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A ecologia do pensamento No Assentamento Olga Benário, os assentados compreenderam a necessidade de lutar por um meio ambiente melhor EDIÇÃO 01 - JUNHO DE 2011

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A revista “Eco Verbo” surge como uma ferramenta jornalística que pretende fazer apontamentos que incitem o leitor a repensar a sua postura diante do dever de proteger a natureza e o seu relacionamento harmônico com o meio ambiente. Valorizar o ser humano consciente, esclarecido a respeito de seus hábitos rotineiros, ou seja, ele inserido na vida ambiental, no seu habitat. Produzida pelos acadêmicos do 5º período de Jornalismo da Faculdade Assis Gurgacz de Cascavel, Paraná

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Page 1: Revista EcoVerbo

A ecologia do pensamento

No Assentamento Olga Benário, os assentados compreenderam a necessidade de lutar

por um meio ambiente melhor

EDIÇÃO 01 - JUNHO DE 2011

Page 2: Revista EcoVerbo

Foto: Simone Lim

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A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra. Dentro da pelagem desse ta-pete vivem todos os animais, respeitosamente. Ne-nhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem.

Monteiro Lobato, escritor

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Nós mal nascemos e já escutamos teorias sobre o fim do mundo. Chegamos bem per-to: já vimos tsunamis e terremotos matarem multidões, e mais próximo, vimos a fúria da chuva alagar e a bravura do sol secar. Já acompanhamos grandes florestas sendo desmatadas e desastres químicos acabarem com rios. Presenciamos e participamos de um processo de destruição crescente. Aceitamos permutar o natural pelo artificial. Trocamos a comida caseira pela enlatada, congelada, industrializada e achamos o máximo ter “liberdade para escolher a cor da embalagem”.

De um surto de consumo exacerbado surgiu uma nova corrida: deu-se a largada para a busca do ecologicamente correto, a tentativa de inverter, de consertar, de ame-nizar, de fugir das consequências do exagero humano. A nova era é marcada por um contraste difícil de ser dissociado: o capitalismo enraizado se apropriando da ideia de sustentabilidade para lucrar ainda mais. Ser ecologicamente correto é mais uma das ações que vivem o velho dilema entre “teoria” e “prática”. E onde estão as verdadeiras atitudes, as que levam realmente a um ganho significativo de qualidade de vida?

Foi pensando nessa problemática que a revista Verbo, que existe há seis anos no Curso de Comunicação Social da Faculdade Assis Gurgacz, ganhou na edição de 2011, um prefixo: Eco. Falar da vida e de como ela tem sido vivida é o propósito dos mais de 30 alunos que compõe a redação dessa revista. Este ano o trabalho é voltado ao jornalismo especializado, engajado e com formatos diferenciados, dando ênfase a estrutura da reportagem.

Não é preciso ir muito longe para entender que a natureza pede ajuda. Volte, inocen-temente, à carteira da escola onde você estudou e lembre-se da professora de Língua Portuguesa, que te deu a tarefa de pensar em uma redação de 30 linhas sobre o meio ambiente. E assim como todos nós da Eco Verbo, chegue a uma constatação: o que to-dos nós escrevemos naquelas linhas, até hoje, está somente no papel. É com essa visão que o conteúdo da Eco Verbo busca conscientizar, retratar e questionar você, leitor! Queremos que aproveite a leitura dessas páginas para pensar, refletir e agir.

Equipe: Adriane Kappes, Adriana Siqueira, Allan Machado, Amanda Ramos, Bruna Bueno, Bruna Dessbessell, Bruna Gar-bin, Débora Galera, Douglas Fernando Barros, Fábio Wronski, Jéssica Moreira, Julia Orso, Kamilla Rorato, Karoline Chicoski, Larissa Varela, Malu Vian, Marcele Antônio, Maria Fernanda Araújo, Marilete Eleutério, Mariana Casagrande, Max Odin, Maycon Corazza, Nathália Sartorato, Paula Wilhelm, Pedro Sarolli, Priscila Rabaiolli , Rhayene de Andrade, Rosane Groli, Simone Lima, Soraia David, Tátila Pereira e Vinicius Bracht.

Carta ao leitor

ExpedienteAv. das Torres, 500 | FAG (45) 9955-4600 * [email protected]

Jornalistas responsáveis: Ana Valério e Silvio Demétrio

Page 5: Revista EcoVerbo

Pilares reacionários: inimigos das três ecologias de Guattari. 06

Jornalismo ambiental: a necessidade de uma visão sistêmica. 07

O ambiente de Washington. 08

A fórmula da vida. 10

Reutilizando a água da chuva. 13

O papel do profissional do meio ambiente. 14

Ecologia do pensamento. 16

Projeção de grãos: oferta, procura e produtividade. 20

Vida nova ao lixo. 22

A meta é 300 mil árvores plantadas no Disk-Árvore. 25

Um descaso lisérgico com a natureza. 26

Novas maneiras de reciclar o óleo. 28

O aniversário é do Greenpeace, mas a comemoração é dos transgênicos. 30

Page 6: Revista EcoVerbo

Pilares reacionários: inimigos das três ecologias de Guattari

A ecologia está muito além da palavra e da definição que é dis-seminada. Ser ecológico não é apenas defender mudanças na for-ma como nos relacionamos com aquela natureza animal e vegetal, mas também saber que existem outras naturezas, e lutar para que elas passem por constantes reci-clagens. Porém, para compreender a ecologia como um todo é preciso colocar em alguns momentos o di-cionário de lado e focar nas lições da História.

O autor Félix Guattari, no livro “As Três Ecologias”, trabalha exata-mente nessa linha de ruptura com os conceitos tradicionais e numa abordagem mais ampla e reflexi-va. Desastres naturais, revoluções, ditaduras, convivência, crimes, po-dem ser vistos de um ponto de vis-ta ecológico. É isso que o autor nos diz com a ideia de ecologia social, ecologia mental e ambiental, que está inserida na ecosofia – articula-ção ético-política.

Pode-se afirmar que as três eco-logias de Guattari caminham jun-tas, estão interligadas. O próprio autor deixa isso bem claro ao dis-correr sobre o período de trans-formações vivido no Planeta Terra, que segundo ele “evolui no senti-do de uma progressiva deteriora-ção”. Problema apenas ambiental? Não. Eu me arrisco a dizer que se trata especialmente de uma falha da ecologia mental, refletida nas duas outras ecologias (social e am-biental).

Quando pensamos os problemas de agora somos chamados pela mãe história a explorar o passado. Vejamos, por exemplo, o atual sis-tema em que vivemos, o capitalis-ta. Em determinado momento da linha do tempo, a sociedade se or-ganizava de outra maneira, como quando vigorava o comunismo primitivo.

A forma como a humanidade foi traçando seu caminho, mudando, alterando sua ecologia mental, que está acima, em um plano su-perior, trouxe-nos ao capitalismo e os seus conflitos: social, ambiental e principalmente no campo das ideias.

Se antes o ser humano produzia apenas para sobreviver, hoje ele sobrevive para produzir. A lógica não é mais do social, do ambien-tal ou mental, mas sim do lucro, da acumulação e do bem-estar de uma minoria.

O progresso a todo custo disse-minado durante os anos de ouro do capitalismo ainda está vivo no campo mental e pode ser percebi-do na prática. Por que existe des-matamento? Por que nos depara-mos com poluição ou então, com ocupação de áreas inadequadas? Por que há desigualdade? A res-posta está na história, mais que isso, está no campo “mental”.

Alguns pilares instituídos na so-ciedade, sejam eles em forma de organização ou então de pessoas, que se portam como objetos da ciranda do lucro, contribuem para

que as ideias, e por sua vez todas as outras ecologias, permaneçam estagnadas caminhando rumo ao momento de “explosão”. O proble-ma é que esses pilares se dizem muitas vezes ecológicos e com isso atraem o consenso de outras pessoas, e impossibilita o avanço, a melhoria da sociedade – que se auto-destrói com sua alienação.

A relação dessa contradição do capitalismo com as três ecologias é completamente palpável. O pró-prio autor traz uma provocação ao questionar se “as três ecologias vi-rão pura e simplesmente substituir as antigas lutas de classes e seus mitos de referência”.

As questões que até então eram vistas a partir da direita ou da es-querda, do marxismo, trotskismo, agora são analisadas pela vertente ecológica, mais ampla e comple-ta. Isso vale também para todas as outras questões que envolvem o intelecto.

Diante da abordagem trazida no livro “As Três Ecologias”, fica para os leitores a provocação por alterar a organização estagnada e explosiva em que vivemos. Para isso, como ficou caracterizado, é preciso uma mudança a partir do plano mental, que por sua vez, influenciará nos outros planos – ambiental e social.

Enquanto tivermos pessoas rea-cionárias, defensoras daquilo que destrói a elas mesmas, corrói o meio ambiente, entre outros fato-res, dificilmente poderemos avan-çar nesta discussão.

Maycon Corazza

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Jornalismo ambiental: a necessidade de uma visão sistêmicaAnanda Delevati*

Pesquisar meio ambiente é um desafio. Apesar de ser um dos te-mas mais falados na atualidade, é um tema polêmico. Discutir sobre as questões ambientais é também discutir o nosso estilo de vida. Re-solver os problemas ambientais também implicaria em mudanças de nossos hábitos. Mas, será que estamos preparados para isso?

Comecei a me interessar pelo tema lendo Fritjof Capra. O autor que é doutor em física quântica, argumenta em seus livros que todos os problemas atuais da hu-manidade estão interligados. O grande problema contemporâneo é que não conseguimos perce-ber isso. Estudamos as coisas de maneira fragmentada e no nosso comportamento diário não conse-guimos perceber as inter-relações do mundo. Ele diz que isso pode ser pensado em todas as áreas. Me interessei por pensar isso dentro do jornalismo e as idéias do autor

ficaram evidentes. Dentro de um jornal, o meio ambiente é tratado sempre de maneira isolada.

Se formos analisar, todas as edi-torias englobam questões am-bientais. A pauta da economia so-bre aumento da venda de carros, por exemplo, também é ambien-tal, pois isso reflete no aquecimen-to global. Assim como, a pecuária também é um dos principais fato-res do aquecimento global. Pensar o meio ambiente é perceber todas essas relações. É notar que cada ato que praticamos, vai ter uma consequência para o planeta.

Quando fiz a revisão do que foi publicado nos últimos dez anos sobre jornalismo ambiental pelos pesquisadores brasileiros, consta-tei que essa busca de um jornalis-mo que consiga ver o todo, ou seja, que seja holístico e transversal, é a principal preocupação deles. Sem essa abordagem do tema, meio ambiente muitas vezes se confun-

de apenas com fauna e flora. Mas ao contrário disso, como já disse-mos, o meio ambiente permeia to-dos os aspectos da nossa vida. Fica difícil promover uma verdadeira consciência ambiental nos recep-tores das notícias tratando o tema de maneira fragmentada.

Contextualizar as matérias, ouvir diversas fontes e procurar espe-cialistas pode ser uma maneira de fugir da superficialidade. O jorna-lismo tem um papel fundamental que é o de promover a conscien-tização das pessoas, para que elas saibam e queiram fazer a diferen-ça. Mais do que isso, também tem o papel de forçar empresas e go-vernos a tomar atitudes. Precisa-mos repensar a nossa maneira de viver centrada em um consumo insconciente, que está exaurindo em escalas sem precedentes nos-sos recursos naturais. Afinal, o fu-turo da nossa espécie no planeta depende disso.

*Ananda Delevati é jornalista, mestranda em Comunicação Midiática na Universidade Federal de Santa Maria e pesquisadora em Jornalismo Ambiental

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O ambiente de Washington

A voz é forte, precisa, grave. Transpassa garra, experiência e precisão no que quer falar. E fala. Fala sobre o meio ambiente, sobre questões humanitárias, sobre as tribos indígenas, sobre a cultura e a sociedade brasileira.

Washington Novaes. Formado em Direito, com diploma, mas jornalista de coração. Entrou no mundo da comunicação por aca-so, felizmente. Enquanto de dia, já formado, trabalhava no próprio es-critório de advocacia, era durante as noites que atuava como revisor, na atual Folha de São Paulo.

O jornalista

Conseguiu o emprego por meio de um concurso e ao entrar, não saiu mais. Dentro da Folha, conhe-ceu Aloysio Biondi, jornalista que era seu chefe e se tornaria grande amigo de vida. Com o tempo, foi crescendo na profissão, passou pelas redações dos jornais mais importantes do país. Teve duas es-posas e muita história para contar.

Na área da televisão, também tem grande experiência. Construiu junto com outros importantes pro-fissionais, a organização de um dos programas mais interessantes da rede aberta da televisão brasi-leira, o Globo Repórter. Nessa épo-ca apesar da ditadura ser extrema-mente repressora com os meios de comunicação, vários documentá-rios foram produzidos com quali-dade e informação de conteúdo. Mas isso não significa que eles fo-ram ao ar.

O próprio Washington comenta,

“Na época em que trabalhei como editor-chefe do Globo Repórter, antes de ir pro ar, o script pronto era inspecionado por policiais fe-derais. Muita coisa de conteúdo, bem produzida e furos só nossos foram jogados ao ar, porque não puderam ser veiculados.”

Washington se ambienta

Foi nessa época que Washington resolveu juntar seus interesses de vida com o trabalho, decisão que o levou a ser o jornalista que hoje é. Nascido em uma região de cerra-do, cresceu vendo a plantação típi-ca de sua terra ser substituída por soja, cana e pasto. Com o tempo percebeu as mudanças climáticas e ao se mudar para São Paulo se surpreendeu ao ver lixo, ocupação desordenada, super produção, po-breza...

Foi nessa fase de Globo Repór-ter que teve seu primeiro contato com tribos indíge-nas e aí, reconheceu que seu país não era somente o “caos”. Conheceu matas, regiões da Amazônia e per-cebeu que poderia tratar dessas questões nos meios de comunicação e levar essas particularidades do país para a TV brasileira.

Ao desenvolver sua carreira tratando desses temas ambientais e in-dígenas, virou defensor do povo Xingu, recebeu prêmios internacionais e ganhou aliados que espe-ravam ansiosamente por

seus comentários, produções tele-visivas e textos críticos nos jornais.

Ao perguntar à ele sobre a prefe-rência de trabalho no meio de co-municação, Washington conta que sente muito prazer em trabalhar com o Jornalismo, independente de ser no impresso ou na televi-são. Ele afirma que existem pro-blemas nos dois meios, mas que o da TV é mais evidente. A maneira “hollywoodiana” de tratar notícias e fatos empobrece o jornalismo brasileiro. Ele defende notícias produzidas com propostas que re-passem mais informação e capaci-dade de julgamento à sociedade.

A abordagem de Washington quanto ao meio ambiente, de iní-cio, foi o desequilíbrio da relação da espécie humana com nosso planeta e a temeridade de nossos padrões excessivos de consumo. Hoje em dia, o jornalista aborda todo e qualquer tipo de assunto

Julia Orso

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tiva a questão da queda do diplo-ma, o trabalho é válido pelo empe-nho do profissional.

A questão que ele propõe à de-bater é “a quem pertence a infor-mação?”, se levarmos em conta a realidade atual do Jornalismo: quem tem mais informação, tem maior poder.

Washington defende a democra-cia da informação. Ele acredita que ter acesso às notícias é direito da sociedade e que isso deveria estar implementado na Constituição.

Quanto ao fim do impresso, ele não sabe o que dizer. A concorrên-cia é grande, ele mesmo sente a praticidade de sentar em frente ao computador e ler as notícias, além da diversidade de informações que se encontra com um clique.

Washington acredita que as re-des sociais podem contribuir posi-tiva e negativamente com as ques-tões ambientais. É aquela história da via de mão dupla: enquanto pode promover, também pode atrapalhar.

Entre os meios e maneiras que o jornalista pode escolher para di-recionar suas matérias, visando as questões ambientais, Washington dá a dica: “convenhamos, os meios variam para se alcançar esse obje-

tivo, mas não basta só plan-tar uma árvore, se é que você me entende.”

Quanto ao nível de trata-mento feito pelo jornalismo brasileiro das notícias am-bientais em relação à abor-dagem do jornalismo de outros países, Washington disse que esse é um item muito variável para ser ana-lisado.

Já o fato de ter trabalha-do em dois tipos de canais bem distintos, ele ressalta as diferenças: “enquanto na Globo há toda uma visão voltada para a publicidade, na TV Cultura é outra his-

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Foto: Reprodução

ambiental. É convidado para pales-tras, tem colunas fixas em jornais importantes do país e ainda traba-lha como consultor, na TV Cultura.

Mas o que o faz ser tão especial? Tratar do meio ambiente hoje em dia, exige no mínimo muito conhe-cimento. O próprio Washington reconhece e toma isso como pre-missa: “todas as questões e ações humanas tem reflexo no meio físi-co - no ar, na água, no solo - e ain-da nos outros seres.” Ele deixa bem claro antes de qualquer entrevista, palestra ou conferência que você não irá falar com um jornalista es-pecializado em meio ambiente ou um profissional ambientalista.

Talvez, é exatamente tanto co-nhecimento e conteúdo em um homem só, contraposto com uma sinceridade tão digna que o faz ser tão requisitado e inteligente.

Questões jornalísticas

Washington é um grande exem-plo de jornalista que trabalha na área e não tem diploma. Ele ad-mite que conhece grandes pro-fissionais que têm o canudo, mas também conhece gente que se formou e não consegue produzir nada de conteúdo. Para ele é rela-

tória. A Cultura é uma TV pública, custeada pelo governo. Lá passa o que eles bem entenderem e acha-rem necessário colocar; eles não visam audiência, quem quer con-teúdo, assiste Cultura”.

E sobre a Globo, Washington afir-ma que há muito o que melhorar em relação à abordagem de ques-tões ambientais na programação. Mas ele acredita que não será ne-cessário um “caos ambiental” para que os responsáveis percebam a necessidade desse conteúdo.

Washington acredita que o Jor-nalismo ainda tem muito a melho-rar em relação à postura necessária para a abordagem ambiental. Man-ter contato com organizações que abordam esses temas é impres-cindível. As redações devem estar atentas às fontes que fornecem informações relevantes e criar pau-tas para educar a população.

Fazendo parte Na Convenção do Clima, realiza-

da no Japão, em 1997, foram firma-dos metas e compromissos para a diminuição de gases de efeito es-tufa de cada país. Obviamente, os industrializados ficaram com uma responsabilidade maior - a porcen-tagem desses países em diminuir a emissão desses gases era grande e mais comprometida em relação à países menores, como o Brasil.

Dessa forma, nosso país se com-prometeu somente com metas, coisa que Washington acredita não ter justificativa, pois há urgência em diminuir esses gases antes que o pior aconteça.

Por fim, pergunto ao jornalista como é falar sobre questões de meio ambiente para uma socie-dade que não está acostumada a receber e nem a discutir essas questões. Washington cita o poeta irlândes Yeats e se justifica: “se eu não tentar, como saberia no que ia dar?”

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A fórmula da vida!Seria fácil se para todos viver fosse exatamente igual

O POEMA DA NOITE

Já dei risada quando não podia Já fiz amigos eternosJá amei e fui amado, mas também já fui rejeitadoJá fui amado e não soube amarJá gritei e pulei de tanta felicidadeJá vivi de amor e fiz juras eternas,mas “quebrei a cara” muitas vezes!Já chorei ouvindo música e vendo fotosJá liguei só pra escutar uma voz Já me apaixonei por um sorrisoJá pensei que fosse morrer de tanta saudade

Tive medo de perder alguém especiale acabei perdendo! Mas sobrevivi!

E ainda vivo!Não passo pela vida... e você também não deveria passarViva!

Bom mesmo é ir a luta com determinaçãoAbraçar a vida e viver com paixãoPerder com classe e vencer com ousadiaPorque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante

CHARLES CHAPLIN

Jéssica MoreiraSimone LimaMarcele AntônioTátila Pereira

E, afinal, você já parou para pensar o que é a vida?

Page 11: Revista EcoVerbo

A fórmula da vida!

Como gotas de orvalho sobre as folhas, Chaplin, o gênio do cinema, retrata a vida com a facilidade de quem brincou com os sentimentos da humanidade e a fez sentir emoções, fez despertar o viver em tantos persona-gens. Simples? Jamais. A vida é como uma construção constante. Tem história, poesia, começo e fim.

O termo vida tem origem no latim vita. Na antiguidade os gregos a dividiam em dois termos: zoé e bios. Pala-vras que diferenciavam o lado “carne e osso” do extremo “razão e emoção”. O primeiro termo, zoé, seria o sim-ples fato de viver, comum a todos os seres vivos; enquanto o segundo, bios, dizia respeito à maneira de viver, própria de um indivíduo ou grupo.

O tempo passou e a divisão foi dissolvida porque não havia, e ainda não há, como separar o corpo de suas re-ações nervosas. Foi a partir daí que as dificuldades em compreender a existência passaram a ser ainda maiores.

O termo oficial para definir o que estamos fazendo no/pelo mundo é vida, enfatizada no verbo viver. Anos e anos passaram e continuam passando, sem que alguém consiga encontrar a fórmula da vida. Individualmente as pessoas seguem escrevendo, diariamente, novos elementos e incógnitas que prorrogam a existência da subjetividade do que é vida.

E, afinal, você já parou para pensar o que é a vida?

“Viver eu não sei explicar o que é, ou o que representa a vida. Só sei que em momentos de per-da eu a questiono sim. É uma coisa que vai acontecer com todo mundo, mas não temos a pre-visão e a gente deixa muita coisa para trás, pessoas principalmente. Eu sou uma pessoa feliz. Ao lado da minha família eu aproveito a vida do jeito que dá, é o melhor que eu posso fazer.”João Melo, 45 anos

“A vida é uma questão de ver o mundo de um jeito puro. Tem muita coisa errada que a gente vê, mas tem que acreditar na melhora. Se eu não acreditasse já tinha desistido de viver. Nesses meus 42 anos de vida, dá para dizer que eu aproveitei o que tinha que aproveitar. Melhor que isso é só achar dinheiro achado. O resto é o resto. Não se pode desacorçoar da vida não, do jeito que vai, vai tocando. “Almir Augusto da Rocha, 42 anos

“Na minha concepção, a vida começa na gestação. Para ter uma vida saudável, você precisa pensar no ambiente em que você vive. Porque se você quer uma vida saudável, você precisa de uma vida saudável.”Amantina Aparecida Moreira Vaes, 36 anos

“A vida, para mim, é existir. Agora viver é mais que apenas existir, é aproveitar o que a vida oferece. No meu caso, por enquanto, é crescer sem pressa.”Débora Marcília Moreira, 13 anos

“A minha vida é cuidar da casa, dos filhos e do marido. Isso me faz feliz. Quero viver para reali-zar o sonho de ver meus filhos formados, esse é o sentido da minha vida. “Andréia Aparecida Alves, 37 anos

Cada um vê a vida a sua maneira. O único consenso universal é de que vida é o espaço temporal entre a con-cepção e a morte. Metafisicamente considera-se vida o processo de relacionamento contínuo entre os seres.

Os próprios cientistas não encontraram fórmula que explique o que move a vida. O sentido é tão obscuro, quanto o surgimento de tudo o que há no Universo. Incógnitas que palavras não são capazes de pontuar. O que pode-se apontar são as suposições, as hipóteses.

Muitos biólogos tentam definir a vida como o fenômeno responsável por animar a matéria. Nesse sentido, tem vida o ser que apresenta as características do crescimento (produz novas células ao decorrer da existência), o metabolismo (consome, transforma e armazena energia e massa), o movimento, a reprodução e a resposta aos estímulos (age de forma acordada com o que está a sua volta, adapta-se ao meio em que se encontra).

Page 12: Revista EcoVerbo

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Mais que algo físico, vida é um sentido para o mundo. São quatro letras, duas sílabas, contrapondo--se aos quatro elementos (fogo, água, terra e ar) e dois extremos (começo e fim). Um universo de problemas e soluções, em que o único animal racional é colocado a prova e testado a ponto de ignorar regras morais em prol de si. Confu-so? Por pouco tempo...

No século XII dava os primeiros passos um sistema que mudaria os valores de uma sociedade, e que mais tarde seria o motor da vida humana enquanto instrumento ideológico do “quem pode mais, chora menos”.

Agora sim! Capitalismo. Nove séculos de história, do trabalho artesanal em grande escala, das relações mercantis e trocas de pro-dutos foi crescendo o capitalismo comercial.

Mais tarde a divisão internacio-nal do trabalho (DIT) entre Euro-pa e Ásia. De forma genérica a DIT caracterizava a exportação de ma-nufaturas pelas metrópoles e pela produção de matérias-primas pe-las colônias.

Aí vem o século XVIII, com suas máquinas a vapor e o começo da industrialização. Um século de-pois a Revolução Industrial sela o Capitalismo tal qual conhe-cemos hoje. O século XX foi a marca plena das características centrais do sistema: o acúmulo de capital, e a depen-dência do proletariado em vender a sua força de trabalho.

Nesse meio tempo, tivemos a fase do capitalismo liberal ou de concorrência em que Adam Smith (1723-1790) doutrinara: o mercado é regido pela li-vre concorrência, baseada na lei da oferta e da procu-ra, isto é, quando a oferta é maior que a procura, os preços diminuem.

De volta ao presente, sé-culo XXI, a vida, vítima do modo de produção capitalista, coexiste no modelo do capitalismo verde. De-pois de anos e anos lucrando sem pensar nas consequências da ex-ploração exacerbada da natureza, os detentores do capital decidiram limpar a bagunça e justificar as ações inconsequentes do passado.

O tema da ecologia tem estado no slogan e nas pautas das empre-sas de todas as áreas. A preserva-ção do meio ambiente se tornou uma estratégia de marketing. Dá para afirmar que os empresários começaram a pensar na vida do próprio negócio.

As aparências realmente enga-nam, porque o planeta não vai ser recuperado com ações tão minús-culas como, por exemplo, a históri-ca venda de peixinhos da Yorktown

Technologies em 2004, que ti-nha como objetivo estimular os clientes a preservar a na-tureza sem que a própria em-presa parasse de lucrar. Como posiciona-se Enildo Iglesias, em artigo datado de 2003: francamente, o capitalismo verde é a política do parecer!

Só parecer correto. A ganância e a sede em acumular

capital acabaram refletidas na per-sonalidade do mundo, os valores

da sociedade mudaram. Só quem tem contato diário com as angús-tias do ser humano pode afirmar

que a humanidade clama, ainda que silenciosa, por mu-danças. O pároco, Pe. Romeu Ullrich, acompanha os fiéis da Paróquia Rainha dos Apóstolos em

Cascavel. Segundo ele, a vida dei-xou de ter sentido e ser pensada como algo divino, transformou-se em um processo de aproveitamen-to das facilidades que o mundo oferece. “Os jovens não valorizam a própria vida, quem dirá a natu-reza que os rodeia. É como se hoje a existência não valesse a pena. O que, na verdade, todos – jovens, adultos, idosos e até crianças – es-quecem é que a vida é um dom, e precisa ser aproveitada para que todos cheguem a plenitude. A cria-ção da vida é de Deus, mas saber o que é viver cada um vai descobrir a partir da existência individual. Não é uma fórmula pronta, é uma con-quista de todo dia.”

Além da ciência e da religião, a arte também retrata a vida sem ser precisa ou ter resultados. Talvez a liberdade do artista em ousar ten-tar, faça da arte a ciência mais pró-xima da fórmula desconhecida do que é viver. Para isso, o gênio do ci-nema – Charles Chaplin – encenou diferentes lições de vida, represen-tou-as e foi o maestro de um dos poemas mais populares em todo o mundo: o poema da noite (abertu-ra da matéria), uma coleção de fra-ses que estimulam a tentativa de cada indivíduo fazer a composição da fórmula da própria existência.

Século XX, a marca plena do

capitalismo: acúmulo de capital

e venda da força de trabalho

“Os jovens não valorizam a própria

vida, quem diráa natureza que

os rodeia”

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fórmuladavidafórmuladavida

Reutilizando a água da chuvaO recolhimento da água da chu-

va é uma atividade comum em paí-ses como a Austrália e a Alemanha. Cada vez mais, novos sistemas são desenvolvidos para que de modo simples e funcional a água tenha boa qualidade. O investimento de tempo e dinheiro é mínimo para adotar a captação de água pluvial. Porém, o retorno ocorre a partir de dois anos e meio.

É um modo ecológico e financei-ro de não desperdiçar um recurso natural disponível em abundância no nosso telhado, além de ajudar a conter as enchentes, represando parte da água que seria drenada para os rios.

Em Cascavel, temos um exemplo de auto-suficiência e postura ativa perante os problemas ambientais. Seo Roberto Pelissari proprietário do Auto Posto Carlos Gomes há mais ou menos quinze anos, apos-tou na área ecológica acreditando no retorno dessa iniciativa: “houve desde o início a preocupação do posto com o meio ambiente, eu acredito que se naquele momento não estavam cobrando isso, em al-gum momento teria que fazer! São ações que não são caras e algumas delas são mais econômicas do que trabalhar da maneira errada.”

A parte ecológica do posto une duas atividades que têm o mesmo objetivo: diminuir os gastos com a água e, principalmente, o desper-dício. A primeira ação é evitar o contato do óleo com a água e a ou-tra é a captação da água da chuva.

Os detalhes foram pensados de maneira com que nenhuma gota de óleo tivesse contato com o meio ambiente - cuidados que fazem a diferença. De 25 mil postos bra-sileiros, o posto Carlos Gomes se

destacou e ganhou prêmio nacio-nal em 2006 do posto mais bonito, título conquistado principalmente pelo seu aspecto ambiental.

Hoje o posto é referência. Pesso-as de cidades vizinhas vêm para conhecer o estabelecimento e o sistema de tratamento de água e de coleta.

Os panos utilizados na troca do óleo vão para uma sacola que é encaminhada para uma empresa especializada de Curitiba, onde é feita a limpeza do material que re-torna para o posto.

As canaletas em volta das bom-bas são canalizadas em lugar apro-priado e evitam derramamento de gasolina ou óleo no meio ambien-te. O chão do posto é feito de cal-çada pavimentada para que a água da chuva vá direito para os lençóis freáticos, passando pelo meio dos “rejuntes” da calçada.

A água que cai na calha do forro passa para um cano que é despe-jado direto na cisterna. Todos os resíduos de óleo, das lavagens ou do derramamento que pode ter nas canaletas, são mandados para quatro caixas que “limpam” essa água com óleo, um processo de filtro, que separa o óleo, mandado para Curitiba. A água que sobra é

filtrada e usada para lavar carros, regar as plantas e etc.

Na troca de óleo não se usa mais embalagens recicláveis de plásti-co, são várias “torneiras”. Os óleos estão em tambores e em cada tor-neira é usada a quantidade de óleo necessária.

Quando Seo Roberto adquiriu a propriedade já havia a cisterna: “o posto tem 40 e poucos anos, estou com ele há mais ou menos quinze anos. Foi construído com a cister-na de 45 mil litros, o grande méri-to na verdade é do Legário Gomes (antigo proprietário), que foi quem construiu este posto com uma vi-são tão ampla do futuro”.

A engenheira ambiental da Se-cretaria do Meio Ambiente de Cas-cavel, Keila Kochem diz que para fazer a reciclagem da água da chu-va não é preciso autorização. Mas, para os estabelecimentos que reu-tilizam a água da lavagem de car-ros para misturar com a água limpa da chuva, a prefeitura exige junto ao alvará de funcionamento, um projeto de sistema de tratamento, aprovado pela Secretaria de Meio Ambiente. Isso para os veículos pequenos. Em veículos maiores a aprovação deve ser junto ao IAP (Instituto Ambiental do Paraná).

Maria Fernanda K. Araújo, Mariana Casagrande e Rosane Groli

Auto Posto Carlos Gomes: empreendimento ecologicamente correto

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Ao menos em tese, atualmente, todas as empresas e profissões es-tão ligadas de alguma forma com questões ecológicas e ambientais. Seja por boas ideias e práticas de redução da emissão de poluentes, desde o copinho de plástico sendo substituído por caneca, ou em re-duções mais efetivas, na aplicação de projetos de desenvolvimento sustentável, abrangendo toda a sociedade.

Se antigamente só existiam ad-vogados e contadores, hoje exis-tem os “advogados ambientais” e “contadores ambientais”, entre tantos outros. Profissionais de di-versos nichos que estão conscien-tes de seu papel em soluções que visem o avanço, sem prejudicar o meio ambiente. Da mesma manei-ra, é também possível citar os pro-fissionais ambientais do ramo das indústrias – as maiores causadoras dos principais danos e devasta-ções que já vimos ocorrer ao lon-go dos séculos – que realizam um trabalho de tentativa de frear os avanços prejudiciais, mesmo que enfrentando riscos, pelas bandei-ras de sustentabilidade que carre-gam.

Conversamos com dois profis-sionais do município de Guarania-çu, que lidam e trabalham com a t e m á t i c a : o primeiro deles, Muri-lo Pierozan Giacomel, é Engenheiro Civil, e na sua rotina de trabalho lida diariamente com a questão ambiental. “Atuo em

O papel do profissional do meio ambienteAdriana SiqueiraBruna Dessbessell

projetos de Engenharia e Gestão Ambiental. Posso dizer que a Construção Civil é hoje umas das - se não, a maior - profissões que mais geram resídu-os de entulho. Cerca de duas vezes acima do lixo urbano produzido diz res-peito ao nosso trabalho, que ainda é responsável por grande parte da ex-ploração de recursos na-turais do país. A partir das estatísticas alarmantes, há algum tempo estão sendo realizadas medi-das para conscientização de pessoas e empresas, através de normas e leis, com o intuito de diminuir os impactos ambientais”, conta ele. Giacomel, fala também sobre as medi-das adotadas para aten-der a inovação tecnoló-gica dentro da Gestão Ambiental. “Hoje em dia são implantados progra-mas nas empresas para diminuir a geração de entulhos nas obras de construções e reformas. Também existem técnicas de coletas sele-tivas, visando o reaproveitamento de matéria prima para reciclagem

e reutilização, ou seja, crescimen-to sustentável.”

Outro exemplo é o Engenheiro Florestal Jefer-son Secchi, que há oito anos atua

na área. Para Jeferson, a ligação com o meio ambiente também é

constante. “Desenvolvemos traba-lhos técnicos de campo e também o acompanhamento de processos, junto a entidades como o IAP, IBA-MA, entre outros”, explica. Sobre as inovações tecnológicas na Ges-tão Ambiental em sua profissão, Jeferson destaca que são desen-volvidos projetos de manutenção e conservação do ecossistema, atendendo legislações ambientais. “Métodos e sistemas de produção desenvolvidos nas propriedades rurais devem evoluir tecnologica-mente, pois só assim os produto-res poderão aumentar quantidade

“Hoje em dia são implantados programas nas empresas para

diminuir a geração de entulho nas obras de contrução e reforma”

Ericsson mostra algumas espécies nativas existentes no parque

Foto: Adriana Siqueira

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e garantir qualidade de seu produ-to. Todavia, devem ser mantidas as práticas necessárias à preservação ambiental”, completa.

É possível notar que a temáti-ca ambiental assume, a cada dia, maior importância no conjunto dos interesses que norteiam o foco das empresas. As preocupações com o meio ambiente há poucas décadas empolgavam apenas os ambientalistas e os acadêmicos, hoje já atingem todas as profissões e a comunidade empresarial.

O especialista em Biologia da Conservação, Ericsson Hreciuk, é mais um engajando na causa, luta em prol da natureza e revela as di-ficuldades enfrentadas no contex-to atual em sua profissão. Ericsson, que também é professor, desen-volve projetos de preservação e Educação Ambiental. Um de seus projetos foi o da criação do Parque Ecológico Municipal Ibyrá em Gua-raniaçu. O parque foi criado atra-vés do decreto 1335/2009 e possui uma área de 13,3 hectares, situado às margens da BR 277. Hoje, o lu-gar possui mais de 50 espécies na-tivas, além de espécies exóticas e da fauna. Devido ao contato direto com a natureza e o meio ambien-te, o professor elaborou seu artigo de conclusão de curso da pós-gra-duação, levantando dados do Par-que e evidenciando o número de espécies existentes no local, além de informações que contribuíram para a formulação do projeto de reestruturação do lugar.

Além do trabalho direto e estu-dos ligados ao tema, ele conta que possui uma perspectiva maior de mudança. “Inicialmente já existe até um projeto cadastrado junto ao Governo Federal para que se-jam destinados R$ 200 mil para a estruturação do parque, como a construção das trilhas ecológicas e catalogação das espécies, pássaros e animais”, comenta.

Ericsson diz que atuar na área ambiental não é tarefa fácil. Se-

gundo ele, é necessário ter lucidez a respeito de tudo que envolve o seu trabalho, pois, na maioria das vezes, a questão ecológica é tratada como apenas um discurso, nem sempre sendo reconhecida a essência de seu trabalho. E mesmo que, aos poucos, as pessoas estejam tomando consci-ência da importância de atitudes mais conscientes, ainda há obstáculos a serem vencidos.

Vivemos uma época em que a educação ambiental é muito mais abrangente, acessível. São apresentados novos conceitos voltados para a sustentabilidade, que visam relacionar o meio ambiente com todo o tipo de relações sociais, e com a subjetividade humana. O foco, mais do que nunca, está voltado em desenvolver práticas específicas que prezem pela modificação e a reinvenção de maneiras de ser no âmbito familiar, no contexto urbano, no trabalho, etc. Perspectivas que não excluem ob-jetivos unificadores, tais como a luta contra a fome no mundo, o fim do desmatamento ou a proliferação de indústrias nucleares. Só que não se trata mais de palavras de ordem estereotipadas e reducionistas de outras questões, resultando na promoção de líderes carismá-ticos.

Cada vez mais, o equilíbrio na-tural dependerá das interven-ções humanas. A problemática, no fim das contas, é a da pro-dução da existência humana em novos contextos históricos. Uma nova proposta de vida en-globando aspectos democráti-cos, valores éticos, mudança de postura, hábitos e pensamentos ambientais está sendo apresen-tada.

Como argumenta Félix Guat-tari na obra “As Três Ecologias”, esse novo paradigma dará as marcas da verdade, da lealda-de, da justiça e da liberdade. Estas serão as manifestações da nova evolução. A questão será reconstruir o conjunto das modalidades do ser em grupo. E não só pelas inter-venções “comunicacionais”, mas também mutações que dizem respeito à essência da subjetividade. Nesse domínio, não nos atería-mos às recomendações gerais, mas faríamos fun-cionar práticas efetivas de experimentação, tanto nos níveis microssociais quanto em escalas insti-tucionais maiores.

Ericsson mostra algumas espécies nativas existentes no parque

Foto: Adriana Siqueira

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Ecologia do pensamento Enquanto o agronegócio bra-

sileiro está cada vez mais depen-dente dos agrotóxicos e transgêni-cos, alguns agricultores familiares caminham na direção contrária, buscando o aprimoramento do debate e da prática ecológica.

No Assentamento Olga Bená-rio, localizado em Santa Tereza do Oeste, distante 15 quilômetros de Cascavel, os assentados compre-enderam a importância do debate ambiental e avançam no sen-tido de chegar à agro-ecologia (alternativa de agricultura fami-liar socialmente justa, economicamente viá-vel e ecologicamente sustentável).

O assentamento foi cria-do pelo Incra (Instituto Nacio-nal de Colonização e Reforma Agrária) em 2005, em uma fa-zenda que pertencia a Anatel (Agência Nacional de Telecomu-nicações). Dez famílias fo-ram beneficiadas com 5,5 hectares cada, para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária. A área c o m u n i t á r i a (somando es-tradas e aces-sos) totaliza cinco hecta-res. E quase 30 hectares são

de reserva legal e preservação per-manente. Um dado importante do assentamento é a distância do Par-que Nacional do Iguaçu, menos de quatro quilômetros em linha reta.

As entradas da área são de chão batido compactado, tendo algu-mas vias principais largas e outras menores e mais tortuosas, que se encaminham para as casas dos moradores. Árvores de pequeno e médio porte são comuns nas áreas coletivas e variam nas áreas particulares, tanto na quantidade como na espécie, de acordo com o capricho e o tempo de estadia do agricultor. As casas mudam de tama-nho, de cor e de d e t a l h e s ,

mas são arquitetonicamente pare-cidas, simplistas, algumas até sem reboco. O fundo das casas sempre possui algum tipo de barracão, uns pra extração do leite das va-cas, outros para agrupar porcos, patos e galinhas; e alguns servem como depósito de materiais, fer-ramentas e dezenas de objetos necessários para a atividade agrí-cola. A horta orgânica faz parte de quase todas as propriedades. Umas maiores, em formato de um grande círculo, que além de terem sistema de irrigação elétrico, são abastecidas por poço artesiano localiza-

Maycon Corazza e Pedro Sarolli

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Ecologia do pensamento do ao centro, criando a sensação de um grande “alvo”, se focalizado de cima. As hortaliças da época são a cenoura, a cebolinha, salsi-nha, rabanete, que fazem parte do cardápio diário dos agricultores e também são comercializadas.

Já a área comunitária é rudimen-tar. Grande parte é composta de pasto e grama, com dois barracões de madeira maltratados pelo tem-po. O assentamento pediu apoio à prefeitura de Santa Tereza para viabilizar a construção de um

galpão novo, que serviria como

sede para reuniões e os compro-missos da comunidade em geral, mas até hoje não foram atendidos.

Os personagens

Araídes Duarte da Luz, 35 anos, mora com a família, dois filhos e a esposa. Além de agricultor, o ho-

mem é também coorde-nador do assentamento, uma espécie de gestor e consultor. Araídes ex-plica que a preocupa-

ção com o meio ambiente foi in-

corporada pelo MST (Movi-

mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) há pouco mais de 10 anos. Segundo ele, o movimento percebeu que a luta pela refor-ma agrária estava ligada a defesa do meio-ambiente. “O MST surge com a proposta de organizar os sem-terra. Quando ele organiza os sem-terra vão surgindo as deman-das desse movimento”, afirma o homem vestido com uma camise-ta vermelha que carrega o símbolo do MST.

A preocupação desses agricul-tores camponeses está baseada

em dados alarman-tes. O Brasil, por exemplo, é o maior

consumidor de agro-tóxicos do mundo desde

2009. Mais de um bilhão de litros de venenos foram jogados nas la-vouras, de acordo com dados ofi-

ciais. O uso dos transgênicos também é preocupante, e

vem ganhando cada vez mais espaço. O documen-tário “O mundo segundo a Monsanto” destaca os perigos do crescimento

de plantações genetica-mente modificadas, que, em

2007, cobriam 100 mi-lhões de hectares, com

propriedades genéti-cas patenteadas 90% pela Monsanto. À frente de tudo isso, uma publicidade

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‘pesada’ que serve como cortina de fumaça para as reais intenções da multinacional.

Para Araídes são os fazendeiros, ou como ele prefere dizer ‘empre-sár ios-rurais’, os pilares de sustentação do avanço dessas m u l t i n a c i o -nais no campo da produção de alimentos. E por trás de tudo isso, um único objetivo: au-mentar o lucro a qualquer custo. “Ele não está preocupado se a terra aguenta, se vai contaminar lençóis freáticos, contaminar a água ou se vai ter que derrubar uma árvore. O empresário rural pensa assim, se eu plantar essa qualidade de soja transgênica, então vou faturar tan-to por hectare. A terra para eles é como se fosse uma indústria.”

Eixos

O assentamento tem uma con-duta de comportamento, segmen-tada em quatro eixos. O primeiro é o eixo econômico, incentivando os agricultores a encontrar uma forma de sobreviver, de ganhar di-nheiro, de se sustentar. O segundo é o desenvolvimento cultural. O coordenador afirma que o agricul-tor do assentamento deve sempre buscar conhecimento, respeitan-do outras culturas, deixando de lado o individualismo para pensar coletivamente. O terceiro eixo é o ambiental. “Como eu vou ter meu desenvolvimento econômico, se eu não respeitar o meio ambiente? A terra e a água, por exemplo, são elementos importantes. Sem eles não sobrevivemos”, diz Araídes. O último eixo é a necessidade de autonomia política desses agricul-tores. O comprometimento deles

é com a organização, com as famí-lias lá assentadas, com o MST e não com políticos ou partidos.

Os pilares de conduta dos assen-tados sempre são retomados para

que se possa entender qual o pensamento do grupo sobre a atual situação do meio am-biente. Araídes aprova o deba-te, lembrando

sempre que a agroecologia está de um lado, enquanto o agrone-gócio está de outro. “Eu cultural-mente entendi a necessidade do debate envolvendo o tema e os outros três eixos. Essa importância não é só para a família assentada, para mim ou para outro, mas para o novo modelo de sociedade que está aí, essa nova dinâmica”, diz. De acordo com ele, se o mundo “continuar nesse desenvolvimento industrial da agricultura e do meio urbano, essa contaminação, não vai agüentar. O mundo uma hora vai explodir.”

Algumas formas de sustentabili-dade já são colocadas em prática pelos assentados. O adubo orgâni-co é um exemplo de que é possível que-brar o vínculo com os agrotóxicos e trans-gênicos. Silvio Du-arte da Luz, 33 anos, é referência dentro do assentamento quando o assunto diz respeito às técnicas. “Nós transformamos aquilo que seria jo-gado fora em adubo. O melhor de tudo é que se trata de algo natural.” Além dele, outros assentados também desenvolvem as técnicas de pro-dução de adubo orgânico em suas propriedades.

Os assentados têm também al-guns projetos para aumentar a produção, utilizando o meio am-biente de forma responsável. Den-tre eles estão a agrofloresta, que consiste em um melhor aproveita-mento da reserva legal, com a fru-ticultura. Onde não é necessário derrubar nenhuma árvore e sim plantar algumas frutíferas naquela área, gerando assim mais uma fon-te de renda coletiva. Os agriculto-res já contaram com ajuda técnica, mas a falta de disponibilidade de tempo ainda os atrapalha na ela-boração desse projeto.

Outra grande meta é conseguir a certificação agroecológica, que reconhece o assentamento como “área orgânica”. Mas para isso acon-tecer é necessário seguir uma série de critérios. Não adianta somente cultivar os alimentos de maneira orgânica, mas se precaver dos “vi-zinhos” que utilizam agrotóxicos.

O veneno chega ao assentamen-to pelo vento e, de certa forma, atinge as plantações, contaminan-do em menor escala a produção. Para evitar o problema, os mora-dores devem construir um “cintu-rão verde”, que seria uma barreira de vegetação, uma cerca viva em

volta de todo o as-sentamento.

Os assentados com-preenderam a neces-sidade de discutir, agir conforme as pos-sibilidades e cons-cientizar que antes de ser um negócio, a terra é fonte de vida. Eles são exemplo de que é possível frear o processo de des-truição ambiental

que está em curso, principalmente com a ecologia do pensamento. “Nós queremos fazer muito, inclu-sive, mais do que é possível”, afir-ma Silvio.

"O empresário-rural pensa assim, se eu plantar essa

qualidade de soja transgênica, então significa que vou faturar

tanto por hectare."

“Como eu vou ter meu desenvolvimento

econômico, se eu não respeitar o meio ambiente? A terra e a

água, por exemplo, são elementos

importantes. Sem eles não podemos

sobreviver.”

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Saber quanto vai custar amanhã o feijão, o óleo de soja, os deriva-dos de milho, entre outros é uma questão que mexe nos cartazes dos supermercados e ainda mais no bolso da população, afetada diretamente. Essa variação de pre-ços é um assunto que os especia-listas denominam como projeção de grãos. O objetivo é explicar, por meio de pesquisas e cálculos, como os produtos agrícolas mu-dam em função da oferta, deman-da e produtividade.

Trazendo esta realidade para a região oeste do Paraná é possí-vel perceber que esta variação é comum nos principais produtos agrícolas cultivados, como feijão, soja e milho. Na época das safras o preço dos grãos é avaliado confor-me a oferta e a procura. Quando os agricultores colhem bem, os pro-dutos têm seus preços reduzidos e quando ocorre uma safra frustra-da, pela falta ou excesso de chuva, por exemplo, tendem a aumentar. Essa balança de variação prejudica muitos agricultores que investem em determinado mês e esperam o resultado não muitas vezes satisfa-tório em virtude desta mudança.

Esse fato é vivido por muitos agri-cultores do oeste do Paraná, como é o caso de Amilton Noro, que mora em Santa Helena e há mais de vinte anos é produtor de grãos. A forte instabilidade do preço da saca de feijão, ocorrida em março, afetou a economia da família. Ele explica que apesar de sofrer varia-ções constantes nos valores pagos é vantajoso cultivar a leguminosa, pelo fato de sempre existir gran-

de consumo do produto. “O feijão é um alimento muito consumido, por apresentar alto teor nutritivo. Plantamos diversas variedades no mesmo período e área, para aten-der os consumidores. Além disso, é uma cultura rápida, em 70 dias já realizamos a colheita. Isso faz com que tenhamos giro de capital”, es-clarece o agricultor.

A cultura do feijão requer cui-dados especiais, como um acom-panhamento mais frequente na lavoura e constante irrigação. “A agricultura da região extremo oeste do Paraná tem sofrido com veranicos constantes, ou seja, a falta de chuva no desenvolvimen-to da cultura. O feijão, por ser uma planta que apresenta um sistema radicular pouco profundo é mais afetado. Para não sofrer com isso, im plantamos na nossa proprieda-de um sistema de irrigação, que be neficia diretamente essa cultu-ra”, diz o produtor Almiton Noro.

Na casa de Sueli Grelak, de Cas-cavel, todo sábado era dia de feijoada. Mas, nas suas compras semanais ela tem percebido um significativo aumento no preço do grão. Isso mudou a rotina da alimentação dela e da família. A substituição de alimentos agora faz parte dos novos costumes para a adaptação de um novo cardá-pio. Para manter o hábito de reu-nir toda a família no sábado, ela teve que alterar o cardápio e con-tar com a compreensão dos filhos e marido. “Dia de feijoada era dia de festa em casa. Tive que mudar isto. Hoje faço coisas com mais economia e que não levam tantos

ingredientes, como por exemplo, macarronada, risotos, ou mesmo um bife e salada.” Sueli conta que a família não gostou muito, mas não houve jeito. “Eles não gostaram muito, pois estavam acostumados a um padrão e agora temos que buscar alternativas. Essa oscila-ção no preço dos alimentos deixa a gente insegura na hora de cozi-nhar”, lamenta a dona de casa.

Vamos entender o processo que envolve a questão da variação de preços que engloba produtores, consumidores e quantidades de grãos. Se de um lado é vantajoso plantar feijão, de outro está haven-do também queda no consumo, ou simplesmente, substituição de alimentos. Como justificar a proje-ção de grãos apontada por índices futuros diante desse quadro?

O Brasil apresenta imenso po-tencial de produção e tecnologia disponível. Tal disponibilidade de recursos naturais é fator de com-petitividade. De acordo com os da-dos sobre projeção de grãos feita pelo Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento, MAPA, os produtos mais dinâmicos brasilei-ros, futuramente, deverão ser soja, milho, trigo, farelo e óleo de soja. Esses produtos indicam elevado índice de crescimento para os pró-ximos anos.

Segundo o MAPA, a produção de grãos (soja, milho e feijão) de-verá passar de 139,7 milhões de toneladas em 2007/08 para 180,0 milhões em 2018/19. Isso indica um acréscimo de 40,0 milhões de toneladas na produção atual do Brasil. Dessa maneira, existe a pos-

Projeção de grãos: oferta, procura e produtividadeAdriane Cíntia Kappes, Fábio Lúcio Wronski, Priscila Daiana Rabaiolli e Soraia David

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sibilidade dos preços sofrerem queda, partindo do pressuposto que avalia a seguinte afirmativa: quanto maior a produtividade, menores serão os pre-ços pagos ao produtor.

Os especialistas do Ministério indi-cam um crescimento da produção agrícola, que acontecerá em função da base na produtividade. As previsões realizadas para 2018/19 são de que a área de soja deve crescer 5,2 milhões de hec-tares em rela-ção a 2007/08 e a área de mi-lho, 1,75 milhão de hectares. O Brasil deverá ter um acrés-cimo de área da ordem de 15,5 milhões de hectares nos próximos anos.Com todos esses dados positivos para o consumi-dor, fica fácil ima-ginar que donas de casa como Sueli po-derão incorporar ao seu cardápio especial de sábado, ou ainda de todos os dias, alimentos como o feijão sem se preocupar em gastar muito. E seguindo esse raciocínio, produtores como Amilton Noro, cooperativas e supermercados também poderão ne-gociar entre si com preços razoáveis estipulados pela alta produtividade.

Projeção de grãos: oferta, procura e produtividade

O planeta viveu bilhões de anos sem a espécie humana, ou seja,

não lhe fazemos falta. Mas, por outro lado, nós não vivemos

sem a Terra.

Hugo Chávez, presidente da Venezuela

Amilton Noro na lavoura de feijão

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Vida nova ao lixo!Reaproveitamento do papel através da reciclagem gera empregos, renda e evita o corte de árvores

Dia e noite, a máquina de fazer do papel velho outro novinho em folha não para de processar. É um enorme liquidificador da fábrica em Quedas do Iguaçu, no interior do Paraná. Esta é apenas uma das centenas de indústrias que reci-clam papel no País. Estudos apon-tam que atualmente, cerca de 50% do papel consumido no Brasil é reciclado.

O retorno de papéis para a indús-tria destinado à reciclagem tem como principal vantagem o fato de que com isso deixa-se de cortar árvores: calcula-se que para cada tonelada de aparas (papéis corta-dos usados na reciclagem) deixa--se de cortar de 15 a 20 árvores.

Mas há outra importância que é a social: a geração de empregos de centenas de catadores através das cooperativas que recolhem papel, tirando diariamente das ruas mi-

lhares de toneladas de lixo. Há ain-da os funcionários fixos, da fábrica. Em Quedas do Iguaçu, por exem-plo, para produzir 3.300 toneladas de papel a cada mês são empre-gados cerca de 170 trabalhadores. O preço deste produto – que não teria destino se ficasse jogado no meio ambiente - no mercado é de R$ 1.390 por tonelada, mais 5% de Imposto sobre Importação (IPI).

Conforme o gerente administra-tivo da Ibersul, Jefferson Rolim, a fábrica produz papel miolo para embalagens de papelão ondulado e 100% da matéria prima é recicla-da. Após seu descarte, o material retorna novamente ao processo de industrialização. “Atendemos fábri-cas de embalagens de papelão on-dulado do estado de São Paulo e todo o mercado nacional em qual-quer atividade”, destaca.

Débora Galera, Larissa Varela, Marilete Eleutério e Paula Wilhelm

Uma questão de consciência Tempo para decomposição dos materiais que, costumeira-mente, jogamos fora.

Papel: 3 a 6 mesesJornal: 6 mesesPalito de madeira: 6 mesesPano: 6 meses a 1 anoToco de cigarro: 20 mesesChicletes: 5 anosIsopor: 8 anosLata de aço: 10 anosNylon: mais de 30 anosCopos de plástico: 50 anosPlástico: 100 anosTampa de garrafa: 150 anosFralda biodegradável: 1 anoFralda comum: 450 anos

Fonte: Portal da Reciclagem

Garrafa plástica: 400 anos

Pneus: 600 anos

Vidro: 4.000 anos

Reciclagem tem importância social, pois gera centenas de empregos a catadores, que tiram diariamente milhares de toneladas de lixo das ruas

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Lixo vira arte em Foz do Jordão

Fazer a sua parte pela preserva-ção do meio ambiente. Foi assim que o técnico de futebol da sele-ção de Foz do Jordão e auxiliar na Vigilância Sanitária, Devanir Araú-jo, encontrou seu verdadeiro ta-lento: a arte.

Utilizando material reciclável, tudo fica bonito nas mãos do arte-são. Para ele, qualquer coisa é reu-tilizável: plástico vira cortina, res-tos de garrafas pet se transformam em brinquedos, jornais formam arranjos e madeiras de purungos criam abajur. “Não venço atender as encomendas, mas o meu objeti-vo não é o comércio e sim mostrar o trabalho consciente em prol do meio ambiente”, defende Devanir.

A atitude de Devanir, que tam-bém é agente de turismo rural na região, está sendo mostrada como exemplo em palestras.

Recentemente, ele esteve em Foz do Areia, em um seminário de responsabilidade social relaciona-do ao armazenamento e qualida-de da água.

Além disso, sua experiência de 11 anos viajando Brasil afora - par-ticipando de feiras de artesanato e aprendendo a ter criatividade - está transformando Foz do Jor-dão em ponto turístico nos finais de ano, com a decoração natalina. “Quando se tem boa vontade, é sempre possível reciclar.”

Ano passado, junto com uma equipe treinada ele colocou nas ruas 25 mil garrafas em forma de bonecos de neve, guirlandas e pi-nheiros.

A decoração foi completada com o apoio financeiro da Elejor, que colaborou na iluminação. Após a data, os materiais continuam guar-dados, para serem reaproveitados em outras ocasiões.

Cama ecológica

Entre as inúmeras demonstra-ções de criatividade de Devanir Araújo está a nova cama elabora-da desde o suporte até a cabeceira com garrafas pet.

O produto pode tranquilamen-te ser utilizado tanto por crianças quanto por adultos, já que supor-ta aproximadamente 100 quilos. “Vender? Nem pensar, meus filhos me matam”, adianta ele.

Outras ideias

A partir do material produzido, foram surgindo novas ideias para a criação de produtos utilizáveis no dia-a-dia. Bolsas e brinquedos como avião, carrinho, helicóptero e poltronas tipo puff são os mais fáceis de fabricar. “É tão simples, que até criança pode fazer”, garan-te Devanir.

Curso

Tudo isso – e muito mais – De-vanir Araújo está disposto a ensi-nar. “Essa é minha missão: passar adiante. Se todos tiverem um pou-quinho de boa vontade, amanhã tudo estará melhor”, conclui. Para contratar o artesão para cursos, ligue (42) 3639-1734 em horário comercial.

Aparas Sudoeste, uma experiência em Cascavel

Estrada de chão, paralela à BR 277. Lá está localizada a empresa de reciclagem Aparas Sudoeste. Pilhas e pilhas de garrafas pet, pa-pelão, papel. Homens fortes, quei-mados de sol e o olhar perdido, era o que se via em cima do caminhão carregado de material pronto para ser armazenado para a reciclagem.

Foi o neto do dono da empresa quem contou a história do local. Ele se chama Felipe Braganholo e

tem 21 anos. Está lá desde crian-ça ajudando e aprendendo com o avô, sêo Alair Braganholo.

No local, é armazenado todo ma-terial que pode ser reciclado. Eles são separados por textura, cor e prensados de acordo com a vonta-de do cliente.

Na região, as indústrias de pe-queno porte são dos mais varia-dos segmentos. Alguns irão moer, outros já compram para fazer o produto final, que pode ser o pa-pel toalha, caixa de papelão, papel branco. Tudo irá se tornar nova-mente utilizável pelo homem.

O material é comprado pela empresa por quilo, custa aproxi-madamente R$ 0,25. Pequenos catadores não levam até lá, pois o local fica junto à BR, de difícil aces-so para aqueles que andam por aí com seus carrinhos. É o caso do ca-tador Antônio Lemos de Souza, 32 anos que passa os dias remexendo os lixos em busca de materiais que possam ser vendidos para a reci-clagem.

A conversa com ele aconteceu enquanto procurava materiais em uma rua próxima ao lago mu-nicipal de Cascavel. Ele buscava cuidadosamente as sacolinhas, os papéis e latas e ia contando o seu dia-a-dia. Ele tentou a vida como colhedor de maçãs em Santa Ca-tarina, mas foi roubado e precisou voltar para a casa dos pais em Cas-cavel. É lá que deixa armazenado o que recolhe para que o caminhão de reciclagem colete tudo de uma vez aquilo que pode ser levado para o Aparas Sudoeste. Antônio conta que em dias de chuva, o pai não o deixa sair para não ficar do-ente, mas nos dias bons, recolhe até 200 quilos com seu carrinho.

Apesar da idade, Antônio usa o dinheirinho para comprar suas coi-sas e tomar sua pinga. Tem muitos amigos que trabalham catando materiais e fala orgulhoso sobre eles. “Não tenho vergonha porque somos todos honestos, não pega-mos nada de ninguém”.

Cidadão ensina a transformar ma-teriais recicláveis que iriam para o lixo em objetos úteis

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Reciclagem gera renda para catadores

Tirar a sobrevivência do lixo pa-rece não ser algo agradável. Mas muito do que é dispensado pode ser reaproveitado. Um exemplo é a atitude de catadores de Palmital, cidade na região central do Paraná. As ações em prol da separação do lixo estão tirando embalagens das ruas e gerando emprego e renda para os catadores.

A campanha tem como parcei-ros a Prefeitura do Município com apoio da Aprenarp, organização não-governamental que defende o meio ambiente. Também há par-ticipação da população e do co-mércio da cidade.

A mudança de atitude para de-fesa do meio ambiente começou pelas escolas, onde a responsável

Material tirado das ruas gera empregos em Palmital

pelo programa, Rosilda Gomes de Assis trabalhou com as crianças um panfleto de conscientização, destacando as questões ambien-tais. Depois, houve reuniões com agentes de saúde, Associação Co-mercial, igrejas e associação de ca-tadores.

Nas ruas, a principal mudança é a forma de coleta do lixo. A cidade foi dividida em setores e a cada dia o trator com carreta do programa passa em uma comunidade, re-colhendo vidros, litros, alumínio, papel, papelão, latas e garrafas. Junto com o trator, vão os agentes ambientais, formados pela Asso-ciação dos Catadores.

O destino do material coletado é o aterro sanitário, onde o material

é reciclado para depois ser vendido. “O órgão respon-sável pela reciclagem é a Associação de Catadores de Palmital, resolvendo com isso uma questão social e a poluição do meio ambien-te”, defende o presidente da Aprenarp, Ronald Ludke.

A cidade de Palmital pro-duz cerca de 1500 quilos de lixo ao dia. Parte do mate-rial vai gerar renda para a Associação de Catadores. “Com eles organizados e com o apoio da Prefeitura será possível reciclar 90% do material e ainda vai ge-rar empregos dentro da Associação”, avalia Ronald. Hoje são seis catadores tra-balhando na Associação, mas a expectativa é que até o final do ano triplique esse número, aumentando gra-dativamente com o passar dos anos.

“Tenho orgulho do que faço” Um simples e simpático tra-

balhador, Airton da Silva Lores, conta um pouco da sua experi-ência de catador de papel reci-clável, na cidade de Rio Bonito do Iguaçu, onde trabalha há 12 anos. Airton sofre com o pre-conceito neste trabalho, princi-palmente com as crianças, que sempre o respondem mal, cha-mando-o de lixeiro. “Não sou lixeiro tenho orgulho do que faço. Lixeiro não tem nada a ver com catador de papel e en-quanto eu tiver disponibilida-de serei catador, não pretendo parar a não ser que seja preciso por causa de doença”, admite.

Apesar da reciclagem não dar uma grande renda já o ajuda muito. Quando Airton come-çou eram seis centavos o quilo, hoje subiu para 21 centavos. No total dá para tirar R$ 70 por semana. O catator Airton reuti-liza até o que tem em casa que pode ser reciclado. Tudo vai para a venda. Por ser conheci-do na cidade, as lojas e algu-mas casas guardam caixas de papelão e tudo que for reciclá-vel. Depois ele passa e pega.

Ele conta também que incen-tiva os três filhos a estudarem para ter uma boa formação, já que ele não teve oportunidade de estudar. “Vou fazer de tudo para que meus filhos sejam bons profissionais”, afirma. Uma das filhas já sabe o que quer ser quando crescer. “Dentista. E fico muito feliz por pensar em uma profissão importante”.

Além de ser catador, Airton acumula a profissão de guarda noturno. “Não fico feliz quando alguém joga lixo no chão, por mais que isso possa garantir minha sobrevivência. É um mal exemplo”, conclui.

Presidente da Associação dos Catadores de Palmital, Ronald Ludke:a cidade produz aproxidamente 1.500 quilos de lixo ao dia.

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A meta é 300 mil árvores plantadas no Disk Árvore

Desde janeiro do ano passado, a população cascavelense conta com um serviço gratuito que é oferecido pela secretaria do meio ambiente: o Disk Árvore. O programa funciona assim: o cidadão liga para a secretaria e solicita o plantio de árvores na calçada. Essa ação ocorre dentro do Pro-jeto Sementes do Amanhã, cuja meta é plantar 300 mil árvores na cidade até o ano de 2012. Até agora, quase 80 mil árvores já foram plantadas.

O programa foi criado com a intenção de facilitar a vida do contribuinte em

não se deslocar até a secretaria para fazer a solicitação de

plantio. Nos primeiros dias de atendimento, muitos moradores já solicitaram o serviço. “A ideia do pro-grama surgiu de uma visita pessoal que fiz. Na saída, o cidadão per-guntou para mim: Como faço para plantar uma árvore?”, explica o secre-tário do Meio Ambiente, Luiz Carlos Marcon. “No fim do dia, foram conta-bilizadas 16 ligações. Se a

média prevalecer durante os próximos dias, em um

mês teremos plantado mais de 300”, comentou.

Bruna Garbin eVinicius Bracht Oliveira

Depois de algum tempo do lan-çamento do programa, a Secretaria

do Meio Ambiente organizou o progra-ma “Vou pela Sombra”, que estimula o plantio de árvores nos bairros. A ideia é realizar reuniões com os moradores dos bairros, e a partir de então marcar uma data ambiental em cada mês para o plantio das árvores.

De acordo com o secretário do meio ambiente, se a população de cada bair-ro aceitar, serão organizados mutirões para o plantio de árvores em cada casa, para continuar a estimular os morado-res com a arborização, que é tão impor-tante para contribuir com o meio am-biente. Desde o começo do programa, em janeiro deste o ano, a procura pelo

serviço vem superando as expec-tativas, foram recebidos mais de 500 pedidos de plantio. Luis acres-centa que mesmo com a chuva, “os serviços de plantio não serão inter-rompidos de forma alguma”.

O programa é realizado de forma gratuita: basta ligar para o número (45) 3902-1383 e solicitar o serviço, que uma equipe se deslocará até a sua residência e definirá o melhor local para o plantio. Marcon afir-ma também que a divulgação do serviço está sendo feita no site da prefeitura, e também através de palestras ministradas nas escolas. “Para que a população fique cien-te, no lago municipal instalamos um painel eletrônico que indica o número de árvores que já foram plantadas pela secretaria, o arvô-metro”, diz Marcon.

Um outro projeto surgiu dentro do Disk Árvore, o Sementes do Amanhã, que tem como objeti-vo plantar, na cidade de Cascavel, milhares de mudas de árvores na-tivas, e o símbolo do projeto é o Pinheiro (Araucária Angustifólia).

“Será feito o plantio de uma ár-vore por habitante em parques va-zios urbanos na cidade. O projeto tem a intenção de contribuir com o crescimento da biodiversidade, resgatar o histórico ambiental de cada comunidade atendida, e de ampliar a cultura ambiental dos envolvidos no projeto”, conta o se-cretário.

“As pessoas ligam para a Secre-taria do Meio Ambiente e já solici-tam o plantio, indicando qual é o local e tudo mais. Essa é uma ideia criativa para incentivar a preserva-ção ambiental”, conclui Luiz Carlos Marcon.

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Um descaso lisérgico com a natureza

O pensar ecológico atravessa barreiras nacionais, étnicas, sexu-ais e religiosas, pois é um assunto que diz respeito a todos nós. Como a visão da ecologia é ampla o sufi-ciente para compreendermos que política, saúde, economia, educa-ção, espiritualidade, agricultura e meio ambiente são conectados, interdependentes e fazem par-te da pauta da transição, não há ecologia apenas para os bichos, não há saúde apenas para as pes-soas. Assim como não há política apenas para os políticos nem eco-nomia apenas aos capitalistas. Os desafios estão interligados e a mu-dança é de paradigmas.

Há seis anos alguns amigos, um grupo informal de jovens, estu-dantes, artistas e idealistas que sempre compartilharam dos mes-mos interesses e se preocupavam com as questões sociais, resolve-ram começar um “debate” sobre ações sócio-ambientais como a permacultura, ecologia profunda e agroecologia. Eles deram forma e vida a um evento de moldes até então inéditos na região. Desde o ano 2004, acontecem em Cascavel os Encontros Culturais Ecológicos, que são realizados em praça públi-ca e abertos à comunidade.

Os Encontros, promovem a cul-tura de paz, sempre comprometi-dos com as reflexões sobre nossas atitudes cotidianas e seus impac-

tos no mundo. Também com o debate sobre os rumos da evolução, de-senvolvimento global e local, possibilidades de mudanças e propostas de atitudes sempre foram abordadas e discutidas, as intenções eram e são de formar mobilizações permanentes e atuantes na cidade e região.

As progra-mações dos e n c o n t r o s r e a l i z a d o s mesclam arte, ciência e es-piritualidade com o objeti-vo de eviden-ciar a conexão entre a cultu-ra humana e contagiar os participantes com a inter-disciplinari-dade que foi abandonada nos modos de vida chama-dos modernos, o que ajudou a formar a ilusão de que as pessoas estão fora da natureza.

Foram introduzidas em praças públicas, temáticas pouco difundidas pelos meios de comunicação tra-dicionais como a ciência do Yoga, vegetarianismo, consumo responsável, agricultura urbana, medicina e terapias naturais como Reiki, reflexologia, fitotera-pia, Ayurveda, bioconstrução e trabalhos coletivos. Assuntos que podem ser considerados “conscientizadores”, uma vez que promovem meditação, mudanças e atitudes equilibradas individual, so-cial e ambientalmente.

Os artistas locais manifestavam-se em forma de som, teatro, fotografias e artes plásticas. Complementando o fluxo dos eventos, estruturava-se quase que espontaneamente uma pequena feira diversificada de produ-tos, alimentos e exposições, oportunizando um comércio direto e a apre-sentação de criações e habilidades.

Segundo Thiago que é um dos organizadores, “desde a primeira edição o

Amanda Gemelli Ramos, Douglas Fernando BarrosKaroline Chicoski. Malu C. Vian e Rhayene de Andrade

Fotos: Rhayene de Andrade

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evento teve uma grande aceitação e participação das pessoas de dife-rentes idades. Depois do primeiro, elas passaram à perguntar sobre o próximo e isso foi acontecendo a cada edição, até hoje. Existem fa-mílias que acompanham o encon-tro desde 2004. Por isso existe a preocupação de que a cada edição se traga algo novo. No ano passa-do (2010) recebemos um grupo de irmãos e irmãs de países vizinhos - Argentina, Paraguai, Colômbia, que vieram compartilhar vivên-cias por aqui. Foi talvez a edi-ção mais animada, passando a acontecer muita dança na praça.” Juntamente com a organização e planejamen-to do primeiro encontro em 2004 nascia o grupo Brucutu “uma rede, conexão entre di-ferentes sujeitos, com diferen-tes visões e ações, conectadas por princípios unificadores que se revelam no sentido de perceber a realidade de maneira mais ampla, de compreender mais plenamen-te os desafios de nosso tempo, de transformar e transformar-se,

de reconstruir o construído, pela paz, pela humanidade, pela Terra.” E desde então, diversas ativi-dades vêm sen-do desenvolvi-das por essas pessoas que participam da gestão dos

encontros. Dentre elas: experi-mentos em agricultura urbana e práticas de economia solidária com a formação do Grupo de Compras Coletivas de produtos orgânicos e ecológicos de Casca-vel, com 2 anos de funcionamen-to. Brucutu pode ser um grupo, pode ser cultura. É entendido como uma rede de relações entre

componentes dinâmicos como: as formas de organização social, sistemas de decisão, relações de produção, visão de mun-do, memória, f o r -

mas do fazer e contexto ambiental. Essa trama chamada cultura forma um padrão que define a identidade de uma comunidade ou grupo so-cial. A cultura de um povo ou de uma civilização, o fato da cultura ser dinâmica, sofre mudanças, se adapta. Neste ponto, a ecologia profunda pode contribuir com o desenvolvimento da cultura local, promovendo reflexões a cerca das atitudes cotidianas e promovendo consciência.

Fotos: Rhayene de Andrade

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o óleo

A Panificadora Cristal fica no bair-ro Parque Verde em Cascavel. Sirlei Fátima Kleinibing, que é dona da padaria colabora com a preserva-ção do meio ambiente de um jeito diferente e, o melhor é que o pro-jeto ainda envolve os clientes. O marido dela, Luiz Kleinibing , é o presidente do Sindicato da Indús-tria das Panificadoras e Confeita-rias do Oeste do Paraná, por isso trabalhos como este fazem parte da panificadora Cristal, pela cons-ciência ambiental e pela divulga-ção para as outras padarias.

Sirlei percebeu que a maioria das pessoas não sabe o que fazer com o óleo. Depois de algumas frituras ele não pode mais ser uti-lizado e então, o problema, o que fazer com o óleo? Uma das opções é fazer sabão, mas Sirlei tem outra alternativa ecologicamente corre-ta, na padaria ela recolhe esse óleo para reciclar.

Dona Sirlei conheceu o projeto “Recicle o seu óleo” numa feira em São Paulo. O objetivo da campa-nha é fazer um reaproveitamento do óleo que é utilizado em frituras transformando-o em biodiesel. A empresa responsável pela limpeza e reciclagem do óleo coletado pela Dona Sirlei é a Transgiro de Mare-chal Cândido Rondon.

Cerca de 150 litros de óleo são recolhidos por mês pela dona Sir-lei na padaria Cristal, desta quan-tia pelo menos 50 são da própria padaria. Mas, nem todo o óleo pode ser transformado em biodie-sel, energia renovável. Durante a limpeza alguns litros podem não perder todas as impurezas, nesses casos esse óleo “sujo” é reaprovei-tado apenas como um comple-mento para a ração de suínos.

Para fazer doação do óleo existe

Bruna Lays Bueno,Kamilla Rorato e Max Odin

Novas maneiras de reciclar

O programa de coleta

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um pote que Sirlei trouxe de São Paulo. Esses potes são de um litro e tem a boca bem larga para facili-tar na hora de colocar o óleo den-tro. Ela os vende na padaria pelo preço de custo. Algumas pessoas fazem a doação em vidros o que não traz tantos problemas ao meio ambiente, após ser usado ele pode ser lavado e utilizado novamente. A garrafa pet, por exemplo, é de material 100% reutilizável, porém depois de entrar em contato com o óleo não pode ser reaproveitada. Como os potes que a dona Sirlei trouxe iriam fazer parte de um pro-jeto com nome e logomarca, foram criados adesivos para personalizar e deixá-los com a cara da ação.

Banners feitos, potinhos perso-nalizados, tudo pronto, é hora da divulgação e na reunião do sin-dicado das padarias a pauta não poderia ser outra. Depois de apre-sentar o projeto, outras quatro pa-nificadoras de Cascavel, duas de Toledo e uma em Marechal Cândi-do Rondon gostaram do trabalho e aceitaram o desafio de recolher o óleo para transformá-lo em bio-diesel.

Comportamento

A preocupação de Sirlei com a natureza sempre foi grande. “Mui-tas pessoas mesmo diziam que jogavam o resto do óleo no ralo da cozinha, então um litro de óleo desse compromete mais de um milhão de litros de água potável, a gravidade , a proporção é muito grande”, diz ela. Dona Sirlei como a maioria das pessoas sabe que essa situação deve mudar, mas diferen-te dos outros que apenas pensam nisso, ela já começou a agir e expli-ca que o processo de conscientiza-ção das pessoas pode demorar. “É um trabalho de formiguinhas que leva tempo para acontecer. Você precisa chegar lá e explicar para as pessoas como funciona e só assim ela se interessa pelo processo e co-

meça levar o óleo para reutilizar.” Com essa nova alternativa ficou bem mais fácil e prático colaborar com o meio ambiente.

O dinheiro que é arrecadado com a venda dos potes nas panificadoras é utilizado nos eventos sociais do sindicato como: dia mundial do cân-cer, campanha do agasalho, campanha mundial do pão, arrecadação de brinquedo para o dia das crianças.

Para realizar esses trabalhos sociais a união entre todas as panificadoras é essencial, já que todas que participam do sindicato contribuem com o necessário para a realização destes eventos. Em cada acontecimento, há uma padaria que doa o pão, o refrigerante ou a farinha. Enfim, é um tra-balho coletivo.

Conscientização

A campanha de arrecadação do óleo tem dado tão certo que desde então aproximadamente 40 pessoas por mês doam óleo na panificadora Cristal. O curioso é perceber que as pessoas que fazem a doação estão entre os 25 e os 40 anos. “As pessoas mais velhas escolhem a segunda opção que é fazer sabão”, comenta Sirlei.

O sêo Antônio Nascimento é uma exceção, ele é aposentado e recicla dois litros de óleo por mês. Ele é cliente da panificadora Cristal e não tem dúvidas de que é preciso agir em prol do meio ambiente. “Acho extre-mamente importante para o planeta esse tipo de iniciativa. Além dessa atividade, eu separo o lixo doméstico também”, conta Nascimento.

Uma ideia interessante que seu Nascimento teve é a de promover o cuidado com o meio ambiente dentro das universidades. “Penso que de-vemos passar esse ensinamento para filhos e netos. Acho que os cursos deveriam oferecer algo nesse sentido para as pessoas aprenderem a pre-servar o meio ambiente”, sugere.

Sirlei acredita que para mudar, devemos começar, e para fazer isso o primeiro passo é a conscientização: “Mudar as nossas atitudes começa de pouco, mas tem que ter iniciativa, eu penso assim, se cada um parti-cipar, se cada um de nós fizer um pouquinho para melhorar um pouco a qualidade de vida do planeta não é nada, é só um pouquinho mesmo, então a gente pede para que as pessoas tenham mais consciência am-biental com relação a isso”, finaliza Sirlei.

Pote personalizado utilizado na coleta do óleo que seria descartado

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26 de abril de 1990. Angra dos Reis estava em luto. Era possível avistar centenas de cruzes afixadas no pátio da usina nuclear lembran-do o trágico acidente em Cherno-byl, que tirou a vida de 800 ucra-nianos quatro anos antes. Mas, o clima fúnebre trazia consigo um restinho de esperança. O gesto re-presentava o início do Greenpeace no Brasil e demonstrava a preocu-pação com o meio ambiente.

Ações proibitivas e polêmicas a parte, o fato é que este ano co-memoramos o 19º aniversário verde-amarelo do Greenpeace e o Paraná parece não ter tantos mo-tivos pra comemorar. O discurso firmemente bradado por aqui des-de meados de 2000, até agora não vingou. Apesar do esforço, não há resultados consideráveis na luta contra os organismos genetica-mente modificados (OGMs).

Em outubro de 2003, a Assem-bléia Legislativa Paranaense apro-vou a Lei 14.162/03, que proibia a manipulação, industrialização e comercialização de produtos trans-gênicos em todo o Estado. Porém, em dezembro do mesmo ano, o Supremo Tribunal Federal deferiu medida liminar em ação direta de inconstitucionalidade que suspen-deu a lei. Era o empurrãozinho que faltava para que os agricultores daqui apostassem definitivamen-te nas promessas de redução de custo e aumento da produtividade disseminadas pelos transgênicos.

No final de fevereiro deste ano, foi divulgado o relatório anual do Serviço Internacional para Aquisi-ção de Aplicações em Agrobiotec-nologia (Isaaa, na sigla em inglês)

e o Paraná é o terceiro estado bra-sileiro que mais plantou sementes geneticamente modificadas em 2010, atingindo uma área total de 4,8 milhões de hectares.

A tese defendida pelo Greenpe-ace de que a resistência que as sementes transgênicas têm em re-lação aos agrotóxicos colocaria em risco a saúde humana; e, de que o uso de agroquímicos decorrentes do plantio de transgênicos ame-açaria o futuro da biodiversidade agrícola, parece não ser o suficien-te para sensibilizar os agricultores.

Há quatro anos o agricultor, Mar-cus Rabaiolli começou o plantio de soja transgênica em suas pro-priedades de Santa Helena (PR) e Dourados (MS). “A semente trans-gênica deixa a lavoura mais limpa, o manejo é mais simples e mais eficiente também”.

A semente transgênica é forne-cida pela multinacional americana Monsanto, que estipula uma co-brança de royalties de R$ 0,44 por quilo para uso da semente geneti-camente modificada, o que torna o custo mais alto em comparação com a semente convencional. As-sim, a vantagem econômica apon-tada pelos agricultores diz respeito à redução no uso de venenos e de combustível para o maquinário.

Luciano Grando, possui 14 hecta-res de terras em Alto São Salvador, distrito de Cascavel (PR) e cultiva apenas soja transgênica. “É muito melhor! Usa menos veneno e tam-bém não prejudica as máquinas”.

No contexto geral dos transgê-nicos, fica nítida a divergência de opiniões entre agricultores e am-bientalistas. Uns afirmam que “os

transgênicos não fazem mal. Isso é tudo conversa”, mas outros apon-tam sérios problemas causados por eles, como contaminação ge-nética e ameaças à biodiversidade.

O grande vilão de toda a história é o glifosato, ingrediente ativo do veneno Roundup, que é produzido pela Monsanto para ser utilizado nas lavouras de transgênicos. O ar-gumento dos agricultores é basea-do na classificação toxicológica do produto. O Roundup é “faixa verde”, o que indica que é pouco tóxico.

Mas, o Greenpeace alerta que “as culturas transgênicas são resulta-do de tecnologia imprecisa, com consequências imprevisíveis e que oferecem riscos ao meio ambiente” e que “o Roundup destrói desne-cessariamente plantas inofensivas. Isso pode levar à diminuição da diversidade das plantas silvestres, com consequências danosas para os animais que dependem delas.”

Neste duelo ideológico entre a ONG e o agricultor paranaense não é possível definir um vence-dor, mas o grupo dominante apre-senta alguns aliados.

Dorival Vicente, pesquisador da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola, Tecnologia da Nossa Terra (Coodetec) defende a posição dos agricultores. “A transgenia ajuda o agricultor a aumentar a produtivi-dade, manter os custos e produzir alimentos seguros.”

Manifestações, fiscalização e muita pressão. Até agora nada dis-so foi suficiente para o discurso do Greenpeace convencer o Paraná a desistir dos transgênicos. Mas, quem sabe daqui a 19 anos a situa-ção seja diferente.

O aniversário é do , mas a comemoração é dos transgênicosAllan Machado e Nathália Sartorato

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