revista estilo 26
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Edição de maço de 2004TRANSCRIPT
Bocados
SCLIAR, MARCENEIRO
DAS PALAVRAS
COSTA RICA, O CARIBE
COM CHARME EUROPEUA n o 6 N0
2 6 R $ 2, 50
Doces
79910 CAPA.p65 14/04/04, 09:531
N O T A D O E D I T O R
“PREPARE O SEU CORAÇÃO, PRAS COISAS QUE EU VOU CONTAR...”
LEMBRA DESSA MÚSICA? POIS ELA FOI A PRIMEIRA COISA QUE ME VEIO À CABEÇA QUANDO SENTEI PARA
ESCREVER O EDITORIAL DESTA ESTILO ZAFFARI. LINDA DE MORRER E CHEIA DE CONTEÚDO (MODÉSTIA ÀS FAVAS!),
ESTA EDIÇÃO FOI FEITA ESPECIALMENTE PARA VOCÊ CURTIR EM CASA, APROVEITANDO A TEMPERATURA AMENA DO
OUTONO E AQUELES MOMENTOS DE RELAX ENTRE UMA E OUTRA OBRIGAÇÃO DIÁRIA.
PRA COMEÇAR, ESTAMOS PUBLICANDO A PRIMEIRA VIAGEM INTERNACIONAL DA FASE II DA ESTILO ZAFFARI.
NOSSO INTRÉPIDO CASAL DE REPÓRTERES, DAN E CRIS, FOI PARA A COSTA RICA DESENCAVAR SEGREDOS DESSE
PEDAÇO AINDA VIRGEM DO CARIBE, E CONTA TUDO EM UMA REPORTAGEM GOSTOSÍSSIMA DE LER.
A SEÇÃO PERFIL, QUE VOLTA DEPOIS DE UMA RECLAMADA AUSÊNCIA NA EDIÇÃO ANTERIOR, TEM COMO
ENTREVISTADO NINGUÉM MAIS, NINGUÉM MENOS DO QUE O NOSSO GLORIOSO IMORTAL, MOACYR SCLIAR. LEIA O
TEXTO ASSINADO PELA PAULA TAITELBAUM E CONHEÇA MELHOR ESSE INTERESSANTÍSSIMO ESCRITOR, MÉDICO,
PROFESSOR, JORNALISTA E JOGADOR DE BASQUETE (SIM, O SCLIAR JOGA BASQUETE!).
NOSSAS PÁGINAS DEDICADAS A GASTRONOMIA ESTÃO ARRASANDO. PRIMEIRO, O BACALHAU. RECEITAS MA-
RAVILHOSAS QUE TRANSFORMAM O NOBRE PESCADO EM UMA TENTAÇÃO ABSOLUTAMENTE IRRESISTÍVEL. NOSSA
DICA É: ESQUEÇA ESSA BOBAGEM DE SÓ COMER BACALHAU NA PÁSCOA E DELEITE-SE A QUALQUER MOMENTO COM
SEU SABOR INIGUALÁVEL E SUA VERSATILIDADE. DEPOIS, PARA ADOÇAR O PALADAR, NADA MAIS PERFEITO DO
QUE DOCES AMARELINHOS, FEITOS DE OVOS E MUITO AÇÚCAR. APRENDA A FAZER PASTÉIS DE SANTA CLARA,
PASTÉIS DE NATA, FIOS DE OVOS E DELICIE-SE COM ESTES PEQUENOS BOCADOS DE MUITO PRAZER.
E JÁ QUE ESTAMOS FALANDO DE COMIDA, LEMBREI TAMBÉM DE RECOMENDAR A LEITURA DA MATÉRIA
VEGETARIANOS X CARNÍVOROS, VIVE LA DIFFÉRENCE! ATUAL, DIVERTIDA, BEM-HUMORADA E CHEIA DE INFORMAÇÕES,
ESSA MATÉRIA DESMISTIFICA O EMBATE ENTRE AQUELES QUE COMEM CARNE FERVOROSAMENTE E AQUELES QUE A
REJEITAM COM A MESMA DEVOÇÃO. NOSSA CONCLUSÃO É: A COMIDA ESCOLHIDA É UMA FORMA DE PRAZER E TAMBÉM
DE EXPRESSÃO E DE ESTILO DE VIDA. ENTÃO, CADA UM NA SUA, PORQUE RESPEITO É BOM E CONSERVA A AMIZADE...
BEM MENOS POLÊMICA, A REPORTAGEM DA SEÇÃO CASA – OUTRA QUE VOLTOU CHEIA DE CHARME NESTA
EDIÇÃO – MOSTRA ESPELHOS E COMO ELES REFLETEM UM JEITO DE MORAR, A PERSONALIDADE DA CASA.
APROVEITE AS NOSSAS IDÉIAS E RENOVE OS AMBIENTES DA SUA MORADIA. PEQUENAS MUDANÇAS PODEM
SIGNIFICAR GRANDES MELHORIAS!
coração
Prepare seu
OS EDITORES
79910_nota do editor.p65 14/04/04, 09:432
Milene Leal
EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO
REDAÇÃO Beatriz Guimarães, Cris Berger, Paula Taitelbaum, Ruza Amon
REVISÃO Flávio Dotti Cesa
PROJETO GRÁFICO Odyr Bernardi
DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade [email protected]
ILUSTRAÇÕES Nik
FOTOGRAFIA Angela Farias, Cristiano Sant’Anna, Dan Berger, Letícia Remião
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Jorge Nascimento
COLUNISTAS Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Martha Medeiros,
Malu Coelho, Tetê Pacheco
EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS)
COLABORADORES Antônio Carlos Schilling Minuzzi, Livraria Cultura
Izabella Boaz
DIRETORA DE ATENDIMENTO
PUBLICIDADE HRM Representações
(51) 3231.6287 9983.7169 9987.3165 [email protected]
DEPTO. DE ATENÇÃO AO LEITOR Renata Xavier Soares
A revista Estilo Zaffari é uma publicação bimestral da Contexto Marketing Editorial Ltda.,
sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas
da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é
responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, ar tigos e colunas
assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem
prévia autorização e sem citação da fonte.
TIRAGEM 25.000 exemplares
PRÉ-IMPRESSÃO Maredi
IMPRESSÃO Pallotti
ENDEREÇO DA REDAÇÃO
Rua Padre Chagas, 185/801– Porto Alegre/RS – Brasil – 90570-080
(51) 3395.2515 (51) 3395.2404 (51) 3395.1781
[email protected]: FOTO DE LETÍCIA REMIÃO
79910_expediente.p65 14/04/04, 11:582
Correio
NA CALIFÓRNIA
Meu nome é Lea. Vivo atualmente em Los
Angeles e sou fã desde o primeiro número da
revista, na época ainda morava em POA. Agora
só consigo ler a revista porque minhas amigas
sempre me mandam pelo correio quando sai uma
nova revista. Adoro fazer as receitas que vocês
publicam e que fazem muito sucesso por aqui.
O que eu mais gostaria é que vocês pudessem
me mandar uma assinatura desta maravilhosa
revista, apenas me digam se é possível e o que
devo fazer para isto. Outra coisa é que eu adora-
ria ver publicadas algumas receitas de cucas (es-
tilo de Feliz, ou seja, estilo alemão).
Abraços desta fã número 1.
Lea, claro que uma leitora fiel como vocêmerece receber a revista, esteja onde estiver.Só que o envio dos exemplares para LosAngeles tem um custo bastante alto... Paratentar resolver a questão, a Renata, do nossoDepartamento de Atenção ao Leitor, vai en-trar em contato com você via e-mail, ok?Adoramos a sua sugestão e ela inclusive jáestá pautada para este ano. Vamos fazer umaedição temática sobre a imigração alemã esua culinária. Um grande abraço.
EM BELO HORIZONTE
Bom-dia, Renata
Sou de Belo Horizonte/MG e morei em Por-
to Alegre em 2003. Adorei essa cidade, e uma
grande referência é o Zaffari. Morava a 2 qua-
dras da loja do Menino Deus e era cliente assí-
duo. Enquanto em POA comprei todas as edi-
ções da Estilo Zaffari lançadas no período. Por
motivos diversos tive que voltar para BH, mas a
saudade é grande. Num momento especial, fo-
lheando um exemplar da revista, vi seu e-mail
e gostaria de informações sobre como assinar e
como receber em BH. Um abraço. Elói/BH
Caro Elói, estamos trabalhando na mon-tagem de um sistema de assinaturas quepossa atender aos pedidos que chegam detodo o Brasil e até do exterior, mas esse sis-tema precisa ter uma viabilidade financei-ra para nossos leitores. Acontece que, comoo preço de capa da revista é muito acessí-vel, o custo de correio acaba ficando maiscaro do que a própria Estilo Zaffari. É umdilema que estamos tentando resolver, ok?Seu nome vai ficar em nosso cadastro, parafazer parte desse sistema assim que ele es-tiver definido. Um grande abraço e obri-gada pelos elogios ao Zaffari e à revista.
OLHO VIVO
A cada vez que vou no Zaffari Bourbon fa-
zer as compras da semana, fico de olho para sa-
ber se já chegou a nova edição da Revista Esti-
lo. Confesso que é uma das poucas revistas que
leio do início ao fim. E gostaria muito de saber
como faço para adquirir edições anteriores. Bom,
sucesso para que a Estilo Zaffari nunca nos aban-
done! Aguardo contato, obrigada.
MIRNA WIDHOLZER
No que depender de nós, Mirna, a Estiloserá eterna e cada vez melhor. Vontade eempenho para isso não faltam! Ainda maiscontando com o estímulo de leitoras comovocê. Para adquirir edições atrasadas, en-tre em contato com o Departamento deAtenção ao Leitor, no fone (51) 3395.2515,com Renata, ou pelo e-mail [email protected]. Mas atenção: muitas ediçõesjá estão esgotadas! Um grande abraço.
EM TEMPO
Parabéns pelo artigo “Iguarias do Mediterrâ-
neo”. A respeito da bebida feita de anis, conforme
página 51, chamada de ouzo na Grécia e arak nos
países árabes, o verdadeiro nome da bebida seme-
lhante na França é pastis, sendo o nome Pernod
uma das principais marcas entre muitos fabrican-
tes. Esperando ter ajudado, reitero meus parabéns
pelo trabalho. Atenciosamente,
JEAN-JACQUES DELAPRAZ
Jean-Jacques, em primeiro lugar, obriga-do pelo esclarecimento, que foi de grandevalia. Ainda bem que temos leitores aten-tos, bem-informados e dispostos a contri-buir! E depois, obrigado também pelos elo-gios à revista. Continue de olho na gente!
8 Estilo Zaffari
79910 cartas.p65 12/04/04, 16:062
MATÉRIA APROVADA
É uma imensa honra estar na revista Estilo
Zaffari!!! A qualidade das matérias, o layout, a
impressão, as fotos, enfim, tudo está maravilho-
so! E a reportagem sobre o Txai? Maravi-
lhosa!!! Eu passei uma semana em Itacaré no
final de novembro. Infelizmente não foi no Txai,
apesar de ter ido conhecer. Mas dia desses... Vou
cuidar para escolher bem a companhia, Milene...
Se eu puder colaborar com alguma coisa mais,
será um prazer!
CACAIA – CAFÉ DO PORTO
Melhor ainda é obter a aprovação doentrevistado, pois isso demonstra que con-seguimos reproduzir com fidelidade o quefoi dito e mostrado. Teu estabelecimento éum sucesso que merece todas as homena-gens, e para nós é uma honra tê-lo naspáginas da Estilo. Quanto ao Txai, o lu-gar é de fato uma maravilha. Todas as pes-soas que estiveram lá voltaram muito im-pressionadas. Segue aquele conselho quedei na matéria (edição 25) e apro-veita! Abraço e obrigada pelo apoio.
É ISSO AÍ!
Querida Milene
Quando recebemos vocês no nosso hotel
não sabíamos do prazer que teríamos ao ler a
edição de janeiro da Estilo Zaffari. Nunca al-
guém descreveu tão bem, numa reportagem, a
idéia do que o Txai tem para oferecer a seus
hóspedes. Entre fotos e texto, nos sentimos iden-
tificados, e à medida que cada um de nós ia
lendo apareciam sorrisos como querendo dizer:
“É isso aí!”. Espero ter vocês numa próxima vez
com companhias mais românticas. De parte de
nossa equipe, muito obrigado.
Abraços.
ALEJANDRO FEDERICO URETA
GERENTE COMERCIAL TXAI
ESCLARECIMENTO:
(Referente à matéria Ontem, Hoje e Sempre, publicada na edi-
ção 25 da revista Esti lo Zaffari)
DE 1955 A 1964 FUNCIONAVA NA AVENIDA PROTÁSIO ALVES, Nº 1709
UM ESTABELECIMENTO DENOMINADO “BAR ELITE”, QUE FOI SU-
CEDIDO PELA “CAVERNA DO RATÃO”. O “BAR ELITE” PERTENCIA
A MAX ALBINO KLEIN, CONFORME INFORMAÇÃO OBTIDA DE SEU
FILHO, JOÃO BATISTA KLEIN, EM 1º DE ABRIL DE 2004.
79910 cartas.p65 12/04/04, 16:063
Í N D I C E
Cartas
Coluna: Cotidiano
Cesta Básica
Coluna: Consumo
O Sabor e o Saber
Vegetarianos x Carnívoros
Casa: Decore com Espelhos
Coluna: Gauchismos
08
12
15
22
36
66
74
90
Rica
Costamuy
Uma viagem deliciosa ao
lado mais agreste e mais
charmoso da Costa Rica 38
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BOCADOS
Doces
Bacalhau
MARCENEIRO
DAS PALAVRAS
24
80
56
Amarelinhos, pequeninos e cheios
de sabor, eles são irresistíveis
a mesa tropical
Dos gélidos mares para
79910 Indice.p65 14/04/04, 10:183
Cotidiano
Comer fora é uma aventura, dá novo sabor à vida
O FEITIÇO DOS RESTAURANTES
Quando eu era menina, adorava domingos, e isso prova
que a tendência do ser humano é mesmo evoluir. Gostava porque
não tinha aula e porque passava as tardes na casa da minha avó,
e a casa da minha avó tinha lareira, pátio, sótão e até uma miste-
riosa adega embaixo de uma escada, lugar perfeito para eu e meus
primos nos escondermos. Mas o que me fazia torcer para o domin-
go chegar é que era o dia em que a gente almoçava fora.
Naquela época não havia tanta oferta de restaurantes
como há hoje, e pizza era novidade que ainda não havia de-
sembarcado aqui. Pois bem: meu pai, minha mãe, meu irmão e
eu acabávamos sempre indo na Churrascaria Santa Tereza, na
Assis Brasil. Não existe mais, virou um bingo. Era um lugar
simples. Eu pedia filé com fritas e uma Coca-Cola permitida
apenas nos finais de semana, e me tornava a menina mais feliz
do universo, sentada diante de uma mesa de fórmica cor-de-
rosa que era medonha, mas que se tornava linda simplesmente
por não pertencer à minha rotina.
É justamente para fugir do cotidiano que até hoje comer
fora segue sendo um prazer para meninas e meninos que se tor-
naram adultos e que já não comem apenas filé com fritas (ainda
que seja uma dobradinha imbatível). Agora a gente tem cozi-
nha tailandesa, italiana, mexicana, árabe, vegetariana, comida
para todos os gostos e em ambientes cada vez mais bonitos. Cer-
ta vez jantei com meu marido numa ilha paradisíaca muito lon-
ge daqui, num restaurantezinho charmoso que me transportou
para um comercial de cartão de crédito assim que lá coloquei os
pés. A noite caindo, poucas mesas na varanda ao ar livre, casti-
çais, um transatlântico todo iluminado cortando o mar a nossa
frente e música erudita tocando bem baixinho: só faltou o
logotipo do American Express no canto direito do vídeo. A co-
mida nem precisava ser boa, mas foi sublime.
É bom salientar que sofisticação não é ingrediente obri-
gatório: em botecos de beira de praia já comi feito uma embai-
xatriz, em vilarejos de estrada já tive o privilégio de banque-
tear, mesmo sentada em cadeirinha de palha e com a toalha
manchada por refeições passadas. Todos os créditos para quem
estava no comando das caçarolas.
A eficiência na escolha da companhia não é menos im-
portante. Jantar ou almoçar fora pressupõe deixar as inco-
modações em casa: nada de levar com você pessoas que recla-
mam do preço da água mineral, que falam alto demais, que são
insolentes com garçons. Comer fora não é buscar na rua novas
razões para se irritar.
Comer fora é, isto sim, uma aventura, se por aventura
entendemos proporcionar a nossos olhos outra paisagem e a
nosso paladar outros temperos. É uma satisfação dos sentidos.
Mesmo que sejam raros os chefs que cozinhem tão bem quanto
nossas mães e nossas Marias, topamos pagar caro pelo ambien-
te, pela música, pela louça, pelo astral, pela iluminação, pelo
burburinho. Sigo gostando do programa, mesmo sabendo que
restaurantes são como refeitórios de pensão, nada mais do que
um monte de pessoas matando a fome no mesmo local. Mas a
gente coloca uma roupa mais bonitinha, escolhe no cardápio
umas estranhezas e está feito: damos novo sabor à vida.
M A R T H A M E D E I R O S
MARTHA MEDEIROS É ESCRITORA
12 Estilo Zaffari
79910_cotidiano.p65 14/04/04, 11:0612
Cesta básica
Plástico high-tech
Bonitos, coloridos, modernos, divertidos, práticos,
versáteis. Os objetos de polipropileno criados pela
Coza (diga Cóza) são um achado para quem quer
fugir da mesmice que reina no universo das
utilidades domésticas. Os sousplats aí ao lado
escapam do convencional pela forma quadrada e
as lindas cores. Dão vida e personalidade a
qualquer mesa. O forte da Coza – empresa de
Caxias do Sul que já soma 20 anos de atividade –
são justamente as cores e a excelência do design,
assinado por profissionais que são referência
nacional nesta área. Os sousplats são fabricados
nas cores preto, branco, azul-escuro opaco, azul
turquesa, amarelo, laranja citra, pimenta opaco,
verde e rosa. Chega ou quer mais? Solte a
criatividade e faça suas combinações.
MILENE LEAL, JORNALISTA
NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS
E SUGESTÕES PARA CURTIR
O DIA-A-DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE:
MÚSICA, CINEMA, LUGARES,
COMIDINHAS, OBJETOS ESPECIAIS,
PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO.
FOTO: LETÍCIA REMIÃO
79910 cesta basica.p65 12/04/04, 20:511
Travesseirinhos com mensagens personalizadas e
bordadas em linha de seda são um mimo para se
ter em casa, levar em viagem ou presentear pessoas
que “já tem tudo”. Um toque de romantismo,
humor ou descontração pode complementar a
decoração de camas de todos os tamanhos e estilos.
Quem assina a idéia é a empresária e artesã Martha
Candemil, que criou frases tais como “Princess
sleeps here” e “Ser feliz não é um sonho . É uma
decisão” para seus “travesseirinhos mensageiros”.
Os recheios são de espuma siliconada e as fronhas,
em Percal branco 200 fios. O tamanho tradicional é
de 30 x 40cm, mas o cliente pode optar por
tamanhos especiais e por frases de sua preferência.
RUZA AMON, JORNALISTA
Mimos delicados
Cesta básica
Tudo bem que ninguém merece ver, mais uma vez, a
dificuldade que os americanos têm para entender que no
Brasil se fala português e não espanhol. E que aqui nós não
chamamos um indivíduo do sexo feminino de “chica”, mas
de moça, garota, menina, guria, sei lá. Abstraindo a
duvidosa participação da brasileira Sônia Braga como uma
artista plástica muderrrrrrrna que se chama Maria Diega
Reyes (!), a quarta temporada de Sex and The City vale a
compra destes DVDs. O seriado americano, que faz um
sucesso impressionante entre as mulheres brasileiras,
continua divertidíssimo, mostrando as peripécias e desven-
turas das quatro “heroínas” (Carrie, Samantha, Charlote e
Miranda) em suas andanças amorosas. O cenário – Nova
York – continua sendo uma das maiores atrações do
seriado. Sem falar no desfile de grifes superfashion
protagonizado por Carrie, a personagem principal.
MILENE LEAL, JORNALISTA
CARRIE, A FASHION
FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA
79910 cesta basica.p65 12/04/04, 21:012
Eu nunca fui à Irlanda, mas acabo de conhecer um legítimo
pub irlandês. E fica aqui pertinho. Na Hilário Ribeiro, 52.
É o tipo de lugar pra chamar de seu. Onde sua alma boêmia
se sente em casa e fica com vontade de ter cadeira cativa.
No Cherry Blues Pub, o ambiente é superaconchegante sem
ser sufocante, isso graças aos móveis rústicos e ao pé-direito
altíssimo. Nas paredes, cartazes e fotos se misturam a
quadros negros escritos com giz e dão aquele toque de
“boteco chique” que a gente tanto adora. A grande atração
é a carta de cervejas e chopps. Não sou grande entendida
no assunto, mas tomei um chopp de trigo da Eisenbahn que
foi algo. Sabe aquela espuminha cremosa que gruda entre
o nariz e a boca? E se você resolver ficar até mais tarde pra
curtir o show acústico que começa lá pelas 21h30 (num
volume que dá pra continuar conversando), poderá jantar
também. A grande pedida é o Filé Porto Dublin ou o Gaelic
Boxty, a tradicional panqueca de batatas irlandesa recheada
com filé cozido e cogumelos ao molho de whisky. Saia do
trabalho e vá direto pra lá.
PAULA TAITELBAUM, ESCRITORA
Cherry Blues PubNovela da Globo dita moda até no ramo da
gastronomia. Aproveitando o sucesso do folhetim
das 18h, Chocolate com Pimenta, a Editora Globo
lançou um livro com o mesmo nome, reunindo
receitas testadas e assinadas por consagrados chefs,
doceiros e fabricantes de chocolate. São salgados e
doces, todos baseados nesta – a princípio – inusitada
combinação. Quem já provou diz que o mix do
picante com o doce resulta em um sabor exótico e
muito interessante. Só arriscando pra saber...
Editora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à vendaEditora Globo, 136 páginas, 2003, à venda
na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.na Livraria Cultura.
CHOCOLATE COM PIMENTA
FOTOS: CRISTIANO SANT’ANNA
79910 cesta basica.p65 14/04/04, 10:483
Cesta básica
Linda Patagônia
Quem for na Habitart a partir do dia 13 de abril vai
ver coisas lindas até nas paredes da loja. A Habitart,
loja de móveis e objetos de design, está expondo fotos
inéditas de Celso Chittolina. A exposição se chama
Torres del Paine e reúne fotografias em P&B que
Chittolina fez na Patagônia, em 1999. Se você for até a
Habitart para ver as fotos lindas do Chittolina, vai
descobrir a nova coleção de móveis e objetos da loja.
E se aparecer por lá para ver a nova coleção de móveis
e objetos, vai descobrir fotos sensacionais. Ou seja, de
qualquer jeito, é um programa imperdível. A Habitart
fica ali na Furriel Luís Antônio Vargas, 374 – loja 7,
esquina com a Carlos Gomes. E a exposição
permanece até o dia 22 de maio.
FOTO: CRISTIANO SANT’ANNA
Atenção, formigas de todos os tamanhos e procedências: já
está nas livrarias a bíblia dos viciados em açúcar. A deliciosa
obra chama-se Doces SaboresDoces SaboresDoces SaboresDoces SaboresDoces Sabores e tem, além de interessantís-
simas informações sobre a trajetória do açúcar no mundo e
no Brasil, um montão de receitas daquelas que fazem salivar
qualquer formigão. A pesquisa sobre a origem do açúcar e
sua democratização é muito bem feita, enfatizando as
qualidades simbólicas desse produto e seu papel nas relações
sociais. Mas guarde sua voracidade para as receitas. O livro
faz um apanhado completo das doçuras que freqüentam a
mesa luso-brasileira e também estrangeira, com ênfase para
os doces regionais brasileiros. Esqueça a dieta!
Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,Editado pela Livraria Studio Nobel, 180 páginas,
à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.à venda na Livraria Cultura.
MILENE LEAL, JORNALISTA
SÓ PARA FORMIGAS
79910 cesta basica.p65 12/04/04, 20:514
Consumo
É “moderno” dizer que estilo é não ter estilo
PATRICINHAS SEM BEVERLLY HILLS
No mês de março, a Revista da Folha publicou uma
reportagem que, quanto mais o tempo passa, mais incrível
me parece.
O texto ultra-irônico do jornalista Paulo Sampaio trata-
va de anunciar o fim da era das Patricinhas e o nascimento de
uma nova versão, mais atualizada, as Camilinhas.
As Camilinhas, segundo ele, rejeitam o modelo anterior
de consumo e comportamento. São fruto da geração-música
eletrônica, mais eclética, com padrões mais “democráticos”.
Camilinha que é Camilinha questiona tudo que é grife.
Se permite sair à noite vestindo um short de capoeira, bem
desencanado, enquanto os pezinhos continuam confortáveis
num bom sapato Gucci, de preferência velhérrimo. “O legal é
misturar tudo.” Roupas, pessoas…
Saem as festas em danceterias e entram em ação as
raves, em galpões ou lugares menos óbvios. Pra turma ser boa,
não vale só ser composta por gente rica, tem que ter “gente de
atitude”. Leia-se, moderninha. Que não julga pelas aparên-
cias. Mas só aparentemente. Viajar é descobrir alguma cone-
xão exótica que de preferência não faça muito sentido.
Nova Iorque é eclética, mas meio óbvia.
Legal é Hong Kong-Cape Town-Veneza.
Tudo é tão oco que chega a fazer eco.
Não consigo deixar de pensar que, quando um movi-
mento passa a ser facilmente enquadrado como estilo, já fi-
cou velho. E é patético se sentir moderno fazendo parte de
uma coisa que já foi.
Uma nova atitude, nova de fato, só pode ser nova quan-
do ainda sequer foi vista, ou reconhecida.
A mídia destrói o conceito do que é novo.
Se está na TV ou na revista, se já tem suas grifes símbo-
lo, se tem seguidores em vez de inventores, se virou tendência
em vez de ser investigado como uma coisa desconhecida, me
perdoem Camilinhas, mas não é novo, não. É de massa. Virou
consumo.
É “moderno” dizer que estilo é não ter estilo.
Então, o que podemos observar é uma legião de pessoas
sem estilo nenhum protegidas atrás do rótulo dos sem estilo.
Não vejo graça nenhuma nisso.
Mas via muita graça nas Patricinhas.
E naquele mundo absolutamente lotado de coisas sem
significado e importância nenhuma. Assumidamente fúteis,
exageradas por essência e convicção.
Quem viu nunca vai esquecer a imagem do guarda-
roupas da Alicia Silverstone no filme As Patricinhas de
Beverlly Hills. Hilário. A personagem, assim como quem com
ela se identificou um dia, era aquilo mesmo, sim. E daí?
Como metida a olhar para os comportamentos de con-
sumo, vejo mais originalidade em quem se define do que em
quem quer ser “de tudo um pouco”, “uma coisa bem mistura-
da, sabe?”.
O vale tudo não vale nada.
E as Camilinhas, na verdade, não passam de Patricinhas
sem Beverlly Hills, sem a trilha sonora do início dos anos 90,
sem as roupas escandalosas, sem os poodles, sem os conversí-
veis, sem humor.
Nada que a próxima tendência ou estilo não ajude a
enterrar.
T E T Ê P A C H E C O
TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA
22 Estilo Zaffari
79910_consumo.p65 14/04/04, 11:041
Sabor
Bacalhau
Nos dias de hoje não podemos avaliar o impacto
que foi a revolução liderada por Portugal e Espanha no
mundo dos séculos 15 e 16, na época dos descobrimen-
tos. Muito mais ousadas do que as viagens espaciais dos
nossos tempos foram as aventuras marítimas realizadas
pelos navegadores portugueses, frutos de anos de dedi-
cação do Infante D. Henrique, visionário brilhante, e
guiadas pela fabulosa Escola de Sagres criada por ele.
Mas, afinal, o que é que o mar tem a ver com a
mesa? Tudo. E no caso dos portugueses, eles foram ge-
niais nos dois campos. Aproveitaram muito bem toda a
contribuição dos árabes, que depois de muitos séculos de
convivência produziram ali uma cultura muito avança-
da, rica e que acabou impulsionando Portugal àqueles
mares misteriosos e, de fato, nunca dantes navegados.
Das viagens, traziam toda a riqueza e os misté-
rios do Oriente e do novo mundo, como as especiarias,
fundamentais para a conservação dos alimentos, o açú-
car, tecidos, madeira, frutas, ervas, etc. Como a traves-
sia dos mares durava meses, anos até, os navegadores
tinham que levar alimentos secos, fáceis de armazenar,
e que se conservassem pelo maior tempo possível. As-
sim o bacalhau acabou se tornando a dieta essencial
nas grandes viagens. Além disso, a severa restrição da
Igreja Católica em relação ao consumo de carne, duas
vezes por semana, mais a quaresma, levou os portugue-
ses a consolidar o hábito de comer peixes e, principal-
mente – que castigo –, o bacalhau.
P O R B E A T R I Z G U I M A R Ã E S F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O I L U S T R A Ç Õ E S N I K
24 Estilo Zaffari
a mesa tropical
Dos gélidos mares para
79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:412
79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:413
Originário dos frios mares do norte, o bacalhau
já era conhecido pelos Vikings, que secavam o peixe
ao sol e ao vento para serem consumidos em suas vi-
agens. Os Bascos, no norte da Espanha, que conhe-
ciam a técnica de salgar alimentos desde a Idade Mé-
dia, se tornaram pioneiros no comércio do bacalhau
salgado, principalmente na costa espanhola. Mas Por-
tugal, pela necessidade de produzir um alimento bá-
sico para as grandes viagens, além de comprá-lo da
Noruega, passou também a enviar barcos de pesca
para a difícil e perigosa tarefa de buscar bacalhau nas
águas gélidas do norte, e acabou se tornando um dos
grandes comerciantes do peixe. Embora o bacalhau
seja consumido e apreciado por todo o Mediterrâneo,
com cada país apresentando suas receitas típicas, é
em Portugal que encontramos as receitas mais varia-
das e originais, sendo os portugueses os maiores con-
sumidores de bacalhau do mundo.
O bacalhau no Brasil
Dentre tantas riquezas, como a língua, a
gastronomia e a generosidade, herdamos dos portugue-
ses a paixão pelo bacalhau. Do bolinho ao assado, do
bacalhau em postas ao cozido com batatas e azeitonas,
e até – segredo de cozinheira baiana tradicionalíssima
– vai um tiquinho de bacalhau no Vatapá!
Data de 1843 a primeira importação oficial de
bacalhau da Noruega para o Brasil. No entanto, foi com
a vinda da Família Real, em 1808, que o bacalhau pas-
sou a fazer parte da gastronomia da Colônia. No come-
ço, no entanto, o bacalhau servia de alimento às cama-
das mais populares, daí ter se tornado um verdadeiro
prato típico da nossa culinária. O Rio de Janeiro, cida-
de que abriga uma das maiores comunidades portugue-
sas no Brasil, tem no bacalhau uma de suas melhores e
mais conhecidas especialidades. No entanto, o hábito
de comer bacalhau atravessa o Brasil inteiro, e ele é
ORIGINÁRIO DOS MARES DO NORTE, O BACALHAU JÁ ERA
79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:514
consumido principalmente na Páscoa e no Natal.
Dizem que o escritor Machado de Assis tinha por
hábito comer bacalhau aos domingos, o que acabou sen-
do adotado por muitos cariocas ao longo do tempo – e
ainda hoje vários restaurantes mantêm essa tradição no
Rio de Janeiro.
O bacalhau, além de ser muito saboroso e aprecia-
do no mundo todo, é um alimento bastante nutritivo.
Em cada 100 g de bacalhau, encontramos 38 g de proteí-
na, 1 g de gordura, 60 g de cálcio, 1,6 mg de ferro, vitamina
B, e ele totaliza em torno de 160 calorias. É três vezes mais
nutritivo do que outros tipos de peixe, e também é mais
substancioso do que outras carnes e aves em geral.
Na memória coletiva do brasileiro, no seu incons-
ciente gastronômico mais remoto, está um belo prato de
bacalhau com batatas, regado com abundância pelo me-
lhor azeite português. Ah, e acompanhado de um bom
vinho tinto novo, como bem fazem os portugueses.
RA CONHECIDO PELOS VIKINGS
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Sabor
PREPPREPPREPPREPPREPARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BAARO BÁSICO DO BACCCCCALHAALHAALHAALHAALHAU:U:U:U:U:
Procure, de preferência, o legítimo bacalhau do Porto, ou
Imperial, pois a qualidade é muito importante no resulta-
do final. Além das postas, as cartilagens, ossos e aparas
podem ser utilizados também em caldos, nos assados (re-
tirando-os na hora de servir) e principalmente no risotos,
pois acabam dando um sabor muito especial ao prato. In-
dependentemente da forma como vai ser preparado o ba-
calhau, é necessário seguir as seguintes instruções:
Colocar as postas em recipiente com água abundante.
Deixar de molho, no mínimo, por 12–14 horas, trocando
a água umas 5 vezes.
Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:Modo de fazer Bacalhau a Gomes de Sá:
Desfie o bacalhau, coloque-o numa travessa e despeje o leite
bem quente por cima, deixando-o de molho por umas 2 ho-
ras. Numa frigideira grande, aqueça o azeite, acrescente a
cebola e deixe dourar. Depois ponha o alho. Junte ao refoga-
do a batata cozida com a pele, em rodelas. Coe o bacalhau
desfiado e leve-o à frigideira também, em fogo moderado.
Coloque a mistura em travessa refratária, leve ao forno, em
temperatura média, por uns 15 minutos. Ao servir, enfeite
com ovos cozidos fatiados, azeitonas pretas e salsinha.
BACALHAU A GOMES DE SÁ
400 G DE BACALHAU, DESSALGADO
600 G DE BATATAS / 3 OVOS COZIDOS
1 COPO DE LEITE QUENTE
2 CEBOLAS EM RODELAS
2 DENTES DE ALHO BEM PICADOS
AZEITE / SALSINHA PICADA
100 G DE AZEITONAS PRETAS
Porto
28 Estilo Zaffari
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79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:437
BACALHAU COM NATAS
400 G DE BACALHAU EM POSTAS, DESSALGADO
1 COPO E ½ DE LEITE
1 CEBOLA PICADA
2 COLHERES DE FARINHA DE TRIGO
600 G DE BATATA / AZEITE
NOZ-MOSCADA / 200 G DE NATA
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Depois de dessalgado, deixe o bacalhau aferventar junto
com o leite por uns poucos minutos. Deixe esfriar, desfaça
o bacalhau em lascas e reserve. Numa panela, refogue a
cebola até dourar e acrescente o bacalhau. Polvilhe a fari-
nha e em seguida adicione, aos poucos, o leite em que foi
cozido o bacalhau. Deixe engrossar ligeiramente e desligue.
Rale um pouco de noz-moscada e adicione ao peixe. Reser-
ve. Cozinhe as batatas com casca, tire a pele e corte-as em
rodelas. Em fogo baixo, dê uma dourada leve nas batatas e
escorra-as em papel-toalha. Arranje as batatas com o baca-
lhau em forma refratária, adicione as natas e leve ao forno
por alguns poucos minutos. Sirva em seguida.
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Faça um refogado com azeite, cebola, louro e depois
acrescente o arroz. Junte o bacalhau desfiado, mexa bem
e por fim ponha a água fervente. Abaixe o fogo e adici-
one os tomates picados. Corrija o tempero, se necessá-
rio, e sirva assim que estiver pronto. Não deixe secar
muito. Na hora de servir, acrescente um fio de azeite
sobre o prato.
ARROZ COM BACALHAU
1 XÍCARA DE ARROZ (200 G)
150 G DE BACALHAU, DESSALGADO E DESFIADO
2 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES
1 CEBOLA PICADA
1 FOLHA DE LOURO
3 XÍCARAS DE ÁGUA FERVENTE
AZEITE
Lisboa
Sabor
Região Norte
30 Estilo Zaffari
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Sabor
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BACALHAU A BRÁS
300 G DE BATATAS CORTADAS EM
FORMA DE PALITO
200 G DE BACALHAU, DESSALGADO
3 OVOS
SALSINHA PICADA
AZEITE
2 DENTES DE ALHO
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Desfie o bacalhau e reserve-o. Aqueça o azeite numa
frigideira grande, coloque os dentes de alho inteiros
para dar sabor e depois os descarte. Acrescente as ba-
tatas e frite-as levemente no azeite, sem deixar quei-
mar. Escorra e reserve as batatas. Repita a operação
com o bacalhau desfiado, fritando-o por uns 5 minu-
tos. Misture as batatas com o bacalhau da frigideira.
Bata ligeiramente os ovos com um garfo e despeje na
frigideira. Quando os ovos estiverem firmes (não dei-
xe cozinhar muito), desligue o fogo, acrescente a
salsinha e sirva em seguida.
EMPADÃO DE BACALHAU
400 G DE BACALHAU
600 G DE BATATAS
4 TOMATES SEM PELE E SEM SEMENTES
1 CEBOLA PICADA
1 PIMENTÃO VERMELHO PICADO
2 OVOS / AZEITE
1 COLHER DE MANTEIGA
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Desfie bem o bacalhau e reserve-o. Numa panela ponha o
azeite e deixe aquecer, acrescentando a cebola, o pimentão
e depois os tomates picados. Refogue os ingredientes e jun-
te o bacalhau desfiado. Deixe por mais alguns minutos e
desligue. Cozinhe as batatas com casca. Depois de cozidas,
tire a pele e faça um purê, acrescentando a manteiga para
dar sabor e consistência. Bata os ovos e misture ao purê.
Reserve. Numa travessa refratária coloque o bacalhau com
os legumes e por cima ponha o purê de batatas, formando o
empadão. Leve ao forno por uns 10 minutos ou até dourar.
Não deixe muito tempo no forno, para não secar.
Lisboa Estremadura
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Sabor
ISCAS DESFIADAS DE BACALHAU
250 G DE BACALHAU
1 CEBOLA
AZEITE
SALSINHA PICADA
AZEITONAS PRETAS (OPCIONAL)
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Tire o bacalhau do molho, desfie e reserve. Pique a
cebola em rodelas bem finas. Coloque numa panela
o azeite, a cebola e o bacalhau desfiado. Deixe por
uns 3 a 4 minutos, no fogo brando, cozinhando le-
vemente. Acrescente a salsinha e corrija o sal se pre-
ciso. Sirva frio, com azeitonas, um fio de azeite por
cima, com torradas e pães. Vai muito bem com um
vinho verde branco, fresquíssimo.
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Cozinhe as batatas com a pele, descasque e amasse bem.
Reserve. Depois de deixar o bacalhau de molho, leve-o a
cozinhar por alguns minutos, sem deixar ferver. Descarte
a água e desfie o bacalhau, e depois o amasse com um
garfo. Misture o peixe ao purê de batatas, acrescentando
os ovos um a um, depois as cebolas e a salsinha. A mistura
deve ficar firme. Deixe esfriar e faça os bolinhos. Frite-os
em óleo quente e deixe, depois, escorrer em papel-toalha.
Dá umas 25 unidades. Sirva quente.
BOLINHO DE BACALHAU
250 G DE BACALHAU
400 G DE BATATAS
1 CEBOLA BEM PICADA
2 COLHERES DE SALSINHA PICADA
3 OVOS / ÓLEO PARA FRITAR
Região NorteAndaluzia
34 Estilo Zaffari
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79910 bacalhau.p65 12/04/04, 18:4613
O sabor e o saber
F E R N A N D O L O K S C H I N
Com bichos ou com gente, por terra, mar ou ar, todas as grandes
migrações foram motivadas por comida. O estômago é um órgão peregri-
no; os maiores viajantes são os ‘gastronautas’.
Se portugueses chegaram ao Brasil em busca de temperos orien-
tais, o Canadá foi ‘descoberto’, primeiro, por bascos que caçavam baleias,
e depois por franceses pescando bacalhau.
Erik, o ruivo, depois de expulso da Noruega (“por matar gen-
te”) e da Islândia (“por matar mais gente”), pôde explorar a Groelândia
há 2000 anos porque aprendera a conservar o bacalhau ao expor o
peixe ao vento polar.
Sem visto ou passaporte, foi com o bacalhau que o filho de Erik,
Leif, chegou à América 500 anos antes de Colombo.
A carne de peixe nos alimenta desde as cavernas. Fósseis de peixe
são comuns em sítios arqueológicos e, ainda hoje, algumas culturas da
Amazônia e do Pacífico Sul dependem totalmente do pescado como fonte
de proteína.
O peixe nada na geografia. Os mapas da Noruega, Escócia e Japão
espelham fielmente áreas pesqueiras: as cidades emergiram junto às zonas
onde os cardumes mais se aproximavam das costas.
O peixe mergulha na História. O Brasil sofreu uma invasão holan-
desa porque a pesca fez daquela nação uma potência colonial marítima.
Capital de um país onde até a terra foi cedida pelo mar, diz-se que
Amsterdan foi construída sobre escamas e espinhas de peixe.
Tudo o que importa na cultura tem expressão mítica. O peixe é o
símbolo vivo da água no seu poder gerador e purificador, um poder femini-
no. Historicamente seu desenho imita a vulva da deusa mãe natureza.
Não é coincidência que o signo astrológico de Peixes seja duplo – um casal
–, que se situe em total oposição ao de Virgem e que, no hemisfério norte,
sua constelação prenuncie o equinócio de primavera, a estação da reno-
vação e fecundidade.
Ícone pagão, natural que o peixe, devidamente eviscerado das
conotações genitais, se tornasse uma marca registrada do cristianismo.
Afinal, o catolicismo surgiu junto ao mar da Galiléia e pelo menos sete dos
12 apóstolos de Jesus eram pescadores.
Imagem de fecundidade, o milagre substituindo a reprodução, Je-
sus saciou a fome de 4.000 fiéis pela multiplicação de “quatro pães e dois
peixes”. Recém-ressuscitado, Jesus teve como refeição uma “posta de pei-
xe assado”.
Desde o Jordão até a pia batismal, o batismo religioso dá-se na
água, e o fiel era chamado de pisciculu (‘peixinho’), na mesma metáfora
dos índios tupis, que apelidaram as crianças de guri (‘bagrinho’).
O reino cristão é figurado como uma rede de pesca, e os sacerdo-
tes, como pescadores de almas. O anel papal, o anel piscadore – colocado
na sagração e quebrado na morte do pontífice –, traz a imagem de Pedro
jogando uma rede no mar.
Um desenho fácil, os primeiros cristãos se representavam com a
figura do peixe. Na catacumba romana, é o peixe que identifica a sepultu-
ra de um cristão. As cinco letras da palavra grega para peixe, ictys, formam
um ideograma que diz ‘Jesus Cristo Filho de Deus, Salvador’ (Iesus Christus
Theou Yucis Soter).
Nos primórdios do catolicismo o peixe foi um símbolo maior do que
a própria cruz e integrava um curioso rito de reconhecimento religioso.
Ao encontrar um desconhecido, o fiel riscava um arco no solo. O outro, se
também cristão, desenhava um arco reverso, completando assim o dese-
nho de um peixe.
O peixe está nas origens do catolicismo, e o catolicismo é a alma da
península luso-ibérica, região onde a igreja medieval foi mais poderosa.
Na Espanha, o incêndio inquisidor foi o maior, e em Portugal até os nomes
dos dias da semana foram excomungados. Outras zonas européias se
cindiram em papistas e protestantes, mas ali não existiram protestantes.
O gosto português pelo bacalhau veio a calhar aos preceitos religi-
osos que interditavam a carne (e o sexo) em mais de um terço dos dias do
ano: os 40 dias da Quaresma, Páscoa, Natal, Sextas, Sábados e um grande
número de ‘dias santos’.
O peixe servia bem à penitência por ser um animal silencioso, hu-
milde, de carne branca e fria que se contrapõe ao rubor e calor da carne de
gado. Como era abundante e barato, permitia que pobres e ricos comun-
gassem a mesma refeição.
Até hoje se mantém a tradição portuguesa do bacalhau na mesa da
Páscoa – a mais expressiva data cristã.
Além da fé, foi importante a vizinhança entre lusos e bascos, os
pioneiros na pesca e salga do bacalhau. A própria palavra bacalhau é de
origem basca, e, a se acreditar nas histórias desses pescadores, os cardu-
mes eram antes tão grandes que dificultavam a movimentação dos navi-
os, deixavam a água do mar quase sólida, a permitir, inclusive, que se
caminhasse sobre sua superfície!...
Eça de Queirós, o principal escritor português, apesar de se consi-
derar quase um francês, reconhecia em si o que definia como os três tra-
ços lusitanos: uma tristeza lírica, o gosto pelo fado e o “justo amor” pelo
bacalhau. Já Machado de Assis, o primeiro imortal brasileiro, sempre al-
moçava aos domingos em restaurantes onde pudesse saborear a conversa,
o vinho e um bacalhau do Porto.
Deixemos de lado a tristeza lírica e o gosto pelo fado, mas cultive-
mos o justo amor pelo bacalhau, a mais deliciosa das penitências. Na me-
lhor tradição literária, religiosa e lusitana, a santíssima trindade culinária
– a conversa, o vinho e o bacalhau do Porto – imortaliza a refeição. Se o
peixe morre, o homem vive pela boca.
SUSPIROS DA AMÉLIA
Bacalhau, a mais deliciosa das penitências
FOTOS: LETÍCIA REMIÃO (PORTRAIT), CRISTIANO SANT’ANNA (SUSPIROS)
FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET
79910_sabor e o saber.p65 14/04/04, 11:022
DESSALGAR 500 G DE BACALHAU.
AFERVENTAR E DESFIAR EM PANO
ÚMIDO. MISTURAR BEM COM O PURÊ
DE 4 BATATAS PEQUENAS E COM 3
OVOS LEVEMENTE BATIDOS. FAZER
BOLOTAS E DOURÁ-LAS EM ÓLEO
QUENTE. SERVIR COMO ENTRADA
EM CAMA DE VERDES.
O SEGREDO DA AMÉLIA:
O BACALHAU DEVE SER DESFIADO
PRESSIONANDO PORÇÕES ENTRE
2 PANOS DE PRATO UMEDECIDOS,
ATÉ QUE A CARNE FIQUE EM FLO-
COS DIMINUTOS. QUANTO MENORES
OS FLOCOS, MAIS LEVEZA E SABOR
NOS SUSPIROS.
79910_sabor e o saber.p65 14/04/04, 10:593
Viagem
P O R C R I S B E R G E R F O T O S C R I S E D A N B E R G E R
Costa muy
79910 VIAGEM.p65 14/04/04, 10:002
Rica
79910 VIAGEM.p65 14/04/04, 10:383
Uma coisa é certa. Você não vai voltar a mesma
pessoa ao retornar da Costa Rica. Portanto, prepare-se
para um encontro consigo mesmo. É hora de se aventu-
rar, provar novos sabores, beijar a natureza e se sentir
absolutamente feliz e radiante. Não tenha pressa em ler
esta matéria. Pressa é uma palavra que não combina
com o espírito costa-riquenho. Venha devagar, na ginga
dos que ouvem Bob Marley, música presente em todos
os cantos do lado Atlântico. Feche seus olhos e imagine
um lugar mágico, com pessoas inesquecíveis, um estilo
de vida único. Imagine que esses bons pensamentos po-
dem se transformar em uma doce e fabulosa realidade.
Agora que você já entrou no espírito da viagem vou
lhe mostrar onde fica este pedaço de aquarela no mapa-
múndi. A Costa Rica é um pequeno país localizado na
América Central, e nele 30% de todo o território é área de
proteção ambiental. Do lado esquerdo você encontra o oce-
ano Pacífico, no direito, o Atlântico. Nossa bússola aponta
para a direita, que nos leva ao mar caribenho. Esqueça refe-
rências como Cancún ou Aruba. As únicas semelhanças
entre eles são águas quentes e transparentes. Nosso rumo
inicial são três aldeias, chamadas Cahuita, Puerto Viejo e
Manzanillo. Elas são o ouro do Caribe. Encantam com sua
alma livre e personalidade marcante. “Peace and Love” é a
melhor expressão para descrevê-las. Uma opção não-turís-
tica do tipo “off Broadway”. É uma descoberta, um segredo
que a gente conta só para os amigos. Depois das aldeias,
seguimos para as montanhas. Monteverde é nosso pouso
final. Onde o verde nos abraça com graça e harmonia.
Caça ao tesouro
San José, capital costa-riquenha, é a primeira parada
da viagem. Como os vôos vindos do Brasil chegam por
volta das 20h (os da empresa Copa), uma noite na capital
será inevitável. Verdade seja dita: o trânsito é caótico e a
sinalização é precária. Depois de horas viajando, cama e um
belo banho é tudo o que se deseja. Sugestão? Vá direto para
um hotelzinho e recarregue as baterias, porque há muito
para ver na manhã seguinte. O Riviera Hotel é uma opção
que agrega boa acomodação e preço acessível, e fica a pou-
cos minutos do aeroporto.
Alugar um carro é fundamental na Costa Rica. Pal-
Viagem
PEACE AND LOVE E PURA VIDA:
É COMO SE DIZ BOM-DIA POR LÁ
40 Estilo Zaffari
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:284
79910 VIAGEM.p65 13/04/04, 13:155
pite: escolha um 4x4 com ar-condicionado. Acho pru-
dente fazer a reserva do Brasil. Maiores são as chances de
se conseguir uma boa tarifa. Peça para retirá-lo ao de-
sembarcar. As estradas que se tem pela frente se alteram
entre boas, nem tão boas e nada boas. De San José até a
costa do Atlântico se leva em média de três a quatro ho-
ras, dependendo do número de paradas durante o per-
curso e do peso do pé do motorista. Saindo de San José,
tome o caminho de Limón, para finalmente chegar em
Cahuita. Dicas importantes: não hesite em pedir infor-
mação (essa vai para os homens) e não espere contar
com muitas placas de sinalização. Encontrar a saída para
Limón pode se tornar um problema. Se a situação com-
plicar, peça a um motorista de táxi que indique o cami-
nho de saída. Gaste alguns colones, moeda local, e tenha
certeza de que foi um dinheiro bem investido. Sobrevi-
vendo à primeira parte, tudo fica mais fácil.
Viagem
DEIXE A
CURIOSIDADE
AFLORAR. FAÇA
NOVOS AMIGOS.
PROVE OUTROS
SABORES.
42 Estilo Zaffari
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:306
O trecho até Limón pode ser acompanhado de ca-
minhões, pois é uma cidade portuária. É provável que o
tráfego fique mais lento. Relaxe, contemple a natureza
do Parque Nacional Bráulio Carillo, que emoldura a es-
trada, e comece a entrar no clima “pura vida” da região.
A partir de Limón tudo vira festa.
Alma caribenha em seu melhor estilo
O primeiro contato com a alma costa-riquenha foi
ao conhecer o sueco Martin. Um entre tantos estrangeiros
que estiveram por lá apenas a passeio, se apaixonaram,
voltaram para seu país de origem, fizeram as malas e se
mudaram de vez para o paraíso. Foi com olhos curiosos
que encontramos o Martin. Passávamos de carro quando
o avistamos preparando trouxinhas de tamale, comida tí-
pica natalina. Feitas à base de farinha de milho e rechea-
das com cenoura, pimentão, batata, passas, carne de por-
co, galinha, arroz e ervilha. Enroladas em folhas de bana-
neira, são levadas ao fogo em uma panela de ferro até co-
zinhar. São tradicionais da região e deliciosas. Fomos rece-
bidos calorosamente, fizemos amizade, compramos arte-
sanatos e começamos a entender a beleza do local. Beleza
que vem da alma, que se revela na paz de espírito, no ba-
lanço do reggae, no descompromissado jeito de viver. Logo
à frente encontramos Cahuita. Um pitoresco vilarejo que
respira paz e tranqüilidade. Pequenina, rústica e colorida.
Onde a natureza se mostra exuberante, soberana e total-
mente presente. Por indicação do nosso amigo sueco che-
gamos até o Alby Lodge. O Alby são românticos bangalôs
em um jardim tropical ao som dos Kongos, pequenos ma-
cacos que rugem como leões. Na varanda do nosso bangalô
uma rede esperava por nós. Obedientes ao chamado da
vida simples e sem pressa, passamos o restante do dia en-
tregues à leitura e ao balanço da rede. A noite se fez pre-
Estilo Zaffari 43
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:307
sente pouco antes das 18h. Por lá as estrelas chegam mais
cedo. Decidimos que era hora de procurar algum lugar para
jantar e mais uma vez fomos deliciosamente surpreendi-
dos com o charmoso restaurante Cha Cha Cha. Obra do
chef canadense Bertrand, que comanda a cozinha e assina
os pratos, verdadeiras obras de arte. O ambiente é acolhe-
dor e o atendimento, perfeito. Se banana flambada é sua
sobremesa preferida, não perca a preparada pelo Bertrand
– é de saborear de olhos fechados!
Pérolas do Caribe tão pertinho de nós
A meia hora de carro ao sul de Cahuita encontra-se
Puerto Viejo. No tradicional estilo afro-caribenho da cos-
ta do Atlântico está escondida esta pérola do Caribe. Não
menos encantador do que Cahuita, Puerto Viejo se reve-
lou mágico. Tem a alma de Bob Marley. O estilo dos
rastafáris. O ritmo de quem sabe viver. As cores explodem
aos olhos ainda não acostumados com beleza tão singular.
A negritude das areias de Playa Negra contrasta com o
branco da espuma das ondas e nos faz perder o fôlego.
Na praia de Cocles estão localizados os bangalôs de
La Costa del Papito, desenhados pelo nova-iorquino Eddie,
que deixou há 11 anos o Bronx e fez da Costa Rica seu
novo lar. São nove bangalôs espalhados por um jardim lin-
do, repleto de árvores e pássaros. Peça o café da manhã no
bangalô – ele é servido na sacada – e comece o dia con-
templando pássaros típicos da região. No fim do dia, curta
o entardecer em uma rede e lembre-se de agradecer a Deus
por uma vida tão plena. Após 48 horas no paraíso, passa-
mos a sentir que a ferrugem do concreto urbano começa a
desaparecer e o nosso lado “pé no chão e cabelos ao ven-
to” sobressai. É nesta hora que os sentidos começam a
aflorar e podemos entender melhor o estado de espírito da
costa das Caraíbas, nome dado a esta região da Costa Rica
banhada pelo mar do Caribe. Há muitas praias a descobrir
entre Puerto Viejo e Mazanillo. A partir de Cocles a areia
branca predomina. Punta Uva é deslumbrante e se tornou
minha preferida. Por toda costa litorânea a floresta vai de
encontro ao mar com tamanha euforia e beleza, que nos
sentimos meros espectadores de um espetáculo comanda-
do pela natureza. Somos grãozinhos de areia em meio a
tão grandiosa fauna e flora. Existe uma estrada que liga
todas essas praias. Pegue o carro ou uma bicicleta e deixe o
vento levar você. Não resista e se entregue aos mistérios e
surpresas de cada recanto.
Uma lembrança para toda vida
O Parque Nacional de Cahuita é um espetáculo à
parte. Imperdível! Separe um dia para desfrutar dessa re-
serva ecológica e se entregar a essa experiência fabulosa.
Existem duas entradas para o parque: por Cahuita ou
Puerto Vargas. São sete quilômetros que ligam as duas en-
tradas e devem ser percorridos a pé. Não economize em
filmes fotográficos, encha o cantil de água, porque lá den-
Viagem
AS ALDEIAS CARIBENHAS DA COSTA RICA
SÃO RÚSTICAS, CHARMOSAS E ENCANTADORAS
44 Estilo Zaffari
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:308
79910 VIAGEM.p65 14/04/04, 09:349
tro não há nada para vender, calce uma sandália confortá-
vel e prepara-se para sentir o pulsar de uma floresta e con-
templar praias de uma beleza impressionante. Ao todo,
são 14 quilômetros de trilha (ida e volta) que devem ser
percorridos saboreando as surpresas que se revelam no
decorrer do caminho. Se você tiver sorte vai encontrar
macaquinhos fazendo piruetas entre os galhos das árvores.
Eles gostam de frutas e podem ser alimentados com elas.
Outro momento memorável são as vozes da floresta. Pare
por alguns minutos, faça silêncio e se deixe arrebatar pela
melodia que emana de dentro do coração da mata tropi-
cal. Entre um mergulho e outro você ainda vai cruzar por
outros viajantes e terá a oportunidade de fazer novos ami-
gos. Afinal, ninguém passa indiferente. Certamente você
escutará “buenas”, “good morning” ou “puravida”, sendo
esta a saudação típica local. Saudações que revelam a har-
monia do ambiente e as diferentes nacionalidades. Para
Viagem
FECHE OS OLHOS,
OUÇA AS VOZES
DA FLORESTA,
REVERENCIE
A BELEZA
DESTA TERRA
46 Estilo Zaffari
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:3110
fechar com chave de ouro, ao sair do parque por Puerto
Vargas tome um drinque no Boca Chica. Rodolfo Botti vai
receber você de braços abertos e lhe contar que foi o pri-
meiro italiano a chegar em Cahuita, no início da década
de 90. A piña colada é maravilhosa! Em caso de fome, os
aperitivos são uma ótima pedida. Peça ao Rodolfo para
tocar o CD Mobi Hits, entre no clima, arrisque alguns pas-
sos de dança, caia na piscina e assista ao sol se pôr entre as
árvores.
Paladares à flor da pele
Não são apenas os olhos os principais contemplados
na Costa Rica. O paladar é também abençoado com os
sabores do mar. No Sobre las Olas, em Cahuita, de outro
italiano, o Marco Botti, os pratos são elaborados com
maestria. Chegue cedo, pelo menos uma hora antes de
anoitecer, escolha uma mesinha no lado de fora, estude o
cardápio com calma e peça um vinho branco (o Marco
tem ótimas opções). Vá saboreando o momento, deixe a
noite chegar e as velas serem acesas. Você estará a poucos
metros do oceano e se sentirá plenamente integrado ao
ambiente, como se ali fosse sua casa há muito tempo. Se
não resistir, atire-se na rede presa entre dois coqueiros e
fique a observar as estrelas de um céu cravejado de bri-
lhantes. Em Puerto Viejo, duas outras experiências
gastronômicas que não podem deixar de ser provadas são
o La Pecora Nera e o EZ Times. O peculiar La Pecora Nera
(em português, Ovelha Negra) é comandado pelo
italianíssimo Illário Giannoni. O menu é uma difícil deci-
são. O ator norte-americano William Hurt, durante as fil-
magens de “Blue Butterfly”, foi presença constante no res-
taurante do Illário. Não é para menos: a combinação en-
tre a cozinha italiana, frutos do mar e sabores caribenhos
transforma cada prato em uma verdadeira inspiração. Che-
Estilo Zaffari 47
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 14:3111
Viagem
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 15:5112
gamos no La Pecora já tarde da noite, as últimas mesas se
despedindo satisfeitas e nós conversando despreocupada-
mente com o Illário. Fomos ficando. As luzes da cozinha
se apagaram. Illário, acompanhado de seus pais e equipe
de trabalho, montou uma grande mesa. O ambiente se
encheu da música de Beethoven, os copos brindaram e
nós ficamos ali observando de longe a celebração da noite
de Natal. Ao pé da mesa, um cão. A imagem perfeita de
um filme europeu. Já o EZ Times tem seu estilo. O cardá-
pio não é vasto. Aposte na salada, na bruschetta e no Es-
pecial do Dia. A música é sempre boa. As mesas ficam
distribuídas em um jardim. Tem cara de bar-restaurante e
é freqüentado por europeus e gente local. Lugares para o
“desayuno” (café da manhã) são vários. Gostamos e reco-
mendamos: Internet Café Rio Negro e o Pan Pay Bakery.
Pode parecer meio pesado começar o dia comendo arroz e
feijão, mas em nome de “novas experiências” experimen-
te o Gallo Pinto. Caso seja demais para seu estômago, as
panquecas com syroup e frutas são deliciosas!
Uma doce descoberta antes de dizer adeus
Uma vez mais em Cahuita, antes de seguir para a
área central da Costa Rica, tivemos o prazer de conhecer o
Kelly Creek. Um hotel-restaurante perfeitamente locali-
zado entre a praia e o rio, na entrada do Parque Nacional
de Cahuita. Fomos muito bem recebidos pelo espanhol
Andrés e pela cocker Ruby, por quem morri de amores.
Pouco depois conhecemos o restante da família, Marie
Claude, a boxer Sálvia e o papagaio Thomas. Andrés e Marie
vivem em Cahuita há sete anos. “Precisávamos mudar nosso
estilo de vida”, revelou Andrés, enquanto Ruby e Salvia
pulavam no meu colo. O ritmo frenético de Madri não fazia
mais sentido, e a Costa Rica se mostrou encantadora para
eles. Da Espanha ficou a especialidade da casa: paella. Reser-
vas se fazem necessárias. Andres garante e conta o segredo:
“Preparamos a melhor paella. Não há igual nem na Espanha.
Não temos pressa, e cozinhamos por duas horas”. Depois de
um jantar em grande estilo, dormimos embalados pelo ba-
rulho das ondas. O amanhecer no Kelly Creek é uma nova
sensação. A apenas alguns passos do mar, a luz da manhã
intensifica a exuberante explosão de cores. Antes de nos
despedirmos dos nossos mais recentes amigos, nos deixa-
mos ficar um pouco mais. Saboreamos os ovos mexidos, as
torradas e o suco de frutas com a certeza de que este seria um
ótimo lugar para se levar a vida.
Deliciosas surpresas em meio às montanhas
De volta à estrada. Se por um lado já sentíamos sau-
dade das aldeias caribenhas, por outro estávamos curiosos
pelas surpresas que nos esperavam na parte central da Costa
Rica. Não nos decepcionamos. A viagem de regresso até
San José foi tranqüila. Logo que chegamos de volta à cida-
de não hesitamos em pagar um táxi para nos indicar a
saída a Monteverde, nosso próximo destino. Em alguns
LIVROS ESTÃO POR TODA PARTE. LEVE UM
DO BRASIL E PRESENTEIE UM NOVO AMIGO
Estilo Zaffari 49
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Viagem
minutos seguíamos rumo às montanhas. Nesta parte da
viagem redobramos a atenção. A estrada não é lá grande
coisa. Sem acostamento e com pista única. Quando saí-
mos da rodovia principal em direção a Monteverde, a be-
leza do campo voltou a tomar conta do cenário. São infini-
tos tons de verde que comandam o espetáculo e seduzem
os viajantes. A estrada de terra com seus ziguezagues en-
feita ainda mais a paisagem. Chegamos à pousada e spa El
Sol justamente quando ele, o sol, se despedia de nós e nos
deixava seguros no aconchego e na hospitalidade de
Elisabeth, Inácio e Javier. Escondidas no meio da floresta
tropical, três cabanas. Duas para hóspedes. Uma para eles,
onde as refeições são servidas. Uma piscina com água das
montanhas e uma sauna. Vista espetacular. Rede que con-
vida ao descanso. Por que não? Vimos os degradês de azul
do céu se transformarem em noite escura e deliciosamen-
te fria. Depois um jantar sublime, preparado pelo Inácio.
Uma grande mesa, todos reunidos. Os copos brindaram a
vida. Tanto a contar e ouvir. A luz amarelada das velas
aquecia o ambiente invadido por diferentes sotaques de
uma língua universal. Dormimos sorrindo e plenos por tanta
harmonia.
Para guardar no coração
Em toda viagem existem aquelas coisas que listamos
como as mais importantes, as imperdíveis e as que ja-
mais poderiam deixar de ser vistas, amadas e admiradas.
Claro que cada um de nós tem sua própria percepção. E é
exatamente isso que nos faz singulares. Mesmo assim
vou arriscar uns palpites. Quem sabe nossos gostos não
se cruzam? Até porque estamos falando de um pedaci-
nho do céu na terra. E no céu está o paraíso. Começando
com sabores: Guanábana. Parecida com o quê? Já tentei
achar uma fruta que fosse parente dela e fracassei. O que
Viagem
50 Estilo Zaffari
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importa é que o paladar se encanta com a doçura desta
fruta que é misturada com água ou leite e servida no café
da manhã. Depois que eu a descobri, aonde íamos supli-
cávamos por ela, que não está disponível em todos os
lugares. O que a deixa ainda mais desejável.
Quando penso em lugares não hesito em falar nova-
mente do Parque Nacional de Cahuita, que amei de corpo
e alma. Foi o Marco Botti que nos falou sobre o parque.
Num tom de quase segredo, ele nos confidenciou ser lá o
seu lugar preferido. Conferimos e entendemos o porquê
de tanta fascinação.
Se você ama a companhia de um livro, vai se impres-
sionar pelo modo como eles estão presentes por lá. Onde
se vai há uma minibiblioteca com os mais ecléticos exem-
plares. Você pode alugá-los ou comprá-los. Minha dica é:
leve um do Brasil e presenteie a um novo amigo. Eu deixei
“Agosto”, de Ruben Fonseca, no Kelly Creek e trouxe “Re-
TODOS OS
SENTIDOS SÃO
ABENÇOADOS
NESTE LUGAR
FASCINANTE
E DOCE
Estilo Zaffari 51
79910 VIAGEM.p65 12/04/04, 15:3915
AÉREO
COPA AIRLINES – US$ 740 – US$ 840 WWW.COPAAIR.COM
ACOMODAÇÃO
SAN JOSÉ
HOTEL LA RIVIEIRA – US$ 60 –WWW.LARIVIEIRAHOTEL.COM
CAHUITAS
KELLY CREEK – US$ 50 WWW.2000.CO.CR/HOTELKELLYCREEK
ALBY LODGE – US$ 30 A US$ 50 – [email protected]
PUERTO VIEJO
LA COSTA DEL PAPITO – US$ 32 A US$ 62
WWW.GREENCOAST.COM/PAPITO.HTM
MONTEVERDE
EL SOL – US$ 60 A US$ 80 - WWW.ELSOLNUESTRO.COM
RESTAURANTES
CAHUITAS
CHA, CHA, CHA – US$ 30 - COZINHA INTERNACIONAL E
CARIBENHA, PEIXES E MARISCOS E SOBRE LAS OLAS
– US$ 30 – COZINHA ITALIANA, PEIXES E MARISCOS
PUERTO VIEJO
LA PECORA NERA – US$ 50 – COZINHA ITALIANA E FRUTOS DO
MAR; EZ TIMES – US$ 30 – COZINHA INTERNACIONAL E PIZZARIA
OS VALORES DA HOSPEDAGEM E DOS RESTAURANTES SÃO PARA DUAS PESSOAS
trato em Sépia”, da Isabel Allende. Não deixe de dar um
pulo na galeria de artes “Luluberlu”, em Puerto Viejo. São
peças lindas feitas por índios e artistas plásticos locais.
Uma visita à reserva indígena também é uma ótima
pedida. Na rua principal de Puerto Viejo tem uma agên-
cia de turismo onde você pode contratar o serviço de um
guia. Aproveite para dar uma espiada em várias outras
tentadoras opções. Para quem gosta de surfar, a Costa
Rica é o local. Na praia de Cocles e Salsa Brava estão as
melhores formações. O agito noturno fica por conta dos
bares à beira-mar que lá pelas tantas se transformam em
danceteria. Nem preciso dizer que o reggae é o ritmo que
predomina nas pistas de dança.
A Costa Rica é ideal para quem não quer fazer
nada e para quem quer fazer tudo. Quem gosta de na-
tureza e não abre mão do conforto. Para solteiros, ca-
sais a fim de uma lua-de-mel e famílias. Perfeita para
quem acha que há muito para desvendar neste mágico
pedacinho da América Central.
Viagem
COMO IR
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Bem Viver
O maior elixir da juventude é a boa alimentação
A FONTE DA JUVENTUDE EXISTE?
Desde os primórdios da humanidade, o homem busca deses-
peradamente uma maneira de retardar o envelhecimento. A ciência
ainda não encontrou um jeito de nos deixar eternamente jovens,
entretanto, boas novas têm surgido. As mais recentes pesquisas em
envelhecimento têm demonstrado que, atualmente, não podemos
impedir completamente os estragos do tempo, mas já dispomos de
algumas armas que podem minimizá-los e retardá-los. Os cientistas
sabem que não é só a herança genética que determina o quanto será
longa e saudável nossa existência. O envelhecimento é um processo
multifacetado, do qual fazem parte inúmeros mecanismos.
Terapias médicas como a modulação hormonal, drogas
adaptógenas, antioxidantes e tratamentos dermato-estéticos têm se
mostrado bastante eficazes no combate ao envelhecimento, mas nem
todas as pessoas têm acesso a esse tipo de tratamento.
Felizmente, há um elixir mágico capaz de melhorar nossa
qualidade de vida e retardar o envelhecimento. E a esse todos têm
acesso. Um fato interessante é que no mundo científico não há
controvérsias sobre essa "droga". Embora ela esteja entre nós há
milhares de anos, só agora estamos nos dando conta de seu real
poder . Essa droga chama-se alimentação saudável.
Nos últimos anos, descobriu-se a propriedade do licopeno,
substância encontrada no tomate, na goiaba e na melancia, que
protege órgãos como próstata, pele e aparelho cardiovascular. Na
soja, existem princípios ativos como a genisteína e a daidzeína, que
vêm sendo usadas na prevenção de alguns tipos de câncer e de
doenças cardiovasculares, além do uso em vários cosméticos que
têm como objetivo retardar o aparecimento de rugas.
Na uva encontramos o poderoso resveratrol, que tem efeito
cardioprotetor, além de atuar de forma efetiva na prevenção do mal
de Alzheimer, derrame cerebral e câncer de pâncreas, mama, rim,
próstata e cólon. Recentemente foi divulgada a descoberta, realiza-
da por pesquisadores da Harvard Medical School e Biomol labora-
tórios, de que o resveratrol ativa o gene da longevidade. Tal desco-
berta talvez esteja abrindo a maior porta para o desenvolvimento
de substâncias que efetivamente retardem o envelhecimento.
Não podemos deixar de citar também o indol -3 carbinol,
elemento encontrado no brócolis, couve-flor e repolho e que tem
inúmeros efeitos positivos no ser humano.
Sem sombra de dúvida, um dos princípios ativos mais estu-
dados e com efeitos comprovados é o ômega-3, encontrado em
determinados peixes. Ele exerce efeitos positivos em praticamente
todo nosso corpo, da visão ao funcionamento cerebral. Atua dimi-
nuindo a pressão arterial, protegendo contra o infarto e o derrame
cerebral. Pesquisas demonstraram, recentemente, que sociedades
com baixo consumo de peixe apresentam índices elevados de de-
pressão, suicídio e violência. O consumo elevado de peixe previne
o aparecimento de inúmeros tipos de câncer.
Com certeza eu ocuparia todas as páginas desta revista descre-
vendo o poder de determinados alimentos no retardo do envelheci-
mento. Isso é impossível, mas não posso deixar de comentar a impor-
tância da restrição calórica como a mais poderosa arma no retardo do
envelhecimento. Restrição calórica não é sinônimo de jejum ou des-
nutrição. Significa ingerir quantidades adequadas de proteínas e ácidos
graxos essenciais, bem como carboidratos suficientes para manter uma
função cerebral equilibrada. Está comprovado que esse tipo de alimen-
tação é capaz de prolongar a vida, aumentar a capacidade de aprendi-
zado, reforçar o sistema imunológico, melhorar a função renal, além
de diminuir o acúmulo de gordura corporal e a perda de massa óssea.
Também diminui os riscos de diabetes, cardiopatias e câncer.
Tenho um conceito muito pessoal sobre alimentação e gostaria
que as pessoas parassem um pouco para pensar sobre isso. No dia em
que conseguirmos ter o mesmo respeito e valorizarmos a alimenta-
ção como fazemos com os remédios, aí poderemos tirar verdadeiro
proveito desse poderoso "elixir da juventude".
A N T Ô N I O C A R L O S M I N U Z Z I
ANTÔNIO CARLOS SCHILLING MINUZZI
54 Estilo Zaffari
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79910 gula.p65 12/04/04, 22:133
Gula
Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:
Bata as gemas e o açúcar até ficarem com consistência gros-
sa. Acrescente o creme aos poucos, bata bem e leve ao fogo.
Mexa sempre até atingir uma consistência cremosa. Deixe
esfriar e cubra com um pano úmido. Abra a massa folhada,
corte-a em rodelas e arranje-as nas forminhas. Encha cada
forminha com uma colher do recheio e asse em forno quen-
te (250ºC) até dourar o creme e a massa. Ao servir, acres-
cente uma pitada de canela e açúcar de confeiteiro. Consu-
ma no mesmo dia. Dá em torno de 16 tortinhas.
PASTÉIS DE NATA
RECHEIO
140 G DE CREME DE LEITE / 4 GEMAS
80 G DE AÇÚCAR / CANELA EM PÓ
Massa folhada:Massa folhada:Massa folhada:Massa folhada:Massa folhada:
Pode-se usar aqui a massa folhada já pronta, de 400 g, apro-
ximadamente. Caso contrário, o preparo da massa exigirá
muito tempo e atenção. É importante, sempre que as mas-
sas forem abertas, usar uma bancada de pedra ou inox, e
ter cuidado para que a temperatura da cozinha esteja fria.
Coimbra e Beira
BARRIGAS DE FREIRA
280 G DE AÇÚCAR
3 COLHERES DE FARINHA DE ROSCA CASEIRA
5 GEMAS
1 TIRINHA DE CASCA DE LIMÃO
2 COLHERES DE MANTEIGA
1 PITADA DE CANELA
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Com água suficiente para desmanchar o açúcar, faça
uma calda rala e ponha a casca de limão. Depois de
pronta, retire a casca e acrescente a farinha de rosca,
a manteiga e, por fim, as gemas ligeiramente batidas.
Aqueça, sem deixar ferver, mexendo sempre por uns
2 a 3 minutos até engrossar. Coloque em taças e pol-
vilhe a canela.
Beira
58 Estilo Zaffari
79910 gula.p65 12/04/04, 22:144
O PASTEL DE NATA SURGIU NA REGIÃO DE LISBOA. COMO O RESTAURANTE QUE O POPULARIZOU – E QUE DIZ MANTER A VERDADEIRA
RECEITA – FICA PERTO DA FAMOSA TORRE DE BELÉM, NA CAPITAL LUSITANA, O DOCE TAMBÉM É CHAMADO DE PASTEL DE BELÉM.
79910 gula.p65 13/04/04, 14:585
Gula
ASSIM COMO OS OVOS MOLES, OS FIOS DE OVOS, OU OVOS REAIS, TAMBÉM SÃO ORIGINÁRIOS DO AVEIRO, NA REGIÃO DA BEIRA LITORAL.
UTILIZADOS COMO RECHEIO E COMO GUARNIÇÃO PARA BOLOS E TORTAS, OS FIOS DE OVOS SÃO MUITO APRECIADOS NO BRASIL.
79910 gula.p65 12/04/04, 22:146
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Cozinhe a aletria no leite e em seguida adicione o açúcar e
a raspa de limão. Deixe cozinhar até ficar cremoso. Acres-
cente a manteiga e as gemas batidas. Deixe no fogo até
quase ferver. Coloque em uma travessa, polvilhe a canela.
Sirva quente ou frio.
ALETRIA COM OVOS
80 G DE ALETRIA, OU VERMICELLI, QUEBRADOS
100 G DE AÇÚCAR
1 COPO (300 ML) DE LEITE
2 GEMAS PASSADAS NA PENEIRA
2 COLHERES DE MANTEIGA
CANELA
RASPA DE LIMÃO
Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Para este doce é necessária uma espécie de funil com vários
furinhos, para que os ovos possam escorrer e formar os fios
sobre a calda. Afora isto, seu preparo é muito fácil e bastan-
te apreciado. Pode ser servido sozinho ou também como
guarnição para bolos. Bata bem as gemas e o ovo, passe a
mistura pela peneira e reserve. Faça uma calda grossa, e
depois reduza o fogo, mas mantendo a fervura. Despeje na
calda metade dos ovos, pelo funil, girando-o para que for-
me os fios. Deixe cozinhar por 1 ou 2 minutos e retire os
fios de ovos com uma escumadeira. Repita a operação. Ao
servir, enfeite com uma ou duas cerejas em calda, se quiser.
FIOS DE OVOS
200 G DE AÇÚCAR
4 GEMAS
1 OVO
100 ML DE ÁGUA
50 G DE CEREJAS EM CALDA (OPCIONAL)
Aveiro Minho e Douro
Estilo Zaffari 61
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Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:Modo de fazer:
Em fogo moderado, faça uma calda grossa, em pon-
to de pérola (quando se formam bolinhas que pa-
recem pérolas). Acrescente as amêndoas moídas,
misture bem, mexendo sempre, e deixe ferver até
quase secar. Deixe a mistura secar até o dia se-
guinte. Se a massa não estiver suficientemente fir-
me, cozinhe novamente até secar mais. Com as
mãos úmidas, dê a forma desejada à massa. Para a
Páscoa é costume moldar os marzipãs em forma
de ovos. Deixe secar até o dia seguinte, e pinte os
marzipãs com tintas apropriadas para alimentos.
Coloque-os em forminhas de papel e sirva como
sobremesa.
MARZIPÃ
200 G DE AÇÚCAR
200 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS (USAR O
PROCESSADOR)
4 A 5 COLHERES (SOPA) DE ÁGUA
Gula
PASTÉIS DE SANTA CLARA
MASSA 200 G DE FARINHA / 110 G DE MANTEIGA
1 OVO PARA PINCELAR
RECHEIO 7 GEMAS PENEIRADAS E BEM BATIDAS
110 G DE AMÊNDOAS MOÍDAS / 200 G DE AÇÚCAR
Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa:Modo de fazer a massa: Misture, com os dedos, a man-
teiga e a farinha, acrescentando um pouquinho de água
gelada para auxiliar a mistura, até obter uma massa uni-
forme. Enrole a massa com filme e guarde na geladeira.
Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio:Modo de fazer o recheio: Faça uma calda grossa e coloque as
amêndoas e as gemas. Misture bem e leve ao fogo médio, me-
xendo sempre até ficar com consistência grossa. Deixe esfriar.
Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis:Montagem dos pastéis: Abra a massa e corte com um molde
redondo ou, se preferir, em pequenos retângulos (dessa for-
ma se aproveita melhor a massa). Coloque o recheio em cada
uma das rodelas, umedeça as bordas e feche bem. Coloque os
pastéis numa assadeira, pincele com o ovo e leve ao forno
pré-aquecido (200ºC) até ficarem dourados. Depois, polvi-
lhe com açúcar.
Algarve Coimbra e Beira
62 Estilo Zaffari
79910 gula.p65 12/04/04, 22:158
COIMBRA ABRIGA INÚMEROS CONVENTOS E MONASTÉRIOS. DALI POSSIVELMENTE SURGIRAM VÁRIAS RECEITAS DE DOCES QUE CHEGARAM ATÉ
NOSSOS DIAS. OS DELICADOS PASTÉIS DE SANTA CLARA SÃO, TALVEZ, A GRANDE CONTRIBUIÇÃO DE COIMBRA PARA A DOÇARIA PORTUGUESA.
79910 gula.p65 13/04/04, 15:049
PONHA MAIS
PEIXE NA SUA DIETA
Bom conselho
P O R M A L U C O E L H O
TIPOS DE BACALHAU – DA ESCOLHA AO PREPARO
PORTO: O MAIS CARO. ALTO E SUCULENTO. VENDIDO NA NORUEGA. POSSUI GROSSAS LASCAS NATURAIS.SAIHT: PRÓPRIO PARA BOLINHOS. DESFIA FÁCIL. SABOR MAIS FORTE.LING: MUITO CONSUMIDO NO BRASIL. É MAIS CLARO E MAIS ESTREITO, PORTANTO, MENOS PROVEITOSO.ZARBO: MAIS BARATO E POPULAR. ESCURO E ESTREITO. É O MAIS VENDIDO POR SER MAIS BARATO.
COMO DESSALGARLAVE BEM AS PONTAS, COLOQUE NUMA TIGELA COM A PELE VOLTADA PARA CIMA. CUBRA COM ÁGUA. TAMPE EGUARDE NA GELADEIRA (A ÁGUA GELADA AJUDA NA MANUTENÇÃO DA QUALIDADE). SE AS POSTAS FOREM GROSSASE ALTAS, O TEMPO DE MOLHO É DE 48 HORAS; SE FOREM MÉDIAS É DE 36 HORAS. SE QUISER ESPERAR MENOSTEMPO, O MÍNIMO É DE 24 HORAS, MAS AS POSTAS DEVEM SER FININHAS. DE QUALQUER FORMA, TROQUE A ÁGUATRÊS VEZES POR DIA. ALGUMAS PESSOAS, AO FINAL DESSE PROCESSO, COBREM AS POSTAS COM LEITE QUENTEPOR ALGUNS MINUTOS. MAS ISSO É DISPENSÁVEL.LEMBRE-SE:O IMPORTANTE É PLANEJAR SUA COMPRA E, DEPOIS, PREPARAR UMA BELA REFEIÇÃO.ORGANIZE UM CARDÁPIO EQUILIBRADO, COM BOA APRESENTAÇÃO E DELICIOSO.BOLINHO DE BACALHAU É SEMPRE UMA ÓTIMA OPÇÃO.
Na Semana Santa os peixes entram com toda a força na nossa mesa,
mas por sua qualidade nutricional devem ser consumidos durante todo o ano.
Com mais peixe na sua dieta você ganhará em saúde e qualidade de vida. As
proteínas encontradas nos peixes são vitais para a renovação celular, auxiliam
no fortalecimento dos cabelos e da pele. Se você não quer engordar, prefira o
bacalhau, que possui pouca caloria e é nutritivo, saboroso, de fácil digestão,
rico em minerais e vitaminas e com colesterol quase zero. É saudável e total-
mente natural. O bacalhau é mais nutritivo que o peixe, a carne e o fran-
go. O valor nutritivo de 1 kg de bacalhau equivale a 3,2 kg de peixe!
E rende mais, podendo alimentar de seis a oito pessoas.
COMA MAIS BACALHAU. NÃO IMPORTA A DATA, É GOSTOSO E SÓ FAZ BEM.
64 Estilo Zaffari
79910_malu.p65 14/04/04, 11:071
vegetarianos
Carnívoros
Estilo
V I V E L A D I F F É R E N C E !
Comer ou não comer carne, eis a questão. Uma ques-
tão que, diga-se de passagem, vai muito além de
uma simples opção gastronômica. De um lado, te-
mos os adoradores de um suculento filé, amantes
do prazer que uma picanha proporciona. Do outro,
os vegetarianos convictos, seguidores de uma ali-
mentação considerada mais ética e purificadora. Não
cabe a nós julgar um ou outro lado. Apenas mostrar
que são pontos de vista diferentes, que a comida
escolhida é forma de prazer e também de expres-
são, devoção e filosofia de vida.
P O R P A U L A T A I T E L B A U M I L U S T R A Ç Õ E S N I K
versus
66 Estilo Zaffari
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79910 carnivorosxvegetarianos.p65 14/04/04, 12:103
Estilo
Consciência ética
Domingo, Rio Grande do Sul. O cheiro do churrasco
emana das chaminés, espalha-se pelas esquinas. Em algum lu-
gar, família reunida, um pai está magoado porque o filho recu-
sa-se a provar a sua carne, aquela que ele escolheu, salgou,
espetou e assou com tanta dedicação. O filho, por sua vez, já
não agüenta mais explicar que é uma questão filosófica, que
optou por uma vida mais saudável e espiritualizada e que não,
não vai morrer de anemia e de desnutrição. Provavelmente
eles jamais se entendam nos domingos de churrasco. Porque o
que está na mesa é também a negação de uma cultura, o
sentimento de rejeição (se ele não prova a comida que eu faço,
é sinal de que não gosta de mim) e a aceitação das diferenças.
Quanta confusão por causa de uma simples costela minga, não?
Não, diriam os vegetarianos, não é uma simples costela minga,
é um animal que sofreu muito antes de morrer.
Pois um dos motivos que levam alguém a tornar-se vege-
tariano é o respeito para com os animais. Os mais radicais são os
vegans (pronuncia-se vigan), que além de não comerem carne
de espécie alguma, não consomem nenhum derivado animal,
nem mesmo mel. Também não usam pele, couro, lã ou seda.
Vânia Recchi é gaúcha e mora em Londres há dez anos. Era
vegetariana quando se mudou para lá, e há cinco anos tornou-
se vegan. Mestranda em Filosofia com especialização em Direi-
tos Animais na Lancaster University, Vânia palestrou no Fórum
Social Mundial e já desfilou nua pelas ruas de Londres, protes-
tando contra o uso de peles. Engana-se quem imagina uma
garota pálida de aparência mórbida. Longe disso. Cheia de
energia, ela adora falar no assunto e suas frases levantam ban-
deiras como "quem come carne absorve também os hormônios
que o animal liberou antes de morrer, relacionados com o medo,
a frustração, a ansiedade e a raiva".
Mas será mesmo que os comedores de carne vermelha
são mais agressivos? Ilson Fonseca, produtor cultural, foi lacto-
vegetariano durante onze anos, até que decidiu que estava
na hora de mudar novamente. "Eu trabalhava em um merca-
do competitivo, precisava guerrear. A carne tornou-me mais
explosivo." Segundo Ilson, estudioso da cultura oriental, os
lutadores chineses de boxe são vegetarianos, mas em época
"SE EU OUÇO
COMENTÁRIOS DE
CARNÍVOROS? TÁ
BRINCANDO? EU É
QUE ENCHO O SACO
DELES. MÍSEROS
COMEDORES DE
CADÁVERES!"
E D U A R D O B U E N O ,
E S C R I T O R E J O R N A L I S T A
"FUI ACOSTUMADO
A COMER CARNE
DESDE CRIANÇA E
CONFESSO NUNCA
TER PARADO
PARA PENSAR NO
ASSUNTO. É BOM
E PRONTO."
Z É V I C T O R
C A S T I E L , A T O R
68 Estilo Zaffari
79910 carnivorosxvegetarianos.p65 12/04/04, 16:014
de campeonato tornam-se carnívoros para estimular sua rai-
va. Mas ele completa: "Isso não quer dizer que um vegetaria-
no não possa ser agressivo ou que um carnívoro não seja cal-
mo, também existem outras coisas envolvidas".
A maioria dos vegetarianos, no entanto, é bem radical.
"Eu voltaria a comer carne, sim, se meu avião caísse nos An-
des...", ironiza o escritor e jornalista Eduardo Bueno, o Peninha.
A estudante de publicidade e produtora de figurino Simone
Gavillon profetiza: "Nunca, jamais voltaria a comer carne, e
nem namoraria um carnívoro... só de imaginar o beijo depois
de um churras... eca!". Simone namora o tatuador Edinilson
da Rosa Soares, mais conhecido como Tinico. Quando Tinico
tinha uns seis anos, assistiu ao pai e ao tio carneando um boi.
A imagem o persegue até hoje e foi um dos motivos que o
fizeram deixar a carne definitivamente.
Anemia à vista
A essa altura você deve estar se perguntando: mas, afinal, o
que os médicos dizem de tudo isso? O Dr. Paulo Henkin, mestre
em nutrição humana, presidente da Associação Brasileira de
Nutrologia – RS, afirma que as pessoas só devem ser adeptas do
vegetarianismo por motivos religiosos ou filosóficos e sempre preci-
sam procurar orientação nutricional competente, pois do contrá-
rio podem ficar anêmicas, já que a carência de ferro é bastante
comum para quem opta pela negação da carne vermelha.
Anemia, aliás, foi justamente o que fez com que a dou-
tora em filosofia Andréa Bieri voltasse a comer carne verme-
lha. Professora universitária, ela nasceu no Rio Grande do Sul
e mora há mais de vinte anos no Rio de Janeiro. "Não comia
carne desde 1980, e lá pelo ano 2000 comecei a me sentir
muito cansada. Procurei um hematologista e vi que estava
com uma anemia muito forte. Ele me explicou que é difícil os
vegetarianos seguirem uma dieta equilibrada e que o ferro
dos vegetais não é de tão boa qualidade quanto o da carne
vermelha." Andréa passou a comer bife uma vez por semana,
mas só o que ela mesma prepara e muito bem passado. Diz
que quando isso acontece sente-se pesada e que a carne faz
com que seu intestino demore a funcionar.
As mulheres estão mais suscetíveis à anemia por causa
79910 carnivorosxvegetarianos.p65 14/04/04, 12:085
"DETESTO
QUALQUER
PRECONCEITO,
FANATISMO
E MANIPULAÇÃO.
VIVOS SÃO TODOS OS
SERES, TAMBÉM OS
VEGETAIS, AÍ O
CRITÉRIO SERIA
QUE ELES NÃO
SENTEM DOR?
OU MENOS DOR?"
L Y A L U F T , E S C R I T O R A
Estilo
70 Estilo Zaffari
da perda de sangue na menstruação. Vantagem para os ho-
mens vegetarianos. "Estou esperando pelo problema que to-
dos disseram que eu teria 23 anos atrás", diz Eduardo Bueno.
Paixão pelo sabor
O Dr. Waldomiro Manfroi, cardiologista, Diretor da
Faculdade de Medicina da UFRGS, diz que para saber se há
diferença entre vegetarianos e carnívoros seria preciso acom-
panhar, durante muitos anos, populações ou grandes grupos
de pessoas, desde a infância até a idade adulta. E, além da
dieta, outros fatores deveriam ser considerados: propensão
genética, fumo, estresse... Preocupado em obter respostas so-
bre isso, o Dr. Manfroi está orientando uma pesquisa com
uma aluna de mestrado, visando comparar o perfil lipídico de
jovens vegetarianos com o de outro grupo com dieta conside-
rada normal, já que ainda não é comprovado se as concentra-
ções de lipídios no sangue (as gorduras prejudiciais) são dife-
rentes em uma ou outra população.
Uma coisa é certa: diferentemente dos Hare Krishnas,
dos Budistas, dos Adventistas do Sétimo Dia e dos seguidores
de outras filosofias que abolem a carne por acreditarem na
elevação espiritual, os carnívoros acreditam em uma única coi-
sa: que comer carne é bom e dá prazer.
O escritor e psiquiatra Celso Gutfreind considera-se
um apaixonado pelo sabor da própria dieta. Para ele, o gosto
delicioso da carne, e sobretudo da sua gordura, é indescritível,
e abrir mão disso seria uma renúncia, sofrida como todas as
outras. Gutfreind brinca dizendo que a felicidade de comer
carne vermelha dissolve as placas de colesterol e gorduras
não-saturadas que ela provoca. Uma brincadeira que não
deixa de ser baseada em pesquisas científicas, já que estudos
na área de psicoimunologia mostram que quando estamos
alegres nossos linfócitos destroem as células cancerígenas que
o próprio organismo produz.
E comer carne demais pode fazer mal à saúde? O Dr.
Paulo Henkin diz que não são conhecidos os efeitos negati-
vos do "exagero" de carne vermelha em pessoas normais, com
saúde. O reumatologista Fernando Neubarth explica que o
79910 carnivorosxvegetarianos.p65 12/04/04, 16:026
excesso de ácido úrico no sangue, atribuído ao alto consumo
de proteína, só acontece em quem já possui uma falha em seu
metabolismo. Cientificamente, o que se sabe é que o
desequilíbrio alimentar é prejudicial. Ou seja, uma pessoa
que só come carne, que não ingere frutas, verduras e cereais,
com certeza terá problemas.
Por falar em problemas, sempre vale lembrar que toda
carne crua está sujeita à contaminação por bactérias. Por isso,
é preciso saber sua origem e ter um cuidado muito grande
com a conservação.
Importante é comer bem
Em Porto Alegre, opções não faltam para agradar a gregos
e troianos. A maioria dos restaurantes vegetarianos está concen-
trada no bairro Bom Fim. Há 23 anos, o Ocidente oferece almo-
ço vegetariano, sendo que 14 deles sob o tempero do chef Alexis
Zarate. O chileno Alexis tomou gosto pela vida culinária em um
templo hindu, onde foi monge durante dois anos. Hoje, ele é
adepto de uma cozinha lactovegetariana fusion, em que mistu-
ra temperos indianos a receitas da sua avó. O resultado não
poderia ser melhor, e nos domingos ainda tem um Banquete
Indiano. Na Colméia, as receitas vegetarianas são menos sofisti-
cadas, e além do buffet servido a partir das 11 da manhã há um
entreposto de produtos naturais e uma lancheria com delícias
integrais. Na mesma rua, temos o Govinda, restaurante vegetari-
ano, onde a comidinha é deliciosa e sempre preparada como
uma oferenda a Krishna. Outras boas opções são o Prato Verde,
também no Bom Fim, o Nova Vida e o Namastê, na Cidade
Baixa, e o Pé de Alface, no Moinhos de Vento.
Assim como encontramos carnívoros que adoram al-
moçar em restaurantes vegetarianos, churrascarias como o
Barranco oferecem saladas em abundância. Segundo a Se-
cretaria Municipal da Indústria e Comércio, são cerca de 138
churrascarias espalhadas pela cidade, todas oferecendo, pelo
menos, uma saladinha mista aos adeptos da vida natureba.
Carnívoros e vegetarianos dividindo felizes a mesma mesa.
Isto é que a gente poderia chamar de harmonia gastronômica.
E VIVE LA DIFFÉRENCE!
Estilo
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Casa
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UM ESPELHO PODE
REFLETIR E DUPLICAR (!)
A PERSONALIDADE
DA SUA DECORAÇÃO
O espelho já é um clássico na decoração de interiores,
e sua aplicação até dispensa consultas em se tratando de
lugares consagrados. Duplicar os cristais e a prataria de uma
mesa bem posta, conceder uma última olhadinha no visual
para quem está de saída ou valorizar os altos de uma lareira
lhe são atribuições indissociáveis. A mais impressionante
e notória utilização de espelhos de que se tem notícia foi
feita pelo arquiteto Jules Hardouin Mansart, oficial da cor-
te do rei Luis IV, idealizador da Galeria dos Espelhos.
No mais célebre aposento do Palácio de Versalhes
encontra-se a impressionante seqüência de majestosos
espelhos biselados que têm por objetivo refletir os jar-
dins do palácio através das 70 janelas do salão de 73
metros de comprimento. À época, final do século 17, a
iniciativa do arquiteto era de total ousadia, e a elegância
do resultado perdura soberana até hoje.
Porém, mesmo com precedente histórico tão no-
bre, o espelho na decoração já cometeu seus pecados.
Nos anos 70, ele subiu as paredes das casas noturnas,
motéis e residências, e em muitos casos alojou-se (in-
clusive) no teto.
Passado o susto, a arquitetura prosseguiu com
bons motivos para mantê-lo por perto corrigindo ân-
gulos, duplicando e sofisticando ambientes. A desco-
berta que nós, ocidentais, fizemos do Feng Shui agre-
gou ainda mais motivos para se ter o espelho como
um dos elementos equalizadores das energias positi-
vas e da harmonia. Porém, para acompanhar as ten-
dências da arquitetura de interiores, mobiliários e
adereços devem renovar constantemente sua atuação,
seja pela ousadia ou pelo inusitado. Assim são os exem-
plos que se seguem.
P O R R U Z A A M O N F O T O S L E T Í C I A R E M I Ã O
Estilo Zaffari 75
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Casa
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Para decorar a loja de Porto Alegre da grife Antonio
Bernardo, a proprietária Helena Sefton levou em conside-
ração a técnica Feng Shui, antiga arte chinesa de criar am-
bientes harmoniosos.
A consultora Martine Monios determinou a presença
de espelhos em quase todas as peças, e Helena optou por
longos painéis com mais de dois metros de altura que, pro-
positadamente, permanecem apenas encostados nas pare-
des. Sendo o imóvel de estrutura moderna, com uma planta
de ângulos não-convencionais, os espelhos também contri-
buem para tornar ainda mais instigante o jogo de imagens,
produzindo uma ampliação virtual dos ambientes.
Outros elementos foram designados pela consultora,
tais como uma pequena fonte de água logo na entrada, uma
peça de cristal pendente no cômodo mais afastado e uma
única cadeira estofada em tom avermelhado. O piso em ma-
deira de aparência rústica e fosca proporciona um efeito
aconchegante, tornando dispensável a presença de tapetes.
Arandelas localizadas bem próximas ao teto contribuem com
uma iluminação eficiente e suave, sem conflito com a pro-
fusão de espelhos. As cores claras do mobiliário, combina-
das com as cortinas translúcidas, reforçam o clima de tran-
qüilidade.
Na opinião de Helena, que recebe clientes e amigos
com champanhe e muita atenção, era este o resultado dese-
jado: que a decoração pudesse assegurar, além da estética, o
equilíbrio do humor e boas energias às pessoas. Tendo in-
corporado o Feng Shui já há alguns anos também nos ambi-
entes residenciais, ela acredita que a posição dos objetos e a
composição de elementos tenham o mesmo poder de influ-
ência que as cores já provaram ter.
Branco, luz suave
e muitos espelhos
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Casa
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Na residência do decorador Ari Lyra encontramos duas
diferentes aplicações de espelho, mas que são igualmente gene-
rosas na utilização do material. Para Ari, uma regra básica é
usar o espelho sem timidez, sempre em grandes lâminas.
No principal dormitório da casa, uma cômoda fran-
cesa do século 19 integra-se ao clima contemporâneo do
ambiente graças a um painel de espelho de dimensões pro-
positadamente exageradas. Sobre o móvel, uma pilha
descontraída de livros, uma luminária de design moderno e
um desenho displicentemente encostado no espelho refor-
çam o ecletismo da composição. Na parede lateral, um par
de fotos emolduradas chama a atenção pela originalidade
do passepartout, feito de adamascado bordô. A escolha do
tecido que circunda os nus artísticos foi justificada pelo cri-
ador: “Pensei em fazer uma referência ao requinte dos anti-
gos bordéis”, confessa Ari Lyra, entre risos.
No amplo corredor, para onde convergem as princi-
pais peças do apartamento, está a exclusivíssima “cômoda
de vidro”, com design assinado pelo proprietário. O móvel
é uma releitura ousada e pragmática da antiga cristaleira,
pois acumula ainda a função de bar completo. Com dois
metros de largura por 70 centímetros de profundidade, foi
confeccionado unicamente em espelho e vidro, graças ao
poder da cola UV, um produto de tecnologia revolucioná-
ria. Ali, fazem companhia aos copos muitos acessórios de
bar, cinzeiros de cristal em cores extravagantes, velas perfu-
madas, uma multicolorida coleção de caixas de fósforo, cu-
bos de gelo polar, entre outras preciosidades. Lâmpadas tipo
AR 111 fazem toda a diferença: ao reduzir sua potência por
meio de um dimer, obtém-se o efeito de luz de velas...
Aos que têm medo de usar espelhos, Ari Lyra garante:
“O espelho em si não é nada; só reflete o que existe ao seu
redor”.
Jogo de reflexos
e transparências
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Perfil
79910_perfil.p65 13/04/04, 13:212
ELE ESTAVA COMO QUALQUER UM DE NÓS ESTARIA NUM SÁBADO À TARDE EM CASA.
À VONTADE. MESMO ASSIM, EU NÃO TINHA MUITA CERTEZA SE O CHAMAVA DE SENHOR OU
DE TU. FIQUEI COM A SEGUNDA OPÇÃO, PORQUE A IDÉIA ERA UM PAPO INFORMAL.
E ESPERO QUE ELE NÃO TENHA ACHADO QUE FOI FALTA DE RESPEITO. LONGE DISSO, FOI
UMA HONRA. COM CERCA DE 60 LIVROS PUBLICADOS E, DESDE OUTUBRO PASSADO, MEM-
BRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, MOACYR SCLIAR É UM DOS MAIS RESPEITADOS
NOMES DA LITERATURA NACIONAL. TRÊS DIAS ANTES DE COMPLETAR 67 ANOS, ELE RECE-
BEU A GENTE E FALOU DE TUDO UM POUCO. QUE USA SEU TEMPO DA MANEIRA MAIS INTENSA
POSSÍVEL, QUE ADORA JOGAR BASQUETE, QUE TEM MEDO DE MONTANHA-RUSSA, QUE NA
INFÂNCIA QUERIA ESCREVER DA MESMA FORMA COMO OS TIOS FAZIAM MÓVEIS.
P O R P A U L A T A I T E L B A U M F O T O S A N G E L A F A R I A S
palavras
Marceneirodas
Estilo Zaffari 81
79910_perfil.p65 13/04/04, 13:223
Perfil
79910_perfil.p65 13/04/04, 13:274
QUE TAL SER IMORTAL?
Eu não sou dessas pessoas que se sentem muito à von-
tade com cargos e honrarias, então tinha medo de que isso
pudesse alterar de alguma forma a minha maneira de vi-
ver, mas não aconteceu e eu estou muito satisfeito com
isso. Vou na Academia, dou sugestões, mas continuo na
minha casa escrevendo, lendo, continuo dando as minhas
aulas na faculdade de medicina.
COMO É ESSA ROTINA?
Bem, não chega a ser uma rotina. A essa altura da
minha vida, eu tenho muitas demandas, muitas palestras,
muitas viagens programadas, no mínimo uma por semana
até o final do ano. Agora, por exemplo, estou indo para a
Feira do Livro em Los Angeles e no dia seguinte vou para
Boston dar algumas palestras. Tenho muitas coisas tam-
bém aqui em Porto Alegre e no interior do Rio Grande do
Sul. Está sendo difícil atender a todas essas demandas, mas
eu não abro mão de encontrar leitores, sobretudo leitores
jovens, conversar com eles.
E COM TUDO ISSO DÁ TEMPO DE ESCREVER?
Eu aprendi a usar o meu tempo da maneira mais
intensa possível. Quando eu viajo, escrevo muito, levo
um laptop, escrevo no aeroporto, no avião, no hotel,
nos intervalos. Eu não sou de almoçar, nem de jantar,
em geral como um sanduíche, e então uso esse tempo
para escrever. Isso eu aprendi quando ainda era um es-
tudante, um jovem médico. Essa coisa de não ter tempo
é papo furado.
E AS IDÉIAS, OS ARGUMENTOS?
Uma coisa da qual eu não posso me queixar é de fal-
ta de idéia. As minhas idéias ocorrem diariamente. Faz 11
anos que eu escrevo para a Folha de S.Paulo uma vez por
semana, e é uma tarefa difícil, porque eles pedem que eu
encontre alguma notícia de jornal e faça sobre ela uma
história. Quando isso começou, éramos vários escritores,
e todos desistiram porque achavam muito angustiante este
desafio. Eu continuei sozinho e até hoje, 11 anos depois,
não teve uma semana em que eu não tivesse idéia para
fazer essa história. Pode acontecer até que eu tenha mais
de uma história e precise escolher entre elas, o que tam-
bém é uma coisa difícil.
TU DISSESTE QUE NÃO ÉS DE ALMOÇAR, NEM DE JANTAR...
Isso nas viagens. Mas refeição pra mim não é um ri-
tual, é uma coisa pra sustentar e fazer as atividades do dia.
MAS NÃO TEM NENHUM PRATO PREFERIDO, AQUELE QUE DE
VEZ EM QUANDO DÁ UM DESEJO DE COMER?
Não, eu não sou gourmet, e pra mim a melhor comi-
da é aquela comida honesta, arroz de carreteiro, por exem-
plo, que é uma coisa que aqui em casa fazem seguidamen-
te. Comida italiana eu gosto muito, macarronada.
E ALGO QUE TE DÊ UMA SATISFAÇÃO, UM PRAZER ENORME.
Pãezinhos...
MAS NÃO NECESSARIAMENTE RELACIONADO A COMIDA...
Ah, eu gosto muito de ir ao cinema, de assistir filmes
em casa.
ALGUM GÊNERO EM ESPECIAL?
Filmes que envolvam ficção histórica ou ficção polí-
tica. Gosto dos clássicos. Pra minha geração, o cinema foi
de certa forma um aprendizado, o cinema mudou a litera-
tura, a maneira de escrever, é uma forma de narrativa mui-
to mais sintética e dinâmica que te obriga a pensar assim:
“Se o filme consegue contar uma história em duas horas,
como é que eu faço para que o meu livro tenha tanto inte-
resse como tem o filme”.
UMA COISA DA QUAL NÃO POSSO ME QUEIXAR É DE FALTA
DE IDÉIA. AS MINHAS IDÉIAS OCORREM DIARIAMENTE
Estilo Zaffari 83
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Perfil
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E SER ADAPTADO PARA O CINEMA, COMO É?
Não é algo que eu considere muito importante para
a obra literária. Acho que conquista um outro público, mas
uma coisa fica bem clara, que cinema é cinema e literatu-
ra é literatura. Isso é uma coisa óbvia, mas corresponde
mesmo à realidade. Quando um diretor vai filmar uma obra,
tudo pode acontecer. Eu me lembro de uma frase do Jorge
Amado, que teve muitas obras adaptadas para o cinema e
a televisão. Ele dizia: “Quando eu cedo os direitos da mi-
nha obra para a TV, eu esqueço que eu sou o autor, porque
sei que o que vai aparecer na tela será completamente di-
ferente do que eu imaginei”. Isso é uma coisa que o escri-
tor precisa ter bem presente. Inclusive para não se meter.
ALGUM PERSONAGEM TEU QUE SEJA O MAIS QUERIDO, COM
QUE TU TE IDENTIFIQUES?
Ah, é Capitão Birobidjan, de “O Exército de um Ho-
mem Só”. Eu acho que ele é o símbolo da minha geração.
Uma geração que viveu sob o signo da utopia, da idéia da
transformação radical do mundo e de uma sociedade justa
e igualitária. Uma geração que quebrou a cara, continua
quebrando a cara, mas que apesar disso segue acreditando.
Essa crença é algo comovente pra mim. A pessoa que ape-
sar de tudo acredita, que pode até ser meio maluca, mas
que, do ponto de vista ficcional, é um personagem fasci-
nante.
E SE APARECESSE AQUI, AGORA, O GÊNIO DA LÂMPADA, QUE
PEDIDOS TU FARIAS A ELE?
Isso é uma coisa engraçada, eu não teria nada pra
pedir, nada. As coisas que eu pediria seriam de caráter in-
terior. Eu gostaria, apesar de já ser um homem maduro, de
me entender cada vez mais, de entender o mundo cada
vez mais, mas fora isso eu não preciso de coisas materiais,
nem recompensas. A verdade é que a vida me deu tudo o
que um ser humano pode querer. Claro que também as
minhas aspirações sempre foram modestas, porque eu sou
filho de imigrantes, de judeus pobres do bairro Bom Fim,
para quem o máximo seria ter uma casa, uma profissão,
coisas que as pessoas podem considerar habituais, mas que
para eles era um sonho. Esses sonhos todos eu realizei, e
eu não sei sonhar mais alto do que meus pais. Eu me sinto
plenamente satisfeito.
CADA LIVRO É UMA FORMA DE SE CONHECER MELHOR?
Cada livro é uma aventura. A gente nunca sabe para
onde aquilo nos conduzirá. Cada vez que embarco em um
projeto, tenho uma expectativa muito grande e também
uma ansiedade de que aquilo possa ou não dar certo. Mas
independentemente disso, tenho o prazer de escrever, o
prazer do texto, o prazer de sentar e ver aquelas palavras
aparecendo na tela do computador, as frases se formando e
a história se desenrolando. O prazer da criação é um pra-
zer muito grande. Mas isso não só para quem escreve.
A pessoa que gosta de cozinhar, a pessoa que faz um mó-
vel... Eu sou de uma família de marceneiros. Pegar a ma-
deira e transformar numa coisa que as pessoas podem usar
dá uma alegria muito grande. Eu via isso desde a infância,
e a idéia que eu tinha quando comecei a escrever era a de
que eu queria escrever da mesma forma como os meus tios
faziam seus móveis.
FAZES ALGUMA COISA PARA RELAXAR? TENS ALGUM HOBBY?
Eu tenho um hobby que teoricamente é para relaxar,
mas que não me relaxa em nada. Eu jogo basquete. Faz 30
anos que nós, como um grupo, começamos a jogar basque-
te na Associação Cristã de Moços. E eu nunca falto, eu
vou lá segunda, quarta, sexta e domingos (nessa hora tive
que soltar um “nossa!”), e é uma coisa, porque eu sou um
péssimo jogador... É um desastre, porque eu não consigo
nunca fazer cesta. Ontem aconteceu um negócio que se
eu contar tu não vais acreditar! (ele começa a rir, fica empol-
EU ACHO QUE SUPERMERCADO É O SONHO MÁGICO, É A
GRUTA DE ALADIM, A GENTE DIZ ABRE-TE, SÉSAMO E ESTÁ LÁ...
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Perfil
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gado). Basquete é um time de cinco pessoas e, bom, no
nosso grupo tem muita gente, então tem que ir trocando.
Lá pelas tantas a gente estava jogando e alguém gritou:
“Peraí um pouquinho, esse time aí tá com seis pessoas”.
Era o time em que eu estava. Então um deles disse: “Ah,
mas o sexto é o Scliar, pode deixar ele aí...”. (Riso geral)
COM TANTA COISA PRA FAZER, NÃO DEVE DAR PRA DORMIR
MUITO...
Eu durmo pouco, muito pouco. Desde o tempo dos
plantões médicos, quando eu me acostumei a passar noi-
tes trabalhando e no dia seguinte continuar trabalhando e
dizer: “Tá bom, quando der eu vou descansar”. A medici-
na me ensinou muita coisa para a literatura. Em primeiro
lugar, essa experiência fantástica que é tu lidares com o ser
humano doente, sofrendo. Eu não fiquei muito tempo na
medicina clínica porque eu fui para a medicina pública,
que é outro tipo de ensinamento, quando tu aprendes como
vivem os brasileiros, como é a realidade brasileira, como
são os mecanismos do poder. Aprendi muito. Uma coisa
engraçada que eu noto nos meus textos é que grande parte
das minhas leituras foram textos científicos, textos médi-
cos, e eu fui absorvendo a objetividade desses textos, en-
tão eu não gosto de papo furado. Eu vou direto ao assunto,
da forma mais sintética e objetiva possível. É o exercício
da objetividade.
QUAIS OS TEUS PLANOS?
Nesse momento, estou envolvido com duas novelas.
Histórias curtas, porém autônomas. Uma delas para públi-
co juvenil, que envolve uma figura fascinante, Castro
Alves, esse grande poeta que morreu aos 24 anos e nesse
pouco tempo teve uma vida intensa. E a outra história, da
qual eu já concluí a primeira versão, mas que eu vou reto-
mar, é com um personagem bíblico... Eu sou fascinado pela
Bíblia. Tá todo mundo vendo o filme da Paixão de Cristo,
mas muito antes do Mel Gibson eu sempre achei que a
Bíblia, inclusive o Antigo Testamento, é uma fonte de ins-
piração. E há um personagem na Bíblia que sempre me
intrigou, um personagem enigmático chamado Onan.
É uma história incrível, em que eu me propus a traduzir
literariamente o mistério de Onan e seus irmãos.
E POR FALAR EM BÍBLIA, SE DEUS APARECESSE NA TUA FRENTE...
Sabe que tu acabaste de dizer uma frase sobre a qual
eu tenho pensado muito, que é: “Se Deus aparecesse na
minha frente”. Às vezes as pessoas me perguntam: “Como
é que é não acreditar em Deus?”. É uma pergunta que à
medida que tu vais avançando na vida se torna mais crucial.
Eu nunca acreditei, nunca fui crente, por várias razões,
razões políticas, razões até ligadas à ciência e, sobretudo,
por ser um cético de nascença. Bom, então se Deus apare-
cesse na minha frente seria uma resposta para uma per-
gunta que eu não precisaria mais me formular, mas real-
mente até agora não aconteceu. Quem sabe no Zaffari, tu
removes um pacote de café e ali atrás está a face de Deus
te olhando, dizendo: “Pode levar este café”. Deus ou o Zeca
Pagodinho...
TU TERIAS ALGUM DESEJO? NÃO PESSOAL...
Uma coisa que eu pediria a Deus seria que o mundo
fosse melhor, porque realmente, lá pelas tantas, tu olhares
tanto sofrimento, gente passando fome na rua, pedindo
esmola, gente morrendo em guerras, em atentados terro-
ristas... O mundo é assim, sempre foi assim e provavelmente
continuará assim por muito tempo, mas isso não deixa a
situação menos angustiante. Eu continuo tão incomoda-
do pela miséria quanto quando era adolescente, quando
eu acreditava que a gente poderia mudar o mundo a curto
prazo. Hoje, eu tenho certeza de que isso não acontecerá,
mesmo que eu ache que ainda vai mudar, que eu tenha
esperanças...
EU GOSTARIA, APESAR DE JÁ SER UM HOMEM
MADURO, DE ME ENTENDER CADA VEZ MAIS
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TU TENS ALGUM MEDO ESPECÍFICO?
Medo? Não... Não... Tenho... (começa a rir). Não dei-
xa de ser um medo, mas esse não é um medo próximo. Eu
tenho medo de montanha-russa. Mas aí aconteceu que uma
vez eu fui a Los Angeles, na Disneyland, e aí tinha uma
montanha-russa que não me parecia tão arriscada. Eu dis-
se: “Bom, eu vou experimentar, porque se eu der um vexa-
me, ninguém me conhece”. Eu lembro que embarquei em
um carrinho e que nesse carrinho estavam uns meninos
americanos. Aí aquilo começou a andar e eu gritava tanto
que os meninos ficaram com muito medo, não por causa
da montanha-russa, mas por minha causa. Eu saí dali de
pernas bambas, mas pelo menos uma vez na vida eu andei
de montanha-russa. Enfrentei...
GOSTAS DE IR AO SUPERMERCADO?
Eu adoro supermercado! Eu só não vou mais segui-
damente por pura falta de tempo. Mas eu acho que super-
mercado é o sonho mágico, é a gruta de Aladim, a gente
diz Abre-te, Sésamo e está lá, cheio de riquezas culinárias e
objetos e coisas maravilhosas. O que me fascina no super-
mercado é a abundância, essa idéia da variedade, de mil
coisas que têm. A minha geração, por causa da influência
de esquerda, desprezava o consumo, consumista era uma
acusação. Eu acho que consumir é uma coisa boa, consu-
mir significa ter acesso a coisas que outros fizeram pra ti.
Tu vais partilhar a criação da humanidade, seja essa cria-
ção expressa sob a forma de um pão de sanduíche, seja ela
expressa sob a forma de um chinelo de dedo ou coisa qual-
quer. Comprar no supermercado é uma coisa que dá pra-
zer. Eu também gosto de livraria, mas livraria pra mim é
diferente, porque em supermercado eu não sofro, mas em
livraria eu sofro porque eu sempre quero comprar muito
mais livro do que eu posso ler e até do que eu posso carre-
gar. Em viagens internacionais, por exemplo, seguido eu
tenho que pagar excesso de peso por causa da quantidade
de livros que compro. Lembro de uma vez em que eu vim
dos Estados Unidos com uma mala cheia, e o fiscal da al-
fândega me olhou com aquela expressão e disse: “Vamos
abrir isso aí”. Eu abri e estava cheio de livros, e ele disse:
“Mas são só livros?”, e eu fiquei envergonhado, ele achou
que tinha muamba, gravadores, mas só tinha livro... “Só
livro! Fecha isso aí!”. Mas eu acho que supermercado é
uma coisa que pra minha geração foi muito marcante, foi
a geração que viu surgir o supermercado. Antes, pra nós,
fazer compras era no armazém da esquina, que é um lugar
que continua tendo o seu encanto, um lugar sonolento, o
dono com os cotovelos apoiados no balcão.
TENS ALGUM CORREDOR PREFERIDO?
Pois é... Eu tenho... Mas não devia preferir... É o de
doces e chocolates. É uma tentação com a qual eu luto
com todas as forças, eu sou médico de saúde pública, eu
tenho que recomendar que as pessoas comam direitinho.
Mas esse é um corredor de que eu gosto. Também gosto do
corredor de artigos elétricos. Uma das coisas que eu sem-
pre gostei de fazer, e que agora eu faço menos por falta de
tempo, é consertar coisas na minha casa. Eu tenho uma
grande habilidade manual, eu me orgulho muito disso. Eu
sei consertar objetos, eu sei fazer objetos. Na casa em que
nós morávamos, eu fiz várias prateleiras, serrei, colei...
Então eu gosto de olhar as ferramentas, as coisas pra subs-
tituir na casa.
PRA FINALIZAR, ALGUMA FRASE, ALGUM LEMA QUE TU GOSTES
DE REPETIR, QUE TE ACOMPANHA:
Eu tenho uma frase, mas é em inglês: “Don’t explain,
don’t complain”. É uma frase da sabedoria prática dos ameri-
canos. A gente não precisa se explicar, a gente não deve se
queixar. As explicações são dadas pela maneira como a gente
vive, pelas coisas que a gente faz. E não se queixar acho que é
uma coisa muito boa, acho que a energia gasta nas queixas e
nas lamentações é mais bem utilizada quando a pessoa deci-
de que vai mudar a sua vida e busca fazer isso.
A GENTE NÃO PRECISA SE EXPLICAR. AS EXPLICAÇÕES
SÃO DADAS PELA MANEIRA COMO A GENTE VIVE
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Assim, ó...
Por mais minha que seja, a cidade parece sempre instável
A CIDADE É SEMPRE MEIO
Uns meses atrás eu voltava de Passo Fundo para Porto Alegre
de ônibus. Era o fim da mais recente edição das Jornadas de Litera-
tura promovidas pela Universidade de Passo Fundo, uma das coisas
mais impressionantes que pode haver em matéria de mobilização
cultural – milhares de crianças, jovens e adultos em favor de presen-
ciar palestras e debates em torno da literatura, com convidados de
todo o Brasil e muitos de outros países. Realmente espantoso. Mas o
caso é a viagem. Eu ando pouco de ônibus, como muita gente.
Mesmo nas viagens ao interior, em geral para perto de Porto Alegre,
vou de carro. E de Passo Fundo eu voltei num deles.
Quem viaja de ônibus tem uma liberdade interessantíssima.
Se não sofrer muito da coluna, nem tiver vizinho chato, pode ler
concentradamente por aquelas horas. Pode ouvir música de sua
escolha, se tiver levado o aparelho adequado. Pode ficar apenas
olhando a paisagem e tratando das caraminholas pessoais e
intransferíveis. (“Caraminhola” era, originalmente, o nome de um
penteado, em que os cabelos são apanhados no alto da cabeça e
presos por uma fita, despencando em flor, numa espécie de crista,
debaixo da qual ficam as “caraminholas” figuradas, os sonhos e
questões que cada um carrega consigo.) Foi o que eu fiz – pensar
nas coisas, não ajuntar os cabelos no alto da cabeça, mesmo porque
eles já são poucos.
A paisagem ia se desdobrando com aquela alternância magní-
fica que nosso interior oferece aos olhos: aqui uma pequena cidade,
ali uma vila, mais adiante umas roças e um gadinho, depois vasti-
dões de uma só cultura, um distrito industrial; rocha, perau, lomba,
rio, arroio, planície; alemão, italiano, negro, português, índio, em
misturas de proporções variadíssimas. E eu pensando, daquele jeito
de quem não conduz as idéias mas é levado por elas. Pensando em
como aquilo ali, aquele mundo que desfilava na janela do ônibus,
parecia um ponto de amarração do mundo, um ponto do qual
alguns partem e ao qual podem voltar, um ponto, enfim, estável.
Um ponto inicial, um ponto final.
Não sei se consigo explicar. Pensei na minha cidade, Porto
Alegre, minha casa, meu lugar no mundo. Eu saio dela e volto a ela.
Mas alguma acontece no meu coração quando eu cruzo por uma
estrada interiorana, dando-me a impressão de que eu tenho algo a
ver com aqueles começos, aqueles pontos estáveis. Estáveis, esta a
palavra: a cidade, por mais minha que seja, parece sempre instável
– e é mesmo instável. A vida na cidade tem muito de provisório,
passageiro, frágil. Ao contrário do campo que eu via pela janela do
ônibus, que parecia sólido e estável como... como... Como o quê,
mesmo? A sucessão das estações. A aparição diária do sol. A beleza
e a dureza da vida.
Historicamente, a cidade nasceu depois: primeiro veio a vida
no campo, e depois ali, na aglomeração; por isso mesmo, a cidade
sempre parece um meio, e não um início ou um fim. As pessoas
estão passando por ali, mas têm origem em outra parte e possivel-
mente vão terminar sua vida em outro lugar ainda. Você mesmo,
que me lê agora, pode fazer a conta e reconhecer que seus antepas-
sados vieram para a cidade não faz tanto tempo assim, consideran-
do a vastidão do ritmo da História. Não é? Não foi?
Vai daí, sempre que a cidade fica mais estável e mais familiar
algo de positivo está ocorrendo. Salvo casos que eu não sei nem
pensar direito, como as megalópoles que nunca param de se trans-
formar e dão a impressão de que vão explodir daqui a 15 minutos,
a cidade fica mais dentro do coração quando ela vira um ponto
fixo, adquirindo a aura de um início ou um fim dignos para nós.
Para isso são indispensáveis as pessoas que estabilizam um senti-
mento que nós temos difuso, focando-o e dando-lhe alma. Gente
que simboliza a cidade. Gente como o recém-falecido publicitário
Jesus Iglesias, um dos inventores de uma misteriosa entidade co-
nhecida por sua sigla – SAPA, uma mitológica Sociedade dos
Amigos de Porto Alegre, que ele fundou só para dizer como era,
como podia ser bom viver aqui. Aqui, neste lugar que ficou mais
claro em nosso sentimento com a vida dele.
L U Í S A U G U S T O F I S C H E R
LUÍS AUGUSTO FISCHER É PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR
90 Estilo Zaffari
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