revista1860

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R EVISTA E SPÍRITA Jornal de Estudos Psicológicos

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  1. 1. REVISTA ESPRITA Jornal de Estudos Psicolgicos
  2. 2. REVISTA ESPRITA Jornal de Estudos Psicolgicos Contm: O relato das manifestaes materiais ou inteligentes dos Espritos, aparies, evocaes, etc., bem como todas as notcias relativas ao Espiritismo. O ensino dos Espritos sobre as coisas do mundo visvel e do invisvel; sobre as cincias, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro. A histria do Espiritismo na Antigidade; suas relaes com o magnetismo e com o sonambulismo; a explicao das lendas e das crenas populares, da mitologia de todos os povos, etc. Publicada sob a direo de ALLAN KARDEC Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente est na razo da grandeza do efeito. ANO TERCEIRO 1860 TRADUO DE EVANDRO NOLETO BEZERRA FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA
  3. 3. SumrioTERCEIRO VOLUME ANO DE 1860 JANEIRO O Espiritismo em 1860 15 O Magnetismo Perante a Academia 21 O Esprito de um Lado, o Corpo do Outro 29 Conselhos de Famlia 42 As Pedras de Java 47 Correspondncia 48 Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 54 FEVEREIRO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 61 Os Espritos Glbulos 70 Mdiuns Especiais 76 Bibliografia Condessa Mathilde de Canossa 79 Histria de um Danado 85
  4. 4. Comunicaes Espontneas: Estelle Riquier 103 O Tempo Presente 105 Os Sinos 106 Conselhos de Famlia 107 MARO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 109 Os Pr-Adamitas 116 Um Mdium Curador 121 Manifestaes Fsicas Espontneas O Padeiro de Dieppe 125 Estudo sobre o Esprito de Pessoas Vivas: O Dr. Vignal 130 Ditado do Sr. Cauvire 141 Ditado do Sr. Vignal 142 Senhorita Indermuhle 143 Bibliografia Siamora, a Druidesa, ou o Espiritualismo no Sculo Quinze 147 Ditados Espontneos: O Gnio das Flores 150 Perguntas Sobre o Gnio das Flores 151 Felicidade (Stel) 152 O Livro dos Espritos Segunda Edio 154 Aos Leitores da Revista Cartas no Assinadas 155
  5. 5. ABRIL Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 157 Formao da Terra Teoria da Incrustao Planetria 166 Cartas do Dr. Morhry Sobre a Srta. Dsire Godu 175 Variedades: O Fabricante de So Petersburgo 181 Apario Tangvel 184 Ditados Espontneos: O Anjo das Crianas 185 Conselhos 186 A Ostentao 187 Amor e Liberdade 188 A Imortalidade 189 Parbola 189 O Espiritismo 190 Filosofia 191 Comunicaes Lidas na Sociedade: A Conscincia 194 A Morada dos Eleitos 195 O Esprito e o Julgamento 196 O Incrdulo 197 O Sobrenatural 197
  6. 6. MAIO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 199 Histria do Esprito Familiar do Senhor de Corasse 207 Correspondncia 214 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: Jardin 219 Uma Convulsionria 223 Variedades: A Biblioteca de Nova York 228 A Noiva Trada 231 Superstio 234 Pneumatografia ou Escrita Direta 236 Espiritismo e Espiritualismo 238 Ditados Espontneos: As Diferentes Ordens de Espritos 239 I Remorso e Arrependimento 240 II Os Mdiuns 241 JUNHO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 243 O Espiritismo na Inglaterra 252 Um Esprito Falador 253 O Esprito e o Cozinho 258
  7. 7. O Esprito de um Idiota 260 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: Sra. Duret 263 Medicina Intuitiva 274 Uma Semente de Loucura 276 Tradio Muulmana 278 Erro de Linguagem de um Esprito 281 Ditados Espontneos e Dissertaes Espritas: A Vaidade 283 A Misria Humana 284 A Tristeza e o Pesar 284 A Fantasia 286 A Influncia do Mdium Sobre o Esprito 287 Bibliografia 287 JULHO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 289 Frenologia e Fisiognomonia 297 Os Fantasmas 304 Lembrana de uma Existncia Anterior 306 Os Animais 310 Exame Crtico das Dissertaes de Charlet sobre os Animais 320 Bibliografia 332
  8. 8. AGOSTO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 333 Concordncia Esprita e Crist 343 O Trapeiro da Rua des Noyers 348 Conversas Familiares de Alm-Tmulo: Thilorier, o Fsico 359 O Suicida da Rua Quincampoix 366 Variedades: O Prisioneiro de Limoges 369 Perguntas de um Esprita de Stif ao Sr. Oscar Comettant 370 Ditados Espontneos e Dissertaes Espritas: Desenvolvimento das Idias 373 Mascaradas Humanas 374 O Saber dos Espritos 374 Origens 375 O Futuro 376 Eletricidade Espiritual 378 Instruo Prtica sobre as Manifestaes Espritas 379 SETEMBRO Aviso 381 Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 381 O Maravilhoso e o Sobrenatural 395 Histria do Maravilhoso e do Sobrenatural 406
  9. 9. Correspondncia 417 Dissertaes Espritas: Devaneio 423 Sobre os Trabalhos da Sociedade 425 OUTUBRO Resposta do Sr. Allan Kardec Gazette de Lyon 427 Banquete Oferecido pelos Espritas Lioneses ao Sr. Allan Kardec 440 Resposta do Sr. Allan Kardec 442 Sobre o Valor das Comunicaes Espritas 452 Dissertaes Espritas: Formao dos Espritos 461 Os Espritos Errantes 463 O Castigo 464 Marte 466 Jpiter 469 Os Espritos Puros 471 Morada dos Bem-Aventurados 472 A Reencarnao 474 O Despertar do Esprito 476 Progresso dos Espritos 477 A Caridade Material e a Caridade Moral 478 A Eletricidade do Pensamento 480 A Hipocrisia 482
  10. 10. NOVEMBRO Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 483 Bibliografia Carta de um Catlico Sobre o Espiritismo 490 Homero 491 Conversas Familiares de Alm-Tmulo Baltazar, o Esprito Gastrnomo 496 Um Esprita a seu Esprito Familiar Estncias 500 Relaes Afetuosas dos Espritos 501 Dissertaes Espritas: Primeiras Impresses de um Esprito 504 Os rfos 505 Um Irmo Morto Sua Irm Viva 506 O Cristianismo 507 O Tempo Perdido 508 Os Sbios 509 O Homem 511 A Firmeza nos Trabalhos Espritas 511 Os Inimigos do Progresso 512 Distino da Natureza dos Espritos 513 Scarron 514 O Nada da Vida 514 Aos Mdiuns 515 A Honestidade Relativa 516 Proveito dos Conselhos 517
  11. 11. Pensamentos Avulsos 517 Maria de Agreda Fenmeno de Bicorporeidade 518 Aviso 524 DEZEMBRO Aos Assinantes da Revista Esprita 525 Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espritas 527 Arte Pag, Arte Crist, Arte Esprita 531 Histria do Maravilhoso 535 Conversas Familiares de Alm-Tmulo Baltazar, o Esprito Gastrnomo 546 A Educao de um Esprito 548 Dissertaes Espritas Recebidas e Lidas na Sociedade por Diversos Mdiuns: Entrada de um Culpado no Mundo dos Espritos 554 Castigo do Egosta 555 Alfred de Musset 558 Intuio da Vida Futura 561 A Reencarnao 563 O Dia dos Mortos 564 Alegoria de Lzaro 566 O Duende Familiar 567 Nota Explicativa 569
  12. 12. Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos ANO III JANEIRO DE 1860 No 1 O Espiritismo em 1860 Temos o prazer de anunciar que a Revista Esprita d incio ao seu terceiro ano de circulao, amparada pelos mais favorveis auspcios. com satisfao que aproveitamos o ensejo para testemunhar aos leitores a nossa gratido pelas provas de simpatia que temos recebido diariamente. S isso j seria motivo suficiente de encorajamento, caso no encontrssemos, na prpria natureza e no objetivo de nossos trabalhos, larga compensao moral s fadigas que lhes so conseqentes. Tal a multiplicidade desses trabalhos, aos quais nos consagramos inteiramente, que se torna impossvel responder a todas as cartas de felicitaes que nos chegam. Somos, pois, obrigados a dirigir-nos coletivamente aos seus autores, rogando-lhes que aceitem os nossos agradecimentos. Estas cartas, bem assim as numerosas pessoas que nos do a honra de com elas conferenciar a respeito desses graves problemas, convencem-nos cada vez mais do progresso do Espiritismo verdadeiro, isto , do Espiritismo compreendido em todas as suas conseqncias morais. Sem nos iludirmos quanto ao alcance de nossos trabalhos, o pensamento de haver contribudo, lanando alguns gros na balana, para ns doce satisfao, porquanto essas poucas sementes tero contribudo para despertar a reflexo.
  13. 13. REVISTA ESPRITA A prosperidade crescente da Revista um indcio do favor com que acolhida. No nos cabe seno continuar a obra na mesma linha, j que vem recebendo a consagrao do tempo, sem nos afastarmos da moderao, da prudncia e das convenincias que sempre nos orientaram. Deixando aos nossos contraditores o triste privilgio das injrias e do personalismo, no os seguiremos no terreno de uma controvrsia sem objetivo. Dizemos sem objetivo porque jamais os levaria convico; ademais, seria pura perda de tempo discutir com pessoas que no tm a menor noo daquilo de que falam. S temos uma coisa a dizer-lhes: Estudai primeiro; depois veremos. Temos mais que fazer do que falar a quem no quer ouvir. Afinal de contas, o que importa a opinio contrria deste ou daquele? Ter essa opinio to grande importncia que possa deter a marcha natural das coisas? As maiores descobertas encontraram os mais rudes adversrios, sem que por isso fossem prejudicadas. Assim, deixando a incredulidade zunir nossa volta, jamais nos desviaremos do caminho que nos traado pela prpria gravidade do assunto que nos ocupa. Dissemos que as idias espritas esto em franco progresso. Com efeito, desde algum tempo ganharam imenso terreno. Dir-se-ia que esto no ar; no, certamente, em razo do barulho da grande e da pequena imprensa. Se elas progridem, apesar e contra tudo, no obstante a m vontade encontrada em certas regies porque possuem vitalidade suficiente para se bastarem a si mesmas. Quem se der ao trabalho de aprofundar a questo do Espiritismo, nele encontra uma satisfao moral to grande, a soluo de tantos problemas que inutilmente havia pedido s teorias vulgares; o futuro se desdobra sua frente de maneira to clara, to precisa e to lgica, que a si mesmo confessa a impossibilidade de as coisas realmente no se passarem assim; j que um sentimento ntimo lhe dizia que assim deveria ser, de causar admirao que no as tenha compreendido mais cedo. Desenvolvida, a cincia esprita nada mais faz que formular, tirar do nevoeiro idias j existentes em seu foro ntimo; da por diante o 16
  14. 14. JANEIRO DE 1860 17 futuro se apresenta com objetivo claro, preciso, perfeitamente definido; j no marcha ao sabor das ondas: v o seu caminho. No mais esse futuro de felicidade ou de desgraa que a razo no podia compreender e que, por isso mesmo, o repelia; um futuro racional, conseqncia das prprias leis da Natureza, capaz de suportar o exame mais severo. Eis por que feliz e como que aliviado de um imenso peso: o da incerteza, porquanto a incerteza um tormento. Mau grado seu, o homem sonda as profundezas do futuro e no pode deixar de v-lo eterno; compara-o brevidade e fragilidade da existncia terrestre. Se o futuro no lhe oferece nenhuma certeza, ele se atordoa, concentra-se no presente e, para o tornar mais suportvel, entrega-se a todos os excessos: em vo que a conscincia lhe fala do bem e do mal. Diz a si mesmo: o bem aquilo que me faz feliz. De fato, que motivo teria para ver o bem em outra parte? Por que suportar privaes? Quer ser feliz e, para ser feliz, quer gozar; gozar o que os outros possuem; quer ouro, muito ouro; a ele se apega como sua vida, porque o ouro o veculo de todos os prazeres materiais. Que lhe importa o bem- estar do semelhante? O seu, antes de tudo. Quer satisfazer-se no presente, por no saber se o poder mais tarde, num futuro em que no acredita. Torna-se, assim, vido, invejoso, egosta e, com todos esses prazeres, no feliz porque o presente lhe parece muito curto. Com a certeza do futuro, tudo para ele muda de aspecto; o presente apenas efmero e o v passar sem lamentar-se; menos apegado aos prazeres terrenos, porque s lhe trazem uma sensao passageira, fugidia, que deixa vazio o corao; aspira a uma felicidade mais duradoura e, conseqentemente, mais real. E onde poder encontr-la, seno no futuro? Mostrando-lhe, provando-lhe esse futuro, o Espiritismo o liberta do suplcio da incerteza, e isso o torna feliz. Ora, aquilo que traz felicidade sempre encontra partidrios. Os adversrios do Espiritismo atribuem sua rpida propagao a uma febre supersticiosa que se apodera da
  15. 15. REVISTA ESPRITA Humanidade: o amor do maravilhoso. Antes, porm, precisariam ser lgicos; aceitaremos o seu raciocnio se que a isso podemos chamar raciocnio quando tiverem explicado claramente por que essa febre atinge justamente as classes esclarecidas da sociedade, em vez das ignorantes. Quanto a ns, dizemos que porque o Espiritismo apela ao raciocnio, e no crena cega, que as classes esclarecidas o examinam, refletem e o compreendem. Ora, as idias supersticiosas no suportam o exame. Alis, todos vs que combateis o Espiritismo, chegais a compreend-lo? Estudastes, perscrutastes seus detalhes, pesastes maduramente todas as suas conseqncias? No, mil vezes no. Falais de algo que no conheceis. Todas as vossas crticas e no falo das tolas, vulgares e grosseiras diatribes, despidas de qualquer raciocnio e que no tm nenhum valor refiro-me s que, pelo menos, tm aparncia de seriedade, todas as vossas crticas, repito, acusam a mais completa ignorncia do assunto. Para criticar necessrio poder opor raciocnio a raciocnio, prova a prova. Ser isto possvel, sem conhecimento aprofundado do assunto de que se trata? Que pensareis de quem pretendesse criticar um quadro, sem possuir, pelo menos em teoria, as regras do desenho e da pintura? Discutir o mrito de uma pera, sem saber msica? Sabeis a conseqncia de uma crtica ignorante? ser ridcula e revelar falta de juzo. Quanto mais elevada a posio do crtico, quanto mais ele se pe em evidncia, tanto mais seu interesse lhe exige circunspeo, a fim de no vir a receber desmentidos, sempre fceis de dar a quem quer que fale daquilo que no conhece. por isso que os ataques contra o Espiritismo tm to pouco alcance e favorecem o seu desenvolvimento, em vez de o deter. Esses ataques so propaganda; provocam exame, e o exame s nos pode ser favorvel, porque nos dirigimos razo. No h um s artigo publicado contra a doutrina que no nos tenha proporcionado um aumento de assinaturas e de vendas de obras. O do Sr. Oscar Comettant (Vide o Sicle de 27 de outubro 18
  16. 16. JANEIRO DE 1860 19 passado, e nossa resposta na Revista do ms de dezembro de 1859) provocou a venda, em poucos dias, na casa Ledoyen, de mais de cinqenta exemplares da famosa sonata de Mozart (que custa 2 francos, preo lquido, segundo a importante e espirituosa observao do Sr. Comettant). Os artigos do Univers, de 13 de abril e 28 de maio de 1859 (ver nossa resposta nos nmeros da Revista de maio e julho de 1859) esgotaram rapidamente o que restava da primeira edio de O Livro dos Espritos, bem como outros. Mas voltemos a coisas menos materiais. Enquanto no opuserem ao Espiritismo seno argumentos desta natureza, ele nada tem a temer. Repetimos que a principal fonte do progresso das idias espritas est na satisfao que proporcionam a todos que as aprofundam, e que nelas vem algo mais do que um simples passatempo. Ora, como antes de tudo todos querem a felicidade, no de admirar que se liguem a uma idia que os torna felizes. Dissemos em algum lugar que, em se tratando de Espiritismo, o perodo da curiosidade passou, dando lugar ao da razo e da filosofia. A curiosidade tem tempo certo: uma vez satisfeita, muda-se o objetivo por um outro. J no se d a mesma coisa com quem se dirige ao pensamento srio e razo. O Espiritismo progrediu principalmente a partir do momento em que passou a ser mais bem compreendido em sua essncia ntima, desde que se viu o seu alcance, porque toca na corda mais sensvel do homem: a de sua felicidade, mesmo neste mundo. A reside a causa de sua propagao, o segredo da fora que o far triunfar. Vs todos que atacais o Espiritismo, quereis um meio seguro de o combater com sucesso? Eu vo-lo indico. Substitu-o por algo melhor; encontrai uma soluo mais lgica a todas as questes que ele resolve; dai ao homem outra certeza que o torne mais feliz, e compreendei bem o alcance da palavra certeza, porque o homem s aceita como certo o que lhe parece lgico; no vos contenteis em dizer que isso no , pois muito fcil; provai, no pela negao, mas pelos fatos, que isso no , jamais foi e no pode
  17. 17. REVISTA ESPRITA ser. Provai, finalmente, que as conseqncias do Espiritismo no tornam melhores os homens, pela prtica da mais pura moral evanglica, moral muito elogiada, mas pouco praticada. Quando tiverdes feito isso, serei o primeiro a inclinar-me perante vs. At l, permiti que encare vossas doutrinas, que so a negao completa do futuro, como a fonte do egosmo, verme que corri a sociedade e, conseqentemente, como um verdadeiro flagelo. Sim, o Espiritismo forte, mais forte do que vs, porque se apia nos prprios alicerces da religio: Deus, a alma e as penas e recompensas futuras, baseadas no bem e no mal que se faz. Vs vos apoiais na incredulidade. Ele convida o homem felicidade, esperana, verdadeira fraternidade. Vs lhe ofereceis o nada como perspectiva e o egosmo como consolao. Ele tudo explica, vs nada explicais. Ele prova pelos fatos e vs nada provais. Como pretendeis que se vacile entre as duas doutrinas? Em resumo, constatamos e cada um v e sente como ns que o Espiritismo deu um passo imenso no ano que findou, e esse passo a garantia daquele que haver de dar no ano que comea. No somente o nmero de seus partidrios aumentou consideravelmente, como uma notvel mudana operou-se na opinio geral, mesmo entre os indiferentes. Diz-se que no fundo de tudo isso bem poderia haver alguma coisa; que no se deve ser apressado em julg-lo; os que assim agiam, dando de ombros, comeam a temer o ridculo sobre si mesmos ao ligarem o prprio nome a um julgamento precipitado, que poder ser desmentido. Deste modo, preferem calar-se e esperar. Sem dvida, durante muito tempo ainda haver pessoas que, nada tendo a perder com a opinio da posteridade, procuraro denegri-lo; umas, por carter ou por estado de nimo; outras, por clculo. Mas ns nos acostumamos idia de ir ao hospcio1 , desde que nos vejamos em boa companhia; e, como tantas outras, esta piada sem graa torna- se um lugar-comum, com a qual ningum se incomoda, porque no 20 1 N. do T.: No original: aller Charenton, referncia a famoso hospital psiquitrico francs.
  18. 18. JANEIRO DE 1860 21 fundo desses ataques v-se a mais absoluta falta de raciocnio. A arma do ridculo, essa arma que se diz to terrvel, se gasta evidentemente e tomba das mos daqueles que a empunhavam. Acaso teria perdido o seu poder? No, contanto que no desfira golpes em falso. O ridculo no mata seno o que ridculo em si, tendo de srio apenas a aparncia, porque fustiga o hipcrita e lhe arranca a mscara; mas aquilo que verdadeiramente srio s receber golpes passageiros e sair sempre triunfante da luta. Vede se uma s das grandes idias que foram ridicularizadas em sua origem pela turba ignorante e invejosa caiu para no mais se erguer! Ora, o Espiritismo uma das maiores idias, porque toca na questo mais vital a da felicidade do homem e no se brinca impunemente com semelhante problema. Ele forte porque tem suas razes nas prprias leis da Natureza e responde aos inimigos fazendo, desde o incio, a volta ao mundo. Alguns anos mais e seus detratores, impotentes para o combater pelo raciocnio, encontrar- se-o de tal modo ultrapassados pela opinio dominante, de tal forma isolados, que se vero forados a calar ou a abrir os olhos luz. O Magnetismo Perante a Academia Deixado porta, o magnetismo entrou pela janela, mediante um disfarce e um outro nome. Em vez de dizer: Sou o magnetismo, o que provavelmente no lhe teria valido uma acolhida favorvel, disse: Chamo-me hipnotismo (do grego hypnos, sono). Graas a esse salvo-conduto conseguiu entrar aps vinte anos de pacincia. Mas no perdeu por esperar, pois soube fazer-se introduzir por uma das maiores celebridades. Evitou cuidadosamente apresentar-se com seu cortejo de passes, de sonambulismo, de viso a distncia, de xtases, que o teriam trado. Disse simplesmente: Sois bons e humanos; vosso corao sangra ao ver sofrer os vossos doentes; procurais um meio de suavizar a dor do paciente, cortado pelo vosso escalpelo, mas o que empregais
  19. 19. REVISTA ESPRITA s vezes muito perigoso. Eu vos trago um mais simples e que, em todo caso, no tem inconvenientes. Estava bem seguro de ser ouvido, falando em nome da Humanidade. E acrescentou, matreiro: Sou da famlia, pois devo a vida a um dos vossos. Pensava, no sem alguma razo, que essa origem no o prejudicaria. Se vivssemos ao tempo da brilhante e potica Grcia, diramos: O magnetismo, filho da Natureza e de um simples mortal, foi proscrito do Olimpo porque, ao fazer concorrncia com Esculpio, feriu os interesses deste ltimo, louvando-se de poder curar sem o seu concurso. Errou muito tempo pela Terra, ensinando aos homens a arte de curar por meios novos; desvendou ao vulgo uma poro de maravilhas que, at ento, tinham sido misteriosamente escondidas nos templos; mas aqueles cujos segredos havia revelado, desmascarando-lhe a charlatanice, o perseguiram a pedradas, de tal sorte que foi, ao mesmo tempo, banido pelos deuses e maltratado pelos homens. Nem por isso deixou de espalhar seus benefcios, aliviando a Humanidade, certo de que um dia a sua inocncia seria reconhecida e lhe fariam justia. Teve um filho, cujo nascimento escondeu cuidadosamente, temeroso de lhe atrair perseguies; ele o chamou hipnotismo. Este filho partilhou de seu exlio durante muito tempo, aproveitando-o para instruir-se. Quando o julgou suficientemente formado, disse- lhe: Vai-te apresentar no Olimpo; abstm-te de dizer que s meu filho; teu nome e um disfarce facilitaro o teu acesso; Esculpio te apresentar. Como, meu pai! Esculpio, vosso inimigo mais encarniado! Logo ele que vos proscreveu! Ele mesmo te estender a mo. Mas se me reconhecer, expulsar-me-. Ora essa! Se te expulsar, virs junto a mim e continuaremos nossa obra beneficente entre os homens, espera de melhores dias. Mas fica tranqilo, tenho muita esperana. Esculpio no mau; quer, antes de tudo, o progresso da Cincia: caso contrrio no seria digno de ser o deus da Medicina. Alis, talvez eu tenha cometido algumas faltas para com ele; ofendido por me ver denegrir, eu me exaltei e 22
  20. 20. JANEIRO DE 1860 23 o ataquei sem considerao. Prodigalizei-lhe injrias, ridicularizei-o, vilipendiei-o, chamei-o de ignorante. Ora, eis um meio deplorvel de tratar os homens e os deuses; e seu amor-prprio ferido irritou-se um instante contra mim. No faas como eu, meu filho; s mais prudente e, sobretudo, mais atencioso. Se os outros no o forem para contigo, o erro ser deles, e a razo, tua. Vai, filho meu, e lembra-te de que nada se obtm de algum pela fora. Assim falou o pai. O hipnotismo partiu timidamente para o Olimpo; batia-lhe forte o corao quando se apresentou soleira da porta sagrada. Mas, surpresa! o prprio Esculpio lhe estende a mo e o introduz. Eis, pois, o magnetismo no lugar. O que far? Oh! no acrediteis na vitria definitiva; ainda no nos encontramos sequer nos preliminares da paz. uma primeira barreira derrubada: eis tudo. Esse passo importante, sem dvida, mas no penseis que seus inimigos vo confessar-se vencidos. O prprio Esculpio, o grande Esculpio, que o reconheceu por seus traos de famlia, abraou de tal forma sua defesa que seriam capazes de envi-lo ao hospcio. Vo dizer que ... qualquer coisa... mas que, seguramente, no magnetismo. Pois seja! No sofismamos com as palavras: ser tudo o que quiserem. Mas, enquanto se espera, um fato que ter conseqncias. Ora, eis essas conseqncias. Inicialmente vo ocupar-se somente do ponto de vista anestsico (do grego aisthesis, sensibilidade e a, privativo, ou seja, privao geral ou parcial da faculdade de sentir) e isto em razo da predominncia das idias materialistas, pois ainda h tanta gente que, sem dvida por modstia, teima em se reduzir ao papel de manivela de espeto que, ao parar de funcionar, atirada ao ferro velho, sem deixar vestgios! Assim, vo examinar o fato de todas as maneiras, ainda que por mera curiosidade. Vo estudar a ao das diferentes substncias para produzir o fenmeno da catalepsia. Depois, um belo dia, reconhecero que basta pr o dedo. Mas no tudo. Observando o fenmeno da catalepsia, outros surgiro espontaneamente. J foi
  21. 21. REVISTA ESPRITA notada a liberdade de pensamento durante a suspenso das faculdades orgnicas; assim, o pensamento independe dos rgos. H, pois, no homem algo mais alm da matria. Ver-se- a manifestao de faculdades estranhas: a vista adquirir uma amplitude inslita, transpondo os limites dos sentidos; todas as percepes modificadas; numa palavra, um vasto campo para a observao e no faltaro observadores. O santurio est aberto, e esperamos que dele jorre a luz, a menos que o celeste arepago no deixe a honra a ningum seno a ele mesmo. Nossos leitores havero de apreciar bastante o notvel artigo que o Sr. Victor Meunier, redator do Ami des Sciences, publicou sobre este interessante assunto, na revista cientfica hebdomadria do Sicle, de 16 de dezembro de 1859: O magnetismo animal, levado Academia pelo Sr. Broca, apresentado ilustre associao pelo Sr. Velpeau, experimentado pelos senhores Follin, Verneuil, Faure, Trousseau, Denonvilliers, Nlaton, Azam, Ch. Robin, etc., todos cirurgies dos hospitais, a grande novidade do dia. As descobertas, como os livros, tm seu destino. A de que vamos tratar no nova. Data de uns vinte anos, e nem na Inglaterra, onde nasceu, nem na Frana, onde, no momento, no se ocupa de outra coisa, a publicidade lhe faltou. Um mdico escocs, o Dr. Braid, a descobriu e lhe consagrou todo um livro (Neurypnology or the rationale of nervous sleep, considered in relation with animal magnetism). O Dr. Carpenter, clebre mdico ingls, analisou cuidadosamente a descoberta do Dr. Braid no artigo sleep (sono) da Enciclopdia de Anatomia e Fisiologia de Tood (Cyclopedia of anatomy and phisiology); um ilustre sbio francs, o Sr. Littr, reproduziu a anlise do Dr. Carpenter na segunda edio do Manual de Fisiologia de J. Mueller. Enfim, ns mesmos consagramos um de nossos folhetins da Presse (7 de julho de 1852) ao hipnotismo ( o nome dado pelo Dr. Braid ao conjunto de dados 24
  22. 22. JANEIRO DE 1860 25 de que se trata). A mais recente das publicaes relativas a esse assunto data, pois, de sete anos; e eis que, no momento em que o julgavam esquecido, ele adquire esta imensa repercusso. H no hipnotismo duas coisas: um conjunto de fenmenos nervosos, e o processo por meio do qual so produzidos. Esse processo, empregado outrora, salvo engano, pelo abade Faria, de grande utilidade. Consiste em manter um objeto brilhante diante dos olhos da pessoa com a qual se experimenta, a pequena distncia da base do nariz, de sorte que no possa olh-lo seno envesgando os olhos para dentro; ela deve fixar os olhos sobre ele. A princpio as pupilas se contraem, depois se dilatam bastante e, em poucos instantes, produz-se o estado catalptico. Levantando os membros do paciente, estes conservam a posio que lhes dermos. Este apenas um dos fenmenos produzidos; dos outros falaremos oportunamente. O Sr. Azam, professor substituto de Clnica Cirrgica da Escola de Medicina de Bordeaux, tendo repetido com sucesso as experincias do Dr. Braid, trocou opinies com o Dr. Broca, que pensava que as pessoas hipnotizadas talvez fossem insensveis dor das intervenes cirrgicas. A carta que acaba de dirigir Academia das Cincias o resumo de suas experincias a respeito. Antes de tudo, porm, devia assegurar-se da realidade do hipnotismo. E o conseguiu sem dificuldades. Visitando uma senhora de cerca de quarenta anos, algo histrica, e que se mantinha acamada por ligeira indisposio, o Dr. Broca fingia querer examinar os olhos da doente e lhe pedia que fixasse detidamente um pequeno frasco dourado que ele segurava a mais ou menos quinze centmetros de distncia da base do nariz daquela senhora. Ao cabo de trs minutos os olhos tornaram-se um pouco vermelhos, os traos imveis, as respostas lentas e difceis,
  23. 23. REVISTA ESPRITA mas perfeitamente racionais. O Dr. Broca levantou o brao da enferma e este se manteve na posio em que foi deixado; submeteu os dedos s mais extremas situaes e eles as conservaram; beliscou a pele em vrios lugares, com certa fora, mas a paciente nada parecia sentir. Catalepsia, insensibilidade! O Dr. Broca no levou adiante a experincia: esta lhe havia ensinado o que queria saber. Uma frico sobre os olhos, uma insuflao de ar frio na fronte trouxeram a doente ao estado normal. No guardava a menor lembrana do que acabara de passar-se. Restava saber se a insensibilidade hipntica resistiria prova das intervenes cirrgicas. Entre os internos do Hospital Necker, no servio do Dr. Follin, achava-se uma pobre mulher de 24 anos, vitimada por extensa queimadura nas costas e nos dois membros direitos e por um enorme abscesso, extremamente doloroso. Os menores movimentos lhe eram um suplcio. Esgotada pelo sofrimento e, ademais, muito pusilnime, essa infeliz pensava com terror na operao que se fazia necessria. Foi nela que, de acordo com o Dr. Follin, o Dr. Broca resolveu completar a prova do hipnotismo. Colocaram-na sobre um leito em frente janela, prevenindo-a de que iam faz-la dormir. Ao cabo de dois minutos suas pupilas se dilatam; levantado quase verticalmente acima do leito, seu brao esquerdo fica imvel. Ao quarto minuto suas respostas so lentas e quase penosas, mas perfeitamente sensatas. Quinto minuto: O Dr. Follin espeta a pele do brao esquerdo e a doente nem sequer se mexe; nova espetadela mais profunda, que produz sangramento, e a mesma impassibilidade. Erguem o brao direito, que fica no ar. Ento as cobertas so levantadas e afastados os membros inferiores para pr mostra a sede do abscesso. A doente no esboa reao e disse com tranqilidade que, sem dvida iro prejudic-la. Ao ser aberto o abscesso, um fraco grito foi o nico sinal de reao de sua parte, e durou menos de um segundo. Nem o menor tremor nos msculos da face ou dos 26
  24. 24. JANEIRO DE 1860 27 membros, nem um s estremecimento nos braos, sempre elevados verticalmente acima do leito. Um pouco injetados, os olhos estavam largamente abertos; o rosto tinha a imobilidade de uma mscara... Levantado, o p esquerdo mantm-se suspenso. Tiram o corpo brilhante (uma luneta): a catalepsia persiste. Pela terceira vez picam o brao esquerdo, o sangue goteja e a operada nada sente. H treze minutos que o brao guarda a posio que lhe foi dada. Enfim, uma frico nos olhos, uma insuflao de ar fresco despertam a jovem senhora quase subitamente; relaxados, os braos e a perna esquerda caem de repente na cama. Ela esfrega os olhos, readquire a conscincia, de nada se lembra e surpreende-se de que a tenham operado. A experincia havia durado dezoito a vinte minutos; o perodo de anestesia, de doze a quinze. Tais so, em resumo, os fatos essenciais comunicados pelo Sr. Broca Academia das Cincias. J no so mais isolados. Grande nmero de cirurgies de nossos hospitais teve a honra de os repetir, e o fizeram com sucesso. O objetivo do Dr. Broca e de seus distintos colegas era e deveria ser cirrgico. Esperemos tenha o hipnotismo, como meio de provocar a insensibilidade, todas as vantagens dos agentes anestsicos, sem deles guardar os inconvenientes. Mas a Medicina no de nossa alada e, para no sair de suas atribuies, nossa Revista no deve considerar o fato seno sob o ponto de vista fisiolgico. Depois de haver reconhecido a veracidade do Dr. Braid sobre o ponto essencial, sem dvida ter-se- que verificar tudo que respeita a este estado singular, ao qual ele d o nome de hipnotismo. Os fenmenos que ele lhe atribui podem ser classificados da seguinte maneira: Exaltao da sensibilidade O olfato levado a um grau de acuidade que no mnimo se iguala ao observado nos animais de
  25. 25. REVISTA ESPRITA melhor faro. A audio torna-se igualmente muito penetrante. O tato adquire, sobretudo em relao temperatura, uma incrvel delicadeza. Sentimentos sugeridos Ponde o rosto, o corpo ou os membros do paciente na atitude que convm expresso de um sentimento particular e logo o estado mental correspondente despertado. Assim, colocando-se a mo do hipnotizado sobre sua cabea, ele se endireita espontaneamente, inclinando para trs; seu porte o do mais vivo orgulho. Se nesse momento se lhe curvar para frente a cabea, fletindo levemente o corpo e os membros, o orgulho dar lugar mais profunda humildade. Afastando delicadamente os cantos da boca, como no riso, logo se produz uma tendncia alegre; o mau humor entra em campo imediatamente quando se faz as sobrancelhas convergirem para baixo. Idias provocadas Levantai a mo do paciente acima da cabea e fleti os dedos sobre a palma: logo suscitada a idia de subir, de se balanar ou puxar uma corda. Se, ao contrrio, forem os dedos fletidos, deixando o brao pendente, provoca-se a idia de levantar um peso. Se os dedos forem fletidos e o brao levado frente, como para dar um soco, surge a idia de lutar box. (A cena se passa em Londres.) Incremento da fora muscular Se se quiser suscitar uma fora extraordinria num grupo de msculos, basta sugerir ao paciente a idia da ao que reclama essa fora e assegurar-lhe que o pode realizar com a maior facilidade, caso queira. Diz o Dr. Carpenter: Vimos um dos pacientes hipnotizados pelo Dr. Braid, notvel pela pobreza de seu desenvolvimento muscular, levantar, com o auxlio de seu dedo mnimo, um peso de quatorze quilos e faz-lo girar em volta da cabea, com a nica garantia de que o peso era to leve como uma pluma. 28
  26. 26. JANEIRO DE 1860 29 Limitamo-nos, por hoje, indicao deste programa. Aos fatos a palavra; as reflexes viro mais tarde. O Esprito de um Lado, o Corpo do Outro CONVERSA COM O ESPRITO DE UMA PESSOA VIVA Nosso distinto colega, o Sr. conde de R... C..., dirigiu- nos a seguinte carta, datada de 23 de novembro ltimo: Senhor Presidente, Ouvi dizer que mdicos, entusiastas de sua arte e desejosos de contriburem para o progresso da Cincia, tornando- se teis Humanidade, legaram, por testamento, os seus corpos ao escalpelo das salas anatmicas. A experincia a que assisti, da evocao de uma pessoa viva (Sesso da Sociedade de 14 de outubro de 1859), no me pareceu muito instrutiva, por se tratar de uma coisa muito pessoal: pr em comunicao um pai vivo com a filha morta. Pensei que aquilo que os mdicos fizeram pelo corpo, um membro da Sociedade poderia fazer pela alma, ainda em vida, pondo-se vossa disposio para um ensaio desse gnero. Talvez pudsseis, preparando as perguntas antecipadamente, que desta vez nada teriam de pessoal, obter novas luzes sobre o fato do isolamento da alma e do corpo. Aproveitando de uma indisposio que me retm em casa, venho oferecer-me como paciente para estudo, se estiverdes de acordo. Portanto, caso no haja contra- ordem, na prxima sexta-feira deitar-me-ei s nove horas e penso que s nove e meia podereis chamar-me, etc. ... Aproveitamos a oferta do Sr. conde de R... C... com tanto mais interesse quanto, pondo-se nossa disposio, pensvamos que seu Esprito se prestaria de bom grado s nossas
  27. 27. REVISTA ESPRITA pesquisas. Por outro lado, sua instruo, a superioridade de sua inteligncia (o que, abrindo parntesis, no o impede de ser um excelente esprita) e a experincia que adquiriu em suas viagens em torno do mundo, como capito da marinha imperial, faziam que esperssemos de sua parte uma apreciao mais justa de seu estado. De fato no nos enganamos. Em conseqncia tivemos com ele as duas conversas que se seguem, a primeira a 25 de novembro e a segunda a 2 de dezembro de 1859. (Sociedade, 25 de novembro de 1859) 1. Evocao. Resp. Estou aqui. 2. Neste momento tendes conscincia do desejo que manifestastes, de ser evocado? Resp. Perfeitamente. 3. Em que lugar vos achais aqui? Resp. Entre vs e o mdium. 4. Vede-nos to claramente como quando assistis pessoalmente s nossas sesses? Resp. Mais ou menos, embora um pouco velado. Ainda no durmo bem. 5. Como tendes conscincia de vossa individualidade aqui presente, ao passo que vosso corpo est no leito? Resp. Neste momento meu corpo no me seno um acessrio. Sou EU que estou aqui. Observao Sou EU que estou aqui uma resposta deveras notvel. Para ele, o corpo no a parte essencial de seu ser: esta parte o Esprito, que constitui o EU; o seu eu e o seu corpo so duas coisas distintas. 30
  28. 28. JANEIRO DE 1860 31 6. Podeis transportar-vos instantaneamente, e vontade, daqui para vossa casa e vice-versa? Resp. Sim. 7. Indo e vindo daqui para vossa casa, tendes conscincia do trajeto que fazeis? Vedes os objetos que esto no caminho? Resp. Eu o poderia, mas negligencio faz-lo; no me interessam. 8. O estado em que vos encontrais semelhante ao de um sonmbulo? Resp. No completamente. Meu corpo dorme, ou seja, est mais ou menos inerte; o sonmbulo no dorme: suas faculdades esto modificadas, mas no aniquiladas. 9. O Esprito evocado de uma pessoa viva poderia indicar remdios, como um sonmbulo? Resp. Se os conhecer, ou caso se ache em contato com um Esprito que os conhea, sim; do contrrio, no. 10. A lembrana de vossa existncia corporal est claramente presente em vossa memria? Resp. Muito clara. 11. Podereis citar algumas de vossas ocupaes mais destacadas do dia? Resp. Poderia, mas no o farei e lamento ter proposto esta pergunta (Ele havia pedido que lhe dirigissem uma pergunta desse gnero como prova). 12. como Esprito que lamentais ter proposto esta questo? Resp. Como Esprito. 13. Por que o lamentais?
  29. 29. REVISTA ESPRITA Resp. Porque melhor compreendo quanto justo que, na maior parte dos casos, seja proibido faz-lo. 14. Podereis descrever o vosso quarto de dormir? Resp. Certamente; e o do porteiro tambm. 15. Pois bem! Descrevei, ento, um deles. Resp. Eu disse que poderia, mas poder no querer. 16. Qual a doena que vos retm em casa? Resp. A gota. 17. H um remdio para a gota? Se o conheceis, podereis indic-lo, pois prestareis um grande servio? Resp. Poderia, mas me guardarei de o fazer: o remdio seria pior que o mal. 18. Pior ou no, quereis indic-lo, mesmo que no venhais a vos servir dele? Resp. H vrios, entre os quais o lrio verde. Observao Ao despertar, o Sr. de R... reconheceu jamais ter ouvido falar do emprego desta planta como especfico antigotoso. 19. Em vosso estado atual, vereis um perigo que poderia correr um amigo e podereis vir em seu auxlio? Resp. Poderia. Inspir-lo-ia; se ouvisse a minha inspirao e, ainda com mais proveito, se fosse mdium. 20. Desde que o evocamos por vossa vontade, e que vos pondes nossa disposio para estudos, tende a bondade de descrever, o melhor possvel, o estado em que vos encontrais agora. Resp. Estou no estado mais feliz e mais satisfatrio que se possa experimentar. Jamais tivestes um sonho em que o calor do leito vos faz crer que sois levemente embalados no ar, ou na crista de ondas tpidas, sem nenhuma preocupao com os 32
  30. 30. JANEIRO DE 1860 33 movimentos, sem a menor conscincia dos membros pesados e incmodos, a se moverem ou a se arrastarem, numa palavra, sem necessidades a satisfazer? No sentindo o aguilho da fome nem o da sede? Encontro-me neste estado junto a vs. E ainda no vos dei seno uma pequena idia do que experimento. 21. O estado atual de vosso corpo sofre alguma modificao fisiolgica, em razo da ausncia do Esprito? Resp. De modo algum. Estou no estado a que chamais primeiro sono; sono pesado e profundo que todos experimentamos e durante o qual nos afastamos do corpo. Observao O sono, que no era completo no comeo da evocao, estabeleceu-se pouco a pouco, em conseqncia do prprio desprendimento do Esprito, que deixa o corpo no maior repouso. 22. Se, em razo de um movimento brusco, vosso corpo instantaneamente despertado enquanto vosso Esprito aqui est, o que aconteceria? Resp. O que brusco para o homem muito lento para o Esprito, que sempre tem tempo de ser avisado. 23. A felicidade que acabais de descrever e que desfrutais em vosso estado de liberdade tem alguma relao com as sensaes agradveis que por vezes se experimenta nos primeiros momentos da asfixia? O Sr. S..., que involuntariamente teve a satisfao de as experimentar, vos dirige esta pergunta. Resp. Ele no est de todo errado. Na morte por asfixia h um instante anlogo quele de que fala, mas somente o Esprito perde a lucidez, enquanto aqui ela consideravelmente aumentada. 24. Vosso Esprito prende-se ainda por um lao qualquer ao vosso corpo? Resp. Sim, e disso guardo perfeita conscincia.
  31. 31. REVISTA ESPRITA 25. A que podeis comparar este lao? Resp. A nada que conheais, seno a uma luz fosforescente, para vos dar uma idia, se o pudsseis ver, mas que em mim no produz nenhuma sensao. 26. A luz vos afeta da mesma maneira? Tem a mesma tonalidade que vedes pelos olhos? Resp. Absolutamente, porque os olhos me servem, de alguma sorte, como janelas de meu crebro. 27. Percebeis os sons to distintamente? Resp. Mais ainda, j que percebo muitos outros que vos escapam. 28. Como transmitis o pensamento ao mdium? Resp. Atuo sobre sua mo para lhe dar uma direo, que facilito por uma ao sobre o crebro. 29. Utilizai-vos das palavras do vocabulrio que ele tem na cabea, ou indicais as palavras que deve escrever? Resp. Uma coisa e outra, conforme a convenincia. 292 Se tivsseis por mdium algum que desconhecesse a vossa lngua e a dele vos fosse desconhecida, um chins, por exemplo, como fareis para ditar-lhe? Resp. Isso seria mais difcil; talvez impossvel. Em todo caso, s seria possvel com uma flexibilidade e uma docilidade muito rara de encontrar. 30. Um Esprito, cujo corpo estivesse morto, experimentaria a mesma dificuldade para se comunicar por um mdium completamente estranho lngua que falava em vida? Resp. Talvez menor, mas ela existiria sempre. Acabo de dizer que, conforme o caso, o Esprito d ao mdium as suas expresses, ou toma as dele. 34 2 N. do T.: O nmero 29 foi repetido no original.
  32. 32. JANEIRO DE 1860 35 31. Vossa presena aqui fatiga o corpo? Resp. Absolutamente. 32. Vosso corpo sonha? Resp. No; justamente por isso que no se cansa. A pessoa da qual falais experimentaria por seus rgos impresses que se transmitiam ao Esprito; era isto que a fatigava. Nada experimento de semelhante. Observao Ele faz aluso a uma pessoa de que se falava no momento e que, em semelhante situao, tinha dito que seu corpo se fatigava, e havia comparado seu Esprito a um balo cativo, cujas sacudidelas abalam o poste que o retm. No dia seguinte o Sr. R... de C... contou-nos haver sonhado que se achava na Sociedade, entre ns e o mdium. Evidentemente uma lembrana da evocao. provvel que no momento da pergunta no sonhasse, pois respondeu negativamente. Tambm possvel, e mais provvel, que no sendo o sonho seno uma lembrana da atividade do Esprito, na verdade no o corpo que sonha, desde que no pensa. Ele, pois, respondeu negativamente, sem saber se, uma vez desperto, seu Esprito se recordaria. Se o corpo tivesse sonhado enquanto seu Esprito estava ausente, que o Esprito teria tido uma dupla ao. Ora, ele no poderia estar ao mesmo tempo na Sociedade e em sua casa. 33. Vosso Esprito se acha no estado em que se encontrar quando estiverdes morto? Resp. Mais ou menos a mesma coisa, por causa do lao que o prende ao corpo. 34. Tendes conscincia das existncias anteriores? Resp. Muito confusamente. Eis a uma diferena de que me esquecia. Aps o desprendimento completo que se segue morte, as lembranas so muito mais precisas. Atualmente so mais
  33. 33. REVISTA ESPRITA completas do que durante a viglia, mas no suficientes para poder especific-las de modo mais inteligvel. 35. Se, ao despertar, vos mostrassem vossos escritos, tereis conscincia das respostas que acabais de dar? Resp. Poderia identificar alguns de meus pensamentos; mas muitos outros no encontrariam nenhum eco em meu pensamento quando acordado. 36. Podereis exercer sobre o corpo uma influncia de tal forma intensa que fosse capaz de o despertar? Resp. No. 37. Podereis responder a uma pergunta mental? Resp. Sim. 38. Vede-nos espiritualmente ou fisicamente? Resp. De ambos os modos. 39. Podereis ir visitar o irmo de vosso pai, que dizem estar numa ilha da Oceania e, como marinheiro, podereis precisar a posio dessa ilha? Resp. No posso nada disso. 40. Que pensais agora de vossa interminvel obra e seu objetivo? Resp. Penso que devo prossegui-la, com o mesmo objetivo. tudo quanto posso dizer. Observao Ele havia desejado que lhe fizessem essa pergunta, relativa a importante trabalho que empreendia sobre a marinha. 41. Ficaramos muito contentes se dirigsseis algumas palavras aos vossos colegas, uma espcie de pequeno discurso. Resp. J que tenho oportunidade, aproveito-a para vos afirmar a minha f no futuro da alma; que a maior falta que os 36
  34. 34. JANEIRO DE 1860 37 homens podem cometer procurar provas e provas. Isto quando muito perdovel nos homens que se iniciam no conhecimento do Espiritismo. J no vos repetiram milhares de vezes que preciso crer, porque se compreende e se ama a justia e a verdade, e que se dssemos satisfao a uma dessas perguntas pueris, os que pretendessem faz-la para se convencerem no deixariam de fazer outras no dia seguinte e perdereis, infalivelmente, um tempo precioso, fazendo os Espritos lerem a sorte? Eu o compreendo agora muito melhor do que quando desperto e vos posso dar um sbio conselho: quando quiserdes obter tais resultados, dirigi-vos aos Espritos batedores e s mesas falantes que, nada tendo de melhor a dizer, podem ocupar-se de tais manifestaes. Perdoai-me a lio, mas tenho necessidade dela e no me aborreo de a dar a mim mesmo. (Segunda conversa 2 de dezembro de 1859) 42. Evocao. Resp. Eis-me aqui. 43. Dormis bem? Resp. No muito; mas irei. 44. No caso particular em que vos encontrais, julgais til fazer a evocao em nome de Deus, como se fosse o Esprito de um morto? Resp. Por que no? Por no estar morto, credes que Deus me seja indiferente? 45. Considerando-se que vos achais aqui, se vosso corpo recebesse uma picada, no bastante forte para vos despertar, mas suficiente para vos fazer estremecer, vosso Esprito a sentiria? Resp. Meu corpo no a sentiria. 46. Vosso Esprito teria conscincia do fato? Resp. Nenhuma; mas notai que me falais de uma
  35. 35. REVISTA ESPRITA sensao leve e sem nenhum alcance, em termos de importncia, seja para o corpo, seja para o Esprito. 47. A propsito da luz, dissestes que ela vos parece como se estivsseis em viglia, considerando-se que vossos olhos so como janelas por onde ela chega ao crebro. Compreendemo- lo em relao luz percebida pelo corpo; mas neste momento no o vosso corpo que v. Vedes ainda por um ponto circunscrito ou por todo o ser? Resp. muito difcil vos fazer compreender. O Esprito percebe as sensaes sem intermdio dos rgos e no tem ponto circunscrito para as perceber. 48. Insisto novamente em saber se os objetos, o espao que vos cerca tm para vs a mesma cor de quando estais desperto. Resp. Para mim, sim, porque meus rgos no me enganam. Mas certos Espritos encontrariam nisso grandes diferenas. Vs, por exemplo, percebeis os sons e as cores de modo muito diverso. 49. Percebeis os odores? Resp. Tambm melhor que vs. 50. Fazeis diferena entre a luz e a obscuridade? Resp. Diferena, sim. Mas para mim a obscuridade no como para vs: vejo perfeitamente no escuro. 51. Vossa vista penetra os corpos opacos? Resp. Sim. 52. Podereis ir a um outro planeta? Resp. Isto depende. 53. De que depende? Resp. Do planeta. 38
  36. 36. JANEIRO DE 1860 39 54. A que planeta podereis ir? Resp. Aos que esto aproximadamente no mesmo grau da Terra. 55. Vede os outros Espritos? Resp. Muitos e ainda. Observao Uma pessoa que o conhece intimamente, presente sesso, disse que essa expresso lhe muito familiar, vendo nisso, assim como em toda a forma da linguagem, uma prova de identidade. 56. Vede-os aqui? Resp. Sim. 57. Como constatais sua presena? Por uma forma qualquer? Resp. Por sua forma prpria, isto , por seu perisprito. 58. Vedes algumas vezes os vossos filhos e podeis falar-lhes? Resp. Vejo-os e lhes falo freqentemente. 59. Dissestes: Meu corpo um acessrio; sou EU que estou aqui. Esse eu circunscrito, limitado, tem uma forma qualquer? Em suma, como vos vedes? Resp. sempre o perisprito. 60. Ento, para vs, o perisprito um corpo? Resp. Mas, evidentemente. 61. Vosso perisprito imita a forma de vosso corpo material e vos parece que aqui estais com o vosso corpo? Resp. Sim, quanto primeira pergunta, e no, quanto segunda. Tenho perfeita conscincia de estar aqui somente com o meu corpo fludico luminoso.
  37. 37. REVISTA ESPRITA 62. Podereis dar-me um soco? Resp. Sim, mas no o sentireis. 63. Podereis faz-lo de maneira sensvel? Resp. Isto possvel; mas no o posso aqui. 64. Se, no momento em que estais aqui, vosso corpo morresse subitamente, que experimentareis? Resp. Eu l estaria antes. 65. Ficareis desembaraado mais prontamente do que se morrsseis em circunstncias ordinrias? Resp. Muito. No tornaria a entrar seno para fechar a porta, depois de haver sado. 66. Dissestes que sofreis de gota. No concordais com vosso mdico, aqui presente, que pretende seja um reumatismo nevrlgico? Que pensais? Resp. J que estais to bem informado, penso que isto deve bastar. 67. [O mdico] Em que vos baseais para supor que seja gota? Resp. a minha opinio. Talvez me engane, sobretudo se estais to certo de no vos enganar. 68. [O mdico] Seria possvel uma complicao de gota e reumatismo. Resp. Ento ambos teramos razo; no nos restaria seno nos abraar. (Esta resposta provocou risos na assemblia) 69. Isto vos faz rir de nos ver rindo? Resp. Mas s gargalhadas. Ento no me entendeis? 40
  38. 38. JANEIRO DE 1860 41 70. Disseste que o lrio verde um remdio eficaz contra a gota. De onde vos veio essa idia, tendo em vista que, desperto, no a sabeis? Resp. Servi-me dele outrora. 71. Foi, portanto, numa outra existncia? Resp. Sim, e fez-me mal. 72. Se vos fizessem uma pergunta indiscreta, ver-vos- eis constrangido a respond-la? Resp. Oh! muito forte; tentai. 73. Assim, tendes perfeito livre-arbtrio? Resp. Mais que vs. Observao Em muitas ocasies a experincia tem provado que o Esprito, isolado do corpo, conserva sempre a sua vontade e no diz seno o que quer. Compreendendo melhor o alcance das coisas, mesmo mais prudente e discreto do que quando se acha desperto. Quando diz uma coisa, que julga til diz-lo. 74. Tereis tido a liberdade de no vir quando vos chamamos? Resp. Sim; livre de sofrer as conseqncias. 75. Quais seriam essas conseqncias? Resp. Se me recusar a ser til aos meus semelhantes, principalmente quando tenho perfeita conscincia de meus atos, sou livre, mas sou punido. 76. Que gnero de punio sofrereis? Resp. Seria necessrio vos desvelar o cdigo de Deus, e isso seria muito longo. 77. Se neste momento algum vos insultasse, dizendo coisas que, desperto, no suportareis, qual o sentimento que experimentareis?
  39. 39. REVISTA ESPRITA Resp. O desprezo. 78. Ento no procurareis vingar-vos? Resp. No. 79. Fazeis uma idia da posio que ireis ocupar entre os Espritos, quando l estiverdes completamente? Resp. No; isto no permitido. 80. No estado atual em que vos achais, credes que o Esprito possa prever a morte do corpo? Resp. Algumas vezes. Contudo, se tivesse que morrer de repente, sempre teria tempo de a ele voltar. Conselhos de Famlia Certamente nossos leitores se lembram do artigo que publicamos no ms de setembro ltimo, sob o ttulo de Uma Famlia Esprita. As comunicaes seguintes so muito semelhantes. Com efeito, so conselhos ditados numa reunio ntima, por um Esprito eminentemente superior e benevolente. Distinguem-se pelo encanto e pela doura do estilo, a profundeza dos pensamentos e, alm disso, por matizes de extrema delicadeza, apropriados idade e ao carter das pessoas a quem eram dirigidas. O Sr. Rabache, negociante de Bordeaux, que serviu de intermedirio, houve por bem autorizar a sua publicao. S podemos felicitar os mdiuns que obtm coisas semelhantes. uma prova de que tm simpatias felizes no mundo invisvel. Castelo de Pechbusque, novembro de 1859. (Primeira sesso) Foi perguntado ao Esprito protetor da famlia se ele podia dar alguns conselhos aos membros presentes; ele respondeu: 42
  40. 40. JANEIRO DE 1860 43 Sim. Tenham confiana em Deus e procurem instruir- se nas verdades imutveis e eternas que lhes ensina o livro divino da Natureza. Ele contm toda a lei de Deus, e os que sabem ler e o compreendem so os nicos a seguirem o verdadeiro caminho da sabedoria. Que nada do que vejam seja negligenciado, porquanto cada coisa traz em si um ensinamento e deve, pelo uso do raciocnio, elevar a alma para Deus e dele aproxim-la. Em tudo quanto ferir a inteligncia, procurem sempre distinguir o bem do mal: o primeiro, para o praticar; o segundo, para o evitar. Antes de formular um julgamento, voltem sempre o pensamento para o ETERNO, que os guiar ao bem, E NO OS ENGANAR JAMAIS. (Segunda sesso) Boa-noite, meus filhos. Se me amais, procurai instruir-vos; reuni-vos muitas vezes com este pensamento. Ponde vossas idias em comum: um excelente meio, pois em geral no comunicamos seno as coisas que julgamos boas; temos vergonha das ms. Assim, so guardadas em segredo ou s so comunicadas aos que queremos tornar cmplices. Distinguem-se os bons dos maus pensamentos, porque os primeiros podem, sem nenhum receio, ser transmitidos a todo o mundo, ao passo que os ltimos no poderiam, sem perigo, ser comunicados seno a alguns. Quando vos vier um pensamento, para julgar de seu valor perguntai-vos se podeis torn-lo pblico sem inconveniente e se no far mal: se vossa conscincia vo-lo autorizar, no temais, vosso pensamento bom. Dai-vos mutuamente bons conselhos, tendo em vista somente o bem daquele a quem os dais, e no o vosso. Vossa recompensa estar no prazer que experimentareis por terdes sido teis. A unio dos coraes a mais fecunda fonte de felicidades; e, se muitos homens so infelizes, que s procuram a felicidade para si mesmos. Ela lhes escapa precisamente porque julgam encontr-la somente no egosmo. Digo a felicidade e no a fortuna, porquanto esta ltima s tem servido como sustentculo injustia, e o objetivo da existncia a justia. Se a justia fosse
  41. 41. REVISTA ESPRITA praticada entre os homens, o mais afortunado seria aquele que realizasse maior soma de boas obras. Se, pois, quiserdes tornar-vos ricos, meus filhos, praticai muitas aes boas. Pouco importam os bens do mundo; no a satisfao da carne que se deve buscar, mas a da alma. Aquela efmera; esta eterna. Por hoje bastante. Meditai estes conselhos e esforai- vos para p-los em prtica: a se encontra o caminho da salvao. (Terceira sesso) Sim, meus filhos, eis-me aqui. Tende confiana em Deus, que jamais abandona os que fazem o bem. Aquilo que julgais um mal, por vezes s o em relao s vossas concepes. Muitas vezes, tambm, o mal real vem apenas de um desnimo ocasionado por uma dificuldade, que a calma de esprito e a reflexo teriam evitado. Assim, refleti sempre e, como j vos disse, reportai tudo a Deus. Quando experimentardes qualquer pesar, longe de vos abandonar tristeza, ao contrrio, resisti e fazei todo esforo para triunfar, pensando que nada se obtm sem trabalho, e que algumas vezes o sucesso faz-se acompanhar de dificuldades. Invocai em vosso auxlio os Espritos benevolentes. Eles no podem, como vos ensinam, fazer boas obras em vosso lugar, nem obter coisa alguma de Deus para vs, pois preciso que cada um ganhe, por si mesmo, a perfeio a que todos estamos destinados; mas podem inspirar-vos o bem, sugerir-vos conduta conveniente e ajudar-vos com o seu concurso. No se manifestam ostensivamente, mas no recolhimento. Escutai a voz da vossa conscincia, lembrando-vos de meus conselhos precedentes. Confiana em Deus, calma e coragem. (Quarta sesso) Boa-noite, meus filhos. Sim, preciso continuar as sesses, at que um mdium se manifeste, para substituir o que deve deixar-vos. O seu papel de iniciador entre vs est cumprido: 44
  42. 42. JANEIRO DE 1860 45 continuai o que comeastes, porque tambm servireis um dia propagao da verdade que, neste momento, proclamada no mundo inteiro pelas manifestaes espritas. Persuadi-vos, meus filhos, de que, em geral, o que se entende na Terra por Esprito, no Esprito seno para vs. Depois que esse Esprito, ou alma, separa-se da matria grosseira que o envolve, para vs no tem mais corpo, porque vossos olhos materiais no mais o vem. Mas sempre matria, relativamente aos que so mais elevados que ele. Para vs, crianas, vou fazer uma comparao muito imperfeita, mas que, no entanto, poder dar-vos uma idia da transformao a que chamais, impropriamente, de morte. Imaginai uma lagarta, que vedes diariamente. Quando se esgota o tempo de sua existncia nesse estado ela se transforma em crislida; passa ainda algum tempo como tal e depois, chegado o momento, despoja-se de seu invlucro grosseiro e d origem a uma borboleta, que voa. Ora, a lagarta, ao deixar sua natureza inferior, representa o homem que morre; a borboleta simboliza a alma que se eleva. A lagarta arrasta- se no cho, a borboleta voa para o cu; mudou de matria, mas ainda material. Se a lagarta raciocinasse no veria a borboleta que, entretanto, teria sado da carapaa apodrecida da crislida. Portanto, o corpo no pode ver a alma, mas a alma, envolvida pela matria, tem conscincia de sua existncia e o prprio materialista por vezes o sente interiormente. Ento seu orgulho o impede de concordar e fica com sua cincia sem crena, sem se elevar, at que finalmente lhe chegue a dvida. Nem tudo, porm, est acabado, porque nele a luta maior. Ser apenas uma questo de tempo, porque, meus amigos, lembrai-vos de que todos os filhos de Deus foram criados para a perfeio. Felizes os que no perdem tempo pelo caminho. A eternidade compe-se de dois perodos: o da prova, que poderia chamar-se de incubao, e o da ecloso, ou entrada na vida verdadeira, que chamais a felicidade dos eleitos. (Quinta sesso) Meus Caros filhos, vejo com satisfao que comeais a refletir nos avisos e conselhos que vos dou. Sei que para o atual
  43. 43. REVISTA ESPRITA desenvolvimento de vossa inteligncia, h, simultaneamente, muito assunto para reflexo; contudo, devo aproveitar a ocasio que se apresenta, porquanto, dentro de alguns dias esse meio no mais estar minha disposio, e era necessrio ferir a vossa imaginao de maneira a vos sugerir o desejo de continuar as vossas sesses, at que algum de vs pudesse substituir o mdium atual. Espero que essas poucas sesses, sobre as quais vos incito a meditar demoradamente, tero bastado para vos despertar a ateno e o desejo de aprofundar mais esse vasto campo de investigaes. Tomai por regra jamais buscar a satisfao da v curiosidade e, sim, de vos instruir e de vos aperfeioar. intil vos preocupardes com a diferena que possa existir entre o que vos ensinarei e o que sabeis ou julgais saber. Cada vez que vos for dada uma instruo, perguntai se justa e se responde s exigncias da conscincia e da eqidade. Quando a resposta for afirmativa, no vos inquieteis por saber se concorda com o que vos tiver sido dito. Que vos importa isto! O importante o justo, o consciencioso e o eqitativo: tudo quanto rene essas condies de Deus. Obedecer a uma boa conscincia, no fazer seno coisas teis, evitar todas quanto, no sendo ms, no tenham utilidade eis o essencial; porque fazer algo de intil j fazer o mal. Evitai escandalizar, mesmo pelo vosso aperfeioamento: h situaes em que a simples vista de vossa mudana pode produzir um mau efeito; assim, por exemplo, a luz do dia no poderia, sem perigo, ferir de sbito a vista de um homem encerrado num crcere escuro. Que o vosso progresso, ento, no seja entregue investigao, seno conforme vos aconselhar a sabedoria. Aperfeioai-vos sempre; s o vereis quando for tempo. Aqueles para quem escrevo este conselho o compreendem, sem que eu tenha de ser mais explcito. Sua conscincia lhes dir. Coragem, pois, e perseverana! So as nicas leis do sucesso. Observao O ltimo conselho no poderia ter aplicao geral. Evidentemente o Esprito teve um objetivo 46
  44. 44. JANEIRO DE 1860 47 especial, como ele prprio o disse; do contrrio, poderamos enganar-nos quanto ao sentido e o alcance de suas palavras. As Pedras de Java Bruxelas, 9 de dezembro de 1859. Senhor Diretor, Li na Revista Esprita o fato relatado por Ida Pfeiffer sobre as pedras cadas em Java, na presena de um oficial superior holands, com o qual estive muito ligado em 1817, pois foi ele quem me emprestou suas pistolas e serviu de testemunha em meu primeiro duelo. Chamava-se Michiels, de Maestricht, e tornou-se general em Java. A carta que relatava o fato acrescentava que essa queda de pedras, na habitao isolada do distrito de Chribon, no durou menos de doze dias, sem que as sentinelas postas pelo general tivessem algo descoberto, nem ele tambm, durante todo o tempo em que l ficou. Essas pedras, formadas de uma espcie de pedra-pomes, pareciam criadas no ar, a alguns ps do teto. Com elas o general mandou encher vrios cestos; os habitantes vinham busc-las para fazer amuletos e mesmo remdios. Este fato muito conhecido em Java, pois se repete com muita freqncia, sobretudo as cusparadas de siri. Vrias crianas foram perseguidas a pedradas em campo raso, sem serem atingidas. Dir-se-ia que os Espritos farsistas se divertiam em amedrontar as pessoas. Evocai o Esprito General Michiels; talvez ele vos explique o fato. O Dr. Vanden Kerkhove, que durante muito tempo morou em Java, confirmou- me, como vos afirmo, que vossa Revista torna-se cada dia mais interessante, mais moralizadora e mais procurada em Bruxelas. Aceitai, Jobard
  45. 45. REVISTA ESPRITA O conhecido carter da Sra. Ida Pfeiffer, o cunho de veracidade que marca todos os seus relatos no nos deixam nenhuma dvida quanto realidade do fenmeno em questo; mas compreende-se toda a importncia que a ela vem juntar-se a carta do Sr. Jobard, pelo depoimento da principal testemunha ocular encarregada de verificar o fato, e que no tinha o menor interesse em faz-lo acreditado, se o tivesse reconhecido falso. Em primeiro lugar, a natureza esponjosa dessa chuva de pedras poderia fazer atribu-la a uma origem vulcnica ou aeroltica, e os cticos no deixariam de dizer que a superstio havia tomado o lugar de um fenmeno natural. Se no contssemos seno com o testemunho dos javaneses, a suposio seria fundada, e as pedras, caindo em campo raso, viriam sem dvida em apoio dessa opinio. Mas o General Michiels e o Dr. Vanden Kerkhove no eram malaios, e sua afirmao tem valor. A essa considerao, por si s muito forte, preciso acrescentar que as pedras no caam somente em pleno ar, mas no quarto onde parece que se formavam, a alguma distncia do teto: o general quem o afirma. Ora, imaginamos que jamais se tenham visto aerlitos se formarem na atmosfera de um quarto. Admitindo a causa meteorolgica ou vulcnica, o mesmo no se poderia dizer das cusparadas de siri, que os vulces jamais vomitaram, pelo menos de nosso conhecimento. Afastada essa hiptese pela prpria natureza dos fatos, resta saber como tais substncias puderam ser formadas. Encontraremos sua explicao em nosso artigo do ms de agosto de 1859, sobre o Mobilirio de Alm-tmulo. Correspondncia Toulouse, 17 de dezembro de 1859. Meu caro Senhor, Acabo de ler vossa resposta ao Sr. Oscar Comettant, cujo artigo havia lido. Se esse folhetinista cptico, atoleimado e 48
  46. 46. JANEIRO DE 1860 49 trocista no se convenceu pelas boas razes que lhe destes, poderia pelo menos reconhecer em vossa resposta a urbanidade do estilo, totalmente ausente da sua prosa. As digresses insossas com que tinha temperado as evocaes me pareciam do esprito maligno; os lamentos com que se referia aos dois francos que havia custado a sonata, bem mereciam que a Sociedade lhe votasse um socorro de dois francos. Pensais bem, meu caro senhor Allan Kardec, pois sou um esprita por demais ardente para ter deixado sem resposta um artigo em que era citado e posto em causa. Por minha vez, escrevi tambm ao Sr. Oscar Comettant; no dia seguinte recepo de seu jornal ele recebeu a seguinte carta: Senhor, Tive o prazer de ler vosso folhetim de quinta-feira: Variedades. Como me pe em causa, j que sou citado nominalmente, peo que me concedais permisso para tecer algumas consideraes a respeito, que aceitareis, assim como aceitei as espirituosas digresses com que adornastes o relatrio das evocaes de Mozart e de Chopin. Que quereis gracejar com esse artigo humorstico? O Espiritismo? Enganar-vos-eis redondamente se julgsseis causar-lhe o mais leve dano. Na Frana, a princpio faz-se gracejos, depois se julga e s se concedem as honras das piadas s coisas verdadeiramente grandes e srias, livres de com elas concordar aps o exame que merecem. Se o Sr. Ledoyen to vido e interesseiro quanto quereis fazer crer, ele vos deve ser extremamente reconhecido por terdes querido, num folhetim de onze colunas, assegurar o sucesso de uma de suas modestas publicaes. a primeira vez que um artigo to importante sobre o Espiritismo publicado num grande jornal. Por esse artigo um tanto tumultuado, vejo que o Espiritismo j levado em considerao por seus prprios inimigos. Dir-vos-ei, confidencialmente, que os Espritos nos alertaram que tambm se servem dos inimigos para o triunfo de sua causa. Assim, no tendes
  47. 47. REVISTA ESPRITA seno que vos manter em guarda, se no vos quiserdes transformar em apstolo, mau grado vosso. No vedes no Espiritismo mais que charlatanismo moral e comercial. Ns outros, futuros inquilinos do hospcio, nele encontramos a soluo de uma poro de problemas contra os quais a Humanidade se debatia h muitos sculos, a saber: o reconhecimento raciocinado de Deus em todas as suas obras materiais e espirituais; a certeza da imortalidade e da individualidade da alma, provada pelas manifestaes dos Espritos; a cincia das leis da justia divina, estudada nas diversas encarnaes dos Espritos, etc., etc. Se nos dssemos ao trabalho de aprofundar um pouco esses assuntos, poderamos ver que se acham acima de todos os sarcasmos e de todas as zombarias. Por mais que nos considereis sonhadores e alucinados, todos diremos, em lugar do E pur si muove de Galileu: Todavia, Deus est l! Rogo aceiteis, etc. Brion dOrgeval Primeiro baixo da pera cmica do teatro de Toulouse, ex-pensionista do Sr. Carvalho. Observao No de nosso conhecimento que o Sr. Oscar Comettant tenha publicado esta resposta, bem como a nossa. Ora, atacar sem admitir a defesa no um combate leal. Bruxelas, 23 de dezembro de 1859. Meu caro colega, Venho submeter-vos algumas reflexes etnogrficas sobre o mundo dos Espritos, com a inteno de corrigir uma opinio assaz generalizada, mas, a meu ver, muito errada no que respeita ao estado do homem aps a sua espiritualizao. 50
  48. 48. JANEIRO DE 1860 51 Imagina-se erroneamente que um imbecil, um ignorante, um bruto, torna-se imediatamente um gnio, um sbio, um profeta, desde que deixou seu casulo. um erro anlogo ao de quem admitisse que um celerado, liberto da camisa de fora, iria tornar-se honesto; um tolo ficar esperto e um fantico raciocinar, to-somente porque transpuseram a fronteira do mundo espiritual. No nada disso. Levamos conosco todas as nossas conquistas morais, nosso carter, nossa cincia, nossos vcios e virtudes, exceo dos que se prendem matria: os coxos, os zarolhos e os corcundas no mais o so; mas os velhacos, os avarentos e os supersticiosos ainda o so. No , pois, de admirar que ouamos os Espritos a pedir preces, desejar que faamos as peregrinaes que haviam prometido e, mesmo, que se descubra o que haviam escondido, a fim de d-lo pessoa a quem o haviam destinado e que a indicam exatamente, estando ela encarnada. Em suma, o Esprito que tinha um desejo, um plano, uma opinio, uma crena na Terra, quer v-los realizados. Assim, Hahnemann exclamava: Coragem, meus amigos, minha doutrina triunfa; que satisfao para minha alma! Quanto ao Dr. Gall, sabeis o que ele pensa de sua cincia, assim como Lavater, Swedenborg e Fourier, o qual me disse que seus alunos haviam truncado a sua doutrina, querendo ultrapassar a fase do garantismo, que ele me felicita por continuar. Numa palavra, todos os Espritos que professam uma religio, uma idolatria ou um cisma, por convico, persistem nas mesmas crenas, at serem esclarecidos pelo estudo e pela reflexo. Tal o mvel de minhas preocupaes neste momento, e evidentemente um Esprito lgico que as dita, porque, h uma hora, no pensava seno em recolher-me ao leito e acabar a leitura do excelente opsculo da Sra. Henry Gaugain, sobre os piedosos preconceitos dos baixo-bretes contra as novas invenes.
  49. 49. REVISTA ESPRITA Continuando vossos estudos, reconhecereis que o mundo de Alm-Tmulo nada mais que a imagem daguerreotipada deste, que, como sabeis, encerra Espritos malignos como o diabo, e maus como os demnios. No de admirar que as pessoas simples se enganem e interditem todo comrcio com eles, o que as priva da visita dos bons e grandes Espritos, menos raros l em cima do que aqui embaixo, pois os h de todos os tempos e em todos os lugares, e estes s nos querem dar bons conselhos e nos fazer o bem, enquanto sabeis com que repugnncia e com que clera os maus respondem ao apelo forado. Mas o maior, o mais raro de todos os Espritos, aquele que vem apenas trs vezes durante a vida de um globo, o Esprito Divino, o Esprito Santo, enfim, no obedece s evocaes dos pneumatlogos; vem quando quer, spiritus flat ubi vult, o que no quer dizer que no envie outros para lhe preparar o caminho. A hierarquia uma lei universal, tudo como tudo, alis como entre ns. O que mais retarda o progresso das boas doutrinas, que a perseguio no deixa avanar, o falso respeito humano. H muito tempo teria o magnetismo triunfado se o Sr. X. e o Sr. N., em vez de darem o nome e o endereo das pessoas para referncias, como dizem os ingleses, houvessem dito: Quem esse Sr. M., que se esconde? Aparentemente, um mentiroso. E esse Sr. J.? Um farsista, ou, antes, um ser em quem no se deve confiar, porquanto no se oculta nem se mascara seno para fazer mal e mentir. Hoje, que as academias finalmente j aceitam o magnetismo e o sonambulismo, primos-irmos do Espiritismo, necessrio que seus partidrios se disponham a assumi-lo com todas as letras. O medo do que diro um sentimento covarde e mau. 52
  50. 50. JANEIRO DE 1860 53 A ao de subscrever aquilo que se viu, que se cr, no deve mais ser considerada como um trao de coragem. Deveis, pois, persuadir vossos adeptos a fazerem o que sempre tenho feito: assinar. Jobard Observao Estamos perfeitamente de acordo em todos os pontos com o Sr. Jobard. Inicialmente, suas observaes sobre o estado do Esprito so perfeitamente exatas. Quanto ao segundo ponto, como ele, aspiramos ao momento em que a dvida do que diro no deter mais ningum. Mas, que quereis? preciso levar em conta a fraqueza humana. Uns comeam, e o Sr. Jobard ter o mrito de ter dado o exemplo. Ficai certos de que outros seguiro quando virem que se pode pr o p de fora sem ser mordido. Para tudo preciso tempo. Ora, o tempo chega mais depressa do que pensa o Sr. Jobard. A reserva que temos na publicao dos nomes motivada por razes de convenincia, pelo que no temos, at o momento, seno que nos felicitar; mas enquanto esperamos, constatamos um progresso muito sensvel na coragem de opinio. Diariamente vemos pessoas que, h bem pouco tempo ainda, apenas ousavam confessar-se espritas; hoje o fazem abertamente nas conversas e sustentam teses sobre a doutrina, sem se preocuparem minimamente com os eptetos grosseiros com que as presenteiam. um passo imenso: o resto vir. Eu o disse no comeo: Mais alguns anos e se ver uma nova mudana. Em pouco tempo dar-se- com o Espiritismo o que se deu com o magnetismo: at h bem pouco tempo, no era seno entre quatro paredes que se ousava dizer que se era magnetizador; hoje um ttulo que honra. Quando estiverem perfeitamente convencidos de que o Espiritismo no queima, dir-se-o espritas, sem mais receio do que se dizer frenologista, homeopata, etc. Estamos num momento de transio e as transies jamais se fazem bruscamente.
  51. 51. REVISTA ESPRITA Boletim DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPRITAS Sexta-feira, 2 de dezembro de 1859 Sesso particular Leitura da ata da sesso de 25 de novembro. Pedidos de admisso Cartas do Sr. L. Benardacky, de So Petersburgo, e da Sra. Elisa Johnson, de Londres, que pedem para fazer parte da Sociedade como membros titulares. Comunicaes diversas Leitura de duas comunicaes dadas ao Sr. Bouch, antigo reitor da Academia, mdium escrevente, pelo Esprito duquesa de Longueville, a respeito da visita que esta ltima acaba de fazer, como Esprito, a Port-Royal- des-Champs. Essas duas comunicaes so notveis pelo estilo e elevao dos pensamentos. Provam que certos Espritos revem com prazer os lugares onde viveram e experimentam o encanto da saudade. Sem dvida, quanto mais desmaterializados, menos importncia do s coisas terrenas, mas alguns ainda se ligam a elas por muito tempo aps a morte, parecendo continuar, no mundo invisvel, as ocupaes que tinham neste mundo ou, pelo menos, tomando certo interesse por elas. Estudos: 1o Evocao do Sr. conde Desbassyns de Richmont, falecido em junho de 1859 e que, h mais de dez anos, professava idias espritas. Essa evocao confirma a influncia de tais idias sobre o desprendimento do Esprito aps a morte. 2o Evocao da Irm Martha, morta em 1824. 3o Segunda evocao do Sr. conde de R... C..., membro da Sociedade, retido em sua casa por uma indisposio, seguida de perguntas que lhe so dirigidas sobre o isolamento momentneo do Esprito e do corpo durante o sono. (Publicada neste nmero). 54
  52. 52. JANEIRO DE 1860 55 Sexta-feira, 9 de dezembro Sesso geral Leitura da ata da sesso de 2 de dezembro. Comunicaes diversas O Sr. de la Roche transmite notcias sobre notveis manifestaes ocorridas numa casa de Castelnaudary. Os fatos so relatados na nota que precede o relato da evocao ocorrida e que ser publicada. Estudos: 1o Evocao do rei de Kanala (Nova Calednia), j evocado a 28 de outubro, mas que ento havia escrito com muita dificuldade e prometera exercitar-se para escrever de modo mais legvel. D curiosas explicaes sobre a maneira empregada para se aperfeioar. (Ser publicada com a primeira evocao). 2o Evocao do Esprito de Castelnaudary. Manifesta-se por sinais de viva clera, sem nada poder escrever; quebra sete ou oito lpis, vrios dos quais so lanados com fora sobre os assistentes, e sacode violentamente o brao do mdium. So Lus d informaes interessantes sobre o estado e a natureza desse Esprito que, diz ele, da pior espcie e est numa das mais infelizes situaes. (Ser publicada com todas as outras comunicaes relativas ao assunto). 3o Quatro comunicaes espontneas so obtidas simultaneamente: a primeira, de So Vicente de Paulo, pelo Sr. Roze; a segunda, de Charlet, pelo Sr. Didier Filho, dando seqncia ao trabalho iniciado pelo mesmo Esprito; a terceira, de Melanchthon, pelo Sr. Colin; e a quarta de um Esprito que deu o nome de Mikael, protetor das crianas, pela Sra. de Boyer. Sexta-feira, 16 de dezembro de 1859 Sesso particular Leitura da ata.
  53. 53. REVISTA ESPRITA Admisses So admitidos como membros titulares: O Sr. L. Benadacky, de So Petersburgo e a Sra. Elisa Johnson, de Londres, apresentados a 2 de dezembro. Pedidos de admisso O Sr. Forbes, de Londres, oficial engenheiro, e a Sra. Forbes, de Florena, escreveram pedindo para fazer parte da Sociedade como membros titulares. Relatrio e deciso adiados para o dia 30 de dezembro. Designao de seis comissrios que devero revezar-se em servio nas sesses gerais at 1o de abril, sem que haja necessidade de designar um deles para cada sesso. Tero, alm disso, a incumbncia de assinalar as infraes que os ouvintes estranhos possam cometer contra o regulamento, por ignorarem as exigncias da Sociedade, a fim de advertir os membros titulares que lhes houverem dado cartas de apresentao. Por proposta do Sr. Allan Kardec, a Sociedade decide que, doravante, o Boletim da Sociedade ser publicado em suplemento da Revista, para que o mesmo no prejudique as matrias habituais do jornal. Em conseqncia dessa adio, cada nmero ser aumentado de cerca de quatro pginas, cujas despesas correro por conta da Sociedade. O Sr. Lesourd prope que quando houver cinco sesses num ms, a quinta seja consagrada a uma sesso particular. (Adotado). O mesmo membro tambm prope que quando um novo membro for admitido, seja oficialmente apresentado aos outros membros da Sociedade, a fim de que no venha como um estranho. (Adotado). O Sr. Thiry observa que Espritos sofredores muitas vezes reclamam o socorro da prece, para lhes suavizar as penas; mas, como podem ser perdidos de vista, prope que em cada sesso o Presidente lhes lembre os nomes. (Adotado). 56
  54. 54. JANEIRO DE 1860 57 Comunicaes diversas: 1o Carta do Sr. Jobard, de Bruxelas, confirmando, com detalhes circunstanciados, o fato das manifestaes de Java, relatadas pela Sra. Ida Pfeiffer e publicadas na Revista de dezembro. Ele as obteve do prprio general holands, ao qual estava ligado e que era encarregado de vigiar a casa onde as coisas se passavam, sendo, conseqentemente, testemunha ocular. (Publicada neste nmero). 2o Leitura de uma comunicao do Esprito de Castelnaudary, obtida pelo Sr. e pela Sra. Forbes, ouvintes da ltima sesso. So fornecidos detalhes circunstanciados e interessantes sobre esse Esprito, bem assim os acontecimentos que se passaram na casa em questo. Vrias outras comunicaes foram dadas sobre o mesmo assunto e sero reunidas s obtidas na Sociedade e publicadas quando a srie estiver completa. 3o Leitura de uma notcia sobre a Sra. Xavier, mdium vidente. Esta senhora no v vontade, mas os Espritos se apresentam a ela espontaneamente. Apesar de no estar em sonambulismo nem em xtase, em certos momentos fica num estado particular que reclama maior calma e muito recolhimento, de tal forma que, interrogada quanto ao que v, aquele estado se dissipa imediatamente e ela no v mais nada. Como conserva uma lembrana completa, mais tarde poder dar-se conta do que viu. Foi assim, por exemplo, que, entre outras, viu a Irm Martha, no dia em que foi evocada e a descreveu de maneira a no deixar nenhuma dvida sobre a sua identidade. Na ltima sesso ela tambm viu o Esprito de Castelnaudary, vestindo uma camisa rasgada, um punhal na mo, as mos ensangentadas, a sacudir fortemente o brao do mdium, durante suas tentativas para escrever, a cada vez que So Lus aparecia e lhe ordenava que escrevesse. Tinha uma espcie de sorriso embrutecido nos lbios. Depois, quando lhe falaram de prece, a princpio parece que no compreendeu; mas, logo depois da explicao dada por So Lus, precipitou-se de joelhos.
  55. 55. REVISTA ESPRITA O rei de Kanala lhe apareceu com a cabea de um branco; tinha os olhos azuis, bigodes e costeletas grisalhas, mos de negro, braceletes de ao, um costume azul, o peito coberto por uma poro de objetos que ela no pde distinguir bem. Esta aparncia disse ele deve-se ao fato de, entre a existncia anterior, da qual falou, e a ltima, ter sido ele soldado na Frana, ao tempo de Lus XV. Era uma conseqncia de seu estado relativamente adiantado. Pediu para voltar entre seu povo, a fim de, como chefe, ali introduzir as idias de progresso. A forma que tomou e a aparncia meio selvagem, meio civilizada, so destinadas a vos mostrar, sob nova face, as que o Esprito pode dar ao perisprito, com um fim instrutivo e como indcio dos diferentes estados pelos quais passou. A Sra. X... ainda viu os Espritos evocados virem responder evocao e s perguntas, que nada tinham de repreensvel quanto ao seu objetivo e, ordem de So Lus, retirarem-se para que os Espritos presentes respondessem em seu lugar, j que as perguntas tomavam um carter insidioso. A maior boa-f e a maior franqueza deviam ditar as perguntas; nenhuma inteno dissimulada acrescenta o Esprito interrogado a respeito pelo marido daquela senhora nos escapa; jamais procureis atingir o vosso objetivo por caminhos tortuosos, pois assim o perdereis infalivelmente. Ela via uma coroa fludica cingir a cabea do mdium, como para indicar os momentos durante os quais era interdito aos Espritos no chamados de se comunicarem, porque as respostas deveriam ser sinceras; mas desde que a coroa era retirada, via todos os Espritos intrusos a disputar, de algum modo, o lugar que lhes deixavam. Enfim, viu o Esprito Sr. conde de R... sob a forma de um corao luminoso invertido, unido a um cordo fludico que vinha de fora. Primeiro, disse ele, era para nos ensinar que o 58
  56. 56. JANEIRO DE 1860 59 Esprito pode dar a seu perisprito a aparncia que quiser e, depois, porque poderia ter havido o inconveniente, para a mdium, de encontrar-se frente a frente com um Esprito encarnado, que tivesse visto como Esprito desprendido. Mais tarde esse inconveniente ter diminudo ou desaparecido. Estudos: 1o Evocao de Charlet. 2o Trs comunicaes espontneas so obtidas simultaneamente: A primeira, de Santo Agostinho, pelo Sr. Roze. Explica a misso do Cristo e confirma um ponto muito importante, explicado por Arago, sobre a formao do globo; a segunda, de Charlet, pelo Sr. Didier Filho (continuao do trabalho comeado); e a terceira, de Joinville, que assina em velha ortografia: Amy de Loys, pela Srta. Huet. Sexta-feira, 23 de dezembro de 1859 Sesso geral 3 Leitura da ata e dos trabalhos da sesso de 16 de dezembro. Pedidos de admisso Cartas dos Srs. Demange e Soive, negociantes em Paris, apresentados como membros titulares. Relatrio e deciso adiados para a sesso de 30 de dezembro. Comunicaes diversas: 1o Leitura de uma evocao particular, feita pela Sra. de B..., do Esprito que por ela se comunicou espontaneamente na Sociedade, sob o nome de Paul Miffet, no momento em que ia reencarnar-se. Essa evocao, que apresenta um interessante quadro da reencarnao e da situao fsica e moral do Esprito nos primeiros instantes de sua vida corporal, ser publicada. 3 N. do T.: No original consta o ano de 1854. Torna-se evidente, porm, que 1859.
  57. 57. REVISTA ESPRITA 2o Carta do Sr. Paul Netz, sobre os fatos que determinaram a posse, pelos Cartuxos, das runas do castelo de Vauvert, situado no bairro do Observatrio, em Paris, ao tempo de Lus IX. Diz-se que no castelo se passavam cenas diablicas, que cessaram desde que os monges ali se instalaram. Interrogado sobre esses fatos, So Lus respondeu que deles tem perfeito conhecimento, mas que se tratava de charlatanice. Estudos: 1. Perguntas e problemas morais diversos, dirigidos a So Lus sobre o estado dos Espritos sofredores. (Sero publicados). 2. Evocao de John Brown. Trs comunicaes espontneas: a primeira, pelo Sr. Roze, assinada pelo Esprito de Verdade, contendo diversos conselhos Sociedade; a segunda, de Charlet, pelo Sr. Didier Filho (continuao do trabalho comeado); e a terceira, sobre os Espritos que presidem s flores, pela Sra. de B... Allan Kardec 60 Nota A nova edio de O Livro dos Espritos aparecer em janeiro.
  58. 58. Revista Esprita Jornal de Estudos Psicolgicos ANO III FEVEREIRO DE 1860 No 2 Boletim DA SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPRITAS Sexta-feira, 30 de dezembro de 1859 Sesso particular Leitura da ata da sesso de 30 de dezembro. A Sociedade decide que em cada sesso particular, em seguida leitura da ata, seja lida a lista nominal dos ouvintes que assistiram sesso geral precedente, com indicao dos membros que os apresentaram, e que um aviso seja feito para assinalar os inconvenientes causados pela presena de pessoas estranhas Sociedade. Em conseqncia, foi lida uma lista dos ouvintes ltima sesso. So admitidos como membros titulares, conforme pedido escrito e aps informao verbal: 1o O Sr. Forbes, oficial de engenharia, apresentado a 16 de dezembro. 2o A Sra. Forbes, nascida Condessa Passerini Corretesi, de Florena, apresentada a 23 de dezembro. 3o O Sr. Soive, negociante de Paris, apresentado a 23 de dezembro. 4o O Sr. Demange, negociante de Paris, apresentado a 23 de dezembro.
  59. 59. REVISTA ESPRITA 62 Leitura de trs novas cartas de pedidos de admisso. Relatrio e deciso adiados para o dia 6 de janeiro. Comunicaes diversas: 1o Carta do Sr. Brion Dorgeval, contendo a resposta dirigida ao Sr. Oscar Commetant, a respeito do artigo deste ltimo, publicado no Sicle. (Vide o nmero de janeiro). 2o Carta do Sr. Jobard, de Bruxelas, com observaes judiciosas sobre o estado moral dos Espritos. Ele lamenta que os partidrios do Espiritismo sejam freqentemente designados por suas iniciais. Pensa que indicaes mais explcitas contribuiriam para o progresso da cincia, convidando, em conseqncia, todos os adeptos a assinarem o nome, como ele mesmo o faz. (Vide o nmero de janeiro). Esta ltima observao do Sr. Jobard fortemente apoiada por grande nmero de membros que autorizam pr seus nomes em todas as atas que lhes possam dizer respeito. O Sr. Allan Kardec observa que o medo do que diro diminui a cada dia, e que hoje h poucas pessoas que temem confessar suas opinies acerca do Espiritismo. Os eptetos de mau gosto, dados a seus partidrios, tornam-se ridculos lugares- comuns, dos quais se riem, quando se v tanta gente da elite ligar- se doutrina, porque entrevisto o momento em que a fora da opinio impor silncio aos sarcasmos. Mas uma coisa ter coragem de externar a opinio numa conversa e outra entregar o nome publicidade. Entre as pessoas que mais energicamente sustentam a causa do Espiritismo, muitas h que no gostariam de ser postas em evidncia, por estas e outras coisas. Estes escrpulos, que absolutamente no implicam falta de coragem, devem ser respeitados. Quando fatos extraordinrios se passam em qualquer parte, compreende-se que seria pouco agradvel, para as pessoas
  60. 60. FEVEREIRO DE 1860 63 que lhes so objeto, serem transformadas em ponto de mira da curiosidade pblica e molestadas pelos importunos. Sem dvida, devemos ser gratos aos que se pem acima dos preconceitos, mas tambm no devemos censurar com tanta leviandade os que talvez tenham motivos muito legtimos para no se fazerem notados. Estudos: 1o Perguntas dirigidas a So Lus sobre os Espritos que presidem s flores, a propsito da comunicao obtida pela Sra. de B... Uma explicao muito interessante foi dada a esse respeito. (Ser publicada). 2o Outras perguntas sobre o esprito dos animais. 3o Duas comunicaes espontneas so obtidas simultaneamente: a primeira, do Esprito de Verdade, pelo Sr. Roze, com alguns conselhos Sociedade; a segunda, de Fnelon, pela Srta. Huet. Sexta-feira, 6 de janeiro Sesso particular Leitura da ata da sesso de 30 de dezembro. So admitidos como membros titulares, por pedido escrito, depois de relatrio verbal: 1o O Sr. Ducastel, proprietrio em Abbeville, apresentado a 30 de dezembro; 2o A Sra. Deslandes, de Paris, apresentada a 30 de dezembro; 3o A Sra. Rakowska, de Paris, apresentada a 30 de dezembro. Leitura de uma carta de pedido de admisso. Carta do Sr. Poinsignon, de Paris, felicitando a Sociedade pela passagem do Ano-Novo e fazendo votos pela propagao do Espiritismo.
  61. 61. REVISTA ESPRITA 64 Carta do Sr. Demange, recentemente recebida, agradecendo a sua admisso. Assegura Sociedade sua cooperao ativa. Exame de vrias questes relativas aos negcios administrativos da Sociedade. Comunicaes diversas: 1o Notcia sobre D. Pra, prior de Armilly, falecido h 30 anos. Ser feito um estudo a respeito. 2o Carta do Sr. Lussiez, de Troyes, contendo reflexes muito judiciosas relativas influncia moralizadora do Espiritismo sobre as classes operrias. 3o Carta da Sra. P..., de Rouen, anunciando ter recebido, como mdium, notveis comunicaes, em tudo conforme doutrina exposta em O Livro dos Espritos. Alm disso, a carta contm reflexes que denotam, da parte da autora, uma apreciao muito justa das idias espritas. 4o Carta relativa Srta. Dsire Godu, mdium curadora, de Hannebon. Sabe-se que, da parte da Srta. Godu, uma obra de devotamento e de pura filantropia. Estudos: 1o Perguntas diversas dirigidas a So Lus, como esclarecimento e desenvolvimento de vrias comunicaes anteriores. 2o A Srta. Dubois, mdium, membro da Sociedade, tendo recebido uma comunicao de um Esprito que se diz Chateaubriand, deseja esclarecimentos a respeito. Outro Esprito se apresenta com seu nome, mas recusa identificar-se em nome de Deus. Confessa sua fraude, pede desculpas e d curiosas indicaes
  62. 62. FEVEREIRO DE 1860 65 sobre sua pessoa. A seguir, o verdadeiro Chateaubriand d uma curta comunicao espontnea, prometendo, oportunamente, outra mais explcita. Sexta-feira, 13 de janeiro de 1860 Sesso geral Leitura da ata de 6 de janeiro. Leitura de trs novos pedidos de admisso. Exame e relatrio adiados para a sesso de 20 de janeiro. Comunicaes diversas: 1o Carta do Sr. Maurice, de Teil, Ardche, relatando fatos extraordinrios que ocorreram numa casa de Fons, perto de Aubenas e que, sob certos aspectos, lembra os que se passaram em Java. 2o Carta do Sr. Albert Ferdinand, de Bziers, contendo trs fatos notveis, que lhe so pessoais, provando a ao fsica que os Espritos podem exercer sobre certos mdiuns. 3o Carta do Sr. Crozet, do Havre, mdium correspondente da Sociedade, dando conta de uma comunicao recebida conjuntamente com o Sr. Sprenger, da parte de um Esprito brincalho. Trata-se do Esprito de um capito da Marinha, morto em Marselha h seis meses, explicando com preciso e lucidez notveis as cartadas do jogo de bsigue e a maneira pela qual faz os parceiros perder ou ganhar. (Ser publicada). 4o Um Esprito danarino O Sr. e a Sra. Netz, membros da Sociedade, desde algum tempo recebem comunicaes de um Esprito que se manifesta danando constantemente, isto , fazendo danar uma mesa, que marca o ritmo perfeitamente reconhecido de uma polca, de uma mazurca, de uma quadrilha, de uma valsa em dois ou trs tempos, etc. Jamais quis escrever e no
  63. 63. REVISTA ESPRITA 66 responde seno por batidas. Por esse meio chegou a dizer que era peruano, de raa indgena, morto h cinqenta e seis anos, com 35 anos de idade; que em vida gostava muito de aguardente e que atualmente freqenta os bailes pblicos, onde sente muito prazer. Apresenta a particularidade de jamais chegar antes das dez horas da noite e em certos dias. Diz que vem para a Sra. Netz, mas s se comunica atravs do concurso