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PENSE Virtual – Revista Virtual das Faculdades Integradas Barros Melo. v.3 - n.5 - Dezembro. 2010 -Publicação Científica - ISSN 1983-5957 PENSE Revista Virtual das Faculdades Integradas Barros Melo Volume 3 - número 5 - Dezembro - 2010

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Revista semestral das Faculdades Integradas Barros Melo.

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PENSE Virtual – Revista Virtual das Faculdades Integradas Barros Melo. v.3 - n.5 - Dezembro. 2010 -Publicação Científica - ISSN 1983-5957

PENSERevista Virtual das Faculdades Integradas Barros Melo

Volume 3 - número 5 - Dezembro - 2010

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Conselho EditorialAlexandre Henrique Tavares Saldanha - Mestre em DireitoSandra Ferreira de Lima - Mestre em MultimeiosThiago Affonso de Melo Novaes Viana - Mestre em Engenharia da Computação

Editor: Mattew Gerard O"Connor - Mestre em Ciência PolíticaCoordenação Técnica: Sydia Magnólia Pinto Sousa - Especialista em Informação Tecnológica -CRB-4 1246Projeto Gráfico/Diagramação: Renato José Araújo de AlbuquerqueRevisão Ortográfica: Gabriele Fernanda Gomes e Silva

A Revista das Faculdades Integradas Barros Melo tem por escopo divulgação científica de artigos acadêmicos. Os artigos são de responsabilidade dos respectivos autores, não refletindo, neces-sariamente, a opinião do conselho Editorial acerca do conteúdo dos mesmos.

Direitos Reservados à Ensino Superior de Olinda Ltda – AESO – Faculdades Integradas Barros Melo.

Copyright by Ensino Superior de Olinda Ltda-AESO.

A Ensino Superior de Olinda Ltda - AESO cumpre, rigorosamente, a Lei do Depósito Legal (Lei nº 1.825 de 20 de dezembro de 1907), sendo a Revista das Faculdades Integradas Barros Melo, preser-vada como patrimônio jurídico-literário na Biblioteca Nacional.

É permitida a reprodução parcial dos artigos, desde que citada a fonte. Solicita-se permuta / Exchange disued / On demande échange

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Gledson José da Silva

José Clayton Rodrigues da Silva

Lukas Alexandre Pereira de Andrade

Thiago Affonso de Melo Novaes Viana e Sthenia Gomes do Nascimento

Thiago Affonso de Melo Novaes Viana e Sthenia Gomes do Nascimento

As Cotas Raciais no Brasil: uma visão doutrinária – jurisprudencial - p. 01:01

On-line Branding: Netnografia para Compreender Novos Relacionamentos entre Marcas e Consumidores - p. 02:01

Planejamento de Testes com Base nos Riscos na RBTTool - p. 03:01

Aplicação de técnicas de inteligência artificial na educação: O uso de chatterbots na educação à distância - p. 04:01

Uma proposta de um sistema tutor virtual para as disciplinas básicas de matemática em cursos técnicos de educação à distância - p. 05:01

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AS COTAS RACIAIS NO BRASIL: UMA VISÃO DOUTRINÁRIA – JURISPRUDENCIAL

A abordagem deste trabalho, acerca das Cotas Raciais, visa estabelecer um clarea-mento do tema, hoje em discussão na plural sociedade brasileira. Efetuando uma leitura histórica da gênese do Brasil, é fácil deduzir que nosso país tem uma dívida social a pagar. E esse principal credor é formado por uma maioria populacional, maioria essa, que nun-ca terá acesso a uma universidade pública. Será as cotas raciais a moeda de pagamento desta histórica dívida? Ou uma ferramenta de inclusão social? Todavia, um amplo debate se apresenta contrário as cotas raciais, onde para uma minoria privilegiada, as cotas cria-riam o racismo no Brasil? Esse litígio chegou aos tribunais, que dará a palavra final sobre a temática em questão.

Gledson José da SilvaGraduando do Curso de Bacharelado em

Direito das Faculdades Integradas Barros Melo

cotas raciais; ações afirmativas; jurisprudência

Resumo

Palavras-Chave:

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As Cotas Raciais no Brasil: uma visão doutrinária – jurisprudencial

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1. INTRODUÇÃO

Se com a Lei Áurea (1888), o povo negro no Brasil historicamente adquire o direito de ir e vir com liberdade. Só exatamente um século depois é que teremos as primeiras discussões, num campo estatal, sobre políticas sociais, ou melhor, ações afirmativas, como instrumentos de reparação e inclusão social para um elevado contingente de pessoas que outrora fora arrancado de sua cidade natal, sendo destinado em sua maioria a terras brasileiras na condição de escravos.

Neste trabalho, trataremos das cotas raciais no Brasil, mas especificamente do problema das cotas como política de acesso às universidades públicas sobre uma visão dos tribunais, para tanto dividimos o trabalho em quatro capítulos.

No primeiro deles, pontuando sobre desigualdade e etnia, efetuaremos um paralelo entre igualdade e diferença, diante de uma sociedade plural como a brasileira.

Em seguida, analisaremos as cotas raciais no Brasil num plano histórico, ou seja, desde sua gênese até as mutações de um discurso de contas raciais para cotas sociais.

Depois, dedicamos um capítulo para tratar da visão dos tribunais sobre o tema das cotas já implantadas em algumas universidades públicas brasileira.

Por fim, tentaremos mostrar se as cotas têm eficácia na diminuição do abismo de desigual-dade existente entre: o número de negros em relação aos brancos nas universidades públicas.

Nosso objetivo é que o leitor analise se são pertinentes as cotas no Brasil e reflita sobre o tema.

2. DESIGUALDADE E ETNIA

A própria palavra (desigualdade) já denota seu conceito diferenciador e no Brasil, ela sempre esteve ligada como sinônimo de uma raça, a Raça Negra.

A história da humanidade sempre caminhou em conjunto com a desigualdade. Desde a Grécia, quando surge a polis grega e junto a ela o embrião da democracia moderna, parcela considerável da sua população não era considerada cidadãos gregos.

Durante o período do Antigo Regime teremos a relação de suserania e vassalagem, esse sendo tratado com tamanha indiferença.

Já na era das Revoluções (Revolução Industrial; Revolução Francesa e Independência do EUA), emerge uma nova classe social, ao qual historiograficamente chamamos de burgueses. Neste período temos o advento do Estado Moderno.

Até aqui, o mundo já tinha vivenciou o período Iluminista, o Renascimento e as grandes navegações.

Contudo, apesar da desigualdade acompanhar a humanidade desde a antiguidade, nas modernas nações centrais as desproporcionalidades entre seus nacionais e as demais raças foram extremamente diminuídas. Embora a história registre ainda hoje casos isolados.

No Brasil encontramos uma extrema particularidade em pleno século XXI. A desigualdade existente na população brasileira é gritante.

O nosso passado escravocrata é um elemento que se faz presente até este momento na sociedade pátria. Apesar de termos avançados em alguns aspectos. No campo da desigualdade os avanços ainda não são visíveis. Ou seja, o abismo de desigualdade que existia entre a Casa Grade e a Senzala entre os séculos XV e XIX, estar bastante presente ainda hoje. Ainda temos uma minoria que se perpetuou no poder e reluta em modificar essa condição, “já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o homem cordial. A Ihaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definitivo do caráter brasileiro, na medida ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal.

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Seria engano supor que essas virtudes possam significar “boas maneiras”, civilidades”.1

A nossa desigualdade é tamanha e os as pesquisa comprovam essa realidade. Conforme demonstrou o IBGE em 2006, “a diferença de escolaridade entre negros e brancos nas regiões onde melhores são as condições de ensino, como a Região Sul, alcança o colossal – e catastrófico – índice de 70,3% para faixa de idade entre 20 e 24 anos. Considerado o con-junto dos brasileiros na faixa de idade que vai dos 18 aos 24 anos, apenas 19% dos brasileiros negros estão nas universidades, enquanto que nada menos do que 51% dos brasileiros brancos dessa faixa ingressam no nível superior de ensino”.2

Apesar dos números revelarem que existe uma cisão entre negros e brancos no que se refere ao acesso das universidades públicas, ocasionado pelo nosso passado escravocrata e com a colaboração de um Estado inerte, para remediar o problema. As pesquisas poderiam servir de base para justificar ações que surgissem para minimizar essa separação existente no Brasil. Porém, os índices são utilizados para embasar discursos como: “a desigualdade no Brasil é social, ou melhor, econômica”. Assim, o problema seria não a cor da pele, mas uma questão de riqueza e pobreza. “Resolvendo-se o problema econômico, o racismo à brasileira estaria solucionado”.3

Outra maneira de tentar negar que a desigualdade no Brasil tem cor negra, é a utilização de pesquisas científicas sobre a existência ou inexistência de “raças”.

Para Sérgio Pena, “os avanços da genética molecular e o seqüenciamento do genoma hu-mano permitiram um exame detalhado da correlação entre a variação genômica, a ancestra-lidade biogeográfica e a aparência física das pessoas, mostrando como os rótulos antes usados para distinguir “raças” não têm significado biológico. É fácil distinguir fenotipicamente um europeu de um africano ou de um asiático, mas tal facilidade desaparece completamente quando procuramos evidências dessas diferenças “raciais” nos respectivos genomas.”4

A tese do geneticista Sérgio Pena, confirma as idéias do sociólogo Gilberto Freyre ao re-velar o caráter mestiço dos brasileiros, o que, na visão dele, inviabilizaria uma política de ação afirmativa baseada em critérios raciais.

Porém, o conteúdo de um artigo assinado pelo próprio médico Sérgio Pena e pela bióloga Maria Catarina Bortolini, publicado em janeiro de 2004, pela prestigiosa revista científica Estudos Avançados, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Intitu-lado “Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e da ação afirmativa?”, afirma o artigo, entre outras coisas, que, “mesmo não tendo o conceito de raça pertinência alguma, ele continua a ser utilizado, na construção social e cultural, como um instrumento de exclusão e opressão. Independentemente dos clamores da genética moderna de que a cor do indivíduo é estabelecida por um punhado de genes totalmente desprovidos de influência sobre a inteligência, talento artístico ou habilidades sociais, a pigmentação da pele ainda parece ser um elemento predominante da avaliação social de um indivíduo e talvez a principal fonte de preconceito”.5

Essas afirmações comprovam que nossa desigualdade é da mais perversa e que na realidade jamais escondeu o nosso obscuro “preconceito de ter preconceito” (Florestan Fer-nandes).

Esses escritos jogam por terra o discurso da igualdade racial no Brasil.

2.1 IGUALDADE E DIFERENÇA

A Igualdade que, a luz da epistemologia jurídica constitui-se em: Princípio da Igualdade. Esse princípio pode ser compreendido em duas acepções: em igualdade formal e igualdade material. A igualdade formal é dirigida ao Estado, como forma de vedar o tratamento desigual

1- HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1995. pp. 146 – 147.

2- IBGE, “Síntese de Indicadores Sociais”, 2006, pág. 245-265.

3- COSTA, André Luiz de Souza. Escritos sobre Racismo, Igualdade e Direitos. Ed. Instituto Afirmação de Direitos. Fortaleza, 2009, pp. 11-12.

4- PENA, Sérgio D. J. Humanidade sem Raças? 1ª Ed.- São Paulo, Publifolha, 2008, p. 19.

5- MEDEIROS, Carlos Alberto. “Manipulação genética do debate sobre raça” Revista Palmares– Ano IV, número 4, outubro 2008, p. 66.

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As Cotas Raciais no Brasil: uma visão doutrinária – jurisprudencial

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das pessoas, baseados em caracteres suspeitos, como por exemplo, o sexo, raça, convicções morais, religiosas e filosóficas.

Assim, o princípio da igualdade formal está positivado no caput do art. 5º da Carta Magna de 1988, ao dizer que "todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza".

O que de certa forma repele qualquer tratamento diferenciado entre os cidadãos da con-temporânea sociedade brasileira.

Contudo, busca-se não somente essa aparente igualdade formal (consagrada e difundida pelo liberalismo clássico), mas, principalmente, a igualdade material, na medida em que a lei deverá tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades.

A igualdade material está enfocada a partir de uma realidade histórica de marginalização social ou de hipossuficiência decorrente de outros fatores, “logo busca-se estabelecer medi-das de compensação, visando concretizar, ao menos em parte, uma igualdade de oportuni-dades com os demais indivíduos, que não sofreram as mesmas espécies de restrições”.6

Ou seja, não basta que a Constituição diga que todos são iguais perante a lei, vedando o seu tratamento de forma diferenciada, é necessário que a Constituição obrigue o Estado a discriminar as pessoas para promover uma verdadeira igualdade.

A percepção dessa discriminação se dá com o surgimento do Estado do Assistencial ou Estado do Bem-Estar Social, expresso inicialmente na Constituição Mexicana de 1917 e na Constituição Alemã de Weimar de 1919. Contrapondo-se à inatividade do Estado Liberal, o Estado Assistencialista passa a intervir na sociedade para igualar as pessoas, estipulando benefícios compensatórios aos que antes eram excluídos.

Surge, portanto, uma verdadeira discriminação positiva, destinada a suprir as desvantagens historicamente imposta às pessoas em razão da sua cor de pele, religião ou sexo, por exemplo.

A discriminação positiva assemelha-se aos princípios de justiças formulados por Jonh Rawls. Para quem, pelo Princípio da Igualdade: “cada pessoa deve ter um direito igual ao mais extenso sistema de liberdades básicas que seja compatível com um sistema de liberdades idêntico para as outras” e no Princípio da Diferença: “as desigualdades econômicas e sociais devem ser dis-tribuídas de modo que, simultaneamente: (a) se possa razoavelmente esperar que elas sejam em benefício de todos; (b) decorram de posições e funções às quais todos têm acesso”.7

Sendo assim, a definição de Igualdade deixa de ser um conceito meramente passivo, para abarcar uma face também ativa, ou seja, chegamos a um conceito de igualdade positiva, que culminou nas ações afirmativas.

2.2 O PROBLEMA DO PLURALISMO

Com o advento do Estado Moderno, surge o individuo como elemento dessa nova ordem social. Ou seja, temos a formação das sociedades plurais e conseqüentemente complexas.

Ao analisarmos a história brasileira no que se refere à formação e constituição do seu povo, podemos perceber a complexa miscigenação que é essa população.

Portanto, é neste plural cenário social que as ações afirmativas estarão inseridas.Conforme afirma Ivison Cordeiro de Melo, “a modernidade traz dentro de si uma crise a

ser resolvida”.8

Contudo, essa crise a ser resolvida, no caso da sociedade brasileira, primeiramente deve-se a problemática da igualdade de oportunidade especificamente para as minorias.

É verdade que diversas ações tem se voltado para amenizar as diferenças, como, por exem- plo, vagas para deficientes em repartições públicas ou privadas, Estatuto do Idoso, etc.

Porém, nossa sociedade é tão desigual, plural e complexa que só 200 anos depois da

6- LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 680-681.

7- RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Ed. Universidade de Brasília, 1981, pp. 67-69.

8- MELO, Ivison Cordeiro de. ‘Jurisdição Constitucional e Pluralismo: Perspectivas de Superação da Dicotomia Celeridade Versus Legitimidade Pela Reestruturação Do Controle De Constitucionalidade’ em TEIXEIRA, João Paulo Allain (org.). Elementos para a Legitimidade Democrática da Jurisdição Constitucional no Brasil, Curitiba: CRV 2009 PÁGINA

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cria-ção do STF, já que o STF tem a sua origem histórica no início do século XVIII (Casa da Suplicação do Brasil – ainda na fase colonial, em 10.05.1808, e Supremo Tribunal de Justiça, em 09.01.1829), teremos a indicação de uma mulher (Ellen Gracie Northfleet) e um negro (Joaquim Barbosa) para seu quadro de Ministro.

Que o pluralismo social tem sua complexidade é inegável. Mas, é dever e obrigação do Estado, gerir políticas que oportunize a todos igualdade de oportunidade aos melhores car-gos de prestígio social.

3. AS COTAS RACIAIS NO BRASIL

De inicio informamos que cotas raciais é um dos tipos das ações afirmativas. E que ações afirmativas são “Ações afirmativas são medidas especiais e temporárias, tomadas ou determi-nadas pelo estado, espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo de eliminar desigual-dades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros. Portanto, as ações afirmativas visam combater os efeitos acumulados em virtude das discriminações ocorridas no passado”.9

Esse foi um dos primeiros conceitos surgidos no Brasil dentro do GTI - Grupo de Trabalho Inter-disciplinar criado no governo de Fernando Henrique Cardoso no ano de 1995, hoje já extinto.

Contudo, já com o advento da Carta Magma brasileira de 1988, passamos a vislumbrar a possibilidade no direito pátrio de termos as discriminações positivas ou ações afirmativas patrocinadas pelo Estado.

A temática será mais bem analisada nos tópicos a seguintes.

3.1 HISTÓRIA

Há um século e meio, um dos abolicionistas definiu o papel dos negros na construção da História brasileira: “a raça negra nos deu um povo. O que existe até hoje sobre o vasto ter-ritório que se chama Brasil foi levantado ou cultivado pela aquela raça; ela construiu o nosso país. Tudo o que significa luta do homem com a natureza, conquista do solo para a habitação e cultura, estradas e edifícios, canaviais e cafezais, a casa do senhor e a senzala dos escra-vos, igrejas e escolas, alfândegas e correios, telégrafos e caminhos de ferro, academias e hospitais, tudo, absolutamente tudo que existe no país, como resultado do trabalho manual, como emprego de capital, como acumulação de riqueza, não passa de uma doação gratuita da raça que trabalha à que faz trabalhar... a raça negra fundou, para outros, uma pátria que ela pode, como muito mais direito, chamar sua”.10

Essa citação demonstra que a luta em pró da igualdade formal e material no Brasil pode-se assim dizer, vem desde o final do século XVIII. Quando ainda éramos colonizados por “semeadores de cidades irregulares, nascidas e crescidas ao deus-dará, rebeldes à norma abs- trata, norteados por uma política de feitoria, agarrados ao litoral, de que só se desprende-riam no século XVIII”...11 , tudo à luz divina da santa religião católica, apostólica, romana.

Será “logo depois da revolução, em outubro de 1931, que surgirá a Frente Negra Brasileira (FNB), com sede em São Paulo e que se espalha pelo Brasil, chegando a 100 mil filiados. O programa da FNB foi sintetizado pelo objetivo que constava do seu estatuto: realizar a união política e social da Gente Negra Nacional, para afirmação dos direitos históricos da mesma”. A FNB via o destino dos negros como essencialmente igual ao da nação brasileira. Por isso, em sua maioria, apoiou Getúlio Vargas e a revolução. Como nota um articulista, “os principais discursos de seus membros recaiam sobre o combate ao racismo, promoção

9- SANTOS, H. et al. Políticas públicas para a população negra no Brasil. ONU, 1999. [Relatório ONU] p.25

10- NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo”, 1863. Informação extraído da Revista Raiz da Liberdade – CNAB. Edição Especial, julho de 2009, p. 21.

11- HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 30.

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das condições de vida do negro, saúde, educação e emprego. Por vezes essas reivindicações coincidiam com as reivindicações do movimento operário em geral”.12

Porém, apesar dos grandes avanços históricos do passado, que se somam aos das últimas décadas – inclusive a legislação, que, com a Constituição de 1988, tornou o racismo crime inafiançável e imprescritível, (art.5°, XLII, CF.) - a discriminação contra os negros ainda persiste na sociedade brasileira. Naturalmente, seria muito maior se não fosse à luta das entidades como: Fundação Cultural Palmares, Movimento Negro Unificado – MNU, Congresso Nacional Afro-Brasileiro – CNAB, Confederação das Mulheres do Brasil – CMB etc. pela liber-dade e igualdade de direito material e formal.

O tema cotas raciais no Brasil só ganhar visibilidade midiática quando a Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, no ano de 2000, passa a reservar 50% das vagas do seu vestibular para alunos oriundos de escolas públicas e 40% das vagas para alunos que se de-clarassem negros ou pardos (Leis ns. 3.524/2000 e 3.708/2001).

No plano federal a pioneira foi a Universidade de Brasília – UNB, que desde 2004, reserva 20% das suas vagas em seu vestibular para as cotas raciais. A partir dessas iniciativas, ou-tras insti-tuições de ensino superior pública federal e estadual passaram a adotar o critério das cotas ou outro tipo de ação afirmativa em seus processos de seleção para as vagas de discentes.

Essas iniciativas visam minimizar o desigual quadro social brasileiro e proporcionar a uma boa parcela marginalizada da população a oportunidade de melhores colocações nos postos de trabalhos seja privado ou público. Esse último tomado de assalto desde o início da nossa história, “como aquela ordem régia de 1726, que vedava a qualquer mulato, até a quarta geração, o exercício de cargos municipais em Minas Gerais, tornando tal proibição extensiva aos brancos casados com mulheres de cor”.13 Ou seja, temos uma verdadeira exclusão estatal, confirmada nos escritos de José Murilo de Carvalho, “o emprego público, no Império, era uma fonte estável de rendimentos e a oportunidade para uma elite bem formada iniciar uma longa carreira política, que começava com a aquisição de um diploma de nível superior”.14

É essa mesma elite que vem se perpetuando nas entranhas do aparato estatal, que mesmo a luz de toda modernidade do século XXI, luta e reluta para não ver modificado o status quo que sempre teve. Agora fazendo uso de argumentos como: “Vivemos numa democracia racial”; “Somos um país mestiço”; “Aqui não é os Estados Unidos da América – EUA e nem a África do Sul”; “Todos são iguais”; “Se você tem dinheiro não importa a cor da pele”.15 Ou seja, tentam criar uma atmosfera de que o nosso passado não importa e que no presente não cabe reparação social, para as classes que por séculos têm sido marginalizadas.

“A nossa cultura é, de certa forma, uma criação nossa, dos negros, no que ela tem de mais original. Não foi uma simples transferência das culturas africanas para o Brasil. Mas do que isso, foi uma criação, deste lado do Atlântico, de uma nova cultura, em que contribuíram todas as etnias aqui presentes, mas cujo cimento, que permite que ela seja única e nacional, foi fornecida pela contribuição negra”.16

3.2 CONCEPÇÃO

As primeiras reivindicações por melhorias de igualdade para as pessoas de cor negra, no século XX, surgem nos EUA logo depois da Segunda Grande Guerra. Trabalhadores negros americanos que haviam substituídos os brancos que foram para guerra, passaram a reivindi-car equiparação salarial. O Estado norte americano atende algumas reivindicações da classe

12- Revista Raiz da Liberdade. Edição Especial – CNAB, julho de 2009, pp. 27-28.

13- “Por ordem régia, o governador estabelece severas e drásticas restrições aos homens negros, ou de origem africana, vedando cargos e funções públicas”. HOLANDA, Sérgio Buarque de, Raízes do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995, pág. 54-55.

14- OLIVEIRA, Nora de Cássia Gomes de. ‘A Província da Bahia e a construção do Estado Nacional’ - PPGH/UFPB, p. 76. apud CARAVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Campus, 1980.

15- COSTA, André Luiz de Souza. Escritos sobre Racismo, Igualdade e Direitos. Ed. Instituto Afirmação de Direitos. Fortaleza, Ceará, maio de 2009, pp. 11-12.

16- Revista Raiz da Liberdade. Edição Especial – CNAB, julho de 2009, p. 28.

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trabalhadora negra, adotando algumas leis benéficas a ela. Essas leis surgem no campo trabalhista, visando combaterem as discriminações sofridas pelos negros, temos assim as primeiras políticas públicas de ações afirmativas. Que outrora já demos sua definição.

Cabe ressaltar mais uma vez, que as ações afirmativas não se confundem com as cotas raciais. Ação afirmativa é qualquer ação que vise beneficiar uma minoria excluída, seja essa ação de ordem pública ou privada, por exemplo, a contratação de pessoas portadora de de-ficiência física tanto em âmbito público ou privado.

As cotas raciais são um tipo de ação afirmativa das mais polêmicas.Contudo, as ações afirmativas do tipo cotas raciais, terão sua origem na década de 1960, nos Es-

tados Unidos da América durante o governo do Presidente John F. Kennedy, quando a Universidade da Califórnia e a Faculdade de Harvard, passaram a reservar vagas exclusivamente para indivíduos de grupos minoritários, “negros, índios, ou norte americanos descen-dentes de mexicanos”.

No Brasil como já vimos, as cotas raciais será debatida pela primeira vez na esfera estatal durante a Presidência de Fernando Henrique Cardoso, no ano de 1995, ainda de maneira muito tímida.

Será no ano 2000, com a UERJ adotando as cotas raciais em seu vestibular, que passaremos a assistir um forte debate sobre as cotas, criando correntes favoráveis e contrarias ao sis-tema das cotas. Em seguida tivemos a Universidade de Brasília – UNB, que também adotou as cotas no seu vestibular em 2004 com prazo final do programa em 2013.

Diante desse panorama de idéias de política de cotas e por toda problemática gerada com outras iniciativas, o Governo Federal, através da MP n. 213, de 10.09.2004, instituiu o PROUNI – Programa Universidade para Todos. O artigo 1.° da lei n. 11.128/2005 que instituiu o PROUNI, dispõe tratar-se de programa destinado à concessão de bolsas de estudos integrais e parciais de 50% ou de 25% para estudantes de cursos de graduação e seqüenciais de formação espe-cífica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativo. O artigo 2° destina a bolsa para: a) estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsistas integral; b) estudante por-tador de deficiência, nos termos da lei; c) professor da rede pública de ensino, para cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério de educação básica, independente da renda a que se referem os §§ 1.° e 2.° do artigo 1.° desta lei.

Isolando-se de opiniões sobre o tema neste momento, o que podemos averiguar até aqui, é que as cotas são legítimos instrumentos que transforma numa verdadeira obrigação do poder público e da sociedade como um todo, a busca pela igualdade material.

3.3 COTAS RACIAIS versus COTAS SOCIAIS

As cotas ao chegarem ao Brasil, vêm gerando discussões em todos os níveis da sociedade. Passa ser corrente nos principais jornais e revista do país opiniões como a do coordenador

nacional do Movimento Negro Socialista, José Carlo Miranda, que tem feito campanha contra as cotas, “para lutarmos contra o preconceito, contra a discriminação, contra o racismo, nós temos que lutar por mais igualdade, não por diferenciar as pessoas, não por afirmar a diferen-ça das pessoas, mas sim afirmar a igualdade. Então quanto mais direitos, oportunidades nós da-mos a todos, mais democrático vai ser esse acesso”17, diz Miranda, que entregou um manifesto contra as cotas raciais no Congresso Nacional. Também contrária à política de cotas raciais, a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Yvonne Maggie, afirma: “o que nós temos são dados que mostram que o que distancia as pessoas com cores diferentes é a sua posição social e não a sua posição como pertencente a um determinado grupo. No Brasil, nós temos uma cultura que valoriza a nossa condição de sociedade não-racista”.18

Os discursos ora mostrados enfatizam que o grande problema não seria a cor da pele, mas uma questão de riqueza ou pobreza.

17- LOBO, Irene. Reportagem da Agência Brasil – Empresa Brasileira de Comunicação, publicação em 06 de junho de 2007.

18- Idem;

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O que ajuda a levantar a bandeira das cotas sociais, que passaram a ser vistas com mais simpatias pelos opositores das cotas raciais, sob alegação de que, esta classificaria o indi-víduo pela sua cor, enquanto que aquela olharia para as condições sociais do proponente, assim como também, para toda sua origem educacional. Ou seja, é uma forma mais abran-gente de seleção. Porém, mesmo para os simpatizantes das cotas sociais, elas seriam uma forma do estado esconder toda problemática existente na educação brasileira desde o en-sino básico até o fundamental.

Do lado oposto, temos os adeptos das cotas raciais, que as defende alegando “não se trata aqui de reparar no presente uma injustiça passada; não se trata de vindita ou compensação pelas agruras da escravidão; a injustiça aí esta presente: as universidades, formadoras das elites, habitadas por esmagadora maioria branca. Permissa máxima vênia, não há como dei-xar de dizê-lo, ver a disparidade atual e aceitá-la comodamente é uma atitude racista em sua raiz”.19 Assim como seria “simplismo, também, dizer que as cotas nas universidades não são remédio adequado, que o tratamento a ser dispensado ao problema está em propiciar-se um ensino básico democratizado e de qualidade. É claro que as cotas raciais não constituem a úni-ca providência necessária, não se há de erigi-la em solução. Não as vejo, todavia, como mero aplicativo, pois creio que uma elite nova, equilibrada em diversificação racial, contribuirá em muito para a construção da sociedade pluralista e democrática que o Brasil requer”.20

Sendo assim, verificamos que ambas as ações afirmativas do tipo cotas possuem pontos positivos e negativos, e que o debate continuará sendo alimentado pelas diversas opiniões que vão sendo exposta nos meios de comunicação brasileiros.

O que nos parece visível, como podemos observar neste capítulo, é que o tema tem uma extrema complexidade, chegando a dividir até mesmo as entidades negras, que estão na luta pela diminuição das desigualdades étnicas, mas que algumas não vê com bons olhos, o sistema de cotas como uma possibilidade de inclusão social.

Contudo, caberá aos tribunais decidirem as lides que vem sendo levantada em virtude do tema. Porém, o assunto não tem sido fácil nem mesmo para os que possuem o poder de jurisdição, visto que, uma decisão que considere o sistema de cotas inconstitucional, poderá significar a perca de uma grande oportunidade para o Estado brasileiro efetuar um dos seus primordiais papeis, o da igualdade material.

4. AS COTAS NA VISÃO DOS TRIBUNAIS

Embora a pesquisa da Datafolha, publicada na Folha de São Paulo em 23 de julho de 2006, indicar que 65% dos brasileiros são a favor das cotas. Os anticotas argumentam que as ações afirmativas fracassaram nos Estados Unidos e aprofundaram o cisma racial na sociedade norte-americana. Além disso, utilizam a genética para concluir cientificamente que “não existem negros”, a fim de invalidar o sistema de cotas.

No Brasil o debate chegou aos tribunais.Logo após, a UERJ implantar seu sistema de cotas no vestibular de 2000, as primeiras

ações judiciais foram propostas, “dentre elas uma representação de inconstitucionalidade no Tribunal de Justiça estadual (TJRJ), processo n.º 2003.007.00021, e uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal (STF), processo n.º ADIN 2.858, in-terposta em 19.03.2003 pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (CON-FENEN), com o objetivo de declarar inconstitucionais alguns dispositivos das Leis estaduais ns. 3.524/2000, 3.708/2001 e 4.061/2003, que reservaram, do total das vagas em todos os cursos das universidades públicas fluminenses, no mínimo, 50% para alunos candidatos ao vestibular que cursaram o ensino fundamental e médio em escolas públicas municipais ou estaduais e,

19- COSTA, André Luiz de Souza. Escritos sobre Racismo, Igualdade e Direitos. Ed. Instituto Afirmação de Direitos. Fortaleza, Ceará, maio de 2009, p. 11-12.

20- Ibid.pp. 24-27.

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desse percentual, 40% das vagas, no mínimo, a candidatos que se declararem, no ato da in-scrição para o vestibular, negros ou pardos e 10% aos vestibulandos portadores de deficiência.

De acordo com os argumentos da entidade, “com a aplicação das três leis aos vestibulares de acesso às universidades públicas do Rio de Janeiro, os candidatos que não se declararem negros ou pardos e que não tenham estudado em escola pública municipal ou estadual, só poderão concorrer a 30% das vagas oferecidas”.21

O parecer do PGR foi pela inconstitucionalidade das leis “... por invasão de competência legislativa privativa da União sobre diretrizes e bases da educação nacional (artigo 22, inciso XXIV, CF)” e ainda, por se tratar o assunto de competência concorrente da União, devendo esta estabelecer as normas gerais (artigo 24, IX, CF).22

Infelizmente, o STF não se posicionou sobre o assunto. Isso porque, tendo em vista a revoga-ção das referidas leis pelo art. 7.° da Lei estadual do Rio de Janeiro n. 4.151, de 05.09.2003, o Mi- nistro relator, Carlos Velloso, julgou prejudicada a ADI, já que ficou “sem objeto” (23.09.2003).

Em abril de 2008, o STF recebeu um manifesto contrário às cotas, intitulado “113 Ci-dadãos Anti-Racistas Contra as Cotas Raciais”. O documento apoiava a ação direta de incons- titucionalidade impetrada pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) e pelo Partido Democratas contra o Prouni e o sistema de cotas para negros nas universidades.

Recentemente em decisão de 03 de agosto de 2009, o Supremo Tribunal Federal indeferiu o pedido de liminar formulado pelo partido Democratas (DEM) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 186. O partido questionou o sistema de 20% de cotas raciais para negros, instituído pela Universidade de Brasília (UNB) para aplicação em seus vestibulares.

“Proferida pelo presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, a decisão atende manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU). Segundo o ministro, as ações afirmativas, como as cotas raciais, deveriam ser limitadas no tempo. Ele salientou que "a exclusão no acesso às universi-dades públicas é determinada pela condição financeira" e observou que "nesse ponto, parece não haver distinção entre 'brancos' e 'negros', mas entre ricos e pobres". Gilmar Mendes in-formou que, apesar da importância do tema em debate, "neste momento, não há urgência a justificar a concessão da medida liminar". “Na manifestação apresentada ao Supremo, a AGU defendeu que as medidas de ação afirmativa destinam-se a reduzir as desigualdades fáticas registradas entre os estudantes que competem para ingressar no ensino público superior”.23 “A peça elaborada pela Secretaria Geral de Contencioso (SGCT) lembrou a tradicional posição da jurisprudência do STF, no sentido de garantir a participação das minorias no processo De-mocrático de formação de opinião e vontade, em todas as suas esferas”.24

Ressalta-se, por fim, que até agora o STF não se posicionou em definitivo sobre o tema das cotas raciais.

Enquanto isso, universidades como a UERJ, a UNB, UFBA e mais outras instituições, vem avaliando que as notas obtidas pelos cotistas durante o curso, foram iguais, e em vários casos superiores aos não cotistas. Ou seja, quando um estudante pobre estuda na mesma instituição, com os mesmos professores e livros ele tem resultados parecidos porque tive-ram as mesmas oportunidades.

5. AS COTAS AJUDAM A REDUZIR AS DESIGUALDADES?

As cotas não só ajudam, como também elimina qualquer tipo de desigualdade.Porém, as cotas isoladamente, como qualquer outro instrumento eficaz, não surtem os

efeitos desejados quando implementados sem outras ações paralelas.

21- Notícias STF, 20.03.2003 – WWW.stf.gov.br.

22- Idem.

23- Notícias STF, 03.08.2009. WWW.stf.gov.br.

24- Idem.

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As Cotas Raciais no Brasil: uma visão doutrinária – jurisprudencial

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A política de cota tem beneficiado milhões de jovens, que tinham perdido as esperanças de um dia cruzarem os murros de uma universidade pública para cursarem um de seus cursos.

As cotas também servem para democratizar o acesso a determinados cursos que no Brasil são caracterizados como de elite e para a elite. Como, por exemplo, cursos de medicina, direito, odontologia, engenharia.

Ou seja, as cotas além de ajudar reduzir as desigualdades, são também uma quebra de paradigmas na sociedade brasileira.

Daí advir tantas resistências pelos anticotas.

6. CONCLUSÃO

Conforme demonstramos, juridicamente é possível a adoção das ações afirmativas no Brasil, evidentemente que com devidas modificações em comparação com outros modelos, como o norte-americano, por exemplo, já que lá tínhamos uma situação de segregação.

As ações afirmativas devem ser adotadas no Brasil, para que possa haver o princípio da igualdade material, permitindo a todos e todas iguais oportunidades de ascensão social.

Realmente, e infelizmente, o negro ainda hoje sofre discriminação, e é a mais pura ver-dade que o número de negro nas universidades públicas é muito baixo, principalmente nos cursos “de elite”.

Porém, a nosso ver, as ações afirmativas do tipo cotas raciais não nos parece o melhor remédio para incluir uma maioria preta e pobre nas universidades. Mas, sua implantação em algumas faculdades, sérvio para provocar um debate nacional voltado para os excluídos sociais. Vieram à tona assuntos como: a educação de base, rever o histórico passado escra-vocrata brasileiro, se existe ou não raças no Brasil, etc.

Todo esse debate serviu, ao nosso ver, para enterrar o pensamento de um retrogrado so-ciólogo do século XX, que afirmava ser “o Brasil uma democracia racial” (Gilberto Freyre).

Concordamos que as ações afirmativas do tipo cotas sociais sejam mais eficazes para a realidade brasileira. Isso não quer dizer que aceitamos o discurso que no Brasil “o racismo e econômico”.

Defendemos as cotas sociais, por serem visíveis nas escolas de ensino médio públicas pes-soas de cor brancas e negras comungando do mesmo espaço, onde são frutos de uma socie-dade complexa desigual e plural.

Logo, se adotássemos leis que obrigue as universidades federais e estaduais públicas, a reservarem 50% de suas vagas em todos os cursos, para destiná-las a alunos de escolas públicas seria mais justo. Vale observar, que alunos de escolas públicas, consideramos aqueles que freqüentaram esse tipo de escola desde sua infância. Isso evitaria que nossa elite “cordial” (Sérgio Buarque de Holanda), utiliza-se um “jeitinho” para burlar o sistema das cotas sociais.

Assim como todas as ações afirmativas, as cotas sociais teriam um tempo para terminar, isso quando fosse visível que os atuais quadros de desequilíbrios sociais estivessem superados.

Acreditamos que as cotas sociais sejam as mais coerentes, sobretudo se for conjugada com fortes investimentos paralelo na educação de base como um todo. Essa ação encurtaria talvez o tempo das cotas.

Esperamos que o Estado brasileiro possa concretizar políticas públicas que possibilite ao aluno da escola pública ingressar na universidade pública, caso contrário a luta do passado não estará concretizada. E ai será necessário voltar no tempo, reler as histórias dos grandes líderes e seguir lutando contra a desigualdade.

REFERÊNCIAS

COSTA, André, - Escritos sobre Racismo, Igualdade e Direitos. Instituto Afirmação de Direitos Igualdade e Justiça, Fortaleza 2009.

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Gledson José da Silva

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ON-LINE BRANDING: NETNOGRAFIA PARA COMPREENDER NOVOS RELACIONAMENTOS ENTRE MARCAS E CONSUMIDORES

o desenvolvimento das tecnologias de in-formação alterou drasticamente o modo como as pessoas se comunicam nos dias atu- ais, ao mesmo tempo em que criou uma nova dinâmica de mercado. Hoje, são os con-sumidores quem estão no poder e, através das redes sociais na internet, se unem a ou- tros, com os quais dividem suas experiências. Nesse contexto, as empresas buscam novas formas de adequar as suas marcas a este novo paradigma. O presente artigo investiga, através do método netnográfico, como estão sendo estabelecidas ações de branding entre marcas e consumidores no ciberespaço, to-mando como referência a Dell Inc.

the development of information technolo-gy has dramatically changed the way people communicate nowadays, at the same time it created a new market dynamic. Today, the consumers have the power and, through so-cial networking sites, they join others with whom they share their experiences. In this context, companies seek new ways to tailor their brands to this new paradigm. This pa-per investigates, through the netnographic method, how branding actions between brands and consumers in cyberspace are be-ing established, with reference to Dell Inc.

José Clayton Rodrigues da Silva Graduando em Publicidade e propaganda

das Faculdades Integradas Barros Melo

netnografia, comunidades virtuais, Dell. netnography, virtual communities, Dell.

Resumo Abstract

Palavras-Chave: Key words:

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On-line Branding: Netnografia para Compreender Novos Relacionamentos entre Marcas e Consumidores

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1. INTRODUÇÃO

Segundo pesquisas recentes, existe no mundo virtual 1,4 bilhão de usuários. Entre eles, 250 milhões participam de pelo menos uma rede social e 62,3 milhões fazem compras on-line (IBOPE NIELSEN ONLINE, 2008). Estes números, bastante expressivos, ilustram a atual realidade do uni-verso digital no mundo. No Brasil, os números possuem um impacto seme-lhante. São 55,5 mi-lhões de usuários, navegando, em média, aproximadamente 45 horas por mês. (CETIC, 2008).

Esta, porém, é uma realidade bastante recente. Décadas atrás, como afirma Anderson (2006), as possibilidades de consumo eram bem mais restritas. Os indivíduos atuavam de forma passiva perante os meios de comunicação. A grande diferença para a atualidade reside na variedade de escolhas e, claro, na possibilidade de acesso a estas alternativas através da internet.

Com esse poder nas mãos, os consumidores se sentem capacitados a escolher como, quando ou se vão interagir com as empresas à medida que constroem seu próprio espaço de consumo (SOLOMON, 2008). No desenvolvimento deste trabalho, pretende-se compreender como esse espaço se desenvolve na internet e como as empresas estão se utilizando destas informações para estruturar novos modelos de negócios e formas mais efetivas de comunicação entre sua marca e este novo consumidor.

Através da aplicação do método netnográfico, este trabalho tem como objetivo investigar como estão sendo estabelecidas ações de branding entre a Dell Inc, umas das maiores em-presas de distribuição de computadores do mundo, e os membros de sua comunidade oficial no Orkut, portanto, seus consumidores. Para isso, alguns outros objetivos foram traçados, como identificar ações de relacionamento entre marcas e consumidores em redes sociais; realizar um estudo etnográfico para compreender a percepção dos consumidores sobre estas interações, analisar como a Dell, em particular, utiliza o conteúdo gerado pelos consumi-dores nas redes sociais como ferramenta de marketing e, por fim, prover insigths para em-presas que desejam ativar ações de branding on-line entre seus consumidores.

2. OS DESAFIOS DA MARCA NO MERCADO ATUAL

A velocidade das transformações no mercado consumidor tem crescido em ritmo cons-tante e os modelos tradicionais de negócios têm dado lugar a novas formas de relacionamento entre marcas e consumidor. Como resultado, as práticas já ultrapassadas de gestão de marketing são gradativamente substituídas por formas mais atuais e eficazes de gestão de onde se apreende o conceito de branding (KOTLER, 1999).

Em seu início histórico, a marca visava associar o produto ao seu produtor, ou seja, identificar a sua proveniência, na qual os compradores depositariam determinado grau de confiança. No entanto, esta ideia foi gradualmente abandonada, dando origem a outra mais próxima da atual realidade de mercado. Como defende Brosselin (apud Serra e Gonzáles, 1998, p. 19) marca é

“o que designa ou personaliza um produto/serviço ou, dito de outra forma, o que o distingue de produtos similares e permite reconhecer que quem o fabricou ou comercializou foi uma determinada pessoa ou uma determinada empresa.”

Calkins (2006) aprofunda a questão e define marca como

“um conjunto de associações vinculadas a um nome, sinal ou símbolo, relacionados a um produto ou serviço. A diferença entre um nome e uma marca é que um nome não tem associ-ações; é simplesmente um nome. Um nome torna-se uma marca quando as pessoas o vinculam a outras coisas” (CALKINS; TYBOUT, 2006, p. 1).

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O valor de uma marca, por outro lado, vem de sua habilidade em ganhar um significado exclusivo, destacado e positivo na mente dos clientes. Segundo Kapferer (2002), marcas são conseqüências diretas da estratégia de segmentação de mercado e diferenciação de produto.

Neste sentido, a identidade de um produto surge como resultado da combinação entre os seus atributos e características específicas e o valor de sua marca que, segundo Calkins (2006), fun-ciona como um prisma, elevando ou diminuindo o seu valor percebido, como ilustra a figura 1:

Figura 1 - Prisma da marca

Fonte: (TYBOUT e CALKINS, 2006, p. 3)

Assim, o modo como a marca direciona a percepção do consumidor tem relação direta com o seu significado. Ela diz respeito à forma como os consumidores se relacionam com o produto. Ainda segundo Calkins (2006), a marca é a experiência compartilhada com o produ-to. Compreender a importância da construção desta experiência para o posicionamento de um produto é fundamental para se consolidar no mercado digital.

3. O POSICIONAMENTO DA MARCA NO AMBIENTE DIGITAL

Kotler e Keller (2006) definem posicionamento como a ação de projetar o produto e a empresa, para que ocupem um lugar de destaque na mente do consumidor, maximizando a vantagem po-tencial da empresa e criando motivos convincentes para que o consumidor adquira o produto.

Esta questão adquire maior importância em função da realidade do mercado. Para Aaker (1996, p. 221), uma identidade e uma posição de marca bem concebidas e implementadas trazem uma série de vantagens à organização: (a) orientam e aperfeiçoam a estratégia de marca; (b) proporcionam opções de expansão da marca; (c) melhoram a memorização da marca; (d) dão significado e concentração para a organização; (e) geram uma vantagem competitiva; (f) ocupam uma posição sólida contra a concorrência; (g) dão propriedade so-bre um símbolo de comunicação; (h) provêm eficiências em termos de custos de execução.

Ao longo dos últimos anos, porém, a aplicação das teorias de posicionamento ganhou um novo campo e, em conseqüência, passou a ter ainda mais importância no desenvolvimento de estraté-gias voltadas para o consumidor do século 21. Como afirmam Kotler e Armstrong (2007, p.18)

“O desenvolvimento tecnológico alterou drasticamente a maneira como os indivíduos se relacionam entre si e com os demais elementos que compõem o seu universo. O que, concomitantemente, transformou a relação entre empresas e consumidores”.

A internet, neste sentido, é o que mais simboliza e sintetiza o desenvolvimento tecnoló-gico de que Kotler e Armstrong (2007) falam. Vista como plataforma para implantação e uso de diversas tecnologias, ela viabiliza novas formas de controle e disseminação de conteúdo,

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além incrementar ferramentas para construção, gestão e manutenção de marcas, atuando como peça fundamental para o composto de marketing.

4. A EVOLUÇÃO DO PAPEL DO CONSUMIDOR NA INTERNET

Em sua origem, a internet era composta por sites com páginas de textos e hiperlinks. Naquele momento, ou se conhecia o endereço exato de um site ou se utilizava de catálogos on-line compostos por listas de sites classificados por categorias, como carros, turismo, res-taurantes, etc. (TORRES, 2009).

A revolução na atitude do internauta foi impulsionada pelo surgimento das ferramentas de busca. Desta forma, não era mais necessário conhecer o endereço de um site ou ficar limi- tado aos endereços disponibilizados nos catálogos on-line. Podia-se, simplesmente, definir o que se desejava encontrar, digitar palavras-chave na caixa de texto da ferramenta, clicar em “buscar” e pronto. Surgia na tela uma lista se sites relacionados às palavras digitadas (TORRES, 2009).

Neste ponto, Vaz (2008) localiza a Internet enquanto interlocutora e tradutora das trans-formações no comportamento do consumidor, e não como sua causa direta. Para ele, “Havia uma demanda de desejos e necessidades reprimida por falta de um meio que a entendesse e a acolhesse. Este meio era a Internet” (VAZ, 2008, p. 25) e as ferramentas de busca, um instrumento facilitador neste processo.

Um dia, contudo, surgiram os blogs, onde as pessoas podiam escrever sobre suas vidas pessoais e profissionais. A ferramenta, porém, se popularizou com o Blogger (www.blogger.com), que permitia que qualquer pessoa sem conhecimento técnico criasse e mantivesse o próprio blog (TORRES, 2009).

Se até então, a informação era controlada e produzida pelas grandes mídias e corporações, a partir do advento e difusão do blog, qualquer um poderia produzir sua própria notícia e distribuí-la para um número crescente e infinito de usuários.

Neste quadro, quase da noite para o dia, os internautas ganharam acesso, através das ferramentas de busca, a um imenso acervo de informações úteis e relevantes. Estas infor-mações, ainda que publicadas por pessoas comuns, competiam por igual com o conteúdo de sites de grandes corporações na medida em que transmitiam mais verdade que o conteúdo cuidadosamente construído por profissionais de marketing em sites institucionais. Sobre esta quebra de paradigma, Torres (2009, p. 83) afirma que:

“A Internet deixou de ser uma rede de computadores com milhões de sites e passou a ser uma rede de pessoas, milhões de pessoas, que produzem e consumem conteúdo, em todas as áreas do conhecimento humano”

Neste novo contexto, o papel do branding não só é o de construir marcas, mas o de gerenciar a construção delas em ambientes interativos, com os consumidores enquanto co-autores do processo (CIACO, 2008).

Para Costa (2002, p. 14),

“O branding é muito mais que planejamento estratégico da marca, está ligado diretamente à relação de afetividade que determinada marca tem com o cliente. (... )É um conceito que está baseado nas relações humanas e nas experiências do cliente em relação à marca e todos os pontos de contato ‘experienciados’ por ela.”

5. REDES SOCIAIS

Neste cenário, as redes sociais assumem crescente relevância enquanto instrumento de intercâmbio de informação entre consumidores e marcas, figurando como espaço ideal para

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o relacionamento entre ambos na internet.Estas redes permitem que os participantes divulguem informações sobre si próprios,

e entrem em contato com outras pessoas que compartilham interesses e opiniões seme- lhantes. Pessoas que se inscrevem em sites como MySpace, Facebook, Twitter e Orkut podem instalar uma homepage com fotos, perfil, e links para outras pessoas de suas redes sociais. Os usuários podem procurar amigos, namorados, parceiros para atividades, ou contatos de todos os tipos, e convidá-los a juntar-se às suas redes pessoais como “amigos” (SOLOMON, 2008).

Muitas empresas estão descobrindo que os sites sociais são meios muito eficientes em estratégias de marketing, para melhor compreender seu público e assim conquistá-lo (KULPAS, 2008).

Para Sant’Iago (2008), a internet, com os sites de busca e as redes sociais, representa um universo onde o marketing tradicional não consegue ter controle. Nesse universo, a marca do anunciante corre o risco de ser exposta de forma negativa a muito mais consumidores do que consegue atingir uma campanha televisiva.

No Brasil, o Orkut ainda é o preferido e conta com 20 milhões de usuários cadastrados, sendo a maior audiência da web no País. (EXAME, 2009).

Neste universo, são grandes as chances de que o conteúdo gerado pelos consumidores em redes sociais online sobre determinada marca tenha mais impacto na sua imagem para de-terminado segmento do que ferramentas tradicionais de marketing, como marketing direto ou publicidade em TV.

6. DELL COMPUTADORES

Como modelo de demonstração para a aplicação das diversas ferramentas de marketing digital em redes sociais, foi escolhida a Dell, maior empresa de distribuição de computado-res nos Estados Unidos. Sua escolha como objeto de estudo foi feita com base em seu maior diferencial perante os concorrentes, o seu sistema de vendas diretas ao consumidor, tendo a Internet como principal plataforma de comunicação.

A história da Dell tem início em 1984, quando o estudante universitário Michael Dell abre em seu dormitório na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, uma empresa de montagem de computadores a partir de componentes em estoque. Logo no primeiro ano de funciona-mento, Dell faturou US$6 milhões brutos. Seu sucesso repentino tem forte relação com o seu modelo de vendas diretas, em vista do baixo custo operacional que era repassado aos produtos, tornando seus preços mais competitivos.

Nos anos seguintes, a Dell expandiu seu mercado para outros países, até que em 1993, seus clientes puderam começar a comprar seus produtos através do site da empresa. No Brasil, a atuação da marca teve início em 1999. No começo da década de 2000, o site já faturava US$50 milhões em um único dia.

Atualmente, a Dell continua sendo a maior fabricante de computadores pessoais no mun-do. A necessidade de se manter forte no mercado e o próprio modelo de negócios da Dell tornam o uso das ferramentas de marketing digital não só importante, como fundamental, visto que seus potenciais consumidores estão, em maioria absoluta, circulando na internet e, provavelmente, se comunicando entre si através das redes sociais online.

7. METODOLOGIA

Os consumidores de hoje estão imersos em um mundo onde a comunicação está cada vez mais mediada por tecnologia, onde as pessoas interagem através de salas de bate papo ou programas de conversa instantânea (como o MSN), participam de grupos de discussão na rede, assinam newsletters, criam suas páginas pessoais, postam fotos em sites, jogam on-line e participam de redes sociais com Orkut, Facebook ou Twitter (KOZINETS, 2002). Toda

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On-line Branding: Netnografia para Compreender Novos Relacionamentos entre Marcas e Consumidores

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essa movimentação está atraindo a atenção dos profissionais de marketing que vêem nesses espaços a oportunidade de realizarem pesquisas mais aprofundadas do impacto dessas novas tecnologias no comportamento do consumidor (FURRER, et al. 2001).

Em meio a toda essa movimentação, profissionais de marketing se depararam com um novo cenário - quando o consumidor passou a se utilizar das ferramentas disponíveis na web 2.0 para ganhar poder e dar direção aos seus desejos e impulsos. Com o desenvolvimento de um novo paradigma, novos métodos de gestão de marca se faziam necessários.

Contudo, foi somente nas duas últimas décadas que pesquisadores de marketing começa-ram a explorar o papel da cultura no comportamento de compra e aplicar métodos etnográfi-cos à pesquisa de marketing. Neste ponto, Caiafa (2007) define a pesquisa etnográfica como

“um método de investigação oriundo da antropologia que reúne técnicas que munem o pesquisa-dor para o trabalho de observação, a partir da inserção em comunidades para pesquisa” (apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008).

A transposição dessa metodologia para o estudo de práticas comunicacionais mediadas por computador recebe o nome de etnografia virtual ou netnografia. O conceito de netnogra-fia foi introduzido por Robert V. Kozinets, que a define como uma técnica de pesquisa de marketing para meios mediados por tecnologia que tem como foco prover insights sobre o comportamento dos consumidores on-line (KOZINETS, 2002). A netnografia pode, então, ser utilizada para compreender como os consumidores se comportam na internet e que signifi-cados eles atribuem a determinados produtos ou serviços.

7.1 O MÉTODO NETNOGRÁFICO

Se tratando de uma adequação da metodologia do espaço físico ao espaço on-line, ao utilizar o método netnográfico, faz-se necessário incluir procedimentos específicos da trans-posição da etnografia para a netnografia. Segundo Kozinets (2002), são eles: Entrée cultural; coleta e análise dos dados; validação da interpretação; ética de pesquisa; e feedback e checagem de informações com os membros do grupo.

A entrée cultural consiste na preparação para o trabalho de campo, quando o pesquisador faz o levantamento de quais questões deseja analisar, de acordo com seus objetivos previa-mente delimitados, e em que tipo de comunidades, fóruns e grupos pode obter respostas satisfatórias e pertinentes à sua pesquisa. (KOZINETS, 2002).

Na etapa da coleta e análise, três tipos de captura de dados são importantes, segundo Kozinets (2002). A primeira são os dados copiados diretamente dos membros das comunidades on-line, nos quais o pesquisador deverá aplicar determinados filtros para que após a seleção, sobrem apenas dados relevantes para o delineamento da pesquisa. A segunda coleta refere-se às informações capturadas a partir das observações do próprio pesquisador em relação aos membros das comunidades, das interações, simbologias e de sua própria participação. E por último, os dados levantados em entrevistas com os indivíduos, através da troca de e-mails ou em conversas em chats, mensagens instantâneas ou outras ferramentas.

Permeando o processo de coleta e análise dos dados, o uso sistemático do registro das in-formações pelo pesquisador, o que Kozinets (2002) chama de bloco de notas, é fundamental para a construção de uma base sólida para interpretações. A utilização deste instrumento organiza as observações do pesquisador a medida em que elas vão sendo feitas.

Neste contexto, é importante a verificação da validade das interpretações do pesquisador, configurando a terceira etapa do método netnográfico. Para o acompanhamento dos compor-tamentos apresentados em comunidades online relacionadas ao consumo, a netnografia é um método independente. O pesquisador deve, então, seguir os procedimentos convencionais, de modo que a pesquisa seja confiável (KOZINETS, 2002).

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Segundo Kozinets (2002), os pontos fundamentais do processo metodológico que deman-dam a discussão de uma ética de pesquisa são: saber até que ponto a informação coletada num determinado site é pública ou privada e o que é o uso consentido de informações no ambiente on-line. O autor sugere, também, uma postura eticamente recomendável, em que o pesquisador deve se identificar e deixar claro os interesses da sua pesquisa, pedindo as permissões necessárias para o uso das informações obtidas em postagens e em conversas com os participantes das comunidades e fóruns, além garantir o anonimato aos informantes, identificando-os por pseudônimos, incorporando na pesquisa o feedback dos participantes ativos das comunidades.

Por último, a etapa em que os dados são checados com os membros do grupo pesquisado, o que, segundo Kozinets (2002), legitima e dá credibilidade à pesquisa. Além do conhecimento obtido durante a pesquisa, esta etapa pode incrementar as conclusões obtidas em campo através da coleta de opiniões dos membros do grupo.

7.2 APLICAÇÃO DA NETNOGRAFIA

Dado o seu alto grau de adesão no País e o vasto conteúdo criado pela interação entre seus membros, foi escolhido como campo de estudo a rede social Orkut, onde a Dell possui uma comunidade oficial. A escolha se fundamenta, também, na dinâmica desenvolvida pelo site, que produz um conteúdo mais substancialmente rico e passível de análise por esta metodologia.

A primeira etapa desta pesquisa, o que Kozinets (2002) denominou entrée cultural, consis-tiu no desenvolvimento das questões relevantes para a análise de como a Dell está utilizando o Orkut para promover ações de branding entre seus membros.

No levantamento das comunidades do Orkut, foram contabilizadas 86 comunidades em que o tema envolvia de alguma forma a Dell. Destas, 80 eram positivas para a marca, e seis dis-cutiam aspectos negativos. Dentre as comunidades positivas, o pesquisador destacou as duas maiores, a primeira Dell Brasil, com 3815 e a segunda Dell no Brasil, com 3794 membros.

Com base nos objetivos do trabalho, a pesquisa foi aplicada exclusivamente na segunda comunidade, a Dell no Brasil, visto que é a comunidade oficial da Dell e é moderada por um profissional da empresa, identificado como Omar. Este fato faz da comunidade Dell no Brasil a principal linha de comunicação entre a marca e seus consumidores e, por isso, o campo com maior probabilidade de se obter respostas satisfatórias e pertinentes à pesquisa, reali-zada entre os dias 1 de julho e 29 de outubro de 2009.

Após esse processo de delimitação do estudo, o pesquisador ingressou na comunidade como um membro comum. Para nortear a sua estratégia metodológica, se colocou na posição de um consumidor que desejava comprar um equipamento da marca Dell e queria reunir in-formações relevantes sobre sua escolha a partir da experiência de outros usuários nos fóruns da comunidade. Nessa etapa, que durou um mês, foram coletados diretamente os posts pu-blicados por outros membros com maior relevância, ou seja, as que teriam, potencialmente, maior impacto sobre a decisão de compra do consumidor.

Paralelamente, foram coletadas informações baseadas nas observações do pesquisador em relação a dinâmica e conteúdo da comunicação entre os membros da comunidade, extraindo daí significados não explicitados nos posts. Ao longo do último mês, para complementar os da-dos e otimizar a interpretação das informações, o pesquisador trocou informações com mem-bros pré-selecionados através do próprio Orkut. A seleção dos membros foi feita com base no grau de envolvimento deste com os assuntos discutidos na comunidade e com a própria Dell.

Todas as observações e informações relevantes para a pesquisa foram registradas em ar-quivo do Microsoft Word, na medida em que o pesquisador julgava necessário para sua pos-terior interpretação, conclusão e prova. Desta forma, tinha ao seu alcance uma ferramenta capaz de conferir maior confiança aos resultados da pesquisa.

Ao fim da etapa de coleta de dados foi necessário ao pesquisador revisitar todo o conteúdo coleta-

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do e repensar as conclusões obtidas de um ponto de vista o mais isento possível, de modo que a sua forma particular de interpretar as informações não prejudicasse a confiabilidade da pesquisa.

Tento suas conclusões definidas, o pesquisador disponibilizou para alguns membros os dados e algumas conclusões obtidas durante a análise, tanto por questões éticas quanto por questões práticas, na medida em que a legitimização dos dados obtidos ao longo de sua pesquisa pelos próprios membros da comunidade, dá credibilidade à pesquisa.

8. ANÁLISE DE RESULTADOS

No Brasil, o Orkut é o principal canal de comunicação em redes sociais entre a Dell e seus consumidores. Na comunidade oficial da empresa, após a análise do conteúdo, seus membros puderam ser divididos em 2 grupos principais: o primeiro composto por consumidores da Dell e outro composto por membros em busca de informações para sua decisão de compra. Nos qua-tro meses de pesquisa, foram verificados pouco mais de 250 membros com participação ativa na comunidade, responsáveis pela criação e desenvolvimento de 258 tópicos de discussão.

A análise qualitativa destes tópicos possibilitou ao pesquisador a classificação deles em quatro grupos: 1) tópicos institucionais, publicados pelo moderador e representante da Dell, todos di-vulgando produtos específicos ou promoções; 2) tópicos neutros com dúvidas, su-gestões ou pedi-dos, com pouco ou nenhum impacto sobre a imagem da marca; 3) tópicos positivos, com elogios e divulgação de experiências satisfatórias com os produtos Dell e, por último, 4) tópicos negativos, com reclamações e divulgação de experiências insatisfatórias. Após analisar quantitativamente, o pesquisador pôde mensurar a participação de cada grupo no conteúdo da comunidade.

Tabela 1 - Classificação dos tópicos de discussão

Fonte: autoria própria

Em comparação a maior comunidade não-oficial da empresa no Orkut - a Dell Brasil-, o índice de reclamações da comunidade pesquisada é bem superior. A principal razão disso, segundo dados inferidos pelo pesquisador, seria o caráter oficial desta. Sendo moderada por um representante da Dell, muitos membros utilizam o fórum da comunidade como suporte técnico, com dúvidas que vão desde prazos de entrega até defeitos nos produtos.

Entretanto, contrariando os preceitos do branding em redes sociais, o moderador, chama-do Omar, concentra sua participação no conteúdo da comunidade na divulgação de ofertas e promoções da loja virtual da Dell. Além disso, é importante ressaltar o seu caráter impes-soal no processo de comunicação com os consumidores da empresa. Ele não possui foto, não disponibiliza email para contato, nem faz nenhuma referência a sua identidade enquanto humano, a não ser o seu nome, Omar.

Outra questão relevante para o pesquisador durante a pesquisa foi a disparidade entre a imagem da marca fora e dentro da comunidade. A Dell é famosa pela qualidade dos seus equipa-mentos, com seu design arrojado, configuração superior, baixo índice de quebra e alto grau de satisfação dos clientes, porém, devido ao seu próprio modelo de negócios, em que o consumidor pode montar a configuração do seu computador durante o processo de compra, os prazos de entrega são mais longos do que o de outras lojas virtuais, que vendem equipamentos prontos.

Este lag entre as expectativas dos consumidores e o freqüente atraso na entrega dos equi-

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pamentos é um dos motivos mais discutidos no fórum da comunidade. Em um dos tópicos mais populares da comunidade, uma consumidora afirmava “Se você que está lendo este tópico está pensando em comprar um aparelho Dell, pense bem, pois eles não cumprem o prazo de entrega e não dão a menor importância ao cliente depois de efetuada a compra.” O que, há alguns anos, não seria uma ameaça para a imagem da empresa, hoje, com a difusão das redes sociais, é um grande problema. Se no mercado a Dell dispõe de um bom conceito, na comunidade seus problemas são demasiado aparentes e recorrentes.

A primeira página da comunidade, ponto de partida para qualquer membro que a visite, é o maior exemplo disso. Em todas as vezem em que o pesquisar entrou na comunidade, havia, pelo menos, dois tópicos negativos entre os 5 com posts mais recentes.

Figura 2 – tópicos na home page da comunidade

Fonte: Orkut

Em análise detalhada dos tópicos mais discutidos da comunidade, o pesquisador verificou maior ocorrência para as reclamações e a pouca, ou nenhuma, habilidade do moderador em se relacionar com os membros insatisfeitos. Enquanto os consumidores utilizavam a comu-nidade para dividir com outros membros as suas dúvidas e reclamações, o moderador per-manecia ausente ou sugeria que o cliente entrasse em contato com o atendimento da Dell ou lhe passasse números de protocolos, o que, na maior parte dos casos, ele já havia tentado antes de recorrer ao Orkut. Na figura abaixo, foi possível verificar uma diferença de 7 dias entre o contato do cliente e a resposta do moderador.

Figura 3 – Reclamação de consumidor

Fonte: Orkut

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O resultado dessa inação foi a atração de outros consumidores insatisfeitos, que dividi-am os mesmos problemas e, juntos, transformavam um pequeno problema de comunicação numa grande ameaça para a Dell. Foi verificada, inclusive, uma enquete para discutir a eficiência do moderador: “Na sua opinião, pq o Omar (Dono da Comunidade), não responde a ninguém?”. “Porque a maioria tá reclamando alguma coisa, principalmente prazo de en-trega. Aí ele finge que não vê, que é melhor”, respondeu um dos membros insatisfeitos. Ele é visto como um funcionário remunerado para gerenciar o conteúdo da comunidade no seu tempo livre. Não há empatia nem envolvimento.

Este paradoxo, de certa forma, causa certo estranhamento na medida em a presença ofi-cial da Dell na comunidade é muito mais maléfica que benéfica. Esta leitura pôde ser feita pelo pesquisador ao fazer a comparação desta com a maior comunidade da Dell no Orkut, moderada por um consumidor da marca. Como não há nenhum representante legal da Dell, os membros se preocupam muito mais em discutir novidades e particularidades da marca que discorrer longos fóruns sobre problemas e reclamações. A admiração destes pelo con-ceito de marca construindo pela Dell é bastante aparente.

No último mês de realização da pesquisa, o pesquisador buscou contato com o Sr. Omar com o objetivo entrevistá-lo, além de verificar os dados obtidos nas observações. Como ele não disponibilizou nenhuma outra forma de contato, a não ser pelo próprio Orkut, foi en-viado um scrap junto com uma solicitação de amizade. Até o fechamento deste trabalho, o Sr. Omar não havia retornado o contato, nem aceito o convite de amizade. Tal postura é incompatível com a essência das redes sociais, onde o objetivo claro é se relacionar mais estreitamente com seus consumidores.

Durante a pesquisa, a aplicação do método netnográfico se mostrou de extrema importân-cia no processo de coleta e interpretação dos dados, visto que tais procedimentos viabiliza-ram a construção de um pensamento intimamente ligado a experiência vivida pelos membros inseridos na comunidade, de dentro para fora. Tal método se mostrou, ao pesquisador, como o com maior aplicabilidade à sua pesquisa, como também a outros estudos semelhantes em comunidades on-line.

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa revelou que a Dell Brasil, apesar de consolidada no mercado, não está pre-parada para se relacionar com seus consumidores em redes sociais. Foi constatado que, em momento algum, o conteúdo gerado pelos seus consumidores foi utilizado pela empresa para beneficiar a imagem da marca. Pelo contrário, a ausência do gerenciamento e monito-ramento das informações discutidas na comunidade contribui para desenhar a percepção de que a Dell negligencia seus consumidores.

Não há aproveitamento substancial da afinidade dos membros da comunidade pela Dell. Ao invés de se utilizar da mesma motivação que os fazem participar da comunidade, para transformá-los em co-autores no processo de branding, a má gestão do relacionamento entre eles acaba por criar membros insatisfeitos dispostos a atacar a marca indefinidamente.

Sem dúvida, há um abismo entre as ações de branding praticado pela marca nos universos on-line e off-line, onde a Dell tem sua marca sólida. Enquanto em outros países, como os Estados Unidos, o uso de redes sociais foi capaz de aumentar suas vendas, aqui no Brasil, dificilmente a comunidade da Dell no Orkut trará benefícios semelhantes.

Esta realidade, porém, não está muito distante do tipo de relacionamento que outras marcas brasileiras possuem com seus consumidores no ambiente virtual. O que se verifica nesse meio é a insistente tentativa de praticar os meus preceitos do branding off-line, sem considerar que os consumidores não são mais os mesmos e que o ciberespaço necessita de uma abordagem própria.

É preciso reconhecer a importância da prática adequada de branding on-line. Estar pre-

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sente nas mídias sociais não é suficiente. Pelo contrário, pode ter o efeito inverso, como no caso da Dell. É preciso haver envolvimento. As marcas precisam se humanizar se pretendem fortalecer o relacionamento com seus consumidores.

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PLANEJAMENTO DE TESTES COM BASE NOS RISCOS NA RBTTool

Neste trabalho elaborou-se um estudo comparativo das principais abordagens, iden-tificando atividades em comum, pontos fortes e fracos de aplicação. Assim como implemen-tação de componentes para a ferramenta Risk Based Testing Tool, RBTTool, para que a mes-ma suporte e assista o processo de testes com abordagem em riscos.

Through this work was conducted a com-parative study of the main approaches, iden-tifying common activities, strengths and weak areas of application. As well as implementa-tion of components for the Risk Based Testing Tool, RBTTool, so that it can support and as-sist the process of testing with risk approach.

Lukas Alexandre Pereira de Andrade Graduando em Sistemas de Informação pela Faculdades Integradas Barros Melo

Teste baseado em risco, Planejamento, Testes.

Risk-Based-Testing, Planning, Tests.

Resumo Abstract

Palavras-Chave: Key words:

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Planejamento de Testes com Base nos Riscos na RBTTool

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1. TESTE BASEADO EM RISCOS

O teste baseado em riscos tem surgido como uma abordagem para minimizar alguns dos problemas de Teste de Software e da Gerência de Riscos em geral. De acordo com Souza [Souza 2008], a abordagem de Teste Baseado em Risco (Risk-Based-Testing – RBT) consiste em um conjunto de atividades que favorecem a identificação, controle e análise de fatores de riscos associados aos requisitos do produto de software.

A maioria dos livros, artigos, tutoriais e ferramentas, a respeito diferenciam os riscos dos outros projetos através de três coisas:

• Uma perda associada a um evento: O evento precisa criar uma situação onde alguma coisa negativa aconteça ao projeto: podendo ser de tempo, qualidade, dinheiro, con-trole, clareza, e assim por diante. Por exemplo, se o requisito muda drasticamente após o design estar pronto, então o projeto pode sofrer de perda de controle e clareza se o novo requisito seja para funções na qual o time de design não tenha familiaridade.

• A propensão de um evento ocorrer: Nós devemos ter uma idéia da probabilidade de um evento ocorrer. Por exemplo, suponha que um projeto está sendo desenvolvido para uma plataforma e será portado para outra quando o sistema estiver totalmente testado. Se a segunda plataforma for um novo modelo na qual sua arquitetura venha com mu-danças significativas, nós devemos estimar a propensão de que ele venha a ter problemas no porte. A propensão do risco, medido de 0 (impossível) até 1 (certo) é chamado de probabilidade do risco. Quando a probabilidade do risco é 1, então o risco é chamado de problema, já que está certo de acontecer.

• A variação permitida ao produto final: Para cada risco, é preciso determinar o que fazer para minimizar ou evitar o impacto do evento. Controle de risco envolve um con-junto de ações para reduzir ou eliminar o risco. Por exemplo, se um requisito mudar após o design podemos minimizar o impacto da mudança criando um design flexível. Se a nova plataforma não estará pronta quando o produto já tiver finalizado a parte de testes pode-se desenvolver o projeto de forma que ele seja adaptável a vários tipos de plataforma, aumentando a portabilidade e minimizando assim o risco de incompatibilidade.

Nós podemos quantificar os efeitos dos riscos que identificamos através da fórmula a seguir:

Onde E(r) seria a exposição do objeto em questão ao risco.Existem dois principais tipos de risco: Risco Genérico e Risco Específico de Projeto:

• Riscos Genéricos são aqueles comuns a qualquer projeto, assim como má interpretação de requisitos, perda de integrantes chave do projeto, ou falta de tempo para os testes.

• Risco Específico de Projeto são ameaças que resultam de uma particular vulnerabili-dade do projeto em questão.

E(r) = P(r) * I(r)

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Mesmo com a simplicidade de utilização da abordagem RBT, a comunidade de testes ainda encontra muitas dificuldades em aplicá-la na prática [Goldsmith 2006], pelo pouco conheci-mento em técnicas de gerência de riscos para teste de software e também pela ausência de ferramentas específicas que auxiliem na utilização dessas técnicas [Souza 2008].

2. ATIVIDADES DO GERENCIAMENTO DE RISCOS

As literaturas de Engenharia de Software contam os passos do Gerenciamento de Riscos, muitas vezes usando gráficos como os da Figura 1. Primeiro você define os riscos do seu pro-jeto, assim entendendo o que pode acontecer durante o desenvolvimento ou a manutenção. A definição consiste em três atividades: identificar os riscos, analisá-los e definir prioridades para cada um. Para identificá-los podem ser aplicadas várias técnicas.

Figura 1 – Típica representação de gerenciamento de software baseado em riscos (Pfleeger 1998)

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Planejamento de Testes com Base nos Riscos na RBTTool

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3. PRINCIPAIS ABORDAGENS ESTUDADAS

3.1. ABORDAGEM BASEADA EM HEURÍSTICA

Bach (1999) define uma abordagem baseada em heurística utilizando duas abordagens distintas, para a atividade de identificação de riscos: na abordagem “Inside-Out”, o produto é estudado e é questionado repetidamente; na abordagem “Outside-In”, uma lista de poten-ciais riscos é utilizada, juntamente com detalhes do produto. Para cada risco, é identificado se este se aplica ou não a um determinado componente.

Bach Sugere três tipos de listas para auxiliar a identificação de riscos:

• Lista de categorias de critérios de qualidade;

• Lista genérica de riscos;

• Catálogos de riscos

Após a identificação dos riscos usando umas das listas citadas anteriormente, a esses são atribuídos valores em uma escala de interesse, e os riscos com maior valor são testados primeiramente. O autor também sugere formas de organização dos riscos para facilitar o acompanhamento e controle dos mesmos.

A principal dificuldade dessa abordagem é o conhecimento prévio do negócio a fim de rea-lizar a análise dos riscos da maneira mais fiel possível. Existe uma possibilidade de a análise ter sido realizada de forma errada e, consequentemente, os “verdadeiros” riscos não terem sido abordados da forma correta.

3.2. ABORDAGEM BASEADA EM MÉTRICAS

Amland (1999) desenvolveu um conjunto de métricas para a análise de risco com o obje-tivo de subsidiar um processo de teste. O modelo para cálculo da exposição ao risco é base-ado na probabilidade de uma falha ocorrer e no custo dessa falha na função correspondente, tanto para o provedor do serviço como para o cliente.

Na sua metodologia, existem três fontes de análise de risco:

• Qualidade da função (área) a ser testada. O autor propõe que uma função na qual o pro-jeto de má qualidade, programador inexperiente, funcionalidade complexa, e outros está mais exposta a falhas que funções baseadas em projeto de melhor qualidade, que foram feitas por um programador mais experiente. Essa função corresponde à probabilidade P(f).

• As consequências de uma falha em uma função do ponto de vista de um cliente em uma situação de produção podem ser representadas pela probabilidade de ameaça legal, não cumprimento de especificações contratuais, entre outras. Estas consequências repre-sentam o custo para o consumidor C(c).

• As consequências de uma falha em função do ponto de vista do vendedor do serviço estão à depreciação do “Know-How” perante o mercado, altos custos de manutenção de software, e outros, devido a uma função com falhas. Estas consequências representam o custo para o vendedor C(v).

A suposição é de que o custo para o consumidor é igualmente importante na análise dos riscos em relação ao custo do vendedor. A exposição de risco é dada pela função:

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Lukas Alexandre Pereira de Andrade

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Tendo em vista que o grau de exposição ao risco, as áreas com risco mais alto tem maior prioridade nos teste. E, durante o teste, à medida que falhas vão ocorrendo e novas priori-dades podem ser adicionadas ao projeto, os graus de exposição ao risco vão sendo atualiza-dos, e a prioridade do teste pode ser modificada.

Além das métricas de exposição ao risco, Amland utiliza, em seu estudo de caso, métricas para acompanhamento do processo. Alguns exemplos são: números de casos de testes plane-jando e executando; números de defeitos por funções; número de horas gastas em teste por defeito encontrado; numero de horas gastas para correção de defeitos.

A abordagem utilizada por Amland realiza as atividades relevantes para o Teste baseado em Riscos divididas em seis etapas:

• Planejamento;

• Identificar os indicadores de riscos;

• Identificar o custo de um defeito;

• Identificar elementos críticos;

• Execução dos testes;

• Estimar o tempo para completar.

O grande desafio da definição da abordagem, segundo Amland, foi a identificação dos indicadores de custo de falha e de quantidade. Foi utilizada uma abordagem simples, mas, segundo o autor, satisfatória. Mantendo o foco na análise de riscos.

4. ESTUDO COMPARATIVO DAS ABORDAGENS ESTUDADAS

Segundo estudos realizados dentro das abordagens utilizadas na RBTTool, constataram-se os pontos cobertos e não cobertos pelas abordagens, como pode ser visualizado na Tabela 1.

Tabela 1 – Estudo das principais abordagens RBT [Venâncio 2009]

S

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Planejamento de Testes com Base nos Riscos na RBTTool

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Bach propõe diferentes heurísticas para identificar, analisar e controlar riscos durante o processo de teste com o propósito de melhorar a qualidade do produto, focando nas partes do software que precisam ser mais bem testadas. No entanto o autor não fornece nenhuma indicação de como os casos de teste devem ser gerados.

Amland propõe métricas para análise dos riscos com o objetivo de redução do custo da fase de teste do projeto e a redução de futuros custos de produção em potencial pela otimi-zação do processo de teste. As métricas propostas pelo autor levam em consideração que funcionalidades complexas, novas, construídas com pouca qualidade e grandes (tamanho) possuem mais probabilidade de apresentarem falhas. O autor, também, não fornece ne-nhuma orientação sobre a criação dos casos de testes.

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APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA EDUCAÇÃO: O USO DE CHATTERBOTS NA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Thiago Affonso de Melo Novaes VianaCentro de Informática Universidade

Federal de Pernambuco Recife, PE, Brasil

Na busca constante pela compreensão e sim-ulação do comportamento e do pensamento humano, a Inteligência Artificial tem buscado desenvolver os mais diferentes meios de fazer com que um computador possa realizar tare-fas de forma racional, não mais se prendendo a um conjunto pré-programado de instruções. Dentre os diversos artifícios aplicados no es-tudo da Inteligência Artificial estão os chat-terbots programas desenvolvidos para simular uma conversa através da troca de mensagens de texto num formato de bate-papo virtual. As aplicações de um chatterbot podem ser as mais variadas, podendo servir como um re-cepcionista em um site comercial, responder a FAQs (Frequently Asked Questions) ou atuar na área educacional dando suporte ao estudo e pesquisa. Este trabalho vem propor, ana-lisar e discutir as vantagens e desvantagens da utilização de técnicas de inteligência arti-ficial na educação, tendo como ponto chave o uso de chatterbots na educação à distância.

Sthenia Gomes do NascimentoCentro de Informática Universidade

Federal de Pernambuco Recife, PE, Brasil

legalidade; reserva legal; medida provisória

Resumo

Palavras-Chave:

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Aplicação de técnicas de inteligência artificial na educação: O uso de chatterbots na educação à distância

Pense Virtual - Revista Virtual das Faculdades Integradas Barros Melo - Art. 04/05 - p. 04:1 - 04:4 - Dezembro. 201004:2

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, formas diferentes de comunicação entre mais de um interlocutor fo-ram desenvolvidas. Novos campos se abriram na Tecnologia da Informação e Comunicação, destacando-se o desenvolvimento de interfaces cognitivas e a inteligência artificial. Com estas mudanças, em conjunto com as novas tecnologias de comunicação, de forma especial a Internet, surgiram programas para troca de informações entre dois indivíduos ou mesmo entre grupos de interlocutores que visem o mesmo interesse. Neste contexto, destaca-se a Educação à Distância apoiada pelo uso do computador. Assim, com essa tecnologia de en-sino, a comunicação virtual permite interações espaço-temporais mais livres, adaptação a ritmos diferentes dos alunos, novos contatos com pessoas semelhantes (ou com interesses semelhantes) fisicamente distantes e maior liberdade de expressão a distância [6]. Para dar suporte a estas tecnologias, a Inteligência Artificial apresenta-se como fator importante no relacionamento homem máquina.

Os chatterbots, agentes inteligentes desenvolvidos para simular uma conversa através da troca de mensagens de texto (semelhantemente aos bate-papos virtuais), são sistemas desenvolvidos com o intuito de tornar mais familiar a interação entre o homem e a maquina, geralmente usando recursos da Inteligência Artificial. Um chatterbot serve-se da idéia básica da interação entre as pessoas para dar a impressão de que o computador possui uma person-alidade. Para transmitir tal impressão, o desenvolvimento de um chatterbot toma por base o Jogo da Imitação (Immitation Game) [10], cujo propósito é fazer com que um ser humano acredite que esteja conversando com outra pessoa. Isto possibilita ao usuário sentir-se muito mais a vontade na troca de mensagens com o sistema, passando a enxergá-lo não mais como um simples equipamento, mas como um novo amigo.

Este Trabalho vem apresentar uma proposta para auxilio ao processo de ensino e aprendi-zagem na área de educação à distância através do uso de chatterbots. Tal proposta, por sua vez, visa auxiliar o usuário em sua interação com o sistema, incentivando-o nos estudos e pesquisas e colaborando na construção do conhecimento, desempenhando o papel de um tutor no estudo de uma disciplina.

2. CHATTERBOTS

Os chatterbots são, por definição, agentes inteligentes desenvolvidos para simular uma conversa através da troca de mensagens de texto [5], semelhantemente aos bate-papos vir-tuais. A primeira experiência no desenvolvimento desta categoria de sistema computacional foi Eliza [4]. Desde então surgiram diversas versões e variantes deste sistema, além de novas técnicas de conversação que permitiram o avanço no estudo e implementação. No Brasil, o primeiro chatterbot capaz de conversar em português foi Cybelle [8], fruto de um projeto de pesquisa com objetivo de estudar as potencialidades e limites da interação homem-maquina. Hoje, chatterbots são utilizados em diversas aplicações educacionais e comerciais.

Para simular uma conversação convincente, os programadores de chatterbots geralmente utilizam uma técnica de inteligência artificial chamada Processamento de Linguagem Natu-ral (Natural Language Processing NLP) [9] [1]. Devido a estas características, chatterbots representam um grande potencial como agentes pedagógicos, pois possuem autonomia e desenvoltura para direcionar o assunto do estudo de forma natural, sem prender-se a respos-tas fixas e programadas para serem ativadas em determinados momentos, e talvez esta seja a característica que melhor os diferenciem dos agentes pedagógicos comuns. Além disso, o fato de possibilitar que estes sistemas assumam uma personalidade com a qual o estudante possa identificar-se facilmente aproxima o estudante do computador e de seus estudos. Desta forma, o uso de chatterbots em ambientes de Educação a Distância é uma área de estudo e pesquisa com muitas potencialidades.

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Thiago Affonso de Melo Novaes Viana e Sthenia Gomes do Nascimento

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3. CHATTERBOTS NA EDUCAÇÃO DISTANCIA

Conforme Belloni [2], as novas tecnologias de informação e comunicação oferecem pos-sibilidades inéditas de interação mediatizada (professor/aluno estudante/estudante) e de interatividade com materiais de boa qualidade e grande variedade. Isso nos leva a grande importância e necessidade existente na criação de cursos de educação à distância, os quais possibilitam um maior acesso e disseminação da educação.

Atualmente a educação a distância faz uso de tecnologias interativas nas quais os aprendi-zes estão conectados de forma síncrona (tempo real, ao vivo e conversacional) ou assíncrona (retardada ou adiantada para antes ou depois da aula), por tecnologias que, cada vez mais, pro curam simular uma sala de aula. Levando em consideração esta nova realidade, observa-se que no desenvolvimento de programas voltados ao ensino a distância verifica-se a neces-sidade de uma metodologia própria e adequada para o uso de recursos interativos.

Em sua palestra no II Workshop em Informática na Educação, a coordenadora do PGIE/UFRGS, Liane Tarouco, apresentou algumas perspectivas para o futuro da educação à distân-cia. Entre elas, estava o uso de chatterbots em ambientes educativos. Este artigo compactua com esta opinião. Dependendo do potencial comunicativo do chatterbot, ele pode oferecer um tipo de interação mais humanizado, incrementando a tecnologia de interação.

Como vantagens do uso de chatterbots na educação à distância podemos citar:

• Em vez de o aluno fazer uma busca em uma longa página de FAQs (frequently asked ques-tions), ele pode interagir com o robô buscando especificamente a informação desejada.

• Os robôs podem funcionar 24 horas por dia, sempre disposto a responder as mais diversas questões. Se por outro lado, o robô não tiver a resposta, pode solicitar ao aluno que envie uma mensagem, através do link disponibilizado, para que o professor ou equipe responda assincronamente a dúvida.

• Os robôs não ficaram fatigados ou ainda terão o seu rendimento diminuído em virtude de problemas pessoais.

Por outro lado, pode-se citar alguns problemas do uso de chatterbots na educação à distância:

• Devido à limitação de programação, todas as possibilidades de dialogo já estão pré-determinadas. Na medida em que o professor define quais são as palavras-chaves e com-binações que terão respostas adequadas a elas, ele faz um fechamento do que será dis-cutido. Aquilo que não for previsto não terá uma resposta relacionada e provavelmente disparará uma resposta padrão evasiva. Nesse caso teremos a percepção por parte do aluno da fragilidade do chatterbot. Uma técnica que se usa em casos de diálogos não pre-vistos é oferecer ao usuário um convite a discutir outro assunto (por exemplo, Não gostei desse assunto, vamos falar sobre o clima pernambucano). Isso pode ser conveniente para simular um entendimento do robô. Porém, desvia o aluno daquele tópico que lhe desper-tava interesse ou dúvida. Nesse sentido, chatterbots frustram muitas vezes seus usuários, pois é por definição impossível prever to do e qualquer diálogo nem tampouco determinar todas as dúvidas possíveis dos alunos.

• Existem muitas formas diferentes de se fazer uma mesma pergunta, o que torna im-possível a idéia de um robô que possa responder a qualquer pergunta.

• Outro problema relacionado ao uso de chatterbots em ambientes de educação à dis-tância reside na possibilidade do aluno ficar mais interessado em bater papo com o robô do que de fato aprender sobre os conteúdos disponíveis.

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Aplicação de técnicas de inteligência artificial na educação: O uso de chatterbots na educação à distância

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4. CONCLUSÕES

Para que os chatterbots tenham resultados efetivos na educação, a sua utilização deve ser diferenciada do sistema tradicional de educação onde o corre uma aprendizagem ineficaz. A construção do conhecimento não se dá através da interação passiva, onde a criança faz perguntas e obtém respostas. Para Piaget [7], nenhum conhecimento, mesmo que através da percepção, é uma simples cópia do real. O conhecimento tampouco se encontra totalmente determinado pela mente do indivíduo. É, na verdade, o produto de uma interação entre estes dois elementos. Desta forma, o chatterbot poderia apenas substituir o professor tradicional que acredita na transmissão do conhecimento. De acordo com Costa [3], uma criança não se limita ao que lhe é transmitido. Ela assimila ativamente reconstruindo o conhecimento. Ela ainda formula hipóteses, faz perguntas e estabelece relações originais. Sendo assim, se o chat-terbot for usado na educação como uma ferramenta de suporte ao professor pode oferecer aos alunos a possibilidade de desenvolverem assuntos de seu interesse em diferentes níveis de complexidade, dando a possibilidade da criança construir e inventar seus próprios projetos.

O uso de chatterbots por si só não garante o aprendizado. Deve-se perceber que esta tec-nologia é parte de um todo maior em que deve se inserir. O processo educacional pode se tornar ainda mais rico para a exploração e interação através do acréscimo principalmente de conteúdo multimídia e simuladores para a realização de experimentos.

5. REFERÊNCIAS

1. A. Agustini. Estudo inicial sobre o processamento da linguagem natural. Master’s thesis, PUCRS, 1995.

2. M. L. Belloni. Educação a distância . Campinas: Autores Associados, 1999

3. I. E. Costa. Reflexões sobre o ensino para crianças com necessidades especiais: Sua metodo-logia e pressupostos implícitos. Informática na Escola - Pesquisas e Experiências - MEC , 1994.

4. S. Laven. Classic chatterbots eliza. Technical report, The Simon Laven Page, 2002.

5. M. L. Mauldin. Chatterbots, tinymuds, and the turing test: Entering the loebner prize competition. Association for the Advancement of Artiflcial Intelligence AAAI , 1994.

6. J. M. Moran. Ensino e aprendizagem inovadores com tecnologias. Revista Informática na Educação: Teoria Prática PGIE UFRGS, 2000.

7. J. Piaget. Biologia e conhecimento . Petrópolis: Vozes, 2ed, 1996.

8. A. F. T. Primo. Comunicação e inteligência artiflcial: interagindo com a robô de conver-sação cybelle. Estratégias e Culturas da Comunicação , pages 83-106, 2002.

9. S. J. Russel. Artificial Intelligence: a modern approach . Prentice-Hall, 1995

10. A. M. Turing. Computer Machinery and Intelligence , volume 9. Mind, 1950.

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Pense Virtual - Revista Virtual das Faculdades Integradas Barros Melo - 2010 - www.barrosmelo.edu.br - ISSN: 1983-5957

UMA PROPOSTA DE UM SISTEMA TUTOR VIRTUAL PARA AS DISCIPLINAS BÁSICAS DE MATEMÁTICA EM CURSOS TÉCNICOS DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Thiago Affonso de Melo Novaes VianaCentro de Informática Universidade

Federal de Pernambuco Recife, PE, Brasil

Como importante tema, o qual vem sendo muito abordado em congressos, seminários e workshops, a Educação à Distância, vem despertando muito interesse de professores e pesquisadores de diversas áreas. Dentre os vários temas que estão sendo discutidos neste contexto, a união entre ferramentas e tec-nologia à educação, visando complementar a formação de estudantes em cursos de EAD, é um grande destaque. Em paralelo a isto a-través das pesquisas na área de Inteligência Artificial, surgiram os chatterbots. Chatter-bots são agentes inteligentes desenvolvidos para simular uma conversa com pessoas, ou seja, buscam imitar o comportamento da in-teligência humana de conversar. Este artigo apresenta uma proposta de um chatterbot educacional para o ensino de disciplinas bási-cas de matemática em cursos técnicos de educação à distância.

Sthenia Gomes do NascimentoCentro de Informática Universidade

Federal de Pernambuco Recife, PE, Brasil

Resumo

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Uma proposta de um sistema tutor virtual para as disciplinas básicas de matemática em cursos técnicos de educação à distância

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1. INTRODUÇÃO

Na busca continua pelo entendimento e simulação do pensamento, raciocínio e compor-tamento humano, os pesquisadores de computação na área de Inteligência Artificial têm buscado pelos mais diferentes meios de fazer com que um sistema possa realizar tarefas de forma racional, sem estar preso a um conjunto de instruções pré-programadas. Dentre as diversas técnicas aplicadas no estudo da inteligência Artificial estão os algoritmos chat-terbots [5], os quais são programas desenvolvidos para simular conversas através de troca de mensagens de texto. As áreas de aplicação de um chatterbot variam desde um simples recepcionista em um site comercial, um atendente on-line para responder as dúvidas e per-guntas freqüentes de um cliente, um amigo virtual ou um tutor virtual na área da educação apoiando o processo de ensino-aprendizagem [3].

Primo [7] concebe em sua pesquisa científica que o processo de comunicação constitui parte fundamental no aprendizado, trazendo assim toda a problemática inerente às questões lingüísticas para o ambiente dos chatterbots. A primeira experiência no desenvolvimento desta categoria de sistema computacional foi o software Eliza [4]. Desde então surgiram diversas versões e variantes deste sistema, além de novas técnicas de conversação que per-mitiram o avanço no estudo e desenvolvimento. No Brasil, o primeiro chatterbot capaz de conversar em português foi o Cybelle [8], fruto de um projeto de pesquisa com objetivo de estudar as potencialidades e limites da interação homem-máquina. Hoje, chatterbots são utilizados em diversas aplicações educacionais e comerciais.

Para simular uma conversação convincente, os programadores de chatterbots geralmente utilizam uma técnica de inteligência artificial chamada Processamento de Linguagem Natu-ral [9] [1]. Devido a estas características, chatterbots representam um grande potencial como agentes pedagógicos, pois possuem autonomia e desenvoltura para direcionar o as-sunto do estudo de forma natural, sem prender-se a respostas fixas e programadas para serem ativadas em deter- minados momentos, e talvez esta seja a característica que melhor os diferenciem dos agentes pedagógicos comuns.

Além disso, o fato de possibilitar que estes sistemas assumam uma personalidade com a qual o estudante possa identificar-se facilmente aproxima o aluno do computador e de seus estudos. Desta forma, o uso de chatterbots em ambientes de educação à distância é uma área de estudo e pesquisa com muitas potencialidades [6].

Neste contexto, este trabalho pretende propor e modelar uma ferramenta interativa para o auxílio no processo de ensino-aprendizagem. Visando, desse modo, ajudar alunos em sua interação com disciplinas de educação à distância, incentivando-o nos estudos e pesquisas colaborando com a sua construção do conhecimento. O mesmo desempenhará um papel de um tutor virtual eletrônico. Inicialmente o projeto pretende selecionar uma disciplina da grade curricular dos primeiros períodos do ensino técnico à distância, neste caso uma dis-ciplina básica de matemática e delimitá-lo como o tutor da disciplina. Este projeto conta com a parceria de professores do departamento de métodos e técnicas de ensino do centro de educação da Universidade Federal de Pernambuco (DMTE - CE - UFPE) para o seu desen-volvimento e avaliação.

2. CHATTERBOTS NA EDUCAÇÃO DISTANCIA

A Educação à Distância (EAD) pode ser definida como uma experiência planejada de ensino e aprendizagem que faz uso de tecnologias para integrar estudantes que se encontram geografi-camente distantes [2]. A característica básica da EAD é o estabelecimento de uma comunicação de dupla via, na medida em que professor e aluno não se encontram juntos na mesma sala requisitando, assim, meios que possibilitem a comunicação entre ambos como correspondência postal, correspondência eletrônica, telefone ou qualquer ferramenta proveniente da Internet.

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Thiago Affonso de Melo Novaes Viana e Sthenia Gomes do Nascimento

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A possibilidade de prover continuamente capacidade de atendimento a dúvidas dos alunos remotos que surge com o uso de chatterbots que tentam replicar o papel de um tutor virtual oferece novas possibilidades de suporte ao aluno distante. Uma das principais dificuldades deste tipo de aluno é a sensação de isolamento que experimenta pela distância no espaço e às vezes também do tempo quando seus horários de acesso ao sistema não coincidem com os do restante da turma. Um chatterbot provê a possibilidade de solicitar e receber expli-cações a qualquer momento. O processo de construir a base de conhecimento do chatterbot pode ser realizado pelo próprio aluno, pois existem ferramentas de autoria que facilitam a criação das definições a serem usadas no processamento da conversação permitindo que o aluno tenha participação ativa no processo.

3. A PROPOSTA

Hoje em dia várias instituições de ensino possuem cursos direcionados a educação à dis-tância, tais cursos costumam disponibilizar aos usuários um portal eletrônico de educação à distância, com várias funcionalidades para o acompanhamento remoto dos tutores e pro-fessores nas diversas disciplinas oferecidas. Com o crescimento na procura e incentivo dos cursos técnicos à distância, pensou-se na necessidade do desenvolvimento de um chatterbot para auxiliar professores formadores no acompanhamento dos alunos e na monitoração de dúvidas e resolução de exercícios.

Desse modo, definimos uma proposta para o desenvolvimento de um chatterbot, que a-través de uma interface gráfica via WEB permita ao usuário tirar dúvidas e ser acompanhado em algumas atividades nas disciplinas iniciais de matemática em cursos técnicos de EAD. A disciplina de matemática foi escolhida em comum acordo com professores e pesquisadores do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino (DMTE) do Centro de Educação da Universi-dade Federal de Pernambuco. Os quais participam diretamente na elaboração deste projeto.

A proposta é definida utilizando uma arquitetura composta p elos seguintes elementos: um interpretador AIML, o Banco de Dados MySQL, a base de conhecimento AIML, o software Haptek e SAPI do Windows.

A base de conhecimento do chatterbot será implementado na linguagem AIML e possuindo aproximadamente 2100 perguntas relacionadas a disciplina básica de matemática de cursos técnicos a distância. Essas perguntas serão previamente elaboradas pela equipe técnica e pedagógica do DMTE-UFPE, que dividirá os assuntos em grupos, para facilitar a construção e manutenção posterior.

A interação entre aluno e chatterbot será desenvolvida de modo a aumentar o interesse e satisfação do aluno em cursar um curso EAD, pois serão utilizados elementos que atraem a atenção do aluno, como: gráficos, imagens, emoção. Para isso, usaremos o software Peo-plePutty que possibilita a criação de avatar em 3D, com uma gama de acessórios e recursos que ajudam o chatterbot a expressar suas emoções. O avatar construído possuirá caracterís-ticas regionais do nordeste (cor do cabelo, tom da pele, lábios, etc), assim caracterizada para aproximar-se mais dos alunos desta região.

A proposta de construção conterá duas versões do chatterbot: a versão estática, que é a padrão, permite ao usuário visualizar apenas a imagem do robô, podendo fazer perguntas e obter respostas e a versão dinâmica, onde a comunicação é mais elaborada, pois o usuário visualiza o avatar em 3D, que interage através de fala e movimentos. Para o usuário dispor desse recurso é necessário que utilize o sistema operacional Windows, o navegador web In-ternet Explorer e o Player Haptek.

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Uma proposta de um sistema tutor virtual para as disciplinas básicas de matemática em cursos técnicos de educação à distância

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4. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Este artigo apresentou a proposta de um chatterbot para disciplinas básicas de matemática em cursos técnicos EAD, que integra diversas tecnologias, possibilitando ao usuário conver-sar, de forma amigável, com um avatar em 3D, que responde com voz no idioma português do Brasil e apresenta traços e caracterização regionais, facilitando a comunicação.

Atualmente um grupo de alunos pesquisadores da UFPE (Centro de Informática e Centro de Educação), juntamente com alunos e professores das Fac- uldades Integradas Barros Melo estão definindo a arquitetura e a modelagem detalhada do chatterbot. Os próximos passos são o desenvolvimento e a avaliação do mesmo.

A etapa de avaliação do chatterbot se dará a partir da inserção do mesmo em um curso de EAD em nível de ensino técnico. Já está sendo elaborado um estudo empírico para a avaliação experimental de suas vantagens e desvantagens.

Por fim é importante salientar que o uso de chatterbots por si só não garante o aprendiza-do. Deve-se perceber que esta tecnologia é parte de um to do maior em que deve se inserir. Contudo, espera-se que o pro cesso educacional se torne ainda mais rico para a exploração e interação através do acréscimo de ferramentas como a proposta neste projeto.

REFERÊNCIAS

1. A. Agustini. Estudo inicial sobre o processamento da linguagem natural. Master’s thesis, PUCRS, 1995.

2. M. L. Belloni. Educação a distância . Campinas: Autores Associados, 1999

3. S. Laven. Classic chatterbots eliza. Technical report, The Simon Laven Page, 2002.

5. M. L. Mauldin. Chatterbots, tinymuds, and the turing test: Entering the loebner prize competition. Association for the Advancement of Artificial Intelligence AAAI , 1994.

8. A. F. T. Primo. Comunicação e inteligência Artificial: interagindo com a robô de conver-sação cybelle. Estratégias e Culturas da Comunicação , pages 83-106, 2002.

9. S. J. Russel. Artificial Intelligence: a modern approach . Prentice-Hall, 1995

10. A. M. Turing. Computer Machinery and Intelligence , volume 9. Mind, 1950.