revista estilo 26

90
Bocados SCLIAR, MARCENEIRO DAS PALAVRAS COSTA RICA, O CARIBE COM CHARME EUROPEU Ano 6 N 0 2 6 R $ 2, 50 Doces

Upload: revista-estilo

Post on 22-Mar-2016

232 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Edição de maço de 2004

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Estilo 26

Bocados

SCLIAR, MARCENEIRO

DAS PALAVRAS

COSTA RICA, O CARIBE

COM CHARME EUROPEUA n o 6 N0

2 6 R $ 2, 50

Doces

79910 CAPA.p65 14/04/04, 09:531

Page 2: Revista Estilo 26
Page 3: Revista Estilo 26

N O T A D O E D I T O R

“PREPARE O SEU CORAÇÃO, PRAS COISAS QUE EU VOU CONTAR...”

LEMBRA DESSA MÚSICA? POIS ELA FOI A PRIMEIRA COISA QUE ME VEIO À CABEÇA QUANDO SENTEI PARA

ESCREVER O EDITORIAL DESTA ESTILO ZAFFARI. LINDA DE MORRER E CHEIA DE CONTEÚDO (MODÉSTIA ÀS FAVAS!),

ESTA EDIÇÃO FOI FEITA ESPECIALMENTE PARA VOCÊ CURTIR EM CASA, APROVEITANDO A TEMPERATURA AMENA DO

OUTONO E AQUELES MOMENTOS DE RELAX ENTRE UMA E OUTRA OBRIGAÇÃO DIÁRIA.

PRA COMEÇAR, ESTAMOS PUBLICANDO A PRIMEIRA VIAGEM INTERNACIONAL DA FASE II DA ESTILO ZAFFARI.

NOSSO INTRÉPIDO CASAL DE REPÓRTERES, DAN E CRIS, FOI PARA A COSTA RICA DESENCAVAR SEGREDOS DESSE

PEDAÇO AINDA VIRGEM DO CARIBE, E CONTA TUDO EM UMA REPORTAGEM GOSTOSÍSSIMA DE LER.

A SEÇÃO PERFIL, QUE VOLTA DEPOIS DE UMA RECLAMADA AUSÊNCIA NA EDIÇÃO ANTERIOR, TEM COMO

ENTREVISTADO NINGUÉM MAIS, NINGUÉM MENOS DO QUE O NOSSO GLORIOSO IMORTAL, MOACYR SCLIAR. LEIA O

TEXTO ASSINADO PELA PAULA TAITELBAUM E CONHEÇA MELHOR ESSE INTERESSANTÍSSIMO ESCRITOR, MÉDICO,

PROFESSOR, JORNALISTA E JOGADOR DE BASQUETE (SIM, O SCLIAR JOGA BASQUETE!).

NOSSAS PÁGINAS DEDICADAS A GASTRONOMIA ESTÃO ARRASANDO. PRIMEIRO, O BACALHAU. RECEITAS MA-

RAVILHOSAS QUE TRANSFORMAM O NOBRE PESCADO EM UMA TENTAÇÃO ABSOLUTAMENTE IRRESISTÍVEL. NOSSA

DICA É: ESQUEÇA ESSA BOBAGEM DE SÓ COMER BACALHAU NA PÁSCOA E DELEITE-SE A QUALQUER MOMENTO COM

SEU SABOR INIGUALÁVEL E SUA VERSATILIDADE. DEPOIS, PARA ADOÇAR O PALADAR, NADA MAIS PERFEITO DO

QUE DOCES AMARELINHOS, FEITOS DE OVOS E MUITO AÇÚCAR. APRENDA A FAZER PASTÉIS DE SANTA CLARA,

PASTÉIS DE NATA, FIOS DE OVOS E DELICIE-SE COM ESTES PEQUENOS BOCADOS DE MUITO PRAZER.

E JÁ QUE ESTAMOS FALANDO DE COMIDA, LEMBREI TAMBÉM DE RECOMENDAR A LEITURA DA MATÉRIA

VEGETARIANOS X CARNÍVOROS, VIVE LA DIFFÉRENCE! ATUAL, DIVERTIDA, BEM-HUMORADA E CHEIA DE INFORMAÇÕES,

ESSA MATÉRIA DESMISTIFICA O EMBATE ENTRE AQUELES QUE COMEM CARNE FERVOROSAMENTE E AQUELES QUE A

REJEITAM COM A MESMA DEVOÇÃO. NOSSA CONCLUSÃO É: A COMIDA ESCOLHIDA É UMA FORMA DE PRAZER E TAMBÉM

DE EXPRESSÃO E DE ESTILO DE VIDA. ENTÃO, CADA UM NA SUA, PORQUE RESPEITO É BOM E CONSERVA A AMIZADE...

BEM MENOS POLÊMICA, A REPORTAGEM DA SEÇÃO CASA – OUTRA QUE VOLTOU CHEIA DE CHARME NESTA

EDIÇÃO – MOSTRA ESPELHOS E COMO ELES REFLETEM UM JEITO DE MORAR, A PERSONALIDADE DA CASA.

APROVEITE AS NOSSAS IDÉIAS E RENOVE OS AMBIENTES DA SUA MORADIA. PEQUENAS MUDANÇAS PODEM

SIGNIFICAR GRANDES MELHORIAS!

coração

Prepare seu

OS EDITORES

79910_nota do editor.p65 14/04/04, 09:432

Page 4: Revista Estilo 26

Milene Leal

[email protected]

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO

REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Cris Berger, Paula Taitelbaum, Ruza Amon

REVISÃO Flávio Dotti Cesa

PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi

DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade [email protected]

ILUSTRAÇÕES Nik

FOTOGRAFIA Angela Farias, Cristiano Sant’Anna, Dan Berger, Letícia Remião

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento

COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros,

Malu Coelho, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS)

COLABORADORES Antônio Carlos Schilling Minuzzi, Livraria Cultura

Izabella Boaz

[email protected]

DIRETORA DE ATENDIMENTO

PUBLICIDADE HRM Representações

(51) 3231.6287 9983.7169 9987.3165 [email protected]

DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares

[email protected]

A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda.,

sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas

da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é

responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, ar tigos e colunas

assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem

prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 25.000 exemplares

PRÉ-IMPRESSÃO Maredi

IMPRESSÃO Pallotti

ENDEREÇO DA REDAÇÃO

Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080

(51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781

[email protected]: FOTO DE LETÍCIA REMIÃO

79910_expediente.p65 14/04/04, 11:582

Page 5: Revista Estilo 26
Page 6: Revista Estilo 26

Correio

NA CALIFÓRNIA

Meu nome é Lea. Vivo atualmente em Los

Angeles e sou fã desde o primeiro número da

revista, na época ainda morava em POA. Agora

só consigo ler a revista porque minhas amigas

sempre me mandam pelo correio quando sai uma

nova revista. Adoro fazer as receitas que vocês

publicam e que fazem muito sucesso por aqui.

O que eu mais gostaria é que vocês pudessem

me mandar uma assinatura desta maravilhosa

revista, apenas me digam se é possível e o que

devo fazer para isto. Outra coisa é que eu adora-

ria ver publicadas algumas receitas de cucas (es-

tilo de Feliz, ou seja, estilo alemão).

Abraços desta fã número 1.

Lea, claro que uma leitora fiel como vocêmerece receber a revista, esteja onde estiver.Só que o envio dos exemplares para LosAngeles tem um custo bastante alto... Paratentar resolver a questão, a Renata, do nossoDepartamento de Atenção ao Leitor, vai en-trar em contato com você via e-mail, ok?Adoramos a sua sugestão e ela inclusive jáestá pautada para este ano. Vamos fazer umaedição temática sobre a imigração alemã esua culinária. Um grande abraço.

EM BELO HORIZONTE

Bom-dia, Renata

Sou de Belo Horizonte/MG e morei em Por-

to Alegre em 2003. Adorei essa cidade, e uma

grande referência é o Zaffari. Morava a 2 qua-

dras da loja do Menino Deus e era cliente assí-

duo. Enquanto em POA comprei todas as edi-

ções da Estilo Zaffari lançadas no período. Por

motivos diversos tive que voltar para BH, mas a

saudade é grande. Num momento especial, fo-

lheando um exemplar da revista, vi seu e-mail

e gostaria de informações sobre como assinar e

como receber em BH. Um abraço. Elói/BH

Caro Elói, estamos trabalhando na mon-tagem de um sistema de assinaturas quepossa atender aos pedidos que chegam detodo o Brasil e até do exterior, mas esse sis-tema precisa ter uma viabilidade financei-ra para nossos leitores. Acontece que, comoo preço de capa da revista é muito acessí-vel, o custo de correio acaba ficando maiscaro do que a própria Estilo Zaffari. É umdilema que estamos tentando resolver, ok?Seu nome vai ficar em nosso cadastro, parafazer parte desse sistema assim que ele es-tiver definido. Um grande abraço e obri-gada pelos elogios ao Zaffari e à revista.

OLHO VIVO

A cada vez que vou no Zaffari Bourbon fa-

zer as compras da semana, fico de olho para sa-

ber se já chegou a nova edição da Revista Esti-

lo. Confesso que é uma das poucas revistas que

leio do início ao fim. E gostaria muito de saber

como faço para adquirir edições anteriores. Bom,

sucesso para que a Estilo Zaffari nunca nos aban-

done! Aguardo contato, obrigada.

MIRNA WIDHOLZER

No que depender de nós, Mirna, a Estiloserá eterna e cada vez melhor. Vontade eempenho para isso não faltam! Ainda maiscontando com o estímulo de leitoras comovocê. Para adquirir edições atrasadas, en-tre em contato com o Departamento deAtenção ao Leitor, no fone (51) 3395.2515,com Renata, ou pelo e-mail [email protected]. Mas atenção: muitas ediçõesjá estão esgotadas! Um grande abraço.

EM TEMPO

Parabéns pelo artigo “Iguarias do Mediterrâ-

neo”. A respeito da bebida feita de anis, conforme

página 51, chamada de ouzo na Grécia e arak nos

países árabes, o verdadeiro nome da bebida seme-

lhante na França é pastis, sendo o nome Pernod

uma das principais marcas entre muitos fabrican-

tes. Esperando ter ajudado, reitero meus parabéns

pelo trabalho. Atenciosamente,

JEAN-JACQUES DELAPRAZ

Jean-Jacques, em primeiro lugar, obriga-do pelo esclarecimento, que foi de grandevalia. Ainda bem que temos leitores aten-tos, bem-informados e dispostos a contri-buir! E depois, obrigado também pelos elo-gios à revista. Continue de olho na gente!

8 Estilo Zaffari

79910 cartas.p65 12/04/04, 16:062

Page 7: Revista Estilo 26

MATÉRIA APROVADA

É uma imensa honra estar na revista Estilo

Zaffari!!! A qualidade das matérias, o layout, a

impressão, as fotos, enfim, tudo está maravilho-

so! E a reportagem sobre o Txai? Maravi-

lhosa!!! Eu passei uma semana em Itacaré no

final de novembro. Infelizmente não foi no Txai,

apesar de ter ido conhecer. Mas dia desses... Vou

cuidar para escolher bem a companhia, Milene...

Se eu puder colaborar com alguma coisa mais,

será um prazer!

CACAIA – CAFÉ DO PORTO

Melhor ainda é obter a aprovação doentrevistado, pois isso demonstra que con-seguimos reproduzir com fidelidade o quefoi dito e mostrado. Teu estabelecimento éum sucesso que merece todas as homena-gens, e para nós é uma honra tê-lo naspáginas da Estilo. Quanto ao Txai, o lu-gar é de fato uma maravilha. Todas as pes-soas que estiveram lá voltaram muito im-pressionadas. Segue aquele conselho quedei na matéria (edição 25) e apro-veita! Abraço e obrigada pelo apoio.

É ISSO AÍ!

Querida Milene

Quando recebemos vocês no nosso hotel

não sabíamos do prazer que teríamos ao ler a

edição de janeiro da Estilo Zaffari. Nunca al-

guém descreveu tão bem, numa reportagem, a

idéia do que o Txai tem para oferecer a seus

hóspedes. Entre fotos e texto, nos sentimos iden-

tificados, e à medida que cada um de nós ia

lendo apareciam sorrisos como querendo dizer:

“É isso aí!”. Espero ter vocês numa próxima vez

com companhias mais românticas. De parte de

nossa equipe, muito obrigado.

Abraços.

ALEJANDRO FEDERICO URETA

GERENTE COMERCIAL TXAI

ESCLARECIMENTO:

(Referente à matéria Ontem, Hoje e Sempre, publicada na edi-

ção 25 da revista Esti lo Zaffari)

DE 1955 A 1964 FUNCIONAVA NA AVENIDA PROTÁSIO ALVES, Nº 1709

UM ESTABELECIMENTO DENOMINADO “BAR ELITE”, QUE FOI SU-

CEDIDO PELA “CAVERNA DO RATÃO”. O “BAR ELITE” PERTENCIA

A MAX ALBINO KLEIN, CONFORME INFORMAÇÃO OBTIDA DE SEU

FILHO, JOÃO BATISTA KLEIN, EM 1º DE ABRIL DE 2004.

79910 cartas.p65 12/04/04, 16:063

Page 8: Revista Estilo 26

Í N D I C E

Cartas

Coluna: Cotidiano

Cesta Básica

Coluna: Consumo

O Sabor e o Saber

Vegetarianos x Carnívoros

Casa: Decore com Espelhos

Coluna: Gauchismos

08

12

15

22

36

66

74

90

Rica

Costamuy

Uma viagem deliciosa ao

lado mais agreste e mais

charmoso da Costa Rica 38

79910 Indice.p65 14/04/04, 10:102

Page 9: Revista Estilo 26

BOCADOS

Doces

Bacalhau

MARCENEIRO

DAS PALAVRAS

24

80

56

Amarelinhos, pequeninos e cheios

de sabor, eles são irresistíveis

a mesa tropical

Dos gélidos mares para

79910 Indice.p65 14/04/04, 10:183

Page 10: Revista Estilo 26

Cotidiano

Comer fora é uma aventura, dá novo sabor à vida

O FEITIÇO DOS RESTAURANTES

Quando eu era menina, adorava domingos, e isso prova

que a tendência do ser humano é mesmo evoluir. Gostava porque

não tinha aula e porque passava as tardes na casa da minha avó,

e a casa da minha avó tinha lareira, pátio, sótão e até uma miste-

riosa adega embaixo de uma escada, lugar perfeito para eu e meus

primos nos escondermos. Mas o que me fazia torcer para o domin-

go chegar é que era o dia em que a gente almoçava fora.

Naquela época não havia tanta oferta de restaurantes

como há hoje, e pizza era novidade que ainda não havia de-

sembarcado aqui. Pois bem: meu pai, minha mãe, meu irmão e

eu acabávamos sempre indo na Churrascaria Santa Tereza, na

Assis Brasil. Não existe mais, virou um bingo. Era um lugar

simples. Eu pedia filé com fritas e uma Coca-Cola permitida

apenas nos finais de semana, e me tornava a menina mais feliz

do universo, sentada diante de uma mesa de fórmica cor-de-

rosa que era medonha, mas que se tornava linda simplesmente

por não pertencer à minha rotina.

É justamente para fugir do cotidiano que até hoje comer

fora segue sendo um prazer para meninas e meninos que se tor-

naram adultos e que já não comem apenas filé com fritas (ainda

que seja uma dobradinha imbatível). Agora a gente tem cozi-

nha tailandesa, italiana, mexicana, árabe, vegetariana, comida

para todos os gostos e em ambientes cada vez mais bonitos. Cer-

ta vez jantei com meu marido numa ilha paradisíaca muito lon-

ge daqui, num restaurantezinho charmoso que me transportou

para um comercial de cartão de crédito assim que lá coloquei os

pés. A noite caindo, poucas mesas na varanda ao ar livre, casti-

çais, um transatlântico todo iluminado cortando o mar a nossa

frente e música erudita tocando bem baixinho: só faltou o

logotipo do American Express no canto direito do vídeo. A co-

mida nem precisava ser boa, mas foi sublime.

É bom salientar que sofisticação não é ingrediente obri-

gatório: em botecos de beira de praia já comi feito uma embai-

xatriz, em vilarejos de estrada já tive o privilégio de banque-

tear, mesmo sentada em cadeirinha de palha e com a toalha

manchada por refeições passadas. Todos os créditos para quem

estava no comando das caçarolas.

A eficiência na escolha da companhia não é menos im-

portante. Jantar ou almoçar fora pressupõe deixar as inco-

modações em casa: nada de levar com você pessoas que recla-

mam do preço da água mineral, que falam alto demais, que são

insolentes com garçons. Comer fora não é buscar na rua novas

razões para se irritar.

Comer fora é, isto sim, uma aventura, se por aventura

entendemos proporcionar a nossos olhos outra paisagem e a

nosso paladar outros temperos. É uma satisfação dos sentidos.

Mesmo que sejam raros os chefs que cozinhem tão bem quanto

nossas mães e nossas Marias, topamos pagar caro pelo ambien-

te, pela música, pela louça, pelo astral, pela iluminação, pelo

burburinho. Sigo gostando do programa, mesmo sabendo que

restaurantes são como refeitórios de pensão, nada mais do que

um monte de pessoas matando a fome no mesmo local. Mas a

gente coloca uma roupa mais bonitinha, escolhe no cardápio

umas estranhezas e está feito: damos novo sabor à vida.

M A R T H A M E D E I R O S

MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA

12 Estilo Zaffari

79910_cotidiano.p65 14/04/04, 11:0612

Page 11: Revista Estilo 26
Page 12: Revista Estilo 26
Page 13: Revista Estilo 26

Cesta básica

Plástico high-tech

Bonitos, coloridos, modernos, divertidos, práticos,

versáteis. Os objetos de polipropileno criados pela

Coza (diga Cóza) são um achado para quem quer

fugir da mesmice que reina no universo das

utilidades domésticas. Os sousplats aí ao lado

escapam do convencional pela forma quadrada e

as lindas cores. Dão vida e personalidade a

qualquer mesa. O forte da Coza – empresa de

Caxias do Sul que já soma 20 anos de atividade –

são justamente as cores e a excelência do design,

assinado por profissionais que são referência

nacional nesta área. Os sousplats são fabricados

nas cores preto, branco, azul-escuro opaco, azul

turquesa, amarelo, laranja citra, pimenta opaco,

verde e rosa. Chega ou quer mais? Solte a

criatividade e faça suas combinações.

MILENE LEAL, JORNALISTA

NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS

E SUGESTÕES PARA CURTIR

O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE:

MÚSICA, CINEMA, LUGARES,

COMIDINHAS, OBJETOS ESPECIAIS,

PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO.

FOTO: LETÍCIA REMIÃO

79910 cesta basica.p65 12/04/04, 20:511

Page 14: Revista Estilo 26

Travesseirinhos com mensagens personalizadas e

bordadas em linha de seda são um mimo para se

ter em casa, levar em viagem ou presentear pessoas

que “já tem tudo”. Um toque de romantismo,

humor ou descontração pode complementar a

decoração de camas de todos os tamanhos e estilos.

Quem assina a idéia é a empresária e artesã Martha

Candemil, que criou frases tais como “Princess

sleeps here” e “Ser feliz não é um sonho . É uma

decisão” para seus “travesseirinhos mensageiros”.

Os recheios são de espuma siliconada e as fronhas,

em Percal branco 200 fios. O tamanho tradicional é

de 30 x 40cm, mas o cliente pode optar por

tamanhos especiais e por frases de sua preferência.

RUZA AMON, JORNALISTA

Mimos delicados

Cesta básica

Tudo bem que ninguém merece ver, mais uma vez, a

dificuldade que os americanos têm para entender que no

Brasil se fala português e não espanhol. E que aqui nós não

chamamos um indivíduo do sexo feminino de “chica”, mas

de moça, garota, menina, guria, sei lá. Abstraindo a

duvidosa participação da brasileira Sônia Braga como uma

artista plástica muderrrrrrrna que se chama Maria Diega

Reyes (!), a quarta temporada de Sex and The City vale a

compra destes DVDs. O seriado americano, que faz um

sucesso impressionante entre as mulheres brasileiras,

continua divertidíssimo, mostrando as peripécias e desven-

turas das quatro “heroínas” (Carrie, Samantha, Charlote e

Miranda) em suas andanças amorosas. O cenário – Nova

York – continua sendo uma das maiores atrações do

seriado. Sem falar no desfile de grifes superfashion

protagonizado por Carrie, a personagem principal.

MILENE LEAL, JORNALISTA

CARRIE, A FASHION

FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

79910 cesta basica.p65 12/04/04, 21:012

Page 15: Revista Estilo 26
Page 16: Revista Estilo 26

Eu nunca fui à Irlanda, mas acabo de conhecer um legítimo

pub irlandês. E fica aqui pertinho. Na Hilário Ribeiro, 52.

É o tipo de lugar pra chamar de seu. Onde sua alma boêmia

se sente em casa e fica com vontade de ter cadeira cativa.

No Cherry Blues Pub, o ambiente é superaconchegante sem

ser sufocante, isso graças aos móveis rústicos e ao pé-direito

altíssimo. Nas paredes, cartazes e fotos se misturam a

quadros negros escritos com giz e dão aquele toque de

“boteco chique” que a gente tanto adora. A grande atração

é a carta de cervejas e chopps. Não sou grande entendida

no assunto, mas tomei um chopp de trigo da Eisenbahn que

foi algo. Sabe aquela espuminha cremosa que gruda entre

o nariz e a boca? E se você resolver ficar até mais tarde pra

curtir o show acústico que começa lá pelas 21h30 (num

volume que dá pra continuar conversando), poderá jantar

também. A grande pedida é o Filé Porto Dublin ou o Gaelic

Boxty, a tradicional panqueca de batatas irlandesa recheada

com filé cozido e cogumelos ao molho de whisky. Saia do

trabalho e vá direto pra lá.

PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA

Cherry Blues PubNovela da Globo dita moda até no ramo da

gastronomia. Aproveitando o sucesso do folhetim

das 18h, Chocolate com Pimenta, a Editora Globo

lançou um livro com o mesmo nome, reunindo

receitas testadas e assinadas por consagrados chefs,

doceiros e fabricantes de chocolate. São salgados e

doces, todos baseados nesta – a princípio – inusitada

combinação. Quem já provou diz que o mix do

picante com o doce resulta em um sabor exótico e

muito interessante. Só arriscando pra saber...

Editora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à venda

na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.

CHOCOLATE COM PIMENTA

FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA

79910 cesta basica.p65 14/04/04, 10:483

Page 17: Revista Estilo 26
Page 18: Revista Estilo 26

Cesta básica

Linda Patagônia

Quem for na Habitart a partir do dia 13 de abril vai

ver coisas lindas até nas paredes da loja. A Habitart,

loja de móveis e objetos de design, está expondo fotos

inéditas de Celso Chittolina. A exposição se chama

Torres del Paine e reúne fotografias em P&B que

Chittolina fez na Patagônia, em 1999. Se você for até a

Habitart para ver as fotos lindas do Chittolina, vai

descobrir a nova coleção de móveis e objetos da loja.

E se aparecer por lá para ver a nova coleção de móveis

e objetos, vai descobrir fotos sensacionais. Ou seja, de

qualquer jeito, é um programa imperdível. A Habitart

fica ali na Furriel Luís Antônio Vargas, 374 – loja 7,

esquina com a Carlos Gomes. E a exposição

permanece até o dia 22 de maio.

FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA

Atenção, formigas de todos os tamanhos e procedências: já

está nas livrarias a bíblia dos viciados em açúcar. A deliciosa

obra chama-se Doces SaboresDoces SaboresDoces SaboresDoces SaboresDoces Sabores e tem, além de interessantís-

simas informações sobre a trajetória do açúcar no mundo e

no Brasil, um montão de receitas daquelas que fazem salivar

qualquer formigão. A pesquisa sobre a origem do açúcar e

sua democratização é muito bem feita, enfatizando as

qualidades simbólicas desse produto e seu papel nas relações

sociais. Mas guarde sua voracidade para as receitas. O livro

faz um apanhado completo das doçuras que freqüentam a

mesa luso-brasileira e também estrangeira, com ênfase para

os doces regionais brasileiros. Esqueça a dieta!

Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,

à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.

MILENE LEAL, JORNALISTA

SÓ PARA FORMIGAS

79910 cesta basica.p65 12/04/04, 20:514

Page 19: Revista Estilo 26
Page 20: Revista Estilo 26

Consumo

É “moderno” dizer que estilo é não ter estilo

PATRICINHAS SEM BEVERLLY HILLS

No mês de março, a Revista da Folha publicou uma

reportagem que, quanto mais o tempo passa, mais incrível

me parece.

O texto ultra-irônico do jornalista Paulo Sampaio trata-

va de anunciar o fim da era das Patricinhas e o nascimento de

uma nova versão, mais atualizada, as Camilinhas.

As Camilinhas, segundo ele, rejeitam o modelo anterior

de consumo e comportamento. São fruto da geração-música

eletrônica, mais eclética, com padrões mais “democráticos”.

Camilinha que é Camilinha questiona tudo que é grife.

Se permite sair à noite vestindo um short de capoeira, bem

desencanado, enquanto os pezinhos continuam confortáveis

num bom sapato Gucci, de preferência velhérrimo. “O legal é

misturar tudo.” Roupas, pessoas…

Saem as festas em danceterias e entram em ação as

raves, em galpões ou lugares menos óbvios. Pra turma ser boa,

não vale só ser composta por gente rica, tem que ter “gente de

atitude”. Leia-se, moderninha. Que não julga pelas aparên-

cias. Mas só aparentemente. Viajar é descobrir alguma cone-

xão exótica que de preferência não faça muito sentido.

Nova Iorque é eclética, mas meio óbvia.

Legal é Hong Kong-Cape Town-Veneza.

Tudo é tão oco que chega a fazer eco.

Não consigo deixar de pensar que, quando um movi-

mento passa a ser facilmente enquadrado como estilo, já fi-

cou velho. E é patético se sentir moderno fazendo parte de

uma coisa que já foi.

Uma nova atitude, nova de fato, só pode ser nova quan-

do ainda sequer foi vista, ou reconhecida.

A mídia destrói o conceito do que é novo.

Se está na TV ou na revista, se já tem suas grifes símbo-

lo, se tem seguidores em vez de inventores, se virou tendência

em vez de ser investigado como uma coisa desconhecida, me

perdoem Camilinhas, mas não é novo, não. É de massa. Virou

consumo.

É “moderno” dizer que estilo é não ter estilo.

Então, o que podemos observar é uma legião de pessoas

sem estilo nenhum protegidas atrás do rótulo dos sem estilo.

Não vejo graça nenhuma nisso.

Mas via muita graça nas Patricinhas.

E naquele mundo absolutamente lotado de coisas sem

significado e importância nenhuma. Assumidamente fúteis,

exageradas por essência e convicção.

Quem viu nunca vai esquecer a imagem do guarda-

roupas da Alicia Silverstone no filme As Patricinhas de

Beverlly Hills. Hilário. A personagem, assim como quem com

ela se identificou um dia, era aquilo mesmo, sim. E daí?

Como metida a olhar para os comportamentos de con-

sumo, vejo mais originalidade em quem se define do que em

quem quer ser “de tudo um pouco”, “uma coisa bem mistura-

da, sabe?”.

O vale tudo não vale nada.

E as Camilinhas, na verdade, não passam de Patricinhas

sem Beverlly Hills, sem a trilha sonora do início dos anos 90,

sem as roupas escandalosas, sem os poodles, sem os conversí-

veis, sem humor.

Nada que a próxima tendência ou estilo não ajude a

enterrar.

T E T Ê P A C H E C O

TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA

22 Estilo Zaffari

79910_consumo.p65 14/04/04, 11:041

Page 21: Revista Estilo 26
Page 22: Revista Estilo 26

Sabor

Bacalhau

Nos dias de hoje não podemos avaliar o impacto

que foi a revolução liderada por Portugal e Espanha no

mundo dos séculos 15 e 16, na época dos descobrimen-

tos. Muito mais ousadas do que as viagens espaciais dos

nossos tempos foram as aventuras marítimas realizadas

pelos navegadores portugueses, frutos de anos de dedi-

cação do Infante D. Henrique, visionário brilhante, e

guiadas pela fabulosa Escola de Sagres criada por ele.

Mas, afinal, o que é que o mar tem a ver com a

mesa? Tudo. E no caso dos portugueses, eles foram ge-

niais nos dois campos. Aproveitaram muito bem toda a

contribuição dos árabes, que depois de muitos séculos de

convivência produziram ali uma cultura muito avança-

da, rica e que acabou impulsionando Portugal àqueles

mares misteriosos e, de fato, nunca dantes navegados.

Das viagens, traziam toda a riqueza e os misté-

rios do Oriente e do novo mundo, como as especiarias,

fundamentais para a conservação dos alimentos, o açú-

car, tecidos, madeira, frutas, ervas, etc. Como a traves-

sia dos mares durava meses, anos até, os navegadores

tinham que levar alimentos secos, fáceis de armazenar,

e que se conservassem pelo maior tempo possível. As-

sim o bacalhau acabou se tornando a dieta essencial

nas grandes viagens. Além disso, a severa restrição da

Igreja Católica em relação ao consumo de carne, duas

vezes por semana, mais a quaresma, levou os portugue-

ses a consolidar o hábito de comer peixes e, principal-

mente – que castigo –, o bacalhau.

P O R B E A T R I Z G U I M A R Ã E S F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O I L U S T R A Ç Õ E S N I K

24 Estilo Zaffari

a mesa tropical

Dos gélidos mares para

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:412

Page 23: Revista Estilo 26

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:413

Page 24: Revista Estilo 26

Originário dos frios mares do norte, o bacalhau

já era conhecido pelos Vikings, que secavam o peixe

ao sol e ao vento para serem consumidos em suas vi-

agens. Os Bascos, no norte da Espanha, que conhe-

ciam a técnica de salgar alimentos desde a Idade Mé-

dia, se tornaram pioneiros no comércio do bacalhau

salgado, principalmente na costa espanhola. Mas Por-

tugal, pela necessidade de produzir um alimento bá-

sico para as grandes viagens, além de comprá-lo da

Noruega, passou também a enviar barcos de pesca

para a difícil e perigosa tarefa de buscar bacalhau nas

águas gélidas do norte, e acabou se tornando um dos

grandes comerciantes do peixe. Embora o bacalhau

seja consumido e apreciado por todo o Mediterrâneo,

com cada país apresentando suas receitas típicas, é

em Portugal que encontramos as receitas mais varia-

das e originais, sendo os portugueses os maiores con-

sumidores de bacalhau do mundo.

O bacalhau no Brasil

Dentre tantas riquezas, como a língua, a

gastronomia e a generosidade, herdamos dos portugue-

ses a paixão pelo bacalhau. Do bolinho ao assado, do

bacalhau em postas ao cozido com batatas e azeitonas,

e até – segredo de cozinheira baiana tradicionalíssima

– vai um tiquinho de bacalhau no Vatapá!

Data de 1843 a primeira importação oficial de

bacalhau da Noruega para o Brasil. No entanto, foi com

a vinda da Família Real, em 1808, que o bacalhau pas-

sou a fazer parte da gastronomia da Colônia. No come-

ço, no entanto, o bacalhau servia de alimento às cama-

das mais populares, daí ter se tornado um verdadeiro

prato típico da nossa culinária. O Rio de Janeiro, cida-

de que abriga uma das maiores comunidades portugue-

sas no Brasil, tem no bacalhau uma de suas melhores e

mais conhecidas especialidades. No entanto, o hábito

de comer bacalhau atravessa o Brasil inteiro, e ele é

ORIGINÁRIO DOS MARES DO NORTE, O BACALHAU JÁ ERA

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:514

Page 25: Revista Estilo 26

consumido principalmente na Páscoa e no Natal.

Dizem que o escritor Machado de Assis tinha por

hábito comer bacalhau aos domingos, o que acabou sen-

do adotado por muitos cariocas ao longo do tempo – e

ainda hoje vários restaurantes mantêm essa tradição no

Rio de Janeiro.

O bacalhau, além de ser muito saboroso e aprecia-

do no mundo todo, é um alimento bastante nutritivo.

Em cada 100 g de bacalhau, encontramos 38 g de proteí-

na, 1 g de gordura, 60 g de cálcio, 1,6 mg de ferro, vitamina

B, e ele totaliza em torno de 160 calorias. É três vezes mais

nutritivo do que outros tipos de peixe, e também é mais

substancioso do que outras carnes e aves em geral.

Na memória coletiva do brasileiro, no seu incons-

ciente gastronômico mais remoto, está um belo prato de

bacalhau com batatas, regado com abundância pelo me-

lhor azeite português. Ah, e acompanhado de um bom

vinho tinto novo, como bem fazem os portugueses.

RA CONHECIDO PELOS VIKINGS

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:515

Page 26: Revista Estilo 26

Sabor

PREPPREPPREPPREPPREPARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BACCCCCALHAALHAALHAALHAALHAU:U:U:U:U:

Procure, de preferência, o legítimo bacalhau do Porto, ou

Imperial, pois a qualidade é muito importante no resulta-

do final. Além das postas, as cartilagens, ossos e aparas

podem ser utilizados também em caldos, nos assados (re-

tirando-os na hora de servir) e principalmente no risotos,

pois acabam dando um sabor muito especial ao prato. In-

dependentemente da forma como vai ser preparado o ba-

calhau, é necessário seguir as seguintes instruções:

Colocar as postas em recipiente com água abundante.

Deixar de molho, no mínimo, por 12–14 horas, trocando

a água umas 5 vezes.

Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:

Desfie o bacalhau, coloque-o numa travessa e despeje o leite

bem quente por cima, deixando-o de molho por umas 2 ho-

ras. Numa frigideira grande, aqueça o azeite, acrescente a

cebola e deixe dourar. Depois ponha o alho. Junte ao refoga-

do a batata cozida com a pele, em rodelas. Coe o bacalhau

desfiado e leve-o à frigideira também, em fogo moderado.

Coloque a mistura em travessa refratária, leve ao forno, em

temperatura média, por uns 15 minutos. Ao servir, enfeite

com ovos cozidos fatiados, azeitonas pretas e salsinha.

BACALHAU A GOMES DE SÁ

400 G DE BACALHAU, DESSALGADO

600 G DE BATATAS / 3 OVOS COZIDOS

1 COPO DE LEITE QUENTE

2 CEBOLAS EM RODELAS

2 DENTES DE ALHO BEM PICADOS

AZEITE / SALSINHA PICADA

100 G DE AZEITONAS PRETAS

Porto

28 Estilo Zaffari

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:436

Page 27: Revista Estilo 26

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:437

Page 28: Revista Estilo 26

BACALHAU COM NATAS

400 G DE BACALHAU EM POSTAS, DESSALGADO

1 COPO E ½ DE LEITE

1 CEBOLA PICADA

2 COLHERES DE FARINHA DE TRIGO

600 G DE BATATA / AZEITE

NOZ-MOSCADA / 200 G DE NATA

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Depois de dessalgado, deixe o bacalhau aferventar junto

com o leite por uns poucos minutos. Deixe esfriar, desfaça

o bacalhau em lascas e reserve. Numa panela, refogue a

cebola até dourar e acrescente o bacalhau. Polvilhe a fari-

nha e em seguida adicione, aos poucos, o leite em que foi

cozido o bacalhau. Deixe engrossar ligeiramente e desligue.

Rale um pouco de noz-moscada e adicione ao peixe. Reser-

ve. Cozinhe as batatas com casca, tire a pele e corte-as em

rodelas. Em fogo baixo, dê uma dourada leve nas batatas e

escorra-as em papel-toalha. Arranje as batatas com o baca-

lhau em forma refratária, adicione as natas e leve ao forno

por alguns poucos minutos. Sirva em seguida.

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Faça um refogado com azeite, cebola, louro e depois

acrescente o arroz. Junte o bacalhau desfiado, mexa bem

e por fim ponha a água fervente. Abaixe o fogo e adici-

one os tomates picados. Corrija o tempero, se necessá-

rio, e sirva assim que estiver pronto. Não deixe secar

muito. Na hora de servir, acrescente um fio de azeite

sobre o prato.

ARROZ COM BACALHAU

1 XÍCARA DE ARROZ (200 G)

150 G DE BACALHAU, DESSALGADO E DESFIADO

2 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

1 CEBOLA PICADA

1 FOLHA DE LOURO

3 XÍCARAS DE ÁGUA FERVENTE

AZEITE

Lisboa

Sabor

Região Norte

30 Estilo Zaffari

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:438

Page 29: Revista Estilo 26

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:449

Page 30: Revista Estilo 26

Sabor

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:4410

Page 31: Revista Estilo 26

BACALHAU A BRÁS

300 G DE BATATAS CORTADAS EM

FORMA DE PALITO

200 G DE BACALHAU, DESSALGADO

3 OVOS

SALSINHA PICADA

AZEITE

2 DENTES DE ALHO

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Desfie o bacalhau e reserve-o. Aqueça o azeite numa

frigideira grande, coloque os dentes de alho inteiros

para dar sabor e depois os descarte. Acrescente as ba-

tatas e frite-as levemente no azeite, sem deixar quei-

mar. Escorra e reserve as batatas. Repita a operação

com o bacalhau desfiado, fritando-o por uns 5 minu-

tos. Misture as batatas com o bacalhau da frigideira.

Bata ligeiramente os ovos com um garfo e despeje na

frigideira. Quando os ovos estiverem firmes (não dei-

xe cozinhar muito), desligue o fogo, acrescente a

salsinha e sirva em seguida.

EMPADÃO DE BACALHAU

400 G DE BACALHAU

600 G DE BATATAS

4 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES

1 CEBOLA PICADA

1 PIMENTÃO VERMELHO PICADO

2 OVOS / AZEITE

1 COLHER DE MANTEIGA

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Desfie bem o bacalhau e reserve-o. Numa panela ponha o

azeite e deixe aquecer, acrescentando a cebola, o pimentão

e depois os tomates picados. Refogue os ingredientes e jun-

te o bacalhau desfiado. Deixe por mais alguns minutos e

desligue. Cozinhe as batatas com casca. Depois de cozidas,

tire a pele e faça um purê, acrescentando a manteiga para

dar sabor e consistência. Bata os ovos e misture ao purê.

Reserve. Numa travessa refratária coloque o bacalhau com

os legumes e por cima ponha o purê de batatas, formando o

empadão. Leve ao forno por uns 10 minutos ou até dourar.

Não deixe muito tempo no forno, para não secar.

Lisboa Estremadura

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:4411

Page 32: Revista Estilo 26

Sabor

ISCAS DESFIADAS DE BACALHAU

250 G DE BACALHAU

1 CEBOLA

AZEITE

SALSINHA PICADA

AZEITONAS PRETAS (OPCIONAL)

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Tire o bacalhau do molho, desfie e reserve. Pique a

cebola em rodelas bem finas. Coloque numa panela

o azeite, a cebola e o bacalhau desfiado. Deixe por

uns 3 a 4 minutos, no fogo brando, cozinhando le-

vemente. Acrescente a salsinha e corrija o sal se pre-

ciso. Sirva frio, com azeitonas, um fio de azeite por

cima, com torradas e pães. Vai muito bem com um

vinho verde branco, fresquíssimo.

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Cozinhe as batatas com a pele, descasque e amasse bem.

Reserve. Depois de deixar o bacalhau de molho, leve-o a

cozinhar por alguns minutos, sem deixar ferver. Descarte

a água e desfie o bacalhau, e depois o amasse com um

garfo. Misture o peixe ao purê de batatas, acrescentando

os ovos um a um, depois as cebolas e a salsinha. A mistura

deve ficar firme. Deixe esfriar e faça os bolinhos. Frite-os

em óleo quente e deixe, depois, escorrer em papel-toalha.

Dá umas 25 unidades. Sirva quente.

BOLINHO DE BACALHAU

250 G DE BACALHAU

400 G DE BATATAS

1 CEBOLA BEM PICADA

2 COLHERES DE SALSINHA PICADA

3 OVOS / ÓLEO PARA FRITAR

Região NorteAndaluzia

34 Estilo Zaffari

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:4612

Page 33: Revista Estilo 26

79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:4613

Page 34: Revista Estilo 26

O sabor e o saber

F E R N A N D O L O K S C H I N

Com bichos ou com gente, por terra, mar ou ar, todas as grandes

migrações foram motivadas por comida. O estômago é um órgão peregri-

no; os maiores viajantes são os ‘gastronautas’.

Se portugueses chegaram ao Brasil em busca de temperos orien-

tais, o Canadá foi ‘descoberto’, primeiro, por bascos que caçavam baleias,

e depois por franceses pescando bacalhau.

Erik, o ruivo, depois de expulso da Noruega (“por matar gen-

te”) e da Islândia (“por matar mais gente”), pôde explorar a Groelândia

há 2000 anos porque aprendera a conservar o bacalhau ao expor o

peixe ao vento polar.

Sem visto ou passaporte, foi com o bacalhau que o filho de Erik,

Leif, chegou à América 500 anos antes de Colombo.

A carne de peixe nos alimenta desde as cavernas. Fósseis de peixe

são comuns em sítios arqueológicos e, ainda hoje, algumas culturas da

Amazônia e do Pacífico Sul dependem totalmente do pescado como fonte

de proteína.

O peixe nada na geografia. Os mapas da Noruega, Escócia e Japão

espelham fielmente áreas pesqueiras: as cidades emergiram junto às zonas

onde os cardumes mais se aproximavam das costas.

O peixe mergulha na História. O Brasil sofreu uma invasão holan-

desa porque a pesca fez daquela nação uma potência colonial marítima.

Capital de um país onde até a terra foi cedida pelo mar, diz-se que

Amsterdan foi construída sobre escamas e espinhas de peixe.

Tudo o que importa na cultura tem expressão mítica. O peixe é o

símbolo vivo da água no seu poder gerador e purificador, um poder femini-

no. Historicamente seu desenho imita a vulva da deusa mãe natureza.

Não é coincidência que o signo astrológico de Peixes seja duplo – um casal

–, que se situe em total oposição ao de Virgem e que, no hemisfério norte,

sua constelação prenuncie o equinócio de primavera, a estação da reno-

vação e fecundidade.

Ícone pagão, natural que o peixe, devidamente eviscerado das

conotações genitais, se tornasse uma marca registrada do cristianismo.

Afinal, o catolicismo surgiu junto ao mar da Galiléia e pelo menos sete dos

12 apóstolos de Jesus eram pescadores.

Imagem de fecundidade, o milagre substituindo a reprodução, Je-

sus saciou a fome de 4.000 fiéis pela multiplicação de “quatro pães e dois

peixes”. Recém-ressuscitado, Jesus teve como refeição uma “posta de pei-

xe assado”.

Desde o Jordão até a pia batismal, o batismo religioso dá-se na

água, e o fiel era chamado de pisciculu (‘peixinho’), na mesma metáfora

dos índios tupis, que apelidaram as crianças de guri (‘bagrinho’).

O reino cristão é figurado como uma rede de pesca, e os sacerdo-

tes, como pescadores de almas. O anel papal, o anel piscadore – colocado

na sagração e quebrado na morte do pontífice –, traz a imagem de Pedro

jogando uma rede no mar.

Um desenho fácil, os primeiros cristãos se representavam com a

figura do peixe. Na catacumba romana, é o peixe que identifica a sepultu-

ra de um cristão. As cinco letras da palavra grega para peixe, ictys, formam

um ideograma que diz ‘Jesus Cristo Filho de Deus, Salvador’ (Iesus Christus

Theou Yucis Soter).

Nos primórdios do catolicismo o peixe foi um símbolo maior do que

a própria cruz e integrava um curioso rito de reconhecimento religioso.

Ao encontrar um desconhecido, o fiel riscava um arco no solo. O outro, se

também cristão, desenhava um arco reverso, completando assim o dese-

nho de um peixe.

O peixe está nas origens do catolicismo, e o catolicismo é a alma da

península luso-ibérica, região onde a igreja medieval foi mais poderosa.

Na Espanha, o incêndio inquisidor foi o maior, e em Portugal até os nomes

dos dias da semana foram excomungados. Outras zonas européias se

cindiram em papistas e protestantes, mas ali não existiram protestantes.

O gosto português pelo bacalhau veio a calhar aos preceitos religi-

osos que interditavam a carne (e o sexo) em mais de um terço dos dias do

ano: os 40 dias da Quaresma, Páscoa, Natal, Sextas, Sábados e um grande

número de ‘dias santos’.

O peixe servia bem à penitência por ser um animal silencioso, hu-

milde, de carne branca e fria que se contrapõe ao rubor e calor da carne de

gado. Como era abundante e barato, permitia que pobres e ricos comun-

gassem a mesma refeição.

Até hoje se mantém a tradição portuguesa do bacalhau na mesa da

Páscoa – a mais expressiva data cristã.

Além da fé, foi importante a vizinhança entre lusos e bascos, os

pioneiros na pesca e salga do bacalhau. A própria palavra bacalhau é de

origem basca, e, a se acreditar nas histórias desses pescadores, os cardu-

mes eram antes tão grandes que dificultavam a movimentação dos navi-

os, deixavam a água do mar quase sólida, a permitir, inclusive, que se

caminhasse sobre sua superfície!...

Eça de Queirós, o principal escritor português, apesar de se consi-

derar quase um francês, reconhecia em si o que definia como os três tra-

ços lusitanos: uma tristeza lírica, o gosto pelo fado e o “justo amor” pelo

bacalhau. Já Machado de Assis, o primeiro imortal brasileiro, sempre al-

moçava aos domingos em restaurantes onde pudesse saborear a conversa,

o vinho e um bacalhau do Porto.

Deixemos de lado a tristeza lírica e o gosto pelo fado, mas cultive-

mos o justo amor pelo bacalhau, a mais deliciosa das penitências. Na me-

lhor tradição literária, religiosa e lusitana, a santíssima trindade culinária

– a conversa, o vinho e o bacalhau do Porto – imortaliza a refeição. Se o

peixe morre, o homem vive pela boca.

SUSPIROS DA AMÉLIA

Bacalhau, a mais deliciosa das penitências

FOTOS: LETÍCIA REMIÃO (PORTRAIT), CRISTIANO SANT’ANNA (SUSPIROS)

FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET

[email protected]

79910_sabor e o saber.p65 14/04/04, 11:022

Page 35: Revista Estilo 26

DESSALGAR 500 G DE BACALHAU.

AFERVENTAR E DESFIAR EM PANO

ÚMIDO. MISTURAR BEM COM O PURÊ

DE 4 BATATAS PEQUENAS E COM 3

OVOS LEVEMENTE BATIDOS. FAZER

BOLOTAS E DOURÁ-LAS EM ÓLEO

QUENTE. SERVIR COMO ENTRADA

EM CAMA DE VERDES.

O SEGREDO DA AMÉLIA:

O BACALHAU DEVE SER DESFIADO

PRESSIONANDO PORÇÕES ENTRE

2 PANOS DE PRATO UMEDECIDOS,

ATÉ QUE A CARNE FIQUE EM FLO-

COS DIMINUTOS. QUANTO MENORES

OS FLOCOS, MAIS LEVEZA E SABOR

NOS SUSPIROS.

79910_sabor e o saber.p65 14/04/04, 10:593

Page 36: Revista Estilo 26

Viagem

P O R C R I S B E R G E R F O T O S C R I S E D A N B E R G E R

Costa muy

79910 VIAGEM.p65 14/04/04, 10:002

Page 37: Revista Estilo 26

Rica

79910 VIAGEM.p65 14/04/04, 10:383

Page 38: Revista Estilo 26

Uma coisa é certa. Você não vai voltar a mesma

pessoa ao retornar da Costa Rica. Portanto, prepare-se

para um encontro consigo mesmo. É hora de se aventu-

rar, provar novos sabores, beijar a natureza e se sentir

absolutamente feliz e radiante. Não tenha pressa em ler

esta matéria. Pressa é uma palavra que não combina

com o espírito costa-riquenho. Venha devagar, na ginga

dos que ouvem Bob Marley, música presente em todos

os cantos do lado Atlântico. Feche seus olhos e imagine

um lugar mágico, com pessoas inesquecíveis, um estilo

de vida único. Imagine que esses bons pensamentos po-

dem se transformar em uma doce e fabulosa realidade.

Agora que você já entrou no espírito da viagem vou

lhe mostrar onde fica este pedaço de aquarela no mapa-

múndi. A Costa Rica é um pequeno país localizado na

América Central, e nele 30% de todo o território é área de

proteção ambiental. Do lado esquerdo você encontra o oce-

ano Pacífico, no direito, o Atlântico. Nossa bússola aponta

para a direita, que nos leva ao mar caribenho. Esqueça refe-

rências como Cancún ou Aruba. As únicas semelhanças

entre eles são águas quentes e transparentes. Nosso rumo

inicial são três aldeias, chamadas Cahuita, Puerto Viejo e

Manzanillo. Elas são o ouro do Caribe. Encantam com sua

alma livre e personalidade marcante. “Peace and Love” é a

melhor expressão para descrevê-las. Uma opção não-turís-

tica do tipo “off Broadway”. É uma descoberta, um segredo

que a gente conta só para os amigos. Depois das aldeias,

seguimos para as montanhas. Monteverde é nosso pouso

final. Onde o verde nos abraça com graça e harmonia.

Caça ao tesouro

San José, capital costa-riquenha, é a primeira parada

da viagem. Como os vôos vindos do Brasil chegam por

volta das 20h (os da empresa Copa), uma noite na capital

será inevitável. Verdade seja dita: o trânsito é caótico e a

sinalização é precária. Depois de horas viajando, cama e um

belo banho é tudo o que se deseja. Sugestão? Vá direto para

um hotelzinho e recarregue as baterias, porque há muito

para ver na manhã seguinte. O Riviera Hotel é uma opção

que agrega boa acomodação e preço acessível, e fica a pou-

cos minutos do aeroporto.

Alugar um carro é fundamental na Costa Rica. Pal-

Viagem

PEACE AND LOVE E PURA VIDA:

É COMO SE DIZ BOM-DIA POR LÁ

40 Estilo Zaffari

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:284

Page 39: Revista Estilo 26

79910 VIAGEM.p65 13/04/04, 13:155

Page 40: Revista Estilo 26

pite: escolha um 4x4 com ar-condicionado. Acho pru-

dente fazer a reserva do Brasil. Maiores são as chances de

se conseguir uma boa tarifa. Peça para retirá-lo ao de-

sembarcar. As estradas que se tem pela frente se alteram

entre boas, nem tão boas e nada boas. De San José até a

costa do Atlântico se leva em média de três a quatro ho-

ras, dependendo do número de paradas durante o per-

curso e do peso do pé do motorista. Saindo de San José,

tome o caminho de Limón, para finalmente chegar em

Cahuita. Dicas importantes: não hesite em pedir infor-

mação (essa vai para os homens) e não espere contar

com muitas placas de sinalização. Encontrar a saída para

Limón pode se tornar um problema. Se a situação com-

plicar, peça a um motorista de táxi que indique o cami-

nho de saída. Gaste alguns colones, moeda local, e tenha

certeza de que foi um dinheiro bem investido. Sobrevi-

vendo à primeira parte, tudo fica mais fácil.

Viagem

DEIXE A

CURIOSIDADE

AFLORAR. FAÇA

NOVOS AMIGOS.

PROVE OUTROS

SABORES.

42 Estilo Zaffari

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:306

Page 41: Revista Estilo 26

O trecho até Limón pode ser acompanhado de ca-

minhões, pois é uma cidade portuária. É provável que o

tráfego fique mais lento. Relaxe, contemple a natureza

do Parque Nacional Bráulio Carillo, que emoldura a es-

trada, e comece a entrar no clima “pura vida” da região.

A partir de Limón tudo vira festa.

Alma caribenha em seu melhor estilo

O primeiro contato com a alma costa-riquenha foi

ao conhecer o sueco Martin. Um entre tantos estrangeiros

que estiveram por lá apenas a passeio, se apaixonaram,

voltaram para seu país de origem, fizeram as malas e se

mudaram de vez para o paraíso. Foi com olhos curiosos

que encontramos o Martin. Passávamos de carro quando

o avistamos preparando trouxinhas de tamale, comida tí-

pica natalina. Feitas à base de farinha de milho e rechea-

das com cenoura, pimentão, batata, passas, carne de por-

co, galinha, arroz e ervilha. Enroladas em folhas de bana-

neira, são levadas ao fogo em uma panela de ferro até co-

zinhar. São tradicionais da região e deliciosas. Fomos rece-

bidos calorosamente, fizemos amizade, compramos arte-

sanatos e começamos a entender a beleza do local. Beleza

que vem da alma, que se revela na paz de espírito, no ba-

lanço do reggae, no descompromissado jeito de viver. Logo

à frente encontramos Cahuita. Um pitoresco vilarejo que

respira paz e tranqüilidade. Pequenina, rústica e colorida.

Onde a natureza se mostra exuberante, soberana e total-

mente presente. Por indicação do nosso amigo sueco che-

gamos até o Alby Lodge. O Alby são românticos bangalôs

em um jardim tropical ao som dos Kongos, pequenos ma-

cacos que rugem como leões. Na varanda do nosso bangalô

uma rede esperava por nós. Obedientes ao chamado da

vida simples e sem pressa, passamos o restante do dia en-

tregues à leitura e ao balanço da rede. A noite se fez pre-

Estilo Zaffari 43

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:307

Page 42: Revista Estilo 26

sente pouco antes das 18h. Por lá as estrelas chegam mais

cedo. Decidimos que era hora de procurar algum lugar para

jantar e mais uma vez fomos deliciosamente surpreendi-

dos com o charmoso restaurante Cha Cha Cha. Obra do

chef canadense Bertrand, que comanda a cozinha e assina

os pratos, verdadeiras obras de arte. O ambiente é acolhe-

dor e o atendimento, perfeito. Se banana flambada é sua

sobremesa preferida, não perca a preparada pelo Bertrand

– é de saborear de olhos fechados!

Pérolas do Caribe tão pertinho de nós

A meia hora de carro ao sul de Cahuita encontra-se

Puerto Viejo. No tradicional estilo afro-caribenho da cos-

ta do Atlântico está escondida esta pérola do Caribe. Não

menos encantador do que Cahuita, Puerto Viejo se reve-

lou mágico. Tem a alma de Bob Marley. O estilo dos

rastafáris. O ritmo de quem sabe viver. As cores explodem

aos olhos ainda não acostumados com beleza tão singular.

A negritude das areias de Playa Negra contrasta com o

branco da espuma das ondas e nos faz perder o fôlego.

Na praia de Cocles estão localizados os bangalôs de

La Costa del Papito, desenhados pelo nova-iorquino Eddie,

que deixou há 11 anos o Bronx e fez da Costa Rica seu

novo lar. São nove bangalôs espalhados por um jardim lin-

do, repleto de árvores e pássaros. Peça o café da manhã no

bangalô – ele é servido na sacada – e comece o dia con-

templando pássaros típicos da região. No fim do dia, curta

o entardecer em uma rede e lembre-se de agradecer a Deus

por uma vida tão plena. Após 48 horas no paraíso, passa-

mos a sentir que a ferrugem do concreto urbano começa a

desaparecer e o nosso lado “pé no chão e cabelos ao ven-

to” sobressai. É nesta hora que os sentidos começam a

aflorar e podemos entender melhor o estado de espírito da

costa das Caraíbas, nome dado a esta região da Costa Rica

banhada pelo mar do Caribe. Há muitas praias a descobrir

entre Puerto Viejo e Mazanillo. A partir de Cocles a areia

branca predomina. Punta Uva é deslumbrante e se tornou

minha preferida. Por toda costa litorânea a floresta vai de

encontro ao mar com tamanha euforia e beleza, que nos

sentimos meros espectadores de um espetáculo comanda-

do pela natureza. Somos grãozinhos de areia em meio a

tão grandiosa fauna e flora. Existe uma estrada que liga

todas essas praias. Pegue o carro ou uma bicicleta e deixe o

vento levar você. Não resista e se entregue aos mistérios e

surpresas de cada recanto.

Uma lembrança para toda vida

O Parque Nacional de Cahuita é um espetáculo à

parte. Imperdível! Separe um dia para desfrutar dessa re-

serva ecológica e se entregar a essa experiência fabulosa.

Existem duas entradas para o parque: por Cahuita ou

Puerto Vargas. São sete quilômetros que ligam as duas en-

tradas e devem ser percorridos a pé. Não economize em

filmes fotográficos, encha o cantil de água, porque lá den-

Viagem

AS ALDEIAS CARIBENHAS DA COSTA RICA

SÃO RÚSTICAS, CHARMOSAS E ENCANTADORAS

44 Estilo Zaffari

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:308

Page 43: Revista Estilo 26

79910 VIAGEM.p65 14/04/04, 09:349

Page 44: Revista Estilo 26

tro não há nada para vender, calce uma sandália confortá-

vel e prepara-se para sentir o pulsar de uma floresta e con-

templar praias de uma beleza impressionante. Ao todo,

são 14 quilômetros de trilha (ida e volta) que devem ser

percorridos saboreando as surpresas que se revelam no

decorrer do caminho. Se você tiver sorte vai encontrar

macaquinhos fazendo piruetas entre os galhos das árvores.

Eles gostam de frutas e podem ser alimentados com elas.

Outro momento memorável são as vozes da floresta. Pare

por alguns minutos, faça silêncio e se deixe arrebatar pela

melodia que emana de dentro do coração da mata tropi-

cal. Entre um mergulho e outro você ainda vai cruzar por

outros viajantes e terá a oportunidade de fazer novos ami-

gos. Afinal, ninguém passa indiferente. Certamente você

escutará “buenas”, “good morning” ou “puravida”, sendo

esta a saudação típica local. Saudações que revelam a har-

monia do ambiente e as diferentes nacionalidades. Para

Viagem

FECHE OS OLHOS,

OUÇA AS VOZES

DA FLORESTA,

REVERENCIE

A BELEZA

DESTA TERRA

46 Estilo Zaffari

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:3110

Page 45: Revista Estilo 26

fechar com chave de ouro, ao sair do parque por Puerto

Vargas tome um drinque no Boca Chica. Rodolfo Botti vai

receber você de braços abertos e lhe contar que foi o pri-

meiro italiano a chegar em Cahuita, no início da década

de 90. A piña colada é maravilhosa! Em caso de fome, os

aperitivos são uma ótima pedida. Peça ao Rodolfo para

tocar o CD Mobi Hits, entre no clima, arrisque alguns pas-

sos de dança, caia na piscina e assista ao sol se pôr entre as

árvores.

Paladares à flor da pele

Não são apenas os olhos os principais contemplados

na Costa Rica. O paladar é também abençoado com os

sabores do mar. No Sobre las Olas, em Cahuita, de outro

italiano, o Marco Botti, os pratos são elaborados com

maestria. Chegue cedo, pelo menos uma hora antes de

anoitecer, escolha uma mesinha no lado de fora, estude o

cardápio com calma e peça um vinho branco (o Marco

tem ótimas opções). Vá saboreando o momento, deixe a

noite chegar e as velas serem acesas. Você estará a poucos

metros do oceano e se sentirá plenamente integrado ao

ambiente, como se ali fosse sua casa há muito tempo. Se

não resistir, atire-se na rede presa entre dois coqueiros e

fique a observar as estrelas de um céu cravejado de bri-

lhantes. Em Puerto Viejo, duas outras experiências

gastronômicas que não podem deixar de ser provadas são

o La Pecora Nera e o EZ Times. O peculiar La Pecora Nera

(em português, Ovelha Negra) é comandado pelo

italianíssimo Illário Giannoni. O menu é uma difícil deci-

são. O ator norte-americano William Hurt, durante as fil-

magens de “Blue Butterfly”, foi presença constante no res-

taurante do Illário. Não é para menos: a combinação en-

tre a cozinha italiana, frutos do mar e sabores caribenhos

transforma cada prato em uma verdadeira inspiração. Che-

Estilo Zaffari 47

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:3111

Page 46: Revista Estilo 26

Viagem

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 15:5112

Page 47: Revista Estilo 26

gamos no La Pecora já tarde da noite, as últimas mesas se

despedindo satisfeitas e nós conversando despreocupada-

mente com o Illário. Fomos ficando. As luzes da cozinha

se apagaram. Illário, acompanhado de seus pais e equipe

de trabalho, montou uma grande mesa. O ambiente se

encheu da música de Beethoven, os copos brindaram e

nós ficamos ali observando de longe a celebração da noite

de Natal. Ao pé da mesa, um cão. A imagem perfeita de

um filme europeu. Já o EZ Times tem seu estilo. O cardá-

pio não é vasto. Aposte na salada, na bruschetta e no Es-

pecial do Dia. A música é sempre boa. As mesas ficam

distribuídas em um jardim. Tem cara de bar-restaurante e

é freqüentado por europeus e gente local. Lugares para o

“desayuno” (café da manhã) são vários. Gostamos e reco-

mendamos: Internet Café Rio Negro e o Pan Pay Bakery.

Pode parecer meio pesado começar o dia comendo arroz e

feijão, mas em nome de “novas experiências” experimen-

te o Gallo Pinto. Caso seja demais para seu estômago, as

panquecas com syroup e frutas são deliciosas!

Uma doce descoberta antes de dizer adeus

Uma vez mais em Cahuita, antes de seguir para a

área central da Costa Rica, tivemos o prazer de conhecer o

Kelly Creek. Um hotel-restaurante perfeitamente locali-

zado entre a praia e o rio, na entrada do Parque Nacional

de Cahuita. Fomos muito bem recebidos pelo espanhol

Andrés e pela cocker Ruby, por quem morri de amores.

Pouco depois conhecemos o restante da família, Marie

Claude, a boxer Sálvia e o papagaio Thomas. Andrés e Marie

vivem em Cahuita há sete anos. “Precisávamos mudar nosso

estilo de vida”, revelou Andrés, enquanto Ruby e Salvia

pulavam no meu colo. O ritmo frenético de Madri não fazia

mais sentido, e a Costa Rica se mostrou encantadora para

eles. Da Espanha ficou a especialidade da casa: paella. Reser-

vas se fazem necessárias. Andres garante e conta o segredo:

“Preparamos a melhor paella. Não há igual nem na Espanha.

Não temos pressa, e cozinhamos por duas horas”. Depois de

um jantar em grande estilo, dormimos embalados pelo ba-

rulho das ondas. O amanhecer no Kelly Creek é uma nova

sensação. A apenas alguns passos do mar, a luz da manhã

intensifica a exuberante explosão de cores. Antes de nos

despedirmos dos nossos mais recentes amigos, nos deixa-

mos ficar um pouco mais. Saboreamos os ovos mexidos, as

torradas e o suco de frutas com a certeza de que este seria um

ótimo lugar para se levar a vida.

Deliciosas surpresas em meio às montanhas

De volta à estrada. Se por um lado já sentíamos sau-

dade das aldeias caribenhas, por outro estávamos curiosos

pelas surpresas que nos esperavam na parte central da Costa

Rica. Não nos decepcionamos. A viagem de regresso até

San José foi tranqüila. Logo que chegamos de volta à cida-

de não hesitamos em pagar um táxi para nos indicar a

saída a Monteverde, nosso próximo destino. Em alguns

LIVROS ESTÃO POR TODA PARTE. LEVE UM

DO BRASIL E PRESENTEIE UM NOVO AMIGO

Estilo Zaffari 49

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:3113

Page 48: Revista Estilo 26

Viagem

minutos seguíamos rumo às montanhas. Nesta parte da

viagem redobramos a atenção. A estrada não é lá grande

coisa. Sem acostamento e com pista única. Quando saí-

mos da rodovia principal em direção a Monteverde, a be-

leza do campo voltou a tomar conta do cenário. São infini-

tos tons de verde que comandam o espetáculo e seduzem

os viajantes. A estrada de terra com seus ziguezagues en-

feita ainda mais a paisagem. Chegamos à pousada e spa El

Sol justamente quando ele, o sol, se despedia de nós e nos

deixava seguros no aconchego e na hospitalidade de

Elisabeth, Inácio e Javier. Escondidas no meio da floresta

tropical, três cabanas. Duas para hóspedes. Uma para eles,

onde as refeições são servidas. Uma piscina com água das

montanhas e uma sauna. Vista espetacular. Rede que con-

vida ao descanso. Por que não? Vimos os degradês de azul

do céu se transformarem em noite escura e deliciosamen-

te fria. Depois um jantar sublime, preparado pelo Inácio.

Uma grande mesa, todos reunidos. Os copos brindaram a

vida. Tanto a contar e ouvir. A luz amarelada das velas

aquecia o ambiente invadido por diferentes sotaques de

uma língua universal. Dormimos sorrindo e plenos por tanta

harmonia.

Para guardar no coração

Em toda viagem existem aquelas coisas que listamos

como as mais importantes, as imperdíveis e as que ja-

mais poderiam deixar de ser vistas, amadas e admiradas.

Claro que cada um de nós tem sua própria percepção. E é

exatamente isso que nos faz singulares. Mesmo assim

vou arriscar uns palpites. Quem sabe nossos gostos não

se cruzam? Até porque estamos falando de um pedaci-

nho do céu na terra. E no céu está o paraíso. Começando

com sabores: Guanábana. Parecida com o quê? Já tentei

achar uma fruta que fosse parente dela e fracassei. O que

Viagem

50 Estilo Zaffari

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 15:3914

Page 49: Revista Estilo 26

importa é que o paladar se encanta com a doçura desta

fruta que é misturada com água ou leite e servida no café

da manhã. Depois que eu a descobri, aonde íamos supli-

cávamos por ela, que não está disponível em todos os

lugares. O que a deixa ainda mais desejável.

Quando penso em lugares não hesito em falar nova-

mente do Parque Nacional de Cahuita, que amei de corpo

e alma. Foi o Marco Botti que nos falou sobre o parque.

Num tom de quase segredo, ele nos confidenciou ser lá o

seu lugar preferido. Conferimos e entendemos o porquê

de tanta fascinação.

Se você ama a companhia de um livro, vai se impres-

sionar pelo modo como eles estão presentes por lá. Onde

se vai há uma minibiblioteca com os mais ecléticos exem-

plares. Você pode alugá-los ou comprá-los. Minha dica é:

leve um do Brasil e presenteie a um novo amigo. Eu deixei

“Agosto”, de Ruben Fonseca, no Kelly Creek e trouxe “Re-

TODOS OS

SENTIDOS SÃO

ABENÇOADOS

NESTE LUGAR

FASCINANTE

E DOCE

Estilo Zaffari 51

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 15:3915

Page 50: Revista Estilo 26

AÉREO

COPA AIRLINES – US$ 740 – US$ 840 WWW.COPAAIR.COM

ACOMODAÇÃO

SAN JOSÉ

HOTEL LA RIVIEIRA – US$ 60 –WWW.LARIVIEIRAHOTEL.COM

CAHUITAS

KELLY CREEK – US$ 50 WWW.2000.CO.CR/HOTELKELLYCREEK

ALBY LODGE – US$ 30 A US$ 50 – [email protected]

PUERTO VIEJO

LA COSTA DEL PAPITO – US$ 32 A US$ 62

WWW.GREENCOAST.COM/PAPITO.HTM

MONTEVERDE

EL SOL – US$ 60 A US$ 80 - WWW.ELSOLNUESTRO.COM

RESTAURANTES

CAHUITAS

CHA, CHA, CHA – US$ 30 - COZINHA INTERNACIONAL E

CARIBENHA, PEIXES E MARISCOS E SOBRE LAS OLAS

– US$ 30 – COZINHA ITALIANA, PEIXES E MARISCOS

PUERTO VIEJO

LA PECORA NERA – US$ 50 – COZINHA ITALIANA E FRUTOS DO

MAR; EZ TIMES – US$ 30 – COZINHA INTERNACIONAL E PIZZARIA

OS VALORES DA HOSPEDAGEM E DOS RESTAURANTES SÃO PARA DUAS PESSOAS

trato em Sépia”, da Isabel Allende. Não deixe de dar um

pulo na galeria de artes “Luluberlu”, em Puerto Viejo. São

peças lindas feitas por índios e artistas plásticos locais.

Uma visita à reserva indígena também é uma ótima

pedida. Na rua principal de Puerto Viejo tem uma agên-

cia de turismo onde você pode contratar o serviço de um

guia. Aproveite para dar uma espiada em várias outras

tentadoras opções. Para quem gosta de surfar, a Costa

Rica é o local. Na praia de Cocles e Salsa Brava estão as

melhores formações. O agito noturno fica por conta dos

bares à beira-mar que lá pelas tantas se transformam em

danceteria. Nem preciso dizer que o reggae é o ritmo que

predomina nas pistas de dança.

A Costa Rica é ideal para quem não quer fazer

nada e para quem quer fazer tudo. Quem gosta de na-

tureza e não abre mão do conforto. Para solteiros, ca-

sais a fim de uma lua-de-mel e famílias. Perfeita para

quem acha que há muito para desvendar neste mágico

pedacinho da América Central.

Viagem

COMO IR

52 Estilo Zaffari

79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 15:4616

Page 51: Revista Estilo 26
Page 52: Revista Estilo 26

Bem Viver

O maior elixir da juventude é a boa alimentação

A FONTE DA JUVENTUDE EXISTE?

Desde os primórdios da humanidade, o homem busca deses-

peradamente uma maneira de retardar o envelhecimento. A ciência

ainda não encontrou um jeito de nos deixar eternamente jovens,

entretanto, boas novas têm surgido. As mais recentes pesquisas em

envelhecimento têm demonstrado que, atualmente, não podemos

impedir completamente os estragos do tempo, mas já dispomos de

algumas armas que podem minimizá-los e retardá-los. Os cientistas

sabem que não é só a herança genética que determina o quanto será

longa e saudável nossa existência. O envelhecimento é um processo

multifacetado, do qual fazem parte inúmeros mecanismos.

Terapias médicas como a modulação hormonal, drogas

adaptógenas, antioxidantes e tratamentos dermato-estéticos têm se

mostrado bastante eficazes no combate ao envelhecimento, mas nem

todas as pessoas têm acesso a esse tipo de tratamento.

Felizmente, há um elixir mágico capaz de melhorar nossa

qualidade de vida e retardar o envelhecimento. E a esse todos têm

acesso. Um fato interessante é que no mundo científico não há

controvérsias sobre essa "droga". Embora ela esteja entre nós há

milhares de anos, só agora estamos nos dando conta de seu real

poder . Essa droga chama-se alimentação saudável.

Nos últimos anos, descobriu-se a propriedade do licopeno,

substância encontrada no tomate, na goiaba e na melancia, que

protege órgãos como próstata, pele e aparelho cardiovascular. Na

soja, existem princípios ativos como a genisteína e a daidzeína, que

vêm sendo usadas na prevenção de alguns tipos de câncer e de

doenças cardiovasculares, além do uso em vários cosméticos que

têm como objetivo retardar o aparecimento de rugas.

Na uva encontramos o poderoso resveratrol, que tem efeito

cardioprotetor, além de atuar de forma efetiva na prevenção do mal

de Alzheimer, derrame cerebral e câncer de pâncreas, mama, rim,

próstata e cólon. Recentemente foi divulgada a descoberta, realiza-

da por pesquisadores da Harvard Medical School e Biomol labora-

tórios, de que o resveratrol ativa o gene da longevidade. Tal desco-

berta talvez esteja abrindo a maior porta para o desenvolvimento

de substâncias que efetivamente retardem o envelhecimento.

Não podemos deixar de citar também o indol -3 carbinol,

elemento encontrado no brócolis, couve-flor e repolho e que tem

inúmeros efeitos positivos no ser humano.

Sem sombra de dúvida, um dos princípios ativos mais estu-

dados e com efeitos comprovados é o ômega-3, encontrado em

determinados peixes. Ele exerce efeitos positivos em praticamente

todo nosso corpo, da visão ao funcionamento cerebral. Atua dimi-

nuindo a pressão arterial, protegendo contra o infarto e o derrame

cerebral. Pesquisas demonstraram, recentemente, que sociedades

com baixo consumo de peixe apresentam índices elevados de de-

pressão, suicídio e violência. O consumo elevado de peixe previne

o aparecimento de inúmeros tipos de câncer.

Com certeza eu ocuparia todas as páginas desta revista descre-

vendo o poder de determinados alimentos no retardo do envelheci-

mento. Isso é impossível, mas não posso deixar de comentar a impor-

tância da restrição calórica como a mais poderosa arma no retardo do

envelhecimento. Restrição calórica não é sinônimo de jejum ou des-

nutrição. Significa ingerir quantidades adequadas de proteínas e ácidos

graxos essenciais, bem como carboidratos suficientes para manter uma

função cerebral equilibrada. Está comprovado que esse tipo de alimen-

tação é capaz de prolongar a vida, aumentar a capacidade de aprendi-

zado, reforçar o sistema imunológico, melhorar a função renal, além

de diminuir o acúmulo de gordura corporal e a perda de massa óssea.

Também diminui os riscos de diabetes, cardiopatias e câncer.

Tenho um conceito muito pessoal sobre alimentação e gostaria

que as pessoas parassem um pouco para pensar sobre isso. No dia em

que conseguirmos ter o mesmo respeito e valorizarmos a alimenta-

ção como fazemos com os remédios, aí poderemos tirar verdadeiro

proveito desse poderoso "elixir da juventude".

A N T Ô N I O C A R L O S M I N U Z Z I

ANTÔNIO CARLOS SCHILLING MINUZZI

54 Estilo Zaffari

79910_minuzzi.p65 14/04/04, 11:031

Page 53: Revista Estilo 26
Page 54: Revista Estilo 26

Gula

DO

CES DE ALÉM

-M

AR:

TRADIÇ

ÃO, H

ISTÓ

RIA

,

ARTE, BELEZA E M

UIT

O,

MUIT

O SABO

R

79910 gula.p65 12/04/04, 22:122

Page 55: Revista Estilo 26

PO

R

BE

AT

RI

Z

GU

IM

AR

ÃE

S

FO

TO

S

LE

CI

A

RE

MI

ÃO

Po

rtu

gal ap

resen

ta u

ma d

as co

zin

has m

ais co

mp

letas

do

m

un

do

, q

ue co

meça co

m a q

ualid

ad

e d

e seu

s vin

ho

s e vai

até os q

ueijos, com

o o d

a S

erra d

a E

strela, tão d

elicioso q

uan

to

origin

al. D

o tira-go

sto

à so

brem

esa, eles são

im

pecáveis. M

as

é n

a d

oçaria, em

esp

ecial, q

ue P

ortu

gal se to

rn

a im

batível.

Qu

an

do

se fala em

d

oces p

ortu

gu

eses, faz-se referên

cia

prin

cip

alm

en

te ao

s ch

am

ad

os d

oces co

nven

tu

ais, q

uer d

izer,

criad

os n

os co

nven

to

s. Q

uase to

do

s são

feito

s à base d

e o

vo

s

e cald

a, e m

uita am

ên

do

a tam

bém

.

A trad

ição

d

oceira veio

in

icialm

en

te co

m o

s árabes, q

ue

in

tro

du

ziram

as am

ên

do

as, as cald

as e o

açú

car, tão

abu

n-

dan

te n

as co

nias. M

as é n

os co

nven

to

s, p

or vo

lta d

o sécu

lo

16

, q

ue se ap

erfeiço

am

esses d

oces trad

icio

nais, cu

ja fam

a

ch

ega até o

s n

osso

s d

ias. C

om

o o

s co

nven

to

s abrigavam

as

filh

as d

a n

obreza e d

as fam

ílias ricas, é d

ali q

ue p

artiam

ver-

dad

eiras igu

arias. U

ma co

zin

ha so

fisticad

a, co

m su

as receitas

man

tid

as em

segred

o p

or m

uito

tem

po

, e m

otivo

d

e o

rgu

lh

o

e d

e d

isp

uta en

tre o

s vário

s co

nven

to

s e m

osteiro

s. É

p

or isso

tam

bém

q

ue o

s n

om

es d

os d

oces são

q

uase sem

pre u

ma refe-

rên

cia d

ivertid

a à religio

sid

ad

e: P

ap

os-d

e-A

njo

, B

arriga d

e

Freira, T

ou

cin

ho

d

o C

éu

, O

relh

as d

e A

bad

e, P

ud

im

C

eleste

e assim

p

or d

ian

te.

Lisb

oa, n

o sécu

lo

1

9, sem

pre ch

arm

osa e ro

mân

tica,

abrigava, em

seu

s in

úm

ero

s cafés, artistas, bo

êm

io

s, p

olíti-

co

s, escrito

res, visitan

tes estran

geiro

s, q

ue p

assavam

h

oras a

fio

co

nsu

min

do

essas m

aravilh

as. E

sp

ecialm

en

te aq

uele q

ue

é o

m

ais refin

ad

o e o

m

ais rep

resen

tativo

d

oce d

a co

nfeitaria

po

rtu

gu

esa: o

p

astel d

e n

ata. O

p

astel d

e n

ata é, n

a verd

ad

e,

um

a to

rtin

ha d

e m

assa fo

lh

ad

a, d

elicad

íssim

a, co

m u

m cre-

me d

e bau

nilh

a d

en

tro

, tem

perad

o co

m can

ela. O

p

astel d

e

nata m

ais fam

oso

é o

d

o restau

ran

te d

a T

orre d

e B

elém

, em

Lisbo

a, in

stalad

o ali d

esd

e 1

83

7. N

esse lo

cal, são

p

ro

du

zid

os

mais d

e 1

0 m

il p

astéis d

e n

ata p

or d

ia. A

receita d

esse su

ces-

so

é m

an

tid

a em

segred

o, m

uito

bem

gu

ard

ad

a.

79910 gula.p65 12/04/04, 22:133

Page 56: Revista Estilo 26

Gula

Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:

Bata as gemas e o açúcar até ficarem com consistência gros-

sa. Acrescente o creme aos poucos, bata bem e leve ao fogo.

Mexa sempre até atingir uma consistência cremosa. Deixe

esfriar e cubra com um pano úmido. Abra a massa folhada,

corte-a em rodelas e arranje-as nas forminhas. Encha cada

forminha com uma colher do recheio e asse em forno quen-

te (250ºC) até dourar o creme e a massa. Ao servir, acres-

cente uma pitada de canela e açúcar de confeiteiro. Consu-

ma no mesmo dia. Dá em torno de 16 tortinhas.

PASTÉIS DE NATA

RECHEIO

140 G DE CREME DE LEITE / 4 GEMAS

80 G DE AÇÚCAR / CANELA EM PÓ

Massa folhada:Massa folhada:Massa folhada:Massa folhada:Massa folhada:

Pode-se usar aqui a massa folhada já pronta, de 400 g, apro-

ximadamente. Caso contrário, o preparo da massa exigirá

muito tempo e atenção. É importante, sempre que as mas-

sas forem abertas, usar uma bancada de pedra ou inox, e

ter cuidado para que a temperatura da cozinha esteja fria.

Coimbra e Beira

BARRIGAS DE FREIRA

280 G DE AÇÚCAR

3 COLHERES DE FARINHA DE ROSCA CASEIRA

5 GEMAS

1 TIRINHA DE CASCA DE LIMÃO

2 COLHERES DE MANTEIGA

1 PITADA DE CANELA

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Com água suficiente para desmanchar o açúcar, faça

uma calda rala e ponha a casca de limão. Depois de

pronta, retire a casca e acrescente a farinha de rosca,

a manteiga e, por fim, as gemas ligeiramente batidas.

Aqueça, sem deixar ferver, mexendo sempre por uns

2 a 3 minutos até engrossar. Coloque em taças e pol-

vilhe a canela.

Beira

58 Estilo Zaffari

79910 gula.p65 12/04/04, 22:144

Page 57: Revista Estilo 26

O PASTEL DE NATA SURGIU NA REGIÃO DE LISBOA. COMO O RESTAURANTE QUE O POPULARIZOU – E QUE DIZ MANTER A VERDADEIRA

RECEITA – FICA PERTO DA FAMOSA TORRE DE BELÉM, NA CAPITAL LUSITANA, O DOCE TAMBÉM É CHAMADO DE PASTEL DE BELÉM.

79910 gula.p65 13/04/04, 14:585

Page 58: Revista Estilo 26

Gula

ASSIM COMO OS OVOS MOLES, OS FIOS DE OVOS, OU OVOS REAIS, TAMBÉM SÃO ORIGINÁRIOS DO AVEIRO, NA REGIÃO DA BEIRA LITORAL.

UTILIZADOS COMO RECHEIO E COMO GUARNIÇÃO PARA BOLOS E TORTAS, OS FIOS DE OVOS SÃO MUITO APRECIADOS NO BRASIL.

79910 gula.p65 12/04/04, 22:146

Page 59: Revista Estilo 26

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Cozinhe a aletria no leite e em seguida adicione o açúcar e

a raspa de limão. Deixe cozinhar até ficar cremoso. Acres-

cente a manteiga e as gemas batidas. Deixe no fogo até

quase ferver. Coloque em uma travessa, polvilhe a canela.

Sirva quente ou frio.

ALETRIA COM OVOS

80 G DE ALETRIA, OU VERMICELLI, QUEBRADOS

100 G DE AÇÚCAR

1 COPO (300 ML) DE LEITE

2 GEMAS PASSADAS NA PENEIRA

2 COLHERES DE MANTEIGA

CANELA

RASPA DE LIMÃO

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Para este doce é necessária uma espécie de funil com vários

furinhos, para que os ovos possam escorrer e formar os fios

sobre a calda. Afora isto, seu preparo é muito fácil e bastan-

te apreciado. Pode ser servido sozinho ou também como

guarnição para bolos. Bata bem as gemas e o ovo, passe a

mistura pela peneira e reserve. Faça uma calda grossa, e

depois reduza o fogo, mas mantendo a fervura. Despeje na

calda metade dos ovos, pelo funil, girando-o para que for-

me os fios. Deixe cozinhar por 1 ou 2 minutos e retire os

fios de ovos com uma escumadeira. Repita a operação. Ao

servir, enfeite com uma ou duas cerejas em calda, se quiser.

FIOS DE OVOS

200 G DE AÇÚCAR

4 GEMAS

1 OVO

100 ML DE ÁGUA

50 G DE CEREJAS EM CALDA (OPCIONAL)

Aveiro Minho e Douro

Estilo Zaffari 61

79910 gula.p65 12/04/04, 22:147

Page 60: Revista Estilo 26

Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:

Em fogo moderado, faça uma calda grossa, em pon-

to de pérola (quando se formam bolinhas que pa-

recem pérolas). Acrescente as amêndoas moídas,

misture bem, mexendo sempre, e deixe ferver até

quase secar. Deixe a mistura secar até o dia se-

guinte. Se a massa não estiver suficientemente fir-

me, cozinhe novamente até secar mais. Com as

mãos úmidas, dê a forma desejada à massa. Para a

Páscoa é costume moldar os marzipãs em forma

de ovos. Deixe secar até o dia seguinte, e pinte os

marzipãs com tintas apropriadas para alimentos.

Coloque-os em forminhas de papel e sirva como

sobremesa.

MARZIPÃ

200 G DE AÇÚCAR

200 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS (USAR O

PROCESSADOR)

4 A 5 COLHERES (SOPA) DE ÁGUA

Gula

PASTÉIS DE SANTA CLARA

MASSA 200 G DE FARINHA / 110 G DE MANTEIGA

1 OVO PARA PINCELAR

RECHEIO 7 GEMAS PENEIRADAS E BEM BATIDAS

110 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS / 200 G DE AÇÚCAR

Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa: Misture, com os dedos, a man-

teiga e a farinha, acrescentando um pouquinho de água

gelada para auxiliar a mistura, até obter uma massa uni-

forme. Enrole a massa com filme e guarde na geladeira.

Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio: Faça uma calda grossa e coloque as

amêndoas e as gemas. Misture bem e leve ao fogo médio, me-

xendo sempre até ficar com consistência grossa. Deixe esfriar.

Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis: Abra a massa e corte com um molde

redondo ou, se preferir, em pequenos retângulos (dessa for-

ma se aproveita melhor a massa). Coloque o recheio em cada

uma das rodelas, umedeça as bordas e feche bem. Coloque os

pastéis numa assadeira, pincele com o ovo e leve ao forno

pré-aquecido (200ºC) até ficarem dourados. Depois, polvi-

lhe com açúcar.

Algarve Coimbra e Beira

62 Estilo Zaffari

79910 gula.p65 12/04/04, 22:158

Page 61: Revista Estilo 26

COIMBRA ABRIGA INÚMEROS CONVENTOS E MONASTÉRIOS. DALI POSSIVELMENTE SURGIRAM VÁRIAS RECEITAS DE DOCES QUE CHEGARAM ATÉ

NOSSOS DIAS. OS DELICADOS PASTÉIS DE SANTA CLARA SÃO, TALVEZ, A GRANDE CONTRIBUIÇÃO DE COIMBRA PARA A DOÇARIA PORTUGUESA.

79910 gula.p65 13/04/04, 15:049

Page 62: Revista Estilo 26

PONHA MAIS

PEIXE NA SUA DIETA

Bom conselho

P O R M A L U C O E L H O

TIPOS DE BACALHAU – DA ESCOLHA AO PREPARO

PORTO: O MAIS CARO. ALTO E SUCULENTO. VENDIDO NA NORUEGA. POSSUI GROSSAS LASCAS NATURAIS.SAIHT: PRÓPRIO PARA BOLINHOS. DESFIA FÁCIL. SABOR MAIS FORTE.LING: MUITO CONSUMIDO NO BRASIL. É MAIS CLARO E MAIS ESTREITO, PORTANTO, MENOS PROVEITOSO.ZARBO: MAIS BARATO E POPULAR. ESCURO E ESTREITO. É O MAIS VENDIDO POR SER MAIS BARATO.

COMO DESSALGARLAVE BEM AS PONTAS, COLOQUE NUMA TIGELA COM A PELE VOLTADA PARA CIMA. CUBRA COM ÁGUA. TAMPE EGUARDE NA GELADEIRA (A ÁGUA GELADA AJUDA NA MANUTENÇÃO DA QUALIDADE). SE AS POSTAS FOREM GROSSASE ALTAS, O TEMPO DE MOLHO É DE 48 HORAS; SE FOREM MÉDIAS É DE 36 HORAS. SE QUISER ESPERAR MENOSTEMPO, O MÍNIMO É DE 24 HORAS, MAS AS POSTAS DEVEM SER FININHAS. DE QUALQUER FORMA, TROQUE A ÁGUATRÊS VEZES POR DIA. ALGUMAS PESSOAS, AO FINAL DESSE PROCESSO, COBREM AS POSTAS COM LEITE QUENTEPOR ALGUNS MINUTOS. MAS ISSO É DISPENSÁVEL.LEMBRE-SE:O IMPORTANTE É PLANEJAR SUA COMPRA E, DEPOIS, PREPARAR UMA BELA REFEIÇÃO.ORGANIZE UM CARDÁPIO EQUILIBRADO, COM BOA APRESENTAÇÃO E DELICIOSO.BOLINHO DE BACALHAU É SEMPRE UMA ÓTIMA OPÇÃO.

Na Semana Santa os peixes entram com toda a força na nossa mesa,

mas por sua qualidade nutricional devem ser consumidos durante todo o ano.

Com mais peixe na sua dieta você ganhará em saúde e qualidade de vida. As

proteínas encontradas nos peixes são vitais para a renovação celular, auxiliam

no fortalecimento dos cabelos e da pele. Se você não quer engordar, prefira o

bacalhau, que possui pouca caloria e é nutritivo, saboroso, de fácil digestão,

rico em minerais e vitaminas e com colesterol quase zero. É saudável e total-

mente natural. O bacalhau é mais nutritivo que o peixe, a carne e o fran-

go. O valor nutritivo de 1 kg de bacalhau equivale a 3,2 kg de peixe!

E rende mais, podendo alimentar de seis a oito pessoas.

COMA MAIS BACALHAU. NÃO IMPORTA A DATA, É GOSTOSO E SÓ FAZ BEM.

64 Estilo Zaffari

79910_malu.p65 14/04/04, 11:071

Page 63: Revista Estilo 26
Page 64: Revista Estilo 26

vegetarianos

Carnívoros

Estilo

V I V E L A D I F F É R E N C E !

Comer ou não comer carne, eis a questão. Uma ques-

tão que, diga-se de passagem, vai muito além de

uma simples opção gastronômica. De um lado, te-

mos os adoradores de um suculento filé, amantes

do prazer que uma picanha proporciona. Do outro,

os vegetarianos convictos, seguidores de uma ali-

mentação considerada mais ética e purificadora. Não

cabe a nós julgar um ou outro lado. Apenas mostrar

que são pontos de vista diferentes, que a comida

escolhida é forma de prazer e também de expres-

são, devoção e filosofia de vida.

P O R P A U L A T A I T E L B A U M I L U S T R A Ç Õ E S N I K

versus

66 Estilo Zaffari

79910 carnivorosxvegetarianos.p65 14/04/04, 12:092

Page 65: Revista Estilo 26

79910 carnivorosxvegetarianos.p65 14/04/04, 12:103

Page 66: Revista Estilo 26

Estilo

Consciência ética

Domingo, Rio Grande do Sul. O cheiro do churrasco

emana das chaminés, espalha-se pelas esquinas. Em algum lu-

gar, família reunida, um pai está magoado porque o filho recu-

sa-se a provar a sua carne, aquela que ele escolheu, salgou,

espetou e assou com tanta dedicação. O filho, por sua vez, já

não agüenta mais explicar que é uma questão filosófica, que

optou por uma vida mais saudável e espiritualizada e que não,

não vai morrer de anemia e de desnutrição. Provavelmente

eles jamais se entendam nos domingos de churrasco. Porque o

que está na mesa é também a negação de uma cultura, o

sentimento de rejeição (se ele não prova a comida que eu faço,

é sinal de que não gosta de mim) e a aceitação das diferenças.

Quanta confusão por causa de uma simples costela minga, não?

Não, diriam os vegetarianos, não é uma simples costela minga,

é um animal que sofreu muito antes de morrer.

Pois um dos motivos que levam alguém a tornar-se vege-

tariano é o respeito para com os animais. Os mais radicais são os

vegans (pronuncia-se vigan), que além de não comerem carne

de espécie alguma, não consomem nenhum derivado animal,

nem mesmo mel. Também não usam pele, couro, lã ou seda.

Vânia Recchi é gaúcha e mora em Londres há dez anos. Era

vegetariana quando se mudou para lá, e há cinco anos tornou-

se vegan. Mestranda em Filosofia com especialização em Direi-

tos Animais na Lancaster University, Vânia palestrou no Fórum

Social Mundial e já desfilou nua pelas ruas de Londres, protes-

tando contra o uso de peles. Engana-se quem imagina uma

garota pálida de aparência mórbida. Longe disso. Cheia de

energia, ela adora falar no assunto e suas frases levantam ban-

deiras como "quem come carne absorve também os hormônios

que o animal liberou antes de morrer, relacionados com o medo,

a frustração, a ansiedade e a raiva".

Mas será mesmo que os comedores de carne vermelha

são mais agressivos? Ilson Fonseca, produtor cultural, foi lacto-

vegetariano durante onze anos, até que decidiu que estava

na hora de mudar novamente. "Eu trabalhava em um merca-

do competitivo, precisava guerrear. A carne tornou-me mais

explosivo." Segundo Ilson, estudioso da cultura oriental, os

lutadores chineses de boxe são vegetarianos, mas em época

"SE EU OUÇO

COMENTÁRIOS DE

CARNÍVOROS? TÁ

BRINCANDO? EU É

QUE ENCHO O SACO

DELES. MÍSEROS

COMEDORES DE

CADÁVERES!"

E D U A R D O B U E N O ,

E S C R I T O R E J O R N A L I S T A

"FUI ACOSTUMADO

A COMER CARNE

DESDE CRIANÇA E

CONFESSO NUNCA

TER PARADO

PARA PENSAR NO

ASSUNTO. É BOM

E PRONTO."

Z É V I C T O R

C A S T I E L , A T O R

68 Estilo Zaffari

79910 carnivorosxvegetarianos.p65 12/04/04, 16:014

Page 67: Revista Estilo 26

de campeonato tornam-se carnívoros para estimular sua rai-

va. Mas ele completa: "Isso não quer dizer que um vegetaria-

no não possa ser agressivo ou que um carnívoro não seja cal-

mo, também existem outras coisas envolvidas".

A maioria dos vegetarianos, no entanto, é bem radical.

"Eu voltaria a comer carne, sim, se meu avião caísse nos An-

des...", ironiza o escritor e jornalista Eduardo Bueno, o Peninha.

A estudante de publicidade e produtora de figurino Simone

Gavillon profetiza: "Nunca, jamais voltaria a comer carne, e

nem namoraria um carnívoro... só de imaginar o beijo depois

de um churras... eca!". Simone namora o tatuador Edinilson

da Rosa Soares, mais conhecido como Tinico. Quando Tinico

tinha uns seis anos, assistiu ao pai e ao tio carneando um boi.

A imagem o persegue até hoje e foi um dos motivos que o

fizeram deixar a carne definitivamente.

Anemia à vista

A essa altura você deve estar se perguntando: mas, afinal, o

que os médicos dizem de tudo isso? O Dr. Paulo Henkin, mestre

em nutrição humana, presidente da Associação Brasileira de

Nutrologia – RS, afirma que as pessoas só devem ser adeptas do

vegetarianismo por motivos religiosos ou filosóficos e sempre preci-

sam procurar orientação nutricional competente, pois do contrá-

rio podem ficar anêmicas, já que a carência de ferro é bastante

comum para quem opta pela negação da carne vermelha.

Anemia, aliás, foi justamente o que fez com que a dou-

tora em filosofia Andréa Bieri voltasse a comer carne verme-

lha. Professora universitária, ela nasceu no Rio Grande do Sul

e mora há mais de vinte anos no Rio de Janeiro. "Não comia

carne desde 1980, e lá pelo ano 2000 comecei a me sentir

muito cansada. Procurei um hematologista e vi que estava

com uma anemia muito forte. Ele me explicou que é difícil os

vegetarianos seguirem uma dieta equilibrada e que o ferro

dos vegetais não é de tão boa qualidade quanto o da carne

vermelha." Andréa passou a comer bife uma vez por semana,

mas só o que ela mesma prepara e muito bem passado. Diz

que quando isso acontece sente-se pesada e que a carne faz

com que seu intestino demore a funcionar.

As mulheres estão mais suscetíveis à anemia por causa

79910 carnivorosxvegetarianos.p65 14/04/04, 12:085

Page 68: Revista Estilo 26

"DETESTO

QUALQUER

PRECONCEITO,

FANATISMO

E MANIPULAÇÃO.

VIVOS SÃO TODOS OS

SERES, TAMBÉM OS

VEGETAIS, AÍ O

CRITÉRIO SERIA

QUE ELES NÃO

SENTEM DOR?

OU MENOS DOR?"

L Y A L U F T , E S C R I T O R A

Estilo

70 Estilo Zaffari

da perda de sangue na menstruação. Vantagem para os ho-

mens vegetarianos. "Estou esperando pelo problema que to-

dos disseram que eu teria 23 anos atrás", diz Eduardo Bueno.

Paixão pelo sabor

O Dr. Waldomiro Manfroi, cardiologista, Diretor da

Faculdade de Medicina da UFRGS, diz que para saber se há

diferença entre vegetarianos e carnívoros seria preciso acom-

panhar, durante muitos anos, populações ou grandes grupos

de pessoas, desde a infância até a idade adulta. E, além da

dieta, outros fatores deveriam ser considerados: propensão

genética, fumo, estresse... Preocupado em obter respostas so-

bre isso, o Dr. Manfroi está orientando uma pesquisa com

uma aluna de mestrado, visando comparar o perfil lipídico de

jovens vegetarianos com o de outro grupo com dieta conside-

rada normal, já que ainda não é comprovado se as concentra-

ções de lipídios no sangue (as gorduras prejudiciais) são dife-

rentes em uma ou outra população.

Uma coisa é certa: diferentemente dos Hare Krishnas,

dos Budistas, dos Adventistas do Sétimo Dia e dos seguidores

de outras filosofias que abolem a carne por acreditarem na

elevação espiritual, os carnívoros acreditam em uma única coi-

sa: que comer carne é bom e dá prazer.

O escritor e psiquiatra Celso Gutfreind considera-se

um apaixonado pelo sabor da própria dieta. Para ele, o gosto

delicioso da carne, e sobretudo da sua gordura, é indescritível,

e abrir mão disso seria uma renúncia, sofrida como todas as

outras. Gutfreind brinca dizendo que a felicidade de comer

carne vermelha dissolve as placas de colesterol e gorduras

não-saturadas que ela provoca. Uma brincadeira que não

deixa de ser baseada em pesquisas científicas, já que estudos

na área de psicoimunologia mostram que quando estamos

alegres nossos linfócitos destroem as células cancerígenas que

o próprio organismo produz.

E comer carne demais pode fazer mal à saúde? O Dr.

Paulo Henkin diz que não são conhecidos os efeitos negati-

vos do "exagero" de carne vermelha em pessoas normais, com

saúde. O reumatologista Fernando Neubarth explica que o

79910 carnivorosxvegetarianos.p65 12/04/04, 16:026

Page 69: Revista Estilo 26
Page 70: Revista Estilo 26

excesso de ácido úrico no sangue, atribuído ao alto consumo

de proteína, só acontece em quem já possui uma falha em seu

metabolismo. Cientificamente, o que se sabe é que o

desequilíbrio alimentar é prejudicial. Ou seja, uma pessoa

que só come carne, que não ingere frutas, verduras e cereais,

com certeza terá problemas.

Por falar em problemas, sempre vale lembrar que toda

carne crua está sujeita à contaminação por bactérias. Por isso,

é preciso saber sua origem e ter um cuidado muito grande

com a conservação.

Importante é comer bem

Em Porto Alegre, opções não faltam para agradar a gregos

e troianos. A maioria dos restaurantes vegetarianos está concen-

trada no bairro Bom Fim. Há 23 anos, o Ocidente oferece almo-

ço vegetariano, sendo que 14 deles sob o tempero do chef Alexis

Zarate. O chileno Alexis tomou gosto pela vida culinária em um

templo hindu, onde foi monge durante dois anos. Hoje, ele é

adepto de uma cozinha lactovegetariana fusion, em que mistu-

ra temperos indianos a receitas da sua avó. O resultado não

poderia ser melhor, e nos domingos ainda tem um Banquete

Indiano. Na Colméia, as receitas vegetarianas são menos sofisti-

cadas, e além do buffet servido a partir das 11 da manhã há um

entreposto de produtos naturais e uma lancheria com delícias

integrais. Na mesma rua, temos o Govinda, restaurante vegetari-

ano, onde a comidinha é deliciosa e sempre preparada como

uma oferenda a Krishna. Outras boas opções são o Prato Verde,

também no Bom Fim, o Nova Vida e o Namastê, na Cidade

Baixa, e o Pé de Alface, no Moinhos de Vento.

Assim como encontramos carnívoros que adoram al-

moçar em restaurantes vegetarianos, churrascarias como o

Barranco oferecem saladas em abundância. Segundo a Se-

cretaria Municipal da Indústria e Comércio, são cerca de 138

churrascarias espalhadas pela cidade, todas oferecendo, pelo

menos, uma saladinha mista aos adeptos da vida natureba.

Carnívoros e vegetarianos dividindo felizes a mesma mesa.

Isto é que a gente poderia chamar de harmonia gastronômica.

E VIVE LA DIFFÉRENCE!

Estilo

79910 carnivorosxvegetarianos.p65 14/04/04, 12:138

Page 71: Revista Estilo 26
Page 72: Revista Estilo 26

Casa

79910 casa1.p65 14/04/04, 12:162

Page 73: Revista Estilo 26

UM ESPELHO PODE

REFLETIR E DUPLICAR (!)

A PERSONALIDADE

DA SUA DECORAÇÃO

O espelho já é um clássico na decoração de interiores,

e sua aplicação até dispensa consultas em se tratando de

lugares consagrados. Duplicar os cristais e a prataria de uma

mesa bem posta, conceder uma última olhadinha no visual

para quem está de saída ou valorizar os altos de uma lareira

lhe são atribuições indissociáveis. A mais impressionante

e notória utilização de espelhos de que se tem notícia foi

feita pelo arquiteto Jules Hardouin Mansart, oficial da cor-

te do rei Luis IV, idealizador da Galeria dos Espelhos.

No mais célebre aposento do Palácio de Versalhes

encontra-se a impressionante seqüência de majestosos

espelhos biselados que têm por objetivo refletir os jar-

dins do palácio através das 70 janelas do salão de 73

metros de comprimento. À época, final do século 17, a

iniciativa do arquiteto era de total ousadia, e a elegância

do resultado perdura soberana até hoje.

Porém, mesmo com precedente histórico tão no-

bre, o espelho na decoração já cometeu seus pecados.

Nos anos 70, ele subiu as paredes das casas noturnas,

motéis e residências, e em muitos casos alojou-se (in-

clusive) no teto.

Passado o susto, a arquitetura prosseguiu com

bons motivos para mantê-lo por perto corrigindo ân-

gulos, duplicando e sofisticando ambientes. A desco-

berta que nós, ocidentais, fizemos do Feng Shui agre-

gou ainda mais motivos para se ter o espelho como

um dos elementos equalizadores das energias positi-

vas e da harmonia. Porém, para acompanhar as ten-

dências da arquitetura de interiores, mobiliários e

adereços devem renovar constantemente sua atuação,

seja pela ousadia ou pelo inusitado. Assim são os exem-

plos que se seguem.

P O R R U Z A A M O N F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O

Estilo Zaffari 75

79910 casa1.p65 14/04/04, 11:303

Page 74: Revista Estilo 26

Casa

79910 casa1.p65 14/04/04, 11:254

Page 75: Revista Estilo 26

Para decorar a loja de Porto Alegre da grife Antonio

Bernardo, a proprietária Helena Sefton levou em conside-

ração a técnica Feng Shui, antiga arte chinesa de criar am-

bientes harmoniosos.

A consultora Martine Monios determinou a presença

de espelhos em quase todas as peças, e Helena optou por

longos painéis com mais de dois metros de altura que, pro-

positadamente, permanecem apenas encostados nas pare-

des. Sendo o imóvel de estrutura moderna, com uma planta

de ângulos não-convencionais, os espelhos também contri-

buem para tornar ainda mais instigante o jogo de imagens,

produzindo uma ampliação virtual dos ambientes.

Outros elementos foram designados pela consultora,

tais como uma pequena fonte de água logo na entrada, uma

peça de cristal pendente no cômodo mais afastado e uma

única cadeira estofada em tom avermelhado. O piso em ma-

deira de aparência rústica e fosca proporciona um efeito

aconchegante, tornando dispensável a presença de tapetes.

Arandelas localizadas bem próximas ao teto contribuem com

uma iluminação eficiente e suave, sem conflito com a pro-

fusão de espelhos. As cores claras do mobiliário, combina-

das com as cortinas translúcidas, reforçam o clima de tran-

qüilidade.

Na opinião de Helena, que recebe clientes e amigos

com champanhe e muita atenção, era este o resultado dese-

jado: que a decoração pudesse assegurar, além da estética, o

equilíbrio do humor e boas energias às pessoas. Tendo in-

corporado o Feng Shui já há alguns anos também nos ambi-

entes residenciais, ela acredita que a posição dos objetos e a

composição de elementos tenham o mesmo poder de influ-

ência que as cores já provaram ter.

Branco, luz suave

e muitos espelhos

79910 casa1.p65 14/04/04, 11:155

Page 76: Revista Estilo 26

Casa

79910 casa1.p65 14/04/04, 11:326

Page 77: Revista Estilo 26

Na residência do decorador Ari Lyra encontramos duas

diferentes aplicações de espelho, mas que são igualmente gene-

rosas na utilização do material. Para Ari, uma regra básica é

usar o espelho sem timidez, sempre em grandes lâminas.

No principal dormitório da casa, uma cômoda fran-

cesa do século 19 integra-se ao clima contemporâneo do

ambiente graças a um painel de espelho de dimensões pro-

positadamente exageradas. Sobre o móvel, uma pilha

descontraída de livros, uma luminária de design moderno e

um desenho displicentemente encostado no espelho refor-

çam o ecletismo da composição. Na parede lateral, um par

de fotos emolduradas chama a atenção pela originalidade

do passepartout, feito de adamascado bordô. A escolha do

tecido que circunda os nus artísticos foi justificada pelo cri-

ador: “Pensei em fazer uma referência ao requinte dos anti-

gos bordéis”, confessa Ari Lyra, entre risos.

No amplo corredor, para onde convergem as princi-

pais peças do apartamento, está a exclusivíssima “cômoda

de vidro”, com design assinado pelo proprietário. O móvel

é uma releitura ousada e pragmática da antiga cristaleira,

pois acumula ainda a função de bar completo. Com dois

metros de largura por 70 centímetros de profundidade, foi

confeccionado unicamente em espelho e vidro, graças ao

poder da cola UV, um produto de tecnologia revolucioná-

ria. Ali, fazem companhia aos copos muitos acessórios de

bar, cinzeiros de cristal em cores extravagantes, velas perfu-

madas, uma multicolorida coleção de caixas de fósforo, cu-

bos de gelo polar, entre outras preciosidades. Lâmpadas tipo

AR 111 fazem toda a diferença: ao reduzir sua potência por

meio de um dimer, obtém-se o efeito de luz de velas...

Aos que têm medo de usar espelhos, Ari Lyra garante:

“O espelho em si não é nada; só reflete o que existe ao seu

redor”.

Jogo de reflexos

e transparências

79910 casa1.p65 13/04/04, 16:467

Page 78: Revista Estilo 26

Perfil

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:212

Page 79: Revista Estilo 26

ELE ESTAVA COMO QUALQUER UM DE NÓS ESTARIA NUM SÁBADO À TARDE EM CASA.

À VONTADE. MESMO ASSIM, EU NÃO TINHA MUITA CERTEZA SE O CHAMAVA DE SENHOR OU

DE TU. FIQUEI COM A SEGUNDA OPÇÃO, PORQUE A IDÉIA ERA UM PAPO INFORMAL.

E ESPERO QUE ELE NÃO TENHA ACHADO QUE FOI FALTA DE RESPEITO. LONGE DISSO, FOI

UMA HONRA. COM CERCA DE 60 LIVROS PUBLICADOS E, DESDE OUTUBRO PASSADO, MEM-

BRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, MOACYR SCLIAR É UM DOS MAIS RESPEITADOS

NOMES DA LITERATURA NACIONAL. TRÊS DIAS ANTES DE COMPLETAR 67 ANOS, ELE RECE-

BEU A GENTE E FALOU DE TUDO UM POUCO. QUE USA SEU TEMPO DA MANEIRA MAIS INTENSA

POSSÍVEL, QUE ADORA JOGAR BASQUETE, QUE TEM MEDO DE MONTANHA-RUSSA, QUE NA

INFÂNCIA QUERIA ESCREVER DA MESMA FORMA COMO OS TIOS FAZIAM MÓVEIS.

P O R P A U L A T A I T E L B A U M F O T O S A N G E L A F A R I A S

palavras

Marceneirodas

Estilo Zaffari 81

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:223

Page 80: Revista Estilo 26

Perfil

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:274

Page 81: Revista Estilo 26

QUE TAL SER IMORTAL?

Eu não sou dessas pessoas que se sentem muito à von-

tade com cargos e honrarias, então tinha medo de que isso

pudesse alterar de alguma forma a minha maneira de vi-

ver, mas não aconteceu e eu estou muito satisfeito com

isso. Vou na Academia, dou sugestões, mas continuo na

minha casa escrevendo, lendo, continuo dando as minhas

aulas na faculdade de medicina.

COMO É ESSA ROTINA?

Bem, não chega a ser uma rotina. A essa altura da

minha vida, eu tenho muitas demandas, muitas palestras,

muitas viagens programadas, no mínimo uma por semana

até o final do ano. Agora, por exemplo, estou indo para a

Feira do Livro em Los Angeles e no dia seguinte vou para

Boston dar algumas palestras. Tenho muitas coisas tam-

bém aqui em Porto Alegre e no interior do Rio Grande do

Sul. Está sendo difícil atender a todas essas demandas, mas

eu não abro mão de encontrar leitores, sobretudo leitores

jovens, conversar com eles.

E COM TUDO ISSO DÁ TEMPO DE ESCREVER?

Eu aprendi a usar o meu tempo da maneira mais

intensa possível. Quando eu viajo, escrevo muito, levo

um laptop, escrevo no aeroporto, no avião, no hotel,

nos intervalos. Eu não sou de almoçar, nem de jantar,

em geral como um sanduíche, e então uso esse tempo

para escrever. Isso eu aprendi quando ainda era um es-

tudante, um jovem médico. Essa coisa de não ter tempo

é papo furado.

E AS IDÉIAS, OS ARGUMENTOS?

Uma coisa da qual eu não posso me queixar é de fal-

ta de idéia. As minhas idéias ocorrem diariamente. Faz 11

anos que eu escrevo para a Folha de S.Paulo uma vez por

semana, e é uma tarefa difícil, porque eles pedem que eu

encontre alguma notícia de jornal e faça sobre ela uma

história. Quando isso começou, éramos vários escritores,

e todos desistiram porque achavam muito angustiante este

desafio. Eu continuei sozinho e até hoje, 11 anos depois,

não teve uma semana em que eu não tivesse idéia para

fazer essa história. Pode acontecer até que eu tenha mais

de uma história e precise escolher entre elas, o que tam-

bém é uma coisa difícil.

TU DISSESTE QUE NÃO ÉS DE ALMOÇAR, NEM DE JANTAR...

Isso nas viagens. Mas refeição pra mim não é um ri-

tual, é uma coisa pra sustentar e fazer as atividades do dia.

MAS NÃO TEM NENHUM PRATO PREFERIDO, AQUELE QUE DE

VEZ EM QUANDO DÁ UM DESEJO DE COMER?

Não, eu não sou gourmet, e pra mim a melhor comi-

da é aquela comida honesta, arroz de carreteiro, por exem-

plo, que é uma coisa que aqui em casa fazem seguidamen-

te. Comida italiana eu gosto muito, macarronada.

E ALGO QUE TE DÊ UMA SATISFAÇÃO, UM PRAZER ENORME.

Pãezinhos...

MAS NÃO NECESSARIAMENTE RELACIONADO A COMIDA...

Ah, eu gosto muito de ir ao cinema, de assistir filmes

em casa.

ALGUM GÊNERO EM ESPECIAL?

Filmes que envolvam ficção histórica ou ficção polí-

tica. Gosto dos clássicos. Pra minha geração, o cinema foi

de certa forma um aprendizado, o cinema mudou a litera-

tura, a maneira de escrever, é uma forma de narrativa mui-

to mais sintética e dinâmica que te obriga a pensar assim:

“Se o filme consegue contar uma história em duas horas,

como é que eu faço para que o meu livro tenha tanto inte-

resse como tem o filme”.

UMA COISA DA QUAL NÃO POSSO ME QUEIXAR É DE FALTA

DE IDÉIA. AS MINHAS IDÉIAS OCORREM DIARIAMENTE

Estilo Zaffari 83

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:275

Page 82: Revista Estilo 26

Perfil

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:306

Page 83: Revista Estilo 26

E SER ADAPTADO PARA O CINEMA, COMO É?

Não é algo que eu considere muito importante para

a obra literária. Acho que conquista um outro público, mas

uma coisa fica bem clara, que cinema é cinema e literatu-

ra é literatura. Isso é uma coisa óbvia, mas corresponde

mesmo à realidade. Quando um diretor vai filmar uma obra,

tudo pode acontecer. Eu me lembro de uma frase do Jorge

Amado, que teve muitas obras adaptadas para o cinema e

a televisão. Ele dizia: “Quando eu cedo os direitos da mi-

nha obra para a TV, eu esqueço que eu sou o autor, porque

sei que o que vai aparecer na tela será completamente di-

ferente do que eu imaginei”. Isso é uma coisa que o escri-

tor precisa ter bem presente. Inclusive para não se meter.

ALGUM PERSONAGEM TEU QUE SEJA O MAIS QUERIDO, COM

QUE TU TE IDENTIFIQUES?

Ah, é Capitão Birobidjan, de “O Exército de um Ho-

mem Só”. Eu acho que ele é o símbolo da minha geração.

Uma geração que viveu sob o signo da utopia, da idéia da

transformação radical do mundo e de uma sociedade justa

e igualitária. Uma geração que quebrou a cara, continua

quebrando a cara, mas que apesar disso segue acreditando.

Essa crença é algo comovente pra mim. A pessoa que ape-

sar de tudo acredita, que pode até ser meio maluca, mas

que, do ponto de vista ficcional, é um personagem fasci-

nante.

E SE APARECESSE AQUI, AGORA, O GÊNIO DA LÂMPADA, QUE

PEDIDOS TU FARIAS A ELE?

Isso é uma coisa engraçada, eu não teria nada pra

pedir, nada. As coisas que eu pediria seriam de caráter in-

terior. Eu gostaria, apesar de já ser um homem maduro, de

me entender cada vez mais, de entender o mundo cada

vez mais, mas fora isso eu não preciso de coisas materiais,

nem recompensas. A verdade é que a vida me deu tudo o

que um ser humano pode querer. Claro que também as

minhas aspirações sempre foram modestas, porque eu sou

filho de imigrantes, de judeus pobres do bairro Bom Fim,

para quem o máximo seria ter uma casa, uma profissão,

coisas que as pessoas podem considerar habituais, mas que

para eles era um sonho. Esses sonhos todos eu realizei, e

eu não sei sonhar mais alto do que meus pais. Eu me sinto

plenamente satisfeito.

CADA LIVRO É UMA FORMA DE SE CONHECER MELHOR?

Cada livro é uma aventura. A gente nunca sabe para

onde aquilo nos conduzirá. Cada vez que embarco em um

projeto, tenho uma expectativa muito grande e também

uma ansiedade de que aquilo possa ou não dar certo. Mas

independentemente disso, tenho o prazer de escrever, o

prazer do texto, o prazer de sentar e ver aquelas palavras

aparecendo na tela do computador, as frases se formando e

a história se desenrolando. O prazer da criação é um pra-

zer muito grande. Mas isso não só para quem escreve.

A pessoa que gosta de cozinhar, a pessoa que faz um mó-

vel... Eu sou de uma família de marceneiros. Pegar a ma-

deira e transformar numa coisa que as pessoas podem usar

dá uma alegria muito grande. Eu via isso desde a infância,

e a idéia que eu tinha quando comecei a escrever era a de

que eu queria escrever da mesma forma como os meus tios

faziam seus móveis.

FAZES ALGUMA COISA PARA RELAXAR? TENS ALGUM HOBBY?

Eu tenho um hobby que teoricamente é para relaxar,

mas que não me relaxa em nada. Eu jogo basquete. Faz 30

anos que nós, como um grupo, começamos a jogar basque-

te na Associação Cristã de Moços. E eu nunca falto, eu

vou lá segunda, quarta, sexta e domingos (nessa hora tive

que soltar um “nossa!”), e é uma coisa, porque eu sou um

péssimo jogador... É um desastre, porque eu não consigo

nunca fazer cesta. Ontem aconteceu um negócio que se

eu contar tu não vais acreditar! (ele começa a rir, fica empol-

EU ACHO QUE SUPERMERCADO É O SONHO MÁGICO, É A

GRUTA DE ALADIM, A GENTE DIZ ABRE-TE, SÉSAMO E ESTÁ LÁ...

Estilo Zaffari 85

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:317

Page 84: Revista Estilo 26

Perfil

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:358

Page 85: Revista Estilo 26

gado). Basquete é um time de cinco pessoas e, bom, no

nosso grupo tem muita gente, então tem que ir trocando.

Lá pelas tantas a gente estava jogando e alguém gritou:

“Peraí um pouquinho, esse time aí tá com seis pessoas”.

Era o time em que eu estava. Então um deles disse: “Ah,

mas o sexto é o Scliar, pode deixar ele aí...”. (Riso geral)

COM TANTA COISA PRA FAZER, NÃO DEVE DAR PRA DORMIR

MUITO...

Eu durmo pouco, muito pouco. Desde o tempo dos

plantões médicos, quando eu me acostumei a passar noi-

tes trabalhando e no dia seguinte continuar trabalhando e

dizer: “Tá bom, quando der eu vou descansar”. A medici-

na me ensinou muita coisa para a literatura. Em primeiro

lugar, essa experiência fantástica que é tu lidares com o ser

humano doente, sofrendo. Eu não fiquei muito tempo na

medicina clínica porque eu fui para a medicina pública,

que é outro tipo de ensinamento, quando tu aprendes como

vivem os brasileiros, como é a realidade brasileira, como

são os mecanismos do poder. Aprendi muito. Uma coisa

engraçada que eu noto nos meus textos é que grande parte

das minhas leituras foram textos científicos, textos médi-

cos, e eu fui absorvendo a objetividade desses textos, en-

tão eu não gosto de papo furado. Eu vou direto ao assunto,

da forma mais sintética e objetiva possível. É o exercício

da objetividade.

QUAIS OS TEUS PLANOS?

Nesse momento, estou envolvido com duas novelas.

Histórias curtas, porém autônomas. Uma delas para públi-

co juvenil, que envolve uma figura fascinante, Castro

Alves, esse grande poeta que morreu aos 24 anos e nesse

pouco tempo teve uma vida intensa. E a outra história, da

qual eu já concluí a primeira versão, mas que eu vou reto-

mar, é com um personagem bíblico... Eu sou fascinado pela

Bíblia. Tá todo mundo vendo o filme da Paixão de Cristo,

mas muito antes do Mel Gibson eu sempre achei que a

Bíblia, inclusive o Antigo Testamento, é uma fonte de ins-

piração. E há um personagem na Bíblia que sempre me

intrigou, um personagem enigmático chamado Onan.

É uma história incrível, em que eu me propus a traduzir

literariamente o mistério de Onan e seus irmãos.

E POR FALAR EM BÍBLIA, SE DEUS APARECESSE NA TUA FRENTE...

Sabe que tu acabaste de dizer uma frase sobre a qual

eu tenho pensado muito, que é: “Se Deus aparecesse na

minha frente”. Às vezes as pessoas me perguntam: “Como

é que é não acreditar em Deus?”. É uma pergunta que à

medida que tu vais avançando na vida se torna mais crucial.

Eu nunca acreditei, nunca fui crente, por várias razões,

razões políticas, razões até ligadas à ciência e, sobretudo,

por ser um cético de nascença. Bom, então se Deus apare-

cesse na minha frente seria uma resposta para uma per-

gunta que eu não precisaria mais me formular, mas real-

mente até agora não aconteceu. Quem sabe no Zaffari, tu

removes um pacote de café e ali atrás está a face de Deus

te olhando, dizendo: “Pode levar este café”. Deus ou o Zeca

Pagodinho...

TU TERIAS ALGUM DESEJO? NÃO PESSOAL...

Uma coisa que eu pediria a Deus seria que o mundo

fosse melhor, porque realmente, lá pelas tantas, tu olhares

tanto sofrimento, gente passando fome na rua, pedindo

esmola, gente morrendo em guerras, em atentados terro-

ristas... O mundo é assim, sempre foi assim e provavelmente

continuará assim por muito tempo, mas isso não deixa a

situação menos angustiante. Eu continuo tão incomoda-

do pela miséria quanto quando era adolescente, quando

eu acreditava que a gente poderia mudar o mundo a curto

prazo. Hoje, eu tenho certeza de que isso não acontecerá,

mesmo que eu ache que ainda vai mudar, que eu tenha

esperanças...

EU GOSTARIA, APESAR DE JÁ SER UM HOMEM

MADURO, DE ME ENTENDER CADA VEZ MAIS

Estilo Zaffari 87

79910_perfil.p65 13/04/04, 16:199

Page 86: Revista Estilo 26

Perfil

79910_perfil.p65 13/04/04, 13:5410

Page 87: Revista Estilo 26

TU TENS ALGUM MEDO ESPECÍFICO?

Medo? Não... Não... Tenho... (começa a rir). Não dei-

xa de ser um medo, mas esse não é um medo próximo. Eu

tenho medo de montanha-russa. Mas aí aconteceu que uma

vez eu fui a Los Angeles, na Disneyland, e aí tinha uma

montanha-russa que não me parecia tão arriscada. Eu dis-

se: “Bom, eu vou experimentar, porque se eu der um vexa-

me, ninguém me conhece”. Eu lembro que embarquei em

um carrinho e que nesse carrinho estavam uns meninos

americanos. Aí aquilo começou a andar e eu gritava tanto

que os meninos ficaram com muito medo, não por causa

da montanha-russa, mas por minha causa. Eu saí dali de

pernas bambas, mas pelo menos uma vez na vida eu andei

de montanha-russa. Enfrentei...

GOSTAS DE IR AO SUPERMERCADO?

Eu adoro supermercado! Eu só não vou mais segui-

damente por pura falta de tempo. Mas eu acho que super-

mercado é o sonho mágico, é a gruta de Aladim, a gente

diz Abre-te, Sésamo e está lá, cheio de riquezas culinárias e

objetos e coisas maravilhosas. O que me fascina no super-

mercado é a abundância, essa idéia da variedade, de mil

coisas que têm. A minha geração, por causa da influência

de esquerda, desprezava o consumo, consumista era uma

acusação. Eu acho que consumir é uma coisa boa, consu-

mir significa ter acesso a coisas que outros fizeram pra ti.

Tu vais partilhar a criação da humanidade, seja essa cria-

ção expressa sob a forma de um pão de sanduíche, seja ela

expressa sob a forma de um chinelo de dedo ou coisa qual-

quer. Comprar no supermercado é uma coisa que dá pra-

zer. Eu também gosto de livraria, mas livraria pra mim é

diferente, porque em supermercado eu não sofro, mas em

livraria eu sofro porque eu sempre quero comprar muito

mais livro do que eu posso ler e até do que eu posso carre-

gar. Em viagens internacionais, por exemplo, seguido eu

tenho que pagar excesso de peso por causa da quantidade

de livros que compro. Lembro de uma vez em que eu vim

dos Estados Unidos com uma mala cheia, e o fiscal da al-

fândega me olhou com aquela expressão e disse: “Vamos

abrir isso aí”. Eu abri e estava cheio de livros, e ele disse:

“Mas são só livros?”, e eu fiquei envergonhado, ele achou

que tinha muamba, gravadores, mas só tinha livro... “Só

livro! Fecha isso aí!”. Mas eu acho que supermercado é

uma coisa que pra minha geração foi muito marcante, foi

a geração que viu surgir o supermercado. Antes, pra nós,

fazer compras era no armazém da esquina, que é um lugar

que continua tendo o seu encanto, um lugar sonolento, o

dono com os cotovelos apoiados no balcão.

TENS ALGUM CORREDOR PREFERIDO?

Pois é... Eu tenho... Mas não devia preferir... É o de

doces e chocolates. É uma tentação com a qual eu luto

com todas as forças, eu sou médico de saúde pública, eu

tenho que recomendar que as pessoas comam direitinho.

Mas esse é um corredor de que eu gosto. Também gosto do

corredor de artigos elétricos. Uma das coisas que eu sem-

pre gostei de fazer, e que agora eu faço menos por falta de

tempo, é consertar coisas na minha casa. Eu tenho uma

grande habilidade manual, eu me orgulho muito disso. Eu

sei consertar objetos, eu sei fazer objetos. Na casa em que

nós morávamos, eu fiz várias prateleiras, serrei, colei...

Então eu gosto de olhar as ferramentas, as coisas pra subs-

tituir na casa.

PRA FINALIZAR, ALGUMA FRASE, ALGUM LEMA QUE TU GOSTES

DE REPETIR, QUE TE ACOMPANHA:

Eu tenho uma frase, mas é em inglês: “Don’t explain,

don’t complain”. É uma frase da sabedoria prática dos ameri-

canos. A gente não precisa se explicar, a gente não deve se

queixar. As explicações são dadas pela maneira como a gente

vive, pelas coisas que a gente faz. E não se queixar acho que é

uma coisa muito boa, acho que a energia gasta nas queixas e

nas lamentações é mais bem utilizada quando a pessoa deci-

de que vai mudar a sua vida e busca fazer isso.

A GENTE NÃO PRECISA SE EXPLICAR. AS EXPLICAÇÕES

SÃO DADAS PELA MANEIRA COMO A GENTE VIVE

Estilo Zaffari 89

79910_perfil.p65 14/04/04, 09:0911

Page 88: Revista Estilo 26

Assim, ó...

Por mais minha que seja, a cidade parece sempre instável

A CIDADE É SEMPRE MEIO

Uns meses atrás eu voltava de Passo Fundo para Porto Alegre

de ônibus. Era o fim da mais recente edição das Jornadas de Litera-

tura promovidas pela Universidade de Passo Fundo, uma das coisas

mais impressionantes que pode haver em matéria de mobilização

cultural – milhares de crianças, jovens e adultos em favor de presen-

ciar palestras e debates em torno da literatura, com convidados de

todo o Brasil e muitos de outros países. Realmente espantoso. Mas o

caso é a viagem. Eu ando pouco de ônibus, como muita gente.

Mesmo nas viagens ao interior, em geral para perto de Porto Alegre,

vou de carro. E de Passo Fundo eu voltei num deles.

Quem viaja de ônibus tem uma liberdade interessantíssima.

Se não sofrer muito da coluna, nem tiver vizinho chato, pode ler

concentradamente por aquelas horas. Pode ouvir música de sua

escolha, se tiver levado o aparelho adequado. Pode ficar apenas

olhando a paisagem e tratando das caraminholas pessoais e

intransferíveis. (“Caraminhola” era, originalmente, o nome de um

penteado, em que os cabelos são apanhados no alto da cabeça e

presos por uma fita, despencando em flor, numa espécie de crista,

debaixo da qual ficam as “caraminholas” figuradas, os sonhos e

questões que cada um carrega consigo.) Foi o que eu fiz – pensar

nas coisas, não ajuntar os cabelos no alto da cabeça, mesmo porque

eles já são poucos.

A paisagem ia se desdobrando com aquela alternância magní-

fica que nosso interior oferece aos olhos: aqui uma pequena cidade,

ali uma vila, mais adiante umas roças e um gadinho, depois vasti-

dões de uma só cultura, um distrito industrial; rocha, perau, lomba,

rio, arroio, planície; alemão, italiano, negro, português, índio, em

misturas de proporções variadíssimas. E eu pensando, daquele jeito

de quem não conduz as idéias mas é levado por elas. Pensando em

como aquilo ali, aquele mundo que desfilava na janela do ônibus,

parecia um ponto de amarração do mundo, um ponto do qual

alguns partem e ao qual podem voltar, um ponto, enfim, estável.

Um ponto inicial, um ponto final.

Não sei se consigo explicar. Pensei na minha cidade, Porto

Alegre, minha casa, meu lugar no mundo. Eu saio dela e volto a ela.

Mas alguma acontece no meu coração quando eu cruzo por uma

estrada interiorana, dando-me a impressão de que eu tenho algo a

ver com aqueles começos, aqueles pontos estáveis. Estáveis, esta a

palavra: a cidade, por mais minha que seja, parece sempre instável

– e é mesmo instável. A vida na cidade tem muito de provisório,

passageiro, frágil. Ao contrário do campo que eu via pela janela do

ônibus, que parecia sólido e estável como... como... Como o quê,

mesmo? A sucessão das estações. A aparição diária do sol. A beleza

e a dureza da vida.

Historicamente, a cidade nasceu depois: primeiro veio a vida

no campo, e depois ali, na aglomeração; por isso mesmo, a cidade

sempre parece um meio, e não um início ou um fim. As pessoas

estão passando por ali, mas têm origem em outra parte e possivel-

mente vão terminar sua vida em outro lugar ainda. Você mesmo,

que me lê agora, pode fazer a conta e reconhecer que seus antepas-

sados vieram para a cidade não faz tanto tempo assim, consideran-

do a vastidão do ritmo da História. Não é? Não foi?

Vai daí, sempre que a cidade fica mais estável e mais familiar

algo de positivo está ocorrendo. Salvo casos que eu não sei nem

pensar direito, como as megalópoles que nunca param de se trans-

formar e dão a impressão de que vão explodir daqui a 15 minutos,

a cidade fica mais dentro do coração quando ela vira um ponto

fixo, adquirindo a aura de um início ou um fim dignos para nós.

Para isso são indispensáveis as pessoas que estabilizam um senti-

mento que nós temos difuso, focando-o e dando-lhe alma. Gente

que simboliza a cidade. Gente como o recém-falecido publicitário

Jesus Iglesias, um dos inventores de uma misteriosa entidade co-

nhecida por sua sigla – SAPA, uma mitológica Sociedade dos

Amigos de Porto Alegre, que ele fundou só para dizer como era,

como podia ser bom viver aqui. Aqui, neste lugar que ficou mais

claro em nosso sentimento com a vida dele.

L U Í S A U G U S T O F I S C H E R

LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR

90 Estilo Zaffari

79910_gauchismos.p65 12/04/04, 21:341

Page 89: Revista Estilo 26
Page 90: Revista Estilo 26