revoluqao social a ayentura sociologica · objetividade, paixao, improvise e metodo na pesquisa...

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A REVOLUgAO BURGUESA NO BRASIL Florestan Fernandes (2* Para chegar a conceituacao c "revolucao burguesa", Florest; formacao da economia e da s em que se iniciou a coloniza exercer melhor a critica da <_ a nossa )rocesso de tempos snao para j suas estruturas, submetidas a rigorosa analise. Hssa angulacao Ihe permite ver as singularidades brasileiras dos conceitos de- "revolucao burguesa", "burguesia" e "burgues", conceitos estes que nao podem ser aplicados no Brasil como simples transposicao academica. Capitulos como os que versam sobre o status colonial, as implicacoes sociais e economicas da Independencia e a formacao da ordem social competitiva estabelecem as condicoes e iluminam os estagios do desencadeamento historico da nossa "revolucao burguesa". Alto nivel de interesse ganham igualmente as paginas dedicadas ao exame dos prol>lemas da crise do poder burgues no Brasil, crise deflagrada pela passagem do capitalismo competitive ao capitalismo mcnopoHsta. Desdobra-se essa analise na abordagem do modelo autarquico-burgues de transformacao capitalista vigente no Brasil, e das contradicoes sociais e politicas geradas no interior da nova ordem. A SOCIOLOGIA NUMA ERA DE REVOLUQAO SOCIAL Florestan Fernandes (2. a ed., reorg. e ampl.) Este livro, que anarece sob organizacao relativamente diversa, em sua segunda edicao, reiine ensaios voltados para o tipo de conhecimento que o sociologo deve criar quando se procura atingir o desenvolvimento de acordo com os requisites da democratic. Escritos numa epoca em que narecia pacifico que os principals pafses da America Latina, o Brasil inclusive, possuiam condicoes para desencadear uma revolucao democratica "dentro da ordem", eles fccalizam as tarefas r,r£ticas da Sociologia e a interacao^dos panels que o scciologo deve desempenhar em sua dupla condicao de cientista e cidadaa. Apesar das aparencias, o livro nao perdeu sua atualidade. Suas principais ideias ainda estao de pe. Que estrategia devemos seguir, nas condicoes brasileiras, nara o desenvolvimento da ciencia? O que precisa fazer o sociologo, enquanto cientista, para converter o ccnhecimento sociologico em um conhecimento critico, litil ao "planejamento dentro da Uberdade"? A realidade que exigia o debate dessas ideias nao desapareceu. Ao contrario, ela se agravou, impondo que retomemos, de modo ainda mats intenso, o debate interrompido. Z A H A R A culture o service do progresso social «?H' •^ L } k iJi ^f > ^\ -^ "^ r-Y :JB *' ^.J -.. >«Jh»- **'fl (6.001,5 EDITORES idson de Oliveira Nunes (organizador) A Ayentura Sociologica Objetividade, Paixao, Improvise e Metodo na Pesquisa Social Z A H A de ciencias sociais EDITORES

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A REVOLUgAO BURGUESA NO BRASILFlorestan Fernandes (2*

Para chegar a conceituacao c"revolucao burguesa", Florest;formacao da economia e da sem que se iniciou a colonizaexercer melhor a critica da <_

a nossa)rocesso detempos

snao paraj suas

estruturas, submetidas a rigorosa analise. Hssa angulacao Ihe permitever as singularidades brasileiras dos conceitos de- "revolucao burguesa","burguesia" e "burgues", conceitos estes que nao podem ser aplicadosno Brasil como simples transposicao academica. Capitulos comoos que versam sobre o status colonial, as implicacoes sociais eeconomicas da Independencia e a formacao da ordem socialcompetitiva estabelecem as condicoes e iluminam os estagios dodesencadeamento historico da nossa "revolucao burguesa".Alto nivel de interesse ganham igualmente as paginas dedicadas aoexame dos prol>lemas da crise do poder burgues no Brasil, crisedeflagrada pela passagem do capitalismo competitive ao capitalismomcnopoHsta. Desdobra-se essa analise na abordagem do modeloautarquico-burgues de transformacao capitalista vigente no Brasil,e das contradicoes sociais e politicas geradas no interior da nova ordem.

A SOCIOLOGIA NUMA ERA DEREVOLUQAO SOCIAL

Florestan Fernandes (2.a ed., reorg. e ampl.)

Este livro, que anarece sob organizacao relativamente diversa, emsua segunda edicao, reiine ensaios voltados para o tipo de conhecimentoque o sociologo deve criar quando se procura atingir odesenvolvimento de acordo com os requisites da democratic. Escritosnuma epoca em que narecia pacifico que os principals pafses daAmerica Latina, o Brasil inclusive, possuiam condicoes paradesencadear uma revolucao democratica "dentro da ordem", elesfccalizam as tarefas r,r£ticas da Sociologia e a interacao^dos panelsque o scciologo deve desempenhar em sua dupla condicao decientista e cidadaa.

Apesar das aparencias, o livro nao perdeu sua atualidade. Suasprincipais ideias ainda estao de pe. Que estrategia devemos seguir,nas condicoes brasileiras, nara o desenvolvimento da ciencia?O que precisa fazer o sociologo, enquanto cientista, para convertero ccnhecimento sociologico em um conhecimento critico, litil ao"planejamento dentro da Uberdade"? A realidade que exigia o debatedessas ideias nao desapareceu. Ao contrario, ela se agravou,impondo que retomemos, de modo ainda mats intenso, o debateinterrompido.

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A culture o service do progresso social

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EDITORES

idson de Oliveira Nunes(organizador)

A AyenturaSociologica

Objetividade, Paixao, Improvise eMetodo na Pesquisa Social

Z A H A

d e c i e n c i a s s o c i a i s

EDITORES

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C. A Associacao das Tecnicas

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Observacao Participante e "Survey":urna Experiencia de Conjugacao

NEUMA AGUIAR

Neste trabalho, procurarei organizar algumas~"* questoes que sur-giram em uma experiencia na conjugaggp de metodos de_jobserva-gao•_ participante_ e surv&yi emjnna pesquisa que realize! no Nordes-te. A pesquisa foi elaborada com™uinTlititude de constante experi-mentagao e acredito que o resultado foi o emprego pouco ortodoxodestas—duaS-.-tecnicas. A presente exposigao e uma tentativa deaintetizar as d£Eiculdades e facilidades que encontrei no uso arti-culado dos dois metodoTros^iToblemas que ocasiona e os que resol-ve, em termos de_generalizac.ao dos resultados.

Varias questoes tem surgido sobre as vantagens e desvanta-gens do uso da observacao participante e do survey.2 Dados oriun-dos da observa9ao participante tem sido considerados como poucorepresentatives em comparagao aos obtidos atraves do metodo de\survey, quando a referenda usada na avaliacao da representa-tividade e a tecnica de amostragem estatistica.2

Descreverei, neste trabalho os recursos que desenvolvi paraatingir aquilo que considero um^ myel adequado de generalizagao.Existe uma posigao bastante divulgada em Sociologia de que os da-dos de observagao participante sao profundps, na medida em queatingem niveis de compreensap dos fatos socials nao alcancados pe-

1 Sam D. Sieber, "The Integration of Fieldwork and Survey Methods",American Journal of Sociology, 78, 6, 1973, pp. 1335-1359.2 Urn exame desta questao e realizado por Arthur J. Vidich and GilbertShapiro em "A Comparison of Participant Observation and Survey Data",American Sociological Review, 20, 1955, pp. 2833.

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126 A BUSCA DA REALJDADE OBJETIVA

los survey^ Os dados obtidos pelos usuarios da ultima tecnica,aponta-a'iiteratura, sao^durgs, isto e, atingem urn. niyeL.de ensu-?ragap que^ a observacao participante nao consegue atingir.4 Naoobstante o grau de exatidao almejadj), aponta-se tambem para ofato de <rue oa dados obtidos atraves de surveys, embora "chirps'",com frequencia__deixam-o interprete_eni^.dificuldades^iianfo"a in-terpretagao_clas_correla5oes alcangadas.5

~~~~Partirei da perspectiva que dados _pbtidos_ tanto atraves de ob-servacao participante, quanto atraves de survey podem carecer degeneralidade na medida em que os de observagao participante pps-sam se ater de forma muito exclusive ao contexto investigado,._e psde survey, alem deste risco, podem incgrre^tambem em-outoo, ouseja, o de> que a^exatidjojotima nap corresponda a_que se alcangadada a baixa explicacjoHa varianeia Ijue e/^siixel'rpb"tel:--atraves"des_ta_ultipia^-tecmca.*i

Antropologos tern sido os usuarios por excelencia, embora naoexclusivos, do metodo de observagao participante. Sobre o baixonivel _de^ generalizagact^Qbtido, por este recurso metodologico^re^porto-me a urn de seus modernos porta-vozes, Cj.aude Levi-Strauss^responsavel pela insergao da Antropologia em um novd^tipcTde ^lia-logo academico ettquanto busca graus de generalizagao mais amplospara a sua ciencia.7

0 autor discute este problema ao apontar as dificuldades comas quais se depara aAntrogplogia pelo crescente desaparecimentodas comunidades "primitivas", procurando demonstrar que as so-ciedades tribais constituem grupos socials tao importantes quantoas sociedades_complexas,8 Estas ultimas, de posse da tecnolqgia, searvoram em uma arrogancia que impossibility a^pefcepgSo" de quea complexidade das sociedades jrimitLYas"_nao_esta na .tecnologiaque empregam, mas na prganizagao _spcial, que permite evidenciaras variedades de solucoes encbntradas pelos grupos humanos no es-tabelecimento do convivio social. Para constituir um dominio espe-

3 Howard Becker e Blanche Geer, "Participant Observation and Inter-viewing: a Comparison" em Qualitative Methodology, William J. Filstead(org.), Chicago: Markham Publishing Co., 1971, pp. 133-142.4 Veja, a titulo de exemplo: Donald P. Warwick e Charles A. Lininger,The Sample Survey: Theory and Pratice, Nova York: McGraw-Hill BookCo., 1975, p. 10.5 Howard Becker e Blanche Geer, op. cit., pp. 139-140.6 Robert L. Hamblin, "Mathematical Experimentation and SociologicalTheory: a Critical Analysis", Sociometry, 34, 4, 1971, p. 425.7 Claude Le"vi-Strauss, Structural Anthropology, Garden City, Nova York:Doubleday, 1967, pp. 14-17.8 Idem.

A AssociAgAO DAS TECNICAS 127"v\ o>' 4*--cifico de conhecimento dentro das ciencias sociais a^ Antropologia

Social deveria afastar-se da tendencia, ate ha pouco dominante, dedescrever as sociedades que "toma como oMfitOs^omo-exoUcas, fol-c!6ricas ou "simplesmente casosjunicos, ey^ando^gem^li^ar os seusachados.0 Isso seria possivel atraves "da" constituisao de uma teoriageral das sociedades humanas onde seus elementos invariantes esuas variagoes pudessem ser pensados. A maneira dejjeneralizaratraves do^uso de etnografiag, propoe o autor, consis'te em saber sedesprender dos dados, elaborando questo^s__que_permitam ar-tic^laT~u^""conJunto maior^de^itu^oes^dp^jjue as descritas pelotrab'allio'de campo.10 OU)rocessolde generalizaclS1, sustenta,-e_^ajpr-inulacao sintetica do prob'lema estudado atraves de um (metodo^de

^reduca^ Lembrando o conceito de fato social total que MarcejM'aus's estabeleceu como um passo adiante ao dado por Durkheim,cTautbr propoe^ique j) Jrabalho de campo deve ser acompanbado porum trabaUib" analitico que estab^lega conceitos, articule e acentuecaracteristicas fundamentais da^ sociedade ejjue possibilite.-us^ jiespecificidade da construgao como um recurso teorico.1 \tFato social^

J^tal^e um~cbnceito cunbadb no decbrrer' da analise eieiitiEicar^eque poe emeyidencia determinadas carac^eri^ticas^Muciais^^da so-ciedade que se estuda.1?. Embora se referindo a aspectos parciais daso'cledadeVa nogatf de™totaiidade e acionaoa, possibilitando a^gombj-na5ao_de_representac6es^sociais cp^mjaspectosrnOTfc^gwo^^p^rmijtindo tambem* a comparagao entre diversas situagoes historicaseso-ciais, quando^as caracteristicas conmns ente^ep^cas^jeAi«)fflexi^^saoexiBidasJ3Tatos^ciais constituem um sistema composto de partes,entre as quais se descobrem afmidades, equivalencies, conexoes esolio'ariedades, nos diz Mauss.14 E^p^ando^LaJE_ainda o concei-to, Levi-Strauss aponta para a operagao semelhante que pode^'serrealiza~da"farito^pelos usuarios do meto~do~etnografico, quanto pelosque fazem uso ~do"meto"do^estatisticb, citahdo como exemplo do ulti-mo uma analise sobre as modalidades de suicidip.15 A. estatistica'

S Idem, p. 284.10 Idem, p. 278. *11 idem, p. 275.12 Claude Levi-Strauss, "Introduction a L'Oeuvre de M. Mauss" emMarcel Mauss, Sociologie el Anthropologie, Paris: Presses Universitairesde France, 1968, pp. XXVIII.13 Claude Levi-Strauss, Structural Anthropology* p. 278.14 Marcel Mauss, "Essai Sur le Don", em Sociologie et Anthropologie,op. cit., p. 274.15 Claude Levi-Strauss, Structural Anthropology, p. 277, O estudo clas-sico sobre o suicidio proveniente desta escola e o de fimile Durkheim,Le Suicide, Paris: Presses Universitaires de France, 1973, l.a ed.: 1897.

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128 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

aj>arece entao comgum recurso descritivor A dimensao analitica noemprego de dados estatisticos e posta em evidencia atraves da utili-zagao de um recurso sintetizadqr^da mesma natureza que o empre-gado com .dados ™etnograficos, quando o cientista social procuratranscenderjt dimensao, empirica-dqs^ mesmos, em busca de um ni-vePinais prof undo de entendimento. '•

A construcao do fato social tern como finalidade a articujagapde^elementqs dispares; alguns sao facilmeute identificaveis com a.realidade empirica, outros, situados ao nivel das'representacoes, saomais abstratos. 0 esforco sintetizador pode nao ser bem sucedido,podendo transmitir impressao oposta a que se tinha em mente,quaudo o esforco explicativo nao ultrapassa o da confusao. Obs-curautismo aparece no lugar de clareza e inconsistencia no lugarde conhecimento sistematico. Ha pelo menos um critico constantedas obras ^de_Leyi=Strauss que tern questionado a base das ricasconstrugoes teoricas que o autor elabora. demonstrando a existen-cia de articulacoes arquitetadas sob base muito tenue.is In^ujcap^eimaginac.ao fazem parte de todo bom trabalho nas Cleacias Sociais;a~(lificuldade surge quando o que e irredutivel a um metodo apa-rece enganosamente como uma formula de criatividade quando atecnica esta ao dispor da ora9ao.

_^ Um modo de dar conta das djficuldades que psdem aparccer;no trabalho de generaHzacao, tem a ver com a tentative de supe-rar o nivel da experiencia, ampliando as possibilidades de contatodireto com os sujeitos da pesquisa pela escolha de categories rele-yantes, selecionadas atraves do processo de observacao participante.Estas categorias podem ser empregadas de modo amplo e sistema-tico com a utilizacap do questionario. O recurso pode aumentar avariabilidade dos dados pel'mitindo situar o fenomeno, em obser-vagao, dentro de um contexto mais amplo. O problema do privile-giamento do nivel local produzido pelo processo de observagao par-ticipante foi inadvertidamente tocado por Alvin Gouldner, em cri-tica enderecada a Howard Becker.11 Esta critica poderia ter sidoestendida a muitos sociologos, inclusive Erving Goffman, mestreda etnografia soeiologica.38 0 au£or,-,com-um forte sentido de iden-

\f

16 David Maybury-Lewis, "Science or Bricolage?" em Claude Levi-Strauss: The Anthropologist as Hero, E. Nelson Hayes e Tanya Hayes(orgs.), Cambridge, Mass.: M.I.T. Press, 1970, p. 162.

'17 Alvin Gouldner, "The Sociologist as Partisan" em For Sociology,Nova York: Basic Books, pp. 27-68.

^•9 Para o uso deste termo veja Erving Goffman, Frame Analysis, NovaYork: Harper Colophon Books, 1974, p. 5.

A AssociAgXo DAS TECNICAS 129

tificagao com os internados em um bospital psiquiatrico do sistemapublico, limita sua analise de poder ao mvel da interacao entrernernbros do estate e pacientes, perdendo de Vista a esfera maisampla.19 Gouldner refere-se ao enfoque local como representandouma alianca do pesquisador com as esferas federals burocraticasdo poder.20 A interpretagao sobre as preferencias politicas liberalsde observadores participantes, todavia, nao constituent, a meu ver,razao suficiente para entender a escolha do metodo, pois a mesmaavaliagao e estendida por outros aos usuarios de survey, principal-mente pela origem da utilizayao da tecnica, proveniente^ de iesqui-sas de opiniao pubHcaedeanaUse ^e mercado.21 Acredito todaviaque uma importante perspectiva foi sugerida por Gouldner sobrea interagao simbolica, pois o metodo de observagao eleito pelos se-guidores desta orientacao pode levar a perda de perspectiva do ni-vel mais amplo que o da experiencia imediata.

A critica de Gouldner, todavia, leva-me a meditar sobre meus'valores pessoais atraves da proposta que elabora sobre o desenvol-vimento do que propoe ser uma sociglogia Jgflggiya. Esta serialuma forma de ciencia dos vieses pessoais e dos dados que escapamas teorias, eivadas de tendenciosidade, geradas pelas preferenciasvalorativas que temos.22 Voltarei a esta questao.

Resta, agora, situar o problema da generalidadeja_partir dainvestigacao, que J^yei a cabo no Cariri, uma regiap no^Sul doCea-ra, composta pelos municipios de Abaiara, Araripe, Barbalha, Bar-ro, Brejo Santo, Cariria9U, Crato, Farias Brito, Grangeiro, Jardim,Jati, Juazeiro, Mauriti, Milagres, Missao Velha, Nova Olinda, Pe-naforte, Porteiras, Potengi e Santana do Cariri. Tomarei como pon-to je partida o ultimo problema aventado, isto e, a transcendenciada experiencia particular, revelando dados de minha biografia, e oque acredito haver permanecido em minim analise soeiologica daregiao, todavia associavel com a minha pessoalidade. Buscarei, emseguida, o_ nivel da construcao teorica como forma de transcendero ^iyel_bipgrafico. Termuaarei com a interacao entre duas_Jeenicasutilizadas, procurando demonstrar, ainda, os limites das possibili-dades de generalizacao atraves da estrategia escolhida.

19 Erving Goffman, Asylums, Nova York: Doubleday Anchor, 1961.20 Aivin Gouldner, op. cit.

&1 Sam D. Sieber, op. cit., p. 1335.22 Alvin Gouldner, The Coming Crisis of Western Sociology, Londres:Heinemann, 1972, capitulo 13.

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ssr

A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

Historia Pessoal e Elei$ao de um Problema Cientifico

Desde muito jovem viajava a terra de minha mae, o^Carirj.^ lo-cal que sempre havia representado para mim a aventura e o fol-guedo, sem relacao alguma com o trabalho intelectual. Constituia

I apenas dominio do meu afeto, regiao que eu queria bem porquesempre era~beiu recebida all pelos parentes, ainda muito chegactos,O Cariri era um lugar de passar ferias, lugar de lazer. Era o localdo sitio do meu avo, cbeio de poesia, onde eu andava a cavaloquando menina e me perdia no meio dos buritis, pitombeiras, pi-quiseiros, macaubeiras e araticuns. Terra onde chupava siriguela emanga rosa, trepada nos pes de arvore, terra muito amada por mim.

Neste lugar havia uma imensa fcira semanal a qual eu com-parecia para comprar bonecos e panelintias de barro, mobilinhas,bruxas de pano, chicotes enfeitados, chapeus de couro, cacnimbosem miniatura, historia de cordel e um outro sem fim de coisas.Para mim nao havia o que nao se encontrasse naquela feira, era£^^_dji_poesia_do_J[ugar. La eu tambem adquiria rusticos produ-tos da industrializacao local: alfenins, rapaduras e batidas.

Um belo dia, apos muitos anos, depois de formada e douto-; rada em Sociologia, comecei a pensar no Cariri como urn lugar

orfde era possivel realizar investigates cientificas. No comego comeerta relutancia, talvez temendo que a cieneia do Cariri fosse re-presentar a perda do lugar maravilhoso. Limitava-me, assim, a es-timular que fossem realizadas pesquisas naquela localidade, maseu mesma apenas servia de veiculo para a curiosidade intelectualde outros. Desta maneira acompanhei o trabalho de uma pessoamuito proxima a mim sobre "Planejamento e incentives ao Desen-volvimento", onde o autor procurava aquilatar a eficacia do uso deincentives fiscais para o desenvolvimento industrial. O Cariri eraum lafaoratorio de industrializagao na epoca. Nao e que o lugar naopossuisse experiencia de industrializacao, pois la havia engenhosde rapadura e beneficiadoras de algodao, atividades estas ampla-mente documentadas por escritores do lugar.23 Por muito significa-do que essas atividades produtivas representassem para a area, o fe-nomeno que la ocorria era cpisa nova. J) Cariri s<^ transf ormava emum experimerito. As indi^trias^recem-impiantadas^ eram modernas,iiovinhas em folha, tendo sido adquiridas no exterior ou no SuLEram de outra ordem, dJlerentes das velhas_fa_bricas, motive de or-gulho do povo, que vinha mostrar a mulher que morava~no~Rio^de^ iii ^ . v— — J-—- ~ -* ' x j.

Janerro o progresso chegado a regiao.

23 Irineu Pinheiro, O 'Cariri, Fortaleza, 1950, pp. 52-59; Jose de Figuei-redo Filho, Engenhos de Rapadura do Cariri, Rio de Janeiro: Ministeriada Agriculture, Service de Informacao Agrfcola, 1958.

A ASSOCIAQAO DAS TECNICAS 131

0 projeto de industrializacao da area foi imaginado pcra terimpacto, efeito_de_dempnstra5ap sobre como fazer o Nordeste se de-senvolver."Visitei industrias, sempre como acompanhante, e naocomo investigadora. Converse! com gerentes, conheci um~ semnumero 'de~visifantes, todos procurando observar de perto o mila-gre da industrializacao. Algo que talvez nos aproxime todos do lu-gar. O residente da area parecia pensar que transformagao Indus-triafe milagre, pois naquela epoca o idealizador do projeto era com-parado ao Padre Cicero, pelo impacto que exerceu na regiao.

Algum tempo depois voltei ao Cariri. Desta feita acompanlia-va a pesquisa de um amigo, com um trabalho sobre artesanato".Quando o autor do projeto perguntou-me sobre que lugares incluirneste seu estudo, respondi-lhe que certamente deveria incluir aque-la area em suas observagoes. Artesanato^ para mun, era o que sevendia na feira da minha meninice. Outro lugar como aquele naohavia, com tantos objetos elaborados a mao: colher de aluminio,sino de bronze, panela de barro, corda e vassoura de sisal, medalhade ouro, tapete e chapeu de palha ou de couro, rede de algodao,candeeiro de lata, para citar alguns exemplos da arte local.

Nesta segunda visita como acompanhante de pesquisa comeceia elaborar o meu~pr6prio objeto de investigagao. Deixei 09 sonKos

. /"da infancis Te^da juventude e comecei a me embasbacar com o lugarX. i P£L5^^5HH^^££^-is»^ca' ^E^^P^L3 observar, juntando a expe-;-

riencia das duas ultimas visitas, que muitos dos produtos que a in— - ' -- — "~~- ' — .-•"

dustna moderna elaborava eram tambem m^anufj^uradgs cointecnica primitiva, no que eu via um paradoxo. A especialidade qua.'o lugar "possufa" para mim, em termos afetivos, come9ava a entrarem minha vida professional, quando eu pensava naquela coexisten-cia como um fenomeno que a literatura nao dava conta. Artesana-to e industria manufaturando os mesmos tipos de objetos eram algum5_cois^_j5u^p^iiaya^s«f explicada, pois, nao era de meu conhecimento que ja houvesse si_dp_ teoricamente elaborada em SOTciojbgia.

Pajsegunda visita jg^_finaBdade^parjciaImente^ cientifica, per-maneceu um dos objetos do trabalb^r^^es^ratificagap Asocial. Para>estuda-la, naj_jerceira7'precisei fazer o trabalho teorico_de, vin-

f cular a forma gaode hierarquias sociais com a estrutura de diferen-I ___ ,-jJ^ " - •"— *** " ""• ' ' '' '-"..micip^JF-JL' Ht- r l- -. . -._,__; ^_ . __ ___ _,_ _^ ^^— -._ . . -^^»- "=- __ =-n- v l f:"

Vtes_moaos de producao. Destacarei este item rhais abaixo. Antes de' detalhar esta qiuestao desejo fazer referencias as formas de relacio-

/ namento afetivo que mantive com o lugar nessa tercgira situacaode pesquisa, quando ja escolhera meu objeto proprio de investigagaoe o encontrara junto ao que me era originario.

' "0 -- "-

- v,- •*

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132 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

^ c

Esta V4£g| ! durou seis meses,= com casa alugada em munici-pio vizinho ao dos meffs™parenfes.~t) trabalho se desenvolvia parale-

£-lamente a um projeto de analise comparada de desenvolvimento re-V gional estabelecido pelo programa de Antropologia onde eu traba-

Ifaava, ensinando Sociologia. O^dialpgo eptre estas correntes das Ci-,eneias Socials inspirava^a minha escoiha metodologica. Procure!,assim, morar no campo. Porem a regiao que elegi para estudo pos-flufa varies municfpiQS. 0 trabalho se desenvolveu em tres deles.Dois municipios_eram\competidores. Em um deles residia a maiorparte de meus familiaresl Aehei por bem morar no municfpio rivalao dos parentetrmenorpor escoiha racional que por disponibilidadede casas para alugar, no periodo em que eu necessitava. 0 local deresidencia, porem, mostrou ser muito util pois alem de ser relativa-mente equidistante dos lugares que eu desejava estudar, propicia-va tambem o distanciamento suficiente de familiares, o que mepennitia indagar as conseqiiencias do relacionamento tao proximocom pessoas da area. Esta questao e importante porque sempre quepude acionei as relagoes de parentesco. De outras vezes, quando es-tudava unidades produtivas no municipio rival, as relagoes de pa-rentesco de nada adiantavam; poderiam ate, suspeitava eu, atrapa-Ihar a minha insergao no lugar.

Ter parentesco ali gerava um problema, pois as pessoas come-eavam a ter expeetativas de acordo com as normas de comporta-mento local, o que seria impossivel para Tpim preenche-las, poiscram demasiadamente restritas com relagao ao comportamento damulher. Em varios lugares as pessoas faziam referencia a admira-gao que jwiusava_uma mae^de amiUa^_e^tar fazendp'pesquis^s emfjbncas,^no, meio de hpmens.

A [posijao "social atribuida a uma determinada pessoa, as ex-pectativas que o seu comportamento gera nos outros, imprimemum carater ao trabalho, que poucos cientistas socials tern se preo-cupado em analisar. Apenas aqueles que trabalham em fntima cooperagao com a psicanalise tem se' preocupado em formular o pro-blema.24 A teoria psicanalitica, tc^avia,_£=4n^ficj;enJEe_p_a^maveri-guar a questao, poisTiHa ape'nas com o jado afetivo. Os vieses esta-belecidos~~pelo pe^uisaHor~com relagao as pessoas que obser^ja^ouentrevista tem a ver com seu desenvolvimento afetivo,%iastamj:ie'mc«n^ouE:aT^feliaT^^Sa'dffl^*"de possfveis tendenciosidades, como asua insergao na sociedade. Talvez fosse este o lugaf de reunir a

I24 Eliseo Ver6n e Carlos E. Sluzki, Comunicacion y Neurosis, BuenosAires: Editorial del Institute Di Telia, 1970, capltulo 8; Elizabeth Bott,Family and Social Network, Londres: Tavistock Publications, 1972, vero capituto 2, escrito em colaboracao com o Dr. J.H. Robb, pp. 1-51.

A AssociAgXo DAS TECNICAS 133/ H V

/perspectiya reflexiva proposta por Gouldner a reflexao sobre a re-*i lagSo afetiva que o^pesquafador^manteni com as pessoas com que se(associa em seu trabalho.

No meu caso procure! tirar partido da estranheza que eu gera-va, averiguando em que condicoes mulheres trabalhavam junto aoshomens, e verificando se as mulheres casadas ou maes de familiatrabalhavam em companhia masculina, ou se somente as solteiras ofaziam, questao que aualisei em outro lugar.25

A populaeao, todavia, nao demorou muito ate aceitar a minhadivergencia do comportamento local, encontrando a explicacao nofato de que eu somente poderia ser uma professora, pois estas in-1*teragem com homens em situagoes de trabalho perfeitamente legi-timas. De outras vezes consideravam que eu era uma escritora, oque Ihes possibilitava acatar o que Ihes parecia ser uma certa ex-centricidade no meu comportamento. "Pagueras" e perguntas di-retas sobre o comportamento sexual das mulheres no Rio de Janei-ro tambem foram outras formas de questioner o que fazia ali, pro-curando saber que papel me atribuir. As dificuldades geradas quan-do bem resolvidas ou problematizadas demonstraram ser proveito-sas fontes de conhecimento.

Quando conduzi a pesquisa no meu municipio de moradia,utilizei, de inicio, \a ajuda do vigia^da casa~que-aluguei, que tinhao trabalho de tomar conta de' iima area residencial durante a noite.Como era conversador fiquei logo sabendo do seu relacionamentofamiliar com trabalhadores na ceramica onde desejava fazer obser-vagoes. Oparentesco do informante);=e_^nap o meu^neste.^casp,_|qi oelemento de aprojOPiagaQ. Tendo sido apresentada por um parente^Strahaliiadores, precisei depois ideiitificar-me perante o proprie-tario a fim de justificar minha presenga em sua propriedade e soli-citar permissao para a execu§ao do trabalho. 0 dono da empresapermanecia muito pouco tempo ali pois tinha varios outros nego-cios. Urn de seus filhos ja me havia visto em outra fabrica e o ou-tro que o auxiliava mais de perto lembrava-se da visita que fizeraao lugar, no ano anterior, quando acompanhava meu amigo queestava interessado em artesanatos. Mais abeito que o pai, pois es£econstantemente verificava se eu nao era uma fiscal do governo,possihilitou que eu realizasse o estudo e que retornasse posterior-mente com auxiliares para a aplicagao dos questionarios.

Em outras situagoes, apresentei-me no local de investigatesem nenhum mediador. Isto foi o que aconteceu poinaior cajjQ.das

25 "The Impact of Industrialization on Women's Work Roles intheast Brazil" in Sex and Class in Latin America, June Nash eSafa (orgs.), Nova York: Praeger Publishers, pp. 110-128-

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134 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

casas de farinha e olarias, quando dirigi-me de jipe para o locale geraltnente solicitei permissao ao zelador da fazenda para dei-xar-me olhar os trabalhos e falar com as pessoas que estavam fari-nhando ou fazendo telhas e tijolos, o que sempre resultou em pron-to acedimento.

Cabe apenas relatar as situagoes onde foncei maq ^lo xneu_ pa-rentesco, pu quando este me foi lembrado.

Alguns familiares ja haviam tido casa de farinha no passado.o parentesco e proximo, conduzir investigagao sociologica

apr&senta alguns problemas. Limites necessitam ser negociados.Meus familiares sVdispuseram com muito boa vontade a indicar-me onde eu poderia informar-me sobre farinhadas, porem ficavamrelutantes quando eu Ihes perguntava sobre a casa de farinha deles.Achavam ilegitimo e procuraram me fazer ver que nao dava certofazer pesqmsa com eles, pois nosso vineulo era de parentesco e naoconcebiam que eu pudesse relacionar-me com eles de outra forma.Apresentar-me a terceiros para que eu pudesse fazer meu trabalhoera"p£5itewdas"regras'de hospitalidade que seguiam. Nao desejavamporem sef~ oBjeto 'da'pesquisa, muito embora se d^usess'enV'deinuineras^inaneiras, a auxiliar-me no trahalho, nao apenas comapresentacoes, mas ajudando em pequenas tarefas, de forma volun-taria ou por contrato, copiando dados, desenbando mapas, apli-caudo e conferindo questionarios; os da nova geracao, conseguindocolegas, igualmente jovens, que se dispusessem a entrevistar, rece-bendo treinamento adequado, e inumeros outros trabalhinhos. Es-tas outras formas de cooperagao nem sempre eram previstas peloeodigo de parentesco do lugar, todavia foram aceitas.

Meu relacionamento familiar provocou inib"ic5eX dentre as pes-*" " - ""i-,. -_-,—— -T-- , - , =- .-,._ , _ - , ^^-:- '-"ri- - ' " *»—i—.^•*—rJ' t i 4.

soas que residiam proxmias as casas de meus parentes, e que ja ha-viam desmanchado mandioca em suas casas de farinha. Esse corn-portamento nao foi^ generalizado, porem houve pessoas que coloca-ram'deTmfdcT muito claro e franco que o meu parentesco Ihes pro-vocava dificuldades em responder as perguntas que eu Ihes formu-lava, muito embora ja ha mais de dois anos meus parentes hou-vessem fechado a casa de farinha, Procurei superar a dificuldadeobservando, tambem, casas de farinha mais abastadas. A^assjgtenciadejjois estudantes^de mestrado do programa onde_eu_lecionava_ajuhdou, quando em epocas subseqiientes observaram locals bem distan-ciados da area onde iniciei os trabalhos.

Em varias fabricas a apresentacao dos parentes foi crucial.Uma delas passava por dificuldades e a situagao foi cuidadosamen-te escondida, o acaso tendo possibilitado que viesse a conhecer a si-tuacao real, quando um credor da fabrica, encontrando-me em um

A ASSOOACAO DAS TECNICAS 135

outro munlcipio, revelou-me a extensao do problema. 0 que dantesera justificado como circunstancial, preeisou ser reanalisado. Va-rias fabricas passavam por dificuldades semelhantes. Meus parentesserviam de porta-voz para a regiao solicitando-me avaliar a situacaoque enfrentavam. Meu sentimento de empatia para com os pj^ble-nia^Jo^ajs_mantevje-se.,mui^~forte^Hur^te"t^db o trabajho de in-vestigaeap- Ideatificava-me nao apenas com as mulheres e os ho-mens trabalbadores, mas tambem com as vicissitudes do sistema fa-bril que sucumbia, as dificuldades agravadas pela epoca da seca.quando varias industrias fecharam definitivamente as suas portas.

.1 Conslrucao do Problema de Investigagao: , L # ^ , , ,: «r ".-ii da Biografia a Teoria n (^>,_c^ °^ F £ .-f Sr* • • • ' " u

*• Uma das questoes teoricas que precise! enfrentar dizia res-i |y-'peito a relagao entre artesanato e industria, pois a literatura preco-fe-' ''/^niza que uma vez seja introduzida a industria em um lugar o ar-JX>4'A

I tesanato desaparece da area. 0 acliado_na_regiao propiciou a anali-\\jse das condigoes de coexistencia entre artesanato e industria, que «***•-^ desenvolvi em varios lugares.38 Quando me propus estudar este pro- /„$,*•3~ vblema focalizei os aspectps da dlyisao_do Jrabajho e da tecnologia/

modos dec

^DTodugap. Mantive o interesse, despertado em uma das viagens aci-ma narradas, de jestudar a estratificagao social. Todavia, as anali-ses predominante_s^ ate entap ^ppunHam o. -estudo«.da~ estratif-ica9aosocial a estudps^de natureza estriitural^ pois consideravam que es-tratificagao social era .um prpduto da Sociologia Americana, por-tantp antagonico ap da Sociologia, Marxista e que tomava como pb-jeto ejementps da superestrutura, ou entao relatives ao mercado enao aos modos de produgao.2^ Foi_necessario um trafaalho teorico'ngandov as rjejire^mtagoes^^pbre ocupagoes e as_articulagojT destasocupagoes_de urn_mqdp determinado.38

""* A coexistencia de diferentes ruodos de producao dos mesmostipos_de -produtps^do Nordeste possibilitou a analise coniparada dos ielementos^componentes de um modo, as formas de cooperagao e :tecnologias empregadas, as relagoes com a natureza, e as modalida-^

26 idem e tambem "Divisao do Trabalho, Tecnologia e Bstratificacao ,-Social", Dados, 14, 1977, pp. 110-140.27 Rodolfo Stavenhagen, "Estratificacao Social e Estrutura de Classes"em Estrutura de Classes e Esiratificafao Social, A.R. Bertelli, MoacirG.S. Palmeira e Otavio G. Velho (orgs.), Rio: Zahar Editores, 1966.28 Neuma Aguiar, "Hierarquias em Classe: Uma Introducao ao Estudo<la Estratificapao Social" em Hierarquias em Classes, Neuma Aguiar(org.), Rio: Zahar Editores, 1974, pp. 13-50.

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136 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

V

des de emprego da mao-de-obra de acordo com a possibilidade tec-nica de controle da uatureza. As duas relagoes tecnicas de produ-gao, as relagoes socials de produgao, o processo de produgao, asocupagoes em volta do processo durante o dia, durante a semana,durante o mes, durante o ano e, enfim, as avaliagoes das ocupa-foes realizadas por pessoas que constituiam parte do processo pro-dutivo, tambem foram estudadaSj//

Esta elahoragao teorica permitiu-me^sistematizar a busca doseleruentos dos modos~3e proftugao e inventars recursos para ohser-va-los de acordo com o tipo de introdugao que eii~havia urilizadopara analisar as unidades produtivas. As dificuldades de obter da-dos sobre a depreciagao de salaries e oscilagao do nivel de emprego

^nas unidades as quais live acesso atraves de parentes foram com-pensadas pelas facilidades que encontrei para conseguir documentosescritos, em unidades onde me inseri de modo impessoal ou atravesde parentes dos trabalhadores.

Nestas ultimas, todavia, havia o temor de que eu pudesse seralguma fiscal do governo e colocasse, portanto, a empresa em difi-

\culdades com agendas oficiais. Nestes casos, os depoimenlos com*relagao aos salaries e desemprego tambem foi bastante mais rico,talvez porque esta indagagao sobre o meu papel de pesquisadoratambem fizesse parte da imaginagao dos trabalbadores, que nao sa-biam ao certo porque dados sobre assalariamento pudesse ser de in-teresse para alguem chegando na area. Nenhuma forma cleintrodu-S^° produz amplo..acessoJa..todos. os. jdados^ e a_naajtieira^e insergao,embora facilitando uma_via_ao c^onhecimento,^.pode yedar qutras.Mulfiplas formas de acesso. todavia, podem elucidar questoes oue

*s,*"~N, ^~~^. i ^~~- *~ -" "~-^—^ £-•-- ~ —f—v---v--—~~^ ^—"~~~ *sao _escondi"das no decoVrer^dp_coatato pesspal^ no processo_de ob-servagao participante. Bwgrafia e teorial foram acionadas como for-mas de ampliar as possibilidades~de~conhecitn.ento, a_ interagap en-

revelando vazios.em ter-

mos de informagoes, que as pesspas^flbservadas procuravam defen-der do meu conhecimento. A biografia colocava questoes que a teo-ria nao alcangava, tais como: avelhice^do processo de industriali-

"•zagao no lugar e a variedade e persistencia sda atividade artesanalicomo importante fator produtivo para a regiao. Todos esses compo-hentes permitiram_a. fqrmulagao_JeOTica pela_fusao da biografiacom^^jepria. Posso apontar tambem que a teoria, utilizada comoponto de partida primordial para o levantamento de dados,,ip63e ;pbs-±-f "~S^.. i. J— -"• ± — -•— — . -t - >- jcurecer^ certos aspectos da reaudade social_que o cientista jirocuraaveriguar, enquanto a mesma teoria elucida) outros_aspectos que

.4

A AssociAgAO DAS T^CNICAS 137

sem ela seriain negligenciados. Apentamos para a questao atraves,do exemplo fornecido por Erring Goffman que se introduziu in-c6gnito, para os pacientes e a maioria do estafe, em um_hospualpsiffuiatrico.28 Isto Ihe possibilitou uma visao constante da intera-gao entre os pacientes por seu status de auxiliar do~3ifetor~ile "atle-Hsmo.30 O papel que assumiu dificultou a observagao de outras ati-vidades, principalmente a interagao dos pacientes com o estafe hos-pitalar, e entre os proprios membros deste estafe.31 Pelo modo es-colhido de insergao na unidade de estudo, o autor parecia conside-rar que se introduzir com o status de soeiologo, elaborando investi-gagoes sobre o hospital seria considerado ilegitimo por algumas es-feras, uma vez que a diretoria do hospital estava ciente de seu ver-dadeiro papel. A forma de insergao, todavia, pareceu-me acentuaras caracteristicas da instituigao, p'ois denota que o autor ja partiudo pressuposto"~da^Hao'aceitasao do status profissional real do obser-vador participante, e que ja se via, a priori, em situagao negadorada propria identidade.32

Generalizacao ao Nivel da Coleta .de-Dados•- " -' " " " - " " - 1 •* — " —

Muito embora, como especificarei abaixo, tenha proem-ado-construir teoricamente o pi^lemiada _p_esguis_a, buscava um outronivePde generalizacao que a construgao teorica por si so nao eracapaz de dar. Refiro-me a generaliza5ap^_ao^ nivej. ^os proprios da-dos. fPosso exemplificar com a declaragao que obtive de um dos ope-rafios de uma~pequena empresa sobre a importancia do trabalho decarregador para a fabrica onde era empregado. Disse que o Iraba-Iho mais importante era o dele, pegando no pesado, pois isto era &que fazia a fabrica andar para frente. Os trabalhos leves, dizia ele,qualquer um faz, mas ninguem, ponderava ainda, quer saljer d&pegar no pesado. 0 trabalhador descarregava caminhoes, levandonos ombros enormes sacos de 60kg, os quais depositiva no arrna-zem para as maquinas, onde se iniciaYa a transformacao do rerilhoem varies produtos. A avaliagao elaborada por aquele trabalhadorsobre a importancia das ocupa5oe~s~rfaT fabrica colocava em questaoo meu pressuposto sobre o efeito da introdugao de maquinas, quan-do a introdugao de uma forca externa ao homem representariauma descontinuidade substantive com relagao ao sistema de produ-

^^

29 Erving Goffman, Asylums, op. cit., p. IX.30 idem, pp. 74-92.31 Idem.32 idem, p. IX.

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V

138 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

cao, onde a forga humana e a principal acionadora do processo pro-dutivo. Pressiu)unha_eu que as representagoes coletivas sobre o lu-gar_ da forga fisica corresponderiam ao desenvolvimento das foroasprodutivasr"IsTo^e", riaT unidades produtivas onde predominasse ouso do corpo como acionador do sistema de producao, eu csperavaencontrar maior valoracao da forga fisica. Outrossim, esperava queesta desse lugar a uma valorizagao maior das atividades em voltadas maquinas, com o deslocamento, para fora do homem, da Corjapropulsionadora dos instrumentos de produgao. Ejperaya, ^onse-quentemente, que o controle da atividade produtiva atraves da su-peryisao.jdo,- trabalho, desenvolvido paralelamente a liberagao damao^dejpbra, propiciada pelo emprego da maquina, (tivesp> C2m?consequ&icLik o distanciamentb, em termos da dimensao~avaliativa,entre as ocupagpes de supervisao e as^facilmenj^^subjtUuiveji^ pelaausencia de espeeializagao. -—~~^ jff- ~-

A altaL valoragao da forga fisica por parte Maquele trabalhadorpermitiu-me questionar_a_hipotese de que este valor~ desapareceriaou seria progressivamente abandonado pelo sistema fabril. Na ver-dade, coinja mtroduca^p_da_mj3qmnaria, Oijisgjd.a_forga__fisica_

;

nua presente ^p jistema fabril, muito embora estas fungoes ^tparcamente remuneradas pelas fafaricas, em comparagao com t» ti-a-balho mais especializado.

O trabalhador referido fez esta apreciagao apontando para adificuldade de obter a cooperagao dos outros trabalhadores. Sua en-trevisj:a, bem como a dos putros,^demonstrpu^existiT alta_^ompetiti-vip^3£"entre os operarips^&. competigao se dava nao so com os queexecutavam fungoes de supervisao, mas com os proprios compa--nheiros de trabalho e com as mulheres que, no dizer masculine,executavam "tarefas maneiras" ou trabalhos leves. A^Jnfprmagaofornecida pelo trabalhador poderia ser uma apreciagao particularsu1Hou'!ffaivez ser e^plic~aver"pela~~fungao de vaqueiro que ate bem

^pbuco executara. Poderia, contudo, ser^urtta^ caractejrfetica^mais .go-ral~3a^situagacT industrial^ e nap apenas_unia_qu^s^o_especifica re-lajiyiua-uqiJtraKalhador.

A fabrica que eu estava averiguando era muito pequena e a evi-dencia demonstrou que o vaqueiro nao era o unico que usava aque-la interpretagao_sobre p_ valor da forga fisica. A minha tjuestrio,dada__amsergap_ da industria no meio'TuralT^era sobrea possibilida-de daquela ser uma dimensao encontrada tambem em outras fabri-

\3^ jcasV Uma^parteira de um arruado urbano omle~^fesiHiam~alguns^ ^llrabalhadores fabris e trabalhadores em casas de farinha disse

que cobrava mais por um parto masculine- que por um feminino,pois "os homens valem mais porque tem mais forga". Acreditei que

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A ASSOOAQAO DAS

-f r • 1

139

esta dimensao ideologica jjoderia^ser; _importante na avaliagao dasocupagoes. Esse Jato contradizia a minhajteoria e poderia ser maisextenso do que eu previra. Era importanfe, pois, usar um recursopara verjfica-lo. ~ —— ~—;

Era necessario saber formular a questao de modo que ela tam-bem pudesse ser apurada em unidades produtivas onde predomi-nava o uso da forga fisica como propulsionadora dos instrumen-COS fjQ plrOQ.ll.CaQ« J_X65tG CoSQ XO1 ptJHSXVCl OPSCjTVo£ 3 ID til. Of V&J.O1T123-

gao dos trabalhos que empregam forga, quando homens e mulhe-resT trabalham juntos. Da mesma maneirade_das avaliagoes.relacxonadas coin as fungous de cpmandpvisap, niesmo_jem__unidades._,produtiyas. predpminantemente _ma-nuais. Voltarei a essas avaliagoes mais adiante. Vale referir-me, nomomento, ao recurso que utilize! para a verificagao do lugar da for-c.a nas unidades produtivas. A opiniao inicial que desencadeou oquestionamento da teoria havia sido enunciada em uma pequenafabrica com lOempregados. Uma das ©.utrasMiabricas escolhidaspara o estudo possuia liproximadamente 400^empregados. Impjjs-sivel interagir com todos e entrevista-los demoradamente. '0'"survey^foi, entao, usado para ^ayaliar_a_.generalidade_.de_ determittaHas^KiT7 - ~._.-7—•• -'—-— - ^ - X - •"t—-- o— - — ~ --

poteses formuladas no contexto^ de utiHzagao_da. .observagao partici-

Especificagao Progressive*: Invertendo o Movimentode Generalizagao I \ / .*->,

G*neralidade_jQao e o unicp_ objetiyo que se abneja alcangarno processp de mvestigagap. Existem outros,_nao menos negligen-ciaveis, cpmp_a. e^pecificagao_do objeto de inyestigagao/

A especificagao dos conceitos esta relacionada com a forma deanaHsejeleita pelo~cientista social^gue a elabora. Umaejtrategiaanaliuca^ e^^a__cp^.stougao QeVtipos ideaisj Atraves deste metoo-O saoescolhidas algumas dimensoes, ateen'tuaaas de tal modo que o'con-junto delas nao e empiricamente encontravel,<Tporernxj constitui_ .—. ,-—- -*. ——~ - — ~ .— —. .^-^,1M__J1__ T & _3S

iniportante_parainetro.--analitico na orientagao de uma pe^quis"a.-A.trayes>,,das^dime_nsoes ^wtas sao extraidas variaveis que"podem serutilizadas em questignarigs, constituindo jescalias categoricas demenisurasa.o. Categorias mais ou menos constituintes^cTarealitt^esap^_utijizadas jeni^questionarios, /mesmo que nap_fagani^parte daexperiencia imediata dos fespondentesypois compoem os tipos^e_re-presentan^um^^iiyel _de^ 'J^sirasa6"^ubstantivol?AltpsLgraus de._dis-_tanciamento da experiencja^ empjrica^sao possibiUtados por este re-curso metodologico, engendrandpmpos' como o homem^mQclerno, a

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•i V\-/^i r-\ ivy / 'A BUSCA DA REAisroAfiE OBJETIVA

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M,

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sociedade^ industrial ou a sociedade tradicional. Analises de estrati-ficagao social,como a realizada por Alex Inkeles situam-se no uni-verso""das sociedades industrials.33 A""industria, pressupoe ele, ternum efeito universalista pois uniformiza o perfil da estratificagaosocial. Em nivel transnacional o autor abstrai o homem moderno.com valores-.extoemamente semelhantes, movido pelo pressupostosobre fo efeito_unifprinizador do_ingresso do homem na sociedade de

3 icon^mo._As__p^icjildades de aplicagao do conceito generico_jle, ho-Hmem^mqderno se fazem liehtir' no" caso'Brasileifb"'5™

EspecificagBes^tofnam^ necessarias quando o uso das cate-gorias se cristaliza e elas sao empregadas de modo^automatico mes-mo que o criterio de maior ou menor pertinencia a realidade pendamais parao^lado negativo que para o positivo. lA faltade adequac.ao'

( a^^lenomenos'E^que elas se enderegani constitui o moforyde~fefor-mulacao em prpl de outras rnais especificas /Aldemanda^Ie^especifi-cagao"surge sempre com relagao a" ^ontextos_ hjstoricos determina-dps^i literatura sbHre ~estratiiicac.ao social pode fornecer um exem-plo' desta discussao pois a especificagao de tipos de industrializa-gao tornou-se necessaria quando observou-se que o perfiljocupacio-nal geradq_ pelas sociedades.. industrials,. denotado._ pelos censps, eradistinto.?4

Outro exemplo de especificagao pode ser oferecido a partir domeu trabalho quando pude constatar que as perguntas por mimformuladas_ nao eram universahoiente entendidaspeIiDs~trabalhado-res^ eni^ industria__cio J,\ ordeste* Ubservei, a partir de uma industriasituada em uma fazenda, que as formas de contratagao dp trabalhodivergjUni daquelas empregadas no Sul do pa£s.

As enlTevistas-.inforniais.~que_re^j.i.zei^nas unidades de inves-tigagao levaram-me a questionar desde logo as categorias sobre. balho do meu proprio vocabulario. Fiquei saibendo que os empre-gados daquela ceramica nao se referiam aos seus ganhos como sala-rio, pois todas as vezes que Ihes indagava qual era/o sarariS,que per-cebiam, eles me respondiam que nao percebiam salario algum. Estaresposta levava-me a aereditar que nao recebiam dinheiro pelo tra-balho que executavam. Logo pude observar que recebiam remune-racao em dinheiro. Procure!, entao, verificar como se referiam ao

33 Alex Inkeles, "Becoming Modern: Individual Change in Six Develo-ping Countries", trabalho apresentado ao VIII Congresso Mundial deSociologia, Toronto, CanadS, 1974, e "Industrial Man: The Relation ofStatus to Experience, Perception and Value", The American Journal ofSociology, 66, 1, Julho, I960, pp. 1-31.34 Gl£ucio Scares, "A Nova Industrializacao e o Sistema Politico Bra-sileiro", Dados 2-3, 1967, pp. 32-50.

A/

A AssociAgAO DAS TECNICAS 141

que ganhavam. Fui informada de que os trabalhadores com contratode trabalho e cartejra^ assinada eram os que eles co^sideravam comopercebedores de salario. Apenas trabalhadores (fixos) que tvabalha-vam'"direto eram considerados como ganhando"salario^JTrabalhado-res~c~6mo-eles.}trabalhavam soltos e ganhavamJaa djaria^segundoeles mesmos^Isto serviu"~pafalme_informar que as pers-untas que

<& t-tt-,— , ' '" """""•*• "" " " -~~ -- -——•'' - -—' 4-— • O -- ^ 1

eu^preje^d^jincluir no^meu^ questionario, buscando utilizar rendacomo Jndicador_de^ es^ratificagap social, nao seriam entendidas dom^p^compi_e.u..intencionava..fgrmula-las^Caso eu insistisse naque-la maneira de perguntar, as respostas'seriam erroneamente inter-pretadas^p^r^miin, pois eu poderia talvez" concluir que os trabalha-dores nao percebiam em moeda.

A''Uma outTaJfonte.- comum de erros partindo de estudos sobre aestratificacao social consiste em pedir que sejam avaliadas ocupa-coes desconhecidas pelas pessoas que compoem as arnqstrasi^Porexemplo, um dos estudos classicos soHre estratificagao social pedeaos componentes do survey que avaliem a posicao de fisico nuclear,a pessoas sem o menor conhecimento sobre esta profissao.35 Quan-do perguntaram a estas o que achavam que aquela ocupagao era,deram respostas que denotavam total falta de informacao sobre oque constituia a atividade.38

Para evitar que as mesmas cUficuld^des ocorressem nesta pes-quisa, apenas_as ocupagjoes que faziam parte do universo de traba-lho do trabalhador e avaliador_ das^pcupacoes^ foram _incluidas_ no/estudo.. Paraa selepagjdas que_seriam_ayaliadas, foram observadascuidadosamente todas as atividades, perguntando^se a varias pessoasnas unidades de jnvestigacao como se referiam as ocupagoes. Asvezes havia mais de uma.denominagao parajuni_trabalho, tendo sidoanotadas todas elas^para serem usadasjiQjpiestionari^ Por exemplo,a ocupagao de carirnbar rotulo nas caixas de ladrilho da segao deempacotamento da Ceramica Grande era chamada de Carimbadeirapor uns e de Carimbadora por outros. As duas formas foram refe-ridas nos questionarios. - ^ - - - ——

Paraelaborar a lisla das ocupag ws_ que^seriam^ avaliadaspelostrabalhadoresT figTiSaa minuciosa descrigap do fltixo-pfSHutivo, ten-do sido pbtidas_antecipadamente outras descrigoes dp processo rea-lizadas pelos supervisores. De posse destas, verifiquei o fluxo anc ,tandp as discrepancias entre as descrieoes dos informantes e o pro-cesso por mina~oK§ervado, principalmente com relagao a determi-

33 National Opinion Research Center, "Jobs and Occupations: A Popu-lar Evaluation" em Class, Status and Power, R. Bendix e S.M. Lipset(orgs.), Glencoe, III.: The Free Press, 1953, l.a ed., pp. 411-425.S6 idem, p. 417. , , f\

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TCtV

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142 A BUSCA DA REALIDADE OBJETTVA

F;

nadas operagoes, mais fluidas que outras, pois se alteraram variasvezes durante o decorrer da pesquisa, desde o inicio das observa-goes.

, 1 ^ ''•' Apj5s observer o processo, escolhi uma ocupagao em^cada.jiini-1

, s' . dade proHutiva para ser tomada como padrao. pelos^entrevjstados,que deyeriam avaliar as outras ocupagoes componentes da listagem.

»( / '• 0 crjterio utilizado para que uma ocupagao fosse tomada como re-\L ^-/^ferencia consistiu em sua ^siBilidade na unidade de investigacao.,,'•" Isto e, aquela_ ocupagao de vena relacipnar^e cQrn_um_nuiriergn bas-

K,.. tante grande de outras ocupag5es na unidade produtiva, de tal for-J,

;l'5*-,;ina que todas as pessoas entrevistadas tivessem conhecimento da-W n7; ^ *• *•

"C. :; quele trabalho. Em certas unidades produtivas haviam ocupacoes„ - V r,com menor visibilidade, pois havia setores secretos. Ja em outras,

m unidade era suficientemente pequena para que todas as ativida-des :fossem incluidas. Em uma das unidades fabris, de menor porte,

— i*' ~~' • *"- • -:f*\ r> ibuscou-se obter^avaliagoes de duas^maiieiras. Em^jgrimeirou-lugarprocurou entreyistar todas^as—pessoas. Em segundoXlugar) reaU-zou-se uma ampstra para^ a aplicacao de questionarios.formais. Asentrevist.as_obtidas__antes__dos_ _questionarips_forjim_suficieatementeextensas para que as perguntas elaboradas atraves do quesiiona-rio as especificassem.

Atividades_conhecidas por^tpdos foram selecionadas de jtnodo alevar em conta o vocabulario e eategorias empregados naquela lo-calidade a respeito do trabalho e permitiram especi£icar_ajx!oriaadeforma a^elaborar as perguntas do .questipnario, levando em consi-

, deragao o contexto de trabalho e o vocabulario dos trabalhadores em" unidades produtivas que eram objeto do estudo. Com este cuidado,,^ evitei as idipssincrasias] comuns_ aos pressupostos universalistas dos

'f ;questionarios, que provocam granilenndic^s^de variagao e de0^"abstengoes nas respostas, como no exemplo que dei acima sobre a

posigao atribuida a ocupagSes sofisticadas como fisico nuclear. Omesmo acontece com ocupagoes tradicionais que muitas vezes geram

7;discrepancias avaliativas. Defendo o^pgntojde vista jle que a avalia-gao ocupacional realizada "Hentro do contexto onde as atividadesocupacionais sao exercidas gera menor indice de discrepancies pro-vocadas pelas diferencas entre o universe cognitive do pesquisador e

que sao objeto de suas pesquisas./ I A atengatf cpm^o ^v^SK^mo, todavia, pode nos fazer parti-

/ ctiicLTiZai* 0.6 Taj, zoimicL uinfl siiUu.c3O 0.6 IIIOQ.O OTJ.G_ jiaO _sc^^poss&V ir _alem do contexto especificp. que deu origem^a ^uestao. No caso,

procurei elaBorJr^as^questoes de modo a que elas pudessem ser rea-lizadastajnto em unidades produtiyas onde a forga^dpjhomem pre-

A AssociAgXo DAS TECNICAS 143

dominasse, quanto em unidades produtivas onde preponderasse ouso""de ^niaquinaria no processo produtivo. A estrategia permitiuparticularizar diferentes formas de organizagao social na elabora-gao de um mesmo produto bem como generalizar atraves das va-rias organizagoes socials diferentes, tomando como objeto de com-paragao ocupacoes comuns a elas.

A pesquisa_ em _ ^questao versava sobre modos de organizagaosdcjal^da P££dugap_^stintgs^ mas^ cpexiste^.tes_ na_transformagao de.toes tipgs_de_materia-prima: milho, barro e mandioca.forma de jtrganizagao social da^ produgao busquejj observardades envolvidas na produgao, procurando connecer tambj?m^as_r.e.re^ntagpes ocupacionais elaboradas pelos proprios trabalhadores

que as exerciam.

T^3^Q-

Realizei um trabalho de observacao participante 'durante um- _ _ , ^"^^ \*,r*ii*.,mf£:-_-~.-rV*^- J- --

perioao_je_gejs^rneses nas^empresas escolhidas, quando estudej^duasoindustrias de prqdutos__ ceramicos_ e duas industrias^de farinfia, demilho. Durante mn_mes e niej.o__contei com a^juda.'de duas assis-tentes_parjsse_,tr,abalho. Alem disso, recolhi dadta's^por intemiedibde erifrevistas e documentos sobre uma quinta fabrica'^ de feculade mandioca, qu_e«bavia fechado. Nas quatro primeiras foram apii-cados 192 questipnaribs. Outros 58 foram obtidos em 11 casas defarinha e 6 olarias, sendo que uma casa de farinha e uma olaria\foram intensamente obseryadas. Dados adicionais ppsteripres so-brer^as duas ultimas atividades foram obtidos com a ajuda de dois

\ assistentes de pesquisa. - - - . - - - - - - . ,_"™" A unidade produtiva,^nesse caso a Casa de Farinha, poderiaser compreendida-a semelhanga das manufaturas descritas por Marxnas Formagoes Economicas Pre-Capitalistas. Preferi,Cjodavialfica-la como emnresa_dpmestica, pois, embora tenha UIQ d^envol-vido sistema de cogperacSo, por vezes faz uso do motor. Aintro-dugao da maqumaXtodavia, nao^reypluciona a. organizagao d^univdade produtiva, muitoi^abora^a_afete. A~ mesma estruttrraTjfle i-ela-g^s"de trabalho e mantida, com contratos de parceria e subcon-tratos de trabalhos por produgao e diaria, ao lado do trabalho fa-miliar nao remunerado ou remunerado em especie. A fprga Hsicanao e deslocada como imnressora^de-ritmo-ao processo^pr^Htrtivo,apesar—dp motgr^ reduzir o tempo de cevagem 'daT mandioca e onumero de trabalhadores no processo.

Na fabric a,-que-—tomo como estudo de caso, o__nume^o^.deocupagoe^ e muito mais_ amplp^que o deuma Casa de Farinha. Uti-

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144 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

lizo, aqui, algumas daquelas relacionadas com uma segao, a daspreusas. A etnografia=de -todas as : ttcupagoes envolvidas-no estudoestenderia.ps^pbjetivos do trabalhp nmito alem dos_Iimites .de^um"paper '. Remeto'oMeitor"ao liigar onde estas descrigoes foramelaboradas.87 Mostro, apenas, que enL unidades joroidutiyas ondepredomina a forea^de trabalho^ manual, as ocupagoes exigentes deforga, resisTencTa fisica e Habilidade manual rateiam^mais alto queas ocupagoes que solicitam menor esforco fisiccT. "Tomo, no caso,as valoragoes ocupacionais concedidas pelos trabalhadores que exe-cutam as fungoes da segao das prensas,

As ocupagoes das Casas de Farinha tambem foram avaliadaspelos que ~ali trabalham. Foi-lhes oferecida "a" ocupagao de carregarmandioca da roga para a casa de farinha como ocupagao padrao,detendo o valor de 10^ para avaliagao dos outros trabalhos quecompoem a^farhiliada. "As outras ocupagoes foram entao rateadas,usando uma tecnica desenvolvida por Robert Hamblin. As media-nas de todas as avaliagoes foram entab obtidas: Os resultados abai-xo referem-se aos tres criterios de julgamento que foram apresen-tados aos avaliadores.

Obtivemos rateios nao somente em Casas _de Farinha, inastaxnbem em outras "unidades produtivas. Apresento em seguida asayaliaspes ocupacionais de 16 atividades em_ uma segao da Cera-mica...Grande. Podemos cozaparar as avaliacoes elaboradas dentrode uma segao.

Nesta fabrica empreeuei o procedimento de apresentar aosJ. C* J- -"T—,,,„, ,L M i -..

avaHadoreg uma lista com todas as ocupa§5es de fabrica, que de-monstrou ser demasiadamente extensa. Houve necessidade de redu-zi-la, para tbrnar operacional utifiza-la em um questionario. Comohavia muitas ocupag5es que poderiam nao ser do conhecimento detodos pelo pouco contato possivel devido a divisao do trabalho e es-pecializacao na Ceramica Grande, ofereci, ao lado da lista maior deocupagSes, uma relagao reduzida. A aplicagao do^questionario en-volveu um consideravel trabalho, uma vez que ^a^tecnica de_apre-sentagao das perguntas exigia jjue_^aj^cupasoes fossem apresenta-das aos entreyistados^ em prdem aleatoriaXAlem disso, era necessarioensinar ao ayaliadpr jcomo_efetuar_ as estinaatiyas_nuniericas, atra-ves de um metodo de avaliacao dasjdistancias entre varios pontosdispostos ;em uma paginate" randomicainenfe) apresentados, tomari-do-se uma medida de referencia. A***ordem aleatoria, segundo oem ;

3' "The Impact of Industrialization on Women's Work Roles in Nor-theast Brazil", op. cit. e "Divisao do Trabalho, Tecnologia e Estratifica-520 Social", op. cit.38 Robert Hamblin, op. cit,, pp. 435-440.

I V

Q.

ASSOCIA£AO DAS TECNICAS 145

QUADBO 1}

MEDIANA DOS sRATEIOS' DAS ATIVIDADES NA .CASA DE FARINHASEGUNDO O CONHECIMENTO QUE A OCUPAgAO REQUER, A

IMPORTANCIA QUE TEM E A DIFICULDADE QUE APRESENTA *

ATIV WADE

Sexo quea desem-

penhaConheci-

mentoImpor-tdncia

Dificul-dade

1. RapHf - Mulher

2. Peneirar

3. Enxugar

4. Botar goma no sol

5. Tirar agua nacacimba Homem

6,00 8,00 8,00

MulherHomem

Mulher

Mulher

6,00

6,00

8,00

8,00

9,00

7,00

7,00

7,00

7,00

8.00 8.00 10,00

v. f^paiinai uiiuiui uw

na roca

7. Lavar

8. Cevar

9. Prensar

10. Torrar

tHomem

Mulher

MulherHomem

Homem

Homem

9,00

10,00

10,00

10,00

16,00

10,00 j

^— — — — '10,00

10,00

10.00

15,00

9,00 "'

10,00

10,00

10,00

15,00

* A i-ir-im!ii-5n fnTnnHn rnmA n;iHran narn inlr»5miaritf4 fr*i a de CaiTesauOr OC matl-

dioca da roca para a casa de farinha, com o valor 10.

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146 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

construtor do metodo diminuj^ as chances de erro, que decrescemtambem pelo ensino da forma "de avaliagao. Qutra tecnica de redu-caojie^rrpss..cpnsi5te n extragao de medianas das estimativas. tJspsmais sofisticados do metodo empregam media geometricas das_ ava-liacoes. Uma "das dificuldades de interpretacao dos dados consiste no

; privilegio que o metodo proporciona as representaspes do jiomemxfmediano. e nao as representacoes coletivas, referindo-me ligeiramen-

f iiiLu_ _. >-n»r ' ? r p^eoi a—-Sc- _- -- - *-«™i="- . -«' „-

•J*Je a polemica desenvolvida por Durkehim com yuetelet.As estimativas das ocupagoes foram feitas tomando o traba-

lho de ajudante de mecanico com o valor de 10, como medida pa-drao basica. Foram obtidas avaliacoes com os fnesmos criterios aci-ma referidos com relagao as ocupagSes da Casa de Farinha. Paraa dificuldade das tarefas, contudo, foi apresentada uma lista am-pla, que nao analisarei neste trabalho. Tpmarei aqui a jjnpoitanciadas ocupagoes. Tanto com relacao a utilizacao"deste criterio, quan-to com relacao ao conhecimento exigido pelas ocupagoes foi apre-sentada uma lista menor referente apenas as tarefas que faziamparte do ambiente da secao.

O Quadro 2 esta_5comppsto-na_o_ap£nas!1pclas_ medianas das ava-fliagoesocupacionais, como tambem por doj^ julgamentos^esvian-tes que considerei caracteristicos de um grupo minoritario e im-portaute. Achei necessario inclui-los no quadro para efeito^de^com-paragao^e^de interp^gtacao jos dsidoSj. Percebi "que-^asicfcupu^esco^°alta estima tem^a ver com Q^cpntrole da^fabrica. As ocupagoes.femininas eram,,em niimero de tres: uma^delas teve o .tateio,.baixo, as outfas "diias^tiveram"o-mesino valor que o carrcto de mas-sa e ligeiramente" acima do ajudante de limpeza.

A estrategia de mensuracao que empreguei esconde ^ariacoesque sao incorporadas na_categoria.jdeMgrro. Ao lado da norma, tomeid"desvi6, isto™e, algumas das variagoes escondidas, pois um oamedas avaliacoes individuals nos permite compreender melhor n iia-tureza dps valores que foram consignados as atividades da secao.

^_— „ ^ Relembvemosde acordo com um trabalhador industrial, dantes vaqueiro, e

depois carregador, o trabalho mais importante da fabrica era o .icle,frabalhando no pesado, pois isso era o que punha a fabrica parafrente. Afirmando, ainda, que os trabalhos "maneiros" qualquerum fazia, mas que ninguem queria saber de pegar ao pesado.Dentre os 46 entrevistados da secao das prensas,\10 avaliaram o

39 Emile Durkheim, Le~"SuiciaeT'op-.~cit:'l"pp. 337-344.

A AssoaAgSo DAS TECNICAS

QUADKO 2

147

( MEDIANA DOS RATEIOS DAS ATIVIDADES NA SECAO DE PRENSAS FIA» 'CERAMICA GRANDE, SEGUNDO A IMPORTANCLA--QUE A OCUPACAO

TEM, E DOIS DESVIOS TtPICOS ELICLESB.OS POlCyMAvREPRESENTANTJaDO SEXO FEMININO E' UM JDO MASCUDINO •

1.

2.

3.

4.

"N 5_

6.

7.

8.

f 9 .

/10.v.

ill.;12.

13.

14.

15.

16.

AT tV WADE

Peneirador

Classificadora deplaquetas

Retificador

Encarregado delimpeza

Ajudante de reti'fica

Carregador de massa

Encaixotadeira

Pegadora de ladrilhos

Prensista da prensa 5

Prensista da prensa 8

Prensista da prensa 11

Prensista de caixa

Auxiliar delabor atorio

Supervisor ouencarregadode secao

Supervisor dodepartamentode producao

Diretor industrial

Sexo quea desem-

penha

Homera

Mulher X^

Homem

Hcmem

Homem

Homem

Mulher X

Mulher y

Homem

Homem

Homem

Homem

Homem

Homem

Homem

Homem

tfVW&Impor-tancia

8,00

8,00

8,00

9,50

/ 10,00s!

10,00

10,00

10,00

10,00

10,00

10,00

12,50

12,50

13,50

15,00

17,00

-i f

DesvioTipico

Feminino

30,00

15,00

20,00

30,00

25,00

10,00

-20,00

-50,00 |-

15,00

30,00

40,00

35,00

30,00

30,00

35,00

35,00

DesvioTipico

Masculino

15,00

15,00

10,00

15,00

12,00

20,00

12,00

& 100,00 <•

12,00

20,00

20,00

20,00

15,00

12,00

10,00

10,00

* A ocupacao que foi apresentada como padrao de julgamento foi a de ajudantede mecanico, com o valor 10. -

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148 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

trabalho de carregador como tendo importancia igual ou superiorajlo diretor^ii^Wial,r Osi ".dados, contudo levam-nos mais alem.

JegesVram homens e quatro.mulheres. Observe-se que umaocupasao feminina tambem apresenta desvio da mesma natureza. Aoeupagfio de pegadora de ladrilhos registrou 18 valores (11 dadospor mulheres e 7 por homens) que a ratearam igual'ou acima^ade diretor industrial. A razao variava de 1:1 ate 10:1. Isso naose deve somente ad fato de ser essa uma ocupagao feminina,-poisuma outra ocupagao executada apenas por mulheres, a de encai-xotadeira, apresentou apenas 7 avaliacoes que a ratearam igual ousuperior ao diretor industrialwA exphcagao, a meu ver, deve-se ao'alto risco que a_ocupacao apresenta em; texixio^~Q£ ~acident.es. Este!'seria um outro lado do culto do corpo relative ao sexo feminine, jneste caso. A

J*-"-MC^^

Pode-se apreciar como^as hipoteses extraidas das entrevistast^. . _.-_ - - _ . ~,^— ^.• '-O^ii-#: '='-^-'Jjr-' ^-=c--1^" ^ f— --• •—: —^ -" •• - - - " ' -

quajitatiYas foram padronizadas em diferentes_unidade_s^.produtivascomponentes^de diferentesjiormas.de. brganizagao _spcial da produ-gao. Outfa maneira de tornar possrvela geueralizagao^dos^resulta-

MEDIANAS DE AVALIAC^ES DAS OCUPAQoES^ ^COMUNS AS TR£S EMPRESAS

123

4

567

8

9

Ocupacoes comuns astres empresas*

— Preparador de barro~™~—— Transportador de barro~-—— Arrumador do material

para secagem— Pegador do material

moldado— Foguista— Enfornador— Carregador do material

para enforna— Graduador do barro

nas maquinas— Supervisor

Olaria

—3,00~——-—I-25

7,00

3,507,008,50

3,00

——

CeramicaPeguena

27,5026,25

15,00

9,5032,5020,00

20,00

25,0030,00

Ceramica. Grande

10,0012,50

10,00

15,0012,0020,00

12,00

10,0015,00

Ocupasoes 8 e 9 existem apenas nas ceramicas. As avaliacoes dasocupapoes 5, 6 e 7 da Ceramica Grande foram emitidas por trabalha-dores da secao de fornos reversi'veis.

A AssociAgXo DAS TECNICAS 149

r"J"'-is.I i

dos consiste em comparar as avaliaeoes^efetuadas ._em unidades pro-,dutivas dos mesmos produtos em modos de produgaq diferentes.-^o"cas6 das wupacoes envolvidas na mamifatura de telhas e tijolosem uma olaria g=jima_fabrica^ situadas em uma fazenda, a seme- ^^lhanga de uma"plantacao, e uma ceramica maior, uma sociedadeanonima com capital local e que recebia incentives fiscais do Es-tado.

QUADEO 4

OCUPACOES CUJO GRAU DE UTILIZACAO DE TtiCNICASVARIA DE EMPRESA PARA EMPRESA*

CO*

f Razao das Avaliagdes

Ocupacoes Olaria Ceramica Pequena Ceramica Grande

2— 0,41

1 ,

4— 1,16

1

8

— —1

9

— —1

0,95

0,34

'0,90

1,09

1,25

1,50

1,00

1,50

Preparador de barro (1); Transportador de barro (2); Pegador do ma-terial moldado (4); Graduador do barro nas maquinas (8); Super-visor (9).

Uma an^ige^^as^cupa^ei^cjomuns atraves da comparasapjen-tre 'Ucsiuniiiau.os produtivas revela cruet \^^-1 a^.cu|^t^iicia_jslitre_^Q^estima das*^pcupaQ5es aumenta com a introducao de tecnologia;((Bjjalgumas ocupagoes^jimmuem de estima com a introduc.aode tecnologia, em outro lugar demonstfeL,que estas ocupa^oes pas-sam a ser executadas por menores;40 CjQCj^ ocupagoes que exigem

*> Neuma Aguiar, "Divisao do Trabalho, Tecnologia e EstratificacSoSocial", op. tit., pp. 121.

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\

150 A BUSCA DA REALIDADE OBJETIVA

maior conhecjmento^tecnico aumentam.de estima; ^('ITj) f ungoes desupervisaa tambem^ aumentam^de estima. As cpmparagoes entreocupagoes^foram realizadas tomando como referenda um!T~ocupa-gao suja que e a deLprepar^^fcang. Observe-se todavia que a com-plexidade deste trabalho tambem varia de uma unidade produtivapara outra.

Em resume^_esjes^achadp§^ci^jKrm.aiiam. os.,- pressupostos ted-ricosdicitados mais acima, nao fora a especificagao possjyel, esta-belecida por este trabalho, de <nie~>formas de cooperacao e o empre-

V "• " „" ' " ' ej**^— —"^SiL A - - _'• ._.'IVt-' g^r-r: *_•*-!•"''JSamBtmj.g. ._. -.*-

go de^tecnqlogiap^denQserrando_difgrenteg jiierafquias ocupacipnaii°~de acordo com o lugarda forgade Jrajbalhor^Estas ^articulagoes sao, no presente estudo,emnresa dpmestica) vinculada a^ area rural, como a Casa de Fari-nha aqui descrita, o a^esanato^tambein ligado a fazenda, como aolaria do presente estudo,^.fafe^^sjtuada na fazenda que a apro-ximada-"p'Za7i(at£o/i, embora corn o qualificativo de que o barro nao

a.^e a^Cefamica Grande, dentro da caracterizacao da graiM":~* •^*^r •""•' ••ii"""^ ' * ^Li.jtf'*^qe induggia^jcapitali^a. Todas constituem formas de combinagao

com distlntos sistemas*~aejre as ocupagoes. A analise da coexistencia entre elas, e do lugar )

cada /uma delas, principalmente aquelas que sao comuns as distintasjformas de organizagao social da produgao, pode ser feita gragas a Icombinagao ,de uma estrategia artesanal ^ industrial de investiga-'gao. / " "**

Conclusoea,?*™^~***.

De acordo com o modp de produgao.,...articulam-se diferentes moda-lidades^dte estratificagao social, o que pude revelar atraves de umaestrategia comum de analise da estima das ocupagoes. Esse fatoleva a questionar conclusoes obtidasjpa£tindo de surveys genericos,que nao consiHeram a estrutura de producao onde as ocupacoes seT. .^^""--VZSESK——••"• '*•''- -• ---—.-•,-'-•--« ..-*,! i_ - =aa . ^ .

inserem., Aca"tanqx>so"contexlo, efetuei Bgrguntas-sobre-a-estruturaocupacional que

*ode-se, todavia, indagar sobre a particularidade dos dadosaqui apresentadqs. Nao seria a coexisTencia~~dos modo^ de produ-gao uma anomalia que o tempo daria conta? Nao seria, por outrolado, uma situagao especifica do Cariri? Uma excepcionaUdadehistorica ou etnografica sem maiores consequencias em termos daestrutura mais ampla, em nivel extra-local? Tempo no Cariri e aminha prdpria memoria, e a de meus pais, e a de meus avos, e a

poovVLuo.^: \ \

A AssociAgSo DAS T^CNICAS 151

dos que vieram antes deles. A memoria nos mostra a velhice daexperiencia industrial no lugar, e a igual antiguidade destas ou-tras formas; casas de farinha, olarias, fabricas em fazendas e ou-tro numero sem fun de atividades similares.

A identifjcagao^de formas. diferentes de, organizasao^social^daprodugao permite analisar as^^iculdades^geradas-pelo carater^daindustrializagao. A grande indiistria capitalista (wnpSa* as distant 7cis sociais enl^ jd^erejites_ ooipacpes, que podem ser apreciadas \p'ela^compa^gao sistematicaCentre atividades comuns de diferentes Vumdailes produtivas utiUzando tecnolpgias diversas que vao desHe ja^ exeeugaeT"manual das tarefas ate um alto grau de controlo tla \naturez&^gela Itecnica. 0 estudo realizado de modo comparativo ^r

permite, a_generalizacao.~* 0 ^trcpproblema sobre a excencionalidade historica de uma

dada regiao perm^uMe~ em aberto. (J afeto ainda coloca""aquelaafea™e"n"tfe"; as impares™na^minha experiencia, ensinando-me, porexemplo, a quesUmai..a^modaUdades correntesjle estudo que fa-zem pouco uso de teoria, utilizando categorias muito genericas, porvezes residuals, de anaHse, em lugar"He^procurar dar "melHof" contadas modalidades de organizagao social da producao, atraves de umes^[r5p_de__espedficagao. Refiro-me agora aos estudos sobre o Iraba-Iho em regioes metropolitanas, onde as tarefas de construgao so-cial da realiaa^e~aJ^labofagao de sinleses como a proposta porMauss 'sobre o ]£jio^ 'social total tornan>se_mais_ compjicadas, po-rem nao menos enriquecedoras que a experiencia de pesquisa quefiz no Caririr ~"" "'""