revista livre pensamento – número 1

50
Ceticismo A importância do Ceticismo Ciências Falar sobre ciência é como um oásis no meio de um deserto... Educação Tecnologia Assistiva Evolução Evolução sem Complicação Natureza Humana A Bondade Operando o Comportamento Ateu sim, porque não Resenhas de Livros “Mendigos: Párias ou heróis da cultura?” Por Fábio Marton Por Fred Lins Junior Por Mário César Mancinelli de Araújo Por Ligia Amorese Filosofia Rumo ao Mistério da Consciência Pedagogia Deixem as Crianças Em Paz! Colunas

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Revista Livre Pensamento – Número 1 Organizaçao Livres Pensadores

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Page 1: Revista Livre Pensamento – Número 1

Ceticismo A importância do Ceticismo

Ciências Falar sobre ciência é como um oásis no meio de um deserto...

Educação Tecnologia Assistiva

Evolução Evolução sem Complicação

Natureza

Humana A Bondade

Operando o

Comportamento Ateu sim, porque não

Resenhas

de Livros “Mendigos: Párias ou heróis da cultura?”

PPoorr FFáábbiioo MMaarrttoonn

PPoorr FFrreedd LLiinnss JJuunniioorr

PPoorr MMáárriioo CCééssaarr MMaanncciinneellllii ddee AArraaúújjoo

PPoorr LLiiggiiaa AAmmoorreessee

Filosofia Rumo ao Mistério da Consciência

Pedagogia Deixem as Crianças Em Paz!

Colunas

Page 2: Revista Livre Pensamento – Número 1

Revista Livre Pensamento – Número 1

Índice – Página 1 17/08/2011

Editorial

Carta ao Leitor Página 04

O Leitor Escreve Página 05

Dicas do Leitor Página 05

Matérias

Deus nunca diz não Uma análise do ataque terrorista na Noruega, sob o ponto de vista da religião.

Por Fábio Marton

Página 07

Pedofilia e Crueldade Humana Uma análise de como nossa sociedade cuida de suas crianças: escravidão, abuso sexual e assassinato.

Por Fred Lins Junior

Página 10

Aniversário de 1 ano do Livres Pensadores A história da criação do site, contada por seu fundador: como foi idealizado e em quê se transformou.

Por Mário César Mancinelli de Araújo

Página 13

No buraco mais embaixo de tudo... Uma análise do ataque terrorista na Noruega, sob o ponto de vista política.

Por Ligia Amorese

Página 15

Page 3: Revista Livre Pensamento – Número 1

Revista Livre Pensamento – Número 1

Índice – Página 2 17/08/2011

Colunas

Ceticismo A importância do Ceticismo

Por Mário César Mancinelli de Araújo

Página 18

Ciências Falar sobre ciência é como um oásis no meio de um deserto...

Por Ligia Amorese

Página 21

Educação Tecnologia Assistiva

Por Wagner Kirmse Caldas

Página 24

Evolução Evolução sem Complicação

Por Gustavo Melim Gomes

Página 27

Filosofia Rumo ao Mistério da Consciência

Por Eder Juno N. Terra

Página 32

Natureza Humana A Bondade

Por Felipe Carvalho Novaes

Página 36

Operando o Comportamento Ateu sim, porque não?

Por Marcos Adilson Rodrigues Júnior

Página 38

Pedagogia Deixem as Crianças Em Paz!

Por Kelly R. Conde

Página 42

Resenhas de Livros “Mendigos: Párias ou heróis da cultura?”

Por Fred Lins Junior

Página 45

Gerais

Dicas para a Internet Sites recomendados, sites úteis e blogs que fazem parte do Projeto Livres Pensadores

Página 47

Page 4: Revista Livre Pensamento – Número 1
Page 5: Revista Livre Pensamento – Número 1

Carta ao Leitor – Mário César Mancinelli de Araújo e Jeronimo Freitas

Revista Livre Pensamento – Número 1 4

Carta ao Leitor

Caro leitor,

A Organização Livres Pensadores, associação formada por brasileiras e brasileiros

que unem esforços e tempo na tentativa de construir uma sociedade mais justa –

na qual as decisões sejam tomadas com base no uso da razão, do pensamento

crítico, da observação dos valores democráticos e do conhecimento científico –

tem a honra de apresentar o primeiro número de sua Revista Livre Pensamento.

Em uma época na qual o acesso à informação deveria contribuir para diminuir o

abismo econômico e social que separa as sociedades laicas, dos regimes

teocráticos; vemos um impressionante recrudescimento do mito religioso e em

especial de suas facções mais fundamentalistas, ramificando-se, tal qual uma

metástase, por culturas até então tidas como moderadas. Se até pouco tempo

atrás, vangloriávamo-nos de nossa tolerância e do sincretismo religiosos, recentemente assistimos o crescimento de

uma bancada parlamentar cristã organizada, que interfere nos assuntos de estado, para segmentar os brasileiros em

cidadãos de primeira, segunda e demais categorias. Entendemos que não é possível observar passivamente, em

nome do respeito à tradição cristã do nosso povo.

Ao passo que observamos o surgimento de uma nova ordem social, na qual gigantes adormecidos como o Brasil, a

China e a Índia finalmente despertaram do "sono eterno", vemos que é chegada a hora de competirmos em pé de

igualdade com a "turma mais velha". Até que alguém nos prove que Deus existe e, claro, é brasileiro, preferimos

como armas, nessa batalha de gigantes, confiar na ciência e no pensamento crítico em vez de acreditar na mitologia,

em amuletos ou rituais medievais. Entendemos que a religião teve a sua oportunidade de governar o mundo, em um

período que ficou conhecido como a Idade das Trevas. É chegada a hora da razão e do pensamento livre. Por meio

dessa revista, vamos promover a liberdade de expressão, informar e alertar os cidadãos comuns, assim como os

formadores de opinião, os poderes legislativo, executivo e judiciário, sobre os perigos aos quais está submetida uma

sociedade guiada pela ignorância e pela superstição.

Estamos cientes que em nosso governo há uma maioria secular que, devido a interesses diversos, é pressionada por

uma minoria cristã, porém organizada, cujos objetivos claros ameaçam o secularismo de nosso estado. Como

céticos, ateus e agnósticos, daremos atenção especial aos danos morais e aos atrasos sociais causados pela

obediência aos dogmas religiosos e, sobretudo, à doutrinação religiosa ou sectária de crianças ou pessoas

emocionalmente ou intelectualmente fragilizadas. Vamos discutir os antidemocráticos privilégios fiscais concedidos

a instituições que vendem ilusão como se realidade fosse. Mais do que isso: como Livres Pensadores, queremos

incitar a discussão sobre temas polêmicos, até então protegidos pela carapaça invisível do dogma religioso; bem

como mostrar aos brasileiros que, onde há inteligência, tudo pode ser discutido e que apenas pessoas – não as ideias

ou crenças – devem ser respeitadas.

Atenciosamente,

Mário César Mancinelli de Araújo e Jeronimo Freitas,

Presidente e vice-presidente da Organização Livres Pensadores.

Page 6: Revista Livre Pensamento – Número 1

Carta ao Leitor – Mário César Mancinelli de Araújo e Jeronimo Freitas

Revista Livre Pensamento – Número 1 5

O Leitor Escreve

Este espaço é destinado à publicação das mensagens enviadas pelos leitores à redação da revista Livre Pensamento.

Participe! Escreva para [email protected], incluindo seu nome, a cidade e o estado onde vive e, caso

more no exterior, o país também.

Dicas do Leitor

Se você conhece um site, blog, tumblr e quer enviar sua dica aos leitores da Revista Livre Pensamento, escreva para

[email protected] com o título "dica do leitor".

Page 7: Revista Livre Pensamento – Número 1
Page 8: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Fábio Marton

Revista Livre Pensamento – Número 1 7

Deus nunca diz não

A Tomada de Jericó, por Jean Fouquet

Como todos que não passaram os últimos dias

escondidos num bunker antinuclear devem saber, no

dia 22 de julho de 2011, o norueguês Anders Breivik

lançou um manifesto de 1500 páginas e um vídeo no

YouTube, bravejando contra muçulmanos e marxistas.

No mesmo dia, provou que tinha mais que palavras.

Um carro-bomba explodiu em frente a um prédio

público, matando dez pessoas, enquanto Breivik

pessoalmente invadia uma estância turística ligada a

um partido de esquerda, onde pessoalmente

executou 69 pessoas com armas de fogo.

Breivik é cristão, o que faz questão de afirmar. Mas

não estou aqui para soprar qualquer brisa de suspeita

sobre uma relação entre sua religião e seus atos. Ao

contrário, o que vou indagar aqui é por que Brevik ser

cristão não evitou que se tornasse um terrorista

assassino.

Diz o famoso (ou infame) Argumento de Karamazov:

“Se Deus não existe, tudo é permitido”1. Pode ser uma

ideia detestável, mas – coisa raramente lembrada

nestes dias em que o relativismo é dado como certo

em qualquer boteco de azulejo rachado – uma ideia

ser detestável não torna ela mais ou menos

verdadeira. 1 Frase que nunca foi dita por Ivan Karamazov, o

racionalista de Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoievisky. Mas o raciocínio do livro, como outros do genial reacionário russo, ia mesmo nessa linha.

Certamente religião não é suficiente para uma

conduta moral. Dizer isso seria extremamente injusto

com os cristãos. Exceto por malucos como o próprio

Breivik, cristãos não costumam aceitar a morte de

inocentes para avançar uma causa política, assim

como não aceitam a escravidão, pedofilia, sexo não

consensual e racismo. E fazem isso apesar do que diz a

Bíblia.

Em Êxodo 11:52, deus em pessoa aparece matando primogênitos inocentes egípcios (crianças inclusive, animais inclusive) para avançar a liberação dos judeus. O mesmo deus, em Levítico 25:44-463, regulamenta a escravidão. Deus também aprova o estupro e escravização de mulheres capturadas na guerra em Deuterunômio 20:144, que devem ser consideradas um presente dele próprio. E também engravida (sem sexo) a Virgem Maria aos 13 anos5, recomendando que mantenha o casamento com um velho – união que os católicos afirmam não ter sido consumada, mas os protestantes discordam. Sobre o que deus

2 “Todo o primogênito na terra do Egito morrerá, desde o

primogênito de Faraó, que haveria de assentar-se sobre o seu trono, até ao primogênito da serva que está detrás da mó, e todo o primogênito dos animais”. 3 “E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres,

serão das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas. Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas famílias que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão.E possui-los-eis por herança para vossos filhos depois de vós, para herdarem a possessão; perpetuamente os fareis servir; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não vos assenhoreareis com rigor, uns sobre os outros”. 4 “Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o

que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o SENHOR teu Deus”. 5 A Bíblia menciona a concepção milagrosa logo após seu

casamento com José, o que, na época, acontecia aos 13 anos. Como em Mateus 1:18-20: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo”.

Page 9: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Fábio Marton

Revista Livre Pensamento – Número 1 8

A Destruição de Sodoma e Gomorra, John Martin, 1832

acha de racismo, bem, ele tinha sua própria raça superior e a guiou a conquistar seu "espaço vital"6. Todas essas coisas podem ter sido corriqueiras para a época. Certamente os judeus não estavam sozinhos nesses costumes e nem por delírio foram os únicos a fazer guerra de conquista achando que os deuses estavam de seu lado. Mas não deveria um deus eterno e onisciente estar acima do tempo e dos costumes bárbaros dos povos? Não deveria ter passado instruções morais melhores ou ao menos mais duradouras a seu povo escolhido? Curiosamente, mesmo com essas passagens, é quase

certo que o cristão normal, que rejeita terrorismo,

escravidão, pedofilia e racismo, provavelmente

considere que essas ideias morais leigas levem a

pecados. Fazer escravos, ser pedófilo, estuprar uma

mulher numa guerra, ser racista, tudo isso pode levar

ao inferno. O cristão normal imprime a seu deus o

julgamento moral moderno.

Pode ser incoerente, mas seria uma validação da ideia

de Karamazov. Temos sentimentos morais nativos,

que a Ciência dá seus primeiros passos em descobrir,

e também temos leis e pressão social. Mas ter medo

do Inferno, mesmo que seja um medo esquizofrênico

por conta de uma moral que absolutamente não é

religiosa, poderia ser, ao menos, um freio extra.

Então entram as interpretações. Para sermos justos

com a Bíblia, ela não é feita apenas de barbaridades.

No Velho Testamento, há o famoso Não Matarás7.

Mas isso é seguido de inúmeros matarás8 ordenados

pela mesma divinidade, quando ela não tomava o

serviço nas próprias mãos, como em Sodoma e

6 Com o perdão do péssimo gosto da comparação, e

absolutamente nenhum comentário sobre os judeus em si ou Israel – falo apenas da atitude do velho YHWH. 7 Êxodo 20:13.

8 Só um exemplo em Deuterunômio 7:2 “E o SENHOR teu

Deus as tiver dado diante de ti, para as ferir, totalmente as destruirás; não farás com elas aliança, nem terás piedade delas”

Gomorra9. Ao final, a única forma de ler o verso é

“Não Matarás (exceto quando deus concorda)”.

Isso, dirão os cristãos, é o Velho Testamento, antes do

deus eterno e onisciente da lei escrita em pedra

mudar de ideia, desistir de vários mandamentos

eternos e mandar um pedaço de si próprio à Terra

para se tornar o Pai de Todos os Hippies. E Jesus

realmente parece a coisa real, um pacifista convicto. A

seguir as recomendações de Jesus para amar ao

próximo como a si mesmo10 , dar a outra face11 ou que

quem vive pela espada, morre pela espada12, todo

cristão teria de ser pacifista a ponto de fazer Gandhi

parecer um redneck americano com uma

metralhadora na caçamba da camionete pintada com

a bandeira confederada.

As recomendações pacíficas de Jesus, belas e

idealistas que talvez sejam, são também

completamente impráticas. Dando a outra face em

1939, teríamos hoje Oktoberfest na Bahia – quer

dizer, os nazistas teriam, nós mischling teríamos

virado sabão. O próprio Jesus parece ter reconhecido

a impraticidade de seus conselhos em Lucas 22:36,

onde mandou os discípulos se armarem para o tempo

ruim que viria:

Disse-lhes pois: Mas agora, aquele que tiver bolsa,

tome-a, como também o alforje; e, o que não tem

espada, venda a sua capa e compre-a;

O que quer dizer que Jesus abriu a possibilidade,

apesar do dito antes, de legítima defesa. E então

começam novos problemas: quando a “defesa” de

algo tão mal definido quanto a fé é legítima? As

Cruzadas foram em “legítima defesa”. O Sultão Al-

Hakin (985-1021), chamado de “O Louco”, destruiu o

templo de Jerusalém e começou a assassinar

peregrinos cristãos. Isso foi considerado pela religião

de nosso amigo hippie como razão suficiente para

“liberar” a terra santa, com todos os atos comuns na

guerra, vivendo pela espada, morrendo pela espada,

causando inveja ao Velho Testamento. Anders Breivik

certamente se considerava um irmão espiritual dos

cruzados, combatendo o inimigo mouro e seus

frangotes simpatizantes.

9 Gênesis 19:24

10 Mateus 22:39

11 Lucas 6:29

12 Mateus 26:52

Page 10: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Fábio Marton

Revista Livre Pensamento – Número 1 9

Miniatura do cerco de Antioquia (Sébastien Mamerot, c.1490)

A verdade – detestável para muitos – é que, mesmo

se muitas pessoas procuram agir de forma moral por

medo do inferno e a promessa de um puxadinho no

céu, deus insiste em não existir. Quando, em nome de

deus, o sangue encheu as ruas até bater nas canelas,

seja nas Cruzadas, seja nas conquistas islâmicas e a

Reconquista espanhola, seja em atentados recentes,

jamais houve vozes na cabeça de alguém para dizer

“opa, não é bem assim, gente. Vocês estão me

interpretando mal”. Nem um trovãozinho que fosse.

Nunca há deus para dizer que não é um caso de

vender suas tralhas e comprar uma espada ou que

aquele matarás específico ele não aprova. Deus não

apareceu a Breivik para impedir sua ação, mesmo

após alertado pelo YouTube. E, aliás, considerando

que esse mesmo deus teria impedido Abraão de

matar seu filho Isaque13, é difícil justificar como não

tenha agido em tantas e inúmeras circunstâncias

similares, vezes sobre vezes em que inocentes foram

massacrados por quem diz ter ouvido sua voz ou acha

que ele concorda com seus planos.

Como vimos antes, mesmo para os religiosos, grande

parte da moral não vem da religião. Quanto às outras

regras morais, o que é pregado nos livros sagrados e

teologia, se é percebido como moral racionalmente,

13

Gênesis 22

também se torna parte da moral dos incrédulos. Já

regras morais que não concordam com a razão, mas

são afirmadas por livros ou teologia, é o ponto em

que a religião pode atrasar o desenvolvimento moral

– como o caso da homofobia e pesquisas com células-

tronco hoje em dia. Ainda que a religião

provavelmente fará como antes e, com grande atraso,

acabará aceitando o que a razão já entendia, criando

novos pecados, mudanças de opinião de seu deus

eterno, onisciente e indeciso.

É certo que o religioso, por conta de seu medo de

punição divina, seja capaz de fazer boas ações, dentro

do que a moral moderna considera boas ações. Mas

essa mesma fé, que pode mover atos caridosos,

deposita em uma autoridade muda, invisível e

inexistente o julgamento final para as decisões

humanas. Quando Breivik matou, ele poderia

acreditar que tinha a aprovação de deus – e

acreditaria mesmo se todos os cristãos do mundo

discordassem dele, porque esse julgamento não seria

“deste mundo”. Como deus não existe, Breivik jamais

poderia ser contrariado. Se, ao invés disso, tivesse

convicções racionais que o impedissem de agir

daquela maneira, então haveria algo que segurasse

sua mão: sua razão, sua consciência.

Não estou nem perto de sugerir que os cristãos não

tenham ou façam uso da razão e consciência. Apenas

que, se o que é certo e errado é definido

independente de fé, seu medo de punição divina é

redundante e perde-se mais que se ganha com isso. A

fé pode atrasar a evolução moral e até mesmo

diminui o valor dos atos morais (porque fazer algo por

medo de ameaça não é agir moralmente, mas isso é

outra discussão). Mas, principalmente, o problema

numa moral baseada em fé é que, ao tirar dos

humanos o julgamento final pelos próprios atos,

entrega esses julgamentos ultimamente ao nada, e daí

às fantasias de qualquer lunático.

Se deus não existe e assim mesmo se acredita nele,

tudo é permitido.

Sobre o autor da matéria

Fábio Marton é jornalista paulistano e autor de Ímpio – O Evangelho de um Ateu, em que descreve suas experiências como pastor infantil pentecostal e sua

desconversão na adolescência.

Page 11: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Fred Lins Junior

Revista Livre Pensamento – Número 1 10

Pedofilia e Crueldade Humana

Esse texto foi escrito por quem tem, no mínimo, a

grandeza de colocar-se à altura da nojeira e da

miserabilidade humana. Cuidado: esse conteúdo

poderá provocar-te estupefação, dispnéia, e até

náuseas. Se estás em busca de uma leitura afável e

morna, que te faça conciliar o sono depois da novela,

desista! Aqui não há vínculo com a troupe

arquiconhecida nem cumplicidade com os bandidos

da política, com os espertalhões pós-graduados e

muito menos com a elite esclerosada, essa quadrilha

que mantém o Brasil chafurdando num pântano

demagógico e ordinário, do querer mais sendo menos,

da desconfiança como premissa maior, da

incompetência em não saber organizar nem filas de

cinema, das aparências, da demência burocrática e da

corrupção generalizada.

A escravidão, o abuso sexual e o assassinato de

crianças sempre estiveram evidentes, e a história,

essa cloaca de mentiras construída sobre infâmias e

infanticídios, permanece falsa e petrificada no cérebro

da humanidade. E quem é brasileiro, apesar do

“revolucionário” Estatuto da Criança e do

Adolescente, apesar das Pastorais, das CPIs e dos

outros despistes, nem precisa ir tão longe para

inventar uma hermenêutica pedófila ou para ver o

mercado prostitutivo e criminoso de crianças.

Um padre queimava incenso às escondidas e prometia

o paraíso à pequena beata que retribuía-lhe com uma

felação. Um político proxeneta, nas barbas dos

Conselhos Tutelares e dos agentes da ordem, coopera

no tráfico humano de crianças. Um papa que, para

cobrir com panos quentes os escândalos do clero,

envia para a África Central uma legião irremediável de

padres pedófilos. E os bufões intelectuais e outros

pesquisadores da área, que vivem em função do

dinheiro e de suas ignóbeis tripas, controem hipóteses

e inventam nomes pomposos, a fim de justificar o

salário, intensificando o espetáculo de pendanteria e

ampliando a minha única certeza: como é cretina e

venal a espécie humana.

Os países submissos, corruptos e pobres da América

Latina - apesar das manadas perfumadas que vão se

comungar todas as manhãs e dos berros histéricos dos

evangélicos de todos os matizes, cacarejando e

implorando o dízimo - engendram verdadeiros

exércitos de crianças abusadas, mutiladas, enjeitadas,

desqualificadas, encarceradas, castradas, desamadas

Page 12: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Fred Lins Junior

Revista Livre Pensamento – Número 1 11

e imbecilizadas. Do Recife ao Chile, do Piauí à

Colômbia não falta sexo infantil para nenhum dos

rufiões e dos gigolôs dessa repúblicas. São Paulo,

Santa Cruz de la Sierra, Curitiba, Montevidéu,

Roraima, Porto Alegre, Assunción, Lima, DF etc., cada

uma dessa cidades têm seus puteiros infanto-juvenis

disfarçados, e quase sempre para satisfazer os

mesmos crápulas do poder e do vício. Sujeitos até

fora-de-suspeitas, mas que quase sempre foram

abusados em suas meninices e que agora, movidos

por um ressentimento inconsciente, precisam vingar-

se realizando suas taras sobre outras crianças. As

praias de Fortaleza exibem a mercadoria local em

abundância, e apesar da encenação das Ongs, das

Campanhas, do “Dia mundial contra o trabalho

infantil”, da “caça aos turistas sexuais”, da balela

demagógica das Altas comissões de Executivos e do

doutorismo, elas e eles estão todas as noites lá. Lá e

voando para as garras dos conhecidos e velhos

predadores, como se para eles, o abuso e a

prostituição fossem ritos de passagem obrigatórios.

Às margens do barrento Rio Amazonas, as pequenas

embarcações também transportam esses filhotes do

acaso, esses pequenos heróis para o grande bazar de

diversões noturnas das cidades e dos garimpos. Ali,

homens barrigudos, bandidos semibrochas, com seus

bigodes manchados pela nicotina, os esperam,

ansiosos para neles repetir a história de seus próprios

estupros... e depois, se for necessário, dar um sumiço

em seus corpos. Famílias urbanas de comerciantes,

industriais, políticos e profissionais liberais, costumam

“importar” crianças do meio rural precário, das tribos

em extinção e das fazendas, para transformá-las em

pequenas escravas de suas mansões. Outras vezes,

esses novos ricos, mascarados de altruístas, adotam

crianças para que seus “filhinhos” tenham com quem

se distrair e para que entre um Big Mac e um passeio

de lancha, possam iniciar-se sexualmente com elas. E

toda a quadrilha que comanda as leis no país sabe

disso. Mas como o suborno é irrefutável, como a

culpa nos psicóticos é menor e como as elites têm

bons advogados e pagam o dízimo em dia, fica tudo

por isso mesmo.

Irônica e paradoxalmente, o pequeno abusado,

intimidado pelo patético, confuso e complicado

mundo dos adultos, costuma sentir-se responsável e

culpado pelo abuso do qual foi objeto. O resultado

disso? Quase sempre uma histeria. Mas depende de

vários fatores. Em algumas crianças o malefício e o

trauma são ficar doentes por isso. Na grande maioria

os resultados dessa experiência só serão realmente

conhecidos bem mais tarde, na forma de fobias,

homofobias, impotência, autopedofilia, frigidez, ódio,

confusão entre prazer e culpa, euforia e depressão. O

abusador não sente apenas um tesão ambíguo pela

criança “desejada”, mas, principalmente, raiva e

desprezo por ela, o mesmo que sente por si mesmo.

No fundo no fundo, o pedófilo, movido por sua

angústia, age como se sentisse um desejo incontido

por si mesmo, uma necessidade de auto-enrabar-se,

um desejo que só pode ser rastreado através de um

Outro, de preferência, parecido... A homofobia têm

raízes em experiências precoces de abuso. Os crimes

frequentes contra homossexuais, gays e travestis,

etc, praticados com requintes de perversidade,

podem ter a conotação inconsciente de um acerto de

contas. É importante lembrar que no caso dos tão

comuns escândalos clericais com abuso de crianças,

além da pedofilia, há também um incesto simbólico,

já que o padre assume junto aos pequenos religiosos,

o papel de pai.

O mercado de crianças, o incesto, a pedofilia e a

prostituição infantil são apenas detalhes do desatino e

do infanticídio generalizado que sempre marcou a

história fisiológica e cretina do mundo. Na capital do

Brasil de 1726, as mães que não queriam ou que não

sabiam o que fazer com seus filhos, entre uma

mandinga e outra, os abandonavam à noite nas ruas

de Salvador, onde eram fatalmente devorados por

cães, porcos e outros animais famintos, ou deixavam-

nos na praia para que se afogassem durante a subida

da maré.

- Mas meu Deus, hoje as coisas não são mais tão

brutais assim!

Ouço os alienados e otimistas de plantão

resmungando.

Seguem equivocados, porque as coisas, queiram eles

ou não, continuam assim e até tão ou mais brutais

para as crianças. Além de tudo o que é

cotidianamente noticiado, os abusos, os sacrifícios e

os massacres continuam ocorrendo aos milhares e por

todos os lados. As guerras são um exemplo. Na

Colômbia, atualmente são mais de dez mil meninos

atuando no exército das FARC, das milícias urbanas e

nos grupos paramilitares. Quem é que não se lembra

das crianças ciganas que os nazis batiam contra as

Page 13: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Fred Lins Junior

Revista Livre Pensamento – Número 1 12

árvores e das crianças judias que eram eliminadas

com doses de luminal? E o infanticídio dos anos 80,

perpetrado pelas forças armadas de El Salvador,

assessoradas pelo exército norte americano? Nesse

minúsculo país, pouca gente sabe, foram degoladas,

fuziladas e raptadas milhares de crianças, filhos e

filhas dos rebeldes e guerrilheiros que o governo não

conseguia derrotar... E por fim, quem é que não vê

diariamente, os milhares de pequenos mendigos na

guerra dos semáforos nas ruas do Brasil? Já leste um

livro sério, digo sério, e não esses que estão nos

nefastos livreiros mercantilistas e ulcerados do Brasil?

Volto ao Antigo Testamento meio contra a vontade e

visivelmente enojado. Retorno a leitura dessa

brochura, não porque acredite no monte de idiotices

nelas contidas, mas por saber o quanto influenciou e

ainda influencia as leis e as crenças sociais da tropa. E

aqui é pertinente lembrar que em quase todo o Reino

Cristão, até a bem pouco tempo, a fase dos seis aos

dez anos de idade era considerada teologicamente

imunda. Leio as 56 páginas do Gênesis e chego a ficar

tonto com tanta cretinice, com tanta infantilização

dos adultos e com tanta violação de ética. Com o

Código Penal à mão fui lendo e listando os principais

“delitos” cometidos pelo Senhor Jeová, pelos Faraós e

pelos filhos de Adão e Eva. Vejam: falsidade

ideológica; exploração de mão de obra; estelionato;

proxenetismo; abuso de poder; bigamia; prevaricação;

corrupção; estupro; incesto; bastardismo; fraticídio;

latrocínio; tráfico de pessoas; onanismo; fornicação;

assassinato; expropriação de bens; vingança; soberba;

autoritarismo; uso de armas biológicas; infanticídio;

redução à condição análoga à de escravo, etc.

Seríamos mesmo descendentes dessa ralé? Ah, e eu

que entre uma mentira histórica e outra costumava

atribuir levianamente as nossas desgraças cotidianas

aos portugueses, aos espanhóis, italianos e outros

pseudocolonizadores, ao terminar essa releitura me

convenço de que toda a sociopatia atual vem de

longe, mas de muito mais longe e que a civilização só

começará a libertar-se verdadeiramente, depois que

vomitar até as entranhas, que defecar até as tripas e

fizer uma imensa fogueira com tudo o que é

teológico.

Cada dia se torna mais difícil traçar um meridiano

entre Pesquisador, o Doutor e o Estelionatário. E o

complô do silêncio impera tanto aí, entre esses

vermes, como lá entre os filósofos do abuso. Esses

oportunistas que, sob o pretexto de “discutir a

infância” estão “mamando” nas tetas de organismos

internacionais desde 1959, quando foi aprovada pela

ONU a Declaração de Direitos da Criança. O que, por

uma razão qualquer, caem fora, se aposentam,

morrem ou arranjam mamatas melhores, passam os

postos aos seus familiares, amantes, cupinchas ou

pertencentes ao mesmo gueto. Os vivaldinos

contemporâneos que na prática, além de uns rótulos

novos e da mistificação mútua, não produzem

absolutamente nada! Nada além de relatoriozinhos

inúteis e mentirosos. É por isso que esse texto não

deve ser lido nos púlpitos das igrejas, nem nos

auditórios das universidades, nas assembléias dos

partidos e nem nos escritórios da ONU. Esses

ambientes manipulados por uma pseudocasta

internacional esmagam e castram quase tudo o que

lhes cai nas mãos.

Da família para a igreja (batismo, crisma, primeira

comunhão, confissões semanais, colonização clerical,

etc); da igreja para a escola (obediência antes de tudo,

e se for pego tocando mais de uma punheta/dia, é

logo enviado para o pedagogo ou para o psicólogo);

da escola para uma universidade (barriga para dentro,

submissão, idealização e adestramento inútil) e da

universidade para uma empresa onde passará a

competir com os colegas e sonhar em ser o mais

aplicado dos funcionários. É o fim! Está construído o

cidadão completamente idiotizado. O tipo ideal para a

manada ruminante, aquele que é sádico com seus

subalternos e masoquista com seu superior... Nada

mais a declarar.

Fontes:

Ezio Flavio Bazzo, “A Lógica dos Devassos: No circo da

pedofilia e da crueldade...”, 2007, LGE Editora, 219 p.

Ezio Flavio Bazzo, “Manifesto Aberto à Estupidez

Humana”, 2007, LGE Editora, 144 p.

Emanuel Araújo, “O Teatro dos Vícios”, 2008, Jose

Olympio, 364 p.

Sobre o autor da matéria

Fred Lins Junior é alguém que luta por uma sociedade onde o trabalho alienado deve dar lugar a uma criatividade coletiva, regulada pelos desejos de cada

um, onde o direito de comunicação real pertence a todos.

Page 14: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo

Revista Livre Pensamento – Número 1 13

Aniversário de 1 ano do Livres Pensadores

Dia 30 de agosto nosso blog, o Livres Pensadores.org,

fará um ano. Então, que data melhor do que esta para

uma retrospectiva?

Há alguns anos (3 ou 4, acho eu), eu e minha prima,

Geamille Rissato, conversamos sobre a criação de um

blog. A ideia inicial era simplesmente escolher algum

assunto que ambos gostássemos, criar um blog e

monetizá-lo (através do Google AdSense, por

exemplo). Era realmente para "ganhar uns trocados".

Depois, nunca mais conversamos a respeito. Até ano

passado, quando ganhei dois ingressos para a Bienal

do Livro de São Paulo do Submarino, num concurso de

melhores frases no Facebook.

Sinceramente, sequer faço ideia de que frase foi, nem

sei como encontrar isto hoje no Facebook. Mas foi lá,

durante a Bienal do Livro de São Paulo, que voltamos

à ideia do site, mas já com algo bem mais

"estruturado".

Eu e a Geamille na Bienal do Livro de São Paulo, em 2010.

Neste período a ideia cresceu. Não seria mais um blog

para "ganhar uns trocados", como disse acima, mas

para realmente tentar fazer alguma diferença. Não

apenas através de textos em blogs, mas também com

a criação de uma organização – sonho este que

começa a virar realidade – para podermos tirar as

ações apenas do "virtual" e levá-las também para o

"real".

Além disto, o que mudou neste período "entre

conversas", basicamente, foi que fui apresentado ao

WordPress, graças ao meu amigo Devanil Junior, que

me chamou para participar do blog Astronomia Brasil,

criado por ele. Infelizmente o blog já não está mais no

ar, pois tinha um conteúdo ótimo. E não falo de meus

textos, mas principalmente pelos textos dele, do

André Haiske e da Hellen.

Page 15: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo

Revista Livre Pensamento – Número 1 14

O atual blog do Devanil é http://devanil.com/ –

acessem.

O que o WordPress nos deu foi a facilidade de criar o

blog em pouco tempo, bastando comprar um

domínio, contratar um serviço de hospedagem,

instalar o WordPress, escolher, personalizar e aplicar

o template e pronto: lá estava o blog, pronto para

receber conteúdo. E aí nasceu um novo problema:

que nome colocar no blog?

A ideia inicial foi "Conscientia" (consciência em latin),

pois o que queríamos com nossos textos era

realmente tentar conscientizar as pessoas – não

"convertê-las" ao ateísmo, convencê-las de que a

filosofia é importante, de que apenas na ciência

podemos ter respostas válidas, ou "forçar" que

aceitassem nossas ideias... Mas apenas colocar temas

importantes, com uma visão crítica da coisa, de forma

que todos pudessem não só entender, mas também

debater e, assim, fazer com que o conhecimento

chegasse ao maior número de pessoas o possível.

Cogitamos diversos outros nomes: "Guardiões da

Vela", "Paradoxo", "Biopoese", "Buraco Branco",

"Serapion" (templo ao deus Serápis, o qual foi

convertido em parte da Biblioteca de Alexandria, a

"biblioteca filha" e se tornou sua principal instalação),

"Neo Serapion" ("Novo" Serapion), "Iluminismo",

"Iluminador", "Iluminista", "Navalha de Occam",

"Ponto Crítico", "Trepanação" (uma operação antiga,

que literalmente "abria a cabeça") e assim por diante.

Diversas pessoas também auxiliaram neste processo:

Ligia Amorese, grande amiga; Francisco Quiumento

(Chicão), também grande amigo; João Augusto Mattar

Neto, meu professor de filosofia e também grande

amigo; minha mãe, a mãe dela (que sugeriu "obra do

capeta" – pois é, ela é evangélica), entre outros.

No fim, descobri o movimento Livre Pensamento (é,

não sou tão intelectual quanto possam imaginar, eu

não conhecia o nome). Achamos que se encaixava

perfeitamente, então resolvemos colocá-lo, mesmo

com os protestos daqueles que nos ajudaram a

escolher o nome (não lembro o que a Ligia disse, mas

o Chicão achou pretensioso demais, o professor João

Mattar insistia em algo relacionado ao iluminismo e a

mãe dela insistia em "obra do capeta").

Uma coincidência interessante sobre a escolha do

nome é que o símbolo deste movimento, do Livre

Pensamento, é a flor Amor Perfeito. E... Bem, quando

criança, uma vez minha mãe comprou sementes de

diversas flores. Plantou todas, com a exceção de uma

espécie, a qual havia me conquistado desde o início.

Qual? Exatamente o amor perfeito.

Sabíamos que, sozinhos, jamais conseguiríamos fazer

tal coisa, então já estava em nossos planos chamar

mais pessoas para ajudar na empreitada. Mas a ideia

era que apenas nós levássemos o blog por um bom

tempo, até que pudéssemos criar um bom "nome" e,

assim, as melhores mentes pudessem se interessar

em fazer parte dele. Bem... Isto aconteceu mais

rápido do que esperávamos. Aliás, tudo está

acontecendo mais rápido que esperávamos.

E hoje temos pessoas fantásticas envolvidas com o

blog, com a organização, com tudo enfim. Como o

Wagner Kirmse Caldas, Jeronimo Freitas, Fred Lins

Junior, Yuri Grecco ("Eu, Ateu"), Felipe C Novaes,

Gustavo Merlin, Marcos Rodrigues e tantos outros.

Enfim... É isto. E espero que a coisa continue

crescendo cada vez mais.

Sobre o autor da matéria

Mário César Mancinelli de Araújo é um apaixonado por ciências em geral, que adora pesquisar a ufologia (com uma visão científica/cética).

É formando em Ciência da Computação e pretende fazer mestrado em Inteligência Artificial. Pretende ainda se formar em astronomia ou astrobiologia. Blog: agloriousdawn.livrespensadores.org

Page 16: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autora: Ligia Amorese

Revista Livre Pensamento – Número 1 15

No buraco mais embaixo de tudo...

Interessante...

Cena um, tomo um, ação: Como um vento ruim

soprando as páginas do tempo, o termo "Darwinismo"

associado a massacres volta com força depois dos

atentados na Noruega em 22 de julho último, levados

adiante por Anders Behring Breivik. Cristãos,

arrogando-se o direito de contradizer Darwin em sua

teoria da Evolução, costumam associar as práticas

nazistas da segunda guerra com a teoria de Darwin,

desmerecendo-a, ao reduzi-la a um dos mais fortes

motivos para que o nazismo se empenhasse na

"purificação" da população mundial, eliminando os

"refugos" e desenvolvendo uma raça "superior". E

isso, como é de se esperar, cai feito uma bomba sobre

as mentalidades afeitas a colocarem a culpa pelo caos

social nas costas de quem "não tem Deus no coração"

e que "segue" a ciência. Darwinismo = ateísmo =>

coisa de quem não tem Deus no coração.

Tomo dois: Do outro lado, como um vendaval

deslocando o centro de massa do sistema para o

buraco mais embaixo, vejo uma motivação política

visando a manutenção da Europa para os europeus,

sendo tratada como mais um capítulo da série: "Amor

cristão mata". Sem escrúpulo algum, reduzindo a

intenção do sujeito à simples loucura de um pretenso

fundamentalismo cristão tocando as trombetas de

Jericó contra os infiéis, as motivações políticas

hegemônicas são lançadas a um último plano de

abordagem, visando fazer fulgurar a irracionalidade

inerente à fé religiosa como a causa principal do

massacre na Noruega (oi?).

Observação: Sim, sim, mais do mesmo. Ao invés de

procurar os motivos reais, ao invés de observar a tela

ao fundo, parte-se para as cores berrantes em

contraste. Polarização: De um lado, cristãos

apontando o dedão unhento para uma característica

de quem se atém à ciência para busca de respostas às

questões do mundo. Do outro, ateus buscando

respostas para os males do mundo na crença religiosa.

Enquanto isso, lá no buraco bem mais embaixo de

tudo, a razão, a motivação primeira, o que realmente

impulsiona a roda da fortuna (a câmera adentra um

fosso escuro, bem abaixo), dois olhos ambarinos

faiscantes rompem a escuridão: A natureza animal.

Incólume, intocável, à espreita, nossa natureza animal

dita nosso comportamento à revelia de nossas mais

sublimadas intenções. A sensação é de derrota. Mas

como, se somos humanos, seres pensantes, racionais,

como nós nos deixamos carregar por instintos?(aqui

eu vejo uma claquete fechando...)

Cena dois, um abre aspas gigante: O territorialismo, o

senso de proteção à família, ao clã/grupo social em

que estamos imersos, está entocado dentro de nosso

cérebro límbico, uma camada abaixo e mais intrínseca

de nossas mais elaboradas construções mentais,

visando deslocar o eixo do sistema acima das raízes da

árvore na qual ainda nos empoleiramos. Dessa

construção teratogênica forçada, deslocando-se a

copa para muito acima das raízes, o tronco exposto

torna-se fino, fraco, um fio suspenso entre as nuvens

no céu e o abismo. E é justamente nesse fio exposto,

dividido entre os que crêem em Deus e os que não

crêem, que desejam encontrar razões e

fundamentação para todas as atividades humanas

ilícitas. Fecha aspas (e claquete).

Cena três: Uma brisa revolve os finos cabelos loiros...

ah, o ar de superioridade em olhos cinza brilhantes e

frios como o fio de uma navalha. Anders Behring

Breivik, 32 anos, norueguês, resolve fazer parte de um

plano de erradicação dos islâmicos na Noruega. O

plano exige a elaboração durante 18 meses. Um ano e

meio de esforços concentrados. Nesse ínterim, um

manifesto é escrito explicando as razões, os motivos,

as metas, tudo compartimentalizado e, à primeira

vista, não dizendo coisa com coisa. Sim, é mais fácil

dizer que ele é só mais um louco. Afinal, quem

perderia seu tempo elaborando um plano macabro

com requintes de racionalidade?

Page 17: Revista Livre Pensamento – Número 1

Matérias – Autora: Ligia Amorese

Revista Livre Pensamento – Número 1 16

Li gente chamando-o de psicopata. Outros alegam que

ele é paranóico, narcisista. Um cristão

fundamentalista de extrema direita. Um ateu

"darwinista" sem deus no coração. E até agora,

nenhuma menção a um ser humano exercendo sua

intenção de defender seu grupo da invasão de outro

grupo. Mas o caso é que grupos defensores da

hegemonia de um grupo são pura e simplesmente

animais em luta pela defesa de território e do grupo.

Quando o que nos torna humanos é sobrepujado por

nossos instintos mais básicos, nós matamos,

usurpamos, destruímos, tentamos eliminar a ameaça,

sem remorsos pelo que possa advir de nossas ações.

Cena quatro: Como Moisés na bíblia levantando o

cajado contra o Mar Vermelho, dividindo o senso

comum, pessoas na busca por explicações visando

emporcalhar o que for mais importante ser

emporcalhado no momento, puxando a sardinha pra

brasa do próprio fogareiro, ou atendo-se à pretensa

loucura de Anders, deixam passar o mais importante

nessa e em outras muitas questões humanas com que

nos deparamos a cada folheada de jornal, a cada

acesso a site de notícias. O que nos torna humanos,

essencialmente humanos, é também o que nos afasta

de nosso ideal de viver em harmonia com o Cosmos,

na base de alcançarmos as nuvens subindo pelo fio

fraquinho suspenso acima do abismo naquela

construção teratogênica de nossas elaborações

mentais, visando afastar-nos de nossa natureza

animal. E sim... ela, a nossa natureza animal, ainda

nos surpreende. Nós a negamos. Mas ela está lá e faz

parte de nós.

A diferença entre religiosos que seguem seus deuses e

ateus que os eliminaram é talvez o uso de hipocrisia

para funções diferentes. Enquanto religiosos tentam

manter a fachada de tementes a Deus e, portanto,

"bons cidadãos", contando para isso com a hipocrisia

da bondade de fachada, ateus contam com a

hipocrisia de não estarem fazendo o mesmo que

religiosos. E todos, sem discriminação, dançam

conforme aquele ser de olhos ambarinos, à espreita

no buraco mais embaixo de tudo, dita. Eu, atéia,

também danço (derbaques em fúria, por favor...).

Cena final: Na dança do ventre, o som dos derbaques

marca a dança mais primitiva, ligada ao sexo

feminino, apenas ritmo, sem outros instrumentos. Ela

massageia e revigora o ventre de forma a dar melhor

sustentação aos músculos pélvicos, além de fazer a

dançarina gastar energia e irradiar vigor físico. Um

frenesi. Enquanto isso, mulheres cobrem-se com véus,

são obrigadas a isso por causa de sua religião. Homens

que professam a mesma fé que as mulheres envoltas

em véus, matam e castigam as mulheres que não se

submetem. E essa gente que mascara a sexualidade

sob mantos escuros e sombrios como o kajal

adornando os olhos, não é bem vinda por pessoas

como Anders em sua terra natal, lutando pela

manutenção de costumes essencialmente europeus,

há pelo menos 2000 anos. A igreja católica tem perto

dessa idade na Europa.

Aí, vem gente e coloca representantes da religião

católica de extrema direita como os mandatários de

assassinatos dos de extrema esquerda na Noruega,

visando erradicação de islâmicos na Europa. Minorias

prejudicadas por representantes da ICAR em sua

aceitação na sociedade, homossexuais, ateus,

alimentam essa associação. Enquanto isso, lá

embaixo, no fundo profundo de tudo, olhos

ambarinos faíscam, à espreita...

Assinalando: Trajetória parabólica da defecação em

direção à ventilação. (claquete fechando com

estrondo...).

Sobre a autora da matéria

Ligia Amorese é uma pessoa muito curiosa, sempre em busca de respostas. O que eu sou, não sei dizer. Talvez um agregado de células em sistemas

complexos o suficiente para que eu seja considerada humana, já que há muitos outros como eu. Ou, uma mente inquieta que se maravilha vendo o céu estrelado, teias de aranha com orvalho, nuvens de tempestade aproximando-se. A propósito, a mente habita o agregado... Nasci assim. Formada em física. Artista por opção.

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Colunas – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo

Revista Livre Pensamento – Número 1

18

CETICISMO

A importância do Ceticismo

Muitas pessoas criticam aqueles que se dizem céticos,

afirmando que elas apenas "negam tudo". Contudo,

isto está longe de ser a verdade. O que céticos fazem

é duvidar, ou, em outras palavras, ter dúvidas a

respeito do que se alega.

"Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem

muito mais crentes do que pensadores."

— Bruce Calvert

Existem duas principais correntes no ceticismo: a

filosófica e a científica:

A corrente filosófica procura examinar de

forma crítica todo o conhecimento, de modo

a verificar se são realmente verdadeiros, e se

opõe à ideia de que alguém possa possuir um

conhecimento absolutamente verdadeiro.

Por outro lado, a corrente científica é

simplesmente uma postura prática, a qual

questiona a veracidade de alegações,

procurando prová-las ou refutá-la, utilizando-

se do método científico.

Dentro do ceticismo

filosófico há diversas

correntes, como o

Pirronismo, Empirismo, etc.

O texto ficaria

extremamente longo se eu

fosse dissertar a respeito

de cada uma delas. Além

disto, o foco deste texto é o

ceticismo científico, pois é

aquele que, apesar de não

percebemos, utilizamos em

nosso dia a dia.

O ceticismo científico, como seu próprio nome diz, é

baseado na ciência. Ele tem sim suas raízes no

ceticismo filosófico, da mesma forma que a ciência

tem suas raízes na filosofia. Contudo, entre ciência e

filosofia há uma diferença: apesar de ambas serem

baseadas em argumentação, existe algo na ciência

para desempatar argumentos. O nome disto é

evidência.

Evidências científicas são o resultado de pesquisas

realizadas dentro dos preceitos científicos (que

incluem falseabilidade – exigência de que haja uma

forma de refutar a teoria ou hipótese – , repetição –

exigência de que um experimento possa ser repetido

por outros cientistas – , etc). Elas são usadas para dar

suporte a argumentos, apontando se são verdadeiros

ou falsos, assim como para suportar ou refutar teorias

e hipóteses.

Assim, um cético científico pode se dar por

convencido de que algo é verdadeiro ou falso: para

isto basta que lhe sejam apresentadas evidências

suficientes. Contudo, por saber que jamais

conheceremos a "verdade absoluta", ele passará a

encarar isto apenas como uma "verdade temporária",

a qual pode sempre voltar a ser analisada quando

novas evidências surgirem.

"O maior pecado contra a mente humana é acreditar

em coisas sem evidências. A ciência é somente o

suprassumo do bom-senso — isto é, rigidamente

precisa em sua observação e inimiga da lógica

falaciosa."

— Thomas H. Huxley

Mas, afinal, qual seria a importância do ceticismo?

(Lembrando que, de agora em diante, referir-me-ei

apenas ao ceticismo científico.) Em que o utilizamos

em nosso dia a dia? Bem, para explicar isto, vejamos

alguns cenários:

A compra de um carro usado: digamos que eu esteja

vendendo um carro usado e que você esteja

procurando um para comprar. Então eu lhe digo que o

carro está em perfeito estado de conservação,

realmente parecendo novo, apesar de já ter, digamos,

10 anos de uso. Você, por óbvio, iria querer ver o

carro. O problema é que há algum segredo em torno

dele: não posso mostrá-lo para você, não importando

aqui a razão. Ainda assim você fecharia a compra

"O Pensador", de Auguste

Rodin, localizado no Palácio

da Legião de Honra em São

Francisco, Califórnia.

Page 20: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo

Revista Livre Pensamento – Número 1

19

comigo? Ou esperaria para poder vê-lo primeiro, ou,

quem sabe, até desistisse e passaria a procurar por

outro?

Compra de produtos pela internet: digamos que você

esteja procurando um produto bastante específico

para comprar. Digamos ainda que você tenha o

procurado em lojas físicas sem sucesso e esteja

procurando já há um bom tempo, também sem

sucesso, em lojas virtuais. Então, de repente, você

encontra um site que tenha o produto. O problema

aqui é que você não conhece o site, nem conhece

ninguém que já tenha comprado nele. Ou seja: você

não sabe se é algo confiável, ou se é armadilha para

terem acesso ao número de seu cartão de crédito. O

que você faz? Compra assim mesmo, ou tenta buscar

mais informações antes?

Alguém para cuidar de seus filhos: digamos que você

tenha filhos pequenos, tenha acabado a sua licença

maternidade (ou de sua esposa, não sei) e, portanto,

precise contratar alguém para cuidar de seus filhos.

Uma babá. Você começa a procurar e, de repente,

alguém aparece em sua porta se oferecendo para o

serviço. Os problemas aqui são que você não conhece

a pessoa, ninguém de seus vizinhos e amigos a

conhecem, ela mora bastante longe, não tem

referência alguma, nem ela te dá alguma. O que você

faz? Contrata esta pessoa? Busca mais informações?

Procura outra pessoa?

Pois é. O ceticismo é extremamente necessário, até

mesmo ao comprar frutas, afinal você provavelmente

irá querer examiná-las antes de pagar por elas; um

jornalista também vai querer checar as informações

que chegam a ele antes de publicar algo; juiz algum

vai condenar quem quer que seja apenas devido à

aparência do réu, ou devido à opinião pública e assim

por diante.

“Apenas pense sobre a tragédia de ensinar as crianças

a não duvidar!”

— Clarence Darrow

Mais do que isto, o ceticismo é parte fundamental da

ciência. É exatamente por isto que coisas como a

falseabilidade e a repetição são exigidas. Mas isto

chega a ser evidente, quando você pensa sobre.

Por exemplo, imaginem este cenário: um cientista

afirma ter encontrado um remédio para a AIDS, mas

não disponibiliza evidência alguma disto. O que pode

acontecer quando as pessoas tomarem este

medicamento é que, muito provavelmente, nenhuma

fique curada e algumas até morram.

Mesmo ignorando a área da saúde, que realmente é

mais crítica, a coisa não muda muito. Imagine se

alguém alegasse ter criado uma "peça revolucionaria",

não importa qual, de aviões e esta fosse usada sem

ser testada antes. Teria o potencial de causar muitas

mortes. Ainda que fosse uma peça para a sua TV...

Você não ficaria contente se ela fosse destruída

devido a tal peça, não é mesmo?

Mas a ciência não é infalível. Isto chega a ser óbvio,

afinal ela é feita por pessoas. Contudo, devido à sua

estrutura, que foi criada principalmente devido ao

ceticismo, ela é capaz de se auto corrigir. Isto é,

mesmo que eu publique um artigo errando na

conclusão, este estudo será repetido por várias outras

pessoas e a probabilidade de que uma delas perceba

o erro é grande.

Page 21: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Mário César Mancinelli de Araújo

Revista Livre Pensamento – Número 1

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Pode parecer uma péssima forma de fazer as coisas,

talvez até uma forma antiprodutiva. Ainda assim,

fizemos maravilhas com ela. Mesmo com toda esta

visão metódica, exigente, "pessimista", alguns diriam.

Da esquerda para a direita: Astronauta Buzz Aldrin na Lua, durante a missão Apollo 11; Ônibus Espacial Atlantis decolando durante a missão STS-27,

em 2 de dezembro de 1988; e Estação Espacial Internacional e Ônibus Espacial Endeavour durante sua missão STS-134, fotografados da Soyuz TMA-20

durante sua partida da Estação Espacial Internacional.

Um detalhe importante: pode-se ser cético até

mesmo a respeito de tais conquistas. Contudo, este

"estado de dúvida" deve desfazer-se ao analisar as

evidências (que são muitas) de tais feitos. Quem

continua insistindo na dúvida mesmo após esta

análise, não estará sendo cético científico: estará

sendo cético filosófico ou, conforme o caso, até

mesmo um pseudocético (falso cético).

Ainda assim, as pessoas costumam resistir muito ao

ceticismo, como se o ato de questionar fosse errado.

Mais que isto, este ato é condenado como pecado por

dogmas religiosos. Infelizmente existem até mesmo

pessoas que se declaram céticos, mas que não

aplicam o ceticismo a seus conceitos dogmáticos.

“Se você acha que sua crença é baseada na razão,

você a defenderá com argumentos e não pela força, e

renunciará a ela se seus argumentos se mostrarem

inválidos. Mas se sua crença se baseia na fé, você

perceberá que a discussão é inútil e, portanto,

recorrerá à força, ou na forma de perseguição ou

anestesiando e distorcendo as mentes das crianças no

que é chamado ‘educação’.”

— Bertrand Russell

Além de dogmas, outras coisas que impedem o total

livre pensar, isto é, a aplicação do ceticismo a todas as

áreas da vida humana são a tradição e a autoridade

(normalmente religiosa).

A tradição é muito boa para transmitir coisas como a

linguagem. Mas, quando associada a dogmas, impede

que mudanças sejam realizadas, mesmo que

mudanças de raciocínio. Já a autoridade, como o

próprio nome sugere, é tida como "inquestionável" e

é justamente ela que decide quais tradições devem ou

não ser perpetuadas, assim como quais são os

dogmas que devem ser impostos.

E é justamente para enfrentar estas três coisas

(tradição, dogmas e autoridade) que o ceticismo

existe. Para evitar seus efeitos maléficos, seja na

ciência, seja na sociedade como um todo.

“Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa

estúpida, essa coisa continua sendo estúpida.”

— Anatole France

Sobre o autor da coluna

Mário César Mancinelli de Araújo é um apaixonado por ciências em geral, que adora pesquisar a ufologia (com uma visão científica/cética).

É formando em Ciência da Computação e pretende fazer mestrado em Inteligência Artificial. Pretende ainda se formar em astronomia ou astrobiologia. Blog: agloriousdawn.livrespensadores.org

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Colunas – Autora: Ligia Amorese

Revista Livre Pensamento – Número 1 21

CIÊNCIAS

Falar sobre ciência é como um oásis no meio de

um deserto...

ainda mais atualmente no meio dessa confusão

política, social e econômica assolando a humanidade.

Tempos de crise, longe de serem resolvidos, vivemos

um período que será lembrado no futuro como a

dissolução dos valores vigentes para a criação de uma

nova ordem, onde há a quebra de tudo que tomamos

por certo e viável.

No entanto, mesmo em meio a essa crise de

proporções mundiais, ainda existe lugar para a busca

por respostas em meio a um universo de dúvidas. A

ciência vem consolidando suas teorias, encontrando

meios de confirmá-las através de aplicação de seus

conceitos no dia a dia. Convivemos com postulados

de mecânica quântica em dispositivos de

comunicação. Tão longe de ser compreendida e

assimilada, ainda assim, ao ser colocada em prática,

vem permitindo a aproximação de pessoas no mundo

inteiro, integrando ao invés de simplesmente derivar.

Nunca estivemos em contato tão direto com a ciência

através do emprego da tecnologia desenvolvida a

partir dela. Mesmo nos lares mais simples, TVs de

LCD, ou de LED, recebem sinal digital. A música que

ouvimos é produzida em altíssima fidelidade... Nossos

carros têm computadores acoplados.

Ainda assim, em meio a essa imersão literal no mundo

tecnológico, filho direto do avanço científico, ainda há

segmentos da sociedade questionando-se quanto à

validade da busca por respostas, aquelas mesmas que

nos assombram desde que começamos a perguntar

para nós mesmos qual o porquê de sermos algo ao

invés de nada e, com isso,estarmos aqui. Há os que

acomodam-se na zona de conforto da fé, da crença de

que somos parte de uma criação levada a cabo por

um deus, base de toda existência. No entanto esses,

embora maioria esmagadora, aos poucos têm-se

convencido de que não basta apenas crer. E ainda

que cometam o erro crasso de buscar validação da fé

em conhecimentos científicos, já que fé pura e

simples não carece de validação, é assim que o

conhecimento científico vem sendo muito lentamente

introduzido à grande parcela da população ainda

devota de algum tipo de divindade. Embora de forma

errada, distorcendo conceitos, a ciência, antes restrita

a uns poucos grupos humanos, hoje faz parte do

Page 23: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autora: Ligia Amorese

Revista Livre Pensamento – Número 1 22

cardápio... e até para falar em espíritos recorre-se a

ela.

No primeiro dia de agosto último, vi uma notícia

muito interessante. Através de um observatório de

infravermelho chamado Herschel (infravermelho

aquela parte do espectro de luz que se encontra além

do vermelho e que permite medir variações de

temperatura, já que o calor também emite radiação

nesse comprimento de onda), cientistas conseguiram

identificar moléculas de oxigênio em outra parte do

universo além da Terra. Sim, existe oxigênio disperso

no universo, junto com outros elementos químicos

como hidrogênio, hélio, carbono. Mas o oxigênio

molecular, esse mesmo que nós respiramos, ainda

não havia sido identificado. Sim, mas o que isso tem a

ver? Assim como aparentemente nem as buscas pelo

entendimento do que foi o Big Bang têm algo a nos

oferecer além de mais dúvidas, encontrar tijolos

dispersos no universo daquilo que permite existir a

vida que conhecemos, pode nos ajudar a entender,

finalmente, que não somos tão especiais assim... Nem

que a Terra é um local abençoado, nem que o

universo inteiro foi criado apenas para comportar

nossa existência... Apesar disto soar patético, muita

gente ainda acredita convictamente nesse disparate.

Um exemplo? Dia 28 de maio último foi um dia tenso

para uma parcela da população que acredita em

intervenções divinas diretas. Nessa data, era

esperado que Deus arrebatasse os escolhidos para

não perecerem junto aos infiéis, àqueles que

"merecem" sofrer as dores do fim do mundo que,

segundo eles, está próximo. Sim, isso soa engraçado.

Mas imagino o sofrimento real de alguém que chega à

triste conclusão de que não faz parte dos escolhidos,

depois de uma vida de privações, penitência, devoção

Page 24: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autora: Ligia Amorese

Revista Livre Pensamento – Número 1 23

e cumprimento das regras e normas de sua religião. E

é esse mesmo tipo de mentalidade que acredita

firmemente que é o ápice da criação divina, que

herdará a Terra, que Deus tem um plano para a vida.

E, lógico, que o mundo foi criado para comportar

seres humanos, imagem e semelhança de Deus.

E é com pessoas assim, comuns, condicionadas à

crença, que temos que conviver... Basta ver que fora

de um meio cético ateísta, quando pessoas vão

desejar melhoras a um doente, ou incitar esperança,

sempre recorrem à vontade divina, mandam votos de

melhora em nome de Deus e se alguém falar nos

recursos médicos de que dispomos graças ao trabalho

e esforço de seres humanos, logo vem quem discorde

e atribua tudo a Deus... Posição cômoda essa. Se

tudo vai bem e deu certo, foi graças a Deus, se não

deu certo, a culpa é a falta de fé. Como então falar

em acaso como resposta à nossa existência? Como

explicar que o universo é indiferente ao fato de

existirmos e que uma espécie dotada de razão, como

a nossa, poderia jamais existir caso uma sequência

interminável de eventos cataclísmicos não tivessem

resultado nas condições ideais para que

desenvolvêssemos nossa inteligência?

Talvez porque pessoas que ainda crêem numa causa

primeira, que ainda crêem em propósitos para a

própria existência, ainda não tenham se deparado

com a grandiosidade, com a maravilha de existirmos

aqui, num planeta ínfimo ao redor de uma estrela na

periferia de uma galáxia em meio a bilhões de outras

galáxias... Tudo isso, surgido a partir de uma origem

comum. Não somos apenas fruto de acaso, mas parte

de sequências de acasos que, sem intenção, apenas

adaptando-se ao meio e às circunstâncias, vêm

permitindo que a vida e o próprio universo perpetue-

se no tempo. E assim, depois de 13,7 bilhões de anos,

numa linha do tempo que me une ao momento inicial

deste universo, que pode ser apenas um em meio a

bilhões de outros universos, eu escrevo estas linhas

destinadas a quem tiver paciência e disposição de lê-

las, utilizando-me para isso, de um dispositivo que, de

tão banal atualmente, já não se imagina a vida sem

ele. Fruto direto de nossos esforços em

aprimorarmos nossa capacidade inata de

comunicarmos uns aos outros, aquilo que pensamos,

sentimos, queremos. É assim então que,

humildemente, a partir de meu cérebro, fruto de

milhões de anos de evolução das espécies vivas aqui

deste planeta, eu contemplo meu texto destinado a

vocês. Vocês que se utilizam de uma capacidade

magnífica de transformar símbolos em linguagem e

linguagem em símbolos. Vocês, cuja capacidade

cognitiva permite perceber o início, o meio e o fim de

algo, permite reconhecer aqui, deste outro lado,

outro ser humano. Que acaba de estabelecer contato.

Olá, meu nome é Lígia. Estou aqui com vocês. E isso

foi uma introdução.

Sobre a autora da coluna

Ligia Amorese é uma pessoa muito curiosa, sempre em busca de respostas. O que eu sou, não sei dizer. Talvez um agregado de células em sistemas

complexos o suficiente para que eu seja considerada humana, já que há muitos outros como eu. Ou, uma mente inquieta que se maravilha vendo o céu estrelado, teias de aranha com orvalho, nuvens de tempestade aproximando-se. A propósito, a mente habita o agregado... Nasci assim. Formada em física. Artista por opção.

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Colunas – Autor: Wagner Kirmse Caldas

Revista Livre Pensamento – Número 1 24

EDUCAÇÃO

Tecnologia Assistiva

Tecnologia Assistiva: Os Novos Possíveis da Educação

As Tecnologias Assistivas podem ser consideradas

como tudo aquilo que promove melhor qualidade de

vida para pessoas que tem alguma necessidade

especial. Ela não é, necessariamente, ferramenta para

a deficiência. Elas podem estar ligadas à alguns

fatores de diminuição de mobilidade e outros

aspectos, bem como podem ser utilizadas para

facilitar a acessibilidade de pessoas com deficiências.

Como nos diz Manzini (2005, p.82):

Os recursos de tecnologia assistiva estão muito

próximos do nosso dia-a-dia. Ora eles nos causam

impacto devido à tecnologia que apresentam, ora

passam quase despercebidos. Para exemplificar,

podemos chamar de tecnologia assistiva uma

bengala, utilizada por nossos avós para proporcionar

conforto e segurança no momento de caminhar, bem

como um aparelho de amplificação utilizado por uma

pessoa com surdez moderada ou mesmo veículo

adaptado para uma pessoa com deficiência.

E, segundo Bersch (2009):

Tecnologia Assistiva – TA é um termo ainda novo,

utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e

serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar

habilidades funcionais de pessoas com deficiência e

conseqüentemente promover vida independente e

inclusão.

Vivemos um mundo onde somos surpreendidos dia-a-

dia pelas novas tecnologias, pelas novas possibilidades

que se apresentam, a cada momento desenvolvemos

mais possibilidades a partir de nossa capacidade

técnica, como nos diz Morin (2005, p. 41):

Há no humano (este termo, lembro, diz respeito, ao

ser ao mesmo tempo individual, social e biológico) um

formidável potencial de racionalidade e um formidável

potencial de desenvolvimento técnico, que se

atualizarão ao longo da história, tendo se acelerado e

amplificado nestes últimos séculos.

Tratando-se de inovações, vivemos um período fértil,

onde o avanço das ciências tecnológicas e as

possibilidades da computação de ponta nos colocam

próximos ao nível dos filmes de ficção científica das

décadas de 80 e 90. Ainda não estamos atravessando

os céus com naves espaciais, porém, já encontramos

carros que estacionam sozinhos, linhas de montagem

automatizadas, caixas eletrônicos que substituem

seres humanos, supermercados que dispensam

carrinho de compras, sistemas de segurança baseados

em biometria, vídeo games sem controle remoto e

outros que simulam a realidade aumentada, cinema

3D, celulares que funcionam como computadores de

mão, casas e prédios inteligentes, entre tantos outros

avanços que hoje fazem parte do olhar de

normalidade de muitas pessoas.

Pensando nesses avanços, Freire (1995, p. 98), já dizia:

Acho que o uso de computadores no processo de

ensino aprendizagem, em lugar de reduzir, pode

expandir a capacidade crítica e criativa [...] Depende

de quem usa a favor de quê e de quem e para quê.

Complementando esse dizer, Lévy (1999) nos aponta

que

As tecnologias intelectuais suportadas pelo

ciberespaço (TICs) ampliam, exteriorizam e alteram

muitas funções cognitivas humanas, como memória

(bancos de dados e hipertextos), imaginação

(simulações), percepção (ambientes interativos e

imersivos) e raciocínio (inteligência artificial), além de

favorecer novas formas de acesso à informação.

Page 26: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Wagner Kirmse Caldas

Revista Livre Pensamento – Número 1 25

Partindo dessas afirmações, podemos imaginar que há

um universo de possibilidades para as Tecnologias de

Informação e Comunicação, enquanto Tecnologias

Assistivas. Sobre a forma como elas podem ser

utilizadas, trazemos a classificação apresentada por

Santarosa (1997):

a) As TIC como sistemas auxiliares ou prótese para a

comunicação.

b) As TIC utilizadas para controle do ambiente.

c) As TIC como ferramentas ou ambientes de

aprendizagem.

d) As TIC como meio de inserção no mundo do

trabalho profissional.

A classificação tratada nesse artigo é a que apresenta

as TICs como ferramentas ou ambientes de

aprendizagem, pois, como nos diz Radabaugh (1993):

"Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia

torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com

deficiência, a tecnologia torna as coisas

possíveis".

Assim, devemos pensar quais são os caminhos

possíveis nessa direção. Que tipos de produção

acadêmica podem contribuir para a ampliação dessa

perspectiva e a efetivação de significações para a

utilização da tecnologia em prol das pessoas com

deficiência.

Segundo o CENSO de 2000, 24,5 milhões de pessoas

declararam-se com algum tipo de deficiência,

representando 14,5% da população brasileira. Deste

total, 48,1% se declararam com deficiência visual;

22,9% com deficiência motora; 16,7% com deficiência

auditiva; 8,3% de deficiência mental e; 4,1% de

deficiência física. Ou seja, temos um grande

contingente de indivíduos que são potenciais

utilizadores de tecnologias assistivas. E, conforme nos

diz Sousa Santos (2003, p. 458), “Temos o direito a ser

iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o

direito a ser diferentes quando a igualdade nos

descaracteriza”.

Partindo do olhar sobre a utilização de Tecnologias

Assistivas na educação, podemos inferir que o uso das

mesmas pelas pessoas com deficiência pode ser um

“facilitador” em seu percurso de escolarização,

possibilitando que mais pessoas possam ultrapassar o

ensino médio, chegando aos cursos técnicos

profissionalizantes ou aos cursos superiores, para,

então, integrar o mercado de trabalho, ao invés de

diminuí-los à impossibilidades, pois, “a compreensão

complexa do ser humano não aceita reduzir o outro a

um único aspecto e o considera na sua

multidimensaionalidade” (MORIN, 2005, p.112).

Porém, na contramão das possibilidades, verifica-se

que estudos e pesquisas na área de Tecnologias

Assistivas, que visem à facilitação da inclusão dos

alunos na educação, mostram-se ainda insipientes.

Um dos aspectos que podemos evidenciar se refere

ao histórico de exclusão desses alunos em seu

percurso de escolarização na educação básica e,

consequentemente, na educação profissional.

Incentivar a pesquisa em Tecnologia Assistiva é uma

forma de buscar alternativas que se adequem às

possibilidades em educação, dado que segundo o

disposto na Resolução CNE, Nº 2/01, em seu Art. 17:

Em consonância com os princípios da educação

inclusiva, as escolas das redes regulares de educação

profissional, públicas e privadas, devem atender

alunos que apresentem necessidades educacionais

especiais, mediante a promoção das condições de

acessibilidade, a capacitação de recursos humanos, a

flexibilização e adaptação do currículo e o

encaminhamento para o trabalho, contando, para tal,

com a colaboração do setor responsável pela

educação especial do respectivo sistema de ensino.

É possível que “a promoção das condições de

acessibilidade” possam ser oriundas de produções de

Tecnologias Assistivas, as quais, para além de

promover a qualidade de vida do indivíduo em seu

cotidiano, podem contribuir para o processo de

ensino/aprendizagem desse sujeito.

A política de inclusão dos alunos com deficiência na

rede de ensino não consiste somente na permanência

física desses alunos, mas o propósito de rever

concepções e paradigmas, respeitando e valorizando

suas diferenças, exigindo assim que a instituição

assuma sua responsabilidade criando espaços

inclusivos e utilizando os recursos tecnológicos como

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Colunas – Autor: Wagner Kirmse Caldas

Revista Livre Pensamento – Número 1 26

aliados nesse sentido, como nos diz Oliveira (2007, p.

127):

Compreender a educação como um direito social, nos

remete a considerar a necessidade de se conceber a

escola como uma instancia que abarque em sua

missão educativa, a diferença e a diversidade inerente

à condição humana.

As instituições, que pretendem ser inclusivas, devem

reconhecer e responder às diversas dificuldades de

seus alunos, acomodando os diferentes estilos e

ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação

de qualidade para todos mediante currículos

apropriados, modificações organizacionais, estratégias

de ensino, recursos e parcerias com suas

comunidades (Salamanca, 1994).

Na busca de um ensino de qualidade - para todos - a

inclusão demanda da instituição educacional um

esforço de atualização e reestruturação das condições

atuais, para que haja modernização na forma de

ensinar.

Não é o aluno que deve se adequar à escola, mas, sim

a escola, cumprindo seu papel na construção de uma

sociedade igualitária, que se dispõe a se adaptar ao

aluno com deficiência, seja a partir da adequação de

seu espaço físico, seja no incentivo à utilização de

tecnologias assistivas que facilitem o acesso ao

conhecimento à esses cidadãos.

Referências Bibliográficas

BERSCH, R.; J. C. Tonolli. Tecnologia Assistiva.

Disponível em: http://www.assistiva.com.br.

Acessado em 27 de junho de 2009.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de

Educação Básica. Resolução CNE/CEB n. 2, de 11 de

setembro de 2001. Brasília: CNE/CEB, 2001c.

Declaração de Salamanca. Princípios, Políticas e

Prática em Educação Especial. Espanha, 1994.

FREIRE, Paulo. Educação na Cidade. São Paulo: Editora

Vozes, 1995.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo, Editora 34,

1999.

MANZINI, E. J. Tecnologia assistiva para educação:

recursos pedagógicos adaptados. In: Ensaios

pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília:

SEESP/MEC, p. 82- 86, 2005.

MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da

humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2005.

OLIVEIRA, Renata Imaculada de. Inclusão na educação

infantil: infância, formação de professores e

mediação pedagógica na brincadeira da criança.

Vitória: UFES, 2007.

RADABAUGH, Mary Pat. Study on the Financing of

Assistive Technology Devices of Services for

Individuals with Disabilities - A report to the

president and the congress of the United State,

National Council on Disability, Março 1993. Disponível

em Acesso em 04 dez. 2007.

SANTAROSA, Lucila M.C. "Escola Virtual" para a

Educação Especial: ambientes de aprendizagem

telemáticos cooperativos como alternativa de

desenvolvimento.

Revista de Informática Educativa, Bogotá/Colombia,

UNIANDES, 10(1): 115-138, 1997.

SOUSA SANTOS, Boaventura de. Por uma concepção

multicultural de direitos humanos. In: SOUSA SANTOS,

Boaventura de (Org). Reconhecer para libertar: os

caminhos do cosmopolitismo cultural. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2003, p. 429-461.

Sobre o autor da coluna

Wagner Kirmse Caldas é Professor Federal de Ensino Superior (Informática e Educação Inclusiva), Bacharel em Sistemas de Informações, Mestre e Doutorando em Educação na área de Práticas Educacionais Inclusivas.

Blog: bardoateu.blogspot.com

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Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes

Revista Livre Pensamento – Número 1

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EVOLUÇÃO

Evolução sem Complicação

Rapaz... eu como colunista, tenho que contar pra

mamãe!

Para começar minha participação nessa revista, quero

pedir desculpas se o leitor não é navegante de

primeira viagem no assunto, mas vou tentar escrever

da forma mais simples, clara e sucinta possível

especificamente para o público leigo.

Não vou me ater ao conceito evolutivo em si uma vez

que todos, mesmo que de forma errônea, fazem

alguma ideia do que o mesmo signifique, mesmo que

seja apenas a evolução do seu time no Brasileirão –

que nem sempre é como desejamos. Aliás, este pode

ser um ótimo exemplo: seu time no campeonato

enfrenta desafios assim como os seres vivos na vida

real. Ele nem sempre os vence mas – teoricamente –

aprende com seus erros para tentar melhorar na

rodada seguinte. Pode evoluir de fato e atingir um

novo patamar (conquistar o título ou uma vaga

importante), manter-se vivo (ficar no meio da tabela)

ou “ser extinto” (cair para a divisão inferior). A

escalação é formada pelos jogadores, assim como o

código genético é formado pelos genes: se o time

vence, o código é mantido; caso contrário, será

necessário modificá-lo (causar-lhe uma mutação) que

pode ou não vir a dar certo.

A molécula do DNA. Tudo que você é ou deixa de ser, tem ou deixa de

ter, já estava escrito aqui muito antes de você nascer.

Quer outro exemplo? Suas notas no antigo boletim

escolar demonstravam sua evolução no decorrer do

ano letivo, mesmo que não fossem tão satisfatórias

como se gostaria. E que também podiam fazê-lo

evoluir ou cair – aqui não tinha meio termo, era um

sufoco só! Tal como nesses dois exemplos, evolução

não significa necessariamente melhoria, mas sim

progressão – que às vezes pode até significar

retrocesso, é verdade. Isso vai ser exemplificado mais

adiante.

Seleção brasileira de 1970. Esses genes, para muitos, formaram o

melhor código genético futebolístico de todos os tempos.

Vejam só, disse que não ia explicar o que era e acabei

começando... pois bem, o que vou enfatizar aqui,

especialmente para os leigos e/ou incrédulos, é que a

evolução é um fato, comprovado e (quase) irrefutável.

Por que "quase irrefutável"? Porque toda teoria

científica, para ser válida, tem de ter a possibilidade

de ser refutada, e o que a torna mais verdadeira é

exatamente o fato de ninguém conseguir fazê-lo.

Como a teoria da evolução.

Existem muitos exemplos que demonstram que a

evolução está ocorrendo nesse exato momento. É,

agora mesmo enquanto você está lendo este texto.

Vou apresentar pra vocês quatro áreas de diferentes

abrangências para demonstrar eventos evolutivos:

molecular, microscópica e macroscópicas

invertebrada e vertebrada. Voilá!

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Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes

Revista Livre Pensamento – Número 1

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No primeiro caso, Sarah Voytek, do Scripps Research

Institute (La Jolla / EUA), conseguiu “ver” a evolução

em moléculas. A principal vantagem desse tipo de

experimento é que as replicações ocorrem em

questão de minutos, sendo possível à evolução

acontecer – e ser acompanhada – em poucos dias.

Ela criou um ecossistema (artificial, claro) dentro de

um tubo de ensaio. As moléculas, no caso, eram

enzimas forçadas a competir pela mesma fonte de

alimento, que era outro tipo de molécula mais

simples. Conforme se replicavam, apresentavam

sensíveis diferenças com relação às moléculas

matrizes, e no decorrer do processo transformaram-

se em moléculas totalmente distintas daquelas. Isso

se chama especiação, um dos conceitos chaves da

evolução darwiniana. Veja bem, eram moléculas,

agrupamentos de átomos, e não criaturas vivas. Mas

ainda assim, elas evoluíram para formas moleculares

mais complexas – exatamente o que se acredita ter

acontecido nos primórdios da vida no planeta, com os

coacervados. Além do mais, não são tão

desconhecidas do grande público assim... existe uma

molécula que conhecemos bem – e que nos infecta

todo ano com a gripe: o vírus.

Em tempo: algumas das moléculas originais

desapareceram ao longo do experimento, mostrando

que as mutações das concorrentes foram mais

eficientes. Isto é seleção natural – outro conceito

chave da teoria da evolução.

“ESPECIAÇÃO: uma população de uma mesma espécie

se torna tão diferente da original que acaba criando

outra, totalmente nova”

Com relação à evolução microscópica, um bom

exemplo é a experiência conduzida por Richard

Lensky, da Michigan State University (East Lansing /

EUA) com uma espécie de bactéria chamada

Escherichia coli. Microrganismos possuem taxa de

duplicação bastante acelerada, podendo chegar às

centenas de divisões em muito pouco tempo,

tornando-se ótimos objetos de estudo de gerações.

Em ambientes controlados, podemos aplicar-lhes

condições específicas para acompanhar suas

mutações.

Lensky começara a pesquisa com 12 populações

quase idênticas da bactéria em 1988 e, em 2010,

atingira a marca de 50.000 gerações. Todavia, algo

fantástico já havia acontecido muito antes.

As colônias eram alimentadas com glicose, porque

uma das principais características da Escherichia coli é

sua incapacidade de absorver citrato como alimento.

Aliás, essa incapacidade é tamanha que é utilizada

pelos cientistas para distinguí-la de outras espécies de

bactérias. Contudo, foi exatamente isso que

aconteceu à altura da 31.500ª geração: elas passaram

a metabolizar o citrato acrescentado propositalmente

à cultura. É algo tão surreal quanto um ser humano

evoluir a ponto de realizar fotossíntese! Mais que isso,

a população que conseguiu tal façanha prosperou e

diversificou-se, mostrando que haviam obtido sucesso

em algo que jamais havia acontecido antes.

Microfotografia de uma colônia de Escherichia coli, à esquerda. À direita, as 12 populações originais do experimento de Lensky. O frasco A–3, no centro

à frente, apresenta turbidez justamente por abrigar a colônia mais diferente – aquela que metaboliza o ácido cítrico presente no meio de cultura.

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Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes

Revista Livre Pensamento – Número 1

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O caso mais clássico de macroevolução talvez seja o

das mariposas britânicas Biston betularia. Bem

improvável alguém que se interesse por evolução

nunca ter ouvido falar delas. Basicamente o caso

ilustrava um exemplo de seleção natural provocada

pelo homem, na qual as mariposas mais claras,

outrora mais abundantes, gradativamente foram

substituídas pela variedade melânica – preta – da

espécie à medida em que a Revolução Industrial

saturou o ambiente com fuligem. Desta forma, a

variedade branca passou a ser mais predada pelas

aves da região, ao passo que a preta, por sobreviver

mais, passou a também se reproduzir mais,

aumentando seu numerário e consequentemente sua

população.

O que pouca gente deve saber é que aquela hipótese

foi demonstrada errada décadas mais tarde. A

conclusão foi provada e aceita pelos experimentos da

época, sim – e não deixa de ter alguma validade – mas

aqueles não eram os mais adequados para fornecer a

explicação mais correta. A ciência evoluiu, os

equipamentos e metodologias idem. Contudo, é

exatamente esse tipo de deixa que os criacionistas

precisam para invalidar toda uma teoria. Discorrerei

mais à respeito na conclusão do artigo.

“SELEÇÃO NATURAL: características benéficas são

passadas adiante em gerações contínuas de uma

espécie, ao passo que as ‘ruins’ são esquecidas e

desaparecem”

Apesar disso, a hipótese das mariposas de Londres vai

ficar para sempre lembrada como (não um evento de

evolução no sentido literal da palavra mas) um

exemplo de seleção natural, que é um dos principais

mecanismos do processo evolutivo.

Foto de época demonstrando o caso das mariposas. À esquerda a

mariposa preta distingue-se claramente no tronco da árvore – o

inverno ocorrendo no tronco impregnado de fuligem da foto à direita,

onde a mariposa branca se torna muito mais visível.

Mas existe um caso mais moderno (e na minha

opinião muito mais curioso), o de uma espécie de

morcego da Nova Zelândia, o Mystacina tuberculata

(você também pode chamá-lo de pekapeka-tou-poto,

seu nome original na língua nativa, o maori). Existem

aproximadamente 1.100 espécies de morcegos, mas

esta é uma das duas únicas do grupo que conseguem

andar pelo chão (a outra é o morcego-vampiro

Desmodus rotundus). É também o último

representante vivo de sua família, a Mystacinidae,

que por sua vez, é a única família de mamíferos

endêmica da Nova Zelândia (só existe lá).

Agora que já o apresentei, vamos lá. Lembra lá no

começo do texto quando disse que evolução também

poderia ser um retrocesso? Este é o caso, mas

novamente, não significa involução. Pelo contrário: o

animal está simplesmente voltando ao seu estado

ancestral original, trocando um ambiente por outro

numa espécie de “retorno às origens”.

Detalhadamente o que está acontecendo com ele é o

seguinte: por perceber uma maior disponibilidade de

alimento ao solo da floresta, o animal está se

acostumando a procurar comida no chão, e não no ar,

como de praxe. Em decorrência disso, este morcego já

desenvolveu algumas especializações musculares e

esqueléticas que nenhum outro possui. O resultado?

Centenas e centenas de morcegos vêm até o chão

para encontrar alimento (frutas, artrópodes e etc).

Contribui para isso também a falta de predadores ao

solo da floresta. Ou seja: eles se sentem totalmente à

vontade. O biólogo que acompanha o fenômeno,

Jared Diamond, afirma que estes não são apenas os

mais terrestres dentre todos os morcegos, mas

também indicam uma tentativa da natureza de fazer

um animal voador retornar à condição terrestre

(lembra da especiação?). Eles não procuram mais

alimento no ar, como seus parentes, embora ainda

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Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes

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possuam a capacidade de voar – e de fato o façam,

vindo à terra apenas para procurar comida. Com o

tempo, contudo, é bem provável que percam essa

capacidade e se tornem animais exclusivamente

terrestres novamente, como já foram um dia seus

ancestrais mais basais. Pode parecer algo simples,

mas existem outras histórias similares de retrocesso

no reino animal cujos resultados foram espetaculares.

Pesquisem mais a respeito desse bichinho da figura

abaixo, por exemplo.

O nome deste animal é Pakicetus, e você nem imagina o que a especiação fez com seus descendentes...

Como ficou demonstrado, a evolução ocorre mais

rapidamente conforme há maior velocidade na

formação de novas gerações – e mutações. As

moléculas multiplicam-se em minutos; as diferenças

em bactérias já podem ser visualizadas em dias; no

caso dos morcegos, serão necessários talvez algumas

centenas de milhares de anos para se observar

modificações anatômicas significativas.

De qualquer forma, todos estes exemplos (bem como

qualquer teoria científica) requerem observação,

experimentação, postulação de hipóteses e

confirmação/eliminação das mesmas. Um cientista

reúne fatos e procura tirar conclusões satisfatórias a

respeito deles. Um religioso reúne “conclusões” (!?)

nada plausíveis e tenta (só tenta) usar fatos para

respaldá-las, sem nenhuma credibilidade ou sequer

uma mínima acurácia científica. Em seu desespero,

tenta se apegar ao que a ciência ainda não descobriu

– convenientemente ignorando todas as outras

respostas que ela já encontrou – para tentar invalidar

tudo o que já foi descoberto até então.

Mas vamos lá, outro exemplo didático: pensem na

seguinte analogia: quando você tem um quebra-

cabeças de 500 peças e conseguiu encaixar 400 delas

já se é possível ver, ainda que sem muitos detalhes, a

imagem que está se formando à sua frente, sem a

necessidade de se conhecer todas as peças para saber

do que se trata. A reconstrução evolutiva dos seres

vivos segue o mesmo raciocínio: com a

disponibilidade de fósseis de que já dispomos – e que

aumenta todos os dias – já podemos construir um

quadro relativamente seguro da história da vida no

planeta, sem precisarmos de todos os registros para

isso. Com a evolução humana é a mesma coisa: não

precisamos mais encontrar todas as peças para saber

que de fato somos primatas derivados, parentes

próximos dos chimpanzés, e não descendentes de um

homem feito de lama bafejada por um velho gigante,

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Colunas – Autor: Gustavo Melim Gomes

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e cuja fêmea foi feita a partir de um pedaço de sua

costela...

Sim, você é parente dele. Tudo confirma isto, então não insista em

negar.

Para os criacionistas, a grande menina dos olhos da

vez são os "fósseis transicionais", os famosos elos

perdidos que ligam grupos distintos de animais.

Embora saibam que a ciência, especialmente no grupo

de vertebrados, já encontrou praticamente todos

eles, isto é simplesmente ignorado por "especialistas"

que afirmam que tais fósseis não têm nada de

diferente ou de espetacular.

Talvez pensem que um fóssil transicional entre dois

grupos distintos, como peixes e anfíbios, tenha de ser

uma quimera aberrante, uma mescla de todas as

características mais desenvolvidas de ambos os

grupos. Um peixe com patas de sapo de fato ficaria

horroroso. Mas pior que isso, ficaria muito longe da

verdade. E não é necessário ser muito inteligente para

se dar conta disso. Uma forma transicional une as

características mais desenvolvidas do 1º grupo com as

mais simples do 2º – o que é exatamente a mesma

coisa.

Mas o Tiktaalik apareceu para nos dar essa resposta,

assim como o fizeram o Archaeopteryx, o Furcacauda,

o Cynognathus, Acanthostega e tantos outros antes

dele. Através destes animais e de todos os seus

predecessores/sucessores, sabemos que a evolução

não se deu num estalo, num único elo perdido, mas

sim em vários elos perdidos que demonstram, passo a

passo, a transformação de um grupo em outro tão

diverso anatômica, fisiológica e ambientalmente.

Mas sobre essas formas transicionais posso (e quero)

falar mais numa próxima vez. Agora, para finalizar,

quero dizer que, graças à evolução, hoje sabemos a

resposta à milenar pergunta sobre quem veio

primeiro, o ovo ou a galinha: foi o ovo, e quem o

colocou foi (MUITO provavelmente) um réptil diapsida

archosauria saurischia theropoda coelurosauria

dromaeosauridae – nessa ordem. Os fatos (fósseis)

nos levam à essa conclusão. Sim, a resposta é grande

e confusa para o público fora da área, mas é segura. E

ciência se faz com segurança.

Essa resposta pode mudar? Claro que pode. Aliás, a

ciência vive se corrigindo. Diferentemente de algumas

pessoas...

http://www.bispomacedo.com.br/2009/09/27/fe-em-

evolucao/

Sobre a experiência com as moléculas:

http://www.sciencedaily.com/releases/2009/04/0904

29140849.htm

Sobre a evolução das bactérias:

http://www.ask.com/wiki/E._coli_long-

term_evolution_experiment

Aqui também:

http://www.pnas.org/content/early/2009/04/29/090

3397106.full.pdf+html

E aqui:

http://www.newscientist.com/article/dn14094-

bacteria-make-major-evolutionary-shift-in-the-

lab.html

Vídeo mostrando os morcegos da reportagem:

http://www.youtube.com/watch?v=WUFo3IOqMGA&

feature=player_embedded

Outros experimentos que comprovam a Teoria da

Evolução:

http://www.decodedscience.com/evolution-in-action-

three-experiments-demonstrating-natural-

selection/1796

Sobre o autor da coluna

Gustavo Melim Gomes é formado em Biologia, totalmente apaixonado pela área evolutiva geral e pela filogenia de Chordata. Ama Charles Darwin pelo tamanho da descoberta que fez, para a qual o mundo não estava

(e ainda não está) preparado, e Carl Sagan, pela facilidade e paixão com que consegue explicar ciência para o público leigo. É professor do ensino público e também voluntário em ONG's de proteção animal da cidade em que mora (Itajaí / SC). Blog: outrasverdadesinconvenientes.blogspot.com

Page 33: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra

Revista Livre Pensamento – Número 1 32

FILOSOFIA

Rumo ao Mistério da Consciência

Para não correr o risco de cometer enganos, é

necessário ter um olhar multidimensional à

consciência, como já disse o sociólogo Edgar Morin.

Olhar para a maior quantidade de lados para evitar a

cegueira de uma visão unilateral, fadada ao erro e

ilusão, procurando a resposta para a pergunta errada.

Comecemos olhando nas vísceras, através da física,

para desmistificarmos a infeliz associação de

consciência com inteligência.

Segundo o médico fisiologista, Edgar Douglas Adrian

(1889-1977):

O cérebro é uma estrutura de células e fibras nervosas, encontrado em alguns, mas não em todos os animais.

Aqueles seres que não possuem um cérebro no mais estrito senso anatômico, apesar disso são capazes de realizar

tarefas complexas, bem adaptadas às circunstâncias, definindo um comportamento que pode ser chamado de

inteligência. E dentro de nosso próprio corpo existem muitas células nadando livremente na corrente sanguínea e se

comportando como seres vivos mais ou menos independentes, evitando o que lhes é maléfico e se aproveitando do

que é bom. Teriam essas células algum direito a reivindicar a posse de uma própria mente? (Nicolelis, 2011,

pg.60,61).

Essa é a observação de um homem que fez nada

menos que medir com exatidão como informações

sensoriais (tato, olfato, visão, audição e gustação)

sobre o mundo externo e o corpo são codificadas em

salvas de eletricidade, a linguagem da mente, para

então serem transportadas por nervos periféricos

para todo o cérebro. Por tudo isso Adrian mereceu

compartilhar o prêmio Nobel de Medicina em 1932.

E pensar que tudo começou por Adrian, juntamente

com um amigo, chegar a pensar em disparos elétricos

biológicos supostamente de por natureza binária, 1 ou

0.

E desta natureza algorítma surge a inteligência,

existente nos mais simples organismos, e naqueles

mais complexos, que possuem um cérebro, acontece

com um processamento drasticamente evoluído.

Assim, vemos quão difícil é delimitar a consciência.

Mas como propôs o filósofo da mente Daniel Dennett,

talvez não exista uma consciência, mas sim tipos de

mente.

E fio que liga a definição de mente, possibilitando que

todas compartilhem do mesmo título, é algo nomeado

de “Postura Intencional”.

A Postura Intencional, também conhecida como

Sistema Intencional, é o conceito de um sistema cujo

comportamento pode ser – pelo menos às vezes –

explicado e predito com base em atribuições a ele de

crenças e desejos (esperanças, medos, intenções,

pressentimentos...).

Ao contrário das mentes da grande maioria dos outros

animais, a mente humana possui um “sistema

intencional” que interage com o ambiente e o prevê.

Page 34: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra

Revista Livre Pensamento – Número 1 33

Enquanto uma gazela nasce programada para agir de

uma determinada forma diante de cada estímulo, ou

percepção do ambiente (não tem a capacidade de

aprender com as experiências, no entanto já nasce

com alguns conhecimentos empíricos instintivos), a

mente humana é capaz de passar por duas

experiências diferentes e ter a capacidade de julgar

qual delas é a mais apropriada.

Como exemplo, as gazelas que estão sendo caçadas

por predadores muitas vezes fazem algo, chamado

“stotting”:

Elas dão saltos ridiculamente altos, que obviamente

não trazem qualquer beneficio à sua fuga, mas são

planejados para chamar a atenção dos predadores

para sua velocidade superior: “Não se dê ao trabalho

de me caçar, cace meu primo. Sou tão rápido que

posso desperdiçar tempo e energia dando estes saltos

tolos e ainda assim vencer você.” E aparentemente

isso funciona; os predadores regularmente voltam

suas atenções para outros animais. (DENNETT, 1997,

p. 113).

E nós humanos, ainda diferenciamos nossa mente de

qualquer animal pelo fato de não por tomarmos

apenas quaisquer decisões, mas tal como o método

de pesquisa científica do filósofo Karl Popper, que

uma vez refinadamente colocou, esse reforço nos

permite que nossas hipóteses morram em nosso

lugar. Uma intencionalidade de terceira ordem dentro

da seguinte convenção:

Um sistema intencional de primeira ordem tem

crenças e desejos sobre muitas coisas, mas não sobre

crenças e desejos. Um sistema intencional de segunda

ordem tem crenças e desejos sobre crenças e desejos,

suas próprias ou aquelas de outros. Um sistema

intencional de terceira ordem seria capaz de feitos

como querer que você acredite que ele quer algo,

enquanto um sistema intencional de quarta ordem

pode acreditar que você queria que ele acreditasse

que você acreditasse em algo, e assim por diante.

(DENNETT, 1997).

Assim, dentro dos tipos de intencionalidade, estamos

no terceiro andar na torre de criaturas popperianas.

Nosso tipo de mente nos proporciona que nossas

hipóteses morram em nosso lugar no envolvimento

com um ambiente ainda não experienciado.

A beleza da idéia de Popper é exemplificada no

desenvolvimento de simuladores de vôos realistas

utilizados para treinar pilotos de avião:

Em um mundo simulado, os pilotos podem aprender

os movimentos que devem executar em cada crise,

sem jamais arriscar suas vidas (ou os aviões muito

caros). Como exemplos do truque popperiano, porém,

os simuladores de vôo são enganadores em um ponto:

eles reproduzem o mundo real muito literalmente.

Devemos ser muito cuidadosos para não pensar no

meio interno de uma criatura popperiana como

Page 35: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra

Revista Livre Pensamento – Número 1 34

simplesmente uma réplica do mundo externo, com

todas as contingências físicas daquele mundo

reproduzidas. (DENNETT, 1997, p. 84).

E a resposta do por que de todos esses tipos de mente

poderia ser respondida pelo biólogo Charles Darwin,

observando que toda a evolução e mudança ocorrida

em seres vivos, apesar de acontecer através de

mutações, têm de ser necessária para que se

mantenha.

Caminhando nesta direção induzimos a consciência

como um produto lateral da evolução.

Segundo Darwin, acontecem erros na transmissão de

características entre gerações, e estes ocasionariam

possibilidades naturais para sobrevivência e melhor

adaptação, levando em consideração que é fato a

mudança contínua de ambientes, climas e vegetações

nos mesmos lugares.

Nas palavras de Darwin,

(...) qualquer ser que sofra uma variação, por menor

que seja, capaz de lhe conferir alguma vantagem

sobre os demais, dentro das complexas e

eventualmente variáveis condições de vida, terá

maiores condições de viver, tirando proveito da

seleção natural. (DARWIN, 2009b, p. 30).

De acordo com biólogo Richard Dawkins, somos

máquinas de sobrevivência e replicação dos nossos

genes. É o egoísmo dos nossos genes que substituiria

um animal, dando lugar a outro.

Por exemplo: Digamos que nasceram cinco filhotes de

lobos. Quatro deles são bem fortes e ágeis e com uma

pelagem fina, do mesmo modo que seus pais. No

entanto, um deles não é tão forte e nem tão ágil e

ainda possui uma pelagem bem grossa - o que

dificultaria a vida dele -, considerando o ambiente

aberto e de extremo perigo predatório. Porém, o

ambiente onde os filhotes vivem teve mudanças

significativas. O frio se tornou cada vez mais drástico

e, especificamente nesta geração, ele prejudicaria a

resistência da espécie nativa de lobo que lá habitava.

O filhote que sofreu mutação teria poucas chances de

sobreviver no antigo ambiente, por ser fraco e lento,

mas neste novo ambiente ele poderá se aquecer do

frio com a sua pelagem e desta forma se adaptar

melhor que os outros - que irão sendo extintos por

sua incapacidade de sobrevivência.

Pense em uma mariposa, talvez uma candidata a um

suposto início na longa trajetória até o que chamamos

de consciência, Postura Intencional de terceira ordem,

igualmente ao que ocorreu à nossa espécie.

Em determinadas épocas, o inseto costuma ficar em

constante impacto com lâmpadas, ou instrumentos

luminosos. Isso acontece pelo fato das mariposas

estarem programadas para seguir a luz solar - o Sol,

obviamente -, este foi o mecanismo realizado pela

natureza para que o inseto vá em direção a seus

alimentos.

Mas houve uma mudança considerável no ambiente a

partir de Thomas Edison, com a invenção da lâmpada

- algo não esperado pelos nossos genes.

Isto proporcionou o comportamento estúpido das

mariposas, compulsivamente se arremessando contra

esses objetos luminosos. E apenas a capacidade de

aprender com a experiência poderia ser a salvação da

mariposa. Suspeita-se que de forma semelhante

aconteceu com o homem para o primeiro despertar

de uma proto-consciência. O que não seria nada mais

do que valores e crenças injetados na mente do

animal.

No homem talvez a contradição tenha sido tantas que

ao acaso, como um relojoeiro cego, que por “sorte”

acerta as horas, uma mutação proporcionou uma

mente capaz de mudar sua realidade durante sua vida

e não mais esperar por milhares ou milhões de anos,

através da capacidade de imaginar novas

experiências.

E essa ideia de criatura popperiana chega a veras

semelhanças com a noção de intencionalidade de

Brentano e virtualidade de Gilles Deleuze, ou seja, é a

promessa que nos foi feita pela percepção - a fé seria

a peculiaridade da consciência.

Criticas surgem de místicos e religiosos por acreditar

que a crença não é um ato racional do ser, ou seja,

que ela é independente do ser, uma peculiaridade

especial na personalidade. Pensando assim, seria

possível, em um experimento de inteligência artificial,

Page 36: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Eder Juno N. Terra

Revista Livre Pensamento – Número 1 35

implementar-se uma crença induzida na mente de

uma pessoa.

Suponhamos por um momento que nos coloquemos

na posição de um homem que acorda e descobre uma

crença induzida não racionalmente em sua cabeça (ele

não sabe que ela foi induzida não racionalmente; ele

apenas encontra essa nova crença no curso de uma

reflexão, digamos). (DENNETT, 2006a, p. 330, 331).

Podemos contar diversas estórias diferentes, e

conservá-las tão neutras quanto possível;

Suponhamos que a crença induzida seja falsa, mas

não maluca: a pessoa (vamos chamá-la de Tom) foi

induzida a acreditar que tem um irmão mais velho em

outra cidade (Cleveland). Assim:

Tom está em uma festa e em resposta à questão “Você é filho único?” ele responde: “Eu tenho um irmão mais velho

em Cleveland”. Quando se lhe pergunta então “Qual é o nome dele?”, Tom fica desconcertado. Talvez ele diga

alguma coisa como: “Espere um minuto. Porque penso que tenho um irmão? Nenhum nome, nem rosto, nem

experiência dele me vem à mente. Não é estranho? Por um momento, tive a convicção de que eu tinha um irmão

mais velho em Cleveland, mas agora que penso de novo em minha infância, lembro perfeitamente bem que sou filho

único”. (DENNETT, 2006a, p. 331).

Se Tom saiu de sua lavagem cerebral ainda

predominantemente racional, sua crença induzida

pode durar apenas um momento, uma vez

descoberta. Por essa razão, uma única crença induzida

é impossível, pois mesmo que seja possível no futuro

implementá-la, ela é inconsistente – não seria capaz

de se manter sozinha.

Não há como negar que o fenomenólogo da

percepção, Maurice Merleau-Ponty, tem bons

argumentos para concluir que o homem é o resultado

da complexidade de sua própria vida, aquilo que foi

condicionado pelas suas experiências, misturado com

as determinadas condições de seu organismo

fisiobioquímico.

A cada tomada de decisão através da consciência -

que é a marca do sistema mental humano -, a sua

percepção vai formando o que você é.

Este é o surgimento do nosso "eu", aquilo que

pensamos, aquilo que somos, aquilo que pensamos

que somos. Tudo a priori programado e limitado por

nosso corpo e experiências.

Assim, percorrendo da semiótica à

neurociência, a ideia de que nosso cérebro é um

simulador de realidade que nos condiciona a um

mundo virtual, como pensa o filósofo Jean Baudrillard

é como podemos entender a consciência, e nas

palavras do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis,

essa virtualidade compõe

a máscara de realidade, opiniões, amores,

preconceitos, injustiças, que nós tão orgulhosamente,

e por vezes, cegamente vestimos a casa milissegundo

de nossas vidas, jubilosamente ignorantes de como e

de onde tudo isso vem. (NICOLELIS, 2011, pag. 51).

Sobre o autor da coluna

Eder Juno N. Terra, 22 anos, é jornalista, pós-graduando em Cinema e Vídeo, graduando em Física-Biológica e músico. Autor do blog CCAL e integrante do Projeto Livres Pensadores, tem uma visão secular, e é contrário a qualquer tipo de fé, valor, crença, moral,

ideologia, doutrina, religiosidade, cientificismo ou filosofia de vida. Blog: criandocondicoesaliberdade.blogspot.com

Page 37: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Felipe Carvalho Novaes

Revista Livre Pensamento – Número 1 36

NATUREZA HUMANA

A Bondade

Por muito tempo o ser humano foi tido como o único

animal capaz de desenvolver a moralidade. Até hoje

algumas pessoas pensam no que há de mais humano

do que a própria moralidade, ou a caridade, a

preocupação com o próximo sem que seja exigido

algo em troca. Alguns usam esse fato até para

pregarem contra a Teoria da Evolução, por acharem

que a evolução só consegue gerar indivíduos egoístas

e competitivos. Bom, parece que nossos parentes

mais próximos, chimpanzés e bonobos, estão nos

mostrando que a bondade humana, tão apregoada

pelas religiões, tem raízes mais profundas do que

imaginávamos.

Lolita, uma bonobo muito simpática, não encontrava

o pesquisador Franz de Waal há 11 anos. Quando ele

foi visitá-la numa colônia em um zoológico, ela logo

foi correndo em direção a ele emitindo gritinhos e

outros grunhidos que ela não costuma exibir para

estranhos. O primatólogo descobriu que ela estava

grávida e logo ficou ansioso para ver seu filhotinho. E

lá estava ela, sentada com uma bola de pelo (seu

filhote) no colo. Franz apontou para seu ventre e logo

depois a primata pegou o filhote pelas mãos e girou-o

de forma que sua face ficasse visível para o

observador humano. O pequeno macaquinho

começou a grunhir e fazer caretas porque os filhotes

odeiam se separar da barriga quente de suas mães.

Esse é um belo exemplo da inteligência acurada

desses animais. Ou, ainda mais que isso, é um indício

de que eles tem o que alguns pesquisadores

sustentam ser um atributo unicamente humano: a

empatia. Como Lolita soube que o gesto de apontar

para seu ventre sugeria que o primatólogo queria ver

seu filhote? E mais: como ela sabia que “mostrar” seu

filhote significava exibir seu rosto? A empatia pode

ser definida como a capacidade de reconhecer a

intenção dos outros, é a chamada teoria da mente.

Mas essa habilidade também implica em sentirmos o

que os outros estão sentindo também. Isso pode ser

notado nos exemplos mais cotidianos possíveis. Quem

nunca ficou tenso vendo um filme de terror em que

percebemos a tensão dos personagens do filme e

acabamos ficando no mesmo estado? Quem nunca se

emocionou (mesmo sem derramar lágrimas)

assistindo a um filme de drama? Algumas experiências

mostram a empatia aplicada também à ações

humanas. Em um desses, o pesquisador, na frente de

um bebê, tenta colocar uma argola em seu dedo da

mão, mas quando a argola chega perto do dedo, ele

deixa que ela caia e reinicia o processo. Depois de um

tempo repetindo isso, ele deixa que o bebê pegue a

argola. O que ele faz? Pega e coloca no dedo do

pesquisador, mostrando que mesmo um bebê já

consegue perceber a intenção dos outros.

Outro belo exemplo é o bonobo Kidogo, que é um

doente cardíaco e por isso é um macho crescido,

porém, fraco, inseguro e sem energia. Ao ser

transferido para a colônia do Zoológico de Milwaukee,

kidogo ficou confuso com a mudança e não

reconhecia os comandos dos tratadores, não sabiam

para onde tinha que ir. Depois de um tempo, outros

Page 38: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Felipe Carvalho Novaes

Revista Livre Pensamento – Número 1 37

bonobos interferiram. Eles pegavam Kidogo pela mão

e o conduziam até os locais indicados. Quando ele se

perdia, gritava aflito e outros vinham socorrê-lo.

Aparentemente, diriam alguns, esses relatos

revelariam contradições na Teoria da Evolução porque

agir dessa maneira solidária não tratia nenhum

benefício em termos da sobrevivência do mais apto.

Há duas teorias que explicam esse comportamento: a

primeira diz que a empatia, que é a responsável pela

solidariedade e cooperação, surgiu como um

mecanismo que nos permite ajudar os seres

aparentados geneticamente conosco, assim,

preservando também os nossos genes contidos em

outros indivíduos da família. A segunda teoria pode

ser traduzido como simplesmente “uma mão lava a

outra”. Isto é, ajudamos aquele cara ali agora para

que no futuro possamos ser ajudados por ele.

Essas duas teorias podem ser verdadeiras, mas elas

nos falam dos motivos evolutivos que fizeram essas

características se conservarem nos animais de hoje, e

não dos motivos presentes na mente de cada um

(mesmo que seja um animal não-humano) para que

esses atos sejam realizados. Precisamos de motivos

que ajam no aqui e agora para explicar isso.

Certamente, os bonobos

que ajudaram Kidogo não

estavam interessados em

favores futuros de um

animal enfraquecido e

necessitado de cuidados

como ele. Também não

imagino o motivo pelo

qual uma fêmea de gorila

pegou o menino que

tinha caído dentro de sua jaula no zoológico, colocou-

o no colo, como se estivesse embalando-o, e depois,

gentil e cuidadosamente entregou-o para os

tratadores que foram resgatá-lo (ela agiu de maneira

bem parecida com os bonobos quando algum filhote

cai num rio e é resgatado). Veja o caso que ocorreu

em 2004, na cidade de Roseville, Califórnia. Um

labrador preto pulou na frente de um menino, seu

dono, e levou uma piaca de cascavel em seu lugar. O

que estimularia ali, naquele momento, o cão a fazer

isso? A decidir arriscar a sua vida pela de seu dono?

Com certeza não foi a expectativa de uma futura

retribuição de favores. É como, também, no exemplo

do século XX, dado pela psicólogo russa Nadia

Ladygina-Kahts, que criava Yoni, um jovem

chimpanzé. Ele era indisciplinado, sempre fazia

questão de desobedecer Nadia. Um dia, ele foi para

cima do telhado e não saía de lá por nada. Então a

psicóloga apelou:

Se finjo chorar, fechando os olhos e gemendo, Yoni

imediatamente pára a brincadeira ou qualquer outra

atividade e vem correndo. Chega todo agitado e

preocupado dos lugares mais remotos da casa, como

o telhado ou o teto de sua jaula, de onde eu não

consegui trá-lo apesar de meus persistentes chamados

e súplicas. Ele corre à minha volta, como se procurasse

quem me fez mal; olha meu rosto, pega minha

bochecha com carinho na palma da mão, toca

suavemente meu rosto com um dedo, como se

tentasse entender o que está acontecendo.

É muito interessante percebermos que até as ações

humanas mais nobres parecem ter algum tipo de

equivalência em animais não-humanos, revelando a

ancestralidade dessas potencialidades. Dessa forma,

podemos até mesmo arranjar meios contundentes de

questionar a clássica idéia do senso comum, de que

foi a religião que sempre colocou juízo na

humanidade. Quando somos estimulados a fazer o

bem ao próximo sem exigir algo em troca, estamos

fazendo nada mais do que fazendo valer algo que já

faz parte do repertório de habilidades humanas e que

se não fosse a religião, com certeza iríamos arrumar

outros motivos para justificar isso.

Sobre o autor da coluna

Felipe Carvalho Novaes

é um graduando em

psicologia que quer

seguir as áreas de

psicologia evolucionista

e/ou psicologia cognitiva

e/ou neurociência mas que não deixa de ser

fascinado pelo universo, natureza e pela história

humana, o que o leva a ter um pé também na

astronomia, cosmologia, filosofia e história. Dentro

da psicologia, um de seus temas preferidos é o

autismo (especialmente a síndrome de Asperger) e as

expressões faciais, além de pesquisar sobre as raízes

da psicopatia e da genialidade. Nerd de carteirinha,

também é fã de um bom filme de ficção científica, de

revistas em quadrinhos e de video game.

Blog: nerdworkingbr.blogspot.com

Page 39: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior

Revista Livre Pensamento – Número 1

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OPERANDO O COMPORTAMENTO

Ateu sim, porque não?

Publicado originalmente no blog: Análise Funcional em 03/12/2010

Nasci como todos nascem concebido de um homem e

uma mulher, que doaram seus gametas y e x que se

juntaram para formar uma “célula ovo”.

Este que se dividiu inúmeras vezes, passando por

embrião, feto dentro do útero desta que foi minha

progenitora parasitando nutrientes de seu corpo até o

momento de meu nascimento.

Saindo deste útero entrei em contato com uma

família, um grupo de pessoas que exerceram e

exercem inúmeras funções em minha vida, sendo a

minha primeira agencia de controle (detinham os

meus primeiros reforçadores, e recursos necessários

para minha sobrevivência por pelo menor 14 anos

após meu nascimento), e minha primeira comunidade

verbal.

Eles foram quem reforçaram minhas primeiras

respostas operantes, minhas primeiras verbalizações,

e deles copiei diversos modelos para minha

sobrevivência. Mas nem todo operante reforçado ou

modelo é adaptativo, e acabei aprendendo deste

modo o que vou chamar aqui de comportamento

religioso.

Page 40: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior

Revista Livre Pensamento – Número 1

39

Como podem ver, criança nenhuma nasce cristã,

judia, muçulmana, viking, adoradora de espaguete,

etc.

Neste blog tem uma série em videos do brilhante

biólogo Richard Dawkins sobre esse tema:

http://danielgontijo.blogspot.com/2010/12/ha-um-

proposito-na-vida.html

A religião então pode ser entendida como uma prática

cultural que a muito tempo vem sobrevivendo, mas

que não necessariamente seja adaptativa para a

cultura, ou seja, provenha coisas boas para a cultura

(muito pelo contrário do meu ponto de vista esta é

uma das práticas culturais mais nocivas que existem

tendo produzido inúmeras guerras, xenofobia,

discriminação, escravidão, tortura, mutilação, dentre

outras).

Page 41: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior

Revista Livre Pensamento – Número 1

40

Dentre alguns fatores que reforçam esta prática está o

fato de por sermos animais sociais, ao nascermos

como já mencionei na minha história, tendemos a

copiar e confiar em tudo que nossa primeira

comunidade verbal (família) nos ensina.

Este repertório desde então é reforçado por

comunidades verbais mais amplas e agencias de

controle organizadas para o fortalecimento deste,

como igrejas, parentes, amigos, correntes de e-mail,

etc...

E mais, quando o nosso repertório de orar e clamar a

deus está instalado, eles nos ensinam a interpretar

eventos aleatórios e naturais, como “obra divina”,

desde então qualquer “sinal”, ou seja, evento que

fomos ensinados a entendermos como sinal é um

reforçador para a prática social de religiosa. Vê-se ai

um incentivo, do que é chamado pela analise do

comportamento de contigüidade (comportamento

supersticioso) que já falei neste

Ou seja, a fé não é nem um pouco racional, é só ver as

inúmeras discussões fervorosas de crentes e ateus em

blogs, estude os argumentos dos crentes, aqui tem

uns exemplos: http://ceticismo.net/religiao/tipicas-

justificativas-religiosas/

Existem argumentos ateístas desde a antiguidade,

mas eles nem ao menos são considerados pelos

crentes, pois como já mencionei, o que mantém seu

comportamento é algo “não racional”.

Veja este exemplo de Epicuro e seu famoso paradoxo

deus:

"Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode

e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se

quer e não pode, é impotente: o que é impossível em

Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, do mesmo

modo é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é

invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se

pode e quer, o que é a única coisa compatível com

Deus, donde provém então a existência dos males?

Por que razão é que não os impede?"

Para entendermos esse paradoxo é claro a

necessidade de repertório verbal sofisticado,

chamado “lógica” ou “racionalidade”, nossos sistemas

de ensino não instalam muitas vezes esse tipo de

repertório em nós, muitas vezes por influência política

(é mais fácil manipular gado que leões). Muito pelo

contrário, nos ensinam a apenas aprender por

modelação (o professor passa a matéria, o aluno

aceita aquele dado pronto, o professor corrige o

desvio e reforça aquele que mais se assemelhar a seu

modelo), isso é muito parecido com a prática religiosa

em que o catequista ensina a “verdade” os

catequizados dizem amém, reproduzem aquele

conteúdo e o catequista os reforça. Padrão este de

ensino herdado da Escolástica, e que infelizmente

ainda sobrevive em nossas escolas do século XXI.

Sobre Escolástica:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Escol%C3%A1stica

Page 42: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Marcos Adilson Rodrigues Júnior

Revista Livre Pensamento – Número 1

41

Só o argumento acima já invalidaria se todos fosse

“processadores” racionais de informação, como já

dizia Descartes e alguns psicólogos modernos.

Mas como sai daquele esquema fadado a me

transformar em um crente, e não conhecer as

maravilhas da filosofia, ciência etc?

Não foram por mérito meu, ou de alguma essência

interna, mas, algumas contingências aleatórias

modelaram alguns repertórios de fuga/esquiva na

minha infância para a leitura de livros e enciclopédias,

paralelo ao religioso estava sendo criado o repertório

embrionário do cientista.

E graças a deus....rsrs (isso é um eufemismo), através

de meu repertório rudimentar de questionamento,

exploração e lógica, passei a interpretar os textos

sagrados de forma cientifica e não de forma

copiadora, e a achar as tais inconsistências inegáveis

neles. Explorei então diversas religiões e práticas

exotéricas tentando encontrar meu caminho, até

ingressar na faculdade de psicologia.

Nesta ao ver inúmeras teorias de funcionamento

humano, consegui finalmente me desprender daquilo

que era e é de muitos seres humanos um calcanhar de

Aquiles: A Religião.

Não é um caminho fácil, mas é fascinante, a minha

perspectiva de ver o mundo e a vida como ateísta em

primeiros momentos foi difícil e sofrida, não vou

negar, olhar o mundo sem o “véu da ideologia”

parafraseando Marx é dolorido num primeiro

momento assim como alguém que estava a muito no

escuro passa a ver a luz do sol. Os olhos doem, mudar

seu repertório doem analogamente.

Espero que esse texto ajude quem ainda não “saiu do

armário” do Ateísmo, ou não tem coragem, saiba, vc

não está sozinho!.

Sobre o autor da coluna

Marcos Adilson Rodrigues Júnior é estudante do 8° Período do curso de Psicologia, Ateu, Cético, Pragmático e Behaviorista Radical. Acredita que a Ciência é a melhor forma que temos de obter conhecimento seguro e resultados

satisfatórios para a espécie humana e o universo que a circunda. Blog: analisefuncional.livrespensadores.org

Page 43: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autora: Kelly R. Conde

Revista Livre Pensamento – Número 1 42

PEDAGOGIA

Deixem as Crianças Em Paz!

A ideia de que nada deve se interpor entre os pais e

seus filhos é o núcleo dos “valores de família”. Mas o

que ninguém parece perceber é que os pais não são

donos de seus filhos, mas são - ou ao menos deveriam

ser - aqueles que prezam pelo seu bem-estar.

Muitas pessoas defendem que a criança na barriga da

mãe tem o direito à vida e não pode ser abortada,

mas ninguém se importa que, quando nasça, ela perca

esse direito ficando totalmente entregue ao que quer

que os pais queiram fazer com ela.

Os pais não são os detentores da verdade em relação

aos filhos e temos o direito de intervir nas relações

entre eles quando são prejudiciais. Mas quando os

pais ouvem isso e são questionados sobre o que eles

sentem e que é difícil defender com a razão, eles

ficam irritados, defensivos, e à procura de algo atrás

do qual se esconder e apoiar. E, para isso, nada

melhor do que um valor que – exatamente por ser um

valor – é inquestionável. Dizem: “Somos os pais, e

ninguém pode dizer como devo agir com meu filho,

pois eu sei o que é melhor para ele.”

Segundo o artigo 14 da Convenção dos Direitos da Criança, toda criança deve ter direito à “liberdade de

pensamento, consciência e crença”. Mas o mesmo estatuto que defende a busca por autonomia diz que essas

pessoas, ainda em processo de desenvolvimento, necessitam de orientação para alcançarem sua maturidade cívica e

social. Os pais, desse modo, têm o direito de “orientar” os filhos no que dirá respeito aos seus pensamentos e

crenças.

Mas, sendo assim, como essas crianças desenvolverão

seus próprios pensamentos? Crianças são

extremamente manipuláveis e isso se deve à sua

credulidade, pois ainda não possuem o senso crítico

desenvolvido e confiam na autoridade das pessoas

que as cercam. O cérebro delas é pré-programado

para apreender todas as informações transferidas em

pouquíssimo tempo, e com isso é difícil impedir ao

mesmo tempo a entrada de informações prejudiciais

que os adultos impediriam sem esforço.

Por isso, é de se esperar que cérebros de crianças

sejam crédulos e vulneráveis a qualquer sugestão.

Um exemplo disso é Marjoe Gortner. Ele teve um

nascimento difícil - quase foi estrangulado pelo

cordão umbilical - e o obstetra disse a sua mãe que

apenas por um milagre ele havia sobrevivido. Assim,

“Marjoe”, – junção dos nomes “Maria e José” –

assumiu sua posição na extremidade de uma longa

linhagem de ministros evangélicos.

Desde muito pequeno, suas habilidades de pregação

foram meticulosamente cultivadas. Antes de

“mamãe” e “papai”, Marjoe aprendeu a dizer

“Aleluia!” e, aos nove meses de idade, gritava “oh,

glória!” no microfone.

Aos 3 anos, ele sabia pregar o evangelho de memória

e recebia aulas de interpretação dramática em todo

tipo de performance.

Com 4 anos, Marjoe foi oficialmente ordenado ao

ministério e lançado numa carreira

extraordinariamente bem-sucedida. A “Criança

Miraculosa” deixava multidões em pranto e estado de

“êxtase religioso”. Diziam os fiéis que o garotinho era

um “milagre de Deus”.

Mas a verdade é que Marjoe recebia um treinamento

cuidadoso, norteado por uma disciplina severa e a

insaciável ambição de sua mãe. Os sermões eram

impecavelmente memorizados: cada palavra, cada

pausa, cada gesto, cada “cura de fé” - tão cativantes

que enchiam os pratos de coleta da igreja.

Page 44: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autora: Kelly R. Conde

Revista Livre Pensamento – Número 1 43

Marjoe considera o que passou como praticamente

uma lavagem cerebral, onde não teve ao menos

tempo para ser criança. Na adolescência, ele foi se

desiludindo diante da encenação de seus poderes

divinos, deixou o movimento evangélico em busca de

meios de sustento mais legítimos e fez parte de uma

banda de rock. Mas em seguida voltou para o circuito

evangélico para realizar seu documentário-denúncia

“Marjoe”, gravado em 1971 e ganhador do Oscar no

ano seguinte, revelando os milenares truques que

utilizava e expondo as características de indústria do

entretenimento que tornaram o evangelismo um

movimento popular de enorme sucesso comercial.

Mas e quanto a todas as outras crianças que passam

por imposições e manipulações mas que, ao contrário

de Marjoe, nunca têm a oportunidade de entender o

que lhes foi feito?

Ninguém conhece realmente o poder de recuperação

de uma criança. Há jovens que viram as costas às

tradições a que estiveram submersos durante anos,

sem nenhum dano, enquanto há crianças que são

feitas prisioneiras ideológicas de tal modo que se

tornam suas próprias carcereiras mais tarde, se

recusando a ter conhecimentos que poderiam lhes

abrir e mudar a mente.

Porque não se preocupar com o modo como os pais

estão formando as crianças e o que estão fazendo

para garantir-lhes informação e conhecimento

necessários para que mais tarde elas possam ser

pessoas esclarecidas, críticas e livres?

Isso seria invadir os “valores” e a “autonomia” dos

pais em relação a seus próprios filhos, certamente

dirão. Mas os mais prejudicados está claro que serão

sempre as crianças.

A reprodução do comportamento dos pais e

conseqüente criação ausente de questionamentos e

discussões só pode levar a um desenvolvimento

unicamente passivo e não reflexivo da criança, onde

o conhecimento nunca terá lugar frente à imitação.

Não deveríamos tapar os olhos e achar que deixar os

filhos totalmente entregues aos pais é benigno, pois

sabemos que essa privacidade da vida em família

encobre práticas nas quais os pais submetem os filhos

a tratamentos que os mandariam para a prisão se não

fosse com o filho deles (como castigos violentos e

ofensas, por exemplo). E o que dizer ainda dos casos

de violência sexual e maus-tratos de todos os tipos

que os filhos sofrem dos próprios pais ou outros

parentes próximos?

Page 45: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autora: Kelly R. Conde

Revista Livre Pensamento – Número 1 44

A violência contra as crianças ainda prevalece em

todos os países do mundo, estando presente em

qualquer cultura, classe, nível de escolaridade, faixa

de renda e origem étnica.

É ilusório pensar que os pais, por tomarem decisões

“adultas” e baseadas em suas experiências, estejam

com a razão. Embora eles tenham alcançado a idade

para consentir e tomar decisões “por sua livre

escolha”, suas percepções do que é correto e bom são

suas, produtos apenas de sua própria fé perceptiva, e

seus filhos serão vítimas da sua ignorância.

Como diz o psicólogo Nicholas Humphrey: “As

crianças têm o direito humano de não ter a cabeça

aleijada pela exposição às péssimas idéias de outras

pessoas — não importa quem sejam essas outras

pessoas. Os pais, da mesma maneira, não possuem

permissão divina para aculturar os filhos do modo que

bem quiserem: não têm o direito de limitar os

horizontes do conhecimento dos filhos, de criá-los

numa atmosfera de dogma e superstição, ou de

insistir que eles sigam os caminhos estreitos e

predefinidos de sua própria fé.”

Que chances essas crianças terão se não fizermos

nada e os deixarmos à mercê das convicções e

ignorâncias daqueles que deveriam estar lhes

protegendo e formando? O direito à liberdade é

espalhado pelo mundo, mas não para as crianças.

Nenhuma criança tem direito à liberdade de

doutrinação, de pensamento, de ser.

Devemos deixar que as crianças sejam submetidas a

isso por causa de uma falsa moral que só faz esconder

os abusos contra esses seres humanos indefesos?

Todos nós deveríamos nos sentir incomodados ao

ouvir uma criança pequena sendo rotulada como

pertencente a uma ou outra religião específica. Afinal,

as crianças são jovens demais para tomar decisões

fundamentais sobre suas opiniões a respeito da

origem do mundo, da vida ou da moral, como defende

o biólogo Richard Dawkins dizendo que “O simples

termo ‘criança cristã’ ou ‘criança muçulmana’ deveria

soar como unhas arranhando uma lousa.”

E o filósofo Daniel Dennett completa: “Imagine se

identificássemos as crianças como crianças fumantes

ou bebedoras, porque seus pais o são?”

Todos têm direito de tomarem suas próprias decisões.

Mas essas decisões precisam ser decisões informadas

e muito bem pensadas. E as crianças não têm como

tomar decisões ainda pequenas, não têm informações

suficientes para isso.

O que dizer a elas então? TUDO.

Para ensinar religião, ensine sobre todas e as deixem

pensar sobre isso, do mesmo modo como ensinaria

história ou filosofia. Elas precisam saber que têm

opções, em tudo, e que tudo tem um motivo, que

nada tem como resposta “porque sim”, ou “porque eu

estou dizendo”. Se não sabe, diga simplesmente “não

sei”, procure saber, ou procure alguém que saiba para

explicar.

Assim, ao menos, ninguém será enganado ou privado

de fazer as melhores escolhas.

Imagem do filme "Monstros S.A."

Sobre a autora da coluna

Kelly R. Conde, 22 anos, é formada em Ciências Contábeis, graduanda em Pedagogia e musicista. Autora do blog CCAL e integrante do Projeto Livres Pensadores, tem

uma visão secular, e é contrária a qualquer tipo de fé, valor, crença, moral, ideologia, doutrina, religiosidade, cientificismo ou filosofia de vida. Blog: criandocondicoesaliberdade.blogspot.com

Page 46: Revista Livre Pensamento – Número 1

Colunas – Autor: Fred Lins Junior

Revista Livre Pensamento – Número 1 45

RESENHAS DE LIVROS

“Mendigos: Párias ou heróis da cultura?”

(LGE, 203 páginas, 35,00 reais), de Ezio Flavio Bazzo

O país inteiro os abriga contra a vontade, a sociedade - preocupada exclusivamente

com suas ignóbeis tripas e aparências - os detesta e os oculta. A França hoje tem o

desgosto de tê-los aos montes. Roma tem uma rede de restaurantes para saciá-los e

apaziguá-los. Não dirigem a palavra a ninguém, vivem rindo ou em prantos sem

medo de escancarar a boca desdentada.

São usados por cristãos que arquitetam sorrateiramente uma demagogia de

caridade, com seus albergues, suas sopas, suas bastardices falsamente pacifistas e

sua metafísica piegas.

Os comerciantes mandam matá-los para que não fiquem ali nas escadas de seus

negócios. Os adolescentes os queimam vivos nas paradas de ônibus e os

governantes os enfiam em trens, caminhões ou em carroças e os despacham para

seus vilarejos de origem de onde também já foram banidos.

Os mendigos desprezam tudo aquilo que a sociedade

“normal” gastou 7 mil anos para construir e organizar.

Sim, essa filosofia kamicaze é algo digno de admiração

e de interesse, algo fascinante, que merece muito

mais que alguns textos. Essa prática “agnóstica” e essa

praxis “niilista”, exposta livremente nas ruas e nos

becos deveria ser tema de Encontros Internacionais,

de Aulas Magnas e de Congressos.

Os padres os excomugam quando os surpreendem

cagando nos fundos das catedrais, a polícia e os

"seguranças" dos prédios os acossam dia e noite. Se

precisam de uma hospitalização são tratados como

porcos e com horror. São vistos nos semáforos aos

pedaços, como bufões decadentes, trêmulos de

embriaguez e de fome. Entretanto, todas as religiões

colocadas em fila, não seriam mais do que merda

desidratada quando interpretadas à luz de um

mendigo de cócoras.

A sociedade perdulária e extravagante os detesta

mesmo mortos e os expurga implacavelmente até

mesmo de sua memória, mas eles "milagrosamente"

resistem. Não se rendem. Apesar de todas as

canalhices, estão por todos os lados. Seguem dizendo

não ao trabalho, não à sujeira política, não à corrida

idiota do cotidiano em direção ao nada e cospem

sobre as propostas estatais ou clericais de "readaptá-

los" ou de "normalizá-los".

Ezio Flavio Bazo é graduado em psicologia, cursou

mestrado em psicologia clínica na Universidade

Nacional Autonoma do México e doutorado na

Universidade Nacional de Barcelona. Mais tarde

dedicou-se a um pós doutoramento no Instituto de

Altos Estudos da América Latina, em Paris. Apesar

dessa longa permanência no meio acadêmico, Bazzo

considera o estudo formal uma grande fraude, um

adestramento desnecessário e inútil que vai deixar

limitações e cicatrizes profundas na capacidade de

pensar dos estudantes e dos futuros "doutores".

Bazzo faz questão de ressaltar e de colocar em

primeiro lugar sua bagagem como auto didata e como

"viajante inveterado".

Sobre o autor da matéria

Fred Lins Junior é alguém que luta por uma sociedade onde o trabalho alienado deve dar lugar a uma criatividade coletiva, regulada pelos desejos de cada

um, onde o direito de comunicação real pertence a todos.

Page 47: Revista Livre Pensamento – Número 1
Page 48: Revista Livre Pensamento – Número 1

Dicas para a Internet

Revista Livre Pensamento – Número 1 47

DICAS PARA A INTERNET

Sites Recomendados

Ceticismo:

Ceticismo Aberto: http://www.ceticismoaberto.com/

E-Farsas: http://www.e-farsas.com/

Ceticismo.net: http://ceticismo.net/

Ateísmo:

Ateus.net: http://ateus.net/

Diário Ateísta: http://www.ateismo.net/

Ateus do Brasil: http://ateusdobrasil.com.br/

Ciência:

Scientific American Brasil:

http://www2.uol.com.br/sciam/

Instituto Ciência Hoje: http://cienciahoje.uol.com.br/

CienSinando: http://www.ciensinando.com.br/

Scientia Est Potentia: http://francisco-

scientiaestpotentia.blogspot.com/

- Astronomia

GAEA: http://gaea-astronomia.blogspot.com/

- Neurociência

A neurocientista de Plantão:

http://www.suzanaherculanohouzel.com/

- Biologia

Tree of Life Web Project: http://tolweb.org/tree/

- Psicologia

Mente e Cérebro:

http://www2.uol.com.br/vivermente/

Filosofia:

Só Filosofia: http://www.filosofia.com.br/

Notícias:

PauloPes Weblog: http://www.paulopes.com.br/

Humor:

Desordem Publica: http://desordempublica.com.br/

Um Sábado Qualquer:

http://www.umsabadoqualquer.com/

Jesus Manero: Blog http://jesusmanero.blog.br/ e

Tumblr: http://jesusmanero.com/

Sites Úteis

Encurtadores:

Virou Grama: http://virou.gr/home – Quando você

encurta uma URL nele, cada caractere vira 1g de

alimento a ser doado pelo Carrefour.

Previsões de passagens de satélites

Heavens Above: http://www.heavens-above.com/ –

Nele é possível ver previsões de passagens da ISS,

Hubble e vários outros satélites (como Iridium Flares)

de forma bastante simples.

Imagens e Wallpapers:

Astronomy Picture of the Day (Foto Astronômica do

Dia) da NASA:

http://apod.nasa.gov/apod/astropix.html

HubleSite: http://hubblesite.org/gallery/wallpaper/ –

Papéis de parede criados a partir de fotos do Hubble

Domínio Público: http://www.dominiopublico.gov.br/

– TONELADAS de conteúdo que pode ser baixado

gratuitamente por qualquer um.

Page 49: Revista Livre Pensamento – Número 1

Dicas para a Internet

Revista Livre Pensamento – Número 1 48

Projeto Livres Pensadores

Livres Pensadores: http://livrespensadores.org/

Metropolis: http://metropolis.livrespensadores.org/

Bar do Ateu: http://bardoateu.blogspot.com/

Uma Visão de Mundo:

http://www.umavisaodomundo.com/

NerdWorking: http://nerdworkingbr.blogspot.com/

A Origem: http://aorigem.wordpress.com/

Filhos de Oort: http://filhosdeoort.blogspot.com/

Deus Ilusão: http://deusilusao.wordpress.com/

Historiae Religionis:

http://historiaereligionis.wordpress.com/

Criando Condições à Liberdade:

http://criandocondicoesaliberdade.blogspot.com/

Análise Funcional:

http://analisefuncional.livrespensadores.org/

Carlos Orsi: http://carlosorsi.blogspot.com/

Rebeldia Visual: http://rebeldiavisual.tumblr.com/

Olhar Beheca: http://olharbeheca.blogspot.com/

In Nomine Dei: http://www.wilsonoliveira.com/

Sou Evoluído!:

http://souevoluido.livrespensadores.org/

Montando o Quebra-Cabeça:

http://danielgontijo.blogspot.com/

Diários de Harvey Dent:

http://diariosdeharveydent.blogspot.com/

Personalogia: http://personalogia.wordpress.com/

Notas de um Flanador:

http://flanador.livrespensadores.org/

PodPensar: http://podpensar.livrespensadores.org/

Nihil Lemos: http://nihil-lemos.livrespensadores.org/

Outras Verdades Inconvenientes:

http://outrasverdadesinconvenientes.blogspot.com/

Crazy Feelings: http://costelafeelings.blogspot.com/

Vida em Órbita: http://vidaemorbita.blogspot.com/

Contraventro: http://contravento.net/

Fiat Lux: http://fiatlux.livrespensadores.org/

A Influência da Cultura na Lei:

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http://behavioristlady.blogspot.com/

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Page 50: Revista Livre Pensamento – Número 1

Revista Livre Pensamento – Número 1

Editores das Matérias:

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Fred Lins Junior

Ligia Amorese

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Colunistas:

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Fred Lins Junior

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