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comciência 1 Ano 1 - Nº 2

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Revista Comciencia nr. 02

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comciência 1Ano 1 - Nº 2

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Expediente Um grande salve aos poetas e músicos, aos amantes do esporte

e aos loucos apaixonados pela vida, que reverenciam a pátria que os abriga pelo mero ensejo que o viver lhes causa à alma; e pela inspiração, aquela inspiração simples que o solo varonil lhes dá, dia após dia.

Salve essas almas sensíveis que tornam imorredoura a verde-esperança do povo heróico que resplandece — mesmo cansado — ostentando um plácido sorriso de incompreensão. Em tantos azuis que lhes embalam o sono, o brilho do lábaro estrelado irradia a luz da liberdade excelsa que, como um sol, ilumina e aquece os corações aflitos e oprimidos dos povos que por aqui vagueiam.

Um respeitoso salve a essas grandes e nobres almas que de maneira inexplicável fogem ao comum — resignado e adormecido — do brasileiro.

Um salve a essas grandes e incógnitas personagens. Por serem raras, mas resistirem, ofertando-nos um importante referencial de sa-tisfação pessoal e de amor-próprio. Eu os salvo com fervor e gratidão. E é com alma descarada e nua que me apóio nesses mansos patriotas que percebem a vida e seus movimentos e se movem em torno dos acontecimentos com postura própria — o que me deixa à vontade para navegar pelo mundo das verdades ocultas que não menos curio-samente meus pensamentos perseguem tentando desvelar.

Esta edição de Comciência é um tributo às mentes pensantes que ousam romper a neblina do lugar-comum, do falso-patriotismo e da massifi cação, dominando seus ensejos vis de dominação pelo prazer de exercer a dose certa de loucura que os torna capazes de exercer a única política possível à excelência do espírito: a política do amor tes-temunhada por Jesus. É uma homenagem patriótica aos que se vestem de todas as cores para derrubar as fronteiras que teimam em querer negar o senso patriótico do cidadão planetário.

Editorial

Lúcia Roberta Mello

Mãe noturna que gerou o sêmen sapiens no mundo

E calada foi e é o símbolo da raça humana

Ergue-te esplêndida, do seio deste afã rotundo

E desperta a consciência dessa terra insana

Mãe noturna, que adormecida semeou a esperança

E ergue assim, renovada de amor

Ó mãe ingênua, forte e saudosa (da criança)

Eis que a ti me volto, empenhada em teu louvor

Mama Áfr ica, dona do gene original da nossa raça

Perdoa os desfr utes ingratos de teus fi lhos

E chama-os de volta, com ternura e graça

São todos parias, distantes dos teus trilhos

Mas se por aí viveram, de ti esquecidos,

Ensina-lhes que amor de mãe não passa.

Lúcia Roberta - 19/11/05

Associe-se:www.anavisa.com.br

Contatos: [email protected]: (11) 32313735 / 32370315

Editora: Lúcia Roberta Mello

Conselho Editorial: Rogério de Almeida Freitas, Jether Jacomini Filho, Carlos Cruz, Tadashi Murakoshi, Margit Wunderlich e Rodrigo Freitas.

Criação e diagramação:

Adaptação para internet: Glauco De Bellis.

Apoio: www.orbum.org / Krysamon Cavalcante e Fernando Moskovicswww.consciencia.org.br / Eros Salermo

Contatos: Lúcia Roberta [email protected].: (11) 7426-0159Estúdio Z3Tel.: (11) 6979-1465

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Muito se discute sobre se as transformações tão evidentes englobam outros tipos de avanço, principalmente no que diz respeito à ética. Nos deslumbramos com tanta tecnologia e recursos disponíveis que mal conseguimos avaliar os escores atingidos na escala ética, cujo gráfico é formado por medidas milimétricas, levando-nos a um convívio ainda atrasado, e de baixa velocidade em suas passadas. Contudo, apesar de tímido e quase invisível, o eixo de crescimento ético possui movimento.Das virtudes, a ética demonstra ser a mais difícil de se obter. Ela custa a ser desenvolvida de maneira mais solta e corrente. Ainda vivemos o castigo como a sua forma mais rudimentar de se gerar bons princípios (quando é possível). A correção ainda é o instrumento que permeia as sociedades que alcançaram prestígio através do seu polimento exterior, relegando questões fundamentais como a ética para um plano de inferior prioridade. Agora, contudo, o foco é diferente, e muitas pessoas movimentam-se na direção deste tipo de mudança. Urge transformar a convivência atual, que não é a melhor, por uma adaptação mais ideal. Aristóteles (384-322 a.C.) descreveu: “O homem bom é, por si mesmo, independentemente da sociedade, completo em sua interioridade; a justiça lhe é uma virtude vivida, por meio da ação voluntária”. A lei continuará a servir o homem, haja vista a realidade e o tempo e muito trabalho que se tem pela frente. Porém, o que pode ser mais bem desenvolvido é uma lei interna, psicológica, cujos efeitos sejam o de formar bases éticas a partir da razão. Ou seja, podemos ser melhores de dentro para fora, diferentemente de se temer as punições pelo que aprendemos de fora para dentro.Esta lei interna se assemelha a um funcionamento psíquico auto-regulador, que é o responsável por direcionar, inconscientemente, cada pensamento ou ato cometido injustamente conforme os padrões de aprendizagem às punições correspondentes.

As transformações estão presentes na evolução e ao nos darmos conta sobre a atualidade, vemos as incontáveis mudanças ocorridas acima da média de qualquer época anterior a nossa, e assim, estima-se, continuará progressivamente. As modificações são bem vindas, no entanto, causam surpresa, inércia, rejeição em alguns casos, indecisão e adaptação. Não é condição fácil mudar, principalmente pelo fato de sermos humanos e possuir uma complexa maneira de lidar com cada situação que se nos apresenta.

Varal de Utopias A ética libertadora da prisão psicológica 04Desafi o ao leitor Carência: este mal lhe afl ige? 06

Cidadania Planetária Cidadania planetária e o sentido da vida 09O mestre e o discípulo 13Trip Hallstatt, Áustria 1 4

Política Planetária Consciência Política 16Ação Terceiro Setor no âmbito da nova era 19

Coluna Nuno Andrada Masturbação fi losófi ca 22 Ciência e Espiritualidade Arquivos da eternidade ... 24

Apontamentos sobre o livro OMNIVERSALIS 27 Arqueoastronomia Convite a fi losofar 28

Opinião O poder de cura de Jesus 32Ecologia O polêmico ônus do consumo 34

Coluna Rogério de A. Freitas Omissão e silêncio: incentivo ao caos 37Filosofi a Oriental 39

Espiritismo e Ciência TCI (Transcomunicação Instrumental) 40Educar é... Filosofi a na educação 44

Individualienação — a vida moderna e seus impostos — 48Conhecimento e transformação 50

Martin Luther King 53Cinema MATRIX e espiritualidade 54

Livros Os novos horizontes avistados por Jan Val Ellam 56Impressões sobre o livro Inquisição Poética 58

Humor 59

Ou seja, encontra-se em nós a seqüência lógica de justiça: culpa, punição e desenvolvimento. Diz Platão (428-347 a.C.) que o castigo segue de perto o pecado. Hesíodo (770-700 a.C.) aponta que: “nasce o castigo no momento mesmo em que nasce o pecado.” E, a polaridade contrária ocorre também, os benefícios fazem parte deste tipo de auto-regulação. Este mecanismo psicológico acompanha a evolução humana e, portanto, também está em desenvolvimento, conferindo-lhe uma determinada atuação, que encontra avanço a medida em que a consciência a seu respeito também progride, descortinando estes acontecimentos obscurecidos pela nossa inconsciência.O conhecimento a respeito deste tipo de transformação é o primeiro passo para a sua realização prática. Primeiro conhecer e fazer sentido, para depois desenvolver esta nova revolução. É uma oportunidade de se educar e modificar conceitos e impressões, ainda que a experiência e o cotidiano nos digam o contrário através dos seus fatos negativos, percebidos ao vivo e por meio das notícias. A consciência que se pode obter acerca da vida ética é motivadora para que se continue na íngreme jornada. É uma nova competência que se pode chamar de Inteligência Ética.Transformações por meio deste tipo de inteligência são fortes e interferem no convívio humano, favorecendo a quem dela se utilizar. Colher-se-á o fruto daquilo que foi plantado competentemente. Quem não desejará, em sã consciência, usufruir uma lei que oferece bons resultados no lugar de desprazeres, dependendo de como somos e agimos? Quem há de se manter, voluntariamente, preso à corrente dos efeitos causados por si próprio? Quem almeja maior liberdade através da ética?

*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, consultor, conferencista e escritor. É professor de gestão de RH pela Faculdade de Administração de Limeira, e de Pedagogia Empresarial pela Faculdade Maria Imaculada em Mogi Guaçu/SP. É mestrando em Liderança pela Unisa Business School. E-mail: [email protected]

A ética libertadora da prisão psicológica

Armando Correa de Siqueira Neto*

Conteúdo

Compartilhe conosco seus sonhos.Escreva para: RedaçãoE-mail: [email protected] [email protected]

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OMOS EXCEDENTES. EXCEDENTES DE ORGULHO, VAIDADE E EMOÇÃO. Excedentes de sexo e de complexo, excedentes de afeto e intelecto, exce-dentes de idéia e opinião.

E por que somos assim?— Pai e mãe — na explicação de Freud.Mas há noção de realidade mais sensata?

Uma que aprofunde esta explicação ou nos promova a razão maior? Por que alcançamos tão pouco da verdade que nos guarda?

Onde nosso pai e onde nossa mãe? Onde ambos, que são a explicação para todos os confl itos?

Nosso pai, o destino que se nos oferta, silencioso, às escolhas do caminho. A mãe, nossa terra pátria. Terra pátria? Não seria “mátria”, como bem nomeou Caetano Veloso?

Bem... O pai, dono da razão, disponibiliza os sinais do espírito para que cumpramos compromissos pré-agen-dados. Une habilidades às circunstâncias da vida e espe-ra por nossas ações; uma a uma, todas as simples ações que nos fariam e fazem progredir. A mãe, dona de muitos sentimentos e penhores, nos abraça em seu leito e nos aquece, nutrindo nossos sonhos e corpos com sua emoção, sua cultura, seus frutos, suas fl ores e espinhos. Depois nos rejeita e nos faz homens e mulheres de vida própria. É aí que nos perdemos, pessoas comuns, depauperados de amor e honra.

Pois eu lhes digo que essa é uma dedução parca de uma psicologia barata que nada diz senão o que estamos acostumados ou simplesmente abertos a ouvir e aceitar. E o que importa se não a compreendemos bem?

Estamos tão rodeados de argumentos obsoletos — muitas vezes medíocres — que tragamos diariamen-te qualquer um deles, sem pensar no que estamos dando como alimento ao nosso espírito, à nossa mente. E onde o problema? Provavelmente na falta de excelência: se não a do doutor que os deitam, com certeza a nossa própria,

pelo revoltante hábito que temos de aceitar tudo o quanto nos dizem apenas porque parece ter alguma lógica e por-que fi ca “mais fácil” entorpecer-se das idéias alheias do que parar para pensar por esforço próprio.

Se fôssemos analisar cientifi camente a origem e a dinâ-mica da carência, que área deveríamos evocar? Talvez uma área da genética que ainda não nos está ao alcance, ou está, mas não a vemos? Que tal procurarmos juntos?

“Somos carentes. Carentes de comida, de abrigo, de afeto e educação. Carentes de beijo e pleito, carentes de terra e teto, carentes de política e ação”.

S

arência: este mal lhe afl ige?

lança um desafio: faça suas pesquisas, entrevistas, relatórios, e envie para a redação da revista. Dê-nos sua opinião, escreva sobre suas carências, relate suas investigações nesse campo. Discutiremos os aspectos mais abordados abertamente e quem sabe chegaremos a uma conclusão edificante?“Estamos tão rodeados

de argumentos obsoletos — muitas vezes medíocres — que tragamos diariamente qualquer um deles, sem pensar no que estamos dando como alimento ao nosso espírito, à nossa mente”.

Desafi o ao leitor

Compartilhe conosco seus sonhos.Escreva para: Lúcia Roberta MelloE-mail: [email protected]

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ALVAR A VIDA! Eis, talvez, a mais importante missão que cada membro da espécie homo sa-piens deveria abraçar como aspecto essencial da sua existência. Mas quem se importa? A pressa da vida, a ansiedade imposta pelas obrigações do cotidiano, o foco da atenção pessoal na busca pela sobrevivência, a incapacidade de perceber a

realidade política em curso, a inabilidade na arte de amar o semelhante, a ausência de objetivos nobres e a pere-ne irresponsabilidade, adquirida ao longo da história, de transferir para deuses, espíritos e outras entidades, respon-sabilidades que lhe são próprias, terminaram por transfor-mar o ser humano em algoz da sua própria existência e de tudo mais que a sustenta. Perdido na cegueira promovida pela sua cretinice diante da vida, ele mais parece um está-

Cidadania Planetária gio intermediário entre os hominídeos e o homo esclareci-do que ainda haverá de surgir — assim espero — porque o epíteto homo sapiens sapiens, que a paleoantropologia tão generosamente nos oferta, parece ainda não encontrar guarida nas atitudes humanas.

A vida na Terra está em perigo, sim, independente dos ditos seres pensantes do planeta perceberem ou não. Mas aqui não estou me referindo às conseqüências da cretinice humana como sendo os fatores que poderão pôr fi m à vida, da forma como a conhecemos. Em outras palavras, não estou apontando os problemas ambientais (efeito estufa com todas as conseqüências nefastas para o pla-neta notadamente o aumento do nível do mar; tsunamis, ciclones, terremotos, dentre outros) nem muito menos as guerras nucleares e/ou bacteriológicas (com potencial para

e o Sentido da Vida

Cidadania planetária

S

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destruir o planeta e tudo o que nele existe) como sendo os fatores da destruição da vida. Também não me refi ro a outros processos em curso que objetivam transformar a vida em um “podre existir”, como o tráfi co de drogas (cujas elites que o sustentam, que o explicam como sendo algo “normal”, devem ter o tragicômico objetivo de que o bom para a Terra é ter 6 bilhões de viciados “vivendo a vida” enquanto ela se esvai...) e o fl uxo fi nanceiro do dinheiro sujo de sangue e de sofrimento moral produzido pelo tráfi co, que é saudado como “muito bem-vindo” por todos os governos do planeta, sem exceção, que crimino-samente o recebem como “fator de desenvolvimento” e “fortifi cação das bolsas de valores” do mundo globaliza-do. Também não se ressalta aqui a institucionalização da mentira como “Política de Estado” (vide os man-datários do Brasil, EUA, Cuba, Venezuela, Itália, Inglaterra, China, Rússia, dentre outras nações) nem muito menos o portentoso comércio mundial de armas cujas elites devem ter tam-bém a idéia magnífi ca de que todas as nações da Ter-ra devem armar-se, o máxi-mo possível, para poderem construir a felicidade neste mundo. A nada disso estou me referindo, até porque os problemas citados são con-seqüências e não respon-dem pela causa que põe a vida em perigo.

Afi nal, qual o fator que ameaça a vida? A resposta é simples: a cretinice hu-mana. Esta sim, causa de todos os fatores apontados que a podem destruir.

Alguém dirá que esse fator não causa queda de as-teróides, de cometas, e nem provoca tsunamis, ciclones, e terremotos, o que parece ser óbvio. Contudo, causa a corrupção moral das elites governamentais e do povo em geral, o que não motiva os primeiros a investir em tec-nologias e medidas preventivas que salvaguardem a vida humana diante dessas ocorrências, e não permite que o povaréu crie uma cultura de indignação diante do desres-peito pela vida e pela miséria gerada pelos maus governos. Detalhe: nas atuais circunstâncias, por força da desagrega-

ção planetária motivada pela cretinice dos governos e pela incapacidade dos cidadãos deste mundo de se enxergar como irmãos e, portanto, membros de uma mesma família, se um bólido celeste de tamanho considerável entrar em rota de colisão com a Terra, novamente teremos de expres-sar a nossa habilidade em recorrer a Deus, na medida em que somos incapazes de nos unir em torno de um objetivo comum planetário. E ainda alguém haverá de reclamar di-zendo: “como Deus pode permitir algo assim?”

Somos responsáveis pelo nosso próprio destino; so-mos os pilotos da jornada desta família planetária pelo cosmos afora.

Os dicionários, qualquer um deles, conceituam um in-divíduo cretino como sendo alguém imbecil, idiota, estú-pido. “Cretinismo” é tradu-zido como sendo defi ciência de desenvolvimento físico e mental, sendo que, para o que se pretende simbolizar, apenas o aspecto do embru-tecimento mental importa. O fato é que a cretinice nos cega a ponto de nos inca-pacitar de pensar a vida de algum modo, levando-nos à estranha situação na qual hoje se encontra boa parcela da humanidade: reféns do consumo alie-nante — onde há riqueza para tanto —, da miséria e do fanatismo de ordem política ou religiosa.

A capacidade de ques-tionamento parece ter se ausentado da espécie homo sapiens. Matamos o próxi-mo em nome dos deuses das guerras e dos deuses do céu e ainda achamos

tudo isso normal, sinal evidente da cretinice. Mandatários conclamam guerras enquanto seus assassinos profi ssio-nais estrategicamente bem colocados na hierarquia dos poderes armados constituídos realizam o trabalho sujo, ao mesmo tempo em que se autoproclamam heróis e enchem o peito com medalhas.

Cada guerra que ocorre é desserviço ao ideal que to-dos deveríamos defender: a união planetária em torno da manutenção da vida e do progresso planetário. Cada jo-vem do mundo que forma sua personalidade sem ter uma

“fi losofi a pessoal” que dignifi que a vida é um potencial cretino a enfeá-la com o produto da sua ignorância. E o interessante é perceber que “fi losofi a” não é matéria obri-gatória na grade curricular das escolas básicas do mundo. Por que será? Uma das razões é que a fi losofi a pressupõe o questionamento diante da vida, o que provavelmente tornaria mais difícil a conduta fácil das elites do establish-ment que sempre manipulam o curso dos acontecimentos. E assim, como produto do longuíssimo processo de cretini-ce que vem sendo desenvolvido há muito tempo em todos os quadrantes da Terra — e que parece fazer bastante sucesso junto às gerações que se sucedem no palco plane-tário, pela quantidade de adeptos à onda — a fi losofi a foi expulsa da base curricular que ajuda os jovens do mundo a formar as suas personalidades e a criar os seus valores que os dignifi quem diante da vida.

Será, porém, que a importância dessa questão é clara para muitas pessoas? Será que o atordoamento produzido por uma civilização globalizada permite a postura crítica pessoal? Como alguém, sem um código fi losófi co de con-duta pessoal, poderá dar algum sentido a sua vida que a possa dignifi car? Afi nal, quantas pessoas nesse mundo pensam por si mesmas?

Como disse o ex-Beatle George Harrison na sua can-ção-título “Brainwashed”, do seu último trabalho musical, a imprensa, as religiões, o modo como se vive, os poderes mundiais, tudo isso promove lavagem cerebral nas pessoas sem que elas percebam que se tornaram reféns de mo-dismos, de notícias, de sistemas que as aprisionam, e tais quais vampiros se alimentam das suas sensibilidades e das suas posturas ingênuas ou pouco refl etidas.

Cada ser humano deveria pensar por si mesmo. Contu-do, nos dias atuais isso parece tão estranho que devemos nos questionar se isso é realmente possível. Será? Você, prezado leitor, cara leitora, é capaz de pensar por si mesmo ou prefere deixar esse trabalho para outros que lhe digam o que é “pecado”, o que é certo e o que é politicamente correto, enfi m, o que é aceitável ou não? Já aqui não falo do livre-pensar mas, pelo menos, do pensar de algum modo.

Assistimos ao longo dos anos 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005 a um festival de inverdades promovido pelas maiores autoridades dos países citados, todas elas rela-tivas aos interesses inconfessáveis das ditas autoridades, envolvendo desde mensalidades indevidas à prospecção de petróleo em meio ao sangue de muitos, espécie de niilismo moral plenamente harmonizado com a apatia da

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opinião pública mundial, se é que existe algo que assim possa ser tido. A imprensa mundial, porém, não estampou esse tipo de postura como conduta inaceitável, o que faz com que todos aceitem como comum e normal um presi-dente de uma nação faltar com a verdade reiteradas vezes, sem a menor preocupação com a ética e a justiça dos fatos. O interessante é que estes, encastelados nos poderes tem-porais como profi ssionais da hipocrisia, se afi rmam como “pais da ética e da conduta ilibada” e conseguem manter os seus altos índices de popularidade. Isso se deve a quê, se não à cretinice que nos marca o tirocínio?

Precisamos criar uma “opinião pública mundial”, conecta-da aos valores que dignifi cam a vida para fazer frente a essa onda de cretinice governamental. Necessitamos criar uma cultu-ra de indignação diante das criminosas mentiras pronunciadas pelas autoridades que enfeiam a educação das novas gerações, que partem para a vida adulta órfãs de ídolos e de exemplos dignifi cantes. Somente o exercício consciente da cidadania pla-netária que torna parceiros todos os habitantes da Terra, poderá construir esse circuito da boa luta e do bom combate que nos permita e promova a nossa sobrevivência, enquanto família re-sidente em uma mesma morada no cosmos.

Cada ser humano deveria ser motivado a se esforçar por descobrir um sentido para a vida no qual o seu papel — e de todos os que lhe são semelhantes — tivesse lugar de destaque, fazendo com que essa função dignifi casse a vida e não a destruísse. Contribuir para que isso venha a ocorrer um dia, enquanto houver expectativa de futuro, é obrigação de cada um. Caso contrário, não haverá futuro algum para a raça humana, pois, ou nos autodestruiremos ou seremos destruídos por algo que poderia ser evitado.

Talvez esse seja um discurso que somente aos cida-dãos dos séculos futuros poderá interessar; por enquanto, talvez venha a cair no vazio da atenção das pessoas que estão com suas mentes voltadas para aquilo que lhes é ditado pelas conveniências das macro-forças mundiais, através dos modismos e da tresloucada estratégia que têm de pôr em evidência aspectos acessórios para prender a atenção dos incautos, enquanto o que é essencial à vida

continua invisível aos olhos, até porque a mídia disso não costuma cuidar; afi nal, não dá audiência.

A quem interessar possa, informo que estou me esfor-çando para transformar a minha vida numa espécie de trin-cheira, nessa guerra contra a cretinice instalada que, traves-tida das cores da falsa religiosidade e do pseudo-exercício político partidário de muitos irmãos e irmãs da nossa espécie homo sapiens, está envenenando a vida na Terra. Na minha trincheira não existe lugar para o desamor, nem muito me-nos para a violência, pois apesar de muito pequeno, esforço-me por não causar dano à alma de ninguém. Mas daí a ter que aplaudir ou aceitar passivamente atitudes que enfeiam e envenenam a vida, é uma outra história.

Recuso-me a fazer parte dessa onda de cretinice. Para tanto, tenho o meu próprio código de conduta que pode até não me levar a nenhum lugar, mas, seguramente, diri-girá meus passos para direção diferente do que de forma genial o Prof. Hermógenes de Souza tachou como sendo a “normose” que enfeia a vida.

Sonho com um Conselho Planetário que eleve a vida na Terra ao patamar de dignidade que lhe é inerente, e que pos-sa nortear a política das nações. Sonho com esse conselho trabalhando com os organismos internacionais que tanto irritam o governo republicano dos EUA, que tudo fez e faz para que estes não surjam, pois enfraqueceriam o império, conforme pensam os falcões de Washington. Precisamos, to-dos, desesperadamente, de um fórum internacional que dê guarida à discussão séria e responsável das questões essen-ciais à vida. Quanto mais demorarmos na percepção de que somos — todos os cidadãos deste mundo — sócios de um mesmo destino, parceiros de uma jornada necessariamente feita em grupo, viveremos desagregados, desamparados pela luz da inteligência e desgraçadamente destinados a sermos eternos pedintes dos favores e das graças divinas, por ser-mos incompetentes na administração das próprias vidas.

Basta de cretinice. Que cada um crie o seu próprio código de conduta que dignifi que a sua existência, con-tribuindo, assim, para o embelezamento da vida e para o progresso do mundo que nos serve de berço.

Cidadania planetária

Jan Val Ellam

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e o DiscípuloO MESTRE

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O indivíduo elege o líder espiritual da sua preferênciade acordo com valores, cosmogonia e ideais em comum.

Espera dele o melhor, em face da incumbência conferidaàquele de alargar os horizontes conscienciais da humanidade,tarefa de muitos chamados e poucos escolhidos.

Das duas, uma: faz questão de ignorar as defi ciências do mentorou se sente traído na confi ança depositada de boa-fé.

Esquece que o guru que tanto trabalha em favor de seus parestambém tem sua dupla cota de sombras e luzes,estando aqui para se ajudar, ajudando ao próximo.

É como o fi lho que esquece de enxergar os pais como companheirosde jornada evolutiva e, por idealizá-los, exige deles mais quea condição humana permite, a ponto de condicionar seu amorao atendimento da pauta de reivindicação.

Da mesma forma que o maior encanto do amor fr aterno deve sera dispensa de reciprocidade, a admiração sincera não merece viracompanhada de expectativa de perfeição.

Hidemberg Alves da Frota

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Há muitas moradas na casa doPai...

Trip

HALLSTATT, ÁUSTRIA

O respeito à natureza implica adaptação e comunhão com o ambiente. Em vez de derrubar matas, destruir montanhas e alterar a condição geral do planeta, deveríamos ter entrado em acordo com ele e respeitado suas ofertas geográfi cas. Uma cidade inteira é exemplo disso. Na Áustria, um exemplo de respeito mínimo ao que Deus nos emprestou como lar.

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OMOS UMA HUMANIDADE ENLOUQUECIDA PELOS PRÓPRIOS DEVANEIOS, criadores de leis temporárias que não se submetem às leis que inapelavelmente incidem, do cosmos, sobre nossos espíritos eternos.

Deus não fez as leis dos homens, posto que essas são breves, caem facilmente por terra conforme se dão, épocas e homens de maior

poder. Desfalecem e morrem pela própria fragilidade com que se prestavam a servir apenas aos desejos e vaidades dos que as criaram.

É hora, pois, de desencadearmos nossa própria capacidade de raciocínio e ação e direcionarmos nos-sa insatisfação não para o Pai, que jamais foi ou será responsável pela insanidade que praticamos aqui, mas sim para os fazedores de regras injustas, os déspotas

do “governismo” mundial e, sobretudo, pela nossa própria inapetência ou inabilidade em vetar os mandos e desmandos do poder público, esse poderio despropositado que tudo quer para si e nada oferta ao povo — o contrário, exatamente, da lei maior que Deus mesmo pratica, que é a de dar sem nada pedir em troca.

Somos hábeis em reclamar e acusar os líderes do Estado, os legisladores e executivos, até o próprio Deus, mas onde o discernimento em julgar o que é bom ou não para a nossa família, comunidade... para nosso país, nosso planeta?

A consciência política está perdida entre as pro-messas de vida melhor e as migalhas de esperança que nos são jogadas, governo após governo, sem que nos lembramos que há ressonância em nossos íntimos com a idealidade hipócrita dos parlamentares que nos re-presentam na Câmara. Acaso não é através do nosso voto inseguro que tais e quais os corruptos são elei-tos? E quando somos levados a rejeitar um governo corrupto pela obviedade dos escândalos que provocam, imediatamente não pendemos para o lado da corda, esquecidos que quando ganham poder são igualmente corruptos e também exercem tirania?

Bons tempos aqueles em que tínhamos consciência política e saíamos às ruas, promovíamos rebeliões popu-lares em contraposição à tirania e sabíamos exatamente o que queríamos para nosso povo.

Na verdade, os levantes populares estiveram em nosso passado político, em todo canto do mundo, a pleitear a liberdade de expressão, o poder de decisão pelo voto, o direito ao descanso remunerado...

S

Direitos e deveres, cidadania, política... Que conceitos são esses que parecem estar a cada dia mais e mais distantes de seu sendo natural?

Consciência PolíticaO contrário, exatamente, da lei maior que Deus mesmo pratica, que é a de dar sem nada pedir em troca.

Política planetária

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Lúcia Roberta Mello

Se pensarmos bem, de um lado essas coisas já nos pertenciam — e pertencem — quando havia consciência de que somos guiados por Deus e suas leis. Nossa infeliz condição de intelectualidade complexa e desmedida gana pelo poder é que nos roubou tudo isso, além do senso do correto, do pensamento ético. De outro lado, o que fi ze-mos com os direitos conquistados à custa de muitas vidas e sonhos, senão pisarmos em nossa própria inteligência, repetindo e até agravando em nós mesmos o que já era extremamente ruim?

A título de refl exão, deveríamos pensar em nos in-formar melhor antes de emitirmos opinião sobre este ou aquele governo, fazendo um balanço entre as eras, os po-vos, os direitos conquistados e os deveres a serem cumpri-dos por cada um de nós, antes de nos metermos a digitar a tecla verde da urna eletrônica.

Falta a todos nós, que elegemos os nossos políticos, instrução e tirocínio. Falta-nos raciocínio inteligente que nos permitamos negar a paga em troca de voto e coragem de pleitear leis justas que nivelem a distribuição de renda num patamar de satisfação globalizada, que ofertem uma linha fi losófi ca de educação que ensine os herdeiros do mundo a pensar antes da tomada de decisão e ousar, com plenitude de si mesmos e nas diversas cadeiras que de-fendem a ciência, a tecnologia, a religião e a política, pela regeneração da estrutura social da qual fazem parte.

Mas não devemos esperar dos herdeiros, apenas. Deve-mos iniciar nossa reforma agora mesmo, procurando meios em nós mesmos de mostrarmos nossa indignação, ou an-tes, de sermos capazes novamente de nos indignarmos com aquilo e aqueles que nos achacam. Nenhum outro meio, senão pensando e agindo conforme nossa clareza.

Despojemo-nos da overdose de futilidade com que re-cheamos nossos dias e empenhemo-nos em agir em prol do melhoramento próprio e social, assumindo a consciência política deitada no mundo por todos os grandes mestres e avatares que por aqui passaram e passam, periodicamente, a fi m de tentar minimizar a escuridão que assola o mundo.

Escandalizados, mas nada indignados, assistimos às mortes trágicas dos tsunamis, furacões, atos terroristas, frio, fome, peste... Mas onde o movimento que exigisse das autoridades mundiais atitudes preventivas para essas calamidades?

Sorrateiramente, a gripe aviária se agrava e toma es-paço no mundo, criando suas variações viróticas no ho-mem. Onde a ciência da medicina para exercer controle sobre isso e onde a atitude responsável e amorosa do po-der político das nações?

Não reagimos porque sequer conhecemos as nuanças da problemática e, sem conhecimento de causa, não conse-guimos antever as proporções desmedidas que fatalmente ocorrerão por conta da falta de responsabilidade sobre essa e outras questões de ordem virótica, para citar apenas um dos aspectos que a atualidade tem de enfrentar às escuras.

O conhecimento é a base para a evolução e o melhora-mento. Mas não o conhecimento informativo da mídia par-tidarista; e nem o conhecimento meticulosamente dosado que o governo oferece, orgulhoso, como se fosse educação, mas sim o conhecimento das causas de todas as coisas, in-clusive da nossa própria falta de indignação e atitude.

Não é estranho que as últimas décadas não tenham gerado gênios ou loucos provocadores de mudanças estrondosas? Onde os revolucionários do mundo? Can-saram-se de exercer seus heroísmos e serem mortos nas fogueiras assassinas da displasia mental dos poderosos, ou esses heróis somos nós mesmos, que devemos içar bandeiras de inteligência real e movermo-nos com loucura comedida para agir com estratégia e mudar a nós mesmos, antes de querer mudar o mundo?

Despertarmos a consciência política é um passo im-portante nesta etapa do caminho, pois é assim que che-garemos ao entendimento dos mestres e conseguiremos dimensionar nossa própria ignorância. O passo seguinte é o desenvolvimento fi losófi co, pelo exercício da religião do amor, como forma excelente de chegarmos a exercer uma política de fato redentora e responsável.Co

nsciê

ncia

Polít

icaJá existem sinais de transformação ...

Pastoral Na retaguarda do aparato social, questionei sobre o papel das empresas cidadãs

como intermediárias entre outras esferas de poder em todo o planeta. Acompanhei os indicativos que movem os diversos segmentos de atuação e metodologias, caracteriza-das pela capacitação e ensinamento diferenciado. Avancei nessa investigação e refl eti com amplitude na dimensão de uma nova concepção pedagógica - focada no desen-volvimento do cidadão comprometido com o surgimento de um novo ambiente.

O caminho se delineou quando registrei uma impressão comum ao meio das organizações não governamentais: a importância da capacitação adequada no cumprimento de sua missão e, principalmente, a visão de conscientizar seus par-ticipantes sobre a valorização e respeito ao próximo evidenciado no trabalho de responsabilidade social.

Meu olhar direcionado para as empreendedoras sociais foi estimulado pelo surgimento de um exército de facilitadores, com sensibilidade para investir tempo em seu próprio crescimento espiritual e colaboração junto ao desconhecido.

Os ventos se moviam na direção certa quando identifi quei nesta verten-te claros indícios de uma nova postura fr ente ao relacionamento interpessoal: o compromisso e o esforço conjunto para agregar valor em benefício da humanidade. Um novo paradigma acolhido pelas mentes em processo de expansão: “reduzindo o número de marginalizados e excluídos estaremos efetivamente nos tornando me-lhores, além de reforçar e construir novos modelos de compartilhamento”.

Minha intuição ainda sinalizou em direção à releitura dos ensinamentos se-cretos: estava determinada em busca de uma resposta conclusiva sobre o compor-tamento e esboço de uma sociedade mais humanitária em função do momento de grande espiritualidade envolvendo o resgate da orientação planetária.

O resultado conclusivo da minha análise foi satisfatório. De tudo, assimilei que nada acontece sem a mobilização do homem em seu próprio

contexto social. Cada qual à sua maneira, formando um exército de facilitadores comuni-tários trabalhando voluntariamente, em rede, para a extensão do bem comum.

Em paralelo, identifi quei através da releitura das vivências bíblicas que tais fatos indicam elevação espiritual e fortalecimento da alma. A vivência de refl exão sobre este momento trouxe mais discernimento sobre questões que abarcam a sociedade atual. Nesse sentido, aprofundei o entendimento sobre os conceitos de extrema generosidade contidos nas palavras do mestre Jesus: “Para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10:10).

Mais além, se interpretarmos os insights e ensinamentos sagrados na sua es-sência, nos sentiremos responsáveis pela abertura de uma nova realidade.

Vivenciando momentos de grande oportunidade espiritual nos sensibilizamos com a expansão da consciência de que é preciso avançar na refl exão sobre compor-tamentos de ética, solidariedade e amor ao próximo.

da Criança

Terceiro Setor no âmbito da nova era

Dra. Zilda brinca com crianças no Projeto Brinquedos e Brincadeiras

AçãoPolítica planetária comciência 19

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comciência 20 comciência 21

EFERÊNCIAS DE BOAS CONDUTAS NESTE SENTIDO NÃO FALTAM. Na linha de movi-mento espiritual qualitativo de cidadania e respeito ao ser humano, podemos citar o trabalho da Pastoral da Criança: organização comunitária da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, de atuação ecumênica

- aberta a pessoas de todas as religiões. Ela foi dese-nhada pela primeira vez em 1982, por Dom Paulo Eva-risto Arns, Cardeal Arcebispo de São Paulo, e Mr. James Grant, então Diretor Executivo do UNICEF, em Genebra, durante um debate sobre os problemas da pobreza e a paz no Mundo.

Já em 1983, a CNBB confi ou à Dra. Zilda Arns Neu-mann e ao Arcebispo Dom Geraldo Majella Agnelo a tare-fa de criar uma entidade para trazer vida em abundância para as crianças pobres do país.

A Pastoral apostou na mensagem de fé crística colo-cando foco de ação nos resultados. Nessa linha de atuação transformou a vida de milhares de mulheres e crianças ca-

rentes com a colaboração dos próprios agentes comunitá-rios. Determinada a minimizar o sofrimento dos excluídos, fortaleceu seu poder de ação e colheu resultados positivos na diminuição da mortalidade infantil em todos as regiões atendidas no Brasil, como conta

Waldemar Caldin, membro do Conselho Diretor da Pastoral da Criança no Brasil, em entrevista para a Revista ComCiência.

“A metodologia da Pastoral é ver a realidade, julgar à luz do projeto de Deus e agir com seriedade”, diz.

Segundo ele, hoje a Pastoral atende 4 mil comunida-des – 1 milhão e 900 mil crianças atendidas em todo o ter-ritório nacional. “Somente no Estado de São Paulo, acom-panhamos 205 mil crianças na faixa até 6 anos”,frisa.

De acordo com Caldin, a prioridade da Pastoral é a gestante e a criança na faixa até 6 anos de idade - fase em que ela tem todas as condições para se desenvolver. “A chave está no processo de aprendizagem da criança”, explica. A Pastoral também enfatiza suas ações sociais no processo educativo e orientação às famílias carentes.

A mobilização em torno dessas questões - discuti-das e viabilizadas através dos conselhos partidários mu-nicipais - tem sido determinante ao longo do trabalho da Pastoral. Segundo ele, a Pastoral vem reforçando sobre a necessidade de aumento de recursos para o desen-volvimento de novas políticas públicas que atendam às necessidades da população.

Sua atuação evangelizadora e política está siste-matizada ao longo de 20 anos de atuação levando edu-cação básica e esclarecimento entre a sociedade civil e o poder público.

Em 1983, quando a Pastoral da Criança iniciava suas atividades a partir de um projeto piloto no Município de Florestópolis, Paraná, a mortalidade infantil era de 127 para cada mil crianças nascidas vivas. Já em 1997, a mortalidade infantil era inferior a 20 óbitos por mil nascidos vivos.

Hoje, presente em todo o Brasil, a Pastoral da Criança criou metodologia própria, tendo como centro a criança dentro do contexto familiar e comunitário.

Para o conselheiro da Pastoral da Criança, os grandes avanços da Pastoral poderiam ser colocados na linha de levar paz para as famílias dos bolsões de pobreza, fazendo com que a qualidade de vida dessas comunidades melho-rasse bastante através do processo educativo.

Em essência, a metodologia da Pastoral da Criança sustenta-se na idéia de que a solução dos problemas so-ciais necessita da solidariedade humana, organizada e animada em rede, com objetivos defi nidos, e que o princi-pal agente de transformação são as lideranças das comu-nidades pobres e miseráveis.

Na Pastoral da Criança, mais de 90% dos voluntários são mulheres pobres, reforçando a importância de seu en-volvimento na mudança social. Ao transformar suas próprias famílias e comunidades, elas realizam uma verdadeira revolu-ção, resgatando valores e práticas de valorização da vida.

Caldin confessa alguns segredos para buscar solu-ções e resultados positivos da Pastoral: “A resposta está no agente. Ele facilita a viabilidade do projeto usando a linguagem da comunidade”.

Para ser agente da Pastoral da Criança e poder orien-tar pessoas da região, o candidato é capacitado e treina-do durante 40 horas. O membro do Conselho da Pastoral lembra que nos oito anos em que esteve à frente da Coor-denação Estadual da Pastoral o que mais o impressionou foi a má distribuição de renda do Estado.

Este dado reforça a presença da Pastoral em deter-minadas áreas. Hoje, ela está nas regiões de maior carên-cia da população. Sobretudo nas periferias das grandes cidades e nos bolsões de pobreza e miséria dos pequenos e médios municípios brasileiros, tanto no meio urbano e rural quanto em áreas indígenas.

O conselheiro da entidade ainda nos antecipa as próximas metas de ação para fazer frente às novas de-

Vera L. M. Teixeira

mandas da sociedade: “As atenções estarão voltadas para as mães e crianças aidéticas, refugiados e margina-lizados de modo geral”.

Segundo ele, além das comunidades já atendidas pela Pastoral, também haverá uma concentração de esforços nas comunidades indígenas ( são 7 comunidades aten-didas), presídios femininos (São Paulo e Salvador) ,comu-nidades de pescadores, assentamentos e acampamentos. Essas comunidades, assim como tantos outros povos ca-rentes de amor e solidariedade, querem e merecem “vida em abundância”.

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“Vivenciando momentos de grande oportunidade espiritual nos sensibilizamos com a expansão da consciência de que é preciso avançar na refl exão sobre comportamentos de ética, solidariedade e amor ao próximo.”

Dra. Zilda brinca com crianças no Projeto Brinquedos e Brincadeiras

VISITA FAMILIAR TEOTÔNIO ROQUE

MÃE AMAMENTANDO COM LÍDERES ARQUIVO PASTORAL

Ação

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comciência 22 comciência 23

assino embaixo NUNO ANDRADA

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NA Estamos acostumados a caracterizar o bem e o mal como

forças opostas e bem caracterizadas, num duelo constante. Mas em nossa realidade, quem é bom ou mau? Você é pes-soa boa ou má? Conhece alguém totalmente mau ou bom?

Maniqueísmo é um princípio doutrinário que só admite a existência do bem e mal absolutos. Segundo esse princí-pio não existe meio-termo e ninguém pode ser bonzinho e fazer coisas ruins (às vezes) ou vice-versa. Na prática, sabe-mos que ninguém é totalmente bom ou mau e que nosso mundo evolui, mas ainda é um lugar de muita selvageria. Nosso aspecto mais selvagem, principalmente caracterizado pela violência e desunião está mais vivamente presente em locais de intensos confl itos, mas também está presente em nosso íntimo, mesmo que consigamos esconder esse lado feio e obscuro de nosso modo de ser.

Não somos bons ou maus, mas temos condições de administrar nosso jeito de agir, de modo a enxergar me-lhor a realidade, percebendo que somos todos farinha do mesmo saco, mesmo tendo tanta diferença aparente.

Nenhum de nós tem a solução mágica para os pro-blemas sociais, por exemplo, porque a solução não pode ser encontrada senão no íntimo de cada um. Se não melhorarmos nossas atitudes, nada melho-rará à nossa volta. Cada vez que jogamos um papelzinho no chão, cuspimos, entramos numa contramão, subornamos, furamos fi la, damos uma de espertos, estamos contribuindo para a piora do mundo, do país, da região, do bairro, da nossa casa e nossa família.

Temos o exemplo de um grupo de pessoas que está administrando o nosso país e atravessa uma grande crise por ter agido de modo contro-verso, que ainda que possa não ser totalmente ilegal é pre-judicial à nação e confi gura um mau exemplo à sociedade. Não se pode dizer que sejam pessoas más, mas crendo que contribuíam para um grande e positivo evento, perderam-se nos detalhes e nos procedimentos simples, do dia a dia. Mesmo os que não foram denunciados e conseguiram se safar das investigações têm consciência de que agiram mal e, mesmo que bem-intencionados, contribuíram para a de-gradação do poder.

Apesar da roda-viva que nos envolve, em nossa luta diária por subsistência e melhoria de qualidade de vida, temos de refletir, meditar, filosofar, mas sem o jeito afetado das masturbações filosóficas sem senti-do, que se caracterizam por citações de grandes mes-tres e defesa de credos religiosos, dogmas, doutrinas e crenças pessoais. A verdade nunca se impõe, mas sempre se submete.

A verdade é passiva, doce, benevolente, mansa, sere-na, universal.

Se a sua “verdade pessoal” (se é que isso existe), di-fere em qualquer aspecto da verdade universal (e única), então é uma mentira (bem elaborada).

Só quem vive pela verdade e a busca, em todos os momentos da vida, tem condição de enxergar os proble-mas que nos envolvem e vislumbrar verdadeiras soluções

para os mesmos, contribuindo ativamente, e dentro de suas limitações, para tal fi nalidade. Mas quem olha somente para o próprio umbigo, lamentando a própria situação e dramati-zando seus infortúnios e di-fi culdades, sempre porá seus interesses acima de qualquer circunstância, e não hesitará em praticar pequenos ou gran-des deslizes para atingir seus objetivos pessoais.

Filosofar é sentir-se parte do todo, é perceber que cada espirro seu afeta a harmonia do planeta e interfere na situação de sua cidade ou país. Cada pequeno gesto, positivo ou ne-gativo, tem sempre implicações amplas, mesmo que você e os demais à sua volta não perce-bam isso claramente.

Você é livre para transformar ou não seu presente em um exemplo futuro.

Aja positivamente no trabalho, na rua, em casa, no banheiro, nos papos, nas comidas que faz, nas coisas que produz, em seus pensamentos. Lembre a todo instante que nosso planeta só consegue sustentar a vida à custa de equilíbrio dos elementos que o compõem. Esse equilíbrio só pode ser mantido se houver a tão sonhada harmonia social, que também só pode ser atingida e mantida se cada um de nós tiver consciência da própria importância em todo esse processo.

“Filosofar é sentir-se parte do todo, é perceber que cada espirro seu afeta a harmonia do planeta e interfere na situação de sua cidade ou país”

Masturbação

FilosóficaManiqueísmo é um princípio doutrinário que só admite a existência do bem e mal absolutos. Segundo esse princípio não existe meio-termo e ninguém pode ser bonzinho e fazer coisas ruins (às vezes) ou vice-versa

ui convidado a escrever esta coluna, que trata de um assunto ou de um tema de menor relevância em nos-sa vida, algo insignifi cante e chato, que costuma agir melhor que sonífero em noites de insônia: fi losofi a.

Será que estou sendo irônico? Ou estou di-zendo uma verdade muito feia?

Percebam que mesmo sendo horrorosa, a verdade continua verdadeira.

Segundo o dicionário Aurélio, filosofia é, entre ou-tras coisas:

• estudo que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade.

E o que diz o mesmo dicionário sobre o que é ser fi lósofo?• aquele que procede sempre com sabedoria e refl e-

xão, que segue uma fi losofi a de vida.• aquele que vive tranqüilo e indiferente aos precon-

ceitos e convenções sociais.Quem de nós procede com “sabedoria e refl exão”?

No duro?Quem de nós tem efetivamente uma fi losofi a de vida?Quem de nós vive indiferente aos preconceitos e

às convenções?É claro que nunca vamos admitir que não refl etimos,

ou que não temos uma fi losofi a existencial, uma meta fi lo-sófi ca. E quanto aos preconceitos?

Somos pródigos em defender nossas pretensas virtudes, afi rmando sermos amigos de gays, negros e outros grupos bastante discriminados, desde que fora de nossa família. Quem se orgulharia em ter pai, mãe, irmã ou irmão gay?

Não tenho a intenção de fazer os leitores sentirem in-cômodo ou irritação.

Todos têm o direito de discernir sobre o mundo e as coi-sas e pessoas nele contidas, da maneira que lhes aprouver, e a isso se deu o nome de “livre-arbítrio”, que é considerada uma condição sagrada, delegada aos humanos pela divindade.

É preciso respeitar o direito de cada um poder pensar e se expressar com total liberdade, mas há um limite. Esse limite é a liberdade dos circunstantes, dos que lhe são próximos, além dos animais e da própria natureza, que forma todo o ecossistema que nos sustenta e man-tém vivos a todos.

Cada vez que um de nós restringe a liberdade do pró-ximo, difi culta sua ação e sobrevivência, o constrange, ca-lunia, difama, menospreza, destrói o habitat seu e ou dele, polui, desperdiça bens e recursos, zomba, tripudia, abusa, ignora ou deixa que outros façam tais coisas sem reagir (sendo omisso), está sim ultrapassando o limite do próprio livre-arbítrio e se tornando um malfeitor.

Sabe o que é maniqueísmo? Provavelmente não, mas você é maniqueísta!

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assino embaixo NUNO ANDRADA

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Arquivos da Eternidade e Campos de ConsciênciaO CONJUNTO DOS ARQUIVOS EXTRA-FÍSICOS LOCALIZADO NOS TECIDOS QUÂNTICOS LIGADOS AO PLANETA, CHAMAMOS DE INCONSCIENTE CO-LETIVO, REGISTRO AKÁSHICO OU DE CAMPO MÓRFICO. Esses tecidos quânticos se manifestam como se

fossem tênues malhas em múltiplas densi-dades, todas extremamente sutis que, por serem estruturas interligadas em redes osci-lantes, armazenam e trocam informações.

Conjuntos de sistemas conscienciais localizados nos tecidos quânticos, mesmo que em planos de manifestação diferentes, são chamados de campos conscienciais e deles fazem parte os campos mórficos e as estruturas de registros akáshicos, além de todas as sedes de consciência, desde a mais primitiva até as mais graduadas. As redes formadas pelas infinitas variações das estruturas conscienciais assumem conformações específicas em função dos vários elementos a que elas estão vincu-

Aladas, entre os quais os graus de evolução das individualidades, plano de manifesta-ção no qual a rede está localizada, etc.

Ao mesmo tempo em que existe a con-cepção de que todos os campos de consci-ência sejam possibilidades, e por causa disso, por tudo ser possibilidade, também são pos-sibilidades a evolução e variação dos próprios campos de consciência e das sedes conscien-ciais. Relacionar toda essa trama vibratória permite entender a importância de cada ele-mento, por menor que ela seja, no majestoso cenário da Criação.

A concepção de a matéria densa ser for-mada pela aglutinação gradativa de estruturas sutis em dimensões reduzidíssimas abre a pos-sibilidade de se postular que grandezas e leis da física talvez estejam variando com o tempo. Isso de fato deve ocorrer devido às mudanças que há nas malhas das estruturas espaço-temporais onde, a partir da “matéria-energia primeira”, novos aglomerados de matérias multidimensionais sempre são criados.

Há também a possibilidade de haver variação de grandezas durante o desen-volvimento do universo, pois, com a ex-pansão e seu conseqüente resfriamento, as mudanças dessas propriedades também acarretam variação lenta na compactação estrutural de todos os planos de manifes-tação do universo.

As concepções de inconsciente coletivo, de campos mórfi cos e de registros akáshicos se referem aos sistemas oscilantes que exis-tem nas malhas teciduais das muitas dimen-sões locais e exteriores, e apresentam como

uma de suas funções o armazenamento de dados, ocorrências e informações.

Esses tecidos, e suas múltiplas densida-des e freqüências, contêm “fi bras” de maté-ria-energia primordial compactadas em va-riados tipos de enovelamento, constituindo tramas que oscilam como cordas vibrantes. Nas infi nitas possibilidades de compac-tações, essas estruturas formam sistemas oscilantes que armazenam dados e ainda determinam formas de matérias e energias, de universos e de dimensões de realidade.

A partir dessas considerações, é plausí-vel se cogitar sobre a existência de infi nitas possibilidades de outras formas de matérias, de energias, de dimensões e de universos.

Na medida em que se observam compri-mentos, áreas e volumes cada vez menores até se atingir o comprimento de Plank, outras realidades passam a se destacar. Compreen-dido entre estes valores diminutos e o tama-nho de um próton (ou de um nêutron), há um crescimento linear de cerca de 10 (elevado

a 20) vezes ou mais. Em outras palavras, o diâmetro de um próton é cerca de 10 eleva-do a 20 (110 quintilhões ou 100 milhões de milhões de milhões) vezes maior do que a distância de Plank. Se for feito esse mesmo cálculo utilizando o volume dessas dimen-sões, o crescimento correspondente seria de 10 elevado a 60 vezes, ou seja, um milhão de quintilhões de quintilhões de quintilhões. Isso signifi ca que, se há espaço demais disponível para armazenar informações e realidades em estruturas menores do que um próton, tão ínfi mas para os nossos padrões de referência, imagine-se, então, em toda a Criação!

Esses sistemas são quânticos e osci-lam constantemente, captando e emitin-do informações. Se houver mais de uma estrutura oscilando e se estiverem em sincronia, elas poderão ressoar, poten-cializando-se se forem suficientemente sensíveis. Em outras palavras, todas as informações estão disponíveis a todos, o tempo todo. Percebê-las é uma questão

de preparo, de sensibilidade, de adequa-ção e de evolução.

Os campos do pensamento, se propa-gando em todas as direções e dimensões, fazem vibrar estruturas de sutilezas dife-rentes e chegam até os profundos registros akáshicos que os gravam. Esses registros são de propriedade do cosmos e, sempre que requisitados e ativados, desencadeiam vibrações na mesma faixa de freqüência. O afl oramento de vibrações surge quando uma determinada sintonia crítica se faz pre-sente com o aumento das quantidades de freqüência ressonantes comuns.

É como se, na sutilíssima matéria pri-mordial que gera toda manifestação do Pai, houvesse uma teia energética que em cada instante vai se moldando ao regis-trar cada momento da existência de tudo que há na Criação. Essas marcações cós-micas, quando localizadas nos vários ní-veis, podem fornecer a história do tempo, dos espaços e de tudo.

As variações das grandezas e leis físicas acontecem em regiões do espaço onde suas propriedades estão sofr endo alterações bruscas como, por exemplo, nos buracos negros e nas formações de universos, a que chamamos de Big Bang.

Nelson Vilhena Granado

(do livro OMNIVERSALIS)

Ciência e Espiritualidade comciência 25

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comciência 26 comciência 27

UMA CALCULADA BUSCA PELO DIVINO E O SEN-TIDO DA VIDA ATRAVÉS DA FÍSICA, DA QUÂNTICA E DOS CONCEITOS CÓSMICO-ESPIRITUAIS PRI-MORDIAIS, NELSON VILHENA GRANADO, AUTOR DE DIMENSIONALIS, reúne em seu novo livro

um compêndio de idéias que revelam sua visão avançada acerca da criação, aprofundando os conceitos expostos na obra anterior.

Um encadeamento de idéias que permeiam diversas disciplinas das chamadas ciências modernas — em es-pecial, a neurociência — e estudos múltiplos conferem à obra um caráter único que derruba crenças instituídas e eleva a ciência da busca a um patamar inovador, que provavelmente só será compreendido e perfeitamente es-tudado por gerações futuras.

Por sua ousadia e ineditismo, Nelson avança al-guns degraus no estudo do Homem pelos aspectos físico e cósmico que o encerram, travando uma verda-deira batalha interior contra os conceitos entroniza-dos pela ciência ortodoxa que resultará, sem dúvida, em profundas reflexões, já que descortina o véu do empirismo que marca sua jornada para tanger com ousadia e coragem amorosa as bases estruturais da formação da vida no cosmos.

Apontamentos sobre o livro OMNIVERSALIS

Seu estudo seria uma brincadeira dedutiva se não avan-çasse pela lógica da simplicidade que cria e mantém toda vida, uma lógica matematicamente irrefutável que encontra novas perspectivas para o estudo da evolução da vida no cosmos, onde o autor, inocentemente, pretende traçar uma rota confor-tável que o conduza ao Criador ou à centelha original que cria.

Em minha opinião, é um livro para estudo constante e muita refl exão.

“Omniversalis avança pela falsa calmaria do oceano das ortodoxias científi cas, religiosas e fi losófi cas, tal qual tempestade cheia de magia, pois, se por um lado destrói velhas impressões conceituais, por outro, formula — com a arquitetura da argumentação empírica bem estruturada e genuinamente inspirada — as pistas para o novo enten-dimento das questões pontuais que envolvem a vida no seu conceito mais amplo. E o melhor: intentando, apenas, fornecer novos padrões de refl exão sobre os temas, sem a ingênua presunção de pontifi car ´verdades´sobre o que ainda precisa ser muito bem-vindo junto a todos os que buscam ampliar os horizontes da percepção a respeito da vida e sobre a realidade que nos cerca”..

— da matéria primordial ao infi nito —

N

Nelson Vilhena Granado nasceu em São Vicente, SP, em 1942. Morou na cidade de Santos até seus 19 anos, quan-do então foi para São Paulo cursar engenharia na Escola Politécnica (até 1968) e física no Instituto de Física da USP (até 1972). Lecionou matemática e física durante muitos anos em cursos pré-vestibulares.

No começo da década de 80 dirigiu-se para o Planalto Central Brasileiro, onde experimentou a vida em comu-nidade rural com preocupações ecológicas e espiritualistas. Ficou na região de Ceres (GO) durante 6 anos, conhecendo e participando de projetos ligados a grupos de estudos espiritualistas, relacionando-os ao crescimento interior e tra-balhos de conscientização do operário do campo, durante o tempo em que lecionou diversas matérias em instituição católica ligada às Irmãs Franciscanas.

De volta a São Paulo (1986), reassumiu aulas de física, ingressou na Faculdade de Medicina da USP, graduando-se no curso de fi sioterapia em 1995.

A partir desse ano, começou a coordenar grupos de estudos que estivessem compromissados com a reforma íntima e com a reintegração do homem terrestre ao fr aterno convívio com irmãos de outros orbes.

Em suas palestras, tem dissertado sobre ciência e espiritualidade, reforma íntima, consciência e cidadania (pla-netária e cósmica), o Homem e seus corpos, circuitos oscilantes neurais e multidimensionais, o exílio de Capela e sobre a volta do Mestre Jesus.

Lúcia Roberta Mello

(extraído do prefácio do livro)

Jan Val EllamContato com o autor: PHISIOM — [email protected] / Tel. (11) - 32710838 — 91293872

BIG BANG A GRANDE EXPLOSÃO

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comciência 28 comciência 29

na Bolívia, dentre outras, e perceberam que todas foram construídas com o intuito de representar na Terra as constelações do céu como ele era no ano 10450 a.C.

A esfi nge, no Egito, tem o corpo de leão, o rosto de homem e está olhando para um ponto fi xo. Mais uma vez o computador foi consultado e os dois constataram que em 10450 a.C. a Constelação de Leão (atentar

para o formato do corpo da esfi nge) estava no ponto de visão da esfi nge.

Chegaram, enfi m, à conclusão inevitável de que houve um consenso no passado, de espalhar pela Terra monumentos que repre-sentassem o mapa geográfi co astronômico do ano 10450 a.C. Vale observar que nós só aprendemos a fazer esses cálculos matemá-ticos no século passado.

Arqueólogos egípcios e americanos, analisando o calcário utilizado na cons-trução da esfi nge, descobriram que ela foi feita há mais de 10 mil anos. Conseqüen-temente, ela teria sido construída antes da construção das primeiras cidades da Mesopotâmia. Ou seja, temos, obrigatoria-mente, de concluir que houve uma outra civilização antes de nós.

Mas a que nos remete essa maravilhosa e tão necessária ciência nova em nossa re-fl exão? Pensemos mais um pouco.

Antes do surgimento da Filosofi a, na Grécia, o conhecimento era advindo dos mitos e muitos deles descreviam o convívio normal dos deuses com os seres humanos.

Depois de um tempo dessa convivência, os deuses foram embora com a promessa de

voltar. Várias culturas apresentam em suas mitologias essa relação terrena de deuses com os seres humanos. Na Austrália foram encontradas pinturas de 5 mil anos com de-senhos de ETs; no Museu de Bogotá, na Co-lômbia, encontram-se esculturas de naves espaciais feitas há mais de mil anos. A Bíblia fala sobre nuvens luminosas, o Mahabhara-ta, poema épico hindu, cita as vimanas, que eram máquinas voadoras que “podiam ven-cer distâncias infi nitas”; os livros tibetanos Tantjua Kantjua fazem referências a máqui-nas voadoras pré-históricas chamadas de “pérolas do céu”.

Há cerca de 5 mil anos, onde hoje se situa a capital do México, existia uma cida-de lendária chamada Tula. Segundo a lenda, uma virgem chamada Chimalma gerou um

fi lho chamado Quetzalcoatl. Ele propagou uma doutrina que dizia que o ser humano poderia manter contatos com os seus an-cestrais e com os deuses.

Para isso era necessário ter uma vida digna e ética, viver em contato com a na-tureza, estudar as coisas sagradas e ter co-nhecimento do que hoje é tido como Ciên-cia, para despertar as faculdades superiores.

Quetzalcoatl, como Jesus, também se trans-fi gurava e falava com os anjos. Ele foi uma das maiores lendas da cultura tolteca.

Os toltecas deixaram como herdeiros culturais os povos maias, incas e astecas. No seu legado veio um calendário que hoje é conhecido como Calendário Maia, mas es-tes diziam que o calendário havia sido feito por seus ancestrais, que seriam os toltecas.

No livro “Digitais dos Deuses” Graham Hancock refere-se a esse calendário. Quem o fez tinha um conhecimento astronômico que só foi obtido pela nossa cultura sé-culo 20. Eles mediram um ciclo do giro do eixo da Terra, em relação à esfera celeste, e perceberam que a cada ciclo de aproxima-damente 5125 anos ocorre uma era. Para os planejadores do calendário já existiram

Convite a Filosofar

ATERRA É UM PLANETA DE REALI-DADE TRANSITÓRIA, o que é ca-racterizado, sobretudo, pelo fato de tudo o que aqui nasce possuir, em seu código genético, o germe da morte. E isso é só o que se sabe, pelo menos por enquanto,

acerca dos mistérios que envolvem a vida biológica em nosso planeta.

Mas há pesquisadores que se empe-nham em descobertas e raciocínios mais lógicos, e estão avançando como podem.

Para a nossa ciência, o planeta Terra possui 4 bilhões e 600 milhões de anos, sendo que após 800 milhões de anos da sua origem surgiu uma molécula com um código de DNA. Até hoje, contudo, não se concebe como uma molécula tão complexa, possuidora do código da vida, tenha surgido nas condições que a Terra apresentava na-quela época, pois aqui não são encontradas as substâncias químicas que a formaram e nem o ambiente necessário para que essa molécula de DNA tenha surgido espontane-amente, restando a opção de que ela veio de fora, de que poderia ter sido trazida por um meteoro ou cometa.

Francis Crick, contudo, ganhador do prêmio Nobel por ter descoberto as hélices do DNA (1994), descartou a hipótese dos astros, ou seja, da Panspermia Balística, por-que, em sua opinião, esse complexo código genético não chegaria aqui ileso se tivesse sido transportado em condições tão precá-rias. Para Crick, restou a conclusão lógica de que alguém o trouxe para a Terra intencio-

nalmente, portanto, algum ser inteligente.Tangendo o universo da nova ciência, a

arqueoastronomia, verifi camos que o egip-tólogo Robert Bauval, estudando as três pi-râmides de Gisé, percebeu que a pirâmide do meio saía levemente do alinhamento em relação às outras duas, mas ele não enten-dia o porquê de construtores tão detalhistas terem permitido esse fato.

Posteriormente, o egiptólogo chegou à conclusão de que esse pequeno desvio cor-respondia exatamente à mesma variação de ângulo das três estrelas da constelação de Órion (popularmente conhecida como “as três Marias”). Ele mediu a distância astro-nômica e as variações de ângulo das três estrelas, mediu a distância das três pirâmi-des e suas variações de ângulos e constatou

que o construtor tinha copiado, com pre-cisão, as coordenadas astronômicas das três estrelas. Concluiu, então, que quem fez esses cálculos tinha grande conheci-mento de Astronomia.

Bauval, juntamente com o jornalista Graham Hancock, utilizando um progra-ma de computador, pesquisaram para saber se houve e quando teria ocorrido

uma superposição de Órion sobre aquele local e verificaram que no ano 10450 a.C. as três estrelas estavam exatamente em cima das pirâmides.

Posteriormente, esses mesmos pesquisa-dores, estudando os templos de Angkor Wat, no Camboja, perceberam o que o número de templos e o desenho que eles formavam no solo correspondiam ao mesmo número de estrelas, o mesmo formato e as mesmas variações de ângulo da Constelação de Dra-gão. Mais uma vez foram ao programa de computador e verifi caram que também em 10450 a.C. a Constelação de Dragão esta-va exatamente em cima dos templos. Ba-seados nisso, começaram a estudar várias construções monolíticas antigas como a de Teotihuacan, no México, as de Tiahuanaco,

Arqueoastronomia

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Chegaram, enfi m, à conclusão inevitável de que houve um consenso no passado, de espalhar pela Terra monumentos que representassem o mapa geográfi co astronômico do ano 10450 a.C.

Arqueoastronomiaquatro grandes eras: a primeira foi destruída pelo fogo, a segunda por terremotos, a ter-ceira pelo vento e a quarta pelo dilúvio.

Segundo o que eles acreditam, essa última era do calendário teve início no ano 3114 a.C., na época em que os deuses chegaram mais uma vez na Terra, perma-neceram algum tempo e saíram prometen-do retornar no fi nal dessa era, que termina em 23 de dezembro de 2012.

O “Bhagavad-Gita”, livro que faz parte do Mahabharata, cita a era de Kali Yuga, que corresponde ao período de 3114 a.C. a 2012 d.C. Para eles, essa era é a última de um processo de cinco eras e que após essa última, a humanidade se renovará.

A tradição judaico-cristã chama esse período de “Juízo Final” ou “Separação do Joio do Trigo”; a doutrina espírita o chama de “Reciclagem Espiritual”, quando a Terra passará de um mundo de expiação e pro-vas para um mundo regenerado.

No livro “O Código da Bíblia”, o repór-ter Michael Drosnin refere-se ao trabalho do matemático israelense Eliyahu Rips. O mate-mático descobriu que os cinco primeiros livros do Antigo Testamento da Bíblia possuem um código que profetisa vários fatos ocorridos recentemente na nossa história contempo-rânea como, por exemplo, o assassinato do Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, levando-nos a concluir que foi uma inteligên-cia superior à da nossa comunidade científi ca atual que entregou esses livros a Moisés, pois até hoje não conseguimos prever o futuro.

São muitas evidências de que nós ti-vemos contatos com seres de fora, que se foram prometendo voltar.

Para Pitágoras, o criador da palavra fi losofi a, a sabedoria plena e completa é própria dos deuses e o homem só pode almejá-la tornando-se fi lósofo, buscando amorosamente a verdade. Segundo ele, es-tamos em um ciclo de reencarnações para purifi cação dos nossos espíritos e só assim deixaremos de nascer na Terra.

Nos seus últimos momentos na prisão, Sócrates, em longa conversa com Fédon, comenta o que acontece com a alma após a morte do corpo. ”É uma opinião muito antiga que as almas, ao deixar este mundo,

vão para o Hades, e que dali voltam para a Terra e retornam à vida após haverem pas-sado pela morte”.

Em outro momento da conversa, o fi ló-sofo diz que “lá há lugares maravilhosos e diferentes da Terra”, evidenciando a tran-sitoriedade da vida terrena.

Platão afi rmava que já trazemos o nos-so conhecimento conosco; que no mundo material não existe aprendizagem, mas sim, o processo de rememoração, pois o conhecimento fora adquirido antes de nas-cermos neste planeta.

Hoje, muitas pessoas consideradas normais afirmam fazer viagem astral e há outras que dizem que se comunicam com os mortos. Será que diante de tantas evidências de que nós não somos quem pensamos ser, não estaria na hora de

começar a nos dedicar à investigação da existência do espírito, para compreender que existe uma verdade que já está colo-cada no nosso passado, que já começou a ser descortinada e que somente com mui-ta abertura mental poderemos vislumbrá-la, a distância, para que possamos com-preender o nosso presente e conjeturar o nosso futuro?

Para mim, esse é um propósito da Fi-losofi a, desde a sua origem. Para alguns, a função da Filosofi a é apenas terapêutica; a Verdade foi transformada em mero jogo de palavras. Será que isso é Filosofi a, será que é o fi m da Filosofi a, ou acabaram-se os fi lósofos?

A nova crença de alguns da contem-poraneidade é que as nossas alegrias e tristezas, lembranças e ambições, o nosso senso de identidade pessoal e li-vre-arbítrio, na realidade, são apenas o resultado do comportamento de um vas-to complexo de células nervosas e suas moléculas associadas.

Será? E se não for apenas isso? Não estaria na hora de a Filosofi a começar a utilizar as descobertas científi cas para re-assumir a sua verdadeira função?

Até quando nos basearemos na fé?Enquanto pensamos, alguns poucos,

conhecidos ou anônimos, no mundo in-teiro, dedicam as suas vidas a estudos e pesquisas no intuito de que saiamos da estagnação que nos acomete.

Manoel Pereira Júnior

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Á AFIRMAÇÕES MILENARES QUE NOS DIZEM: A NATUREZA NÃO PRODUZ MILAGRES. DE FATO, PARA ENTENDER ESSE AXIOMA, TEREMOS DE NOS REPORTAR A OUTROS CONHE-CIMENTOS, QUE, NEM SEMPRE, NOS ACODEM AO CONS-CIENTE OBJETIVO.

Esse tema, fatalmente, nos conduz a viagens inimaginá-veis. A viagens a um passado remoto. Remotíssimo. Sobre o

qual os cronistas celestiais nos falam, enfocando alguns aspectos da realidade cósmica, não facilmente entendidos pelos terrenos, face às limitações da fase atual da mente humana.

Porém, tentemos tomar como ponto básico o universo conheci-do. A Via Láctea, o Sistema Solar. Nosso universo! Quantos mundos integram nossa galáxia? Qual o espaço utilizado pelo Sistema Solar no contexto da Via Láctea? Para nós, esse universo é MACRO, sem duvidarmos da existência de outras galáxias, algumas maiores do que a nossa. Galáxias infi ndáveis.

Nesse contexto, imaginemos Jesus como o ser celestial respon-sável por esse recanto do universo, dirigente celestial, sistêmico, pla-netário ou o que seja. Para nós, qualquer escolha nos conduz a um quadro MACRO.

Pois bem, partamos do pressuposto de que Jesus seja o dirigente do Sistema Solar, do qual a Terra faz parte. Somente essa circunstân-cia nos conduz ao entendimento de que sua soberania espiritual lhe empresta o domínio desse universo, que ora delimitamos para nossas refl exões. Pois bem, essa hegemonia celestial, cósmica, infi nita, divi-na dá a esse SER o conhecimento pleno das leis regentes desse mes-mo universo. E não somente. Dá, também, o poder de manipulá-las.

Uma vez dono desses poderes, o grande Avatar, na sua sobera-nia, os utiliza em razão de sua vontade e da obediência aos planos por Ele mesmo traçados.

Partindo da premissa de que a descida de Jesus ao plano físico terreno estava ligada a um plano crístico, pessoal, foi em respeito a esse projeto que aquele Ser Celestial deixou-se mergulhar no pesado escafandro somático do planeta azul, com vistas à redenção de seu próprio rebanho. Porém, essas limitações da descida não o impediam de dominar as leis que regem nosso mundo. E foi assim que Ele curou, removendo as causas para cessar os efeitos, momento em que sempre advertia para a não reincidência, pois que se constituiriam novas causas, com seus efeitos respectivos. Tudo o que foi considera-do milagre de Jesus, foi, sim, o uso de seu poder cósmico sobre as leis universais, ratifi cando sua própria angelitude crística. Assim, nada de sobrenatural ocorreu com as acontecências de nosso Mestre, mas sim uma prova inconteste de sua Soberania Celestial.

H

Jansen Leiros

O Poder de curade Jesus

Opnião

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internacional pela adoção de leis que colocassem os fabricantes como únicos responsáveis pelo destino dos resíduos sólidos, o que resultaria em programas de controle do ciclo de vida de um produto. Todas essas iniciativas são louváveis e o meio ambien-te penhoradamente agradece. Mas, se aprovadas sem a inclu-são (e efetiva responsabilização) de um player de significativa importância, que é o usuário final dos produtos, mostrar-se-ão ineficazes como instrumento de contenção do consumo voraz de recursos. Como responsabilizar um fabricante de bebidas pe-las garrafas jogadas criminosamente em rios e cursos d’água e que tantos problemas provocam?

De antemão esclareço que não represento nenhum segmento do setor produtivo ou comercial, apenas considero que no ciclo de vida de um produto devem ser analisados todos os envolvidos e que cada um deles deve ter sua parte no processo regulamen-tada e fiscalizada.

Em São Paulo a população já se viciou em cobrar do poder pú-blico soluções para as enchentes que causam tantos transtornos, quando não ocasionam verdadeiras tragédias. Mas alguém já se deu ao trabalho de ver como estão os bueiros nas sarjetas, os quais de-veriam estar totalmente liberados para dar vazão às águas pluviais que escorrem em velocidades assustadoras devido a outro fl agelo do nosso conforto, que é a grande impermeabilização do solo? Ou como estão os pequenos córregos, abarrotados de lixo despejado pelos moradores.

E, nessa choradeira, terceirizando uma responsabilidade que é nossa antes de tudo, perdemos a grande oportunidade de re-fletir sobre o que estamos fazendo com nosso planeta e quanto já deveríamos estar pagando mais pelas comodidades que temos (ou consumindo bem menos...). Esquivamo-nos do ônus, mas vi-vemos exigindo o bônus, como se a degradação ambiental que acompanha nosso modus vivendi não nos dissesse respeito. Se não quisermos arcar agora com o custo disso, revendo nossos padrões de consumo ou pagando pelo uso dos recursos (a forma mais eficaz de levar alguém a rever seus hábitos), teremos de pagar no futuro, quando tudo que agora está disponível para ser tocado e usufruído existir apenas nas bibliotecas, em livros que contem a história de um lindo planetinha que foi exaurido por uma população que não lhe deu o devido valor.

variante, o princípio do usuário-pagador, que amplifica a res-ponsabilidade daqueles que utilizam recursos naturais, seja na sua produção (visando ao lucro), seja no consumo (visando ao atendimento de uma necessidade ou desejo). A nossa tão espe-rada Política Nacional de Resíduos Sólidos ainda se arrasta em discussões e falta de aprovação. Numa dessas discussões, da qual participei, na sede da FIESP em 2002, falava-se da pressão

Margit Wunderlich

noticiário ambiental com freqüência apresenta listas atu-alizadas sobre as espécies em risco de extinção. A lista não pára de crescer. Um ser vivo, contudo, se reproduz a taxas assustadoras e sem predador à altura: é o homo consumidoris terribilis. Criado no cativeiro da vida moder-na, difi cilmente se adapta à vida no habitat natural em que a espécie vivia há algumas décadas. Diante das con-

tingências do cativeiro, alterou seus hábitos alimentares e de caça. Consome muitos produtos industrializados, com excesso de emba-lagem, que estão sempre à mão. Não se adapta mais ao padrão de caça do alimento in natura e de seu preparo (processo muito traba-lhoso e desnecessário, já que tudo está pronto e disponível). Com isso, acena para seu tratador sobre a necessidade de aperfeiçoar ainda mais a sua obtenção dos itens indispensáveis e, principalmen-te, dos supérfl uos.

É assim que agimos com relação ao consumo. A indústria res-ponde aos nossos anseios. É ingênua e confortável a posição: “Sou vítima desse capitalismo selvagem, que não me dá opções ecoló-gicas de consumo.” Ou “sou vítima desse marketing agressivo, que invade minha casa e me inunda com ofertas.” Detalhe: invade nossa casa através da mídia e sobre seu acesso à nossa privacida-de ainda temos o controle (literalmente, através do remoto...). As garrafas plásticas vieram atender um desejo da sociedade, que não quer mais o desconforto das garrafas retornáveis na hora de fazer suas compras. O que acontece a elas depois que as usamos já não é nosso departamento...

Somos totalmente responsáveis pelas escolhas que fazemos e pelas conseqüências que delas advierem. Mas, como nosso centro decisório localiza-se na área do umbigo, agimos de forma inconse-qüente, individualizando na compra e socializando no descarte. Al-guém (entidade física ou jurídica) vai se ocupar de corrigir o rastro de destruição que deixamos atrás de nós. Isso é o que esperamos, quando temos consciência de que destruímos alguma coisa, o que é fato raro.

E quando somos chamados a participar, pagando por serviços criados por conta de nossa sanha consumidora, ou quando se fala em pagamento por algum recurso até então usado sem controle, inesgotável que se pensava fosse, reagimos com a tradicional can-tilena de que é o poder público tentando extorquir-nos mais ainda, cansados que estamos de tantos impostos que pagamos sem a devi-da retribuição em atendimento adequado.

O princípio do poluidor-pagador, discutido desde a década de 70 nos países desenvolvidos, foi introduzido em nosso or-denamento jurídico na década de 80, através da Lei de Política

ONacional de Meio Ambiente (1981) e da Constituição de 1988. Foi consagrado na Rio 92, 20 anos após a sua origem, na Con-ferência de Estocolmo, em 1972. Também chamado de princípio da responsabilidade, é matéria bastante cara aos ambientalis-tas, por ser um instrumento de punição e de obrigação de re-paração ao empresário que, em decorrência de suas atividades, polui o meio ambiente. Mas apenas recentemente surgiu sua

Ecologia

“Sou vítima desse capitalismo selvagem, que não me dá opções ecológicas de consumo.” Ou “sou vítima desse marketing agressivo, que invade minha casa e me inunda com ofertas.”O Polêmico Ônus do Consumo

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uem, dentre os que vivem na Terra, ainda con-segue ser dono da própria alma?

Há dois mil anos Jesus perguntava: “que servirá a um homem ganhar o mundo inteiro, se vem a prejudicar a sua vida?” (Mt 16:26). Em outras palavras, de que adianta perder a

alma e ganhar o mundo? A raça humana, por mais que existam fatores que a

desagregam, deveria, apesar de tudo, acordar ao menos em torno de uma questão: a de não mais aceitar na Terra a institucionalização da barbárie, seja de que forma ela venha a se apresentar.

Precisamos criar uma cultura de indignação mundial para forçar os líderes das nações e das macro-forças que governam o mundo, a não mais acomodar “certas situa-ções da geopolítica mundial” — que ferem os valores da vida — sob nenhum pretexto.

Omissão e Silêncio

Nos tempos recentes, em termos de perspectiva histó-rica, dois países conseguiram criar “situações” nas quais alguns indivíduos fi caram completamente reféns da creti-nice humana. Refi ro-me à Alemanha nazista e aos Estados Unidos da América sob o comando de George W. Bush.

Assim como os nazistas da Alemanha hitleriana con-fi naram os judeus, negando — pelas chamadas “leis” de Nuremberg (particularmente, pela Lei da Cidadania do Rei-ch de 1935) — os seus direitos naturais como também o da sua nacionalidade, pois que foram confi nados por tem-po indefi nido e sem direitos legais (não podiam valer-se de nenhum processo judicial) e de apelação a qualquer tipo de autoridade, também os extremistas republicanos dos EUA criaram o campo de concentração na Baía de Guan-tánamo, em Cuba, e lá mantêm prisioneiros cidadãos que sequer são criminosos pelas leis estadunidenses e muito menos considerados prisioneiros de guerra conforme a lei internacional. Como fi camos todos diante disso?

Incentivo ao

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assino embaixo ROGÉRIO DE ALMEIDA FREITAS

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Dono da própria alma - I

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assino embaixo ROGÉRIO DE ALMEIDA FREITAS

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Os Estados Unidos têm se portado contra qualquer ten-tativa de criação de instituições internacionais, único modo de viabilizar o surgimento de uma consciência mundial que venha a permitir que a cidadania planetária um dia possa se fazer presente na política do mundo. A título de exemplo, os EUA minaram a criação do Tribunal Internacional de Justiça, exatamente para proteger os seus pares que foram e são res-ponsáveis pela criminosa criação da tortura institucionalizada como forma de luta diante do terrorismo fundamentalista.

Lamentável que um país cuja história foi construída so-bre os ombros de gigantes — os Pais da Nação, como são chamados os fundadores dos EUA — hoje esteja no coman-do dos piores atentados aos valores que dignifi cam a vida.

Enquanto isso ocorre, o mundo segue “normalmen-te” adiante, a ONU nada faz, sequer se pronuncia sobre a questão, e o Air Force One continua a ser vaiado aonde chega, com os seus ocupantes dando adeusinhos sempre que dele saem, na sorridente e hipócrita postura de levar a democracia e o respeito aos direitos humanos a todos os

quadrantes planetários quando disso sequer conseguem dar mínimo exemplo. A imprensa mundial — que se de-licia com as fotos dos “adeusinhos” que lhes rendem as manchetes — parece aplaudir esse estado de hipocrisia institucionalizado perante a opinião pública.

A democracia da mídia norte-americana parece ter ido para o espaço, desde o 11 de setembro, quando por lá foi acordado que criticar o governo seria o mesmo que ser contra os EUA, o que forçou a imprensa a se tornar refém dos fatos impostos pelos interesses do núcleo do poder de

Washington. É doloroso constatar que poucos cidadãos norte-americanos sabem a respeito do campo de con-centração construído em Cuba. Já não estimo nem que fossem contra; a minha indignação corre, neste aspecto, pelo fato de simplesmente a imprensa estadunidense mal se referir ao assunto.

E quanto a nós, por que nós estamos considerando normal tal fato? Nós quem? Nós, todo mundo, princi-palmente os que sabem o que está acontecendo e, mais ainda, os ditos justiceiros morais da imprensa que ainda não venderam as suas almas ao poderio da sedução dos patrocínios do capital que move o mundo. Caso não, será que não deveriam episodicamente ressaltar o as-sunto, no mínimo por uma questão de dignidade profi s-sional? “Ah! Isso não vende jornais”, dirão alguns. De fato, não vende.

Foi-se a dignidade profi ssional; foi-se a ética; foi-se, enfi m, a alma de todos nós, perdida na noite dos tempos da cretinice que há muito nos envolve. Mas algumas vo-

zes ainda clamam no árido deserto da consciência crítica mundial, se é que existe alguma.

Podemos jamais conseguir modifi car coisa alguma no mundo, mas estaremos, ao menos na prática, melhorando a nós mesmos, na tentativa de não se render ao processo de cretinização em curso. Com isso, estaremos sonhando e trabalhando por um mundo melhor.

A quem interessar possa, a minha alma ainda está no comando de si mesma e isso me basta para, pelo menos, jamais desistir.

Filosofi a oriental

“Todo homem é, na realidade, dois homens: um está acordado nas trevas, o outro está dormindo na claridade”.

Gibran Kahlil Gibran

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ARDEC também afi rmou que longe de perder, a religião só ganharia se unida à ciência — e vice-versa. E assim começa a ser em nossos tempos.

Sempre foi função e objetivo da ciência comprovar as leis naturais criadas por Deus, bem como desvendar os segredos da vida em todas as suas nuanças. E muito ela tem progredido nos

assuntos da saúde, da tecnologia espacial, das telecomu-nicações e da física. Mas quando anda de braços com a religiosidade é que a ciência começa a trilhar o caminho que desvendará os mistérios da gênese, conseguindo, enfi m, compreender e explicar os fenômenos naturalmente ali cita-dos, posto que ocorridos na realidade da época, mas jamais compreendidos pela nossa civilização atual.

Não fosse o Espiritismo popularizar e explicar a vida eterna e estabelecer comunicação com as almas desencar-nadas, nós, talvez, ainda estivéssemos todos mergulhados na escuridão do conhecimento, impedidos de avançar es-piritualmente pela crença de que há somente uma existên-cia corpórea e que para os erros desta vida basta pagar às igrejas valores estabelecidos ou arrepender-se sinceramente antes da morte para alcançar as graças de Deus no paraíso ou mesmo em nossas consciências.

Mesmo com o advento do Espiritismo, muitas pessoas ainda insistem em negar o óbvio e calçam suas vidas na obscuridade dos fatos.

Em nossa atualidade, o céu torna-se a passarela da moda, onde milhares e milhares de naves extraterrestres des-fi lam para nos avisar de que não somente a vida é eterna e se perpetua na forma espiritual, como há muitas moradas ha-

Kbitadas na casa do Pai, e que as populações estrangeiras são inteligentes, possuem corpos materiais e podem se relacionar conosco a partir do instante em que haja permissão para isso — certamente, uma permissão ofertada por poderes indiscu-tivelmente maiores do que os que pensamos possuir.

Esse assunto tem sido, conquanto, pauta de estudos sérios nos campos da ciência, da ufologia e da metafísica, e mais e mais a ciência se vê interessada em explorar os caminhos e meios que nos levem às comprovações da vida espiritual e também da cósmica, compreendendo-se nesta segunda categoria tipos diferentes de vida cósmica, física e espiritualmente falando.

Aparelhos de tecnologia inimaginável já existem em nossa humanidade que são capazes de registrar a existên-cia de espíritos e de ETs em nosso orbe e em outros, mas a ciência ortodoxa, embevecida de orgulho próprio, não veicula tais informações com clareza, já que seus membros não vêem interesse em se aliar às religiões, fi losofi as ou ci-ências novas para desvendar os códigos desses mistérios; e nem tampouco se presta a pretender desafi ar qualquer uma religião, pressupondo que todo segmento religioso se sustente apenas em dogmas retrógrados que impedem a verdade de vir à tona.

Mas não se pode impedir o avanço da ciência e tam-bém não o da religião, já que, aos seres e às coisas, é dado evoluir sempre.

Comciência preocupa-se em testemunhar a consagra-ção da união entre ciência e religião, reportando para o mundo os elos, os feitos e as descobertas que enfi m come-çam a aparecer nesse sentido em benefício da verdade.

“Por respeito a textos considerados como sagrados, seria necessário im-por silêncio à ciência? Isto é uma atitude tão impossível quanto tentar impedir a Terra de girar. As religiões, quaisquer que tenham sido, jamais ganharam por sustentar erros manifestos. A missão da ciência é a de descobrir as leis da natureza; ora, como essas leis são obras de Deus, não podem ser contrárias às religiões fundadas sobre a verdade. Lan-çar anátema ao progresso como inimigo da religião, é lançar anátema à própria obra de Deus; ademais, é isso completamente inútil, pois todos os anátemas do mundo não impedirão que a ciência caminhe, e que a verdade venha à luz do dia. Se a religião se recusar a caminhar com a ciência, a ciência prosseguirá sozinha”.TCI

Espiritismo e Ciência

Allan Kardec, em A Gênese, capítulo IV

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Esse é o desejo do qual compartilha a pesquisadora Sonia Rinaldi através dos livros “O Além da Esperança” e “Espírito, O Desafi o da Comprovação”, em que a autora reúne o mais vasto acervo de ocorrências fenome-nológicas em TCI, tentando mostrar que o contato com es-píritos é algo acessível a todos.

O grande questionamento que surge a partir disso in-vade o tema mediunidade, já que a função mediúnica de estabelecer comunicação com os mortos torna-se obsoleta com o avanço da tecnologia da TCI.

Se a mediunidade está compreendida única ou priori-tariamente através das manifestações que possibilitam o diálogo com os espíritos, então teremos um sério proble-ma, já que, num exercício simples de imaginação, podemos prever a partir daí uma infi nidade de questionamentos e disputas que fatalmente surgirão entre médiuns e operado-res de aparelhos de TCI.

Quando de fato a TCI se tornar um meio comum de se falar com os mortos, contudo, tornar-se-á obsoleto o em-prego da mediunidade como ela é enaltecida hoje; e os centros espíritas deverão estar preparados para orientar as pessoas nesse mister.

Não podemos deixar de pensar, especialmente, nos ru-mos que alguns médiuns e centros deram à mediunidade, notadamente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, onde a mediunidade tem sido cada vez mais utili-zada como artigo de comércio.

O ideal para nós, desde já, é nos posicionarmos fren-te à mudança que urge façamos em nossos métodos de educação espiritual, voltando-nos mais e mais para os es-tudos fi losófi cos e as práticas libertárias que permitem que o indivíduo se desvincule dos dogmas e crenças e aceite a natureza simples e pacífi ca da alma.

Com isso, na medida em que for se tornando mais e mais comum a transcomunicação instrumental, é natural que as pessoas encontrem novas funções, algumas até mais nobres, para suas potencialidades, dando vazão a outras tantas que, por condicionamento do padrão de comportamento até então utilizado, não têm podido se expressar naturalmente.

Até lá, acostumemo-nos com a simples idéia de ver ciência dando os braços para a religião, quem sabe, co-meçando a realizar uma das melhores sugestões oferta-das por Kardec.

Lúcia Roberta Mello

Espiritismo e Ciência

Indignados, pois, pelo estado medíocre de crença em que se mantém a maioria das pessoas do nosso mundo atu-al, veremos o que a ciência tem nos proporcionado a fi m de comprovarmos as verdades que sempre pairaram sobre nossas mentes sem que as pudéssemos enxergar.

Depois do magnífi co trabalho do Dr. Fiorini com re-lação a comprovar a existência de espíritos pelos regis-tros de digitais (grosseiramente falando) e da tecnologia por ele utilizada, o movimento espírita debalde tenta se confrontar com quem se coloca à frente do dogmatismo para investir na ciência investigativa. Vendo que muitos de seus membros estão seriamente comprometidos e com-pelidos a buscar novas expe-riências comprobatórias, é gradativamente que se une ao novo panorama que se estende diante de nós ofer-tando-nos, cada vez mais, mecanismos de estudo.

No que se refere à vida após a morte ou simples-mente à existência de vida espiritual, a ciência oferta os meios e recursos para que pessoas como Sonia Rinaldi — espírita vinculada à Fede-ração Espírita do Estado de São Paulo —, possam avan-çar ainda mais para a com-provação tão desejada dessa verdade aceita por poucos.

O foco de estudo de Sonia é a TCI (Transcomuni-cação Instrumental), que é o nome dado a toda e qual-quer forma de comunicação transcendental com as almas de pessoas mortas através de equipamentos eletrônicos.

As pesquisas com TCI surgiram a partir do acaso ocor-rido com Friedrich Jungerson, em 1959. Friedrich gravava gorjeios de pássaros (Molbno, Suécia) e, ao ouvir a fi ta, per-cebeu que havia gravado vozes de espíritos. Foi o primeiro registro auditivo conhecido. Publicou trabalhos a respeito e o evento tornou-se público, despertando o interesse de ou-tros pesquisadores, sobretudo, europeus.

O nome de Kostantin Raudive não pode ser esquecido, já que conseguiu mais de 72 mil registros eletrônicos de vozes de espíritos articulando frases.

Na década de 70 surge nos EUA o Spiricom, aparelho semelhante a um rádio intercomunicador (que permitia a comunicação entre espíritos e seres encarnados e vice-ver-

sa) inventado por George Meek. No entanto, Meek passa anos sem nenhum resultado, que foi conseguido apenas em 78, quando conseguiu estabelecer e registrar contato com um espírito que se identifi cou como Dr. Muller.

O resultado de Meek abriu para a década de 80 uma busca ainda mais acirrada por registros de mensagens es-pirituais, notadamente, na Europa, onde vários nomes vão surgir no rol de pesquisadores que conseguiram resultados efetivos nesse campo.

Hans Otto Konig, na Alemanha, através de equipamentos ainda mais sofi sticados, obtém sucesso na comunicação em duas vias. O feito mais marcante alcançado por ele foi a co-

municação ao vivo pela TV Luxemburgo (1985), num programa que foi transmiti-do para mais de 3 milhões de telespectadores.

Em 1987, com a chega-da do Vidicom, um apare-lho eletrônico para registros visuais, o casal Harsch-Fis-chbach obtém imagens de entidades já falecidas.

A partir daí, outros meios eletrônicos tam-bém são utilizados. Na In-glaterra, Kennneth Webs-ter obtém comunicações via computador, sendo seguido novamente pelo casal Harsch-Fischbach, que, além do computa-dor, obtém mensagens através do telefone e se-cretária eletrônica.

Isso seria sufi ciente para uma comprovação plausível,

não fossem as dúvidas que marcam o orgulho intelectual do homem mesmo quando diante do óbvio.

Mas a ciência tem essa função, a de dar recursos para a credibilidade humana ampliar seus horizontes e tornar verdades supostas em verdades irrefutáveis. O problema é que a título de projetar seus nomes no status de suas respectivas classes, muitos homens e mulheres renegam a seriedade das pesquisas para fraudar provas que são facil-mente aceitas pelos menos avisados — um erro que come-temos em todas as áreas e que devemos combater através do questionamento e da refl exão lúcida.

Assim, é necessário que se tenha ainda muito trabalho no campo das pesquisas até que a TCI se dê de forma tran-qüila e incontestável.

“Kardec também afi rmou que longe de perder, a religião só ganharia se unida à ciência — e vice-versa. E assim começa a ser em nossos tempos.”

Allan Kardec

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“Formou-se um panorama trágico no qual todos sempre perdem. Professores perdem o respeito, o rumo da educação e o controle dos alunos. Alunos perdem a noção de limite e passam a ver na escola um órgão meramente controlador e repressor. Pais perdem a noção da verdadeira educação e os porquês de se educar bem um fi lho.”

AFilosofi a naEducação

Educar é

EDUCAÇÃO DIRIGIDA, OU SEJA, A EDUCAÇÃO APLICADA NAS ESCOLAS TEM SIDO DURANTE TODA A NOSSA HISTÓRIA UM MECANISMO DE FORMAÇÃO DE TEMPERAMENTOS, INCLINAN-DO A CRIANÇA E O ADOLESCENTE ÀS PRÁTICAS QUE SE DESEJA VÊ-LOS PRATICANDO NO FUTU-RO, QUANDO SE TORNAREM PESSOAS ADULTAS

Quem estabelece as regras e os parâmetros educacio-nais é o Ministério da Educação e Cultura, dentro das ne-cessidades e interesses de cada época e, invariavelmente, de acordo com a situação política do país.

Há algumas décadas a educação no Brasil e no mundo vem sofrendo uma crise fundamentada nas diferentes ca-pacidades e respostas dadas pela criança aos estímulos da escola e do meio externo em geral. Neste sentido, as crian-ças e adolescentes estão desenvolvendo padrões individu-ais acentuados, mas diferentes entre si, mesmo em grupos da mesma faixa etária. Os grupos, por sua vez, apresentam maior índice de confl itos internos, muitos deles gerando agressividade e violência, caracterizando a época com as-pectos negativos da personalidade.

O que se vê desde então é uma correria desenfreada de professores e pedagogos para conseguir desenvolver, de for-ma satisfatória, uma metodologia ou mudanças concretas no sistema de educação que satisfaçam o novo nível de exigên-cia das crianças que nascem a cada dia mais espertas, críticas, dedutivas e criativas, ao mesmo tempo em que criem áreas de interesse atraentes, com o poder de diminuir a agressividade e ampliar as capacidades positivas, ou seja, os talentos.

Talvez o que hoje se pretenda em termos de educação seja mesmo uma mudança de foco do núcleo formador das leis que regem o sistema educacional, ao menos localmen-te, ou seja, no país natal ou em que se reside, considerando que é apenas no lugar onde estamos que podemos atuar mais diretamente. Não somente porque podemos mudar a nossa própria estratégia política e, conseqüentemente, educacional, mas porque em todo o mundo as crianças es-tão nascendo com uma proposta diferenciada e demons-tram capacidades mais desenvolvidas com relação à faixa etária em que se encontram, solicitando de maneira quase desesperada métodos diferenciados, especialmente algum que demonstre coerência, respeito e acompanhamento,

coisas que faltam desde o seio familiar até as cúpulas que decidem os currículos e disciplinas escolares.

O impasse surge quando se pensa ou se deseja julgar o principal foco da mudança: alunos ou professores? Pro-fessores ou sistema educacional? Sistema educacional ou núcleo familiar? Ou tudo isso junto?

Quando a questão adaptabilidade é introduzida num gru-po infantil, os resultados são imediatos, pois há fl exibilidade, abertura e desenvoltura sufi cientes na criança para promover sua adaptação em qualquer meio. Por este motivo as ONGs e iniciativas privadas têm conseguido resultado em seus tra-balhos de apoio. No entanto, quando a mesma questão é ne-cessariamente sugerida a um grupo formado de educadores, por mais que haja boa vontade, a difi culdade se instala, pois esbarra num paredão de crenças, valores e certezas fortemen-te arraigadas e geralmente sustentadas pelo orgulho que o diploma naturalmente lhes impõe, e no qual os adultos, so-bretudo os que tomam para si a responsabilidade de educar, costumam se apoiar para justifi car a própria existência. Um processo evidentemente ilusório e que deve ser revisto, sob pena de continuarmos a comprometer as gerações humanas.

A violência que se instalou nas escolas, sobretudo nas públicas, aliada à inapetência dos educadores em li-dar com este tipo de situação, gerou maior resistência à modernização, o que se fez notar claramente na atitude evasiva e muitas vezes defensiva do corpo docente.

O caos se instalou à medida que alguns educadores, de um lado, perderam o senso de integridade frente à pos-tura educacional e outros, por outro lado, percebendo a necessidade de mudança — e ainda assim —, não sou-beram sugerir como mudar, por onde começar ou o que, especifi camente, deveria ser mudado.

A maioria dos educadores, em primeira instância, pas-sou a defender ainda mais veementemente suas posturas rígidas baseadas na disciplina e na subordinação dos alu-nos para com os professores e a instituição educacional — o que aumentou ainda mais os índices de reprovação e evasão escolar. Contra isso, em vez de um plano novo, criou-se a obrigatoriedade da freqüência — ou simples-mente da matrícula — sob a ameaça de condenação dos pais ou responsáveis por criminalidade. Isto, no Brasil. Des-conheço a realidade global.

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comciência 46 comciência 47Educar é comciência 47

ticulares independentes, foi incorporado aos núcleos munici-pais e depois aos estaduais, mas ainda não conseguiu rever-ter o resultado fi nal no quesito “formação do cidadão”, pois atende à questão de motivação e desenvolvimento do senso de cidadania, mas não abrange a responsabilidade que cada criança e cada adolescente deve desenvolver com relação à comunidade em que vive, bem como sobre a própria existên-cia, enquanto cidadão planetário.

O tema “valores humanos” está paulatinamente sen-do incorporado às discussões entre educadores, mas não se pode ensinar o que não se sabe, o que não se tem como verdade aplicada em si mesmo. E não se pode mu-dar sem abalar as bases anteriormente formadas. E acre-dito que isso é o que permitiu que a situação chegasse ao ponto em que chegou.

Verifi camos, com isso, que a criança continua sendo um refl exo do meio e continua seguindo os exemplos dos adultos. Uma vez que deseja mais, requer mais e apresenta capacidades mais alargadas, seria necessário obter dos adultos e em especial dos educadores uma atitude fi rme e pacífi ca para que se transformassem em indivíduos equilibrados.

O principal ponto, contudo, é mesmo o da coerência ou da verdade com que cada adulto — especialmente os pais e os educadores — se posiciona frente à vida e que vai refl etir na educação de nossas crianças, pois, uma vez que a criança percebe a incongruência do adulto, passa a desrespeitá-lo, desclassifi cando-o como pessoa compe-tente para “oferecer-lhe um caminho seguro”.

Entregue à própria sorte e estimulada pelo péssimo exemplo dos pais, educadores, e até mesmo do governo (todos, aqui, pregam uma verdade e praticam outra), a criança entra na adolescência com as piores inclinações, fundamentadas na mentira e na incoerência, permitindo que seus instintos animais se elevem sobre os valores es-pirituais mais nobres, que poderiam nutrir e desenvolver um padrão mais fraterno e racional que guiasse a sua vida com retidão e sucesso.

A massificação é mesmo um elemento de relevante importância no processo de desencaminhamento das boas bases educacionais, já que a criança e o adoles-cente de hoje recebem as informações prontas, de fora, em vez de ser estimulados a buscar dentro de si mes-mos as respostas para as questões da vida. A televisão, neste sentido, é um dos principais responsáveis pela formação da crença instituída de que se deve “com-prar” e aceitar tudo o que vem de fora, em detrimento do que está dentro de cada um e faz parte do com-plexo divino ou essencial do ser. Ou seja, falta senso

de responsabilidade educacional em todo o processo político que remete à massa.

Nossa questão principal, portanto, será identificar os caminhos para se chegar individualmente ao verda-deiro problema e, a partir disso, tentar criar bases con-fiáveis, dentro do que nos sugere a razão ou mesmo a fé raciocinada, para a reflexão e ação efetiva no campo das concretizações.

Lutemos por operar, assim, as mudanças educacio-nais que se fazem necessárias. Ou isso dará certo em algum tempo ou, pelo menos, nos sentiremos sempre mais motivados a demonstrar nossa indignação com a realidade que nos cerca e aprenderemos a nos de-fender das nossas próprias armadilhas e dos nossos próprios equívocos, o que denota, antes de tudo, um processo de auto-educação, como requer a consciên-cia de cidadania planetária.

Buscar a coerência em todos os processos é, por assim dizer, a viga mestra de nossa proposta para a atualidade e gerações futuras. Para isso, no entanto, será necessário de-senvolver novos padrões e estratégias, criando parâmetros seguros para discernirmos com quais valores deveremos criar correspondência a fi m de nos tornarmos seres coe-rentes com o progresso individual e planetário.

Para isto, devemos alicerçar a política com os valores nobres que a Filosofi a nos dá, compreendendo que a base de toda cidadania está na perfeita educação dentro do processo de busca amorosa pela verdade e, se atentarmos para o aspecto cósmico, também dentro da Lei do “amai-vos uns aos outros”.

Nossa reivindicação para as autoridades competen-tes, por ora, é para que incorporem Filosofia na meto-dologia educacional e a tornem disciplina obrigatória em todas as escolas. Este será o maior legado para as futuras gerações que a nossa humanidade atual poderá deixar, em prol do equilíbrio social e de um futuro me-lhor para todos.

Formou-se um panorama trágico no qual todos sem-pre perdem. Professores perdem o respeito, o rumo da educação e o controle dos alunos. Alunos perdem a noção de limite e passam a ver na escola um órgão meramente controlador e repressor. Pais perdem a noção da verdadei-ra educação e os porquês de se educar bem um fi lho.

O próprio Ministério da Educação anda perdido, preso às amarras do passado e deixando de cumprir o seu papel como titular dos preceitos educacionais.

Descontrolado e decadente, o sistema de educação como um todo se deparou com uma situação alarmante, na qual os alunos passaram a dominar pela violência que os instintos e as informações concebidas do exterior lhes inspiram. Muitos núcleos de ensino foram saqueados, destruídos ou transfi gurados. Professores foram parti-cularmente ameaçados. Muitos morreram ou sofreram agressões e outros tipos de violência por parte dos alu-nos, obrigando a polícia a manter vigilância constante e intensifi cada, gerando um clima indigesto e constrange-dor para os alunos, professores e também para os pais.

Diante da situação alarmante, tomaram-se iniciativas para desenvolver novos recursos para obter o controle. De um lado, regras mais rígidas. De outro, a oferta de mais atrativos para conquistar a simpatia das crianças e a confi ança dos pais.

O lúdico nunca esteve tão presente na sala de aula e fora dela. Mas, isso ainda não é uma regra para todas as escolas, sobretudo as estaduais e federais, em cujo seio predomina o orgulho dos concursados que se julgam melhores por “saber mais”, “ganhar mais” e “ter maior autonomia” em suas salas de aula.

Outro aspecto importante a ser ressaltado é o alto preço imposto pelas instituições particulares, sendo que o padrão econômico tem diminuído progressivamente.

Nos Estados Unidos, cuja lei educacional abre brechas e metodologias específi cas para promover a educação em casa, esta medida foi e está sendo largamente tomada para solucionar a questão fi nanceira e agir como paliativo à questão da violência.

As medidas tomadas no Brasil ainda não signifi caram nada frente à necessidade de mudança, mas apontam para a conscientização de que algo deve ser feito. Pelo menos, a situação acalmou e agora se pode pensar melhor — o que esperamos seja feito breve e urgentemente.

Assim, concluímos que o novo ainda não mostrou sua face, mas já apontou no horizonte. Ele está vindo e se mostrando aos poucos, conforme veremos.

A estratégia do lúdico, inicialmente aplicada em ONGs, trabalhos paralelos da Secretaria do Menor e em grupos par-

Lúcia Roberta Mello

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MA QUESTÃO DE IMPORTÂNCIA NOS TEMPOS MODERNOS DIZ RESPEITO ÀS LIMITAÇÕES IMPOSTAS AO DESENVOLVIMENTO EMOCIO-NAL DO SER HUMANO. O QUE QUERO DIZER COM ISTO? Criou-se uma maneira de viver onde o pensar, o sentir e o agir vão sendo progressiva-mente desestimulados, perdendo características

de uma produção personalizada, própria a cada sujeito. E no lugar vão sendo oferecidos modelos de funcionamento que são reproduzidos sistematicamente pela mídia, que devassam a sua intimidade, empobrecendo-lhe os potenciais e aprisio-nando-o em modismos ou formas automáticas de comporta-mento, uma espécie de prótese. Esse estado de vacuidade de conteúdos impele o sujeito a buscar lá fora aquilo que carece internamente, perpetuando as suas difi culdades.

Chamo esse processo de individualienação e de autô-mato de casca humana ou individautômato aquele que o vivencia. E nesse aspecto, ao não surgir o indivíduo, deixaria de haver aquele que administra sua vida e seus confl itos, ca-paz de cambiar, na medida do possível, a si próprio e às regras de convivência, aperfeiçoando-as criativamente no sentido de ações específi cas e em sintonia com seu grupo de pares. É in-teressante ressaltar que esse processo ocorre de modo amplo, não se restringindo a grupos em especial, todos podendo ser atingidos e, em decorrência, todos os setores da sociedade, uns mais que outros e com isto chego à família.

Ao abordar a questão da alienação do indivíduo, procuro deixar patente a força do seu empobrecimento e esvaziamento que vão se processando em função da sua formação essencialmente protética (próteses), portanto, as mudanças passam a ocorrer de fora para dentro e são impostas pela emoção do mercado e não em sintonia com suas demandas emocionais; o individautômato, vazio de conteúdos, desaprende ou deixa de aprender a utilizar seus potenciais e aprende a receber passivamente os dados do mercado. Como quebrar esse fl uxo de fora para dentro? Como desatender as demandas externas apoiadas forte-mente nos veículos de comunicação de massa?

Nesse sentido, podemos entender que os modelos repassados ao molde familiar estariam esvaziados e, portanto, a família terá limitações para funcionar como um laboratório de experimentos e ponto de referência

para a elaboração dos conflitos, tornando mais difícil algo que naturalmente ocorre sob o jugo da turbulência e possibilita, portanto, a manutenção das dificuldades dos mais jovens. E podemos perguntar: serão os graves desacertos na estrutura da família moderna decorren-tes dessas dificuldades que limitam a sua capacidade para pensá-las?

Talvez valha a pena tentar dizer tudo isso de um outro modo. Quero chamar atenção para o processo de automati-zação que inibe o desenvolvimento emocional e gera o indi-vidautômato incapaz de pensar, sentir ou agir criativamente. É algo que necessita ser denunciado e contestado, pois man-tém os descaminhos da indiferenciação e deixa a distância o processo criativo da individuação, a matriz do indivíduo que, de um ponto de vista simplifi cado, signifi ca alguém dono do próprio nariz, capaz de pensar, de sentir e agir por convicções próprias, assumindo os seus ônus. E é essa resultante, o in-dividautômato, que num ciclo vicioso perverso perpetuará o processo automatizador, detonando a diferenciação.

É possível fazer algo? É preciso criar condições na so-ciedade que permitam reconhecer e promover as especifi -cidades, as diferenças, em todos os níveis possíveis, o que requer seres pensantes e desejosos. Somos diferentes, uns dos outros, não menores ou maiores, melhores ou piores; este é o cerne da questão e só assim possibilitaremos as transformações do indivíduo que faz da vida um inesgotá-vel manancial de criatividade.

1)Processo de automatização à inibição do desenvolvi-mento emocional à individautômato.

2) Reconhecer especifi cidades à potencializar a individua-ção àIndivíduo àrenovação permanente da matriz da vida.

UA Individualienação: A vida moderna e seus impactos

Dr. Giovanni Lopes de Farias

•Médico psiquiatra e psicoterapeuta, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente. É um estudioso da Psicanálise, ligado à Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e ao Espaço Psicanalítico de São José do Rio Preto, São Paulo. Desenvolve clínica privada em Presidente Prudente.•[email protected]•Rua Bandeirante René Nobre, 477. Presidente Prudente, São Paulo.•Fone:18.x.3908.7229

“A matriz do indivíduo que, de um ponto de vista simplifi cado, signifi ca alguém dono do próprio nariz, capaz de pensar, de sentir e agir por convicções próprias, assumindo os seus ônus”.

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primeira vez em que encontrei com Bettino Cra-xi foi em Milano, a minha cidade, em outubro de 1977. Eu era um dos responsáveis políticos dos estudantes do ensino médio, expoente de uma organização de esquerda chamada “Lotta Continua”, e junto com os meus companheiros estávamos nos preparando para invadir um gru-

po de condomínios na periferia da cidade para, uma vez tomados, entregá-los aos sem-teto que somavam milhares naquela época na cidade.

Uma ação quase de rotina, na-queles anos quentes da “revolução”.

Bettino era então o secretá-rio nacional da federação juvenil do Partido Socialista Italiano, e os prédios recém-construídos ti-nham duas características mui-to importantes para ser por ele desconsideradas: estavam situ-ados em Quinto Romano, bairro tradicionalmente socialista da cidade e reduto eleitoral dele; o construtor deles era um jovem empreendedor ligado por algum motivo ao partido dele, o PSI, e seu nome era Silvio Berlusconi.

Assim, quando ele soube das nossas intenções de ocupá-los – não sei por quem, já que plane-jávamos estas coisas sempre em segredo – chamou-nos para uma reunião num escritório lá na cidade.

Lembro-me de que chegamos de manhã, eu e meus três amigos, cabelos compridos, jeans surrados, um so-bretudo – nosso uniforme da época – e nos acomodaram numa sala com uma grande mesa e 6 cadeiras.

Logo em seguida entrou Bettino e o secretário dele, um jovem com cara de criança que se chamava Cláudio Martelli.

Antes de começar a reunião, Bettino pediu ao Cláudio que lhe trouxesse um copo de água – só um. E começou a falar, explicando-nos que o construtor era um companheiro

que fi nanciava iniciativas populares do partido e que não merecia ver os seus sete novos prédios ocupados por cen-tenas de famílias que destruiriam todo o fi no acabamento, que isso poderia arranhar a edifi cação de uma aliança po-lítica na esquerda milanesa, enfi m, uma veemente defesa do direito de propriedade do coitado pequeno construtor.

Escutamos tudo pacientemente, dizendo que exami-naríamos o caso.

Às cinco da manhã do dia seguinte chegamos e ocu-pamos todo o conjunto de prédios.

Poucos anos depois eu já mo-rava no Brasil, no Rio de Janeiro; Bettino Craxi era o primeiro-minis-tro do governo da Itália, Cláudio Martelli o seu secretário-sombra, e Silvio Berlusconi dono do maior grupo empresarial de telecomu-nicações da Itália e presidente do meu time de futebol, o Milan.

Havia também um promotor desconhecido, de nome Antonio Di Pietro, que estava começando uma investigação sobre um pe-queno caso de corrupção de um instituto para velhinhos da minha cidade, o Istituto Pio Trivulzio.

Mas, interrogando o dirigente socialista que chefi ava o instituto, começou a descobrir uma vasta rede de corrupção que envolvia o

governo central e os partidos que formavam a base aliada.Iniciou-se uma série quase infi nita de denúncias que

envolveram centenas de pessoas, estatais, partidos. A so-ciedade civil fi cou indignada, envergonhada com a desco-berta de tamanha safadeza, e a opinião pública começou a pedir punições.

O jovem promotor Di Pietro, um cara do sul da Itália, que apesar da formatura em direito não sabia falar bem em italiano – o acento dialetal da região dele era muito forte – ignorando o monte de ameaças decidiu continuar na sua obra, incansável e incorruptível, vigiado de perto por um grupo de policiais.

A“Se pudesse, presentearia Lula com uma passagem para Hammamet, para que lá, entre os beduínos que falam afr icano, se desse conta de como é bom poder entender o que se passa ao seu redor”.

E TRANSFORMAÇÃOCONHECIMENTO

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E começou a operação “Mani pulite”, mãos limpas, o baile das denúncias.

Foram centenas, contra dirigentes de partidos, parla-mentares, expoentes do governo, empresários,

publicitários...até aqui, um fi lme já visto.Então, a pressão popular continuou, os órgãos de in-

formação todo dia noticiavam novos casos de corrupção, nas casas, nas praças, nas escolas, não se falava de outra coisa...e as prisões aconteceram. Homens outrora pode-rosos algemados, dirigentes de governo em prisão domi-ciliar, empresários na cadeia, suicídios, muito desespero. E, como na época da queda da Bastilha, por cada cabeça guilhotinada havia uma festa popular.

O governo caiu, os partidos arrebentaram-se, as esta-tais conheceram novas diretorias e Bettino Craxi, presidente do partido socialista e primeiro-ministro da Itália fugiu para a Tunísia, na África, onde da sua mansão em Hammamet tentava rearticular o que restava de seu poderoso império.

Mas infelizmente – ou melhor, felizmente – não conseguiu e morreu poucos anos depois entre camelos e beduínos.

A política italiana mudou, a corrupção galopante aca-bou, começando, creio, uma outra mais discreta e bem menor, pelo menos no inicio. A sociedade cantou vitória, mas foi por pouco tempo.

A arvore da “res publica” gerou outro fruto. Novos partidos, novos nomes, políticos novos, renova-

dos, recauchutados. E lá veio Forza Itália (já pensou que nome genial os

marqueteiros inventaram para este partido? Esse era o grito que ecoava nos campos de futebol quando a seleção dos “azzurri” entrava em campo e arrepiava a pele de to-dos os italianos, enchendo-os de orgulho e comoção) cujo presidente era Silvio Berlusconi, que ganhou as eleições e virou (ainda o é) primeiro-ministro da Itália.

A corrupção não desapareceu, só mudou de estilo. A arrogância de Bettino não desapareceu, só transformou-se naquela de Silvio. O descontentamento popular não desa-pareceu, só acomodou-se no status quo.

Se pudesse, convidaria Di Pietro a exercer a magistra-tura pública em Brasília.

Se pudesse, mandaria os Dirceus, os Valérios, os Delú-bios e os Jeffersons ao Istituto Pio Trivulzio, para terminar suas existências entre sopas de água com sal e pão, ba-nheiros sujos, enfermeiros displicentes e doses maciças de antidepressivos.

Se pudesse, presentearia Lula com uma passagem para Hammamet, para que lá, entre os beduínos que falam africa-no, se desse conta de como é bom poder entender o que se passa ao seu redor, e para que experimentasse viver entre os camelos e o cheiro de bosta quente que não te deixa nunca.

Se pudesse, diria àquele homem que escreveu que conhecimento e transformação são a base da sabedoria: “nem sempre,caro amigo,nem sempre.”

Roberto Numa é italiano, formado em direito pela Universidade de Milano, empresário de turismo, vive no Brasil há 25 anos, é casado e tem 2 fi lhos.

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MATRIX E ESPIRITUALIDADEQUE MAIS CHAMA ATENÇÃO NA TRILOGIA MATRIX É A PERCEPÇÃO DO TRIO NEO, MORPHEUS E TRINITY DE QUE A MISSÃO DE VIDA É COMPREENDIDA POR PARTES (EM TIRAS, DE FORMA FRAGMENTÁRIA) AO LONGO DA EXISTÊNCIA INTRAFÍSICA.

O indivíduo sabe o necessário para executar sua missão naquele instante específico de sua jornada evolutiva. Mais adiante, conforme as necessidades do momento, obtém noção mais clara.

De qualquer forma, é preciso respeitar (e ponderar sobre) as inclinações e as orientações emanadas de fortes intuições, sem descartá-las automaticamente caso não coincidam com o pensamento majoritário.

Seguir a visão de mundo da maioria e se robotizar para não destoar da mentalidade dominante, esse caminho já conhecemos e já não nos satisfaz. Embora o autodescobrimento seja uma viagem solitária que às vezes nos leva ao contrafluxo, pelo menos nos permite maior paz de espírito e realização pessoal do que a simples emulação do comportamento alheio.

Essa é a melhor mensagem subjacente da Trilogia Matrix.Os dois últimos filmes da trilogia conferiram a Zion o perfil de sociedade guerreira e sensualista, mistura da humanidade

atual com sociedades da Idade Antiga. Deixou a desejar. Fez a Matrix parecer mais atraente. O diferencial de Zion deveria ser a libertação por meio da espiritualidade, mas o tratamento dado pelos irmãos diretores da Trilogia (Larry e Andy Wachowski) fez de Zion outra Matrix, só que sem a aparente autocracia das máquinas.

De 1999, o “13º Andar” foi contemporâneo do primeiro filme de Matrix e acabou ofuscado pelo sucesso deste. Apesar de não possuir teor místico visível, trabalha com a hipótese de a realidade ser camadas dentro de camadas, desvencilhadas dos apelos comerciais daquela.

OHidemberg Alves da Frota

“Embora o autodescobrimento seja uma viagem solitária que às vezes nos leva ao contrafl uxo,pelo menos nos permite maior paz de espírito e realização pessoal do que a simples emulação do comportamento alheio”.

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QUELES AFINADOS COM O ESPIRITUALISMO UNIVERSALISTA E COM O ES-TUDO COMPARADO DAS CORRENTES ESPIRITUALISTAS, ALÉM DO PÚBLICO ESPÍRITA INTERESSADO EM CONHECER OBRAS ECUMÊNICAS E INOVADO-RAS, mostra-se premente a leitura do estudo anímico-mediúnico “Muito Além do Horizonte”, escrito por Jan Val Ellam (pseudônimo de Rogério de Almeida Freitas) e publicado pela Editora Zian, hoje em segunda edição.

No papel de uma das monografias espiritualistas mais instigantes da atualidade, a obra analisa a doutrina espírita sob o tríplice enfoque das obras de Kardec, Ramatis e Ellam, para reforçar a concepção do Espiritismo como pro-posta filosófico-espiritualista universalista avessa à ortodoxia religiosa que hoje parte do movimento espírita quer impingir ao legado de Allan Kardec, traço atá-vico de sectarismo presente em todos os movimentos humanos, mormente no campo da espiritualidade.

Jan Val Ellam tem a virtude de aglutinar em seus textos monográfi cos ampla gama de informações disseminadas por meio de estilo elegante e erudito, porém desvencilhado de tratamento hermético, demasiado formal ou simplório.

Como poucos, o estilo de Ellam combina a agilidade narrativa da literatura con-temporânea com a refi nada linguagem clássica dos melhores textos espíritas.

Critica o recrudescimento do dogmatismo na seara espírita e a postura empresa-rial de jovens igrejas protestantes sem se colocar acima do bem e do mal, a um passo adiante da evolução geral da humanidade terrestre.

Os livros de Ellam refletem as convicções do autor e de sua equipe de am-paradores extrafísicos, mas também extravasam as incertezas e inseguranças do autor, sempre enfatizando a possibilidade de estar equivocado, involuntariamen-te deturpando a mensagem da qual é emissário, por erros de interpretação e deficiências de caráter.

OS NOVOS HORIZONTES AVISTADOS POR JAN VAL ELLAM

“Loucura pouca é bobagem”

Ao contrário da maioria dos líderes espirituais, o ide-ólogo do Projeto Orbum (voltado a sensibilizar os povos quanto à cidadania planetária), a cada caminhada renova a si e aos demais o benefício da dúvida (“Loucura pouca é bobagem”, gosta de repetir) quanto à veracidade das revelações contidas em seus escritos.

Invocando ensinamentos de notáveis vultos bíblicos, católicos, protestantes, espíritas, hindus, ramatissianos e budistas (entre outros), Ellam explicita o fundamento doutrinário e cosmoético no qual se alicerça sua tese de gradativa reintegração da Terra às demais sociedades do cosmos, a ser restabelecida pela volta de Jesus, programa-da para se efetivar entre 2005 e 2012, segundo confi rma no recém-lançado “A Sétima Trombeta do Apocalipse: A Volta de Jesus”, tripartido em ensaios proferidos por Rafa-el, Gamaliel e Ellam.

Mesmo veiculando opiniões extremamente polêmicas (muitas vezes inéditas e solitárias), que não se curvam inteiramente a nenhum cânone espiritualista, Ellam con-segue manter voz sóbria, autocrítica e capacidade de dis-cernir entre os acertos e desacertos praticados ao longo da história terrena por clérigos, políticos e espiritualistas.

Matizando política internacional, história antiga e con-temporânea, ecumenismo, ufologia e as novas fronteiras da ciência, as obras de Ellam serão, em menos de quinze anos, clássicos do espiritualismo brasileiro.

Hidemberg Alves da FrotaMais informações em http://www.orbum.org. A

Livros comciência 56 comciência 57

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Desde os livros psicografados por Chico Xavier, es-pecialmente os de André Luiz, não se tinha notícias das possibilidades de vida e existência nos níveis espirituais a que se costuma chamar de purgatório.

Em Inquisição Poética, Rogério de Almeida Freitas nos abre uma nova realidade espiritual ofertando-nos com riqueza de detalhes o panorama de uma cidade até então inimaginável, onde se pode encontrar com várias personalidades conhecidas na terra.

A Cidade dos Poetas é o cenário escolhido pelo autor para explorar e registrar as impressões de um espírito recém-desencarnado que se depara com um aspecto de si mesmo que era desconhecido até para ele mesmo.

Com sutileza e sensibilidade, Rogério descortina um panorama próximo à realidade daquele lugar enquanto descreve um enredo que revela como a natureza ten-denciosa dos homens se repete do outro lado da vida.

Se lido com os olhos românticos que a poesia inspira do começo ao fim do livro, tem-se uma bela obra fictícia (já que assim optou, o autor, por classificar o livro, a fim de não ferir suscetibilidades); se lido com os olhos sutis e mente investigativa, a cada leitura se descobre mais um detalhe que descerra as cortinas que encobrem as múltiplas realidades e possibilidades de manifestação espiritual. O que a princípio nos toca como uma brin-cadeira que o autor poderia ter feito sob o pretexto de nos ofertar seu lado pessoal, sensível e humano, vai se tornando, paulatinamente, em uma amostra intrigante das variantes de mundos e dimensões que o Pai nos oferta. Com o tempo, saciará não apenas a nossa sede de boa literatura como também será um referencial da-quilo que estivera oculto, por mais que sempre tenha sido óbvio.

Acompanhar a jornada do protagonista do enredo, Yohan, é desvendar um pouco dos percursos espirituais que Rogério certamente vivencia, seja quando encontra um afeto de sua alma, quando exercita sua poética ou quando vai rumo aos mestres e amigos que, ainda não desvinculados de sua arrogância e vaidade espirituais, refletem na Cidade dos Poetas a nossa própria realida-de terrena.

Não podemos deixar de citar a emoção que certos eventos e encontros isolados causam em nossas almas durante a leitura desse livro.

IMPRESSÕES SOBRE O LIVROINQUISIÇÃO POÉTICA

Livro: Inquisição Poética Autor: Jan Val EllamISBN: 85-88584-16-6FORMATO: 14 X 21cm, 248 páginasLANÇAMENTO: novembro/05 Preço: R$37,00

L.R.M.

Humor

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