revista n.º 20 · publicaÇÃo periÓdica · marÇo 2015

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DESEMBAR UE O REVISTA N.º 20 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · MARÇO 2015

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Publicação Periódica daAssociação de Fuzileiros

Revista n.º 20 • Março 2015

PropriedadeAssociação de Fuzileiros

Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.2830-356 Barreiro

Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461email: [email protected]

www.associacaofuzileiros.pt

Edição e RedacçãoDirecção da Associação de Fuzileiros

DirectorJosé Ruivo

Directores AdjuntosMarques Pinto, Leão Seabra e

Benjamim Correia

Editor PrincipalMarques Pinto

ColaboraçõesDelegações da AFZ, MP, CM, JR, LS, BC,

Ribeiro Ramos, Miranda Neto, José Horta e Paulo Gomes da Silva

Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro Gonçalves e Mário Manso

Capa (Fotos): Cortesia da Revista SábadoCapa (Arranjo): Manuel Lema Santos

Coordenação gráficae paginação electrónica

Manuel Lema [email protected]

Impressão e acabamentoGMT Gráficos, Lda.

Rua Sebastião e Silva, n.º 79, Piso OMassamá – 2745-838 Queluz

Tel.: 214 382 960 Email: [email protected]

Tiragem2.000 exemplares

Depósito legal n.º 376343/14ISSN 2183-2889

Não reconhecemos qualquer nova forma de ortografia da língua portuguesa mas, no respeito por diferente opção, manteremos os textos de terceiros aqui publicados que

configurem outra forma de escrita.

índice ficha técnica

O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Editorial

Os Contadores de Histórias 3

Cultura & Memória

Breves Memórias da Fotografia 4

O Primeiro Grande Assalto Anfíbio Português e a Modernidade 6

Contos & Narrativas

Estórias por Contar 7

DFE 12 – Guiné – 1967/69 – Intervenções em Canjaja Mandinga 8

Já ‘stou!!!... 10

Notícias

Novo Comandante do Corpo de Fuzileiros – Apresentação e Retribuição de Cumprimentos 11

ALM Director-Geral da Autoridade Marítima visita a Associação de Fuzileiros 12

Encontro de Amigos na Associação de Fuzileiros 12

A AFZ na vertente de cooperação com países de expressão portuguesa 13

O Fuzileiro regressou ao seu “Posto de Combate” 14

Corpo de Fuzileiros

Exercício Lusitano 14 15

Divisões

Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas 17

Homenagem

Guilherme Alpoim Calvão (1937-2014) 23

O Aquiles Lusitano do Século XX 24

Alpoim Calvão, Mendes Fernandes e o Príncipe Henrique de Bourbon y Parma 25

Pequena homenagem a Alpoim Calvão 26

Operação ”Mar Verde” 27

Ao camarada STEN António Piteira – Homenagem da Classe de Fuzileiros do 18.º CFORN 36

Contadores de Histórias

Em jeito de reportagem... e não só 38

Delegações

Delegação do Algarve 40

Delegação do Douro Litoral 42

Almoço de Natal

O Almoço de Natal de 2014 – Um dos grandes Acontecimentos do Ano 44

Convívios

Tertúlia-Mor 46

Cadetes do Mar

Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros 48

Eventos

1.º Centenário – I Grande Guerra – Liga Combatentes – Núcleo Seixal 50

Homenagem aos Antigos Combatentes – Igreja Nova - Mafra 50

Obituário 51

Diversos 51

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editorial

3O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Realizou-se no passado dia 17 de Janeiro de 2015, sábado, na Sede da Associa-ção de Fuzileiros, a 2.ª sessão do evento cultural “Os Contadores de Histórias – Cada História tem seu Fado”.

Este tipo de eventos consta do programa eleitoral da Direcção Nacional da Associação de Fuzileiros e insere-se na vertente das actividades internas (voltadas para os sócios), desse mesmo programa. Por isso mesmo são programas de entrada livre.

Este evento – Os Contadores de Histórias – foi uma feliz iniciativa do Chefe da Divisão de Cultura e Memória, professor Joaquim de Carvalho e da sua adjunta Dr.ª Laurinda Rodrigues.

A ideia subjacente a esta iniciativa foi a de aproveitar o enorme manancial de pequenas histórias, umas mais ligeiras e engraçadas que, certamente, nos farão rir ou pelo menos sorrir e que nos trarão à lembrança os bons momentos de convívio e camaradagem que, certamente, todos nós passámos nos intervalos das operações; outras mais sérias e que por vezes nos trazem à memória episódios que talvez gostássemos mais de esquecer mas que poderão servir para transmitir às gerações mais novas as experiências por nós vividas.

Mas as histórias não têm que se limitar a episódios vividos no ultramar, podem ser histórias de vida e tanto podem ser contadas por associados como por seus representantes, como aliás aconteceu na primeira sessão. Nesta última sessão, inclusivamente, uma das histórias foi da autoria de uma familiar de um sócio.

Se a primeira sessão, que teve lugar em Outubro passado, foi desde logo considerada um sucesso, esta segunda sessão ultrapassou as expectativas.

Estiveram presentes cerca de 120 pessoas, entre sócios, familiares e convidados, duplicando assim praticamente, o número de participantes da primeira sessão.

A estrutura do espectáculo “Os Contadores de Histórias – Cada História tem seu Fado” – foi desenhada pelos seus criadores de forma a que, no intervalo de cada história, haja um momento musical em que se procura que o tema da música esteja de alguma forma relacionado com a assunto da história.

Como referido anteriormente a entrada para o espectáculo é livre, sendo uma forma de a Associação proporcionar aos sócios uma oportunidade de conviverem, contarem as suas histórias e simultaneamente assistirem a um evento cultural de qualidade.

O horário das sessões, das 18h00 às 20h00, teve em consideração proporcionar, a quem o desejar, jantar no restaurante da Associação podendo assim continuar o convívio com os camaradas e amigos.

No primeiro evento contámos com a participação de uma jovem fadista, a Marisa Silva, dona de uma excelente voz e que nos proporcionou momentos de elevada performance. Foi acompanhada à guitarra pelo Arménio de Melo e à viola pelo João Vaz.

Na segunda sessão, a parte musical – uma fusão entre o fado e a morna – esteve a cargo de duas jovens cantoras, igualmente talentosas, a Joana Luz e a Elizabete da Veiga, esta com origens cabo verdeanas, possuidoras de excelentes vozes, e por isso mesmo com um futuro que esperamos muito promissor nas respectivas carreiras musicais. Foram acompanhadas à guitarra pelo João Núncio e à viola pelo Carlos Silva.

No entanto, para que estes eventos tenham continuidade torna-se necessário que os contadores de histórias se manifestem, fazendo chegar os seus projectos ao secretariado, que podem ser na forma escrita ou gravada ou ainda contada directamente à Laurinda Rodrigues, que se encarregará de os passar a escrito. Algumas das histórias serão seleccionadas para publicação na nossa revista “O Desembarque”.

No final do projecto pretende-se aproveitar as histórias para elaborar uma compilação de modo a que as memórias não se percam, ficando registadas numa publicação com o título, “OS CONTADORES DE HISTÓRIAS”.

José RuivoPresidente da Direcção

Os Contadores de Histórias

José Ruivo

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cultura & memória

4 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Desde os primórdios da humanidade que o homem sentiu necessidade de se exprimir, para além do gosto

e da vontade de guardar na memória e de transmitir aos seus descendentes e assim, aos vindouros, para a posteridade, expe–riências do seu dia-a-dia.

Cuidaram de gravar na pedra e em segui-da em metais, chegando alguns milénios depois às famosas pinturas de tão ilustres Mestres da Idade Média: frescos, retratos, alegorias, paisagens, etc. O homem sem-pre procurou mais. É uma matriz do ser humano querer sempre mais e que, em determinadas circunstâncias será mesmo de mais. E defeito.

Voltando ao tema, no tempo de Aristóte-les cerca de 350 A.C. já era conhecido o fenómeno de produção de imagens pela passagem da luz através de um orifício. Todavia decorreu muito tempo até que no século X consegue a observação dos eclipses solares através de um orifício aberto num quarto escuro.

Sete séculos depois um físico italiano es-tudou o escurecimento de alguns compos-tos pela exposição à luz do Sol. Fizeram-se várias tentativas em diversos países para conseguir silhueta em negativo, mas to-dos tropeçaram na dificuldade em manter imagens quando expostas à luz. Estudos da proto-história indicam que o homem, desde os seus primórdios, mesmo ainda antes da escrita, certamente com a des-coberta do fogo, terá ensaiado riscos que o tempo apagou.

Milhares de anos depois surgem-nos gra-vuras e pinturas rupestres que chegam até aos nossos dias, sem que se possa provar que a intenção fosse deixar documentado algo para a posteridade. Porém, o Homem vai evoluindo e surgem, obras que, nitida-mente apontam não só para homenagear os modelos inspiradores como, para dei-xá-los para a posteridade. Sendo que, em Portugal, terá sido no período Romântico e nas obras do Visconde de Meneses que essa vontade se manifesta, nomeadamen-te, em retratos de sua mulher, Emília Mac Mhon Pereira Magalhães, “com quem ca-sou por amor em 1858”.

Concomitantemente à evolução do tra-ço e da pintura, num outro patamar – curiosidades – vagueia pelos espíritos

de alquimistas e mais tarde de químicos, a procura do que mais tarde seria a fotografia.

Certo dia, numa gaveta onde estavam es-quecidas algumas coisas guardadas, en-tre elas, uma chave e uma peça de prata, alguém observou ao desencostar a chave da peça, que a chave havia ficado nitida-mente e rigorosamente gravada na prata.

O fenómeno foi observado por quem, de imediato ficou ligado e viria a desenvolver teorias e práticas que terão originado o início da fotografia a preto e branco, em 1829.

Esta pesquisa deve-se a NIEPCE e a DAGERRE os quais, utilizando diversas substâncias experimentais, entre elas o brometo de prata criaram um produto que viria a ser aplicado em vidros e gelatinas (as chamadas películas, ou celulóide). Após a descoberta, o processo passou a ser designado por “DAGUERREOTIPO”. Iniciaram-se, de imediato, pesquisas em câmara escura, entendendo-se por câ-mara escura, um compartimento somente iluminado com luz vermelha, apropriada. É nesta câmara que se processam as cópias. Fazendo passar uma luz branca normal através da película (celulóide) o negativo, que já se encontra encostado a um papel de cópia é revelado e fixado. Obtém-se assim uma cópia de um nega-tivo gravada no papel. O que é branco na película (negativo) passa a preto no papel e, vice-versa.

Luís Pasteur, químico francês do Séc. XIX isolou pela primeira vez parasitas micros-cópicos nocivos para a saúde humana.

Continuando aqueles trabalhos, o médico francês Robert Koch, pouco depois, ob-teve também pela primeira vez, registos visíveis em fotografia, de bactérias noci-vas para a saúde humana, causadoras de doenças.

A fotografia estava em evolução. James Clerk Maxwell, no Kings College, em Lon-dres, desenvolveu uma teoria – a da cor – e criou a primeira fotografia a cores, em 1860. Porém, a “Teoria da Cor” só viria a ser praticamente usada, em fotografia, na segunda metade do século vinte.

Talvez não fosse despiciendo referir as técnicas tradicionais de revelação, fixação e de obtenção da fotografia, como também dos componentes químicos utilizados para preparação dos respectivos “banhos”, das temperaturas ideais e dos processos de secagem (“esmaltadeira” incluída) e corte do papel.

Porém, o espaço que nos foi destinado não permite maiores pormenores.

Bastará dizer que as imagens, logo que reveladas, se em seguida não forem fi-xadas alteram-se enegrecendo imediata-mente. Para o evitar, devem ser passadas rapidamente por água e de imediato pelo fixador, onde devem permanecer entre vinte a trinta minutos, pelo menos. Após a fixação são postas num recipiente com água, para a lavagem e de preferência em água corrente.

As fotos não processadas com muita cor-recção ocasionavam o que de todos era sabido e que acontecia, em tempos que já lá vão, nos retratos chamados “à lá minu-te” tirados por fotógrafos ambulantes que andavam de terra em terra e em feiras e mercados – “passavam-se” em pouco

Breves Memórias da Fotografia

António Marreiros

Adem - 1949

Arco do Marquês do Alegrete - 1949

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cultura & memória

5O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

tempo. Na caixa (que era a câmara foto-gráfica com que trabalhavam) guardavam as tinas com os banhos, sem recipiente com água para a lavagem.

Durante vários anos trabalhou no Monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo, um des-ses profissionais. Algumas vezes observei, e não só aí, o que era comum nestes fotó-grafos: fotografavam o cliente, revelavam o papel que servia para negativo e, em seguida, fixavam-no. Depois tiravam-no para fora da câmara pondo-o na estante em posição invertida, frente à objectiva. E assim fotografavam o papel negativo que estava em frente. Feito isto tinham dentro da câmara o positivo referente ao negativo que já haviam conseguido. O problema da-queles profissionais surge a seguir. Uma vez revelado o positivo, passavam-no pelo revelador e pelo o fixador sem um mínimo de lavagem, para tirar restos do banho de revelação. Em seguida, com pouco mais

de dois a três minutos de fixação, tiravam da sua câmara escura a foto que, era pas-sada por água (que traziam, num baldinho exterior à máquina) e, de imediato, a en-tregavam ao freguês carregada de sais, quer do revelador como principalmente do fixador. Como é de prever, certamente as fotos duravam pouco tempo.

Tenho algumas fotos por mim preparadas, entre 1947 e 1949. Estamos em 2014, e ainda hoje se podem ver com algum agra-do. Junto algumas à guisa de ilustração.

Apenas como notas de curiosidade:

Nas películas fotográficas e nas de RX foi usada tanta prata que, nos últimos anos, se passou a comercializar esse material, já usado, para que dele seja extraída a prata com o objectivo de a reutilizar!

Diz-se que a fotografia não é obra final de uma pessoa.

No Séc. V A.C. Motzu inventou a câmara escura.

No dia 20 de Agosto de 2014 foi comemo-rado o dia mundial da fotografia.

Como nota pessoal, talvez valha a pena di-zer que obtive as minhas primeiras fotos, com uma máquina formato LXO/SCM, no jardim Antero de Quental, em Ponta Del-gada, S. Miguel, Açores, no ano de 1945.

António MarreirosSóc. Efect. n.º 2314

Nota do Autor: Para além de uma experiência pessoal de 75 anos e dos vários estudos e consultas que tivemos de fazer em variadíssimas fontes citaremos apenas, para não “carregar” o artigo, a Enciclopédia Luso Brasileira da Cultura, Ed. Verbo.

Nota do Editor: Este nosso Camarada, que foi entrevistado na edição de “O Desembarque” n.º 18 de Julho de 2014, completou há poucos meses, as suas jovens, sábias e lúcidas 90 primaveras, e já foi apelidado pelo nosso Sócio Originário n.º 443 e Amigo, Francisco Pereira, de o nosso “Marujinho”. Esta edição de “O Desembarque” envia-lhe, embora atrasados, os seus parabéns e os votos de que continue, por muitos anos, a dar-nos as lições da sua experiência e sabedoria, agradecendo a sua colaboração.

Costa d´Ouro - Lagos - 1949 Mosteiro dos Jerónimos - 1949

Costa de S. Miguel - AçoresRebentamento de Bomba de Profundidade - 1946

INFORMAÇÃO aos SóciosSalão Polivalente e de Refeições

Informamos os nossos Associados que o Snack-Bar da AFZ, da nossa Sede Social, está em pleno funcionamento após obras de conservação e manutenção. O Salão Polivalente e a cozinha do Snack-Bar foram totalmente remodelados incluindo o mobiliário.

Daqui exortamos todos os Sócios a que frequentem a nossa/Vossa Sede, o Bar e o Salão Polivalente e de Refeições e a que, os Camaradas or-ganizadores dos habituais Almoços/Convívios, consultem sempre a AFZ e/ou o respectivo Concessionário do espaço, porque encontrarão, por certo, condições de relação qualidade/preço muito favoráveis, para além de um ambiente agradável e de muito nível, propício à realização de eventos de qualquer natureza, em que as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade, as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem revelar em toda a sua plenitude.

Sugerimos que as marcações de pequenos eventos ou os almoços/convívios sejam, em princípio, marcados com a intervenção do Secre-tariado Nacional da AFZ (telefone: 212 060 079; telemóvel: 927 979 461, email: [email protected]) por razões que têm a ver com a programação dos eventos da iniciativa da Direcção.

O Concessionário, cujo novo telefone é o 210 853 030, tem instruções para dar conhecimento à Direcção de todos os eventos e/ou convívios que venham a ocorrer na Sede Nacional, antes de se comprometer na sua realização.

Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.

A Direcção Nacional da AFZ

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cultura & memória

6 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Os norte-americanos, quando invadiram pela segunda vez o Iraque, invocaram a doutrina jurídica de guerra preven-tiva. Os juristas estadunidenses, para mostrarem que não

estavam inventando nada de novo e que, por isso, não estavam sós na cena internacional, invocaram dois precedentes histórico--jurídicos de Direito Internacional que nos imputaram: foram os portugueses – disseram eles – que criaram o conceito de guerra preventiva e que lhe deram concretização pelo menos duas ve-zes. Uma em meados do Séc. XV e outra em 1500, no dobrar desse mesmo século.

Referiam-se eles explicitamente ao bombardeamento naval de Calecute ordenado por Pedro Álvares Cabral e deixaram mais ou menos na sombra o outro precedente, muito mais significativo e fácil de descortinar, porque aludiram à data – 1458.

Por esta ocasião, a pirataria infestava o mar e refugiava-se nos portos marroquinos, prejudicando muito seriamente as relações comerciais. Urgia, por conseguinte, tomar esses portos, o que constituía, na realidade, uma operação defensiva.

Para tanto, D. Afonso V, que então reinava, tomou Alcácer Ceguer, praça localizada entre Tânger e Ceuta. Após, tomar-se-ia Tânger, de modo a dominar-se, com a posse das três praças, o estreito de Gibraltar e a impedir-se que os corsários prejudicassem as nossas comunicações com o Mediterrâneo e com África. Além disso, tam-bém se impediriam assaltos às costas da Andaluzia e de Portugal. De recordar que a descoberta do caminho marítimo para Índia ain-da não fora pensada.

Só no reinado seguinte, o de D. João II, se gizou tal empreendi-mento e se lançou verdadeiramente o país na sua grande epopeia marítima. Retomando: D. Afonso V, com o fito antedito, fez tenta-tivas ineficazes em 1463 e em 1464.

Concebeu-se, então e na sequência, uma operação indirecta, qual fosse a de atacar Arzila, na costa do Atlântico, localizada a sul de Tânger e a poucas milhas desta cidade. Tomando-se Arzila, Tânger, praça situada entre Arzila e Alcácer Ceguer, esta já sob domínio português, ficaria em situação muitíssimo com-plicada. Constitui-se, pois, uma Armada poderosíssima, a maior que se aprontou em Portugal: 477 navios e 30 000 homens de desembarque. Deu-se o assalto. E Arzila, após luta sangrenta, rendeu-se.

Pouco tempo depois, como Tânger começasse a ser evacuada, as forças portuguesas ocuparam-na pacificamente. E foi assim que Portugal, com um assalto anfíbio de cariz defensivo, dominou as principais praças do norte de África. D. Afonso V tomou, então, o título de «rei de Portugal e dos Algarves de Aquém e de Além-Mar em África».

As praças de África – os tais «Algarves de Além-Mar» - funcio-naram não apenas para refrear a pirataria, como constituíram, por isso também, grande escola de guerra. Abriram caminho à produção de leis inibidoras do tráfico de armas.

Com efeito, doravante preveniu-se no Direito português a doutrina – que foi tomando caminho até hoje – da proibição do contraban-do de armas, nessa época apenas para impedir o tráfico de armas

para os marroquinos. Por outro lado, deram ao país a pretensão ao exclusivo da pesca nas costas ocidentais de Marrocos em de-trimento de Castela. Seguidamente, já com D. João II, fundou-se o Estado moderno e colocou-se o país ao nível das maiores po-tências de então.

Foi em D. João II que Nicolau Maquiavel se inspirou para escrever “O Príncipe”, primeiro tratado, o tratado fundacional, da moderna Ciência Política. D. João II, numa visão estratégica sem par até aos dias de hoje, planeou a expansão ultramarina, enquanto fo-mentava o crescimento interno.

E é pelos caminhos do mar, com a extensão da plataforma con-tinental e da ZEE, e por muitos dos caminhos abertos por D. João II, que ainda hoje, no início do XXI, tentamos o futuro, o qual, bem entendido, também não deixa de estar – como sempre esteve – numa Europa que procura, cheia de incertezas, hesitações e muitos desencontros, o seu futuro.

Gomes da SilvaSóc. Orig. n.º 2243

O Primeiro GrandeAssalto Anfíbio Português

e a ModernidadePaulo Gomes da Silva

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contos&narrativas

7O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Sob este título, estou hoje, pela quarta vez, a dar-vos conta das peripécias vividas por um velho fuzileiro durante a sua comissão, em terras da Guiné, ex-Portuguesa, como antes

foi designada.

Já lá vão mais de 40 anos, o tempo e a memória, não desanuviam as névoas do passado, dos trechos vividos, que a cada instante se tornam, cada vez, mais longínquos.

Também estes trechos ocorreram num período, relativamente curto, conforme já referi em crónicas anteriores. Se nesse tempo aconteceram cenas de algum deleite, outras houve com um sabor mais escabroso, inenarráveis, pelo pudor e pelo bom senso.

Mas ainda restam umas escassas peripécias que o meu fraco talento para a escrita vai tentar torná-las um pouco mais “diges-tíveis”.

Deste modo e desta vez, vou narrar-vos mais duas ou três peque-nas histórias que dizem respeito à vida e à vivência dos fuzileiros, não sendo, necessariamente, todas vividas por mim.

Já aqui vos falei (ou escrevi, na minha segunda crónica) de Be-danda, povoação sobranceira à margem esquerda do rio Cubijã, a sul no território da Guiné. O Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 5 (DFE 5), de que fiz parte, passou cerca de 15 dias nessa po-voação, rica que foi em peripécias, de diferentes matizes, milita-res e não só. Uma delas passou-se com o médico do exército, na altura destacado no aquartelamento ali sediado. Tratava-se duma excelente criatura e um óptimo companheiro, contudo… quando as bombas (de foguetão) rebentavam na área do aquartelamento ou as balas silvavam pelo nosso espaço aéreo, “cadê” o doutor?

Então tomava, com intensa lividez, a horizontal comatosa, no fun-do da vala mais próxima e só de lá saía ao fim de algum, largo e indeterminado, período de tempo.

Os “nossos amigos” do PAIGC, às horas mais incríveis e sem nos darem conta de nada, volta e meia, vá de descarregar umas quan-tas granadas de foguetão (“brinquedo” novo, na altura) a espaços irregulares e durante uma, duas ou mesmo três horas seguidas. Sabíamos que do local onde montavam as rampas, até ao nosso aquartelamento, após a saída, os foguetões demoravam cerca de 8 segundos no ar. Tinham, ainda, a vantagem de produzirem um silvo característico, instantes antes de rebentarem no solo. Tal facto permitia a quem estivesse a caminho do abrigo, atirar-se para o chão, minimizando, assim, eventuais danos corporais…

Certa tarde, estávamos os dois na messe, sozinhos e sentados à mesa, a conversar calmamente ou entretidos, numa jogatana qualquer de cartas. A messe era uma sala ampla, de formato rec-tangular, sobre o comprido e o acesso, a partir da porta, dava--se após contornar, pela direita, uma pesada esteira de verga, suspensa do teto e encostada à parede (no lado esquerdo, junto à porta). Em seguida, a um bem generoso metro de distância, um pesado e largo aparador, encostado, por sua vez, ao lado direito, obrigava-nos, também, a contorná-lo, agora pela esquerda…

Aconteceu que, pese embora o entusiasmo da conversa, ou do jogo em si, demos conta dum ruído que nos pareceu ser uma saída de foguetão… Imediatamente nos precipitámos para o ex-

terior, eu à frente porque estava sentado mais perto da porta e o Dr. um pouco mais atrás. Eis senão quando, depois de passar pelo aparador, ao contornar a esteira, apanho com esta, no flanco e com tal força, que sou projectado, violentamente, contra a pa-rede e quase atirado ao chão. Ora aconteceu que o Dr., em pânico e cheio de pressa, resolveu passar entre a parede e a pesada esteira, porque era, ao fim e ao cabo, o caminho mais direto para a porta. Por sorte, não houve rebentamento nenhum, o ruído que nos fez catapultar para fora, tinha sido uma mera impressão, pro-vocada por uma outra coisa qualquer.

Breves

O Com. Lopes Fernandes contava uma história que, presumo, se teria passado num anterior destacamento deste, em Moçambi-que. A propósito da malta gostar de beber. Parece que, um dia, no início dum ataque ao aquartelamento e enquanto o pessoal corria para os abrigos, dois velhos marinheiros, à saída da “Tabanca”, encontram-se à porta e, já meio “cacimbados”, no meio daquela azáfama, diz um para o outro: – O primeiro a ir para a vala paga uma grade de cerveja! Em silêncio, lá se quedaram imóveis e de olhos nos olhos… Toda a gente foi para o abrigo e ripostou ao ataque, mas parece que os rapazes não arredaram pé, até que o inimigo deu o ataque por terminado e “levantou ferro”.

.../...

Confesso que tenho um carinho especial por esta última pequena história, que vos quero deixar. Parece ter-se passado, salvo erro, com um familiar, creio que avô, dum camarada nosso. Se a me-mória não me falha, o senhor, conhecido como Manuel Sousa, era, ao tempo, um homem já entrado nos sessenta e… Gostava dos bons petiscos e se bem comia, melhor bebia. Avantajado fi-sicamente, o seu abdómen delineava uma curva ampla e bem nutrida. Praticamente todos os dias, ou em determinados dias da semana, a partir das 18 horas, reunia-se com três ou quatro fiéis companheiros, ocupavam uma sala reservada numa conhecida e afamada, tasca lá da sua terra, para deitarem abaixo os melhores petiscos preparados pela mulher do taberneiro. Para uns quantos diziam, singelamente, que iam à missa (??...).

Preocupados com esta vida do sr. Sousa, a mulher e um dos fi-lhos, talvez um ou outro amigo, lá o convenceram a ir ao médico. Ao que consta este não ofereceu qualquer resistência, nem pôs entrave nenhum. Lá foi ao médico, que bem conhecia, tendo este mandado que fizesse alguns exames. O senhor Sousa lá cumpriu, religiosamente, as prescrições que o médico ordenara. Numa se-gunda consulta e após verificar a excelência dos resultados dos exames, o clínico apalpa-lhe a barriga, ausculta-o e vê-lhe a ten-são. Surpreendido com este resultado, o médico, dispara-lhe…– Eh sr. Sousa, o senhor tem aqui uma tensão arterial própria dum jovem de 25 anos! – E qual é essa tensão sr. Doutor? – O sr. está com 13-7 (13 M-7 m)! Respondeu o médico. – 13,7? Eh sr. Dr., é mesmo dessa graduação que eu gosto!!!

José HortaSóc. Orig. n.º 485

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contos&narrativas

8 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Em Fevereiro, o meu Destacamento recebeu ordem de inter-venção na Zona de Canjaja, com a missão de capturar ou aniquilar os guerrilheiros que ali se encontrassem, bem como

destruir os seus acampamentos.

Estava em andamento uma das mais perfeitas intervenções de combate em que participei.

O DFE 12 desembarcou durante a noite e aproveitando a escuri-dão, progrediu cuidadosa e silenciosamente, atravessando uma zona pantanosa que se estendia entre o tarrafe e a orla da mata. Cada um de nós enterrados na lama e chafurdando na sua vis-cosidade, só conseguia ver o homem que ia à sua frente e, para além disso, só sentía o arfar profundo do camarada que ia à frente ou atrás.

Nesta operação, eu era o homem que seguia à frente da coluna. A progressão era desgastante e os olhos pouco viam no escuro. Se-guia colado à orla do palmeiral. Ao mínimo ruído parava e tentava apurar os sentidos. Depois, lá continuava. O camuflado que leva-va vestido estava todo pegajoso e o frio era intenso. Entretanto re-cebo ordem para efectuar uma breve paragem para organizarmos uma emboscada, e assim ficámos durante umas horas até que o sol de África apareceu, aquecendo os nossos corpos e dando-nos assim algum conforto.

Reiniciada a marcha, continuei à frente, com muito cuidado. Pas-sados alguns minutos deixei de ouvir os ruídos naturais da mata, designadamente, o das aves ou o grasnar dos abutres. Instalou--se um silêncio incomodativo que anunciava que algo estaria para acontecer. E, passado alguns momentos, caiu sobre nós uma “saraivada” de balas de metralhadora e de explosões de grana-das. Dei um salto para trás de uma árvore, e a reacção da Unidade foi rápida, com fogo e movimento, gritos de incitamento, originan-do, assim, a fuga desordenada dos guerrilheiros que deixaram no terreno três baixas.

Seguidamente recebi ordens para sairmos rapidamente da zona. Assim faço, mas antes pergunto se há feridos e a reposta foi ne-gativa.

Entretanto, o comandante Pedrosa veio à frente e deu-me indica-ções para iniciarmos a progressão. Introduzi na bússola o rumo mas, quando dei os primeiros passos e entrando numa zona mais aberta, detecto um elemento da população desarmado. Deixámos que ele se aproximasse e capturámo-lo.

O interrogatório foi realizado imediatamente, em crioulo, por um guia nativo que nos acompanhava. Com um pouco de pressão, empurrão daqui empurrão dali, ele informa-nos onde se localiza-va o acampamento. De repente, tive a sensação de que tínhamos sido detectados e que estávamos a ser observados. E pior fiquei, quando cheguei junto às primeiras cubatas e não observei quais-quer movimentos de pessoas ou de animais domésticos. Sugeri, em seguida, ao sargento da secção que o melhor seria seguir com a minha equipa em linha e as outras duas seguirem em coluna atrás de nós. O objetivo era passar o acampamento, chegar à orla da mata oposta e aí montar a segurança.

Fui avançando cautelosamente, pé ante pé, numa marcha lenta, o dedo no gatilho, o suor a escorrer pelo rosto. Todos nós sentíamos

que mais metro menos metro, o dilúvio de metralha iria aconte-cer… e, de súbito, com a explosão de uma granada e com o seu sopro violentíssimo fui projectado, assim como os companheiros que estavam junto a mim. Felizmente ficámos encobertos por um morro de “baga-a-baga” que nos protegeu da chuva de metralha. Ouvíamos, porém, o zumbido de projécteis e gritos de camaradas que foram severamente atingidos. O abrigo improvisado dava--nos uma razoável protecção. De súbito, senti uma queimadura no pulso, olhei em meu redor e tentei reagir. Reparei numa árvore à minha frente e diriji-me para lá, fazendo algumas rajadas de G-3 e reparei, quando mudei de carregador, que junto a mim só se encontra o guia. O tiroteio estava no auge, os meus camaradas reagiam mas não tínhamos possibilidade de avançar. Os IN(s) es-tavam bem posicionados. Chegou então a ordem de recuar.

O Comandante solicitou apoio aéreo; o tiroteio foi decaindo de in-tensidade… Chega o apoio: um helicóptero canhão e uma dornier de onde são lançados roquetes. Assim, os meus camaradas con-seguem ocupar a outra orla da mata. Entretanto, inicia-se a revis-ta ao acampamento. Ao longe avistam-se os Heli de evacuação de feridos. Estes aterram, e avança uma enfermeira paraquedista, que com muita dedicação e profissionalismo trata dos feridos que de seguida são metidos nos aparelhos e seguem para Bissau.

Imediatamente o comandante deu ordem de retirada em direcção ao rio, fazendo-o pelo lado sul do acampamento já que o terreno era mais aberto e como tínhamos a cobertura aérea, rapidamente chegámos ao rio, onde as lanchas já se encontravam para nos reembarcar.

A “revanche” estaria para breve!

Golpe de Mão – “A revanche”

Já tinham passado alguns dias depois da operação em Canjaja e ainda remoíamos a situação de uma operação mal sucedida face aos feridos que tínhamos sofrido. Enfim, esperávamos uma oportunidade de voltarmos ao local sendo este o tema das con-versas diárias, principalmente entre os praças… Esperávamos a “revanche”.

Começavam a correr rumores (a que hoje se chama fugas de in-formação) de que, brevemente. estaria para ocorrer algo impor-tante na zona de Canjaja. Num final de tarde, o Tenente Rebordão de Brito reúne a rapaziada e pede voluntários para uma missão especial de “desforra”. Nem foi preciso dizer mais nada, todos se ofereceram… embora, só pudéssemos levar um grupo reduzido, devido à característica da operação.

Preparámos o armamento que levaríamos e assistimos ao brie-fing, como sempre fazíamos para depois embarcarmos nas Lan-chas que nos transportaram ao longo do rio, para montante. Na escuridão do poço da lancha, caíamos na letargia do rom-rom, do motor. Uns passavam pelo sono, outros falavam em sussurro, ainda outros verificavam o equipamento, à espera da “voz” de desembarcar. Finalmente, o acelerar dos motores e a voz mágica – “preparar para o desembarque” –, o primeiro embate com o tarrafe, a porta da lancha começa a abrir, os primeiros vão de-saparecendo na escuridão da noite. Como equilibristas, passáva-mos de galho em galho, depois… é o cair no lodo. As sensações

DFE 12 – Guiné – 1967/69Intervenções em Canjaja Mandinga

José Gomes Talhadas

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contos&narrativas

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de desconforto, da molha e do afundanço sentem-se como ven-tosas que nos sugam as pernas. Segue-se o esforço violentíssimo para dar um passo, depois é o chapinhar na água de todos atrás uns dos outros, “pedindo a todos os santos” que não fossemos detectados, devido ao ruído produzido pelos motores da lancha, enquanto ela se afastva. Chegados à orla da mata, o comandante mandou fazer uma contagem, através de “passa palavra”; aguar-dámos a resposta e ela chega rápida: estamos todos. O silêncio da noite dá-nos a entender que não fomos detectados. Desem-barcámos num local a montante da anterior missão.

Todo o percurso foi realizado silenciosamente, com muito cuidado já que tínhamos entrado em mata aberta. Começámos a reconhe-cer o terreno onde tínhamos passado alguns dias atrás. Fizeram--se “vários altos”; tudo estava a decorrer conforme o planeado, até que entrámos numa zona aberta mas de capim e, como ele estava mais alto, dáva-nos uma excelente cobertura para nos aproximarmos sem sermos notados. Deslocávamo-nos de gatas, evitando o restolho seco, para não causarmos ruído. A escuridão da noite acentuou-se com o desaparecimento da lua o que fa-voreceu a nossa aproximação ao objectivo. Ao longe, avistámos uma sentinela que foi referenciada pelo Tenente Rebordão de Bri-to, tendo este enviado uma equipa para a neutralizar. Esperámos algum tempo até ao regresso da equipa e aproximámo-nos dos últimos metros a rastejar. Já nos encontrávamos perto das pri-meiras moranças. Junto a um poço estavam três pessoas a falar, o que ajudou a abafar algum ruido que podia ser produzido por nós. Começámos então a posicionar-nos, procurando os melho-res sectores de tiro para a metralhadora e a bazooca.

O dia começava a clarear. Esperávamos em silêncio pela hora combinada para iniciarmos o ataque. Estávamos tensos e ansio-sos e os ponteiros do relógio mexiam-se lentamente, até que che-gou o momento: um inferno de metralha e explosões de granadas. Os “tagarelas” foram os primeiros a ser abatidos.

Depois, seguiu-se o assalto: moranças a arder. aqueles que en-tretanto saíam “delas” eram abatidos, rapidamente consolidámos

o perímetro defensivo ao local e procedemos à revista. Contá-mos oito elementos uniformizados, do PAIGC, abatidos; arma-mento diverso espalhado pelo chão; “Degtiarev`s”, “Simonov`s”, “Kalashnikov`s”, fitas de munições de metralhadora, granadas de canhão sem recuo e diverso material de saúde.

Alguns elementos ainda conseguiram escapar e, deste modo, não podíamos ficar mais tempo, até porque na zona existiam dois bi-grupos de guerrilheiros, que seguramente se iriam reorganizar e perseguir-nos. O Comandante dá ordens de retirar e explodir todo o material capturado que não podíamos transportar. Entretanto, começámos a ouvir os primeiros disparos de tiro de morteiro vin-dos de norte da nossa posição, mas já não nos encontrávamos na zona do acampamento, já estávamos em retirada em direcção ao rio.

Minutos depois, aparecem os aviões T-6 que bombardearam toda a região, onde possivelmente se podiam encontrar as posições … “santa” Força Aérea!

A partir desse momento, os guerrilheiros abandonaram a perse-guição e nós chegámos rapidamente ao rio. As lanchas aproxima-vam-se abicando ao sinal (tela) deixado no tarrafe, os dois aviões sobrevoaram a nossa posição dando-nos cobertura até ao nosso reembarque e depois, já quando nos encontrávamos a navegar, fizeram mais um sobrevoo, balouçando as asas em sinal de des-pedida.

Foi uma operação (Golpe de Mão) ousada, realizada de surpre-sa e na perfeição, num combate com grande potencial de fogo. Destruiu-se um acampamento com importante material de guerra e infligiu-se um número significativo de baixas.

O êxito desta operação desorganizou por algum tempo o PAIGC e a sua supremacia na zona de Canjaja.

José TalhadasSóc. Orig. n.º 95

Nota: Louvores concedidos e publicados na OP2/145/30JUL/69 e OP2/183/23SET/69.

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contos&narrativas

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Já ‘stou é uma interjeição, como to-dos sabemos, pessoal, de resposta a situações, por vezes caricatas, in-

sólitas, outras vezes porque se pensava obter um resultado que acabou numa im-previsibilidade, e outras ainda a poderem descambar para o absurdo. Normalmente surge acompanhada de um adjectivo for-te, só por ele caracterizador do momento. Acontece então dizermos de modo bem audível ou só para nós próprios “‘stou frito!”, ou mais sinteticamente, “’stou fod***!!!”. Mas, muitas vezes, ficamos mesmo e só pelo “já ‘stou!”…

Foi o que aconteceu naquele dia. Algures na Serra da Arrábida, precisamente no ponto montado para a aula de instrução sobre o funcionamento da Bazooka, posto sobranceiro ao rochedo que, lá longe, nos desafiava a disparar o lança-granadas foguete. Quatro instrutores, um sargento e três praças, uma basooka e uma cai-xa de madeira com granadas de vários tamanhos aguardavam a chegada do destacamento de instruendos, um primei-ro-tenente – que iria comandar o desta-camento cujo destino já estava traçado, Moçambique – e várias secções, coman-dadas, cada uma, por um cadete.

A meio da manhã, depois de várias mano-bras de treino, envolvimentos e passagens à linha, ao L, avanços e recuos sobre hipo-téticos grupos inimigos emboscados, ins-trutores que se anunciavam com umas ra-jadas de G3 para o ar, corridas curtas mas cansativas pelo meio do mato rasteiro, uns momentos de descanso proporcionados

pela aula de Bazooka sabiam bem. E ainda mais porque se ia furando a sagrada regra da habituação ao silêncio, fundamental em contexto real, numa tentava de adivinhar o que seria o petisco, o almoço, que a lari-ca é, como toda a gente sabe, muito ima-ginativa – “eh pá”, dizia o “senhor prior” ao marinheiro E, “comia já uma açorda de

camarão regada com 3 tintos do Carta-xo”… ao que “mister golpe”, um madei-rense dos quatro costados retorquia “eu comia mas era duas espetadas de vitela seguidas acompanhadas de 2 garrafitas de vinho Jaqué”…

Chegados ao local da instrução, e depois das instruções ministradas pelo senhor sar-gento, escutadas em silêncio, com atenção,

aula teórica sobre a arma em si, passou--se à parte prática da questão, a execução de um lançamento. Acompanhado sempre de mais explicações, um marinheiro pe-gou na bazooka, o ajudante carregou uma granada e, sempre com calma, premido o gatilho lá foi o foguete a caminho do ro-chedo que foi atingido em cheio. Aquilo foram favas contadas, tal a tranquilidade do disparo, corroborado por um “eeiiiiiih-hh!!!” de espanto geral.

Então o senhor sargento questionou – “al-guém quer experimentar?”

O comandante do destacamento, o pri-meiro-tenente, por sinal o mais atlético dos três tenentes instruendos, nem espe-rou um segundo e, numa de impressionar o pessoal, ensaiados uns movimentos meio “chicuelinas” meio passes de bo-xeur desajeitado, deitou a mão à basooka ao mesmo tempo que proferia um sonoro: – “já eu!”

E o sargento: – “então, senhor tenente queira escolher uma das munições”…

O nosso primeiro-tenente mirou e remirou as granadas que, como já foi dito, eram de vários tamanhos, e escolheu a mais curta. Sempre numa de passes meio dançados, ajustou a arma ao ombro, pôs o olho na linha da mira com o rochedo, engatilhou a bazooka e, após uma breve pausa, carregou no gatilho. Aconteceu então o que ninguém tinha sido capaz de prever: a granada saíu a caminho do pedregulho, a bazooka revoluteou pelos ares e o senhor tenente, sacudido por um violento coice caíu de costas, desamparado, e gritou “já ‘stou!!!”…

Nota Final

Instantes depois, ajudado pelos instruto-res, levantou-se, respirou fundo, sacudiu--se e concluiu: “porra, que esta cabra deu-me cá uma marrada!”. E acrescen-tou: – “mas no tiro anterior não escoi-ceou?!”..

– “Pois não”, retrucou o senhor sargento, informando, – “só acontece com a mu-nição que escolheu, uma munição anti--carro”…

Marinheiro E*

*O Marinheiro “E” é o Sócio Originário n.º 1542, Oficial FZ RN que integrou os efectivos da CFZ 11 e que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné nos anos 1971/1972.

Já ‘stou!!!...

Elísio Carmona

Jeep distribuído à CF 11

Da esq.para a dir: o Fortunato, o Chico Góis, eu (agachado), o Vasconcelos Raposo,o António Ribeiro Reis e o Teixeira Góis (o “mister golpe”)

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11O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

No passado dia 21 de Outubro de 2014, a Direcção da As-sociação de Fuzileiros (AFZ) apresentou cumprimentos ao Comandante do Corpo de Fuzileiros, recentemente empos-

sado, o Contra-almirante Sousa Pereira (CALM CCF).

Foi assim que o Presidente José Ruivo e os Vice-Presidentes Mar-ques Pinto e Leão de Seabra tiveram a oportunidade de manifes-tar, mais uma vez, toda a disponibilidade e vontade da instituição para colaborar com o Comando do Corpo de Fuzileiros e com as suas Unidades nos eventos de interesse comum, designadamente na preparação e acompanhamento do “Dia do Fuzileiro” e bem assim, solicitar os apoios necessários para que a Associação de Fuzileiros e suas Delegações, possa continuar a garantir a rea-lização de eventos de grande interesse para as populações lo-cais, designadamente eventos de “Divulgação dos Fuzileiros” e eventos “Desportivos”, com o emprego de Botes, motores FB e respetiva palamenta. Como vem sendo hábito, para “selar” este encontro, o CALM CCF teve a amabilidade de nos oferecer um almoço na sua camarinha, testemunhado pelo seu 2.º Comandante, pelos Comandantes da Escola de Fuzileiros e da Base de Fuzileiros e pelo seu Chefe do Estado-Maior proporcionando, assim, um momento de sã cama-radagem, que registamos.

Como retribuição e agradecimento, a Direcção da AFZ convidou o Almirante Sousa Pereira a visitar a AFZ, visita que se efetuou no dia 2 de Dezembro de 2014.

Da visita constou a apresentação do Briefing institucional, uma curta visita às instalações e um almoço que decorreu no Salão Polivalente da Associação de Fuzileiros. No final da visita, esta-mos certos, o novo Comandante do Corpo de Fuzileiros ficou com uma ideia global da AFZ, designadamente da sua origem e obje-tivos, da sua organização e funcionamento, das suas Divisões e Delegações, do seu suporte legal e ambições, do seu planeamen-to e atividades mais significativas, algumas com valor histórico como é exemplo, o “Monumento do Fuzileiro”, inaugurado por Sua Ex.ª o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, no dia 2 de Julho de 2011, na Praça dos Fuzileiros, no Barreiro.

Com ele levou a nossa mensagem, que recordamos:“Os Fuzileiros têm uma Casa de Entrada (a Escola de Fuzileiros) e uma Casa de Saída (a Associação de Fuzileiros), ambas muito

importantes, porque marcantes, na trajetória profissional e tam-bém pessoal dos militares da boina azul-ferrete. Este é, por si só, motivo mais que suficiente para considerarmos que o Corpo de Fuzileiros e a Associação de Fuzileiros devem caminhar de “braço dado”, no aplicável, atitude esperada por todos os Fuzileiros de todos os tempos – do passado, do presente e, garantidamente, do futuro. Este inexplicável sentimento de pertença é intemporal, dando razão de ser a uma das nossas maiores verdades:- Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”.

Leão SeabraSóc. Orig. n.º 2279

Novo Comandante do Corpo de FuzileirosApresentação e Retribuição de Cumprimentos

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A convite da Associação de Fuzileiros (AFZ), S.ª Ex.ª o Director-Geral da Autoridade Marítima (DGAM), Vice-

-almirante Cunha Lopes, visitou-nos em 13 de Novembro de 2014, fazendo-se acompanhar pelo seu Chefe de Gabinete, CMG M (RES) Nuno Vargas de Matos.

A nosso convite, acompanhou toda a vi-sita o Oficial Adjunto do Capitão do Porto de Lisboa para a Delegação Marítima do Barreiro.

Tratou-se de uma visita de cortesia em jeito de “Retribuição” de cumprimentos na sequência da apresentação da nova Direcção, no seu gabinete, em 27 de Maio de 2014, conforme noticiado na revista “O Desembarque” n.º 19“.

Na oportunidade, o Presidente da AFZ, José Ruivo, atualizou a informação relati-va às instalações da Sede Nacional, com-partilhadas pela Delegação Marítima do Barreiro e expressou ao Almirante DGAM a necessidade da Delegação de Fuzileiros

do Douro Litoral poder vir a utilizar uma parte das instalações do Farol de Leça para aí criar a sua Sede Regional, com melhores condições e maior centralidade distrital.

Seguiu-se um almoço, servido no Salão Polivalente, durante o qual se trocaram impressões e opiniões e se reforçaram os laços de amizade pessoal e institucional havendo, ainda, lugar à troca de “lem-branças” para memória futura.

ALM Director-Geral da Autoridade Marítimavisita a Associação de Fuzileiros

Ao longo deste período, o Almirante Picciochi desenvolveu trabalho notável e distinto na Organização FZ trabalho, aliás, publicamente reconhecido pelo Almirante Chefe do Estado-

-Maior da Armada aquando da sua despedida do CCF, coincidindo esta com a sua passagem à situação de Reserva, por imposição estatutária.

Nessa qualidade, tomou algumas decisões que acabaram por ser “marcantes” para a AFZ, como é o caso concreto da criação do “Dia do Fuzileiro”, na versão atual, que congrega, anualmente, na Escola de Fuzileiros, muitos Fuzileiros de várias gerações e o seu empenho pessoal e do Corpo de Fuzileiros no processo que envolveu a criação do “Monumento do Fuzileiro”, no Barreiro, principalmente na fase da sua inauguração, resultando numa ce-rimónia protocolar que dificilmente será varrida da memória dos Barreirenses. Cumpre-nos, ainda acrescentar os apoios, nunca

Encontro de Amigos na Associação de FuzileirosO Contra-almirante Luís Miguel de Matos Cortes Picciochi

comandou o Corpo de Fuzileiros entre 2008 e 2014sendo o sócio n.º 1663 da Associação de Fuzileiros desde 10/09/2008

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negados, prestados à AFZ e suas Delegações, para que fosse possível a realização de diversos eventos regionais no âmbito da divulgação e das atividades lúdicas e desportivas, todos de muito interesse para a população local.

Em complemento, mostrou sempre disponibilidade para compa-recer, como convidado, a diversos eventos realizados pela Asso-ciação e pelas suas Delegações do Algarve, de Juromenha/Elvas e do Douro Litoral, presença sempre desejada, não só por trans-parecer consideração, estima e amizade, mas também pelo seu significado e importância institucional.A AFZ reconhece a sua disponibilidade e, mais que isso, a sua amizade por esta “2.ª Casa dos Fuzileiros” que, por direito, tam-bém lhe pertence. Por tudo isto, em jeito de agradecimento pelo apoio incondicional e empenho pessoal que emprestou e vem emprestando à AFZ, a Direcção convidou-o para um “Encon-tro de Amigos” no nosso Restaurante, o que aconteceu no dia 20/11/2014, contando ainda com a presença de outros associa-dos e amigos.Todos os Associados e, acreditamos, muitos Fuzileiros de várias gerações, principalmente aqueles que tiveram já o privilégio do seu convívio, juntar-se-ão a nós neste apertado, caloroso e amigo abraço “Azul-Ferrete”! Obrigado Almirante Picciochi.

Leão SeabraSóc. Orig. n.º 2279

No dia 3 de Dezembro de 2014 e a meu convite, visitou a Associação de Fuzileiros o Almirante Noé Magalhães da Marinha de Guerra Angolana.

A visita, apesar de informal, visou a prossecução de um dos ob-jectivos da AFZ que, no n.º 4 do Art.º 2.º dos seus Estatutos, prevê: “Promover e desenvolver laços de amizade e camaradagem… bem como desenvolver relações de colaboração e entreajuda com outras Associações Nacionais e Internacionais.”

No contexto da visita foi apresentado um minucioso “briefing” so-bre aspectos considerados de interesse para a entidade visitante focando nomeadamente os organizativos, os de funcionamento e as perspectivas futuras que passam, também, pelo intercâmbio e cooperação na criação e desenvolvimento de Associações congé-neres junto dos Fuzileiros dos países de expressão portuguesa.

O almoço que se seguiu, com a presença de elementos da Di-recção da AFZ, serviu para cimentar, ainda mais, as excelentes relações que vêm norteando o intercâmbio entre os Fuzileiros Portugueses e Angolanos e a que não pode ser alheia a AFZ.

O almirante Noé, embora reconhecendo não ser este o momento de avançar, ficou sensibilizado para as questões associativas e disso fará eco no meio FZ a que pertence.Muito obrigado Sr. Almirante por ter estado connosco.

Benjamim CorreiaSóc. Orig. n.º 1351

A AFZ na vertente de cooperaçãocom países de expressão portuguesa

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14 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

«Depois de uns dias “ausente, em manutenção”, o “FUZILEIRO” regressou ao seu “Posto de Combate”. A população do Barreiro notou a sua ausência o que denota carinho pelo monumento e elevada estima e consideração pelos Fuzileiros. O nosso “muito obrigado”».

Palavras de Leão Seabra aquando do acidente que “vitimou” a figura do Fuzileiro no monumento sito à Rotunda do Fuzileiro e no início da Avenida dos Fuzileiros Navais, no Barreiro.

Esta homenagem aos fuzileiros foi da iniciativa da Associação Na-cional de Fuzileiros e foi feita, em 2010, em parceria com a Câma-ra Municipal do Barreiro, obtendo desta, a cortesia – com destaque especial para o seu Presidente, Sr. Carlos Humberto Pinheiro Pa-lácios de Carvalho – de integrar a rotunda, onde está instalado o Monumento, na toponímia da cidade.

Quis o destino que, em Dezembro do ano passado, um presumível doente mental tivesse implicado com a figura do Fuzo que, de tão pacífico, mesmo de G3 nas mãos, não tivesse defendido a sua “integridade física”.Com as brincadeiras do rapaz acabou quase partido pelo meio mas, as prontas intervenções do Vice-Presidente Leão Seabra e do Secretário-Geral Mário Gonçalves, o nosso “homem” foi irre-preensivelmente tratado pelo “médico”, o próprio escultor que o concebeu e realizou.

A história é simples de contar se nos utilizarmos de um pequeno texto do Camarada Leão Seabra, de 19 de Dezembro, que reza as-sim: «Hoje, numa análise técnica e pormenorizada levada a efeito pelo escultor, ficou a certeza (quase absoluta) de que a escultura foi sujeita a vandalismo perpetrado por desconhecidos. A forte re-sistência da cola empregue (10 kg/cm2 garantidos pela marca) a descolagem da “bota do fuzileiro” sobre o flutuador do bote e a separação do corpo que se encontrava cravado ao monumento, são razões de sobra para chegar a tal conclusão. Perante tudo isto, entendi que a Associação de Fuzileiros tinha de reagir pelo que, no imediato, mandei o Secretário-Geral entrar em contacto com a Câmara Municipal do Barreiro, entidade responsável pelo espaço público onde se encontra edificado o monumento, infor-mando o sucedido e solicitando que apresentasse “queixa contra desconhecidos”, na PSP local».

Chegou-se posteriormente à conclusão de que o autor até estaria internado por razões psiquiátricas e, após opinião deste escriba, também Vice-Presidente, não compensaria formular queixa-crime em órgão de polícia criminal ou junto do Ministério Público, dado o destino previsível do eventual processo: o arquivo.

Apenas por curiosidade e para que se aquilate do espírito de co-laboração, camaradagem e amizade deste “Destacamento de Fu-zileiros” que ora está ao leme da AFZ, não resistimos à tentação de citar um pequeno texto do Presidente da Direcção, José Ruivo, fechando este episódio que, inicialmente nos pareceu de particu-lar gravidade, uma vez que o povo do Barreiro tem respeitado ao longo do tempo, inteiramente, o “seu Fuzileiro”.

«Meus caros: O Leão de Seabra mostrou grande sentido de res-ponsabilidade ao tomar a iniciativa em coordenar este assunto e de acompanhar o escultor no seu trabalho de reposição da es-tátua e depois, no almoço na Associação, juntamente com o Mário Gonçalves.

Com “ministros” assim, é fácil “governar”. Quanto à queixa, vamos acompanhando o assunto e ver o que a CMB faz. A opinião do Marques Pinto parece-me sensata. Abraço. José Ruivo.»

E assim se fecha a história de mais um Fuzileiro que, colocado no sítio, continua a manter-se vigilante “pro-tegendo” dos “inimigos” a cidade do Barreiro e a sua população.

Marques PintoVice-Presidente da Direcção da AFZSóc. Orig. n.º 221

O Fuzileiro regressou ao seu “Posto de Combate”

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corpo de fuzileiros

15O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Enquadrada na Diretiva Operacional 03/CEMGFA/12, de 16 março, que estabelece o novo conceito de emprego da Força de Reação Imediata (FRI)1, realizou-se no período de 24 de

novembro a 5 de dezembro de 2014, na região de Beja e Troia, o exercício LUSITANO 142. Este exercício, de caráter anual, visa sobretudo exercitar o Comando e Controlo das Forças Armadas no planeamento e execução de operações militares, tanto em ter-ritório nacional como no estrangeiro, testando e certificando as forças que no ano imediatamente seguinte estarão em prontidão para ser empregues, quando e aonde forem necessárias. Este ano o exercício foi ainda mais ambicioso do que nos anos anteriores, porquanto coincidiu com a transferência do Comando Operacio-nal Conjunto (COCONJ)3 para o Reduto Gomes Freire, em Oeiras, testando a nova estrutura orgânica daquele comando em crisis establishement (CE); serviu, ainda, para: treinar os três comandos de componente4 e os dois comandos operacionais regionais5 na condução de operações simultâneas; exercitar e certificar a com-ponente de Operações Especiais e a Companhia Geral CIMIC em apoio à FRI (onde registamos também a participação de vários militares Fuzileiros); iniciar o treino para o emprego do sistema de Saúde Militar6 na condução das operações militares; e, final-mente, treinar a capacidade de resposta das Forças Armadas em questões de ciberdefesa (CIRC-FA7).

1 De uma forma genérica a FRI pode ser empregue em operações de evacuação de não--combatentes (NEO), de assistência humanitária (HÁ) ou em apoio a catástrofes (DR), inclusive em território nacional.

2 O exercício “LUSITANO” resulta da mudança de designação, em 2013, da anterior série “LUSIADA”.

3 Na nova estrutura orgânica do EMGFA este comando passará a designar-se por Comando Conjunto para as Operações Militares (CCOM).

4 Comando Naval, Comando das Forças Terrestres e Comando Aéreo.5 Comando Operacional dos Açores e da Madeira.6 Até Role 3 -7 Computer Incident Response Capability das Forças Armadas.

A Força de Fuzileiros (FFZ) que participou neste exercício esteve integrada na força naval portuguesa (POTG8) tendo como missão a evacuação de cidadãos não combatentes de NICELENIA – um país fictício do médio oriente envolto numa grave crise humanitária – a partir do Ponto Apoio Naval de Troia (SPOE9), onde foi estabe-lecido o Centro de Controlo de Evacuados (CCE) e organizado o embarque dos cidadãos elegíveis para bordo dos navios.

Na primeira fase do exercício, e após o embarque da FFZ na Base Naval do Alfeite, realizou-se o movimento para a área do objeti-vo anfíbio (AOA) e o desenvolvimento do planeamento para esta operação, ajustando-se e aprimorando-se os respetivos planos bem como a realização de um ensaio para aferir e acertar proce-dimentos com a esquadra, antes da Hora H. Embora tenha sido um trânsito relativamente curto, simulado apenas em dois dias de embarque, esta experiência constituiu uma excelente oportunida-de de trabalho e socialização entre nós, os Fuzileiros, e a própria Esquadra, um “binómio” do qual se exige uma perfeita integração e sincronização para a condução de qualquer operação anfíbia.

Na chegada dos navios à AOA, a FFZ foi projetada para terra com um Pelotão a desembarcar à noite, em costa aberta, a mais de 10 milhas náuticas a sudoeste do objetivo, infiltrando-se poste-riormente no terreno por forma a ocupar e garantir segurança ao SPOE, prestando ainda proteção aos navios durante a sua atra-cação naquele porto. Já com os navios atracados procedeu-se ao desembarque dos restantes elementos da força e à descarga de todo o apoio logístico necessário para a posterior evacuação de cidadãos, desde tendas e outro material que materializaram o CCE, até ajuda humanitária para a população autóctone. Durante

8 Portuguese Task-Group composta pelas seguintes unidades navais: fragata “Bartolo-meu Dias”, onde embarcaram o COMPOTG e o seu Estado-maior, o reabastecedor de esquadra “Bérrio” e a corveta “Jacinto Cândido”.

9 Sea Port Of Embarkation.

Exercício Lusitano 14

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corpo de fuzileiros

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os dias seguintes a FFZ conduziu várias ações em terra, treinando técnicas, táticas e procedimentos necessárias à execução desta operação e à proteção do SPOE.

No dia 5 de dezembro, último dia do exercício, realizou-se um Distinguished Visitors Day que contou com a presença de sua excelência o Ministro da Defesa Nacional, Dr. José Pedro Aguiar--Branco. O objetivo desta série foi demonstrar as reais capaci-dades da Marinha na execução de uma NEO, salientando-se as vantagens que esta componente tem em participar neste tipo de operação, ao permitir-se estar fora das águas territoriais de um determinado país em conflito ou em crise10, mas ao mesmo tem-po estar perto e pronta a atuar no terreno logo que as condições o permitam, mantendo ainda uma elevada capacidade de sus-tentação logística, incomparavelmente superior ao emprego de

10 Reduzindo “boots on the ground”.

qualquer outro tipo de forças. O treino e a prontidão dos Fuzileiros para emprego neste tipo de cenários, em ambientes muitas vezes incertos ou mesmo hostis, revelam-se fundamentais e impres-cindíveis para o sucesso das operações, porquanto são eles que efetivamente materializam o poder naval em terra.

Se por um lado este exercício constituiu uma boa oportunidade para testar a nova estrutura de comando das operações militares, tanto ao nível estratégico como operacional, por outro veio (em termos táticos) renovar a necessidade de se aproximar mais os Fuzileiros à esquadra, aumentando-se o conhecimento mútuo das suas capacidades e limitações, por forma a validar os requisitos necessários à capacidade de projeção de força da nossa Marinha.

Nota do Editor: Colaboração do Corpo de Fuzileiros e, especificamente, do Batalhão de Fuzileiros N.º 2.

A VOSSA ASSOCIAÇÃO VIVE DAS VOSSAS QUOTASPrezados Camaradas:

Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação.

Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos propusemos, é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação, se vai juntando.

Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas pode ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusermos a resolver o problema.

Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros, no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da Associação e a dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.

Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para obstar a que o quantitativo das quotas se acumule aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou de 12 em 12 meses.

Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?

Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.

Solicitamos a todos os Sócios que preencham o impresso para autorização de pagamentos das quotas por débito bancário, sistema que é muito mais cómodo e evita o pagamento de quotas acumuladas.

NIB da AFZ0035 0676 0000 8115 8306 9 (CGD)

Informem-se junto do Secretariado Nacional (tel.: 212 060 079, telem.: 927 979 461, email: [email protected])

Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam.

Cordiais e amigas saudações associativas.A Direcção Nacional

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A Associação de Fuzileiros, após o encer-ramento de mais um ano desportivo, veio demonstrar que os seus atletas continu-am empenhados em obter bons resulta-dos nas diferentes modalidades de tiro praticadas.Prova disso são os prémios ganhos em Equipa e em Individual, ao longo do ano de 2013.

Troféus alcançados

Colectivos/Equipa

1.º Lugar: Camp. Regional Sul – Pistola Standard 25 m

1.º Lugar: Taça ARTS – Carabina de Cano Articulado

1.º Lugar: Troféu AFz – Pistola de Re-creio a 25 m

2.º Lugar: Troféu FPT com Pistola da Re-creio a 25 m

Individual

1.º Lugar: Camp. Regional Sul de Bala P50 m (Rui Rodrigues)

1.º Lugar: Camp. Regional Sul de Bala PPC (Rui Rodrigues)

1.º Lugar: Camp. Regional Sul de Bala PStd 25 m (Rui Rodrigues)

1.º Lugar: Torneio ARDBA – CCart 10 m (Miguel Luís)

1.º Lugar: Troféu AFz – Arma Curta de Recreio a 25 m (Rui Rodrigues)

2.º Lugar: Camp. Regional Sul de Bala PPC (Comt. Semedo de Matos)

2.º Lugar: Camp. Regional Sul AC P10 m (Rui Rodrigues)

3.º Lugar: Taça FPT Pistola de Recreio 25 m (Rui Rodrigues)

Neste sentido, e apostando nas capaci-dades dos seus atletas que com toda a sua dedicação tem deixado bem vincado o bom nome da Associação de Fuzileiros nestas modalidades, continuaremos a fa-zer os possíveis para garantir condições para ver crescer o corpo de atletas e me-lhorar as condições de treino dos actuais.

A todos os atletas que se empenharam de forma exemplar nas suas modalidades de eleição muitos parabéns.

Com o arrancar de mais uma época desportiva, a Secção de Tiro Desportivo da Associação de Fuzileiros estreou-se com a obtenção da Medalha de 2.º Classificado em Equipa referente ao Torneio de Tiro A. Condesso, em Pistola de Recreio realizado na Carreira de Tiro do Jamor.

O Torneio A. Condesso é da organização do Clube Português de Tiro Prático e Precisão (CPTPP) contando com 30 atletas de vários clubes nacionais.

Esta modalidade, que tem vindo a reunir cada vez mais atletas em competi-ção é de momento a mo-dalidade onde a Associa-ção de Fuzileiros tem mais atletas a fazer competição.

A todos os atletas que par-ticiparam e constituíram a Equipa muitos parabéns.

Época 2014

Divisão do Mare das Actividades Lúdicas e Desportivas

Época 2013

Tiro Desportivo

Tiro Desportivo – Pistola de Recreio

Sócio da AFZParticipa,

colabora

e mantém

as tuas quotas em dia.

Textos de Espada PereiraChefe de Divisão do MALD

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18 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Com um total de cinco provas que foram realizadas ao longo do ano, coube à Associação de Fuzileiros organizar a 2.ª prova do Troféu Federação Portuguesa de Tiro (FPT) com Arma Curta de Recreio a 25 metros!

Realizada no passado dia 6 de Abril na Carreira de Tiro do Centro de Educação Física da Armada (CEFA) na Base do Alfeite, a com-petição contou com cerca de 50 partici-pantes nos diversos escalões!

Com a obtenção do 2.º Lugar em Equipas, a Equipa da AFF man-tinha o 1.º Lugar da Geral em Equipas após duas provas já rea-lizadas.

Destacamos a obtenção do 2.º Lugar em individual por parte do nosso atleta Rui Rodrigues!

Bons tiros…

Especialmente direccionado para a Família e para os mais novos, a Secção de Outdoor da AFz realizou no fim-de-semana, de 12 e 13 de Abril, um evento no Parque de Campismo dos Picheleiros localizado na Serra da Arrábida.

Este evento teve como principal objectivo proporcionar a desco-berta de algumas actividades ao ar livre e o campismo em tenda.

As crianças foram o centro das atenções, aprenderam a manuse-ar em segurança uma faca, fazer lume, aprender nós, fazer pão e, acima de tudo, trabalhar em equipa nas tarefas necessárias para superar a transposição de diversos “aparelhos” que lhes foram apresentados!

Todos ficaram cientes que em equipa tudo se consegue e a vitória tem um sabor di-ferente!

Com refeições variadas de peixe e carne, os mais novos ficaram a saber a importân-cia de uma alimentação saudável para que o nosso corpo se sinta bem.

Foi sem dúvida um saudável convívio que permitiu desanuviar o stress do dia-a-dia laboral, e em contacto com a natureza recarregaram-se pilhas para mais uns dias!

Saudações campistas para todos….

Tiro Desportivo – Troféu FPT com Arma Curta de Recreio

Fim-de-Semana Campista

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Realizou-se no passado dia 10 de Maio na Carreira de Tiro do Complexo Desportivo do Jamor o Torneio do Dia Olímpico. Esta competição, sob a organização da Federação Portuguesa de Tiro, contou com a presença dos melhores atletas nacionais e alguns deles com representação olímpica.

O nosso atleta Rui Rodrigues é, sem sombra de dúvidas, figura de referência e orgulho para a Secção de Tiro da AFZ para a própria Associação e para os Fuzileiros em geral. Já que os resultados por ele obtidos nos últimos anos são de tal forma bons que só podem merecer o ORGULHO de todos nós.Fruto de uma dedicação imensa nas modalidades de precisão, naquele dia, Rui Rodrigues ficou apurado para a Final Olímpica, juntamente com os melhores atletas nacionais.

Numa final disputada sob particular pressão e grandes níveis de adrenalina, a sua con-centração, fruto de todo o seu treino e da sua espantosa vontade de crescer e vencer, levou-o a classificar-se em 3.º Lugar, deixando ficar para trás atletas conceituados.

Sendo assim, a Associação de Fuzileiros, representada em Pistola Livre a 50 m pelo seu atleta Rui Rodrigues, atingiu o 3.º Lugar do pódio na Final Olímpica!

A este atleta temos que agradecer o facto de ter levado a nossa Associação Nacional de Fuzileiros tão longe no tiro desportivo.

O nosso muito obrigado e que o futuro o leve mais acima no pódio!

Depois de no ano de 2013 ter sido cance-lada a Caminhada devido às fortes chuva-das, em 2014 o bom tempo esteve do nos-so lado e realizámos com o maior sucesso a Caminhada da Sexta-Feira Santa, com cerca de 50 participantes, por iniciativa da Secção de Outdoor, da Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas da AFZ.

Com largas centenas de pessoas a subir a Serra da Arrábida, esta tradicional ca-minhada juntou gentes de vários pontos do país numa das Serras mais bonitas de Portugal, a Serra da Arrábida.

Com o Grupo da AFF a partir pelas 10:00h dos Picheleiros (Azeitão) passo a passo

fomos tomando a encosta norte da Serra da Arrábida até ao Convento, donde de-pois descemos até à Praia do Portinho da Arrábida!

Com a tradicional visita à “Gruta da Santi-nha” e paragem obrigatória num café local para se beber uma Fresquinha com os Ca-maradas e recuperar as forças, eram perto

das 14:00h quando chegámos à praia para almoçar e descansar as pernas!

Sem incidentes e com um elevado espírito de grupo e divertimento concluiu-se mais um evento que já ficou registado na agen-da de 2015, para muitos participantes com a nota: “voltar a repetir”! Sendo as-sim… este ano, lá nos vamos encontrar!

Federação Portuguesa de Tiro – Torneio do Dia Olímpico

Subida da Serra da Arrábida – Caminhada da Sexta-Feira Santa

Nota da Direcção e do Editor:Grande orgulho, não temos dúvida nenhuma, para o nosso atleta Rui Rodrigues, para todos nós, mas para o Espada Pereira, também, que está a fazer da Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas (DMALD) “uma coisa séria”. Grande orgulho, ainda, para a AFZ que considerará, por certo, total apoio a esta Divisão e, em especial, à sua Secção de Tiro.

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Realizou-se no passado dia 15 de Junho de 2014, na Carreira de Tiro do Complexo Desportivo do Jamor, a 2.ª Edição do Troféu de Tiro com Arma Curta de Recreio da Associação de Fuzileiros.

Este ano decidiu homenagear-se, nesta prova, um grande atleta de tiro desportivo tanto no contexto militar como no civil, de seu nome Sargento Fuzileiro Henrique Madaíl, hoje já reformado e a viver no Brasil.

O Sargento FZ H. Madaíl foi um atleta que obteve vários recordes nacionais e inclusive chegou a bater recordes pessoais no tiro federado que praticava.

O seu filho, António Madaíl, Sargento-Chefe do Exército em Ser-viço no Açores e que é também um seguidor do seu Pai – atleta federado da Associação de Tiro da Ponta Delgada – deu-nos o privilégio de o ter presente na nossa prova, em representação do seu Pai.

Com um total de trinta e seis atletas inscritos, em representação de vários clubes, a prova decorreu num ambiente desportivo sau-dável que terminou com o discurso do Sr. Comandante Semedo

de Matos que apresentou aos presentes uma pequena cro-nologia sobre o Sarg. FZ H. Madaíl. Seguiu-se o discurso do Vice-Presidente da AFZ, o Sr. Comandante Leão de Se-abra que procedeu de seguida à entrega dos prémios.

Esta prova, que será uma prova de referência anual na modalidade, passará a intitu-lar-se definitivamente Troféu de Tiro com Arma Curta de Recreio Sarg. FZ Henrique Madaíl.

A todos os Atletas e Clubes representados o nosso muito obrigado pela presença e apoio nesta homenagem.

Saudações desportivas.

Realizou-se a 31 de Agosto, no Campo de Tiro “O Pinhal”, em Vales de Pêra – Silves/Algarve, a última prova do Campeonato Nacional de Percurso de Tiro Prático com Armas de Caça (PTPC).

Esta recente modalidade desportiva implementada sob a égide da Federação Portuguesa de Tiro com Armas de Caça (FPTAC) já con-ta com bastantes adeptos de norte a sul do país, prevendo-se um forte crescimento competitivo no futuro.

A Associação de Fu-zileiros, represen-tada pelos seus atletas da modali-dade, consagrou-se Campeã Nacional de PTPC 2014 como Equipa!

De salientar, também, as classificações individuais que os nossos atletas alcançaram ao longo do Campeonato sendo um orgulho da nossa Associação que tão bem a represen-tam em competição! Saudações desportivas…

Tiro de Pistola de Recreio – Troféu Sarg. FZ Henrique Madaíl

Campeonato Nacional de Percurso de Tiro Prático de Caça

SARG António Madaíl

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A Associação de Fuzileiros realizou, no fim-de-semana de 11 e 12 de Outubro, o seu passeio anual de referência, na Área do Pe-destrianismo: a Caminhada dos Castelos 2014, com cerca de 22 participantes e o apoio da historiadora Sónia Correia que foi descre-vendo os locais históricos por onde se passou.Este evento, direccionado para os seus sócios, familiares e amigos realizou-se entre o Castelo de Palmela e o Castelo de Sesimbra com pernoita no Parque de Campismo dos Picheleiros.Com 16 km de marcha previsto para o primeiro dia, os participantes lá se aventuraram por Palmela entrando na Serra do Louro onde foram logo agraciados por uma maravilhosa vista sobre o Vale do Tejo, Tróia e Setúbal! Com o céu a prometer chuva e já a sentir-se o vento forte, o agradável ambiente de convívio durante a caminhada fez-nos acreditar que o “São Pedro” não nos iria fustigar de forma muito severa. Com a partida de Palmela às 11.00h, a chegada ao

parque de campismo fez-se pelas 17.30h! Já bastante moídos, por se tratar de uma caminhada em autonomia, em que os par-ticipantes têm de levar tudo o é necessário pa ra os dois dias, carregando a sua mochila, os caminheiros iniciaram a montagem das tendas – Bivaques Militares – que lhes serviriam de abrigo.Começava a cair a noite, quando fortes chuvadas e vento muito for-te desabaram sobre o local de pernoita tornando quase impossível dormir nas tendas. No entanto o espírito aventureiro levou a melhor, ganhando a contenda, improvisando-se locais alternativos para o merecido descanso, a sêco!Passou a noite e nasceu o segundo dia que teria como percurso mais 16 km de marcha até ao Castelo de Sesimbra. Mas o temporal persistia sobre a nossa Serra da Arrábida teimando em não nos deixar seguir viagem.Sob estas condições e como a segurança e integridade dos par-ticipantes está sempre em primeiro lugar, decidiu a organização cancelar o segundo dia do evento! Compreendida por todos a de-cisão tomada, ficou a promessa de que para o ano iriam estar todos nova-mente presen tes para se completar o que ficou em fal-ta.Este é o espírito de quem “corre por gosto” por serras e vales… Um breve até para o ano!

Setúbal foi a cidade escolhida para receber o 1.º Seminário de Jiu Jitsu dedicado exclusivamente aos Fuzileiros praticantes da modalidade.

Sob a organização do Filho da Escola, Miguel Silvino e com o apoio da Associação de Fuzileiros, realizou-se no passado dia 4 de Outubro, no Ginásio Elite Fight Gym, este evento que contou com a participação de 19 atletas.

As várias vertentes abordadas durante o Seminário foram uma mais-valia para todos os praticantes onde foi possível a partilha de conhecimentos e técnicas da modalidade.

Num agradável ambiente desportivo terminou este grande evento onde ficou no ar a vontade de voltar no próximo ano!

Caminhada dos Castelos

1º Seminário de Jiu Jitsu Fuzos Portugal 2014

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22 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Terminou no fim-de-semana de 13 e 14 de Dezembro o Troféu de Tiro com Arma Curta de Recreio a 25 m e o Troféu FPT com Ca-rabina de Recreio a 50 m, onde ambas as competições finais se realizaram na Carreira de Tiro do Complexo Desportivo do Jamor.

Na modalidade de Arma Curta de Recreio, que é constituída por cinco provas realizadas ao longo do ano em que, no final são apuradas as três melhores pontuações, a Equipa representativa da Associação de Fuzileiros obteve, este ano, na Divisão Homens Sénior (HS) o 1.º Lugar do pódio!

A título individual da classificação geral, destaca-se a atribuição do 2.º lugar ao nosso atleta Rui Rodrigues e o 3.º Lugar ao Helder

Gaspar também ele atleta da Associação de Fuzileiros. Destaque ainda para as Atletas da AFZ que, a título individual obtiveram na da Classificação Geral, o 2.º Lugar, a Elizabete Fernandes e a Carla Venâncio, o 3.º Lugar.

Na vertente de Carabina de Recreio a 50 m, temos a excelente prestação do nosso atleta Bruno Floriano que obteve o 1.º Lugar individual da Geral.

De salientar que das três provas anuais que consti-tuem o Troféu de Carabina e onde contam as melho-res duas, o atleta Bruno Floriano só efetuou duas.

Parabéns a todos os que participaram nestes troféus ao longo de 2014 e que tão bem representaram a Associação de Fuzileiros!

Troféus FPT – Arma Curta de Recreio e Carabina de Recreio

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homenagem

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Na Escola de Fuzileiros, já tinha sido agarrado pelo pescoço e atirado para o banho vestido. Um dia, ele ia a pé e eu assustei-o com o meu carro. Deu-me um tal murro no carro que o amolgou. Mas a melhor foi já nos

anos 80, comandava eu as Instalações Navais de Alcântara. Ele agarrou-me e eu, comandante fardado, fiquei pendurado pelos pés fora da janela com as

mulheres a gritarem cá em baixo.” A descrição do capitão-de mar-e-guerra Augusto Teixeira Machado dá uma ideia do temperamento, do sentido de

humor e da imponência física de Guilherme Almor de Alpoim Calvão, o militar mais condecorado da Marinha Portuguesa.

Nascido a 6 de Janeiro de 1937, em Chaves, logo parte com os pais para Moçambique. Aos 6 anos ingressa na escola primária, a três quilómetros de casa. Na primeira semana, o pai leva-o pela mão du-rante o trajecto de ida e volta. A seguir, pergunta ao filho se é capaz

de ir sozinho e Guilherme passa a percorrer sem companhia os seis quilómetros diários. Os estudos devolvem-no a Portugal. Chega em 1953 e no ano seguinte ouve o seu nome ecoar, pela primeira vez, na Escola Naval. É investido guarda-marinha em 1957, pou-cos meses antes de casar com Maria Alda Machado Montalvão

dos Santos Silva – ainda sua prima pelo facto de terem ern comum uma trisavó. Não seria a ligação familiar mais surpreendente que

teria: décadas depois descobriria ser primo por afinidade do principal Inimigo que combateu na Guiné – Amílcar Cabral.

O fundador do PAIGC era um dos alvos da Operação Mar Verde (1970), na qual Alpoim Calvão, com apenas 33 anos comandou as forças na-

cionais para libertar presos portugueses de Conacri. A forma como a li-berdade foi devolvida a esses homens ainda hoje é estudada em muitas

escolas militares do mundo. E continua sem ser reconhecida oficialmente por Portugal.

Feitos como este valeram-lhe duas cruzes de guerra e a Ordem Militar da Torre e Espada com Palma – a mais alta condecoração portuguesa. A Medalha

de Comportamento Exemplar, porém, só a recebeu em 2010, quando a Marinha decidiu corrigir uma ordem de serviço com mais de 40 anos, a qual condecora,

pune e transfere Calvão para a frente de combate. Segundo: o próprio, “a razão próxima foi por ter sido incorrecto com o ministro da Marinha, Manuel Pereira Crespo; a longínqua por ter recusado tirar a punição a um oficial”.

Nada de invulgar para quem sempre preferiu quebrar a torcer. Como quando em 1974 preferiu ficar fora do 25 de Abril a aceitar o convite para aderir; apenas por não lhe ter sido esclarecido o que aconteceria aos portugueses de África; quando se envolveu no 11 de Março, por amizade a Antônio Spínola, com quem fundaria o MDLP; quando se fez garimpeiro no Brasil; ou ainda quando teimou em investir na Guiné, para assim ajudar a desenvolver o país.

Em Alpoim Calvão, a exaltada coragem só tinha rival na generosidade.

Como mergulhador ajudou a resgatar a fragata D. Fernando II e Glória do fundo do Tejo, em 1963, e em 1996 foi mecenas da sua recuperação. Comprou o altar portátil que seguiu na esquadra de Vasco da Gama na segunda viagem à Índia e, em 1999, ofereceu-o ao Museu de Marinha.

Há uma semana repetiu o gesto e assinou a declaração para que o seu espólio documental fosse entregue à Marinha para memória futura, já muito debilitado. Antes treinou durante 30 minutos, para garantir a perfeição na ponta da caneta. E, como era habitual, atingiu o objectivo. A seguir descansou.

Uma semana depois, na terça-feira, 30, Alpoim Calvão faleceu em Cascais.

Rui Hortelão

Guilherme Alpoim Calvão(1937-2014)

Nota da Redacção: Cortesia da Revista SÁBADO (N.º 544 de 2 a 8 de Outubro de 2014 –Página 28)

Tinha apenas 33 anos quando comandou a missão para libertar presos portugueses de Conacri, ainda hoje estudada em escolas militares do mundo e que continua sem ser reconhecida oficialmente por Portugal.

Luís

Gra

ñena

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homenagem

24 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

In Memoriam

O Aquiles Lusitano do Século XXNão houve forte capitão que não fosse também douto e ciente (Camões)

(Cortesia da Revista de Marinha)

No topo, acima dos raros, e mesmo dos raríssimos, estão os homens de outra galáxia, como ele. Foi o melhor; e úni-co, porque o melhor não tem igual. Homem de acção e de

sensibilidade, viveu com avidez e com elevação, tendo feito da própria vida uma portentosa obra de arte.

Teve uma vida muito complexa mas nada complicada. Complexa porque desenhada com as linhas da guerra, da aventura, da cultura e da família. Na Guiné, onde serviu em duas comissões com o nome de guerra “Grande”, foi, mais do que um excepcional militar, um chefe guerreiro lendário. Marcelino da Mata, o fenómeno do combate na selva, disse dele: não volta a haver um homem assim. Estratega, fez a guerra do alto, do papel, mas andou principalmente pelos baixos dela, pelo sangue, o que o colocou ainda mais alto, tendo-o elevado a mito. Depois da contraguerrilha, já na metrópole, dedicou-se às informações e a afundar ou sabotar navios com material para a guerrilha antiportuguesa. Foi, sem discussão, o nosso centurião por excelência. Com o 25 de Abril, saneia-se a si próprio, como gostava de lembrar, e, no PREC, como líder operacional do MDLP, destruiu sedes do PCP.

Na vida de aventura que se seguiu, provou ter o segredo dos ne-gócios com muita adrenalina. Além de negociar, e caçar, tesou-ros artísticos, foi garimpeiro. Com a fortuna ganha no garimpo, montou uma fazenda de mais de 100 mil hectares, onde rasgou uma Avenida Portugal.

Por sua vez, nos negócios de armamento, viveu episódios dos mais diversos, alguns bem divertidos. Na Somália, por exemplo, numa aposta com o ministro da Defesa, ganhou 10 camelos e um berbicacho – que fazer a tanto camelo?!

No que tange à cultura e à arte, foi tenor lírico, tocou piano e esmerou-se como homem de erudições recônditas e sempre interessantes. A História de Portugal, a Religião e a Arte foram paixões que cultivou com método e minúcia. Especializou-se nas artes chinesa, nanbam e indo-portuguesa, áreas em que, aliás, se consagrou como coleccionador e mecenas, tendo oferecido peças aos Museus Nacional de Arte Antiga e da Marinha.

Por fim, mas não em último, foi um excelente chefe de família. Nunca faltou à esposa Maria Alda na criação dos quatro filhos, um deles com axonia. Para a família e para amigos, aplicou ainda o seu feliz talento de cozinheiro. A tudo isto associava a sedução. Em assunto que tocasse, punha as palavras a falar. E falava com a “masculina música das palavras sem vileza”.

Complexa e empolgante vida, porém nada complicada. O seu código de comportamento, de uma simplicidade essencial, tudo descomplicava. No âmago do código, o Dever e a Honra, valores inscritos na família e consolidados na Marinha. Coroando esses valores, a ideia do Grande Portugal, o seu “mais antigo e constante amor”, que “nunca vacilou”. Num tempo em que o Grande Dinheiro tem por objectivo partir a espinha às Nações, nomeadamente através dos media que atacam o patriotismo, um patriota supremo como o nosso primus centurio ou é vilipendiado ou é vetado. O mesmo acontece com o meretrício das políticas da Memória e das engenharias da História e ainda com um Estado abastardado (não comemora o 1.º de Dezembro!) que

nega ao centurião dos centuriões a homenagem nacional. Mas o “Grande”, orgulho dos fuzileiros, da Marinha e das Forças Armadas, e arquétipo de Homem para os que o conheceram, há muito que se libertou dessa rede de mentiras e pequenez. Como exemplo absoluto de um Grande de Portugal, pertence a outra dimensão, já vive no imortal campo da Lenda.

“Somos do tamanho daquilo que amamos”, escreveu Sto Agos-tinho. O que o ícone dos fuzileiros amou foi a maior grandeza a que um português pode aspirar. Amou a Pátria, o Império e, re-feito da descolonização, a Lusofonia. Se Camões tivesse passado pelo nosso tempo bem poderia ter crismado Guilherme Almor de Alpoim Calvão (1937-20), um nome já de si impressionante, de Aquiles Lusitano do Século XX.

Rui de Azevedo TeixeiraEnsaísta, professor universitário, antigo comandoElemento do Bando dos Cinco com Alpoim Calvão:João Almeida Bruno, José Carvalheira e Ângelo Lucas.

www.minilua.com

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25O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Alpoim Calvão, Mendes Fernandes e o Príncipe Henrique de Bourbon y Parma

Esta estória foi-me contada pelo Co-mandante Mendes Fernandes, numa tarde na Escola de Fuzileiros em que,

depois de uma cerimónia de Juramento de Bandeira e Imposiçao de Boinas em que esteve também presente o Comdan-dante Alpoim Calvão, se fica um pouco mais de tempo na conversa, na messe de oficiais. Por entender que não deve ficar no esquecimento, aqui fica o seu relato.

Contou-me ele:

O Príncipe Henrique de Bourbon y Parma, primo direito do Rei de Espanha, Juan Carlos, esteve na Guiné no 1.º trimes-tre de 1970 e participou numa acção de combate com homens do DFE 12.

Grande entusiasta de cenários de guerra de contra-guerrilha, esteve no Vietname onde conheceu de perto aquele ambien-te. Chegou à Guiné e apresentou-se ao General Spínola que o enviou de imediato para o Comandante Calvão (COP 3) com recomendações sobre cuidados a ter com aquela figura da mo-narquia espanhola. O Comandante Calvão, sem perder tempo, entregou o “aventureiro aristocrático” ao 1.º Tenente Mendes Fernandes, comandante do DFE 12 e sugeriu que o levasse numa acção, não demasiado arriscada mas que “envolvesse uns tiros e umas bazocadas”.

O DFE 12 ainda não tinha recebido os grumetes que estavam na Escola de Fuzileiros a terminar a instrução, acompanhados pelo 3.º oficial, Tenente Teixeira Rodrigues.

O Tenente Mendes Fernandes escolheu 20 homens e levou con-sigo o principe Henrique. Aos primeiros alvores desembarcaram em botes na margem sul do rio Cacheu numa zona onde o IN se movimentava com um certo à vontade. O grupo atravessou a bolanha com alguns cuidados, reforçando a frente com armas de apoio e entrou destemidamente na mata. Assaltou um pequeno núcleo de casas de madeira, onde capturaram dois carregado-res e alguns documentos. O 1.º homem do grupo de combate, Marinheiro FZE Talhadas fez fogo sobre dois elementos IN que fugiram (postos de sentinela?).

Pouco depois, em local estratégico, à volta de uma clareira no interior da mata, dispostos em meia lua, o pessoal ficou em-boscado durante duas horas e ninguém se mexeu nem produziu qualquer som. A camuflagem foi perfeita. Um pequeno grupo IN foi observado, sendo os três primeiros homens bem visíveis, com gestos sincronizados e manifestando elevada autoconfiança e destemor. O príncipe não se conteve e correu em sua direcção e nesse momento o Tenente Mendes Fernandes corre também

e dá ordem de fogo. Causou-se uma baixa e capturou-se a res-pectiva arma. O grupo IN desapareceu num ápice e os homens do DFE 12, depois de uma rápida batida, rumaram para norte e foram recuperados em botes no rio Cacheu. Chegaram à base de Ganturé a meio da tarde.

Após troca de comunicações entre o Tenente Mendes Fernandes e o Comandante Alpoím Calvão ficou acordado que seria ofere-cida ao príncipe a arma capturada naquela acção. Os homens do DFE 12 formaram em Ganturé e realizou-se uma singela mas significativa cerimónia de entrega da arma ao príncipe Henrique que ficou muito emocionado e agradecido. O príncipe Henrique de Bourbon e Parma, como retribuíção, teve a gentileza de ofe-recer ao Comandante Alpoím Calvão e ao Tenente Mendes Fer-nandes cartões-convite referentes a 3 palácios que possuia na Europa.

Em 2010, ainda muito fragilizado por grave acidente de que tinha sido vítima, o Comandante Calvão, durante uma cerimónia na Escola de Fuzileiros em que se encontrou com o Comandante Mendes Fernandes, deu-lhe um forte abraço, emocionado, com gestos ternos, como nunca tinha acontecido entre os dois e contou-lhe sobre uma animada festa em que tinha participado num dos palácios do príncipe, com “mulheres bonitas!”. O Co-mandante Mendes Fernandes, que entretanto tinha perdido o seu cartão, ficou muito sensibilizado e contente por ter contribuído, de alguma forma, para a alegria do Comandante Alpoím Calvão.

José RuivoPresidente da Direcção da AFZSóc. Orig. n.º 836

Com Cortes Picciochi e Pereira Leite, no baptismo do cais da Escola de Fuzileiros com o seu nome, 2010

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Pequena homenagem a Alpoim Calvãoa propósito da notícia publicada no “DN” de 16/10/2013, a páginas 12

Não tenho a pretensão de sugerir que este texto, porventura fora de tempo, se pudesse vir a constituir em qual-

quer direito resposta, desde logo por não ter a necessária legitimidade jurídica. Po-rém, o escrito então publicado e subscrito pelo jornalista Manuel Carlos Freire, tocou--me de tal ordem que não podia perder a oportunidade de lhe dar alguma resposta, nesta edição da revista “O Desembarque” que decidiu, agora, homenagear a figura do seu sócio n.º 70 e Presidente do seu Conselho de Veteranos, por na altura do seu falecimento não o poder fazer, por compromissos já assumidos pela edição anterior que não puderam ser transferidos ou modificados.

Começo por repudiar vivamente o texto de Manuel Carlos Freire sob o título «É a Marinha que vai lançar as cinzas de Alpoim Calvão ao mar» e pedir vénia para afirmar que o jornalista confundiu tudo ou se terá confundido entre as suas “fontes militares e civis” (?) anónimas – que não tiveram a coragem e a dignidade de se mostrar perante as cinzas de um Herói Nacional que já não fará mal a ninguém e por mais controversa que seja a sua figura. A Providência, quiçá, o fará por ele.

O Sr. Jornalista confundiu o BES e os custos que os portugueses poderão pagar por actos do foro da investigação criminal, a que aproveitou para acrescentar “as fortes medidas de austeridade” que o Orçamento de Estado para 2015 poderá impor e até

“numa altura em que, historicamente, as Forças Armadas já vivem em grande sufoco financeiro” confundiu, dizíamos, tudo isso com o cumprimento de um dever patriótico da Marinha de Guerra Portuguesa quando decidiu lançar ao Mar as cinzas de um Herói Nacional utilizando um vaso de guerra da sua esquadra que estava de serviço, em prontidão, a Fragata “Corte Real”, satisfazendo a sua última vontade.

O Sr. Jornalista, em vez de noticiar apenas, opinou, misturando tudo e confundindo um serviço contratado de 360 Euros de um qualquer veleiro do Tejo (!) com uma missão de Estado, qual seja a de distinguir os seus heróis podendo mesmo ser figuras controversas (e sê-lo-ão quase sempre) com “um qualquer cidadão”.

Em entre parêntesis aproveita-se para informar que, de facto, temos exemplo de um “qualquer cidadão”, civil, que também não era um cidadão qualquer – o Dr. Luís Marinho de Castro, antigo Oficial Fuzileiro da Reserva Naval da Marinha de Guerra – cujas cinzas foram lançadas ao mar, a pedido da Família, cerimónia executada por navio afecto à Capitania do Porto de Cascais, cumprindo-se igualmente uma última vontade.

E para que se saiba – e será bem sabido por todos os bem-intencionados – Alpoim Calvão não era “um qualquer cidadão”. Era apenas e tão só o Oficial da Marinha

Portuguesa mais condecorado, em com-bate, de todos os tempos, condecorações que, aliás, o Sr. Jornalista cita (algumas apenas) e Homem que, para além de notá-vel valia intelectual, defendeu Portugal no seu tempo, com convicção e extrema co-ragem, arriscando a vida para libertar das masmorras do PAIGC e da Guiné Conacri 26 militares portugueses, entre eles o Major da Força Aérea, António Lobato que, ainda entre nós, assistiu à execução da úl-tima vontade de Alpoim Calvão: regressar ao Mar que serviu, por Portugal.

De facto, Alpoim Calvão ostentava no seu peito, já pequeno para tantas condecorações, a saber, quanto apenas às principais: Ordem Militar da Torre Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, com Palma (Grau Oficial); Medalha Militar de Ouro de Valor Militar, com Palma; Duas Medalhas Militares da Cruz de Guerra de 1.ª Classe; Ordem Militar de Avis (Grau Cavaleiro); Medalha Militar de Prata dos Serviços Distintos; Medalha Militar de Mérito Militar de 2.ª Classe; Ordem do Infante D. Henrique; Medalha Militar de Prata de Comportamento Exemplar; Medalha Militar dos Promovidos por Feitos Distintos em Campanha (que lhe conferiu uma promoção por distinção); Medalhas Comemorativas das Campanhas (com a legenda «Guiné 1963-64-65-69-70»).

Será que algum Senhor Jornalista ousaria contestar, opinando, e os anónimos covardes ousariam, também, formular as suas inqualificáveis perguntas, face às dignidades conferidas, a custos do Estado Português, mor das vezes por entre dificuldades financeiras, de Homens, também controversos, (os Heróis são-no quase sempre repito) como Mouzinho de Albuquerque, Sá da Bandeira, Pereira d´Eça ou mesmo Álvares Cabral ou Gama?

Tentando lavar, nesta oportunidade – e quem serei eu para o fazer? – a honra de mais um Herói Português, infelizmente desaparecido e, também, a da Marinha de Guerra Portuguesa que servi, tenho para mim que não faço mais do que a minha sentida obrigação.

Marques PintoVice-Presidente da Direcção da AFZSóc. Orig. n.º 221

(...)

No dia 28 de Fevereiro de 1999, o mesmo dia em que Lisboa viveu o susto de um tremor de terra de razoável intensidade, (Alpoim Calvão) desembarca em Bissau.

Ainda no aeroporto, é apresentado pelo coronel Fernando Cavaleiro ao brigadeiro António de Spínola. Calvão não mais esqueceu o primeiro diálogo com o coman-dante-chefe.

Spínola diz-lhe: «Espero que a gente se vá dar muito bem.»

Calvão responde: «Há três razões negativas.»

Spínola: «Quais?»

Calvão: «Primeira, não sou do Colégio Militar; segunda, não sou de Cavalaria; terceira, sou da Marinha.»

Spínola ajustou o monóculo, sorriu e disse: «Depois a gente vê isso.»

(...)

in “Operação Mar Verde - Um documento para a história” , António Luís Marinho, Temas e Debates, 2006

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Operação ”Mar Verde”“É preciso dar ar ao quadrado.”

Campanha dos Namarrais (Séc. XIX)

Desde o mês de Janeiro de 1970 que, debaixo do mais rigo-roso sigilo, se encontravam já em marcha os preparativos para uma grande operação. Como a proposta inicial partira

do comandante Calvão, seu grande impulsionador, coubera-lhe escolher o nome de código com que haveria de ser designada.

Alpoim Calvão, agora com 33 anos, há muito que cultivava o gosto pela arte, amava o belo e era senhor de apurado sentido estético. Certa vez, em Londres, ao visitar a National Gallery, quedara-se extasiado diante de um quadro de Boticelli, que representava uma cena mitológica: “Vénus e Marte”. Numa densa floresta, o deus da guerra descansa, recostado num rochedo em lânguida atitu-de; é o repouso do guerreiro, despido das suas armas e rodeado por pequenos faunos que, em atitude travessa, brincam com o equipamento militar. Vigilante, Vénus, a deusa do amor, observa a cena com uns espantosos olhos verdes, profundos como o mar que sobressai ao fundo da tela.

Aquela cena marca-o profundamente desde então. Só o génio renascentista de um Botticelli, de um Tintoretto ou de um Bellini poderia imortalizar os olhos verdes da deusa que roubaram a cor ao mar de onde ela nascera, o mesmo mar por onde um simples mortal se propunha conduzir a esquadra portuguesa. E foi a cor dos olhos daquela deusa tutelar que levaram o comandante Cal-vão a escolher o nome de código com que a audaciosa missão que estava a preparar haveria de entrar para a história: operação Mar Verde”.

O comodoro Luciano Bastos, comandante da Defesa Marítima da Guiné, era um oficial metódico e meticuloso que ao longo da sua comissão foi redigindo laboriosamente um detalhado “Diário Pessoal” onde, para além da vida social e dos pequenos aconteci-mentos da vida doméstica, registava a sua visão sobre a situação na província e as preocupações com a actividade operacional da Marinha na Guiné. Dia 29 de Outubro de 1970, quinta-feira, o comodoro lança no seu diário o seguinte comentário:

«08h00 – Reunião semanal de comandos. Os FZE apresentam mais actividade operacional verdadeira que os restantes 30.000 militares do T.O ..»

E mais adiante acrescenta:

«.. missa e funeral do mar. C. FZE Wilson Pereira Correia, do DFE 12, falecido em 24-10-70, em combate.»

A necessidade de uma acção decisiva que permitisse pôr um pon-to final à guerra e simultaneamente aniquilasse o prestígio que o inimigo alcançara internacionalmente junto dos países e regimes do terceiro mundo, dos não-alinhados e mesmo de grande parte dos países ocidentais que o apoiavam, levou o general Spínola a dar ordens para acelerar os preparativos da operação “Mar Ver-de”.

O comodoro regista no seu diário que no primeiro dia de No-vembro, domingo, teve lugar uma reunião de emergência no Co-mando-Chefe, para completar os assuntos já tratados na reunião mensal de comandos de 23 de Outubro, estando apenas presen-tes para além do comandante-chefe, o CDMG, o CTIG, o coronel Ramires, o comandante da Defesa Aérea coronel aviador Moura Pinto, o chefe do Estado-Maior do COMCHEFE, coronel Robin de Andrade, e o major Pereira da Costa, da Repartição de Informa-ções. O motivo daquela reunião versava sobre as «medidas extra a adoptar face ao agravamento da situação.»

A operação apresentada e proposta pelo Comandante Calvão ao general Spínola, ser-lhe-ia depois atribuída pelo comandante--chefe das Forças Armadas da Guiné e tinha três vertentes:– realizar um golpe de estado na República da Guiné a fim de

permitir a subida ao poder de um governo favorável aos altos interesses da Nação;

– executar um golpe de mão sobre as instalações do PAIGC em Conakry, a fim de lhe causar o maior número de baixas possí-vel e libertar os militares portugueses detidos na prisão do partido;

– eliminar as vedetas e embarcações inimigas surtas no porto de Conakry.

Como base operacional e de modo a possibilitar a preparação da operação debaixo do maior sigilo, tinha sido necessário construir um improvisado aquartelamento para treino de tropas e local de reunião numa ilha despovoada do arquipélago dos Bijagós, esco-lhida pelo seu isolamento, a ilha de Soga.

Os dissidentes do Front, opositores ao regime de Sékou Touré, eram introduzidos discretamente na ilha, onde passavam a re-ceber instrução militar, ministrada por operacionais portugueses chefiados pelo primeiro-tenente Rebordão de Brito, que contava, entre outros, com o apoio do segundo-tenente Benjamim Abreu, alferes Ferreira, e do furriel comando Marcelino da Mata, a que se juntaram o cabo Rossa – o “Sono” –, o marinheiro Tristão – o “Setúbal” – o marinheiro António Augusto da Silva – o “Touré” – todos fuzileiros do pequeno grupo que acompanhava o coman-dante Calvão para todo o lado.

Estes homens conseguiram, aos poucos, moldar uma unidade de combate, através de um treino intensivo e à força de muitas palavras e alguns castigos, e atenuar os conflitos tribais e religio-sos existentes – um mal comum a todas as sociedades da África Negra – resultando daí um certo espírito de coesão, indispensável para a delicada e arriscada missão para que se preparavam.

A língua era outra barreira que condicionava significativamente o relacionamento daquela gente, pelo que houve necessidade de recorrer a milícias que servissem de intérpretes e garantissem a plena compreensão das instruções de comando.

Fotógrafo: Istvan BARA (Hungria)

Portuguese prisioners in Conakry, 1970

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Havia ainda dificuldades acrescidas em manter durante tantos meses, o isolamento de uma ilha, um tão grande número de ho-mens. Assim, são “recrutadas” algumas mulheres no popular Bairro do Copilom, em Bissau, para minimizar os inevitáveis pro-blemas resultantes do afastamento da sociedade e impedir a des-moralização das forças, à semelhança do modelo utilizado pelos franceses quando criaram o BMC (Bordel Mobile de Campagne).

Quem entrava na ilha de Soga não mais saía e as mulheres não foram excepção, permanecendo nas instalações até ao final da operação “Mar Verde”.

A partir de Outubro começaram a constituir-se equipas, às quais foi atribuído um indicativo radiotelegráfico de acordo com o alfa-beto fonético e distribuídos os objectivos a cumprir na operação, Tinham sido estabelecidos inicialmente 52 objectivos, com o fim de paralisar toda a actividade do adversário, condição necessária para o sucesso da operação. Era já uma intenção firme de exe-cutar o desembarque numa noite de sábado para domingo, altura em que a maior parte dos serviços públicos estavam desactivados e as forças militares e paramilitares se encontravam de licença.

No entanto, por não se ter podido reunir os efectivos necessários, o número dos objectivos primordiais ficou limitado a 25. Para o seu cumprimento são designadas, para além do grupo de 200 combatentes do Front, duas unidades africanas: o Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 21. Com 80 efectivos, comandado pelo primeiro-tenente Cunha e Silva, e a Companhia de Comandos Africanos, formada por 150 homens e comandada pelo capitão João Bacar.

Durante todo esse período, o comandante Calvão desloca-se por diversas vezes a Genebra e a Paris, quase sempre acompanhado pelo inspector-adjunto da DGS Matos Rodrigues, com o objecti-vo de estabelecer contactos com representantes do Front, dissi-dentes do governo de Sékou Touré;”como Jean Marie Doré, que recolhia fundos para a operação, David Sourríah, ex-membro do governo de Léopold Senghor, e Thierno Diallo, antigo major do Exército francês. Ao mesmo tempo, são estabelecidos acordos entre o governo português e o Front, destinados a permanecer em vigor depois de consolidado o golpe, e que previam, entre outras coisas, a interdição do PAIGC na República da Guiné.

Dado o carácter especial desta operação, estava fora de questão que se pudesse deixar vestígios no terreno, ou quaisquer pro-vas, que permitissem atribuir a Portugal a responsabilidade da invasão. Assim, não foram descurados os mais ínfimos detalhes, chegando-se ao ponto de, para dissimular a origem da operação, terem sido confeccionados nas Oficinas Gerais de Fardamento, em Lisboa, uniformes verde oliva – semelhantes aos do exército da República da Guiné – e de se ter adquirido armamento de fa-brico soviético: 250 espingardas automáticas AK47 Kalashnikov, 20 Morteiros 82, 12 RPG 7 – desta tarefa ficou encarregado o major Carlos Azeredo.

Uma das áreas mais sensíveis da operação, e que mais tarde se revelaria uma: das suas maiores fragilidades, foi a recolha de in-formações. De facto, as forças portuguesas deparar-se-iam com uma confrangedora falta de dados de intelligence por parte dos serviços de informação. É verdade que foi criada uma verdadeira organização ad-hoc com o objectivo de compilar notícias e in-formações, recorrendo para isso a livros, revistas, folhetos de propaganda turística, listas telefónicas e ainda à colaboração de antigos combatentes do PAIGC e exilados guineenses mas que muitas das informações obtidas pecavam, no entanto, pela falta de actualidade.

Uma preciosa e inesperada ajuda surge na pessoa de um fuzilei-ro naval, o grumete Alfaiate, que, estando colocado na base de

Ganturé, desertara para o inimigo havia algum tempo, e, arre-pendido, três semanas antes se apresentara aí voluntariamen-te fugido de Conakry. Com vontade de se reabilitar.io grumete Alfaiate foi um colaborador de valor. Revelaram-se inestimáveis não apenas as indicações que forneceu, e que permitiram sina-lizar devidamente a planta da cidade com uma exactidão muito aceitável, contribuindo para a construção de uma maqueta de Conakry, mas também, mais tarde, a sua prestação como guia das forças desembarcadas.

Dada a possibilidade de êxito do golpe de Estado, organizou-se um programa político com a colaboração dos três delegados do Front, que, para o efeito foram viver para Bissau. Elaborou-se uma lista de governantes, escreveram-se as primeiras declara-ções a emitir pela rádio, etc. etc.

No dia 4 de Novembro de 1970, vésperas de uma rotineira vinda. a Lisboa, o Comodoro lança no seu diário o seguinte apontamento:

«Tratei com Calvão elementos sobre acção no Sul, que depois transmiti, no absolutamente essencial, ao 2.º comandante CEM e Sub-CEM.»

E no dia seguinte refere uma situação injusta que causa algum mal-estar entre os ramos das Forças Armadas:

«16h00 – Reunião com Comandante-chefe e diversos oficiais so-bre: critérios de condecorações. Mais uma vez a história de que-rer comparar a % de condecorações nos três Ramos das Forças Armadas, quando a comparação deveria ser feita à base de n° de contactos de fogo com o IN, de baixas obtidas em combate, etc...»

Sensato juízo este, a tentar impor a lógica da justiça para premiar os que mais merecessem e não os mais numerosos.

O assunto de Conakry é tratado com o maior secretismo pelo governador e comandante-chefe, que expusera já o conceito da operação ao ministro do Ultramar, Silva Cunha, e ao ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, não tendo recebido o esperado apoio de qualquer deles, pois ambos os membros do Governo discordaram do projecto com receio das repercussões internacionais.

Spínola não desiste, nem desarma perante os argumentos políti-cos, não é homem que se deixe abater aos primeiros reveses e joga a sua última cartada, e a mais forte: envia ao presidente do Conselho, Marcello Caetano, uma carta pessoal (Doc.36), a ser entregue em mão pelo próprio comandante Calvão. Aí se pedia uma última decisão sobre a operação que já havia sido rejeitada pelos dois ministros, mas que entendia ser «decisiva para o des-fecho da guerra na Guiné.»

O Comodoro Luciano Bastos regressava de Lisboa, a I3 de Novembro, onde fora tratar de assuntos de serviço quando,

Com Ribeiro Pacheco (à esq.) e Costa Santos durante a operação “Trevo”, 1963

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ao desembarcar em Bissalanca, se cruza com o comandante Calvão, que «inesperadamente foi mandado a Lisboa falar com o Presidente do Conselho» e partia para a Metrópole.

Entretanto, naquele mesmo dia, o Comando da Defesa Marítima da Guiné tinha determinado que, sob o comando do capitão--tenente Alpoim Calvão (CTG.2) fosse constituída a TG27.2, que incluiria quatro Lanchas de Fiscalização Grandes e duas Lanchas de Desembarque Grandes: LFG “Orion”, comandada pelo capitão--tenente Faria dos Santos; LFG “Cassiopeia”, comandada pelo capitão-tenente Lago Domingues; LFG “Dragão”, comandada pelo primeiro-tenente Duque Martinho LFG “Hidra”, comandada pelo primeiro-tenente Fialho Góis; LDG “Bombarda” comandada pelo capitão-tenente Aguiar de Jesus; LDG “Montante”, coman-dada pelo primeiro-tenente Costa Correia.

No mesmo dia, Calvão desembarca em Lisboa e, logo na ma-nhã seguinte faz chegar às mãos do presidente do Conselho a missiva de que era portador ficando a aguardar com impaciência a convocação para comparecer à sua presença. Desde que re-cebera a carta fechada das mãos de Spínola, uma curiosidade imensa apoderara-se dele. Como confessaria mais tarde, esteve por vezes tentado a abri-la, sentando-se a olhá-la com vontade de descolar o envelope com vapor de água para tomar a colá-lo após se inteirar do seu conteúdo, mas as noções de lealdade e dever impediram-no de o fazer. «Se Spínola quisesse que eu dele tivesse conhecimento ter-me-ia dado a ler, ou nem mesmo tinha fechado o envelope como é uso quando uma missiva é levada por um portador de confiança..»

Marcello Caetano apressa-se logo a recebê-lo na segunda-feira, dia 16 num gabinete na Assembleia da República, já que o pre-sidente do Conselho ainda não se tinha mudado para o palacete da Rua da Imprensa, que tinha servido como residência a Oliveira Salazar. Marcello Caetano questiona sobre a forma como estava a ser organizada a operação e as possibilidades de êxito desta acção militar. O comandante Calvão responde que inicialmente esta operação apenas tivera como objectivos a libertação dos portugueses e a destruição das lanchas do PAIGC e da República da Guiné, mas o evoluir da situação, veio a juntar-se mais tarde o projecto de apoiar-um golpe de estado a ser executado pelas tropas do Front com auxílio português; Alpoim Calvão ainda tem tempo para sublinhar as boas hipóteses de sucesso plano, mas de imediato, sem sequer esperar que o comandante termine a expo-sição, o presidente do Conselho logo aprova a operação dando a sua autorização verbal, a ser transmitida ao general Spínola com a recomendação essa de que não deixassem no terreno quais-quer vestígios que pudessem ligar aquela acção aos portugueses. O comandante Calvão assegura que esse aspecto tinha merecido uma atenção muito especial, adiantando até que o pessoal leva-ria cigarros e fósforos de uma marca francesa muito utilizada na região e que o dinheiro seria em sílis, a moeda da República da Guiné.

Na despedida, Alpoim Calvão volta-se para o presidente do Con-selho e pergunta:

– Se alguns dos objectivos propostos fracassarem e só conse-guirmos libertar os soldados portugueses presos, valeu a pena?

Sem qualquer hesitação, Marcello Caetano responde:

– Se só se conseguirem libertar os prisioneiros já valeu a pena.

Sendo sua intenção regressar à Guiné no dia seguinte, o coman-dante Calvão vê-se, porém, confrontado com a impossibilidade de o fazer, pois só haveria outro voo da TAP no dia 22. Vale-lhe a amizade com o comandante da Região Aérea, general Dores Delgado – um oficial oriundo da Marinha viera a reencontrar na Guiné como comandante da Zona Aérea, que providencia o seu

regresso no dia 18 num avião da Força Aérea, um DC-6, que fará a viagem exclusivamente para possibilitar a chegada do coman-dante operacional da “Mar Verde” em tempo útil.

O Comodoro Luciano Bastos regista no seu diário a largada para a ilha de Soga, dia 16, das duas LDG (“Montante” e “Bombarda”) e de quatro LFG (“Orion”, “Cassiopeia”, “Dragão” e “Hidra”). Antes, todavia, a “Montante” ainda foi ao Xime buscar uma companhia de comandos africanos. Os navios tinham instruções rigorosas do comandante Calvão para, após a chegada à ilha, interditarem o contacto das guarnições com o pessoal aquartelado em terra. A companhia de comandos africanos e o DFE 21 ficariam abona-dos” aos navios e impedidos de ir a Soga, para evitar contactos com os militares do Front que comprometessem o sigilo da ope-ração.

No seu livro de memórias, o primeiro-cabo dos comandos afri-canos, Amado’ Bailo Djaló, descreve como viveu esta situação: «O capitão João Bacar Djaló e o major Leal de Almeida, mal de-sembarcaram do heli, deram ordens para distribuir” os pregos pelo pessoal e logo a seguir tomámos os nossos lugares nas via-turas. Sabíamos que íamos directos ao Xime, e depois o destino era desconhecido.No Xime embarcámos numa LDG que, logo que o pessoal entrou todo, começou a manobrar para sair do porto e a seguir rumou para ocidente.Na minha e nas nossas cabeças, as dúvidas eram cada vez maio-res, ninguém nos dizia para onde íamos e o que íamos fazer. Como Bissau ficava para ocidente, o capitão João Bacar disse que se desembarcássemos em Bissau mandava matar um carneiro capado que tinha em casa.Bissau ficou à nossa vista e pensei na grande noite de festa que iríamos ter. A lancha encostou na margem contrária e quando vimos a cidade a passar à frente dos nossos olhos perdemos as esperanças. Estava cansado, fui dormir, e não sei o que se passou durante o resto da noite. Quando acordei, já depois das 07h00 de terça-feira, o barco estava fundeado em frente de uma ilha, no meio do mar.Disseram-me que estávamos entre Bubaque e a Ilha de Soga, no arquipélago dos Bijagós.Que estamos a fazer neste sítio? Era uma pergunta que todos faziam, resposta ninguém tinha. O que vimos foi um grande mo-vimento na ilha que me disseram chamar-se Soga.»

A 17 de Novembro, em mensagem para a “Bombarda”, o CTG.2 determina «Contactar Ten. Brito iniciar distribuição fardas arma-mento acordo equipas formadas» na mesma altura, o comodoro revela-se surpreendido com o rumo dos acontecimentos.

A progredir na mata, atrás do ordenança José António dos Santos, “Pinguinhas”, durante a operação “Protão”, 1965

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«Plano de acção “Mar Verde” foi aprovado pelo Presidente do Conselho o que foi uma grande coisa e que eu não esperava.»

No dia seguinte, o Comodoro comenta no seu diário:

«Às 17h00 chegou o Calvão a Bissau num avião da F.A.P. Fui es-perá-lo. Confirmou que o Presidente do Conselho aprovou o Plano de operações “Mar Verde”, depois de ter recebido a carta que o general Spínola lhe escreveu e que o Calvão lhe fez chegar às mãos no dia 14-11. A 16-11 (2a Feira) o Presidente do Conselho recebeu-o e, apenas a meio da exposição do Calvão, interrompeu--o e disse logo que aprovava o plano, dizendo até que já se deveria ter levado a efeito há mais tempo e que punha como condição não ultrapassar a data de 22.Nov.70 que o Calvão havia fixado.»

Pelas 23h00, Luciano Bastos, em mensagem enviada para bordo dos navios que constituíam a TG.2 e para o DFE 21, não deixa qualquer margem para dúvidas quanto à inquestionável autorida-de do comandante Calvão naquela operação:

«Todas ordens emanadas CTG.2 devem: ser pronta e integralmen-te cumpridas seja qual for a sua natureza e amplitude e quaisquer que sejam as implicações que daí possam advir.»

Um dia após a sua chegada, o comandante Calvão comparece no Palácio do Governador, onde encontra o general Spínola rodeado por um autêntico “estado-maior”: o comandante da Defesa Ma-rítima, comodoro Luciano de Bastos; o comandante da Defesa Aérea, coronel Moura Pinto; o chefe do Estado-Maior do Coman-do-Chefe, coronel Robin de Andrade; e ainda o major Pereira da Costa, da Repartição de Informações e o major Firmino Miguel, da Repartição de Operações. Nessa ocasião, o comandante relata a posição do presidente do Conselho quanto à operação em toda a sua envergadura e acertam-se, logo ali, todos os pormenores.

Tencionava o comandante Calvão seguir para a ilha de Soga às 17h00 desse mesmo dia, mas, impossibilitado por falta de dispo-nibilidade dos helis, informa por mensagem a “Orion”, designa-do como navio-chefe para a operação de que só chegaria pelas 06h30 do dia seguinte, ao mesmo tempo que dava conhecimento da visita, pelas 08h30, do governador e do Comodoro.

Às 09h00 de 18 de Novembro, já em Soga, Calvão convoca os comandantes dos seis navios para uma reunião na camarinha da “Bombarda”, transmite-lhes verbalmente qual a missão da força, entregando-lhes os anexos escritos relativos às comunicações, na-vegação e logística, indispensáveis para a execução da operação.

.../...

Às 03h25 do dia 19 de Novembro o NRP “Orion”, que iria servir de posto de comando e navio-chefe durante toda a operação, atraca à LFG “Bombarda” ao largo de Soga. Iniciam-se imediatamente

reuniões contínuas entre os comandantes dos navios, tendo por finalidade a mais perfeita planificação da actividade de cada uni-dade.

.../...

Amadú Bailo Djaló, primeiro-cabo da 1.ª Companhia de Coman-dos Africanos, só nesse dia soube do objectivo Conakry e, à se-melhança dos restantes camaradas, ficou perturbado quando ouviu falar da missão. Mas nunca pôs em causa a legitimidade da operação para libertar os companheiros.

.../...

Os navios são, então, pintados de novo com cores diferentes das que vigoravam na Marinha e apagam-se os indicativos visuais de forma a impossibilitar a sua identificação. E a tal ponto chega a minúcia do disfarce, que até as bóias de salvação são repintadas. As diversas equipas, que se destinam a atacar os vários objecti-vos em simultâneo, são então distribuídas pelos navios, levando em linha de conta os locais de desembarque.

Pelas 08h00 do dia 20, o comandante-chefe, acompanhado pelo comodoro Luciano Bastos, tenente-coronel Robin de Andrade e capitão Fernandes Tomaz, partem num heli para a ilha de Buba-que. Aí, embarcam numa LDM que os conduz ao fundeadouro dos navios junto à ilha de Soga, atracando à LDG “Montante” onde’ se encontram reunidos o DFE 21 e a companhia de comandos africanos. Spínola dirige-se e afirma às forças de uma forma em-polgante que quaisquer que viessem a ser os resultados, aqueles militares jamais seriam esquecidos e as famílias não deixariam de ser apoiadas.

Estas palavras são escutadas atentamente pelo primeiro-cabo Amadú Bailo Djaló: «Por volta das 10h00, avistámos um barco muito velho a navegar na nossa direcção. Trazia o general Spínola, corremos para a formatura. Quando chegou, o capitão João Bacar Djaló mandou apresentar armas, o general correspondeu à con-tinência e depois iniciou um pequeno discurso. Que se não fosse governador ia connosco. Mas que nós iríamos participar com o espírito dele e que havíamos todos de regressar, se Deus quisesse. Gritámos o nosso grito: “Comandos ao ataque”, três vezes. Depois deste grito, já não podíamos voltar atrás, era o nosso juramento.»

.../...

O general chama ainda à parte todos os oficiais que vão partici-par no assalto; a quem fala particularmente e deseja os maiores êxitos.

Pelas 11h25, o CTG.2, comandante Alpoim Calvão, envia por mensagem as suas ordens à TG.27.2:

«Iniciar Operação Mar Verde 202200236.»

Pelas 20h50 a TG27.2 suspende de Soga, com o CTG.2 embarcado na LFG “Orion”, e tendo-se reunido junto à ilha de Canhambaque, os navios passam de seguida a navegar em coluna numa rigorosa ocultação de luzes a partir das três horas da madrugada. O segredo com que tudo se preparou fora tão bem guardado, que só durante a viagem será redigida a Ordem de operações pelo comandante Calvão e manuscrita pelo comandante da “Orion”, capitão-tenente Faria dos Santos, tendo posteriormente o CTG.2 acrescentado algumas emendas pelo seu próprio punho (Doc. 37).

Na primeira hora do dia seguinte, o comandante da TG.2 transmi-te para todos os navios:

«Ocupar posições form one. Ao nascer sol navegar artilharia pron-ta combate.»

Para trás fica o Exército, de prevenção no Sul, em Buruntuma, junto à fronteira da República da Guiné, e a Força Aérea “nos O descanso do guerreiro, na “Protão”, 1965

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tacos”, com os FIATG91 prontos a descolar para uma série de missões previstas de bombardeamento a bases referenciadas do PAIGC, caso o programado golpe de estado venha a ser bem--sucedido.

Os FIAT eram caças-bombardeiros de ataque ao solo. Lentos, de pequeno raio de acção e voando a baixa altitude, necessitavam, por isso, para poderem intervir, que os MIG adversários, caças interceptores que operavam a grande altitude, tivessem sido eliminados no chão, deixando desimpedido o aeroporto onde se pudessem reabastecer. A sua autonomia era suficiente apenas para a viagem de ida, não permitindo o regresso sem reabasteci-mento. Além disso, nem os Fiat podiam subir à altitude dos MIG, nem estes eram eficazes no combate próximo do solo. Simulta-neamente com estas acções, desde as 9h20 do dia 18 que um avião P2V-5da Força Aérea vinha efectuando patrulhas a grande altitude, com a possível discrição e com a finalidade de detectar quaisquer movimentos de navios de guerra ou concentrações de pesqueiros.

Extremamente cauteloso no cumprimento das orientações supe-riores, seguindo à risca a máxima de Camões “não louvarei capi-tão que diga que não cuidei” Alpoim Calvão envia uma mensagem a todos os navios da esquadrilha:

«Recomendo máxima atenção verificar cuidadosamente atra-vés chefes grupos embarcados se pessoal leva qualquer indício que comprometa país. Particularizar cigarros fósforos rações etiquetas’placas grupo sanguíneo cantis. 211030 Oficiais mais antigos embarcados passarão revista todo pessoal.»

Dava-se assim cumprimento à recomendação veemente do pre-sidente do Conselho de que não deveriam ser deixados vestígios para trás.

Às 4h55, os navios que até então navegavam em coluna são di-vididos em dois grupos: um constituindo uma screen de pesquisa e outro o main body formado pela LFG “Dragão” e pelas LDG “Bombarda” e “Montante”.

A navegação decorre muito bem e as indicações do avião P2V-5 e dos radares de bordo permitem alguns pequenos desvios de modo a evitar contactos indesejáveis. No entanto, pelas 13h30 não é possível evitar que o arrastão “Banko” passe perto da “Montante”, mas como a formatura era bastante dispersa e o pessoal ia abrigado conseguiram passar sem serem detectados.

Às 17h50 retoma-se a formatura em coluna, pois a noite minimi-zava os riscos da detecção, efectuando-se às 20h20 a separação das várias unidades, que se dispersam para os pontos mais con-venientes em ordem ao lançamento das equipas de desembarque.

O conceito de manobra assentava nos princípios básicos da guer-ra:

«a) Obter o domínio do mar. A presença das lanchas rápidas, ar-madas com metralhadoras quádruplas de 25 mm e com mais de 30 nós de velocidade era francamente incómoda. Era pois necessário neutralizá-las rapidamente.

b) Obter o domínio em terra. Interessava seguidamente a neu-tralização das forças que, pela sua natureza, podiam intervir mais rapidamente. Incluíam-se, pois, nos objectivos prioritá-rios a Gendarmeria, a guarda republicana, o campo de milícias e o campo militar Samory, onde sedeava o Alto Estado-Maior e uma força mecanizada. Previa-se logo a seguir o corte do istmo que separa Conakry I e II 239, numa largura de 150 metros, junto ao Palácio do Povo. Assim se impediria qualquer reforço vindo do Campo Alpha Yaia ou do complexo militar do quilómetro 36. O grupo de objectivosdo PAIGC encontrava-se incluído neste estágio da acção.

c) Obter o domínio do ar. Logo que rompesse o dia, a ameaça dos MIG 15 e 17 tinha de estar neutralizada. Os navios do TG não dispunham de defesa A/A adequada contra este tipo de aviões e o raio de acção da nossa aviação de caça disponível não permitia cobertura aérea.

d) Convinha capturar, desde o início, a emissora de radiodifusão mais escutada. Desta maneira, a emissora de Boulbinet foi considerada prioritária, apesar de não se esperar que funcio-nasse antes das 8 horas da manhã.»

Era Sábado. Por ser fim-de-semana, a vigilância era mais descu-rada, o que oferecia as condições ideais para um ataque-surpre-sa. Em Conakry, os dancings e cinemas estavam com a clientela habitual. Mais. Os clientes do Yatch Club, situado à beira-mar, irão assistir à chegada e partida dos grupos de assalto sem que a música alguma vez deixe de se ouvir.

A força naval avista a cidade e Alpoim Calvão informa por mensa-gem o comandante da Defesa Marítima:

«212115Z Conakry à vista.»

A noite estava tranquila, era maré alta no porto de Conakry e a Lua, em quarto minguante, preparava-se para surgir no horizonte pelas 1h45. Inquieto e expectante, o comodoro Luciano Bastos mantém-se acordado no seu gabinete em Bissau, onde irá passar a noite, mantendo o general Spínola permanente informado e re-gistando as suas emoções no diário pessoal:

«21h20 – vim para o meu gabinete onde ficarei a passar a noite para acompanhar mais de perto esta arriscadíssima operação da qual poderão resultar extraordinárias consequências para a evo-lução da guerra na Guiné e mesmo em todo o T.O. de Portugal.»

Enquanto isso, Alpoim Calvão volta a informar o seu comando:

«212335Z Estou tomando posições de desembarque.»

A força naval vai assumindo as suas posições conforme o pla-neamento previsto. A LFG “Orion” fundeia a Noroeste dos mo-lhes de protecção do porto de Conakry; as LFG “Cassiopeia” e “Dragão” e a LDG “Montante” a norte; a LFG “Hidra” e a LDG “Bombarda” a sul. O comandante Calvão tinha determinado que todos os desembarques deveriam fazer-se até às 01h30 do dia 22 de Novembro. Depois daria o sinal de ataque. Como, entretanto, tem notícia de que alguns botes que transportam o DFE 21 se ti-nham enrascado numa rede de pesca, aguarda que estejam safos e atrasa ligeiramente o arranque da operação.

Volvidos dez minutos, com a “Orion” fundeada por oeste do molhe de La Prudente, a cerca de uma milha do porto de Conakry, o

Assistindo divertido a Ferrer Caeiro a beber água, momento que pôs fim à ideia que este oficial gostava de alimentar de que nunca bebia durante as operações, na “Fecho”, 1965

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comandante Calvão dá ordem ao grupo “Víctor” para iniciar o ata-que seguindo para o objectivo que mais o preocupava: as vedetas rápidas. Para o sucesso do plano era fundamental assegurar des-de o início o domínio do mar.

O grupo “Victor”, comandado pelo segundo-tenente Rebordão de Brito, encontra-se embarcado no navio-chefe “Orion”, Era consti-tuído por catorze fuzileiros especiais (entre os quais o cabo Rossa e o marinheiro Tristão, do grupo especial de Calvão) e um guia, embarcados em três botes pneumáticos e equipados com arma-mento ligeiro e granadas de mão ofensivas, defensivas e incen-diárias. Foram colocados na água às 00h45 e ao chegar ao dique La Prudente, à ordem do comandante Calvão, lançam os botes na máxima velocidade ao assalto dos navios

inimigos, em número de oito, acostados ao cais. Tomam-nos após impetuosa abordagem, eliminando a sentinela vigilante no primeiro navio e destruindo-os a todos, muito embora o inimigo, se bem que apanhado de surpresa, ainda tivesse reagido de terra com armas ligeiras e com uma metralhadora pesada. Os fuzileiros acabam por abater cerca de 15 inimigos e afundar três vedetas, incendiando quatro e registando como resultados negativos ape-nas um ferido muito ligeiro.

A bordo da “Orion” é avistado, pelas 1h55, o clarão da primeira explosão para os lados do porto, no local onde o grupo “Victor” atacara as vedetas. Ouve-se também o matraquear das armas ligeiras e, cerca de vinte minutos depois, apagam-se as luzes de Conakry I, sinal certo de que a central eléctrica tinha sido atingida, conforme planeado - o grupo “Índia”, desembarcado da “Montan-te” e comandado pelo furriel Demda Sêca, cumprira com sucesso a sua missão, impedindo o fornecimento de energia à cidade.

Pelas 02h35, recolhido que estava o grupo “Victor”, o comandan-te Calvão dá ordens à “Orion” para se juntar à “Bombarda”, pelo que o navio manobra para atravessar o canal que separa Conakry da ilha de Los, pejado de navios mercantes.

Finalmente, pelas 2h50, Alpoim Calvão informa o Comando da Defesa Marítima: «Iniciei o ataque.»

Entretanto, às 00h15,a equipa “Sierra”, comandada pelo capitão paraquedista Lopes Morais, largara em botes da LFG “Hidra”, que se encontrava a pairar a três milhas do local do desembarque, um trajecto que demora mais de uma hora a percorrer. Levavam como objectivo destruir os MIG que, segundo as informações re-colhidas, estariam estacionados no aeroporto de Conalay. A bordo da “Orion”, Alpoim Calvão acompanha as mensagens trocadas entre o capitão Morais e o navio de apoio “Hidra”:

«220140 – Chegamos à praia. 220200 – O filho da puta do te-nente fugiu com 20 dos meus homens; traiu-me miseravelmente. 220215 – Estou junto do objectivo. Aeroporto rodeado de arame farpado. 220225 – Percorri a pista e não vi Migs. 220228 – Estou a ouvir o barulho das autometralhadoras passarem. 220230 – Percorri os hangares e não se encontram lá MIG nenhuns. 220300 – Informo que estou rodeado por dois blindados e muitas tropas.»

Gorada que está a missão do grupo “Sierra”, pela inesperada au-sência dos MIG, o domínio do espaço aéreo, condição indispen-sável para se prosseguir com a operação, fica irremediavelmente comprometido. Assim, pelas 3h15, o grupo “Sierra” recebe uma comunicação de “Baco”:

«Com ordem de Paxa 243 regressar local de desembarque rom-pendo caminho a tiro se for necessário.»

Por seu lado, os dez botes provenientes das LFG “Dragão e “Cas-siopeia”, fundeadas junto aos baixios La Prudente - a norte da península de Conakry e a 25 milhas marítimas a oeste do local de desembarque – e transportando os 72 fuzileiros do DFE 21

largam dos navios cerca da 01h00. Foram constituídos 4 Grupos de Assalto (GA), compostos por 12 equipas de seis homens cada

O DFE 21era um Destacamento de Fuzileiros Especiais africanos, onde apenas os oficiais, sargentos e um reduzido número de pra-ças eram brancos.

Após o embarque da equipa “Victor”, a LFG “Orion” levanta ferro e segue para junto da “Bombarda” e da “Hidra”, tendo em vista o desembarque da equipa “Papa”, destinada a cortar o istmo que separa Conakry I de Conakry II.

O comandante Calvão vê-se então confrontado com a possibi-lidade de um ataque aéreo dos MIG da República da Guiné, o que poderia acarretar um desastre militar e comprometer a ima-gem de Portugal. O sargento-aviador António Lobato que foi de imediato transportado para bordo da LFG “Orion”, informara-o de que os pilotos dos MIG ainda estavam em formação e não tinham capacidade para atacar uma força naval, mas não obstante era preciso tomar todas as cautelas. Mais tarde, viria a saber-se que alguns dias antes da invasão esses aparelhos tinham sido deslo-cados para Labé, a 150 km a norte da capital. Mas ainda assim o risco era muito grande e o comandante Calvão resolve jogar pelo seguro e seguir rigorosamente as recomendações do presiden-te do Conselho. Às 04h00, é mandado suster o desembarque da equipa “Papa”.

Meia-hora depois, segundo o relatório do CTG.2, a situação é a seguinte:

«– Os objectivos do PAIGC atingidos em boa parte, incluindo a libertação dos 26 prisioneiros; - Domínio no mar assegurado; - Domínio em terra ainda em disputa, mas com forte possibilida-de de sucesso, pois ainda dispunha de uma razoável reserva de manobra; – Presidente Sekou Touré não encontrado; – O domínio do ar não assegurado.»

Sem o domínio do ar tomava-se imprudente prosseguir com a operação. Com a preocupação sempre presente de deixar o me-nor número possível de provas documentais da autoria da inva-são, Alpoim Calvão avisa às 04h40 a “Bombarda” para não de-sembarcar o grupo “Papa”, encarregue de cortar o istmo e, às 05h00, dá ordem de reembarque, acedendo então aos insistentes pedidos do major Leal de Almeida para o deixar ir a terra coor-denar o reembarque dos grupos de Boulbinet. O CTG.2 apenas tencionava ficar em Conakry até que o Front tomasse o poder, se tal facto se viesse a verificar, mas não tendo ocorrido o esperado levantamento popular, tornava-se agora demasiado arriscado e inglório permanecer naquelas posições.

De arma às costas num alto (pausa) durante a operação “Fecho”, sob o olhar de Ferrer Caeiro (ao fundo), 1965

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De terra, às 07h00, junto ao Palácio do Povo surgem quatro dis-paros de morteiro 82, muito mal regulados, dirigidos sobre a “Montante” que estava a 1000 jardas. Cerca de 910 metros.

“Também ouvi dar ordem para os navios prepararem a sua defe-sa antiaérea, o que pareceu mau presságio, de que a coisa não estava completamente bem. Também ouvi perguntar se os prisio-neiros já haviam embarcado todos (deduzindo que se tratava dos nossos prisioneiros libertados), pois dos outros não estava pre-visto fazer. A todo o momento aguardava ouvir a Rádio Conakry iniciar mais cedo a sua emissão para anunciar o Golpe de Estado, mas em vão. Pelas 05.15254 recebi a mensagem do Calvão “NÃO REPITO NÃO FAÇA INTERVIR AVIAÇÃO X MEIO SUCESSO”. Dada a sua importância (a nossa aviação devia atacar às 06.00), fui di-rectamente ao Palácio falar ao governador. Falei-lhe na libertação dos 26 prisioneiros, incluindo o sargento Lobato, destruição do PAIGC, etc.” (extrato diário Comodoro Luciano Bastos)

.../...

No centro de comunicações (...) após reunião com o general Spí-nola, o comodoro recebe as mensagens que o comandante Cal-vão lhe envia de bordo da “Orion”, informando dos sucessos da operação, enquanto que, o vai questionando e dando directrizes para rumarem à ilha de Soga, onde se deveriam manter até nova ordem:

«220910Z – Tenho bordo 26 prisioneiros incluindo sargento Lobato; 220940Z – PAIGC completamente destruído excepção Amílcar Cabral ausente estrangeiro (.) sete vedetas inutilizadas; 221120Z – Desembarque surpresa total simultâneo 01h30 golpe de estado não realizado por terem falhado equipas emis-sora aeroporto (...) Neste caso suspeita--se deserção tenente Januário com vinte e dois homens companhia comandos (...) Golpe mão PAIGC êxito completo com ex-cepção Amílcar (...) Estou navegando afas-tar rapidamente Conakry; 222030Z – até onde posso perceber luta armada continua Conakry (...) Guarda Republicana comple-tamente eliminada (...) Neste quartel cerca 120 prisioneiros políticos libertados arma-dos resistem atacam forças leais Sekou Touré (...) Tiveram 500 mortos.»

Em Conakry eram 06h15, ou seja, mais uma hora.

«222045Z – Responsável número dois PAIGC Aristides Pereira abatido.» Esta informação veio a revelar-se incorrecta, não se vindo a confirmar a morte de Aristides Pereira. «(...) Mortos PAIGC 50 (...) Mortos Escola Milícias 60(.) – Vedetas armadas PAIGC des-truídas Alfa(...) idem República da Guiné duas mais duas desar-madas; 222210Z – Nossas baixas (...) mortos (...) alferes Ferreira corpo recuperado (...) 2 elementos comandos (...) feridos graves (...) um fuzo (...) feridos ligeiros (...) vários sem gravidade (...) desaparecidos (...) 26 elementos – comandos; 222215Z – grupo ocupou objectivo 19 causou 150 baixas (...) – População pediu ar-mas nossos elementos (...) Soltos cerca 300 presos políticos ten-do 180 mulheres e velhos seguido liberdade (...) Restantes captu-raram Ministro da Defesa NacionaL; 222222Z – tenente Januário desertou com outro elemento já apresentados Campo Alfa Yaya (...) Restantes elementos induzidos erro quando seguiam Januário (.) Ignoro sua situação; 222355Z – impossível indicar já nomes homens faltam (...). Não há prisioneiros políticos importantes (...) Ficaram cerca vinte elementos I. Soga que se uniram prisioneiros libertados (...) ETA Soga; 231630 – (...) Nossos movimentos não observados.»

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Pelas 09h25 de 23 de Novembro, a força naval avista o ilhéu do Poilão e às 15h30 dá fundo ao ferro na ilha de Soga. No dia se-guinte, pelas 10h00, o comandante Calvão envia uma mensagem à TG em que dá por finda a operação, delibera o fim da TG27.2 e determina: «Pintar números costado içar bandeira (...) entregar Toulon (Orion) cartas planos hidrográficos equipamentos rádio para operação Mar Verde.»

Sobre a operação “Mar Verde”, escreve no relatório final o co-mandante Calvão:

«Sob o ponto de vista estritamente militar, a operação decorreu de forma muito satisfatória, atendendo ainda a que foi a primeira deste género realizada pelas nossas Forças Armadas. Grande par-te dos objectivos foram conseguidos e numa acção normal todos seriam atingidos - à excepção dos MIG’s -, pois ainda tinha massa de manobra e possibilidades dinâmicas para o fazer. Atendendo contudo à estreita margem de liberdade de acção que os princí-pios da estratégia indirecta, enformadores do plano, consentiam, não se pôde ir mais além. Fazê-lo, seria correr um risco gravíssi-mo - a possibilidade do afundamento de um dos nossos navios, prova documental irrefutável contra nós - de consequências de-sastrosas. Por conseguinte, dentro da correcta cadeia de decisões – política, estratégica, operacional, táctica e técnica -, a decisão política tinha de sobrelevar as outras: o nosso comprometimento tinha de se reduzir·ao mínimo. Bem ou mal, o único juiz no campo da acção era eu. A decisão de retirar – e sabe Deus quanto me

É informado pelo ministro da Marinha, Alfredo Quintanilha de Mendonça Dias, da sua promoção, por distinção, a capitão-tenente (da esq. para a dir.): Alpoim Calvão, contra--almirante Oliveira e Sousa, contra-almirante Mendonça Dias, contra-almirante Oliveira Júnior (vice-CEMA), vice-almirante Reboredo e Silva (CEMA) e capitão-de-mar-e-guerra

Correia de Barros, 1965

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custou fazê-lo – foi minha. Dela assumo completa responsabili-dade. (...) Apesar de se terem procurado o maior número de ele-mentos de informação possível, verificou-se que nem todos eram exactos… O estado actual do funcionamento dos nossos serviços de informações é confrangedor pela ausência de uma estratégia nacional de informação. O insucesso do Golpe de Estado deveu-se exclusivamente a deficiências de informação. A exacta localização dos MIG’s teria sido a chave da acção. Mas isto só se conseguiria com um agente in-loco, dispondo de meios rádio que lhe permi-tissem, rapidamente, dar-nos a conhecer dados fundamentais. É necessário também, investigar cuidadosamente os indivíduos que se apresentam como chefes de oposição aos regimes africanos nossos adversários. O panorama que o FNLG nos apresentou sobre a situação na República da Guiné era basicamente correcta, mas falhou redondamente nos apoios que dizia ter. O próprio FNLG ti-nha duas tendências divergentes e para mal de nós escolhemos exactamente a mais desonesta para trabalhar connosco....»

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Transportando a bordo o marinheiro fuzileiro do DFE 21 grave-mente ferido, a “Cassiopeia” antecipa-se ao resto da TU, che-gando durante a manhã à ilha de Soga. Um heli aguardava para o transportar de imediato ao Hospital Militar, onde foi operado com sucesso às lesões provocadas por uma bala.

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Por seu lado, o brigadeiro Carlos Fabião, o oficial da entourage do general Spínola na Guiné, e com quem Alpoim Calvão tivera um encontro intempestivo no início da sua segunda comissão, ou seja, uma opinião insuspeita em relação à pessoa do comandan-te, numa entrevista ao jornal Público sobre aquela famosa opera-ção, afirma: «A operação pode ser discutida nalguns aspectos de condução, há sempre duas ou três soluções para um problema. Mas a que ele (Alpoim Calvão) escolheu era, a meu ver, totalmen-te correcta. Eu teria feito exactamente o mesmo, tecnicamente, a sua actuação foi perfeita. Hoje não tenho dúvidas que a res-ponsabilidade desse fracasso coube inteiramente à PIDE, todas as informações que prestou eram falsas. O Calvão actuou com dados errados.»

.../...

Uma acção da envergadura daquela que fora lançada sobre Co-nakry também não deixou indiferentes os maiores especialistas estrangeiros, que a estudaram a fundo e sobre ela emitiram diver-sas opiniões. Mais de duas décadas depois, em 1995, o general Almeida Bruno escrevia ao comandante Calvão, dando-lhe conta da opinião que ouvira dando-lhe conta da opinião que ouvira de William J. Casey, ex-director da CIA:

«Foi uma troca de impressões curiosa, já que o Director começou por criticar a acção a Conakry, isto sob o ponto de vista polí-tico, mas acabou por dizer: apesar do erro político de Portugal sou de opinião que valeu a pena cometê-lo, já que libertaram das masmorras da Guiné/PAIGC muitos combatentes presos há longos anos e em situações, que sei, eram muito más. Em resu-mo, acabei por comentar com ele o fracasso de uma operação americana ao Vietnam do Norte para libertar prisioneiros e que falhou por falta de informação correcta. Fiquei, como calculas, orgulhoso. Sempre tínhamos sido mais eficientes que a grande superpotência americana. E aqui tens esta pequena história sobre a tua magnífica Op. Mar Verde.»

Também o reconhecido historiador e oficial de Marinha, o coman-dante Saturnino Monteiro, se debruçou sobre os acontecimentos de Novembro de 1970, com a frieza que só o distanciamento no tempo garante. Expurgadas que estavam as paixões momentâne-as e contemporâneas dos acontecimentos, escreveria no seu livro

Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa (VoI. VIII) um lúcido comentário àquela que foi a mais mediática operação de toda a guerra portuguesa em África: «Será oportuno chamar a atenção do leitor para o facto de que o ataque a Conakry de 22 de Novem-bro de 1970 foi a única operação realizada pela nossa armada desde a batalha do cabo de S. Vicente (1839) com implicações de origem estratégica, isto é, com possibilidade de alterar o curso da guerra. Foi também a última acção em que os Portugueses tiraram partido do domínio do mar para tentar ganhar uma guerra.

Como é evidente, a grande figura do ataque a Conakrv foi o co-mandante Alpoim Calvão, um dos mais notáveis marinheiros mi-litares portugueses dos últimos séculos, cujas acções na Guine nos fazem vir à lembrança aqueles rudes e indómitos cavaleiros de outros tempos, sempre prontos para lutar em terra ou no mar, sem olhar a dificuldades nem à escassez de meios, e que foram os principais obreiros do Império, que, como todos os impérios, tinha necessariamente de acabar um dia, mas que bem podia e devia ter tido um fim menos triste.»

O julgamento da operação “Mar Verde” continuou e, ainda hoje, é tema vulgar de análise e discussão. Porém, os tempos mudaram e já se observa, mesmo em Portugal, que acções semelhantes levadas a cabo por outros países para resolverem situações idên-ticas vêm a merecer da opinião pública uma abordagem distinta daquela que se dispensou ao “Mar Verde”. Por exemplo, em Julho de 1976, quando um avião da Air France com 200 passageiros a bordo foi desviado por terroristas palestinianos e aterrou em Ente-bbe, aeroporto do Uganda. Numa audaciosa operação comandada por Yoni Netanyahu (irmão daquele que veio a ser primeiro-mi-nistro de Israel e que acabou por ser morto no ataque), as forças especiais israelitas desferem um mortífero raide ao aeroporto daquele país e libertam os prisioneiros. Foi a operação “Thunder-bolt”, aplaudida pela grande maioria dos países ocidentais.

Em Outubro do ano seguinte, o voo 181 da Lufthansa com 90 pessoas a bordo é desviado por terroristas da Baader-Meinhof e aterra em Mogadíscio, capital da Somália. Na operação “Fogo Mágico” são comandos alemães que executam um golpe de mão àquele aeroporto para resgatar os reféns prisioneiros dos terroristas, debaixo da universal aprovação e das mais e1ogiosas referências da imprensa internacional.

A 25 de Abril de 1980, coube aos EUA tentarem resgatar os prisioneiros do seu país, feitos reféns na embaixada em Teerão. A operação desencadeada pela Força Delta saldou-se num estrondoso fracasso e, só por isso, não teve direito aos louros que aureolaram as outras duas operações.

A discursar num almoço de Fuzileiros Especiais, em Vale de Zebro, 1967

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Num contexto de guerra, todas estas operações militares tinham por objectivo a libertação de prisioneiros. Mas talvez por os tempos serem outros (era politicamente correcto defender aquilo a que se chamava a libertação de África e os media estavam longe dos tempos da globalização) e por Portugal ser um país sem o poder dos EUA ou da Alemanha, a “Mar Verde” teve um tratamento diferente.

Muitos anos decorridos, virada a página sobre a guerra na Guiné e dos acontecimentos que lhe sucederam na Metrópole, no rescaldo da revolução dos cravos, o então já marechal Spínola, num cartão enviado a 14 de Abril de 1991, deixa um rasgado elogio a Alpoim Calvão:

«Meu Caro Alpoim:Agradeço-lhe particularmente sensibilizado o seu cartão amigo de 11 de Abril, que sem dúvida foi o que mais fundo tocou o coração de velho militar e antigo combatente. Isto por partir de quem para mim – e sempre o proclamei alto e bom som – foi o primeiro entre todos os oficiais condecorados com a Torre Espada que tive o privilégio de comandar. Termino com um abraço muito amigo do seu velho Comandante-chefe da Guiné que muito admira as suas ímpares qualidades e virtudes militares.António de Spínola»

Sobre o comandante Calvão escreveram-se nos jornais artigos dos mais diversos e a sua actuação no Teatro de Operações de África foi estudada nas academias militares, tanto em Portugal como no estrangeiro. Classificaram-no como um herói, mas, ape-sar de todas as loas tributadas por quantos o admiravam e dos ataques lançados pelos que ficaram invejosos do seu natural as-cendente junto da hierarquia militar, o oficial mais condecorado da Armada, ainda que ufano do seu passado, manteve a postura de sempre, orgulhosa mas simples, colocando os valores em que acreditava acima de tudo. Nunca temeu os ataques dos seus ad-versários, nem se deixou deslumbrar pelas luzes da ribalta.

.../...Muitos anos decorridos, um académico (Dr. José Hugo Henriques Marques

– 3/Out.º/2002) que então elaborava uma dissertação de mestrado sobre a figura do Herói Português em África, pediu àquele que to-mava como modelo de herói, que lhe desse um breve depoimento sobre os homens que conhecera e que se bateram nas províncias ultramarinas pela bandeira portuguesa: «Sei que o pedido é ousado, mas quem melhor do que o maior dos heróis dessa guerra pode falar deles? Porque vós fostes para mim como para muitos outros, o maior de todos.»

Alpoim Calvão satisfaz tão simpática solicitação e envia-lhe um texto que retrata bem o seu pensamento:

«Heroísmo

Uma das descrições de Heroísmo que mais me impressionou foi a do poema de Victor Hugo que começa:

“Mon pére, ce héros au sourire si doux avait un cheval qu’il aimait entre tous!”

Narrava a acção do pai, general de Napoleão, que ao atravessar, acompanhado pela ordenança, um campo de batalha, em Espa-nha, juncado de corpos, avista um castelhano moribundo que, em voz entrecortada, pede de beber. O General Hugo dá ordem ao impedido para estender o cantil ao ferido e este, “un’espèce de maure”, ao ser soerguido nos braços do soldado francês, reco-nhece um oficial napoleónico e imediatamente dispara uma pis-tola sobre ele, gritando “caramba”! O General, milagrosamente ileso, apruma-se no cavalo e diz à ordenança, que se preparava para matar o ferido: “Dá-lhe de beber na mesma.” Esta espécie de heroísmo altruísta é, como todas as outras formas, uma supe-ração de si mesmo. E foi este “ir mais além” de limites que se su-punham intransponíveis, que pude várias vezes presenciar entre os soldados e marinheiros portugueses, combatentes de África no período de 1961-1974. Poderia recordar feitos mais especta-culares, alguma arrancada de peito descoberto para resolver uma situação táctica difícil, acudir a um camarada ferido e em risco de captura; a serena energia com que se enfrenta um violento ata-que inimigo, sem recuar um palmo, sem mais perturbações que um ligeiro enrugar da face, a esconder súbita secura da garganta ou o nó do estômago que teima em não desatar.

Prefiro contudo lembrar-me do heroísmo quase quotidiano das noites mal dormidas e de sobressalto permanente; dos desem-barques às duas da manhã, directamente para os ramos do tarrafo, avançando às apalpadelas e em silêncio, nervos tensos como cordas de guitarra, o suor do clima misturado com o suor do medo; dos bivaques improvisados sem lume e sem luz, bichanan-do ordens e indicações, verrumando o escuro com olhos ansio-sos, auscultando os silêncios, interrogando as sombras, sofren-do o implacável ataque dos mosquitos. Relembrar a emoção do contacto com o adversário, os tiros e as explosões, a adrenalina correndo solta nas veias, a antecipação e a superação do medo da morte, o gemer dos feridos, o enigma dos cadáveres e outra vez o silêncio, a noite, o escuro, o desconhecido.

Tudo isto dia a dia, semana a semana, mês a mês.

Sólidos, rústicos, bravos, humanos.

Todos com três metros de altura.

Alpoim Calvão6.12.02»

Nota do Editor: Estes textos, sobre a Operação Mar Verde” são extratos livres da responsabilidade da “edição”, extraídos do livro “Alpoim Calvão – Honra e Dever” - uma quase biografia” (da Editora Caminhos Romanos - 1.ª edição - Outubro de 2012) da autoria de Rui Hortelão, Sanches Baêna e Abel Melo e Sousa (para nós, os Amigos, “O Bellini”) e não incluem pés de página ou a citação de documentos. Algumas das fotos foram uma cortesia da revista “Sábado” e do seu Director, Rui Hortelão, a quem se agradece a disponibilidade para nos ajudar.

Grupo de prisioneiros libertados em Conakry durante a operação “Mar Verde”, 1970

Militares portugueses prisioneiros em Conakry, 1970

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António Bernardino Apolónio Piteira (1947-1973), natural de Arraiolos, único oficial da Reserva Naval morto em combate durante a guerra em África, foi homenageado pelos seus

camaradas que com ele iniciaram a caminhada na Marinha, em 18 de Fevereiro de 1971.

Promovido a Aspirante FZ RN em 13 de Outubro de 1971, após ter frequentado o curso de fuzileiro foi destacado para Angola, onde chegou a 18 de Setembro do ano seguinte, com o posto de STEN, assumindo o comando do 3.º Pelotão da Companhia N.º 1 de Fuzileiros.

Encontrou a morte no dia 2 de Junho de 1973, integrado numa coluna de viaturas do Destacamento do Zambeze em missão de serviço à Lumbala, fruto de uma emboscada inimiga ocorrida na Picada entre Lumbala e Chilombo, a cerca de 10 km desta última localidade.

A jornada de homenagem a este nosso querido camarada iniciou--se com uma sessão solene na Câmara Municipal de Arraiolos, presidida pela respectiva Presidente, Dr.ª Sílvia Pinto. O nosso ca-marada, Nuno Santos Pereira, em representação do 18.º CFORN, teceu considerações sobre as razões desta justa iniciativa e o perfil humano do homenageado, agradecendo a prestimosa co-laboração da autarquia. Interveio igualmente o Presidente da

Assembleia Municipal, amigo e seu companheiro de escola que, de forma encomiástica, teceu rasgados elogios ao seu carácter e humanismo. Por fim, interveio a Senhora Presidente que enalte-cendo a iniciativa em boa hora tomada pela classe de fuzileiros do 18.º CFORN, publicitou que a breve trecho iria estar patente no Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos (CITA) uma exposição alusiva ao nosso camarada Piteira.

De seguida oferecemos à autarquia, na pessoa da sua Presidente, o espólio de Marinha do nosso camarada, em estrutura acrílica, composto por boné, cordão de fuzileiro, galões de subtenente e a sua fotografia sobre base cerâmica.

Seguiu-se uma tocante cerimónia com descerramento de uma lápide junto à placa da rua em seu nome, sita na Ilha do Castelo, evento partilhado por larga fatia da população local que, assim se quis associar e testemunhar o sentido apreço que nutre por uma figura muito querida da sua terra.

Neste enquadramento, tive oportunidade de fazer a seguinte in-tervenção, em sua memória:

A 18 de Fevereiro deste ano, com-pletaram-se 43 anos da nossa in-tegração no 18.º CFORN e a 2 de Junho passado rememoramos o 41.º aniversário da morte trágica e cobarde do nosso camarada e ami-go ANTÓNIO BERNARDINO APOLÓ-NIO PITEIRA, em Angola.

É com profunda emoção e inques-tionável pesar que pisamos esta terra escura, queimada pelo sol e

germinada com o suor que advém do trabalho árduo dos que tei-mosamente aqui ficam, resistindo ao flagelo da emigração que, do mesmo passo que desenraíza as pessoas, torna mais tristes aqueles que as vêm partir, sem garantia de regresso.

O nosso Piteira era, perante nós, um porta-estandarte do seu Alentejo e, particularmente de Arraiolos. Não apenas pela pro-núncia castiça, mas também pelo temperamento e idiossincrasia. O Piteirinha tinha em cada um dos presentes um amigo. O ar tranquilo, a face trigueira donde despontava um constante sorriso sereno, a bonomia do seu comportamento, quase que nos obriga-vam a gostar dele. E como dele gostávamos!

Alguém disse que “a memória é o espelho onde observamos os ausentes”. Não é seguramente o caso. O Piteira é o ausente mais presente de todos. Está constantemente no nosso seio, como in-sofismavelmente o demonstramos ainda no último convívio, onde lhe foi reservado lugar cativo que testemunhará, de forma inde-lével, a sua “presença” em todas as nossas iniciativas futuras.

Daí que, nada nos apague da memória esses tempos, por isso estamos aqui, na sua terra natal, na sua RUA, a relembrá-lo e a prestar-lhe uma homenagem do coração, simples como evento, mas carregada de significado para todos nós que continuamos a vê-lo, não apenas como camarada, mas essencialmente como AMIGO que o decorrer dos tempos nunca fará esquecer.

Ao camarada STEN António PiteiraHomenagem da Classe de Fuzileiros do 18.º CFORN

Arraiolos 20 de Setembro de 2014

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Olhemo-nos em redor e observemos como foi substancialmente ultrapassado o quorum que legitima e dignifica esta assembleia. E não necessitamos de ajudas de custo ou senhas de presença para dizermos PRESENTE. O pecúlio arrecadado foi o privilégio de dele termos sido camaradas e amigos. Por isso, repito, estamos aqui. Sem embargo de sacrifícios e constrangimentos. De corpo e alma bem quentes como esta terra bendita, cujo ventre pariu um cidadão exemplar.

Daí que, em uníssono, queiramos honrar a sua memória.

E para terminar, permitam-me uma curta citação do que escrevi aquando da passagem dos 30 anos da sua morte, ou seja há 11 anos:

“A relação que mantive com o Piteira foi sempre muito próxima, quiçá potenciada pela minha extroversão de Homem do Norte que casava muito bem com a calma e fina ironia deste alentejano dos sete costados. Andávamos quase sempre juntos, mesmo nas muitas deslocações a Lisboa para desanuviar e combater o stresse, que acabavam quase sempre em bate-papo futebolísti-co numa cervejaria do Terreiro do Paço, chamada O Caracol, as-sim apodada pela fama dos característicos gastrópodes em cuja degustação o Piteirinha me iniciara. Hoje recordo com saudade aqueles momentos únicos antes de tomarmos a Vedeta da meia--noite ou da uma que nos levaria à Escola Naval.

O Piteirinha não era um mero camarada, era um amigo. Raramen-te levantava a voz ou se zangava, mas quando tal acontecia lá vinha a sua característica expressão: seus maganos!

Foi um privilégio conhecê-lo e usufruir da oportunidade de com ele privar e me tornar amigo. Tinha muita vontade de viver e o destino pregou-lhe uma partida. Este Mundo louco tem destas coisas.

Até sempre camarada e amigo. Um dia vamo-nos encontrar e re-tomar as nossas conversas estupidamente interrompidas.”

E concluo: Até já, nosso irmão!

Do programa constava ainda uma romagem ao cemitério onde foi depositada uma lápide na sua sepultura, do mesmo passo que se observou um minuto de silêncio. Em seguida, o camarada António Nascimento, que o acompanhou em Angola, fez uma breve dis-sertação sobre os acontecimentos daquele fatídico dia 2 de Junho de 1973, em que o nosso querido Piteira foi brutalmente morto.

Refira-se ainda que o espólio oferecido, bem como a intervenção feita na rua em seu nome, integram a exposição que, como era expectável, foi aberta ao público a partir de meados de Outubro do ano passado.

É devida ainda uma palavra de apreço à Câmara Municipal de Arraiolos, na pessoa da sua Presidente, pelo apoio, presença e in-tervenção activa nos diversos eventos constantes da homenagem ao nosso camarada.

Como é costume, seguiu-se um almoço de confraternização no Hotel da Ameira, junto a Montemor-o-Novo, onde reinou a amiza-de e uma incontida felicidade de podermos, mais uma vez, estar juntos a reviver momentos muito significativos das nossas vidas.

No final da jornada invadiu-nos um sentimento de dever cum-prido. A nobreza de carácter do nosso camarada e amigo Piteira clamava por esta iniciativa. Desde os primeiros tempos do seu desaparecimento que pairava no grupo a ideia de uma homena-gem na terra que o viu nascer. Ao levarmo-la a cabo, sentimo-nos mais felizes e em paz com as nossas consciências. Aconteceu num dia de sol radioso, particularmente bonito, que nos fez tê-lo por perto e revivenciar, com redobrada emoção, momentos que a lonjura do tempo nunca apagará das nossas memórias. Um dia que nos tornou mais coesos e solidários. Enfim, um dia que nos ajudou a compreender que estes Encontros, muito para além da confraternização lúdica e fraterna, traduzem um sentimento de missão que o espirito de Marinha ensinou a cultivar.

Adelino CoutoSóc. Orig. n.º 2382

2.º TEN FZ RN

Nota do Editor: Entende-se estranho que nem a Marinha, nem a AORN, nem a AFZ tenham sido convidadas a participar, tratando-se do único Oficial da Armada (fuzileiro e da Reserva Naval) morto em combate na Guerra do Ultramar (1961/74) ou, tendo-o sido (a AFZ não o foi com certeza), não se tivessem feito representar, a bom nível, nesta cerimónia, mais que merecida, ao António Piteira.

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contadores de histórias

38 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Dia 17 de Janeiro de 2015. Associação de Fuzileiros. Sala do restaurante.

São 18h. Devemos começar às 18h...

Ainda há abraços e beijos no encontro do público. Tantos! A sala está cheia.

Uma voz de comando põe-nos sentados.

É assim a disciplina militar.

Estamos no segundo episódio de “Conta-dores de Histórias”. Faz-se silêncio.

E eu mergulho, como boa aprendiza de fu-zileiro. Mergulho nas palavras da memória que estes homens e esta senhora (sim, uma mulher finalmente!) vêm trazendo à nossa expectativa.

Viajo numa Ponte Aérea de Nova Lisboa para o Continente, através da coragem de um Chefe que me põe no avião.

Viajo através dos aerogramas e cartas que me chegam através das palavras emo-cionais das notícias em tempos de guer-ra; viajo colada à dedicação aos animais,

sempre substitutos da dedicação aos humanos que não estão connosco para acarinhar.

Viajo “Para além do Marão”, serpenteando serras com um olhar infantil ingenuamen-te maravilhado.

Viajo pela fúria e raiva de uma “vingança” causada pela morte, perda e derrota de

um dos lados da guerra.

Viajo poeticamente pela cegueira de um homem que não se deixou ven-cer, usando todos os outros sentidos.

Viajo pela diverti-da imagem de um marinheiro Picapau que desafiou as chefias com o seu imenso nariz; viajo pelo que “parece

mas não é”, com a memória de um Garrett feito de postiços.

A minha viagem é a viagem de todos que ali estão, às vezes já impacientemente sentados, na expectativa de um jantar que tarda.

Mas – como eu – gostam da música e das palavras cantadas que, entre cada his-tória e a propósito dela, uma equipe de artistas vai executando.

É esta a reportagem. Mas... não só.

Embalados pela mágica deste momento de duas horas, há já alguns outros que gostariam de contar as suas histórias – dizem. Mas como?

É simples: escrevam com o coração se não souberem escrever literariamente. Estou convosco para vos ajudar a trazer do passado para o presente vivências que não são só de guerra.

Senão, vejam, leiam este pequeno texto de um combatente em terra de Moçambi-que, para a mulher que amava.

Em jeito de reportagem... e não só

Laurinda Rodrigues

“Anda!”

Vamos casar uma vez mais! Vamos brincar à vida e ao amor!

Vem! Que eu farei da tua vida um caleidoscópio que é um bocado de cartão e vidro com o mundo dentro.

Vem! Que te libertarei da própria liberdade e, depois, irei para o meu la-boratório criar o vírus das pérolas para fazer um colar monstruosamente gigante para o teu colo de menina.

Vem! Que, quando estiveres doente, te darei quinze gotas de lágrimas (que guardarei daquelas noites em que, de tanto frio, nada mais há a fazer senão pensar em ti e chorar), com uma colher de açúcar do meu sangue.

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contadores de histórias

39O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Vem! Que eu farei narcoanálise para que os outros digam: o gajo tem o soro da verdade.

Vem! Que eu farei a antítese da narcoanálise para que os outros digam: o gajo tem o soro da mentira.

Vem! Que te levarei ao Rossio (os barcos de manhã) onde te lerei Shakespeare (mesmo monotonamente que mais não é preciso) e, depois, subiremos o Chiado tranquilamente, olhando-vendo as gravatas côr de duzentos escudos.

E iremos pela autoestrada, com o nosso bólide com lugar e meio (três quartos para cada um) com motor de hidrogénio muitíssimo sólido, a 300 e muitos ou mesmo 400 kms/hora, a Vila Franca de Xira, comer um frango assado, bem passado.

Vem, vem meu amor! Vem casar-te uma vez mais, que Zorba será, junto de mim, um suicida, acabado misantropo.

Vem! Que, quando eu entrar em casa a horas certas, a pensar no trabalho de amanhã, basta esperares por mim no sofá da sala, um filho de cada lado, no corpo uma blusa de mangas compridas (com gola e sem decote) e uma saia rodada por baixo do joelho.

Basta entregares-me o caleidoscópio e, entre o polegar e o indicador da minha mão direita, um a um, os botões da tua casta blusa e o fecho éclair da tua saia, será realmente um relâmpago...” (HRS. Norte de Moçambique)

O meu desafio, no privilégio de ter sido aceite associada e de estar convosco nesta guerra de afetos e emoções, tem a ver com a lonjura do mar, que é masculino mas interage permanentemente com as marés (que são femininas).

Por isso, aqui vos deixo este soneto que vos é dedicado a todos, homens/filhos de qualquer idade.

Nota do Editor: Pela 2.ª vez na história de “O Desembar-que” uma Mulher escreve. E bem.

Isto também é um acontecimento que merece ser registado.

Só se espera que, desta vez, a assiduidade seja permanente.

“Quem sou eu?”

Olhando tanta gente à minha volta,pergunto: quem sou eu? Que faço aqui?Sou apenas um filho que nasceude um ventre que foi meu e que perdi.

Todos temos a ilha na memóriaonde dançamos, numa água quente,primeiras sensações, primeira história,de querer ficar na ilha eternamente.

Depois vem o vazio de tanto nada:a dúvida no olhar, boca calada...E já não pulsa mais a vibração!

Somos todos iguais nesse vazio:temos medo do medo e temos frioao deixarmos, na ilha, o coração.

Laurinda RodriguesAssoc. Aderente n.º 2252

Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt

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delegações

40 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Na campanha de recolha de bens alimentares para o Ban-co Alimentar Contra a Fome, realizada no passado dia 1 de Dezembro, a Delegação de Fuzileiros do Algarve colaborou

como voluntária.

Esteve presente nessa campanha com duas equipas (uma a Bar-lavento e outra a Sotavento algarvio) nomeadamente, em Porti-mão e Faro, como já vem sendo hábito, participação que foi elo-giada pela grande solidariedade dos fuzileiros e considerada, pela organização, de grande valia.

É justo destacar aqui a disponibilidade dos camaradas envolvidos que com algum sacrifício pessoal e familiar pretendem sempre demonstrar aos outros e a si próprios que os Fuzileiros continuam a praticar o seu espirito de entre ajuda, sobretudo em prol dos mais carenciados, cuja crise atual deixa mais vulneráveis.

A AFZ deu assim o seu contributo na recolha das 2.325 tonela-das de alimentos na campanha realizada em 1.995 superfícies comercias e com a colaboração de cerca de 42.000 voluntários a nível nacional. Os Fuzileiros nunca deixam ninguém para trás.

Dia 11 de dezembro passado, Portimão assinalou o 90.º Aniversário da sua elevação a cidade. A Dele-gação de AFZ do Algarve, convidada para a efemé-

ride, fez-se representar pela sua Direcção.

A significativa cerimónia teve lugar, pelas 9h00 horas, em frente do edifício da Câmara Municipal de Porti-mão e iniciou-se, oficialmente, com o hastear da ban-deira nacional.

Presentes estiveram, também, as forças vivas da ci-dade das quais se destacam a Policia de Segurança Pública e, pelo colorido que deram ao evento, a Socie-dade Filarmónica Portimonense e a Fanfarra da Asso-ciação de Bombeiros Voluntários de Portimão.

A Delegação da Associação Nacional de Fuzileiros foi particularmente referenciada pelo seu aprumo.

Delegação do AlgarveBanco Alimentar contra a Fome

90.º Aniversárioda Cidade de Portimão

Equipa de Faro Equipa de Portimão

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RECOMENDAÇÕES/INFORMAÇÕES/PEDIDOS da DirecçãoEndereços Electrónicos

A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (email) o favor de os remeterem ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a natureza de constantes e permanentes. É também importante que os sócios mantenham actualizados os seus contactos, as suas moradas, telefones e telemóveis. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados.

Documentos de despesa com saúdeA Associação de Fuzileiros, através do seu Secretariado Nacional, disponibiliza aos seus associados o serviço de recepção e encaminhamento, para os serviços competentes, dos documentos de despesas com saúde.

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delegações

41O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

No passado dia 20 de Dezembro 2014 realizou-se nas insta-lações do Clube Naval de Portimão (cedidas à Delegação de Fuzileiros do Algarve para sede do seu Núcleo) o IV Jantar de

Natal da Delegação que contou, este ano, com a presença de 89 camaradas, familiares e amigos.

O evento começou ao fim da tarde com o tradicional “porto de honra” sendo apre-sentado aos Sócios o espaço cedido pelo Clube Naval para divulgação desta Delega-ção e da Associação Nacional de Fuzileiros.

Este Natal foi, pela primeira vez, festeja-do no formato porto-de-honra/jantar numa tentativa de melhor adequar a festa e de proporcionar, sobretudo às famílias e aos mais pequenos, melhores oportunidade de convivência.

Tudo decorreu de forma singela mas muito emotiva, sem grandes protocolos mas com a dignidade, o espírito de camaradagem, a disciplina e aprumo que são apanágio dos fuzileiros.

Juntaram-se “filhos da escola” de várias gerações que puderam contar as suas his-tórias e acamaradar noite fora.

Por altura dos tradicionais discursos, os elementos da Direcção a todos saudaram,

com destaque especial para o Presidente da Direcção, a quem de-sejaram (porque lamentavelmente, internado no Hospital) as suas rápidas melhoras, com a certeza de que ainda muito tem a fazer pela Delegação de Fuzileiro do Algarve mas, sobretudo, pelos ou-tros e por si próprio.

Jantar de Natal

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delegações

42 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Delegação do Douro Litoral

4.º Aniversário

À semelhança dos anos anteriores, realizou-se no dia 6 de Dezembro de 2014, o tradicional Almoço-convívio de Natal e 4.º Aniversário da agora Delegação de Fuzileiros do Douro

Litoral (antiga Delegação de Fuzileiros de Gaia), organizado pela sua Direcção, marcando presença no evento 138 pessoas, sendo de salientar que cerca de 90 eram Fuzileiros de diversas gera-ções.

A concentração decorreu como habitualmente junto da sede da Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral em Canelas – Vila Nova de Gaia, seguida de um breve convívio e recepção dos convidados com um Porto de Honra.

Posteriormente rumou-se até ao Comando de Zona Marítima do Norte, onde foi oferecido um simpático pequeno-almoço e se as-sistiu a uma apresentação interactiva sobre as suas competên-cias e área de responsabilidade, tendo por orador o 2.º Coman-dante da ZMN (CTEN Pedro Castro). Conheceram-se parte das suas novas instalações, nomeadamente, um pavilhão multiusos onde se guarda diverso equipamento, meios terrestres, anfíbios e de combate à poluição. A visita finalizou com a tradicional “foto de família” junto à Porta de Armas.

De seguida, a comitiva procedeu a pé a uma visita ao Farol de Leça da Palmeira, também conhecido por Farol da Boa Nova, cuja torre tem uma altura de 46 metros e onde, quem optou por subir ao topo, pôde apreciar a excelente vista.

Por volta das 13h30, o grupo deslocou-se para o “Espaço Leça Marina”, também situado em Leça da Palmeira – Matosinhos, para o tradicional Almoço-convívio de Natal e 4.º Aniversário da Delegação, tendo-se o mesmo iniciado com um sempre agradá-vel aperitivo ao ar livre junto da entrada do restaurante.

O FZ Henrique Mendes, na qualidade de Presidente da Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral, saudou os convidados, camaradas e amigos com as boas-vindas; seguidamente fez-se um minuto de silêncio em memória dos camaradas já falecidos, finalizado com o “grito de guerra dos Fuzileiros” e o Hino da Associação Nacional de Fuzileiros.

Não faltaram os cafés, respectivos digestivos e, os merecidos parabéns à Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral. Entretanto decorreu a distribuição de lembranças do evento aos convidados, tendo-se protelado o convívio até ao final da tarde.

À imagem dos anos anteriores, não faltou o Fuzileiro “fotógrafo de serviço” – FZE Mário Manso que facultou, posteriormente, os seus registos fotográficos em redes sociais. O evento teve cober-tura jornalística por parte de dois jovens repórteres da Liga de Combatentes e o músico Bruno Oliveira animou o convívio.

De salientar que discursaram parte dos convidados presentes na mesa de tribuna:

• Almirante Sousa Pereira, Comandante do Corpo de Fuzileiros;

• Comandante José Ruivo, Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros;

• Comandante Martins dos Santos, Comandante da Zona Maríti-ma do Norte e dos Portos de Douro e Leixões;

• Dr. Delfim Sousa, Vereador da Cultura e Associativismo Cultural da Câmara Municipal de Gaia;

• FZ Henrique Mendes, Presidente da Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral.

Rodrigues MoraisSóc. Aderente n.º 2082

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delegações

43O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Almoço de Natal e 4.º Aniversário da Delegação do Douro LitoralNo passado dia 6 de Dezembro a nossa Delegação do Douro Litoral organizou o seu programa de comemorações com o cuidado que sempre coloca nos seus eventos.

Com a presença dos Presidente e de um dos Vice-Presidentes da Direcção Nacional, Cte. José Ruivo e Dr. Marques Pinto ocorreu mais um dia em “família”, com agradável convívio muito concorrido, juntando cerca de cem pessoas, fuzileiros e familiares e ami-gos, num almoço muito bem servido.

Com a concentração na sede da Delegação, em Vila Nova de Gaia, dali partiu a caravana para o Porto onde se visitaram as instala-ções da Zona Marítima do Norte, sob o comando do CMG Martins dos Santos e o Farol de Leça.

Ao almoço, a Delegação contou, com a presença de várias entidades, referenciadas no discurso do respectivo Presidente, Henrique Mendes, das quais se destacam: o Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Gaia, Dr. Delfim de Sousa, em representação do Presidente; o Comandante do Corpo de Fuzileiros, CALM Sousa Pereira; e o já referido Comandante da Zona Marítima do Norte, CMG Martins dos Santos.

A Delegação do Douro Litoral sentiu-se muito honrada por ter contado com os seus ilustres convidados registando-se o apreço das entidades presentes nos discursos que proferiram.

O Presidente da Delegação afirmou no seu discurso:

«Digníssimos convidados, camaradas e amigos, minhas senhoras:

É com muita honra e grato prazer que saúdo e dou as boas vindas a todos os presentes, neste nosso 4.º Aniversário.

Em 1.º lugar quero agradecer à minha família que sempre me apoiou e me deu forças, em especial à minha Mulher.

Mas cumpre-me agradecer também, a presença de todos, mas em especial:

Do Comandante do Corpo de Fuzileiros, Sua Ex.ª o Contra-Almirante Luís Carlos de Sousa Pereira que pela primeira vez nos honra com a sua digníssima presença. Obrigado Sr. Almirante por ter enriquecido este evento;

Do Presidente da Associação Fuzileiros, Capitão Mar Guerra FZE, José Ruivo e da restante Direcção Nacional e dizer-lhes que a Delegação de Fuzileiros do Douro Litoral estará sempre disponível. Quando e onde quer que nos chamem “estaremos”: é este o nosso lema.

Uma palavra de apreço e também de agradecimento ao Sr. Comandante Zona Marítima do Norte, Capitão-de-Mar-e-Guerra, Martins dos Santos, por todo o seu empenho, esforço, cooperação e dedicação. V. Ex.ª têm sido incansável tendo a sua ajuda, para nós, um significado muito importante. Da nossa parte poderá o Sr. Comandante contar inteiramente com a nossa Delegação do Douro Litoral.

Agradecemos à Câmara Municipal de Gaia, na pessoa do Sr. Vereador da Cultura Dr. Delfim de Sousa, a sua presença que tanto nos honra e quero dizer-lhe que esta cidade poderà contar com os Fuzileiros e com a nossa Delegação sempre e quando for necessária a nossa participação.

Pretendo agradecer tambémas presenças e a colaboração:

Do 2.º Comandante Zona Marítima do Norte, Capitão Tenente Pedro Castro;

Do Oficial Adjunto do Capitão do Porto de Leixões, Capitão-de-Fragata Paulo Jorge;

Do Chefe do Farol de Leça, Faroleiro Chefe Rogério da Cruz;

Do 2.º Comandante Regional Norte da Policia Marítima, Jorge Gonçalves

Do 2.º Comandante Local da Policia Marítima de Leixões, Sarg. Chefe Malveiro,

A vossa presença muito nos orgulha.

E um agradecimento muito especial à Delegação de Fuzileiros de Juromenha/Elvas, na pessoa do seu Presidente, Licínio Morgado pela Vossa cumplicidade. Para todos vós um abraço amigo.

O meu obrigado, também ao Dr. Rodrigues Morais.

Caros Camaradas e amigos:

A nossa Delegação do Douro Litoral abriu novos horizontes. Está maior e mais abrangente porque inclui três distritos: Porto, Aveiro, e Viseu e vinte três concelhos que, tenham paciência, mas vou citar pelo gosto que isso nos dá a todos: Amarante, Baião, Felgueiras, Gondomar, Lousada, Maia, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paços de Ferreira, Paredes, Penafiel, Porto, Póvoa de Varzim, Santo Tirso, Valongo, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Arouca, Espinho, Santa Maria da Feira, Castelo de Paiva, Cinfães e Resende.

Foi com muito orgulho que aceitamos este desafio e é com alegria e responsabilidade que o fazemos.

Deixo-vos aqui, também, mais um desafio:

Que, pelo menos de dois em dois meses, se organize um convívio em cada concelho para assim reavivarmos a nossa segunda “Família”.

Termino afirmando que a nossa Delegação é a vossa Delegação e que estaremos sempre presente para representar a Associação Nacional e os Fuzileiros, onde formos solicitados.

«Fuzileiro uma vez fuzileiro para sempre»

Henrique MendesSóc. Orig. n.º 1089

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almoço de natal

44 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

No passado dia 13 de Dezembro, a costumada manifestação de solidariedade da “família dos fuzileiros” teve novamente lugar. E nem a chuva, nem a crise impediram – que 311

sócios, camaradas e amigos, com as suas mulheres e os seus filhos e netos – de se juntarem.

O colorido que as Senhoras, as bonitas jovens e a ternura das crianças sempre emprestam às nossas Festas de Natal são já timbre que as caracterizam e lhe dão um particular e emocional ambiente que este espírito do fuzileiro não deixa morrer. É que, mesmo os que se não apresentam por razões óbvias – a quem sempre homenageamos com o nosso minuto de silêncio – ou vá se lá saber porquê, estão sempre presentes. Porque são lembra-dos e falados e repercutem as muitas histórias de todos nós, o que os obriga a, mesmo que não estejam, porque não querem ou porque não podem, estejam mesmo assim connosco.

Este ano, face ao receio de que a “Quinta da Alegria” fosse pe-quena para albergar toda a gente – como bons portugueses que somos só marcamos presença dois ou três dias antes, quando não acontece não dizermos nada e aparecermos mesmo em cima da hora (aqui estamos nós… e agora arranjem-se) – rumámos a outras paragens com um nome muito sofisticado e pomposo, nada mais, nada menos do que “Lagus Resort”. Que desilusão!

Mas, como quem faz o ambiente somos nós, ninguém se queixou!

Mas como os Fuzileiros são exigentes consigo próprios, “o Destacamento de Fuzos” que ora conduz os destinos da AFZ, logo se pronunciou proporcionando que, em reunião subsequente o Presidente, sempre cordato e moderado comentasse “que, apesar de alguns problemas, designadamente, com o sistema de som, a confraternização entre os convivas, foi muito saudável tendo havido boas referências por parte dos actual e anterior Comandantes do CF, assim como do Alm. Leiria Pinto, Presidente da nossa Assembleia-Geral”. O que não impediu que um dos Vice-Presidentes Leão Seabra, deixasse exaradas as seguintes observações: “Ouvidos alguns comentários… sou levado a concluir que o evento decorreu com a merecida dignidade, tendo sido alcançados os objectivos propostos. Porém, os WC´s das Senhoras tinham grandes limitações (apenas uma das três sanitas estava funcional!); o restaurante não disponibilizou quando foi necessário o equipamento de som que só funcionou, mas com muitas deficiências, por insistência nossa, já que nem sequer havia microfone, uma parte das colunas da sala não funcionaram e as colunas principais estavam situadas em local desadequado, ou seja, tudo foi “arranjado” “em cima do joelho”; a qualidade da ementa ficou muito aquém do esperado e, garantidamente, do que estamos habituados”.

O Almoço de Natal de 2014Um dos grandes Acontecimentos do Ano

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almoço de natal

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E se este disse “mata” logo outro Vice-Presidente, Marques Pinto, disse “esfola” referindo que concordava, “na íntegra, com as observações feitas reforçando, a grave falha de som, concluindo que a AFZ não deverá organizar outro “Almoço de Natal” neste espaço”. E não é que estas intervenções tiveram a concordância de toda a Direcção.

Os Fuzileiros são assim. Emocionais, amigos, camaradas, “não deixam ninguém para trás”, mas sempre exigentes consigo pró-prios e com os outros. Mas nada disto retirou à festa a grandeza deste encontro e dos Natais de todos nós.

As presenças do antigo e do actual Comandantes do Corpo de Fuzileiros, Contra-Almirante Picciochi e Contra-Almirante Sousa Pereira e, particularmente, do nosso amigo e dos fuzileiros, Presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Sr. Carlos Humberto Pinheiro Palácios de Carvalho, nosso Sócio Honorário – para além de nos honrarem, constituíram a manifestação inequívoca de que estamos todos juntos e de que “fuzileiro uma vez, fuzileiro para sempre”.

As nossas Delegações, como sempre, estiveram presentes do Algarve, ao Douro Litoral e a Juromenha/Elvas.

No final, cantou-se o hino dos fuzileiros e logo se deu o grito, bem gritado, dos fuzos.

As imagens que publicamos (da autoria de Mário Manso) sem legendas, para não distinguirem ninguém são, por certo, os do-cumentos vivos da emotividade dos nossos Natais e, em especial deste, de 2014.

Marques PintoVice-Presidente da Direcção da AFZSóc. Orig. n.º 221

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convívios

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Tertúlia-Mor26 de Novembro de 2014

A Marinha continua a surpreender-me! Com efeito, por tudo quanto é órgão de comunicação ou rede social, cir-

culam diariamente desafios para convívios de “filhos da escola”, guarnições de na-vios, destacamentos, companhias, cursos, incorporações, etc., etc.

Desta vez surge um encontro que, noutros tempos ou noutras circunstâncias, pode-riamos chamar de “improvável”.

Mas não, na Marinha é coisa normal.

Trata-se nada mais, nada menos, de um almoço-convívio em que participaram os oficiais generais que tiveram a honra e pri-vilégio de comandar o Corpo de Fuzileiros e os sargentos-mor que, paralelamente, ti-veram a dita de, a seu nível, os assessorar nas funções de “Adjunto do Comandante”.

Como é sabido, actualmente, sargento--mor é o posto mais elevado da categoria de sargentos e, normalmente, desempe-nham funções de adjuntos do comando de grandes unidades como é o caso do Corpo de Fuzileiros.

Falando do que conheço, os que foram de-signados para estas importantes funções cumpriram com todo o brio profissional dando assim enorme prestígio à categoria que representam.Caldeiam o conhecimen-to técnico-militar com a experiência que lhes vem da “tarimba” e da liderança inata ou reforçada com conhecimentos adquiri-dos na respectiva escola de formação.

São um manancial de conhecimento e experiência que a Marinha utiliza com muito sucesso num modelo que, julgo, será para manter.

Desta feita, e como já vem sendo norma, o almoço-convívio teve lugar no Restau-rante da Associação de Fuzileiros, no dia 26 de Novembro de 2014 com a presença dos senhores almirantes Carvalho Abreu e Vargas de Matos e dos sargentos-mores Rodrigues, Pelado, Leal, Duarte, Guerreiro (actualmente em funções) e Marques.

Como também vem sendo da praxe neste almoço, houve um convidado.

Neste caso foi o autor destas linhas que aproveita a oportunidade para agradecer a distinta honra que sentiu em ter sido brin-dado com este convite. Muito obrigado!

E, foi no calor da agradável cavaqueira que este tipo de situações sempre propor-

ciona, que alguém teve a ideia de identifi-car o grupo com um nome tendo surgido então o que aqui dá título a esta crónica: “Tertúlia-Mor” que parece tão oportuno quanto apropriado. Mereceu geral con-senso e assim ficou.

Desde logo foi designado como secretário desta Tertúlia o SMOR Rodrigues de quem se espera trabalho árduo e profícuo.

Do acto aqui fica o registo, esperando que o número de elementos integrantes desta novel organização cresça e se continuem a reunir no mesmo local com a frequência desejável.

Benjamim CorreiaSóc. Orig. n.º 1351

Em 2005, após 37 anos ao serviço dos Fuzileiros e da Marinha, entendi que tinha chegado a hora de partir.

Sendo o Adjunto do CMDT do Corpo de Fuzileiros, o Exmo. Sr. Contra-Almirante Vargas de Matos tentou demover-me da minha decisão, não o conseguindo.

Porém, em conversa informal, disse-me:“Ó MOR, já que partes não seria de bom-tom, juntarmo-nos de vez em quando para be-bermos um copo e estarmos juntos?”

Respondi, então, em tom de brincadeira: “Mesmo sem ouvir o Mor

Marques que me antecedeu, e o Mor Pelado que foi o 1.º Adjunto da EF (a nossa Casa Mãe) e mesmo sem fazermos nenhuma acta a sugestão/proposta está aprovada por unanimidade”.

Assim, e após a nomeação para o cargo de Comandante do Cor-po de Fuzileiros do Contra-almirante Carvalho de Abreu, foi-lhe proposto pelo seu antecessor, Vice-Almirante Vargas de Matos, integrar este grupo de Fuzileiros da velha guarda, o que ele acei-tou, crendo eu que se terá sentido honrado.

O Contra-Almirante Carvalho de Abreu já teria sido tomado pela mística dos Fuzileiros, já se sentindo um dos nossos, mesmo sem

Ainda sobre a Tertúlia-Mor - A Sua Pequena História

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convívios

47O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

ter sido “castigado” na pista de lodo e, por isso, se disponibilizou a participar.

Nomearam-me “Vago Mestre” (magala, com o devido respeito) e, todos os anos, uma ou duas vezes, a partir de 2006, temo--nos reunido num qualquer restaurante, apenas para “estarmos juntos”.

Decidimos, então, integrar neste grupo os Adjuntos dos CMDT’S do Corpo de Fuzileiros nomeadamente, os SMORES: Duarte, Ma-tias, Leal, e Raposo (que por obra do destino já partiu) e, por últi-mo, o Guerreiro, ainda Adjunto em exercício.

Concordámos também, unanimemente claro, convidar para es-tes almoços uns Fuzileiros que achássemos com o carisma desta nossa 2.ª Família – sem querer desprestigiar ninguém – um Fuzi-leiro que connosco tivesse também servido esta grande e presti-giada Instituição, que reúne os Fuzileiros.

O último convidado foi o ilustre Capitão-de-Fragata Fuzileiro Ben-jamim Correia.

Foi então que, a 26 de Novembro de 2014, no último almoço/convívio na Associação de Fuzileiros, sob proposta de S. Exa o Vice-Almirante Carvalho de Abreu, se resolveu, como sempre por unanimidade, apelidar este grupo, que pensamos se irá alargando – e que para que fique para a posteridade – com o nome pomposo de “Tertúlia-Mor”.

Tratando-se de uma tertúlia restrita não é, contudo, fechada ten-do ficado assente que passássemos a convidar para a integrar, outros fuzileiros que se enquadrem neste nosso espírito.

Fuzileiro uma vez Fuzileiro para sempre.Leonel RodriguesSóc. Orig. n.º 2025

SMOR FZE

PROTOCOLOS SUBSCRITOS PELA AFZ(Com vantagens para os Sócios)

KéroCuidados Presta Serviços a idosos e Famílias

Open Smile Clínica Médica – Presta Serviços Médicos, inclui Méd. Dentista

Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos(ARDBA)

Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas

Grupo Desportivo e Recreativo Unidos da Recosta(GDRUR)

Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas

Editora Náutica Nacional, Lda.(ENN)

Editora de Capitais privados – Edita a Revista de Marinha e também livros

Manuel J. Monteiro & Cª, Lda(MJM)

Especializada na Comercialização de Electrodomésticos, representa as Marcas: Junex, Vaillant, Gorenje, Dito Sama, Gisowatt e Stiebel Eltron

Funerária Central Vila Chã 30% desconto em todos os serviços

Associação Nacional de Agentes de Segurança PrivadaANASP

Formação e Credenciação

Ariston Thermo GroupARISTON

Painéis solares e Bombas de calor, Termoacumuladores eléctricos, a gás e Esquentadores, Caldeiras a gás

Casa de Repouso São João de Deus Acolhimento em regime interno, possui dois estabelecimentos: Lagoa da Palha, Pinhal Novo e Cabeço Verde, Barreiro

Casa de Repouso Quinta da Relva Acolhimento de idosos, lar e cuidados continuados

MH Wellness Club Motricidade Humana

Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Santo André, Barreiro

Kangaroo Health Clube Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Quimiparque, Barreiro

GAMMA Grupo de Amigos do Museu de Marinha

Universidade LusófonaCOFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural – Lisboa e Porto 10% desconto nas propinas

Universidade Lusófona ISES – Instituto Superior de Segurança - Conferências

Funerária São Marçal 20% – Canha Montijo

SITAVA Parque Campismo – Brejo da Zimbreira, Vila Nova de Mil Fontes

Para mais pormenores, podem consultar o Site da AFZ, o Secretariado Nacional (Tel.: 212 060 079 –Telm.: 927 979 461) ou as nossas Delegações

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cadetes do mar

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9h00 – 12h30

A Formação iniciou-se com uma aula de Orientação Desportiva. Depois de uma breve revisão sobre a leitura de cartas topográfi-cas e manuseamento da bússola, pelo Senhor 1.º Tenente Pedro Dias, este informou os cadetes sobre o percurso individual de orientação que iriam percorrer e os cuidados a ter com a leitura da carta, para que assim pudessem encontrar os pontos referen-ciados no terreno (ponto de controle – balizas), que eles teriam de encontrar, seguindo uma ordem imposta por caminhos à sua escolha, em terreno desconhecido e no prazo de tempo estabe-lecido para a prova.

A partida foi efectuada, os alunos seguiram os diversos itinerários levando o seu cartão de controlo, que ia sendo picado ao longo dos pontos de controlo, de forma a que, no final do seu trajecto, obtivessem as marcas dos diferentes pontos. Esta prova foi rea-lizada com níveis diferentes, destinados aos cadetes do 1º. e 2.º anos, respectivamente.

No final, todos sentiram-se satisfeitos e realizados por, pela pri-meira vez, terem sido avaliados nos seus conhecimentos indivi-duais, sobre este tipo de prova.

14h00 – 17h00

Efectuaram-se as aulas teóricas e práticas da disciplina de Ce-rimonial Naval. Os cadetes adquiriram conhecimentos sobre as Honras e Salvas Pessoais, Distintivos Nacionais dos Navios de Guerra, dos locais reservados e em que condições são hasteados, o Jaque, a Flâmula e a Bandeira Nacional, assim como o horá-rio de içar e arriar da Bandeira Nacional quando os navios estão fundeados e ancorados e o cumprimento (saudação) entre navios quando se cruzam a navegar.

Seguiu-se uma aula de Ordem Unida efectuada na Parada da Es-cola Fuzileiros, com a execução de movimentos a pé firme e em marcha, bem como, as posições e movimentos do Cadete Porta--Guião e Flâmula.

Na disciplina de Comportamento Cívico/Comunidade Naval foram abordados temas relacionados com a Brigada Real de Marinha:

a sua História, ano da sua Constituição e onde se destacou. Foi dado a conhecer a relevância dos seus actos na Campanha do Mediterrâneo no auxilio à marinha britânica contra às forças francesas, no bloqueio à ilha de Malta, na transferência da Família Real para o Brasil,no cerco à capital Caiena (Guiana Francesa), o que levou à sua conquista e à Formação do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil.

Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros

2.ª Formação da Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros22 de Novembro de 2014

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cadetes do mar

49O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

8h30Recepção dos Cadetes na Estação Fluvial do Barreiro e transporte dos mesmos para a Escola de Fuzileiros.

9h00 – 12h30 A Formação iniciou-se com uma aula de Ciências militares, abor-dando um tema sobre: Carreira e Formação de Praças na Arma-da. Seguiu-se uma aula de Aptidão Física, com a aprendizagem de Técnicas de Defesa Pessoal, que recorre fundamentalmente às armas naturais do corpo humano, esta aula foi ministrada por um professor especializado em artes marcial.

12h30 – 13h30O almoço foi servido no refeitório da Escola de Fuzileiros.

14h00 – 17h00Realizou-se a formação dos Cadetes com aulas teóricas e práti-cas, na disciplina de Cerimonial Naval de Ordem Unida, efectuada na Parada da Escola de Fuzileiros, com a Espada, adquirindo as-sim os Cadetes conhecimentos da execução de movimentos a Pé firme e em marcha, das diversas posições com a Espada embai-nhada e desembainhada, do Cadete armado de Espada.Na disciplina de Comportamento Cívico/Comunidade Naval foram abordados temas relacionados com a 1.ª Guerra Mundial, a entra-da de Portugal no conflito, a participação da Marinha Portuguesa e seus Heróis neste conflito. A formação durante a manhã foi mi-nistrada por Formadores da AFZ e da EF e, durante a tarde, por Formadores da AFZ e CCM.

17h00Final das actividades e transporte dos Cadetes para a estação fluvial do Barreiro.

José TalhadasSóc. Orig. n.º 95

Comte UCMF

3.ª Formação da Unidade de Cadetes do Mar Fuzileiros

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eventos

50 O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Também no passado dia 18 de Ou-tubro do ano findo se comemorou o Centenário da I Guerra Mundial, na

freguesia da Igreja Nova, concelho de Ma-fra.

A cerimónia, organizada pelo nosso Só-cio Originário n.º 286, Domingos Janota, Presidente da Junta de Freguesia da Igreja Nova, para a qual a Associação de Fuzi-leiros é sempre convidada, decorreu junto

ao Monumento alusivo aquele aconteci-mento.

Esta comemoração contou com as pre-senças do Representante da Câmara Mu-nicipal de Mafra, de um Tenente-Coronel, representante da Liga dos Combatentes e de um Major, representante do Exército.

A Direcção Nacional da Associação de Fu-zileiros fez-se representar pelo seu Tesou-reiro e Secretário-Geral, Mário Gonçalves, marcando também presença um grupo de Sócios que expressamente se deslocou a Igreja Nova bem como vários fuzileiros e nossos sócios que residem próximo do local.

Na cerimónia, foi lido o discurso que o Pre-sidente da República proferiu dedicado à data e discursaram o Presidente da Junta de Freguesia, Domingos Janota e o repre-sentante do Exército.

Após a cerimónia propriamente dita, com início às 16h30 e fim às 17h30, foi servido um porto-de-honra.

Homenagem aos Antigos CombatentesIgreja Nova - Mafra

No passado dia 18 de Outubro de 2014, a Direcção da Associação Nacional de Fuzileiros fez-se representar na

cerimónia do 1.º Centenário da I Guerra Mundial (1914/18) pelo seu Vogal, SARG FZM António Couto.

A cerimónia, organizada pelo Núcleo do Seixal da Liga dos Combatentes, para que fomos, expressamente, convidados de-correu junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra.

O evento teve a prestar as respectivas honras uma Secção de Fuzileiros com cla-rim e a prece religiosa esteva a cargo do Capelão dos Fuzileiros, CTEN Licínio Luís.

1.º Centenário – I Grande GuerraLiga Combatentes – Núcleo Seixal

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obituário

51O DESEMBARQUE • n.º 20 • Março de 2015 • www.associacaodefuzileiros.pt

Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram

A Associação Nacional de Fuzileiros e a nossa Revista “O Desembarque” apresentam senti-das condolências à Sua Família, publicando-se a respectiva fotografia que corresponde à que encontrámos, com menor ou razoável qualidade, nos nossos ficheiros.

Este nosso Camarada e amigo conservar-se-á sempre entre nós neste Planeta e quando nos encontrarmos noutros Mundos.

José Manuel Alves dos Santos (1839/68 Cabo FZE)

Sócio n.º 2159 1/06/1948 a 29/01/2015

diversos

Novos SóciosNome do sócio N.º

António João da Conceição Moreira 2383

Mário João da Silva Meguê 2384

Vitorino Manuel Dora Pedro 2385

Rui Pedro Vargues Jesus 2386

Manuel Inácio Gonçalves 2387

Salustino Cortes Sobral 2388

Manuel Amado de Campos Melo 2389

Paulo Jorge Chagas Catarro 2390

Manuel da Cruz Rainho 2391

João Paulo dos Santos Rainho 2392

José Anjos Batista 2393

José Armando Cavalinho Sola 2394

José Luís Filipe dos Reis 2395

Francisco Manuel Ferreira Tavares 2396

Manuel António Palhas Janeiro 2397

Henrique Manuel Pais Fernandes 2398

Joaquim Felix Cosme 2399

Fernando Rodrigues Gonçalves 2400

Carlos António Guerreiro Coelho 2401

Manuel João Constantino Postiga 2402

Luís Carlos de Sousa Pereira 2403

Donativos à AFNome do sócio N.º Donativo

Manuel Correia Canastra 520 10,00 €

Carlos Garcia Bernardo 680 20,00 €

Fernando Pereira Dantas 1440 10,00 €

Manuel Correia 478 40,00 €

Euclides Araújo 920 20,00 €

Emanuel Sales 1925 40,00 €

António Esperança 479 20,00 €

Manuel Pimentel Moreira 2337 70,00 €

José Silva Luís 1627 5,00 €

DFE 13 Angola 65/67 – 80,00 €

Assinatura Anualda Revista

Nome do sócio N.º 2015

Vítor Porto 1706 10,00 €

Martinho dos Santos Alves 1837 15,00 €

Diamantino Rodrigues 1887 10,00 €

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