revogaçao de medida protetiva
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EXMO (A). SR (A). DR (A). JUIZ (A) DE DIREITO DA COMARCA DE
ARAUÁ/SE - DISTRITO JUDICIÁRIO DE RIACHÃO DO DANTAS/SE.
Processo nº 201289200621
Ação Penal – Procedimento Ordinário
IZAIAS SANTOS VASCONCELOS, menor já devidamente qualificado nos autos
do processo em epigrafe, por sua advogada que a esta subscreve,( PROCURAÇÃO
EM ANEXO), vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência, expor e
requerer o que segue:
Tendo em vista a Vossa decisão de fls. 20/21, a qual decretou
a internação provisória do menor pelo prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, vem esta
subscritora requerer a reconsideração de tal mediada decretando a desinternação do
menor Izaias, com fundamento nos fatos abaixo:
1) DOS ANTECEDENTES DO MENOR
Como poderá ser avaliado por Vossa Excelência, nos
documentos ora anexados, o menor encontra-se regularmente matriculado em
instituição de ensino, junto à Escola Municipal Adília Alves de Andrade, cursando a
4º ano.
Desempenha o menor atividade extraescolares num pequeno
comércio da Cidade, o qual declara que o mesmo não tem nada que desabone sua
conduta, bem como tratar-se de uma criança exemplar.
Além disso, parte do corpo docente da escola onde o infante
estuda, declara que o menor Izaias possui conduta irreprovável na instituição de
ensino, tanto com os professores quanto com os demais alunos.
Seus familiares em atitude de desespero pelo ocorrido e
cientes da boa conduta e caráter do menor solicitou junto à amigos e conhecidos
assinatura da lista em anexo, no intuito de convencer esta Nobre Magistrada, que
sempre age com justiça e prudência, do bom relacionamento do menor com todos
aqueles que o conhecem, verificando-se inclusive que a inspetora e professora da
escola onde o mesmo estuda, também firmaram a sua assinatura, bem como os
colegas de classe e outras pessoas.
Assim sendo, como trata a internação provisória de medida de
exceção cabível em casos extremos, não há no presente fato, razão que a justifique,
uma vez que o mesmo é primário e apresenta ótimos antecedentes.
Ainda que se admita a existência de indícios de autoria e
materialidade, certo é que a internação provisória não pode se manter diante da
ausência do requisito da necessidade imperiosa da medida, o que realmente não se
verifica no presente caso.
Pelo que dispõem o ECA e a Constituição Federal, a medida
de internação, seja ela provisória ou definitiva, é regida pelo princípio da
excepcionalidade. Não deve, pois, ser decretada senão em situações extremas,
quando efetivamente a entrega do jovem a seus responsáveis, com altíssima
probabilidade poderá inviabilizar a instrução do feito ou a aplicação de eventual
medida, o que jamais poderá ocorrer no caso em análise, em decorrência do ótimo
antecedente social do menor. Nestes sentido, aliás, já se decidiu:
A internação, ainda que provisória, deve atender os requistos
previstos nos arts. 122/124 do ECA. O parágraro 2o. do do art. 122 determina
taxativamente que em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra
medida adequada.” (TJSP - AI 13.100 - 0 - rel. Marino Falcão)
Constatando universalmente o dano gerado pelo
encarceramento, ainda que não prolongado, no desenvolvimento psicológico do
adolescente ainda presumido inocente, a normativa internacional, através da
Convenção Internacional dos Direitos das Crianças (incorporada ao Direito interno
por Decreto Legislativo do Senado Federal) por meio das regras mínimas que a
regulamentou, assim prescreveu:
Regras mínimas das Nações Unidas para a administração da
Infância e da Juventude - Regras de Beijing:
art. 13.1 - Só se aplicará prisão preventiva como último
recurso e pelo menor prazo possível.
art. 13.2 - Sempre que possível, a prisão preventiva será
substituída por medidas alternativas, com a estrita
supervisão, custódia intensiva ou colocação junto a uma
família ou em lar ou instituição educacional.
Regras mínimas das Nações Unidas para a proteção dos
jovens privados de liberdade:
art. 17. - Na medida do possível, deverá ser evitada, e
limitada a circunstâncias excepcionais, a detenção antes da
celebração do julgamento.
Sob tal ótica, é evidente que, no caso concreto, não justifica a
segregação cautelar do adolescente Izaias Santos Vasconcelos
Saliente-se, em primeiro lugar, as circunstâncias da infração,
uma vez que, embora estivesse portando uma arma branca o menor de estatura
pequena não tinha nenhuma habilidade para manusear o objeto, não colocando em
nenhuma oportunidade em risco a integridade física da vítima, que por sua vez teve
sua parcela de culpa no ocorrido, sendo que correu atrás do infrator com uma faca,
além disso, o menor estava assustado e com medo e quis somente se defender.
Outro fato de relevantíssima importância é a primariedade.
Até hoje o jovem nunca se envolveu em qualquer transgressão (conforme
documento em anexo). Não revela, pois, “periculosidade”, que identifica na infração
seu meio de expressão típico. Trata-se, pelo contrário, de adolescente em fase de
amadurecimento, ainda por demais sensível às pressões de adultos inconsequentes e
que agiu - se assim o fez - por necessidade de se afirmar, por influência dos demais
adolescentes. A psicologia dos grupos, especialmente os de adolescentes, explica
facilmente a transgressão praticada, inserindo-a num contexto particular de pressão.
Trata-se, em tese, de infrator ocasional, que transgrediu por
força da ocasião peculiarísma. Não se deve cogitar, portanto, de existência de dano à
ordem pública em sua desinternação. A chance de tornar a infracionar, pois, pelo
que revela seu passado, é muito menos provável do que o contrário, já que contando
com quase 18 anos de idade, nunca se envolvera em nenhum delito.
Outrossim, a Ilustre Magistrada desta Comarca, tem
decidido brilhantemente pela liberdade provisória de réus adultos em
circunstâncias mais delicadas do que essa, conforme se vê na decisão em anexo,
onde concedeu a liberdade provisória a um réu que no uso de arma branca
assassinou a vítima, porém está em respondendo o processo em liberdade.
Além do mais, como tem se entendido, a custódia cautelar
decretada para salvaguarda da ordem pública tem caráter inconstitucional, uma vez
que supõe, contra a garantia sagrada da presunção de inocência, ter de fato o cidadão
processado contribuído para o ilícito que se apura.
De outro lado, a garantia de que o jovem não colocará
obstáculos à instrução do feito, ou ao cumprimento de eventual medida aplicada,
advém do fato de contar com família estruturada, residindo na companhia do pai e
irmãs. O responsável tem controle sobre o rapaz e assume total responsabilidade de
apresentá-lo em Juízo quando oportuno. O menor, aliás, não tem qualquer
autonomia, ou vivência independente, que sugira possibilidade de abandonar o lar e
o distrito da culpa. Vislumbra-se, ademais, forte possibilidade de, ao final,
reconhecida eventualmente sua responsabilidade, vir o jovem a ser agraciado com
medida em meio aberto, tornando desnecessária sua custódia com o fito de garantir a
aplicação da lei.
Ao que parece, pois, a internação provisória vem toda ela
amparada numa só circunstância: a suposta gravidade objetiva do ato infracional.
Todavia, na órbita da infância e juventude, a gravidade do ato infracional não
comanda a definição das medidas mais adequadas, é apenas pressuposto de
aplicação para algumas delas. Aqui, a ênfase é na pessoa do infrator, acerca da qual
pouco diz uma isolada a ação transgressora. Por tal motivo que a jurisprudência
melhor orientada assim vem decidindo:
“Por isto, de lembrar que a regra é o adolescente apreendido
em flagrante, ser entregue aos pais ou responsáveis (art. 174,
primeira parte), até porque um dos objetivos do Estatuto é o
de realçar a importância da família, fundamental para o
aprendizado do adolescente. A exceção é a decretação da
internação provisória. No caso sub judice só que se tem é a
gravidade do ato infracional e indícios de autoria e
materialidade, o que não basta, como vimos, para a
decretação da internação provisória” (A.I. 31.228-0/2 -
Câmara Especial do TJSP).
“Como medida de excepcional, de caráter provisória e
preventiva, exige-se, para sua decretação, criteriosa
fundamentação acerca de sua necessidade, tomando-se por
base indícios suficientes de autoria e materialidade do ato
infracional (art. 108, parágrafo único do ECA)” (A .I.
35.483.0/4 - Câmara Especial do TJSP).
“No caso sub judice só o que se tem é a gravidade do ato
infracional e indícios da autoria e materialidade, o que não
basta, por si, como vimos, para a decretação da internação
provisória. Importante ver que o agravado é primário, não
havendo notícias de outros atos infracionais por ele praticados
e documentos juntados confirma que ele estuda, está
trabalhando em ocupação lícita, não se trata de menor
desajustado e conta com apoio da família” (A . I 28.865-0/1 -
Câmara Especial do TJSP).
2) DA CONCLUSÃO
Por todos estes motivos a liberação do adolescente há de ser
concedida de imediato. A aparência do bom direito advém da falta de demonstração,
evidente, dos requisitos necessários à adoção da custódia. À míngua de elementos
que justifiquem a excepcionalidade da internação, há que se reconhecer o direito de
desinternação. Ademais, o perigo na demora é também inquestionável, pois o
prejuízo derivado de um dia de privação de liberdade, onde quer que seja, gera dano
moral irreparável.
Isto posto, requer a revogação da internação provisória do
menor Izaias Santos Vasconcelos, por se tratar de questão que venha a garantir o
bem estar do menor.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Pedrinhas/SE, 28 de maio de 2013.
Aparecida Freitas do Nascimento
OAB/SE nº 6245