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ENAP RSP Revista do Serviço Público o vol. 62, n 4 - Out/Dez 2011 - ISSN:0034/9240 no trabalho e seu uso no setor público Aleksandra Pereira dos Santos A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e Hélio Vinícius Moreira Ribeiro A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios Eneida Bastos Paes O uso da renúncia fiscal na área de museus Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva RSP Revisitada – O aperfeiçoamento dos servidores do Estado Celso de Magalhães Entrevista: Celina Souza Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partir da Constituição de 1988 Marco Acco Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências Rodrigo Silva Diniz Leroy;

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ENAP

RSP Revista do Serviço Públicoo

vo l . 62 , n 4 - Out /Dez 2011 - ISSN:0034/9240

no trabalho e seu uso no setor público

Aleksandra Pereira dos Santos

A experiência do microempreendedor individual na

ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e

Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil:

desafios na implementação de seus princípios

Eneida Bastos Paes

O uso da renúncia fiscal na área de museus

Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres

beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais

Marco Aurélio Marques Ferreira;

Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

RSP Revisitada – O aperfeiçoamento dos servidores do Estado

Celso de Magalhães

Entrevista: Celina Souza – Os municípios

foram os grandes vencedores da cadeia federativa

a partir da Constituição de 1988

Marco Acco

Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências

Rodrigo Silva Diniz Leroy;

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ENAP Escola Nacional de Administração Pública

Brasília – 2011

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Missão da Revista do Serviço PúblicoDisseminar conhecimento sobre a gestãode políticas públicas, estimular a reflexão eo debate e promover o desenvolvimento deservidores e sua interação com a cidadania.

ENAP Escola Nacional de Administração PúblicaPresidente: Paulo Sergio de CarvalhoDiretora de Formação Profissional: Maria Stela ReisDiretor de Desenv. Gerencial: Paulo MarquesDiretor de Comunicação e Pesquisa: Marco Antônio deCastilhos AccoDiretor de Gestão Interna Substituto: Antônio ElvídioFigueiredo

Conselho EditorialBarbara Freitag-Rouanet, Fernando Luiz Abrucio,Helena Kerr do Amaral, Hélio Zylberstajn, AnaLúcia Melo, Luiz Henrique Proença Soares, MarcelBursztyn, Marco Aurelio Garcia, Marcus AndréMelo, Maria Paula Dallari Bucci, Maria Rita G.Loureiro Durand, Nelson Machado, Paulo Motta,Reynaldo Fernandes, Silvio Lemos Meira, Sônia

Miriam Draibe, Tarso Fernando Herz Genro,Vicente Carlos Y Plá Trevas, Zairo B. Cheibub.PeriodicidadeA Revista do Serviço Público é uma publicaçãotrimestral da Escola Nacional de AdministraçãoPública.

Comissão EditorialPaulo Sergio de Carvalho; Marco Antônio deCastilhos Acco; Maria Stela Reis; Paulo Marques;Aíla Vanessa David de Oliveira Cançado; ElisabeteFerrarezi; Tânia Araújo; Livino Silva Neto e EldaCampos Bezerra.

ExpedienteEditora responsável: Tânia Araújo. Editora executiva:Márcia Knop. Colaboradores: Dominique Lima eJoão Tomacheski. Revisão: Diego Gomes e RobertoCarlos R. Araújo. Projeto gráfico: Livino Silva Neto.Revisão gráfica: Livino Silva Neto. Fotos: Alice Prinae Vinícius A. Loureiro. Editoração eletrônica: MariaMarta da R. Vasconcelos.

© ENAP, 2011Tiragem: 1.000 exemplaresAssinatura anual: R$ 40,00 (quatro números)Exemplar avulso: R$ 12,00Os números da RSP Revista do Serviço Público anterioresestão disponíveis na íntegra no sítio da ENAP:www.enap.gov.br

As opiniões expressas nos artigos aqui publicados sãode inteira responsabilidade de seus autores e nãoexpressam, necessariamente, as da RSP.

A reprodução total ou parcial é permitida desde quecitada a fonte.

Revista do Serviço Público. 1937 - . Brasília: ENAP, 1937 - .

v. : il.

ISSN:0034/9240

Editada pelo DASP em nov. de 1937 e publicada no Rio de Janeiro até 1959. A periodicidade varia desde o primeiro ano de circulação, sendo que a partir dos últimosanos teve predominância trimestral (1998/2007). Interrompida no período de 1975/1980 e 1990/1993.

1. Administração Pública – Periódicos. I. Escola Nacional de Administração Pública.CDD: 350.005

Fundação Escola Nacional de Administração PúblicaSAIS – Área 2-A70610-900 – Brasília, DFTelefone: (61) 2020 3096/3092 – Fax: (61) 2020 [email protected]

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SumárioContents

Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências 369no trabalho e seu uso no setor públicoKnowledge, skills and attitudes: the concept of competencies atwork and its use in the public sectorAleksandra Pereira dos Santos

A experiência do microempreendedor individual na ampliação da 387cobertura previdenciária no BrasilThe role of small scale businesses in the expansion of access tosocial insurance in BrazilRogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa eHélio Vinícius Moreira Ribeiro

A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: 407desafios na implementação de seus princípiosBuilding the access to Information Law in Brazil: challenges inimplementing law principlesEneida Bastos Paes

O uso da renúncia fiscal na área de museus 425The use of fiscal incentives by museumsJanann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheresbeneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais 449Social mobility and empowerment: perceptions of the beneficiariesfrom the Bolsa Família Program in the state of Minas Gerais (Brazil)Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira;Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

RSP Revisitada: O aperfeiçoamento dos servidores do Estado 467Celso de Magalhães

Entrevista: Os municípios foram os grandes vencedores da cadeiafederativa a partir da Constituição de 1988 473por Marco Acco

Para saber mais 481

Acontece na ENAP 483

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369Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 369-386 out/dez 2011

Aleksandra Pereira dos Santos

Conhecimentos, habilidadese atitudes: o conceito de

competências no trabalho eseu uso no setor público

Aleksandra Pereira dos Santos

Introdução

O tema das competências no trabalho e nas organizações constitui impor-

tante categoria de estudos em comportamento organizacional, sobre a qual pa-

rece haver crescente interesse por parte das organizações e dos pesquisadores

(BRANDÃO, 2009). De fato, o conceito de competência transformou-se em dis-

curso para a necessidade de mudanças nas áreas de recursos humanos, sendo

tomado como solução para diversos problemas: remuneração, capacitação e de-

sempenho, entre outros.

De maneira geral, quando se fala do uso da abordagem de competências

aplicada aos processos de gestão de recursos humanos – gestão por competênci-

as –, vive-se uma fase preliminar do modelo caracterizada, principalmente, pelo

uso da abordagem em processos de seleção e desenvolvimento (BRANDÃO; GUI-

MARÃES; BORGES-ANDRADE, 2001. BRUNO-FARIA; BRANDÃO, 2003).

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Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências no trabalho e seu uso no setor público

Ao realizarem análise sobre uso danoção de competência no setor públicoeuropeu, Hondeghem, Horton e Scheepers(2006) afirmam que o modelo permitiriagerir carreiras fundamentadas nos diferen-ciais dos seus servidores, abandonando-sea ideia de diplomas, exames ou antiguidade.Para as autoras, é a ausência de concorrênciano setor público, ou sua existência menosexplícita, que permite o emprego doconceito de competência de forma menosindividualizada. Entretanto, não deixam demencionar os problemas teóricos encon-trados: a falta de clareza dos conceitos, anatureza prescritiva das teorias e a ausênciade provas empíricas de sua eficácia.

Para além dessas críticas, a abordagempor competências – e sua prioridade nodesenvolvimento e na flexibilidade – podeser compatível com a dinâmica atual domundo do trabalho, e substituir o modelode qualificação tradicional, que parece nãomais responder às demandas.

Com a publicação da obra Objetivo Compe-tência, de Philippe Zarifian, o conceito de com-petências converge para a articulação combase em três dimensões: conhecimentos,habilidades e atitudes. O conhecimentocorresponde a uma série de informações assi-miladas e estruturadas pelo indivíduo, quelhe permite entender o mundo, ou seja,trata-se da dimensão do saber. A habilidade,por sua vez, está associada ao saber-fazer, ouseja, corresponde à capacidade de aplicar efazer uso produtivo do conhecimento adqui-rido e utilizá-lo em uma ação com vista aoalcance de um propósito específico. Final-mente, a atitude é a dimensão do querer-saber-fazer, que diz respeito aos aspectos sociais eafetivos relacionados ao trabalho. As trêsdimensões da competência estão interligadase são interdependentes.

A noção de competência surge,portanto, com o desenvolvimento de

capacidades que podem ser mobilizadas emsituações, na maioria das vezes, poucoprevisíveis, compatibilizando-se, portanto,com o conceito de evento, proposto porZarifian (2001). O evento é caracterizadocomo o imprevisto e está relacionado anovos usos e processos que fazem parteda vida normal de uma organização. Logo,a base da abordagem de competência deixade ser o desenho dos cargos e passa a ser oconceito dinâmico de habilidades e compe-tências necessárias ao sucesso da organi-zação e dos seus parceiros.

Na literatura é possível identificarautores que abordam a competência tambémcomo resultado ou efeito de tais qualifi-cações aplicadas ao ambiente de trabalho.Le Boterf (1999) afirma que cada açãocompetente é produto de uma combinaçãode recursos, e que a competência reside nosaber mobilizar e aplicar esses recursos.

Brandão (2009) aponta que, nosúltimos anos, uma vertente integradora temprocurado definir a competência a partirde concepções provenientes de outrascorrentes. A competência passa a ser com-preendida como conjunto de conheci-mentos, habilidades e atitudes necessáriosà realização de uma atividade, mas tambémcomo comportamentos adotados notrabalho e realizações deste decorrentes. Taldefinição aproxima a noção de competênciaà de desempenho.

Brandão e Guimarães (2001) tratam acompetência como preditor do desempenho.Compreendem-no, de forma mais ampla,como resultado da articulação entre compe-tência individual (conhecimentos, habili-dades e atitudes mobilizados nas tarefasdesempenhadas), características pessoais(idade, grau de instrução, motivação,estratégias de aprendizagem, etc.) e suporterecebido da organização (material epsicossocial).

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Aleksandra Pereira dos Santos

Observando-se a noção de desempe-nho voltado à tarefa, tal qual sugerido porSonnentag e Frese (2002), podemos nova-mente aproximar os construtos “desem-penho” e “competências”. Para os autores,esse desempenho refere-se à capacidade deo indivíduo desenvolver atividades quecontribuam com a organização, seja deforma direta – como ocorre em áreasfinalísticas – ou indireta – como se observaem áreas de coordenação ou suporte.

É diante da diversidade de conceitossobre o tema que este artigo se propõe –por meio de duas revisões teóricas – avaliaras principais características da produçãonacional e a discutir os conceitos de compe-tências em publicações, cujo foco é o setorpúblico. Para tanto, o documento encontra-se dividido em três seções: a primeira enfoca

a metodologia empregada nas revisões; asegunda trata dos resultados e da discus-são; e, ao final, serão apresentadas conver-gências e lacunas das produções analisadas.

Método

Para a revisão da produção nacional,foi realizada pesquisa em periódicos dasáreas de Administração e Psicologia. Aescolha dos periódicos observou o traba-lho realizado por Borges-Andrade e Meira(2003), no qual foram considerados crité-rios como a necessidade de indexação doperiódico e a avaliação satisfatória no Sis-tema Qualis da Coordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal (Capes) do Ministé-rio da Educação. Os periódicos analisadosestão dispostos na Tabela 1.

Tabela 1 – Periódicos nacionais revisados

Área do Conhecimento Periódico

Revista Brasileira de Administração Pública (RAP)Revista de Administração de Empresas (RAE)RAE – EletrônicaRevista de Administração Contemporânea (RAC)

Administração Revista de Administração MackenzieRevista de Administração da Universidade de São Paulo (USP)Revista de Gestão da USPRevista Eletrônica de Administração (Read)Organização e Sociedade (UFBA)

Comportamento Organizacional e GestãoEstudos de Psicologia (Natal)Psicologia: Reflexão e CríticaPsicologia em EstudoEstudos de Psicologia (Campinas)

Psicologia Psicologia: Teoria e PesquisaPsicologia Ciência & ProfissãoPsicologia e SociedadeRevista Psicologia: Organizações e Trabalho – rPOTPsico USFPsico PUCPsicologia em Estudo

Fonte: Elaborado pelo autor

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Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências no trabalho e seu uso no setor público

Ressalta-se que o período de análisese estendeu de 2007 a 2010, por duasrazões: o marco conceitual do tema dascompetências na administração públicabrasileira é o ano de 2006, com a ediçãodo Decreto no 5.707; e extensa revisãonacional e estrangeira sobre o tema foi rea-lizada por Brandão (2009), de 1996 a 2006.Dessa forma, as conclusões gerais apresen-tadas pelo autor servirão de referencialcomparativo para as publicações, conformeperíodo em análise.

Para a revisão do construto das compe-tências em publicações, cujo foco é o setorpúblico, foram analisados ensaios teóricose relatos de pesquisa publicados entre 2000e 2010, em periódicos editados no Brasil eno exterior. Os periódicos utilizados foramos dispostos na Tabela 1, com a inclusão daRevista do Serviço Público da Escola Naci-onal de Administração Pública (ENAP).

Para a coleta de ensaios ou relatos depesquisa em periódicos estrangeiros, foramusadas as bases de dados: SAGE, Journalson Line, Emerald e Scientific Eletronic Libraryon Line (Scielo). A busca se deu por palavra-chave que correspondesse à(s) compe-tência(s), competência(s) no trabalho,

gestão por competências. Em razão doobjetivo do estudo e do seu foco no setorpúblico, também foram incluídos os perió-dicos estrangeiros dispostos na Tabela 2.

Quanto ao critério de análise, o ter-mo “setor público” foi utilizado em senti-do subjetivo, conforme definido por DiPietro (2002). De acordo com o autor, épossível definir administração públicacomo sendo o conjunto de órgãos e depessoas jurídicas aos quais a lei atribui oexercício da função administrativa do Es-tado, independentemente da sua naturezajurídica ou regime de funcionamento.

Resultados e discussão

Os resultados serão apresentados ediscutidos da seguinte forma: inicialmen-te aqueles oriundos da análise da produçãocientífica nacional; em seguida, a apre-sentação do conceito e sua utilização nosetor público.

Produção NacionalAs 14 pesquisas foram analisadas e

classificadas, considerando aspectos apon-tados por Borges-Andrade e Meira (2003)

Tabela 2: Periódicos estrangeiros revisados

Área do Conhecimento Periódico

Revue Française de GestionRevue Française de Administration PubliqueRevista Iberoamericana de Administração Pública

Administração Pública Public Personnel ManagementPublic Performance Management ReviewPublic Administration ReviewInternational Journal of Public Sector ManagementInternational Journal of Public Administration.

Fonte: Elaborado pelo autor

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Aleksandra Pereira dos Santos

no que se refere aos fundamentos dapesquisa, seus objetivos e resultados. Entreos aspectos, encontram-se: área depublicação, enfoques teóricos utilizados,instrumentos de coleta de dados, entreoutros que permitissem caracterizar aprodução sobre o tema.

No que se refere à área de publicaçãodo periódico e à vinculação dos autores,um artigo foi publicado em revista da áreada Psicologia; os demais se concentraramna área da Administração, com destaquepara os periódicos: Revista de Administra-ção Pública (RAP), Revista de AdministraçãoMackenzie (RAM) e Revista de Adminis-tração da Universidade de São Paulo(RAUSP). Quanto à titulação indicadapelos autores e coautores, dezoito eramda área da Administração, dez de Psico-logia e seis de outras áreas do conheci-mento, aqui identificadas: Educação, En-genharia, Ciência da Informação, Ciênciada Saúde e Contabilidade. Quanto aosvínculos dos autores e coautores, é possí-vel perceber maior dispersão em relaçãoàs instituições, com predominância dis-creta para a Universidade de Brasília(UnB), a Universidade de São Paulo (USP)e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Também é frequente a produção detrabalhos com autores de diferentes áreasdo conhecimento: Psicologia e Adminis-tração; Administração e Educação ouEngenharia; e Psicologia e Educação.Porém, não é possível falar em quantidadepredominante de parcerias entre os autoresde Psicologia e Administração, tal comoverificado por Brandão (2009); nem doequilíbrio, no período em análise, em perió-dicos dessas duas áreas do conhecimento.Essa constatação pode ser atribuída pelosurgimento e expansão de outras áreas atratarem do tema das competências notrabalho e nas organizações, bem como

pelo crescimento de publicações emperiódicos de Administração, conformeapresentado inicialmente.

No que se refere aos objetivos dosestudos, são maioria os que tratam daidentificação de competências necessáriasa determinadas funções, conforme descritona revisão nacional de Brandão (2009).Esses estudos tomam por base a análisede papéis ocupacionais ou funções, como:

gerentes, contadores, profissionais dainformação, etc.

Cardoso e outros (2009) buscaramdesenvolver e validar estatisticamente umaescala de competências para o “contador”.A identificação e descrição das compe-tências requeridas foram realizadas nasseguintes etapas: a) análise da fundamen-tação teórica sobre competências no âmbitoda área comportamental; b) preparação de

“(...) a pluralidademetodológica nosestudos sobre o temadas competênciasreflete-se, inclusive,no uso das maisdiversas análises,com destaque paramétodos deinterdependênciasnas pesquisas, cominclusão de variáveisassociadas aocontexto(...)”

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Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências no trabalho e seu uso no setor público

variáveis ou itens a serem mensurados a partirda análise das competências citadas poroutros estudos, cujo foco era os profissionaisde contabilidade; c) agregação das compe-tências identificadas de acordo com o cargoem questão; d) construção do significadode cada competência no instrumento,objetivando a redução dos erros de inter-pretação por parte dos respondentes;e) realização de duas etapas de validaçãoteórica; e f) validação semântica ou pré-testeaplicado em 14 profissionais constituintesda população. Dessa forma, foram descritas18 competências e o questionário foisubmetido a 159 profissionais.

Outro relato sobre identificação decompetências é o de Campos e outros(2008), que apresenta uma lista de 21 habi-lidades e atitudes extraídas da literatura,associando-as à ideia de empregabilidade,entre elas estão: administração de conflitos,autodesenvolvimento, comprometimento,interesse, comunicação escrita, comuni-cação verbal, ética, seriedade, custos,organização, planejamento, proatividade erelacionamento interpessoal. O questio-nário foi aplicado a 156 gestores derecursos humanos em diversos ramos deatividade. Para tanto, foi utilizada umaescala Likert de 1 a 5, relativa ao grau deimportância das habilidades e atitudes paraa organização.

No que se refere aos objetivos, cincodos 14 relatos podem ser classificadosenquanto pesquisas que buscam avaliar osmodelos relativos à gestão por compe-tências implantados em organizações ouos instrumentos desenvolvidos paraidentificação de necessidades de compe-tências. Nesse caso, os relatos procuraram:a) identificar efeitos nas relações entretrabalhadores, após a introdução da gestãopor competência (AMARO, 2008); b) apontarelementos que dificultam o modelo relativo

à gestão por competências (APPEL;BITTENCOURT, 2008); c) identificar apercepção de sujeitos quanto a instru-mentos de avaliação por competências(BRANDÃO et al., 2008. DE SORDI; AZEVEDO,2008); e d) analisar o entendimento dosdirigentes quanto ao conceito de compe-tências e ao modelo relativo à gestão porcompetências (CASSANDRE; ENDRICHI;VERCESI, 2008).

Amaro (2008) propõe-se a discutir osefeitos da introdução da noção de compe-tências nas relações entre trabalhadores eempresa, com base nas modificações e nasdimensões conceitual, social e experimentalda qualificação. Para isso, realizou umestudo de caso na área de manutenção delocomotivas de uma grande empresa demineração e logística. Os temas e as cate-gorias foram os seguintes: a) dimensãoconceitual que se subdivide em: conheci-mentos gerais e específicos; treinamento eformação profissional; diplomas e certifi-cados; b) dimensão social que se subdivideem: plano de cargos e salários; sistema deremuneração; carreira; empregabilidade;sindicato; e c) dimensão experimental quese subdivide em: saber-fazer (procedi-mentos empíricos, esquemas, habilidades,modelos mentais, algoritmos e represen-tações) e saber-ser (aptidão, inteligência,capacidades, vontade, responsabilidade,atitudes, visão de mundo e valores). Oestudo revela que os usos da noção de com-petência na gerência tendem a individualizaras relações entre trabalhadores e empresa, apartir do enfraquecimento das dimensõesconceituais e sociais da qualificação.

Por fim, três relatos de pesquisa têmcomo objetivo examinar a relação entre aexpressão de competências e variáveiscontextuais (BRANDÃO; BAHRY; FREITAS,2008. SANT’ANNA, 2008) ou a mobilizaçãode competências em contextos

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Aleksandra Pereira dos Santos

organizacionais (BAHRY; TOLFO, 2007).Brandão e outros (2008) verificaram arelação preditiva acerca do suporte à trans-ferência de aprendizagem (variável de nívelorganizacional) e a aplicação de compe-tências desenvolvidas em cursos depós-graduação stricto sensu.

De forma análoga, Sant’anna (2008)analisou a relação entre uma variávelorganizacional – modernidade organiza-cional – e o grau de demanda de compe-tências individuais. Seus resultadosapontam para uma relação inversa entre ademanda de competências e os graus demodernidade, caracterizados pela evoluçãode políticas e práticas organizacionais. JáBahry e Tolfo (2007), ao investigarem apercepção de empregados quanto àmobilização de competências no trabalho,demonstraram não apenas a favorávelmobilização dessas competências, mastambém a existência de fatores que influen-ciam a intensidade dessa mobilização, taiscomo: suporte e organização, tipo deatividade exercida e relação entre as ativi-dades com a formação dos sujeitos.

A lacuna de investigações acerca darelação entre competências e variáveis decontexto em estudos nacionais foi previa-mente apontada por Brandão (2009). Defato, a representação desses estudos aindaé modesta, em especial quando compa-rados aos estudos que tratam da identifi-cação de competências.

Quanto à natureza da pesquisa, osrelatos utilizaram, em sua maioria, abor-dagem qualitativa e combinação qualitativa-quantitativa. Há discreta predominância dasabordagens qualitativas nos estudos sobrea avaliação do modelo relacionado à gestãopor competências. Em duas pesquisas,métodos qualitativos foram utilizados paraidentificação de competências profissionais(MELLO et al., 2007; MIRANDA, 2008). Cabe

destacar a descrição de competências rele-vantes para um empreendedor de sucesso,que, a partir de narrativas e entrevistas deum empresário disponíveis na internet,constituiu-se corpus da pesquisa. Os estudosde natureza qualitativa-quantitativa, confor-me já previsto por Brandão (2009), utilizammétodos qualitativos, tais como entrevistase análises de conteúdo, para a elaboraçãode instrumentos posteriormente analisadosquantitativamente. Nos estudos quanti-tativos, a ênfase se dá na aplicação deinstrumentos já existentes ou daqueles cujaconstrução se deu com base na literatura.

De forma semelhante à revisão reali-zada por Brandão (2009), no caso depesquisa qualitativa, a área predominantedos autores é Administração e, no caso depesquisas de natureza qualitativa-quanti-tativa, há uma autoria conjunta de profis-sionais das áreas de administração epsicologia, o que propicia a pluralidademetodológica ressaltada pelo autor. Poroutro lado, nos estudos de natureza quanti-tativa, não foi possível diagnosticar adominância de autoria, uma vez que apenastrês relatos tiveram pesquisa dessa natureza,e seus autores foram de áreas distintas.

Quanto à natureza do estudo, dezestudos relatavam pesquisa com desenho eutilizavam o survey como desenho de inves-tigação. Os demais artigos eram relatos deexperiência, e nenhum deles utilizoudesenho experimental ou pesquisa-ação.

Quanto aos instrumentos e procedi-mentos de análise utilizados, oito pesquisasutilizaram questionários semiestruturadose estruturados ou escalas. Tais instru-mentos tinham como principal finalidadeidentificar a mobilização de competênciasadquiridas ou o grau de necessidade decompetências profissionais. Além deinstrumentos específicos de mensuração decompetências, também foram utilizados os

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RSP

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Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências no trabalho e seu uso no setor público

seguintes questionários ou escalas: suporteà transferência de aprendizagem (BRANDÃO

et al., 2008); percepção de avaliação dedesempenho (BRANDÃO et al., 2008);avaliação do modelo de gestão por compe-tências (CASSANDRE et al., 2008); moderni-dade organizacional (SANT’ANNA, 2008).

Quatro estudos combinaram a análisede documentos e a realização de entrevistasestruturadas ou semiestruturadas. Doisestudos utilizaram testes com objetivo deavaliar competências (DE SORDI; AZEVEDO,2008. DE SORDI et al., 2009). A observaçãotambém foi utilizada em dois estudos comsuporte de outros instrumentos – análisede documentos e entrevistas –, para identi-ficação de competências relevantes aosprofissionais da área da informação(AMARAL, 2009; MIRANDA, 2008). A análisede documentos foi utilizada isoladamenteem apenas uma pesquisa (MELLO et al.,2007). É confirmada, assim, a pluralidademetodológica nos estudos sobre o tema, jáapontada por Brandão (2009).

Os procedimentos de análise dos dadosestão relacionados aos instrumentos depesquisa utilizados. Assim, nas pesquisascom utilização de documentos, entrevistas,questionários semiestruturados e obser-vação, foram utilizados métodos de análisede conteúdo. Todas as pesquisas queutilizam questionários fechados ou escalasrelatam o uso de análises descritivas.Quatro estudos também utilizaram análisefatorial exploratória com objetivo de identi-ficar dimensões subjacentes às escalasaplicadas (BRANDÃO et al., 2008. BRANDÃO;BAHRY; FREITAS, 2008. CARDOSO et al., 2009.SANT’ANNA, 2008). Foram utilizadas ainda:análise de variância e regressão múltiplacom objetivos, respectivamente, de traçarcomparação entre grupos e identificarrelações de predição entre variáveis deestudos; modelagem por equações estru-

turais, combinando-se técnicas de interde-pendência para dar suporte a sugestões derelações causais; e estatísticas nãoparamétricas, para análise de variáveiscategóricas.

Dessa forma, a pluralidade metodo-lógica nos estudos sobre o tema dascompetências reflete-se, inclusive, no usodas mais diversas análises, com destaquepara métodos de interdependências naspesquisas, com inclusão de variáveis asso-ciadas ao contexto, tais como suporte àaprendizagem e modernidade organiza-cional e suas relações com a variávelcompetência.

Em todas as pesquisas, os dados tiveramorigem primária. Quanto ao segmento daeconomia estudado, doze estudos concen-traram-se no setor terciário (serviços), eapenas dois tiveram como foco o setorsecundário (AMARO, 2008; CASSANDRE et al.,2008). Nove estudos trataram de pesquisano setor privado, e quatro trataram deorganizações públicas. Destes, três investi-garam empresas públicas (BAHRY; TOLFO,2007. BRANDÃO; BAHRY; FREITAS, 2008.BRANDÃO et al., 2008;) e uma organizaçãodo Poder Judiciário (APPEL; BITTENCOURT,2008). Houve, portanto, uma diminuição deestudos empíricos cujo setor de análise é opúblico, contrariamente ao diagnosticadopor Brandão (2009). Não foram encontradosartigos cuja análise se dava em organizaçõespúblicas constituintes da administraçãodireta (ministérios) ou em autarquias efundações. Nenhum artigo relatou estudoem organizações do terceiro setor.

No que se refere à noção de compe-tência ou às correntes teóricas adotadas,cinco estudos assumiram a competênciaenquanto comportamentos observáveis notrabalho (BRANDÃO et al., 2008), descre-vendo-as, quando necessário, sob a formade referenciais de desempenho (AMARAL,

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2009; CARDOSO et al.; 2009; MELLO et al.,2007; MIRANDA, 2008). Além das descriçõesde comportamento, Mello e outros (2007)listaram características ou traços individuaisde um empreendedor de sucesso. Para osautores, a competência pode ser percebidacomo uma característica que engloba dife-rentes traços de personalidade, habilidadese conhecimento, influenciados por expe-riência, capacitação, educação, históriafamiliar e aspectos demográficos peculiaresà pessoa.

Quatro pesquisas utilizaram a abor-dagem francesa da concepção de compe-tência e, portanto, associam-na ao contextode trabalho (CAMPOS et al., 2008. CASSANDRE

et al., 2008. DE SORDI; AZEVEDO, 2008. DE

SORDI et al., 2009). Outros cinco artigosadotaram concepção integradora da noçãode competência apontada por Brandão(2009). Neles, a noção de competênciarefere-se não só ao repertório de conheci-mentos, habilidades e atitudes que umindivíduo possui, ou à sua formação espe-cífica, mas também ao desempenho ouação manifestos no trabalho. Appel eBittencourt (2008) destacam a diversidadede ênfases sobre o tema das competências,porém percebem e adotam a convergênciano sentido de a competência buscardesenvolvimento pessoal e profissional queleve a melhor desempenho ou resultado notrabalho.

Produção nacional e estrangeiraNessa seção analisam-se as noções de

competências no trabalho adotadas em24 documentos selecionados, entre ensaiose relatos de pesquisa empírica. Destes, novesão produções nacionais e 15 produçõesestrangeiras. Os ensaios teóricos versamsobre a noção de competências no trabalho,o uso e a aplicabilidade do conceito no setorpúblico. Os relatos de pesquisa empírica

tratam da identificação de competênciasprofissionais, bem como do diagnóstico denecessidades de treinamento, ou ainda, dasrelações entre as competências profis-sionais, a aprendizagem e o desempenho.

No que se refere à produção nacional,o conceito de competência, enquanto tríadeformada por conhecimentos, habilidadese atitudes, englobando não só questõestécnicas, mas também aspectos sociais eafetivos relacionados ao trabalho, é apre-

sentado por Ribeiro, Guimarães e Souza(2002), Bruno-Faria e Brandão (2003) eBahry e Tolfo (2007). Tal conceito associa acompetência a um conjunto de insumos –conhecimentos, habilidades e atitudes –necessários ao desempenho eficiente deindivíduos. Os autores defendem que nãoé possível um conjunto de tarefas prede-finidas e estáticas, mas, sim, novas respon-

“Ao apresentar osdiversos conceitossobre competênciasno trabalho, esteestudo conclui queos documentosanalisados remetemà convergência doconceito decompetência, dianteda complexidade efragmentaçãoteórica previamenteconstatadas naliteratura.”

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sabilidades frente a situações de trabalhocomplexas, acompanhadas da permanentereflexividade no trabalho.

É a indicação de que competências sãoreveladas quando as pessoas agem emsituações profissionais com as quais sedeparam, apresentada por Zarifian (2001),que complementa as noções de compe-tências utilizadas por Brandão e outros(2008), Brandão, Bahry e Freitas (2008).A essa noção de competência, é agregadaa noção de desempenho e a expressão dascompetências em equipes ou na organi-zação como um todo, conforme destacamos estudos de Bruno-Faria e Brandão(2003) e Brandão e outros (2008).

Quando se trata de segmentos profis-sionais da área da saúde, o conceito decompetência adotado também se refere auma concepção dialogada que aborda odesenvolvimento de capacidades ou atri-butos, sejam estes intelectuais, psicomotorese/ou afetivos que, quando articulados,resultam em distintas maneiras de realizar,com sucesso, as ações essenciais de umadeterminada prática profissional. O conceitotambém converge para o de Zarifian (2001),que admite a noção de competência não sócomo uma instrumentalização de saberes ecapacidades, mas também como a mobili-zação desse repertório em determinadocontexto, caracterizando a competênciacomo o saber agir em determinada situação(PERRENOUD, 1999; SAUPE et al., 2007).

Por fim, quanto aos estudos nacionais,cabe ressaltar que, nos moldes delimitadosno método deste estudo, todos os docu-mentos encontrados referem-se a relatos depesquisa empírica realizados em segmentosespecíficos do setor público, aqui tratadosenquanto segmentos profissionais, quer deempregados públicos e servidores públicosde governos estaduais quer de profissionaisda saúde. Não foram encontrados relatos

de pesquisa ou ensaios, nos moldes deli-mitados no método deste estudo, sobresegmentos da administração públicafederal. Pode-se sugerir não só a lacuna dediscussão do construto das competênciasno trabalho e seu uso, mas também acarência de pesquisas empíricas nessesegmento.

No que se refere às publicações estran-geiras, cabe destacar Horton (2000), cujoensaio trata das origens do conceito compe-tência e seu impacto no setor público. Aautora traça uma evolução da organizaçãodo trabalho no setor público, cujo focoevoluiu de um conjunto de diferentesocupações agrupadas por conhecimentose habilidades, requeridos para a investi-gação de fatores, que incluíam caracte-rísticas pessoais, motivação e demaisatributos geradores do desempenhodiferenciado. Em seu estudo, a autoraapresenta as diferenças entre o conceito decompetência utilizado no serviço públicodos Estados Unidos e do Reino Unido. Nocaso britânico, a noção de competência estádiretamente relacionada à noção de desem-penho; correspondendo, portanto, às ações,aos comportamentos e aos resultados queuma pessoa deveria demonstrar (HORTON,2000). Refere-se, nesse caso, ao que é real-mente requerido como desempenho notrabalho e está relacionado ao termocompetence.

A noção do serviço público norte-americano aproxima-se do conjuntode habilidades, atitudes e talentos necessá-rios ao trabalho e que tornam a performanceno trabalho satisfatória ou excepcional.Refere-se ao que é requerido ao indivíduoe está relacionado ao termo competency. Talnoção também é defendida por Nalbandiane Nalbandian (2003), que acrescentam aesse sentido a noção de contexto, desen-volvimento e interdependência. No que se

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refere à existência de duas abordagens doconstruto das competências no trabalho,Farnhan e Stevens (2000) reforçam osargumentos de Horton (2000), resumindo-os em um foco externo – representadopelo desempenho – e um foco interno –o indivíduo.

Young e Dulewicz (2003) ressaltam adistinção entre os dois conceitos e apre-sentam uma abordagem integradora entrecompetency e competence, cujo foco é o desem-penho ou a performance, conforme demons-trado na Figura 1. Nela as característicasindividuais e comportamentais – tais comoconhecimentos, motivação e habilidades –agregam-se às atividades necessárias aoexercício adequado de determinada funçãoou trabalho.

É, portanto, o modelo integrado decompetência no papel de conhecimentos,habilidades e atitudes, que uma pessoapossui para trabalhar bem e contribuir paraa performance da organização, o que possuimaior aceitação – forma análoga àspublicações brasileiras –, sendo comparti-lhado por Hondeghem e Vandermeulen(2000), Bhatta (2001) e Bhatta (2002),Bourgault (2005), Nanquin e Holton

(2006), Faria e Alizo (2006), Noraida eMineira (2007) e Gretha-Taylor (2008). Oúltimo autor apresenta conceito de compe-tência distinto do tradicional – conheci-mentos, habilidades e atitudes –, aodefender que a competência tem foco nofuturo e no desempenho, além de incluirtraços, motivações e comportamentos queinterferem nesse desempenho.

Aliado à noção de competência naqualidade de atributos do indivíduo,Virtanen (2000) refere-se à competênciacomo um tipo de capital ou recursohumano que pode ser transformado emprodutividade. Tal conceito, segundo oautor, é diferente do termo “qualificação”,entendido como requisitos de certoconjunto de tarefas.

Ao traçar um panorama dos modelosrelativos à gestão por competências naEuropa, Hondeghem e outros (2006)defendem que as interpretações e defi-nições de competências e gestão porcompetências são tão numerosas quantodiferentes entre si; mas compreendem, doponto de vista semântico, as palavras“competição” e “competência” comosimilares. Para as autoras, a concorrência

Fonte: Adaptado de Young; Dulewicz (2005).

Figura1: Competency e competence para o desempenho

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no setor público é feita pelo recrutamentoe seleção, pelo acesso aos recursos, pelofechamento de contratos no mercado ou,ainda, pela busca de resultados. O conceitodefendido pelas autoras também é o deBoyatzis (1982), ou seja, competências naqualidade de características comporta-mentais de um indivíduo, em relação diretacom o cumprimento eficaz ou notório deum trabalho.

Conclusões

Mesmo que o termo competência notrabalho esteja em evidência (BRANDÃO;BORGES-ANDRADE, 2007) e a discussão daprodução científica brasileira sobre o temaseja recente (BRANDÃO, 2009), ainda há umalacuna sobre a discussão do construto esua aplicação no setor público, em especialno caso brasileiro, quando se trata da admi-nistração pública federal. A edição doDecreto no 5.707, de 23 de fevereiro de2006, que instituiu a política e as diretrizespara o desenvolvimento de pessoal, siste-matizou alguns conceitos da gestão porcompetências para a administração pública,entre os quais a adequação das compe-tências requeridas dos servidores aosobjetivos das instituições; porém se tratade um marco recente, cujos conceitos emodelos de implementação ainda nãoforam empregados pela maioria dos órgãos.

Ao apresentar os diversos conceitossobre competências no trabalho, esteestudo conclui que os documentos anali-sados remetem à convergência do conceitode competência, diante da complexidade efragmentação teórica previamente consta-tadas na literatura. Tal convergência éexpressa pelo conceito de competênciasenquanto conhecimentos, habilidades eatitudes expressas pelo desempenho profis-sional, dentro de determinado contexto

organizacional; ainda que haja, no casointernacional, duas correntes explícitas: aperspectiva francesa e a inglesa, a primeiracom foco nos atributos individuais e asegunda com foco no desempenho.

São ainda elementos comuns dosconceitos, conforme identificados porCarvalho e outros (2009): referem-se aomundo do trabalho e suas definições pres-supõem a análise do trabalho e de seuscontextos; os elementos constituintes damaioria são conhecimentos, habilidades eatitudes; e imprevisibilidade e evento, indi-cando que, mesmo que os indivíduosdisponham dos repertórios de conheci-mentos, habilidades e atitudes esperadas,haverá trabalhos novos e inesperados.

Já a produção empírica analisada segueuma tendência diagnosticada por Brandão(2009): a) em grande parte, descrevecompetências ocupacionais ou profissio-nais; b) possue desenho survey; c) apresentapluralidade quanto à natureza da pesquisae utilização de métodos e técnicas paracoleta e análise de dados; e d) é realizadaprincipalmente no setor terciário da eco-nomia. No que se refere à abordagemteórica do construto, também convergepara uma concepção integradora.

Em grande parte das pesquisas são rea-lizados levantamentos transversais, nos quaistodas as variáveis são medidas ao mesmoinstante. Existe, portanto, uma lacuna narealização de experimentos ou pesquisascom levantamentos longitudinais. Há, igual-mente, ausência de estudos que investiguema relação entre o construto das competênciasno trabalho com outros construtos de com-portamento organizacional, tais como:satisfação no trabalho, comprometimentoorganizacional ou motivação. O tema éfrequentemente investigado juntamente comos conceitos de aprendizagem e desem-penho. Confirmado por Brandão (2009),

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poucos estudos investigam variáveiscontextuais que poderiam influenciar aexpressão de competências no trabalho.

Na análise da produção nacional, nãoforam encontrados relatos de pesquisa ouensaios sobre segmentos da administraçãopública federal, compreendida enquantosegmento profissional dos servidorespúblicos dos ministérios, autarquias efundações. Assim, sugere-se a lacuna dediscussão do construto das competênciasno trabalho e também a carência depesquisas empíricas nesse segmento.

Desta forma, ainda que a abordagemda competência esteja relativamenteconsolidada enquanto novo modelo paraa gestão de pessoas, principalmente no

setor privado e em segmentos específicosdo setor público (como empresas públicase sociedades de economia mista), na admi-nistração pública federal o tema e asdecorrências de sua aceitação ainda sãoincipientes.

Convém observar que uma análisemais profunda sobre os problemas e osobstáculos enfrentados para a implantaçãoda gestão por competências só pode serfeita a partir de um olhar mais apuradosobre a estrutura e a função das áreas derecursos humanos nos órgãos da adminis-tração pública.

(Artigo recebido em março de 2011. Versãofinal em dezembro de 2011).

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Resumo – Resumen – Abstract

Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências no trabalho eseu uso no setor públicoAleksandra Pereira dos Santos

Este estudo tem dois objetivos: revisar criticamente a produção científica nacional sobre otema “competências no trabalho e nas organizações”; e apresentar o conceito e discutir suautilização no setor público. Para tanto foram analisados relatos de pesquisa empírica e ensaios –nacionais e estrangeiros – em periódicos de psicologia e administração. Foram discutidos: enfoquesteóricos, instrumentos de coleta de dados, procedimentos de análise, entre outros aspectos. Naanálise da produção nacional, constatou-se que, em sua maioria, as pesquisas: descrevem com-petências ocupacionais ou profissionais; possuem desenho survey; apresentam pluralidade quan-to à natureza da pesquisa e utilização de métodos e técnicas para coleta e análise de dados; e sãorealizadas principalmente no setor terciário da economia. Verificou-se, ainda, a convergência doconceito de competência, diante da complexidade e fragmentação teórica previamente constata-das na literatura. Entretanto, mesmo em evidência, a produção científica brasileira sobre o temaé recente e ainda há uma lacuna sobre a discussão do construto e sua aplicação no setor público,em especial no caso brasileiro, quando se trata da administração pública federal, direta, autárquicae fundacional.

Palavras-chave: competências no trabalho e nas organizações, setor público, produçãoempírica nacional.

Conocimientos, habilidades e actitudes: el concepto de competencias en el trabajoy su uso en el sector públicoAleksandra Pereira dos Santos

Este estudio tiene dos objetivos: revisar críticamente la literatura científica sobre el tema delas competencias en el trabajo y en las organizaciones, y examinar el concepto y su uso en elsector público. Por lo tanto, se analizaron los informes de investigación empírica y ensayos –nacionales y extranjeros - en revistas de psicología y de gestión. Se discutieron: enfoques teóri-cos, los instrumentos de recolección de datos, procedimientos de análisis, entre otros. En elanálisis de la producción nacional, se observó que, en la mayoría de los casos, las investigaciones:describen las habilidades laborales o profesionales; tienen un dibujo survey; tienen una pluralidadde la naturaleza de la investigación y el uso de métodos y técnicas para la recogida y análisis delos datos; d) se llevan a cabo principalmente en el sector terciario de la economía. Hubo tambiénla convergencia de la noción de competencia, dada la complejidad y la fragmentación teóricaseñaladas anteriormente en la literatura. Sin embargo, aún en pruebas, la literatura científicanacional sobre el tema es reciente y todavía existe una brecha en la discusión de la construccióny su aplicación en el sector público, especialmente en Brasil, cuando se trata de la administraciónpública (directa e indirecta).

Palabras clave: competencias en el trabajo y en las organizaciones, el sector público, laproducción nacional empírica.

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386 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 369-386 out/dez 2011

Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito de competências no trabalho e seu uso no setor público

Knowledge, skills and attitudes: the concept of competencies at work and its use inthe public sectorAleksandra Pereira dos Santos

This study has two objectives: to make a critical review of the scientific literature aboutcompetencies at work and in organizations and examine its concept and use in the public sector.Therefore, we analyzed empirical research reports and essays – national and foreign – in journalsof psychology and business administration. The following were observed: theoretical approaches,data collection instruments, analysis procedures, and so forth. In the analysis of the nationalproduction, it was found that, in most cases, the researches: describe occupational or professionalskills; have a survey drawing; bear some plurality about the nature of research and the use ofmethods and techniques for collecting and analyzing data; and are performed mainly in thetertiary sector of the economy. There was also a convergence in the concept of competence,given the complexity and theoretical fragmentation noted previously in the literature. However,despite of the importance of the theme, the Brazilian scientific literature on the topic is stillrecent and presents a gap in the discussion about its concept and application in the publicsector, especially in Brazil, considering its federal model of government.

Keywords: competencies at work and in organizations, public sector, national production,empirical research.

Aleksandra Pereira dos SantosDoutoranda em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, na Universidade de Brasília. Mestre em Ciências daInformação (Universidade de Brasília) e graduada em Comunicação Social (Universidade Federal do Piauí). É Especialistaem Políticas Públicas e Gestão Governamental, lotada no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Contato:[email protected]

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387Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 387-406 out/dez 2011

Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

A experiência domicroempreendedor individual

na ampliação da coberturaprevidenciária no Brasil

Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa eHélio Vinícius Moreira Ribeiro

Introdução

O modelo de previdência social adotado no Brasil teve, desde sua origem,

foco voltado para os trabalhadores formais, o que se mantém até hoje, conforme

números do Ministério da Previdência Social que apontam que, em 2009, cerca

de 80%1 dos contribuintes do Regime Geral de Previdência Social eram

empregados. Esse modelo tradicional tem gerado uma cobertura previdenciária

parcial que pode ser explicada pela configuração do mercado de trabalho nacional

e de sua incompatibilidade parcial com o modelo de seguro social, que não

consegue incluir os trabalhadores desempregados, empregados rurais e urbanos

sem carteira, assim como praticamente todo o rol de trabalhadores vinculados a

atividades autônomas. (JACCOUD, 2009).

O esforço para ampliar a proteção social, via inclusão previdenciária, dessas

categorias profissionais marginalizadas começa a ocorrer entre o final da década

de 1960 e começo da década de 1970, e foi ampliado com a Constituição Federal

de 1988. Ocorre que o sistema previdenciário era, e de certa forma ainda é,

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A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

fortemente ligado à conjuntura do merca-do de trabalho, e ficou claro, com a crisedos anos 1980, que a simples inclusão dediferentes categorias profissionais nosistema previdenciário não era garantiaplena para o acesso aos direitos sociaisprevidenciários (RANGEL et al., 2009).

Um grupo que sempre respondeu porparcela relevante da desproteção previden-ciária no Brasil é o dos chamados trabalha-dores por conta própria, sendo seu nívelde proteção inferior até mesmo àqueleprevalecente entre os trabalhadoresdomésticos. Uma proporção muitopequena desse grupo contribui para aPrevidência Social, prevalecendo alto nívelde informalidade nessa posição daocupação. Em muitos casos, trata-se dealternativa de sobrevivência ou ocupaçãode última instância para aqueles que nãoconseguem se inserir no mercado formal.Nesse contexto, a ampliação da coberturaprevidenciária desses trabalhadores porconta própria é uma estratégia necessáriae fundamental para expansão da proteçãosocial no Brasil e na maioria dos paísesda América Latina.

Em função dessa realidade, oGoverno Federal do Brasil tentou váriasmedidas com intuito de ampliar aformalização dos chamados trabalhadorespor conta própria: a) a Lei no 10.666/2003,que alterou a sistemática de recolhimentodos trabalhadores autônomos que pres-tam serviços a empresas2; b) a instituiçãodo Plano Simplificado de PrevidênciaSocial (PSPS), por meio da Lei Comple-mentar no 123/2006, que reduziu aalíquota de 20% sobre o salário de contri-buição para 11% sobre o salário mínimo,para contribuintes individuais que prestamserviços para pessoas físicas e contri-buintes facultativos, ficando, entretanto,excluído o direito à aposentadoria por

tempo de contribuição, com direito apenasa aposentadoria por idade no valor de umsalário mínimo.

Por fim, no final de 2008, por meio daLei Complementar no 128, de 19 de dezem-bro de 2008, foi criado o chamado Micro-Empreendedor Individual (MEI), comosendo o empresário individual que tenhaauferido receita bruta anual de até R$ 36mil e que fosse optante pelo SimplesNacional. O MEI conta com um novolimite de receita bruta anual desde janeirode 2012, que é de R$ 60 mil, conformeestabelecido pela Lei Complementarno 139. Na prática, o MEI foi criado comonova faixa dentro do chamado SimplesNacional, a de faturamento mais baixo e,portanto, na base da pirâmide, que já haviasido criado como forma de dar tratamentodiferenciado para micro e pequenasempresas. O MicroEmpreendedor Indivi-dual foi ainda mais à frente na redução dacarga tributária prevista no Simples, de talsorte que os optantes pelo referido sistemapassaram a ter de pagar apenas a contri-buição previdenciária de 11% sobre osalário mínimo e valores fixos de R$ 1,00de ICMS e R$ 5,00 de ISS. Em abril de2011, o programa do MEI sofreu novaredução na contribuição à PrevidênciaSocial para 5% do salário mínimo, con-forme determinou a Medida Provisória no

529, de 07 de abril de 2011, posteriormenteconvertida na Lei no 12.470. A baixa contri-buição à Previdência Social e a isenção dosdemais impostos federais são uma tenta-tiva de estimular a formalização por meiode tratamento tributário mais favorável ecompatível com a capacidade contributivado público-alvo. Em pouco tempo, o refe-rido Programa avançou de forma rápida ecom grande capilaridade.

Também foi relevante para a rápidaexpansão do Programa, o processo

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“...embora opercentual decontribuição entreas mulheres sejainferior ao doshomens, quando seisola os demaisfatores, nota-se quea probabilidade decontribuição dasmulheres é maiordo que a doshomens.”

simplificado e desburocratizado de ins-crição, bem como o estímulo por meio debenefícios da formalização como: créditomais barato, emissão de nota fiscal eoutros. Na prática, o MEI engloba dife-rentes agendas governamentais e váriasinstituições governamentais e não gover-namentais; trata-se de uma ação deampliação da proteção social, simpli-ficação e desburocratização das micro-empresas formalizadas e de dar vantagensàqueles que se formalizarem – bem comoprocesso de fortalecimento de microem-preendedores –, passando, inclusive, pelaformalização empresarial. Exatamente porenglobar diferentes agendas de governo,o programa contou com a participação dediferentes órgãos públicos.

O presente artigo tem como objetivodescrever e, dentro do possível, avaliar aexperiência do MEI, e está organizado daseguinte forma: a) na segunda parte é feitaa descrição da contribuição previdenciáriados trabalhadores por conta própria, pormeio dos dados da Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios (PNAD) do Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), para mostrar o precário nível deproteção social prevalecente entre ostrabalhadores por conta própria; b) naterceira parte é feita uma descrição dacriação do MEI e da evolução das ins-crições, bem como da cobertura emtermos de cidades; c) na quarta parte éapresentado um perfil do MEI, a partirdos dados cadastrais; d) na quinta parte éfeita uma breve análise da evolução dacontribuição previdenciária, a partir dosdados da Pesquisa Mensal de Empregodo IBGE. Nesse caso, a análise não podeser feita a partir de dados da PNAD, tendoem vista que o programa do MEI é muitorecente; e) na sexta parte são apresentadasas considerações finais.

Contribuição previdenciária dostrabalhadores por conta própria

Os chamados trabalhadores por contaprópria representam um foco extrema-mente relevante da desproteção social noBrasil e em toda América Latina. Segundodados da Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (PNAD) do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) de 2009, de um total de aproxima-

damente 87,5 milhões de trabalhadoresocupados com idade entre 16 e 64 anos,cerca de 38,4 milhões não contribuíam paraa Previdência Social, ou seja, 43,9% dototal. O percentual contribuinte, portanto,era de 56,1%.

Entre os diferentes grupos de traba-lhadores, pode-se notar, pelos dados doQuadro 1, que entre os empregados,empregadores, trabalhadores domésticos e

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A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

por conta própria, o menor percentual decontribuição para a Previdência Socialocorria justamente para esses últimos: deum total de cerca de 17,5 milhões nessaposição na ocupação, apenas 3,1 milhõeseram contribuintes e 14,4 milhões nãocontribuíam para a Previdência Social.Portanto, o percentual de contribuintesentre os trabalhadores por conta própriacaía para 17,8%, sendo o mais baixo entreos grupos analisados – inferior, inclusive,ao nível prevalecente entre os trabalhadoresdomésticos. Portanto, pode-se afirmargrosso modo que de cada 5 trabalhadorespor conta própria, apenas 1 contribui paraa Previdência Social. Do total de 38,4milhões de trabalhadores que não contri-buíam para a instituição mencionada, cercade 14,4 milhões eram trabalhadores porconta própria e, portanto, esse gruporespondia por 37,4% do total de nãocontribuintes.

Uma análise econométrica, por meiode uma regressão logística binária,também confirma que os trabalhadorespor conta própria têm menor propensão

a contribuir. Foi considerada comovariável dependente a contribuição (sendo1 para contribuintes e 0 para não contri-buintes) e como variáveis independentes:a) renda do trabalho em salários mínimos;b) dummy de sexo, sendo 1 para homem e0 para mulher; c) dummy de posição naocupação, sendo 1 para trabalhador porconta própria e 0 para as demais ocupa-ções; d) idade.

O Quadro 2 mostra que quanto maioro nível de renda e maior a idade – manti-dos constantes ou isolados os demaisfatores, como sexo e posição na ocupação–, aumenta a probabilidade de contribuiçãopara a Previdência. Portanto, considerandoadultos do mesmo sexo, da mesma idade ena mesma posição na ocupação, quantomaior o nível de renda deles, maior será aprobabilidade de contribuição.

De forma inversa, ser homem emrelação a ser mulher, e ser trabalhador porconta própria em relação à outra posiçãona ocupação (empregado, empregador,servidor público ou trabalhador domés-tico), mantidos constantes ou isolados os

Quadro1: Trabalhadores ocupados de 16 a 64 anos, segundo posição na ocupaçãoe contribuição para o Instituto de Previdência* – Brasil 2009

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos microdados da PNAD/IBGE 2009. * Em qualquer trabalho.

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Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

demais fatores (renda e idade), implica umadiminuição da probabilidade de contribuição.

Cabe destacar que embora o percentualde contribuição entre as mulheres sejainferior ao dos homens, quando se isola osdemais fatores, nota-se que a probabilidadede contribuição das mulheres é maior doque a dos homens. O menor nível de contri-buição, portanto, é resultado de outrosfatores, em especial o menor nível de renda.

A análise também demonstrou a menorprobabilidade de contribuição dos traba-lhadores por conta própria em relação àsdemais posições na ocupação. Portanto, umtrabalhador por conta própria, com amesma renda, idade e sexo de um traba-lhador que não é do tipo conta própria,terá probabilidade menor de contribuiçãodo que esse último.

Instituição e evolução do MEI

Certamente, um dos principaisatrativos do MEI é seu baixo custo emtermos de formalização e de obtenção daproteção previdenciária. Esse programa,entre 2008 e abril de 2011, era similar aoPlano Simplificado de Previdência Social(PSPS), do ponto de vista da contribuição

monetária para a Previdência Social (11%do salário mínimo), mas há diferenças entreambas as iniciativas. As duas medidas sãoformas de inclusão previdenciária viaincentivos econômicos, sendo o programado MEI classificado como incentivosvoltados para as empresas e o do PSPScomo incentivos voltados para os indi-víduos (RANGEL et al., 2009).

A inscrição do MEI se dá de formaextremamente simplificada, por meio daInternet3, e gera, de forma imediata, aabertura de uma empresa para otrabalhador por conta própria informal,com direito a CNPJ e alvará de funciona-mento provisório por 180 dias, que, no casode nenhuma ação da prefeitura, torna-sedefinitivo. No Plano Simplificado, otrabalhador continua sendo uma pessoafísica, enquanto no MEI ele se torna pessoajurídica formal: o Plano Simplificado estávoltado à prestação de serviços para pessoafísica e o MEI pode prestar serviços parapessoa jurídica.

Houve diferenças importantes naimplementação das duas políticas, comuma postura mais agressiva do MEI emtermos de mobilização e publicidade. Essasdiferenças explicam a evolução positiva

Quadro 2: Regressão logística binária da probabilidade de contribuição paraPrevidência Social segundo determinadas características dos trabalhadores ocu-pados de 16 a 64 anos - Brasil 2009, PNAD/IBGE

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos microdados da PNAD/IBGE 2009.

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A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

e rápida do MEI vis-à-vis o Plano Simpli-ficado.

Um ponto positivo do MEI é o fato deeste integrar diferentes agendas de governoe, por isso mesmo, contemplar distintasações de vários órgãos federais, como:

a) o Ministério da Previdência Social,pelo seu caráter de ampliação da coberturaprevidenciária e da proteção social aostrabalhadores por conta própria, quepossuem nível de proteção inferior atémesmo ao dos trabalhadores domésticos erepresentam contingente grande do totalde desprotegidos e não contribuintes (quase40% do total de não contribuintes);

b) o Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio, mais especificamentea Rede Nacional para a Simplificação doRegistro e da Legalização de Empresas eNegócios (Redesim), que tem como obje-tivo a simplificação e desburocratização doprocesso de abertura de empresas no país,tendo sido criada pela Lei no 11.598/2007e regulamentada pelo Decreto no 6.884/2009, que ganhou mais força com a criaçãodo MEI;

c) o Serviço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas (Sebrae);

d) a Secretaria da Receita Federal doBrasil, tendo em vista que o MEI foi criadono âmbito do Simples Nacional.

Portanto, a forte integração entre asagendas de governo – fato não ocorrido como PSPS –, favoreceu a divulgação do MEI ea consequente aceitação e adesão ao pro-grama. A ampliação da cobertura previden-ciária, simplificação e desburocratizaçãopara formalização de microempreendedoresinformais e fortalecimento das micro-empresas acabou sendo um fator que favo-receu a evolução do MEI, pois houvesinergia de ações de diferentes órgãos.

Esse exemplo mostra que a integraçãode ações de diferentes órgãos federais é

sempre um desafio do ponto de vista daspolíticas públicas e que a convergência deinteresses de diferentes órgãos em relaçãoa uma determinada política pode ser umfato que ajuda no seu sucesso.

Além do tratamento tributário dife-renciado e mais favorável, inclusive noâmbito do Simples Nacional, da simpli-ficação e da desburocratização, outroponto que parece extremamente impor-tante é o esforço do governo federal nosentido de criar benefícios para aformalização. Entre as vantagens quepodem ser citadas estão:

a) possibilidade de emissão de notafiscal, o que facilita vendas ou prestaçõesde serviços que só são possíveis comemissão de nota fiscal;

b) acesso a crédito como pessoajurídica em melhores condições do que ocrédito normalmente acessado comopessoa física, com altas taxas de juros;

c) acesso facilitado a contadores que,em troca, tiveram enquadramento alterado,de forma favorável, no âmbito do Simples,com o compromisso de darem apoio aosmicroempreendedores.

Como pode ser visto no Gráfico 1, nofinal de janeiro de 2010 as inscrições do MEItotalizavam cerca de 77 mil. O ano de 2010terminou com 809 mil inscrições. No finalde março de 2011, esse número haviaaumentado para 1.280.000 inscrições. Nofinal de dezembro de 2011 foram registradas1.895.533 inscrições. Haviam sido atingidas2.115.546 inscrições no final de fevereirode 2012. No dia 4 de março, as inscrições jáestavam em 2.126.778. O Plano Simplifi-cado, que foi criado em 2006-2007 e possi-bilita uma contribuição mensal de 11% dosalário mínimo, contabilizou, em dezembrode 2011, em torno de 163 mil recolhimentosde contribuintes individuais e 100 mil desegurados facultativos.

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Como dito anteriormente, apesar dosimportantes avanços obtidos pelo MEI,certamente ainda restam desafios, riscos,cuidados e problemas que precisam serequacionados. Um dos cuidados neces-sários em relação ao MEI é o de que oprograma não seja utilizado como instrumen-to para “mascarar” relações de emprego,tendo em vista que sua legislação permiteprestação de serviços para pessoa física ejurídica. Exatamente para amenizar esserisco, não são todas as ocupações quepodem ser inscritas no MEI, sendo que sãopermitidas 467 ocupações definidassegundo a Resolução no 58, do ComitêGestor do Simples Nacional (CGSN), de27 de abril de 2009, com as alteraçõesposteriores, sendo, em geral, ocupaçõesmais típicas de autônomos.

Além disso, o artigo 18-B da LeiComplementar no 123/2006, com aredação dada pela Lei Complementar

nº 128, mantinha para a empresa contra-tante de serviços executados porintermédio do MEI – em relação a estacontratação –, a obrigatoriedade de recolhi-mento da contribuição de 20% para aPrevidência Social nos casos de serviçosde hidráulica, eletricidade, pintura, alve-naria, carpintaria e de manutenção oureparo de veículos.

Aparentemente, não está havendosubstituição de emprego por MEI em largaescala, tendo em vista a expressiva geraçãode empregos formais observada em 2010:a) os dados do Cadastro Geral de Empre-gados e Desempregados (Caged) apontoua criação de respectivamente 2,5 e 1,9milhões de empregos com carteira detrabalho assinada em 2010 e 2011; b)segundo os dados da Relação Anual deInformações Sociais (Rais) foram gerados2.860.809 empregos formais, sendo que2.590.377 eram empregos celetistas em

Gráfico 1: Evolução do MEI, janeiro de 2010 a dezembro de 2011

Fonte: Receita Federal – Simples Nacional

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A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

2010. Esses dados, embora não afastem porcompleto a possibilidade de substituiçãomascarada de emprego por MEI, certa-mente são indícios de que isso não tenhaocorrido em larga escala.

Outro desafio diz respeito à necessidadede avançar na simplificação das obrigaçõesimpostas ao MEI, que tendem a ser asmesmas impostas às pessoas jurídicas dopaís. Embora a legislação defenda o trata-mento diferenciado, na prática algumas dasobrigações típicas de uma empresa maisestruturada – e seus respectivos custos –acabaram sendo transferidas ao MEI.

É obvio que o processo de inscriçãodo MEI foi bastante simplificado, sendo ainscrição feita pelo Portal do Empreen-dedor em um tempo bastante curto, comexigência de poucas informações, sendoque no final o MEI sai com cadastro noCNPJ e o respectivo número, e um Certi-ficado da Condição de MicroEmpreen-dedor Individual (CCMEI) que funcionacomo alvará de funcionamento provisóriopor um período de 180 dias. Este, no casode não manifestação do município, torna-se efetivo para atividades que não são dealto risco. O pagamento unificado dospoucos impostos mensais (PrevidênciaSocial, ICMS e/ou ISS) se dá com a geraçãode uma guia única e integrada de DAS(Documento de Arrecadação do SimplesNacional) emitida no próprio site. Portanto,o processo de simplificação e desburocra-tização foi fundamental para a evoluçãopositiva do MEI e reduziu o custo emtermos de tempo despendido comobrigações burocráticas.

Contudo, ainda restam desafios emtermos de simplificação. Em primeirolugar, o MEI é uma pessoa jurídica e, comotal, tem várias das obrigações acessóriasde qualquer pessoa jurídica normal.Embora a legislação o tenha desobrigado

de fazer a declaração “negativa”4 de Guiade Recolhimento do Fundo de Garantia doTempo de Serviço e Informações à Previ-dência Social (GFIP) e da Relação Anualde Informações Sociais (Rais)5, o MEIprecisa declarar GFIP, Rais e o CadastroGeral de Emprego e Desemprego (Caged),no caso de ter empregado, em uma signifi-cativa sobreposição de informações. OMEI, no caso de ter empregado, terá quedeclarar a mesma informação em trêsinstrumentos diferentes para distintas insti-tuições do governo federal. Para complicar,cumprir essas obrigações não é fácil doponto de vista operacional, quase sempreimplicada a contratação de um contador, oque eleva de maneira considerável ochamado custo da formalização. No âmbitoda Receita Federal está em desenvolvi-mento uma declaração unificada de previ-dência, uma trabalhista e uma do FGTS,no projeto denominado de “folha digital”,conforme estabelecido pela Lei Comple-mentar no 139.

Outra linha importante na evolução doMEI é trabalhar nos benefícios potenciaisda formalização. Esse aspecto é muitoimportante porque, do ponto de vista mera-mente tributário, a competição com ainformalidade é muito difícil, pois a forma-lização sempre implica deixar de pagar zerode impostos e taxas referentes à atividadepor conta própria. Nesse contexto, é funda-mental não apenas que a carga tributáriaseja condizente com a capacidade contri-butiva desses trabalhadores por contaprópria, mas também que esse trabalhadortenha benefícios pela formalização.

Uma primeira vantagem daformalização é que o MEI passa a poderemitir nota fiscal e há inúmeros casos decompradores que a realizam apenas sehouver emissão da referida nota. Alémdisso, as instituições financeiras federais

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oficiais, como a Caixa Econômica Federal,Banco do Brasil, Banco do Nordeste eBanco da Amazônia, criaram linhasespeciais de crédito para o MEI. Impor-tante reforçar que muitos daqueles que seformalizaram, na realidade já tinham acessoa crédito, mas como pessoa física e comtaxas de juros elevadas. As linhas de créditocriadas foram para pessoas jurídicas e comtaxas de juros mais baixas. A título deexemplificação, passou a haver a possibili-dade de acesso a crédito de até R$ 15 milpara o MEI, por meio do Fundo Constitu-cional de Financiamento do Centro-Oeste(FCO), com taxa de juros subsidiada de6,75% ao ano, no âmbito do Programa deFCO Empresarial de Apoio aos Microem-preendedores Individuais (MEI) e às Microe Pequenas Empresas (MPE)6. Claro que,mais que a mera criação formal das linhas,é essencial que estas tenham boa execu-ção, pois não seria a primeira vez em quehá criação de uma linha oficial sem boaexecução na prática.

Um levantamento realizado pela CaixaEconômica Federal mostrou que cerca de408 mil MicroEmpreendedores Individuaisjá eram clientes da referida instituição, mascomo pessoa física. Portanto, existe umgrande trabalho de transferir este público,que em geral já é cliente de instituiçõescomo pessoa física, para linhas de pessoajurídica, em que a taxa de juros, em geral,é menor.

Certamente, ainda há espaço paranovas ações, no sentido de trabalhar osbenefícios da formalização, como acesso àqualificação e a mercados. Os Micro-Empreendedores Individuais tambémpassam a contar com o apoio do Sebrae.

Outro problema em relação ao MEI éuma alta taxa de inadimplência. Embora areferida taxa esteja em patamar similar aodas faixas acima do MEI no âmbito do

Simples Nacional, tal fato merece seranalisado com profundidade. Em parte, ofato da inscrição no MEI ser tão simplificadae tão fácil pode estar gerando inscrições depessoas sem o devido conhecimento ouperfil adequado. A inadimplência podetambém estar relacionada com a instabili-dade da renda dos trabalhadores por contaprópria. De qualquer forma, mesmodescontada a inadimplência, ainda há muitoscasos de microempreendedor individual

pagando a Previdência Social, o quedemonstra que o programa tem impactorealmente significativo.

Contudo, é preciso deixar claro que nãonecessariamente toda inscrição é umaformalização, podendo ser uma migraçãode um contribuinte individual que pagavapela regra normal (20% do salário de contri-buição), ou mesmo no Plano Simplificado

“Um pontopositivo do MEI éo fato de esteintegrardiferentesagendas degoverno e, porisso mesmo,contemplardistintas ações devários órgãosfederais...”

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A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

(11% do salário mínimo), para o MEI (5%do salário mínimo), fato que também podeter ocorrido no âmbito do Plano Simplifi-cado, ou algum outro tipo de transição. Énecessário um estudo do passadocontributivo das pessoas que migraram, paraprecisar quanto das inscrições feitas no MEIé efetivamente formalização de trabalhado-res por conta própria. Outra possibilidade éque o MEI poderia estar substituindoemprego sem carteira de trabalho, aspectoque será discutido posteriormente.

Talvez, em função da inadimplência –não apenas em função dela aparentemente–, mas também por uma possível avalia-ção de que 11% do salário mínimo pode-ria ser um valor elevado para o públicobeneficiário potencial, foi reduzida a con-tribuição previdenciária do MEI de 11%para 5% do salário a partir da competênciade maio de 2011, por meio da MedidaProvisória no 529/2011.

A referida redução deve trazer benefíciosdo ponto de vista da ampliação da proteçãosocial, da cobertura previdenciária eformalização de trabalhadores por contaprópria. Contudo, a medida também aumentao risco, que já existia, de substituição, deforma mascarada, de uma relação de empregopor MEI. Desse ponto de vista, teria sidomais recomendável a redução para 8%, deforma a manter paridade com a contribuiçãodo segurado empregado, que varia de 8% a11%. Ademais, a referida Medida Provisóriareduziu para 5% a contribuição do MEI, masmanteve em 11% a do Plano Simplificado,de tal forma que pessoas com mesmo direito,em termos de benefício previdenciário,possuem contribuições diferenciadas. Certa-mente, a medida vai estimular a migração deinscritos no Plano Simplificado para o MEI.

Além disso, embora a medida sejapositiva do ponto de vista da inclusãoprevidenciária, ampliou o desequilíbrio

atuarial implícito, que precisa ser discutidono futuro.

Para que se possa compreendermelhor: atualmente, com a contribuição de5% do salário mínimo e carência de 15 anosna aposentadoria por idade, um trabalhadorpoderia se aposentar pagando (sem aplicartaxa interna de retorno ou taxa de juros)R$ 5.598, mas receberia proventos, a partirda atual expectativa de sobrevida para umhomem de 65 anos, de cerca de R$ 122mil. Nesse contexto, há de se afirmar quea definição da alíquota de 5% foi estabe-lecida sem qualquer lógica atuarial, o quenão é o ideal quando se trata de umacontribuição previdenciária.

Perfil do MEI

A partir do cadastro de informações doMinistério do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior (MDIC),7 foi feito umlevantamento do perfil do MEI, com oregistro das inscrições realizadas no Portaldo Empreendedor, em uma posição quecontava com 1,7 milhão de registros. Cabedestacar que são poucas as informaçõespedidas por ocasião do cadastramento.

Considerando a questão do gênero, deum total de 1.683.132 registros com infor-mações, 773.870 eram do sexo feminino(46,0% do total) e 909.262 do masculino(54,0% do total). Essa predominância dosexo masculino entre os inscritos no MEIé uma realidade no Brasil, como pode servisto no Quadro 3. A predominância dehomens também ocorre em todas asunidades da federação.

A predominância masculina pode estarrefletindo, na realidade, a própria predomi-nância de homens entre os trabalhadores porconta própria não contribuintes e, portanto,a análise deve levar em consideração o perfildo público beneficiário potencial.

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Quando se aplicam os filtros nosmicrodados da PNAD – de trabalhadorespor conta própria que não contribuem paraprevidência, que não são de atividadeagropecuária (pois o MEI não abrigaocupações do referido setor, sendoprimordialmente urbano) e que tem rendamenor ou igual a R$ 3 mil por mês(R$ 36 mil ano) –, chega-se a um públicopotencial menor, de cerca de 11,5 milhões,sendo 6,8 milhões homens e 4,7 milhõesmulheres.

Portanto, é natural que a maior partedos inscritos seja homens, tendo em vistaque o público potencial é predominan-temente masculino. Contudo, fazendo as

inscrições pelo público potencial, o impactoteria sido maior entre as mulheres do queentre os homens (ver Quadro 4).

Do ponto de vista da idade, a análisedos 1.683.132 casos apontou para uma idademédia dos MicroEmpreendedoresIndividuais, na data de inscrição, de cercade 36,4 anos, uma mediana de 35 anos euma moda de 29 anos. O quartil inferior foide 27 anos (25% dos MEI têm até 27 anos)e o quartil superior, de 45 anos (apenas ¼dos MEI têm 45 anos ou mais).

Na análise por sexo, não se observamuita diferença etária entre mulheres ehomens, tendo em vista que o primeirogrupo apresentava idade média de 36,7 anos

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Serpro e MDIC.

Quadro 3: Quantidade de MEI e distribuição percentual, segundo sexo e região

Quadro 4: Distribuição do público potencial e das inscrições do MEI segundosexo

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Serpro, MDIC e microdados da PNAD/IBGE 2009.

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e o segundo, de 36,2 anos. A idade medianados homens e das mulheres era de 35 anos.Portanto, de modo geral, pode-se dizer queo público masculino predominante não éde idades avançadas, pelo contrário: cercade ¼ tem até 27 anos, metade tem até 35anos e cerca de ¾ tem até 45 anos.

A análise desagregada por faixa etáriaapenas confirma o diagnóstico apresentadoanteriormente. Há forte concentração dafaixa etária do MEI, na data de inscrição,entre 21 e 45 anos: praticamente 3/4 estãona referida faixa etária (por volta de 74%).Mais de 1/3 dos inscritos (33,98%) tinhamaté 30 anos de idade e, como colocadoanteriormente, metade dos inscritos tinhaaté 35 anos de idade. A faixa etária de21 a 40 anos contempla cerca de 61,4%dos inscritos.

Se for considerado que a carência daaposentadoria por idade é de 15 anos decontribuição, sendo concedida aos 65 anosde idade para os homens e aos 60 para asmulheres, poder-se-ia julgar que o programaseria mais atrativo para homens na faixa de50 anos e para mulheres em torno de45 anos que nunca haviam contribuído paraa Previdência. Contudo, apenas 11,8% dosinscritos tinham 51 anos ou mais.

Do ponto de vista das principais ativi-dades, estavam: comércio varejista de artigosde vestuário e acessórios – comércio deroupa e confecção (220.829); cabeleireiros(157.568); comércio varejista de mercadorias

em geral, com predominância de produtosalimentícios; serviços ambulantes dealimentação; comércio varejista de cosmé-ticos, perfumaria e higiene pessoal; comérciovarejista de bebidas; comércio varejista deartigos de armarinhos; confecção; outras ati-vidades de tratamento de beleza; instalaçãoe manutenção elétrica; serviços de pintura eoutros; fornecimentos de refeições;alfaiataria; comércio de bijuterias; serviçosde lava jato; serviços de lan house; fabricaçõesde pães e bolos; serviços de borracharia etc.De modo geral, a predominância parece serde trabalhadores por conta própria envol-vidos em pequenas atividades comerciais,as mais variadas possíveis, bem como deserviços pessoais.

Em relação à forma de execução dasatividades, cerca de 70% dos trabalhadoresexerciam a atividade em domicílio. Notocante à forma de atuação: 58% traba-lhavam em estabelecimento fixo (inclusiveno próprio domicílio); 20,3% trabalhavamde porta em porta, em postos ou ambulantes;6,7% trabalhavam pela Internet; além deoutras formas de atuação.

A partir de dados da declaração anualdos MEI, foi mostrado que, em 2009,apenas 2,32% dos declarantes tinhamcontratado empregados, percentual que seelevou 3,86% em 2010. Portanto, emboraseja permitido ao MEI contratar funcio-nário que ganha um salário mínimoou o piso da categorial profissional, com

Quadro 5: Estatísticas descritivas sobre idade do MEI

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do Serpro e MDIC.

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contribuição patronal previdenciária redu-zida para apenas 3%, mesmo assim, agrande maioria não contrata empregados,pelo menos formalmente.

Evolução da cobertura previden-ciária dos trabalhadores por contaprópria

Os dados da PNAD não permitemfazer uma análise de impacto do MEI nacobertura previdenciária dos trabalha-dores por conta própria, tendo em vistaque o último dado disponível é desetembro de 2009, quando o número deinscritos no programa era muito baixo eeste não estava funcionando em nívelnacional. A possibilidade que resta éanalisar o incremento da contribuiçãoprevidenciária dos trabalhadores por contaprópria por meio dos microdados daPesquisa Mensal de Emprego (PME), que,se por um lado, apenas analisa algumasregiões metropolitanas, por outro lado,apresenta dados temporais com pequenadefasagem no tempo.

Fazendo a análise por meio da evoluçãoda contribuição previdenciária entre marçode 2009 e março de 2011, pode-se notar,pelos dados do Quadro 6, que houve rele-vante incremento da contribuiçãoprevidenciária dos chamados trabalhadorespor conta própria, tendo o percentual decontribuintes no referido período crescidode 20% para 24,3%. Entretanto, esse incre-mento não pode ser atribuído diretamenteao MEI, pode ser efeito de outros fatores,mas, de qualquer forma, é indício de que oMEI pode ter tido impacto positivo.

Além disso, entre março de 2009 emarço de 2011, o emprego com carteirade trabalho assinada, segundo dados daPME/IBGE, cresceu 14,4%, tendo sidocriados cerca de 1,5 milhão de empregos

nessa modalidade. Portanto, como foifalado anteriormente, embora a expressivageração de empregos formais não afastapor completo a ocorrência de substituiçãode emprego por MEI, certamente é indíciode que isso não ocorreu em larga escala.

Houve, no mesmo período, umaredução de empregos sem carteira detrabalho assinada. Essa redução tanto podeocorrer por transição de emprego semcarteira para emprego com carteira de

trabalho, como também haveria a possibi-lidade de migração de emprego informalpara o MEI. Para ter certeza, torna-senecessária a análise das migrações.

Considerações finais

Aspecto fundamental dos mercados detrabalho dos países da América Latina,inclusive o Brasil, é o elevado grau de

“Outroproblema emrelação ao MEI éuma alta taxa deinadimplência.(...), tal fatomerece seranalisado comprofundidade.”

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desproteção social ou previdenciária, quedecorre, em grande parte, da alta taxa deinformalidade prevalecente no mundolaboral. O cerne da desproteção englobaempregados e trabalhadores domésticossem carteira de trabalho assinada, bemcomo os chamados trabalhadores por contaprópria ou autônomos. Na realidade,parcela relevante dos trabalhadores porconta própria se insere, dessa forma, nomercado de trabalho não por opção, massim por necessidade e falta de outra alterna-tiva de inserção. Portanto, trata-se muitasvezes de uma busca pela sobrevivência egeração de renda frente à incapacidade deinserção no mercado formal de trabalho.

Não em todos os casos essa inserçãoocorre como reflexo de falta de alterna-tiva, havendo, efetivamente, casos em queessa opção pode ser voluntária, ou seja,existe alguma heterogeneidade dentro dessegrupo. De qualquer forma, o grau de

cobertura previdenciária dos trabalhadorespor conta própria é muito baixo e precário,sendo, inclusive, inferior ao dos trabalha-dores domésticos; portanto, os chamadosautônomos respondem por parcela signi-ficativa da desproteção previdenciária noBrasil. Nesse contexto, a ampliação dacobertura previdenciária passa, necessaria-mente, pela expansão da proteção socialdos trabalhadores por conta própria.

Várias medidas foram tomadas nessesentido, como a Lei no 10.666, de 8 de maiode 2003, e a criação do chamado PlanoSimplificado. Mais recentemente, foi insti-tuído o chamado MicroEmpreendedorIndividual (MEI), que aparentemente temobtido resultados relevantes na ampliaçãoda cobertura previdenciária, com a combi-nação de tratamento tributário diferenciadoe condizente com a baixa capacidadecontributiva do público-alvo, bem como

Quadro 6: Ocupados por situação de contribuição previdenciária PME/IBGE,março de 2009 e março de 2011

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos microdados da PME/IBGE

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simplificação, desburocratização e oferta debenefícios aos que formalizarem, comocrédito mais barato, maior acesso aos mer-cados por meio de notas fiscais e outros.Enfim, uma agenda que englobouampliação da proteção social, racionali-zação da burocracia e estímulo aos micro-empreendedores.

A análise do perfil do MEI mostrouque, em geral, se trata predominantementede homens jovens, com idade inferior a 45anos e exercendo atividades comerciais eprestação de serviços.

Apesar do sucesso do programa,existem alguns cuidados e riscos queprecisam ser minimizados, como a possibi-lidade de substituição de emprego porMEI, necessidades de avanços adicionaisna simplificação das obrigações acessórias,maior envolvimento dos municípios napolítica etc. O controle do risco de mascararuma relação de emprego pelo MEI estáamenizado pelo fato de que não são todasas ocupações passíveis de serem inscritascomo MEI, mas apenas cerca de 400ocupações típicas de trabalhadores autôno-mos, conforme regulamentado pelo ComitêGestor do Simples Nacional. O licencia-mento dos municípios também devefuncionar como mecanismo de fiscalização.O forte crescimento do emprego formalem 2010 é indício de que não houveocorrência desse problema em larga escala.Existe a possibilidade de substituição deemprego sem carteira por MEI.

Apesar desses cuidados, é precisoavaliar com rigor os resultados obtidos,analisando o passado contributivo (ou afalta dele) dos inscritos, em especial osobtidos com a Medida Provisória no 529/2011, que reduziu a contribuição de 11%para 5% do salário mínimo. Embora talmedida possa ter efeitos positivos doponto de vista da ampliação da proteção

social, também ampliou o desequilíbrioatuarial existente, bem como aumentou orisco de estimular a substituição deemprego por MEI. De qualquer forma, aredução para 5%, exclusivamente doponto de vista da inclusão previdenciária,pode ser considerada positiva e parece tertido efeito positivo sobre as inscrições aolongo de 2011. Contudo, aparentemente,a referida medida não teve efeitos signifi-cativos na redução da inadimplência, ecriou uma situação em que os benefíciossão os mesmos do Plano Simplificado;mas o MEI paga 5% do salário mínimo eo referido plano paga 11%. Essa distorçãodeve provocar migração do Plano Simpli-ficado para o MEI, bem como demandasde tratamento favorecido similar por partede outros grupos.

Ponto importante a notar no desenhodas políticas de ampliação da coberturaprevidenciária é que, em um país como oBrasil, que tem uma complexa legislaçãotrabalhista, previdenciária e tributária, comum conjunto muito grande de tratamentosdiferenciados, qualquer desenho de políticadeve levar em consideração os incentivosque serão gerados do ponto de vista daarbitragem tributária.

Outro ponto importante é notar queas políticas de proteção social não podemser pensadas separadamente daquelasvoltadas ao mercado de trabalho. Na reali-dade, existe uma interrelação muito forteentre as políticas de proteção social e as demercado de trabalho, de tal forma queambas se afetam mutuamente. Infeliz-mente, é muito comum o desenho depolíticas públicas sem levar em conta aforte interrelação entre essas políticas.

De qualquer forma, em que pese osriscos e problemas aqui salientados, éinegável que o MicroEmpreendedorIndividual é uma política que pode ser

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considerada exitosa em vários sentidos: naampliação da proteção social, no processode simplificação e racionalização daburocratização, no registro de negóciosformais e no apoio aos trabalhadores porconta própria informais (de baixa renda).

Contudo, é preciso um monitoramentocontínuo e um aprofundamento da avalia-ção para o aperfeiçoamento dessa impor-tante política pública.

(Artigo recebido em julho de 2011. Versãofinal em dezembro de 2011).

Notas

1 Boletim Estatístico da Previdência Social, dezembro de 2011.2 Para uma análise detalhada desses impactos, ver Informe de Previdência Social de Abril de

2005 (publicação do Ministério da Previdência Social: Nova Metodologia para Contagem de Contribu-intes Individuais.

3 Endereço: portaldoempreendedor.gov.br4 Negativa quer dizer, no caso de não ter empregados.5 A isenção do MEI da chamada RAIS negativa foi instituída por meio da Portaria nº 371,

de 24 de fevereiro de 2011 do Ministério do Trabalho e Emprego.6 Para uma análise mais detalhada ver o relatório do Fundo Constitucional de Financiamen-

to do Centro-Oeste (FCO) – Programação para 2011. Ministério da Integração Nacional eBanco do Brasil.

7 Os dados do MDIC diferem dos registros da Receita Federal pelo fato de considerarapenas as inscrições feitas no portal do empreendedor. A Receita Federal, além desses registros,considera a migração de empresas já existentes para o programa do MEI.

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Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

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A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

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Rogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

Resumo – Resumen – Abstract

A experiência do microempreendedor individual na ampliação da coberturaprevidenciária no BrasilRogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa e Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

O mercado de trabalho brasileiro é caracterizado por elevada informalidade e por alto graude desproteção previdenciária. Entre os principais componentes da referida desproteção estãoos chamados trabalhadores por conta própria, que respondem por grande parcela do total dedesprotegidos. Nesse sentido, a ampliação da cobertura passa, necessariamente, por medidasque ampliem a proteção social dos trabalhadores por conta própria. Já foram tomadas medidasno passado como, por exemplo, o Plano Simplificado, sem impacto significativo. Mais recente-mente, foi instituído o Programa MicroEmpreendedor Individual, que, depois de dois anos doinício do seu funcionamento em nível nacional, já registrava 2,1 milhões de adesões. O referidoprograma combina tratamento tributário diferenciado e favorecido; simplificação e racionaliza-ção da burocracia; apoio aos microempreendedores e benefícios pela formalização. O artigoapresenta a lógica do programa e sua evolução, bem como discute os riscos, cuidados e necessi-dades de avanços adicionais.

Palavras-chave: MicroEmpreendedor Individual; Proteção Social e Inclusão Previdenciáriados Trabalhadores por Conta Própria; Formalização

La experiencia del microemprendedor individual en la ampliación de la coberturaprevisional en BrasilRogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa y Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

El mercado laboral brasileño se caracteriza por la informalidad y el alto grado dedesprotección social. Entre los desprotegidos, se destacan los trabajadores por cuenta propiaque representan gran parte de los trabajadores sin protección y, por lo tanto, son foco de impor-tantes medidas de inclusión previsional. En 2007 fue instituido el Plan Simplificado. Sin embar-go, el plan no ha logrado el éxito esperado. Recientemente, fue instituido un nuevo programadestinado a los Microemprendedores Individuales. El programa en poco más de dos años delinicio de las operaciones a nivel nacional ya había registrado 2,1 millones de inscripciones. Elartículo presenta la lógica del programa y su evolución. Además, analiza los riesgos, los cuidadosy las necesidades de nuevos avances.

Palabras clave: Microempreendedor Individual; Protección Social y Inclusión Previsionalde los Trabajadores por Cuenta Propia o Autonomos; Formalización.

The role of small scale businesses in the expansion of access to social insurance inBrazilRogério Nagamine Costanzi; Edvaldo Duarte Barbosa and Hélio Vinícius Moreira Ribeiro

The Brazilian labour market is characterized by high informality and high levels of excludedworkers of social security system. A major component of that deprotection is the called self-employed workers, which account for a large portion of total unprotected. In this sense, theexpansion of coverage needs measures to improve social protection of self-employed workers.Measures have been taken in the past like, for example, the Plan Simplified, without such asignificant impact. More recently, a program called MicroEmpreendedor Individual was instituted atthe national level. Two years after that there were 2,1 million subscribers. This program combi-nes differential tax treatment, simplification and streamlining of bureaucracy and support and

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406 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 387-406 out/dez 2011

A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciária no Brasil

benefits to microentrepreneurs to formalize. The article presents the program logic and itsevolution, and discusses the risks and the need for further enhancements.

Keywords: Microentrepreneur; Social Security Inclusion and Protection of IndependentWorkers; Formalization

Rogério Nagamine CostanziMestre em Economia pela Universidade de São Paulo (USP). É Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental,em exercício no Ministério da Previdência Social. Contato: [email protected]

Edvaldo Duarte BarbosaGraduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Auditor Fiscal da ReceitaFederal do Brasil, lotado no Ministério da Previdência Social, na Coordenação-Geral de Estudos Previdenciários.Contato: [email protected]

Hélio Vinícius Moreira RibeiroBacharel em Estatística pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente trabalha como consultor em Estatística junto àSecretaria Nacional de Assistência Social, no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Contato:[email protected]

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407Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

Eneida Bastos Paes

A construção da Lei de Acessoà Informação Pública no Brasil:desafios na implementação de

seus princípios

Eneida Bastos Paes

Introdução

O Estado moderno, como ensina Weber, é uma construção histórica que pode

ser vista como a acumulação monopolista do poder pelos monarcas e concen-

tração desse poder dentro dos limites de um território definido (WEBER, 1994).

Como mostra Giddens (1985), essa concentração de poder é somente

conseguida com o acúmulo de informações (administrativas, geográficas,

epidemiológicas etc.) pelo Estado. Não é por outra razão que o Estado moderno

é caracterizado por um corpo de funcionários especializados, capazes de mani-

pular essas informações de maneira a produzir os instrumentos de dominação

legítima. Para o autor, as “sociedades modernas” foram “sociedades de

informação” desde seu início.

A manipulação e a armazenagem da informação desempenharam (e desem-

penham) papel fundamental na constituição (e manutenção) desses Estados. Esse

processo de acumulação de informações, por meio de um conjunto de práticas

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408 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

administrativas, foi denominado porFoucault (2007) de “gouvernementalité”(que livremente traduzo como governa-bilidade).

Assim, embora o armazenamento emanipulação da informação seja parteimportante da constituição daquilo que seentende por “Estados modernos”, somenteem período recente iniciou-se um movi-mento de regulamentação do acesso a essasinformações.

O direito de acesso à informação é umtema relativamente novo no cenário inter-nacional e nacional e, portanto, está aindaem fase de consolidação. A doutrina dodireito à informação nasceu como conse-quência de uma “reflexão crítica dentro dopensamento liberal e democrático sobre osproblemas sócio-políticos decorrentes daaplicação da liberdade de informação nocontexto social pós II Guerra Mundial”¹(JÁUREGUI, 2011, p. 31, tradução nossa).

Dada a importância do tema, nasúltimas duas décadas, houve um crescentemovimento de criação, revisão e atualizaçãodas leis de acesso à informação em paísesdas Américas, da Europa, da África e daÁsia (ACKERMAN; SANDOVAL, 2007).

Segundo Ackerman e Sandoval (2007),há 20 anos somente dez nações no mundocontavam com leis que garantiam aoscidadãos o direito de acesso à informaçãopública governamental. Desde então, até oano de 2007, 52 nações a mais já aprova-ram leis de acesso à informação. Hoje sãocerca de 90 os países com leis de acessoem vigor (MARTINS, 2011).

O direito de acesso às informaçõesgovernamentais no Brasil, até recentemen-te, permanecia incompleto, devido, entreoutras coisas, a uma interpretação restritivadaquilo que prevê o Artigo 5o, IncisoXXXIII, da Constituição Federal. Entre odever de sigilo e o direito à informação, a

burocracia permanecia acuada, pois nãopossuía parâmetros legais suficientes parafundamentar as respostas aos pedidos deinformação.

Com a aprovação recente da Leino 12.527 (Lei de Acesso), em 18 denovembro de 2011, o Brasil possui agorauma legislação infraconstitucional queregulamenta esse direito de forma maiscompleta. Porém, a nova legislação, se nãofor acompanhada por uma política pública,dificilmente será suficiente para aampliação do acesso às informaçõesgovernamentais.

O presente artigo pretende mostrar, deforma sintética, a experiência do México eEstados Unidos da América na implemen-tação de suas políticas de acesso. Aslegislações desses países influenciaramfortemente a construção da nova lei deacesso no Brasil. Assim, a experiência dessespaíses fornece algumas pistas sobre asdificuldades que se farão presentes naimplementação da nova legislação no Brasil.

As leis de acesso do México edos Estados Unidos da América

No México, a lei de acesso é relativa-mente nova. A lei mexicana entrou emvigor em 2003 e traz, em seu corpo,conceitos e princípios que seguem asorientações dos organismos internacionaispara a elaboração de leis de acesso àinformação. Além disso, tem um textoclaro e detalhado, de fácil compreensãopara o cidadão.

O direito de acesso à informação foiconsagrado na Constituição do Méxicocom a reforma de 1977, quando o Artigo6o foi emendado para incluir em seu textoa ordem segundo a qual o direito de acessoà informação será garantido pelo Estado(GALEANA, 2007).

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409Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

Eneida Bastos Paes

No ano de 2002, uma abrangenteemenda ao Artigo 6o da Constituiçãomexicana, aprovada por unanimidade pelasduas câmaras do Congresso e pelalegislatura de 16 estados, ampliou substan-cialmente a proteção constitucional aodireito de acesso à informação no país.

Contudo, mesmo antes da aprovaçãodas referidas emendas constitucionais, oMéxico já contava com uma lei de Direito àInformação que figurava entre as maisprogressistas do mundo. Como relataMendel (2009), a garantia constitucionalaprovada por essas recentes emendas aotexto da Constituição mexicana fez com queo país fique no cenário mundial, em matériarelacionada ao direito de acesso, somenteatrás do sistema constitucional sueco.

Para organizar os pedidos de acesso àinformação nos diversos órgãos do Estado,a Lei Federal de Transparência mexicana criouas chamadas “Unidades de Enlace”, onde épossível solicitar informação pessoalmente.As Unidades de Enlace funcionam nas de-pendências de cada entidade pública paraatender às demandas de acesso à informa-ção. Nessas unidades, ou por meio eletrôni-co, podem ser requeridas informações go-vernamentais, mesmo que ainda não tenhamsido publicadas (Artigo 40). Feito o pedidode acesso, e tendo sido negado, é possívelrecorrer da decisão administrativamente (Ar-tigo 49) e judicialmente, quando o recursoadministrativo for denegado.

Mas a Lei Federal de Transparênciamexicana, por si só, e mesmo as emendasconstitucionais aprovadas no México nãogarantem o efetivo exercício do direito queprescrevem. Como dito à época da entradaem vigor da Lei Federal de Transparência:“O texto da Lei é bem escrito e bemconcebido. O teste crítico vem agora naimplementação”² (RELLY, 2003, p. 38,tradução nossa).

Em estudo sobre a aplicação da Lei deAcesso à Informação no México, ospesquisadores do Centro Internacional deEstudios de Transparencia observaram que adisponibilidade e o entusiasmo para parti-cipar do estudo que estavam realizando,entre os funcionários entrevistados, forambem menores que a disposição entre oschefes das Unidades de Enlace (CentroInternacional de Estudios de Transparenciay Acceso a la Información – Ceta, 2007).

Uma das conclusões apresentadas noestudo do Ceta foi a de que não existe umacultura de transparência e acesso à infor-mação claramente estabelecida entre os ser-vidores e, ainda, que “a cultura dos funcio-nários é mais burocrática e hierárquica, semdemonstrar qualquer processo de grande al-teração para a implementação da Lei”³ (Cen-tro Internacional de Estudios de

“A falta deprevisão, em leiespecífica, dedispositivos quegarantissem aqualidade e oconteúdo dainformação ou asua organizaçãoacabava porfragilizar o direitode acesso.”

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410 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

Transparencia y Acceso a la Informacion –Ceta –, 2007, grifos no original, traduçãonossa).

Nos Estados Unidos da América, alegislação sobre o direito de acesso à infor-mação está consolidada no Freedom ofInformation Act (Foia), que data de 1966. ALei abrange o Poder Executivo federal eestabelece as normas de caráter adminis-trativo e procedimental. Trata-se de umanorma de caráter administrativo, com foconos procedimentos, prazos e meios deacesso à informação. A estrutura e alinguagem utilizada na norma são técnicas,voltadas para orientação mais da burocraciaque do cidadão.

A criação do Freedom of Information Act,em 1966, não representou, em si, uma novi-dade na comunidade internacional (a Suéciae a Finlândia já tinham leis mais antigassobre o direito de acesso à informação).O ponto relevante dessa norma é a abran-gência do conceito de informação, poismuitos documentos que estão enquadradosna legislação do Foia – Lei Federal de Acessoà Informação estadunidense – não seriamconsiderados “oficiais” pelas leis sueca oufinlandesa (ROBERTS, 2006). Além disso,conforme destacado por Kettl (apudMENDANHA, 2009, p.62), “a lei (Foia) inverteo tradicional ônus da prova, passando dasuposição de que os documentos eramconfidenciais até que os cidadãos conse-guissem estabelecer fundamentos para teracesso a eles, para a suposição de que osdocumentos são públicos até que o governoestabeleça uma base (como segurançanacional e privacidade pessoal) para mantê-los em sigilo”.

Essas características, junto à facilidadede obtenção das informações pela viaadministrativa – reservando-se a viajudicial apenas para casos de recurso –,favorecem a efetivação do direito de

acesso à informação no país. Somente noano de 2010 foram cerca de 600 milpedidos de acesso à informação (UNITED

STATES DEPARTMENT OF JUSTICE, 2011).Outro fato que deve ser observado, e

que pode vir a gerar problemas para aburocracia no atendimento dos requerimen-tos, é o universo de informações geradaspelo governo. O Escritório de Serviços deInformação do Arquivo Nacional dosEstados Unidos já fala em “US gov informationinflation”, tamanho ou número de e-mails(30 bilhões por ano), além de documentosmultimídia, fotografias, mapas, databases,gravações de áudio e vídeo e aplicaçõesWeb 2.0, armazenados nos arquivos dogoverno (NISBET, 2011).

O volume de informações paraarmazenamento, o aumento do universo aser pesquisado e o grande número derequerimentos recebidos podem ser fatoresque levam ao atraso nas respostas oumesmo à recusa de liberação de acesso.Relatos, contudo, apontam outro fator, defundo político, que seria o esvaziamentodos escritórios do Foia, com a finalidadede atrasar a liberação das informações.

Uma das coisas mais interessantessobre a má administração do Foia [LeiFederal de Acesso à Informação Esta-dunidense] é que, no início da década de1970, o burocrata do governo é que erao problema. Hoje, existe um núcleo deprofissionais tão altamente qualificadosna questão do acesso que o problema,agora, reside nos decisores políticos. (...),no nível da política pública, as organiza-ções descobriram que, se cortarem osrecursos desses organismos, podemretardar a divulgação de informações. Eisso funciona. Tive um cliente que iaapresentar um pedido de acesso baseadono Foia para o Departamento de Justiça

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411Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

Eneida Bastos Paes

sobre uma investigação antitruste, maseu disse para ele esquecer: quandoconseguíssemos a informação, ela seriatão obsoleta que teria se tornado absolu-tamente inútil4 (FOERSTEL, 1999, p. 164-65, tradução nossa).

O direito de acesso à informaçãono Brasil: 1988-2011

No caso do Brasil, antes da aprovaçãoda Lei de Acesso, Lei no 12.527, de 18 denovembro de 2011, existia uma legislaçãoespaçada que tratava do direito de acesso.Entretanto, ela estava dispersa em diversosdispositivos, que tratavam apenas de formaparcial, direta ou indiretamente, a questãodo acesso à informação.

As normas sobre acesso estavaminseridas em leis sobre responsabilidadefiscal, preservação do meio ambiente, so-bre a questão da guarda de arquivos, entreoutras. Assim, as regras sobre o acesso àinformação estavam dispersas em ordena-mentos múltiplos e distintos, gerandointerpretações divergentes e outrasconsequências negativas, além de umevidente descompasso com o avanço dotema na legislação de países vizinhos(ESMANHOTO, 2010).

A Lei de Responsabilidade Fiscal(BRASIL, 2000), com as modificaçõesintroduzidas pela Lei Complementar no

131, de 2009, embora determinasse quefosse colocada ao dispor da populaçãogrande quantidade de informações,atualizadas em tempo real, não se preocu-pava em determinar a qualidade ou a formacomo esses dados eram publicados.

A Lei Ambiental (BRASIL, 2003) mos-trava-se insuficiente em relação à quanti-dade de informações que determinava quefossem publicadas espontaneamente pelosórgãos abrangidos pela Lei.

No que se refere às leis que interferemnos procedimentos e processos decisóriosinternos do governo, a Lei no 11.111 (BRASIL,2005) e a Lei de Arquivos Públicos(BRASIL, 1991) podem ser tomadas comoexemplos de normas que, embora deves-sem se ocupar em fornecer detalhes sobrea estrutura e organização interna dasinformações governamentais, sejam elaspúblicas ou sigilosas, apenas delegavamessa função a normativos inferiores, ouseja, ao gestor, à burocracia estatal.

Assim, até 2011, não havia legislaçãosobre o direito de acesso à informação,pois a Lei no 11.111, de 2005, apenasregulamentava o sigilo das informaçõesgovernamentais – a parte final do Art. 5o,Inciso XXXIII, da Constituição Federal.A falta de previsão, em lei específica, dedispositivos que garantissem a qualidadee o conteúdo da informação ou a suaorganização acabava por fragilizar odireito de acesso.

Ademais, a delegação feita nas leis paraque existam regulamentação de prazos eprocedimentos de acesso por decretos ououtros normativos infralegais, além depoder ser consideradas inconstitucionais,também poderiam levar à excessiva inter-venção política e administrativa, com vistasa obter o controle ou a direção do conteúdoda informação (JÁUREGUI, 2011, [s.n.]).

Essa falta não pode ser atribuída àinexistência de previsão constitucional. OInciso XXXIII do Artigo 5o da Consti-tuição Federal de 1988 não só prevê odireito de acesso à informação, como,ainda, determina a criação de lei para regu-lamentar o assunto. Além disso, o tematambém está previsto no princípio dapublicidade, inscrito no Artigo 37 da Cons-tituição (BRASIL, 1988).

A partir da Constituição de 1988,a transparência e a publicidade eram

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412 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

princípios que deveriam nortear a relaçãodo Estado com a população. Se “duranteo período ditatorial, valia a regra de quetoda informação era imprescindível àsegurança nacional”, com a Constituiçãode 1988, passou a valer a regra de que todainformação é pública, “a não ser que sejaconsiderada restrita por questões de segu-rança” (LOPES, 2007, p. 5).

A falta de regulamentação da parte dodispositivo constitucional referente aoacesso e do detalhamento da parte referenteao sigilo (por meio da Lei no 11.111, de 2005,revogada pela Lei de Acesso) pode ter frus-trado algumas das expectativas geradas coma promulgação da Constituição de 1988,conforme relatado por Cepik:

Após a promulgação da Constituiçãohouve certa agitação na opinião públicae alguns pedidos de informação sobresituações pessoais, logo frustrados porum parecer da Consultoria Geral daRepública (no SR-71), que deixava a cargodo chefe do antigo Serviço Nacional deInformações (SNI) a avaliação sobrequais dados poderiam ser divulgados, emfunção da ressalva de sigilo prevista noInciso XXXIII do Artigo 5o da Consti-tuição (CEPIK, 2011, p. 43).

Por tudo isso, se fazia necessária acriação de uma lei própria para tratar dodireito de acesso à informação no Brasil.

A construção da lei de acesso àinformação no Brasil

No Brasil, seguindo a esteira de paísesde democracias recentes, surgiram muitosprojetos de lei, no Senado Federal e naCâmara dos Deputados, visando regula-mentar o direito de acesso. Entretanto,como mostraremos, as principais diretrizes

do Projeto de Lei que se converteu na Leino 12.527 (Lei de Acesso) foram discutidase propostas em uma disputa que ocorreuprincipalmente na burocracia do PoderExecutivo federal.

Essa discussão se iniciou em 2004, apartir do Projeto de Lei no 219/2003, dodeputado Reginaldo Lopes, do PT/MG,que buscou apoio junto à Controladoria-Geral da União (CGU), no sentido deviabilizar seu projeto no Congresso. Essefato iniciou uma discussão intragover-namental, que culminou na revisão dalegislação e na criação de um projeto de leido Poder Executivo federal – que foi apro-vado recentemente pelo Congresso etornou-se, assim, a nova Lei de Acessobrasileira.

Inicialmente, essa discussão ficourestrita à Controladoria-Geral da União(CGU), primeiro no Gabinete do ministro e,depois, no Conselho da TransparênciaPública e Combate à Corrupção (CTPCC) –órgão paritário com representantes dogoverno e da sociedade civil, vinculado àCGU. No CTPCC, o anteprojeto foi ampla-mente debatido, ampliado e melhorado eseguiu para a Casa Civil.

Depois, em 2006, também o Ministérioda Justiça apresentou outra versão deanteprojeto de Lei de Acesso à Informação,com foco na compilação da legislaçãovigente sobre arquivos e sobre documentossigilosos. Essas duas versões passaram aser objeto de estudo de um grupo formadopela Casa Civil, na Presidência da Repú-blica, para elaborar o Projeto de Lei deAcesso à Informação do Poder Executivofederal.

De 2006 a 2007, iniciou-se, então, umaintensa discussão coordenada pela CasaCivil, que criou, informalmente, um grupode técnicos de diversos órgãos do Execu-tivo federal para debater as propostas de

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413Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 407-423 out/dez 2011

Eneida Bastos Paes

criação de uma lei para regulamentar odireito de acesso à informação no Brasil.A CGU, o Ministério da Justiça, o Minis-tério da Defesa, o Ministério das RelaçõesExteriores, entre outros, foram chamadospara integrar esse grupo, que foi incum-bido de fazer uma minuta de projeto de leisobre acesso à informação.

A redação final do Projeto de Lei deAcesso foi de responsabilidade da CasaCivil, que arbitrou algumas disputasinternas entre os envolvidos e formatou aversão final do Projeto de Lei. Esse Projetofoi enviado, em maio de 2009, ao Con-gresso Nacional.

Na Câmara dos Deputados, a inicia-tiva do Executivo tramitou na forma doProjeto de Lei no 5.228/2009 (PRESIDÊNCIA

DA REPÚBLICA, 2009). Na Câmara, o projetode lei citado recebeu as principais modifi-cações, na forma de um substitutivoao Projeto de Lei enviado pelo Poder Exe-cutivo.

A Comissão Especial de Acesso aInformações da Câmara dos Deputadosaprovou o Substitutivo apresentado pelodeputado Mendes Júnior. De modo geral,as principais inovações desse projeto dizemrespeito ao escopo da legislação, à possibi-lidade de prorrogações de sigilo e aoprocesso de revisão das decisões adminis-trativas denegatórias de acesso.

O Projeto de Lei no 5.228/2009 jáestabelecia obrigações a todos os órgãos eentidades públicas, deixando subentendidasua aplicação a todos os poderes (Execu-tivo, Legislativo e Judiciário) dos três entesfederativos. O Substitutivo torna esseentendimento expresso e detalha, em seuArtigo 1o, os órgãos e entidades públicassujeitos à aplicação da Lei (incluindo, nesseescopo, tribunais de Contas, MinistérioPúblico e até mesmo entidades privadas,desde que recebam recursos públicos).

O Substitutivo deixa claro que a Leiestipula normas gerais a serem observadaspela União, estados e municípios,dispondo, ainda, sobre a necessidade deos estados, Distrito Federal e municípiosdisciplinarem em legislação própria o fun-cionamento do serviço de informações aocidadão (Artigo 9o) e o procedimento derecurso, no caso de indeferimento deacesso às informações ou às negativasde acesso (Seção II do Capítulo III).

Alteração significativa realizada peloSubstitutivo é a restrição imposta à atribui-ção da Comissão de Reavaliação de prorro-gar o prazo de sigilo de informações classi-ficadas como ultrassecretas no caso deameaça externa à soberania nacional ou àintegridade do território nacional, ou graverisco às relações internacionais do país.O Projeto de Lei no 5.228/2009 (original)

“...emlegislaçõesconsagradassobre acesso àinformação, anecessidade demotivação dorequerente não éexigida.”

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A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

deixava essa possibilidade de prorrogaçãoem aberto, ou seja, não fixava númeromáximo de prorrogações. O Substitutivo,por sua vez, determina que a prerrogativada Comissão de Reavaliação fosse limitadaa uma única renovação, evitando, assim,prorrogações sucessivas, que valorizariamo segredo em detrimento do princípio daampla publicidade.

Por fim, o Substitutivo estabelece queos procedimentos de revisão de decisõesdenegatórias serão objeto de regulamen-tação própria no Poder Legislativo, noPoder Judiciário e no Ministério Público,assegurado ao solicitante, em qualquercaso, o direito de ser informado sobre oandamento de seu pedido. Os órgãos doPoder Judiciário e do Ministério Públicodeverão informar ao Conselho Nacionalde Justiça e ao Conselho Nacional doMinistério Público, respectivamente, asdecisões que, em grau de recurso, negaremacesso a informações de interesse público.

Além das mudanças com relação aosórgãos afetados pela Lei, ao tempo deguarda dos documentos sigilosos e ao enca-minhamento dos recursos administrativos,também foram feitas alterações nos dispo-sitivos que tratam da utilização da Internetpara a divulgação de informações; dasautoridades competentes para a classifi-cação de documentos sigilosos; da lista dedocumentos sigilosos; da revisão periódicados documentos sigilosos e do prazo paraa vacatio legis.

Terminada a tramitação na Câmara dosDeputados, com a aprovação das modifi-cações inseridas pelo Substitutivo, o Pro-jeto de Lei seguiu para o Senado Federal,onde tramitou como PLC 41/2010(SENADO FEDERAL, 2010). No Senado,passadas diversas comissões, veio à tona adiscussão a respeito das informaçõessigilosas, e a possibilidade de renovação dos

seus prazos máximos de guarda foi postaem outro Substitutivo, apresentado pelosenador Collor de Mello na Comissão deRelações Exteriores e Defesa Nacional. Asprincipais mudanças propostas relacio-nadas às informações sigilosas pretendiamque a classificação das informações voltariaa ter quatro níveis (como estava previstona legislação vigente à época). Também foiproposta a renovação dos prazos de guardade documentos, que poderiam, nos termosdo Substitutivo do Senado, ser prorrogadospor tempo indeterminado, sempre que“imprescindível à segurança da sociedadee do Estado”; e a ampliação do rol de auto-ridades responsáveis pela classificação.

Todas essas propostas de modificações,importantes e substanciais, fizeram comque o texto do Projeto de Lei de Acessoficasse tramitando no Senado por mais dedois anos. Mas, ao final, as propostas feitaspor meio do Substitutivo do Senado foramrejeitadas e seguiu para sanção presidencialo texto do Substitutivo construído naCâmara dos Deputados. Essa demora, con-tudo, significou maior tempo de maturaçãodo texto normativo. É importante ressaltarque existiram de fato análise e debatedemocrático sobre o acesso à informação.As ideias foram postas e os pontos de vista,amplamente debatidos.

O que importa ressaltar, para fins destetrabalho, é que o texto final da Lei de Acessoà Informação brasileira finalmente reuniuem um só diploma as principais disposiçõessobre o assunto e, ainda, sugeria a revogaçãodas normas conflitantes.

Outro fato que se destaca é quegrande parte do texto publicado da Leide Acesso permaneceu fiel ao texto escritoinicialmente no âmbito interno da buro-cracia de Estado. Os desafios da buro-cracia para a implementação desta Lei,em grande parte, foram postos por seus

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próprios representantes. Mas houve modi-ficações importantes no texto quando datramitação do Projeto da Lei de Acessona Câmara dos Deputados e, ainda,discussões extensas sobre a questão dasinformações sigilosas no Senado Federal.

Inovações da Lei de Acesso paraa cultura administrativa brasileira

Embora as discussões sobre as infor-mações sigilosas tenham dominado osdebates no Congresso e na mídia quandose falava no projeto de Lei de Acesso, valedestacar outros pontos que são importantespara assegurar o direito de acesso às infor-mações públicas, ou seja, as informaçõesque não estão classificadas como sigilosas.

As principais inovações da Lei de Acessoà Informação para a administração pública,embora pareçam pequenas, são tão impor-tantes quanto as referentes ao sigilo. Sãoinovações referentes ao modo de elaboraçãodos requerimentos de informação, à trami-tação dos requerimentos, estipulação deprazos e penalidades para o descumprimento.Quanto maior o número de exigências quese faz ao requerente e maior a atribuição dediscricionariedade ao administrador, menorserá o acesso à informação.

O § 3o do Art. 10 da Lei de Acesso(BRASIL, 2011) diz que “São vedadasquaisquer exigências relativas aos motivosdeterminantes da solicitação de infor-mações de interesse público.” Uma breveanálise desse dispositivo revela que, emlegislações consagradas sobre acesso àinformação, a necessidade de motivação dorequerente não é exigida. Na legislação daSuécia (SWEDEN, 2011), que data do séculoXVIII, chega a ser proibido perguntar onome do requerente, que dirá sua motiva-ção. Está claro que a redação dada a essedispositivo da Lei de Acesso (BRASIL, 2011)

não pretendia fazer um “transplante” dalegislação internacional, mas adaptou oconceito à realidade e cultura administra-tiva brasileiras.

Existem, de fato, na doutrina nacional,autores que defendem a necessidade dejustificativa dos pedidos de acesso, paraevitar o que chamam de pedidos“abusivos” e para que o administradorpossa “avaliar se a máquina estatal nãoestará sendo acionada de modo desneces-sário, impertinente ou irrazoável” (LEVY,2009). Não há como concordar com essacorrente. A discricionariedade não podechegar a tanto, tratando-se do exercício deum direito fundamental, “na qualidadede patrimônio subjetivo indisponível pelopoder, são os direitos e liberdades quelimitam a lei, não é a lei que cria e dispõedos direitos fundamentais” (CANOTILHO,1999). E, especialmente quando se trata deacesso à informação, a impropriedadeda imposição de justificativa da solicitaçãode acesso parece ser posição unânime entreos autores pesquisados. Assim, temos asseguintes posições:

Deverá ser proibida expressamentetoda formulação que dê indícios dequestões sensíveis ao recorrente e/ouque resultem em questões sobre asmotivações do pedido e seu usoposterior5 (PIERINI; LORENCES, 1999,p. 242, tradução nossa).

Sobre o direito “ao arquivo aberto”previsto na legislação portuguesa,Canotilho (1999) diz que:

a Constituição não faz depender aliberdade de acesso aos documentosadministrativos da existência de uminteresse pessoal (...) a ideia de demo-cracia participativa aponta não só para

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A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

um direito de acesso aos arquivos eregistros públicos para defesa de direitosindividuais, mas também para umdireito de saber o que passa no âmbitodos esquemas político-burocráticos,possibilitando ao cidadão o acesso (...)circulares, notas, etc. (CANOTILHO, 1999,p. 679).

Uma posição intermediária é apontadapor Saba (2004). Para este autor, quandoos motivos forem importantes para facilitara busca da informação requerida, “pode”ser apresentada motivação do pedido, acritério do solicitante, do requerente – aquem cabe “calcular o quanto perde e oquanto ganha manifestando as razões pelasquais está solicitando a informação”6 (SABA,2004, p. 171, tradução nossa).

Um dos mecanismos possíveis para seevitar pedidos amplos ou genéricos demais(que nem sempre têm a intenção de serabusivos, mas demonstram apenas falta defamiliaridade do requerente com o assun-to), é a orientação de servidores treinados,que poderão entrar em contato como requerente para tentar especificar mais opedido. Ou, ainda, disponibilizar o maiornúmero de dados abertos para que o reque-rente extraia e organize, ele mesmo, osdados da forma como necessita.

Quanto à tramitação dos requeri-mentos de acesso, vale destacar o detalha-mento trazido pela Lei, que garante aorequerente o direito de obter o teor dedecisão de negativa de acesso, por certidãoou cópia. Mas inova a Lei especialmentena seção sobre recursos, que cria umainstância recursal procedimental à parte.Nessa seção foi determinado à Contro-ladoria-Geral da União (CGU) quedelibere sobre: a negativa do acesso àinformação não classificada como sigilosa;sobre a qualidade da decisão de negativa

de acesso à informação; a qualidade dosprocedimentos de classificação de infor-mação sigilosa; e sobre os prazosdescumpridos ou outros procedimentosprevistos na Lei.

Assim, o controle sobre a administração,para garantir o cumprimento da Lei de Aces-so, além de ser feito internamente – peloórgão ao qual o pedido foi dirigido –,também será feito por outro ente. AControladoria-Geral da União funcionarácomo órgão revisor do Poder Executivofederal; nos demais poderes e esferas degoverno serão designados órgãos própriospara essa função.

O controle por si só, de fato, nãopoderá garantir desvios da finalidade dalei e de seu cumprimento. Para tanto, a leitambém traz inovações com respeito àresponsabilização dos agentes queincidirem nas condutas previstas noArt. 32 da Lei de Acesso, e garante pormeio de modificações na Lei no 8.112, de1990, maior proteção aos servidores quedenunciam irregularidade.

Considerações finais

A nova Lei de Acesso à Informação ésó um passo de todo um processo deformação de uma política de acesso àinformação que começa a se desenhar nocenário nacional, por clara influência dacomunidade internacional e da burocraciaestatal (PAES, 2011). Entretanto, a criaçãode uma legislação é apenas uma etapa naconstrução de uma política de transpa-rência no país. A norma deve ser transfor-mada em ações e fatos, pelo Executivo edemais poderes, para sua efetivação,possibilitando maior conhecimento dapopulação sobre os atos do governo,tentando eliminar a desconfiança sem quese perca o interesse.

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Eneida Bastos Paes

À época da construção do Projeto deLei de Acesso à Informação no Poder Exe-cutivo federal, houve uma confluência defatores que levaram à elaboração do ante-projeto: a iniciativa parlamentar e a expec-tativa dos membros da sociedade civilrepresentados no Conselho da Transpa-rência Pública e Combate à Corrupção. Aspressões internas e externas demonstravamque havia uma carência (um vácuo) a serpreenchida em matéria de acesso à infor-mação no país.

Assim, aprovada a Lei de Acesso,abrem-se as condições para a implemen-tação de uma política pública capaz degarantir esse direito no contexto do Estadobrasileiro. Entretanto, a legislação é con-dição necessária, porém insuficiente paragarantir esse direito. Restam ainda todasas regulamentações, que possibilitem aexistência (de fato) de uma política públicaque garanta o direito de acesso.

Uma das principais questões naimplementação diz respeito à “mudançacultural” da burocracia. Essa mudançacultural envolve capacitações dos servi-dores, estabelecimento de metas, recursosetc. (PAES, 2011).

Em princípio, não parece existir umaresistência da burocracia brasileira em liberaracesso às informações detidas por seusórgãos, embora exista ainda grande desconhe-cimento, oriundo não somente da novidadeda Lei, mas também da falta de capacitaçãodo servidor em relação ao tratamento dearquivos e informações sigilosas. Isso éconstatado em pesquisa recente feita pelaControladoria-Geral da União (CGU), emparceria com a Unesco, junto aos servidoresdo Poder Executivo. A pesquisa tinha comoobjetivo “avaliar a possível implementaçãode uma política de amplo acesso à informaçãopública por parte do cidadão”, e mostra queexiste uma abertura da burocracia em relação

ao assunto. Em síntese, concluem os pesqui-sadores que o servidor concorda com aimplementação do direito de acesso, masenfatizam que ele precisa conhecer melhoros conceitos e limites relacionados ao tema.De acordo com o relatório, o servidor:

entende que há um distanciamentoentre Estado e Sociedade e não apresen-ta dúvidas quanto ao seu papel de servi-dor, de fato, público, a serviço do cidadão.

Por isso, não vê problemas quanto àimplementação de uma política de amploacesso, por parte do cidadão, à infor-mação pública. Exceto pelo fato denecessitar de mais informações paraconhecer a política (Projeto de Lei) esaber, de fato, o que é “informação sigi-losa”, pois entende que existam e devamser preservadas (CONTROLADORIA-GERAL

DA UNIÃO, 2011, grifo nosso).

“...inova a Leiespecialmentena seção sobrerecursos, quecria umainstânciarecursalprocedimentalà parte.”

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A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

O desconhecimento do servidor sobrea política de acesso à informação denota,em última análise, a inexistência de umapolítica de acesso à informação. A pesquisarevelou que 61,5% (soma das respostas:“raramente” e “nunca”) dos servidores nãofazem cursos ou treinamentos nas áreas degestão de documentos e segurança da infor-mação. O dado aponta para uma lacuna naformação dos servidores em áreas essen-ciais à realização do direito de acesso àinformação. Ou seja, os dados mostramque o servidor considera-se “desprepa-rado” para atuar nessa área.

Um dado sobre a cultura do sigilo naadministração pública federal tambémmerece destaque: informa a pesquisa(CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO, 2011)que o servidor mais jovem (abaixo de 45anos), com maior nível de escolaridade eque está há menos de 10 anos no serviçopúblico, “se sente à vontade para negarcategoricamente o ‘sigilo eterno’ às infor-mações públicas”. O sigilo eterno é negadopor pouco mais da metade dos servidores(55,5%), contra 40,7% a favor do sigiloeterno. Ou seja, ainda não é possívelafirmar que existe uma cultura da máximatransparência e publicidade consolidada naadministração pública brasileira, poisapenas pouco mais da metade dosservidores são contrários ao sigilo eterno.

De fato, o entendimento da burocraciabrasileira em relação ao direito de acesso à

informação começa a se desenhar. Surgemas primeiras pesquisas e surgirão tambémos primeiros sucessos e entraves decor-rentes da aplicação da Lei. A implemen-tação da Lei de Acesso à Informação brasi-leira dependerá do empenho da burocracia,que reage não só movida por seusinteresses individuais, mas também pelascondições e pelo contexto político em queestá inserida. Havendo interesse político naconstrução de uma política pública deacesso à informação que dê suporte à novaLei de Acesso, as condições de implemen-tação da Lei serão mais bem-sucedidas.

Como mostra a experiência interna-cional descrita neste artigo (experiênciasdos Estados Unidos da América e doMéxico), existe um contexto político quetambém influenciará a regulamentação daLei pelo Poder Executivo. Dependendodesses regulamentos, a Lei poderá ou nãoextrair uma maior transparência do Estado.Ao mesmo tempo, existe a necessidade dealocação de recursos financeiros e tecno-lógicos capazes de operacionalizar apolítica.

Na implementação da política deacesso é que se verá até que ponto osórgãos abrangidos pela Lei conseguirãotraduzir os princípios em condições efetivasde acesso do cidadão às informaçõesgovernamentais.

(Artigo recebido em agosto de 2011. Versãofinal em dezembro de 2011).

Notas

1 “reflexión crítica dentro del pensamiento liberal y democrático sobre los problemassociopolíticos originados por la aplicación de la libertad de información en el contexto social surgidode la Segunda Guerra Mundial” (JÁUREGUI, 2011, p.31)

² “The text of the law is well-written and well-conceived. The critical test comes now in theimplementation” (RELLY, 2003, p.38).

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Eneida Bastos Paes

³ “La cultura de los funcionarios es más burocrática y jerárquica sin mostrar ningún proceso mayorde cambio por la implementación de la Ley” (CENTRO INTERNACIONAL DE ESTUDIOS DE TRANSPARENCIA YACCESO A LA INFORMACIÓN – CETA, 2007, grifos no original).

4 “Thomas Susman (…) pointed out, ‘One of the interesting things about the pooradministration of the FOIA is that in the early 1970s the government bureaucrat was the problem.Today, there is such a core of highly qualified and competent access professionals that theproblem now resides with the policy makers. (…), at the policy level, agencies have found that ifthey starve these offices they can slow down the release of information. And it works. I had aclient who was going to submit a FOIA request to the Justice Department on an antitrustinvestigation, but I said forget about it. By the time we get the information, it’s going to be sostale that it’ll be absolutely useless’” (FOERSTEL, 1999, p.164-65).

5 Deberá prohibirse expresamente toda fórmula que indique información sobre cuestionessensibles del recurrente y/o que resulten indagatorias sobre las motivaciones del pedido y suuso posterior (PIERINI; LORENCES, 1999, p. 242)

6 “cálculo acerca de cuanto pierde y cuanto gana manifestando las razones por las quesolicita la información” (SABA, 2004, p.171).

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A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

revoga a Lei no 11..111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 dejaneiro de 1991; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de novembro2011.

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Eneida Bastos Paes

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A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios na implementação de seus princípios

Resumo – Resumen – Abstract

A construção da Lei de Acesso à Informação Pública no Brasil: desafios naimplementação de seus princípiosEneida Bastos Paes

Nos últimos anos, diversos países têm feito grandes modificações em suas legislações, natentativa de proteger o direito de acesso à informação e adequar sua legislação interna às exigên-cias impostas por tratados internacionais. A Lei de Acesso à Informação brasileira (Lei no 12.527,de 2011) foi construída a partir dos parâmetros internacionalmente reconhecidos. Essesparâmetros incorporam novos conceitos que ampliam o entendimento comum sobre o princí-pio da publicidade e recomendam a adoção do princípio da máxima transparência. A nova lei éessencial para melhorar as condições de acesso às informações governamentais no Brasil, comoserá mostrado na análise feita da experiência dos Estados Unidos da América e do México.Contudo, devido a dificuldades relacionadas especialmente à burocracia administrativa, o direi-to de acesso à informação tenderá a permanecer incompleto, enquanto não for incorporado auma política pública capaz de traduzir esse direito em um conjunto de ações governamentaisque garantam sua efetividade.

Palavras-Chave: acesso à informação, políticas públicas, lei de acesso, transparência.

La construcción de la Ley de Acceso a la Información Pública en Brasil: los desafíosen la aplicación de sus principiosEneida Bastos Paes

En los últimos años, varios países han realizado cambios significativos en sus leyes en unintento de proteger el derecho de acceso a la información y adecuar su legislación interna conlos requisitos impuestos por los tratados internacionales. La Ley de Acceso a la Información(Ley no 12527 de Brasil, de 2011) se construyó a partir de los parámetros reconocidos interna-cionalmente. Estos parámetros incorporaran nuevos conceptos que mejoran el entendimientocomún sobre el principio de la publicidad y recomiendan la adopción del principio de la máximatransparencia. La nueva ley es esencial para mejorar las condiciones de acceso a la informaciónpública en Brasil, como se muestra en el análisis de la experiencia de los Estados Unidos yMéxico. Sin embargo, especialmente debido a las dificultades relacionadas con la burocraciaadministrativa, el derecho de acceso a la información tiende a permanecer incompleto hasta quese incorpore en una política pública que pueda traducir este derecho en un conjunto de accionesgubernamentales para garantizar su eficacia.

Palabras clave: acceso a la información, políticas públicas, ley de acceso, transparencia.

Building the Access to Information Law in Brazil: challenges in implementing lawprinciplesEneida Bastos Paes

In recent years, several countries have made significant changes to its laws in an attempt toprotect the right of access to information and adapt their domestic law the requirements imposedby international treaties. The Law on Access to Information (Brazilian Law no 12527 of 2011)was constructed from the internationally recognized parameters. These parameters incorporatenew concepts that enhance the common understanding on the principle of publicity andrecommend the adoption of the principle of maximum transparency. As will be shown in theanalysis of the experience of the United States and Mexico the new law is essential to improve

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Eneida Bastos Paes

the conditions of access to government information in Brazil. However, especially due todifficulties related to the administrative bureaucracy, the right of access to information will tendto remain incomplete until it is incorporated into a public policy that can translate this right intoa set of government actions to ensure its effectiveness.

Keywords: access to information, public policy, law, access, transparency.

Eneida Bastos PaesMestre em Direito e Políticas Públicas pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub), especialista em Vigilância Sanitáriae Monitoramento de Mercado pela Universidade de Brasília (UnB) e graduada em Ciências Jurídicas pela UniversidadeFederal de Ouro Preto (UFOP). Atualmente é Coordenadora do Núcleo de Elaboração Normativa e Acordos da Assesso-ria Jurídica da Controladoria-Geral da União (CGU). Contato: [email protected]

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425Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 425-447 out/dez 2011

Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

O uso da renúncia fiscalna área de museus*

Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

Introdução

Examina-se neste artigo o uso da renúncia fiscal, conforme instituída pela

Lei Rouanet, na área de museus. Trata-se da Lei Federal de Incentivo à Cultura,

no 8.313/1991, que institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac)

formado por três mecanismos: Fundo Nacional de Cultura (FNC), Incentivo

Fiscal (Mecenato) e Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart).

O FNC destina recursos a projetos culturais por meio de empréstimos

reembolsáveis ou cessão a fundo perdido. O Mecenato viabiliza benefícios fiscais

para investidores que apoiam projetos culturais sob a forma de doação ou patro-

cínio, em que empresas e pessoas físicas podem utilizar a isenção de até 100% do

valor no Imposto de Renda e investir em projetos culturais, divulgando ao mesmo

tempo sua imagem institucional e sua marca, o que não deixa de ser renúncia

fiscal. E o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) funcionaria sob a

forma de condomínio, mas até meados de 2011 não tinha sido utilizado.

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

Assim, o principal destaque da LeiRouanet tem sido propiciar incentivosfiscais, possibilitando aplicação de parte doImposto de Renda devido em açõesculturais. Aqui se busca investigar como aárea de museus se utiliza desta Lei.

Contextualização

Há um debate acerca da Lei Rouanetque pode ser resumido da seguinte forma:para uns, “implicaria na desresponsa-bilização do Estado em termos políticosou simplesmente significa uma ‘opçãoliberal’ de ação pública que permitiria aosempresários a decisão final da alocação derecursos” (SILVA, MIDLEJ, 2011, p. 17-18).Ou seja, se baseia na crença de que omercado tem potencial e permite umprocesso de alocação de recursos de formaeficaz e até equitativa. Enquanto que paraoutros “apenas o Estado com sua priori-zação política é capaz de privilegiar aequidade e a democracia cultural” (SILVA,MIDLEJ, 2011, p. 20). Há ainda o entendi-mento de que o incentivo fiscal aparece“tanto como método de financiamento”quanto como “mecanismo para superaçãotemporária da crise fiscal do Estado”(SILVA, MIDLEJ, 2011, p. 20). Este artigo nãoentra nesse debate, mas tem por objetivoinvestigar a implementação de museus pelouso da renúncia fiscal.

O mecanismo de incentivos fiscais daLei Rouanet, conforme atesta o Ministérioda Cultura (MinC), é uma forma de estimularo apoio da iniciativa privada ao setor cultural.O proponente apresenta uma propostacultural ao MinC e, caso aprovada, é auto-rizado a captar recursos. Os incentivadoresque apoiarem o projeto poderão ter total ouparte do valor desembolsado deduzido doImposto devido, dentro dos percentuaispermitidos pela legislação tributária.

Como atestou o ministro da Culturado período de 2003 a 2008, Gilberto Gil, aLei Rouanet representa o dobro do orça-mento que o MinC dispõe. O ministro daCultura do período de 2008 a 2010, JucaFerreira, atesta que a renúncia “se mantevecomo a maior fonte para se financiar acultura” (SILVA, MIDLEJ, 2011, p.125). Emrelação aos museus, a situação não é dife-rente. A renúncia fiscal tem maior represen-tatividade financeira no total de investimentodo governo federal em museus (Figura 1).

Mas, o que se deve observar para sabercomo esta renúncia fiscal tem sido utilizadana área de museus? Com base na revisãode literatura referente à implementação depolíticas públicas, foi possível identificarvários aspectos a serem observados, queforam agrupados em seis grandes variáveis:incentivos, autonomia, informação, apoioinstitucional, apoio social, e etapas e temponecessário para implementação.

Os incentivos existentes, como recursosfinanceiros e regras institucionais, sãoextremamente relevantes em uma análiseda implementação de uma política pública,pois, conforme os incentivos, há maiorpossibilidade de atingir os resultados.Assim ressaltam Hood (1986), Huque(2009), Kraft e Furlong (2007), Lane(2005), Peters (2000), Salamon (2002) eStiglitz (1988).

A autonomia é outra variável relevante(Peters, 2000). Quanto maior a autonomiado implementador, teoricamente maioresas chances de sucesso, pois é possível fazeradaptações ao longo do processo parasuperar eventuais dificuldades. O quePeters (2000) denomina autonomia étratado por liberdade em Kraft e Furlong(2007), por autoridade em Hood (1986), epor coercibilidade em Salamon (2002).Também tratam do grau de liberdade,embora dentro da estrutura de incentivos,

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Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

Stiglitz (1988) e Silva, Jaccoud e Beghin(2005). Esta variável diz respeito ao graude coerção ou liberdade de cada envolvidono processo de implementação. Há indíciosde que quanto maior a autonomia dosgestores, maiores são os incentivos paraatingir bons resultados.

As formas e fluxos de transmitir ereceber informação também ajudam a com-preender o processo de implementação eseus potenciais resultados, como sugeremHood (1986), Kraft e Furlong (2007), Peters(2000), Salamon (2002) e até mesmo Coase(1937), Stiglitz (1988) e Williamson (2011),quando se referem a custos de transação.

A adequação administrativa, comopreconizada por Kraft e Furlong (2007),seria medida pelas etapas e tempo do proces-so, que também está presente na análise dePressman e Wildavsky (1973). Este mesmoconceito é tratado por nodalidade em Hood(1986) e por capacidade de realização emSalamon (2002). Se reflete na quantidadede etapas do processo de implementação e

Figura 1: Investimentos em museus pelo sistema do Ministério da Cultura

Fonte: Ministério da Cultura (BRASIL, 2010).

ao tempo médio decorrido em cada etapa.Quanto mais etapas e maior o tempo pararealização, mais difícil seria a implementação.

A adequação política, mencionada porKraft e Furlong (2007) e tratada por viabili-dade política em Salamon (2002) e Peters(2000), diz respeito ao apoio institucional quehaveria para sua implementação, que podeser por vinculação a prefeituras, governosestaduais, ou mesmo instituições privadasque apoiem o projeto.

O apoio social seria aqui o apoio dasociedade. Foi citado por Kraft e Furlong(2007) e é tratado por legitimidade emSalamon (2002).

Essas variáveis foram utilizadas paradesenvolver a análise, conforme metodologiaexplicada a seguir.

Metodologia

Para investigar como a renúncia fiscaltem sido utilizada na área de museus, deli-mitou-se o período temporal de 2003 a 2010

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

Quadro 1: Operacionalização e fontes de evidências das variáveis selecionadas

Fonte: Elaboração própria

no Poder Executivo do governo federal.Essa delimitação deve-se à necessidade deutilizar um período de tempo suficientemen-te longo para observar e descrever trajetórias(FOX, 1990); mas também recente, paraacesso aos dados e melhor compreensão docontexto (YIN, 2003).

Quanto à finalidade, a metodologia foidescritiva e parcialmente analítica, pois seutilizou de oito entrevistas com proponentes daLei Rouanet a fim de conhecer a percep-ção dos implementadores “na ponta”1.

Quanto ao caráter das evidências, utilizou-se uma mistura de evidências documen-tais e de entrevistas, conforme descrito noQuadro 1.

Finalmente, quanto às fontes de evidência,a pesquisa foi desenvolvida utilizando dadossecundários, extraídos de publicações

governamentais, assim como dados primá-rios, levantados mediante entrevistas.

Consultas aos bancos de dados do MinCforam feitas nas classificações da área“patrimônio cultural” e dos segmentos“museu” e “acervo” do SalicNet (sistema doMinistério da Cultura para monitoramentoda Lei Rouanet) , embora saiba-se que possahaver projetos de museus classificados emoutras áreas e segmentos2.

Conforme relatório do SalicNetextraído, buscando pelos segmentos“museus” e “acervos”, há 262 museusbeneficiados pela Lei Rouanet para operíodo de 2003 a 2010. Desses, 9 sãopessoas físicas e 191 são pessoas jurídicas(ou seja, projetos inscritos em nome demuseu, instituto, fundação). Das pessoasjurídicas (museus, fundações, centros

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“...não éexatamente o setorprivado que estásendo atraído afinanciar projetosna área de museus:há forte presençade empresasestatais, portanto,o próprio setorpúblico”.

culturais, empresas captadoras), várias con-seguiram aprovação para diversos proje-tos ao longo de vários anos (por exemplo,o Instituto Cultural Flávio Gutierrez e aAssociação de Amigos da Arte PopularBrasileira, que captaram para diversos pro-jetos, em cada um dos anos analisados).Fazendo a contagem por museu beneficia-do, e não por projeto inscrito (já que hámuseus que inscrevem vários projetos),tem-se 262 museus beneficiados (ou seja,262 proponentes diferentes).

Desse universo, foram entrevistadosoito proponentes (responsáveis pelaapresentação, aprovação, captação eimplementação do projeto com recursoscaptados via Lei Rouanet).

O critério para seleção dos oito propo-nentes entrevistados foi considerar apenasprojetos com prestação de contas apresen-tada ao MinC (há diversos projetos doperíodo 2003-2010 que ainda nãoapresentaram prestação de contas).Primeiramente, deste universo de projetos,buscou-se contato com todos os propo-nentes (pessoa física), que eram nove.A escolha de pessoa física foi devido aofato de ser uma pessoa identificável aresponsável pela proposta e pela imple-mentação do projeto. Quando o propo-nente é pessoa jurídica, são várias aspessoas daquela instituição envolvidas noprojeto, havendo inclusive alta rotativi-dade dentro de cada instituição, ficandomais difícil contatar as pessoas queestiveram de fato envolvidas na imple-mentação. Assim, dos nove que erampessoa física, foi possível contato comquatro.

Em seguida, buscou-se contatar, porordem do relatório que nos foi enviado pelaSecretaria de Fomento e Incentivo à Cultura(Sefic), os demais proponentes (pessoajurídica) que implementaram projetos via

Lei Rouanet. Fez-se contato com onzeproponentes (pessoa jurídica), mas em setedessas instituições não sabiam informarquem era responsável pelo projeto à época.Portanto, nessa pesquisa apresenta-se orelato de quatro proponentes (pessoajurídica), os quais continuam nas respec-tivas instituições e puderam relatar todoo processo de elaboração do projeto, apro-vação, captação e implementação. Poder-se-ia ter continuado o contato com tais

proponentes, mas era claro o ponto desaturação das informações relevantesreferentes às seis variáveis em questão(MILES, HUBERMAN, 1994, p. 29-30).

Das oito entrevistas com proponentes –quatro com pessoas físicas e quatro compessoas jurídicas – uma foi feita pessoalmentee sete por telefone, levando em médiaquarenta minutos cada uma. Essas entrevistas

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foram transcritas, codificadas pelo uso dosoftware NVIVO9, e a análise das codificaçõescontribuiu para os resultados deste artigo.

Resultados e discussão

A análise dos códigos revela que avariável mais presente nas entrevistas é arelacionada a etapas e tempo, seguida da va-riável informação. A terceira mais presenteé a incentivos, seguida das variáveis apoioinstitucional, apoio social e autonomia. Nafigura 2, temos um mapa em “árvore” dasvariáveis, conforme a quantidade de citaçõespara cada variável codificada.

Como resultado da análise dos dadosdos museus na Lei Rouanet, temos o queserá apresentado a seguir, com base naanálise documental e nas entrevistas.

Incentivos: O maior incentivo aosproponentes ao buscarem a Lei Rouanetpara implementação de projetos é orecurso público disponível. Afirmam: “oque atrai na Rouanet são os valores”.Portanto, a análise foi iniciada pelosvalores destinados a museus na Lei

Fonte: elaboração própria utilizando NVIVO9, pela quantidade de citações para cada variável, conforme asoito entrevistas codificadas.

Figura 2: “Mapa em árvore” Renúncia Fiscal

Rouanet. O valor captado pelos museusvia Lei Rouanet vinha crescendo de 2003a 2006, mas teve forte queda em 2007,voltando praticamente ao patamar de2003, para ao final dar um grande saltoem 2010 (Figura 3).

A quantidade de projetos que conseguiucaptação também veio crescendo, atingiu seupico em 2006, mas depois diminuiu umpouco, sem, contudo, voltar ao patamar de2003; e o aumento no final do períodoanalisado (2010) também não foi tão grandequanto ao aumento financeiro (Figura 4).

A média dos valores captados varioumuito, não acompanhando os valores geraisnem os quantitativos (Figura 5).

No entanto, a média não é um dadosignificativo, pois há forte concentração derecursos em poucos projetos. Os projetosque conseguem captação estão concentra-dos na região sudeste. E mesmo dentro douniverso dos projetos que conseguem cap-tação, há forte concentração de recursosem poucos projetos. Mais da metade dosrecursos captados é destinada à apenas doisou três projetos por ano (Quadro 2).

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Figura 3: Valor total captado pelos museus via Rouanet (1996-2010)

Fonte: SalicNet. Elaboração própria.

Figura 4: Evolução da quantidade de projetos de museus com captação, ano a ano

Fonte: SalicNet. Elaboração própria.

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

Figura 5: Evolução do valor médio captado por museus, por projeto

Fonte: SalicNet. Elaboração própria.

Quadro 2: Museus com captação pela Rouanet e grau de concentração

Fonte: SalicNet. Elaboração própria.

Em 2003, 61% dos recursos foramcaptados por apenas dois projetos. Em2008, três projetos responderam pelacaptação de 75% dos recursos. A forteconcentração em poucos projetos seobserva em todos os anos do período.Pode-se argumentar que a concentração édecorrência do mecanismo de mercado.Apenas os poucos projetos mais atraentese com algum apelo comercial conseguiriamcaptação no setor privado.

Nota-se, no entanto, que não é exata-mente o setor privado que está sendo

atraído a financiar projetos na área demuseus: há forte presença de empresasestatais, portanto, o próprio setor público.Em 2005, 56% dos valores captados pelaLei Rouanet vieram de empresas estatais(Quadro 3). Em todos os anos a partici-pação das empresas estatais esteve acimade 30% (exceto em 2010), o que indica quea participação do setor privado no financia-mento de museus é ainda menor do queparece ao se examinar os números refe-rentes à Lei Rouanet. A participação dasestatais é significativa, tanto em termos de

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valores quanto em termos de quantidadede projetos apoiados. Em 2005, 86% dosprojetos de museus que conseguiramcaptação via Lei Rouanet, captaram deempresas estatais. Em todos os anos, exceto2004 e 2010, a participação de estatais ficouacima de 50%, em termos de quantidadede projetos que conseguiram captação. Nasentrevistas, encontra-se uma percepçãodisso também3:

• “por ser uma empresa estatal, ela temuma política de patrocínio diferente, não sóde retorno financeiro, mas também de retornoinstitucional, que muitas vezes (em umaempresa particular) é mais difícil, porque elatem compromissos imediatos comerciais.”

• “uma empresa estatal às vezes podeter o luxo de não ter esse retorno imediato,ela tem uma preocupação mais insti-tucional, mais fiel à linha de patrocínio.”

A lógica da Lei Rouanet, inicialmente,era captar recursos do setor privado. Asempresas privadas têm isenção do IR, masessa isenção, teoricamente, não é integral.Assim, algum recurso do setor privadoentraria para o financiamento da cultura.Quando o recurso vem de empresa pública,nenhum recurso do setor privado estáentrando no financiamento da cultura e o

espírito da lei não está sendo atingido. Essealto índice de participação das empresasestatais não passou despercebido aoMinistério da Cultura (MinC). O ministroGilberto Gil, embora tenha adotado oslogan “investimentos privados com polí-ticas públicas” (SILVA, MIDLEJ, 2011, p. 119),argumenta que as empresas estatais são, arigor, entes privados, porque funcionamcom a lógica privada, e que foi um grandemérito do ministério ter logrado êxito noesforço de “alinhamento das políticasdessas estatais com as políticas públicas doMinistério” (SILVA, MIDLEJ, 2011, p. 122),ressaltando que a presença das estatais tempapel fundamental para o sucesso dapolítica (SILVA, MIDLEJ, 2011, p. 127).Chamar empresas estatais de setor privadopode até atender a critérios de direito doponto de vista de pessoa jurídica, mas não

atende ao espírito da lei de incentivo, quantoà captação de recursos diretamente deempresários ou mecenas pertencentes aosetor privado propriamente dito. Alémdisso, é interessante notar que a presençadas estatais é mais fortemente notada seanalisamos a quantidade de projetosem vez de seus valores, ou seja, os projetosfinanciados pelo setor privado se

Quadro 3: Empresas estatais na Lei Rouanet no setor de museus

Fonte: SalicNet. Elaboração própria.

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apresentam em quantidade menor, masrecebem proporcionalmente mais recursosde cada financiador. Essa análise baseia-seem dados de museus quanto a incentivofiscal por consulta à SalicNet.

Nota-se que a renúncia fiscal mediantea Lei Rouanet é um mecanismo concen-trador, pois, no período de 2003 a 2007, 3%dos proponentes concentraram 50% dovolume captado. É um mecanismo desigual,pois em 2007 as regiões Sul e Sudeste fica-ram com 80% da verba captada, o Centro-Oeste ficou com 11%, o Nordeste com 6%e ao Norte restou apenas 3% (BRASIL, 2010).Trata-se de um mecanismo com baixa par-ticipação das empresas, pois de cada dezreais captados, apenas um real é dinheirorealmente captado, sendo os outros noveauferidos de renúncia, conforme dados dopróprio governo (BRASIL, 2009). Conclui-seque em cada um real (dinheiro) captado, aomenos metade disso é captado do própriosetor público, das empresas estatais.Portanto, do setor privado, capta-se menosde cinquenta centavos para cada dez reais.Em sua concepção, a referida lei ofereceriaincentivos para melhor distribuição da ofertade cultura no país. Na prática, nota-se que80% dos recursos captados pela Lei Rouanetsão para as cidades de São Paulo e Rio deJaneiro, havendo forte concentração.

Da análise das entrevistas, percebe-seque os incentivos são o grande motivadorpara que proponentes tomem a iniciativade apresentar projetos:

• “É muito mais difícil conseguir asdoações sem esse incentivo fiscal. A LeiRouanet ajuda muito.”

• “Se a pessoa não pode debitar o valortotal do imposto, então fica ainda maisdifícil de captar.”

Alguns procuram aprovar o projeto,para depois buscar captação, e outros con-correm aos recursos e percebem que estar

aprovado na Lei Rouanet é exigência dopatrocinador:

• “Exige-se que o projeto tenha sidoaprovado na Lei Rouanet.”

• “Uma das prerrogativas do Petrobráscultural era que estivesse inserido na LeiRouanet.”

• “Foi um edital da Petrobrás que exigiaque o projeto estivesse aprovado naRouanet.”

Outro estímulo são as regras:• “Entramos na Rouanet também

porque não é competitiva. O processo nãoé competitivo. Você não está concorrendocom ninguém, o mérito do projeto não estáem questão. Você simplesmente tem deapresentar um projeto viável e ele é apro-vado. Nas leis municipais e estaduais, euentro em uma competição com outrosprojetos. Na Rouanet isso não acontece.O que facilita bem.”

· “Nos do governo do estado ou domunicípio é muito mais difícil. O pessoalusa mais lei de incentivo do MinC mesmo.É muito mais fácil do que qualquer outra.A estadual, a fiscal, tem uns requisitos, sevocê coloca um projeto não pode colocaroutro parecido, tem um monte de coisas.O do MinC é muito melhor”

Portanto, os recursos e as regras sãoos incentivos que movem os proponentesa se inscreverem na Lei Rouanet.

Autonomia: Pode-se investigar aautonomia sob dois pontos de vista: aautonomia referente à seleção dos projetosque serão financiados, e a referente àimplementação do projeto.

Na renúncia fiscal, o governo apenasavaliza os projetos, cabendo às empresasoptar por financiá-los, abatendo todo ouparte do montante no Imposto de Renda.A aprovação funciona como maior poderde convencimento junto ao empresáriopatrocinador (SILVA, 2007a, 2007b). O

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Estado financia, mas quem seleciona é o“mercado”. A autoridade está delegada, dogoverno aos financiadores diretos. Dentrodo leque de projetos aprovados, há totalautonomia dos financiadores. E mais de90% de todos os projetos inscritos sãoaprovados na Lei Rouanet.

Do ponto de vista do implementador,o grau de autonomia em relação ao governotambém é bastante amplo. Pode ser que aautonomia fique restrita a determinaçõesdo financiador, mas em relação ao governoé ampla, com restrições mínimas relacio-nadas à prestação de contas. Todos osproponentes afirmaram que dispunham detotal autonomia para implementação, masnem sempre viam isso como uma quali-dade positiva, já que a autonomia totalimplica também falta de apoio institucional.

Pelas entrevistas, temos:• “Aí foi tudo aqui, com autonomia”.• “Autonomia total. O gestor do pro-

jeto tem sim autonomia total. Eu tenho jáliberdade com o detentor do acervo, já delongos anos trabalhando com ele, então euposso ter bastante autonomia.”

• “Eu tive autonomia para implementarum projeto pequeno, muito claro, bemespecífico”.

• “Para contratar gente foi minhaprópria esposa, que é a especialista nisso,só tem três ou quatro especialistas noBrasil. Nós montamos com os alunos dela,nós montamos a equipe, pegamos umacostureira boa também, é, fizemos. O restoé tudo comprar, comprar móveis, ilumi-nação. Tranquilo. Sem problemas.”

• “Fazer, falar, sentar, botar no papel éuma coisa. Executar um projeto sozinhoassim... Uma coisa é colocar no papel, aoutra é fazer. Não é nada fácil executar umprojeto”.

• “Não tem complicação nenhuma, ésó trabalhar.”

• “A gente é quem cuida da manu-tenção. A ideia é essa mesma. A Rouanetajuda a iniciar e aí cada um se vira. Dáuma injeção. Criaram um mecanismo. Aítem de se manter de alguma forma.”

• “Se vira aí e apresenta o seu projetoe coloca ele direito, porque a visibilidadeestá em cima da sua cabeça, é umaespada.”

Portanto, pode-se concluir que há altograu de autonomia quanto ao uso da Lei

Rouanet por proponentes da área demuseus.

Questões Informacionais: A renúnciafiscal é contabilizada na fase de aprovaçãode projetos. Após o projeto aprovado, noentanto, os proponentes não dispõem deinformação sobre onde estão os potenciaisfinanciadores e quais são seus interesses, oque dificulta a captação. Assim, nascem

“...a renúnciafiscal mediante aLei Rouanet é ummecanismoconcentrador, pois,no período de 2003a 2007, 3% dosproponentesconcentraram 50%do volumecaptado.”

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

“empresas” intermediadoras, que observamquais foram os projetos aprovados viaRouanet e que se oferecem para captarrecursos, cobrando uma porcentagem.Esses problemas de informação causamperdas no sistema. A assimetria de infor-mação abre espaço para o oportunismo,como sugere a teoria da agência e a teoriade custos de transação, e cria-se ummercado paralelo para captação.

A Polícia Federal produziu em 2007e em 2010 relatórios sigilosos sobreprojetos da Lei Rouanet. A OperaçãoMecenas, de 2007, contou com a ajudada Controladoria-Geral da União (CGU)e da Corregedoria da Polícia Civil do DF.Servidores foram acusados de facilitar aaprovação de certos projetos ou de atrasara apreciação dos projetos que nãoaceitavam o esquema de propinas. Estima-se que pelo menos 30% do dinheiro queempresas dizem ter investido em projetosfoi devolvido para as próprias empresasde forma ilícita (NOBLAT, 2011; MOUSINHO,2011).

Segundo a “Operação Mecenas” daPolícia Federal, houve fraude em processosda Comissão Nacional de Incentivo àCultura (CNIC) a partir de 2004. Inte-grantes do apoio administrativo do MinCà comissão e produtores culturais supos-tamente atuavam para facilitar o andamentodos processos, cobrando propina para queos projetos fossem incluídos rapidamentena pauta das reuniões de avaliação dacomissão. Além disso, uma servidora daárea de avaliação de projetos do Ministérioteria ainda o papel de identificar propostastecnicamente viáveis e repassar as infor-mações aos produtores culturais, que seencarregariam da intermediação. O grupocriminoso cobrava, segundo o delegado daPolícia Federal que conduziu as operações,entre 2% a 5% do valor dos projetos (BRASIL,

2008). Embora o caso não envolva a CNICe o acontecimento tenha ficado limitado aum suposto esquema de dimensões limi-tadas, expõe dificuldades informacionais.

Outro grave problema informacionalé que os montantes de renúncia não sãocontabilizados no sistema de acompanha-mento financeiro governamental (Siafi),dificultando a mensuração do gasto e suaavaliação.

Internamente há problemas informa-cionais no processo de implementação, noque tange ao monitoramento e ao controlefeito pelo Ministério da Cultura. Uma provadisso é a dificuldade de se atestar a infor-mação básica sobre quantos projetos foramaprovados e conseguiram captação.O Quadro 4 mostra essa dificuldade. Seum cidadão acessa o sistema de dados daLei Rouanet disponível no sítio do MinC(SalicNet), e busca informações relacio-nadas a museus, obterá uma série de dados.Caso a consulta seja feita mediante acessoao Relatório de Gestão do Ibram, os dadosserão outros, bem mais favoráveis. Tambémse observará que, caso o cidadão faça umaconsulta à Secretaria de Fomento e Incen-tivo à Cultura (Sefic) – secretaria encarre-gada da implementação da Lei Rouanet noMinC –, os dados serão ainda outros.

Os dados que constam do Relatóriodo Ibram (fonte B), e que são mais favo-ráveis, mostram crescimento da quanti-dade de museus que captam recursos viaLei Rouanet, mas diferem da consultadireta ao SalicNet e da consulta à Sefic(essas duas são mais similares entre si).Em conversa com o funcionário que ela-borou esses dados, que já não trabalhamais no Ibram, foi esclarecido que sechegou a esses números por consultaprocesso a processo, identificando pro-jetos museológicos em praticamente todasas áreas e segmento4.

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Não foi possível confirmar a análiseprojeto por projeto, pois só quem trabalhano Ministério da Cultura tem acesso àtotalidade dos projetos.

A diferença entre o relatório extraídodiretamente do sistema SalicNet, (consul-tando apenas o segmento “museus”) e orelatório enviado pela Sefic (que apresen-tou dados de consulta pelos segmentos“museus”, “acervo” e “acervo museo-lógico”) se justifica devido à diferençaquanto aos segmentos consultados. Noentanto, a diferença deveria ser sempre paramaior, já que o relatório que extraímosdiretamente do SalicNet foi apenas do seg-mento “museus”, e o relatório da Sefictratava dos segmentos “museus”, “acervo”e “acervo museológico”. Essa diferençaesperada se observa nos anos de 2003 a2006, mas curiosamente se inverte nos anosde 2007 a 2010. Supõe-se que isso se devea falhas no sistema de monitoramento.Informações desencontradas com respeitoaos números explicitam problemas

informacionais na implementaçãomediante renúncia fiscal.

Ainda sobre problemas de informaçãona implementação, detalhando melhor osdados da Sefic/Minc, observamos queapenas seis dos 262 projetos que conse-guiram captação de 2003 a 2010 estão em2011 com sua prestação de contas aprovada.Ou seja, em 2011, apenas 2,3% de todos osmuseus (na Lei Rouanet de 2003 a 2010)estão com prestação de contas aprovada. Emmédia, apenas a metade dos beneficiadosapresentou prestação de contas, e a maioriadessas encontra-se em análise (Quadro 5).

Considerando o universo dos que apre-sentaram prestação de contas (aprovada ouem análise), mais da metade já asapresentou. Para 2008, esse percentual ébaixo (35%), e para 2009 e 2010, é respec-tivamente de 8% e 0% (Quadro 5). É maisprovável que esse baixo percentual se devaa problemas informacionais – ao fato de oprojeto haver apresentado as informações,mas estas não constar no sistema –, do quea problemas de execução dos projetos.

Quadro 4: Quantidade de museus que captaram recursos via Lei Rouanet

Fonte: Elaboração própria. Fonte A: elaboração própria (consulta direta ao SalicNet). Fonte B: elaboraçãoIbram (não especificam a fonte dos dados publicados). Fonte C: elaboração MinC, mediante consultadeservidores da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura (Sefic/MinC) ao SalicNet.

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

Mas há de se investigar com mais detalhes,projeto a projeto, para confirmar essasuposição. Caso o problema seja naexecução do projeto, há de se buscar outrassoluções, que não a melhora no fluxo deinformações.

Do ponto de vista dos proponentes,aparentemente a prestação de contas não évista como problemática. Nas entrevistas,alega-se que tudo foi feito com tranqui-lidade, manifestando a não compreensãodo porquê da demora para aprovar ascontas.

• “A prestação de contas não deu tra-balho nenhum”.

• “A prestação de contas é tranquila.Se você anda na linha, a prestação de contas

vem automaticamente. É claro que vemburocracia, mas a burocracia é necessáriapara o controle do projeto, não é empe-cilho nenhum”.

• “Não há nenhuma dificuldade.Agora, o jeitinho brasileiro é que complicaa prestação de contas. A partir do momentoque eu tenho tudo em ordem eu consigofazer essa prestação.”

• “Nós temos aqui um checklist, esabemos que tem de apresentar notas, fazeros cruzamentos, ter os controles doscheques nos bancos; então, a gente faz tudocertinho. A gente não paga nada sem nota,se informa se tem problema na nota, sócompra de quem tem nota, pesquisa asnotas para ver se são viáveis ou não. A

Quadro 5: Museus ou projetos culturais da área museológica, apresentados noMinC de 2003 a 2010, que tiveram por foco o incentivo fiscal

Fonte: Elaboração própria a partir de relatórios fornecidos pelo MinC e pelo Iphan em julho e agosto de 2011

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gente tem que tomar todo o cuidadopossível durante, para não ter problemadepois. E não temos problema para pres-tar contas, não.”

• “A prestação de contas da Rouanetnós apresentamos também aos patrocina-dores, porque a prestação de contas daRouanet é tão detalhada, é bemdetalhadinho, tudo, então é a mesma paratodos. Agora, em relação ao relaciona-mento com o Ministério da Cultura, foitudo super tranquilo. Vem tudo muitodetalhado. Prestar contas é tranquilo”.

• “Eles têm as normas ali. A partir domomento que você conhece aquelasnormas, dá tudo certinho. Você preenchelá as planilhas, apresenta a documentaçãotoda direitinha, não dá trabalho. Apresentaas certidões. O instituto, a organização, nãote dá trabalho. Acompanha direitinho mêsa mês, acompanha as certidões; se uma vaivencer, ele já corre atrás. Funciona muitobem.”

• “A prestação de contas foi toda den-tro do previsto”.

Mas há críticas também:• “Eu acho que o grande problema hoje

no ministério é que eles têm uma equipepequena e isso acarreta um monte de coisas,e tinham que colocar na equipe de pres-tação de contas gente com bom-senso, quetivesse um ponto de vista melhor. Isso, dasnotas, é difícil.”

Afirmaram que mantêm toda a docu-mentação guardada, “em caixas e maiscaixas”, caso haja alguma auditoria, já queconseguem visualizar no sistema que suascontas não foram aprovadas ainda. Umproponente afirmou em uma dasentrevistas: “Estou aguardando aí. A genteestá sempre na corda-bamba com o MinC”.Outra curiosidade, que decorre da análisedas entrevistas, é que todos alegam que nãohá problemas informacionais no que diz

respeito às informações que o proponentedeve passar ao governo, mas sim no sentidoinverso: das informações que o governodeve passar aos proponentes. Os propo-nentes se queixam de que não têm infor-mações sobre a análise de projeto, sobre aexistência de empresas financiadoras, sobreeditais de estatais, mas principalmentesobre o andamento da prestação de contas.

De qualquer forma, a partir de todosesses pontos de vista, há indicativos, con-forme exposto aqui, de que problemasinformacionais têm impedido a boaimplementação via incentivo fiscal.

Etapas e Tempo. Referências a etapase tempo são as mais frequentes no conjuntodas entrevistas.

Pela análise documental, constata-se quehá oito etapas. Os interessados inscrevemprojetos junto ao MinC, que os analisa pre-liminarmente e os encaminha à Comissão

“Após o projetoaprovado, noentanto, osproponentes nãodispõem deinformação sobreonde estão ospotenciaisfinanciadores equais são seusinteresses, o quedificulta acaptação”.

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC),que emite o parecer; posteriormente o MinCpublica o resultado final. O tempo médioentre o cadastramento de usuário (primeiraetapa) e o resultado final é de oito meses,chegando a demorar até um ano (BRANT,2009), mas, por vezes, demorando apenastrês meses (conforme entrevistas). Foiidentificada certa dificuldade para inscriçãode um projeto, devido aos critérios, obriga-ções e exigências da lei (SILVA, MIDLEJ, 2011).A estimativa desconsidera o tempo que seleva para inscrever um projeto e considerao tempo decorrido a partir do projetoinscrito.

Existem problemas administrativosreferentes ao CNIC, pois há cerca de dozemil projetos por ano para serem exami-nados por uma comissão constituída porvinte pessoas aproximadamente, que sãopareceristas voluntários (SILVA, MIDLEJ,2011). Para a etapa seguinte, não há dadossuficientes para se estimar o tempo médioentre o resultado final (com base no parecerdo CNIC) e a captação, para enfimchegarmos à execução do projeto. Combase nas entrevistas, estima-se que leva emmédia um ano – prazo máximo para cap-tação –, sendo que por vezes é preciso queos proponentes solicitem prorrogação doprazo para viabilizar a captação.

Depois de aprovado, cada projetotinha, conforme o regulamento (no períodoanalisado), um prazo máximo de dois anospara conseguir a captação. Caso nãoconseguisse captação em até dois anos, oprojeto era arquivado. Supõe-se, assim,haver internamente estimativas no Minis-tério de que o tempo para captação nãodeve exceder dois anos. Após a captação,haveria prazo de um ano para aimplementação. Somando todos essesprazos, temos um tempo médio deimplementação de quatro anos.

Pelo Quadro 5, observamos que, emagosto de 2007, só há projetos comprestação de contas aprovada referentes aosanos 2003, 2004 e 2005, ou seja, aprovadoshá mais de cinco anos. Quanto à prestaçãode contas, há percentuais mais elevadospara o período de 2003 a 2007, caindoconsideravelmente em 2008, 2009 e 2010,o que permite concluir que isso se deve aofato de o ciclo de quatro anos ainda nãoter se completado.

Os entrevistados afirmam que o pro-cesso “demora muito tempo”, “que é muitodemorado”, que “demora mais do que vocêimagina”. Por vezes alegam que houvegreve no MinC, que não sabem por quedemora tanto. Concordam que “temque ficar em cima”. Há relatos pontuaisde atrasos específicos, devido a ajustes nosprojetos ou mesmo devido à demora queacarreta ajustes nos projetos (preços defa-sados que devem ser negociados ou deve-se buscar alternativas quando finalmenteo projeto começa a ser implementado).De qualquer forma, o tempo é longo edesanima os que se utilizam da LeiRouanet. E a demora é geralmente asso-ciada a problemas informacionais: “tudo ébem difícil”. Mas concordam quemelhorou muito com o SalicWeb, com ainformatização do processo.

Apoio Institucional. Revelou-se, pormeio das entrevistas, como contrapeso àautonomia. Nos casos de pessoa física(proponente), isso ficou bastante eviden-ciado. O proponente tem total autonomia,mas não tem apoio nenhum e necessitadeste para manutenção do museu. Semapoio institucional (seja de governossubnacionais, de empresas ou instituições)o processo fica desgastante, precário esuscetível a descontinuidades.

Nas palavras dos proponentes entre-vistados, quando inquiridos acerca do

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processo de elaboração, aprovação eimplementação do projeto: “É um horror!É muito difícil! É muito complicado!”, “Émuito difícil. Muito complicado”, “A expe-riência foi muito amarga, foi muito difícil,uma trabalheira danada”, “Tudo foi bemdifícil”. O apoio institucional não temrelação com afinidade partidária, mas simcom sensibilizar a instituição, normalmentea prefeitura (também a empresa privada),da necessidade de apoiar aquele projeto,para que sua manutenção seja possível. Eleé necessário ainda que a renúncia fiscal sejaapoiada em mecanismo de mercado.

Os entrevistados inclusive afirmamque ser proponente (pessoa física) é difícil,que dificulta a captação (não só aimplementação), e que o próprio MinC temincentivado que os proponentes sejamtodos pessoa jurídica, para poder contarcom maior apoio institucional ou, aomenos, maior experiência. Há relatosinclusive que atestam: “eu já tinha a pré-aprovação, mas, como eu era pessoa física,não me aprovaram”. E a importância doapoio institucional também se evidencia naafirmação de um dos entrevistados sobreo MinC e todo o processo:

• “Facilita conhecer uma pessoa lá.”• “É complicado porque eu vejo hoje

né, o patrocínio no Brasil ainda é muitopolítico. Depende muito de relacionamentopolítico, relacionamento direto às vezescom pessoas importantes da empresa, issotem um peso muito grande no papel dapessoa que capta.”

• “Não que a empresa vá patrocinaralgo que não tenha a ver com ela, masdentre vários que tem a ver com ela, elaacaba optando por aquele projeto quechegou ali através de um relacionamentopolítico, um apelo político, ou um relacio-namento forte com uma pessoaimportante e tal.”

• “Então acaba que o relacionamento,a pessoa conhecer, estar na área há muitotempo, ter uma costa quente, ou umrespaldo já, ainda ajuda. Ajuda bastante.”

O apoio institucional se manifesta,portanto, como apoio do prefeito paramanutenção do museu (depois que o pro-jeto é implementado com recursos daRouanet), apoio para aprovação do projetodentro do MinC e apoio para seleção doprojeto pela empresa financiadora.

Apoio Social. O apoio social tevepouco peso ao longo das entrevistas. Oque se pode considerar aqui são mençõesno contexto das perguntas sobre quemfrequenta o museu. Contrário ao que seriaesperado, os entrevistados afirmaram quea implementação do projeto que conse-guiu captação da Lei Rouanet “não teveimpacto na visitação”. Em alguns casos,expressaram desapontamento pelo fato deo museu ter sido construído (e ser man-tido) com objetivo de atender a comu-nidade, mas atualmente ser procuradomajoritariamente por estudantes demestrado, doutorado e pesquisadores emgeral, em vez de usado pela comunidade.Para buscar maior envolvimento, tentam,em iniciativas pontuais e escassas, fazercontato com escolas públicas das locali-dades, para que essas visitem os museus.Têm funcionado, mas não de formainstitucionalizada.

Nas entrevistas, a palavra “social”apareceu em três trechos: “o projeto temde ter um apelo social bom para iniciarqualquer conversa para futura captação”(mas isso foi classificado como incentivos,visto que estávamos tratando de captação);“o que caracteriza o apelo social é geral-mente a distribuição gratuita”; e “o apelosocial é mediante disponibilização nainternet”. Nenhuma dessas citações se referepropriamente ao público, mas sim ao

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

processo de captação, ou a como fazerum projeto ser atraente ao potencialpatrocinador ou ter sucesso ao concorrer aoseditais da Petrobrás ou de outras estatais.

Quando inquiridos explicitamentesobre o público e a mobilização social,mencionam:

• “Os que moram lá vão uma vez enão voltam mais, né. Mas tem turista.”

• “As escolas são o nosso maior público.A gente atende as escolas. A gente tem con-tato com as escolas durante o ano inteiro. Éo nosso forte. É o forte do nosso público.”

• “Agora, mobilização da sociedadepara apoiar o museu... isso é uma discussãoque a gente tem aqui. Eu não sei. A gentetem de semear mesmo. É uma coisa de co-meçar um trabalho mesmo deconscientização, para ir colher os frutos aospoucos.”

Dos relatos, depreende-se que inserir umprojeto para aprovação e futura captação eimplementação pela Lei Rouanet é, às vezes,uma iniciativa pessoal, individual, conformehistória de vida do proponente/pessoa físicaou de algum funcionário do proponente/pessoa jurídica. O apoio para a criação domuseu não vem de uma exigência da socie-dade. Assim, o apoio social, em todos os seusaspectos, mostrou-se fraco.

Conclusões e recomendações

A partir do exposto, as principaisconclusões são as seguintes:

O incentivo financeiro é a grande forçamotriz da Lei Rouanet. Até o próprio MinCa utiliza para aumentar seus recursos poroutras vias que não orçamentárias. Noentanto, a renúncia fiscal é concentradora,desigual e apresenta baixa participação dasempresas.

A renúncia permite considerávelautonomia. No entanto, contrariamente ao

indicado pela revisão de literatura,chegou-se à conclusão de que a autono-mia nem sempre é vista como positivapelos implementadores, por ter como con-trapeso falta de apoio institucional.

Os problemas informacionais fazemsurgir distorções, tais como ‘intermediários’,‘mercado paralelo’ de informações e pro-blemas gerenciais. Além disso, problemasinformacionais estão relacionados a proble-mas de gestão e, também, da quantidade deetapas e do tempo decorrido entre cada eta-pa do processo de implementação.

A quantidade de etapas e o temponecessário para completar todo o processoé uma variável que prejudica seu bomfuncionamento, pois há muitas etapas eprazos longos, ocasionando demora entrecada etapa e demora para implementação.Essas questões estão intimamente relacio-nadas com questões informacionais etambém com apoio institucional.

O apoio institucional é uma variávelimportante e que insere instabilidade,devido à necessidade que os proponentestêm de terem tal apoio para manutençãode cada museu. Ficou evidenciado, ainda,que o museu implantado pelo mecanismode renúncia fiscal necessita de apoioinstitucional para sua manutenção.

Quanto ao apoio social, parece ser depouca importância para o uso da renúnciafiscal. O apoio social interessa, mas é aindamuito incipiente, no sentido de que omuseu não pode contar com a sensibili-zação da sociedade ou com o apoio dacomunidade para sua existência e manu-tenção. Cada museu ainda considera comotarefa necessária, a qual deve partir de suaprópria iniciativa, provocar e construir esseapoio junto com a comunidade.

Em suma, apesar de haver incentivos eautonomia em grau suficiente para,conforme a literatura pertinente, possibilitar

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Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

o bom uso da renúncia fiscal na área demuseus, há problemas informacionais quedificultam essa implementação. Há tambémbarreiras referentes ao apoio institucional eàs etapas e tempo. Ambos parecem limitaros efeitos da implementação de museus me-diante o uso da Lei Rouanet.

As contribuições deste artigo se devemao fato de ter ouvido proponentes de pro-jetos museológicos implementadosmediante o uso da renúncia fiscal e de fazerum levantamento do seu uso na área demuseus, o que pode expor ao governo pro-blemas na implementação que talvezpossam ser contornados.

As recomendações de cunho teórico,que convém mencionar, se atêm à necessi-

dade de analisar outros instrumentos gover-namentais que estão em uso paraimplementação de museus e de comparartais instrumentos com a análise desenvol-vida neste trabalho, para constatar sehaveria um instrumento ou um mix deinstrumentos mais adequados para a áreade museus. Também seria conveniente(uma recomendação prática) propor aoIbram e ao MinC que façam um “pentefino” nas prestações de contas e contatemproponentes para que tomem conheci-mento dos problemas enfrentados epossam propor novas mudanças.

(Artigo recebido em novembro de 2011. Versãofinal em dezembro de 2011).

Notas

* Este artigo partiu da fase inicial de pesquisa de doutorado que compara a implementaçãoda Política Nacional de Museus mediante o uso de renúncia fiscal, assistência financeira e gestãodireta. A tese é bem mais abrangente que este artigo, chega a conclusões interessantes e está àdisposição de interessados (contatar autoras).

1 Pressupõe-se que proponentes são implementadores “na ponta”, conforme teorias deimplementação “bottom-up” (HILL, HUPE, 2002). Além disso, este artigo é parte de uma pes-quisa que entrevistou 28 implementadores, incluindo governo federal, diretores de museus eoutros que implementam a Política Nacional de Museus mediante o uso de outros instrumentosgovernamentais, tais como assistência financeira e gestão direta.

2 Problemas de classificação dentro do sistema de controle da Lei Rouanet foram identifica-dos e confirmados em entrevistas com atuais e antigos servidores do Ibram. Essas e as entrevis-tas com os proponentes foram gravadas e estão à disposição dos interessados. Não se tem amensuração das classificações duplicadas ou erradas, mas sabe-se que há indícios de classifica-ção dúbia ou errada, apurados em casos isolados. O SalicNet está disponível na internet e, parafins de consulta, seu acesso é público, dispensando uso de senhas.

3 A identidade (bem como o cargo) foi preservada a pedido dos entrevistados. As entrevis-tas foram gravadas e estão disponíveis (contatar autoras).

4 As áreas são: artes cênicas, artes integradas, artes visuais, áudio visual, humanidades, mú-sica e patrimônio cultural.

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

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Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

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O uso da renúncia fiscal na área de museus

Resumo – Resumen – Abstract

O uso da renúncia fiscal na área de museusJanann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

O objetivo desse artigo é investigar como a renúncia fiscal é utilizada na área de museus. Afundamentação teórica faz breve apresentação da literatura sobre implementação e descreve ouso da renúncia fiscal na área de museus mediante análise de seis variáveis: incentivos, autono-mia, informação, apoio institucional, apoio social e etapas e tempo. A metodologia utilizada foia análise documental e entrevistas. A análise foi feita com ajuda do programa NVIVO9. Asprincipais conclusões são que embora haja incentivos e autonomia em graus suficientes parapermitir boa implementação via renúncia fiscal, há questões informacionais e referentes àsetapas e tempo que dificultam sua implementação. Além disso, a renúncia fiscal é concentradora,desigual e apresenta baixa participação de empresas do setor privado. Esses problemas parecemdiminuir a capacidade de a implementação de museus mediante o uso da renúncia fiscal alcançaros efeitos almejados.

Palavras-chave: implementação de política pública, renúncia fiscal, museus.

El uso de exenciones fiscales para MuseosJanann Joslin Medeiros y Leila Giandoni Ollaik

El objetivo es describir el uso de la exención fiscal por museos. La fundamentación teóricatrata de implementación en general y más específicamente de la exención fiscal, con análisis deseis variables: incentivos, autonomía, información, pasos/tiempo, apoyo institucional y apoyosocial. Para la metodología, fueron utilizados análisis documental y entrevistas. El análisis fuerealizado con la ayuda del programa NVIVO9. Las principales conclusiones son las de que,aunque existan incentivos y autonomía en grado suficiente para permitir la implementación viaexenciones fiscales, existen problemas de información y pasos/tiempo que disminuyen sucapacidad. Además, la excención fiscal es concentradora, desigual y con baja participación de lasempresas. Estos problemas parecen haber contribuido para impedir que la implementación demuseos a través del uso de excención fiscal haya tenido los efectos deseados.

Palabras clave: implementación de políticas públicas, exenciones fiscales, museos.

The use of fiscal incentives by museumsJanann Joslin Medeiros and Leila Giandoni Ollaik

This paper investigates how tax exemptions have been used by museums. It describes theuse of tax exemptions in terms of six key variables: incentives, autonomy, information, institutionalsupport, social support and timeframe. The theoretical foundation presents a summary of theliterature on implementation, conceptualizing the variables to be used in the analysis. Data werecollected by means of analysis of governmental documents and interviews with proponentswho implemented museums financed via tax exemptions. Data analysis was supported by theuse of NVIVO9 software. Findings reveal that although the levels of incentives and autonomyappear adequate to the implementation via tax exemptions; information problems and barriersrelated to the number of steps and the amount of time needed to implement each projectappear to have severely limited its potential to foster museums implementation.

Keywords: public policy implementation, tax exemptions, fiscal incentives, museums.

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447Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 425-447 out/dez 2011

Janann Joslin Medeiros e Leila Giandoni Ollaik

Janann Joslin MedeirosDoutora em Administração Pública pela University of Southern California, mestre em Administração Pública pela GeorgeWashington University e bacharel em Ciência Política pela University of Iowa. Atualmente é professora adjunta da Univer-sidade de Brasília e líder do grupo de pesquisa em relações interorganizacionais e redes. Contato: [email protected]

Leila Giandoni OllaikDoutoranda em Administração Pública pela Universidade de Brasília (UnB), mestre em Políticas Públicas (MSc in PublicPolicy in Latin America) pela Universidade de Oxford, mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) ebacharel em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). É Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental- EPPGG, carreira do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, desde 1997. Contato: [email protected]

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449Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

Mobilidade social eempoderamento: a percepção

das mulheres beneficiáriasdo programa Bolsa Família em

Minas Gerais

Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira;Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

Introdução

O Brasil tem apresentado avanços em vários aspectos socioeconômicos, com

destaque para a qualidade de vida, o lazer, a educação, o emprego, entre outros.

Entretanto, existem áreas que carecem de maior cuidado e atenção, como aquelas

presentes no tecido da desigualdade social. Sabe-se que a desigualdade social no

Brasil é um problema de abrangência nacional, observando-se realidades díspares,

em que se constata alto índice de pessoas em condições de extrema miséria, convi-

vendo com parte da sociedade que apresenta elevada concentração de renda.

Para amenizar esse problema, o governo federal vem, desde 1997, implantando

políticas sociais de transferência de renda, entre as quais se destaca o Programa Bolsa

Família (PBF), implantado no final de 2003, por meio do qual as famílias recebem

recurso monetário, com objetivo de promover o alívio imediato da pobreza. O PBF

atingiu, em 2010, a marca de 12,4 milhões de famílias atendidas em todo o país,

número que faz dele o maior programa de transferência de renda do mundo.

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450 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família em Minas Gerais

Segundo Soares et al. (2006), os progra-mas de transferência de renda de naturezanão contributiva existem há várias décadase têm passado por inovações e grandeexpansão a partir do fim da década de 1990.Esses programas são exemplos de mecanis-mos diretos de redistribuição, e são utili-zados para contribuir com a erradicação dapobreza e a redução substancial dos níveisde desigualdade no Brasil.

Em contrapartida ao benefício, o pro-grama atribui algumas condicionalidadesàs famílias beneficiárias, tais como mantero cartão de vacinação em dia e a frequênciados filhos na escola, propostas com a fina-lidade de se ter uma população mais sau-dável e de diminuir a pobreza do país, jáque, teoricamente, essas medidas farão comque, em um futuro próximo, diminua a taxade analfabetismo, tornando a populaçãomais bem instruída e o mercado de traba-lho enriquecido.

Acredita-se que com o PBF, além daprevisão de enriquecimento do mercado detrabalho, proporcionado pela educação dosfilhos, haja também qualificação em curtoprazo, por meio do oferecimento de cur-sos de capacitação para toda família, o queé considerado fator condicionante da mo-bilidade social. Sendo assim, é importanteverificar em que medida as famíliasbeneficiárias aproveitam as oportunidadesde qualificação profissional.

Em razão disso, esta pesquisa objetivouanalisar os impactos que o PBF ocasionana possibilidade de mobilidade social dosgrupos familiares beneficiados, consideran-do que o seu escopo primordial é ofertaroportunidades àqueles que estão emsituação de pobreza e extrema pobreza.

Em termos específicos, pretendeu-seidentificar o perfil das famílias beneficiárias,definir os constructos de empoderamentoe mobilidade social à luz das teorias

utilizadas como arcabouço, bem como adefinição desses conceitos na percepçãodas beneficiárias.

Este estudo está organizado em cincotópicos. No primeiro tópico, contextua-lizou-se brevemente o tema a ser abordado,destacando os fatores que influenciaram arealização da pesquisa, bem como seapresentou o problema e sua importânciae os objetivos do estudo.

Na segunda parte, apresentaram-se asprincipais teorias acerca do tema, e, no itemseguinte, abordaram-se os procedimentosmetodológicos. Na quarta seção, foramdiscutidos os resultados obtidos, e, por fim,foram feitas as considerações finais dotrabalho, reflexões e sugestões para novosestudos.

Desigualdade social e políticaspúblicas

A distribuição de renda de formadiferenciada aos agrupamentos da popu-lação é o que caracteriza a desigualdadesocial, configurada pela detenção da maiorparte das riquezas por pequena parcela dapopulação, enquanto pouca porcentagemdos recursos é dividida entre muitos.

De acordo com Giddens (2009), asclasses sociais exercem grande influêncianas nossas vidas, e a pertença de classeestá associada a uma série de desigual-dades, desde desigualdades nas expecta-tivas de vida e na saúde física em geral, adesigualdades no acesso à educação e aempregos bem remunerados, cuja divisãopermanece no centro das desigualdadeseconômicas.

O Brasil desponta como um dosprimeiros países do mundo em desigual-dade social, segundo dados do Instituto dePesquisa Econômica Aplicada (Ipea), emque, no ano de 2000, a razão entre a renda

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451Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres,uma medida do grau de desigualdadeexistente na distribuição de indivíduossegundo a renda domiciliar per capita, ficouem aproximadamente 32,93%, númeroconsideravelmente alto.

A busca por mudanças nesse patamaré um objetivo a ser alcançado, por exemplo,pela melhor distribuição de renda, estra-tégia que está surtindo efeito. Prova dissoé dada por estudo divulgado em 2008 peloIPEA, em que foi constatado que trêsmilhões de brasileiros saíram da pobrezanos últimos seis anos e o percentual defamílias pobres caiu de 35% para 24,1%da população, nas seis maiores regiõesmetropolitanas do país, entre 2003 e 2008,o que representa uma redução de cerca dequatro milhões de pessoas.

Os esforços por parte do governo e dapopulação para a diminuição dessa desi-gualdade não foram, até hoje, suficientespara um grande salto; porém, como se podever por meio das estatísticas, a reversãodesse quadro vem ocorrendo de forma len-ta. Esse crescimento conta com a contri-buição de diversas estratégias de combateà fome e à pobreza, entre elas estão osprogramas de transferência de renda e oPBF, objeto central deste estudo.

Desde a década de 1980 já existiamformas de programas de transferência derenda em alguns países desenvolvidos,entre os quais se destacavam Inglaterra,Alemanha, Holanda, França e EstadosUnidos, servindo de exemplo para que, apartir dos anos 1990, essa política fosseintroduzida no Brasil (MONTEIRO, 2008).

O PBF, resultante da fusão dosprogramas Fome Zero, Bolsa Escola, BolsaAlimentação e Auxílio Gás, foi implantadopelo governo federal no fim de 2003 e tem como finalidade proporcionarcondições mínimas para sobrevivência, por

meio de um auxílio financeiro às famíliasem situação de pobreza – com rendaper capita de até R$120 mensais –, e deextrema pobreza.

Partindo-se de indicações de que asmulheres administrariam os recursos demodo mais favorável à família, o pagamentodos benefícios do programa é preferencial-mente feito a elas, algo que, se não tiverneutralidade em relação às relações degênero, tende a favorecê-las, especialmente

no que diz respeito às relações de poderentre os membros familiares (MEDEIROS etal., 2007).

Nesse âmbito, a incorporação da pers-pectiva de gênero nas políticas públicasdecorreu do processo de democratização do Estado e foi influenciada pelofeminismo internacional, em conferênciascomo a Conferência Mundial sobre

“(...) o programanão teve aindacomo consequênciagrande salto nadiminuição dadesigualdade;mas a reversãodesse quadro,ainda que poucorepresentativa,é evidente.”

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Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família em Minas Gerais

Direitos Humanos, em 1993, a Conferênciasobre População e Desenvolvimento, em1994, a Conferência Mundial sobre aMulher, em 1995, além do Fórum SocialMundial, de 2001 a 2003 (FARAH, 2004).

No Brasil, em 2003, a criação daSecretaria Especial de Políticas paraMulheres ampliou as políticas públicas degênero, expressando o interesse em revertero padrão de desigualdade, como se observano trecho do II Plano Nacional de Políticaspara as Mulheres:

Deve ser assegurado às mulheres opoder de decisão sobre suas vidas, ede romper com os ciclos e espaços dedependência, exploração e subordi-nação no plano pessoal, econômico,político e social (BRASIL, 2008).

Nesse contexto, este trabalho estabelecetambém diálogo com a literatura feministaem relação aos programas de transferênciacondicionada de renda (PTCR), que apontaque estes programas reforçam a divisãosexual tradicional do trabalho doméstico, aoimpor às mulheres a responsabilidade peloscuidados com os filhos, atualização do Ca-dastro Único, entre outros.

Segundo Bronzo (2008), o PBF trazefeitos no reordenamento do espaçodoméstico, na autoestima, no empode-ramento e acesso feminino ao espaço público(como participação em conselhos comuni-tários e escolares), possibilitando, às mulheres,maior poder de barganha, maior capacidadede fazer escolhas e maior poder de decisãosobre o uso do dinheiro.

Bronzo (2008) também afirma queexistem questionamentos sobre o efeitocontrário das transferências de renda, quepoderiam perpetuar papéis de submissãode gênero, à medida que a provisão derenda às famílias fizesse com que as mães

se retirassem do mercado de trabalho e sededicassem, exclusivamente, aos cuidadosdos filhos.

Soares et al. (2007) atribuem dois obje-tivos ao Bolsa Família: diminuir a privaçãode renda de famílias pobres no curto prazo,por meio da transferência monetária, equebrar o ciclo intergeracional de trans-missão da pobreza, por meio do controledo cumprimento das condições de partici-pação relacionadas à educação e à saúde.

Para Bronzo (2008), a busca pelaintegralidade e articulação das intervençõesfaz parte da estratégia desse programa dealocação de renda, que é interromper o ciclode reprodução da pobreza e fortalecerativos – capital humano, sobretudo – e oacesso a direitos sociais básicos comoeducação e saúde básica.

A gestão do PBF se faz em três ministé-rios: do Desenvolvimento Social e Combateà fome, da Educação, que é responsável porfiscalizar a frequência das crianças na escola,e da Saúde, que fica responsável pela atençãoa essa área. Esses ministérios agem emharmonia com os estados e municípios, paraque o programa seja mais bem fiscalizado eo dinheiro público seja aplicado devidamente.

No âmbito municipal, os Centros deReferência de Assistência Social (Cras) sãounidades públicas estatais descentralizadasda política de assistência social, responsá-vel pela organização e oferta de serviçosda proteção social básica do Sistema Únicode Assistência Social (SUAS) nas áreas devulnerabilidade e risco social dos muni-cípios e do DF. Dada sua capilaridade nosterritórios, se caracteriza como a principalporta de entrada do SUAS, ou seja, é umaunidade que propicia o acesso de grandenúmero de famílias à rede de proteçãosocial de assistência social (MDS, 2010).

As famílias têm também acesso a pro-gramas complementares, que são, em sua

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maioria, de educação e qualificação pro-fissional, e que têm por objetivo o desen-volvimento e a superação da situação devulnerabilidade familiar, visto que, com acapacitação, os membros do grupo familiarterão mais oportunidades de disputar vagasno mercado de trabalho.

Segundo dados do 4o Relatório deAcompanhamento dos Objetivos deDesenvolvimento do Milênio (IPEA,2010), são 12,4 milhões de famílias benefi-ciadas pelo programa, cujos efeitos sãopercebidos por meio de dados como aqueda da pobreza extrema de 12%, em2003, para 4,8%, em 2008.

Soares et al. (2006) utilizaram aPesquisa Nacional por Amostra de Domi-cílios (Pnad, 2004), que pela primeira vezcoletou informação sobre a incidência dealguns programas de transferência derenda. Assim, desenvolveu umametodologia para separar o componenteda renda derivada desses programas, parti-cularmente a renda do Benefício dePrestação Continuada (BPC) e dos outrosprogramas de transferência de renda (comoo Programa Bolsa Família). Desse modo,percebeu-se que, conjuntamente, esses pro-gramas foram responsáveis por 28% daredução da queda do índice de Gini¹ noperíodo 1995-2004 (7% para o BPC e 21%para o Programa Bolsa Família). Essacontribuição é grande, se for consideradoque esses dois programas somam, deacordo com os dados da Pnad, apenas0,82% da renda total das famílias.

Destaca-se a integração estabelecida, noâmbito do sistema de proteção social brasi-leiro, entre os benefícios de transferência derenda, como o Programa Bolsa Família e oBenefício de Prestação Continuada, alémdos serviços ofertados pelos Cras e demaisaparatos públicos, com vistas à integralidadeda proteção a que se refere Bronzo (2008).

Procedimentos metodológicos

Este trabalho caracterizou-se comopesquisa predominantemente quantitativa,tratando-se de um estudo de caso múltiplo.Como sujeitos de pesquisa, contou-se comuma amostra de 255 mulheres beneficiáriasdo PBF, que responderam ao questionáriosemi-estruturado, contendo 61 questõesfechadas, com o objetivo de identificar ques-tões sobre a família e sua relação com o PBF.

Análise Exploratória dos Dados(AED) e Alfa de Cronbach

De acordo com Triola (2008), a AnáliseExploratória de Dados (AED) é utilizadapara investigação de conjuntos de dados,com o objetivo de compreender suascaracterísticas importantes, em que sãoempregadas ferramentas estatísticas (taiscomo gráficos, medidas de centro emedidas de variação).

Fernandes, Silveira e Ferreira (2010)analisaram o Programa Carta de Créditono município de Cajuri, localizado na Zonada Mata do Estado de Minas Gerais. Comométodo principal, utilizou-se a AED, apre-sentando a frequência absoluta e relativa.Tal técnica mostrou-se adequada e permi-tiu caracterizar o perfil dos beneficiários,comparar o diagnóstico antes e depois doPrograma Carta de Crédito, visandomensurar seus resultados e compreender,pela média, o grau de satisfação das famíliasbeneficiadas.

De acordo com Pestana & Gageiro(2005), uma das medidas mais usadas, paraverificação da consistência interna de umgrupo de variáveis, é o Alfa de Cronbach,que é definido como a correlação esperadaentre a escala usada e outras escalashipotéticas do mesmo universo, com igualnúmero de itens que meçam a mesmacaracterística.

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Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família em Minas Gerais

O teste do Alfa de Cronbach é definidopela fórmula:

Em que:Cov = Média de covariância entre os pares de itensVar = Média de variância entre os pares de itensn = Número de itens (variáveis)

O Alfa de Cronbach não assumevalores negativos, já que as variáveis, quemedem a mesma realidade, têm de estarcategorizadas no mesmo sentido. Se o valorfor negativo, existem correlações negativas,infringindo o modelo de consistênciainterna e inviabilizando o seu uso. Variaentre 0 e 1, considerando-se a consistênciainterna, conforme a Figura 1.

Para se fazer a análise da consistênciainterna, é necessário compreender a média,o desvio padrão e a correlação dos itens,tal como o efeito que cada item produz namédia, na variância e no Alfa de Cronbachdo fator.

De acordo com Schelini & Wechsler(2006), o constructo é definido comouma análise de modelos teóricos capa-zes de elucidá-lo, de modo que a elabo-ração dos itens não seja intuitiva. Paragarantir que os constructos apresentemo que eles representam, as variáveis queos constituíram foram cuidadosamenteescolhidas.

Fernandes, Silveira e Ferreira (2010)também utilizaram este teste para garantira validade e a credibilidade do constructoGrau de Satisfação das famílias benefi-ciadas em relação ao Programa Carta deCrédito, e para isso utilizou-se o Alfa deCronbach. Nesse contexto, o melhormodelo apresentou o Alfa de 0,718, consi-derado bom, com intervalo ao nívelde confiança de 95%, o que significaque o verdadeiro Alfa encontra-se entre0,607 e 0,809.

Segundo Pestana & Gageiro (2005), ocoeficiente Ró de Spearman mede a inten-sidade da relação entre variáveis ordinais eusa, em vez do valor nele observado,apenas a ordem das observações. Por essarazão, utilizamos esse coeficiente paraanalisar os constructos. Por constatar umvalor considerado alto entre eles, serãoanalisados os constructos de MobilidadeSocial e de Empoderamento.

Análise de dependência e testequi-quadrado

Uma medida de discrepância existenteentre frequências observadas e esperadasé proporcionada pelo teste qui-quadrado(REGAZZI, 1997).

Segundo Regazzi (1997), o testequi-quadrado pode ser usado principal-mente como: teste de aderência, para com-provar o ajustamento de uma funçãode frequência a dados de observação; testede independência, usado em conexão comas tabelas de contingência, construídascom o propósito de estudar a relaçãode dependência entre duas variáveis; eteste de homogeneidade, em que uma dasvariáveis praticamente representa umaclassificação dos elementos em popu-lações distintas.

No teste qui-quadrado, a Hipótese H1,que é a hipótese de dependência das

0 0,25 0,5 0,75 1Péssimo Fraco Regular Bom Excelente

Figura 1: Valores do teste do Alfa deCronbach

Fonte: Elaborado pelos autores.

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variáveis testadas, é aceita sempre que oteste for inferior a 0,05. Nesse teste, paratirar conclusões sobre a relação existenteentre as variáveis, os valores esperados detodas as células são comparados com seusrespectivos valores observados.

Outros autores têm utilizado o testequi-quadrado com procedimentos seme-lhantes, como Moreira (2010), que utili-zou o teste para averiguar a relaçãoentre o PFB e os temas: desigualdade degênero, empoderamento e mobilidadesocial. Os pesquisadores mostraram que,das variáveis socioeconômicas, apenasas variáveis “micror região, cidade,escolaridade, outra fonte de renda esaúde” foram estatisticamente significa-tivas (p<0,10), em relação aos temasanalisados.

Análise da igualdade de médiasentre fenômenos

Pestana & Gageiro (2005) explicitamque o teste t para duas amostras indepen-dentes é usado sempre que se tem porobjetivo comparar as médias de umavariável quantitativa em dois grupos dife-rentes de sujeitos, e quando se desco-nhecem suas variâncias populacionais.

Costa e Eid Jr. (2006) utilizaram o testede médias para analisar a elaboração depolíticas públicas que precisam ter em vistaas tendências do comportamento de con-sumo de alimentos, para que possam focaras ações sociais e, principalmente, as polí-ticas de saúde pública. A análise foi feitapor meio de um teste de média, para a iden-tificação das variáveis mais relevantes queinterferem no processo de escolha efrequência de consumo de carne bovina ehortaliças.

A expressão do teste t para compararmédias, quando as variâncias são diferen-tes, é dada por:

Em que:n = Amostras² = Variância amostral

= Média

Como exemplo, nota-se também otrabalho de Ney Paulo Moreira et al. (2010),

que utilizaram os testes de médias comintuito de comparar o desempenho dosprogramas financiados pelo Programa deFomento à Pós-Graduação (Prof), da Coor-denação de Aperfeiçoamento de Pessoal deNível Superior (Capes), com o desempenhode outros programas. Concluiu-se que osprogramas de pós-graduação, vinculadosàs instituições de ensino que recebemrecursos do Prof, apresentaram níveis

“(...) ressalta-seo fato de que asmulheres querecebem o benefíciotêm baixo grau deescolaridade,confirmando ainfluência dessequesito naacentuação donível de pobreza ena afirmação dapolíticapública(...)”

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Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família em Minas Gerais

superiores de qualidade em relação aosdemais programas.

Resultados da pesquisa

Perfil das famílias beneficiadasForam entrevistadas beneficiárias do

PBF de onze cidades, compreendendopessoas de um mês até aproximadamentesete anos de recebimento, época daimplementação do programa. Todas asconstatações foram feitas com base nasrespostas das entrevistadas.

A Tabela 1 apresenta análise demedidas de tendência central, como média,mediana e moda, e de medidas de disper-são, como desvio-padrão, assimetria ecurtose, o que permite verificar a distri-buição e concentração dos dados:

Analisando os dados, pôde-se traçar umtipo ideal de uma família beneficiária. Deacordo com Giddens (1990) “um tipo idealé construído pela abstração e combinaçãode um indefinido número de elementos que,embora encontrados na realidade, são rara-mente ou nunca descobertos nesta formaespecífica” (GIDDENS, 1990, p. 141-2).

Pudemos verificar que as beneficiáriastêm idade média de 38,31 anos, a presençada figura do homem se faz na maior partedas famílias beneficiadas pelo programa,

em que 113 são casadas (44,31%) e 52 têmunião estável (20,39%). A escolaridadepredominante é de ensino fundamentalincompleto (138), representando mais dametade (54,12%) do total de beneficiárias.Quanto à cor ou raça, a maioria seautodeclarou parda (42,35%); em segundolugar, preta (30,98%); em terceiro, branca(25,10%); e, em quarto, com apenas trêsrespostas, amarela (1,18%). Nenhumabeneficiária se considerou indígena.

Em relação à ocupação, 134 benefi-ciárias (52,55%) dedicam-se ao lar, 50 seclassificaram como desempregadas(19,61%), três são aposentadas, e apenasuma é estudante. As outras 67 desem-penham alguma atividade regularmente.

As amostras desse estudo mostram quea quantidade de filhos e/ou dependentes

das beneficiárias entrevistadas totalizou735, obtendo-se uma média de aproxima-damente 2,88 filhos por beneficiária, commédia de idade de 11,75 anos e desviopadrão de 6,13, em que, entre esses, as mãesrecebem por 575, número que representa78,23% do total. Existem ainda os outros160 que não recebem por algum motivo –como principal motivo estaria a idade dosdependentes, que tiveram uma média de11,75 anos, com um mínimo de 0 (zero) eum máximo de 36 anos. Prova disso é que,

Tabela 1: Perfil das beneficiárias

IdadeFilhos e/oudependentesMeses de recebimentodo Bolsa Família

Mínimo

220

1

Máximo

738

84

Média

38,312,88

45,98

DesvioPadrão

9,3311,499

28,260

Assimetria

0,7260,917

0,08

Curtose

0,6880,890

-1,395

Fonte: Resultados da pesquisa

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dos que não recebem por algum motivo,104 – o que representa 65% – têm 18 anosou mais, idade em que o benefício poraquele dependente acaba.

Portanto, o tipo ideal da famíliabeneficiária desse estudo é composto poruma mãe casada de 38 anos, que se dedicaao lar, parda, ensino fundamental incom-pleto, com 3 filhos, sendo um de 18 anos,outro de 11 e outro de 5, e o benefício érecebido somente pelos dois mais novos,há cerca de 3 anos e 10 meses.

Validação e associação dosconstructos

O constructo “mobilidade social” foibaseado nas variáveis a seguir, juntamentecom as respectivas transcrições das pergun-tas feitas às beneficiárias. É necessáriodeixar claro que o objetivo desse constructo

foi analisar a possibilidade de ocorrênciada mobilidade social, por meio da percep-ção dos acontecimentos por parte dasbeneficiárias e sua posição sobre algunsassuntos, relacionados aos efeitos que oprograma possa surtir na família.

O valor do Alfa de Cronbach desseconstructo foi de 0,60, valor que o classi-fica como fraco, porém aceitável e relevantepara o estudo.

O Quadro 1 apresenta as variáveis quecompuseram o constructo de mobilidadesocial, seguidas das questões que foramanalisadas.

O constructo “empoderamento”, apre-sentado no Quadro 2, foi feito com algu-mas variáveis diferentes em relação aoconstructo de mobilidade social.

Esse constructo foi considerado rele-vante, pois teve o Alfa de Cronbach de

Fonte: Elaborada pelos autores.

Mob

ilida

deSo

cial

Variável

Atendimento às necessidadesbásicas

Acesso ao crédito

Acesso a recursos de assistência àsaúde

Oportunidades de estudo

Estudo dos filhos

Necessidade de trabalhar

Questão

Você concorda que os recursos doBolsa Família atendem às necessi-dades de alimentação, saúde e edu-cação da família?O Bolsa Família aumentou o seucrédito no mercado?Com o Bolsa Família, a família tevemais acesso a médicos e assistênciaà saúde?Com o Bolsa Família, a família tevemais oportunidade de estudar, fazercursos de capacitação e quali-ficação?Se o Bolsa Família acabasse, iriaatrapalhar o estudo dos filhos?Com o Bolsa Família, a mulher pôdecuidar exclusivamente dos filhos,sem se preocupar em trabalhar?

Constructo

Quadro 1: Constructo Mobilidade Social

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0,704. Faz-se necessária a observação deque o desenvolvimento desse constructopartiu do pressuposto de que, com aquantia mensal em dinheiro, o PBFempodera financeiramente as mulheresbeneficiárias.

O Quadro 3 apresenta os valoresencontrados no coeficiente de correlaçãoRó de Spearman da pesquisa.

Após avaliação da significância,constatamos que seu valor ficou muito

próximo de 0 (zero); por isso, pode-seconsiderar a correlação como válida.Quanto às análises dos constructos, veri-ficamos que a correlação, medida pelocoeficiente Ró de Spearman, foi de 0,754,valor considerado alto. O que significa queesses dois constructos têm uma alta eproporcionalmente direta associação, ouseja, quanto maior a percepção de empo-deramento por parte das mulheres, maioré a sua propensão à mobilidade social.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Quadro 2: Constructo Empoderamento

Em

pode

ram

ento

Variável

Autoridade e respeito

Responsabilidades

Acesso a recursos de assistência àsaúde

Oportunidades de estudo

Valorização da mulher na sociedade

Valor como cidadã

Questão

O Bolsa Família aumentou sua au-toridade e respeito em casa?Com o Bolsa Família, as suas res-ponsabilidades pela família aumen-taram?Com o Bolsa Família, a família tevemais acesso a médicos e assistên-cia à saúde?Com o Bolsa Família, a família tevemais oportunidade de estudar,fazer cursos de capacitação e qua-lificação?O Bolsa Família valoriza a mulherna sociedade?O Bolsa Família modificou o seuvalor como cidadã?

Constructo

Quadro 3: Correlação entre os constructos

*A correlação é válida ao nível abaixo de 1% de significância

Fonte: Elaborada pelos autores.

Coeficiente de correlação Ró de Spearman

ConstructoEmpoderamento

Constructo Mobilidade Social 0,687*0,00255

Coeficiente de correlaçãoSignificânciaNúmero de amostras

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Estrato do constructo MobilidadeSocial

Nesse trabalho classificou-se oconstructo de mobilidade social, por meiodo estrato, em três níveis: alto, médio ebaixo.

Das beneficiárias pesquisadas, o nível demobilidade social entre elas é predominante-mente médio, o que significa que o PBF estásurtindo efeito positivo em favor da ascen-dência social. Porém, como foi dito anterior-mente, o programa não teve ainda comoconsequência grande salto na diminuição dadesigualdade; mas a reversão desse quadro,ainda que pouco representativa, é evidente.

A informação acima, sobre o nível demobilidade social, pode ser mais bemvisualizada na Figura 2.

A constatação mais relevante naFigura 2 é quanto à mobilidade pormesorregião pesquisada, em que, no RioDoce, a discrepância com as outras regiõesé enorme. No Rio Doce, o nível baixo demobilidade (37,50%) apresenta um

percentual muito maior que as demaisregiões constantes na Figura 2. Tamanhadiferença pode ser causada, talvez, pelo fatode o município de Vargem Alegre, únicorepresentante dessa região na pesquisa, tero maior índice de incidência da pobrezaentre as cidades pesquisadas, com o númerode 49,61%, segundo dados do IBGE (2003).

Essas informações ratificam os resul-tados encontrados por Moreira (2010), emque foi realizada uma Análise de Cluster,com objetivo de agrupar as mulheresbeneficiárias do PBF segundo suas carac-terísticas fundamentais, formando gruposou conglomerados semelhantes.

Nesse contexto, a região Rio Docecaracterizou-se pelo nível baixo de empo-deramento, baixa mobilidade social e baixadesigualdade de gênero, em conjunto comas microrregiões de Caratinga e Muriaé, asquais foram denominadas como grupo de“alta vulnerabilidade” (MOREIRA, 2010).

Outra informação relevante é quantoà região metropolitana, que, além de ser

Fonte: Elaborada pelos autores.

Figura 2: Nível de mobilidade social por mesorregião

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pequena a porcentagem das pessoas nonível baixo de mobilidade, tem ainda omaior nível médio entre as quatro regiões;o que quer dizer que, nessa mesorregião, apossibilidade de descendência social émenor e, por consequência, a de ascen-dência é maior. Esse fato pode ter estreitarelação com a concentração metropolitanados recursos, em que são oferecidas maisoportunidades às pessoas em situaçãodesfavorável dessa região. Esses recursosincluem maiores oportunidades de acessoao sistema de saúde e educação.

Nesse sentido, retomando Moreira(2010), confirma-se que as famílias da re-gião metropolitana de Belo Horizonte sesituam entre os grupos de “baixavulnerabilidade” e “média vulnerabi-lidade”, sendo classificados como “poten-cialmente favorecidos” (MOREIRA, 2010).

Conforme a Tabela 2, é possível notara percepção do oferecimento de oportuni-dades pelas beneficiárias, visto que, quandoquestionadas se concordam que com o PBFa família teve mais oportunidades deestudar, fazer cursos de capacitação e quali-ficação profissional, as respostas, baseadasna escala de Likert, nos permitem essaconstatação.

Moreira et al. (2010), em pesquisarealizada no município de Vargem Alegre(região Rio Doce), identificaram que, em

todos os arranjos familiares, é predomi-nante o baixo grau de escolaridade tantodas mulheres quanto dos homens, perfa-zendo mais de 90% aqueles que pararamde estudar e possuíam o ensino funda-mental incompleto.

A principal razão para a interrupçãodos estudos, segundo os autores, foi anecessidade de trabalhar para ajudar nosustento da família. Essa baixa escolaridadedas entrevistadas justifica, sob algunsaspectos, a submissão da mulher ao marido,a baixa valorização dela na sociedade e aspoucas oportunidades de emprego e renda(MOREIRA et al. 2010).

Dessa forma, tais informações, anali-sadas em conjunto com os números dapresente pesquisa, mostram que na regiãometropolitana existem mais oportunidadespara educação e qualificação profissional;a possível causa disso se deve à concen-tração industrial nessa região, ao oferecermais oportunidades de empregos e,consequentemente, maior demanda pormão de obra qualificada.

Considerações finais

Entre os fatores de destaque, ressalta-se o fato de que as mulheres que recebem obenefício têm baixo grau de escolaridade,confirmando a influência desse quesito na

Tabela 2: Percepção das oportunidades de capacitação por mesorregião

Fonte: Elaborada pelos autores.

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acentuação do nível de pobreza e naafirmação da política pública, visto que aeducação dos filhos é prioridade dogoverno, enquanto condicionalidade parao enquadramento da família nesseprograma.

Por intermédio das análises, pareceapropriado inferir sobre como é a situaçãoreal das beneficiárias, que, apesar de aindaser desfavorável, grande parte delas tiveram(ou estão propícias a ter) melhorias signi-ficativas em suas vidas, a partir da inclusãono PBF. Entre essas melhorias, verificou-se que maior quantidade de pessoas, queantes eram classificadas como pobres,elevaram seu patamar social desde a criaçãodo programa, levando-nos a concluir queconsiderável proporção delas ascendeusocialmente como consequência, principal-mente, do recebimento do benefício.

Pôde-se verificar também que asfamílias beneficiárias têm mais oportuni-dades, desenvolvendo competências e

capacidade de autodesenvolvimento, o queaumenta sua autonomia. Outra importanteconstatação foi o fator geográfico, em quea região metropolitana de Belo Horizonte,se comparada às outras, apresenta maiorquantidade de oportunidades de trabalho.

Reforçando pesquisas encontradas naliteratura, fica então comprovado que oPBF pode surtir efeitos significativos emfavor da população desfavorecida no país,contribuindo para a erradicação da pobrezae diminuição das desigualdades encon-tradas no Estado de Minas Gerais.

Para estudos futuros, sugere-se areplicação desta pesquisa em outras regiões,visando isolar os efeitos de variáveisgeossociais, bem como analisar a influênciada escolaridade e da atividade de rendacomplementar na vida das mulheresbeneficiárias.

(Artigo recebido em dezembro de 2010. Versãofinal em dezembro de 2011).

Nota

1 O Índice de Gini é uma medida de concentração ou desigualdade comumente utilizada naanálise da distribuição de renda, cujo valor varia de zero (perfeita igualdade) até um (a desigual-dade máxima). Fonte: http://www.pnud.org.br/popup/pop.php?id_pop=97

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462 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família em Minas Gerais

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463Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

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464 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família em Minas Gerais

Resumo – Resumen – Abstract

Mobilidade social e empoderamento: a percepção das mulheres beneficiáriasdo programa Bolsa Família em Minas GeraisRodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira e EdsonArlindo Silva

Esse trabalho teve como objetivo analisar os efeitos relacionados à mobilidade social e aoempoderamento das beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Foram utili-zados procedimentos metodológicos analíticos, em um estudo de caso múltiplo com abordagemquantitativa. Foi realizada a validação dos constructos de mobilidade social e empoderamento,permitindo-se mensurar a intensidade da relação entre essas diferentes dimensões. Os resul-tados demonstram a melhoria significativa na vida das beneficiárias, o que pode possibilitarascendência social. Contudo, observou-se, como fator limitante, o baixo grau de escolaridadedas beneficiárias, mostrando-se a necessidade de conexão dos programas sociais com atividadeseducacionais e de geração de trabalho e renda, para inserção das mulheres no mercado detrabalho. Dessa forma, considera-se que o Programa Bolsa Família pode influenciar significati-vamente tanto no empoderamento quanto na mobilidade social das beneficiárias. Ademais, aarticulação com atividades educacionais e produtivas pode avigorar os resultados de políticaspúblicas que defendam a justiça social e a diminuição das desigualdades existentes entre gênerose classes sociais.

Palavras-chave: Políticas públicas, Programa Bolsa Família, mobilidade social,empoderamento.

Movilidad social y empoderamiento: la percepción de de la mujer beneficiarios delprograma bolsa familia en Minas GeraisRodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira y EdsonArlindo Silva

Este estudio tuvo como objetivo analizar los efectos relacionados con la movilidad social yel empoderamiento de los beneficiarios de Bolsa Familia en Minas Gerais. Los procedimientosanalíticos metodológicos fueron utilizados en un estudio de casos múltiples con un enfoquecuantitativo para validar los constructos de la potenciación y la movilidad social, lo que lepermite medir la intensidad de la relación entre estas diferentes dimensiones. Los resultadosdemuestran una mejora significativa en las vidas de los beneficiarios como resultado de recibirel beneficio, lo que les permite ascenso social. Sin embargo, se señaló como un factor limitantedel bajo nivel de educación de los beneficiarios, destacando la necesidad de conexión con losprogramas sociales y actividades educativas para generar empleo e ingresos para la integraciónde las mujeres en el mercado laboral. Por lo tanto, se considera que el Programa Bolsa Famíliapueda afectar significativamente a la movilidad social y el empoderamiento de los beneficiarios;por otra parte, si los beneficiarios son coordinados con las instituciones educativas y productivas,los impactos esperados pueden ser fortalecidos a través de la implementación de políticas públi-cas que defiendan la justicia social y la reducción de las desigualdades entre los géneros y clasessociales.

Palabras clave: Políticas públicas, el Programa Bolsa Família, la movilidad social, elempoderamiento.

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465Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 449-465 out/dez 2011

Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira e Edson Arlindo Silva

Social mobility and empowerment: perceptions of the beneficiaries from the BolsaFamília Program in the state of Minas Gerais (Brazil)Rodrigo Silva Diniz Leroy; Marco Aurélio Marques Ferreira; Nathalia Carvalho Moreira and EdsonArlindo Silva

This study aims to analyze the effects related to social mobility and empowerment of thebeneficiaries from the Bolsa Familia Program in the state of Minas Gerais (Brazil). Analyticalprocedures were applied in a multiple case study with a quantitative approach. The validation ofconstructs of empowerment and social mobility enables us to measure the intensity of therelationship between different dimensions. The result shows that the Bolsa Família programallows the social ascendancy of its beneficiaries. However, it was noted that the beneficiaries’low level of education is a limiting factor. In order to insert women into the labor market it isnecessary to associate the Bolsa Família program with other social programs relating to income,education and employment generation. Thus, the Bolsa Família program is able to influenceboth social mobility and empowerment of its beneficiaries. The Bolsa Família program inassociation with other social programs (income, education and employment generation) canimprove public policies’ results related to social justice, gender and social inequality.

Keywords: Public policies, Bolsa Família program, social mobility, empowerment

Rodrigo Silva Diniz LeroyGraduando em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Diretor de Marketing da Cecco - ConsultoriaContábil, e pesquisador (Bolsista de Iniciação Científica PROBIC-FAPEMIG), vinculado ao Departamento de Adminis-tração e Contabilidade da UFV. Contato: [email protected]

Marco Aurélio Marques FerreiraPós-Doutor em Administração Pública pela Rutgers University - The State University of New Jersey USA. Doutor emEconomia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Admi-nistração da UFV. Atual editor da Revista Administração Pública e Gestão Social (APGS). Contato: [email protected]

Nathalia Carvalho MoreiraDoutoranda em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Mestre em Administraçãopela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Especialista em Gestão Estratégica (UFV) e Graduada em Secretariado Exe-cutivo Trilíngue (UFV). Contato: [email protected]

Edson Arlindo SilvaDoutor em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e mestre em Extensão Rural pela UniversidadeFederal de Viçosa (UFV). Professor Adjunto II do Departamento de Administração e Contabilidade do Centro de Ciên-cias Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Contato: [email protected]

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467Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 467-471 out/dez 2011

Celso de Magalhães

RSP Revisitada

A preocupação com a qualificação do servidor público não é um tema recente. Aprimeira experiência de profissionalização do serviço público remonta à criação doDepartamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), em 1938. A existência doórgão permitiu que fosse iniciada reflexão sobre a burocracia de Estado: seudimensionamento e necessidade de formação e capacitação, entre outras questões.

O texto a seguir foi produzido por um dos quadros técnicos do Dasp, em 1942 – hácerca de 70 anos. Naquele período já existia preocupação com o aperfeiçoamento cons-tante do servidor. O autor argumenta não somente em favor desse aprendizado constante,mas também pela necessidade de um bom curso de formação inicial para as carreiras, oque – segundo ele – não era comum naquela época.

Conforme o autor, “de nada adianta ensinar processos novos a quem ainda não conheceos métodos velhos”. Alguém discordaria? Entretanto, a busca pela novidade, pelo guruda moda (aquele que tem a resposta para os problemas) é uma constante no cenário dosdirigentes. Não seria isso resultado de um problema de formação de base? Afinal, aadministração tem alguns conjuntos de técnicas que fazem dela uma ciência. Será quenossos gestores as conhecem de verdade? E se as conhecem, sabem aplicá-las? Entre oconhecimento teórico e prático existe uma grande distância.

Diante de um problema grave que persiste há bastante tempo numa instituição e querequer esforço de aprendizado por parte do gestor – para apreender, processar e proporuma solução –, muitas vezes se escolhe um atalho: a solução miraculosa que maquia, masnão resolve. Mas essa já é outra história.

O aperfeiçoamento dosservidores do Estado

Celso de Magalhães

Texto publicado na RSP, vol. 2, no 3, de junho de 1942

A eficiência dos serviços públicos está intimamente ligada à capacidade fun-

cional dos servidores do Estado. Eis aí um lugar comum, verdadeiro axioma

dentro da administração moderna.

Já se passou o tempo em que a administração era exclusivamente empírica; o

tempo em que se improvisavam administradores, os quais diziam, como justificativa

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468 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 467-471 out/dez 2011

O aperfeiçoamento dos servidores do Estado

à improvisação que os guindára a alturaimerecida, que – “administrar é um domtrazido do berço”. Nascuntur poetae...

É fato que nem todos os gramáticospodem ser grandes escritores; mas é fatotambem que nenhum grande escritor podedeixar de conhecer gramática.

Nem todo técnico em administração,(atentem que não digo técnico de admi-nistração); nem todo técnico em adminis-tração, repito, poderá ser grande adminis-trador; mas nenhum grande administradorpoderá existir sem conhecer a técnicaadministrativa de seu tempo.

Indiscutivelmente, como sói acontecerem todas as realizações humanas, a adminis-tração não poderia fugir às contingenciaçõesde ordem pessoal, às qualidades caraterísticasdo indivíduo que equaciona ou resolveproblemas de ordem coletiva. Contudo, sócom essas qualidades inatas, ninguem logra-ria êxito na condução dos negócios públicos,principalmente na época atual.

O administrador, esteja em que planoestiver da administração pública ou parti-cular, deve assenhorear-se da técnica deadministrar, deve fazer frequentesconsultas aos Mestres, assistir a cursosespecialisados, manusear as boas obras,conhecer as matérias correlatas, instruir-se;em suma, atualizar, aprimorar seus conheci-mentos relativos às funções que exerce.

Qualquer servidor do Estado, seja qualfor sua categoria, mesmo que não admi-nistre diretamente, participa da adminis-tração pública, é um dos dentes da engre-nagem que faz mover a máquina do Estadoe, como todo dente de engrenagem,elemento de suma importância naharmonia do movimento geral.

Todo servidor do Estado fica sujeito,pois, ao imperativo moral de instruir-se,aperfeiçoar-se, aumentar sua capacidadeprodutiva, tornando-se réu de lesa pátria

se, concientemente, causar um prejuízo àNação, pois a tanto equivaleria a perma-nência na ignorância, na inciência, no atrazointelectual com respeito às coisas de suasfunções.

Admitindo-se esta preliminar, chegamosà conclusão de que o servidor do Estadodeve a) executar bem seu trabalho normal;b) melhorar o processo de execução.

Compreendamos: eu posso fazer muitobem meu serviço pelos processos atuais (a);contudo, existindo outros modos maiseficientes, mais rendosos para fazê-lo, aindadesconhecidos por mim, claro que não meacho em condições de melhorar os processosde execução do meu trabalho, (b).

Quando se encara o problema da instru-ção dos servidores do Estado, põe-se geral-mente de lado o primeiro requisito (a),atacando-se logo de início o segundo (b). Sóse fala em aperfeiçoamento do pessoal,esquecendo-se frequentemente de que só sepode aperfeiçoar o que já é bom. E, noentanto, o servidor do Estado só é bomquando (a) executar bem seu trabalho normal;quando conhecer perfeitamente o modo atualde desempenhar suas funções, o que, infeliz-mente, não é caso muito comum.

As aulas ministradas em vários doscursos de aperfeiçoamento dos servidorespúblicos, procuravam transmitir a literaturamais moderna a respeito do assunto,esforçavam-se por mostrar o que se tinhafeito e o que ainda se fazia em países demaior projeção internacional, buscavam,em suma, habilitar o servidor público para(b) melhorar o processo de execução doseu trabalho normal.

Contudo, em muitos desses cursos, osresultados obtidos não foram, de grandemonta, e isto por duas razões. A primeiradelas é o pressuposto errôneo de que todosos servidores públicos já são capazes de(b) executar bem seu trabalho normal; e

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469Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 467-471 out/dez 2011

Celso de Magalhães

como não é isto o que acontece frequente-mente, pouco adianta ensinar processosnovos a quem ainda não conhece osmétodos velhos de fazer, pois é mesmoanti-pedagógico ensinar a alunos incapazesde comparar. A aprendizagem resulta dacomparação, e não poderá comparar quemnão tiver conhecimentos anteriores paraback-ground dos novos.

Explicando melhor: se um funcionárioque executa bem seu trabalho normal temnotícia de processos e métodos novos,poderá julgar se são esses métodos eprocessos melhores ou piores que os seus,e se lhe convem ou não adotá-los, e comoo poderá fazer sem solução de continui-dade na marcha dos serviços.

A um funcionário que ainda nãoconhece como fazer seus trabalhos peloprocesso atual, que ainda não sabe produzirpelos processos comuns, será difícilensinar-lhe métodos novos, porque lhefaltará um elemento de comparação e, oque é muito importante, faltará tambem ofator principal da adaptabilidade – a expe-riência anterior.

Um dia, Luiz Carlos se insurgiu, emartigo nesta mesma Revista, contra o mauemprego frequente da terminologiaaplicavel a assuntos de extranumerários e,depois de verberar a displicência com queeram encaradas essas questões de termi-nologia, fundamentais em assuntos dedireito, dizia ele que, felizmente, naquelaépoca, já havia o DASP preparado umaturma – Curso de Problemas de Adminis-tração de Pessoal – que colocaria os pontosnos ii, ensinando pelas repartições públicas,o correto emprego dos termos exatos.

Ao arguto conhecimento profissionalde Luis Carlos não escapara que, a primeirafinalidade do curso deveria ter sido ensinaro servidor a) executar bem seu trabalhonormal.

Ora, eu acabava de fazer esse mesmocurso citado por Luis Carlos e, desapon-tando-o embora, fui obrigado a confessarque, jamais, em qualquer das aulas,havíamos ouvido falar na terminologiacorrente nos assuntos de extranumerários.Nós, os que já conhecíamos essa mesmaterminologia, que sabíamos fazer a dife-rença entre o que pertencia ao funcionárioe o que pertencia ao extranumerário, só odevíamos a conhecimentos anteriormenteadquiridos e não ao curso que termi-náramos.

Quererá isto dizer, porem que o Cursode Problemas de Administração de Pessoalministrado não teria sido util para qualquercoisa? Absolutamente não; foi util, muitoutil mesmo para mim e para outros que jásabíamos como a) executar bem o trabalhonormal.As lições ali recebidas noshabilitaram a b) melhorar o processo deexecução.

Todavia, aqueles dentre os alunos, quenão satisfaziam o primeiro requisito, istoé, que ainda não eram capazes de a)executar bem seu trabalho normal, não só dei-xaram de aproveitar as lições, comotambem, é óbvio, deveriam ter feito umatal confusão mental com aqueles assuntostodos, de que dificilmente se poderãolibertar agora. Quer dizer, pois, que houvetambem um aspecto negativo digno deconsideração. Diante disto, força éconcluir que, antes da fase de aperfeiçoa-mento, o curso teria de consistir emproblemas objetivos, calcados nos casoscorrentes da administração; que o servidordo Estado deveria ser posto, dentro docurso – coisa muito facil de fazer – nasmesmas condições do trabalho que iriarealizar.

O professor, com sua experiência, seutirocínio, sua cultura, orientaria o aluno,encaminhá-lo-ia dentro da aula, como o

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470 Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 467-471 out/dez 2011

O aperfeiçoamento dos servidores do Estado

deveria fazer, dentro da repartição um chefedigno desse nome.

Daquí se deduz a necessidade de existirum curso para Técnico de Administração,um para Oficial Administrativo, um paraArquivista, etc... como já existem paraHigienista, Agrônomo; Sanitarista, Biblio-tecário... aprendendo cada qual a fazer seuserviço o melhor possível, consoante asnormas atuais.

Depois de fazer eficientemente seutrabalho, pelos processos já autorizados eadotados, voltaria o antigo aluno – servidordo Estado em ótimas condições de produti-vidade – a um novo curso, agora deaperfeiçoamento, cuja finalidade seriapermitir-lhe, talvez b) melhorar o processode execução para levar ao máximo rendimen-to então possível a máquina da gestão pública.

À alta capacidade pedagógica e admi-nistrativa da Divisão de Aperfeiçoamentodo D.A.S.P., parece, não escapou overdadeiro aspecto da questão, como sepoderá verificar da recente legislação doscursos. Só nos cumpre agora aguardar osresultados promissores que se anunciam.

Dissemos que o curso de aperfeiçoa-mento quando corretamente feito – talvezhabilitasse o servidor do Estado a b)melhorar o processo de execução dos seustrabalhos normais, dos serviços de suarepartição, pondo em prática o que de bome mais moderno aprendera a fazer.

Essa ressalva que usamos, o talvez, foiintencional e sua explicação envolve asegunda das razões pelas quais os cursos deaperfeiçoamento só teem dado, na maioriadas vezes, resultados insignificantes.

O curso, cuja finalidade é ensinar comose deveria trabalhar segundo os processosatuais, para tirar do trabalho o rendimentomáximo, isto é, o curso de formação, ésempre util; o de aperfeiçoamento, porem,poderá ser ou não.

Já sabemos que, faltando ao estudantea necessária preparação anterior, isto é, quenão sabendo ainda o estudante trabalharcorretamente pelos processos atuais, poucoaproveitará das coisas novas que lhe foremensinadas no curso de aperfeiçoamento.

Mas não é só isto. Admitimos que essapreparação anterior existia e que, de fato,o aperfeiçoamento se verificou - como é ocaso de muitos excelentes servidores doEstado que já fizeram vários cursos doD.A.S.P.

Terminando o aperfeiçoamento, o anti-go aluno adquiriu novas concepções, novatécnica, novos conhecimentos – que opróprio Estado lhe ministrou em benefíciodos negócios públicos.

Seria isto o bastante para que ele, funcio-nário aperfeiçoado, se torne de fato util,restituindo ao Estado, em forma demelhores serviços, o capital despendido nocurso feito? Não, e não porque, dentro dasrepartições, pouco valerá o aperfeiçoamento,a cultura, o preparo funcional do servidordo Estado, que executa, contra o espírito derotina, o comodismo, o pequeno alcancemental de alguns agentes de direção.

Estes são os chefes que pensam: “osadministradores podem ser improvisados”;“os administradores nascem feitos comoos poetas”. São eles os que não creem natécnica, desprezam o estudo dos livros edos Mestres porque vivem do empirismoe, encastelados num estulto de omni re scibili,desestimulam seus auxiliares e privamassim o Estado dos benefícios que ele,Estado, se procurou à custa de muitodinheiro gasto.

Isto que se dá com o aperfeiçoamentotambem se dá com a seleção, que é a escolhados melhores para o serviço público. Bancashonestas, examinadores doutos, provasdificeis e rigorosas, cultura geral e especí-fica – tudo para ir de encontro, não raras

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471Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 467-471 out/dez 2011

Celso de Magalhães

vezes, a inelasticidades cerebrais nocivas aobem geral.

Com o Estado Novo, as concepçõesdevem ser modernas e arrojadas; contudo,tal coisa não se poderá verificar se, à frentede unidades administrativas, de repartiçõese serviços, estiverem chefes em assincro-nismo flagrante com o ciclo cultural eenérgetico indispensavel à solução doscasos ocorrentes.

A formação e o aperfeiçoamento dosservidores do Estado devem processar-se concomitantemente com a moderni-zação de chefes, administrativos outécnicos, fases complementares que são,do mesmo ciclo de melhoria dos traba-lhos públicos.

Parabens, pois, à Divisão de Aperfei-çoamento pelo curso de chefia recem-criado; pena não ter sido obrigatório.

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Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 473-479 out./dez. 2011 473

Entrevista: Celina Souza

A avaliação é da pesquisadora em

federalismo Celina Souza, que traz um

panorama histórico do sistema federa-

lista brasileiro. Ela defende a reinser-

ção dos estados no processo federativo,

tensionado por natureza, e exalta a

evolução da burocracia federal no

desenvolvimento de políticas públicas.

Uma das principais autoridades brasi-

leiras em federalismo e em arranjos

institucionais intergovernamentais para

a construção e execução de políticas públicas, a pesquisadora Celina Souza, em

entrevista à ENAP, falou da história, do conceito e do momento do federalismo

brasileiro. Em sua análise da estrutura desse sistema político, ela faz um alerta: “Os

estados estão se constituindo no elo perdido da cadeia federativa. Eles não sabem

muito bem qual é o seu papel, têm sérias restrições do ponto de vista de recursos

públicos e têm que alocar 13% de toda a receita líquida corrente ao pagamento da

negociação do débito com a União. Enfim, estão restringidos de todas as maneiras.

Entrevista:Celina Souza

Os municípios foram os grandesvencedores da cadeia federativa a

partir da Constituição de 1988por Marco Acco*

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Proporcionalmente, os municípios têm tidoganhos relativos muito maiores do que osdos estados.” Para ela, a relação direta entreo governo federal e os municípios, decor-rente da descentralização das políticas soci-ais, limita o papel político e decisório dosgovernos estaduais, que não estruturaram suaburocracia.

A professora Celina Souza possuigraduação em direito pela UniversidadeFederal da Bahia (UFBA), mestrado emadministração pública pela Fundação GetúlioVargas (FGV) e doutorado em Ciência Polí-tica pela London School of Economics and PoliticalScience – título obtido em 1995. No âmbitodos estudos sobre Estado e governo, a pro-fessora tem se destacado, ao longo de suatrajetória acadêmica e laboral, nos temas dofederalismo e federalismo fiscal, descentra-lização, governos subnacionais e políticaspúblicas. Celina Souza também é autora dedezenas de publicações entre livros, artigos ecapítulos de livros. Celina Souza lecionou naUniversidade Federal da Bahia (UFBA), naUniversidade de São Paulo e atualmenteintegra o Conselho Honorário do InstitutoFederal De Gobierno (Universidad Católica deCórdoba, Argentina). Também é pesquisa-dora do Centro de Recursos Humanos(CRH) do Brasil, além de membro doComitê Acadêmico da Associação Nacionalde Pós-Graduação e Pesquisa em CiênciasSociais (Anpocs). A professora Celina estevena ENAP, em setembro de 2011, quandoministrou palestra sobre “Federalismo ePolíticas Públicas” aos alunos do Curso deFormação para Carreira de Especialista emPolíticas Públicas e Gestão Governamental(EPPGG).

RSP: A partir de sua trajetória acadêmica eprofissional, a senhora poderia explicar o porquê de otema “federalismo” ter se tornado tão importante nasua agenda de pesquisa?

Celina Souza: O tema do federalismoé algo que, por mais que tenha mudado aolongo do tempo o meu interesse por disci-plinas diferentes e, concomitantemente,correlatas, em cada uma delas, eu sempre osegui e sigo até hoje. Muitas vezes mepergunto por que, e a resposta é basicamentea importância dos professores que eu tive.Então, quando fiz a graduação em Direito,tive ótimos professores de direitos constitu-cional, administrativo e tributário. Depois,quando fiz o mestrado na FGV – bastantetempo depois, porque eu achei que queriauma carreira de servidora pública e nelapermaneci por algum tempo –, quem meorientou foi professor Diogo Lordeno deMelo, que faleceu há algum tempo, e a co-orientadora foi a especialista Ana Maria Bra-sileiro. Ambos tinham tanto o recorte daadministração pública em suas preocupaçõesde pesquisas e de trabalhos acadêmicosquanto o recorte do federalismo. Daí, fuiseguindo. Foi uma coisa que eu sempre gosteide ter feito e credito essa escolha aos bonsprofessores que tive nessas áreas.

RSP: A senhora dedicou também muitaatenção ao processo de descentralização implemen-tado pela Constituição de 1988, sendo, inclusive,uma das principais vozes a apontar o papel dosgrupos de pressão municipalistas atuando, juntoao Congresso Nacional, para adoção de medidasnessa direção. Esse é um aspecto que, de acordocom seus estudos, demonstraria o caráter primor-dialmente político do processo de descentralizaçãoocorrido no Brasil, e não puramente administra-tivo, como verificado em outros países em desenvol-vimento. Suas pesquisas também destacam umasérie de avanços produzidos nesse processo dedescentralização, ao passo que apontam algunsaspectos de permanência da centralização. Apóscerca de duas décadas da promulgação da Consti-tuição de 1988 e considerando-se novos impulsosrumo à municipalização verificados no final dos

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Entrevista: Celina Souza

anos 1990, o quanto evoluiu o processo dedescentralização e que agendas a senhora consideramais relevantes para um novo avanço necessárionesse processo de descentralização? Por outro lado,há necessidade de recentralizar alguma agenda?

Celina Souza: Os municípios foramos grandes vencedores da cadeia federa-tiva durante o processo da Constituinte ecom a promulgação da Constituição de1988 – isso foi algo que descobri ao longoda coleta de dados da minha tese dedoutorado. Naquele momento, havia aseguinte premissa: “os governadores sãoos poderosos da Federação brasileira, osgovernadores conseguem tudo”. De fato,do ponto de vista político, os governa-dores tinham, à época, legitimidade grandepor terem sido os primeiros cargosexecutivos eleitos. Nós vivíamos com umpresidente – José Sarney, na ocasião – que,na realidade, era um vice-presidente, ouseja, não se esperava que Sarney fosse opresidente da República. Além disso, osgovernadores iniciaram todo o processoda mobilização popular para o movi-mento das “Diretas Já”. Então, eleschegaram à Constituinte com tal legitimi-dade, que parecia que eles conseguiriam oque fosse de sua agenda. No entanto,quando eu comecei a mergulhar nos anaisda Constituinte (das comissões e dassubcomissões), ficou claro que, efetiva-mente, os governos estaduais chegaramcom muita força e conseguiram, naqueleprimeiro momento, retirar uma série derecursos da União, mudando o sistema doImposto sobre Circulação de Mercadoriase Prestação de Serviços (ICMS), por exem-plo. Com isso, aumentaram o percentualde participação dos municípios e dosestados ao longo do tempo. Entretanto, acada etapa nova do processo, os governosestaduais perdiam alguma coisa enquantoos municípios só ganhavam. Considerando

que, naquele momento, o país tinha umaagenda congestionada de problemas sociaise econômicos, nós chegamos a 1986 –quando a Constituinte foi formada – comuma agenda nacional de problemas queimaginávamos que nunca conseguiríamosenfrentar. Havia também aqueles que imagi-navam que a Constituição faria um mila-gre e resolveria todos os problemas no diaem que fosse promulgada. Logo, umenorme paradoxo (muito interessante parao meu trabalho de tese) foi entenderporque um país com a agenda repleta deproblemas nacionais decidiu descentralizarpara os municípios. Sendo assim, a tese deque os governadores saíram fortalecidoscom a Constituição de 1988 não foicomprovada. Uma fase muito interessantea ser observada é a que registra como o

sistema político respondeu ao problemada inflação, a partir de meados dos anos1990. De início, o Poder Executivo conse-guiu passar várias emendas constitucionais,reduzindo os recursos de estados e muni-cípios. Em seguida, quando a estabilidadeeconômica foi alcançada, começaram arecompor os recursos municipais mais ra-pidamente do que os das esferas estaduais.Portanto, os estados estão se constituindono elo perdido da cadeia federativa. Elesnão sabem muito bem qual é o seu papel,

“... a Federaçãobrasileira não se submete arótulos, no sentido de elaser centralizada oudescentralizada. Nesseponto, o meu argumentoprincipal é o de que oBrasil é muito desigual.”

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têm sérias restrições do ponto de vista derecursos públicos e têm que alocar 13%de toda a receita líquida corrente ao paga-mento da negociação do débito com aUnião. Enfim, estão restringidos de todasas maneiras. Proporcionalmente, os muni-cípios têm tido ganhos relativos muitomaiores que os dos estados. Eu sempredigo que a Federação brasileira não sesubmete a rótulos, no sentido de ela sercentralizada ou descentralizada. Nesseponto, o meu argumento principal é o deque o Brasil é muito desigual. Nós temosquestões de desigualdade regional, intrar-regional e social muito graves. Dessaforma, faz todo sentido o processo deformulação de políticas públicas para en-frentar essas questões. Mas, na implemen-tação dessas políticas, está faltando o papeldos estados, que poderiam substituir aUnião no papel de coordenação dessaspolíticas. Não precisamos centralizar maisa coordenação de políticas, mas, aomesmo tempo, precisaremos de centrali-zação na formulação de políticas.

RSP: Um dos temas mais importantes nessaagenda federativa consiste exatamente no modocomo as diferentes agendas de políticas públicas(saúde, educação, habitação, saneamento etc.) sãoefetivadas de acordo com diferentes regras federativas.

Qual a sua avaliação desse contexto e quais asagendas de políticas públicas que a senhora consi-dera de maior dificuldade para implementação combase em procedimentos pactuados, considerando asdiferenças setoriais?

Celina Souza: Eu acredito que a ques-tão na Ciência Política do federalismo é aseguinte: este sempre será um sistema semcontenções, e isso é o desafio. Diferente-mente de outros sistemas, como a demo-cracia, os sistemas partidário e eleitoral vãose consolidando, a menos que haja ruptura.Já o federalismo, que integra o chamadosistema político, é o contrário: ele estarásempre em mutação e tensionado, sejaporque o papel dos entes federados muda,seja porque a situação macroeconômicamuda. Quando há incentivo financeiro, apactuação é mais fácil e isso é absoluta-mente racional. Para nós, da ciência política,tensão é algo que faz parte.

RSP: Outro tema especialmente tenso éa questão da partilha fiscal entre os entes federados,que sempre enervam os ânimos, como os casos recentesda regulamentação da Emenda no 29 e a disputaem torno da partilha dos royalties da camadaPré-sal. Em sua avaliação, estamos avançando ouretrocedendo? Essa é uma agenda com definiçãoexplosiva e sem solução ou há espaço para critériosmais racionais para a definição da partilha derecursos gerais e setoriais entre os entes federativos?

Celina Souza: Eu diria que estamosavançando consideravelmente bem nessapartilha com, obviamente, algumas exce-ções. A equalização fiscal sempre seráexplosiva, especialmente na Federaçãobrasileira. Isto é, a distribuição de recursosentre as esferas de governo, a partir decritérios como população, renda per capitaetc., continua sendo uma agenda delicada.A distribuição equânime dos recursospúblicos sempre foi o desejo do consti-tuinte brasileiro, que colocou em nossa

“A equalização fiscalsempre será explosiva,especialmente naFederação brasileira. (...) adistribuição de recursosentre as esferas de governo(...) continua sendo umaagenda delicada.”

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Entrevista: Celina Souza

Constituição o objetivo da diminuição dadesigualdade regional. Da mesma forma,nós sempre olhamos, por exemplo, parafederações como o Canadá, a Suíça e aAlemanha, que têm mecanismos fortís-simos de equalização fiscal; onde regiõesou estados mais ricos recompensam osmais pobres. Por mais que saibamos aorigem do federalismo, a experiênciaprática de federação foi a dos EstadosUnidos, que é a do “salve-se quem puder”.É o lugar em que mais há guerra fiscal; osmunicípios competem, por exemplo, parareceber presídios, porque esses trazembenefícios. Por fim, sempre haverá essatensão. Logo, foi feito na Constituinte –e, posteriormente, nas emendas constitu-cionais – o acordo possível. É um equívo-co pensar que a questão dos royalties doPré-sal será discutida e a distribuição,tranquila. Não será, mas já avançamosmuito mais que no início.

Nós, que tínhamos o modelo tradi-cional de ‘quem produz recebe os royalties’,tentamos sair disso com o modelo daNoruega, que distribui por função. Só quea Noruega é um país unitário, e essemodelo não nos permitiria achar que umaparte significativa dos royalties do Pré-salnão será destinada para os estados e osmunicípios produtores. Contudo, diante doque estava, avançamos consideravelmente.

Na Emenda no 29, o problema é saber oquanto a União está disposta a colocar dasua cota-parte, porque ela [a União] temburlado o que a legislação diz que deveriaser aplicado – e os estados também têmse valido de tal expediente. Os municípios,entretanto, não têm como burlar represen-tarem 15% dessa receita.

O Supremo Tribunal Federal (STF)determinou que a partilha de estado emunicípio tem que ser revista. O prazo édezembro de 2012, e, para essa emenda,será difícil encontrar uma saída.

RSP: A senhora estudou também o orça-mento participativo como uma importante inovaçãono campo da gestão municipal. De um ponto devista mais geral e considerando sua ênfase nacentralidade da administração local, como a agendafederativa e a própria gestão pública, quais têmsido as novas frentes de atuação e de inovação queos municípios brasileiros têm apresentado? Dife-rentemente do que interpretaram, naquele momento,autores importantes do pensamento político, comoVitor Nunes Leal, que localizavam nos municípiosuma instância da corrupção e do patrimonialismo,é possível que os municípios brasileiros sejam fontesde renovação e de “republicanização” do sistemapolítico brasileiro?

Celina Souza: Em um determinadoperíodo, que foi exatamente a resposta aoautoritarismo – o regime militar –, osmunicípios tiveram de fato um papel ino-vador na agenda da administração públicabrasileira. As primeiras experiências derepúblicas participativas começaram nosanos 1980. O programa Bolsa Famíliacomeçou no município de Campinas. NoDistrito Federal, tivemos o programaBolsa Educação. Durante algum tempo, osgovernadores eram nomeados e nãopodiam inovar muito. Há evidências quemostram que, por conta da centralizaçãodos recursos públicos na esfera federal,

“O Supremo TribunalFederal (STF) determinouque a partilha de estado emunicípio tem que serrevista. O prazo édezembro de 2012, e, paraessa emenda, será difícilencontrar uma saída.”

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durante o regime militar, os estados forammais prejudicados. Após isso, como umatrajetória independente, o que se segueainda apresenta muitas influências dopassado. Então, as administrações muni-cipais começaram com um orçamentoparticipativo em novas bases (e foi umacoisa muito interessante quando os muni-cípios faziam esforço próximo do zeropara coletar seus impostos próprios –IPTU e INSS). Para aqueles municípios quequiseram implementar de fato uma políticainovadora, o que eles fizeram, primeira-mente, foi começar a cobrar os impostoslocais, e isso foi gerando uma onda quesegue a centralização, a falta de autonomiado regime militar e chega até o BolsaFamília e o Bolsa Educação, de Campinase Distrito Federal, respectivamente. Noentanto, os municípios, hoje, estão com aagenda de execução dos serviços públicosmuito pesada – educação fundamental,creche, pré-escola, toda atenção básica àsaúde. Se pegarmos toda a literatura deinovação no federalismo, essa inovaçãovem dos estados, rotulados de ‘labora-tórios de democracia’.

RSP: Em 2003, a senhora lançou um impor-tante artigo – “Regiões Metropolitanas Condi-cionantes do Regime Político” – publicado narevista Lua Nova no 59. No texto, é analisado odestino da agenda das regiões metropolitanas.Considerando que essa difícil questão de gestãopública não deu – e não deve dar – sinais demelhora nos próximos anos, vale a pena revisitaras duas perguntas presentes no seu artigo: por queas regiões metropolitanas perderam espaço naagenda política ao longo do processo de redemo-cratização? E qual o papel dessas regiões no sistemafederativo brasileiro contemporâneo?

Celina Souza: Para o tema das regiõesmetropolitanas, sempre recortado pelofederalismo, dediquei muita atenção, mas

não gosto de causas perdidas e, por isso,deixei-o, uma vez que não vejo saída paraesse impasse. As regiões metropolitanaseram criadas e praticamente financiadaspelo governo federal, porque eram cidadesonde a oposição mais encontrava espaçopara eleger seus vereadores e prefeitos.Eram nessas cidades que estavam osmovimentos sociais, operários, as princi-pais resistências ao regime militar. Portanto,criar e financiar essas regiões metropoli-tanas eram formas de ter um braço federalnessas áreas.

O constituinte disse que essa foi a lógicado regime militar para financiar as regiõesmetropolitanas. Então, passou-se a delegarregiões metropolitanas para os estados, que,por sua vez, não tinham recurso e nemtiveram capacidade de retomar a legitimi-dade capaz de construir o consenso entreos municípios de uma região metropolitana– hoje, obviamente, é mais complicado porinteresses partidários. O problema dascidades é explosivo, mas, agora, o queestamos vendo é que a agenda do governofederal não está enfrentando o problemada cidade, mas sim do saneamento, da habi-tação etc.; está “setorializando”, em algunslugares, a questão do transporte público –e não se faz um bom transporte público demassa sem o recurso federal. A União alegaque o constituinte passou a região metro-politana para os estados, logo, os estadostêm que resolver. Os estados não só têmuma agenda muito limitada, como têm sériasrestrições de recursos financeiros. A saídaestá sendo setorializar os problemas daregião metropolitana.

RSP: Professora Celina, a senhora tem lidado,nos últimos anos, com a questão das capacidadesde governo. Gostaria de explorar esse tema?

Celina Souza: Por uma provocaçãode uma nova agenda de pesquisa, eu

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Entrevista: Celina Souza

comecei a trabalhar com o tema da capa-cidade do Estado. Trata-se de uma matériaque, no Brasil, nunca foi investigada afundo. Resumidamente, as políticaspúblicas podem ser as melhores, mas senão tiverem as dimensões da capacidadedo Estado, não adianta, não acontecerão.Ou seja, são as várias capacidades (finan-ceira, internacional etc.), e eu estou entrandonuma área que é o carro-chefe da ENAP:a capacidade burocrática e a construçãodessa capacidade. Mas o federalismotambém não saiu dessa preocupação,porque, na forma como constituí apesquisa, a hipótese é de que o governofederal está construindo sua capacidadeburocrática, mas os estados, não. Então,temos que entender por que um estadorico como São Paulo, por exemplo, há

* Marco Antônio de Castilhos Acco é mestre em Ciência Política, doutor em Ciências Sociais e Diretor deComunicação e Pesquisa da ENAP.

cerca de um ano e meio, realizou umconcurso para gestor governamental e osalário era R$ 3,5 mil, enquanto o salárioinicial do governo federal está em tornode R$ 16 mil. Os estados têm de estar maisna linha de frente, pelo menos na coorde-nação política. O governo federal, entre-tanto, não dá espaço para os estadosatuarem. O Executivo e o governo federalnão aguentam mais coordenar essa agendade políticas públicas, essa quantidade derecursos. Sendo assim, chegará ummomento em que se tivermos de avançarem saneamento, habitação e até nasquestões relacionadas às regiões metropo-litanas, a capacidade federal estará no limite.Por isso, os estados teriam de entrar nessejogo, mas não podem fazê-lo, porque nãoformaram sua burocracia.

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Fale com a RSP

Conhecimentos, habilidades eatitudes: o conceito de competênciasno trabalho e seu uso no setor público

CARVALHO, Antônio Ivo de, et al. Escolasde governo e gestão por competências: mesa-redonda de pesquisa-ação. Brasília: ENAP,2009.

LEME, Rogério. (org.) Gestão por compe-tências no Setor Público. Rio de Janeiro:Qualitymark, 2011.

PIRES, Alexandre (et al). Gestão por Com-petências em Organizações de Governo :mesa-redonda de pesquisa-ação Brasília:ENAP, 2005.

A experiência do microempreen-dedor individual na ampliação dacobertura previdenciária no Brasil

LÚCIO, Clemente. Medidas específicas quepodem favorecer o crescimento de empregos formaisno Brasil. Carta Social e do Trabalho n. 7,Cesit,Unicamp, 2007.

• www.mei.com.br/

A Construção da Lei de Acesso àInformação Pública no Brasil: desafiosna implementação de seus princípios

VILLANUEVA, Ernesto. Derecho deacceso a la información y organizaciónciudadana en México. Derecho Comparado dela Información, México, n. 1, enero-junio 2003.

• www.cgu.gov.br/acessoainformacoes/index.asp

O Uso da Renúncia Fiscal na Áreade Museus

RUBIM, Albino. Políticas Culturais eNovos Desafios. Matrizes (USP), v. 2, p.93-115, 2009.

• www.museus.gov.br/

Mobilidade social e empodera-mento: a percepção das mulheresbeneficiárias do Programa BolsaFamília em Minas Gerais

BRASIL. Secretaria Especial de Políticaspara as Mulheres. Com todas as mulheres, portodos os seus direitos. [Brasília], 2010.

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RSPAcontece na ENAP

Acontece na ENAP

Ocupação no setor público é tema de Café comDebate na ENAP

A “Ocupação no setor público brasileiro: tendên-cias recentes e desafios” foi o tema do Café com Debate,realizado no dia 1o de dezembro, no auditório da ENAP.Os debatedores foram Ana Lúcia Amorim de Brito,secretária de Gestão do Ministério do Planejamento, eJosé Celso Cardoso Júnior, pesquisador do Instituto Brasileiro de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea) e organizador da recente pesquisa “Burocracia e ocupação no setorpúblico brasileiro” (IPEA, 2011). A atividade foi moderada pelo presidente da ENAP,Paulo Carvalho.

Na ocasião, foram debatidos: a evolução do número de servidores públicos ativos einativos; o tamanho do gasto com o funcionalismo; a distribuição desses contingentes entreos diferentes níveis de governo e nas diferentes frentes de atuação do Estado e dos governos;as formas de recrutamento e seleção; e os tipos de vínculos empregatícios. Também foramabordados pontos sobre o desenvolvimento e avaliação do pessoal no setor público.

Seminário Brasil-França trata do monitoramento nos dois países

O processo de institucionalização do monitoramento das ações de governo foi traba-lhado de maneira comparada no seminário “Brasil–França: Monitoramento de ações go-vernamentais”, no dia 1º de dezembro, na ENAP. Promovido em parceria com a Embai-xada da França no Brasil, o evento contou com a participação do conselheiro-mestre daCorte de Contas da França (Cour des Comptes), Jean Gautier, e fez parte do Curso deFormação para a Carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental(EPPGG).Gautier tratou das diferenças entre os sistemas de governo francês e brasileiro.Sobre o monitoramento, o conselheiro-mestre destacou a necessidade da inclusão desseprocesso desde as fases iniciais do desenvolvimento da ação governamental. Além disso,foram analisadas experiências do Brasil e da França. O caso francês selecionado e apresen-tado por Gautier foi o pacto social sobre o meio ambiente. A partir desse processo, foiconcebida a estrutura da política ambiental francesa. Paulo de Martino Jannuzzi, secretáriode Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Com-bate à Fome, por sua vez, relatou as práticas de sua pasta.

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Atletas de instituição parceira da ENAPcomemoram sucesso de 2011

Atletas da Associação de Centro de Treinamentode Educação Física Especial (Cetefe) tiveram muitosmotivos para celebrar em 2011. O Centro, que temapoio da ENAP, colecionou medalhas nacionais e in-ternacionais ao longo do ano, com destaque para asconquistas nos Jogos Parapan-Americanos, realizados em Guadalajara, no México, entre12 e 20 de novembro. A equipe se prepara para repetir o feito nas Paraolimpíadas deLondres, em 2012.Todos os sete atletas do Cetefe que participaram dos jogos em Gua-dalajara voltaram com medalhas. O objetivo da parceria ENAP/Cetefe é tornar a asso-ciação referência em esportes paraolímpicos no país. Além do suporte da ENAP, queassegura o espaço para treino e a área de saúde e de avaliação física, o Cetefe conta como apoio da Universidade Católica de Brasília e das secretarias de Educação e de Espor-tes do Distrito Federal.

EPPGGs recebem certificado de conclusão docurso de formação e tomam posse

Alegria e alívio marcaram a cerimônia de posse,realizada em 20 de dezembro, dos alunos da 16ª ediçãodo curso de formação para Especialista em PolíticasPúblicas e Gestão Governamental (EPPGG), que passaram no concurso realizado em2009. Após 540 horas-aula de curso de formação, os 82 novos especialistas comemora-ram o início da carreira.Durante o curso de formação, é incentivado o desenvolvimentode visão realista, crítica e construtiva sobre os principais desafios, em diversas situaçõesna administração pública federal, no desenho e implantação de políticas públicas.

ENAP convoca aprovados no concurso paraAPO-2010 para curso de formação

A ENAP convocou para curso de formação inicialos aprovados na primeira etapa do concurso para Ana-lista de Planejamento e Orçamento (APO) de 2010. Ocurso constitui a segunda fase do concurso público paraingresso na carreira.O curso visa oferecer referenciais para que os analistas compreen-dam o contexto em que atuarão, no qual terão de desenvolver uma visão realista, críticae construtiva sobre os principais desafios nas diversas situações na administração públicafederal, no desenho e implantação de políticas que promovam o desenvolvimento eco-nômico e social.

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RSPNossos pareceristas

Nossos pareceristas

A RSP agradece as suas atentas leituras e pertinentes observações

Aldery Silveira Jr.Alex FabianeAlexandre Kalil PiresAllan Claudius Queiroz BarbosaÁlvaro Oxley da RochaAngélica SilvaAriel FinguerutArmando Ferreira de Almeida JúniorBernardo Alves FurtadoCecília OlivieriCélia Maria Retz Godoy dos SantosCelly CookClarice Gomes de OliveiraDaniel Aquino XimenesDaniela YamadaDanilo BertazziDenis Sant’Anna BarrosDoris Aleida Villamizar SayagoEduardo de Lima CaldasEnid RochaEugênio César Almeida FelippettoFábio Moassab BruniFlávia de Holanda SchmidtGabriela Pazzini Mueller Carvalho

Giovani Souza FilhoGiovanni PacelliGustavo Gonçalves VettoriGustavo Rosolen TessariIvan Sergio Freire de SousaJackson De ToniJoão Alberto TomacheskiJosé Antônio SavarisJosé Celso Pereira Cardoso JúniorJosé Henrique Santos PortugalJosé Luiz Borges HortaJosé Luiz PagnussatJosé Mendes de OliveiraJulia Maurmann XimenesLeandro Rodrigues SiqueiraLuis Antônio PasquettiMarcelo Bruto da Costa CorreiaMarcelo Douglas de Figueiredo TorresMarcelo MedeirosMárcio Luiz de Oliveira AlbuquerqueMárcio SchermaMarco Antônio de Castilhos AccoMaria de Fátima Bruno de FariaMaria Júlia Pantoja Britto

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RSP Nossos pareceristas

Revista do Serviço Público Brasília 62 (4): 485-486 out./dez. 2011486

Martinho Isnard Ribeiro de AlmeidaMiguel MatteoMoisés Villamil BalestroNewton Narciso Gomes JuniorPedro MenesesPeter Matthias Gerhard DostlerRaildy Azevedo Costa MartinsRaquel Zarattini ChebabiRegina Silvia Viotto Monteiro Pacheco

Robert Bonifácio da SilvaRonaldo InamineRuth GrinbergSandro Eli MalcherSimone OliveiraTânia Maria Pechir Gomes ManzurWagner BaleraWilsa Ramos

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Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010 487

RSPÍndice alfabético

Indice alfabético – Vol. 62Por autor e assunto

Organizado pela Biblioteca Graciliano Ramos - ENAP

Índice alfabético - autor

ALLEN, Wycliffe. RSP revisitada: eu sou um burocrata (RSP revisitada, v.3, n.3, dez. 1951).Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 341-345, jul./set. 2011.ANGELIS, Cristiano Trindade de. Gestão do conhecimento no setor público: um estudode caso por meio do método OKA. [Knowledge management in the public sector: acase study under the OKA method]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília:ENAP, v. 62, n. 2, p. 137-166, abr./jun. 2011.BODART, Cristiano das Neves. Estudo socioterritorial e investimentos públicos: o processo dealocação de recursos do orçamento participativo em Serra/ES. [Study and territorial socialand public investments: the process of allocation of resources budgeting in Serra/ES]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 25-50, jan./mar. 2011.CABRAL, Augusto Cézar de Aquino et al. Reestruturação e expansão do ensino superiorpúblico: o programa Reuni na Universidade Federal do Ceará sob a visão dos alunos.[Retructure and expansion of public higher education: students’ views on the Reuni programaat the Federal University of Ceará]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 3, p. 297-319, jul/set. 2011.CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.CODATO, Adriano. Intervenção estatal, centralização política e reforma burocrática: osignificado dos departamentos administrativos no Estado Novo. [State intervention,

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political centralization and bureaucratic reform: the meaning of the administrativedepartments in Estado Novo]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 321-339, jul./set. 2011.CONCURSO Inovação completa sua 15a edição premiando 10 iniciativas (reportagem).Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 215-223, abr./jun.2011.COSTANZI, Rogério Nagamine; BARBOSA, Edvaldo Duarte; RIBEIRO, Hélio ViniciusMoreira. A experiência do microempreendedor individual na ampliação da coberturaprevidenciária no Brasil. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 4, p. 387-406, out./dez. 2011.FELIX, Rozelito; FELIX, Patrícia do Prado; TIMÓTEO, Rafael. Balanced scorecard: adequaçãopara a gestão estratégica nas organizações públicas. [Balanced scorecard; adequacy to thestrategic management on public organizations]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 51-74, jan./mar 2012.FONSECA, Diego Ernesto Leal. Cursos abiertos em línea: ¿un escenario para la gestiónpersonal del conocimiento? [Opened online courses: a scenario for personal knowledgemanagement]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 281-296, jul./set. 2011.LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3,p. 347-356, jul./set. 2011.LOURENÇO, Regina Lucia Ramos; BURSZTYN, Marcel. Ética na pesquisa agropecuária:percepção dos pesquisadores da Embrapa. [Ethics in agricultural research: perceptionsof Embrapa’s researchers]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 1, p. 5-24, jan./mar. 2011.MAGALHÃES, Celso de. O aperfeiçoamento dos servidores do Estado (RSP revisitada,v. 2, n. 3, jun. 1942). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4,p. 467-472, out./dez. 2011.MARÇOLA, Célia. Auditoria interna como instrumento de controle social na administraçãopública. [Internal audit as an instrument of social control in public administration]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 75-88, jan./mar. 2012.MEDEIROS, Jonann Joslin; OLLAIK, Leila Giandoni. O uso da renúncia fiscal na área demuseus. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 425-448,out./dez. 2011.MELO, J. A. de Carvalho e. Pessoal – O Estado e seus servidores (RSP revisitada, v. 1,n. 3, mar. 1949). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 209-213, abr./jun. 2011.NASCIMENTO, Daniel Trento do; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Descentralização dagestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meioambiente no sul catarinense. [Environmental management decentralization: analysis of the

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creation process of municipal environmental organizations in southern Santa Catarina].Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 185-208, abr./jun.2011.PAES, Eneida Bastos. A construção da lei de acesso à informação pública no Brasil:desafios na implementação de seus princípios. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 407-424, out./dez. 2011.PRADO, Mauricio Almeida. O modelo gerencial da educação: contribuições da experiên-cia da Inglaterra ao debate brasileiro. [The managerial model of education: contributionsfrom the experiences of England to Brazilian debate]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 261-279, jul./set. 2011.SANTOS, Aleksandra Pereira dos. Conhecimentos, habilidades e atitudes: o conceito decompetências no trabalho e seu uso no setor público. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 369-386, out./dez. 2011.SILVA, Francielle Molon da; MELLO, Simone Portella Teixeira. A noção de competênciana gestão de pessoas: reflexões acerca do setor público. [The notion of competence inthe human resources management: reflections about cases of the public sector]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 167-183, abr./jun. 2011.SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n.2, p. 119-135, abr./jun. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.WALKER, Harvey. Em prol de um código de ética para o serviço público (RSP revisitada,v. 1, n. 2, fev. 1953). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p.89-92, jan./mar. 2011.

Índice alfabético por assuntoAdministração da Educação

PRADO, Mauricio Almeida. O modelo gerencial da educação: contribuições da experiên-cia da Inglaterra ao debate brasileiro. [The managerial model of education: contributionsfrom the experiences of England to Brazilian debate]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 261-279, jul./set. 2011.Administração Estadual

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.

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Administração Estratégica

FELIX, Rozelito; FELIX, Patrícia do Prado; TIMÓTEO, Rafael. Balanced scorecard: adequaçãopara a gestão estratégica nas organizações públicas. [Balanced scorecard; adequacy to thestrategic management on public organizations]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 51-74, jan./mar 2012.Administração Federal

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Administração Municipal

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.NASCIMENTO, Daniel Trento do; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Descentralização dagestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meio ambienteno sul catarinense. [Environmental management decentralization: analysis of the creationprocess of municipal environmental organizations in southern Santa Catarina]. Revista doServiço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 185-208, abr./jun. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Administração Pública

ANGELIS, Cristiano Trindade de. Gestão do conhecimento no setor público: um estudode caso por meio do método OKA. [Knowledge management in the public sector: acase study under the OKA method]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília:ENAP, v. 62, n. 2, p. 137-166, abr./jun. 2011.CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.CODATO, Adriano. Intervenção estatal, centralização política e reforma burocrática: osignificado dos departamentos administrativos no Estado Novo. [State intervention,political centralization and bureaucratic reform: the meaning of the administrativedepartments in Estado Novo]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 321-339, jul./set. 2011.MARÇOLA, Célia. Auditoria interna como instrumento de controle social na adminis-tração pública. [Internal audit as an instrument of social control in public administration].Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 75-88, jan./mar.2012.

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RSPÍndice alfabético

SILVA, Francielle Molon da; MELLO, Simone Portella Teixeira. A noção de competênciana gestão de pessoas: reflexões acerca do setor público. [The notion of competence inthe human resources management: reflections about cases of the public sector]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 167-183, abr./jun. 2011.Agente Público

WALKER, Harvey. Em prol de um código de ética para o serviço público (RSP revisitada,v. 1, n. 2, fev. 1953). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1,p. 89-92, jan./mar. 2011.Agropecuária

LOURENÇO, Regina Lucia Ramos; BURSZTYN, Marcel. Ética na pesquisa agropecuária:percepção dos pesquisadores da Embrapa. [Ethics in agricultural research: perceptionsof Embrapa’s researchers]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 1, p. 5-24, jan./mar. 2011.Análise Comparativa

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.Aspecto Histórico

CODATO, Adriano. Intervenção estatal, centralização política e reforma burocrática: osignificado dos departamentos administrativos no Estado Novo. [State intervention,political centralization and bureaucratic reform: the meaning of the administrativedepartments in Estado Novo]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 3, p. 321-339, jul./set. 2011.Auditoria Interna

MARÇOLA, Célia. Auditoria interna como instrumento de controle social na adminis-tração pública. [Internal audit as an instrument of social control in public administration].Revista do Serviço Público - RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 75-88, jan./mar.2012.Burocracia

ALLEN, Wycliffe. RSP revisitada: eu sou um burocrata (RSP revisitada, v.3, n.3,dez. 1951). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 341-345,jul./set. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Cargo Público

MELO, J. A. de Carvalho e. Pessoal – O Estado e seus servidores (RSP revisitada, v. 1,n. 3, mar. 1949). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 209-213, abr./jun. 2011.

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RSP Índice alfabético

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Centralização Política

CODATO, Adriano. Intervenção estatal, centralização política e reforma burocrática: osignificado dos departamentos administrativos no Estado Novo. [State intervention,political centralization and bureaucratic reform: the meaning of the administrativedepartments in Estado Novo]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 3, p. 321-339, jul./set. 2011.Cidadania

ALLEN, Wycliffe. RSP revisitada: eu sou um burocrata (RSP revisitada, v.3, n.3, dez.1951). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 341-345, jul./set. 2011.Código

WALKER, Harvey. Em prol de um código de ética para o serviço público (RSP revisitada,v. 1, n. 2, fev. 1953). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1,p. 89-92, jan./mar. 2011.Competência

SILVA, Francielle Molon da; MELLO, Simone Portella Teixeira. A noção de compe-tência na gestão de pessoas: reflexões acerca do setor público. [The notion of competencein the human resources management: reflections about cases of the public sector]. Revistado Serviço Público - RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 167-183, abr./jun. 2011.Concurso

CONCURSO Inovação completa sua 15ª edição premiando 10 iniciativas (reportagem).Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 215-223, abr./jun.2011.Concurso Público

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.Controle Externo

MARÇOLA, Célia. Auditoria interna como instrumento de controle social na adminis-tração pública. [Internal audit as an instrument of social control in public administration].Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 75-88, jan./mar.2012.Controle Interno

MARÇOLA, Célia. Auditoria interna como instrumento de controle social na adminis-tração pública. [Internal audit as an instrument of social control in public administration].Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 75-88, jan./mar.2012.Controle Social

MARÇOLA, Célia. Auditoria interna como instrumento de controle social na adminis-tração pública. [Internal audit as an instrument of social control in public administration].

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Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010 493

RSPÍndice alfabético

Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 75-88, jan./mar.2012.Cooperação Internacional

LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 347-356, jul./set. 2011.Descentralização Política

NASCIMENTO, Daniel Trento do; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Descentralização dagestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meio ambienteno sul catarinense. [Environmental management decentralization: analysis of the creationprocess of municipal environmental organizations in southern Santa Catarina]. Revista doServiço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 185-208, abr./jun. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Desempenho Organizacional

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.Desenvolvimento Social

LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 347-356, jul./set. 2011.Educação

CABRAL, Augusto Cézar de Aquino et al. Reestruturação e expansão do ensino superiorpúblico: o programa Reuni na Universidade Federal do Ceará sob a visão dos alunos.[Retructure and expansion of public higher education: students’ views on the Reuniprograma at the Federal University of Ceará]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 297-319, jul/set. 2011.LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.PRADO, Mauricio Almeida. O modelo gerencial da educação: contribuições da experiênciada Inglaterra ao debate brasileiro. [The managerial model of education: contributionsfrom the experiences of England to Brazilian debate]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 261-279, jul./set. 2011.Educação a Distância

FONSECA, Diego Ernesto Leal. Cursos abiertos em línea: ¿un escenario para la gestiónpersonal del conocimiento? [Opened online courses: a scenario for personal knowledgemanagement]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 281-296, jul./set. 2011.

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RSP Índice alfabético

Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010494

Empresa Pública

FELIX, Rozelito; FELIX, Patrícia do Prado; TIMÓTEO, Rafael. Balanced scorecard: adequaçãopara a gestão estratégica nas organizações públicas. [Balanced scorecard; adequacy to thestrategic management on public organizations]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 51-74, jan./mar 2012.Ensino Público

CABRAL, Augusto Cézar de Aquino et al. Reestruturação e expansão do ensino superiorpúblico: o programa Reuni na Universidade Federal do Ceará sob a visão dos alunos.[Retructure and expansion of public higher education: students’ views on the Reuniprograma at the Federal University of Ceará]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 297-319, jul/set. 2011.Ensino Superior

CABRAL, Augusto Cézar de Aquino et al. Reestruturação e expansão do ensino superiorpúblico: o programa Reuni na Universidade Federal do Ceará sob a visão dos alunos.[Retructure and expansion of public higher education: students’ views on the Reuniprograma at the Federal University of Ceará]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 297-319, jul/set. 2011.Entrevista

SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Estatística

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.Estudo de Caso

LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.Ética

LOURENÇO, Regina Lucia Ramos; BURSZTYN, Marcel. Ética na pesquisa agropecuária:percepção dos pesquisadores da Embrapa. [Ethics in agricultural research: perceptionsof Embrapa’s researchers]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 1, p. 5-24, jan./mar. 2011.WALKER, Harvey. Em prol de um código de ética para o serviço público (RSP revisitada,v. 1, n. 2, fev. 1953). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1,p. 89-92, jan./mar. 2011.Evento

CONCURSO Inovação completa sua 15a edição premiando 10 iniciativas (reportagem). Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 215-223, abr./jun. 2011.

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Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010 495

RSPÍndice alfabético

LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 347-356, jul./set. 2011.Federalismo

SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Gênero

LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do Servi-ço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.Gestão Ambiental

NASCIMENTO, Daniel Trento do; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Descentralizaçãoda gestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais demeio ambiente no sul catarinense. [Environmental management decentralization: analysisof the creation process of municipal environmental organizations in southern SantaCatarina]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 185-208, abr./jun. 2011.Gestão de Pessoas

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.MELO, J. A. de Carvalho e. Pessoal – O Estado e seus servidores (RSP revisitada, v. 1,n. 3, mar. 1949). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 209-213, abr./jun. 2011.SILVA, Francielle Molon da; MELLO, Simone Portella Teixeira. A noção de competênciana gestão de pessoas: reflexões acerca do setor público. [The notion of competence inthe human resources management: reflections about cases of the public sector]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 167-183, abr./jun. 2011.Gestão do Conhecimento

ANGELIS, Cristiano Trindade de. Gestão do conhecimento no setor público: um estudode caso por meio do método OKA. [Knowledge management in the public sector: acase study under the OKA method]. Revista do Serviço Público - RSP, Brasília:ENAP, v. 62, n. 2, p. 137-166, abr./jun. 2011.FONSECA, Diego Ernesto Leal. Cursos abiertos em línea: ¿un escenario para la gestiónpersonal del conocimiento? [Opened online courses: a scenario for personal knowledgemanagement]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 281-296, jul./set. 2011.Gestão por competênciasSILVA, Francielle Molon da; MELLO, Simone Portella Teixeira. A noção de competênciana gestão de pessoas: reflexões acerca do setor público. [The notion of competence in

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the human resources management: reflections about cases of the public sector]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 167-183, abr./jun. 2011.Implementação

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.Inclusão Social

COSTANZI, Rogério Nagamine; BARBOSA, Edvaldo Duarte; RIBEIRO, Hélio ViniciusMoreira. A experiência do microempreendedor individual na ampliação da coberturaprevidenciária no Brasil. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 4, p. 387-406, out./dez. 2011.Indicador Balanceado de Desempenho

FELIX, Rozelito; FELIX, Patrícia do Prado; TIMÓTEO, Rafael. Balanced scorecard: adequaçãopara a gestão estratégica nas organizações públicas. [Balanced scorecard; adequacy to thestrategic management on public organizations]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 1, p. 51-74, jan./mar 2012.Inovação

CONCURSO Inovação completa sua 15a edição premiando 10 iniciativas (reportagem). Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 215-223, abr./jun. 2011.PRADO, Mauricio Almeida. O modelo gerencial da educação: contribuições da expe-riência da Inglaterra ao debate brasileiro. [The managerial model of education:contributions from the experiences of England to Brazilian debate]. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 261-279, jul./set. 2011.SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público - RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 2, p. 119-135, abr./jun. 2011.Investimento Público

BODART, Cristiano das Neves. Estudo socioterritorial e investimentos públicos: o pro-cesso de alocação de recursos do orçamento participativo em Serra/ES. [Study andterritorial social and public investments: the process of allocation of resources budgetingin Serra/ES]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 25-50,jan./mar. 2011.Marketing

CABRAL, Augusto Cézar de Aquino et al. Reestruturação e expansão do ensino superiorpúblico: o programa Reuni na Universidade Federal do Ceará sob a visão dos alunos.[Retructure and expansion of public higher education: students’ views on the Reuniprograma at the Federal University of Ceará]. Revista do Serviço Público – RSP,Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 297-319, jul/set. 2011.

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RSPÍndice alfabético

Meio Ambiente

NASCIMENTO, Daniel Trento do; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Descentralização dagestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meioambiente no sul catarinense. [Environmental management decentralization: analysis ofthe creation process of municipal environmental organizations in southern Santa Catarina].Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 185-208, abr./jun.2011.Meio de Comunicação

ALLEN, Wycliffe. RSP revisitada: eu sou um burocrata (RSP revisitada, v.3, n.3, dez.1951). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 341-345, jul./set. 2011.Mercado de Trabalho

COSTANZI, Rogério Nagamine; BARBOSA, Edvaldo Duarte; RIBEIRO, Hélio ViniciusMoreira. A experiência do microempreendedor individual na ampliação da coberturaprevidenciária no Brasil. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 4, p. 387-406, out./dez. 2011.LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.Microempreendedor Individual

COSTANZI, Rogério Nagamine; BARBOSA, Edvaldo Duarte; RIBEIRO, Hélio ViniciusMoreira. A experiência do microempreendedor individual na ampliação da coberturaprevidenciária no Brasil. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 4, p. 387-406, out./dez. 2011.Mobilidade Social

LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do Servi-ço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.Modernização Administrativa

SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 2, p. 119-135, abr./jun. 2011.Obra Pública

BODART, Cristiano das Neves. Estudo socioterritorial e investimentos públicos: o pro-cesso de alocação de recursos do orçamento participativo em Serra/ES. [Study andterritorial social and public investments: the process of allocation of resources budgetingin Serra/ES]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 25-50,jan./mar. 2011.Orçamento Comunitário

BODART, Cristiano das Neves. Estudo socioterritorial e investimentos públicos: o pro-cesso de alocação de recursos do orçamento participativo em Serra/ES. [Study and

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RSP Índice alfabético

Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010498

territorial social and public investments: the process of allocation of resources budgetingin Serra/ES]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 25-50,jan./mar. 2011.Otimização

CONCURSO Inovação completa sua 15a edição premiando 10 iniciativas (reportagem). Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 215-223, abr./jun. 2011.Pesquisa

LOURENÇO, Regina Lucia Ramos; BURSZTYN, Marcel. Ética na pesquisa agropecuária:percepção dos pesquisadores da Embrapa. [Ethics in agricultural research: perceptionsof Embrapa’s researchers]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 1, p. 5-24, jan./mar. 2011.Pobreza

LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 347-356, jul./set. 2011.Poder Judiciário

SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 2, p. 119-135, abr./jun. 2011.Política Ambiental

NASCIMENTO, Daniel Trento do; BURSZTYN, Maria Augusta Almeida. Descentralização dagestão ambiental: análise do processo de criação de organizações municipais de meio ambienteno sul catarinense. [Environmental management decentralization: analysis of the creationprocess of municipal environmental organizations in southern Santa Catarina]. Revista doServiço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 185-208, abr./jun. 2011.Política de Governo

CODATO, Adriano. Intervenção estatal, centralização política e reforma burocrática: osignificado dos departamentos administrativos no Estado Novo. [State intervention,political centralization and bureaucratic reform: the meaning of the administrativedepartments in Estado Novo]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 321-339, jul./set. 2011.Política Educacional

PRADO, Mauricio Almeida. O modelo gerencial da educação: contribuições da expe-riência da Inglaterra ao debate brasileiro. [The managerial model of education:contributions from the experiences of England to Brazilian debate]. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 261-279, jul./set. 2011.Política Social

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,

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Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010 499

RSPÍndice alfabético

Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 347-356, jul./set. 2011.Políticas Públicas

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 2, p. 119-135, abr./jun. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Preconceito

ALLEN, Wycliffe. RSP revisitada: eu sou um burocrata (RSP revisitada, v.3, n.3, dez. 1951).Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 341-345, jul./set. 2011.Prestação de Serviço

SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 2, p. 119-135, abr./jun. 2011.Previdência Social

COSTANZI, Rogério Nagamine; BARBOSA, Edvaldo Duarte; RIBEIRO, Hélio ViniciusMoreira. A experiência do microempreendedor individual na ampliação da coberturaprevidenciária no Brasil. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 4, p. 387-406, out./dez. 2011.Programa Social

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.LEROY, Rodrigo Silva Diniz et al. Mobilidade social e empoderamento: a percepção dasmulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família em Minas Gerais. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 449-466, out./dez. 2011.

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RSP Acontece na ENAP

Revista do Serviço Público Brasília 56 (3): 368 Jul/Set 2005500

Reforma Administrativa

CODATO, Adriano. Intervenção estatal, centralização política e reforma burocrática: osignificado dos departamentos administrativos no Estado Novo. [State intervention,political centralization and bureaucratic reform: the meaning of the administrativedepartments in Estado Novo]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 321-339, jul./set. 2011.SILVA, Jeovan Assis da; FLORÊNCIO, Pedro de Abreu e Lima. Políticas judiciárias no Brasil:o Judiciário como autor de políticas públicas. [Public judicial policies in Brazil: the judiciaryas a public policy maker] Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62,n. 2, p. 119-135, abr./jun. 2011.Reforma Educacional

PRADO, Mauricio Almeida. O modelo gerencial da educação: contribuições da expe-riência da Inglaterra ao debate brasileiro. [The managerial model of education:contributions from the experiences of England to Brazilian debate]. Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v.62, n. 3, p. 261-279, jul./set. 2011.Relações Intergovernamentais

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.SOUZA, Celina. Os municípios foram os grandes vencedores da cadeia federativa a partirda Constituição de 1988 (entrevista dirigida por Marco Acco). Revista do ServiçoPúblico – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 473-480, out./dez. 2011.Seguridade Social

CAVALCANTE, Pedro Luiz Costa. Programas de transferência condicionada de renda naAmérica Latina: uma abordagem comparada entre Brasil, México, Chile e Colômbia.[Conditional cash transfer programs in Latin America: a comparative approach of Brazil,Mexico, Chile and Colombia]. Revista do Serviço Público - RSP, Brasília: ENAP,v. 62, n. 2, p. 105-118, abr./jun. 2011.Serviço Público

ALLEN, Wycliffe. RSP revisitada: eu sou um burocrata (RSP revisitada, v.3, n.3, dez.1951). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 341-345, jul./set. 2011.CONCURSO Inovação completa sua 15a edição premiando 10 iniciativas (reportagem). Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 215-223, abr./jun. 2011.MELO, J. A. de Carvalho e. Pessoal – O Estado e seus servidores (RSP revisitada, v. 1,n. 3, mar. 1949). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 209-213, abr./jun. 2011.WALKER, Harvey. Em prol de um código de ética para o serviço público (RSP revisitada,v. 1, n. 2, fev. 1953). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 1,p. 89-92, jan./mar. 2011.

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RSPAcontece na ENAP

Revista do Serviço Público Brasília 61 (4): 417-424 Out./Dez. 2010 501

Servidor Público

CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.Setor Público

ANGELIS, Cristiano Trindade de. Gestão do conhecimento no setor público: um estudode caso por meio do método OKA. [Knowledge management in the public sector: acase study under the OKA method]. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília:ENAP, v. 62, n. 2, p. 137-166, abr./jun. 2011.CARDOSO JUNIOR, José Celso; NOGUEIRA, Roberto Passos. Ocupação no setor públicobrasileiro: tendências recentes e questões em aberto. [Brazilian public sector occupation:recenty tendencies and questions that remain opened]. Revista do Serviço Público –RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3, p. 237-260, jul./set. 2011.MELO, J. A. de Carvalho e. Pessoal – O Estado e seus servidores (RSP revisitada, v. 1,n. 3, mar. 1949). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 209-213, abr./jun. 2011.SILVA, Francielle Molon da; MELLO, Simone Portella Teixeira. A noção de competênciana gestão de pessoas: reflexões acerca do setor público. [The notion of competence inthe human resources management: reflections about cases of the public sector]. Revistado Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 2, p. 167-183, abr./jun. 2011.Sociedade Contemporânea

LIMA, Dominique. Proteção social representa desafio estratégico para o Brasil e o mundo(reportagem). Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 3,p. 347-356, jul./set. 2011.Trabalho

COSTANZI, Rogério Nagamine; BARBOSA, Edvaldo Duarte; RIBEIRO, Hélio Vinicius Moreira.A experiência do microempreendedor individual na ampliação da cobertura previdenciáriano Brasil. Revista do Serviço Público – RSP, Brasília: ENAP, v. 62, n. 4, p. 387-406,out./dez. 2011.

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Normas para os colaboradores

A Revista do Serviço Público, editada pela Escola Nacional de Administração Pública há mais de 70anos, publica artigos inéditos sobre temas relacionados a Estado e Sociedade; Políticas Públicas eAdministração Pública. Os artigos passam por análise prévia de adequação pela editoria da revista eposterior avaliação de dois a três pareceristas por sistema de blind review.

Regras para submissão:

1. Artigos: 1. Artigos: deverão ter aproximadamente seis mil palavras (em torno de 20 páginas) e ser acompanhadosde resumo analítico em português, espanhol e inglês, de cerca de 150 palavras, que permita uma visão globale antecipada do assunto tratado, e de três palavras-chave (descritores) em português, espanhol e inglês queidentifiquem o seu conteúdo. Tabelas, quadros e gráficos, bem como notas, devem limitar-se a ilustrarconteúdo substantivo do texto. Notas devem ser devidamente numeradas e constar no final do trabalho e nãono pé da página. Citações de autores no corpo do texto deverão seguir a forma (AUTOR, data). Referênciasdevem ser listadas ao final do trabalho, em ordem alfabética, observadas as normas da ABNT.*

2. Vinculação institucional: artigos devem vir acompanhados de breve informação sobre a formação, vinculaçãoinstitucional do autor (em até duas linhas) e e-mail para contato.

3. Avaliação: a publicação dos textos está sujeita à análise prévia de adequação pela editoria da revista e avaliação porsistema de blind review de dois a três pareceristas, os quais se reservam o direito de sugerir modificações ao autor.

4. Encaminhamento: os artigos devem ser encaminhados por e-mail, em formato word (.docx, .doc, .rtf ou .txt),para [email protected]. A ENAP compromete-se a informar os autores sobre a aprovação para publicaçãoou não de seus trabalhos em aproximadamente quatro meses.

* Exemplos de citação e referênciaCitação no corpo do texto: (ABRUCIO, 2009)Referências no final do trabalho:

LivroCOHEN, Ernesto; FRANCO, Rolando. Gestão Social: como obter eficiência e impacto nas políticas sociais.Brasília: ENAP, 2007.Artigo em coletâneaSARAVIA, Enrique. Introdução à teoria da política pública. In: SARAVIA, Enrique e FERRAREZI, Elisabete(Org.). Coletânea Políticas Públicas. Brasília: ENAP, 2006. v. 1 p. 21-42.Artigo em periódicoCOSTA, Frederico Lustosa da. História das reformas administrativas no Brasil: narrativas, teorizações erepresentações. Revista do Serviço Público, Brasília, ENAP, v. 59, n. 3, p. 271-288, jul. a set. de 2008.Monografia, dissertação ou tese acadêmicaMONTEIRO, Ana Lúcia de Oliveira. A Relação Estado e Sociedade Civil no Processo de Formulação e Implementaçãode Políticas Públicas. 2008. Dissertação (Mestrado em Administração Pública). Programa de Pós-Graduaçãoem Administração – PPGA, Universidade de Brasília, Brasília.Sítio da internetEscola Nacional de Administração Pública. Catálogo de Cursos 2009. Disponível em:www.enap.gov.br. Acesso em: 8 jan. 2009.

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Escola Nacional de Administração PúblicaDiretoria de Comunicação e PesquisaSAIS Área 2-A Brasília, DF – CEP 70610-900Tel: (61) 2020 3037 e 2020 3424 – Fax: (61) 2020 3178 – E-mail: [email protected]

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Como escrever e usar estudos de caso para ensino eaprendizagem no setor público

De autoria do professor Andrew Graham, do Instituto de Adminis-tração Pública do Canadá (Ipac), a publicação representa mais uminvestimento da ENAP em novas metodologias de ensino deaplicação, que permitam a reflexão teórica a partir de situaçõesconcretas do setor público. O objetivo é estimular a investigação, ainovação e o compartilhamento de experiências profissionais,propiciando a reflexão crítica sobre a atuação dos servidores naadministração pública e sobre as políticas públicas.

Administração pública – Coletânea

Edição em língua portuguesa da coletânea organizada pelos pro-fessores B. Guy Peters e Jon Pierre. Administração pública - Cole-tânea reúne 28 artigos de especialistas de diversos países, que sinte-tizam o pensamento acadêmico atual sobre o tema e analisam arelação entre a teoria e os melhores processos de gestão de políticaspúblicas. O livro inclui textos de autores brasileiros: Carlos AriSundfeld escreve sobre direito administrativo; Fernando LuizAbrucio destaca desafios contemporâneos para a reforma daadministração pública brasileira e Virgílio Afonso da Silva abordafederalismo e articulação de competências no Brasil. A obra é umaco-edição da ENAP e da Editora

Avaliação de custos e benefícios ambientais

De autoria de Ademar Ribeiro Romeiro e Alexandre Gori Maia,refere-se ao conteúdo apresentado no módulo “Avaliação de custose benefícios ambientais” do Programa de Avaliação Socioeco-nômica, desenvolvido pelo governo brasileiro com o intuito de garantir a gestão adequada dos investimentos públicos de grandevulto por meio da formação de quadros qualificados para aavaliação socioeconômica de projetos. O Caderno tem o propó-sito de registrar e disseminar um tema de indiscutível atualidade erelevância. Nele, os autores apresentam e analisam a dimensãoambiental do ciclo de vida dos projetos, destacando-se a avaliaçãosegundo a perspectiva econômico-ecológica.

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Preço unitário: R$ 10,00(*)Caderno 33 (2 volumes): R$ 20,00

Outros

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Revista do Serviço Público Brasília 61 (3): 325-328 Jul/Set 2010

RSP

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Formas de pagamento

Os interessados em adquirir as publicações ENAP poderão dirigir-se diretamente à sede da Escolaem Brasília ou solicitá-las por fax ou pelos Correios, informando os títulos das publicações eendereço completo para entrega.O pagamento pode ser realizado por meio de uma das formas a seguir:1. Nas agências do Banco do Brasil:

• Compareça ao caixa e solicite o depósito do valor das publicações na Conta Única do Tesouro Nacional, Agência 1607-1 Conta 170.500-8, informe seu CPF ou o CNPJ de sua instituição e o código identificador 11470211401288187.• Posteriormente, encaminhe o comprovante de depósito juntamente com o Cartão de Aquisição para a ENAP.

2. No sítio do Banco do Brasil (www.bb.com.br), por meio de transferência entre contas correntes(para clientes do Banco do Brasil):• Acesse sua conta.• Na guia “Transferências”, clique em “para Conta Única do Tesouro”.• Digite o valor total das publicações solicitadas.• No campo “UG Gestão finalidade”, digite o código identificador: 11470211401288187.• No campo CPF/CNPJ, digite o seu CPF ou o CNPJ de sua instituição.• Em seguida, prossiga com a transação normalmente, como se fosse uma transferência comum entre contas correntes.• Imprima o comprovante e encaminhe-o para a ENAP juntamente com o Cartão de Aquisição.

3. Nos terminais de autoatendimento do Banco do Brasil (para clientes do Banco do Brasil):• Na tela principal, selecione a opção “Transferência”.• Na próxima tela, selecione a opção “Conta corrente para Conta Única do Tesouro”.• Em seguida, digite o valor total das publicações solicitadas e tecle Ok.• Na próxima tela, digite no campo Identificador 1 o código 1147021140128818-7 e no campo Identificador 2 o seu CPF ou o CNPJ de sua instituição.• Prossiga normalmente com a transação, como uma transferência comum.• Encaminhe posteriormente o comprovante de transferência juntamente com o Cartão de Aquisição para a ENAP.

4. Enviar nota de empenho (com original anexado) em nome de: ENAP Escola Nacional deAdministração Pública – CNPJ: 00.627.612/0001-09, UG: 114702, Gestão: 11401

5. Enviar por fax ou pelos Correios, a Guia de Recolhimento da União (GRU Simples) paga noBanco do Brasil com o valor das publicações. Acesse o link “Como adquirir” na página da ENAPpara mais informações.

Escola Nacional de Administração PúblicaDiretoria de Comunicação e PesquisaSAIS – Área 2-A70610-900 – Brasília, DFTel: (61) 2020 3096 / 2020 3092 – Fax: (61) 2020 3178CNPJ: 00 627 612/[email protected]