revista intertox - revinter - volume 2 número 3 outubro de 2009 - são paulo
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A RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela InterTox, São Paulo, SP, Brasil.TRANSCRIPT
RevInter REVISTA INTERTOX DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE
ISSN 1984-3577 - Vol.2, N.3, JUL/OUT 2009
RevInter
REVISTA INTERTOX DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE
ISSN 1984-3577
Revista Eletrônica Quadrimestral
meses: (2) fevereiro; (6) junho; (10) outubro
A RevInter é uma publicação da Intertox Ltda, Rua Monte Alegre, 428 – CJ 73, São Paulo, SP
– 05014-000. Disponível em http://www.intertox.com.br.
As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade
dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.
Seções:
Artigos técnicos; Revisões; Comunicações; Ensaios; Informes; Opinião
Idiomas de publicação:
Português; Inglês; Espanhol
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EDITOR CIENTÍFICO (2009-2011)
Irene Videira Lima
Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML/SP por 22 anos.
COMITÊ CIENTÍFICO (2009-2011)
Irene Videira Lima
Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML/SP por 22 anos.
Marcus E M da Matta
Doutorando em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão
Ambiental USP. Turismólogo e graduando em Engenharia Ambiental.
Moysés Chasin
Farmacêutico-bioquímico pela UNESP/SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas
e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e
Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São
Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999.
Ricardo Baroud
Famacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da
UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia.
CONSELHO EDITORIAL CIENTÍFICO (2009-2011)
Alice A da Matta Chasin
Doutora em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia.
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Eduardo Athayde
Coordenador no Brasil do WWI – World Watch Institute.
Eustáquio Linhares Borges
Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-
Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.
Fausto Antonio de Azevedo
Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA,
ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do
Estado da Bahia.
João S. Furtado
Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill,
NC, EUA).
Sylvio de Queiroz Mattoso
Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do CEPED-BA.
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Editorial 1 Artigo original
RISK ASSESSMENT OF ANATOXIN-A Vania Rodríguez; Ernani Pinto
2-20
REAPROVEITAMENTO DE SOLUÇÕES ÁCIDAS EM LABORATÓRIO MULTIDISCIPLINAR DA FACULDADE DE MEDICINA DO ABC Ana Paula Garcia Bezerra; Raphael Garcia Biondo
21-26
PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE REGULAMENTAÇÕES DA ESPANHA, EUA E BRASIL. Tiago Severo Peixe; Elizabeth de Souza Nascimento; Fabriciano Pinheiro
27-41
Artigo de revisão
EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A CIANETOS – UMA REVISÃO Cyro Hauaji Zacarias
42-50
Informe
QUIMIOTERAPIA DO CÂNCER: IMUNOSSUPRESSÃO X IMUNOESTIMULAÇÃO Giovanna Ribeiro-Santos
51-54
CLASSIFICAÇÃO DE PERIGO DE SUBSTÂNCIAS E PRODUTOS PARA O AMBIENTE AQUÁTICO: SISTEMA GHS Marcus E. M. da Matta; Fabriciano Pinheiro
55-63
Opinião
TOXICOLOGIA – A CIÊNCIA DOS LIMITES E O LIMITE DA CIÊNCIA Fausto A. de Azevedo
64-72
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: UMA AVALIAÇÃO Sylvio de Queirós Mattoso
73-83
Normas para publicação 84-91
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Editorial
E o que poderia ser categorizado como um tímido sonho transforma-se numa
realidade jovem e promissora: a RevInter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Sociedade, completa o primeiro ano de vida ao tempo em que lança sua quarta
publicação, o volume 2 número 3.
Sonho nascido de um grupo de toxicólogos de ofício, de diferentes formações, o que
bem espelha o caráter multidisciplinar do exercício profissional em toxicologia, que,
abrigados no escudo protetor e animador da InterTox, ousaram fazer diferente.
E aí está, aquela jovem realidade é altamente perturbadora: até aqui são 3.862
acessos ao vol. 2 n. 2, 12.609 acessos ao vol. 2. n. 1, e 18.021 acessos ao vol. 1 n. 1
(atualização em 27/09/09, 12h), com artigos campeoníssimos como: A importância da
Toxicologia sob a óptica do REACH (3134 acessos), Reflexões sobre a duração das jazidas
de petróleo em função do consumo e do que pode ser feito para reduzir o consumo de
petróleo (2078 acessos), Índices de periculosidade: orientação para identificação de
perigo de substâncias químicas (1850 acessos)... Ao todo, foram 25 artigos, totalizando
perto de 350 páginas de texto corrente sobre os temas que a revista abarca e cerca de
320 referências bibliográficas. Podemos, sem falsa modéstia, dizer: é nossa contribuição, é
nossa marca, temos alguma presença.
O número agora em lançamento – v. 2, n. 3 – traz mais oito interessantes artigos,
aprofundando o elenco de nossas preocupações e o tratamento científico que a elas
dedicamos. Cobrindo um espectro que vai, na toxicologia: da toxicidade da anatoxina
(uma neurotoxina de cianobactérias) à do cianeto, no risco ambiental: da transposição de
bacias ao não descarte ambiental de ácidos de laboratório analítico, e na sociedade: da
questão ética dos limites ao cotejamento entre regulações de diferentes países, esse
número prossegue a saga de informar, estimular, polemizar e chamar ao debate e ao
conhecimento.
Muito obrigado e boa leitura.
RevInter - InterTox
RevInter - Editorial 1
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RISK ASSESSMENT OF ANATOXIN-A
Vania Rodríguez1
Ernani Pinto2
ABSTRACT
Current natural conditions as well as human activities have been promoting changes and increasing stress in the freshwater and marine environment. One of the consequences is the worldwide occurrence of cyanobacterial (blue-green algae) blooms, which is considered a serious environmental and economic problem (ARAOZ, et al 2005). Risk assessment of cyanotoxins is made more difficult by the lack of scientifically-sound toxicological and epidemiological studies. The available animal data is limited, principally chronic or long term effects. The lack of data is reflected in the fact that a WHO guideline has been agreed only for one group of cyanotoxins (microcystins) (CHORUS and BARTRAM, 2003). Until now, there has been paid little attention to the assessment of risk to drinking water consumers of anatoxin-a, mainly because the suspicion of the rapid excretion of this toxin from the body, no evidence of residual effects and low free-water concentrations in lakes (FALCONER and HUMEPAGE, 2005). Therefore, the aim of this work is to accomplish the risk assessment of anatoxin-a, by approaching three main steps of this process: hazard identification and characterization, exposure assessment, and risk characterization, since the presence of Anabaena sp. blooms capable to produce anatoxin-a are common in São Paulo reservoirs, mainly in spring and summer seasons. Additionally, previous data has shown that this toxin can be found in other Brazilian freshwater reservoirs.
Keywords: cyanotoxins, anatoxin-a, risk assessment
1 Mestre em Toxicologia. Licenciada em Bioquímica. Doutoranda na Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo. São Paulo. 2 Doutor em Bioquímica. Farmacêutico. Professor na Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo. São Paulo. e-mail autor correspondente: [email protected]
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1. INTRODUCTION
Cyanobacteria presence in the worldwide biota is normal. As very ancient life-form
they occupy many ecological niches; however, their abundance is limited by nutrient and
light availability (FALCONER, 2005). There is a strong relationship between phosphorus
concentration in water and cyanobacterial numbers and a similar linked relationship
between dissolved nitrate/ammonia and cyanobacteria too (MUR, 1983). The increase in
the aquatic nutrients (called eutrophication) leads to the uncontrolled growth of
cyanobacteria phenomenon named as bloom. The concern with cyanobacteria is
because of the toxic properties of some strains which may produce toxic secondary
metabolites called cyanotoxins. They have been extensively investigated in fresh, brackish,
and marine waters, including Europe, Americas, Australia, Africa, and Asia (CARMICHAEL et
al. 1977, CODD et al. 2005, BITTENCOURT-OLIVEIRA et al. 2005). Cyanotoxins have been
related to many poisoning incidents of livestock, wildlife, domestic animals, and even
humans (JOCHIMSEN et al. 1998, BALLOT et al. 2005, GUGGER et al. 2005, MOLICA et al.
2005). These toxins cause predominantly hepatotoxic and neurotoxic effects. Among the
neurotoxins are the group of anatoxins, represented by anatoxin-a, homoanatoxin-a, and
anatoxin-a(S) (QUILLIAM et al. 2000). Anatoxin-a is produced by several cyanobacterial
strains as Anabaena, Aphanizomenon, Cylindrospermopsis, Oscillatoria, Microcystis,
Raphidiopsis mediterranea, Planktothrix, Arthrospira, Nostoc and Phromidium (OSSWALD et
al. 2007). Anatoxin-a occurrence is the most common among the anatoxins around the
world.
2. PHYSICAL AND CHEMICAL DATA
Common name:
Anatoxin-a
Chemical name:
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2-acetyl-9-azabicycle[4.2.1]non-2-ene
CAS Registry number
285-06-9
Structural formula:
Molecular formula
C10H15NO
Relative molecular mass:
165.232
pKa: 9,4, at physiological pH it exists in the protonated form.
Physico-chemical proprierties (source: Chemdraw® 8.0)
Boiling point: 561º K (288º C)
Melting point: 395º K (122º C)
Octanol/water partition coefficient: LogPow: 0,21
Stability: Anatoxin-a is instable under natural conditions of sunlight and alkaline
medium. First order decay kinetics of anatoxin-a in sunlight is both pH and light intensity
dependent . In the solutions examined by Stevens and Krieger, which represented expected
biological conditions, the half-life of anatoxin-a was on the order of 1-2 hr. However, in the
absence of sunlight and even in the presence of metal ions the half-live is on the order of
several days. Depending on environmental conditions, it may be partially or totally
HN
O
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degraded to non-toxic products called dihydroanatoxin-a and epoxyanatoxin-a (STEVENS &
KRIEGER, 1991). As it is showed in the table 1, Stevens & Krieger proved that anatoxin-a
photodegradation is dependent of oxygen, but not by photo-oxidation.
Table 1 - Anatoxin-a half-life (minutes or days) under different pH, light and atmosphere conditions (from STEVENS & KRIEGER, 1991)
Sunlight photolysis at lower intensity
Sunlight photolysis at higher intensity
Nitrogen atmosphere
Oxygen atmosphere
Oxygen atmosphere and 10µm Cu2+ in solution
Aqueous anatoxin-a
∞ at pH 2; 151 min at pH 6; 96 min at pH 9
330 min at pH 9; 270 min at pH 12
10 days at pH 9
5 days at pH 9
3.8 days at pH 9
Anatoxin-a in algae lysate
96 min at pH 9 ----- ----- ----- -----
Source: Osswald et al. 2007
3. KINETIC AND METABOLISM DATA
Because of the difficulties to obtain enough quantities of standards, there is a lack of
toxicokinetic information of several cyanotoxins, principally the neurotoxins as anatoxin-a.
Currently, there are known routes of exposure of anatoxin-a for animals such as oral,
dermal and respiratory tract, while for the man intravenous exposure during hemodialysis
may be added (OSSWALD et al. 2007). The most of the published studies about anatoxin-a’s
toxicology have been done using the intraperitoneal route in rodents, maybe because the
lower dose necessary to produce the characteristic effects.
Researchers supervised by Carmichael and Stolerman observed that anatoxin-a is
rapidly absorbed after oral administration, afterwards, it may reach the brain, which possibly
contributes to its rapid lethal effects (CARMICHAEL et al. 1977;
STOLERMAN et al. 1992). One aspect that must be considered is the differences of
sensitivity to the toxin among different animals, particularly avian species.
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Carmichael and Biggs (1978) observed a higher resistance to anatoxin-a of the ring-
necked pheasant than the Mallard duck. These differences in the same taxonomic group
should be carefully considered especially in environmental risk evaluation of anatoxin-a.
Table 2 - Shows sub lethal and pre-death clinical symptoms and onset time of different animal species intoxicated with anatoxin-a.
Test animal Time post-treatment (min) Effects and symptoms Reference
Mouse 2 Gasp, tremors, mild convulsions, paralysis, no detectable changes upon autopsy
GORHAM et al., 1964
Calf 4 Rat 14 Mouse 4 Goldfish 2 Mallard duck
15
Staggers, convulsions, muscle fasciculation (shoulder and limbs), loss of muscle coordination, breathing abdominal (animal down), ptosis, collapse from respiratory arrest, no detectable changes upon autopsy. Latency followed by twitching, gasping and convulsion. Latency followed by muscle rigidity, opened mouth contracted. Opisthotonus (appereance of fowl botulism “limberneck”), muscle rigidity.
CARMICHAEL et al., 1975, 1977
Mouse 60 Decrease locomotor activity. STOLERMAN et al., 1992
Mouse 1 Increased respiration, salivation, micturition, hyperactivity, Straub tail.
LILLEHEIL et al., 1997
Mouse 5-6 Decreased motor activity, altered gait, difficult breathing, and convulsions.
ROGERS et al., 2005
Mouse Decrease in pup weight on port-natal day 1.
MACPHAIL et al., 2005
Source: Osswald et al. 2007.
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4. TOXICITY DATA AND TOXICITY EVALUATION
General toxicity
Anatoxin-a´s target is the cholinergic synapse, specially the places where nicotinic
receptors are in abundance. It acts as a potent postsynaptic depolarizing neuromuscular
blocking agent. Anatoxin-a binds to the nicotinic acetylcholine receptor at the
neuromuscular junction, causes persistent stimulation and consequently a block on further
electrical transmission. At enough high doses it may lead to paralysis, asphyxiation and
death (CARMICHAEL et al. 1975). Death is often preceded by leaping movements in smaller
laboratory animals, while in field cases collapse and sudden death is observed in larger
animals (CARMICHAEL, 2001). According to Alkondon and Alburquerque (1995) anatoxin-a
is more potent than nicotine or acetylcholine in evoking type 1A or type 2 current responses
in rats neurons. Besides, it may evoke the secretion of endogenous catecholamines in
bovines (MOLLOY et al. 1995).
Toxicity studies in animals
4.1. Acute toxicity
4.1.1. Acute toxicity- Oral studies
The oral anatoxin-a’s LD50 values in many species range from 1 to 10 mg/kg bw with a
latent period after administration followed by symptoms of intoxication such as twitching,
gasping, convulsions and death. In mice it was observed a LD50 greater than 5000 µg/kg bw
(ASTRACHAN et al. 1980). As well, Fawell and collaborators (1999) observed mice recovered
rapidly and completely at a single sub lethal i.v. dose.
4.1.2. Acute toxicity- Intraperitoneal studies
The intraperitoneal LDL0 (lowest dose causing death) in mice for anatoxin-a is 250
µg/kg bw and the LD50 350 µg/kg bw (CHORUS and BARTRAM, 2003). There are also have
been reported values of LD50 in mice of less than 100 µg/kg bw and from 200 to 250 µg/kg
bw (WOLF & FRANK, 2002). The World Health Organization adopted the value of 350 µg/kg
bw as LD50 for this compound.
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4.1.3. Acute toxicity- Intravenous studies
By this route, anatoxin-a LD50 in mice is < 100 µg/kg bw (CHORUS & BARTRAM, 2003).
4.1.4. Acute toxicity- Intranasal studies
The intranasal LD50 in mice for anatoxin-a is 2000 µg/kg bw (CHORUS & BARTRAM,
2003).
4.2. Subacute toxicity (repeated dosing)
4.2.1. Subacute toxicity -oral studies
Astrachan et al (1980) administered anatoxin-a in rats orally in the drinking water for 54
days at 0.51 or 5.1 ppm (equivalent to 51 and 510 µg/kg bw per day, respectively). No
toxicity as deaths due to treatment, significant changes in body weight gain, hematology or
clinical chemistry was observed.
Fawell et al. 1999 treated orally by gavage groups of two male and two female mice
with 1.5, 3, 7.5 or 15 mg of anatoxin-a hydrochloride/kg bw for 5 days. After the treatment,
they observed all mice at 15 mg/kg bw and one mouse at 7.5 mg/kg bw died within 5 min
over the first 4 days of the experiment. No signs of clinical toxicity or changes in the body
weight related to the treatment were observed. No treatment related changes were seen
at the necropsy.
Anatoxin-a hydrochloride was administered in groups of 10 male and female mice by
gavage at dose levels of 0, 120, 600 or 3000 µg/kg bw for four weeks. During the experiment,
one male receiving 600 µg/kg bw per day and one female receiving 3000 µg/kg bw per
day died. There were no signs of clinical toxicity or histopathological abnormalities in those
animals, and no cause of death could be identified. The authors concluded that those
deaths may not be excluded as treatment-related, although this was considered to be
unlikely. There were no other treatment-related findings.
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4.2.2. Sub acute toxicity (repeated dosing)-intraperitoneal studies
During 21 days, female rats were treated daily by i.p. injection 0 or 16 µg of anatoxin-
a/rat (approximately 0 or 80 µg/kg bw). There were no deaths neither effects on body
weight gain, hematology or clinical chemistry (ASTRACHAN et al. 1980).
4.2.3. Sub acute toxicity (repeated dosing) – subcutaneous studies
Recently, Jarema et al. (2008) treated subcutaneously groups of male Long Evans rats
with anatoxin-a fumarate (0.05, 0.075, 0.1, 0.15 and 0.2 mg/kg) and nicotine (0.125, 0.3, 0.6,
1.2 and 1.8 mg/kg) during four weeks. The animals were trained to respond under a multiple
variable-ratio 30-response variable-interval 60-s (mult VR-30 VI-60) schedule of food
reinforcement. When initially administered, each compound decrease response and
reinforcement rates in both components of the multiple schedules. Tolerance to anatoxin-
a’s effects was developed, although to a lesser degree than nicotine. The results suggest
that the behavioral effects of anatoxin-a and nicotine are similar, but not identical, and the
episodic administration of anatoxin-a may cause tolerance.
4.3. Reproductive effects
Hamsters received intraperitoneally one or three times per day anatoxin-a doses of
200 or 125 µg/kg bw, respectively at days 12 to 14 of pregnancy (after organogenesis), at
day 15 dams were sacrificed. Fetal malformation (hydrocephaly) in all fetuses in one of 10
litters and stunted growth in almost all litters were caused by the treatment given three times
per day. Once per day treatment produced stunted growth. No maternal toxicity was
observed. (ASTRACHAN et al. 1980)
Fawell and James (1994) did another study where groups of 10 and 12 time-mated
female mice received anatoxin-a hydrochloride by gavage at 0 or 3000 µg/kg bw
(equivalent to 2460 µg/kg bw of anatoxin-a) respectively on the 6th to 15th day of
pregnancy. No effects related to the treatment were observed in the dams of offsprings,
even so there was a slight decrease in fetal weight compared with controls.
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4.4. Genotoxicity and mutagenicity
Currently, no data on genotoxic neither mutagenic potential of anatoxin-a are
available.
4.5. In vitro studies
Lakshmana et al. (2002) treated cultured rat thymocytes and African green monkey
kidney cells (Vero) with anatoxin-containing cell-free extracts from Anabaena flos-aquae
and purified anatoxin-a. They observed the toxin-induced citotoxicity was characterized by
loss of viability, lactate dehydrogenase leakage, loss of mitochondrial function and DNA
fragmentation. Besides, thymocytes showed dose- and time-dependent toxin-induced
generation of reactive oxygen species. So, those facts suggested anatoxin-a induce
apoptosis which is possibly mediated by generation of reactive oxygen species and
caspase activation.
A more recent research was conducted by Teneva et al. (2005), they investigated the
influence of microcystin-LR (an hepatotoxic cyanotoxin) and anatoxin-a on mouse B- and T-
lymphocyte subpopulations in vitro. Both cyanotoxins significantly decreased the cells
viability after 4 and 24 h when compared to the untreated control. Anatoxin-treated
splenocytes viability dropped to 57%. Afterwards, anatoxin-a showed cytotoxic effects on
both lymphocyte subpopulations (T and B), apparently this action appears to be non-
selective and non-specific.
4.6. Effects on humans
No data about effects of anatoxin-a in humans are available.
5. EXPOSURE
Annual or even permanent blooms of toxic cyanobacteria are becoming increasingly
common in drinking water reservoirs. For example the three main reservoirs supplying
Brisbane in Australia all present abundant population of toxic Cylindroespermopsis
raciborskii, other examples are the main drinking water supply reservoirs in Lodz-Poland and
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São Paulo-Brazil which contain heavy blooms of the toxic Mycrocystis aeruginosa strain
(FALCONER and HUMEPAGE, 2005).
Occurrence of anatoxin-a has already been reported in all the five continents,
principally in developed countries as Finland, Norway, Germany, Italy, Spain, France, Irland,
United Kingdom, North Korea, Japan, EEUU and Canada.
Until now, there has been no clear evidence of human poisoning with anatoxin-a, just
one suspicious case in 2003 when a coroner from Wisconsin reported that one teenager
male, who was diving and playing in a pond containing neurotoxic Anabaena strain, died
as a consequence of ingestion of that cyanobacteria (BEHM, 2003). To confirm anatoxin-a
intoxication as the cause of death, it was analyzed the stomach content of the victim by
LC-MS technology to identify anatoxin-a as confirmatory result. However, even it was initially
reported as anatoxin-a-produced death, after it was discovered that there was a
misidentification with phenylalanine amino acid also present in the stomach content. That is
why there is no official published report of the presence of anatoxin-a in humans. By
contrast, anatoxin-a was confirmed in stomach content of two dogs (a Yorkshire terrier
weighting 2,5 kg and a Dogue of Bordeaux weighting 25 kg) in France (GUGGER et al.,
2005). Both dogs showed similar clinical symptoms (vomiting, paralysis of the muscles of hind
legs and respiratory failure) after drinking water from the La Loue River. Even so anatoxin-a
stability in sunlight and acidic conditions is no far than 2-3 hours, the cited report
demonstrated it was enough to produced the dogs death after eating decaying lumps of
cyanobacteria on the lakeside (the smaller dog day immediately and the bigger one after
5 hours). From this cases, it may be concluded that anatoxin-a risk of exposure is principally
from consumption of contaminated drinking and contact with the aerosol during
recreational aquatic activities.
Because is too difficult to evaluate the population exposure to anatoxin-a worldwide,
in this case we considered a specific population supplied by freshwater from one reservoir
which has presented cyanobacteria, as for example, Billings reservoir in São Paulo-Brazil
(Figure 2). We outlined a scenario during a bloom occurrence of toxic cyanobacteria. The
table 3 shows some of the parameters related to cyanobacteria presence reported in the
São Paulo State Freshwater Quality Report of 2007.
RevInter - Artigo original 11
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Figure 2 - Billings Reservoir photo (source: http://www.sabesp.com.br)
Some important data of Billings Reservoir:
Drainage área: 1560 km²
Location: Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema, Ribeirão Pires, Town- São Paulo
State
Storage volume: 995 million of m³
Flow: 4,7 m³/s
Table 3 - Some of water quality parameters monitored and published in the São Paulo State Freshwater Quality Report of 2007
Billings reservoir – Point code Parameter Unit
Reference Value
01SP06100BILL02100
01SP06100BILL02100
01SP06635BILL02900
pH U.pH 6-9 7,5 7,36 8,15 Total phosphorus mg/l maximum 0,3 0,13 0,05 0,02
Ammoniac nitrogen mg/l maximum 3,7 0,53 0,29 0,26 Nitrate mg/l maximum 10 0,61 1,64 0,49 Nitrite mg/l maximum 1 0,43 0,03 0,02 Chlorophyll-a mg/l maximum 30 49,74* 36,32* 16,02 Cyanobacteria cell Cell
number/ml
maximum 50000 212562,5* 98016* 115053*
Mycrocistins µg/mL maximum 1 µg/mL ------ ----- 0,47
*Outside of the reference value
Source: CETESB São Paulo State Freshwater Quality Report of 2007
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Considering the worst case approach, at least 700 thousand people live around this
reservoir. It is used as a freshwater supplier and for recreational purposes, therefore they may
be exposed to anatoxin-a by oral and respiratory route. If at least 50% of the cyanobacteria
cells reported in the São Paulo State Freshwater Quality Report were anatoxin-a-producers
strains we may outline two situations.
Situation1.
This scenario is based on the oral exposure to anatoxin-a. There may be considered:
Body weight: 60 kg for adults and 15 kg for children (U.S. ENVIRONMENTAL
PROTECTION AGENCY, 1997).
Volume of water drunk by day: approximately 2 L/day
Anatoxin-a concentration in water: Difficult to established. It will depend of
environmental conditions. Nevertheless, we may consider the oral LD50 of 350 µg/kg bw in
rats.
Situation 2
This scenario is based on the respiratory exposure to anatoxin-a aerosol. They should
be considered: body weight (60 kg for adults and 15 kg for children)*, respirable fraction (a
respirable fraction of 34.4% for the particles with a diameter of 5 µm is expected)* and
inhalation (inhalation rate for adults, considering the rest state, is 9330 cm3/min,
corresponding to 0,56 m3/h)* (*EUROPEAN COMMISSION DG-ENVIRONMENT, 2002). The oral
LD50 is 2000 µg/kg bw in rats.
6. TOXICITY, HAZARD AND RISK ESTIMATION
Generally, hazard is understood as the propriety of a substance (or activity) to cause
harm. Many substances are hazardous but will not necessarily lead to harm unless
circumstances lead to human exposure. Still after exposure, an adverse health outcome is
not necessarily certain, but rather probably. So, a hazard may be defined as an intrinsic
propriety of a biological, chemical or physical agent to cause adverse health effects. Risk
refers to a probability that exposure to a hazard will lead to a specific (adverse) health
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outcome and is usually expressed as a frequency in a given time (CHORUS and BARTRAM,
2003). Hazard identification involves the identification of known or potential adverse health
effects associated with a specific agent, based on studies conducted under specific
conditions, such as the species tested and the experimental conditions. Epidemiological
studies and animal toxicity studies are ordered as providing the greatest predictive
information. Hazard characterization is the extrapolation phase of risk assessment pointed
toward to make a predictive characterization of the hazard to humans based on animal
studies (species extrapolation) under low exposure conditions (extrapolation from high to
low dose). The endpoint of hazard characterization is the estimation of a “safe dose” such
as a tolerable daily intake (TDI) or equivalent (CHORUS and BARTRAM, 2003).
Critical toxicological data including more adequate and representative studies must
be selected, this data presents NOAELs (Non Observable Adverse Effects Level) description
and chosen critical endpoints, when is desire to establish a safe dose level for a specific
product (BARNES & DOURSON, 1988).
Even there are evidences of adverse health effects of anatoxin-a in animals around
the world, the harm posed by anatoxin-a was not yet translated into any official guideline
value. By other side, exposure and effects of this cyanotoxin have not been fully determined
in humans or aquatic biota; consequently, no risk evaluation could be done (OSSWALD,
2007).
A NOAEL of 98 µg/Kg and a value of 1 µg/l of anatoxin-a in drinking water were
suggested by Fawell and collaborators (FAWELL et al. 1999). They treated mice orally with
doses of 0.98, 0.49, or 2.46 mg/kg bw of anatoxin-a per day. The dose of 2.46 mg/kg bw of
anatoxin-a was chosen as the maximum tolerate dose (MTD) and was administrated to the
animals by 28 days. As the proper authors mentioned, the true NOAEL for this study may
have been 2,46 mg/kg bw of anatoxin-a, but the inability to determine the cause of death
for two animals of the top dose groups means that a relationship with treatment can not be
ruled out. In terms of risk assessment, they calculated for a 10 kg child drinking one liter per
day, this exposure would not be achieved unless the concentration of anatoxin-a were to
reach or exceed 0.98 mg/l. For the researchers the 1 µg/l value would provide a significant
margin of safety of around three orders of magnitude with regard to drinking water.
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If it is considered the NOAEL 98 µg/Kg, it would be possible to calculate a Tolerable
Daily Intake (TDI) for safe human consumption, by the incorporation of uncertainty or safety
factors. Although these factors are subjective, it is generally accepted a factor of 10 for
interspecies uncertainty between rodents and humans, a further 10 for variability in sensitivity
between people and an uncertainty of 10 for inadequate data (FALCONER and HUMPAGE,
2005).
So the calculus would be:
From this value a possible Guideline Value (also named Reference dose and the
maximum acceptable concentration) may be calculated using the standard bodyweight
of 60 kg and a standard water consumption of 2 l/day (FALCONER and HUMPAGE, 2005).
This calculated GV may not be used as an official GV yet because of the lack of sub
chronic toxicity data in other type of animals (besides rodents) as supporting data.
The New Zealand Ministry of Health was less restrictive and calculated and proposed
a Maximum Acceptable Value (MAV) of 6 µg/l for anatoxin-a in drinking water. This MAV
value is calculated on the basis of protection to avoid adverse health effects from chronic
exposures (MINISTRY OF HEALTH OF NEW ZEALAND, 2005).
As well, domestic and farm animals intoxications may also be considered. The first
concern about possible intoxication of domestic animals by anatoxin-a was reported by
Gorham and collaborators (GORHAM et al. 1964). Since then, there have been reported
many fatalities related to anatoxin-a (SMITH 1986, GUGGER et al. 2005, BALLOT et al. 2005).
Any organism in contact with water, algae or food contaminated with anatoxin-a, may be
98 TDI = = 0,098 μg/kg/day 10 x 10 x 10
=
2 GV 0,098 x 60 2,94 = =
= 3 μg/l of anatoxin-a in drinking water for adults.
1 GV 0,098 x 10 0,98 = =
1 μg/l of anatoxin-a in drinking water for children. =
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intoxicated. In fact, it may be take in count for any organism aquatic or not, which is directly
or indirectly in contact with contaminated water (OSSWALD et al. 2007). For example,
according Osswald et al. (2007b) swimming of juvenile carps placed in aquarium
contaminated with extracts of anatoxin-a was altered. Currently, there are no studies
determining transference or bioamplification of anatoxin-a through food chain.
Considering the high toxicity of anatoxin-a to humans and vertebrates, as well the
potential harm to ecosystem, the presence of cyanobacteria should always be considered
a health hazard (OSWALD et al., 2007). Nevertheless, the WHO proposed a managerial
response model presented as a “decision tree” (ANNEX 1) which may be considered as a
general framework taking in count the local conditions.
7. RISK EVALUATION
There are two areas in which more data is necessary to make a clear case for
national action on minimizing health risk from cyanobacterial toxins. The first one is the need
for spread the monitoring of the presence of toxic cyanobacterial species and toxins in
drinking water sources, in order to identify the abundance of locations of potential risk. The
second and more difficult aspect is the need for epidemiological studies on at-risk
populations to quantify the adverse health effects. Exposure biomarkers will have to be
developed, in addition to quantifying the concentrations in tap water (FALCONER AND
HUMPAGE, 2005).
Despite some studies and organizations have tried to establish a NOAEL value, data
has been considered insufficient for derivation of a TDI (Total Daily Intake).
As presented in the item 5, where it was described two possible scenarios, there is a
real exposure risk to anatoxin-a, not only by oral route but also by inhalation of aerosol
containing anatoxin-a. However, there is no enough toxicological data to do a complete
risk evaluation. Even so, is it possible to suppose that because of the high toxicity of
anatoxin-a, even if the exposure were very low, the risk will be at least low or medium.
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8. CONCLUSION
In the present study, it was tried to present a risk assessment of anatoxin-a taking in
count the presence of a sort of cyanobacteria strains present in the São Paulo freshwater
reservoirs, which may be potential anatoxin-a-producers, it was no possible establish
specifically how big or small the risk is with reliability. The GV values of 3 μg/l and 1 μg/l of
anatoxin-a in drinking water for adults and children, respectively, were calculated
according the few available data. Environmental pollutants, as anatoxin-a, whose
production rate is not completely elucidated, because of the unawareness of the specific
environmental conditions that increase or decrease its production make the scenarios more
confusing and difficult to evaluate. Even that, it is no less important to continue trying further
evaluation, cause cyanobacterial populations and hence toxic risks are likely to rise in the
immediate future.
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REAPROVEITAMENTO DE SOLUÇÕES ÁCIDAS EM LABORATÓRIO MULTIDISCIPLINAR DA
FACULDADE DE MEDICINA DO ABC
Ana Paula Garcia Bezerra1
Raphael Garcia Biondo2
RESUMO
No momento atual, os resíduos químicos gerados nas aulas práticas dos cursos da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) se constituem em perigoso passivo ambiental, devido ao crescente aumento deste volume e às precárias condições de armazenamento. Observando a grande quantidade de soluções de ácido clorídrico e de ácido sulfúrico estocadas e tomando espaço, surgiu a idéia de reaproveitamento dessas soluções em nossa instituição. Soluções de variadas concentrações de HCl (0,1 a 6,0 mol/L) foram reunidas em uma bombona perfazendo um total de 25 litros. Soluções de variadas concentrações de H2SO4 foram reunidas em uma bombona perfazendo um total de 5 litros. A solução de HCl foi padronizada a 1,0 mol/L, utilizando-se uma solução de NaOH 1,0 mol/L. A solução de H2SO4 foi padronizada para 5,0 mol/L com uma solução de NaOH 2,0 mol/L. Esse procedimento eliminou a armazenagem de resíduos de soluções ácidas em grandes volumes, houve a liberação de espaço dentro do laboratório além de minimizar o gasto com matéria prima através do reaproveitamento dessas soluções. Os pequenos volumes de soluções ácidas preparados diariamente para as aulas prática serão neutralizados no final do processo e descartados na rede de esgoto sempre que este procedimento se mostrar viável.
Palavras-chave: descarte de resíduos, reaproveitamento de resíduos, reuso de resíduos
1 Bacharel em Química – Técnica do Laboratório Multidisciplinar da Faculdade de Medicina do ABC. 2 Acadêmico do curso de Bacharel em Química – Auxiliar do Laboratório Multidisciplinar da Faculdade de Medicina do ABC.
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1. INTRODUÇÃO
Em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD) realizada no Brasil, criou-se a Agenda 21, onde o Capítulo 19
é dedicado exclusivamente ao tema da segurança química e onde são apontados os
problemas de poluição química em grande escala. A Agenda 21 é um plano de ação
com metas para a melhoria das condições do meio ambiente. Todos os setores da
sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio-ambientais.
As instituições de ensino e de pesquisa, os laboratórios de análises químicas, físico-
químicas e bioquímicas são geradores de resíduos, mas são considerados pelos órgãos
fiscalizadores como atividades não impactantes e, assim sendo, raramente fiscalizados
quanto ao descarte de seus rejeitos químicos.
Com a crescente conscientização e a mobilização da sociedade civil há que se
pensar que esses pequenos geradores de resíduos tenham o mesmo grau de exigência
que o Estado dispensa aos grandes geradores (JARDIM, 1998).
No atual cenário, vários segmentos da sociedade vêm cada vez mais se
preocupando com o desenvolvimento sustentável e as Universidades não podem mais
continuar com essa medida cômoda de simplesmente ignorar sua posição de geradora de
resíduos.
Um programa de gerenciamento de resíduos tem como objetivo primeiro minimizar
os danos causados pela disposição adequada desses rejeitos químicos nos corpos
receptores disponíveis (rede de esgoto, águas superficiais, aterros etc.).
No momento atual, os resíduos químicos gerados nas aulas práticas dos cursos da
Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) ficam sob a responsabilidade dos técnicos do
Laboratório Multidisciplinar, quando há disponibilidade de horário para tal tratamento ou
neutralização.
Os materiais armazenados constituem-se em perigoso passivo ambiental, devido ao
crescente aumento deste volume e às precárias condições de armazenamento.
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O Núcleo de Saúde Ambiental, tendo a responsabilidade e a preocupação com o
meio ambiente, tomou para si, esta missão e está elaborando um Plano de Gestão e
Gerenciamento de Resíduos Químico (PGGRQ), para a nossa instituição.
Observando a grande quantidade de soluções de ácido clorídrico e ácido sulfúrico,
estocadas e tomando espaço desnecessário, surgiu a idéia de reaproveitamento dessas
soluções em nossa instituição.
2. PARTE EXPERIMENTAL
1. Inventário do passivo
1.1. Ácido clorídrico
Soluções de variadas concentrações de HCl (0,1 a 6,0 mol/L) foram reunidas
em uma bombona perfazendo um total de 25 litros.
1.2. Ácido sulfúrico
Soluções de variadas concentrações de H2SO4 (0,1mol/L a 98% P.A.) foram
reunidas em uma bombona perfazendo um total de 5 litros.
2. Soluções de NaOH 0,1 e 2,0 mol/L.
Foram preparadas soluções de NaOH 0,1 mol/L e de 2,0 mol/L para a padronização
do ácido clorídrico e do ácido sulfúrico respectivamente. (ASSUMPÇÃO & MORITA, 1968;
VOGEL, 1992)
3. RESULTADOS
Padronização das soluções:
A solução de HCl foi padronizada a 1,0 mol/L, utilizando-se uma solução de NaOH
1,0 mol/L.
A solução de H2SO4 foi padronizada para 5,0 mol/L com uma solução de NaOH 2,0
mol/L.
A escolha das concentrações finais das soluções contidas nas bombonas (1,0 mol/L
para HCl e 5,0 mol/L para H2SO4) deveu-se a maior utilização dessas concentrações pelos
professores que ministram aulas práticas.
De modo geral, essas concentrações (1,0 mol/L para HCl e 5,0 mol/L para H2SO4) são
as utilizadas pelos professores das disciplinas que ministram aulas práticas nesse
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Laboratório. A partir dessas soluções padronizadas podemos preparar soluções mais
diluídas em pequenas quantidades, quando houver solicitação.
As soluções ácidas e básicas preparadas diariamente, serão neutralizadas no final do
processo e descartadas na rede de esgoto sempre que este procedimento se mostrar
viável.
Com esse procedimento, ou seja, retirando os frascos dessas soluções do local de
armazenamento, estamos gerando espaço para estocagem de outros produtos químicos e
melhorando a organização do estoque.
4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
De acordo com NOLASCO e col. (2006), na escala de prioridades em um Programa
de Gerenciamento de Resíduos tem-se:
1. Prevenção da geração de resíduos (utilizando-se métodos analíticos mais limpos);
2. Minimização da geração de resíduos utilizando-se técnicas em micro escala
3. Reaproveitamento dos resíduos gerados através da reciclagem, recuperação,
reutilização ou reuso.
4. Tratamento dos resíduos
5. Disposição dos resíduos.
O procedimento por nós utilizado (escala de prioridade 3) eliminou a armazenagem
de resíduos de soluções ácidas em grandes volumes, houve por conseguinte a liberação
de espaço dentro do Laboratório além de interferir diretamente com o custo das aulas
práticas, vez que minimizamos o gasto com reagentes (matéria prima) através do
reaproveitamento dessas soluções.
O inventário do passivo tem o objetivo de identificar quantitativamente a maior
quantidade possível dos resíduos químicos já estocados na unidade. É comum nos
laboratórios voltados ao ensino a existência de um estoque indesejável de resíduos. O
tratamento e a destinação final deste estoque de resíduos são quase sempre de difícil
solução, não apenas sob o aspecto técnico, mas também sob o aspecto econômico.
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Uma vez identificado e caracterizado o resíduo o passo seguinte é avaliar as possíveis
maneiras de se aproveitar ao máximo esse estoque (quando for passível de
reaproveitamento).
A geração de resíduos químicos em instituições de ensino e pesquisa é um sério
problema ao qual não se dá muita importância. Em muitas universidades a gestão dos
resíduos químicos gerados na atividade rotineira é inexistente e o descarte ainda é
praticado.
O ácido clorídrico e o ácido sulfúrico apresentam risco à vida aquática pela
diminuição do pH da água. O pH ácido pode causar redução da população de peixes,
eliminar espécies e interferir na biodiversidade. Sabe-se que as espécies aquáticas não
suportam níveis de pH inferiores a 5,5. E a redução do pH pode causar a liberação de
alumínio do sedimento o que contribui para a diminuição de peso e tamanho dos
organismos bem como tornando esses organismos menos capazes para competir por
alimento e habitat (EPA, 2008)
De acordo com a Lei 6938 de 31 de agosto de 1981 que dispõe sobre Política
Nacional do Meio Ambiente, o gerenciamento dos resíduos pressupõe que a regra geral a
ser adotada é o da responsabilidade objetiva, isto é “quem gera o resíduo torna-se
responsável pelo mesmo” e que o descarte de produtos químicos sem uma orientação
correta, causa degradação ao meio ambiente(NOLASCO, 2006).
Esse trabalho representa uma pequena contribuição, embora incipiente, referente a
gerenciamento de resíduos e é um embrião de um grande trabalho a ser ainda aplicado
por todos os setores que geram resíduo químico nessa Instituição.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSUMPÇÃO,R.M.V & MORITA,T. Manual de soluções, Reagentes e Solventes. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda. p.9-12; 21-24 e 77, 1968.
JARDIM,W.F. Gerenciamento de Resíduos químicos em Laboratórios de Ensino e Pesquisa. Química Nova, v.27, n.5, p.671-673, 1998
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JEFFERY,G.H; BASSETT,J.; MENDHAM,J.;DENNEY,R.C.; VOGEL Análise química quantitativa. São Paulo: Editora JC. p.109 e 236, 1992
NOLASCO,F.R.; TAVARES.G.A.;BENDASSOLLI,J.A.Implantação de Programas de Gerenciamento de Resíduos Químicos Laboratoriais em Universidades: Análise Crítica e Recomendações Eng. sanit. ambient. v.11 - nº 2, p. 118-124, 2006
[U.S. EPA] Environmental Protection Agency. Effects of Acid Rain - Surface Waters and Aquatic Animals .Disponível em http://www.epa.gov/acidrain/effects/surface_water.html. Última atualização: dezembro 2008. Acesso em 15/9/2009.
Agradecimento
Agradecemos a Profª Irene Videira de Lima pela orientação desse trabalho.
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PROTEÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE REGULAMENTAÇÕES DA ESPANHA, EUA E BRASIL
Tiago Severo Peixe1 Elizabeth de Souza Nascimento2
Fabriciano Pinheiro3
RESUMO
As discussões a respeito da necessidade de uniformidade em legislações de proteção e segurança à saúde de trabalhadores vêm ganhando espaço no cenário atual, devido à globalização econômica, os tratados internacionais e a preocupação com a qualidade do local onde se desenvolvem as atividades laborais. Neste contexto, são apresentadas três regulamentações com o intuito de criar a perspectiva de debates e a pauta de atualização da legislação brasileira à cerca de Limites Ambientais e Biológicos no ambiente de trabalho. Palavras-chave: trabalhador, ambiente de trabalho, limites de exposição, legislações
Abstract
The discussions regarding the need of legislation uniformity related with chemical safety and work protection takes attention in the actual world scenario, in function of economic globalization, international agreements and the workplace quality to develop labor activities. This paper describes the differences presented between elements of in order to promote an environment for discussion and emphasize the need to update of the Brazilian rules dealing with Environment and Biological Limit´s in the occupational setting. Key words: worker, workplace, exposure limits, legislation.
1 Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), Universidade de São Paulo (USP).c Intertox, São Paulo/SP. Farmacêutico-bioquímico pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Especialista em Saúde e Segurança do Trabalho pela OIT/ONU. Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela FCF/USP. Doutorando em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela FCF/USP. E-mail: [email protected] – Tel.: (11) 3091-2192. 2 Farmacêutica-bioquímica pela USP. Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela FCF/USP. Doutora em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela FCF/USP. 3 Biomédico pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas pela FCF/USP. Coordenador de Segurança Química da empresa da Intertox/SP.
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1. INTRODUÇÃO
A gestão segura de produtos químicos faz-se imprescindível com o aumento da
produção e o uso de produtos químicos advindo do intenso processo de industrialização e
do crescimento populacional, aliado ao surgimento de inúmeras doenças e acidentes
relacionados a estes produtos no ambiente de trabalho.
Neste contexto, a Convenção nº 170, de 25/06/1990 (ILO, 1990) da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), foi um marco por levantar mundialmente a discussão sobre
a Segurança na Utilização de Produtos Químicos no Trabalho. O Brasil ratificou a
Convenção nº 170 por meio da publicação do Decreto nº 2.657, de 03/07/1998 (Brasil,
1998).
Atualmente, inúmeras legislações abordam o tema referente a exposição segura a
compostos químicos, no ambiente de trabalho, por meio de limites de exposição gerados a
partir de estudos realizados pela comunidade científica.
1.1. Exposição Ocupacional a um agente químico
Define-se exposição como: “... a situação decorrente de uma atividade profissional
em que o trabalhador tem contato com um agente químico de tal forma que há
possibilidade de produção de efeitos locais e sistêmicos em curto, médio ou longo prazo”
(DELLA ROSA, 2003).
A detecção precoce de uma exposição perigosa pode diminuir significativamente a
ocorrência de efeitos adversos à saúde. As informações provenientes da monitorização da
exposição ambiental ou ocupacional possibilitam a implantação de medidas de
prevenção e controle apropriadas, sendo necessários: a definição dos níveis permissíveis de
exposição, que, de acordo com os conhecimentos atuais, são estabelecidos para não
causar efeitos adversos decorrentes da exposição química; e a avaliação regular dos
possíveis riscos à saúde associados à exposição por comparação com estes limites
permitidos (DELLA ROSA, 2003).
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Monitorização da exposição é um procedimento que consiste em uma rotina de
avaliação e interpretação de parâmetros biológicos e/ou ambientais, com a finalidade de
detectar os possíveis riscos à saúde. A exposição pode ser avaliada por medida da
concentração do agente químico em amostras ambientais, como o ar (monitorização
ambiental), ou através da medida de parâmetros biológicos (monitorização biológica),
denominados indicadores biológicos ou biomarcadores (AMORIN, 2003; DELLA ROSA, 2003).
1.2. Monitorização Ambiental
Monitorar significa medir e comparar, assim, a monitorização ambiental preocupa-se
em determinar concentrações de elementos químicos no ambiente de trabalho
comparando-os a valores considerados limites seguros à saúde do indivíduo na atividade
laboral. Para tal, existem critérios necessários à representatividade do conjunto de dados a
serem analisados. Isto é possível graças à amostragem – escolha de um dado
representativo da avaliação realizada.
Segundo Della Rosa, et al. (2003) há fatores que devem ser considerados quando da
avaliação ambiental ou monitorização ambiental, dentre eles:
• Atividades, tarefas ou funções exercidas pelos trabalhadores;
• A área ou local de trabalho;
• O número de trabalhadores presentes e possivelmente expostos;
• Movimentação dos trabalhadores pelo local ou locais de trabalho;
• Movimentação dos materiais (fontes de gases, vapores, poeiras, etc.);
• Condições de ventilação ou movimentação do ar, temperatura e pressão atmosférica;
• Ritmo de produção, e
• Outros agentes químicos ou físicos que possam interferir nas avaliações ou na
exposição.
Outro ponto relevante refere-se à estratégia de amostragem, definindo-se:
• Equipamentos a serem utilizados na coleta e na análise da substância;
• Pessoal de coleta e acompanhamento com treinamento adequado;
• Usar critérios estatísticos de representatividade do grupo amostral;
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• Número de amostras a serem coletadas em cada trabalhador (zona respiratória) ou ponto
estático (coletivo) e tempo de coleta de cada uma.
1.3. Monitorização biológica
A Monitorização Biológica da exposição aos agentes químicos relaciona-se à
medida da substância ou seus metabólitos em vários meios biológicos, como sangue, urina,
ar exalado e outros (por exemplo, mercúrio na urina). Algumas vezes, o conceito de
Monitorização Biológica é estendido para incluir também a detecção precoce de efeitos
reversíveis, como a monitorização biológica de efeito, onde, por exemplo, se analisa a
presença do ácido delta aminolevulínico δ-ALA-D na urina, como um indicador adequado
para a vigilância de saúde de trabalhadores expostos a chumbo (DELLA ROSA, 2003).
A detecção de um efeito adverso, como por exemplo, proteinúria aumentada,
indica que a exposição é excessiva, e, tal medida é apropriada para ser incluída num
programa de detecção precoce de prejuízo à saúde (vigilância à saúde), devido à
exposição a uma determinada substância química. A Avaliação Biológica da exposição às
substâncias químicas só é possível quando estiverem disponíveis informações toxicológicas
suficientes referentes ao mecanismo de ação e/ou à toxicocinética dos agentes químicos
aos quais os indivíduos estão expostos.
Os biomarcadores e sua aplicação na avaliação da exposição aos agentes
químicos ambientais dependem de como a substância é absorvida pelas diferentes vias;
posteriormente, de como é distribuída para os diferentes compartimentos do organismo;
de como é biotransformada; e, finalmente, de como é eliminada. É também necessário
saber se a substância se acumula ou não no organismo. Assim, é de fundamental
importância o conhecimento da toxicocinética dos diversos agentes químicos (MUTTI, 1999;
THORME, 2003).
Da mesma forma, se a Monitorização Biológica estiver baseada na medida de uma
alteração biológica do organismo, causada pelo agente químico, é necessário conhecer
o processo da toxicodinâmica, ou seja, é preciso conhecer o mecanismo de ação da
substância química para identificar quais são os efeitos não adversos decorrentes daquela
ação (MUTTI, 1999). Isso se faz necessário porque só a identificação e a medida de um
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efeito precoce, não adverso, podem ser usadas para fins de prevenção (AMORIN, 2003;
DELLA ROSA, 2003).
2. OBJETIVO
O presente trabalho visa a apresentar e discutir as divergências existentes entre
exemplos de parâmetros de exposição ocupacional relacionados a órgãos
governamentais ou entidades de alguns países. Foram selecionados indicadores de
monitorização ambiental e biológica estabelecidos pelo INSHT (Instituto Nacional de
Segurança e Higiene do Trabalho) da Espanha, pela ACGIH (American Conference of
Governmental Industrial Hygienists) dos Estados Unidos da América e pelo MTE (Ministério do
Trabalho e Emprego) do Brasil.
3. A LEGISLAÇÃO ESPANHOLA
A União Européia visa a manter uma harmonização com relação às legislações de
proteção à saúde do trabalhador, sendo assim, quando um país adota determinadas
restrições estas tendem a ser seguidas pelos países-membros do bloco econômico. A
Diretiva nº 98/24/EC, de 07/04/1998, sobre a proteção à saúde e segurança de
trabalhadores no que tange a riscos relacionados a agentes químicos no ambiente de
trabalho e, posteriormente, a Diretiva nº 2000/39/EC, de 08/06/2000, estabeleceram-se as
primeiras indicativas de limites de exposição ocupacionais com a implementação da
matéria pregressa. Os conteúdos destas regulamentações foram transcritos na Legislação
Espanhola por meio do Decreto nº 374, de 606/04/2001 (ESPANHA, 2001).
Deste modo, a Espanha promulgou uma lei pelo INSHT (Instituto Nacional de
Segurança e Higiene do Trabalho) estabelecendo os Limites de Exposição a compostos
químicos no ambiente ocupacional. Tal lei está em consonância com a Diretiva Européia
de nº 98/24/EC em que países-membros da Comunidade Européia ratificaram a
uniformidade de seus limites de exposição ocupacional (COMISSÃO EUROPÉIA, 1998; INSHT,
2007).
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Esta normativa, como mostrado na Tabela 1, apresenta dados relativos à numeração
dos compostos químicos utilizada pela da comunidade européia, o número CAS (Chemical
Abstract System), a substância, os limites de exposição adotados para exposição diária (8h)
e de curta duração (15 min), notas esclarecedoras e as frases R (frases de informação de
perigo) na classificação da substância em questão.
Tabela 1 – Exemplo de substâncias químicas em ambiente laboral e seus Limites de Exposição (LEO´s).
Limites 8 h 15 min
EINECS CAS Substância
PPM* mg/m3 ** PPM* mg/m3**
Notas Frases R
203-453-4 107-02-8 Acroleína 0,1 0,23 0,3 0,69 Pele 11-24/25-26-34-50
231-100-4 7439-92-1 Chumbo e
compostos inorgânicos
0,15 VLB, TR1
61-20/22-33-50-53-
62 Fonte: Adaptado de INSHT, 2007.
*valores em mg/m3 (miligramas por metro cúbico de ar); ** valores em PPM (partes por
milhão).
! Acroleína - Pele: sensibilizante; Frases R – 11: Facilmente inflamável, 24: tóxico em contato
com a pele, 25: tóxico por ingestão, 26: muito tóxico por inalação, 34: provoca
queimaduras, 50: tóxico para organismos aquáticos. Chumbo – VLB: Indicador biológico,
TR1: substância que interfere na reprodução e fertilidade. Frases R - 20: nocivo por
inalação, 22: nocivo por ingestão, 33: perigo de efeitos acumulativos, 50: muito tóxico a
organismos aquáticos, 53: pode causar cronicamente efeitos adversos em organismos
aquáticos, 61: pode causar toxicidade fetal, 62: pode causar efeito sobre a fertilidade.
Associada à Diretiva n° 98/24/EC pode-se citar a normativa referente aos Indicadores
Biológicos de Exposição, tal como se observa na Tabela 2. São destacados os dados
relativos à numeração da comunidade européia, o número CAS, a substância, os
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indicadores biológicos de exposição, os valores de referência, os momentos de coletas de
amostras, notas esclarecedoras e as frases R de classificação para a substância em
questão (COMISSÃO EUROPÉIA, 1998; INSHT, 2007).
Tabela 2 – Exemplo de substâncias químicas em ambiente laboral e seus Limites de Exposição (LEO´s). EINECS CAS Substância Indicador
Biológico Valor Moment
o de coleta
Notas Frases R
Ácido S-Fenilmercaptúric
o urinário
120 µg/g creatinina
Final jornada
200-753-7 71-43-2 Benzeno Ácido t,t-
Mucônico urinário
4.5 mg/g creatinina
Final jornada
F 45-46-11-36/38-48/23/24/25-65
Cádmio urinário 5 µg/g creatinina
Não crítico 231-
152-8 7440-43-9
Cádmio e compostos inorgânicos Cádmio em
sangue total 5 µg/L Não crítico
- 22-49/23/25
Fonte: Adaptado de INSHT, 2007.
* Benzeno - F: reage com agentes nitrogenados formando compostos nitrogenados; Frases R – 11: Facilmente inflamável, 23: tóxico por inalação, 24: tóxico em contato com a pele, 25: tóxico por ingestão, 36: irritante para os olhos, 45: pode causar câncer, 46: pode causar alterações genéticas hereditárias, 48: pode causar câncer por inalação, 68: possibilidade de efeitos irreversíveis. Cádmio – Frases R - 22: nocivo por ingestão, 23: tóxico por inalação, 25: tóxico por ingestão, 49: muito tóxico a organismos aquáticos.
De acordo com as Tabelas de números 1 e 2 pode-se observar a disposição dos
dados relacionado à classificação européia, no momento em que se formula ou se analisa
a composição de uma FISPQ (Ficha de Informações de Segurança de Produto Químico)
permitindo-se inferir importantes informações ao usuário, trabalhador ou médico
ocupacional (PINHEIRO, 2009).
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4. A AMERICANA, O EXEMPLO DA ACGIH
A ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) é uma
organização não-governamental que congrega especialistas em Higiene e Toxicologia
Ocupacional nos Estados Unidos da América. Esta associação não possui força de Lei,
sendo a OSHA (Occupational Safety and Health Administration), a agência dos EUA ligada
ao Ministério do Trabalho americano, incumbida da regulamentação dos valores limites no
ambiente laboral. Entretanto, é possível observar a existência de um consenso entre os
valores estabelecidos pela ACGIH e OSHA.
A ACGIH publica anualmente um manual contendo valores atualizados de limites de
exposição ocupacionais e limites biológicos para indicadores de exposição para
substâncias químicas. No que tange a monitorização ambiental, a ACGIH apresenta os
TLV´s (Threshold Limit Values*, #, ¢) que se referem as concentrações de substâncias químicas
dispersas no ar e representam condições sobre as quais se supõe que quase todos os
trabalhadores podem estar expostos dia após dia sem efeitos adversos à saúde (ACGIH,
2007).
A Tabela 3 apresenta exemplos de substâncias químicas e seus TLV´s de modo a
empregar valores de limites de exposição a substâncias químicas no ambiente de trabalho
e compará-los aos dados de monitorizações ambientais realizadas.
Tabela 3 – Exemplo de substâncias químicas em ambiente laboral e seus Limites de Exposição pela ACGIH
CAS Substância TLV-TWA* TLV-STEL# Notação 107-02-8 Acroleína - 0,10* C¢, A 4, Skin
7439-92-1 Chumbo e compostos
inorgânicos 0,05* - A 3
Fonte: Adaptado de ACGIH, 2007.
* valores em mg/m3 (miligramas por metro cúbico de ar. A4 – não classificável como carcinogênico (IARC, 2003); Skin- perigo de absorção cutânea. A 3- carcinogênico em estudos com animais (IARC, 2003).
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* TLV-TWA (Threshold Limit Value - Time Weighted Average / Média Ponderada pelo Tempo) - Limite de exposição para um dia normal de trabalho (8 horas) ou semana (40 horas). # TLV-STEL (Threshold Limit Value – Short Term Exposure Limit / Limite de exposição de curto período) - Limite de exposição que pode ser atingido 15 min, 4 vezes ao dia, com intervalos de 60 minutos. ¢ TLV-C (Threshold Limit Value – Ceiling / Teto) – Limite de exposição não pode ser ultrapassado em momento algum da jornada de trabalho.
Além dos parâmetros ambientais, a ACGIH publica também informações sobre
Limites Biológicos de Exposição e seus BEI´S (Biological Exposures Indices), tais como os
exemplificados na Tabela 4.
Tabela 4 – Exemplo de substâncias químicas em ambiente laboral e seus Limites de Exposição pela ACGIH
CAS Substância BEI Valor Notação * Ácido t,t-Mucônico
urinário 71-43-2 Benzeno
Ácido S-
Fenilmercaptúrico urinário
500 µg/g creatinina
25 µg/g
creatinina
B
B
7440-43-9
Cádmio e compostos inorgânicos
Cádmio urinário 2 µg/g creatinina
B
Fonte: Adaptado de ACGIH, 2007. * (B) Valor basal.
O manual da ACGIH é utilizado na avaliação da exposição a compostos químicos
no ambiente de trabalho e, seus limites, propostos por especialistas na área de Higiene
Industrial dos EUA, são baseados em estudos epidemiológicos e recomendados para
interpretação clínica-laboratorial, além de serem atualizados anualmente (ACGIH, 2007).
5. NORMAS REGULAMENTADORAS BRASILEIRAS
O Brasil em meados de 1978 conforme as Portarias Ministeriais de n° 3.214, do
Ministério do Trabalho e Emprego apresenta sua regulamentação quanto à proteção da
exposição laboral a xenobióticos estabelecida, pelas Normas Regulamentadoras de
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números 7 e 15 que atendem, respectivamente, aos Limites Biológicos de Exposição e
Limites de Exposição Ocupacional (BRASIL, 1978; BRASIL, 1994).
Os LEO´s (Limites de Exposição Ocupacional) brasileiros são estabelecidos no País
como Limites de Tolerância (LT), que constam da Portaria Ministerial 3.214 e que em sua
Norma Regulamentadora n° 15, anexo 11, fixa as substâncias cuja insalubridade é
caracterizada por Limites de Tolerância, fornecendo uma tabela de valores, que se
ultrapassados caracteriza a insalubridade, adicional no salário do trabalhador exposto que
pode corresponder a 10, 20 ou 40 % do salário mínimo (BRASIL, 1978).
A Tabela 5 apresenta exemplos de valores de LT para substâncias químicas.
Tabela 5 – Limites de Tolerância para algumas substâncias químicas no Brasil.
Substância LT Notação PPM* mg/m3**
Acroleína - - -
Chumbo e compostos inorgânicos
- 0,10 Máximo !
Fonte: Adaptado de Brasil, 1978. * valores em mg/m3 (miligramas por metro cúbico de ar); ** valores em PPM (partes por milhão). ! Máximo – insalubridade grau máximo.
Referente aos Limites Biológicos, o Brasil possui a NR 7 que constam da Portaria
Ministerial n° 24, de dezembro/1994. Esta Norma Regulamentadora estabelece a
obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e
instituições que admitam trabalhadores, do PCMSO (Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional) cujo objetivo é a promoção e preservação da saúde do conjunto
dos seus trabalhadores por meio do monitoramento dos Indicadores Biológicos de
Exposição (IBE´s). A Tabela 6 ilustra exemplos de valores de Indicadores Biológicos de
Exposição para substâncias químicas (BRASIL, 1994).
A Tabela 6 apresenta alguns valores de xenobióticos e seus respectivos Indicadores
Biológicos de Exposição.
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Tabela 6 - Indicadores Biológicos de Exposição para alguns xenobióticos no Brasil. Valor Substância IBE
VR* IBMP** Notação
Benzeno Ácido t,t-Mucônico urinário
Ácido S-
Fenilmercaptúrico urinário
500 µg/g creatinina
25 µg/g creatinina
P
P
B
B
Cádmio e compostos inorgânicos
Cádmio na urina
2 µg/g creatinina
5 µg/g creatinina
EAA, NC, T-6, SC
Fonte: Adaptado de Brasil, 1994; Brasil, 2001. * VR – Valor de referência; ** IBMP – Índice Biológico Máximo Permitido. (P) Portaria n. 34, 2001. - (B) Valor basal; EAA – Espectrometria de Absorção Atômica; NC: momento de amostragem "não crítico": pode ser feita em qualquer dia e horário, desde que o trabalhador esteja em trabalho contínuo nas últimas 4 (quatro) semanas sem afastamento maior que 4 (quatro) dias; T-6: recomenda-se iniciar a monitorização após 6 (seis) meses de exposição; SC: Além de mostrar uma exposição excessiva, o indicador biológico tem também significado clínico ou toxicológico próprio, ou seja, pode indicar doença, estar associado a um efeito ou uma disfunção do sistema biológico avaliado.
6. Discussão
Conforme apresentado, foi possível observar divergências entre parâmetros de
monitorização ambiental e biológica apresentados pelas entidades governamentais e não
governamentais dos três países selecionados neste estudo. A exemplo, o Limite de
Exposição Ocupacional da Acroleína é 0,69 mg/m3 na Espanha (exposição de 15 minutos),
nos EUA é de 0,10 mg/m3 (exposição de 15 minutos) e no Brasil não há menção a tal
composto. Tomando-se os valores é nítida a diferença entre os índices de exposição. Tal
fato é possível pelas dinâmicas de trabalho, processos industriais distintos e situações de
exposição diversificadas. Porém, observa-se que há semelhanças nas notações de risco
relativas ao contato dérmico indicando especial atenção à proteção individual adequada
(BRASIL, 1978; INHST, 2007; ACGIH, 2007).
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Enquanto que para o benzeno, do ponto de vista dos indicadores biológicos de
exposição, estabelece-se na Espanha, nos EUA e no Brasil os indicadores Ácido t,t-
Mucônico urinário e Ácido S-Fenilmercaptúrico urinário com diferentes abordagens. No
Brasil há o conceito de Valor de Referência Tecnológico (VRT), que foi aplicado pela
primeira vez para o benzeno e está relacionado ao limite de concentração estabelecido
para substâncias cancerígenas. Segundo a Norma Regulamentadora 15, o Valor de
Referência Tecnológico se refere à concentração de benzeno no ar considerada
exequível do ponto de vista técnico, definido em processo de negociação tripartite”
(BRASIL, 1978; SSST, 1994).
O VRT deve ser considerado como referência para os programas de melhoria
contínua das condições dos ambientes de trabalho. O cumprimento do VRT é obrigatório e
não exclui risco à saúde. O princípio da melhoria contínua parte do reconhecimento de
que o benzeno é uma substância comprovadamente carcinogênica, para a qual não
existe limite seguro de exposição. Todos os esforços devem ser despendidos continuamente
no sentido de buscar a tecnologia mais adequada para evitar a exposição do trabalhador
ao benzeno (SSST, 1995).
Além do fato de que na Legislação espanhola, as informações de classificação e
comunicação de perigo, indispensáveis ao reconhecimento e avaliação de risco, estão
em consonância com o sistema de classificação de perigo estabelecido pelas Diretivas
Européias n° 67/548/ECC e n° 1999/45/EC (ECB, 2008) e mais recentemente pelo
Regulamento n° 1272/2008 que adotou o sistema GHS - Sistema Globalmente Harmonizado
de Rotulagem de Produtos Químicos sugerido pela Organização das Nações Unidas
(REACH, 2008; ONU, 2009). Este novo sistema de classificação implementado pela União
Européia faz parte da recente política de gestão segura de substâncias químicas no
continente europeu estabelecida pela implementação do REACH (Registro, Avaliação,
Autorização/Restrição de Substâncias Químicas), por meio do Regulamento 1907/2006
(REACH, 2006).
Mediante os apontamentos descritos sobre as Legislações ou recomendações feitas
pelas entidades analisadas, é notório a observação que estas apresentam divergências de
nos valores dos limites e diferentes formas de expor os dados referentes a Limites de
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Exposição ocupacionais e Limites Biológicos de Exposição. As divergências que destoam a
Legislação brasileira das outras duas analisadas se devem principalmente pela
desatualização de seus valores e a abordagem de informação de perigos.
Deste modo, se faz mister a discussão sobre a necessidade do Brasil adequar suas
normas às resoluções internacionais em função da saúde e segurança do trabalho, por
razões econômicas, e ainda, a participação do País nas Convenções internacionais em
que afirmam ratificar os tratados de proteção à saúde dos trabalhadores.
7. Referências
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EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A CIANETOS – UMA BREVE REVISÃO
Cyro Hauaji Zacarias1
RESUMO
O cianeto é uma substância química altamente tóxica formada por um átomo de carbono e um átomo de nitrogênio, constituindo a molécula ionizada CN-. Dentre os compostos de cianeto, o ácido cianídrico (HCN) é considerado o mais perigoso do ponto de vista ocupacional por estar presente no ar e oferecer risco de inalação. Dentre as atividades ocupacionais passíveis de exposição a cianeto, a galvanização é a mais citada nos estudos encontrados na literatura, embora outros segmentos industriais importantes tenham surgido como potenciais fontes de exposição. Os efeitos observados são principalmente alterações da tireóide e efeitos sobre o sistema nervoso central. Palavras-chave: cianeto, toxicologia ocupacional
Abstract
Cyanide is a highly toxic chemical formed by a carbon atom and a nitrogen atom constituting the CN-molecule. Among the cyanide compounds, the hydrogen cyanide (HCN) is considered the most dangerous in terms of occupational exposure due to its presence in the air and consequently risk of inhalation. Among the activities subject to occupational exposure to cyanide electroplating is the most cited in studies of the literature but other important industrial sectors have emerged as potential sources of exposure. The observed effects are mainly thyroid dysfunction and effects on the central nervous system.
1. INTRODUÇÃO
Cianetos compreendem uma ampla variedade de compostos de diversos graus de
complexidade, todos contendo um grupamento CN-. Apesar de tantas formas químicas de
cianeto, o íon CN- é o agente tóxico primário. O ácido cianídrico (HCN) é um líquido volátil
sem cor e com odor característico de amêndoas amargas e é a principal forma na qual o
cianeto está presente na atmosfera. Sendo assim, o HCN representa o maior interesse para 1 Biomédico, Mestrando em Toxicologia e Análises Toxicológicas FCF-USP. E-mail: [email protected]
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toxicologia ocupacional oferecendo risco de exposição de trabalhadores através da
inalação.
O cianeto pode ser absorvido após inalação, exposição oral ou dérmica. A absorção
pulmonar é a mais eficiente, sendo os efeitos quase que imediatos e mais intensos se
comparados com a via gastrointestinal (ATSDR, 2006; IPCS INCHEM HOME, 2004). O cianeto,
após absorvido, alcança rápida e uniformemente diversos tecidos e esta distribuição se dá,
principalmente, através dos eritrócitos, com uma proporção consideravelmente menor
sendo transportada dissolvida no plasma.
A biotransformação se dá principalmente no fígado, onde o cianeto é convertido
em tiocianato através de uma reação catalisada pela enzima rodanase ou tiosulfato
sulfotransferase (EC 2.8.1.1). A reação consiste na transferência de um átomo de enxofre
do tiossulfato para o íon CN-, sendo a fonte primária de enxofre os aminoácidos metionina
e cisteína (HAQUE; BRADBURY, 1999; AZEVEDO e CHASIN, 2004). A maior estabilidade do
tiocianato, comparado ao cianeto, o torna mais adequado para fins de
biomonitoramento, no entanto, é preciso estar atento para os fatores interferentes oriundos
de exposições extra-ocupacionais como tabagismo e alimentação (SANTOS et al., 1990).
O cianeto é uma substância altamente tóxica. Ao entrar na célula tem a
capacidade de interromper a cadeia respiratória através do bloqueio da enzima
citocromo oxidase, causando anóxia celular (HODGSON, 2004). O sistema nervoso é um
dos primeiros alvos da toxicidade do cianeto devido a sua grande necessidade de energia
aeróbia e baixa capacidade anaeróbica (KAMENDULIS et al, 2002). Segundo Manzano
(2006), o produto da biotransformação do cianeto, tiocianato, tem a propriedade de
competir com o iodo pela proteína transportadora, diminuindo a captação do mesmo na
glândula tireóide e conseqüentemente inibindo a produção dos hormônios tireoideanos.
A inalação de concentrações suficientes de HCN pode rapidamente causar a morte,
característica utilizada nas câmeras de gás para execução (ATSDR, 2006). Uma
concentração fatal média para humanos foi estimada em 546 ppm de ácido cianídrico
após 10 minutos de exposição, embora muitos casos de morte tenham sido relatados em
concentrações mais baixas (ATSDR, 2006).
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A exposição humanos a níveis elevados de HCN causa um breve estágio de
estimulação do sistema nervoso central (SNC) seguida de depressão, convulsões, coma e,
em alguns casos, morte, enquanto que a exposição a doses não-letais por tempo
indeterminado permite a observação de sintomas como tontura, respiração ofegante,
entorpecimento e dores de cabeça (ATSDR, 2006). Exposição crônica a baixas doses está
relacionada com distúrbios neurológicos e disfunção da glândula tireóide, que já foram
citados em estudos epidemiológicos em trabalhadores expostos cronicamente (IPCS, 2006).
Esta revisão teve como objetivo elaborar um levantamento das atividades
ocupacionais relacionadas com exposição ao ácido cianídrico ou a outros tipos de
cianetos, e realizar uma breve análise dos efeitos observados em tal exposição.
2. ATIVIDADES OCUPACIONAIS RELACIONADAS COM EXPOSIÇÃO A CIANETO
O cianeto é utilizado em vários segmentos industriais, tais como: extração e refino de
metais preciosos (ouro, prata etc.), indústrias metalúrgicas e em eletrodeposição de metais
(galvanoplastia), disposição eletrolítica de revestimentos metálicos (cobre, zinco, cádmio
etc.), tratamentos térmicos de aços, síntese de produtos químicos inorgânicos e orgânicos,
aditivos especiais e fabricação de plásticos (FIGUEREDO & TRAPÉ, 2007).
De acordo com Pombo & Dutra (2008), usinas de minérios auríferos utilizam cianeto
como agente lixiviante em seu processo. No processo de extração de ouro, o minério é
retirado em sua forma bruta da jazida e em seguida é conduzido para sofrer
beneficiamento através da lixiviação, etapa em que o ouro é solubilizado através da
percolação de solução de cianeto de sódio e então submetido a um filtro de carvão
ativado onde fica retido. Calcula-se que na extração de ouro, para cada tonelada de
minério, consuma-se 250 gramas de cianeto para dissolução do ouro nele presente
(CAHETÉ, 1998).
A galvanoplastia, descrita na maioria dos estudos de exposição ocupacional a
cianetos, é um processo no qual a finalidade é dar revestimento em peças de metal para
proteger as mesmas contra ferrugem e corrosão, mudar a aparência e reduzir a resistência
elétrica no contato, ser base para operações de soldagem, fornecer isolamento elétrico e
melhorar a resistência ao desgaste abrasivo. De acordo com Burguess (1997), os sais de
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cianeto estão relacionados com os principais riscos químicos existentes na área de
galvanoplastia. São utilizados no desengraxe eletrolítico, etapa que antecede a
eletrodeposição de metal e faz parte do processo de limpeza para remoção de óleos,
graxa e impurezas das peças. A solução cianídrica contida nos banhos de desengraxe
forma, com facilidade, gás cianídrico em contato até com o gás carbônico existente no ar
atmosférico que, dependendo da concentração, pode ser letal (FIGUEREDO, 2008).
Outra atividade que tem sido recentemente apontada como possível fonte de
exposição ocupacional a cianetos é o processamento de mandioca. As mandiocas
utilizadas na produção de farinha, tapioca e outros derivados, como a Manihot esculenta,
Crantz, apresentam elevada toxicidade devido à presença de glicosídeos cianogênicos.
Tais compostos, durante o processamento da mandioca, são degradados e liberam ácido
cianídrico no ambiente, oferecendo risco aos trabalhadores assim como aos habitantes e
população vizinha à indústria. Para a CETESB (2002), não há dúvida com relação aos riscos
desta exposição.
3. EFEITOS OBSERVADOS EM ESTUDOS DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A CIANETO
De acordo com a literatura, as doses necessárias para causar efeitos crônicos são
muito menores do que as doses necessárias para causar os sintomas relativos ao SNC, que
são típicos de exposições agudas. Dentre os efeitos crônicos mais citados está a alteração
da glândula tireóide, sendo que alguns estudos mostram alterações bioquímicas e
hematológicas em trabalhadores expostos, porém as evidências são menos consistentes se
comparadas com alterações tireoideanas.
Os sintomas característicos de efeito sobre SNC como tontura, sonolência e dor de
cabeça são citados com freqüência nos estudos de exposição ocupacional a cianetos
(GHAWABI et al., 1975; CHANDRA et al., 1980; CHANDRA et al., 1988). Em uma pesquisa, 36
trabalhadores de uma indústria de recuperação de prata foram avaliados quanto à
exposição a níveis excessivos de cianeto por meio de exames físicos, estudos laboratoriais e
questionários. O único dado quantitativo de concentração de cianeto no ar foi
proveniente de uma medida de 24h um dia após a fábrica ter sido fechada, e o valor foi
de 17 mg/m3. Os dados do questionário mostraram que durante o período de atividade
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havia uma alta prevalência de sintomas tais como dispnéia, síncope, dor no peito e fadiga,
os quais são condizentes com reações tóxicas agudas ao cianeto (BLANC et al., 1985). A
interação entre o íon CN- e a enzima citocromo oxidase certamente é o mecanismo
envolvido nos efeitos citados acima, pois resulta no bloqueio da cadeia respiratória no
interior das células e conseqüente comprometimento das mais diversas funções celulares.
Um estudo sobre avaliação da exposição a cianeto e efeito tireoideano foi
conduzido em uma indústria de galvanoplastia. Nele, 35 trabalhadores não-fumantes
foram submetidos à análise de tiocianato sérico e de hormônios tireoideanos (T3, T4 e TSH),
sendo os resultados comparados com um grupo controle. A concentração sérica média
de tiocianato (316 µmol/L) foi significativamente (P<0,01) maior no grupo exposto
comparado ao grupo controle (90,8 µmol/L). Quanto aos hormônios tireoideanos, foi
observada, no grupo exposto, uma diminuição nos níveis de T3 (0,572 µg/L) e T4 (38,1 µg/L)
e um aumento nos níveis de TSH (2,91 mU/L) em relação ao grupo controle (T3: 1,11 µg/L; T4:
60,9 µg/L e TSH: 1,2 mU/L. Os autores sugeriram que as alterações nos níveis de hormônios
tireoideanos observadas em trabalhadores expostos ocupacionalmente ao cianeto seriam
indicativo de função tireoideana prejudicada (BANERJEE KK et al., 1997) .
O mecanismo de ação envolvido nesse efeito difere no sentido de que a glândula
tireóide é afetada pela presença de tiocianato, o principal metabólito do cianeto. Como
citado anteriormente, o tiocianato tem a capacidade de competir com o iodo pela
proteína transportadora e, desta forma, reduz a captação do mesmo pela glândula
tireóide. Tal mecanismo resulta em uma menor produção de hormônios tireoideanos (T3 e
T4), cuja síntese depende de iodo, e consequentemente, a hipófise passa a produzir maior
quantidade de TSH como uma tentativa de converter a diminuição de T3 e T4. Efeitos
tireoideanos também foram evidenciados em estudos com animais cronicamente expostos
a cianetos (ATSDR, 2006).
Figueiredo (2008), em sua tese de doutorado, comparou trabalhadoras expostas a
cianeto em galvanoplastia com trabalhadoras não expostas, e um dos achados foi maior
proporção de distúrbios da tireóide, bronquite e sinusite crônicas no grupo exposto. O autor
atribui estes efeitos à exposição a cianeto.
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No estudo de Chandra et al. (1988) foi observado resultado anormal no teste
psicológico que avaliou memória tardia, habilidade visual, aprendizado visual e habilidade
psicomotora de trabalhadores expostos. Tais resultados podem ser corroborados por
estudos experimentais nos quais foram demonstradas alterações histológicas em sistema
nervoso após exposição crônica a cianetos com perda neuronal no hipocampo e
alterações degenerativas em células ganglionares e em células de Purkinje (ECETOC, 2004).
Analisando as funções destas células é possível correlacioná-las com os resultados do
estudo acima descrito, pois o hipocampo desempenha papel fundamental na atividade
de memória, principalmente aquela de longo prazo; enquanto que as células de Purkinge
estão presentes no cerebelo, porção responsável por funções motoras e sensoriais.
Anormalidades no metabolismo da vitamina B12 foram observadas por Blanc et al
(1985) e citada em outros estudos epidemiológicos e experimentais, porém não estão bem
esclarecidas. Sabe-se que uma das vias metabólicas de biotransformação de cianeto
ocorre através da ligação com a hidroxicobalamina formando cianohidroxicobalamina
(vitamina B12) e, desta forma, alguns autores acreditam que e deficiência nutricional de
vitamina B12 esteja relacionada com uma maior sensibilidade ao cianeto.
Algumas alterações bioquímicas foram observadas em estudos realizados em
indústrias de processamento de mandioca. Okafor et al (2002) observou aumento na
atividade da aspartato aminotransferase (AST) e aumento da glicemia em trabalhadores
expostos; enquanto que Janagam et al. (2008) observaram aumento significativo nos níveis
de colesterol, triglicérides, HDL e VLDL nos trabalhadores expostos em relação ao grupo
controle. O cianeto interfere diretamente no metabolismo energético e, desta forma, há
grande possibilidade de ocorrência de alterações bioquímicas após exposição aguda ou
crônica. Porém, tanto os efeitos quanto a elucidação dos mecanismos envolvidos no
surgimento destes, precisam ser confirmados através de estudos experimentais.
4. PREVENÇÃO DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL
Medidas de engenharia de segurança são fundamentais na prevenção da
exposição de trabalhadores a agentes químicos e devem ser preconizadas em ambientes
de trabalho que ofereçam qualquer risco de exposição. Recomenda-se que os ambientes
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ocupacionais onde haja possibilidade de exposição a ácido cianídrico sejam isolados e
com sistema de exaustão local adequado.
A utilização dos equipamentos de proteção individual (EPIs) é menos efetiva do que
as medidas de controle geral mencionadas acima, devendo ser adotadas como
complemento às medidas de engenharia. Tais equipamentos variam de acordo com as
características da substância a qual o trabalhador está exposto. No caso do ácido
cianídrico, recomenda-se o uso de respirador com filtro apropriado, de peça facial inteira,
operado em modo de pressão positiva. A proteção à pele é especialmente importante
uma vez que o ácido cianídrico é absorvido facilmente pela via dérmica tanto na forma
líquida quanto na forma gasosa. O material mais apropriado para luvas e roupas de
proteção deve ser especificado pelo fornecedor.
5. ASPECTOS REGULATÓRIOS E CONCLUSÕES
As principais agências internacionais envolvidas em questões de saúde ocupacional
e controle de exposição ocupacional a agentes químicos contemplam o ácido cianídrico
(HCN) em seus inventários, determinando limites máximos permitidos para presença desta
substância na atmosfera do ambiente de trabalho. Tais limites são determinados com base
em avaliações do risco que, por sua vez, são feitas através de dados obtidos em testes de
toxicidade (NOAEL – No Observed Adverse Effect Level) e dados de exposição
ocupacional (NIELSEN & OVREBO, 2008). O quadro 1 apresenta os valores que são os limites
máximos de exposição ao ácido cianídrico determinados pelas diferentes agências.
Quadro 1 - Limites máximos de exposição a cianeto (em partes por milhão – ppm)
Substância TLV – Ceiling
(ACGIH - 2008) REL – STEL
(NIOSH - 2005) PEL – TWA
(OSHA - 2007)
Limite de Tolerância
(NR-15)
HCN 4,7 4,7 10 8 Fonte: NATIONAL INSTITUTE OF OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH. International Chemical Safety Cards.
A notificação “skin” que aparece nos documentos publicados pela maioria das
agências regulatórias que contemplam o ácido cianídrico indica que a substância
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presente no ar também oferece risco de absorção dérmica, além da inalatória, o que
representa uma dificuldade maior para controle da exposição.
O cianeto no ambiente de trabalho pode oferecer risco aos indivíduos ali presentes.
Sendo assim, o monitoramento biológico e ambiental é de extrema importância para que
medidas de controle de exposição sejam tomadas e a saúde e bem estar dos
trabalhadores sejam preservados.
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QUIMIOTERAPIA DO CÂNCER: IMUNOSSUPRESSÃO X IMUNOESTIMULAÇÃO
Giovanna Ribeiro-Santos 1
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum
o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem tecidos e órgãos, com
possibilidade de se espalhar para outras regiões do corpo (metástase). Estas células são
capazes de se dividir de maneira agressiva e determinar a formação de tumores (acúmulo
de células cancerosas) ou neoplasias malignas.
Atualmente, tumores primários são tratados pela combinação de terapias e na maior
parte dos casos incluem cirurgia, radioterapia local e quimioterapia. Outra estratégia de
tratamento complementar menos comumente utilizada é a imunoterapia, a qual pode
consistir tanto na estimulação geral quanto específica da resposta imunológica contra a
neoplasia. Mesmo quando o tumor foi aparentemente totalmente removido,
micrometástases de células tumorais latentes ou do tumor primário frequentemente levam
ao reaparecimento tumoral e ao fracasso da terapia. Tal fato enfatiza a importância de se
tentar agregar os benefícios dos tratamentos convencionais com a estimulação
imunológica, de modo que o sistema imune possa auxiliar na vigilância sobre células
tumorais residuais.
O câncer é amplamente considerado como uma doença genética que resulta de
alterações em oncogenes, genes supressores de tumor e genes de estabilidade genômica,
porém se sabe hoje que o microambiente da célula tumoral, o estroma e a imunidade
também desempenham importante papel na doença. Em grande parte das neoplasias
avançadas, as células tumorais têm de prevalecer sobre as barreiras intrínsecas
(autônomas da célula) e extrínsecas (mediadas pelo sistema imunológico) para o
desenvolvimento do câncer. Apenas quando as células tumorais “triunfam” sobre o 1 Biomédica. Doutora em Imunologia Básica e Aplicada – FMRP-USP. Mestre em Patologia – FMB-UNESP. E-mail: [email protected]
RevInter - Informe 51
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controle do sistema imunológico é que ocorre a progressão e morte do hospedeiro. De
certa forma, isso explica o aumento da incidência de alguns tumores sólidos em pacientes
imunossuprimidos, casos de regressão tumoral espontânea e o prognóstico positivo da
presença de linfócitos T citotóxicos tumor-específicos, reforçando a idéia de que o sistema
imune desempenha um papel crucial na progressão neoplásica.
Programas de investigação de drogas para terapias antineoplásicas têm
negligenciado a possibilidade de que a ação imunológica pode contribuir para a
efetividade do tratamento. Por exemplo, desde 1976, o National Cancer Institute, EUA, tem
usado um sistema de varredura e validação de drogas no qual células tumorais humanas
são xenotransplantadas para camundongos imunodeficientes, ou seja, incapazes de
montar uma resposta imunológica completa. Convencionalmente, quimio e imunoterapia
são encaradas como estratégias não relacionadas, ou mesmo antagônicas do processo
de tratamento, o que contribui para o relativamente baixo número de estudos que
investigam a interrelação entre ambas as intervenções.
Do mesmo modo, apesar das evidências crescentes da importância da atuação
imunológica no sucesso do tratamento contra o câncer, muitos dos procedimentos
terapêuticos utilizados hoje em oncologia podem restringir a resposta imunológica contra
as células tumorais. Por exemplo, embora seja bem estabelecido em modelos animais que
os linfonodos proporcionam um ambiente ótimo para o “priming” de células T, oncologistas
cirúrgicos rotineiramente removem o linfonodo drenante do tumor com objetivo de
avaliação histológica para estadiamento e remoção de metástases locais. De forma ainda
mais importante, muitas drogas quimioterápicas têm efeitos tóxicos sobre o sistema
imunológico, comprometendo seu funcionamento e levando a efeitos colaterais de
imunossupressão, seja diretamente, por inibição e morte das células efetoras, ou
indiretamente, por anergia.
Nesse contexto, muitos dos agentes quimioterápicos antineoplásicos utilizados
atualmente são também usados como imunossupressores para o tratamento de doenças
autoimunes sistêmicas graves. Isso se aplica, dentre outros, à ciclofosfamida e ao
metotrexato, os quais impedem a atividade proliferativa/efetora das células T periféricas e
aos inibidores da proteína tirosina quinase, que podem afetar a resposta mediada por
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células T. Ainda, os glucocorticóides, prescritos em altas doses aos pacientes com câncer
para atenuar náuseas e vômitos associados à quimioterapia, têm a propriedade de
desencadear apoptose em linfócitos, constituindo importante componente de coquetéis
de drogas usados para doenças linfoproliferativas.
A imunossupressão foi o primeiro foco dos imunotoxicologistas, havendo uma extensa
lista de drogas e substâncias químicas com potencial imunossupressor. A introdução de
drogas imunossupressoras no início da década de 60 e o aumento de seu emprego no
tratamento de pacientes transplantados e com doenças autoimunes permitiu que os
efeitos imunotóxicos decorrentes de supressão imunológica fossem os mais bem
conhecidos. Cabe ressaltar que a maioria das drogas clinicamente utilizadas com objetivos
de imunossupressão foi inicialmente desenvolvida com outros intuitos e, em muitos casos, a
supressão da resposta imunológica foi um efeito adverso indesejado observado.
Especificamente em relação às terapias contra o desenvolvimento do câncer, como
comentado anteriormente, vários estudos mostram a contribuição que o sistema
imunológico pode ter adicionalmente aos tratamentos convencionais, e algumas linhas já
apontam a possibilidade/estratégia de se utilizar drogas imunoestimulantes ao invés de
drogas imunossupressoras. Nesse sentido, o sistema imunológico pode ser estimulado de
duas formas principais pelas terapias usuais, enquanto algumas abordagens terapêuticas
podem induzir uma resposta imune celular específica decorrente da morte imunogênica
de células tumorais, outras drogas podem ter o efeito colateral de estimular o sistema
imunológico por meio de depleção transiente dos linfócitos, pela subversão de
mecanismos imunossupressores ou pela ação estimulatória direta ou indireta sobre
elementos efetores da resposta imunológica. Assim, mesmo as drogas convencionais
podem contribuir para que uma resposta imune adequada ocorra contra o tumor.
Possivelmente, os efeitos imunoadjuvantes de compostos quimioterápicos citotóxicos
são decorrentes primariamente da capacidade das células apresentadoras de antígenos
(APC) de fagocitar células tumorais mortas, processar e apresentar antígenos tumorais aos
linfócitos T naive e/ou de memória central. Desse modo, é esperado que os sinais provindos
de células tumorais em situação de estresse ou processo de morte, ou mesmo de células
do estroma sob ação de compostos citotóxicos regulem a captura de antígenos, o
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processamento e a apresentação, influenciando assim a maturação de células
dendríticas, a coestimulação, a polarização e o tráfego celular. Ao mesmo tempo, células
transformadas em estresse podem aumentar a expressão de ligantes estimulatórios para
células “natural killer” (NK) ou receptores de morte (apoptose) como Fas (CD95),
aumentando sua susceptibilidade à lise por mecanismos efetores da resposta imunológica.
Além disso, vários estudos clínicos em diferentes fases de avaliação tem demonstrado
resultados bastante promissores da utilização combinada de tratamentos antitumorais
convencionais e imunoterapia.
Assim, um desafio atual consiste na tentativa de “guiar” o sistema imunológico do
hospedeiro para que esse possa controlar qualquer doença residual após aplicação dos
tratamentos consagrados. Além disso, espera-se que uma visão holística do combate ao
câncer possa deixar de segregar elementos que são parte de um todo como a imunologia
de tumores, a genética do câncer e a própria biologia celular, integrando dessa forma,
parâmetros referentes ao tumor e ao hospedeiro para permitir a melhor estratégia de
combate a tumores.
Referências Bibliográficas
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CLASSIFICAÇÃO DE PERIGO DE SUBSTÂNCIAS E PRODUTOS PARA O AMBIENTE AQUÁTICO: SISTEMA GHS
Marcus E. M. da Matta 1
Fabriciano Pinheiro2
1. INTRODUÇÃO
Quando nos referimos aos perigos de um produto químico, estamos referenciando as
“propriedades intrínsecas de uma substância perigosa ou de uma situação física de poder
provocar danos à saúde humana e ou ao ambiente” (Portugal, 2007).
O correto gerenciamento de risco de produtos químicos, dentro e fora do ambiente
de trabalho, seja no uso industrial, agrícola ou residencial, pressupõe a adoção inicial de
sistemas de classificação de perigo que apresentem critérios quanto à severidade do
efeito e utilize elementos de comunicação para expressar este perigo (Matta, 2009).
A responsabilidade da indústria para com seus empregados, vizinhos e ambiente,
impulsionou a regulamentação da segurança química no mundo, seja devido aos grandes
acidentes da história, como Bhopal na Índia, seja devido a evidências epidemiológicas
que induzem a necessidade de estabelecimento de doses seguras para exposição
ocupacional. Um dos marcos deste processo foi a ratificação da convenção da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) 170, de 1990, relacionada à gestão segura
das substâncias químicas e a recomendação 177 sobre Segurança no Uso de Produtos
1 Doutorando em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialista em gestão ambiental pela faculdade de Saúde Pública USP. Engenheiro Ambiental pela Faculdade Oswaldo Cruz e Turismólogo UNIBERO. Consultor da Intertox. [email protected] 2 Biomédico, IB-UNESP/Botucatu. Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas, FCF/USP. Professor de Toxicologia e Biossegurança da Faculdade Oswaldo Cruz/São Paulo. Membro da Comissão de Estudos (CE-10:101.05) do Comitê Brasileiro de Química (CB-10/ABNT) e da Comissão de Estudos (CE-16:400.04) do Comitê Brasileiro de Transportes e Tráfego (CB-16/ABNT). Experiência na ministração de palestras e treinamentos relacionados a FISPQ e Fichas de Emergência. Coordenador de Segurança Química e Consultor toxicologista – Intertox.
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Químicos no Trabalho. Neste documento ficou estabelecida a necessidade dos Países ou
organizações de estabelecerem para as pessoas que utilizam substâncias químicas a
aplicação de um sistema de comunicação de Perigos por meio de Fichas de Informações
de Segurança de Produto Químico (FISPQ) e rótulos (Pinheiro, 2009; Zacarias et al, 2009).
Nos Estados Unidos, foram estabelecidos diferentes critérios de classificação e
comunicação de perigo, a depender da finalidade. Para o trabalhador na indústria o
sistema adotado é o OSHA-HCS (Occupational Safety and Health Administration - Hazard
Communication Standard); para agroquímicos, EPA-FIFRA (Environmental Protection
Agency - Federal Insecticide, Fungicide and Rodenticide Act), para o transporte, DOT-
FMCSR (U.S. Department of Transportation - Federal Motor Carriers Safty Regulations), entre
tantos outros sistemas, como o adotado no Canadá e União Européia. Esses sistemas de
classificação divergem entre si, podendo um produto ser considerado inflamável e tóxico
no país que é produzido e não ser classificado como perigoso para o qual é exportado
(ABIQUIM, 2005).
Essa aparente “torre de Babel” de sistemas de classificação, gerada pela produção
individualizada de critérios, se tornou um problema para o comércio internacional, bem
como para a segurança das populações, já que a segurança química de produtos com a
mesma periculosidade, resta gerenciada por meio de rótulos e informações distintas.
Visando à harmonização desses critérios, a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED – RIO 92), que teve como resultado a
ratificação de uma agenda mundial de objetivos e metas objetivando a sustentabilidade
global no século XXI, conhecida como agenda 21, estabeleceu no capítulo 19 “Manejo
ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas, incluída a prevenção do
tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos” item B - Harmonizar a
classificação e rotulagem de produtos químicos.
O Sistema do GHS (Global Harmonized System) preconiza a classificação de perigos
físico-químicos, ao ambiente aquático e à saúde humana, bem como harmoniza as
informações que devem constar nos rótulos e FISPQs por meio de pictogramas e frases de
atenção (ONE, 2007a). O Brasil lançou a primeira versão da norma ABNT 14725, em 2001,
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aceitando qualquer sistema de classificação de perigos. Desde 2002 vem sendo discutida
a implantação do GHS no Brasil e no mundo e recentemente, em agosto de 2009, foi
publicada a revisão da norma ABNT 14725 Parte 2, que incorpora o GHS como sistema
nacional de classificação de perigo de produtos químicos.
Desta maneira, esse informe tem como objetivo apresentar a classificação de perigo
de substâncias e produtos químicos para o ambiente aquático.
2. PERIGO AO AMBIENTE AQUÁTICO
O GHS estabelece critérios de classificação de perigo ao ambiente aquático,
diferenciando em efeito agudo e crônico, que são embasados em evidências
ecotoxicológicas e propriedades físico-químicas dos produtos químicos.
Devido à diferença de sensibilidade dos organismos aquáticos ao agente químico, a
avaliação da ecotoxicidade é embasada em múltiplas linhas de evidência, representadas
por testes em organismos representativos de diferentes níveis tróficos, possibilitando uma
caracterização completa da periculosidade de uma amostra (Chapman, 2007).
No sistema do GHS, o perigo agudo para o ambiente aquático considera o resultado
de testes ecotoxicológicos em três níveis tróficos: algas ou plantas aquáticas (produtores
primário), crustáceos (consumidor primário) e peixe (consumidor secundário),
respectivamente os endpoint preconizados são: CEr50 72h ou 96h (OECD Test Guideline
201), CE50 48h (OECD Test Guideline 202) e CE50 96h (OECD Test Guideline 203). Esses
resultados expressos em concentração de 50% de efeito (mg/L) são considerados de forma
independente, ou seja, apenas a dose mais restritiva, e segura para os três níveis tróficos,
será considerada no enquadramento em três categorias que representam a severidade do
produto:
• Categoria 1: CE(r)50 ≤ 1
• Categoria 2: 1 < CE(r)50 ≤ 10
• Categoria 3: 10 < CE(r)50 ≤ 100
• Não classificado: CE(r)50 > 100.
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Para a realização desta classificação, no que concerne a substâncias simples e
misturas, é preconizado o uso de dados experimentais obtidos com os mencionados
protocolos OECD ou em protocolos semelhantes ABNT. Porém, quando esses dados não
estiverem disponíveis, para substâncias simples pode-se utilizar de estudo de Relação
Quantitativa Estrutura Atividade (QSAR) (ONU, 2007), a ser conduzido e julgado por
especialistas da área (INTERTOX, 2009).
No caso de misturas, quando apenas a ecotoxicidade dos ingredientes forem
conhecidas, o GHS permite a extrapolação da classificação pela somatória dos
ingredientes de cada categoria de severidade. Diversos estudos indicam que a adição de
duas substâncias não significa necessariamente que o efeito medido separadamente será
somado ou ponderado, pode ocorrer efeito antagônico (redução), aditivo (soma) ou
sinérgico (potencialização) (Zagatto, Bertoletti, 2006).
Para contornar essa questão, a extrapolação da classificação no GHS é
conservadora (Quadro 1), sendo muitas vezes mais interessante medir experimentalmente o
efeito da mistura, obtendo dados para classificação direta do perigo nos critérios do
sistema, corrigindo uma possível adoção de medidas de controle excessiva para gerenciar
o perigo do produto químico.
Quadro 1 – Classificação de toxicidade aguda de uma mistura, baseada na soma da concentração dos ingredientes classificados
Soma da concentração dos ingredientes Classificação da mistura
Aguda 1 x M ª > 25 % Aguda 1
(M x 10 x aguda 1) + aguda 2 > 25 % Aguda 2
(M x 100 x aguda 1) + (10 x aguda 2) +
aguda 3 > 25 % Aguda 3
ª O Fator M é um fator multiplicativo na base 10 .
Fonte: ABNT NBR 14725-2:2009
Caso um ingrediente da mistura tenha um toxicidade muito elevada, ou seja, a dose
de efeito seja muito menor que 0,1 mg/L, mesmo uma pequena concentração do
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ingrediente na mistura pode influenciar significativamente na toxicidade, portanto nesses
casos o fator M é considerado no cálculo da extrapolação (Quadro 2).
Quadro 2 – Fatores multiplicativos para ingrediente altamente tóxicos (categoria 1) em misturas
Valor de CL50 ou CE50 mg/L Fator multiplicativo (M)
0,1 < c ≤ 1 1
0,01 < c ≤ 0,1 10
0,001 < c ≤ 0,01 100
0,0001 < c ≤ 0,001 1000
0,00001 < c ≤ 0,0001 10000
Fonte: ABNT NBR 14725-2:2009
A classificação de perigo crônico para o ambiente aquático pelo sistema GHS, pode
enquadrar uma substância ou mistura em 4 classes de severidade. As classes 1 a 3
contemplam os mesmos testes e faixas de toxicidade aplicadas ao perigo agudo (quadro
1), adicionando neste caso as evidências físico-químicas. A tríade que confere as
características de periculosidade crônica a uma substância é: persistência, fator de
bioconcentração (BCF) e toxicidade.
O potencial de degradabilidade é uma das principais propriedades intrínsecas de
uma substância que pode conferir perigo ao ambiente aquático. A não-degradabilidade
de uma substância indica sua persistência no ambiente, podendo assim provocar efeito
adversos à biota devido à exposição prolongada, enquanto que as substâncias
degradáveis serão removidas no tratamento de esgoto ou naturalmente no próprio
ambiente (ONU, 2007b).
O termo degradação está relacionado com a decomposição da matéria orgânica
em moléculas menores, portanto essa avaliação não faz sentido para compostos
inorgânicos. A degradabilidade de uma substância está vinculada, em parte, com a
estrutura da molécula, mas também é influenciada pelas características do ambiente,
como o potencial redox, pH, presença de microorganismos decompositores,
concentração da substância, ocorrência de outros substratos, temperatura, entre outros.
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O principal método para estabelecer a degradabilidade é o teste de
biodegradabilidade imediata da OCDE guideline 301-D, de 1992. O anexo 9 do GHS
apresenta limitações e critérios para estudo deste parâmetro, que em último caso pode ser
avaliado por modelo QSAR.
Fator de bioconcentração (BCF) é o termo utilizado para quantificar a tendência de
um composto se concentrar em organismos aquáticos e representa a razão entre a
concentração do composto no organismo e sua concentração na água em estado de
equilíbrio (Burantini, Brandelli, 2006). Esse fator pode ser estimado pela constante de
absorção (K1) e pela constante de eliminação (K2). O método utilizado para determinar
esse fator é o OCDE 305, de 1996. Geralmente, a capacidade da substância de se
bioconcentrar está associada com a lipofilidade da mesma, assim substância com menor
solubilidade em água tende a ser bioacumulativa (ONU, 2007b).
No sistema de classificação do GHS as substâncias com BCF ≥ 500 são consideradas
bioacumulativas, na ausência deste dado pode ser utilizado o Log de Kow (coeficiente de
partição n-octanol/água), quando o Log de Kow for ≥ 4, a substância será considerada
bioacumulativa (ONU, 2007a).
Quando uma dessas duas propriedades intrínsecas é conferida a substância química,
não-degradabilidade e/ou bioconcentração, ela passa em função da toxicidade a ser
enquadrada nas categorias de perigo crônico de 1 a 3.
Caso a toxicidade obtida pela concentração de 50% de efeito enquadre a
substância como não classificada, e a substância tenha baixa solubilidade em água e seja
persistente e bioacumulativa, ela passa a ser classificada na categoria 4, a menos que as
evidências de toxicidade mostrem que baixas concentrações da substância não causem
efeito adverso aos organismos. Essa evidência toxicológica é avaliada pela realização de
teste de toxicidade crônico com peixe ou crustáceo, pela determinação do NOEC
(concentração em que não se observa nenhum efeito). Caso o NOEC seja > que 1 mg/L, a
substância não será enquadrada em nenhuma categoria de perigo crônico.
A classificação de perigo crônico é realizada para substâncias simples ou para
ingredientes da mistura. A classificação é extrapolada para o produto químico adotando a
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adição da concentração dos ingredientes enquadrados na mesma categoria (quadro 3),
no qual também se aplica o mesmo fator M apresentado para perigo agudo (quadro 2).
Quadro 3 - Classificação de toxicidade crônica de uma mistura, baseada na soma da concentração dos ingredientes classificados
Soma dos ingredientes Classificação da mistura
Crônica 1 x Ma > 25 % Crônica 1
(M x 10 x crônica 1) + crônica 2 > 25 % Crônica 2
(M x 100 x crônica 1) + (10 x crônica 2) +
crônica 3 > 25 % Crônica 3
Crônica 1 + crônica 2 + crônica 3 + crônica
4 > 25 % Crônica 4
ª O Fator M é um fator multiplicativo na base 10 (ver 6.3.8).
Fonte: ABNT 14725-2:2009
Os critérios apresentados neste informe representam o fluxograma mais usual para a
classificação de perigo ao ambiente aquático, usando o sistema GHS. No caso de misturas,
dependendo da disponibilidade de dados, pode-se aplicar outros princípios como o da
ponte e da diluição.
3. CONCLUSÃO
A classificação de perigo ao ambiente aquático abrange o conhecimento da
toxicidade aguda e crônica para os organismos da biota e o entendimento do
comportamento ambiental da substância. O sistema permite a extrapolação da
classificação de substâncias simples para misturas. Os dados sobre a substância podem ser
obtidos por experimentação, revisão bibliográfica e, em alguns casos, com QSAR. A
classificação de perigos pelo GHS abrange varias áreas do conhecimento e necessita de
julgamento de especialista para tomada de decisão.
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4. Referências bibliográficas
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RevInter - Informe 63
RevInter REVISTA INTERTOX DE TOXICOLOGIA, RISCO AMBIENTAL E SOCIEDADE
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TOXICOLOGIA – A CIÊNCIA DOS LIMITES E O LIMITE DA CIÊNCIA
Fausto A. de Azevedo1
A ciência é a busca do conhecimento, seja pela nossa inata condição de
curiosidade, o que tem movido a humanidade, seja, depois, já em tempos mais próximos,
pela estratégia utilitarista de gerar bens, proveitos, serviços, vantagens, enfim, qualidade
de vida.
O cientista é sempre um apaixonado e o desconhecimento significa para ele uma
alegria, porque é a oportunidade, o desafio. Portanto, para o cientista não pode haver
saber revelado, o que lhe seria altamente tedioso.
Mas o processo de obtenção do conhecimento, que após o advento de talentos
como Galileu, Hume, Descartes, dentre outros, consolidou-se no método científico, com
seus rigores e seus ritos, nem sempre foi metódico ou metodológico... Por exemplo, muito
antes de haver sido criado e então aperfeiçoado tal método, a humanidade, em
diferentes tempos e regiões, já possuía uma boa sabedoria do que comer e do que não
comer: o que era conveniente para se comer transformava-se no alimento e o que não o
era resultava no veneno. Alimento versus veneno seguramente foi a primeira de todas as
dialéticas... e o juiz dessa contenda, para edificação de uma síntese, foi a Toxicologia,
embora num plano potencial apenas, ainda muito distante de ocorrer como tal.
Aprendeu o ser humano o que comer pelo custoso caminho de sua saúde e de sua
morte. Testando e observando em si e nos à sua volta ele foi classificando os materiais de
1 Farmacêutico-Bioquímico (USP), Mestre em Toxicologia (USP) e Especialista em Saúde Pública (USP). Atuou como Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo da CETESB (São Paulo) e Gerente Técnico do Centro de Recursos Ambientais – CRA (Bahia). Foi Presidente do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento – CEPED (Bahia), Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais – CRA, Superintendente de Planejamento Estratégico (SEPLAN – Bahia) e Assessor Técnico da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – CMADS (Câmara Federal - Brasília). É consultor em Meio Ambiente e autor de livros e artigos em Toxicologia e Meio Ambiente. E-mail: [email protected]
RevInter - Opinião 64
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origem vegetal (a maior parte) e animal, rotulando-os mentalmente de seguros e inseguros.
Hoje, tanto tempo trancorrido, com os requintes científicos e tecnológicos do presente,
fazemos exatamente o mesmo!
O fato é que, por um longo caminho, que pertenceu também ao desenvolvimento
geral das demais ciências da química e da saúde, chegamos à atual Toxicologia, a qual
na compreensão abalizada de Ted Loomis
“(…) is approached as the study of the effects of chemicals on biologic systems, with
emphasis on the mechanisms of harmfull effects of chemicals and the conditions
under which harmfull effects occur.”2
E esse estudo dos efeitos perigosos de agentes tóxicos sobre sistemas biológicos, bem
caracterizadas as condições específicas de exposição e o tipo de ser vivo exposto, tem
adquirido, no passar dos anos, uma variada gama de aplicações e de interesses, o que se
confunde e mutuamente influencia as próprias áreas de evolução da Toxicologia. Esta
ciência original, mercê da amplidão do desenvolvimento químico e econômico da
humanidade, segmentou-se em muitos campos distintos e, também, diferentes formas de
realização, a tal ponto de agora podermos falar em ciências toxicológicas, especialidades
diversas conforme suas óticas e protocolos, mas todas com a genealogia comum daquele
estudo dos efeitos tóxicos (isto é, da intoxicação), consoante os ditames das relações dose-
efeito e dose-resposta.
Ora, tais relações constituem o coração da moderna Toxicologia, e derivam, de um
lado, dos cuidadosos protocolos experimentais e/ou epidemiológicos e, de outra parte, da
parafernália de considerações matemáticas e estatísticas possíveis e aplicáveis. A nossa
velha Toxicologia, que, como dizíamos de início, começou nas mais primevas eras, da
pacienciosa observação diária, caso a caso, pelo hominídeo ancestral daquilo que ele
podia ou não comer, tornou-se, milênios depois, talvez a mais matematizada das ciências
após a própria família das matemáticas, como a física, a astronomia, as engenharias... 2 Loomis, Ted A., Hayes, A. Wallace. (ed.) Loomis's essentials of toxicology. 4th ed. Academic Press, London, 1996, 282 p. A citação está no Capítulo 1: Introdução, Escopo e Princípios, p. 3. Esse livro de Loomis e Hayes talvez seja um dos mais competentes e agradáveis de toda a literatura toxicológica.
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Nossa Toxicologia fez, assim, por merecer o dístico de “Ciência dos Limites”, o limite
entendido como o grau máximo de exposição a que um ser vivo pode se submeter sem
que disso decorra, salvo melhor juízo, prejuízo para sua saúde... O melhor juízo fica por
conta do permanente e revisor avanço dos conhecimentos científicos toxicológicos que
tanto e tanto têm derrubado limites até então assumidos como seguros.
E a grande questão lançada por esse perito domínio estabelecido pelo estudo das
relações dose-efeito e dose-resposta para um determinado agente tóxico, frente a uma
espécie (a humana, por exemplo) e numa escala pré-determinada de doses, é que
podem ser estabelecidos critérios de aceitabilidade ou tolerância à exposição. Mas isso
não é bom?, indagaria precipitadamente o estudante interessado, mas afoito. Depende:
pode ou não ser. Explica-se. Se conhecemos todo o vasto espectro da evolução da
severidade de um efeito nocivo principal de um dado agente químico, à medida que as
doses de exposição a ele vão aumentando para aquele indivíduo ou espécie, isto é bom
na medida em que esclarece a fenomenologia da exposição-intoxicação, em todas as
suas fases, ajuda a decifrar o mecanismo de ação do agente, postula as possibilidades de
reversão da intoxicação e sinaliza o ponto de não-retorno.
No entanto, e aí começa a questionar a filosofia em termos éticos e morais, a mesma
tomografia computadorizada das relações dose-efeito e dose-resposta, vale dizer, o
conhecimento da melhor toxicologia disponível para um dado agente químico (uma
importante substância de uso industrial, por exemplo, porém de não desprezível
toxicidade), pode ensejar o interesse de uso de tal conhecimento para que, sob um
discurso sedutor e capcioso de segurança, se vá ao limite da exposição humana
unicamente para que sejam garantidos certos processos industriais e os ganhos
econômicos conseqüentes a ele atrelados. A aplicação do conhecimento toxicológico
para um tal propósito, ainda que travestida dos mais circunspectos discursos, não nos
engana e só pode ser rotulada de aética e imoral. Equivalentemente à ecologia rasa, que
se ocupa apenas da limpeza no fim de tubos da produção, desapegando-se de qualquer
mínimo valor intrínseco da natureza, como propugna a ecologia profunda, essa toxicologia
seria também rasa e não merecedora da tradição superior da Toxicologia de Orfila.
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Nesse ponto então deixamos a “Ciência dos Limites” e passamos a nos inquietar com
o limite da ciência. Afinal, a ciência está ou não a serviço de alguém ou de algum
interesse? Aliás, essa preocupação com os limites da Ciência, sob várias conotações, tem
sido comum entre os pensadores, a exemplo do que se pode constatar com o livro
Impossibilidade - Os Limites da Ciência e a Ciência dos Limites3, do físico teórico,
matemático e cosmólogo John David Barrow. Invocamos esta obra nesse ponto para, ao
lado das preocupações de cunho filosófico de Barrow quanto à natureza do impossível,
acrescentarmos um impossível de cunho moral, qual seja, o de que não se pode submeter
a risco a integridade de pessoas, trabalhadores ou consumidores, ainda que sob algum
pálido (porque mutável) conhecimento toxicológico em prol da sustentação das estruturas
do capitalismo.
Consideremos o que nos diz o professor de políticas públicas na Goldman School of
Public Policy, da Universidade da Califórnia, Berkeley, e ex-secretário do Trabalho do
governo Clinton, Robert Reich, em seu livro Supercapitalismo4. Na obra, o autor revela por
quais caminhos o capitalismo democrático que um dia existiu metamorfoseou-se no
Supercapitalismo com suas, até aqui, conseqüências danosas para o meio ambiente, os
trabalhadores e as sociedades, sem que estes estejam propriamente isentos. Um dos
motores imperiosos desse processo parece ter sido a passagem dos cidadãos para a
condição simultânea de investidores (organizados principalmente em grandes fundos de
investimentos) e de consumidores com grande poder de barganha (porque organizados
em grandes e poderosas empresas de compra e venda, como o Wal Mart, tão citado por
Reich). Nós todos que pertencemos hoje a essa categoria de cidadãos, se, de fato nos
preocupamos com questões como aquecimento global, ética nas relações, direitos
pessoais, etc., também de fato nos inquietamos com o ganho de nossas aplicações
(expectando sempre mais, se possível) e com os preços do que compramos (esperando-os
3 Barrow, John D. Impossibility - Limits of Science and the Science of Limits. Vintage, 2005. 304 p. 4 Reich, Robert B. Supercapitalismo – Como o capitalismo tem transformado os negócios, a democracia e o cotidiano. Rio de Janeiro, Elsevier, 2008. 266 p.
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sempre menores, independentemente da forma de produção e do tipo de mão de obra
empregada). Essa é a grande contradição dos dias presentes, e que, por exemplo, dentre
outros novos e marcantes aspectos, justifica a decisão dos Conselhos de Administração dos
grandes grupos pela contratação de CEOs com salários astronômicos: eles têm que
satisfazer, de qualquer maneira, o apetite dos investidores consumidores (que somos nós
também). Na página 117 de Supercapitalismo Reich adverte:
Nossas duas personalidades também se manifestam em relação às outras
consequências do capitalismo moderno – seus efeitos sobre o meio ambiente, sobre nossas
comunidades e sobre a moralidade em geral. Três ou quatro décadas atrás, o capitalismo
democrático protegia essas três áreas. Novas leis resguardavam o meio ambiente; as
empresas ainda não eram pressionadas financeiramente para abandonar suas cidades de
origem; códigos de conduta regulavam o que podia ser dito ou feito na televisão, no rádio
e no cinema; e a obscenidade era ilegal. Porém, desde então, os consumidores e os
investidores, imbuídos de novos poderes, passaram a ter acesso a transações muito mais
atraentes.”
Mais adiante, na página 161 da obra em citação, Robert Reich prossegue:
“A tomada do controle da política pelas empresas também afeta a maneira como o
público compreende as questões do dia. Parte da tarefa dos lobistas consiste em
comprovar a grande sabedoria de seus pontos de vista, o que geralmente envolve o
trabalho de economistas, de analistas políticos e outros coletores de dados e
processadores de números, assim como de manipuladores de palavras e de
redatores profissionais, capazes de demonstrar a razoabilidade de quase qualquer
decisão. Os legisladores precisam justificar suas decisões – se não diretamente ao
grande público, pelo menos à mídia cética, sensível a recompensas imediatas. Os
reguladores devem convencer juízes de que não agiram com arbitrariedade. Como
todas as facções nesses embates necessitam desenvolver o melhor argumento
possível, gastam-se grandes quantias para contratar especialistas capazes de
desenvolver raciocínios que talvez saibam serem apenas meias-verdades e, em
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certos casos, até farsas deslavadas. O resultado é uma forma mais ampla de
corrupção – a depravação do conhecimento.” (O grifo é por nossa conta.)
Eis aí o ponto nevrálgico: depravar o conhecimento. Ele se deprava quando o ator
(stakeholder) valoriza mais aquilo que quer obter, o objeto de desejo de seu grupo, do que
a verdade supostamente contida no dito conhecimento. E isso é, autentica e
filosoficamente, um comportamento maquiavélico. Estará meu bondoso leitor julgando
que a essa altura me desviei irrecuperavelmente da Toxicologia. Não. Ocorre que como na
definição de um limite de segurança sempre está presente um componente subjetivo,
ético-moral, por mais que a ciência toxicológica, como ciência, seja também e momento
histórico e às pressões que sofro, mormente quando nas pressões está incluso meu salário.
No atual supercapitalismo onipresente, em que por trás dos governos nacionais estão as
poderosíssimas empresas multi e/ou transnacionais, e por trás delas os fundos de
investimentos e as grandes redes compradoras-vendedoras, e por trás destes nós outros, os
investidores-consumidores, e adiante de tudo isso os especialistas, de discurso afiado para
o que quer que seja, inclusive para a mitigação teórico-social da toxicidade de agentes
químicos, com a elevação do grau de tolerância por parte dos ecossistemas e da saúde
humana, estar com os dois olhos bem abertos para a verdadeira verdade toxicológica é
uma exigência que precisa ser cumprida pelos racionais independentes e de boa fé. É sob
tal linha que foi proposto o título para essa Opinião: a Ciência dos Limites, como
poeticamente foi chamada a Toxicologia, numa retórica poderosa, demonstrativa de a
quanto pode ir o conhecimento científico específico no descortinamento da intimidade do
fenômeno toxicológico, traduzindo-o em números, estimativas e margens de desvio, que
ensejam, sim, ter uma finalidade nobre, não pode e não deve se colocar no limiar para o
questionamento da integridade de seus princípios e práticas, quase esbarrando em se
confrontar com a sentença imperativa de que há, deveras, um limite para a ciência, no
plano moral, que é o de jamais falsear informações, distorcê-las ainda que levemente e
com sutil inteligência, com o propósito de auferir benefícios e lucros para um determinado
grupo ou iniciativa. A propósito, vale, mais uma vez, lermos Reich, como ele mesmo afirma
na página 162 do mencionado Supercapitalismo:
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“Entre as décadas de 1970 e 1990, mais especialistas deixaram de lado a
integridade, porque, no meio-tempo, a competição se intensificou, os interesses em
jogo aumentaram e seus lobistas se dispuseram a pagar muito mais aos especialistas.
Escrúpulos, como outras mercadorias comercializáveis, sempre estão à venda, desde
que concorde quanto ao preço.”
Na página seguinte, 163, o próprio Reich nos fornece uma pista quanto ao modus
operandis, e muito capaz, dos pseudo-cientistas ou falsos defensores do saber. Escreve o
autor:
“Geralmente, basta lançar dúvida sobre fato estabelecido, abrindo caminho para
alegações de empresas ou setores do tipo ‘os especialistas discordam entre si’ ou
‘trava-se debate acirrado sobre a questão’, razão por que qualquer ação pública
queira ser objetiva, posto que quando proponho e assumo um limite estou, indireta e
implicitamente, aceitando um grau de risco, e risco é consideração moral, eu, o
cientista, não consigo ser absolutamente isento e impermeável a meu (ou iniciativa
de adversários à guisa de ação pública) deve aguardar ‘até que se disponha de
provas’. A indústria de alimentos financiou um esquadrão de especialistas para
desbancar pesquisas demonstrando que a obesidade infantil acarreta problemas de
saúde na idade adulta e que alimentos açucarados e gordurosos têm relação direta
com o aumento de peso. Não é necessário que as pesquisas patrocinadas pelas
partes interessadas demonstrem o contrário; basta que levantem dúvidas suficientes
para que o legislador ou regulador disposto a aliar-se com a indústria de alimentos
possa alegar com credibilidade não estar convencido da capacidade probatória
das pesquisas realizada pela parte adversária.” (Grifo nosso.)
Essa situação, por exemplo, nos faz de imediato lembrar, às vésperas que estamos da
importantíssima reunião de Copenhague quanto ao clima planetário, o porquê de o
Congresso americano ainda ser tão arredio quanto à assinatura norte-americana ao
protocolo de Kioto, e como lobistas têm se associado em organizações de bons
orçamentos para demonstrar que o aquecimento global não é tão sinistro quanto se tem
apregoado.
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Por fim, Reich ameniza sua análise crítica ao refletir, na página 164:
“Não se está sugerindo que esses professores – ou, de resto, quaisquer especialistas –
se considerem beneficiários de propinas que comprometem sua integridade
profissional. Mas os seres humanos são extremamente habilidosos em racionalizar
situações incômodas, sob a forma de esquemas confortáveis. O dinheiro contribui
para o desenvolvimento de estruturas mentais generosas, propensas a ignorar provas
que poderiam suscitar dúvidas em especialistas que não estejam embotados por
contratos de consultoria.”
E na página 166 da multicitada obra ele, mais uma vez, alfineta:
“A guerra entre ‘orgânicos’ poderia ser vista como um embate entre diferentes
grupos de consumidores e investidores, alguns preferindo critérios rigorosos e outros
optando por padrões menos severos. Porém, não se incluiu no debate a
preocupação de muita gente quanto aos efeitos dos pesticidas e dos produtos
sintéticos sobre o meio ambiente e a saúde pública. Para muitos cidadãos, seria mais
adequado debater a respeito dos meios pelos quais a sociedade desenvolverá e
protegerá a cadeia alimentar, em vez de limitar a discussão a critérios de
rotulagem.”
Bem a caráter, no parágrafo acima de Reich encontramos vários elementos fulcrais
de nossa toxicologia: critérios, padrões, efeitos, rotulagem. Pertence à alma toxicológica a
eleição dos critérios de avaliação da toxicidade. Se tais critérios não são representativos,
precisos e exatos, não descreverão a contento o processo toxicológico, a intoxicação. Só
quando a avaliação da toxicidade, por meio de critérios adequados e definitivos, é
satisfatoriamente realizada e conhecida pode-se, com base no manejo das curvas de
dose-efeito e dose-resposta, chegar à proposição de padrões e de limites, entendidos em
sua inteireza os efeitos decorrentes de cada exposição característica ao agente tóxico. E
se, finalmente, sabemos tudo isso, podemos, então, sugerir o uso confortável de
substâncias químicas, seu manejo seguro integral, o que passa também por um sistema
competente e universal de rotulagem.
Por conclusão, fica o alerta de que nem sempre a ciência é feita com intenções
isentas, ainda que nos sirvamos de esquemas mentais propícios a facilitarem nossa visão do
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certo que nos interessa. A Toxicologia é feita por homens e mulheres e, portanto, não pode
escapar das armadilhas que fazem parte da condição humana de nem sempre lutar
escrupulosamente por seus desejos. Destarte, a Ciência dos Limites terá sempre que se
ajustar ao limite da ciência, o qual é definido por referências éticas e morais de verdade,
honestidade, transparência, isenção e neutralidade.
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TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO: UMA AVALIAÇÃO
Sylvio de Queirós Mattoso, DSc1
As informações sobre a agropecuária do semi-árido do Nordeste são pouco
compreendidas pelos brasileiros em geral, além de serem divulgadas de modo
inadequado, o que pode interferir no equacionamento e solução dos problemas que
afetam o semi-árido. Existem informações que podem ajudar a planejar, criar e executar
um bom programa de ações e de assistência à população para a convivência com a
seca e, desse modo, atingir-se um nível de desenvolvimento possível e compatível com as
aspirações, não só do povo da região, mas do Brasil como um todo.
Durante trinta anos trabalhei em prospecção mineral no semi-árido do Nordeste do
Brasil, abrangendo os estados de Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco,
Sergipe e Bahia. Avaliando o que ouvi em conversas com os trabalhadores do campo,
acrescidas de minhas observações pessoais, adquiri uma boa compreensão dos problemas
relacionados com o clima da região, que me apresso em compartilhar com o leitor.
Normalmente os trabalhadores em agricultura ou criação de gado (vacum, ovino e
caprino) no Nordeste, não tinham propriedade da terra, o que talvez persista até hoje.
Trabalhavam em „posses‟, e parte da produção era dividida com o proprietário. Nessas
conversas recebi informações muito valiosas que devem ser necessariamente consideradas
quando se planeja e se proporciona assistência à população afetada pelo clima seco do
Nordeste.
1 Engenheiro de minas e metalurgista, EPUSP1953
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Informações básicas sobre a natureza do clima no semi-árido do Nordeste
Mesmo quando a quantidade de chuva parece ser suficiente no Nordeste, com
650mm de precipitação anual e até mais, algumas características da distribuição das
chuvas podem criar problemas para o agricultor e o pequeno criador, e portanto para a
economia regional em geral:
(a) quando as chuvas caem concentradas num período curto de tempo, e são
intensas, enchem os açudes, o gado é beneficiado, mas não permitem o desenvolvimento
da agricultura, com o agravante de inexistirem obras nem meios de distribuir a água dos
açudes existentes para a irrigação, mesmo em um pequeno pedaço de terra;
(b) quando as chuvas são fracas, porém bem distribuídas ao longo do período
chuvoso, a terra fica úmida o suficiente para formar pasto, mas não enchem os açudes e
são insuficientes para a lavoura;
(c) quando as chuvas são mal distribuídas no tempo, isto é, no período chuvoso total
caíram os 650 mm de chuva e até mais, entretanto a largos intervalos de tempo entre as
chuvas, a lavoura fica prejudicada e pode inclusive ser perdida.
(d) Acontece também que, quando ocorre uma chuva extemporânea, tardia e
próxima da época da colheita, as lavouras de milho e de algodão se perdem. O algodão
“embonecado” (saindo para fora do casulo) exposto ao tempo fica molhado o que o
inutiliza.
(e) Em outras ocasiões, o agricultor lança as sementes em solo ainda úmido da
primeira chuva, aguardando a chegada das chuvas seguintes. Estas caem muito tempo
após a semeadura, resultando na perda completa da plantação porque as sementes não
conseguiram sequer germinar.
Como garantir suprimento de água ao agricultor na época certa e na quantidade
também certa? A transposição de rios, que exige pesados investimentos e beneficia áreas
mais restritas, seria a única solução ou existirá uma solução de mais baixo custo e mais
abrangente, beneficiando toda a população da região?
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Esses são os motivos pelos quais o tema Transposição de rios é muito importante, e
por isso foi escolhido como tema de uma palestra no Rotary.
Necessidade de reflexão sobre o projeto de transposição
O caso do projeto de transposição do rio São Francisco, em execução, merece uma
reflexão e tomada de atitude da sociedade. Esse projeto é desnecessário, está sendo
conduzido de maneira irresponsável, contraria a Constituição Federal, terá um custo
incompatível com o problema que se propõe a resolver e os problemas que estão sendo
criados se agravarão fortemente no futuro.
Pode-se alegar que em outros países existem rios que tiveram parte de seu curso
normal desviado para outras bacias hidrográficas. Entretanto o desvio feito, ou
transposição, se justificou pelas seguintes razões:
1) não havia outra fonte de suprimento de água;
2) a quantidade de chuva (precipitação) era insuficiente para as necessidades da
lavoura e da criação de gado e para o abastecimento doméstico;
3) a reserva de água subterrânea existente jamais atenderia às necessidades
regionais. Em todos os casos em que essa solução foi adotada, os estudos técnicos e
ambientais foram exaustivos e a população da área doadora e da área receptora foi
consultada. Nada disso se aplicou ao projeto de transposição do rio São Francisco.
Temos exemplo de grandioso projeto de transposição de rios na China, mas as
populações das áreas doadora e receptora foram consultadas. Os chineses admitem que
são as populações afetadas que têm condição de opinar e contribuir para o sucesso de
um empreendimento dessa natureza.
O projeto em andamento tem em vista desviar uma porcentagem (cerca de seis por
cento) de água do rio São Francisco, em dois pontos diferentes a montante de Paulo
Afonso para beneficiar principalmente projetos de irrigação em Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte (Eixo Leste) e Ceará (eixo Norte). Os canais de transposição, a céu aberto
(sujeito, pois, à intensa evaporação que caracteriza a região), exigem que se eleve a água
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por duas vezes a alturas superiores a duzentos metros acima do nível do ponto de
captação no rio São Francisco. A elevação da água por bombeamento será feita em
duas etapas, ou pontos, do percurso. Convém salientar que faltou uma visão integrada do
uso das águas do rio São Francisco que envolve tanto o abastecimento hídrico e a
irrigação, como a navegabilidade no rio, a pesca e a produção de energia.
Custo do projeto de transposição em execução
Na etapa já em obras em 2009, somente a abertura de 290km de canal (Eixo Leste)
absorverá R$5bilhões. Está projetado ainda um Eixo Norte com mais 430km de canal, de
mdo que o projeto completo terá 720 km de extensão e exigirá outras obras até completar
o projeto, com um custo final estimado acima de quinze a vinte e cinco bilhões de reais
(R$15 a R$25 bilhões). Esse custo envolve também 64 pontes, 42 aquedutos, 87 passarelas,
27 barragens e cinco túneis, um deles com quinze quilômetros de extensão. A elevação da
água a uma altura de cerca de trezentos metros acima do leito do rio, a fim de vencer as
serras entre o ponto de captação e as áreas de destino, nos estados de Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, consumirá energia elétrica gerada pelo sistema
CHESF (do rio São Francisco, portanto), reduzindo a disponibilidade de energia para
distribuição aos estados do Nordeste.
Sabe-se que as necessidades da lavoura e da pecuária em conjunto com o
abastecimento doméstico podem ser satisfeitas com uma precipitação anual de 650 mm.
Considera-se semi-árida uma região onde a precipitação anual é inferior a esse valor, ou
quando a intensidade de evaporação supera sensivelmente a precipitação (como é o
caso do Nordeste do Brasil).
O semi-árido brasileiro estende-se por 980.000 km², abrange mais de 90% do território
de cinco estados (PI, CE, RN, PB, PE) do Nordeste do Brasil e menos de 50% de outros quatro
estados (AL, SE, BA, MG), porém menos de 10% de Minas Gerais, situada no nordeste do
estado. O semi-árido do Nordeste caracteriza-se por uma precipitação anual média
próxima de 650 mmm, mas com uma evaporação anual que pode atingir 3.600mm.
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Algumas porções do semi-árido têm precipitação média anual inferior a 650 mm, mas
ocupam áreas menores isoladas (regiões de Uauá e do Raso da Catarina, na Bahia; Bodó
e Currais Novos no Rio Grande do Norte; Tauá, no Ceará).
O canal, a céu aberto, nesse projeto de transposição, perderá anualmente, por
evaporação, nada menos que 54 a 67 milhões de metros cúbicos de água. (750km x 25m
x3,6m)
Soluções sugeridas (proposta alternativa)
Os dados apresentados nos parágrafos anteriores e essa elevada diferença entre a
precipitação e a evaporação podem ser compensados:
(1) com a construção de açudes com altura de água superior a quatro metros (de
preferência de oito a doze metros de altura d‟água, a fim de resistir a períodos
prolongados de seca que podem ocorrer a cada dez ou mais anos);
(2) com a perfuração de poços tubulares para extração de água subterrânea, pois
existem vinte e sete (27) bilhões de metros cúbicos que podem ser extraídos do subsolo,
por ano, com absoluta segurança, para abastecimento e irrigação;
(3) com a construção de cacimbas em pequenos aluviões;
(4) com a construção de cisternas para recolher a água da chuva caída em telhado
ou recolhida em superfície impermeável natural ou construída especialmente para esse
fim;
(5) por meio da construção de barragens subterrâneas nos leitos de rios e riachos. A
barragem subterrânea tem o mérito adicional de proteger a água contra a evaporação (a
água está entre os poros do sedimento aluvionar), aumentar a infiltração da água da
chuva nas rochas do subsolo e assim facilitar o reabastecimento do lençol subterrâneo,
sendo que essa água seria perdida por escoamento e evaporação sem a barragem
subterrânea.
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Água armazenada nos açudes existentes
No semi-árido do Nordeste existem mais de 70.000 (setenta mil) açudes que
armazenam um volume de água igual a 37 (trinta e sete) bilhões de metros cúbicos,
volume suficiente para vencer todas as secas e a evaporação, se fosse cumprido o
programa governamental de distribuição dessa água à população. A interligação de
açudes e a construção de adutoras desde os açudes até as áreas de uso da água, com
uma distribuição bem administrada, são fatores essenciais na convivência da população
com a diferença entre a precipitação e a evaporação, assim como com as secas
periódicas, e são uma consequência do regime das chuvas, conforme se deduz do
depoimento dos pequenos e grandes produtores rurais da região, como referido acima.
O programa de construção de poços tubulares pode ser expandido para atender
comunidades mais distantes dos locais com açudes. Também deve ser expandido e
intensificado o programa de construção de cisternas e cacimbas.
Geração de postos de trabalho permanentes
Esses programas (item: soluções sugeridas acima) e sua manutenção,
complementados pela construção de barragens subterrâneas, têm potencial para criar
grande número de postos de trabalho permanentes que abrangerão os pontos mais
remotos dos seis estados do Nordeste. Desse modo serão gerados mais empregos do que
os esperados como resultado do projeto de transposição do rio São Francisco já em
execução. O projeto de transposição beneficiará uma fração diminuta da área e da
população da região semi-árida.
Enfatizando, a transposição atenderá a uma pequena fração da população do
semi-árido concentrada nas proximidades do eixo do canal de transposição, enquanto o
programa definido pelos cinco itens citados em “soluções sugeridas‟ tem toda condição
de atender a toda a população do semi-árido do Nordeste, que se aproxima de 60 milhões
de habitantes.
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Falhas graves do projeto de transposição
É importante acrescentar que o projeto de transposição não tem estudo técnico para
avaliar o impacto no meio ambiente e na produção de energia elétrica pelo atual sistema
da CHESF, na navegação, na revitalização da bacia e na pesca. Para iniciar as obras
previstas na transposição, não se consultou a sociedade dos estados do semi-árido para
ver como a transposição poderá interferir nas necessidades de irrigação nas áreas vizinhas
ao eixo ou leito do rio São Francisco, nem foram consultadas as bases indígenas que estão
sendo afetadas.
Quando da criação da CODEVASF, a idéia foi de seguir o modelo da Comissão do
Vale do Tennessee, nos Estados Unidos (TVA – Tennessee Valley Authority), um projeto que
abrangeu cerca de seis estados, onde a população foi totalmente participativa num
projeto com continuidade que durou pouco mais de vinte anos para ser concluído. Zonas
de recreio ou turismo foram criadas para estimular ainda mais a economia da região.
Entretanto, a idéia original em que se baseou a criação da CODEVASF foi esquecida
depois de 2004.
Transposição jamais foi objeto da CODEVASF, pois se trata de idéia de 1845 e 1877,
divulgada quando ainda se desconhecia o relevo (topografia) do Brasil em geral e do
Nordeste em especial, incluindo aí, as serras que se estendem no sentido leste-oeste ao
norte do rio São Francisco por mais de 600km (serras do Araripe, Borborema, Balança, São
Pedro, Santana, serra Pintada, Serra Boa Vista), obstáculos naturais à transposição que
absorverão três a quatro vezes mais recursos financeiros que a proposta alternativa
constante deste texto.
O projeto em andamento tem em vista desviar cerca de seis por cento (127m³/sec,
na fase final), da vazão média que o rio despeja no oceano. Além disso, do volume
alocável de 360 m³/s, nada menos do que 335m³/sec já estão comprometidos, o que
condena o projeto de transposição ao fracasso, pois somente 25 m³/sec estariam
disponíveis para a transposição.
Convém enfatizar, que da vazão média de 2.060 m³/sec do rio São Francisco, oitenta
por cento (80%) estão reservados para a produção de energia elétrica. O rio São Francisco
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responde atualmente por noventa por cento (90%) da energia elétrica consumida no
Nordeste.
A pesca no rio já ficara prejudicada pelas barragens por não prever a piracema; na
foz, a vazão reduzida permite que à água do mar avance rio acima por cerca de dez
quilômetros (AL - SE) o que reduziu pesca no rio e interfere na cadeia alimentar no oceano.
Por isso, o rio São Francisco precisa ser revitalizado, e a revitalização compreende a
recomposição das matas ciliares, corredeiras para as piracemas imprescindíveis para a
reprodução dos peixes, e mostra sinais fortes de prejuízos ambientais na foz, onde a pesca
já está extinta e não alimenta a população ribeirinha, pois a água do mar avança rio
acima, além de prejudicar a cadeia alimentar dos animais marinhos, uma vez que deixou
de existir água salobra além da foz do rio. Certamente a transposição contribuirá mais
ainda para uma alteração da composição da fauna além da foz do rio.
Considerando a redução da vazão do rio com a transposição, poderá haver
necessidade, no futuro, de importar energia elétrica do sul do Brasil a fim de evitar apagão
em todo o Nordeste, com prejuízo das atividades industriais e comerciais, além de outros
transtornos para sua população em geral.
Recurso adicional: abastecimento de água subterrânea por poços tubulares
Nas regiões de rochas sedimentares o abastecimento de água subterrânea por
poços tubulares atinge valores expressivos, tal como acontece em quase todo o território
do estado do Piauí, onde existem poços que produzem até mais de quinhentos metros
cúbicos por hora. Existem rochas sedimentares em áreas restritas do Ceará (Ibiapaba,
Araripe e Iguatu), em áreas diminutas da Paraíba e Rio Grande do Norte (em Apodi, no Rio
grande do Norte, a pesquisa para água subterrânea revelou a presença depetróleo no
estado, que vem sendo extraído pela Petrobras), na bacia de Moxotó em Pernambuco,
que é uma extensão da bacia sedimentar baiana de Tucano-Recôncavo. Poços abertos
recentemente no Raso da Catarina (Bahia) encravada na bacia de Tucano deverão
fornecer 200 metros cúbicos de água subterrânea por hora. Essas bacias acrescem água
disponível que pode ser extraída por meio de poços tubulares na região.
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Nas regiões de rochas ígneas e metamórficas, que ocupam parte do sul do Piauí e a
maior parte dos estados a leste do Piauí, os poços tubulares têm menor produção,
usualmente entre 500 litros e quinze metros cúbicos por hora, mas o suficiente para ajudar a
resolver o problema do abastecimento de água na região.
O subsolo do Nordeste acumula cento e trinta e cinco (135) bilhões de metros cúbicos
de água os quais podem liberar anualmente vinte e sete (27) bilhões de metros cúbicos,
com recarga garantida.
Bibliografia:
Detalhes sobre o tema podem ser encontrados no livro “Toda a verdade sobre a
transposição do rio São Francisco”, lançado recentemente pela Editora Mauad. O livro
pode ser encontrado à venda, no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, em Salvador
(Praça da Piedade). Sua leitura é fortemente recomendada, considerando a riqueza de
depoimentos e de dados numéricos.
1 - Toda a verdade sobre a transposição do rio São Francisco, Mauad X Editora, 2008. Rio
de Janeiro.
Organizado por João Alves Filho, antigo governador de Sergipe, autor também do capítulo
que trata da viabilidade do projeto de transposição. Prefácio por Ives Gandra da Silva
Martins.
São nove capítulos, um autor para cada um, distribuídos em duas partes:
(i) Aspectos sobre a viabilidade técnica
(ii) Aspectos jurídicos, sociológicos econômicos
Autores:
Antonio T. G. Matta Machado, Apolo Heringer Lisboa, Eduardo L. de Matos, João Abner
Guimarães Jr., João Alves Filho, João Suassuna, Jorge Khoury, Luiz Carlos da Silveira Fontes,
Manoel Bomfim Ribeiro.
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2 - Figueiredo, JTN et al - RELATORIO SOBRE A AGUA SUBTERRANEA NO NORDESTE. Boletim
nº130, DFPM/DNPM/MME, 1964. 116 pág.
OBS.: Palestra apresentada, pelo autor deste texto, nos clubes Rotary Bahia Leste e Bahia
Norte, de Salvador
Em 26 de maio e em setembro de 2009
E apresentada também na CONSISTE Consultoria e Sistemas Ltda, em 19/06/2009
Alguns dados adicionais que contribuem para avaliação dos argumentos usados no texto
acima: Consumo per capita de água e acumulação da água da chuva em cisternas
Admitindo necessidades diárias, para uso doméstico residencial (banho, cozinha, limpeza
em geral), de 150 a 200 litros de água por pessoa, resulta:
Necessidade de 4.500 a 6.000 litros por pessoa por mês que corresponde a 55 a 73 m³ de
água por pessoa por ano,
Uma família de seis pessoas necessitará de 330 a 438 m³/ano
Chuva de 650mm/ano permite acumular 650 litros por metro quadrado ou 0,650
m³/ano/m². Essa água pode ser acumulada em cisternas (e já vem acontecendo isso).
Acumulação de água da chuva em cisternas para abastecer uma família
Um telhado de 100m² de área, mais um pátio cimentado de 220 m² a 338 m², permitirão
acumular água em uma cisterna com 216m³ a 288 m³ de capacidade para resistir a oito
meses sem chuva nenhuma. Se a cisterna tiver 3 metros de profundidade útil, ela ocuparia
uma área de cerca de cem metros quadrados.
Água usada na limpeza poderá ser reutilizada em irrigação
Convém acrescentar que a água usada na limpeza poderá ser reutilizada para manter
uma pequena horta e contribuir de modo significativo para a alimentação dessa família de
seis pessoas. Admitindo reutilizar 80% da água domestica, serão 250m³ a 270m³, suficientes
para irrigar regularmente uma horta com uma área de cerca de 400 metros quadrados.
Essa horta ainda comportaria uma bananeira, um umbuzeiro e talvez outra árvore frutífera
e um pé de juá (um juazeiro).
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Convém frisar que a evaporação anual de 54 a 67 milhões de m³ de água dos canais do
projeto de transposição, considerada isoladamente, daria para satisfazer as necessidades
de água doméstica para nada menos que um milhão de pessoas.
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POLÍTICA EDITORIAL
Título e Subtítulo
A RevInter Revista InterTox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade é um periódico
científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado, publicado pela InterTox, São Paulo,
SP, Brasil.
Área de Conhecimento Abrangida
Na Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq está classificado em Ciências Biológicas -
2.10.07.00-4 - Toxicologia.
Projeto Editorial
MISSÃO
Divulgar a produção científica da Toxicologia, Meio Ambiente e Sociedade, estimulando as
contribuições criativas e inéditas do trabalho acadêmico, de pesquisa e do meio
empresarial, tanto de autores nacionais como internacionais, contribuindo com a discussão
e o desenvolvimento do conhecimento nestas áreas.
OBJETIVOS
• Contribuir para o aumento da produção de conhecimento das comunidades
acadêmica e profissional de Toxicologia;
• Servir como canal adequado para veicular avanços conceituais, tecnológicos e de
experiências empresarial e profissional;
• Estimular a difusão de conhecimentos que promovem atitudes voltadas ao aumento de
competitividade das organizações.
FOCO
A RevInter tem como foco a publicação de contribuições científicas no campo da Ciência
Toxicológica, elegendo como tema preferencial os processos de inovação das
organizações. Além dos números regulares, a RevInter deverá editar edições especiais
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monotemáticas, que abordarão temas relevantes que possuam interface com a
toxicologia e a sustentabilidade socioambiental.
A RevInter aceita a submissão de contribuições de profissionais e pesquisadores de todas as
áreas envolvidas com as Ciências Toxicológicas, assim sendo, as seguintes especialidades ,
entre outras, estão dentro do foco da revista: Biossegurança, Contabilidade Social e
Ambiental, Direito Ambiental, Economia Ambiental, Farmacoepidemiologia, Planejamento
Ambiental e Comportamento Humano, Química Ambiental, Resíduos sólidos, domésticos e
industriais, Segurança Alimentar, Sociologia da Saúde, Toxicidade de resíduos de
praguicidas em alimentos, Toxicologia Ambiental, Toxicologia da Reprodução e do
Desenvolvimento, Toxicologia de Alimentos, Toxicologia Forense, Toxicologia Ocupacional,
Toxicologia pré-clínica e clínica e Toxicologia Social.
PROCESSO DE AVALIAÇÃO POR PARES E CRITÉRIOS DE ARBITRAGEM
1) Os originais submetidos para publicação na RevInter serão aceitos para análise
pressupondo-se que:
a) deverão ser, exclusivamente, inéditos;
b) todas as pessoas listadas como autores aprovaram o seu encaminhamento;
c) qualquer pessoa citada como fonte de comunicação pessoal aprovou a citação;
d) as opiniões emitidas pelos autores são de sua exclusiva responsabilidade.
2) O Comitê Editorial fará uma análise preliminar quanto a pertinência e/ou adequação da
submissão ao escopo da RevInter.
a) As contribuições recebidas serão submetidas à apreciação de dois membros do
Conselho Editorial, dentro de suas especialidades. Em caso de empate, um terceiro
membro será convidado. São assessorados, quando necessário, por Avaliadores ad hoc.
b) Em caso positivo, será analisada, em seguida, a aplicação destas normas editoriais
tanto na redação quanto na formatação do trabalho.
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c) Em caso negativo, o autor será notificado por e-mail, para que ele mesmo proceda
as devidas correções.
3) O resultado do parecer do Conselho Editorial será comunicado aos autores, sob
anonimato, obedecendo o procedimento é conhecido por sistema duplo-cego (double
blind review).
4) A Comissão Editorial reserva-se o direito de devolver os originais, quando se fizer
necessária alguma correção ou modificação de ordem temática e/ou formal.
5) A Comissão Editorial procederá as alterações de ordem puramente formal, ortográfica e
gramatical, visando a manutenção do padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo
dos autores. Quando se fizerem necessárias modificações substanciais, os autores serão
notificados por e-mail e encarregados de fazê-las e entregar a nova versão no prazo
estipulado.
POLÍTICA DE ACESSO ABERTO
A RevInter adota a filosofia de "acesso aberto", permitindo o acesso gratuito e irrestrito ao
seu conteúdo, proporcionando maior democratização mundial do conhecimento.
SEÇÕES
• Artigos técnicos
• Comunicações
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• Informes
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IDIOMAS
• Português
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PERFIL DE AUTORES E LEITORES
A RevInter está voltada a um público amplo de pesquisadores, professores, estudantes,
empresários, consultores e outros profissionais qualificados que atuam em organizações
públicas, privadas e do terceiro setor, nacionais e internacionais.
PERIODICIDADE
Quadrimestral
CIRCULAÇÃO
Meses: (2) fevereiro; (6) junho e (10) outubro.
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
RevInter adota as seguintes normas, que deverão ser observadas pelos autores, na
redação e formatação de seus originais:
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS
NBR 6021: Informação e documentação: publicação periódica científica impressa:
apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.
NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica
impressa: apresentação. Rio de Janeiro, maio 2003.
NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, ago.
2002.
NBR 6024: numeração progressiva das seções de um documento escrito. Rio de Janeiro,
maio 2003.
NBR 6027: sumário: procedimento. Rio de Janeiro, maio 2003.
NBR 6028: informação e documentação: resumos: apresentação. Rio de Janeiro, nov. 2003.
NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de
Janeiro, ago. 2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE
Normas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro, 1993.
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INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇAO E QUALIDADE INDUSTRIAL – INMETRO SI: Sistema Internacional de Unidades. 8. ed. Brasília, 2003.
Vocabulário internacional de termos fundamentais e gerais de metrologia. 2. ed. Brasília,
2000.
CRITÉRIOS DE EDIÇÃO
Instruções aos Autores São aceitos artigos originais e inéditos, destinados exclusivamente à RevInter, que
contribuam para o crescimento e desenvolvimento da produção científica das áreas
enfocadas.
A análise dos artigos será iniciada no ato de seu recebimento, atendidas às normas
editoriais. A publicação dependerá do devido de acordo do Conselho Editorial, atendida
as eventuais sugestões.
A apreciação do conteúdo será realizada pelo Conselho Editorial, sendo mantido sigilo
quanto à identidade dos consultores e dos autores.
Serão aceitos trabalhos escritos em língua portuguesa, inglesa e espanhola.
Os trabalhos deverão ser enviados exclusivamente por correio eletrônico para o seguinte
endereço: [email protected]
Os originais recebidos não serão devolvidos aos autores.
Não se permitirá acréscimo ou alteração após o envio para composição editorial e
fechamento do número.
As opiniões e conceitos emitidos pelos autores são de sua exclusiva responsabilidade, não
refletindo, necessariamente, o pensamento do Conselho Editorial ou da Revista.
As pesquisas com seres humanos deverão explicitar o atendimento à Resolução CNS 196/96
para estudos dessa natureza e indicar o parecer de aprovação do Comitê de Ética
devidamente reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do
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Conselho Nacional de Saúde (CNS) (ver modelo em “Manual Operacional para Comitês de
Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde”).
Será necessário também:
• Indicar a categoria para publicação.
• Indicar endereço postal completo, correio eletrônico e telefone para contato com o(s)
autor(es).
• Toda e qualquer contribuição a ser submetida, para que seja avaliada para publicação
na RevInter, obrigatoriamente deverá ser acompanhada dos seguintes formulários:
a) Termo de Cessão de Direitos Autorais e Autorização para Publicação [Formulário Externo
RvIn-ADM-02-2009] assinada por todos os autores de que o trabalho não foi publicado e
nem está sendo submetido para publicação em qualquer outro periódico. Para os estudos
realizados em seres humanos, esta declaração deverá conter também os dados referentes
à aprovação do Comitê de Ética da Instituição onde foi realizada a pesquisa;
b) Formulário preenchido e assinado pelos autores referente ao possível “Conflito de
interesses”, que possa influir nos resultados [Formulário Externo RvIn-ADM-03-2009].
Instruções para Envio do Artigo
A RevInter adota as normas preconizadas pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas
Médicas (Requisitos de Vancouver), publicadas no ICMJE - Uniform Requirements for
Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (http://www.icmje.org/index.html).
Categoria dos Artigos
A RevInter publica artigos técnicos originais, trabalhos de revisão, ensaios, atualização,
estudos de caso e/ou relatos de experiência, comunicações e resenhas de livros, resumos
de teses e dissertações.
A apresentação dos artigos por categoria deverá obedecer:
Artigos Originais - são trabalhos resultantes de pesquisa original, de natureza quantitativa ou
qualitativa. Sua estrutura deve apresentar necessariamente os itens: Introdução, Métodos,
Resultados e Discussão e Conclusão. Apresentação com até 20 laudas.
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Artigos de Revisão - são contribuições que têm por objeto a análise crítica sistematizada da
literatura. Deve incluir com clareza a delimitação do problema, dos procedimentos
adotados e conclusões. Apresentação com até 20 laudas.
Ensaios e Monografias - são contribuições em que há um forte conteúdo analítico opinativo
por parte do autor acerca de um determinado tema. Apresentação com até 100 laudas.
Artigos de Atualização ou Divulgação - são trabalhos que tem por objetivo a descrição
e/ou interpretação sobre determinado assunto, considerado relevante ou pertinente na
atualidade. Apresentação em até 10 laudas.
Comunicações Breves/Relatos de Caso/Experiência - se caracterizam pela apresentação
de notas prévias de pesquisa, relatos de caso ou experiência, de conteúdo inédito ou
relevante, devendo estar amparada em referencial teórico que dê subsídios a sua análise.
Apresentação em até 10 laudas.
Resenhas – são análises descritivas e analíticas de obras recentemente publicadas e de
relevância para os temas abordados da RevInter. Apresentação em até cinco laudas.
Resumos de Livros, Teses e Dissertações - são resumos expandidos apresentados com até
400 palavras, em português, inglês e espanhol, inclusive o título. Para teses e dissertações
deve conter o nome do orientador, data e local (cidade/programa/instituição) da defesa.
Forma de Apresentação dos Originais
Os trabalhos deverão ser apresentados em formato compatível ao MS Word for Windows,
digitados para papel tamanho A4, com letra tipo Times New Roman, tamanho 12, com
espaçamento 1,5 cm entre linhas em todo o texto, margens 2,5 cm (superior, inferior,
esquerda e direita), parágrafos alinhados em 1,0 cm.
Título - deve ser apresentado com alinhamento justificado, em negrito, com a primeira letra
em maiúscula, nos idiomas português e inglês ou espanhol. A seqüência de apresentação
dos mesmos deve ser iniciada pelo idioma em que o artigo estiver escrito.
Autores - nome(s) completo(s) do(s) autor(es) alinhados à esquerda. Enumerar em nota no
final do documento as seguintes informações: formação universitária, titulação, atuação
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profissional, local de trabalho ou estudo (cidade e estado, província, etc), endereço para
correspondência e e-mail do autor principal.
Resumo e descritores - devem ser apresentados na primeira página do trabalho em
português e inglês ou espanhol, digitados em espaço simples, com até 300 palavras. Ao
final do resumo devem ser apontados de 3 a 5 descritores ou palavras chave que servirão
para indexação dos trabalhos. A seqüência dos resumos deve ser a mesma dos títulos dos
artigos.
Estrutura do texto - a estrutura do texto deverá obedecer às orientações de cada
categoria de trabalho já descrita anteriormente, acrescida das referências bibliográficas,
de modo a garantir uma uniformidade e padronização dos textos apresentados pela
revista. Os anexos (quando houver) devem ser apresentados ao final do texto.
Ilustrações - tabelas, figuras e fotografias devem estar inseridas no corpo do texto contendo
informações mínimas pertinentes àquela ilustração (Por ex. Tabela 1; Figura 2; etc.), inseridas
logo após serem mencionadas pela primeira vez no texto, com letra tipo Times New Roman,
tamanho 10. As Ilustrações e seus títulos devem estar alinhados á margem esquerda e sem
recuo. O tamanho máximo permitido é de um papel A4 (21 x 29,7 cm).
Notas de rodapé - devem ser apresentadas quando forem absolutamente indispensáveis,
indicadas por números e constar na mesma página a que se refere.
Citações - para citações “ipsis literis” de referências bibliográficas deve-se usar aspas na
seqüência do texto. As citações de falas/depoimentos dos sujeitos da pesquisa deverão ser
apresentadas em itálico, em letra tamanho 10, na seqüência do texto.
Referências bibliográficas - as referências devem ser organizadas em ordem alfabética ao
final do texto, no formato ABNT (seguindo a norma ABNT NBR 6023 - Informação e
documentação - Referências – Elaboração). Suas citações no corpo do texto devem ser
feitas pelo sobrenome do(s) autor(es), seguidas de vírgula e ano. No caso de mais de dois
autores, usar o sobrenome do primeiro seguido da expressão et al. e de vírgula e ano.
Exemplificando, (NUNES; LACERDA, 2008), (KUNO et al., 2008). Essa orientação também se
aplica para tabelas e figuras.
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