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ESTADO DO MARANHÃO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL 16ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA MULHER "2013- Ano Internacional da Coperação pela Água" Av. Daniel de La Touche, nº 2800, Cohama, Sala 71, Cep: 65.061-022 São Luís/MA fone : (98) 3219-1924 email: [email protected] 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO Processo nº: XXX Ação: Medida Protetiva de Urgência Agravante: Ministério Público Estadual XXX Agravado: XXX O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por sua representante legal in fine assinada, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 522 e seguintes do Código de Processo Civil, interpor o presente AGRAVO DE INSTRUMENTO com pedido de TUTELA ANTECIPADA RECURSAL, em face da decisão do M.M Juízo de Direito da Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher da Comarca de São Luís-MA, que declinou da competência para o processamento e julgamento do feito na Medida Protetiva de Urgência nº XXX o que acarretou no inconformismo do Agravante pelos motivos de fato e de direito aduzidos na minuta anexa. Requer-se, portanto, o regular processamento do presente Agravo, que se encontra devidamente instruído com as cópias obrigatórias do feito originário: cópia do Requerimento de Medida Protetiva de Urgência, cópia do Termo de Declaração da vítima, cópia de Boletins de Ocorrências, cópia da decisão Agravada, cópia da Certidão da intimação da referida decisão, bem como outras peças julgadas necessárias. Termos em que, pede deferimento. São Luís, 03 de abril de 2013. SELMA REGINA SOUZA MARTINS 2ª Promotora de Justiça Especializada na Defesa da Mulher

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ESTADO DO MARANHÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL 16ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA

2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE DEFESA DA MULHER

"2013- Ano Internacional da Coperação pela Água"

Av. Daniel de La Touche, nº 2800, Cohama, Sala 71, Cep: 65.061-022

São Luís/MA – fone : (98) 3219-1924

email: [email protected] 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO MARANHÃO

Processo nº: XXX Ação: Medida Protetiva de Urgência Agravante: Ministério Público Estadual XXX Agravado: XXX

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por sua representante legal in fine

assinada, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 522 e

seguintes do Código de Processo Civil, interpor o presente AGRAVO DE INSTRUMENTO

com pedido de TUTELA ANTECIPADA RECURSAL, em face da decisão do M.M Juízo

de Direito da Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra Mulher da Comarca

de São Luís-MA, que declinou da competência para o processamento e julgamento do

feito na Medida Protetiva de Urgência nº XXX o que acarretou no inconformismo do

Agravante pelos motivos de fato e de direito aduzidos na minuta anexa.

Requer-se, portanto, o regular processamento do presente Agravo, que se

encontra devidamente instruído com as cópias obrigatórias do feito originário: cópia do

Requerimento de Medida Protetiva de Urgência, cópia do Termo de Declaração da

vítima, cópia de Boletins de Ocorrências, cópia da decisão Agravada, cópia da

Certidão da intimação da referida decisão, bem como outras peças julgadas

necessárias.

Termos em que,

pede deferimento.

São Luís, 03 de abril de 2013.

SELMA REGINA SOUZA MARTINS 2ª Promotora de Justiça

Especializada na Defesa da Mulher

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MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL 16ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESPECIALIZADA

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A G R A V O D E I N S T R U M E N T O

Agravante: Ministério Público Estadual

Agravado: XXX

Juízo “a quo”: Juízo da Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar Contra

Mulher da Comarca de São Luís-MA

Processo nº: XXX

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara,

Ínclitos Julgadores.

I- SÍNTESE DO PROCESSO

Trata-se de decisão interlocutória proferida nos autos da Ação nº XXX, em

que o MM. Juízo “a quo” da Vara de Violência Doméstica declinou da competência para

processamento e julgamento da Medida Protetiva de Urgência, requerida pela

Representante XXX em face de seu ex-companheiro XXX, por ter este no dia 28/01/2013,

chegado em casa sob efeitos de drogas e ameaçado a Representante e seus filhos

dizendo o seguinte: “se possuísse uma arma atiraria em todos eles, que nesse

mesmo dia a Representante saiu de casa juntamente com seus filhos.

Contudo, o Juiz “a quo” mesmo verificando configuração da violência

de gênero, prevista no art. 5º da Lei 11.340/06 entre o Representado e a

Representante declinou a competência para o processamento e julgamento do feito

por entender ser necessário a presença de persecução criminal para conceder as

Medidas Protetivas de Urgência.

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Para este Órgão Ministerial, a presente decisão não merece prosperar por

encontra-se totalmente dissociadas dos preceitos legais, jurisprudências e doutrinários,

além de inovar prejudicialmente no ordenamento jurídico brasileiro em estabelecer

requisito não previsto na Lei 11.340/06 para concessão de Medidas Protetivas de

Urgência para as vítimas de violência doméstica da Comarca de São Luís.

II DO DIREITO

a) DO CABIMENTO DO RECURSO

Desde a promulgação da chamada Lei Maria da Penha, pouco se debateu

acerca da natureza jurídica das Medidas Protetivas de Urgência por ela disponibilizadas.

Todavia, a doutrina majoritária trata a Medida Protetiva como medida

cautelar, atribuindo a algumas delas caráter cível e a outras de caráter penal.

Na hipótese, a Medida Protetiva impugnada é de nítida natureza cível,

portanto, a matéria deve ser analisada na seara cível, afastando-se a competência da

Turma Criminal.

Nesse sentido a jurisprudência:

PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO' DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA - A

MULHER.INDEFERIMENTO DAS MEDIDAS, PROTETIVAS DE

NATUREZA CÍVEL RECURSO PRÓPRIO. NÃO CONHECIMENTO. 1 As

medidas protetivas ' de natureza ' cível e o processo

criminal são absolutamente independentes e desafiam

deslinde específico, sendo que o indeferimento daquelas

desafia recurso próprio na esfera cível, mais

especificamente o de agravo de instrumento, tornando-

se inadmissível o manejo de apelação criminal. Afasta-

se da competência da Turma Criminal em favor da Turma

Cível. 2 Remessa dos autos à uma das Turmas, Cíveis,

competente para conhecer da matéria questionada.1

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AMEAÇA - INDEFERIMENTO DE MEDIDAS

PROTETIVAS - NATUREZA CÍVEL - INCOMPETÊNCIA DA TURMA

1 Processo n° 20070810005359APR, Relator GEORGE LOPES LEITE, 1a Turma Criminal,

julgado em 12/06/2008, Dl 09/07/2008.

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CRIMINAL. l. As cautelas relacionadas no art. 22,

incisos II e III, alíneas "a" e "b" da Lei 11.340/06

possuem natureza cível. O recurso interposto pelo

indeferimento das medidas refoge à competência da Turma

Criminal. II Recurso não conhecido. Determinada a

remessa a uma das Turmas Cíveis.2

RECLAMAÇÃO. VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

CONTRA A MULHER. INDEFERIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS

DE NATUREZA CÍVEL. RECURSO PRÓPRIO NÂO CONHECIMENTO. 1

AS MÉDICAS PROTETIVAS DE NATUREZA CÍVEL E O PROCESSO

CRIMINAL SÃO ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES E DESAFIAM

DESLINDE ESPECÍFICO, SENDO QUE O INDEFERIMENTO DAQUELAS

DESAFIA RECURSO PRÓPRIO NA ESFERA CÍVEL, MAIS

ESPECIFICAMENTE O DE AGRAVO DE INSTRUMENTO,TORNANDO-SE

INADMISSÍVEL O MANEJO DA RECLAMAÇÃO.3

Dessa forma, verifica-se também a tempestividade do recurso, pois o caso

em tela versa sobre decisão interlocutória, cabendo agravo de instrumento no prazo de 20

dias, conforme estabelece o art. 522 do CPC c/c art. 188 CPC, pois conforme se verá

adiante a decisão é suscetível de causar a vítima lesão grave e de difícil reparação, por

se tratar de Medida Protetiva de Urgência, possuindo caráter cautelar quer pela sua

própria natureza exige urgência na decisão.

b) DA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE

Assim, a despeito da falta de previsão legal acerca do recurso cabível, o que

certamente tem causado enorme dificuldade para as partes, é viável que a decisão que

impõe as Medidas Protetivas de Urgência definidas no art. 22, I, II e III, da Lei n.

11.340/06.

A míngua de deliberação do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo

Tribunal Federal divergem as cortes do recurso cabível e da turma competente para

apreciá-lo.

2 Processo n° 20090210046414APR; Relator SANDRA DE SANTIS, 1a Turma Criminal,

julgado em 05/07/2010, DJ 29/07/20lO p. 265.

3 Processo n° 20070020134033 DF, Relator GEORGE LOPES LEITE, Data de Julgamento

07/02/2008, 1ª Turma Criminal, Data de Publicação DJU-25/03/2008 p. 71

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A jurisprudência tem reconhecimento aplicação do principio da fungibilidade

dos recursos em razão das controversas pertinente ao tema. Assim, vejamos:

PROCESSUAL - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - RECURSO

INTERPOSTO CONTRA DECISÃO PROFERIDA POR JUIZ CRIMINAL

COM FUNDAMENTO NA LEI MARIA DA PENHA - COMPETÊNCIA DA

TURMA CRIMINAL.1. O julgamento de recurso interposto

contra decisão proferida em processo de medida cautelar

submetida à jurisdição de Juizado Especial Criminal e

de Violência Doméstica Familiar contra a Mulher,

consubstanciada em medidas protetivas, é da competência

de Turma Criminal. 2. Conflito julgado procedente,

declarando-se competente a 2ª Turma Criminal. Unânime4.

(Grifo nosso)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AMEAÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

PRELIMINAR: APELO INTERPOSTO COM APOIO NAS REGRAS DO

PROCESSO CIVIL. ADMISSIBILIDADE, EM FACE DE ERRO

JUSTIFICÁVEL CAUSADO PELO PRÓPRIO SENTENCIANTE. MÉRITO:

CONCESSÃO DE MEDIDA PROTETIVA DE AFASTAMENTO DO LAR

CONJUGAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. PRINCÍPIOS DO

CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. NÃO OBSERVÂNCIA.

NULIDADE. 1.Apesar da natureza penal da decisão

resistida, o recurso de apelo, interposto de acordo com

as regras processuais civis, não pode ser considerado

intempestivo se o próprio julgador que proferiu a

sentença resolveu o feito com base no art. 269, inciso

I, do Código de Processo Civil, levando o apelante,

portanto, a erro justificável (...) 3. Apelo conhecido

e provido5. (Grifo nosso)

c) DA COMPETÊNCIA DA VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

O MM. Juízo “a quo”, não agiu corretamente ao declinar a competência para

o processamento e julgamento do feito.

Deve-se ressaltar, alguns equívocos praticados pelo o Magistrado,

primeiramente porque, mesmo reconhecendo a configuração de violência de gênero na

4 Proc. 20080020137058CCP, Relator ESTEVAM MAIA, Conselho Especial, julgado em

11/11/2008, DJ 28/01/2009 p. 47.

5 Proc. 20060111217028APR, Relator ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS, 2ª Turma Criminal,

julgado em 02/04/2009, DJ 24/06/2009 p. 247.

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decisão em apreço condicionou a concessão das Medidas Protetivas de Urgência a

necessidade da existência de persecução criminal requerida pela Representante em

desfavor do Representado. Assim, vejamos:

“...Contudo, não obstante a configuração de violência

de gênero, é perceptível a ausência da competência

processual desta Vara Especializada para tratar do caso

em tela pela ausência de persecução criminal. Como se

depreende nos autos, não há, em nenhuma das

manifestações da Requerente, qualquer contundente

afirmação de persecução criminal6.

Acerca do processo judicial, em relação às Medidas Protetivas de

Urgência, ensina Maria Berenice Dias, o seguinte:

“Medida protetiva de urgência:

[...]

Ao receber o expediente o juiz precisa entender que o pedido

de providências foi levado a efeito pela autoridade policial.

Assim, não há como exigir que estejam atendidos todos os

requisitos quer de uma petição inicial, quer de um inquérito

policial ou de uma denúncia. Às claras que haverá ausência de

peças, falta de informações e de documentos, mas isso não é

motivo para indeferir o pedido ou arquivá-lo. Cabe-lhe

determinar as provas necessárias (art. 130 do CPC). Não se

está diante de processo crime e o Código de Processo Civil

tem aplicação subsidiária (art. 13). Ainda que o pedido tenha

sido formulado perante a autoridade policial, devem ser

minimamente atendidos os pressupostos das medidas cautelares

do processo civil, ou seja, podem ser deferidas inaudita

altera pars ou após audiência de justificação e não

prescindem da prova do fumus boni juris e periculum in

mora”7.(grifamos)

6 Processo nº 369-72.2013.8.10.0005, Vara Especializada de Violência Doméstica e

Familiar Contra a Mulher da Comarca de São Luis, Decisão que declina a competência de

Medida Protetiva e Urgência. 7 A Lei Maria da Penha na justiça. 2. tir. São Paulo: RT, 2008. pp. 140-144.

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Além, disso a jurisprudência reconhece a desnecessidade do Inquérito

Policial ou da necessidade de provas testemunhais para o requerimento das Medidas

Protetivas de Urgência prevista na Lei 11.340/2006. Assim, vejamos:

PENAL. LEI MARIA DA PENHA. APELAÇÃO CRIMINAL. AÇÃO DE

MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA. PEDIDO PARA PROIBIÇÃO DO

AGRESSOR DE APROXIMAÇÃO DA VÍTIMA E SEUS FAMILIARES

(ART. 22, III, A, DA LEI 11.340/2006). EXTINÇÃO DO

PROCESSO. FALTA DE ELEMENTOS PARA DECIDIR. RECURSO DA

OFENDIDA. PEDIDO DE REMESSA PARA A AUTORIDADE POLICIAL,

A FIM DE QUE PROCEDA À DEVIDA INSTRUÇÃO.

DESNECESSIDADE. OBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO PREVISTO NO

ART. 12 DA LEI 11.340/2006. PLEITO DE REABERTURA DO

PROCESSO. VIABILIDADE. EXTINÇÃO PREMATURA DA AÇÃO. CABE

AO MAGISTRADO DETERMINAR A PRODUÇÃO DAS PROVAS

NECESSÁRIAS (ART. 13 DO CPP E ART. 130 DO CPC).

SENTENÇA REFORMADA.

- Não cabe extinguir o procedimento de aplicação de

medida protetiva em razão de estar acompanhado apenas

com as declarações da vítima, uma vez que o magistrado

deverá realizar audiência de justificação para colher

maiores elementos de cognição.

- O pedido de medidas protetivas de urgência não vem

instruído como um inquérito policial, sendo

desnecessária a oitiva de testemunhas ou do agressor.

- Parecer da PGJ pelo provimento do recurso para

determinar o regular prosseguimento da ação, com

remessa dos autos à autoridade policial.8

- Recurso conhecido e parcialmente provido, apenas para

8 Apelação Criminal n. 2009.007861-5, de Jaraguá do Sul Relator: Des. Substituto

Carlos Alberto Civinski.

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determinar o regular prosseguimento da ação.(grifo

nosso).

Ademais, afirmou o Juiz “a quo” que a Vara Especial de Violência Doméstica

e Familiar Contra Mulher da Comarca de São Luís/MA é uma Vara Criminal e somente

com a instauração de Inquérito Policial seria possível a concessão de Medidas Protetivas

Vejamos:

“Desta feita, em não havendo a representação criminal,

verifica-se prejudicada a natureza da medida protetiva

uma vez que sequer há possibilidade futura de o

processo-crime instaurado. Assim como, esta Vara

Especializada é, indubitavelmente, uma Vara Criminal e

deste espectro não poderá se afastar sob pena de

invadir competência alheia. Desse modo, de natureza

acautelatória híbrida, passariam as medidas protetivas

a assumir natureza exclusivamente cível, o que retira a

competência jurisdicional desta Vara Especializada...”

O Código de Divisão e Organização Judiciária do Maranhão, Lei

Complementar nº 14, de 17 de dezembro de 1991 estabelece em art. 9º o seguinte:

art. 9. Os serviços Judiciários da Comarca de São Luís

serão distribuídos da seguinte forma:

(…)

LVIII- Vara Especial de Violência Doméstica e Familiar

Contra a Mulher, com a competência prevista no art. 14

combinado com art. 5º, ambos da Lei nº 11.340, de 7 de

agosto de 2006, salvo o processamento e julgamento dos

crimes de competência do Tribunal do Júri;

Nesse passo, estabelece o art. 14 da Lei 11.340/2006, que os Juizados de

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Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher possui competência cível e criminal.

Vejamos:

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar

contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com

competência cível e criminal, poderão ser criados pela

União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos

Estados, para o processo, o julgamento e a execução das

causas decorrentes da prática de violência doméstica e

familiar contra a mulher. (grifo nosso)

Assim, em que pese à decisão do Juiz “a quo”, que a Vara Especial de

Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de São Luís/Ma é

indubitavelmente, uma Vara Criminal, resta claramente demonstrado outro equívoco do

Magistrado, pois se o Código de Divisão e Organização Judiciária do Maranhão prever a

competência baseado no art. 14 da Lei 11.340/06, então a Vara Especializada possui

competência tanto cível como criminal.

No pertinente a Jurisprudência juntada na decisão do Juiz “a quo” do

Tribunal de Justiça do Estado do Piauí9, Conflito Negativo de Competência ajuizado pelo

Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em face do declínio de

competência efetivada pelo Juiz de Direito da 4ª Vara de Família e Sucessões da

Comarca de Teresina, resta esclarecer que o entendimento daquela Corte é no sentido de

que no caso concreto versa sobre Medida Protetiva Cautelar de Busca e Apreensão,

preparatória de Ação de Interdição, de pessoa incapaz, ação esta tipicamente cível e não

decorrente de violência doméstica ou familiar contra a mulher, por isso que a competência

é da Vara da Família e não do Juizado de Violência doméstica.

Outro ponto importante é o requerimento da Medida Protetiva de Urgência

solicitado pela Representante na Delegacia de Polícia foi com base totalmente na Lei

11.340/2006, ou seja, a proibição de aproximação da ofendida, de seus familiares e das 9 Proc. nº CC 201200010002813 PI, Relator: Des. Raimundo Eufrásio Alves Filho,

Julgamento: 10/01/2013, Órgão Julgador: Tribunal Pleno.

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testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre a Representante e o agressor,

contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de

comunicação, a freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade

física e psicológica da ofendida e a prestação de alimentos provisionais ou provisórios,

conforme previsão do art. 22, III, alínea “a”, “b” e “c”, IV e V da Lei 11.340/06.

Dessa forma, colhe-se dos elementos de convicção até aqui coligidos a

existência de nexo de causalidade entre a conduta do Representado em tese criminosa e

a vulnerabilidade da vítima, mulher, e conforme já identificado pelo Magistrado “a quo” a

configuração de violência de gênero encontra-se presente no caso em exame, bem como

o fumus boni iuris e periculum in mora, deverá então o Tribunal de Justiça do Maranhão

reformar a decisão interlocutória prolatada pelo Juiz “a quo”. Nesse sentido, tem decidido

os Tribunais Brasileiros. Assim, vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - LEI MARIA DA PENHA - DECISAO

QUE INDEFERE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA - MEDIDAS

DE CUNHO CAUTELAR - PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E

PERICULUM IN MORA - AFASTAMENTO DO LAR CONJUGAL E

PROIBIÇAO DE APROXIMAÇAO DA OFENDIDA E SEUS FAMILIARES

- SANÇÕES CÍVEIS - NECESSIDADE DE APLICAÇAO DESSAS

MEDIDAS PROTETIVAS - ARTIGO 22, INCISOS II E III,

ALINEA A, DA LEI Nº 11.340/06 - DECISAO INTERLOCUTÓRIA

REFORMADA - RECURSO PROVIDO.LEI MARIA DA PENHA11.34010

d) DA ANTECIPAÇÃO DA PRETENSÃO RECURSAL

O artigo 527, inciso III, do Código de Processo Civil confere ao Relator do

recurso a possibilidade de deferir, em antecipação, total ou parcialmente, a pretensão

recursal.

Cássio Scarpinella Bueno ensina que:

“[...] Assim, por exemplo, quando o autor pede a tutela

10 Processo nº 11915 MS 2012.011915-5, Relator: Des. Paulo Alfeu Puccinelli, Data de Julgamento: 19/06/2012, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: 25/06/2012

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antecipada e o juiz de primeiro grau de jurisdição nega

a ele, autor, tem de agravar de instrumento. Quando a

situação é de urgência, é possível que esse agravo de

instrumento antecipe os efeitos de seu provimento, é

dizer, antecipe a tutela do próprio recurso (do mérito

do recurso), que, por definição, coincide com o pedido

negado em primeiro grau de jurisdição.”.11 (Destacou-

se).

Assim, verifica-se que no caso em apreço encontra-se demonstrado a

existência dos pressupostos gravados no art. 273 do Código de Processo Civil; quias

sejam, a relevante fundamentação da verossimilhança das alegações e o justificado

receio de lesão grave ou de difícil reparação.

Neste passo, denota-se pela declaração da vítima nos autos da Medida

Protetiva de Urgência que existem fortes indícios da prática de ofensas contra a

representante, a se recomendar, com urgência, o deferimento das Medidas Protetivas

elencadas na Lei 11.340/2006 para que seja imediatamente contida as violências

doméstica sofrida pela representante, sob pena da ocorrência de outras ações maior

gravidade.

Além dos requisitos da antecipação da pretensão recursal, encontra-se

comprovadamente presentes os pressupostos indispensáveis para a concessão da

Medida Protetiva de Urgência, quais sejam, periculum in mora e fumus boni juris.

A não concessão do efeito pretendido, nos termos do artigo 527, III,

do Código de Processo Civil, acarretará em uma longa batalha judicial, sendo que a

mesma pode ser, de pronto julgada com resolução de mérito nos termos do artigo

269, IV, daquele diploma legal. As custas, despesas processuais e demais encargos

podem ser evitados no caso em apreço, respeitando, pois, o princípio da celeridade.

Nesse sentido tem se manifestado o Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão na

concessão da tutela antecipada nos agravos promovidos por esta Promotoria de

11 In: Tutela Antecipada. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 93

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Justiça Especializada12.

Assim, de acordo com o receio de grave lesão processual, bem como sua

difícil reparação, nos termos do artigo 558, do Código de Processo Civil, necessária é a

concessão do efeito suspensivo ao presente agravo para o fim de suspender até a

decisão a ser aqui proferida, oficiando-se, portanto, o Meritíssimo Juiz “a quo”.

Dessa forma, caso Vossa Excelência entender cabível poderá decretar

desde logo a proibição de aproximação da ofendida com o limite máximo de 200 m a

ser respeitado pelo representado, proibição de contato com a ofendida, seus

familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação.

III- DO PEDIDO

Diante do exposto, e mais pelas razões que este Egrégio Tribunal saberá

lançar sobre o tema, pugna este Órgão Ministerial pelo conhecimento e provimento do

presente recurso, para que seja julgado, no mérito, a antecipação da pretensão recursal,

bem como determinado à competência da Vara de Violência Doméstica para

julgamento do feito nos termos expostos.

São Luís, 03 de abril de 2013.

SELMA REGINA SOUZA MARTINS 2ª Promotora de Justiça

Especializada na Defesa da Mulher

12 Tribunal de Justiça do Maranhão, Agravo de instrumento nº 00007114-

20.2012.8.10.0000, Quarta Câmara Cível, Relator: Anildes de Jesus Bernardes Chaves Cruz,

DJE: 15.03.2013, Publicado em 18.032013. Ed. 51.