revista kino nº4

EditorialO relógio marca o passo. Acordar. Levantar. Sair. O minuto não é fe-chado. Possibilidades. Escolhas. Direita, esquerda. Parar? Decidir. Seguir o caminho. Fluxo. Crono-grama. Plano.Existe um plano traçado? As escolhas são mera-mente alegóricas. “Desculpas” para realizar algo que, invariavel-mente, aconteceria? Ou é possí-vel mudar? Acordar. Levantar. Sair. E seguir o dia como uma folha em branco a ser preenchida pelas de-cisões que forem tomadas, sendo a única certeza: “a bola é redon-da e o jogo dura 90 minutos”.

Expedientedireção Renato Loose capa Ana Paula Caldascoluna legenda Karla Monteiro de Moraestrilha sonora Jelmer van Lenterenimagens Adele Bullwinkel,Alexander Egger,Danilo Gonçalves,Fábio Pires,Francesca Sardigna,Herr Hewell,Paola de Giovanni,Pilar Berio,Thiago Antonovas

Desde 2003 a Bloodwars Magazine está online, e a intenção é clara: mostrar as diferentes expressões de arte que vêm das ruas junto de suas vertentes alter-nativas.

Em suas páginas, além de muita criatividade, nota-se a preferência por destacar o lado mais underground do que é feito fora das quatro paredes, o que compre-ende tanto o produto final quanto o passo-a-passo de criação das imagens, em sua maioria, grafitadas.

Na sua última edição publicada (número 26)há um livro de processos à venda. Trata-se do Bloodwars Book, em sua primeira e limitada edição.

Confira tudo isso aqui: www.bloodwarsmagazine.com

Trailer é o espaço para a divulgação de outras revistas

Subversões

Quem freqüenta o Camiseteria (www.camiseteria.com) já ouviu falar dela. Além de fazer parte do time de designers cujas estampas foram aprovadas, ela está sempre presente nas caixas de comentários com a sua habitual simpatia, porém sem perder a sinceridade. Ana Paula Caldas tem 28 anos e desde os 25 dedica-se ao design gráfico. Suas princi-pais influências estão nos trabalhos da Nitrocorpz (www.nitrocorpz.com) e de Guilherme Marconi (www.marconi.nu). Ela acredita que uma ilustração está sempre vinculada à arte e aproxima-se da subjetividade do trabalho. “É um processo que sugere novas formas de sensibilidade, de experimentar e usar outras linguagens. Oxigenar a prática faz evoluir, ampliar o ponto de vista individual. Tudo isso sem esquecer a eficácia do lápis. É essencial não permitir que o computador imponha uma maneira de pensar”.Ponto para a Ana!

Capa: Ana Paula Caldas [email protected]

Ana Paula [email protected]

Karla Monteiro de Moraes

Ana Paula [email protected]

Passamos os nossos dias correndo, cumprindo prazos, tomando atitudes instantâneas. Entre tantas atividades, sobra pouco tempo para pensarmos nas decisões relativas à nossa própria vida. E o que é a vida, senão uma incursão rumo ao desconhecido?

“De onde viemos? Para onde vamos? Onde estamos? De onde sabemos o que achamos que sabemos? Como acreditamos nas coisas?” Essas ques-tões marcam o início da narrativa de Corra, Lola, Corra (Lola Rennt, 1998, Alemanha), dirigido por Tom Tykwer.

Ao longo dos 81 minutos de filme, Lola (Franka Potente) corre, e dá cansaço só de ver a pobre moça suando a camisa para salvar o namorado, Manni (Moritz Bleibtreu), que é coletor de uma quadrilha.

Nesse dia, ele carregava uma sacola com muito dinheiro, a mando do chefe do bando, que desejava testar sua leal-dade. O problema é que o rapaz esque-ceu a bolsa no metrô, e tem apenas 20 minutos para recuperar todo o valor, ou terá que pagar com a própria vida.

Assim tem início a odisséia de Lola, que sem muito tempo para pensar em uma solução, vai correndo atrás das primei-ras idéias que surgem em sua cabeça. Essa atitude, contudo, resulta em novos problemas.

Trilha Sonora é mais uma nova seção da Kino. Este espaço será

preenchido pela arte e por uma lista musical feitas por um convi-dado. Nesta edição, o arquiteto e designer Théllius Zamprogno

selecionou suas melhores músi-cas para bisbilhotar a vizinhança.

Veja na próxima página!

Soundtrack is one of the brand new Kino’s sections. This place will be filled by art and music list made by a guest. This edi-tion, the architect and designer Théllius Zamprogno show us his best songs to spy the neigh-borhood. Check next page!

Mas, na ficção (assim como na vida, de certa forma), é possível parar tudo e re-começar. E é isso o que Lola faz. São três diferentes histórias que surgem do mesmo mote. Na terceira rodada, após notar os erros recorrentes, ela resolve tentar acertar as coisas. Um dos remendos é pular no carro do Sr. Meyer (Ludger Pistor) e im-pedi-lo de bater “novamente” no veículo branco, cheio de bad boys, que vinha na transversal. A batida, no entanto, acon-teceu logo depois, envolvendo o mes-mo carro branco. Isso fica claro quando Lola pega carona numa ambulância, já ocupada pelo acidentado Meyer. Con-clusão: nem tudo está atrelado a suas (nem às nossas) ações.

Se não podemos alterar certas coisas, que já estão determinadas, temos a li-berdade de agir sobre as circunstâncias. Lola dá a mão ao moribundo, que mila-grosamente começa a se recuperar.

A história do Sr. Meyer é uma dentre tantas outras que cruzam o caminho da protagonista. Algumas são contadas em flashes, por meio de fotografias que nos revelam quem são essas pessoas, quais foram os pontos decisivos de suas vi-das, e que rumo elas deram a suas exis-tências, a partir desses acontecimentos cruciais. Tudo isso é mostrado em pou-cos segundos, na velocidade dos pas-sos de Lola, que são cadenciados pela música eletrônica da trilha, composta, em grande parte, pelo próprio diretor, com participação de Franka Potente.

odisséia

Em todas as versões dos acontecimen-tos, nos deparamos com uma figura curiosa, o guarda (Armin Rohde) do banco gerenciado pelo pai da moça, que também marca presença na intro-dução da película.

Primeiramente, o argumento do filme é narrado em off: “O homem: prova-velmente a espécie mais misteriosa do planeta. Um mistério de perguntas sem respostas (...) Inúmeras perguntas em busca de uma resposta. Uma resposta que levará à outra pergunta, cuja res-posta levará à outra pergunta, e assim por diante. Mas, no final, não é sempre a mesma pergunta? E sempre a mes-ma resposta?”. Essa introdução é arre-matada pelo guarda: “A bola é redonda. O jogo dura 90 minutos. Isso é um fato. Todo o resto é teoria”.

Quando o jogo da vida termina, não sabe-mos. Depende do apito do juiz. Por isso corremos, na ânsia de fazermos uma boa partida. Lola vivia os 20 minutos decisi-vos em campo. Sua vida tomava rumos cíclicos, como os da bola, e o guarda estava sempre presente, parecendo ser o único, além dela, a ter consciência do girar dos acontecimentos.

“Finalmente chegou, benzinho”, diz ele na terceira visita de Lola ao banco. Só que, dessa vez, ela não entra. Ao ouvir a indagação, Lola literalmente pára e re-flete sobre a raiz de seus descaminhos (tentar conseguir o dinheiro com o pai, no banco) e segue um novo rumo.

enigmas entregando os pontos

É a partir daí que a protagonista começa a, realmen-te, correr atrás do prejuízo, e faz o que todos deverí-amos fazer em meio à correria diária: ela pensa. Mais que isso: se desarma e pede ajuda, em pensamento, a Deus, à vida, ao destino, ou como quiser chamar esse mistério de que trata a introdução do filme. “Va-mos, ajude-me, por favor. Só dessa vez. Vou continu-ar correndo. Estou esperando...”.

Quando desiste de tentar controlar toda a situação, o inesperado acontece. Ela quase é atropelada por um caminhão. Forçada pelas circunstâncias a interromper sua trajetória, Lola vê a solução, que sempre esteve ali, na sua frente: um cassino.

Após receber a ajuda superior que pediu, ela faz a sua parte - entra na casa de jogos e usa os artifícios de que dispõe para tentar ganhar. Talvez um grito capaz de provocar ondas sonoras que quebram copos possa mover a bolinha da roleta para o número certo, não? Talvez aqui um empurrãozinho sobrenatural tenha sido decisivo, novamente.

O resto, todos já sabem: ela e Manni finalmente se dão (muito) bem. Para mim, Corra, Lola, Corra deixa algu-mas reflexões: a vida é um mistério,e não deve-mos tentar controlar todas as coisas, ou “corremos” o risco de “correr” em círculos intermináveis.

entregando os pontos

Karla Monteiro de Moraes é jornalista, pós-graduada em História e Literatura e fanática por cinema. [email protected]

Ilustrações:Renato Loose

A primeira câmera digital do holandês Jelmer van Lenteren chegou junto com seu aniversário de 18 anos. Entusiasmo não pode ser definido como a pa-lavra correta para o momento, afinal, ele não clicou mais que vinte quadros. A situação mudou de figura durante uma viagem à Grã-Bretanha. Desde então, a fotografia passou a fazer parte de sua vida. Além dos cliques, Jelmer escreve poemas que, muitas vezes, são traduzidos em imagens que captam a atmosfera das cidades, seus habitantes e seu ritmo. Acostumado à essa ótica do movimento, ele escolheu uma seqüência de músicas para que Lola não pare de correr.

Trilha Sonora é um espaço preenchido pela arte e por uma lista de músicas feitas por um convidado especial.

doug davies lola (cinema de funk vol. 3)

pink floyd money (dark side of the moon)

easy star all stars time (dub side of the moon)

josé gonzález love will tear us apart (remain ep)

the knife heartbeats (deep cuts)

[email protected]

velvet underground run run run (the velvet underground and nico)

gomezsilence (split the difference)

great lake swimmers moving pictures silent films

poleberlin

fatboy slim weapon of choice

(halfway between the gutter and the stars)

[email protected]

Sua sala vai ficar Aristocrática

Pôsteresexclusivos

a partir de r$ 20FRETE GRÁTISpara todo Brasilwww.revistakino.com

Pilar Berrio - Colômbia - www.pilarberrio.com

Francesca Sardigna - Itália - www.myspace.com/follepsicke

Alexander Egger - Áustria - www.satellitesmistakenforstars.com

Danilo Gonçalves - Brasil - danilo-goncalves.deviantart.com

Fabio Pires - Brasil - www.desde69.zioanza.com

Adele Bullwinkel - Alemanha - [email protected]

Paola de Giovanni - Itália - www.meanmagenta.com

Thiago Antonovas - Brasil - www.flickr.com/photos/chatolegal

Herr Hewell - Alemanha - [email protected]

as cores de Almodóvar...

prazo: 20 de março

revista kino nº4

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