revista semestral ircula - sbcec.com.br · livre e para título de especialista: somados, 24...

36
REVISTA SEMESTRAL SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA IRCULANDO 1º SEMESTRE 2018 - EDIÇÃO Nº 35 SBCEC SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA Normas Brasileiras para o exercício da Especialidade de Perfusionista em Circulação Extracorpórea HOMENAGEM ESPECIAL Preparamos uma singela homenagem para nossa eterna "mãe de profissão". ACOMPANHE A MATÉRIA NA ÍNTEGRA - PÁGINA 14

Upload: phungnga

Post on 23-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

R E V I S TA S E M E S T R A L

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

IRCULANDO1º SEMESTRE 2018 - EDIÇÃO Nº 35

SBCECSOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

Normas Brasileiras para o exercício da Especialidade de Perfusionista em Circulação Extracorpórea

HOMENAGEMESPECIALPreparamos uma singela homenagem para nossa eterna "mãe de profissão".

ACOMPANHE A MATÉRIANA ÍNTEGRA - PÁGINA 14

Espaço reservado para o seu anúncio. Fale conosco e saiba como!

DESTAQUESEU NEGÓCIO

SEJA UM APOIADOR E PARCEIRO DA SBCEC NOS PROJETOS:Recircular, Redes Sociais, Site, Revista Circulando e Congresso

Brasileiro de Circulação Extracorpórea. Juntos estamos fazendo história.

QUEM É VISTO, SEMPRE É LEMBRADO!

(19) 3242-5748 - [email protected]

PREFÁCIO

A Revista Circulando é uma publicação exclusiva da SBCEC - Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea.

É proibida a reprodução total ou parcialsem autorização por escrita dos responsáveis.

Todos os direitos reservados.

PALAVRA DO NOSSO

EDITOR CHEFE

Prezados Perfusionistas,

É com enorme satisfação que publicamos a 35ª Edição da Revista Circulando.

Esta edição enaltece os avanços da classe embasados nas recentes conquistas da Perfusão no Brasil.

A Perfusão vem ganhando cada vez mais forma, e sua importância é destaque na saúde do país.

E para que consigamos celebrar a conquista dos objetivos, basta persistirmos.

Juntos Somos Mais Fortes!!

IRCULANDOR E V I S TA S E M E S T R A L

ÉLIO BARRETO DE CARVALHO FILHOPRESIDENTE SBCEC

Biomédico Perfusionista

―EXPEDIENTE

Editores: Élio Barreto de Carvalho Filho e

Raquel Christine Krüger Miranda

Diagramação: Alvares Design

Revisão: Cláudia Razzante

Impressão: IGC - indústria Grá�ca Campinas

Contatos: Rua Jardel Frederico de Bôscolli, 110

Vila Teixeira - Campinas - SP - CEP 13034-440

(19) 3242-5748 - [email protected]

A Revista Circulando é uma publicação exclusiva da SBCEC - Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea.

É proibida a reprodução total ou parcialsem autorização por escrita dos responsáveis.

Todos os direitos reservados.

06 CONGRESSO REALIZADONos dias 20, 21 e 22 de abril de 2017 aconteceu o 35º Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea, no Rio de Janeiro.

08ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA E NOVA DIRETORIAConvocamos a todos os associados para a Assembleia Geral Ordinária da Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea – SBCEC.

ÍNDICE

11 PLATAFORMA DE RECADASTRAMENTO ONLINELançada no mês de janeiro visa, RECADASTRAR seus sócios para atualização de dados no novo sistema da Sociedade – iCEC. É gratuito!

12NORMAS BRASILEIRASNormas para o exercício da Especialidade de Perfusionista em Circulação Extracorpórea.

14 HOMENAGEM ESPECIALPreparamos uma singela homenagem para nossa eterna "mãe de pro�ssão".

16ONDE TUDO COMEÇOU‘’Nós, Maria Helena e eu, nos conhecemos no início dos anos setenta, do século vinte...’’ - Um pouco sobre a história da perfusão no Brasil.

20 TÍTULOS DE ESPECIALISTA E NOVOS TITULADOSApós apresentação do trabalho cientí�co, o Brasil possui novos Perfusionistas Titulados pela SBCEC.

24ÁREA CIENTÍFICACon�ra alguns dos melhores trabalhos de 2017 do Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea.

CONGRESSO REALIZADO

Nos dias 20, 21 e 22 de abril de 2017 aconteceu o 35º Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea, no Rio de Janeiro.O Congresso teve seu recorde de inscritos dos últimos 10 anos. Entre inscritos, candidatos para prova e stands, mais de 160 profissionais reuniram-se para discutir sobre ciência e a Perfusão no Brasil. Tivemos recorde de inscrição de trabalhos tema livre e para Título de Especialista: somados, 24 trabalhos enriqueceram nossa sessão científica, trazendo a visão dos profissionais e acadêmicos que se apaixonaram pela área da Perfusão.

06 s b c e c . c o m . b r

O Congresso SBCEC 2017 foi cheio de emoção. A palestra de abertura era por si só, uma honraria ganha pela SBCEC e por todos os presentes. Mas acabou se tornando mais do que isso. A nossa querida Profª. Maria Helena, eterna matriarca da Perfusão no Brasil, nos conferiu a sua última palestra. Sim, ela encerrava seu ciclo de palestras na sua cidade natal, perante seu público mais �el: os perfusionistas. Maria Helena falou do início, das di�culdades e da evolução. No �m, nos deixou a mensagem que deve ser repetida como um mantra: “O que devemos fazer para ter sucesso na perfusão? Estudem, estudem. Não parem de estudar.”

Este evento também marcou pela coragem da comissão organizadora de colocar em discussão temas de regulação da especialidade e até temas delicados, como as formas de remuneração do pro�ssional. Ouvir a diversidade de como o perfusionista é tratado só reforçou a necessidade de união e de normas para uni�car o tratamento de uma especialidade tão importante.

No �m, uma emocionante surpresa do Perfusionista Tonimar Monteiro, de Vitória – ES. Um vídeo com fotos de inúmeros perfusionistas, com a trilha sonora de “Trem-Bala”, evidenciando o bem maior de todos estes pro�ssionais: a família e o trabalho. Todos estes pro�ssionais abdicam de momentos familiares em prol da vida. E ao mesmo tempo, fazem tudo para a família. Foi inesquecível!!

―REGISTROS EM FOCO

—C O N G R E S S O

Participantes com a Profª. Maria Helena e Dr. Décio Elias.

—F O T O F I N A L

35º Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea.

—P Ú B L I C O

Inscritos do 35º Congresso. Palestra com a Profª. Maria Helena.

—A B E R T U R A

CONVOCAÇÃO08 s b c e c . c o m . b r

Assembleia Geral Ordinária da SBCECConvocamos todos os associados para a Assembleia Geral Ordinária da Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea – SBCEC a comparecerem no dia 20 de abril de 2018, às 16h30 em primeira chamada e 17h00 em segunda chamada, durante o XXXVI Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea, que será realizado no Centro de Convenções Goiânia, situado à Rua 4, nº 1.400 – Setor Central - Goiânia, Goiás, para deliberarem sobre as seguintes ordens do dia, listadas abaixo:

FINANÇASLEITURA E APROVAÇÃO Ata da Assembleia Geral

Ordinária de 2017Relatório Financeiro

da SBCEC 2017

EDUCAÇÃOATIVIDADESRelatório das Atividades

da SBCEC 2017Aprovação do Código

de Conduta e Boas Práticas

DIRETORIA SBCEC

REVISTA SBCEC

ELEIÇÃO DANOVA DIRETORIA

SBCECSOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

Biênio 2017-2018Durante Assembleia ordinária, foi eleita a nova diretoria da SBCEC.

Élio Barreto de Carvalho FilhoPRESIDENTE

Fábio Murilo CostaVICE-PRESIDENTE

Alexsandro R. Oliveira1º SECRETÁRIO

Cidenir B. dos Santos2º SECRETÁRIO

Vanusa Barros2º TESOUREIRA

Tonimar MonteiroMEMBRO DOCONSELHO FISCAL

Renata Geron

Willian Duarte MachadoDIRETOR DO CONSELHO CIENTÍFICO

Jonas SantosMEMBRO DOCONSELHO FISCAL

Raquel Krüger Miranda

Andrelise Maria NicolettiMEMBRO DO CONSELHO FISCAL

Sintya Tertuliano ChalegreDIRETORA DO CONSELHO CIENTÍFICO

Márcio Roberto do Carmo1º TESOUREIRO

Elzilene FigueiraMEMBRO DOCONSELHO FISCAL

Eclair Santos BorbaMEMBRO DOCONSELHO FISCAL

Daiane HuppesMEMBRO DOCONSELHO FISCAL

MEMBRO DOCONSELHO FISCAL

MEMBRO DOCONSELHO FISCAL

A S S E M B L E I A O R D I N Á R I A 2 0 1 7

FORAM DESTACADOS ABAIXOOS PRINCIPAIS PONTOS DEFINIDOS

R E S U L T A D O

Discutimos as Normas Brasileiras de Perfusão e pontos para reformar o Estatuto.

ASSUNTOIMPORTANTE

‘’Todas as medidas tomadas,mudanças e novas regras visamsomente o crescimento e o pro�ssionalismo da Perfusãono Brasil, além de proporcionarbenefício para todos os associados’ da SBCEC’’

10 s b c e c . c o m . b r

PUNIÇÃO PARA TITULADOS QUE COMETEREM INFRAÇÕESFoi de�nido que perfusionistas �agrados em ações condenáveis pela SBCEC, como por exemplo treinar pro�ssionais sem curso superior, sofrerão advertência e em caso de recidivas, perderão o Título de Especialista e serão expulsos da SBCEC, como prevê o estatuto.

VALIDAÇÃO DO TÍTULO DE ESPECIALISTAOs sócios Titulados terão que, a partir de 2018, revalidarem seu Título de Especialista. Assim como já acontece com a Sociedade Americana de Perfusão e com a SBCCV, a SBCEC aprovou uma tabela de pontuação para validar seu Título de Especialista a cada 4 anos. Todo o processo será feito pelo sistema iCEC, a partir de Janeiro/2018. O titulado que não proceder com a revalidação no prazo perde o Título, tendo que realizar o processo completo de prova e apresentação de trabalho se desejar obtê-lo novamente.

NOVA ANUIDADEA partir de 2018, a anuidade da SBCEC será R$200,00 reais. Todo pro�ssional que pagar até o dia 31 de março de cada ano terá desconto de 25%, pagando R$150,00 reais. Foi acordado como política desta diretoria que os valores atrasados serão cobrados da seguinte maneira: até 2017 o valor anual é de R$100,00, e somente a partir de 2018, R$200,00. Esta maneira representa o esforço da diretoria em ter todos os perfusionistas juntos com a SBCEC.

L A N Ç A M E N T O

A o plano de . A Diretoria convoca todos os SBCEC lançou no mês de janeiro RECADASTRAMENTOseus sócios para fazer seu recadastramento e atualizar seus dados no novo sistema da Sociedade – iCEC. É gratuito, é rápido!

Acesse o link no site da SBCEC (www.sbcec.com.br). No primeiro acesso do iCEC solicite nova senha. Você receberá sua senha no seu e-mail cadastrado na SBCEC. Caso não receba, envie um e-mail para [email protected] com seu nome, CPF, telefone e e-mail atual para que seja atualizado. Você receberá a senha nova e poderá fazer o primeiro acesso.

É fundamental que todos os perfusionistas façam a atualização do cadastro para que possamos fazer levantamentos corretos da ação do pro�ssional no país. Contamos com a colaboração de todos.

REVISTA SBCEC

Recadastramento dos Sócios

12 s b c e c . c o m . b r

NORMAS BRASILEIRASpara o exercício da Especialidade de Perfusionista em Circulação Extracorpórea

Dia 7 de setembro de 2017 tornou-se um marco na história da Perfusão no Brasil. Nesta data, a SBCEC publicou as Normas Brasileiras para o Exercício da Especialidade de Perfusionista em Circulação Extracorpórea.

Este documento rege tudo o que envolve a atuação e a formação do pro�ssional perfusio-nista. Foram mais de 18 meses trabalhando em parceria com a SBCCV, em uma equipe de mais de 25 pro�ssionais para chegarmos a tão sonhada normativa: Normas Brasileiras de Perfusão.

Os principais pontos desta Normativa são os conceitos do que é ser Perfusionista e do procedimento de Circulação Extracorpórea. Parece óbvio, mas quando temos normas estabelecendo regras, devemos iniciar do básico.

Isto não é lógico, como podemos imaginar. Temos uma variedade enorme de pro�ssionais que atuam como perfusionistas no Brasil. E nem todos capacitados para tal.

Por isso, um dos desa�os foi estabelecer qual seria a melhor formação para a função. Por isso, a SBCEC estudou as pro�ssões que reconhecem a perfusão como especialidade e quais estão em maior número atuando. Chegou-se a 5 pro�ssões – Biologia, Biomedicina, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia.

Mas não bastava apenas estabelecer as pro�ssões. A formação destes pro�ssionais tem que ser adequada. Estabeleceu-se o conceito de Centros Formadores. Para ser perfusionista é necessário que o pro�ssional seja formado em uma destas áreas descritas acima e faça um curso com carga horária mínima estabelecida, podendo ser curso de pós-graduação ou de extensão, devendo este último ser reconhecido pela SBCEC/SBCCV.

As Normas Brasileiras para o exercício da Especialidade de Perfusionista em Circulação Extracorpórea são o primeiro passo para um novo momento da Perfusão no Brasil. Uma era de quali�cação, valorização pro�ssional e de organização.

Os principais pontos desta Normativa são os conceitos do que é ser Perfusionista e do procedimento de Circulação Extracorpórea.

CONGRESSO BRASILEIRODE CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

Ciência e Inovação

836 45º Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular

É com enorme prazer que convidamos a todos para o 36º Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea que acontecerá em Goiânia, em abril de 2018.

O maior evento de Circulação Extracorpórea do Brasil irá proporcionar discussões, atualizações, hands-on com os melhores pro�ssionais do país. Estamos passando por inúmeras mudanças e com um crescimento vertiginoso nos últimos anos. Não percam esta fantástica chance de atualização.

No último ano batemos todos os recordes de inscritos, e em 2018 não será diferente. Contamos com vocês para a realização de mais um grande evento. Sejam bem-vindos ao mundo da Perfusão!!

Élio Barreto de Carvalho FilhoPresidente da SBCEC

ACESSE WWW.SBCEC.COM.BR OU LIGUE (19) 3242-5748

CATEGORIASInscrição não-sócio e sócio inadimplenteSócios SBCEC AdimplentesSócios ABBM Adimplentes*Estudantes de perfusão de entidades credenciadas*Estudantes de graduação*

*Alunos devem enviar comprovante de matrícula do semestre.* Sócios ABBM devem enviar o comprovante de pagamento da anuidade do ano corrente.

10/01 a 10/02/18

11/02 a 10/03/18

11/03 a 10/04/18 LOCAL

R$ 450,00 R$ 550,00 R$ 650,00 R$ 750,00R$ 250,00 R$ 350,00 R$ 450,00 R$ 550,00R$ 300,00 R$ 400,00 R$ 500,00 R$ 600,00R$ 300,00 R$ 400,00 R$ 500,00 R$ 600,00R$ 150,00 R$ 200,00 R$ 250,00 R$ 300,00

PARA MAIS INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES

NOSSALena!

14 s b c e c . c o m . b r

Homenagempara Maria Helena Dia 23 de junho de 2017 foi marcado por uma triste notícia que deixou os corações de muitos perfusionistas mais apertados: o falecimento da nossa mentora, a Profª. Maria Helena Leal de Souza.

Por isso, nesta primeira edição após esta notícia, preparamos uma singela homenagem para nossa eterna “mãe de profissão”.

Trazemos três textos de que evidenciarão, por visões diferentes, quem foi e continuará sendo, a Professora Maria Helena.

despedidaemocionante

Um legado de vida e profissionalismoque vai ficar para a história

Professora Maria Helena, assim como a chamo. A conheci, pessoalmente, apenas no Congresso Latino Americano organizado no Brasil, em Campinas, no ano de 2016. Naquela oportuni-dade ainda me foi dada a honra de homenageá-la. Como vice-presidente da SBCEC na época, tive a honra de entregar a ela uma placa de agradecimento por tudo que ela fez pela SBCEC e pela classe dos per fusionistas. Para um apaixonado pelo que faz como eu, estar naquele palco, com mestres, pessoas admiráveis, e homenageando minha professora que só conhecia pelo livro, era motivo de espasmos musculares. Acho que tremia mais que a própria homenageada.

E como se não bastasse, tive o privilégio de trocar algumas palavras com o Dr. Décio, companheiro inseparável de Maria Helena. E em uma conversa gostosa, daquelas que só ouvimos, querendo sugar e aprender tudo e mais um pouco daquele casal, transcrevo o momento singelo de um fã:

Dr. Décio: Élio, sabe quem fez a logo da SBCEC?

Eu: O senhor?

Dr. Décio: Rabisquei a logomarca com Maria Helena.

Eu: E o senhor sabe quem a modernizou?

Dr. Décio: Você? (os risos se fizeram junto com um aperto de mão)

Eu: O senhor gostou?

A resposta ecoa como música aos meus ouvidos até hoje, lembrando do sorriso de Maria Helena ao lado.

Pro fe s s o r a M a r i a H e l e n a re p re s e n t a o pioneirismo da Perfusão no Brasil, a excelência da técnica, o perfeccionismo do trabalho, e a incansável necessidade de querer evoluir.

Em 2017, tive o privilégio de estar presente na sua última palestra. E a mensagem que, mesmo antes de a conhecer, ela sempre me passou, levo comigo e repasso a todos meus alunos: “estudem, estudem e estudem. O Estudo transforma. ”

M. Helena teve uma importância imensurável no Brasil, e no mundo, quando se trata de Perfusão. Não precisava saber disso para ela ter essa dimensão em mim. Se me pedissem para definir esta mulher, fico com a palavra que representa uma dádiva divina e o maior sinal de respeito, m a i o r q u e q u a l q u e r t í t u l o, p a r a m i m : PROFESSORA.

Obrigado por tudo, querida Professora Maria Helena.

Élio Barreto de Carvalho FilhoPresidente da SBCEC

MINHAPROFESSORApelo Presidente da SBCEC

REVISTA SBCEC

ASSIM TUDO COMEÇOU

Nós, Maria Helena e eu, nos conhecemos no início dos anos setenta do século vinte. Jovens, cheios de anseios e projetos, com ideias semelhantes e em busca de solidez pessoal e pro�ssional. Eu, recém-chegado de um treinamento em cirurgia cardiovascular em Chicago e Maria Helena, chefe do Departamento de Recursos Humanos de um hospital em Copacabana, no Rio de Janeiro. Eu à procura de alguém quali�cado para ocupar uma vaga de perfusionista; ela em busca de alguma atividade na área da saúde, que desde sempre a fascinou. Decidiu experimentar um treinamento em circulação extracorpórea para testar sua adaptação.

Iniciou seus estudos no antigo Hospital Pedro Ernesto. Em três meses, Maria Helena - sem qualquer conhecimento prévio de centro cirúrgico, esterilização ou técnica operatória - estava pronta para auxiliar a perfusão. Aos seis meses de treinamento foi aprovada para o trabalho “solo” que desde então exerceu com sobras de inteligência, dedicação, correção, perfeccionismo, muita competência e responsabilidade.

Ao longo do tempo tornou-se uma referência em tecnologia extracorpórea graças à dedicação, entusiasmo e visão de longo prazo. Sua capacidade de trabalho, dinamismo, elevado nível de informação e conhecimento, experiência e pedagogia inata, logo a impulsionaram a um papel de liderança no seio da comunidade nacional de perfusionistas com vários viéses internacionais na América Latina, Europa e América do Norte. Foi honrada pelo convite da diretoria da sociedade norte americana de tecnologia extracorpórea (AmSECT ) para ocupar o cargo de Secretária Geral da primeira organização internacional de perfusão, o hoje extinto International Council of Perfusion Societies (ICPS) com sedes na França, Inglaterra, Estados Unidos e Brasil que, infelizmente, foi criado à frente do seu tempo, numa visão futurista da globalização, hoje em curso acelerado.

Maria Helena iniciou-se em perfusão na fase que antecedeu os descartáveis. Isso quer dizer que, quase mensalmente, íamos do Rio de Janeiro a Campinas, até a fábrica Tuboplastic, onde enchíamos a mala e o banco traseiro do nosso

16 s b c e c . c o m . b r

por Decio O. Elias

Chevette com tubos de tygon dos vários diâmetros necessários, cuidadosamente fabricados e comercializados para a cirurgia cardíaca.

Era uma área de atrito permanente com o pessoal do centro cirúrgico a ocupação de parte do lavabo com muitos metros de tubos sendo lavados, bloqueando parte das torneiras por cinco horas, seguidas pela secagem com jato contínuo de oxigênio e esterilização por autoclave nas famosas “formas de pizza”. O preparo dos oxigenadores reusáveis, tubos e conectores para a circulação extracorpórea era um procedimento muito mais complexo, trabalhoso e demorado que a perfusão propriamente dita. Mas não havia di�culda-des, dia ou hora da semana. Casos de emergência ou reoperações nos �zeram perder, como ocorre comumente em nossa área de trabalho, incontáveis ingressos para teatros, convites para festas, formaturas ou jantares. Quando necessário, nas emergências extremas, Maria Helena servia como instrumentadora.

Há nas aulas, cursos, artigos e livros preparados por Maria Helena, numerosas contribuições pessoais introduzidas na condução e monitorização da circulação extracorpórea. Ressalto a atenção especial que dedicava ao controle das temperaturas das crianças. Lena – como os mais íntimos a chamavam – usava sempre um monitor de temperaturas de cinco canais, com os quais monitorizava as temperaturas da nasofaringe, reto, sangue arterial, sangue venoso e água do permutador térmico. Conhecia como ninguém o comportamento das temperaturas durante a CEC. Uma vez, Lena alertou a equipe cirúrgica para a presença de uma 'PCA calibrosa', quando essa lesão não fazia parte do diagnóstico pré-operatório de uma cardiopatia complexa.

Ela observou di�culdades em baixar a temperatura retal, apesar do aumento do �uxo de perfusão e do uso de vasodilatadores, enquanto as temperaturas do nasofaringe e do sangue venoso caiam mais rapidamente e a saturação do sangue venoso se mantinha mais alta que o habitual. O sangue arterial, desviado pelo canal arterial, não perfundia adequadamente a metade inferior do corpo do bebê. A correção da PCA normalizou as temperaturas rapidamente. Lena difundiu essa observação em vários Congressos de que participou.

A rígida rotina autoimposta por Maria Helena serviu, algumas vezes, de elemento de segurança adicional aos procedimentos realizados, identi�cando canulações restritivas ou inadequadas, a presença de canal arterial patente e/ou coarctação da aorta associados a cardiopatias complexas em recém natos.

O livro “Fundamentos da Circulação Extracorpórea”, que Maria Helena preparou e organizou durante anos até a sua primeira publicação, contém – na realidade - o relato das longas anotações e descrições catalogadas durante um longo período de prática e estudos. Minha colaboração restringiu-se à descrição dos aspectos cirúrgicos e revisão do texto �nal. Esse livro é um bom exemplo do que foi a nossa associação pro�ssional.

Nossa vida conjugal não foi muito diferente. Somos ligados por um amor que extrapola as noções de tempo e espaço. A todo instante Maria Helena foi a companheira afável, carinhosa, dedicada e exemplar. Excelente e incomparável esposa, mãe, �lha, avó e mulher. Tinha como principais missões de vida, ajudar ao próximo e fazer amigos em qualquer circunstância ou lugar. Cumpriu-as com sobras, vitoriosa e galhardamente.

18 s b c e c . c o m . b r

REVISTA SBCEC

Conhecemos muitas pessoas ao longo de nossas vidas e não fazemos ideia se terão ou não importância para nós. Algumas desenvolvemos laços afetivos fortes e passam a ter grande importância em nossas vidas. Outras pessoas vêm para nós como modelos, a quem nos afeiçoamos e buscamos seguir seus exemplos. Tenho um vasto laço afetivo com muitos amigos e tive grandes modelos que me inspiraram a seguir adiante e me tornar quem eu sou. Sou também fruto destas in�uências.

Conheci Maria Helena de Souza em 1992 no Iº Congresso Latino-Americano de Tecnologia Extracorpórea que aconteceu em São Paulo. Foi um contato breve, onde eu era um ilustre desconhecido, recém iniciado na Perfusão da Unicamp, e Maria Helena estava coordenando este evento. No Congresso Brasileiro do ano seguinte tornei a encontrá-la e uma admiração pelo seu trabalho começou a crescer em mim. No ano seguinte, em 1994, Maria Helena e Décio, seu esposo, apresentaram no Congresso da SBCEC o livro: Fundamentos da Circulação Extracorpórea. Neste congresso intensi�quei meu contato com Maria Helena e trocamos ideias de projetos para a Perfusão, tanto no Brasil como na América Latina. Gradualmente, fui me envolvendo com o trabalho da SBCEC e recebi o convite de Maria Helena para ser um representante do Conselho Latino-Americano no Brasil. Convite este que me honrou muito em aceitar.

Maria Helena formou-se em Música pelo Conservatório Brasileiro de Música, com grau de maestrina e formação completa em piano. Sempre gostou da área da saúde, mas foi impedida pelo pai de estudar para esta área. Casou-se com Décio Elias que era cirurgião cardíaco e

iniciou seus estudos com os livros de cirurgia cardíaca do esposo. Desenvolveu conhecimento e habilidade na Perfusão e percebeu desde muito cedo a necessidade de organizar a pro�ssão.

Aproveitou da vivência com Décio nos EUA e fez grande contato com a Sociedade Americana de Per fusão AmSECT, onde adquiriu direitos em publicar no Brasil muitos textos e material produzido por aquela Sociedade. Fez parte da diretoria do Conselho internacional de Sociedades de Perfusão e recebeu a incumbência de organizar a Perfusão na América Latina. Foi presidente da SBCEC por 14 anos consecutivos, sendo conduzida ao cargo por indicação de Assembleias a cada 2 anos. Foi presidente do CLAP (Conselho Latino-Americano de Perfusão) por longo tempo e buscou dentre os perfusionistas brasileiros pessoas que pudessem continuar seu trabalho junto a este Conselho. Tive o grande prazer e honra de ter sido escolhido para ocupar este lugar.

Maria Helena e Décio também criaram o site “Perfusion Line”, que foi, por décadas, a maior referência eletrônica em Perfusão para o Brasil e toda a América Latina.

Poderia me estender e detalhar muito mais do trabalho desenvolvido por esta mulher em prol da Per fusão. Tenho comigo que Maria Helena foi o maior nome que tivemos no Brasil na Perfusão. Mulher que soube inspirar o pensamento crítico, a capacitação, a organização de pro�ssionais em classe e o fortalecimento para colocar a Perfusão no lugar merecido.

Creio que Maria Helena foi para mim uma grande inspiração! Alguém em que pude me espelhar e saber que também poderia contribuir com meu esforço e empenho para ajudar a construir nossa pro�ssão.

por Nilson Antunes

MAIS UMA NOVIDADE

A SBCEC lançará no 36º Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea o Projeto Recircular - educação continuada. Um desejo de anos de muitos perfusionistas, e um projeto que é prioridade da atual diretoria da SBCEC. Será um divisor de águas da Perfusão no Brasil e da relação sócio - SBCEC. Já temos um calendário para 2018!!! Em breve mais detalhes!!!!!"

Primeiro CursoControle e Qualidade da Circulação Extracorpórea - Aulas Teóricas

DURAÇÃO

1 DIA8h certi�cadas

DATA

AGOSTOde 2018

LOCAL

SÃO PAULOcapital

1ºSegundo Curso

Terceiro Curso

ECMO para Perfusionistas - Teoria e Prática

ECMO para Perfusionistas - Teoria e Prática

DURAÇÃO

1 DIA8h certi�cadas

DURAÇÃO

1 DIA8h certi�cadas

DATA

SETEMBROde 2018

DATA

NOVEMBROde 2018

LOCAL

SÃO PAULOcapital

LOCAL

PORTO ALEGRERio Grande do Sul

Projeto de Educação Continuada

CURSOS DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

Entrega dos Títulos de

C E R I M Ô N I A

ESPECIALISTA

Ana Paula recebendo o prêmio de melhor trabalho do Congresso

Sintya Challegre e Raquel Miranda

Andrelise recebendo o prêmio de melhor trabalho do Congresso

Rebeca Sampaio recendo o prêmio de melhor trabalho do Congresso

Alana Michele e a Presidente Sintya Challegre Rafaela Mourão recebendo Título de Especialista Damaris Vieira recendo o Título de Especialista

Sintya Chalegre e Juliana Provenciato Wiliane Resende recebendo o Título de Especialista Sintya Challegre e Alexsandro Oliveira

Novos titulados da

C O N F I R A A L I S T A

SBCECEm 2017, após apresentação do trabalho cientí�co, último pré-requisito para obtenção do Título de Especialista, o Brasil possui novos Perfusionistas Titulados pela SBCEC. São eles:

1. Autor: Alexsandro Rodrigues de OliveiraTrabalho: Padronização de Serviço de Circulação Extracorpórea em Cirurgia Cardíaca Adulto e Pediátrica

2. Autor: Damaris Vieira Braga CarvalhoTrabalho: Novas práticas na circulação extracorpórea. O uso da del Nido Cardioplegia

3. Autor: Raquel Christine Kruger MirandaTrabalho: Cuidados na Circulação Extracorpórea (CEC) de Pacientes com Doença Falciforme submetidos à Cirurgia Cardíaca.

4.Autor: Daniela PavãoTrabalho: Relato de Caso: Utilização de Circuito Híbrido de ECMO como ponte para o tratamento.

5.Autor: Juliana Martins ProvenciatoTrabalho: Complicações que podem ocorrer no pós-operatório de cirurgia cardiovascular com circulação extracorpórea

6.Autor: Rafaela Mourão Redon Fernandes Casa NovaTrabalho: Checklist na Assistência Circulatória Mecânica: Uma ferramenta para Cirurgia Segura

7.Autor: Alana Michele Da Rocha MeloTrabalho: Uso de Membrana de Oxigenação Extracorpórea em caso de pós-transplante como ponte para recuperação

8.Autor: Wiliane Resende SousaTrabalho: Protocolo De Circulação Extracorpórea Utilizado Na Instalação E Manutenção de Um Dispositivo De Assistência Biventricular –Estudo De Caso.

Parabéns a estes pro�ssionais que se tornaram parte de um universo restrito: àqueles que possuem um selo de qualidade da Perfusão. Agora vocês são TITULADOS! Parabéns!

—C A N D I DATO S A P R O VA D O S

Pro v a d e T í t u l o2 0 1 7

Ordem por classi�cação:

1. Juliana Berendonk Leitão2. Heloíse Kozenko de Almeida3. Marília Ferreira Abrantes4. Fernando Oliveira e Sales Cyrino5. Karine Moreira Rulka6. Márcia Villanova Brasil7. Maria Marta Helena Corrêa

Os aprovados possuem 24 meses para apresentar um trabalho no Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea e/ou apresentar à SBCEC um artigo publicado em revista indexada sobre o tema neste período.

21s b c e c . c o m . b r

T R A B A L H O S P R E M I A D O S

35º Congresso

DESTAQUE

Título: Extracorporeal Membrane Oxigenation (ECMO): Uma revisão sistemática de literatura sobre suas principais complicações.Autor: Andrelise Maria Nicoletti, Claudia Zamberlan.

22 s b c e c . c o m . b r

BRASILEIRO DA SBCEC

Melhor Trabalho de Revisão Sistemática: Prêmio Maria Helena Souza

Titulo: Gestante submetida à correção de disfunção de bioprótese mitral com circulação extracorpórea em caráter de urgência: relato de casoAutor: Rebeca Sampaio Góes Cavalcante; Carlos Manuel de Almeida Brandão, Elligton Veronese, Pablo Maria Alberto Pomerantzeff, Alfredo Inácio Fiorelli, Fábio Biscegli Jatene.

Melhor Trabalho Relato de Caso: Prêmio Otoni Moreira Gomes

Título: Cirurgia Cardíaca Fetal: mini circuito de Circulação Extracorpórea em fetos ovinos.Autor: Ana Paula Noronha, Renato S. Assad, Petronio G. Thomaz, Marcelo Guedes, Fernando Zanoni, Ana Cristina Aliman, Marcelo Vaidotas, Giuliano P. da Silva, Marcelo B. Jatene, Alfredo I. Fiorelli, Fábio B. Jatene, Luiz Felipe P. Moreira.

Melhor Trabalho Experimental: Prêmio Domingo Marcolino Braile

23 s b c e c . c o m . b r

EVENTOS APOIADOS

O QUE ACONTECEU1º Simpósio Multidisciplinar de Qualidade e Segurança do Paciente Cirúrgico

nd2 Children’s Heartlink International Meeting in Brazil. From theory to practice: Perfusion

FIQUE POR DENTRO DO QUE ESTÁ POR VIR...

Confira alguns dos melhores trabalhos de 2017 do Congresso Brasileiro de Circulação Extracorpórea

01

ÁREACIENTÍFICA

25s b c e c . c o m . b r

BASES PARA ELABORAÇÃO DE CHECKLIST EM CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

Autora: Andrelise Maria Nicoletti

RESUMOO presente estudo visa identi�car os principais fatores desencadeantes de eventos adversos em circulação extracorpórea durante as cirurgias cardiovasculares, bem como a elaboração de um checklist no processo de implantação de cirurgia segura nesta especialidade. Con�gura-se como uma revisão narrativa de literatura constituída de referências cientí�cas nacionais e internacionais. Foram selecionadas doze referências entre 2007 a 2015. Evidenciou-se que o desenvolvimento da cirurgia cardiovas-cular é baseado no progresso da circulação extracorpórea. Os eventos adversos na circulação extracorpórea durante o procedimen-to cirúrgico podem ocasionar complicação grave e/ou irreversível ao paciente. Nesse sentido, foi elaborado um checklist em prol da cultura de segurança em ambiente cirúrgico. Conclui-se que os estudos nessa área ainda são limitados, todavia, tornou-se perceptível que a implantação de checklist direcionado pode contribuir para a consolidação da segurança do paciente durante as cirurgias cardiovasculares com uso de circulação extracorpórea.

Descritores: Circulação Extracorpórea, Checklist e Segurança do Paciente.

Devido ao crescente número de casos de eventos adversos em intervenções cirúrgicas, foi lançada a campanha: "Cirurgias Seguras Salvam Vidas" pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2007, embasada no sistema de checklist, objetivando a conscientização mundial da necessidade de garantir a segurança do paciente durante os procedimentos cirúrgicos. O checklist da OMS é dividido em três fases: antes do início da anestesia, antes de iniciar a cirurgia e após o término do procedimento cirúrgico (antes do paciente deixar a sala de cirurgia) ⁽�⁾.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), salienta que esse movimento para a segurança do paciente, tem como objetivo rever os processos assistenciais, prevenindo erros nos serviços de saúde. Ressalta a necessidade da implantação de um plano de segurança e qualidade para garantir a ausência de eventos adversos, erros e incidentes, ou minimizar ao máximo as suas ocorrências ⁽�⁾.

Em parceria com o Ministério da Saúde (MS) e com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), a ANVISA disponibilizou ferramentas para a implantação da Cirurgia Segura dentro dos serviços de saúde brasileiros, incluindo nesse material, o checklist de cirurgia segura da OMS, recomendando adaptação do mesmo conforme a realidade vivenciada ⁽�⁾.

Nesse contexto, o presente estudo visa identi�car os principais fatores desencadeantes de eventos adversos em circulação extracorpó-rea durante as cirurgias cardio-vasculares, bem como a elaboração de um checklist no processo de implantação de cirurgia segura nesta especialidade.

1 | INTRODUÇÃOCom o desenvolvimento técnico-cientí�co na área da saúde, as intervenções cirúrgicas tornaram-se mais complexas e, concomitante a isso, houve aumento da ocorrência de eventos adversos, o que representa um grave problema no âmbito de saúde hospitalar. Dentre as cirurgias de alta complexidade, estão as cardiovasculares. Uma das especi�cidades deste tipo de cirurgia, é que em sua maioria há a necessidade da circulação extracorpórea durante o período transoperatório.

0126 s b c e c . c o m . b r

ÁREA CIENTÍFICA

2 | METODOLOGIA

3 | RESULTADOS

Con�gura-se como uma revisão narrativa de literatura constituída de referências cientí�cas nacionais e internacionais da temática circulação extracorpórea. A pesquisa foi realizada em formato de revisão bibliográ�ca nas bases de dados da Scienti�c Electronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e na Literatura Internacional em Ciências da Saúde (Medline) e Biblioteca Virtual em Saúde (Bireme), utilizando artigos, periódicos e guidelines indexados no período de 2007 a 2016, mediante os descritores: Circulação Extracorpórea, Checklist e Segurança do Paciente.

A delimitação deste período de análise da pesquisa é justi�cada ao coincidir com o lançamento da campanha: "Cirurgias Seguras Salvam Vidas" pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2007, embasado no sistema de checklist, objetivando a conscientização mundial da necessidade de garantir a segurança do paciente durante os procedimentos cirúrgicos.

Possivelmente esse fato ocorra devido às suas particularidades da assistência, da diversidade dos procedimentos cirúrgicos e diagnósticos, bem como da intensa circulação de pessoas de diferentes categorias pro�ssionais ⁽�⁾.

No que tange aos eventos adversos relacionados aos dispositivos que compõem o circuito de CEC, a maioria está associada às bombas de circulação (falhas elétricas ou mecânicas) e aos oxigenadores e circuitos (�ssuras, desconexões, obstruções do �uxo sanguíneo ou gasoso, defeito ou vazamento no permutador de calor e defeito no misturador de gases) o que pode desencadear dentre outras complicações, as isquemias ⁽�⁾.

Os fatores que podem desencadear eventos adversos durante a CEC são: erro humano, falta de manutenção preventiva, uso inadequado dos dispositivos de segurança e falha na montagem e checagem dos equipamentos ⁽�⁾.

No que se refere aos princípios adotados em centros cirúrgicos, devido à complexidade que ocupa a cirurgia cardíaca, as técnicas para melhoria da qualidade nessa área são comparadas às utilizadas em indústrias de alta tecnologia, como a aviação. Um dos exemplos é a falha de motor de uma bomba de circulação extracorpórea no transcorrer de uma cirurgia cardíaca, sendo comparado à falha de um motor de avião no meio do Oceano Atlântico. Há soluções, mas a qualidade poderá �car comprometida. Também é preconizado que todo incidente seja exaustivamente investigado como medida preventiva ⁽⁴⁾.

Foram selecionados doze estudos que atenderam à temática proposta. Quanto ao ano de publicação, foram encontradas duas referências no ano de 2007, uma de 2008, duas de 2009, cinco de 2011, uma de 2013 e uma de 2015.

Em relação a unidades hospitalares, o Centro Cirúrgico é reconhecido como um dos setores mais complexos do âmbito hospitalar e, também, mais favorável para a ocorrência de eventos adversos.

Os pequenos erros podem ser considerados como causadores de graves problemas. Nesse sentido, torna-se essencial a implantação de medidas que possibil item a cirurgia segura. Ca b e s a l i e nt a r q u e a re s o l u ç ã o d e s te s problemas está vinculada ao reconhecimento a nte c i p a d o d a s f a l h a s , o u s e j a , n o investimento de medidas preventivas ⁽⁴⁾.

No que diz respeito a erros e/ou acidentes, os pro�ssionais de saúde respondem aos seus re s p e c t i vo s Co n s e l h o s p e l o s ato s d e negligência, imperícia e imprudência, o que constitui um papel fundamental na criação de uma cultura de responsabilidade ⁽⁵⁾.

Ta i s i n c i d e n te s p o d e m i m p l i c a r e m a çõ e s processuais, como as contra o perfusionista, instituição hospitalar e cirurgião, implicando em consequências pessoais e �nanceiras de grande proporção para todos os envolvidos ⁽⁶⁾.

E m re l a ç ã o à i nte ra ç ã o m u l t i p ro � s s i o n a l , p o d e - s e re s s a l t a r o e nt ro s a m e nto e nt re cirurgiões e perfusionistas como essencial no q u e t a n g e a s e g u r a n ç a d e a l to n í ve l e m c i rurgia cardiovascular. Nesse aspec to, a i n c l u s ã o d o p e r f u s i o n i s t a n ã o p o d e s e r subestimada, pois exerce papel fundamental n a s e g u r a n ç a d o s p ro c e d i m e n t o s q u e requerem o uso da CEC. Não apenas por sua ação direta com mater ia is e equipamentos especí�cos de perfusão, mas na prevenção de acidentes e na redução das complicações que possam ocorrer ⁽⁷⁾.

O uso de recursos previamente estabelecidos, tais como o desenvolvimento de protocolos a s s i s te n c i a i s co m o fe r ra m e nt a s p a ra o processo de auditoria, o emprego de checklist de segurança ⁽⁸⁾ e uma boa comunicação entre a e q u i p e c i r ú rgi c a , s ã o co n s i d e ra d o s d e e x t re m a i m p o r t â n c i a p a r a a p ro m o ç ã o d a segurança em per fusão. O emprego destas medidas contribui, de forma signi�cativa, para a re d u ç ã o d e a c i d e n t e s e c o m p l i c a ç õ e s durante a CEC ⁽⁹�⁰⁾.

Ampliando esta re�exão, é possível considerar a segurança em perfusão, não apenas como um elemento isolado em cirurgia cardíaca, mas como uma série de fatores interligados que inclui equipamentos, dispositivos de segurança, manejo adequado de CEC, técnica cirúrgica, observação e comunicação dentro da sala cirúrgica. Apesar de haver um constante aprimoramento dos equipamentos e técnicas de perfusão, acredita-se que o fator primordial para a segurança em perfusão continuará sendo o conhecimento e experiência do pro�ssional ⁽��⁾.

4 | DISCUSSÃOO desenvolvimento da cirurgia cardiovascular é baseada no progresso da circulação extracorpórea. Se ocorrer um acidente na circulação extracorpórea durante o procedi-mento cirúrgico, o paciente pode sofrer um dano grave e/ou irreversível . A segurança é um fator primordal para a condução de circulação extracorpórea nas intervenções cirúrgicas cardiovasculares.

A maioria dos eventos adversos em CEC ocorre com os componentes do seu circuito, podendo ser evitados através de uma revisão cuidadosa durante sua montagem, devendo ser examinados quanto à esterilização, integridade e validade. Pode-se considerar que o conhecimento da estrutura e dos mecanismos de funcionamento dos oxigenadores e demais aparelhos utilizados, a observação atenta e minuciosa, a monitorização contínua dos parâmetros do paciente e a atenção ao detalhe, tem mostrado, na prática, ser a melhor receita para evitar os acidentes e prevenir as complicações.

Nesse sentido, a elaboração de um checklist nesta especialidade, com ênfase em cirurgia segura durante o transoperatório de cirurgias cardiovasculares, tornou-se uma necessidade em prol da cultura de segurança em ambiente cirúrgico.

28 s b c e c . c o m . b r

A CEC pode ser considerada como procedimento de alto risco, sendo responsabilidade do perfusionista garantir a segurança do paciente durante a perfusão.

Embora os dispositivos utilizados atualmente em CEC apresentem qualidade superior, não se dispensa o pro�ssional habilitado para exercer essa vital função para garantia da segurança do paciente. Além disso, é preciso implementar condutas de segurança como a de revisão pré-procedimento, por meio da aplicação de um checklist, objetivando direcionar o manejo da CEC de acordo com o paciente, tipo de cirurgia e presença de comorbidades.

O checklist da OMS foi embasado em evidências cientí�cas, entretanto, é possível adequá-lo de acordo com a realidade vivenciada, desde que permaneça sua "essência" em termos de bom senso por parte da equipe cirúrgica, visando à segurança do paciente. Ao elaborarmos um checklist voltado à CEC, devemos ter total conhecimento dos acidentes e complicações que possam ocorrer durante o procedimento, em relação aos materiais e equipamentos utilizados, bem como direcionar o manejo da CEC de acordo com o paciente, tipo de cirurgia e presença de comorbidades.

O perfusionista deve usar um checklist para cada CEC, devendo o mesmo ser incluído como parte do prontuário do paciente. Tem como �nalidade veri�car itens que deverão ser realizados e, posteriormente, revisados. O checklist deve ser feito por dois perfusionistas, sendo um o responsável pela perfusão no período intra-operatório⁽⁸⁾.

Para proporcionar uma segurança efetiva , o checklist deve ser empregado ao longo de todo o período transoperatório (pré - montagem do circuito, pré - CEC e durante a CEC).

O Quadro 1 demostra os itens que deverão ser veri�cados. Itens que deverão integrar o checklist para o período transoperatório.

Con�rmação do paciente, proposta cirúrgica, exames laboratoriais e complementares, peso, altura, tipagem sanguínea, reserva de hemocomponentes, e comorbidades⁽⁸⁹⁾.

1 - DADOS DO PACIENTE

Válvulas reguladoras de O� e ar comprimido; rede elétrica; dispositivos de emergência; misturador de gases; funcionamento correto da máquina de CEC (roletes, bomba de circulação de escolha, bomba d'àgua); suportes⁽⁸⁹⁾.

2 - EQUIPAMENTOS

Esterilidade, validade e integridade das embalagens dos dispositivos que constituem o conjunto de CEC ⁽⁸⁹⁾.

3 - MATERIAIS

Planejar a CEC com a equipe cirúrgica ⁽⁸⁹⁾.

4 - PLANEJAMENTO

Deverá ser de acordo a cirurgia. Veri�car as conexões, integridade, lavagem do circuito, calibração da bomba e roletes e cardioplegia⁽⁸⁹⁾.

5 - MONTAGEM DO CIRCUITO

Solução estéril para preenchimento do sistema, de acordo com o paciente ⁽⁸⁹⁾.

6 - PERFUSATO

Conforme o peso do paciente e proposta cirúrgica ⁽⁸⁹⁾. Proceder veri�cação antes da entrada em CEC.

7 - CANULAÇÃO

Deverá ser monitorado o circuito de CEC; temperatura do paciente e do sistema; �uxo; medicações; cardioplegia; comportamento micro e macro-hemodinâmica do paciente; anticoagulação ⁽⁸⁹⁾.

8 - MONITORAMENTO

Conforme o peso; monitoramento através do tempo de coagulação ativada ⁽⁸⁹⁾.

9 - ANTICOAGULAÇÃO

Limitar temperatura da linha arterial para 37°C (evita a hipertermia cerebral); manter um gradiente de 10°C entre permutador e temperatura do paciente (para evitar a geração de gases e êmbolos)(8,12).

10 - AQUECIMENTO

ÁREA CIENTÍFICA01

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

6 | REFERÊNCIAS1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Ministério da Saúde; Organização Pan-Americana da Saúde. Manual para Cirurgia Segura Salvam Vidas. Rio de janeiro: [Internet] 2009. [acesso em 20 de fevereiro de 2016] Disponível: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/seguranca_paciente_cirurgia_salva_manual.pdf>

2. Souza LP, Bezerra ALQ, Silva ABC, Carneiro FS, Paranaguá TTB, Lemos LF. Eventos adversos: instrumento de avaliação do desempenho em centro cirúrgico de um hospital universitário. Rev Enferm UERJ. 2011 Jan/Mar; 19(1):127-33.

3. Almeida CED, Carraretto AR, Curi EF, Marques LMA, Abatti REM. Mau funcionamento do sistema de circulação extracorpórea: relato de caso. Rev. Bras. Anestesiol.2011 Nov/Dez; 61(6):777-785.

4. Murad, H.; Murad, F. F. Controle de qualidade em cirurgia cardiovascular: um paradigma a ser atingido. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc. 2007; 22(4):470-475.

5. .Colin, G.G. Perfusion Safety & Reducing Risk. Consultant to MAQUET Cardiopulmonary Copenhagen, Denmark. [Internet] 2008. [acesso 10 de fevereiro de 2016] Disponível: <http://www.perfusion.com/cgibin/absolutenm/templates/articledisplay.asp?articleid=3184&zoneid=4>

6. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Segurança do paciente e qualidade em serviços de saúde. Boletim Informativo, Brasília, v. 1, n 1, jan.jul. 2011.

7. Adachi A, Momose N. Extracorporeal circulation and cardiopulmonary bypass. Japanese Journal of Thoracic Surgery: 2009 Jul; 62(8 Suppl):666-71.

8. American Society of Extracorporeal Technology. Standards and Guidelines for Perfusion Practice. July: 2013.

9. Croti UA, Jenkis KJ, Braile DM. Checklist em Cirurgia Cardíaca Pediátrica no Brasil: uma adaptação útil e necessária do International Quality Improvement Collaborative for Congenital Heart Surgery in Developing Countries. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc.2011; 26(3):511-5.

10. Kurusz, M. Perfusion safety: new initiatives and enduring principles. Rev. Perfusion. 2011;1(26):6-14.

11. Palanzo,D.A. Perfusion safety: defining the problem. Rev. Perfusion.2007; 20(4): 195-203.

12. Engelman et al. The Society of Thoracic Surgeons, The Society of Cardiovascular Anesthesiologists, and The American Society of ExtraCorporeal Technology: Clinical Practice Guidelines for Cardiopulmonary Bypass—Temperature Management During Cardiopulmonary Bypass. Ann. Thorac. Surg. SPECIAL REPORT ENGELMAN ET AL, 749: 2015; 100: 748–57.

A prática de cirurgia segura é uma exigência nos procedimentos realizados em instituições hospitalares, o que com o passar dos tempos adquiriu mais espaço e credibilidade, auferindo notável segurança aos processos, o que se considera um avanço na área da saúde, na tentativa de reduzir índices de mortalidade no transoperatório. Nesse sentido, também é possível considerar que a segurança em cirurgia está diretamente vinculada ao reconhecimento antecipado dos problemas que possam ocorrer, bem como da resolução preventiva destes.

Não obstante, é imprescindível que o pro�ssional perfusionista exerça sua função de forma e�caz, de tal maneira que garanta a segurança do paciente durante a CEC. Para isso, é preciso adotar medidas que visem a melhoria do trabalho desenvolvido. Desta forma, a implantação de um checklist direcionado contribui para a consolidação da segurança do paciente durante as cirurgias cardiovasculares com uso de CEC.

ÁREACIENTÍFICA

RELATO DE CASO GESTANTE SUBMETIDA À CORREÇÃO DE DISFUNÇÃO DE BIOPRÓTESE MITRAL COM CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA EM CARÁTER DE URGÊNCIA.

Autora: Rebeca Sampaio Góes Cavalcante

02

31s b c e c . c o m . b r

RESUMOAs doenças cardiovasculares são complicações presentes em 0,2% a 4% das gestações e em aumento, conforme Diretriz da Sociedade de Cardiologia Europeia de 2011. Quando o tratamento clínico não é su�ciente, a operação cardiovascular é recomendada. A utilização da circulação extracorpórea (CEC) aumentou a incidência dos riscos obstétricos e fetais, sendo que o conhecimento aprofundado da equipe cirúrgica sobre as repercussões da mesma, permite o aprimoramento do processo cirúrgico para reduzir estes riscos. Objetivo: Descrever o manejo da CEC em uma paciente primigesta de 30 semanas, submetida à troca de bioprótese mitral por disfunção grave. Relato do caso: Mulher de 17 anos, primigesta na 30ª semana que foi submetida à correção cirúrgica devido à presença de disfunção de bioprótese mitral com calci�cação grave. Inicialmente, houve a programação de acelerar a maturação fetal, contudo por causa do agravamento clínico foi submetida à operação de urgência com CEC, na qual foram tomadas medidas para redução dos riscos maternos e fetais. Conclusão: Gestante submetida à operação cardiovascular de urgência com CEC pode ser cumprida com uma preparação estruturada e com a participação de equipe multidisciplinar.

Descritores: gestante, circulação extracorpórea, operação cardiovascular, urgência.

Contudo, a partir do momento que a CEC começou a ser utilizada, foram observados elevados riscos obstétricos e fetais, como parto prematuro, óbito fetal intraoperatório, aborto espontâneo e comprometimento neurológico fetal. (ÁVILA, WS et al 2009; KAPOOR, MC 2014; MUNOZ-MENDOZA, J et al 2016; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

O conhecimento aprofundado da equipe cirúrgica sobre as repercussões materno-fetais da CEC permite o aprimoramento do processo cirúrgico para reduzir os riscos maternos e fetais. (ARNONI, RT et al 2003; ÁVILA, WS et al 2003; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998)

1 | INTRODUÇÃOAs doenças cardiovasculares são complicações presentes em 0,2% a 4% das gestações dos países ocidentais industrializados e estes números estão em crescimento, conforme Diretriz da Sociedade de Cardiologia Europeia de 2011. Quando o tratamento medicamentoso não é su�ciente para promover estabilidade clínica materna e os procedimentos percutâneos são inviáveis, a operação cardiovascular é recomendada. (BONOW, RO et al 2008; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

Inicialmente, as operações cardiovasculares em gestantes eram realizadas a céu fechado e sem circulação extracorpórea (CEC), apresentando mortalidade semelhante às operações em não gestantes. (ARNONI, RT et al 2003; POMERANTZEFF, PMA et al 1998)

2 | OBJETIVODescrever o manejo da CEC em uma paciente primigesta de 30 semanas submetida à troca de bioprótese mitral por disfunção grave.

3 | MÉTODOAs informações foram obtidas por meio do prontuário da paciente do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (INCOR – HCFMUSP) e do HCFMUSP. Para discussão do presente relato foi realizada análise na base de dados MEDLINE e SCIELO entre 2003 e 2016, e outros de maior relevância. Foram utilizados os seguintes descritores na pesquisa: pregnancy, cardiac surgery, valve cardiac surgery, congenital heart disease.

0232 s b c e c . c o m . b r

ÁREA CIENTÍFICA

4 | RELATO DE CASOMulher de 17 anos, solteira, primigesta na 30ª semana que foi submetida à correção cirúrgica, em caráter de urgência, devido à presença de disfunção de bioprótese mitral com calci�cação grave. Aos 12 anos havia sido submetida à correção cirúrgica de comunicação intraventri-cular, implante de bioprótese mitral 27 e aórtica 19, devido à presença de endocardite bacteriana. Aos 16 anos foi submetida à correção de coarctação da aorta e aneurisma da aorta descendente, com o implante de endoprótese autoexpansiva. Logo após começou apresentar insu�ciência cardíaca rapidamente progressiva pelo agravamento da calci�cação de bioprótese mitral e a recoarctação da aorta, associada à hipertensão arterial sistêmica severa.

Inicialmente, houve a programação de acelerar a maturação pulmonar do feto com a administração de corticoide para minimizar os riscos pós-natal, contudo, a paciente apresentou agravamento do quadro clínico exigindo a intervenção em caráter de urgência. Para tanto, foi constituída uma equipe multidisciplinar, incluindo a participação de cardiologista, obstetra, neonatologista, os quais foram incorporados à equipe cirúrgica cardiovascular para o adequado manejo da paciente.

Monitorização intraoperatória da paciente seguiu conforme rotina cirúrgica cardiovascular, constituindo em eletrocardiograma com eletrodos no dorso, pressão arterial invasiva, cateter de Swan Ganz e diurese por sondagem vesical. A monitorização do feto e da dinâmica uterina foram realizadas pelo cardiotocógrafo, aparelho que registra gra�camente a frequência cardíaca fetal e as contrações uterinas de forma não invasiva por eletrodos �xados por faixas

elásticas sobre o abdome, para guiar possíveis medidas que possam melhorar a perfusão placentária. No entanto, sem possibilidade de intervenção obstétrica de emergência no intraoperatório e pós-operatório até estabiliza-ção clínica materna. Além disso, é realizado monitorização metabólica por teste de glicemia e gasometria arterial.

O posicionamento materno é em decúbito dorso com inclinação leve para a esquerda, para favorecer a drenagem venosa, por desobstruir a veia cava inferior.

O preparo e condução da CEC foram realizados de acordo com o protocolo da Instituição e as orientações da equipe cirúrgica e anestésica. Sendo considerado o peso, 58 kg, altura, 1.68 m, superfície corpórea, 1,66 m², �uxo teórico, 3.652 ml por minuto, e hematócrito inicial de sala da paciente, 33%.

O perfusato consistiu em ringer lactato 1100 ml, heparina de baixo peso molecular 100 mg, 1 bolsa de contrato de hemácias (299 ml), bicarbonato de sódio 8,4% 20 ml, glicose 50% 20 ml, albumina humana 20% 50 ml e manitol 20% 250 ml. Sabendo-se o hematócrito inicial e que este é previsto reduzir para 22% com hemodiluição total.

A CEC foi conectada à circulação vascular da paciente através da canulação aórtica com a cânula curva 20 Fr e drenagem venosa bicaval com as cânulas curvas 28 e 30 Fr.

A CEC durou 60 minutos, com �uxo arterial entre 4.400 a 4.800 ml por minuto, pressão arterial mantida acima de 60 mmHg, temperatura mantida acima de 34ºC, a frequência cardíaca

fetal variou entre 53 e 124 bpm, apresentando durante a CEC bradicardia que foi revertida após a saída de CEC, e a contração uterina entre 18 a 54 mmHg.

O tempo de anóxia cardíaca foi de 47 minutos, sendo que a cardioplegia cristaloide hipotérmica com solução de St. Thomas e sangue foi realizada três vezes, totalizando em 1.900 ml, sendo apenas de ringer simples 300 ml, utilizado para preenchimento do circuito da cardioplegia.

O controle da anticoagulação na CEC foi realizado por meio do tempo de coagulação ativado, que foi mantido acima de 450 segundos, sem necessidade de heparina adicional.

Para estimular a diurese, administraram furosemida 1 ml. Durante a CEC administraram noradrenalina para manutenção da pressão arterial, duas bolsas de concentrado de hemácias (599 ml) e bicarbonato de sódio 8,4% 60 ml para correção da gasometria arterial. Não foi realizado adicional de cristaloide.

A diurese em CEC foi de 175 ml. Na reposição do volume residual da CEC foi hemo�ltrado 1.600 ml, permanecendo por volta de 50 ml de sangue no circuito.

O procedimento realizado foi troca de bioprótese mitral 27 por bioprótese mitral 25. Uma vez que no ecocardiograma intraopera-tório foi constatado que prótese aórtica apresentava folheto com boa abertura e mobilidade, com gradiente alto possivelmente devido à desproporção paciente-prótese, foi optado pela manutenção da prótese, devido ao estado crítico da paciente.

Antes da saída da sala operatória e no pós-operatório imediato foi necessário administrar óxido nítrico por causa da hipertensão pulmonar. Com boa evolução clínica materno-fetal foi dada alta, permanencendo em acompanhamento ambulatorial e com programação do parto para duas semanas.

Retornou assintomática, o que possibilitou gestação até 36 semanas, momento que apresentou dinâmica uterina espontânea e descompensação clínica. O parto via cesárea com anestesia geral foi realizado em 14 de julho de 2016, sendo acompanhada no INCOR-HCFMUSP nos dois primeiros dias após o procedimento. No pós-parto realizaram controle do balanço hidríco, objetivando menos 500 ml. O recém-nascido, do sexo masculino, nasceu com 2.890 g e APGAR 9, 9 e 10. Ambos permaneceram em observação até 19 de julho de 2016, sendo mantido acompanhamento ambulatorial.

5 | DISCUSSÃONa gestação há alterações �siológicas no sistema cardiovascular para atender às demandas metabólicas materna e fetal. Elas constituem em aumento do volume intravascular em 40% e do débito cardíaco em 30 a 50%, há hipercoagu-labilidade e diminuição da resistência vascular sistêmica em até 20%.(REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011; ROEDER, HA et al 2011)

No início o aumento do débito cardíaco é devido ao aumento do volume sistólico em 20 a 30%, porém por volta da 20ª semana há aumento notável da frequência cardíaca, que se mantém elevada até 5 dias após o parto. A diminuição da resistência vascular sistêmica é por causa do aumento da concentração da progesterona, da prostaciclina e do óxido nítrico o que diminui a pressão arterial média que permanece até o segundo trimestre. (REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011; ROEDER, HA et al 2011)

A hipercoagulabilidade ocorre devido ao aumento de fatores de coagulação, �brinogênio e adesão plaquetária associados à diminuição da �brinólise, causando a probabilidade de tromboembolismo. Acontecem, também, alterações no metabolismo da glicose, do colesterol e dos fármacos, nestes último por causa

34 s b c e c . c o m . b r

ÁREA CIENTÍFICA02

bom desempenho hemodinâmico e durabilidade em longo prazo, com necessidade de anticoagulação contínua, e as biopróteses também apresentam bom desempenho hemodinâmico e sem necessidade de anticoagulação, todavia apresentam maior deterioração estrutural, precisando de substituição. (ARNONI, RT et al 2003; ÁVILA, WS 2010; BONOW, RO et al 2008; HONDA, K; OKAMURA, Y 2014; MUNOZ-MENDOZA, J et al 2016; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

Entretanto, a situação de reoperação para substituir prótese valvar cardíaca é mais delicada, sendo indicada com urgência em casos de disfunção moderada a grave, sem resposta aos outros tratamentos. É recomendado que a paciente se encontre estável, pois será submetido a um risco maior do que na primeira operação. (BONOW, RO et al 2008) Porém, na gestação, o manejo da reoperação é mais difícil, complexo e recomendado, assim como todas as operações cardiovasculares realizadas durante a gestação, entre a 13ª e a 28ª semana, pois até a 12ª semana há maior incidência de malformações fetais e acima da 28ª semana, de repercussões hemodinâmicas severas maternas. De forma geral a mortalidade materna durante a CEC é semelhante à observada nas mulheres não gestantes. (ARNONI, AS et al 1986; ARNONI, RT et al 2003; ÁVILA, WS et al 2009; BONOW, RO et al 2008; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

No entanto em relação ao feto, caso não seja possível o retardo da operação até a maturidade fetal e cesárea, principalmente em gestações superiores à 26ª semana, há medidas que podem ser tomadas com intuito de reduzir o sofrimento e os riscos fetais. Para isso, é necessário que seja realizada a monitorização fetal e da dinâmica uterina durante o intraoperatório, além da completa monitorização materna, como relatado por diversos autores. (ARNONI, AS et al 1986; ARNONI, RT et al 2003; ÁVILA, WS et al 2009; BENLAMKADDEM, S et al 2016; BONOW, RO et al 2008; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

do aumento da perfusão renal e do metabolismo hepático. (REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011; ROEDER, HA et al 2011)

Durante o trabalho de parto e no pós-parto há alterações hemodinâmicas importantes devido ao aumento da pressão arterial, às contrações uterinas e à autotransfusão uteroplacentária para circulação sistêmica materna que aumenta o retorno venoso. Há bradicardia materna re�exa e diurese de 2 a 5 l entre o 2º e 7º dia pós-parto, com regressão do sistema cardiovascular até a 6ª semana do pós-parto. (REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011; ROEDER, HA et al 2011)

Estas modi�cações in�uenciam o manejo cardiovascular das gestantes, e agravam o quadro clínico das que apresentam cardiopatias, principalmente valvares, coronarianas e associadas à hipertensão pulmonar, podendo levar à insu�ciência cardíaca e isquemia. (REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011; ROEDER, HA et al 2011)

Há alterações �siológicas valvares durante gestação, como aumento do diâmetro da raiz da aórtica, mitral e tricúspide, mesmo o �uxo na aorta sendo discretamente aumentado. A apresentação de insu�ciência valvar leve da mitral, tricúspide e pulmonar é esperada em até 28%, 94% e 94% das gestações, respectivamente. O referenciamento de dispneia é preocupante quando afeta as atividades de vida diárias e presente no repouso. (ROEDER, HA et al 2011)

A cardiopatia prevalente na gestação é a estenose mitral, com predominância de etiologia reumática, seguida das cardiopatias congênitas e endocardites, podendo ser assintomática até a gravidez ou agravada por ela, afetando a circulação pulmonar. (ARNONI, RT et al 2003; ÁVILA, WS et al 2003; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011; ROEDER, HA et al 2011)

Anterior à eleição para intervenção cirúrgica é necessário terem sido esgotadas as opções menos invasivas de tratamento. A escolha da prótese a ser implantada na posição mitral, em mulheres na idade fértil ou gestante, tem que levar em consideração que as próteses mecânicas oferecem

6 | CONCLUSÃO

contudo, depende do estado cardiovascular da gestante. As alterações hemodinâmicas do pós-parto exigem monitorização contínua ao menos nas primeiras 24 horas após o parto. (REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

No estudo de Ávila, WS et al (2003) que acompanharam 1.000 gestantes, sendo que 23,5% apresentaram cardiopatias durante a gravidez, sendo que 19,6% necessitaram de intervenção cirúrgica, 91% das gestantes do estudo deram à luz a bebês saudáveis, fração comparável com a população em geral.

O posicionamento da paciente é diferenciado, colocando-a em decúbito lateral ou dorsal com inclinação de 15º para a esquerda para reduzir a compressão da aorta e da veia cava inferior, favorecendo a perfusão tecidual e a drenagem venosa. (ARNONI, AS et al 1986; ÁVILA, WS et al 2009; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

Durante a CEC tem que ser mantida a normotermia, sendo tolerada hipotermia leve até 34ºC, para reduzir a ocorrência de contrações uterinas que ocorrem principalmente durante o aquecimento. O �uxo de perfusão tem que ser elevado de 30% a 50% do teórico e a pressão arterial mantida acima de 60 mmHg para fornecerem �uxo uteroplacentário adequado ao feto. Há questionamentos se o uso pulsátil otimizará este fornecimento. (ARNONI, AS et al 1986; ARNONI, RT et al 2003; ÁVILA, WS et al 2009; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

O manejo metabólico fetal é realizado por meio da manutenção do hematócrito materno acima de 25% que tem a intenção de ofertar adequada oxigenação, visto a existência de anemia �siológica gestacional, e a adição de glicose ao volume extracorpóreo que aumentará o suprimento enérgico. (ARNONI, AS et al 1986; ARNONI, RT et al 2003; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

A proteção miocárdica foi realizada com a utilização da cardioplegia cristaloide em três estudos. (ARNONI, RT et al 2003; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998) A experiência da equipe cirúrgica é fundamental para minimizar o tempo de exposição materna e fetal à CEC. (ARNONI, AS et al 1986; ARNONI, RT et al 2003; KAPOOR, MC 2014; POMERANTZEFF, PMA et al 1998; REGITZ-ZAGROSEK, V et al 2011)

A decisão sobre a via de parto de gestante cardiopata é restringida à equipe obstétrica, visto que no parto normal há menor perda sanguínea e menor incidência de infecções do que o cesariano,

Gestante em necessidade de operação cardiovascular com CEC em caráter de urgência é uma situação muito grave, que pode ser cumprida com uma preparação muito bem estruturada e com a participação de equipe multidisciplinar.

7 | REFERÊNCIASARNONI, AS et al. Cirurgia cardíaca na gravidez. Rev Bras Cir Cardiovasc 1986; 1 (1): 14-9. ARNONI, RT et al. Risk factors associated with cardiac surgery during pregnancy. Ann Thorac Surg 2003; 76: 1605-8. ÁVILA, WS et al. Evolução e prognóstico materno-fetal da cirurgia cardíaca durante a gravidez. Arq Bras Cardiol 2009; 93 (1): 9-14. ÁVILA, WS et al. Pregnancy in patients with heart disease: experience with 1,000 cases. Clin Cardiol 2003; 26: 135-42. ÁVILA, WS. Anticoagulação durante gravidez de mulher portadora de cardiopatia. J Vasc Bras 2010; 9 (1): 42-5. BENLAMKADDEM, S et al. Case report: a historic case of cardiac surgery in pregnancy. Obstetrics and Gynecology 2016; 4 pages. BONOW, RO et al. 2008 Focused update incorporated into the ACC AHA 2006 Guidelines for the management of patients with valvular heart disease. Journal of the American College of Cardiology 2008; 52 (13): e1-142. HONDA, K; OKAMURA, Y. Mechanical valves and anticoagulation in pregnancy. Circulation Journal 2014; 78: 825-6. KAPOOR, MC. Cardiopulmonary bypass in pregnancy. Annals of Cardiac Anaesthesia 2014; 17 (1): 33-9. MUNOZ-MENDOZA, J et al. Severe bioprosthetic mitral valve stenosis in pregnancy. Gen Thorac Cardiovasc Surg 2016; 64: 38-42. POMERANTZEFF, PMA et al. Cirurgia valvar em gestantes. Experiência em oito casos. Arq Bras Cardiol 1998; 70 (6): 403-8. REGITZ-ZAGROSEK, V et al. ESC Guidelines on the management of cardiovascular diseases during pregnancy – The task force on the management of cardiovascular diseases during pregnancy of the European Society of Cardiology (ESC). European Heart Journal 2011; 32: 3147-97. ROEDER, HA et al. Maternal valvular heart disease in pregnancy. Obstetrical and Gynecological Surgey 2011; 66 (9): 561-71.

SIGA-NOS PELAS

REDES SOCIAISAcompanhe nossas redes sociais. Estamos sempre compartilhando novidades da Sociedade, dos eventos que acontecem pelo Brasil, notícias sobre a perfusão, vagaspara profissionais cadastrados ou fatos relevantes que possam interessar a todos que são do segmento.

Envolva-se em todos os canais e compartilhe sua opinião conosco, ela será muito importante para o nosso crescimento.

INFORME-SE SOBRE

PERFUSÃOO nosso site possui as informações mais atualizadas sobre perfusão, eventos da SBCEC, cursos, blog de notícias e empregos.

ATUALIZE O

SEU CADASTROAcesse o site: www.sbcec.com.br ou através do QR Code abaixo:

(19) 99606-6725

MAIS UM CANAL DE COMUNICAÇÃO