rhuan targino zaleski trindade · pessoas próximas ao cientista em guarani das missões;...

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A Introdução e cultivo da soja no Noroeste Gaúcho através da História Oral RHUAN TARGINO ZALESKI TRINDADE Introdução Na Escola Agronômica de Guarani distribuiu as sementes [de soja] que geraram a maior riqueza vegetal gaúcha”, eis parte da inscrição do busto erguido em 1998 como homenagem ao agrônomo polonês Ceslau Biezanko, em Guarani das Missões, cidade localizada no noroeste gaúcho. A cidade de Guarani das Missões está muito vinculada com a imigração polonesa ocorrida no final do século XIX na região. Esta característica permite a conformação de uma identidade étnica entre os habitantes locais, congregados através da polonidade. Outro marcador identitário da cidade é a relação com o “pioneirismo” do cultivo da soja nos primeiros anos da década de 1930. A introdução da leguminosa é remetida para os colonos poloneses da região, tendo sido distribuída pelo mencionado agrônomo Biezanko. Estes dois elementos são constituintes da comunidade guaranienese e são estimulados pelas lideranças e poderes públicos locais como formadores de um autorreconhecimento e de heterorreconhecimento, uma vez que ajudam a constituir a identidade dos habitantes da cidade frente às cidades vizinhas, um espaço de disputas em torno do pioneirismo do cultivo da soja e da hierarquização étnica. Nosso foco principal neste texto é com relação ao rememorado caso do agrônomo Ceslau Mario Biezanko 1 , um imigrante polonês nascido em 1895, em Kielce 2 , que depois de se formar Engenheiro Agrônomo e trabalhar na Europa, constituindo um extenso currículo (TRINDADE, 2015), foi enviado pelo governo polonês no início da década de 1930 para a América do Sul. UFPR, Doutorando em História, apoio CAPES. 1 O personagem e sua relação com a soja foi tema da dissertação de mestrado “Um cientista entre colonos: Ceslau Biezanko, Educação, Associação Rural e o cultivo da Soja no Rio Grande do Sul no início da década de 1930” defendida em 2015 no PPGH da UFRGS. 2 Cidade localizada no centro-sul da Polônia, na época, parte do Império Russo, hoje, localiza-se na província (Voivodia) de Świętokrzyskie.

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A Introdução e cultivo da soja no Noroeste Gaúcho através da História Oral

RHUAN TARGINO ZALESKI TRINDADE

Introdução

“Na Escola Agronômica de Guarani distribuiu as sementes [de soja] que geraram

a maior riqueza vegetal gaúcha”, eis parte da inscrição do busto erguido em 1998 como

homenagem ao agrônomo polonês Ceslau Biezanko, em Guarani das Missões, cidade

localizada no noroeste gaúcho.

A cidade de Guarani das Missões está muito vinculada com a imigração polonesa

ocorrida no final do século XIX na região. Esta característica permite a conformação de

uma identidade étnica entre os habitantes locais, congregados através da polonidade.

Outro marcador identitário da cidade é a relação com o “pioneirismo” do cultivo da soja

nos primeiros anos da década de 1930. A introdução da leguminosa é remetida para os

colonos poloneses da região, tendo sido distribuída pelo mencionado agrônomo

Biezanko. Estes dois elementos são constituintes da comunidade guaranienese e são

estimulados pelas lideranças e poderes públicos locais como formadores de um

autorreconhecimento e de heterorreconhecimento, uma vez que ajudam a constituir a

identidade dos habitantes da cidade frente às cidades vizinhas, um espaço de disputas em

torno do pioneirismo do cultivo da soja e da hierarquização étnica.

Nosso foco principal neste texto é com relação ao rememorado caso do agrônomo

Ceslau Mario Biezanko1, um imigrante polonês nascido em 1895, em Kielce2, que depois

de se formar Engenheiro Agrônomo e trabalhar na Europa, constituindo um extenso

currículo (TRINDADE, 2015), foi enviado pelo governo polonês no início da década de

1930 para a América do Sul.

UFPR, Doutorando em História, apoio CAPES. 1 O personagem e sua relação com a soja foi tema da dissertação de mestrado “Um cientista entre colonos:

Ceslau Biezanko, Educação, Associação Rural e o cultivo da Soja no Rio Grande do Sul no início da década

de 1930” defendida em 2015 no PPGH da UFRGS. 2 Cidade localizada no centro-sul da Polônia, na época, parte do Império Russo, hoje, localiza-se na

província (Voivodia) de Świętokrzyskie.

O agrônomo viria a se fixar no Brasil onde foi reconhecido oficialmente pelo

governo brasileiro como o introdutor de sementes de soja no Rio Grande do Sul em 1963.

Tal homenagem é devido justamente ao seu trabalho junto aos colonos poloneses da então

colônia de Guarani das Missões, entre 1932 e 1934. Em Guarani, além de fundar

associações agrícolas, escolas e publicar trabalhos em diferentes áreas, disseminou

sementes de variedades (12 cultivares3) de soja, muito antes do “boom” da leguminosa

naquela região, que é evidente somente a partir dos anos 1950 e especialmente a partir

dos anos 1970. Em 1934 o agrônomo teve de sair da cidade em razão, entre outras disputas

na comunidade local4, dos maus resultados obtidos com o uso da soja como ração suína,

elemento causador (quando em alta porcentagem) de descalcificação e consequentemente

morte dos animais.

Conforme Candau (2012), a conformação da identidade está conjugada com a

memória, ambas nutrindo-se mutuamente e capazes de produzir uma história, uma

narrativa, uma trajetória de vida e/ou um mito, sendo a memória que constrói, alimenta e

fortalece a identidade, tanto individual, mas no nosso caso, principalmente a coletiva.

Com base nesta assertiva, a proposta deste trabalho é descrever e analisar os vínculos do

cultivo da soja com os colonos poloneses em Guarani das Missões baseado em relatos

orais obtidos em entrevistas com diferentes agentes. Com base nestes dados propomos

verificar as disputas memorialísticas em torno do pioneirismo do cultivo da leguminosa

e as temáticas relacionadas à identidade étnica polonesa, isto é, a polonidade, igualmente

importante, visto que é componente da oralidade observada nos depoimentos.

História Oral e soja/colonos poloneses

Primeiramente, não podemos deixar de esclarecer alguns aspectos metodológicos

importantes quanto ao nosso grupo de fontes aqui destacados, os depoimentos. Para tanto,

nos valemos da História Oral, método de pesquisa (ALBERTI, 2005: 29) que desde 1960

3 BIEZANKO, Ceslau. Relação de plantas exóticas e indígenas cultivadas em Guarani Das Missões (1930-

1934) e em Pelotas (1934-1949) (Rio Grande Do Sul). Curitiba: Gráfica Vicentina, 1964. 4 Disputas envolvendo a igreja, representada pelo clero, os “instrutores” poloneses (intelectuais enviados

pelo governo polonês às colônias) e os colonos.

vem ganhando importância entre os historiadores. Esta metodologia é entendida aqui em

conformidade com Alberti (2005), na sua possibilidade “método-fonte-técnica” e com o

intuito de examinar a “construção, desconstrução e reconstrução da memória” (POLLAK,

1989: 13).

Aliamos essa análise à constituição da noção, do que Candau (2012) chama de

“prosopopeia”, dentro do contexto da “panteonização”, processo que envolve jogos

identitários para um determinado grupo, em que ocorre uma modelização, idealização,

enaltecimento, emulação e/ou heroicização de homens do passado como personagens

ideais que servem como exemplos e objetos de memória e identidade.

Para retomar estes esquemas mnemônicos, através dos discursos e entrevistas,

pretendemos averiguar informações, testemunhos, versões e interpretações de

determinados indivíduos sobre o tema específico. Sabendo da existência de dois modos

de proceder, um “conferindo maior importância à precisão factual e à informação e outro

mais preocupado com o que revelam os interstícios do discurso” (VOLDMAN, 1998: 35).

Nesse sentido, premente se faz a entrevista temática, a qual tem como objetivo

obter subsídios de algo não necessariamente vivido pelo indivíduo, mas do qual sabe ou

participou de alguma maneira. Uma série de entrevistas foram promovidas, e a escolha

dos entrevistados foi feita a partir de interesses e proximidade destes com a temática5.

Alguns depoentes conviveram com o Biezanko nos anos 1930; também parentes de

pessoas próximas ao cientista em Guarani das Missões; estudiosos da etnia polonesa,

além de outros indivíduos (desde políticos, colonos, professores, empresários e outras

figuras que tiveram contato com a introdução da soja e sua história) que foram chamados

a prestarem seus depoimentos para nossa pesquisa, constituindo um corpus documental.

As entrevistas permitiram ao depoente falar sobre Biezanko, soja, imigração,

Polônia, entre outros assuntos a partir de questionamentos amplos e provocativos, os

quais, na medida do interesse do autor, eram especificados. Preferimos omitir os nomes

ao longo do texto, destacando apenas as iniciais, ofício e idade dos depoentes.

5 Infelizmente, devido ao período recuado da nossa temporalidade em destaque, não existem muitas

testemunhas vivas dos acontecimentos aqui relatados.

Os debates sobre a ética no uso das fontes orais são polêmicos e existem várias

indicações e manuais, de maneira que seguimos a perspectiva da carta da Associação

Nacional de História - Brasil (ANPUH) sobre os princípios éticos (2015), privilegiando

o anonimato dos depoentes citados ao longo do texto e que tiveram as informações

transcritas neste trabalho.

Em suma, segundo Alberti (2005: 29), “sendo um método de pesquisa, a história

oral não é um fim em si mesma, e sim um meio de conhecimento”, influenciados por esta

forma de pensar, pretendemos articular os depoimentos orais com outras fontes como

cartas e periódicos, a fim de dar maior completude para nossa análise.

Ceslau Biezanko e a soja

A soja é mencionada no Brasil desde o século XIX6, e sua “origem” não é fácil de

ser rastreada. Há vínculos com a vinda de agrônomos estrangeiros, experimentos em

instituições educacionais rurais e estatais, bem como, a alegada introdução entre

agricultores, notadamente os japoneses em São Paulo e os alemães e poloneses no Rio

Grande do Sul (TRINDADE, 2015).

Biezanko foi um dos possíveis introdutores, quando trouxe algumas sementes da

leguminosa para o Brasil em 1932, numa época, lugar e condições específicos. Este fato

relacionado ao pioneirismo é menos importante diante do trabalho amplo e coletivo que

estabeleceu na colônia polonesa. O elemento principal é que Biezanko ajudou a assentar

as bases da soja no Rio Grande do Sul, e para tanto recebeu oficialmente o

reconhecimento.

O agrônomo assume responsabilidade pela inserção de sementes de variedades da

leguminosa entre colonos de Guarani. Em uma série de entrevistas7 a diferentes

periódicos, o cientista sobressai sua atuação. Mormente em 1958, Biezanko apregoa suas

realizações na publicação das traduções adaptadas de uma série de artigos originalmente

6 Dean (1989) escreve que um viajante encontrou soja em 1818 no Rio de Janeiro. 7 Agricultura e Cooperativismo, Porto Alegre, 1976; Cotrifatos, Cerro Largo, 1978, Zero Hora, Porto

Alegre, 1984.

publicados em polonês no periódico polono-brasileiro Lud (O Povo), de Curitiba, em

1934, no qual trata da soja e das suas atividades com ela na colônia Guarani. O cientista

assevera nos artigos que ajudou na introdução da soja, admite que as distribuiu entre os

colonos em Guarani e relata sua expansão pela região.

Na cidade, os entrevistados confirmam os dados abonando a noção de como

ocorriam as distribuições: A.W. (supervisor de produção aposentado, 64 anos) afirma

segundo seu pai, Miguel Valeriano Wastowski “Ele contou que ele era, que... Que ganhou

essas sementes do Biezanko, e ele falava; se orgulhava muito sabe, de que foi ele o

primeiro plantador”, Z.K. (agricultora aposentada, 74 anos) confirma sobre sua família

que “Eu sei que lá em Bom Jardim8 quem plantava; quem também ganhou o... A

sementinha, da semente de soja, também era o Francisco Hamerski, que era primo-irmão

do meu pai”, completando que “Ele ganhou. Mas se o meu pai tinha ganhado, eu acho

que não, que já depois ele ganhou desse Francisco, desse primo”, fato que demonstra

também a redistribuição. Ela destaca após que “Mas isso era pouquinha sementinha!...

Isso era... Sementinhas pouquinhas! Que ele dava para ti, as testava se isso ia render

alguma cultura ou não”. E.W. (dentista aposentado, 78 anos) aponta que “Ele [Biezanko]

de fato, ele trouxe essa soja, esse punhado se soja, e deixou aqui com... Com o pai, e aí

distribuiu para o Estanislau Kowalski, ali da Harmonia, não é, e para o pessoal... Para

o pessoal da Linha... 8 de Agosto”. Também para o agricultor aposentado A.A. (62 anos),

seu avô recebeu e trouxe as sementes para plantá-las na colônia da sua família9. Existem

ainda muitos outros relatos.

Para além da soja, Biezanko trabalhou com afinco na introdução de bichos-da-

seda, sorgo, criação de nutrias, além de uma série de outros produtos, os quais estão

registrados num artigo do cientista (BIEZANKO, 1964). Entretanto, apenas a soja teve

grande destaque na memória oral coletada dentre os depoentes, mesmo que tenha existido

um gap entre a introdução de algumas variedades de maneira experimental por Biezanko

8 Linha da colônia de Guarani das Missões. 9 Segundo entrevista com A.A. (agricultor aposentado, 62 anos): “Eu tenho certeza não é; só disso: que o

vovô João Klidzio, o meu vovô, pai da minha mãe, ele trouxe, mas, pelo que eu sei, eu acho que de Guarani

não é? Guarani já era uma cidadezinha, era Vila naquele tempo, o Município mãe é São Luiz Gonzaga, na

serra não é. Daí ele trouxe uma sementinha, e nessa terra aqui que nós estamos morando, ali atrás do poço,

essa soja foi plantada. Isso eu tenho certeza. Agora, quem distribuiu, pode ser quem foi”.

e a efetiva produção em larga escala nos anos 1960, que faz parte de outro processo. Esta

rememoração específica está relacionada ao contexto atinente ao desenvolvimento da

agricultura na região.

O Brasil, com o fim da Segunda Guerra, passa por um período de modificação da

agricultura colonial tradicional, quando se inicia um processo de modernização da

agricultura. Nos anos 1960, com o regime militar, este processo ganha impulso e, entre

outras consequências, ocorre a expansão da agricultura mecanizada voltada ao mercado

externo.

A soja tem, portanto, seu boom, devido a várias razões relacionadas com o

contexto econômico regional e supranacional. Este processo ocorre, sobretudo, na região

noroeste do estado, a partir de uma difusão tecnológica, propalado através das lideranças

locais, da extensão rural e do treinamento para convencer os agricultores (ZARTH, 2009).

Não podemos deixar de frisar, que a mesma razão a qual conduziu à consideração

de Biezanko e seu trabalho, o crescimento da sojicultura, foi o motivo pelo qual a

leguminosa é justamente mais destacada em relação a outros produtos incentivados pelo

cientista, que tiveram um investimento por parte do professor tal e qual o da soja, mas os

quais economicamente não foram importantes no período posterior. Ocorreu, portanto,

um trabalho de seleção da memória daquilo que deveria ou não ser lembrado e esquecido

entre os habitantes de Guarani.

A própria imprensa brasileira fez uma série de reportagens com Biezanko nas

décadas de 1960, 1970 e 1980 relembrando seu trabalho em Guarani no início dos anos

1930 e relacionando uma novidade introduzida num tempo e espaço muito particular e

determinado com as mudanças da agricultura tradicional daquelas décadas.

Em tempo, ainda a título de reconstrução mnemônica, em 1963, Biezanko recebeu

sua mais lembrada condecoração, a “Ordem do Cruzeiro do Sul” e foi também

reconhecido pelo Ministério da Agricultura como o “Introdutor da soja no Rio Grande do

Sul”10. Por estas razões, se torna personagem importante na constituição da identidade

polonesa no estado, posto que desta forma era visto como um imigrante que havia

contribuído para a riqueza do Brasil ao propor um produto de sucesso para o país, a

10 Lud, 16/03/1976.

sojicultura. Portanto, é a vinculação de Biezanko com aquela planta específica que

constituiria uma memória a ser expressa pelos depoentes.

Igualmente, o cientista é vinculado a Guarani das Missões, através de uma

(re)construção identitária feita pelos habitantes e a política local, através de ações da

prefeitura, que heroiciza o personagem como um símbolo da cidade. Em 1998 foi erguido

um busto na principal praça da cidade de Guarani. Além disso, uma rua da cidade foi

batizada com o nome do cientista. Em 1996, um professor local foi enviado pela prefeitura

para fazer uma pesquisa da documentação sobre Biezanko.

A comunidade polonesa gaúcha e brasileira, e a cidade de Guarani das Missões,

renderam muitas homenagens ao professor-cientista e o constituíram como um dos

“vultos”, dos grandes personagens da imigração polonesa, um herói da comunidade.

Representando o “imigrante que deu certo”, o “exemplo”, capaz de positivar a imagem

daqueles grupos e reforçar a sua identidade, tornando-se elemento de coesão interna e de

notabilidade para fora dele, principalmente do ponto de vista interacional étnico, no qual

os poloneses estavam em situação de desvantagem e numa posição de inferioridade,

diante do contexto de hierarquização étnica (de origem europeia) do Rio Grande do Sul

(GRITTI, 2004).

Biezanko, a partir destes relatos, além de ser elemento de reforço à identidade

polonesa, enquanto personagem destacado e reconhecido, serviria para avigorar a

identidade local apontando tal personalidade como parte do “grupo” de poloneses e de

Guarani das Missões. Esta observação leva-nos a entender a distinção entre rememoração,

trabalho de memória individual, e comemoração, de acordo com Ricoeur (1985), como

trabalho de uma memória coletiva, em que o lembrar incita o testemunho do outro para

uma exigência de fidelidade.

Para Ricouer, os grupos sociais seriam portadores de memórias com noções

subjetivas e assim, as narrativas coletivas dos acontecimentos históricos (no nosso caso,

dos personagens históricos) são transmitidas de gerações em gerações, constituindo um

tempo anônimo “a meio caminho entre o tempo privado e o tempo público", portanto a

mediação entre a memória individual e coletiva passaria por uma identidade narrativa,

inscrita no tempo e na ação. A comemoração é um exemplo da seletividade da memória,

de maneira que haja uma relação com interesses os mais variados, num jogo de

esquecimentos e lembranças, que conformam as tramas de uma rememoração social.

Biezanko, portanto, se converteu em elemento de rememoração individual e

comemoração coletiva, atrelado a construção da identidade polono-gaúcha mais

especificamente, e polono-brasileira de maneira geral, bem como do “ser guaraniense”.

Entre os depoentes, muitos utilizavam da memória familiar coletiva para construir suas

narrativas, inclusive tentando aproximar seu passado da figura de Biezanko através de

possíveis contatos com antepassados, como observamos nas passagens supracitadas.

Observamos a existência de um discurso comum e estabelecido da relação de Biezanko

com a soja e Guarani das Missões.

O pioneirismo da soja, no entanto, tem sido elemento de debate, que envolve

diferentes cidades e grupos étnicos no planalto do Rio Grande do Sul. A história de

Biezanko em Guarani das Missões é muito importante em razão da sua rememoração

social, apesar das polêmicas quanto ao pioneirismo da soja na região ou entre os

poloneses, das quais o nome do cientista aparece com frequência. Estes assuntos são

temas da próxima seção.

O pioneirismo da soja e a relação com os imigrantes poloneses no noroeste gaúcho:

disputas de memória e identidade

O noroeste gaúcho, onde se encontra Guarani das Missões, revelou ao longo da

pesquisa uma realidade complexa e uma memória muito particular com relação à

introdução da cultura da soja na região, este acontecimento desenvolveu uma série de

particularidades, que remontam ao período da chegada do cientista polonês Ceslau

Biezanko e até mesmo antes dele.

A fim de exprimir o modo como se depreende a complexa teia memorial e de

representações simbólicas com relação ao processo maior da soja e projeção de Biezanko

na colônia polonesa, partimos para a análise das disputas que envolvem o cultivo pioneiro

da soja na região.

Entendemos as contendas a partir da noção de Bourdieu, envolvendo a criação de

formulações que, acima de tudo, são nomeações, categorizações, atribuições de sentido

qualificadoras do real, entendido aqui como um campo de lutas simbólicas. Este processo,

segundo Bourdieu (1989), envolve o poder (simbólico) de uma formulação definidora

aceitável no corpo social, de modo que apenas os “porta-vozes” tem o poder de fazer a

enunciação, a nomeação. Nesse ínterim, partimos para as perspectivas sobre o

pioneirismo da soja, as quais permitem uma apreciação da objetivação de aspectos

simbólicos como marcadores de identidade.

Os grupos e indivíduos com poder de enunciar e “fazer crer” (BOURDIEU, 1989)

estabelecem o que “deve” ser (re)memorado e comemorado (RICOEUR, 1985), diante

das diferentes alternativas possíveis encarnadas por outros grupos e indivíduos

obscurecidos simbolicamente. Estes embates abarcam a constituição da identidade dentro

de um contexto interacional, que envolve os porta-vozes de cidades (sua representação

política) e grupos étnicos interessados na conformação de um passado comum. Para essa

(re)criação social os indivíduos e grupos representados utilizam da soja e seu posterior

sucesso comercial, ademais de possíveis introdutores, os quais são heroicizados, como

elemento constituidor de coesão social para a conformação da memória e identidade

coletiva.

Em primeiro lugar, nas entrevistas percebemos que na memória do guaraniense11,

Santa Rosa (cidade vizinha) usurpou o título de capital nacional da Soja, ao ser

considerada o “verdadeiro” berço do produto, onde teria ocorrido a introdução pioneira

da leguminosa, que levou consequentemente à criação da Fenasoja (Festa nacional da

soja)12 desde os anos 1960.

A questão do pioneirismo da soja tem início a partir da disputa pelo título de

“Capital Nacional da Soja”, desde muito cedo capitaneado pela maior cidade da região,

Santa Rosa (ainda que a oficialização fosse posterior), a qual ostenta a denominação

honorífica alegando o início da cultura por volta de 1914, com ações do pastor Lembauer,

11 Gentílico, que expressa também uma “identidade” de modo usual, expressa em jornais da cidade ou na

memória dos cidadãos. 12 Soubemos através dos entrevistados que no Museu da Soja na cidade de Santa Rosa há referências ao

trabalho de Biezanko em Guarani das Missões.

o que a tornaria o “Berço Nacional da Soja”. Tal fato permitiu a criação da Feira Nacional

da Soja, a FENASOJA, iniciada em 1966 e que ocorre periodicamente desde 1974, na

qual chegaram a existir embates com guaranienses que reivindicavam o título para sua

cidade.

Em praticamente todas nossas entrevistas com os habitantes de Guarani, a querela

com o município vizinho era manifesta, as referências são muito recorrentes, como:

“Guarani ficou para trás, cidade pequena não é...” (A.A. agricultor aposentado, 62 anos),

“Por que sabe de uma coisa? Guarani brigou com Santa Rosa por causa disso aí!” (C.B.

agricultora aposentada, 78 anos), “Porque é ele [Biezanko] que – contam não é? – ele

que trouxe as primeiras sementes do soja; e depois foi plantada no nosso município, e

hoje quem leva a fama é Santa Rosa” (M.L., dona de casa, 78 anos), ou então menções

ao fato de Biezanko ter levado sementes para linhas que eram, então, parte de Santa Rosa.

O “título” honorífico em disputa seria um elemento de reforço identitário

importante para a constituição do grupo étnico polonês e da cidade, tendo como resultado

o aumento dos seus recursos, não apenas culturais, mas inclusive materiais através da

divulgação e turismo. É possível que as disputas com a cidade vizinha tivessem um

elemento étnico destacado, já que Santa Rosa é uma cidade originada de uma colônia

alemã, mas esta assertiva deve ser confirmada com uma pesquisa mais sistemática.

Para além das contestas com Santa Rosa, dentro da própria colônia polonesa há

questões quanto a quem foi o introdutor da soja. Em todos os grupos sociais (como os

étnicos) existem divisões, referentes a variadas formulações, ainda mais, quando remete

à constituição identitária grupal, que envolve posicionamentos e capacidade de

enunciação e ativação de determinadas situações em relação a outras, ou seja, o potencial

de “representação” cujo porta-vozes têm nas disputas simbólicas, o qual tem

reverberações nos discursos.

Deve-se ressaltar que a memória é sempre seletiva, uma construção qualitativa e

parte de múltiplos fatores que implicam “em predisposições que condicionam os

indivíduos a seleccionarem o seu passado”, uma vez que “os ritos de recordação”

desempenham funções nas sociabilidades e instituições. A memória cumpre, dessa forma,

um papel programático e normativo, que insere os indivíduos em “cadeias de filiação

identitária, distinguindo-os e diferenciando-os em relação a outros” (CARTROGA, 2001:

50). Desta forma, recordar tem uma função identificadora, que no nosso caso, perpassa a

constituição de uma identidade étnica polonesa no Brasil (polonidade), mas também da

comunidade guaraniense, com o elenco de mitos/vultos ou personagens de destaques

representativos da comunidade e positivadores de sua imagem. Uma memória unificada

constrói e conserva a unidade grupal, de maneira que há seleções (conscientes ou

inconscientes) daquilo que deve ser esquecido ou lembrado em nome da coesão,

mantendo/constituindo um sentimento de pertença entre os indivíduos nos grupos sociais.

A definição do personagem relacionado à introdução da soja na atual memória do

guaranienses e na sua transmissão oral parece menor, com Biezanko já estabelecido como

notável, mas nas fontes encontramos diversas referências, especialmente na atuação de

diferentes intelectuais polono-brasileiros no Rio Grande do Sul.

Józef Kuryło, um professor de origem polonesa que atuava nas linhas da colônia,

em artigo ao periódico polono-brasileiro Odrodzenie (O Renascimento) de 24 de janeiro

1934, afirma que já em 1931 iniciou não apenas o cultivo, mas a distribuição de sementes

de soja na região próxima ao rio Comandaí, na margem pertencente ao então município

de Santa Rosa.

Franciszek Wasilewski, quem assina o artigo na verdade, em função de ser uma

liderança na região, era um antigo oficial do exército russo e ex-combatente da guerra

Russo-Japonesa. Ele teria recebido em 1931 exatamente 33 sementes da mão do professor

Kuryło e não de Biezanko (meses antes da chegada deste inclusive).

Kurylo até mesmo debate através de missivas, em 1966, com o engenheiro, e então

líder da comunidade polonesa, Edmundo Gardolinski, afirmando que em 1933 o Prof.

Biezanko distribuiu algumas sementes, no entanto, teria vindo mais tarde e a soja já era

conhecida e bastante plantada, mas com pouca divulgação escrita, ao contrário do que

teria Biezanko realizado, ao publicar artigos. Kurylo chega a acusar Biezanko de ser um

“demagogo”, que escrevia sobre o trabalho que não tinha feito.

A partir desta polêmica, fica patente a questão da problemática que era o

pioneirismo da soja. É possível que em 1931 já houvesse a utilização de espécimes de

soja entre os colonos poloneses na cidade. Até mesmo Biezanko em artigo no Lud em

1934 destaca que Wasilewski, juntamente com outro agricultor, plantavam o produto com

sucesso na região missioneira do Rio Grande do Sul. Na verdade, Kurylo e Wasilewski

trabalharam conjuntamente com Biezanko nos anos 1930 numa associação de agricultores

conhecida como Centralne Towarzystwo Rolnicze (Sociedade Central dos Agricultores),

em Guarani.

A disputa memorialística aparente nas entrevistas remete ao início da produção

em larga escala da soja nos anos 1960, atrelado à inauguração da Fenasoja em Santa Rosa,

o aumento dos preços do produto (na Bolsa de Chicago), a mecanização da lavoura,

enfim, aquilo que identificamos como boom da produção da soja. Estas razões, quiçá,

tenham sido suficientes para iniciar o embate em busca de reconhecimento e de poder de

enunciação, que como resultado final, tem Biezanko como “vencedor” ao ser fortemente

lembrado em oposição a Kuryło.

Mesmo assim, ainda existem indivíduos que interessados pela história local

continuam guardando na memória aquele professor. Como é o caso de A.W.K (agricultora

aposentada, 76 anos), segundo ela “Mas [...], agora, esse lugar de onde esse soja veio

primeiro, é Ubiretama”. Precisamente, Ubiretama é um município da região noroeste do

estado e faz divisa com Guarani das Missões e Santa Rosa tendo se emancipado desta

última mais tarde, em 1995, e seria exatamente onde Kuryło teria atuado.

Segundo a entrevistada

Porque na verdade isso foi assim[...]: o meu irmão ele andava no colégio, lá

nesse colégio na [...] Linha Vinte e Três, [...] do rio, [...]. Então, tinha um

professor que era assim, de origem polonesa, e eles eh... Daí tinha o

presidente, era o Wasilewski, Francisco[...] lá, não sei como é que

descobriram – que tinha uma semente que o pessoal podia plantar para fazer

o óleo e servia para tratar os animais e tudo, essa tal de soja.

Depois confirma a introdução afirmando

Porque o pai sempre e a mãe contavam isso, contavam essa história. Até

depois um dia – porque daí eu vou contar bem certo –, daí veio, dizem que um

pacotinho assim, veio tudo empacotado para aquela sociedade Santo Isidoro,

a sociedade Santo Isidoro. [...] e lá daí, mas como com esse punhadinho que

veio, então para plantar, todos os sócios vão pegar não vai dar em nada! Aí

esse presidente plantou a primeira vez, colheu, e depois distribuiu para cada

um, por entre, então os alunos ganharam um punhadinho.

O depoimento rememorado a partir das histórias do pai de A.W.K, Zygmunt, vai

ao encontro com o artigo do Odrodzenie. Wasilewski era presidente da sociedade

polonesa Santo Isidoro na linha do Rio, onde existia uma escola na qual Kurylo era

professor. O esposo da entrevistada senhor J.K. (agricultor aposentado, 80 anos) recorda

o professor que difundiu a soja na região. Teria inclusive distribuído sementes para os

alunos nos primeiros anos do cultivo, para que levassem as suas casas e ensinassem os

pais a plantarem, caso ocorrido com a irmã de A.W.K, quem ainda assevera

E daí... Aquela soja começou; então o meu pai, quando começou a plantar,

que ele; aí isso cresceu uma soja assim alta, que podiam se esconder, os pés

altos assim que debaixo de um pé de soja dava sombra, para a pessoa sentar.

E, mas plantaram um ano; aumentou; outro ano; no fim depois já não sabiam

mais o que fazer, e não tinha comércio. Então o pai tratava para os porcos,

cozinhava junto com mandioca, e depois o pai continuou sempre. E, mas daí,

depois daquilo, então quando esse presidente, que era o Wasilewski faleceu,

aí eles botaram no túmulo dele uma pedra assim, daquelas pedras que faziam

os túmulos – agora é mármore não é, mas antigamente –, daí eles botaram

assim uma pedra muito bonita, assim feita, meio arredondada, e o pé de soja;

e daí tinha a data de quando esse pé de; essa soja surgiu. Só que depois veio

um temporal...

J.K lembra Wasilewski

Quando ele começou, primeiro, a plantação. É; a soja ela veio; esse professor;

tinha um russo13

, que ele foi para a guerra14

, não sei, acho que era na Polônia

ou... Não sei, não lembro que local, então eles se guardavam na sombra, e ele

falava, disse que plantava essa soja, e disse que dava para fazer óleo, e

explicava para esse professor, e o professor mandou uma carta para lá, e eles

mandaram, disse que um punhadinho, e aí cada sócio ganhou acho que dois

grãos. E aí começaram a plantar

Segundo os entrevistados, a “realidade é essa”, sua pequena cidade, Ubiretama,

seria o berço nacional da soja e não a cidade maior, Santa Rosa ou muito menos a vizinha

Guarani. Neste caso temos mais um elemento de questionamento e que envolve as tramas

da memória dos habitantes daquela região que até os anos 1950 era dividida entre São

13 Polonês imigrado da parte russa. 14 Russo-japonesa em 1905.

Luiz Gonzaga, Santo Ângelo e Santa Rosa, permeada de colônias de diferentes etnias e

onde na década de 1930 emergiu o cultivo de um novo produto entre seus colonos.

Mas o debate continua, para alguns habitantes de Guarani, a existência de soja

antes de Biezanko na região “é mentira”, como uma das entrevistadas afirmou. Os porta-

vozes locais silenciaram sobre outros possíveis introdutores e na “memória oficial” de

Guarani, e da comunidade polonesa, é Biezanko, quem está destacado como personagem-

modelo e “único” introdutor da leguminosa.

Apesar destas querelas, não é significativo saber quem foi ou não o introdutor da

soja quando o próprio Biezanko admite a colocação de outros personagens, não nos

empenharemos na resolução desta polêmica e nem é nosso objetivo, mas sim entender e

analisar a constituição da memória local de um personagem central, na sua vinculação

com a identidade. É sintomático que o agrônomo, a partir do seu gabarito intelectual, seu

capital cultural e seu reconhecimento internacional como pesquisador, pode ter sido o

motivo de este ser “lembrado”, enquanto outros personagens de menor destaque não.

Gardolinski afirma em resposta às cartas de Kurylo que Biezanko não era “indivíduo

banal”, mas um cientista muito reconhecido e que não queria os louros do título de

introdutor da soja, mas os havia recebido igualmente. Os silenciamentos permitem

identificar a construção da memória e, consequentemente, da identidade, bem como

contribuem para entender o caráter seletivo próprio dessas construções.

Outro silenciamento importante é quanto à saída de Biezanko de Guarani das

Missões. Segundo E.G.J. (administrador de empresas aposentado, 68 anos), a despedida

teve aspectos de expulsão por parte da comunidade e fuga do cientista, devido a

problemas na utilização da soja como ração para os porcos, que teriam morrido e

conduzido a uma revolta dos colonos. Biezanko então dirigiu-se, com a ajuda de

sacerdotes, para o sul do estado (Rio Grande e depois Pelotas) onde atuaria na área do

ensino (química, entomologia, agronomia, etc.) e pesquisa. Tal fato é lembrado apenas

por um depoente próximo de Biezanko, mas que não era de Guarani. N comunidade

guaraniense, nenhum entrevistado fez menção a esta passagem.

O que pretendemos demonstrar foi a importância da memória do evento, o qual

envolve as emoções das pessoas e permite diferentes interpretações do pesquisador. Essas

observações são importantes diante da publicidade que a soja atingiu, das disputas dos

municípios por títulos e festas, as quais atraem turistas e interessados, perante os usos,

enfim, da história na sua vinculação com a memória, que são peremptórios levantarmos,

embora conclusões mais ou menos definitivas sejam difíceis de serem alcançadas, pois

questões de quando, onde, ou como a soja foi introduzida são difíceis de responder ou

tem muitas respostas distintas.

Considerações finais

Com a expansão da soja pelo sul e sudeste brasileiro e seu contínuo avanço em

direção norte, o cientista Ceslau Biezanko granjeia uma atenção particular, mesmo que

tenha ocorrido uma descontinuidade entre as tentativas do cientista e o posterior processo

de modernização. Aparentemente, a soja, em razão do seu maior destaque nacional e

internacional, catapultaria a cidade que fosse considerada seu berço, diante de um

contexto de busca das origens em que se faz uso da história e da memória. Por esta razão,

personagens como Biezanko são importantes para a construção da identidade de um grupo

que se pretende afirmar e positivar diante da sociedade englobante.

O resgate da polêmica, que discorremos, não tem o objetivo de resolver a questão,

de resto sem sentido para o processo histórico, que depende sempre de múltiplos fatores,

mas mostrar que a própria controvérsia reforça a relação dos poloneses com a soja além

do papel de vários intelectuais/líderes étnicos poloneses na questão da leguminosa e na

sua vinculação com aquele grupo de colonos. Biezanko faz parte desta temática, mas com

um raio de ação que foi muito mais dinâmico, extenso, exposto e efetivo na distribuição

e divulgação da soja no início da década de 1930, tema trabalhado por Trindade (2015).

O seu currículo de trabalho intelectual e sua extensa formação garantiram o

prestígio e reconhecimento, em resumo, sua heroicização, que significavam a

comunidade polonesa na sua construção da identidade. Gardolinski, como principal líder

da comunidade polonesa, depois amigo de Biezanko, fez uma biografia em polonês e

português do cientista publicada, além de guardar documentos no seu acervo pessoal;

ademais, o professor Biezanko era convidado para importantes encontros e gostava de

explicar como realizou a introdução das sementes de soja na colônia polonesa.

Na cidade de Guarani das Missões, as dificuldades e disputas pelas quais passou,

principalmente a polêmica com seu antigo relativo e contribuinte, Kuryło, e a retirada

/fuga da cidade, praticamente foram olvidadas pela memória construída ao longo do

tempo entorno ao personagem. Desta forma, a oralidade e a memória são moldadas

também de silêncios e esquecimentos.

Em suma, através da oralidade dos habitantes da cidade, percebemos o vínculo

Guarani/poloneses/soja/Biezanko, equação fundamental para a constituição da identidade

local e étnica polonesa na região, de maneira a sobressair àquela comunidade em relação

à sociedade englobante e frente às comunidades e cidades vizinhas, isto é, os outros.

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