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Tradução de Julia da Rosa Simões REVOLUÇÃO FRANCESA VOLUME 2 ÀS ARMAS, CIDADÃOS! (1793-1799) Max Gallo L&PM POCKET www.lpm.com.br

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Tradução de Julia da Rosa Simões

Revolução FRancesaVolume 2

Às armas, cidadãos! (1793-1799)

Max Gallo

L&PM POCKETwww.lpm.com.br

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Sumário

Primeira Parte: 21 de janeiro de 1793-2 de abril de 1793“A febre revolucionária é uma doença terrível” ..................7capítulos 1 a 3 ............................................................. 9 a 50

segunda Parte: junho de 1793-novembro de 1793“Um povo imenso, sem pão, sem roupas” .........................51capítulos 4 a 8 ......................................................... 53 a 110

terCeira Parte: 1o de dezembro de 1793-30 de março de 1794“Será possível controlar uma tempestade?” ..................... 111capítulos 9 a 11 ...................................................... 113 a 144

Quarta Parte: 1o de abril de 1794-27 de julho de 1794“O cadafalso te chama” ....................................................145capítulos 12 a 15 ................................................... 147 a 196

Quinta Parte: 28 de julho de 1794-23 de maio de 1795“A Revolução foi feita” ....................................................197capítulos 16 a 19 ................................................... 199 a 240

sexta Parte: 23 de maio de 1795-5 de outubro de 1795“Esta Vendeia se espalha por toda parte e a cada dia se

torna mais assustadora” ...............................................241capítulos 20 a 22 ................................................... 243 a 272

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sétima Parte: outubro de 1795-Fevereiro de 1797“A audácia é o mais belo cálculo do gênio” ....................273capítulos 23 a 26 ................................................... 275 a 304

oitava Parte: Fevereiro de 1797-setembro de 1797“Assinai a paz” .................................................................305capítulos 27 a 30 ................................................... 307 a 334

nona Parte: setembro de 1797-maio de 1798“Eis uma paz à la Bonaparte” ..........................................335capítulos 31 a 33 ................................................... 337 a 354

déCima Parte: 19 de maio de 1798-9 de novembro de 1799“A Revolução acabou!” ....................................................355capítulos 34 a 37 ................................................... 357 a 386

ePílogo

“Eu tinha vinte anos em 1789” ........................................387

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PRIMEIRA PARTE

21 de janeiro de 1793-2 de abril de 1793“A febre revolucionária é uma doença terrível”

“Existem, agora, dois tipos de jacobinos e de patriotas, que se odeiam com tanta virulência quanto os monarquistas

e jacobinos originais. O último tipo de jacobinos são os chamados girondinos, ou brissotinos, ou rolandistas [...]

O ódio continua crescendo entre os dois partidos [...]A febre revolucionária é uma doença terrível.”

Nicolas ruault, livreiro6 de fevereiro de 1793

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Luís Capeto, ex-Luís XVI, rei da França, subira ao cada-falso numa segunda-feira, 21 de janeiro de 1793, pouco

antes das dez e vinte da manhã.Ele fizera menção de falar ao povo, mas na mesma hora

Santerre, antigo e rico cervejeiro do Faubourg Saint-Antoine que se tornara comandante-geral da Guarda Nacional, segundo uma testemunha, “erguera sua espada e ordenara o rufar de todos os tambores e o soar de todas as trombetas, para abafar a voz do infeliz monarca. Os carrascos imediatamente o segu-raram, amarraram-no na prancha fatal e cortaram sua cabeça, que um deles ergueu três vezes ao povo”.

Eram dez e vinte.“Não tenho forças para contar mais, por hoje... Quanto

mais um acontecimento trágico é doloroso, mais queremos conhecer suas causas e seus detalhes”, continua a testemunha, o livreiro Ruault, espírito “esclarecido”, membro da Guarda Nacional, jacobino de primeira hora.

Ouvi isto ontem à noite, de um homem que estava a dois passos do fatal local e que contava o acontecido com lá-grimas nos olhos. Ele dizia que mais da metade das tropas que enchiam a praça estava comovida, que estremecera de horror ao ver o rei subir os degraus do cadafalso com as mãos atadas e os cabelos cortados. Se lhe tivessem dado a liberdade de falar, de se fazer ouvir por aquela multidão, quem sabe o que poderia ter acontecido? Um movimento de generosidade poderia ter tomado a multidão, que pode-ria ter-se apoderado do príncipe, tê-lo arrancado das mãos de seus carrascos e tê-lo carregado do cadafalso ao trono. Talvez houvesse uma batalha na praça... Mas nada disso aconteceu: seu destino era morrer a morte dos culpados, em presença de uma imensa massa de homens que, há pouco tempo, ainda eram seus súditos.

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De fato, nem um único incidente perturbara a execução do rei. A dispersão das dezenas de milhares de homens arma-dos mobilizados por toda Paris se efetuara em meio à ordem.

“Apesar das previsões sinistras”, dizem os Anais patrió-ticos, “Paris nunca esteve tão tranquila. A indiferença talvez fosse o sentimento dominante...”

Lucile, a “loura adorável”, esposa de 22 anos de Camille Desmoulins, o jornalista, deputado da convenção e amigo de Danton, escrevera: “Hoje mataram Capeto. Tudo transcorreu na mais perfeita tranquilidade”.

A partir da noite dessa segunda-feira, 21 de janeiro, a vida começara a voltar ao normal. Os teatros abriram; os cafés se encheram.

Falou-se mais do assassinato do regicida Le Peletier de Saint-Fargeau, por um membro da guarda pessoal do ex-rei, do que da execução do monarca, o “tirano”. A Convenção decidira conceder a Le Peletier as honras do Panthéon.

Seu corpo nu, “untado e envernizado”, fora exposto ao público, depois transportado em grande pompa até o Panthéon, seguido pelos deputados, soldados e guardas nacionais arma-dos. Quando o cortejo passara pela Pont-Neuf, foram ouvidos trinta tiros de canhão.

“O barulho levou pânico ao Templo.”Ali, naquela prisão, Maria Antonieta, agora chamada

apenas de “viúva Capeto”, que se tornara uma velha irreconhe-cível, passava da prostração a convulsões, “Madame Elizabeth, a irmã do rei, se apavorava, a pequena princesa – Madame Real – rolava pelo chão, o pequeno delfim se enroscava nas cortinas da cama da mãe para se esconder. Decidiu-se tirá-los de seu terror.”

Mas o enterro de Le Peletier perturbara os patriotas.Lucile Desmoulins confessara:

Vi o infeliz Saint-Fargeau. Rompemos em lágrimas quan-do o corpo passou, jogamos-lhe uma coroa... Não consegui

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ficar sozinha e suportar os terríveis pensamentos que me invadiam. Corri até a casa de Danton, que ficou comovido em ver-me ainda emocionada.

Os jacobinos temem que os “aristocratas”, e os corrom-pidos ou convencidos por eles, os assassinem e preparem um assalto contra os sans-culottes e a Convenção.

Robespierre acusa o ministro do interior, o girondino Roland, de estar ligado aos aristocratas.

Roland apresenta sua demissão, mas o ataque aos gi-rondinos continua.

Não tinham eles, durante o processo do rei, apelado a um julgamento pelo povo e depois pedido sua suspensão?

Enquanto cem por cento dos montanheses tinham votado pela morte, e 38 por cento dos deputados da Planície votaram a favor deles, apenas quatorze por cento dos girondinos op-taram pelo regicídio.

Aos olhos dos jacobinos mais determinados, a “prudên-cia” dos girondinos não passa de um cálculo condenável e arriscado num momento de perigo.

Em 28 de janeiro, o conde de Provença, irmão do rei e exilado em Hamm, na Westfália, foi proclamado o delfim, numa declaração aos emigrados, rei da França e Navarra, sob o nome de Luís XVII. Provença se autointitula regente, e seu irmão mais novo, o conde de Artois, se torna tenente--geral do reino.

O conde de Provença, em seu programa, deseja apagar a Revolução.

Ele quer restabelecer a monarquia sobre as bases imutá-veis de sua antiga constituição e sobre a “religião de nossos pais”, na pureza de seu culto e de sua disciplina. Quer redis-tribuir os “bens nacionais” a seus legítimos donos, punir os crimes cometidos desde 1789 e vingar o sangue de Luís XVI.

Palavras que não parecem vazias.

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No dia da morte de Luís XVI, a Corte da Inglaterra declarara luto. Em torno dela, constituíra-se uma primeira coalizão, formada por Espanha, Portugal, Sardenha, reino de Nápoles, Holanda, Estados Alemães, Áustria, Prússia e Rússia.

Ao contrário do deputado montanhês Barère, antigo ad-vogado do parlamento de Toulouse, que do alto da tribuna da Convenção declarara que “Um inimigo a mais para a França é apenas um triunfo a mais para a liberdade”, Marat e Brissot – o “exagerado” e o girondino por uma vez de acordo – colocam todos de sobreaviso contra possíveis ilusões.

– Como conheço a Inglaterra – diz Marat –, não posso deixar de observar que é um erro acreditar, aqui, que o povo inglês está a nosso favor.

Brissot acrescenta que o gabinete inglês, com suas calú-nias, conseguiu “despopularizar nossa revolução no espírito dos ingleses e popularizar a guerra”.

– Cidadãos – continua Brissot –, não devemos dissimular os perigos desta nova guerra; é a Europa inteira, ou melhor, todos os tiranos da Europa que teremos que combater, em terra e mar.

Portanto:– É preciso que a grande família dos franceses seja um

único exército, que a França seja um único campo de batalha onde só se fale em guerra, onde tudo leve à guerra, onde todos os trabalhos tenham por objetivo unicamente a guerra.

Mas a guerra exige a caça aos inimigos e a seus cúmpli-ces, instala o reino da desconfiança, o temor – e a realidade – das conspirações e traições. E portanto é a morte que é glorificada:

Morrer pela pátriaÉ o destino mais beloO mais digno de se querer.*

* Mourir pour la patrie / Est le sort le plus beau / Le plus digne d’envie. (N.T.)

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Danton exclama:– Ó, Le Peletier, tua morte servirá a República! Tenho

inveja de tua morte!Num discurso aos jacobinos, em 13 de março de 1793,

quando a situação militar se tornara difícil, os contra-ataques austríacos obrigam os exércitos de Dumouriez que tinham entrado na Holanda a recuar para a Bélgica, e Robespierre exclama:

– Saberemos morrer, morreremos todos!Marat responde-lhe imediatamente:– Não, não morreremos, mataremos nossos inimigos e

os esmagaremos.Danton também exalta a unidade:– Agora que o tirano não existe mais, coloquemos toda

nossa energia e nossa efervescência na guerra... Cidadãos, tomai as rédeas de uma grande nação, elevai-vos à sua altura...

Tem início um “duelo à morte”.O marquês de La Rouërie, que no mês de agosto de

1792 falhara em sublevar os departamentos da Bretanha e de Poitou para salvar o rei, morre de uma “febre cerebral” ao ficar sabendo da execução de Luís XVI. Papéis são apreendidos no castelo de La Guyomarais – Côtes-du-Nord –, onde o marquês se refugiara, e seus próximos são presos.

Com a morte de La Rouërie, não existe mais organização monarquista no Oeste ou no restante da França.

Mas o perigo está nas fronteiras.Mercy-Argenteau, antigo embaixador austríaco, escreve:

Não será uma ou diversas batalhas vencidas que reduzirão uma nação, que só poderá ser derrotada quando for extermi-nada uma grande parcela da parte ativa e a quase totalidade da parte dirigente. Pilhar os clubes, desarmar o povo, des-truir esta magnífica capital, lar de todos os crimes, de todos os horrores, provocar a fome e a miséria, eis as deploráveis premissas da tarefa a cumprir.

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E o diretor-geral dos Negócios Estrangeiros de Viena, o barão Von Thugut, acrescenta que é “essencial que existam partidos na França que se combatam e se enfraqueçam mu-tuamente”.

Eles de fato existem e dão livre curso a seu ódio recíproco.Maximilien Robespierre, em 5 de fevereiro, clama por

moderação:– Não percamos nunca de vista que somos o centro

das atenções de todos os povos, que deliberamos perante o universo. Devemos nos precaver inclusive das divergências do zelo mais sincero.

Mas ele mesmo, depois desse elogio à moderação, ataca com violência os girondinos. Estes, no jornal de Brissot, Le Patriote français, respondem, zombando do “Incorruptível”, que descrevem, em versos, chegando ao Paraíso:

Seguido de seus devotoscercado por sua corteO Deus dos sans-culottes,Robespierre, entrou.Denuncio todos vocês, gritou o pálido oradorJesus! São conspiradores:Devotam-se um incensoDevido apenas a mim mesmo.*

Maximilien não esquecerá essas feridas de amor-próprio, que se tornam mais vivas por agravarem as profundas di-vergências políticas que separam montanheses, girondinos e enragés.

Robespierre se opõe a Brissot, a Roland e a Buzot, advogado de Évreux eleito pelo Terceiro Estado que fora seu amigo nos tempos dos Estados-Gerais. Como 1789 parecia distante! Buzot caíra nos charmes de Manon Roland.* Suivi de ses dévots / De sa cour entouré / Le Dieu des sans-culottes / Robespierre est entré. / Je vous dénonce tous, cria l’orateur blême / Jésus! Ce sont des intrigants: / Ils se prodiguent un encens / Qui n’est dû qu’à moi-même. (N.T.)

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Durante o processo de Luís XVI, ele votara pela consulta ao povo e pelo adiamento da pena. Era inimigo declarado de Marat, exigindo sua expulsão da convenção:

– Marat, homem impuro. Em nossos departamentos, abençoarão o dia em que livrarmos a espécie humana de um homem que a desonra...

Os cidadãos que não se filiam a uma ou outra facção encaram com preocupação, e inclusive temor, aquela guerra que divide homens outrora unidos.

“Existem, agora, dois tipos de jacobinos e de patriotas, que se odeiam com tanta virulência quantos os monarquistas e jacobinos originais”, constata, amargo e desalentado, o livreiro Ruault, que é jacobino desde os primórdios do clube. “O último tipo de jacobinos são os chamados girondinos, ou brissotinos, ou rolandistas. Mas o ódio continua crescendo entre os dois partidos.”

Em Paris, explica Ruault, “a facção dos antigos jaco-binos parece a mais forte. Ela carrega consigo todo o povo miúdo, para não dizer o populacho, hoje palavra proscrita e impronunciável publicamente”.

Em cada seção, uma “reserva a soldo” – paga pela comu-na – de uma centena de homens, sempre os mesmos, faz a lei. São os “durões”, quatro ou cinco mil na capital. Mais de mil deles vão para as tribunas da convenção e interpõem-se aos discursos com ameaças, orientando os debates, influenciando os votos dos deputados.

Uma testemunha, o inglês Moore, espantado e assustado com a situação, conclui que a igualdade entre os departamentos não existe.

Pela pressão da revolta, Paris faz a lei na Convenção e em toda a França.

O “povo soberano” com frequência se reduz aos “mi-lhares de durões”, suspeitos de serem “dirigidos secretamente por um pequeno número de demagogos”.

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Danton denuncia “um bando de ignorantes sem senso co-mum, patriotas apenas quando embriagados. Marat não passa de um reclamão, Legendre só é bom retalhando suas carnes”.

Estes sans-culottes formam os comitês de vigilância, criados pelas seções, que fazem visitas domiciliares e inter-rogam os “suspeitos”. Quem não o é?

“É difícil, é perigoso, para um patriota, para um republi-cano de boa-fé com princípios sensatos e moderados, mostrar--se e inclusive falar em grupo”, escreve o livreiro Ruault.

Segundo ele, a morte do rei dividira os parisienses:

Se a condenamos na frente de pessoas que a aprovam, há gritos de fúria, raivas que levam a ódios entre amigos e pa-rentes, e vice-versa.A mesma desordem ocorre entre os patriotas: quem for um antigo jacobino não pode falar na frente de um girondino sem que a animosidade se manifeste de repente.

Ruault está convencido de que “semelhante estado social não pode durar muito tempo; um partido esmagará o outro e colocará os restantes em uníssono”.

Ele fica fascinado com a transformação daqueles homens que conhecera antes de serem arrebatados pela paixão política e pelo ódio.

O barão alemão Jean-Baptiste cloots, por exemplo, que, outrora doce, honesto, generoso, se fazia agora chamar de Anacharsis Cloots, inventara a palavra “setembrizar”.

Ele chamara os massacres de “escrutínio depurativo nas prisões”.

Deputado na convenção, ele se apresentava como o “Orador da espécie humana”. Era seguido por uma verda-deira corte de parasitas que vivem de sua imensa fortuna. “É preciso ouvi-lo e não contradizê-lo. Seria perder tempo tentar curá-lo de seu furor. Na Convenção, são centenas com a mesma força.”

Sobre estes deputados, Danton diz que “só sabem votar na base do senta-levanta, mas eles têm força e energia”.