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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL RIBOTIPAGEM E VIRULÊNCIA DE Listeria monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA Autor: Válter Ferreira Félix Bueno Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita GOIÂNIA 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

RIBOTIPAGEM E VIRULÊNCIA DE Listeria

monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA

Autor: Válter Ferreira Félix Bueno Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita

GOIÂNIA 2007

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VÁLTER FERREIRA FÉLIX BUENO

RIBOTIPAGEM E VIRULÊNCIA DE Listeria monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA

Tese apresentada como requisito parcial para

obtenção do grau de Doutor em Ciência

Animal junto à Escola de Veterinária da

Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração: Higiene e Tecnologia de Alimentos

Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita

Comitê de Orientação Prof. Dr. Guido Fontgalland Coelho Linhares

Profª. Drª. Iolanda Aparecida Nunes

GOIÂNIA

2007

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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

(GPT/BC/UFG)

Bueno, Valter Ferreira Félix. B928r Ribotipagem e virulência de Listeria monocytogenes de origens alimentar e humana / Valter Ferreira Félix Bueno. – 2007. v, 50 f. : il., grafs. Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita; Co- Orientadores: Guido Fontgalland Coelho Linhares, Iolanda Aparecida Nunes. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Goiás. Escola de Veterinária, 2007. Bibliografia. 1. Alimentos - Microbiologia 2. Intoxicação alimentar 3. Listeria monocytogenes 4. Virulência (Microbiologia) 5. Higiene alimentar 6. Alimentos – Qualidade I. Mesquita, Albenones José de. II. Linhares,Guido Fontgalland Coelho III. Nunes, Iolanda Aparecida IV. Universidadade Federal de Goiás. Escola de Veterinária V. Título.

CDU : 664:576.8

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Ao meu pai, José Félix Bueno (in memorian) e minha

mãe, Olinda Ferreira Bueno, que não tiveram

oportunidade de sequer completar o primeiro grau.

Minha conquista é, antes de tudo, sua conquista.

À toda minha família, pelo carinho e apoio.

Ao meu irmão José Dutra Corrêa e sua família,

desejando-lhes forças para seguir em frente.

Ao meu orientador, que sempre me apoiou e que às

vezes, acreditou mais em mim do que eu mesmo.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, que me acompanha, iluminando meu caminho, guiando meus

passos e me ajudando a tentar fazer o melhor possível.

À minha família, especialmente meu pai (in memorian), minha mãe e

meus irmãos, os quais além do apoio e confiança, ensinaram-me o significado e o

valor de palavras como respeito, honestidade e humildade. Das estrelinhas na

fazenda ao “congratulations” na universidade americana, dos gibis aos artigos

científicos em inglês, das bananas fritas amassadas com farinha em Silvânia ao

hambúrger nos Estados Unidos, dos sacos de açúcar rasgados ao Ipod, do

dinheirinho dos queijos e galinhas ao salário do Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento, dos dias de choro no Moisés Santana ao doutorado na UFG:

vocês estiveram presente durante toda minha caminhada e devo a vocês por ter

chegado até aqui.

Ao Prof. Dr. Arun K. Bhunia, do departamento de Ciência dos Alimentos

da Universidade Purdue, em Indiana, EUA, o qual gentilmente me recebeu e

orientou na condução dos trabalhos laboratoriais. E aos seus orientandos,

especialmente à Padmapriya P. Banada e Pratik Banerjee, pelo apoio e

companheirismo.

Ao CNPq e CAPES, pelas bolsas concedidas.

Aos laboratórios da FIOCRUZ, da USP e do ITAL que cederam os

isolados bacterianos utilizados no presente estudo.

À equipe do CPA, local de trabalho e pesquisa, mas acima de tudo, um

ambiente acolhedor, onde pude aprimorar meus conhecimentos, desde a

especialização.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................... 1 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 6 CAPÍTULO 2 – ANÁLISES DE CITOTOXICIDADE E RIBOTIPAGEM EM

Listeria monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA NO BRASIL...............................................................

9

RESUMO..................................................................................................... 9 ABSTRACT.................................................................................................. 10 1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 11 2. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 13

2.1 – Obtenção dos isolados e local de realização dos experimentos... 13 2.2 – Ribotipagem................................................................................... 13 2.3 – Citotoxicidade................................................................................ 15 2.4 – Análise estatística.......................................................................... 18

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................. 20 4 - CONCLUSÕES....................................................................................... 28 5 – REFERÊNCIAS...................................................................................... 29

CAPÍTULO 3 – AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE GENES QUE CODIFICAM

FATORES DE VIRULÊNCIA E DA CAPACIDADE DE INVASÃO CELULAR DE ISOLADOS DE Listeria monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA OBTIDOS NO BRASIL.............................................................. 31

RESUMO..................................................................................................... 31 ABSTRACT.................................................................................................. 32 1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 33 2. MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 35

2.1 – Obtenção dos isolados e local de realização dos experimentos... 35 2.2 – Detecção da presença de genes que codificam fatores de

virulência através da reação em cadeia da polimerase (PCR)....... 36 2.3 – Avaliação da capacidade de invasão celular................................. 37

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................. 41 4 - CONCLUSÕES....................................................................................... 45 5 – REFERÊNCIAS...................................................................................... 46

CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................... 49

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CAPÍTULO 1: CONSIDERAÇÕES GERAIS

O Brasil destaca-se no cenário internacional por sua grande produção e

exportação de produtos agropecuários. É o maior exportador de carne, o que tem

contribuído para o saldo positivo na balança comercial. No entanto, para entrar e

se manter no mercado internacional, além de preços competitivos os produtos

brasileiros devem apresentar elevada qualidade microbiológica. Nesse aspecto,

deve-se destacar a importância do controle de patógenos de veiculação alimentar.

Entre os agentes bacterianos de doenças veiculadas por alimentos,

apesar da sua baixa ocorrência em relação a patógenos como Staphylococcus

aureus, Escherichia coli e Salmonella spp., destaca-se a Listeria monocytogenes,

causadora de graves casos de listeriose humana, com elevados índices de

letalidade (ALTEKRUSE et al., 1997; MEAD et al., 1999; SCHLECH III, 2000). Os

principais alimentos associados à ocorrência dos surtos são leite crú e

pasteurizado, queijos, vários produtos cárneos e saladas cruas (SCHLECH, 1996;

McLAUCHLIN et al., 2004).

Desde o primeiro surto de listeriose de origem alimentar registrado em

1981 no Canadá, vários surtos foram relatados em diversos países e, em 1988 a

bactéria foi considerada um importante patógeno de origem alimentar pela

Organização Mundial de Saúde (HOF & ROCOURT, 1992). Na maioria dos

surtos, menos de 100 pessoas foram acometidas. Entretanto, em 1997 foi

registrado um surto na Itália onde 1.566 indivíduos foram afetados (McLAUCHLIN

et al., 2004).

O aumento da ocorrência de surtos deveu-se principalmente às

mudanças no processamento e nos hábitos de consumo dos alimentos, aumento

proporcional dos grupos de risco e também, desenvolvimento de melhores

recursos diagnósticos (ALTEKRUSE et al., 1997; PAOLI et al., 2005).

No Brasil, a ocorrência de listeriose de origem alimentar é rara.

Provavelemente esse fato esteja relacionado à não necessidade de notificação

dos casos (BRASIL, 2006), à precariedade do sistema de saúde pública nacional,

aliada à dificuldade de isolamento do patógeno, além de provável predominância

de casos esporádicos, os quais não são relatados. Considerando esses aspectos

e ainda a constatação de que os alimentos mais relacionados com a veiculação

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da infecção são amplamente consumidos no Brasil, pode-se inferir que a listeriose

humana de origem alimentar não seja uma doença rara no país.

Concomitantemente ao aumento mundial dos surtos de listeriose e com

o objetivo de melhor compreender a infecção e aplicar medidas de prevenção e

controle, ocorreram avanços científicos que permitiram o conhecimento dos

fatores de virulência de L. monocytogenes. Essa bactéria possui um complexo

mecanismo que acarreta danos ao hospedeiro e lhe confere proteção contra o

sistema imune. Didaticamente, esse mecanismo pode ser dividido em cinco

eventos principais: aderência-invasão da célula hospedeira, lise do vacúolo

primário, multiplicação intracelular, disseminação intercelular e lise do vacúolo

secundário (PAOLI et al., 2005).

O estudo de tais processos em condições de laboratório torna-se

essencial para identificar e diferenciar os isolados obtidos a partir de amostras do

ambiente de processamento dos alimentos, dos próprios alimentos ou de

pacientes com listeriose. O ensaio de virulência em camundongos constituiu o

primeiro método desenvolvido para avaliação da virulência desse patógeno mas,

embora ainda consista na prova de referência, o método é laborioso e demorado,

motivos que justificaram o desenvolvimento de métodos in vitro, utilizando

culturas celulares, que são mais rápidos e mais fáceis de serem executados

(PINTO et al., 1983; GAILLARD et al., 1987; PINE et al., 1991; BHUNIA et al,

1994; LIU, 2006).

Entre esses métodos, destacam-se os que utilizam a linhagem de

células Caco-2, semelhantes aos enterócitos humanos e a linhagem de células

Ped-2E9, hibridomas murinos de linfócitos B. Por meio dessas culturas celulares

pode-se avaliar a aderência, invasão e multiplicação intracelular de L.

monocytogenes, bem como sua citotoxicidade (BHUNIA & WAMPLER, 2005).

As células Caco-2 apresentam muitas características dos enterócitos

humanos diferenciados, incluindo a típica borda em escova e enzimas

encontradas no intestino (PINTO et al., 1983). Assim, essas células podem ser

utilizadas, simulando condições próximas às de uma infecção natural no homem,

para avaliar o potencial patogênico de diferentes isolados, sem necessidade de

utilização de animais de laboratório, o que significa baixos custos e facilidade de

execução (LIU, 2006).

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L. monocytogenes penetra nas células Caco-2 induzindo sua fagocitose

em um processo mediado, principalmente, pela internalina A, uma proteína

localizada na superfície bacteriana. Uma vez dentro da célula, o patógeno evade

do fagossoma devido a ação de uma hemolisina, multiplica-se com um tempo de

geração de 90 minutos e forma caudas de actina que permitem sua disseminação

intercelular (GAILLARD et al., 1987; VASQUEZ-BOLAND et al, 2001; BHUNIA &

WAMPLER, 2005).

A avaliação da citotoxicidade pode ser realizada direta ou

indiretamente, utilizando-se as células Ped-2E9. O método direto baseia-se na

aplicação de corantes, como o azul de tripan, nas células expostas às bactérias.

Esse corante não penetra em células com a membrana celular intacta. Assim, as

células mortas são coradas e as viáveis permanecem sem coloração, o que

permite a contagem diferencial em microscópio óptico e a obtenção de uma

estimativa do nível de citotoxicidade (FRESHNEY, 2000).

Por sua vez, o método indireto baseia-se na determinação da

quantidade da enzima fosfatase alcalina (ALP) liberada das células Ped-2E9

infectadas. Assim, quanto maior a liberação da enzima, maior a citotoxicidade

(BHUNIA & WESTBROOK, 1998). Essa enzima é uma glicoproteína da

membrana celular, produzida por linfócitos B ativados. A maioria das células B

requer uma estimulação mitogênica por compostos como lipopolissacarídeos para

produzir ALP, entretanto, algumas hibridomas de células B, como as Ped-2E9,

expressam ALP mesmo na ausência de um ativador (SHROYER & BHUNIA,

2003).

Hibridomas são células resultantes da fusão de linfócitos B e células de

mieloma, que mantêm as características das células mãe, mais notadamente, a

habilidade de sintetizar anticorpos e multiplicarem-se infinitamente (BUTLER,

2004). Nessas células, quando ocorre dano à membrana celular, a enzima ALP é

liberada e, conseqüentemente, pode ser detectada e quantificada como um

indicador de citotoxicidade (BHUNIA & WAMPLER, 2005).

A verificação da presença de genes que codificam fatores de virulência

constitui outra forma de avaliar o perfil patogênico de bactérias. Para L.

monocytogenes, tal estudo pode ser realizado utilizando-se meios de cultura,

onde algumas características como atividade hemolítica e fosfolipásica podem ser

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visualizadas. No entanto, a confiabilidade desses procedimentos como

indicadores de virulência é insatisfatória (LIU, 2006).

A reação em cadeia da polimerase (PCR) pode proporcionar a

identificação de isolados potencialmente patogênicos, por meio da verificação da

presença de genes que codificam fatores de virulência (JARADAT et al., 2002).

No entanto, a presença de tais genes por si só não é suficiente para determinar o

grau de virulência bacteriana, porque esse fenômeno se deve à presença de

proteínas normalmente expressas e portanto, alterações na transcrição gênica ou

ainda, após a transcrição podem originar diferentes perfis de virulência (KIM et al.,

2004; NIGHTINGALE et al., 2005).

Ao mesmo tempo que melhores testes voltados para avaliação da

patogenicidade foram desenvolvidos, novos procedimentos genotípicos também

contribuíram para a realização de melhores estudos epidemiológicos. O recurso

laboratorial tradicionalmente utilizado para avaliações epidemiológicas

relacionadas a L. monocytogenes consiste na sorotipagem dos isolados,

procedimento que embora permita a diferenciação de 13 sorotipos, não pode ser

utilizado para indicar sua virulência, além de, principalmente, apresentar reduzido

poder discriminatório do ponto de vista epidemiológico (SCHUCHAT et al., 1991;

PAOLI et al., 2005).

Assim, de acordo com KERAOUANTON et al. (1998) e LIU (2006), os

métodos de sorotipagem foram amplamente substituídos por procedimentos

moleculares, principalmente eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE) e

ribotipagem. Esses métodos apresentam maior especificidade e sensibilidade na

identificação e diferenciação de L. monocytogenes.

Entre as vantagens do PFGE, destacam-se a alta reprodutibilidade e

poder discriminatório, sendo um efetivo método de tipagem molecular que se

baseia na produção de padrões de bandas de DNA após a digestão restritiva do

mesmo. Em geral são produzidos entre oito e 25 grandes bandas (o peso

molecular dos fragmentos variam de 40 a 600 kb) e normalmente as amostras são

analisadas com diferentes enzimas de restrição, o que aumenta o poder

discriminatório da técnica. Esse método é considerado como padrão para

subtipagem de L. monocytogenes, mas por ser um procedimento laborioso, exigir

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equipamento especial e mão-de-obra altamente qualificada, não é amplamente

empregado (WIEDMANN, 2002; GRAVES et al., 2005; LIU, 2006).

Por outro lado, a ribotipagem, método onde fragmentos do DNA

cromossomal previamente digerido com enzimas apropriadas são separados por

eletroforese e uma sonda marcada de DNA identifica apenas os fragmentos que

codificam o RNA ribossomal (rRNA), permite a obtenção de padrões de bandas

muito mais simples (entre cinco e 15 pequenas bandas, com peso molecular entre

dois e 20 kb) e mais consistentes do que através do PFGE (SCHUCHAT, et al.,

1991; WIEDMANN, 2002). Como os genes ribossômicos são altamente

conservados entre os filos genéticos, uma sonda universal pode ser usada para a

caracterização de vários organismos. Esse método tornou-se mais fácil e mais

rápido com o desenvolvimento da ribotipagem automática, a qual proporciona a

obtenção de resultados confiáveis e reprodutíveis (BRUCE, 1996).

Diante de tais considerações e da relevância do desenvolvimento de

pesquisas com isolados de Listeria monocytogenes no Brasil, objetivou-se avaliar

com o presente estudo: a) a citotoxicidade e a similaridade genética de isolados

de Listeria monocytogenes de origens alimentar e humana obtidos no Brasil; b) a

capacidade de invasão celular de isolados de L. monocytogenes oriundos de

alimentos e de pacientes no Brasil.

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REFERÊNCIAS

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T.P.; JOHNSON, M.G. A six-hour in vitro virulence assay for Listeria monocytogenes using myeloma and hybridoma cells from murine and human sources. Microbial Pathogenesis, v.16, p.99-110, 1994.

3. BHUNIA, A.K.; WAMPLER, J. L. Animal and cell culture models for foodborne

bacterial pathogens. In: Fratamico, P.M.; Bhunia, A.K.; SMITH, J.L (ed.). Foodborne Pathogens: microbiology and molecular biology. Caister Academic Press: Great Britain. 454p. 2005.

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determine cytotoxicity for Listeria species. Letters in Applied Microbiology, v.26, p.305-310, 1998.

5. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de vigilância em saúde. Portaria n.5,

de 21 de fevereiro de 2006. Inclui doenças na relação nacional de notificação compulsória, define doenças de notificação imediata, relação dos resultados laboratoriais que devem ser notificados pelos laboratórios de referência nacional ou regional e normas para notificação de casos. Diário Oficial da União, Brasília, 22 fev. 2006. Seção 1, p.34.

6. BRUCE, J. Automated system rapidly identifies and characterizes

microorganisms in food. Food Technology, v.50, p.77-81, 1996. 7. BUTLER, M. 2004. Hybridomas – sources of antibodies, In: ______ Animal

Cell Culture & Technology. 2ed. Bios Scientific Publishers: United Kingdom. 244 p.

8. FRESHNEY, I.R. Cytotoxicity. In: ______ Culture of animal cells: A manual

of basic technique. 4ed. Wiley-Liss: New York. 577 p. 2000. 9. GAILLARD, J-L.; BERCHE, P.; MOUNIER, J.; RICHARD, S.; SANSONETTI, P.

In vitro model of penetration and intracellular growth of Listeria monocytogenes in the human enterocyte-like cell line Caco-2. Infection and Immunity, v.55, n.11, p.2822-2829, 1987.

10. GRAVES, L.M.; HUNTER, S.B.; ONG, A.R.; SCHOONMAKER-BOPP, D.;

HISE, K.; KORNSTEIN, L.; DEWITT, W.E.; HAYES, P.S.; DUNNE, E.; MEAD, P.; SWAMINATHAN, B. Microbiological aspects of the investigation that traced the 1998 outbreak of listeriosis in the United States to contaminated hot dogs and establishment of molecular subtyping-based surveillance for Listeria monocytogenes in the PulseNet network. Journal of Clinical Microbiology, v.43, n.5, p.2350-2355, 2005.

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11. HOF, H.; ROCOURT, J. Is any strain of Listeria monocytogenes detected in food a health risk? International Journal of Food Microbiology, v.16, n.3, p.173-182, 1992.

12. JARADAT, Z.W.; SCHUTZE, G.E.; BHUNIA, A.K. Genetic homogeneity among

Listeria monocytogenes strains from infected patients and meat products from two geographic locations determined by phenotyping, ribotyping and PCR analysis of virulence genes. International Journal of Food Microbiology, v.76, p.1-10, 2002.

13. KEROUANTON, A.; BRISABOIS, A.; DENOYER, E.; DILASSER, F.; GROUT,

J.; SALVAT, G.; PICARD, B. Comparison of five typing methods for the epidemiological study of Listeria monocytogenes. International Journal of Food Microbiology, v.43, p.61-71, 1998.

14. KIM, H.; BOOR, K.J.; MARQUIS, H. Listeria monocytogenes σB contributes to

invasion of human intestinal epithelial cells. Infection and Immunity, v.72, n.12, 7374-7378, 2004.

15. LIU, D. Identification, subtyping and virulence determination of Listeria

monocytogenes, an important foodborne pathogen. Journal of Medical Microbiology, v.55, p.645-659, 2006.

16. McLAUCHLIN, J.; MITCHELL, R.T.; SMERDON, W.J.; JEWELL, K. Listeria

monocytogenes and listeriosis: a review of hazard characterisation for use in microbiological risk assessment of foods. International Journal of Food Microbiology, v.92, n.2, p.159-164, 2004.

17. MEAD, P.S.; SLUTSKER, L.; DIETZ, V.; MCCAIG, L.F.; BRESEE, J.S.;

SHAPIRO, C.; GRIFFIN, P.M.; TAUXE, R.V. Food-related illness and death in the United States. Emerging Infectious Diseases, v.5, n.5, 607-625, 1999.

18. NIGHTINGALE, K.K.; WINDHAM, K.; MARTIN, K.E.; YEUNG, M.;

WIEDMANN, M. Select Listeria monocytogenes subtypes commonly found in foods carry distinct nonsense mutations in inlA, leading to expression of truncated and secreted internalin A, and are associated with a reduced invasion phenotype for human intestinal epithelial cells. Applied and Environmental Microbiology, v.71, n. 12, p.8764-8772, 2005.

19. PAOLI, G.C.; BHUNIA, A.K.; BAYLES, D.O. Listeria monocytogenes, In:

FRATAMICO, P.M.; BHUNIA, A.K.; SMITH, J.L (ed.). Foodborne Pathogens: microbiology and molecular biology. Caister Academic Press, Great Britain. 454 p. 2005.

20. PINE, L.; KATHARIOU, S.; QUINN, F.; GEORGE, V.; WENGER, J.D.;

WEAVER, R.E. Cytopathogenic effects in enterocytelike Caco-2 cells differentiate virulent from avirulent Listeria strains. Journal of Clinical Microbiology, v.29, n.5, p.990-996, 1991.

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21. PINTO, M; ROBINE-LEON, S.; APPAY, M-D.; KEDINGER, M.; TRIADOU, N.; DUSSAULX, E.; LACROIX, B.; SIMON-ASSMANN, P.; HAFFEN, K.; FOGH, J.; ZWEIBAUM, A. Enterocyte-like differentiation and polarization of the human colon carcinoma cell line Caco-2 in culture. Biology of the Cell, v.47, n.3, p.323-330, 1983.

22. SCHLECH, W.F. Overview of listeriosis. Food Control, v.7, n.4-5, p.183-186,

1996. 23. SCHLECH III, W.F. Foodborne listeriosis. Clinical Infectious Diseases, v.31,

p.770-775, 2000. 24. SCHUCHAT, A.; SWANINATHAN, B.; BROOME, C.V. Epidemiology of human

listeriosis. Clinical Microbiology Reviews, v.4, n.2, p.169-183, 1991. 25. SHROYER, M.L.; BHUNIA, A.K. Development of a rapid 1-h fluorescence-

based cytotoxicity assay for Listeria species. Journal of Microbiological Methods, v.55, p.35-40, 2003.

26. VAZQUEZ-BOLAND, J. A.; KUHN, M.; BERCHE, P.; CHAKRABORTY, T.;

DOMINGUEZ-BERNAL, G.; GOEBEL, W.; GONZALEZ-ZORN, B.; WEHLAND, J.; KREFT, J. Listeria pathogenesis and molecular virulence determinants. Clinical Microbiology Reviews, v.14, n.3, p.584-640, 2001.

27. WIEDMANN, M. Molecular subtyping methods for Listeria monocytogenes.

Journal of AOAC International, v.85, n.2, 524-531, 2002.

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CAPÍTULO 2: ANÁLISES DE CITOTOXICIDADE E RIBOTIPAGEM EM Listeria

monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA NO BRASIL

RESUMO Objetivou-se com o presente estudo avaliar a citotoxicidade e a similaridade

genética de isolados de Listeria monocytogenes de origens alimentar e humana

obtidos no Brasil. Foram analisados 63 isolados de Listeria monocytogenes,

sendo 47 de origem alimentar e 16 de origem humana. Os isolados foram

submetidos à ribotipagem automatizada e à avaliação da citotoxicidade em

células Ped-2E9. Foram identificados 17 ribotipos, com predominância dos

ribotipos DUP 1042 e DUP 1038, classificados na linhagem I. Os isolados de

origem alimentar e humana apresentaram citotoxicidadade semelhante e

similaridade genética. Esse é o primeiro estudo realizado com isolados de Listeria

monocytogenes obtidos no Brasil, utilizando essa metodologia.

Palavras-chave: cultura celular, epidemiologia molecular, toxinfecção alimentar

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CYTOTOXICITY AND RIBOTYPING ANALYSIS OF Listeria monocytogenes OF FOOD AND HUMAN ORIGINS FROM BRAZIL

ABSTRACT This study was carried out to verify the cytotoxicity and genetic similarity between

food and human isolates of Listeria monocytogenes obtained from Brazil. Forty

seven isolates of food and 16 of human origin were analyzed by automated

ribotyping and by cytotoxicity assay using Ped-2E9 cells. Seventeen ribotypes

were identified and most of them were DUP 1042 and DUP 1038, classified as

lineage I. We observed similar cytotoxicity and genetic homogeneity between the

food and human isolates. This is the first study carried out for Listeria

monocytogenes isolates from Brazil, applying cytotoxicity and ribotyping analysis.

Keywords: cell culture, foodborne disease, molecular epidemiology

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INTRODUÇÃO A partir da década de 80 observou-se uma crescente importância de

Listeria monocytogenes como patógeno veiculado por alimentos. Esse fato está

relacionado principalmente às mudanças que ocorreram no processamento e

distribuição dos alimentos num ambiente globalizado. Além desses fatores,

ocorreu um proporcional aumento na população de maior susceptibilidade

(ALTEKRUSE et al., 1997; SCHLECH III, 2000; PAOLI et al., 2005).

Dessa forma, tornou-se necessário o desenvolvimento de recursos

laboratoriais que proporcionassem melhores condições para realizar estudos

epidemiológicos importantes para a aplicação de medidas de controle e

prevenção da listeriose de origem alimentar. Nesse contexto, destacam-se o

surgimento da ribotipagem automatizada e dos ensaios de citotoxicidade para

avaliar in vitro a virulência bacteriana (BHUNIA et al, 1994; BRUCE, 1996; LIU,

2006).

As características genéticas e o potencial de virulência em isolados de

L. monocytogenes obtidos a partir de alimentos e pacientes com listeriose foram

estudados em alguns trabalhos e os resultados até então obtidos não são

uniformes. Além disso, não existem estudos no Brasil que tenham utilizado

ribotipagem automatizada e ensaio de cultura celular, para estudo desse

patógeno.

Associando ribotipagem e análise dos genes que codicam fatores de

virulência, WIEDMAN et al. (1997) propuseram uma distribuição dos isolados de

L. monocytogenes em três linhagens genéticas, classificação que auxilia na

explicação da ocorrência de diferenças em relação à patogenicidade e origem dos

isolados. Em geral, isolados de origem humana predominam na linhagem I, os de

origem ambiental e alimentar na linhagem II e aqueles de origem animal, na

linhagem III (WIEDMAN et al., 1997; JEFFERS et al., 2001; GRAY et al., 2004;

SAUDERS et al., 2006).

A predominância de ribotipos relacionados com baixa virulência em

amostras de alimentos foi observada por NORTON et al. (2001). JARADAT et al.

(2002) verificaram que, apesar de serem oriundos de diferentes regiões dos

Estados Unidos, isolados obtidos de alimentos e pacientes com listeriose

apresentavam elevada similaridade genética. GRAY et al. (2004) observaram que

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os isolados obtidos a partir de amostras de pratos prontos para o consumo

apresentavam menor potencial de virulência do que os de origem clínica.

Em geral, os estudos até então realizados sobre a relação entre os

ribotipos e a patogenicidade bacteriana, utilizaram como indicativo de virulência a

formação de placa em cultura celular (NORTON et al., 2001; GRAY et al., 2004),

sendo raros os estudos que compararam os ribotipos com a citotoxicidade

avaliada em células Ped-2E9, um modelo que reflete o efeito citopático de L.

monocytogenes (BHUNIA & FENG, 1999; BHUNIA & WESTBROOK, 1998).

Também são raros os trabalhos nos quais se compararam a citotoxicidade,

determinada através desse método, entre cepas isoladas de alimentos e de

pacientes com listeriose.

Considerando o exposto, o presente estudo foi conduzido com o

objetivo de avaliar a citotoxicidade e a similaridade genética de isolados de

Listeria monocytogenes de origem alimentar e humana obtidos no Brasil.

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MATERIAL E MÉTODOS Obtenção dos isolados e local de realização dos experimentos

Foram analisadas 63 amostras de Listeria monocytogenes, previamente

isoladas e sorotipadas, sendo 47 de origem alimentar e 16 de pacientes com

listeriose (Quadro 1). Esses isolados bacterianos foram obtidos em diferentes

Estados do Brasil, entre os anos de 1990 e 2005. Eles foram cedidos pelos

laboratórios de microbiologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, RJ), Instituto

Tecnológico de Alimentos (ITAL, SP) e Faculdade de Farmácia da Universidade

de São Paulo (USP, SP).

Os experimentos foram realizados no laboratório de Microbiologia

Molecular de Alimentos do Departamento de Ciência dos Alimentos, da

Universidade Purdue, em Indiana, Estados Unidos da América.

Ribotipagem A ribotipagem foi realizada em equipamento automático RiboPrinter(r)

(DuPont-Qualicon, Wilmington, DE, EUA), conforme as instruções do fabricante.

Inicialmente, unidades formadoras de colônias (UFC) puras de cada isolado

bacteriano foram semeadas em placas de ágar infusão cérebro coração (BHI,

Difco Laboratories, Detroit, MI, EUA) e incubadas a 37ºC, durante 24 h.

Posteriormente, foram suspendidas em tubos do tipo Eppendorf,

contendo 40 µL de solução tampão e aquecidas a 90ºC por 10 minutos. Em

seguida, foram adicionados 10 µL de reagentes de lise celular e os tubos

transferidos para o equipamento. A seqüência de eventos no equipamento

envolveu lise das células, digestão do DNA com a enzima EcoRI, separação do

DNA em gel de agarose, transferência para uma membrana de nylon, hibridização

com uma sonda de DNA e mistura com agentes quimio-luminescentes. O

conjunto de bandas geradas, para cada isolado, foi então comparado com uma

coleção de ribotipos de L. monocytogenes existente no equipamento, com

expressão do grau de semelhança entre o ribotipo do isolado e os existentes no

banco de dados do aparelho (BRUCE, 1996).

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Quadro 1: Características dos isolados de Listeria monocytogenes analisados.

Código Sorotipo Amostra Estado Ano de isolamento

F1 1/2b Carne moída Goiás 1990 F2 1/2b Frango Goiás 1992 F3 1/2b Frango Goiás 1992 F4 1/2b Frango Goiás 1992 F5 1/2a Frango Goiás 1992 F6 4b Frango Goiás 1992 F7 4b Frango Goiás 1992 F8 4b Frango Goiás 1992 F9 4b Frango Goiás 1993 F10 1/2b Frango Goiás 1993 F11 4b Frango Goiás 1993 F12 4b Frango Goiás 1993 F13 4b Frango Goiás 1993 F14 4b Frango Goiás 1993 F15 4b Frango Goiás 1993 F16 4b Frango Goiás 1993 F17 4b Frango Goiás 1993 F18 4b Frango Goiás 1993 F19 1/2b Frango Goiás 1993 F20 1/2b Frango Goiás 1993 F21 1/2b Frango Goiás 1993 F22 1/2b Frango Goiás 1993 F23 4b Frango Goiás 1993 F24 1/2b Frango Goiás 1993 F25 1/2b Frango Goiás 1993 F27 1/2b Lombo defumado São Paulo 2001 F28 4b Pizza São Paulo 2001 F29 1/2c Linguica São Paulo 2001 F30 4b Hamburger cozido Minas Gerais 2001 F31 1/2c Linguiça de frango crua Minas Gerais 2001 F32 4b Linguiça de porco crua Minas Gerais 2001

F33 4b Queijo mussarela Rio Grande do Sul 2002

F34 4b Queijo colonial Rio Grande do Sul 2002

F35 4b Queijo prato Rio Grande do Sul 2002

F36 1/2a Carne cozida congelada Mato Grosso 2005

F37 1/2b Queijo creme Rio de Janeiro 2005

F38 1/2a Queijo Paraná 2005 F39 1/2a Queijo Paraná 2005 F40 NS* Carne moída, São Paulo NR*** F41 NS Linguiça São Paulo NR

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Quadro 1: Características dos isolados de Listeria monocytogenes analisados (cont).

Código Sorotipo Amostra Estado Ano de isolamento

F42 NS Presunto São Paulo NR F44 NS Linguiça São Paulo NR F45 NS Linguiça São Paulo NR F47 NS Linguiça São Paulo NR F48 NS Linguiça São Paulo NR F49 NS Carne moída São Paulo NR F50 NS Carne moída São Paulo NR H1 4b Prótese da aorta (69 anos) São Paulo 2001 H2 4b LCR** (73 anos) São Paulo 2000 H3 4b LCR (60 anos) São Paulo 1998 H4 4b Sangue (34 anos) São Paulo 1998 H5 1/2a LCR (71 anos) São Paulo 1995 H6 4b LCR (óbito, 26 anos) São Paulo 2001 H7 4b Sangue (5 dias) São Paulo 2004 H8 4b Sangue (61 anos) São Paulo 2003 H9 4b Sangue (óbito, 48 anos) São Paulo 2004 H10 1/2a LCR (55 anos) São Paulo 2004 H11 1/2b Sangue (72 anos) São Paulo 2005 H12 4b LCR (óbito) São Paulo 2005 H13 NS LCR (16 anos) São Paulo 2002 H14 NS LCR São Paulo 2002 H15 NS LCR São Paulo 2005 H16 NS Sangue (6 dias) São Paulo 1998 * NS: Não sorotipado ** LCR: Líquido céfalo-raquidiano *** NR: Não registrado

Citotoxicidade Culturas bacterianas

Além dos isolados submetidos à ribotipagem, foram utilizadas duas

cepas de referência, Listeria monocytogenes Scott A (sorotipo 4b) e Listeria

innocua F4248, como controles positivo e negativo, respectivamente. A partir das

placas de ágar BHI, uma única UFC das cepas de referência e de cada isolado foi

inoculada em tubos de ensaio contendo 5 mL de caldo tripticase enriquecido com

0,5% de extrato de levedura (TSBYE - Difco Laboratories, Detroit, MI, EUA), que

foram incubados a 37ºC com agitação constante, durante 20 h. Em seguida, uma

alíquota de 100 µL (2%) foi transferida para outro tubo contendo 5 mL de caldo

TSBYE, procedendo-se nova incubação a 37ºC com agitação constante, durante

20 h.

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Dessa última cultura, uma alíquota de 1,0 mL foi vertida em tubos

Eppendorf e centrifugada a 10.000 rpm durante três minutos. O sobrenadante foi

descartado e o “pellet” re-suspendido em 1,0 mL de fosfato salino tamponado

celular (“cell phosphate-buffered saline” - CPBS: 8,01 g NaCl; 0,4 g KCl; 0,493 g

Na2HPO4; 0,6 g NaH2PO4 e 1,98 g D-glucose para 1 L de água destilada). A

suspensão bacteriana em CPBS foi centrifugada a 10.000 rpm durante três

minutos, o sobrenadante descartado e o “pellet” bacteriano re-suspendido em 1,0

mL de CPBS.

Essa suspensão foi utilizada para contagem bacteriana e para realizar

os experimentos de citotoxicidade: teste de exclusão do corante azul de tripan

(método direto) e quantificação da liberação da enzima fosfatase alcalina (método

indireto).

Cultura celular

A partir de estoques congelados, células Ped-2E9 foram incubadas em

estufa a 37ºC com 7% CO2, utilizando o meio Eagle, modificado segundo

Dulbecco (Mediatech, Herndon, VA, EUA) e enriquecido com 10% de soro fetal

bovino (Atlanta Biologicals, Norcross, GA, EUA) – DMEM 10F. A viabilidade e

pureza das células foram avaliadas diariamente, até a cultura atingir a fase

logarítmica de crescimento (48-72 h). Então as células foram inoculadas em novo

frasco de cultura (Nunc, Roskilde, Dinamarca), contendo o mesmo meio e

incubadas nas mesmas condições.

Quando a cultura atingiu a fase logarítmica, as células foram

homogeneizadas para contagem e determinação da viabilidade celular, por meio

da técnica de exclusão do corante azul de tripan (FRESHNEY, 2000), modificada:

uma alíquota de 100 µL da suspensão celular foi homogeneizada com 100 µL do

corante azul de tripan (Sigma, Saint Louis, MO, EUA) e o número de células

mortas e viáveis determinado utilizando-se uma câmara hemocitométrica. A

concentração celular foi estimada multiplicando-se o número médio de células em

cinco quadrantes da câmara de contagem pelos fatores de correção para diluição

(2) e para expressar o resultado em número de células/mL (104).

Culturas com viabilidade igual ou superior a 80% foram centrifugadas a

300 g por 10 minutos e re-suspendidas em meio de cultura isento de soro fetal

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bovino (Mediatech, Herndon, VA, EUA), de modo a se obter concentração celular

de 1,0 a 2,0 x 106/mL.

Avaliação da citotoxicidade

O ensaio de citotoxicidade foi realizado com base nos procedimentos

desenvolvidos por BHUNIA et al. (1994), BHUNIA & WESTBROOK (1998) e

WESTBROOK & BHUNIA (2000). A partir das suspensões bacterianas e das

células Ped-2E9, foram preparados tubos Eppendorf em duplicata, com uma

multiplicidade de infecção (MI) igual a 100 UFC de bactéria para uma célula Ped-

2E9. Para tal, 100 µL da suspensão bacteriana (aproximadamente 1,0 x 109/mL)

foram adicionados a 1,0 mL da suspensão celular (1,0 a 2,0 x 106/mL). A

concentração bacteriana da suspensão foi determinada por meio da semeadura

de diluições decimais seriadas em placas de ágar BHI, incubadas a 37ºC durante

36 h.

Em cada tubo foram adicionados 10 µL de ditiotreitol a 50 mM (Sigma,

Saint Louis, MO, EUA), de modo a se obter uma concentração final equivalente a

0,5 mM/mL. Os tubos foram incubados a 37ºC em estufa com 7% de CO2 durante

2 h e, em seguida, foram realizados os testes de exclusão do corante azul de

tripan e de liberação da enzima fosfatase alcalina.

Foram utilizados quatro controles em cada experimento: Listeria

monocytogenes Scott A, Listeria innocua F4248, CPBS e Triton-X 100 a 0,35%

(Sigma, Saint Louis, MO, EUA). A concentração de Triton-X 100 foi definida por

meio de análises prévias (dados não mostrados), onde concentrações entre 0,1%

e 0,5% foram avaliadas. Os experimentos foram realizados duas vezes,

separadamente e os resultados estão apresentados como média e desvio padrão

dos experimentos.

Teste de exclusão do corante azul de tripan (TEAT)

Após o período de incubação, alíquotas de 100 µL de cada tubo

Eppendorf contendo a suspensão celular e bacteriana, foram coradas (1:1, v/v)

com azul de tripan 0,4% e o número de células contado em câmara

hemocitométrica. A citotoxicidade celular foi determinada conforme a fórmula:

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% citotoxicidade = total de células mortas (coradas) x 100

total de células (coradas e não coradas)

Liberação da enzima fosfatase alcalina (ALP)

O volume restante em cada tubo Eppendorf contendo a suspensão

celular e bacteriana foi centrifugado a 300 g por 10 minutos. Então, 100 µL do

sobrenadante foram transferidos para duas unidades de uma placa específica de

microtitulação, com 96 unidades (Dot Scientific, Lippincott Burton, MI, EUA). Em

cada unidade da placa foram adicionados 100 µL de tampão para fosfatase

alcalina (12,11 g de Trisma base; 5,84 g de NaCl; 1,016 g de MgCl2 em 1L de

água destilada, pH = 9,5) contendo p-nitrofenil fosfato (1 mg/mL, Sigma).

Após cinco minutos de incubação à temperatura ambiente, as placas

foram lidas a A405/595 nm, utilizando o aparelho leitor de densidade óptica

Benchmark Microplate Reader (Bio-Rad Laboratories, Hercules, CA, EUA). O

percentual de liberação de ALP foi determinado utilizando-se a fórmula:

% ALP = DO amostra bacteriana – DO controle (CPBS) x 100

DO controle (Triton X) – DO controle (CPBS)

Onde DO corresponde à densidade óptica da amostra, lida no

equipamento.

Análise estatística Os ribotipos dos isolados de origem alimentar e clínica foram

comparados por meio do método de grupos pares não ponderados usando

médias aritméticas (unweighted pair group method using arithmetic averages –

UPGMA) e a análise de grupos genéticos através da correlação de Dice

(Bionumerics, Applied Maths, Austin, TX, EUA). Essa análise permite a

construção de um dendrograma onde se verifica o grau de similaridade genética

entre os ribotipos. Considerou-se um isolado como pertencente a determinado

ribotipo, presente na coleção de ribotipos do equipamento, quando o índice de

similaridade foi igual ou superior a 0,85 (GRAY et al., 2004). Diferenças genéticas

entre os isolados de origem alimentar e clínica foram analisadas submetendo-se a

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matriz gerada a partir do modelo UPGMA no pacote estatístico SAS (SAS 9.1 for

Windows).

Os resultados da avaliação de citotoxicidade dos isolados de origem

alimentar e humana foram comparados através do teste t de Student, com 95%

de confiança. Os isolados foram classificados em linhagens com base na

sorotipagem, conforme descrição de NADON et al. (2001): linhagem I: sorotipos

1/2b, 3b, 3c e 4b; linhagem II: sorotipos 1/2a, 1/2c e 3a; linhagem III: sorotipos 4a

e 4c.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Os ribotipos identificados e os resultados das análises de citotoxicidade

encontram-se na Tabela 1.

TABELA 1: Resultados individuais da ribotipagem e citotoxicidade, para 63

isolados de L. monocytogenes de origem alimentar e humana, oriundos do Brasil.

Isolados Ribotipos (DUP)

Citotoxicidade (%) Método direto (TEAT) Método indireto (ALP)

F 1 19165 10,60 ± 3,47 2,31 ± 3,27 F 2 1042 59,25 ± 45,79 34,17 ± 33,60 F 3 1042 30,76 ± 5,77 14,06 ± 11,54 F 4 1042 18,19 ± 5,60 7,75 ± 10,97 F 5 1042 47,63 ± 41,15 24,71 ± 27,01 F 6 1042 25,91 ± 8,46 7,11 ± 9,87 F 7 18627 14,19 ± 0,79 4,50 ± 6,37 F 8 18627 73,29 ± 32,77 10,82 ± 2,05 F 9 1042 93,10 ± 6,18 13,41 ± 3,56 F 10 1042 94,75 ±7,43 43,06 ± 12,58 F 11 1038 8,43 ± 3,24 0,65 ± 0,92 F 12 1038 14,20 ± 0,02 3,48 ± 3,86 F 13 1042 71,24 ± 32,72 16,58 ± 0,47 F 14 1042 13,19 ± 4,75 2,18 ± 1,85 F 15 1042 70,21 ± 37,25 30,07 ± 7,33 F 16 1042 15,64 ± 3,67 2,74 ± 0,38 F 17 1042 55,55 ± 15,98 12,24 ± 7,78 F 18 1042 14,80 ± 5,32 3,21 ± 4,54 F 19 1042 28,25 ± 8,72 4,83 ± 4,36 F 20 1042 36,48 ± 1,89 5,95 ± 8,41 F 21 1042 74,65 ± 9,63 55,65 ± 16,45 F 22 1042 72,88 ± 26,53 50,34 ± 25,07 F 23 1038 21,15 ± 11,95 6,19 ± 7,26 F 24 1042 52,59 ± 38,89 33,41 ± 20,53 F 25 1042 81,75 ± 10,07 49,22 ± 15,30 F 27 18603 46,36 ± 19,65 31,06 ± 7,39 F 28 1042 61,39 ± 25,70 31,36 ± 12,95 F 29 1051 51,18 ± 49,68 26,99 ± 32,76 F 30 1042 53,73 ± 21,28 28,85 ± 17,17 F 31 19175 32,37 ± 8,42 10,47 ± 3,22 F 32 1042 26,31 ± 10,27 13,80 ± 7,25 F 33 1042 60,43 ± 7,77 45,25 ± 13,99 F 34 18598 32,60 ± 0,00 26,61 ± 1,32 F 35 1042 29,24 ± 9,59 18,15 ± 11,68 F 36 19174 86,78 ± 4,71 47,46 ± 4,04 F 37 1046 12,77 ± 0,76 0,81 ± 1,15 F 38 1051 62,97 ± 11,30 34,47 ± 12,35 F 39 1034 44,78 ± 13,06 23,88 ± 11,20

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TABELA 1: Resultados individuais da ribotipagem e citotoxicidade, para 63 isolados de L. monocytogenes de origem alimentar e humana (continuação). F 40 1042 77,45 ± 22,10 38,05 ± 6,98 F 41 19187 12,62 ± 3,10 1,85 ± 2,62 F 42 1039 82,72 ± 8,31 53,08 ± 0,16 F 44 1042 68,05 ± 11,30 39,84 ± 6,94 F 45 1042 83,57 ± 10,86 60,80 ± 15,48 F 47 19165 75,73 ± 6,67 49,51 ± 0,05 F 48 1039 75,29 ± 7,24 45,94 ± 6,00 F 49 1042 92,39 ± 5,45 67,90 ± 16,98 F 50 18598 68,49 ± 6,17 29,66 ± 7,15 H 1 1038 33,90 ± 0,42 22,43 ± 7,79 H 2 18604 40,75 ± 0,10 20,76 ± 9,10 H 3 19191 18,02 ± 4,86 2,81 ± 1,43 H 4 1042 44,04 ± 12,85 28,85 ± 14,77 H 5 1023 18,15 ± 16,23 3,74 ± 0,70 H 6 18604 18,98 ± 19,24 3,41 ± 2,78 H 7 1042 38,56 ± 15,23 24,10 ± 8,81 H 8 1042 54,66 ± 22,08 31,93 ± 13,11 H 9 1038 69,26 ± 27,67 35,70 ± 7,44 H 10 19173 27,80 ± 14,36 16,07 ± 6,34 H 11 19175 86,76 ± 15,58 51,15 ± 11,76 H 12 1038 76,89 ± 25,94 32,62 ± 5,82 H 13 1042 73,40 ± 20,42 38,05 ± 3,96 H 14 1042 73,29 ± 25,13 32,49 ± 6,34 H 15 1042 43,58 ± 31,11 21,22 ± 9,65 H 16 1038 19,98 ± 3,84 7,01 ± 0,03

Analisando os dados da Tabela 1 pode-se verificar que entre os 63

isolados submetidos à ribotipagem, foram identificados 17 diferentes ribotipos.

Entre os 47 isolados de origem alimentar foram identificados 13 ribotipos e entre

os 16 isolados de origem humana, sete diferentes ribotipos.

Considerando o total de isolados, os ribotipos DUP 1042 e DUP 1038

predominaram em relação aos demais (Figura 1) e juntos, reuniram 65% dos

isolados. O ribotipo DUP 1042 foi o de maior ocorrência, tanto nos isolados de

origem alimentar (59,6% dos isolados) quanto nos de origem humana (37,5% do

total de isolados). Os ribotipos DUP 1038, DUP 1042 e DUP 19175 ocorreram

tanto nos isolados de origem alimentar quanto humana, enquanto os demais

ocorreram isoladamente em um ou outro grupo.

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22

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

25.0

30.0

35.0

40.0

45.0

50.0

55.0

DUP-1023

DUP-1034

DUP-1038

DUP-1039

DUP-1042

DUP-1046

DUP-1051

DUP-18598

DUP-18603

DUP-18604

DUP-18627

DUP-19165

DUP-19173

DUP-19174

DUP-19175

DUP-19187

DUP-19191

PIMENTA et al. (1999) analisaram 30 isolados de L. monocytogenes

obtidos a partir de amostras de alimentos em São Paulo e identificaram seis

ribotipos. No entanto, os autores utilizaram metodologia diferente à empregada no

presente estudo, fato que impossibilitou a comparação entre os ribotipos

identificados naquela ocasião e neste estudo.

JEFFERS et al. (2001) identificaram 18 ribotipos em 105 isolados

oriundos de casos esporádicos de listeriose humana e também verificaram o

predomínio do ribotipo DUP 1042. Os autores verificaram ainda a ocorrência do

ribotipo DUP 1038 em isolados provenientes de surtos (57,1%) e de casos

esporádicos (10,5%) de listeriose humana ocorridos no Canadá, Estados Unidos

e em diferentes países da Europa.

JARADAT et al. (2002) verificaram a ocorrência de cinco ribotipos em

13 isolados de amostras de carne vermelha e de frango, e de nove entre 17

isolados obtidos de pacientes com listeriose nos Estados Unidos. Os autores

também observaram a ocorrência do ribotipo DUP 1042 tanto nos isolados de

origem alimentar quanto naqueles de origem humana, e do ribotipo DUP 1038

entre os isolados de origem humana.

GRAY et al. (2004) identificaram 36 ribotipos em 502 isolados de

origem alimentar e 54 em 492 isolados de origem humana. Avaliando a

RibotiposFIGURA 1: Distribuição percentual dos ribotipos identificados em 63 isolados

de L. monocytogenes de origem alimentar e humana.

Freq

üênc

ia (%

)

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distribuição desses ribotipos, os autores verificaram que o DUP 1038 e DUP 1042

foram identificados em isolados tanto de origem alimentar quanto humana.

O dendrograma de relações filogenéticas, incluindo informações sobre

os sorotipos, ribotipos, origem e linhagem dos isolados encontra-se na Figura 2.

Pode-se verificar a ocorrência de quatro diferentes grupos genéticos (A, B, C e D)

e três isolados (F35, F27 e F42) não classificados em nenhum dos grupos. Todos

os isolados foram alocados em ribotipos previamente identificados, com

percentual de similaridade genética variando entre 85% (F 35, DUP 1042) e 98%

(F 31 e H 11, DUP 19175), sendo a maioria classificada como representantes da

linhagem I (Figura 2).

Apesar da existência de quatro diferentes grupos, não se verificou,

através da análise filogenética, diferença entre os isolados de origem alimentar e

humana. De forma similar, JARADAT et al. (2002) verificaram a presença de

quatro grupos genéticos em 30 isolados de origem alimentar e humana, que

apresentaram similaridade genética superior a 95%.

Os ribotipos de maior freqüência, DUP 1042 e DUP 1038 (Figura 1),

predominaram no grupo A e nos grupos B e C, respectivamente (Figura 2). Esses

ribotipos foram classificados na linhagem I (Figura 2), considerando as

informações da sorotipagem (NADON et al., 2001). Embora, no presente trabalho,

essa classificação não tenha sido realizada com base na associação da

ribotipagem com a análise dos genes que codificam fatores de virulência

(WIEDMANN et al., 1997), a mesma encontra maior suporte no fato de que outros

trabalhos também identificaram os ribotipos DUP 1042 e DUP 1038 como

pertencentes à linhagem I (JEFFERS et al., 2001; GRAY et al., 2004; SAUDERS

et al., 2006).

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FIGURA 2: Dendrograma de relações filogenéticas, incluindo informações sobre os sorotipos, ribotipos e linhagem de 63 isolados de L. monocytogenes de origem alimentar e humana.

Identidade (%)

L.

mon

ocyt

ogen

es

Sor

otip

o*

Rib

otip

o (D

UP

)

Sim

ilarid

ade

(%)

Linh

agem

**

Bandas (kbp)

*NS: Não sorotipado **NC: Não classificado

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A linhagem I, que compreende os sorotipos 1/2b, 3b, 3c e 4b,

caracteriza-se como a de maior prevalência entre os isolados de origem humana,

sendo menos frequente em isolados de origem alimentar (WIEDMAN et al., 1997;

JEFFERS et al., 2001; NADON et al., 2001; GRAY et al., 2004; SAUDERS et al.,

2006). Embora no presente estudo a maioria dos isolados de origem humana

sorotipados tenham sido classificados na linhagem I, apenas seis (15,8%) dos 38

isolados de origem alimentar sorotipados foram classificados na linhagem II

(Figura 2).

No entanto, esse achado encontra justificativa na constatação de que

os isolados de origem alimentar analisados no presente estudo foram obtidos,

predominantemente, em amostras de derivados de carne, conforme indicado no

Quadro 1. Deve-se ressaltar que os sorotipos 1/2b e 4b predominam nos isolados

de L. monocytogenes obtidos de amostras de produtos cárneos e também

representam, aproximadamente, 50% dos isolados de produtos lácteos no Brasil

(HOFER et al., 2000; SILVA et al., 2001).

Essa informação, adicionada ao fato de que no presente estudo

verificou-se o predomínio dos ribotipos DUP 1042 e DUP 1038, que são

frequentemente identificados em isolados de origem humana (JEFFERS et al.,

2001; JARADAT et al., 2002; GRAY et al., 2004), alertam para a possibilidade dos

produtos cárneos do Brasil representarem perigo elevado para ocorrência de

listeriose humana e suscitam a necessidade da realização de estudos

complementares sobre a doença no país.

Observando os dados da Tabela 1, pode-se verificar que a

citotoxicidade dos isolados de origem alimentar, avaliada através do TEAT, variou

entre 8,43% (F11) e 94,75% (F10), com média e desvio padrão de 49,7 ± 13,44%,

respectivamente. Os resultados de 53,19% dos isolados foram superiores à média

observada e apenas cinco (10,64%) isolados (F9, F10, F36, F45 e F49)

apresentaram citotoxicidade superior a obtida para a cepa de referência, L.

monocytogenes Scott A (82,9%).

Quando a citotoxicidade dos isolados de origem alimentar foi avaliada

por meio da liberação de ALP, verificou-se que a mesma variou entre 0,65% (F11)

e 67,9% (F49), com média e desvio padrão de 24,78 ± 9,45%, respectivamente.

Os resultados de 48,94% dos isolados foram superiores à média observada e

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apenas um (2,13%) isolado (F49) apresentou citotoxicidade superior a obtida para

a cepa de referência, L. monocytogenes Scott A (66,25%).

A variação verificada nos resultados de citotoxicidade dos isolados de

origem alimentar foi inferior à verificada por AMORIL & BHUNIA (1999), os quais

analisaram 20 isolados hemolíticos obtidos de amostras de frango e carne e

observaram uma variação entre 71% e 92% (método direto) e entre 50% e 80%

(método indireto). No entanto os autores incubaram as células com os isolados

bacterianos por cinco horas, diferentemente do tempo (duas horas) utilizado no

presente estudo.

A citotoxicidade dos isolados de origem humana, avaliada por meio do

TEAT, variou entre 18,02% (H3) e 86,76% (H11), com média e desvio padrão de

46,13 ± 15,94%, respectivamente. Os resultados de 37,5% dos isolados foram

superiores à média observada e apenas um (6,25%) isolado (H11) apresentou

citotoxicidade superior à obtida para a cepa de referência.

Avaliando-se a citotoxicidade de L. monocytogenes de origem humana

por meio da liberação de ALP, observou-se uma variação entre 2,81% (H3) e

51,15% (H11), com média e desvio padrão de 23,27 ± 6,86%, respectivamente.

Os resultados de 50,0% dos isolados foram superiores à média observada e

nenhum apresentou citotoxicidade superior à obtida para a cepa de referência.

A correlação entre os dois métodos de avaliação da citotoxicidade foi

avaliada e verificou-se que para os isolados de origem alimentar o coeficiente de

correlação (r) foi igual a 0,84. Para os isolados de origem humana verificou-se

r=0,94. Quando o total de isolados foi considerado, independentemente da

origem, verificou-se r=0,85. Esses resultados demonstram que os dois métodos

apresentam elevada correspondência analítica. Dessa forma e considerando que

o método direto exige mais tempo e trabalho para ser realizado, a avaliação da

citotoxicidade pode então ser realizada apenas por meio do método indireto.

Esses resultados reforçam a validade do método indireto na avaliação da

citotoxicidade de isolados de L. monocytogenes (BHUNIA & WESTBROOK,

1998).

Não se observou diferenças significativas (P>0,05) entre as médias de

citotoxicidade dos isolados de origem alimentar e humana, obtidas por meio dos

dois métodos. Semelhança entre isolados de origem alimentar e clínica também

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foi observada por BHUNIA et al. (1994), no entanto os autores analisaram poucos

isolados e apenas por meio do método direto (TEAT).

A semelhança observada no presente estudo provavelmente, está

relacionada ao fato de que os isolados não apresentaram diferenças genéticas

(Figura 2). Além disso, existem estudos comprovando que os isolados da

linhagem I apresentam citotoxicidade maior do que os da linhagem II (NORTON et

al., 2001; GRAY et al., 2004). Assim, a predominância no presente estudo, de

isolados pertencentes à linhagem I pode ter contribuído para a semelhança

verificada.

A relação entre ribotipos e citotoxicidade não pode ser estabelecida,

uma vez que a maioria dos ribotipos representaram poucos isolados. Mesmo

entre os ribotipos DUP 1042 e DUP 1038, que apresentaram maior freqüência de

isolados, a relação não pode ser estabelecida porque o ribotipo DUP 1038

representou apenas sete isolados, fato que torna inviável uma análise estatística

confiável.

No entanto, deve-se ressaltar que a citotoxicidade média dos isolados

do ribotipo DUP 1042 (54,0% e 27,4%, respectivas aos métodos de avaliação

direto e indireto), foram aparentemente superiores às médias do ribotipo DUP

1038 (34,8% e 15,4%, respectivas aos métodos de avaliação direto e indireto).

Nesse sentido, torna-se necessário realizar novos estudos envolvendo maior

número de isolados, desses dois ribotipos, para que se possa obter maior

consistência nessa observação.

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CONCLUSÕES

De acordo com as condições de realização do presente estudo e

conforme os resultados obtidos pode-se afirmar que, em relação aos isolados de

Listeria monocytogenes de origem alimentar e humana do Brasil:

1. os ribotipos DUP 1042 e DUP 1038 predominam nos dois grupos;

2. ocorre similaridade genética e a citotoxicidadade é semelhante entre os

isolados de Listeria monocytogenes de origem alimentar e humana.

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9. JARADAT, Z.W.; SCHUTZE, G.E.; BHUNIA, A.K. Genetic homogeneity among

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13. NORTON, D.M.; SCARLETT, J.M.; HORTON, K.; SUE, D.; THIMOTHE, J.;

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15. PIMENTA, F.C.; FURLANETTO, S.M.P.; MAYER, L.W.; TIMENETSKY, J.;

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16. SAUDERS, B.D.; DURAK, M.Z.; FORTES, E.; WINDHAM, K.; SCHUKKEN, Y.;

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17. SCHLECH III, W.F. Foodborne listeriosis. Clinical Infectious Diseases, v.31,

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evaluation of some virulence markers of Listeria monocytogenes strains isolated from Brazilian cheeses using molecular, biochemical and serotyping techniques. International Journal of Food Microbiology, v.63, p.275-280, 2001.

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CAPÍTULO 3: AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE GENES QUE CODIFICAM FATORES DE VIRULÊNCIA E DA CAPACIDADE DE INVASÃO CELULAR DE ISOLADOS DE Listeria monocytogenes DE ORIGENS ALIMENTAR E HUMANA OBTIDOS NO BRASIL

RESUMO O presente estudo foi realizado com o objetivo de verificar a presença de genes

que codificam fatores de virulência e avaliar a capacidade de invasão celular de

isolados de Listeria monocytogenes de origens alimentar e humana obtidos no

Brasil. Foram utilizados 21 isolados de origem alimentar e nove de pacientes com

listeriose. Esses isolados foram avaliados quanto a presença dos genes hlyA, prfA

e inlA por meio da reação múltipla de PCR e capacidade de invasão celular em

células Caco-2. A presença dos genes pesquisados foi verificada em todos os

isolados. Os isolados de origem humana apresentaram maior capacidade de

invasão celular, embora entre esses, um tenha apresentado resultado muito baixo

(0,0036%). Este é o primeiro estudo, com tais características, realizado com

isolados de Listeria monocytogenes obtidos no Brasil.

Palavras-chave: cultura celular, multiplex PCR, toxinfecção alimentar

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ANALYSIS OF VIRULENCE GENES AND CELL INVASION ABILITY OF

Listeria monocytogenes ISOLATES OF FOOD AND HUMAN ORIGINS FROM BRAZIL

ABSTRACT This study was carried out to verify the presence of virulence genes and the cell

invasion ability of Listeria monocytogenes isolates of food and human origins from

Brazil. Twenty one isolates of food and nine of human origin were analyzed by

multiplex PCR, targeting the hlyA, prfA and inlA genes, and by a cell invasion

assay using Caco-2 cells. All isolates presented the virulence genes, but those of

human origin showed higher invasion ability, although we observed one human

isolate with very low invasion ability (0.0036%). This is the first study, with such

features, carried out for Listeria monocytogenes isolates from Brazil.

Keywords: cell culture, foodborne disease, multiplex PCR

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INTRODUÇÃO Listeria monocytogenes (L. monocytogenes) é uma bactéria Gram

positiva, que causa listeriose humana e animal. A ingestão de alimentos

contaminados constitui a principal forma de infecção no homem. A enfermidade,

embora caracterize-se por uma morbidade relativamente baixa, apresenta

elevada letalidade, em geral entre 20 e 30% (VASQUEZ-BOLAND et al., 2001).

Os mecanismos bacterianos utilizados para “driblar” as defesas naturais

do trato gastrintestinal, invadir o hospedeiro e evadir-se do sistema imunológico

compreendem uma complexa série de fatores de virulência. O mecanismo celular

da patogênese bacteriana pode ser dividido em cinco etapas principais: aderência

e invasão celular, lise do vacúolo intracelular primário, multiplicação intracelular,

disseminação entre células e por último, lise do vacúolo intracelular secundário

(PAOLI et al., 2005).

A invasão celular no trato gastrintestinal ocorre principalmente pela

ação da internalina A (inlA), uma proteína de 88 kDa ancorada à superficie celular

bacteriana, codificada pelo gene inlA. Embora a invasão celular possa ocorrer

independentemente da ação dessa proteína, em geral a expressão alterada da

proteína reduz a capacidade de invasão celular (NIGHTINGALE et al., 2005;

PAOLI et al., 2005).

A lise do vacúolo intracelular primário ou fagossoma decorre da ação da

listeriolisina O (LLO), uma hemolisina com peso molecular entre 58 e 60 kDa,

formadora de poros, codificada pelo gene hlyA. A LLO constitui fator de virulência

essencial, sendo produzida por todas os isolados virulentos da bactéria. Isolados

deficientes na produção dessa proteína invadem normalmente as células, mas

não sobrevivem no meio intracelular (PAOLI et al., 2005).

O controle da expressão desses e da maioria dos demais fatores de

virulência é regulado pelo fator regulatório positivo, codificado pelo gene prfA. O

controle da síntese desse fator, assim como da expressão dos fatores de

virulência sofre grande influência do meio ambiente, principalmente temperatura,

concentração de carboidratos e pH (ARCHER, 1996; VASQUEZ-BOLAND et al.,

2001; PAOLI et al., 2005).

A sobrevivência em condições extremas e/ou que se modificam

rapidamente requer adequadas alterações na expressão gênica e na atividade

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protéica. Em nível de transcrição gênica, essas alterações são freqüentemente

controladas por fatores sigma alternativos e o centro catalítico da enzima RNA

polimerase. Esses fatores são subunidades protéicas, cuja expressão é codificada

pelo gene sigB, produzidas após uma cadeia de processos desencadeados por

condições estressantes do meio. A união de um fator alternativo σB ao centro

catalítico da RNA polimerase forma uma holoenzima que leva à expressão de

novos genes e assim, contribui para a resistência bacteriana em ambientes

adversos, como baixas temperaturas, condições oxidativas, escassez de carbono

e baixo pH. Em L. monocytogenes os fatores alternativos σB também contribuem

para a expressão de inlA e, conseqüentemente, para a invasão celular (KIM et al.,

2004; VAN SCHAIK & ABEE, 2005).;

Considerando esses aspectos, pode-se hipotetizar que isolados de L.

monocytogenes presentes em alimentos apresentam padrões de virulência

diferentes dos apresentados quando se encontram no organismo humano.

Alguns estudos realizados utilizando culturas celulares para avaliar o potencial de

invasão de isolados de alimentos e de pacientes humanos verificaram que os

isolados de origem humana apresentam maior capacidade de invasão celular do

que os de origem alimentar (VAN LANGENDONCK et al., 1998; NIGHTINGALE et

al., 2005; YAMADA et al., 2006). No entanto, essa diferença não parece ser

definitiva, haja visto que o contrário também foi observado (WERBROUCK et al.,

2006).

Diante do exposto e da escassez de estudos semelhantes realizados no

Brasil, o presente estudo foi conduzido com o objetivo de verificar a presença de

genes que codificam fatores de virulência e avaliar a capacidade de invasão

celular de isolados de L. monocytogenes oriundos de alimentos e de pacientes no

Brasil.

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MATERIAL E MÉTODOS Obtenção dos isolados e local de realização dos experimentos

Foram analisados 30 isolados de L. monocytogenes, previamente

sorotipados, sendo 21 de origem alimentar e nove de pacientes com listeriose

(Quadro 1). Esses isolados foram cedidos pelos laboratórios de microbiologia da

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, RJ), Instituto Tecnológico de Alimentos (ITAL,

SP) e Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo (USP, SP).

Os experimentos foram realizados no laboratório de Microbiologia

Molecular de Alimentos, pertencente ao Departamento de Ciência dos Alimentos,

da Universidade Purdue, em Indiana, Estados Unidos da América.

QUADRO 1: Características dos isolados de Listeria monocytogenes analisados.

Código Sorotipo Amostra Estado Ano de isolamento

Lm F3 1/2b Frango Goiás 1992 Lm F7 4b Frango Goiás 1992 Lm F10 1/2b Frango Goiás 1993 Lm F11 4b Frango Goiás 1993 Lm F13 4b Frango Goiás 1993 Lm F14 4b Frango Goiás 1993 Lm F17 4b Frango Goiás 1993 Lm F21 1/2b Frango Goiás 1993 Lm F24 1/2b Frango Goiás 1993 Lm F25 1/2b Frango Goiás 1993

Lm F27 1/2b Lombo defumado São Paulo 2001

Lm F30 4b Presunto cozido Minas Gerais 2001

Lm F33 4b Queijo mussarela Rio Grande do Sul 2002

Lm F35 4b Queijo prato Rio Grande do Sul 2002

Lm F36 1/2a Carne cozida congelada Mato Grosso 2005

Lm F37 1/2b Queijo creme Rio de Janeiro 2005 Lm F38 1/2a Queijo Paraná 2005 Lm F41 NS* Salsicha São Paulo NR*** Lm F44 NS* Salsicha São Paulo NR Lm F47 NS* Salsicha São Paulo NR Lm F49 NS* Carne moída São Paulo NR Lm H2 4b LCR** (73 anos) São Paulo 2000 Lm H3 4b LCR (60 anos) São Paulo 1998

Lm H4 4b Sangue (34 anos) São Paulo 1998

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QUADRO 1: Características dos isolados de Listeria monocytogenes analisados (continuação).

Código Sorotipo Amostra Estado Ano de isolamento

Lm H8 4b Sangue (61 anos) São Paulo 2003

Lm H10 1/2a LCR (55 anos) São Paulo 2004

Lm H11 1/2b Sangue (72 anos) São Paulo 2005

Lm H12 4b LCR (óbito) São Paulo 2005 Lm H14 NS* LCR São Paulo 2002 Lm H16 NS* Sangue (6 dias) São Paulo 1998 * NS: Não sorotipado ** LCR: Líquido céfalo-raquidiano *** NR: Não registrado

Detecção da presença de genes que codificam fatores de virulência através da reação em cadeia da polimerase (PCR)

O DNA foi extraido utilizando o “Dneasy tissue Kit” (QIAGEN, 2004).

Inicialmente, unidades formadoras de colônias (UFC) puras dos isolados

bacterianos e de uma cepa de L. monocytogenes Scott A (utilizada como controle

positivo), foram cultivadas em caldo tripticase de soja enriquecido com 0,5% de

extrato de levedura (“trypticase soy broth plus yeast extract” - TSBYE - Difco

Laboratories, Detroit, MI, EUA), a 37ºC durante 20 horas sob agitação constante.

Então, 2 mL foram centrifugados a 10.000 rpm por 5 minutos e os

“pellets” foram re-suspendidos em lisozima tamponada e incubados a 37ºC,

durante 30 minutos. Em seguida, foi adicionada proteinase K e a suspensão foi

incubada a 75ºC por mais 30 minutos.

Após essa incubação, foi adicionado 200 µL de etanol em cada tubo e

a mistura foi submetida a uma seqüência de seis centrifugações. Nesse

processo, foram adicionados tampões para proporcionar condições ótimas de

ligação do DNA ao filtro presente nos tubos utilizados durante as etapas de

centrifugação. O procedimento empregado promove uma ligação seletiva do DNA

à membrana do filtro, enquanto contaminantes e enzimas inibidoras são

removidas. Dessa maneira, o DNA puro removido em solução tampão, encontra-

se pronto para ser utilizado.

A presença dos genes hlyA, prfA e inlA foi detectada por meio da

amplificação seletiva, numa reação múltipla de PCR, usando os “primers” listados

na Tabela 1. A mistura preparada para o PCR continha 13 µL de água destilada e

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esterilizada, 1,0 µl de 2 mM dNTP complexo (Promega, Madison, WI, EUA), 1,0

µL de Taq DNA polimerase (Promega), 2,5 µL de tampão, 2,5 µL de MgCl2, 1,0 µL

de cada par de “primer” (100 µM, Sygma Genosys) e 2,0 µL de DNA bacteriano.

Como controle negativo (branco), foi preparado um tubo com todos os

componentes descritos anteriormente, menos o DNA bacteriano.

No início do processo de amplificação, o DNA bacteriano foi

desnaturado a 94ºC durante 5 minutos, seguindo-se 35 ciclos de amplificação, no

equipamento GeneAmp System 9700 (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA).

Cada ciclo consistiu de desnaturação a 94ºC por 1 min, anelamento a 57ºC por 1

minuto e alongamento a 72ºC por 1 minuto. Após o último ciclo, a temperatura foi

mantida a 72ºC por 8 minutos e então reduzida para 4ºC. Os produtos da reação

foram separados e visualizados em gel de agarose a 1,0%, após coloração com

brometo de etídio (BUBERT et al., 1999).

TABELA1: Relação dos “primers” utilizados na reação múltipla para amplificação

de três genes que codificam fatores de virulência em Listeria monocytogenes.

Gene Seqüência (5`-3`) Tamanho do

produto (bp) Referência

hlyA F*-CGG AGG TTC CGC AAA AGA TG

R**-CCT CCA GAG TGA TCG ATG TT 234

MENGAUD et al.,

1989; FURRER et

al., 1991

prfA F-CGG GAT AAA ACC AAA ACA ATT T

R-TGA GCT ATG TGC GAT GCC ACT T 508

KLEIN & JUNEJA,

1997

inlA F: ACG AGT AAC GGG ACA AAT GC

R: CCC GAC AGT GGT GCT AGA TT 800 BANADA, 2006***

F*: Forward R**: Reverse *** Primer elaborado por Padmapriya P. Banada, pesquisadora do laboratório de microbiologia molecular de alimentos, do departamento de Ciência de Alimentos, Universidade Purdue, Indiana, Estados Unidos.

Avaliação da capacidade de invasão celular Cultura celular

Foram utilizadas células Caco-2, por serem semelhantes aos

enterócitos do cólon humano (PINTO et al., 1983), entre a 20a e 24a passagem. A

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partir de estoques mantidos congelados, as células foram cultivadas a 37ºC em

atmosfera de CO2 a 7%, em meio Eagle modificado segundo Dulbecco

(Mediatech, Herndon, VA, EUA) e enriquecido com 10% de soro fetal bovino

(Atlanta Biologicals, Norcross, GA, EUA) – DMEM 10F (“Dulbecco`s modification

of Eagle`s medium with 10% (v/v) of fetal bovine serum”). A viabilidade e pureza

das células foram avaliadas diariamente, até a formação de uma camada

uniforme no frasco de cultura.

As células foram suspendidas, utilizando tripsina (Invitrogen, Carlsbad,

CA, EUA), contadas e distribuídas em placas de cultura celular com 24 unidades

(Corning Inc., Corning, NY, EUA). Em cada unidade foram inoculados 100 µL da

suspensão celular, aproximadamente 1,0 x 104 células e adicionado 1,0 mL de

DMEM 10F. Inicialmente o meio foi substituído a cada 48 horas e após a

confluência celular, diariamente.

A viabilidade e a pureza das células foram avaliadas diariamente,

durante 10 a 15 dias, até a formação de uma camada uniforme de células

diferenciadas em cada unidade da placa (PINTO et al. 1983). Neste estágio, uma

unidade da placa foi utilizada para contagem do número de células. Para tanto, o

meio de cultura foi retirado e as células foram suspendidas em 1,0 mL de tripsina.

Para a contagem, empregou-se a técnica de exclusão do corante azul

de tripan (FRESHNEY, 2000), modificada: uma aliquota de 100 µL da suspensão

celular foi homogeneizada com 100 µL do corante azul de tripan (Sigma, Saint

Louis, MO, EUA) e o número de células mortas e viáveis foi determinado

utilizando-se uma câmara hemotocimétrica. A concentração celular foi estimada

multiplicando-se o número médio de células em cinco quadrantes da câmara de

contagem pelos fatores de correção para diluição (2) e para expressar o resultado

em número de células/mL (104). A concentração de células nas unidades da placa

de cultura era de aproximadamente 1.0 x 106 células/unidade.

Cultura bacteriana

A partir de culturas puras em ágar infusão cérebro coração (“brain heart

infusion agar” - BHI, Difco Laboratories, Detroit, MI, EUA), mantidas a 4° C, uma

UFC foi cultivada a 37ºC durante 20 horas em caldo TSBYE sob agitação

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constante. L. monocytogenes Scott A e L. innocua F4248 foram utilizadas como

controles positivo e negativo, respectivamente.

A concentração bacteriana foi estimada por meio da densidade óptica

(DO) da cultura no caldo, determinada pela absorbância a 600 nm, medida em

espectrofotômetro modelo DU 640 (Beckman Coulter, Fullerton, CA, EUA). A DO

foi ajustada para aproximadamente 0,5 (valor que corresponde a

aproximadamente 5,0 x 108 UFC/mL, conforme análises prévias - dados não

mostrados).

Infecção das células, incubação e contagem bacteriana

O ensaio foi realizado conforme descrito por GAILLARD et al. (1987),

com modificações. Após a contagem do número de células, o meio de cultura das

demais unidades da placa foi removido, as células foram lavadas uma vez,

utilizando 1,0 mL de DMEM 10F e então em cada unidade foram adicionados 400

µL do mesmo meio de cultura. Para se obter uma multiplicidade de infecção (MI)

de 10:1 (YAMADA et al., 2006), em cada unidade da placa foram adicionados 20

µl do caldo de cultura bacteriana de DO 0,5, em duplicata. As placas foram

incubadas a 37ºC em atmosfera de CO2 a 7%, por uma hora. Durante o

experimento, a MI foi determinada para um isolado em cada lote analítico, sendo

constatado que os valores mantiveram-se entre 10 e 20:1 (dados não mostrados).

Após esse período, as células foram lavadas três vezes com tampão

fosfato salino celular (CPBS: 8.01 g NaCl, 0.4 g KCl, 0.493 g Na2HPO4, 0.60 g

NaH2PO4 e 1.98 g D-glucose para 1 L de agua destilada) e, em seguida, 1 mL de

DMEM 10F contendo gentamicina (50 µg/mL) foi adicionado em cada unidade de

cultura. As placas foram novamente incubadas nas mesmas condições anteriores,

por duas horas.

Essa concentração e tempo de contato com o antibiótico foram

selecionados conforme resultados de analises prévias. Resumidamente, todos os

isolados bacterianos foram inoculados em DMEM 10F contendo crescentes

concentrações de gentamicina, entre 10 e 50 µg/mL e incubados a 37ºC em

atmosfera de CO2 a 7%, por uma e duas horas. Então, alíquotas de 100 µl foram

semeadas em placas contendo ágar BHI, que foram incubadas a 37ºC durante 36

horas.

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As condições de incubação utilizadas no experimento foram as que

apresentaram a maior redução do crescimento bacteriano (dados não mostrados).

Concentrações superiores não foram avaliadas porque a concentração

recomendada pelo fabricante é de 50 µg/mL, além de que concentrações

superiores podem provocar a penetração do antibiótico nas células.

Após a incubação com o antibiótico, cada unidade de cultura celular foi

lavada três vezes com 1,0 mL de CPBS e então, 500 µL de Triton-X 100 (0.5%)

foi adicionado em cada unidade, seguindo-se nova incubação a 37ºC em

atmosfera de CO2 a 7%, por 10 minutos. Finalmente, a suspensão celular de cada

unidade foi transferida para tubos Eppendorf e homogeneizada em vórtex. A partir

de 100 µL da suspensão celular, foram preparadas três diluições decimais

seriadas, utilizando-se CPBS, para realizar o plaqueamento. A partir de cada

diluição, 100 µL foram semeados em placas contendo ágar BHI, em duplicata. As

placas foram incubadas a 37º C durante 36 horas.

Cada isolado foi avaliado em dois experimentos distintos. Os

resultados, expressos como percentual de invasão, referem-se à média das duas

avaliações. O percentual de invasão celular foi calculado considerando-se a

proporção de bactérias recuperadas em relação ao número estimado de UFC/mL

inoculadas (1.0 x 107 UFC/mL). Os resultados, conforme a origem dos isolados,

alimentos e pacientes, foram comparados utilizando-se o teste t de Student, com

95% de confiança.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os isolados analisados, 21 de origem alimentar e nove de origem

humana, apresentaram os genes pesquisados. Todos os produtos da reação

múltipla de PCR foram observados como apresentado na Figura 1, que

corresponde à cepa controle e alguns isolados. A reação múltipla de PCR

possibilitou a rápida identificação dos genes pesquisados.

A constatação da presença dos genes pesquisados está em acordo

com resultados do trabalho de JARADAT et al. (2002), que ao avaliarem a

homogeneidade genética entre isolados de L. monocytogenes oriundas de

pacientes e alimentos nos Estados Unidos também verificaram a presença dos

genes inlA e hlyA em todos eles. No entanto, os autores não pesquisaram o gene

prfA. A presença de prfA e hlyA foi verificada por RAWOOL et al. (2007) em um

isolado obtido a partir de amostra do leite de vaca com mastite subclínica, no

entanto, a presença do gene inlA não foi avaliada por esses autores.

Mar

cado

r (1

00 p

b)

Mar

cado

r (1

00 p

b)

Bra

nco

FIGURA 1: Gel de agarose com amplificação múltipla dos genes hlyA,

prfA e inlA de L. monocytogenes de origem alimentar e humana.

(pb)

800

508

234

(inlA)

(prfA)

(hlyA)

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No que pese os genes pesquisados terem sido encontrados em todos

os isolados, esse fato não é suficiente para confirmar o potencial de virulência

bacteriana, haja visto que podem ocorrer alterações na transcrição e tradução, ou

ainda, após a tradução gênica. NIGHTINGALE et al. (2005) verificaram que

alguns isolados apresentam mutações no gene inlA, acarretando a expressão de

uma proteína secretada ao invés de ancorada à superfície celular e,

conseqüentemente, reduzindo a capacidade de invasão celular.

Assim, para avaliar a capacidade de invasão celular dos diferentes

isolados de L. monocytogenes, realizou-se o ensaio com as células Caco-2.

Essas células pertencem a uma linhagem celular originária de carcinoma do cólon

humano e apresentam muitas das propriedades dos enterócitos, incluindo a típica

borda em escova com suas enzimas (PINTO et al., 1983).

Os percentuais de invasão celular das cepas utilizadas como controle

(L. monocytogenes Scott A e L. innocua F4248) e dos 30 isolados de origem

alimentar e humana são apresentados na Figura 2.

0

5

10

15

20

25

30

Sco

tt A

F 3

F 10

F 13

F 17

F 24

F 27

F 33

F 36

F 38

F 44

F 49 H 3

H 8

H 1

1

H 1

4

Cepas

% d

e in

vasa

o

Pode-se constatar que houve grande variação no padrão de invasão

celular. Para a cepa de L. innocua F4248 foram recuperadas apenas 23

UFC/unidade, equivalendo a um percentual de invasão celular de 0,00023%. Os

FIGURA 2: Representacão dos percentuais de invasão celular. Média e desvio

padrão de duas repetições realizadas em duplicata. Os dois primeiros intervalos

referem-se a L. monocytogenes Scott A e L. innocua F4248.

Cepas e isolados

% d

e in

vasã

o

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isolados de origem alimentar apresentaram percentual de invasão celular que

variou de 0,01% (F 14) a 16,13% (F 33), com média de 3,75%. Entre os isolados

de origem humana a variação foi de 0,0036% (H 3) a 20,26% (H 8), com média de

9,31%. O fato de que esses quatro isolados pertençam ao sorotipo 4b (Quadro 1)

revela uma limitação da sorotipagem na discriminação bacteriana (PAOLI et al.,

2005).

A variação nos percentuais de invasão observada no presente estudo

se assemelha à verificada em outros trabalhos. JARADAT & BHUNIA (2003)

obtiveram percentual de invasão variando entre 1,8 e 31,4% ao avaliarem 25

isolados de origem alimentar e humana, representando 13 sorotipos diferentes.

YAMADA et al. (2006) verificaram a ocorrência de variação entre 0,03 e 39,1%

para 15 isolados de origem alimentar, com média igual a 5,2% e, entre 4,3 e 30%

para cinco isolados de origem humana, com média igual a 16,1%.

A média de invasão celular dos isolados de origem humana, 9,31% -

excluindo o resultado do isolado H 3, considerado atipicamente baixo, foi

significativamente maior (P<0,05) do que a média dos isolados de origem

alimentar (3,75%). Essa observação está em acordo com os resultados obtidos

por VAN LANGENDONCK et al. (1998), NIGHTINGALE et al. (2005) e YAMADA

et al. (2006). No entanto, em nenhum desses trabalhos foi observado um

percentual de invasão tão baixo quanto o apresentado pela cepa H 3 (0,0036%).

Considerando que esse isolado foi obtido a partir de amostra clínica, torna-se

importante elucidar, do ponto de vista genético, os motivos responsáveis por essa

grande diferença no potencial de invasão celular.

A ocorrência de menor capacidade de invasão entre os isolados de

origem alimentar pode ser devido à presença de mutações que levam à formação

prematura de códons de parada no momento da transcrição gênica

(ROUSSEAUX et al., 2004). Como consequência, as moléculas de inlA

apresentam sequência alterada e ao invés de permanecerem ligadas à superficie

celular bacteriana, elas são secretadas no meio ambiente (NIGHTINGALE et al.,

2005).

O motivo pelo qual essas mutações ocorrem com maior frequência

entre os isolados de origem alimentar não está totalmente esclarecido, mas talvez

seja decorrente de adaptações a um ambiente onde tal atividade não seja tão

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necessária. Segundo ROUSSEAUX et al. (2004) a constatação de que, nos

alimentos, a L. monocytogenes encontra-se em um estado de reduzida virulência

auxiliaria a explicar a ocorrência relativamente baixa de casos de listeriose

humana.

Por outro lado, pode-se sugerir que no hospedeiro humano, frente aos

elementos de defesa físicos, humorais e celulares, além de eventual

concomitância de antibioticoterapia, os fatores alternativos σB exerçam maior

atividade na expressão de inlA (KIM et al., 2004; VAN SCHAIK & ABEE, 2005).

No entanto, não se pode generalizar que os isolados de L.

monocytogenes oriundos de alimentos apresentem sempre menor virulência do

que aqueles de origem humana. WERBROUCK et al. (2006) constataram

exatamente o contrário, ao avaliarem 10 isolados de origem humana e 11 de

origem alimentar e ambiental. Os autores consideraram que a explicação para tal

resultado seria que in vivo as bactérias virulentas apresentariam menor grau de

invasão celular como estratégia para prevenir uma ação do sistema imune

inespecífico.

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CONCLUSÕES

De acordo com as condições de realização do presente estudo e

conforme os resultados obtidos pode-se afirmar que:

1. Não há diferença com relação à presença dos genes hlyA, prfA e inlA em

isolados de L. monocytogenes oriundos de alimentos e de pacientes

humanos no Brasil;

2. Os isolados de origem clínica apresentam maior capacidade de invasão

celular do que os de origem alimentar.

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7. JARADAT, Z.W.; BHUNIA, A.K. Adhesion, invasion, and translocation

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10. MENGAUD, J.; VICENTE, M.F.; COSSART, P. Transcriptional mapping and

nucleotide sequence of the Listeria monocytogenes hlyA region reveal structural features that may be involved in regulation. Infection and Immunity, v.57, n.12, p.3695-3701, 1989.

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WIEDMANN, M. Select Listeria monocytogenes subtypes commonly found in

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foods carry distinct nonsense mutations in inlA, leading to expression of truncated and secreted internalin A, and are associated with a reduced invasion phenotype for human intestinal epithelial cells. Applied and Environmental Microbiology, v.71, n. 12, p.8764-8772, 2005.

12. PAOLI, G.C.; BHUNIA, A.K.; BAYLES, D.O. Listeria monocytogenes, In:

Fratamico, P.M.; Bhunia, A.K.; SMITH, J.L (ed.). Foodborne Pathogens: microbiology and molecular biology. Caister Academic Press, Great Britain. 454 p. 2005.

13. PINTO, M; ROBINE-LEON, S.; APPAY, M-D.; KEDINGER, M.; TRIADOU, N.;

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16. ROUSSEAUX, S.; OLIER, M.; LEMAITRE, J.P.; PIVETEAU, P.; GUZZO, J.

Use of PCR-restriction fragment length polymorphism of inlA for rapid screening of Listeria monocytogenes strains deficient in the ability to invade Caco-2 cells. Applied and Environmental Microbiology, v.70, n. 4, p.2180-2185, 2004.

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MARLY, J.; PARDON, P.; VELGE, P. Tissue culture assays using Caco-2 cell line differentiate virulent from non-virulent Listeria monocytogenes strains. Journal of Applied Microbiology, v.85, p.337-346, 1998.

18. VAN SCHAIK, W.; ABEE, T. The role of σB in the stress response of Gram-

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19. VAZQUEZ-BOLAND, J. A.; KUHN, M.; BERCHE, P.; CHAKRABORTY, T.;

DOMINGUEZ-BERNAL, G.; GOEBEL, W.; GONZALEZ-ZORN, B.; WEHLAND, J.; KREFT, J. Listeria pathogenesis and molecular virulence determinants. Clinical Microbiology Reviews, v.14, n.3, p.584-640, 2001.

20. YAMADA, F.; UEDA, F.; OCHIAI, Y.; MOCHIZUKI, M.; SHOJI, H.; OGAWA-

GOTO, K.; SATA, K.; OGASAWARA, K.; FUJIMA, A.; HONDO, R. Invasion assay of Listeria monocytogenes using Vero and Caco-2 cells. Journal of Microbiological Methods, v.66, p.96-103, 2006.

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21. WERBROUCK, H.; GRIJSPEERDT, K.; BOTTELDOORN, N.; VAN PAMEL, E.; RIJPENS, N.; VAN DAMME, J.; UYTTENDAELE, M.; HERMAN, L.; VAN COILLIE, E. Differential inlA and inlB expression and interaction with human intestinal and liver cells by Listeria monocytogenes strains of different origins. Applied and Environmental Microbiology, v.72, n.6, p.3862-3871, 2006.

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CAPÍTULO 4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

As enfermidades veiculadas por alimentos, além do impacto direto na

saúde pública, são responsáveis por grandes prejuízos na indústria alimentícia.

Para países notadamente de economia agropecuária, como o Brasil, o controle de

patógenos de origem alimentar reveste-se de grande importância em virtude das

barreiras de ordem sanitárias impostas à exportação de produtos de origem

animal. Assim, o estudo dessas enfermidades envolve interesses tanto sanitários

quanto econômicos. Nesse sentido, os patógenos que apresentam maior

potencial de agravos à saúde humana, como Listeria monocytogenes e

Salmonella sp., devem receber especial atenção.

O conhecimento das características intrínsecas dos patógenos de

origem alimentar torna-se fundamental para orientação de medidas de controle e

prevenção. Para tanto, é necessário infra-estrutura adequada e recursos

humanos qualificados, que permitam a geração de informações precisas e em

tempo hábil.

Nesse contexto, a ribotipagem automatizada constitui recurso ímpar,

sendo altamente recomendada para discriminação de isolados bacterianos

fenotipicamente idênticos. Reconhecendo a importância desse procedimento, o

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, responsável pela fiscalização

e regulamentação dos produtos de origem animal e vegetal destinados ao

consumo humano e animal em nosso país, adquiriu em 2006 o equipamento para

realização dessa análise.

A avaliação genética e características fenotípicas são, na maioria das

vezes, fundamentais na caracterização de agentes microbianos. Além disso, para

microrganismos patogênicos, a determinação do potencial de virulência assume

grande relevância, pois o mesmo está diretamente relacionado à manifestação da

enfermidade no hospedeiro. As informações obtidas por meio da avaliação da

virulência bacteriana podem ser aplicadas na elucidação dos motivos que levam à

manifestação ou não de enfermidades, na identificação de sítios ecológicos e/ou

condições que influenciam diretamente na patogenicidade e ainda, no emprego

ou elaboração de substâncias químicas ou biológicas, como desinfetantes e

vacinas, destinadas à prevenção e controle de patógenos específicos.

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Apesar das vantagens da ribotipagem automatizada, a similaridade

genética observada no presente estudo entre os isolados de Listeria

monocytogenes oriundos de amostras de alimentos e de pacientes com listeriose,

geográfica e espacialmente diferentes, reflete limitações no poder discriminatório

da técnica. Assim sendo, esse método deve ser utilizado principalmente para

identificação das fontes de contaminação de determinado produto. Na ocorrência

de surtos ou casos esporádicos de listeriose, a técnica poderia ser utilizada como

procedimento de triagem.

Constatou-se, no presente estudo, que ribotipos de Listeria

monocytogenes frequentemente isolados de pacientes infectados são comuns em

alimentos amplamente consumidos no Brasil. Essa importante observação pode

ser utilizada para justificar o desenvolvimento de mais estudos sobre a ocorrência

de listeriose no país e principalmente, alertar os órgãos e autoridades

responsáveis pela saúde pública nacional sobre a necessidade de

desenvolvimento de ações voltadas para a prevenção da doença.

Reiterando e ao mesmo tempo, aumentando a importância dessa

observação, verificou-se que os resultados de citotoxicidade obtidos no presente

estudo não diferiram entre os isolados de origem alimentar e humana, embora

esses tenham apresentado maior capacidade de invasão celular, indicando que,

se estiver presente no alimento, a bactéria pode causar infecção no homem. Além

disso, a complexa interação entre os elementos de defesa do organismo e o

patógeno pode incorrer em seleção dos isolados que apresentam maior

capacidade de invasão celular ou provocar maior expressão dos fatores de

virulência bacterianos responsáveis pela invasão, principalmente internalina A.