revista shalom - maná - abril2012

48
I SBN 978-4-13-150900-7 00225 9 784131 509007 REPORTAGEM: Renascer 2012 abre comemorações dos 30 anos da Comunidade Shalom ENTRELINHAS: Ressuscitar dos mortos? O que isso significa? “Ressuscitei e estou convosco para sempre. Aleluia!” Ano 25 • nº 225 | Abril • 2012 • R$ 9,90

Upload: hdmais-comunicacao

Post on 06-Mar-2016

243 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Revista Shalom - Maná - Abril2012

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Páscoa, coração da nossa fé!

I SBN 978 - 4 - 13 - 150900 - 70 0 2 2 5

9 784131 509007

REPORTAGEM: Renascer 2012 abre comemorações dos 30 anos da Comunidade ShalomENTRELINHAS: Ressuscitar dos mortos? O que isso significa?

“Ressuscitei e estou convosco para sempre. Aleluia!”

Ano 25 • nº 225 | Abril • 2012 • R$ 9,90

Page 2: Revista Shalom - Maná - Abril2012
Page 3: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Jovens brasileiros recebem a cruz da Jornada Mundial da Juventude,

logo após o papa Bento XVI anunciar o Rio de Janeiro como

sede da próxima JMJFoto por Hanna Grabowska

Crédito: http://www.madrid11.com/pt

“A incredulidade de São Tomé”, de Caravaggio

Põe aqui tua mãoTorna-te um homem de fé

Toca o meu coração e o medo se vai.

Tomé - Davidson Silva

Page 4: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12S

UM

ÁR

IO

4

A Palavra do Papa“Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”

ReportagemRenascer 2012: “Eis que vou fazer obra nova”

Acontece no Mundo• Bento XVI apresenta mensagem

para o 49o Dia Mundial de Oração pelas Vocações

• Jordânia: novo centro de cultura católica

• Jesuítas oferecem cursos a distância para refugiados

• Consistório cria 22 novos cardeais

EspecialO Jardim da Agonia – Parte II

Só FamíliaFamílias numerosas: dom de Deus

Assunto do MêsPáscoa: coração da nossa fé!

Orando com a PalavraA esperança é para nós qual âncora da alma

Fé e RazãoViver bem

EspecialO valor da vida humana e da sua inviolabilidade

A Igreja CelebraSanta Catarina de Sena: “Esposa de Cristo na fé”

EspecialSão José, lugar-tenente do Pai

Divirta-se• Palavras Cruzadas• Dica de filme

EntrelinhasRessuscitar dos mortos?!? O que isso significa?!?

08

24

36

10

38

41

29

32

35

18

14

21

44

Page 5: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

ED

ITO

RIA

L

5

Filipe CabralCoordenador Geral das Edições Shalom

Coordenação GeralFILIPE CABRAL

Coordenação EditorialCAROLINA FERNANDES

Equipe de RedaçãoJOSé RICARDO F. BEzERRA

RevisãoMONIquE LINhARES GOMES

Diagramação e CapaDANIEL GARCIA DA SILVA

Gerente ComercialELIANA GOMES LIMA

AssinaturasÂNGELA GONÇALVES

Jornalista ResponsávelEGíDIO SERPA

E X P E D I E N T E

SERVIÇO DE APOIO AO ASSINANTEEstrada de Aquiraz - Lagoa do Junco | Aquiraz /CE CEP: 61.700-000Para assinar ou renovar: (85) 3308.7403 / 3308.7415Para anunciar: (85) 3308.7403Para sugestões, dúvidas, reclamações e testemunhos, ligue-nos ou escreva-nos: [email protected]@comshalom.orgwww.edicoesshalom.com.brwww.comshalom.org

“Cristo Ressuscitou, aleluia!”

Carta ao leitor

Caríssimo leitor,Nesta edição, temos a imensa alegria

de celebrar e de refletir sobre o Mistério inesgotável da Ressurreição de Cristo. Em

seu artigo “Páscoa: coração da nossa fé!”, Pe. Rômulo dos Anjos nos diz que celebrar a Páscoa é celebrar o triunfo da vida sobre a morte e sobre todos os seus tipos de ma-nifestação. é, verdadeiramente, a celebração do amor! “A morte e a Ressurreição de Cristo são acontecimentos do Amor triunfante que mudaram o curso da história, infun-dindo na vida humana um renovado e indelével sentido e valor”, diz o autor.

Na seção “Entrelinhas”, Emmir Nogueira também nos convida a refletir sobre a Ressurreição de Cristo e sobre a dificuldade que muitos de nós temos em acolhê-la. “Pe-çamos, com humildade, que o Senhor aumente nossa fé e deixemos de ‘procurar entre os mortos aquele que vive’”, lembra-nos Emmir.

Ainda neste mês, a Shalom Maná traz para você a cobertura do Renascer 2012, realizado de 19 a 21 de fe-vereiro, em Fortaleza (CE). Em sua 26ª edição, o evento bate recorde de público e marca o início da celebração dos 30 anos de ação evangelizadora da Comunidade Católica Shalom.

A continuação da partilha de Ricardo Costa sobre a sua experiência em meio ao sofrimento causado pela depressão você também confere na Shalom Maná deste mês.

que estes e os demais artigos desta edição o ajudem a ter uma verdadeira experiência com Cristo Ressuscitado e o conduza a viver sempre de modo pascal, anunciando ao mundo esta realidade, “que não é uma ideia ou uma recordação do passado, mas uma Pessoa que vive conosco, por nós e em nós, e com Ele, por Ele e nele podemos fazer novas todas as coisas”.

Boa leitura!Shalom!

Page 6: Revista Shalom - Maná - Abril2012

OPIN

IÃO

6

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12

A Igreja Celebra: “O sim de José, esposo da Virgem Maria” No dia 19 de março, a Igreja, espalhada pelo mundo inteiro, recorda solenemente a

santidade de vida do seu Patrono, São José. Ao ler sobre São José neste texto, meu coração se encheu de gratidão por

sua vida, que me ensina de forma concreta duas dimensões: a escuta atenta ao Senhor de quem se arrisca amorosamente na fé, e o cumprimento da santa vontade de Deus. Revela-nos, ainda, o artigo do nosso irmão Márcio André, um José que teme a Deus, que perscruta o coração do Senhor e que sabe, exatamente, qual é a Sua vontade. Supliquemos a São José a sua ajuda, ele que é fiel, provedor, intercessor das famílias, abandonado em Deus, para que, imitando as suas virtudes, em tudo possamos fazer a vontade de Deus. São José, pai de Jesus, casto esposo de Maria Santíssima, rogai por nós!Karliny MouraPedagoga, missionária da Comunidade Católica Shalom em Salvador (BA)

Fala leitorNa edição de março, a revista Shalom Maná trouxe no “Assunto

do Mês” a primeira parte do artigo de Ricardo Costa Lima, que par-tilhou sobre a sua experiência no “Jardim da Agonia”, ou seja, o seu sofrimento e a sua fé no amor de Deus, vividos em meio a depressão. Apresentamos, ainda, a mensagem do Papa Bento XVI para a quaresma de 2012, que nos exorta: “Prestemos atenção uns aos outros!” Na seção “Entrelinhas”, Emmir Nogueira também refletiu sobre a atenção que devemos ter para com as pessoas que sofrem de depressão. Segundo ela, devemos ser “luz”, “janela para o céu” para os nossos irmãos. Na seção “Arte e Espiritualidade”, Cassiano Azevedo falou sobre “A educação através da Beleza”. Confira a seguir outros artigos que também fizeram parte da Shalom Maná de março e os comentários de nossos leitores.

Assunto do Mês: “O Jardim da Agonia”Ao refletir sobre os momentos vividos por Jesus um pouco antes da sua

Paixão, o autor partilha sobre a experiência de dor e sofrimento ocasionada por uma doença que atinge milhares de pessoas no mundo inteiro: a depressão.

Imaginar a agonia de quem sofre por motivo nenhum ou por motivos tantos nos faz compreender o que Jesus nos ensinou, quando pede em sua Palavra para não julgarmos nossos irmãos. O texto “O Jardim da Agonia” nos toca de uma maneira intensa porque, como se fosse possível concretizar a dor, o autor desenha de maneira nítida as sensações de sua agonia. No entanto, em meio a tanta desolação, o desabafo do autor nos enche de alegria e gratidão por saber que, apesar desse tudo e desse nada que rodeiam as pessoas doentes de depressão, há um espaço para o Deus amoroso sempre disposto a cuidar de quem se abandona em seus braços.

Dahiana AraújoJornalista e membro da Obra Shalom, Fortaleza/CE

Page 7: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Papo Jovem: “Vale a pena corresponder ao Amor!”Testemunhos de fé, transformação e doação são apresentados

por jovens que tiveram suas vidas transformadas durante o Acamp’s de janeiro de 2012.

Assim como os jovens que escreveram sobre o Acamp’s 2012, eu também vivi uma experiência com o amor de Deus através de um Acampamento. Fui para o Acamp´s em 2005, a convite do meu amigo Paulo Victor. Para mim, foi uma semana um pouco difícil por causa da minha timidez; mas, mesmo não tendo feito várias amizades naquele Acampamento, fiquei com a sensação de querer voltar, não só para conhecer pessoas, mas sim para experimentar o amor de Deus na minha vida. Em outro Acamp’s, novamente eu estava lá. Dessa vez, foi muito mais fácil e, finalmente, tive

uma experiência real com Deus. hoje em dia sou muito grato ao meu amigo Paulo Victor e ao meu padrinho Célio Lourenço, pois sei que através deles o Senhor me chamou para todos esses Acamp´s e ainda me levará para vários outros.

Tiago SousaAssistente de produção e membro do Projeto Juventude para Jesus, Fortaleza/CE

Fé em versosGlorioso Rei Comunidade Católica Shalom

Como povo redimido, resgatado por Tua Cruz,Povo eleito, povo santo, celebramos Teu amor!

Entraremos por Tuas portas entre hinos de louvor.Novas vestes, novo canto. Nossa herança és Tu, Senhor!

Glorioso Rei! Vencedor na Cruz!Por Teu sangue, enfim, temos a Paz!Todas as nações virão Te adorarNeste dia que não terminará.

Seja uma a nossa voz! Seja eterno o nosso “Sim”!Ao redor do Teu altar, para sempre!Ao Rei dos reis que vem: honra, glória e louvor,

Nossa vida, nosso amor, para sempre!

www.edicoesshalom.com.br 7

Page 8: Revista Shalom - Maná - Abril2012

A P

ALA

VR

A D

O P

APA

8

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12

“Na vossa Ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”

A ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística:

é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se num momento concreto da história e deixa nela

uma marca indelével

Mensagem do Papa Bento XVI para a Páscoa de 2011

Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro!

A manhã de Páscoa trou-xe-nos este anúncio antigo

e sempre novo: Cristo ressuscitou! O eco deste acontecimento, que partiu de Jerusa-lém há vinte séculos, continua a ressoar na Igreja, que traz viva no coração a fé vibrante de Maria, a Mãe de Jesus, a fé de Madale-na e das primeiras mulheres que viram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos.

Até hoje – mesmo na nossa era de co-municações super tecnológicas – a fé dos cristãos assenta naquele anúncio, no teste-munho daquelas irmãs e daqueles irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misteriosos mensageiros que atestavam que Jesus, o Crucificado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em pessoa, vivo e palpável, apareceu a Maria de Magdala, aos dois dis-

Page 9: Revista Shalom - Maná - Abril2012

cípulos de Emaús e, finalmente, aos onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc 16, 9-14).

A ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística: é um acontecimento, que ultrapassa certamente a história, mas verifi-ca-se num momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepul-cro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. é uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o es-plendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem.

Tal como os raios do sol na primavera fazem brotar e desa-brochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradia-ção que dimana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projeto. Por isso, hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da cria-ção. O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e, sobretudo, o an-seio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bon-dade, beleza e verdade.

Alegrem-se os céus e a terra

“Na vossa ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”. A este convite ao louvor, que hoje se eleva do coração da Igreja, os “céus” respondem ple-namente: as multidões dos anjos, dos santos e dos beatos unem-se unânimes à nossa exultação. No Céu, tudo é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a

terra! Aqui, neste nosso mundo, o aleluia pascal contrasta ainda com os lamentos e gritos que provêm de tantas situações dolorosas: miséria, fome, doenças, guerras, violências. E, todavia, foi por isto mesmo que Cristo morreu e res-suscitou! Ele morreu também por causa dos nossos pecados de hoje, e também para a redenção da nos-sa história de hoje Ele ressuscitou. Por isso, esta minha mensagem quer chegar a todos e, como anúncio profético, sobretudo aos povos e às comunidades que estão a sofrer uma hora de paixão, para que Cristo Ressuscitado lhes abra o caminho da liberdade, da justiça e da paz.

Possa alegrar-se aquela Terra que, primeiro, foi inundada pela luz do Ressuscitado. O fulgor de Cristo chegue também aos povos do Médio Oriente para que a luz da paz e da dignidade humana vença as trevas da divisão, do ódio e das violências. Na Líbia, que as armas cedam o lugar à diploma-cia e ao diálogo e se favoreça, na situação atual de conflito, o acesso das ajudas humanitárias a quantos sofrem as consequências da luta. Nos países da África do Norte e do Médio Oriente, que todos os cidadãos – e de modo particular os jovens – se esforcem por pro-mover o bem comum e construir uma sociedade, onde a pobreza seja vencida e cada decisão polí-tica seja inspirada pelo respeito da pessoa humana. A tantos prófu-gos e aos refugiados, que provêm

de diversos países africanos e se veem forçados a deixar os afetos dos seus entes mais queridos, che-gue a solidariedade de todos; os homens de boa vontade sintam-se inspirados a abrir o coração ao acolhimento de maneira solidária, e concorde acudir às necessidades prementes de tantos irmãos; a quantos se prodigalizam com ge-nerosos esforços e dão exemplares testemunhos nesta linha chegue o nosso conforto e apreço. [...]

Alegrem-se os céus e a terra pelo testemunho de quantos sofrem contrariedades ou mes-mo perseguições pela sua fé no Senhor Jesus. O anúncio da sua ressurreição vitoriosa neles infun-da coragem e confiança.

queridos irmãos e irmãs! Cristo ressuscitado caminha à nossa frente para os novos céus e a nova terra (cf. Ap 21,1), onde finalmente viveremos todos como uma única família, filhos do mesmo Pai. Ele está conosco até ao fim dos tempos. Sigamos as suas pegadas, neste mundo fe-rido, cantando o aleluia. No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fiéis ao nosso compromisso neste mun-do, com o olhar voltado para o Céu.

Boa Páscoa a todos!

“O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e, sobretudo, o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais

ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade”

www.edicoesshalom.com.br 9

Page 10: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12ES

PEC

IAL

10

O Jardim da Agonia

A continuação da partilha sobre a agonia de quem sofre de depressão você confere nesta segunda parte do artigo de Ricardo Costa Lima, consagrado na Comunidade de Aliança Shalom. Uma experiência de dor e sofrimento, fortalecida pelo testemunho de fé e obediência de Jesus Cristo, durante seus últimos momentos no Jardim das Oliveiras Ricardo Costa LimaMissionário da Comunidade Católica Shalom em Teresina/Pi

A paciência no Jardim “Afastou-se outra vez e

orou... Voltando, achou-os de novo dormindo” (Mc 14,39)

Na narrativa bíblica, Jesus entra e sai do Jardim do Getsêmani por três vezes. Eu, como muitos, pensei que fosse entrar no meu Jardim da Agonia uma única vez, e que, após ter experimentado do fel dos espinheiros da depressão, já havia sofrido e aprendido tudo o que deveria. Era mais um dos meus enganos, sorrateiramente minado pela realidade.

Descobri que não se fica curado de uma depressão em um mês de terapia ou

PARTE II

Page 11: Revista Shalom - Maná - Abril2012

em uma semana de antidepressi-vos. As quedas e recorrências são naturais daqueles que padecem deste mal. Muitas vezes me vi assim: quando achei que tinha todas as respostas, a vida mudou suas perguntas.

Foi estranho perceber que após algum tempo de tratamento e com as efetivas remissões dos sintomas, abruptamente, num dia qualquer, abre-se a janela do quarto e só se consegue enxergar o cinza sombrio da tristeza de morte. é aí que se encontra a questão. A reintegração biológica, psíquica e espiritual da depressão requer tempo e, especialmente, paciência.

Na primeira crise que tive, deixei de tomar o medicamento e voltei à antiga rotina, por conta própria, após quatro meses de terapia. Os resultados foram que, eu não apenas não me reabilitei, como as crises subsequentes foram imbuídas de intensidade bem maior. Aqui se levanta, como já falei, o poder inexorável da paciência. Mais uma vez, a sabedoria de Teresa de Ávila ecoa incisivamente: “A paciência tudo alcança”.

O mundo em que vivemos su-tilmente foi solapando o conceito dessa virtude. A paciência é tida como característica de medíocres e acomodados pela humanidade, que bate freneticamente os pés no chão diante de uma janela do Google ou do Facebook que demora cinco segundos a mais para ser aberta. Fomos perdendo o sentido da eternidade, e, assim, sucumbimos a ser escravos do tempo. Esperar um pouco diante de uma decisão a ser tomada?! Não podemos. Esperar pela mu-dança do outro?! Perda de tempo. Ter paciência consigo mesmo

perante a involução de um longo processo depressivo? Jamais.

Decerto que não é tão fácil cultivar a paciência no mundo hodierno. A mídia cria necessi-dades urgentes em nós, como por exemplo, comprar hoje o carro zero km com airbag duplo fron-tal e lateral e tração nas quatro rodas. Mas tem que se comprar a pechincha agora, pois a oferta é só hoje! No mundo dos negócios, os que mais se sobressaem são os incontroláveis, velozes e proa-tivos. O resultado é que temos cada vez mais jovens ansiosos, hi-perativos, com doenças crônicas degenerativas e, principalmente, deprimidos.

Através de um trabalho in-tenso de autoconhecimento, fui percebendo o quanto esta cultura foi me permeando a ponto de eu não perceber mais o céu moreno do entardecer da minha cidade, os planos ingênuos e, às vezes, engraçados da minha irmã, ou a dor de um amigo que há muito eu não telefonava (por falta de tem-po, claro!). A impaciência, não apenas me conduziu ao Jardim da Agonia, mas também queria me impedir de sair dele definiti-vamente. Com sua voz sedutora, queria me fazer acreditar que já era tempo de me desvencilhar do tratamento e que era momento de viver por mim mesmo. Porém, a impaciência é como uma amante

que te instiga a se separar da sua mulher e, logo após a tola decisão tomada, esvai-se como fumaça diante de uma ventania.

é preciso não se culpar ou se autossabotar quando de uma re-corrência de uma crise depressiva. é necessário sermos batizados na paciência. Faço minhas as pala-vras de Bento XVI, quando dizia que “o mundo é condenado pela impaciência dos homens e salvos pela paciência histórica de Deus”. A paciência é o meu consolo nos dias em que não estou muito bem, é minha couraça quando sou atacado pelo desânimo, en-fim, foi e é a rocha onde descanso após a luta de uma longa noite no meu Getsêmani.

A solidão no Jardim “Depois afastou-se deles à distân-

cia de um tiro de pedra” (Lc 22,41)A fobia social é patognomi-

camente sinal da depressão pro-funda. queremos, de fato, estar à distância de um tiro de pedra de qualquer ser vivente, mesmo da-queles mais queridos. As minhas mãos ficavam geladas a cada to-que de telefone. Tinha medo que fosse algum dos meus pacientes. Tinha vergonha que fosse alguém da Comunidade.

O que mais dói no Jardim é ter que explicar para os outros o que não se consegue compre-ender. “O que você tem?” Era a pergunta mais fatal no meu itine-

Deus existe e manifesta sua glória nos dias de hoje. São afirmações que hoje posso dizer mais convictamente e que foram firmadas em mim pelos espinhos do Jardim, haja vista que

na solidão getsêmica, ou se apoia em Deus ou se perde o sentido

www.edicoesshalom.com.br 11

Page 12: Revista Shalom - Maná - Abril2012

rário. À vista disto, preferia não ver ninguém. No auge da crise, passava 24 horas dentro do meu apartamento, de tal maneira iso-lado, que já não tinha força nem mesmo para falar.

Passei a compreender por-que, de repente, algumas pes-soas desaparecem como em um click e, somente muito tempo depois, soubemos que ela estava deprimida. Por volta da 6ª série do antigo Ginásio, um colega meu simplesmente deixou de frequentar as aulas. Lembro-me, então, de alguém da nossa turma ter pronunciado algo relativo à depressão. Nem eu, nem meus colegas sabíamos exatamente o que significava, só sentíamos a dor pelo amigo que se afastou. De fato, não se entra no Jardim da Agonia acompanhado. Ainda que fosse possível, o sentimento de uma indescritível solidão ex-terminaria a percepção de um outro alguém. Não se consegue adentrar no mistério de um deprimido tão facilmente. Os conselhos não têm significado algum. As palavras mais belas ou os estímulos mais inflamados não encontram ressonância em um enfermo da alma. E aí, diante desta dilacerante constatação, as pessoas se põem a indagar: “o que posso fazer por um depri-mido?”

Vigiar e orar é a própria narrativa bíblica

que orienta a postura dos mais próximos: é preciso vigiar e orar (cf. Mt 26,41). Porque os ho-mens esqueceram que todas as coisas estão sobre o Senhorio de Deus, dele partindo e para Ele convergindo inexoravelmente? Porque reduzir a complexida-de do mistério humano a uma medíocre reação de combustão ou entrelaçamento imutável de genes? é indispensável reconhe-cer que, de fato, “para Deus nada é impossível” e que nem mesmo a ditadura da herança genética ou os condicionamentos das circuns-tâncias da vida podem escapar à sua grandeza. O homem que matou a Deus já está enterrado há anos. Não teve tempo para perceber que caixões de mentiras e calúnias não são capazes de cer-cear o Ressuscitado. Deus existe e manifesta sua glória nos dias de hoje. São afirmações que hoje posso dizer mais convictamente e que foram firmadas em mim pelos espinhos do Jardim, haja vista que na solidão getsêmica, ou se apoia em Deus ou se perde o sentido.

Entretanto, ao passo que o Jar-dim possa se tornar terreno fértil para se redescobrir a presença de Deus, muitas vezes ignorada, ele também se constitui em lugar de batalha espiritual, onde o prêmio é a própria vida. Por isso, é preciso orar pela multidão de deprimidos. é preciso orar por aqueles que

estão padecendo no Jardim para que tenham a força de tomar o cálice e perseverar.

Neste momento, me dobro em silêncio de gratidão a tantas pessoas que, imbuídas de fé no Deus poderoso, prostraram-se em oração e súplica por minha recuperação. Como me esque-cer dos amigos, que embora não entendendo por completo meu drama, fizeram como Maria, que guardava tudo no coração para em seguida ofertar a Deus. Não me esquecerei da Irmã Teresinha, da minha amiga Adriana e de tantos outros que eu até desconheço, mas que me fizeram experimen-tar do socorro de Deus com suas intercessões. hoje, sou eu quem deseja me unir a este batalhão espiritual, que não se deixa iludir pela sedução do materialismo e suplica por todos os sofredores. Feliz é o homem que chora no Jardim e que sabe que existem outros que choram por ele por pura compaixão.

Mas existe ainda uma ou-tra atitude igualmente impres-cindível: vigiar. Aqui se torna importante subdividir o estado depressivo em duas fases: a aguda e a crônica. Na fase aguda, se está diante de um homem completa-mente apático e que não responde a qualquer estímulo. São as fortes crises nas quais o medicamento só começa a ter efeito terapêutico sensível após 14 ou 21 dias. Par-ticularmente nestes momentos, a palavra vigiar é traduzida ao pé da letra, especialmente naqueles com

A paciência é o meu consolo nos dias em que não estou muito bem, é minha couraça quando sou atacado pelo desânimo, enfim,

foi e é a rocha onde descanso após a luta de uma longa noite no meu Getsêmani

Shalom Maná | Abril 201212

Page 13: Revista Shalom - Maná - Abril2012

tendência suicidas. é importante não deixar fugir o deprimido do olhar atento. é necessário mudar rotinas e hábitos de todos que o rodeiam, de tal maneira, que a presença amorosa seja a única linguagem que penetre o coração do doente.

Jamais me esquecerei do dia em que numa forte crise, percebi meu irmão deitado na cama ao meu lado. Ele estava silencioso, mas presente. Isto bastava. Na verdade, era a única coisa que eu conseguia entender. Portanto, na fase aguda, vigiar é presença. Na fase crônica, vigiar é amar com o amor de Deus: aquele que tudo suporta, tudo perdoa, tudo tolera. Mas vigiar também neste caso é amar com atos concre-tos, motivando o doente para o acompanhamento psicológico, arrastando-o para atividades físicas, apontando o caminho de oração como via de intimi-dade com Deus e levando-o a se descentralizar de si mesmo. No Jardim, quem se curva sobre a própria dor, morre.

quantos não foram aqueles que vigiaram sobre a minha vida? Como esquecer da minha família que aprendeu a me amar constan-temente, seja através do silêncio, seja através de atos concretos. Às vezes, fico pensando como deve ser difícil estar enfermo e não ser compreendido, ou pelo menos respeitado por aqueles que o ro-deiam. Sem dúvida, a companhia de um melancólico não é exata-mente agradável. Por isso, várias vezes, muitos optam em fazer como os discípulos, que tendo os olhos vencidos pelo cansaço, adormeceram e abandonaram o Cristo agonizante.

Como foi importante também o olhar externo e vigilante do

meu terapeuta. Como a terapia foi decisiva para que eu pudesse distinguir a depressão de outras desordens. Foi importante ainda para me fazer reconhecer o que era ponto gatilho em mim. A ajuda psicológica me auxiliou a apropriar-me mais de mim mes-mo. Além do meu terapeuta, a linha psicológica da logoterapia, pela qual fiquei absolutamente apaixonado, me deu bases im-portantes para saber lidar com meu caos, que às vezes beirava à completa falta de sentido. Fiz três meses de intensa terapia e, após alta temporária, agora me sinto pronto para voltar ao meu caminho de autoconhecimento, que prefiro chamar de o “rio que passa pelo meu Jardim”.

Além disso, no mundo onde não se sabe nem quem mora no apartamento ao lado, a vida fra-terna na Comunidade Shalom foi a prova concreta de amor que tive como porto seguro no meu tempo agonizante. Embora alguns instintivamente tenham se afastado da minha presença, cada vez menos atraente, outros davam gestos que me surpreen-diam. Não posso me esquecer das visitas, dos e-mails e do respeito.

Entretanto, vale uma dica para aqueles que querem ajudar os deprimidos: o Jardim da Agonia é um território sagrado, onde não se deve entrar em absoluto, ainda que seja com a generosa intenção de resgatar o agonizante. é muito comum a família ou pessoas pró-ximas do deprimido adentrarem no mesmo processo de depressão, adornando assim a agonia com um caráter contagioso. Ora-se e vigia-se com o deprimido, mas não se deve deprimir-se junto com ele. Em alguns momentos, percebia que a minha tristeza de morte conseguia abalar a es-trutura dos que me rodeavam, pois os cheiros das flores do Jar-dim são extremamente ativos e conseguem influenciar qualquer indivíduo menos preparado. Por-tanto, para aqueles que convivem com o deprimido, sugiro escapar de vez em quando daquela con-vivência, especialmente quando se sente tentado a também entrar no Jardim, contanto que se deixe um outro, ou outros, a vigiar o enfermo.

Por fim, Jesus não pede aos seus discípulos nenhum tipo de pseudo-compadecimento e nem se expõe a nenhum vitimalismo infecundo. Para aqueles que oram e vigiam com o depressivo, deve-se evitar todo e qualquer olhar ou palavra de pena ou de vitimalização sobre o “homem das Oliveiras”. é preciso orar e amar. Palavras quase não contam, gestos podem salvar.

o texto continua no próximo mês.

Para os leitores que deseja-rem entrar em contato com o autor do artigo, Ricardo Cos-ta, podem enviar e-mail para [email protected].

“No mundo onde não se sabe nem quem mora no

apartamento ao lado, a vida fraterna

na Comunidade Shalom foi a prova concreta de amor

que tive como porto seguro no meu tempo

agonizante”

www.edicoesshalom.com.br 13

Page 14: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12A

SS

UN

TO

DO

MÊS

14

Pe. Rômulo dos AnjosMissionário da Comunidade Católica Shalom em Pacajus/CE

Páscoa: coração da nossa fé!Ele nos deu a sua Vida, a verdadeira Vida, aquela cheia de sentido. Permitiu-nos compreender o segredo da felicidade, que consiste não em reter a vida e fazer dela uma busca incansável de sucesso, mas num ato constante de sacrifício por amor.

“Cristo Ressuscitou, aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou. Aleluia!” é

assim que os cristãos de origem ortodoxa se saúdam, desejando uma feliz Páscoa. Neste mês, temos a imensa alegria de refletir sobre o Mistério inesgotável da Ressurreição de Cristo. Celebrar a Páscoa é celebrar o triunfo da vida sobre a morte e todos os seus tipos de manifestação. O homem, criado por Deus e para Deus, só nele encontra a Paz e, por isso mesmo, tem desejo de uma vida que não é simplesmente esta e de uma felicidade que vai além de tudo o que ele

possa experimentar. Ele deseja uma vida e uma felicidade de ordem sobrenatural, ou seja, a vida e a beatitude divinas.

Para participar de tudo isso, o homem neces-sita viver com Deus. Este é, portanto, o desejo mais profundo do coração do homem: a comu-nhão com Deus, disto depende a sua realização plena. A comunhão com Deus encerra a mais alta dignidade do homem. O Mistério da Ressurrei-ção revela-nos o fim último do homem, criado para a glória de Deus. Santo Agostinho, com profundidade, afirma que é isto que precisamos experimentar na nossa vida para saborearmos a verdadeira felicidade.

Page 15: Revista Shalom - Maná - Abril2012

www.edicoesshalom.com.br 15

Considerando esta premissa, podemos compre-ender que a vitória de Jesus Cristo sobre o mal, sobre o pecado, diz respeito a cada um de nós. A morte e a Ressurreição de Cristo são acontecimentos do Amor triunfante que mudaram o curso da história, infundindo na vida humana um renovado e indelé-vel sentido e valor. Por isso, interessa-nos entender o significado da Ressurreição de Cristo e, em seguida, o que isso implica na nossa vida concretamente.

A Ressurreição de CristoNesta experiência e profissão de fé, o Cristianis-

mo encontra seu fundamento, a tal ponto que desta realidade depende toda a Cristandade. O triunfo da Ressurreição de Cristo nos faz passar da vida velha para a vida nova, concedendo-nos o dom de uma vida inaudita porque, de fato, nos faz viver um êxodo radical. Santo Ambrósio de Milão afirmava que a Páscoa significa passar da “culpa para o perdão”. Nesta perspectiva, o homem é inteiramente recon-ciliado com Deus, consigo mesmo e com os outros.

A comunhão com Deus encerra a mais

alta dignidade do homem. O Mistério da Ressurreição revela-nos o fim último do

homem, criado para a glória de Deus

Page 16: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Shalom Maná | Abril 201216

um dos símbolos de que Deus se serviu para falar da sua relação com a humanidade foi o do Pastor. Cristo, no Evangelho segundo João, define-se como aquele que “oferece a vida pelas ovelhas” (cf. Jo 11,11). Este Evan-gelho nos é proposto no período pascal, e esta imagem tem muito a nos dizer. Je-sus Cristo é o Bom Pastor porque dá a sua vida, não

a retém, mas oferece-a pelas suas ovelhas. Este fato o torna distinto de qualquer outro pastor, pois Ele não simplesmente protege, dá segurança, mas oferta a si mesmo para que o seu rebanho tenha a vida. Ele nos deu a sua Vida, a verdadeira Vida, aquela cheia de sentido. Permitiu-nos compreen-der o segredo da felicidade, que

consiste não em reter a vida e fazer dela uma busca in-

cansável de sucesso, mas

num ato constante de sacrifício por amor. A realização não con-siste em ter, mas em ofertar-se. Com a radicalidade da sua oferta, Cristo fez com que se tocassem e unissem o Coração de Deus e o coração do homem.

Essa imagem sempre conquis-tou o coração daqueles que creem no Cristo, e isso explica porque desde os primeiros séculos as catacumbas e sarcófagos trazem a imagem do Bom Pastor com a ovelha nos ombros. quantas vezes o homem faz a experiência daquela ovelha que estava perdi-da, ferida, sofrida, sentindo-se fraco, pecador, coberto de senso de culpa, de feridas e sofrimentos. Nada mais libertador que sentir-se gratuitamente encontrado pelo Bom Pastor e por Ele ser salvo, libertado, curado, enfim, passar da morte para uma vida nova.

A nossa ressurreiçãoFalar da Ressurreição de Cris-

to significa também não somente despertar para fé, mas para a necessidade de fazer uma expe-riência e vivê-la comunitária e pessoalmente. Isso se torna pos-sível porque com Cristo somos

Nada mais libertador que sentir-se gratuitamente

encontrado pelo Bom Pastor e por Ele ser salvo, libertado,

curado, enfim, passar da morte para uma

vida nova

Page 17: Revista Shalom - Maná - Abril2012

www.edicoesshalom.com.br 17

ressuscitados, não ainda no corpo, mas já no coração. Portanto, há uma ressurreição que se dá hoje na minha vida. Podemos deduzir que se pode estar morto, mesmo antes de morrer, enquanto ainda não se acolheu o dom desta nova vida. quantas vezes o coração do homem se encontra em um esta-do de total ausência de esperança, de sentido de vida, de confiança em Deus; todo este contexto pode ser chamado “morte do coração”.

A graça própria da Páscoa nos faz elevar o olhar e nosso coração para Deus. Na Missa, há uma expressão dirigida à comunidade cristã onde somos convidados a ter: “Sursum corda - corações ao alto”, ou seja, somos exortados a elevar o nosso coração para o alto, para além de toda preocupação, desejos, angústias, medos, incer-tezas, pois Cristo está no meio de

nós. Ele é a nossa esperança, e a nossa vida não está mais subme-tida à caducidade das realidades presentes, mas agora está imersa na eternidade de Deus, agora se iniciou uma nova condição do ser homem, que muda o nosso caminho de cada dia e abre um horizonte novo na nossa exis-tência pessoal e na história da humanidade.

Verdadeiramente ressus-citou!

Diante deste consolador Mis-tério, com os olhos e, sobretudo com o coração voltados para o alto, podemos responder – a partir de uma experiência pessoal – “verdadeiramente ressuscitou!” Esta é a nossa alegria e a alegria que queremos doar ao mundo de hoje, ao homem hodierno que se encontra em meio a tantas mortes, cujo coração geme e sofre necessitando receber o “cho-

que” da ressurreição de Cristo. Somos, por graça, chamados a viver sempre de modo pascal e anunciar ao mundo esta realida-de, que não é uma ideia ou uma recordação do passado, mas uma Pessoa que vive conosco, por nós e em nós, e com Ele, por Ele e nele podemos fazer novas todas as coisas (cf. Ap 21,5). Ouçamos no mais íntimo do nosso coração estas palavras dos lábios do Res-suscitado, tiradas de uma antiga versão do Salmo 138 (v. 18b) que ressoam em uma Missa do tempo pascal: Resurrexi, et adhus tecum sum. Alleluia! – Ressuscitei e estou convosco para sempre”. Podemos concluir com uma bela afirmação de um santo da tradição ortodoxa, São Serafim de Sarov: “Minha alegria, Cristo, ressuscitou”!

BIBLIOGRAFIAPAPA BENTO XVI, Reflexões para o Ano Litúrgico, Anos A, B e C. Juiz de Fora: Editora zás, 2010;CANTALAMESSA, Raniero. Gettate le Reti, Riflessione sui vangelli, Anno B. Casale Mon-ferrato (AL): Edizioni Piemme, 2001;PACOMIO, Luciano; MAN-CuSO, Vito (org). Lexicon, Dizonario Teológico Encicclo-pédico. Casale Monferrato (AL): Edizione Piemme, 1993.

Somos, por graça, chamados a viver sempre de modo pascal e anunciar ao mundo esta realidade,

que não é uma ideia ou uma recordação do passado, mas uma Pessoa que vive conosco, por nós e em nós, e com Ele, por Ele e nele podemos fazer

novas todas as coisas

A morte e a Ressurreição de Cristo são acontecimentos

do Amor triunfante que mudaram o curso da

história, infundindo na vida humana um renovado e indelével sentido e valor

Page 18: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12S

Ó F

AM

ÍLIA

18

A família cristã, com serenidade, precisa gritar que a vida humana é um bem valiosíssimo e que nenhum motor humano pode ter o direito de cerceá-la

Famílias numerosas: dom de Deus

Adília RamosMissionária da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

Ecoam ainda em meus ouvidos os mais diversificados sons advindos de meus familia-res, quando nos reuníamos

na residência de meus avós maternos. Perseguem-me as lembranças infantis, adolescentes, as de minha juventude e, já adulta, casada e mãe. Esses momentos, quando toda a numerosa família se encon-trava, eram indescritíveis, de uma alegria imensurável!

Meu avô, um senhor muito reto, ca-tólico, de Comunhão cotidiana, e minha avó, uma senhora alegre, espirituosa, tam-bém uma mulher de fé e Eucaristia diária, haviam se unido, através do Sacramento do Matrimônio, e gerado dezoito filhos. Pode-se imaginar uma escadinha, e era isso mesmo.

Dessa grande prole, alguns morreram bebês, outros pequenos, das doenças da época, e dois, um jovem e outro adulto, de forma bem trágica: um afogado e outro carbonizado em um acidente de carro. O mais interessante de tudo é que nunca vi meus avós murmurarem por causa disso. Restaram, então, dez filhos, de ambos os sexos. A esses foram acrescentados mais seis, filhos do casamento de minha tia mais velha, que o marido havia partido com outra mulher, deixando a família sem nada. Vovô achou por bem acolhê-los e criá-los todos.

Loucura? Não. Com certeza, amor e grande senso de responsabilidade.

Por que cito esse pequeno retrato da harmonia dessa família, em meio a tantos desafios? Porque pretendo afirmar que é

Page 19: Revista Shalom - Maná - Abril2012

possível, em todos os tempos, ter uma família numerosa e feliz! De-sejo desmentir aos que afiançam esta impossibilidade, asseverando que não é o número de filhos que faz uma família conforme o Coração de Deus, mas a generosi-dade e a compreensão do projeto de vida que este mesmo Deus tem para ela.

Ao escrever este texto, vem a mim algumas frases de meu avô: “onde comem cinco, co-mem sete”. Ou de minha avó, gritando: “Lourdes, coloca mais água no feijão que chegou mais gente para almoçar!” E com que felicidade vovó dizia tais palavras! À hora da refeição, eu também estava lá e percebia que a mesa

não cabia todos. Daí, íamos to-dos, as crianças para uma mesinha menor, ou até mesmo comer no chão. Era uma delícia!

Mais tarde, nesse mesmo dia, vovó constatando que havia muitos netos na casa, resolvia fazer bolos, e com a nossa ajuda! Tomava uma bacia de ágate ver-de com branco, pois uma fôrma seria inviável devido ao número de comensais, e dava-se início a empreitada. uns traziam farinha, outros, ovos, alguém chegava com o açúcar, a manteiga e, por fim, o chocolate. Ao final, nos reuníamos para lamber a bendita bacia e terminávamos todos mui-to sujos e bons de banho.

Pareço saudosista? Talvez, mas o que anseio por trazer de volta aqui, o que almejo colocar em cena é a família que faz tudo jun-to, que partilha, que chora, que ri. que se ama e tem consciência do valor de cada um enquanto pessoa e enquanto membro dessa família e da sociedade da qual participa.

Casamento: meio de san-tificação

O casamento é o Sacramento da unidade. é Deus quem une o homem à mulher, pois é Ele a unidade mesma do homem e da mulher. “Deus é o próprio amor que o homem e a mulher repartem e no qual eles se comu-nicam um ao outro”1. Portanto,

Uma família numerosa, dom de Deus!José Ricardo F. Bezerra e Beatriz Helena Mattos D. Bezerra, consagrados na Comunidade de Aliança Shalom, seus setes filhos e genro (da esquerda para a direita): Lia Beatriz, Felipe, Maria Clara, Giovanna, Francisco Júnior (genro), Renata, José Ricardo, Beatriz, Ricardo e Myrian.

www.edicoesshalom.com.br 19

Page 20: Revista Shalom - Maná - Abril2012

o matrimônio não é uma aliança humana, mas sobrenatural, e, sob o caráter da sobrenaturalidade, gera a unidade indissolúvel entre os cônjuges. Ademais, os casais contam então com a Graça em tudo o que fazem em sua cami-nhada, inclusive na geração dos filhos, em seu papel co-criador com Deus.

Sendo o casamento um meio de santificação, não é possível vivenciá-lo sem Deus. São inú-meras as tentações que sofrem os casais, independente do tempo em que vivem. Não somos capa-zes sequer de viver nosso dia-a-dia sem a oração. Surgem a inveja, o adultério, a competição no trabalho, o desânimo nas provas, a impaciência, entre outros desafios graves. O casal que sabe em quem acreditou, procura seu lugar aos pés de Jesus, na Eucaristia, no ter-ço diário, na leitura da Palavra de Deus. Desse modo, conseguem centrar sua vida na Rocha e fugir dos ídolos ao se redor.

Na pós-modernidade, o ho-mem volta ao politeísmo e busca governar sua própria vida através dos astros, ou outros símbolos quaisquer. A família tem tomado um lugar interessante. O casal casa, nem sempre na religião Católica e, não tendo a noção da bênção que é um filho, põe-se a adiar esse projeto até juntar di-nheiro suficiente para dar ao filho o que eles não puderam ter. Nesse caso, o número máximo de filhos seria dois e, de preferência, um menino e uma menina. Cada qual

no seu quarto, possuindo tudo o que a nova tecnologia promove, e muito pouco diálogo e partilhas de vida.

A família numerosa não tem espaço nesse contexto? há sem-pre espaço para o amor. Sei de uma família que, na chegada antecipada de seu sexto filho, não havia nada em casa, sequer uma fralda. No entanto, a alegria de todos era tão intensa que logo surgiram fraldas de diversas crian-ças diferentes. Roupinhas lindas que talvez os pais nem pudessem comprar. uma pessoa levou um berço e montou imediatamente e, em pouco tempo, menos que o espaço de um dia, a criança estava deitada em seu bercinho, tão lin-da e feliz, junto com sua nume-rosa família. Cada membro que se aproximava oferecia algo de si, porque o espaço da casa também estava pequeno. A Providência de Deus agira poderosamente na vida daquela família que cria.

No entanto, convém colocar aqui que estas famílias que vivem em Deus, por Deus e para Deus sabem fazer sacrifícios. Desde bem pequenos são exercitados para tal. Pequenas asceses, re-núncias, penitências. Sabem que cada um tem a sua vez na lista das necessidades familiares e, o mais importante, tem paciência de esperar sua vez. Compreendem a situação em questão. Nem sem-pre tem o melhor que o dinheiro pode dar, mas sabem que são cidadãos do Céu. Seu Pai nunca engana, nem decepciona.

“O homem é continuamente tentado a desviar o seu olhar do Deus vivo e verdadeiro para o di-rigir aos ídolos, trocando “a ver-dade de Deus pela mentira” (Rm 1,25); então a sua capacidade de conhecer a verdade fica ofusca-da, e enfraquecida a sua vontade para se submeter a ela. E, assim, abandonando-se ao relativismo e ao ceticismo, ele vai à procura de uma ilusória liberdade fora da própria verdade.”2

“A família cristã é, portanto, chamada a fazer a experiência de uma comunhão nova e origi-nal, que confirma e aperfeiçoa a comunhão natural e humana.”3 A família cristã, pois, com sere-nidade, precisa gritar que a vida humana é um bem valiosíssimo e que nenhum motor humano pode ter o direito de cerceá-la. As famílias numerosas são um dom de Deus imensurável, e eu dou testemunho disso, pois nossos seis filhos são acostumados a dividir, a dialogar, a pensar no outro.

A saúde espiritual e moral da família é um assunto fundamental para a sociedade civil e religiosa. Merece todo sacrifício em sua defesa e promoção. Não nos fal-tarão a graça de Deus e o amparo da Sagrada Família.

“Tudo é graça!” (Santa Teresi-nha do Menino Jesus e da Sagrada Face)

Notas:1. LAROChE, Michel. Uma

Só Carne: a aventura mística do Casal. Ed. Santuário, 1987.

2. Carta Encíclica: O Esplen-dor da Verdade. Ed. Paulinas, 1993.

3. Exortação Apostólica: A Missão da Família Cristã no Mundo de Hoje. Ed. Paulinas, 1990.

“O casal que sabe em quem acreditou, procura seu lugar aos pés de Jesus, na Eucaristia, no terço diário, na leitura da Palavra de Deus.

Desse modo, conseguem centrar sua vida na Rocha e fugir dos ídolos ao se redor”

Shalom Maná | Abril 201220

Page 21: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

OR

AN

DO

CO

M A

PALAV

RA

21

José Ricardo Ferreira BezerraMissionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

A esperança é para nós qual âncora da almaA âncora da esperança está fixada lá no céu! É Jesus, com sua Ressurreição, quem sustenta a nossa esperança na eternidade

Antes de iniciar a leitura, peçamos o auxílio do Espírito Santo, aquele que inspirou os autores sagrados a escreverem o que

Deus quis, para entendermos a sua vontade hoje. Oremos: “Ó vinde, Espírito Santo, en-chei os corações dos vossos fiéis, acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Oremos: “Ó Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém”.

Como você sabe, o objetivo desta seção é levá-lo a ler, meditar e orar com a Palavra de Deus através do antigo e comprovado método da Lectio Divina, que consiste em quatro pas-sos: leitura, meditação, oração e contemplação.

Tomemos hoje uma passagem da Carta aos hebreus, capítulo 6, versículos de 13 a 20 (hb 6,13-20) que nos fala sobre a esperança, e façamos a Lectio deste dia. Tome sua Bíblia e leia devagar, à meia voz, três vezes, os versí-culos indicados.

O autor sagrado explica como Deus é fiel às suas palavras ditas ao patriarca Abraão, o nosso pai na fé. “Deus mostrou com insistência aos herdeiros da promessa o caráter irrevogável da sua decisão e interveio com um juramento, afim de que por dois atos irrevogáveis, nos quais não pode haver mentira por parte de Deus nos comuniquem consolação segura, a nós que tudo deixamos para conseguir a esperança proposta.” (v. 17-18). O livro do Gênesis narra essa promessa que Deus fez a Abraão e a sua confirmação solene por um juramento (cf. Gn 22,16-18). São, portanto, dois os atos irrevogáveis de Deus: a promessa e o juramento. E Deus não mente (Tt 1,2).

Page 22: Revista Shalom - Maná - Abril2012

O diabo sim é que é mentiroso e pai da mentira (Jo 8,44). Mas, quantas vezes duvidamos do Se-nhor e damos ouvido aos enganos malignos, não é mesmo? E você, em quem tem acreditado? Você tem usufruído desta consolação segura da parte de Deus? O que você tem deixado para obter a esperança proposta? O que você espera mesmo? São Paulo diz que se temos esperança apenas nesta vida somos os mais infelizes dos homens (cf. 1Cor 15,19).

Esperança Na continuação deste trecho

chegamos a uma frase digna de anotação: “A esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e firme...” (v. 19). Os marinheiros sabem que a função da âncora é prender o navio, impedindo-o de ser arrastado pelas corrente-zas. Por isso, ela deve ser pesada e com garras para ser fixada no fundo do mar. E claro, ela precisa estar amarrada com correntes ou grossos cabos que não se rompam quando solicitados. Ao comparar a esperança com uma âncora, o autor sagrado mostra como esta virtude é importante na nossa vida espiritual para nos sustentar firmes nas investidas que sofrer-mos. Como está a sua virtude da esperança? Medite sobre ela.

O Catecismo da Igreja ensina que há dois pecados contra a espe-rança: o desespero e a presunção (cf. 2091). “Pelo desespero, o homem deixa de esperar de Deus sua salvação pessoal, os auxílios para alcançá-la ou o perdão de seus pecados. O desespero opõe-se à bondade de Deus, à sua justi-ça porque o Senhor é fiel às suas promessas e à sua misericórdia. há duas espécies de presunção. Ou o homem presume de suas capacidades (esperando poder

salvar-se sem a ajuda do alto), ou então presume da onipotên-cia ou da misericórdia de Deus (esperando obter seu perdão sem conversão e a glória sem méri-to).” Portanto, não se desespere, pois o Senhor é misericordioso e bom! Mas também não seja pre-sunçoso, nem em relação às suas capacidades (quem é você para se julgar tão poderoso), nem adian-do sua conversão, pois o dia do julgamento virá como um ladrão.

E onde esta âncora da esperan-ça foi lançada? Você entendeu a continuação da frase? Diz assim: “... penetrando além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito sumo sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquisedec.” O “além do véu” aqui é uma referência ao “Santo dos santos”, o lugar mais sagrado do Templo que tinha um véu separando-o e onde o Sumo sacerdote só en-trava uma vez no ano, no dia da Expiação (cf. Ex 26,33; hb 9,7). quando Jesus morre na cruz, o evangelista Mateus diz que o véu do Templo rasgou-se (cf. Mt 27,57), indicando que agora, por Jesus, todos nós temos acesso a Deus. Então concluímos que a âncora da esperança está fixada lá no céu! é Jesus, com sua Res-surreição, quem sustenta a nossa esperança na eternidade. Não é belo saber isso? Releia os versícu-los 19 e 20 para fixá-los melhor.

Oração Não dá vontade de louvar

e bendizer a Deus? Você pode começar louvando-o por nos ter feito, em Jesus e por Ele, herdei-ros da vida eterna. Bendiga-o pela sua bondade, fidelidade e misericórdia, agradeça-o pelas promessas e pelo cumprimento delas. Manifeste a sua gratidão pelo céu, por tantos que cremos já estarem gozando desta felicidade. Peça a graça da perseverança final para receber a coroa da glória re-servada para os eleitos. Suplique a graça da renovação da virtude da esperança... Deixe-se levar pelo Espírito Santo em oração e con-templação dos mistérios celestes.

Para terminar, anote em seu caderno de oração as graças que o Senhor o(a) fez experimentar nesta Lectio. Se quiser, escreva-nos dando o seu testemunho. é uma alegria tê-lo como leitor(a). Veja os endereços na contracapa da revista ou ainda este meu email [email protected].

Ó Deus, que pela ressurreição do Cristo nos renovais para a vida eterna, dai ao vosso povo cons-tância na fé e na esperança, para que jamais duvide das vossas pro-messas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Ó Maria, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, ro-gai por nós que recorremos a vós!

Até o próximo mês!Shalom!

“Não se desespere, pois o Senhor é misericordioso e bom! Mas também não seja presunçoso, nem em relação às suas

capacidades (quem é você para se julgar tão poderoso), nem adiando sua conversão, pois o dia do julgamento virá como um ladrão”

Shalom Maná | Abril 201222

Page 23: Revista Shalom - Maná - Abril2012
Page 24: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12R

EPO

RTA

GEM

24

Renascer 2012: “Eis que vou fazer obra nova”

O Renascer foi o primeiro grande evento de evangelização de multidões realizado pela Comunidade Católica Shalom. Sua primeira edição reuniu mil pessoas e aconteceu em 1986. Nesta edição, o evento bate recorde de público e marca o início da celebração dos 30 anos de ação evangelizadora da Comunidade

Page 25: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Para experimentar um carnaval diferente, de louvor e adoração, e com uma alegria que não passa na quarta-feira de cinzas, 37 mil parti-

cipantes se reuniram no ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza (CE), durante os três dias do Re-nascer 2012, de 19 a 21 de fevereiro. Foram 13 mil pessoas no primeiro dia, domingo, 10 mil na segunda-feira e 14 mil no encerramento. Com o tema “Eis que vou fazer obra nova” (Is 43,19), o evento foi o destino escolhido por centenas de famílias que decidiram aproveitar o feriado prolongado louvando e adorando a Deus.

Ao todo, oito pessoas da família de Anívia Atália trocaram o “carnaval do mundo”, segun-do ela, para prestigiar o Renascer. “Nós não vamos ter ressaca, nem dívidas e ainda vamos chegar na quarta-feira de cinzas abençoados”, disse Anívia, que chegou ao local com mãe, primos, sobrinho, cunhado e irmã.

Por Vanderlúcio Souza, Tereza Fernandes, Dahiana Araújo, Bruna Pedroso, Ana Beatriz Vancini.

Segundo um dos coordenadores do even-to, Tobias Cortez, o público dos três dias do Renascer foi recorde. “é uma vitória da graça de Deus que as pessoas não querem mais uma alegria passageira”, destacou Cortez. Depois do evento, segundo ele, é importante que as pessoas continuem a experimentar da graça de Deus em um grupo de oração. “O essencial é que, a partir do Seminário, as pessoas vivam no caminho da graça”, completou.

Os espaços de aconselhamento e confissão foram muito procurados por quem desejou se reconciliar com Deus ou receber orações e conselhos de modo individual. Foram 1.042 pessoas atendidas no aconselhamento em todo o Renascer.

Segundo a coordenadora geral de oração e aconselhamento de Fortaleza, Lia Maria Lopes Marcelino, as pessoas têm necessidade de serem ouvidas. “O individualismo, o egoísmo, o mun-do que não para mais para ouvir”, explicou. Lia Maria disse ainda que há uma maior procura pelo aconselhamento logo depois da adoração ao Santíssimo Sacramento ou da Efusão do Espírito Santo.

Foto: Fernando Maia

Page 26: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Na confissão, totalizaram 828 fiéis. Na abertura do evento, 291 pessoas foram atendidas, seguidas por 384 no segundo dia e 153 no último. De acordo com a coordenadora do Projeto com Maria pelos Sacerdotes, Karine Cysne, há pessoas que já não buscavam a reconciliação há muito tempo. Segundo ela, normalmente elas vão após os momentos de adoração ou for-

mação. “São tocados e sentem a necessidade de se reconciliar com Deus”, explicou.

PregaçõesEmbasado na Palavra de Isaías

43,19, Carmadélio Silva, mem-bro da Comunidade Shalom, pregou sobre o tema geral do Renascer: “Eis que vou fazer obra nova”. Silva levou o público a re-fletir sobre a obra que Jesus quer realizar em cada pessoa e exortou

sobre o maior desejo do coração de Deus, que é a conversão do seu povo. “O Senhor tem um desígnio de amor e felicidade para a nossa vida. Ele nos ama como somos, mas nos ama demais para querer que fiquemos como esta-mos. O fato de saber que somos amados não significa que nós não precisamos de mudanças. Será que nada na nossa vida precisa ser transformado?”, questionou.

Foto: Fernando Maia

Foto: Fernando Maia

Shalom Maná | Abril 201226

Page 27: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Entre aplausos e interações com o público, o Fundador e Moderador Geral da Comuni-dade Católica Shalom, Moysés Azevedo, abriu a programação de pregações do último dia do Re-nascer 2012. O tema “Obra nova: iniciativa do Espírito Santo” foi uma preparação para a efusão do Espírito Santo.

“A felicidade é do tamanho de Deus e só Deus pode preencher os vazios mais profundos dos nossos corações. Só o Espírito Santo de Deus”, explicou Moysés Azevedo. Ele destacou, ainda, que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade e é o dom maior que o Senhor deseja nos dar. “Se pedirmos o Espírito Santo, Ele nos dará. O Pai celeste quer te dar o maior de todos os dons. Ele quer te dar ‘a graça’, ‘o dom’. quer derramar graças em você”, disse.

Durante sua fala, Moysés Aze-vedo relembrou sua experiência com Deus. Em 1976, aos 16 anos, ele descobriu o amor de Deus de forma pessoal e, aos 18 anos, re-cebeu a efusão do Espírito Santo. O Fundador da Comunidade re-lembrou também que, em 1980, doou sua vida e sua juventude à Igreja durante a visita do beato João Paulo II, então papa.

A passagem bíblica tema do Renascer 2012 foi uma das pala-vras que Deus deu aos primeiros integrantes da Comunidade Sha-

lom quando estavam no início da caminhada: “Eis que vou fazer obra nova”. “A experiência com Deus mudou a nossa juventude, mudou a nossa família. Abriu nosso coração para a graça do seu Espírito Santo que revolucionou a nossa vida e nos deu ardor e ânimo para seguir Jesus na radi-calidade do Evangelho”.

A Obra Shalom, segundo ele, é uma Obra Nova diante do de-serto. “Para que essa Obra existe? Para você. Para que você expe-rimente a verdadeira felicidade e o amor do Espírito Santo que podem mudar você”, disse.

Doação A solidariedade também

foi um ponto alto do Renascer 2012, por meio da parceria entre a Comunidade e o Centro de hematologia e hemoterapia do Ceará (hEMOCE). O número de doadores de sangue ultrapas-sou o total do ano passado já no segundo dia do evento, segun-do a coordenadora da captação de doadores do hEMOCE , Nágela Lima. Foram 90 bolsas de sangue no primeiro dia, 95 no segundo e 108 no último dia, totalizando 293 doações. Na campanha do ano passado, foram 171 doações.

“A cada ano esse número vem melhorando”, destacou Nágela. Ela fez questão de agradecer a todos os doadores e ressaltou que

a meta inicial era de 250 bolsas de sangue nos três dias. Além disso, 15 pessoas se cadastraram como doadores de medula.

Nágela ressaltou o êxito da parceria, que acontece há nove anos, entre a Comunidade Sha-lom e o hEMOCE em eventos como halleluya e Renascer. “Nesses momentos, o que nós queremos também é fidelizar os jovens doadores”, explicou.

RenascerzinhoNão só o público de adoles-

centes e adultos experimentou a alegria de estar na presença de Deus. No Renascerzinho, mais de 600 crianças aprenderam so-bre o amor de Deus com uma linguagem lúdica, própria para elas. O público-alvo tem entre 5 e 11 anos.

“Muitos pais aderem a essa ideia, entendem que é melhor para eles porque sabem que aqui estão em segurança”, destacou a coordenadora do evento, Luciana Albuquerque. A Palavra de Deus, segundo ela, é ensinada com atividades lúdicas como teatro, brincadeiras, pintura, colagem.

O tema geral do evento foi discutido de forma pedagógica, com auxílio de imagens que representam renovação. No pri-meiro dia, foi usada a figura da borboleta para mostrar que Deus faz mudanças em nossas vidas. No segundo dia, a imagem da

“A experiência com Deus mudou a nossa juventude, mudou a nossa família. Abriu nosso coração para a

graça do seu Espírito Santo que revolucionou a nossa vida e nos deu ardor e ânimo para seguir Jesus na

radicalidade do Evangelho”(Moysés Azevedo)

www.edicoesshalom.com.br 27

Page 28: Revista Shalom - Maná - Abril2012

transformação da semente em ár-vore com a Parábola do Semeador (Mt 13,3-9). No último dia, foi a vez de lembrar a conversão de Paulo, mostrando a amizade entre o apóstolo e Jesus.

Seminário Depois de dias intensos de

oração, louvor e adoração, o Seminário de Vida no Espírito Santo, realizado no Renascer 2012, chega ao momento mais esperado pelos participantes: a Efusão do Espírito Santo. A quadra do ginásio Paulo Sarasate e parte das arquibancadas ficaram cheias de pessoas clamando pela bênção de Deus. “A efusão é a renovação da graça do Batismo. é o ponto alto do Seminário”, ex-plicou o Assessor Missionário da Comunidade Católica Shalom, Padre Karlian Vale.

Antes da imposição das mãos e das orações em cada um dos fiéis, Moysés Azevedo orientou que todos os presentes invocassem o Espírito Santo. “Deus derramará generosamente o seu Espírito. O recebimento dessa graça é a medida da abertura do seu coração”, disse. Padre Antonio Furtado também conduziu parte da oração e pediu a vinda do Es-pírito Santo sobre todos. “Vem, Espírito Santo. Esta é a tua hora. Cura-nos, transforma-nos”.

A responsável pela missão da Comunidade Shalom em For-taleza, Gabriella Dias, ressaltou que não há motivo para temer ou para desconfiar que Deus venha em seu auxílio quando invocado. “O Senhor te abraça e fala ao teu coração”. A Cofundadora da Comunidade, Emmir Nogueira, completou dizendo que o Senhor opera muitas libertações e expulsa o medo. “Eu vim tomar o meu lugar na tua vida, diz o Senhor”.

A experiência foi única, se-gundo Jaqueline holanda, 23. Pela primeira vez, ela viveu a graça de receber o Espírito Santo durante o Seminário. “Foi ma-ravilhoso, inexplicável. é uma alegria muito grande que vem de Deus”. Alegria que se renova mesmo entre quem já participou do Seminário outras vezes. “No ano passado, Deus me deu o dom de línguas e agora, o repouso no Espírito. uma pessoa me confir-mou que eu estava recebendo um dom”, conta a estudante Juliana dos Santos, 21.

Pela primeira vez como serva de seminário, a missionária da Comunidade de Aliança Shalom, Maria Lúcia Silva, sentiu sua experiência com Deus renovada. Segundo ela, Deus também age pelo serviço. “Deus renovou o meu Batismo, os meus dons”.

Por todo o paísAlém de muito louvor, oração

e pregações, fizeram parte da programação do Renascer cursos, Seminário de Vida no Espírito Santo, atividades artísticas, Ado-ração ao Santíssimo Sacramento e Celebração Eucarística.

O Renascer é um retiro de carnaval promovido pela Comu-nidade Católica Shalom desde 1986 - na época, os católicos pro-moviam retiros fechados durante as festas carnavalescas - quando surgiu a inspiração de fazer um retiro aberto ao público com o objetivo de oferecer aos partici-pantes uma experiência pessoal com a pessoa de Jesus Cristo.

Ao longo dos anos, os tes-temunhos de transformação de vida foram atraindo um número maior de participantes, que dese-javam viver a experiência de um carnaval diferente, e os retiros multiplicaram-se por todo país.

Também conhecido como Reviver, o evento aconteceu ainda em diferentes cidades do Interior do Ceará e de outros Estados do país: Aracati (CE), Crateús/Ipueiras (CE), Juazeiro do Norte (CE), Pacajus (CE), quixadá (CE), Sobral (CE), Aracaju (SE), Belém (PA), Belo horizonte (MG), Brasília (DF), Campos (RJ), Chaves (PA), Florianópolis (SC), Garanhuns (PE), Guarulhos (SP), João Pes-soa (PB), Macaé (RJ), Macapá (AP), Maceió (AL), Mossoró (RN), Palmas (TO), Parnaíba (PI), Patos (PB), Perdizes (SP), Propriá (SE), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Santo Amaro (SP), São Paulo (SP), Senhor do Bonfim (BA) e Teresina (PI).

“O Senhor tem um desígnio de amor e felicidade para a nossa vida. Ele nos ama como somos, mas nos ama demais para

querer que fiquemos como estamos. O fato de saber que somos amados não significa que nós não precisamos de mudanças. Será que

nada na nossa vida precisa ser transformado?”

Shalom Maná | Abril 201228

Page 29: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

A IG

REJA

CELE

BR

A

29

Santa Catarina de Sena: “Esposa de Cristo na fé”

“Com o fogo do teu amor, acendes os nossos corações com o desejo de te amar e de te seguir na verdade. Só tu és o Amor, somente digno de ser amado!”(Santa Catarina de Sena) Márcio André Teixeira BarradasSeminarista da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/CE

Nascida no ano de 1347, na Itália, Catarina foi criada em uma família numerosa, com seus 25 irmãos, em meio a uma educa-

ção católica. A graça e eleição de Deus sob esta Santa já começariam cedo. Aos 7 anos de idade, ela consagrou sua virgindade a Cristo. Aos 16 anos, entrou na Ordem Terceira Dominicana. Apesar da sua grande simplicidade e recolhimento na sua vida de oração, ela foi sempre aberta ao serviço

caritativo por conta da realidade da sua época. Em uma Europa marcada por guerras e disputas entre reinos, no século XIV, surge Santa Catarina. O Papa Bento XVI, em catequese sobre esta Santa, nos diz:

“quando a fama de sua santidade espalhou-se, foi protagonista de uma intensa atividade de aconselhamento espiritual na relação com todas as categorias de pessoas: nobres e políticos, artistas e gente do povo, pessoas consagradas, eclesiásti-cos, incluindo o Papa Gregório XI que, naquele

Page 30: Revista Shalom - Maná - Abril2012

período, residia em Avignon e ao qual Catarina exortou enér-gica e eficazmente que retornasse para Roma. Viajou muito para solicitar a reforma interior da Igreja e promover a paz entre os Estados: também por esse mo-tivo, o Venerável João Paulo II desejou declará-la copadroeira da Europa: o Velho Continente nunca poderá esquecer as raízes cristãs que formam a base de seu caminho e continua a desenhar, a partir do Evangelho, os valores fundamentais que asseguram a justiça e a harmonia.”1

Dentro da espiritualidade de Santa Catarina podemos desta-car três pontos: intimidade com Deus, piedade e arrependimento e a Divina Providência.

A intimidade com Deus Na sua obra “O Diálogo”,

Santa Catarina preocupa-se com a busca do conhecimento da Verdade e do sumo Bem, que é Deus. é importante lembrar que esta obra de Santa Catarina, na verdade, foi organizada pelo Beato Raimundo de Cápua, e ditada por ela, a alguns ajudantes, que registravam as experiências místicas que a Santa tinha com Deus, ora reveladas por Deus Pai, ora por Deus Filho. Em uma das locuções, Jesus nos ensina que o passo inicial e fundamental para a busca da Verdade é o autoconhe-cimento: “O Caminho para atin-gir o conhecimento verdadeiro e a experiência do meu ser – Vida eterna que eu sou – é este: nunca abandones o autoconhecimento! Ao desceres para o vale da humil-dade, reconhecer-me-ás em ti, e de tal conhecimento receberás tudo aquilo de que necessitas.”2

Diante de tal conhecimento, o homem depara-se com o nada que é, e reconhece que o seu ego-

ísmo é a fonte de todo o seu peca-do. Por isso, há uma importância em reparar os nossos pecados.

Para chegarmos à perfeição, existe o que a Santa chama de “degraus do amor”, que são três: amor servil, amor interesseiro e, por último, amor amizade. O amor amizade reflete o mais su-blime estado que o nosso relacio-namento com Deus pode chegar. O Senhor revela a Santa Catarina o que significa este amor amizade: “A amizade íntima consiste nisto: que são dois corpos, mas uma só alma no amor, pois o amor transforma (o amante) na coisa amada. E quando (os amigos) se tornam uma só alma, entre eles já não haverá segredo. Por isso dizia meu Filho: ‘Viverei e moraremos juntos.3’”

Portanto, no amor amizade, aquele que alcança esse estado de graça, tem uma grande semelhan-ça com os sentimentos de Cristo. Deseja estar constantemente em comunhão e escuta com o Pai: “Filha querida, convence-te de que na oração contínua, fiel e perseverante que todas as virtu-des são adquiridas.”4 Ou ainda, fazendo um paralelo entre a vida de oração e o autoconhecimento: “Como é agradável ao orante e a mim a prece feita na cela do autoconhecimento.”5

Ademais, o Papa Bento XVI faz-nos lembrar do místico e pro-fundo relacionamento que Santa Catarina tinha com Jesus: “Em

uma visão que jamais se apagou do coração e da mente de Catari-na, Nossa Senhora apresentou-a a Jesus, que lhe deu um esplêndido anel de ouro, dizendo: ‘Eu, teu Criador e Salvador, esposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando vieres celebrar comigo no céu as tuas núpcias eternas’ (Raimundo de Cápua, S. Cate-rina da Sena, Legenda maior, n. 115, Sena, 1998). Aquele anel foi visível somente para ela.”6

Vale fazer a ressalva que, para Santa Catarina, a graça de de-parar-se de forma humilde com os nossos pecados só é eficaz se estivermos com o olhar na paixão de Cristo, pois o erro ocorreria se formos falseados por nossos senti-mentos de autocondenação: “Se não forem acompanhados pelo pensamento da paixão, o autoco-nhecimento e a reflexão sobre os próprios pecados, confundem a alma.”7 Esta Santa também soube equilibrar o seu autoconhecimen-to a ponto de vivenciar tão grande humildade que, por muitas, vezes saiu o demônio vergonhosamente humilhado diante da vida virtu-osa de Santa Catarina. “Maldita sejas tu, pois de nenhum modo consigo vencer-te! Se te rebaixo ao desespero, tu te elevas à mise-ricórdia; se te engrandeço de vai-dade, tu te rebaixas até o inferno pela humildade e aí me persegues. Não voltarei mais; tu combates com a lança da caridade”8, disse a ela o demônio.

“Ao deparar-nos com a nossa fraqueza e miséria, numa graça particular de

arrependimento de coração, chegamos ao choro. As lágrimas, então, são os frutos externos

de algo que acontece de forma intensa e verdadeira no nosso interior, que é o desejo de

mudança de vida”

Shalom Maná | Abril 201230

Page 31: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Dom das LágrimasPercebemos o quanto estava

aflorado no íntimo de Santa Ca-tarina a busca constante e intensa do autoconhecimento, e isto era fruto da sua contínua e profunda vida de oração, já que quando nos aproximamos de Deus, conhece-mos a Ele e a nós mesmos. Ora, o amor sincero leva-nos a uma reta postura diante de Deus e também dos homens. Ao deparar-nos com a nossa fraqueza e miséria, numa graça particular de arrependi-mento de coração, chegamos ao choro. As lágrimas, então, são os frutos externos de algo que acon-tece de forma intensa e verdadeira no nosso interior, que é o desejo de mudança de vida.

Existem cinco tipos de lá-grimas que se diferenciam pelo estado em que a pessoa se en-contra. No primeiro, ocorrem as lágrimas por estarmos em estado mortal. No segundo, compreendemos os males dos nossos pecados e há uma busca de conversão. No terceiro tipo, há uma superação do temor servil e, em seguida, atingimos o amor e a esperança. O quarto tipo de lágrimas refere-se à prática das virtudes. Já no quinto, o Senhor fala a Santa Catarina das lágrimas de fogo do Espírito Santo: “Existe alguma lágrima que não saia dos olhos? Sim, existe um pranto de fogo, procedente do desejo santo e que faz consumar-se no amor por mim. (...) Ao que parece, foi quanto pretendia afirmar o glorioso apóstolo Paulo, ao dizer que o Espírito Santo chora em mim ‘com gemidos inenarráveis’ (Rm 8,26), a vosso favor.”9

Por isso, não se pode queixar-se quem, por conta de seu tempo de caminhada com Deus, não tem o dom das lágrimas sim-

plesmente porque não derrama as lágrimas que deseja. A Deus não interessa se nós derramamos lágrimas externas ou lágrimas do Espírito: “Em todo estado de vida e ocasião, tais pessoas podem agradar-me. A menos que seu espírito se afaste de mim por falta de fé e de amor.”10

Providência DivinaPara Santa Catarina, o amor

a Deus e o desejo de conversão e santidade não ficavam para-dos apenas em um olhar em si mesma, mas ela tinha um olhar voltado para a humanidade, para o padecimento do homem dian-te da vida de pecado e engano. Santa Catarina olha para Deus, criador e redentor, e o vê à frente da história do homem. Não que Ele seja causador ou indiferente aos males do homem, mas ela vê Deus que intervém na história. A isto chamamos de Providência Divina.

Pela Providência Divina, foi criado o homem. Este, no mau uso de sua liberdade, desobedece a Deus e peca, e todos os homens herdam, a partir do pecado ori-ginal, a concupiscência e a culpa. O que restaria à humanidade? A separação eterna do homem de Deus. Mas Deus intervém, pro-videnciando a Encarnação, vida, paixão e morte de Cruz do seu Filho, para que, em sua obediên-cia, Ele salve e repare o pecado de toda a humanidade.

Santa Catarina relaciona a Providência Divina como a ver-dadeira esperança do homem, como ensina Deus Pai: “Também dei à humanidade o conforto de uma esperança. Ao dar valor ao preço do sangue com que foi remido, o homem sente uma firme esperança e grande certeza de salvação. Se é verdade que

sempre me ofende com todos os sentidos, também foi com o corpo inteiro que meu Filho tolerou grandíssimos tormentos. Por sua obediência, ele cancelou vossa desobediência. Ainda mais: de sua obediência recebestes a graça, da mesma forma como da desobediência de Adão havíeis herdado a culpa.”11

Por último, é importante res-saltar a relação entre a experiência pessoal e o amor e a Providência de Deus. “A esperança humana é mais ou menos perfeita conforme o amor da pessoa; será igualmente nessa medida que cada um terá a experiência da minha Providên-cia. Aqueles que me servem e só em mim confiam, experimentá-la-ão mais profundamente do que as almas cuja esperança se fundamenta em interesses e com-pensações.”12

Peçamos a Deus, por interces-são de Santa Catarina de Sena, a graça de termos Cristo como o Esposo de nossa fé, e, apaixo-nados e servos da Igreja, sejamos atentos ao que o Espírito Santo deseja de nós como discípulos e missionários de Cristo, servindo à Igreja e à humanidade.

Shalom!

1. BENTO XVI. Catequese de Bento XVI sobre Santa Catarina de Sena: 24 de Novembro de 2010. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/docu-ments/hf_ben-xvi_aud_20101124_po.html. / 2. SANTA CATARINA DE SENA. O Diálogo. Paulus. 1984. p. 33. / 3. Idem. p. 132. / 4. Idem. p. 139. / 5. Ibidem. / 6. BENTO XVI. Catequese de Bento XVI sobre Santa Catarina de Sena: 24 de Novembro de 2010. Disponível em: idem acima. / 7. SANTA CATARINA DE SENA. O Diálogo. Paulus. 1984. p. 141. / 8. Idem. p. 142. / 9. Idem. p. 187. / 10. Idem. / 11. Idem. p. 305. / 12. Idem.

www.edicoesshalom.com.br 31

Page 32: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12ES

PEC

IAL

32

Cassiano Rocha AzevedoMissionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

São José, lugar-tenente do PaiJosé é o novo Abraão, que exercita a sua fé velada em sonhos. Ele provavelmente nunca viu um milagre de seu Filho, mas acreditou na Imaculada Conceição, no seu parto virginal e que Ieshuah era Emanuel, Deus conosco

quando o Senhor derrama o seu Espírito Santo, Ele nos con-duz aos primórdios para rea-lizar a sua obra de renovação,

ao “illud tempus”, ao tempo do início da ação divina na humanidade. é o que chamamos vi-vências originárias ou vivências antropológicas fundantes. Estas vivências abrem possibilidades de sentido para a vida e ambientam a percepção da sacralidade. Elas podem ser afetivas, como a hospitalidade, e sensoriais, porque deixam uma inscrição interior.

A primeira vivência primordial que expe-rimentamos foi com a Trindade, pois saímos dela, na hora que à semente de nossa mãe se uniu a semente de nosso pai. Não viemos do acaso, saímos da Trindade. Isto faz uma gran-de diferença no processo de cura interior, no delinear da autoestima, na referência fundante de minha vida.

Saí das mãos de um Deus uno e Trino que é família, onde cada pessoa tem uma missão diferente e complementar, numa mesma na-tureza, que é o amor. Esta vivência primordial Trinitária é:

- Sensorial, pois deixou uma inscrição de amor em meu ser;

- Interior, pois é uma inscrição arquétipa, do grego arqué (primordial) e typos (imagem). São imagens primordiais, estruturas simbóli-cas do inconsciente coletivo. Segundo Jung: “Símbolos chave de um patrimônio universal repousando sobre camadas mais profundas do psiquismo humano”;

- Pré-conceitual, pois antecede os conceitos;- Sintética, pois unifica o homem inteiro;- Abridora de janelas na imagem figurativa

de casa, porta, escada;- Memoriais, pois tocam na memória.

Page 33: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Temos uma saudade anterior à saudade do paraíso: a saudade da Trindade. A Trindade esteve pre-sente em toda a obra de criação. “Façamos o homem à nossa ima-gem e semelhança” (Gn 1,26). Ela foi hospedada por Abraão. Para o habitante do deserto, o dever de hospitalidade era sagrado e reinscrevia a vivência originária primordial Trinitária.

Todo homem necessita de proteção, abrigo, nutrição e sustento. Nós, que já fomos hós-pedes da Trindade, somos agora chamados como Abraão a hos-pedar a Trindade, que se mani-festa no irmão que sou chamado a acolher e hospedar em minha casa. Abraão acolheu a Trin-dade e esta reacolheu Abraão, elegendo-o e escolhendo-o para ser pai de uma multidão.

A Trindade é amor, aber-tura e serviço. Ela extrai o melhor das pessoas. E, ao pedir o melhor de Abraão, que era Isaac, ela o devolve de maneira nova, selando a sua promessa pela prova da oferta do que há de mais caro em mim.

No ícone da Trindade de Adrej Rublev, cada uma das pessoas é designada por um sinal. Assim, sobre a cabeça do Pai está a tenda de Abraão, que é prefiguração da Igreja, atrás de Cristo está a árvore da cruz, e sobre a pessoa do Espírito Santo, a rocha onde Abraão ofereceu Isaac.

Lugar-tenente do PaiNo ícone da Sagrada Famí-

lia da Igreja de Cecina (Itália), todos estes sinais estão sobre José, lugar-tenente do Pai. Ou seja, o imediato do Pai celeste aqui na Terra, no nosso caso, em relação à afeição, previ-dência e providência. José é o

www.edicoesshalom.com.br 33

Page 34: Revista Shalom - Maná - Abril2012

novo Abraão, que exercita a sua fé velada em sonhos. Ele prova-velmente nunca viu um milagre de seu Filho, mas acreditou na Imaculada Conceição, no seu parto virginal e que Ieshuah era Emanuel, Deus conosco.

Ora, vemos que a Providên-cia Divina age previdentemente quando a Trindade planta um jardim para acolher o homem, dando-lhe árvores frutíferas e formosas à vista. Ela também age providencialmente, conservando, mantendo, guardando sua cria-ção. “O Senhor Deus plantou um jardim em éden, a Oriente, tomou o homem e o estabeleceu no jardim de éden para o cultivar e o guardar” (Gn 2,8.15).

No Apocalipse, São João tem uma visão de um belo jardim com árvores cujas folhas servem para curar as nações. “Mostrou-me depois um rio de água da vida, límpido como cristal, que saía do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da praça, de um lado e do outro do rio há árvores da vida que frutificam doze meses, dando fruto a cada mês; e suas folhas servem para curar as nações” (Ap 22,1-2).

Se já estamos na glória, de que precisamos ser curados? “O

homem será curado não de uma ferida ou do pecado, mas a árvore manterá o homem na sua con-dição de homem, ser finito que, não tendo vida em si mesmo, a recebe constantemente da cruz, e este dom não deve nem pode cessar. Precisamos ser curados e mantidos por Deus” (Pe. Jacques Marin).

José não só é ecônomo da família de Nazaré, mas, como Abraão, ele constrói a sua tenda de fé entre Nazaré e Belém - com suas hospedarias lotadas - na fé de que Deus se manifestaria em meio ao esterco dos animais, de que o Menino Messias deveria encarnar o servo sofredor, que se nutriria de fazer com prazer a vontade de Adonai. Sim, a fé na Providência que Yeshua ha Massiah, Jesus é o Messias, o Emanuel, o Deus conosco.

José sustenta a Sagrada Famí-lia com sua fé, que é previdente: ele faz o berço do Menino com carinho, mas se desapega quando sabe que deve ir a Belém, amplia o leque da Providência com o “Conservatio Fides”, a conservação da criação depende da conser-vação da fé. Ele não matará um novo cordeiro, como Abraão para ofertar a Deus, mas alimen-

tará com o suor do seu rosto o Cordeiro que será alimento para toda a humanidade e, qual seu ancestral, José do Egito, vê nos acontecimentos mais escabrosos, oportunidades de manifestação da Providência Divina.

Por isso, ser devoto de José não é só fazer novenas para conseguir os bens materiais, mas erguer uma tenda de fé em louvor a Iahweh, aceitar o que a Provi-dência prepara para nós, no dia a dia, e cooperar com a ação divina sendo previdente, providente, guardando e conservando a cria-ção. Isto inclui todos aqueles que Adonai lhe confiou; pois eles são parte do corpo de Cristo que José, como lugar-tenente do Pai, pro-tegeu, guardou, proveu, previu, planejou e confiou. Sim, Deus prevê amorosamente a nossa mo-radia, plantando um jardim antes de nos criar, e em Cristo Jesus vai preparar para nós um lugar.

Ser devoto de José é cooperar para que emerja do fundo de nossa alma as marcas da Trindade, através de um matrimônio aberto em exercício da hospitalidade, construindo uma cultura de proteção, conservação, cuidado e amor à vida desde a concepção, quando saímos da Trindade, até os últimos instantes, quando retornaremos para Aquele que nos criou.

Ser devoto de José é engajar-se politicamente na luta pela vida contra os herodes de hoje, que querem construir uma cultura de morte. Lugar-tenente, cor-responsável por prover, guardar, cuidar e conservar a criação, os homens e a Igreja

José, patrono da Igreja, fazei o nosso coração semelhante ao vosso!

“Ser devoto de José não é só fazer novenas para conseguir os bens materiais, mas erguer uma tenda

de fé em louvor a Iahweh, aceitar o que a Providência prepara para nós, no dia a dia, e cooperar com a ação divina sendo previdente, providente, guardando e conservando a criação”

Shalom Maná | Abril 201234

Page 35: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

DIV

IRTA

-SE

35

7 112 5

1 94

23

38

4

6

5

6

7 10

9

10

11

por José Ricardo Ferreira BezerraCasais na Bíblia

HORIZONTAIS1 - Eposo firme na fé e esposa nem tanto (Gn 18,11;21,1)2 - Esposo agradável a Deus e esposa que salva o marido da morte (1Sm 19,11-17)3 - Esposo envelhecido e esposa manipuladora (Gn 27)4 - Esposo temente a Deus e esposa filha de sacerdote pagão (Gn 39,7-23;41,46-57)5 - Esposo sábio e esposa pacificada (Ct 3,9;7,1)6 - Esposo trabalhador e esposa insistente (Gn 29,10)7 - Esposo seduzido pela beleza e esposa que cobra as promessas (2Sm 11-12;1Rs 1-2)8 - Esposo que duvidou do anjo e esposa firme (Lc 1,5-23;59-80)9 - Esposo rico e ostentador e esposa humilde e altruísta (Est 2,17; 7,1-3)10 -Esposo pescador e esposa preocupada com os filhos (Mt 4,21;20,20;27,56)11 - Esposo fiel e esposa infiel (Os 1-3)

VERTICAIS1 - Esposo ganancioso e esposa dominadora e má (1Rs 21,1-27)2 - Esposo pouco convertido e esposa conivente (At 5,1-10)3 - Esposo vacilante e esposa que dá ouvidos ao Mal (Gn 3)4 - Esposo chamado por Deus e esposa que era filha de sacerdote pagão (Ex 3,20;18,2)5 - Esposo atencioso e esposa perseverante na oração (1Sm 1-2)6 - Esposo justo e esposa cheia de graça (Mt 1,18; Lc 1,26)7 - Esposo trabalhador e esposa fecunda (Gn 30,16)8 - Esposo e esposa missionários evangelizadores (At 18,2.18.26; Rm 16,3)9 - Esposo que morreu cedo e esposa temente a Deus (Jt 8,1-8)10 - Esposo e esposa que rezam juntos (Tb 8)11 - Esposo sedento de Deus, mas leviano e impulsivo e esposa cruel (Mc 6,17-29)

Em um vilarejo libanês, cristãos e muçulmanos convivem pacificamente, isolados do resto do mundo, graças ao colapso providencial de uma ponte. Mas, de vez em quando, os ecos da guerra, que recomeçou no país, chegam a eles por meio de uma televisão improvisada, e as mulheres se reúnem em segredo para encontrar um modo de dissuadir os homens do revoltar-se nova-mente uns contra os outros. O filme “E agora, para onde vamos?” é um hino à paz e à harmonia entre as religiões sem qualquer retórica, porque é baseado na realidade de muitas comunidades multiétnicas do Oriente próximo. A ambientação num pequeno vilarejo isolado do resto do mundo por causa da guerra, em um tempo não especificado, dá ao filme características de uma história que pode falar-nos sobre um tema universal, a paz. uma mistura de comédia, fábula, drama e musical com uma capacidade de fazer-nos sorrir com coisas muito sérias. Título Original: Et maintenant, on va où?País: França, Líbano, Itália, EgitoAno: 2011Direção: Nadine Labaki

um gato que, enfraquecido pela ida-de e, por isto, já sem condições de caçar camundongos, pensou em um modo de atraí-los ao alcance de suas patas. Para tanto, pendurou-se pelas pernas traseiras em uma pequena estaca, achando que os camundongos o tomariam por uma sa-cola ou, no mínimo, por um gato morto, dele arriscando aproximar-se.

O primeiro camundongo que apa-receu para dar uma olhada foi sufi-cientemente prudente para se manter à distância:

- Vi muitas sacolas na minha vida – sussurrou ele a um amigo -, mas ne-nhuma com cabeça de gato! O outro ca-mundongo, por sua parte, disse ao gato:

- Fique pendurado aí o tempo que quiser, mas eu é que não vou chegar perto. Você não é esperto o bastante para nós.

Moral da história: “Os homens pru-dentes não se deixam enganar por velhos truques.”

HO

RIZ

ON

TA

L1.

AB

RA

AO

ESA

RA

| 2.

DA

VIE

MIC

OL

| 3

. ISA

AC

ER

EB

EC

A |

4. J

OSE

EA

SEN

ET

| 5

. SA

LO

MA

OE

SuL

AM

ITA

| 6

. JA

CO

ER

Aq

uE

L

| 7.

DA

VIE

BE

TSA

BE

IA |

8. z

AC

AR

IASE

ISA

BE

L|

9. A

SSu

ER

OE

EST

ER

| 10

. zE

BE

DE

uE

SAL

OM

E |

11.

OSE

IASE

GO

ME

RV

ER

TIC

AL

1. A

CA

BE

JEz

AB

EL

| 2.

AN

AN

IASE

SAFI

RA

| 3.

AD

AO

EE

VA

| 4.

MO

ISE

SESE

FOR

A |

5. E

LC

AN

AE

AN

A |

6. J

OSE

EM

AR

IA |

7.

JA

CO

EL

IA |

8. A

qu

ILA

EP

RIS

CIL

A|

9. M

AN

ASS

ESE

JuD

ITE

| 1

0. T

OB

IASE

SAR

A |

11.

hE

RO

DE

SEh

ER

OD

IAD

ES

indicamosO gatO e Os camundOngOs

e agOra, para Onde vamOs?

Page 36: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12A

CO

NT

EC

E N

O M

UN

DO

36

Bento XVI apresenta mensagem para o 49o Dia Mundial de Oração pelas Vocações

Jordânia: novo centro de cultura católica

O Vaticano publicou no dia 13 de fevereiro a mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial de

Oração pelas Vocações, celebrado no dia 29 de abril. Com o tema “As vocações, dom do amor de Deus”, o Santo Padre explica qual o sentido da vocação e como ela acontece na vida de cada pessoa.

“Neste terreno de um coração em oblação, na abertura ao amor de Deus e como fruto des-te amor, nascem e crescem todas as vocações”, escreveu o Pontífice.

Bento XVI também fez um convite para que cada cristão redescubra o amor de Deus e anuncie essa vivência, principalmente para as novas gerações: “Por isso é preciso anunciar de novo, especialmente às novas gerações, a beleza persuasiva deste amor divino, que precede e acompanha: este amor é a mola secreta, a causa que não falha, mesmo nas circunstâncias mais difíceis”, ressaltou.

Por fim, o papa pediu que as Pastorais Vo-cacionais incentivem a descoberta de vocações. Segundo ele: “é tarefa da pastoral vocacional

O Ministério da Cultura da Jordânia aceitou o pedido do Vicariato Latino de Amã de mudar o nome

da “house of Research and Studies” (Centro de Pesquisa e Estudos) para “Catholic Centre for Studies and Media” (Centro Católico de Estudos e Mídia), aceitando também a nome-ação do Padre Rifat Bader, atual Porta-voz da Igreja Católica na Jordânia, como seu diretor. O novo Centro foi aberto oficialmente no mês de março pelo Patriarca latino de Jerusalém, sua beatitude Fouad Twal.

A mudança do nome, explica Padre Bader, reflete a nova missão do Centro, que quer se tornar um ponto de referência para as Igrejas na Jordânia, mas também para os meios de comunicação locais, árabes e internacionais

oferecer os pontos de orientação para um per-curso frutuoso”.

Bento XVI também enfatizou o papel da Igreja na construção de diferentes vocações e encorajou os agentes de pastorais para que conduzam cada fiel a mergulhar na beleza do chamado de Deus.

Fonte: CNBB

através de publicações, pesquisas e estudos. Em particular, ele terá a tarefa de organizar encontros , debates, teses; destacar o papel da religião na promoção da paz, da concórdia, do sentido cívico e da convivência entre as pessoas de credos diferentes e participar, ati-vamente, dos diferentes fóruns de reflexões promovidos sobre este assuntos em nível local e internacional.

“O Centro – esclareceu Padre Bader –, se ocupará também de supervisionar a seção jordaniana de Noursart, o primeiro e único canal via satélite cristão do Líbano, ativamente comprometido na promoção do diálogo entre cristãos e islâmicos no Oriente Médio e no mundo”.

Fonte: Rádio Vaticano

Page 37: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

AC

ON

TEC

E N

O M

UN

DO

37

Jesuítas oferecem cursos a distância para refugiados

Consistório cria 22 novos cardeais

Cerca de cem especialistas e edu-cadores jesuítas de todo o mundo tiveram encontro marcado, de 5

a 8 de março, na universidade Regis de Denver, em Colorado (EuA), para debater o futuro do projeto “Educação superior às mar-gens” (“Jesuit Commons – higher Education at the Margins”).

Trata-se de uma nova iniciativa do Serviço Jesuíta para Refugiados (SJR) para o ensino superior a distân-cia, especialmente dirigido às pessoas refugiadas. Com a colaboração de 13 ateneus jesuítas, o projeto se inspira numa experiência já realizada pela universidade Católica da Austrália em favor dos refugiados birmane-

ses e prevê cursos a distância sobre o uso de computadores e Internet. Até agora, os cursos chegaram a refugiados de três campos: no

quênia, (Kakuma) Malavi (Dzaleka) e Síria (Aleppo).

A ideia é colocar à disposição dos refugiados a extraordiná-

ria rede de serviços sociais e educativos da Companhia de Jesus, presente em mais de 100 países no mundo.

Os quatro dias de encon-tro na Regis university de

Colorado serviram para estu-dar novos projetos com delega-

dos do SJR, de institutos jesuítas estadunidenses de educação superior,

da Pontifícia universidade Gregoriana de Roma e de jesuítas dos cinco continentes.

Fonte: Rádio Vaticano

O espanhol Dom Santos Abril y Cas-telló, decano papal da Basílica de Santa Maria Maggiore (Roma),

além de Dom João Braz de Aviz, único brasileiro, compõem a lista dos 22 novos cardeais que foram criados no Consistório do dia 18 de fevereiro, no Vaticano.

Dom Castelló é arcipreste da Basílica de Santa Maria Maggiore desde novembro de 2011. Foi nomeado também vice-camerlengo da Igreja, o segundo homem na hierarquia da Igreja, na even-tualidade de uma vacância da Santa Sé. Antes de assumir esses cargos, Dom Castelló cumpriu car-reira de diplomata do Vaticano como núncio em vários países da América Latina, África e Bálcãs.

O Cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, também participou das celebrações, que tiveram lugar na Basílica de São Pedro, e na Sala Paulo VI, quando o papa Bento XVI recebeu os novos cardeais e convidados.

Dom João Braz de Aviz é prefeito da Con-gregação para os Institutos de Vida Consagrada desde janeiro de 2011. O arcebispo, que durante muito tempo esteve à frente da arquidiocese de Brasília, passa a integrar o grupo de cardeais bra-sileiros composto por Dom Eugênio Sales, Dom Evaristo Arns, Dom José Falcão, Dom Serafim Fernandes Araújo, Dom Claudio hummes, Dom Geraldo Majella Agnelo, Dom Eusébio Sheid, Dom Odilo Pedro Sherer e Dom Ray-mundo Damasceno de Assis.

Fontes: CNBB e Vaticano

Page 38: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12F

É E

RA

O

38

Viver bem “Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo o coração, de toda a alma e em toda forma de agir” (Santo Agostinho)

O que é essencial à vida? O que é viver bem? As campanhas de publici-dade hoje apresentam

tantas coisas como essenciais – mas que na verdade não o são – que vamos nos acostumando com os slogans e com as facilidades, a ponto de esquecermos do verdadeiro bem. Dessa forma, caímos em verdadeiras armadilhas!

é muito raro encontrarmos um am-biente onde o discurso sobre as virtudes e a sua prática seja considerado importante; normalmente se prega o imediatismo e o hedonismo, enfraquecendo a temperança, a justiça, a fortaleza e a prudência, além da fé, esperança e caridade. Ou seja, as vir-tudes necessárias para vivermos uma vida verdadeiramente feliz. Desta relação de virtudes, as quatro primeiras são chama-das “cardeais”. Este termo vem do latim cardines, ou seja, dobradiças, significando que todas as outras virtudes se agrupam em

torno delas. São, portanto, eixos em torno dos quais gira toda a nossa vida moral.

Vejamos como o Catecismo da Igreja Católica as apresenta:

A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo. (1806)

A justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. (1807)

A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. (1808)

A temperança é a virtude moral que mo-dera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. (1809)

Nos próximos artigos, veremos de-talhadamente cada uma das virtudes cardeais; hoje nos deteremos numa visão do todo, mesmo sabendo que estas não se dão isoladamente, o faremos assim por uma questão de didática.

Sobre as virtudesO Catecismo ensina no art. 1804 que

“as virtudes humanas (...) regulam nossos

Jussara TuliMissionária da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/CE

Page 39: Revista Shalom - Maná - Abril2012

www.edicoesshalom.com.br 39

Page 40: Revista Shalom - Maná - Abril2012

atos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo a razão e a fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa. Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem”. Continua di-zendo no artigo 1810, onde trata das virtudes e a graça, que “o homem virtuoso sente-se feliz em praticá-las”. Anteriormente, no art. 1083, lemos que a virtude é uma disposição habitual e firme para fazer o bem. Para adquirir um determinado hábito é neces-sária a sua repetição frequente e determinada. Por exemplo, para aprender a tocar violão não basta apenas conhecer todas as teorias e partituras, é necessário fazer exercícios, praticar. Porém, não se trata deste tipo de hábito, porque não diremos que um bom violo-nista seja um violonista virtuoso.

Os valores deste mundo são incompatíveis com os valores do Evangelho, mas os cristãos não podem deixar de semear os verdadeiros valores em todas as realidades. Isso lança um grande desafio: como viver neste mundo sem pertencer a ele? São Paulo, na Carta aos Colossenses, nos orienta:

“Visto que ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, lá onde se encontra Cristo, sentado à direita de Deus; é no alto que está a vossa meta, não na terra. (...) Fazei, pois, morrer

o que em vós pertence à terra: devassidão, impureza, paixão, mau desejo e a tal cupidez que é uma idolatria. (...) Agora, pois, vós também livrai-vos de tudo isso: cólera, irritação, malvadez, injúrias, grosseria saída de vossos lábios. Não haja mentiras entre vós, pois vos despojastes do ho-mem velho, com suas práticas, e revestistes do homem novo, aquele que, para ter acesso ao conhecimento, não cessa de ser renovado à imagem do seu Cria-dor” (3,1-10).

As virtudes, portanto, preci-sam ser vivenciadas, praticadas! é assim que seremos o sal da terra e a luz do mundo (cf. Mt 5,13-14). Para que a nossa vida seja plena de sentido, de valor, de significa-do profundo, não podemos nos deixar levar pelo vento dos capri-chos, e viver segundo os ditames das paixões, que após uma breve e falsa satisfação, deixam um imenso vazio existencial. Fomos criados para o alto! é próprio do homem transceder. Precisamos

nos desvencilhar do engano de que o esforço para adquirir a vir-tude e escolher o bem é um peso ou um fardo. quando buscamos as coisas do alto, quando trans-cendemos, quando crescemos na prática das virtudes, nos tornamos livres, verdadeiramente felizes e realizados.

Para o homem ferido pelo pecado, não é fácil manter o equilíbrio moral, por isso vem em nosso auxílio a graça de Cristo Jesus, o dom da sua salvação, Ele “nos concede a graça necessária para perseverar na conquista das virtudes” (cf. Cat. 1811). Todos nós devemos e podemos contar com esta graça, pedi-la e, ao mesmo tempo, cooperar com o Espírito Santo, seguindo os seus apelos para “amar o bem e evitar o mal”.

Concluamos citando Santo Agostinho: “Viver bem não é outra coisa senão amar a Deus de todo o co-ração, de toda a alma e em toda forma de agir. Dedicar-lhe um amor integral (pela temperança) que nenhum infor-túnio poderá abalar (o que depende da fortaleza), que obedece exclusivamente a Ele (e nisto consiste a justiça), que vela para discernir todas as coisas com receio de deixar-se surpreender pelo ardil e pela mentira (e isto é a prudência)1”.

Shalom!

1. Sto. Agostinho, Mor. Eccl. 1,25,46: PL 32, 1330-1331. in Catecismo da Igreja Católica, 1809.

Os valores deste mundo são incompatíveis com os valores do Evangelho, mas

os cristãos não podem deixar de semear os

verdadeiros valores em todas as realidades”

“Quando buscamos as coisas do alto, quando transcendemos, quando crescemos na prática

das virtudes, nos tornamos livres, verdadeiramente felizes

e realizados”

Shalom Maná | Abril 201240

Page 41: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

ES

PEC

IAL

41

Qual o valor da vida humana? Quando ela tem início? Que direitos e deveres temos sobre ela? A missionária Germana Perdigão nos ajudará a encontrar respostas para estas e outras perguntas, apresentando aspectos importantes que revelam a grandeza e o valor precioso da vida humana. A partir desta edição, você poderá conferir artigos relacionados ao tema “Bioética”

O valor da vida humana e da sua inviolabilidade

Page 42: Revista Shalom - Maná - Abril2012

que é o homem? qual o sentido e a finalidade da vida humana?

Alguma vez você já pensou que a vida não pode ser simplesmente viver um dia após o outro?

A vida é muito mais do que isso! Ela é sagrada e inviolável em todas as suas fases e situações. A vida é um bem indivisível e faz parte de um plano divino. Deus Pai preparou um plano mara-vilhoso para a sua vida e deseja que você seja feliz. quando nos damos conta de que Deus tem um plano para nós, entendemos o motivo de vivermos. Deus quer que todos os seus filhos progri-dam e se tornem mais semelhan-tes a Ele.

A vida humana tem em si mesma um valor inestimável, é sempre um bem, mas, infe-lizmente, a maioria das pessoas não consegue reconhecê-lo. é imprescindível, para que o ho-mem conduza de forma correta

a sua vida e a daqueles por quem é responsável, conhecer o valor da vida humana. Existem alguns aspectos importantes que revelam a grandeza e o valor precioso da vida. Por que motivos ela é um bem? Entre tantos, podemos falar sobre alguns:

A vida humana é dom de Deus

Só Deus é propriamente eter-no, isto é, não tem princípio nem fim. Em Deus, não existe passado nem futuro, mas um presente imutável. Deus sempre existiu, mas em determinado momento quis criar o mundo sem utilizar nenhum material pré-existente. A criação inteira é fruto do amor e da onipotência de Deus.

Deus é o autor da vida e criou o homem e a mulher do nada

O autor da vida é Deus. Só Ele pode dar a vida. Criar é uma prer-rogativa só de Deus. Criar quer

dizer “fazer que exista algo que antes não existia, tirando-

o do nada”. Por si só, o homem não é

capaz de dar a

vida. O homem não pode criar; ele pode modificar, por exemplo, o curso de um rio, ou fabricar um tecido, um carro, construir uma casa.

Deus cr iou o homem do nada: “Façamos o homem...”1. Deus fez o homem do barro, com o trabalho de suas mãos, com grande atenção, desvelo e ternura: “Então o Senhor Deus modelou o homem da argila do solo, soprou alento de vida em seu nariz, e o homem se transformou em ser vivo”2.

Deus criou o homem do barro e da água, criaturas inanimadas, sem alma, e soprou sobre ele o “nefesh”, o sopro da vida. Deus deu ao homem uma alma só dele; alma bela, pura, santa, imaculada, feita para viver unida a Ele3.

Deus criou a mulher, também do nada, apesar de tê-la criado a partir de um homem vivente, não precisava disso para criá-la, porque Deus é Deus e tudo criou a partir do nada. A origem da mulher também é Deus. Foi Ele quem decidiu criá-la, como o homem, do nada.

é importante saber que quan-do Deus usou da metade do ho-mem para criar a mulher, usou também seu desejo de ser feliz, os anseios mais sinceros do seu cora-ção, sua vocação para cuidar e ser cuidado, para proteger e ser pro-tegido, seu chamado para amar e ser amado, sua necessidade de ser complementado por alguém semelhante a ele, sua humilde e sincera abertura à felicidade que vem da complementação e da partilha de vida4.

Germana PerdigãoMissionária da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

Shalom Maná | Abril 201242

Page 43: Revista Shalom - Maná - Abril2012

A origem e o fim do ho-mem é Deus

Portanto, a origem do homem é Deus. O homem veio de Deus e seu destino é Deus. A vida do homem é dom e é o maior talento que Deus deu a ele; ela encerra uma infinidade de graças, de potencialidades. A partir da vida, o homem pode desenvolver-se, crescer, experimentar as suas capacidades, contribuir para o crescimento da humanidade e do mundo.

Deus criou cada homem fazen-do dele um prodígio5. Só pelo fato de a vida ser um dom de Deus já explica o valor inestimável da mes-ma. Por esta razão, o Beato João Paulo II conclama o homem a ter um olhar contemplativo diante da vida, “é o olhar de quem observa a vida em toda a sua profundidade, reconhecendo nela as dimensões de generosidade, beleza, apelo à liberdade e à responsabilidade. é o olhar de quem não pretende apoderar-se da realidade, mas a acolhe como um dom, descobrin-do em todas as coisas o reflexo do Criador e em cada pessoa a sua imagem viva”6.

Deus é o único Senhor da vida e da morte

A Bíblia afirma que Deus é o único Senhor da vida e da morte: “Só eu é que dou a vida e a mor-te”7; “Vós, Senhor, tendes o po-der da vida e da morte, e conduzis os fortes à porta do hades e de lá os tirais”8; “Nenhum de nós vive para si mesmo, e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, para o Senhor vivemos; se mor-remos, para o Senhor morremos. quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor”9.

O homem não tem o poder de apropriar-se da vida e da morte

para decidir sobre elas. O homem não pode reivindicar para si a mais completa autonomia moral de decisão sobre a vida e a morte; ele não pode dispor da própria vida nem da dos outros como quer, porque o valor da vida não é relativo, não é um “bem sim-plesmente relativo, confrontada e ponderada com outros bens, segundo uma lógica proporciona-lista ou de puro cálculo”10.

que Deus deu a ele para fazer da vida, independente de Deus, o que deseja. Mas a liberdade do homem só é autêntica se for base-ada na verdade sobre o homem e sobre o mundo; verdade esta que não pode ser aparente, portanto, “Cristo continua a aparecer-nos como aquele que traz ao homem a liberdade baseada na verdade, como aquele que liberta o ho-mem daquilo que limita, diminui e como que espedaça essa liber-dade nas próprias raízes, na alma do homem, no seu coração e na sua consciência”12.

O homem deve dispor a sua vida nas mãos de Deus

Ter a vida nas mãos de Deus jamais será um risco, como al-guns pensam, porque Deus é “amor em atos”, ou seja, tudo o que realiza é por amor. Todas as ações de Deus são amor. Deus age amando. Estar em suas mãos, em seu poder, é estar em lugar segu-ro, porque Deus não exerce esse poder como arbítrio ameaçador, mas, sim, como cuidado e solici-tude amorosa pelas criaturas.

Se é verdade que a vida do homem está nas mãos de Deus, não o é menos que estas são mãos amorosas como as de uma mãe que acolhe, nutre e toma conta do seu filho. Por isto o homem pode dizer: “Fico sossegado e tranquilo como criança deitada nos braços de sua mãe, como um menino deitado é a minha alma”13.

1. Gn 1,26. / 2. Gn 2,7. / 3. Cf. No-gueira, Emmir. Ao amor da minha vida, Fortaleza: Edições Shalom, 2004, p.13. / 4. cf. ibidem p.15. / 5. (cf. Sl 139(138),14) / 6. Carta Encíclica Evangelium Vitae, 83. / 7. Dt 32,39.8. Sb 16,13; cf. Tb 13,2. / 9. Rm 14,7-8. / 10. Carta Encíclica Evangelium Vitae, 68. / 11. Ibidem, 39. / 12. Carta Encíclica O Redentor do homem, p. 34 e 35, Edições Paulinas. / 13. Carta Encíclica Evangelium Vitae 39, p. 77 e 78, Edições Paulinas.

“Ter a vida nas mãos de Deus jamais será

um risco, como alguns pensam, porque Deus

é ‘amor em atos’, ou seja, tudo o que realiza é por amor. Todas as ações de

Deus são amor”

Muitas pessoas afirmam que são “donas” de sua própria vida, portanto, podem fazer dela o que quiserem. O Beato João Paulo II afirma: “A vida do homem provém de Deus, é dom seu, é imagem e figura dele, participa-ção do seu sopro vital. Desta vida, portanto, Deus é o único Senhor: o homem não pode dispor dela. Deus mesmo o confirma a Noé, depois do dilúvio: ‘Ao homem, pedirei contas da vida do homem, seu irmão’ (Gn 9,5). E o texto bíblico preocupa-se em sublinhar como a sacralidade da vida tem seu fundamento em Deus e na sua ação criadora: ‘Porque Deus fez o homem à sua imagem’ (Gn 9,6) Portanto, a vida e a morte do homem estão nas mãos de Deus, em seu poder.”11

Diante da sua própria vida e da dos seus irmãos, não raramente o homem se apossa da liberdade

www.edicoesshalom.com.br 43

Page 44: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12EN

TR

ELIN

HA

S

44

Deixemos de “procurar entre os mortos aquele que vive.” (Lc 24,5). Ele dará sentido a tudo. Ele, que é a razão de tudo

Ressuscitar dos mortos?!? O que isso significa?!?

Page 45: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bril 2

012

EN

TR

ELIN

HA

S

45

Por que será que o ho-mem, que tem tanta dificuldade de aceitar a realidade inexorável

da morte, parece ter ainda maior dificuldade em acolher a ressur-reição dos mortos, a de Cristo e a sua própria? Não seria essa di-ficuldade uma contradição? Não seria de se esperar que, diante da morte inevitável, os seres humanos acolhessem aliviados o fato de que Cristo ressuscitou e, com Ele, todo homem também voltará à vida?

Essa postura é, de fato, contra-ditória, mas, infelizmente, não é novidade. Pedro, Tiago e João, os discípulos mais próximos de Jesus, que o haviam visto ressuscitar pelo menos a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim, não conseguiam entender o que seria ressuscitar dos mortos. Até para eles que, além dessas ressurreições, haviam visto Jesus em toda sua glória, o significado da ressurreição dos mortos permanecia oculto. Prova é que depois da transfiguração cochichavam entre si sobre o que seria “ser ressuscitado dentre os mortos” (cf. Mc 9,10).

Alguém poderia argumentar que a morte nós tocamos todos os dias. Notícias e imagens de corpos exangues e desfigurados, filmes de suicídio e assassinatos são exibidos fartamente na mídia. quanto à ressurreiçao dos mortos... bem, sobre ela alguns cristãos falam no domingo de Páscoa e, mesmo as-sim, em meio a metáforas hermé-ticas para a maioria dos ouvintes: vida nova, recomeço, conversão. Como se o homem de hoje e aque-le que só vai à Igreja no domingo de Páscoa soubessem o significado

exato dessas expressões. Espantoso que tendamos a restringir nosso testemunho da ressurreição de Je-sus e de todos os homens a alguns breves momentos da vida litúrgica! Não é a ressurreição de Cristo mistério central de nossa fé? Não cabe a nós testemunhar a certeza da vida eterna, plena, ressuscitada, feliz? Jesus mesmo não se declara o Deus de vivos?

O homem pós-moderno – nós, hoje! – teima em cometer dois er-ros: confiar mais em si mesmo do que em Deus e resumir sua noção de realidade ao que vê e prova cientificamente.

Para nós, a comprovaçao cien-tífica tornou-se sinônimo de re-alidade e – pasme! – de verdade! Como se realidade empírica e verdade fossem a mesma coisa! A maior parte de nós, na verdade, confunde o que se comprova em-piricamente com algo que é verda-deiro. Já aquilo que não se enqua-dra nas leis científicas descobertas até hoje, segundo muitos de nós, “não pode ser verdade!”, como a maioria exclama. O espantoso é que nessas ocasiões tendemos a nos esquecer de que a ciência supera a si mesma de forma contínua e cada vez mais acelerada. Muito do que hoje se afirma como “real” e “verdadeiro”, “mensurável” e “comprovado” pode ser ques-tionado logo amanhã por novos

padrões tão empíricos e científicos como seus predecessores, até bem pouco tidos como igualmente “mensuráveis, reais, comprovados e verdadeiros”.

Pois é. Tudo passa. Até mesmo a comprovaçao empírica do que teimamos em considerar “ver-dade” e “realidade”. Mas, dessa frágil efemeridade, quem deseja lembrar-se?

Duas realidades humanas ja-mais mudaram. Têm permanecido as mesmas desde o primeiro ho-mem: a morte – visível, palpável, inexorável, inevitável – e a ressur-reição dos mortos – invisível, in-tangível, mas igualmente inexorável e inevitável. A diferença crucial entre as duas é que a primeira é tangível e temível companheira de todos os dias, enquanto a segunda é intangível e desejável, mas tam-bém companheira de todos os dias. Creiamos ou não. Neste sentido, dizer que não se crê na ressurreiçao de Jesus e dos mortos equivaleria a dizer que não se crê na morte de Jesus e de todos os homens.

Teria, então, a dificuldade de Pedro, Tiago e João advindo uni-camente do fato de a ressurreição dos mortos ser invisível? O pior é que não! Os três haviam visto a ressurreição da filha de Jairo e, provavelmente, a do filho da viúva de Naim, assim como veriam a de

Maria Emmir Oquendo NogueiraCofundadora da Comunidade Católica Shalom

Como tem afirmado a Igreja, ao longo dos séculos, fé e razão nao se excluem. Pelo contrário,

se completam. A fé, entretanto, é superior à razão e a norteia, por definição e abrangência. A razão,

autêntico e necessário auxílio para a fé, traz em si os limites de

nossa humanidade

Page 46: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Sh

alo

m M

an

á | A

bri

l 20

12EN

TR

ELIN

HA

S

46

Lázaro. Em que, então, residia a dificuldade desses três mais pró-ximos a Jesus? haveria muito a discutir aqui. Detenho-me em um único aspecto: a excessiva confiança em si próprios.

O homem, todo homem, tende a crer que a realidade e a verdade se resumem ao seu pequeno mundo empírico e a seus esquemas mentais. Não é de admirar. Afinal, são raros os que têm humildade bastante para refletir e admitir que a realida-de e a verdade ultrapassem seu entendimento e conhecimento. Preferem, em orgulho e autossu-ficiência risíveis, adaptar a imensa realidade e a infinita verdade a seus parâmetros e compreensão. Pior! Confiam no que conse-guem controlar e loucamente negam o que escapa a seus parâ-metros estreitos.

Ora, a fé ultrapassa todos os esquemas de segurança pessoal e social que nossa cultura esta-beleceu. Naturalmente, como tem afirmado a Igreja, ao lon-go dos séculos, fé e razão não se excluem. Pelo contrário, se completam. A fé, entretanto, é superior à razão e a norteia, por definição e abrangência. A razão, autêntico e necessário auxílio para a fé, traz em si os limites de

nossa humanidade. A fé traz em si o ilimitado da “lógica divina”, tão superior à nossa como o céu da terra.

Pedro, Tiago e João tocaram por diversas veses a morte real e a ressurreição dos mortos. Ainda assim, não entenderam e só vieram a crer quando Jesus Ressuscitado os fez tocar suas chagas, mostrou-lhes que tinha músculos e ossos, afirmou que não era um fantasma e ainda por cima comeu com eles, como narram os Evangelhos. Cor-reto? Não! Absolutamente não foi isso que os fez crer. Ver músculos e ossos, comer com ressuscitados era experiência que os discípulos haviam tido, no mínimo uma vez, quando Jesus mandou dar de comer à filha ressuscitada de Jairo (cf. Mc 5,43) e quando, segundo João, se hospedaram na casa de Lázaro ressuscitado. A diferença é que Jesus Ressuscitado lhes co-municou o Espírito Santo e, com Ele, o dom da fé, que os fez crer na realidade que desafiava sua razão.

Fé é dom de Deus. Razão, também. Vida é dom de Deus. Ressurreição, também. A razão nos é dada sem que a peçamos. A fé também. Da mesma forma, a vida. Igualmente a ressurreição dos mortos. Todas são dom gratuito de Deus. Não as pedimos nem as

merecemos. Apenas as acolhemos com humildade ou rejeitamos com soberba. Se as acolhemos, nelas crescemos e em nós, com nossa colaboração, se desenvolvem, viscejam, dão frutos. Se as rejei-tamos, nos tornamos irracionais, fechados em nosso orgulho e pre-sunção e, literalmente, morremos. Morremos com nossa razão, nosso orgulho, nossa morte para a vida biológica, na qual depositamos tanta esperança. Rejeitar a vida e a razão é, literalmente, condenar-se à morte. O problema surgirá depois dela quando a ressurreição dos mortos, dom de Deus, nos será dada de qualquer forma, quer entendamos ou não, quer creiamos ou não, quer a peçamos ou não. Aí, de fato, teremos um problema vivencial e incontornável.

Com humildade, portanto, deixemos de confiar tanto em nós mesmos e em nossos pró-prios parâmetros, sempre estreitos diante dos de Deus. Assim como pedimos constantemente o dom da vida em suas manifestaçoes de saúde, crescimento, realizações e progressos, peçamos constan-temente o dom da fé em suas manifestações de amor-caridade, humildade e confiança em Deus.

Para nossa própria felicidade, não pretendamos entender, como tentaram Pedro, Tiago e João, o significado da ressurreição dos mortos. Especialmente, porque significa exatamente o que a ex-pressão diz: estar morto e voltar a viver com o mesmo corpo, só que de forma imperecível, sadia, gloriosa. Peçamos, com humilda-de, que o Senhor aumente nossa fé e deixemos de “procurar entre os mortos aquele que vive.” (Lc 24,5). Ele dará sentido a tudo. Ele, que é a razão de tudo.

“Fé é dom de Deus. Razão, também. Vida é dom de Deus. Ressurreição,

também. A razão nos é dada sem que a peçamos. A fé também. Da mesma

forma, a vida. Igualmente a ressurreição dos mortos. Todas são dom gratuito

de Deus. Não as pedimos nem as merecemos. Apenas as acolhemos com humildade ou rejeitamos com soberba”

Page 47: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Evangelizar, Evangelizar,uma revista para você

EVANGELIZAR.

Faça sua assinatura e leve de brinde o CD Halleluya Hits, com as músicas que mais

fizeram sucesso no Festival Halleluya. Músicas de Missionário Shalom, Davidson Silva, Suely

Façanha e muito mais.

Super PROMOÇÃO para assinantes!

Ligue:

(85) 3308.7403 | 3308.7415Acesse nossa Loja Web:

www.edicoesshalom.com.br

Imagens meramente ilustrativas. Promoção não cumulativa e válida enquanto durar o estoque.

Aproveite essa oferta especial.

Muito mais economia!

Assinatura anual com 12 edições

no cartão de crédito Visa ou MasterCardPreço à vista R$ 88,00

Por apenas

3xR$ 29,

33

Acesse nossa Loja Web:

www.edicoesshalom.com.brou ligue: (85) 3308.7403 | 3308.7415

A Liturgia do dia todo mês na sua casa.A Liturgia Pão da Vida traz os ritos

da missa, suas leituras e orações. Aproveite ainda os textos com reflexões do Frei Patrício Sciadini, ocd.

R$ 27,50A P E N A S

no cartão de crédito Visa ou MasterCard

Assinatura anual com 12 edições.

Preço à vista R$ 55,00

2x

Imagens meramente ilustrativas. Promoção não cumulativa e válida enquanto durar o estoque.

Não perca esta promoção. Frete Grátis para todo o Brasil

Faça sua assinatura e ganhe o CD Halleluya Hits, com os maiores sucessos do Festival

Halleluya para dançar e louvar. Músicas de Missionário Shalom, Davidson Silva, Suely

Façanha e muito mais.

A S S I N E A G O R A.

Page 48: Revista Shalom - Maná - Abril2012

Agora voce pode evangelizar com as Ediçoes Shalom!

Através do Shalom Porta a Porta, você revende nossos produtos, ganha um dinheiro extra e se torna um Anunciador da Paz!

Informações: (85) 3308.7402 / [email protected]

^

~