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Page 1: Revista Principios dezembro de 2010

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O PCdoB cresce com a afirmação nacional,

popular e democráticaA maior vitória política de 2010 foi a do povo brasileiro ao conquistar o terceiro mandato progressista consecutivo com a eleição de Dilma Rousseff. O PCdoB engajou-se de corpo inteiro nessa jornada. Sua força eleitoral manteve a linha de crescimento, com votação expressiva pelo país

Walter Sorrentino

Vanessa Grazziotin, senadora eleita pelo PCdoB-AM

Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), reeleita deputada federal com mais de 482 mil votos: PCdoB elegeu seis mulheres à Câmara Federal

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maior vitória política de 2010 foi a do povo brasileiro ao conquistar o terceiro mandato progressista consecutivo com a eleição de Dilma Rousseff com 56% dos votos – 55,7 milhões. Ela já havia vencido no primeiro turno com mais

de 47% dos votos válidos e confirmou o êxito eleito-ral no turno final.

Se tal fato não se equipara em termos simbólicos à eleição do ope-rário metalúrgico Lula em 2002, e sua reeleição em 2006, alcança e ultrapassa isso em termos políticos. Doze anos consecutivos de política progressista no Brasil, alcançados nas urnas, é um feito democrático jamais igualado. Getúlio em 1951, seguido de Juscelino em 1955 e Jango em 1961, foi período atribu-lado pelo suicídio de Getúlio, duas tentativas de golpe contra JK e a imposição de condições para Jan-go assumir (assumindo como vice após a renúncia de Jânio Quadros que vencera as eleições de 1961) e, posteriormente, o golpe militar. Jamais, como atualmente, se com-binaram em tais proporções desen-volvimento econômico, distribuição de renda e liberdades políticas.

É sinal dos tempos. Sinal de que o Brasil e os brasileiros se põem de pé, altivamente, em busca de desenvolvimento sobe-rano, bem-estar e liberdades, de respeito internacio-nal e integração com seus parceiros sul-americanos.

Simbolicamente, também tem enorme significado societário eleger Dilma presidenta, uma mulher: é sinal de avanço civilizatório no país, inédito na his-tória nacional.

Ao examinar o papel do PCdoB nesse processo e os resultados eleitorais alcançados pelos seus candidatos, esse foi o maior triunfo. O PCdoB integrou-se a fundo em busca dessa vitória política. Todo seu empenho foi

posto em politizar o debate, polari-zar projetos, mobilizar a sociedade para o significado de manter o país no rumo atual, a partir do legado do governo Lula, mas propondo o aprofundamento. A vitória de Dil-ma Rousseff é assim a maior vitória do PCdoB.

Cerrando fileiras nesse campo, o PCdoB colheu resultados satisfató-rios e positivos. Progride sua força eleitoral continuamente, mas não aceleradamente. Alcançou votação ao Senado que o coloca na quar-ta posição nacional entre todos os partidos do país. Na eleição federal proporcional, melhora seu posicio-namento relativo entre todas as legendas. Estendeu suas candida-turas, sua votação, suas bases elei-torais. É um partido cada vez mais nacional, também interiorizado em sua inserção. São resultados cumu-lativos, mantendo e acelerando

tendência desde os anos 1990 sem quebras.O PCdoB lançou candidato a governador no Ma-

ranhão cuja campanha alcançou um feito de alto

É sinal dos tempos. Sinal de que o Brasil e os

brasileiros se põem de pé, altivamente,

em busca de desenvolvimento soberano, bem-

estar e liberdades, de respeito

internacional e integração com

seus parceiros sul-americanos

ANetinho de Paula (PCdoB-SP) obteve quase 8 milhões de votos na eleição para o Senado

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significado: não foi ao segundo turno por 8 centési-mos dos votos e se tornou o líder político maior da oposição à oligarquia política local. Com o apoio do PCdoB foram eleitos 11 governadores no 1º turno do campo de apoio a Dilma Rousseff, e outros três no 2º turno. A base de Dilma conta com esses go-vernadores mais os de Maranhão, Paraíba e, possi-velmente, Mato Grosso.

Mas na eleição ao Senado é que o PCdoB mais se destacou. Lançou nove candidatos. Situou-se com 12.561.716 votos, 7,37% dos votos válidos, a quarta maior votação partidária no país (Tabela 1 – Vota-ção ao Senado 2010), só suplantada por PT, PSDB e PMDB (os partidos centrais da disputa presidencial). A eleição de Vanessa Grazziotin no estratégico estado do Amazonas é um grande feito, com 22,9% dos vo-tos, ao derrotar um dos principais próceres da oposi-ção a Lula. Netinho de Paula, em São Paulo – estado estratégico do país – fez uma campanha vibrante de um comunista, artista e negro, sob ataques perma-nentes e inescrupulosos. Ele obteve 7.763.327 votos, 21,1% dos votos válidos, a maior votação obtida por um comunista e por um negro na sociedade brasi-leira. Sendo eleição binominal, um terço de todos os paulistas que foram às urnas deu um dos votos a Netinho de Paula. Nos nove estados onde concorreu, o PCdoB chegou a 14,3% dos votos válidos, marca saliente e que abre perspectivas para combates futu-ros. Há ainda que considerar como resultado positivo da ação política eleitoral o apoio do PCdoB à vitória eleitoral de outros 27 senadores em todo o país. Com isso, altera-se qualitativamente a situação do Sena-do, que foi o calcanhar de Aquiles no combate entre o governo Lula e a oposição. Dilma Rousseff assume com apoio de bancadas de partidos aliados que têm 3/5 dos votos no Senado. Dentre eles, agora, dois co-munistas: Vanessa Grazziotin formando ao lado de Inácio Arruda, do Ceará, eleito em 2002.

Tabela 1 Votação ao Senado 2010

Posição PartidoVotação nacional

%

1º PT 39.410.141 23,12%

2º PSDB 30.903.736 18,13%

3º PMDB 23.998.949 14,08%

4º PCdoB 12.561.716 7,37%

O PCdoB alcançou votação ao Senado que o coloca na 4ª

posição nacional entre todos os partidos do país.

Os resultados proporcionais

Nas eleições proporcionais o PCdoB colheu o que plantou ao longo dos anos de governo Lula. Lançou 137 candidatos a deputado federal, 90% a mais que em 2006. Do total, 26% foram mulheres. No Rio de Janeiro, em chapa própria a federal, alcançou o co-eficiente eleitoral, que também seria possível na vo-tação obtida em diversos outros estados. Lançou 688 candidatos a deputado estadual, um marco jamais alcançado, 150% a mais que em 2006, sendo 22% mulheres. Constituiu chapas próprias visando ao co-eficiente eleitoral em oito estados (alcançado vitorio-samente em Acre, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, além de, na prática, Rondônia).

Quando coligado nas eleições proporcionais, pre-dominaram as alianças com PT e PDT (quinze esta-dos na eleição a federal e cinco na eleição a estadu-al), além de PMDB e PSB (dez estados na eleição a federal e seis na eleição a estadual).

A colheita foi significativa. Os partidos políticos no país com representação no Congresso Nacional são 22 entre os 27 concorrentes. Formam três blo-cos em termos de força eleitoral (não campos polí-ticos). O primeiro, de partidos que alcançam mais de 10% da votação (num teto máximo de 16,7% do PT, refletindo a relativa dispersão e equilíbrio de for-ças no Congresso) é formado por PT, PMDB e PSDB, polares à centro-esquerda, centro e centro-direita. Um segundo é formado por partidos intermediários, com mais de 5% da votação nacional e não polares, integrado por PR, PSB, PDT (do campo Dilma) PP, e DEM (este da direita, em franco descenso desde 2002). O terceiro bloco é formado por partidos que alcançam mais de 2% dos votos nacionais. Aí está o PCdoB, mais PSC (da base Dilma) e PTB, além de PV e PPS da oposição. Tomada em conjunto, a esquer-da sai fortalecida do pleito federal, não só PT, mas também PDT e PCdoB, e, sobretudo, PSB (Gráfico 1 - Percentual (%) nacional dos partidos para Deputado Federal - Eleições 2010). Formam 33% das cadeiras, incluindo nesse caso o PSOL, com 3 deputados, pela oposição (segundo o Núcleo de Estudos sobre o Con-gresso – http://necon.iesp.uerj.br/, no estudo de Fa-biano Santos e Mariana Borges). Observe-se que a com-posição final desses números depende dos processos da “Ficha Limpa” no Supremo Tribunal Federal.

O PCdoB na votação proporcional nacional (para deputados federais) cravou 2,85% dos votos, man-tendo-se na 12ª posição relativa no país (Tabela 2 - Eleição Federal 2010 / PCdoB). Em termos de ban-cada eleita é o 11º. Entretanto, foi o 8º partido nestas eleições que mais incrementou sua votação (Tabela 3 - Crescimento da votação em relação a 2006), o ter-

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ceiro se considerados apenas os partidos com mais números de deputados que o PCdoB (os outros, pela ordem, são PR e PSC). Foram 2.747.983 votos, incre-mentando em 38,62% a votação com relação a 2006. A bancada foi elevada de 13 para 15 deputados, 15% a mais que em 2006, mas 36% a mais se considera-da a bancada existente em 2009. Seis são mandatos novos. Apenas um membro da bancada não obteve a reeleição, Edmilson Valentim, Rio de Janeiro, mas poderá alcançar o mandato dependendo do julga-mento do STF afetando o deputado Garotinho. Se-ria, assim, o 16º membro da bancada do PCdoB. O PCdoB ajudou assim na vitória de Dilma na Câmara dos Deputados, que fez com sua base de apoio mais de dois terços da Câmara dos Deputados. De fato, apesar de pequena bancada, o PCdoB esteve entre os que cresceram nestas eleições.

Tabela 2Eleição Federal 2010 / PCdoB

Ano Posição Nº de votos% dos votos

válidos

2002 11º 1.967.135 2,25%

2006 12º 1.982.323 2,13%

2010 12º 2.747.983 2,85%

Na eleição federal proporcional, melhora seu posicionamento relativo entre todas as legendas, com incremento de 40% na votação.

Tabela 3 Crescimento da votação

em relação a 2006

Posição Partido %

1º PRB 655,61%

2º PSL 166,87%

3º PT do B 110,56%

4º PRTB 82,87%

5º PR (ex-PL) 79,44%

6º PSC 75,83%

7º PHS 75,47%

8º PC do B 38,62%

Importante não apenas simbolicamente – no ano da eleição de Dilma –, mas como expressão de uma vontade política em inteira consonância com o avanço civilizatório vivido no país, é a eleição de seis mulheres na bancada federal do PCdoB. Mantém-se assim como a legenda com maior proporção de mulheres no Congresso – 40%. Dentre elas, campeãs absolutas de votos como Perpétua Almeida, reelei-ta com 9,7% dos votos do Acre, e Manuela D’Ávila, reeleita com 8,1% dos votos do Rio Grande do Sul, ambas as mais votadas em seus estados. Formam ao lado de Luciana Santos (Pernambuco), Jandira Fe-ghali (Rio de Janeiro), Alice Portugal (Bahia) e Jô Moraes (Minas Gerais) uma bancada de mulheres

Tabela 3 Percentual nacional dos partidos para Deputado Federal - Eleições 2010

PT1

PMDB2

PSDB3

PR4

DEM5

PSB6

PDT8

PP7

PTB9

PV10

PSC11

PCdoB12

PPS13

18%

16%

14%

12%

10%

8%

6%

4%

2%

0%

Brasil

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destacadas no país todo.Além de Rio Grande do Sul e Acre, também re-

levam os resultados de Piauí, Ceará, Amazonas e Bahia, cuja votação federal no estado foi maior que 5% dos votos; e Amapá, Rio de Janeiro e Pernambu-co, cuja votação foi maior que o índice nacional de 2,85%.

Nas eleições a deputado estadual o PCdoB al-cançou 18 deputados em 13 estados – Acre, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Ca-tarina –, retomou posições em São Paulo além de dar um grande passo em Rondônia e Roraima. A votação total foi de 2.376.886 sufrágios, 2,43% do total no país. Entretanto, o crescimento dessa vo-tação foi mais expressivo, de 62,8%, e o crescimen-to do número de eleitos foi de 50% com relação a 2006. Foram eleitas quatro mulheres, 22% do total. É hoje o 13º partido do país em termos de assem-bleias legislativas. Destaque especial à Bahia, com três eleitos, e ao Acre, com dois, ambos os estados com mais de 5% dos votos proporcionais; Minas Gerais e São Paulo também elegeram dois estadu-ais cada, ambos com votação proporcional superior ao índice nacional; seguem-se Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Rondônia cuja votação estadual foi maior que o índice nacional de 2,43%, além do Amazonas e do Rio Grande do Norte que,

mesmo com votação expressiva, não lograram a eleição (Amazonas depende de decisões jurídicas). Isso é expressão de maior capilaridade eleitoral em todo o país e da apresentação de chapas amplas, com centenas de candidaturas.

De conjunto, a votação do PCdoB equipara-se melhor à distribuição do eleitorado (Gráfico 3 – Po-pulação 2007 / IBGE).

CAPITAL

Gráfico 3 - População 2007 / IBGE

Municípios com mais de 100 mil habitantes

Municípios com menos de 100 mil habitantes

Gráfico 2 Total de Deputados Estaduais do PCdoB - 1994 a 2010

18

16

14

12

10

8

6

4

2

01994 1998 2002 2006 2010

18

12

17

108

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63110/2010

O crescimento relativo entre 2006 e 2010 foi de 8,1% da votação nas capitais e de 58,6% no restante dos municípios. As capitais estaduais, no país, repre-sentam praticamente 25% do eleitorado. No PCdoB, 30% dos votos vieram das capitais e os restantes, 70%, do interior, mas se destaca o crescimento eleito-ral nas grandes cidades, refletindo a realidade sócio-urbana do país (Gráficos 4, 5 e 6 – Votação do PCdoB a Deputado Federal / 2002 a 2010). Pela primeira vez se manifesta esse resultado com tal força que repre-senta uma extensão às grandes e médias cidades do país nas regiões metropolitanas e no interior. Con-siderados os votos apenas das capitais, o PCdoB é o 10º partido do país, composto pela força (em ordem decrescente) de Porto Alegre, Rio Branco, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Cuiabá, Macapá, Manaus, São Luís e Teresina. Entretanto, em números absolutos, a votação total nas capitais não cresceu.

Quanto à força eleitoral partidária nas regiões, é preciso considerar que o país é federado, prevale-cendo realidades estaduais; a realidade “regional” tem pouca incidência para explicar o voto do elei-torado ou a força do PCdoB. Mesmo assim importa considerar que em 2010 a votação do PCdoB pelas regiões do país dá mais uma forte ascensão na vo-tação no Sul, com 25% do total nacional dos votos comunistas, graças principalmente ao Rio Grande, e retoma sua força relativa no Sudeste, a mais po-pulosa, com 33,5%, onde houvera se deprimido em 2006. Em ambas as regiões a votação deste ano ele-vou-se mais que 80% com relação a 2006. Mantém-se alta a participação percentual do Nordeste, com 32,9% dos votos, e no Norte com 6,1%, relativamen-te ao eleitorado ponderado dessas regiões.

Acumulação de forças

A direção nacional do PCdoB considerou esses resultados positivos, expressão de vitória política. São progressivamente cumulativos, sem quebras, ao longo das duas últimas décadas. Mas há duas cir-cunstâncias políticas indispensáveis de ser levadas em conta na análise.

Uma: esses resultados se obtêm numa transição de tática eleitoral do PCdoB. Desde 2004, nas elei-ções municipais, inicialmente, se impôs a compre-ensão de disputar eleições majoritárias, como forma de falar efetivamente a toda a sociedade, obter maior protagonismo político e acumulação de forças eleito-rais. Em 2006 foram “sacrificados” alguns objetivos proporcionais em função da eleição ao Senado, como no Rio de Janeiro e em Brasília. Em 2008 acentuou-se o movimento, quando o partido criou as bases pa-

Gráfico 4 Votação do PCdoB a Deputado

Federal / 2002

Gráfico 5 Votação do PCdoB a Deputado

Federal / 2006

Gráfico 6 Votação do PCdoB a Deputado

Federal / 2010

CAPITAL

Municípios com mais de 100 mil habitantes

Municípios com menos de 100 mil habitantes

CAPITAL

Municípios com mais de 100 mil habitantes

Municípios com menos de 100 mil habitantes

CAPITAL

Municípios com mais de 100 mil habitantes

Municípios com menos de 100 mil habitantes

Brasil

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ra maior interiorização, com a eleição de 40 prefeitos e mais de 600 vereadores, já com muitas chapas e coeficientes eleitorais próprios.

Os resultados de 2010 confirmam esse movi-mento e indicam possibilidades progressivas de acumulação, não apenas na esfera de representação proporcional. Em outra formação tática, podería-mos eleger até 22 deputados federais: “garantida”, por exemplo, em Amazonas, Maranhão, ou ampliar as chances proporcionais com Netinho de Paula e o ministro Orlando Silva. Entre-tanto, o curso da luta política no país indica, irrecusavelmente, disputar eleições majoritárias, inclusive como forma de obter melhores resultados propor-cionais em perspectiva. Nesse sentido, pode-se pensar que os melhores resultados do PCdoB estão por ser colhidos, em 2012 e posteriormente. No Brasil a cor-relação estatisticamente signifi-cante entre resultados eleitorais, praticamente a única, é a que se dá entre eleições municipais em termos de prefeitos e vereadores e eleições a deputado federal. Estamos nessa marcha.

A outra consideração é de or-dem mais geral. Neste momento do cenário nacio-nal e internacional a forma de acumulação eleitoral e institucional é decisiva para a luta de resistência e alternativas progressistas à crise do capitalismo. Por isso, é um terreno central de enfrentamentos. Mas o PCdoB é obstinado. Sabe que isso representa enorme pressão sobre o papel e o sentido estratégi-co do partido comunista em sua luta por um projeto nacional que abra caminho ao socialismo. Porque eleições a cada dois anos, no sistema brasileiro de votação exclusivamente nominal (lista aberta) e com financiamento exclusivamente privado, exi-gem mais que nunca uma perspectiva de partido, fidelidade de partido, um projeto de partido para unificar sua força num único caudal poderoso e in-tegrar-se, assim, à disputa política central existente na sociedade com capacidade de agregar largas for-ças políticas e sociais.

Isso não ocorre espontaneamente. A obstinação está em reconhecer que isso exige combinar inti-mamente, sem unilateralismos, três vias indispen-sáveis de acumulação de forças – a luta política,

incluída a esfera eleitoral e atuação institucional; com a luta social e a luta de ideias. São três pila-res aos quais não se pode nem deve abandonar, na perspectiva de construir uma força política voltada para mudanças profundas na sociedade. Em se-gundo, voltar a atenção estratégica à construção e estruturação do partido, não apenas no terreno po-lítico, mas igualmente no ideário programático e na organização. Em terceiro, lutar decididamente por uma reforma política.

Os resultados alcançados pelo PCdoB são vistos nessa chave: partes de um processo político, num terreno politica-mente favorável ao Brasil, mas estrategicamente de acumula-ção de forças para um projeto transformador de caráter so-cialista. Pode-se dizer, também nessa chave, que os resultados foram satisfatórios, sobretudo pelo caráter e as feições com que a sociedade brasileira vem enxergando o PCdoB – um par-tido de líderes respeitados, que luta pela união do povo, pelo Brasil soberano e democrático, pelos direitos do povo. Mas a luta do partido, em última ins-

tância, não prescinde da capacidade de reagir às pressões do processo de institucionalização e buro-cratização que afetam os partidos políticos no país, mantendo e aprimorando a capacidade de mobili-zação de massas na sociedade, a intervenção polí-tico-social e a luta de ideias. Isso é indispensável a uma hegemonia não apenas política e imposta – hegemonismo que se auto-entroniza –, mas àquela feita da capacidade de aglutinar verdadeiramente as forças avançadas, liderá-las pela capacidade de unir a maioria do povo trabalhador em torno de um projeto afirmativo de nação.

Esse rumo mais de fundo, estratégico, já foi aber-to pelo PCdoB. Propiciou linhas políticas, ideológicas e organizativas de partido, consensuadas desde o 11º e o 12º Congressos. É preciso persistir nelas por mui-tos anos todavia, sempre adequando-as aos desafios táticos ditados pelo curso político e a correlação de forças. Nas urnas ou nas lutas políticas de outros tipos, bons resultados dependerão disso. De igual modo, será preciso persistir em abrir as portas do partido largamente, vincando a identidade arejada

Assis Melo, líder operário eleito deputado federal pelo PCdoB do Rio Grande do Sul

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e de princípios que é a do PCdoB. Resultados espe-cificamente eleitorais dependerão, cada vez mais, da ousadia com que fizermos isso. Isso foi demonstrado no caso de São Paulo, com a votação consagradora de Netinho de Paula, a eleição de Protógenes Quei-roz como federal recém-ingresso ao lado do decano Aldo Rebelo (o federal do Brasil!), e de dois estadu-ais também recém-ingressos, Le-ci Brandão e Pedro Bigardi. Foi o rumo para São Paulo recuperar-se dos reveses que obteve desde 2004.

Base e núcleo da governabilidade

A vitória de Dilma num ter-ceiro mandato de orientação progressista, democrática e popular comporta os desafios que o PCdoB se coloca para o futuro. A campanha foi mar-cada por uma disputa relativa-mente despolitizada no debate no 1º turno. A oposição não teve o que oferecer em termos de futuro para o Brasil. O pro-grama de Serra, de supostas 280 páginas, foi apresentado 72 horas antes da eleição. O programa de Dilma igualmente só foi apresentado ao final da campanha do 2º turno, como síntese de 13 pontos. O que possibilitou a vitória foi o legado de Lula, as convicções da candidata e a formação de ampla frente política que sustentou o embate. A tentativa de confiná-lo a um pretenso enfrentamento entre PT e PSDB, acentuado pela mídia, além de ser um desserviço ao futuro gover-no, criou dificuldades políticas para a campanha. Deu ensejo a uma polarização forçada, má para o país, própria de quem pretendesse duopolizar o processo político brasileiro, ou pensasse ocupar o mesmo lugar político na “modernidade” brasilei-ra. Tal fato correspondeu mais aos interesses da oposição sem bandeiras, erroneamente assumidos por setores da campanha que buscaram impor he-gemonismo à vitória.

O Brasil é maior que isso. O Brasil mudou; a realidade atual do país e do mundo indica que as polarizações se agudizam, dadas as fortes pressões

conservadoras e reacionárias, internas e externas do imperialismo. Os desafios que o país tem pela frente só foram e serão vencidos com ampla união de esforços. É o próximo embate, para dar susten-tação e consequência ao governo Dilma, numa ou-tra realidade política pós-eleitoral. O PT de Dilma, o PMDB, ao centro, e à esquerda PSB, PDT, PCdoB,

entre outros, terão grandes res-ponsabilidades. A esquerda, que elegeu 33% do parlamento, terá papel ainda mais decisivo, ouso dizer, para que de fato se dê “seguimento a um projeto nacional de desenvolvimento que assegure grande e susten-tável transformação produtiva do Brasil”, para o país “crescer mais, com expansão do empre-go e da renda, equilíbrio ma-croeconômico, sem vulnerabi-lidade externa e desigualdades regionais”, “erradicar a pobreza absoluta e prosseguir reduzindo as desigualdades”, “expandir e fortalecer a democracia política, econômica e social”, bem como a “garantia irrestrita de liber-dade religiosa, de imprensa, de expressão, pelo aprofundamen-to dos direitos humanos” e, na área social, garantir “educação para a igualdade social, cida-dania e desenvolvimento”; a

universalização da saúde de qualidade, através do SUS; e a valorização das cidades, com “habitação, saneamento, transporte e vida digna e segura pa-ra os brasileiros” (trechos do Programa de Dilma Rousseff). “O país e o povo crescendo juntos, res-peitando o meio ambiente”, na síntese simples e feliz de Dilma na TV, saudando o Brasil como um dos países que mais crescem no mundo hoje. Como disse Dilma Rousseff certa ocasião, o novo governo dependerá de governabilidade – o apoio de amplas forças no Congresso –, como também de um nú-cleo sólido de esquerda como prumo do governo.

Walter Sorrentino é médico e secretário nacional de

Organização do Comitê Central do PCdoB. Este ar-

tigo contou com a inestimável colaboração de Elaine

Guimarães e André Bezerra, membros da Comissão

Nacional de Organização.

Brasil

Com Flávio Dino, candidato ao governo do estado do Maranhão, o PCdoB inaugurou com brilhantismo sua participação nessa esfera de disputa