utilizar os elementos

    ou dados que esto disponveis (ex: entrevistar os alunos de um mesmo

    perodo e de um mesmo curso). A amostraem por convenincia,

    apesar de estar sujeita a vcios de seleo, no necessariamente um

    procedimento condenvel. Existem tcnicas estatsticas para ajudar

    a controlar as possveis variveis intervenientes que possam surir.

    Com certeza a ase de elaborao do projeto o melhor momento

    para trocar ideias com alum colea que tenha boa experincia com

    estatstica. O aconselhamento estatstico deve ser preventivo, pois o

    mais importante em qualquer projeto saber escolher adequadamente

    a populao, azer uma boa amostraem e traar estratias para

    contornar as variveis de conuso. Nenhum sotware de estatstica

    capaz de azer isso. Os proramas apenas azem clculos sem entrar no

    mrito da qualidade das inormaes neles diitadas.

    Levando em considerao os dois passos iniciais (escolha dos

    critrios de incluso e excluso, e a tcnica de amostraem), fnalmentecheada a hora de discutir qual deve ser o valor ideal do n amostral.

    4 O TAMANHO DA AMOSTRA

    Ao contrrio do que muitos acreditam, talvez seja pouco vivel e

    at certo ponto intil tentar calcular, a priori (antes do experimento

    comear), o tamanho do n amostral sufciente para que a amostra seja

    representativa da populao. Acreditamos que o mais sensato e actvel

    seja, uma vez determinadas sua populao e amostra, comear a coleta dos

    dados, e na medida em que estes vo sendo colhidos voc j ir analisando

    sua distribuio e suas caractersticas. Nesse sentido, acreditamos que

    a determinao do n amostral seja um processo dinmico, que podemudar na medida em que os dados vo sendo colhidos e analisados.

    Vejamos alumas dicas sobre como proceder na prtica.

    Inicie sua coleta, a aps ter colhido de 8 a 10 dados por rupo,

    calcule a mdia e o desvio padro dos dados coletados (isso pode ser

    eito com uma calculadora ou com qualquer um dos muitos sotwaressotwares

    e proramas erenciadores de planilhas eletrnicas disponveis no

    mercado). Se os resultados suerirem uma distribuio em que a

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    Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 1, n. 1, p. 26 - 28, 2009

    maior parte dos dados se concentra prxima da mdia, e a variao

    dos dados em relao mdia no or muito rande, possvel que

    os dados de sua amostra apresentem uma distribuio simtrica, o

    que suere que representam bem a populao estudada. Voc pode

    visualizar essa distribuio construindo um historama ou um box-plot dos dados (atravs de sotware), ou ento usando uma rera

    prtica, que extremamente simples e na maioria das vezes unciona

    muito bem: se o desvio padro for menor que a metade da mdia, muito

    pouco provvel que sua distribuio seja assimtrica. Nesse caso, se em

    todos os rupos (amostras) estudados a distribuio or simtrica,

    talvez os 8 ou 10 sujeitos analisados sejam sufcientes para que voc

    possa aplicar testes estatsticos com seurana. por isso que existem

    muitos bons estudos publicados com um n = 8 (ou at menos) em

    cada rupo. No o tamanho da amostra que garante bons resultados,

    mas sim sua qualidade(capacidade de representar a populao). Nos

    experimentos com modelos animais, onde a variabilidade muito

    pequena, eralmente um n de 8 a 10 animais por rupo costuma

    ser satisatrio. No caso dos parausos, provvel tambm que voc

    consia inerir, com uma boa probabilidade de acerto, se a produo

    das mquinas A e B dierente, usando em torno de 10 parausos (ou

    menos) por amostra.

    Em experimentos com seres humanos, onde a variabilidade bem

    maior em uno da individualidade biolica de cada um, e muitas

    vezes no se conseuem amostras to homoneas e bem controladas,

    um n amostral de 15 sujeitos por rupo j pode ser sufciente, desde

    que as amostras tenham distribuio simtrica e o desvio padro das

    amostras no seja muito dierente.

    No entanto se or possvel conseuir cerca de 30 sujeitos por rupo,nem ser necessrio se preocupar com a distribuio das amostras,

    pois um importante undamento matemtico denominado teorema

    central do limite, arante que com um n em torno de 30 as mdias

    amostrais apresentam uma distribuio que tende distribuio

    normal, independentemente da orma da distribuio da amostra em

    si. Em outras palavras, se tomamos repetidamente amostras aleatrias

    independentes de tamanho n de uma populao, ento se n or rande,

    a distribuio das mdias amostrais vai se aproximar de uma distribuio

    normal (para conhecer detalhes matemticos sobre esse teorema, reporte-

    se a JAMES, 2004). Como a maior parte dos testes estatsticos trabalha

    com mdias amostrais, loo a maioria dos testes so robustos o sufciente

    para ornecer resultados confveis, independentemente da distribuio

    das amostras, quando o n maior que 30.

    At existem testes estatsticos para verifcar a normalidade das

    amostras, bem como para verifcar se as amostras so homocedsticas

    (apresentam varincia semelhante), porm se a amostra or rande

    ou a distribuio or aparentemente simtrica esses testes se tornam

    desnecessrios (uma discusso mais detalhada sobre isso pode ser

    encontrada nos livros sueridos nas reerncias bibliorfcas).

    Para fnalizar, vamos tentar derrubar um perioso mito que

    existe acerca do n amostral. muito comum ouvirmos sobre o

    tamanho da amostra a seuinte afrmativa: quanto maior, melhor. Isso

    defnitivamente no verdade. Com reerncia a essa questo se aplica

    pereitamente o dito popular de que tamanho no documento.Na verdade, amostras muito randes podem muitas vezes ser

    periosas, pois quanto maior o n amostral, maior a probabilidade

    de encontrarmos uma dierena estatisticamente sinifcativa (o

    amierado p < 0,05) entre os rupos estudados, ainda que tal dierena

    no tenha defnitivamente sinifcado prtico alum. Inelizmente essa

    artimanha estatstica de esticar o n at achar um p sinifcativo

    bem mais comum do que se imaina, e muito disso ocorre pelo ato

    de um rande nmero de peridicos se recusarem terminantemente a

    publicar resultados ditos neativos (com um p > 0,05). Seria muito

    saudvel se os peridicos contassem com revisores e consultores que

    tivessem traquejo em estatstica.

    Para concluir, lembramos novamente que, a qualidade das amostras

    muito mais importante que o tamanho das mesmas. Aqui, mais uma

    vez, se confrma a primazia da qualidade sobre a quantidade.

    5 REFERNCIAS

    COCHRAN, W. g., Tcnicas de amostragem. Rio de Janeiro:Editora Fundo de Cultura, 1965.

    JAMES, B. R., Probabilidade: um curso em nvel intermedirio. 3 aed. Rio de Janeiro: IMPA, 2004.

    JEKEL, J. F.; ELMORE, J. g.; KATZ, D. L., Epidemiologia,bioestatistica e medicina preventiva, Porto Alere: Artmed, 2002.

    MOORE, D. S. A., Estatstica bsica e sua prtica. 3a ed. Rio deJaneiro: LTC, 2005.

    MOURAO-JUNIOR, C. A., Bioestatstica: armadilhas e comoevit-las. Boletim do Centro de Biologia da Reproduo , v. 25, p.105-111, 2006.

    SNEDECOR, g.W.; COCHRAN, W. g. Statistical methods. 8thed. Ames: Blackwell, 1989.

    SOKAL, R. R.; ROHLF, F. J., Biometry. 3rd ed. New York: W. H.

    Freeman, 2003.

    TRIOLA, M. F., Introduo estatstica. 7a ed. Rio de Janeiro:LTC, 1999.

    ZAR, J. H., Biostatistical analysis. 3rd ed. Upper Saddle River:Prentice Hall, 1996.