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1 REVISTA DE MANGUINHOS | NOVEMBRO DE 2017

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presente edição da Revista de Manguinhos temcomo reportagem principal um especial com maisde 30 páginas que aborda, sob os mais diversosaspectos e vieses, a educação na Fiocruz. A edi-ção conta a origem dos Cursos de Aplicação, ain-

da nos primórdios do Instituto de Manguinhos, sob o incentivode Oswaldo Cruz, comemora o credenciamento da Escola deGoverno da Fiocruz e a regulação da pós-graduação lato sensue o destaque obtido na avaliação da Coordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), recorda a traje-tória da Escola Nacional de Saúde Pública e da Escola Politécnicade Saúde Joaquim Venâncio e seus respectivos projetos político-pedagógicos, aborda os desafios da Escola Corporativa e relataoutros projetos e iniciativas vitoriosos da Fiocruz na educação.Traz, ainda, uma entrevista com o vice-presidente de Educa-ção, Informação e Comunicação da Fiocruz, Manoel Barral-Net-to. Esta é uma área de imensa relevância para esta instituição etodas as suas unidades desenvolvem atividades nesse campo.São milhares de alunos a cada ano, no Rio e nos outros estados,em cursos presenciais e a distância.

Também nesta edição, outras reportagens mostram os da-nos, ao sistema de saúde e ao desenvolvimento nacional, cau-sados pelo tabagismo, o estudo que detalha como a desnutriçãoagrava a leishmaniose visceral, o movimento de mães e profis-sionais de saúde em apoio a crianças afetadas pela zika e os 90anos de vida do pesquisador e professor José Rodrigues Coura.

Boa leitura!

Nísia Trindade Lima

Presidente da Fundação Oswaldo Cruz

EDITORIAL

A

Foto: detalhe de uma das torres do castelo da Fiocruz

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ÍNDICE

PresidenteNísia Trindade Lima

Vice-presidente de Ambiente,Atenção e Promoção da SaúdeMarco Antonio Carneiro Menezes

Vice-presidente de Gestão eDesenvolvimento InstitucionalMario Santos Moreira

Vice-presidente de Educação,Informação e ComunicaçãoManoel Barral Netto

Vice-presidente de Pesquisae Coleções BiológicasRodrigo Correa de Oliveira

Vice-presidente de Produçãoe Inovação em SaúdeMarco Aurelio Krieger

Chefe de GabineteValcler Rangel Fernandes

Coordenadoria de ComunicaçãoSocial / Presidência

REVISTA DE MANGUINHOSNº 38 - NOVEMBRO/2017

Coordenação: Elisa Andries

Edição: Ricardo Valverde

Colaboradores: Alexandre Matos, AlineCâmera, Ana Carolina Düppre, AndréCosta, André Victor Rodrigues, FláviaLobato, Glauber Queiroz, Juliana Xavier,Leonardo Azevedo, Lucas Rocha, LuizaGomes, Kadu Cayres, Maíra Menezes,Matheus Cruz (estágio supervisionado),Mônica Mourão, Nathália Gameiro, PauloBuss, Paulo Schueler, Talita Rodrigues,Tatiane Vargas, Vinícius Ferreira e WagnerVasconcelos

Projeto gráfico e edição de arte:Guto Mesquita e Rodrigo Carvalho

Revisão: Ricardo Valverde

Fotografia: Gutemberg Brito, PeterIlicciev e Arquivo CCS

Administração: Assis Santos

Secretaria: Inês Campos

Autorizada a reprodução deconteúdos desde que citada a fonte

O que você achou desta edição?Mande seus comentários [email protected]

Revista de ManguinhosAvenida Brasil 4.365 - ManguinhosRio de Janeiro - RJ - CEP 21.040-900Telefone: 55 (21) 2270-5343

Agência Fiocruz de Notíciaswww.fiocruz.br/ccs

Impressão: Gráfica G.M. de Barros Eireli

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NOTAS

Estão abertas as inscrições paraa 9ª edição da Olimpíada Brasileirade Saúde e Meio Ambiente (Obs-ma) da Fiocruz. Coordenada pelaVice-Presidência de Educação, In-formação e Comunicação da Fun-dação, a Olimpíada é um projetoeducativo voltado a professores ealunos da Educação Básica de todoo Brasil que busca estimular a pro-dução de trabalhos interdisciplina-res sobre saúde e meio ambienteem escolas públicas e privadas. Asinscrições são gratuitas e vão até31 de julho de 2018. A novidadena competição é o inédito PrêmioObsma — Ano Oswaldo Cruz. Unin-do-se às homenagens pelo centená-rio de morte do cientista, a Olimpíadavai conferir esta premiação especiala um trabalho sobre saúde e meioambiente que tenha utilizado, comofontes de pesquisa, artigos, capítu-los, livros, teses, dissertações e ou re-cursos educacionais (multimídias,jogos educacionais, sites, entre ou-tros) produzidos pela FundaçãoOswaldo Cruz. Acesse o Regulamen-to: http://www.olimpiada.fiocruz.br/regulamento9obsma.

Anna Carolina Düppre

A Fiocruz deu mais um pas-so no combate a dengue, zika echikungunya, com o início da li-beração de mosquitos Aedes ae-gypti com Wolbachia, em largaescala, no município do Rio deJaneiro. A iniciativa faz parte dasações do projeto Eliminar a Den-gue: Desafio Brasil (EDB), queamplia, gradativamente, a áreade liberação destes mosquitos nacidade. Dez bairros da Ilha do

Fundação combate arboviroses no Rio Lançada 9ª edição daOlimpíada de Saúdee Meio Ambiente

Governador serão atendidos nessaetapa da expansão. Na sequência,toda a Ilha do Governador será co-berta. Após a conclusão do trabalhona região, o projeto EDB se expandirápara outras localidades da cidade doRio de Janeiro, nas zonas Norte e Sul.A liberação de mosquitos será encer-rada até o final de 2018 e, ao términodo processo, a expectativa é que asáreas beneficiadas pelo projeto reúnamcerca de 2,5 milhões habitantes.

A partir da análise de casosde malária registrados em re-gião de Mata Atlântica, no es-tado do Rio de Janeiro, entre2015 e 2016, pesquisadores doInstituto Oswaldo Cruz (IOC/Fi-ocruz), em parceria com cien-tistas de instituições nacionais einternacionais, demonstraramque um parasito até então co-nhecido por sua capacidade deinfectar macacos é capaz decausar infecção em humanos, oque corresponde a uma zoono-se. Uma técnica de análise dematerial genético desenvolvida

Parasito da malária em macacostambém pode infectar humanos

especialmente para o estudo cons-tatou 28 infecções causadas peloPlasmodium simium. Publicado narevista científica The Lancet GlobalHealth, o trabalho traz uma contri-buição fundamental, já que esta éa descrição do segundo foco nomundo com transmissão de malá-ria zoonótica, além da transmissãode P. knowlesi de macacos a hu-manos constatada na Malásia naÁsia. A evidência pode correspon-der à descrição de um sexto tipode malária humana.

Maíra Menezes e Vinicius Ferreira

A liberação dos mosquitos, iniciada na Ilha do Governador, seráencerrada até o final de 2018. Foto: Peter Ilicciev

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Deputados federais da Co-missão de Seguridade Sociale Família realizaram uma vi-sita técnica ao campus da Fi-ocruz em Manguinhos paraconhecer as instalações e pro-cessos de produção do Institutode Tecnologia em Imunobioló-gicos (Bio-Manguinhos). Os de-putados tiraram dúvidas eouviram explicações sobre a im-portância do Complexo Econô-mico e Industrial da Saúde(Ceis) para o desenvolvimen-to e a segurança sanitária dopaís. A comitiva foi compostapor Alexandre Serfiotis (PMDB-RJ), Benedita da Silva (PT-RJ),Chico D’Angelo (PT-RJ), JandiraFeghali (PCdoB-RJ), Laura Car-neiro (PMDB-RJ) e Odorico Mon-teiro (PSB-CE).

A visita teve o objetivo deesclarecer questionamentos so-bre a cooperação internacionalcom Cuba para a produção dealfaepoetina, o primeiro biofár-maco sintetizado 100% no Bra-sil, indicado no tratamento daanemia associada à insuficiên-cia renal crônica, incluindo ospacientes em diálise. Em maio,uma audiência pública realiza-da na Comissão de FiscalizaçãoFinanceira e Controle da Câ-mara debateu repasses de recur-sos para a compra da substância.Na ocasião, o então diretor deBio-Manguinhos, Artur Couto,realizou um convite para quecongressistas conhecessem as ins-talações produtivas da substância,aceito pelos parlamentares.

André Costa e Paulo Schueler

Deputadosfazem visitatécnica aBio-Manguinhos

A presidente da Fiocruz, Nísia Trin-dade Lima, assinou, em Brasília, umacordo de cooperação para o compar-tilhamento de recursos humanos e co-nhecimentos em Tecnologia daInformação (TI) com o Conselho Na-cional de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico (CNPq). Pelo acordo,as duas instituições se associam parafomentar, coordenar e executar pro-jetos de pesquisa em Ciência, Tec-nologia e Inovação em Saúde. A

Assinado acordo de cooperaçãotécnico-científica

cooperação técnico-científica geradapelo acordo vai significar novos esfor-ços das duas instituições no sentidode promover desde o desenvolvimen-to e operação de bancos de dados atéa adaptação de infraestrutura de TI emciência biomédica e saúde pública aochamado Big Data — expressão quese refere ao conjunto de dados com-plexos gerados a todo instante.

Wagner Vasconcelos

Desde 2000 o Brasil teve, pelo me-nos, três surtos de febre amarela silvestreem que a doença alcançou áreas das re-giões Sudeste e Sul que não registravamcasos há décadas. Recém-publicada narevista internacional Scientific Reports,uma pesquisa realizada pelo InstitutoOswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) mostra queestes episódios, relacionados a uma dis-tribuição espacial ampliada, ocorreramapós uma mudança no padrão de entra-da e de espalhamento do vírus da febreamarela no território brasileiro. A partirda análise das sequências genéticas devírus relacionados a 137 casos registrados

Estudo mapeia dispersãoda febre amarela no Brasil

em nove países das Américas entre 1954e 2017, os cientistas identificaram que va-riantes virais pertencentes a uma linha-gem moderna, introduzidas no Brasil pordiferentes caminhos a partir de países vi-zinhos, estiveram por trás dos casos noti-ficados nos últimos surtos. O trabalho éresultado de um esforço conjunto dos La-boratórios de Aids e Imunologia Molecu-lar, de Biologia Molecular de Flavivírus,de Mosquitos Transmissores de Hemato-zoários e de Genética Molecular de Mi-crorganismos do IOC/Fiocruz.

Maíra Menezes

Fiocruz e Ceará firmam parceriaem polo industrial da saúde

Por meio de um memorando de en-tendimento, o Governo do Ceará e a Fi-ocruz firmaram parceria para odesenvolvimento de ações integradasem pesquisa, desenvolvimento tecnológi-co e inovação na área da Saúde. A soleni-dade foi realizada durante visita ao PoloIndustrial e Tecnológico da Saúde, locali-zado no município de Eusébio, em Forta-leza. O Instituto Pasteur também integrouo ato e o Governo do Ceará articula acor-dos futuros com a entidade francesa. Omemorando assinado prevê apoio a pro-jetos em áreas estratégicas que contribu-

am para o desenvolvimento econômico esocial do Ceará no campo da saúde, emarticulação com instituições nacionais e in-ternacionais. A pactuação envolve organi-zação de cátedras de excelências, novosprogramas de pós-graduação e outras ini-ciativas de interesse das partes. O Gover-no do Ceará trabalha, junto à Fiocruz, nodetalhamento de edital. De início, serãoaproximadamente R$ 800 mil para im-pulsionar linhas prioritárias de pesquisa,como biotecnologia e saúde da família.

André Victor Rodrigues

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PESQUISA

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PLucas Rocha

esquisadores do Institu-to Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizaram osprimeiros sequencia-mentos completos do

genoma de amostras do vírus da febreamarela referentes ao surto que atingiuo país em 2017. Foram investigadasduas amostras de macacos oriundosdo Espírito Santo, mortos no final defevereiro. A análise apontou que osmicrorganismos pertencem ao subti-po genético conhecido como linha-gem Sul Americana 1E, que épredominante no país desde 2008. A

partir da sequência completa dogenoma do vírus foi pos-

sível constatar a presen-ça de variações emsequências genéticasque estão associadas aproteínas envolvidas nareplicação viral. Não há

registro anterior dessasmutações na literatura cientí-

fica mundial. Os pesquisadores en-volvidos na descoberta reforçam que

os impactos para a saúde pública ain-da precisam ser investigados e apon-tam para a necessidade de se avaliarmais amostras, relativas a locais di-ferentes e incluindo casos em huma-nos, macacos e mosquitos. Os resultadosdas análises foram divulgados na re-vista científica Memórias do Insti-tuto Oswaldo Cruz.

O estudo partiu de uma constata-ção que vem ganhando cada vez maisespaço: a atual situação de febre ama-rela no país conta com lacunas de en-tendimento sobre sua dinâmica dedispersão. O surto é o mais severo dasúltimas décadas, e a doença tem seespalhado de forma rápida, com epizo-otias e casos humanos diagnosticadosinclusive em locais considerados livresdo agravo há quase 70 anos. Os pes-quisadores do Laboratório de BiologiaMolecular de Flavivírus e do Laborató-rio de Mosquitos Transmissores de He-matozoários do IOC se dedicaram abuscar evidências que possam contribuirpara esclarecer uma pergunta importan-te: existe algo de diferente no vírus da

febre amarela que está circulando atu-almente? “Nesse momento, o compro-misso de cada um dos pesquisadoresdeve ser de gerar conhecimento na suaárea de especialidade e compartilhar asdescobertas, de forma acelerada, paraque possamos contribuir para preencherum mosaico de evidências que permitaajudar a explicar o cenário atual”, afir-ma a pesquisadora Myrna Bonaldo, che-fe do Laboratório de Biologia Molecularde Flavivírus, que coordenou o estudocom o pesquisador Ricardo Lourenço,chefe do Laboratório de Mosquitos Trans-missores de Hematozoários.

Origem dasamostrassequenciadas

Em uma colaboração com a Secre-taria de Vigilância em Saúde do Ministé-rio da Saúde (SVS), o Laboratório deMosquitos Transmissores de Hematozoá-rios vem atuando na coleta de amostrasde primatas e mosquitos em locais estra-tégicos para o estudo do risco de trans-missão e de re-emergência do ciclo urbanoda febre amarela. Foi neste contexto que,no final de fevereiro de 2017, o grupocoletou sangue de dois macacos bugios(da espécie Alouatta clamitans) que ado-eceram em uma área de mata no Espíri-to Santo, confirmou a infecção pelo víruse obteve o material genético para o se-quenciamento do genoma.

“Os bugios são especialmente im-portantes nas investigações sobre a fe-bre amarela por serem considerados‘sentinelas’: como são muito vulneráveisao vírus, estão entre os primeiros a mor-rer quando afetados pela doença. Alémdisso, estes animais amplificam eficien-temente o vírus em seu organismo, fa-vorecendo a infecção de mosquitos quehabitam as matas e a disseminação datransmissão silvestre, na qual os sereshumanos são infectados acidentalmen-te. Por isso, sua morte dispara um alertapara a possível presença do vírus em umalocalidade”, descreve Ricardo Lourenço,que combina as experiências como ve-

terinário e entomologista. As coletas fo-ram realizadas por Filipe Abreu, estudantede pós-graduação em Biologia Parasitá-ria do IOC, que atua na equipe lideradapor Lourenço. “Como há décadas nãose registrava febre amarela na MataAtlântica, pensei que não veria suas con-sequências na prática. Foi um enormeaprendizado ter a oportunidade de vi-sualizar e trabalhar, em campo, com ob-jeto de estudo da minha tese”, comentao jovem biólogo.

Análisedo genomado vírus

Após a extração do material gené-tico (RNA) das amostras, foi realizadoo processo de sequenciamento com-pleto do genoma, atividade que con-tou com o apoio da PlataformaTecnológica de Sequenciamento deDNA do IOC. As análises apontam paratrês principais evidências. Como pri-meira evidência, foi observada 100%de identidade entre as sequências ge-néticas dos vírus presentes nos animais– ou seja: os vírus tinham sequênciasgenéticas idênticas.

A segunda evidência foi a constata-ção da presença de modificações no có-digo genético dos vírus. Essas mutaçõesforam identificadas quando a sequênciagenética completa obtida foi comparadaà sequência genética completa de vírusrelacionados a surtos ocorridos desde adécada de 1980 no Brasil e na Venezue-la, país onde a linhagem Sul Americana1E também é predominante. Para a com-paração, foram usados bancos de dadosinternacionais dedicados ao depósito desequências genéticas.

A terceira evidência foi obtida naanálise das proteínas virais, em umpasso seguinte à constatação de mu-danças na sequência genética. “Deforma muito simplificada, o genoma éum código que tem o papel de orien-tar a produção de proteínas. Essas pro-teínas são a base da própria estruturado vírus, formando seus elementos

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proteínas relacionadas à replicação vi-ral, também foi observada uma modi-ficação na proteína C, que forma ocapsídeo (envoltório que protege o ma-terial genético no interior do vírus).

Necessidade denovos estudos

Myrna ressalta que as implicaçõesbiológicas e epidemiológicas do achadodependem de outros estudos e que maisdados são necessários para esclarecer oeventual papel das alterações genéticasdetectadas no contexto do atual surtoda doença. “Temos uma evidência queconstitui um elemento novo, algo quenão tinha sido observado antes. Porém,ainda não sabemos quais os impactosdessas mutações. Por esse motivo, con-sideramos fundamental imprimir veloci-dade à divulgação dos achados, para queos diversos grupos de pesquisa do paísque estão debruçados sobre o tema dafebre amarela possam considerar esseaspecto em suas análises. A ciência sefaz de forma colaborativa, com resulta-dos que vão se somando”, avalia.

Os pesquisadores enfatizam que o se-quenciamento do genoma de mais pató-genos circulantes no surto atual, tanto emcasos humanos, como em mosquitos e emmacacos infectados, é fundamental paracomplementar as evidências obtidas napesquisa. “Este é um resultado inicial. Nãopodemos generalizar, pois ainda não sa-bemos se esse vírus é predominante noatual surto”, afirma Lourenço.

Sobre um possível impacto para avacina disponível, os pesquisadoresexplicam que o imunizante adotadoatualmente protege contra genótiposdiferentes do vírus, incluindo o sul-ame-ricano e o africano. Além disso, as al-terações detectadas no estudo nãoafetam as proteínas do envelope dovírus, que são centrais para o funcio-namento da vacina. Eles ressaltam queas sequências genéticas completas dosvírus analisados no estudo já forampublicados no GenBank, de modo aestarem disponíveis para comparaçõesque possam ser realizadas por outroscientistas do Brasil e do mundo.

constitutivos, como as paredes dovírus, por exemplo. Podemos compa-rar o genoma a um roteiro: o vírus temum repertório de proteínas que são fa-bricadas a partir da informação do ge-noma. Algumas mudanças genéticasnão impactam as proteínas do vírus.Por isso, é importante observar se asvariações genéticas poderiam modifi-car o repertório das proteínas fabrica-das”, descreve Myrna, que é virologistamolecular e especialista em flavivírus.

Foi identificado que as mudançasno genoma estavam relacionadas aoito substituições de aminoácidos (asmoléculas que compõem as proteí-nas). Sete dessas substituições ocor-reram nas duas proteínas maisimportantes para a replicação vi-ral, conhecidas como NS3 e NS5.É o processo de replicação do ví-rus – multiplicação pela produ-ção de cópias de si mesmo –que garante que o microrga-nismo provoque a doença.Além do impacto sobre as

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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

onfirmando o seu com-promisso com a inte-gridade na divulgaçãocientífica, a revistaMemórias do Insti-

tuto Oswaldo Cruz aderiu ao Co-mitê de Ética em Publicação (Cope,na sigla em inglês). Criado no ReinoUnido, o grupo reúne mais de 10 milperiódicos internacionais. Além deobedecer a princípios de transparên-cia e boas práticas de publicação,que são avaliados para aprovaçãoda adesão, os participantes do Copeassumem o compromisso de respei-tar o código de conduta para edito-res de publicações científicas. Na listade padrões mínimos obrigatórios, odocumento traz normas que orien-tam o relacionamento com autores,leitores, conselho editorial e finan-ciadores; o processo de revisão porpares; e o enfrentamento de casosde má conduta científica, entre ou-tros aspectos.

“A adesão ao Cope confere umselo de qualidade à revista, atestan-do o compromisso com padrões deética na publicação”, afirma a pes-quisadora do Instituto Oswaldo Cruz(IOC/Fiocruz) Claude Pirmez, edito-ra-chefe das Memórias e integran-te do Fórum de Editores Científicosda Fiocruz. Além das Memórias,quatro periódicos publicados pela Fi-ocruz foram aprovados como mem-bros do grupo: Cadernos de SaúdePública; História, Ciências, Saúde– Manguinhos; Trabalho, Educa-ção e Saúde; e Vigilância Sanitá-ria em Debate: Sociedade, Ciência& Tecnologia.

CMaíra Menezes

Integridade eresponsabilidade

Desde 2005, Memórias é a revistamais citada da América Latina, alcan-çando mais de seis mil referências pu-blicadas em artigos científicos em 2015,segundo a última edição do Journal Ci-tation Reports. De acordo com Claude,a promoção da integridade e o comba-

te aos casos de má conduta científicasão aspectos fundamentais para a cre-dibilidade do periódico. “Nas Memóri-as temos processos estabelecidos quevão desde a pesquisa para verificar aocorrência de casos de plágio antes deaceitar um artigo para publicação até atransparência na retratação nos casosem que a má conduta ou o conflito deautoria são detectados posteriormente”,ressalta a editora.

Ética como prioridadeMemórias do Instituto Oswaldo Cruz passa a integrar Comitê de Éticaem Publicação, entidade internacional que reúne mais de 107 mil revistascomprometidas com código de conduta para editores

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desnutrição afeta aresposta imune frente ainfecções e, entre as di-ferentes formas de des-nutrição, a carência de

proteínas na dieta é uma das formasmais prejudiciais. A desnutrição pro-teica é um fator de risco conhecidopara o desenvolvimento da leishma-niose visceral. Em novo estudo, pu-blicado na revista internacionalScientific Reports, pesquisadores doInstituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)e da Universidade Nacional da Co-lômbia descrevem mecanismos queajudam a compreender essa asso-ciação nociva. O trabalho detalha al-terações da desnutrição proteica sobreo timo, órgão de maturação das cé-lulas de defesa conhecidas como linfó-citos T, o que pode prejudicar a respostaimune ao parasito Leishmania infantum,causador da doença. O impacto negati-vo da desnutrição no desenvolvimentodo agravo é mais um fator que caracte-riza uma situação social perversa: clas-sificada como doença negligenciada, a

AMaíra Menezes

leishmaniose afeta majoritariamen-te populações que vivem em condi-ções de pobreza, que também são asmais afetadas pela carência de proteí-nas na dieta – os dois aspectos se so-mam, com efeitos deletérios.

A investigação é liderada pelo La-boratório de Pesquisas em Leishmani-ose do IOC em parceria com o Grupode Investigação em Hormônios da Uni-versidade da Colômbia, com a cola-boração do Laboratório de Pesquisassobre o Timo do IOC. Realizado emcamundongos, animais consideradosmodelos para o estudo da leishmani-ose visceral, o trabalho dá sequênciaa uma pesquisa publicada pelo mes-mo grupo em 2014. Na ocasião, oscientistas identificaram atrofia e alte-ração na composição celular do timoem animais desnutridos e infectadospor L. infantum, o que foi acompa-nhado por um aumento precoce daquantidade de parasitos no baço, umdos principais órgãos afetados na leish-maniose visceral.

A nova pesquisa confirma os acha-

dos anteriores:os pesquisadoresobservaram que oscamundongos com ali-mentação saudável infectadospor L. infantum apresentaram au-mento de 31% no tamanho do timo,enquanto os animais com carênciade proteínas infectados pelo parasi-to sofreram redução de 34% no ta-manho do órgão. Uma vez que ocrescimento está associado com aproliferação e a mobilização de cé-lulas no timo para reagir à infecção,a redução do tamanho do órgão in-dica dificuldades na resposta imune.Paralelamente, a presença de para-sitos no timo foi verificada com maisfrequência no grupo com desnutri-ção, que também apresentou maiorcarga parasitária no baço.

PESQUISA

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Falhas namigraçãocelular

Após serem produzidas na medulaóssea, as células precursoras dos linfó-citos T migram para o timo, onde ama-durecem e se diferenciam, dandoorigem a subpopulações celulares queatuam na defesa do organismo. Issoacontece de duas formas: a ação dire-ta no combate às infecções intracelu-lares e a ação indireta por meio daativação de outros tipos de células de

defesa e da regulação da resposta imu-ne. Os pesquisadores observaram quea carência de proteínas pode prejudi-car tanto a chegada das células pre-cursoras ao timo, quanto o retorno delinfócitos T maduros para o órgão.Como resultado dessa combinação defatores, a resposta à infecção é preju-dicada.

Segundo o estudo, a capacidadede migração das células precursoras edos linfócitos T não é afetada, poréma desnutrição provoca uma queda sig-nificativa na produção de moléculasque compõem o microambiente dotimo – fundamentais para orientar odeslocamento celular durante o proces-

so de maturação. Por esse motivo, aentrada de células precursoras no ór-gão é reduzida e o processo de dife-renciação apresenta falhas. Ao mesmotempo, há dificuldade em atrair linfó-citos T maduros de volta para o timo,o que contribui para o descontrole dainfecção dentro do órgão.

Os autores destacam que não fo-ram encontradas evidências de que adesnutrição provoque um aumento damorte celular no timo, embora essa pos-sibilidade não possa ser descartada. Se-gundo eles, os resultados reforçam opapel do microambiente do órgão nocontrole da leishmaniose visceral. “Nos-sos dados mostram uma drástica des-regulação das moléculas migratórias notimo, o que afeta a entrada e a saídade linfócitos imaturos e maduros. Es-ses achados sugerem que a desnutri-ção tem um efeito deletério sobre aresposta imune mediada pelos linfóci-tos T, reduzindo a capacidade dos ani-mais privados de proteínas paracontrolar a proliferação dos parasitos”,concluem os cientistas.

Na ocasião, os cientistas identificaramatrofia e alteração na composição ce-lular do timo em animais desnutridose infectados por L. infantum, o que foiacompanhado por um aumento pre-coce da quantidade de parasitos nobaço, um dos principais órgãosafetados na leishmaniose visceral.

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Ministério da Saúde eo Instituto Nacional deSaúde da Mulher, daCriança e do Adoles-cente Fernandes Figuei-

ra (IFF/Fiocruz), em parceria com oInstituto Nacional de Câncer (Inca),lançaram o estudo Carga de doençaatribuível ao uso do tabaco no Brasile potencial impacto do aumento depreços por meio de impostos. O ta-bagismo é responsável por 6 milhõesde mortes ao ano em todo mundo,das quais, cerca de 5 milhões são

OJuliana Xavier

SAÚDE PÚBLICA

atribuídas ao uso do tabaco e maisde 600 mil são resultantes do taba-gismo passivo. No Brasil, 156.216mortes anuais, ou seja, 428 mortespor dia, são atribuídas ao tabagismo,o que corresponde a 12,6% das mor-tes que ocorrem no país. Deste total,34.999 mortes são por infarto agudodo miocárdio, 23.762 por câncer depulmão e 10.812 por acidente vas-cular cerebral (AVC). O tabagismotambém é responsável por 59.509 ca-sos de AVC, 73.500 novos diagnósti-cos de câncer e 378.594 pessoas

adoecem devido às doenças pulmo-nares obstrutivas crônicas (DPOC)anualmente.

“A magnitude deste fator de ris-co também é observada nos custosque ele gera para o país e que so-mam R$ 56,9 bilhões ao ano, dosquais, R$ 39,4 bilhões são referen-tes aos custos médicos e R$ 17,5 bi-lhões aos custos por perda deprodutividade. Este montante repre-senta 1% do Produto Interno Bruto(PIB) e a arrecadação de impostossobre a venda de cigarros cobre ape-nas 23% das perdas geradas pelotabagismo para o país”, explicouMárcia Pinto, pesquisadora do IFF euma das autoras do estudo.

A pesquisa teve coordenação ci-entífica da Fiocruz e do Instituto deEfectividad Clínica y Sanitaria (IECS)da Argentina. O estudo contou coma participação dos pesquisadoresMárcia Pinto, do IFF/Fiocruz, ArielBardach, Alfredo Palacios, AndreaAlcaraz, Belen Rodríguez, FedericoAugustovski, Andrés Pichon-Riviere,do IECS, e Aline Biz, do Instituto de

Estudo alerta para os danos ao desenvolvimento causados pelo tabagismo

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Infográfico: Fiocruz Paraná

Medicina Social, da Universidade doEstado do Rio de Janeiro (Uerj). OInca financiou a pesquisa por meiode um acordo técnico com a Orga-nização Pan-Americana da Saúde(Opas), e que também contou comuma série de subsídios de pesquisado Centro Internacional para o De-senvolvimento, do Canadá (IDRC).

No Brasil, a prevalência do taba-gismo vem se reduzindo nas últimasdécadas devido às ações adotadas,tais como a proibição da publicidadede cigarros nos meios de comunica-ção e pontos de venda e do consu-mo de derivados do tabaco emambientes fechados, a obrigatorieda-de de advertências nos maços e oprograma de controle do tabagismooferecido pelo SUS. Segundo a OMS,a medida mais efetiva para reduzir oconsumo de cigarros é o aumento depreços por meio da elevação dos im-postos, pois desencoraja a iniciação

de adultos e crianças e desestimulaos ex-fumantes a voltarem a fumar.“Apesar do aumento da carga tribu-tária, os maços de cigarros continu-am muito baratos no Brasi l . Aexperiência aqui e no mundo mos-tra que aumentar os impostos, e con-sequentemente os preços, é amedida mais eficiente para reduziro consumo, principalmente entre osjovens”, afirma a secretária-execu-tiva da Comissão Nacional para Im-plementação da Convenção Quadropara o Controle do Tabaco (Conicq),Tânia Cavalcante.

Tânia enfatizou que a propostado Conicq é a aprovação do proje-to de lei em tramitação no Congres-so Nacional que cria a contribuiçãode intervenção no domínio econô-mico, a Cide-Tabaco, nos moldes daCide-Gasolina. “Os ganhos para oscofres públicos são duplos, no au-mento da arrecadação e diminuição

dos custos de saúde. Mas o princi-pal são os ganhos para a saúde dapopulação”, comenta.

O estudo também simulou o queaconteceria no país nos próximos dezanos caso os preços dos cigarros fos-sem elevados em 50%. “A elevaçãode preços levaria a uma redução deconsumo que evitaria cerca de 136mil mortes, 507 mil infartos e outroseventos cardíacos, 100 mil AVCs e64 mil novos casos de câncer. Alémdisso, a redução do consumo trariaos seguintes ganhos econômicos,também em dez anos: R$ 32,5 bi-lhões de economia em custos de saú-de, R$ 45,4 bilhões de aumento emarrecadação tributária (já conside-rando a redução nas vendas de ci-garros) e R$ 20 bilhões de economiapor perda de produtividade evitada,gerando um benefício econômicototal de aproximadamente R$ 98 bi-lhões”, conclui Márcia.

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PESQUISA

pós decodificar 110 geno-mas do vírus zika a partirde amostras de pacien-tes e mosquitos de dezpaíses e territórios das

Américas, pesquisadores apontam que omicrorganismo circulou por meses sem serdetectado em diversos locais do continen-te. Divulgado na revista Nature, o estudoapresenta o maior banco de sequênciasgenéticas do patógeno já publicado. Aanálise desse conjunto, juntamente comoutros 64 genomas disponíveis na litera-tura científica, indica que o zika desem-barcou no Brasil entre agosto de 2013 ejulho de 2014, sendo o período mais pro-vável em fevereiro. Ou seja, cerca de umano antes de os primeiros casos seremidentificados, em abril de 2015. A partirdo país, o vírus se espalhou pelas Améri-cas e o padrão se repetiu: mesmo com achegada do agravo ao continente confir-

AMaíra Menezes

mada no Brasil, o zika passou desperce-bido por 4,5 a 9 meses em países comoPorto Rico, Colômbia, Honduras e na re-gião do Caribe, incluindo República Do-minicana, Jamaica e Haiti.

O estudo foi coordenado pela Fio-cruz, em parceria com o Instituto Broad,ligado ao Instituto de Tecnologia deMassachussets (MIT) e à Universidadede Harvard, nos Estados Unidos, e ou-tras instituições de pesquisa nacionais einternacionais. No Brasil, a colaboraçãoenvolveu o Centro de DesenvolvimentoTecnológico em Saúde da Fiocruz (CDTS),Instituto Nacional de Infectologia Evan-dro Chagas (INI/Fiocruz), Instituto Oswal-do Cruz (IOC/Fiocruz) e Instituto D’Or dePesquisa e Ensino (ID’Or). O trabalho con-tou com apoio Fundação Carlos ChagasFilho de Amparo à Pesquisa do Estadodo Rio de Janeiro (Faperj).

A publicação na Nature ocorre simul-

taneamente com outros dois trabalhosque investigam a genética do zika. Jun-tas, as três pesquisas apresentam cercade 200 genomas em circulação nasAméricas, ampliando significativamenteo conhecimento sobre como o surto dadoença se espalhou. “Até agora, tínha-mos pouca informação sobre a diversi-dade genética do vírus que circuloudurante a emergência de saúde pública.Os novos dados permitem compreendero padrão temporal e geográfico de dis-seminação do zika e apontam questõesimportantes para o monitoramento dadoença no futuro”, afirma Thiago More-no L. Souza, pesquisador do CDTS e umdos autores do estudo.

“A percepção de que o zika cir-culou durante meses em diversos paí-ses sem ser identificado traz questõesimportantes sobre a capacidade de de-tecção precoce de doenças emergen-

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17R E V I S T A D E M A N G U I N H O S | N O V E M B R O D E 2 0 1 7

tes. Esse resultado reforça a importân-cia da vigilância epidemiológica ativaacoplada a técnicas moleculares dediagnóstico e sequenciamento gené-tico, de forma que situações como essasejam percebidas antes de levarem aepidemias”, completa Fernando Boz-za, pesquisador do INI/Fiocruz e doID’Or, também autor do trabalho. Osautores ressaltam ainda que a cola-boração científica foi fundamentalpara os resultados alcançados. “O tra-balho confirma a capacidade de co-operação nacional e internacional daciência brasileira e mostra que as re-des colaborativas de pesquisa têm acapacidade de trazer uma visão maisabrangente para os estudos científi-cos”, ressalta Patrícia Bozza, chefedo Laboratório de Imunofarmacolo-gia do IOC/Fiocruz, também autorada pesquisa.

Barreira superadaA dificuldade para realizar o se-

quenciamento genético do zika a par-tir de amostras de sangue ou urina depacientes é um dos principais motivospara o baixo volume de genomas de-codificados anteriormente. Diferente-mente de outros vírus, como o ebolaou o dengue, o zika circula em baixosníveis no organismo e por um curtoperíodo de tempo. Diante da peque-na quantidade de partículas virais pre-sentes nas amostras, os pesquisadoresutilizaram técnicas recentes que per-mitem amplificar o material genéticomesmo nas condições adversas paraa análise apresentadas no caso dozika. Dessa forma, foi possível reali-zar o sequenciamento dos genomasem 110 das 229 amostras analisadas.A abordagem permitiu ainda dispen-sar a etapa de isolamento viral, feitapor meio da incubação em culturas decélulas – procedimento que consisteem colocar as amostras contendo ovírus em contato com células, para queestas sejam infectadas e o microrga-nismo se replique.

“Quando o vírus se replica em cultu-ra de células, ele pode sofrer mutações.Por isso, o sequenciamento do genomadiretamente a partir de amostras clínicas

é um fator importante, que traz resulta-dos mais fidedignos”, ressalta o pesqui-sador Wim Degrave, do Laboratório deGenômica Funcional e Bioinformática doIOC, que participou do estudo.

Comparando os genomas dos mi-crorganismos, os pesquisadores identi-ficaram mutações sofridas pelo zika nopercurso durante a disseminação nasAméricas, o que permitiu reconstruir ohistórico do surto. Com base nas se-melhanças e diferenças entre as se-quências genéticas, os cientistasmontaram a árvore filogenética dosmicrorganismos – similar a uma árvoregenealógica. Nessa estrutura, os vírusdo Brasil aparecem mais próximos daraiz da árvore, indicando que o país éa origem do surto no continente. Se-gundo a análise filogenética, Colôm-bia, Honduras e Caribe foram rotas deespalhamento do vírus. Nos EstadosUnidos, o zika aparece a partir demúltiplas entradas oriundas do Caribe.

Alerta para o futuroAlém de mapear o passado, a aná-

lise da variação genética do zika trazinformações importantes para o moni-toramento futuro da doença. Ao todo,os pesquisadores identificaram cerca demil variações, sendo aproximadamen-te 200 chamadas de mutações nãosinônimas, ou seja, que causam mu-danças nas proteínas do vírus. Embo-ra o possível impacto dessas alteraçõessobre as funções virais ainda tenha queser investigado, o estudo alerta sobrea necessidade do monitoramento con-tínuo para preservar a eficácia dosmétodos moleculares de diagnósticoda doença. Para o diagnóstico mole-cular, baseado na detecção do ma-terial genético do vírus em umaamostra, são utilizadas pequenas se-quências de nucleotídeos – conheci-das como iniciadores ou sondas – quese ligam a segmentos específicos dogenoma do zika. É esse “encaixe”bem-sucedido que permite identificara presença do patógeno.

“Observamos que alguns dessessegmentos já acumulam mutações. Esseprocesso ainda não prejudica comple-tamente o desempenho dos métodos

de diagnóstico, mas é fundamental queisso seja acompanhado para que adap-tações sejam feitas quando necessário”,comentou o virologista Edson Delator-re, pós-doutorando do Laboratório deAids e Imunologia Molecular do IOC,que também participou do trabalho.

Considerando os resultados da pes-quisa, os autores destacam ainda opotencial das ferramentas de análisegenética para melhorar a resposta dospaíses diante de doenças emergentes.“A genômica nos permitiu reconstruircomo o vírus viajou e mudou atravésda epidemia – o que também significaque poderia ter ajudado a detectá-lomuito mais cedo. Estávamos muitoatrasados em relação ao zika. Precisa-mos estar bem à frente da próximaameaça viral emergente, e a genômi-ca pode ter um papel nisso”, comen-tou a pesquisadora Bronwyn MacInnis,do Programa de Doenças Infecciosas eMicrobioma do Instituto Broad.

Em um texto de análise publica-do na seção News and Views da Na-ture, o pesquisador Michael Worobey,da Universidade do Arizona, nos Es-tados Unidos, avalia que os três tra-balhos recém-publicados estabelecemum novo padrão para o que pode seralcançado através do estudo de sur-tos de doenças a partir de sequênci-as genéticas rapidamente obtidas eanalisadas em um poderoso quadrocomputacional. No comentário sobreos estudos, o cientista – que não es-teve envolvido nas pesquisas – prevêque a próxima etapa será levar essetipo de abordagem às ações de roti-na para a identificação precoce denovas ameaças.

“Essa abordagem pode ser cons-truída a partir das técnicas aplicadasnos estudos recém-publicados. Qual-quer ilusão de que isso seria proibitiva-mente caro deve ser dissipada pelacerteza de futuros surtos terão preçosde bilhões ou trilhões de dólares e cau-sarão um sofrimento humano inacei-tável”, afirmou.

Artigo: HC Metsky et al. Genomesequencing reveals Zika virus diversityand spread in the Americas. Nature.DOI: 10.1038/nature22402 (2017).

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SOCIEDADE

uase dois anos após asprimeiras correlações en-tre o aumento dos casosde microcefalia e a infec-ção pelo vírus zika em ges-

tantes, a ciência avançou e deu respostasimportantes no acompanhamento tantodas gestantes, quanto das crianças. Con-tudo, existe outro lado deste cenário queainda carece de atenção. Trata-se do as-pecto social do que hoje é chamado deSíndrome Congênita do Zika (SCZ). “Emum primeiro momento a preocupaçãomaior era com a clínica e com as medi-das de prevenção ao mosquito. O quenos deparamos agora é com a necessi-dade de chamar atenção para pesquisasno campo das ciências sociais e huma-nas, relacionadas às experiências que es-sas famílias trazem a partir de situaçõesque inclusive não foram passíveis deescolha”, destaca a psicóloga e coor-denadora de Ensino do Instituto Na-cional de Saúde da Mulher, daCriança e do Adolescente Fernan-des Figueira (IFF/Fiocruz), MarthaMoreira.

No Rio de Janeiro, umaassociação de mulheres comfilhos nascidos após a epi-demia, chamada Mães deAnjos Unidas, tem pro-movido ações com o in-

QAline Câmera

tuito de gerar uma mobilização não ape-nas para a questão assistencial envolvi-da, mas também para a necessidade dagarantia de direitos. Assim como Martha,profissionais do Instituto têm acompanha-do de perto os movimentos das famílias,que já contou com passeatas e manifes-tações pela cidade. “Quando a gente vaipara as ruas junto com essas mães, esta-mos ajudando as famílias a chamar aten-ção da sociedade e do Estado para anecessidade da existência de um conjun-to de medidas de caráter intersetorial, queenvolva o cuidado, mas também a ga-rantia de emprego, entre outras questões.Este conjunto de iniciativas dialoga coma necessidade identificada pela Fiocruz decriação da Rede de Ciências Sociais e Hu-manidades, frente à epidemia de zika,coordenada pela presidente da Fiocruz,Nísia Trindade”, pontua.

A assistente social do IFF AlessandraGomes também acompanha de pertoesta realidade, seja nos grupos de aco-lhimento às famílias do Instituto seja noprojeto de pesquisa que ela está coorde-nando, com o intuito de traçar caminhospara o enfrentamento das implicaçõessociais da SCZ. O estudo é pautado naanálise das experiências das famílias:“através dos relatos percebemos umadificuldade muito grande no acesso àsredes de atendimento, direitos e benefí-cios sociais, o que tem se agravado coma crise do Estado e, mais especificamen-te, com a situação do Rio de Janeiro.Através desses espaços de fala e trocacom os pais, promovemos um canal deaproximação entre a família e a equipe.A construção deste vínculo de confiançaé fundamental para a continuidade dotratamento”, sinaliza Alessandra.

Evento reúneiniciativas voltadaspara a SCZ

A experiência da assistente socialdo IFF se juntou a outras muitas desen-volvidas pelo país na programação da1ª Feira de Soluções para a Saúde, coma temática da zika. Entre uma amplaagenda composta por conferências, ofi-cinas, rodas de conversas e simpósios,

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chamou atenção de quem passou pe-las salas do Senai/Cimatec de Salva-dor, no início de agosto, a mobilizaçãoda sociedade para propor alternativasque, de alguma forma, pudessem aten-der às necessidades que as famílias co-nhecem bem. “Ver como a sociedadese organizou para mostrar soluções queteoricamente seriam responsabilidadedo Estado, foi o mais interessante”, res-salta Maria Elisabeth Moreira, coorde-nadora de Pesquisa do IFF.

Maria Elisabeth esteve, junto coma fisioterapeuta Miriam Calheiros, àfrente da proposta Caixa e Bacia. Ainiciativa, realizada em parceria comas ONGs Movimento Down e Movi-mento Zika, tem como proposta a cri-ação de brinquedos a partir demateriais de baixo custo. “As artesãsdo Movimento de Ação e InovaçãoSocial (Mais), Flávia Oliveira e MariaAntônia Goulart, produziram brinque-dos que foram validados pela equipetécnica do IFF em relação às necessi-dades das crianças. A partir de obje-tos simples que todos temos em casa,como caixas, rolos e alguns utensíliosde papelaria, montamos os brinque-dos e colocamos as crianças para brin-car. As mães ficaram encantadas comas respostas que as crianças davam.Uma vez que a gente posicionava acriança na bacia, por exemplo, erapossível observar a mudança na pos-tura e a interação com os estímulos”,afirma Miriam.

A recepção das mães foi tão posi-tiva que no dia seguinte elas tiverama iniciativa de levar por conta própriaos materiais que tinham em casa esolicitaram que a equipe do Institutopromovesse uma oficina para queaprendessem a produzir os brinquedos.“As mães aprenderam e cada umadelas levou para casa o seu própriobrinquedo para realizar atividades comseus filhos. Conseguimos envolveraquelas mães em um estímulo possí-vel para as crianças”, afirmou MariaElisabeth. “Empoderar a família, aju-dá-la a compreender melhor a condi-ção da criança e enxergar as suaspotencialidades: isso é promover a saú-de”, completa Miriam.

Durante a Feira, diversos espaços

foram pensados para darvoz às associações de mãese grupos que estão traba-lhando a questão da prote-ção social. Participandocomo consultora técnica damaratona tecnológica Ha-ckathon, Miriam descrevecomo foi a atividade: “Mi-nha função era apontar asdemandas específicas desaúde que estão envolvidasno contexto do zika. Masdiante de tantas mãespresentes pensei que seriainteressante uma aproxima-ção entre elas e as equipesde desenvolvedores de tec-nologias. O contato dos pro-fissionais com a realidadepermitiu que eles pensas-sem protótipos de produtosfactíveis tanto na área da vi-gilância, quanto em possi-bi l idades de bancos dedados que permitam o cru-zamento de informaçõessobre o atendimento a es-sas crianças”.

No campo da gestão, noque tange diferentes estraté-gias de qualificação e forma-ção da sociedade civil e dosprofissionais envolvidos na epi-demia, a coordenadora de De-senvolvimento Institucional doIFF, Maria Auxiliadora Gomes,teve a oportunidade de apre-sentar o programa de mestra-do profissional com ênfaseem zika, lançado no início des-te ano. “O mestrado profissi-onal está inserido no contextoda resposta institucional da Fi-ocruz ao quadro de emergên-cia sanitária relacionada àinfecção pelo vírus e seuimpacto na saúde de mulhe-res e de crianças, com des-taque na abordagem dasdimensões epidemiológi-cas, humanas e sociais ena necessidade de defini-ção de modelos de preven-ção e cuidado”, concluiMaria Auxiliadora.

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

sta edição da Revista deManguinhos é dedicadaa uma área que está en-tre as mais importantes daFiocruz e que dela faz

parte praticamente desde o nascimentoda instituição, ainda nos tempos do pa-trono Oswaldo Cruz.O universo do ensi-no na Fundação é imenso. São cursostécnicos integrados ao Ensino Médio etambém subsequentes a este, Educaçãode Jovens e Adultos, cursos de especiali-zação, aperfeiçoamento e atualização,presenciais e a distância, mestrado e dou-torado. A Fiocruz tem hoje 30 programasde pós-graduação stricto sensu acadêmi-co (sendo 5 em participação com outrasinstituições) e 16 de stricto sensu profissi-onal (1 em participação). E conta aindacom 50 cursos lato sensu, pelos quaispassam milhares de alunos anualmente.A área de ensino existe em todas as uni-dades da Fundação, no Rio de Janeiro eem outros estados. E a partir deste anoos Programas de Pós-Graduação da Fio-cruz têm cotas para negros (pretos e par-tos), indígenas e pessoas com deficiência.

Nas páginas seguintes, o vice-presi-dente de Educação, Informação e Co-municação da Fiocruz, Manoel BarralNetto, faz uma análise das mais recen-tes conquistas do setor e chama a aten-ção para os retrocessos que a atual criseeconômica e política que o país vivepodem ocasionar na área da educaçãoem saúde. Outro texto relata os bonsresultados que mais uma vez os cursosde pós-graduação da Fiocruz obtiveramna avaliação da Coordenação de Aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Superi-or (Capes), divulgada em setembro.

Também nesta edição, o credencia-mento dos cursos lato sensu da Funda-ção por meio de portaria do MECeditada este ano. Além de reportagenssobre a Escola Corporativa Fiocruz, aEscola de Governo Fiocruz, o CampusVirtual, a origem do ensino na institui-ção, os projetos político-pedagógicos daEscola Nacional de Saúde Pública Ser-gio Arouca e da Escola Politécnica deSaúde Joaquim Venâncio, entre outras.

E

Ensino naFiocruz: umimenso universo

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O vice-presidente de Educação,Informação e Comunicação daFiocruz, Manoel Barral-Netto(Foto: Peter Ilicciev)

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frente da Vice-Presi-dência de Educação,Informação e Comu-nicação (VPEIC) da Fi-ocruz desde o início

de 2017, Manoel Barral-Netto, ana-lisa, em entrevista, os avanços quea instituição vem conquistando nes-

AFlávia Lobato*

Como resultado de um impor-tante processo interno de integra-ção, a Fiocruz foi chancelada peloMinistério da Educação como Esco-la de Governo. Qual o papel da Es-cola frente às demandas do SistemaÚnico de Saúde (SUS)?

Manoel Barral-Netto: A Escola deGoverno da Fiocruz vai permitir potenci-alizar esta ação integrada, envolvendotodas as unidades organizacionais paradesenvolver, expandir e consolidar nossopapel de formação de pessoal para o SUS.Dentre vários modelos de escola de go-verno, a Fiocruz adotou o da formação,capacitação e qualificação de pessoal nãosó para a instituição (ação desempenha-da pela Escola Corporativa da Fiocruz),mas a de uma atuação ampliada, volta-da para todo o SUS. Isso contribui, justa-mente, para fortalecer a articulação entreas diferentes unidades, que trabalham emdiversas dimensões do Sistema.

O senhor atuou diretamente emcargos de liderança no Conselho Na-cional de Pesquisa e Desenvolvimen-to Tecnológico (CNPq), vinculado aoMinistério da Ciência e Tecnologia eInovação (MCTI) e em funções no mi-nistério. Diante da crise que o Brasilatravessa, que medidas vêm sendo to-madas pela Fiocruz junto ao Gover-no Federal e seus órgãos paraassegurar a manutenção dos progra-mas, projetos e iniciativas prioritári-as que estimulem o campo daeducação em saúde?

Barral-Netto: Essa é uma crise bemgrande, com reflexos importantes paratodas as áreas. Além dos próprios esfor-ços da Fiocruz junto ao Governo Federal,temos nos associado a outras instituiçõespúblicas para defender o campo da saú-

de e da ciência, tecnologia e inovação(C&T&I), destacando sua importância parao desenvolvimento do país.

Entre nossas ações no campo da saú-de, temos sinalizado para o quadro dra-mático que pode ocorrer, e que já vemocorrendo, no que diz respeito à disse-minação de epidemias como as das ar-boviroses, por exemplo. Uma falha nosistema da vigilância ou em desenvolvi-mento tecnológico pode ser bastantedanosa ao país. Devemos destacar comoa ciência e tecnologia do Brasil vem en-frentando a epidemia de zika e ressaltara relevância do trabalho da Fiocruz: fo-mos e temos sido muito atuantes, contri-buindo significativamente para evidenciare esclarecer diversas questões e aspectosaté então desconhecidos da comunida-de científica e de toda a comunidade desaúde. Vale lembrar que foi a ciênciabrasileira, com muita relevância da Fio-cruz, que comprovou os efeitos do vírusno sistema nervoso central de crianças(que antes não eram relacionados àzika). A Fundação continua com os es-tudos de coorte, analisando a evoluçãodesses casos; desenvolveu métodos di-agnósticos muito rapidamente e para ouso em massa no sistema de saúde doBrasil, e tem trabalhado de forma inten-sa para esclarecer e resolver dificulda-des apresentadas por esta arbovirose.

Também destaco os esforços que acomunidade tem feito com forte partici-pação da Fiocruz diante da epidemia dechikungunya que estamos enfrentando.Reduzir as atividades nesse campo podecomprometer mesmo e muito a nossacapacidade de resposta.

O fortalecimento das ações emeducação passa também pela arti-culação e o relacionamento externos.Que iniciativas a VPEIC desenvolveneste sentido?

Barral-Netto: A internacionalizaçãoé uma exigência clara da evolução daciência e da formação de pessoal nestaárea. Hoje não é possível imaginar umdesenvolvimento realmente efetivo emC&T&I sem participação da comunida-de brasileira no ambiente internacional,seja atraindo o pessoal estrangeiro parao Brasil, seja com participação de brasi-leiros em atividades internacionais. Maisdo que uma tendência, a internacionali-zação é uma resposta a mudanças quetêm ocorrido na sociedade, que deman-dam múltiplas estratégias.

A VPEIC vem trabalhando intensa-mente neste sentido. Recentemente, assi-namos um acordo com a Organização dosEstados Ibero-Americanos (OEI), que per-mitirá a Fiocruz atuar de forma mais har-mônica e intensa com os países da Américae da Península Ibérica. Inicialmente isso vaise dar em grande parte por atividades doCampus Virtual Fiocruz, mas estamos ex-plorando outras ações na área de educa-ção. Outra iniciativa é o envio de umaproposta da Fiocruz, por meio do MCTI,para o estabelecimento de um centro daUnesco [Organização das Nações Unidaspara a Educação, a Ciência e a Cultura] decapacitação de pessoal em saúde, tornan-do ou propondo que a Fundação se torneum centro destinado a essa atividade.

Destaco também que lançaremos,em breve, a chamada da quinta turmado Mestrado em Biociências da Fiocruzem Moçambique. Essa é uma experiên-cia muito exitosa: nas quatro turmas an-teriores foram formados, em nove anos,50 mestres em Moçambique, todos inse-ridos e atuando no sistema de saúde mo-çambicano, reforçando o Instituto Nacionalde Saúde daquele país. Os moçambica-nos também fazem uma avaliação muitopositiva e têm interesse na continuidadedeste trabalho.

tas áreas. Ele destaca a chancela doMinistério da Educação (MEC) à Es-cola de Governo da Fiocruz e seumodelo de atuação ampliada, vol-tada a todo o Sistema Único de Saú-de (SUS). Barral também comentaas medidas que a Fundação tem to-mado para assegurar a manutenção

dos programas, projetos e iniciati-vas prioritários que estimulem ocampo da educação em saúde. Naspáginas seguintes, outras reporta-gens mostram a dimensão e a am-plitude desse campo, importante desdea concepção da instituição por seu pa-trono Oswaldo Cruz.

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Por falar nisso, sabemos que noexterior os vínculos entre alunos, pro-fissionais e as instituições são bas-tante valorizados, mesmo após o fimdos cursos. E que vem sendo gesta-do na VPEIC um programa de relaci-onamento com os egressos. Contemais sobre a iniciativa e de que for-ma o programa pode contribuir paraque todas estas dimensões que o se-nhor abordou antes se articulem?

Barral-Netto: Sim, estamos mon-tando e aprimorando internamenteum programa para o relacionamentomais efetivo da Fiocruz com seusegressos. Nosso foco são aqueles quefizeram atividades educacionais aquimas que estão atuando fora da insti-tuição e contam com menos informa-ções sobre a possibilidade de formaçãocontinuada. A ideia é manter esses vín-culos culturais – e mesmo afetivos –com a instituição, reaproximando-osda Fundação. Queremos fazer um pro-grama forte, que alcance e mobilizeos egressos, a fim de ampliar a capa-cidade e o potencial das redes de co-nhecimento da Fiocruz.

Educação, informação e comuni-cação são áreas bastante dinâmicas,principalmente considerando suasrelações com ciência e saúde. Nestesentido, como a VPEIC tem se orga-nizado para acompanhar as diversastransformações destes campos. Queiniciativas o senhor destaca?

Barral-Netto: Toda a Fiocruz estáenvolvida em atuar de acordo com asdemandas contemporâneas e buscan-do as soluções adequadas para respon-der aos desafios da atualidade. E nestesentido há um forte componente tec-nológico e digital. Há quase 20 anos aEscola Nacional de Saúde Pública Ser-gio Arouca (Ensp/Fiocruz) deu início aeducação à distância. Na verdade, háuma tradição nessa área, já que, alémde estar ampliando seus cursos à dis-tância, a Fundação está investindo emplataformas e serviços educacionais,como ambientes de aprendizagem, vi-deoaulas e recursos educacionais aber-tos, por meio do Campus Virtual Fiocruz.

Tudo isso, aliás, só mostra a impor-

tância de investirmos na formação e qua-lificação de nossos professores. Dois ter-ços dos doutores e mestres brasileiros têmum componente educacional na sua ati-vidade profissional, e eles saem da mai-oria dos cursos sem uma formação maissólida na área de pedagogia, metodolo-gias ativas e tecnologias educacionais. Énecessário que esse campo seja incluídonas atividades da nossa pós-graduação.

A Câmara Técnica de Educação daFiocruz está discutindo uma proposta, comuma boa receptividade, para que tenha-mos alguns tópicos transversais em todosos cursos da pós-graduação. Os cinco gran-des campos identificados são: (1) bioética,que já está mais desenvolvida e muito maisconsolidada em praticamente todos os

cursos, mas ainda precisamos integrar es-forços, havendo mais intercâmbio de atu-ações; (2) biossegurança, que também estánum estágio mais consolidado; e outrasáreas em que notamos a presença em unscursos e nem tanto em outros programas,que são (3) comunicação social da ciên-cia; (4) integridade científica; e (5) ciênciaaberta. Então, precisamos de um esforçopara incluir esses cinco temas em todos osnossos cursos, a depender de suas neces-sidades e possibilidades, mas com algumnível de reflexão sobre esses aspectos emtodos. E nós estamos trabalhando para vi-abilizar essa oferta.

*Colaborou Matheus Cruz(estágio supervisionado)

Barral-Netto: “A internacionalização é uma exigência clara da evoluçãoda ciência e da formação de pessoal nesta área.” (Foto: Arquivo CCS)

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

s cursos de pós-graduaçãoda Fiocruz voltaram a sedestacar na avaliação daCoordenação de Aperfei-çoamento de Pessoal de

Nível Superior (Capes), divulgada em 19de setembro. Nove programas aumenta-ram a sua nota – sendo seis cursos comnota máxima – e 20 ficaram com notasiguais ou acima de 5, o que significa umdesempenho muito bom. Foram avalia-dos 42 cursos da Fundação, de mestradoacadêmico e doutorado, e mestrado pro-fissional, alguns em rede ou em colabo-ração com outras instituições.

“O resultado é fruto de anos de tra-balho desenvolvido por vice-diretores deEducação, coordenadores de programasde pós-graduação, profissionais das secre-tarias acadêmicas, professores e alunos dainstituição, comprometidos com o papelestratégico da Fiocruz na formação de re-cursos humanos para o Sistema Único deSaúde (SUS) e com o ensino de excelên-cia acadêmica”, ressaltou o vice-presiden-

OLeonardo Azevedo

te de Educação, Informação e Comunica-ção da Fiocruz, Manoel Barral. Para a co-ordenadora-geral de Pós-Graduação daFiocruz, Cristina Guilam, esses resultadosrefletem, entre outras questões, a integra-ção entre os diversos programas das uni-dades da Fundação, no Rio e nos demaisestados. “A integração entre programaslevou a um fortalecimento do ensino nainstituição, que agora colhe os frutos. É umaestratégia vitoriosa, que já praticamos emvárias experiências de ensino no país e forae vamos reforçar cada vez mais. Assim ainstituição cumprirá, de maneira ainda maisconcreta, os seus compromissos com a for-mação e a capacitação de recursos huma-nos”, afirma Cristina.

Na modalidade mestrado acadêmi-co e doutorado, nove programas da Fio-cruz tiveram desempenho equivalente apadrões internacionais de excelência,com notas 6 e 7, e fazem parte do seletogrupo que reúne 11% dos programas ava-liados no Brasil. Os programas em Biolo-gia Celular e Molecular e em Biologia

Parasitária, ambos do Instituto OswaldoCruz (IOC/Fiocruz); e Ciências da Saúde,do Instituto René Rachou (IRR/Fiocruz Mi-nas), receberam a nota máxima (7.)

Quatro programas tiraram nota 6:Biotecnologia em Saúde e MedicinaInvestigativa e de Patologia Humana,ambos do Instituto Gonçalo Moniz(IGM/Fiocruz Bahia), sendo o último emcolaboração com a Universidade Fede-ral da Bahia (UFBA); Ensino em Bioci-ências e Saúde e de Medicina Tropical,ambos do IOC; de Saúde Pública e deEpidemiologia em Saúde Pública, daEscola Nacional de Saúde Pública Ser-gio Arouca (Ensp/Fiocruz).

Mestradoprofissional

Três programas de mestrado profis-sional receberam a nota máxima, queé 5. São os programas de Saúde Públi-ca e de Epidemiologia em Saúde Públi-ca, da Ensp; e de Vigilância Sanitária,do Instituto Nacional de Controle deQualidade em Saúde (INCQS). Mais seisprogramas ficaram com nota 4: de Pre-servação e Gestão do Patrimônio Cul-tural das Ciências e da Saúde, da Casade Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz); de Tec-nologia de Imunobiológicos, do Institu-to de Tecnologia em Imunobiológicos(Bio-Manguinhos/Fiocruz); de SaúdePública, do Instituto Aggeu Magalhães(IAM/Fiocruz Pernambuco); de Gestão,Pesquisa e Desenvolvimento na Indús-tria Farmacêutica, do Instituto de Tec-nologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz); de Saúde da Criança e da Mu-lher, do Instituto Nacional de Saúde daMulher, da Criança e do AdolescenteFernandes Figueira (IFF/Fiocruz); e deSaúde da Família, da Rede Nordeste deFormação em Saúde da Família (Renasf),coordenada pela Fiocruz Ceará.

Nota máximaProgramas de pós-graduação se destacam em avaliação da Capes

A coordenadora-geral de Pós-Graduação da Fiocruz, Cristina Guilam,e o coordenador-adjunto, Milton Moraes (Fotos: Peter Ilicciev)

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

Ministério da Educação(MEC) publicou em abril,no Diário Oficial daUnião, uma portaria quecredencia o funciona-

mento da Escola de Governo da Fiocruz(EGF). A Portaria N.º 331/2017 regula-riza a oferta de cursos de pós-gradua-ção lato sensu, presenciais e a distância,oferecidos pelas unidades da instituição.A Fiocruz oferta cerca de 50 cursos latosensu por ano. Em 2016, mais de 5 milestudantes concluíram a especializaçãona Fundação. Em 2017 são 45 cursoslato sensu, sendo 43 presenciais e 2 namodalidade EAD, com 707 vagas.

O credenciamento, válido pelo pra-zo de oito anos, garante a validade detodos os certificados de cursos lato sen-su emitidos pela Fiocruz até hoje. Alémdisso, garantirá maior governabilidadeinstitucional para o planejamento daoferta de cursos da modalidade, possi-bilitando a definição de metas institu-cionais para este segmento do ensino.

O processo de credenciamento foiiniciado em maio de 2015, coordena-do pela Vice-Presidência de Educação,Informação e Comunicação (VPEIC).Em setembro de 2016 a Secretaria deRegulação do Ensino Superior (Seres/MEC) encaminhou parecer favorável aocredenciamento da Fiocruz como Es-cola de Governo ao Conselho Nacio-nal de Educação (CNE). Durante todoo processo, foram realizadas oficinas eações integradas entre a VPEIC e asunidades. Os colaboradores Tânia Ce-leste e Paulo Carvalho – este com dezanos de experiência na Escola Nacio-nal de Administração Pública (Enap)e que se juntou à equipe da Fiocruz –estiveram à frente desse processo, queteve a participação ativa de profissio-nais de diferentes áreas e unidades da

OLeonardo Azevedo e Ricardo Valverde

instituição. O então presidente da Fi-ocruz, Paulo Gadelha, e a vice-presi-dente de Ensino na época e atualpresidente, Nísia Trindade Lima, tive-ram papel determinante nessa articu-lação institucional.

”Nísia participou de cada passodessa que é uma construção históri-ca no campo do trabalho e da edu-cação, na Fiocruz”, afirma Tânia, quefoi vice-presidente de Ensino da Fun-dação. Segundo ela, “a perspectivada Escola de Governo é atuar emperfeita sintonia com as unidades daFundação, estreitando os laços da ins-tituição com as políticas de saúde eapoiando iniciativas que fortaleçama assistência pública de saúde, a vi-gilância e a gestão do sistema e dosserviços de saúde. Também de gran-de importância são as ações que in-tegram o Estado e a sociedade, em

que os Conselhos de Saúde têm es-paço privilegiado”.

Tânia lembra que a Fiocruz temuma tradição bem plantada de difu-são do conhecimento, pilotada porgerações de docentes e pesquisado-res, inicialmente do Instituto Oswal-do Cruz e depois das demaisunidades, ao longo das décadas.Uma vocação, acrescenta ela, vin-culada ao pensamento crítico, à saú-de coletiva, ao enfrentamento dasquestões sociais e que levou à cria-ção do Sistema Único de Saúde(SUS). A partir da experiência acu-mulada na área do ensino e da ri-queza e diversidade da Fundação,foi sistematizado o Projeto Político-Pedagógico (PPP) comum e elabo-rado o Plano de DesenvolvimentoInstitucional (PDI) 2016-2020, condi-ções para o credenciamento.

Uma grande conquistaMEC publica credenciamento da Fiocruz para cursos lato sensu

Paulo Carvalho: o credenciamento da EGF mostra a evolução do conceitodentro da Fundação, deixando claro que a instituição tem o componenteescola de governo (Foto: Ágda Sampaio)

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A avaliação externa realizada peloInstituto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais Anísio Teixeira(Inep) foi outro passo importante ocor-rido em junho de 2016, no qual osavaliadores destacaram a forma comoa Fiocruz se preparou para o proces-so, em especial a qualidade do PDI2016-2020 e o engajamento demons-trado pelos trabalhadores da institui-ção de diversos segmentos.

O credenciamento da EGF mostraa evolução do conceito dentro da Fun-dação, deixando claro que a institui-ção tem o componente escola degoverno, que se materializa em todasas suas unidades, dedicadas às ativi-dades educacionais e à oferta de instru-mentos e recursos para o fortalecimentoda força de trabalho do sistema públicode saúde, nas três esferas de gestão(federal, estadual e municipal). Deacordo com Paulo Carvalho, “o cre-denciamento institucional estabelececompromissos para a Fiocruz no aten-dimento a requisitos apresentadospelos órgãos reguladores do ensino,que envolvem a consolidação e atu-alização permanente de Projeto Po-l í t ico-Pedagógico, de Plano deDesenvolvimento Institucional, assimcomo de processos de autoavaliaçãoinstitucional por meio de uma CPA.Tais condições implicam considerare garantir a autonomia das unida-des, mas buscando a articulação eharmonização entre as informaçõese as propostas dos diversos progra-mas educacionais implementados”.

CPAUm fruto importante deste pro-

cesso foi a criação da Comissão Pró-pria de Avaliação (CPA), responsávelpor coordenar e implementar o pro-cesso de autoavaliação institucionalrelacionada à oferta de cursos de pós-graduação lato sensu pelas unidadesda Fundação. Tal processo envolvetoda a comunidade da Fundação: do-centes, alunos, técnicos-administra-tivos e dirigentes.

A criação da CPA foi também umaexigência para o credenciamento ins-titucional da Fiocruz como Escola de

Governo, para a regularização da ofer-ta de seus cursos de pós-graduaçãolato sensu. Anos antes o Conselho Na-cional de Educação extinguira o cha-mado credenciamento especial quepossibilitava aos ofertantes de especi-alizações, que não fossem Instituiçõesde Ensino Superior (IES), ofertaremesse tipo de curso. A regulação seguin-te permitiu que as escolas de gover-no, desde que se submetessem àavaliação institucional pelo INEP, po-deriam manter suas ofertas. Em razãodisso, o MEC orientou a Fiocruz a se-guir este caminho, por se enquadrarnessa possibilidade.

Segundo a primeira presidenteda CPA Fiocruz, Tânia Celeste, opapel da Comissão é “acompanhar,de forma sistemática, o processo deimplantação da Escola de Governoda Fundação e coordenar o proces-so de autoavaliação da instituição,com foco no ensino lato sensu, comvistas à melhoria da oferta educati-va, prestando informações à Presi-dência da Fiocruz, ao Inep e à Seres(órgãos do MEC)”. Tânia destacaque os objetivos são “fortalecer oensino lato sensu da Fiocruz por meiodo aperfeiçoamento permanente desuas práticas e mobilizar os segmen-tos institucionais e a direção da ins-

Tânia Celeste: “acompanhar o processo de implantação da Escola deGoverno da Fundação e coordenar o processo de autoavaliação dainstituição, com foco no ensino lato sensu”

A nova presidente da CPA, IsabellaDelgado (Foto: Peter Ilicciev/Fiocruz)

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tituição em torno dos objetivos doensino lato sensu, buscando apoio paraa melhoria permanente da oferta edu-cativa. Além disso, promover o debatepermanente sobre boas práticas peda-gógicas relacionadas à missão de umaEscola de Governo comprometida comos objetivos do SUS.

Atualmente a CPA é presidida pelapesquisadora Isabella Delgado. A novapresidente, que assumiu em junho, diz

que tem como perspectivas a consoli-dação da CPA, ampliando os proces-sos de divulgação, de modo a garantira apropriação institucional sobre o pa-pel da Comissão. Uma dessas iniciati-vas será a CPA Itinerante, que prevêreuniões em cada uma das unidadesda Fiocruz com pessoal envolvido naoferta de cursos lato sensu, além deencontros por segmentos da instituição.Ela também pretende desenvolver o

processo avaliativo do ensino lato sen-su, estruturando ações que viabilizema construção de um modelo de autoa-valiação institucional, no que se refereà oferta desses cursos. “Essas iniciati-vas são parte integrante do Plano deTrabalho da CPA para o período 2016-2018”, comenta Isabella, que foi vice-diretora de Ensino do Instituto Nacionalde Controle de Qualidade em Saúde(INCQS/Fiocruz).

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

Flávia Lobato

m setembro a Fiocruzcelebrou um ano de umimportante espaço decompartilhamento doconhecimento: o Cam-

pus Virtual Fiocruz (CVF). No mesmoambiente virtual os visitantes encontramos cursos das várias unidades da Funda-ção, ambientes virtuais de aprendiza-gem (AVAs) e suas comunidades,videoaulas e recursos educacionais aber-tos. A coordenadora da iniciativa, AnaFurniel, lembra que a criação do Cam-pus foi motivada pelo grande interessedos visitantes do Portal Fiocruz no porti-fólio de cursos e serviços institucionaisna área de ensino. Ao mesmo tempo,a iniciativa se mostrava estratégica parao fortalecimento da Política de AcessoAberto ao Conhecimento e das açõesde integração institucional. “A Fiocruzé a principal instituição não universitá-ria de formação de recursos humanospara o Sistema Único de Saúde (SUS) eo Sistema de Ciência, Tecnologia e Ino-vação em Saúde (C&T&I). Nosso desa-fio era não só disponibilizar toda a ofertana área educacional e contribuir paramaior integração da comunidade aca-dêmico-científica, mas também ampliara articulação e estreitar o relacionamen-to com as redes de conhecimento nasquais a Fundação se insere”, lembra.Trabalho este que vem sendo consoli-dado e ganhando magnitude, com aampliação das parcerias.

Destaca-se a parceria com a Univer-

sidade Aberta do SUS (UNA-SUS), inici-ativa da Fiocruz que existe há sete anos.O coordenador da Gestão do Conheci-mento da Universidade Aberta do SUS(UNA-SUS/Fiocruz) conta que as açõesintegradas com o Campus Virtual Fiocruztêm se mostrado uma estratégia acerta-da para capilarizar a oferta. “Só no últi-mo ano chegamos a 1 milhão dematrículas em cursos abertos que abran-gem 98% do território nacional”.

No campo internacional, o CVF éparceiro da Organização Pan-Ameri-cana da Saúde (Opas), integrandouma rede com 16 países para formarprofissionais de saúde em toda a re-gião das Américas através do Cam-pus Virtual de Saúde Pública (CVSP/Opas). Ana comenta um dos frutosdesta cooperação: “Estamos adaptan-do cursos sobre zika e chikungunyapara a região que são oferecidos naplataforma em três idiomas: portugu-ês, espanhol e inglês. Dessa forma,levamos um conhecimento fundamen-tal para profissionais de saúde de pa-íses como Equador ou Haiti, porexemplo, que têm poucos recursos”.

Planos e desafiosAlém de difundir conhecimentos,

o Campus Virtual Fiocruz tem um gran-de potencial para estimular o desen-volvimento de serviços, produtos eaplicações. “Estamos num processomuito intenso e interessante de apren-

dizado, aproveitando os diversos de-safios que surgem como oportunida-des. Isso resulta não só em soluçõespara o Campus, como propostas paramelhorar sistemas e processos de ges-tão. E nos coloca diante de novas fren-tes de trabalho, na concepção denovos projetos estruturantes no cam-po da educação, informação e comu-nicação, que incluem a prospecção decooperações nacionais e internacio-nais”, analisa Ana.

Entre as principais novidades, estáo desenvolvimento do Educare - umecossistema para recursos educacionaisabertos (REAs), cujas discussões têmsido feitas junto com a Biblioteca Virtu-al em Saúde (Bireme), a Opas e a UNA-SUS e nas diversas instâncias internas,nas quais este projeto começa a serapresentado. À frente da inciativa estáa analista de tecnologia da informaçãoRosane Mendes, que fala sobre a im-portância da oferta de ambientes inte-grados e colaborativos no contexto daeducação aberta. “A oferta de recursoseducacionais abertos (REAs) é cada vezmais importante e demanda a comuni-cação e a colaboração entre os criado-res de conteúdo. O Educare, além dearmazenar objetos digitais e torná-losacessíveis, oferece ferramentas que es-timulam a revisão, edição e atualiza-ção do conteúdo por pares. Dessaforma, os recursos podem ser reutiliza-dos em vários contextos educacionais,ampliando seu potencial”.

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Outra novidade será o sistema degestão de cursos livres, que está sen-do adaptado a partir do que foi de-senvolvido pela equipe da FiocruzBahia, conta Ana. “Daremos um sal-to na organização das informaçõespara tornar os cursos disponíveis epossibilitar a inscrição de alunos deforma integrada com o Campus Virtu-al Fiocruz. Entre os benefícios do sis-tema está a possibilidade de oscoordenadores publicarem um hotsitepara divulgar o curso”.

São muitos os planos para ampliaresta rede do conhecimento, fortalecen-do também os vínculos com quem“carrega o DNA” da Fiocruz. É o casodo desenvolvimento de uma rede deegressos, que tem o objetivo de pro-mover maior intercâmbio com alunosque desenvolveram sua trajetória aca-dêmico-científica e profissional na ins-tituição, como conta Ana PaulaMendonça, que faz parte da equipedo projeto. “A ideia é termos umagrande rede social com diferentes ser-viços que incentive o contato e a trocade experiências entre estas pessoas,aproximando-as e permitindo que con-tinuem a contribuir com o desenvolvi-mento institucional”, afirma.

Novas frentes de trabalho que sesomam a muitos desafios, pontua acoordenadora Ana Furniel. “Semprepensamos no Campus de uma formaampla, estruturante e estratégica. As-sumimos grandes responsabilidades emações estratégicas para a Fiocruz nasáreas de formação, informação e co-municação - da formulação de diretrizescomuns, passando pelo desenvolvimentotecnológico, até as ações de integra-ção e assessoramento das unidades”.Ela comenta, ainda, que o CVF pas-sa por um momento de avaliação.“Estamos repensando as atribuiçõesdo Campus Virtual Fiocruz e nossasmetas para que possamos continuara contribuir, da melhor forma possí-vel, com a importante tarefa de for-talecer o SUS e o Sistema de C&T&Ido país”, conclui Ana.

O Campus Virtual Fiocruz foi lançado em 27 de setembro de 2016,com o objetivo de facilitar o acesso a informações e serviços na área deeducação. Desde então, o público pode, por exemplo, pesquisar o porti-fólio de cursos das diversas unidades da Fiocruz num único lugar.

A busca é organizada por filtros, permitindo que a pesquisa seja feita pordiferentes categorias: nível de ensino (stricto sensu, lato sensu, qualificaçãoprofissional, educação básica e profissional e educação corporativa), modali-dade (presencial, EAD), unidade, localização, programa e área temática. Assim,o público pode se informar sobre as disciplinas e ementas dos cursos, compa-rar ofertas para saber qual é a mais adequada ao seu perfil, acessar as infor-mações sobre objetivos, coordenação, inscrições, prazos, documentação etc.

Também estão disponíveis no mesmo ambiente as aulas virtuais, ma-teriais didáticos, bancos de imagens e vídeos, guias, entre outros recursos.

Conteúdo, comunicação e interação na redePara que os visitantes estejam sempre atualizados há também áreas

de notícias, entrevistas e agenda (em que é possível ficar por dentrosobre defesas de teses e dissertações, seminários, palestras, sessões ci-entíficas e em centros de estudo). Todo este conteúdo é divulgado paraquem curte a fanpage do Campus Virtual Fiocruz.

Quer mais? Já estão sendo desenvolvidas novas funcionalidades paraque os usuários do Campus se cadastrem e tenham um espaço persona-lizado para chamar de seu, em que poderão montar sua lista de estudos,fazer anotações, comentar, compartilhar e organizar os conteúdos favo-ritos. “É uma área muito dinâmica e estamos trabalhando bastante paraoferecer as melhores soluções para o público da Fiocruz”, diz Ana.

Acesse o Campus Virtual Fiocruz:ww.campusvirtual.fiocruz.brSaiba mais no Facebook:www.facebook.com/campusfiocruz/

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Fiocruz Brasília foi ini-cialmente concebidacomo Núcleo Federalde Ensino, tendo porobjetivo a formação de

quadros, produção de conhecimentoe apoio técnico para a gestão doSUS. Em 2011, o núcleo foi amplia-do e denominado Escola Fiocruz deGoverno (EFG). Sua proposta é es-truturar a formação e a educaçãopermanente de gestores públicos emsaúde, incorporando as característi-cas da moderna gestão de sistemas,serviços, organizações e programas.A construção de processos de edu-cação permanente, a aliança entretrabalho e formação e a consolida-ção de redes de cooperação são seusprincipais objetivos. A história da Fi-

ANathállia Gameiro

ocruz Brasília é, portanto, fortemen-te associada à educação.

A EFG em Brasília vem lançan-do mão de estratégias inovadoras ecoletivas. Durante o segundo semes-tre de 2016, por exemplo, colabora-dores de diversas áreas da instituiçãose reuniram para elaborar conjunta-mente seu projeto político-pedagó-gico e os professores se organizarampara realizar de modo coletivo a re-visão do projeto pedagógico do cur-so de Especialização em SaúdeColetiva. Todo esse movimento foi eé guiado pela atuação da Escola emprol da reflexão sobre as políticas pú-blicas, bem como pelo seu compro-misso com o fortalecimento do SUS.

Até mesmo os jardins da insti-tuição foram utilizados para que os

trabalhadores se encontrassem paradebater, compartilhar e trocar idei-as sobre temas relacionados à Esco-la. Antes de um encontro, emsetembro de 2016, foram espalha-dos quadros pela instituição, por meiodos quais se coletaram ideias e im-pressões sobre o conceito da Escola.Questionamentos como “a Escolaque queremos precisa ter...” e “aEscola que queremos é ideal para...”estimulavam as pessoas a participardo processo. Trabalhadores falaramsobre o fortalecimento do SUS, par-ticipação dos estudantes e investi-mento em tecnologias como formade ampliar a atuação da EFG. Fo-ram realizados seis encontros temá-ticos até o mês de novembro, com opropósito de refletir sobre o papel da

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Escola de Governo e conceitos comoterritório, extensão e mediações tec-nológicas. A EFG atende à demandade formação continuada, capacitaçãoe aperfeiçoamento de profissionais etrabalhadores da área da saúde, con-tribuindo para o Sistema Único deSaúde (SUS). São diversos cursos ofe-recidos: de curta duração, de atuali-zação, especialização, pós-graduaçãolato e stricto sensu, presenciais e adistância. A escola faz parceiras comoutras unidades da Fiocruz.

A diretora-executiva da EFG, Fa-biana Damásio, ressalta a importân-cia do processo de construçãocoletiva. Para ela, a identidade daEscola se constrói a partir da experi-ência das pessoas que fazem partedo corpo de trabalho da instituição,assim como do objetivo principal deeducação da Escola: formar trabalha-

dores que atuam nas políticas públi-cas. “Temos que refletir de modocoletivo sobre as nossas práticas emsala de aula e pesquisas e a partirdisso, desenhar as perspectivas maiscolaborativas e que atendam as de-mandas da saúde pública”, explica.“As ações da Escola Fiocruz de Go-verno são o reconhecimento da edu-cação como ação transformadora deuma realidade que muitas vezes é ad-versa”, afirma Fabiana.

“Olhamos para a realidade e iden-tificamos como a Fiocruz pode con-tribuir para o desenvolvimento eimplementação de políticas públicasfavoráveis para o SUS”, explica Da-másio. Para se ter uma ideia de comoessa iniciativa trabalha para o SUS,durante oito anos, a Escola ofereceuo curso de especialização em Vigi-lância Sanitária para mais de 450 fun-

cionários da Anvisa, de 2006 a 2013.A Escola Fiocruz de Governo foi

inicialmente concebida como NúcleoFederal de Ensino, em 2006, para aformação de quadros, produção deconhecimento e apoio técnico paraa gestão do SUS. Os cursos são pro-movidos em articulação com outrasunidades da Fiocruz, universidadespúblicas e parceiros externos, comoos ministérios. O Núcleo Federal deEnsino, a partir de 2011, foi amplia-do e foi denominado Escola Fiocruzde Governo.

Desde a sua criação até junhodeste ano, a escola já ofereceu 283cursos e emitiu 25.864 certificados,que englobam todas as atividades deformação ali realizadas. São diversasáreas de conhecimento: cooperaçãointernacional, ética e bioética, ges-tão e planejamento em saúde, co-

Aula inaugural do Mestrado Profissionalem Políticas Públicas de Saúde(Foto: Sérgio Velho Jr.)

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municação em saúde, análise de da-dos, epidemiologia, promoção dasaúde e intersetorialidade, paradoxosda cooperação sul-sul, mediação sa-nitária, lei de acesso à informação edireito. Além de especialização empromoção e vigilância em saúde, am-biente e trabalho, direito sanitário, saú-de coletiva e vigilância sanitária e omestrado profissional em políticas pú-blicas em saúde.

A Escola busca mobilizar profissio-nais de saúde e trazer reflexões políti-cas para os espaços da sala de aula,com a possibilidade de não ofertar sópós-graduação, mas identificar o queemerge como necessidade de forma-ção imediata. Exemplos disso são osCiclos de Debates realizados mensal-mente pelo Núcleo de Estudo sobreBioética e Diplomacia em Saúde (Ne-this), cursos de atualização e cursoslivres. Esta é uma forma de se constru-írem estratégias de formação pontual eabrangente e atender demandas, via-bilizando espaços de debates sobre po-líticas públicas e iniciativas de melhoriasda saúde. Os cursos de especializaçãoem saúde coletiva e o mestrado profis-sional em políticas públicas de saúde,ofertados desde 2015, possibilitam que

trabalhadores externos, com diferentesperfis e inserções no território, possam par-ticipar do processo seletivo e cursar disci-plinas do curso.

O mestrado, construído coletiva-mente a partir de 2011, tem duas li-nhas de pesquisas: Saúde e JustiçaSocial e Vigilância e Gestão em Saú-de. O curso capacita profissionais parapromover a necessária articulação en-tre a produção intelectual e a aplica-ção do conhecimento na área dasaúde, além de buscar o diálogo inter-setorial para a solução de problemasno SUS. A primeira turma, iniciada em2015 com 20 alunos, foi concluída em2017, sem nenhuma desistência. Oedital 2017 para nova turma foi inclu-dente, assegurando vagas a indígenas,negros e deficientes físicos. Este anoiniciou-se uma parceria inovadora coma Secretaria de Saúde do Distrito Fe-deral na oferta de residência multipro-fissional em gestão de políticaspúblicas para a saúde, visando o apro-fundamento da interlocução entre en-sino e serviço.

A Escola em Brasília tem articu-lado diversas ações em parceria coma Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), na elaboração de materiais di-

dáticos, como vídeo-aulas, videocon-ferências e filmes utilizados pelos do-centes, produção e oferta de cursosa distância e apoiando soluções edu-cacionais de metodologias mistas, emprocessos de apoio ao presencial. Estaé uma forma de ampliar o acesso e aoportunidade de educação perma-nente a profissionais da saúde, usan-do tecnologias educacionais e outrosrecursos digitais. Ainda em 2017, asiniciativas em educação a distânciaincluem cursos relacionados à forma-ção de tutores, e eventos nacionais einternacionais. Está previsto aindapara este ano uma formação comsobre zika vírus, juntamente com aLondon School of Hygiene and Tropi-cal Medicine, voltado para profissio-nais de saúde.

* Com o credenciamento peloMEC, passou-se a usar a denomi-nação Escola de Governo da Fio-cruz para a instituição como umtodo sem, no entanto, perder devista a diversidade das ofertas edu-cacionais de cada unidade. Estáainda em discussão a denomina-ção da Escola de Governo paracada unidade/escritório da Fiocruz.

Servidores da Fiocruz Brasília na primeiradefesa do Mestrado Profissional em PolíticasPúblicas de Saúde (Foto: Sérgio Velho Jr.)

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

radicional formadora deprofissionais para o Sis-tema Único de Saúde(SUS), a Fiocruz tem oensino como um de seus

destaques, especialmente para formaçõesrelacionadas a suas atividades finalísticasno campo da saúde coletiva. Essa carac-terística também vem ganhando maisforça internamente, com ações específi-cas para os trabalhadores. Entendendoque para cumprir o papel de instituiçãoestratégica de Estado a Fundação preci-saria desenvolver competências críticaspara o alcance de sua missão, a institui-ção apresentou oficialmente a Escola Cor-porativa Fiocruz, em outubro de 2015, noâmbito da então Diretoria de RecursosHumanos, atual Coordenação-Geral deGestão de Pessoas (Cogepe).

Inaugurada com o Programa de De-senvolvimento Gerencial (PDG) – primei-ra iniciativa da Escola, cujo objetivo é

TGlauber Queiroz

formar novas lideranças, além de aper-feiçoar as já estabelecidas –, a Escola Cor-porativa avançou e em menos de doisanos após seu lançamento já mantémparcerias com instituições de ensino re-nomadas, possibilitando aos servidores oacesso à formação lato e stricto sensu nocampo da administração e gestão públi-ca. Para a diretora da Escola Corporativa,Carla Kaufmann, “as parcerias são de ex-trema importância para agregar conheci-mentos e novas metodologias aosprogramas desenvolvidos pela escola”.

Dentre as diferentes frentes abertas,hoje, por meio da Escola Corporativa Fi-ocruz, os servidores da instituição con-tam com as seguintes opções depós-graduação: Mestrado Profissional emPolítica e Gestão de Ciência, Tecnologiae Inovação em Saúde (parceria com aEscola Nacional de Saúde Pública Ser-gio Arouca/Ensp); Especialização emGestão de Organizações de Ciência, Tec-

nologia e Informação em Saúde (tam-bém conjuntamente à Ensp), MestradoProfissional em Administração Pública(convênio com a Fundação Getúlio Var-gas) e Especialização de Gestão Hospi-talar, voltada para servidores dos institutosnacionais da Fiocruz – INI e IFF – (convê-nio com o Hospital Sírio-Libanês). Outrainstituição conveniada para o desenvol-vimento do PDG é a Fundação DomCabral (FDC). Já os servidores dos insti-tutos regionais podem cursar o Mestra-do Profissional em Administração naUniversidade Federal da Bahia (UFBA).

Embora esteja sediado em Salvador,o mestrado da UFBA é estendido às de-mais regionais, tendo uma metodologiaque busca atender às dificuldades gera-das pela distância e necessidade de des-locamentos. A multidisciplinaridade típicada Fiocruz acrescida a essa diversidadegeográfica dão mais heterogeneidade aogrupo. Nada, no entanto, que a pro-

Novas liderançasOs objetivos e desafios da Escola Corporativa Fiocruz

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima,em aula do curso de Gestão Hospitalar(Foto: Escola Coorporativa Fiocruz)

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Aula do curso de Especialização em Gestão de Organizaçõesde C&T em Saúde (Foto: Escola Coorporativa Fiocruz)

posta metodológica não dê conta: “operfil diferenciado do nosso corpo docen-te, bem como a qualidade da concep-ção e operacionalização do projetopedagógico do curso em muito contribu-em para a qualificação dos gestores queestão cursando o Mestrado Profissionalem Administração neste momento. Des-taco que o curso foi construído sob umaperspectiva de garantir a gestores, dediferentes níveis, uma sólida formaçãoteórica associada a um importante viésprático que permita a aplicabilidade dosconhecimentos apreendidos e sistemati-zados em seus contextos profissionais, emdiferentes unidades e áreas de atuação”,explica a coordenadora do Mestrado Pro-fissional em Administração da UFBA, De-nise Ribeiro.

Ainda sobre as parcerias internas eexternas articuladas pela escola, Kauf-mann ressalta sua contribuição para ocumprimento dos objetivos institucionaisda Fiocruz. “O papel da Escola Corporati-va é identificar ações que possam inte-grar os programas de desenvolvimento decompetências, alinhadas às estratégiasinstitucionais. Para isso, contamos comparcerias junto às coordenações dos pro-gramas internos e também prospectamosparcerias com programas oferecidos poroutras instituições de renome, cujas açõessão customizadas para atender a este pro-pósito”, afirma. O coordenador-geral deGestão de Pessoas, Juliano Lima, endos-sa o papel estratégico que a Escola deveter no âmbito institucional e valoriza tam-bém o desenvolvimento dos servidores.“A Escola Corporativa busca desenvolvercompetências necessárias ao alcance dosobjetivos estratégicos da Fiocruz e tam-bém valorizar os servidores que buscamo desenvolvimento de suas carreiras. É,hoje, componente central da política degestão de pessoas da instituição”, afirma.

Todos os cursos da Escola Corpo-rativa ou franqueados por ela são des-tinados ao seu público interno, sendoesse outro diferencial em relação àsunidades de ensino da Fundação. Aexclusividade na seleção visa qualifi-car o corpo funcional para o cumpri-mento das metas e missão institucional,ratificando a adoção de uma visão es-tratégica de gestão de pessoas, quenorteia a atuação da Cogepe.

Integraçãoe interação

Atendendo ao propósito do fortale-cimento de uma rede de aprendizagemna instituição, a Escola Corporativa Fio-cruz adota como estratégia uma arqui-tetura de aprendizagem em rede. Estemodelo está conectado para além dasala de aula, integrando o ambiente detrabalho e as diversas áreas da institui-ção, além de atores externos e internosenvolvidos nas experiências de gestãoda Fundação, como instituições e pro-fissionais parceiros, professores, líderese aprendizes num ambiente de colabo-ração e troca de experiências.

Um dos aspectos mais favoráveis dainiciativa, na opinião dos alunos, é a pos-sibilidade de conhecer a realidade deoutras unidades e formação de novas re-des de relacionamento entre os colegas,o que permite novas trocas e experiênci-as profissionais. É o que destaca o analis-ta de Gestão do Instituto de Comunicaçãoe Informação Científica e Tecnológica emSaúde (Icict) Paulo Roberto de Lima, alu-no da especialização em Gestão de Or-ganizações de C&T em Saúde, que atuacomo pregoeiro e está há 20 anos naFundação. “Para mim o curso agregou

uma maior visão sistêmica da Fiocruz,aliada a troca de experiências e saberesdos colegas e professores, fatores queme fizeram descobrir uma instituiçãomais complexa e apaixonante. Tambémme tornei um pouco mais crítico em re-lação às políticas governamentais apli-cadas à Fundação”.

Além das novas perspectivas, Limadestaca práticas inovadoras que poderãoser aplicadas em seu trabalho como lega-do da formação adquirida por meio daEscola Corporativa: “com relação ao re-torno à instituição, acredito que a mudan-ça nas estratégias de nossas licitações,representa um ganho imediato; assimcomo a minha possibilidade de atuaçãoem outras áreas administrativas”. O ser-vidor informa ainda que desenvolverá seuTCC sobre licitações sustentáveis, “mo-dalidade que ainda não utilizamos emnossas compras no Icict”, complementa.

Quem também relaciona o desen-volvimento individual dos servidorescom melhorias no desempenho da ins-tituição é a tecnologista em Saúde AnaPaula da Silva Carvalho, coordenado-ra da Gestão da Informação e Conhe-cimento de Bio-Manguinhos e aluna doMestrado Profissional de Política e Ges-tão de Ciência, Tecnologia e Inovaçãoem Saúde, também em parceria com

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Alunos do curso RH Estratégico (Foto: Escola Coorporativa Fiocruz)

a Ensp. “Novas propostas de trabalhoforam feitas na área de Gestão deConhecimento de Bio-Manguinhos apartir dessa formação. Hoje tenho maisfacilidade de propor soluções nos pro-cessos de trabalho e ampliei minhacomunicação e institucionalização so-bre as ações oriundas de outras unida-des da Fiocruz”. Sobre seu crescimento,Carvalho lista aspectos que foram tra-balhados no mestrado. “Desenvolvinovas competências profissionais, asquais me trouxeram a possibilidade deinovar e fazer melhorias em meus pro-cessos de trabalho. Ampliei minha se-gurança nas tomadas de decisões,utilizei ferramentas de administraçãode conflitos e, além disso tudo, adquiriuma rede relacional com funcionáriosde outras unidades, ampliando as in-terfaces e parcerias de trabalho”.

Para a servidora da Fiocruz BahiaDulce da Silva Munduruca – que cursao Mestrado Profissional em Adminis-tração pela UFBA – o foco na gestão emodelo de funcionamento da Escolacasam com necessidades institucionais.“A iniciativa da Escola Corporativa empromover o mestrado profissional con-firma seu modelo pedagógico de cons-trução coletiva do conhecimento comfoco na experiência e na solução de

problemas, principalmente por atendera uma demanda identificada pela ne-cessidade de formação de servidorescom competências relacionadas à ges-tão, não focando somente a área bio-médica. Creio que a qualificação gerainovação, promovendo amadurecimen-to e valorização profissional”.

Perspectivasfuturas

Por meio de parcerias com institui-ções consolidadas na área da educa-ção, às atuais ofertas de cursos deaperfeiçoamentos, especializações latosensu e mestrado, a Escola planeja in-cluir o doutorado profissional em seuportfólio. “A oferta do doutorado pro-fissional está alinhada a uma das pre-missas da Escola Corporativa: odesenvolvimento da carreira dos servi-dores. Estamos trabalhando junto àVice-Presidência de Educação, Informa-ção e Comunicação na elaboração deuma proposta para um Doutorado Pro-fissional em Gestão, organizado emrede, composta por programas internose externos, que ofereçam conhecimen-tos importantes para a formação emgestão”, detalha Kaufmann.

Com base nas iniciativas já reali-zadas e em andamento, nos próximosmeses cerca de 140 novos especialis-tas e mestres estarão habilitados a atuarna gestão de suas unidades. Incluindodemais ações e programas, o númerode profissionais da Fiocruz capacitadospor meio da Escola Corporativa ultra-passa os 400.

E esse quantitativo não para por aí.Afinal, além das novas capacitações queserão desenvolvidas e ofertadas pela Es-cola, aqueles que não participam direta-mente também podem se beneficiar, poisconhecimento se compartilha e se apri-mora à medida que ocorrem as trocas.Essa é a visão da analista de Gestão Ta-thiana de Mello Sampaio, lotada no IOC/Fiocruz e aluna do Mestrado Profissionalem Administração Pública pela FGV. “Éimportante ressaltar que o conhecimen-to não cessará em mim, ele é e continu-ará sendo multiplicado a todos osfuncionários – servidores e terceirizados– que são a força motriz desta organiza-ção rumo a um futuro mais esperançosoe com expectativa de gerar valor públicoa partir de produtos e serviços com qua-lidade e que proporcionem maior efeti-vidade”, conclui. A Escola lançou em2017 seu portal, disponível emwww.escolacorporativa.fiocruz.br

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Fiocruz planeja uma ca-pacitação de recursoshumanos para o Com-plexo Econômico Indus-trial da Saúde (Ceis). Ademanda, que tem

como principal objetivo a formação doaluno a partir da capacidade de resolu-ção de problemas, sob a luz da metodo-logia cientifica, nas empresas do Ceis, veioda Vice-Presidência de Ensino e Comuni-cação da Fundação. Segundo o pesqui-sador Rodrigo Stabeli, coordenador dogrupo de trabalho de proposição da ca-pacitação, a intenção é qualificar os pro-fissionais ligados ao Ceis para que apopulação possa ter, no final, melhores emais baratos produtos oferecidos para oSUS a partir da força produtiva brasileira.

A importância de um projeto decapacitação como esse, segundo Stabeli,é o melhoramento da competência téc-nica e de gestão da mão de obra ligadaao Ceis o que resultará em melhor efici-ência e resultados mais rápidos. Atual-mente, no Brasil, não existe nenhumgrande plano político-pedagógico dequalificação de recursos humanos e nemuma modalidade de pós-gradução stric-to sensu, como um doutorado, por exem-plo, voltado para o Ceis e essa foi umadas motivações para elaborar o projeto.

A Fiocruz pretende trabalhar em ca-pacitações nas modalidades lato e strictosensu e o pontapé inicial deverá ocorrercom a oferta de um doutorado já comcaracterísticas inovadoras a partir de umaformatação em duas etapas: na primeirao aluno vindo do Ceis traria um problematécnico ou de gestão a ser analisado pelacomissão coordenadora, que decidirá suaparticipação no programa de estágio comopré-candidato, devendo ao longo de seismeses realizar intercâmbios entre profissi-onais da Fiocruz e do Ceis para escreverseu projeto de doutorado baseado no pro-blema apresentado. A partir daí, caso sejaaprovado, o aluno desenvolverá seu estu-do no doutorado modalidade profissiona-lizante, que é a segunda etapa. A grande

Adiferença da capacitação é que, em vezdefender uma tese puramente acadêmi-ca na conclusão do curso, o aluno terá que,utilizando a ciência e a capacidade orga-nizacional do curso, apresentar uma solu-ção para o problema proposto por elemesmo na primeira etapa. Além disso, anovidade é a proposta de todo o esquemade aulas ser online.

A busca da formatação desse proje-to de capacitação é pela praticidade edinâmica que uma qualificação no Ceisexige. Os cursos oferecidos pela Fiocruzterão como base o problema trazido pelaempresa/indústria, sejam eles de ordemtécnica ou de gestão. “A proposta é deum doutorado dinâmico, prático e apli-cado na resolutividade dos problemas.Fora da abordagem convencional, pro-curando resolver problemas cotidiana-mente enfrentados pelo Ceis que, pormuitas vezes, refletem a baixa qualifica-ção dos recursos humanos envolvidos”.

Segundo Stabeli, no último relatórioapresentado pelo Confederação Nacionalda Indústria (CNI), aproximadamente70% dos problemas apresentados pelasindústrias são resultado da falta de capa-citação de mão de obra. “A Fiocruz, pen-sando na melhoria da qualidade de vidada população e no fortalecimento doSUS, está estudando mecanismos de qua-lificação para que as organizações liga-das aos Ceis possam qualificar seusrecursos humanos afim de enfrentar acarência significativa da mão de obra atu-almente existente no setor. Qualificar deforma profícua a partir dos problemas poreles mesmos enfrentados no dia a dia”.

A proposta visa estreitar a relaçãoentre a academia e a indústria e estáem fase de discussão. A Fiocruz pre-tende entregar, no primeiro semestrede 2018, um modelo experimental compós-graduações já existentes na insti-tuição. “É uma proposta ousada. Achoque a grande característica desse pro-jeto é que ele é uma iniciativa com-pletamente voltada às necessidades doCeis e do SUS”, conclui Stabeli.

Matheus Cruz (estágio supervisionado)

Fiocruz proprõe modelo inovador para curso de qualificação de pessoalpara o Complexo Econômico e Industrial da Saúde

Capacitação para o CeisESPECIAL EDUCAÇÃO

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endência em váriospaíses da Europa e re-quisito básico para asolicitação de financi-amento de pesquisas

na Horizon 2020, as políticas de disponibi-lização de dados científicos têm se torna-do cada vez mais necessárias. O projetoCiência Aberta, da Fiocruz, estuda estra-tégias para adaptar políticas de dados aber-tos na instituição. O grupo de trabalho,liderado pela Coordenadora de Informa-ção e Comunicação da Vice-Presidênciade Educação, Informação e Comunicação(VPEIC), Paula Xavier, pretende agregar oprocesso utilizado e os dados coletadosdurante as pesquisas científicas à políticade acesso aberto da instituição. A propos-ta de acrescentar os dados das pesquisasà política de acesso livre da instituição vemda grande demanda internacional de pu-blicação dos dados.

“Mais cedo ou mais tarde a Fiocruzterá que aderir à essa exigência. O queestamos fazendo é nos preparar inter-namente para atender a essa deman-da”, explica Paula Xavier. Atualmente,a política de acesso livre da Fiocruz per-mite acesso aberto apenas aos resulta-dos das pesquisas que originam teses edissertações e artigos científicos.

A política de dados abertos, popularem países como Holanda, Alemanha ePortugal, representa livre acesso às cole-tas de dados feitas para pesquisas deteses, artigos, dissertações e artigos ci-entíficos. A ideia é que não somente osresultados fiquem disponíveis mas tam-

T

ESPECIAL EDUCAÇÃO

bém as pesquisas feitas e esses dadoscoletados. Alguns dos benefícios dessaabordagem, segundo Paula, são verifi-car a veracidade dos resultados de de-terminada pesquisa e apurar com rigora sua qualidade e beneficiar a reprodu-tibilidade da pesquisa. “O pesquisadordiz que usou certos dados para produziro resultado da pesquisa, mas se vocênão tem acesso a esses dados não temcomo verificar se aquilo é verídico. Aética e a transparência também estãodiretamente envolvidos nisso”, afirma.

A reprodutibilidade dos dados dapesquisa é o mais importante dos bene-fícios dessa política, segundo Paula. “Acoleta de dados é um dos fatores maiscaros de uma pesquisa e somente partedesses dados que o pesquisador coletasão usados para chegar ao resultado.Mas depois da pesquisa publicada o quenormalmente ocorre é os dados ficaremcom o próprio pesquisador, e acabamse perdendo. Isso faz com que o reusodesses dados seja improvável. A políticada Ciência Aberta busca a disponibiliza-ção livre dos dados para que outros pes-quisadores possam reaproveitar, e queem outro momento, para outro objeti-vo, possam servir para o desenvolvimen-to de uma outra pesquisa”, observa.

Essa reutilização dos dados propos-ta pela política do Ciência Aberta levadiretamente à redução dos investimen-tos em pesquisas científicas, que tem acoleta de dados a etapa mais custosado processo. Esse benefício econômicoserá ainda maior para o Brasil. De acor-

do com Paula, é ainda mais importanteum país em desenvolvimento e que nomomento passa por uma crise econômi-ca e política. “Não se trata apenas deter o resultado e os dados de uma pes-quisa abertos, mas também uma estra-tégia de desenvolvimento nacional e desustentabilidade”.

O incentivo à pesquisa tambémpode ser uma consequência direta dosdados abertos ao público. Novas idei-as podem surgir de dados que já foramusados e que podem ser beneficiadospelo reaproveitamento de pesquisasfeitas anteriormente.

A princípio, o projeto pretende traba-lhar em duas etapas: fazer uma análisecomparativa entre os países que já dis-põem das políticas de dados abertos como objetivo de aprender sobre esse funcio-namento para só depois fazer um relató-rio com recomendações com o que deveenvolver a futura política da Fiocruz. Esseprocesso será feito em cooperações inter-nacionais para que saia de acordo com oque se propõe mundialmente. “Estamosprocurando fazer os relatórios em parce-rias com países que estão melhor prepa-rados com esse tema”, conclui Paula.

O projeto envolve muitos detalhes queprecisam ser discutidos cuidadosamente,como planos de gestão de dados, por isso,a primeira parte desse relatório está sen-do preparado para sair em agosto. O pri-meiro arcabouço com as recomendaçõesnecessárias para a inclusão dos dados li-vres à política da instituição, entretanto,deverá ser lançado no final do ano.

Matheus Cruz (estágio supervisionado)

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

esde 1954 a Escola Naci-onal de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp), uni-dade técnico-científica daFiocruz, atua com base

em três pilares principais: ensino, pesqui-sa e assistência. O ensino está no cora-ção da missão institucional da Ensp porser um espaço estratégico de diálogo coma sociedade, o Sistema Único de Saúde(SUS) e o Sistema de Ciência e Tecnolo-gia (C&T), por meio dos cursos de latosensu, qualificação profissional em saúdee de seus programas de pós-graduaçãostricto sensu. Por intermédio desses cur-sos, a Escola vem atuando de maneiraprotagonista na formação de quadrospara o Sistema Único de Saúde brasilei-ro. Nos últimos dez anos, formou mais de7 mil profissionais, em seus cursos demestrado e doutorado, cursos presenciaisde especialização e de qualificação pro-fissional em saúde, e mais de 65 mil pro-fissionais, em cursos de Educação aDistância (EAD). São profissionais que, atu-almente, ocupam posições estratégicasnos diversos níveis do SUS e que vêmcontribuindo para o aprimoramento doSistema Único de Saúde e da oferta deserviços de saúde para a população.

No ensino stricto sensu o objetivo éformar profissionais com base no conhe-cimento interdisciplinar, para o exercício

DTatiane Vargas

das atividades de pesquisa, docência eatuação em serviços de saúde, tendo emvista o desenvolvimento de compreensãocrítica sobre os fenômenos de vida, adoe-cimento e morte na sociedade contem-porânea. Ao todo, são quatro programasque oferecem cursos de mestrado, mes-trado profissional e doutorado, sendo eles:Saúde Pública, Saúde Pública e Meio Am-biente, Epidemiologia em Saúde Públicae Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coleti-va, este último desenvolvido em associa-ção com a Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ), a Universidade FederalFluminense (UFF) e a Universidade do Es-tado do Rio de Janeiro (Uerj). Os cursosde lato sensu e de qualificação profissio-nal em saúde são espaços de ensino nosquais se dá o rico encontro do conheci-mento acadêmico com a experiência eos saberes dos diferentes atores da práti-ca – gestores, profissionais da atenção bá-sica, da vigilância em saúde, conselheirose agentes locais –, entre tantos outros queformam o setor saúde.

A Escola, que há seis décadas se de-dica à formação profissional em saúde,ciência & tecnologia, atua em pesquisa,desenvolvimento tecnológico, formulaçãode políticas públicas e prestação de servi-ços de referência em saúde. “Por meiodos programas de pós-graduação strictosensu formamos quadros estratégicos para

atuação no SUS e no meio acadêmico.Esses profissionais contribuem de formaativa para o desenvolvimento da saúdepública. Pelos diversos cursos lato sensu,em parceria com outras instituições dopaís, e por nosso Programa de Educaçãoa Distância passam anualmente centenasde pessoas, muitas das quais acabam atu-ando como multiplicadores do conheci-mento, num modelo que já se tornou amarca do ensino na Escola”, destaca odiretor da Ensp, Hermano Castro.

Estruturado ensino

Atualmente a Vice-Direção de Ensi-no da Ensp (VDE) está a cargo da profes-sora Lúcia Dupret. No sistema de gestãodo ensino da Escola, a VDE e as coorde-nações de Desenvolvimento Educacional,lato sensu e Qualificação Profissional estricto sensu contam com três instânciascolegiadas: o Colegiado de Ensino, aComissão Geral de Pós-Graduação Stric-to Sensu (CGPG) e a Comissão Geral dePós-Graduação lato sensu e QualificaçãoProfissional (CLSQP). São colegiados decaráter propositivo, consultivo e delibera-tivo que têm por objetivo garantir a parti-cipação dos coordenadores de ensino dosdepartamentos e centros, das coordena-

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ções de cursos lato sensu e de qualifica-ção profissional, dos coordenadores dosprogramas de pós-graduação stricto sen-su, da área de desenvolvimento educa-cional e da gestão acadêmica, naformulação das políticas e diretrizes, nomonitoramento e desenvolvimento dasatividades do ensino de pós-graduaçãostricto sensu e lato sensu.

Os programas de pós-graduação stric-to sensu contam também com comissõesde pós-graduação (CPG), nas quais parti-cipam – conforme a configuração e re-gimento de cada programa – osrepresentantes dos docentes das áreasde concentração e os discentes. Além dasinstâncias colegiadas o ensino realiza umColégio de Docentes, pelo menos umavez ao ano, com o objetivo de promoverdebate sobre questões estratégicas paraa definição de diretrizes e prioridades parao ensino na Escola e apresentar aos do-centes um balanço das atividades de en-sino realizadas durante o ano. No âmbitoda pós-graduação stricto sensu ocorremtambém as Plenárias de Doutores.

Estreitando laçosBuscando cada vez mais estreitar

laços entre professores e alunos, a Enspreformulou, entre 2014 e 2015, o seuProjeto Político Pedagógico (PPP), noqual estão presentes valores e princípiosque orientam a formação institucional daEscola. O documento teve seus valorese princípios pactuados coletivamente. OProjeto Político Pedagógico de uma Es-cola sela o compromisso entre a institui-ção, professores e alunos em relação aosobjetivos dos cursos ofertados.

Delineado em tornos de quatro ei-xos – político, pedagógico, ético e epis-temológico – os valores e princípios doPPP da Ensp estão disponíveis nas sa-las de aula de toda a Escola, no senti-do de incentivar que ele seja umprojeto colaborativo e em constanteconstrução. A concepção dos cartazes,afixados nas paredes, é manter viva adiscussão do PPP e atualizá-los a cadaano, buscando tornar prática concretao que está enunciado no documento.

Apesar de já ter um Projeto PolíticoPedagógico tácito, a Escola percebeu anecessidade de construir didaticamen-

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em crítica constantemente. Não se tratade possuir um indicador de quantos alu-nos foram formados ao fim do ano, massim como e para que esses alunos foramformados”, avalia Tatiana Wargas.

Com base em seus eixos – político,pedagógico, ético, epistemológico – oscartazes apontam as dimensões do PPPda Ensp. A dimensão epistemológica,por exemplo, valoriza as experiênciasdos sujeitos na produção de conheci-mento. A dimensão política reafirma opapel central do Estado na garantia dodireito à saúde, em articulação com or-ganização e movimentos na sociedade.Já na dimensão pedagógica está a pro-dução de espaços e experiências aca-dêmicas e não acadêmicas de exercíciode transdisciplinaridade e de invençãotecnológica. Além da dimensão ética,que permeia todos os eixos.

Construçãocoletivacomo base

O Projeto Político Pedagógico daEnsp teve seus valores e princípios pac-tuados em discussões abertas e acei-tou contribuições. Todas as discussõespara construção coletiva do PPP foramdebatidas nos fóruns de ensino, quetiveram como temas de pautas as Co-

missões de Lato e Stricto Sensu e Co-legiado de Ensino. Professores, pesqui-sadores, alunos e colaboradoresestiveram envolvidos. Foi criado umgrupo de trabalho, que se reunia peri-odicamente para debater as questõesacerca dos valores e princípios do Pro-jeto Político Pedagógico. Para o jorna-lista Caco Xavier, membro do GT doPPP, o Projeto Político Pedagógico dequalquer instituição deve criar um re-gistro das intenções e desejos em rela-ção a que tipo de educação, formasde ensino, práticas metodológicas econceitos estão envolvidos no ato deensinar e aprender.

“A diversidade das vozes se fez muitopresente na construção do documento eas constantes validações e agrupamentosde conceito, teorias, métodos e pensamen-tos, criaram uma síntese importante paraconstruir o PPP da Ensp”, destaca Xavier.Segundo ele, com a concepção do PPP omaior desafio foi verificar se a prática naEscola estava confirmando a teoria. “Umprojeto como esse jamais pode ficar presona gaveta da regulação ou da instituição.Tem que ganhar tanto o corpo docentequanto o corpo discente. É fundamentalque os alunos o conheçam muito bem,para interferirem e se posicionarem diantedele. O PPP é isso, é aquele lugar escritono qual se registram conceitos, intençõese desejos do processo de ensinar e apren-der de uma instituição”, defende Xavier.

te um documento que apontasse osvalores e princípios da instituição. ParaTatiana Wargas, ex-vice-diretora de En-sino da Ensp, que esteve à frente da ini-ciativa no período em que foi feita areformulação do documento, o PPP aju-da a pensar a Escola de maneira abran-gente, abarcando os diversos cursosexistentes. “Com a elaboração do PPPpudemos nos questionar sobre qual saú-de pública estamos falando dentro des-sa casa e sobre como estamos lidandocom nossos estudantes. Isso nos fez con-versar entre nós e, consequentemente,nos mobilizar para conversas mais hori-zontais”.

Entre os valores e princípios que ori-entam o Projeto Político Pedagógico daEnsp estão o compromisso com a trans-formação dos determinantes das desi-gualdades das condições de saúde e coma promoção da equidade, cidadania edos direitos sociais. Além disso, há o com-promisso fundamental com a dinâmicade funcionamento de uma instituiçãopública voltada para a sociedade, cujovalor social, político e científico deve seravaliado por sua capacidade de gerarconhecimento, formular propostas e de-senvolver inovações que atendam os in-teresses coletivos e públicos.

“O objetivo é mobilizar a discussãoe fazer pensar sempre o que se produz ecomo se produz. Discutir o Projeto Políti-co Pedagógico da Escola é se colocar

Os cursos de lato sensu e de qualificação profissionalem saúde são espaços de ensino nos quais se dá orico encontro do conhecimento acadêmico com aexperiência e os saberes dos diferentes atores daprática (Foto: Virgínia Damas/Ensp/Fiocruz)

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À frente da iniciativa de construçãodo PPP no período em que foi vice-dire-tora de Ensino da Escola, Tatiana War-gas lembra que antes de tudo o PPP éum documento a ser construído, debati-do, revigorado e revisitado anualmente.“Não digo anualmente revisitado comodocumento, mas revisitado para que sepossa identificar o que norteia os cursose qual caminho a Escola está seguindo.Ou seja, é sempre um reavivar da suamissão e dos seus valores”. Sobre o pro-cesso de construção do PPP, Tatiana citaque o processo de construção teve iníciodevido ao credenciamento dos cursos latosensu e a necessidade de revisitar algunsdocumentos já existentes.

“A ideia de um PPP para a Enspé reconhecer qual a sua missão, paraonde aponta e como isso constitui umconjunto de iniciativas de formaçãovoltadas para o Sistema Único de Saú-de, para a saúde coletiva e para asaúde pública. Com esse intuito co-meçamos a construção de um docu-mento – que não era zerado e muitomenos inédito – mas que reconheciao acúmulo de experiências da Escolaao longo de seis décadas e que ga-nhou um formato mais geral para serapresentado ao Ministério da Educa-ção no processo de credenciamentodos cursos lato sensu”.

Para Tatiana, o PPP demonstra oenorme potencial da Escola e afirma di-

reitos e valores muito importantes, prin-cipalmente, no momento atual do Brasile do mundo de crises e conjunturas ad-versas. “Afixar os cartazes nas paredesda Escola dá a oportunidade para quetodos vejam que valores e princípios evo-camos no nosso PPP. E os valores e prin-cípios que o constituem falam de direitos,ética, valorização do humano, respeitoàs diferenças e às diversidades, justiçasocial e combate às desigualdades. Esseé o compromisso que a Escola tem e querreafirmar a cada dia. Colocar os carta-zes nas paredes convida as pessoas aolharem e se perguntarem como esta-mos fazendo e se estamos fazendo demaneira correta”, afirma.

Paulo Bruno, professor dos progra-mas de pós-graduação e pesquisador doDepartamento de Saneamento e SaúdeAmbiental, acredita que o PPP é a es-sência da Escola. Segundo ele, a impor-tância do Projeto Político Pedagógico sedá basicamente em dois níveis: na es-truturação pedagógica como um todo eno espaço de sala de aula, na forma deorientação aos docentes de como atuarem conexão com esse todo. “O PPP éfundamental para qualquer Escola e aEnsp precisava estruturar o seu, mas eledeve estar em constante atualização, poisnecessita dialogar com a sociedade ecom o seu contexto histórico. O docu-mento representa o desafio de transfor-mar o escrito e o pensado em ações

práticas. O desafio é manter esse proje-to em ações práticas no dia a dia, o queexige um esforço muito grande por par-te dos professores e alunos que têm queestar comprometidos. O aluno precisa sairdaqui sabendo para que a formação daEnsp será útil na sua vida profissional eenquanto indivíduo e como ele se inserena sociedade e reflete sobre os proble-mas”, defende Paulo Bruno.

A pluralidade da Ensp, na opiniãodo professor e pesquisador do Centro deEstudos da Saúde do Trabalhador e Eco-logia Humana (Cesteh) Gideon Borges,é o que a faz ser tão diferenciada. “AEscola tem experiências múltiplas e muitoplurais e o Projeto Político Pedagógicotem a importância de elucidar de algu-ma forma, para os atores envolvidos coma formação, o que pensam a respeito daprópria formação”. Para ele, não se podefalar em formação de qualquer nature-za sem a existência de um PPP. “Ele dáclareza para as pessoas e ao mesmo tem-po, ao dar clareza, permite que consi-gam, de uma maneira mais sistemática,saber de fato em que medida o objetivofoi alcançado”, considera Gideon.

Acesse o Portal deEnsino da Ensp e saibamais sobre os cursos

(ensino.ensp.fiocruz.br)

Entre os valores e princípios que orientam o Projeto Político Pedagógico da Enspestão o compromisso com a transformação dos determinantes das desigualdadesdas condições de saúde e com a promoção da equidade, cidadania e dos direitossociais (Foto: Virgínia Damas/Ensp/Fiocruz)

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

oltada para a formaçãointegral dos profissio-nais de saúde de nívelmédio, a Escola Politéc-nica de Saúde Joaquim

Venâncio (EPSJV/Fiocruz) atua na áreade Educação Profissional em Saúde.No que diz respeito ao ensino, isso sig-nifica que a Escola desenvolve ativi-dades voltadas para jovens em idadeescolar, oferecendo cursos técnicos desaúde integrados ao ensino médio, epara adultos trabalhadores, inseridosou não no Sistema Único de Saúde(SUS). Nesse caso, as opções são vá-rias: desde a formação técnica até es-pecializações e cursos mais rápidos,

VTalita Rodrigues

de qualificação, atualização e aper-feiçoamento. Na base de tudo há umprojeto político-pedagógico (PPP)construído coletivamente, que temcomo base a noção de politecnia: oesforço para unir a formação profis-sional e a educação geral, articulan-do os aspectos manuais e intelectuaisdo trabalho. “Na EPSJV, a educaçãoé um projeto de sociedade. Portan-to, buscamos uma formação ética,política e técnica. Esses princípiosnorteiam a concepção e a organiza-ção de nossas atividades de ensino,pesquisa e cooperação técnica”, ex-plica a diretora da Escola, Anakeilade Barros Stauffer.

A proposta de formação politéc-nica é construída sobre dois eixosprincipais: a formação de jovens tra-balhadores para o sistema de saúdee a formação docente para a áreade Educação Profissional para quali-ficar a formação de quem educa otrabalhador. Segundo o PPP, a ideiade politecnia implica uma formaçãoque, a partir do próprio trabalho so-cial, desenvolva a compreensão dasbases de organização do trabalho denossa sociedade. Trata-se da possi-bilidade de formar profissionais nãoapenas com base teórica, mas tam-bém em um processo em que seaprende praticando e, nessa práti-

Formação para a saúdeProjeto político-pedagógico da EPSJV segue os princípios da politecnia,visando à formação integral dos trabalhadores do setor

Escola desenvolve atividades voltadas para jovensem idade escolar, oferecendo cursos técnicos desaúde integrados ao ensino médio, e para adultostrabalhadores, inseridos ou não no Sistema Únicode Saúde (SUS) (Foto: Maycon Gomes EPSJV/Fiocruz)

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ca, os estudantes compreendem osprincípios científicos que estão dire-ta e indiretamente na base destaforma de se organizar o trabalho nomundo em que vivem.

O ensino na EPSJV visa o desen-volvimento profissional e intelectual dosalunos, além de estimular o pensamen-to crítico. Seguindo as diretrizes do PPP,a formação dos trabalhadores da saú-de feita pela Escola Politécnica é pen-sada no contexto, complexo econtraditório, da economia global.Em todos os níveis, isso significa en-sinar as técnicas do trabalho em saú-de sem desconsiderar as bases – e aslimitações - sobre as quais ele se de-senvolve, como, por exemplo, as po-líticas neoliberais e a modernizaçãoconservadora do capitalismo no Bra-sil, com resultados que afetam, dire-tamente, a vida cotidiana, o trabalhoe as formas de organização e qualifi-cação profissional.

O PPP da Escola Politécnica reco-nhece que, no campo da Saúde, háo convívio contraditório entre proces-

sos de trabalho que exigem do pro-fissional a resolução de problemas eum pensamento mais reflexivo, aomesmo tempo em que requer a rea-lização de tarefas simples, rotineirase prescritas. Por isso, o principal ob-jetivo da formação desenvolvida e de-fendida pela Escola Politécnica ésuperar o que, no campo crítico daeducação, se chama de “dualidadeestrutural”, ou seja, a rígida separa-ção entre a concepção e a execuçãodo trabalho e, mais do que isso, anaturalização de que a isso corres-ponde também uma divisão no inte-rior da sociedade: aos filhos dos ricos,uma educação mais ampla, voltadapara as funções intelectuais; aos fi-lhos dos pobres, uma formação res-trita, voltada apenas para o trabalho.Trata-se, portanto, de um processoeducativo que tem como finalidadeformar trabalhadores para serem nãosó peças numa engrenagem, mas di-rigentes comprometidos com um pro-jeto de saúde pública ampliado, como processo de humanização dos ser-

viços de saúde e com a construçãode uma sociedade justa e igualitária.“Esse princípio está no nosso nome ena nossa história”, afirma Anakeila.

A cultura também faz parte da for-mação integral proposta pela EPSJV. NoEnsino Médio, na disciplina de educa-ção artística, os estudantes podem es-colher entre artes cênicas, artesplásticas, produção audiovisual e mú-sica. Dessa forma, eles têm acesso adiversas possibilidades de linguagem ar-tística durante sua formação. A Escolapromove ainda eventos culturais comofestivais e mostras, que integram nãosó as disciplinas de artes, mas tambémoutras disciplinas do currículo do Ensi-no Médio.

CursosA EPSJV oferece cursos técnicos de

Saúde integrados ao Ensino Médio emtrês habilitações – Análises Clínicas,Biotecnologia e Gerência em Saúde.Na formação integrada, as disciplinasdo Ensino Médio são articuladas e têm

O ensino na EPSJV visa o desenvolvimentoprofissional e intelectual dos alunos,além de estimular o pensamento crítico.(Foto: Maycon Gomes EPSJV/Fiocruz)

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os seus conteúdos correlaciona-dos às disciplinas das habilitaçõestécnicas. Recentemente, uma refor-ma curricular ampliou o curso inte-grado para quatro anos, em horáriointegral. Cursos técnicos subsequen-tes ao Ensino Médio, cursos de For-mação Inicial e Continuada, além decursos de Especialização Técnica nasáreas de Vigilância em Saúde, Ra-diologia, Atenção, Informações eRegistros, Gestão, Técnicas Labora-toriais e Manutenção de Equipa-mentos também são formaçõesoferecidas pela EPSJV para traba-lhadores do Sistema Único de Saú-de (SUS).

A Escola Politécnica tem ainda umPrograma de Pós-Graduação em Edu-cação Profissional em Saúde, volta-do para a formação de quem educao trabalhador. O programa oferececursos de Especialização e MestradoProfissional, com turmas locais e umavertente nacional voltada especifica-mente para trabalhadores da Rede deEscolas Técnicas do SUS. Na pós-gra-duação a EPSJV realiza também cursosem âmbito internacional, principalmen-te em países da América Latina eÁfrica, como parte das ações de co-operação técnica.

A experiência na educação bá-sica, desenvolvida há 32 anos nos cur-sos técnicos integrados, permitiu quea EPSJV elaborasse também cursosde Educação de Jovens e Adultos(EJA), como parte do seu compro-misso com a melhoria da qualidadede vida dos trabalhadores do seuterritório. A Escola coordena a EJA-Manguinhos e apoia o Pré-Vestibu-lar Popular Construção, com aulasrealizadas nas suas dependências, nohorário noturno. “Tem se tornadocada vez mais fundamental o traba-lho da EJA enraizado neste territó-rio, o que amplia e aprofunda apráxis formativa, consolidando-noscomo uma escola pública socialmen-te referenciada”, destaca Anakeila.A EPSJV promove ainda cursos, denível técnico e também de pós-gra-duação, voltados para a educaçãono campo e a qualificação de inte-grantes de movimentos sociais.

Iniciaçãocientífica

Na EPSJV, a pesquisa, além de umaárea de atuação, é também um princípioeducativo e está diretamente associada àsatividades de ensino. Os alunos dos cursostécnicos de Nível Médio em Saúde sãoincentivados a participar de programas deinvestigação científica e desenvolvem, porexemplo, o Projeto Trabalho, Ciência eCultura (PTCC), no qual produzem umamonografia de conclusão de curso, pas-sando por todas as etapas de um processode pesquisa. O projeto é integrado a umcomponente do currículo chamado Inicia-ção à Educação Politécnica em Saúde (IEP)e passa a ser desenvolvido com os alunosa partir do segundo ano, quando os estu-dantes começam a definir o tema damonografia, que deve articular os co-nhecimentos e práticas da educaçãobásica e da educação profissional.

A IEP abrange os quatro anos de for-mação dos alunos dos cursos integrados.Independentemente da habilitação esco-lhida, os alunos recebem conhecimen-tos que contribuem para a compreensãodas questões relativas à formação e aotrabalho dos técnicos em saúde, no con-texto do SUS. Na IEP, os estudantes dis-cutem as questões comuns a todas ashabilitações e se situam no campo dasaúde com uma visão geral de como asua área se relaciona com as outras. AIEP inclui os quatro eixos consideradosestruturantes para a formação politécni-ca em Saúde: Política, Trabalho, Saúdee Ciência e Cultura.

A Escola coordena também oPrograma de Vocação Científica (Provoc)da Fiocruz, voltado para alunos de EnsinoMédio de outras instituições de ensino.Em 30 anos, o Provoc já proporcionou amais de 1,7 mil estudantes a vivência noambiente de pesquisa. Participam do Pro-voc alunos de diversas escolas públicas eprivadas da cidade do Rio de Janeiro, alémde jovens das comunidades do entornodo território da Fiocruz. Os estudantes queparticipam do Provoc atuam em diversasunidades da Fundação, acompanhandoo trabalho de um pesquisador e vivenci-ando a prática de uma pesquisa.

EscolaReferência nacional no campo da

Educação Profissional em Saúde, aEPSJV também é Centro Colabora-dor da Organização Mundial de Saú-de (OMS) para a Educação deTécnicos em Saúde, além de Secre-taria-Executiva da Rede Internacio-nal de Educação de Técnicos emSaúde (Rets). Como Centro Colabo-rador, a EPSJV desenvolve propostascurriculares para a formação de tra-balhadores em saúde; formula e im-planta propostas de capacitaçãodocente e elabora material didático.Como Secretaria-Executiva da Retsé responsável por oferecer suportetécnico e administrativo para o fun-cionamento da Rede, inclusive paraa elaboração e execução do seu pla-no de trabalho.

A Escola também apoia a edu-cação profissional em saúde implan-tada nos estados e municípios dopaís, atua na coordenação e implan-tação de programas de ensino emáreas estratégicas para a saúde pú-blica e a ciência e tecnologia emsaúde; na elaboração de projetos depolítica, regulamentação, currículos,cursos, metodologias e tecnologiaseducacionais; e produção e divulga-ção de conhecimento na área de tra-balho, educação e saúde.

Com o objetivo de disseminar co-nhecimento em sua área de atua-ção, a Escola Politécnica edita operiódico científico Trabalho, Edu-cação e Saúde; coordena a Bibliote-ca Virtual sobre Educação Profissionalem Saúde (BVS-EPS); publica a re-vista jornalística Poli – Saúde, Edu-cação e Trabalho; edita livros ematerial educativo sobre suas áre-as de atuação; e sedia a Estaçãode Trabalho Observatório dos Téc-nicos em Saúde, que integra a Redede Observatórios de Recursos Huma-nos em Saúde, criada pelo Ministé-rio da Saúde e pela OrganizaçãoPan-Americana de Saúde (Opas)como espaço para produção e aná-lise de informações e conhecimen-to na área.

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Na EPSJV, a pesquisa, além de uma área de atuação, é também umprincípio educativo e está diretamente associada às atividades deensino (Fotos: Maycon Gomes EPSJV/Fiocruz)

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

ientistas de todo omundo vêm se debru-çando na busca pormétodos alternativosao uso de animais

para desenvolvimento científico, tec-nológico e controle de qualidade emsaúde, como estudos in vitro, culturade tecidos e modelos computacio-nais. O número de técnicas substitu-tivas, contudo, ainda é reduzido.Atualmente, ainda não é possívelprescindir do uso de animais comobiomodelos experimentais para odesenvolvimento e testes de contro-le de qualidade de diversos produtospara a saúde de seres humanos eanimais, como medicamentos, vaci-nas e kits diagnósticos. Como, então,ao mesmo tempo, assegurar o pro-gresso da ciência e da tecnologia e obem-estar animal? Um ponto deequilíbrio para esta equação é umademanda da comunidade acadêmi-ca e da sociedade. Neste sentido, oInstituto de Ciência e Tecnologia emBiomodelos (ICTB/Fiocruz) criou oMestrado Profissional em Ciência emAnimais de Laboratório, o único dosegmento no Brasil e o único da Fun-dação classificado na grande área damedicina veterinária.

O objetivo do curso é habilitar pro-fissionais para atuar eticamente naciência em animais de laboratório(CAL), priorizando o desenvolvimen-to de métodos alternativos à experi-mentação animal e a melhoria dalegislação neste campo. “O foco donosso mestrado é capacitar gestorese profissionais para promover o co-

Cnhecimento sistemático em ciênciaem animais de laboratório. O con-teúdo é voltado para o aprimoramen-to do manejo, o bem-estar e aqualidade animal, além de estimu-lar a inovação tecnológica em bio-modelos”, explica a coordenadorado mestrado, Maria Inês Doria Rossi.

Experiênciacentenária aserviço do ensino

Embora o reconhecimento daCAL enquanto ciência tenha se dadosomente a partir da década de 1940,a história da atuação da Fiocruz nes-ta área remete ao início do século20. Em 1904, Oswaldo Cruz ideali-zou o primeiro biotério da Fundaçãoe sistematizou a sangria de equinospara a produção de soros: os primór-dios da produção de hemoderivadosanimais. Em 1932, após uma epide-mia de febre amarela no Brasil, Car-los Chagas importou os primeirosmacacos rhesus para a pesquisa dadoença. Iniciou-se, assim, uma co-lônia que contribuiu para diversosavanços na pesquisa biomédica e nodesenvolvimento tecnológico emsaúde no país e que, hoje, dá sus-tentação ao Programa Nacional deImunização (PNI).

Em 1967, no contexto do desen-volvimento de vacinas, a Fiocruz inau-gurou o Departamento de Biotérios,onde passou a manter linhagens deroedores, coelhos, ovinos e equinos.

Em 1998, o departamen-to transformou-se noCentro de Criação deAnimais de Laboratório(Cecal), uma unida-de técnica deapoio responsá-vel pela produ-ção de biomodelosexperimentais e he-moderivados animais,além de atividades de con-trole de qualidade e biotec-nologia animal. Em 2015, oCecal foi elevado à condição deunidade técnico-científica e intitu-lado Instituto de Ciência e Tecnolo-gia em Biomodelos (ICTB) – umareferência nacional em seu campo deatuação. Os biomodelos produzidospelo ICTB são componentes importan-tes de diversas pesquisas, testes decontrole de qualidade em saúde e pro-cessos produtivos na Fiocruz, como asvacinas do PNI e os recentes estudosde vacina contra zika.

O conhecimento adquirido ao lon-go da trajetória permitiu desenhar umconteúdo programático adequado àsnecessidades deste campo de atuaçãono Brasil e alinhado aos padrões inter-nacionais de uso de animais, além deformar um corpo docente qualificado.Maria Inês destaca que todas discipli-nas foram desenvolvidas pautadas nos3Rs, uma premissa que guia a CAL emtodo o mundo. “3R é uma sigla quevem do inglês e que significa refinar,reduzir e substituir o uso de animais.Ou seja, nos experimentos e estudosdevem-se adotar métodos que minimi-

Mônica Mourão

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zem o número de ani-mais utilizados (reduzir),promover seu bem-estar

e utilizar técnicas adequa-das (refinar) e buscar o desen-

volvimento e uso de métodosalternativos, para sempre que possível(substituir)”, detalha.

Nesse contexto, as aulas são mi-nistradas utilizando recursos que subs-tituem os animais. “São usados desdebichos de pelúcia e vídeos até um so-fisticado simulador de rato, que permi-te ao estudante treinar práticas comoalimentar e coletar sangue do animal”,explica. Além disso, a ética e o bem-estar dos animais também são assegu-rados pelos órgãos reguladores. Todosos estudos e experimentos realizadosno ICTB são submetidos e aprovadospela Comissão de Ética no Uso de Ani-mais (Ceua), atendendo às resoluçõese orientação do Conselho Nacional deControle de Experimentação Animal(Concea) e do Conselho Federal deMedicina Veterinária.

O calendário anual de cursoslivres e mais informações sobre omestrado estão disponíveis emwww.ictb.fiocruz.br

Cursos livres,palestras esemináriosAlém do mestrado profissional em

CAL, o ICTB oferece cursos de qualifi-cação e de desenvolvimento profissio-nal, ciclos de palestras e seminários,que difundem os progressos neste cam-po. “Nossos cursos são uma referênciano Brasil, atraindo profissionais de di-ferentes regiões do país. Nos últimoscinco anos o Instituto contabilizou qua-se 2 mil egressos. Há uma forte de-manda por cursos em Ciência emAnimais de Laboratório, especialmen-te devido ao número insuficiente deconteúdos nesta área nas universida-des e nos programas de pós-gradua-ção, não só para formação profissionalcomo para atender a mudanças e ques-tionamentos da legislação atual”, es-clarece a coordenadora de Ensino,Etinete Nascimento.

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

m setembro de 2015, porocasião da 70ª Assem-bleia Geral das NaçõesUnidas (AGNU 70), eapós longo e aprofunda-

do debate, desde a Conferência Rio+20(2012), os Estados-membros das NaçõesUnidas – inclusive o Brasil – aprovaram aResolução A70/1, intitulada Transforman-do nosso mundo: Agenda do Desenvolvi-mento para 2030 e os Objetivos doDesenvolvimento Sustentável1, contendoa nova orientação política e técnica paraa implementação do desenvolvimentosustentável a ser alcançado até 2030.

Além de uma declaração política dealto nível, foi aprovado o compromissode implementação de 17 ODS, entre osquais estão distribuídas 169 metas a se-rem atingidas até 2030. O ODS 3 refe-re-se à saúde e compromete-se a

EPaulo M. Buss*

“assegurar uma vida saudável e promo-ver o bem-estar para todos em todas asidades”. É um objetivo forte, resultantede uma postura política lastreada emprincípios de solidariedade e equidade,que caracterizaram conceitualmentetanto a Rio+20, quanto à própria Assem-bleia Geral dos 70 anos da ONU.

A Fiocruz, na sua posição de insti-tuição estratégica de Estado, e baseadanos seus compromissos históricos com asaúde como direito de todos e dever doEstado, a equidade, a solidariedade eos direitos humanos e com a pesquisa eo ensino comprometidas com as neces-sidades da população, certamente temmuito a contribuir nas esferas global, na-cional e local para o alcance dos ODS ea plena implementação da Agenda doDesenvolvimento Sustentável 2030.

Para revisar o realizado e propor no-

vas orientações no compromisso da Fio-cruz com o desenvolvimento sustentável,a Presidência da instituição criou um Gru-po de Trabalho para desenvolver o Mar-co Referencial e o Plano de Trabalho daEstratégia da Agenda 2030 e a Fiocruz,coordenado pelo ex-presidente Paulo Ga-delha, grupo do qual, com muita honra,também participo. A formação de qua-dros de alto nível para os sistemas de saúdee de ciência, tecnologia e inovação dopaís e o desenvolvimento de estudos epesquisas que concreta e oportunamen-te respondam às necessidades nacionais,impõem à instituição que ela faça amplarevisão crítica de suas orientações e práti-cas quanto ao ensino e à PD&I.

Neste breve artigo, num propósitomuito difícil e desafiador, procuro elen-car algumas ideias críticas sobre a con-tribuição do ensino da Fiocruz para a

O ensino e os ODS

Crianças visitam exposição do Museu da Vida da Fiocruz (Foto: Peter Ilicciev/Fiocruz)

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consecução da Agenda 2030 e dos ODSno país. Entendo a Agenda 2030 e o ODScomo instrumentos de uma política glo-bal das Nações Unidas; enquanto“saúde e sociedade” e “saúde e de-senvolvimento” é objeto histórico daFiocruz desde seus primórdios, cujos con-teúdos críticos podem e devem colabo-rar no aperfeiçoamento e implementaçãoda Agenda e dos ODS no Brasil, assimcomo globalmente e na região.

Desde meados dos anos 1970 inten-sificaram-se na instituição os estudos so-bre conceito ampliado de saúde, saúde esociedade, políticas sociais e de saúde,reforma setorial, determinação social dasaúde, desigualdades e equidade em saú-de, entre outros. O programa Peses-Pe-ppe, desenvolvido na Escola Nacional deSaúde Pública (Ensp/Fiocruz) desde osanos 1970, mas com repercussões aténossos dias, pode ser apontado comoexemplo deste compromisso histórico daFundação com os mencionados temas,repercutindo sobre seus programas e pro-jetos de pesquisa, assim como de educa-ção e informação e comunicação, ademais

das ações políticas empreendidas no seioda sociedade brasileira.

Na década de 1980 a Fiocruz foi ainstituição que capitaneou a realização da8ª Conferência Nacional de Saúde que,presidida pelo então presidente, SergioArouca, envolveu praticamente toda ainstituição na histórica mobilização naci-onal para a construção coletiva da Con-ferência que, ao final, produziu umrelatório cujas bases conceituais e políti-cas contribuíram decisivamente para a es-trutura e os conteúdos do capítulo sobresaúde da Constituição Federal de 1988 eo processo da reforma sanitária subse-quente. As bases conceituais de todo oprocesso foram construídas no âmbito dapesquisa nos amplos campos de saúde esociedade, epidemiologia social, determi-nantes sociais da saúde, medicina tropi-cal, políticas de saúde e reforma setorial,que se desenvolveram nos anos 1970 e1980 na instituição.

Uma parte expressiva dos elementosconceituais e de práticas que serviram desustentação a elaboração e implementa-ção do Sistema Único de Saúde foi de-senvolvida no âmbito dos programas depesquisa da Fundação, particularmente naesteira do PDTSP e do PDTIS, além dasexperiências do trabalho conjunto e dacooperação entre pesquisadores da insti-tuição e gestores nacionais, estaduais emunicipais do SUS. Tais conhecimentosrepercutiram de forma expressiva na for-mação de recursos humanos realizada

pela Fiocruz, nos seus programas de pós-graduação strictu e lato sensu, que forne-ceram quadros dirigentes para o SUS emtodos os quadrantes nacionais.

Hoje seria imprescindível reforçar oesforço vigoroso, em desenvolvimento, derestauração e aggiornamernto conceitualnestes campos mencionados, com ofici-na e seminários reunindo especialistasnestas áreas e coordenadores de cursosde todas as áreas – biológica e biomédi-ca, clínica e de saúde pública – para en-tender a contribuição de cada uma delase organizá-las numa oferta racional dedisciplinas abrangentes a todos os alunosde todos os cursos da instituição.

Em outras palavras, trabalhar a “ár-vore”, mas entendendo o “bosque”; istoé, trabalhar na especificidade de cadatema de pesquisa ou de dissertação outese, mas referindo-os ao espaço maisamplo do conceito ampliado da saúdee sua determinação, dos direitos huma-nos, de sua importância no âmbito dasaúde e sociedade, em tempos de afir-mação do desenvolvimento sustentável

*Paulo Buss é membro do GT Agen-da 2030 e ODS da Fiocruz. Foi presi-dente da Fiocruz e diretor da EscolaNacional de Saúde Pública

1 Nações Unidas. Transformandonosso mundo: a Agenda 2030 para oDesenvolvimento Sustentável, 2015.Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030

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Agentes comunitários desaúde em atendimentodomiciliar (Foto: PeterIlicciev/Fiocruz)

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pesar de um oceanode distância, há qua-se uma década Brasile Moçambique atuamjuntos na formação de

uma geração de novos cientistas afri-canos, dedicados às questões de saú-de locais. O Programa de CooperaçãoInternacional de Pós-graduação emCiências da Saúde é resultado deuma parceria entre a Fiocruz e o Ins-tituto Nacional de Saúde de Moçam-bique (INS). A iniciativa, que oferecemestrado e doutorado nos Programasde Pós-graduação Stricto sensu doInstituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz),com participação do Instituto Nacio-nal de Infectologia Evandro Chagas(INI), formou 40 alunos ao longo dosnove anos de parceria.

“Levar nossos cursos de mestradoe doutorado para Moçambique é umato de solidariedade a um país caren-te de formação em pós-graduação,além de ser muito gratificante. Isso étraduzido em melhorias na qualidadeda pesquisa realizada localmente, comimpactos diretos na saúde do povomoçambicano”, destaca Renato Porro-zzi, pesquisador do Laboratório de Pes-quisa em Leishmaniose do IOC ecoordenador do programa.

O perfil dos estudantes é variado,incluindo profissionais que atuam nasaúde pública em diferentes provín-cias. Tendo em vista essa pluralidadede origens, os projetos de pesquisados alunos compõem um verdadeiromosaico. “Os estudos desenvolvidosno contexto das dissertações e tesesdos estudantes contribuem para pre-encher lacunas no conhecimento cien-tífico, com destaque para investigaçõesacerca de doenças infecciosas comomalária, Aids e parasitoses intesti-nais”, explica Porrozzi. As aulas sãoministradas por pesquisadores das

ALucas Rocha

duas instituições, sendo amaior parte dos encontrosrealizada na sede do INS, emMaputo, capital de Moçam-bique. Nos laboratórios doIOC, no Rio de Janeiro, os es-tudantes desenvolvem aspec-tos práticos dos projetos,como a análise de amostras.

Contribuiçãopara os esforçosde eliminação dafilariose linfática

Do trabalho de pesquisanas bancadas dos laboratóri-os, nascem projetos como o deHenis Mior, que acaba de con-cluir o mestrado com um es-tudo sobre filariose linfática –que faz vítimas tanto em Mo-çambique quanto no Brasil eé considerada uma doençanegligenciada pela Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS).Mior investigou um tema cominterface direta com a saúdepública: a eficácia do protocolode tratamento em massa, quevem sendo preconizado nosesforços de eliminação da do-ença. Segundo esse protoco-lo, um conjunto de pessoasrecebe a medicação tendo emconta o alto índice de trans-missão na localidade.

O estudo foi baseado emum levantamento realizado nacidade de Murrupula, provín-cia de Nampula, em Moçam-bique, com a participação demais de 670 pessoas. Os tes-tes consideraram aspectosque indicam a persistência da

ESPECIAL EDUCAÇÃO

Há nove anos, parceria Brasil-Moçambique forma pesquisadoresvoltados para questões de saúde que preocupam o país africano

Solidariedade além do oceano

As coordenadoras do Mestrado Acadêmico emSistemas de Saúde, Celia Almeida e Eduarda Cesse(abaixo) (Fotos: Peter Ilicciev e Fiocruz Pernambuco)

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infecção no paciente seis meses apósa administração da primeira dose dotratamento. Os resultados sugeremque a dose única da medicação nãoproporciona redução significativa dapresença de parasitos nas fezes dospacientes tratados e nem do antíge-no no organismo.

“Os dados da pesquisa poderão serutilizados para avaliar o alcance demetas da campanha, que é de grandeimportância para a saúde pública emMoçambique. Há, ainda, a oportuni-dade de mensurar o impacto de gran-des programas de tratamento emáreas carentes de recursos, que apre-sentam grandes dificuldades logísti-cas”, destaca o pesquisador do IOCAdeilton Brandão, que orientou aapresentação dos resultados do pro-jeto juntamente com Ricardo Thomp-son, pesquisador do INS e coordenadordo projeto em Moçambique. “O mes-trado é bem-vindo para os profissio-nais de saúde e pesquisadores emgeral, por trazer melhorias no desem-penho da pesquisa e docência na áreade saúde. Pretendo continuar os es-

O perfil dos estudantes é variado, incluindo profissionais que atuam na saúdepública em diferentes províncias (Foto: Acervo IOC)

tudos a partir do monitoramento dainfecção pela filariose linfática, até adeclaração da eliminação da doençano país”, ressalta Henis Mior, maisnovo mestre de Moçambique.

Outra iniciativa importante foi oMestrado Acadêmico em Sistemas deSaúde, voltado para a formação deprofissionais do INS. O curso, iniciadoem 2014 foi uma parceria entre os pro-gramas de pós graduação em SaúdePública da Escola Nacional de SaúdePública e do Instituto Aggeu Maga-lhães (IAM/Fiocruz Pernambuco) e ti-tulou 14 mestres em 2017. Segundoas coordenadoras Celia Almeida (Ensp)e Eduarda Cesse (IAM), “a formaçãodesses mestres se increve na concep-ção de cooperação estruturante, pos-sibilitando o reforço da gestão dosistema de saúde do país. Profissionaisde diversas formações trabalharam, emsuas dissertações, temas de interessedo governo de Moçambique”.

Ainda em Moçambique, a Fiocruzconcluiu em setembro de 2017 a For-mação em Governança em Seguran-ça Alimentar e Nutricional (SAN) e

Institucionalidade das Políticas Públi-cas. Promovido pela Escola Fiocruzde Governo (EFG), o curso atendeuum público de técnicos que atuamnas comunidades distritais; gestoresde províncias e técnicos de organi-zações não governamentais nacio-nais e internacionais, na capitalMaputo e na cidade de Monapo, naprovíncia de Nampula.

A realização do curso resulta deacordo firmado entre representantesdo governo e da embaixada moçam-bicana, dos ministérios da Saúde, De-senvolvimento Social e RelaçõesExteriores do Brasil e da Fiocruz (Vice-Presidência de Educação, Informaçãoe Comunicação; Centro de RelaçõesInternacionais em Saúde e FiocruzBrasília). O curso foi conduzido porDenise Oliveira e Silva, coordenado-ra do Programa de Alimentação, Nu-trição e Cultura (Palin) e FabianaDamásio, diretora da Escola Fiocruzde Governo, ambas da Fiocruz Brasí-lia, seguindo o formato de oficina di-alógica a fim de valorizar o saber ecultura locais.

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ezenas de novos mestres e doutoresformados a cada ano em sete progra-mas de pós-graduação stricto sensu –dois deles avaliados com conceito 7,índice máximo concedido pela Coor-

denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior (Capes). Este é apenas um recorte do pa-norama atual do ensino no Instituto Oswaldo Cruz(IOC/Fiocruz), que desde a sua criação, no iníciodo século 20, prioriza a formação de recursos hu-manos para a ciência. Do início do século passadopara cá, o ensino no IOC ganhou novas facetas,contemplando um público cada vez mais amplo,de estudantes dos ensinos Fundamental e Médioao pós-doutorado.

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ESPECIAL EDUCAÇÃO

Lucas Rocha

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Já nos primeiros anos da institui-ção, eram oferecidos, ainda de manei-ra informal, cursos relacionados abacteriologia, parasitologia, anatomiae histologia patológica. O Instituto re-cebia alunos da Faculdade de Medici-na e, já em 1901, três desses alunos,Otávio Machado, Mário de Toledo eOscar Araújo apresentaram teses apoi-adas em seus trabalhos desenvolvidosno Instituto.

Em 1908, o cientista OswaldoCruz, patrono do IOC e da FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), oficializou acriação do Curso de Aplicação, quecontava com pesquisadores ilustresno papel de professores, como Car-los Chagas, Adolpho Lutz e ArthurNeiva. A iniciativa era chamada, no

dia-a-dia, como Curso deManguinhos.

A conformação atualda pós-graduação remontaàs décadas de 1970 e1980, quando foram cria-dos os primeiros Programasde Pós-graduação Strictosensu do IOC: em Biolo-gia Parasitária, no ano de1976, e em Medicina Tro-pical, em 1983. Commais de 840 mestres edoutores formados aolongo de seus quase 40anos de estrada, o pro-grama de Pós-Graduaçãoem Biologia Parasitáriafoi pioneiro. Entre seuscriadores, está um dosmais destacados cientis-tas do país: José Rodri-gues Coura [conheçamais sobre o pesquisa-dor na seção Fio da His-tória, nesta edição].

“A pós-gradua-ção fomentou a revi-talização no quadrode pesquisadores daFiocruz, a partir daformação de talentosoriundos dos cursos demestrado e doutora-do. São pesquisado-res que contribuem,até hoje, para o de-

senvolvimento da ciência no IOC eem instituições de ensino e pesqui-sa pelo Brasil”, salienta Coura, que jáorientou mais de 200 estudantes aolongo da carreira.

Outros cinco programas com-põem a Pós-Graduação Stricto sensudo Instituto: Biodiversidade e Saúde;Biologia Celular e Molecular; BiologiaComputacional e Sistemas; Ensino emBiociências e Saúde; e Vigilância e Con-trole de Vetores. Desenvolvidos noâmbito das atividades de pesquisa doslaboratórios do Instituto, os projetosde mestrado e doutorado se inseremem um leque temático diverso e re-sultam na geração de conhecimentocientífico ancorado em problemas desaúde pública brasileiros. Da virolo-gia à biotecnologia, os alvos de in-vestigação contemplam agravos queimpactam diretamente na vida da po-pulação, como doença de Chagas,malária, hanseníase, além das arbo-viroses, dengue, zika, chikungunya efebre amarela. “O ensino realizadono IOC é marcado pela capacidadede gerar respostas para a sociedadee pela formação de cientistas e deprofissionais que podem contribuirpara a saúde pública brasileira”, afir-ma o vice-diretor de Ensino, Informa-ção e Comunicação do Instituto,Marcelo Alves Pinto. A qualidadedos trabalhos tem sido reconhecidapelos prêmios Capes de Tese, Ca-pes-Interfarma de Inovação e Pesqui-sa, e de Incentivo em Ciência eTecnologia para o SUS recebidos aolongo dos anos.

No cenário da década de 1980,a necessidade de formação de espe-cialistas de nível técnico provocouuma nova frente de ação no ensino.Práticas de laboratório, controle deparasitos e vetores e o auxílio na pres-tação de serviços de diagnósticoseram algumas das temáticas aborda-das pelo Curso Técnico de Pesquisaem Biologia Parasitária, criado em1981. Atualmente, a formação emnível técnico é oferecida em duasmodalidades. Uma delas é o CursoTécnico em Biotecnologia, que capa-cita alunos do ensino médio e profis-sionais das áreas da saúde, biologia

parasitária e biotecnologia, para oexercício de procedimentos e ativida-des laboratoriais. Já o Curso de Es-pecialização em Biologia Parasitáriae Biotecnologia prepara técnicos parao desenvolvimento de atividades emlaboratórios de saúde pública.

A década de 1990 trouxe um cam-po fértil para a inovação no ensinono IOC. Com a missão de aprofundarconhecimentos teóricos e habilidadespráticas de profissionais de diferen-tes áreas, o Instituto passou a ofere-cer cursos de especialização. Asprimeiras modalidades surgiram paraatender a uma demanda de forma-ção para vigilância em saúde. Os es-tudos sobre ecologia dos insetos,acarologia e controle de vetores epragas de importância em saúde fa-zem parte do curso de EntomologiaMédica, criado em 1992. Já a espe-cialização em Malacologia de Veto-res, iniciada em 1994, propõe aelaboração e execução de técnicasde controle de moluscos. Os cursosmais recentes – Ensino em Biociênci-as e Saúde (2000) e Ciência, Arte eCultura na Saúde (2010) – capacitamprofessores da educação básica eagentes de saúde. Este último esti-mula o desenvolvimento de práticaspedagógicas voltada para educado-res, professores e profissionais queatuam na interface entre as áreas.

Para os estudantes de gradua-ção, a iniciação científica e tecnoló-gica e a oferta de estágio curricularsão oportunidades que abrem asportas do IOC para um público queestá na importante fase de busca davocação científica. Entre os projetosmais conhecidos por este públicoestão os cursos de férias, oferecidospelos alunos de pós-graduação, sobsupervisão dos pesquisadores do Ins-tituto, a estudantes de graduaçãoque têm a oportunidade de vivenci-ar a pesquisa científica. Os cursos deférias acabam de completar umadécada de atividades, com mais de1,8 mil alunos, das cinco regiões doBrasil do IOC. É um exemplo do ci-clo que se fecha: o estímulo à do-cência em um ambiente em queensinar é parte do aprendizado.

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om dois anos de exis-tência e muitos parcei-ros, a Agenda JovemFiocruz começa a daros primeiros passos

para além dos limites da instituição. Emmaio, um trabalho sobre a agenda foiapresentado durante o Congresso Na-cional Política, Planejamento e Gestãoem Saúde, da Associação Brasileira deSaúde Coletiva (Abrasco), em Natal.Em outubro ocorreu o primeiro de trêsencontros temáticos previstos pelaAgenda, este com apoio do escritórionacional da Oxfam.

Desde 1970 a Oxfam vem atuandojunto aos movimentos sociais e organi-zações não governamentais para darcorpo a iniciativas que tenham comofoco a redução das desigualdades soci-ais. Para a promoção do encontro aOxfam Brasil ficou responsável por arti-cular entidades de São Paulo, Recife,

CLuiza Gomes

Rio de Janeiro e Brasília, reunidas emum programa sobre juventudes, desi-gualdade urbana, gênero e raça. O even-to foi sediado na Tenda da Ciência, nocampus da Fiocruz em Manguinhos.

Os encontros previstos colocarão empauta temas ligados aos direitos da ju-ventude, desafios e potencialidades des-se segmento em interação com o campoda saúde e da ciência e tecnologia, en-tre outros. Um seminário nacional estáprevisto para 2018 como parte dos com-promissos da Agenda Jovem Fiocruz.

Desde 2016 a Agenda também éresponsável pelo eixo Adolescentes, Jo-vens e Habilidades para a Vida do Acor-do de Cooperação Técnica entre a Fiocruze o Fundo de População das Nações Uni-das (UNFPA), que oferece as bases parao trabalho em parceria entre as institui-ções por cinco anos. Um dos resultadosprevistos no acordo é a elaboração deuma política institucional para juventude.

Juventudes esaúde: dois camposem aproximação

Quatro anos após a sanção da leique instituiu o Estatuto da Juventude,em 2013, delimitando a faixa etária de15 a 29 anos, os efeitos da normativapara o campo das políticas públicas,em especial no setor saúde, ainda nãoforam plenamente assimilados. É o queanalisa André Sobrinho, que integrouo Conselho Nacional de Juventude em2010 e foi consultor da Secretaria Na-cional de Juventude em 2013, à épocada aprovação do documento. Atual-mente ele é servidor do Campus Fio-cruz Mata Atlântica.

“Identificamos claramente que,para parte do campo da saúde, ‘jovem’se restringe à categoria adolescente e

JUVENTUDE

Alianças nacionais fortalecem projeto voltado para as juventudes

Agenda Jovem

Desde 2016 a Agenda também éresponsável pelo eixo Adolescentes,Jovens e Habilidades para a Vida doAcordo de Cooperação Técnica entrea Fiocruz e o Fundo de População dasNações Unidas (UNFPA)(Foto: Ana Maurice)

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não raro com estereótipos relaciona-dos à noção de risco. Sob o prisma dadeterminação social da saúde, a dis-cussão sobre a condição juvenil con-temporânea, que tem a ver com ainserção educacional e no mundo dotrabalho, a participação política, a es-fera reprodutiva ou as culturas juvenis,associada às dimensões de gênero,classe e raça, ainda precisa avançar bas-tante”, argumenta.

A precarização do trabalho juve-nil, os índices de violência e mortalida-de, o acesso aos serviços de saúde, ascondições de vida na cidade e nas no-vas ruralidades, tudo isso, segundoSobrinho, tem que ser olhado com maiscuidado. “É importante que a Fiocruztenha conhecimento e se apropriedesses marcos institucionais do cam-po das políticas de juventude. Sendouma instituição importante para osetor saúde e preocupada com o fu-turo, pode investir para que os cam-pos se aproximem e conversem emescala nacional”, completa.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trin-dade, que foi vice-presidente de Ensi-no, Informação e Comunicação,reforça a importância de uma agendainstitucional para o segmento. Ela dis-correu sobre a importância da articu-

lação com o UNFPA, na reunião queconstruiu o plano de trabalho do acor-do de cooperação. “Temos que darvisibilidade à juventude nas políticaspúblicas, sejam elas no campo da saú-de, da educação ou da inclusão soci-al. A cooperação vai permitir que nosreforcemos mutuamente e que pos-samos consolidar uma agenda volta-da para a questão da juventude nasdiversas áreas de atuação da Fiocruz”,observa Nísia.

Políticainstitucional

Um documento formalizando aAgenda Jovem como parte dos com-promissos da instituição está em viasde ser protocolado. “Deve sair em bre-ve uma portaria instituindo a Agenda.O trabalho de redação e pactuaçãoenvolvido já está bastante avançado”,avalia o coordenador de CooperaçãoSocial da Presidência da Fiocruz, Leo-nídio Madureira.

Com o objetivo de mapear pes-quisas relacionadas ao segmento ju-veni l na Fiocruz, um grupo detrabalho da Agenda Jovem vem rea-lizando um levantamento da produ-

ção acadêmica no período entre 2005e 2015. O grupo procura identificar,nas linhas da saúde coletiva, como ajuventude é retratada à luz dos mar-cos institucionais recentes – a partirde 2005, com a Política Nacional daJuventude. Dele participam represen-tações do Instituto de Comunicaçãoe Informação Científica e Tecnologiaem Saúde (Icict), Centro Latino-Ame-ricano de Estudos de Violência e Saú-de Jorge Careli (Claves/Ensp) eInstituto Nacional da Saúde da Mu-lher, da Criança e do Adolescente(IFF), três unidades da Fundação.

A AgendaA Agenda Jovem Fiocruz é um

compromisso assumido pelas unidadesda Fundação com ações no campo dajuventude, com o intuito de criar coe-são e alinhamento institucionais. A ar-ticulação foi iniciada em 2015, poriniciativa da Cooperação Social da Pre-sidência, e em 2016 foi aprovado oprimeiro termo de referência para aelaboração de uma Política Institucio-nal de Saúde e Juventudes, envolven-do as áreas de pesquisa, educação,serviços de saúde e projetos territoria-lizados da Fundação.

Apresentação do Dream Team do Passinho na comemoração do DiaInternacional da Juventude de 2016, na Fiocruz (Foto: Ana Maurice)

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cidade de Taperoá, nosertão do Cariri, na Pa-raíba, se tornaria pe-quena para aquele quehoje é considerado um

dos maiores especialistas em medici-na tropical do país, o pesquisador JoséRodrigues Coura. Nascido em 15 dejunho de 1927, filho de Lupércio Rodri-gues Coura e Ercília Coura, dividia nainfância as brincadeiras com outro ilus-tre filho de Taperoá: o escritor ArianoSuassuna. Migrou para o Rio de Janei-ro em agosto de 1946 com o objetivode dar continuidade aos estudos, já quea cidade não dispunha de estruturaescolar compatível com suas expecta-tivas. De setembro a dezembro daqueleano trabalhou como auxiliar de escri-tório na Standard Oil (hoje Esso do Bra-sil) para custear os estudos, até ser

AKadu Cayres, Lucas Rocha, Maíra Menezes e Vinicius Ferreira

convocado para o Exército, em 1947.Ingressou na Faculdade de Medicinada Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ), antiga Universidade doBrasil, em 1952. Ali, conheceu a cole-ga de classe Léa Ferreira Camillo Cou-ra. Da relação, nasceram os filhosEvandro Cesar, Lúcia e Luciana Maria.Hoje, o pesquisador renomado é o ale-gre avô de três netos.

Ainda na graduação, a fome deconhecimento levara os caminhos deCoura a cruzar com os de Mangui-nhos. O encantamento de colocar ospés pela primeira vez nabiblioteca do CasteloMourisco, nos anos 1950,é marcante na memória.“Fiquei encantado pelabibl ioteca, com umagrande mesa central

FIO DA HISTÓRIA

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com as revistas da semana, expostasem fileiras, e várias mesinhas late-rais onde estavam sentados algunspesquisadores, com seus aventaisbrancos e pilhas de livros e revistas.Concentrados em suas leituras, atra-vés de suas lentes espessas e arre-dondadas, exalavam ciência naquelesilêncio, quebrado apenas pelo tilin-tar dos pendentes dos lustres açoita-dos pelos ventos constantes naqueleandar. Entrei sem ser notado, pegueiuma das revistas expostas e, fingin-

do que a lia, admirava aquele cená-rio que me encantou na juventude eque ainda hoje me encanta”, descre-ve o pesquisador que atua como chefedo Laboratório de Doenças Parasitári-as do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Tendo este ambiente comocenário, Coura preparou semináriose obteve as referências para as te-ses de doutorado e livre docência,duas teses de cátedras e diversos tra-balhos científicos.

Em dezembro de 1957 concluiu agraduação em medicina.Era o início da promissorae premiada carreira naárea da saúde. A partir daí,vieram a especializaçãoem clínica médica e do-enças infecciosas e para-sitárias, na Universidadede Londres, a livre do-cência e o doutorado emdoenças infecciosas eparasitárias, na UFRJ.Por fim, o pós-doutora-do nos Institutos Naci-onais de Saúde dosEstados Unidos (NIH,na sigla em inglês).Foi um dos fundado-res da Sociedade Bra-sileira de MedicinaTropical, em 1962 –instituição que presi-diu de 1973 a 1975.Ingressou como ins-trutor de ensino nadisciplina de Doen-ças Infecciosas eParasitárias da Fa-culdade de Me-dicina da UFRJ,onde exerceu,em sequência,os cargos deprofessor as-

sistente, professor adjunto, pro-fessor titular e chefe do Depar-tamento de Medicina Preventiva,do qual se aposentou, voluntaria-mente, em 1996.

A chegada à Fiocruz ocorreu deforma gradativa. Das visitas à Biblio-teca de Manguinhos, enquanto estu-dante, surgiu o convite do Ministérioda Saúde para realizar um diagnósti-co da recém-criada Fiocruz, em 1972.“Me licenciei por três meses da UFRJe solicitei ao ministro um economistapara fazer um plano orçamentário eum especialista em pessoal para fa-zer um plano de carreira para a insti-tuição”, relata.

O ingresso efetivo aconteceu ape-nas sete anos mais tarde, quando oentão ministro da Saúde, Mario Au-gusto de Castro Lima, convidou paraque exercesse os cargos de vice-pre-sidente de Pesquisa da Fiocruz e dire-tor do IOC, que à época eramacumulados. O contexto era inóspito:a instituição sofria com os impactosdo episódio conhecido como “Massa-cre de Manguinhos”, com a cassaçãode cientistas e a destruição de amos-tras e valiosos acervos científicos. “Le-vantamos as necessidades de todas asunidades e fizemos um relatório envi-ado ao novo presidente da Fiocruz,Guilardo Martins Alves, e ao próprioministro”, recorda.

Coura adotou a estratégia de tra-zer diversos líderes de pesquisa queestavam disponíveis no Brasil ou noexterior, entre os quais Leônidas e MariaDeane, Luis Rey, Helio e Peggy Perei-ra, Zigman Brener, Zilton e Sonia An-drade, Henrique e Jane Lenzi. Couraainda seria diretor do IOC, mais umavez, na gestão 1997-2001, dessa vezescolhido por voto segundo a tradiçãoparticipativa que foi instalada na insti-tuição a partir dos anos 1980.

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Ao mestre,com carinho

Em uma carreira que continua ati-va no auge de seus 90 anos, o “pro-fessor Coura”, como costuma serchamado por colegas de trabalho, alu-nos e ex-alunos, acumula diversos fei-tos no campo do Ensino. Um dosprimeiros programas de pós-graduaçãostricto sensu da área médica no Brasil,o curso em Doenças Infecto-Parasitári-as da UFRJ foi criado por ele em 1970.Uma década depois, enquanto diretordo IOC e vice-presidente de Pesquisada Fiocruz, implantou os programas dePós-Graduação em Biologia Parasitáriae em Medicina Tropical, oferecidos atéhoje pelo IOC. Em 1980, criou o Curso

Básico do Instituto Oswaldo Cruz e, em1981, foi a vez do Curso Técnico dePesquisa em Biologia Parasitária, quedeu origem às formações de nível téc-nico oferecidas atualmente no Insti-tuto. Ultrapassando os muros deManguinhos, o legado do mestre sereflete em diversos estados. Locaiscomo Paraíba, Piauí, Pará, Amazonase Mato Grosso do Sul foram contem-plados por projetos de pesquisa e for-mação de recursos humanos.

Para Coura, os mais de 200 mes-tres e doutores que passaram pela suaorientação ou pelos cursos criados porele são o seu maior legado. “A forma-ção de pessoal é fundamental. Estespesquisadores são multiplicadores, que,por sua vez, vão formar novos cientis-tas, fazendo o conhecimento avançar”,afirmou ao receber, em 2014, o Prê-

mio Fundação Conrado Wessel deMedicina, um dos mais destacados emseu vasto acervo de láureas e reconhe-cimentos, incluindo a Grã-Cruz da Or-dem Nacional do Mérito Científico,mais alta insígnia concedida pela Pre-sidência da República.

Atualmente, José Rodrigues Couracoordena uma equipe com seis pesqui-sadores e segue com o trabalho de for-mador de novos cientistas por meio daorientação de alunos de pós-gradua-ção. Reconhecido como pesquisadoremérito da Fundação em 2006, Couraacumula mais de 260 trabalhos emrevistas nacionais e internacionais. Foi,ainda, um dos responsáveis por recu-perar a revista Memórias do Institu-to Oswaldo Cruz, hoje a publicaçãocientífica brasileira mais acessada emciências biológicas.

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