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VOLUNTARIADO O que leva as pessoas a doarem parte do seu tempo livre para ajudar ao próximo

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Trabalho de Conclusão de Curso

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VOLUNTARIADOO que leva as pessoas a doarem parte do seu tempo livre para ajudar ao próximo

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Trabalhar sem esperar nada em troca, apenas o bem estar de saber que pode ajudar ao próximo, assim se sente um voluntário. Diversos jovens e adultos dedicam parte do seu tempo, sem remuneração alguma, exer-cendo atividades variadas, em instituições, Organizações Não Governamentais (ONG’s), asilos ou hospitais em Recife. Com as diferenças sociais encon-tradas em nossa sociedade, onde alguns possuem tanto e outros nada ou quase nada, pessoas que tentam modificar essa realidade

trabalham para ao menos tentar mini-mizar o sofrimento de crianças, homens ou mulheres, causa-do pela doença, abandono, pobreza, falta de recursos e violência. Para os

voluntários quatro ou seis horas semanais não fazem muita diferença, mas para quem necessita de atenção, carinho e ajuda esse tempo oferecido vale mais do que ouro.

Muitas pessoas acabam oferecen-do ajuda em instituições voltadas para o apoio de crianças em situação de risco, abandonadas ou deficientes (mentais ou motores). Em Recife existem associações como a Novo Rumo, no bairro de Casa Amarela, que trabalha com a reabilitação e

SER VOLUNTÁRIO

tratamento para crianças e recém-nascidos com síndrome de down e outras doenças genéticas. O lar do Nenem, na Madalena, que acolhe crianças entre 0 e 3 anos em situação de risco ou abandono. A Asso-ciação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), localizada na Ilha Joana Bezerra, prestando auxílio na reabilitação física e mo-tora de crianças portadoras de deficiências. Por serem locais de grande referência na atenção às crianças, essas instituições acabam sendo espaço de grande concentração desse trabalho voluntário. Segundo a antropóloga Vânia Fialho, a busca pelo trabalho voluntário tem caracte- rísticas diferentes de antigamente. O que an-tes era apenas filantrópico, hoje não é mais feito apenas para se ter o status de bonzinho e sim no intuito de integração. “Hoje com a modernidade o homem se tornou mais individualista, perdendo a vontade de fazer parte de um grupo. Ainda assim, o que a so-ciedade tenta hoje é minimizar as diferenças, já que uns tem tanta oportunidade porque não ajudar aos que não tem nenhuma”, comentou Vânia. O trabalho voluntário tende a ser visto, pela sociedade, a partir de duas vertentes. A positiva, quando se tem em mente o bem ao próximo, na tentativa de minimizar as diferenças sociais. Já pelo lado negativo, o problema consistiria na atuação das instituições “encapando” problemas de

“O QUE A SOCIEDADE TENTA HOJE É MINIMIZAR

AS DIFERENÇAS, JÁ QUE UNS TEM TANTA OPORTUNIDADE PORQUE NÃO AJUDAR AOS QUE NÃO TEM NENHUMA”.

VÂNIA FIALHO.

Diversos motivos levam a essa decisão

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responsabilidade do Estado. Porém segun-do a antropóloga: “Não se tem como avaliar se é positivo ou negativo, você precisa ob-servar o contexto histórico-cultural e a partir daí tentar perceber, não julgar, se é bom ou ruim, mas para isso você precisa observar em que campo está inserido”, disse a an-tropóloga. Seja positivo ou negativo, cente-nas de pessoas continuam a buscar fazer o bem e ajudar ao próximo. Diversos motivos levam alguém a procurar ser voluntário, não apenas fazer pelo próximo, mas muitas vezes também a vontade de ajudar a si mesmo. Ainda segundo Fialho, o olhar an-tropológico cultural revela que muitas vezes a busca por esse trabalho não é com o pen-samento no próximo, não é buscando aju-dar o outro, mas sim buscando se ajudar, tentar curar algum problema existente nele mesmo. Se contrapondo a esse individualismo está Graça Lopes, 59 anos, funcionária pública. A curiosidade pela movimenta-ção que acontecia na casa vizinha fez com que, ainda adolescente, na década de 60 em Recife, ela desse início a sua “carreira” como voluntária na Orga-nização de Amparo Fraterno (OAF), que cuidava de crianças e adolescentes grávi-das em situação de risco. “Sempre via uma movimentação muito grande de gente en-trando e saindo daquela casa e tinha a cu-riosidade de saber o que era que tinha lá. Foi quando procurei saber e comecei a ajudar”. Seu trabalho na Organização era bem diversificado. Como ela passava quase todo o dia lá, em um período ela ajudava na alimentação e recreação das crianças e em outro costurava batinhas para as jovens grávi-das e roupinhas para os bebês que elas esta-vam esperando. “Fiquei na OAF por quase cinco anos, mas depois de algum tempo não consegui mais conciliar com os estudos e acabei só podendo ir nos finais de semana”. Com o passar do tempo, ficou cada vez mais difícil para ela conciliar as visitas com seus afazeres e ela precisou abando-

“NUNCA PROCUREI AMPARAR AO PRÓXIMO COMO ESTEIO PARA ME AJUDAR, SEMPRE FIZ PORQUE É UM TRABALHO MUITO

PRA ZEROSO, QUE ME DÁ MUITAS ALEGRIAS E QUE EU TENHO UMA ENORME SATISFAÇÃO EM FAZÊ-LO”. GRAÇA LOPES.

nar de vez. “Precisei abandonar a OAF para poder me dedicar a minha família, casei e tive uma filha e eles me consumiam muito tempo, não conseguia me dedicar a tudo. Mas mesmo assim não abandonei de vez não, só não tinha mais aquele compromisso certo, ia quando podia fazer visitas em instituições diferentes”. Durante cerca de seis anos, a fun-cionária pública ficou “afastada” dos tra-balhos voluntários. Quando sentiu que já era hora de voltar a se dedicar a alguma insti-tuição visitou o Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC), mas não conseguiu dar continuidade ao trabalho, pois para ela era muito complicado ver o sofrimento daquelas crianças. “Uma sobrinha do meu marido me levou para visitar o Lar do Nenen e desde a primeira vez que vim, nunca mais saí. Queria poder vir mais vezes por semana, mas como trabalho, só posso vir aos sábados mesmo”. Há 10 anos na ONG, hoje Graça é uma das voluntárias mais antigas. Para ela a vontade de ajudar os outros nunca foi por motivo de procurar ajuda para si, sempre foi porque gostava, pois depressão nunca foi seu

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Há 10 anos todos os sábados Graça dedica suas manhãs no Lar do Nenen

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caso. “Nunca procurei amparar ao próximo como esteio para me ajudar, sempre fiz porque é um trabalho muito prazeroso, que me dá muitas alegrias e que eu tenho uma enorme satisfação em fazê-lo”. Hoje ela faz parte da religião Vale do Amanhecer, que prega a humildade, a tolerância e o amor, mas segundo ela, não foram questões religiosas que a fizeram bus-car o voluntariado naquela época. “Com certeza mesmo que desde cedo não tivesse iniciado esses trabalhos, hoje por causa da

Aluisio Xavier atua há 4 anos na AACD

religião acabaria procurando”. Assim como Graça, é notório em visitas a instituições recifenses, o grande número de mulheres que realizam atividades voluntárias, em contraponto o quantitativo de homens é insignificante ou até mesmo inexistente. Dados do IBGE (2006) mostram que cerca de 7% de toda a população brasi- leira desenvolve algum tipo de trabalho voluntário ajudando em instituições religio-sas, beneficentes ou de cooperativa. Dentro do total de mulheres brasileiras, cerca de 9% realiza algum trabalho não remunerado, contra apenas 5% dos homens. Essa estatís-tica pode ser comprovada na AACD-Recife onde, segundo a coordenação de voluntários, 90% desses voluntários são do sexo feminino e apenas 10% do sexo masculino, chegando até em algumas épocas ser bem menor esse número. Uma justificativa para esse quadro é defendida pela antropologia, quando Fialho afirma que na nossa cultura a mulher é vista

como a sensível, preocupada com o lado hu-manista. Mas isso acaba gerando problemas, afinal a partir do momento em que passa a ser naturalizado na sociedade, o homem se sente cada vez mais distante dessa realidade. “Ele não possui o dom natural e esse papel de pensar nos outros cabe apenas a mulher, o homem precisa pensar nele, no trabalho dele, no sustento da família e nada mais”, complementa Fialho. Exemplo contrário é o de Aluísio Xavier, 33 anos. Hoje ele atua como advoga-do na AACD, prestando assessoria jurídica às famílias das crianças atendidas pela Associa-ção. O advogado revela que sempre teve von-tade de fazer algum trabalho voluntário, dedi-cando um tempo em alguma instituição, onde pudesse realizar algo na sua área profissional. A ideia inicial era dedicar algumas horas na semana, ajudando no Ministério Público. Mas um amigo explicou que seria muito difí-cil esse tipo de trabalho, pois lá a demanda é muito grande. “Esse meu amigo, um dos responsáveis pela AACD no Recife, sugeriu realizar um trabalho jurídico na associação. Desde o dia que ele me levou pela primeira vez eu não consigo mais deixar de ir”, relem-bra. O trabalho do advogado, que atua há quatro anos na AACD, não consiste apenas em entrar com pedidos para que o governo realize a compra de medicamentos, agilize cirurgias, pedidos de aposentadoria ou outros aspectos relativos a crianças. Ele dá entrada também em processos que melhorem a qualidade de vida das famílias dessas crian-ças, como por exemplo, divórcios, pedidos de pensão entre outras questões que indire-tamente afetam a criança. Ele explica que a carga de ter uma criança deficiente em casa é muito grande e as mães largam tudo para se dedicar a cuidar do filho os pais não aguen-tam, acabam abandonando a família. “Quan-do essas coisas acontecem precisamos lutar para que ele tenha que assumir a sua respon-sabilidade. Em outros casos, precisamos também chamar pai e mãe para fazer aconse-lhamento ou então reclamar mesmo”, conta. O advogado afirma que as causas ganhas na justiça não são apenas uma vitória

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da família, mas também é uma conquista pessoal para ele. A exemplo de uma caso de uma família de Arcoverde, que vinha para o Recife pelo programa TFD (tratamento fora de domicílio, onde um ônibus da prefeitura recolhe todos os pacientes da cidade que pre-cisam vir para a capital). Além do transporte as famílias recebiam uma diária no valor de R$8,00 para passar o dia (normalmente quase 24h) aqui. “O valor que essa família recebia era muito inferior ao necessário, ganhamos a causa e hoje essa família recebe R$140,00 por essas diárias. Com esse valor elas conseguem até pagar um plano de saúde popular para a criança ter um melhor atendi-mento básico na cidade”.

O envolvimento nesses casos acaba sendo em alguns casos bastante ruim, por esse motivo ele diz tentar ao máximo não se envolver. Segundo o advogado, é necessário saber distanciar as coisas e se acostumar com a perda. Em alguns casos durante o processo a criança morre, mas é preciso encarar e seguir em frente. Em outros casos as mães ficam tão felizes com o nosso o empenho dele, que acabam pedindo para apadrinhar as crianças, outra coisa que também é muito legal. Alguns sentem uma amizade e gratidão tão grande que querem compartilhar a feli-cidade deles com os advogados. “Certa vez ganhamos uma causa e os pais da criança fizeram uma festa, um churrasco, no interior e nos convidaram fomos sem problemas, pois aquilo não significava nenhuma ligação, apenas uma forma de comemorar e agrade-cer a conquista. Em resumo a minha função é resolver o problema, não posso me ape-gar, até porque me aperreio bastante em não conseguir resolver tudo”. O trabalho do advogado é desen-volvido dentro de um dos ambulatórios da AACD. A assessoria jurídica funciona nas quartas e quintas contando também com o apoio de Emanoela Xavier, advogada e espo-

“CERTA VEZ GANHAMOS UMA CAUSA E OS PAIS DA CRIANÇA FIZERAM UMA FESTA, UM CHURRASCO, NO INTERIOR E NOS CONVIDARAM FOMOS SEM PROBLEMAS, POIS

AQUILO NÃO SIGNIFICAVA NENHUMA LIGAÇÃO, APENAS UMA FORMA DE COMEMORAR E AGRADECER A CONQUISTA”. ALUÍSIO XAVIER.

sa de Aluísio. “O trabalho cresceu bastante, eu sozinho não dava conta. Uma semana eu vou na quarta, na outra Emanoela vai na quinta. Gostaria muito de ter outros advoga-dos aqui do escritório engajados também, mas cada um tem a sua disponibilidade não posso forçar ninguém. Tive que contratar uma estagiária aqui só para tratar das causas da AACD”, finaliza. Hoje em dia muitas instituições recorrem ao trabalho voluntário para ajudar no desenvolvimento das atividades presta-das as crianças. Normalmente esse trabalho prestado voluntariamente é bastante seme-lhante ao trabalho do Assistente Social, pois geralmente está diretamente ligado ao cuida-

do com o próximo. Porém Voluntariado e Serviço Social são duas coisas bem distintas. A população acaba por confundir trabalho voluntário com toda e qualquer profissão que tenha por finalidade dar assistência a população, assim como é o caso dos assis-tentes sociais, que muitas vezes são cobrados a trabalhar de graça, confundem voluntariado e assistencialismo com a profissão. “Mesmo após a regulamentação da profissão ainda sofremos bastante. O próprio nome “Assis-tente Social” faz com que as pessoas tenham essa imagem voluntária de nós. Por sermos assistentes sociais precisamos ajudar e não devemos cobrar nada em troca, mas escolhe-mos essa profissão e precisamos sobreviver com ela”, desabafa a Assistente Social, do Lar Rejane Marques, Maria Olivia Santos. Diversas são as características que definem um voluntário. Boa vontade, di-sponibilidade de doação de tempo e prin-cipalmente de carinho, responsabilidade e compromisso. Não importa se oferecendo atenção a crianças carentes ou doentes, o que importa é que a pessoa esteja disposta a ajudar.

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Sabendo que o Recife é uma cidade com muitas desigualdades sociais, é cada vez mais comum observar crianças pedindo dinheiro nos sinais, ler notícias sobre espan-camento realizados pelos pais e presenciar abandono de menores por mães jovens e desesperadas. Em muitas situações essas crianças vivem sem lazer, boa alimentação e normalmente nem experimentaram con-viver com outras pessoas.

PENSANDO NO FUTURO

Em virtude dessas circunstâncias, muitas ONG’s trabalham para dar o apoio necessário para que elas possam crescer em uma situação um pouco melhor e possam vivenciar situações que talvez fossem impos-síveis, diante das condições em que vivem. Por diversos motivos, algumas crian-ças acabam sendo retiradas de suas famílias e passam a viver em locais de acolhimento como o Lar do Nenen. A instituição é uma

ONG formalmente constituída em 1978 que acolhe, tempo-rariamente, meninos e meninas de 0 a 3 anos, em situação de risco ou abandono. Promovendo pro-teção, facilitando sua reintegração familiar ou, quando inviável, sua colocação para adoção. Em fun-cionamento há três décadas, a organiza-ção surgiu a partir da iniciativa de um grupo de senhoras voluntárias que, ao observar a inexis- tência no Recife de uma entidade apropriada para o

Alegria ao ajudar no desenvolvimento das crianças

Homenagem que as crianças de um abrigo fizeram para os voluntários do Amigos para Sempre

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acolhimento e posterior adoção de crianças, fundou a associação. Para o funcionamento da instituição, é indispensável que exista a parceria com os voluntários, que são fundamentais para a realização de grande parte das atividades. Essas pessoas participam da estimulação afetiva e psicomotora das crianças sob a su-pervisão técnica de profissionais, além de ajudarem na recreação, responsabilizam-se também por acompanhar as crianças em passeios, consultas médicas e no dia-a-dia em geral. Também ficam sob responsabili-dade dos voluntários a organização dos ba-zares e de outros eventos para captação de recursos, apoiando a coordenação técnica ou a diretoria, que também é composta por voluntárias. Hoje a ONG conta com cerca de 40 pessoas que doam em média quatro horas semanais a instituição. Sandra Figueiredo, 49 anos, coordenadora dos voluntários, é uma dessas prestadoras de serviços sem remuneração. Estando há cinco anos tra-balhando no local, a coordenadora afirma que o maior ensinamento aprendido com o trabalho é o amor, pois a cada criança que chega o crescimento é maior e esse é o obje-tivo principal do lugar. “O trabalho aqui me faz crescer muito. Vejo como os meninos se satisfazem com pouco, um brinquedo é o suficiente. Levei eles no shopping um dia e para minha surpresa não me pediram nada só fizeram olhar. Mas sei que se fosse meu filho iria pedir para comprar alguma coisa”. Para a coordenadora, o fundamen-tal para que esse tipo de trabalho dê certo é a união e o afeto que precisa existir entre todos. “Olho a vida de outra maneira em relação ao materialismo e ao afeto. O Lar do Nenen tem uma equipe estruturada, que luta pela visibilidade lá fora. Aqui o trabalho tem que ser com união”. Cada pessoa possui uma motiva-ção diferente para a realização do trabalho

voluntário. Sandra iniciou trabalhando com idosos, mas por morar próximo ao Lar do Nenem acabou sendo levada para lá. “Tra-balhar com crianças é muito bom, pois me identifico e posso voltar no tempo. Eles me fazem me sentir crianças novamente, relem-bro muitas brincadeiras no período que estou com eles. Se todo mundo fizesse um pouquinho, tenho certeza que o Brasil, que Recife, seria muito diferente”. Por ser uma ONG a manutenção da instituição é garantida, basicamente, por recursos de terceiros, sejam pessoas físicas ou jurídicas, governo, fundações, agências de cooperação e fundos de caráter social.

Segundo Figueiredo, as contribuições finan-ceiras, além das doações são imprescindíveis, embora em alguns casos sejam insuficientes para responder a demanda do Lar. O local precisa de alimentos, material de higiene e limpeza, brinquedos, roupas ou atendi-mentos gratuitos realizados por médicos e dentistas. As crianças que vivem em lares não são as únicas que tem sua infância prejudi-cada e que não possuem oportunidades de diversão. As de baixa renda também são bastante afetadas. Em virtude disso, objeti-vando despertar nos jovens o voluntariado e transmitir valores e amor à crianças de baixa renda, surgiu em 1998 no México a ONG Sonhar Acordado. Criada pelo Movimento Católico a organização chegou ao Brasil em 2000, no Rio de Janeiro, e no Recife em 2005. A ONG que é coordenada e tem como força de trabalho exclusivamente voluntários, realiza projetos contínuos e os esporádicos. Os Projetos Esporádicos, que mar-

“TRABALHAR COM CRIANÇAS É MUITO BOM, POIS ME IDENTIFICO E POSSO VOLTAR NO TEMPO (...) SE TODO MUNDO FIZESSE UM

POUQUINHO, TENHO CERTEZA QUE O BRASIL, QUE RECIFE, SERIA MUITO DIFERENTE”. SANDRA FIGUEIREDO.

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“(...) O QUE REALMENTE QUERÍAMOS ERA TER VOLUNTÁRIOS SUFICIENTES PARA CONSEGUIR

JUNTAR MAIS INSTITUIÇÕES SENDO BENEFICIA-DAS EM UM LUGAR BEM MAIOR”. GABRIELA AGUIAR.

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caram a chegada da ONG no Recife, são realizados duas vezes no ano, ao final de cada semestre, e contam com a presença de um número maior de crianças e voluntários. São chamadas de Grandes Festas: o Dia de Sonho, realizado no primeiro semestre, e no segundo semestre acontece a Festa de Natal. Foi justamente com uma festa de Natal para 70 crianças do Instituto Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Paissandu, e com cerca de 90 voluntários, que a Orga-nização deu início as suas atividades na capi-tal pernambucana. Para a organização do Sonhar, aquilo ainda estava muito longe do que eles pretendiam. “Tínhamos feito uma festa para 70 crianças de uma instituição, mas o que realmente queríamos era ter voluntários suficientes para conseguir jun-tar mais instituições sendo beneficiadas em um lugar bem maior”, diz Gabriela Aguiar, responsável pelo início da ONG no Recife. O grande problema para o crescimen-to do Sonhar Acordado, eram as questões financeiras. Todo o dinheiro para a realiza-ção das duas festas anuais, dia do Sonho e da

Voluntários do Sonhar Acordado em ação!

Festa de Natal, eram apenas das inscrições dos voluntários para participar dos eventos, isso fazia com que a ONG não pudesse ter um crescimento tão grande. Apenas em 2008, conseguiram um patrocinador fixo que doa mensalmente uma quantia. Inicial-mente a organização só contava com cinco voluntários atuando. “Hoje já contamos com

“OS VOLUNTÁRIOS VÃO CONSTITUINDO LAÇOS DE

AMIZADE QUE AMADURECEM DURANTE O PROJETO,

VIRANDO REFERÊNCIA”. MÔNICA VASCONCELOS.

uma equipe bem estruturada, dividida em setores”. Segundo Aguiar a ONG sente que ainda pode crescer bastante, apesar de tudo que já foi realizado, eles sabem que ainda há muito a ser feito. “A nossa meta é que esses voluntários vejam que precisam se doar mais. É uma grande felicidade saber que pude aju-dar a erguer isso aqui, foi a chance que eu tive de ser melhor e conviver com pessoas

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muitos especiais”. Além dos projetos esporádicos, a or-ganização conseguiu em 2007 dar início aos projetos contínuos na cidade. Nesse tipo de atividade os voluntários, no período de um ano, doam-se a fim de propiciar momentos únicos para as crianças. São eles: Amigos para Sempre, Sonhando Juntos e Preparan-do para o Futuro. O “Amigos para Sempre”, o único projeto contínuo instituído no Recife, é for-mado por equipes de jovens voluntários, que no período de um ano se propõem a doar mensalmente às crianças algumas horas de seu tempo e realizam atividades culturais, educativas, recreativas e esportivas que es-timulem a absorção de valores importantes a crianças de idade entre 5 a 12 anos, normal-mente residentes em abrigos. Segundo Mônica Vasconcelos, co-ordenadora do “Amigos para Sempre”, as atividades realizadas não são padronizadas pelo projeto. Elas são aplicadas de formas diferentes em cada instituição, pois a idéia é que a partir das observações da 1ª visita (que normalmente refere-se a uma atividade bem recreativa, com jogos, dinâmicas e brincadei-ras para apresentação do grupo), além das conversas com a direção e funcionários do abrigo, verificar o perfil das crianças, as ati-tudes, comportamentos individuais e coleti-vos, para então, pensar em quais atividades e valores precisam ser mais trabalhados naque-le ambiente. “Também realizamos atividades externas com passeios em parques, mu-seus, praças, cinemas, estádios entre outros. Passeios que também são pensados em acor-do com algum tema e valor a ser trabalhado, escolhidos pelos voluntários do projeto”.Essas atividades hoje são realizadas no abri-go Casa da Madalena, no bairro de mesmo nome, na Região Metropolitana do Recife. O local acolhe crianças de 0 a 6 anos, tam-bém em situação de risco. A cada semes-tre as equipes se renovam, pois alguns tem a disponibilidade de continuar, já outros não, por algum motivo precisam se afastar. Segundo Vasconcelos projetos como esses podem despertar nos jovens o espírito de liderança, de tomada de decisões, o desper-

tar da pró-atividade, ou seja, eles tem a opor-tunidade de desenvolver novas habilidades que somarão as suas já possuídas aptidões para a vida social além de fazê-lo dar mais valor às condições financeiras, as relações familiares e ao convívio social com amigos. “Eu acredito muito na proposta do “Amigos para Sempre” de despertar nesses jovens o comprometimento, de sentir a necessidade de fazer algo pelo próximo, de ajudar, cada um na medida do seu possível”.Através da visita a esses abrigos e do con-tato mais próximo com as crianças, esses voluntários podem observar as realidades pelas quais esses pequenos já passaram e aprender a ter uma esperança de um futuro melhor, tendo em vista os problemas sérios já enfrentados por eles, mesmo com idades tão pequenas. Além do benefício para os voluntários, Vasconcelos acredita que essas pequenas crianças têm um ganho muito maior. “Os voluntários vão constituindo laços de amizade que amadurecem durante o pro-jeto, virando referência. Todavia, acredito e percebo que esse contato proporciona uma melhora da auto-estima das crianças e dos comportamentos muitas vezes agressivos ou individualistas verificados nos primeiros encontros do grupo”, finaliza.

Lar do Nenen há 30 anos acolhendo e cuidando de crianças

LOGO

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Criança, por si só, já chama a aten-ção dos outros despertando carinho, aten-ção e faz com que as pessoas se sintam mais tocadas a ajudar. Quando os pequenos possuem alguma deficiência e necessitam de uma ajuda, de uma atenção e de um carinho maior isso é mais notável. Visando dar atendimento a essas crianças existem algumas instituições que oferecem serviços médicos e de reabilita-ção. Um exemplo é a Associação Novo Rumo que trabalha com profissionais voluntários no atendimento a crianças com deficiências.

UM PASSO DE CADA VEZ

Trabalhar voluntariamente para quem não tem condições de pagar, foi com esse espírito que Vilma Alves, 42 anos, saiu da faculdade de Fonoaudiologia. A pro- fissional deu início a sua vida universitária já tarde, esperou estar estruturada na vida e financeiramente. “Quando estava na fa culdade notei que poderia ajudar muito mais as pessoas. Então decidi que queria trabalhar voluntariamente quando me for-masse para poder ajudar aos que não po-diam pagar pelos meus serviços”. A vida profissional começou logo após o final da faculdade em 2005, na Associação de Pais e Amigos dos Excep-cionais (APAE), mas a carga de trabalho começou a ficar muito pesada e ela passou a não ter mais tanto tempo livre para se dedi-car aos outros compromissos. “Depois de dois anos que estava na APAE eu não estava mais conseguindo conciliar o trabalho com a família. Foi então que através de uma amiga apareceu a Novo Rumo na minha vida”. O que mais tocou a profissional foi começar a trabalhar com portadores de sín-drome de down e outras doenças genéticas. De acordo com ela “os caminhos guiam” e acabaram fazendo com que ela pudesse ajudar crianças e famílias a enfrentar problemas antes já passados pela sua famí-lia. A fonoaudióloga tem um irmão porta-dor da síndrome de down e sabe o quanto

É com esse espírito que os voluntários trabalham para modificar o futuro de crianças deficientes

Para Vilma nada é mais gratificante do que o desenvolvimento dos seus pacientes

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foi difícil para ele e para a família conviver com aquela realidade. “Hoje meu irmão tem uma vida social muito ativa, meus filhos são apaixonados pelo tio, os amigos deles o adoram também. Mas sei que se a minha família não tivesse tratado com naturalidade, tentado dar oportunidades a ele, a realidade seria bem diferente. Meu empenho maior é justamente para isso, para que tantos outros possam ser iguais ou pelo menos parecidos com o meu irmão”, diz Alves. Com uma situação semelhante na família, se encontra Gabriela Cavalcanti, 28 anos, que é fisioterapeuta voluntária na Associação, desde julho de 2009. A pro- fissional também conviveu com um caso de síndrome de down na família, o irmão mais velho, que faleceu de um infarto fulmi-nante aos 25 anos. “Acompanhei bastante a vida dele. Vi as dificuldades que enfrentou, principalmente para estudar, os custos eram muito altos. O portador de down é visto como uma pessoa sem perspectiva e isso é muito triste”, relembra. Após a morte do irmão, a fisiotera-peuta começou a estudar mais a fundo a

doença e passou a ter o interesse de trabalhar para essas pessoas. Por isso está fazendo uma especialização em pediatria visando a ecoterapia para down e mestrado em psico-logia, voltado para a família com portador de down. “Por causa das minhas pesquisas para o mestrado e a especialização, vim parar aqui e acabei não saindo mais”, conta Gabriela.

Mais uma vez a vontade do volun-tário é despertada pelo ajudar ao próximo sem pensar em ter nada em troca. A fisioterapeuta afirma que uma grande difi-culdade para os profissionais é ter vontade de ajudar em instituições trabalhando na sua área e não poder, mas mesmo assim ela assegura que não se deve desistir. “A vontade de ser voluntária já existia. Tentei ajudar na AACD, mas lá, se você tem uma profissão, não trabalha nela. Trabalha em algo distinto. E eu não queria assim, queria ter a oportu-

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Cada sessão de fisioterapia é um avanço na vida de Mariana

“O PORTADOR DE DOWN É VISTO COMO UMA PESSOA SEM PERSPECTIVA E ISSO

É MUITO TRISTE”. GABRIELA CAVALCANTI.

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Curisco com seus alunos mostrando que as limitações fisicas se tornam menores com a ajuda da capoeira.

“O VOLUNTARIADO É UMA VIA DE MÃO DUPLA, DIFERENTE

DO QUE MUITOS ACHAM, VOCÊ ACABA RECEBENDO MUITO

MAIS DO QUE DÁ”. CURISCO.

nidade de aprender mais, além de ajudar aquelas crianças. Mas não desisti nunca”, diz a fisioterapeuta. Nunca desistir, ter persistência sem-pre, talvez essas sejam as palavras chaves para que crianças deficientes possam se de-senvolver mais e melhor. Mas para que isso seja possível, elas não precisam apenas de tratamentos físicos, necessitam também se sentirem integradas na sociedade. Algumas atividades artísticas ajudam bastante nesse desenvolvimento, permitindo que se sin-tam mais soltas e passem a cantar e interagir melhor com outras pessoas. Muitas ultra- passam barreiras que nem elas, nem as famílias, nem os médicos acreditavam ser possível de ser quebradas. Uma dessas atividades é a capoeira. Na Associação Novo Rumo, os pacientes têm a oportunidade de fazer aulas uma vez por semana, com o Mestre Curisco, que além

dessa turma de especiais coordena o projeto de seus alunos em algumas comunidades e instituições. “Nunca tinha trabalhado dire-tamente com down, mas resolvi montar um projeto diferente e resolvi que seria voltado para esse público”, conta. O Mestre, que dedica duas horas por semana para os meninos da Associa-ção, acredita que o mergulho na capoeira faz muito bem para eles, pois passam a ter outra percepção de mundo, adotam outros cos-tumes, passam a ver que as limitações físicas se tornam bem menores e que naquele es-paço, os obstáculos não são tão importantes e não fazem tanta diferença.

É sempre notório as mudanças que aconte-cem na vida das pessoas após começarem a realizar algum tipo de trabalho voluntário. “Passei a notar as reações dos meus alunos, eles me dão respostas que nem a ciência é capaz de explicar, eles me surpreendem a cada aula, vão muito mais além da suposta “barreira” mental. O voluntariado é uma via de mão dupla, diferente do que muitos acham, você acaba recebendo muito mais do que dá” finaliza Curisco.

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Trabalhar voluntariamente não significa não ter responsabilidade, nem horários a serem cumpridos. Ao contrário, é exigido compro-misso como uma das principais ferramentas na realização dos trabalhos, seja ele qual for. A dedicação de muitas pessoas ao trabalho voluntário, em alguns casos, é tão grande que começam a se destacar e aca-bam crescendo dentro da instituição. Essa evidência faz com que elas acabem sendo “promovidas” e assumam outras funções de maior responsabilidade, como é o caso de Mário Mendes, hoje coordenador dos 250 voluntários da Associação de Apoio à Criança Deficiente (AACD). Há 10 anos quando entrou na associação, o voluntário estava se apose- ntando e não queria mais nenhum trabalho remunerado. Resolveu assim se inscrever para a seleção da instituição que estava ini-ciando seus trabalhos na capital pernambu-cana. Iniciou auxiliando os profissionais da fisioterapia e seu destaque foi tão grande que foi chamado para assumir a coordenação dos voluntários. “É muito interessante você observar esse tipo de trabalho, onde você chega com a ideia de ajudar, contudo aca-ba sempre recebendo muito mais. Faço amizades, adquiro conhecimento, tenho oportunidade de fazer cursos, fora tantas outras atividades que participo. Para mim a AACD completa a minha vida” conta Mendes.

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ASSUMINDO RESPONSABILIDADESÉ necessário ter compromisso para

encarar o trabalho voluntário

Segundo o aposentado qualquer pessoa pode se tornar um voluntário da associação. É necessário apenas ter no mínimo 21 anos, e disponibilidade de doar quatro horas semanais. Mas a maioria dos voluntários acaba sendo mesmo os aposen-tados, pois tem mais facilidade de contribuir com a ajuda já que não possuem tantos com-promissos quanto os mais jovens. “Indepen-dente da idade, o mais importante é que tenham compromisso com o trabalho, en-carem com responsabilidade, por isso co-bramos assinatura de ponto na entrada e saída e a utilização da farda. Não podemos deixar que por ser voluntário, seja de qualquer jeito”. Assim como Mário que procurou a associação após ter se aposentado, o mesmo fez Rosinete Barbosa, também na instituição desde a sua fundação, quando foi chamada por uma amiga para ajudar no que chama-vam de “Hospital de Sílvio Santos”. “Não sabia nem o que era, fiz um curso de cinco dias antes de começar o trabalho para me familiarizar com a associação. Hoje sou apaixonada por esse trabalho. Ajudo no

“PARA MIM FOI MUITO BOM VIR PARAR AQUI. APRENDI MUITAS COISAS, ENTRE ELAS A SER MAIS HUMILDE, A GOSTAR MAIS DO OUTRO

E A TER MAIS PACIÊNCIA”. ROSINETE BARBOSA.

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atendimento, que é um serviço muito sério e importante, como todos aqui. Todas as quar-tas preciso estar aqui, se não puder vir troco com alguém, pois o que não pode é ficar sem ninguém”. Rosinete conta que antes de começar na AACD tentou o Núcleo de Apoio à Cri-ança com Câncer (NACC), mas desistiu, pois para ela era muito ruim observar as crianças sofrendo tanto daquele jeito. “É muito ruim saber que você esta convivendo com aque-las crianças e elas podem morrer a qualquer momento, de uma forma ou de outra você se apega. Aqui não, claro que é possível que algumas cheguem a falecer, mas o número é bem menor, não acontece com frequência como lá”. Além de trabalhar recebendo as pessoas, a voluntária também ajuda quin-zenalmente ao advogado, na assessoria ju-rídica, organizando as famílias que desejam atendimento. “Para mim foi muito bom vir parar aqui. Aprendi muitas coisas, entre elas a ser mais humilde, a gostar mais do outro e

a ter mais paciência. Não sei mais viver sem esse trabalho. Não me imagino longe daqui de jeito nenhum. Quando saio de férias em dezembro, podemos ficar até 20 de janeiro, mas eu sempre volto no dia 10 mais ou me-nos, porque não aguento ficar muito tempo longe daqui não”.Enquanto alguns procuram ser voluntários em locais já existentes, outros resolvem fazer mais, criando locais de acolhimento para quem necessita e de oportunidade para quem deseja ajudar. “Não há coisa pior e que assuste mais a sociedade do que mulheres que lutam por um objetivo” essa frase de José Marti, escritor e pensador cubano, está exposta na parede da associação Novo Rumo por se identificar bastante com a história de vida da fundadora da associação, a médica geneticista Paula Arruda, 47 anos. Médica do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) onde trabalhava com crianças com síndrome de down e outras doenças genéticas, Arruda começou a notar que com a passar do tempo o número de atendimentos estava aumentan-do bastante e que ela não conseguia mais dar conta da demanda de pacientes. A partir daí, em 2002, surgiu a ideia de realizar trabalhos mensais com as famílias. “A demanda no ambulatório do Cisam passou a aumentar muito, então pensei em criar uma instituição para apoiar essas famílias” lembra a médica. A associação permaneceu funcio-nando apenas como um ponto de apoio sem nenhuma legalização até 2007. Segundo a médica a associação não recebe ajuda do governo, da prefeitura, nem de nenhum político. “A casa onde instalamos a institu-ição era dos meus pais e eles me doaram para ajudar na minha ideia. No começo não existiam médicos suficientes porque os profissionais não queriam trabalhar de for-

“A CASA ONDE INSTALAMOS A INSTITUIÇÃO ERA DOS MEUS PAIS E ELES ME DOARAM PARA AJUDAR NA MINHA IDEIA. NO COMEÇO NÃO EXISTIAM MÉDICOS SUFICIENTES PORQUE OS PROFISSIONAIS NÃO QUERIAM TRABALHAR DE FORMA VOLUNTÁRIA OU ENTÃO DEPOIS DE UM TEMPO QUERIAM COMEÇAR A COBRAR”.

PAULA ARRUDA.

Paula (D) e Luciana juntas desde 2002 na Associação Novo Rumo

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ma voluntária ou então depois de um tempo queriam começar a cobrar”. Por trabalharem voluntariamente a cobrança não é tão grande. Mas precisa exis-tir a responsabilidade e o compromisso. “O voluntário precisa ser respeitado, ele tem a vida dele, então não podemos cobrar se ele precisa faltar. Algumas instituições são bem rígidas, aqui não, o profissional faz como pode”. Apesar dos profissionais trabalharem voluntariamente a Associação precisa de al-guma forma se sustentar. Segundo Arruda, a casa se sustenta única e exclusivamente de doações. “Aceitamos doações de todo jeito, uma parte das instituições que recebem aju-da impõem malas diretas com valores pré-estabelecidos, mas não acho isso certo. Cada um dá o que pode”.Os profissionais trabalham voluntariamente e as doações servem para pagar o caseiro, as despesas com os dois cachorros (utilizados nas dinâmicas de tratamento com as crian-ças). Os donativos recebidos também são materiais de limpeza e materiais escolares para utilização nas dinâmicas de recreação das crianças. “Além das doações de pessoas temos as campanhas e os eventos que servem para o melhoramento da casa, já colocamos cerâmica e reformamos a fachada”. Para assumir esse compromisso, a médica contou com a ajuda da sua ex-estagiária Luciana Dias, diretora financeira da associação. Graduada em Enfermagem,

a também voluntária, ajuda a gerir a Novo Rumo. “Trabalhei com Paula no Cisam e quando ela resolveu criar a associação, me chamou para trabalhar com ela. Acho esse tipo de oportunidade que oferecemos aqui muito importante para o profissional recém-formado. Pois já é possível para ele começar com a prática”. O compromisso com o trabalho às vezes é tão grande que o profissional acaba se envolvendo bastante com a família tam-bém. Ele deixa muitas vezes de fazer o aten-dimento exclusivo para o paciente e acaba sendo “profissional” de outras áreas, tra-balhando com toda a família. “O problema maior não é só ajudar a criança, é necessário ter um equilíbrio familiar, e isso não existe na maioria dos casos”. Os profissionais levam essas suas horas de dedicação extremamente a sério. Eles sabem que seu trabalho é de muita importância e que em alguns casos, se não forem feitos con-tinuamente, não irão surgir o devido e espe-rado efeito. Encaram realmente com muita responsabilidade principalmente por ser tra-tar de algo ligado à sua profissão. “Não falto aqui nunca a não ser que esteja muito doente ou aconteça algo de muito sério. Assumi o compromisso e honro ele. O que é feito com carinho e amor não tem empecilho. Quando você prioriza alguma coisa o resto é resto. É verdade que saio bem cansada, afinal não tenho mais 20 anos, mas mesmo assim é muito gratificante”, conclui a fonoaudióloga.

Desde a aposentadoria Mario optou por iniciar a trabalhar voluntariamente

Rosinete Barbosa voluntaria desde a inauguração da AACD

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Faculdade Maurício de NassauTrabalho de Conclusão de Curso

Alunos: Antonio Eurico Pires Mellynna Mohana Ferreira

Orientadora: Shirlene Marques