revista livre pensamento – número 1
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Revista Livre Pensamento – Número 1 Organizaçao Livres PensadoresTRANSCRIPT
Ceticismo A importância do Ceticismo
Ciências Falar sobre ciência é como um oásis no meio de um deserto...
Educação Tecnologia Assistiva
Evolução Evolução sem Complicação
Natureza
Humana A Bondade
Operando o
Comportamento Ateu sim, porque não
Resenhas
de Livros “Mendigos: Párias ou heróis da cultura?”
PPoorr FFáábbiioo MMaarrttoonn
PPoorr FFrreedd LLiinnss JJuunniioorr
PPoorr MMáárriioo CCééssaarr MMaanncciinneellllii ddee AArraaúújjoo
PPoorr LLiiggiiaa AAmmoorreessee
Filosofia Rumo ao Mistério da Consciência
Pedagogia Deixem as Crianças Em Paz!
Colunas
Revista Livre Pensamento – Número 1
Índice – Página 1 17/08/2011
Editorial
Carta ao Leitor Página 04
O Leitor Escreve Página 05
Dicas do Leitor Página 05
Matérias
Deus nunca diz não Uma análise do ataque terrorista na Noruega, sob o ponto de vista da religião.
Por Fábio Marton
Página 07
Pedofilia e Crueldade Humana Uma análise de como nossa sociedade cuida de suas crianças: escravidão, abuso sexual e assassinato.
Por Fred Lins Junior
Página 10
Aniversário de 1 ano do Livres Pensadores A história da criação do site, contada por seu fundador: como foi idealizado e em quê se transformou.
Por Mário César Mancinelli de Araújo
Página 13
No buraco mais embaixo de tudo... Uma análise do ataque terrorista na Noruega, sob o ponto de vista política.
Por Ligia Amorese
Página 15
Revista Livre Pensamento – Número 1
Índice – Página 2 17/08/2011
Colunas
Ceticismo A importância do Ceticismo
Por Mário César Mancinelli de Araújo
Página 18
Ciências Falar sobre ciência é como um oásis no meio de um deserto...
Por Ligia Amorese
Página 21
Educação Tecnologia Assistiva
Por Wagner Kirmse Caldas
Página 24
Evolução Evolução sem Complicação
Por Gustavo Melim Gomes
Página 27
Filosofia Rumo ao Mistério da Consciência
Por Eder Juno N. Terra
Página 32
Natureza Humana A Bondade
Por Felipe Carvalho Novaes
Página 36
Operando o Comportamento Ateu sim, porque não?
Por Marcos Adilson Rodrigues Júnior
Página 38
Pedagogia Deixem as Crianças Em Paz!
Por Kelly R. Conde
Página 42
Resenhas de Livros “Mendigos: Párias ou heróis da cultura?”
Por Fred Lins Junior
Página 45
Gerais
Dicas para a Internet Sites recomendados, sites úteis e blogs que fazem parte do Projeto Livres Pensadores
Página 47
Carta ao Leitor – Mário César Mancinelli de Araújo e Jeronimo Freitas
Revista Livre Pensamento – Número 1 4
Carta ao Leitor
Caro leitor,
A Organização Livres Pensadores, associação formada por brasileiras e brasileiros
que unem esforços e tempo na tentativa de construir uma sociedade mais justa –
na qual as decisões sejam tomadas com base no uso da razão, do pensamento
crítico, da observação dos valores democráticos e do conhecimento científico –
tem a honra de apresentar o primeiro número de sua Revista Livre Pensamento.
Em uma época na qual o acesso à informação deveria contribuir para diminuir o
abismo econômico e social que separa as sociedades laicas, dos regimes
teocráticos; vemos um impressionante recrudescimento do mito religioso e em
especial de suas facções mais fundamentalistas, ramificando-se, tal qual uma
metástase, por culturas até então tidas como moderadas. Se até pouco tempo
atrás, vangloriávamo-nos de nossa tolerância e do sincretismo religiosos, recentemente assistimos o crescimento de
uma bancada parlamentar cristã organizada, que interfere nos assuntos de estado, para segmentar os brasileiros em
cidadãos de primeira, segunda e demais categorias. Entendemos que não é possível observar passivamente, em
nome do respeito à tradição cristã do nosso povo.
Ao passo que observamos o surgimento de uma nova ordem social, na qual gigantes adormecidos como o Brasil, a
China e a Índia finalmente despertaram do "sono eterno", vemos que é chegada a hora de competirmos em pé de
igualdade com a "turma mais velha". Até que alguém nos prove que Deus existe e, claro, é brasileiro, preferimos
como armas, nessa batalha de gigantes, confiar na ciência e no pensamento crítico em vez de acreditar na mitologia,
em amuletos ou rituais medievais. Entendemos que a religião teve a sua oportunidade de governar o mundo, em um
período que ficou conhecido como a Idade das Trevas. É chegada a hora da razão e do pensamento livre. Por meio
dessa revista, vamos promover a liberdade de expressão, informar e alertar os cidadãos comuns, assim como os
formadores de opinião, os poderes legislativo, executivo e judiciário, sobre os perigos aos quais está submetida uma
sociedade guiada pela ignorância e pela superstição.
Estamos cientes que em nosso governo há uma maioria secular que, devido a interesses diversos, é pressionada por
uma minoria cristã, porém organizada, cujos objetivos claros ameaçam o secularismo de nosso estado. Como
céticos, ateus e agnósticos, daremos atenção especial aos danos morais e aos atrasos sociais causados pela
obediência aos dogmas religiosos e, sobretudo, à doutrinação religiosa ou sectária de crianças ou pessoas
emocionalmente ou intelectualmente fragilizadas. Vamos discutir os antidemocráticos privilégios fiscais concedidos
a instituições que vendem ilusão como se realidade fosse. Mais do que isso: como Livres Pensadores, queremos
incitar a discussão sobre temas polêmicos, até então protegidos pela carapaça invisível do dogma religioso; bem
como mostrar aos brasileiros que, onde há inteligência, tudo pode ser discutido e que apenas pessoas – não as ideias
ou crenças – devem ser respeitadas.
Atenciosamente,
Mário César Mancinelli de Araújo e Jeronimo Freitas,
Presidente e vice-presidente da Organização Livres Pensadores.
Carta ao Leitor – Mário César Mancinelli de Araújo e Jeronimo Freitas
Revista Livre Pensamento – Número 1 5
O Leitor Escreve
Este espaço é destinado à publicação das mensagens enviadas pelos leitores à redação da revista Livre Pensamento.
Participe! Escreva para [email protected], incluindo seu nome, a cidade e o estado onde vive e, caso
more no exterior, o país também.
Dicas do Leitor
Se você conhece um site, blog, tumblr e quer enviar sua dica aos leitores da Revista Livre Pensamento, escreva para
[email protected] com o título "dica do leitor".
Matérias – Autor: Fábio Marton
Revista Livre Pensamento – Número 1 7
Deus nunca diz não
A Tomada de Jericó, por Jean Fouquet
Como todos que não passaram os últimos dias
escondidos num bunker antinuclear devem saber, no
dia 22 de julho de 2011, o norueguês Anders Breivik
lançou um manifesto de 1500 páginas e um vídeo no
YouTube, bravejando contra muçulmanos e marxistas.
No mesmo dia, provou que tinha mais que palavras.
Um carro-bomba explodiu em frente a um prédio
público, matando dez pessoas, enquanto Breivik
pessoalmente invadia uma estância turística ligada a
um partido de esquerda, onde pessoalmente
executou 69 pessoas com armas de fogo.
Breivik é cristão, o que faz questão de afirmar. Mas
não estou aqui para soprar qualquer brisa de suspeita
sobre uma relação entre sua religião e seus atos. Ao
contrário, o que vou indagar aqui é por que Brevik ser
cristão não evitou que se tornasse um terrorista
assassino.
Diz o famoso (ou infame) Argumento de Karamazov:
“Se Deus não existe, tudo é permitido”1. Pode ser uma
ideia detestável, mas – coisa raramente lembrada
nestes dias em que o relativismo é dado como certo
em qualquer boteco de azulejo rachado – uma ideia
ser detestável não torna ela mais ou menos
verdadeira. 1 Frase que nunca foi dita por Ivan Karamazov, o
racionalista de Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievisky. Mas o raciocínio do livro, como outros do genial reacionário russo, ia mesmo nessa linha.
Certamente religião não é suficiente para uma
conduta moral. Dizer isso seria extremamente injusto
com os cristãos. Exceto por malucos como o próprio
Breivik, cristãos não costumam aceitar a morte de
inocentes para avançar uma causa política, assim
como não aceitam a escravidão, pedofilia, sexo não
consensual e racismo. E fazem isso apesar do que diz a
Bíblia.
Em Êxodo 11:52, deus em pessoa aparece matando primogênitos inocentes egípcios (crianças inclusive, animais inclusive) para avançar a liberação dos judeus. O mesmo deus, em Levítico 25:44-463, regulamenta a escravidão. Deus também aprova o estupro e escravização de mulheres capturadas na guerra em Deuterunômio 20:144, que devem ser consideradas um presente dele próprio. E também engravida (sem sexo) a Virgem Maria aos 13 anos5, recomendando que mantenha o casamento com um velho – união que os católicos afirmam não ter sido consumada, mas os protestantes discordam. Sobre o que deus
2 “Todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o
primogênito de Faraó, que haveria de assentar-se sobre o seu trono, até ao primogênito da serva que está detrás da mó, e todo o primogênito dos animais”. 3 “E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres,
serão das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas. Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas famílias que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão.E possui-los-eis por herança para vossos filhos depois de vós, para herdarem a possessão; perpetuamente os fareis servir; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não vos assenhoreareis com rigor, uns sobre os outros”. 4 “Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o
que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR teu Deus”. 5 A Bíblia menciona a concepção milagrosa logo após seu
casamento com José, o que, na época, acontecia aos 13 anos. Como em Mateus 1:18-20: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo”.
Matérias – Autor: Fábio Marton
Revista Livre Pensamento – Número 1 8
A Destruição de Sodoma e Gomorra, John Martin, 1832
acha de racismo, bem, ele tinha sua própria raça superior e a guiou a conquistar seu "espaço vital"6. Todas essas coisas podem ter sido corriqueiras para a época. Certamente os judeus não estavam sozinhos nesses costumes e nem por delírio foram os únicos a fazer guerra de conquista achando que os deuses estavam de seu lado. Mas não deveria um deus eterno e onisciente estar acima do tempo e dos costumes bárbaros dos povos? Não deveria ter passado instruções morais melhores ou ao menos mais duradouras a seu povo escolhido? Curiosamente, mesmo com essas passagens, é quase
certo que o cristão normal, que rejeita terrorismo,
escravidão, pedofilia e racismo, provavelmente
considere que essas ideias morais leigas levem a
pecados. Fazer escravos, ser pedófilo, estuprar uma
mulher numa guerra, ser racista, tudo isso pode levar
ao inferno. O cristão normal imprime a seu deus o
julgamento moral moderno.
Pode ser incoerente, mas seria uma validação da ideia
de Karamazov. Temos sentimentos morais nativos,
que a Ciência dá seus primeiros passos em descobrir,
e também temos leis e pressão social. Mas ter medo
do Inferno, mesmo que seja um medo esquizofrênico
por conta de uma moral que absolutamente não é
religiosa, poderia ser, ao menos, um freio extra.
Então entram as interpretações. Para sermos justos
com a Bíblia, ela não é feita apenas de barbaridades.
No Velho Testamento, há o famoso Não Matarás7.
Mas isso é seguido de inúmeros matarás8 ordenados
pela mesma divinidade, quando ela não tomava o
serviço nas próprias mãos, como em Sodoma e
6 Com o perdão do péssimo gosto da comparação, e
absolutamente nenhum comentário sobre os judeus em si ou Israel – falo apenas da atitude do velho YHWH. 7 Êxodo 20:13.
8 Só um exemplo em Deuterunômio 7:2 “E o SENHOR teu
Deus as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas”
Gomorra9. Ao final, a única forma de ler o verso é
“Não Matarás (exceto quando deus concorda)”.
Isso, dirão os cristãos, é o Velho Testamento, antes do
deus eterno e onisciente da lei escrita em pedra
mudar de ideia, desistir de vários mandamentos
eternos e mandar um pedaço de si próprio à Terra
para se tornar o Pai de Todos os Hippies. E Jesus
realmente parece a coisa real, um pacifista convicto. A
seguir as recomendações de Jesus para amar ao
próximo como a si mesmo10 , dar a outra face11 ou que
quem vive pela espada, morre pela espada12, todo
cristão teria de ser pacifista a ponto de fazer Gandhi
parecer um redneck americano com uma
metralhadora na caçamba da camionete pintada com
a bandeira confederada.
As recomendações pacíficas de Jesus, belas e
idealistas que talvez sejam, são também
completamente impráticas. Dando a outra face em
1939, teríamos hoje Oktoberfest na Bahia – quer
dizer, os nazistas teriam, nós mischling teríamos
virado sabão. O próprio Jesus parece ter reconhecido
a impraticidade de seus conselhos em Lucas 22:36,
onde mandou os discípulos se armarem para o tempo
ruim que viria:
Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa,
tome-a, como também o alforje; e, o que não tem
espada, venda a sua capa e compre-a;
O que quer dizer que Jesus abriu a possibilidade,
apesar do dito antes, de legítima defesa. E então
começam novos problemas: quando a “defesa” de
algo tão mal definido quanto a fé é legítima? As
Cruzadas foram em “legítima defesa”. O Sultão Al-
Hakin (985-1021), chamado de “O Louco”, destruiu o
templo de Jerusalém e começou a assassinar
peregrinos cristãos. Isso foi considerado pela religião
de nosso amigo hippie como razão suficiente para
“liberar” a terra santa, com todos os atos comuns na
guerra, vivendo pela espada, morrendo pela espada,
causando inveja ao Velho Testamento. Anders Breivik
certamente se considerava um irmão espiritual dos
cruzados, combatendo o inimigo mouro e seus
frangotes simpatizantes.
9 Gênesis 19:24
10 Mateus 22:39
11 Lucas 6:29
12 Mateus 26:52
Matérias – Autor: Fábio Marton
Revista Livre Pensamento – Número 1 9
Miniatura do cerco de Antioquia (Sébastien Mamerot, c.1490)
A verdade – detestável para muitos – é que, mesmo
se muitas pessoas procuram agir de forma moral por
medo do inferno e a promessa de um puxadinho no
céu, deus insiste em não existir. Quando, em nome de
deus, o sangue encheu as ruas até bater nas canelas,
seja nas Cruzadas, seja nas conquistas islâmicas e a
Reconquista espanhola, seja em atentados recentes,
jamais houve vozes na cabeça de alguém para dizer
“opa, não é bem assim, gente. Vocês estão me
interpretando mal”. Nem um trovãozinho que fosse.
Nunca há deus para dizer que não é um caso de
vender suas tralhas e comprar uma espada ou que
aquele matarás específico ele não aprova. Deus não
apareceu a Breivik para impedir sua ação, mesmo
após alertado pelo YouTube. E, aliás, considerando
que esse mesmo deus teria impedido Abraão de
matar seu filho Isaque13, é difícil justificar como não
tenha agido em tantas e inúmeras circunstâncias
similares, vezes sobre vezes em que inocentes foram
massacrados por quem diz ter ouvido sua voz ou acha
que ele concorda com seus planos.
Como vimos antes, mesmo para os religiosos, grande
parte da moral não vem da religião. Quanto às outras
regras morais, o que é pregado nos livros sagrados e
teologia, se é percebido como moral racionalmente,
13
Gênesis 22
também se torna parte da moral dos incrédulos. Já
regras morais que não concordam com a razão, mas
são afirmadas por livros ou teologia, é o ponto em
que a religião pode atrasar o desenvolvimento moral
– como o caso da homofobia e pesquisas com células-
tronco hoje em dia. Ainda que a religião
provavelmente fará como antes e, com grande atraso,
acabará aceitando o que a razão já entendia, criando
novos pecados, mudanças de opinião de seu deus
eterno, onisciente e indeciso.
É certo que o religioso, por conta de seu medo de
punição divina, seja capaz de fazer boas ações, dentro
do que a moral moderna considera boas ações. Mas
essa mesma fé, que pode mover atos caridosos,
deposita em uma autoridade muda, invisível e
inexistente o julgamento final para as decisões
humanas. Quando Breivik matou, ele poderia
acreditar que tinha a aprovação de deus – e
acreditaria mesmo se todos os cristãos do mundo
discordassem dele, porque esse julgamento não seria
“deste mundo”. Como deus não existe, Breivik jamais
poderia ser contrariado. Se, ao invés disso, tivesse
convicções racionais que o impedissem de agir
daquela maneira, então haveria algo que segurasse
sua mão: sua razão, sua consciência.
Não estou nem perto de sugerir que os cristãos não
tenham ou façam uso da razão e consciência. Apenas
que, se o que é certo e errado é definido
independente de fé, seu medo de punição divina é
redundante e perde-se mais que se ganha com isso. A
fé pode atrasar a evolução moral e até mesmo
diminui o valor dos atos morais (porque fazer algo por
medo de ameaça não é agir moralmente, mas isso é
outra discussão). Mas, principalmente, o problema
numa moral baseada em fé é que, ao tirar dos
humanos o julgamento final pelos próprios atos,
entrega esses julgamentos ultimamente ao nada, e daí
às fantasias de qualquer lunático.
Se deus não existe e assim mesmo se acredita nele,
tudo é permitido.
Sobre o autor da matéria
Fábio Marton é jornalista paulistano e autor de Ímpio – O Evangelho de um Ateu, em que descreve suas experiências como pastor infantil pentecostal e sua
desconversão na adolescência.
Matérias – Autor: Fred Lins Junior
Revista Livre Pensamento – Número 1 10
Pedofilia e Crueldade Humana
Esse texto foi escrito por quem tem, no mínimo, a
grandeza de colocar-se à altura da nojeira e da
miserabilidade humana. Cuidado: esse conteúdo
poderá provocar-te estupefação, dispnéia, e até
náuseas. Se estás em busca de uma leitura afável e
morna, que te faça conciliar o sono depois da novela,
desista! Aqui não há vínculo com a troupe
arquiconhecida nem cumplicidade com os bandidos
da política, com os espertalhões pós-graduados e
muito menos com a elite esclerosada, essa quadrilha
que mantém o Brasil chafurdando num pântano
demagógico e ordinário, do querer mais sendo menos,
da desconfiança como premissa maior, da
incompetência em não saber organizar nem filas de
cinema, das aparências, da demência burocrática e da
corrupção generalizada.
A escravidão, o abuso sexual e o assassinato de
crianças sempre estiveram evidentes, e a história,
essa cloaca de mentiras construída sobre infâmias e
infanticídios, permanece falsa e petrificada no cérebro
da humanidade. E quem é brasileiro, apesar do
“revolucionário” Estatuto da Criança e do
Adolescente, apesar das Pastorais, das CPIs e dos
outros despistes, nem precisa ir tão longe para
inventar uma hermenêutica pedófila ou para ver o
mercado prostitutivo e criminoso de crianças.
Um padre queimava incenso às escondidas e prometia
o paraíso à pequena beata que retribuía-lhe com uma
felação. Um político proxeneta, nas barbas dos
Conselhos Tutelares e dos agentes da ordem, coopera
no tráfico humano de crianças. Um papa que, para
cobrir com panos quentes os escândalos do clero,
envia para a África Central uma legião irremediável de
padres pedófilos. E os bufões intelectuais e outros
pesquisadores da área, que vivem em função do
dinheiro e de suas ignóbeis tripas, controem hipóteses
e inventam nomes pomposos, a fim de justificar o
salário, intensificando o espetáculo de pendanteria e
ampliando a minha única certeza: como é cretina e
venal a espécie humana.
Os países submissos, corruptos e pobres da América
Latina - apesar das manadas perfumadas que vão se
comungar todas as manhãs e dos berros histéricos dos
evangélicos de todos os matizes, cacarejando e
implorando o dízimo - engendram verdadeiros
exércitos de crianças abusadas, mutiladas, enjeitadas,
desqualificadas, encarceradas, castradas, desamadas
Matérias – Autor: Fred Lins Junior
Revista Livre Pensamento – Número 1 11
e imbecilizadas. Do Recife ao Chile, do Piauí à
Colômbia não falta sexo infantil para nenhum dos
rufiões e dos gigolôs dessa repúblicas. São Paulo,
Santa Cruz de la Sierra, Curitiba, Montevidéu,
Roraima, Porto Alegre, Assunción, Lima, DF etc., cada
uma dessa cidades têm seus puteiros infanto-juvenis
disfarçados, e quase sempre para satisfazer os
mesmos crápulas do poder e do vício. Sujeitos até
fora-de-suspeitas, mas que quase sempre foram
abusados em suas meninices e que agora, movidos
por um ressentimento inconsciente, precisam vingar-
se realizando suas taras sobre outras crianças. As
praias de Fortaleza exibem a mercadoria local em
abundância, e apesar da encenação das Ongs, das
Campanhas, do “Dia mundial contra o trabalho
infantil”, da “caça aos turistas sexuais”, da balela
demagógica das Altas comissões de Executivos e do
doutorismo, elas e eles estão todas as noites lá. Lá e
voando para as garras dos conhecidos e velhos
predadores, como se para eles, o abuso e a
prostituição fossem ritos de passagem obrigatórios.
Às margens do barrento Rio Amazonas, as pequenas
embarcações também transportam esses filhotes do
acaso, esses pequenos heróis para o grande bazar de
diversões noturnas das cidades e dos garimpos. Ali,
homens barrigudos, bandidos semibrochas, com seus
bigodes manchados pela nicotina, os esperam,
ansiosos para neles repetir a história de seus próprios
estupros... e depois, se for necessário, dar um sumiço
em seus corpos. Famílias urbanas de comerciantes,
industriais, políticos e profissionais liberais, costumam
“importar” crianças do meio rural precário, das tribos
em extinção e das fazendas, para transformá-las em
pequenas escravas de suas mansões. Outras vezes,
esses novos ricos, mascarados de altruístas, adotam
crianças para que seus “filhinhos” tenham com quem
se distrair e para que entre um Big Mac e um passeio
de lancha, possam iniciar-se sexualmente com elas. E
toda a quadrilha que comanda as leis no país sabe
disso. Mas como o suborno é irrefutável, como a
culpa nos psicóticos é menor e como as elites têm
bons advogados e pagam o dízimo em dia, fica tudo
por isso mesmo.
Irônica e paradoxalmente, o pequeno abusado,
intimidado pelo patético, confuso e complicado
mundo dos adultos, costuma sentir-se responsável e
culpado pelo abuso do qual foi objeto. O resultado
disso? Quase sempre uma histeria. Mas depende de
vários fatores. Em algumas crianças o malefício e o
trauma são ficar doentes por isso. Na grande maioria
os resultados dessa experiência só serão realmente
conhecidos bem mais tarde, na forma de fobias,
homofobias, impotência, autopedofilia, frigidez, ódio,
confusão entre prazer e culpa, euforia e depressão. O
abusador não sente apenas um tesão ambíguo pela
criança “desejada”, mas, principalmente, raiva e
desprezo por ela, o mesmo que sente por si mesmo.
No fundo no fundo, o pedófilo, movido por sua
angústia, age como se sentisse um desejo incontido
por si mesmo, uma necessidade de auto-enrabar-se,
um desejo que só pode ser rastreado através de um
Outro, de preferência, parecido... A homofobia têm
raízes em experiências precoces de abuso. Os crimes
frequentes contra homossexuais, gays e travestis,
etc, praticados com requintes de perversidade,
podem ter a conotação inconsciente de um acerto de
contas. É importante lembrar que no caso dos tão
comuns escândalos clericais com abuso de crianças,
além da pedofilia, há também um incesto simbólico,
já que o padre assume junto aos pequenos religiosos,
o papel de pai.
O mercado de crianças, o incesto, a pedofilia e a
prostituição infantil são apenas detalhes do desatino e
do infanticídio generalizado que sempre marcou a
história fisiológica e cretina do mundo. Na capital do
Brasil de 1726, as mães que não queriam ou que não
sabiam o que fazer com seus filhos, entre uma
mandinga e outra, os abandonavam à noite nas ruas
de Salvador, onde eram fatalmente devorados por
cães, porcos e outros animais famintos, ou deixavam-
nos na praia para que se afogassem durante a subida
da maré.
- Mas meu Deus, hoje as coisas não são mais tão
brutais assim!
Ouço os alienados e otimistas de plantão
resmungando.
Seguem equivocados, porque as coisas, queiram eles
ou não, continuam assim e até tão ou mais brutais
para as crianças. Além de tudo o que é
cotidianamente noticiado, os abusos, os sacrifícios e
os massacres continuam ocorrendo aos milhares e por
todos os lados. As guerras são um exemplo. Na
Colômbia, atualmente são mais de dez mil meninos
atuando no exército das FARC, das milícias urbanas e
nos grupos paramilitares. Quem é que não se lembra
das crianças ciganas que os nazis batiam contra as
Matérias – Autor: Fred Lins Junior
Revista Livre Pensamento – Número 1 12
árvores e das crianças judias que eram eliminadas
com doses de luminal? E o infanticídio dos anos 80,
perpetrado pelas forças armadas de El Salvador,
assessoradas pelo exército norte americano? Nesse
minúsculo país, pouca gente sabe, foram degoladas,
fuziladas e raptadas milhares de crianças, filhos e
filhas dos rebeldes e guerrilheiros que o governo não
conseguia derrotar... E por fim, quem é que não vê
diariamente, os milhares de pequenos mendigos na
guerra dos semáforos nas ruas do Brasil? Já leste um
livro sério, digo sério, e não esses que estão nos
nefastos livreiros mercantilistas e ulcerados do Brasil?
Volto ao Antigo Testamento meio contra a vontade e
visivelmente enojado. Retorno a leitura dessa
brochura, não porque acredite no monte de idiotices
nelas contidas, mas por saber o quanto influenciou e
ainda influencia as leis e as crenças sociais da tropa. E
aqui é pertinente lembrar que em quase todo o Reino
Cristão, até a bem pouco tempo, a fase dos seis aos
dez anos de idade era considerada teologicamente
imunda. Leio as 56 páginas do Gênesis e chego a ficar
tonto com tanta cretinice, com tanta infantilização
dos adultos e com tanta violação de ética. Com o
Código Penal à mão fui lendo e listando os principais
“delitos” cometidos pelo Senhor Jeová, pelos Faraós e
pelos filhos de Adão e Eva. Vejam: falsidade
ideológica; exploração de mão de obra; estelionato;
proxenetismo; abuso de poder; bigamia; prevaricação;
corrupção; estupro; incesto; bastardismo; fraticídio;
latrocínio; tráfico de pessoas; onanismo; fornicação;
assassinato; expropriação de bens; vingança; soberba;
autoritarismo; uso de armas biológicas; infanticídio;
redução à condição análoga à de escravo, etc.
Seríamos mesmo descendentes dessa ralé? Ah, e eu
que entre uma mentira histórica e outra costumava
atribuir levianamente as nossas desgraças cotidianas
aos portugueses, aos espanhóis, italianos e outros
pseudocolonizadores, ao terminar essa releitura me
convenço de que toda a sociopatia atual vem de
longe, mas de muito mais longe e que a civilização só
começará a libertar-se verdadeiramente, depois que
vomitar até as entranhas, que defecar até as tripas e
fizer uma imensa fogueira com tudo o que é
teológico.
Cada dia se torna mais difícil traçar um meridiano
entre Pesquisador, o Doutor e o Estelionatário. E o
complô do silêncio impera tanto aí, entre esses
vermes, como lá entre os filósofos do abuso. Esses
oportunistas que, sob o pretexto de “discutir a
infância” estão “mamando” nas tetas de organismos
internacionais desde 1959, quando foi aprovada pela
ONU a Declaração de Direitos da Criança. O que, por
uma razão qualquer, caem fora, se aposentam,
morrem ou arranjam mamatas melhores, passam os
postos aos seus familiares, amantes, cupinchas ou
pertencentes ao mesmo gueto. Os vivaldinos
contemporâneos que na prática, além de uns rótulos
novos e da mistificação mútua, não produzem
absolutamente nada! Nada além de relatoriozinhos
inúteis e mentirosos. É por isso que esse texto não
deve ser lido nos púlpitos das igrejas, nem nos
auditórios das universidades, nas assembléias dos
partidos e nem nos escritórios da ONU. Esses
ambientes manipulados por uma pseudocasta
internacional esmagam e castram quase tudo o que
lhes cai nas mãos.
Da família para a igreja (batismo, crisma, primeira
comunhão, confissões semanais, colonização clerical,
etc); da igreja para a escola (obediência antes de tudo,
e se for pego tocando mais de uma punheta/dia, é
logo enviado para o pedagogo ou para o psicólogo);
da escola para uma universidade (barriga para dentro,
submissão, idealização e adestramento inútil) e da
universidade para uma empresa onde passará a
competir com os colegas e sonhar em ser o mais
aplicado dos funcionários. É o fim! Está construído o
cidadão completamente idiotizado. O tipo ideal para a
manada ruminante, aquele que é sádico com seus
subalternos e masoquista com seu superior... Nada
mais a declarar.
Fontes:
Ezio Flavio Bazzo, “A Lógica dos Devassos: No circo da
pedofilia e da crueldade...”, 2007, LGE Editora, 219 p.
Ezio Flavio Bazzo, “Manifesto Aberto à Estupidez
Humana”, 2007, LGE Editora, 144 p.
Emanuel Araújo, “O Teatro dos Vícios”, 2008, Jose
Olympio, 364 p.
Sobre o autor da matéria
Fred Lins Junior é alguém que luta por uma sociedade onde o trabalho alienado deve dar lugar a uma criatividade coletiva, regulada pelos desejos de cada
um, onde o direito de comunicação real pertence a todos.
Matérias – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo
Revista Livre Pensamento – Número 1 13
Aniversário de 1 ano do Livres Pensadores
Dia 30 de agosto nosso blog, o Livres Pensadores.org,
fará um ano. Então, que data melhor do que esta para
uma retrospectiva?
Há alguns anos (3 ou 4, acho eu), eu e minha prima,
Geamille Rissato, conversamos sobre a criação de um
blog. A ideia inicial era simplesmente escolher algum
assunto que ambos gostássemos, criar um blog e
monetizá-lo (através do Google AdSense, por
exemplo). Era realmente para "ganhar uns trocados".
Depois, nunca mais conversamos a respeito. Até ano
passado, quando ganhei dois ingressos para a Bienal
do Livro de São Paulo do Submarino, num concurso de
melhores frases no Facebook.
Sinceramente, sequer faço ideia de que frase foi, nem
sei como encontrar isto hoje no Facebook. Mas foi lá,
durante a Bienal do Livro de São Paulo, que voltamos
à ideia do site, mas já com algo bem mais
"estruturado".
Eu e a Geamille na Bienal do Livro de São Paulo, em 2010.
Neste período a ideia cresceu. Não seria mais um blog
para "ganhar uns trocados", como disse acima, mas
para realmente tentar fazer alguma diferença. Não
apenas através de textos em blogs, mas também com
a criação de uma organização – sonho este que
começa a virar realidade – para podermos tirar as
ações apenas do "virtual" e levá-las também para o
"real".
Além disto, o que mudou neste período "entre
conversas", basicamente, foi que fui apresentado ao
WordPress, graças ao meu amigo Devanil Junior, que
me chamou para participar do blog Astronomia Brasil,
criado por ele. Infelizmente o blog já não está mais no
ar, pois tinha um conteúdo ótimo. E não falo de meus
textos, mas principalmente pelos textos dele, do
André Haiske e da Hellen.
Matérias – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo
Revista Livre Pensamento – Número 1 14
O atual blog do Devanil é http://devanil.com/ –
acessem.
O que o WordPress nos deu foi a facilidade de criar o
blog em pouco tempo, bastando comprar um
domínio, contratar um serviço de hospedagem,
instalar o WordPress, escolher, personalizar e aplicar
o template e pronto: lá estava o blog, pronto para
receber conteúdo. E aí nasceu um novo problema:
que nome colocar no blog?
A ideia inicial foi "Conscientia" (consciência em latin),
pois o que queríamos com nossos textos era
realmente tentar conscientizar as pessoas – não
"convertê-las" ao ateísmo, convencê-las de que a
filosofia é importante, de que apenas na ciência
podemos ter respostas válidas, ou "forçar" que
aceitassem nossas ideias... Mas apenas colocar temas
importantes, com uma visão crítica da coisa, de forma
que todos pudessem não só entender, mas também
debater e, assim, fazer com que o conhecimento
chegasse ao maior número de pessoas o possível.
Cogitamos diversos outros nomes: "Guardiões da
Vela", "Paradoxo", "Biopoese", "Buraco Branco",
"Serapion" (templo ao deus Serápis, o qual foi
convertido em parte da Biblioteca de Alexandria, a
"biblioteca filha" e se tornou sua principal instalação),
"Neo Serapion" ("Novo" Serapion), "Iluminismo",
"Iluminador", "Iluminista", "Navalha de Occam",
"Ponto Crítico", "Trepanação" (uma operação antiga,
que literalmente "abria a cabeça") e assim por diante.
Diversas pessoas também auxiliaram neste processo:
Ligia Amorese, grande amiga; Francisco Quiumento
(Chicão), também grande amigo; João Augusto Mattar
Neto, meu professor de filosofia e também grande
amigo; minha mãe, a mãe dela (que sugeriu "obra do
capeta" – pois é, ela é evangélica), entre outros.
No fim, descobri o movimento Livre Pensamento (é,
não sou tão intelectual quanto possam imaginar, eu
não conhecia o nome). Achamos que se encaixava
perfeitamente, então resolvemos colocá-lo, mesmo
com os protestos daqueles que nos ajudaram a
escolher o nome (não lembro o que a Ligia disse, mas
o Chicão achou pretensioso demais, o professor João
Mattar insistia em algo relacionado ao iluminismo e a
mãe dela insistia em "obra do capeta").
Uma coincidência interessante sobre a escolha do
nome é que o símbolo deste movimento, do Livre
Pensamento, é a flor Amor Perfeito. E... Bem, quando
criança, uma vez minha mãe comprou sementes de
diversas flores. Plantou todas, com a exceção de uma
espécie, a qual havia me conquistado desde o início.
Qual? Exatamente o amor perfeito.
Sabíamos que, sozinhos, jamais conseguiríamos fazer
tal coisa, então já estava em nossos planos chamar
mais pessoas para ajudar na empreitada. Mas a ideia
era que apenas nós levássemos o blog por um bom
tempo, até que pudéssemos criar um bom "nome" e,
assim, as melhores mentes pudessem se interessar
em fazer parte dele. Bem... Isto aconteceu mais
rápido do que esperávamos. Aliás, tudo está
acontecendo mais rápido que esperávamos.
E hoje temos pessoas fantásticas envolvidas com o
blog, com a organização, com tudo enfim. Como o
Wagner Kirmse Caldas, Jeronimo Freitas, Fred Lins
Junior, Yuri Grecco ("Eu, Ateu"), Felipe C Novaes,
Gustavo Merlin, Marcos Rodrigues e tantos outros.
Enfim... É isto. E espero que a coisa continue
crescendo cada vez mais.
Sobre o autor da matéria
Mário César Mancinelli de Araújo é um apaixonado por ciências em geral, que adora pesquisar a ufologia (com uma visão científica/cética).
É formando em Ciência da Computação e pretende fazer mestrado em Inteligência Artificial. Pretende ainda se formar em astronomia ou astrobiologia. Blog: agloriousdawn.livrespensadores.org
Matérias – Autora: Ligia Amorese
Revista Livre Pensamento – Número 1 15
No buraco mais embaixo de tudo...
Interessante...
Cena um, tomo um, ação: Como um vento ruim
soprando as páginas do tempo, o termo "Darwinismo"
associado a massacres volta com força depois dos
atentados na Noruega em 22 de julho último, levados
adiante por Anders Behring Breivik. Cristãos,
arrogando-se o direito de contradizer Darwin em sua
teoria da Evolução, costumam associar as práticas
nazistas da segunda guerra com a teoria de Darwin,
desmerecendo-a, ao reduzi-la a um dos mais fortes
motivos para que o nazismo se empenhasse na
"purificação" da população mundial, eliminando os
"refugos" e desenvolvendo uma raça "superior". E
isso, como é de se esperar, cai feito uma bomba sobre
as mentalidades afeitas a colocarem a culpa pelo caos
social nas costas de quem "não tem Deus no coração"
e que "segue" a ciência. Darwinismo = ateísmo =>
coisa de quem não tem Deus no coração.
Tomo dois: Do outro lado, como um vendaval
deslocando o centro de massa do sistema para o
buraco mais embaixo, vejo uma motivação política
visando a manutenção da Europa para os europeus,
sendo tratada como mais um capítulo da série: "Amor
cristão mata". Sem escrúpulo algum, reduzindo a
intenção do sujeito à simples loucura de um pretenso
fundamentalismo cristão tocando as trombetas de
Jericó contra os infiéis, as motivações políticas
hegemônicas são lançadas a um último plano de
abordagem, visando fazer fulgurar a irracionalidade
inerente à fé religiosa como a causa principal do
massacre na Noruega (oi?).
Observação: Sim, sim, mais do mesmo. Ao invés de
procurar os motivos reais, ao invés de observar a tela
ao fundo, parte-se para as cores berrantes em
contraste. Polarização: De um lado, cristãos
apontando o dedão unhento para uma característica
de quem se atém à ciência para busca de respostas às
questões do mundo. Do outro, ateus buscando
respostas para os males do mundo na crença religiosa.
Enquanto isso, lá no buraco bem mais embaixo de
tudo, a razão, a motivação primeira, o que realmente
impulsiona a roda da fortuna (a câmera adentra um
fosso escuro, bem abaixo), dois olhos ambarinos
faiscantes rompem a escuridão: A natureza animal.
Incólume, intocável, à espreita, nossa natureza animal
dita nosso comportamento à revelia de nossas mais
sublimadas intenções. A sensação é de derrota. Mas
como, se somos humanos, seres pensantes, racionais,
como nós nos deixamos carregar por instintos?(aqui
eu vejo uma claquete fechando...)
Cena dois, um abre aspas gigante: O territorialismo, o
senso de proteção à família, ao clã/grupo social em
que estamos imersos, está entocado dentro de nosso
cérebro límbico, uma camada abaixo e mais intrínseca
de nossas mais elaboradas construções mentais,
visando deslocar o eixo do sistema acima das raízes da
árvore na qual ainda nos empoleiramos. Dessa
construção teratogênica forçada, deslocando-se a
copa para muito acima das raízes, o tronco exposto
torna-se fino, fraco, um fio suspenso entre as nuvens
no céu e o abismo. E é justamente nesse fio exposto,
dividido entre os que crêem em Deus e os que não
crêem, que desejam encontrar razões e
fundamentação para todas as atividades humanas
ilícitas. Fecha aspas (e claquete).
Cena três: Uma brisa revolve os finos cabelos loiros...
ah, o ar de superioridade em olhos cinza brilhantes e
frios como o fio de uma navalha. Anders Behring
Breivik, 32 anos, norueguês, resolve fazer parte de um
plano de erradicação dos islâmicos na Noruega. O
plano exige a elaboração durante 18 meses. Um ano e
meio de esforços concentrados. Nesse ínterim, um
manifesto é escrito explicando as razões, os motivos,
as metas, tudo compartimentalizado e, à primeira
vista, não dizendo coisa com coisa. Sim, é mais fácil
dizer que ele é só mais um louco. Afinal, quem
perderia seu tempo elaborando um plano macabro
com requintes de racionalidade?
Matérias – Autora: Ligia Amorese
Revista Livre Pensamento – Número 1 16
Li gente chamando-o de psicopata. Outros alegam que
ele é paranóico, narcisista. Um cristão
fundamentalista de extrema direita. Um ateu
"darwinista" sem deus no coração. E até agora,
nenhuma menção a um ser humano exercendo sua
intenção de defender seu grupo da invasão de outro
grupo. Mas o caso é que grupos defensores da
hegemonia de um grupo são pura e simplesmente
animais em luta pela defesa de território e do grupo.
Quando o que nos torna humanos é sobrepujado por
nossos instintos mais básicos, nós matamos,
usurpamos, destruímos, tentamos eliminar a ameaça,
sem remorsos pelo que possa advir de nossas ações.
Cena quatro: Como Moisés na bíblia levantando o
cajado contra o Mar Vermelho, dividindo o senso
comum, pessoas na busca por explicações visando
emporcalhar o que for mais importante ser
emporcalhado no momento, puxando a sardinha pra
brasa do próprio fogareiro, ou atendo-se à pretensa
loucura de Anders, deixam passar o mais importante
nessa e em outras muitas questões humanas com que
nos deparamos a cada folheada de jornal, a cada
acesso a site de notícias. O que nos torna humanos,
essencialmente humanos, é também o que nos afasta
de nosso ideal de viver em harmonia com o Cosmos,
na base de alcançarmos as nuvens subindo pelo fio
fraquinho suspenso acima do abismo naquela
construção teratogênica de nossas elaborações
mentais, visando afastar-nos de nossa natureza
animal. E sim... ela, a nossa natureza animal, ainda
nos surpreende. Nós a negamos. Mas ela está lá e faz
parte de nós.
A diferença entre religiosos que seguem seus deuses e
ateus que os eliminaram é talvez o uso de hipocrisia
para funções diferentes. Enquanto religiosos tentam
manter a fachada de tementes a Deus e, portanto,
"bons cidadãos", contando para isso com a hipocrisia
da bondade de fachada, ateus contam com a
hipocrisia de não estarem fazendo o mesmo que
religiosos. E todos, sem discriminação, dançam
conforme aquele ser de olhos ambarinos, à espreita
no buraco mais embaixo de tudo, dita. Eu, atéia,
também danço (derbaques em fúria, por favor...).
Cena final: Na dança do ventre, o som dos derbaques
marca a dança mais primitiva, ligada ao sexo
feminino, apenas ritmo, sem outros instrumentos. Ela
massageia e revigora o ventre de forma a dar melhor
sustentação aos músculos pélvicos, além de fazer a
dançarina gastar energia e irradiar vigor físico. Um
frenesi. Enquanto isso, mulheres cobrem-se com véus,
são obrigadas a isso por causa de sua religião. Homens
que professam a mesma fé que as mulheres envoltas
em véus, matam e castigam as mulheres que não se
submetem. E essa gente que mascara a sexualidade
sob mantos escuros e sombrios como o kajal
adornando os olhos, não é bem vinda por pessoas
como Anders em sua terra natal, lutando pela
manutenção de costumes essencialmente europeus,
há pelo menos 2000 anos. A igreja católica tem perto
dessa idade na Europa.
Aí, vem gente e coloca representantes da religião
católica de extrema direita como os mandatários de
assassinatos dos de extrema esquerda na Noruega,
visando erradicação de islâmicos na Europa. Minorias
prejudicadas por representantes da ICAR em sua
aceitação na sociedade, homossexuais, ateus,
alimentam essa associação. Enquanto isso, lá
embaixo, no fundo profundo de tudo, olhos
ambarinos faíscam, à espreita...
Assinalando: Trajetória parabólica da defecação em
direção à ventilação. (claquete fechando com
estrondo...).
Sobre a autora da matéria
Ligia Amorese é uma pessoa muito curiosa, sempre em busca de respostas. O que eu sou, não sei dizer. Talvez um agregado de células em sistemas
complexos o suficiente para que eu seja considerada humana, já que há muitos outros como eu. Ou, uma mente inquieta que se maravilha vendo o céu estrelado, teias de aranha com orvalho, nuvens de tempestade aproximando-se. A propósito, a mente habita o agregado... Nasci assim. Formada em física. Artista por opção.
Colunas – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo
Revista Livre Pensamento – Número 1
18
CETICISMO
A importância do Ceticismo
Muitas pessoas criticam aqueles que se dizem céticos,
afirmando que elas apenas "negam tudo". Contudo,
isto está longe de ser a verdade. O que céticos fazem
é duvidar, ou, em outras palavras, ter dúvidas a
respeito do que se alega.
"Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem
muito mais crentes do que pensadores."
— Bruce Calvert
Existem duas principais correntes no ceticismo: a
filosófica e a científica:
A corrente filosófica procura examinar de
forma crítica todo o conhecimento, de modo
a verificar se são realmente verdadeiros, e se
opõe à ideia de que alguém possa possuir um
conhecimento absolutamente verdadeiro.
Por outro lado, a corrente científica é
simplesmente uma postura prática, a qual
questiona a veracidade de alegações,
procurando prová-las ou refutá-la, utilizando-
se do método científico.
Dentro do ceticismo
filosófico há diversas
correntes, como o
Pirronismo, Empirismo, etc.
O texto ficaria
extremamente longo se eu
fosse dissertar a respeito
de cada uma delas. Além
disto, o foco deste texto é o
ceticismo científico, pois é
aquele que, apesar de não
percebemos, utilizamos em
nosso dia a dia.
O ceticismo científico, como seu próprio nome diz, é
baseado na ciência. Ele tem sim suas raízes no
ceticismo filosófico, da mesma forma que a ciência
tem suas raízes na filosofia. Contudo, entre ciência e
filosofia há uma diferença: apesar de ambas serem
baseadas em argumentação, existe algo na ciência
para desempatar argumentos. O nome disto é
evidência.
Evidências científicas são o resultado de pesquisas
realizadas dentro dos preceitos científicos (que
incluem falseabilidade – exigência de que haja uma
forma de refutar a teoria ou hipótese – , repetição –
exigência de que um experimento possa ser repetido
por outros cientistas – , etc). Elas são usadas para dar
suporte a argumentos, apontando se são verdadeiros
ou falsos, assim como para suportar ou refutar teorias
e hipóteses.
Assim, um cético científico pode se dar por
convencido de que algo é verdadeiro ou falso: para
isto basta que lhe sejam apresentadas evidências
suficientes. Contudo, por saber que jamais
conheceremos a "verdade absoluta", ele passará a
encarar isto apenas como uma "verdade temporária",
a qual pode sempre voltar a ser analisada quando
novas evidências surgirem.
"O maior pecado contra a mente humana é acreditar
em coisas sem evidências. A ciência é somente o
suprassumo do bom-senso — isto é, rigidamente
precisa em sua observação e inimiga da lógica
falaciosa."
— Thomas H. Huxley
Mas, afinal, qual seria a importância do ceticismo?
(Lembrando que, de agora em diante, referir-me-ei
apenas ao ceticismo científico.) Em que o utilizamos
em nosso dia a dia? Bem, para explicar isto, vejamos
alguns cenários:
A compra de um carro usado: digamos que eu esteja
vendendo um carro usado e que você esteja
procurando um para comprar. Então eu lhe digo que o
carro está em perfeito estado de conservação,
realmente parecendo novo, apesar de já ter, digamos,
10 anos de uso. Você, por óbvio, iria querer ver o
carro. O problema é que há algum segredo em torno
dele: não posso mostrá-lo para você, não importando
aqui a razão. Ainda assim você fecharia a compra
"O Pensador", de Auguste
Rodin, localizado no Palácio
da Legião de Honra em São
Francisco, Califórnia.
Colunas – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo
Revista Livre Pensamento – Número 1
19
comigo? Ou esperaria para poder vê-lo primeiro, ou,
quem sabe, até desistisse e passaria a procurar por
outro?
Compra de produtos pela internet: digamos que você
esteja procurando um produto bastante específico
para comprar. Digamos ainda que você tenha o
procurado em lojas físicas sem sucesso e esteja
procurando já há um bom tempo, também sem
sucesso, em lojas virtuais. Então, de repente, você
encontra um site que tenha o produto. O problema
aqui é que você não conhece o site, nem conhece
ninguém que já tenha comprado nele. Ou seja: você
não sabe se é algo confiável, ou se é armadilha para
terem acesso ao número de seu cartão de crédito. O
que você faz? Compra assim mesmo, ou tenta buscar
mais informações antes?
Alguém para cuidar de seus filhos: digamos que você
tenha filhos pequenos, tenha acabado a sua licença
maternidade (ou de sua esposa, não sei) e, portanto,
precise contratar alguém para cuidar de seus filhos.
Uma babá. Você começa a procurar e, de repente,
alguém aparece em sua porta se oferecendo para o
serviço. Os problemas aqui são que você não conhece
a pessoa, ninguém de seus vizinhos e amigos a
conhecem, ela mora bastante longe, não tem
referência alguma, nem ela te dá alguma. O que você
faz? Contrata esta pessoa? Busca mais informações?
Procura outra pessoa?
Pois é. O ceticismo é extremamente necessário, até
mesmo ao comprar frutas, afinal você provavelmente
irá querer examiná-las antes de pagar por elas; um
jornalista também vai querer checar as informações
que chegam a ele antes de publicar algo; juiz algum
vai condenar quem quer que seja apenas devido à
aparência do réu, ou devido à opinião pública e assim
por diante.
“Apenas pense sobre a tragédia de ensinar as crianças
a não duvidar!”
— Clarence Darrow
Mais do que isto, o ceticismo é parte fundamental da
ciência. É exatamente por isto que coisas como a
falseabilidade e a repetição são exigidas. Mas isto
chega a ser evidente, quando você pensa sobre.
Por exemplo, imaginem este cenário: um cientista
afirma ter encontrado um remédio para a AIDS, mas
não disponibiliza evidência alguma disto. O que pode
acontecer quando as pessoas tomarem este
medicamento é que, muito provavelmente, nenhuma
fique curada e algumas até morram.
Mesmo ignorando a área da saúde, que realmente é
mais crítica, a coisa não muda muito. Imagine se
alguém alegasse ter criado uma "peça revolucionaria",
não importa qual, de aviões e esta fosse usada sem
ser testada antes. Teria o potencial de causar muitas
mortes. Ainda que fosse uma peça para a sua TV...
Você não ficaria contente se ela fosse destruída
devido a tal peça, não é mesmo?
Mas a ciência não é infalível. Isto chega a ser óbvio,
afinal ela é feita por pessoas. Contudo, devido à sua
estrutura, que foi criada principalmente devido ao
ceticismo, ela é capaz de se auto corrigir. Isto é,
mesmo que eu publique um artigo errando na
conclusão, este estudo será repetido por várias outras
pessoas e a probabilidade de que uma delas perceba
o erro é grande.
Colunas – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo
Revista Livre Pensamento – Número 1
20
Pode parecer uma péssima forma de fazer as coisas,
talvez até uma forma antiprodutiva. Ainda assim,
fizemos maravilhas com ela. Mesmo com toda esta
visão metódica, exigente, "pessimista", alguns diriam.
Da esquerda para a direita: Astronauta Buzz Aldrin na Lua, durante a missão Apollo 11; Ônibus Espacial Atlantis decolando durante a missão STS-27,
em 2 de dezembro de 1988; e Estação Espacial Internacional e Ônibus Espacial Endeavour durante sua missão STS-134, fotografados da Soyuz TMA-20
durante sua partida da Estação Espacial Internacional.
Um detalhe importante: pode-se ser cético até
mesmo a respeito de tais conquistas. Contudo, este
"estado de dúvida" deve desfazer-se ao analisar as
evidências (que são muitas) de tais feitos. Quem
continua insistindo na dúvida mesmo após esta
análise, não estará sendo cético científico: estará
sendo cético filosófico ou, conforme o caso, até
mesmo um pseudocético (falso cético).
Ainda assim, as pessoas costumam resistir muito ao
ceticismo, como se o ato de questionar fosse errado.
Mais que isto, este ato é condenado como pecado por
dogmas religiosos. Infelizmente existem até mesmo
pessoas que se declaram céticos, mas que não
aplicam o ceticismo a seus conceitos dogmáticos.
“Se você acha que sua crença é baseada na razão,
você a defenderá com argumentos e não pela força, e
renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem
inválidos. Mas se sua crença se baseia na fé, você
perceberá que a discussão é inútil e, portanto,
recorrerá à força, ou na forma de perseguição ou
anestesiando e distorcendo as mentes das crianças no
que é chamado ‘educação’.”
— Bertrand Russell
Além de dogmas, outras coisas que impedem o total
livre pensar, isto é, a aplicação do ceticismo a todas as
áreas da vida humana são a tradição e a autoridade
(normalmente religiosa).
A tradição é muito boa para transmitir coisas como a
linguagem. Mas, quando associada a dogmas, impede
que mudanças sejam realizadas, mesmo que
mudanças de raciocínio. Já a autoridade, como o
próprio nome sugere, é tida como "inquestionável" e
é justamente ela que decide quais tradições devem ou
não ser perpetuadas, assim como quais são os
dogmas que devem ser impostos.
E é justamente para enfrentar estas três coisas
(tradição, dogmas e autoridade) que o ceticismo
existe. Para evitar seus efeitos maléficos, seja na
ciência, seja na sociedade como um todo.
“Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa
estúpida, essa coisa continua sendo estúpida.”
— Anatole France
Sobre o autor da coluna
Mário César Mancinelli de Araújo é um apaixonado por ciências em geral, que adora pesquisar a ufologia (com uma visão científica/cética).
É formando em Ciência da Computação e pretende fazer mestrado em Inteligência Artificial. Pretende ainda se formar em astronomia ou astrobiologia. Blog: agloriousdawn.livrespensadores.org
Colunas – Autora: Ligia Amorese
Revista Livre Pensamento – Número 1 21
CIÊNCIAS
Falar sobre ciência é como um oásis no meio de
um deserto...
ainda mais atualmente no meio dessa confusão
política, social e econômica assolando a humanidade.
Tempos de crise, longe de serem resolvidos, vivemos
um período que será lembrado no futuro como a
dissolução dos valores vigentes para a criação de uma
nova ordem, onde há a quebra de tudo que tomamos
por certo e viável.
No entanto, mesmo em meio a essa crise de
proporções mundiais, ainda existe lugar para a busca
por respostas em meio a um universo de dúvidas. A
ciência vem consolidando suas teorias, encontrando
meios de confirmá-las através de aplicação de seus
conceitos no dia a dia. Convivemos com postulados
de mecânica quântica em dispositivos de
comunicação. Tão longe de ser compreendida e
assimilada, ainda assim, ao ser colocada em prática,
vem permitindo a aproximação de pessoas no mundo
inteiro, integrando ao invés de simplesmente derivar.
Nunca estivemos em contato tão direto com a ciência
através do emprego da tecnologia desenvolvida a
partir dela. Mesmo nos lares mais simples, TVs de
LCD, ou de LED, recebem sinal digital. A música que
ouvimos é produzida em altíssima fidelidade... Nossos
carros têm computadores acoplados.
Ainda assim, em meio a essa imersão literal no mundo
tecnológico, filho direto do avanço científico, ainda há
segmentos da sociedade questionando-se quanto à
validade da busca por respostas, aquelas mesmas que
nos assombram desde que começamos a perguntar
para nós mesmos qual o porquê de sermos algo ao
invés de nada e, com isso,estarmos aqui. Há os que
acomodam-se na zona de conforto da fé, da crença de
que somos parte de uma criação levada a cabo por
um deus, base de toda existência. No entanto esses,
embora maioria esmagadora, aos poucos têm-se
convencido de que não basta apenas crer. E ainda
que cometam o erro crasso de buscar validação da fé
em conhecimentos científicos, já que fé pura e
simples não carece de validação, é assim que o
conhecimento científico vem sendo muito lentamente
introduzido à grande parcela da população ainda
devota de algum tipo de divindade. Embora de forma
errada, distorcendo conceitos, a ciência, antes restrita
a uns poucos grupos humanos, hoje faz parte do
Colunas – Autora: Ligia Amorese
Revista Livre Pensamento – Número 1 22
cardápio... e até para falar em espíritos recorre-se a
ela.
No primeiro dia de agosto último, vi uma notícia
muito interessante. Através de um observatório de
infravermelho chamado Herschel (infravermelho
aquela parte do espectro de luz que se encontra além
do vermelho e que permite medir variações de
temperatura, já que o calor também emite radiação
nesse comprimento de onda), cientistas conseguiram
identificar moléculas de oxigênio em outra parte do
universo além da Terra. Sim, existe oxigênio disperso
no universo, junto com outros elementos químicos
como hidrogênio, hélio, carbono. Mas o oxigênio
molecular, esse mesmo que nós respiramos, ainda
não havia sido identificado. Sim, mas o que isso tem a
ver? Assim como aparentemente nem as buscas pelo
entendimento do que foi o Big Bang têm algo a nos
oferecer além de mais dúvidas, encontrar tijolos
dispersos no universo daquilo que permite existir a
vida que conhecemos, pode nos ajudar a entender,
finalmente, que não somos tão especiais assim... Nem
que a Terra é um local abençoado, nem que o
universo inteiro foi criado apenas para comportar
nossa existência... Apesar disto soar patético, muita
gente ainda acredita convictamente nesse disparate.
Um exemplo? Dia 28 de maio último foi um dia tenso
para uma parcela da população que acredita em
intervenções divinas diretas. Nessa data, era
esperado que Deus arrebatasse os escolhidos para
não perecerem junto aos infiéis, àqueles que
"merecem" sofrer as dores do fim do mundo que,
segundo eles, está próximo. Sim, isso soa engraçado.
Mas imagino o sofrimento real de alguém que chega à
triste conclusão de que não faz parte dos escolhidos,
depois de uma vida de privações, penitência, devoção
Colunas – Autora: Ligia Amorese
Revista Livre Pensamento – Número 1 23
e cumprimento das regras e normas de sua religião. E
é esse mesmo tipo de mentalidade que acredita
firmemente que é o ápice da criação divina, que
herdará a Terra, que Deus tem um plano para a vida.
E, lógico, que o mundo foi criado para comportar
seres humanos, imagem e semelhança de Deus.
E é com pessoas assim, comuns, condicionadas à
crença, que temos que conviver... Basta ver que fora
de um meio cético ateísta, quando pessoas vão
desejar melhoras a um doente, ou incitar esperança,
sempre recorrem à vontade divina, mandam votos de
melhora em nome de Deus e se alguém falar nos
recursos médicos de que dispomos graças ao trabalho
e esforço de seres humanos, logo vem quem discorde
e atribua tudo a Deus... Posição cômoda essa. Se
tudo vai bem e deu certo, foi graças a Deus, se não
deu certo, a culpa é a falta de fé. Como então falar
em acaso como resposta à nossa existência? Como
explicar que o universo é indiferente ao fato de
existirmos e que uma espécie dotada de razão, como
a nossa, poderia jamais existir caso uma sequência
interminável de eventos cataclísmicos não tivessem
resultado nas condições ideais para que
desenvolvêssemos nossa inteligência?
Talvez porque pessoas que ainda crêem numa causa
primeira, que ainda crêem em propósitos para a
própria existência, ainda não tenham se deparado
com a grandiosidade, com a maravilha de existirmos
aqui, num planeta ínfimo ao redor de uma estrela na
periferia de uma galáxia em meio a bilhões de outras
galáxias... Tudo isso, surgido a partir de uma origem
comum. Não somos apenas fruto de acaso, mas parte
de sequências de acasos que, sem intenção, apenas
adaptando-se ao meio e às circunstâncias, vêm
permitindo que a vida e o próprio universo perpetue-
se no tempo. E assim, depois de 13,7 bilhões de anos,
numa linha do tempo que me une ao momento inicial
deste universo, que pode ser apenas um em meio a
bilhões de outros universos, eu escrevo estas linhas
destinadas a quem tiver paciência e disposição de lê-
las, utilizando-me para isso, de um dispositivo que, de
tão banal atualmente, já não se imagina a vida sem
ele. Fruto direto de nossos esforços em
aprimorarmos nossa capacidade inata de
comunicarmos uns aos outros, aquilo que pensamos,
sentimos, queremos. É assim então que,
humildemente, a partir de meu cérebro, fruto de
milhões de anos de evolução das espécies vivas aqui
deste planeta, eu contemplo meu texto destinado a
vocês. Vocês que se utilizam de uma capacidade
magnífica de transformar símbolos em linguagem e
linguagem em símbolos. Vocês, cuja capacidade
cognitiva permite perceber o início, o meio e o fim de
algo, permite reconhecer aqui, deste outro lado,
outro ser humano. Que acaba de estabelecer contato.
Olá, meu nome é Lígia. Estou aqui com vocês. E isso
foi uma introdução.
Sobre a autora da coluna
Ligia Amorese é uma pessoa muito curiosa, sempre em busca de respostas. O que eu sou, não sei dizer. Talvez um agregado de células em sistemas
complexos o suficiente para que eu seja considerada humana, já que há muitos outros como eu. Ou, uma mente inquieta que se maravilha vendo o céu estrelado, teias de aranha com orvalho, nuvens de tempestade aproximando-se. A propósito, a mente habita o agregado... Nasci assim. Formada em física. Artista por opção.
Colunas – Autor: Wagner Kirmse Caldas
Revista Livre Pensamento – Número 1 24
EDUCAÇÃO
Tecnologia Assistiva
Tecnologia Assistiva: Os Novos Possíveis da Educação
As Tecnologias Assistivas podem ser consideradas
como tudo aquilo que promove melhor qualidade de
vida para pessoas que tem alguma necessidade
especial. Ela não é, necessariamente, ferramenta para
a deficiência. Elas podem estar ligadas à alguns
fatores de diminuição de mobilidade e outros
aspectos, bem como podem ser utilizadas para
facilitar a acessibilidade de pessoas com deficiências.
Como nos diz Manzini (2005, p.82):
Os recursos de tecnologia assistiva estão muito
próximos do nosso dia-a-dia. Ora eles nos causam
impacto devido à tecnologia que apresentam, ora
passam quase despercebidos. Para exemplificar,
podemos chamar de tecnologia assistiva uma
bengala, utilizada por nossos avós para proporcionar
conforto e segurança no momento de caminhar, bem
como um aparelho de amplificação utilizado por uma
pessoa com surdez moderada ou mesmo veículo
adaptado para uma pessoa com deficiência.
E, segundo Bersch (2009):
Tecnologia Assistiva – TA é um termo ainda novo,
utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e
serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar
habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
conseqüentemente promover vida independente e
inclusão.
Vivemos um mundo onde somos surpreendidos dia-a-
dia pelas novas tecnologias, pelas novas possibilidades
que se apresentam, a cada momento desenvolvemos
mais possibilidades a partir de nossa capacidade
técnica, como nos diz Morin (2005, p. 41):
Há no humano (este termo, lembro, diz respeito, ao
ser ao mesmo tempo individual, social e biológico) um
formidável potencial de racionalidade e um formidável
potencial de desenvolvimento técnico, que se
atualizarão ao longo da história, tendo se acelerado e
amplificado nestes últimos séculos.
Tratando-se de inovações, vivemos um período fértil,
onde o avanço das ciências tecnológicas e as
possibilidades da computação de ponta nos colocam
próximos ao nível dos filmes de ficção científica das
décadas de 80 e 90. Ainda não estamos atravessando
os céus com naves espaciais, porém, já encontramos
carros que estacionam sozinhos, linhas de montagem
automatizadas, caixas eletrônicos que substituem
seres humanos, supermercados que dispensam
carrinho de compras, sistemas de segurança baseados
em biometria, vídeo games sem controle remoto e
outros que simulam a realidade aumentada, cinema
3D, celulares que funcionam como computadores de
mão, casas e prédios inteligentes, entre tantos outros
avanços que hoje fazem parte do olhar de
normalidade de muitas pessoas.
Pensando nesses avanços, Freire (1995, p. 98), já dizia:
Acho que o uso de computadores no processo de
ensino aprendizagem, em lugar de reduzir, pode
expandir a capacidade crítica e criativa [...] Depende
de quem usa a favor de quê e de quem e para quê.
Complementando esse dizer, Lévy (1999) nos aponta
que
As tecnologias intelectuais suportadas pelo
ciberespaço (TICs) ampliam, exteriorizam e alteram
muitas funções cognitivas humanas, como memória
(bancos de dados e hipertextos), imaginação
(simulações), percepção (ambientes interativos e
imersivos) e raciocínio (inteligência artificial), além de
favorecer novas formas de acesso à informação.
Colunas – Autor: Wagner Kirmse Caldas
Revista Livre Pensamento – Número 1 25
Partindo dessas afirmações, podemos imaginar que há
um universo de possibilidades para as Tecnologias de
Informação e Comunicação, enquanto Tecnologias
Assistivas. Sobre a forma como elas podem ser
utilizadas, trazemos a classificação apresentada por
Santarosa (1997):
a) As TIC como sistemas auxiliares ou prótese para a
comunicação.
b) As TIC utilizadas para controle do ambiente.
c) As TIC como ferramentas ou ambientes de
aprendizagem.
d) As TIC como meio de inserção no mundo do
trabalho profissional.
A classificação tratada nesse artigo é a que apresenta
as TICs como ferramentas ou ambientes de
aprendizagem, pois, como nos diz Radabaugh (1993):
"Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia
torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com
deficiência, a tecnologia torna as coisas
possíveis".
Assim, devemos pensar quais são os caminhos
possíveis nessa direção. Que tipos de produção
acadêmica podem contribuir para a ampliação dessa
perspectiva e a efetivação de significações para a
utilização da tecnologia em prol das pessoas com
deficiência.
Segundo o CENSO de 2000, 24,5 milhões de pessoas
declararam-se com algum tipo de deficiência,
representando 14,5% da população brasileira. Deste
total, 48,1% se declararam com deficiência visual;
22,9% com deficiência motora; 16,7% com deficiência
auditiva; 8,3% de deficiência mental e; 4,1% de
deficiência física. Ou seja, temos um grande
contingente de indivíduos que são potenciais
utilizadores de tecnologias assistivas. E, conforme nos
diz Sousa Santos (2003, p. 458), “Temos o direito a ser
iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o
direito a ser diferentes quando a igualdade nos
descaracteriza”.
Partindo do olhar sobre a utilização de Tecnologias
Assistivas na educação, podemos inferir que o uso das
mesmas pelas pessoas com deficiência pode ser um
“facilitador” em seu percurso de escolarização,
possibilitando que mais pessoas possam ultrapassar o
ensino médio, chegando aos cursos técnicos
profissionalizantes ou aos cursos superiores, para,
então, integrar o mercado de trabalho, ao invés de
diminuí-los à impossibilidades, pois, “a compreensão
complexa do ser humano não aceita reduzir o outro a
um único aspecto e o considera na sua
multidimensaionalidade” (MORIN, 2005, p.112).
Porém, na contramão das possibilidades, verifica-se
que estudos e pesquisas na área de Tecnologias
Assistivas, que visem à facilitação da inclusão dos
alunos na educação, mostram-se ainda insipientes.
Um dos aspectos que podemos evidenciar se refere
ao histórico de exclusão desses alunos em seu
percurso de escolarização na educação básica e,
consequentemente, na educação profissional.
Incentivar a pesquisa em Tecnologia Assistiva é uma
forma de buscar alternativas que se adequem às
possibilidades em educação, dado que segundo o
disposto na Resolução CNE, Nº 2/01, em seu Art. 17:
Em consonância com os princípios da educação
inclusiva, as escolas das redes regulares de educação
profissional, públicas e privadas, devem atender
alunos que apresentem necessidades educacionais
especiais, mediante a promoção das condições de
acessibilidade, a capacitação de recursos humanos, a
flexibilização e adaptação do currículo e o
encaminhamento para o trabalho, contando, para tal,
com a colaboração do setor responsável pela
educação especial do respectivo sistema de ensino.
É possível que “a promoção das condições de
acessibilidade” possam ser oriundas de produções de
Tecnologias Assistivas, as quais, para além de
promover a qualidade de vida do indivíduo em seu
cotidiano, podem contribuir para o processo de
ensino/aprendizagem desse sujeito.
A política de inclusão dos alunos com deficiência na
rede de ensino não consiste somente na permanência
física desses alunos, mas o propósito de rever
concepções e paradigmas, respeitando e valorizando
suas diferenças, exigindo assim que a instituição
assuma sua responsabilidade criando espaços
inclusivos e utilizando os recursos tecnológicos como
Colunas – Autor: Wagner Kirmse Caldas
Revista Livre Pensamento – Número 1 26
aliados nesse sentido, como nos diz Oliveira (2007, p.
127):
Compreender a educação como um direito social, nos
remete a considerar a necessidade de se conceber a
escola como uma instancia que abarque em sua
missão educativa, a diferença e a diversidade inerente
à condição humana.
As instituições, que pretendem ser inclusivas, devem
reconhecer e responder às diversas dificuldades de
seus alunos, acomodando os diferentes estilos e
ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação
de qualidade para todos mediante currículos
apropriados, modificações organizacionais, estratégias
de ensino, recursos e parcerias com suas
comunidades (Salamanca, 1994).
Na busca de um ensino de qualidade - para todos - a
inclusão demanda da instituição educacional um
esforço de atualização e reestruturação das condições
atuais, para que haja modernização na forma de
ensinar.
Não é o aluno que deve se adequar à escola, mas, sim
a escola, cumprindo seu papel na construção de uma
sociedade igualitária, que se dispõe a se adaptar ao
aluno com deficiência, seja a partir da adequação de
seu espaço físico, seja no incentivo à utilização de
tecnologias assistivas que facilitem o acesso ao
conhecimento à esses cidadãos.
Referências Bibliográficas
BERSCH, R.; J. C. Tonolli. Tecnologia Assistiva.
Disponível em: http://www.assistiva.com.br.
Acessado em 27 de junho de 2009.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de
Educação Básica. Resolução CNE/CEB n. 2, de 11 de
setembro de 2001. Brasília: CNE/CEB, 2001c.
Declaração de Salamanca. Princípios, Políticas e
Prática em Educação Especial. Espanha, 1994.
FREIRE, Paulo. Educação na Cidade. São Paulo: Editora
Vozes, 1995.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, Editora 34,
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MANZINI, E. J. Tecnologia assistiva para educação:
recursos pedagógicos adaptados. In: Ensaios
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SEESP/MEC, p. 82- 86, 2005.
MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da
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OLIVEIRA, Renata Imaculada de. Inclusão na educação
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Vitória: UFES, 2007.
RADABAUGH, Mary Pat. Study on the Financing of
Assistive Technology Devices of Services for
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president and the congress of the United State,
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SANTAROSA, Lucila M.C. "Escola Virtual" para a
Educação Especial: ambientes de aprendizagem
telemáticos cooperativos como alternativa de
desenvolvimento.
Revista de Informática Educativa, Bogotá/Colombia,
UNIANDES, 10(1): 115-138, 1997.
SOUSA SANTOS, Boaventura de. Por uma concepção
multicultural de direitos humanos. In: SOUSA SANTOS,
Boaventura de (Org). Reconhecer para libertar: os
caminhos do cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003, p. 429-461.
Sobre o autor da coluna
Wagner Kirmse Caldas é Professor Federal de Ensino Superior (Informática e Educação Inclusiva), Bacharel em Sistemas de Informações, Mestre e Doutorando em Educação na área de Práticas Educacionais Inclusivas.
Blog: bardoateu.blogspot.com
Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes
Revista Livre Pensamento – Número 1
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EVOLUÇÃO
Evolução sem Complicação
Rapaz... eu como colunista, tenho que contar pra
mamãe!
Para começar minha participação nessa revista, quero
pedir desculpas se o leitor não é navegante de
primeira viagem no assunto, mas vou tentar escrever
da forma mais simples, clara e sucinta possível
especificamente para o público leigo.
Não vou me ater ao conceito evolutivo em si uma vez
que todos, mesmo que de forma errônea, fazem
alguma ideia do que o mesmo signifique, mesmo que
seja apenas a evolução do seu time no Brasileirão –
que nem sempre é como desejamos. Aliás, este pode
ser um ótimo exemplo: seu time no campeonato
enfrenta desafios assim como os seres vivos na vida
real. Ele nem sempre os vence mas – teoricamente –
aprende com seus erros para tentar melhorar na
rodada seguinte. Pode evoluir de fato e atingir um
novo patamar (conquistar o título ou uma vaga
importante), manter-se vivo (ficar no meio da tabela)
ou “ser extinto” (cair para a divisão inferior). A
escalação é formada pelos jogadores, assim como o
código genético é formado pelos genes: se o time
vence, o código é mantido; caso contrário, será
necessário modificá-lo (causar-lhe uma mutação) que
pode ou não vir a dar certo.
A molécula do DNA. Tudo que você é ou deixa de ser, tem ou deixa de
ter, já estava escrito aqui muito antes de você nascer.
Quer outro exemplo? Suas notas no antigo boletim
escolar demonstravam sua evolução no decorrer do
ano letivo, mesmo que não fossem tão satisfatórias
como se gostaria. E que também podiam fazê-lo
evoluir ou cair – aqui não tinha meio termo, era um
sufoco só! Tal como nesses dois exemplos, evolução
não significa necessariamente melhoria, mas sim
progressão – que às vezes pode até significar
retrocesso, é verdade. Isso vai ser exemplificado mais
adiante.
Seleção brasileira de 1970. Esses genes, para muitos, formaram o
melhor código genético futebolístico de todos os tempos.
Vejam só, disse que não ia explicar o que era e acabei
começando... pois bem, o que vou enfatizar aqui,
especialmente para os leigos e/ou incrédulos, é que a
evolução é um fato, comprovado e (quase) irrefutável.
Por que "quase irrefutável"? Porque toda teoria
científica, para ser válida, tem de ter a possibilidade
de ser refutada, e o que a torna mais verdadeira é
exatamente o fato de ninguém conseguir fazê-lo.
Como a teoria da evolução.
Existem muitos exemplos que demonstram que a
evolução está ocorrendo nesse exato momento. É,
agora mesmo enquanto você está lendo este texto.
Vou apresentar pra vocês quatro áreas de diferentes
abrangências para demonstrar eventos evolutivos:
molecular, microscópica e macroscópicas
invertebrada e vertebrada. Voilá!
Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes
Revista Livre Pensamento – Número 1
28
No primeiro caso, Sarah Voytek, do Scripps Research
Institute (La Jolla / EUA), conseguiu “ver” a evolução
em moléculas. A principal vantagem desse tipo de
experimento é que as replicações ocorrem em
questão de minutos, sendo possível à evolução
acontecer – e ser acompanhada – em poucos dias.
Ela criou um ecossistema (artificial, claro) dentro de
um tubo de ensaio. As moléculas, no caso, eram
enzimas forçadas a competir pela mesma fonte de
alimento, que era outro tipo de molécula mais
simples. Conforme se replicavam, apresentavam
sensíveis diferenças com relação às moléculas
matrizes, e no decorrer do processo transformaram-
se em moléculas totalmente distintas daquelas. Isso
se chama especiação, um dos conceitos chaves da
evolução darwiniana. Veja bem, eram moléculas,
agrupamentos de átomos, e não criaturas vivas. Mas
ainda assim, elas evoluíram para formas moleculares
mais complexas – exatamente o que se acredita ter
acontecido nos primórdios da vida no planeta, com os
coacervados. Além do mais, não são tão
desconhecidas do grande público assim... existe uma
molécula que conhecemos bem – e que nos infecta
todo ano com a gripe: o vírus.
Em tempo: algumas das moléculas originais
desapareceram ao longo do experimento, mostrando
que as mutações das concorrentes foram mais
eficientes. Isto é seleção natural – outro conceito
chave da teoria da evolução.
“ESPECIAÇÃO: uma população de uma mesma espécie
se torna tão diferente da original que acaba criando
outra, totalmente nova”
Com relação à evolução microscópica, um bom
exemplo é a experiência conduzida por Richard
Lensky, da Michigan State University (East Lansing /
EUA) com uma espécie de bactéria chamada
Escherichia coli. Microrganismos possuem taxa de
duplicação bastante acelerada, podendo chegar às
centenas de divisões em muito pouco tempo,
tornando-se ótimos objetos de estudo de gerações.
Em ambientes controlados, podemos aplicar-lhes
condições específicas para acompanhar suas
mutações.
Lensky começara a pesquisa com 12 populações
quase idênticas da bactéria em 1988 e, em 2010,
atingira a marca de 50.000 gerações. Todavia, algo
fantástico já havia acontecido muito antes.
As colônias eram alimentadas com glicose, porque
uma das principais características da Escherichia coli é
sua incapacidade de absorver citrato como alimento.
Aliás, essa incapacidade é tamanha que é utilizada
pelos cientistas para distinguí-la de outras espécies de
bactérias. Contudo, foi exatamente isso que
aconteceu à altura da 31.500ª geração: elas passaram
a metabolizar o citrato acrescentado propositalmente
à cultura. É algo tão surreal quanto um ser humano
evoluir a ponto de realizar fotossíntese! Mais que isso,
a população que conseguiu tal façanha prosperou e
diversificou-se, mostrando que haviam obtido sucesso
em algo que jamais havia acontecido antes.
Microfotografia de uma colônia de Escherichia coli, à esquerda. À direita, as 12 populações originais do experimento de Lensky. O frasco A–3, no centro
à frente, apresenta turbidez justamente por abrigar a colônia mais diferente – aquela que metaboliza o ácido cítrico presente no meio de cultura.
Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes
Revista Livre Pensamento – Número 1
29
O caso mais clássico de macroevolução talvez seja o
das mariposas britânicas Biston betularia. Bem
improvável alguém que se interesse por evolução
nunca ter ouvido falar delas. Basicamente o caso
ilustrava um exemplo de seleção natural provocada
pelo homem, na qual as mariposas mais claras,
outrora mais abundantes, gradativamente foram
substituídas pela variedade melânica – preta – da
espécie à medida em que a Revolução Industrial
saturou o ambiente com fuligem. Desta forma, a
variedade branca passou a ser mais predada pelas
aves da região, ao passo que a preta, por sobreviver
mais, passou a também se reproduzir mais,
aumentando seu numerário e consequentemente sua
população.
O que pouca gente deve saber é que aquela hipótese
foi demonstrada errada décadas mais tarde. A
conclusão foi provada e aceita pelos experimentos da
época, sim – e não deixa de ter alguma validade – mas
aqueles não eram os mais adequados para fornecer a
explicação mais correta. A ciência evoluiu, os
equipamentos e metodologias idem. Contudo, é
exatamente esse tipo de deixa que os criacionistas
precisam para invalidar toda uma teoria. Discorrerei
mais à respeito na conclusão do artigo.
“SELEÇÃO NATURAL: características benéficas são
passadas adiante em gerações contínuas de uma
espécie, ao passo que as ‘ruins’ são esquecidas e
desaparecem”
Apesar disso, a hipótese das mariposas de Londres vai
ficar para sempre lembrada como (não um evento de
evolução no sentido literal da palavra mas) um
exemplo de seleção natural, que é um dos principais
mecanismos do processo evolutivo.
Foto de época demonstrando o caso das mariposas. À esquerda a
mariposa preta distingue-se claramente no tronco da árvore – o
inverno ocorrendo no tronco impregnado de fuligem da foto à direita,
onde a mariposa branca se torna muito mais visível.
Mas existe um caso mais moderno (e na minha
opinião muito mais curioso), o de uma espécie de
morcego da Nova Zelândia, o Mystacina tuberculata
(você também pode chamá-lo de pekapeka-tou-poto,
seu nome original na língua nativa, o maori). Existem
aproximadamente 1.100 espécies de morcegos, mas
esta é uma das duas únicas do grupo que conseguem
andar pelo chão (a outra é o morcego-vampiro
Desmodus rotundus). É também o último
representante vivo de sua família, a Mystacinidae,
que por sua vez, é a única família de mamíferos
endêmica da Nova Zelândia (só existe lá).
Agora que já o apresentei, vamos lá. Lembra lá no
começo do texto quando disse que evolução também
poderia ser um retrocesso? Este é o caso, mas
novamente, não significa involução. Pelo contrário: o
animal está simplesmente voltando ao seu estado
ancestral original, trocando um ambiente por outro
numa espécie de “retorno às origens”.
Detalhadamente o que está acontecendo com ele é o
seguinte: por perceber uma maior disponibilidade de
alimento ao solo da floresta, o animal está se
acostumando a procurar comida no chão, e não no ar,
como de praxe. Em decorrência disso, este morcego já
desenvolveu algumas especializações musculares e
esqueléticas que nenhum outro possui. O resultado?
Centenas e centenas de morcegos vêm até o chão
para encontrar alimento (frutas, artrópodes e etc).
Contribui para isso também a falta de predadores ao
solo da floresta. Ou seja: eles se sentem totalmente à
vontade. O biólogo que acompanha o fenômeno,
Jared Diamond, afirma que estes não são apenas os
mais terrestres dentre todos os morcegos, mas
também indicam uma tentativa da natureza de fazer
um animal voador retornar à condição terrestre
(lembra da especiação?). Eles não procuram mais
alimento no ar, como seus parentes, embora ainda
Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes
Revista Livre Pensamento – Número 1
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possuam a capacidade de voar – e de fato o façam,
vindo à terra apenas para procurar comida. Com o
tempo, contudo, é bem provável que percam essa
capacidade e se tornem animais exclusivamente
terrestres novamente, como já foram um dia seus
ancestrais mais basais. Pode parecer algo simples,
mas existem outras histórias similares de retrocesso
no reino animal cujos resultados foram espetaculares.
Pesquisem mais a respeito desse bichinho da figura
abaixo, por exemplo.
O nome deste animal é Pakicetus, e você nem imagina o que a especiação fez com seus descendentes...
Como ficou demonstrado, a evolução ocorre mais
rapidamente conforme há maior velocidade na
formação de novas gerações – e mutações. As
moléculas multiplicam-se em minutos; as diferenças
em bactérias já podem ser visualizadas em dias; no
caso dos morcegos, serão necessários talvez algumas
centenas de milhares de anos para se observar
modificações anatômicas significativas.
De qualquer forma, todos estes exemplos (bem como
qualquer teoria científica) requerem observação,
experimentação, postulação de hipóteses e
confirmação/eliminação das mesmas. Um cientista
reúne fatos e procura tirar conclusões satisfatórias a
respeito deles. Um religioso reúne “conclusões” (!?)
nada plausíveis e tenta (só tenta) usar fatos para
respaldá-las, sem nenhuma credibilidade ou sequer
uma mínima acurácia científica. Em seu desespero,
tenta se apegar ao que a ciência ainda não descobriu
– convenientemente ignorando todas as outras
respostas que ela já encontrou – para tentar invalidar
tudo o que já foi descoberto até então.
Mas vamos lá, outro exemplo didático: pensem na
seguinte analogia: quando você tem um quebra-
cabeças de 500 peças e conseguiu encaixar 400 delas
já se é possível ver, ainda que sem muitos detalhes, a
imagem que está se formando à sua frente, sem a
necessidade de se conhecer todas as peças para saber
do que se trata. A reconstrução evolutiva dos seres
vivos segue o mesmo raciocínio: com a
disponibilidade de fósseis de que já dispomos – e que
aumenta todos os dias – já podemos construir um
quadro relativamente seguro da história da vida no
planeta, sem precisarmos de todos os registros para
isso. Com a evolução humana é a mesma coisa: não
precisamos mais encontrar todas as peças para saber
que de fato somos primatas derivados, parentes
próximos dos chimpanzés, e não descendentes de um
homem feito de lama bafejada por um velho gigante,
Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes
Revista Livre Pensamento – Número 1
31
e cuja fêmea foi feita a partir de um pedaço de sua
costela...
Sim, você é parente dele. Tudo confirma isto, então não insista em
negar.
Para os criacionistas, a grande menina dos olhos da
vez são os "fósseis transicionais", os famosos elos
perdidos que ligam grupos distintos de animais.
Embora saibam que a ciência, especialmente no grupo
de vertebrados, já encontrou praticamente todos
eles, isto é simplesmente ignorado por "especialistas"
que afirmam que tais fósseis não têm nada de
diferente ou de espetacular.
Talvez pensem que um fóssil transicional entre dois
grupos distintos, como peixes e anfíbios, tenha de ser
uma quimera aberrante, uma mescla de todas as
características mais desenvolvidas de ambos os
grupos. Um peixe com patas de sapo de fato ficaria
horroroso. Mas pior que isso, ficaria muito longe da
verdade. E não é necessário ser muito inteligente para
se dar conta disso. Uma forma transicional une as
características mais desenvolvidas do 1º grupo com as
mais simples do 2º – o que é exatamente a mesma
coisa.
Mas o Tiktaalik apareceu para nos dar essa resposta,
assim como o fizeram o Archaeopteryx, o Furcacauda,
o Cynognathus, Acanthostega e tantos outros antes
dele. Através destes animais e de todos os seus
predecessores/sucessores, sabemos que a evolução
não se deu num estalo, num único elo perdido, mas
sim em vários elos perdidos que demonstram, passo a
passo, a transformação de um grupo em outro tão
diverso anatômica, fisiológica e ambientalmente.
Mas sobre essas formas transicionais posso (e quero)
falar mais numa próxima vez. Agora, para finalizar,
quero dizer que, graças à evolução, hoje sabemos a
resposta à milenar pergunta sobre quem veio
primeiro, o ovo ou a galinha: foi o ovo, e quem o
colocou foi (MUITO provavelmente) um réptil diapsida
archosauria saurischia theropoda coelurosauria
dromaeosauridae – nessa ordem. Os fatos (fósseis)
nos levam à essa conclusão. Sim, a resposta é grande
e confusa para o público fora da área, mas é segura. E
ciência se faz com segurança.
Essa resposta pode mudar? Claro que pode. Aliás, a
ciência vive se corrigindo. Diferentemente de algumas
pessoas...
http://www.bispomacedo.com.br/2009/09/27/fe-em-
evolucao/
Sobre a experiência com as moléculas:
http://www.sciencedaily.com/releases/2009/04/0904
29140849.htm
Sobre a evolução das bactérias:
http://www.ask.com/wiki/E._coli_long-
term_evolution_experiment
Aqui também:
http://www.pnas.org/content/early/2009/04/29/090
3397106.full.pdf+html
E aqui:
http://www.newscientist.com/article/dn14094-
bacteria-make-major-evolutionary-shift-in-the-
lab.html
Vídeo mostrando os morcegos da reportagem:
http://www.youtube.com/watch?v=WUFo3IOqMGA&
feature=player_embedded
Outros experimentos que comprovam a Teoria da
Evolução:
http://www.decodedscience.com/evolution-in-action-
three-experiments-demonstrating-natural-
selection/1796
Sobre o autor da coluna
Gustavo Melim Gomes é formado em Biologia, totalmente apaixonado pela área evolutiva geral e pela filogenia de Chordata. Ama Charles Darwin pelo tamanho da descoberta que fez, para a qual o mundo não estava
(e ainda não está) preparado, e Carl Sagan, pela facilidade e paixão com que consegue explicar ciência para o público leigo. É professor do ensino público e também voluntário em ONG's de proteção animal da cidade em que mora (Itajaí / SC). Blog: outrasverdadesinconvenientes.blogspot.com
Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra
Revista Livre Pensamento – Número 1 32
FILOSOFIA
Rumo ao Mistério da Consciência
Para não correr o risco de cometer enganos, é
necessário ter um olhar multidimensional à
consciência, como já disse o sociólogo Edgar Morin.
Olhar para a maior quantidade de lados para evitar a
cegueira de uma visão unilateral, fadada ao erro e
ilusão, procurando a resposta para a pergunta errada.
Comecemos olhando nas vísceras, através da física,
para desmistificarmos a infeliz associação de
consciência com inteligência.
Segundo o médico fisiologista, Edgar Douglas Adrian
(1889-1977):
O cérebro é uma estrutura de células e fibras nervosas, encontrado em alguns, mas não em todos os animais.
Aqueles seres que não possuem um cérebro no mais estrito senso anatômico, apesar disso são capazes de realizar
tarefas complexas, bem adaptadas às circunstâncias, definindo um comportamento que pode ser chamado de
inteligência. E dentro de nosso próprio corpo existem muitas células nadando livremente na corrente sanguínea e se
comportando como seres vivos mais ou menos independentes, evitando o que lhes é maléfico e se aproveitando do
que é bom. Teriam essas células algum direito a reivindicar a posse de uma própria mente? (Nicolelis, 2011,
pg.60,61).
Essa é a observação de um homem que fez nada
menos que medir com exatidão como informações
sensoriais (tato, olfato, visão, audição e gustação)
sobre o mundo externo e o corpo são codificadas em
salvas de eletricidade, a linguagem da mente, para
então serem transportadas por nervos periféricos
para todo o cérebro. Por tudo isso Adrian mereceu
compartilhar o prêmio Nobel de Medicina em 1932.
E pensar que tudo começou por Adrian, juntamente
com um amigo, chegar a pensar em disparos elétricos
biológicos supostamente de por natureza binária, 1 ou
0.
E desta natureza algorítma surge a inteligência,
existente nos mais simples organismos, e naqueles
mais complexos, que possuem um cérebro, acontece
com um processamento drasticamente evoluído.
Assim, vemos quão difícil é delimitar a consciência.
Mas como propôs o filósofo da mente Daniel Dennett,
talvez não exista uma consciência, mas sim tipos de
mente.
E fio que liga a definição de mente, possibilitando que
todas compartilhem do mesmo título, é algo nomeado
de “Postura Intencional”.
A Postura Intencional, também conhecida como
Sistema Intencional, é o conceito de um sistema cujo
comportamento pode ser – pelo menos às vezes –
explicado e predito com base em atribuições a ele de
crenças e desejos (esperanças, medos, intenções,
pressentimentos...).
Ao contrário das mentes da grande maioria dos outros
animais, a mente humana possui um “sistema
intencional” que interage com o ambiente e o prevê.
Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra
Revista Livre Pensamento – Número 1 33
Enquanto uma gazela nasce programada para agir de
uma determinada forma diante de cada estímulo, ou
percepção do ambiente (não tem a capacidade de
aprender com as experiências, no entanto já nasce
com alguns conhecimentos empíricos instintivos), a
mente humana é capaz de passar por duas
experiências diferentes e ter a capacidade de julgar
qual delas é a mais apropriada.
Como exemplo, as gazelas que estão sendo caçadas
por predadores muitas vezes fazem algo, chamado
“stotting”:
Elas dão saltos ridiculamente altos, que obviamente
não trazem qualquer beneficio à sua fuga, mas são
planejados para chamar a atenção dos predadores
para sua velocidade superior: “Não se dê ao trabalho
de me caçar, cace meu primo. Sou tão rápido que
posso desperdiçar tempo e energia dando estes saltos
tolos e ainda assim vencer você.” E aparentemente
isso funciona; os predadores regularmente voltam
suas atenções para outros animais. (DENNETT, 1997,
p. 113).
E nós humanos, ainda diferenciamos nossa mente de
qualquer animal pelo fato de não por tomarmos
apenas quaisquer decisões, mas tal como o método
de pesquisa científica do filósofo Karl Popper, que
uma vez refinadamente colocou, esse reforço nos
permite que nossas hipóteses morram em nosso
lugar. Uma intencionalidade de terceira ordem dentro
da seguinte convenção:
Um sistema intencional de primeira ordem tem
crenças e desejos sobre muitas coisas, mas não sobre
crenças e desejos. Um sistema intencional de segunda
ordem tem crenças e desejos sobre crenças e desejos,
suas próprias ou aquelas de outros. Um sistema
intencional de terceira ordem seria capaz de feitos
como querer que você acredite que ele quer algo,
enquanto um sistema intencional de quarta ordem
pode acreditar que você queria que ele acreditasse
que você acreditasse em algo, e assim por diante.
(DENNETT, 1997).
Assim, dentro dos tipos de intencionalidade, estamos
no terceiro andar na torre de criaturas popperianas.
Nosso tipo de mente nos proporciona que nossas
hipóteses morram em nosso lugar no envolvimento
com um ambiente ainda não experienciado.
A beleza da idéia de Popper é exemplificada no
desenvolvimento de simuladores de vôos realistas
utilizados para treinar pilotos de avião:
Em um mundo simulado, os pilotos podem aprender
os movimentos que devem executar em cada crise,
sem jamais arriscar suas vidas (ou os aviões muito
caros). Como exemplos do truque popperiano, porém,
os simuladores de vôo são enganadores em um ponto:
eles reproduzem o mundo real muito literalmente.
Devemos ser muito cuidadosos para não pensar no
meio interno de uma criatura popperiana como
Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra
Revista Livre Pensamento – Número 1 34
simplesmente uma réplica do mundo externo, com
todas as contingências físicas daquele mundo
reproduzidas. (DENNETT, 1997, p. 84).
E a resposta do por que de todos esses tipos de mente
poderia ser respondida pelo biólogo Charles Darwin,
observando que toda a evolução e mudança ocorrida
em seres vivos, apesar de acontecer através de
mutações, têm de ser necessária para que se
mantenha.
Caminhando nesta direção induzimos a consciência
como um produto lateral da evolução.
Segundo Darwin, acontecem erros na transmissão de
características entre gerações, e estes ocasionariam
possibilidades naturais para sobrevivência e melhor
adaptação, levando em consideração que é fato a
mudança contínua de ambientes, climas e vegetações
nos mesmos lugares.
Nas palavras de Darwin,
(...) qualquer ser que sofra uma variação, por menor
que seja, capaz de lhe conferir alguma vantagem
sobre os demais, dentro das complexas e
eventualmente variáveis condições de vida, terá
maiores condições de viver, tirando proveito da
seleção natural. (DARWIN, 2009b, p. 30).
De acordo com biólogo Richard Dawkins, somos
máquinas de sobrevivência e replicação dos nossos
genes. É o egoísmo dos nossos genes que substituiria
um animal, dando lugar a outro.
Por exemplo: Digamos que nasceram cinco filhotes de
lobos. Quatro deles são bem fortes e ágeis e com uma
pelagem fina, do mesmo modo que seus pais. No
entanto, um deles não é tão forte e nem tão ágil e
ainda possui uma pelagem bem grossa - o que
dificultaria a vida dele -, considerando o ambiente
aberto e de extremo perigo predatório. Porém, o
ambiente onde os filhotes vivem teve mudanças
significativas. O frio se tornou cada vez mais drástico
e, especificamente nesta geração, ele prejudicaria a
resistência da espécie nativa de lobo que lá habitava.
O filhote que sofreu mutação teria poucas chances de
sobreviver no antigo ambiente, por ser fraco e lento,
mas neste novo ambiente ele poderá se aquecer do
frio com a sua pelagem e desta forma se adaptar
melhor que os outros - que irão sendo extintos por
sua incapacidade de sobrevivência.
Pense em uma mariposa, talvez uma candidata a um
suposto início na longa trajetória até o que chamamos
de consciência, Postura Intencional de terceira ordem,
igualmente ao que ocorreu à nossa espécie.
Em determinadas épocas, o inseto costuma ficar em
constante impacto com lâmpadas, ou instrumentos
luminosos. Isso acontece pelo fato das mariposas
estarem programadas para seguir a luz solar - o Sol,
obviamente -, este foi o mecanismo realizado pela
natureza para que o inseto vá em direção a seus
alimentos.
Mas houve uma mudança considerável no ambiente a
partir de Thomas Edison, com a invenção da lâmpada
- algo não esperado pelos nossos genes.
Isto proporcionou o comportamento estúpido das
mariposas, compulsivamente se arremessando contra
esses objetos luminosos. E apenas a capacidade de
aprender com a experiência poderia ser a salvação da
mariposa. Suspeita-se que de forma semelhante
aconteceu com o homem para o primeiro despertar
de uma proto-consciência. O que não seria nada mais
do que valores e crenças injetados na mente do
animal.
No homem talvez a contradição tenha sido tantas que
ao acaso, como um relojoeiro cego, que por “sorte”
acerta as horas, uma mutação proporcionou uma
mente capaz de mudar sua realidade durante sua vida
e não mais esperar por milhares ou milhões de anos,
através da capacidade de imaginar novas
experiências.
E essa ideia de criatura popperiana chega a veras
semelhanças com a noção de intencionalidade de
Brentano e virtualidade de Gilles Deleuze, ou seja, é a
promessa que nos foi feita pela percepção - a fé seria
a peculiaridade da consciência.
Criticas surgem de místicos e religiosos por acreditar
que a crença não é um ato racional do ser, ou seja,
que ela é independente do ser, uma peculiaridade
especial na personalidade. Pensando assim, seria
possível, em um experimento de inteligência artificial,
Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra
Revista Livre Pensamento – Número 1 35
implementar-se uma crença induzida na mente de
uma pessoa.
Suponhamos por um momento que nos coloquemos
na posição de um homem que acorda e descobre uma
crença induzida não racionalmente em sua cabeça (ele
não sabe que ela foi induzida não racionalmente; ele
apenas encontra essa nova crença no curso de uma
reflexão, digamos). (DENNETT, 2006a, p. 330, 331).
Podemos contar diversas estórias diferentes, e
conservá-las tão neutras quanto possível;
Suponhamos que a crença induzida seja falsa, mas
não maluca: a pessoa (vamos chamá-la de Tom) foi
induzida a acreditar que tem um irmão mais velho em
outra cidade (Cleveland). Assim:
Tom está em uma festa e em resposta à questão “Você é filho único?” ele responde: “Eu tenho um irmão mais velho
em Cleveland”. Quando se lhe pergunta então “Qual é o nome dele?”, Tom fica desconcertado. Talvez ele diga
alguma coisa como: “Espere um minuto. Porque penso que tenho um irmão? Nenhum nome, nem rosto, nem
experiência dele me vem à mente. Não é estranho? Por um momento, tive a convicção de que eu tinha um irmão
mais velho em Cleveland, mas agora que penso de novo em minha infância, lembro perfeitamente bem que sou filho
único”. (DENNETT, 2006a, p. 331).
Se Tom saiu de sua lavagem cerebral ainda
predominantemente racional, sua crença induzida
pode durar apenas um momento, uma vez
descoberta. Por essa razão, uma única crença induzida
é impossível, pois mesmo que seja possível no futuro
implementá-la, ela é inconsistente – não seria capaz
de se manter sozinha.
Não há como negar que o fenomenólogo da
percepção, Maurice Merleau-Ponty, tem bons
argumentos para concluir que o homem é o resultado
da complexidade de sua própria vida, aquilo que foi
condicionado pelas suas experiências, misturado com
as determinadas condições de seu organismo
fisiobioquímico.
A cada tomada de decisão através da consciência -
que é a marca do sistema mental humano -, a sua
percepção vai formando o que você é.
Este é o surgimento do nosso "eu", aquilo que
pensamos, aquilo que somos, aquilo que pensamos
que somos. Tudo a priori programado e limitado por
nosso corpo e experiências.
Assim, percorrendo da semiótica à
neurociência, a ideia de que nosso cérebro é um
simulador de realidade que nos condiciona a um
mundo virtual, como pensa o filósofo Jean Baudrillard
é como podemos entender a consciência, e nas
palavras do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis,
essa virtualidade compõe
a máscara de realidade, opiniões, amores,
preconceitos, injustiças, que nós tão orgulhosamente,
e por vezes, cegamente vestimos a casa milissegundo
de nossas vidas, jubilosamente ignorantes de como e
de onde tudo isso vem. (NICOLELIS, 2011, pag. 51).
Sobre o autor da coluna
Eder Juno N. Terra, 22 anos, é jornalista, pós-graduando em Cinema e Vídeo, graduando em Física-Biológica e músico. Autor do blog CCAL e integrante do Projeto Livres Pensadores, tem uma visão secular, e é contrário a qualquer tipo de fé, valor, crença, moral,
ideologia, doutrina, religiosidade, cientificismo ou filosofia de vida. Blog: criandocondicoesaliberdade.blogspot.com
Colunas – Autor: Felipe Carvalho Novaes
Revista Livre Pensamento – Número 1 36
NATUREZA HUMANA
A Bondade
Por muito tempo o ser humano foi tido como o único
animal capaz de desenvolver a moralidade. Até hoje
algumas pessoas pensam no que há de mais humano
do que a própria moralidade, ou a caridade, a
preocupação com o próximo sem que seja exigido
algo em troca. Alguns usam esse fato até para
pregarem contra a Teoria da Evolução, por acharem
que a evolução só consegue gerar indivíduos egoístas
e competitivos. Bom, parece que nossos parentes
mais próximos, chimpanzés e bonobos, estão nos
mostrando que a bondade humana, tão apregoada
pelas religiões, tem raízes mais profundas do que
imaginávamos.
Lolita, uma bonobo muito simpática, não encontrava
o pesquisador Franz de Waal há 11 anos. Quando ele
foi visitá-la numa colônia em um zoológico, ela logo
foi correndo em direção a ele emitindo gritinhos e
outros grunhidos que ela não costuma exibir para
estranhos. O primatólogo descobriu que ela estava
grávida e logo ficou ansioso para ver seu filhotinho. E
lá estava ela, sentada com uma bola de pelo (seu
filhote) no colo. Franz apontou para seu ventre e logo
depois a primata pegou o filhote pelas mãos e girou-o
de forma que sua face ficasse visível para o
observador humano. O pequeno macaquinho
começou a grunhir e fazer caretas porque os filhotes
odeiam se separar da barriga quente de suas mães.
Esse é um belo exemplo da inteligência acurada
desses animais. Ou, ainda mais que isso, é um indício
de que eles tem o que alguns pesquisadores
sustentam ser um atributo unicamente humano: a
empatia. Como Lolita soube que o gesto de apontar
para seu ventre sugeria que o primatólogo queria ver
seu filhote? E mais: como ela sabia que “mostrar” seu
filhote significava exibir seu rosto? A empatia pode
ser definida como a capacidade de reconhecer a
intenção dos outros, é a chamada teoria da mente.
Mas essa habilidade também implica em sentirmos o
que os outros estão sentindo também. Isso pode ser
notado nos exemplos mais cotidianos possíveis. Quem
nunca ficou tenso vendo um filme de terror em que
percebemos a tensão dos personagens do filme e
acabamos ficando no mesmo estado? Quem nunca se
emocionou (mesmo sem derramar lágrimas)
assistindo a um filme de drama? Algumas experiências
mostram a empatia aplicada também à ações
humanas. Em um desses, o pesquisador, na frente de
um bebê, tenta colocar uma argola em seu dedo da
mão, mas quando a argola chega perto do dedo, ele
deixa que ela caia e reinicia o processo. Depois de um
tempo repetindo isso, ele deixa que o bebê pegue a
argola. O que ele faz? Pega e coloca no dedo do
pesquisador, mostrando que mesmo um bebê já
consegue perceber a intenção dos outros.
Outro belo exemplo é o bonobo Kidogo, que é um
doente cardíaco e por isso é um macho crescido,
porém, fraco, inseguro e sem energia. Ao ser
transferido para a colônia do Zoológico de Milwaukee,
kidogo ficou confuso com a mudança e não
reconhecia os comandos dos tratadores, não sabiam
para onde tinha que ir. Depois de um tempo, outros
Colunas – Autor: Felipe Carvalho Novaes
Revista Livre Pensamento – Número 1 37
bonobos interferiram. Eles pegavam Kidogo pela mão
e o conduziam até os locais indicados. Quando ele se
perdia, gritava aflito e outros vinham socorrê-lo.
Aparentemente, diriam alguns, esses relatos
revelariam contradições na Teoria da Evolução porque
agir dessa maneira solidária não tratia nenhum
benefício em termos da sobrevivência do mais apto.
Há duas teorias que explicam esse comportamento: a
primeira diz que a empatia, que é a responsável pela
solidariedade e cooperação, surgiu como um
mecanismo que nos permite ajudar os seres
aparentados geneticamente conosco, assim,
preservando também os nossos genes contidos em
outros indivíduos da família. A segunda teoria pode
ser traduzido como simplesmente “uma mão lava a
outra”. Isto é, ajudamos aquele cara ali agora para
que no futuro possamos ser ajudados por ele.
Essas duas teorias podem ser verdadeiras, mas elas
nos falam dos motivos evolutivos que fizeram essas
características se conservarem nos animais de hoje, e
não dos motivos presentes na mente de cada um
(mesmo que seja um animal não-humano) para que
esses atos sejam realizados. Precisamos de motivos
que ajam no aqui e agora para explicar isso.
Certamente, os bonobos
que ajudaram Kidogo não
estavam interessados em
favores futuros de um
animal enfraquecido e
necessitado de cuidados
como ele. Também não
imagino o motivo pelo
qual uma fêmea de gorila
pegou o menino que
tinha caído dentro de sua jaula no zoológico, colocou-
o no colo, como se estivesse embalando-o, e depois,
gentil e cuidadosamente entregou-o para os
tratadores que foram resgatá-lo (ela agiu de maneira
bem parecida com os bonobos quando algum filhote
cai num rio e é resgatado). Veja o caso que ocorreu
em 2004, na cidade de Roseville, Califórnia. Um
labrador preto pulou na frente de um menino, seu
dono, e levou uma piaca de cascavel em seu lugar. O
que estimularia ali, naquele momento, o cão a fazer
isso? A decidir arriscar a sua vida pela de seu dono?
Com certeza não foi a expectativa de uma futura
retribuição de favores. É como, também, no exemplo
do século XX, dado pela psicólogo russa Nadia
Ladygina-Kahts, que criava Yoni, um jovem
chimpanzé. Ele era indisciplinado, sempre fazia
questão de desobedecer Nadia. Um dia, ele foi para
cima do telhado e não saía de lá por nada. Então a
psicóloga apelou:
Se finjo chorar, fechando os olhos e gemendo, Yoni
imediatamente pára a brincadeira ou qualquer outra
atividade e vem correndo. Chega todo agitado e
preocupado dos lugares mais remotos da casa, como
o telhado ou o teto de sua jaula, de onde eu não
consegui trá-lo apesar de meus persistentes chamados
e súplicas. Ele corre à minha volta, como se procurasse
quem me fez mal; olha meu rosto, pega minha
bochecha com carinho na palma da mão, toca
suavemente meu rosto com um dedo, como se
tentasse entender o que está acontecendo.
É muito interessante percebermos que até as ações
humanas mais nobres parecem ter algum tipo de
equivalência em animais não-humanos, revelando a
ancestralidade dessas potencialidades. Dessa forma,
podemos até mesmo arranjar meios contundentes de
questionar a clássica idéia do senso comum, de que
foi a religião que sempre colocou juízo na
humanidade. Quando somos estimulados a fazer o
bem ao próximo sem exigir algo em troca, estamos
fazendo nada mais do que fazendo valer algo que já
faz parte do repertório de habilidades humanas e que
se não fosse a religião, com certeza iríamos arrumar
outros motivos para justificar isso.
Sobre o autor da coluna
Felipe Carvalho Novaes
é um graduando em
psicologia que quer
seguir as áreas de
psicologia evolucionista
e/ou psicologia cognitiva
e/ou neurociência mas que não deixa de ser
fascinado pelo universo, natureza e pela história
humana, o que o leva a ter um pé também na
astronomia, cosmologia, filosofia e história. Dentro
da psicologia, um de seus temas preferidos é o
autismo (especialmente a síndrome de Asperger) e as
expressões faciais, além de pesquisar sobre as raízes
da psicopatia e da genialidade. Nerd de carteirinha,
também é fã de um bom filme de ficção científica, de
revistas em quadrinhos e de video game.
Blog: nerdworkingbr.blogspot.com
Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior
Revista Livre Pensamento – Número 1
38
OPERANDO O COMPORTAMENTO
Ateu sim, porque não?
Publicado originalmente no blog: Análise Funcional em 03/12/2010
Nasci como todos nascem concebido de um homem e
uma mulher, que doaram seus gametas y e x que se
juntaram para formar uma “célula ovo”.
Este que se dividiu inúmeras vezes, passando por
embrião, feto dentro do útero desta que foi minha
progenitora parasitando nutrientes de seu corpo até o
momento de meu nascimento.
Saindo deste útero entrei em contato com uma
família, um grupo de pessoas que exerceram e
exercem inúmeras funções em minha vida, sendo a
minha primeira agencia de controle (detinham os
meus primeiros reforçadores, e recursos necessários
para minha sobrevivência por pelo menor 14 anos
após meu nascimento), e minha primeira comunidade
verbal.
Eles foram quem reforçaram minhas primeiras
respostas operantes, minhas primeiras verbalizações,
e deles copiei diversos modelos para minha
sobrevivência. Mas nem todo operante reforçado ou
modelo é adaptativo, e acabei aprendendo deste
modo o que vou chamar aqui de comportamento
religioso.
Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior
Revista Livre Pensamento – Número 1
39
Como podem ver, criança nenhuma nasce cristã,
judia, muçulmana, viking, adoradora de espaguete,
etc.
Neste blog tem uma série em videos do brilhante
biólogo Richard Dawkins sobre esse tema:
http://danielgontijo.blogspot.com/2010/12/ha-um-
proposito-na-vida.html
A religião então pode ser entendida como uma prática
cultural que a muito tempo vem sobrevivendo, mas
que não necessariamente seja adaptativa para a
cultura, ou seja, provenha coisas boas para a cultura
(muito pelo contrário do meu ponto de vista esta é
uma das práticas culturais mais nocivas que existem
tendo produzido inúmeras guerras, xenofobia,
discriminação, escravidão, tortura, mutilação, dentre
outras).
Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior
Revista Livre Pensamento – Número 1
40
Dentre alguns fatores que reforçam esta prática está o
fato de por sermos animais sociais, ao nascermos
como já mencionei na minha história, tendemos a
copiar e confiar em tudo que nossa primeira
comunidade verbal (família) nos ensina.
Este repertório desde então é reforçado por
comunidades verbais mais amplas e agencias de
controle organizadas para o fortalecimento deste,
como igrejas, parentes, amigos, correntes de e-mail,
etc...
E mais, quando o nosso repertório de orar e clamar a
deus está instalado, eles nos ensinam a interpretar
eventos aleatórios e naturais, como “obra divina”,
desde então qualquer “sinal”, ou seja, evento que
fomos ensinados a entendermos como sinal é um
reforçador para a prática social de religiosa. Vê-se ai
um incentivo, do que é chamado pela analise do
comportamento de contigüidade (comportamento
supersticioso) que já falei neste
Ou seja, a fé não é nem um pouco racional, é só ver as
inúmeras discussões fervorosas de crentes e ateus em
blogs, estude os argumentos dos crentes, aqui tem
uns exemplos: http://ceticismo.net/religiao/tipicas-
justificativas-religiosas/
Existem argumentos ateístas desde a antiguidade,
mas eles nem ao menos são considerados pelos
crentes, pois como já mencionei, o que mantém seu
comportamento é algo “não racional”.
Veja este exemplo de Epicuro e seu famoso paradoxo
deus:
"Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode
e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se
quer e não pode, é impotente: o que é impossível em
Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, do mesmo
modo é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é
invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se
pode e quer, o que é a única coisa compatível com
Deus, donde provém então a existência dos males?
Por que razão é que não os impede?"
Para entendermos esse paradoxo é claro a
necessidade de repertório verbal sofisticado,
chamado “lógica” ou “racionalidade”, nossos sistemas
de ensino não instalam muitas vezes esse tipo de
repertório em nós, muitas vezes por influência política
(é mais fácil manipular gado que leões). Muito pelo
contrário, nos ensinam a apenas aprender por
modelação (o professor passa a matéria, o aluno
aceita aquele dado pronto, o professor corrige o
desvio e reforça aquele que mais se assemelhar a seu
modelo), isso é muito parecido com a prática religiosa
em que o catequista ensina a “verdade” os
catequizados dizem amém, reproduzem aquele
conteúdo e o catequista os reforça. Padrão este de
ensino herdado da Escolástica, e que infelizmente
ainda sobrevive em nossas escolas do século XXI.
Sobre Escolástica:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Escol%C3%A1stica
Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior
Revista Livre Pensamento – Número 1
41
Só o argumento acima já invalidaria se todos fosse
“processadores” racionais de informação, como já
dizia Descartes e alguns psicólogos modernos.
Mas como sai daquele esquema fadado a me
transformar em um crente, e não conhecer as
maravilhas da filosofia, ciência etc?
Não foram por mérito meu, ou de alguma essência
interna, mas, algumas contingências aleatórias
modelaram alguns repertórios de fuga/esquiva na
minha infância para a leitura de livros e enciclopédias,
paralelo ao religioso estava sendo criado o repertório
embrionário do cientista.
E graças a deus....rsrs (isso é um eufemismo), através
de meu repertório rudimentar de questionamento,
exploração e lógica, passei a interpretar os textos
sagrados de forma cientifica e não de forma
copiadora, e a achar as tais inconsistências inegáveis
neles. Explorei então diversas religiões e práticas
exotéricas tentando encontrar meu caminho, até
ingressar na faculdade de psicologia.
Nesta ao ver inúmeras teorias de funcionamento
humano, consegui finalmente me desprender daquilo
que era e é de muitos seres humanos um calcanhar de
Aquiles: A Religião.
Não é um caminho fácil, mas é fascinante, a minha
perspectiva de ver o mundo e a vida como ateísta em
primeiros momentos foi difícil e sofrida, não vou
negar, olhar o mundo sem o “véu da ideologia”
parafraseando Marx é dolorido num primeiro
momento assim como alguém que estava a muito no
escuro passa a ver a luz do sol. Os olhos doem, mudar
seu repertório doem analogamente.
Espero que esse texto ajude quem ainda não “saiu do
armário” do Ateísmo, ou não tem coragem, saiba, vc
não está sozinho!.
Sobre o autor da coluna
Marcos Adilson Rodrigues Júnior é estudante do 8° Período do curso de Psicologia, Ateu, Cético, Pragmático e Behaviorista Radical. Acredita que a Ciência é a melhor forma que temos de obter conhecimento seguro e resultados
satisfatórios para a espécie humana e o universo que a circunda. Blog: analisefuncional.livrespensadores.org
Colunas – Autora: Kelly R. Conde
Revista Livre Pensamento – Número 1 42
PEDAGOGIA
Deixem as Crianças Em Paz!
A ideia de que nada deve se interpor entre os pais e
seus filhos é o núcleo dos “valores de família”. Mas o
que ninguém parece perceber é que os pais não são
donos de seus filhos, mas são - ou ao menos deveriam
ser - aqueles que prezam pelo seu bem-estar.
Muitas pessoas defendem que a criança na barriga da
mãe tem o direito à vida e não pode ser abortada,
mas ninguém se importa que, quando nasça, ela perca
esse direito ficando totalmente entregue ao que quer
que os pais queiram fazer com ela.
Os pais não são os detentores da verdade em relação
aos filhos e temos o direito de intervir nas relações
entre eles quando são prejudiciais. Mas quando os
pais ouvem isso e são questionados sobre o que eles
sentem e que é difícil defender com a razão, eles
ficam irritados, defensivos, e à procura de algo atrás
do qual se esconder e apoiar. E, para isso, nada
melhor do que um valor que – exatamente por ser um
valor – é inquestionável. Dizem: “Somos os pais, e
ninguém pode dizer como devo agir com meu filho,
pois eu sei o que é melhor para ele.”
Segundo o artigo 14 da Convenção dos Direitos da Criança, toda criança deve ter direito à “liberdade de
pensamento, consciência e crença”. Mas o mesmo estatuto que defende a busca por autonomia diz que essas
pessoas, ainda em processo de desenvolvimento, necessitam de orientação para alcançarem sua maturidade cívica e
social. Os pais, desse modo, têm o direito de “orientar” os filhos no que dirá respeito aos seus pensamentos e
crenças.
Mas, sendo assim, como essas crianças desenvolverão
seus próprios pensamentos? Crianças são
extremamente manipuláveis e isso se deve à sua
credulidade, pois ainda não possuem o senso crítico
desenvolvido e confiam na autoridade das pessoas
que as cercam. O cérebro delas é pré-programado
para apreender todas as informações transferidas em
pouquíssimo tempo, e com isso é difícil impedir ao
mesmo tempo a entrada de informações prejudiciais
que os adultos impediriam sem esforço.
Por isso, é de se esperar que cérebros de crianças
sejam crédulos e vulneráveis a qualquer sugestão.
Um exemplo disso é Marjoe Gortner. Ele teve um
nascimento difícil - quase foi estrangulado pelo
cordão umbilical - e o obstetra disse a sua mãe que
apenas por um milagre ele havia sobrevivido. Assim,
“Marjoe”, – junção dos nomes “Maria e José” –
assumiu sua posição na extremidade de uma longa
linhagem de ministros evangélicos.
Desde muito pequeno, suas habilidades de pregação
foram meticulosamente cultivadas. Antes de
“mamãe” e “papai”, Marjoe aprendeu a dizer
“Aleluia!” e, aos nove meses de idade, gritava “oh,
glória!” no microfone.
Aos 3 anos, ele sabia pregar o evangelho de memória
e recebia aulas de interpretação dramática em todo
tipo de performance.
Com 4 anos, Marjoe foi oficialmente ordenado ao
ministério e lançado numa carreira
extraordinariamente bem-sucedida. A “Criança
Miraculosa” deixava multidões em pranto e estado de
“êxtase religioso”. Diziam os fiéis que o garotinho era
um “milagre de Deus”.
Mas a verdade é que Marjoe recebia um treinamento
cuidadoso, norteado por uma disciplina severa e a
insaciável ambição de sua mãe. Os sermões eram
impecavelmente memorizados: cada palavra, cada
pausa, cada gesto, cada “cura de fé” - tão cativantes
que enchiam os pratos de coleta da igreja.
Colunas – Autora: Kelly R. Conde
Revista Livre Pensamento – Número 1 43
Marjoe considera o que passou como praticamente
uma lavagem cerebral, onde não teve ao menos
tempo para ser criança. Na adolescência, ele foi se
desiludindo diante da encenação de seus poderes
divinos, deixou o movimento evangélico em busca de
meios de sustento mais legítimos e fez parte de uma
banda de rock. Mas em seguida voltou para o circuito
evangélico para realizar seu documentário-denúncia
“Marjoe”, gravado em 1971 e ganhador do Oscar no
ano seguinte, revelando os milenares truques que
utilizava e expondo as características de indústria do
entretenimento que tornaram o evangelismo um
movimento popular de enorme sucesso comercial.
Mas e quanto a todas as outras crianças que passam
por imposições e manipulações mas que, ao contrário
de Marjoe, nunca têm a oportunidade de entender o
que lhes foi feito?
Ninguém conhece realmente o poder de recuperação
de uma criança. Há jovens que viram as costas às
tradições a que estiveram submersos durante anos,
sem nenhum dano, enquanto há crianças que são
feitas prisioneiras ideológicas de tal modo que se
tornam suas próprias carcereiras mais tarde, se
recusando a ter conhecimentos que poderiam lhes
abrir e mudar a mente.
Porque não se preocupar com o modo como os pais
estão formando as crianças e o que estão fazendo
para garantir-lhes informação e conhecimento
necessários para que mais tarde elas possam ser
pessoas esclarecidas, críticas e livres?
Isso seria invadir os “valores” e a “autonomia” dos
pais em relação a seus próprios filhos, certamente
dirão. Mas os mais prejudicados está claro que serão
sempre as crianças.
A reprodução do comportamento dos pais e
conseqüente criação ausente de questionamentos e
discussões só pode levar a um desenvolvimento
unicamente passivo e não reflexivo da criança, onde
o conhecimento nunca terá lugar frente à imitação.
Não deveríamos tapar os olhos e achar que deixar os
filhos totalmente entregues aos pais é benigno, pois
sabemos que essa privacidade da vida em família
encobre práticas nas quais os pais submetem os filhos
a tratamentos que os mandariam para a prisão se não
fosse com o filho deles (como castigos violentos e
ofensas, por exemplo). E o que dizer ainda dos casos
de violência sexual e maus-tratos de todos os tipos
que os filhos sofrem dos próprios pais ou outros
parentes próximos?
Colunas – Autora: Kelly R. Conde
Revista Livre Pensamento – Número 1 44
A violência contra as crianças ainda prevalece em
todos os países do mundo, estando presente em
qualquer cultura, classe, nível de escolaridade, faixa
de renda e origem étnica.
É ilusório pensar que os pais, por tomarem decisões
“adultas” e baseadas em suas experiências, estejam
com a razão. Embora eles tenham alcançado a idade
para consentir e tomar decisões “por sua livre
escolha”, suas percepções do que é correto e bom são
suas, produtos apenas de sua própria fé perceptiva, e
seus filhos serão vítimas da sua ignorância.
Como diz o psicólogo Nicholas Humphrey: “As
crianças têm o direito humano de não ter a cabeça
aleijada pela exposição às péssimas idéias de outras
pessoas — não importa quem sejam essas outras
pessoas. Os pais, da mesma maneira, não possuem
permissão divina para aculturar os filhos do modo que
bem quiserem: não têm o direito de limitar os
horizontes do conhecimento dos filhos, de criá-los
numa atmosfera de dogma e superstição, ou de
insistir que eles sigam os caminhos estreitos e
predefinidos de sua própria fé.”
Que chances essas crianças terão se não fizermos
nada e os deixarmos à mercê das convicções e
ignorâncias daqueles que deveriam estar lhes
protegendo e formando? O direito à liberdade é
espalhado pelo mundo, mas não para as crianças.
Nenhuma criança tem direito à liberdade de
doutrinação, de pensamento, de ser.
Devemos deixar que as crianças sejam submetidas a
isso por causa de uma falsa moral que só faz esconder
os abusos contra esses seres humanos indefesos?
Todos nós deveríamos nos sentir incomodados ao
ouvir uma criança pequena sendo rotulada como
pertencente a uma ou outra religião específica. Afinal,
as crianças são jovens demais para tomar decisões
fundamentais sobre suas opiniões a respeito da
origem do mundo, da vida ou da moral, como defende
o biólogo Richard Dawkins dizendo que “O simples
termo ‘criança cristã’ ou ‘criança muçulmana’ deveria
soar como unhas arranhando uma lousa.”
E o filósofo Daniel Dennett completa: “Imagine se
identificássemos as crianças como crianças fumantes
ou bebedoras, porque seus pais o são?”
Todos têm direito de tomarem suas próprias decisões.
Mas essas decisões precisam ser decisões informadas
e muito bem pensadas. E as crianças não têm como
tomar decisões ainda pequenas, não têm informações
suficientes para isso.
O que dizer a elas então? TUDO.
Para ensinar religião, ensine sobre todas e as deixem
pensar sobre isso, do mesmo modo como ensinaria
história ou filosofia. Elas precisam saber que têm
opções, em tudo, e que tudo tem um motivo, que
nada tem como resposta “porque sim”, ou “porque eu
estou dizendo”. Se não sabe, diga simplesmente “não
sei”, procure saber, ou procure alguém que saiba para
explicar.
Assim, ao menos, ninguém será enganado ou privado
de fazer as melhores escolhas.
Imagem do filme "Monstros S.A."
Sobre a autora da coluna
Kelly R. Conde, 22 anos, é formada em Ciências Contábeis, graduanda em Pedagogia e musicista. Autora do blog CCAL e integrante do Projeto Livres Pensadores, tem
uma visão secular, e é contrária a qualquer tipo de fé, valor, crença, moral, ideologia, doutrina, religiosidade, cientificismo ou filosofia de vida. Blog: criandocondicoesaliberdade.blogspot.com
Colunas – Autor: Fred Lins Junior
Revista Livre Pensamento – Número 1 45
RESENHAS DE LIVROS
“Mendigos: Párias ou heróis da cultura?”
(LGE, 203 páginas, 35,00 reais), de Ezio Flavio Bazzo
O país inteiro os abriga contra a vontade, a sociedade - preocupada exclusivamente
com suas ignóbeis tripas e aparências - os detesta e os oculta. A França hoje tem o
desgosto de tê-los aos montes. Roma tem uma rede de restaurantes para saciá-los e
apaziguá-los. Não dirigem a palavra a ninguém, vivem rindo ou em prantos sem
medo de escancarar a boca desdentada.
São usados por cristãos que arquitetam sorrateiramente uma demagogia de
caridade, com seus albergues, suas sopas, suas bastardices falsamente pacifistas e
sua metafísica piegas.
Os comerciantes mandam matá-los para que não fiquem ali nas escadas de seus
negócios. Os adolescentes os queimam vivos nas paradas de ônibus e os
governantes os enfiam em trens, caminhões ou em carroças e os despacham para
seus vilarejos de origem de onde também já foram banidos.
Os mendigos desprezam tudo aquilo que a sociedade
“normal” gastou 7 mil anos para construir e organizar.
Sim, essa filosofia kamicaze é algo digno de admiração
e de interesse, algo fascinante, que merece muito
mais que alguns textos. Essa prática “agnóstica” e essa
praxis “niilista”, exposta livremente nas ruas e nos
becos deveria ser tema de Encontros Internacionais,
de Aulas Magnas e de Congressos.
Os padres os excomugam quando os surpreendem
cagando nos fundos das catedrais, a polícia e os
"seguranças" dos prédios os acossam dia e noite. Se
precisam de uma hospitalização são tratados como
porcos e com horror. São vistos nos semáforos aos
pedaços, como bufões decadentes, trêmulos de
embriaguez e de fome. Entretanto, todas as religiões
colocadas em fila, não seriam mais do que merda
desidratada quando interpretadas à luz de um
mendigo de cócoras.
A sociedade perdulária e extravagante os detesta
mesmo mortos e os expurga implacavelmente até
mesmo de sua memória, mas eles "milagrosamente"
resistem. Não se rendem. Apesar de todas as
canalhices, estão por todos os lados. Seguem dizendo
não ao trabalho, não à sujeira política, não à corrida
idiota do cotidiano em direção ao nada e cospem
sobre as propostas estatais ou clericais de "readaptá-
los" ou de "normalizá-los".
Ezio Flavio Bazo é graduado em psicologia, cursou
mestrado em psicologia clínica na Universidade
Nacional Autonoma do México e doutorado na
Universidade Nacional de Barcelona. Mais tarde
dedicou-se a um pós doutoramento no Instituto de
Altos Estudos da América Latina, em Paris. Apesar
dessa longa permanência no meio acadêmico, Bazzo
considera o estudo formal uma grande fraude, um
adestramento desnecessário e inútil que vai deixar
limitações e cicatrizes profundas na capacidade de
pensar dos estudantes e dos futuros "doutores".
Bazzo faz questão de ressaltar e de colocar em
primeiro lugar sua bagagem como auto didata e como
"viajante inveterado".
Sobre o autor da matéria
Fred Lins Junior é alguém que luta por uma sociedade onde o trabalho alienado deve dar lugar a uma criatividade coletiva, regulada pelos desejos de cada
um, onde o direito de comunicação real pertence a todos.
Dicas para a Internet
Revista Livre Pensamento – Número 1 47
DICAS PARA A INTERNET
Sites Recomendados
Ceticismo:
Ceticismo Aberto: http://www.ceticismoaberto.com/
E-Farsas: http://www.e-farsas.com/
Ceticismo.net: http://ceticismo.net/
Ateísmo:
Ateus.net: http://ateus.net/
Diário Ateísta: http://www.ateismo.net/
Ateus do Brasil: http://ateusdobrasil.com.br/
Ciência:
Scientific American Brasil:
http://www2.uol.com.br/sciam/
Instituto Ciência Hoje: http://cienciahoje.uol.com.br/
CienSinando: http://www.ciensinando.com.br/
Scientia Est Potentia: http://francisco-
scientiaestpotentia.blogspot.com/
- Astronomia
GAEA: http://gaea-astronomia.blogspot.com/
- Neurociência
A neurocientista de Plantão:
http://www.suzanaherculanohouzel.com/
- Biologia
Tree of Life Web Project: http://tolweb.org/tree/
- Psicologia
Mente e Cérebro:
http://www2.uol.com.br/vivermente/
Filosofia:
Só Filosofia: http://www.filosofia.com.br/
Notícias:
PauloPes Weblog: http://www.paulopes.com.br/
Humor:
Desordem Publica: http://desordempublica.com.br/
Um Sábado Qualquer:
http://www.umsabadoqualquer.com/
Jesus Manero: Blog http://jesusmanero.blog.br/ e
Tumblr: http://jesusmanero.com/
Sites Úteis
Encurtadores:
Virou Grama: http://virou.gr/home – Quando você
encurta uma URL nele, cada caractere vira 1g de
alimento a ser doado pelo Carrefour.
Previsões de passagens de satélites
Heavens Above: http://www.heavens-above.com/ –
Nele é possível ver previsões de passagens da ISS,
Hubble e vários outros satélites (como Iridium Flares)
de forma bastante simples.
Imagens e Wallpapers:
Astronomy Picture of the Day (Foto Astronômica do
Dia) da NASA:
http://apod.nasa.gov/apod/astropix.html
HubleSite: http://hubblesite.org/gallery/wallpaper/ –
Papéis de parede criados a partir de fotos do Hubble
Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/
– TONELADAS de conteúdo que pode ser baixado
gratuitamente por qualquer um.
Dicas para a Internet
Revista Livre Pensamento – Número 1 48
Projeto Livres Pensadores
Livres Pensadores: http://livrespensadores.org/
Metropolis: http://metropolis.livrespensadores.org/
Bar do Ateu: http://bardoateu.blogspot.com/
Uma Visão de Mundo:
http://www.umavisaodomundo.com/
NerdWorking: http://nerdworkingbr.blogspot.com/
A Origem: http://aorigem.wordpress.com/
Filhos de Oort: http://filhosdeoort.blogspot.com/
Deus Ilusão: http://deusilusao.wordpress.com/
Historiae Religionis:
http://historiaereligionis.wordpress.com/
Criando Condições à Liberdade:
http://criandocondicoesaliberdade.blogspot.com/
Análise Funcional:
http://analisefuncional.livrespensadores.org/
Carlos Orsi: http://carlosorsi.blogspot.com/
Rebeldia Visual: http://rebeldiavisual.tumblr.com/
Olhar Beheca: http://olharbeheca.blogspot.com/
In Nomine Dei: http://www.wilsonoliveira.com/
Sou Evoluído!:
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Montando o Quebra-Cabeça:
http://danielgontijo.blogspot.com/
Diários de Harvey Dent:
http://diariosdeharveydent.blogspot.com/
Personalogia: http://personalogia.wordpress.com/
Notas de um Flanador:
http://flanador.livrespensadores.org/
PodPensar: http://podpensar.livrespensadores.org/
Nihil Lemos: http://nihil-lemos.livrespensadores.org/
Outras Verdades Inconvenientes:
http://outrasverdadesinconvenientes.blogspot.com/
Crazy Feelings: http://costelafeelings.blogspot.com/
Vida em Órbita: http://vidaemorbita.blogspot.com/
Contraventro: http://contravento.net/
Fiat Lux: http://fiatlux.livrespensadores.org/
A Influência da Cultura na Lei:
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Aos Humanos: http://felipegama.wordpress.com/
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Sobre o Projeto Livres Pensadores:
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Revista Livre Pensamento – Número 1
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Fred Lins Junior
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Colunistas:
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