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1 CORPO EDITORIAL DA MOTRICIDADE Editor-chefe Editores Juniores Editores Associados Conselho Editorial Consultores: Prof. Doutor Victor Machado Reis (UTAD) Dr. Felipe José Aidar (UTAD, Portugal) Dr. André Carneiro (Furnorte-MG, Brasil) Prof. Doutor António José Silva (UTAD, Portugal) Prof. Doutor José Alberto Duarte (FADE-UP, Portugal) Prof. Doutor Ricardo Jacó Oliveira (UCB-DF Portugal) Prof. Doutor Jefferson Novaes (UFRJ-RJ, Portugal) Prof. Doutor José Vasconcelos Raposo (UTAD, Portugal) Prof. Doutor António Serôdio (UTAD, Portugal) Prof. Doutor Carlos Albuquerque (ESSV, Portugal) Prof. Doutor Estelio Martim Dantas (UCB-RJ, Portugal) Prof. Doutor Francisco Bessone Alves (FMH-UTL, Portugal) Prof. Doutor João Paulo Brito (ESDRM-IPS, Portugal) Prof. Doutor João Paulo Vilas-Boas (FADE-UP, Portugal) Prof. Doutor José Rodrigues (ESDRM, Portugal) Prof. Doutor Leandro Machado (FADE-UP, Portugal) Prof.ª Doutora Maria Dolores Monteiro (UTAD, Portugal) Prof. Doutor Manuel Sérgio (Instituto Piaget, Portugal) Prof. Doutor José Fernandes Filho (EEFD/UFRJ, Brasil) Prof. Doutor Rodolfo Benda (UFMG-MG, Brasil Prof. Doutor Paulo Dantas (UNIGRANRIO-RJ, Brasil) Prof. Doutor Tiago Barbosa (IPB, Bragança, Portugal) Mestre Jaime Tolentino (Funorte-MG, Brasil) Mestre Mário Marques (UPO, Espanha) Mestre António Moreira (ESDRM-IPS, Portugal) Dr.ª Ana Maria Almeida Torres (Hospital São Teotónio de Viseu, Portugal) Dr. José Ramos (Centro Nacional de Medicina Desportiva, Portugal) REVISTA MOTRICIDADE N.º 03 Revista Técnica e Científica da Fundação Técnica e Científica do Desporto Vol. 03 Julho’ 07

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1

CORPO EDITORIAL DA MOTRICIDADE

Editor-chefe

Editores Juniores

Editores Associados

Conselho Editorial

Consultores:

Prof. Doutor Victor Machado Reis (UTAD)

Dr. Felipe José Aidar (UTAD, Portugal)

Dr. André Carneiro (Furnorte-MG, Brasil)

Prof. Doutor António José Silva (UTAD, Portugal)

Prof. Doutor José Alberto Duarte (FADE-UP, Portugal)

Prof. Doutor Ricardo Jacó Oliveira (UCB-DF Portugal)

Prof. Doutor Jefferson Novaes (UFRJ-RJ, Portugal)

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Prof. Doutor Manuel Sérgio (Instituto Piaget, Portugal)

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Prof. Doutor Tiago Barbosa (IPB, Bragança, Portugal)

Mestre Jaime Tolentino (Funorte-MG, Brasil)

Mestre Mário Marques (UPO, Espanha)

Mestre António Moreira (ESDRM-IPS, Portugal)

Dr.ª Ana Maria Almeida Torres

(Hospital São Teotónio de Viseu, Portugal)

Dr. José Ramos

(Centro Nacional de Medicina Desportiva, Portugal)

REVISTAMOTRICIDADE N.º 03

Revista Técnica e Científicada Fundação Técnica e Científica do Desporto

Vol. 03 Julho’ 07

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resistir ao para-a-frentismo

3

{ EDITORIAL

{ INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA DO DESPORTO

{ 7Intensidade do negativismo e autoconfiança em jogadoresde futebol profissionais brasileiros {Vasconcelos-Raposo, J.; Coelho, E.; Mahl, A.; Fernandes, H.

{ 16A influência das orientações motivacionaisnas atitudes desportivas em aulas de Educação Física {Fernandes, H.; Vasconcelos-Raposo, J.; Moreira, M.; Costa, H.

{ 24Perfil psicológico e sua importância no rendimento em vela {Fernandes, H., Bombas, C.; Lázaro, J.; Vasconcelos-Raposo, J.

{ 33Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2004 {Bodas, A.; Lázaro, J.; Fernandes, H.

{ 44Diferenças entre géneros nas habilidades: correr, saltar, lançar e pontapear{Carvalhal, M.; Vasconcelos-Raposo, J.

{ 57

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporale competência efectiva em jovens praticantes de basquetebol{Ferreira, S.; Fernandes, H.; Vasconcelos-Raposo, J.

{ 73Análise factorial confirmatória da versão portuguesa do CSAI-2{Coelho, E.; Vasconcelos-Raposo, J.; Fernandes, H.

ÍNDICE:Revista Motricidade Vol. 03 N.º03 |Julho’ 07

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IV

compacta e imediata, disponibilizar informaçãosobre uma temática que de forma consistenteganha relevo no mundo desportivo dos países delíngua portuguesa. Um segundo motivo, mas emnada menos importante, foi procurar contribuirpara o alargamento do espaço proporcionado pelasrevistas científicas na área das ciências do desporto,escritas em língua portuguesa, à psicologia do des-porto e exercício.

Foi preocupação nossa convidar o maior númeropossível de investigadores portugueses nesta área,porém a produção dos materiais solicitados acabapor se reflectir na sua representação neste númeroda Motricidade. O facto de todos os artigos publi-cados neste número emergirem do mesmo centrode estudos é o reflexo do ritmo e da capacidade de produtividade que actualmente mantemos noCEDAFES.

Com este número desejamos, também, deixar umincentivo a todos os nossos colegas de profissãoou de paixão para publicarem mais, já que nestemomento há vários formatos disponibilizadospara tal.

Por último resta-nos deixar o nosso agradecimentopela oportunidade de com este número da Motri-cidade sermos os pioneiros no lançamento dosnúmeros temáticos.

José Vasconcelos RaposoProf. Catedrático em Psicologia do Desporto, Exercícioe da Saúde

EDITORIAL:Revista Motricidade Vol. 03 N.º03 |Julho’ 07

A Psicologia do Desporto, assim como a Psico-logia do Exercício e da Saúde, como disciplinascientíficas, apesar de serem jovens, são considera-velmente activas no que se refere à produtividadecientífica. Esta actividade faz-se sentir ao nível dovolume da produção de livros e artigos. Esta é umarealidade consolidada nos países Anglo-Saxónicos.Em Portugal a situação é diferente, apesar doexcepcional nível de experiência profissional dospsicólogos do desporto no âmbito das intervençõescom atletas de elite.

Nos últimos anos, assiste-se a um aumento signi-ficativo na busca de formação superior nesta área,tanto ao nível de mestrado como de doutoramento.Porém, essa procura não se faz representar no volume de publicações sejam elas em formatode artigo ou de livro escritos em língua portuguesa.Os casos isolados que conhecemos constituem-secomo um exercício de parafraseamento intenso eextenso da literatura já publicada em formato de livro e em língua inglesa.

Consciente da crescente procura por informaçãonesta área do saber, a Revista Motricidade pro-curou dar resposta proporcionando ao CEDAFES(Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano,Actividade Física e Saúde) a possibilidade de editarum número com artigos de investigação originalproduzidos no âmbito da psicologia do desporto.

A equipa de pesquisadores do CEDAFES aproveitaesta oportunidade com um duplo sentido de respon-sabilidade. Por um lado, e de uma forma mais

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FICHA DE ASSINATURARevista Motricidade Vol. 03 N.º03 |Julho’ 07

FTCD - Fundação Técnica e Científica e do DesportoAv. 5 de Outubro, 12, 1.º E64520-162 Santa Maria da Feira

Tel. 256 378 690 |Fax 256 378 692

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Pode consultar em: www.motricidade.ftcd.org

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REVISTAMOTRICIDADE N.º 03

Revista Técnica e Científicada Fundação Técnica e Científica do Desporto

Vol. 03 Julho ’07

Prof. Doutor Victor Machado Reis

Prof. Doutor Espregueira Mendes (Hospital São Sebastião)

Mestre Alípio Oliveira (Comité Olímpico de Portugal)

João Paulo Lourenço (FTCD)

FTCD - Fundação Técnica e Científica do Desporto

Mário Cardoso

Laura Alves Lourenço

Publidisa

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Trimestral

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Portugal e Europa: €60 |Brasil e Palop: €80|Outros Países: €100

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FICHA TÉCNICA DA MOTRICIDADE

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7 {Investigação

O objectivo deste estudo foi comparar osjogadores de futebol Brasileiros de vários níveiscompetitivos e consoante a posição em quejogam, relativamente à intensidade do negati-vismo e da autoconfiança. Também, preten-demos verificar o grau de associação entre ambasas variáveis, a idade e o tempo de experiência.

A amostra foi constituída por 529 jogadoresde futebol profissional Brasileiros de váriosníveis competitivos. Foi utilizada uma adaptaçãodo Competitive State Anxiety Inventory - 2 (CSAI-2)24,recorrendo apenas às escalas de negativismo eautoconfiança. Na comparação dos gruposusou-se o teste t para amostras independentes ea ANOVA (teste post-hoc Scheffé) e o coeficientede correlação de Pearson para verificar o grau deassociação entre as variáveis.

Os resultados demonstraram que os jogadoresde nível nacional apresentaram valores inferioresde negativismo e superiores de autoconfiançacomparativamente aos de nível regional. Quandose analisou os diferentes níveis de rendimento,considerando também a divisão em que o atletacompete, verificou-se que os atletas da 2.ª divisãoregional apresentaram valores superiores denegativismo do que os da 2.ª divisão nacional e valores inferiores de autoconfiança comparati-vamente aos jogadores de ambas as divisões denível nacional. Os valores de negativismo eautoconfiança vivenciados pelos jogadores antesda competição são semelhantes, independente-mente da posição que o atleta ocupa em jogo. Aidade e a experiência desportiva dos atletas pare-cem também determinar os níveis de negativismovivenciados antes da competição, verificando-seuma associação negativa entre estas variáveis. Ésugerida a interpretação direccional dos sintomasdo negativismo, para uma melhor compreensãodeste estado no contexto desportivo.Palavras-chave: negativismo, autoconfiança, fute-bolistas profissionais brasileiros.

Intensity of negativity and self-confi-dence in brazilian soccer players

The purpose of the present study was toanalyse Brazilian soccer players’ levels of nega-tivity and self-confidence regarding distinctcompetitive levels and game positions. We alsopretended determine the magnitude and direc-tion of the association between the dependentvariables (negativity and self-confidence) and theathlete’s age and sport experience.

A sample of 529 Brazilian professional soccerplayers completed the negativity and self-confi-dence subscale of a Portuguese version of theCompetitive State Anxiety Inventory - 2 (CSAI-2)24.While comparing groups we used independentsamples t-test (for 2 subgroups) and ANOVAwith the Scheffé post-hoc (for 3 or more subgroups).Pearson product-moment coefficients were calcu-lated to determine the association between variables.

Main results demonstrated that the nationalleague players reported lower negativity and higherself-confidence than regional league players.When distinct performance levels were analysedalso considering the athlete’s division, 2nd regio-nal league soccer players presented highernegativity than those from the 2nd national leagueand lower self-confidence than those from bothnational divisions. Negativity and self-confidencepre-competitive levels didn’t differ accordingdistinct game positions. Age and sport experiencecorrelated negatively with negativity levels beforecompetition. Overall, it’s suggested the need tointerpret the negativity symptoms direction for abetter acknowledgement of this emotion in thesport’s context.

Keywords: negativity, self-confidence, Brazilianprofessional soccer players.

Resumo Abstract

Data de submissão: Maio 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

Intensidade e negativismo e autoconfiança em jogadores defutebol profissionais brasileirosJosé Vasconcelos-Raposo1, Eduarda Maria Coelho1, Álvaro Cielo Mahl2, Hélder Miguel Fernandes1

1 Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano da Universidade de Trás-os-Montes e AltoDouro (Portugal)

2 Universidade do Oeste de Santa Catarina (Brasil)

Vasconcelos-Raposo, J.; Coelho, E.; Mahl, A.;Fernandes, H.; Intensidade e negativismo e auto-confiança em jogadores de futebol profission-ais brasileiros. Motricidade 3(3): 7-15

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IntroduçãoA evidência experimental e empírica indica

que a competição desportiva é uma situaçãogeradora de pensamentos negativos, devido ao facto de ser considerada pelo atleta comoameaçadora; podendo esses pensamentos terefeitos extremamente prejudiciais na performancedesportiva25. Martens et al.25 consideram que onegativismo apresenta sempre uma relaçãoinversa com a performance desportiva, devido àssuas relações com o afecto negativo, sendo osmomentos anteriores à competição vivenciadoscomo desagradáveis pelo atleta. Contrariamente,Jones e Swain18 e Jones e Hanton17 afirmamque a ocorrência de pensamentos negativospode ser considerada essencial e benéfica para aperformance, devendo neste caso não se chamaransiedade, já que por definição, esta é umsentimento negativo. Jones e Swain18 propuseramque este estado emocional positivo fosse deno-minando de excitação, activação ou motivação.

Vários autores contestam a forma como otermo ansiedade tem sido utilizado no contextodesportivo, referindo que por um lado, aconotação negativa que o termo possui podelevar à compreensão errada que a ansiedade ésempre prejudicial para a performance17,18,34 e poroutro lado, não existem critérios definidos nasua aplicação na psicologia do desporto, peloque as emoções vividas pelos atletas antes dascompetições, são distintas da forma como estetermo é utilizado pela psicologia clínica37. Nestainvestigação optaremos por utilizar o termonegativismo, quando nos referirmos à ansiedadecognitiva e a ansiedade somática será denominadade activação (arousal).

Martens et al.24 propuseram a Teoria Multidi-mensional da Ansiedade Competitiva com basena análise da relação negativismo-rendimentonuma perspectiva multidimensional, conceptuali-zando, para o efeito, duas dimensões: o negati-vismo (prevalência de pensamentos negativos) e a activação (intensidade do comportamento).

8 {Investigação

Intensidade e negativismo e autoconfiança em jogadores de futebol profissionais brasileirosJosé Vasconcelos-Raposo, Eduarda Maria Coelho, Álvaro Cielo Mahl, Hélder Miguel Fernandes

No processo de desenvolvimento doquestionário Competitive State Anxiety Inventory-2(CSAI-2)24, os mesmos autores encontraram umaterceira componente a que chamaram autocon-fiança. Esta dimensão pode ser consideradatambém uma componente cognitiva, oposta aoestado de negativismo, sendo vista, como a au-sência de pensamentos negativos. Neste âmbito,Vealey42 também desenvolveu um conceito deautoconfiança específico para o contexto despor-tivo, o qual denominou de confiança desportiva.Este autor definiu este conceito como a crençaou o grau de certeza que o atleta possui acercada sua habilidade para ser bem sucedido nocontexto desportivo.

Relembramos que nesta investigação, apesarde rejeitamos o termo ansiedade proposto pelateoria original, no entanto, aceitamos asdinâmicas sugeridas entre as várias dimensões eo rendimento desportivo. A Teoria Multidimen-sional da Ansiedade Competitiva24,25 pressupõeque as três dimensões se relacionam de formadiferente com o rendimento: o negativismo deforma negativa e linear; a activação relaciona-sede forma curvilínea (em U-invertido) e a auto-confiança tem uma associação positiva e linear.

Martens et al.24 sugeriram que os atletas commais habilidade, têm uma capacidade superiorpara lidar com os pensamentos negativos que osmenos hábeis e possuem, antes da competição,níveis de negativismo e activação inferiores euma autoconfiança superior. Por sua vez, Barbosae Cruz2 afirmaram que a experiência competitivados atletas também é um dos factores que fazcom que estes utilizem diferentes estratégiaspara lidar com o negativismo competitivo.

A análise dos estudos que comparam atletasde níveis distintos de performance demonstrouresultados inconsistentes. As diversas investi-gações realizadas com amostras de modalidadesdesportivas individuais19,20,28 e colectivas15 con-cluíram que os grupos com diferentes níveis de

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9 {Investigação

performance, não diferiram na intensidade denenhumas das três componentes do CSAI-2.No entanto, outras investigações comprovarama existência de diferenças em função do nívelcompetitivo do atleta, sendo a autoconfiança avariável que apresentou resultados consistente-mente superiores em atletas de nível competitivomais elevado7,8,9,11,13,14,16,22,27,29,30,31,36,38,39. Em relação aonegativismo e à activação, o estudo de Krane eWilliams21 que comparou atletas universitárioscom os de escolas secundárias, concluiu que osníveis de ambas as componentes foram inferioresnos atletas mais experientes.

Uma meta-análise realizada por Craft et al.6

com atletas de quatro níveis diferentes (atletasde elite, clube europeu, atletas universitários,estudantes de educação física) chegou a uma con-clusão interessante. Os atletas do clube europeuapresentaram uma relação mais forte e positivaentre o negativismo, a autoconfiança e a perfor-mance, podendo este facto se dever aos atletasserem, verdadeiramente, atletas profissionais.Todavia, estas relações foram menores ou inexis-tentes em atletas de níveis inferiores.

Outra conclusão interessante que emergiu apartir da análise dos estudos anteriores, é que osatletas de nível superior interpretam os sintomasde negativismo como mais facilitadores para aperformance15,19,20,26, o que pode obteve confirmaçãona meta-análise de Craft et al.6, dado que a relaçãoentre as duas dimensões do negativismo e aperformance desportiva foi positiva.

Dada a inconsistência dos resultados dasinvestigações apresentadas anteriormente e o re-duzido número de estudos realizados com atletasprofissionais, a presente investigação pretendecolmatar a escassez da evidência teórico--empírica referente a este domínio de análise eaprofundar o conhecimento da relação entrerendimento desportivo e as dimensões negativis-mo e auto-confiança. O objectivo que definimoscentrou-se na comparação de jogadores de fu-tebol Brasileiros de vários níveis competitivos e

posições específicas de jogo, relativamente àsvariáveis negativismo e autoconfiança. Procurá-mos, ainda, verificar o grau de associação entreestas últimas dimensões psicológicas e a idade eo tempo de experiência do atleta.

MetodologiaAmostraA amostra foi constituída por 529 jogadores

de futebol profissional Brasileiros do sexomasculino, com idades compreendidas entre os16 e os 39 anos (M= 23,01; SD= 4,23) e umaexperiência desportiva que variou entre os 2 e os27 anos (M= 11,21; SD= 4,47).

Os atletas pertencentes à amostra competiamem dois níveis de rendimento distintos: 266 atletasde nível regional (50,3%) e 263 atletas de nívelnacional (49,7%). Em ambos os níveis compe-titivos foram englobados atletas que competiamna 1.ª e 2.ª divisão. Quando diferenciados pelaposição específica de jogo, 59 eram guarda-redes(11,2%), 178 defesas (33,6%), 169 médios(31,9%) e 123 avançados (23,3%).

ProcedimentosOs questionários referentes às equipas de

futebol de nível regional, do estado de RioGrande do Sul, foram recolhidos nos respectivosclubes, tendo sido previamente solicitadaautorização para o efeito. Relativamente àsequipas de futebol de nível nacional, os dadosforam recolhidos quando as equipas se encon-travam concentradas para jogar na cidade deFlorianopolis (Brasil), após ter sido dada auto-rização pelos respectivos directores desportivos.

Foi utilizada uma adaptação do CompetitiveState Anxiety Inventory-2 (CSAI-2), recorrendoapenas às escalas de negativismo e autocon-fiança, na versão traduzida e validada para alíngua portuguesa por Vasconcelos-Raposo40. OCSAI-2 foi desenvolvido por Martens et al.24 para

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avaliar a intensidade do negativismo, da activaçãoe da autoconfiança em situações competitivas.Este questionário é constituído por 27 itens,com opções de resposta classificadas numaescala de Likert de quatro pontos. Cada uma dastrês escalas consiste em nove itens, sendo o valorde cada escala calculado através da soma dosnove itens correspondentes, podendo o resultadoglobal variar entre 9 e 36.

Um estudo preliminar de validação recente-mente elaborado evidenciou, não só bons índicesde consistência interna, como também, umasatisfatória adequação do modelo factorial aosdados recolhidos, quando se utilizou apenas asescalas de negativismo e autoconfiança5.

No presente estudo, foi calculado o alpha deCronbach para as escalas de negativismo e auto-confiança, tendo-se obtido os valores de 0,76 e0,74, respectivamente. Estes valores sugeremuma boa consistência interna para ambas asescalas, tendo como referência o valor de 0,70sugerido por Tabachnick e Fidell33.

Com o propósito de analisar a adequação domodelo constituído por dois factores aos dados,efectuou-se uma análise factorial confirmatória.Os valores obtidos nos índices de ajustamentoevidenciaram uma boa adequação do modeloproposto[X2

(134)=348,942; p=0,000; X2/df=2,604;CFI=0,913; GFI=0,926; e, RMSEA= 0,055].

Estatística

Relativamente ao tratamento estatístico,iniciou-se pelo estudo das características psico-

10 {Investigação

Intensidade e negativismo e autoconfiança em jogadores de futebol profissionais brasileirosJosé Vasconcelos-Raposo, Eduarda Maria Coelho, Álvaro Cielo Mahl, Hélder Miguel Fernandes

-métricas do instrumento utilizado, verificando--se a consistência interna, através do cálculo doalpha de Cronbach e a validade factorial utilizandoa análise factorial confirmatória (método deestimação maximum likelihood). As medidas deavaliação do ajustamento utilizadas para verificara adequação do modelo aos dados, foram asseguintes: Qui-quadrado (X2), rácio X2/df, CFI (Com-parative Fit Index), GFI (Goodness of Fit Index) e oRMSEA (Root Mean Square Error of Approximation).

Para a análise do efeito diferenciador de umavariável independente no valor total de negati-vismo e autoconfiança, utilizámos o teste t paraamostras independentes ou análise de variânciaunivariada (ANOVA a um factor com o respec-tivo teste post-hoc Scheffé), consoante o factordiferenciador era constituído, respectivamente,por dois ou mais grupos. Para calcular o graude associação entre as variáveis utilizou-se ocoeficiente de correlação de Pearson.

O nível de significância foi mantido em 5%(pç0,05).

ResultadosComparação segundo o nível competitivo

Para verificar as diferenças existentes segundoo nível competitivo, foram efectuadas as com-parações dos atletas que competem a nívelnacional e regional e, também, consoante adivisão em que jogam.

No quadro 1 são apresentadas as diferençasentre os atletas de nível nacional e regional, nasvariáveis negativismo e autoconfiança.

Da análise do quadro anterior pode-se referirque existem diferenças significativas entre osgrupos de nível nacional e regional nas variáveisnegativismo e autoconfiança. Neste âmbito, osatletas de nível nacional apresentam valoresinferiores de negativismo e superiores de auto-confiança, comparativamente aos de nível regional.

No quadro 2 são apresentadas as diferençasnas variáveis dependentes em análise, entre osatletas que competem nas diferentes divisões.

Quadro 1: Comparação entre atletas de nível nacionale regional relativamente ao negativismo e autoconfiança.

0,001

0,000

Negat.

Autoconf.

p

3,230

-3,685

t

19,17±4,14

30,74±3,91

17,98±4,35

31,95±3,58

Nacional(n=263)M±SD

Regional(n=266)M±SD

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11 {Investigação

Com a realização da ANOVA identificámosdiferenças significativas entre os grupos dediferentes divisões quanto ao negativismo e àautoconfiança. Posteriormente, utilizámos oteste post-hoc Scheffé para verificar em que gruposocorreram essas diferenças. Assim, quanto aonegativismo verificámos que o grupo de atletasque integravam as equipas da 2.ª divisão regionalreportou níveis mais elevados que os atletas da2.ª divisão nacional (p= 0,029). O grupo deatletas que integravam equipas da 2ª divisão

regional também apresentaram valores de auto-confiança mais baixos que o grupo de atletas quecompetiam na 2.ª (p= 0,026) e 1.ª divisão nacional(p= 0,033).

Comparação segundo a posição

No quadro 3 são apresentadas as diferençasao nível do negativismo e da autoconfiança, entreos atletas de diferentes posições (guarda-redes,defesas, médios e avançados).

Quadro 2: Comparação entre atletas de diferentes divisões relativamente ao negativismo e autoconfiança.

0,012

0,003

Negativismo

Autoconfiança

p

3,685

4,737

F

18,19±3,89

32,06±3,58

1.ª Nacional(n=94)M±SD

17,86±4,59

31,88±3,59

2.ª Nacional(n=169)M±SD

19,01±4,63

30,94±3,97

1.ª Regional(n=113)M±SD

19,29±3,75

30,60±3,88

2.ª Regional(n=153)M±SD

Quadro 3: Comparação entre atletas de diferentes posições relativamente ao negativismo e autoconfiança.

0,938

0,740

Negativismo

Autoconfiança

p

0,137

0,418

F

18,46±4,07

31,23±3,47

Avançados(n=123)M±SD

18,73±4,32

31,14±3,96

Médios(n=169)M±SD

18,48±4,50

31,53±3,93

Defesas(n=178)M±SD

18,64±4,02

31,58±3,63

Guarda-redes(n=59)M±SD

Através da análise do quadro anteriorpodemos denotar que não se verificaram dife-renças estatisticamente significativas no negati-vismo e na autoconfiança, quando se recorreu àposição do jogador, como variável independente.

Correlações entre as variáveis psico-lógicas, a idade e o tempo de experiência

Após a análise comparativa procurámoscompreender em que medida as variáveisindependentes idade e tempo de experiência doatleta se correlacionavam com as dimensõesnegativismo e autoconfiança.

Relativamente ao negativismo, verificaram-seassociações significativas e negativas com a idadedos jogadores (r= -0,202, p<0,001) e o seutempo de experiência (r= -0,171, p<0,001). Porsua vez, a autoconfiança não se correlacionousignificativamente com a idade (r= 0,047, p= = 0,280) e o tempo de experiência (r= 0,083,p= 0,055) a um nível convencional, pese emborao facto da última relação evidenciar umcoeficiente próximo desse valor de corte.

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DiscussãoEste estudo comprova, em parte, a Teoria

Multidimensional da Ansiedade, no que diz res-peito à sugestão apresentada por Martens et al.24

que os atletas de maior habilidade têm maiorcapacidade para lidar com a ocorrência de pensa-mentos negativos, possuindo níveis de negati-vismo inferiores e uma autoconfiança superior,nos momentos pré-competitivos.

De facto, verificou-se que os jogadores defutebol profissionais brasileiros de nível nacionalapresentaram valores inferiores de negativismo(17,98±4,35 vs 19,17±4,14) e superiores de auto-confiança (31,95±3,58 vs 30,74±3,91), compara-tivamente aos de nível regional. Esta tendênciatambém se verificou, quando se analisou osdiferentes níveis de rendimento, considerandotambém a divisão em que o atleta compete,denotando-se que as diferenças se centram nacomparação entre a 2.ª divisão regional e a 1.ª e2.ª divisões nacionais. Os atletas da 2.ª divisãoregional apresentaram valores superiores denegativismo comparativamente aos da 2.ª divisãonacional e valores inferiores de autoconfiançacomparativamente aos praticantes de ambas asdivisões de nível nacional. Os resultados destainvestigação estão de acordo com o pressupostode que a autoconfiança é um constructo psico-lógico oposto à ocorrência de pensamentonegativos. De facto, neste estudo verifica-se queos atletas de nível nacional possuem umaintensidade superior de autoconfiança e inferiorde negativismo, pelo que nos jogadores de nívelregional ocorre o inverso. Também Martens et al.24

nas análises efectuadas aquando do desenvolvi-mento do CSAI-2 encontraram relações inversasentre estas duas variáveis (média dos rs= -0,609).

Martens23 sugeriu a existência de uma relaçãorecíproca, entre os níveis de negativismo e onível de habilidade do atleta. O sucesso resul-tante de uma certa aptidão natural para a práticadesportiva, leva a que o indivíduo vivencie níveisde negativismo inferiores, que resultam na rea-lização de melhores performances e vice-versa.

12 {Investigação

Intensidade e negativismo e autoconfiança em jogadores de futebol profissionais brasileirosJosé Vasconcelos-Raposo, Eduarda Maria Coelho, Álvaro Cielo Mahl, Hélder Miguel Fernandes

Igualmente, um estudo realizado por Thomase Over35 concluiu que os atletas de nível inferiorreportam mais emoções e cognições negativascomparativamente aos de nível superior, o quesugere um menor controlo sobre o negativismo.Outros estudos realizados, também concluíramque os atletas de nível superior apresentam umamaior utilização de estratégias de coping4,12,22,31,32.Apesar de não termos analisado esta variável,reconhecemos a importância da utilização destasestratégias no controlo das emoções e na redu-ção dos pensamentos negativos, como determi-nantes para o alcance de elevados níveis derendimento em qualquer modalidade desportiva.

Vasconcelos-Raposo e Aranha41 referem que,em vários estudos que realizaram, a autocon-fiança foi, sistematicamente, a variável que maispermitiu diferenciar os atletas de distintos níveisde rendimento. Do mesmo modo, diversasinvestigações demonstraram que os atletas denível de rendimento superior possuem valoresmais elevados na autoconfiança, comparativa-mente aos de nível inferior7,8,9,11,13,14,16,22,27,29,30,31,36,38,39.

Tendo em conta que a auto-eficácia é umaforma de autoconfiança específica para umasituação43 e que segundo a teoria de Bandura1,uma das fontes de informação de eficácia são asrealizações de desempenho, é natural que osatletas de nível superior tenham níveis de auto-confiança também superiores. De facto, atletasde nível elevado de performance acumulamexperiências de sucesso consecutivas, o que lhespermite aumentar os seus níveis de autocon-fiança. Segundo este mesmo autor, o própriofeedback (persuasão verbal) fornecido pelosindivíduos que rodeiam o atleta (ex. treinador,colegas, família, amigos, etc.), também influenciao seu nível de auto-eficácia. Ou seja, as expe-riências de sucesso e o feedback positivo forne-cido ao atleta aumentam a sua auto-eficácia.Logo e como se verifica neste estudo, os atletasde nível de performance elevada apresentam valoresde autoconfiança também elevados.

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13 {Investigação

Porém, outras investigações não encontraramdiferenças na intensidade do negativismo e daautoconfiança entre atletas de diferentes níveisde performance15,19,20,28. Talvez, esta discordância deresultados possa ser justificada, pelos diferentescritérios utilizados para constituir os gruposcom diferentes níveis de rendimento. A título deexemplo, também nesta investigação, quando seprocedeu à comparação intra-grupos de atletasdo mesmo nível competitivo (nacional/regional),não se verificaram diferenças significativas, o quepermite sugerir que os critérios utilizados paraformar os grupos, também pode surgir comofactor de influência dos resultados que se obtêm.

Além do nível competitivo em que o atletacompete, a idade e a experiência desportiva dosatletas também parecem determinar os níveisde negativismo reportados antes da competição.De facto, verificou-se uma associação negativafraca entre a idade, a experiência desportiva e aintensidade do negativismo.

Barbosa e Cruz2 referem que a experiênciacompetitiva dos atletas é um dos factores queleva à utilização de diferentes estratégias paralidar com o negativismo. As conclusões do estudode Perry e Williams26 sugerem que os atletasmais experientes apresentam níveis superioresde autoconfiança e inferiores de negativismo,quando comparados com atletas iniciados (menosexperientes). Também os resultados do realizadopor Krane e Williams21 permitiram concluir quea ocorrência de pensamentos negativo é inferiornos atletas com mais experiência desportiva.

Os resultados desta investigação levam-nos aquestionar se será mais importante o nível compe-titivo ou a experiência desportiva que o atletapossui, para este lidar melhor com a ocorrênciade pensamentos negativos. De facto, compe-tições de elevado nível são causadoras de elevadonegativismo, levando o atleta a procurar formasde lidar com este estado negativo e controlarmelhor essas emoções, antes das competições.

Por outro lado, a própria experiência competitivado atleta faz com que este melhore a sua capaci-dade de lidar com os pensamentos negativos,através de um processo de aprendizagem alicer-çado no princípio da tentativa e erro. Mais ainda,o número de atletas desta amostra que beneficioude programas de preparação mental parece sermuito reduzido, não tendo havido uma averi-guação suficientemente escrutinada desta con-dição durante o presente estudo, que nos permitainterpretar os resultados obtidos, à luz destarealidade.

Como complemento a esta investigação sobrea intensidade do negativismo e autoconfiança,sugere-se que se acrescente a análise da inter-pretação direccional, ou seja, se o negativismovivenciado é interpretado como prejudicial aobenéfico para a performance19. De facto, a teoria dadireccionalidade postula que as melhores perfor-mances ocorrem quando o negativismo pré--competitivo é interpretado como benéfico paraa performance10. Para isso, foi proposta a utilizaçãodo Directional Modification of the Competitive StateAnxiety Inventory-2, adicionando ao CSAI-2 umaescala para avaliação da interpretação direccional3.Vários estudos confirmam que as percepçõesdireccionais dos sintomas de negativismo podemfornecer uma melhor compreensão da respostade negativismo competitivo e que os atletas de nívelcompetitivo superior interpretam os sintomas denegativismo como facilitadores da performance6,15,19,20,26.

Em suma, esta investigação confirma a neces-sidade de um elevado controlo das emoçõesantes da competição desportiva, através de umaboa gestão da relação negativismo-autoconfiança,para alcançar o êxito no futebol. A idade e aexperiência desportiva dos atletas parecemtambém determinar os níveis de negativismovivenciados antes da competição. É sugerida ainterpretação direccional dos sintomas do negati-vismo, para uma melhor compreensão desteestado no contexto desportivo.

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CorrespondênciaJosé Vasconcelos-RaposoRua Dr. Manuel Cardona5000-558 Vila Real, PortugalE-mail: [email protected]

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14 {Investigação

Intensidade e negativismo e autoconfiança em jogadores de futebol profissionais brasileirosJosé Vasconcelos-Raposo, Eduarda Maria Coelho, Álvaro Cielo Mahl, Hélder Miguel Fernandes

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15 {Investigação

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16 {Investigação

O presente estudo pretendeu examinar osvalores desportivos e orientações motivacionaisexpressos por alunos de Educação Física, pe-rante diferentes situações desportivas e compararos comportamentos desses mesmos, de acordocom as variáveis sexo, faixa etária e envolvimentodesportivo. A amostra deste estudo foi consti-tuída por 422 alunos (221 do sexo masculino e201 do sexo feminino), com uma média de idadesde 13.73±2.46 anos, tendo idades compre-endidas entre os 9 e os 21 anos de idade. Osinstrumentos utilizados foram o Questionário de Valores no Desporto7 e o Questionário deOrientação Motivacional no Desporto5. Numaanálise generalista, os indivíduos demonstraramconcordar em assumir atitudes perante situaçõesdesportivas, consoante os princípios básicos dodesportivismo e fair-play. A variável que maiscontribuiu para uma diferenciação significativafoi a faixa etária, evidenciando os alunos comidades compreendidas entre os 13 e 15 anos,como menos concordantes com atitudes despor-tivas e revelando uma orientação para o ego.Como tal, propomos que os agentes de sociali-zação presentes no contexto desportivo, devem aseu nível respectivo e em função das suas possi-bilidades de intervenção, zelar pelo respeito desteprincípio4.

Palavras-chave: valores desportivos, orientaçõesmotivacionais e Educação Física.

Influence of motivacional orientation insports behaviour / attitude in PhysicalEducation classes

The purposes of the present study weretwofold: (i) to examine the levels of sports-manship and goal orientations in PhysicalEducation students and (ii) to compare thosesame levels according to different sexes, ages andsport’s involvement. A sample of 422 students(221 male and 201 female) with a mean age of13.73±2.46 years (ages comprised between 9and 21 years old), completed two questionnaires:a) the Questionnaire of Sport’s Values7 and b) aPortuguese version of the Task and EgoOrientation in Sport Questionnaire5. In general,the students stated to display behaviors in sport’ssettings, according to the basic principles ofsportsmanship and fair play. The independentvariable that most contributed to a significantdemarcation in Physical Education was thestudent’s age, whilst those with ages between 13and 15 years stating to not display sportsmanshipbehaviours and to posses high levels of egoorientation. Overall, we recommend that thesport’s socialization agents should endorse thesportsmanship’s principles deference, at theirrespective levels and in function of theirintervention possibilities4.

Keywords: sportsmanship, goal orientations andfair-play.

Resumo Abstract

Data de submissão: Maio 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

A influência das orientações motivacionais nas atitudes despor-tivas em aulas de Educação FísicaHélder Fernandes1, José Vasconcelos-Raposo1, Miguel Moreira2, Henrique Costa3

1 Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Actividade Física e SaúdeUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2 Escola EB 2,3/S Abel Botelho (Tabuaço)3 Escola EB 2,3/S Dr. José Casimiro Matias (Almeida)

Fernandes, H.; Vasconcelos-Raposo, J.; Moreira, M.;Costa, H.; A influência das orientações motiva-cionais nas atitudes desportivas em aulas deEducação Física. Motricidade 3(3): 16-23

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17 {Investigação

IntroduçãoTendo em conta o envolvimento desportivo

que cada vez mais é notório nas camadas jovens,já foram identificadas algumas consequênciaspositivas dessa participação social. No entanto,vários investigadores na área da Psicologia doDesporto, e em especial no processo de socia-lização dos jovens através da prática desportiva,assinalam que esses resultados se apresentamcontraditórios6.

Alguns comportamentos que têm vindo a sermais frequentes são: fazer batota, praticar agres-sões, adoptar comportamentos violentos e faltarao respeito a adversários e árbitros. Embora asocorrências mais frequentes e visíveis sejamobserváveis no desporto profissional, já secomeça a encontrar cada vez mais esses mauscomportamentos no desporto jovem1.

Todavia, a implementação e desenvolvimentode programas desportivos para jovens, são ha-bitualmente baseados no pressuposto, que aprática desportiva é um factor importante naeducação dos praticantes. No entanto, a educaçãodos valores não é ainda considerado comofundamental na disciplina de Educação Física9.Tal facto ainda se agrava, quando se verifica queos comportamentos inapropriados são cada vezmais frequentes nas aulas de Educação Física,justificando por isso uma análise atenta da suaocorrência e natureza, de forma a caracterizaresta situação11.

Deste modo, os objectivos do presente estudoforam: (i) examinar os valores desportivos eorientações cognitivas, expressos por alunos deEducação Física, perante diferentes situaçõesdesportivas e, (ii) comparar os comportamentosdesses mesmos, de acordo com diferentessituações de envolvimento desportivo.

MetodologiaAmostraA amostra deste estudo foi constituída por

422 alunos (221 do sexo masculino e 201 do sexofeminino), com uma média de idades de 13.73±

±2.46 anos, tendo idades compreendidas entreos 9 e os 21 anos de idade (amostragem nãoprobabilística de conveniência). As faixas etáriasforam delimitadas considerando a proposta deWeiss 16: < 12 anos (dos 9 aos 12 anos), 13-15anos (dos 13 aos 15 anos) e > 16 anos (dos 16aos 21 anos).

ProcedimentosOs instrumentos utilizados foram o Ques-

tionário de Valores no Desporto (QVD)7 e oQuestionário de Orientação Motivacional noDesporto (QOMD) adaptado para a línguaportuguesa por Fonseca e Biddle5. O primeiroconsta de 12 itens e o segundo é constituído por13 itens, pelo que ambos são respondidos deacordo com uma escala tipo Likert de 5 pontos(1: discordo totalmente a 5: concordo totalmente).

EstatísticaInicialmente, efectuou-se uma Análise Fac-

torial de Componentes Principais (AFCP), comrotação Varimax e respectiva análise de consis-tência interna (α de Cronbach), para cada um dosfactores obtidos. É de salientar que para aobtenção da solução factorial final dos diferentesinstrumentos, os critérios utilizados para reterum item num factor, foram os seguintes: (i)saturação igual ou superior a 0.40 no hipotéticofactor; (ii) o item não devia ser redundante comoutro item no mesmo factor; e, (iii) a retirada doitem não devia fazer baixar a fidelidade dosuposto factor.

Após a obtenção da estrutura factorial decada instrumento, procedeu-se à análise compa-rativa das variáveis independentes (sexo, faixaetária e envolvimento desportivo), através doteste t de Student para amostras independentes eda análise de variância (ANOVA) one-way comrespectivo teste post-hoc Schéffe. Para análise darelação preditiva entre variáveis, recorreu-se aomodelo de regressão linear simples. O nível designificância foi mantido em 5% (p<0.05).

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A influência das orientações motivacionais nas atitudes des-portivas em aulas de Educação FísicaHélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo, Miguel Moreira, Henrique Costa

18 {Investigação

ResultadosNo presente capítulo são expostos os

resultados obtidos a partir dos dados recolhidos,pelo que por uma questão de simplicidade,unicamente apresentamos os resultados onde severificaram diferenças estatisticamente significa-tivas nas dimensões psicológicas que são objectode estudo na presente investigação. Todavia, essesmesmos dados/resultados estão disponíveis apedido ao primeiro autor.

A partir da análise factorial obtiveram-se doisfactores para cada questionário, sendo: QVD(“Atitudes anti-desportivas” – 31.9% de variânciae α de Cronbach de 0.83; “Atitudes desportivas”- 27.0% de variância e α de Cronbach de 0.72) e QOMD (“Orientação para a tarefa/mestria”-25.2% de variância e α de Cronbach de 0.79;(“Orientação para o ego” - 23.1% de variância e α de Cronbach de 0.81).

No quadro 1 é apresentada a estrutura fac-torial do QVD.

Factor 2

AtitudesDesportivas

0,685

Factor 1

AtitudesAnti-desportivas

6. Quem joga sempre de forma correcta, respeitandoos adversários, os árbitros ou os juízes, perde quase sempre.

0.64311. Se o árbitro se engana a nosso favor, aceito a sua decisão,

mas se engana contra mim ou contra a minha equipa,devo discordar e protestar fortemente.

0.5867. É preferível ganhar mesmo fazendo batota, do que perder

sendo correcto, respeitando os adversários, árbitros ou juízes.

0.53012. Num jogo ou numa competição que já não posso ganhar

ou fazer uma boa marca, deixo de me esforçar.

0.5118. Quando jogo mal ou faço um mau resultado,

arranjo desculpas para me justificar.

0.6333. No final de uma competição, quer ganhe ou perca,

cumprimento os adversários.

0.5845. Prefiro jogar (competir) e perder,

do que ganhar por falta de comparência do adversário.

0.5632. Apoio e ajudo todos os meus colegas de equipa, mesmo quando

eles são “mais fracos” do que eu, ou quando cometem erros.

0.52410. Ganhar é somente uma parte importante

(mas não a mais importante) do prazer de jogar (competir).

0.4121. Respeito as decisões dos árbitros, mesmo quando ele se engana.

0.5654. Acho correcto fazer “batota”, desde que o árbitro não veja.

Item

Quadro 1: Estrutura factorial do Questionário de Valores no Desporto.

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19 {Investigação

De acordo com a análise estatística efectuada,o item 9 “...quando o árbitro ou o juiz tem dúvidassobre quem foi o infractor ou o responsável pela violaçãode uma regra, sou capaz de me denunciar eu próprio comoresponsável.”, não respeitou os critérios definidospara a saturação do item no factor, pelo que

quando adicionado a qualquer um dos factores,fez baixar o valor de consistência interna. Comotal, foi eliminado da análise estatística realizada.

No quadro 2 são apresentadas as saturaçõesfactoriais dos itens do QOMD, nas duas dimen-sões obtidas a partir da AFCP.

Factor 2

OrientaçãoEgo

0.738

Factor 1

OrientaçãoTarefa

10. Algo que aprendo me faz querer continuar e praticar mais.

0.6997. Aprendo uma nova técnica esforçando-me bastante.

0.6952. Aprendo uma nova técnica e isso me faz querer praticar mais.

0.6868. Trabalho realmente bastante.

0.6485. Aprendo algo que dá prazer em fazer.

0.63312. Sinto que uma técnica que aprendo está bem.

0.49713. Faço o meu melhor.

0.75011. Sou o melhor.

0.7396. Os outros cometem erros e eu não.

0.7353. Consigo fazer melhor do que os meus amigos.

0.6971. Sou o único que consegue executar as técnicas.

0.6694. Os outros não conseguem fazer tão bem como eu.

0.6629. Ganho a maioria das provas.

Item

Quadro 2: Estrutura factorial do Questionário de Orientação Motivacional no Desporto.

Numa perspectiva de análise generalista, osalunos demonstraram concordar em assumiratitudes perante situações desportivas, consoanteos princípios básicos do desportivismo e fair-play.Contudo, quando comparando os dados deacordo com as diferentes variáveis independentes,e verificando a influência da orientação paratarefa nas atitudes desportivas, constata-se oseguinte apresentado no quadro 3.

No geral, verifica-se que os elementos femi-ninos concordam menos do que os elementosmasculinos, em demonstrar atitudes anti--desportivas, revelando assim uma menororientação para o ego.

No quadro 4 são apresentados os resultadosda análise comparativa por faixas etárias, no queconcerne as diferentes subescalas do QVD eQOMD.

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A influência das orientações motivacionais nas atitudes des-portivas em aulas de Educação FísicaHélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo, Miguel Moreira, Henrique Costa

20 {Investigação

Tendo em conta principalmente a faixa etáriamais nova, verifica-se que estes possuem umaorientação elevada para o ego, pela que a im-portância da comparação com a prestação doscompanheiros, surge como uma das únicasformas de determinar e percepcionar os seusníveis de competência e sucessivamente, sucesso.O grupo dos 13-15 anos, demonstra ser aqueleque possui níveis mais elevados de atitudes anti--desportivas e de orientação para o ego, conjun-tamente com o grupo dos mais novos. A variávelfaixa etária, desta forma, assume-se como aquelacom maior poder discriminante para o objectode estudo.

O quadro 5 contém os resultados compa-rativos dos construtos objecto de estudo, quandoconfrontando os diferentes subgrupos da variávelindependente envolvimento desportivo.

Assim, na comparação entre praticantes e nãopraticantes desportivos, os resultados revelamno geral, que os indivíduos quando praticantesde uma modalidade colectiva ou individual,revelam maior vontade de praticar desporto econsiderando sempre o respeito pelo adversárioe regras, possuindo assim níveis mais elevados deorientação para a tarefa.

No que concerne a influência da orientaçãopara a tarefa nas atitudes desportivas, a análise de regressão linear permitiu constatar que aorientação para a tarefa evidenciou-se como umavariável preditiva em mais de 16% de variânciadas atitudes desportivas (r= 0.404; r2= 0.163;α= 0.404; t= 9.052; p=0.000). Assim, assume-secomo um preditor significativo e de considerávelimportância para a promoção do espírito despor-tivo em aulas de Educação Física.

Quadro 3: Análise comparativa por sexo.

0.000

p

4.716

t

1.90±0.77

Raparigas

2.26±0.81

Rapazes

Atitudes Anti-desportistas

0.0062.7792.26±0.912.52±0.98Orientação para o Ego

Factor

Quadro 4: Análise comparativa por faixa etária.

0.005

p

5.371

t

3.93±0.48

> 16 anos

3.83±0.74

< 12 anos

Atitudes Desportistas

0.0184.0501.91±0.692.09±0.93

3.68±0.66

13 a 16 anos

2.19±0.77Atitudes Anti-desportistas

5.1584.18±0.674.26±0.68Orientação para a Tarefa

7.9292.10±0.752.59±1.03

4.01±0.71

2.40±0.96Orientação para o Ego

Factor

0.006

0.000

Quadro 5: Análise comparativa por envolvimento desportivo.

pFModalidadeIndividual

Nãopraticantes

ModalidadeColectiva

4.7624.23±0.614.03±0.69Orientação para a Tarefa 4.24±0.71

Factor

0.009

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21 {Investigação

DiscussãoA problemática que nos levou a realizar este

estudo, há muito tempo que está emergente, e éestudada no contexto desportivo. Em váriospaíses, têm-se analisado a importância dos valo-res no processo formativo dos jovens, enquantofuturos cidadãos de uma sociedade “desvirtuada”de comportamentos e princípios adequados.Como tal, incorporar princípios e valores deacordo com o fair-play numa sociedade cujo únicovalor é vencer independentemente dos meiosusados, assume-se como uma “missão” muitodifícil para os professores de Educação Física.

Os rapazes concordaram mais que as rapa-rigas em comportamentos relacionados comcondutas anti-desportivas e orientação para o ego,confirmando os resultados da literatura nesteâmbito, que menciona que os rapazes aceitamcom mais facilidade certos comportamentosilegais, como sendo perfeitamente legítimos,face aos objectivos pretendidos na competiçãoem causa10. Para compreender os comportamentosassociados ao sexo em contexto desportivo, éfundamental ter em conta as diferenças culturais,bem como também, as expectativas da sociedaderespeitante à sua participação e integração decertas normas e valores socioculturais15.

Quanto à análise das diferentes faixas etárias,estes valores não se assumem de forma linear,emergindo no entanto o facto da faixa etária commais de 16 anos, ser aquela com níveis maiselevados de orientação para a tarefa e concor-dância com as atitudes desportivas. Por outrolado, os alunos dos 13 aos 15 anos assumem-secomo sendo aqueles que mais concordam comatitudes anti-desportivas em aulas de EducaçãoFísica. Tal facto é concordante com Vallerand eLosier14, que referem que os adolescentes estãomais predispostos a demonstrar uma atitudenegativa perante a participação desportiva emostram menor preocupação com o respeito pelasregras e oficiais de jogo. Concomitantemente,Duda et al.3 referiram que atletas orientados para

o ego revelaram comportamentos contrários àdemonstração de atitudes morais respeitantes aoespírito desportivo, pretendendo obter a vitória a “todo o custo”.

Relativamente ao envolvimento desportivo,os alunos praticantes (quer seja modalidadecolectiva ou individual), tendem a demonstrarmaiores níveis de orientação para a tarefa,salientando que a prática desportiva contribuiupara o desenvolvimento integral dos jovens ecomo tal para a sua formação ético-moral. Tal éconcordante com o estudo de Fernandes et al.4

realizado no contexto nacional, sugerindo-seuma correcta transmissão de valores através dassituações criadas ao longo da vivência desportiva6.Desta forma, a competição tem de ser consi-derada como um instrumento pedagógicoimportante no processo de formação desportiva,extraindo desta as consequências indispensá-veis à orientação da sua intervenção pedagógica.Competição significa treino periódico, esforço,atitude permanente de superação e perseguiçãopermanente do melhor resultado. Logo, procurara vitória não constitui qualquer problema, sendoinerente ao acto de competir. O problema estános meios que se usam, assim como nas atitudese comportamentos que se assumem quandoaquele objectivo não é atingido12.

No que se refere à análise da influência predi-tiva, os resultados indicam que a orientação paraa mestria, assume-se como um construto preditorsignificativo e importante para a promoção doespírito desportivo em aulas de Educação Física,visando a definição de atitudes e condutasmorais, de forma a diminuir a incidência de casosde indisciplina neste contexto13.

Neste âmbito, é de fulcral importância a inter-venção do professor de Educação Física/treinadorna formação técnica e psicopedagógica dosjovens2. Para este processo de aprendizagem socialentre os alunos e professores, Gonçalves8 referediversos estudos desenvolvidos em Portugal e

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A influência das orientações motivacionais nas atitudes des-portivas em aulas de Educação FísicaHélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo, Miguel Moreira, Henrique Costa

22 {Investigação

em países estrangeiros (Alemanha, EstadosUnidos e Inglaterra), que apontam no sentido do professor/treinador constituir no desportoinfanto-juvenil, o mais poderoso agente desocialização, em especial a partir dos 12-13 anose de cuja actuação dependerá de forma relevantea qualidade das experiências que as crianças ejovens vivem no seu processo de formaçãodesportiva. Assim, os professores/treinadoresdeverão considerar como primordiais, algumasáreas de intervenção como: (i) a persistentepromoção dos valores éticos de condutadesportiva e princípios inerentes ao espíritodesportivo; e, (ii) na defesa da ideia de que quem“usa a batota”, a violência verbal ou física e queadopta processos que visam artificialmenteaumentar o seu rendimento desportivo, paradisso tirarem vantagem na competição, nãocompete de uma forma leal e correcta.

AgradecimentosEste trabalho foi apresentado sob a forma de

comunicação no 6.º Congresso Nacional deEducação Física. CNAPEF/SPEF, Lisboa

CorrespondênciaJosé Vasconcelos-RaposoRua Dr. Manuel Cardona5000-558 Vila Real, PortugalE-mail: [email protected]

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23 {Investigação

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24 {Investigação

Os principais estudos realizados no contextoda Vela ligeira têm-se centrado em parâmetrosfisiológicos e no processo de tomada de decisão.O presente estudo tem como objectivos,identificar os principais factores psicológicosevidenciados pelos velejadores e determinarquais aqueles que permitem predizer o rendi-mento em Vela. Para tal, 43 jovens velejadores(32 rapazes e 11 raparigas) com idades compre-endidas entre os 10 e os 15 anos de idade (M= = 12.86, SD= 1.39) preencheram o Perfil Psico-lógico de Prestação. Os procedimentos estatís-ticos utilizados foram o teste t de Student, e aregressão linear múltipla. Os factores mais evi-denciados pelos velejadores foram a motivação e a autoconfiança. Contudo, revela-se comoessencial o controlo do negativismo, na medidaem que foi a única variável que distinguiu osmelhores velejadores (top-10) dos restantes e foio factor com menor valor médio. As únicasvariáveis psicológicas que permitiram definir orendimento em Vela ligeira, foram a visualizaçãoe a motivação, evidenciando-se a importânciadestas variáveis na diminuição de erros, definiçãoespacial do campo de regatas, controlo atencionale melhoria auto-referenciada.

Palavras-chave: perfil psicológico, Vela, negativi-dade, controlo atencional.

Psychological profile and sailing perfor-mance

Studies in competitive Sailing have centeredtheir efforts in physiologic parameters and in thedecision-making process. The purpose of thepresent study is to identify the main psycho-logical factors evidenced by sailors and deter-mine which of them better contribute to predictperformance in Sailing. Forty three young sailors(32 boys and 11 girls) with ages between 10 and15 years (M= 12.86, SD= 1.39) completed thePsychological Performance Inventory. The usedstatistical procedures were the Student’s t testand the multiple linear regression analysis. Thepsychological factors with the highest scores weremotivation and self-confidence. The negativity control wasdefined as crucial. This variable was the only thatdistinguished the best sailors (top-10) from the remainingones and the factor less valued by the sample. The onlypsychological variables that allowed predicting Sailingperformance were visualization and motivation,evidencing the importance of these in the errors decrease,spatial definition of the regattas mark, attention controland self-referenced improvement.

Keywords: psychological profile, Sailing, negati-vity, attentional control.

Resumo Abstract

Data de submissão: Maio 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

Perfil psicológico e sua importância no rendimento em velaHélder M. Fernandes, C. Bombas, João P. Lázaro, J. Vasconcelos-Raposo

CIDESDH - Gabinete de Psicologia do Desporto, Exercício & Saúde

Fernandes, H.; Bombas, C.; Lázaro, J; Vasconcelos--Raposo, J.; Perfil psicológico e sua importânciano rendimento em vela. Motricidade 3(3): 24-32

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25 {Investigação

IntroduçãoO presente estudo visou identificar alguns

factores psicológicos que contribuem para aobtenção do estado ideal de prestação desportiva(EIPD) em jovens velejadores, tal como definidopor diversos autores6,12,14, surgindo na consecuçãode outros estudos realizados em nadadores4,13.Como afirma Hogg5, o EIPD em que os prati-cantes se revelam prontos para participar nascompetições, é alcançado quando os jovens sesentem completamente preparados e prontospara realizarem as tarefas da sua modalidade deuma forma controlada e consistente. Váriassituações associadas às exigências competitivas edefinição das suas percepções de competênciapodem determinar alterações no EIPD.

Como Pinsach e Corominas8 afirmam, a Velaé um desporto algo peculiar e distinto dos restan-tes. Realiza-se num meio pouco usual (aquático),distante do contacto com o público, em que ascondições envolventes (nomeadamente atmosfé-ricas) são muito inconstantes, sendo uma activi-dade muito rica na quantidade de informaçãofornecida. Tal deriva do facto do velejador exercera sua actividade com base em três comandosessenciais à sua prestação: propulsão, direcção eequilíbrio, sendo que o último constitui umafonte de perturbação emocional importante,primordialmente em atletas inexperientes. Usual-mente, associa-se a velejadores “experts” umaelevada capacidade atencional e de antecipação,facilidade na resolução de problemas e elevadosníveis de autoconfiança na tomada de decisões,bem como, uma constante preocupação na me-lhoria auto-referenciada (orientação motivacionalpara a mestria/tarefa). A prática da Vela tambémrequer uma boa capacidade de visualizaçãoespacial dinâmica. Na situação de regata, o vele-jador realiza estimações constantemente, nabusca de relacionar a sua posição com as bóias(percurso) e com os adversários. Para tal, éfundamental saber detectar a direcção do vento

real e dispor de indicadores fiáveis. A dificuldadeem definir este processo, repercute-se numadiminuição dos níveis de auto-confiança, acom-panhado de insegurança nas manobras e dificul-dades de antecipação (idem).

Igualmente, verifica-se que para os jovensvelejadores existem outras situações passíveis de alterar os seus estados emocionais e psico-lógicos: (i) elevado número de decisões a tomar;(ii) afastamento da zona terrestre, realizando aprova de forma solitária e sem acompanhamentotécnico; (iii) elevado número de focos distraccio-nais, estando a configuração especial do percursosomente delimitada pela direcção do vento e depoucas bóias de sinalização; e, (iv) elevadasexigências atencionais.

Como tal, todas estas situações exigem muitatolerância à frustração (saber lidar com o fra-casso) e auto-controlo emocional em jovenspraticantes, dado que em diversos momentossucedem alterações de posição, o que facilmenteinduz oscilações nos níveis de motivação,autoconfiança e concentração. O instrumento deavaliação que nos propomos utilizar neste estudoquantifica sete variáveis, nomeadamente: auto-confiança, negatividade, atenção/concentração,visualização, motivação, positivismo e atitudecompetitiva. A relevância destas variáveis para aprática da vela é algo que carece fundamentação.A importância da preparação psicológica destesatletas parece-nos inquestionável, uma vez ascondições de “isolamento” em que a competiçãodecorre, a isso obriga. Acreditar nas suas capa-cidades (autoconfiança), manter-se em controloda situação, com ausência de negatividade, estaralerta para todos os indicadores necessário paraa identificação atempada das circunstâncias que devem educar as suas decisões (atenção//concentração), com regularidade, ao logo dacompetição, reafirmar as suas capacidades e/oudeterminação (atitude competitiva) são aspectos

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26 {Investigação

essenciais para a manutenção de um estadopsicológico compatível com as exigências im-postas pela competição. O desenvolvimento dascapacidades de visualização são um dos instru-mentos a que os velejadores podem recorrer parareconstruir os contextos em que as suas decisõesforam tomadas e quais as suas consequências,quer no imediato quer no resultado da regata.Face a estes aspectos parece-nos de interesseexplorar a relevância que o Inventário do PerfilPsicológico de Prestação possa ter no contextoda vela, uma vez que já evidenciou validadediscriminativa em outras modalidades e perfis de atletas.

Contudo e tendo em conta os (poucos)estudos realizados no contexto da Vela ligeira,denota-se uma lacuna no conhecimento dosfactores psicológicos revelados pelos atletasdurante a competição (principalmente os maisjovens), pelo que os principais trabalhos cientí-ficos têm-se centrado na tomada de decisão emsituação “laboratorial”1, 2, 3 ou em parâmetrosfisiológicos9.

Deste modo, duas questões orientam oobjectivo do presente estudo: Qual é o perfilpsicológico de prestação dos velejadores, talcomo aferido pelas variáveis em estudo nopresente trabalho? Destas variáveis, quais são asque determinam o rendimento em Vela ligeira?Assim, pretendemos definir as características queos melhores velejadores evidenciam (top-10) econhecer quais dos factores psicológicosintegrantes do EIPD, permitem determinarmelhores classificações desportivas.

Metodologia

Amostra

Quarenta e três jovens velejadores da classeOptimist participaram no estudo, de formavoluntária e anónima. Tinham idades compreen-didas entre os 10 e os 15 anos de idade (M= 12.86;SD= 1.39). Quando diferenciados por género,

Perfil psicológico e sua importância no rendimento em velaHélder M. Fernandes, C. Bombas, João P. Lázaro, J. Vasconcelos-Raposo

32 (74.4%) eram do sexo masculino (M= 12.81;SD= 1.38) e 11 (25.6%) eram do sexo feminino(M= 13.00; SD= 1.48). A amostra engloba atotalidade de alunos participantes no EncontroNacional de Actividades Náuticas, inserido noCampeonato Nacional de Desporto Escolar 2004.Considerando o panorama nacional da moda-lidade, a presente amostra possui uma granderepresentatividade nacional, dado os alunosenvolvidos nesta competição escolar tambémpertenceram (na sua maioria) a clubes federados.

Procedimentos

Aplicou-se o questionário Perfil Psicológicode Prestação desenvolvido por Loehr6 etraduzido para a população portuguesa porVasconcelos-Raposo13. Consiste em 42 itens res-pondidos de acordo com uma escala tipo Likertde 5 pontos (1: quase nunca; 5: quase sempre),agrupados em sete variáveis: auto-confiança,negatividade (negativismo), atenção (concen-tração), visualização, motivação, pensamentospositivos (positivismo) e atitude competitiva.Atletas de elite e com treino mental incorporadona sua preparação, apresentam valores superioresa 26, pelo que atletas com valores inferiores a 26evidencia-se a necessidade de integrar o treino de competências psicológicas nas suas rotinas de treino. O seu preenchimento decorreu noperíodo pré-competitivo, em ambiente calmo e sereno e demorou cerca de quinze minutos,não ocorrendo quaisquer dúvidas quanto à inter-pretação dos itens.

Posteriormente, procedeu-se à recolha da clas-sificação final dos velejadores após seis regatas.Para uma melhor interpretação dos resultados,define-se que para esta variável, valores maisbaixos estão associados a melhores rendimentos(classificações). Todos os dados foram recolhidosde forma anónima, pelo que somente se utilizouo número da vela para posterior atribuição daclassificação aos questionários preenchidos.

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27 {Investigação

EstatísticaQuanto aos procedimentos estatísticos, ini-

cialmente procedeu-se a uma inspecção à nor-malidade dos dados, recorrendo aos valores deskewness e kurtosis. Dada a normalidade demons-trada, para a comparação de grupos utilizou-se oteste t de Student para amostras independentes.Por fim, determinaram-se quais as variáveispsicológicas mais determinantes para a classifi-cação obtida, através da regressão linear múltiplamétodo backward (critério de remoção: Fé0.10).Para todos os procedimentos estatísticos foi defi-nido um valor de significância de 5% (* pç0.05;** pç0.01).

ResultadosO quadro 1 apresenta os valores da estatística

descritiva utilizada no que concerne a medidasde tendência central, dispersão, assimetria eachatamento.

Os resultados da análise descritiva indicamque os velejadores evidenciam valores médiosmais elevados para a motivação e autoconfiança.As variáveis com menores valores são os denegatividade e atenção. Para todos os factorespsicológicos verificou-se uma distribuição normal,na medida em que os valores absolutos doscoeficientes de assimetria e achatamento nãoforam superiores a 17.

Autoconfiança

Negatividade

Atenção

Visualização

Motivação

Positivismo

Atitudes competitivas

0.91

- 0.39

- 0.67

- 0.52

- 0.68

- 0.57

- 0.39

kurtosis

0.22

- 0.55

- 0.03

0.33

- 0.34

0.22

- 0.04

Skewness

29

24

26

28

30

29

29

Máximo

18

13

13

16

17

18

16

Mínimo

23.23 ± 2.98

19.70 ± 2.87

20.16 ± 3.48

21.26 ± 3.10

24.60 ± 3.53

22.95 ± 2.65

22.42 ± 3.06

M±SD

Quadro 1: Estatística descriva das variáveis dependentes.

De seguida, analisaram-se as diferenças entreos jovens velejadores classificados nas dez pri-meiras posições (top-10) e os restantes (> top-10)é indicada no quadro 2.

Autoconfiança

Negatividade

Atenção

Visualização

Motivação

Positivismo

Atitudes competitivas

24.40 ± 2.46

21.10 ± 1.45

21.50 ± 2.22

21.33 ± 2.85

26.30 ± 3.30

23.70 ± 2.79

22.60 ± 2.07

top 10M±SD

22.88 ± 3.07

19.27 ± 3.06

19.76 ± 3.71

21.00 ± 4.00

24.09 ± 3.49

22.73 ± 2.60

22.36 ± 3.32

> top 10M±SD

1.43

2.60

1.83

0.29

1.78

1.02

0.21

t

0.16

0.01*

0.08

0.77

0.08

0.31

0.83

p

Quadro 2: Análise comparativa por classificação obtida.

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28 {Investigação

Os melhores velejadores apresentaram valoresmédios mais elevados para todas as variáveispsicológicas. Contudo, somente se verificou umadiferença significativa para o factor negatividade(t(32.92) =2.60; p=0.01) (quadro 3).

Perfil psicológico e sua importância no rendimento em velaHélder M. Fernandes, C. Bombas, João P. Lázaro, J. Vasconcelos-Raposo

Por fim, os resultados obtidos a partir daanálise de regressão linear. Todas as variáveispsicológicas foram incorporadas inicialmente no modelo estimado, pelo que o método utili-zado somente definiu como variáveis preditivas,aquelas que melhor se ajustavam ao modelo emaior percentagem de variância explicavam.

Deste modo, o método utilizado demonstrouque os factores visualização e motivação permitemexplicar 21% da variância das classificaçõesobtidas pelos jovens velejadores, sendo por isso,variáveis importantes a considerar na definiçãodo rendimento em Vela ligeira. É interessantedenotar que a totalidade das sete variáveis contri-buem para explicar um total de 29% da variânciadas classificações (rendimento), contudo atravésde um modelo inadequado (F(7)= 2.05; p=0.076).

Modelo 1a

Modelo 1b

Modelo 1c

Modelo 1d

Modelo 1e

Modelo 1f

0.076

0.044*

0.023*

0.013*

0.012*

0.009**

p

2.05

2.44

2.98

3.62

4.15

5.34

F

0.149

0.171

0.191

0.200

0.184

0.171

R2 ajustado

0.291

0.289

0.287

0.276

0.242

0.211

R2

0.539

0.538

0.536

0.525

0.492

0.459

R

Quadro 3: Análise de regressão linear múltipla.

Nota: variáveis preditivas em cada modelo de regressão linear.a atitudes competitivas, visualização, negatividade, pensamentos positivos, autoconfiança, motivação e atenção;b atitudes competitivas, visualização, negatividade, pensamentos positivos, autoconfiança e motivação;c atitudes competitivas, visualização, pensamentos positivos, autoconfiança e motivação;d atitudes competitivas, visualização, autoconfiança e motivação;e visualização, autoconfiança e motivação;f visualização e motivação.

DiscussãoO contributo da caracterização psicológica

dos atletas e principalmente das dimensões queconstituem o seu perfil psicológico tem-se desen-volvido no contexto nacional12,13. O seu principalâmbito de aplicação tem sido a natação, tendocontudo sido extrapolado para outras moda-lidades desportivas, assumindo-se como umóptimo meio para a definição dos factores queafectam a prestação desportiva e maximizaçãodas capacidades humanas através da implemen-tação de técnicas de treino mental. Deste modoe dada a pouca investigação realizada em Velaligeira quanto à importância dos factores psico-lógicos, o presente estudo pretende ser um con-tributo, para melhorar esta situação, apresen-tando um tipo diferente de estudo na área dapsicologia do desporto no contexto da Vela emgeral, e em particular em atletas jovens.

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A importância dos factores psicológicos na definição do rendimento desportivo é algoque está sobejamente estudado, pelo que certasreferências atribuem uma importância àdimensão psicológica entre 40 a 90% do sucessodesportivo14. Igualmente é sugerido que quantomaior o nível competitivo, maior importânciaesta dimensão assume6,13. Um dos exemplosmais popularizados na literatura é a afirmaçãodo nadador Mark Spitz, que referiu que 99% do seu sucesso nos Jogos Olímpicos se deveu à preparação mental e não física ou técnica13,14.

Os resultados obtidos no presente estudodemonstram que os elementos desta amostrarevelam valores médios mais elevados quanto àmotivação e autoconfiança, e o negatividade é avariável psicológica com valores mais baixos. Nanossa opinião, esta última situação é problemá-tica, na medida em que persiste como variáveltipificadora do perfil psicológico de prestaçãodos atletas Portugueses, independentemente damodalidade desportiva em questão. Esta cons-tatação existe na literatura da especialidade, vaipara mais de 10 anos. Vasconcelos-Raposo13

afirma que a negatividade está presente em todosos níveis do sistema desportivo nacional e deve--se, em parte, ao facto dos treinadores seremmuito relutantes quanto à utilização do feedbackpositivo. Alguns problemas inerentemente citadostêm sido a falta de conhecimento técnico ecientífico respeitante à intervenção pedagógicaou, ainda, a uma preocupação exacerbada comos resultados da competição, menosprezando aqualidade da prestação. O controlo da negati-vidade, entre outros mecanismos ou estratégias,pode ser alcançado através da reestruturaçãocognitiva, promovendo uma orientação para oprocesso e que toma forma no desenvolvimentoda capacidade de percepcionar situações difíceiscomo desafiadoras, em vez de problemáticas oufrustrantes. Assim, a importância que o treinadorassume, refere-se à delimitação do feedbackfornecido e como este é percebido pelo atleta4.Por outro lado, deve-se proporcionar o controloda negatividade e de dúvida por parte do atleta,

através da substituição de um pensamentonegativo por um positivo, preferencialmente jápercepcionado em competição, numa situaçãode relaxamento muscular12. Considerando aespecificidade da Vela, tal deve decorrer numafase pré-competitiva ou entre regatas, na medidaem que a negatividade interfere na autoconfiançae na capacidade atencional, e consequentementena tomada de decisões. Como tal, na fase depreparação do atleta deverá existir a preocupaçãoem integrar momentos que conduzam o atleta aevocar mentalmente (“mental recall”) situaçõespositivas e gratificantes, associadas a um diálogointerno (“self-talk”) positivo 8 e que seja transfe-rível para o contexto da competição. Os mesmosautores salientam que a negatividade estão muitorelacionados com a atenção estreita-interna, peloque quanto mais o atleta se preocupa com estes,menor controlo haverá sobre o que se sucede no exterior.

Quanto à definição dos factores mais eviden-ciados pelos jovens velejadores com melhorprestação (incluídos no top-10), somente se deno-taram diferenças significativas para a variávelpsicológica negatividade. Sem querer repetiraspectos mencionados anteriormente, convémdestacar que tais pensamentos são fontes deinterferências e distracções que indiciam umaatitude negativa perante a competição. Destemodo, existe uma interferência desta variávelnos processo atencionais e, consequentemente,com o processo de tomada de decisão, namedida em que a informação não é conveniente-mente percepcionada e processada10.

Como referem Pinsach e Corominas8, a Velaé diferente de outras modalidades desportivas, namedida em que é necessário manter e modificara atenção durante muito tempo e considerandodiversos elementos distintos, proporcionando,assim, diversas mudanças de foco atencional.Deste modo, os níveis atencionais dos velejadoresdevem ajustar-se à actividade em si, tendo emconta que na situação de regata recorre-se aosquatro tipos de atenção (como definidos porNideffer) e que a capacidade fundamental será

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transitar de um tipo atencional para o outro,rapidamente, sem efeitos residuais e controlandoas interferências. Os mesmos autores propõemuma diferenciação psicológica para os veleja-dores de diferentes níveis competitivos, referindoque os melhores velejadores apresentam níveismais elevados de atenção e concentração,reconhecendo e antecipando mais facilmente assituações com que se deparam. Tal é evidenciadonos resultados obtidos no presente estudo, quan-do comparamos atletas englobados no top-10,com os restantes.

O controlo da negatividade proporcionamaiores níveis de concentração, possibilitandouma melhor selecção da informação. Osvelejadores “experts” serão capazes de adquiririnformação vantajosa do movimento dos seusadversários e do envolvimento, para a tomada de decisão e preparação da acção usando ummodelo antecipatório (Loehr, 1986). Como tal, odesenvolvimento do “expertise” nesta modalidadeprocessa-se através da optimização da relaçãovelocidade/precisão na redução do número deacções a desenvolver e no aumento da sua efi-cácia, delimitando-se uma melhor hierarquia deprioridades comportamentais em cada momentode prova e evitando uma sobrecarga informa-cional1. Em suma, pretende-se diminuir a ocor-rência de erros, de modo a reduzir os efeitosnefastos da negatividade associados.

No que concerne às variáveis psicológicasque permitiram predizer a classificação obtida porparte dos jovens velejadores, somente a visua-lização e a motivação integraram o modelo obtido.Como referido anteriormente, este desportorequer uma boa capacidade de visualizaçãoespacial dinâmica. Caso o velejador reveledificuldades na definição da direcção do vento,tal reduzirá os seus níveis de autoconfiança e promoverá negatividade, traduzida em dificul-dades na antecipação e insegurança nas manobrase rondagens de bóias.

Entende-se por visualização, o processo dereviver mentalmente situações conhecidas oudesconhecidas, sem percepção de informação

Perfil psicológico e sua importância no rendimento em velaHélder M. Fernandes, C. Bombas, João P. Lázaro, J. Vasconcelos-Raposo

exterior, seguindo uma sequência fiel à suaexecução real. Na Vela, este factor assume impor-tância na medida em que permite a redução deerros na situação desportiva real. Igualmentepossibilita visualizar situações pouco usuais(inesperadas), o que promove a autoconfiança,na medida em que o velejador desenvolveestratégias alternativas para a resolução dessetipo de problemas8. No estudo realizado porVasconcelos-Raposo13 com atletas de elite portu-gueses constatou-se que a visualização era umadas práticas que mais diferenciava os altletas deelite dos outros de nível menos competitivo.Como refere Loehr6, a visualização é um dosmeios mais eficazes no treino mental. Talpermite aos atletas, exercerem controlo absolutosobre os seus vários subsistemas, especialmenteo esquelético-motor e respectiva integraçãomente-corpo12,13. Do mesmo modo, o desenvolvi-mento deste factor psicológico – visualização –permite uma boa capacidade de configuraçãoespacial do campo de regatas, o que auxilia nadefinição de um plano de prova (e respectivosobjectivos) e sua operacionalização.

A outra variável a contribuir para a definiçãodo rendimento foi a motivação. A sua influênciana prestação desportiva está sobejamente estudada,existindo mesmo autores que assumem como omais importante dos factores psicológicos6.Considerando as diversas situações passíveis deocorrer numa regata, é essencial manter elevadosníveis motivacionais, para além de que neste tipode provas não existe a possibilidade de receberqualquer tipo de incentivos/reforços por partede elementos externos (público, treinador, ...).Deste modo, uma das preocupações centraisdos treinadores no período de formação dejovens velejadores é promover a autonomia e apredominância de atribuições causais internasnos atletas, para que estes definam uma orien-tação motivacional centrada na mestria/tarefa8,11.Deve-se evitar a comparação normativa com osadversários, na medida em que esta informaçãonão permite uma correcta definição da evoluçãodo rendimento. Como tal, em todo este processo,o treinador deve auxiliar na definição de objec-

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31 {Investigação

tivos atingíveis e concretos, avaliando a prestaçãodo velejador (processo) e não unicamente o seuresultado (produto). Pinsach e Corominas8

também salientam a importância de considerar aevolução dos velejadores ao longo do tempo, namedida em que a transição para outras classes,pode indiciar uma diminuição dos níveis motiva-cionais, originando o abandono desportivo.

Em suma, o presente estudo salienta a impor-tância de integrar o treino de competênciaspsicológicas nas rotinas de treino de jovensvelejadores. Inicialmente, deve-se promover atomada de consciência por parte do atleta sobrea forma como tende a reagir às várias situaçõescom que se depara antes das competições edurante as mesmas12 possibilitando, assim, adiminuição da ocorrência de negatividade, queinterferem na autoconfiança e controlo atencional.Os factores psicológicos mais demonstradospela amostra foram a autoconfiança e a moti-vação, sendo que estas variáveis são muitoimportantes no auto-controlo emocional. EmVela, este processo assume-se como essencial,

dado as diversas exigências específicas damodalidade quanto à propulsão, equilíbrio edirecção (definição da direcção do vento, manu-tenção do equilíbrio atleta-barco e sucessivasalterações de posição). A visualização e a moti-vação permitiram predizer o rendimento obtidopelos velejadores, evidenciando a importância da visualização na diminuição de erros e nadefinição espacial do campo de regatas e damotivação na definição de uma melhoria auto-referenciada centrada na autonomia. Estudosfuturos deverão centrar-se na delimitação doEIPD em outras classes (laser, star, tornado, ...) ena influência da integração de um treino decompetências psicológicas em velejadores, querde formação, quer de elite.

CorrespondênciaJosé Vasconcelos-RaposoRua Dr. Manuel Cardona5000-558 Vila Real. PortugalE-mail: [email protected]

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Perfil psicológico e sua importância no rendimento em velaHélder M. Fernandes, C. Bombas, João P. Lázaro, J. Vasconcelos-Raposo

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A compreensão e determinação das compo-nentes psicológicas geradoras de diferenças derendimento nos momentos de competição,revela-se fundamental para o desenvolvimentode intervenções adequadas ao nível do treinodesportivo. O presente estudo centrou-se nadeterminação das características psicológicasque definem os atletas paralímpicos, com basenos parâmetros do Perfil Psicológico de Prestação.A amostra foi constituída por 28 atletas (21 ho-mens e 7 mulheres) de quatro modalidades e trêstipos de deficiência, com idades compreendidasentre os 19 e os 49 anos (M= 31.14, SD= 6.69),que representam a totalidade dos atletas seleccio-nados para os Jogos Paralímpicos de Atenas2004 sem afectação cognitiva. O questionárioutilizado foi o do Perfil Psicológico de Prestação,que considera a avaliação de sete variáveispsicológicas: (i) autoconfiança, (ii) pensamentosnegativos, (iii) pensamentos positivos, (iv) atenção,(v) visualização, (vi) motivação e (vii) atitudecompetitiva. Os procedimentos estatísticos con-sistiram em análise descritiva, análise correlativae análise comparativa, para um nível de signifi-cância de 0.05. Os principais resultados indicaramníveis elevados de preparação psicológica, siste-mática para as variáveis motivação (27.43+1.99),autoconfiança (27.18+2.57) e atitude competitiva(25.61+2.68), e não sistemática para o positi-vismo (24.86+2.53), visualização (23.29+4.02),atenção (23,07+3,36) e negativismo (21.11+3.19).Evidenciaram-se ainda diferenças significativasentre os atletas de acordo com o tipo de defi-ciência, modalidade e títulos conquistados.

Palavras-chave: variáveis do Perfil Psicológico dePrestação, atletas paralímpicos.

Psychological profile of paralympicsathletes in Athens 2004The identification and comprehension of the

psychological components which determine thedifferences between the high performance athletesat competition time, is absolutely necessary inorder to choose the suitable interventions whencoaching. The present study describes theidentification of the psychological profiles thatdistinguish the athletes of different sportmodalities and different disabilities, based on thePsychological Performance Profile. The sampleconcerns 28 athletes (21 men and 7 women)from four sport modalities and three differentkinds of disability. The age of the athletesranged from 19 and 49 years old (M= 31.14,SD= 6.69), which represent the total athletesselected for the Athens 2004 Paralympic Games,without any cognitive problems. The inventoryused was that of the Psychological PerformanceProfile, who takes into consideration the eva-luation of seven psychological variables: self--confidence, negativism, positivism, attention,visualization, motivation and attitude control.The statistical procedures were based on descri-ptive, correlative and comparative analysis, with asignificance level of 0.05. The main resultsshowed high level of psychological preparation,regular for the variables: motivation (27.43+1.99),self-confidence (27.18+2.57) and attitude control(25.61+2.68), and non-regular for positivism(24.86+2.53), visualization (23.29+4.02), attention(23,07+3,36) and negativism (21.11+3.19). Thisstudy also found statistically important differencesbetween paralympic athletes according to thekind of handicap, sportive modality and ranks.

Key words: Psychological Performance Profilevariables, paralympic athletes.

Resumo Abstract

Data de submissão: Julho 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2007Ana Rita Bodas, João Paulo Lázaro, Hélder Miguel Fernandes

FCT - Centro de Estudos em Educação e Psicologia da Universidadede Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal)

Bodas, A.; Lázaro, J; Fernandes, H; Perfil psi-cológico de prestação dos atletas paralímpicosAtenas 2007. Motricidade 3(3): 33-43

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IntroduçãoA compreensão do efeito dos factores psico-

lógicos no comportamento humano em contextosdesportivos e dos efeitos psicológicos que aparticipação no desporto ou na actividade físicapoderão ter nos participantes, tem vindo acaracterizar o âmbito de estudo da Psicologia do Desporto1, pelo que a maior parte da pesquisaneste domínio tem apresentado dois objectivoscentrais: (i) compreender de que forma os factorespsicológicos afectam o rendimento desportivodos indivíduos; e (ii) como é que a participaçãono desporto e no exercício afecta o desenvolvi-mento psicológico, a saúde e o bem-estar dessesmesmos indivíduos18.

Pensamos então ser cada vez mais fundamentaluma abordagem multidisciplinar ao treino e àcompetição. Num momento desportivo como o actual, em que as diferenças patentes entre osatletas são cada vez mais reduzidas ao nível dapreparação física, capacidade técnica e compre-ensão e inteligência tácticas, a procura de novoselementos como são as competências psicológicas,revelam-se decisivas na busca de resultados.Isto acontece particularmente ao nível Olímpico,em que a diferença entre ganhar e perder distafrequentemente escassos milésimos ou milímetros.Sob estas condições, o sucesso está frequente-mente dependente da capacidade do indivíduopara controlar os factores psicológicos inerentesà performance, e assim competir ao seu melhornível, potencializando e explorando ao máximoas suas capacidades.

Uma preparação psicológica adequada esistemática revela-se decisiva para suprir umafalha, uma lacuna existente entre o que se é capazde fazer enquanto atleta e aquilo que realmentese faz durante uma prestação: a lacuna entre opotencial e a realização desse potencial7.

Para Vasconcelos-Raposo14 o desenvolvimentoda excelência depende directamente das atitudesface às exigências impostas pelo treino e com-petição. Assim, podemos não ser capazes decontrolar todas as situações em competição,

Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2007Ana Rita Bodas, João P. Lázaro, Hélder M. Fernandes

mas se controlarmos a nossa resposta a essassituações, estaremos a influir decisivamente nanossa performance, e no nosso controlo final sobrea mesma. “I can’t control the wind, but I can control myemotional reaction to the wind, and when I do, in a sense,I control the wind” 7.

O Desporto Adaptado tem registado umaevolução acentuada no plano puramente despor-tivo, sendo que esta pressão de desenvolvimentodesencadeia maiores exigências no plano dapreparação dos atletas, quer para o treino, querpara a competição. Se por um lado, os técnicostêm sentido grande necessidade em ter acesso ainformações específicas que possam apoiar o seutrabalho nas diferentes modalidades, sendo essasraras, não acessíveis e dispersas (facto que contri-bui para o empirismo latente na intervençãotécnica dos treinadores, e assim para algumasdificuldades evidenciadas na preparação dosatletas); por outro, parece-nos ser fundamentaluma procura de informação na área das compo-nentes mentais do treino, na medida em queestas possibilitam um melhor entendimentodos processos e respostas psicológicas (o quepode ser particularmente positivo neste tipo deatletas), e podem constituir uma mais valia, nãoapenas no Desporto Adaptado, mas no desenvol-vimento desportivo em geral.

A capacidade de alcançar níveis desejados econsistentes de performance em competição, estánaturalmente associada ao grau de preparação doatleta, mas estará sobretudo dependente daforma como essa preparação se coaduna com as exigências específicas da competição, pelo queo desenvolvimento das competências psicológicasdeverá ser orientado de acordo com essasmesmas exigências, que se revelam distintas deacordo com características particulares das dife-rentes modalidades.

Entre as diversas modalidades, o boccia é umdesporto algo peculiar que se distingue dos res-tantes pelo facto de solicitar um reduzido

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envolvimento muscular e energético, apresen-tando os atletas baixa condição física, mas emque a fadiga parece aparecer com algumafrequência, evidenciando-se fundamentalmenteao nível dos processos de concentração9. A umareduzida intensidade de esforço opõe-se a neces-sidade de uma elevada capacidade atencional,decorrente das exigências ao nível do controlopsicomotor, em especial da coordenação óculo--motora (grande precisão de acções), situaçãoonde um adequado treino de visualização mentalse pode revelar determinante. É um jogo degrande teor técnico e táctico, que exige fortecapacidade estratégica, e assim elevados níveis de autoconfiança na tomada de decisões durantetoda a prova. As suas características ao nível deduração e da existência de tempos de pausaintermédios durante a prova, exigem um elevadocontrolo emocional e uma preparação mentalcapaz de neutralizar ao máximo a ocorrência depensamentos negativos. Igualmente, a presençado público pode influir decisivamente nesteaspecto, se considerarmos a necessidade dedemonstração de competência destes atletasperante um “conjunto de olhares” capazes depercepcionar e avaliar as suas evidentes limi-tações físicas, situação capaz de influir no auto--conceito dos atletas no caso de uma prestaçãomenos bem sucedida. Deste modo, verifica--se uma elevada exigência ao nível psicológicodurante toda a prova, em que a acção do atletaestá frequentemente condicionada pela acçãoadversária.

No que respeita à natação e ao atletismo,verificam-se outras situações passíveis de alteraros seus estados emocionais e psicológicos. Emambas as modalidades constatamos uma predo-minância da capacidade técnica relativamente àtáctica, e uma elevada intensidade de esforço,que exige fundamentalmente ao nível da condiçãofísica dos atletas. Os factores psicológicosmanifestam-se essencialmente antes do início da

competição, visto serem provas na sua maioriarápidas, e em que a prestação do atleta não estácondicionada pela acção adversária (o resultadoocorre em função do tempo de prova). A suaduração influi ainda na percepção de factoresexternos, como a presença do público, pelo queneste parâmetro estas modalidades parecemser menos ameaçadoras para o auto-conceito eautoconfiança dos indivíduos, comparativamenteao boccia. O facto de as limitações físicas seremtambém menos evidentes, especialmente no casodo atletismo (praticado por cegos) pode tambémcontribuir para essa questão. Já no que concerneà natação, esta parece possuir elevadas exigênciasem termos emocionais, visto ser praticada nummeio com características particulares, em que oshandicaps físicos constituem um acréscimo impor-tante às dificuldades sentidas.

Pelo exposto, o propósito deste estudo foiidentificar o nível de preparação dos atletas nasdiferentes componentes psicológicas do treino,por forma a caracterizar um perfil de prestaçãoda elite do Desporto Adaptado nacional, quepossa contribuir com dados concretos e práticos(e não apenas suposições teóricas), susceptíveisde promover uma área de intervenção válida edeterminante no treino dos atletas de alto nível,e assim potenciar performances futuras comosejam próximas participações paralímpicas.

MetodologiaAmostra

A amostra foi constituída por 28 indivíduos(21 homens e 7 mulheres), com idades compre-endidas entre os 19 e os 49 anos (M= 31.14,SD=6.69), de 4 modalidades distintas, represen-tando 3 associações nacionais (ACAPO, AND-DEMOT e PCAND). Somente fizeram parte daamostra 28 atletas dos 41 que formaram acomitiva Paralímpica Portuguesa, pelo facto deos restantes 13 atletas possuírem défice

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cognitivo. No quadro 1 e 2 é feita a suacaracterização sistémica e de acordo comalgumas variáveis em estudo. Os procedimentosutilizados respeitam as normas internacionais deexperimentação com humanos (Declaração deHelsínquia de 1975).

ProcedimentosNa realização do presente estudo, utilizámos

o questionário do Perfil Psicológico de Prestação(PPP), originalmente desenvolvido por Loher

Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2007Ana Rita Bodas, João P. Lázaro, Hélder M. Fernandes

Quadro 1: Caracterização sistemática da amostra.

MASCULINO

n=21 (75.0%)

16 A 25 ANOS

n=4 (14.3%)

26 A 30 ANOS

n=15 (53.6%)

MAIS DE 30 ANOS

n=9 (32.1%)

PARALISIA CEREBRAL

n=11 (39.3%)

VISUAL

n=9 (32.1%)

MOTORA

n=8 (28.6%)

BOCCIA

n=9 (32.1%)

ATLETISMO

n=11 (39.3%)

NATAÇÃO

n=7 (25.0%)

EQUITAÇÃO

n=1 (3.6%)

FEMININO

n=7 (25.0%)

Número de sujeitosn=28

Sexo

Idade

Modalidade

Tipo dedeficiência

Quadro 2: Caracterização da amostra em função das variáveis anos de prática, número de anos de competição,número de internacionalizações, títulos conquistados e acompanhamento psicológico no desporto.

ATÉ 5n=4 (14.3%)

6 A 10n=8 (28.6%)

11 A 15n=8 (28.6%)

16 A 20n=6 (21.4%)

+ DE 20n=2 (7.1%)

MENOS DE 10n=12 (42.9%)

10 A 20n=9 (32.1%)

MAIS DE 20n=7 (25.0%)

ATÉ 5n=6 (21.4%)

6 A 10n=12 (42.9%)

11 A 15n=7 (25.0%)

16 A 20n=3 (10.7%)

Número de sujeitosn=28

Anos deprática

N.º de anosde competição

N.º deInternacion.

Títulosconquistados

Acomp.psicológico

SIM

n=3 (10.7%)

NÃO

n=25 (89.3%)

OLÍMPICO

n=11 (39.3%)

MUNDIAL

n=15 (53.6%)

EUROPEU

n=1 (3.6%)

NACIONAL

n=1 (3.6%)

(1986) e traduzido e validado para portuguêspor Vasconcelos-Raposo (1993). Este teste éconstituído por 42 questões que visam avaliar 7variáveis psicológicas de prestação: autoconfiança,pensamentos negativos, pensamentos positivos,atenção, visualização, motivação e atitude compe-titiva. Para cada uma das questões existem 5possibilidades de resposta fechada numa escalatipo Likert: quase sempre, frequentemente, àsvezes, raramente e quase nunca. Os valores desteteste oscilam entre 0 e 30, identificando trêsníveis de preparação psicológica dentro deste

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intervalo: (i) 0 a 19 - preparação mental fraca ouinexistente; (ii) 20 a 25 - preparação mental nãosistemática; (iii) 26 a 30 - excelentes skills psico-lógicos representativos de uma preparaçãomental sistemática. Os atletas cujos valores seapresentem iguais ou superiores a 26 em todosos parâmetros, revelam-se os mais consistentesnas suas prestações14.

Definiram-se como variáveis dependentes assete dimensões do PPP. Como variáveis indepen-dentes, delimitaram-se as seguintes: (i) idade: 16--25, 26-30 e mais de 30 anos; (ii) sexo: masculinoe feminino; (iii) tipo de deficiência: paralisiacerebral, deficiência visual e deficiência motora;(iv) modalidade praticada: boccia, atletismo,natação e equitação (esta dimensão não foiconsiderada na análise estatística comparativa,dado unicamente ser constituída por um indi-víduo); (v) títulos conquistados (nível): olímpico,mundial, europeu e nacional (tendo em contaque apenas existia um sujeito de nível europeu e um de nível nacional, estes não foram consi-derados na análise estatística); e, (vi) acompanha-mento por parte de um psicólogo do desporto:sim ou não.

EstatísticaInicialmente, recorremos à estatística descri-

tiva no sentido de efectuar por um lado a carac-terização da amostra, e por outro, verificar o scoreobtido por cada uma das variáveis (medidas detendência central), para a partir daí ser possívelidentificar o nível de preparação psicológica dos atletas.

Posteriormente, procedemos à análise compa-rativa de acordo com os diferentes gruposdefinidos pelas variáveis independentes, utili-zando o teste t de Student para amostras inde-pendentes quando comparámos dois grupos e aANOVA one-way (teste post-hoc Scheffé) quandocomparados três ou mais grupos. O programautilizado foi o SPSS 12.0, considerando um nívelde significância de 5% (p<0.05).

ResultadosOs quadros seguintes apresentam os resul-

tados em que se verificaram diferenças esta-tisticamente significativas.

Quadro 3: Análise descritiva e comparativa (Anova) por deficiência.

Visual

Motora

Paralisia Cerebral

M±SD p M±SDp

Autoconfiança Negativismo

27.91±2.39

0.01

3

21.55±3.39

25.33±2.60* 18.89±1.62*

28.71±1.25 23.29±3.15

Deficiência

0.01

6

* Diferença significativa entre Visual e Motora (p<0.05) no teste de Scheffé.

Quadro 4: Análise descritiva e comparativa (Anova) por modalidade e títulos conquistados.

Atletismo

M±SD p

Autoconfiança Motivação VisualizaçãoAtitude

Competitiva

24.00±2.19

26.89±1.45*‡

23.57±2.94

23.55±2.42

25.67±2.41

0.00

90.

037

M±SD p

26.64±2.11

28.20±1.74 0.04

9

M±SD p

21.27±4.56

24.73±3.28 0.03

4

M±SDp

24.55±2.30

27.78±1.72*‡

24.86±2.97 0.01

1Modalidade Boccia

Natação

Olímpico

Mundial

* Diferença significativa entre Boccia e Natação (p<0.05) no teste de Scheffé.‡ Diferença significativa entre Boccia e Atletismo (p<0.05) no teste de Scheffé.

Títulos

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38 {Investigação

DiscussãoQuando considerada a análise dos resultados

obtidos pela totalidade da amostra para cada umadas variáveis do Perfil Psicológico de Prestação,verificamos que os valores médios se situamdentro de dois intervalos distintos, correspon-dentes a dois diferentes níveis de preparaçãopsicológica. Deste modo, de acordo com Loehr7,os atletas apresentam indicadores de preparaçãomental, contudo não sistemática, para os cons-tructos atenção, negativismo, positivismo evisualização, tendo sido os valores obtidos nasrestantes variáveis (autoconfiança, motivação eatitude competitiva) reveladores de excelentes skillspsicológicos e representativos de uma prepa-ração mental sistemática, ou, na nossa opinião,de uma experiência acumulada que lhes permitealcançar esses níveis. Tal assume-se pelo factode somente três atletas serem acompanhadospor psicólogos do desporto.

De acordo com os dados obtidos, verificámosserem as variáveis autoconfiança e motivação,aquelas que apresentam uma valorização médiamais elevada, de entre as sete variáveis de estudo.Durand-Bush e Salmela2 encontraram resultadossemelhantes quando pretenderam caracterizar e avaliar o desenvolvimento e manutenção daperformance em 10 atletas de alto nível (campeõesmundiais e olímpicos). De todas as caracterís-ticas individuais de performance manifestadas,quatro delas distinguiram-se com os valores maiselevados, nomeadamente a autoconfiança e amotivação como sugerem os resultados do nossoestudo, sendo a criatividade e a perseverança,as restantes mais valorizadas.

O facto da motivação ter de todos o valormais elevado, leva-nos por um lado, a considerara existência de uma preparação mental maisconsistente por parte dos intervenientes noestudo. Todavia, suscita também algum interessepelo entendimento dos motivos que levam estesatletas a envolverem-se numa prática desportivade alto nível. Em concordância com a perspectiva

Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2007Ana Rita Bodas, João P. Lázaro, Hélder M. Fernandes

de Vasconcelos-Raposo16, que refere que a moti-vação tem necessidade de ser entendida comoum conceito culturalmente relativista, em que osmotivos para a participação desportiva diferemde indivíduo para indivíduo, consideramos esteconceito particular no Desporto Adaptado, ondea prática desportiva constitui originalmente um veículo para a afirmação e demonstração decompetência pessoal para o indivíduo portadorde deficiência.

Comparativamente com outros estudos exis-tentes no âmbito do Perfil Psicológico de Pres-tação e no que concerne à valorização média dasvariáveis dependentes, o nosso estudo apresentavalores mais elevados para todas elas à excepçãoda atenção, onde o estudo desenvolvido porVasconcelos-Raposo15 apresenta um valor supe-rior, e do negativismo, evidenciando-se o valormais elevado para esta variável no estudo deVasconcelos-Raposo e Carvalho17. Ao caracteri-zarmos o Perfil Psicológico de Prestação de atletasque apresentam comprometimentos físicos ealguns problemas sensório-motores graves aonível dos orgãos receptores de informação,facilmente depreendemos que as capacidadesatencionais e de concentração se apresentam àpartida em patamares completamente distintos,independentemente do grau de desenvolvimentoque as mesmas possam vir a atingir e dosindivíduos possuírem elevadas potencialidades,procurando constantemente a maximização dassuas capacidades como atletas.

Considerando que os atletas do nosso estudoevidenciam níveis de autoconfiança bastanteelevados, os valores apresentados no negativismoparecem sugerir apenas falta de preparação mentala este nível. Contudo, Vasconcelos-Raposo14

afirma que o negativismo está presente em todosos níveis do sistema desportivo nacional e deve--se ao facto dos treinadores serem muito relu-tantes quanto à utilização do feedback positivo.

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39 {Investigação

Alguns problemas inerentemente citados têmsido a falta de conhecimento técnico e científicorespeitante à intervenção pedagógica ou umapreocupação exacerbada nos resultados da compe-tição, menosprezando a qualidade da prestação.O controlo dos pensamentos negativos édefinido como a capacidade de percepcionarsituações difíceis como desafiadoras, em vez deproblemáticas ou frustrantes. A importânciaque o treinador assume, refere-se ao feedbackfornecido e como este é percebido pelo atleta.Por outro lado, o controlo dos pensamentosnegativos e de dúvida por parte do atleta, deve--se proporcionar através da substituição de umpensamento negativo por um positivo, preferen-cialmente já percepcionado em competição, numasituação de relaxamento muscular. Como tal, oatleta deve evocar mentalmente (“mental recall”)situações positivas e gratificantes, associadas aum diálogo interno (“self-talk”) positivo.

Através da análise comparativa dos nossosresultados em função da variável sexo, verifica-mos para ambos os sexos, valores indicadores deexcelentes skills psicológicos para as variáveisautoconfiança e motivação, sendo estes cons-tructos mais valorizados pelo sexo feminino,apesar das diferenças não serem estatisticamentesignificativas. Denotamos contudo alguma contra-dição no facto do sexo masculino apresentarsimultaneamente os valores mais elevados denegativismo e positivismo. Isto sugere que por umlado encaram a competição como ameaçadora,ao mesmo tempo que se consideram capazes esuficientemente competentes para obter sucessona mesma.

Parecem estar presentes, neste sentido, paraalém de uma preparação psicológica insuficiente,factores de ordem sócio-cultural, sendo evidenteuma maior pressão social sobre o sexo masculino,comparativamente a um nível de exigência socialmenos acentuado face às mulheres. Este facto édesencadeado por um processo de aculturação

mais favorável ao homem em termos desportivos,o que lhe possibilita mais vivências desportivas ecompetitivas. Podemos ainda referir que o sexomasculino manifestou índices de atenção supe-riores em relação ao sexo feminino, tal como oestudo efectuado por Nideffer e Bond12. Aoanalisarem os níveis de concentração em atletasde elite, os autores puderam concluir que osatletas do sexo masculino obtiveram valorespercentualmente superiores aos manifestadospelo sexo feminino.

A partir dos resultados obtidos, não severificaram diferenças significativas, quandocomparados os indivíduos da amostra de acordocom as diferentes idades. Contudo, verificámosuma maior valorização de todos os constructosexceptuando a visualização pelos dois intervalosetários mais elevados, o que pode suportar a noçãode que à medida que os atletas envelhecem, a suapreparação em termos psicológicos aumenta,sugerindo mais uma vez, a influência da expe-riência e da aprendizagem através da prática.Parece-nos importante salientar neste ponto,o facto das variáveis autoconfiança e motivaçãocontinuarem a evidenciar os valores mais elevados,sendo os valores, para ambas as variáveis, acimado score26 para todos os grupos de idades.

A motivação apresenta-se todavia com osvalores superiores e mais idênticos para os trêsgrupos de estudo definidos, situando-se entre os27 e 28 valores. Este facto é corroborado peloestudo efectuado por Durand-Bush e Salmela2,com o propósito de avaliar o desenvolvimento emanutenção da performance atlética em atletas dealto nível, numa amostra formada por 10 atletas(campeões do mundo e olímpicos). Nesse estudo,pese embora a estrutura de formação dos gruposetários utilizada não coincidir com aquela pornós definida, os valores mais elevados obtidosna variável motivação foram evidenciados poruma faixa etária que abarca os nossos três gruposde estudo. O facto da valorização média da

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40 {Investigação

visualização ser superior no grupo etário maisbaixo, leva-nos a salientar a importância destaestratégia de treino mental na aprendizagem deskills motores e a melhoria de performances des-portivas, o que verifica-se preferencialmente nasidades mais jovens6.

Verificaram-se diferenças estatisticamentesignificativas, entre os grupos de deficiênciamotora e de deficiência visual para as variáveisautoconfiança e negativismo, sendo de referirque os atletas com deficiência motora eviden-ciaram valores médios superiores para ambas.Parece-nos também importante salientar o factodos níveis de autoconfiança e atenção maiselevados terem sido revelados pelo grupo dedeficiência motora, mostrando a primeira umvalor médio no nível superior de preparaçãomental e a última se encontrar no extremosuperior de uma preparação mental não siste-mática (25 valores). De acordo com a literatura,existe uma forte ligação e interdependênciaentre estas duas variáveis.

De acordo com Nideffer11, situações de criseou imprevistos como as que acontecem nosJogos Olímpicos, são susceptíveis de provocardistracções múltiplas, o que exige que os atletassejam capazes de redireccionar o seu focoatencional para a prestação e para o desafiocompetitivo o mais rapidamente possível após asua ocorrência. Para o mesmo autor, em situaçõescomo a descrita, as consequências em termosatencionais, fisiológicos e de prestação depen-derão dos níveis de autoconfiança do atleta.Quando estes são elevados a atenção permanecedirigida para os pontos relevantes da tarefa;quando estes são baixos o processo de recupe-ração é retardado e o foco atencional perma-nece dirigido para questões internas, o que podeimplicar efeitos drásticos na performance.

No que respeita à paralisia cerebral, estamanifestou os índices mais baixos de atençãocomparativamente aos dois restantes tipos dedeficiência. De acordo com Marta9 a ParalisiaCerebral é acometida por problemas ao nível

Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2007Ana Rita Bodas, João P. Lázaro, Hélder M. Fernandes

perceptivo-motor, dificuldades de aprendizageme comunicação, e enormes défices atencionais.Desta premissa, podemos concluir que os baixosvalores apresentados pelos atletas portadores deparalisia cerebral para a variável atenção, derivamde características inerentes à deficiência.

Os baixos índices de negativismo manifes-tados pelos atletas que apresentam deficiênciavisual, significativamente diferentes dos encon-trados nos portadores de deficiência motora,poderão ser explicados exactamente pelo factodestes não possuírem uma capacidade percep-tiva desenvolvida nos parâmetros normais. Nodecorrer dos eventos desportivos, o grande fluxode informações erradas e passível de constituirum agente distráctil capaz de desencadear níveisindesejados de ansiedade competitiva e conse-quentemente de uma ocorrência (cascata) depensamentos negativos, surge principalmenteatravés daquilo que os nossos olhos observam,conjuntamente com todo um leque de estímulose sensações associadas.

Da análise efectuada às diferentes modalidadesparalímpicas, importa realçar que o boccia obteveos valores mais elevados em todas as variáveis,à excepção da atenção, denotando novamenteníveis muito elevados de motivação e autocon-fiança. De acordo com Ferreira3, um elevadoautoconceito e uma elevada autoestima socialneste tipo de população, está intimamenterelacionado com o facto de desempenharemuma actividade profissional onde se sintam úteis,vejam reconhecido o seu valor e alcancem umsentimento elevado acerca de si mesmos. Apesardos atletas desta modalidade possuírem limi-tações físicas muito acentuadas que não lhespermitem, na sua generalidade, desempenharuma actividade profissional nos moldes social-mente impostos, estes assumem a prática damodalidade como a sua própria profissão,de onde advêm tais percepções.

Assim, a profissão por estes desempenhada(assumindo-se eles como atletas de alta compe-tição) coincide com a actividade desportiva

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41 {Investigação

praticada, o que faz com que o prazer alcançadona actividade esteja aliado a um trabalho (treino)efectuado no mesmo sentido, resultando emelevados valores nos constructos em estudo. Osresultados do nosso estudo são idênticos aosencontrados por Gregório5, no qual os atletaspraticantes de boccia, apesar de não possuíremqualquer actividade profissional, revelam valoresigualmente elevados de auto-estima e auto--conceito. Os atletas de boccia possuem ainda os maiores índices de negativismo, pois são detodos os atletas, aqueles que possuem maistempo intermédio para pensar, devido às carac-terísticas da modalidade. Este pressuposto estáde acordo com Nideffer10, que caracterizou onegativismo como um comportamento que semanifesta sempre que um atleta tem muitotempo para pensar.

A partir dos resultados obtidos, constatou-sea existência de diferenças estatisticamente signi-ficativas, quando comparados os grupos deestudos em função dos títulos conquistados,tendo sido essas diferenças verificadas para asvariáveis positivismo, motivação e visualização.No sentido de compreender as diferenças nasdiversas variáveis, em relação aos títulos conquis-tados, comparámos os dados por nós obtidoscom os encontrados por Gould e Dieffenbach4.Estes autores realizaram um estudo com o pro-pósito de analisar as características psicológicas eo seu desenvolvimento em campeões olímpicos,sendo-lhes possível concluir que os atletas evi-denciam um número de características psicoló-gicas de elevado sucesso, bem como skills mentaisdiferenciados dos demais, que lhes permitemestados psicológicos óptimos.

Através da aplicação do teste das estratégiasde performance (Test of Performance Strategies: TOPS- desenvolvido por Thomas et al., 1999), e dacomparação dos valores da amostra olímpicacom valores obtidos por o estudo de Thomas et al.13 com atletas internacionais, os autoresapresentaram resultados em tudo semelhantesaos obtidos no nosso estudo. Pese embora o

TOPS assente em sub-escalas de observação de comportamentos diferenciados, e os dadosobtidos sejam traduzidos em intervalos numeri-camente mais baixos em relação ao Perfil Psicoló-gico de Prestação, o estudo, tal como o nosso,apresentou valores mais elevados na variávelatenção (por eles definida como controlo aten-cional) para os atletas olímpicos comparativa-mente aos internacionais, e valores mais baixosnas variáveis positivismo (self-talk positivo), nega-tivismo (pensamentos negativos) e visualização(imagery) para este grupo comparativamente aosatletas internacionais.

Os resultados por nós apresentados permitemainda inferir níveis motivacionais inferiores (e estatisticamente significativos) para os atletasolímpicos, comparativamente aos atletas mundiais.Um estudo elaborado por Mahoney8, ao tentaridentificar possíveis variáveis preditivas do altorendimento desportivo na diferenciação de atletasde elite e não elite, evidenciou que os atletas deelite se mostravam significativamente mais moti-vados e com maiores índices de auto-estima.

Quando observámos os valores obtidospelos atletas, para as variáveis do Perfil Psicoló-gico de Prestação, tendo em consideração o factode já terem tido ou não acompanhamento porparte de um psicólogo do desporto, verificámosde facto o esperado. Ou seja, que apesar de essenúmero de atletas ser bastante reduzido, elesobtêm valores consideravelmente superiores(apesar de estatisticamente não significativos),quando comparados com os demais atletas,exceptuando a variável negativismo, que obvia-mente se revela com níveis médios inferiores.

Deparamo-nos assim com uma evidênciaconcreta, da elevada ajuda que pode ser prestadapor parte destes técnicos na preparação mentaldos atletas para a competição, podendo essainfluência ser decisiva, a um nível competitivoonde pequenas diferenças no controlo mental e psicológico, podem constituir grandes dife-renças em termos de performance, e determinar o grau de sucesso obtido pelos atletas, o que vem

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42 {Investigação

a corroborar a opinião de muitos treinadores,quando estes afirmam que as variáveis psicológicassão as que mais diferenciam os atletas de rendi-mento nos momentos das grandes competições.

Em suma, o presente estudo evidencia umaprevalência de valores consideravelmente ele-vados, para todas as variáveis que compõem oPerfil Psicológico de Prestação, o que vai aoencontro do proposto pela literatura, que indicaque os atletas de elite se apresentam psicoló-gica e mentalmente melhor preparados para acompetição.

Contudo, a nossa observação dos resultados,leva-nos a considerar que estes não implicamnecessariamente que os atletas sejam alvo de umtreino mental sistemático, pelo que a experiência

Perfil psicológico de prestação dos atletas paralímpicos Atenas 2007Ana Rita Bodas, João P. Lázaro, Hélder M. Fernandes

competitiva nos pareceu revelar-se um factordeterminante nos valores demonstrados pelosatletas. E se é um facto que os nossos atletasrevelam elevados níveis de prestação desportiva,também é verdade que essa poderia ser talvezainda mais consistente e duradoura.

CorrespondênciaAna Rita BodasUniversidade de Trás-os-Montes e Alto DouroDepartamento de DesportoApartado 10135000 Vila Real, PortugalE-mail: [email protected]

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43 {Investigação

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44 {Investigação

Fundamentação: o estudo tem como objectivoverificar diferenças entre géneros na prestaçãoqualitativa e quantitativa nas habilidades locomo-toras: correr, saltar e habilidades manipulativas:lançar, pontapear. Metodologia: O estudo inte-grou uma amostra de 141 crianças, 79 do sexomsculino e 62 do sexo feminino, de 7 e 8 anos deidade, do 1.º ciclo do ensino básico do distrito de Vila Real. O produto foi avaliado através damédia das distâncias obtidas nos diferentesensaios nas habilidades saltar, lançar e pontapeare o tempo médio obtido nos cinco ensaios dacorrida. O processo foi avaliado com base nachecklist de Gallahue10. Resultados: Quandocomparamos a prestação entre rapazes e rapa-rigas registamos diferenças estatisticamentesignificativas, quer relativas ao processo, quer aoproduto de desempenho em todas as habilidades.Nas habilidades manipulativas as diferenças foramde maior magnitude, tendo o sexo masculinoapresentado padrões de execução e resultadossuperiores aos do sexo feminino. Conclusões:Os desempenhos significativamente superioresapresentados pelos rapazes em todas as habi-lidades, nomeadamente no lançar e pontapearevidenciam a influência dos factores de ordemsociocultural no desenvolvimento e aprendizagemdestas habilidades.

Palavra-chave: habilidades motoras, género, ava-liação processo e produto.

Differences between gendres in motorskills: running, jumping, throwing andkicking

Back Ground: the purpose of the present studywas to compare the differences between boysand girls in the basic motor skills: throwing andkicking (process and product). Methodology: thesample consisted of 141 children, 79 boys and62 girls aged between 7 and 8 who attended thesecond year of first phase of first cycle basicschool in the district of Vila Real. The motorproduct was assessed by the mean distanceobtained in repeated throws, jumps and kickstrials and time in running. The process wasassessed with a Gallahue’s10 checklist. Results:when we compared male and female motorperformance significant effects were observedboth at the level of motor process and in theproduct. Males showed highest product andprocess performance in manipulative skills likethrowing and kicking. Conclusions: the higherlevels of performance from males in all the skills,mannely in throwing and kicking showed theinfluence of sociocultural factors in motorlearning skills.

Keywords: motor skills, gender, process andproduct assessment.

Resumo Abstract

Data de submissão: Maio 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

Diferenças entre géneros nas habilidades: correr, saltar, lançare pontapearMaria Isabel Mourão Carvalhal, José Vasconcelos-Raposo

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD, Vila Real, Portugal

Carvalhal, M.; Vasconcelos-Raposo, J.; Diferençasentre géneros nas habilidades: correr, saltar,lançar e pontapear. Motricidade 3(3): 44-56

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45 {Investigação

IntroduçãoApesar de, durante a infância, não se regis-

tarem diferenças na prestação motora entre osgéneros, as diferenças vão acentuando-se, àmedida que a idade avança, tornando-se signifi-cativas durante a adolescência7,16,17,18.

As teorias biológicas justificam as diferençasentre géneros na prestação motora com base nas variáveis antropométricas, como o tamanhocorporal, morfologia e proporções corporais21,29 ena hereditariedade6.

Na opinião de Malina23, um maior tamanhocorporal e um maior comprimento de alavancaspor parte do sexo masculino vai proporcionar--lhe um melhor desempenho nas tarefas gros-seiras que exigem deslocamento do corpo noespaço e projecção de objectos, enquanto queuma maior quantidade de massa gorda, queequivale a mais peso morto para deslocar, porparte do sexo feminino, vai dificultar-lhe astarefas de deslocação do corpo no espaço.Haubenstricker e Sapp15 defendem que as ligeirasdiferenças verificadas a nível do tamanho e estru-tura corporal entre os rapazes e raparigas, nainfância, podem contribuir para as diferenças deprestação entre os dois sexos. A superioridadedos rapazes na altura e comprimento do braço,funcionam como vantagens a nível das alavancasna tarefa do lançamento, especialmente quandoestas vantagens estão associadas com uma maiorpercentagem de massa magra e maiores oportu-nidades de prática, como é o caso dos elementosmasculinos.

As teorias que explicam as diferenças combase nos factores do envolvimento centram-senas variáveis sócio-culturais como: os factoreseducativos, as expectativas culturais e as oportu-nidades de prática20,11,39. Os papéis atribuídos acada um dos sexos são diferentes, e desde que acriança nasce é estimulada a seguir um deter-minado modelo. Assim, as expectativas geradaspara cada um dos géneros são diferentes, depen-dendo do modelo a seguir, sendo também dife-

rentes as oportunidades de prática, e o encoraja-mento dado a cada um dos sexos. De acordo comesta perspectiva, as diferenças são socialmenteinduzidas, argumentando os defensores destateoria, que se fossem dadas as mesmas opor-tunidades, o mesmo encorajamento e as mesmasexpectativas, a rapazes e raparigas, as diferençasde prestação, antes da puberdade, seriam menores.

Na opinião de Thomas, Thomas e Gallagher42,as características do envolvimento (isto é, a situa-ção social, a quantidade de exercício, os colegas,os pais, os professores, as oportunidades, oencorajamento e a prática), são os factores prin-cipais na produção das diferenças entre os sexos.As variáveis biológicas (maturação e gordura)parecem mediar estas diferenças.

Habilidades Locomotoras: Corrida e Salto

Na infância as diferenças na prestação dacorrida entre géneros não se verifica28, ou sãomuito ligeiras24,25. Elas tornam-se mais evidentesa partir dos 9/10 anos2 e persistindo através daadolescência, devido à estabilização verificadaentre as raparigas no período da adolescência22.

Regista-se uma melhoria durante a infâncianos dois géneros, no entanto, a prestação dasraparigas torna-se estável na adolescência,enquanto nos rapazes a prestação apresentamelhorias desde a infância e na adolescência19.

Quando comparamos rapazes e raparigasquanto ao padrão de execução da corrida não seregistam diferenças significativas33,28, no entanto,os rapazes atingem o padrão maduro mais cedoe as raparigas levam mais tempo a fazer apassagem do estádio intermédio para o estádiomaduro37.

Na habilidade saltar, na infância, embora osrapazes apresentem níveis de prestação superioresaos das raparigas25, as diferenças são pequenas27,tornando-se significativas durante o período daadolescência16. Embora ambos os géneros apre-

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46 {Investigação

sentem melhorias à medida que a idade avança,na infância, as melhorias são de maior magnitudenos rapazes do que nas raparigas24. A partir dos14 anos, as raparigas apresentam decréscimos naprestação; os rapazes, pelo contrário, melhorama sua prestação até aos 17 anos16,25.

De acordo com Seefeldt e Haubenstricker16

(1982), no desenvolvimento da forma de saltar,não se registam diferenças entre os sexos, comoacontece com outras habilidades (lançar, recebere sticar). As diferenças entre géneros a nível daforma de execução surgem depois dos 9 anos etem a ver com o facto de os rapazes conseguirem,mais cedo do que as raparigas, flectir a coxa e otronco, o que acontece logo a partir dos 9 anosaté aos 12 anos9. Estes resultados levam-nos aconcluir que os rapazes progridem mais cedopara o padrão maduro do salto, a julgar pelasdiferenças verificadas na sequência da evoluçãodeste padrão.

Habilidades Manipulativas: Lançar e Pontapear

O lançamento, comparativamente com acorrida e o salto é a habilidade onde se registamas maiores diferenças entre géneros. Antes dapuberdade, o desempenho das raparigas nadistância do lançamento atinge apenas 54% e57% do dos rapazes, enquanto nas habilidadescorrida e salto representa 96% e 90% respectiva-mente14. É nesta habilidade que se verificam asmaiores diferenças entre rapazes e raparigas,apresentando os rapazes desempenhos significa-tivamente superiores aos das raparigas desdemuito cedo na infância. Desde a infância, osrapazes lançam significativamente mais longe do que as raparigas5,44,28 e estas diferenças prolon-gam-se pela adolescência16,25,34. As diferenças sãosempre significativas, quer quando a prestaçãofoi avaliada tendo em conta a distância ou avelocidade2,13.

As habilidades manipulativas como o lança-mento e o pontapé são aquelas onde se registam

Diferenças entre géneros nas habilidades: correr, saltar, lançar e pontapearMaria Isabel Mourão Carvalhal, José Vasconcelos-Raposo

as maiores diferenças e logo desde muito cedona infância. Tal como nas outras habilidadesestudadas, parece não haver justificação a nívelbiológico, para esta diferença entre os sexos, peloque serão factores mais de ordem cultural, comoo encorajamento e a prática, os responsáveispor estes resultados46. Por outro lado, Eckert7

defende que as diferenças se devem à maiorforça e um tamanho corporal superior por partedos rapazes. Por outro lado, Thomas, Thomas e Gallagher42 e Thomas41 são de opinião que amagnitude das diferenças registada no lança-mento pode ser reflexo de uma adaptação filoge-nética da espécie humana.

O Homem na caça e na pesca utilizava mo-vimentos de lançar, o que lhe proporcionou aaquisição e melhoria de um padrão de lançar,contrariamente às mulheres que exerciam funçõesque não exigiam a projecção de objectos, como o tomar conta dos filhos e cozinhar.

Estes argumentos poderão ser postos emcausa, face às conclusões obtidas num estudorecente sobre a utilização e fabricação de instru-mentos em chimpanzés. O estudo verificou, que,ao contrário do que se pensava, as fêmeas chim-panzés e os chimpanzés imaturos apresentaramuma maior frequência de períodos de caça e deutilização de instrumentos comparativamentecom os dos machos31.

Para os investigadores Thomas e French40, asdiferenças verificadas entre rapazes e raparigasnesta habilidade devem-se, fundamentalmente,a variáveis relacionadas com o envolvimento,a diferentes formas de encorajamento, às opor-tunidades de prática, ao reforço, dentro e forada escola, visto as raparigas serem educadas deforma diferente dos rapazes e as expectativascriadas diferirem para uns e para outros.

Zaichkowsky47, Gallahue10, Malina e Bouchard22

apontam, como factores determinantes paraestas diferenças um conjunto de factores ambien-tais, como os modelos culturais que se traduzemem oportunidades de prática diferenciada,dependentes dos hábitos de prática motora,

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47 {Investigação

lúdica e desportiva que determinadas culturaspromovem e motivam. Outros factores têm a vercom os processos de aprendizagem vivenciadospelas crianças através da qualidade e quantidadede experiências susceptíveis de lhes garantir osucesso na aprendizagem e gosto pela práti-ca motora. Quando se observam crianças emsituação de actividade livre regista-se uma supe-rioridade, frequência e tempo de utilização demovimentos manipulativos por parte do sexomasculino35.

As diferenças entre os géneros nesta habili-dade não são apenas restritas ao produto dedesempenho, mas também à forma comoexecutam esse movimento (processo). O padrãode lançamento dos rapazes é mais maduro do que o das raparigas, demonstrando umamaior amplitude de movimentos, um passomais comprido e um movimento de braços maisrápido29. Loveall e Nelson16 registaram diferençasno padrão de lançar em crianças do jardim--de-infância e esta superioridade registou-se emtodas as idades e aumentava à medida que aidade avançava. As acções motoras que explicamas diferenças entre o sexo masculino e o sexofeminino para esta habilidade são diferentes nosdois sexos. Para os rapazes, é fundamentalmentea acção do braço na idade pré-escolar e a acçãoda perna no 3.º grau que explicam a variaçãodo lançamento. Para as raparigas, a variação éexplicada pela rotação do tronco na idade pré--escolar e 3.º grau e a acção do braço no 8.º grau.

Por outro lado, as raparigas levam mais tempoa passar do 2.º para o 3.º e do 3.º para o 4.ºestádios de desenvolvimento37.

Relativamente à habilidade pontapé, devidoà grande variação registada na prestação, a idadenão parece ser um bom indicador do desenvol-vimento desta habilidade8. Estudos realizadoscom crianças e adultos, com programas direccio-nados para o desenvolvimento e aprendizagemdesta habilidade, os resultados apontam parauma fraca relação entre tempo de prática, forne-cimento de feedback e de demonstração36,30.

Os rapazes desde muito cedo demonstramfrequências superiores às raparigas nas ocor-rência das acções motoras pontapear e correr35.Os ganhos obtidos na prestação com o decorrerdo tempo são superiores nos rapazes, quando foiavaliada a prestação relativamente ao produto de desempenho4.

As diferenças verificadas no processo tambémsão grandes. Os rapazes atingem o padrãomaduro por volta dos 7 anos, enquanto que asraparigas, o conseguem apenas por volta dos 8,5anos. Na passagem dos estádios de desenvol-vimento, as raparigas levam muito mais tempona passagem do 2.º para o 3.º estádio, comparati-vamente com os rapazes. A passagem do 1.º parao 2.º e do 3.º para o 4.º estádio é idêntica emambos os sexos. As idades com que atingem cadaum dos estádios de desenvolvimento variam,sobretudo no 3.º e 4.º estádio.

Face ao exposto definimos os seguintesobjectivos:

1- Verificar qual o padrão de desenvolvimentonas habilidades: correr, saltar, lançar e pon-tapear;

2- Verificar se existem diferenças entre osgéneros na prestação quantitativa e quali-tativa nas habilidades: correr, saltar, lançar e pontapear;

3- Verificar qual a magnitude das diferençasnas habilidades manipulativas e locomotoras,entre o sexo feminino e masculino.

MetodologiaAmostraParticiparam no estudo 141 crianças com

idades compreendidas entre os 7 e 8 anos, quefrequentavam o Ensino Básico 1.º Ciclo, 1.º Fase,2.º ano pertencentes aos concelhos de Alijó,Régua, Chaves e Valpaços.

A amostra do nosso trabalho é constituída por141 crianças, 79 do sexo masculino e 62 do sexofeminino, com uma idade média de 91,1 meses.

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48 {Investigação

Na avaliação qualitativa do desempenho dacorrida, salto, lançamento e pontapé, foram uti-lizadas duas câmaras SVHS e um monitor Sony.

Foram também utilizadas as checklist de Gal-lahue10, para cada uma das habilidades. Antes de iniciar o visionamento das habilidades emestudo, o investigador treinou a observação decada uma das habilidades e classificou-as deacordo com o instrumento seleccionado.

Para verificar o grau de fidelidade intra--observador aplicou o índice de fidelidade deBellack em dois momentos diferentes, e, após terobtido índices de fidelidade superiores a 85%,como são recomendados pelo mesmo autor,passou então a avaliar cada uma das habilidades.Tal como se pode observar no quadro nº 3, osíndices de fidelidade intra-observador variaramentre 85% para o lançamento e os 95% para opontapé, tendo a corrida e o lançamento obtidovalores de 88,2% e 85% respectivamente.

Variáveis

Foi definida como variável independente o género: masculino e feminino.

As variáveis dependentes relativas ao desem-penho quantitativo, nas habilidades motoras,fundamentais foi para a corrida em velocidade –tempo de corrida (TC), para o salto de impulsãohorizontal – distância do salto (DS), para olançamento de uma bola de ténis por cima dacabeça - distância do lançamento (DL) e para opontapé de uma bola parada – distância dopontapé (DP).

As variáveis relativas ao desempenho quali-tativo para cada uma das habilidades foram osestádios de desenvolvimento (Inicial, Elementare Maduro) para cada habilidade: correr, saltar,lançar e pontapear.

Instrumentos

De forma a atingir os objectivos deste trabalhofoi necessário utilizar alguns equipamentos.

Na avaliação das variáveis dependentes, rela-tivamente ao desempenho motor da criança,foram utilizados testes de avaliação do desem-penho motor para cada uma das provas, corridaem velocidade, salto de impulsão horizontalsem balanço com os dois pés, lançamento emdistância de uma bola de ténis por cima dacabeça e pontapé de uma bola parada.

Para verificar a fiabilidade das medidas obtidaspara cada habilidade nos diferentes ensaios, foiutilizado o teste de correlação intra-classe, deacordo com a fórmula: R = (MSS-MSE) / MSS e

Diferenças entre géneros nas habilidades: correr, saltar, lançar e pontapearMaria Isabel Mourão Carvalhal, José Vasconcelos-Raposo

como podemos observar no quadro nº 2, oíndice de correlação para cada uma das provas éalto e os valores variam entre 0,98, para o salto,e 0,99, para as outras três provas.

Sexo masculino

Sexo feminino

Total

8,99

8,42

8,99

Máximo

7,26

7,25

7,25

Mínimo

0,31

0,28

0,30

DesvioPadrão

7,87

7,88

7,87

Média

79

62

141

N

Quadro 1: Caracterização da amostra por idade (decimal) e sexo.

Corrida

Salto

Lançamento

Pontapé

0,99

0,99

0,99

0,98

RProvas Motoras

Quadro 2: Coeficiente de correlação intra-classe (R)das provas motoras.

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49 {Investigação

Para comparar a prestação do sexo femininocom a do masculino, nas variáveis contínuas, foiutilizado o teste t de Student, para amostrasindependentes nas variáveis categóricas, medidasem escalas ordinais foi utilizado o teste de U deMann-Whitney.

ResultadosO sexo masculino apresentou índices de

prestação a nível quantitativos superiores aos dosexo feminino em todas as provas motoras.

Da leitura dos dados do quadro nº 4, podemosverificar que a média (2,1 e 2,3), para o sexomasculino e feminino, respectivamente, indica--nos que o sexo masculino apresenta uma supe-rioridade na prestação da corrida. Tendo em

conta os valores de t e de p (t= 5,4; p= 0,00)registados poderemos concluir que existem dife-renças significativas entre os grupos, com supe-rioridade do sexo masculino nesta habilidademotora.

Na habilidade do salto, a média obtida (0,9;e 0,8), respectivamente para o sexo masculino esexo feminino, indicam-nos diferenças entre osdois grupos. Face ao valor de t e de p (5,6; 0,00)obtido, no quadro nº 4, podemos concluir que osdois grupos são diferentes.

Através dos valores da média (12,5 e 7,6),obtidos, respectivamente, pelo sexo masculino epelo sexo feminino, podemos verificar asdiferenças de prestação na tarefa de lançamentopara os dois sexos. No quadro nº 4, podemos lero valor de t e de p (8,9; 0,00), pelo que podemosinferir que essas diferenças são estatisticamentesignificativas.

Relativamente ao pontapé, os valores da média(7,9 e 4,1), obtidos, respectivamente, pelo sexomasculino e feminino, indicam diferenças entreos dois grupos, face ao valor de t e de p (7,9;0,00) registado, podemos concluir que as diferen-ças são estatisticamente significativas, pelo quepodemos dizer que os dois grupos são diferentes.

Corrida

Salto

Lançamento

Pontapé

88,2%

85%

95%

86%

Índice de FidelidadeVariáveis

Quadro 3: Valores dos Índices de Bellack para asvariáveis motoras.

Corrida, seg.

Lançamento, m

Salto, m

Pontapé, m

Variável

Masculino Feminino

79

79

79

79

n

2,1

12,5

0,9

7,9

M

0,2

4,0

0,2

3,0

SD

2,1

12,4

1,0

7,7

Mediana

62

62

62

62

n

2,3

7,6

0,8

4,1

M

0,2

1,8

0,1

2,4

SD

5,4

8,9

5,6

7,9

t

2,3

7,5

0,8

3,5

Mediana

0,000*

0,000*

0,000*

0,000*

p

Quadro 4: Comparação da prestação (produto) em cada variável, de acordo com o sexo, n, média, desvio padrão,mediana valor de t e p.

Da análise dos quadros n.os 5, 6, 7 e 8,verificamos que o estádio de aquisição de cadauma das habilidades não é idêntico para os doisgéneros.

No padrão de corrida, 74,5% da maioria dascrianças situa-se no estádio maduro, não seregistando qualquer frequência no padrãoinicial. Quando comparamos os dois sexos,

* p<0,05

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Diferenças entre géneros nas habilidades: correr, saltar, lançar e pontapearMaria Isabel Mourão Carvalhal, José Vasconcelos-Raposo

Regista-se uma pequena percentagem de(1,3%) de rapazes no nível inicial, enquanto queas raparigas apresentam uma percentagem de(6,5%) neste mesmo nível. No nível maduro, osexo masculino apresenta uma percentagem maiselevada (29,1%), comparativamente com o sexofeminino (8,1%). Face ao valor de U e p (1850,0;0,001) registado, podemos inferir que o padrãode execução do pontapé é diferente.

No padrão de lançamento, observamos grandesdiferenças na distribuição das percentagens paracada um dos níveis de prestação nos dois grupos.

verificamos que a maioria dos rapazes e dasraparigas se encontra no padrão maduro, emboracom percentagens diferentes. O sexo masculinoapresenta uma percentagem mais elevada, com86,1%, enquanto que o sexo feminino apresentaapenas 62,9% no mesmo nível. Face ao valor deU e p (1881,5; 0,001) obtido, podemos dizer queexistem diferenças estatisticamente significativasentre os géneros no padrão de corrida.

No salto, ambos os sexos se encontrammaioritariamente no nível elementar, apresen-tando o sexo masculino uma percentagem de69,6% e o sexo feminino 85,5%.

Corrida

Variável

Masculino

Inicial

Elementar

Maduro

Total

0

11

68

79

Frequência

0

13,9

86,1

100

%

Feminino

0

11

68

79

Frequência

0

13,9

86,1

100

%

1881,5

U

0,001*

%

Quadro 5: Comparação da prestação (processo) da corrida, de acordo com o sexo, frequência, percentagem,valor de U e p.

Salto

Variável

Masculino

Inicial

Elementar

Maduro

Total

1

55

23

79

Frequência

1,3

69,6

29,1

100

%

Feminino

4

53

5

62

Frequência

6,5

85,5

8,1

100

%

1850,0

U

0,001*

%

Quadro 6: Comparação da prestação (processo) do salto, de acordo com o sexo, frequência, percentagem, valorde U e p.

Lançamento

Variável

Masculino

Inicial

Elementar

Maduro

Total

2

51

26

79

Frequência

2,5

64,6

32,9

100

%

Feminino

32

29

1

62

Frequência

51,6

46,8

1,6

100

%

895,5

U

0,000*

%

Quadro 7: Comparação da prestação (processo) do lançamento, de acordo com o sexo, frequência, percentagem,valor de U e p.

* p<0,05

* p<0,05

* p<0,05

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51 {Investigação

O sexo masculino encontra-se maioritariamenteno nível elementar (64,6%), enquanto que o sexofeminino (51,6%) se encontra no nível inicial. Onível maduro regista uma percentagem de 32,9%para o sexo masculino, enquanto que o sexofeminino apresenta apenas uma percentagem de 1,6% neste mesmo nível. Face ao valor de Ue p (895,5; 0,000) registado, as diferenças sãosignificativas, pelo que podemos concluir que osdois grupos apresentam um padrão de lança-mento diferente.

No pontapé, a distribuição pelos três níveisde prestação, nos dois sexos, também não é igual.O sexo masculino encontra-se, maioritariamente,no nível maduro (84,8%), enquanto que o sexofeminino se encontra no nível elementar (75,8%).Não há rapazes no nível inicial, ao contrário dasraparigas, cujo valor percentual, nesse nível, é de3,2%. No nível maduro, as raparigas apresentamuma percentagem de 21%. Face ao valor de U e p (873,5; 0,000) registado, podemos inferir queo padrão de execução do pontapé é diferente.

DiscussãoQuando foram comparados rapazes e raparigas

nas tarefas corrida, lançamento, salto e pontapé,tarefas consideradas grosseiras registaram-sediferenças significativas entre os géneros, relati-vamente ao produto de desempenho, favoráveisao sexo masculino. Estes resultados vão aoencontro dos estudos efectuados neste âmbitocomo os de Mline et al.24, Morris, et al.25, Beneficee Malina1, na corrida; Mline et al.24, Morris et al.25

Benefice e Malina1 no salto; Mourão-Carvalhal27,Halverson13, Benefice e Malina1 no lançamentoDias e Nascimento5; Van Beurden et al.44; Mourão--Carvalhal28, no pontapé DeOreo e Keogh4.

As diferenças entre os dois sexos não seregistam apenas no produto de desempenho,mas também no processo de desempenho dastarefas, isto é, a forma como se lança é deter-minante na distância alcançada pela bola, talcomo demonstram os resultados de Wickstrom45

e Ulrich43, que verificaram uma relação positiva,mas não directa, entre a forma e o produto dedesempenho. Segundo Ulrich43, à medida que sesobe na hierarquia dos estádios de desenvolvi-mento das habilidades motoras fundamentais,são atingidas execuções mais eficientes.

Dado que se tinham registado diferençasentre os sexos no produto da prestação, era deesperar a existência de diferenças na forma de desempenho. As maiores diferenças, relativa-mente ao produto, verificaram-se nas habilidadesdo lançamento e do pontapé, seguidas do salto e da corrida. Numa análise do processo dedesempenho, também se registaram diferenças,em ambos os sexos, nas mesmas habilidades.A percentagem de raparigas que atinge o estádiomaduro, 0,7%, no lançamento é significativa-mente inferior à percentagem dos rapazes,18,4%. No pontapé, 47,5% dos rapazes atinge oestádio maduro, enquanto que apenas 9,2% dasraparigas atingem esse estádio. No salto, 16,3%dos rapazes 3,5% das raparigas atingem o estádiomaduro. Na corrida, 48,9% dos rapazes e 27,7%das raparigas atingem o estádio maduro.

Pontapé

Variável

Masculino

Inicial

Elementar

Maduro

Total

0

12

67

79

Frequência

0

15,2

84,8

100

%

Feminino

2

47

13

62

Frequência

3,2

75,8

21,0

100

%

873,5

U

0,000*

%

Quadro 8: Comparação da prestação (processo) do pontapé, de acordo com o sexo, frequência, percentagem,valor de U e p.

* p<0,05

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52 {Investigação

Teoricamente, de acordo com o modelo deGallahue10 (1989), seria de esperar, que com estaidade, a maioria das crianças estivessem já noestádio maduro das habilidades estudadas, dadoque este estádio é atingido por volta dos 6, 7anos de idade. Os nossos resultados confirmamos de Seefeldt e Haubenstricker38. Os autoresverificaram que 40% das crianças com idadescompreendidas entre os 6 e 7 anos ainda nãotinham atingido o estádio maduro de grandeparte dos movimentos fundamentais. Malina eBouchard22 explicam estes resultados pela faltade coordenação motora, devida à imaturação do SNC, o que impede uma maior eficácia naprestação dos movimentos. Espenshade e Eckert9

registaram, também, diferenças entre os sexos nahabilidade de saltar. O sexo masculino atingiumais cedo o padrão maduro do salto. TambémSeefeldt39 registou diferenças entre os sexos nodesempenho do salto, com 60% do sexomasculino a atingirem o nível de desenvolvi-mento do padrão do salto com a idade de 9 anose meio e o sexo feminino com a idade de 10 anos.Nelson et al.29, Seefeldt e Haubenstricker37 regis-taram diferenças entre os dois sexos na formade desempenho do lançamento. No estudo deSeefeldt37 60% dos rapazes atingiram o lançamentocom a idade de 5 anos e 60% das raparigas coma idade de 8 anos.

De acordo com os dados de Seefeldt37, 60%dos rapazes atinge o padrão maduro no pontapépor volta dos 7 anos e 60% das raparigas porvolta dos 8 anos.

Tal como refere Gallahue10 o estádio elementardestas habilidades, característico dos 3 e dos 5anos, é atingido fundamentalmente pelos efeitosde maturação. Mas a maturação biológica, por sisó, não é suficiente para transformar ascapacidades em habilidades e estas, por sua vez,em técnicas específicas de cada uma das moda-lidades desportivas. O papel do envolvimentoatravés de uma prática/vivência estimulada,organizada e intencional é fundamental nodesenvolvimento de esquemas plásticos e fle-

Diferenças entre géneros nas habilidades: correr, saltar, lançar e pontapearMaria Isabel Mourão Carvalhal, José Vasconcelos-Raposo

xíveis, que se vão desenvolvendo e adaptandocom maior eficácia aos estímulos fornecidospelo meio envolvente.

É por isso que a maioria dos adultos seencontra neste estádio (elementar) em algumasdas habilidades fundamentais, como por exemplo,o lançar e o receber, visto não terem tidooportunidades de prática que permitissem a suaevolução para estádios de desenvolvimento maisavançados. Por outro lado, os mesmos autoresreferem também que o fracasso e o insucessonestas habilidades vai comprometer o sucesso ea aquisição dos movimentos especializados e,mais tarde, a participação nos desportos decompetição, uma vez que estas habilidades são ashabilidades base, praticadas na maioria dosdesportos, só que mais refinadas tecnicamente.Por esta razão, Seefeldt37, realçando a importânciada prática e da vivência deste tipo de movi-mentos nestas idades, introduziu, no seu modelode desenvolvimento, uma barreira, que deno-minou de barreira de eficiência, que precede ados movimentos especializados. Para que estabarreira seja ultrapassada, é necessário que acriança tenha oportunidades de prática e devivência de todos os movimentos fundamentais,pois encontra-se na fase óptima para aprender.Seefeldt e Haubenstricker37 consideram que estafase óptima se deve chamar de período sensível enão crítico; ao contrário do termo crítico, quesignifica está dependente, fundamentalmente,da maturação biológica, sensível implica que aaprendizagem ocorre com maior eficácia numdeterminado período no ciclo de vida, emborapossa ser atingida mais tarde.

De todas as tarefas observadas, aquela ondese registou uma maior magnitude de diferençasentre os sexos, foi, sem dúvida, o lançamento,seguida do pontapé, do salto e, por último, dacorrida. As tarefas onde se registaram maioresdiferenças entre os sexos foram as provas queexigiam a manipulação de objectos (bolas) comas mãos, como é o caso do lançamento, ou como pé, como é exemplo o pontapé. Estes tipos de habilidades são exigentes quanto ao tipo deespaços necessários para a sua prática. Isto é,

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53 {Investigação

necessitam de espaços amplos, no exterior parauma melhor experimentação e vivência de acçõesmotoras com bola, desde o lançar, receber,pontapear, ou a combinação de várias acções,como correr, lançar, entre outras. A superiori-dade do sexo masculino em todas as provas podeser explicada com base na forma como os doissexos passam o seu tempo livre. Se tivermos emconsideração os estudos sobre a actividade lúdicaefectuados na infância, verificamos que o com-portamento dos dois sexos é diferente, revelandoo sexo masculino maior dinamismo, competiti-vidade e agressividade nas suas brincadeiras,enquanto que o sexo feminino prefere actividadesmais sedentárias e com pouca utilização de bolas.De facto, esta forma de brincar do sexo mas-culino exige espaços mais amplos capazes depermitirem o desenvolvimento de brincadeirasmais dinâmicas, como é o caso das actividades de manipulação de bola, ao contrário do sexofeminino, para quem basta um espaço fechado e pequeno para as suas actividades menos dinâ-micas, mas mais interactivas verbalmente.

Uma vez que se regista uma inferioridadenestas habilidades, quer a nível do processo, querdo produto, por parte do sexo feminino, a suaparticipação nos desportos especializados estácomprometida, pelo insucesso e também pelaspressões sociais, nomeadamente as familiares,que vai ter que vencer. Podemos dizer que seentra num ciclo vicioso. A inferioridade registadanestas habilidades por parte do sexo feminino,devido à falta de oportunidades de prática, deencorajamento, e à forma como o seu quarto éequipado, aos brinquedos, (bonecas) para osquartos das raparigas propiciando jogos maisestáticos e comportamentos mais verbais do quemotores, enquanto que os dos rapazes têmbrinquedos mais complexos (bolas e carros),com componentes móveis, promovendo umaactividade motora mais dinâmica, e em espaçosmais amplos.

Também o papel esperado para o sexo femi-nino e o tipo de brincadeiras que experimenta,contribuirá para que se pense que o sexo feminino

apresente desempenhos inferiores aos do sexomasculino, por razões de natureza genética. Estanoção errada, põe de lado todos os processos deenculturação32 diferenciados que o sexo femininosofre ao longo da infância na aprendizagem doseu género sexual, e que têm uma continuidadepela vida fora. Esta inferioridade na prestaçãomotora das habilidades fundamentais, nestasidades, vai comprometer seriamente a sua par-ticipação nas actividades desportivas durante aúltima infância e adolescência, bem como nodesenvolvimento de hábitos de actividade física ao longo da vida, acarretando implicações a nívelda saúde, nomeadamente nas doenças hipoci-néticas, tão características do sexo feminino.

Todos estes aspectos vão levar a que os pais,educadores e a sociedade em geral confirmem aideia de que o sexo feminino é, realmente, inferiorao sexo masculino no desempenho motor, deuma forma global.

Thomas e Thomas40 são de opinião que asdiferenças entre os sexos, a nível da actividademotora, durante a infância são induzidas peloenvolvimento; depois da puberdade, são fruto de uma interacção entre envolvimento e biologia.

A explicação do desenvolvimento humano, e,do motor em particular, não se pode centrar emmodelos ou teorias que procuram interpretarcomportamentos numa única dimensão. O SerHumano não é uma soma de diferentes partes,independentes umas das outras, mas funcionacomo um todo, um conjunto, onde todas ascomponentes se interpenetram e que, comoafirmam Shweder38 e Raposo32 age intencional-mente num determinado contexto que é, por suavez, igualmente intencional.

CorrespondênciaUniversidade Trás-os-Montes e Alto DouroAvenida Dr. Manuel CardonaCIFOP - Departamento Desporto5000 Vila RealE-mail: [email protected]

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54 {Investigação

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57 {Investigação

Este estudo tem como objectivos: (i) exploraras relações entre o índice de massa corporal(IMC) e a percepção de competência física (PCFe/ou a Competência Efectiva em BasquetebolCEB; (ii) perceber a relação entre a PCF e a CEB,e (ii) determinar quais são as fontes de infor-mação que os jovens utilizam para determinar a percepção de competência física.

Para tal, foi aplicado a 156 jovens estudantescom idades compreendidas entre os 12 e 18 anos(M= 14.36; SD= 1.76), a subescala de percepçãode competência física (SPCF), a escala de informa-ção de competência física (PCIS) e um protocolopara a competência efectiva em Basquetebol.

Os principais resultados revelaram: (i) dife-renças estatisticamente significativas entre sexospara o IMC, apresentando os rapazes valoresmédios mais elevados; (ii) média superior dosrapazes superior às raparigas, para a PCF e CEB;(iii) diferenças estatisticamente significativas entresexos para os seguintes factores do PCIS: nega-tivismo pré-competitivo e atracção pelo Desporto;e, (iv) diferenças estatisticamente significativasentre as diferentes faixas etárias para o factoravaliação dos pais.

Palavras chave: Percepção de competência física,IMC, Basquetebol.

Relatioships between physical aptitudeperception, body mass index and trueaptitude in young basketball players

The purposes of this study were: (i) explorethe relationship between Body Mass Index (BMI)and Perceived Physical Competence (PPC),and/or Effective Basketball Competence (ECB);(ii) understand the relationship between PPC andECB; and, (iii) establish the sources of infor-mation that the young use to define the PPC.

A sample of 156 physical education students,with ages ranging from 12 to 18 years (M= 14.36;SD= 1.76), completed the perception of physicalcompetence subscale (PPCS) and the physicalcompetence source’s subscale (PCSS). They alsorealized a protocol to measure effective compe-tence in Basketball.

The main results revealed: (i) significant diffe-rences between boys and girls, while comparingBMI, with higher mean scores for boys;(ii) higher mean scores of PPC and BEC forboys; (iii) significant differences for the followingconstructs of the PCSS: pre-competition anxietyand sport attraction; and, (iv) significant diffe-rences between different groups of ages, forparent’s evaluation factor.

Keywords: Physical aptitude perception, bodymass index, Basketball

Resumo Abstract

Data de submissão: Maio 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

A relação entre a percepção de competência física, índice demassa corporal e competência efectiva em jovens praticantesde basquetebolSandro Ferreira, Hélder M. Fernandes, José Vasconscelos-Raposo

FCT - Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Actividade Física e Saúde

Ferreira, S.; Fernandes, H; Vasconcelos-Raposo, J.;A relação entre a percepção de competênciafísica, índice de massa corporal e competênciaefectiva em jovens praticantes de basquetebol.Motricidade 3(3): 57-72

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IntroduçãoAcredita-se que o desporto tem um papel

importante na socialização dos jovens, uma vezque o contacto social permite que eles adquirame desenvolvam valores sociais que são defen-didos por esta53. O Desporto é um contextoclássico de “realização” pessoal. O indivíduo ouas equipas confrontam-se para alcançar umobjectivo, ou confrontam-se para melhorar assuas prestações (podendo ser avaliado em termosde sucesso ou fracasso). Assim, os indivíduos oua equipa são os responsáveis pelo resultado e háum certo nível de desafio que é percepcionado.

Allen e Howe1 referem que a teoria da competência motivacional de Harter28,30 éajustada à explicação do comportamento dosjovens no Desporto, dado que o aspecto centralda teoria é a percepção individual de compe-tência num determinado domínio. Desta forma,quando um jovem acredita que é “competente”numa actividade, tende a estar mais predispostoa se envolver nessa actividade ou numa acti-vidade semelhante, no futuro. Ser competente no Desporto e nas habilidades desportivas, émuito importante para os jovens, em particularpara os rapazes53.

Dado que os rapazes sempre tiverammais liberdade do que as raparigas para perma-necerem na rua e jogarem a brincadeiras ha-bituais como o apanha, escondidas, ou à bola,o envolvimento das mulheres a um conjunto deprofissões que tradicionalmente são de homens(como no exército ou no Desporto), veio modifi-car a forma como esta se percepciona em diversosdomínios, nomeadamente no domínio físico.

Atendendo a este facto, aquilo a quenos propomos é examinar simultaneamente emdiferentes faixas etárias e entre sexos: (i) asrelações entre Índice de Massa Corporal (IMC) ea Percepção de Competência Física (PCF) e/oua Competência Efectiva em Basquetebol (CEB);(ii) a relação entre PCF e a CEB; e, (iii) deter-minar quais são as fontes de informação que osjovens utilizam para determinar a sua PCF.

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

A competência tem vários significados naPsicologia, indo desde um processo motivacional,até um comportamento efectivo na simplestarefa de viver22,25,46,60. A competência pertence aum conjunto de construtos que incluem o ego6,34,44,a auto-eficácia3,72 a inteligência e o compor-tamento inteligente13,58,61, a competência pré--mórbida24,52,75 e o desenvolvimento de tarefas57.

Para Butt12, a competência é a interacçãoefectiva do indivíduo com o meio ambiente. Paraeste, existem 5 grandes categorias do comporta-mento humano, que podem expressar a compe-tência: (i) competência física, (ii) competênciaintelectual, (iii) competência emocional, (iv)competência social e (v) competência espiritualou existencial. Não se pode esperar que umindivíduo tenha os mesmos níveis de competêncianas 5 categorias. No entanto, o indivíduo teráexperiências de competência nessas 5 categorias.

Para alguns autores1, 12, 62 a teoria dacompetência motivacional de Harter28 é ajustadaà explicação do comportamento dos jovens noDesporto. Inicialmente, esta teoria foi concep-tualizada por White72, sendo mais tarde operacio-nalizada por Harter28,30.

A tese de White refere que os indivíduosestão motivados para lidar com competênciadentro do seu domínio social e físico, e por isso,comprometendo-se em tentar a mestria. Se essastentativas para a mestria resultarem em sucessoou prestações competentes, serão vivenciadossentimentos que manterão a motivação intrín-seca do indivíduo63. Após 20 anos de dadosempíricos que suportaram esta teoria, Harter28

forneceu uma extensão refinada da formulaçãooriginal, que incluía várias componentes que in-fluenciam a orientação motivacional do indivíduo.

O aspecto central da teoria motivacional deHarter é a percepção individual de competêncianum determinado domínio1, pelo que este modelode competência motivacional prediz que a compe-tência percepcionada de um domínio de excelência,será crítica para uma subsequente motivação62.

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Na sua teoria, Harter argumenta que osindivíduos motivados intrinsecamente são aquelesque demonstram a sua habilidade na tentativa de mestria, usando critérios internos e objectivosrelativos à mestria para avaliar o sucesso e a suacompetência percepcionada63. Por outro lado, osindivíduos motivados extrinsecamente, evitamtentar a mestria, porque desta forma, minimizama probabilidade de demonstrar uma baixa compe-tência. Dependem de critérios externos paraavaliar a sua prestação (suporte social) e possuemuma baixa percepção da sua competência, peloque vivenciam situações de negativismo.

Quanto a estudos respeitantes à competênciapercepcionada e aos motivos de participação no Desporto, é possível retirar as seguintesconclusões: (i) os jovens com elevadas percepçõesde competência, estão mais motivados paradesenvolver as suas habilidades, enquanto os quepossuem uma elevada percepção de competênciasocial, estão motivados por razões de afiliação40;(ii) os participantes no Desporto apresentamuma maior percepção da sua competência física,do que os não participantes ou desistentes21,41,54,63;(iii) uma elevada percepção de competênciafísica, leva os jovens a esperar mais sucesso no futuro, prolongando o seu envolvimento naactividade54; e (iv) os atletas com uma elevadapercepção de competência física, consideraram odesenvolvimento das suas habilidades, a afiliação,e o divertimento, como razões mais importantespara a sua participação no Desporto55.

Harter referiu que um ponto crítico que seadicionou à teoria de White, envolve a história dasocialização do jovem. Desta forma, a influênciados outros no reforço da motivação intrínsecaou extrínseca, através do julgamento pessoal dacompetência e do controlo, é especialmentecrítico durante a infância e adolescência63. Assim,um aumento da motivação intrínseca levaria aum aumento da competência percepcionada1,enquanto uma percepção negativa, teria como

consequência uma diminuição da competênciapercepcionada, o que por sua vez levaria a umaumento da negativismo e uma diminuição dapossibilidade desse jovem se comprometer nofuturo em actividades desportivas. Tal comoWeiss e Duncan64 referem, a competência físicaestá relacionada significativamente com a crençada competência dos jovens, na aceitação social.

Por sua vez, o modelo de Harter tambémsugere que há uma relação entre o sucesso, apercepção de sucesso, a competência, o controlo,o afecto e a orientação motivacional, pelo queoriginou um conjunto de estudos que corroboramesta ideia63. Num outro trabalho65 foi reveladoque raparigas sub-avaliadas na sua percepção de competência, tinham valores baixos de moti-vação intrínseca e uma elevada negativismo,ao contrário das raparigas sobre-avaliadas, peloque as primeiras e mais generalizadamente, osjovens nesta situação, são sérios candidatos adesistirem mais cedo da prática desportiva.

Uma importante componente no modelo deHarter, é a preferência por fontes de informaçãoque reforcem as tentativas de mestria e de sucesso,assim como o estabelecer de objectivos. Oindivíduo que é motivado intrinsecamenteinterioriza um sistema de auto-recompensa edefine um conjunto de objectivos de mestriacomo resultado positivo das experiências de socia-lização. Contudo, o indivíduo que é motivadoextrinsecamente depende de uma aprovação ereforço externo, para julgar a sua habilidade e para definir objectivos.

A investigação nesta área tem evidenciadoque existem relações entre a idade e as fontes deinformação para julgar a competência física.Especificamente, os jovens com 8 e 9 anos usamo resultado dos jogos e os feedbacks dos adultos,dado que é algo muito concreto e facilmenteinterpretável. Ao contrário, os jovens de 10 a 14anos, utilizam a comparação com os colegas,para avaliar a sua competência.

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Nicholls48 construiu a noção de orientaçãomotivacional para a habilidade e para a tarefa.Ambas as orientações se relacionam com oconceito de habilidade18,47,73,74. No entanto, esteconceito foi visto como tendo diferentes signi-ficados para os indivíduos orientados para ahabilidade e para a tarefa.

Quando um indivíduo está envolvido para atarefa, uma maior aprendizagem resulta noaumento da competência percepcionada e a difi-culdade da tarefa e o julgamento da habilidadesão auto-referenciados59. Um atleta que estáorientado para a tarefa, tende a processar a suahabilidade em termos de critérios pessoais47.Porque um grande esforço despendido resultanuma maior aprendizagem, as tarefas difíceis eque necessitam de grande esforço, dão opor-tunidade para aprender e vivenciar sentimentosde competência.

A investigação suportou a teoria deNicholls48, quando referiu que os indivíduos comuma orientação para a habilidade/ego, acre-ditavam que eram bons atletas, quando a suaprestação era tão boa ou melhor que a dosoutros, ou melhor, mas despendiam com issomenos esforço. Contudo, os indivíduos comuma orientação para a tarefa, acreditavam queeram bons atletas quando trabalhavam, aprendiame melhoravam.

Quando falamos de um envolvimento para oego, esta orientação está relacionada com fontesde informação associadas à comparação social,tais como o resultado final de um jogo, avaliaçãodos outros e a comparação com os colegas74.Em contraste, a orientação para a tarefa, estárelacionada com fontes de informação como aaprendizagem e o esforço.

A variação da motivação intrínseca está asso-ciada segundo Nicholls50 e Dweck20 à orientaçãocognitiva. Presume-se que um envolvimentopara a tarefa estará positivamente associado auma motivação intrínseca, enquanto que um

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

envolvimento para o ego, corresponderá a umadiminuição dessa mesma motivação intrínseca.

Desta forma, quanto mais os indivíduos estãomotivados intrinsecamente, mais eles se percepcio-nam como competentes62, assim como as criançasmotivadas intrinsecamente, num determinadodomínio, percepcionar-se-ão como competentes.

O padrão geral de crescimento pós-natal émuito semelhante de indivíduo para indivíduo.Mas há uma variabilidade individual no querespeita à velocidade de crescimento em dife-rentes idades, considerando o corpo como umtodo ou apenas partes do corpo45. Estes mesmosautores, referem que cada medição corporalpermite obter informações específicas paraentendermos o crescimento.

O peso e a altura, são as suas medições maisusadas para estudar o crescimento, podendo serrelacionadas. Esta relação, por sua vez, é muitoutilizada em pré-adolescentes. Normalmente, ascrianças com problemas nutricionais têm umbaixo rácio peso/altura. Pelo contrário, as criançasinactivas e quase sempre bem nutridas, têmelevados rácios peso/altura.

O índice de massa corporal (IMC) representao quociente entre o peso (em quilogramas) e oquadrado da altura (em metros). Este índice é degrande importância prática: (i) tem uma corre-lação com a mortalidade e morbilidade gerais, erelação com diversas patologias, permitindo umaestratificação de riscos; (ii) permite a variaçãoindividual, dentro de cada zona de risco; e,(iii) correlaciona-se com a quantidade de massagorda, que na população geral pode ser preditapor ele, quer em indivíduos normoponderais,quer em obesos, correlação esta que aindamelhora, se for integrada com o sexo e a idade,mediante equações apropriadas.

Barata4 apresenta, para homens, grupos derisco entre os 25.1 e 30.0 kg/m2. Também foidefinido que como obesidade um IMC acima de 30.0 kg/m2.

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MetodologiaAmostraA amostra foi constituída por 156 jovens

estudantes sendo 76 do sexo masculino e 80 do sexo feminino. Os estudantes tinham idadescompreendidas entre os 12 e os 18 anos (M= = 14.36; SD= 1.76). A amostra englobou estu-dantes do 7.º, 10.º e 11.º anos de escolaridade.

Este grupo de idade foi escolhido, porque ainvestigação tem demonstrado que os jovenscom menos de 12 anos estão menos aptos a di-ferenciar o esforço da habilidade/competência,e por isso, são menos capazes de discernir a suaprópria competência.

ProcedimentosQuanto aos instrumentos, os alunos responde-

ram numa sala de aulas, à Subescala de Percepçãode Competência Física (SPCF) de Harter32,traduzida para português e à Escala de Infor-mação de Competência Física (PCIS)70, que tam-bém foi traduzida para português. Estes doisquestionários possibilitam ter acesso à percepçãoque cada aluno tem da sua competência (SPCF)e as fontes de informação que os alunos utilizampara definir essa competência (PCIS). O primeiroé composto por 7 itens, enquanto o segundo écomposto por 33 itens. Para ambos, foi utilizadauma escala tipo Likert de 5 pontos, em que 1corresponde a discordo completamente e 5 aconcordo completamente.

Depois de responderem aos questionários,foram medidas a altura e o peso para posteriorcálculo do IMC. Para a altura foi colocada umafita métrica na parede. Os indivíduos tinham quese colocar na posição anatómica de estudo e sódepois seria registada a medição. Para a mediçãodo peso, os indivíduos foram medidos sem cal-çado e apenas com uma t-shirt e calções45, comuma balança Salter Electronic. Ambas as mediçõesforam recolhidas entre as 9h30m e as 12h30m no período da manhã e das 16h30m às 18h30m,no período da tarde.

Para avaliar a competência efectiva em Basquetebol, os alunos começaram porcorrer 5 minutos à volta de 1/3 de um pavilhãodesportivo. Foi-lhes dito que o objectivo nãoseria chegar em primeiro lugar, mas sim, au-mentar a temperatura corporal, pelo que seriaimportante não pararem. Depois da corridacontínua, todos os alunos tiveram 10 minutos de treino de lances-livres (LL). Os alunos comidade inferior a 14 anos, lançaram de 4 metros,enquanto os alunos com idade superior a 14 anos,lançaram de 4.70 metros. Foram colocadas 2tabelas móveis com uma altura de 3.05 mt,paralelas uma à outra. Em cada uma, ficoucolocada uma fila com 5 bolas. O aluno lançava,recolhia o seu próprio ressalto e passava aoprimeiro colega da fila que não tinha bola.Houve uma demonstração inicial e foi-lhes ditopara não brincarem na fila aquando do LL,porque significaria que teriam menos lançamentosque os seus colegas da outra fila. Em cada tabelae em simultâneo, cada aluno realizou 10 LL,sendo essa percentagem registada no próprioquestionário pelos professores presentes.

As variáveis dependentes que suportama realização do nosso estudo, são o IMC, a PCF,a CEB e as fontes de informação onde os indi-víduos vão retirar a sua percepção de competência.

EstatísticaNos procedimentos estatísticos, foram calcu-

ladas as estatísticas descritivas (média e desviopadrão), para todas as variáveis. Foi realizadauma validação interna de cada factor do PCIS,obtendo-se o valor do α de Cronbach, que temcomo expressão máxima de validade interna ovalor de 1. Também foi realizada uma análisemultivariada (MANOVA), afim de testar asdiferenças entre sexos e grupos etários, paratodas as variáveis dependentes. Por fim, foiefectuada uma correlação produto-momento de Pearson (r) entre a PCF e a CEB.

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A análise multivariada, revelou-nos diferençasestatisticamente significativas entre as idades,para esta variável (F= 4.031; p<0.046).

Relativamente à PCF, os rapazes apresentamuma média superior à das raparigas. Também na competência efectiva no Basquetebol, osrapazes obtiveram valores médios mais elevados(quadro 3).

ResultadosA apresentação dos dados será feita com a

seguinte ordem: (i) análise dos resultados doIMC; (ii) análise dos resultados da SPCF; (iii)análise dos resultados da CEB; e, (iv) análise dosresultados do PCIS.

Assim, os seguintes quadros apresentam-nosa média e o desvio padrão do IMC, relativamenteao sexo (quadro 1) e à idade (quadro 2), respec-tivamente.

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

Verificamos que os rapazes obtiveram uma média de 20.99±3.34 e as raparigas de20.73±2.90. Quando analisando o IMC poridades, constatamos que são as idades de 14, 15,16 e 17 anos que apresentam os valores médiosmais elevados.

Quadro 1: Estatística descritiva do IMC por sexo.

3.34

2.90IMC

DesvioPadrão

20.99

20.73

Média

76

80

N

Masculino

Feminino

Sexo

Quadro 2: Estatística descritiva do IMC por idades.

3.48

3.56

3.32

2.67

1.90

2.25

3.52

IMC

DesvioPadrão

19.44

20.63

21.35

21.51

21.61

21.21

20.25

Média

30

25

29

31

22

9

10

N

12

13

14

15

16

17

18

Idade

Quadro 3:Estatística descritiva da PCF e da CEB por sexo

3.96

3.79PCF

DesvioPadrão

25.01

22.00

Média

76

80

16.85

11.26

25.13

13.50

76

80

N

Masculino

Feminino

CEBMasculino

Feminino

Sexo

Na análise da PCF por idades, verificamosque são as idades de 12, 13 e 18 anos, aapresentarem os valores médios mais elevados(quadro 4).

Quadro 4: Estatística descritiva da PCF por idades.

3.60

4.50

2.98

5.18

4.61

3.24

2.58

PCF

DesvioPadrão

25.20

24.44

23.00

22.71

22.27

22.67

23.30

Média

30

25

29

31

22

9

10

N

12

13

14

15

16

17

18

Idade

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63 {Investigação63 {Investigação

No quadro seguinte, podemos observar quesão os jovens de 16 anos que apresentam o valormédio mais alto de CEB, seguidos pelos jovensde 12 anos (quadro 5).

A correlação de Pearson revelou-nos umarelação baixa, mas significativa entre a PCF e aCEB (r= 0.182; p<0.05).

A análise multivariada (MANOVA)revelou-nos uma diferença estatisticamentesignificativa entre os sexos, quer para a PCF (F== 21.216; p<0.000), quer para a CEB (F= 24.484;p<0.000) (quadro 6).

Quadro 5: Estatística descritiva da CEB por idades.

16.54

10.00

17.26

12.83

18.19

10.00

15.67

CEB

DesvioPadrão

24.33

16.00

18.62

16.13

25.45

10.00

17.00

Média

30

25

29

31

22

9

10

N

12

13

14

15

16

17

18

Idade

Quadro 6: Valores da análise multivariada por sexo.

0.000

0.000

Sig.

21.216

24.484

F

1

1

Graus Liberdade

312.465

5006.219

Soma quadrados

PCF

CEB

Variável

O mesmo tipo de análise, revelou-nos umadiferença estatisticamente significativa na PCF,relativamente às diferentes idades da amostra(F= 4.031; p<0.046).

O PCIS permite-nos saber quais asfontes de informação que os jovens utilizam paraavaliar a sua competência física. No quadro 7,estão expostos o valores de α de Cronbach para osestudos de Weiss, Horn e Ebbeck70 e para onosso estudo. No primeiro, os quatro primeirosfactores obtiveram um valor superior a 0.70.Por isso, foram considerados indicadores fiáveis

para fontes de informação relativas à PCF. Nonosso estudo, só foram encontrados valores de αde Cronbach superiores a 0.70 na comparaçãosocial e avaliação dos pais. Nas restantes escalas(comportamentos auto-referenciados e negati-vismo pré-competitivo) os valores são inferiores,sendo quase iguais para o factor atracção peloDesporto e bastante mais baixos na facilidadeem aprender habilidades (quadro 7).

Apesar destes valores de consistência interna,quisemos determinar se existiam diferenças esta-tisticamente significativas entre os sexos e entreas idades, para estes seis factores.

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64 {Investigação

O quadro seguinte, mostra-nos a média edesvio padrão dos 6 factores diferenciados porsexo. Os rapazes apresentam valores superioresaos das raparigas, em 4 do total de 6 factores.Como tal, para os factores comparação social,comportamentos auto-referenciados, avaliação

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

dos pais e atracção pelo Desporto, o valor médiodos rapazes é superior ao das raparigas. Por suavez, para os factores negativismo pré-competi-tivo e facilidade em aprender habilidades, o valormédio das raparigas é superior ao dos rapazes(quadro 8).

Quadro 7: Valores α de Cronbach do estudo de Weiss, Horn e Ebbeck (1997) e do presente estudo (2001).

0.79

0.62

0.70

0.68

0.69

0.27

0.88

0.84

0.80

0.72

0.68

0.61

Weiss,Horn e Ebbeck(1997)

Ferreira, Raposoe Fernandes (2001)

Comparação Social

Comportamentos auto-referenciados

Avaliação dos pais

Negativismo pré-competitivo

Atracção pelo Desporto

Facilidade em aprender habilidades

Factores

Quadro 8: Média e desvio padrão para os 6 factores do PCIS por sexo.

Sexo N Média Desvio Padrão

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

76

80

76

80

76

80

76

80

76

80

76

80

42.63

40.19

33.55

33.06

10.22

9.99

9.03

10.20

8.89

8.38

10.12

10.41

6.97

7.06

3.75

3.57

2.54

2.39

2.89

2.46

1.41

1.41

1.90

1.86

Comparação Social

Comportamentosauto-referenciados

Avaliação dos pais

Negativismo pré-competitivo

Atracção pelo Desporto

Facilidade emaprender habilidades

Factores

A análise multivariada entre sexos para osfactores do PCIS, revelou-nos diferençasestatisticamente significativas para os factores

negativismo pré-competitivo (F=6.522;p<0.012) e atracção pelo Desporto (F=5.065;p<0.026) (quadro 9).

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65 {Investigação

Quando analisamos estes 6 factores poridades, constatamos apenas uma diferença esta-tisticamente significativa para o factor avaliaçãodos pais (F= 11.151; p<0.001). Desta forma,neste mesmo factor os valores médios maiselevados foram para as idades de 13, 12 e 18anos, respectivamente (quadro 10).

Quadro 9: Valores de F da análise multivariada por sexo.

0.012

Sig.

6.552

F

1

Graus Liberdade

46.832

Soma quadrados

NegativismoPré-competitivo

0.0265.065110.194Atracçãopelo Desporto

Variável

Quadro 10: Estatística descritiva do factor Compa-ração Social por idades.

6.727.135.878.098.885.064.09

Comp.Social

DesvioPadrão

43.0043.3640.7639.9039.5040.8942.50

Média

30252931229

10

N

12131415161718

Idade

Quadro 11: Estatística descritiva do factor Compor-tamentos Auto-referenciados por idades.

3.894.303.143.753.073.411.78

Comport.Auto--referenc.

DesvioPadrão

32.9033.6032.7234.0035.0031.1131.50

Média

30252931229

10

N

12131415161718

Idade

No factor comportamentos auto-referen-ciados, os jovens com 15 e 16 anos de idade,foram os que obtiveram valores médios maiselevados (quadro 11).

Quadro 12: Estatística descritiva do factor Avaliaçãodos Pais por idades.

1.922.262.232.752.552.391.93

Avaliaçãodos Pais

DesvioPadrão

11.3710.729.45

10.038.95

10.788.80

Média

30252931229

10

N

12131415161718

Idade

Para o factor avaliação dos pais, os jovens com12, 13 e 17 anos de idade, apresentaram os va-lores mais elevados, respectivamente (quadro 12).

Quadro 13: Estatística descritiva do factor Nega-tivismo Pré-competitivo por idades.

2.622.742.472.802.792.243.60

Negat.Pré--compet.

DesvioPadrão

9.378.56

10.149.68

10.4110.009.40

Média

30252931229

10

N

12131415161718

Idade

Para o factor negativismo pré-competitivo, osvalores médios mais elevados foram os dosjovens de 16, 14 e 17 anos, respectivamente(quadro 13).

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66 {Investigação

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

Segundo Barata4, as consequências nefastasdum défice ou de uma sobrecarga ponderal,têm conduzido a múltiplas tentativas de elaborartabelas de pesos recomendáveis, com base naidade, altura e peso. A generalização dos segurosde vida e de saúde, implementou o uso de fór-mulas deste tipo e algumas delas ainda em uso,são provenientes de importantes companhias deseguros norte-americanas. A crítica global a estasfórmulas é que não há um peso ideal em termosrígidos, mas sim um balizamento entre pesosaconselháveis, os quais variam em função dosomatótipo do indivíduo. O IMC permite umescalonamento e tem várias vantagens sobreessas equações. Quando analisamos os resultadosobtidos, quer nos rapazes (20.99±3.34) quer nasraparigas (20.73±2.90) e mesmo até nos gruposetários, verificamos que todos os valores estãodentro dos valores recomendáveis para a classifi-cação de peso óptimo, que é entre 20.1 e 25 kg/m2.Curiosamente, os valores apresentados pelosrapazes são superiores ao das raparigas.

Estes resultados são passíveis de várias inter-pretações. Como o IMC representa o quocienteentre o peso e o quadrado da altura, e como aaltura da população tem vindo a aumentar, énotório que o crescimento dos rapazes tem sidomais acentuado nos rapazes, do que nasraparigas. Outra interpretação que podemosretirar destes resultados, é que os rapazes têmvindo a aumentar de peso. Este aumento, por suavez, pode ser devido ao aumento da massamuscular ou da massa gorda (MG). Baratarefere que os jovens do sexo masculino sãoconsiderados obesos, quando a MG ultrapassaos 20 ou 25% do seu peso. Nos jovens do sexofeminino, considera-se haver obesidade quandoos valores de MG atingem os 30% do seu peso.Por sua vez, a evolução da sociedade e a par desta,a industrialização e a mecanização das tarefasdos jovens, tem provocado algumas alteraçõesnos padrões de vida, o que tem resultado numadiminuição da quantidade de actividade, ou seja,uma hipo-actividade14. Esta pode muito bem ser

Quadro 14: Estatística descritiva do factor Atracçãopelo Desporto por idades.

1.65

1.62

1.13

1.35

1.47

1.09

1.41

AtracçãopeloDesporto

DesvioPadrão

8.63

8.28

9.00

8.81

8.50

8.78

8.00

Média

30

25

29

31

22

9

10

N

12

13

14

15

16

17

18

Idade

Na atracção pelo Desporto, o valor médio maisalto é dos jovens de 14 anos, seguido dos jovens de 15 e 17 anos, respectivamente (quadro 14).

Quadro 15: Estatística descritiva do factor Facilidadeem aprender habilidades por idades.

1.83

1.81

2.04

2.04

1.95

1.00

1.85

Fac. emaprenderhabilid.

DesvioPadrão

10.33

10.12

10.00

10.61

10.09

11.00

9.90

Média

30

25

29

31

22

9

10

N

12

13

14

15

16

17

18

Idade

Finalmente, para a facilidade de aprenderhabilidades, o valor médio mais elevado, verifica--se nos jovens com 17 anos, seguido dos jovensde 15 e 12 anos de idade, respectivamente(quadro 15).

DiscussãoA discussão dos dados obtidos terá a seguinte

sequência: (i) discussão dos resultados do IMC;(ii) discussão dos resultados da PCF e da CEB;e, (iii) discussão dos resultados obtidos no PCIS.

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67 {Investigação

a explicação para os valores de IMC superiornos rapazes. Também com esta modernização,os jovens começaram a ocupar grande parte do seu tempo a ver televisão e a brincar com os computadores. Os hábitos alimentares têmsofrido igualmente algumas alterações na po-pulação em geral, e também pode ter um efeitono aumento de peso da população.

Não encontramos diferenças estatisticamentesignificativas entre sexos, mas sim entre idades(F= 4.031; p<0.046). Isto significa, que o IMCtem um crescimento natural em cada faixa etária,devido aos processos maturacionais que os jovensvão sofrendo.

Horn e Weiss38 correlacionaram a percepçãode competência (PC) com a competência efec-tiva (CE), medida por professores e estes dadosrevelaram que os jovens tornaram-se maisprecisos na sua PC com a idade. Este estudotambém correlaciona a PCF com a CE. Noentanto, na CE utilizamos os LL do Basquetebol,porque desta forma não tivemos nenhumainterferência para a obtenção desta variável. Acorrelação foi fraca mas significativa (r= 0.182;p<0.05), pelo que podemos afirmar que aamostra é precisa na sua PCF. Estes autoresreferem que estas diferenças na precisão deanálise da PC podem estar associadas, pelomenos em parte, às fontes de informação que osjovens usam para julgar a sua competência.

No presente estudo, os rapazes obtiveramvalores de PCF superiores aos das raparigas(25.01±3.96 e 22.00±3.79, respectivamente). Osrapazes obtiveram igualmente valores superioresde CEB. Estes resultados vêm corroborar que aPCF dos rapazes é bastante precisa. Williams eGill73 também encontraram valores significativa-mente mais elevados de PCF nos rapazes do quenas raparigas (F= 15.15; p<0.01). Nos estudosde Klint e Weiss40 e Ryckman e Hamel55, os jovenscom uma elevada PCF estavam mais motivadospara desenvolver as suas habilidades, ao contráriodos seus colegas. E ainda consideravam odivertimento como uma razão para a sua prática,

ou seja, reportaram factores intrínsecos comomais importantes que os factores extrínsecos.

Feltz e Petlichkoff21 relacionaram a PCF coma participação dos jovens nos programasdesportivos. Estes autores encontraram valoresde PCF mais elevados nos jovens que partici-pavam no Desporto, relativamente aos jovensque desistiram dessa participação. Nesse mesmoestudo, os rapazes também obtiveram resultadossuperiores às raparigas na PCF (2.97±0.51 e2.75±0.49, respectivamente). Resultados idênticosobtiveram-se na nossa amostra, em que osrapazes tiveram valores médios de atracção peloDesporto (8.89±1.41) superiores às raparigas(8.38±1.41), chegando-se mesmo a verificar dife-renças estatisticamente significativas (F= 5.065;p<0.026). Podemos inferir que provavelmente,os rapazes da nossa amostra têm uma maiorpredisposição para a participação em programasdesportivos. E isto porque, Weiss e Duncan64

referem que existe uma relação entre a com-petência física e a aceitação social (r= 0.75;p<0.05), sugerindo que os jovens acreditam que as habilidades atléticas estão totalmenteassociadas à percepção de aceitação social.Também Roberts54 encontraram uma evidênciaque sugere que uma elevada PCF levaria os jovensa esperar mais sucesso desportivo no futuro edesta forma, prolongarem o seu envolvimentonesse Desporto.

Quando analisamos a PCF e a CEB nosescalões etários, comprovamos que nem todosos jovens com uma elevada PCF (por exemploos jovens de 18 anos, apresentam um valor médiode 23.30±2.58) são na prática, competentes nodomínio da CEB (17.00±15.67, respectivamente).No entanto, os jovens de 12 anos que possuíamvalores médios de PCF de 25.20±3.60, são defacto, dos mais competentes no domínio físicoda modalidade de Basquetebol (24.33±16.54,respectivamente). Concomitantemente, o contráriotambém se verificou. Assim, os jovens com 16anos obtiveram os valores mais baixos de PCF(22.27±4.61) e no entanto, foram aqueles que

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68 {Investigação

conseguiram ser mais competentes nesta moda-lidade (25.45±18.19). A análise multivariadarevelou-nos diferenças estatisticamente significa-tivas para a idade, no domínio da PCF (F= 4.031;p<0.046). Estes resultados podem reflectir ocrescente interesse dos jovens por outrasactividades que não sejam as desportivas. Osjovens de 12 anos, ainda brincam na rua esocialmente não lhes fica mal, jogarem à bola oucorrerem nos pátios das escolas. Para os jovensde 16 anos, embora os resultados demonstram-se competentes nesta modalidade, estes não sepercepcionam como tal. Isto acontece, devido aum período de grandes transformações esque-léticas, o que pode tornar o jovem “desajeitado”.Assim, o desenvolvimento da estatura é maisacentuado que o do peso. E aumenta o interessepela aparência pessoal, porque também aumentao interesse pelo sexo oposto.

O modelo da competência motivacional deHarter28,30 ajudará os educadores a compreen-derem e a explicarem o comportamento dosjovens e dos adolescentes. As relações entrefaixas etárias e as fontes de informação que osjovens utilizam para construir a sua PC, foramnovamente aqui estudadas.

Assim como os dados de Horn e Hasbrook35

e Horn e Weiss38, neste estudo os jovens maisnovos (12 anos) obtiveram valores médios deavaliação dos pais (à excepção dos jovens de 17anos), superiores aos jovens mais velhos (>15anos). O mesmo não sucede nos valores decomparação social. Os resultados de Horn eHasbrook, assim como com o de Horn e Weiss)e Weiss, Horn e Ebbeck70 encontraram valoressuperiores na comparação social nos jovens maisvelhos, comparativamente aos jovens mais novos.O nosso estudo, apresenta valores de compa-ração social superiores nos jovens mais novos.Os jovens de 12 anos, apresentaram valores de43.00±6.72 e os jovens de 13 anos apresentaramum valor de 43.36±7.13. Estes autores referemque há um padrão comum nestes jovens (os

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

jovens da sua amostra são bastante mais novos:8-13 anos). Ambas as faixas etárias apresentamvalores elevados de negativismo pré-competitivoe valores baixos de PC. Os jovens mais novos donosso estudo (12-13 anos) são os que apresentamos valores mais elevados de PCF (25.20±3.60 e 24.44±4.50, respectivamente) e são os queapresentam os valores mais baixos de negati-vismo pré-competitivo (9.37±2.62 e 8.56±2.74,respectivamente).

Horn e Hasbrook35 estudaram em doisgrupos etários, o primeiro com uma média deidades de 9.07 anos e o segundo com 12.81 anos,a PCF e as respectivas fontes de informação quedefinem essa mesma competência. Para a nossadiscussão, podemos utilizar este segundo grupo.Especificamente, os jovens com 10-13 anos quetinham uma percepção de competência baixa eelevados índices de negativismo pré-competitivo,apresentaram a comparação social como fontepreferencial para a construção da competência.Neste estudo, são os jovens de 12-13 anos queapresentam os valores médios mais elevados nacomparação social, mas são os que apresentamos valores médios mais baixos na negativismopré-competitivo e valores mais altos na PCF.Com o aumento da idade, os critérios internos(por exemplo, os comportamentos auto-referen-ciados) tendem a prevalecer. No entanto, esteefeito pode ser alterado, quando os jovenspossuem elevados índices de negativismo pré-competitivo e baixos índices de PC70. Tanto asinfluências ambientais como as estratégias decontrolo individual, providenciam fontes deinformação da competência física, a partir dasquais os jovens podem aprender a divertir-secom as experiências e sentirem-se bem com elesmesmos66. O Desporto permite a comparaçãosocial, muitas vezes à custa de objectivos indi-viduais de cada um. Ames2 e Butler10,11 referemque a adopção de objectivos auto-referenciados,poderá encaminhar os indivíduos para a aprendi-zagem e para sua a melhoria sucessiva.

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69 {Investigação

Os treinadores e professores de EducaçãoFísica podem ser importantes fontes de infor-mação de competência, através do feedback cor-rectivo e do elogio5,37,56. Mais especificamente,Smoll et al.56 verificou que os treinadores quedavam mais elogios e feedbacks correctivos tive-ram como efeito, o aumento da auto-estima dosjovens, que por sua vez, apresentavam índicesbaixos de auto-estima no início da época. Allen eHowe1, revelaram que o feedback do treinadorcontribui significativamente para a explicação de uma elevada percepção de competência deatletas de hóquei em gelo (F= 3.24; p<0.05).Thill e Brunnel 59 encontraram valores de PCFelevados, após feedbacks positivos, em detrimentode feedbacks negativos (F= 4.426; p<0.05).

Segundo Weiss66, a teoria da competênciamotivacional de Harter, bem como a investi-gação efectuada neste domínio, sugerem que ofeedback quantitativo e qualitativo, assim como o reforço de outros, influenciam a percepção de competência dos jovens. O feedback que ojovem recebe da prática desportiva, fornece um conjunto de informações que reflectem arepresentam as suas capacidades e utilidade.É especialmente verdade, para os jovens do 1.ºCiclo e para os que têm uma percepção errada oubaixa da sua competência efectiva, que parecemdepender mais da avaliação social, que os jovensmais velhos. No que respeita à avaliação dosadultos (por exemplo, os pais), como fonte deinformação para o julgamento da competênciados jovens, os profissionais da Educação Física e Desporto, deverão tomar em atenção a quanti-dade absoluta e relativa de reforço que dão aosjovens, a contingência do reforço que conduz aocomportamento e à responsabilidade do sucesso,assim como os erros das habilidades. No queconcerne ao número e contingência do reforço,Horn39 resume os estudos que encontrou e refereque demasiados elogios quando há sucesso numatarefa fácil ou numa prestação medíocre, podeprovocar uma fraca expectativa do jovem. Isto é,por sua vez, leva a um decréscimo da PC.

Igualmente, críticas sucessivas na forma defeedbacks correctivos, podem levar os jovens apensarem em elevadas expectativas no futuro.Assim, os treinadores estão mais predispostos areforçar os jovens mais fracos e a criticar os quetêm mais potencial, e que se espera mais sucessono futuro.

Para Weiss66, uma estratégia apropriada podeser o que se designa de “desafios ideais”. Um“desafio ideal” é aquele que adequa a actividadeao jovem e não o jovem à actividade. Os jovense adolescentes sentem uma grande satisfaçãoquando conseguem alcançar sucesso nas activi-dades que realizam, por outras palavras, sentemsatisfação quando o êxito deriva da adaptaçãodas actividades às suas próprias capacidades. Asactividades que permitem definir esses “desafiosideais” têm que respeitar: (i) uma sequêncialógica de construção e instrução; (ii) focar osaspectos de aprendizagem em vez de resultados;e, (iii) permitir um estilo de ensino indirecto.

Horn e Hasbrook36, referem que os jovenscom uma elevada PC, identificam os critériosinternos e a comparação com os amigos, comofontes de informação para julgar a sua compe-tência. Os nossos resultados, indicam que osrapazes tendem a compararem-se socialmente,mais que as raparigas e a atraírem-se mais pelasactividades desportivas. Os mesmos autoresreferem ainda, que os jovens com uma baixa PCidentificam os elogios e reforços dos pais,como fonte de informação para julgar a suacompetência. Neste estudo, a avaliação dos paisobteve valores médios semelhantes para osrapazes (10.22±2.54) e raparigas (9.99±2.46).

Os resultados de Williams74 indicam umarelação significativa entre a orientação cognitivae as fontes de informação que constroem a PC.A orientação cognitiva para a tarefa, está rela-cionada com: (i) o aprender e melhorar; (ii) oscomentários dos pais; (iii) o grau de diver-timento; e, (iv) a atitude antes do jogo. Por suavez, a orientação cognitiva para o ego, está rela-cionada com: (i) comparação com os colegas;

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(ii) o aprender e o melhorar; e, (iii) os comentáriosdos pais. Dweck e Elliot19 afirmam que os jovensque estão orientados para o resultado, estãointeressados em receber julgamentos favoráveisrelativos à sua competência e evitar receberjulgamentos negativos da sua competência,vindo de outros. Assim, os objectivos da buscada aprendizagem (orientação para a tarefa) e deobter um resultado (orientação para o ego),levam os jovens a processar a informação acercada sua prestação de forma diferente. Os jovensque estão orientados para aprender, fazemquestões do tipo: “Como é que eu chego lá?”,“O que é que eu vou aprender?”, enquanto queos que estão orientados para o resultado, fazemquestões do tipo: “Será que posso fazer aquilo?”ou “Será que pareço bem no final disto?”.

A partir do nosso estudo, podemos retirar asseguintes conclusões:- verificaram-se diferenças estatisticamente

significativas entre sexos para o IMC(F=4.031; p<0.046), para a PCF (F= 21.216;p<0.000) e para a CEB (24.484; p<0.000);

- no IMC, a média dos rapazes (20.99±3.34) foi superior à das raparigas (20.73±2.90);

- na PCF, a média dos rapazes (25.01±3.96) foi superior à das raparigas (22.00±3.79);

- na CEB, a média dos rapazes (25.13±16.85) foi superior à das raparigas (13.50±11.26);

- verificaram-se diferenças estatisticamentesignificativas entre sexos para os seguintesfactores do PCIS: negativismo pré-compe-titivo (F= 6.522; p<0.012) e atracção peloDesporto (F=5.065; p<0.026); e,

- verificaram-se diferenças estatisticamentesignificativas entre as faixas etárias, para ofactor avaliação dos pais (F=11.151; p<0.001).

CorrespondênciaJosé Vasconcelos-RaposoRua Dr. Manuel Cardona5000-558 Vila Real. PortugalE-mail: [email protected]

A relação entre a percepção de competência física, índice de massa corporal e competência efectiva em jovenspraticantes de basquetebolSandro Ferreira, Hélder Fernandes, José Vasconcelos-Raposo

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O objectivo deste estudo foi avaliar a estru-tura factorial da versão portuguesa do CSAI-2,utilizando várias estruturas propostas em estudosanteriores, através da análise factorial confir-matória (AFC) em duas amostras distintas (umade calibração e uma de validação). A amostra decalibração foi constituída por 287 alunos dalicenciatura em Educação Física e Desporto e aamostra de validação foi constituída por 323atletas de desportos individuais.

Os resultados da AFC realizada à estruturaoriginal demonstraram uma inadequabilidade domodelo. As outras estruturas propostas por outrosautores também foram analisadas e apresentaramíndices de adequabilidade superiores, emboraainda não aceitáveis. O novo modelo que pro-pomos, sem a escala de activação, revelou umajustamento adequado para a amostra de cali-bração, sendo validada a sua adequabilidade pelasegunda amostra (X2/df= 2,645; CFI= 0,916;GFI= 0,871 e RMSEA= 0,074). É sugerida autilização deste novo modelo, em vez do original,na avaliação da ocorrência de pensamentosnegativos, composto por duas escalas correla-cionadas (negativismo e autoconfiança), e acontinuação da verificação das propriedadespsicométricas em investigações futuras.

Palavras-chave: negativismo, autoconfiança, CSAI--2, análise factorial confirmatória.

Confirmatory factor analysis of the por-tuguese version of the CSAI-2

The aim of this study was to assess thefactorial structure of the Portuguese version ofCSAI-2, using several structures suggested inprevious studies, through confirmatory factoranalysis (CFA) in two different samples (cali-bration and validation). The calibration sampleconsisted of 287 Physical Education and Sportsstudents and the validation sample of 323 athletesof individual sports.

The results of CFA according to the originalstructure showed some inadequacy of the model.Other structures, suggested by different authorswere analysed, revealing acceptable values levelsof goodness of fit indices, though still notadequate ones. The new model that we suggest,without the arousal scale, has shown adequateadjustment for the calibration sample and itscapability has been validated by the secondsample (X2/df= 2,645; CFI= 0,916; GFI= 0,871e RMSEA= 0,074). The use of the new modelrequires further validation, however, due to theobtained good of fitness scores its use inresearch is suggested. The new model consists oftwo negatively correlated scales (negativity andself-confidence). The subsequent confirmationof its psychometric properties is recommendedfor future studies.

Keywords: negativity, self-confidence, CSAI-2,confirmatory factor analysis.

Resumo Abstract

Data de submissão: Maio 2007 Data de Aceitação: Julho 2007

Análise factorial confirmatória da versão portuguesa do CSAI-2Eduarda Maria Coelho, José Vasconcelos-Raposo, Hélder Miguel Fernandes

Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humanoda Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Portugal)

Coelho, E; Vasconcelos-Raposo, J.; Fernandes, H;Análise factorial confirmatória da versão por-tuguesa do CSAI-2. Motricidade 3(3): 73-82

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74 {Investigação

Análise factorial confirmatória da versão portuguesa do CSAI-2Eduarda Coelho, José Vasconcelos-Raposo, Hélder Fernandes

Inicialmente, o conceito de ansiedade foiproposto para diagnosticar patologia mental30,31,sendo popularizado no contexto do desportocom o trabalho de Martens17, com o objectivo de avaliar e explicar o estado emocional que osatletas vivem nos momentos que antecedem ascompetições.

Vários autores contestam a forma como otermo ansiedade tem sido utilizado no contextodesportivo, referindo que a conotação negativaque o termo possui pode levar à compreensãoerrada que a ansiedade é sempre prejudicial paraa performance12,14. Jones e Swain14 sugerem quequando a ansiedade é interpretada pelos atletascomo benéfica para a performance, se chame aeste estado emocional positivo de excitação, acti-vação ou motivação.

Taylor24 considera mais apropriada a utili-zação do termo intensidade, em vez de ansiedadee activação. Este autor apresenta dois motivosque justificam esta opção: primeiro, porque otermo activação tem associado conotações sexuais,e o seu uso com atletas jovens, muitas vezes,produz uma reacção cómica que interfere com a compreensão da importância deste conceito na preparação para a competição desportiva;segundo, o termo ansiedade é tipicamente conhe-cido como tendo uma conotação negativa, comoalgo a ser evitado; no entanto, os atletas paraterem uma prestação óptima necessitam de umdeterminado nível deste atributo. Taylor24 sugereque o termo intensidade não tem estas limitaçõese é visto pelos atletas como contribuindo para aperformance desportiva óptima.

Recentemente, Vasconcelos-Raposo31 tambémpropõe que se rejeite o conceito de ansiedade eque se proceda a uma reclassificação do estadoemocional vivido pelos atletas no contextodesportivo, uma vez que está em contradiçãocom a forma como este é utilizado pelapsicologia clínica. Este autor considera inade-quada a forma como a ansiedade é apresentada

Introduçãona psicologia do desporto, e que nunca foramapresentados os critérios que conduziram à suautilização. Vasconcelos-Raposo31 afirma que nãohá dúvidas que existem atletas que sofrem deansiedade, mas esses casos têm de ser diagnos-ticados de acordo com os critérios clínicos.Assim, e com base nos critérios do Diagnostic andStatistical Manual of Mental Disorders-III, este autoridentifica os seguintes critérios que deverão estarpresentes para diagnosticar alguém sofrendo de ansiedade: a disposição ansiosa deve sercontínua durante pelo menos um mês; ossintomas não devem estar associados a qualqueroutra desordem mental e que o indivíduo tenhapelo menos dezoito anos de idade. O que estáem causa é o uso deste conceito para classificaras sensações e dúvidas que os atletas podem terrelativamente às suas capacidades, nos momentosimediatamente anteriores à competição. Assim,Vasconcelos-Raposo31 recomenda que se procedaa estudos com o intuito de classificar correcta-mente as emoções no desporto. Este argumentofoi apresentado pela primeira vez em 198830,depois apresentado numa conferência em Zara-goza, em 199430, e depois publicado em 200031.No entanto, este apelo a estudos mais compreen-sivos vem desde a sua tese de doutoramento em1993, em que o autor salienta que a linguagemque os atletas utilizam para descrever e classificaras suas emoções é claramente distinta da uti-lizada pelos psicólogos, concluindo que “…oconceito de ansiedade é algo que não encontraeco nas experiências dos atletas…”29.

Ao longo desta investigação, e tendo em contaas diferentes propostas dos autores, optaremospor utilizar o termo negativismo, por acharmosser o que melhor se adequa ao estado emocionalvivenciado pelos atletas antes da competição,principalmente, quando nos referimos à preva-lência de pensamentos negativos, tal como temsido definida a ansiedade cognitiva. Optamos

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75 {Investigação

pela utilização do termo activação em vez do deansiedade somática, devido à similaridade entreas componentes fisiológicas de ambos.

No contexto desportivo foi desenvolvido oconceito de negativismo competitivo, que é umaalteração para uma situação específica de umconstructo mais geral, adaptado especificamentepara identificar disposições de traço de nega-tivismo em situações competitivas17. O traço de negativismo competitivo pode ser definidocomo uma tendência para perceber as situaçõescompetitivas como ameaçadoras e respondercom sentimentos de apreensão ou tensão17.

Ao mesmo tempo que surgem estes conceitos,diversos investigadores confirmaram que asmedidas de negativismo, que são específicas parauma situação, predizem melhor o comporta-mento do que o fazem escalas gerais3. Em 1977,Martens sugere a necessidade de, também, criarinstrumentos específicos para o desporto, com o objectivo de compreender melhor o compor-tamento do ser humano neste contexto,desenvolvendo o Sport Competition Anxiety Test(SCAT) e, mais tarde, o Competitive State AnxietyInventory-1 (CSAI-1).

A partir de 1960 e mantém-se actualmente, osinvestigadores começaram a ter uma visão donegativismo como um constructo multidimen-sional, em vez de unidimensional, identificandodiferentes componentes semelhantes aos concei-tos de negativismo e activação19. Este avanço naconceptualização do negativismo contribuiu para uma melhor compreensão da sua relaçãocom a performance13 e levou ao aparecimento deinstrumentos de avaliação das suas componentesmúltiplas. Martens, Burton e colaboradores18

conceptualizaram, construíram e validaram umaversão multidimensional do CSAI-1, a que cha-maram CSAI-2. Este instrumento avalia a inten-sidade da activação, negativismo e autoconfiança.

O CSAI-2 é um dos questionários maisutilizados na verificação de alguns pressupostos

teóricos inerentes à Teoria Multidimensional da Ansiedade, especificamente na verificação darelação existente entre as três escalas e o ren-dimento desportivo6,8,15,20,21,23,25. Nesta investigação,apesar de rejeitarmos o termo ansiedade propostopela teoria original, aceitamos as dinâmicassugeridas pelos autores entre as várias dimensõese o rendimento desportivo. A Teoria Multidi-mensional propõe que as três dimensões serelacionam de forma diferente com o rendi-mento: o negativismo de forma linear e negativa;a activação relaciona-se de forma curvilínea (emU-invertido) e a autoconfiança tem uma relaçãolinear e positiva com o rendimento.

Burton3 refere que, apesar de existir indepen-dência conceptual entre o negativismo e a acti-vação, há uma relação recíproca entre estas duascomponentes, embora seja difícil especificar acontribuição exacta de cada na situação compe-titiva real. Diversos estudos comprovam que asduas componentes do negativismo se relacionampositivamente5,7,9,10,11,16,21,22,28,33,34. E que, a autocon-fiança se relaciona negativamente tanto com aactivação7,10,15,16,21, como com o negativismo7,9,10,16,21.

Martens, Burton e colaboradores18 realizaramquatro estudos com o objectivo de testar avalidade da forma final do CSAI-2, demons-trando os resultados que este questionário possuivalidade de constructo e verificaram o seu usono cálculo do negativismo, activação e autocon-fiança no desporto. Desde esse momento, que oCSAI-2 tem sido visto como um dos instru-mentos mais fidedignos e válidos para a avaliaçãodo negativismo no contexto desportivo3.

Estudos iniciais que avaliaram a homogenei-dade dos itens dentro das escalas demonstraramque o CSAI-2 tem forte consistência interna nas suas três escalas, com coeficientes de alpha deCronbach entre 0,79 e 0,9018. Recentemente, diver-sas investigações realizadas também comprovama elevada consistência interna das escalas do CSAI-27,10,16,26,27.

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76 {Investigação

No que diz respeito à validade factorial doCSAI-2, diversos estudos recentes não compro-vam a estrutura original7,16, sendo três destasinvestigações acerca da tradução e adaptação doquestionário para Grego10,27,28.

Em 1998, Tsorbatzoudis e colaboradores27

realizaram um estudo com atletas gregos dedesportos colectivos, com o objectivo de veri-ficar a validade factorial do CSAI-2, utilizando aanálise factorial exploratória. Os resultadosconfirmaram a estrutura inicialmente propostapor Martens, Burton e colaboradores18 comexcepção de três itens (4, 13, 25), que carregavamnegativamente na autoconfiança, em vez de nonegativismo.

Lane e colaboradores16 realizaram um estudocom o mesmo objectivo do anterior, mas utili-zando a análise factorial confirmatória (AFC) emduas amostras. As medidas de adequabilidadeobtidas foram baixas em ambas as amostras,sugerindo que a estrutura factorial original éimperfeita. Os autores indicam que a limitaçãoda escala de negativismo deriva da utilização dos termos concerned em vez de worried, sugerindoque estar concerned acerca da performance nãosignifica que o atleta vivência pensamentosnegativos, mas sim que este reconhece a impor-tância e dificuldade do desafio e está a preparar-separa o enfrentar.

Posteriormente, Iosifidou e Doganis10 utili-zaram a AFC para verificar a validade factorialdo CSAI-2, com uma amostra de nadadoresavaliada em dois momentos distintos (um dia antese uma hora antes da competição). Os resultadosdemonstraram índices de adequabilidade supe-riores para os dados recolhidos uma hora antesda competição, no entanto os valores obtidosnão confirmaram a estrutura original. Os autoresatribuem os baixos valores dos índices de ade-quabilidade aos possíveis carregamentos cruzadosexistentes no modelo.

Recentemente, os resultados da AFC de umestudo de Tsorbatzoudis e colaboradores28 tam-bém não confirmaram a estrutura de três factores

proposta por Martens, Burton e colaboradores18

e a estrutura de dois factores correlacionados(negativismo e activação), seguindo a sugestão de Lane et al.16, que era a presença da autocon-fiança que provocava a ineficácia do modelo.A exclusão do item 25 do factor cognitivo, talcomo sugerido por Tsorbatzoudis e colabora-dores27, resultou em medidas de adequabilidadeaceitáveis, sugerindo que o CSAI-2 pode serusado para avaliar a activação com nove itens e onegativismo com oito, mantendo as duas escalascorrelacionadas.

Finalmente, Cox e colaboradores7 realizaramum estudo com o objectivo de rever a estruturafactorial do CSAI-2, também através da AFC eusando duas amostras, uma de calibração e umade validação. Os resultados da amostra de cali-bração demonstraram baixos índices de adequa-bilidade da estrutura original, sendo eliminados10 itens que carregavam em mais de um factor,ficando a estrutura proposta composta por 17itens. Os resultados da AFC da nova estruturaproposta pelos autores, revelou bons índices de adequabilidade dos dados ao modelo.

As investigações anteriormente descritas su-gerem a necessidade de realizar mais estudospara a verificação da estrutura factorial do CSAI-2,e, especialmente, da escala traduzida e validadapara Português. De facto, a existência de umaescala válida para a avaliação da ocorrência depensamentos negativos fornece uma melhorcompreensão dos estados de negativismo nocontexto do desporto. Definimos como objectivodeste estudo avaliar a estrutura factorial daversão Portuguesa do CSAI-2, utilizando váriasestruturas propostas pelos autores nos estudosdescritos anteriormente, usando a AFC em duasamostras distintas. Primeiro, pretendeu-se avaliara estrutura factorial do questionário, segundo osvários modelos propostos, na amostra decalibração e fazer as alterações necessárias;posteriormente, a estrutura resultante foi testadana amostra de validação.

Análise factorial confirmatória da versão portuguesa do CSAI-2Eduarda Coelho, José Vasconcelos-Raposo, Hélder Fernandes

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77 {Investigação

MetodologiaAmostra

A amostra de calibração foi constituída por287 alunos da licenciatura em Educação Física e Desporto com mais de um ano de práticadesportiva, de ambos os sexos (187 alunos mas-culinos e 100 femininos), praticantes de moda-lidades individuais e colectivas e de diversosníveis competitivos. Todos os elementos daamostra tinham idades superiores a 18 anos(20,64±2,17), e apresentavam em média cerca de 7 anos de prática desportiva (6,63±3,78).

A amostra de validação foi composta por 323atletas praticantes de seis modalidades desportivasindividuais (atletismo, natação, ginástica, judo,luta livre e badminton), de ambos os sexos (207atletas masculinos e 116 femininos) e com nívelcompetitivo mínimo de Nacional. Todos osmembros da amostra tinham idades superiores a 16 anos (20,48±4,02), e cerca de 10 anos deprática desportiva (10,13±4,96).

Procedimentos

Os questionários referentes à amostra de cali-bração, composta pelos estudantes de EducaçãoFísica e Desporto, foram recolhidos antes doinício de uma aula, tendo sido solicitado previa-mente autorização para o efeito ao professor da referida disciplina. Os dados respeitantes àamostra de validação, constituída por atletas, foirecolhida em situação de estágio da selecçãonacional ou treino nos respectivos clubes, apósdada autorização dos Presidentes e TécnicosNacionais das respectivas Federações.

O Inventário de Estado de Ansiedade Compe-titiva-2 (Competitive State Anxiety Inventory-2,CSAI-2) foi desenvolvido por Martens, Burton ecolaboradores18 para avaliar a intensidade donegativismo, da activação e da autoconfiança em situações competitivas, sendo validado para apopulação portuguesa por Vasconcelos-Raposo32.

O CSAI-2 é constituído por 27 itens, comrespostas classificadas numa escala de Likert de 4 pontos, entre 1 (nada) e 4 (muito). Cada umadas três escalas consiste em nove itens, sendo ovalor de cada escala calculado através da somados itens. Os valores de cada escala variam entreum mínimo de 9 e um máximo de 36.

EstatísticaPara o tratamento estatístico dos dados foram

utilizados os programas SPSS 13.0 e o AMOS6.0 (Analysis of Moment Structures). Verificou-se aspropriedades psicométricas do CSAI-2, atravésdo cálculo do alpha de Cronbach e da AFC.

Com base nas várias estruturas factoriaispropostas nos estudos anteriormente descritos,foi realizada a AFC com a amostra de alunos eatletas. Em todos os modelos testados foiutilizado o método de estimação maximumlikelihood. As medidas de avaliação doajustamento utilizadas para verificar aadequabilidade do modelo aos dados foram asseguintes: ratio chi square statistics/degrees of freedom(X2/df), comparative fit index (CFI), goodness of fitíndex (GFI), root mean square error of approximation(RMSEA) e Akaike information criterion (AIC).

Inicialmente, o qui-quadrado foi a estatísticamais utilizada para avaliar a adaptabilidade domodelo, indicando um qui-quadrado significativoque o modelo em estudo não se adapta aosdados. Posteriormente, foi reconhecida a elevadasensibilidade deste teste ao tamanho da amostra2,sendo sugerido a utilização do rácio X2/df.O rácio do X2/df tem sido usado como índice de ajustamento do modelo, no entanto, não háconsenso acerca do valor que se considera umajustamento adequado, sendo sugerido valoresinferiores a 31. O CFI avalia a adequabilidade do modelo em relação ao modelo independente,variando os valores entre 0 e 1, com valoressuperiores a 0,90 indicando um ajustamentoadequado4. O GFI mede a quantidade relativa

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78 {Investigação

de variância e covariância conjuntamente expli-cadas pelo modelo, varia entre 0 e 1, com valoressuperiores a 0,9 indicando um ajustamentoadequado4. O RMSEA analisa a discrepância no ajustamento entre as matrizes estimadas e asobservadas, varia entre 0 e 1, com valores entre0,08 e 0,1 indicando um modelo medíocre esuperiores a 0,1 uma adequabilidade pobre4.Na comparação de dois ou mais modelos usamoso AIC, demonstrando os valores mais baixosuma maior adequabilidade do modelo4.

ResultadosConsistência InternaA consistência interna foi boa para as três

escalas do CSAI-2, em ambas as amostras. Para a amostra dos alunos os valores do alpha deCronbach foram de 0,84 para o negativismo, 0,88para a activação e para a autoconfiança de 0,91.Para a amostra de atletas os valores obtidos foramde 0,85 para o negativismo, 0,88 para a activaçãoe 0,90 para a autoconfiança.

Análise Factorial ConfirmatóriaO quadro 1 apresenta os valores das medidas

do ajustamento dos modelos propostos pelosautores referidos anteriormente, relativos àamostra de calibração desta investigação.

Como se verifica no quadro 1, a avaliação do modelo original do CSAI-2 sugerido porMartens, Burton e colaboradores18, que assume a existência de três factores correlacionados,demonstra uma inadequabilidade do modelo,tendo todas as medidas de ajustamento valoresinaceitáveis (X2/df= 3,242, CFI= 0,828, GFI=0,780 e RMSEA= 0,089). Foram obtidos valoresdas medidas de ajustamento idênticos para aamostra de atletas (ver quadro 2).

O modelo seguinte, que resulta da eliminaçãoda escala de autoconfiança surge da sugestão de Lane e colaboradores16 que a ineficácia domodelo inicial pode ser devido à presença daautoconfiança, demonstrou uma melhor ade-quação à amostra que o anterior. Os índices deadequabilidade são superiores mas não aceitáveis(X2/df= 3,098, CFI= 0,862, GFI= 0,873, eRMSEA= 0,086). Os resultados foram seme-lhantes na amostra de atletas (ver quadro 2).

O 3.º modelo testado, resulta das analisesrealizadas por Tsorbatzoudis e colaboradores27,28

que sugerem a eliminação do item 25 para amelhoria dos índices de adequabilidade do mo-delo, devido a carregar fortemente na autocon-fiança, embora tenha sido desenvolvido parareflectir a prevalência de pensamentos negativos.Comparativamente ao modelo anterior, o X2/dfé mais elevado e os índices de adequabilidadeapresentam valores inferiores, o que significa queo modelo proposto que não se adequa à amostra

Análise factorial confirmatória da versão portuguesa do CSAI-2Eduarda Coelho, José Vasconcelos-Raposo, Hélder Fernandes

286,048

130

0,000

2,200

0,937

0,895

0,065

368,048

X2

df

p

X2/df

CFI

GFI

RMSEA

AIC

Quadro 1: Valores das medidas de ajustamento para a amostra de calibração (alunos).

Modelofinal

proposto

395,275

134

0,000

2,950

0,894

0,854

0,083

469,275

Negativismoe

autoconfiança

391,640

118

0,000

3,319

0,869

0,864

0,090

461,640

Negativismo e activação

sem item 25 27,28

415,125

134

0,000

3,098

0,862

0,873

0,086

489,125

Negativismo e

activação 16

1040,659

321

0,000

3,242

0,828

0,780

0,089

1154,659

Original 18

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79 {Investigação

de estudantes (X2/df= 3,319, CFI= 0,869, GFI== 0,864, e RMSEA= 0,090). Relativamente àamostra de atletas, os índices de adequabilidadedeste modelo são um pouco superiores, não seconsiderando ainda aceitáveis (ver quadro 2).

O modelo que propomos nesta investigaçãoinclui unicamente as escalas de negativismo eautoconfiança, verificando-se um aumento dosvalores das medidas de ajustamento para valorespróximo do considerado aceitável (X2/df= 2,950,CFI= 0,894, GFI= 0,854, e RMSEA= 0,083).Através da analise dos índices de modificação(output do AMOS) e da ligação entre os errosdentro da mesma escala, chegamos a umaestrutura final semelhante à original, apenas seacrescentando as ligações entre os erros dos itens3-21, 3-6, 15-18 e 18-27 (ver figura 1), aumen-

tando os valores das medidas de ajustamentopara valores considerados bons (X2/df= 2,200,CFI= 0,937, GFI= 0,895 e RMSEA= 0,065).

Simultaneamente, quando comparamos oscinco modelos entre si usando o valor de AIC,verificamos que o modelo original de Martens,Burton e colaboradores18 é o que apresentavalores mais elevados (AIC= 1154,659) e o mo-delo final proposto é o que apresenta valoresmais baixos (AIC= 368,048), o que significa uma melhor adequabilidade à amostra domodelo composto pelas escalas de negativismo e autoconfiança.

Com o objectivo de validar o modelo ante-riormente proposto, realizamos a AFC com umaamostra de atletas, sendo os resultados apresen-tados na última coluna do quadro 2.

343,804130

0,0002,6450,9160,8710,074

425,804

X2

dfpX2/dfCFIGFIRMSEAAIC

Quadro 2: Valores das medidas de ajustamento para a amostra de validação (atletas).

Modelofinal

proposto

338,953118

0,0002,8720,8970,8800,078

408,953

Negativismo e activação

sem item 25 27,28

366,998134

0,0002,7390,8980,8770,076

440,998

Negativismo e

activação 16

1020,140321

0,0003,1780,8350,7700,085

1134,140

Original 18

Figura 1: Modelo final proposto.

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80 {Investigação

O novo modelo proposto, os coeficientespath estandardizados e as correlações entrefactores da amostra de validação são apresen-tados na figura 1. Todos os coeficientes pathdos factores (variáveis latentes) para as variáveisavaliadas são próximos ou superiores a 0,50 e significativos (unicamente o item 19 carrega a0,48 no negativismo), com valores de p<0,001.Conjuntamente, os valores das medidas de ajus-tamento obtidas pela AFC na amostra de atletasvalidam a adequabilidade do novo modelo pro-posto (X2/df= 2,645, CFI= 0,916, GFI= 0,871 e RMSEA= 0,074).

DiscussãoO objectivo do presente estudo foi avaliar a

estrutura factorial da versão Portuguesa doCSAI-2. Este instrumento era considerando umaferramenta válida e fidedigna para a avaliaçãodo negativismo, activação e autoconfiança27,28,sendo, no entanto, recentemente questionada emdiversas investigações as suas propriedadespsicométricas, no que diz respeito à validadefactorial3. As conclusões deste estudo apoiam osautores referidos anteriormente, no que dizrespeito à falta de validade factorial da escalaoriginal do CSAI-27,10,16,27,28, sendo sugerido ummodelo composto apenas pelas escalas de nega-tivismo e autoconfiança.

No entanto, se em relação à estrutura fac-torial, as medidas de adequabilidade obtidasdemonstram valores inaceitáveis para a estruturaoriginal18; no que diz respeito à consistênciainterna das escalas do CSAI-2, os resultadosconfirmam a existência de valores de Alpha deCronbach elevados (variam entre 0,84 e 0,91). Osvalores de alpha obtidos para as três escalas, emambas as amostras, estão de acordo com outrasinvestigações realizadas18.

O modelo que propomos, sem a escala deactivação, revela medidas de ajustamento maisadequadas comparativamente aos outros três

modelos analisados, rejeitando a justificação dadapor estes autores que o problema do questionárioestá relacionado com a escala de autoconfiança,e à forma como esta escala foi desenvolvida(surgiu da analise factorial exploratória realizadae sem suporte teórico).

No novo modelo que propomos são utili-zadas estratégias para a melhoria dos índices deadequabilidade que provêm da Teoria Multidi-mensional da Ansiedade. A eliminação da escalade activação deriva desta ser bastante afectadapelo erro do tipo desejabilidade social (o indi-víduo distorcer as suas respostas de uma formasocialmente desejável)18; e pelo estado de activaçãose correlacionar menos com a performance doque o negativismo, devido a este estado se dis-sipar no início da competição desportiva18.

A existência de uma correlação negativa entreas duas escalas (r= -0,79) também reforça avalidade do nosso modelo, de facto nos estudosoriginais de desenvolvimento deste questionário,a média das correlações testadas em váriasamostras é de -0,6118. Outros estudos realizadostambém comprovam a relação negativa existentesentre as duas escalas7.

A utilização de duas amostras de atletas comcaracterísticas distintas nesta investigação, alémde nos permitir validar a estrutura factorial quepropomos, fornece um excelente suporte para o seu uso com diferentes populações de atleta.No entanto, aconselhamos a continuação da veri-ficação das propriedades psicométricas do modeloproposto sempre que for utilizado o questionário.

Das várias análises realizadas pode-se concluirque é preferível a utilização de uma escala de doisfactores a uma de três, como foi originalmenteproposto por Martens, Burton e colaboradores18

para a avaliação do negativismo no contextodesportivo. Os resultados desta investigaçãosugerem uma adaptação do CSAI-2 a quechamaremos Escala de Negativismo e Autocon-fiança (ENAC), com as escalas de negativismo e autoconfiança correlacionadas.

Análise factorial confirmatória da versão portuguesa do CSAI-2Eduarda Coelho, José Vasconcelos-Raposo, Hélder Fernandes

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81 {Investigação

CorrespondênciaJosé Vasconcelos-RaposoRua Dr. Manuel Cardona5000-558 Vila Real, PortugalE-mail: [email protected]

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83 {Normas

1. Tipos de publicação

A Motricidade publica trabalhos relativos atodas as áreas das Ciências do Desportoe Ciências da Saúde relacionados com aactividade física, desporto, bem-estar físicoe psíquico, welness e fitness. São aceitesos seguintes formatos para publicação:Artigo de Investigação, Artigo de Revisão,Estudo de Caso, Artigo Técnico e Artigo de Opinião. Para publicação de estudosde caso, a metodologia seguida deveráser rigorosa e expressa no manuscrito.

2. Preparação e envio dos manuscritos

Os artigos submetidos à Motricidade de-verão conter dados originais, teóricos ouexperimentais, e a parte substancial dotrabalho não deverá ter sido publicadaanteriormente. Se parte do trabalho foi jápublicado ou apresentada publicamentedeverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimento. Os artigosserão, numa primeira fase, avaliados peloEditor-chefe e terão como critérios iniciaisde aceitação o cumprimento das normasde publicação, a relação do tópico tratadocom as Ciências do Desporto e Ciênciasda Saúde e o seu mérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, se for consideradopertinente, será avaliado por dois revisoresindependentes e sob a forma de análise“duplamente cega”. A aceitação do mesmopor parte de um revisor e a rejeição por

parte de outro obrigará a uma terceira con-sulta. Concluído o processo de revisão, o autor principal será informado do resul-tado do processo. Três resultados sãopossíveis: aceitação, aceitação com alte-rações e rejeição.Os artigos deverão ser tão objectivos quan-to possível e evitar o uso da especulação.Os artigos serão rejeitados quando escritosem português de fraca qualidade linguísti-ca. O formato digital será obrigatoriamenteem Microsoft Word do Windows XP. Osmanuscritos deverão ser escritos em pá-gina A4 com 3 cm de margem, em letraArial 12, com espaço de 1,5 linhas e comformatação justificada sem avanços ouespaçamentos de parágrafos. Não deveráser usada letra maiúscula e as secçõesdevem ser realçadas a negrito (bold).Tanto o texto quanto os quadros e figurasdeverão ser a preto e branco. As páginasdeverão ser numeradas sequencialmente,sendo a página de título a n.º 1. Os manus-critos não deverão conter notas de rodapé.Os Manuscritos deverão ser submetidosem suporte digital no formato acimadescrito via correio electrónico. Para todosos tipos de publicação aplicar-se-ão estasregras de preparação e envio dos manus-critos. A submissão deve ser acompanhadapor uma declaração que indique que casoo trabalho seja aceite para publicação, osautores do mesmo cedem os direitos deautor à Motricidade. Esta declaração deveigualmente atestar que o artigo nunca foipreviamente publicado.

{Normas para Publicação de Trabalhos

1. Tipos de publicação.2. Preparação e envio dos manuscritos.3. Normas de publicação para artigos de investigação e estudos de caso.4. Normas de publicação para artigos de revisão e artigos técnicos.5. Normas de publicação para artigos de opinião.6. Endereços.

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84 {Normas

3. Normas de publicaçãopara artigos de investigaçãoe estudos de caso

Os manuscritos deverão obrigatoriamenteconter as seguintes secções.

{Página de título, contendo:

- Indicação do tipo de publicação;

- Título (conciso mas suficientemente infor-mativo);

- Título abreviado (limite de quarenta ecinco caracteres);

- Nomes dos autores por extenso (nomepróprio e até dois sobrenomes) semreferência a graus académicos;

- Filiação académica ou profissional dosautores (instituição de trabalho);

- Nome e morada do autor para onde todaa correspondência deverá ser enviada.

{Página de resumo, contendo:

- Dois resumos: um em Português e umem Inglês (Abstract), ambos com um li-mite de 200 palavras;

- Três a seis palavras-chave (Keywords no caso do Abstract);

- No resumo e abstract, indicar os objec-tivos do estudo, a metodologia usada, os resultados mais importantes e as conclusões do trabalho (referências daliteratura e abreviaturas devem ser evi-tadas):

- Antes do abstract deverá ser indicado otítulo do trabalho em Inglês.

{Introdução- Deverá ser suficientemente compreen-

sível, explicitando claramente o objectivodo trabalho e relevando a importância doestudo face ao estado actual do conhe-cimento;

- A revisão da literatura não deverá serexaustiva (aconselha-se um limite detrinta referências para artigos de inves-tigação e estudos de caso).

{Metodologia- Esta secção deverá ser dividida em três

subsecções: Amostra, Procedimentos eEstatística;

- Nesta secção deverá ser incluída toda ainformação que permite aos leitoresrealizarem um trabalho com a mesmametodologia sem contactarem osautores;

- Os métodos deverão ser ajustados aoobjectivo do estudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau de fiabilidade;

- Quando utilizados humanos deverá serindicado que os procedimentos utiliza-dos respeitam as normas internacionaisde experimentação com humanos (Decla-ração de Helsínquia de 1975) ou que osmesmos foram aprovados por um Comitéde Ética;

- Quando utilizados animais deverão serutilizados todos os princípios éticos deexperimentação animal e, se possível,deverão ser submetidos a um Comité de Ética;

- Todas as drogas e químicos utilizadosdeverão ser designados pelos nomesgenéricos, princípios activos e dosagem;

- A confidencialidade dos sujeitos deveráser estritamente mantida;

- Os métodos estatísticos utilizados de-verão ser referidos;

- Fotos de equipamento ou sujeitos de-verão ser evitadas.

{Resultados- Os resultados deverão apenas conter os

dados que sejam relevantes para a dis-

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cussão e serem apresentados preferen-cialmente sob a forma de quadros(tabelas) ou figuras;

- O texto só deverá servir para realçar osdados mais relevantes e nunca replicarinformação contida nos quadros (tabelas)ou figuras;

- Os quadros (tabelas) e figuras deverãoser numerados em numeração árabe nasequência em que aparecem no texto.Os quadros não podem conter linhasverticais e devem ocupar a largura totaldo espaço de impressão da página;

- O título dos quadros (tabelas) deveráaparecer no cabeçalho dos mesmos e otítulo das figuras aparecer no rodapé dasmesmas. As abreviaturas usadas deve-rão ser explicadas em rodapé (em letraArial tamanho 10) para ambos os casos;

- Os quadros (tabelas) e figuras deverãoser submetidas com qualidade gráficaque possibilite a redução das suasdimensões e preferencialmente a preto e branco;

- Os quadros (tabelas) e figuras deverãoser colocados no manuscrito;

- As figuras deverão igualmente ser subme-tidas em ficheiros separados (um ficheiropor figura) em formato TIF ou JPEG comtamanho máximo de 200kb por ficheiro;

- Unidades, quantidades e fórmulas deve-rão observar o Sistema Internacional (SI);

- Todas as medidas deverão ser referidasem unidades métricas.

{Discussão- Os dados novos e os aspectos mais

importantes do estudo deverão ser indi-cados de forma clara e concisa e nãodeverão ser repetidos os resultados jáapresentados.

- Deverá ser efectuada uma comparaçãocom a literatura;

- As especulações não suportadas pelosmétodos estatísticos deverão ser evi-tadas;

- Sempre que possível, deverão ser incluí-das recomendações;

- A discussão deverá ser completada comum parágrafo final onde são realçadasas principais conclusões do estudo.

{Agradecimentos

Se o artigo tiver sido parcialmente apre-sentado publicamente deverá aqui serreferido o facto. Qualquer apoio financeiroao trabalho deverá igualmente ser referido.

{Referências

- As referências deverão ser citadas notexto por número (índice superior àlinha), compiladas alfabeticamente eordenadas numericamente na listagemfinal. Para Artigos de Revisão com maisdo que trinta referências e para Artigosde Opinião, as referências poderão serordenadas pela sua citação no texto enão por ordem alfabética. Apenas quan-do for indispensável será aceite a indi-cação dos autores no texto. Neste caso,nas referências com mais do que doisautores será indicado apenas o nome do primeiro autor seguido da abreviatura“et al.”.

- Na lista final de referências usadas todosos autores deverão ser indicados.

- Os nomes das revistas deverão ser abre-viados conforme as normas internacio-nais de indexação das mesmas.

- Apenas artigos publicados ou em im-pressão (in press) poderão ser citados.Dados não publicados deverão ser utiliza-dos só em casos excepcionais sendo assi-nalados como “dados não publicados”;

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- A utilização de um número elevado deresumos ou de artigos de publicaçõesque não sejam sujeitas a um sistema derevisão científica (peer-reviewed) seráuma condição de não-aceitação.

{Exemplos de referências

- Artigo de revistaHeugas AM, Brisswalter J, Vallier JM(1997). Effet d´une période d’entraîne-ment de trois mois sur le Déficit Maximalen Oxygen chez des sprinters de hautniveau de performance. Can J Appl Physiol22 :171-181.

- Livro completoAltman DG (1995). Practical statistics formedical research. London: Chapman andHall.

- Capítulo de um livroHermansen L, Medbø JI (1984). The rela-tive significance of aerobic and anaerobicprocesses during maximal exercise ofshort duration. In: Marconett P, PoortmansJ, Hermanssen L (Eds). Physiological Che-mistry of Training and Detraining. Basel:Karger, 56-67.

4. Normas de publicação para artigos de revisão e artigos técnicos

Aplica-se o disposto anteriormente para osoutros formatos de artigo, com excep-çãoda organização por secções que de-veráser a seguinte.

- Página de Título;

- Resumo e Abstract;

- Introdução;

- Desenvolvimento;

- Conclusões;

- Agradecimentos;

- Referências.

Para a página de título, resumo, abstract,introdução, agradecimentos e referências,bem como para a inclusão de quadros efiguras, aplica-se o disposto anteriormente.

{Desenvolvimento

- O título desta secção ou de várias sub-secções que a componham, deve serespecífico para a temática que é apre-sentada e de livre escolha por parte dosautores;

- Nesta secção é apresentada a infor-mação essencial que o artigo permitetransmitir. Pode socorrer-se de infor-mação já publicada (obrigatório no casode artigo de revisão) e apresentar infor-mação própria dos autores não publica-da (apenas admissível no caso de artigotécnico). Aconselha-se um limite de 30referências para artigos de técnicos e de60 referências para artigos de revisão.Aconselha-se igualmente um mínimo de 30 referências para artigos de revi-são. O uso de citações integrais deveráser evitado. Quando usado este tipo decitação, o parágrafo deverá estar tabula-do a 3 cm para a direita e em letra Arialestilo itálico e tamanho 10. Nos artigostécnicos, embora não seja exigida a con-firmação pelo método científico da infor-mação apresentada, é aconselhável queos autores evitem uma linguagem espe-culativa e procurem objectividade nainformação transmitida. A informação emtexto pode ser completada com quadrosou figuras (sendo obrigatória a identifi-cação da fonte quando não se tratem deoriginais). O título deste capítulo ou dos

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vários sub-capítulos que o compõem,deve ser específico para a temática queé apresentada e de livre escolha porparte dos autores.

{Conclusões

- Nesta parte os autores devem apresentaruma súmula da informação transmitida,realçando a utilidade prática do trabalhoe eventuais recomendações técnicas quederivem da informação que é apresentada.

5. Normas de publicaçãopara artigos de opinião.

Os artigos de opinião serão da autoriaexclusiva de convidados pelos Editores darevista e versarão temáticas associadascom o Desporto. A sua organização emsecções não é imposta aos autores e asua avaliação será feita pelos directores

da revista. Poderão socorrer-se ou ba-sear-se em dados resultantes de investi-gação formal ou informal e de referênciasda literatura (aplicando-se neste caso asnormas anteriormente definidas). Nesteformato, não é exigido o Resumo e oAbstract, embora se estimule os autores àsua apresentação.

Endereço electrónico para envio de artigos:[email protected]

Endereço para correspondência:FTCD - Fundação Técnica e Científica do DesportoRevista Motricidade - Av. 5 de Outubro, nº 12 - 1º E64520-162 Sta. M.ª FeiraPortugalTel: 256 37 86 90 | Fax: 256 37 86 92 | Tm : 91 30 86 003 |Site: www.motricidade.ftcd.org

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