revista quincas | edição mudança

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FEVEREIRO 2015_ REVISTA COLABORATIVA QUINCAS_ Edicão 06_MUDANÇA

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A Revista Quincas é um projeto de revista cultural colaborativa. A #6 edição da Quincas chegou em 2015 com muita vontade de fazer diferente e virar a página.

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FEVEREIRO 2015_ REVISTA COLABORATIVA QUINCAS_

Edicão 06_MUDANÇA

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FEVEREIRO 2015

Edição 06_ Revista ColaborativaMUDANÇA

Direção de arte_NATALIA NUNESEdição_GIOVANA MORAES SUZIN

Capa_MARIANA COAN

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ilustração_NATALIA NUNES

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Doo aceitação e translado alteração de estado. Faço rifa de compreensão e premio com desejo de mudança. Destruo cemitérios e arquiteto jardins. Pinto camadas de sensibilidade sobre paredes de pele, carne e osso. Desenho dinâmicas de movimento e construo estradas libertárias. Abro fosso em permanências. Desentupo veias rotas e removo pensamentos reacionários. Modifico estruturas rígidas, diversifico necessidades, reviro baús de memórias afetivas e permuto por vestes de acolhimento. Planejo metástases de revolução. Reformo corações.

editorial_GIOVANA MORAES SUZIN

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FAÇO FRETE

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PIETRO LUIGI_(Ponta Grossa PR, 1988)<06Desde sempre nutriu um gosto particular por monstros babões de seriados japoneses de baixo orçamento e por dinossauros. Há dois anos mora em São Paulo e tenta desespera-damente ser uma pessoa melhor para sua mulher, seus amigos e sua família. Duran-te esses 26 anos de sonho e de sangue e de América do Sul, entre perseguições em alta velocidade, amores perdidos, crises e revelações dignas de um filme de ação do Alexandre Frota, inventou de editar uma revista com parte do seu universo, a tal do Banhero Selvagem. Para acompanharwww.bselvagem.xpg.uol.com.br e adquirir www.loja.bselvagem.com.br.

COLABORADORES

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LIE MANUELA SILVEIRA_(Curitiba PR, 1984) >12Durante a faculdade de Design de Produto, na UFPR, fez intercâmbio na Alemanha e teve a oportunidade de estagiar na monta-dora da Volkswagen durante um ano após vencer um concurso de design. Formou-se e começou a trabalhar no estúdio de design da Whirlpool em Joinville, atuando na área de design sensorial. Em janeiro de 2014 re-solveu sair do mundo corporativo para criar sua marca de joias – a Liê. Dá para ver mais aqui www.lie-joalheriaartesanal.com.

CAROL RITZMANN (Curitiba PR, 1987) >12É fotógrafa com formação em Design de Produto e apaixonada pelo que faz. É fas-cinada pelo sentimento de nostalgia que a fotografia proporciona e explora a sua cria-tividade através dos sorrisos, dos momentos sinceros e do amor. Gosta de preservar a atenção aos detalhes, nas imagens espon-tâneas e com naturalidade. Tem sempre uma xícara de chá ou café na mão, gosta muito de ler Neil Gaiman, de ouvir David Bowie e de desenhar com aquarela. Mais fotos aqui: http://carolritzmann.com/.

>22 BARBARA SCARAMBONE _(Brasília DF, 1982)Artista brasiliense que vive e trabalha em São Paulo desde 2006. Inspirada pelas cores nostálgicas do surrealismo, ela cria colagens à mão usando apenas tesouras, cola, revis-tas antigas, jornais e livros. Para conhecer mais: http://ihardlyknowher.com/babees_collages.

>30 MESTRE AMÉRICO _(Barro CE, 1972)É poeta, tipógrafo e encadernador. Nascido no Barro, vive e trabalha na região do Cariri, no estado do Ceará. Cresceu aos pés do avô, Mestre Severino, cantador popular de tradição, conhecedor de fábulas de homens e de bichos e tradutor das coisas que não falam. Aprendeu a ler e a escrever com sua mãe, a costureira Joana da Graça Américo, de quem as primeiras lições foram bordar le-tras em panos de prato.

BELLÉ JR. (Francisco Beltão PR, 1984)<07Poeta nascido no sudoeste do Paraná, cres-cido na capital e radicado em São Paulo. É a segunda vez que participa da Quincas e publicou em 2014 o livro Trato de Levante (Editora Patuá), sua segunda obra poética. Boa parte do livro foi escrito em 2013, du-rante duas residências artísticas na Art Farm Nebraska e Yaddo Artists Colony, onde foi condecorado com o Carfield, prêmio para es-critores latino-americanos. Em 2010, lançou de maneira independente O sonhador que colhe berinjelas na terra das flores murchas, com não mais que 300 cópias, as quais ven-deu por aí, nas ruas e botecos, para amigos e inimigos. Deu vida também ao projeto Re-versos, em que diversos artistas musicaram as letras de poetas. http://juniorbelle.com/.

KLEYSON BARBOSA (Coronel Fabriciano MG, 1983)<24É jornalista, fotógrafo e escritor. Desde pequeno, é acostumado com mudanças. No princípio, vieram as mudanças de colégio e de hobbies - da natação e futebol ao ballet, teatro e circo. Depois vieram as mudanças de cidades: Coronel Fabriciano, Belo Horizonte, Ouro Preto, Toulouse, Londres e São Pau-lo. Teve também a mudança de graduação: do direito para o jornalismo. E, por fim, na mais recente mudança, sentiu que precisava se expressar mais – e melhor. A fotografia, assim como a escrita, foi a forma escolhida para exprimir tais transformações. Atual-mente desenvolve trabalhos em artes visuais abordando sexualidade, amor e perdas.

MARIANA COAN (Itu SP, 1981)<09É caipira e paga as contas com desenhos, pedaços de papel e tesouras. Cuida de plan-tas e também trabalha como salva-vidas de insetos que caem em piscinas. Seu site é www.marianacoan.com.

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texto_BELLÉ JUNIOR

ilustração_PIETRO LUIGI

Deposita a última caixa no chão do novo apartamento, um pequeno vaso de madeira onde a mais valente muda de orquídea insiste em crescer, mesmo depois da longa viagem na escuridão de um porta-malas abarrotado. A mudança das coisas havia acabado, mas é claro que a mudança das memórias sequer começara. Ambas precisariam ser organizadas, dispostas da melhor maneira possível naquele quarto-sala, e naquele coração-cabeça. Lucia acende um cigarro e abre a janela: quanta diferença, meu deus. O Largo da Ordem, no centro velho de Curitiba, parecia incrivelmente jovem aos olhos tão paulicelicos e desvairados de Lucia. Por certo a rotina logo trataria de surrupiar-lhe mais esta sensação infantil, que se avoluma em seu peito ofegante sempre que se vê diante de uma paisagem inédita. Calafrios na espinha e uma comichão entre as virilhas, assim Lucia pressentia o futuro de seus vinte e tantos. Mais não falava, não fala, não revela, não tem papo. Podia até ter o coração enrugado, mas a pele não, era macia como pétala de orquídea.

A idade é um segredo entre tantos. A começar pelo fato de que está fugindo, e nenhum fugitivo sai por aí falando a verdade. Fugia de si mesma, daquela Lucia submissa ao patrão e ao namorado, aos padrões e patriarcados, fugia do emprego e da proximidade geográfica dos pais, fugia da falta d’água e com certeza fugia da vista horrorosa de seu ex-mini-apê alugado, de frente pra a janela da vizinha – janela esta que além de emoldurar a vida tediosa de uma sexagenária mal comida e seu filho punheteiro, ainda vinha cercada de um prédio que de tão imenso era maior que sol. Fugia das sombras e das sombras de Santa Cecília fugia ainda mais.

Já não era o caso, alivia com uma baforada esfumaçante a lembrança de sua ex-vizinha e avizinha-se à orquídea, tendo a gentileza de apagar o cigarro no beiral da janela e jogar a bagana no chão antes de aproximar-se. Era seu segundo cigarro desde que decidiu começar a fumar: a nova Lucia fumaria mais, beberia mais, foderia mais e se importaria menos. Quando tomou essa

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decisão estava sóbria, com hálito de hortelã e absolutamente seca entre as pernas. Ainda assim, não voltaria atrás de jeito nenhum. Não voltaria! Lucia olha para a flor como se olhasse para um espelho, repara no relevo das folhas carnudas como quem lê o futuro nos traços da mão. As pétalas estão delicadamente roxas, e assim estão também a ponta dos dedos e os lábios, todos ressecados pelo frio da capital mais fria do país.

Curitiba seria sua redenção, cria nisso como quem cria uma verdade, uma resolução de vida, uma certeza que no espírito de Lucia teve o irresistível efeito das primaveras: a fazia desabrochar e se abrir para novos amigos, outros amantes, para ideias estranhas e experiências inexplicáveis. A experiência, aliás, é o que afiança um fato científico: apenas com novos amigos, uma nova cidade é capaz de ser redentora. Inconscientemente, era uma certeza – algo tão raro nesta nova

Lucia e tão excessivo na velha – o que colocava a inóspita realidade da capital paranaense em patamar de igualdade com a idealização que Lucia fazia dela. Mesmo com a frieza que lhe é peculiar, sim, mesmo com o capitalismo convertendo-se na ampulheta impiedosa que promete fazer areia de suas economias caso o tempo passe e as contas cheguem, caso o emprego tarde e os frilas escasseiem. A velha Lucia tinha irresoluta convicção da cagada irreversível que seria deixar tudo pra traz sem sequer um plano, sem uma única garantia senão a sorte. (Tudo, para a velha Lucia, significava emprego estável, noivado papai-mamãe e feriados em Ilhabela). A nova Lucia, no entanto, achou o maior barato estar vendada quando - horas depois de mandar o chefe a merda e apenas minutos depois de mandar o namorado a merda - atirou o dardo decisivo que perfurou Curitiba no mapa. Lucia sentia-se capaz.

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ilustrações_MARIANA COAN

ROMPIDO

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designer de joias _LIE MANUELA SILVEIRA

fotografias_CAROL RITZMANN

ourives_JOÃO SOBRINHO

FRAGMENTOS DO PROCESSO

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FLAVORS CHANGEcolagem_BARBARA SCARAMBONE

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As imagens dessa série captam pouco mais de oito meses em um único frame. Elas foram instaladas no dia que descidi parar de fumar. De 8 de maio a 28 dezembro de 2014, registrei a incidência de luz do Sol na cidade onde nasci e onde moro atualmente por um período de tempo que vai além do que podemos perceber com a nossa própria visão. Nas fotografias dessa série, vemos os caminhos do astro em Coronel Fabriciano (MG) e São Paulo (SP).

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VENDO O SOL PASSARsolarigrafias_KLEYSON BARBOSA

Vista do terraço da casa dos meus pais | Coronel Fabriciano MG

O SOL, QUE AQUI BRILHA, TAMBÉM BRILHA LÁ.

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27Vista da janela do meu apartamento | São Paulo SP

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Vista do portão da empresa dos meus pais | Coronel Fabriciano MG

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Vista do portão da empresa dos meus pais | Coronel Fabriciano MG

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poesia_MESTRE AMÉRICO

MORADA NORDESTINA

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*

Muito trabalho eu sempre tive lendo as bulas de remédioda velha avó, da mãe e da tiae de um pai com muitos netos

Muitas dores comparti nas noites doídas da vidavendo a lida salgada do diaser na lida da noite escorrida

O choro em sal transformandonas bocarras da noite um ruídoe ver sair delas um gritoem abafado gemido virando

Nestas noites de fastioem que a vida fica feridanem esparadrapo nem remendose formam em casca encardida

Vê-se o avesso do bicho e vê-seum ser humano de quatro andandovê-se um calcanhar se derrubandoao atravessar o mundo atrevido

Tentei esquecer o ouvidodeixar não lido o que é sem nomequerendo encontrar nesta fomeimenso horizonte infinito

Sem dentes mordendo braçossem lobo uivando pra luasem cão vira-lata de ruapisando num chão de mil cacos

Na ânsia de não ser encontradona beira do mar me deixeia ir e a ir sem ser levadotentando acertar onde errei

Do sertão eu sertanejodesejei, depois, me afogarno imenso azul que é o desejototal comunhão que é o mar

Quis então um só peito encontrar onde sem dor mamar eu pudessevendo o amor onde o amor se fizessee do prazer o prazer desfrutar

De dores em dores fui lendode bulas em bulas, cartazese placas de carros e rotasrumando à cidades selvagens

Da dor e do prazer levandodescontrolada a carruagemdevendo tudo o que encontramosa quem se deixa em viagem

Das rodas rodando me lembromais das bulas que cartazesmais da poeira que da areiamais do sertão que os sargaços

Das rodas rodando me lembromenos dos gozos que saudadesmenos das glórias e paisagensmenos do agora que a memória

Tendo girado o mundo em doreslembro das dores mais meninasque as tive e as tenho aindano seio de minha família

Da vida tecendo e girandolembro da noite como damada minha avó gemendo em camamais que o sorriso dos rapazes*

para Marcelino Freire

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É designer de formação, e o que mais gosta de fazer é se envolver em propostas como a Quincas. Adora mesmo, pararia todo o resto do que está fazendo para se debruçar em projetos atraentes. Mantém alguns blogs de referências, os quais também acha atraentes, como o http://fuckmeproperly.tumblr.com/

ilustrações_NATALIA NUNES

direção de arte_NATALIA NUNES (Macatuba SP, 1984)

É jornalista e historiadora e trabalha no Almanaque Abril, em São Paulo. É curiosa, insone, exagerada e coleciona pequenos prazeres - seus e alheios. Nascida gaúcha, tem o coração catarinense, mas seus pés são ciganos e não gostam de acomodação. Gosta de gente, de se perder em viagens e em sonoridades múltiplas. Escreve sobre música e outras pirações no blog http://pandorga.mus.br/

edicão_GIOVANA MORAES SUZIN (Vacaria RS, 1987)

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PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE

Todos os direitos reservados aos autores

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