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   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   R   i  c  a  r   d  o   A  n   t  u  n  e  s

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Caminhos do Futuro...

curioso como às vezes certas coincidências acontecem. Nesta edição daIlustrar tivemos em 3 seções diferentes convidados falando mais ou menos sobreo mesmo tema: o desenvolvimento da profissão e os caminhos que levam ao futuro.Sinal de que é uma preocupação comum a todos.

Um dos destaques desta edição é a coluna do Alarcão, que fala sobre os projetospessoais e o início de uma revolução pessoal. Não satisfeito, saiu em busca de mais10 grandes ilustradores para colher depoimentos, e o resultado é altamente inspirador.

Na coluna internacional, Brad Holland fala sobre as mudanças que têm acontecidona ilustração ao longo dos tempos, dando o exemplo de algumas publicaçõesamericanas e seus altos e baixos, traçando um paralelo desde Norman Rockwell aosdias de hoje.

Na seção Internacional, uma das estrelas americanas da ilustração, Bart Forbes,comenta em uma de suas respostas sobre a diferença que é ser ilustrador hoje emdia e o preparo necessário para ser bem-sucedido.

Além disso, temos a seção Portfolio, com o jovem Tiago Hoisel, que faz parte danova geração de ilustradores surgindo no mercado; no Sketchbook temos de voltaMontalvo Machado, e ninguém melhor que ele para falar sobre sketches, já que éo organizador do SketchCrawl Brasil.

No Passo a Passo, Spacca mostra como foi o desenvolvimento do seu novo livro,Jubiabá, com ilustrações e esboços; e na seção 15 Perguntas, o ilustrador e artistagráfico Lula Palomanes, com imagens que são uma viagem visual.

Espero que gostem. :o)

Dia 1 de Janeiro tem mais...

É

• EDITORIAL ..........................................................................2

• PORTFOLIO: Tiago Hoisel .......................................................3

• COLUNA INTERNACIONAL: Brad Holland ..........................10

• INTERNACIONAL: Bart Forbes .............................................12

• SKETCHBOOK: Montalvo Machado .........................................20

• STEP BY STEP: Spacca ......................................................25

• COLUNA NACIONAL: Renato Alarcão ...................................32

• 15 PERGUNTAS PARA:  Lula Palomanes ..............................39

• CURTAS ............................................................................... 46

• LINKS DE IMPORTÂNCIA .............................................. 47

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  e  v   i  s   t  a   I   l  u  s   t  r  a  r

DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ARTE-FINAL: Ricardo Antunes

  [email protected]

DIREÇÃO DE ARTE: Neno Dutra - [email protected] Antunes - [email protected]

REDAÇÃO: Ricardo Antunes - [email protected]

REVISÃO:

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Tiago Hoisel - http://hoisel.zip.net

PUBLICIDADE: [email protected]

DIREITOS DE REPRODUÇÃO: Esta revista pode ser copiada, impressa, publicada,postada, distribuída e divulgada livremente, desde que seja na íntegra, gratuitamente,sem qualquer alteração, edição, revisão ou cortes, juntamente com os créditosaos autores e co-autores.Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos ilustradores de cada seção.

Helena Jansen - [email protected]

Angelo Shuman (Divulgação) - [email protected] Montalvo Machado (Brad Holland) - [email protected]

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F O R M A Ç Ã O

Sou de uma família grande onde tem muitagente ligada às artes, como escritores,arquitetos, artistas plásticos, publicitários...

Acredito que o incentivo que tive e tenho detodos da família foi fundamental na minhaformação profissional.

Comecei a desenhar ainda muito pequeno,copiando os desenhos do meu irmão maisvelho, Daniel.

Ele foi muito importante na minha carreira,pois quando precisei escolher que curso fazer,

sabia que queria trabalhar com desenho,mas não sabia o que escolher.

Pensava em fazer Artes Plásticas ouPublicidade, mas acabei optando pelo mesmocurso do meu irmão, que estudava DesenhoIndustrial. Me formei em setembro de 2007pela Universidade do Estado da Bahia - Uneb.

Hoje trabalho como ilustrador e meu irmão,que também concluiu o curso de DesenhoIndustrial, iniciou uma nova graduação emCiências da Computação e trabalha comoprogramador... coisas da vida.

TIAGO

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azendo parteda nova geração de ilustradoresbrasileiros, o jovem Tiago Hoisel

vem se destacando muito no mercadoeditorial, trabalhando para muitasrevistas nacionais.

Curiosamente o seu começo decarreira aconteceu de forma

despretenciosa, fazendo apenastrabalhos pessoais sem objetivocomercial, mas que acabou chamandoa atenção do mercado, devido à suaqualidade, humor e rigor nos detalhes.

Nacido em Salvador (Bahia), criadoem Ilhéus e morando em São Paulo,Tiago Hoisel teve como um de seusmaiores inspiradores o cartunistaIque, de quem copiava seus desenhosquando era criança.

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C A R I C A T U R AE C A R T O O N

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Eu nasci em Salvador, mas me criei emIlhéus, uma cidade pequena no sul daBahia. Cresci brincando na rua. Jogavabola, catava caranguejo no mangue, tinhacriação de peixe e de guaiamum (umaespécie de caranguejo azul).

Gostava de desenhar, mas esse eraum lazer secundário. Fazia apenas alguns

rabiscos, principalmente na escola,durante algumas "poucas" aulas menosentusiasmantes.

No fim do ano de 1998 isso mudou, foiquando conheci o trabalho do Ique, quena época fazia charges para a revista Veja.

Me encantei com suas caricaturas, comeceia colecionar suas charges, a copiá-lo efazer as minhas primeiras caricas.

A partir daí passei a desenhar quase todos

os dias - considero esse momento o começode minha carreira.

P R E F E R Ê N C I A S

Sou apaixonado por humor.

Além das caricaturas, gosto muito depintar animais e humanizá-los, criandosituações engraçadas.

Curto criar imagens que contem umahistória divertida, que sugiram umacontecimento além do que estádesenhado.

Muitas vezes estou trabalhando em algumprojeto e largo para fazer um estudo deuma ideia que me surgiu de repente nacabeça.

A maioria das minhas ilustrações pessoaiscomeçou com algum estudo de personagemque estava fazendo e no meio da pinturaacabou surgindo uma cena e um contextodivertido.

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2 D X 3 D

Considero o 2D e o 3D técnicas muitodiferentes, porém ambas podem serbastante expressivas.

Costumo pesquisar trabalhos de outrosartistas na internet e tenho visto coisasfantásticas desenvolvidas com pinturadigital e com softwares 3D, além de outrastécnicas.

Porém estou cada vez mais definindo minhapreferência em trabalhar com a pintura,pois acho que para conseguir um resultadocompleto num software 3D é necessáriomaior conhecimento técnico, mais estudodo programa, o que torna a ferramentamais burocrática, pra mim.

É preciso saber modelar, texturizar,

T É C N I C A

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Vejo muita gente que está começando,preocupada demais em aprender ossoftwares, fazendo cursos, vendo tutoriaise, apesar de aprender muitas ferramentas,não consegue desenvolver um bomtrabalho.

Acho importante buscar aprender asferramentas, porém é fundamental o

desenvolvimento de uma consciênciaartística maior, pois é isso que vai direcionare diferenciar o trabalho. Acho importantefalar isso porque vejo alguns ilustradoresiniciantes pecando nesse sentido.

O Photoshop e o Painter, entre outrosprogramas, são ferramentas sensacionais,com um potencial imenso para sedesenvolver um bom trabalho, mas achoque têm sido uma armadilha para umaparte da nova geração que, em busca deresultados imediatos, se utiliza de algumasferramentas como o "conta-gotas" paracapturar os tons na fotografia e acabapulando etapas no estudo do desenho e

da pintura e fica limitado tecnicamente,refém da fotografia e com um trabalhosem identidade.

Quanto à minha técnica, não tenho ummétodo fechado para criação dasilustrações. Mas geralmente utilizo oPhotoshop e apenas um brush para fazerquase toda a cena. Não costumo fazer osdesenhos muito elaborados; começo pelaslinhas, somente para marcar a diagramaçãoda cena e a base do design dospersonagens e dos elementos.

Depois faço marcação da luz e por fim afinalização, definindo realmente as formase os detalhes. Por muito tempo queria quemeu trabalho fosse exclusivamente depintura, por isso utilizava do Photoshopsomente os pincéis.

Hoje, principalmente nos trabalho parapublicidade, onde se tem pouco tempo euma exigência muito grande de qualidade,utilizo algumas texturas de fotografias paraenriquecer as imagens. Venho focando omeu estudo no comportamento da luz.

Através desse conhecimento tenho

conseguido reproduzir volumes e sensaçõestridimensionais nas minha pinturas - o queleva algumas pessoas a pensar que trabalhocom 3D.

iluminar, renderizar... é muita coisa, poucosprofissionais dominam todas as etapas.

Entretanto é bom saber que o 2D e o 3Dsão geralmente técnicas complementares.Penso que o mais importante não é atécnica e sim o resultado.

Hoje muitos pintores utilizam o 3D para

criar as perspectivas básicas de suaspinturas e quase tudo que é feito no 3Dcomeça com um desenho e termina comum retoque e uma manipulação de imagemdepois.

Por isso acho que o mais importante ésaber o que você quer, que resultado queratingir - e utilizar a ferramenta que lheconvier para isso.

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D I V U L G A Ç Ã ON A N E T

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Sem dúvida a internet facilita demais avida dos ilustradores.

Através dela estou em contato compraticamente tudo que se faz de arte nomundo e o mundo pode ter acesso a tudoque faço.

Recebo alguns e-mails de ilustradores mequestionando sobre quais lugares eurecomendo para eles enviarem o portfólio,como proceder - e na verdade nem sei oque indicar.

Para mim as coisas aconteceramnaturalmente, nunca mandei meu portfóliopara nenhuma empresa ou agência.

Seguindo o exemplo do Eduardo Baptistão- um dos meus grandes ídolos e referência

que sempre me incentivou - criei um bloge fui postando os meus trabalhos.

Como eu fui aprimorando meu trabalhode realismo e humor, que são linguagensmuito populares, o blog foi se divulgandosozinho e as coisas foram aparecendo.

Hoje tenho participado também de fórunsde ilustração e posto meu trabalho numagaleria internacional para artistas digitais,de onde tenho tido muito retorno,principalmente de fora do país.

Portanto acho que o mais importante éproduzir sem preocupação imediata como retorno que vai ter, porque se você estáfazendo o que gosta o trabalho vaiganhando identidade e o retorno vemnaturalmente.

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T R A B A L H O SC O M E R C I A I SE P E S S O A I S

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Sei que para um ilustrador é um privilégioter o seu trabalho profissional muitopróximo do pessoal.

Acredito que isso acontece quando seconsegue um certo nível de identidadee de maturidade nos trabalhos.

Sinto que isso tem acontecido comigoà medida que sou procurado para fazertrabalhos onde buscam meu estilo e ouçocoisas do tipo: "estamos com um trabalhoque é a sua cara!" ou - "esse projeto foifeito para você!".

Entretanto, trabalhar com publicidade ébastante difícil e apesar de muitas peças"saírem com a minha cara", por força doapelo visual, são trabalhos que quasesempre têm um direcionamento criativoe que, algumas vezes, não tenho muita

P R O J E T O SN O F U T U R O

Não tenho planos nem metas muito certaspara o futuro.

Sei que quero continuar estudando pinturapara me aprimorar cada vez mais. Tenhoainda o sonho de trabalhar com animação,

liberdade para criar em cima ou tenho queseguir decisões que não acredito que sejamas melhores e isso pode ser bastantefrustrante.

Portanto, tenho que saber que trabalho étrabalho, e que nem sempre vou conseguirme agradar plenamente. Além disso acho

que sou muito novo e que estou apenascomeçando minha vida de ilustrador.

Nesses primeiros anos já pude percebergrandes transformações no meu trabalhoe acredito que seja apenas o começo, poissei que ainda tenho muito para aprender.

Porém se meu gosto mudar tanto a pontode o mercado atual, pelo qual sou procurado,não se interessar mais pelo que faço, esperoque ele se enquadre em um outro mercadoe que eu continue me realizando!

desenvolvendo concepts de personagens,pois é algo que sempre me motivou.

Quando vou ao cinema para ver animaçõessempre penso: Put@#$ merd@#@, queriater feito isso!!! Um dia eu chego lá!

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Nos anos 50, a televisão atingiu a América comoum cometa, e conforme o inverno eletrônico seinstalou, as instituições culturais começaram atombar como dinossauros. Uma das primeirasa cair fora foi a revista de circulação em massa.

Nas duas décadas seguintes, a grande famíliadas glossies (revistas impressas em papelacetinado, brilhante), que uma vez já tinhamsido a preferência em entretenimento no lar,emborcaram, como a Collier's, ou começarama sofrer mutações - como a Saturday EveningPost. Como as outras revistas tentavam semanter atualizadas, a Post enxugou seus títulos,sofisticou seu visual, e buscou novas pautas.

Quando tudo isso falhou, eles descartaram atémesmo o seu "Mahatma", Norman Rockwell,mas o sacrifício não os levou a nada. Enquantoos nostálgicos anos 60 se espalhavam atravésda América, tudo mudava. E quanto mais aPost, com seus antigos valores familiares,tentava ser moderninha, mais ela se pareciacom uma tiazona de meia-idade, usando botascomo uma go-go dancer, rebolando por unstrocados no cabaré.

Em algum momento perto do fim da década,um novo comprador chegou para o resgate,encolheu o Post, reviveu seu aspecto old look e reposicionou a revista para o mercado vintage,de nostalgia. Eles promoveram uma ação caça-talentos em escala nacional à procura de um

"novo Norman Rockwell". Isto rendeu muitapublicidade, até que finalmente ensacaram um jovem wannabe de Rockwell, um menino docentro-oeste que foi levado às pressas paraNova Iorque, direto para os shows da manhã,

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Brad Holland

Estados unidos

[email protected]

www.bradholland.com

onde tentaram vender a ideia que esta seria asegunda chegada do Artista Favorito da América.Mas fora algumas publicações pulverizadas pelaimprensa, a tal reencarnação falhou. Eram osanos de Alice Cooper e Iggy Stooge, e a Américanão se parecia mais com as pinturas de NormanRockwell, e mesmo que ainda houvesse algumpúblico para ver caipiras sardentos enrolando

bandagens em seus cãezinhos, eles nãoestariam lendo o novo, ultrapassado SaturdayEvening Post. Eles estavam assistindo as reprisesde Andy Griffith na TV.

As publicações que substituíram estas revistasfamiliares eram tão estreitamente pontuais emseus nichos de mercado, que elas teriam soadocomo piada para os ilustradores das antigas.Eram revistas para amantes dos gatos, médicosde cachorros, caçadores de borboletas emergulhadores. Havia revistas para o "estilode vida cidade grande", que ofereciam dicaspara a nova classe média urbana (agoraigualmente preocupada em estar na moda) esobre como ficar em dia com as tendências.

Mas ao mesmo tempo que as revistas encolhiam,os ilustradores-celebridade que um dia tinhamsido estrelas começaram a desaparecer. Rockwelle onze outros Saurópodes Jurássicos tentaramdar um último gás em suas reputaçõesinaugurando a Famous Artists School. Este eraum curso de Arte a distância, pelo correio, queoferecia ensinar em dois anos a desenhar seucaminho "da pobreza à riqueza". Semana apóssemana, em anúncios elegantes, estes "DozeIlustradores Famosos" prometiam passar aosnovatos a lucrativa arte da ilustração. Mascertamente os velhos veteranos sabiam queseus estudantes postais jamais teriam a chance

de ver o público massivo que eles mesmostiveram um dia, e quando eles chegaram aosseus Anos Dourados, a própria Era Douradada Ilustração se aposentou na Flórida, juntocom eles.

Aqueles de nós que entraram no ramo depoisdisso sabiam que o glamour da ilustração havia

passado, mas ainda assim nos afetou de formadiferente.

Foi mais difícil para os wannabes de Rockwell.Eles viraram zumbis, e sem impulso em seuspassos, rastejavam por um latifúndio deserto.Eles trabalhavam por menos dinheiro, em prazosmais curtos, para clientes com um raio deatenção igual ao de ratos em um labirinto. Maseles sabiam que jamais teriam o temponecessário para o meticuloso método deRockwell: o lento avanço de um sketch emcarvão até o acabamento em tinta a óleo,as elaboradas sessões de fotos e oelaborado processo de retraçar asfotos que Rockwell usava para obterseu conhecido realismo. Eles sabiam

que nunca teriam a chance de

pintar a vovó fazendo a sua oração numrestaurante à beira da estrada, ou uma famíliafeliz brindando, com um peru na mesa, no Diade Ação de Graças. Eles também sabiam quenão veriam mais as quantias pagas à Rockwell,nem anunciariam aparelhos de TV nasglamurosas revistas de papel couché brilhante.Eles nunca poderiam calçar os sapatos to T-Rex, jamais seriam a prata da casa.

Mas alguns de nós aceitamos o desafio destasmudanças, e vimos a oportunidade em ummercado degradado. No passado os artistas se

tornaram ilustradores porque os editoresprecisavam de imagens para ilustrar suasestórias. Depois, à medida que o segmento sefragmentava e as editoras buscavam novasmaneiras de atrair seus leitores, certosilustradores deduziram que aquelas imagensnão tinham sido forjadas à ferro e fogo nosmoldes rígidos dos contos. Era possível fazeralgo mais com aquele espaço.

Para alguns, a mudança foi de estilos. Os artistasda Pushpin (escritório de design fundado em1954 por Milton Glaser, Seymour Schwast,Reynold Ruffins e Edward Sorel), por exemplo,viram na ilustração uma extensão do designgráfico. Eles revitalizaram o visual das revistascom gráficos arrebatadores e adaptaçõesimpressionantes de vários estilos. Mas paramim, pessoalmente, o desafio era de virar ailustração pelo avesso. Eu tentei encontrar emcada trabalho um espaço onde eu pudessependurar uma pintura com meu estilo. Euresolvia cada job como se eu tivesse recebidoo mesmo briefing que o escritor, só que solicitadoa entregar um comentário em imagens, aoinvés de palavras.

O resultado era um casamento de texto eimagens que frequentemente oferecia maiorinteresse, porque o artista estava livre paraseguir sua própria inspiração, ao invés deredundar o trabalho do escritor. Mas sentir que

© Brad Holland 2009

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Artistas Populares noInverno Eletrônico

por Brad Holland

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esta era a direção que eu queria seguir eramuito diferente de ter uma revista disposta afazer o mesmo. Então o truque era achar lugaresonde eu pudesse experimentar. Isto me levouaté a contra-cultura do rock and roll.

A imprensa hippie do início dos anos 70 era olugar ideal para tentar vender tudo que asrevistas convencionais nunca teriam tolerado.Em jornais como Rat e The New York Ace, ospadrões eram capengas, os prazos eram curtose os valores eram uma piada. No East Village

Other - equivalente ao New York Times doshippies - os diretores de arte colavam as páginasde paste-up usando óculos escuros em umasala pouco iluminada. Caloteiros, drogados,radicais e adolescentes fugidos de casafrequentavam o lugar como se ali fosse umboteco ou bilhar, e nos fins de semana era fácilficar doidão só com o cheiro de maconhapassando pelas frestas do assoalho, vindo dosconcertos de rock no Filmore East, logo abaixo.Estas condições meio toscas teriam oprimidoos wannabes de Rockwell, mas deram umavantagem Darwiniana para os peixes dispostosa nadar em um mar de caos.

E foi caos o que eu encontrei ao ser a primeiraescolha da imprensa doidona. Em qualquer tipode situação instável, onde não há regras, aspessoas raramente conseguem distinguir boasideias das ruins. E isto dá às boas ideias umachance melhor de sobrevivência do que elasnormalmente teriam neste mundo virado decabeça para baixo. As oportunidades de revirarmás ideias até que se tornassem boas fizerama imprensa da contra-cultura, uma escola paraa invenção, um recipiente de laboratório paratransformar mofo em penicilina. No período deum ano eu descobri que os desenhos que fazialá estavam em demanda nas revistas comborderôs mais altos, e repentinamente haviachegado o tempo das pinturas que sesustentavam sozinhas.

As mudanças em estilo e conteúdo que seseguiram deram o tom para muitos diretores

de arte e designers. Mas a mudança na atitudeque veio com isso foi bem difícil de engolirpara alguns.

Em março de 1977, a revista New York publicouum artigo ácido intitulado "Todo o noticiário emque se encaixa uma enganação", sobre as"confusas" novas imagens que começavam asurgir nas páginas de Op-Ed (editorial opinativo)do The New York Times. O artigo citava editoresanônimos que reclamavam que os "ilustradoresconceituais" (como nós acabamos sendochamados) não estavam ilustrando artigos emabsoluto, mas firulando com os leitores, fazendo

piada com seu bom senso, pegando no pé deles.As legendas do artigo eram resumidas nestamensagem: "mil anos de leitura atenta não seriamsuficientes para tornar estas imagens inteligíveis"(eu poderia ter dito algo sobre esta frase). E entretantos outros artistas que foram acusados poresta perturbadora invasão de imagens sem sentido,eu fui destacado como o maior culpado: "Aquelesdesenhos com o estilo condição-humana-de-Brad-Holland" como resmungou um crítico, era tão “ambígua” quanto vazia de sentido. "Eles sugeremque algo está errado (com o mundo) mas não

dizem o que é".Ainda que estas reclamações fossem supostamentecolocadas em nome de leitores irritados, a origemera de fato os editores que estavam descontentespor haver imagens em seus jornais quesubitamente estavam atraindo a atenção - porvezes mais atenção que o texto. Eles não gostaramdisso, e não conseguiam entender os motivos porque estava acontecendo. Em 1979, quando eupintei um retrato controverso do AyatollahKhomeini para a capa da Time, Al Goldstein, editorda Screw, republicou a imagem ao lado de algumasimagens atrevidas que eu tinha feito para o jornaldele, uma década antes. "From Slime to T ime"(do limbo para a Time), dizia o título, e mesmoque alguns amigos tivessem ficado constrangidospor mim, eu imaginei que esta era uma maneiraexcelente de resumir como as ideias úteiscostumam nascer neste mundo.

Foi o tipo de mudança que, anos atrás, a televisãoimplementou no segmento das artes gráficas.Como na maioria das mudanças, a transição dailustração representativa de uma estória para um"comentário gráfico" combinou boas consequênciascom as ruins. Por um lado, os artistas perderamos grandes orçamentos e públicos de grandeescala. Em compensação foram abertas as portaspara uma variedade de estilos e conceitos, queem outras épocas seriam motivo para sermosenxotados da imprensa popular.

Se a velha família de revistas como SaturdayEvening Post tivesse sido bem-sucedida em

implantar uma nova geração de Rockwells, talveznós nunca tivéssemos dissolvido a lógica dailustração linear. E artistas que desde entãofundaram um novo nicho neste mercadoinexplorado, provavelmente teriam ido para outrolugar qualquer. Se eu tivesse que desenhar capasde famílias indo para a igreja para o velho Post,eu poderia ter me tornado um escritor - oucartunista, ou tatuador, ou escultor com motoserra.Eu poderia ter ido vender pinturas primitivistasem alguma banca na beira da estrada, comofazem os fazendeiros de Ohio, vendendo seusmelões. Quem sabe eu teria terminado meus diascarimbando selos no correio.

© Brad Holland 2009

Ao invés disso, no começo dos anos setenta,quando uma exposição dos nossos trabalhosfoi inaugurada no Musée des Beaux-Arts, emBordeaux, na França, e meses depois noMusée des Arts Décoratifs, em Paris, nossotrabalho foi repentinamente considerado aptopara ocupar o espaço nobre, e o conceito dasimagens se sustentando por si começou a sedisseminar por outras publicações. Foi quandoautores como Steven Heller começou a

escrever que nós tínhamos causado uma"revolução na ilustração". Mas eu nãovejo a nós mesmos como revolucionários.

Nós éramos pequenos mamíferos quechegaram para competir depois daextinção dos grandes carnívoros. Fomosos sobreviventes que se adaptaram àEra do Gelo, artistas populares em uminverno eletrônico.

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pintor e ilustrador americoBart Forbes é algo à parte: uma dasmaiores lendas da ilustração americana,ganhou 60 prêmios de Excelência daSociety of Illustrators of New York, depoisde mais de 30 anos de intensa produçãoartística.

Trabalhou para diversas empresas comoEastman Kodak, Pepsi-Cola e AmericanAirlines, como também nas maiorespublicações americanas. Produziu maisde 20 selos comemorativos e, em 1988,teve um dos seus pontos altos na carreira:foi escolhido como artista oficial dos JogosOlímpicos de Seul.

Mas ficou mesmo conhecido com um dosmais importantes ilustradores dedicadosao esporte, e que agora tem se dedicadomais às galerias de arte. PARA QUEM CRESCEU EM UMA FAMÍLIA DE MILITARES DA

FORÇA AÉREA AMERICANA, COMO FOI QUE ESCAPOUDE UM DESTINO MILITAR QUASE CERTO E SE TORNOU

 ARTISTA?

Mesmo tendo crescido em uma família militar,minha paixão sempre foi o desenho e apintura.

Quando criança, eu desenharia em qualquercoisa que parecesse uma página em branco.Tive a sorte de ter pais que me incentivarame me permitiram estudar arte.

Desde os tempos de colégio eu já haviaescolhido focar meus estudos para a arte edepois fiz pós-graduação em ilustração noArt Center School, em Los Angeles.

O

Bart forbes

Estados unidos

[email protected]

www.bartforbes.com

MAS ALÉM DE ARTISTA E ILUSTRADOR, VOCÊ TEM UMAPAIXÃO PELOS ESPORTES, NÃO?

Sempre me interessei por esportes em todaa minha vida.

Eu jogava beisebol e basquete quando era jovem e agora jogo golfe quando tenhotempo, talvez uma vez por semana.

Tenho handicap em cerca de 17 (17 tacadasacima da média do campo) - então não soutão bom assim.

Eu só gosto de jogo e me mantenho ativoao ar livre quando não estou pintando.

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Como ilustrador, tenho pintado umagrande variedade de temas e sempregostei de fazer isso.

No entanto, depois de fazer algumasartes sobre boxe para a revista SportsIllustrated, há alguns anos, eu comeceia receber chamadas de clientesinteressados no meu trabalho sobreesportes.

E, depois de criar alguns cartazes paraos torneios de golfe da PGA, comecei areceber um bom número de solicitaçõespara ilustrações de golfe.

Então isso do esporte apenas evoluiu.Eu não estava tentando me focar emesportes. As coisas só começaram a semover nessa direção – o que me levoupara projetos que eu nunca poderia terprocurado antes.

Eu tive a oportunidade de conhecermuitas das figuras do esporte que tenhopintado, o que tem sido um bônus.

E eu tenho tido a oportunidade departicipar de eventos como o KentuckyDerby, a corrida Américas Cup e os JogosOlímpicos.

E DE QUE FORMA OS ESPORTES INFLUENCIARAM ASUA CARREIRA COMO ARTISTA?

Os Jogos Olímpicos de Seul, na Coréia,me deram a oportunidade de pintar cadaum dos eventos Olímpicos de qualquermaneira que eu escolhesse.

Assim, uma pintura pode ser um retratode um boxeador enquanto outra poderiaser uma cena de ação de uma partidade voleibol.

Eu apenas tentei descrever elementosde cada esporte que me interessava,sem levar em conta a cultura do paísem que eles ocorreram. De certa forma,eu provavelmente não estava prontopara uma missão dessa escala.

Se eu fosse fazer o mesmo projeto hojefaria uma abordagem diferente - de umaforma mais abstrata e pessoal. Eu olhopara o trabalho que fiz e vejo que poderiaser muito melhor. Mas essa é a minhanatureza. Eu sou meu pior crítico.

FALANDO NISSO, UM DOS PONTOS ALTOS DA SUACARREIRA FOI TER SIDO ESCOLHIDO O ARTISTA OFICIALDAS OLIMPÍADAS DE SEUL. SENTIU ALGUMADIFERENÇA CULTURAL NA FORMA COMO O TRABALHOFOI DESENVOLVIDO?

Como fã, eu mantenho contato com amaioria dos esportes, especialmentebeisebol e basquete da Carolina do Norte,bem como torneio de golfe profissional.

 VOCÊ CHEGOU A PRATICAR ALGUM ESPORTE OU ÉSOMENTE UM FÃ?

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Eu não sinto que eu tenha perdidoalguma coisa na minha carreira. Pelocontrário, me sinto muito abençoado porter sido capaz de fazer uma tal variedadede atribuições de todo o mundo.

Eu ainda aguardo com expectativa opróximo projeto ou pintura com o mesmoentusiasmo que sempre tive. Sou gratopor poder ganhar a vida fazendo algoque eu gosto tanto. Eu não consigo meimaginar fazendo outra coisa.

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RBES MAS TAMBÉM TRABALHOU PARA GRANDES REVISTAS,

 AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE, EMPRESAS, INSTITUTOS,FEZ VÁRIOS SELOS COMEMORATIVOS E GANHOUDIVERSOS PRÊMIOS. EXISTE ALGO QUE AINDA NÃOFEZ E FICOU FALTANDO NA CARREIRA?

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Sempre trabalhei em um estilo de"realismo tradicional", mas penso que éimportante continuar a crescer como umartista e não ser tão ligado a um "estilo"em particular, que se tornou obsoleto.

Recentemente, eu comecei a explorarmais a textura em minhas pinturaspessoais. E acho que meu trabalho temse tornado mais abstrato em um certosentido.

A pintura para galerias tem me dado aoportunidade de experimentar mais doque eu jamais poderia como ilustrador.

Alguns de meus trabalhos recentes têmexigido também pinturas muito maiorese eu descobri que gosto de trabalhar emgrandes telas, algumas com mais de 4metros de largura. Eu nunca poderia terfeito qualquer coisa tão grande no inícioda minha carreira.

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SOBRE O SEU TRABALHO COMO ARTISTA, VOCÊ JÁ

DISSE NO PASSADO QUE DEFINE O SEU TRABALHOCOMO “REALISMO TRADICIONAL”, MAS CADA VEZSE DISTANCIANDO MAIS DISSO. O QUE SE TORNOUMAIS INTERESSANTE EXPLORAR AGORA, COMO

 ARTISTA?

Com ilustração, o relacionamento com oespectador é sempre para entregara mensagem, para transmitir umanarrativa de história ou retratar um evento.

Nas paisagens e naturezas-mortas queeu faço para galerias, a relação com oespectador é completamente diferente.

Eu tendo a ser muito mais sutil e esperoenvolver o espectador em um nível maisintelectual.

Espero que minhas pinturas transmitam

um estado de espírito e um sentimentointuitivo de lugar e tempo, mais do quequalquer coisa que é específica.

E A PARTIR DO RESULTADO FINAL, QUAL A RELAÇÃO

QUE PROCURA CRIAR COM QUEM VÊ A PINTURA?

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O atual mercado de ilustração temmudado muito ao longo dos anos enem sempre para melhor.

Com o advento do software decomputador agora existem muitaspessoas no campo de ilustração que nãosabem nem mesmo desenhar ou pintar.

Isso gerou uma concorrência muito maiorpara todos.

E o advento dos bancos de imagem fezbaixar muito o preço dos trabalhos deilustração. Muitos ilustradores, inclusiveeu, no passado fizeram uma grande

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RBES E DEPOIS DE TODA ESSA EXPERIÊNCIA, COMO VÊ

O ATUAL MERCADO DE TRABALHO?

Não sei ao certo se mover-se em direçãodas artes é uma evolução natural paraa maioria dos ilustradores.

Tem sido para mim e para um bomnúmero de outros artistas. Sucesso nasartes não é fácil e exige uma abordagemdiferente da ilustração.

E leva tempo para desenvolver umasequência de compradores que irãoreconhecer o seu trabalho e gostar osuficiente para comprá-lo.

Em muitos aspectos é como mudarcompletamente as profissões - entãoeu não recomendo para todos osilustradores.

 APÓS MAIS DE 30 ANOS COMO UM DOS MAISPRESTIGIADOS E REQUISITADOS ILUSTRADORES

 AMERICANOS, AOS POUCOS VOCÊ TEM PRODUZIDOMAIS PARA AS ARTES PLÁSTICAS DO QUEENCOMENDAS DE ILUSTRAÇÃO. ACHA QUE ESSEÉ O DESENVOLVIMENTO NATURAL DE TODOILUSTRADOR?

quantidade de artes para livros e revistas.

Mas hoje seria muito difícil ganhar a vidacom essas atribuições, porque agora amaioria das ilustrações editoriais écomposta de pequenos "spots" ou bancosde imagem - e não mais páginas duplasinteiras.

E é muito raro, pelo menos nos EUA, asrevistas usarem ilustração como arte da

capa.

Ser bem-sucedido na ilustração hoje emdia é um verdadeiro desafio para amaioria dos artistas e exige habilidadesde marketing que não eram necessáriasno passado.

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inguém melhorpara falar sobre sketchbook do queMontalvo Machado, o organizador daversão brasileira do SketchCrawl,onde chegou a bater dois recordesmundiais seguidos de participação.

Com um currículo onde constam três

temporadas na Illustration Academy,a bagagem que Montalvo traz éenorme, em especial nos sketchbooks,ferramenta fundamental para odesenvolvimento de muitos dosworkshops que ele mesmo dá.

Além do belo material apresentado,Montalvo deixa o seu depoimentosobre a importância que o sketchbooktem para ele.

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Montalvo Machado

São paulo

[email protected]

HTTP://montalvomachado.com.br/blog

 “O sketchbook é um espaço deexperimentação, onde eu fico à vontadepara explorar novas ideias, técnicas epossibilidades que provavelmente nãoexistiriam de outra forma.

É muito improvável que alguém pegue umpapel caro e resolva fazer experiênciaslivremente sobre ele. Mas este mesmo papelpode ser cortado e montado em umsketchbook e se tornar menos precioso

e mais acessível para novos estudos.

Ter o sketchbook por perto pode ser umgatilho criativo para colocar no papel umaideia latente, que pode ir embora tãorapidamente como surgiu.

Uma vez capturada, ela é um registropermanente, e pode servir de referência paraoutros trabalhos ou até mesmo apontar novasdireções para estilos e técnicas inexploradasaté aquele momento”.

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 “O sketchbook é a academia ondeo ilustrador exercita seus músculoscriativos. Não há atalhos para sedesenhar bem, é preciso desenharmuito e constantemente.

Neste sentido o sketchbook é umaferramenta indispensável, e deveestar ao alcance das mãos nashoras vagas, desde passeios,viagens, fila de banco, até enquantoaguarda o café da manhã napadaria.

Desenhar fora do estúdio e comlimitações de material é sair de suazona de conforto, e isto costumatrazer experiências novas,aumentando o repertório deimagens e aguçando o olhar doartista, e todo tempo investido nosketchbook traz grandesresultados.” 

 “Alguns artistas veem o sketchbook comouma tela para projetar as imagens deseu mundo interior, criando personagens,texturas, grafismos, paisagens erealidades únicas, o que é fascinante dese ver.

Eu gostaria de ter uma riqueza maiorno meu universo imaginário, e desenhartudo "de cabeça", mas meu olhar é maisdirecionado ao mundo exterior, e nosmeus sketchbooks eu tenho muito mais

desenhos que capturam o que existe aomeu redor do que criações da minhaimaginação.

Cada desenho no sketchbook é único,como é o pensamento e a visão pessoalde cada um. Esta visão vai semodificando de acordo com o momentoque o artista vive e mesmo os temasrecorrentes variam de acordo com seuestado de espírito”.

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 “Eu gosto da geometria, dos padrões declaro-escuro e das formas que a Naturezaoferece nas situações mais banais.

Não preciso de um lugar maravilhosamenteinspirador para enxergar formas e coresinteressantes, e a maioria das fotos que maisgosto não são de lugares reconhecíveis.São recortes de cenas que me fascinam poralgum motivo.

Nestes momentos eu fotografo como seestivesse desenhando com pressa.

Muitas vezes não tenho o tempo necessáriopara fazer um estudo no local. Nestes casoseu costumo tirar fotos e estudar o tema noestúdio, com mais calma, para explorar o

que aquela cena continha e o que me chamoua atenção.

Milton Glaser diz que se ele não desenhar,é como se ele não estivesse enxergandoaquilo plenamente.

Eu entendo o que ele quer dizer, porque nomomento em que desenho uma cena, umapessoa ou objeto, só assim eu sinto queestou dedicando o tempo e a concentraçãonecessárias para "ver" de verdade, e nãoapenas olhar para alguma coisa”.

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artunista, quadrinista e ilustrador,João Spacca de Oliveira, ou só Spacca,como é conhecido, tem se destacadorecentemente por desenvolver algumasobras ligadas à história e literaturado Brasil.

No ano passado lançou “Dom JoãoCarioca”, livro em quadrinhos contandode forma única e cheio de humor a chegadada Família Real Portuguesa ao Brasil, epara o próximo ano lançará uma obrasobre Dom Pedro II.

Neste ano Spacca volta com outro grande

trabalho, dessa vez com a literatura deJorge Amado, “Jubiabá”, contando asandanças de Baldo e pai Jubiabá.

Tal como Renato Alarcão na ediçãonº 11 da Ilustrar, onde falou sobre olivro “36 Vistas do Cristo Redendtor”,Spacca vai mostrar o passo a passodo desenvolvimento em geraldo livro “Jubiabá”.

E depois é aguardarmos pelo seu próximoprojeto no ano que vem...

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Spacca 

São Paulo

[email protected]

www.spacca.com.br

Vou falar da criação de um personagem,Antonio Balduíno ("Baldo"), protagonistado romance "Jubiabá", de Jorge Amado.Numa primeira fase, eu faço desenhosa esmo, "pensando" no papel, procurandofixar as impressões que o romanceme causa.

Geralmente, eu me guio pelas emoçõese atitudes do personagem.

Eu não começo pela aparência e depoisdou vida, é o contrário: primeiro eu procurofixar a personalidade, o estado de espírito

mais comum.O ilustrador Kipper disse uma vezqueminhas caricaturas partiam sempre de umaexpressão fisionômica, de uma emoção.Acho que meu processo é esse mesmo.

Tem a ver com imitar, pegar o jeito,a expressão. Como se comportao personagem Balduíno?Que tipo de personalidadeele tem?Segundo Jorge Amado,Antonio Balduíno "era fortee alto como uma árvore, livre

como um animal e possuíagargalhada mais clarada cidade".

É ainda o protótipo de umcertonegro baiano, cantadomúsica "João Valentão é brigão

 / pra dar bofetão / não prestaatenção/ e nem pensa navida..." do mestre DorivalCaymmi, compadre deAmado.

Malandro, capoeirista, lutador de boxe,"bonito e cachaceiro como o pai", no dizerde outro personagem.Nos primeiros desenhos Baldo aparece comformas muito variadas, mas sempre é otipo fortão com um jeito suingado e olhode boi sonso, relaxado e meio malicioso.

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Era importante que ele fosse musculoso,não o tipo hercúleo super-herói ou bombadode academia, mas o sarado natural doestivador ou do capoeirista.

Como os negros baianos fotografados pelofrancêsPierre Verger, referência importantepara o meu trabalho.O design de um personagem se desenvolvena ação -na repetição de muitos desenhos,e em cena, nas situações que a narrativaexige.

Assim Baldo foi crescendo, ganhandoformas mais nítidas e estáveis.Mas uma coisa que ajuda a definir umpersonagem é desenhar outros, ao mesmotempo.

Pelo contraste, os personagens principaissão desenvolvidos conjuntamente, um vaise diferenciando do outro, os seus papéisvão ficando mais claros.É comocriar o design de um alfabeto: umcaractere se desenvolve, distinguindo-sedas outras letras.São três os personagens principais de"Jubiabá". De Antonio Balduíno já falei.Os outros são o pai-de-santo Jubiabá, e ofiel escudeiro Gordo, companheiro deaventuras de Baldo.

Pai Jubiabá, segundo o autor, é "pequeninoe centenário", e aparece muito pouco noromance que leva o seu nome.

Quem age, sofre e luta é Baldo. O pai-de-santo representa os princípios morais eexistenciais que norteiam Baldo por quasetodo o romance.

É o velho sábio, o mentor, o Obi-WanKenobi do Baldo...

Então pensei em desenhar Jubiabá o opostode Baldo: se Baldo é forte, ágil e flexível,Jubiabá é meio imóvel, e suas formas sãoesculpidas como uma máscara africana.

Tem assim uma presença solene eancestral. Muitas vezes ele aparece bemde frente ou de perfil, para acentuar suaritualidade, seu aspecto mítico.Gordo, por sua vez, tinha "olhos queprenunciavam desgraça".É o Sancho Pança de Baldo, que alertasobre os perigos, está o tempo todorezando.

Poético, infantil, gosta de dar nomes àsestrelas e cuida de uma avó doente."Gordo é bom", diz sempre Antonio

Balduíno.

Jubiabá é seco e velho, Gordo é mole einfantil. Fiz uma cara de lua, uma expressãode piedade.

Não tem vontade própria, gravita em tornode Baldo, como a Lua ao redor do Sol.Na tipologia clássica, que relacionapersonalidades aos astros celestes, Baldoé o Sol (orgulho, autoconfiança) e Marte

(guerreiro); Gordo é a Lua (emotividadee infância) e Jubiabá é Saturno (restrição,disciplina).

Ou para ficar nas entidades do Candomblé,Baldo se assemelha a Xangô e Ogum,Gordoé Iemanjá e Jubiabá, Omolu-Obaluaiê.

Sãofórmulasque uso para definir, noaspecto físicoe mental, a aparência dosmeus personagens.Depois de muitos estudos e rabiscos,tentando materializar essas personalidadese combiná-las com as referênciasfotográficas, chega a hora de definir umpadrão.

Escolho os desenhos mais felizes e procurodescobrir uma "fórmula gráfica", que é omodel-sheet, onde registro as proporçõesdo personagem. Se a altura pode sermedida em 6 ou 7 cabeças, qual a largurado tórax, se posso dividir a cabeça em 4partes e onde localizo os olhos, etc.

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Faço este estudo como se estivessedesenhando em equipe (faço a HQsozinho).

Oobjetivo é fazer com que opersonagem nãomude sem quereraolongo da história (na prática, quandocomeço uma HQ, o personagem aindanão ficou pronto.

Eu vou conhecendo melhor conforme ahistória vai rolando. No fim, em vez demodel sheet, eu consulto mesmo aspáginas já finalizadas).

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Os veios de madeira são um truque queaprendi com o quadrinista e escritor AndréDiniz.

Com caneta Bic, eu fiz um monte de riscosnuma folha, escaneei e apliquei num layersobre o desenho, e fiquei experimentandodiferentes mesclas (não lembro o que fiz,acho que selecionei os riscos, mudei delayer e deletei no desenho).

No fim, para o título, preferi o mais limpo,sem veios.

Eu queria a linguagemde xilogravura em algunselementos do livro, emespecial no título dacapa.

Tentei fazer algumassimulações, mas como

 já tinha brincado comxilo na faculdade, acheique poderia arriscar e

fazer xilo de verdade,quem sabe a capa ouuma página.

Tentei fazer uma xilofake com papelrecortado, e troqueifigurinhas com o RomeroCavalcanti, mestre nessatécnica.

Mas quando mandei umaamostra do título para aHelen da Cia. das Letras,ela achou com cara demetal recortado.

Por isso resolvi encarara madeira mesmo.

Escavar a madeira até que não foi mal,mas na hora da impressão ficou uma caca.Vi que tinha que resolver alguns problemase aprender direito a técnica - e não haviatempo para isso.

Então, usei o que aprendi na madeira, efiz movimentos semelhantes usando aTablet no Photoshop. Fui "escavando" comose faz na madeira, fazendo os contornose abrindo brancos até esses limites. Assimfiz o título e a ilustração da página 43 deJubiabá (mostrada na pág. 29 da Ilustrar).

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RENATO

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Imaginem que, até pouco tempo atrás,colocar “na rua” uma revista como esta erauma tarefa infinitamente mais complexa.Se antes os altos custos de impressão, asdificuldades de patrocínio, distribuição edivulgação e as vendas frequentementeinexpressivas eram enormes obstáculosa serem vencidos, hoje temos acesso amplo,irrestrito (e principalmente barato!) aosmeios de produção e veiculação.

Com a internet qualquer um é virtualmentedono de seu próprio canal de divulgação de

ideias. Neste contexto, revistas como aIlustrar, e também os grupos de discussãoe forums na internet sobre ilustraçãotornaram-se um valioso território para reuniraficionados, escrever a história, debaterrumos e apontar o futuro desta arte.

Recentemente, em uma lista de ilustradores,pipocaram vários e-mails de colegasqueixando-se da falta de trabalho, velhofantasma que assombra os freelancers.

Enquanto eu pensava nos motivos quepoderiam ter concorrido para aquelasituação, e que sugestões oferecer aoscolegas para que recolocassem suas

engrenagens em rotação (fazer um promo,prospectar novos clientes...), apareceu estamensagem do Samuel Casal (que participouna Revista Ilustrar nº 1):

RENATO ALARCÃO

RIO DE JANEIRO

[email protected]

www.renatoalarcao.com.br

"O que não dá para entender é como podeum artista de verdade só pegar no lápis setiver a certeza de que vai emitir uma notafiscal na sequência", diz a máxima doilustrador Orlando Pedroso.Temos queconcordar com ele nesse ponto.

Acredito que o bem mais precioso do qualprecisamos dispor para dar forma e vidaaos nossos projetos artísticos pessoais sejao tempo. É justamente nas barbas dessevelho senhor que nós, ilustradores, nosdeixamos enredar infinitamente, sempreocupados com mil e um projetos para

clientes, estirões pela madrugada,atribulações pessoais ou as muitas atividadesque nos distanciam daquela veia sincera daautoexpressão.

Para este artigo, fiz um chamado especiala alguns ilustradores que sabem regar ahorta dos seus projetos pessoais. Reunialgumas perguntas essenciais para tirardeles a resposta sobre o que impulsionaseus processos criativos. Os depoimentosdispostos ao longo desta matéria nospermitem entender um pouco comoconseguiram traçar trajetórias profissionaistão interessantes.

Todo mundo – artistas e não-artistas – tem

um projeto “pessoal” (ou ao menos deveriater!). Nós, que somos tão prolíficos nacriação de ideias para os outros,frequentemente deixamos abandonadas assementes que temos guardadas em nossascabeças, gavetas e sketchbooks. Se este éo seu caso, permita apenas que sobre elaspossa incidir a luz certa no tempo certo paraque floresçam. Siga o conselho do BradHolland: “Comece a se expressar o quantoantes. Pode ser mais tarde do que vocêpensa!” 

macacos, gatos, bisões, xamans… Se vendouma tela, tiro o investimento de um ano,faço um vídeo, uma instalação, viajo...”.E completa, “ o salário fixo da universidademe dá a tranquilidade para seguirtrabalhando desta forma...” 

Arisman parece dedicar-se a todas estasatividades com a mesma paixão eentusiasmo. Desde aquele papo com ele,tenho adotado uma estratégia semelhante,embora ainda esteja à procura do ponto deequilíbrio do meu tripé.

Ser um ilustrador autossuficiente, publicare vender fartamente seus livros, ver seusdesenhos em veículos importantes, participarde projetos interessantes com seus pares,ter um currículo com catálogos e prêmiosinternacionais, criar produtos culturais desucesso, fazer objetos artísticos de todasorte (cobiçados alvos de colecionadores!),ingressar no “grand monde” das galeriase museus, expor sua arte pelo mundo...Sim, tudo isso forma uma imagem bastantesedutora. Há alguém aí disposto a admitirque prefere simplesmente ganhar o suficientepara pagar as contas?

Para os ilustradores, tanto os de outrora,quanto os de hoje, o sonho de viver de suas

próprias ideias e criações, libertando-se do jugo dos clientes, dos briefings equivocados,dos textos insossos e dos prazos inumanos,sempre foi um belo canto da sereia. Masenquanto muitos foram bem-sucedidosno direcionamento de suas carreiras comoautores, outros preferiram a segurança deum emprego fixo, ou a vida de “freelancer” cultivada por uma boa lista de clientes. Háainda os que se satisfazem em colocarapenas a sua mão - e não o cérebro - aserviço de quem o contrata.

 “Quando estou sem trabalho, invento logoo que fazer: vou cuidar dos meus projetospessoais”.

Aquilo foi como uma janela sendo abertapara fazer a luz adentrar e colorir uma salacinza. Serviu como um conselho a todos,e foi também o que me animou a escrevereste artigo.

Certa vez conversava com o ilustradorMarshall Arisman a respeito dos desafiose incertezas da vida de freelancer, quandoele me contou que sua carreira apoiava-seem um“tripé”: ilustração, projetos pessoais(pintura, desenho, escultura, vídeos, livros,narrações) e a vida acadêmica (ele édiretor e professor do mestrado da Schoolof Visual Arts).

No início da carreira, nos anos 60, Arismanlançou-se na profissão pagando do própriobolso a publicação de um livro chamadoFrozen Images, que continha imagens sobrea banalização da violência na mídia, o

consumismo e a poluição. “Com aqueleprojeto, cavei para mim um nicho muitoespecífico ” disse-me, “e até hoje, o telefoneaqui do estúdio toca apenas uma ou duasvezes por mês com pedidos de ilustração,sempre sobre os mesmos temas: morte,terrorismo, violência, paranoia, medo…” 

Não parece muito, mas, com a venda deuma única ilustração, o artista paga todasas contas do seu estúdio, onde na maiorparte do tempo trabalha nas suas enormespinturas à óleo. “Faço duas exposições porano, sobre temas que me interessam,

Projetos Pessoais:Comece Agora

A Sua Revolução

por Renato Alarcão Exercitando o ócio criativo nasaquarelas ao ar livre. Nada melhor paradesestressar do dia-a-dia da profissão...

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 “Eu desenho todos os dias, com ou semtrabalho. Acho importante este exercíciodiário, faz você revitalizar seu desenhocontinuamente e também abre apossibilidade de novos experimentos,técnicas etc.

Este material que vou acumulando

terminará sendo usado numa próximailustração encomendada ou em algumaexposição coletiva.

Isto faz parte do tipo de trabalho quefaço, quase sempre uma grande colagemcom meus próprios desenhos eelementos gráficos que vão compore equilibrar a imagem final.

Eu acho realmente fundamental osprojetos pessoais, afinal de contas, nestaprofissão não existe aposentadoria e eupessoalmente quero desenhar atéa última ponta... do lápis.

 “Nos trabalhos para clientes você tendea caminhar para o acerto quando ogrande barato do trabalho pessoal éa possibilidade de encontrar novassoluções no erro. Se algo não dá certo,você joga fora, encosta, pra retornar aele mais tarde, desenhar por cima.Quando você se dá essa possibilidade,não há desenho perdido.

Eu sempre dediquei um tempo ao meutrabalho. Não consigo entender essacoisa de só se pegar no lápis se vocêtiver a certeza de que vai emitir umanota fiscal na sequência. Desde 1997,quando fiz a exposição ‘Como o diabogosta’, venho dedicando boa parte demeu tempo livre ou me obrigando aabrir espaços na agenda para trabalharem grandes formatos e a pesquisarmateriais.

No Brasil não existe um mercado deoriginais e a arte em papel ébasicamente desprezada assim comonão existe um mercado forte de livrosou objetos de arte onde artistas possamdesovar suas criações e ideias.

Participo como convidado de diversossalões e exposições pelo país e fiz, em2006, uma edição independente do livroMoças Finas. Consegui pagar a edição,mas a venda pela internet se mostrouaquém do esperado. Curiosamente, ospróprios artistas consomem pouco livroe publicações como jornais e revistas.Isso também é de difícil compreensãopra mim.

O importante é produzir, azeitar asideias, não criar limo. Projetos de gaveta

 jamais irão a lugar algum se você nãose dispuser a tirá-los de lá e se debruçarsobre eles. Se vão virar projetos desucesso, se vão se transformar numproduto, é outra história. Depende desorte, grana, economia do país, culturae, claro, certa dose de talento.

Existe um movimento novo acontecendoentre os ilustradores. Todo elástico estica

e volta. Ao mesmo tempo que uma partedos profissionais se aprofunda cada vezmais nas questões tecnológicas dotrabalho, uma outra se sente saturadade tantos pixels, plug-ins e softwaressempre mais complicados.

Essa turma tem retornado de formamuito forte ao traço, à essência dodesenho, tanto em paredes como nosatualíssimos sketchbooks. Esse retorno,por incrível que pareça, é um avanço.

O desenho vinha se perdendo e éprovável que agora ressurja renovadoe forte.” 

No momento venho trabalhando comdois projetos que são muito estimulantesde fazer.

O primeiro é uma série de desenhosnovos para uma futura exposiçãoindividual sobre capas de revistas quenunca existiram, uma grandebrincadeira, onde design e ilustração semisturam sempre com muita ironia.

O segundo já dura uns 7 meses e estásendo feito via e-mail com um ilustradoramericano da pesada, talvez vire umlivro ou uma exposição.

Uma verdadeira ‘Jam Session’, cada umde nós cria um desenho em P/B e ooutro interfere colorindo, adicionando

mais desenhos e textos.

Estamos no desenho de número 98e vem mais por aí.

Fiquei contente também de receberna semana passada a revista Ragu,onde publiquei algumas páginas comtrabalhos muito livres que fizespecialmente para eles.” 

Walter VasconcelosDepoimento:

Orlando PedrosoDepoimento:

www.drawger.com/vasconcelos

www.orlandopedroso.com.br

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 “Na maioria das vezes, como nas minhascharges do jornal de esportes LANCE!,tenho liberdade total para criar.

Quando tenho um projeto pessoal, possoestabelecer meu universo e não trabalhardentro de um universo pré-estabelecido.

Quando produzo algo paraa publicidade, apesar desempre usar meu própriotraço, costumo ter maisinterferência do cliente comcoisas extremamente

 ‘importantes e maduras’ como: ‘você pode diminuir a orelhapara fulano não ficar triste...’ 

Mas o processo de criaçãocostuma ser o mesmo.

Publicar é a meta sim, masquando produzo algopessoal não é nem paraficar milionário nem praganhar algum prêmio.

É sempre tentando criar algoque eu quero, da maneira queacredito.

Quando inicio um projeto pessoal,seja uma exposição, um álbum ou umsimples desenho, tento fazer o melhorpossível.

Mas é claro que não posso usar 100%do meu tempo nestes trabalhos, poisfinanceiramente eles ainda não resolvemtodas as contas da casa/estúdio.

Por isso tenho que também produzirpara jornais, revistas eoutros clientes, mas namaioria das vezes tenho totalliberdade de dar a minhaopinião através dos meusdesenhos, dentro destes veículos.” 

Gonzalo CárcamoDepoimento:

Gustavo DuarteDepoimento:

 “A diferença no processo criativo deprojetos para clientes e nos meus projetospessoais está na elaboração do texto,onde geralmente o escritor descrevesuperficial ou minuciosamente o contextode um conto ou história. O autor precisasituar o leitor no lugar que imagina edeseja. Neste caso, um ilustrador podeenriquecer ou até corromper a imaginaçãode outro autor.

Como autor-ilustrador tenho a possibilidadede dispensar descrições que tornariam otexto redundante e imediatamente levaro leitor ao lugar que imagino, estabeleceruma relação de dependência maior entretexto e ilustração.

O meu livro Thapa Kunturi, por exemplo,tem informações nas imagens que nãoconstam no texto. Na queda do meninoe resgate do condor, vemos na ilustraçãouma fileira de touros com centena deconquistadores subindo a Cordilheira dosAndes, mostrando o que seria prenúncioda tragédia dos Incas.

Sou um sonhador. Mergulho neste universopelo prazer que me proporciona a leiturae a possibilidade de ilustrar os meuspróprios textos. Isso não me torna umescritor.

Achei um caminho para realizar sonhos.Sonhos que só encontramos nos livros.Compartilhar isto é uma realização. Deixopara a editora os cálculos e a missão doretorno financeiro.

Não podemos contar com uma editorapara financiar e aventurar-se naquilo quenós acreditamos. É preciso que a Editoravislumbre um futuro para seus projetoseditoriais. O sucesso de um projeto comoautor abre crédito nas editoras, masnão garante que vai publicar tudo oque você faz.

Entendi há pouco tempo que um bomprojeto pode fracassar nas vendas se nãocuidar bem de sua distribuição. Consideroqualidade de impressão e distribuição umfator muito importante na hora de escolheruma editora.

No Brasil, grandes autores sentem aindadificuldades em viver apenas de direitoautoral. É preciso desdobrar-se com outrasatividades.

A ideia, hoje, de distanciar-me de umgrande centro, é a de procurar maiortranquilidade para dedicar um tempomelhor para realizar este sonho. Escrever100%, ilustrar 100% e pintar aquarelas100%. Muita pretensão!” 

www.gcarcamo.blogspot.com

http://mangabastudios.blog.uol.com.br

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 “A diferença no processo criativo de projetos paraclientes e naqueles que considero meus projetospessoais está na parte involuntária da concepçãodas imagens. Quando crio livremente não dápara saber, a priori, aonde vou chegar.

Somente quando um cliente é também umartista (como é o caso de produções teatrais,fonográfica, etc.) eu consigo manter umprocedimento em parte similar.

O cliente convencional costuma ter umbriefing definido demais para que umprocesso involuntário aconteça plenamente.

Além das clássicas contas a pagar e doreceio de afastamento total do mercadoda ilustração, a decisão mais importanteao dedicar-se a projetos pessoais é ade seguir a ética de um novo mercado.

Quando vendemos obras de arte, omercado espera de nós a continuidadede nossa obra e sua constante

valorização. Já na autoria de produtosvisuais industrializados ou na simplesartesania o caminho é outro.” 

Romero CavalcantiDepoimento:

 “Não há nenhuma diferença no processocriativo de projetos para clientes enaqueles que considero meus projetospessoais. Isso independe de quemencomenda.

É uma equação com vários ‘inputs’ eque tem como objetivo a comunicaçãolá no final da fila.

O estopim de um projeto é sempresubjetivo. Na sequência, quando sintoque o projeto pode dar pé, já começoa mirar no produto e na sua viabilizaçãoeditorial. Tenho gavetas cheias deprojetos ainda incipientes. Alguns vãonascer, outros não.

Guto LinsDepoimento: Nunca apresento o projeto fechado, mas

sim um protótipo ou layout a serdiscutido e formatado juntamente coma editora. Hoje, creio que cerca de 80%de minha produção literária é de projetospessoais.

Tenho projetos que ficam engavetadose saem quando alguma editora perguntase tenho algum projeto. Alguns sãoapresentados para mais de uma editorae não tenho como controlar o prazodeles.

Além disso, me encanto com projetosalheios e, nesses casos, me coloco comoco-autor e visto a camisa.” 

www.manifestodesign.com.br

http://www.flickr.com/photos/romero_cavalcanti_1

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 “Como fui educado em uma família pobreem que a arte era sempre vista comoum perigo, um fator certeiro pra vocêvirar mendigo, daqueles que vivem comcachorro amarrado na cintura combarbante, eu nunca havia me dadoao luxo de fazer desenhos autoraise sem fins lucrativos, apenas aquelesque sustentam a casa.” 

Tenho alguns projetos pessoais comoo das Fadas Enfartadas, uma série derabiscos e aquarelas sem muitaprofundidade filosófica, sem muitoconceito, além da ingenuidade e dosarcasmo de desenhar fadas emsituações sacanas; e das Fast Girls, umabrincadeira que comecei baseado emum hábito do Orlando - de rabiscarqualquer coisa assim que chega noestúdio pra aquecer os motores - sóque focando em mulheres e no tempolimite de 25 minutos, hoje diminuídospara 20 minutos.

Em algumassemanas escrevium livro que háanos estavaplanejado,somado a umapequena históriainfantil criadaquando estavaem viagem aNova York. Sãoos tais livros quenunca saem dosketchbook. Agoravem o desafio depassar a históriapara o papel demaneira gráfica. Tôfazendo os rascunhoshá meses e uma horaacredito que isso vai ficar tão fácil queo resto irá sair como maionese do tubo.

Nos projetos pessoais, o racional vaitomar um café na padaria, excetuandoos livros. Liberdade demais tambématrapalha, tanto quanto liberdade demenos.

Não faço meus desenhos pessoais

esperando ganhar algum dinheiro,não espero vender muito, embora algunsdeles estejam à venda na galeriaMagenta, e nem considero isso comoauto-expressão ou como realizaçãopessoal, simplesmente tenho vontadede fazer esses desenhos e escreveressas histórias, sem esperar muita coisaem troca.

Nesse ponto eu pratico uma filosofiataoísta chamada Wu-Wei, que significaa ação pela não-ação, ou seja,simplesmente fazer as coisas porquequer sem esperar nenhum retorno,trabalha com o desapego do resultado.

A maior dificuldade tem sido conciliaro tempo, são muitos projetos de clientescontra o que eu quero fazer, e porenquanto infelizmente o trabalhocomercial sustenta minha famíliaao ponto de não conseguir fazer umaloucura e chutar o pau da barraca prame dedicar só aos projetos pessoais.Sobram somente os fins de semanae algumas horas nas madrugadas.” 

Hiro KawaharaDepoimento:

www.hiro.art.br

"Meus projetos pessoais estão sempreem elaboração, são a matéria do meudia-a-dia. Seja no ônibus, andando debicicleta, almoçando ou tomando umbanho, a todo momento estoumaturando minhas ideias. Parece que,as vezes, é mais uma necessidade deesvaziar a cabeça, para que logo depoisela comece a encher novamente!

Eu tenho uma certa dificuldade dedesenhar para os outros. Nestes projetospara clientes, funciono bem porquetrabalho sob pressão. É sentar eproduzir. Mas é comum eu me sentarpara começar uma ilustração paraalguma revista, e dali começar a rabiscaroutra coisa que acaba posteriormentese tornando uma ideia para algum outroprojeto meu.

A procrastinação é talvez a única coisaque impede de me dedicar 100% aosmeus projetos autorais.

Nos dias de hoje, está muito maisacessivel a produção independente. Étrabalhoso, requer uma certa dedicaçãoe organização, e o trabalho em grupopode facilitar muito. Foi assim com arevista Beleléu que acabei de publicarem parceria com 3 amigos. Foi bancadacom nosso próprio dinheiro, distribuídapor nós mesmos, e ainda conseguimos

conquistar pontos-de-venda nasprincipais capitais e cidades do Brasile até mesmo em outros países comoArgentina e Portugal.

A internet facilitou muito isso. Amigosque eu conheço apenas virtualmente,seja por e-mails ou blogs, acabaramse tornando uma excelente fonte dedivulgação. Estes contatos são muitoimportantes, e a cada projeto, a redede colaboradores na divulgação tendea aumentar.

Este esquema de trabalhar comofreelancer acaba se tornando um círculovicioso. Você pega um trabalho e logodepois já emenda em outro, e outroe mais outro... Quando se dá conta,seus projetos pessoais vão ficando delado, e se tornam meras anotações.

Trabalho numa produtora de animação(a Toscographics, do cartunista AllanSieber). O trabalho não é cansativo,e consigo produzir minhas coisas lá.Requer tempo, dedicação e mepossibilita fazer contatos e buscarreconhecimento. E é sem dúvidatambém diversão!

Antes de um ilustrador e quadrinista,me considero um bom contador dehistórias. E acredito que somente mededicando aos meus projetos pessoaisé que poderei contar as MINHAShistorias.” 

ElcerdoDepoimento:

http://el-cerdo.blogspot.com

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 “Em projetos de cunho pessoal,teoricamente (com grifo no

 ‘teoricamente’!), o objetivo é fazer algocom mais liberdade criativa, sem ficarpreso a limitações de briefing, mercado,etc. Mas acaba que o raciocínio vira omesmo dos projetos do dia-a-dia, ouseja: planejamento, cronograma e –principalmente – prazo. Sem prazo,

o projeto não decola nunca.” 

Adoro aquelas séries de desenhos doOrlando, em que ele vai fazendo umpor dia, e, no final, tem um lindo livropronto! Mas eu jamais conseguiria fazerassim. Tenho a necessidade de conciliaras diversas ideias (ainda bem que ascontinuo tendo!) com o planejamentoque minha atividade como designerexige.

Livros infantis, tenho três: Um quedemanda uma certa pesquisa, e porisso foi pro final da fila; um que aindaprecisa de ajustes de texto e definições

técnicas para começar as artes; e umterceiro, simplesinho, que falta apenastomar vergonha na cara e sentar parailustrar...

Mas, como disse, não conseguiria pegara parte das artes destes projetos em

 “suaves prestações”. Quero poder traçarum cronograma e cumprir. Só que, atéagora, tô perdendo esse jogo degoleada... rs. Tenho uma exposição decartazes encomendada que não conseguinem rabiscar ainda!

Existem os projetos que são puro prazer,como coordenar os projetos editoriais

da SIB, por exemplo. Toda a turma doConselho da SIB rala um bocado paracolocar de pé o IlustraBrasil!, um eventoanual bem bacana. E todos fazem issopelo puro prazer de fazer bem feito.

O projeto dos “Bonequinhos Viajantes”,uma instalação que organizo em parceriacom o Romero Cavalcanti, já conta commais de 50 originais maravilhosos,de artistas gráficos brasileiros quesimplesmente confiaram na ideia de

a gente fazer algo bacana coletivamente,e produziram artes especialmente parao projeto. O formato final prevê maisde uma centena deles.

No Rio de Janeiro, onde gostaríamosde começar a mostra, praticamente nãoexistem espaços expositivos bacanasque vc não precise disputar uma vagaa tapa em algum edital. Existe aindauma visão viciada de quem julga estesprojetos, um excesso de burocracia,e as naturais vocações de cada espaço– o que limita ainda mais o leque deopções. Temos um produtor cuidandodesta parte, e esperamos avançar embreve.

O que impede que eu me dedique 100%aos meus projetos pessoais são osnúmeros da Mega Sena, que nunca sãoos mesmos que jogo. Se eu fosse oBruce Wayne, faria a Fundação WaynePara Projetos Pessoais Bacanas.

Tenho um livro que é um fac-símile deum caderno de dedicatórias de umamenina de quinze anos... nos anos 1940(!), com desenhos de J. Carlos, Mendez,Alceu Penna, Carlos Estevão, entreoutros. É um material precioso, que vaitotalmente ao encontro com meuinteresse em publicar livros de imagens,com registro e memória da produçãobrasileira em artes gráficas. Formateio projeto editorial, chamei um jornalista,entrevistamos a dona do caderninho(hoje uma senhora de 80 e poucosanos), cortei o texto, digitalizamos,tratamos e editamos as imagens.

Mas o mercado já se viciou em fazeresse tipo de projeto cultural somentena base do patrocínio, lei de incentivo,essas coisas. De vez em quando mostropara um editor, mas sem pressa. Uma

coisa que aprendi é não ter essaurgência, esse negócio do tempo dafaculdade de “não morro sem fazer meuprojeto”. Eu pensava assim, até que vique fazer um gibi independente, porexemplo, é fácil, não custa muitoimprimir, etc. O difícil é fazer bem feito.Isso vale para todo o resto. Na horaque tiver que sair, sai. Com qualidade.” 

Marcelo MartinezDepoimento:

http://twitter.com/martinez_m

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 “Quando você está criando algo “porencomenda”, a sua criação está atreladaà uma outra ideia, a um compromisso.Experimentar essa liberdade é fantástico,mas às vezes também traz uma sensaçãomeio estranha, um certo vazio, quandoestou trabalhando exclusivamente paramim. Isso deve ser resultado docondicionamento de mais de 15 anosilustrando profissionalmente.

Quando você percebe que está livre parapensar, desenhar, gravar, pintar o quequiser, é que você identifica suaslimitações, e uma tela em branco podeser bem mais opressora que um briefing,pois de repente você percebe quepodendo ir à qualquer lugar, você vaisempre aos mesmos, ou que vocêsimplesmente não tem nada a dizer...

É um desafio trabalhar um mês inteiroilustrando, pagando as contas, e nessemomento de liberdade, encontrar um

 ‘por quê?’, para ir além de um simplesexercício artístico.

Eu acho que o retorno financeiro estáligado à realização pessoal, pois nomomento em que eu descubro umatécnica que me satisfaz, eu queroexplorar as possibilidades e me dedicaro máximo possível à ela, e como éimpossível abandonar todo o restante,pois é preciso sobreviver, então euquero viabilizar o processo, ou pelomenos custear o material, ou um poucodo tempo empregado.

Mas isso não é diretriz nos meustrabalhos pessoais; tenho essa noçãoda necessidade, mas me policio paranão contaminar esses projetos, poisseria frustrante usar essa válvula deescape criativa, para mais um ambientecondicionado de produção.

Eu sempre fiz tudo de formaindependente com os meus projetosparalelos, justamente para nãodepender de nada e de ninguém alémde mim, e a internet é o veículo idealpara esse tipo de coisa.

Samuel CasalDepoimento: A questão financeira ainda é o empecilho,

mas faz parte do desafio do artistaviabilizar sua obra. Eu tento acompanharo mercado, agilizar o processo, buscomateriais alternativos, e, principalmente,adequar minhas criações ao mercado.Sei que é muito mais viável vender cincopeças de R$ 200 que uma de R$ 1.000,então tento conjugar tudo isso com aminha satisfação em fazer algumascoisinhas extras.

Eu aprendi a fazer gravuras, porque alémde adorar a estética da técnica, a formade composição dos desenhos seassemelhava muito ao meu jeito dedesenhar com vetores, então eu quisbuscar esse ensinamento antigo, quetanto remetia ao meu trabalho digital,com uma ferramenta moderna comoo computador.

Aprendi a tatuar quando saí do jornal,onde eu era editor de arte, com umsalário fixo e plano de saúde, para tentarviver de freela. Achei que se de repenteos frilas desaparecessem, eu tinha deganhar a vida, e tatuar, que hoje é umhobby, poderia garantir o meu sustento,ou pelo menos complementar.Comecei a trabalhar com serigrafia e

camisetas junto com dois grandes amigosmeus, que procuravam formas demelhorar suas condições financeiras.Um tinha o espaço fixo, o outro oequipamento e eu as artes.

Eu estou muito interessado nografiti/stencil agora, pois me identifiqueicom a técnica que é muito semelhanteà da gravura, além de me afastar maisdo ambiente digital e me fazer interagircom materiais mais orgânicos e “reais”.Eu fico mais ao ar livre também.

Tudo isso é pra dizer que, mesmoparecendo apenas a criação de váriosprodutos e tal, as técnicas que estãomarcando a minha trajetória, têm umacerta coerência com as minhas buscasindividuais, e que eu fico feliz quando aspessoas dizem que eu estou sempreexperimentando coisas diferentes, masque é sempre possível me reconhecernos trabalhos.

Isso não é intencional e nem umacoincidência, é só uma forma naturalde mostrar que a matéria-prima de tudoisso é o desenho, puro e simples.” 

www.samuelcasal.com

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Todo artista - desenhista, escritor, músicoou qualquer que seja a área em que eleatua - recebe um chamado, algo comouma inclinação, que o atrai para aqueleuniverso.

Daí se dizer que o sujeito tem vocação.Vocação vem do latim vocare, que significa

chamar.

Às vezes acontece quando você está muitobem, brincando sentado no chão da salade casa, ainda guri - quando a sua estaturaé, mais ou menos, a da canela da pernade um adulto - e você vê algo que lhechama a atenção de uma forma especial;pode ser um desenho na televisão ou numarevista, ou em qualquer outro meio. Issonão importa, o que conta de fato é que apartir desse momento você já não serámais o mesmo, não será mais dono da sua

impossível ficar indiferenteao trabalho de Lula Palomanes quando se vê pela

primeira vez cada uma de suas imagens. É umaviagem visual, onde o imaginário dos sonhos se

funde com uma expressão gráfica moderna, fruto deum trabalho cerebral e cheio de experimentações.

Suas raízes portuguesa e espanhola se misturamcom as influências de alguns dos mais importantespintores e artistas gráficos, tendo como resultadoum trabalho visualmente intenso.

O carioca Luis Fernando Palomanes Martinho,mais conhecido como Lula, integra o grupo deartistas que fundou a revista “Papel Brasil”, deonde faz parte também Walter Vasconcelos, queparticipou da Ilustrar nº 9.

Como artista gráfico, tem se destacado na áreaeditorial, trabalhando para muitas das grandesrevistas e jornais do Brasil, ilustrando para OGlobo, Jornal do Brasil, Seleções, Playboy eCiência Hoje, e capas para as editoras Zahar,

Record e Rocco.

VOCÊ É UM ARTISTA AUTODIDATA,MAS TODO AUTODIDATA SEGUE ALGO QUE O INSPIRA EM SUAS PESQUISAS.NO SEU CASO, QUE INSPIRAÇÕES OU INFLUÊNCIAS VOCÊ RECEBEU? 

É

   ©    L

  u   l  a   P  a

   l  o  m  a  n  e  s

lula palomanes

rio de janeiro

[email protected]

http://lulapalomanes.blogspot.com

1vontade. Algo terá se fixado em você parasempre. Algo pelo qual você se sentiráresponsável como quem guarda um bemprecioso, e você se sente atraído por aquilocomo a planta que procura o sol.

Esse acontecimento normalmente não éacompanhado de testemunha externa,mesmo que se tenha gente por perto.Embora dentro de você esteja acontecendouma revolução, para os de fora o dia éapenas mais um como qualquer outro. Sevocê dá algum sinal externo de que algo

mudou em você, o máximo que issodesperta naqueles que estão à sua voltaé algo como uma expressão vaga do tipo:

 “Esse garoto é esquisito!” 

A lembrança mais antiga que eu tenho deuma forte emoção com uma imagem sedeu antes dos seis anos de idade, quandoeu vi um desenho de um leão com traçospretos bem marcados num livrinho deescola, acho que de um irmão meu. Senão me engano era um livro desses quedão para as crianças colorirem.

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Depois desse primeiro momento, eu tivetrês momentos parecidos, quasesimultâneos, já com idade entre dezessetee vinte anos, quando entrei em contatocom os desenhos de três grandesdesenhistas brasileiros.

Por ordem dos acontecimentos: Lan, J.Carlos e Loredano - este a maior e mais

QUAIS ARTISTAS TIVERAM INFLUÊNCIANO SEU APRENDIZADO?  duradoura influência no meu desenho.De lá pra cá essa experiência nuncamais se repetiu.

Antes disso eu só me interessava porpintura clássica e barroca. Nunca haviacomprado um exemplar do jornal OPasquime nem da revista Mad.

Também nunca tive nenhum ídolo entreos desenhistas de histórias em quadrinhos.

Sempre fui um autodidata em tudo, na escolhados materiais, na forma de usá-los e em tudomais.

Mas no fundo eu acho que todo desenhista,mesmo que ele frequente escola de desenhoou não, sempre aprenderá um pouco sozinhoe um pouco com os outros.

E A PESQUISA DOS MATERIAIS, TAMBÉMSE DEU DE FORMA AUTODIDATA? 

Eu não acho que você escolha, vocêé, antes, escolhido.

 AINDA SOBRE O ESTUDO AUTODIDATA,ELE TEM PRÓS E CONTRAS, COMMUITAS PEDRAS NO CAMINHO. HOJE,DEPOIS DE UMA LONGA CARREIRA,

 ACHA QUE FOI A ESCOLHA CERTA? 

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5Eu comecei olhando as pinturas clássicase barrocas numa coleção da Salvat Ed.que o meu pai, Avelino, comprava pragente. Nesse período eu não distinguia

muito as épocas e os estilos que eramrelativos a cada artista.

Me lembro de apreciar aquela variedadede estilos, de pinceladas e de cores emabundância, com uma preferência pelapintura da figura humana.

No caso dos retratos, eu sempre gosteidos mais sóbrios, mas as pinturas de cenashistóricas e as pinturas religiosas, quetinham muito colorido, aqueles corpos nusvoando em várias posições, também me

COM A INFLUÊNCIA DOS PINTORES CLÁSSICOS, COMO QUEBROU 

 AS BARREIRAS DO DESENHO CLÁSSICO E PARTIU PARA UM TRABALHO MAIS MODERNO? 

agradavam bastante. Gostava muitodos desenhos feitos em gravura emmetal e litografia.

O meu desenho tem muito dessa influência.Mas ao conhecer os desenhos dessesartistas, principalmente do Loredano, foique eu comecei a olhar com outros olhospara os artistas modernos, embora eu nãogoste muito de fazer esta distinção.

Claro que eu já conhecia o Picasso e osmais famosos do século vinte. Depois eufui conhecendo outros artistas, comoacontece com todo jovem que se interessapor algum assunto; o Egon Schiele, oTrimano, o Grilo, o Ralph Steadman...

Os meus artistas preferidos são: Velásquez,Rembrandt, Ingres (quem me chamou aatenção para ele foi o Cavalcante), Picassoe Bacon.

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O meu desenho sempre foi marcado maispela forma do que pela cor; como eu tinhadificuldades quando criança para obterbons materiais de pintura eu sempredesenvolvi mais o desenho - e desenhoem preto e branco e a lápis.

Quando eu comecei a publicar desenhosno Pasquim, isso foi em 1983, quase nãose publicava desenho colorido em jornalalgum, muito menos lá.

 A COR NEGRA, PURA OU DILUÍDA, É PRESENÇA CONSTANTE NO SEU TRABALHO.PREFERE A EXPRESSIVIDADE DO PRETO E BRANCO? 

A escolha das cores no meu trabalho nãoé uma coisa consciente. Talvez a única corque tenha uma relação direta com o meu

desenho seja o vermelho, por causa doaspecto carnal das figuras que eu desenho.

Por causa do sangue. No mais, eu prefiroque meus desenhos tenham umapredominância cromática aproximada docastanho, podendo entrar uma ou outracor num canto ou num objeto qualquer dodesenho. Mas isso tudo está em aberto,pode ser que mude com o tempo, vai sesaber.

E COMO DEFINE O USO DAS CORES? 

A revista Papel Brasil foi desenvolvida pormim, pelo Paulo Cavalcante, pelo WalterVasconcelos e pelo Cruz (Glauco da Cruz),com o único objetivo de publicar desenhosem maior quantidade ao mesmo tempo.

Principalmente desenhos que a gente

publicava no nosso trabalho do dia-a-diade forma esporádica, e outros que a gentenem chegava a publicar.

Além disso, a revista, mais do que umobjetivo, foi uma oportunidade de trabalharcom essas feras do desenho. Aindaconvidamos outros excelentes desenhistascomo o Jaca e o Zimbres.

 A REVISTA “PAPEL BRASIL” FOI DESENVOLVIDA POR VOCÊ, PAULO CAVALCANTE, GLAUCO DA CRUZ E WALTER VASCONCELOS (QUE PARTICIPOU DA ILUSTRAR Nº 9).QUAL É O OBJETIVO DA REVISTA? 

Quem sabe quando sairá outro número?Não há nenhuma previsão.

POR ENQUANTO SÓ SAÍRAM DOIS NÚMEROS, MAS PELA QUALIDADE E CONTEÚDO LOGO VIROU UMAPUBLICAÇÃO CULT. EXISTE A PREVISÃO DE NOVAS EDIÇÕES? 

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O Brasil foi colonizado por Portugal, que nãotem uma tradição visual tão grande como aEspanha, que colonizou o resto da AméricaLatina. Argentina e México têm mais tradiçãono desenho e na pintura do que o Brasil. Mas

não sei se essa é uma análise correta porqueo Brasil teve uma excelente arte barroca quandoainda era colônia de Portugal.

Não acho que haja nada melhor nesse período naAmérica, incluso os Estados Unidos. Além disso, agrande escola da pintura espanhola ainda estavacomeçando a se formar no período da colonização(meu pai era português, minha mãe é espanholae nós – eu e meus irmãos – somos brasileiros.Temos quase toda a América Latina em casa).

A arte ocidental vem quase toda do catolicismo,e os países católicos sempre tiveram maisrelação com a pintura do que os paísesprotestantes por causa das pinturas desantos. Dos afrescos.

O que aconteceu de lá pra cá eu nãosei precisar, mas me parece que o paísfoi se tornando mais musical do quevisual.

Se você vai à casa de alguém,você não sabe se láencontrará algumacoleção de arte,gravuras nasparedes ou unspoucos livros de arte, queseja. Mas fatalmente encontraráum cantinho reservado para os LPse CDs em todas as casas brasileiras. Acho

que o nosso negócio é mexer o esqueleto e balançaro bumbum.

É claro que isso acaba tendo uma influência naformação das pessoas no Brasil dos dias de hoje.

 A REVISTA MOSTRA QUANTO O DESENHO PODE SER VALORIZADO E MOSTRADO COM O STATUS DE 

 ARTES PLÁSTICAS. MAS AO CONTRÁRIO DOS EUA E EUROPA, O DESENHO E A ARTE EM PAPEL SÃO POUCO VALORIZADOS NO BRASIL. POR QUE ACHA QUE ISSO ACONTECE? 

Não sei. Falta ao Brasil ser mais católico.

E O QUE FALTARIA PARA HAVER UMAMAIOR VALORIZAÇÃO DA

 ARTE EM PAPEL NO BRASIL? 

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Eu não tenho nada contra o computador, só tenho afavor. Acho que o computador facilitou enormemente adivulgação e a produção do desenho no Brasil e no mundo.

Acho que se tem desenhado mais, em papel ou não,do que se desenhava antes.

Mas eu faria um paralelo com a atividade do ator, quandoeles dizem que o verdadeiro ator tem que experimentaro teatro.

Acho que o desenho em computador está para ocinema e a TV, assim como o desenho no papel ouna tela de pintura está para o teatro.

 ALGUNS ARTISTAS TÊM UM PRAZER TODO ESPECIAL EM TRABALHAR SOBRE PAPEL,PELAS CARACTERÍSTICAS QUE ELE APRESENTA.VOCÊ TAMBÉM TEM ESSA PREFERÊNCIA OU É INDIFERENTE O SUPORTE? 

Eu faço as caricaturas no papel primeiro (namunheca); só depois eu as escaneio e ponho

a cor no computador. Às vezes faço pequenascorreções no traço também.

E SUPORTES COMO O DIGITIAL,VOCÊ USA EM SUAS CARICATURAS, É UM MEIO QUE SE SENTE À VONTADE,COMO NAS TINTAS? 

Como desenho, a caricatura é uma formade expressão gráfica.

Mas uma forma de expressão gráfica quetem por objetivo revelar o que há deindividual e mais expressivo em cadapessoa.

Pouco me importa o quanto o caricaturado(a vítima) tem de comum; eu semprebusco mostrar o que ele tem de maisintransferível.

FALANDO NAS CARICATURAS, ESSAÉ OUTRA VERTENTE DO SEU TRABALHO. PARA VOCÊ, É UMAFORMA DE EXPRESSÃO GRÁFICA OU UMA FORMA DE EXPRESSAR AS PESSOAS? 

Existem atualmente bons nomes dacaricatura pessoal atuando no mercado doBrasil e do exterior. Gerald Scarf, RalphSteadman, Nine, Túrcio, Sábat; e algunsque atuam no Brasil como o Trimano, oLeo Martins, Dálcio, Caú Gomes, Cárcamo,Lan...

PARA VOCÊ, QUEM SÃO OS MELHORES CARICATURISTAS DO MERCADO? 

Mas dentre todos os que atuam dentro efora do Brasil, o Loredano e o Cavalcantesão os melhores, na minha opinião.

Um abração e mais uma vez muitoobrigado! Um abraço para todos os quefazem esta revista e muito obrigado pelaoportunidade e a atenção com que você,Ricardo, conduziu este encontro desde oseu início.

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BAIÃO ILUSTRADO

FAKE FAKE ILUSTRACIONES

No dia 7 de novembro começa o 2º FakeFake Ilustraciones, exposição deilustradores que ocorre pela segunda vezem Goiânia, e com previsão para durar ummês.

Este ano foram covidados profissionais doramos de ilustração que atuam no mercadopara dar palestras, como Montalvo Machadoe Ciça Fittipaldi

O Fake Fake é uma exposição criada porestudantes de design gráfico daUniversidade Federal de Goiás (UFG) como objetivo não apenas de mostrar ostrabalhos realizados pelos participantes,mas também divulgar a produção dailustração e do design goiano,

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CURTAS

Todo mundo já conhece o BistecãoIlustrado, jantar de ilustradores que ocorretodos os meses em São Paulo. Agora vaihaver a versão especial do Bistecão emFortaleza, chamado Baião Ilustrado.

O Baião Ilustrado vai reunir ilustradoresde todo o estado nos dias 5, 6 e 7 denovembro, em Fortaleza.

A ideia é motivar jovens talentos e reafirmaro potencial daqueles que já trabalham comoprofissionais. O encontro contará com aparticipação especial do ilustrador paulista

 “Kako”, responsável pelas palestras eoficinas desta primeira edição.

Kako é um dos mais importantesilustradores da atualidade, além disso,é mentor e criador do Bistecão Ilustrado

de São Paulo - que agora vai ter versãoem Fortaleza - tornando-se pioneiro noNorte e Nordeste.

A abertura do evento (05/11) ocorreráno Bar do Arlindo, às 19:30h.

Será uma noite de troca de experiênciase muita ilustração em uma mesa de bar,

regada pelo autêntico baião nordestino,por refrigerante e muita cerveja patrocinadapela Coca-Cola.

A programação dos outros dias segue naFaculdades Nordeste (Fanor).

Mais informações:

www.baiaoilustrado.com.br

www.baiaoilustrado.tumblr.com

além de abarcar manifestações culturaise pedagógicas.

O diferencial do projeto e de seusrealizadores é que eles assumem seu lado"fake", ou seja, falso.

Trata-se do lado ilustrador: nemartistas, nem designers, e ao mesmotempo, ambos.

Não aceitam limites de criação, consomeme consumam todas as influências possíveis,assim elevando o nível de sua produção.

Mais informações:

www.fakefakeilustraciones.com

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• GUIA DO ILUSTRADOR - Guia de Orientação Profissional

• ILUSTRAGRUPO - Fórum de Ilustradores do Brasil

• SIB - Sociedade dos Ilustradores do Brasil

• ACB / HQMIX - Associação dos Cartunistas do Brasil / Troféu HQMIX 

• UNIC - União Nacional dos Ilustradores Científicos

• ABIPRO - Associação Brasileira dos Ilustradores Profissionais

• AEILIJ - Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil

• ADG / Brasil - Associação dos Designers Gráficos / Brasil

• ABRAWEB - Associação Brasileira de Web Designers

• CCSP - Clube de Criação de São Paulo

www.guiadoilustrador.com.br

http://br.groups.yahoo.com/group/ilustragrupo

www.sib.org.br

www.hqmix.com.br

http://ilustracaocientifica.multiply.com

http://abipro.org

www.aeilij.org.br

www.adg.org.br

www.abraweb.com.br

Aqui encontrará o contato da maior parte das agências de publicidadede São Paulo, além de muita notícia sobre publicidade.www.ccsp.com.br