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Revista Caminhos Volume 1 - Número 9 Janeiro / Dezembro 2008 ISSN 1678-8990

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Revista CaminhosVolume 1 - Número 9

Janeiro / Dezembro 2008

ISSN 1678-8990

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UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ – UNIDAVI

REVISTA DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - CAMINHOS

Conselho Editorial

Por meio de depósito bancário a UNIDAVI

Conta n. 4355-0, Banco BESC, agência 021Rio do Sul/SC

Caixa Postal 193, Rio do Sul/SCCEP 89.160 - 000

Fone (47) 3531 - 6000 / Fax (47) 3531 - 6001

Livraria Central Livros

Rua: Dr. Guilherme Gemballa, n. 13Bairro Jardim AméricaCaixa Postal 193Rio do Sul/SCFone (47) 3521 - 0155

Reitor: Viegand EgerVice-reitor: Célio Simão Martinagno

Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Ilson Paulo Ramos Blogoslawski

Organizador

Prof. MSc. Ilson Paulo Ramos Blogoslawski

Diagramação

Osmair José Pereira

Capa desta edição

Mauro Tenório Pedrosa

UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ.Caminhos. v. 1, n. 9. Rio do Sul: Editora UNIDAVI, 2008.

ISSN 1678-8990

Ensino Superior, Pesquisa, Extensão, Ensino.

Professor M.Sc. Adalberto Andreatta – UNIDAVIProfessora M.Sc. Adriana Thives – UNIDAVI (ad hoc)Professora MSc. Andréia Pasqualini – UNIDAVIProfessor Dr. André Marques Vieira – UNIDAVI / HRAVProfessor MSc. Aldo Kaestner – UNIDAVIProfessor MSc. César Machado - UNIDAVIProfessor MSc. Charles Roberto Hasse – UNIDAVIProfessora Dra. Edla Grisard Caldeira de Andrada - UNIDAVIProfessor Dr. Fábio Alexandrini – UNIDAVIProfessor MSc. Flavio Joaquim Fronza – UNIDAVIProfessor MSc. Fulvio César Segundo - UNIDAVIProfessor MSc. Jeancarlo Visentainer – UNIDAVI

Professor MSc. Jean Segata – UNIDAVIProfessor MSc. José Sérgio da Silva Cristóvam – UNIDAVIProfessor MSc. Ilson Paulo Ramos Blogoslawski – UNIDAVIProfessor MSc. Mauricio Campos - UNIDAVIProfessor Dr. Nivaldo Machado – UNIDAVIProfessora Dra. Patrícia Rosa Traple Lima – UNIDAVIProfessora Rosemeri Geremias Faria – UNIDAVIProfessora Dra. Arlene Renk – UNOCHAPECÓProfessor Dr. Valdir Prigol – UNOCHAPECÓProfessor Dr. Lucídio Bianchetti – UFSCProfessor Dr. Reynaldo Chile Palomino – UCSProfessora M.Sc.Simone R. Lenzi Rosembrock – FURB (ad hoc)

Aquisição de exemplares

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Sumário

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Apresentação

Artigos

Acidentes e doenças do trabalho na indústria têxtil do Alto Vale do Itajaí. Base naindústria têxtil rioestense

Prof. Célio Simão MartignagoPablo José Depiné

Balanço Social: uma ferramenta para o sucessoEvelize Mees França

O Balanço Social como instrumento de gestão1Cláudio Ivan Müller

O desempenho exportador da indústria madeireira do Alto Vale Do Itajaí e suacontribuição para o desenvolvimento regional

Raquel CorrêaProfª. Marilei Kroetz

A educação infantil no município de Rio do Sul nascimento e trajetóriaProfª MSc. Celi Terezinha W olffProfª MSc. Fernanda Ax WilhelmProfª Franciane Meire RadtkeGishlaine ApolinárioNeusa RassweilerRosimere Serafim Weiss

A dislexia nas séries iniciais: estratégia e atividades de superaçãoLiane Sofia GuckertDr. José Ernesto de Fáveri

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A discussão sobre a progressividade do IPTU frente à sua previsão constitucional1Prof. MSc. Marcos Rogério PalmeiraCarmen Luciana Hoffmann Colvero

Elaboração de escala de diferenciação do euProfª. Drª. Edla Grisard Caldeira de AndradaCleusa Aparecida Dalpiaz Irigonhe

Um estudo sobre a influência da br470 nas exportações do Alto Vale do ItajaíProf. MSc. Mehran RamezanaliDaiana Carla Luiz

A função do gestor nos contratos administrativosProf. MSc. José Sérgio da Silva CristóvamEdna Manuela Has de Souza Schoeffel

Melhorias nos procedimentos de readaptação de primata apreendidos pela Polícia Ambientaldo Alto Vale do Itajaí

Prof. MSc. Dalmir da SilvaAnderson Luiz PessoaJosiane dos SantosScheila Corrêa Quint da Silva

Planejamento Estratégico e o Sistema de Gerenciamento Estratégico - Balanced Scorecard - BSCProf. MSc. Sandro Mário ChiquettiEva Cleusa Mazzini

Gestão de pessoas a partir do diagnóstico de recursos humanosSônia Novaes EstácioFabrisia FranzoiAnderson Renan WillBruna Stefania HasseEloise Coninck

A implantação do Programa 5S nas organizações, base de qualquer planejamento dequalidade e produtividade

Profª MSc. Andréia PasqualiniMarilei Hoepers

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I “Primeiro a Morte, Depois a Vida”: os impactos subjetivos em mulheres após receberema notícia que possuem câncer

Franciane Meire RadtkeAntônia Catarina Feuser Zandonai

As possibilidades e limitações da produção escrita e da leitura no ensino médio da escolapública

Noeli Salete SorgattoRaimund Esser

Capacitação Profissional: um estudo sobre a formação de profissionais na área administrativapara atuar em construções de grande porte

Adriano Neumann

Redução de impactos ambientais causados por fluídos de corte utilizados em usinagemProfª MSc. Andréia PasqualiniProfª Cláudia Martins LedesmaProfª MSc. Franciane SchoeningerAdriano DolzanAndré Sabino BusarelloReginaldo Otto Nau

O uso da contabilidade gerencial nas micros e pequenas empresas: sobrevivência empresarialEdilton Jahn

O uso da informática educativa no desenvolvimento do raciocínio lógicoProf. MSc. Juliano Tonizetti. BrignoliAna Claudia Ramos

Welcome to Santa Catarina: a importância da fluência em língua universal para a prestaçãodo serviço receptivo internacional no estado de Santa Catarina - Brasil

Hélio Pereira JuniorLionara Arnt

Resenha

Para um conceito de UniversidadeEstela Pamplona CunhaNiladir Butzke

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Apresentação

É com entusiasmo e alegria que apresento a nona edição desta Revista deDivulgação Científica, a CAMINHOS, porque esta e todas as demais edições contemplama produção científica dos docentes e discentes da UNIDAVI.

Este mecanismo de produção científica é uma das etapas de desenvolvimento doprocesso de construção da Universidade, organizada pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (PROPPEX) e pelo Conselho Editorial da mesma. Acada momento, a cada edição, consolidamos a Pesquisa e contribuímos para aqualificação do Ensino e da Extensão. Através deste meio de comunicação difundimoso saber e demonstramos os resultados obtidos pelos pesquisadores, onde os registrosficam impressos para que outras gerações tenham acesso às informações. Desta forma,concluímos que vale a pena pesquisar e aprender, pois, o conhecimento é fatordeterminante da busca do bem-estar das sociedades.

Podemos ainda afirmar que ao adotar como desafio central o fomento a IniciaçãoCientifica na Graduação e na Pós-Graduação da educação superior, na UNIDAVI,caminhamos na mesma direção e defesa que aponta o professor Pedro Demo (2007, p.93) a afirmação de que “Em países em que os alunos naturalmente precisam pesquisar,porque faz parte intrínseca de seu aprender, essa idéia poderia parecer esdrúxula. Mas,considerando nossa precariedade acadêmica histórica, a idéia tem de importante sairda rotina das aulas repetitivas e da tutela de professores que apenas reproduzemconhecimento de segunda mão. Entre os programas oficiais oferecidos às universidadesultimamente conta-se, sem dúvida, o de Iniciação Científica, por causa de seu teorformativo eminente e de multiplicidade de efeitos colaterais de grande significação.”

Nessa edição apresentamos vinte e três artigos, trabalhos de Iniciação Científica,e desejamos a todos os leitores e autores que possam encontrar um pouco de si nestaconstrução.

A Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão disponibiliza aos seus leitoresesta edição, agradece a todos e convida para continuarmos juntos, na missão de fazer daPesquisa, da Extensão e do Ensino um caminho de possibilidades na Universidade.

Prof. MSc. Ilson Paulo Ramos BlogoslawskiPró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão.

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9Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

ACIDENTES E DOENÇAS DO TRABALHO NA INDÚSTRIA

TÊXTIL DO ALTO VALE DO ITAJAÍ. BASE NA INDÚSTRIA

TÊXTIL RIOESTENSE1

Prof. Célio Simão Martignago2

Pablo José Depiné3

Resumo: Os Acidentes e as Doenças do Trabalho acarretam enormes prejuízos não só às empresas, comotambém à Nação. Para os trabalhadores restam as lesões e o sofrimento físico, que podem incapacitá-los parao trabalho, ou ainda levá-los à morte, deixando famílias inteiras desamparadas. Matéria do Jornal do SIT/TEV– Sindicato dos Trabalhadores de Fiação, Tecelagem e Vestuário de Rio do Sul e Alto Vale do Itajaí - de Marçode 2002, destaca que as doenças ocupacionais têm aumentado de forma assustadora, principalmente entreas mulheres costureiras desta categoria. As LER/Dort são a segunda causa de afastamento do trabalhador noauge de sua produtividade e experiência profissional. Destaca-se ainda, que as lesões, na maioria das vezes,não são visíveis e dificilmente são atestadas como doença do trabalho pelos médicos das empresas, mas asdores, o sofrimento e as limitações são terríveis para os trabalhadores, que ficam destituídos de suacidadania. Desta forma, podemos evidenciar que os acidentes e as doenças do trabalho prejudicam toda acoletividade, o que pode e deve ser evitado pela implantação de medidas efetivas para garantir a segurançae a saúde no ambiente de trabalho. Decorrente, analisando as Doenças e os Acidentes do Trabalho com umamaior especificidade, uma vez que se trata de um estudo de caso embasado em empresas que seguem omolde regional, pode-se alcançar um resultado satisfatório para aplicação neste setor empresarial.

Palavras-chave: acidente do trabalho, doença do trabalho, indústria têxtil, ergonomia.

Abstract: The accidents and the illnesses of the work not only cause enormous damages to the companies,as also to the nation. For the workers, they remain the injuries and the physical suffering, that can incapacitateit for the work, or stile to take them it death, leaving abandoned entire families. Text of periodical SIT/TEV –Union of the wiring workers, wearing and clothes of Rio do Sul and Alto Vale do Itajaí – of march of 2002,mainly detaches that the occupational illness have increased of frightful form, mainly in the women dressmakersof this category. The LER/Dort is the second cause of the removal of the worker in the height of its productivityand professional experience still detachers that the injuries, in the majority of the times, are not visible andhardly is they certified as illness the doctor of the company. But pains, the suffering and thee limitations areterrible for the workers, who are dismissed of its citizenship. Of this form we can evidence that the accidentsand the illnesses of the work harm all the collective. These damages can, and must, to be prevented throughthe implantation of measures effective in the work environment. Decurrently, analyzing the illnesses and theindustrial accidents with a bugger specificity hearing that one is about a case study on the bases in companieswho fallow the regional mold, can be reached a beneficial result for effective regional enterprise application.

Keywords: employment-related accident, illness of the work, textile industry, ergonomics.

1 Artigo referente ao Projeto de Pesquisa do Artigo 170;2 Orientador do projeto de pesquisa, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), e-

mail: [email protected];

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10 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

INTRODUÇÃO

Apresenta-se a seguir o artigo de Pesquisa da Universidade para o Desenvolvimentodo Alto Vale do Itajaí, que tem como objetivo principal fazer a distinção entre as váriasdoutrinas acerca do tema Acidente do Trabalho, focado na indústria têxtil, com base emempresas estabelecidas em Rio do Oeste, por se enquadrarem e poderem representar omolde regional.

O trabalho humano produz transformações no sistema dos trabalhadores, tantoem nível físico como mental, podendo ser positivo quando utilizado de forma saudável ecom prazer - como o ato de criar -, e também maléfico, quando o trabalhador estáexposto a condições insalubres, esforços exaustivos e estressantes, que geram alienação,tensão e desgaste.

O Brasil se encontra entre os dez piores países do mundo no que se refere aonúmero de acidentes e doenças em trabalhadores empregados na indústria.Objetivamente em nosso tema, crescente é a ocorrência de doenças, principalmente nasmulheres costureiras.

O objetivo maior desta pesquisa consiste na elaboração prática de um documentoque possa contribuir para a diminuição e/ou eliminação das deficiências causadoras dedoenças e acidentes na indústria têxtil regional.

Esse trabalho é resultado de pesquisa bibliográfica e estudo de caso visandoeficiente aplicabilidade prática. A metodologia empregada foi a de coleta de dados como estudo de caso, tendo como técnica a análise de empresas do ramo têxtil, suficientepara a solução do objeto problema.

O artigo está dividido em três capítulos que objetivam demonstrar osconhecimentos acerca dos Acidentes e Doenças do Trabalho na Industria Têxtil, eesclarecer as dúvidas e perguntas mais freqüentes, possibilitando a adequação à legislaçãopertinente.

RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil é um dos temas mais palpitantes da atualidade, em razãode sua surpreendente expansão no Direito, seus reflexos nos atos contratuais e extra-contratuais, e no prodigioso avanço da tecnologia, geradora de utilidades e de perigosà integridade humana.

De acordo com Cairo Júnior (2005), o principal fator de propulsão das teoriasobjetivas da responsabilidade civil foi a eclosão da revolução industrial, marcada pelogrande número de vítimas de acidentes do trabalho, as quais ficavam desamparadas

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11Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

financeiramente em face da impossibilidade de reparação do dano sofrido e retorno àatividade laborativa.

Diante disto, “pela teoria do risco profissional, aquele que tira proveito da atividadeindustrial, perigosa por natureza, e para tanto cria riscos, responde pelos eventuaisdanos causados aos operários em razão de acidentes do trabalho independentementede culpa.” (CAIRO JÚNIOR, 2005, p. 30)

Além disso, o referido autor explica que, em caráter de solidariedade, “palateoria do risco social, a sociedade, representada pelo Estado, deve assumir aresponsabilidade pelos danos causados pelo acidente do trabalho, resguardado o direitode regresso contra o culpado direto que não adotou as medidas preventivas necessárias.”

Atualmente, a Lei nº 10.406/2002 (Novo Código Civil Brasileiro), em seus artigos927 e seguintes, trata da responsabilidade civil decorrente de ato ilícito independente deculpa, estabelecendo a obrigação de indenizar:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,fica obrigado a repará-lo.Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente deculpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmentedesenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitosde outrem.Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa eo dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. (BRASIL, 2005)

Com fundamento na responsabilidade civil, o responsável pela atividade danosatem o dever de indenizar, suprindo a diferença entre a situação do atingido, tal como estase apresenta em conseqüência do prejuízo, e a que existiria sem este último fato. “Aconduta antijurídica, imputável a uma pessoa, tem como conseqüência a obrigação desujeitar o ofensor a reparar o mal causado. Existe uma obrigação de reparar o dano,imposta a quem quer que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,causar prejuízo a outrem.” (PEREIRA, 1996, p. 37)

De acordo com Cairo Júnior (2005), “o ideal seria que todos agissem conformeas prescrições legais, evitando-se, assim, as conseqüências da ação ou omissão queimportassem em violação do direito de outrem”.

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Responsabilidade Civil Contratual e Extracontratual

Conforme Cairo Júnior (2005), não existe uma distinção das obrigaçõesreparatórias entre a responsabilidade civil contratual e a extracontratual. Esta distinçãoé importante, principalmente, para determinar a quem caberá o ônus da prova, bemcomo, para fixar a extensão dos seus efeitos.

A respeito da responsabilidade civil extracontratual, o supracitado doutrinadorassevera que “constitui encargo do ofendido demonstrar que o agente agiu com culpa,salvo quando há expressa disposição em contrário, como acontece nas hipóteses previstaspelo (sic) arts. 927, parágrafo único, e 932, ambos do Código Civil [...], em que, apesarde constituir caso de responsabilidade aquiliana, a culpa se presume.”

Neste diapasão é o que preleciona o art. 932 do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em suacompanhia;II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmascondições;III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, noexercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se alberguepor dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores eeducandos;V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até aconcorrente quantia. (BRASIL, 2005)

Assim, nos casos elencados neste dispositivo, como exemplo, é desnecessária ademonstração da culpa, sendo esta presumida, destacando-se o inciso III, com aplicaçãoespecífica ao caso em estudo.

Causas Excludentes da Responsabilidade

Muito embora se presuma a culpa do responsável pela atividade laborativa,existem causas excludentes da responsabilidade civil, que consistem no caso fortuito eforça maior, ocorrendo também, quando a culpa for exclusiva da vítima.

Tal assertiva vem ditada no artigo 393 do Novo Código Civil Brasileiro:

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13Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ouforça maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário,cujos efeitos não era possível evitar ou impedir. (BRASIL, 2005)

As causas excludentes da responsabilidade vão além da exclusão da culpabilidade,o que, em analogia ao Direito Penal, se equipararia a própria atipicidade da conduta,inexistindo o nexo causal entre a ação ou omissão e o resultado produzido pelo evento.

Neste mesmo sentido é o juízo de Cairo Júnior (2005), quando aduz que “não sepode entender, tecnicamente, o caso fortuito e a força maior como excludentes daculpabilidade. Na verdade, nessas circunstâncias não há que se falar em responsabilidadecivil porque inexiste o nexo causal, ou seja, o dano emerge da ação ou omissão de umterceiro ou de fato natural”, inexistindo o elemento objetivo resultante de “um ato próprio,de um terceiro a ele vinculado ou mesmo pelo fato da coisa de que é proprietário oupossuidor.”

Responsabilidade Acidentária

Como já demonstrado anteriormente, para a responsabilidade civil, deixou-se deexigir, necessariamente, o elemento culpa, podendo também ser fundamentada pelorisco gerado com a atividade desenvolvida (culpa presumida).

Em consonância com a teoria do risco social, “o Brasil instituiu o seguro estatalobrigatório para a cobertura do acidente do trabalho, na forma de uma contribuiçãosocial adicional, denomina de Seguro Acidente do Trabalho, eliminando a culpa paraaferição da responsabilidade civil, bastando simplesmente a existência da ação ou omissão,o nexo de causalidade e o dano.” (CAIRO JÚNIOR, 2005, p. 57)

Seguindo a linha de raciocínio do citado autor, com este seguro estatal, transfere-separte da responsabilidade do empregador para uma das pessoas da estrutura indireta daadministração do Estado (autarquia), qual seja, o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS.

O art. 201, § 10, da Constituição Federal, permite que os riscos sejam garantidostambém pelo setor privado, concorrentemente ao regime estatal:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, decaráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservemo equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: [...]§ 10. Lei disciplinará a cobertura do risco de acidente do trabalho, a ser atendidaconcorrentemente pelo regime geral de previdência social e pelo setor privado.(Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) (BRASIL, 2005)

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14 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Entretanto, de acordo com o professor Cairo Júnior (2005), devido aopreestabelecimento dos valores, a própria remuneração mensal percebida pelotrabalhador não se encontra totalmente coberta pela indenização acidentária.

Partindo deste ponto, com a impossibilidade de se obter a reparação dasdiferenças salariais antes percebidas, eventual dano moral e estético que não são cobertospelo seguro acidentário do regime geral de previdência social, deformidade física e asdoenças ocupacionais, resta ao empregado intentar ação judicial contra o empregadorcom base na responsabilidade de direito comum.

ESTUDO SOBRE ACIDENTE DO TRABALHO

O acidente do trabalho é um fato que deve ser examinado dentro de cada conjuntoem que está inserido, porque diretamente relacionado com a atividade laboral e com odesenvolvimento dos meios de produção.

O acidente de trabalho já era definido pela Lei nº 6.367, de 19/10/1976, em seuartigo 2º, e de forma semelhante, a Lei nº 8.213 de 24/07/1991, no artigo 19, conceituou,in verbis:

Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço daempresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII doart. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional quecause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidadepara o trabalho.

O acidente de trabalho está intimamente relacionado ao exercício de determinadatarefa e às condições oferecidas para sua execução, no ambiente para isso destinado.

Considera-se acidente de trabalho, também, aquele que ligado ao seudesenvolvimento, embora não tenha sido a única causa, contribua diretamente para amorte, doença ou para a redução da capacidade para o trabalho, compreendido nesteconceito aquele sofrido pelo empregado ainda que fora do ambiente específico, seja nopercurso (acidente de trajeto) da residência para aquele local, ou no sentido inverso.

A grande parcela da vida do trabalhador dedicada ao desempenho de suasatividades laborais lhe impõe grande sujeição às intercorrências dos fatos geradores deacidentes ou da aquisição de doenças.

Vários são os fatores determinantes dos acidentes do trabalho, os quis podem serrepresentados por uma seqüência de agentes de risco e atitudes dos empregados eempregadores.

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15Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Os agentes de risco podem ser divididos em quatro classes: agentes físicos,químicos, biológicos e ergonômicos, sendo objeto deste estudo os agentes físicos,ergonômicos e as poeiras, no grupo dos agentes químicos.

• Agentes físicos: ruídos, temperatura, ventilação e iluminação;• Agentes químicos: gases, vapores, poeiras e fumos;• Agentes biológicos: bactérias, vírus, microorganismos e fungos; e• Agentes ergonômicos: esforço físico, posição de trabalho, monotonia e trabalhos

repetitivos.

Partindo da generalidade das classes de agentes, especifica-se os demais fatores:

• Fatores ambientais de riscos desencadeados em perigos diversos, gerandocondições perigosas, insalubres e penosas;

• Desconhecimento de determinadas operações;• O valor dado à vida, pelo próprio trabalhador e pela empresa;• A organização e a pressão para produzir;• O imediatismo e a ausência de treinamento adequado:• Os maus hábitos e o desconhecimento com relação à proteção pessoal diante

dos riscos; e• Critérios de segurança e saúde adotados pelas pessoas e pela empresa.

Todos estes fatores, determinantes dos acidentes de trabalho, da mesma formacomo podem ser previstos, relacionados e estudados, podem ser evitados.

“Na realidade, o acidente laboral não passa de um acontecimento determinado,previsível, in abstracto, e que, na maioria das vezes, se pode previni-lo, pois suas causassão perfeitamente identificáveis dentro do meio ambiente de trabalho, podendo serneutralizadas ou eliminadas.” (CAIRO JÚNIO, 2005, p. 42)

Em outras palavras, o acidente surge, geralmente, de uma situação de deficiênciafuncional na execução do trabalho.

Além do acidente do trabalho, deve-se também atenção às doenças adquiridas porsua execução, as quais se dividem em doenças profissional e do trabalho, e que na maioriadas vezes são consideradas iguais, mas que legalmente apresentam definições distintas.

Os incisos I e II do artigo 20 da Lei nº 8.213/91 conceituam estas duas categorias:

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16 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, asseguintes entidades mórbidas: I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada peloexercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectivarelação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada emfunção de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele serelacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

O acidente de trabalho é visto como um fato súbito e quase sempre violento, deconseqüências externas e imediatas, seguindo-se a ele a lesão corporal ou ofensa àintegridade física do trabalhador, retirando-o temporariamente ou definitivamente desua atividade laborativa, enquanto que as doenças do trabalho e profissional são vistascomo a resultante mediata e lenta, que o atinge internamente, com as mesmasconseqüências do acidente (ao final), sendo que este se manifesta de forma repentina ea doença se instala de forma progressiva, demorada e insidiosa.

Aspecto Econômico

- Empresa: para a empresa o acidente significa uma redução no número dehomens/horas trabalhadas, isto é, o custo direto do acidente é representado pela perdatemporária e/ou permanente do trabalhador. Isto significa para a empresa o pagamentodo salário dos primeiros 15 dias de afastamento e pelo dano material de máquinas eequipamentos. Também existe o custo indireto provocado pelo acidente, que significa otempo de parada da linha de produção no local do acidente e do envolvimento doscolegas de trabalho ao socorrerem o acidentado, além das despesas com assistênciamédica.

- Estado: para o Estado há as despesas decorrentes dos acidentes do trabalho,sob a forma do pagamento de benefícios previdenciários, a partir do 16º dia de afastamentodo acidentado, e o pagamento das despesas do tratamento e reabilitação profissional,quando necessário.

- Trabalhador: finalmente para o trabalhador, quando afastado do mercadode trabalho em decorrência do acidente do trabalho, resta-lhe o benefício ouaposentadoria por invalidez.

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17Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Aspecto Legal

- Estado: assume a responsabilidade pelos infortúnios do trabalho.

- Empresa: de acordo com a lei (art’s. 192 e 193, § 1º, da CLT), cabe pagar oadicional de insalubridade (10 a 40% do salário-mínimo da região) ou periculosidade(30% do salário), de acordo com as condições no ambiente de trabalho, que sãoinerentes a determinadas atividades, quando não eliminados os riscos (art. 194 da CLT).Assim, o risco profissional, ao ser detectado no local de trabalho, se não for eliminadoou neutralizado, é peculiarizado.

Destaque-se, entretanto, que em 30/04/2008, no julgamento do RecursoExtraordinário nº 565.714/SP, de relatoria da Ilustre Ministra Carmén Lúcia, o SupremoTribunal Federal entendeu pela inconstitucionalidade da vinculação do adicional deinsalubridade ao salário mínimo, decorrente da vedação constante da parte final do inc.IV do art. 7º da Constituição Federal, uma vez que tal indexação tolheria eventual aumentodo salário-mínimo pela cadeia de aumentos que ensejaria se admitida essa vinculação.

Nesta mesma data, o STF editou a Súmula Vinculante nº 4, consolidando a matéria,sob a seguinte fórmula:

Súmula Vinculante 4Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usadocomo indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou deempregado, nem ser substituído por decisão judicial.

Diante da histórica decisão do STF, o Tribunal Superior do Trabalho revogou aSúmula nº 137 que vigia até então, a qual asseverava que o adicional deveria ser calculadocom base no salário-mínimo, editando a Súmula nº 228, com a seguinte redação:

Súmula Nº 228 do TSTADICIONAL DE INSALUBRIDADE. BASE DE CÁLCULO (redação alterada na sessãodo Tribunal Pleno em 26.06.2008) Res. 148/2008, DJ 04 e 07.07.2008 -Republicada DJ 08, 09 e 10.07.2008A partir de 9 de maio de 2008, data da publicação da Súmula Vinculante nº 4 doSupremo Tribunal Federal, o adicional de insalubridade será calculado sobre osalário básico, salvo critério mais vantajoso fixado em instrumento coletivo.

Assim, o adicional de insalubridade, nos percentuais supramencionados, deveser indexado ao salário básico, quando instrumento coletivo não previr critério maisvantajoso.

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18 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Aspecto Social

- Trabalhador: é quem mais sofre com o acidente, porque além da lesão,quando afastado definitivamente do mercado de trabalho sofre com a perda econômicae com o estigma da sociedade e da própria família por ser uma pessoa “inválida” e “nãoprodutiva”, isto é, não ter condições de colaborar economicamente.

ABORDAGEM SOBRE OS ACIDENTES E DOENÇAS DO TRABALHO NAINDÚSTRIA TÊXTIL

O parque industrial têxtil no Brasil é composto por empresas que se utilizamdesde processos semi-artesanais, até processos informatizados e automatizados, e existemproblemas ergonômicos tanto nos primeiros quanto nestes últimos.

Segundo Vilela (2005), conforme dados coletados na Revista ISTOÉ de 1997, oBrasil, depois de ocupar durante a década de 70 o título de campeão mundial deacidentes de trabalho, continua, com base nos dados da Organização Internacional doTrabalho – OIT de 1995, posicionado entre os dez piores no plano mundial, ao lado daÍndia, quanto ao índice de acidentes em relação ao número de trabalhadores empregadosna indústria.

De acordo com o que afirma Barreto (2005), na década de 80 e na décadaseguinte, o modelo de produção flexível sustentado por novas formas de gestão passoua fazer parte do cotidiano fabril impondo novo ritmo de trabalho, buscando aprodutividade e qualidade do produto, aumentando a tensão laboral, gerando incertezase promovendo o aparecimento de novas doenças principalmente na esfera mental, quecoexistem com as antigas doenças.

Deve-se conhecer as diversas formas de organizar o trabalho, o ambiente e ascondições de riscos visíveis e invisíveis a que estão submetidos os trabalhadores noexercício de sua atividade laboral. O ritmo de trabalho e a jornada imposta, o trabalhoem turno e as pressões hierárquicas verticalizadas e autoritárias, o conteúdo da tarefa, apolivalência que exige de cada um, fazer tudo flexivelmente, a empregabilidade, sãonovas exigências da reestruturação produtiva que geram novos impactos à saúde dostrabalhadores.

“Com a introdução da robótica e das novas tecnologias nas grandes empresasdos países industrializados, os riscos mecânicos vêm sendo gradativamente superados esubstituídos por outros riscos mais diretamente relacionados à organização do trabalho.”(VILELA, 2005, p. 5)

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A grande maioria dos riscos de acidentes e doenças ocupacionais nas indústriastêxteis estão relacionados às inadequações ergonômicas nas máquinas e equipamentose na organização do trabalho, agravados pela impropriedade das condições ambientais(ruído, iluminação, temperatura, qualidade de ar, entre outros).

Para que se contemple os problemas acarretados com as inadequaçõesergonômicas, deve-se considerar os aspectos macro ergonômicos e micro ergonômicosno ambiente de trabalho.

O estudo referente à macro ergonomia deverá considerar os aspectos dastecnologias utilizadas nos processos de produção, os relativos aos métodos de produçãoe a organização do trabalho. Quanto à micro ergonomia, o estudo deve focar-se noposto de trabalho, analisando os equipamentos, máquinas e ferramentas.

A grande maioria das máquinas operatrizes do setor têxtil são inadequadas doponto de vista ergonômico, pois quando concebidas (projetadas) não se levou emconsideração as características antropométricas dos usuários/operadores e asnecessidades biomecânicas na realização das tarefas.

Os elementos de comando e/ou acionamento (botoeiras, manetes, alavancas) eos dispositivos de sinalização (indicadores luminosos) das máquinas, normalmenteestão posicionados fora do alcance físico e visual dos usuários/operadores, obrigando-os a assumirem posturas inadequadas e realizarem movimentos biomecânicos quecomprometem a estrutura músculo-esquelética, fatores que contribuem para odesenvolvimento das LER/Dort.

Na indústria têxtil é prevalente o uso de cadeiras em algumas máquinas operatrizespara que as tarefas possam ser realizadas na posição sentado, contudo, na maior partedelas, as cadeiras são inadequadas e não atendem as normas ABNT. Algumas indústriasnem cadeiras utilizam, dispondo dos tradicionais banquinhos de madeira. Deve observar-se que não basta uma boa cadeira, é importante que esta seja compatível com o posto detrabalho e com a tarefa desempenhada.

Ainda, o transporte de materiais e produtos manual é comum. Normalmente, odeslocamento vertical e horizontal de cargas é feito de forma incorreta e sem uso de meiosauxiliares (carrinhos e/ou talhas), sendo que o peso das peças transportadas manualmente,com freqüência e constância, ultrapassa os 18Kg (para homens) e 12Kg (para mulheres),desconsiderando a recomendação da FUNDACENTRO. O transporte manual de materiaise produtos de forma incorreta também é um fator contributivo para as LER/Dort.

As principais inadequações são relativas às exigências de ritmo de trabalho e aoconteúdo das tarefas, sobretudo, porque as máquinas quem ditam o ritmo do trabalhador,ou seja, os operadores têm que acompanhar o desempenho delas (velocidade e ciclo).Quanto mais eficiente é a máquina, ritmo mais intenso ela impõe ao trabalhador.

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Conforme Barreto (2005), com o avanço tecnológico, o processo e organizaçãodo trabalho foram redefinidos: surgiram novos postos e outros desapareceram; e foramincorporadas novas formas de gestão visando à produtividade e qualidade do produto,agora globalizado. As novas formas de gestão aumentaram a exigência de trabalho,fazendo os trabalhadores intensificarem a produtividade e buscarem a qualidade,aumentando as horas extras, e conseqüentemente a jornada de trabalho.

O ritmo intenso na mesma tarefa e na mesma atividade, continuamente durante ajornada de trabalho, também é um dos fatores contributivos para o desenvolvimento dasLER/Dort e ocorrência dos acidentes.

Além destes segmentos técnicos, a carga de trabalho aumenta gradativa econsideravelmente, pois na procura de redução de custos com pessoal demiti-setrabalhadores, e quem fica é obrigado a desempenhar a função de dois ou mais. Éevidente que os que continuam trabalhando ficam sobrecarregados e,conseqüentemente, apresentam fadiga física e stress, o que os torna mais propensos acometer erros e provocar acidentes.

As soluções para os problemas ergonômicos devem ser realizadas de formaampla e abrangente, com ações tanto nos fatores macro-ergonômicos quanto nos micro-ergonômicos, pois estão intimamente ligados, sendo insuficiente corrigi-los isoladamente.

Conforme Barreto (2005), as condições e a organização de trabalho que secaracterize em pressão para produzir, sobrecarga e dupla jornada, aumento deresponsabilidade no posto de trabalho, terceirização e transferência dos riscos, comconseqüente precarização dos meios, e assédio moral, constituem fatores de risco visíveise invisíveis, que predispõem os trabalhadores a doenças e acidentes do trabalho.

Ergonomia

Faz-se necessária a definição e conceituação da expressão ergonomia, uma vezque é o foco principal no estudo das doenças do trabalho:

A ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. O trabalho aquitem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas aquelas máquinas eequipamentos utilizados para transformar os materiais, mas também toda asituação em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu trabalho. Issoenvolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos organizacionaisde como esse trabalho é programado e controlado para produzir os resultadosdesejados. (LIDA, 1993, p. 1)

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Sinteticamente, pode-se dizer que a ergonomia se aplica ao projeto de máquinas,equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto eeficiência no trabalho. No projeto de trabalho e nas situações cotidianas, a ergonomia focalizao homem. As condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência sãoeliminadas quando adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem.

A ergonomia possui um caráter interdisciplinar (antropometria, fisiologia,psicologia e sociologia) e adapta os postos de trabalho e ambientes às necessidades dostrabalhadores. Estuda aspectos tais como: fatores humanos, fatores ambientais,informação, organização e conseqüências do trabalho. Utiliza-se das aplicações dosconhecimentos para a redução de acidentes, doenças ocupacionais, erros, fadiga eestresse, aumentando assim a produtividade e a qualidade do trabalho.

Para Lida (1993), as contribuições da ergonomia para introduzir melhorias emsituações de trabalho variam conforme a etapa em que elas ocorrem e também aabrangência com que são realizadas.

A abrangência é classificada em análise de sistemas e análise dos postos detrabalho:

- Análise de sistemas: preocupa-se com o funcionamento global de uma equipede trabalho usando uma ou mais máquinas, partindo de aspectos gerais como adistribuição de tarefas entre o homem e a máquina, e a sua mecanização. Ao optar ematribuir uma tarefa a um ou outra, deve se levar em consideração critérios como custo,confiabilidade e segurança.

- Análise do posto de trabalho: é o estudo de uma parte do sistema onde atua umtrabalhador. A abordagem ergonômica ao nível do posto de trabalho é o exame datarefa, da postura e dos movimentos do trabalhador, bem como das exigências físicas epsicológicas que sobre ele recaem. Assim, a mesma deve partir das interações queocorrem entre homem, máquina e ambiente.

Ergonomia na Indústria

Nas palavras de Lida (1993), a ergonomia na indústria contribui para melhorara eficiência, a confiabilidade e a qualidade das operações industriais. Isso pode ser feitopor três vias: aperfeiçoamento do sistema homem-máquina, organização do trabalho emelhoria das condições de trabalho.

O aperfeiçoamento do sistema homem-máquina pode ocorrer tanto na fase deprojeto de máquinas, equipamentos e postos de trabalho, quanto nas modificações emsistemas já existentes, adaptando-os às capacidades e limitações do ser humano.

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22 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

A ergonomia também está relacionada com os aspectos organizacionais dotrabalho, procurando reduzir a fadiga e a monotonia, principalmente pela eliminaçãodo trabalho repetitivo, dos ritmos mecânicos impostos ao trabalhador e da falta demotivação provocada pela pouca participação nas decisões sobre seu próprio trabalho.

A aplicação da ergonomia na indústria é feita identificando os locais onde ocorremmaiores problemas ergonômicos. Estes podem ser reconhecidos por sintomas comoalto índice de erros, acidentes, doenças, absenteísmos e rotatividade dos empregados.

Doenças na Indústria Têxtil

Barreto (2005), conceitua o que é doença do trabalho.

Resumidamente, a doença seria sofrimento, pathos, agravo, prejuízo ou danocausado ao trabalhador/a pelas condições e organização do trabalho. Do pontode vista previdenciário, a doença do trabalho e profissional se equiparam aoacidente. Assim, doença do trabalho é aquela adquirida ou desencadeada emfunção das condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele serelaciona diretamente. (BARRETO, 2005, p. 14)

De uma forma geral, em termos de incidência, Hatem et al. (1992), bem colocaque há muitos anos vêem-se relatos de lesões de membros superiores devido a esforçoscontinuados e de repetição.

Nesta mesma linha de raciocínio, Brewne citado por Oliveira (1991, p. 60) dizque “a lesão por esforço repetitivo (LER), é a maior e incontrolada incapacidade naIndústria e Comércio e tem conseqüências sociais e econômicas consideráveis”.

- Incidência em homens e mulheres:

Quanto ao sexo, conforme Hatem et. al. (1992), a LER, como em geral as doençasmúsculo-esqueléticas, atingem mais freqüentemente as mulheres.

Barnard, citado por Oliveira (1991, p. 62), explica que:

os músculos das mulheres não possuem o mesmo potencial de desenvolvimentodos homens. Ela possui menor número de fibras musculares e menor capacidadede armazenar e converter o glicogênio em energia útil. Seus ossos tambémtendem a ser mais leves e mais curtos, com áreas de junções reduzidas.

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23Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 9-27, jan./dez. 2008

Segundo Oliveira (1991), outros fatores parecem influenciar essa prevalência daLER entre as mulheres, como: uso de anticoncepcionais, trabalhos domésticos após ajornada de trabalho, inúmeras funções industriais serem entregues a elas por sua maiorhabilidade.

Kivi, citado por Oliveira (1991, p. 63), relata que entre 3090 casos de LERevidenciados, encontrou 69,2% em mulheres e 30,8% em homens. Em Belo Horizonte,enfatiza o autor, em 1987 e 1988, os percentuais eram 71% para mulheres e 29% parahomens. Em 1989, os resultados foram 76% em mulheres e 24% em homens.

- Incidência nas faixas etárias:

Quanto à idade, segundo Hatem et al. (1992), não há consenso sobre o assunto.Acredita-se que a incidência de LER no grupo etário depende muito mais da idademédia da população empregada do país do que outros fatores.

De qualquer forma, Oliveira (1991) relata que nos casos estudados, emamostragem aleatória, encontrou-se maior incidência na faixa de 30 a 39 anos – 54,5%,seguida pela de 20 a 29 anos – 36,3%. Os dois grupos representam 90,8%.

- Incidência nos grupos de risco:

Referente aos grupos de risco, conforme Hatem et al. (1992), de um modo geralna literatura, observa-se que os que têm maior probabilidade de apresentarem LER/Dort são aqueles em cujos trabalhadores desempenham funções que apresentamlimitadas variações de movimentos, realizados em rápida freqüência e com uso de força.

Segundo relatos de Couto (1994), a partir das atuais noções ergonômicas, aadoção de posições que abrandem as tensões e estimulem o trabalho, a começar porum bom e respeitoso relacionamento entre supervisores, gerentes e empregados,possibilita evitar, ou pelo menos diminuir, a incidência de LER/Dort, melhorando ascondições de trabalho.

Conforme Nicoletti (1997), deve ser considerado no ambiente e no posto detrabalho, especificamente:

- Medidas de engenharia para reduzir a força exercida no exercício da tarefa;- Revezamento oportuno;- Enriquecimento dos ciclos de trabalho, evitando a repetição de movimentos;- Ajustes nos postos de trabalho para melhorar a postura;- Triagem médica regular e eficiente;

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- Evitar pressões desnecessárias;- Estabelecer critérios de exposição-resposta;- Promover exercícios de distensionamento;- Definir com clareza as pausas necessárias;- Controle rígido de horas-extras;- Evitar estruturações rígidas no trabalho;- Reduzir o grau de tensão no trabalho; e- Estimular e manter a qualidade de vida no trabalho.

Diagnóstico, tratamento e prevenção

De acordo com Oliveira (1991), o diagnóstico das LER/Dort é essencialmenteclínico e será estabelecido por meio de estudo que contemple 3 (três) aspectos principaisda conduta: 1) histórico profissional; 2) histórico clínico; 3) exame físico detalhado.

Segundo Mendes (1997), o principal sintoma que pode fazer com que o indivíduoprocure ajuda da equipe de saúde é a dor. Essa, dificilmente é bem caracterizada,porém, é sempre desencadeada e/ou agravada pelo movimento repetitivo.

Este autor explica que a dor tem início gradual, restringe-se a uma região anatômica(punho, ombro e cotovelo), acomete apenas um membro (dominante), agrava-seconforme a utilização do mesmo, piorando com fatores como o frio, mudanças bruscasde temperatura e estresse emocional.

O processo de recuperação do paciente acometido por LER/Dort, consoanteLech (1993), envolve aspectos tanto de ordem médica como profissional. A variedadedo tratamento é ampla e depende do estágio em que se encontra a doença. Pode serindicada desde uma cirurgia até uma simples imobilização com terapia antiinflamatóriae fisioterapia.

A maioria dos casos de LER/Dort tem bom prognóstico, em particular quando odiagnóstico é realizado precocemente e o tratamento iniciado de imediato. Durante todoo tratamento devem ser realizadas avaliações periódicas para eventual reorientação daconduta terapêutica.

A maioria dos autores menciona estratégias de prevenção para as LER/Dort,referindo-se a mudanças da organização do trabalho com adaptações ergonômicas demobiliário, equipamentos e ferramentas; intervalos para descanso durante jornada detrabalho; e redução da jornada de trabalho ou do tempo na atividade geradora da LER/Dort.

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CONCLUSÃO

Conclui-se o trabalho de pesquisa e investigação acerca da confrontação dasteorias sobre Acidentes e Doenças do Trabalho na Indústria Têxtil, buscando adequarseu resultado a realidade jurídico-social da região do Alto Vale do Itajaí.

Não se tem a ousadia de pretender esgotar o assunto, criando normas objetivasou teoria definitiva, mas sim, contribuir para o aperfeiçoamento do conhecimento dosacadêmicos da UNIDAVI, bem como promover o desenvolvimento cultural da populaçãode nossa região, para defesa dos direitos dos trabalhadores.

A pesquisa bibliográfica, a análise dos conhecimentos e contribuições autorais eos estudos de caso são estrutura integral deste trabalho, mas configuram pequenoalicerce quando confrontados ao metamorfótico, alvo de inúmeras e próximas inovações,Direito Trabalhista.

Partindo da premissa de responder as questões específicas propostas no projetodesta pesquisa, surgiram outras questões que exigiram resposta, configurando umaprendizado ainda maior para seu realizador.

Atingindo a proposta objeto da pesquisa, apresenta-se, muito resumidamente, ospontos relevantes acerca de cada capítulo do tema abordado:

- O interesse em restabelecer o equilíbrio moral e patrimonial violado pelo danoé a fonte geradora da responsabilidade civil, sendo a perda ou a diminuição verificadasno patrimônio do lesado (entenda-se também o dano físico) e o dano moral que gerama reação legal, movida pela ilicitude da ação do autor da lesão ou pelo risco.

- O trabalho engloba uma série de fatores que estabelecem as condições detrabalho, consistentes em: posto e meios de trabalho, tarefa, jornada, organização dotrabalho, relação entre pessoas e entre produção e salário, todos inseridos em umconjunto/espaço, seja ele aberto ou fechado, o qual será denominado ambiente detrabalho.

- Para a efetiva diminuição das LER/Dort e dos acidentes de trabalho, ou suaneutralização, no setor têxtil, é necessário se exigir das empresas as adequaçõesergonômicas dos postos de trabalho (concepção ergonômica de novas máquinas eequipamentos, mobiliário adequado, ferramentas adequadas e etc) e de seus processosde produção e organização (ritmo de trabalho e conteúdo de tarefas compatível com oslimites e capacidades dos trabalhadores, adequação dos horários e pausas na jornadade trabalho).

Com efeito, atingiu-se o objetivo dessa pesquisa, que era a elaboração de umrelatório confrontando teorias de autores da área e estudo de caso, adequando-as a

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realidade social e profissional de nossa região, utilizando linguagem mais clara e concisa,para facilitar a pesquisa e basificar o conhecimento do acadêmico da UNIDAVI acercado tema estudado.

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29Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 29-39, jan./dez. 2008

BALANÇO SOCIAL: UMA FERRAMENTA PARA O SUCESSO1

Evelize Mees França2

Resumo: Este artigo visa investigar por que, ao deixar de demonstrar os resultados de suas ações sociaisatravés de práticas como o Balanço Social, uma organização deixa de ganhar novos mercados simpatizantescom ações que demonstram sua responsabilidade sócio-ambiental e, com isso, inibe a potencialização delucros. A responsabilidade sócio-ambiental é o reconhecimento da necessidade da preservação do meioambiente, a proteção das condições propícias para a sustentação da vida, e a preocupação com odesenvolvimento humano e diminuição da exclusão social e distância entre as classes. As ações sócio-ambientais são o resultado da consciência da organização do seu papel na sociedade. A publicação dasações sócio-ambientais de uma organização através do Balanço Social confirma a imagem da organizaçãofrente aos seus fornecedores, clientes e colaboradores, e por que não, concorrentes, criando a possibilidadede ampliação e abertura a novos mercados, potencializando os lucros, e consolidando o Balanço Socialcomo uma importante ferramenta para o sucesso empresarial. O artigo resultante desse estudo é resultadode minha ansiedade em demonstrar a importância da elaboração de Balanços Sociais e as vantagens queuma organização pode ter assumindo responsabilidades sócio-ambientais e divulgando suas ações atravésde Balaços Sociais. Para elaboração do artigo farei uso de pesquisa bibliográfica e eletrônica.

Palavras-chave: Balanço Social. Responsabilidade Sócio-Ambiental. Preservação do Meio-Ambiente.Desenvolvimento Humano.

Abstract: This article aims to investigate why, when an organization does not show the results of its socialand ecological projects through publication like the Social Inventory, the organization stands back in thestruggle for new markets which are sympathetic with such actions that demonstrate the organization’sconcern with society and environment. Avoiding practices like the Social Inventory, an organizationdiminish the possibility of increasing its profit. The socio-environmental responsibility is the recognition ofthe need protection and enhancement of the environment, sustaining the conditions to the development oflife, and the concern with human development, decreasing of social exclusion, and classes’ differences.Actions with such concernment are the result of the consciousness of the organization’s role in the society.The publication of an organization’s socio-environmental actions, through Social Inventory, confirmsorganization’s image to the society. It creates the possibility to increase and open new markets, gainingprofit and consolidating the Social Inventory as an important tool to the success of an organization. Thepresent article is the result of my anxiety to demonstrate the importance of the elaboration of SocialInventories, the advantages an organization may have by the engagement and publication of its socio-environmental projects. In order to carry on this article I will make use of bibliographical and electronicresearch.

Keywords: Social Inventory. Socio-environmental Responsibility. Environmental Preservation.

1 Artigo referente ao programa de iniciação Cientifica- Artigo 1702 Bancária – Central Operacional Florianópolis, Banco ABN Amro Real AS, Graduada em Ciências Contábeis Universidade para

o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), e-mail: [email protected].

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30 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 29-39, jan./dez. 2008

INTRODUÇÃO

Ao deixar de demonstrar os resultados de suas ações sociais através de práticascomo o Balanço Social, uma empresa deixa de ganhar novos mercados simpatizantescom ações que demonstram sua responsabilidade sócio-ambiental e, com isso, inibe apotencialização de lucros. A publicação das ações sócio-ambientais de uma empresaatravés do Balanço Social confirma a imagem da empresa frente aos seus fornecedores,clientes, colaboradores, e, por que não, concorrentes, criando a possibilidade deampliação e abertura a novos mercados, potencializando os lucros, e consolidando oBalanço Social como uma importante ferramenta para o sucesso empresarial. O artigoresultante desse estudo é o resultado de minha ansiedade em demonstrar a importânciada elaboração de Balanços Sociais e as vantagens que uma empresa pode ter assumindoresponsabilidades sócio-ambientais e divulgando suas ações através de Balanços Sociais.

Em uma sociedade onde predomina a cultura da imagem, a necessidade deapresentar as ações sócio-ambientais das organizações e os resultados dessas ações fezsurgir o balanço social. O reconhecimento dos projetos de uma organização em favordo meio ambiente e do desenvolvimento humano por parte dos setores envolvidos nosistema produtivo e de consumo – colaboradores, fornecedores, consumidores esociedade em geral – coloca a organização em evidência e conquista a simpatia dossetores. A exposição desse posicionamento de responsabilidade sócio-ambiental favorecea organização porque fortalece a sua imagem e a leva a novos mercados de consumidoresque buscam cada vez mais produtos provenientes de organizações comprometidas como futuro da sociedade. A publicação do balanço social confirma a atitude responsável daorganização em relação à conservação do planeta, à preocupação com a inclusãosocial, e à busca pela melhoria da qualidade da vida humana.

RESPONSABILIDADE SÓCIO-AMBIENTAL

A importância e a necessidade da gestão social e da preservação do meio ambienteconsolidam-se como pilares para o sucesso das organizações. A própria sociedade,com o advento de filosofias de qualidade de vida e de trabalho, vem exigindo que oscidadãos estejam conscientes de seus papéis na preservação do meio ambiente ediminuição da distância entre classes pelo favorecimento das mais baixas. Essa novavisão sócio-ambiental deve-se não só à preocupação com a conservação do planeta, asustentabilidade dos sistemas e o desenvolvimento humano, mas também a conquista denovos mercados e aumento dos lucros. A essa preocupação com o planeta e com a

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preservação e desenvolvimento da vida por parte das organizações tem-se chamado deresponsabilidade social.

Segundo Tinoco,

A responsabilidade social pressupõe o reconhecimento da comunidade e dasociedade como partes interessadas da organização, com necessidades queprecisam ser atendidas. Significa, ainda, a responsabilidade pública, ou seja, ocumprimento e a superação das obrigações legais decorrentes das própriasatividades e produtos da organização. E também o exercício de sua consciênciamoral e cívica, advém da ampla compreensão de seu papel no desenvolvimentoda sociedade. (2001, p.116)

Responsabilidade social significa comprometimento e está diretamente ligada àética. Ser socialmente responsável tornou-se importantíssimo para o desenvolvimentoda sociedade. A responsabilidade social deve estar presente em todos os cenários internose externos da organização. No cenário interno, na valorização de pessoal, em um ambienteagradável, seguro e adequado. No cenário externo, na comunidade, através de açõessociais; com os fornecedores, buscando relacionamentos sólidos: e com o governo,mantendo-se em dia com suas obrigações.

A essa discussão, Carneiro acrescenta:

A Responsabilidade Social envolve e requer um comportamento ético que deveser agregado à qualidade das relações que a organização deve ter com todos osseus públicos. Deve fazer parte do modelo de gestão da organização e devidamenteincorporada pelo seu corpo funcional. (2005, p.4)

Ter responsabilidade social é, além de comprometer-se com a sociedade, tambémbuscar a preservação e a melhoria do meio ambiente. Assim, a busca pela preservaçãoda vida e o favorecimento das condições necessárias para o desenvolvimento esustentabilidade da vida deve também ser parte fundamental da gestão da organizaçãoque se vê como integrante de um sistema maior que precisa ser preservado. A questãoambiental é atualmente discutida mundialmente, e tem sido fundamental para o futuro ea sobrevivência e manutenção da vida no planeta.

A organização, através da prática da responsabilidade ambiental, deve buscarsoluções para reduzir e controlar os impactos de sua atividade com o meio ambiente. Énecessário que ela tenha uma gestão comprometida, buscando a proteção ambientalatravés de atitudes como: evitar desperdícios, reciclar, evitar agressões ao meio ambientedando tratamento aos resíduos, utilizar antipoluentes, além de criar e manter áreas

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verdes. A responsabilidade ambiental da organização, além de proteger o meio ambiente,agrega valores aos produtos. Com uma boa gestão ambiental, além dessa valorização,surgem novas oportunidades mercadológicas e uma nova imagem. Atualmente, commercados mais exigentes e preocupados com a questão ambiental, muitos clientes efornecedores buscam organizações que estejam preocupadas e desenvolvam ações deproteção ambiental.

Para o sucesso de uma gestão social e ambiental é necessário definir direções,organizar as idéias, planejar. Com esse intuito, as organizações elaboram um projetoonde as idéias tomam forma para assim serem executadas. É através do projeto que sechega à definição do que será executado, do tempo e o investimento necessário e daspessoas que participarão do processo. O planejamento e desenvolvimento dos projetosé um processo do qual a participação de todos os setores da organização éimprescindível, pois fortalece a imagem da organização junto aos colaboradores e os fazsentirem-se participantes das ações que visam à melhoria do futuro de todos, inclusive odeles e de suas famílias. O reconhecimento das ações sócio-ambientais da organizaçãose dá através da publicação do Balanço Social.

BALANÇO SOCIAL

Para medir e demonstrar o comprometimento da organização com aresponsabilidade sócio-ambiental surge o balanço social. O Balanço Social apresentade forma clara e objetiva os resultados da organização na gestão social e ambiental.Representa o trabalho da organização em relação à sociedade e o meio ambiente. Coma necessidade de apresentar informações sobre os trabalhos sócio-ambientais asinformações eram publicadas junto ao balanço patrimonial.

A partir dos anos 60 nos Estados Unidos da América e na Europa iniciou-se umacobrança da população sobre as organizações para prestação de contas das suas açõessociais e ambientais. Foi na década de 70, na França, porém, que a idéia deresponsabilidade social popularizou-se e foram criados os primeiros relatórios dasatividades sociais. Foi aprovada a Lei 77.769 em 12 de julho de 1977, na França,obrigando a realização do Balanço Social para todas as empresas com mais de 700funcionários.

Apesar de alguma as propostas anteriores, o Balanço Social começou a serdiscutido no Brasil a partir das idéias do sociólogo Herbert de Souza, o “Betinho”, em1997, que, com seu programa de combate a fome e na busca de soluções para osdesequilíbrios da sociedade, institucionalizou através do IBASE – Instituto Brasileiro de

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Análises Sociais e Econômicas – a publicação, por parte das organizações, de suasações sociais. Assim, o IBASE elaborou um modelo de Balanço Social contando com oapoio de várias empresas e associações.

No mesmo ano, as deputadas Marta Suplicy, Maria da Conceição Tavares e SandraStarling criaram um Projeto de Lei nº. 3.116 estabelecendo a obrigatoriedade dapublicação do Balanço Social para empresas públicas e privadas com mais de cemfuncionários. Este projeto foi arquivado e substituído pelo Projeto de Lei nº. 32/99 deautoria de do deputado federal Paulo Rocha.

No Rio Grande do Sul, o projeto de lei apresentado pelo deputado estadual CésarBusatto, que se transformou em Lei nº.11.400, de 18 de janeiro de 2000, prevê ocertificado de Responsabilidade Social, concedido pela Assembléia Legislativa às empresasestabelecida no estado que publicarem anualmente o seu Balanço Social, definindo-ocomo documento que apresente os resultados sociais alcançados pelas empresas, paraveiculação na imprensa. Para ser legitimado o Balanço Social deve conter a assinaturade um profissional em contabilidade devidamente registrado no Conselho Regional deContabilidade do Estado do Rio Grande do Sul.

Tinoco define Balanço Social como:

um instrumento de gestão e de informação que visa evidenciar, da forma maistransparente possível, informações contábeis, econômicas, ambientais e sociais,do desempenho das entidades, aos mais diferentes usuários. (2004, p. 87)

O Balanço social é um instrumento publicado para demonstrar para todos osinteressados – acionistas, funcionário, fornecedores, cliente, comunidade a que estáinserida, governo – as ações realizadas pelas organizações em prol da comunidade, nasquestões sociais e ambientais. Ele apresenta de forma clara e transparente relação dasentidades com a sociedade e meio ambiente. Estas informações colaboram para astomadas de decisões de forma mais consciente para as organizações alcançarem seusobjetivos sociais e econômicos.

Tinoco acrescenta, ainda:

O Balanço Social contempla, também, uma série de informações de caráterquantitativo: dentre as mais importantes, destacam-se as relativas à ecologia, emque se evidenciam os esforços que as empresas vêm realizando para não afetar afauna, a flora e a vida humana, vale dizer, as relações da entidade com o meioambiente; ao treinamento e à formação continuada dos trabalhadores; àscondições de higiene e segurança no emprego; às relações profissionais; às

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contribuições das entidades para a comunidade, explicando a responsabilidadesocial e corporativa das organizações. (2004, p. 88)

O Balanço Social é um forte aliado para reforçar a imagem da organização, dasmarcas e produtos a ela ligados. Com os consumidores mais preocupados com osaspectos sociais e ambientais, as empresas que demonstram praticar a responsabilidadee, assim, suas preocupações com a sociedade e o meio ambiente, são reconhecidas pelasociedade e, conseqüentemente, conquistam a preferência de muitos consumidores.

Através do Balanço Social, a organização busca apresentar o máximo deinformações possíveis em relação a indicadores econômicos, como: salários, cartatributária, investimentos em projetos sociais e ambientais; indicadores sociais, como:programas de desenvolvimento pessoal, benefícios concedidos em qualidade de vidados colaboradores (médico, educação), segurança no trabalho, projetos sociaisdesenvolvidos com a sociedade; e indicadores ambientais, como: despoluição, tratamentosesgoto, tratamento de água, plantações de arvores. Enfim, apresentar a suaresponsabilidade sócio-ambiental.

MODELOS DE BALANÇO SOCIAL

No Brasil não existe um modelo padronizado de publicações de Balanço Social.São vários os modelos existentes. A maioria obedece ao modelo apresentado pelo IBASE,adaptando-se de acordo com a necessidade de cada organização. Neste artigo veremoso modelo do IBASE e o modelo do Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina(CRC/SC), conforme apresentado em sala de aula pelo professor Juarez DominguesCarneiro. O primeiro a ser apresentado é o modelo do IBASE, que defende avoluntariedade em publicar o Balanço social.

MODELO DO IBASE

O IBASE define Balaço Social como:

um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um conjuntode informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aosempregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. Étambém um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício daresponsabilidade social corporativa. (site do IBASE)

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Para incentivar a publicação do Balanço Social, o IBASE criou o selo BalançoSocial IBASE/ Betinho. O selo é entregue anualmente a todas as empresas que publicamo balanço social no modelo sugerido e dentro da metodologia e dos critérios propostospela Instituição. Neste modelo sua estrutura á apresentada através de quadros, ondecada quadro apresenta um indicador:

• Quadro I – Indicadores de Resultados – apresenta informações relativas àreceita líquida da organização (resultado bruto menos os impostos,contribuições, devoluções), resultado operacional e total de gastos com a folhade pagamento.

• Quadro II – Indicadores Sociais Internos - são as informações relativas àsações sociais internas da organização, como:• Alimentação – são evidenciados todos dos valores gastos com restaurantes,

lanches, cestas básicas para funcionários e dependentes;• Previdências Privada – os valores pagos com complementação de

aposentadoria de funcionários e dependentes;• Saúde – valores gastos com assistência médica e odontológica para

funcionários e dependentes, incluindo planos de saúde.• Educação – valores relativos a incentivos como bolsas de estudos a

funcionários e dependentes, aquisições de livros para bibliotecas.• Cultura – gastos em apoio a projetos sociais dentro da organização.• Participação nos lucros e resultados da empresa.• Quadro III – Indicadores Sociais Externos – recursos aplicados diretamente

na sociedade, através de apoio a escolas, creches, habitação, lazer, cultura,esporte entre outros.

• Quadro IV – Indicadores Ambientais – são apresentados todos os gastosrelativos à aplicação de recursos, de investimentos, monitoramento daqualidade de resíduos-efluentes e despoluição, gastos com projetosambientais, que objetivam elevar a qualidade de vida da população onde aorganização está inserida e assim contribui para a melhoria na qualidadede vida.

• Quadro V – Indicadores de Recursos Humanos – apresenta o número defuncionários de um período para o outro, número de admissões, empregadosterceirizados, números de negros na organização, números de mulheres,quantidade de negros e mulheres em cargos de chefia, entre outros.

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• Quadro VI – Informações relativas ao Exercício da Cidadania Empresarial,onde são demonstrados os projetos relevantes que evidenciam o grau decomprometimento da organização para com a Responsabilidade Social.

MODELO DO CRC/SC

O CRC/SC é uma Autarquia Federal que representa a profissão contábil no estadode Santa Catarina, e, no ano de 2000 foi o primeiro órgão da classe a elaborar e publicaro seu Balanço Social. A estrutura deste modelo foi elaborada pela Professora Drª. FátimaFreire que, juntamente como o então presidente do CRC/SC, contador Juarez DominguesCarneiro, coordenaram o Balanço Social.

O Balanço Social do CRC/SC contempla em sua estrutura os projetos sociaisdesenvolvidos, as atividades operacionais desenvolvidas, relacionadas à sua atividadefim, que é o registro e fiscalização do exercício da profissão. As informações relativas arecursos humanos, desenvolvimento profissional, integração acadêmica, defesa dacategoria, canais de comunicação, o perfil do contabilista catarinense, as pesquisas desatisfação, demonstração do valor adicional e a demonstração dos resultados sociais doconselho.

A estrutura é composta das seguintes formas:• Capa – define a denominação “Balanço Social” claramente, ano a que se refere

e nome da organização elaboradora, fotografia ou outra forma de representaçãorelacionada à responsabilidade social, além da logomarca da organização.

• Contra Capa – mesmas informações da capa.• Apresentação do Balanço Social – feita pelo executivo maior da organização. O

texto poderá introduzir o conteúdo abordado no Balanço Social e estimular aincorporação Responsabilidade Social por parte das demais organizações semser muito extenso.

• Índice – obedecendo ao padrão utilizado em livros e revistas, devendo vir logoapós a apresentação.

• Dados da Organização – em uma página deverá apresentar informações daempresa: fundação, finalidade, produtos, serviços, localização, população eposição no mercado.

• Projetos Sociais – apresentação clara e objetiva dos projetos, programas eações sociais e ambientais que foram desenvolvidas pela organização. Os textosdevem ser curtos, acompanhados de dados numéricos, gráficos, figuras e

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fotografias. É importante colocar a Visão e Missão da organização para poderconvergir quilo que é a razão de ser e o sonho da organização juntamente como que ela está efetivamente praticando.

• Atividades Operacionais – informações sobre a atividade fim da empresa,apresentados através de textos, fotos e quadros comparativos.

• Recursos humanos – dados relativos ao corpo funcional da organização.• Perfil da clientela – informações quantitativas e qualitativas que esclarecem

qual é o universo que a organização tem em termos de cliente, associados ecidadãos atendidos, bem como sua composição no que se refere sexo, faixaetária e renda.

• Pesquisa de satisfação – apresentam-se as pesquisas, tanto entre funcionáriosquanto da clientela, de associados ou comunidade, importante para analisar eavaliar se aquilo que a organização está realizando atende ou não aos interessesdo seu público.

• Demonstração do Valor Adicionado – verifica-se o resultado da organizaçãoatravés da indicação de lucros e prejuízos, através da Demonstração deResultados. Porém, a riqueza produzida pela organização é demonstrada atravésda Demonstração de Valores Adicionados – DVA. Neste pode-se verificar oquanto cada setor da sociedade recebeu da riqueza distribuída pela organização.Também é utilizado com instrumento de gestão para se analisar para quem estásendo distribuída a riqueza produzida pela organização. O modelo está divididoem seis itens:

1. Receita2. Insumos adquiridos de terceiros3. Valor adicionado bruto (1-2)4. Valor adicionado em transferências5. Valor adicionado a distribuir (3+ou -4)6. Distribuição do valor adicionado

• Demonstração dos Resultados da Organização – a demonstração é dividida emseis indicadores de:

1. Resultado operacional e social – que compõe as receitas, despesas esuperávit ou déficit do exercício.

2. Atividades operacionais – são os valores destinados ao apoio logístico eoperacional para o funcionamento da organização.

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3. Recursos humanos – informações sobre número de funcionário, faixa etária,tempo de serviço, variação do corpo funcional, nível de formação escolar,gastos com folha de pagamento, gastos com serviços terceirizados.

4. Tributos e encargos – gerados durante o exercício social.5. Benefícios Sociais a Comunidade – Educação Continuada, Publicações

Periódicas, Acervos Bibliográficos.6. Planejamento Social para o ano seguinte – apresentação da intenção do gestor

em relação a ações sociais.• Na última folha do Balanço Social devem ser colocados: a diretoria da

organização, o endereço completo, e a equipe que elaborou o balanço.

Todos estes indicadores são comparados com a receita líquida, superávit oudéficit do exercício e saldo patrimonial.

CONCLUSÃO

É, portanto, através do Balanço Social que a organização apresenta, de formatransparente, a sua gestão e suas ações sociais e ambientalmente responsáveis. No BalançoSocial são apresentados seus produtos, seu corpo funcional, todos os projetos sociais eambientais executados pela empresa, a importância que a empresa dá aos seusfuncionários e familiares, a resposta do funcionário para a empresa através da pesquisade satisfação. Também apresenta o perfil de clientes, o valor destinado ao governo emforma de impostos, que de forma indireta colabora com a sociedade.

Com o balanço social a organização fortalece ainda mais seus compromissoscom a sociedade, pos é uma forma de apresentar seu trabalho e se mostrar disposta adar continuidade ao mesmo. Atualmente o comprometimento tornou um forte aliadopara o sucesso. E quem mostra este comprometimento ganha espaço e abertura demercado.

A publicação das ações sócio-ambientais de uma empresa através do BalançoSocial confirma fortemente a imagem da empresa frente aos seus fornecedores, clientes,colaboradores, e, por que não, concorrentes, criando a possibilidade de ampliação eabertura a novos mercados, potencializando os lucros, e consolidando o Balanço Socialcomo uma importante ferramenta para o sucesso empresarial.

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REFERENCIAS

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CARNEIRO, Juarez Domingues. Material utilizado em sala de aula na disciplina de Gestão Social docurso de Pós-Graduação em Contabilidade Gerencial da Universidade para o Desenvolvimento doAlto Vale do Itajaí – UNIDAVI, em 12, 13, 26 e 27 de agosto de 2005.

CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DE SANTA CATARINA. Disponível em:<http://www.crcsc.org.br/balancosocial> Acesso em: 02 de nov. de 2006.

INSTITUTO BRASILEIRO DE ANÁLISES SOCIAIS E ECONÔMICAS – IBASE. Disponívelem: <http://www.ibase.org.br> Acesso em 02 de nov. de 2006.

LIMA, Helena Mara Oliveira, PINHEIRO, Hugo Macário de Brito. A Responsabilidade Socialda Contabilidade: Uma Proposta de Balanço Social Aplicada ao DesenvolvimentoLocal. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br> Acesso em 02 de nov. de 2006.

OLIVEIRA, Tatiana Gabriela Bonzini. O Terceiro Setor e a Importância do BalançoSocial. Florianópolis: UFSC (Monografia), 2004.

TORRES, Ciro. Um Pouco da História do Balanço Social. Disponível em: <http://www.ibase.org.br> Acesso em 02 de nov. de 2006.

TERRA. Metodologia de Trabalhos Científicos. Normas da ABNT. Disponível em: <http://paginas.terra.com.br/monografiaabnt/metodologia.html> Acesso em 21 de nov. de 2006.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio. Balanço Social: uma abordagem da Transparência e daResponsabilidade Pública das Organizações. São Paulo: Atlas, 2001.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio, KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira. Contabilidade eGestão Ambiental. São Paulo : Atlas, 2004.

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O BALANÇO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO1

Cláudio Ivan Müller2

Resumo: Foi na Década de 60, nos Estados Unidos, que surgiu a preocupação das empresas em prestarinformações das suas ações no campo social, porém foi a França, desde 1977, a tornar obrigatória apublicação do Balanço Social para empresas com mais de 300 funcionários. No Brasil a idéia começa aser discutida ainda nos anos 60, porém somente se tornou mais evidente no cenário nacional quando em1997 o sociólogo Herbert de Souza inicia uma campanha pela divulgação do Balanço Social. O envolvimentocom a responsabilidade social é o ponto de partida para a construção do balanço social. Além de ser umaferramenta para divulgar as ações da empresa no campo social e ambiental, sendo que este não é o seufoco principal, o balanço social consiste em uma importante ferramenta de gestão da empresa, pois aocontrário da contabilidade tradicional que se preocupa somente com informações econômico-financeiras,o balanço social procura sair do modelo tradicional, apresentando informações que visam justamenterelacionar o lado social da empresa com o econômico-financeiro, constituindo em uma rica fonte deanálise gerencial, principalmente quando temos a possibilidade de comparar exercícios sociaissubseqüentes.

Palavras-chave: responsabilidade social, gestão, análise gerencial.

Abstract: It was in the sixties, in the United States, that started the corporations preocupation in givinginformations of their actions in the social field, however it was the France, since 1977, to. Becomecompulsory the publication of the social Balance, for corporations with more than 300 employers. InBrazil, the idea starts to be discussed even in the sixties, however it only became evident in the nationalcenary when in 1977 the sociologist herbert de Souza starts a campaign by the divulgation of the SocialBalance. The implication with the social responsability is the starting to the construction of the SocialBalance. In spite of being a tool to publish the actions of the coorporations in the social and environmentalfield, knowing that this is not its principal point, the social balance consists in an important tool of thecoorporation manage however, on the contrary of the traditional accountant that worries only withfinancial-economical informations, the Social balance searches going out from the traditional model,presenting informations that direct just to relate the social side of the coorporation with the financial-economical constituting in a rich source of a management analysis, principally when we have the possibilityto compare subsequent social exercises.

Keywords: social responsability, management, management analysis.

1 Artigo Científico referente ao Curso de Pós-Graduação em Contabilidade Gerencial;2 A cadêmico do Curso de Pós-Graduação em Contabilidade Gerencial;

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INTRODUÇÃO

Atualmente o mundo dos negócios está cada vez mais competitivo e as organizaçõesse preocupam em desenvolver ou utilizar ferramentas para que consigam ter em mãosinformações que lhe possibilitem ter o controle gerencial do seu negócio.

Toda organização possui informações das mais variadas fontes que precisam serregistradas para servirem de apoio à condução do negócio e no momento da tomada dedecisões.

A organização, para sua sobrevivência, busca sempre um resultado positivo, eestes resultados são alcançados e administrados por pessoas que são o alicerce dequalquer organização.

Uma das ferramentas para a gestão da empresa é o Balanço Social, que seráabordado mais especificamente como instrumento de gestão da organização.

Segundo Flores (2001, p. 108),

“[...] No Brasil, no final da década de 70, começaram as preocupações com aresponsabilidade social das empresas e com o seu balanço social pelo menosem três áreas: na Consultec, onde seu diretor Luiz Fernando da Silva Pinto, queassumira em 1976 a presidência da Legião Brasileira de Assistência, no GovernoGeysel, passara a interessar-se e motivar-se com os problemas sociais; na Associaçãode Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil, onde vários participantes, comoErnesto Lima Gonçalves, já ensaiavam incursões no assunto; e no grupo desociólogos liderado por Herbert de Souza, o conhecido Betinho.”

Inúmeras são as organizações que têm por objetivos somente auferir lucros sema preocupação com o ambiente a sua volta na esfera social, seja às custas dostrabalhadores, muitas vezes trabalhando em condições precárias ou às custas do meioambiente.

Porém, empresas que publicam o balanço social realmente o utilizam como umaferramenta de gestão da organização para verificar o que está sendo feito na área sociale ambiental, através da análise dos indicadores sociais e ambientais? Ou seria somenteum marketing para a companhia?

Acredita-se que com a elaboração de balanços sociais ano a ano, a organizaçãoconsegue ter em primeiro lugar uma análise comparativa para verificar se houveram progressosno campo social e com base nestas informações traçar estratégias que podem ser um diferencialpara a organização, pois de nada adianta ter um pensamento voltado somente para o lucro eesquecer-se da parte social que garantirá a sustentabilidade do negócio.

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Apesar da bibliografia ser relativamente recente na área do balanço social,acredita-se que é possível realizar a pesquisa e através dela compreender um poucomais da importância do balanço social no processo de gestão e tomada de decisão dasorganizações.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Para definirmos o que é balanço social precisamos primeiramente conhecer oque é responsabilidade social.

Conforme Flores (2001, p. 107),

“[...] Na segunda metade do século vinte, após os reparos dos danos causadospela segunda conflagração mundial, depois da retomada do desenvolvimentodos estados vencedores e das ajudas feitas para a recuperação dos estadosvencidos (plano Marshall na Europa e administração MacArthur no Japão), asempresas dos países desenvolvidos começaram a conscientizar-se de suaresponsabilidade social, principalmente com relação a seus empregados ecolaboradores autônomos, a seus dirigentes, a seus acionistas minoritários, aosclientes ativos e passivos, ao país onde tem a sua sede e às coletividades dosmeios onde atua.”

Tinoco (2001, p. 116) escreve: “a responsabilidade social pressupõe oreconhecimento da comunidade e da sociedade como partes interessadas da organização,com necessidades que precisam ser atendidas”. Poderíamos dizer que seria ocomprometimento que a organização tem para com a comunidade a sua volta e asociedade em geral.

Conforme ainda escreve Palma (1999, p. 13):

“[...] pelo moderno conceito de responsabilidade social, uma empresa nãodeve apenas doar um cheque no natal a um orfanato ou a um asilo de velhos. Eladeve ter uma estratégia, envolvendo todos os seus funcionários em programas derepercussão comunitária.”

Podemos entender com as definições escritas pelos autores que aresponsabilidade social refere-se a atitudes e ações das organizações prestadas emcaráter contínuo, visando ao bem comum de todos que de alguma forma se relacionamcom ela.

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Seria muito fácil para qualquer organização prestar algum tipo de ajuda eventual,algum tipo de doação esporádica devido a algum evento ocorrido, como, por exemplo,entregar uma cesta básica a famílias carentes no natal. É claro que este tipo de ajuda e/ou doação também tem o seu valor, porém isto é feito de forma individual, é um atoisolado e com uma aplicabilidade restrita.

Para Cividanes (2004, p. 1),

“[...] A responsabilidade social vai muito além da definição de filantropia.Envolve o conceito de solidariedade no sentido do respeito à dignidade humanae do bem comum. O cuidado com a produção de bens e serviços de qualidade,a preservação do meio ambiente, a ética na relação com os fornecedores, orespeito aos clientes, o pagamento de impostos são elementos que contribuempara a harmonia e o crescimento social.”

Quando se fala de responsabilidade social, entendemos que ela é de todos, maso segmento empresarial, devido a sua capacidade de exercer influência na sociedade,pode dar uma imensa contribuição para termos uma sociedade mais justa, onde pobrese ricos não fiquem tão distantes e onde o equilíbrio e a paz se consolidem.

Entregar um presente no natal, cestas básicas em épocas de festas, doações dequalquer outra espécie, ou seja, entregar o “pão” pode parecer à solução, porémquando se fala de responsabilidade social entende-se algo muito mais abrangente, comopor exemplo “ensinar a fazer o pão”. Com isto tem-se o verdadeiro sentido daresponsabilidade social, que fica muito distante da caridade e da filantropia (ajuda).

BALANÇO SOCIAL

Origem do Balanço Social

É na década de 60, nos Estados Unidos, que surge a preocupação por parte dasempresas em prestar informações ao público sobre suas atividades no campo social. Orepúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote àaquisição de produtos e ações de empresas que de alguma forma estavam ligadas a esseconflito armado.

Visando reagir às pressões da sociedade, que exigia nova postura ética, asempresas passaram a prestar contas de suas ações justificando seu objetivo social, como intuito de melhorar a imagem junto a consumidores e acionistas.

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A pressão dos cidadãos através de associações, sindicatos, clube de investidorese, conseqüentemente, a resposta das empresas, elaborando e divulgando relatórioscom informações de caráter social, resultou no que hoje se chama de Balanço Social.

Se as empresas dos EUA foram as pioneiras na prestação de contas ao público,foi a França a primeira nação a tornar obrigatória a sua elaboração. Pela lei francesa,desde 1977 é obrigatória a elaboração do balanço social das empresas com mais de300 funcionários (a Lei n. 77.769, de 12 de julho de 1977, incluiu as empresas com 750ou mais empregados; em 1982, a obrigatoriedade passou a valer para aquelas com 300ou mais empregados).

Diversos países da Europa seguiram os passos pioneiros da França e hoje tambémexigem a elaboração do documento, entre eles, Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha,Inglaterra e Portugal.

No Brasil a idéia começa a ser discutida ainda nos anos 60 com a criação daAssociação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Um dos princípios destaassociação baseia-se na aceitação por seus membros de que a empresa, além de produzirbens e serviços, possui a função social que se realiza em nome dos trabalhadores e dobem-estar da comunidade.

Embora a idéia já motivasse discussões, apenas em 1977 mereceu destaque aponto de ser tema central do 2º Encontro Nacional de Dirigentes de Empresas. Massomente em 1984 é publicado o primeiro balanço social de uma empresa brasileira, aNitrofértil.

Mas a proposta só ganha maior destaque na mídia e visibilidade nacional quandoo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lança, em 16 de junho de 1997, uma campanhapela divulgação do balanço social.

Em novembro de 1997, o Ibase lança o Selo do Balanço Social para estimular aparticipação das companhias. O selo, num primeiro momento, é oferecido a todas asempresas que divulguem o balanço social no modelo proposto pelo Ibase.

O Projeto de Lei n. 3116/97 que criava e tornava obrigatório o balanço socialpara as empresas públicas e para as privadas com 100 ou mais empregados das DeputadasMarta Suplicy, Sandra Starling e Maria da Coonceição Tavares que terminaram seusmandatos em 31/12/1998 foi arquivado em 01/02/1998. Hoje, apesar de ainda tramitarno Congresso Nacional projeto regulamentando e dispondo sobre a obrigatoriedade dobalanço social, já é possível apostar no sucesso da campanha independentemente desua elaboração vir a ser obrigação legal, porque o processo de construção de uma novamentalidade empresarial está em curso.

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DEFINIÇÃO DE BALANÇO SOCIAL

Enquanto que as demonstrações contábeis praticadas atualmente divulgaminformações econômicas e financeiras das empresas, o balanço social além de divulgareste tipo de informação, surgiu como um instrumento para avaliar o grau decomprometimento da organização para com a sociedade que ela está inserida.

Se por um lado o balanço contábil registra a posição de todas as movimentaçõeseconômicas e financeiras da organização em um determinado momento, sem levar emconta o lado humano, é representado exclusivamente por números, normalmenteexpressos em unidade de moeda nacional e/ou estrangeira, por outro lado o balançosocial além da parte econômica e financeira, expressa o lado humano, o lado social,muitas vezes representando opiniões, graus de satisfação, evolução do interesse socialda companhia, etc.

O balanço contábil, tal como o balanço social, tem o objetivo de atender tanto aopúblico interno quanto ao público externo, porém demonstram informações diferentes.O primeiro é basicamente representado por números. O segundo poderíamos dizer queevidencia onde estes números foram aplicados na área social.

Flores (2001, p. 115), explana que:

“[...] O balanço social é um documento que serve para traduzir quantitativamenteo desempenho de uma empresa no atendimento à sua responsabilidade social,tendo a função de indicador do grau desse atendimento, que, uma vezpadronizado, hierarquiza o comportamento social das sociedades, pois satisfariaàs três condições básicas dos indicadores sociais: sensibilidade, fidelidade eestabilidade.”

Segundo Taylor (2001 apud VASCONCELOS, 2001, p. 83): “É um meio paraverificar, realmente, como somos, objetiva e desapaixonadamente, por meio de umaavaliação asséptica, os resultados que vamos obtendo no campo social”.

A partir das definições citadas é possível entender a real essência do balançosocial, que alia a informação contábil com a área social, mostrando ao público interno(colaboradores) e ao público externo (sociedade em geral), o grau de transparência,confiança e interesse da organização em se envolver com a comunidade onde estáinserida, principalmente por ainda se tratar de um demonstrativo facultativo.’

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BALANÇO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO

Toda ferramenta de gestão, seja ela de cunho econômico / financeiro ou decunho social que é o objeto em estudo, tem a finalidade de reunir uma série deinformações em um documento, muitas vezes padronizado, para servir de análise aopúblico interessado.

Este público pode ser o mais variado possível, dependendo da área de interessede cada um.

No caso do balanço social, poderíamos destacar os próprios colaboradores,acionistas, fornecedores, clientes e todo o restante da sociedade interessada no assunto.

Ao denominar-se um relatório ou uma demonstração é imprescindível que seatente para a finalidade a que esta se prestará. Conforme Vasconcelos (2001, p. 83): “obalanço social visa, aprioristicamente, demonstrar ou simplesmente mostrar (relatar) oquão a empresa, célula social, cria, influencia e transforma a realidade social”.

Conforme Vasconcelos (2001) Para a demonstração agregar valor e serfundamental para a tomada de decisão é necessário que ela responda às suas finalidades.

Como atualmente no Brasil não é obrigatório a confecção do balanço social esua publicação, surge uma importante questão: por que o empresário irá confeccionare publicar o balanço social de sua empresa?

Para Tinoco (2001, p. 19), “[...] O registro, a acumulação, a mensuração, aavaliação, bem como a divulgação das atividades e operações das entidades, são feitospela Contabilidade, desde há muito tempo, de forma sistêmica, por meio dasDemonstrações Contábeis.”

O balanço social trata exatamente disto, porém em vez de traduzir o resultadoeconômico e financeiro da entidade, ele versa exatamente sobre o resultado social daorganização. Seria um outro ponto de vista.

Em uma organização, existem vários tipos de interesses, de diferentes grupos sociais.Poderíamos citar os fornecedores, os empregados, os acionistas, os sócios, os clientes, osfinanciadores, os sindicatos de classe e também o próprio estado. Cada um tem o seuinteresse de acordo com o poder que exerce sobre a organização. (TINOCO, 2001).

Como não poderia deixar de ser, o maior poder sobre a organização normalmenteé exercida pelos acionistas, no caso de sociedades anônimas, do sócio no caso deLimitadas ou do titular no caso de firmas individuais.

Normalmente este tipo de interessado busca ferramentas para verificar o resultadoeconômico da sua organização bem como para salvaguardar o valor que ele tem investidona entidade.

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Partindo do princípio que tudo começa e gira ao redor das pessoas e do meioambiente, muitos dirigentes começam a verificar no balanço social uma ferramenta degestão, um meio para verificar o resultado social da organização.

Segundo Tinoco (2001, p. 24),

“[...] a empresa não tem uma vocação filantrópica e seus dirigentes não sãoescolhidos pelos acionistas para se interrogarem sobre a felicidade dosassalariados. A maior parte das iniciativas que tem sido empreendida paracompreender e mensurar os fenômenos sociais tem de saída uma motivação derentabilidade.”

Como foi abordado, as organizações visam o lucro. Para tudo onde são empregadosrecursos tem-se como objetivo alavancar este lucro, seja a curto ou longo prazo.

Um dos grandes desafios do contador é motivar os empresários a reconhecer nacontabilidade uma ferramenta para tomar decisões, e como o balanço social é uma ferramentarelativamente recente, também não deixa de ser um desafio. (VASCONCELOS, 2001).

O balanço social mede a quantidade, a qualidade e a forma que a empresadestina recursos para a área social e acompanha a evolução destes recursos no decorrerdo tempo.

Para Vasconcelos (2001, p. 86), “[...] As ações que beneficiam as comunidadesretornam à empresa na forma de reconhecimento; reconhecimento este que, se aliadoà qualidade do produto e/ ou serviço, traduz-se em sustentação e até em crescimento demercado”.

Analisando-se sob este ponto de vista, é possível observar que se o gestor daorganização utilizar o balanço social para medir a quantidade e a qualidade dos recursosque são utilizados na área social, ele poderá ter em mãos parâmetros que lhe permitirãoao longo do tempo acompanhar a evolução destes recursos.

Como tudo gira ao redor das pessoas, é possível dizer que se o lado social forbem gerido, a organização poderá ter como garantir a sua sustentação e crescimento nomercado a longo prazo, pois os usuários destas informações, que são bastante variadospoderão entender que se existe a transparência em divulgar além das informaçõeseconômicas e financeiras também as sociais, existe também o comprometimento daempresa em garantir a continuidade do negócio e por que não dizer do emprego, darenda e da preservação do meio ambiente em geral.

Quando se fala de balanço social, pensamos logo em pessoas. Existe aí umimportante indicador para o gestor. Um dos itens apresentados no balanço social refere-se ao acompanhamento do emprego na entidade.

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Através deste indicador, o gestor poderá visualizar e acompanhar ao longo dotempo as variações em termos de qualidade e quantidade do emprego na entidade:

a) volume total de empregados no fim de cada exercício;b) pessoas ocupadas, segundo a categoria profissional e sexo;c) pessoas ocupadas, segundo sexo e instrução;d) pessoas ocupadas, segundo a idade;e) pessoas ocupadas, segundo o tempo de trabalho na empresa;f) pessoas ocupadas, segundo o estado civil e a raça;g) pessoas ocupadas, segundo a nacionalidade;h) pessoas ocupadas, por tipo de contrato de trabalho, tempo integral, temporário,

parcial, optante ou não do FGTS;i) pessoas ocupadas por estabelecimento e distribuição espacial.

Além destes dados em relação ao emprego, podem constar no balanço social:a) remuneração do pessoal;b) formação profissional;c) condições de higiene e de segurança no trabalho;d) absenteísmo;e) benefícios em geral concedidos pela organização.Como é possível observar, somente a partir destes dados, o gestor tem a

possibilidade de fazer inúmeras análises em relação a este ativo (pessoal) que é tãoprecioso para a empresa.

Conforme Tinoco (2001, p. 45),

“[...] Outro ponto que deve ser considerado é que para fins estatísticos, tanto noâmbito organizacional, como no macroeconômico importa acompanhar aevolução e fazer análises e comparações. Para isso, os dados fornecidos devemlevar em consideração o exercício contábil do ano em pauta, bem como dosdois anos anteriores (pelo menos), para, dessa forma, extrair e analisar astendências.”

Outro item apresentado no balanço social, refere-se a DVA (Demonstração deValor Adicionado). É um item muito importante para servir ao gestor como instrumentode análise do comportamento da organização ao longo do ano. Em resumo, trata daquantidade e para quem foram distribuídas as riquezas obtidas pela organização.

A Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é um dos importantes componentesdo Balanço Social, devendo ser entendida como: “[...] a forma mais competente criada

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pela contabilidade para auxiliar na medição e demonstração da capacidade de geração,bem como de distribuição da riqueza de uma entidade.” (SANTOS, 2003 apud SILVA,2005, p. 39).

Para Tinoco (2001, p. 68) “[...] Na DVA, o objetivo principal é fornecerinformações a diversos grupos participantes nas operações, ou seja, os stakeholders.”

A Demonstração do valor adicionado é elaborada em duas partes: na primeira éapresentada a geração do valor adicionado, como por exemplo, o valor das vendasoperacionais e não operacionais, os insumos adquiridos de terceiros, como as matériasprimas e os custos das mercadorias e serviços vendidos; na segunda parte é demonstrado,por exemplo, qual o valor que a organização destinou para o pagamento de pessoal eencargos, os impostos taxas e contribuições pagos, os juros e aluguéis pagos, osdividendos e os lucros / prejuízos retidos.

Como podemos observar, a Demonstração do Valor Adicionado (DVA) é umaferramenta muito rica para o gestor da organização. Com base nela ele pode fazer suasanálises e tomar as decisões que achar pertinente, além de que, como foi ditoanteriormente, ser um instrumento de transparência das organizações para o públicointeressado em geral.

BALANÇO SOCIAL COMO INSTRUMENTO DE DIVULGAÇÃO DAORGANIZAÇÃO

Além de ser uma importante ferramenta de gestão para a organização, o balançosocial tem implícito na sua construção de que, se a organização se predispõe em mostrarpara a sociedade tudo que a empresa faz pelo social, em contrapartida a sociedadeatravés destas informações imagina que a organização em questão se preocupa com aspessoas e o meio ambiente que gira ao seu redor.

Com isto, o balanço social passa a ser um instrumento de divulgação positiva daempresa para o meio onde ela se faz presente.

Conforme Vasconcelos (2001, p. 86),

“[...] É forçoso enfatizar que o fato de atribuirmos ao Balanço Social essainstrumentalidade gerencial e identificarmos nele uma oportunidade de mercado,não estamos reduzindo a peça a um mero instrumento de marketing, pois essanão é a motivação para a sua elaboração, conforme já exposto. Não é a publicaçãodo Balanço Social que tornam melhores as empresas na concepção da sociedade,mas, sim, suas ações no campo social.”

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Estaria fugindo do seu objetivo principal o balanço social que fosse construído epublicado somente para servir de instrumento de marketing para a organização.

Mostrando ao público interessado todas as ações que a empresa desempenhano campo social, pode servir de incentivo para outras que por algum motivo particularnão dão a devida importância para o social, começarem a trabalhar este lado para entãoterem condições também de mostrar todas os trabalhos que são desempenhados parao social.

Se vamos comprar algum determinado produto onde existem similares nomercado em qualidade, quantidade e preço, e sabemos que um desses produtos éconfeccionado por empresa que exerce de fato importantes trabalhos na área social,provavelmente vamos estar adquirindo o produto desta companhia, mesmo que o outroproduto também seja confeccionado por empresa comprometida pelo social, porémnão divulgado.

Branco (2005, p. 01), explana que, “[...] Por meio de sua publicação, a empresaevidencia não apenas seus aspectos patrimoniais e financeiros, mas também aspectossociais, ambientais e de cidadania corporativa — ou seja, demonstra o exercício daResponsabilidade Social.”

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente o balanço social ainda não é um demonstrativo obrigatório, apesarde já ter sido discutido a possibilidade de ser, e por isto, podemos considerar que asempresas que têm o trabalho de construí-lo e posteriormente divulgá-lo assim o fazempara mostrar à sociedade todas as ações que são desenvolvidas visando o bem comumdas pessoas e do meio ambiente em geral.

Um dos grandes desafios, primeiramente para os contadores, é o de motivar oempresariado a confeccionar e publicar o balanço social, visto que, como não éobrigatório a sua confecção e sua publicação, o empresário muitas vezes não lhe conferea devida importância, pois está na maior parte do tempo preocupado com a partefinanceira, produtiva e comercial, não estando convencido da importância do socialpara a sociedade a sua volta bem como a importância que isto tem para a manutençãodas atividades da companhia a longo prazo.

Quando se consegue enxergar a magnitude deste demonstrativo, está sendodado um importante passo. Primeiramente pelo que representa o balanço social para aspessoas que convivem direta ou indiretamente com a empresa, pois para elas quando étomada a decisão de publicar o balanço social é evidente que o lado social e ambiental

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da companhia está recebendo o devido tratamento e importância, e também pelo graude transparência da organização que isto representa. Em segundo lugar pela importanteferramenta de gestão que o administrador tem em mãos.

O balanço social permite ao administrador acompanhar, por exemplo, comoanda o perfil do emprego na organização ano a ano: funcionários admitidos, grau deescolaridade, distribuição do pessoal por sexo e faixa etária, estado civil, qualificaçãoeducacional, etc. além da Demonstração do Valor Adicionado (DVA), que permite aogestor visualizar qual a origem e o destino dos recursos da empresa.

Além de ser uma ferramenta utilizada na gestão da organização, o balanço socialtambém divulga todas as ações que são feitas em prol das pessoas e do meio ambienteem geral, embora este não seja seu objetivo principal, e de uma certa maneira ficaevidente para o público, tanto interno quanto externo, de que se está tratando de umaempresa que exerce de fato responsabilidade social.

Definitivamente poderíamos considerar o balanço social como uma ferramentapara visualizar o lado humano das organizações, não tendo como foco principal à parteeconômica e financeira. O Balanço Social procura na verdade fazer a interligação daparte humana da empresa com o lado financeiro / econômico.

REFERÊNCIAS

BRANCO, Clarisse Monteiro Castelo. Balanço social: um instrumento de marketing para asempresas. Disponível em: <http://notítia.truenet.com.br/desafio21>. Acesso em 21 out. 2006.

CIVIDANES, José. Empresas x Responsabilidade Social. Disponível em: <http://notícias.aol.com.br/negócios/terceiro_setor>. Acesso em 14 out. 2006.

FLORES, Jorge Oscar de Mello. Seminário “Balanço Social”. Brasília: CODEP, 2001.

PALMA, Antônio jacinto Caleiro. O novo conceito de filantropia: a contribuição do terceirosetor para o desenvolvimento sustentado do país. São Paulo: CIEE, 1999.

SILVA, Débora Cristina Borges da. Transparência contábil no terceiro setor. Disponível em:<http://absolive.googlepages.com>. Acesso em 16 out. 2006.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio. Balanço Social: uma abordagem da transparência e daresponsabilidade pública das organizações. São Paulo: Atlas, 2001.

VASCONCELOS, Yumara Lúcia. Melhorando a qualidade da informação no Balanço Social. RevistaBrasileira de Contabilidade, Brasília, p. 83-95, nov/dez. 2001.

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O DESEMPENHO EXPORTADOR DA INDÚSTRIA MADEIREIRA

DO ALTO VALE DO ITAJAÍ E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O

DESENVOLVIMENTO REGIONAL1

Raquel Corrêa2

Profª. Marilei Kroetz3

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo estudar a atividade industrial associada ao setor madeireiroda região do Alto Vale do Itajaí, dando ênfase ao desempenho exportador. A opção por pesquisar as vendasexternas deste segmento é justificada pelos novos conceitos das teorias de desenvolvimento regional, quevêem no fluxo de comércio internacional uma oportunidade para tornar mais dinâmica a economia daregião. A indústria madeireira do Alto Vale do Itajaí, encontra-se entre as quatro atividades econômicasmais importantes da região, sendo que, em alguns municípios, é a atividade principal. Nesse contexto, aindústria de base madeireira, em 2005, figura como a segunda atividade industrial de maior concentraçãona região, tanto em relação ao número de estabelecimentos, quanto acerca dos postos de trabalho formaisgerados. Em termos de participação nas vendas externas, contribui com cerca de vinte e dois por cento porcento do volume total exportado pela região e representa, aproximadamente, quarenta e oito por cento dototal de empresas exportadoras.

Palavras-chave: desenvolvimento regional, indústria madeireira, desempenho exportador.

Abstract: The present work has for objective to study the associated industrial activity to the lumbersector of the region of the High Valley of the Itajaí, giving emphasis to the exporting performance. Theoption for searching external sales of this segment is justified by the new concepts of the theories ofregional development that they see in the flow of international trade a chance to become dynamic more theeconomy of the region. The lumber industry of the High Valley of the Itajaí, one meets enters the four moreimportant economic activities of the region, being that, in some cities, it is the main activity. In thiscontext, the lumber capital goods industry, in 2005, figure as the second industrial activity of biggerconcentration in the region, as much in relation to the number of establishments, how much concerningthe generated formal ranks of work. In terms of participation in external sales, it contributes with abouttwenty two percent of the total exported by the e region represents, approximately, forty eight percent ofthe total of exporting companies.

Wordkey: regional development, lumber industry, exporting performance.

1 Artigo referente ao Programa de Iniciação Cientifica – Artigo 170.2 Acadêmica do Curso de Administração - Comércio Exterior, bolsista do Artigo 170, e-mail: [email protected];3 Orientadora, professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), e-mail:

[email protected].

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INTRODUÇÃO

As modernas teorias do desenvolvimento regional chamam atenção para o fatode que uma região não consegue alcançar o crescimento sem estar interligada a umcontexto maior, o espaço global. O próprio arranjo do sistema capitalista em voga, seencarrega de excluir os espaços que não conseguem aumentar o grau de integraçãocom os demais agentes econômicos do mundo.

Partindo deste ponto de vista, assume-se que o espaço é constituído por umacombinação de vários processos autônomos de produção e circulação de mercadorias,e que o sucesso econômico de cada país, região ou localidade passa a depender dacapacidade de se especializar naquilo que consiga estabelecer vantagens comparativasefetivas e dinâmicas, decorrentes do seu estoque de atributos e da capacidade local depromoção continuada de sua inovação (DINIZ, 2002).

Tendo essas premissas como referencial, Guimarães Neto (1997), constata queos arranjos de comércio internacional, construídos por uma região a partir de suasespecializações produtivas, tendem a gerar o crescimento do local e, no longo prazo, odesenvolvimento sustentável. Por isso, é de suma importância que as regiões aumentemseus coeficientes de inserção internacional.

Além disso, Souza (2002), destaca que as exportações causam um efeitomultiplicador na dinâmica da economia local. Isto significa que, quanto maior for ovolume de bens exportados, melhor será o desempenho econômico geral da região.Isso, em razão do chamado efeito de transbordamento, onde o crescimento das vendasexternas se traduz em aumento no consumo de insumos das empresas locais que, porsua vez, elevam os níveis de emprego e renda local, resultando em mais consumo debens e serviços.

Trazendo este debate para a atual disposição do sistema econômico do Alto Valedo Itajaí, verifica-se que este espaço apresenta quatro segmentos industriais que sesobressaem às demais: produtos alimentares, indústria de base madeireira, têxtil-vestuárioe o setor de produção eletrometal-mecânico4. Essa concentração das atividadesprodutivas oferece uma das características essenciais para impulsionar o crescimentoda região: vantagem comparativa em relação a outras indústrias. Entretanto, não esclarecese as mesmas apresentam um elevado grau de integração ao mercado internacional.

Sabendo-se, inicialmente, da relevância das quatro atividades econômicas para aregião, fica a lacuna relativa ao desempenho exportador das mesmas. Desta maneira,

4 Para maiores informações, consultar, GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Secretaria do Estado do Planejamento.Programa Estratégico de Desenvolvimento com Base na Inovação. NEITEC/UFSC: Florianópolis, 2005, 606p. (mimeo).

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seguindo o marco teórico, este estudo propõem-se evidenciar apenas uma das indústrias:a de base madeireira. A escolha deste setor deriva de algumas razões específicas. Aprimeira delas, refere-se a sua expressividade econômica para a região, condiçãoindicada acima. A segunda, trata-se das dificuldades que este setor vem encontrandopara manter sua participação nas relações comerciais externas, especialmente, no quetange às exportações de produtos manufaturados, situação constantemente divulgadapela mídia local.

Neste contexto, o objetivo desse artigo é verificar as relações de comérciointernacional da indústria de base madeireira, dando ênfase às vendas externas.Contribuindo neste sentido, o trabalho também realiza um breve mapeamento destesegmento produtivo na região do Alto Vale do Itajaí. Para contemplar esta proposta, oartigo encontra-se estruturado em mais cinco seções, além desta introdução. Na seção2, relatam-se aspectos metodológicos da pesquisa. Na seção 3, apresenta-se o referencialteórico que dá sustentação ao argumento de que uma maior inserção externa impulsionao crescimento de uma região. Na quarta seção, caracteriza-se a indústria madeireira doAlto Vale do Itajaí. Na quinta seção, demonstra-se uma radiografia do desempenhoexportador da indústria madeireira. Por fim, fazem-se algumas considerações finais naseção sexta.

METODOLOGIA

O recorte geográfico realizado, para definir a região do Alto Vale do Itajaí, éaquele definido pela Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI), ondeparticipam vinte e oito municípios, a saber: Agrolândia, Agronômica, Aurora, Atalanta,Braço do Trombudo, Chapadão do Lageado, Dona Emma, Ibirama, Imbuia, Ituporanga,José Boiteux, Laurentino, Lontras, Mirim Doce, Pouso Redondo, Petrolândia, PresidenteGetúlio, Presidente Nereu, Rio do Campo, Rio do Oeste, Rio do Sul, Salete, Santa Terezinha,Taió, Trombudo Central, Vidal Ramos, Vitor Meireles e Witmarsum.

Para alcançar os objetivos deste estudo, na seção de revisão teórica, a pesquisabaseou-se em livros, capítulos de livros organizados, periódicos como revistasespecializadas em economia, textos para discussão e notas técnicas, que destacam asteorias de desenvolvimento regional, em especial, a Teoria de Base Exportadora.

Para caracterizar as atividades relativas ao setor madeireiro da região, realizou-se um breve levantamento bibliográfico de fontes secundárias sobre a formaçãoeconômica do estado, e buscaram-se informações fornecidas pelo Ministério do Trabalhoe Emprego (MTE), através da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), relativas ao

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número de estabelecimentos e postos formais de trabalho, as quais dão dimensão daconcentração e distribuição das atividades econômicas ou setoriais da região.

Para tratar sobre o desempenho exportador do setor madeireiro, recorreu-se àbase de Aliceweb do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MDIC),divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). Foram destacados apenas osanos de 2004 e 2005, pois o Ministério passou a informar os dados de balança comercial,desagregados por município, somente a partir de 2004.

AS EXPORTAÇÕES COMO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Em tempos hodiernos, observa-se uma crescente busca, por parte dos agenteslocais, pela maior inserção ao mercado internacional. Essa condição, em muitos casos,transformou-se numa questão de sobrevivência, num mercado cada vez mais agressivoe competitivo. De acordo com Diniz (2002), em assim sendo, as regiões que souberemexplorar seus potenciais exportadores, ou seja, souberem transformar suas vantagenscomparativas em vantagens competitivas, sairão na frente na corrida para acelerar ocrescimento e construir as bases para o crescimento econômico.Dentro de um universoamplo de teorias do desenvolvimento regional5, a Teoria da Base Exportadora, vem aoencontro dessa idéia, pois afirma que existe uma relação direta entre as exportações deuma região e seu crescimento. Segundo Richardson (1981), as primeiras explicações aeste respeito são dadas por Tiebout (1957)6, onde ele afirma que os níveis de produçãoe emprego da região dependem da procura externa e das vantagens comparativas.

O ponto de partida é que as exportações possuem a capacidade de gerar efeitosmultiplicadores na economia da região, bem como estimular o mercado interno. Isso,porque a teoria parte da hipótese de que os mercados internos, por si só, não sãocapazes de manter continuamente altas taxas de crescimento econômico (SPEROTTO,2004). Neste sentido, a literatura econômica enfatiza que se um sistema produtivo localnão encontrar meios para ampliar sua participação no espaço em que se encontra, acrise é iminente. Para tanto, a alternativa mais rápida para ampliar a base de mercadoseria o aumento das exportações, o qual possibilitaria o consumo da oferta excedentede bens e serviços, eliminando riscos de crises (SOUZA, 1999).

5 A temática de desenvolvimento regional exige o conhecimento de uma gama de conceitos e definições, no entanto, em meioa todos, destacam-se os seguintes marcos teóricos: Teoria dos Lugares Centrais; Teoria da Base Exportadora; Teoria dosPólos de Crescimento; Teoria das Aglomerações Urbanas; Teorias de Base Inovadora. Ver, SPEROTTO, (2004).

6 Ver, Tiebout, C. Modelos de input-output regional e inter-regional: uma avaliação. In: SCHWARTZMAN, Jacques. Economiaregional. Belo Horizonte: Cedeplar. 1977, p.315-323.

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Da mesma forma, na concepção de Souza (1999), uma região ou país queconsiga produzir bens que transponham suas fronteiras, e que conta com o apoio dedeterminados serviços e infra-estrutura básica (meios de transporte e de comunicaçõeseficientes), aumenta a complexidade interna de sua economia, densificando a estruturada cadeia produtiva industrial.

Conforme Souza (2002), a dinâmica do processo de elevação das exportações, tema capacidade de promover uma tendência de redução de custos médios e expandir os lucrose os investimentos, proporcionando maior eficiência produtiva. Além disso, é capaz de geraraumentos nos níveis de renda e de emprego, resultando, conseqüentemente, num maiorconsumo interno. Tais fatores levam, em última instância, à melhora do nível de bem-estar dosagentes envolvidos no processo produtivo e ao maior crescimento econômico.

De maneira sucinta, Campos, Vidigal e Prando (2006), qualificam a Teoria daBase Exportadora com propriedade:

A teoria argumenta que o crescimento de uma região depende do crescimento desuas indústrias de exportação, implicando com isso que a expansão da demandaexterna à região é o elemento crítico determinante inicial do crescimento dentroda região. Dessa forma, um aumento na base de exportação (que significa todos osbens e serviços exportáveis de uma região) estabelece um efeito multiplicadorigual ao produto regional total dividido pelas exportações totais. A teoria da basede exportação sugere, portanto, que uma expansão na base de exportação de umaregião/estado (suas exportações brutas) induz a uma taxa maior de crescimentodo produto. (CAMPOS, VIDIGAL E PRANDO, 2006, p. 06).

A partir dessa constatação, é possível destacar que o crescimento de uma regiãodependerá da elevação das atividades industriais voltadas para a exportação, fazendocom que o incremento da demanda externa torne-se o principal fator de expansãoeconômica da região. No entanto, conforme destaca Souza (2002), para que essaestratégia de crescimento seja efetiva, é necessário que a região apresente outros atributos,como: existência de capacidade ociosa, estoque de mão-de-obra, boa infra-estruturalogística, disponibilidade de capacitação empresarial e capacidade motriz para gerarencadeamentos de insumo-produto do bem exportado com o mercado interno.

Em suma, a Teoria da Base Exportadora se fundamenta nos efeitos gerados pelasvendas de produtos para outras regiões ou países, que desencadearão importantesmovimentos econômicos. Entre estes, destacam-se: o estímulo à entrada de importações;o aparecimento de indústrias complementares ao setor exportador e o surgimento deum setor de serviços voltados para a indústria exportadora e efeitos estimuladores denovos investimentos (SPEROTTO, 2004).

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Assim, a questão do desenvolvimento das regiões passa, invariavelmente, pelo estudodas inserções de seus agentes no mercado externo, pois este pode apontar melhores caminhospara vencer as debilidades que se fazem presentes em uma região. Todavia, é preciso levar emconta outros elementos dinamizadores da economia local além das exportações, como osgastos do governo na região, substituição de importações nas indústrias locais e aumento daeficiência na oferta de bens e serviços por parte dos demais agentes regionais.

Cabe ressaltar, também, que o maior grau de inserção ao mercado externo podedeixar a região mais vulnerável aos choques recessivos advindos das economiasinternacionais, especialmente, aqueles relativos a quedas nos preços, pressões de algunscustos e mudanças tecnológicas modificadoras da composição relativa dos insumos.

EVOLUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO SETOR MADEIREIRO REGIONAL

A constituição da base econômica da região do Alto Vale do Itajaí está diretamenteassociada à atividade de extração da madeira. Assim como nas demais regiões do estadode Santa Catarina, a venda de madeira não beneficiada serviu de base para o acúmulo decapital que, mais tarde, foi sendo deslocado para atividades ligadas ao desdobramentoda madeira como marcenarias, fábricas de caixas, de esquadrias e papel, papelão epasta mecânica (celulose) e setores complementares. Essas mudanças aconteceram,principalmente, para atender as necessidades da construção civil e indústrias dos centrosurbanos do estado e do país (KROETZ, 2006).

As microrregiões catarinenses com tradição na fabricação de produtos extraídosda madeira, como Campos de Lages e Planalto Norte, tiveram significativo impulso como crescimento dos segmentos papel, papelão e celulose. Nesse estágio, a expansãoprodutiva ocorreu assentada em investimentos realizados por pequenos produtoreslocais, entretanto, as empresas detinham porte médio (GOULARTI FILHO, 2002).

Segundo Cunha (1992) e Goularti Filho (2002), ao longo das décadas de 70 e80, registrou-se uma queda acentuada na participação do setor de extração da madeiraem todas as regiões catarinenses. Isso, em função do esgotamento do ciclo de extraçãoda madeira nativa, motivado pelas restrições dos órgãos ambientais e do nãoreflorestamento em proporções iguais àquelas desmatadas. A falta de matéria-primanativa, fez com que se acelerasse o processo de implantação de áreas reflorestadas. Essaação, teve reflexo direto sobre o crescimento da indústria moveleira, bem como noaumento dos investimentos nos setores de papel e celulose7.

7 Esse segmento foi amplamente beneficiado pelos grandes blocos de investimentos realizados pelo governo federal atravésde seus Planos de Desenvolvimento Econômico, notadamente, o II PND.

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O Alto Vale, embora inserido nesse movimento mais amplo da formação econômicado estado, manteve o ritmo de crescimento das atividades derivadas da manufatura damadeira fortemente pautada nos ramos de desdobramentos da madeira e de fabricaçãode móveis.

Este fato pode ser constado, observando a participação desses segmentos nageração de postos de trabalho formais e no número de estabelecimentos destes ramosem relação ao total das atividades industriais da região (Tabela 1). Em 1985, a indústriada madeira e do mobiliário empregava 36,37% da força de trabalho regional, erepresentava 39,39% do total de estabelecimentos industriais, notadamente, a atividadeindustrial mais expressiva.

TABELA 1: Número de estabelecimentos e pessoal ocupado na região do Alto Vale doItajaí, segundo classes e gêneros industriais – 1985, 2000 e 2005 (em %).

Fonte dos dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 1985, 2000 e 2005.Nota 1: Nº de Estab.: número de estabelecimentos; POC: Pessoal Ocupado;* Nd: notação convencional para dados não disponíveis. Para o ano de 2005, 0,06% dos estabelecimentosindustriais da região representavam a indústria de calçados, porém as mesmas não possuíam empregadosregistrados. Isso significa que o trabalho era feito pelo próprio dono e sua família.

No ano de 2000, essa estrutura já sofreu algumas modificações. As atividades daindústria da madeira e do mobiliário perdem espaço, principalmente, para a indústria

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têxtil e de vestuário. No entanto, ainda mantêm significativa participação na economiaregional, representando 24,27% dos estabelecimentos e 26,06% da mão-de-obraempregada. Esse setor, se somado ao da indústria do papel, papelão e editorial gráfica,eleva a importância. No total, os dois segmentos contemplavam 27,85% e 31,20% dosestabelecimentos e das pessoas ocupadas, respectivamente, para o ano em questão.

Em 2005, o conjunto da indústria de base madeireira representava 24,57% dasempresas industriais e 26,92% dos postos de trabalho formal do Alto Vale. Mesmo queessas atividades apresentaram declínio ao longo das décadas, ainda possuem forteconcentração na região, especialmente, quando se trata das pessoas ocupadas.

É importante ressaltar que alguns municípios apresentam densidade maior dasatividades associadas à manufatura da madeira que outros. Conforme demonstra aTabela 2, em 2005, os cinco municípios que apresentam a maior concentração deestabelecimentos são: Rio do Sul (15,06%), Presidente Getúlio (13,09%), Taió (11,115),Ibirama (7,41%) e Rio do Oeste (5,93%).

TABELA 2: Concentração das indústrias de base madeireira, por município, em ordemdecrescente segundo números de estabelecimentos (em %) – 2005.

Fonte dos dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 2005.Nota 1: Nº de Estab.: número de estabelecimentos; POC: Pessoal Ocupado;

Agora, se essa classificação seguisse o critério de concentração por pessoasocupadas, a posição dos municípios mudaria. Os cinco maiores destaques ficariam porconta de: Salete (14,57%), Pouso Redondo (13,61%), Ibirama (13,2%), Taió (13,09%)

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e Presidente Getúlio (11,01%). Essa constatação decorre do fato de que nessas cidadesestão localizadas empresas de grande porte que abrigam um número considerável detrabalhadores.

Analisando o setor madeireiro a partir da decomposição por categoria de indústriasegundo número dos estabelecimentos (Tabela 3), observamos que dentre os diversosprodutos extraídos da madeira, a região se destaca em algumas atividades específicas.

TABELA 3: Principais categorias de atividades derivadas a indústria de basemadeireira, segundo número de estabelecimentos e pessoal ocupado – 2005 (em %).

Fonte dos dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 2005.Nota 1: Nº de Estab.: número de estabelecimentos; POC: Pessoal Ocupado;* Para o ano de 2005, 0,25% dos estabelecimentos industriais da região representavam a categoria de ediçãoe impressão de livros, porém as mesmas não possuíam empregados registrados. Isso significa que o trabalhoera feito pelo próprio dono e sua família.

Em 2005, as atividades de maior intensidade foram: em primeiro lugar,desdobramento de madeira, que representa 27,41% do número de estabelecimentosdo segmento e 16,57% da mão-de-obra ocupada; em segundo lugar, fabricação de

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móveis, significando 24,94% das empresas madeireiras e empregando 35,4% das pessoasque trabalham no setor; na seqüência, aparecem a fabricação de madeiras laminadas ede chapas de madeira compensadas, a fabricação de esquadrias de madeira e de casaspré-fabricadas e a fabricação de artefatos diversos de madeira.

Cabe ressaltar que a as categorias relativas aos gêneros papel, papelão e celulose,têm uma participação menos expressiva na região em relação aos outros segmentos dosetor. Contudo, chama a atenção a elevada densidade de pessoas ocupadas na fabricaçãode papelão liso, cartolina e cartão, 11,13% do total dos postos de trabalho formaisoferecidos pela indústria de base madeireira da região.

Outra característica importante a ser considerada é a contribuição do setor naformação da renda regional. De acordo com o apresentado na Tabela 4, abaixo, em2004, o somatório de todas as atividades industriais empregava 25.890 pessoas, o quesignificava uma massa salarial paga na ordem de R$ 16.320.366,48, representando umganho médio por trabalhador de R$ 630,37. Para a indústria de base madeireira, os7.502 empregados auferiram um rendimento médio de R$ 542,26.

TABELA 4: Total de pessoas ocupadas, massa salarial e remuneração média paga pelaindústria geral e pela indústria de base madeireira – 2004 e 2005 - (massa salarial eremuneração média em R$).

Fonte dos dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 2004 e 2005.Nota 1: POC: Pessoal Ocupado; Rem. Média: remuneração média.* Variação percentual do crescimento de pessoas ocupadas, massa salarial e remuneração média. Comparativoentre 2004 e 2005.

Comparando esses valores com o ano de 2005, verificamos que, tanto a indústriageral, quanto a de base madeireira elevaram o número de contratações e o pagamentomédio às pessoas ocupadas. Enquanto a primeira aumentou o número de contrataçõesem 1,77%, a segunda reduziu o quadro funcional em 5,72%. Outra diferença substancialestá na massa salarial distribuída. A indústria geral registrou crescimento de 12,15% nototal de salário pagos, e a de base madeireira apenas 3,07%. Já, em relação à remuneraçãomédia do trabalhador, têm-se um crescimento de 10,56% para a indústria geral, e de8,32%.

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Considerando a participação relativa do pessoal ocupado, da massa salarial e daremuneração média da indústria madeireira no contexto global da indústria do Alto Valedo Itajaí, conforme demonstrado no Gráfico 1, percebemos os seguintes resultados: a)em 2004, respondia por 28,98% dos postos de trabalho e, em 2005, essa participaçãodecaiu para 26,92%; b) algo semelhante é visto para o valor da massa salarial paga pelosegmento: 24,93% do total, em 2004 e queda para 22,59% em 2005; e, c) os númerosreferentes à remuneração média, indicam que o setor paga salários médios abaixodaqueles desembolsados pela indústria: em 2004, representavam 86,02 % em relaçãoao da indústria geral e, em 2005, essa relação se distanciou ainda mais, ficando em83,92% da remuneração média geral.

GRÁFICO 1: Participação relativa da indústria de base madeireira no total daindústria, segundo pessoal ocupado, massa salarial e remuneração média (em %).Fonte dos dados brutos: Ministério do Trabalho e Emprego – RAIS, 2004 e 2005.Nota 1: POC: Pessoal Ocupado; Rem. Média: remuneração média.

Tais informações, oferecem indicativo de um desaquecimento das atividades dosetor madeireiro na região. Essa perda de participação da indústria de base madeireirano conjunto total da indústria pode estar associada a diferentes fatores econômicos,dentre os quais, o desempenho exportador da atividade, tema da seção seguinte.

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O DESEMPENHO EXPORTADOR DA INDÚSTRIA MADEIREIRA DAREGIÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ

O mapeamento das atividades da indústria de base madeireira do Alto Vale doItajaí, demonstra que este setor produtivo tem significativa importância para muitosmunicípios da região. Apesar das mudanças que ocorreram na estrutura produtiva daregião, ao longo da década de 90, ainda figura como a segunda principal atividadeeconômica tanto em termos de número de estabelecimentos, quanto em número depessoas ocupadas.

Sabendo-se de sua importância, espera-se que parcela da explicação possa serdada a partir do desempenho exportador do setor. Pois, segundo a fundamentaçãoteórica, quanto maior o nível de exportação, melhor será seu desempenho econômico.Diante dessas circunstâncias, algumas constatações acerca das vendas externas dasatividades de base madeireira, se fazem interessantes.

A primeira delas, diz respeito aos municípios exportadores. Conforme indica aTabela 5, a seguir, do total de municípios que compõem a região do Alto Vale, dezesseterealizaram vendas externas, em 2004 e/ou 2005 e, destes, quatorze exportaram produtosoriundos da madeira. Concentrando a análise para a exportação de produtos da madeira,percebe-se que os municípios que apresentaram o maior volume de vendas, em 2005,pela ordem, foram: Pouso Redondo (18.076.710 mi de US$), Salete (16.017.664 mi deUS$), Ibirama (9.936.767 mi de US$) e Presidente Getúlio (7.518.952 mi de US$).

A segunda, refere-se ao movimento de queda no valor total exportado porpraticamente todos os municípios exportadores de madeira. Verifica-se que:

• houve redução no valor total exportado por quase todos os municípios daregião de 2004 para 2005. Os casos mais expressivos ficaram por conta dosmunicípios de Dona Emma, Presidente Getúlio, Rio do Campo, Rio do Oeste,Rio do Sul e Taió. Segundo dados divulgados pelo MDIC/SECEX (2006), essaqueda foi decorrente da diminuição da venda de produtos de madeirascompensadas e de madeiras de coníferas serradas/cortadas em folhas;

• os municípios que obtiveram ganhos de 2004 para 2005, foram: Ibirama,Ituporanga, Lontras, Mirim Doce, Pouso Redondo e Trombudo Central. Essedesempenho é creditado, especialmente, ao aumento do volume exportado demóveis de madeira e de esquadrias em geral (MDIC/SECEX, 2006).

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Fonte dos dados brutos: MDIC/SECEX, 2006.

Fazendo um comparativo entre os valores totais exportados e os valores relativosaos produtos da madeira, verifica-se que, em muitos municípios, o total exportado pelosetor madeireiro corresponde ao total vendido ao exterior, e, em muitos outros casos,este segmento representa a maior parcela das exportações (Tabela 6).

Chama atenção o fato de que 100% dos valores exportados, para 2004 e 2005,pelos municípios de Dona Emma e Salete referem-se a manufaturas da madeira. Nascidades de Ibirama, Pouso Redondo Rio do Campo e Taió, a representatividade dessesetor nas vendas externas também é extremamente elevada, ficando muito próxima aos100%. Em 2005, todo o volume exportado pelos municípios de Ituporanga, Mirim Docee Rio do Oeste, foi relativo ao segmento madeireiro.

TABELA 5: Municípios exportadores, segundo valor total exportado e valor total deprodutos da madeira (em mi de US$ FOB) – 2004 e 2005.

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TABELA 6: Partição relativa das exportações do setor madeireiro emrelação ao total - 2004 e 2005 (em %).

Fonte dos dados brutos: MDIC/SECEX, 2006.

Cabe ressaltar que, apesar dessa forte concentração das exportações de produtosda madeira em alguns municípios, a participação relativa dessa indústria no totalexportado pela região não tem a mesma significância. Em 2004, representou 34,77% e,em 2005, apenas 21,19% do valor total.

Não obstante o fato de que houve uma considerável queda na participação relativado setor madeireiro no total exportado, se observarmos a quantidade de empresasexportadoras da região, verificamos que, em 2004, 47,95% destas, eram representantesdo setor madeireiro, e, em 2005, esse percentual se eleva para 48% (Gráfico 2).

GRÁFICO 2: Participação relativa do setor madeireiro no número de empresasexportadoras (valores absolutos e em %) – 2004 e 2005.Fonte dos dados brutos: MDIC/SECEX, 2006.

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É interessante destacar que, diferentemente dos dados relativos à exportaçãoapresentados anteriormente, o número de empresas exportadoras do setor madeireiroaumentou, mesmo que em proporção mínima, enquanto o valor total vendido diminuiu.

Essas empresas enviam para o exterior, principalmente, esquadrias de madeira(portas, janelas, ect.), madeira compensada, madeira de reflorestamento serrada(lâminas, perfilados, entre outros), móveis de madeira para quarto e cozinha, e demaisartefatos de madeira para mesa ou cozinha, molduras para quadros, fotografias eespelhos8.

Desta maneira, constata-se que parte considerável dos produtos exportados nãopassa por um amplo processo de agregação de valor. São produtos pouco beneficiados,que competem internacionalmente via preço, fatores que podem explicar a queda nasvendas externas desse setor de 2004 para 2005.

CONCLUSÕES

Resgatando a idéia central do marco teórico, temos que uma região pode elevarseu potencial de crescimento através do fortalecimento dos arranjos de comérciointernacional. Uma forte participação nas vendas externas dos produtos manufaturadosem uma região possibilita o desenvolvimento de inúmeras atividades que estãorelacionadas àquelas da base exportadora. Isso porque, há um consumo maior dematérias-primas, de mão-de-obra e de serviços correlacionados. Todo esse movimentoeleva a renda gerada que, por sua vez, aumenta a demanda agregada regional, fatocausador, em última instância, do crescimento.

Transportando tais premissas para o estudo em questão, verificamos que aindústria da madeira possui intensa participação na economia da região do Alto Vale doItajaí, mas, em se tratando das vendas externas, para 2005, em particular, houve um forteprocesso de retração.

A queda de participação relativa dos produtos derivados da madeira no totalexportado pela região - de 34,77%, em 2004, para 21,19%, em 2005 – refletiuimediatamente sobre o nível de pessoas ocupadas, no número de estabelecimentos e naremuneração média dos trabalhadores. A indústria da madeira reduziu em 5,72% onúmero de postos de trabalho, e registrou um aumento do salário médio pago aostrabalhadores abaixo da média da indústria geral. Além disso, a remuneração médiapaga à mão-de-obra é inferior à da indústria.

8 Ver, MDIC/SECEX – Balança Comercial por Município, 2004 e 2005.

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De maneira geral, o desempenho exportador do setor madeireiro, em praticamentetodos os municípios da região, nos dá o indicativo de que este segmento está perdendoforça na geração de renda regional. Em assim sendo, ao invés de representar um fatordinamizador do crescimento, passa a ser um elemento em crise, que necessita derenovação para criar fôlego e voltar a demonstrar bom desempenho.

Em se tratando da evolução do emprego e do número de estabelecimentos,observou-se que o setor madeireiro vem perdendo espaço para outras atividadesprodutivas, como o vestuário e a metal-mecânica. Outrossim, mantém-se pautada naprodução e exportação de produtos de pouco valor agregado, motivo que pode explicara perda de participação nas vendas externas.

Esses indícios deixam margem para a continuidade deste estudo, pois o mesmonão contempla aspectos importantes que podem explicar as razões que levaram o setormadeireiro a ter esse resultado. No entanto, os resultados apresentados servem de alertapara que os atores regionais, tanto públicos, quanto privados, passem a pensar alternativaspara o atual contexto em que se encontra uma atividade tradicional na região, e que emoutros lugares do estado de Santa Catarina está apresentando desempenho positivo.

REFERÊNCIAS

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A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE RIO DO SUL

NASCIMENTO E TRAJETÓRIA1

Profª MSc. Celi Terezinha W olff2

Profª MSc. Fernanda Ax Wilhelm3

Profª Franciane Meire Radtke4

Gishlaine Apolinário 5

Neusa Rassweiler5

Rosimere Serafim Weiss5

Resumo: O município de Rio do Sul, não tem ainda em documento a história de sua Educação infantil,ficando assim comprometida uma análise e compreensão mais abrangente e completa de sua situaçãoreal. O problema se apresenta por não existir em um conjunto, os dados de suas redes de EducaçãoInfantil. As unidades pertencentes as quatro redes: municipal, filantrópica/assistencial, estadual e particular,necessitam de alguém que pesquise, organize e sistematize esses dados, ficando assim com um retrato desua identidade, enfim de sua história. O artigo em tese tem como objetivo, apresentar os resultados doprojeto do grupo de pesquisa “Educação e Infância” que levantou e organizou os dados da educaçãoinfantil, no município de Rio do Sul, conhecendo seu nascimento e trajetória, para uma melhor compreensãoda mesma. A pesquisa realizada é histórica, onde os pesquisadores estiveram em constante contato comos dados que retratam os fatos, acontecidos na Educação Infantil no município de Rio do Sul:nascimento(criação), caracterização, tipo de atendimento, período, concepções pedagógicas e evoluçãodo atendimento. Na rede particular, a mais antiga, foram levantadas nove unidades, que trabalham comEducação Infantil, mas não são específicas para este tipo de atendimento. Na rede filantrópica/assistencialforam levantadas dez unidades, mais as creches domiciliares as quais atendem especificamente a EducaçãoInfantil. Na rede municipal foram levantadas trinta e quatro unidades de Educação Infantil, algumasespecíficas, outras não. Na rede Estadual foram levantadas onze unidades, atualmente estão em funcionamentosomente cinco e não são específicas em Educação Infantil.

Palavras-chave: educação infantil, redes, história.

Abstract: Rio do Sul still does not have its elementary school history in documents, in this way it isdifficult to have an analysis and better comprehension of the real situation. The problem is that there is nota register of the data of its elementary school in any area. The units that belong to the four areas are:municipal, philanthropic/assistance, state, and private, they require someone who researches, organizesand systemizes these data, keeping like this an identity, at last its history. The goals of this article are topresent the results of the “Education and Childhood” research group that aroused and organized the

1 Artigo Científico referente ao Projeto do Programa Institucional de Bolsas para Grupos de Pesquisa (PGP/UNIDAVI);2 Coordenadora do grupo de pesquisa, professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI),

mestre em Educação, e-mail: [email protected];3 Membro do PGP/UNIDAVI, professora da UNIDAVI, mestre em Psicologia, e-mail: [email protected];4 Membro do PGP/UNIDAVI, professora da UNIDAVI, e-mail: [email protected];5 Acadêmica do Curso de Pedagogia, bolsista do PGP/UNIDAVI;

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elementary school data in Rio do Sul, keeping its origin and trajectory for a better understanding of it. Theresearch realized is historical, where the researchers were involved with the data that present whathappened with the elementary school in the city of Rio do Sul, origin, characterization, kind of service,period, pedagogical conceptions and service evaluation. In the private area, the oldest, it was researchednine units that work with elementary school, however they are not specific for this kind of service. In thephilanthropic/assistance area it was researched ten units and the domiciliary day care centers which workspecifically with elementary school. In the municipal area it was researched thirty-four units which workwith elementary school, some of them specifically others not. In the state area it was researched elevenunits, nowadays it is working just they are not specific to elementary school.

Keywords: elementary school, areas, hist

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INTRODUÇÃO

Considerando que o município de Rio do Sul, é o segundo em percentual deatendimento da Educação infantil, em Santa Catarina, precisamos nos preocupar comsua trajetória, até porque sabemos dos equívocos em relação a educação infantil, atravésdos tempos e ainda hoje.

Quantas idéias e ações são vivenciadas pelas crianças, que poderiam contribuirpara a sua aprendizagem e desenvolvimento se fossem melhor entendidas e trabalhadaspelos professores, pais e comunidade.

Por outro lado, sabemos que um povo sem o registro de sua história está fadadoa perder elementos significativos de sua identidade, assim também a educação infantilno município de Rio do Sul, sem o registro de seu nascimento e sua trajetória, estásujeito a perder muito de sua identidade.

Objetivando ter um retrato da caminhada da Educação Infantil no município deRio do Sul: conhecendo seu nascimento (criação), caracterização, tipo de atendimento,período, concepções pedagógicas, evolução do atendimento, dificuldades, necessidades,para a compreensão do seu funcionamento, a sua evolução, para melhor realizar estetipo de educação, o grupo de pesquisa “Educação e Infância” aceitou o desafio e secolocou na luta para levantar, organizar e sistematizar os dados que hora se apresentam.

A EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA FRENTE ÀS NECESSIDADES DACRIANÇA

“[...] E quem garante que a História é carroça abandonada numa beira deestrada ou numa estação inglória? A História é um carro alegre cheio de um povocontente que atropela indiferente todo aquele que a negue[...]” (BUARQUE;MILANÊS apud OSTETTO, 2000, p. 7)

Moncorvo Filho organizou o histórico da proteção a Infância no Brasil em trêsperíodos.

Durante o 1° período, do descobrimento até 1874, pouco se fazia no Brasil pela“infância desditosa”, tanto do ponto de vista da proteção jurídica quanto das alternativasde atendimento existentes.

O 2° período, de 1874 até 1889, se caracterizaria, sobretudo, pela existência deprojetos elaborados por grupos particulares, em especial médicos, que tratavam doatendimento a crianças. Tais projetos, porém, não eram concretizados.

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No 3° período, se intensificaram os progressos no campo da higiene infantil,médica e escolar. Durante as duas primeiras décadas do século passado, várias instituiçõesforam fundadas e diversas leis promulgadas, visando atender à criança6.

O NASCIMENTO DAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL

Nas três últimas décadas do século XIX, a idéia de proteger a infância começavaa despertar, mas o atendimento se restringia a iniciativas isoladas que tinham, portanto,um caráter localizado. Assim mesmo aquelas instituições dirigidas às classesdesfavorecidas, como, por exemplo, o Asilo de Meninos Desvalidos, fundado no Rio deJaneiro em 1875 (Instituto João Alfredo), os três institutos de Menores Artífices, fundadosem Minas em 1876, ou os colégios e associações de amparo à infância (como o 1°Jardim de Infância do Brasil, Menezes Vieira, criado em 1875 e fechado logo em seguida,por falta de apoio do Poder Público), eram insuficientes e quase inexpressivas frente àprecária situação de saúde e educação da população brasileira.

Se até os primeiros anos da República, fora praticamente nulo o movimento emfunção da puericultura e da escolarização, no princípio do século XX, a situação começavaa se alterar.

Caracterizava o 3° período a intenção existente em determinados grupos dediminuir a apatia que dominava as esferas governamentais quanto ao problema dacriança. Dentre esses grupos, encontrava-se o fundador do Instituto de Proteção eAssistência à Infância do Brasil, com sede no Rio de Janeiro. Criado em 1899, o Institutotinha como objetivos: atender aos menores de oito anos; elaborar leis que regulassem avida e a saúde dos recém-nascidos; regulamentar o serviço das amas de leite, velar pelosmenores trabalhadores e criminosos; atender às crianças pobres, doentes, defeituosas,maltratadas e moralmente abandonadas; criar maternidades, creches e jardins de infância.

A fundação do Instituto foi contemporânea a uma certa movimentação em tornoda criação de creches, jardins de infância, maternidade e da realização de encontros epublicações. Em 1908, teve início a “primeira creche popular cientificamente dirigida”a filhos de operários até dois anos e, em 1909, foi inaugurado o Jardim de InfânciaCampos Salles, no Rio de Janeiro.

Enquanto havia creches na Europa desde o século XVIII e jardins de infânciadesde o século XIX, no Brasil ambos são instituições do século XX. (KRAMER, 1992).

6 Sobre o assunto consultar KRAMER, 1992.

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A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE RIO DO SUL –NASCIMENTO E TRAGETÓRIA DAS INSTITUIÇÕES PARTICULARES

Dez anos após a chegada das filhas de Maria Auxiliadora inicia-se a EducaçãoInfantil em nossa cidade, com a instalação do primeiro jardim de infância no ColégioSagrado Coração de Jesus no dia 15 de fevereiro de 1938, com 24 crianças matriculadas.As idades das crianças variavam de 3 a 8 anos, sendo que com a idade de 7 e 8 anoseram promovidas para a primeira série. É possível constatar neste período o númeroexpressivo de crianças no jardim de infância. As mães matriculavam seus filhos para queestes recebessem uma educação religiosa mais aprimorada, sendo que cada famíliamatriculava os filhos no jardim de infância conforme sua crença religiosa.

Fazia parte do sistema de ensino um processo de promoções para o ano seguintee em função deste aspecto os alunos eram divididos entre fortes e fracos, “caracterizandoo jardim de infância como um espaço de classificação, de observação e com uma metaa ser alcançada em nome da qualidade do educandário” (ISSOTON, 2004, p. 22).

Ainda como características consideradas negativas é possível a referência emrelação a professora trabalhar sozinha com crianças de diferentes idades, agrupadasem uma mesma classe e a falta de conhecimento sobre atividades especificas a cada faixaetária. Aos alunos maiores eram ensinadas as letras e os números até 50, sendo que osmenores aprendiam os números até 10. A preocupação consistia em ensinar letras enúmeros, preparando as crianças para seu ingresso no ensino primário. O horário defuncionamento era no período vespertino. A sala não possuía qualquer tipo de decoraçãoe cartazes com letras. No entanto, era organizada, simples e bem cuidada. As professorasnão tinham um planejamento rígido em relação às atividades, sendo que o importanteera manter os alunos ocupados. O quadro negro era um recurso didático utilizado comfreqüência. Ao final do ano letivo as crianças recebiam um diploma, escrito e pintado àmão. Quem confeccionava eram as irmãs.

Dentre as atividades destacavam-se as poesias, cânticos, histórias com algum tipode mensagem, lição de vida, histórias bíblicas, trabalhos manuais e contos de histórias.Eram também realizados passeios com as crianças do jardim de infância, se estendendoas demais séries. O jardim de infância foi marcado, portanto, pela religião, disciplina,formação moral, amor à Pátria e ênfase nos trabalhos artísticos. O uniforme foi umelemento bastante valorizado no colégio das irmãs salesianas, sendo possível constatarem registros fotográficos o excesso de formalismo nas roupas das crianças.

Em 1954 as crianças estavam instaladas em um novo prédio com um espaçomaior para que pudessem brincar, com muitas árvores. Apesar das questões relacionadas

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a religião, muitos pais, de religião luterana, optavam em deixar suas filhas no colégio dasirmãs, sendo que no final dos anos 50 a comunidade contava com o funcionamento doColégio Evangélico Ruy Barbosa. A escolha pelo instituto se referia ao intuito dos pais deque posteriormente as filhas exercessem a profissão de professora.

A partir de 1960 é possível constatar mudanças na instituição como o fato do corpodocente já não ser mais formado exclusivamente por irmãs e a conversão dos protestantesnão constituir mais em prioridade para este instituto.

Na rede particular foram levantadas nove unidades, que trabalham com EducaçãoInfantil, das quais, sete não são específicas para esta etapa da Educação Básica. Comomencionou-se acima, o Instituto Maria Auxiliadora, iniciou o atendimento à crianças commenos de 7 anos em 1938, portanto foi quem primeiro ofereceu educação formal para ascrianças pequenas em nossa cidade.

Em 1947 um novo maternal, denominado Jardim de infância Delminda Silveira deSouza, foi criado e passou a funcionar dentro da comunidade evangélica em 11 de fevereirode 1948, em que reunia um grupo de crianças pela primeira vez. Segundo Issoton (2004)seu estabelecimento foi o primeiro passo para a reestruturação da escola evangélica. Destemodo, o jardim de infância foi o ponto inicial do atual Colégio Evangélico Ruy Barbosa, apartir da necessidade de sua reestruturação e de se formar uma escola primária, sendo seuestabelecimento na mesma escola-capela onde esteve instalado o referido jardim de infância.

A escola Adventista Celso Ramos começou a atender as crianças em 1982.O Colégio Dom Bosco atendeu as crianças em sua rede em 1983. O SESI iniciou

este tipo de atendimento em 1987 na sede, em 1993 na unidade Ana Pamplona e em 1994na Ical Park. O SESC, passou a atender crianças pequenas, logo após sua criação em 1999.A UNIDAVI também faz este tipo de atendimento a partir de 2000. Estas instituições passarama atender as crianças, mas para prepará-las para o futuro ou para a escolaridade, era umpouco a antecipação da escola, também nas instituições confessionais, aprendiam a religiãoe brincavam. Não tinha o objetivo maior de atender as mães que trabalhavam fora, pois estanão era a condição para as crianças serem aceitas. No ano de 2005 eram atendidas 736crianças nestas instituições, dentro de uma nova visão de Educação infantil, mas voltadapara o desenvolvimento integral, através do lúdico, considerando a criança um sujeito dedireitos, e que já é uma cidadã.

NASCIMENTO E TRAGETÓRIA DAS INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS

Na rede filantrópica foram levantadas dez unidades: Centro de Educação InfantilNossa Senhora da Conceição e Centro de Educação Infantil Solar do Beija Flor, amboscriados em 1978.

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Centro de Educação Infantil Cantinho do Amor criado em 1989. As outras seteinstituições pertencem a Associação Jardins de Infância Vovó Belinha e foram criadasnas seguintes datas: Centro de Educação Infantil Domingos Sávio, criado em 1972,Centro de Educação Infantil Fernanda e Centro de Educação Infantil Rafael, amboscriados em 1978, Centro de Educação Infantil H. Bremer, criado em 1982, Centro deEducação Infantil Carolina e Centro de Educação Infantil Larissa, ambos criado em1981, Centro de Educação Infantil João Antônio, criado em 1984.

Estas instituições que foram criadas para cuidar das crianças, hoje têm comoprincípio de cuidar e educar crianças na faixa etária de zero a seis anos, oferecendocondições aos pais de trabalharem fora do lar, alimentação adequada (4 refeiçõesdiárias) cuidados com requisitos de higiene e ensinamentos de educação infantil. Segundoo Censo escolar de 2004, foram atendidas 599 crianças nestas instituições.

Um outro tipo de instituição assistencial, voltada ao atendimento das criançasforam as chamadas creches domiciliares, ou seja, residências próximas as famílias quepossuíam filhos na faixa etária de zero a seis anos cujas mães trabalhavam fora. Não háregistros documentais no município de Rio do Sul sobre estas creches, não sendopreciso informar de forma concisa sua data de criação, supõe-se 1985, também não seencontrou registro de quanto tempo durou, quantas foram e a quantas crianças atendeu.

A criação das creches domiciliares em Rio do Sul ocorreu a partir da necessidadede inserir as crianças em creches mais próximas as suas residências, já que as mãestrabalhadoras eram obrigadas a se movimentarem a grandes distâncias para levaremseus filhos. Segundo Sueli7 essas creches foram criadas com o intuito de “ajudar os paispor causa da falta de creches públicas naquela época e também por gerar mais empregosas mulheres que eram do lar, assim como era o meu caso”.

NASCIMENTO E TRAGETÓRIA DAS INSTITUIÇÕES MUNICIPAIS

Na rede municipal foram levantadas trinta e quatro unidades de Educação Infantil,algumas são específicas, e são denominadas Centro de Educação Infantil, as denominadasCentro Educacional, atendem também aos alunos do Ensino Fundamental.

O atendimento as crianças menores de sete anos, pelos dados levantados até opresente momento nesta rede de ensino, começou na década de oitenta, foram criadasunidades também na década de noventa, com exceção das três ultimas, que foramcriadas no ano de 2004.

7 Sueli Rosatti foi crecheira do bairro Budag

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As Unidades são as seguintes: Centro Educacional Ribeirão Cobras Norte, CentroEducacional Daniel Maschio, Centro Educacional Guilherme Butzke, Centro EducacionalPrefeito Matheus Alves Conceição, Centro Educacional Padre Ângelo Moser, CentroEducacional Pedro dos Santos, Centro Educacional Prefeito Luiz Adelar Soldatelli, CentroEducacional Ricardo Marchi, Centro Educacional Roberto Machado, Centro EducacionalRuth Schroeder Ohf, Centro Educacional Shirley Dolores Sedrez, Centro EducacionalUlrich Hübsch, Centro Educacional Willy Scheumer, Centro de Educação Infantil AdelaideLedra, Centro de Educação Infantil Aquarela, Centro de Educação Infantil Canta Galo,Centro de Educação Infantil Cantinho do Amor, Centro de Educação Infantil Cinderela,Centro de Educação Infantil Cobras, Centro de Educação Infantil Prefeito Danilo LourivalSchmidt, Centro de Educação Infantil Déa Bornhausen, Centro de Educação InfantilEstrelinhas da Serra , Centro de Educação Infantil Favinho de Mel I, Centro de EducaçãoInfantil Favinho de Mel II, Centro de Educação Infantil Ilse Soldatelli, Centro de EducaçãoInfantil Pinguinho de Gente, Centro de Educação Infantil Dr. Romão, Centro de EducaçãoInfantil Raio de Luz, Centro de Educação Infantil Tia Bea, Centro de Educação InfantilTitio Karan, Centro Educação Infantil Maria José Stramosk, Centro de Educação InfantilFrancisco Fleisner e Centro de Educação Infantil Egídio Dalmarco. As unidades queatendem crianças até cinco anos foram criadas para os filhos dos pais que trabalhamfora de casa, as que atendem crianças de seis anos, não consideram este critério. Existemunidades de tempo parcial e integral, Nas de tempo integral a escolha de ficar nos doisperíodos ou não é da família.

Mesmo considerando que Rio do Sul é o segundo município em percentual deatendimento de crianças pequenas, em Santa Catarina, (59,63%) segundo o Censoescolar /2004, atendendo um total de 2.503 crianças na rede municipal, ainda emalgumas unidades tem fila de espera, e não se consegue garantir o direito de todas ascrianças que necessitam freqüentar uma Unidade de Educação Infantil.

Em relação a proposta pedagógica que em tempos passado era de cuidar dascrianças, hoje está centrada em quatro princípios básicos que é: Educar, Cuidar, Aprender/desenvolver-se, Brincar, tendo em vista o desenvolvimento bio, psico, físico e social.

NASCIMENTO E TRAGETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA REDEESTADUAL

Na rede Estadual foram levantadas onze unidades, pelos registros encontradosessas unidades foram criadas na década de oitenta, preconizando atender a políticaspública de educação.

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Atualmente estão em funcionamento somente cinco, as desativadas foramefetuadas por política pública estadual e por força da Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes eBase da Educação Nacional) que dá ao município a prioridade da Educação Infantil,tirando assim esta responsabilidade do Estado.

Na Rede Estadual as unidades que trabalharam ou trabalham com Educação Infantil,mais propriamente com o pré-escolar, nenhuma era ou é especifica para este tipo deatendimento, a prioridade maior destas unidades era o Ensino Fundamental e Médio.

No Censo escolar/2004 consta o número de 176 crianças atendidas nas cincounidades que ainda oferecem Educação Infantil e que são elas: Escola de EducaçãoBásica Anibal de Barba, Escola de Educação Básica Frederico Navarro Lins, Escola deEducação Básica Willy Hering, Escola de Educação Básica João Custódio da Luz, Escolade Educação Básica Francisco Altamir Wagner.

A visão para se trabalhar com as Crianças na Proposta Curricular de Santa Catarina/98, traz como finalidade; Promover o desenvolvimento físico, emocional, intelectual esocial da criança: Promover a apropriação do conhecimento científico e dos bens culturaisproduzidos pela humanidade, através do currículo trabalhado de forma interdisciplinar;desvelar as desigualdades sociais, trabalhando com as crianças os conflitos existentes,na busca de transformações alicerçadas em um novo relacionamento ético, político eafetivo. É voltada para o desenvolvimento integral, através dos quatro eixos, que são: Abrincadeira, a linguagem, as interações e a organização espaço-tempo, porém ainda émuito forte a tendência a escolarização na Rede Estadual, no momento da realização daprática pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tem-se a considerar que este foi um trabalho árduo, muito ainda tem a se fazer,a pesquisar, a dificuldade que se apresenta por falta de registros é enorme.

Será necessário mais tempo para que os dados sejam completados e sistematizadosem artigos específicos, até poder-se chegar a produção de um livro que é o sonho doGrupo de Pesquisa “Educação e Infância” da UNIDAVI.

Após as várias visitas, conversas, depoimentos, análise de documentos, foi possívelperceber e comprovar como a Educação Infantil, ainda está longe de ter o valor e asignificação que necessita, mesmo sendo educação formal, ainda não está formalizadaem documentos, em várias instituições que prestam este tipo de atendimento, ficandosuas ações sem registro, sem documento, a mercê da sorte.

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Olhando para os dados levantados, tem-se a considerar que no município deRio do Sul, em 2005, eram 58 Unidades que atendiam a Educação Infantil, umasespecíficas para este tipo de atendimento, como é o caso das 10 Unidades filantrópicas,outras não, como é o caso das 5 Escolas da rede estadual. Um bom número delas já é deperíodo integral, outras só de meio período. A maioria destas instituições foi criada nasduas últimas décadas, portanto, são ainda muito jovens.

Outro dado considerável é que em 2004, Rio do Sul era o segundo municípioem percentual de atendimento em Santa Catarina, 59,63% (Censo escolar/2004), tendonesta etapa da Educação Básica um total de 4.014 crianças.

Em 2006 o desenho da Educação Infantil, está se alterando, com as mudanças naLei 9394/96(Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional), que passa a estabelecer aidade de 6 anos para a entrada obrigatória das crianças no Ensino Fundamental, algumasinstituições municipais e estaduais, que atendiam a Educação Infantil, não mais prestarãoeste tipo de trabalho, pois terão que oferecer Ensino Fundamental nove anos, não tendonem espaço físico nem crianças para a primeira etapa da Educação Básica.

REFERÊNCIAS

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Referênciais Curriculares Nacionais deEducação Infantil. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília,1993.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Educação Infantil em Florianópolis. Florianópolis: CidadeFutura, 2000.

KRAMER, Sônia. A política do pré-escolar no Brasil. São Paulo: Vozes, 1992.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO(SC). Proposta Curricular. Florianópolis, 1998.

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Eixos Norteadores da Educação Infantil. Riodo Sul. 2004

WILHELM. Fernanda Ax; RADTK, Franciane Meire. Creches domiciliares no município deRio do Sul: uma reflexão sobre seu funcionamento e objetivos. In: Rio do Sul: nossa história emrevista. Fundação Cultural de Rio do Sul. Arquivo Público Histórico. Tomo VII, n. 6, 2005. Rio doSul: ENEL, 2005.

WOLFF, Celi Terezinha. Por uma prática pedagógica compartilhada na pré-escola(dissertação de mestrado), Blumenau: FURB, 1995.

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A DISLEXIA NAS SÉRIES INICIAIS: ESTRATÉGIA E ATIVIDADES

DE SUPERAÇÃO1

Liane Sofia Guckert2

Dr. José Ernesto de Fáveri3

Resumo: Este trabalho de pesquisa aborda a dislexia em alunos nas Séries Iniciais na rede municipal deensino no Município de Trombudo Central. Possui um enfoque teórico-prático que liga a compreensão doproblema até a respectiva solução. O objetivo deste trabalho consiste em detectar o problema, apontar ascausas e propor atividades especificas e especializadas para superação da dislexia para os alunos daEducação Infantil e Séries Iniciais que apresenta tal problema na prática da leitura. Desde o Jardim deInfância, muitas crianças demonstram dificuldades ao tentar rimar palavras, reconhecer letras e distinguirfonemas, podendo complicar ainda mais nas primeiras séries, quando elas não conseguem ler palavrascurtas e simples, reclamam que ler é muito difícil e cansativo, porém muitas deficiências decorrem dafalta de conhecimento do problema não obstante, a experiência e os longos anos de magistério de muitosprofissionais. Nunca é tarde para sanar os malefícios oriundos da dislexia. Ler e processar informaçõescom mais eficiência é objetivo de todo educando. Para isto, o professor deve dar muita atenção aos seusalunos e ser um observador atento aos sinais de dislexia que atrapalham imensamente o processo deensino-aprendizagem. A metodologia usada para esse processo de pesquisa foi a pesquisação, desdobradanas seguintes etapas: Uma compreensão teórica provisória através da seleção e leitura da bibliografiapertinente ao tema e a produção teórica que é a primeira parte do trabalho; Simultaneamente foirealizado o levantamento dos alunos que apresentavam o problema da dislexia na referida rede de ensinodo município de Trombudo Central; Em seguida selecionamos e desenvolvemos as atividades especializadasjunto aos alunos para superar o problema da dislexia. O resultado prático da pesquisa não pode ser medidoem curto prazo porque, a solução por inteira do problema envolve os docentes em dar continuidade aotrabalho iniciado. Os sintomas iniciais dos alunos problemas foram positivos porque deram uma respostaimediata na superação do problema. Por isso além da preocupação do aluno problema este trabalhotambém contribuiu para a conscientização dos docentes sobre o problema da dislexia e a necessidadedeles mesmos em darem continuidade ao trabalho iniciado pela referida pesquisadora. Todo o trabalhoteórico e prático da pesquisa em se tratando do problema da dislexia na leitura é sempre um trabalhoinicial jamais uma atividade terminal. Pois a solução para este problema a nível municipal de ensino ésempre uma preocupação constante e ocupação dinâmica que ultrapassa a uma etapa estanque de umprocesso de pesquisa como é este.

Palavras-chave: Dislexia, Ensino-aprendizagem, práticas pedagógicas

1 Artigo referente ao Programa de Iniciação Cientifica – Artigo 170.2 Acadêmica do Curso de Pedagogia, bolsista do Programa de iniciação cientifica – Artigo 170.3 Orientador do projeto de pesquisa, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI),

Doutor em Fundamentos da Educação.

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Abstract: This research deals with dyslexia in students of initial classes in the municipal educationnetwork in the district of Trombudo Central. There is a theoretical and practical approach that links theunderstanding of the problem until the solution. The objective of this work is to detect the problem, identifythe causes and propose specific activities and expertise to overcome the dyslexia of students of Educationand Children’s Initial series that present problem in the practice of reading. Since kindergarden, manychildren demonstrate difficulties when trying rhyme words, recognizing letters and distinguishing phonemes,which may complicate furthermore in the first series, when they are unable to read short and simplewords, complaining that reading is very difficult and tiring, but many disabilities result from lack ofknowledge of the problem, the experience and the long years of teaching of many professionals. It is nevertoo late to remedy the harm from dyslexia. Reading and processing information more efficiently is goal ofall students. Because of that, the teacher must give great attention to his students and pay close attentionto the signs of dyslexia that greatly hinder the process of teaching-learning. The used methodology for theprocess of research was, deployed on the following steps: A provisional theoretical understanding throughselection and reading of the literature relevant to the subject and theoretical production wich is the firstpart of the work; Simultaneously was the survey of students who had the problem of dyslexia in the networkof schools of the district of Trombudo Central municipality of Trombudo Central. Then select and developspecialized activities with the students to overcome the problem of dyslexia. The practical result of thesearch can not be measured in short-term because the solution for the entire problem involves teacherswho are willing to continue the work which was started. The initial symptoms of the problems have beenpositive because students answered immediately, overcoming the problem. So in addition to the problemconcerning the students this work also contributed to the awareness of teachers about the problem ofdyslexia and the need to give them same continuity to the work initiated by the researcher. All thetheoretical and practical research when it comes the problem of dyslexia in reading is always an initialwork never a terminal activity. So the solution to this problem at the municipal level of education is alwaysa constant concern and dynamic occupation one step beyond the hard process of search as it is.

Keywords: Dyslexia, Toteach, apprenticeship, practical, education.

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INTRODUÇÃO

Este estudo lida com um dos mais comuns distúrbios da aprendizagem, sendoeste um grave risco para as crianças das séries iniciais e ensino fundamental.

O principal objetivo desta pesquisa é abordar a dislexia, buscando possibilidadesde amenizar a dificuldade de aprender a ler, escrever e soletrar palavras.

Diante de fatos que influência a qualidade de aprendizagem das crianças, optou-se em buscar alternativas para a superação do problema, identificar assim possíveiscausas do problema na aprendizagem.

Este trabalho é resultado de uma ampla pesquisa bibliográfica, que abriu caminhospara a compreensão do problema, e na etapa subsequente realizou-se a investigaçõespráticas no sentido de superar o problema através de entrevistas, registros, pesquisa decampo para possível identificação do problema.

A DISLEXIA: DO CONCEITO AS CAUSAS

A dislexia na verdade é um distúrbio na aquisição da leitura e escrita, seguramentenão é um problema apenas de nosso município, região ou do nosso país, mas é umproblema global, atinge pessoas em todos os países, numa proporção que varia de 6à15% da população.

Sendo assim não identificados em muitos dos casos, a dislexia torna-se evidentena época da alfabetização, embora alguns sintomas já estejam presentes em fasesanteriores, que tendem a serem herdados de pais ou parentes próximos da criança, adislexia torna-se uma das mais comuns deficiências de aprendizado, atingindo tantocrianças como adultos, causando com que elas tenham grande dificuldade ao aprendera ler escrever e até mesmo a soletrar.

A dislexia, segundo Jean Dubois et alii (1993, p.197), é um defeito deaprendizagem da leitura caracterizado por dificuldades na correspondênciaentre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes, malidentificados.

A dislexia interessa de modo preponderante tanto à discriminação fonética quanto aoreconhecimento dos signos gráficos ou a transformação dos signos escritos em signos verbais.

A criança com este transtorno específico de aprendizagem, como e de preferênciachamado, a dislexia tem sido definida como, criança que apresenta alteração em um ou maisdos processos psicológicos envolvidos na utilização da linguagem, tanto falada ou escrita, esta

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alteração pode manifestar-se como sendo uma imperfeita capacidade para entender, pensar,falar, ler, escrever e soletrar, até mesmo na realização de cálculos matemáticos.

A dislexia, para a Lingüística, assim, não é uma doença, mas um fracasso inesperado(defeito) na aprendizagem da leitura, sendo, pois, uma síndrome de origem lingüística.

A dislexia quando trata em tempo não implica em falta de sucesso no futuro. Todacriança precisa de apoio e paciência, muitas sofrem pela falta de autoconfiança. Cabe aoprofessor ser o mais aplicado possível, compreender a criança, estar atento aos sinais,não deixando assim que ela desenvolva mais profundamente esta deficiência.

Este tipo de transtorno pode incluir condições como defeito perceptual, podendoocorrer lesão cerebral ou disfunção cerebral mínima, as causas da dislexia podem serentendidas da seguinte maneira, os disléxicos processam informações em uma áreadiferente de seu cérebro, apresenta ser totalmente normal, porém a dislexia resulta defalhas nas conexões cerebrais.

É necessário conhecer de forma geral, como funciona o cérebro de uma pessoa,diferentes partes do cérebro exercem funções específicas, na área esquerda do cérebroé a que esta mais diretamente relacionada á linguagem, nela foram identificadas três sub-áreas distintas.

Cada uma dessas áreas exerce uma função, uma processa fonemas, outra analisaas palavras e a ultima reconhece as palavras, estas três subdivisões trabalham em conjuntoo que permite a criança a ler e escrever.

A criança aprende a ler no momento que reconhece e processa fonemas, tendoassim que memorizar as letras e seus sons passa então a analisar palavras, dividindo emsílabas e fonemas e as relacionam os seus respectivos sons.

A partir do momento que a criança adquire a habilidade de ler com mais facilidadea outra parte do cérebro passa a se desenvolver, essa tem a função de construir umamemória permanente ou, seja que imediatamente reconheça palavras que lhes são familiares,então a partir do momento que estas crianças progridem no aprendizado da leitura, aparte do cérebro passa a dominar o processo e a leitura passa a exigir menos esforço.

Já nas crianças com dislexia não é bem assim que acontece, devido às falhas nasconexões cerebrais no processo de leitura, os disléxicos recorrem à área cerebral queprocessa fonemas, por conseqüência disso os disléxicos têm dificuldades em diferenciarfonemas de sílabas, pois a região cerebral responsável pela análise de palavras permaneceinativa.

A área responsável pelo reconhecimento de palavras na criança, portanto não asreconhece mesmo já tendo lido ou estudado, onde a leitura se torna forçada e todapalavra que lê apresenta ser nova e desconhecida.

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OS SINTOMAS PARA DETECTAR A DISLEXIA NO PROCESSO DEAPRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO

Os sinais da dislexia normalmente podem ser observados quando a criança entrana escola para ser alfabetizada, quase torna-se impossível verificar nos primeiros mesesde aula, pelo fato da criança confundir textos escrito com desenhos.

De acordo com Emilia Ferrero:

A criança segue uma longa trajetória até chegar à leitura e a escrita como nós aconcebemos. A grande maioria, na faixa os seis anos, por exemplo, faz corretamentea distinção entre texto e desenho. Elas sabem que, o que pode ser lido é aquilo quecontém letras. Apenas uma minoria persiste na hipótese de que, tanto se pode lerletras quanto desenhos. (COLEÇÃO EDUCATIVA, 2007, p. 49)

Pode-se então observar que a crianças que realmente encontram dificuldadesnesta fase, algumas na 1ª. Série ou então somente quando esta na 2ª. Série, devido aoprocesso de alfabetização e os pensamentos que ainda estão muito confusos.

Já no decorrer da segunda Série o professor perceber os avanços e as dificuldadesdas crianças, sendo que se tornam visíveis suas dificuldades na aprendizagem da leitura,escrita e soletração de palavras.

Sendo assim há professores que acreditam em aprendizagem tardia, outros queinsistem em dizer que a criança esta com preguiça ou sem vontade, mas é nesses casosque a dificuldade aumenta tanto para professores que desconhecem do caso, bemcomo para as crianças que serão as mais prejudicadas.

Cabe a direção da escola juntamente com a Secretaria de Educação e o municípioverificarem se estes professores realmente estão qualificados para exercer tal função,sendo ideal que todas as crianças na fase escolar passassem por um diagnóstico preciso,ou mais possível teste, para que fossem detectados possíveis sinais de dislexia.

Sendo assim os primeiros sinais de dislexia em uma criança podem ser detectadosquando, apesar de estudar em escolas boas tem grande dificuldade em assimilar o quelhe é ensinado pelo professor.

As crianças cujo desenvolvimento educacional é retardatário podem ser bastanteinteligentes, mas sofrem de dislexia. Nestes casos o melhor procedimento a ser adotadoé permitir que profissionais qualificados examinem a criança para averiguar se realmenteé disléxica.

Sabe-se ainda que a dislexia não seja o único distúrbio que inibe e desqualifica oaprendizado das crianças, mas é o mais comum. Como saber se uma criança tem dislexiaou não?

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Através dos seguintes aspectos podemos identificar se a criança possui dislexiaou não, sendo estes apresentados pela faixa de idade das crianças para melhoridentificação.

Segundo Vicente Martins:Entre 3 a 6 anos de idade crianças que estão na pré-escola:* Persiste em falar como um bebê;* Freqüentemente pronuncia palavras de forma errada;* Não consegue reconhecer as letras que soletram seu nome;* Tem dificuldades em lembrar o nome de letras, números e dias da semana;* Leva muito tempo para aprender novas palavras;* Tem dificuldades em aprender rimas infantis.

Já entre os 6 ou 7 anos de idade na primeira série a criança tem:* Dificuldade em dividir palavras em sílabas;* Não consegue ler palavras simples e monossilábicas, tais como “rei” ou “bom”;* Comete Eros de leitura que demonstram uma dificuldade em relacionar; letras

a seus respectivos sons;* Tem dificuldades em reconhecer fonemas;* Reclama que ler é muito difícil;* Freqüentemente comete erros quando escreve e soletra palavras;* Memoriza textos sem compreendê-los.

Entre os 7 e 12 anos: * Comete erros ao pronunciar palavras longas ou complicadas* Confunde palavras de sonoridade semelhante, como “tomate” e “tapete”,

“loção” e “canção”* Utiliza excessivamente palavras vagas como “coisa”* Tem dificuldades para memorizar datas, nomes ou números de telefone* Pula partes de palavras quando estas têm muitas sílabas* Costuma substituir palavras difíceis por outras mais simples quando lê em voz alta* Comete muitos erros de ortografia* Escreve de forma confusa* Não consegue terminar as provas de sala de aula* Sente muito medo de ler em voz alta em sala de aula pelo fato de sentir vergonha

de errar as palavras e os colegas de sala rir

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A partir dos 12 anos:* Comete erros na pronuncia de palavras longas ou complicadas* Seu nível de leitura esta abaixo de seus colegas de sala de aula* Inverte a ordem das letras “bolo” por “lobo” por “logo”* Tem dificuldades em soletrar palavras ou soletra a mesma palavra de formas

diferentes numa mesma página* Lê muito devagar, ou evita ler e escrever* Tem dificuldades em resolver problemas de matemática que requeiram leitura* Tem muita dificuldade em aprender uma língua estrangeira

No caso de uma criança ser disléxica é preciso que a direção da escola mantenhacontato com a secretaria da educação do município, para que sejam tomadas as devidasprovidencias, sobre o caso.

Deverá ter um acompanhamento de um pedagogo, um psicólogo o professor dasala e também os pais.

ESTRATRATÉGIAS QUE AJUDAM A MINIMIZAR E SUPERAR A DISLEXIA

Nunca é tarde para ensinar um disléxico a ler e escrever e também a processarinformações com mais eficiência. No entanto, diferente da fala que a criança acabaadquirindo a leitura precisa ser ensinada.

É de fundamental importância a utilização de métodos adequados de tratamentose ainda com muita atenção carinho que a dislexia pode ser derrotada.

As crianças que recebem tratamento adequado desde cedo, apresentam umamenor dificuldade ao aprender a ler e escrever, isso evita o atraso na escola ou entãoque ela passe a desgostar de estudar.

Vale à pena enfatizar que a dislexia não tem cura, mas sim que pode ser minimizadocom tratamentos apropriado, jamais pode se afirmar que trata de um problema que ésuperado com o tempo, a dislexia não pode passar por despercebido aos olhos dosprofessores e dos pais.

Foram desenvolvidos diversos programas para curar a dislexia, não há somenteum tratamento que seja adequado a todas.

Há conteúdos que ajuda no tratamento que enfatizam a assimilação de fonemaso desenvolvimento do vocabulário, a melhoria da compreensão e fluência na leitura.Tratamentos assim ajudam e muito ao disléxico no reconhecimento de sons sílabas,palavras e até em frases.

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Aconselha-se que sempre a criança disléxica leia em voz alta com um adulto paraque assim ele possa ajudar na correção de palavras erradas.

Toda criança necessita de apoio e paciência, pois muitas crianças sofrem de faltade autoconfiança, se sentem menos inteligentes que seus colegas de sala de aula.

Muitos disléxicos tiveram grande sucesso profissional, existe uma alta porcentagemde disléxicos entre grandes artistas, cientistas e executivos que superaram este problema.

Portanto é necessário que se adotem um sistema novo aos portadores de dislexia,sendo que eles posam entender de maneira clara e eficiente. Isso somente será possívelcom a ajuda de professores capacitados para atender a estas crianças.

Será preciso o uso de relógio digital, calculadora letras móveis do alfabeto, comvárias texturas, confecção do material para alfabetização, como desenhar, montar umacartilha, sendo a cartilha muito importante para o disléxico.

Neste caso trata-se de um instrumento sem precedentes na educação de criançascom essa disfunção.

Devem-se evitar dizer nestes casos que a criança é lenta, preguiçosa ou compara-lá aos outros alunos, ela não deve em momento algum ser forcada a ler em voz alta emsala, isto a deixará com menos vontade de ler, por sentir vergonha de errar as palavras.

O professor deve demonstrar ser o mais paciente possível, ter amizade sercompreensivo, dar mais tempo para desenvolver as atividades, ensinar quando for lerpalavras longas.

Algo muito importante é não fazer com que a criança mude a letra se ela estiverfeia, pois a moldura da cartilha é um processo longo até que chegue a uma letra melhor.

Portanto, é de fundamental importância repensar o “fazer pedagógico” paraobjetivamente criar novas perspectivas a esta parcela de crianças que vivem o drama dadislexia.

ETAPAS DO DESNVOLVIMENTO DA PESQUISA

Esta pesquisa surgiu impulsionada pela necessidade de minimizar e superar osproblemas encontrados nas escolas do município. Sendo que num primeiro momentofoi necessário buscar a bibliografia a fundamentação teórica o conceito de leitura, testesaplicados aos quais serviram para avaliar sua capacidade leitora, visitações foramrealizadas.Sendo que no decorrer da pesquisa não foi tão somente observados as criançascom dislexia, mas também com uma série de outros fatores que possam influenciar noproblema da aprendizagem, estas crianças foram encaminhadas a Secretaria da Educaçãodo Município para que fossem encaminhados a uma equipe de psicólogos, pedagogose médicos, para diagnosticar o grau de dislexia nas crianças.

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OS RESULTADOS OBTIDOS

Nesta pesquisa foram pesquisados 50 professores da rede Municipal e Estadual,sendo que todos participaram ativamente da pesquisa. Não se exaltaram em responderos questionários escritos e orais que lhes foram proporcionados ao longo da pesquisa.

No total foram envolvidos na pesquisa 550 crianças das escolas do município,sendo que eram cinco alunos que apresentavam dislexia na leitura e escrita de textos,com o desenvolvimento de diferentes técnicas alcançou-se um êxito de 100% nasuperação do problema.

Portanto, a dislexia quando identificada precocemente e aplicadas as respectivasatividades pedagógico é possível a sua superação no sentido de melhorar qualitativamenteo nível de aprendizagem da criança portadora do problema. A dislexia é um problemaque mediante identificação e escolha de atividades somadas a estratégias adequando épassível superar o problema.

Sendo que o processo de diagnóstico não se encerrou ao término da aplicaçãoe análise da pesquisa. Certamente, as sessões de intervenção possibilitarão lapidar acompreensão do déficit em leitura, fala e escrita.

Porém jamais será esgotada a possibilidade de uma nova investigação por meiode instrumentos que serão recentemente desenvolvidos, aos quais possam possibilitar aanálise pormenorizada de casos de dislexia.

REFERÊNCIAS

COLEÇÃO Educativa. Apoio ao professor de educação infantil. São Paulo: EditoraMinuano,n9, 2007. 49p. Edição Especial.

EDUCAR PARA PESQUISA – Normas para Produção de Textos Científicos. Rio do Sul:UNIDAVI, 2005.

ELLIS, a. W. Leitura, escrita e dislexia: uma analise cognitiva. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1995

DROUET, Rocha da Caribé Ruth. Distúrbios da Aprendizagem. São Paulo: Editora Ática, 1990.

GARCIA, Jesus Nicasio. Manual de dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1998

MARTINS, Vicente. A Dislexia em Sala de Aula. Disponível em: <copyright@2003vicentemartins>.Acesso em: 13 de fev.2006

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NUNES, t, Buarque, Dificuldades na aprendizagem da leitura: Teoria e prática. São Paulo:Cortez, 1992

OLIVEIRA, Marta Kohl de Vigotsky ( aprendizagem e desenvolvimento um processosócio –histórico ) São Paulo. Ed. Scipione, 1995

SANTA CATARINA. Proposta curricular de Santa Catarina. Florianópolis, COGEN, IOESC,1998

SOCIALIZAÇÃO DOS PROGRAMAS DE ENSINO. Rio do Sul: Secretaria Municipal de Educação,2003

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A DISCUSSÃO SOBRE A PROGRESSIVIDADE DO IPTU FRENTE

À SUA PREVISÃO CONSTITUCIONAL1

Prof. MSc. Marcos Rogério Palmeira2

Carmen Luciana Hoffmann Colvero3

Resumo: O ponto central da discussão sobre a progressividade do IPTU está em saber se ela é admissívelde forma autônoma, como instrumento de realização do princípio da capacidade contributiva ou se sópode ser aplicada no tempo, como sanção pelo imóvel não estar cumprindo a função social que lhe destinao plano diretor do município. Serão expostos os argumentos que a admitem autonomamente, rebatendo-se as principais razões em contrário, concomitantemente à retomada dos dispositivos constitucionais arespeito, desde o texto original da Constituição de 1988, até as alterações da Emenda Constitucional nº 29/2000. O posicionamento do Supremo Tribunal Federal será brevemente abordado, no intuito de demonstraras várias fases argumentativas que marcam o tema.

Palavras-chave: Progressividade, IPTU, Princípios, Constituição.

RÉSUMÉ: Le point central de la discussion sur la progressivité de IPTU est dans savoir si elle estadmissible de forme indépendante, comme instrument de réalisation du principe de la capacité contributiveou si seulement peut être appliqué dans le temps, comme sanction l’immeuble ne pas être en accomplirla fonction sociale qui elle destine au Plan Directeur de la ville. Seront exposés les arguments quil’admettent indépendantement, se refrappant les principales raisons dans contraire, concomitantement àla reprise dês dispositifs constitutionnels à respect, depuis le texte original de la Constitution de 1988,jusqu’aux modifications de l’Amendement Constitutionnel n° 29/2000. Le positionnement du SuprêmeTribunal Fédéral sera brèvement abordé, avec l’intention de dedémontrer aux plusieurs phases desargumentativas qui marquent le sujet.

Mots-clés: Progressivité, IPTU, Principes, Constitucion.

1 Artigo apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Direito Público, da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Valedo Itajaí (UNIDAVI);

2 Orientador, professor de Direito Tributário da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), mestre em Direito;3 Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Direito Público.

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INTRODUÇÃO

A discussão sobre a progressividade do imposto predial e territorial urbano nãoé recente. Há décadas os doutrinadores têm se dedicado a ela, ora louvando-a, oracensurando-a.

Um dos argumentos sempre foi comum: os princípios da capacidade contributivae da isonomia. Para alguns, sua implementação atendia a ambos os princípios, já quebases de cálculo maiores correspondiam a fatos economicamente mais expressivos e,conseqüentemente a indivíduos contributivamente mais capazes. Para outros, entretanto,alíquotas progressivas provocavam distorções no tratamento de contribuintes em situaçãoidêntica, sendo mais recomendável a proporcionalidade, sistema no qual a variantedeterminável para o cálculo do montante do imposto é somente a base de cálculo e nãoa alíquota.

Com a promulgação da Constituição de 1988 a questão se ampliou. A redação doartigo 145, § 1º foi interpretada por muitos no sentido de ter adotado, o Constituinte, aclassificação dos impostos em reais e pessoais, sendo que aos impostos reais, comoseria o IPTU, não caberia observar o princípio da capacidade contributiva. Tambémcom ela, adveio uma nova forma de progressividade: no tempo e de caráter sancionatório,inserida entre os dispositivos da política urbana, no artigo 182, § 4º, II. Esta ficouclaramente vinculada à existência e aos termos do Plano Diretor de cada município.

Os debates convergiram, então, para as seguintes questões: se o artigo 145, §1ºda Constituição Federal teria dispensado os impostos reais do atendimento à capacidadecontributiva; se a progressividade seria um meio de realizar ou de infringir os princípiosda capacidade contributiva e da isonomia; se a progressividade permitida para o IPTUseria apenas a no tempo, prevista no art. 182, dependente de plano diretor, ou o próprioart. 145, § 1º, c.c o art. 156, § 1º, já a teria autorizado sob outras formas, como instrumentode consecução da igualdade material em matéria tributária.

No ano 2000, a Emenda Constitucional nº 29, imprimiu nova redação ao § 1º, doart. 156, admitindo a variação das alíquotas do IPTU de acordo com a localização e usodo imóvel, bem como sua progressividade em razão do valor venal. O que pareciasolucionar as controvérsias trouxe, na verdade, ainda mais desapontamento, já quesobreveio a argüição de inconstitucionalidade da própria Emenda.

Neste trabalho, pretende-se abordar cada uma das questões mencionadas que,ao passo em que se sucederam, mantiveram a discussão sempre atual, ainda que com opassar de quase duas décadas. Sua exposição implicará, necessariamente, na constanteretomada dos princípios da capacidade contributiva e da isonomia, que continuamsendo o cerne do debate. Ao cabo e num breve relato, serão registradas as fases que

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marcaram a orientação jurisprudencial do STF em relação ao tema, sendo que, ao quetudo indica, mais uma se inicia.

O PODER DE TRIBUTAR

BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS FUNDAMENTOS DATRIBUTAÇÃO E DO PODER DE TRIBUTAR

É preciso ter em mente que “Estado” é antes de tudo, um conceito e não um ente.Não obstante os elementos que os manuais exaustivamente colacionam como partesdeste conceito, sua essência é a congregação de objetivos. A vida em sociedade é inerenteao ser humano, no entanto, para que a convivência seja viável, é necessário que cadamembro ceda uma parcela de sua individualidade ao interesse coletivo. O Estado surgecomo uma idéia-força, de regulação de como e quanto é preciso ceder.

“Prover o Estado de recursos”, que é a razão mais elementar que se encontrapara a tributação não deixa de ser, dentro desse aspecto de idéia-força, um encargoassumido por cada um dos indivíduos, e pela sociedade como um todo, com a finalidadede distribuir eqüitativamente bens e serviços essenciais que nem todas as pessoas,isoladamente, conseguiriam auferir.

A tributação serve, assim, de meio ao exercício da função social do Estado, qualseja, a de proporcionar melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Já fora, porém,exercida com intuito confiscatório, quando a única noção de Estado que se tinha era a dopróprio governante, cujo arbítrio a todos subjugava. A propriedade alheia era confiscada,sem razões e sem limites, para integrar o patrimônio estatal, ou seja, do soberano.

A dissociação dos elementos poder e força - outrora justificados um pelo outro –causa e conseqüência da evolução das instituições políticas, jurídicas e econômicastrouxe uma nova concepção ao “poder de tributar”. Com o Estado Democrático deDireito, reúnem-se o fundamento axiológico e a idéia de legalidade da tributação. Oencargo, então, seria convertido em obrigação, mas desde que conforme as regras enormas disciplinadoras do exercício do poder de tributar, o que era uma relação depoder e submissão passa a ser uma relação jurídica, a relação jurídica tributária.

No Brasil, grande parte das normas disciplinadoras desta relação estão dispostasna Constituição Federal. Após séculos sem uma ordem constitucional efetiva e eficiente,o Constituinte concentrou na Carta de 1988 as atribuições de competências e,especialmente, regras para o exercício destas competências. A tributação foi contempladanum título exclusivo, mas ao longo de toda a Carta encontram-se disposições fortementeassociadas a ela.

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Em termos de doutrina tributária, a atenção costuma convergir às normaslimitadoras do poder de tributar, que concentram expressivo número de princípiosreiteradamente invocados e analisados. Muito embora o Fisco, no Brasil, tenha se tornadoum monstro assombroso, é preciso ter em conta também as razões que legitimam aatividade tributária e não apenas as que a restringem. Mudanças são necessárias, as tais“reformas” pretendidas há décadas, porém, não no sentido de tolher a arrecadação,mas de equilibrá-la, atingindo menos agressivamente um maior número de contribuintes.Não basta invocar as limitações. Elas existem, são juridicizadas constitucionalmente, têmforça jurídica, mas nada disso tem impedido que o sistema seja falho, tanto em termos delegitimidade e legalidade, quanto em termos de consecução de objetivos.

FISCALIDADE E EXTRAFISCALIDADE

As finalidades fiscal e extrafiscal atribuídas aos tributos, especialmente aos impostose contribuições são – ainda que clássicas - distinções fundamentalmente doutrinárias,cujo fim não é outro que não o de compreender o porquê de sua cobrança.

Em quaisquer manuais, encontra-se sua definição. Não raro, porém, ela é reduzidaa tão econômica síntese que sua verdadeira essência se desnatura. Diz-se que quando apretensão do tributo é tão somente arrecadar recursos financeiros, sua finalidade éfiscal; e que quando existe outro interesse além da arrecadação, sua finalidade éextrafiscal. Isto, porém, não deve ser tudo.

Antes de qualquer coisa, é preciso considerar que a função fiscal não exclui aextrafiscal e vice-versa. Focando a questão a partir da arrecadação, se pode afirmar quenão há imposto que não represente obtenção de recursos financeiros e não há recursofinanceiro obtido através da cobrança de impostos que não sirva, mediata ouimediatamente, à promoção dos objetivos traçados pelo Estado, seja mantendo suaestrutura administrativa ou financiando suas ações. E estas ações sempre têm em vista aproteção dos valores máximos que adota.

O que ocorre é a predominância de uma característica sobre a outra quando dacriação do imposto e de sua regulamentação. Neste momento é que se dispõe deinstrumentos para fazer valer outros interesses que não a arrecadação pura e simples.

A Constituição Brasileira contempla tanto os valores a serem preservados ealcançados - através dos princípios -, quanto os instrumentos para sua consecução. Emmatéria tributária, um bom exemplo destes instrumentos é a progressividade dos impostos- que muitos entendem como princípio constitucional tributário autônomo. Através daprogressividade aplicar-se-ia o princípio da isonomia e, através dela, chegar-se-ia à

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igualdade material. Há um quê de extrafiscalidade na busca pela realização de um valorconstitucionalmente concebido, bem como há a característica puramente fiscal, porquetambém os impostos progressivos gerarão recursos para o Estado.

A progressividade do IPTU, especialmente, suscita uma ampla discussão sobreessa dupla finalidade que se pode atribuir aos impostos. De um lado, a possibilidade dealíquotas distintas para bases de cálculo distintas; de outro, a possibilidade de alíquotascrescentes ao longo do tempo, no claro intuito de fazer aplicar a política para umdesenvolvimento urbano ordenado e humanizado, como foi a preocupação doConstituinte de 1988.

CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

DISTINÇÃO ENTRE CAPACIDADE ECONÔMICA E CAPACIDADECONTRIBUTIVA

A capacidade contributiva é um conceito que a Constituição, dentro dos valoresque consagra, juridicizou.

Note-se que se convencionou “capacidade contributiva”, enquanto a Constituiçãomenciona “capacidade econômica”. Existe, aí, uma discussão conceitual que, abstraídosos preciosismos técnicos, merece um tanto de nossa atenção.

Não raro encontram-se as expressões “capacidade contributiva”, “capacidadeeconômica” e “capacidade financeira” empregadas num mesmo discurso. A intençãonão deveria ser utilizá-las como sinônimos, pois cada qual guarda um significadoespecífico.

Capacidade financeira é a disponibilidade de recursos não imobilizados, dotadosde liquidez para saldar obrigações. Capacidade econômica é a disponibilidade, peloindivíduo, de alguma riqueza ou de meios que possibilitem gerá-la, sob a forma derenda, patrimônio ou consumo (CONTI, 1998, p. 24).

A capacidade contributiva pressupõe um elemento a mais: a relação jurídicatributária. Quer dizer: o Estado identifica e intervém na capacidade econômica do cidadão,impondo-lhe uma obrigação tributária. Ter capacidade contributiva é estar apto aocumprimento dessa obrigação e, assim, sob a luz das finalidades essenciais da tributação,contribuir para o provimento do Estado e para os gastos da coletividade.

A capacidade à qual a Constituição se refere, apesar da confusão terminológica,é a contributiva.

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CONTEÚDO PRINCIPIOLÓGICO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA E SUAPREVISÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

É neste sentido o conteúdo juridicizado e principiológico da capacidadecontributiva, pulverizado, ainda pelo escopo da solidariedade: cada contribuinte colaboracom as despesas da coletividade através do pagamento de tributos, segundo suas forçaseconômicas. Quem dispõe de mais, paga mais, quem dispõe de menos, paga menos.

A justiça fiscal é desiderato que surgiu par e passo com o poder de tributar.Embora dele compartilhem todos os seguimentos sociais, políticos e produtivos, suaconquista tem se mostrado uma tarefa bastante árdua.

A realização do princípio da capacidade contributiva é etapa fundamental docaminho a ser percorrido. Para tanto, o próprio Constituinte lançou mão de instrumentospara sua aplicabilidade.

A Constituição Federal de 1988 traz expressos os objetivos fundamentais que aRepública Federativa do Brasil se propõe a alcançar, bem como as ações previstas paraa sua consecução. Ambos encontram-se ao longo de um texto permeado de valores aserem preservados, protegidos e realizados.

Tanto objetivos quanto valores são revelados através dos princípios, ainda muitoanalisados e discutidos pela doutrina, que os classifica e reclassifica, numa constanteatualização de seu conteúdo, alcance e efetividade, no intuito de fazer valer acorrespondência entre as normas jurídicas e a realidade social, política e cultural.

Os princípios, embora não guardem superioridade hierárquica em relação àsregras, são axiológicamente mais consistentes do que elas e ao seu conteúdo - queoutrora era visto como meramente programático – já não se pode negar força jurídica.Vinculam, portanto, as atividades legislativas, executivas e judiciais.

Seus enunciados apresentam maior ou menor amplitude, conforme se dirijam atodo o ordenamento ou a áreas tematicamente determinadas. Freqüentemente, porém,um enunciado amplo é, mais adiante, repisado, de forma mais específica, para informardeterminado tema (BARROSO, 2004, p. 374-376).

É o que se passa, em matéria tributária, com o princípio da isonomia. Previstogenericamente no art. 5º, caput e inciso I, ele reaparece entre as limitações ao poder detributar, no art. 150, II:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedadoà União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:I – [...];II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em

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situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupaçãoprofissional ou função por eles exercida, independentemente da denominaçãojurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.

Emerge, do enunciado, a necessidade de não estabelecer distinções entre aquelesque tributariamente encontrarem-se nas mesmas condições. Ao revés, se a situação fordiversa, também diverso será o tratamento.

Revela-se, aí, o teor da igualdade material, asseverada pela máxima “tratarigualmente os iguais e desigualmente os desiguais”. A igualdade formal, aqui, não suprea exigência constitucional.

Identifica-se, também, um desdobramento do princípio da isonomia, dentro damatéria tributária, no artigo 145, § 1º, do texto constitucional:

Art. 145. [...].§ 1º. Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduadossegundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administraçãotributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar,respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, osrendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Tem-se a setorização (BARROSO, 2004, p.376) do princípio da isonomia que sereveste pelo da capacidade contributiva.

O CONTEÚDO DO § 1º DO ARTIGO 145 E A CLASSIFICAÇÃO DOSIMPOSTOS EM REAIS E PESSOAIS

A redação do § 1º, do artigo 145 da Constituição Federal de 1988 não faz jus aoteor que encerra. A aglutinação de elementos materiais e instrumentais num mesmoparágrafo gerou muitas discussões e distorções interpretativas.

Muitos consideraram que o dispositivo seria de cunho meramente programático,ou seja, simples orientação constitucional, sem força jurídica capaz de submeter quemquer que fosse. Esta visão foi, aos poucos, sendo consumida pela nova compreensão daordem constitucional.

A norma em questão encerra um princípio e sabe-se que aos princípiosconstitucionais se atribui, sim, força jurídica e que, dentro da esfera na qual se irradiamsão de observância obrigatória. Além disso, o próprio texto refere-se a “objetivos”. Esendo objetivos, devem ser perseguidos e não lançados ao arbítrio do legislador.

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O precípuo destinatário do princípio da capacidade contributiva é o legislador. Éele que dispõe de melhores meios para aplicá-lo, pois é a partir da lei que se cria aobrigação tributária e definem-se sujeito passivo, fato gerador, base de cálculo.

A maior celeuma emerge, contudo, da tentativa de definir o efeito da expressão“sempre que possível” em relação à norma.

Boa parte dos doutrinadores entende que ela abarca tanto o caráter pessoal dosimpostos, quanto sua graduação conforme a capacidade econômica do contribuinte.Repisam o argumento de que teria, o Constituinte, adotado a classificação dos impostosem reais e pessoais. Ou seja: os impostos, sempre que possível, seriam pessoais e,quando fossem pessoais, seriam graduados conforme a capacidade econômica docontribuinte.

Nas palavras de Aliomar Baleeiro (2001, p. 282):

“[...] chamam-se impostos pessoais ou subjetivos, os que são regulados em seuquantitativo e em outros aspectos pelas condições individuais do contribuinte,de sorte que sua pressão é estabelecida adequadamente à capacidade econômicadele. O legislador, dispondo sobre esse gênero de tributos, discrimina oscontribuintes segundo a idade, estado civil, grau de parentesco, domicílio eresidência, vulto da renda ou do patrimônio[...].” Os impostos reais, ou objetivos,pelo contrário, são decretados sob a consideração única da matéria tributável,com inteira abstração das condições personalíssimas de cada contribuinte. Olegislador concentra sua atenção exclusivamente no fato gerador, desprezadas ascircunstâncias peculiares ao contribuinte e que poderiam ser tomadas comodados de fato sobre sua capacidade contributiva.

Esta classificação dos tributos em reais e pessoais não é própria do DireitoTributário, mas da Ciência das Finanças. E a Ciência das Finanças não se pauta nasnormas, mas nos fatos que compõem a atividade financeira do Estado. Ela pode orientarou mesmo criticar a atividade legislativa (MACHADO, 2000, p.47), mas não a condicionaou determina. As normas podem ser compreendidas com o auxílio dos conceitosdoutrinários, mas sua aplicação não pode ser cingida por eles, muito menos a aplicaçãode princípios constitucionais.

Perceba-se que na própria definição já citada de Baleeiro, existe a presunção doexercício da atividade legislativa, especialmente quando cita “legislador”, “contribuinte”,“matéria tributável”. Os elementos que construirão determinado tipo de imposto partemdo legislador e não o contrário.

Não se pode desprezar a lição de que todos os impostos são, a um só tempo, reaise pessoais porque atingem, necessariamente, um patrimônio (seja qual for sua expressão)

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e um sujeito de direito. Seriam todos, nas palavras de Ayrton de Mendonça Teixeira(2006, p. 185) “originariamente neutros”.

Geraldo Ataliba (2001, p.141-142) sintetiza a classificação sob outro ângulo, odo Direito Tributário, partindo da idéia da hipótese de incidência (h.i.):

São impostos reais aqueles cujo aspecto material da h.i. limita-se a descrever umfato, ou estudo de fato, independentemente do aspecto pessoal, ou seja, indiferenteao eventual sujeito passivo e suas qualidades. A h.i. é um fato objetivamenteconsiderado, com abstração feita das condições jurídicas do eventual sujeitopassivo [...]. São impostos pessoais, pelo contrário, aqueles cujo aspecto materialda h.i. leva em consideração certas qualidades, juridicamente qualificadas, dospossíveis sujeitos passivos.

A partir da definição da hipótese de incidência é que se poderia atribuir caráterreal ou pessoal ao imposto. Considerando que, para chegar à hipótese de incidência, épreciso que o legislador exerça sua competência e que, para fazê-lo, ele está sujeito atodas as limitações impostas constitucionalmente ao poder de tributar, ver-se-á que arealidade ou a pessoalidade será conseqüência desta ou daquela conduta legislativa enão o contrário. Conjugando os entendimentos, Ataliba (2001, p. 282) arremata: “Omesmo imposto, conforme a técnica adotada e a eleição do fato gerador, poderá tercaráter real ou pessoal.”

Entender que o princípio da capacidade contributiva só poderia ser aplicado aosimpostos pessoais é um dúplice equívoco, porque limita a aplicação de um princípioconstitucional com base na distorção da classificação financista dos impostos.

A PROGRESSIVIDADE

PROPORCIONALIDADE E PROGRESSIVIDADE

O legislador, ao instituir qualquer hipótese de incidência, elegerá um fatoeconomicamente expressivo ou, como na lição de Alfredo Augusto Becker (2002, p.497)um “fato-signo presuntivo de renda ou de capital”, a partir do qual apurar-se-á o quantumdo imposto devido. O modo de calcular este quantum classificará os impostos em fixos,proporcionais e progressivos.

Os impostos fixos são aqueles cujo valor não varia, a despeito do maior ou menormontante da matéria tributável. O exemplo mais presente, no Brasil, é o do impostosobre serviços fixo, em razão da categoria profissional do autônomo (BALEEIRO, 2001,

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p. 216), o qual a Lei Complementar 116/2003 manteve vivo, muito embora sob veementescríticas. Este tipo de imposto não atende ao princípio da capacidade contributiva.

A quase totalidade dos impostos existentes hoje, no Brasil, é proporcional. A alíquotaaplicada é a mesma, chegando-se a um montante maior ou menor de imposto devido,quanto maior ou menor for a base de cálculo. A proporcionalidade impera por ser umsistema neutro (FERREIRA, 2003, p. 5), no qual a mesma alíquota aplicada indistintamentegera a ilusão de que o imposto será maior para aqueles que demonstrarem maior riqueza.

A progressividade, por sua vez, implica na variação concomitante das alíquotas edas bases de cálculo: aquelas seriam diretamente proporcionais -maiores ou menores - namedida em que, respectivamente, estas aumentassem ou diminuíssem.

Há quem combata a progressividade sob o argumento de que ela não realizaria oprincípio da capacidade contributiva, bem como agravaria as desigualdades porque levariaem conta, tão somente, um sinal exterior de riqueza manifestado por fatos tributáveisvalorados unilateralmente pelo legislador. Volta-se aos fatos-signos presuntivos de riqueza,de Becker. Formalmente, esses fatos comunicam, sim, sobre a capacidade econômica dosenvolvidos, tanto maior quanto mais vultosos eles se apresentem. Para Roque AntonioCarrazza (2005, p. 106), uma vez eleito como hipóteses de incidência, estes fatos geramuma presunção de que quem os realiza tem riqueza o suficiente para ser alcançado peloimposto específico.

Os não-adeptos da progressividade vêem, nesta presunção, uma falácia, já que umfato, especialmente no caso de impostos reais, não seria subsídio suficiente para avaliar acapacidade econômica de um sujeito passivo.

É certo que a capacidade contributiva, ideologicamente considerada, serve àadequação entre o todo da riqueza disponível pelo contribuinte (renda, patrimônio,consumo) e a carga tributária total a ser suportada por ele. Este ideal, entretanto, é constritocom a juridicização do princípio (BECKER, 2002, p. 496), a serviço da viabilidade jurídicae legislativa de sua aplicação. A riqueza do indivíduo passa, então, a ser considerada emrelação a cada imposto separadamente e a partir de algum fato que a exteriorize. Istoocorre tanto na progressividade quanto na proporcionalidade. Esta constrição ideológica,entretanto, não implica no esvaziamento do princípio.

A valoração, pela hipótese de incidência, de um fato presuntivo de riqueza nãocorresponde, necessariamente, a relegar as características individuais do contribuinte.Embora a mais adequada aplicação do princípio da capacidade contributiva se dê naelaboração legislativa da hipótese de incidência, ela ainda poderá ser contemplada, maisadiante, através da previsão de isenções, remissões ou reduções. É o que Sacha CalmonNavarro Coelho (1993, p. 97) trata como realização negativa do princípio da capacidadecontributiva.

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O IPTU PROGRESSIVO

A PROGRESSIVIDADE DO IPTU NO TEXTO ORIGINAL DACONSTITUIÇÃO DE 1988

Até 1988, a aplicação de um sistema progressivo na apuração do Imposto Prediale Territorial Urbano não gerava maiores controvérsias. Não havia dispositivo legal que avedasse.

Com a Constituição Federal de 1988 o quadro mudou. A progressividade doIPTU não foi barrada, pelo contrário, foi expressamente prevista, mas de modo a promoveruma série de discussões que, mesmo após a promulgação da Emenda Constitucional nº29/2000 permanecem vivas.

Originalmente, o artigo 156 da Constituição de 1988 dispunha:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:I – propriedade predial e territorial urbana;[...]§ 1º O imposto previsto no inciso I poderá ser progressivo, nos termos de leimunicipal, de forma a assegurar o cumprimento da função social da propriedade.

Mais adiante, o artigo 182 previa:

Art. 182. [...].§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigênciasfundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para áreaincluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário dosolo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seuadequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:I – parcelamento ou edificação compulsórios;II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo notempo; [...].

A progressividade, para o Imposto Predial e Territorial Urbano estava disciplinada.Mas qual o alcance dos dois dispositivos? Seriam autônomos ou limitariam um ao outro?

Muitos dos municípios que ainda não previam a progressividade fizeram-no combase nos valores venais dos imóveis, no número de imóveis do contribuinte ou mesmode acordo com sua localização.

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Tanto doutrinadores quanto tribunais passaram a enfrentar um argumento novo,invocado pelos inconformados com a cobrança progressiva: esta seria legítima única eexclusivamente para compelir ao cumprimento da função social da propriedade, nostermos do artigo 182, § 4º. Ou seja, a progressividade permitida na cobrança do IPTU seriasomente a de cunho extrafiscal. Sustentava-se que o artigo 156, § 1º, não continha regraautônoma, apenas uma permissão que se perfectibilizava através do artigo 182, § 4º, II.

Para Ives Gandra da Silva Martins (2001, p.712) “em vez de deixar a cargo dointérprete, ou do aplicador da lei, a formulação do conceito de asseguração do‘cumprimento da função social da propriedade’, [o legislador] definiu seu sentido,conteúdo e alcance, ao dispor no art. 182 sobre a política urbana”. E conclui: “[...] apropriedade urbana que cumpre sua função social – nos termos do § 2º do art. 182 daConstituição – jamais poderá ser alvo de imposto progressivo [...]” (2001, p. 713).

Por outro lado, ainda que em minoria, havia quem sustentasse a autonomia doartigo 156, enxergando nele a instrumentalização do próprio princípio da capacidadecontributiva. Quer dizer, a progressividade estaria por ele autorizada e o artigo 182, § 4º,II conteria uma forma específica de aplicá-la, e com objetivos também específicos.

Deve-se levar em conta que a regra que permitia a progressividade do IPTU comomeio de assegurar o cumprimento da função social da propriedade estava inserida notítulo “Da Tributação e do Orçamento”, entre os dispositivos sobre o Sistema TributárioNacional. Já o artigo 182, no título “Da Ordem Econômica e Financeira”, entre osdispositivos sobre a Política Urbana. Isto não foi obra do acaso.

Ambos estão, sim, vinculados por um mesmo escopo: o do cumprimento dafunção social da propriedade. Mas o alcance deste princípio consagrado pela Carta de1988 não se limita à correta utilização de um imóvel urbano tal como o plano diretor domunicípio preconiza, vai além.

A função social outrora fora concebida como uma limitação ao direito depropriedade. Não o é. É limitação à propriedade em si e, a partir disso, é que nasce odireito. Tanto o é que ambos figuram entre os princípios constitucionais: tanto o direitoà propriedade quanto a sua função social, porque só é direito e só pode ser invocado apartir do momento que satisfez, na medida em que lhe cabia, o interesse social. Daípassam, ambos, à mesma categoria de norma, com força jurídica idêntica.

Muito embora se diga que o Constituinte empregou o termo “propriedade”numa acepção comum e não jurídica (BARRETO, 2001, p. 710), cabe ressaltar que oseu conteúdo, ainda que vulgar, não se restringe à propriedade imóvel urbana, podendoabarcar toda a sorte de riqueza, seja em bens móveis, imóveis, coisas ou qualquer outradefinição que o direito privado possa vir a estabelecer. Para Hugo de Brito Machado,não se pode presumir que “não existam outras formas pelas quais a propriedade também

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tenha de cumprir sua função social, até porque a propriedade há de ser encarada comoriqueza que é, e não apenas como elemento a ser tratado pelas normas de políticaurbana” (2000, p. 319).

Hão de insurgir-se: falando-se em IPTU fala-se em propriedade imóvel e urbana,já que sua base de cálculo vem expressa no valor venal do imóvel! Sim, mas tão certoquanto isto é que seu fato gerador é, nos termos do art. 32, do Código TributárioNacional “a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel [...]”. A coisa, por sisó, não é tributada, mas sua expressão econômica, a partir do momento em que alguémdispõe dela, através de algum dos direitos expressos como fato gerador.

Por isso é que existe um “quê” de cumprimento da função social da propriedadeem todos os impostos: ao lado do objetivo fiscal, arrecadatório, caminha sempre afinalidade extrafiscal. Mesmo que muitas vezes absorvida, ela está sempre originariamentepresente, já que todo tributo arrecadado presta-se – ou deveria prestar-se – à políticaredistributivista. Redistribuir também é realizar a função social da propriedade, seja elaexpressa da maneira que for, já que a arrecadação procedida de modo materialmenteigualitário, entre aqueles que dispõem de capacidade contributiva, é repartida entre osque não a detém, sob a forma de prestação estatal. Nas palavras de Paulo de BarrosCarvalho (1995, p. 150): “não existe entidade tributária que se possa dizer pura, nosentido de realizar tão-só a fiscalidade, ou, unicamente, a extrafiscalidade. Os dois objetivosconvivem, harmônicos, na mesma figura impositiva, sendo apenas lícito verificar que,por vezes, um predomina sobre o outro”.

Logo, tanto o artigo 156, § 1º, quanto o artigo 182, § 4º estariam contemplandoa progressividade do IPTU em razão do cumprimento da função social da propriedade,mas como regras autônomas, instituidoras de duas formas distintas de progressividade:a primeira, dita tributária, com fulcro na realização do princípio da capacidadecontributiva; a segunda, no tempo, como meio de compelir a obediência às diretrizes dedesenvolvimento urbano impostas pelo Plano Diretor.

A PROGRESSIVIDADE DO IPTU NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 APÓS AEMENDA CONSTITUCIONAL Nº 29/2000

Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 29/2000, o texto constitucionalsofreu várias alterações. Entre elas, a nova redação dada ao § 1º do artigo 156:

Art. 156. Compete aos municípios instituir impostos sobre:I – propriedade predial e territorial urbana;[...];

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§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º,II, o imposto previsto no inciso I poderá:I – ser progressivo em razão do valor do imóvel;II – ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel.

Diz-se que a nova redação do artigo 156 foi mera coadjuvante no teor da Emenda.Coadjuvante ou não, o fato é que ela se concretizou.

A nova redação pareceu muito clara, mas acabou nutrindo mais ainda ascontrovérsias doutrinárias e judiciais. A EC nº 29 foi, não raras vezes, taxada deinconstitucional. Quem o fez sustentava que a Emenda feria o princípio da capacidadecontributiva e, conseqüentemente, o princípio da isonomia, atingindo cláusula pétrea, oque não é legítimo ao Poder Constituinte Derivado fazer.

Como já foi dito, a progressividade não fere a capacidade contributiva, pelocontrário, contribui para sua efetivação. Permitindo a progressividade em razão dovalor venal do imóvel, admitiu o Constituinte a revelação da capacidade contributiva apartir do próprio bem (CARRAZZA, 2004, p. 89), sendo ainda possível aperfeiçoar aaplicação do princípio através da previsão de isenções e remissões, como já foimencionado.

Mesmo com a nova redação, a progressividade, em si, ficou restrita ao inciso I doartigo 156. O inciso II, observe-se, já traz norma diversa: não se trata, necessariamente,de progressão de alíquotas, mas de variação conforme a localização e uso do imóvel.Percebe-se aí, uma das faces da extrafiscalidade que a expressão suprimida do caputcontinha.

Há quem levante a questão de que o inciso II está mais para o artigo 182, § 4º, doque para o artigo 156, § 1º (CARRAZZA, 2004, p. 109).

Não se trata, porém, de inovação. A grande maioria dos municípios constrói aPlanta Genérica de Valores, base para aferição dos valores venais dos imóveis,considerando esses elementos, mesmo porque é notória, dentro de uma cidade eprincipalmente para quem nela habita, a maior ou menor valorização imobiliária deuma ou outra área. Carece-lhe, para estar junto ao artigo 182, § 4º, a índole sancionatória.Considerar, para determinação da base de cálculo do IPTU, a maior ou menor valorizaçãode uma zona urbana está muito mais para realização do princípio da capacidadecontributiva do que para punição ao contribuinte.

O Constituinte dedicou um capítulo bastante breve à Política Urbana. Breve,porém denso, já que em dois artigos concentraram-se muitos dos valores guarnecidose pretendidos pelo Estado Brasileiro. A preocupação constitucionalizada com odesenvolvimento ordenado das cidades, a fim de conciliar progresso e bem estar dos

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habitantes, demasiado complexa em face de sua multidisciplinariedade não foi, de fato,enfrentada ali. Foi remetida à legislação posterior.

Através do artigo 182, § 4º foram disponibilizados três instrumentos ao PoderPúblico Municipal para compelir ao adequado aproveitamento de imóvel urbano:parcelamento ou edificação compulsórios (I); IPTU progressivo no tempo (II) edesapropriação (III). Não são opções alternativas, mas sucessivas, quer dizer, não tendosido eficaz o primeiro instrumento, passa-se ao segundo, não tendo sido eficazes nem oprimeiro nem o segundo, passa-se ao terceiro.

A progressividade ali prevista é bastante específica: no tempo e de carátereminentemente sancionatório. Não poderia, em razão destas características, serpresumida, nem mesmo em nome dos princípios da capacidade contributiva e daisonomia. Não há relação que se possa estabelecer entre a capacidade contributiva e otempo ao longo do qual perdura o direito de propriedade sobre algum bem; da mesmaforma que não se pode atribuir a este intervalo de tempo o cumprimento ou odescumprimento da função social deste bem. A agressividade deste instituto não combinasequer com a política redistributivista, que é calcada na adequação da política fiscal enão em mera ânsia arrecadatória, justificando-a apenas a supremacia do interesse públicosobre o privado.

Sua implementação restou condicionada à prévia existência de: lei federaldisciplinando as diretrizes da política urbana (que veio a ser a Lei nº 10.257, de10.07.2001, popularmente conhecida como Estatuto da Cidade); plano diretor; leimunicipal específica contemplando o instituto e referindo-se a área necessariamenteincluída no plano diretor. Ao passo que a progressividade contida no artigo 156, § 4º,I, requer apenas lei municipal que a contemple.

A EC nº 29/2000, mesmo sem a plena aceitação da doutrina e dos tribunais, demonstrouo claro intuito de ratificar a admissibilidade constitucional dos dois tipos de progressividadepara o cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano: tributária e no tempo.

O STF E A PROGRESSIVIDADE DO IPTU

ENTENDIMENTO ANTERIOR À CONSTITUIÇÃO DE 1988

O Supremo Tribunal Federal foi incitado a se pronunciar a respeito do sistemaprogressivo no cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano em várias oportunidades.Alguns acórdãos tornaram-se verdadeiros clássicos, demarcando diferentes fases deentendimento pelas quais passaram os Ministros, até firmarem a posição do Tribunal.

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Posição que, em razão da constante – e necessária – evolução da interpretaçãoconstitucional não há de ser eterna.

Antes da vigência da Constituição Federal de 1988 era pacífico o entendimentono sentido de sua permissividade, haja vista a ausência de vedação e mesmo de disciplinalimitativa do instituto. Os embates eram travados no sentido de legitimidade ou ilegitimidadedos critérios utilizados pelos legisladores para proceder ao cálculo progressivo.

Julgando o Recurso em Mandado de Segurança nº 16.798, com o qual algunscontribuintes combatiam a decisão do Tribunal de Alçada de São Paulo, favorável aomunicípio de Americana, SP, na qual foi afastada a inconstitucionalidade da Lei Mun.614, de 05.10.1964, decidiram os ministros, por unanimidade, em 12.12.1966, negar-lhe provimento.

A lei combatida previa um critério variável para a cobrança do IPTU, estabelecendoum percentual adicional na alíquota, dependendo do número de imóveis de cadacontribuinte. Alegavam, os recorrentes, afronta ao princípio da igualdade. Em seu voto,acompanhado pelo demais, o relator Sr. Ministro Victor Nunes ponderou que o critériopoderia até ser injusto, mas não inconstitucional, porque o adicional alcançaria damesma forma todos que apresentassem as “condições de incidência objetivas previstas”e que o critério adotado pelo legislador municipal era objetivo e motivado por “escopopolítico-social legítimo”, qual seja, a “extrafiscalidade para o atingimento de fins sociais”.

Em 05.03.1975, foi julgado o Recurso Extraordinário nº 69.784, cujo cernecontinuava sendo a Lei Mun. 614/64, de Americana. O recurso foi improvido, mantendo-se a sentença do Tribunal de Alçada no sentido de anular os lançamentos do ImpostoPredial e Territorial Urbano realizados pelo município de Americana, no exercício de1967, para os terrenos do recorrido. Acolheu, o TAC, a alegação de que o adicionalprevisto na lei configurava um caráter dúplice: uma parte do imposto era calculada sobreo valor venal e outra sobre a existência de propriedade de mais um imóvel, o quecaracterizaria a criação de um novo imposto (sendo que o município não teria competênciapara tanto), sobre a condição subjetiva de o contribuinte possuir mais de um imóvel, aqual, em se tratando de imposto real, como o IPTU, não poderia ser relevante.

O relator, Sr. Ministro Djaci Falcão, acatou estas razões, mesmo reconhecendo“uma tendência para a personalização de impostos reais, mediante isenção ouagravamento do tributo, segundo a capacidade econômica do contribuinte” e nãoconheceu do recurso. Não foi acompanhado, porém, pelo Sr. Ministro Aliomar Baleeiro,que ponderou: “não há imposto sobre a coisa, mas imposto sobre a coisa porquealguém ganhou a coisa, vendeu-a, importou-a, aportou-a, contratou-a, ou dela é donoou possuidor. Se o imposto é calculado objetivamente pela coisa, sem considerar o

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contribuinte, temos tributo real. Se for considerado o contribuinte, por suas condiçõesindividuais, temos tributo pessoal. Qualquer tributo pode ser personalizado [...]”.

Também no dito adicional, de acordo com Baleeiro, o fato gerador era o domínioou a posse, tal como o é para o IPTU, não havendo que se falar na criação de um novotributo. E prossegue: “o adicional é, pois, um bis in idem do imposto sobre a PropriedadeTerritorial Urbana [...] que não se confunde com a inconstitucional bitributação [...]”.Baleeiro votou, vencido, pelo provimento do recurso, com a ressalva de que aprogressividade deveria se dar por escalões sucessivos e não apenas pela alíquotacorrespondente ao número total de lotes de cada proprietário.

Muitos outros questionamentos, na esteira deste, quedaram no Supremo, até aaprovação da Súmula 589, em 15.12.1976, que, taxativa, firmou: “é inconstitucional afixação de adicional progressivo do Imposto Predial e Territorial Urbano em função donúmero de imóveis do contribuinte”.

ENTENDIMENTO SOB A ÉGIDE DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E OADVENTO DA EMENDA CONSTITUCIONAL 29/2000

Com a nova ordem constitucional estabelecida a partir de 1988, e a expressaprevisão da progressividade, surgiram novas lides, sob novos argumentos, a provocar opronunciamento do STF. Destes argumentos, o mais expressivo acabou sendo o de queestaria limitado, o sistema progressivo, pela finalidade extrafiscal de compelir aocumprimento da função social da propriedade, ou seja, só seria legítimo nos termos doartigo 182, § 4º, II, da Constituição. Perceba-se, aí, uma concepção limitada dos institutos:propriedade como sinônimo de imóvel; e cumprimento da função social comoadequação do dito imóvel às regras de localização e utilização dos Planos Diretores.

Em 05.09.1997 foi julgado o Recurso Especial nº 153.771/MG. O acórdão deleproveniente é o mais conhecido, citado e analisado quando se trata da questão daprogressividade do IPTU já à luz dos princípios constitucionais da capacidade contributivae da isonomia. O recorrente alegou a inconstitucionalidade da Lei Mun. 5.641/89, domunicípio de Belo Horizonte, que previa alíquotas progressivas de acordo com os valoresvenais dos imóveis, sendo que já lhe havia sido denegado o Mandado de Segurançaatravés do qual pugnava pela suspensão da exigibilidade do crédito tributário decorrenteda cobrança do IPTU do exercício de 1990, realizada com base na referida lei.

O relator, Sr. Ministro Carlos Velloso, manifestou-se pelo não conhecimento dorecurso já que, a seu ver, não havia inconstitucionalidade na lei de Belo Horizonte, quecontemplava a forma de progressividade fiscal, contida no artigo 145, § 1º c.c artigo

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156, § 1º, ambos da Constituição Federal e não a progressividade-sanção do artigo 182,§ 4º, II. Foi, porém, voto vencido.

Os demais Ministros acompanharam o voto do Sr. Ministro Moreira Alves, cujoteor a ementa traduz muito bem:

IPTU. Progressividade. – No sistema tributário nacional é o IPTU inequivocamenteum imposto real. – Sob o império da atual Constituição, não é admitida aprogressividade fiscal do IPTU, quer com base exclusivamente no seu artigo145, § 1º, porque esse imposto tem caráter real que é incompatível com aprogressividade decorrente da capacidade econômica do contribuinte, quercom arrimo na conjugação desse dispositivo constitucional (genérico) com oartigo 156, § 1º (específico). – A interpretação sistemática da Constituiçãoconduz inequivocamente à conclusão de que o IPTU com finalidade extrafiscala que alude o inciso II do § 4º do artigo 182 é a explicitação especificada,inclusive com limitação temporal, do IPTU com finalidade extrafiscal aludidono artigo 156, I, § 1º. – Portanto, é inconstitucional qualquer progressividade,em se tratando de IPTU, que não atenda exclusivamente ao disposto no artigo156, 1º, aplicado com as limitações expressamente constantes dos §§ 2º e 4ºdo artigo 182, ambos da Constituição Federal. Recurso Extraordinário conhecidoe provido, declarando-se inconstitucional o subitem 2.2.3 do setor II da TabelaIII da Lei 5.641, de 22.12.89, no município de Belo Horizonte (RE-153771/MG – RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator: Min. Moreira Alves Publicação: DJ05/09/97. Julgamento: 05/09/97. Tribunal Pleno).

A partir daí, os acórdãos foram uma sucessão de menções ao voto do ilustreMinistro Moreira Alves. Firmes, sempre, no argumento de que a progressividade segundoa capacidade econômica do contribuinte seria incompatível com impostos de naturezareal, restando legítima apenas a progressividade extrafiscal do artigo 182.

Observe-se que, assim, embora houvesse sempre lides a serem julgadas, adiscussão tornou-se tépida e deste modo permaneceu, inclusive após a promulgação daEmenda Constitucional nº 29/2000. Não houve alteração significativa no posicionamentodo Supremo Tribunal Federal, pelo contrário, apenas uma ligeira adequação à inegávelalteração do texto constitucional. A título ilustrativo:

TRIBUTÁRIO. IPTU. MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. LEI Nº 5.447/93, ART. 25, REDAÇÃO DA LEI Nº 5.722/94. ALEGADA OFENSA AO ART. 156 DACONSTITUIÇÃO. Simples duplicidade de alíquotas, em razão de encontrar-se,ou não, edificado o imóvel urbano, que não se confunde com a progressividadedo tributo, que o STF tem por inconstitucional quando não atendido o disposto

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no art. 156, § 1º, aplicado com as limitações expressamente constantes dos §§2º e 4º do art. 182 da Carta de 1988(RE 229.233-7, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ26.03.99).

Note-se que neste ínterim veio a lume o Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, de10.07.2001 que regulamentou o IPTU progressivo do artigo 182, § 4º, II (sem entrar nomérito de ter ou não extrapolado os limites da matéria que lhe cabia).

Em 24.09.03, foi aprovada a Súmula nº 668 que tomou a EC 29/2000 – comonão poderia deixar de ser – como um divisor de águas: “é inconstitucional a lei municipalque tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivaspara o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social dapropriedade urbana”.

As lides cujas leis controvertidas eram anteriores à EC 29/2000 foram resolvidasnesse sentido, salvo um ou outro voto solitário.

O julgamento de questões que já trazem em seu núcleo leis posteriores à EC 29/2000 é que provoca expectativa. Por certo, são em menor número, haja vista a novaredação § 1º do art. 156, porém, não de menor propriedade.

Aguarda-se o julgamento definitivo, pelo STF, do Recurso Extraordinário nº423.768-7, interposto em face de acórdão que entendeu pela inconstitucionalidade daLei Mun. nº 13.250/01-SP, que institui o IPTU com base no valor venal do imóvel, sob ofamigerado argumento de que a EC 29/2000 teria ferido cláusula pétrea e que tributosreais não podem ter alíquotas progressivas, sob pena de ofensa aos princípios dacapacidade contributiva e da isonomia. O recorrente, município de São Paulo, retomatodo o raciocínio acerca de que os princípios da capacidade contributiva e da isonomiaseriam atendidos e não violados pela implementação do sistema progressivo. Combate odogma instituído a partir do RE 15.377, segundo o qual impostos pessoais não estariamsob a égide do princípio da capacidade contributiva. Afirma que “caráter pessoal não ésinônimo de tributo pessoal”.

O relator, Min. Marco Aurélio Mello conheceu e proveu o recurso, por nãoconsiderar que a EC 29/200 tenha ferido cláusula pétrea, já que a progressividade jávinha considerada no texto original da Constituição de 1988. Acompanharam-no outrosquatro Ministros. O Min. Carlos Britto pediu vista em 28.06.2006, o que provocou asuspensão do julgamento.

Percebe-se ser o cerne da questão, mais uma vez, a antiga celeuma: a fixação dealíquota progressiva para o cálculo do Imposto Predial e Territorial Urbano viola osprincípios da capacidade contributiva e da isonomia?

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O voto do Min. Marco Aurélio – avalizado pelos demais - parece indicar uma novapostura do Supremo Tribunal Federal diante da progressividade do IPTU, não só porafastar a tantas vezes alegada inconstitucionalidade da EC 29/2000, mas principalmentepor trazer novamente ao cenário jurídico, os fundamentos axiológicos de toda a discussão.

CONCLUSÃO

O princípio da capacidade contributiva figura no Texto Constitucional não comomera recomendação, mas como norma dotada de força jurídica. O art. 145, § 1º, que oencerra, já seria suficiente para que se buscassem e instituíssem meios de distribuirigualitariamente a carga tributária. Esta seria uma tarefa eminentemente legislativa, válidapara todo e qualquer imposto.

Afirmar a exclusão dos impostos “reais” desta norma corresponderia a limitar aaplicação de um princípio constitucional através de uma classificação puramentedoutrinária, sendo que conceitos desta origem podem orientar o legislador e a interpretaçãolegislativa, mas não cercear o alcance dos princípios.

Em relação ao Imposto Predial e Territorial Urbano, o próprio Constituinte previuum instrumento capaz de realizar o princípio: o sistema progressivo para o cálculo doquantum, que corresponde a alíquotas maiores quanto maior a base de cálculo. Estesistema adapta-se à igualdade material, enquanto a proporcionalidade – mesma alíquotapara bases de cálculo diferentes – atende somente à igualdade formal. E isto mesmo navigência do teor original do artigo 156, § 1º.

O fato de a progressividade ter vindo associada ao cumprimento da função socialda propriedade não a reduz apenas ao dispositivo do art. 182, § 4º, II. Este traz aprogressividade no tempo - cujo caráter é essencialmente sancionatório - vinculada àsdiretrizes estabelecidas no Plano Diretor, e que, por isso, não poderia ser aplicada semprevisão expressa. O cumprimento da função social ao qual se referia a redação originaldo art. 156, § 1º era o da propriedade em geral, entendida como qualquer expressão deriqueza; de onde se depreende que quaisquer impostos, se implementados á luz de umapolítica redistributivista, prestar-se-iam ao atendimento do interesse social, que transformao instituto da propriedade em “direito à propriedade”.

A EC nº 29/2000, alterando a redação do art. 156, § 1º deixou clara a intenção deestabelecer um entendimento no sentido da admissão de dois tipos de progressividadepara o IPTU: uma fiscal, associada especificamente ao princípio da capacidade contributiva– que seria em razão do valor do imóvel – e outra extrafiscal, no tempo, como sanção aoscontribuintes que não buscassem atender as diretrizes de desenvolvimento urbanoordenado.

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O argumento da inconstitucionalidade parece não ter mesmo tido êxito contra aEC nº 29/2000, ainda mais depois da edição da Súmula nº 668, pelo Supremo TribunalFederal, que considerou inconstitucionais somente alíquotas progressivas anteriores aela. Esta redação desarmou o STF contra a progressividade fiscal do IPTU e indica aiminência de um novo posicionamento, sem ainda admitir, contudo, a progressividadeapenas com base no art. 145, § 1º, da Constituição Federal de 1988.

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ELABORAÇÃO DE ESCALA DE DIFERENCIAÇÃO DO EU

Profª. Drª. Edla Grisard Caldeira de AndradaCleusa Aparecida Dalpiaz Irigonhe

Resumo: A finalidade deste artigo é apresentar os resultados do estudo que objetivou a construção deuma escala de Diferenciação do Eu, composta por quatro sub-escalas capazes de medir aspectos componentesdo fenômeno diferenciação. Para constituir a Escala de Diferenciação do Eu foram elaborados quarentaitens, no formato de escala de Likert de 5 pontos. Os itens foram devidamente avaliados por doze sujeitos,cujo perfil é o desejado para a escala, para a execução de uma análise semântica. Devidamente corrigidos,os itens passaram por 4 juizes, 2 especialistas no construto e 2 especialistas em Psicometria, todos doPrograma de Pós-Graduação em Psicóloga da UFSC. Após as avaliações dos juizes, os itens foram re-escritos conforme as indicações e estão prontos para a próxima etapa da validação da Escala que serárealizada em 2007.

Palavras-chave: Escala de medida em Psicologia, Diferenciação do Eu, Família de Origem.

Abstract: The purpose of this article is to present the results of the study which objectified the constructionof a scale of Differentiation of Self, composed for four sub-scales capable to measure component aspectsof the phenomenon differentiation. To constitute the scale forty items were elaborated, in the format ofscale of Likert of 5 points. The items were then evaluated by twelve citizens, whose profile is the desiredfor the scale, for the execution of a semantics analysis. Duly corrected, the items passed for 4 judges, 2specialists in the construct and 2 specialists in Psychometrics, all of them from Post-Graduation Programin Psychology of the Federal University of Santa Catarina. After the evaluations of the judges, the items wererewritten according to their indications and so the items are ready for the next stage to the validation ofscale that will be carried through 2007.

Keywords: Scale of measure in Psychology, Differentiation of I, Family of Origin

1 Artigo referente ao Projeto de Pesquisa do Artigo 170;2 Orientadora do projeto de pesquisa, professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Ale do Itajaí (UNIDAVI),

doutora em Psicologia (UFSC), e-mail: [email protected];3 Acadêmica do Curso de Psicologia; bolsista do Artigo 170.

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QUESTÕES METODOLÓGICAS

O interesse na construção de uma escala de Diferenciação do Eu surgiu motivadopela necessidade de um instrumento que venha facilitar o trabalho do Psicólogo no seudia-a-dia, referentemente a questões relacionadas à família, especialmente à temáticadiferenciação do eu.

A diferenciação do eu está relacionada a diversas funções humanas, podendoinclusive provocar sintomas psicológicos e físicos quando não adequadamenteestabelecida. (MURDOCK & GORE, 2004). A diferenciação do self4 em Psicologia édefinida como a habilidade de funcionar autonomamente como um indivíduo, sem estaremocionalmente dependente ou ligado ao processo emocional da família de origem. Noponto central da diferenciação do self situa-se a relação primária de uma pessoa comseus pais.

A necessidade que uma pessoa tem de outra para se completar é um legadofamiliar que origina todos os relacionamentos futuros, portanto um produto dorelacionamento do indivíduo com seus pais. "De acordo com a Teoria Sistêmica Familiar,diferenciação do self no nível intrapsíquico envolve a habilidade de distinguir processosemocionais de processos intelectuais" (PELEG-POPKO, 2002, p.356). A relação entreesses processos, quando não diferenciado o sujeito, torna-se extrema e influenciasobremaneira a capacidade de o sujeito relacionar-se com os outros, prejudicando suacompetência profissional e pessoal.

Dessa forma, o instrumento cuja construção teve seu início nessa pesquisa, éuma ferramenta a mais de que o psicólogo poderá dispor em sua atuação e buscaráidentificar o grau de diferenciação do jovem universitário brasileiro.

As definições da escala acerca do conceito de diferenciação do eu, tais quaisdescritas por Bowen (1978), têm sido extremamente utilizadas por terapeutas e teóricossistêmicos desde sua criação nos anos 60, especialmente quando se referem à maneiracom que o padrão familiar afeta a trajetória de desenvolvimento de uma pessoa, ou seja,até que ponto uma pessoa é capaz de agir com autonomia de acordo com o esperadopara sua idade, como ser responsável por tarefas do desenvolvimento típicas de cadaetapa e experimentar intimidade com outras pessoas importantes e significativas(SKOWRON; HOLMES & SABATELLI, 2003).

Skowron et al. (2003) sugerem que o desenvolvimento de medidas, válidas nostermos psicométricos, para o conceito central da teoria de Bowen tem ficado muito atrásdo desenvolvimento de artigos teóricos, embora a última década tenha presenciado

4 O Self aqui é entendido como uma representação de si por si mesmo, ou seja, do EU. Para a psicanálise, self é um conceitoque inclui o eu (ego). É a totalidade da própria pessoa. Roudinesco (1998)

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tentativas sistemáticas de operacionalizar o conceito de diferenciação do self. De acordocom Bartle-Hering e Probst (2004) existem poucas pesquisas que tentem dar suporte ateoria de Bowen usando dados clínicos, embora esta seja uma das mais compreensivasteorias em terapia de família.

O CONSTRUTO

Diferenciação é um construto multidimensional, constituído pela capacidadeintrapsíquica de distinguir pensamento de sentimento e a habilidade interpessoal demanter conexões com outros embora alcance um self autônomo. No nível intrapsíquico,de acordo com Skowron, Holmes e Sabatelli (2003), "adultos diferenciados sãoemocionalmente menos reativos do que os seus pares menos diferenciados" (p.113).

Isso significa que essas pessoas são mais capazes de tomar uma posição de "EU"nas suas relações importantes, de preservar um sólido sentido de self e aderir às suaspróprias crenças e opiniões. Conforme os autores, "adultos mais diferenciados sãovistos como vivenciando emoções fortes com mais conforto e são mais capazes de seadaptar a estressores externos, lidar com incertezas e ambigüidade e mantêm-serelativamente calmos em relacionamentos íntimos" (p.113). Nessa perspectiva, pessoasbem diferenciadas são capazes de experimentar intimidade com seus pais e com outrosadultos significativos e continuar agindo com uma posição individualizada (JOHNSON &BUBOLTZ, 2000).

De acordo com a teoria de Bowen (1978), ao menos quatro características dapessoa estão relacionadas ao seu nível de diferenciação, a saber: Reatividade Emocional(RE), Posicionamento de "Eu" (PE); Fusão com Outros (FO); e Desligamento Emocional(DE) (PELEG-POPKO, 2002)5.

A reatividade emocional refere-se aos comportamentos intensos, nos quais odispêndio de energia por parte do sujeito é alto na expressão do seu sentimento. Umavez que vive em um mundo emocional, torna-se difícil para este sujeito permanecercalmo, inerte, diante de um comportamento emocional de outros, como um grito, umabronca, uma explosão ou um choro, etc. A segunda característica refere-se ao posicionar-se como pessoa, o que significa manter a habilidade de tomar a posição do "eu", ou seja,manter um senso bem definido de self mesmo quando pressionado por outros paratomar qualquer atitude. Significa que o sujeito mantém suas idéias, crenças e valores eage pautado em seu pensamento, sem negar seus sentimentos.

5 As quatro características apontadas foram traduzidas e adaptadas ao português pelas pesquisadoras, utilizando-se dereferencial da Terapia Sistêmica.

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Por outro lado, uma pessoa fusionada com outros permanece cristalizada naposição que tinha na sua família de origem, funcionando de acordo com as expectativasda massa do "eu" familiar e dos papéis a ele atribuídos, defendendo suas idéias ouconvicções com pouco ou nenhum êxito. Assim, quanto maior o grau de fusão do "eu"com os outros mais aumentam as doações, ou seja, o compartilhar do sujeito com seusparceiros. Finalmente, o desligamento emocional ocorre quando um sujeito experimentaa intimidade como algo ameaçador e por isso tende a se isolar e negar a importância dafamília. Pode parecer que o sujeito procure demonstrar uma independência exagerada.Assim, quanto menor a diferenciação do self do indivíduo, maior será o montante deenergia investido na relação; quanto maior a diferenciação do self maior será a energiaretida pelo individuo para investir em suas questões individuais.

Pode-se inferir, portanto, que uma pessoa pouco diferenciada é considerada REou FO. Por outro lado, alguém que mantém a habilidade de tomar a posição de "eu"significa que mantém um senso bem definido de self. Assim, para Peleg-Popko (2002)uma pessoa pouco diferenciada é dependente, emocionalmente falando, de outros,quase não pensa, sente ou age por si só. E uma pessoa bem diferenciada é capaz deenfrentar relacionamentos e envolver-se emocionalmente com alguém, mantendo suaposição de eu.

Exemplificando, pode-se dizer que um sistema emocional funciona por meio deum equilíbrio delicado no qual cada indivíduo dedica determinada quantidade do seuser e de si mesmo ao bem estar dos demais. Em um relacionamento fusional, quantomaior o grau de fusão do "eu" mais aumentam as doações, o tomar e o dar, o compartilhardo indivíduo dentro da massa do "eu" familiar. Dessa forma o indivíduo funciona deacordo com as expectativas dos demais membros da família e dos papéis a ele atribuídos.Uma pessoa fusionada permanece cristalizada na posição que tinha na sua família deorigem, defendendo suas idéias ou convicções de modo pouco firme.

No extremo oposto, pessoas que estão emocionalmente desligadas, queexperimentam a intimidade como algo ameaçador e por isso tendem a se isolar, negar aimportância da família, demonstrando uma fachada de independência exagerada(PELEG-POPKO, 2002).

A "diferenciação do self" é, portanto, um conceito fundamental no desenvolvimentodo ser humano, segundo Bowen (apud PAPERO, 1998) e trata-se de um conceitointrapsíquico e interpessoal, simultaneamente. Seu foco principal está centrado no grauem que as pessoas se fusionam ou se fundem emocionalmente com outra, ou com duasou mais pessoas, para criar um eu comum. Bowen (apud PAPERO, 1998) observou oque chamou de fusão emocional na família, que consiste na dificuldade de se tornar

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objetivo quando se está diante da família. Esse fenômeno está presente em todas asfamílias, em maior ou menor grau. Quanto maior o grau de indiferenciação com relaçãoà família de origem, tanto maior será o grau de indiferenciação na família nuclear6. Esseprocesso de transmissão multigeracional de conteúdos emocionais pode levar àdificuldades no estabelecimento de limites, pois quando a objetividade se perde, oslimites e fronteiras do sistema familiar ficam difusos.

As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem participa ecomo. Sua função é de proteger a diferenciação do sistema. Cada subsistema familiartem funções e demandas específicas para cada membro. O desenvolvimento das diferenteshabilidades depende da liberdade que cada subsistema tem em relação aos outros;portanto, é importante que as fronteiras dos subsistemas sejam nítidas (MINUCHIN,1990).

A pessoa diferenciada é capaz de reconhecer seus limites e fronteiras, e equilibrarpensamento e sentimento, podendo estar em contato intenso com os outros, mas tomardecisões por seu próprio pensamento e agir de acordo com suas crenças. Esse fenômeno,denominado diferenciação intrapsíquica, é considerado a capacidade de separar osentimento do pensamento. A ausência de diferenciação entre o pensamento e osentimento ocorre juntamente com a ausência de diferenciação entre o si próprio e osoutros. O grau de fusão é determinado pelas ligações emocionais não-resolvidas. Bowenenfatiza a importância da diferenciação do ego da dupla parental, para que ocorra odesenvolvimento adequado da família.

Compreende-se o desenvolvimento das famílias como um longo processo dediferenciação, tal como afirma Bowen (apud ELKAIM, 1998), enfatizando a importânciada diferenciação do self no desenvolvimento do indivíduo. De acordo com a teoria deBowen (1976, 1978), "diferenciação do self é fundamental para o funcionamentosaudável de indivíduos e famílias" (SKOWRON; HOLMES & SABATELLI, 2003, p.114).

O conceito de diferenciação, portanto, tem sido utilizado para descrever a maneiracom que o padrão familiar afeta a trajetória da saúde e desenvolvimento individual e temsido qualificado por estudos empíricos, tais como: níveis altos de diferenciação ou baixareação emocional, fusão ou desligamento emocional, e maior posição de Eu sãocaracterísticas de pessoas com maior nível de maturidade psicológica e satisfação conjugal(SKOWRON & FRIELANDER, 1998 apud PELEG, 2005). Por outro lado, níveis baixos dediferenciação são encontrados em pessoas com estresse psicológico, ansiedade esintomas psicológicos (SKOWRON, 2000 apud PELEG, 2005).

6 Família de origem refere-se aos antecessores (avós, tios, etc) e família nuclear refere-se ao núcleo pai, mãe e irmãos.

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A OPERACIONALIZAÇÃO DO CONSTRUTO

As definições constitutivas dessa escala, descritas no item anterior, estão ainda noterreno da teoria, do abstrato. Um instrumento de medida, porém, é uma operaçãoconcreta e empírica e para passar da teoria para o concreto é preciso viabilizar asdefinições operacionais dos construtos. Isso significa que para ser operacional, cadaitem da escala deve representar um comportamento e deve estar de acordo com oconstruto em questão.

DESENVOLVIMENTO DA ESCALA - ETAPA I

Para a construção de uma escala psicométrica de diferenciação intrapsíquica, odesenvolvimento de um instrumento normalmente inicia-se com o levantamento das escalasproduzidas no exterior e no Brasil, pois segundo Pasquali (1999) para o desenvolvimentode itens de uma escala, os pesquisadores podem se basear em itens que compõeminstrumentos já disponíveis e que medem o mesmo construto. Um construto definido pormeio de outros construtos representa uma definição constitutiva. Nesse caso, o construtoé concebido em termos de conceitos próprios da teoria em que ele se insere.

Como não existem pesquisas no Brasil que meçam o construto diferenciação doEu, usamos a escala internacional produzida por Licht e Chabot (2006) que serviu debase para a elaboração dos itens. A partir da escala de Licht e Chabot (2006) e da teoriade Bowen (1978), foram elaborados quatro atributos descritos na fundamentação (FO,PE, RE, DE) e a partir destes foram elaborados quarenta itens para a escala, no formatode escala de Likert de cinco pontos, variando do extremo 1 (nunca) para 5 (sempre).

DESENVOLVIMENTO DA ESCALA - ETAPA II

Para a validação de face, os itens passaram por uma análise semântica que,segundo Pasquali (1999), tem como objetivo averiguar se todos esses itens são inteligíveispara todos os componentes da população à qual o instrumento se destina.

PARTICIPANTES E PROCEDIMENTOS

Três grupos de dois alunos da primeira fase de cursos de nível superior daUNIDAVI - convidados a participar através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido(em anexo). Responderam aos itens da escala na presença do pesquisador, cujo papelfoi de identificar e eliminar possíveis falhas na formulação dos itens, bem como verificar

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a inteligibilidade das mesmas para a população-alvo. As questões que apresentaramdúvidas de interpretação foram então reformuladas e propostas a grupos seguintes,sempre de dois alunos, seguindo o critério de saturação, ou seja, essa etapa da pesquisaprosseguiu até que fosse atingida a compreensão total pelos examinandos.

DESENVOLVIMENTO DA ESCALA - ETAPA III

Após a fase de análise semântica dos itens da escala, foi efetuada a análise deconstruto, quando se procurou verificar a adequação dos itens com os atributos quedefinem o construto. Segundo Pasquali, (2006) "os juízes devem ser peritos na área doconstruto, pois sua tarefa consiste em ajuizar se os itens estão se referindo ou não aotraço em questão".

Posteriormente a essa análise, os itens que não estavam de acordo com o construto,foram reformulados para a versão final da Escala. Portanto, para a execução desta etapa ositens foram analisados por juizes especialistas no construto e juizes especialistas empsicometria, os quais também foram convidados a participar como colaboradores. Osquatro juizes são componentes do Núcleo de Estudos em Saúde, Família, e Comunidade(especialistas no construto) e do Laboratório Psicologia do Trabalho (especialistas emPsicometria), ambos da Universidade Federal de Santa Catarina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No processo da fase de análise semântica, dos quarenta itens apresentados aosseis alunos da UNIDAVI, somente um item foi considerado como tendo conotaçãoambígua. Assim, o item 37 foi modificado juntamente com o primeiro grupo de sujeitos,que se mostraram confusos em relação à construção do item. Eles próprios forneceramsubsídios para que a questão fosse reformulada e apresentada aos dois grupos seguintes,a fim de verificar o entendimento do item já reformulado. Segue abaixo o quadro queapresenta o item proposto à primeira dupla, o comentário dos sujeitos e o itemreformulado após a análise:

Como nenhum outro item apresentou dificuldades para os sujeitos do terceirogrupo, seguiu-se com as análises dos juizes para iniciar o processo de validação deconstruto. Nessa etapa cada juiz avaliou a dimensionalidade do atributo, ou seja, sua

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estrutura interna, semântica. Cada um recebeu duas tabelas, uma contendo os conceitosdos atributos e outra com os itens. Cada item foi correlacionado a um atributo, porémalguns itens apresentaram-se confusos e inadequados segundo a avaliação dos juizes.

Para verificar a adequação da representação comportamental dos atributos foifeita a análise das correlações apresentadas pelos juizes, ou seja, como para cada itemhavia 4 correlações, caso os atributos correlacionados pelos juizes fossem idênticos emcada item, ou obtivessem até 75% de igualdade nas avaliações dos juizes, o item foiconsiderado bom.

Dos quarenta itens submetidos à apreciação dos juizes, trinta e três foraminterpretados de maneira semelhante, com 75% ou 100% dos juizes escolhendo omesmo atributo para o item, sendo então considerados satisfatórios. Os sete itens restantes,apresentados abaixo, geraram divergências em sua interpretação, provocando anecessidade de passar por reformulações e por nova avaliação de juizes especialistasantes da análise estatística:

- Em minhas relações afetivas eu digo o que penso sem ter medo de machucar ooutro.

- Relacionamentos próximos fazem parte dos meus objetivos de vida.- Quando estou com colegas de turma para a realização de trabalhos tenho medo

de expor minhas idéias para o grupo.- Em momentos de conflito familiar, o meu envolvimento emocional prejudica a

expressão de minhas idéias.- Quando estou com familiares o meu comportamento é guiado pelas minhas

emoções.- Aceito com facilidade desculpas de meus familiares em situações de briga ou

discussão.- Tenho dificuldade para aceitar as falhas de desempenho de meus colegas

(trabalho ou escola).

A versão final deste estudo constituirá a base da escala a ser validada em 20077,quando os itens serão submetidos a uma análise fatorial para determinação dadimensionalidade da mesma, conforme passos explicitados por Pasquali (1999) e naescala desenvolvida por Cruz, Wachelke, Andrade, Faggiani e Natividade (2004).

Para validação da escala, serão realizadas: análise dos componentes principais,análise fatorial exploratória com rotação varimax (visando-se à obtenção de fatores com

7 Esse processo deverá ser o projeto de pesquisa que a aluna Cleusa apresentará ao Programa de Pós-Graduação em Psicologiada Universidade Federal de Santa Catarina, para seleção de Mestrado.

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ortogonalidade entre si) e cálculos de confiabilidade. O software SPSS v. 13 será utilizadoem todas as análises.

É recomendável que as investigações dos componentes da Diferenciação do Eusejam ampliadas, de forma que gradativamente se possa chegar a uma sistematizaçãomais completa desse construto. Uma vez que boas medidas de fatores da Diferenciaçãosejam desenvolvidas, é possível descobrir a contribuição precisa de cada um dessesfatores na instalação de distúrbios psicológicos, por meio de procedimentos estatísticoscomo a regressão múltipla.

A escala apresentada após a devida validação poderá ser utilizada em pesquisase diagnósticos acerca do fenômeno diferenciação do eu, principalmente devido à carênciade instrumentos de medição que venham auxiliar o procedimento do psicólogo noatendimento clínico, em sua tarefa de manejar dificuldades nas relações humanas. Esteinstrumento visa preencher essa lacuna, fornecendo um meio ágil e rápido de diagnóstico,uma vez que medição é "considerada um dos requisitos para que se considere um ramode estudo como ciência" (Bunchaft, 2002, p.17).

Sabe-se que o trabalho do psicólogo apresenta características determinadaspelo meio em que se desenvolve e se dá mormente agindo em resposta a dificuldadesdepois de instaladas. Esse modo de atuação, reagindo a problemas, é menos eficaz doque se fosse possível agir profilaticamente. Assim, a existência de um teste de medição noprocesso de avaliação da autonomia e da capacidade de relacionamento do estudanteuniversitário, tem sua utilidade na prevenção de dificuldades de aprendizagem edesenvolvimento do estudante, bem como na identificação de fatores familiares quepredisponham o seu aparecimento, possibilitando atuar com a máxima brevidade parasua eliminação.

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UM ESTUDO SOBRE A INFLUÊNCIA DA BR470 NAS

EXPORTAÇÕES DO ALTO VALE DO ITAJAÍ1

Prof. MSc. Mehran Ramezanali2

Daiana Carla Luiz3

Resumo: A rodovia BR470 é um dos grandes eixos de integração no sentido leste-oeste de Santa Catarinae principal “gargalo” estrutural do Vale do Itajaí, é uma das mais movimentadas e perigosas rodovias doestado. O principal objetivo desta pesquisa é a verificação da opinião das empresas exportadoras daregião de Alto Vale de Itajaí sobre a atual situação da BR470. Para realização da pesquisa utilizou-se ametodologia de pesquisa exploratória e qualitativa, solicitadas através de correio eletrônico, aplicandoquestionários com perguntas abertas, solicitando informações que indicassem quais os principais aspectose principais necessidades que poderiam ser aplicados para uma melhora na logística das exportações daspróprias empresas.

Palavras-chave: Exportação, Alto Vale do Itajaí, BR470, Privatização.

Abstract: The highway BR470 is one of the integration huge axises in Santa Catarina’s east-west directionand main structural neck of the Valley of Itajai, it is one of the more dangerous and up beated highways.The main goal of this research is the companies exporters opinions verification of the region of high Itajai’svalley about BR470’s current situation. For research accomplishments it used the methodology of exploratoryand qualitative research, asked through e-mail, applying questionnaires with opened questions, askingnews that indicated which are the main aspects and main needs that could be applied for one improvementin the exports logistics of the companies.

Key-words: Exportation, Alto Vale do Itajaí, BR470 road, Privatization.

1Artigo Científico referente ao projeto de pesquisa do Artigo 170;2Orientador, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), mestre em Administração

, e-mail: [email protected];3Acadêmica do Curso de Administração - Comércio Exterior, bolsista do projeto de pesquisa do Artigo 170.

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INTRODUÇÃO Enquanto de um lado motoristas, transportadoras, fabricantes de motores e

outras empresas do setor de transporte de cargas trabalham para reduzir os custos dotransporte e tentam ganhar um pouco mais de rentabilidade no negócio, do outro asituação precária das rodovias aniquila todos os esforços e ainda aumenta a insegurança.Estradas esburacadas, sem acostamento e sem sinalização, é um assunto velho, chato ebatido, mas que, como todos vêem, piora a cada ano.

Ao pesquisar a influência que a BR470 exerce no Alto Vale, verificou-se que elaenfrenta um trafego de quase dezenove mil carros por dia em épocas normais (PRF 10/2006), sendo que foi possível identificar diversos fatores que poderiam ser analisados ediscutidos para possíveis melhorias, como a privatização com cobrança de pedágios, asoperações de reformas e até duplicação.

Observando também o crescimento das exportações das industrias catarinenses,verifica-se o grande aumento no uso do modal de transporte rodoviário, surgindo assim,muitas criticas sobre a excessiva participação dele na matriz de transporte brasileira. Ocenário atual é preocupante. Há uma dependência muito grande das autoridades públicaspara que os problemas sejam resolvidos, porém na prática, há pouquíssimos sinais deque algo realmente concreto ocorra.

METODOLOGIA

O interesse do homem pelo saber, levam-no a procurar investigar a realidade sobos mais diversos aspectos e dimensões e através de diferentes níveis de aprofundamento.Para isso, existem vários tipos de pesquisa e procedimentos, cada um com sua própriacaracterística.

Pode-se definir pesquisa conforme Gil (1995), como sendo o procedimentoracional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemasque são propostos. Segundo Gil (1995), é requerida quando não se tem informaçãosuficiente ou se encontra de forma desordenada e inadequada, se tornando inútil paraa resposta do problema em questão.

Para reunir conhecimentos teóricos dos autores, utiliza-se neste trabalho pesquisabibliográfica, na busca de dados secundários e opinião dos outros autores e outrospesquisadores. Através da pesquisa exploratória, avaliou-se a possibilidade de desenvolverum estudo sobre a temática determinada. Este tipo de pesquisa é vista pelos autores dediversos trabalhos de estruturação de artigos, como o primeiro passo de todo trabalhocientifico. Tem por finalidade, proporcionar maiores informações sobre o assunto, facilitar

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a delimitação do tema, definir objetivos e hipóteses. Neste caso especifico, a pesquisaexploratória teve o objetivo de torna-lo mais explicito, envolvendo levantamentobibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problemapesquisado e analise de exemplos que estimularam a compreensão do fato.

Também foi realizada uma pesquisa do tipo qualitativa, pois não visou enumerarresultados, buscava somente expressar as respostas dadas pelas empresas de maneiramais ampla. As pesquisas foram feitas com empresas de vários segmentos, e de todaregião do Alto Vale do Itajaí e foram escolhidas de forma aleatória.

OPULAÇÃO E AMOSTRA DE PESQUISA

A população de pesquisa consiste em empresas exportadoras de alto vale deitajaí e a amostra selecionado baseado no critério de tamanho e numero de funcionáriossão as seguintes empresas: Metalurgica Riosulense (Rio Do Sul), Frigorifico Riosulense( Rio Do Sul), Rohden Artefatos (Salete), Cassava (Rio Do Sul), Induma (Taio), Induma(Rio Do Sul), Bovenau (Rio Do Sul), Engecass (Rio Do Sul), Ind. Agrícola Rio Verde(Rio Do Sul), Royalciclo (Rio Do Sul), Biocham (Agrolândia), Industrial Rex (Braço DoTrombudo), Weber Bovenau (Rio Do Sul).

RODOVIA BR 470

A rodovia BR470 é um dos grandes eixos de integração no sentido leste-oeste doestado de SC. Neste sentido, a BR470 integra todo litoral catarinense, onde se localizamos dois dos principais portos de exportação (Itajaí e São Francisco) ao meio oeste e aoplanalto serrano, via vale do Itajaí, chegando até a divisa com o Rio Grande do Sul.

Por ser um desses grandes eixos, a compreensão do papel estratégico da BR470, na integração do estado é fundamental para entendermos a influência que elacausa nas exportações do vale, sendo que é considerada a sua principal artéria, ondeflui toda a energia vital do estado.

Nos últimos anos, o Brasil passou por grandes transformações na área de infra-estrutura, com desregulamentação de diversas atividades, privatização de empresas,mudanças nos modelos de fixação de tarefas, reestruturação de diversos setores. Essasmudanças produziram resultados muito diferenciados nos desempenhos dos setoresde infra-estrutura e afetaram as industrias de forma assimétrica.

Conforme citado no site do BNDES as deficiências de infra-estrutura atual noBrasil (Sejam em rodovias, ferrovias, portos, saneamento e outros setores) são bem

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conhecidos da população, por estarem amplamente noticiados na mídia. O fato é queestamos assistindo a acentuada degradação da infra-estrutura do país, construída comgrandes sacrifícios e investimentos desde a época de 50. Não há manutenção preventivadesta infra-estrutura, e a manutenção corretiva é sempre mais cara. O BNDES, na décadade 90, já falava das possibilidades de crescimentos do Brasil serem prejudicadas porgargalos na infra-estrutura, e de 10 anos pra cá estas deficiências só se ampliaram.

Segundo Brandão (2006) a situação das estradas é deplorável – 72% delasestão em situação ruim ou péssima, segundo o mais recente levantamento da confederaçãoNacional do transporte (CNT), representando muito mais do que apenas um problemapara a segurança dos usuários. A penúria da malha viária traduz-se em um verdadeiropé no freio da economia. Até os buracos das rodovias sabem que uma boa infra-estruturaatrai investimentos, movimenta negócios, gera empregos, e pode transformar regiõesatrasadas em pólos de crescimento. Essa constatação ganha uma força monumentalquando a realidade substitui o discurso.

Não é à toa que a duplicação é a principal reivindicação empresarial do momentono estado. Depois de anos de promessas não cumpridas, as obras iniciaram-se no final de2004, mas o ritmo é muito lento. Segundo acompanhamento da federação das industriasdo estado de Santa Catarina (FIESC), foram aplicadas apenas 37% do orçamento previstoem 2005. A previsão oficial de conclusão seria 2008, porém há dúvidas que a meta seráconcluída – além da dependência de recurso, a obra esbarra em entraves ambientais e emsítios arqueológicos descobertos nas escavações. Enquanto a duplicação não sai, a velharodovia recebe remendos através de operações “tapa-buracos”.

O fato pesquisado, relativo à infra-estrutura, pode ser caracterizado como aqueleque menos depende das decisões de cada estabelecimento e como também suascondições não dependem dessas decisões empresariais, a pesquisa captou, na verdade,a percepção dos empresários, em relação a fatores que são afetados pela atual situaçãoda rodovia.

Neste contexto, os itens de infra-estrutura que mais preocupam os empresárioslocais – considerados os mais importantes pela quase totalidade dos estabelecimentosindustriais pesquisados – são as rodovias e portos. As empresas consideram-se insatisfeitascom a falta de investimentos, custos do transporte, agilidade e falta de atenção pública.

RESULTADOS OBTIDOS

Após leitura e observação dos comentários de todos os entrevistados e acategorização e analise das respostas, pode-se reunir as opiniões dos mesmos de formaresumida conforme a seguir:

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PRIVATIZAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA

No que diz respeito à privatização da rodovia e a influência que exerceria nocrescimento da região, as opiniões foram unânimes em concordar que diante dacalamitosa situação atual, a privatização surgiria como uma alternativa viável de melhoria.Entretanto seria necessário planejamento e interferência do estado para que o pedágioque surge com a privatização não se torne mais um elemento gerador de custos adicionaisàs empresas da região.

Segundo Induma de Rio do Sul “Desde que, apresentando melhorias de trafego,segurança e que os usuários não sejam onerados de forma drástica” a privatização seriauma boa opção.

Quanto ao crescimento regional, a privatização atrairia investimentos, tanto durantea realização da obra quanto após a efetiva utilização da rodovia, diversificando a economialocal, algo extremamente positivo para o Alto Vale do Itajaí. Hoje a BR470 é um grandeimpeditivo para o crescimento da região.

Ainda referente este pergunta ROHDEN completa, “Pensamos que a privatizaçãoiria melhorar e muito a situação da Br 470 mesmo porque as condições da mesma estáprecária, tendo em vista que está é a principal via de acesso ao Porto de Itajaí para asempresas exportadoras do Alto Vale do Itajaí região aliás, que é muito forte neste ramode atividade”.

ATUAL SITUAÇÃO DA RODOVIA

Na opinião da maioria dos entrevistados, atualmente a BR470 encontra-se numasituação crítica. O alto trafego da rodovia, sendo esta o único acesso de escoamento detodas as exportações, agravam uma BR abandonada e que não recebe os investimentosnecessários e básicos para uma mínima conservação.

Existem dois aspectos a serem analisados: o primeiro é a condição geral detrafego da rodovia, onde existem muitos buracos e pontos de difícil ultrapassagem,curvos perigosas e traçados errados. Outro aspecto é da imprudência dos motoristas,sejam condutores de caminhões, bem como condutores de veículos de passeio, o queexige uma maior fiscalização da parte da PRF.

Segundo a entrevistada Royalciclo – “É uma rodovia, que além de por em riscoa vida das pessoas, aumenta muito o custo para as empresas que dependem desta paraescoar sua produção. Fora os perigos que se tem pelo excesso de trafego”.

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DUPLICAÇAO

Nos dados coletados e baseados na opinião dos entrevistados a respeito de umapossível duplicação na BR470, grande parte das empresas acreditam que seria de vitalimportância para o crescimento da região, significando maior velocidade nas operações,redução de riscos e possibilidade de melhoria no atendimento logístico aos mercadosconsumidores. “Novos investimentos para nossa BR refletiria diretamente na lucratividadeda empresa” (CASSAVA). Sendo que os itens que mais foram citados como problemáticos,seriam referentes à agilidade e planejamento nas entregas e custos de deslocamento.

Outro fato, bastante interessante que foi citado pelas empresas seria a reconstruçãode um trajeto novo, uma rodovia de alta engenharia e de transito rápido, remodeladajustamente para reduzir todos estes problemas que hoje são apresentados pela BR470.

PROBLEMAS EM RELAÇÃO A LOGISTICA GERAL

Os principais problemas encontrados foram respectivamente: atraso nos prazosde entrega, risco de acidentes, gasto com manutenção de veículos, aumento de custos,péssima infra-estrutura e excesso de trafego.

EXPORTAÇÃO X BR470

As exportações das industrias catarinenses se fortificam e crescem cada vez mais,garantindo em 2006 o 8º lugar no ranking dos estados exportadores (FIESC) eaumentando seus índices proporcionalmente mais que os nacionais, tudo isso reflexode esforços bem organizados do setor produtivo pela manutenção do comércio exterior.

Com isso, obviamente, cresceu significativamente o fluxo de veículos na BR470,tendo em vista a localização dos portos de maior influência (Itajaí e São Francisco). Arodovia por sua vez não está conseguindo comportar tal aumento na sua utilização, aforte demanda, transforma a reforma da estrada em uma necessidade premente.

Na questão feita para as empresas referente ao tipo de influência que a rodoviaexerce nas exportações, foi alegado que do ponto de vista de negócios, ela não influidiretamente. Afeta somente os pontos que já foram aqui referidos, como, agilidade,riscos e custos.

“Não diria que afeta diretamente as exportações por ser uma questão comercial,mas temos que levar em conta todos os gastos com transportes” – Pamplona.

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129Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 123-130, jan./dez. 2008

SUGESTÕES

Segundo a empresa Industrial Rex “Uma forma de remediar o problema, seriaindispensável um grande trabalho de recuperação dos pontos críticos da rodovia, estetrabalho deveria ser feito de forma planejada e com técnicas que garantissem um resultadoduradouro e eficaz”.

Também foram dadas como sugestões manutenções mais constantes no asfalto,construção de um novo trajeto, implementação de 3º vias em todos os pontos possíveis,duplicação nos trechos de maior incidência de trafego, melhoria da sinalização,recuperação de acostamentos e recapamento do asfalto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode –se concluir que maioria dos entrevistados são afetados diariamente pelosproblemas causados da BR 470, e cada uma destas empresas de forma diferente ou asvezes igual sofre estas conseqüências.

Também entende-se que Br470 é principal e a única via de exportação de altovale para o mundo e sua influencia na economia e desenvolvimento de Alto Vale de itajaíé de suma importância.

Sendo assim pode-se verificar que todos os objetivos específicos deste projeto depesquisa foram atingidos tanto em relação a privatização e possível duplicação de BR470 e quanto em relação aos riscos e prejuízos que as empresa estão enfrentandosdiariamente.

Acredita-se que o resultado obtido satisfez os requisitos que se pretendia atingire que também será um auxiliar útil para próximos projetos, pois se trata de analises queenvolveram assuntos bastante debatidos pela população.

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131Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 131-141, jan./dez. 2008

A FUNÇÃO DO GESTOR NOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS1

Prof. MSc. José Sérgio da Silva Cristóvam2

Edna Manuela Has de Souza Schoeffel3

RESUMO: Por diversas vezes, a Administração Pública, para a realização de suas atividades, firmacontratos com terceiros. Esse tipo de contrato, por envolver pessoa jurídica de direito público, tempeculiaridades para sua elaboração, pois são regidos por lei específica, a Lei 8.666/93, e, obrigatoriamente,devem ser cumpridos em todos os seus requisitos. Para que esses contratos sejam adequadamenteexecutados e as atividades previstas sejam corretamente desempenhadas é necessário que se aplique comrigor a determinação do art. 67 da Lei 8.666/93 designando gestores que fiscalizem essa execuçãocontratual. Esse gestor deve ser um representante da Administração que tenha suas funções bem definidase que conheça as particularidades do objeto contratado, para que tenha subsídios para verificar se aexecução está sendo realizada a contento, e para saber se o mercado não teria opções melhores comcustos menores para o objeto que se está contratando. Sendo assim, a atividade do gestor, deve ser iniciadaantes mesmo da deflagração do processo licitatório do qual derivará o contrato. É o gestor que temtambém a função de intermediar a relação entre a empresa contratada e a Administração, solucionandoos problemas que por ventura venham a surgir, devendo ter atitudes pró-ativas, as quais busquem planejarsuas atividades para que elas correspondam ao que dele se espera.

Palavras-chave: contrato administrativo, gestão, administração pública.

ABSTRACT: Many times, the Public Administration, for the accomplishment of its activities, firms contractswith other people. This type of contract, because it involves a public law entity, has peculiarities for itselaboration, therefore they are prevailed by specific law, Law 8,666/93, and, obligatorily, they must befulfilled in all its requirements. So that these contracts are adequately executed and the activitiescorrectly played, it is necessary that the determination of art. 67 of the upside law must be fulfilled, anda manager must be assigned to fiscalize this contractual execution. This manager must be an Administrationrepresentative who has his functions well defined and who knows the particularities of the contractedobject, so that he has subsidies to verify if the execution is being carried through well, and to know if themarket would not have better option with less cost for the object that is being contracted. Because of these,the activity of the manager must be initiated before the deflagration of the acquisition process that thecontract will derive. The manager is who has also the function to intermediate the relationship between thecontracted company and the Administration, solving the problems which may occur. He needs to have pro-active attitudes then he can plan his activities and they will correspond to what is expected from him.

Keywords: administrative contract, management, public administration.

1 Artigo desenvolvido para obtenção de título de Especialista em Direito Público, pela Universidade para o Desenvolvimentodo Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI);

2 Orientador, professor da UNIDAVI, mestre em Direito pela UFSC, e-mail: [email protected];3 Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Direito Público da UNIDAVI, e-mail: [email protected].

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132 Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 131-141, jan./dez. 2008

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o objetivo de elucidar aspectos gerais da gestão dos contratosadministrativos e, principalmente, mostrar a importância da figura do gestor de contratosna Administração Pública.

Para que o Estado consiga realizar suas atividades é necessário que bens sejamadquiridos e serviços sejam prestados, e nem sempre a Administração Pública podesozinha realizar estas atividades. Por muitas vezes é necessário que se valha de terceirospara auxiliá-la, fornecendo-lhes os bens (consumíveis e permanentes) e os serviçosnecessários.

Entretanto, via de regra, os recursos de que o Estado dispõe para a realização desuas atribuições são escassos, e devem ser muito bem administrados para que sejamutilizados evitando desperdícios.

Ao longo dos tempos, assim como uma grande empresa, o Estado vem sentindoa necessidade de profissionalizar seus procedimentos para que os recursos sejamcorretamente aproveitados.

Além disso, com a figura dos Tribunais de Contas realizando o controle, nãopode a Administração Pública, através de seus representantes, atuar de maneira amadoraou leviana, pois sobre eles poderá recair a responsabilidade pelos atos do Estado.

Diante deste contexto, vê-se a necessidade de uma fiscalização mais completa detodos os contratos firmados pelo Estado, e assim, torna-se imprescindível a efetivação dafigura do gestor de contratos administrativos, pois apesar da sua existência na legislaçãohá longa data, apenas nos últimos anos é que se contempla uma insistência maior emsua importância.

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Para tratar dos contratos administrativos, é necessário, primeiramente, relembraralguns conceitos do direito das obrigações, afinal, como coloca Mukai (1995), “ocontrato é uma das fontes da obrigação. É dali que ele se alça para disciplinar as relaçõesjurídicas mais importantes que se travam no âmbito das atividades humanas”.

Contrato “é todo acordo de vontades, firmado livremente pela partes, para criarobrigações e direitos recíprocos [...]. O contrato é lei entre as partes, pelo quê há de serobservado e cumprido fielmente pelos contratantes.” (MEIRELLES, 1999, p.171)

Como fonte de obrigações, contrato é o termo geral que define várias formas denegócios jurídicos (MUKAI, 1995, p. 4), pois, quando se refere a ele, a Lei indica um

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133Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 131-141, jan./dez. 2008

“tipo de vínculo produzido por manifestação conjunta de vontade” (JUSTEN FILHO,2005, p. 31), afinal, mesmo que o contrato a ser firmado seja uma espécie de contratode adesão, “a Administração Pública, ao dar publicidade ao instrumento convocatório– edital ou convite -, estabelece todas as condições de contratação” (GRANZIERA,2002, p. 97), e nada obriga o terceiro a firmá-lo contra sua vontade.

Sendo o contrato um ajuste de vontades, ele gera obrigações às partes envolvidas,as quais aceitaram os seus termos, portanto, essa obrigação é também, limitada peloacordado, afinal, ninguém contrata para que não seja cumprido o que se acordou(MUKAI, 1995, p.4), mas sim, para que se possa exigir (e para que se tenha garantidoesse direito), da parte contrária que se cumpra o que anteriormente se convencionou.

Entrando na seara da Administração Pública, lembramos que contratoadministrativo é o documento firmado entre o Estado (por seus entes de AdministraçãoPública direta ou indireta) e terceiro, como traz o parágrafo único do artigo 2º da Lei8.666/93, também conhecida como Lei de Licitações e Contratos Administrativos:

Art. 2º [...]Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquerajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, emque haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a estipulação deobrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.

Motta, citado por Pereira Júnior (2003, p. 44-45), nos lembra que apesar dasdiversas denominações utilizadas pelo legislador (acordos, ajustes, compromissos,aditamentos, convenções, convênios), não passam elas de sinônimos de contratosadministrativos, e por isso, não importa qual a denominação que vier a ser utilizada,todos eles terão a natureza jurídica de contratos administrativos.

Desta forma, “a norma uniformiza o tratamento legal que se dispensará a qualqueracordo de vontades entre a Administração Pública e particulares.” (PEREIRA JUNIOR,2003, p. 45)

Justen Filho (2005, p. 31), coloca ainda que:

O contrato administrativo é ato jurídico que se forma pela conjugação de vontadesde duas ou mais partes, gerando direitos e obrigações para todas, algumas ousomente uma delas. Há similitude, mas não identidade, com o contrato dedireito privado. Existem diferenças sensíveis, pois são restringidos os princípiosda autonomia da vontade e da obrigatoriedade das convenções, que se encontramna base da teoria dos contratos no direito privado. O contrato administrativorege-se pelas regras e pelos princípios de direito público, [...].

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Seguindo este raciocínio, Granziera (2002, p. 97) nos ensina que

A diferença fundamental entre o contrato entre particulares e o contratoadministrativo consiste nas cláusulas especiais, aplicáveis aos ajustesadministrativos. Pelo fato de ser a Administração uma das partes contratantes,possui prerrogativas que se referem ao poder e ao dever, conforme o caso, defiscalizar sua execução (arts. 66 a 76 da Lei 8.666/93, modificarunilateralmente o contrato (art. 65, I), aplicar as sanções previstas no art. 87e rescindir unilateralmente o ajuste, nos casos especificados no art. 79,inciso I.

Apesar de constarem do texto legal, nem sempre o particular conhece estasespecificidades que regem o contrato administrativo, visto que no contrato do direitocivil, apesar de existirem regras, um livre acordo entre as partes envolvidas pode alterá-lo.

No contrato administrativo, assim como no direito administrativo em geral, por setratar de recursos públicos, todas as regras pré-determinadas devem ser cumpridascom rigor.

O contrato administrativo é resultante de um processo formal submetido aregras que podem se revelar pouco usuais para aqueles que costumamdesempenhar suas atividades apenas no âmbito privado. O contrato celebradocom um órgão público é precedido de um estrito procedimento de contrataçãoprevisto em lei e submetido a um conjunto de regras de gestão que, emdeterminados casos, são aplicadas com especial rigorismo. (BONELLI; IAZZETTA,2004)

Portanto, o contrato administrativo nada mais é do que a forma legal que oEstado dispõe para utilizar-se do auxílio que necessita em suas atividades e este vem deterceiros.

A GESTÃO DE CONTRATOS

Segundo Colombini, citado por Moreira (1999),

Gestor de Contratos é o profissional que assume um contrato, coordena-o eexecuta-o, atendendo ao cliente, respeitando os prazos e orçamentos contratuais,e ainda, buscando reduzir os custos e aumentar a lucratividade da empresa.Como o próprio nome esclarece, os gestores são os responsáveis pela gestão e

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135Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 131-141, jan./dez. 2008

administração de contratos, respondendo pela tomada de decisões. O gestor decontratos deve ser o profissional que responde pelo cumprimento do contrato,pela orientação técnica e operacional da equipe e pelo resultado financeiro docontrato para a empresa.

Na gestão dos contratos o que temos que levar em conta principalmente é comocontrolar, organizar e proceder com o menor custo possível e tendo a máxima eficiênciapossível. Seguindo esse raciocínio, o principal objetivo da gestão dos contratos é que aexecução seja realizada de forma eficaz, alcançando todos os objetivos a que ele sepropôs. (CINTRA DO AMARAL, 2003)

É o gestor do contrato o responsável pela verificação de toda a execução docontrato, e por isso, é imprescindível que ele conheça de forma completa o objetocontratado, bem como o contrato e suas particularidades. Afinal, só assim, se consegueobter um aproveitamento a contento do objeto contratado.

Mas na prática, sabe-se que nem sempre é assim. A gestão dos contratos é umtema relativamente novo.

Na execução do contrato é que, segundo Cintra do Amaral (2003), acontecemos maiores problemas, e por quê? Porque não é dada a devida atenção a gestão, não setem a devida dimensão do papel do gestor, nem na esfera pública, nem na privada. Eleainda coloca que “um bom contrato é aquele que satisfaz as partes [...] mas tambémaquele que é bem gerido pelas partes”.

Há necessidade de termos bons gestores nos dois pólos contratuais, assim, aexecução contratual tende a ser mais tranqüila e proveitosa.

Para que um contrato tenha êxito completo, também é necessário que o gestoracompanhe a sua elaboração desde o início, e também que ao seu término seja elaboradoum relatório que certamente poderá auxiliar futuras contratações, evitando queproblemas que surgiram venham a ser repetidos.

De qualquer modo, é de extrema importância que a função do gestor esteja bemdefinida, assim ele saberá como desempenhar suas funções, e mais, saberá o que seespera dele e também o que não se pode dele exigir.

Seguindo este raciocínio, Cintra do Amaral (2003) nos ensina como o gestordeve se comportar para bem gerir um contrato:

A primeira preocupação que deve ter o gestor é efetuar a análise das cláusulascontratuais. Deve examiná-las adequadamente, entender o objeto ou o escopocontratual, delimitá-lo precisamente. Deve, ainda, verificar os prazos contratuais,os cronogramas físico e financeiro, as multas e demais penalidades estabelecidas,as obrigações e responsabilidades de cada parte, etc. Em muitas organizações, o

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gestor do contrato prepara, preliminarmente, um quadro das providênciasprevistas (reuniões, emissão de documentos, mediações, pagamentos, etc.).Nessa etapa de análise do contrato, qualquer dúvida quando ao entendimentodas cláusulas contratuais deve ser desfeita pelo gestor recorrendo à áreaadministrativa ou comercial, à área técnica e/ou à área jurídica.

Neste mesmo sentido, Granziera (2002, p. 132) explana sobre os passos que ogestor deve seguir:

1. o gestor deve conhecer suas atribuições e os respectivos limites;2. quando o caso ultrapassar suas competências, deve encaminhar as questõespara as pessoas competentes;3. quando tiver dúvida sobre a providência que deve tomar, dentro de suasatribuições, deve providenciar auxílio;4. o gestor deve atuar em tempo hábil, pois não pode ser ele o responsável porproblemas na execução do contrato. Ao contrário, é seu dever cuidar para queo contrato seja cumprido de acordo com as regras fixadas no edital e no contrato.

Granziera (2002, p. 132-133), nos coloca ainda, que o gestor é umencaminhador de questões, e “deve ser, antes de mais nada, alguém preparado paraatuar em várias frentes. Sua função implica ter conhecimento, aptidão para negociar,flexibilidade e firmeza, para garantir, ao final, a execução do contrato nas condiçõesfixadas”.

Entretanto, muitas vezes, pela complexidade do contrato não há como a gestãodele ser realizada por apenas uma pessoa. Neste caso:

A gestão de contratos deve se basear na formação de equipes multidisciplinares,que responderão pelo cumprimento do contrato e pela garantia da maximizaçãodo resultado. Trata-se de um grupo de trabalho que deve ser constituído porempregados provenientes de diferentes setores da empresa que, trabalhandonum mesmo espaço físico ou não, têm um contrato em comum a desenvolver.Tanto a equipe quanto o contrato devem ser colocados sob a responsabilidadede um gestor de contrato, que, normalmente, é indicado, depende e respondediretamente à direção geral da empresa. (MOREIRA, 1999)

Granziera (2003, p. 133) lembra ainda a importância de o gestor conhecermuito bem a organização da empresa em que trabalha. Somente conseguindo um bomenvolvimento com todos os setores é que a gestão poderá bem se desenvolver. Por

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diversos momentos será necessário obter subsídios e informações para seguir na soluçãode problemas que possam vir a ocorrer.

Cabe ao gestor também, tomar atitudes enérgicas quando da sua tomada dedecisões, afinal,

Os gestores de contratos têm como responsabilidade planejar e tomar decisões,visando a otimização do resultado do contrato. Eles devem planejar muito bempara que suas ações correspondam à sua expectativa de planejamento e para quepossam controlar de maneira eficaz os recursos e a assistência de que dispõem.Precisam utilizar de todas as informações possíveis e cabíveis dentro da empresa,para traçar estratégias de desempenho em resistência às restrições, diminuindoa vulnerabilidade das atividades de sua equipe de trabalho. (MOREIRA, 1999)

Portanto, toda a gestão passa pelo controle dos atos, e por isso mesmo queMoreira (1999) nos ensina que esse controle busca a antecipação da ação, oplanejamento para que as atividades correspondam às expectativas.

Giosa, citado por Moreto (2000), coloca que há providências que devem sertomadas pelos gestores em suas ações específicas para a adequada gestão. São elas:

a) a auditagem constante do contrato para garantir a sua plena execução;b) cumprimento das regras e condições estipuladas no contrato;c) cumprimento dos objetivos desta operação;d) acompanhamento das cláusulas que prevêem o reajuste de preços;e) acompanhamento das cláusulas que indicam o período de vigência e eventuaisdenúncias quanto à inabilitação do prestador de serviços.

Lembra-se ainda, que o gestor precisa se antecipar aos problemas, precisa serproativo (GRANZIERA, 2002, p. 134). Com isso, pode evitar que serviços essenciaisvenham a ser paralisados, ou mesmo que os empregados da empresa fiquem paradosaguardando um material para dar continuidade à obra.

O GESTOR DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

Quando acima se afirmou que o gestor é o responsável pelo resultado financeirodo contrato para a empresa, pode-se dizer que, mesmo na Administração Pública issodeve ocorrer. Sabe-se o quanto vai ser pago pelo produto ou serviço, entretanto, cabe aogestor verificar se todos os prazos estão sendo cumpridos, pois, caso contrário, podeestar sendo ocasionado um prejuízo para a Administração. Cabe também fiscalizar se a

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qualidade do material adquirido é compatível com o contratado e com o preço por elepago, sob pena de ser responsabilizado, no caso de um prejuízo para a Administração.

Traz o art. 67 da Lei 8.666/93:

Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por umrepresentante da Administração especialmente designado, permitida a contrataçãode terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essaatribuição.§ 1º O representante da Administração anotará em registro próprio todas asocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o que fornecessário à regularização das faltas ou defeitos observados.§ 2º As decisões e providências que ultrapassarem a competência do representantedeverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil para a adoção demedidas convenientes.

Granziera (2002, p. 130) menciona que na Administração Pública, “o gestor docontrato é um funcionário da Administração designado pelo ordenador de despesa,com a atribuição de acompanhar e fiscalizar a execução do contrato.” Ela lembra aindaque o gestor é o responsável pela administração do contrato, entretanto, como qualquerfuncionário público, existem limites a sua atuação.

O texto legal, segundo Justen Filho (2005, p. 560),

atribui à Administração o poder-dever de fiscalizar a execução do contrato. [...]O dispositivo deve ser interpretado no sentido de que a fiscalização pelaAdministração não é mera faculdade assegurada a ela. Trata-se de um dever, a serexercitado para melhor realizar os interesses fundamentais.

A gestão busca, além de conseguir um melhor aproveitamento do contrato atual,evitar que problemas ocorridos venham a se repetir em futuras contratações, por isso,Moreira (1999) coloca que:

O controle não deve se afirmar somente nas atividades futuras, mas também emposições favoráveis do passado, em comportamentos de concorrentes e/oumodelos já existentes. O importante não deve ser o quanto se faz, mas se está sefazendo o melhor em relação ao seu desempenho passado, ou em relação àempresa ou em relação aos seus concorrentes.

Neste mesmo sentido, Granziera (2002, p. 132) coloca que

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Embora a função do gestor de contratos se inicie efetivamente após a assinaturado instrumento, sua participação na formulação do edital e da minutado contrato é de grande interesse, no que se refere à sugestão de novascondições ou propostas de alteração das condições normalmente adotadas,com base em sua experiência prática. O gestor, na administração do contrato,detecta problemas de redação das condições do edital e do contrato que sóaparecem no momento da execução do objeto.

Mas aí surge a necessidade de o gestor ter a exata noção da importância da suaintervenção e contribuição nesta ação. O que ele está fazendo, ao auxiliar no momentopré-gestão, é, na verdade, facilitar seu próprio trabalho posterior, evitando que possíveisproblemas venham a ocorrer.

Ademais, sem a correta atuação do gestor, dificilmente será possível penalizar aempresa contratada que não realizou as atividades conforme previsão contratual. Suafunção é primordial, vez que sem que os problemas estejam documentados corretamente,não haverá provas da inexecução, disso, portanto, deriva a obrigação do gestor derealizar as devidas comunicações, sempre formalmente e comprovando de que foi dadaa devida ciência aos interessados, como coloca Granziera (2002, p. 134):

As notificações à contratada devem ser feitas sempre por escrito, pois oprocedimento é de natureza formal. A prova de recebimento da notificação deveser juntada no processo. Qualquer comunicação que se faça à contratada, sobreproblemas na execução do contrato, deve fixar um prazo para que, se quiser,apresentar sua defesa prévia. [...] Por mais correta que seja a atuação do gestor,se ele não observas as formalidades legais de comunicação por escrito, com aprova do efetivo recebimento juntada nos autos, dando prazo para a defesa dacontratada, todo o esforço terá sido inócuo, pois o ato, nesse caso, será nulo.

Isso porque, todo processo administrativo para aplicação de sanções a umaempresa inadimplente somente poderá ser instaurado se houver subsídios para tal. Hánecessidade de que todas as alegações feitas estejam devidamente comprovadas, e quemmelhor para fornecer tais informações e documentos do que o próprio gestor.

Com a devida comprovação de que a empresa contratada não está cumprindotodas as determinações contratuais, a Administração Pública pode, e deve, aplicarpenalidade de advertência, multa, suspensão do direito da empresa de participar delicitações e contratar com a Administração por até dois anos e até declarar a inidoneidadeda empresa para licitar e contratar com quaisquer entes da Administração Pública diretaou indireta enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição, ou até que sejapromovida a reabilitação da empresa, conforme o art. 87 da Lei 8.666 de 1993.

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E por essa razão que outra atividade importante a ser realizada pelos gestores éa correta e completa documentação do processo que envolve o contrato, Cintra doAmaral (2003) lembra que o registro das informações relativas ao contrato tem duasfunções básicas: “Primeira, a de manter a memória da gestão do contrato de maneiraque não resulte grande prejuízo se houver substituição do gestor. Segunda, a de preservardireitos perante a outra parte”. É importante que todas as alterações contratuais sejamdocumentadas nos correspondentes aditivos contratuais, bem como devem serregistradas em ata todas as decisões tomadas nas reuniões.

Com isso, vale lembrar que é obrigação do gestor de contratos públicos realizara correta fiscalização do contrato, afinal, caso o contrato não seja adequadamenterealizado, pode haver a responsabilização do servidor que atuou sem a devida atenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já colocado, sem a atuação correta e adequada do gestor de contratos,toda a atuação de equipes inteiras que elaboram editais e planejam as aquisições podeter sido em vão.

Sua importância é imensa, entretanto, muitas vezes o gestor não tem a exatanoção de que ser gestor não é apenas ter seu nome num pedaço de papel, o cumprimentode uma mera formalidade legal, mas sim, o ponto forte de toda a execução daquelecontrato.

Mister se faz lembrar o que Cintra do Amaral (2006) constatou em um cursosobre este tema. Lembra ele que, ao término de uma explanação sobre a gestão decontratos, ouviu um comentário de um dos participantes a outro que mencionava queestava feliz por no outro dia poder voltar a trabalhar. Atitudes como essa, afirma o autor,não podem mais ser aceitas nos dias de hoje. É claro que a execução física do contratoé importante, mas a execução formal tem igual importância, principalmente por se tratarde dinheiro público, onde todos os envolvidos têm a obrigação de prestar contas de terem realizado a sua função da melhor forma possível.

Enquanto na Administração Pública não se tiver a real noção de que é necessárioprofissionalizar a atuação dos gestores, e estes não tiverem a exata noção da proporçãode suas responsabilidades, não será possível obter a otimização dos recursos públicospor meio da execução contratual.

Portanto os gestores devem ser capacitados e instruídos, desta maneira, haverámais profissionalismo e conseqüentemente mais qualidade nas contratações, otimizandoa utilização dos recursos públicos.

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MELHORIAS NOS PROCEDIMENTOS DE READAPTAÇÃO DE

PRIMATA APREENDIDOS PELA POLÍCIA AMBIENTAL DO ALTO

VALE DO ITAJAÍ1

Prof. MSc. Dalmir da Silva 2

Anderson Luiz Pessoa 3

Josiane dos Santos 3

Scheila Corrêa Quint da Silva 3

Resumo: Este trabalho foi realizado entre Fevereiro de 2005 e Dezembro de 2005, na residência deAdimá e Iraci Nuss, localizada no município de Rio do Sul, Estado de Santa Catarina, Brasil. Os objetivosforam: fazer melhorias e enriquecimento dos recintos dos primatas apreendidos pela Polícia Ambiental doAlto Vale do Itajaí, tendo como intenção o enriquecimento ambiental, que é fazer com que o local dosprimatas fique o mais parecido com o ambiente natural ou que lhe de uma melhoria considerável em seushábitos, visando também o bem estar dos animais, fazendo com que o tempo em que fiquem no cativeiroseja o menos estressante possível. As melhorias utilizadas foram feitas em duas espécies de primatas,Bugios (Alouatta guariba) e Macaco Prego (Cebus apella) e foram por meio de métodos experimentais,criados pelo próprio grupo de pesquisa e também utilizando material de levantamento bibliográfico eanálises de pesquisas já realizadas, também foi feita a construção de novo recinto para os primatas,enriquecimento ambiental, que consistiu em colocar novos objetos para manuseio dos animais. As melhoriasfeitas foram refletidas visivelmente no comportamento dos animais, principalmente no Bugio filhote.

Palavras-chave: Primatas, Enriquecimento Ambiental, Comportamento.

Abstract:This work was made from February to December of 2005, at Adimá and Iraci’s home, located inRio do Sul, State of Santa Catrina, Brazil. The goals of this work were: to do improvements and enrichmentsin the apes’ enclosures which were taken by the Alto Vale do Itajaí Environmental Police, having asintention the environmental enrichment, that is to make the apes ‘s enclosure as similar as possible totheir natural habitat, or that gives them a considerable improvement in their habits, aiming also for theanimals well -being, making the time they are at the enclosure as less stressful as possible.The improvementsused were made in two different apes species, Bugios( Allouatta guariba) Prego Monkey (Cebus apella)which were through experiments raised by the research group themselves, also, using a survey ofbibliographic material and already made researches.It was built a new enclosure to them and anenvironmental enrichment, that was made up of placing new objects to be handled by the animals. Theimprovements that were made had a positive and clear outcome, which can be seen in the animals’behavior, mainly concerning the Bugio cub.

Keywords: Primates, Environmental Enrichment, Behavior.

1 Artigo científico referente ao Projeto do Programa Institucional de Bolsas para Grupos de Pesquisa (PGP/UNIDAVI);2 Coordenador do grupo de pesquisa, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI),

mestre em Engenharia Ambiental;3 Acadêmico do Curso de Ecologia, bolsista do PGP/UNIDAVI.

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INTRODUÇÃO

A Polícia Ambiental do Alto Vale do Itajaí, que tem sua sede situada no municípiode Rio do Sul, têm vinte e oito municípios sob sua jurisdição e conta com um pequenoefetivo de treze homens. Dentre os trabalhos realizados pela distinta instituição, está oresgate de animais em cativeiro, ou seja, apreensão de animais nativos, privados de sualiberdade ou mesmo apreensão de qualquer outro tipo de animal, seja ele nativo ousilvestre, que venha a estar sofrendo maus tratos.

Para a grande maioria das espécies de animais o processo de readaptação deveser parte integrante de qualquer projeto de reintrodução em áreas naturais, envolvendoanimais provindos do cativeiro. O processo de reabilitação envolve uma série de aspectosque devem ser obedecidos para que se torne possível a reintrodução desses animaisnovamente em seu meio natural.

Têm-se como objetivo de estudo, melhores métodos de recuperação de primatasapreendidos pela Polícia Ambiental do Alto Vale do Itajaí, fazendo um trabalho emconjunto com as pessoas que já realizam este trabalho, que por sinal é voluntário, osenhor Adimá Nuss e a senhora Iraci Nuss, residentes da cidade de Rio do Sul, SantaCatarina, que fazem este trabalho já a oito anos, cuidando não somente de primatascapturados, mas também de qualquer outro tipo de mamíferos, aves e répteis. Já passarampelas mãos destas pessoas mais de 400 animais apreendidos.

Outros objetivos foram: fazer com que o recinto do animal seja adequado para aespécie e o mais parecido com o meio natural; melhorias na alimentação, este processoenvolve o reconhecimento e utilização do seu alimento natural; mostrar novas técnicaspara as pessoas que já trabalham com a recuperação destes animais.

O trabalho foi realizado com duas espécies de primatas, dois Macacos Prego(Cebus apella), e três Bugios (Alouatta guariba), sendo um filhote.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O trabalho de reabilitação é um processo de treinamento para a sobrevivênciaem ambiente natural a que devem ser submetidos os animais nascidos em cativeiro ouque tenham sido capturados na natureza ainda filhotes e criados em cativeiro (Diniz,1997). Este processo deve envolver aspectos de reconhecimento, identificação,brincadeira e relacionamento com outros de sua espécie. Como visa também fazer comque alguns hábitos alimentares que este adquiriu no cativeiro seja substituído por hábitosnaturais, e métodos que ele possa capturar e identificar seu alimento natural, também

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muito importante no processo de readaptação é o enriquecimento ambiental, que consisteem fazer com que o local do animal seja o menos estressante possível, com isso fazercom que o animal possa sobreviver se solto novamente na natureza.

Segundo Catão Dias (2003), para muitas espécies de animais criticamenteameaçadas de extinção, uma das poucas alternativas de sobrevivência existente é aadoção de práticas intensivas de manejo e movimentação de indivíduos, seja através detranslocações, seja por meio de propagação em cativeiro e subseqüente reintrodução.Porém, “...a soltura de animais, seja através da translocação de espécimes de umapopulação natural para outra, da introdução de animais nascidos em cativeiro em umapopulação natural ou do retorno de animais reabilitados à natureza após algum tempoem cativeiro, implica em algum nível de risco de transmissão de doenças.

No Brasil, em virtude de sua magnífica biodiversidade, e do estado delicado emque muitas espécies animais se encontram, é urgente a implementação de pesquisas,além do apoio as já existentes, que investiguem a ocorrência natural de patógenos e suascorrespondentes enfermidades. Sem esse conhecimento, trabalhos conservacionistasimportantes correm o grave risco de estarem destinados ao fracasso, seja pela morte deanimais translocados e/ou reintroduzidos, seja pela possibilidade de induzirem desastresecológicos, por meio da introdução de doenças em habitats originalmente isentos (CATÃODIAS, 2003).

Segundo Shepherdson (1995), os objetos utilizados como forma deenriquecimento ambiental estimulam o comportamento dos animais diminuindo afreqüência de comportamento anormal.

Segundo Silva (1994), os macacos prego são animais e matas, que vivem nacopas de árvores altas. Alimentam-se de folhas, flores, frutas, ovos e pequenos animais.Inquietos, movimentam-se constantemente de galho em galho. Emitem uma série dediferentes vozes, como guinchos e assovios, manifestando também variadas expressõesfaciais. Andam em grupos de vários animais, de ambos os sexos. As fêmeas parem umfilhote após cento e oitenta (180) dias de gestação, o qual nos primeiros meses de vidaanda agarrado nos pelos ventrais da mãe, e quando mais crescido, passa a andar sobreas costas desta.

Os bugios são animais de hábitos sociais, vivendo geralmente em pequenos gruposde ambos os sexos, várias idades e sempre são chefiados por um macho adulto. Podemser vistos no topo de árvores altas na floresta, alimentando-se ou em repouso. São dehábitos noturnos e crepusculares. Nos movimentos são mais lentos, não se assustandomuito com a presença do homem. Nos deslocamentos entre galhos da floresta, utilizama cauda como um membro auxiliar de locomoção. Alimentam-se de folhas, frutos e

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outras partes vegetais. Os filhotes, enquanto pequenos, andam agarrados nas costas dafêmea (SILVA, 1994).

O animal quando é apreendido geralmente chega com suas reservas energéticasquase esgotadas, pois o consumo vem ocorrendo desde a captura, seguido de alojamentoe alimentação inadequados, durante a fase em que estava em cativeiro. É fundamental queeste animal seja atendido de imediato e fornecido alimentação apropriada à espécie, paraque suas reservas de energia voltem à níveis não tão críticos. Deve-se também deixa-lo a sósem local tranqüilo, sem barulho e com acesso de pessoas limitado. Se isto não for feito,morrem em poucos dias após a chegada ao centro de reabilitação (DINIZ, 1997).

Os primatas são animais muito sensíveis, por isso deve ser feito um trabalho deadaptação ao novo local do cativeiro, para que não ocorra imprevistos. Assim queingressa no cativeiro, inicia-se o processo de adaptação a esta nova condição. Se istonão ocorrer positivamente poderá ocorrer um processo definido como má adaptaçãoou inabilidade de um animal superar efetiva e eficientemente as dificuldades por umlongo período durante sua ambientação. A síndrome de má adaptação corresponde ainanição, emagrecimento mesmo se alimentando, fragilidade tecidual, susceptibilidadeàs infecções por saprófitas, úlceras gastrointestinais e desenvolvimento de parasitas,dentre outras (Diniz, 1997).

Por estas razões, os objetivos devem ser seguidos à risca, para que, a recuperaçãodo animal em questão torne-se um processo viável e para que se tenha um maiorsucesso em sua readaptação, podendo estes novos métodos tornar-se modelo paraoutras instituições que fazem trabalhos de recuperação, tendo em vista que é necessáriofazer trabalhos de readaptação de animais, pois visa a preservação das espécies,manutenção de diversidade genética que é essencial para o equilíbrio das espécies e doecossistema.

MATERIAL E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O Trabalho foi realizado na residência do senhor Adimá Nuss e da senhora IraciNuss, uma chácara localizada na cidade de Rio do Sul, Santa Catarina, Brasil, onde sãolevados os animais apreendidos pela Polícia Ambiental do Alto Vale do Itajaí, quenecessitam de algum tipo de tratamento, ou que só precisam de alguns dias para descansarou passar o stress recebido quando capturado ou recebido no local do cativeiro, parasua posterior soltura no meio natural.

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A realização do trabalho foi entre fevereiro de 2005 e dezembro de 2005, emvisitas regulares, sempre no período vespertino. Neste período foram acompanhadoscinco primatas de duas espécies diferentes, dois macacos prego adultos e três bugios,dois adultos e um filhote.

Para a realização das melhorias necessárias foram utilizados vários materiais.Essas melhorias incluíram a construção de novo recinto para recolocação dos animais,enriquecimento ambiental como também algo envolvendo sua alimentação.

Para a construção de novos recintos foi conseguido como forma de doação poruma companhia de distribuição de gás, jaulas prontas de tamanho considerável. Já queforam doação o custo final para a construção do novo recinto foi bastante reduzido. Estagaiola tem as dimensões de 2,5m e 2m de largura por 2m de altura. Para revestir a jaulafoi utilizado tela galvanizada para impedir a fuga dos animais, para prender a tela tambémfoi utilizado arame galvanizado por ser mais resistente as intempéries do tempo. Para afixação da gaiola no chão foi utilizado cimento, areia e brita. O grupo decidiu fazer todoo piso do recinto de cimento por facilitar a higienização do local e não acumular osdejetos dos animais se no caso fosse areia, assim não atraindo insetos que podem causardoenças nos animais.

Como forma de enriquecimento foram utilizados objetos simples e de fácil acessoao grupo de pesquisa, como varas de bambu, para permitir o animal se exercitar eobjetos variados como pedras, madeiras, potes plásticos e alguns brinquedos que nãocontenham partes que possam ser ingeridas. Estes objetos tipicamente estimulam ocomportamento de investigação ou manipulação, a provisão de novos objetos tem sidomostrado como a causa do aumento da atividade e diminuição na freqüência decomportamento anormal (SHEPHERDSON, 1995).

A construção do novo recinto contemplou apenas um animal que se trata dobugio filhote, pois se via uma necessidade urgente para a translocação deste animal paraum novo recinto, pois o recinto onde o mesmo se encontrava era de dimensões pequenaso que impossibilitava a maior parte dos movimentos deste animal.

Para os outros animais foi utilizado apenas o processo de enriquecimentoambiental. Encontravam-se duas espécies em apenas um recinto, com dimensões de 3me 6,5m de largura por 2,5m de altura. Trata-se de um local semi-coberto, onde háespaços para banhos de sol, chão de terra e local com cimento.

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

Os resultados mais evidentes foram notados no bugio filhote, sendo que a reaçãoapós a colocação deste no novo recinto foi imediata, pulando, saltando e utilizando opoleiros feitos de bambu. Notava-se que estava muito satisfeito com o novo recinto, poiso local onde se encontrava antes era de dimensões muito pequenas, de 0,60cm e 1m delargura por 0,70cm de altura. Provavelmente por seu antigo local ter as dimensõespequenas e impossibilitar muitos dos seus movimentos, notava-se que estava muitocurioso com os novos poleiros e locais de descanso.

Nas primeiras semanas não tinha muita agilidade no novo local, mas passadasalgumas semanas podia se ver nitidamente uma mudança em seus movimentos, tornaram-se mais ágeis e ele parecia mais flexível que antes, por sua musculatura se tornar mais forte.

Com relação aos objetos de enriquecimento, este animal mostrou-se bastanteinteressado, pegando brinquedos e potes colocados no recinto, mordiscando e jogando-os para depois pegá-los novamente. Fazendo este tipo de brincadeira, ele estimula suaagilidade mental e torna-se capaz de raciocinar para possíveis situações que irá encontrarse for solto. Este foi um processo muito importante, pois se este animal for posto em umprojeto de reintrodução à natureza já irá ter capacidade física e agilidade corporal emental necessária para sua sobrevivência posterior.

Com relação aos bugios adultos os resultados vistos com relação aoenriquecimento ambiental foi mínimo ou nenhum, dependendo do interesse do animal.

Por serem animais mais velhos e já acostumados com o ambiente de cativeiro emque viviam antes, por serem de uma espécie muito calma, não gastam muito do seutempo em brincadeiras sendo estas muito raras. Também é uma espécie que possui suabase de alimentação em folhas, precisando de muito tempo para digestão desta dieta,necessitam ficar parado para que possa ocorrer uma digestão mais eficiente.

Com relação aos macacos prego estes são muito mais ativos do que os bugios, edemonstram um interesse muito maior por objetos novos, passam a maior parte do seutempo observado tudo a sua volta, quando não estão comendo, é uma espécie muitogulosa. São muito curiosos, pegam tudo o que há de novo no recinto, mas perdem ointeresse um certo tempo depois.

Estes animais encontram-se no mesmo recinto do bugios adultos, mesmo sendode espécies diferentes tem um convívio tranqüilo, tendo as vezes alguns atritos, queterminam somente em alguns tapas ou empurrões por parte do bugios, mas nada sério.

O comportamento dos animais estudados estão ilustrados conforme gráficos aseguir:

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Gráfico 1: Comportamento dos bugios adultos

Gráfico 2: Comportamento dos macacos prego

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os bugios por serem uma espécie muito calma são muito visados por caçadorespara serem vendidos como animais de estimação, e os pregos por serem de uma espéciede tamanho médio e se treinados são sociáveis com humanos, são até bastanteapreendidos no Alto Vale do Itajaí. Por isto esta modalidade de projeto e pesquisa éimportante para os animais que por ventura forem apreendidos e necessitarem dealgum tipo de acompanhamento.

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Por necessitarem de um acompanhamento sério e eficiente, este trabalho deveser feito continuamente, para que o animal apreendido seja algum tempo depois apto aser reintroduzido novamente na natureza, tornando assim a recuperação do animal emquestão viável e tendo um maior sucesso em sua readaptação, podendo estes novosmétodos descobertos pelo grupo tornar-se um modelo para outras instituições quefazem trabalhos de recuperação semelhantes, tendo em vista que é necessário fazertrabalhos de readaptação de animais, pois visa a preservação das espécies, manutençãode diversidade genética que é essencial para o equilíbrio do ecossistema.

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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E O SISTEMA DE

GERENCIAMENTO ESTRATÉGICO - BALANCED SCORECARD - BSC

Prof. MSc. Sandro Mário ChiquettiEva Cleusa Mazzini

Resumo: No contexto mundial, em virtude da complexidade da economia, da expansão e competitividadedos mercados, verifica-se uma crescente necessidade das organizações em buscarem instrumentos que asauxiliem no planejamento e controle de seus recursos para salvaguardar a atividade empresarial e alcançaro objetivo almejado pela organização. O sucesso empresarial necessita cada vez mais do uso de práticasapropriadas, e planejar é uma atividade vital para qualquer organização que deseja obter este sucesso. Oplanejamento transformou-se em sinônimo de gestão, criando condições práticas para assegurar padrões decompetitividade e sobrevivência. O planejamento, está ganhando força e status dentro das organizações,transformando-se em poderosa ferramenta de gestão, planejar é essencial, mas não o suficiente, necessita-se mensurar para verificar se o que está sendo planejado está sendo atingido. Um instrumento de medição éo Balanced Scorecard criado por Robert Kaplan e David Norton na década de 90 que tem por objetivomensurar o desempenho operacional sob quatro perspectivas: financeira, do cliente, dos processos internose de aprendizado e crescimento onde serão apresentados exemplos de indicadores para cada perspectivapara um melhor entendimento. A visualização das quatro perspectivas permite aos funcionários da linha defrente da organização, compreender as conseqüências financeiras de suas ações e decisões e aos dirigenteso reconhecimento dos vetores de sucesso a longo prazo. Os objetivos e medidas utilizadas no BSC devemderivar de um processo hierárquico norteado pela missão e pela visão do futuro da organização, ambos sãoferramentas eficazes para a organização que trilha o crescimento em busca do sucesso.

Palavras-chave: Planejamento Estratégico, Balanced Scorecard, Ferramenta de Gestão.

Abstract: In the world-wide context, in virtue of the complexity of the economy, of the expansion andcompetitiveness of the markets, an increasing necessity of the organizations in searching instruments isverified that assist them in the planning and control of its resources to safeguard the enterprise activity andto reach the objective longed for the organization. The enterprise success more than needs each time theuse practical appropriate, and to plan is a vital activity for any organization that it desires to get thissuccess. The planning was changedded into synonymous of management, creating conditions practical toassure standards of competitiveness and survival. The planning, is gaining force and status inside of theorganizations, changedding itself into powerful tool of management, to plan is essential, but not enough it,it is needed to mensurar to verify if what he is being planned he is being reached. A measurementinstrument is the Balanced Scorecard created by Robert Kaplan and David Norton in the decade of 90 thatit has for objective to mensurar the operational performance under four perspectives: financier, of the

1 Artigo Científico apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Contabilidade Gerencial;2 Orientador, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), mestre em Administração,

e-mail [email protected];3 Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Contabilidade Gerencial.

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customer, the internal processes and learning and growth where examples of pointers for each perspectivefor one better agreement will be presented. The visualization of the four perspectives allows the employeesof the line of front of the organization, in the long run to understand the financial consequences of its actionand decisions and to the controllers the recognition of the success vectors. The objectives and measuresused in the BSC must derive from a hierarchic process guided by the mission and for the vision of the futureof the organization, both are efficient tools for the organization that treads the growth in search of thesuccess.

Keyword: Strategical planning, Balanced Scorecard, Tool of Management.

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INTRODUÇÃO

Toda organização almeja sucesso, rentabilidade e continuidade para seuempreendimento, assim sendo, todos os colaboradores devem estar cientes e treinadosquanto à missão e visão da organização na sua definição estratégica.

O planejamento estratégico é uma das ferramentas de gestão que auxilia planejare controlar o desenvolvimento da organização ele deve ser composto por um conjuntode ações, envolvendo as áreas de finanças, produção, serviços, marketing e recursoshumanos para que os executivos possam estar acompanhando as respectivas metas eprazos a serem alcançados pela organização.

Após a determinação da estratégia é necessário que seja analisado cuidadosamenteo peso da lucratividade, porque qualquer organização almeja permanecer no mercadocompetitivo e obter retornos financeiros, estes resultam dos desempenhos dasorganizações diante da concorrência, e é na elaboração do Planejamento Estratégicoque devem ser consideradas as cinco forças da concorrência: rivalidade entreconcorrentes, barreira à entrada de concorrentes, poder dos fornecedores, poder doscompradores e produtos substitutos.

Para um planejamento bem sucedido é necessário analisar experiências jáocorridas, aprender com os erros é essencial para o sucesso da organização, mas, só oplanejar não é suficiente para que este sucesso seja pleno, é necessário controlar,utilizando a mensuração das ações através de indicadores. A integração entre oplanejamento estratégico e uma ferramenta de controle no caso o Balanced Scorecard- BSC, é de suma importância para as tomadas de decisões visando atingir os objetivosdefinidos no planejamento estratégico.

O Balanced Scorecard se diferencia porque agrega tanto controles financeirosquanto não financeiros na mensuração de desempenho, preenchendo uma deficiênciados modelos de controle existentes que se baseiam apenas em indicadores financeiros.Um planejamento estratégico bem elaborado juntamente com o Balanced Scorecardtornam-se instrumentos poderosos, eficientes e eficazes para que a organização possaalcançar o sucesso almejado.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

Toda organização faz planos e elabora estratégias para aumentar as chances desucesso em um mundo de negócios que muda constantemente.

O planejamento estratégico é uma ferramenta de gestão que toda e qualquerorganização que queira permanecer e solidificar-se no mercado atual, deve tirá-lo do

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papel e colocá-lo em prática, pois é por meio deste planejamento que a organizaçãopoderá conhecer e melhorar a utilização dos seus pontos fortes, conhecer e eliminar sepossível seus pontos fracos, conhecer e aproveitar as oportunidades internas e tambémconhecer e evitar as possíveis ameaças externas.

Segundo Tiffany (1998), refere-se ao planejamento estratégico não como umaciência que demonstra o que está certo e o que está errado em relação ao futuro, mascom um processo onde prepara a organização para o que está por vir.

A elaboração de um planejamento estratégico juntamente com sua aplicaçãoaumenta a probabilidade de que no futuro a organização esteja no lugar certo e na horacerta, pois este auxilia para que as organizações estejam cientes, mais preparadas e comcontrole das mudanças.

Para Fischmann (1991, p. 25),

O planejamento estratégico é uma técnica administrativa que, através da análisedo ambiente de uma organização, cria a consciência das suas oportunidades eameaças dos seus pontos fortes e fracos para o cumprimento da sua missão eatravés desta consciência, estabelece o propósito de direção que a organizaçãodeverá seguir para aproveitar as oportunidades e evitar riscos.

A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

O planejamento estratégico, se bem absorvido por todos os colaboradores daorganização, ajudará para que se concretize a sua missão e também a correção dosrumos e ao encontro das oportunidades que surgem.

O planejamento classifica-se conforme sua amplitude no tempo e na organizaçãoda empresa, como de curto ou de longo prazo, sendo estratégico, tático operacional,também poderá ser classificado dependendo da situação atual do ambiente comoadaptativo ou contingencial.

Serra et. al. (2003), esclarece os métodos de classificação acima citados:a) estratégico: estabelece os objetivos gerais da empresa, de modo agregado e

em um prazo mais longo;b) tático: implementa atividades de alocação de recursos;c) operacional: estabelece padrões e programas;d) adaptativo: garante a flexibilidade na resposta a mudança no ambiente;e) contingencial: prepara-se para situações emergenciais visando um prazo mais

longo. Pode ser considerado como o processo para a determinação dos objetivos deuma organização e para a disponibilidade de recursos para alcançá-los.

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MISSÃO E VISÃO

Tanto a missão quanto a visão têm sido utilizadas pelas organizações paratransmitir sua ideologia e seus valores.

É no planejamento estratégico que a organização deverá ter definido com clarezasua missão e visão e que não somente a gerência tenha acesso, mas todos oscolaboradores, para que juntos atinjam os objetivos almejados.

Oliveira (2003), refere-se a missão como a razão de ser da empresa, ou seja, adeterminação de onde a empresa quer ir, é o papel que desempenha a organização. Jáa visão pode ser considerada como os limites que os administradores responsáveis pelaorganização conseguem visualizar dentro de um período de tempo mais longo, a visãorepresenta o que a empresa quer ser.

Já para Serra et. al. (2003), determinam a visão como uma percepção não só dasnecessidades do mercado mas de como a organização vai poder atendê-las. A missão éum texto que explica as intenções e aspirações da organização e ajuda a difundir oespírito da empresa.

Tanto a visão quanto a missão são importantíssimas para o desempenho positivoda organização, envolvendo e comprometendo todos os membros da empresa.

METAS E OBJETIVOS

Toda organização precisa ter definido qual a sua meta a ser alcançada juntamentecom seus objetivos, determinando também o tempo que será necessário para que setorne realidade.

Conforme Tiffany (1998), refere-se as metas como resultados mais abrangentesque a organização assumiu o compromisso de alcançar e os objetivos são os processosnecessários para atingir suas metas, onde as metas certas tornam a empresa mais eficaze os objetivos certos tornam a empresa mais eficiente.

Toda organização precisa ter definido qual sua meta a ser alcançada juntamentecom seus objetivos, determinando o tempo que será necessário e disponibilizado paraque se torne realidade.

ANÁLISE SETORIAL E FATORES DE SUCESSO

Em qualquer organização se almeja permanecer no mercado competitivo e obterretornos financeiros. Esses retornos que podemos denominar de lucratividade resultam

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dos desempenhos das organizações diante da concorrência e também a aspectos própriosdo setor de negócios em que está inserida.

Por meio disto quando determinado as estratégias da organização é necessárioque seja analisado cuidadosamente o peso da lucratividade, pois depende dodesempenho do ramo de atividade a que ela pertence.

AS CINCO FORÇAS DA CONCORRÊNCIA

Pode ser realizada a análise setorial por meio do modelo das cinco forças daconcorrência desenvolvido na década de 70 por Michael Porter apud Serra et. al. (2003,p. 74), "por meio desse sistema faz-se uma relação qualitativa entre o potencial delucratividade das organizações que participam de um determinado setor e as chamadascinco forças competitivas.".

FIGURA 1 - As cinco forças competitivas.Fonte: SERRA, Fernando A. Ribeiro. et. al. Administração estratégica: conceitos, roteiro prático e casos.Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.

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Este modelo de Porter, já recebeu algumas modificações dentre elas a de AdamBrandemburger e Barry Nalebuf, que destacaram papel dos complementares, comosendo uma força significativa.

Nesta figura a seta maior indica que as cinco forças que estão posicionadasexternamente influenciam a concorrência no setor que está sendo avaliado. Já nas setasmenores podem influenciar e serem influenciadas pela estratégia da concorrência.

Conforme Serra et. al. (2003, p. 74), este modelo identifica a concorrência, dosquais um está dentro do próprio setor e os demais são externos a força ou o poder,conjunto de tais forças determinará o potencial de lucro do setor.

Essas forças da concorrência serão descritas segundo Serra et. al. (2003).

RIVALIDADE ENTRE CONCORRENTES

Pode ser considerada a mais significativa das cinco forças, temos como aspectosmais importantes a agressividade dos concorrentes, a atividade e as ferramentas utilizadaspara conseguir maior "fatia" no mercado e maiores e melhores pedidos de clientes.

Existem alguns exemplos críticos de sucesso dentro de uma organização, tais como:a) Tecnologia: capacidade de inovação de produtos;b) Produção: qualidade dos produtos, flexibilidade para fabricar produtos

variados;c) Marketing: propaganda inteligente, atendimento cortês;d) Habilidade: tecnologia especial, mão-de-obra com talento superior.

BARREIRAS À ENTRADA DE CONCORRENTES

Se essas barreiras forem difíceis de superar, irão intimidar os concorrentes apenetrarem na área de negócios, mas se forem fáceis de superar serão atrativos fortíssimospara que surjam concorrências.

As seis principais fontes de barreira à entrada de concorrência são: as economiasde escala, a diferenciação do produto, o capital necessário para o ingresso, as desvantagensquanto ao custo, o acesso aos canais de distribuição e políticas governamentais.

PODER DOS FORNECEDORES

Os fornecedores têm o poder se:a) o setor for dominado por poucas empresas fornecedoras;

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b) os produtos forem exclusivos ou diferenciados;c) se o setor não for um cliente importante para os fornecedores.

PODER DOS COMPRADORES

Os compradores têm poder quando:a) compram grande quantidade;b) se os produtos que serão comprados sejam padrão;c) lucros no setor reduzidos;d) o insumo não seja fundamental para a existência;e) não houver benefício econômico para comprador;f) próprios compradores passem a fabricar ou executar o que compram.

PRODUTOS SUBSTITUTOS

Será maior o poder dos produtos substitutos quando:a) oferecer vantagem de preço em relação aos existentes;b) proporciona vantagens de custo/benefício evidentes.

PARTICIPANTES COMPLEMENTARES

São todas as empresas ou pessoas dos quais os clientes e fornecedores de umdeterminado setor transacionam, comprando ou vendendo algo que complemente suaatividade ou produto.

FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO

Podemos identificar como variáveis ou atividades de uma organização que sãodecisivas para que haja o sucesso competitivo em determinado ramo o segmento dosnegócios.

A ANÁLISE SWOT APLICADA À AVALIAÇÃO DO AMBIENTE INTERNO

A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE SWOT

É de suam importância e de muita utilidade a analise SWOT dentro de umaorganização baseada no planejamento estratégico.

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Por meio dela relaciona-se quais são as forças, as fraquezas, as oportunidades eas ameaças que rondam a organização, intervindo e orientando para melhorar eaperfeiçoar o desempenho.

O nome SWOT derivado da língua inglesa significa conforme Serra et. al. (2003,p. 86):

a) Strenght: Força;b) Weakness: Fraqueza;c) Opportunities: Oportunidades;d) Threats: Ameaças.

Esta analise apesar de possuir limitações é uma ferramenta fundamental e éutilizada por organizações de todos os tamanhos. Sua função principal é possibilitar queconsigam alcançar os objetivos, por meio de uma avaliação critica dos ambientes internoe externo.

FIGURA 2 - Relação entre os aspectos da análise SWOT e o ambiente.Fonte: SERRA, Fernando A. Ribeiro. et. al. Administração estratégica: conceitos, roteiro prático e casos.Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.

No planejamento estratégico, a organização além de planejar deverá tambémmensurar, fazer uma união entre o planejamento e outra ferramenta importantíssimapara as tomadas de decisões, para que sejam as mais eficientes e mais eficazes o Balanced

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Scorecard - BSC, assim as organizações conseguirão verificar se o que está sendoplanejado está sendo atingido e é por meio dessas ferramentas de gestão que aorganização que a utilizar conseguirá atingir o sucesso almejado.

BALANCED SCORECARD

O BSC E SUA EVOLUÇÃO

Na década de 90 as organizações tinham a visão de que os métodos utilizadospara a avaliação e desempenho em geral nos indicadores contábeis e financeiros, estavamse tornando obsoletos. Então David Norton e Robert Kaplan foram patrocinados em umestudo desenvolvido entre diversas empresas de ramos diferentes, para quedesenvolvessem um novo modelo de medição e desempenho.

Na realidade uma empresa chamada Analog Devices, utilizava um recém-criadoScorecard que mensurava as atividades utilizadas dentro da organização em melhoriacontínua, além dos métodos já conhecidos conseguiam medir prazos de entrega aclientes, qualidade e ciclo de processos de produção e também a eficácia nodesenvolvimento de novos produtos.

Por meio desses estudos David e Robert ampliaram e transformaram esse novométodo de avaliação em Balanced Scorecard, predominante não somente em indicadoresfinanceiros e contábeis, mas em quatro perspectivas distintas: financeira, cliente, internae de inovação e aprendizado.

Esse novo método de mensuração conseguia refletir o equilíbrio entre os objetivosde curto e longo prazo, tornando-se assim um sistema de medição estratégica, ou seja,o Balanced Scorecard estava vinculado com a estratégia organizacional.

Segundo Kaplan; Norton (1997, p. IX),

O Balanced Scorecard BSC estava sendo utilizado não apenas para esclarecer ecomunicar a estratégia, mas também para gerenciá-la. Na realidade, o BSCdeixou de ser um sistema de medição aperfeiçoado para se transformar em umsistema gerencial essencial.

O BALANCED SCORECARD

Kaplan (1998, p. 11),

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O BSC é um sistema de avaliação de desempenho empresarial, e seu principaldiferencial é reconhecer que os indicadores financeiros, por si mesmos, não sãosuficientes para isso, uma vez que só mostram os resultados dos investimentos e dasatividades, não contemplados os impulsionadores de rentabilidade a longo prazo.

Segundo Crepaldi (2004), pode-se definir o BSC como uma ferramenta de gestãoestratégica que auxilia na tradução e na utilização da visão, missão e aspiração estratégicada organização em objetivos tangíveis e mensuráveis.

Esses objetivos conforme Kaplan; Norton (2004), devem complementar epreservar os indicadores financeiros já utilizados e equilibrar estes indicadores deresultados com outras perspectivas que são - clientes, processos internos e aprendizadoe crescimento juntamente com as das finanças e interligando tudo isso a estratégia daorganização.

A organização conseguirá usufruir de um ótimo resultado se todos estiveremmobilizados e entenderem corretamente esse processo de gestão para que juntos consigamalcançar os objetivos e cumpri-los tanto de curto, médio e longo prazo.

A definição e integração dos objetivos e das iniciativas destas perspectivasconstituem os pilares do sistema Balanced Scorecard.

ETAPAS DE MONTAGEM DO BALANCED SCORECARD

Como esse método ainda não é utilizado por muitas organizações, estas podemse perguntar de que forma podem montar o Balanced Scorecard? Existem três passosimprescindíveis para a montagem desse método estratégico "BSC".

Crepaldi (2004), ressalta que no primeiro passo tem-se a chamada definiçãoestratégica. De que adianta ter por décadas definido a missão da organização e deixa-laem um belo quadro emoldurado na parede, se não for posto em pratica. A estratégia daorganização deve de ser clara e conhecida por todos os colaboradores, pois todo oesforço do Balanced Scorecard, pode ser perdido em ações que nada tem a ver com osreais objetivos da corporação.

Já no segundo passo temos como base as quatro perspectivas básicas: a financeira,a do cliente, a dos processos internos e a da inovação. Para cada uma delas sãoselecionadas metas e indicadores, para que possam estar verificando no prazo queacharem necessário se estão sendo atingidas ou não e podendo assim corrigir ou alteraros erros que ocorreram durante o percurso.

No terceiro passo é a definição da periodicidade de acompanhante por meio decada indicador instituído. Tem-se acompanhamentos ligados por exemplo a produção

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que necessitam que sejam examinados a cada dia outros como a "fatia" que possuem nomercado podem ser avaliados de tempos em tempos.

O mais importante é garantir que a organização consiga coletar os dados deforma precisa e eficaz, porque de nada adiantará obter tais informações se nãocorresponderem a realidade da organização, poderá ter foco nas informações corretas,mas nunca conseguirá chegar até elas.

O Balanced Scorecard depois de colocado em prática e de se observar, na maioriadas organizações procuram aprofundar esse sistema de diversas maneiras, tantoindividuais, organizacionais e até interdepartamentais, com a finalidade de alcançaruma meta comum.

A UTILIZAÇÃO DO BALANCED SCORECARD

O Balanced Scorecard deve ser aplicado como um sistema gestão estratégicauma forma de assegurar não só o desenvolvimento, mas também a implementação daestratégia.

Kaplan; Norton (1997) afirma que o Balanced Scorecard pode ser utilizadopara:

a) esclarecer e obter consenso em relação à estratégia;b) comunicar a estratégia a toda a empresa;c) alinhar as metas departamentais e pessoais a estratégia;d) associar os objetivos estratégicos com metas de longo prazo e orçamentos

anuais;e) identificar e alinhar as iniciativas estratégicas;f) realizar revisões estratégicas periódicas e sistemáticas;g) obter feedback para aprofundar o conhecimento da estratégia e aperfeiçoá-la.Na maioria dos sistemas gerenciais percebe-se a ausência de conseguirem

implementar e obter feedback sobre a estratégia, já no Balanced Scorecard isso nãoocorre e ele consegue assegurar que a organização fique alinhada e focalizada naimplementação da estratégia de longo prazo, tornando-se base para o gerenciamentodas organizações.

PERSPECTIVAS COM BASE PARA O BALANCED SCORECARD

O Balanced Scorecard deve ser utilizado como um sistema de comunicação,informação e aprendizado, não como um sistema de controle.

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As quatro perspectivas do Scorecard conseguem equilibrar se os objetivos tantode curto quanto os de longo prazos e todas essas medidas apontam para a execução deuma estratégia integrada.

PERSPECTIVAS FINANCEIRA

Kaplan; Norton (2004, p. 7),

O desempenho financeiro, indicador de resultado (lag indicator), é o critériodefinitivo do sucesso da organização. A estratégia descreve como a organizaçãopretende promover o crescimento de valor sustentável para os acionistas.

A perspectiva financeira avalia a lucratividade da estratégia. Permite medir eavaliar resultados que o negócio proporciona e necessita para seu crescimento edesenvolvimento, assim como para satisfação dos seus acionistas. Os objetivos financeirosrepresentam metas de longo prazo, gerar retornos acima do capital investido.

Kraemer (s.d.), o Balanced Scorecard permite tornar os objetivos financeirosexplícitos, além, de permitir ajustes entre unidades de diferentes negócios e de diferentesfases de seus ciclos de vida e crescimento.

PERSPECTIVA DO CLIENTE

É por meio do Balanced Scorecard que os executivos irão identificar os segmentosde clientes e mercados no qual haverá competição de negócios, e quais as medidas quedeverão ser utilizadas do desempenho da unidade nesses segmentos-alvo. Essaperspectiva é composta por várias medidas básicas para obter sucesso na estratégia,dentre elas estão algumas essenciais segundo Kaplan; Norton (1997) a satisfação docliente, a retenção de clientes, captação e lucratividade com os segmentos específicosdos clientes e do mercado.

Os vetores dos resultados essenciais para os clientes são os fatores críticos paraque os clientes mudem ou permaneçam fiéis aos seus fornecedores.

A perspectiva do cliente possibilita e permite que os executivos articulem as estratégiasde clientes e mercados que irão proporcionar maiores lucros financeiros futuros.

PERSPECTIVAS DOS PROCESSOS INTERNOS

Esta é elaborada após as perspectivas financeira e dos clientes, pois essas fornecemas diretrizes para seus objetivos.

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Os executivos determinam os processos internos críticos nos quais a organizaçãodeve atingir a excelência. Kaplen; Norton (2004, p. 7), "o desempenho dos processosinternos é um indicador de tendência de melhorias que terão impacto junto aos clientese nos resultados financeiros".

Os processos internos são as diversas atividades empreendidas dentro daorganização que possibilitam realizar desde a identificação das necessidades até asatisfação dos clientes. Compreende além dos processos de inovação (criação de novosserviços e produtos), o operacional (comercialização e produção) e também de serviçospós venda (auxílio ao consumo após aquisição do produto).

A busca da excelência nos processos internos no presente é a certeza de obtersucesso financeiro no futuro.

PERSPECTIVA DE APRENDIZADO E CRESCIMENTO

Oferece o alicerce para conseguir obter os objetivos das outras perspectivas. É pormeio dela que a organização deve identificar a infra-estrutura que seja necessária paragerar crescimento e melhorias a longo prazo, as quais provem de três fontes principais:

a) pessoas;b) sistemas;c) procedimentos organizacionais.Outro fator dessa perspectiva é identificar as capacidades de que a organização deverá

dispor para adquirir processos internos capazes de oferecer valor para clientes e acionistas.Como indicadores importantes podem ser considerados segundo Kaplan; Norton

(1997), nível de satisfação dos funcionários, retenção dos funcionários, treinamentosdos funcionários e habilidades dos funcionários.

A satisfação e o ânimo dos funcionários são fundamentais para que se consigaalcançar o que leva mais rapidamente ao objetivo traçado: produtividade, respostasrápidas as exigências do mercado e a qualidade dos serviços aos clientes.

Serra et. al. (2003, p. 127), "portanto os resultados dependem fundamentalmenteda competência e da satisfação do quadro de funcionários, da infra-estrutura tecnológicae de que haja lima para a ação".

AS RELAÇÕES DE CAUSA E EFEITO NO BSC

A cadeia de causa e efeito deve agrupar todas as quatro perspectivas de umBalanced Scorecad que termina em objetivos financeiros e representa um tema estratégicopara a unidade de negócios da organização.

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A tabela abaixo demonstra exemplos de objetivos, indicadores, metas e iniciativasa serem tomadas em relação a cada uma das perspectivas do Balanced Scorecard. Essesindicadores estão relacionados conforme a ligação de causa e efeito.

QUADRO 1 - Causa e efeito entre os indicadores do BSC.Fonte. SERRA, Fernando A. Ribeiro. et. al. Administração estratégica: conceitos, roteiro prático e casos.Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.

O BALANCED SCORECARD COMO SISTEMA GERENCIAL

Segundo Kaplan; Norton (1997), o Balanced Scorecard, antes de iniciar oprocesso de criação e implantação a organização deve tomar duas providências:

a) obter o consenso na alta administração sobre os objetivos que estão levandoa adoção dessa ferramenta;

b) definir o arquiteto do processo, ou seja, a pessoa que comandará geralmenteum alto executivo de apoio a organização.

Crepaldi (2004) destas quatro etapas do Balanced Scorecard:

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a) etapa I - arquitetura do programa de medição - deverá ser selecionada aunidade organizacional e também identifica as limitações e as oportunidades;

b) etapa II - definição dos objetivos estratégicos - os executivos elaboram umarelação de objetivos que a organização queira alcançar, dentre eles seráselecionado três ou quatro de acordo com cada perspectiva.

c) etapa III - escolha dos indicadores estratégicos - deverá ser selecionado osindicadores que mais mostrarão a intenção que a organização tem com aScorecard, e pra cada indicador selecionado deverá ser descoberto as fontesde informações necessárias e como usá-las. Após feito isso, a organizaçãodeverá elaborar um documento que descorra as intenções e o conteúdo doBSC a todos os colaboradores da organização, para que todos possamtrabalhar e produzir para um mesmo propósito.

d) etapa IV - elaboração do plano com os líderes e finalizar a implantação,integrando assim o BSC ao sistema gerencial da organização.

O Balanced Scorecard introduz quatro novos processos que auxiliam asorganizações a conectar os objetivos de longo prazo às ações de curto prazo.Identificados como vetores críticos em Kaplan (1998).

FIGURA 3 - Os vetores críticos do Balanced Scorecard.Fonte: SERRA, Fernando A. Ribeiro. et. al. Administração estratégica: conceitos, roteiro prático e casos.Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.

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Os processos e suas principais funções podem ser assim sintetizados:a) esclarecendo e traduzindo a visão e a estratégia: auxilia os executivos

responsáveis a desenvolver o consenso em torno da estratégia da organização,expressando-a em idéias que irão orientar a ação no nível local;

b) comunicando e estabelecendo vinculações: permite que os executivosresponsáveis comuniquem a estratégia para todos os colaboradores daorganização e as conectem às metas das unidades e dos indivíduos;

c) planejando e estabelecendo metas: permite que a organização integre o planode negócios e o plano financeiro;

d) feedback e aprendizado estratégico: a organização tem acesso para efetuartestes quanto as hipóteses em que se baseou a estratégia e executar os ajustesnecessários.

Mas em todo processo de gerenciamento existem barreiras a serem vencidas, epara a implantação do sistema gerencial Balanced Scorecard não é diferente, o autorCrepaldi (2004, p. 310) seleciona as principais barreiras:

a) os líderes da organização não compra a idéia do modelo;b) tomam o BSC como uma ferramenta de indicadores e não como um sistema

de gestão da estratégia;c) comunicação ruim que não explica para os funcionários o que é o modelo e

como ele deve ser utilizado;d) falta de integração entre o BSC e o processo de gestão.

LIMITAÇÕES DO BALANCED SCORECARD

Alguns autores apontam críticas e limitações ao Balanced Scorecard, apesar deser a principal inovação nos últimos anos, como descreve Crepaldi (2004):

a) o BSC não consegue identificar se a estratégia utilizada pela organização estácoerente com a estrutura e as limitações que ela possui;

b) existem faltas de subsídios ou seja, ferramentas pra a definição das metas dasperspectivas do BSC;

c) não é muito flexível as mudanças estratégicas, ou seja, após iniciado somentepoderá fazer mudanças antes ou depois, pois, fica-se preso àquilo que tem;

d) não possui definição concreta para a importância das quatro perspectivas, ouseja, todas são consideradas iguais ente os indicadores. Pode-se precisar dedisposição em "sacrificar" a performance de alguns indicadores, diante deganhos em outros;

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e) é carente no que diz respeito à inter-relação entre os indicadores controladose o desempenho da organização. Pode ser que um grupo de indicadoresapresente valores satisfatórios e o outro grupo apresente valores nãosatisfatórios.

CONCLUSÃO

É consenso no mundo dos negócios que as organizações devem estar sendoconstantemente repensadas e seu desempenho avaliado. É na elaboração e na aplicaçãodo Planejamento Estratégico com o auxilio do Balanced Scorecard - BSC que teremosresultados mais eficazes na busca dos objetivos organizacionais.

Identificar essas tendências que impulsionam as mudanças, torna-se o pontochave do sucesso das organizações futuras. É com a utilização do Planejamento Estratégicoe do Balanced Scorecard que as organizações conseguirão alinhar suas estratégias denegócios, avaliando e mensurando seus pontos fortes e fracos e atentos as ameaças e asoportunidades.

É necessário salientar que tanto o Planejamento Estratégico quanto o BalancedScorecard devem permanecer claro para todos que fazem parte da organização, ondeos colaboradores terão plena ciência da importância dos mesmos. O BSC fornece ofeedback para aprofundar o conhecimento da estratégia e aperfeiçoa-la e também senecessário utilizá-lo para possíveis correções e melhorias. E é por meio dessas ferramentasde gestão que a organização que a utilizar conseguirá atingir o sucesso almejado.

REFERÊNCIAS

CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade gerencial: teoria e prática. 3. ed. São Paulo: Atlas,2004.

FISCHMANN, Adalberto Américo. Planejamento estratégico na prática. 2. ed. São Paulo: Atlas,1991.

KAPLAN, Robert S. Balanced scorecard. Revista HSM Menagement, São Paulo, p. 11-16, nov./dez.1998.

KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Rio de Janeiro:Campus, 1997.

KAPLAN, Robert S.; NORTON, David P. Mapas estratégicos - Balanced Scorecard: convertendo ativosintangíveis em resultados tangíveis. 4. reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

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KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Sistema de gerenciamento estratégico - balanced scorecard -nas instituições de ensino superior. Itajaí, SC: [s.d.]. Disponível em: <http://www.gestiopolis.com/Canales4/ger/sistemageren.htm>. Acesso em: set. 2006.

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia epráticas. 19 ed. São Paulo: Atlas, 2003.

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TIFFANY, Paul. Planejamento estratégico: o melhor roteiro para um planejamento estratégicoeficaz. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

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171Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 171-194, jan./dez. 2008

GESTÃO DE PESSOAS A PARTIR DO DIAGNÓSTICO DE

RECURSOS HUMANOS1

Sônia Novaes Estácio2

Fabrisia Franzoi3

Anderson Renan Will4

Bruna Stefania Hasse5

Eloise Coninck6

Resumo: Este trabalho consiste em uma proposta para a gestão de Recursos Humanos na empresa RexMáquinas e Equipamentos Ltda. Sua elaboração foi gerada após análise e diagnóstico da situação atual dofator humano, onde foi elaborada uma pesquisa de clima organizacional, que é o resultado de uma relaçãode fatores que devem ser estudados separadamente, mas desenvolvidos para que todos caminhem lado alado proporcionando um retorno positivo para o crescimento da empresa. Para a aplicação do questionáriodividimos a equipe da empresa em três setores: Administrativo, Técnico e Operacional. Os fatoresanalisados foram: O Trabalho em Si, Integração Interdepartamental, Salário, Supervisão, Comunicação,Progresso Profissional, Relacionamento Interpessoal, Condições Físicas de Trabalho, Benefícios, Segurança,participação e Orientação para Resultados. Realizada a pesquisa e a tabulação de dados, foi notada umagrande diferença entre as posições críticas dos setores analisados, com diferenças significativas, tantopositivas quanto negativas. Percebe-se que as maiores carências, assim como grande parte das necessidadesde mudanças e as solicitações para as reavaliações dos procedimentos internos são decorrentes do setorIndustrial. Neste setor os colaboradores mostram-se descontentes com muitas das situações atuais. Nosetor administrativo grande parte das respostas ficou dividida. Para o setor Técnico encontramos asavaliações mais positivas da pesquisa, onde o contentamento dos colaboradores, tanto com sua liderança,como com seu ambiente de trabalho, entre outros mostram pontos fortes deste setor, porém nem todas asrespostas foram totalmente positivas, verificando-se com facilidade algumas carências e dificuldades.Com a realização da pesquisa e tabulação dos dados, ficou de fácil percepção alguns dos pontos fortes efracos da empresa analisada; os pontos mais fortes da organização são referentes a relação interpessoale ao comprometimento dos colaboradores com a empresa para a obtenção de seus objetivos, ferramentaesta que pode ser de muito valor a qualquer organização.

Palavras-Chave: Diagnóstico, Colaboradores, Organização.

Abstract: This work consists in a proposal for the Human Resources managing at the company RexMáquinas e Equipamentos Ltda. Its elaboration was generated after analysis and diagnosis of the runningsituation of its human factor, where an organizational climate research was elaborated, the one which is

1 Artigo científico referente ao Projeto de Pesquisa PGP-UNIDAVI.2 Orientadora, mestre e professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI); e-mail:

[email protected] Professora do Curso de Direito da UNIDAVI; e-mail: [email protected] Acadêmico do Curso de Ciências Contábeis/UNIDAVI; e-mail: [email protected] Acadêmica do Curso de Administração/UNIDAVI; e-mail: [email protected] Acadêmica do Curso de Administração/UNIDAVI; e-mail: [email protected]

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the outcome of a factors relation that must be studied separately, but developed so that every one walk sideby side providing a positive return for the company’s growth. For the questionary application we divided theteam of the company in three sectors: Administrative, Technical and Operational. The analysed factorswere: The Work by itself, Interdepartment Integration, Salary, Professional Progress, InterpersonalRelationship, Work Physical Conditions, Benefits, Safety, Participation and Guiding to Results. After theresearch and data tabulating was accomplished, great diffrences became perceptive between the criticalpositions of the analysed sectors, with significant differences, as positive as negatively. It is perceived thatthe greatest needs, as well as great part of changings necessities and the requirements for the internalproceedings assessments are outcoming from the industrial sector. At this sector a great part of theanswers were divided. For the technical sector we found the assessments more positive of the research,where the contentment of the collaborators , so with their leadership, as with their working environment,among other things show strong points of this sector. However, not all the answers in this sector weretotally positive, some needs and difficulties were easy verified. With the accomplishment of the researchand data tabulating some strong and weak points of the analysed company became of easy perception; thestrongest points of the organization are relating to the interpersonal relationship and to the engagement ofthe collaborators with the company to obtain their purposes, such tool may be of very high value to anyorganization.

Keywords: Diagnosis, Collaborators, Organization

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INTRODUÇÃO

As pessoas são o fator mais importante para alcançar e manter o sucesso daempresa. Para tanto, deve haver uma simbiose, um relacionamento de benefício mútuopara ambas as partes.

Impulsionado pela observação de que grande número de empresasempreendedoras adequaram-se a esta tendência de aperfeiçoar as relações humanas edesenvolver práticas que estimulem o seu desenvolvimento, empresas estas que tornam-se reconhecidas geralmente em sua região ou no setor em que atuam, este trabalhointenciona o estudo da Gestão de Pessoas para aprimorar esta ferramenta em empresasque ainda não a possuam.

É fato que todas as empresas são diferentes, em termos de administração, deorganização operacional, de visão estratégica, de composição de ativos, enfim, de todosos componentes que formam a sua essência. Portanto, cada uma merece um estudodetalhado para a tomada de decisões que estruturem um sistema de Gestão de RecursosHumanos.

Para aplicação dos conhecimentos obtidos foi escolhida a empresa Rex Máquinase Equipamentos Ltda para pesquisar e, a partir dos resultados obtidos, formular-lhe umaproposta de estruturação para Gestão de Recursos Humanos.

Através da apresentação dos métodos de desenvolvimento e interpretação deresultados, espera-se que outras empresas possam tê-lo como elemento norteador dodesenvolvimento e estudo de seu próprio ambiente, a fim de melhorá-lo e corrigir asdevidas carências detectadas.

BASE CONCEITUAL

A Administração de Recursos Humanos (ARH) envolve uma série de atividadesintegradas tais como; Psicologia e Sociologia Organizacional, Eng. Industrial, Eng. DeSegurança, Medicina do Trabalho, Desenvolvimento Humano, entre outras. Estasatividades formam a relação de trabalho e sua qualidade atinge diretamente a capacidadeque a organização possui para alcançar seus objetivos.

O desenvolvimento de pessoas e a utilização do capital humano são atividadescruciais para qualquer departamento de RH, uma vez que a importância desse capitalhumano cresce a cada dia. Podemos concluir que o RH é o responsável pelorelacionamento da organização com seus colaboradores e todo esse sistema quandodevidamente integrado proporciona muito mais possibilidades para a empresa atingirseus objetivos.

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Os recursos humanos trazem o brilho da criatividade para a empresa. As pessoasplanejam e produzem os produtos e serviços, controlam a qualidade, vendem osprodutos, alocam recursos financeiros e estabelecem estratégias e objetivos paraa organização. Sem pessoas eficazes, é simplesmente impossível para qualquerempresa atingir seus objetivos. (MILKOVICH; 2000, p.19)

É importante ressaltar que os assuntos tratados pela ARH referem-se tanto aosaspectos internos da organização como análise e descrição de cargos, planos decarreira e de salários, benefícios, segurança, e outros, e aos assuntos externos, taiscomo pesquisa de mercado, recrutamento, legislação trabalhista, relação com sindicatosentre outros. Ou seja, é de fácil percepção que as ações do ARH são amplas, integradase ligadas diretamente a intenção de capacitar a empresa para a obtenção de suasperspectivas organizacionais.

Hoje, vive-se uma realidade econômica que exige pessoas dedicadas ecomprometidas com os interesses gerais da empresa; sendo assim, os colaboradoresdevem estar envolvidos com todas as metas e objetivos a serem alcançados. A satisfaçãoprofissional, assim como a motivação, a lealdade e o envolvimento com a empresa estãorelacionados ao clima organizacional desenvolvido.

O clima organizacional, por sua vez, encontra-se totalmente relacionado à culturaorganizacional; ele decorre de um conjunto de crenças, atitudes e visões pré-definidaspelo corpo fundador e administrador da empresa, onde grande parte das decisõesinternas é tomada, levando em consideração o quadro cultural da organização.

Taylor, com sua ênfase no aumento da produtividade declarou:

“Torna-se dever daqueles que estão do lado gerencial estudar deliberadamenteo caráter, a natureza e o desempenho de cada trabalhador com a visão dedescobrir suas limitações, por um lado, e, por outro lado, e mais importante,suas possibilidades de desenvolvimento; e então, deliberada e sistematicamente,treinar, ajudar e ensinar esse operário, dando-lhe, sempre que possível, asoportunidades de avanço que finalmente o tornam capaz de realizar aquele tipode trabalho que é mais interessante e lucrativo, condizendo com suas habilidadesnaturais”.

Com essa afirmação, Frederick W. Taylor, patriarca da administração científica,deixa nítido que o líder deve estar munido de percepção e envolvimento com sua equipe,para que possa desenvolver, entender e conhecer seus colaboradores e obter maioraproveitamento, o que resulta em bem estar pessoal de cada integrante da equipe eresultado positivo na busca da maximização dos objetivos da empresa.

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O clima organizacional é o resultado de uma relação de fatores que devem seranalisados separadamente, mas estudados e desenvolvidos para que caminhem de formaparalela, proporcionando desenvolvimento ao profissional e retorno para a organização.

Toda empresa é composta de indivíduos, cada um com suas perspectivas,limitações, valores pessoais e grandes potenciais; estes itens precisam ser avaliados edesenvolvidos por toda gerência, pois o grau de importância dado pela empresa a essesfatores pode alterar o clima da organização de forma positiva ou negativa. Assim, podemosver que é através do clima organizacional que “administra-se” a motivação de seuscolaboradores.

O líder tem como função principal influenciar pessoas para que essas tenham umcomportamento em prol dos objetivos da empresa; e essa não é uma tarefa fácil, poispara alcançar esse comprometimento o líder precisa conquistar confiança, respeito e,principalmente, cooperação de cada componente do grupo.

Para o líder a cada dia surgem novos desafios, mas também novas conquistaspodem ser alcançadas. Cabe a ele utilizar e resgatar, quando preciso for, o potencial decada colaborador de sua equipe e conseqüentemente utilizar essa ferramenta para ocrescimento da empresa.

Um líder deve escutar as pessoas, pensar e executar as melhores soluções juntoa seus colaboradores, promover e estimular as pessoas para o sucesso, manter a ética,respeitar as leis, ter integridade, desde as diretrizes da visão, missão, princípios e valoresda empresa e ser responsável, divulgando e se comprometendo somente com o quepode cumprir. A liderança exige deste profissional principalmente atitude, ética,conhecimento de liderança e de comportamento humano, ação e principalmente,capacidade de comunicação.

É preciso que fique claro que a comunicação não é um processo simples ou queexija pouco empenho das partes; ela é sim um processo complexo, que deve estarmunido de mecanismos que facilitem o repasse de mensagem e a decodificação dapessoa que deve absorver a mensagem enviada.

Comunicar-se significa tornar comum, fazer com que a outra pessoa ou outrogrupo compreenda e compartilhe de uma idéia, algum fato, alguma necessidade, algumadificuldade ou vitória alcançada; ou seja, é de fácil entendimento que a comunicaçãodesenvolve uma ponte entre as pessoas e informações.

Para o sucesso de uma comunicação é imprescindível que a mensagem sejasimples e de fácil entendimento pelo receptor; desta forma, é fundamental que o canalescolhido para o envio da mesma seja o mais apropriado à situação.

Uma forma de melhorar a comunicação interna é através da implantação de umprograma de sugestões, que abre espaço às idéias e à participação de todos os

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colaboradores, que muitas vezes estão na busca do seu espaço no mercado, encontrandoaí não só uma possibilidade de melhorias no ambiente de trabalho, mas também em suaqualidade de vida e desenvolvimento profissional.

Investir em novos talentos e aproveitar o capital humano muitas vezes escondidosem setores da empresa pode trazer inúmeros ganhos à organização, além deproporcionar a possibilidade de desenvolver colaboradores através de treinamento,pois muitas vezes detecta-se a necessidade de um maior desenvolvimento de um setor oude uma área, buscando melhorias criativas, direcionando assim os esforços de todospara a busca do aperfeiçoamento.

Toda empresa, em busca de melhorias necessita de uma boa administração, quecompreende quatro funções básicas, já enunciadas por Henry Fayol: planejar, organizar,liderar e controlar.

O planejamento é fator básico para que se desenvolvam as outras atividadesadministrativas, visto que são intrinsecamente dependentes. Conforme Oliveira (1998,p.34), o planejamento deve ser visualizado como um processo composto de ações inter-relacionadas e interdependentes que visam o alcance de objetivos previamenteestabelecidos.

Toda empresa tem objetivos, mas nem sempre possui metas para atingi-los. Paraisso, antes de tudo, é preciso que a organização elabore um planejamento estratégico,que servirá de ponto de partida para tal.

Esse planejamento refere-se ao planejamento futuro e aos meios disponíveispara alcançá-los, a fim de assegurar um ótimo desenvolvimento para a empresa emlongo prazo.

O Planejamento Estratégico envolve a diretoria da organização; o PlanejamentoTático, apenas determinados setores.

O tático se caracteriza por ser de médio prazo, por ser desenvolvido pelo nívelintermediário da empresa e por enfatizar as atividades decorrentes em seus vários setores.Este planejamento geralmente se divide em vários planos, entre eles o Plano de RecursosHumanos, que envolve recrutamento, seleção, treinamento e remuneração doscolaboradores nas várias atividades dentro da empresa.

Há ainda o Planejamento Operacional, voltado às áreas de gerência. É bemdetalhado e especifica com precisão que recursos a empresa irá utilizar para alcançarcada objetivo. Para funcionar corretamente, ele precisa estar de acordo com oplanejamento estratégico e com o tático.

Este planejamento visa a eficiência no ambiente interno.Pode-se dizer que o planejamento Estratégico é dividido em vários Planejamentos

Táticos e este por sua vez, dividido em vários Planos Operacionais. O processo de planejar

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é o que define as metas, objetivos e decide sobre os recursos que serão usados e astarefas que terão para alcançá-los adequadamente.

Todos os colaboradores devem estar cientes das metas a serem atingidas pelaempresa; portanto, o fator comunicação é indispensável para que a empresa obtenha osresultados esperados de seu planejamento.

O processo de planejamento faz-se necessário na estruturação do setor deRecursos Humanos, auxiliando com eficiência inclusive nas práticas de remuneraçãoadotadas pela empresa.

Remuneração é todo processo que envolve pagamentos e recompensas aoscolaboradores pelo trabalho por eles prestado. Trata-se de uma das partes que envolvemo vínculo empregatício, formado pela prestação de serviço de um lado, e pelacontrapartida ou retorno oferecido pelo empregador, de outro. Já dizia Milkovich (2000,p. 378), como a remuneração é a principal arma para atrair, manter e motivar osempregados, bem como o principal custo empresarial, ela precisa ser administradacom cuidado.

Os componentes da remuneração total são: remuneração básica (salário),incentivos salariais (bônus, participação nos resultados) e benefícios (plano de saúde,seguro de vida, etc). Dois procedimentos extremamente importantes no processo deplanejamento de remuneração são a análise e descrição, e a avaliação e classificação decargos.

A análise de cargos determina os requisitos, tarefas e responsabilidades de umcargo. Os campos a serem trabalhados englobam os requisitos físicos, mentais, deresponsabilidade e condições de trabalho. O processo de análise envolve observaçãono local de trabalho, entrevista e questionário respondido pelo ocupante do cargo eentrevista com o supervisor. O processo de descrição do cargo representa um registrodocumentado e sintetizado dos dados do cargo como unidade organizacional. Geralmentecontém: descrição básica; descrição das tarefas e responsabilidades do cargo; instrução,conhecimentos e experiência necessária; etc.

A avaliação e classificação dos cargos são esquemas tradicionais para perfilar ossalários dentro da organização.

Para Chiavenato (1999, p.229):

A avaliação de cargos é o processo através do qual se aplicam critérios decomparação dos diversos cargos para se conseguir uma valoração relativa internados salários dos diversos cargos. A classificação de cargos é o processo decomparar o valor relativo dos cargos a fim de colocá-los em uma hierarquia declasses que podem ser utilizadas como base para a estrutura de salários.

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Interessante esse planejamento de remuneração adotado por muitas empresas,baseado em critérios definidos de maneira clara, e posto ao alcance e conhecimento detodos. Desta forma, é criada uma eqüidade interna no que concerne à remuneração,tornando o ambiente mais pró-ativo. Assim, cada colaborador fica ciente de sua posiçãoatual e de como poderá avançar na carreira dentro da empresa, tornando seu trabalhomais eficiente e eficaz, e buscando sempre aperfeiçoar seus conhecimentos e habilidadesatravés, principalmente, de treinamentos, que devem ser incentivados pela empresa.

Conforme Samuel C. Certo, citado por Chiavenato (1999, p. 295), treinamento éo processo de desenvolver qualidade nos recursos humanos para habilitá-los a seremmais produtivos e contribuir melhor para o alcance dos objetivos organizacionais.

Os objetivos específicos mais importantes no processo de treinamento são:formação profissional, especialização e reciclagem. Através destes, a empresa poderáatingir objetivos mais amplos, como o aumento direto da produtividade e da qualidade,a adequação às exigências de mudanças impostas pelo ambiente, além de ser um incentivomotivacional, por auxiliar as pessoas a atingir suas metas profissionais, tornando-asmais eficientes, eficazes e ampliando seu conjunto de CHA (conhecimentos, habilidadese atitudes).

Um tipo de treinamento muito importante e que deve ser constantemente realizadoé o que se refere à segurança no ambiente de trabalho, em especial aquele dispensadoaos integrantes da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) que tem suaexistência assegurada pelos artigos 163 a 165 da CLT, tratada especialmente na NR 5(Norma Regulamentadora). Neles está estabelecido que toda e qualquer empresa tem aobrigação de organizar e manter uma comissão para prevenção de acidentes.

O conforto e a saúde no trabalho são comprovadamente fatores de produtividade.Os custos com ausências por doenças e suas implicações previdenciárias e legais sãomuito maiores que o investimento nos programas de segurança e saúde no trabalhodeterminados pela legislação.

Outro investimento compensatório à empresa são as atividades relacionadas àGinástica Laboral, para muitas empresas ainda uma novidade.

Esta é uma atividade física que deve ser orientada por um profissional (responsávele especializado), praticada durante o horário do expediente e no próprio local detrabalho, que absorve em média de 10 a 15 minutos diários e traz benefícios pessoais eno trabalho para o colaborador, pois tem como objetivo minimizar os impactos negativosdecorrentes do sedentarismo na vida e na saúde do trabalhador. Para a empresa, aginástica laboral também traz muitas vantagens, pois a diminuição nos problemas desaúde dos colaboradores significa aumento de produtividade, além do que precisamos

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considerar os benefícios psicológicos que desenvolve nas pessoas como uma alternativapara amenizar tensões, aumentar auto-estima, motivação pessoal entre tantas outras,que acabam refletidas no ambiente de trabalho.

A Ginástica Laboral propicia aos colaboradores:• Benefícios fisiológicos: combate e prevenção das doenças profissionais; combate

e prevenção do sedentarismo, estresse, depressão, ansiedade; melhora daflexibilidade, força, coordenação, ritmo, agilidade e a resistência, promovendouma maior mobilidade e melhor postura; contribui para a saúde e a qualidadede vida do trabalhador; propicia através da realização dos exercícioscaracterísticas preparatórias, compensatórias e relaxantes no corpo humano,bem como os principais benefícios fisiológicos relacionados ao exercício sobreos sistemas cardíaco, respiratório, esquelético, entre outros bem documentadosem evidências científicas.

• Benefícios psicológicos: motivação para as novas rotinas; melhora da auto-estima e da auto-imagem; desenvolvimento da consciência de cuidado corporal;redução das tensões emocionais; aumento de concentração nas atividadesdesempenhadas; promove a sensação de disposição para a jornada de trabalho,pois reduz a sensação de fadiga.

METODOLOGIA

A partir dos estudos realizados, e partindo das diretrizes formuladas através destetrabalho de pesquisa que consiste em proposta de Gestão de Recursos Humanos apósum diagnóstico da situação atual do fator humano da empresa (pesquisa de climaorganizacional), necessita-se fundamentar e tecer explicações acerca da forma edesenvolvimento deste.

NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA

O tipo de pesquisa pode ser caracterizado de acordo com vários critérios. Paraclassificação desta pesquisa, determinou-se:

a) Pela utilização dos resultados: aplicada, uma vez que os dados coletadossomados ao conhecimento obtido no processo de pesquisa servirão para estruturaruma proposta.

b) Segundo a natureza dos dados: pesquisa de dados objetivos ou de fatos.c) Segundo a procedência: dados primários, pois a pesquisa foi realizada através

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de dados coletados diretamente, e não da análise de dados informados por outra fonte.Necessariamente utilizada em toda e durante toda pesquisa, a revisão bibliográfica

consiste no levantamento de material publicado que dê sustentação teórica e auxilie odesenvolvimento deste, por meio de livros, revistas, periódicos e espaços virtuais, entreoutros.

Para elaboração de proposta e verificação de dados, utilizou-se a pesquisa decampo, que objetiva o levantamento de informações sobre os fatores estudados, emdeterminado local, data e sobre uma determinada população. Antes da pesquisa decampo, procede-se a pesquisa de fatores e estruturação dos meios de coleta(questionários), e após, ocorre a organização, tabulação e descrição dos resultados.

No presente trabalho, a pesquisa de campo compreende a observação diretaextensiva através de questionários e também o levantamento de dados a posteriori,relativos ao conjunto estudado.

O método, conforme Richardson (1999, p.70) “significa a escolha dosprocedimentos sistemáticos para a descrição de fenômenos”. Pode ser quantitativo ouqualitativo. O primeiro emprega a quantificação tanto na coleta de dados como tambémno tratamento por meio de técnicas estatísticas. O segundo não emprega o instrumentalestatístico para tratamento dos dados.

Técnica de Coleta de Dados

Para o cumprimento da proposta de estruturação de um sistema de RecursosHumanos para a empresa, faz-se necessário conhecê-la. A maneira mais eficiente eprática é através do questionário, direcionado aos colaboradores, com perguntas quevisam a avaliação do clima organizacional.

O questionário, segundo Lakatos e Marconi (1985, p.74) “é um instrumento decoleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem serrespondidas por escrito e sem a presença do orientador”. Têm como objetivos descreveras características e medir as variáveis do grupo alvo da pesquisa.

Segundo as recomendações da metodologia da pesquisa, o questionário aplicadofoi estruturado considerando doze variáveis (fatores) que influenciam no climaorganizacional.Em relação a cada variável, foram elaboradas de uma a três questões.Questionários devem ser limitados: nem muito extensos, de forma que causem fadiga;nem muito curtos, para que possam oferecer informações suficientes. Vinte a trintaquestões é o recomendável.

O questionário elaborado possui 21 questões com cinco alternativas de escolha

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conceituais em ordem decrescente, para avaliação da pergunta proposta. Embora comrespostas conceituais, estas irão se reverter em números a fim de facilitar a análise. Háainda uma questão com variáveis qualitativas, versando sobre benefícios, e duas questõesque solicitam, do entrevistado, ordenação de fatores motivacionais (a primeira) e fatoresque o “prendem” a empresa (a segunda), devendo ele ordená-las de forma crescente,do principal ao menos relevante. Cada questão tem dez fatores para enumeração.

As perguntas são todas fechadas, facilitando a resposta por parte do entrevistadoe, posteriormente, a tabulação e análise destas pelos pesquisadores.

Ao final das questões, ainda foram compreendidas mais duas, perguntando sobrea opinião dos entrevistados em relação à importância e à clareza das perguntas. Destaforma, pode-se avaliar a capacidade de entendimento dos entrevistados, que, quandoestá muito aquém dos previsto, pode distorcer a confiabilidade das informações obtidas.

Resultados Obtidos e Informações para Análise

Conforme já fora dito, a respeito da estrutura dos questionários, foram elaboradas:a) 21 questões, com cinco alternativas de resposta cada uma, devendo ser

assinalada apenas uma delas. As respostas têm caráter conceitual, mas para facilitar aanálise emprega-se uma numeração a fim de avaliar os resultados, conforme o seguintequadro:

Tabela 01 – Como Interpretar dos Resultados

Fonte: Questionário aplicado na empresa Rex Máquinas e Equipamentos Ltda.

A partir das respostas, foram construídos gráficos de cada questão e traçar atendência central de cada questão. O critério para medida de tendência central destetrabalho é a média aritmética das respostas.

Importante ressaltar que as questões que abordam ou estão ligadas a um mesmofator não precisam estar dispostas juntas no questionário. No momento da análise,agrupam-se estas para facilitar o diagnóstico.

b) 1 questão, com 6 variáveis qualitativas, abordando o fator benefícios, podendo,conforme orientação dada, ser escolhidas até duas alternativas.

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c) 2 questões abordando, uma delas a importância de determinados fatores paraa satisfação no trabalho, e a outra os motivos que levam o entrevistado a permanecer naempresa. Ambas as questões trazem 10 fatores elencados, os quais os entrevistadosdeverão enumerar do mais importante, com o número um (1), até o menos importante,com o número dez (10). Tais questões visam comparar os anseios do colaborador e osatrativos da empresa, à visão do entrevistado.

Para análise da pontuação obtida, inverte-se o valor dos pontos, conforme oseguinte quadro:

Tabela 02 – Como interpretar os resultados de determinadas questões

Fonte: Questionário aplicado na empresa Rex Máquinas e Equipamentos Ltda.

d) 2 questões de avaliação do questionário respondido pelo entrevistado. Suaforma de estrutura e análise equipara-se àquelas 21 citadas no item “a”.

A empresa pesquisada conta com 82 colaboradores: 15 na área técnica, 14 naárea administrativa e 52 na área de produção. Para a pesquisa, estes setores tambémforam separados, e obtiveram-se: 12 questionários respondidos na área técnica; 12 naárea administrativa e 41 na área industrial. Em alguns questionários, as questões deenumeração tiveram interpretação errônea e, portanto, para não prejudicar a análise,foram descartadas as respostas de: 1 questionário da área técnica, 3 da área administrativae 11 da área de produção.

A aplicação dos questionários deu-se em setembro de 2006, com todos oscolaboradores que estavam presentes e que aceitaram responder o questionário.

APLICAÇÃO

Após a pesquisa, tabulação de dados e análise individualizada dos fatores doclima cabe fazer uma análise geral da situação da empresa apontada pelos colaboradores.

Na pesquisa realizada nota-se a falta de percepção das metas dos setores,especialmente na área administrativa e industrial. O setor industrial ainda aponta um nívelpouco satisfatório no que tange a distribuição do trabalho entre os colaboradores. Essa mádistribuição pode causar, para os colaboradores, estresse e cansaço àquelessobrecarregados, ou tédio àqueles que falta trabalho. O planejamento é importante tambémpara mostrar aos colaboradores a importância de suas funções na cadeia produtiva.

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O salário, principal forma de retribuição da empresa pelo trabalho doscolaboradores, é também uma das principais variáveis que afetam o clima organizacional,pois é o principal responsável pelo poder de compra e satisfação das necessidadesmateriais dos colaboradores. Embora não seja suficiente para “motivar”, uma distorçãona prática de remuneração torna muitos colaboradores insatisfeitos. Há, na empresapesquisada, grande insatisfação no setor industrial quanto as suas políticas salariais.

Além do salário, é crescente a preocupação das empresas com o bem-estar doscolaboradores, oferecendo-lhes outras facilidades e vantagens, bem como pagamentosindiretos: são os benefícios. O benefício mais visado na empresa é o plano de saúde.Como segunda opção, houve divergências entre os setores: prêmio de freqüência parao setor industrial; seguro de vida para o setor administrativo e divisão do setor técnicoentre auxílios em alimentação e em educação. Cabe ainda a observação de que a empresaadota o benefício de seguro de vida para todos os colaboradores. Entretanto, comodemonstra a pesquisa, este benefício é o segundo colocado no setor administrativo,sendo muito pouco citado nos demais setores. Deve-se, portanto, rever a validade dosbenefícios oferecidos.

Uma variável que influi diretamente na satisfação e rendimento dos funcionáriosé o estilo de liderança. Na pesquisa desenvolvida, as chefias foram avaliadas sobre trêsaspectos:

• Conhecimento, como sendo o conjunto de informações, noções e experiênciasem determinado assunto. O setor industrial teve uma avaliação baixa quanto aoknow-how de suas lideranças;

• Relacionamento, como a empatia entre supervisor e seus subordinados. Essaquestão teve avaliação positiva em todos os setores, com destaque para a áreatécnica e administrativa;

• Feedback do supervisor, que é o retorno sobre desempenho do supervisorpara o subordinado. Sua falta tende a tornar os colaboradores desorientados,e também inseguros por não receberem este retorno. Este ângulo de avaliaçãodos supervisores teve melhor desempenho no setor técnico. Os dadosapresentados no setor administrativo deixam claro que este retorno por partedos supervisores precisa ser melhorado. O setor industrial mostra “sinalvermelho”, o que demonstra uma situação crítica, pois mais da metade doscolaboradores indicam nunca receberem retorno dos serviços efetuados.

Outros dois fatores analisados foram comunicação, que explora o conhecimentoe eficácia da difusão de informações relevantes sobre a empresa, e também relacionamento

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interpessoal (colaborador-colaborador, colaborador-supervisor e colaborador-empresa). No aspecto de comunicação (assuntos e canais de comunicação da empresa,normalmente desenvolvidos em reuniões) é perceptível a fraqueza apresentada naempresa, visto suas avaliações extremamente negativas na área administrativa e industrial.O setor técnico mostrou resultados mais positivos, mas que ainda podem ser melhorados.O relacionamento interpessoal está excelente no setor técnico, no qual não houvenenhuma avaliação que não conceituasse como bom ou ótimo o relacionamento existente.Os outros setores também tiveram uma avaliação muito positiva, embora no setor industrialuma significativa parcela dos entrevistados não se sente totalmente à vontade paraexpressar suas opiniões pessoais. Com estes dois fatores, pode-se remeter também àintegração interdepartamental, no qual se avaliam relações e cooperação entre os setoresda empresa. Faz-se necessário mencionar também o planejamento existente em cadasetor, conhecido pelos colaboradores. Relacionamento e cooperação tiveram umaavaliação dita como boa, embora apenas uma pessoa no setor industrial classificasseeste item como ótimo. O planejamento de metas para os setores (operacional e tático)deve ser mais bem desenvolvido em todos, visto que se obteve uma avaliação baixa emtodos estes.

Outro fator que vem crescendo de importância e de “peso” no conceito doscolaboradores é as perspectivas de progresso profissional, fomentada pelos incentivose treinamentos e pelas possibilidades de promoções e plano de carreira que a empresaoferece. O treinamento deve ser visto pela empresa como um investimento para a melhoriado conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes de seus colaboradores. A empresaapresenta grande deficiência em treinamentos em todos os setores, com “alerta vermelho”para o setor industrial, cuja avaliação foi extremamente negativa. Todos os setoresprecisam de atenção especial em treinamento. As perspectivas de progresso profissionaltambém estão defasadas no setor industrial, satisfatórias no setor administrativas e boasno setor técnico.

Quando se fala em estabilidade no emprego, busca-se a opinião sobre a segurançados colaboradores na continuidade do seu vínculo empregatício. Uma das formas detransmitir segurança para os colaboradores é através de avaliações de desempenhobaseadas em critérios pré-determinados, e de conversas entre supervisor e colaborador,além de uma boa comunicação interna. O setor técnico apresenta, de forma geral, altasegurança em relação à estabilidade. Os setores industrial e administrativo também têmuma boa segurança quanto à estabilidade.

Um conjunto de questionamentos pode ser direcionado ao colaborador visandoconhecer a sua sensação de integridade, dentre os quais a estabilidade e relacionamentos

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já abordados. Enfoca-se agora os subconjuntos “Condições Físicas” que avalia aqualidade de instalações, equipamentos e ferramentas de trabalho, e “Segurança”, quebusca conhecer a satisfação dos colaboradores em relação aos meios que a empresautiliza e o comprometimento desta em garantir a integridade física de suas equipes detrabalho. Destacam-se aqui as avaliações muito positivas dos setores técnico eadministrativo quanto às condições físicas e segurança no ambiente de trabalho. Aavaliação do setor técnico, entretanto, denuncia a falta de conscientização quanto aouso de EPI’s (do setor industrial). O setor industrial necessita de um pouco mais deatenção sobre uso de equipamentos de proteção individual. Sua avaliação não foi ruimquanto à segurança, mas por ser um grupo mais suscetível a riscos físicos, requer umpouco mais de atenção. Instalações e equipamentos estão satisfatórios para este grupo,mas podem ser melhorados (através de leiaute, controle de manutenção, etc.).

Uma questão que revela a identidade colaborador-empresa foi elaborada,questionando se os mesmos sentiam-se responsáveis pelos resultados e desempenho daempresa. Os resultados foram positivos em todos os setores, um pouco inferior apenasna área técnica. Esta questão revela o estímulo e a maneira como a empresa imprimeresponsabilidades aos colaboradores. Mesmo assim, reitera-se a necessidade deplanejamento e feedback para que os colaboradores possam “situar-se” na empresa.Da mesma forma, vê-se a necessidade de mais estímulo à participação dos colaboradores,cuja avaliação foi fraca em relação a este quesito, mostrando-se um pouco superiorapenas no setor técnico.

De forma geral, os colaboradores consideraram a pesquisa fácil de serrespondida, com algumas poucas exceções nos setores administrativo e industrial, quea consideraram razoavelmente fácil (mediana). Desta forma, ratifica-se a validade econfiabilidade das informações contidas nesta pesquisa.

CONCLUSÃO

Através desta pesquisa, dos conhecimentos obtidos através de pesquisabibliográfica e do diagnóstico de Recursos Humanos obtido com o questionário declima organizacional, foram identificadas algumas não-conformidades que precisam deatenção mais urgente. Pode-se dizer que o porte da empresa e a complexidade dasrelações humanas são suficientes para motivar a implantação de um setor específicopara Gestão de Recursos Humanos.

O trabalho deste setor envolve várias práticas, algumas das quais já citadas.Entretanto, cita-se aqui algumas prioridades e sugestões que a empresa pode utilizarpara melhorar seu ambiente interno e suas relações humanas.

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Comunicação na Empresa

Na empresa analisada percebemos que há problemas de comunicação, onde oscolaboradores mencionam a falta de reuniões, de conversas para esclarecimentos,ausência de feed back em relação aos serviços prestados e, principalmente, falta deplanejamento. As pessoas precisam trabalhar com objetivos pré-definidos, sabendoexatamente onde precisam e devem chegar.

Quando estudamos os canais de comunicação percebemos que são várias asmaneiras de trocar informações dentro de uma empresa, mas é extremamente importanteque a informação seja passada de maneira clara, objetiva e de fácil entendimento, poisnota-se que devido à falta de transmissão ou falta de esclarecimento destas, que muitosproblemas acontecem.

Nos dias atuais encontramos inúmeras formas de comunicação interna nasempresas. Abaixo segue a relação dos canais mais utilizados:

• Cartas e e-mails: As cartas, apesar de com menor freqüência, ainda são usadas,pois elas podem ser uma maneira direta de comunicar-se com determinadapessoa, demonstrando assim um direcionamento objetivo entre emissor ereceptor. Os e-mails caracterizam-se por ser uma maneira prática, rápida eorganizada de troca de informações com uma ou diversas pessoas ao mesmotempo.

• Conversas informais: muitos administradores optam por almoçar ou tomar cafécom seus colaboradores, pois neste momento de descontração muito pode seobter de informações da situação da organização, ou muito pode se repassar aessas pessoas.

• Manuais de procedimentos: um manual bem formulado e de fácil compreensãopode servir como direcionamento em muitas situações, devendo serconstantemente atualizado.

• Planilhas e cronogramas: o planejamento realizado através de planilhas ecronogramas é de essencial importância para o alcance dos objetivos de umaempresa, mas a gerência precisa distinguir se estas ferramentas estão sendoutilizadas de maneira adequada e se estão sendo repassadas a todas as pessoasnecessárias e, principalmente, se todos conseguem entender estas informações.

• Informativos e cartazes: essas são maneiras de atingir uma grande quantidade dereceptores. Para utilizar esta ferramenta precisa-se levar em consideração o localonde será inserida a informação e a linguagem utilizada precisa ser objetiva e clara.

• Reuniões: esta é uma ferramenta de suma importância e deve ser explorada pela

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gerência da melhor forma. É necessário que ocorra um planejamento/cronogramapara reuniões. Neste processo os líderes precisam identificar a periodicidadenecessária de reuniões com toda equipe ou com determinadas células, para que osproblemas e a situação de maneira geral sejam discutidos, a fim de promover oprogresso da organização.

Ginástica Laboral

Conforme já foi colocado, trata-se de um programa de promoção da saúde docolaborador, que traz diversos benefícios para a empresa, como retorno do investimentoefetuado, mas que pode trazer malefícios se mal aplicado e mal administrado, além de setornar ineficiente. Ele deve ser aplicado por pessoas especializadas e que respeitem anecessidade física de cada colaborador. Por exemplo, colaboradores em uma linha deprodução de uma fábrica necessitam de exercícios específicos para os grupos muscularesutilizados para que não ocorra lesão muscular; por outro lado, trabalhadoresadministrativos, como secretárias, atendentes, etc. são acometidos de problemas depostura, musculares ou visuais.

Planejamento

Este tipo de ação deve definir os rumos do negócio, mas para isso, é necessáriorealizar um diagnóstico da organização, dos pontos fortes e fracos, das ameaças e dasoportunidades existentes, ou seja, uma análise ambiental, no contexto global. Tudo éefetuado pelo nível mais alto da organização, que possui uma visão mais ampla. Trata-sedo planejamento estratégico.

Consoante o planejamento estratégico, os níveis intermediários devem traçar osplanos táticos, voltados à empresa, que servirão para nortear as atividades dos diversossetores, a fim de alcançar o que foi previamente estipulado em longo prazo pela cúpulada organização.

Obedecendo ao planejamento tático, deve ser feito também o planejamentooperacional, detalhando recursos, rotinas e procedimentos necessários para ocumprimento das metas estabelecidas.

Programas de Sugestões

A gerência administrativa precisa se conscientizar da importância desta ferramenta,pois trata-se de uma estratégia chave para a competitividade da empresa, na busca para

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alcançar sua metas, pois muitas vezes excelentes idéias podem estar ligadas a pessoasque trabalham diretamente com o produto em desenvolvimento, e estas pessoas, quandonão passam por programas de desenvolvimento podem não ser identificadas. Outratarefa essencial dos administradores é convencer os colaboradores da participação.

Os Programas de Sugestões podem ocorrer de várias formas, algumas já estãodesenhadas ou estão sendo desenvolvidas por empresas, mas a organização pode tambémelaborar e desenvolver um programa que esteja inserido dentro de sua realidade. Mas ofundamental é que as regras para a gestão das idéias devem ser criadas deixando claroqual a necessidade da empresa e o que ela procura obter com o desenvolvimento desteprograma.

Seguem alguns exemplos práticos de Programas de Sugestões:• O Dia da Sugestão: as empresas determinam um dia da semana ou do mês onde

são discutidas as sugestões elaboradas pelos colaboradores.• Caixas de Sugestões: onde as pessoas encontram a sua disposição uma caixa,

e diariamente podem deixar suas sugestões. • Painel de Sugestões: onde oscolaboradores podem deixar em murais suas idéias, para visualização de todos.

Como premiação pela sugestão, é distribuído um valor em dinheiro ou emincentivos indiretos, que podem ocorrer de várias formas, tais como cursos etreinamentos, premiação em dinheiro, premiação em bens duráveis, viagens, etc.

É importante que seja dada a devida atenção a estes programas, pois se osescalões mais altos não acreditam no potencial criativo do seu pessoal, a empresa estarádesprezando um contingente enorme de idéias, o que, em médio prazo, vai gerar édesmotivação.

Uma sugestão pode, além de contribuir com novas propostas de trabalho, ser umdiagnóstico acompanhado de uma solução, algo novo a ser proposto e que poderátrazer para a organização vantagens, que normalmente geram economia para a empresa.

Remuneração

O processo de remuneração é um dos mais complicados na gestão de recursoshumanos, por depender de vários fatores. Um plano de remuneração provoca forteimpacto nos colaboradores e no desempenho organizacional: deve auxiliar a organizaçãono alcance de seus objetivos e deve ser ajustado às características desta e do ambienteem que está inserida.

Existem vários critérios que devem ser definidos para montar um plano deremuneração:

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• Equilíbrio interno e equilíbrio externo: o plano de remuneração deve ser justodentro da empresa e ser competitivo no mercado. O equilíbrio interno podeser obtido com a avaliação e classificação dos cargos e o equilíbrio externocom uma pesquisa de salários.

• Remuneração fixa ou variável: a remuneração pode ser paga em uma base fixaou pode variar conforme critérios pré-definidos (alcance de metas e lucros,por exemplo). A remuneração fixa representa menos riscos para ambas aspartes, mas a remuneração variável pode estimular um melhor desempenhoindividual ou das equipes.

• Desempenho e tempo de casa: são dois critérios de remuneração. O primeiropode ser baseado em fatores produtivos ou em sugestões vindas dosfuncionários, ou de avaliação periódica de desempenho. Já o segundoconsidera o cargo e o tempo total que o colaborador está na empresa. Ocritério “tempo de casa” não estimula necessariamente a melhora dodesempenho e superação constante do colaborador.

• Cargo ou pessoa: a remuneração por cargo focaliza a forma como este estáinserido na estrutura e como contribui para os valores da organização. A outraprivilegia o desempenho do colaborador que ocupa o cargo. A remuneraçãopor cargo funciona bem quando os cargos não mudam, o ambiente é estável eas pessoas visam o crescimento através de promoções na carreira. Aremuneração por desempenho é ideal quando as pessoas têm vontade deaprender, o ambiente é mutável e há pouca mobilidade vertical.

• Prêmios monetários e prêmios não-monetários: o plano de remuneração podepriorizar recompensas monetárias (salários, prêmios, etc) e recompensasnão-monetárias (promoções, segurança no emprego, etc);

• Remuneração aberta ou remuneração confidencial: os colaboradores podemter acesso à informações sobre remuneração e práticas salariais ou essasinformações podem ser restritas. A remuneração aberta é indicada quando háenvolvimento dos colaboradores e confiança e comprometimento naorganização. A remuneração fechada induz as pessoas a se sentirem menosrecompensadas do que realmente são.

Para a empresa pesquisada, recomenda-se a observância do equilíbrio internoaliado à remuneração por cargo e por pessoa, visto que não possui nenhuma práticadefinida em critérios específicos e também não possui muita mobilidade vertical. Paratanto, necessita de um manual de descrição de cargos, além da padronização de critériospara avaliação de desempenho.

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Para trabalhar o equilíbrio interno é necessário trabalhar a avaliação de cargos,a partir da análise e descrição dos cargos.

A análise e descrição devem ser alteradas sempre que necessário, a fim de adequara documentação às alterações verificadas no decorrer do tempo.

Há vários métodos de avaliação de cargos, que buscam informações na descriçãodos cargos e na análise de funções para fundamentar as decisões. Os métodos de avaliaçãosão comparativos, podendo comparar os cargos entre si, como no método deescalonamento simples e no método de categorias predeterminadas, ou comparam oscargos com alguns critérios de avaliação, como no método de comparação por fatorese no método de comparação por pontos.

O método de avaliação por pontos é um dos mais utilizados e bem fundamentados,e, sendo assim, detalhar-se-á este método para ser aplicado na empresa pesquisada.

O primeiro passo é a elaboração das descrições e análise dos cargos a seremavaliados.

Em seguida, escolhem-se os fatores de avaliação, que são critérios para avaliar ecomparar os cargos. Os fatores deverão ser universais e variáveis, isto é, estarem presentesem todos os cargos e apresentarem diferentes valores para cada um deles. Os fatorespodem ser dos grupos: requisitos mentais (instrução, experiência, iniciativa); requisitosfísicos (esforço físico, concentração mental ou visual); responsabilidades (por materiais eequipamentos, dinheiro e documentos, contatos internos e externos, supervisão de pessoas,resultados da empresa); condições de trabalho (ambiente físico, riscos de acidente).

Após a escolha, definem-se os fatores de avaliação, dando um significado precisopara cada um.

Em seguida é feita a graduação dos fatores de avaliação; geralmente de quatro asete graus. Essa etapa é fundamental para o sucesso da avaliação.

Após a graduação, os fatores de avaliação são ponderados, atribuindo-se umpeso específico para cada um deles. Assim, o fator iniciativa terá a mesma graduação queo fator esforço físico, por exemplo, mas seus pesos podem ser diferentes.

Então atribuem-se os pontos dos graus dos fatores de avaliação dentro dagraduação dos fatores. A primeira coluna (grau 1) apresenta os pontos da ponderaçãoefetuada, e as demais podem ser preenchidas por um sistema de progressão aritméticaou de progressão geométrica.

A partir disso, monta-se o manual de avaliação de cargos que deve conter todosos fatores definidos, suas graduações e pontuações. Com o manual pronto, pode-seavaliar cada cargo da empresa e, após, fazer a organização dos níveis salariais baseadosna avaliação dos cargos.

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Segurança

Para instituir a CIPA em uma empresa, ela necessita ter no mínimo 20colaboradores, e registrar a comissão no Ministério do Trabalho.

Após a documentação registrada, precisa-se de candidatos por parte doscolaboradores, para os cargos de titular ou suplente. Após este processo, ocorre umaeleição de voto secreto. Por parte do empregador, indicará anualmente colaboradorespara ocupar os cargos de presidentes e 1º secretário, sendo que o vice-presidente seráeleito, e o 2º secretário a organização poderá entrar em um consenso, se indica ou seeste cargo concorre à votação.

A quantidade de cipeiros é proporcional ao número de funcionários.Referente ao mandato, ele tem a duração de um ano, podendo o colaborador se

reeleger por apenas uma vez.E não esquecendo, que o colaborador eleito, tem estabilidade até um ano após o

término do mandato.Para iniciar as atividades de cipeiros, a empresa precisa oferecer um treinamento

com duração de 20 horas, sobre segurança, prevenção de acidentes, combate a incêndios,AIDS, entre outros.

A CIPA tem vários deveres dentro de uma empresa. Dentre eles podemos citar aelaboração do mapa de risco através dos riscos identificados e classificados, pois éatravés dele que pessoas leigas no assunto, podem identificar áreas que ofereçam algumtipo de perigo. Mas é preciso, periodicamente, fazer uma avaliação dos riscos paraverificar se eles continuam com o mesmo grau de acentuação ou não.

É preciso também divulgar aos demais colaboradores as metas fixadas e osobjetivos alcançados. Um modo de divulgação e interação com o grupo é através daSIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes), que é obrigatória.

A SIPAT acontece uma vez ao ano e se dá através de palestras sobre segurança eprevenção de acidentes, tanto no trabalho, quanto domésticos, quanto no trânsito;palestras sobre drogas, violência, DST e AIDS, enfim, todos os assuntos que podeminfluenciar no dia-a-dia do colaborador.

Os cipeiros também precisam colaborar no desenvolvimento e implementaçãodo PCMSO, do PPRA, do LTCAT e de demais documentos:

PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – é umdocumento que norteará as ações práticas do programa.

Um médico responsável e contratado pela empresa fará os exames obrigatórios,conforme descrito do PCMSO. A Norma Regulamentadora, que cabe ao PCMSO, é a NR 7.

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PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais - é oreconhecimento, avaliação e controle dos riscos ambientais existentes no ambiente detrabalho. Estes riscos podem ser físicos, químicos, biológicos.

A elaboração, implementação, acompanhamento e avaliação do PPRA deverãoser feitas pelo Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina doTrabalho - SESMT ou então por pessoa ou equipe de pessoas a critério do empregador.A norma do PPRA é a NR 9.

PPP - Perfil Profissiográfico Previdenciário - é um documento histórico-laboral, apresentado em formulário instituído pelo INSS, contendo informaçõesdetalhadas sobre as atividades do colaborador, exposição à agentes nocivos à saúde eoutras informações de caráter administrativo. É obrigatório na saída de um funcionárioda empresa e passível de multa se não preenchido corretamente.

LTCAT - Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho –classifica as atividades com relação a Insalubridade, Periculosidade e AposentadoriaEspecial, tem como finalidade atender as normas do INSS e as NR’s 15 e 16 do Ministériodo Trabalho. Seu desenvolvimento consta de:

- Descrição detalhada das atividades exercidas e ambientes de trabalho;- Qualificação e quantificação dos respectivos riscos ocupacionais e seus agentes

nocivos (a medição dos agentes é realizada com equipamentos adequados e devidamentecalibrados);

- Análise da eficácia dos EPI’s e EPC’s utilizados, comparando com os limites detolerância;

- Conclusão com enquadramento da Insalubridade e/ou Periculosidade (sehouver) e seu respectivo Percentual de Pagamento, inclusive o código GFIP.

Treinamento

Tratando as pessoas como o principal ativo da organização e fator chave para osucesso da empresa, é necessário investir continuamente em treinamento para aprimoraro conjunto de habilidades, conhecimentos e atitudes de cada indivíduo.

O processo de treinamento é composto de quatro etapas distintas: diagnóstico,programação, execução e avaliação.

A etapa do diagnóstico é realizada através do levantamento das necessidades detreinamento (LNT), que verifica, primeiramente, a compatibilidade do perfil exigido pelocargo e o perfil do profissional. Através do LNT verificam-se as carências técnicas e cognitivasdos colaboradores. O LNT poderá ser feito através de questionários respondidos pelos

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colaboradores e de conversas com o supervisor, além da análise do cargo. Este diagnósticopode ser feito tanto em cenário reativo, onde já se verifica algum problema que pode serresolvido com treinamento, como também em cenário prospectivo, a fim de anteciparnecessidades futuras, geradas por fatores como introdução de novas tecnologias, novasatribuições funcionais, redução do número de empregados, etc.

O planejamento de treinamento é de suma importância pelo fato de ligar asdiretrizes da empresa com os indivíduos que a compõe e que estão ligados a esteprocesso. Nesta etapa também se estabelecem as prioridades, identificando asnecessidades mais imediatas e os recursos disponíveis. Após o planejamento, procedem-se a análise e coordenação de ações para serem implementados os métodos deaprendizagem: é a programação do treinamento. Para fazer a programação deve severificar, entre outros: se a necessidade de treinamento é suprida com o módulo previsto;se a necessidade é passageira ou permanente; se a relação custo-benefício viabiliza otreinamento; quantas pessoas serão treinadas.

A terceira etapa do processo é a execução do que foi planejado e programado. Asprincipais preocupações desta etapa são inerentes à qualidade da aplicação dos módulose às técnicas utilizadas. As principais técnicas de treinamento utilizadas são: aula expositiva,estudo de caso, palestra, conferência, simulação, etc. A técnica utilizada varia conforme asituação e objetivo do treinamento. O treinamento pode ser interno, sendo aplicado dentroda empresa, ou externo, fora dos recintos da empresa, por pessoas especializadas noassunto. O treinamento interno é recomendado principalmente no momento da entradade novos colaboradores na empresa. O treinamento externo favorece a troca deexperiências e conhecimentos com outros profissionais de outras empresas.

Por último, faz-se necessária a avaliação do treinamento, que compara osresultados obtidos com o que havia sido planejado. É uma das etapas mais difíceis doprocesso, visto que nem todos os resultados auferidos são mensuráveis. Quando não épossível realizar uma avaliação objetiva, podem-se avaliar os resultados observáveis ourealizar uma avaliação através de questionários que informem de forma subjetiva se otreinamento foi eficaz. Há ocasiões em que o treinamento reflete melhorias de longoprazo. Os principais objetivos traçados no planejamento, quando alcançados total ouparcialmente, refletem o êxito na execução do treinamento. Estes indicativos podem ser:aumento da eficiência e eficácia no processo produtivo; melhorias no CHA doscolaboradores; redução nos índices de acidentes, de manutenção e de retrabalhos;melhorias no clima organizacional; redução de turn-over e absenteísmo. O treinamentopode ser avaliado ainda por cinco níveis:

• Reação – através de questionários de avaliação sobre local, ambiente, instrutore material de treinamento;

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• Aprendizado – verificação prática do que foi assimilado no módulo detreinamento;

• Comportamento – determina, em longo prazo, se o que foi aprendido estásendo colocado em prática;

• Valores – analisa a mudança no perfil cultural do indivíduo e no seu sistema devalores;

• Resultados finais – verifica se os objetivos estratégicos estão sendo alcançados.

REFERÊNCIAS

CHIAVENATO, Idalberto. Administração de Recursos Humanos: fundamento básicos. 5.ed.São Paulo: Atlas, 2003.

CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. 12.ed. Rio do Janeiro: Campus, 1999.

MARCONI, Marina de Andrade. LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas,1985.

MILKOVICH, George T Administração de recursos humanos São Paulo: Atlas, 2000.

OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologiae práticas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

PASCHOAL. Luiz. Administração de Cargos e Salários. Rio de Janeiro: Qualitymart Ed, 2001.

RICHARSDON, Roberto Jarry. Pesquisa Social Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas,1999.

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A IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA 5S NAS ORGANIZAÇÕES,BASE DE QUALQUER PLANEJAMENTO DE QUALIDADE E

PRODUTIVIDADE1

Profª MSc. Andréia Pasqualini2

Marilei Hoepers3

Resumo: Na atual realidade econômica as organizações confrontam-se com vários fatores críticos querefletem na sobrevivência da empresa tais como qualidade, inovação e principalmente questões ambientais.Todas as empresas que desejam melhoria de qualidade tem que começar pelos aspectos básicos, ou seja,pelos 5S, uma campanha dedicada a organizar o ambiente de trabalho, e conserva-lo arrumado e limpo,e manter as condições padrão e a disciplina necessárias para a execução de um bom trabalho. O processode qualidade abrange todas as atividades, funções e as ações relacionadas em diversos setores, por issoque procuraremos analisar a empresa de um modo geral, procurando revolucionar principalmente aquestão ambiental. Nesta perspectiva, o trabalho terá a fundamentação teórica sobre organizações,conceitos de qualidade, sistemas de produção, sistema de qualidade, princípios e filosofia do Programa5S e retratando as questões ambientais, referenciando o texto com fontes bibliográficas atuais sobre otema. A dissertação faz uma pesquisa qualitativa na indústria metal-mecânica, procura-se analisar dessemodo, a implantação do programa 5S, adaptando-se assim as políticas referente a empresa principalmente,sendo que venha a interferir no aumento da produção e busca de qualidade total. Sendo analisado assim,o cotidiano da empresa abordada, relatando todo setor definido e inicialmente criando um novo layout,possibilitando assim o estudo significativo sobre a matéria-prima utilizada, visando identificar todo oprocesso de produção e os resíduos adquiridos. Após o suporte teórico e prático, é apresentado um modelode implantação e manutenção do Programa 5S aos colaboradores que é aplicado como forma de validação,bem como subsídio para análise conclusiva. Os métodos referem-se ao modo como são operados osrecursos gerais da organização, para que sejam atingidos os objetivos propostos. Apresentado consideraçõese comentários conclusivos sobre as informações contidas no trabalho, os resultados obtidos, dificuldades,pontos fortes e fracos do impacto ao meio ambiente e a contribuição do trabalho para outras áreas doconhecimento e sugestões para trabalhos futuros. Os resultados compreendem: análise crítica sobre oproblema nas empresas, identificação dos limites do 5S, modelo de implantação e manutenção, eavaliação conclusiva sobre a contribuição e o impacto do referido programa nas organizações.

Palavras-chave: programa 5S, qualidade, produção.

Abstract: In the actual economical reality organizations face themselves with some critical factors thatreflect in companies’ survival such as quality, innovation and at most important environmental question.All companies that desire a better quality has to began doing changes in the basically aspects, it means bythe 5S, a campaign dedicated to organize the working environment and maintain it organized and clean

1 Artigo científico referente ao Projeto de Pesquisa do Artigo 170/UNIDAVI;2 Orientadora do projeto de pesquisa, professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI),

mestre em Engenharia de Produção, e-mail: [email protected];3 Acadêmica do Curso de Engenharia de Produção, bolsista do Artigo 170.

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and maintain standard conditions and the necessary discipline to do a good work. Quality process includesall activities, functions and actions related to many sectors, that’s why we will try to analyze the companyat all trying to revolutionize mainly environmental questions. In that perspective this work will have thetheoretical grounded about organizations, concepts of quality, production system, quality systems, 5Sprinciples and philosophy and environmental questions, referring the text with up-to-dated bibliographyfonts about the subject. The dissertation makes a qualitative research in the metal-mechanic industrytrying to analyze in that way the implantation of the 5S program and so adapting mainly companies’politician to interfere in increase production and search for the total quality. Analyzing in that way thequotidian of the analyzed company relating the entire defined sector and to initiate creating a new lay-out,so allowing the significative study about the raw material utilized aiming identify all production processand the acquired residue. After the theoretical and practical support will be presented an implantation andmaintenance model from the 5S Program to the employees that will be applied as a manner of validity andsubsidy to a conclusive analysis. The methods are referring to the way how organization’s general refugesare operated to reach the proposed objectives. Presenting considerations and conclusive comments aboutthe information inserted in this work, the obtained results, difficulties, weak and strong points from impactto the environment and the contribution from this work to other knowledge areas and suggestions to futureworks. The results include: critical analyze about the companies problems; 5S limits identification,implantation and maintenance models and conclusive evaluation about the contribution and the impactfrom the referred program in the organization.

Keywords: 5S program, quality, production.

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INTRODUÇÃO

Qualidade, custo, atendimento e inovação são fatores críticos para a sobrevivênciadas empresas diante da nova realidade econômica mundial. Além disso, um crescenteclamor por uma melhor qualidade de vida do cidadão e do trabalhador.

Fez-se necessário desvendar e aprofundar ainda mais o tema qualidade – áreade conhecimento com vertentes e abordagens a serem exploradas e estudadas.

Esse aparato tem oportunizado maior acesso ao assunto e gerando uma maiorexigência no mercado mundial, considerando as expectativas dos clientes em relação aqualidade dos produtos e serviços exigindo, das empresas a adoção de sistema de qualidade,analisando assim os cincos sensos que estão promovendo mudanças nas organizações edando sustentação aos programas de qualidade, meio ambiente e produtividade.

METODOLOGIA

No trabalho de campo os dados coletados foram confrontados com asinformações coletadas na pesquisa bibliográfica. Pois o presente trabalho, caracteriza-se como do tipo levantamento, no qual, através de uma amostra significativa de umuniverso, buscam-se informações para um melhor conhecimento da viabilidade doproblema pesquisado.

REVISÃO CONCEITUAL

O processo de melhoria da qualidade nas organizações deve ser abordado deuma forma simples, não necessariamente requerendo ações e programas complexos,até porque o próprio processo de implantação de qualidade total ou de ISO podem, edevem ser, respaldados pela simplicidade.

Porém é difícil fazer o simples ou o óbvio. Isto tem sido um grande desafio nomomento presente, principalmente quando se tem uma visão errada de que qualidadeé sofisticação e muito, mas muito dinheiro.

Nesse sentido, e entre tantos outros, o Programa 5S, em alguns casos e lugares,chamado de “Housekeep”, tem sido adotado e implantado em muitas empresas, istoporque baseia-se em princípios simples, denominados de “Sensos” , palavras que, emjaponês, começam com a letra “S”: Seiri, Seiton, Seisoh, Seiketsu e Shitsuke.

O Programa 5S se consolidou no Japão, a partir da década de 50, no combate asujeira e a desorganização nas entidades japonesas do pós guerra e, configurando-senuma prática onde os pais japoneses ensinam seus filhos esses princípios, com enfoque

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educacional, consolidando-se e estendendo-se a fase adulta, na sociedade e no meioprofissional.

Na década de 80 em alguns países do oriente o programa foi redescoberto, cujoenfoque e objetivo foram alcançados como maneira de se comunicar pronta e eficazmente.

No Brasil, a partir de 1991 formalmente tem sido implantado por empresas.Tal programa fundamenta-se numa abordagem da melhoria da qualidade dos

ambientes, atrelado a possíveis mudanças comportamentais e atitudes das pessoas,possibilitando um ambiente propício a obtenção da qualidade, uma vez que o ambienteé um fator preponderante no processo, nas satisfação das pessoas (que realizam osprocessos) e, consequentemente no produto.

Esses princípios são identificados:

• Seiri: seleção/utilizaçãoFundamenta-se na separação e/ou seleção dos objetos, documentos, ferramentas,

equipamentos, entre outros necessários dos desnecessários, culminando na eliminaçãoou descarte dos considerados desnecessários. Trata-se do princípio ou senso de combateao desperdício imediato.

• Seiton: ordenaçãoRefere-se a organização do material considerado necessário, visando facilitar o

acesso e, consequentemente melhorar o trabalho. Além do aspecto de tornar o ambienteagradável, arrumado, busca-se com isso, maior produtividade, melhoria no leiaute emelhor satisfação.

• Seisoh: limpezaTrata-se da eliminação da sujeira, através da identificação e eliminação de suas

fontes. Nesse senso, se consolida uma melhoria no aspecto do ambiente, como tambémfacilita a atuação e o trabalho das pessoas que neles estão inseridos.

• Seiketsu: saúdeRespalda-se na manutenção das condições de trabalho, com a preocupação

maior com a saúde, seja nos níveis físico, mental e emocional. Estando os três primeirossensos desenvolvidos, há que se ter a preocupação com a saúde. Aspectos de higiene,segurança no trabalho e saúde pessoal devem ser considerados.

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• Shitsuke: autodisciplinaRefere-se ao senso de manutenção do Programa 5S, ou seja, consolida todo o

processo iniciado, atribuindo ao programa uma característica normativa, hábito,constante aperfeiçoamento e melhorias.

O Processo de implantação do Programa 5S deve ser iniciado de cima parabaixo, onde a decisão pela adoção do programa deve ser primeiro da alta direção. Emsegundo lugar, deve ser definido um gestor desse processo, que coordenará todo oprocesso de implantação do referido programa. Nas etapas subseqüentes deverá terTreinamento (simples, com exemplos práticos e num enfoque sistêmico);desenvolvimento de um plano de trabalho (objetivos, etapas de implantação ,responsabilidades e promoção); formação de um comitê que possa garantir o apoio aoprograma; realização de um momento ou momentos planejados para aplicação dos trêsprimeiros sensos (utilização, ordenação e limpeza); sensibilização e execução das ações.

Concluído todo o processo de implantação o programa requer uma fase demanutenção, como forma de não haver retrocessos nas ações e garantir a aplicação dossensos, e diretamente os sensos de saúde e auto-disciplina.

Na fase de manutenção devem ser formados auditores que terão comoresponsabilidade a avaliação da aplicação dos sensos do 5S, com devida divulgação dosresultados obtidos, bem como realização de ações de melhoria.

Considerando a filosofia e o método de implantação o programa 5S tem comoobjetivos:

– Segurança - com um padrão adequado de organização, arrumação e limpezado local de trabalho, reduzem-se os índices e as possibilidades de acidentes das pessoas;

– Eficiência – o uso correto das ferramentas, máquinas, equipamentos, doambiente e dos materiais envolvidos no processo de trabalho, bem como o cuidado coma manutenção dos mesmos, possibilita melhor desenvolvimento do processo de trabalho(uso dos meios corretamente);

– Qualidade – sujeira e falta de manutenção de equipamentos e ambientes,principalmente em processos, cujos produtos dependam da aplicação dos sensos paramanutenção da qualidade, faz-se necessária a aplicação do programa;

– Solução de problemas e avarias;– Promoção e estímulo a motivação – no processo e metodologia de implantação

e manutenção com a participação e o trabalho em equipe, o moral das pessoas se eleva;– Redução de custos – eliminação de desperdícios de tempo, de material, de

retrabalhos e outros, com certeza os custos são reduzidos;– Melhoria da imagem da empresa;– Maior qualidade de vida no trabalho para as pessoas;

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– Base cultural e educacional para melhorias;– Mobilização;– Higiene no processo e garantia de qualidade do produto;Após muita reflexão sobre como iniciar programas de qualidade e produtividade,

espera-se que uma pessoa em avançado estágio de autodisciplina esteja sempre tomandoiniciativas para o autodesenvolvimento, o desenvolvimento do seu grupo e da organizaçãoa que pertence, exercendo plenamente o seu potencial mental.

A prática do 5S tem produzido conseqüências visíveis no aumento da auto-estima, no respeito ao semelhante, no respeito ao meio ambiente e no crescimentopessoal. Uma maior aproximação entre as pessoas tem sido incentivada por meio damelhoria do relacionamento interpessoal, principalmente mediante a escuta ativa, e pelaeliminação de privilégios comuns, sendo que sua filosofia é profunda e pressupõemudanças comportamentais que acompanharão as pessoas onde quer que elas estejam.

Segundo Silva (1994):

“Esse crescimento implica em constante ampliação da zona de conforto noexercício das faculdades humanas fundamentais: pensar, sentir e agir. Pensarcriativamente, sentir prazer no trabalho e agir visando a alcançar sempre melhoresdesempenhos em Qualidade, Custo, Moral, Atendimento e Segurança são asúnicas formas de garantir sobrevivência com dignidade”.

Montar um plano que não entre em choque com a cultura local, permita que amudança ocorra a partir da base pré-existente, sem rupturas, nenhum plano pré-existente, nenhuma experiência alheia deve ser copiada sem uma profunda análise dasrelações de causa e efeito, é necessário refletir profundamente sobre o estilo deadministração vigente

O PROGRAMA 5S E OS SISTEMAS DA QUALIDADE

Para avaliar a relação entre o Programa 5S e os Sistemas de Qualidade, considerar-se-á o programa dentro de dois enfoques: quanto a sua filosofia e metodologia deimplantação/manutenção.

Para o enfoque acima, a contribuição do 5S para os Sistemas da Qualidade podeter dois objetivos: como preparador (antes) ou auxílio (durante) a operacionalizaçãodas ações do Sistema da Qualidade.

Dependendo do tipo de processo ou produto/serviço oferecido pela empresa,os sensos a que se refere o Programa 5S (Filosofia), contribuem para o formatação ecumprimento dos seus requisitos de avaliação.

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Considerando a metodologia, o 5S auxilia na manutenção e acompanhamentopara a redução de custos, retrabalhos e desperdícios; melhor organização das atividadese equipamentos; cumprimento dos procedimentos definidos, principalmente osrelacionados a utilização e limpeza (no caso de produtos que requeiram cuidadosespeciais) que garantam a conformidade dos produtos e/ou serviços.

Ainda sob o prisma da ISO, as alterações em 2000 possibilitam maior abrangênciaaproximando cada vez mais ao processos de gestão e melhoria da qualidade, fato esteque coloca o programa 5S como possível ação mais impactante nesse processo.

Sendo o enfoque da Gestão da Qualidade Total mais amplo, é dado ênfase amelhoria contínua, envolvendo toda a empresa (integração interna) e fornecedores,clientes e o meio (externo), entre vários aspectos, envolvendo o planejamento, a formação,a motivação para qualidade, comportamentos, recursos e avaliação contínua.

A prática do 5S é uma técnica usada para estabelecer e manter a qualidade doambiente numa organização. O 5S’s são grupos de técnicas para promover aorganização do ambiente de trabalho, para assegurar o atendimento aos padrõese promover o espírito da melhoria contínua. (AGILITY CENTRE, 2002)

Nesse aspecto, o Programa 5S colabora quanto a sua filosofia, quando aborda aautodisciplina e a saúde, atendendo a integração interna e às avaliações contínuas.Quanto a metodologia, pode propiciar a experiência e vivência da gestão, através dasavaliações, reuniões, ação de facilitadores da qualidade, reforçando a integração emelhoria contínua.

Como se pode perceber, a adoção dos conceitos “5 S” pode ser um aliado namelhoria da qualidade da manutenção, na facilidade, bem como na prevenção de falhase defeitos, sendo portanto adequado para atender a alguns itens referente a inspeção eensaio, controle de equipamentos de inspeção, medição e ensaio, manuseio,armazenamento, embalagem, preservação e entrega.

Por melhor que seja o gráfico de supervisão preparado em uma indústria, se ospainéis de operação das máquinas estiverem sujos ou o chão da fábricadesorganizado e as máquinas cheias de graxa e poeira, sem demonstrar o menorsinal de manutenção recente, é impossível manter a qualidade da produção pormuito tempo e a durabilidade do equipamento. (OSADA, 1992)

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HISTÓRICO DA EMPRESA HERGEN

FIGURA 1 - Vista aérea da Hergen S/AFonte: Site. http//[email protected]

A Hergen S/A iniciou suas atividades em 1975, foi fundada pelo Sr. HermannHinrich Purnhagen, nascido em 02 de outubro de 1904 em Delfshausen, Oldenburg naAlemanha, profissional formado em Mestre em Carpintaria e Concretagem. Desembarcouno Brasil, no ano de 1923, com 18 anos, em companhia de um amigo, trazendo nabagagem muitos sonhos e vontade de trabalhar.

Após seu casamento fixou residência em Jaraguá o Sul (SC), onde iniciou suasatividades na área de marcenaria, dando início a primeira fábrica de compensados demadeira no Brasil. Em um período pós-guerra, onde a economia brasileira tambémestava prejudicada, foi convidado pelas suas habilidades na área madeireira e através derecomendações, a administrar a empresa Madeireira Riosulense em 1938. Em 12 deabril de 1943, Hermann fundou a empresa Indústria de Madeiras e Navegação Ltda. quemais tarde irá se chamar Induma Indústria de madeiras S/A. Com o declínio dadisponibilidade de madeiras, começou a diversificar suas atividades e passou a fabricarpapelão com base no papel reciclado. Como esta empresa fabricava suas própriasmáquinas em sua oficina, passou a atender outras empresas do mesmo segmento.

Nasceu então a Hergen S/A, produzindo equipamentos, pequenas máquinas eexecutando serviços de manutenção para indústria de papel. Hoje, fornece soluções

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completas, do projeto à montagem de máquinas e equipamentos para a indústriapapeleira, participando efetivamente do seu desenvolvimento.

A Hergen é voltada para o avanço tecnológico. Por isso assimila novas tendênciasdo competitivo mercado mundial e customiza produtos e serviços aos clientes comflexibilidade e rapidez. Manter relacionamentos contínuos e satisfazer plenamente seusclientes também faz parte de sua missão.

Alto nível de desenvolvimento tecnológico. Qualidade dos produtos. Açõesorientadas para o aprimoramento constante da qualidade dos serviços. Assim a Hergenconsagrou-se como uma das principais empresas de seu segmento na América Latina.

A Hergen S/A orgulha-se de ser a maior empresa brasileira voltada ao segmentode celulose e papel com 100% de seu capital brasileiro.

A empresa conta com a colaboração de 205 funcionários e está instalada nacidade de Rio do Sul – SC, em dois parques fabris. Sendo um no centro da cidade eoutro as margens da rodovia BR 470 no Km 130.

PRINCIPAIS ATIVIDADES DA EMPRESA

As principais atividades executadas pela empresa Hergen são as seguintes:

• Elaboração de projetos de máquinas, equipamentos e componentes;• Fabricação de máquinas e equipamentos para a Indústria de Papel e Celulose;• Fabricação de máquinas, equipamentos e componentes de proteção ambiental;• Serviços de manutenção de máquinas e equipamentos para a Indústria de

Papel, Celulose e Siderurgia;• Prestação de Serviços para terceiros em equipamentos especiais.

LOGÍSTICA

A Hergen produz máquinas para o setor de papel e celulose. Também fornecematerial de Rotatividade que são os necessários a manutenção das Máquinas. Sua clientelaé basicamente empresas que necessitam de máquinas, equipamentos, peças parareposição e substituição. A Hergen procura atender seus clientes estabelecendorelacionamentos de longo prazo, para isso, envia até o cliente profissionais paralevantamento de suas necessidades, quando for o caso. O bom relacionamento e afidelização são praticados diariamente na empresa. As nossas atitudes privilegiam aética, a transparência com nossos clientes e fornecedores.

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A política de vendas adotada pela empresa são voltados quase que exclusivamenteno setor em que atua, através de publicidade, propaganda, feiras. Participa também deeventos institucionais, como forma de contribuição à sociedade.

A nossa empresa acredita que sua base de sustentação está no equilíbrio entre asquestões econômicas e sociais. A imagem de solidez e modernidade é reflexo doscompromissos construídos com a convicção de que deve ser repassada a comunidadeuma contribuição efetiva para seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

RESULTADOS OBTIDOS

A implantação de Sistemas de Qualidade vem sendo adotada por várias empresasbrasileiras, e que têm utilizado o Programa 5S, como ação inicial, paralela ou demanutenção a esses sistemas.

Dessas experiências práticas, também se pode extrair na revisão bibliográfica, asdificuldades, as facilidades, contribuições ou alternativas práticas e/ou originais adotadaspara a implementação do Programa 5S, isto considerando nossa realidade brasileira,nossa cultura, nosso nível educacional, tecnológico e de gestão.

Para garantir a qualidade do produto é preciso controlar o processo. Portanto,analisou vários itens de verificação que se tornaria mais aptos aos levantamentos dedados para a implantação dos cinco sensos, onde possa ser analisada as característicasde sustentação aos programas de Qualidade, Meio ambiente e Produtividade.

Independente da forma de avaliação da aplicação dos sensos, ou dos formulários,bem como da abrangência do programa, deve se destacar.

• Processo contínuo de educação e treinamento;• Foco no processo de comunicação;• Realização anual da SIPAT (palestras, gincanas, “Cursos 5S” e atividades culturais

para familiares dos colaboradores.Para melhor entendimento serão analisados os resultados contribuidores do

programa 5S, através 7 ferramentas mais utilizadas no controle da qualidade;

• PDCA• 5W1H• Diagrama de Efeito e Causa• Histograma• Gráficos (Incluindo gráficos de Controle)• Diagrama de Dispersão (ou diagrama de correlação)

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Defeitos e falhas em máquinas e equipamentos podem ter várias causas, noprocesso sempre existe uma certa quantidade de variabilidade devido as causas (6M).

FIGURA 2 - 6MFonte: CAMPOS, Vicente Falconi; Gerenciamento da Rotina do trabalho do dia-a-dia. Belo Horizonte:Editora de Desenvolvimento Gerencial.2002.

Na identificação de itens desnecessários para melhor desempenho das atividades,busca-se condições melhores de produção, juntando a isto, a eliminação de desperdícios,pode-se identificar o item de Comparação ações antes e depois da execução do processo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em função do que foi visto sobre os conceitos do programa 5S, é possível percebersuas aplicações no decorrer do trabalho. São abordagens passíveis de serem praticadasnas organizações.

Existem estreitas relações entre as Variáveis Organizacionais (Estrutura, tecnologia,Comportamento, Ambiente, Objetivos e Mudança) com a busca pela Qualidade dosprodutos e processos, interferindo sobremaneira nos Sistemas de Qualidade voltadopara ISO, como também voltado para a Qualidade Total.

Ainda neste contexto, o Programa 5S, dentro da sua filosofia e metodologia deimplantação e manutenção, pode ser uma ação interveniente nos Sistemas da Qualidade.

FIGURA 3 - FluxogramaFonte: CAMPOS, Vicente Falconi;Gerenciamento da Rotina do trabalho do dia-a-dia. Belo Horizonte:Editora de Desenvolvimento Gerencial.2002.

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Os métodos e ferramentas utilizadas para o controle da qualidade mostra umadeficiência teórica sobre o tema, no que tange a verdadeira contribuição do Programa5S para os Sistemas de Qualidade, que possibilite uma visão clara, objetiva e prática doprocesso de implantação e manutenção do Programa 5S numa organização.

Esta deficiência teórica sobre o assunto, que caracteriza-se por abordar, na suamaioria questões comportamentais, requer uma abordagem técnica e de processo, queviabilize um análise profunda da contribuição do Programa 5S, em termos deinstrumentais, ferramentas, metodologia de processo e resultados de filosofia (significadose valores) para implantação e manutenção de sistemas da qualidade.

Neste sentido, percebe-se que as empresas estão capacitado seus colaboradores paraenfrentar as novas tendências do mercado, e conforme a pesquisa realizada as ferramentasque poderam ser utilizadas no controle da qualidade vêm satisfazendo e axiliando naimplantação do programa 5S, atendendo as reais necessidades quanto a formação da mão-de-obra, busca alternativas que garantem redução nos custos e aumento da produtividade daempresa sendo atualizados quanto as informações, técnicas e nível tecnológico.

RECOMENDAÇÕES

• Ampliar o programa dos 5S em todo o setor para que os resultados reflitam nosistema de produção, qualidade e questões ambientais;

• Incentivar o programa dos 5S nas organizações proporcionando a satisfaçãono trabalho, melhorando na qualidade do produto e do serviço e combatendoo desperdício;

• Implantar itens de controle nos processos para que possa ser avaliado damelhor maneira possível o resultado dos 5S”s;

• Itens de avaliação relativo ao meio ambiente, que considera resultadosrelacionados ao desempenho ambiental como emissão de poluentes, ruídos eassim como disposição de resíduos dos processos;

• Aumentando assim o lucro total e o bem estar do ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS

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MONTGOMERY, Douglas C.; RUNGER, George C. Estatística aplicada e probabilidade paraengenheiros. Rio de Janeiro: LTC, 2003.

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I “PRIMEIRO A MORTE, DEPOIS A VIDA”: OS IMPACTOS

SUBJETIVOS EM MULHERES APÓS RECEBEREM A NOTÍCIA

QUE POSSUEM CÂNCER1

Franciane Meire Radtke2

Antônia Catarina Feuser Zandonai3

Resumo: O aumento da vida média, a queda da taxa de fecundidade, modificações no estilo de vida emaior exposição a determinados riscos ambientais são fatores que interferem diretamente no aparecimentode novos casos de câncer de mama. Procuramos através desta pesquisa, compreender os impactossubjetivos em mulheres durante todo processo da doença, desde receber a notícia que possuem câncer, atéa fase na qual se encontram atualmente, em sua realidade psico-físico-social. Analisando assim, ossignificados que elas atribuem à doença e investigando o projeto de futuro que possuem, visto que, estãocom uma doença que apresenta em sua trajetória muitas incertezas e ameaças. Investigamos seis mulheresmastectomizadas que participam dos encontros da Rede Feminina de Combate ao Câncer do município deRio do Sul/SC, com idades entre 50 e 67 anos. Viu-se a necessidade da utilização da epistemologiaqualitativa e foram utilizados como instrumentos para coleta de informações a observação participante eentrevistas semi-dirigidas, com fim de apreender os significados sociais, sentidos subjetivos e emoçõesdesses sujeitos frente eles mesmos, família, sociedade e sua história. A análise das informações foi feitaconcomitantemente à investigação. Foram enfatizados os temas que geraram maior envolvimento doparticipante, através das formas simbólicas constituídas por palavras, imagens, instituições ecomportamentos. Advimos considerações significativas sobre a realidade e a subjetividade destas mulheres.Onde principalmente a mudança positiva dos valores de vida delas, acaba por traçar novos rumos em suasrelações sociais e melhoria da qualidade de vida.

Palavras-chave: Câncer de mama, Rede Feminina de Combate ao Câncer, subjetividade.

Abstract:The increase of the average life, the fall of the fecundated tax, modifications in the life style andgreater exposition the determined ambient risks are factors that intervene directly with the appearance ofnew cases of breast cancer. We look for through this research, to understand the subjective impacts inwomen during all process of the illness, since receiving the notice who possess cancer, until the phase inwhich if they find currently, in its psycho-physicist-social reality. Thus analyzing, the meanings that theyattribute to the illness and investigating the future project whom they possess, since, are with an illnessthat presents in its trajectory many uncertainties and threats. We investigate six mastectomized womenwho participate of the meeting of the Feminine Net of Combat to the Cancer of the Rio do Sul/SC, with agesbetween 50 and 67 years. It was seen necessity of the use of the qualitative epistemology and had been usedas instruments for collection of information the participant comment and half-directed interviews, with

1 Artigo elaborado a partir dos resultados obtidos na pesquisa do Programa de Bolsas do Artigo 170 na Universidade parao Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI.

2 Professora da UNIDAVI, mestre em Psicologia pela UFSC.3 Acadêmica do curso de Psicologia da UNIDAVI.

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end to apprehend the social meanings, subjective directions and emotions of these citizens front themthemselves, family, society and its history. The analysis of the information was made concomitantly to theinquiry. The subjects had been emphasized that had generated greater evolvement of the participant,through the symbolic forms consisting by words, images, institutions and behaviors. We happen significantconsiderations on the reality and the subjectivity of these women. Where mainly the positive change of thevalues of life of them, finishes for tracing new routes in its social relations and improvement of the qualityof life.

Key-words: Breast cancer, Feminine Net of Combat to the Cancer, subjectivity.

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INTRODUÇÃO

De acordo com informações do INCA (Instituto Nacional do Câncer), Câncer é onome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimentodesordenado, portanto, maligno, de células que invadem os tecidos e órgãos, podendoespalhar-se para outras regiões do corpo.

Como se dividem rapidamente, essas células tendem a ser muito agressivas eincontroláveis, determinando a formação de tumores ou neoplasias malignas. Por outrolado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que semultiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramenteconstituindo um risco de vida.

Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo.Outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidadede multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos oudistantes.

O câncer de mama, dentre as neoplasias malignas, tem sido responsável pelosmaiores índices de mortalidade no mundo, tornando-se uma das grandes preocupaçõesem saúde publica, no que diz respeito à saúde da mulher. (DUARTE e ANDRADE, 2003,p.155). Assim como outros tipos de câncer, ele está associado a inúmeros fatores derisco, sendo os principais: o envelhecimento, história de câncer na família e menopausa.Devido à sua alta freqüência e pelas repercussões psicológicas que acarreta, o câncer demama, concordando com Rossi (2003), é o mais temido pelas mulheres. Uma vez queafeta a percepção da imagem corporal, por ser uma doença rotulada como sendodolorosa e mortal e por desenvolver na pessoa acometida pela doença angustiasrelacionadas com a feminilidade, maternidade e sexualidade.

Entre nossos familiares, amigos e conhecidos, as mortes causadas pelo câncersão bastante comuns. O progressivo aumento das doenças crônicas e degenerativas noBrasil, segundo Mendonça (1993), além do grande número de casos, tende a aumentar.As alterações demográficas por que passa a população trarão como conseqüênciamaior quantidade de casos de doenças crônicas dentre as quais se enquadra o câncer.O aumento da vida média, a queda da taxa de fecundidade, as modificações no estilo devida e a maior exposição a determinados riscos ambientais são fatores que interferemdiretamente no aparecimento de um maior número de neoplasias malignas.

Segundo Mendonça (1993), o câncer representa, portanto, a segunda causa demorte no país no sexo feminino (12,8%), só superado pelas doenças cardiovasculares.Considerando que o câncer de mama e útero são responsáveis por quase um terço

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dessas mortes em todo o país, os programas de prevenção e diagnóstico precoce podemter grande impacto neste quadro.

A busca de estratégias voltados à assistência integral à saúde da mulher éfundamental dentro de uma política de controle do câncer. Dessa forma, antes de construiruma configuração de apoio a essas mulheres torna-se necessário uma pesquisa sobreos impactos psico-físico-sociais dos aspectos que envolvem essa a problemática docâncer na vida dessas mulheres. Uma vez que, segundo Rossi (2003), o diagnóstico decâncer confronta o sujeito com a questão do imponderável, da finitude e da morte.Como toda doença potencialmente letal, traz a perda do corpo saudável, a perda dasensação de invulnerabilidade e a perda do domínio sobre a própria vida.

Sendo assim, segundo Davim (2003), o câncer apresenta, em sua trajetória,diferentes situações de ameaça aos portadores da doença como aquelas relacionadas àintegridade psicossocial, à incerteza do sucesso do tratamento, à possibilidade darecorrência, à morte, entre outros.

Apesar das dificuldades, em alguns casos, de diagnóstico precoce e da efetividadedo tratamento, como afirma Davin (2003), a maioria das pessoas acometidas com adoença, viverá com ele por muitos anos. Ademais, a experiência de se viver com ocâncer, com a presença constante da incerteza aparece como elemento importante nasvidas dessas pessoas e se manifesta, muitas vezes, através do medo de uma recorrênciada doença.

O diagnóstico tem função de nomeação dos sintomas. Muitas vezes o pacienteencontra-se angustiado por estar doente e não saber do quê. Neste sentido, ao saber odiagnóstico e o prognóstico da doença, ocorre uma suavização desta angústia, sendo degrande importância saber a verdade.

A forma como cada paciente reage ao diagnóstico de câncer depende de diversosfatores: do seu momento de vida, de suas experiências anteriores, das informações querecebeu no convívio social e do ambiente familiar e cultural em que nasceu e cresceu. Écomum nos pacientes que recebem este diagnóstico, surgirem diversos sentimentos dedifícil elaboração como: ansiedade, raiva, medo, angústia, culpa e depressão, os quaissão permeados pela incerteza e insegurança de futuro.

A partir do diagnóstico de câncer abre-se o caminho de um tratamento incerto,doloroso, prolongado, que marca o corpo, choca a família, muitas vezes afasta os amigose fragiliza os planos de futuro. Neste sentido, os pacientes se sentem expostos a umadoença assustadora e a um ambiente desconhecido e angustiante.

O tratamento do câncer pode ser realizado basicamente por quatro métodos quesão: a cirurgia (parcial, ou radical) de retirada das mamas, a radioterapia, a quimioterapiae a terapia com agentes biológicos (como hormônios e anticorpos). Nesta pesquisa,

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trabalhamos com mulheres que se sujeitaram ao tratamento de retirada total da mamaafetada pelo câncer, denominada mastectomia radical, considerada um procedimentocirúrgico extremamente agressivo e traumático para a mulher.

A mastectomia, segundo Ferreira e Mamede (2003), é um dos tratamentos a quea maioria das mulheres com câncer de mama é submetida e os seus resultados poderãocomprometê-las física, emocional e socialmente. A mutilação dela decorrente favorece osurgimento de muitas questões na vida das mulheres.

A partir das entrevistas com as mulheres da Rede Feminina de Combate ao Câncer,pode-se perceber que a forma com que estas mulheres lidam com mastectomia, dá-sede um modo singular, do contexto da qual elas fazem parte, onde a preocupação centralapós o diagnóstico do câncer é com a cura para sua doença e não, como indicam outraspesquisas, uma preocupação com a imagem corporal, que para elas, toma posição desegundo plano.

Como todos estes fatores descritos sucintamente são possibilidades na vida detoda pessoa com câncer, procuramos compreender através deste trabalho, os impactossubjetivos em mulheres após receberem a notícia que possuem câncer. Uma vez que taisaspectos podem servir como mediação para o impacto do diagnóstico das mesmas,como construção de um conhecimento local e útil para quem enfrenta esta doença.

Buscamos compreender também quais as mudanças que ocorrem no cotidianode uma mulher que foi acometida pelo câncer de mama, quais as alterações em suarotina atual ocorridas por conseqüência dos cuidados exigidos pela doença. Investigamosqual é a significação que estas mulheres passaram a fazer do seu contato com o corpo,de que maneira lidaram com o seu corpo após passarem por um processo de “mutilação”de uma área com uma representação tão importante para a mulher. Também verificamoso modo com o qual elas lidaram com a questão do auxilio da intervenção psicoterápica,avaliando a importância deste serviço na vida dessas mulheres e apresentando tambéma importância deste profissional.

Assim, a pesquisa nessa área torna-se importante de ser realizada, pois traz comobenefícios sociais e científicos, as compreensões e interpretações do intricado sistemade emoções, afetos, vínculos, motivações e relações envolvidos no processo tanto danotícia, quanto da rotina atual, das relações com o corpo, e da importância da intervençãopsicoterápica.

A repercussão social de um conhecimento local que manifesta-se sobre a tramade um contexto regional, traz a problemática que envolve não só o paciente e a família,mas todo um lócus abrangente de impactos culturais, históricos e sociais de umacomunidade. Assim esperam-se compreender atitudes, significados e sentidos atribuídospor pacientes portados por câncer e suas trajetórias de vida. Ampliando, assim, a

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responsabilidade social da universidade no sentido de promover novas reflexões sobreo assunto. Integrando por intermédio da pesquisa acadêmica, o saber científico daPsicologia com a promoção de qualidade de vida e da saúde.

REFERENCIAL METODOLÓGICO

Uma vez que esta pesquisa buscou investigar as implicações na subjetividade dasmulheres acometidas pelo câncer de mama, viu-se a necessidade da utilização daepistemologia qualitativa, já que esta reconhece que o sujeito se relaciona com seu meioe com as demais pessoas que nele vivem, reconhece que o sujeito está inserido em umcontexto, dentro de uma sociedade que faz parte de uma cultura, e que este é tambémcomposto por uma história.

A epistemologia qualitativa também reconhece a importância de todos essesfatores como mediação para os resultados da pesquisa. Ou seja, leva em consideração asubjetividade do sujeito pesquisado, assim como a subjetividade do pesquisador. Assim,o sujeito pesquisado é considerado um interlocutor. Nesse sentido, concordando comRey (2002), a subjetividade do pesquisador servirá de mediação para interpretação dosdados empíricos. Desta forma a epistemologia qualitativa supera alguns aspectos doreducionismo biologista uma vez que dá mais força ao sujeito individual reconhecendosuas atividades diferenciadas e que não devem ser reduzidas a padrões universais,procurando considerar todos os aspectos da experiência humana.

Partindo destes princípios, podemos observar que esta epistemologia complexificao seu objeto de estudo, uma vez que, todos os acontecimentos que ocorrem durante oprocesso de realização da pesquisa, todas as relações desenvolvidas durante esta, devemser estudadas e levadas em consideração, pois servem como mediação para odesenvolvimento do tema principal.

Para Rey (2002), no modelo qualitativo o conhecimento é uma produçãoconstrutiva-interpretativa gerada pela necessidade de dar sentido a expressões do sujeitoestudado, onde a interpretação é um processo de constante complexidade que dásignificado ás manifestações singulares deste. Possui caráter interativo do processo deprodução do conhecimento o qual enfatiza que as relações pesquisador/pesquisadosão uma condição para o desenvolvimento da pesquisa e para o processo de produçãode conhecimento. Também vai enfatizar a significação da singularidade como nívellegítimo da produção do conhecimento já que a singularidade se constitui como realidadediferenciada na história da constituição subjetiva do indivíduo.

A subjetividade é transcendente, não é fixa, modifica-se o tempo todo, é constituídapor um sistema complexo de significações e sentidos onde estão contidos todo conteúdo

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da história pessoal e social e por isso não pode ser medida ou estudada por categoriasrígidas, imutáveis, objetivas ou manipuladoras.

O sujeito pesquisado, concordando com Rey (2002), é ativo no curso da pesquisa,ele não é simplesmente um reservatório de respostas, prontas a expressar-se diante dapergunta tecnicamente bem formulada. O diálogo não representa só um processo quefavorece o bem estar emocional dos sujeitos participantes da pesquisa, é fonte essencialpara o pensamento, elemento imprescindível para a qualidade da informação produzidana pesquisa.

Neste sentido, o método envolverá a compreensão do que é a realidade e arelação do homem com esta realidade. Já que, concordando com Gonçalves (2001),um método envolve uma concepção de mundo, de homem e de conhecimento, assimcomo, os pressupostos que embasam um método são produzidos historicamente eexpressam questões concretas presentes na vida real dos homens.

Neste caminho lógico, movimentar o pensamento significa refletir sobre a realidadepartindo do empírico (a realidade dada, o real aparente, o objeto assim como ele seapresenta à primeira vista) e, por meio de abstrações (elaborações do pensamento,reflexões, teoria), chegar ao concreto: compreensão mais elaborada do que há deessencial no objeto, objeto síntese de múltiplas determinações, concreto pensado. Assim,a diferença entre o empírico (real aparente) e o concreto (real pensado) são as abstrações(reflexões) do pensamento que tornam mais completa a realidade observada.

O sujeito é sujeito de ação sobre o objeto, uma ação de transformação do objeto.E essa ação do sujeito, concordando com Gonçalves (2001), é necessariamente situadae datada, é social e histórica. A ordem é a diversidade. Já não se permite conceber autilização de teorias taxativas que enquadram o sujeito, que deve ser sempre estudado apartir de uma perspectiva diversa, ampla. A compreensão passa a ser mais valorizadaque a explicação, agora considerada reducionista.

Todos estes questionamentos acima nos servirá como mediação para que napesquisa não cometamos tais erros – reduzir o nosso objeto de estudo. Não podemosolhar o homem como um ser apenas singular, desprovido de relações, de uma históriae sem estar inserido em um contexto. Na pesquisa em psicologia deve sempre aparecera constituição histórica do sujeito e o contexto em que o mesmo está inserido sendo este,sócio-histórico-cultural.

Segundo Vigotysky (1982), em Aguiar (2001), o homem se constitui numarelação dialética com o social e a história, que ao mesmo tempo é único, singular ehistórico e que se constitui através de uma relação de exclusão e inclusão de relações.Desta forma, a tarefa da psicologia consiste em substituir a análise do objeto pela análisedo processo.

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É partindo da linguagem que o pesquisador vai se “apropriar” da subjetividadede seu sujeito pesquisado através da interpretação das palavras deste, já que é a palavrauma das formas de mediação que o sujeito possui para concluir o seu pensamento.

A fala, partindo deste princípio, vai corresponder então, ao modo como o serhumano é capaz de expressar ou codificar, em determinado momento específico, vivênciasque são processadas na sua subjetividade e cabe ao pesquisador buscar as“determinações” históricas e sociais que servem como motivação para este ser humanode dar sentido ou não à coisas que o constituirão enquanto sujeito. Segundo Aguiar(2001), as tendências afetivas, as necessidades e vontades são construídas a partir darealidade social, da história e, sem dúvida da atividade do sujeito.

Tais aspectos devem ser ressaltados na pesquisa, pois como já foi dito para se terum bom entendimento acerca das necessidades abordadas pela pesquisa, o sujeito deveser pesquisado partindo sempre de uma perspectiva sócio-histórica, na qual o mesmo écomposto de uma subjetividade que é constituída através das relações deste sujeito como meio em que está inserido.

A abordagem sócio-histórica, parafraseando Aguiar (2001), também secaracteriza por ser uma teoria capaz de apropriar-se da diversidade dentro de seustermos, sem a pretensão de esgotar o explicado no quadro de suas categorias atuais.Para tanto, não deve ser vista como um conjunto rígido, pronto para assimilar tudo queo memento empírico apresenta.

Outra característica que pode ser apontada, e que é muito importante se encontrana questão de que através da visão sócio-histórica o indivíduo é possuidor de uma totalidadesocial, totalidade esta, que é expressa através das suas ações, pensamentos e sentimentos.Dessa forma, o processo apreendido a partir de um único sujeito, pode revelar aopesquisador algo constitutivo de outros sujeitos que vivem em condições parecidas.

Um dos aspectos mais importantes para o bom desenvolvimento de uma pesquisasocial é conhecer o que está se passando no contexto onde esta será realizada. E paraadquirir tal habilidade é fundamental a utilização de métodos que possibilitem uma boapercepção do campo de pesquisa. E nada melhor para fazê-lo do que inserir-se nestemeio. Para tanto será feita uma análise das formas simbólicas constituídas por palavras,imagens, instituições, comportamentos, através das quais as pessoas – neste caso, asparticipantes da pesquisa – realmente se representam a si mesmas.

A primeira forma de apreensão dos fenômenos sociais em campo é através doolhar. Este, porém, não se trata de um olhar qualquer, ele é investigativo, é um olhardisciplinado munido de uma carga teórica que compreende conhecimentos a respeitodo objeto de estudo desta pesquisa. Dessa forma não se deslumbrará ou se terá umolhar curioso sobre o objeto de estudo desta.

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O olhar disciplinado, concordando com Cardoso de Oliveira (2000), possibilita-nos instrumentalizar toda a teoria que a disciplina dispôs para o assunto em questão, é umolhar sensibilizado. Assim, utilizaremos nossa base teórica como um objeto de investigaçãoque nos dará noções prévias do campo.

Porém, este não é suficiente para apreender o significado das relações sociais epara encontrar a estrutura dessas relações, através da obtenção de dados, também énecessário um ouvir disciplinado. É através do ouvir que poder-se-á compreender osentido das relações sociais e também qual a significação deste sentido para as participantesda pesquisa, através de informações fornecidas por elas.

O período de coleta de dados foi de março a junho de 2006, ocasião em que ospesquisadores participaram das reuniões com o grupo de mulheres escolhidas na Rede etambém realizaram as entrevistas. Inicialmente ocorreu um primeiro contato, em queacompanhou-se apenas as reuniões para em seguida, convidar as mulheres que sedisponibilizaram, para participar das entrevistas individuais.

A Rede Feminina de Combate ao Câncer de Rio do Sul foi fundada em dez de dezembrode 1977 e está localizada na Avenida Oscar Barcelos, no centro da cidade. Sua finalidadeprincipal é realizar o exame preventivo com coleta de material para exame de prevenção docâncer do útero, bem como orientar as mulheres a fazerem auto-exame de mamas.

Tal atendimento estende-se a toda a região do Alto Vale do Itajaí e funciona emparceria com a Secretaria de Saúdo do Município. Além dos exames de prevenção asmulheres contam com uma aparelha para realização da massagem nos braços, chamadadrenagem linfática, bem como com os serviços voluntários prestados por uma massagista,que atende nos turnos em que as mulheres acometidas pela doença realizam suas reuniõessemanais.

Da RFCC4 participam 30 mulheres que se reúnem semanalmente em três grupos.Os encontros acontecem às terças-feiras, às 08h, às quintas-feiras às 14h e às sextas-feirasa partir das 08h. Atualmente participam destes encontros mulheres residentes nosmunicípios da região do Alto Vale, sendo que subdividem-se em aproximadamente dezmulheres por grupo. Além da massagista a rede também conta com o serviço de umatécnica em enfermagem que também é a responsável pela instituição.

Nestas reuniões, além de fazerem as massagens elas se reúnem a fim de promoverum momento de entretenimento, espaço reservado para conversarem, se divertirem eorganizarem acontecimentos no local. Também têm a oportunidade de conversarem acercados seus problemas e experiências com a doença. A rede é mantida principalmente pelos

4 Rede Feminina de Combate ao Câncer.

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fundos arrecadados pelas mulheres que dela fazem parte, através de bazares, venda derifas entre outros, e todas as funcionárias que trabalham na Rede, realizam o serviçovoluntariamente.

Para realização desta pesquisa, foram entrevistadas seis mulheres com idadeentre 50 e 67 anos. Todas elas possuem filhos e tem escolaridade que varia entre oensino fundamental incompleto e o magistério. E coincidentemente, todas as mulheresentrevistadas são casadas e de religião católicas.

A interação entre nós, pesquisadores, e as participantes da pesquisa nos mostraainda que a neutralidade do pesquisador em relação ao seu campo de pesquisa éinexistente, uma vez que estando lá – em campo –, tanto o discurso das participantes dapesquisa quanto o nosso discurso foram afetados pela simples presença um do outro.Ademais, pela complexidade do objeto de estudo desta pesquisa, foram utilizadosinstrumentos diversos para coleta de dados os quais neste caso abrangem a observaçãoparticipante5, e a realização de entrevistas semi-dirigidas.

Para evitar a perda de informações estas entrevistas foram gravadas eposteriormente transcritas, no entanto, sem esquecer da questão da ética profissional,foi solicitada previamente à entrevistada, autorização para que estas entrevistas fossemgravadas6. A análise das informações obtidas a partir da visita a campo e das entrevistasrealizadas com as mulheres da RFCC, foi feita concomitantemente à investigação, Foramenfatizados os temas que geraram maior emoção e envolvimento.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS INFORMAÇÕES

Para iniciar o contato com o campo de pesquisa foi necessária uma leituraexaustiva e repetida dos textos, onde apreendemos estruturas de relevância dos atoressociais e idéias centrais do tema em foco. Essa atividade nos auxiliou na elaboração deum roteiro de entrevista, que nos auxiliou durante parte da investigação. Nosso roteirode entrevista continha 13 núcleos de significados, subdivididos em perguntas a respeitodo tema que envolvia cada núcleo. Como a quantidade de informações obtidas foi deenorme quantidade e demandaria um tempo bem maior do que tínhamos disponívelpara realizar uma interpretação de todas as informações completas, optamos por escolher

5 Na observação participante, o principal instrumento de pesquisa, é o investigador, num contato direto, freqüente e prolongadocom os nativos e os seus contextos. A observação participante aplica-se aos fenômenos sociais que estão em andamento. Éatravés da observação participante que o pesquisador tem a possibilidade de interagir com os sujeitos, se tornando parteda situação analisada e sempre apreciando os aspectos humanos (BRANDÃO, 1999).

6 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE em anexo.

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cinco temas, os quais percebemos que gerou mais emoção das participantes. A seguir,apresentamos a análise dos resultados dividida pelos temas selecionados.

A NOTÍCIA

“O que você sentiu no momento do recebimento do diagnóstico de que tinha câncer demama?” (pesquisadora). “Ah foi uma... É, se abriu o chão assim né? Uma coisa assim que tu ficouassim, meu deus né? É eu? Porque eu né? Porque, se eu fiz tudo direitinho os exames né, se eu tavafazendo o preventivo...” (Madalena, 50 anos)

Para Ferreira e Mamede (2003), na atribuição de significados para as mamas nacultura ocidental, é ressaltada sua importância como atributo físico e psíquico para oorganismo feminino. Além de seu papel importante na vivencia e na demonstração dafeminilidade, as mamas são também órgãos que produzem e carregam leite, uma dasfontes simbólicas da vida e da maternidade.

Por conseqüência disto, o momento de recebimento da notícia é algo que envolvemuitas emoções e sentimentos onde cada comportamento se torna importante, desde aforma com a qual o profissional transmite a notícia, a presença de outras pessoas ou nãona hora do recebimento de mesma e a reação destas outras pessoas.

Este momento também envolve a primeira percepção da mulher a respeito doacometimento da doença bem como, compreender qual a sua preocupação central emedos que podem surgir, levando em consideração ser o câncer uma doença tãoestigmatizante.

No entanto, não podemos deixar de lado a singularidade de cada sujeito, bemcomo a mediação do contexto no qual faz parte, como determinantes na hora dorecebimento de tal notícia, o que fica bem claro no discurso das participantes da pesquisa,uma vez que, cada uma a seu modo, significou de forma diferente e deu maior e menorimportância para fatores distintos, o fato de a doença ter maior ou menor intensidadenas participantes também fez com que significassem e dessem importância de formadiferente, como podemos ver a seguir:

“O que você sentiu no momento do recebimento do diagnóstico de que tinha câncer demama?” (pesquisadora). “Não me abalou, não sei, as vezes parece que é mentira que passou porqueeu nunca, não fiquei com medo, nem antes nem depois, eu sempre tratei com a maior naturalidade,como se fosse... Como diz a minha amiga: Ah eu chorei tanto, mais se eu disser que chorei eu vou estarmentindo, porque eu nunca me assustei, foi tudo tranqüilo (...) Acho que por isso eu me recupereifácil também, por que eu sempre fui bem normal assim que eu não fiquei com medo, não... Quandoé comigo eu não tenho medo, eu me preocupo quando é os outros da família, mais quando é comigo,é tranqüilo.” (Carla, 67 anos)

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“Que eu tinha era o esquerdo que me doía, e aconteceu foi no direito. Tanto é que eu fuisozinha no médico, cheguei lá e no dia de abrir o exame ele só olhou pra mim e disse, mais tu estaissozinha aqui? Eu disse to. Mais não pode, vamos ligar para o teu marido vir aqui. Aí eu disse pra ele,seja o que for, quem tem que resolver o que tem que ser feito sou eu e não é nem o meu marido e nemmeus filhos.” (Ana, 54 anos)

“Como foi contar para os outros?” (Pesquisadora). “A maioria eu não contava, assim, porqueuns anos atrás eles criticavam muito as mulher que tiravam o seio né? Era muito criticada né? Hoje étão aberto né...” (Joana, 52 anos)

“Qual a sua primeira impressão/sensação ao se perceber com a doença?” (pesquisadora). “Aprimeira coisa que eu pensei foi isso aí oh, tenho, a minha avó viveu tanto tempo, tenho, a medicinaestá tão avançada, que não é aqui que eu me vou. Não é agora que eu me vou. Porque a gente achaas portas abertas pra gente e se quiser, se a gente é educado, a gente encontra resultados. Tem porquetem médicos que... A medicina está avançada, tem remédio. Tem cura, então se tinha cura prosoutros, tinha cura pra mim também.” (Paula, 53 anos)

Para Rossi (2003), o diagnóstico do cancer confornta o sujeito com a questão doimponderável, da finitude e da morte. Como toda doença potencialmente letal, traz a perdado corpo saudável, a perda da sensação de invulnerabilidade e perda do domínio sobre aprópria vida. A respeito da morte, a mulheres entrevistadas mostraram uma opinião atécerto ponto contrária a da autora. Uma vez que, nunca se imaginaram morrendo porconseqüência da doença, bem como, algumas alegaram não terem medo da morte.

Já no que diz respeito do controle sobre a própria vida, a queixa principal refere-se ao fato de que o câncer de mama trouxe limitações para suas vidas, fazendo com quedeixassem de realizar tarefas antes comumente realizadas sem o menor esforço, porconseqüência das debilitações nos braços, falta de circulação, redução de número deanticorpos, dificuldades de cicatrização. Assim, a qualquer descuido podem se depararcom inchaço nos braços (linfodema) ou cortes inconvenientes. Tal situação incomodaestas mulheres como podemos ver a seguir:

“Qual a preocupação central após o recebimento do diagnóstico?” (pesquisadora). “Que eunão ia ter como fazer mais nada. Que eu ia perder minha agilidade. Daí eu ia ter de deixar de fazermuitas coisas, que eu gostava de pegar uma enxada, (...) e isso aí acabou, acabou, acabou. O serviçorápido, que tu faz em coisa de meio dia, passar o pano, limpar a casa e fazer aquela tua faxina geralacabou, tu demora no mínimo uma semana. Porque hoje tu vai fazer uma coisinha, tu já tem de parar,porque eu não quero que o meu braço amanhã ou depois esteja inchado. Então se eu fiz, eu fiz, se eunão fiz, se eu limpei a casa a casa esse semana, eu limpei, se eu não limpei, vou limpar semana quevem conforme eu quero e se alguém limpar pra mim melhor ainda.” (Paula, 53 anos)

“Qual a preocupação central após o recebimento do diagnóstico?” (pesquisadora). “Não...Eu só disse um dia pros meus filhos, se eu morrer por causa disso... Mais eu tenho certeza que eu não

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vou morrer por causa disso, ele começou a rir. Que bom, claro que a mãe não vai morrer. Eu disse eunão vou morrer por causa disso... (risos)” (Carla, 67 anos). “Teve medo da morte? Porquê?”(pesquisadora). “Eu nunca pensei que pudesse morrer por causa dessa doença (risos) realmente eunão pensei... Só passa e pronto.” (Carla, 67 anos)

“Teve medo da morte? Por quê?” (pesquisadora). “Não. Eu estou preparada. Eu teve, teve,assim, pena de deixar os meus filhos e o meu marido. Pena, agora medo não. Medo não, porque todomundo vai. A minha irmã era bem mais nova do que eu e ela já faz, nove anos. Então é isso aí minhafilha, a gente medo da morte não deve ter. só que a gente tem que confiar que tem um lá em cima quemanda. Então foi o que está me deixando aqui por enquanto, ainda. Estou aventurando, cada dia,cada hora, cada, minuto pra mim é melhor.” (Paula, 53 anos)

A partir do diagnóstico confirmado, a mulher vê sua vida tomar um rumo diferentedo que poderia imaginar, já que o câncer acarreta alterações significativas nas diversasesferas da vida. Dessa forma, acaba trazendo implicações em seu cotidiano e nas relaçõescom as pessoas do seu contexto social. Como podemos verificar no tópico a seguir quefala a respeito da rotina atual de mulheres que passaram pela mastectomia.

ROTINA ATUAL

A respeito desse tema, o que gerou mais envolvimento e emoção das participantesfoi no momento em que foram questionadas a respeito de como elas descreveriam sua vidaagora. Também se mostraram mais envolvidas quando foram questionadas a respeito dapossibilidade de recorrência da doença, bem como o que sentiam durante a espera dosresultados de exames que necessitam fazer periodicamente por conseqüência da doença.

No discurso delas a respeito de como descreveriam sua vida atualmente, pormais que todas aleguem que esta sofreu alterações por conseqüência da doença, asmulheres insistem em afirmar que levam uma vida normal. Chegam a afirmar que suavida está como era antes. Algumas mulheres ressaltam o fato de que hoje em dia tem umavida mais equilibrada, não ficam nervosas por qualquer motivo e procuram ter umaalimentação mais saudável e praticar mais exercícios. Tudo de acordo com as suaslimitações atuais, principalmente por conseqüência da maior sensibilidade do braço.

“Como você descreveria sua vida agora?” (pesquisadora)“Não, tu sabes que eu levo... Lógico, porque tem muita coisa que a gente ficou limitada. Não

assim, vamos dizer... Porque eu fazia tudo, hoje tem certas coisas, que eu não posso torcer uma roupa,porque com um braço tu tens que ter cuidado, eu cuido que nem um recém nascido prematuro, eucuido com ele, pra não dar inchaço. Existem várias limitações, por causa do braço. Então desse braçoeu cuido. Se é negócio de limpeza eu cuido com os produtos, cuido com o bombril. O que mudou foi

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a rotina dentro de casa, valor eu sempre dei pra vida, isso eu sempre dei. Isso a gente sempre dá, lógicoque daí fica mais... Como é que é... Estreita mais a relação né, fica mais próximo.” (Ana, 54 anos)

“Eu agradeço a Deus que eu sou viva. Assim é um pouco dificultoso, eu não posso, na minhavida normal trabalha como eu trabalhava. Eu me conformo que eu to viva ainda. Não posso reclamarporque tem gente pior do que eu. Alguma coisa eu ainda posso fazer, mais como eu levava a vidanormal eu não posso mais. Não posso lavar uma parede, não posso limpa, não posso fazer uma carne,não posso capinar mais, nada eu posso fazer.” (Joana, 52 anos)

“Minha vida atual ela ficou mais assim... Mais controlada, mais assim... Como é que eu digo...Eu dou minhas tarefas pra mim. Por exemplo, eu levanto, dou uma arrumada na casa, aí vou prahidro, aí eu volto, faço almoço. Outro dia não tem hidro, tem natação, aí eu chego mais perto doalmoço, então antes de manhã eu já dou uma adiantada no feijão, deixo tudo agilizado. E aí eu tenhoioga as quarta-feira a tarde, mais aí eu tenho meu horário de eu bordar, o meu horário de ir pracozinha, que é sagrado, porque eu gosto muito de cozinhar, eu gosto de ir pra cozinha... E... Aí cadadia eu me dou uma tarefa.” (Clara, 61 anos)

Outras pesquisas, como a realizada por Duarte e Andrade (2003), mostra que asmulheres desenvolvem formas de enfrentamento para lidar com as limitações que adoença impõe. Um processo dinâmico que envolvem estratégias cognitivas, afetivas ecomportamentais que o sujeito desenvolve ao se deparar com situações que lhe sejamameaçadoras. Sabendo-se que após a mastectomia a mulher pode vir a apresentar umasérie de dificuldades para reassumir sua vida seja profissional, sócia ou familiar.

Concordando com Rossi (2003), apesar dos efeitos devastadores produzidospelo adoecimento e pelo tratamento, observa-se nas mulheres uma expectativa otimistacom relação á suas vidas. Nota-se que estão com esperanças e que reagem à adversidademais com sentimento de luta e enfrentamento do que como ume entrega resignada àsituação de limitação imposta pela doença.

Além de características individuais, também existe a ocorrência de diferentesreações emocionais nas diversas etapas do tratamento, desde o diagnóstico até a rotinade exames periódicos. Mesmo com bons resultados do tratamento, a vivência do câncerfreqüentemente deixa marcas na vida das mulheres. Muitas delas passam a temer aameaça do retorno da doença e a ter dificuldade em lidar com as seqüelas deixadaspelos tratamentos.

No entanto, algumas mulheres da RFCC não significaram o câncer com taiscaracterísticas. Umas procuraram evitar tal assunto (recorrência da doença) justamentecomo uma fuga para tais pensamentos, como os acima mencionados. Já outrasprocuraram deixar claro, que apesar da recorrência ser uma possibilidade, tambémsabem que a medicina está avançada e que unida com sua força de vontade edeterminação poderão novamente superar o problema.

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“O que você pensa a respeito da possibilidade de recorrência da doença?” (pesquisadora)“Ah minha filha, isso aí é o pior, nem dá de pensar. Nem dá de pensar se um dia pode voltar.

Isso aí eu nem quero falar, isso aí nem tem discutição. Comigo não. Isso aí deixe em branco, porqueisso aí é algo que, é o pior de tudo. Isso aí nem deve tocar no assunto, eu quero deixar em branco.”(Paula, 53 anos)

“Não, eu não penso muito. Às vezes eu penso que se desse outro câncer, acho que eu agiriadiferente, vinte anos mais velha quase, seria mais difícil. Por causa do coração e tudo né. Quanto maisvelho a gente está mais difícil. Agora tem a diferença da tecnologia, tu vai fazer os tratamentos édiferente, eles explicam isso, explicam tudo. Antes tu só fazia, ninguém explicava nada, ninguémnada, nada. Aos trancos e barrancos como se diz. Agora todo mundo já vai sabendo mais ou menoso que é. (Carla, 67 anos)

“Ah eu enfrento tudo de novo. E vai ser melhor pra mim ainda (risos). Já tenho prática, vouresolver muito melhor, não vou me lamentar nada. Se no caso acontecesse de novo. Só que não pensonisso. Já pesei, se um dia acontecer de novo, eu vou reagir, mais eu nunca imaginei que possa voltarisso ali, nunca, nunca, nunca.” (Clara, 61 anos)

“Eu prefiro nem pensar, nem me encucar e também não vou a fundo, porque tem gente que... Euvou atrás sim, de novos tratamentos, mais não da doença. Porque de cinco anos pra cá mudou muita coisa,a tecnologia mudou, hoje já não era mais feito essa cirurgia que eu fiz, o procedimento já era outro, nãoprecisava fazer quimioterapia nada, isso que só fazem cinco anos e já mudou tudo” (Ana, 54 anos)

“Quanto mais se esquece melhor ainda. Ficar se martirizando pra que né. Tu já ta preparadapra isso, porque em cinco anos pode voltar sim ou não né. Daí durante esses cinco anos eles já avisa,cinco anos a gente tem, ta na média né. Só que tem gente com sete, com oito, mais esses cinco anosé crítico pra nós né. Daí assim, a gente já sabe se... Eu sei né, que eu to ainda na... Reta. (risos)”(Madalena, 50 anos)

A espera do resultado também é um momento em que cada mulher entrevistadasignifica de uma forma diferente. Enquanto algumas mulheres aguardam o resultadodos exames nervosas e tensas, outras esperam-no tranqüila. A fé em Deus é algo muitopresente nestes momentos. Algumas mulheres depositam toda fé e confiança no fato deque Deus não permitirá que o novo exame traga o resultado de que terão que passar portal sofrimento novamente.

“Como você se sente durante a espera de cada resultado?” (pesquisadora)“Tranqüilo, tranqüilo. Eu digo se eu vou ficar pensando no resultado de cada exame. Eu faço

ele e no dia que eu busco... Eu não fico me preocupando, eu não tenho medo. Então é mais fácilainda quando é assim. Do que ficar ali nervoso.” (Carla, 67 anos)

“Faço exames de seis meses em seis meses, é o controle hormonal e de ano em ano...Primeiro era três meses, de três em três meses, depois de seis em seis meses, depois passou pra umano, então agora fica assim. Não. Eu não me preocupo com o resultado desses exames. Tranqüilo,sempre..” (Clara, 61 anos)

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“Aí, daí eu fico nervosa. Uma semana antes daí eu fico assim que... Nem olha pra mim que aieu fico braba. De tão agitada que eu fico. (risos).” (Madalena, 50 anos)

“Eu to sempre preparada. Eu não sou uma pessoa assim, de desanimar fácil, eu tenho muitafé em Deus sabe? Graças a Deus. Só que a vida é tão bonita aqui né, ainda mais com a família que eutenho, meu Deus, que nem eu acho assim, que vale a pena viver...” (Joana, 52 anos)

“Não, eu me sinto assim tranqüila. Eu me sinto tranqüila porque eu sou uma pessoa que eutenho muita fé, e eu tenho certeza que eu não vou encontrar mais um exame igual aquele do passado queeu encontrei. Então eu muita fé. Ano é assim dizer que eu tenho certeza, eu tenho fé que Deus não vaimais por esse tipo de coisa no meu caminho. E se por, eu vou ter de enfrentar e caminhar e pronto. Abarreira que tiver a gente tem que levar pra gente, não pode jogar na porta do amigo.” (Paula, 53 anos)

EU E O CORPO

A representação do corpo, segundo Almeida e Mamede (2003), desempenhapapel importante na construção da auto-imagem e a consciência do corpo, em particulara relação que a pessoa estabelece com o próprio corpo, é um elemento constutivo eessencial da individualidade. Como elemento constitutivo da individualidade, a imagemcorporal tem um caráter dinâmico, recebendo mediações para sua construção do social,do simbólico e do afetivo.

As mulheres entrevistadas foram questionadas a respeito de como se deu oprimeiro contato com o corpo após a realização da mastectomia. A mutilação de umaparte do corpo foi representada como uma perda, percepção que têm do seu corpoatual, alterado e estranho. Algumas preferiram evitar este primeiro contato, ou melhordizendo, adiar, por não saberem qual seria a reação ao se deparar com tal deformação.

Essas reações da mulher frente à mutilação por conseqüência da mastectomiatambém relacionam-se à sua subjetividade, sendo mediadas pela maneira como ela vivee relaciona-se com o seu contexto e com as pessoas de que dele fazem parte, bem comosão mediadas pela sua história e pela sua relação com seu corpo frente à este contexto.Assim sendo, podemos perceber as particularidades no discurso de cada mulherentrevistada ao serem abordadas sobre o tema:

“Como foi seu primeiro contato com seu corpo após a realização da mastectomia?” (pesquisadora).“Ah isso eu demorei, pra me olhar no espelho isso eu demorei. Eu virei o espelho (risos).

Verdade. Porque tu olhar de cima pra baixo é uma coisa e olhar de frente é outra, então pra evitarqualquer coisa, e como eu não sei se eu ia suportar eu preferi não olhar mesmo, já que depois de umtempo eu ia fazer a reconstituição mesmo, eu preferi não olhar, porque eu não sabia qual seria aminha reação. Isso foi uma maneira de fugir né.” (Ana, 54 anos)

“É feio né, mais eu não me... Não me desesperei (risos). Eu acho que fica feio, claro, é ruim. Eudisse pra ele naquela época. Na praia, daqui pra frente, nunca mais. Agora eu vou, e não primeiras vezes que

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eu ia eu botava um enchimento no maiô porque eu tinha vergonha e agora não, agora eu vou tranqüila, botoum maiô e se alguém olha se ta torto, deixa olhar. Não foi por querer que fez né.” (Carla, 67 anos)

“Ah, disseram que não podia ver, que ba ba bi, que ba ba ba, eu não, eu ia na frente doarmário e eu me olhava normalmente. Ou sem cabelo, ou sem seio eu não me recusava. Não me sentiaassim, uma pessoa acabadassa. Não... Eu saia, eu ai pro banco, eu ia pra igreja, eu não tinha vergonha(...)Porque eu não pedi, eu me deu isso então porque eu vou ter vergonha de andar desse tipo? Oproblema é meu, cada um faz a sua cabeça do tipo que quer né? Ah porque o meu cabelo vai cair, ahporque eu não tenho mais seio. O que te importa aquilo?” (Paula, 53 anos)

É... É uma amputação. E... Logo o seio, que é uma coisa tão... Que a gente... É da mulher né?Então aquilo me chocou um pouco, me chocou mais (...) Logo no hospital assim, não tinha espelhopra mim ver. Acho que eles botam de propósito, nem botam espelho no quarto. (...) Então quandoeu cheguei em casa que tinha espelho, aí eu me olhava, aí eu até me conformava, eu dizia ainda bemque eu tenho o seio pequeno, não foi um rombo muito grande, porque quando a pessoa tem o seiogrande, aí o negócio é um vulcão terrível né? É uma cratera. Que um fica lá e o outro lá embaixo, aíparece meio aleijada de lado... Aí então quando eu cheguei em casa eu me vi no espelho tudoné?(Clara, 61 anos)

“Ah, assim a gente, eu nem fui me olhar no espelho, mais dá uma tristeza assim na gente, meuDeus, daí a gente sabe que a gente não pode mais se usar uma roupa bonita (...) mais a gente, eu gostode ser vaidosa né, a gente que é mulher, daí ficou assim.” (Joana, 52 anos)

“(...) a primeira vez que eu olhei foi lá no hospital com o meu marido. Ele tava junto né. Nãoteve assim... Porque eu já imaginava mais ou menos porque eu via em revista né. Eu não fui assimdespreparada, porque eu já vi em foto, eu fui ver como é que era sabe. Eu fui atrás disso, eu não fiqueiesperando pra acontecer. Eu já via foto, já via sem mama, né, tudo já vi. Eu já tinha mais ou menosuma idéia do que era. (...) Daí eu achei até que não foi uma reação tão chocante porque já tinha umaidéia de uma coisa mais feia né.” (Madalena, 50 anos)

Cada uma, através de uma maneira particular, procurou enfrentar o primeirocontato após mastectomia, da maneira que pudesse evitar um sofrimento em vão. Pormais que a reação de algumas fosse de tristeza frente à mutilação, isto não deixou comque parassem de lutar pela sua cura, mostrando que a preocupação central era viver damelhor maneira possível, adequando-se às limitações impostas pela doença, refazendoseu modo de pensar, refazendo o seu estilo de vida e a maneira de lidar com os outros.

INTERVENÇÃO PSICOTERÁPICA

Para Venâncio (2004), considerando-se a alta incidência do câncer de mama, agrande possibilidade de uma longa sobrevida e a desestruturação que o diagnóstico etratamento do câncer acarretam na vida da mulher, tem ocorrido uma maior demandapara se investir na qualidade de vida do paciente.

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E é a partir desse investimento na qualidade de vida que percebe-se a importânciada atuação do psicólogo ao longo do tratamento da doença. Já que a prática desseprofissional visa o bem-estar emocional da paciente, contribuindo assim para uma boaqualidade de vida. Todos os fatores emocionais, presentes na vida da mulher com câncerde mama, influenciam no sucesso do tratamento e da reabilitação.

O psicólogo, assim passa a ser membro das equipes cuidadoras das pacientescom câncer, atuando em todas as etapas do processo de tratamento da doença. Algumasmulheres entrevistadas registraram que as instituições as quais fizeram seus tratamentosapresentam disponível o atendimento psicoterápico ao longo de todo tratamento:

“Lá no CEPOM tem. Lá no CEPOM tem, como é que eu vou te dizer, ah, tem tudo esses tiposde médicos, tem tudo lá, e antes de tomar a quimio a gente passa por uma avaliação de vários médicospra conversar com a gente antes da terapia.” (Paula, 53 anos)

Concordando com Venâncio (2004), o psicólogo que atua nesta área tem o objetivode manter o bem-estar do paciente, identificando e compreendendo os fatores emocionaisque intervém na sua saúde. Além do mais ele deve prevenir e reduzir os sintomas emocionaise físicos causados pelo câncer e seus tratamentos, levar o paciente a compreender osignificado da experiência do adoecer, possibilitando assim uma re-significação desseprocesso. Para as mulheres que participam da RFCC o processo de desenvolveu de maneiradiferente, onde muitas mostraram que conseguiram re-significar o processo sozinhas:

“Você procurou algum tipo de tratamento psicológico?” (pesquisadora)“Não. Eu tive depressão mais foi da quimi, a quimi que me dá isso. É momentos assim. A

gente chora, chora, chora, mais daí é um dia, depois da quimi, dois dias né.” (Madalena, 50 anos)“Qual o motivo de não ter procurado?” (pesquisadora)“Não. Olha comigo graças a deus, eu aceitei numa boa, não teve muitas mudanças, tive apoio

de todo mundo, correu tudo certo.” (Madalena, 50 anos)“Gostaria de fazer psicoterapia?” (pesquisadora)“Não tem necessidade de fazer. O importante é tu te aceitar né. Se tu não te aceita, quem é que

vai te aceitar? Porque tem dias assim, que meu deus, eu olho pro espelho assim, meu como eu todiferente, que horror e tem dias que eu me olho, ai como eu to bonita hoje. É conforme tu te aceita,não adianta. Se tu não gosta de ti quem é que vai gostar?” (Madalena, 50 anos)o adoecer, possibilitandoassim uma ressignificaç o significado da experiencia endo os fatores emocionais que interv

“Você procurou algum tipo de tratamento psicológico?” (pesquisadora)“Não, foi tudo tranqüilo. Esses tempos eu falei com uma: Ah mais tu não precisou ir no

psicólogo? Eu disse, graças a deus não. Nunca encuquei muita coisa assim, de ter que precisarprocurar um psicólogo.” (Carla, 67 anos)

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“Qual o motivo de não ter procurado?” (pesquisadora)“Porque não precisa, porque eu vou procurar, tem mulheres que ficam acabadassas, mais eu

não.” (Paula, 53 anos)

Um dos principais motivos para essas mulheres não terem procurado o auxiliopsicoterápico diz respeito ao fato de freqüentarem a RFCC. Lá elas têm a oportunidade de sereunirem com outras mulheres que possuem a mesma patologia. Essa característica possibilitaque elas possam perceber melhor seus problemas já que podem vê-los também nos outros,aprendem a tolerar o que repudiam em si, melhorando assim a resolução da doença.

No entanto, com o auxilio de um profissional que possui experiência e é habilitadopara trabalhar com grupos estas mulheres certamente compreenderiam com mais clarezao sentido de suas emoções e angustias. Também compreenderiam com mais clareza asmudanças em sua realidade cotidiana causada por conseqüência da doença. Assimcomo mostra os relatos a seguir:

“Gostaria de fazer psicoterapia?” (pesquisadora)“Ah, é bom, se viesse alguma psicóloga que desse palestra pra nós aqui. Psicólogo também é

bom pra nós, oh, porque tem vezes que a gente ta meio depressiva né, conversa, espairece. É bom...”(Joana, 52 anos)

“Não. Até precisava mais não procurei. Os médicos sempre falaram pra procurar um auxilioda psicologia. Eu gostaria por causa da minha mudança, porque às vezes eu penso, mais será que eunão exagerei nisso? Ou será que eu estou certa... Ou to errada? Será que eu to indo pelo caminhacerto? Porque é uma batalha muito difícil, e a gente não sabe se está sendo bom pra gente, se nãoestá... Porque a gente passa por uma fasezinha, aí aquilo é tão ruim, mas de repente está tudo bem,é aquela coisa dos altos e baixos né? Gostaria de ir por causa disso... pela mudança que minha vidasofreu. Porque mexeu muito comigo, a gente mudou muita coisa.” (Clara, 61 anos)

O trabalho de grupo, segundo Venâncio (2004), é uma forma de criar relaçõessociais, fato importante já que muitas mulheres tendem a se isolar e a se sentirem rejeitadas.Apesar de não ter sido o caso das mulheres que participam da RFCC, entre iguais, nogrupo, elas tem a oportunidade de se sentirem melhor aceitas e a compartilharem deseus problemas com pessoas que passaram por ocorrências semelhantes.

Ainda concordando com Venâncio (2004), é importante mencionar que antesde começar qualquer atendimento psicoterápico, com, por exemplo, no grupo dasmulheres da RFCC, é preciso detectar se o paciente, ou neste caso as mulheres, precisamde uma intervenção especializada e se há demanda para isso. Apesar de que, inúmeras

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pesquisas têm mostrado que as intervenções psicoterápicas servem positivamente comomediação para o ajustamento emocional e funcional de pacientes e aliviam os sintomasadversos decorrentes do câncer e do seu tratamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão a respeito do câncer de mama pelas mulheres acometidas dá-senuma dupla dimensão temporal: ocorre tanto em decorrência das mudanças da doençano decorrer do tempo, quanto das reinterpretações acerca dessa por parte das pessoasenvolvidas. Ou seja, a cada fase da doença emergem novos significados relativos à convivênciacom ela ou com as limitações impostas pela mesma.

São interpretações que ocorrem dentro de um conhecimento construído atravésde um ciclo de referências que inclui todo o contexto da qual a mulher faz, ou passou afazer parte após o acometimento. A doença é, portanto, um conhecimento recorrente eprocessual, isto é, um conhecimento continuamente reformulado e reestruturado em cadaprocesso interativo específico.

O número excessivo de falas das entrevistadas deu-se no intuito de apresentar,através dos discursos delas mesmas, suas experiências e trajetórias ao longo de todos osobstáculos impostos pelo câncer de mama. Também tem a intenção de aproximar o contextoacadêmico do contexto social, apresentando falas que podem estar presentes no contextode qualquer sujeito, possibilitando que pessoas da região, que não estejam ingressadas nomeio acadêmico possam se interar a respeito do assunto.

A inserção em campo, falando especificamente do o contato com a RFCC e com asmulheres que lá freqüentam, também foi uma experiência muito enriquecedora para nóspesquisadores. O que comprova mais uma vez que a neutralidade científica é inexistente,pois ao mesmo tempo em que falar sobre o tema, que relembrar sobre o tema, gerouemoções diversas nas mulheres entrevistadas, nós também acabávamos envolvidos nestasemoções e passamos a repensar várias situações e comportamentos de maneira diferente.

Talvez por se tratar de um tema tão impactante e por se mostrarem estas mulheres,exemplos a serem seguidos de determinação e desejo de viver, foram vários os momentosem que ao transcrever ou reler as entrevistas as emoções tomavam conta da situação efrequentemente foi-se necessário, parar, respirar, repensar no que se estava fazendo evoltar ao trabalho.

É por estes motivos que tanto a Rede Feminina de Combate ao Câncer de Rio doSul, quanto as mulheres que dela fazem parte, sejam elas funcionárias, que trabalhamvoluntariamente ou as mulheres que foram acometidas pela doença e que participamdas reuniões semanais, deveriam ser melhor valorizadas e mais relembradas.

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Apesar de todo sofrimento pelo qual passaram, estas mulheres respiram vida enão se deixaram nunca abater pela sua doença, ou pelas limitações que esta lhe impôs.Ao longo de toda trajetória com câncer, nunca se deixaram passar por vítimas. Pelocontrário, sempre procuraram olhar para os lados para ver se existia alguém em situaçãomais desvantajosa e nunca mediram esforços para poder auxiliar tais pessoas.

Para concluir, registra-se aqui mais duas falas das mulheres entrevistadas queapresentam através de suas próprias palavras os escritos supracitados:

“Ah! Outra coisa que eu queria dizer... (começa a chorar) eu fiquei muito feliz, de falar issotudo pra vocês, acho que eu precisava desabafar isso mesmo, via sempre aquelas entrevistas depessoas que tinha câncer pra revistas e eu pensava será que nunca ninguém vai me entrevistar? (risos)pra eu contar um pouco da minha história? Eu fiquei muito feliz sabe. Oh eu fui pra casa aquele diacantarolando, aí lembrando assim de vocês (risos) uia, pra mim foi uma graça isso também. Serentrevistada, contar um pouco, tudo que eu passei pra explicar pra outras pessoas que elas nãoprecisam ficar desesperadas, que elas não vão morrer, só tem que ter força de vontade, mudar o ritmode vida né? Se alimentar bem , ter confiança” (Clara, 61 anos)

“Tem que ser forte. Tem que seguir a risca o que o médico fala, lógico que não adianta ela cairporque vai ser pior e daí ela não vai conseguir o tratamento, que ela não vai conseguir fazer... É precisoenfrentar de frente. Eu vou sair desse problema. Como veio ele vai... Como entrou ele vai sair, pronto.Tem que cuidar pra não entrar em depressão, cuidar com pessoas negativas e sempre procurarconversar com pessoas que fizeram, porque não adianta ela ir conversar com pessoas que nãofizeram, mais a pessoa positiva e não negativa, ela tem que cuidar nesse ponto. Porque isso aquiantigamente era sentença de morte mais hoje em dia não.” (Ana, 54 anos)

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AS POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DA PRODUÇÃO ESCRITA E

DA LEITURA NO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA PÚBLICA

Noeli Salete Sorgatto1

Raimund Esser2

Resumo: Este trabalho tem como objetivo observar as condições e práticas de leitura e escrita no ensinomédio da escola pública, para compreender estas possibilidades ou limitações. Esta pesquisa visa trazer,uma reflexão sobre aulas de Língua Portuguesa, e suas implicações com o desenvolvimento da leitura e daescrita na sala de aula. A pesquisa foi desenvolvida na Escola Pública estadual envolvendo alunos eprofessores que atuam na disciplina de língua portuguesa, através de entrevistas sistematizadas porquestionários. A fundamentação teórica da pesquisa trata de que o aprendizado é resultado das interaçõessociais, organizadas e instrumentalizadas, especialmente no ambiente escolar. Os resultados apontampara a falta de estrutura, material, motivação, e desempenho dos profissionais da educação, que estestransformem essa fratura no desenvolvimento intelectual de nossos alunos num lugar, onde, a escola,professores, alunos e sociedade precisam estar presentes para que aconteça uma construção de habilidades.Convencer e convencer-se de que ler e escrever é uma condição fundamental para que estes jovensrespondam as necessidades próprias e sociais da sua trajetória de vida.Palavras-chave: Escola, Leitura, Escrita, vida.

Abstract: This work aims to observe the practical conditions of reading and writing in the elementaryeducation at the public school, to understand these possibilities or limitations. This research aims to bring,a reflection of Portuguese Language on lessons, its implications with the development of the reading andthe writing in the classroom. The research was developed in the state Public School involving pupils andprofessors who act in discipline of Portuguese language, through interviews systemize for questionnaires.The theoretical recital of the research deals with that the learning is resulted of the social interactions,organized and instrumentalist, especially in the pertained to school environment. The results point withrespect to the structure lack, material, motivation, performance of the professionals of the education, thattransform this breaking into the intellectual development of our pupils in a place, where, the school,professors, pupils and society need to be present so that a construction of abilities happens. To convinceand to convince of that reading and writing is a basic condition so that these young answers the proper andsocial necessities of its trajectory of life.Keywords: School, Reading, Writing, life.

1 Orientadora do Projeto de Pesquisa do Artigo 170, da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI.Professora dos cursos de graduação da UNIDAVI e mestranda em Educação, PPG/ME-FURB.

2 Acadêmico do Curso de Letras, da Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Licenciaturas, da Universidade para oDesenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A leitura e a escrita de jovens estudantes de todos os níveis escolares têm chamadoatenção quanto ao seu desempenho pouco satisfatório. Torna-se hoje, alvo depreocupação de professores, pais e comunidade social. A pesquisa selecionou essatemática com o propósito de refletir e compreender as possibilidades e limitações deleitura e escrita, de alunos que freqüentam as primeiras, segundas e terceiras séries doensino médio da escola pública.

Sabe-se que as habilidades de leitura e de escrita não são apenas produtos daescolarização, mas, fazem parte de uma proposta de desenvolvimento sistemático doprocesso de ensino-aprendizagem na situação escolar.

A fundamentação teórica da pesquisa trata, de que o aprendizado é resultado dasinterações sociais, organizadas e instrumentalizadas, especialmente no ambiente escolar.Para buscar resultados, a pesquisa optou por uma metodologia de entrevistas envolvendoalunos das séries do ensino médio e de professores que atuam na disciplina de línguaportuguesa. Foram elaboradas perguntas com respostas objetivas e outras descritivas.Estas respostas foram agrupadas por significação pessoal e informal e metodologia daspráticas pedagógicas da escola.

Os resultados contribuíram para uma reflexão sobre a formação do professor,material de leitura, conteúdos das aulas de língua portuguesa, metodologia das diversasdisciplinas, qualidade e diversidade do material de leitura e especialmente a função daleitura e da escrita como conhecimento universal para qualificar a continuidade daformação acadêmica. A partir disto fica cada vez mais evidente a importância de possibilitaruma efetiva inclusão de todos no meio social.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada para esta pesquisa foi:• Visitas as Escolas públicas;• Análise dos livros didáticos;• Estudos teóricos;• Análise dos cadernos de Língua Portuguesa• Entrevista com alunos do Ensino Médio de Escolas Públicas;• Entrevista com Professores de Língua Portuguesa;• Visitas às bibliotecas das escolas públicas;• Vivencias nas aulas de língua Portuguesa;

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Foram entrevistados 239 alunos do ensino médio de escolas públicas, com idadesde 14 á 20 anos, nos 1º, 2ºe 3ºanos do ensino médio.

Foram entrevistados 40 professores de Língua Portuguesa. Com 1 á 25 anos deprofissão.

Com essa amostra podemos observar o quanto nossos alunos têm dificuldadespara a leitura, pois vem de um ensino onde não se da devida importância para o ato deler. A partir disso relatarei o questionário que realizamos assim como com algumasrespostas, juntamente com um embasamento o teórico.

O material de leitura da escola motiva aprender a ler e escrever? Esta pergunta foirealizada aos alunos.

A partir da análise da questão percebeu-se que o material das escolas públicaspesquisadas, não são motivadores para nossos alunos, pois trata de material que estáultrapassado e não instiga a curiosidade dos alunos. Veja no gráfico abaixo:

FIGURA 1 – O material de leitura da escola motiva aprender a ler e escrever?Fonte: Dados da Pesquisa.

O material de leitura e escrita que se apresenta na escola para uso dos professorese alunos é de boa qualidade? Pergunta realizada a professores.

Nessa questão 50% dos professores entrevistados diz que o material às vezes ebom e os demais ficam divididos em sim e não. Assim percebemos que os professorestambém não têm material didático que os faça incentivar a leitura do aluno, pois nem elemesmo considera o material de boa qualidade. Veja no gráfico seguinte:

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FIGURA 2 – O material de leitura e escrita que se apresenta na escola para uso dosprofessores e alunos é de boa qualidade?Fonte: Dados da Pesquisa

Quando você lê e escreve na escola?Essa questão e de suma importância, pois percebemos que nossos alunos lêem

e escrevem em todas as disciplinas, mas menor quantidade na disciplina de línguaportuguesa. Veja no gráfico abaixo;

FIGURA 3 – Quando você lê e escreve na escola?Fonte: Dados da Pesquisa

A leitura e a escrita faz parte do seu dia-a-dia? Questão levantada para os alunos.Nesse processo percebe-se que nossos alunos não têm hábito de leitura no seu

cotidiano. Veja no gráfico seguinte:

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FIGURA 4 – A leitura e a escrita faz parte do seu dia-a-diaFonte: Dados da Pesquisa

Já na ótica do professor escrever e ler para o aluno é uma satisfação? A maioriadeles 55% respondeu que às vezes, pois nossos alunos não esta tendo o gosto da leiturapor não estarem sendo estimulados para esse hábito. Veja no gráfico abaixo:

FIGURA 5 – Já na ótica do professor escrever e ler para o aluno é uma satisfação?Fonte: Dados da Pesquisa

Na opinião dos alunos, quais são os melhores materiais para ler? Organizamossuas opiniões em forma de quadro. Veja no quadro abaixo:

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Quadro 1 - Os melhores materiais para ler?Fonte: KAUFMAN:RODRIGUEZ (1995).

Temos ainda, o relato de alguns professores e alunos sobre algumas dificuldadesencontradas para a leitura:

• Falta de livros de literatura, pesquisa, diversos;• Uma biblioteca melhor equipada;• Permanecer aberta todos os momentos (todos os dias);• Falta de uma bibliotecária;• Falta de programações, livros novos, organização, tecnologias, títulos com

conteúdos,• Falta de estrutura, falta de privacidade,• Falta de espaço físico, falta de acervo;

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• Uma biblioteca que conquiste o aluno a permanecer, conhecer, viajar,apreender...

• Falta de livros de literatura, pesquisa, diversos;

Soluções apresentadas por professores, alunos e estudantes da educação superior:

• Produção de jornal na escola;• Orientar “a real” notícia de TV e jornal;• Confecção de fichas de leitura;• Motivar os alunos;• Contação de historias;• Conscientizar a importância da leitura e da escrita;• Leituras dinâmicas, conteúdos interessantes da realidade social e cultural de

cada aluno, isso estimulará a leitura e escrita;• Aulas de leitura pré-estipuladas;• Professores, acadêmicos deveriam estar presentes na entidade escolar;• A sociedade fornecer material de leitura aos filhos;• Materiais diversos e não só livro didático;• A universidade deveria ter compromisso de atribuir a escola artigos, pesquisa,

interesse de conhecimento, produções acadêmicas e informações.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para Marisa Lajolo (1982ab, p.59), ler não é decifrar, como num jogo deadivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhesignificado, conseguir relaciona-lo a todos os outros textos significativos para cada um,reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono de própria vontade,entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista”. Apartir disso, percebemos que nossos jovens leitores(alunos) estão cada vez menosvoltados para este habito que é a leitura, que busca um raciocínio e uma tomada dedecisão, pois os mesmos estão habituados somente a leituras simples de fácilcompreensão e que não exija o seu raciocínio para tal.

Já para a autora Ana Maria kaufman (1995, p.45) “È indiscutível que os leitoresnão se formam com leituras escolares de materiais escritos elaborados expressamentepara a escola com finalidade de cumprir as exigências de um programa. Os leitores se

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formam com a leitura de diferentes obras que contêm uma diversidade de textos queservem como ocorre nos contextos extra-escolares, para uma multiplicidade depropósitos (informar, entreter, argumentar, persuadir, organizar atividades, etc.). Noentanto, isso não implica descartar a priori todos os textos escolares. Alguns destestextos- usados convenientemente- podem favorecer os trabalhos de produção e decompreensão”. Podemos perceber a importância da qualificação adequada de nossosprofessores, pois devemos não só trabalhar textos curriculares mas também procurarinstigar a leitura de nossos jovens alunos com textos que os estimulem a ler de da mesmaforma serem críticos e autores de suas idéias.

Segundo o autor Percival Leme Britto (1997, p.128,) “Estudando as condiçõesde produção do texto escolar, conclui que esta é marcada, em sua origem, por umasituação muito particular, onde são negadas à língua algumas de suas característicasbásicas de emprego, a saber, a sua funcionalidade, a subjetividade de seus locutores einterlocutores e o seu papel mediador da relação homem-mundo. O caráter artificialdesta situação dominará todo o processo de produção da redação, sendo fatordeterminante de seu resultado final’’. Desta forma, a pesquisa iguala-se ao pensamentodo autor, porque realmente nossos alunos não estão preparados para realizaremproduções que exijam uma linguagem formal, pois os mesmos escrevem basicamentetudo aquilo que falam e com isso percebemos que falam com uma linguagem própria(gírias, variações lingüísticas).

Segundo o que diz a autora Emilia Ferreiro (1990 p. 18,) “a leitura é um processoclinico, isto é que podemos pensar na leitura como sendo composta de quatro ciclos,começando com um ciclo ótico ,que passa a um ciclo perceptual , daí a um ciclogramatical, e termina, finalmente, com um ciclo de significado. Mas á medida que aleitura progride, segue-se outra série de ciclos , e logo outra. De tal modo que cada ciclosegue e precede outro ciclo, até que o leitor se detenha ou até que a leitura tenhachegado ao final.”

Também obtive curiosidade de realizar uma pesquisa sobre a prova do ExameNacional do Ensino Médio (Enem), onde fiz uma breve pesquisa, onde três anos doensino médio, foram analisados 123 provas, feitas por alunos do ensino médio deescolas públicas, a situação vem a melhorar, mas não muito. O desempenho medido dasprovas pelo (Enem) indicou que 43% dos alunos do 3º ano estão nos níveis “crítico” ou“muito crítico”. Isto é de péssima qualidade em relação à leitura, a escrita e a interpretaçãode textos. Cerca de 57% concluíram a escola sem o conjunto de habilidades esperadas,em relação a leitura ,escrita e interpretação de texto.Ao estar analisando estas provasrealizada, encontrei muitos erros de ortográficos ,erros na concordância nominal everbal, onde mostrou que os alunos saem da escola sem saber como formar uma

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oração e como coloca-la em ordem, dando sentido para o texto. Assim cometendodesvio de assuntos, deixando de dar sentido as suas próprias produções.

Segundo o autor Paulo freire (1982 p. 09)’’Em sociedade que exclui dois terçosde sua população e que impõe ainda profundas injustiças á grande parte do terço parao qual funciona, é urgente que a questão da leitura e da escrita seja vista enfaticamentesob o ângulo da luta política a que a compreensão científica do problema traz suacolaboração”.

Com tudo isso queremos saber, qual a contribuição da universidade no habito deleitura de nossos alunos, advindos do ensino médio (público): por isso relataremosalgumas questões que levantamos com relação a esse tema. Pois a universidade passarade uma simples formadora de técnicos, para também fazer com que os alunos, futurosprofissionais criem o habito de ser leitor e também autores.

• Como a Universidade recebe estes alunos ingressantes das escolas públicasque apresentam dificuldades de leitura e escrita?

• A Universidade Busca equilibrar estes alunos com dificuldade?• A Universidade recebe, mantém, e o repassa adiante...?• Qual é a contribuição da Universidade para estes alunos?

Esta pesquisa visa trazer, uma reflexão sobre relação pessoal com odesenvolvimento da leitura e da escrita na sala de aula, onde propõe desencadear novoscomportamentos em relação ao ler e escrever.

Oportunidade de ler o quê? Mas Escrever o que?Tudo, pois o único lugar onde atelevisão ainda pode ser desligada é na escola. Ler e escrever são tarefas na escola, emcada sala de aula e na biblioteca, esta como o espaço convergente de todas as atividades.É nela que se estimula a circulação e a transferência da informação, que se favorece aconvivência dos diferentes segmentos da comunidade escolar.

A escola não olha para a biblioteca, que não a vê como espaço do professor comlivros para seu aperfeiçoamento continuado e do aluno, descura da escrita que realiza.Ler e escrever, portanto, implica redimensionar nossas práticas e nossos espaços. Ler eescrever é tarefa do professor de português? É tarefa do professor de história, de geografia,de ciências, de artes, de educação física, de matemática... É tarefa da escola: a escola –os professores reunidos na mais básica das atividades interdisciplinares, vai reservaralguns períodos da semana para que os alunos se dediquem, em suas salas de aula, àleitura individual, solitária, silenciosa de todo tipo de material impresso: livros, jornais,revistas noticiosas e especializadas, romances, contos, ensaios, memórias, literatura

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infanto-juvenil, literatura adulta, paradidáticos de todas as áreas, textos de todo tipo,enfim, postos à sua disposição para que o exercício da leitura os transforme em leitores.E vão ler o que? O que acharem interessante, que satisfaçam suas necessidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um processo de mudanças de práticas e de concepções parece estar emandamento no contexto de ensino de Língua Portuguesa. No entanto mudançascomplexas e profundas na prática de profissionais para os quais nem todas as concepçõesestão bem compreendidas, como eram de se esperar. Ora, para nós pesquisadores docampo da linguagem, bem conhecemos a profundidade, a vastidão, dificuldades e,limitações que envolvem o ensino a aprendizagem da linguagem. Esta pesquisa trazevidências de professores de Língua Portuguesa, que atuam nas situações concretas desala de aula, não tem uma visão social do conhecimento, bem como não têm consideraçõescom relação às limitações dos alunos.

Percebe-se um ensino coletivo que ignora diferenças e assim fortalecendo quemsabe e distanciando-se de quem tem mais carência de conhecimento. A escola apresentauma infra-estrutura precária de materiais didáticos, pouca formação continuada, semum trabalho de equipe, compreendendo uma indiferença social e cidadã.

Vê-se, por parte, de alguns profissionais, uma busca de mudanças em um modelode ensino de melhor qualidade, mas dentre outros, provou pouca eficiência. Vê-se,acima de tudo, uma falta reconsideração de suas próprias concepções sobre o ensinode leitura e escrita em todos os níveis de ensino. Assim, mantêm-se uma concepção, deque o vazio existe, porém dá-se por volta da escola, e não dos que nela habitam.

REFERÊNCIAS

BRITTO, Percival L, O texto na sala de aula. Campinas, SP, Átomo, 1997.

FARIA M.A. O jornal na sala de aula. São Paulo, contexto, 1989.

FERREIRO. Emilia, Os processos de leitura escrita. Porto Alegre, RS, Artes Médicas, 1990.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, SP, Autores Associados/ Cortez,1982.

GIL NETO, A. A produção de textos na escola. São Paulo, Loyola, 1988.

KAUFMAN, Ana M, Escola, leitura e produção de textos, Porto Alegre, RS, Artes Médicas,1995.

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LANOJO, Maria. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo, SP, Ática,1993.

LUFT, Celso, P. Língua e liberdade por uma nova concepção da língua materna, SãoPaulo, SP, 1998.

POSSENTI, Sírio. Porque não ensinar gramática na escola. Campinas, SP: Mercado deletras: Associação de Leitura do Brasil, 1996.

ROSING, T.M.K. Ler na escola. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1988.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Trad. Cláudia Shilling-6ªed.-Porto Alegre, RS, ArtMed,1998.

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CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL: UM ESTUDO SOBRE A

FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS NA ÁREA ADMINISTRATIVA

PARA ATUAR EM CONSTRUÇÕES DE GRANDE PORTE1

Cleison Minatti2

Adriano Neumann3

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo mapear o perfil do profissional Encarregado Administrativo eidentificar pessoas com potencial de liderança para atuarem em obras de grande porte. Este estudo caracterizou-se por ser quantitativo, qualitativo, exploratório e documental. A população foi constituída de 14 profissionais queocuparam/ocupam o cargo em estudo, sendo que a amostra corresponde a 100% desta, visto o levantamentocompreender a todos os pesquisados. A coleta de dados ocorreu com uma pesquisa no banco de dados da empresasobre os profissionais que atuam e atuaram na função de encarregado administrativo no período de agosto de 2001e junho de 2008. Os resultados deste estudo indicam o perfil histórico do profissional que atua nesta função dentroda empresa pesquisada. Observou-se que seguindo a matriz de competências já existente na empresa e considerandoo perfil histórico do cargo de encarregado administrativo, dos 116 empregados exercendo cargos inferiores aoestudado, teríamos apenas oito (08) profissionais no processo seletivo, pois apenas oito (08) profissionais seenquadram no perfil do histórico, o que mudaria gradativamente o processo de seleção. Este estudo vem a contribuirsignificativamente para a seleção de candidatos para o exercício do cargo de encarregado administrativo edemonstrar que a empresa possui, entre as que já existem, ainda mais opções para seleção.

Palavras-chaves: Capacitação profissional; Encarregado administrativo; Perfil; Liderança.

ABSTRACT: This paper aims to map the profile of professional Appointed Administrative and identifypeople with leadership potential to work in large-scale works. This study was characterized as quantitative,qualitative, exploratory and documentary. The population was composed of 14 professionals who occupied/occupy the post under consideration, and the sample corresponds to 100% of this, since the liftingunderstand at all searched. Data collection was with a search on the company’s databases on the professionalswho work and acted in the role of Administrative Officer from August 2001 to June 2008. The results of thisstudy indicate the profile of the professional history that serves this function within the company searched.It was noted that following the existing array of skills in the company and considering the historical profileof the post of Administrative Officer, of the 116 employees below the studied acting positions, we wouldhave only eight (08) professionals in the selection process, because only eight (08) professional fit theprofile of history, which gradually change the selection process. This study is to contribute significantly tothe selection of candidates for the exercise of the office responsible for administrative and demonstratethat the company has, among those that already exist, further options for selection.

Keywords: Training professional; Administrative charge; Profile; Leadership.

1 Artigo constituido a partes ao trabalho de conclusão de curso na área de administração.2 Professor Orientador3 Acadêmico do décimo fase do curso de Administração da Universidade Para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí -

UNIDAVI

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1 INTRODUÇÃO

Demanda tempo capacitar às pessoas para que elas possam lidar com as suasdiferenças e também com as diferenças que lhe serão impostas. As pessoas são diferentes,falam diferentes, têm valores diferentes. O maior investimento para capacitar umprofissional deve ser em conhecer as pessoas com quem se trabalha, ser e demonstrarhumildade e estar aberto ao aprendizado.

O profissional deve estar disposto a conhecer o universo alheio, pois a formaçãoacadêmica por si só muitas vezes não contempla outros saberes e tão pouco supera asexperiências que só virão com os erros que certamente acontecerão.

Hoje em dia, todas as organizações dizem que as pessoas são seu maior ativo,mas poucas praticam o que pregam e um número ainda menor acredita realmentenisso. Apesar de ouvirmos falar muito em treinamento, educação, desenvolvimento depessoas e que o capital humano é fundamental nas organizações, ainda são poucas aspráticas das empresas quanto ao desenvolvimento intelectual.

Todo o profissional tem o seu valor dentro da empresa, cada um na sua função ecom as suas habilidades, pois se este foi selecionado para fazer parte da equipe é porque possui qualidades. Porém, a empresa deve encontrar e desenvolver aquilo que oprofissional tem de melhor, analisando em qual área será melhor o seu desempenho,conforme suas habilidades, aprimorando assim seus pontos fortes.

Empreendimentos dos mais diversos portes em andamento sem profissionaispara preencherem as vagas, fazem com que a empresa se torne uma concorrente delamesma em busca de mão-de-obra qualificada. O que tem acontecido atualmente é acontratação de profissionais sem nenhuma qualificação na área a ser atuada. Estes,iludidos por salários maiores, e motivados por uma posição privilegiada dentro daempresa, acabam aceitando esta troca, deixando para traz toda sua qualificação e muitasvezes uma grande carreira.

O ambiente estudado mostra a formação do cargo Encarregado Administrativo,função considerada intermediária dentro da empresa, pois faz uma ponte entre a gerênciaadministrativa e a área operacional. Este possui poder de decisão de frente aos problemasdo cotidiano, capacidade de treinar novos profissionais, podendo atuar em diversasáreas de apoio dentro dos empreendimentos, de acordo com sua formação. Entre elasestão: departamento pessoal, contabilidade, alojamento, manutenção de canteiro,transporte e suprimentos.

O estudo realizado compreende o período de outubro de 2001 a junho de 2008intercalando dois empreendimentos, um de grande porte e outro de médio porte. Opropósito deste estudo é identificar os métodos utilizados para formação do cargo

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Encarregado Administrativo, tempo e as etapas necessárias para a formação deste, apartir da análise dos seguintes itens: levantar o perfil do cargo, demonstrar a médiasalarial e a evolução dos salários no tempo, nível técnico, formação escolar e benefíciosque compõe o cargo.

2 REVISÃO DE LITERATURA

“A Administração passa a ter responsabilidade de criar sistemas organizacionaisque não somente sejam sensíveis, mas também estejam avisados e tenham conhecimentotão profundo quando possível das necessidades daqueles que nelas trabalham”..(BERGAMINI, 1980, p. 37)

Segundo o autor, grande parte dos problemas humanos dentro das empresas sedeve à significativa dificuldade de compreender, com suficiente clareza aquilo que aspessoas perseguem, a fim de que fique mais lógico o traçado de suas carreirasprofissionais. Ainda afirma, que nas condições cada vez mais competitivas de nossostempos, o desenvolvimento de lideranças deixou de ser um luxo, é uma necessidade desobrevivência e um requisito indispensável ao crescimento.

Há muitos pontos de vista diferentes a respeito dos conceitos de treinamento edesenvolvimento. Primeiramente, é necessário assumir um desses conceitos e firmaruma linha demarcatória mais nítida entre esse dois tipos de atividades para que se possacontar com pressupostos teóricos mais firmes.

O termo treinamento é empregado, na maioria das vezes, como preparo específicopara o bom desempenho das várias tarefas que compõem os diferentes cargos. Sendoum pouco mais enfático Bergamini (1980), considera como uma forma de adestramento,no qual o indivíduo deve aprender a “fazer” o seu trabalho.

Para Bergamini (1980, p.39):

No geral treinamento é feito dentro do próprio ambiente de trabalho, seja pelochefe ou por um instrutor especialmente preparado. Os instrumentos utilizadosem situação de treinamento são os manuais, bem como simulações, instruçãoprogramada, preleição e outros. É sempre necessário entender que as pessoasnão nasceram sabendo como trabalhar e se torna preciso prepará-las para tanto,numa busca de aumento de produtividade, e de melhor qualidade.

Para o autor, quanto mais bem sucedida esteja a organização, mais preocupadosse mostram os seus executivos com o contínuo desenvolvimento e mais abertos parecemestar aos recursos que lhes possam alargar os já amplos horizontes.

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Drucker (1981, p. 97) cita que:

Os administradores eficazes tornam os aspectos positivos produtivos. Eles sabemque não podem construir nada em cima de deficiências. A fim de conseguiremresultados, recorrem a todos os aspectos positivos disponíveis, sejam eles decolegas, de superiores e os seus próprios. Tornar positivos os aspectos positivosdas pessoas é uma finalidade exclusiva das organizações.

Drucker (1981) afirma ainda, que o administrador eficaz preenche cargos e promoveos indivíduos com base no que eles são capazes de realizar: suas decisões de designação depessoal não visam minimizar as deficiências, mas sim maximizar seus pontos fortes.Bergamini (1980, p.40), cita:

A inadequação do homem moderno, confrontada com as imperiosas necessidadesda evolução contemporânea, originou-se de uma educação que se restringiu àsdimensões da instrução, que é um papel privativo da forma intelectual outécnica, visando simplesmente ao ‘saber’ ou ao ‘saber fazer’ em detrimento do‘saber ser’. Quando tudo vai bem dentro de uma organização e as pessoas semostram dispostas a aprender algo mais, estão necessariamente referindo-se a simesmas, estão preocupadas com o seu autodesenvolvimento e com oaprimoramento dos seus relacionamentos, No sentido de construir um ambienteainda mais propício à manifestação da sua individualidade, sem que com issooutros se sintam invadidos ou diminuídos.

Aprender, tão somente aprender e guardar para si, não contribui em nada. Oconhecimento deve ser disseminado e as pessoas devem ser treinadas, os líderes devemser capazes de desenvolver os talentos, e aumentar o capital intelectual da organização,fazendo surgir estratégias competitivas na busca de novas idéias e emergindo liderançascapazes de expandir o conhecimento para a organização.

2.1 Motivação humana

As pessoas são diferentes, agem diferentes e vivem diferentes. A busca pela motivaçãode sua equipe é um dos primeiros passos de liderança, é preciso ter uma equipe motivadapara o desempenho das atividades, caso contrário torna-se complicado e completamentesem efeito as ações do líder. Como uma equipe de remadores, ficaria muito difícil levarum barco adiante quando apenas um está remando, é preciso o envolvimento ecomprometimento de todos, e para isso a motivação para o processo.

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Segundo Chiavenato (2003), a motivação constitui um importante campo doconhecimento da natureza humana e da explicação do comportamento humano. Paracompreender-se o comportamento das pessoas torna-se necessário conhecer suamotivação. É difícil definir exatamente o conceito de motivação, uma vez que tem sidoutilizado com diferentes sentidos.

De acordo com Chiavenato (2003, p.89):

É óbvio que as pessoas são diferentes no que tange à motivação: as necessidadesvariam de indivíduo para indivíduo, produzindo diferentes padrões decomportamento; os valores sociais também são diferentes; as capacidades paraatingir os objetivos são igualmente diferentes; e assim por diante.

O tempo necessário para desenvolver os talentos, deve ser realizado de formaque o profissional se sinta motivado aos resultados, e estes devem ser apresentados eestar claros, a fim de não criar falsas expectativas e frustrações ao final do processo.

Buscar situações de desafio e demonstrar os caminhos é preciso desafiardiariamente as capacidades e limitações dos profissionais, satisfazendo as necessidadesda empresa, e consequentemente as pessoais.

2.2 DESENHO E CONCEITUAÇÃO DE CARGO

Para o estudo de um cargo específico, será necessário detalhar as atividades queo envolvem, bem como o perfil do profissional que ocupa o cargo, para tanto, o referencialteórico sobre cargo contribui e fortalece a pesquisa, desenhando e conceituando omesmo, e desta forma facilitando a compreensão.

Segundo Chiavenato (2002), as pessoas trabalham nas organizações através doscargos que ocupam. Quando alguém diz que trabalha em determinada empresa, aprimeira coisa que lhe perguntamos é qual o cargo que desempenha.

Para Chiavenato (2002, p. 269):

Sabemos o que ela faz na organização e temos uma idéia de sua importância e donível hierárquico que ocupa. Para a organização, o cargo constitui a base daaplicação das pessoas nas tarefas organizacionais. Para a pessoa, o cargo constituiuma das maiores fontes de expectativas e de motivação na organização.

Exercer um cargo dentro de uma organização, também significa ocupar umaposição no organograma, desta forma quanto maior a proximidade com os níveissuperiores, maior relevância dentro da empresa, o cargo e o ocupante.

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2.3 CAPITAL HUMANO E CAPITAL INTELECTUAL

As maiores empresas são as que ocupam menor território na sua localização, ospequenos edifícios são os grandes na indústria do conhecimento, e a maior prova, é osurgimento crescente de empresas de consultoria, estas que detêm o conhecimento,jamais irão perder.

Segundo Chiavenato (2003), em todo o decorrer da Era Industrial, asorganizações bem-sucedidas eram aquelas que incorporavam o capital financeiro –traduzido em edifícios, fábricas, máquinas, equipamentos, investimentos financeiros – eo faziam crescer e expandir. O retrato do sucesso organizacional era representado pelotamanho da organização e de suas instalações físicas, por seu patrimônio contábil, esobretudo pela riqueza financeira.

De acordo com Chiavenato (2003, p. 186) “Na era da informação, o capitalfinanceiro está deixando de ser o recurso mais importante da organização. Outros ativosintangíveis e invisíveis estão assumindo rapidamente seu lugar e relegando-a um planosecundário. Estamos referindo-nos a capital intelectual”.

Para Chiavenato (2003, p. 187) “[...] organização, clientes e pessoas constituemo tripé do capital intelectual. O conhecimento é fundamental nesse jogo. Enquanto ocapital físico deprecia-se com o uso, o conhecimento valoriza-se cada vez mais. O cabedalde conhecimentos de uma pessoa não diminui se ela o compartilha com outras”.

Não basta estar no alto, o difícil não é atingir o cume da montanha, o complicadoé manter-se nele. É preciso renovar e inovar, não basta ser eficaz tem que ser eficiente,desenvolver e disseminar o conhecimento aumenta a competitividade no mercado eabre espaço para o desenvolvimento de novos produtos.

3 METODOLOGIA e materiais de pesquisa

O estudo a ser realizado pode ser classificado como uma pesquisa quantitativa,onde busca o levantamento dos dados já existente através do banco de dados da empresa,e qualitativa, onde visa através dos dados relatarem o perfil para o exercício da funçãoencarregado administrativo.

Este trabalho de pesquisa será dividido em duas fases, onde a primeira fase noque se refere à abordagem do problema se dará uma pesquisa quantitativa, exploratóriae documental, e o instrumento utilizado para coleta de dados será o formulário. Nasegunda fase a abordagem será qualitativa, e bibliográfica.

Segundo Richardson, (1999, p.70):

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Método de pesquisa significa a escolha de procedimentos sistemáticos para adescrição e explicação de fenômenos. Esses procedimentos se aproximam dosseguidos pelo método científico que consiste em delimitar um problema, realizarobservações e interpretá-las com base nas relações encontrada, fundamentando-se, se possível, nas teorias existentes.

Este trabalho foi desenvolvido sobre o prisma da pesquisa quantitativa, porqueatribui valores como tempo de empresa, tempo no cargo, sexo e idade, segundoRichardson (1999) a pesquisa é quantitativa, pois se caracteriza pelo emprego daquantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamentodelas.

É qualitativa, pois não pretende numerar ou medir unidades ou categoriashomogêneas (RICHARDSON, 1999)

Segundo Richardson (1999, p. 79):

A forma como se pretende analisar um problema, ou, por assim dizer, o enfoqueadotado é que, de fato, exige uma metodologia qualitativa e quantitativa. Oaspecto qualitativo de uma investigação pode estar presente até mesmo nasinformações colhidas por estudos essencialmente quantitativos.

A pesquisa será qualitativa e quantitativa, pois em primeiro momento é necessárioo levantamento do histórico e dos dados existentes, para posterior análise e formaçãodo perfil da função.

Do ponto de vista dos objetivos a pesquisa pode ser exploratória, descritiva eexplicativa. O estudo é exploratório, pois envolve levantamento bibliográfico e documental.

As pesquisas realizadas na internet vêm contribuir para o cumprimento do objetivogeral deste estudo, e auxiliar na pesquisa.

Para Lakatos e Marconi (2002, p. 62) “A característica da pesquisa documentalé que a fonte de coleta de dados está restrito a documentos, escrito ou não, e estaspodem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre”.

Lakatos e Marconi (2002, p. 71) afirmam que “A pesquisa bibliográfica abrangetoda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicaçõesavulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, materialcartográfico até meios de comunicação orais”.

Neste estudo a coleta de dados será obtida através da aplicação da técnica doformulário, que segundo Lakatos e Marconi (2002, p. 112) “possui a vantagem defacilidade na aquisição de um número representativo de informantes”.

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O total da população é de 14 profissionais que ocuparam/ocupam o cargo emestudo, sendo que a amostra corresponde a 100% desta, visto o levantamentocompreender a todos os pesquisados.

A coleta de dados ocorrerá com uma pesquisa no banco de dados da empresasobre os profissionais que atuam e atuaram na função de encarregado administrativo noperíodo de agosto de 2001 e junho de 2008.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O empreendimento hidrelétrico, com potência instalada de 182,3 MW será omaior aproveitamento elétrico do Rio Itajaí-Açu e uma das maiores usinas subterrâneasdo Brasil. O aproveitamento consiste na captação de parte das águas do Rio Itajaí-Açu,nas proximidades da localidade de Riachuelo, no município de Lontras, e no seu desvioatravés de túnel para o mesmo rio, na localidade de Subida, no município de Apiúna. Naconstrução desta Usina, Santa Catarina projeta-se no panorama da engenharia brasileirapor abrigar uma das três maiores usinas subterrâneas de porte.

A função do cargo Encarregado Administrativo dentro do empreendimento, temem suas principais atividades supervisionar rotinas administrativas, chefiando diretamenteequipe de escriturários, auxiliares administrativos e secretárias de expediente.

O profissional coordena serviços gerais de malotes, transporte, cartório, limpeza,manutenção de equipamento mobiliário e instalações. Administram recursos humanos,bens patrimoniais e materiais de consumo; organizam documentos e correspondênciase gerencia equipe, mantêm rotinas financeiras, controlando fundo fixo (pequeno caixa),verbas, contas a pagar, fluxo de caixa e conta bancária, conferindo notas fiscais e recibos,prestando contas e recolhendo impostos.

4.1 HISTÓRICO DO PERFIL do cargo

Foi identificado que no período de outubro/2001 até junho/2008, 14profissionais ocuparam/ocupam, o cargo de encarregado administrativo. Destas 14pessoas, foram levantados os dados para verificar o histórico do perfil e as característicasdos profissionais nesta função, através dos gráficos e tabelas foi possível completar oprimeiro objetivo da pesquisa, onde se deve detalhar o histórico do perfil dos profissionaisque atuaram na função, este será demonstrado conforme tabela abaixo:

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Tabela 1: Histórico do perfil do encarregado administrativo

Fonte: Acervo do Autor

4.2 Perfil do Profissional que a Empresa Necessita

A empresa em estudo utiliza-se de uma matriz de competências para todos oscargos que são recrutados na empresa, durante a pesquisa constatou-se que este é oprimeiro passo feito pelo selecionador no ato da contratação de mão-de-obra ou nomomento de uma promoção de algum profissional para outro cargo. Segundo a matrizde competências da empresa, o profissional deve atender os requisitos básicos do cargode encarregado administrativo, a saber:

1 APT – Análise Prevencionista de Tarefa, tabela de procedimentos para realização de atividades de risco.2 “tabelão” – Procedimentos e manuais da área de atuação.

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A matriz de competências utilizada pela empresa é uma importante ferramenta deauxílio para seleção de profissionais para o cargo, mas é importante ressaltar que alémdestes requisitos, o candidato ainda é avaliado psicologicamente quanto as suashabilidades e condições mentais, bem como é avaliado pelo médico do trabalho paraatestar as condições físicas para o cargo.

A matriz de competências ainda que muito utilizado atualmente, é um métodonovo, criado apenas em meados de 2003 com a finalidade de atender as normas decertificação ISO e promover uma seleção justa e mais criteriosa para desempenho doscargos dentro da empresa.

4.3 NECESSIDADES DA EMPRESA x HISTÓRICO DO PERFIL

Com base em todos os dados coletados é possível comparar as necessidades daempresa com o histórico do perfil dos profissionais existentes.

Quanto a remuneração para o cargo, a empresa possui uma tabela salarial deremuneração, onde nesta tabela estão divididos os cargos por categoria, quadro decargos (mensalista, horista, operacional, técnicos, supervisão, gerência) e níveis salariais.Os níveis salariais são denominados degraus, onde o profissional é enquadrado, ouelevado, para degrau superior de acordo com o desenvolvimento de suas habilidades.Para o cargo de encarregado administrativo, estão estabelecidos 07 degraus, comremuneração inicial de R$ 3.513,46, e final de R$ 4.708,40, com uma variação de 5%de degrau para degrau.

Quanto ao sexo do profissional para ocupar o cargo, a matriz de competênciasnão utiliza deste critério para selecionar o profissional, portanto para exercer a funçãode encarregado administrativo o profissional pode ser tanto do sexo masculino comodo sexo feminino.

A idade média de 35 anos constatada no perfil histórico, também não é critériopara seleção, porém a idade mínima para admissão no regime da CLT, na empresa é de18 anos. Através dos dados apresentados no gráfico 4, no que refere-se a idade dosprofissionais, pode-se afirmar que o profissional deve ter idade mínima de 26 anos paraexercício da função.

A escolaridade mínima exigida é o 2° grau completo, o que está na matriz decompetências e o que foi observado no levantamento do histórico do perfil, portanto ocurso superior passa a ser um diferencial na seleção.

O tempo no cargo e o tempo de empresa para a promoção, são itens que não estãona matriz de competências e foram levantados no perfil histórico do profissional, porém oitem experiência é requisito na matriz de competências, o que não está claro na matriz de

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competências é se os 3 meses na área em atuação, estão inclusos no período de 6 meses nocargo de encarregado administrativo em formação, dificultando a interpretação deste.Considerou-se então a experiência mínima de 06 meses segundo a matriz de competências,o que confronta os dados apresentados no Gráfico 7, onde se constata que profissionalpara ser promovido exerce atividades operacionais entre 3 e 4 anos.

Estado civil, quantidade de dependentes e naturalidade do profissional segundoa matriz de competências não são requisitos para seleção.

4.4 PERFIL ATUAL DO PROFISSIONAL ADMINISTRATIVO Abaixo doencarregado

É necessário levantar o perfil dos profissionais existentes em funções inferioresao cargo de encarregado administrativo para demonstrar quais os profissionais que seenquadram na seleção para atuarem no cargo, visto que o objetivo deste trabalho éidentificar profissionais para atuarem como liderança em construções de grande porte.

Como o cargo encarregado administrativo é um cargo específico da áreaadministrativa foi necessário um levantamento de todos os profissionais atuantes nestaárea, desconsiderando os profissionais das demais áreas do empreendimento.

Os cargos que atuam sobre a subordinação do encarregado administrativo, vêmdesde pedreiro e carpinteiro atuando nas áreas de manutenção, até escriturários eassistentes nas áreas de suprimentos, pessoal e contabilidade.

No momento da pesquisa a empresa possuía 116 empregados na áreaadministrativa atuando em posições inferiores ao cargo estudado, todos com possibilidadepara serem selecionados para exercício da função.

Tabela 2: Perfil do profissional administrativo no empreendimento

Fonte: Acervo do autor

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4.5 COMPARATIVO DE PERFIL HISTÓRICO COM CARGOS INFERIORES

Para uma melhor análise e seleção dos profissionais para atuarem no cargo deencarregado administrativo, será utilizado a tabela abaixo como base para a seleção,onde é possível comparar o perfil histórico do cargo estudado com o perfil do atualprofissional que exerce cargo inferior e que está disponível para evolução:

Tabela 3: Comparativo de perfil

Fonte: Acervo do autor

Segundo a matriz de competências da empresa, esta não considera nenhum dositens relacionados como forma de seleção para o cargo, além de escolaridade eexperiência, sendo que o curso superior é apenas um diferencial no processo de seleção.

Portanto propondo uma seleção dos profissionais para o cargo, segundo a matrizde competências da empresa considerando apenas a escolaridade como critério, esendo a escolaridade exigida o 2° grau completo (Colegial Completo), segundo osdados apresentados teria 44 profissionais aptos para seleção, os demais itens sãoirrelevantes.

Mudando o conceito de seleção para promoção e/ou admissão para o cargo,seguindo a matriz de competências já existente na empresa e considerando o perfilhistórico do cargo de encarregado administrativo. Dos 116 empregados exercendocargos inferiores ao estudado, teríamos apenas oito (08) profissionais no processoseletivo, pois apenas estes se enquadram no perfil do histórico, o que muda gradativamenteo processo de seleção.

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4.5.1 Análise dos resultados

Os resultados encontrados com o estudo servirão de auxílio para a seleção denovos profissionais para atuarem no cargo de encarregado administrativo, sendo quealguns dos itens levantados no histórico do perfil mostraram-se irrelevantes no decorrerda pesquisa quanto a matriz de competências da empresa, como por exemplo, sexo eidade. Porém outros dados, como escolaridade e tempo no cargo, confrontaramdiretamente com o que a empresa exige e mostrou que a experiência solicitada não érealidade no processo de evolução atual.

Através do perfil histórico do cargo é possível fazer várias combinações, como aque foi apresentada, onde teríamos apenas oito (08) profissionais aptos para seleção,estas combinações podem desconsiderar itens conforme a necessidade do selecionador.

O que mais chamou a atenção do autor na pesquisa foi a queda da remuneraçãodo cargo no tempo, onde demonstrou uma diferença de 4,67 salários mínimos emrelação ao início do período estudado. Poderíamos chamar esta queda de “efeitoreciclagem” onde os encarregados administrativos com remuneração em degrau elevadoforam promovidos para outros cargos superiores, desta forma promovendo outrosprofissionais para o cargo de encarregado com remuneração inicial ou abaixo, issopode influenciar, pois o que foi levantado foi a média salarial e não a remuneração inicialpara o exercício da função.

Como já discutido no decorrer do trabalho, a predominância do sexo masculinona construção civil é devido muitas das atividades exigirem o máximo de força braçal,sendo que o sexo feminino está concentrado nas áreas de apoio como escritóriosadministrativos, ambulatório, refeitório e higienização dos prédios de canteiro. Porémmesmo esta presença de mulheres nas áreas de apoio, ainda é um número inferior nesteramo, o que evidencia a predominância masculina nas atividades.

A idade dos profissionais de cargos inferiores ao estudado demonstrou apredominância de jovens entre 18 e 25 anos, sendo que muitos são solteiros e nãopossuem dependentes. Ficou claro neste levantamento que o setor de construção civil éum setor de iniciação profissional, e que possibilita o desenvolvimento de carreira, jáque a faixa etária está entre 33 e 35 anos, e o tempo de empresa para início do cargo estáentre três (03) e quatro (04) anos. Considerando um profissional de 25 anos de idade,somados a sua experiência profissional é possível observar através destes dados e daexperiência vivida pelo autor, que a empresa possibilita o desenvolvimento para o cargode encarregado administrativo.

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O que também foi possível observar no estudo, foi a ausência do curso superiorpara os atuantes no cargo, onde apenas três (03) dos encarregados administrativospossuíam graduação e outros cinco (05) estavam cursando. Para os cargos inferioresonde dos 116 profissionais, apenas um (01) possui curso superior e outros sete (07)estão cursando. Ainda faltam incentivos para a busca do ensino superior por parte dasuniversidades em convênio com as empresas.

5 CONCLUSÃO

Pensar que exercer o cargo de encarregado administrativo era uma tarefa fácil,este pensamento acompanhou todo o início do estudo até o momento do desenvolvimentoprático do conteúdo. O que não poderia acontecer era iniciar as atividades com umavisão interna do problema, onde foi necessário deixar de lado as experiências vividas evoltar para o estudo com uma visão acadêmica, olhando de fora para dentro a fim decompreender o que realmente era proposto pela empresa.

Em primeiro momento esperava-se desvendar o que realmente era necessário para oprofissional exercer o cargo de encarregado administrativo, pois além do que a empresaproponha havia situações que não estavam claras no processo de avaliação e seleção.

Construir uma carreira profissional é uma tarefa que exige atualização a cada dia,a concorrência aumenta, o mercado muda, as pessoas inovam, e para estar competitivoé necessária atualização constante quanto à educação e quanto ao trabalho. O estudo docargo encarregado administrativo demonstrou que não é tão simples o exercício dafunção e que esta exige além da competência profissional muita capacidade, capacidadequanto a liderança e quanto ao aprendizado, pois o encarregado administrativo é umverdadeiro professor na busca e na aplicação de conhecimento aos seus subordinados.

Foi necessária a disponibilidade do banco de dados pela empresa, a fim delevantar o histórico do perfil do cargo, compilando os dados em planilhas para facilitara compreensão e confecção dos gráficos. Com esta análise foi possível demonstraratravés de tabela dados como faixa etária, sexo predominante, média salarial, tempo atéa promoção, tempo de empresa, estado civil e até a quantidade de dependentes que oprofissional do cargo possuía.

Com a matriz de competências da empresa conseguiu-se demonstrar os itensexigidos para o profissional exercer o cargo de encarregado administrativo, sendo queo confronto destes dados com o perfil histórico foi encaminhando o estudo para ocumprimento do objetivo geral.

Como argumentado na introdução do trabalho, é compreensivo que o processode avaliação dificilmente será mudado, visto o histórico e cultura da empresa, no entanto

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este estudo vem a contribuir significativamente para a seleção de candidatos para oexercício do cargo de encarregado administrativo e demonstrar que a empresa possui,entre as que já existem, ainda mais opções para seleção.

Escolha o caminho, busque suas estrelas e alcance seus talentos. Oferecerperspectivas de crescimento e carreira, estimular o desenvolvimento pessoal eprofissional, ampliar a comunicação e a participação de todos nas decisões e disseminaruma cultura de acompanhamento e feedback constantes, estes são os objetivos e lemasde Gestão de Pessoas da empresa estudada, portanto, só restam os multiplicadores.

REFERÊNCIAS

BARROS, Aidil de Jesus Paes de; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos demetodologia: um guia para a iniciação científica. São Paulo: Makron Books, 1986.

BERGAMINI, Cecília Whitaker. Desenvolvimento de recursos humanos: uma estratégia dedesenvolvimento organizacional. São Paulo: Atlas, 1980.

CHIAVENATO, Idalberto. Administração de recursos humanos: fundamentos básicos. 5. ed.São Paulo: Atlas, 2003.

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos . 7. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

DRUCKER, Peter Ferdinand. Fator humano e desempenho: o melhor de Peter F.Drucker sobre administração. Tradução: Carlos Afonso Malferrari. São Paulo: Pioneira,1981.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 5 ed. São Paulo:Atlas, 2002.

MTE. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/sal_min/EVOLEISM.pdf>. Acesso em 21 de jul.2008

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social, métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas,1999.

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REDUÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS POR

FLUÍDOS DE CORTE UTILIZADOS EM USINAGEM1

Profª MSc. Andréia Pasqualini2

Profª Cláudia Martins Ledesma 3

Profª MSc. Franciane Schoeninger4

Adriano Dolzan5

André Sabino Busarello6

Reginaldo Otto Nau7

Resumo: Atualmente o mundo, a natureza e o meio em que vivemos vêm sofrendo intensas alteraçõesdecorrentes das atividades humanas comprometendo a qualidade de vida no planeta. Os processos industriaisde produção de corte de metais do setor metal mecânico trazem forte influência neste aspecto, e sãoconsiderados como um dos principais responsáveis por essa situação. Nos meios de fabricação é utilizadauma imensa variedade de materiais. Dentre eles destacam-se como influente nos aspectos tecnológicos dausinagem o fluido de corte, utilizado para melhorar o desempenho das operações de corte de metais, taisprodutos se deterioram pela sua utilização e provocam de uma forma ou de outros sérios impactos ao meioambiente se descartados de forma indiscriminada. Percebe-se atualmente uma grande mobilização, porparte de autoridades mundiais, para o estabelecimento de possíveis soluções para se alcançarem umprocesso de manufatura que não agrida o meio ambiente. Dentro deste contexto o presente trabalhodemonstra os aspectos nocivos ao homem e ao meio ambiente, ao longo da utilização de fluidos de corte nosprocessos de usinagem. Também daremos enfoque aos tipos de óleos existentes, critérios de utilização,funções, descarte, gerenciamento, de forma abrangente a fim deste trabalho se tornar uma referênciadisponível para a sociedade em geral e para as empresas tecnológicas que buscam informações nesta área.

Palavras-chave: Fluídos de Corte, Meio Ambiente, Usinagem.

Abstract: Nowadays the world, the nature and the environment where we live are sufferingintense alterations due to the human activities committing the quality of life in the planet. The industrialprocesses of production of cutting metal of the mechanical metal sector bring a strong influence in thisaspect, and they are considered as one of the responsible for that situation. In the production means animmense variety of materials is used. Among they stand out as influential in the technological aspects ofthe machining the cutting fluid, used to improve the acting of the operations of cutting metals, suchproducts deteriorate for their use and provoke in some way a serious impact to the environment ifdiscarded in an indiscriminate way. It is noticed nowadays a great mobilization, on the part of world

1 Artigo Científico referente ao Projeto do Programa Institucional de Bolsas para Grupos de Pesquisa (PGP/UNIDAVI);2 Coordenadora do grupo de pesquisa, professora da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI),

mestre em Engenharia de Produção, e-mail: [email protected];3 Membro do PGP/UNIDAVI, professora da UNIDAVI, e-mail: [email protected];4 Membro do PGP/UNIDAVI, professora da UNIDAVI, mestre em Engenharia de Alimentos, e-mail: [email protected];5 Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção, bolsista do PGP/UNIDAVI, e-mail: [email protected];6 Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção, bolsista do PGP/UNIDAVI, e-mail: [email protected];7 Acadêmico do Curso de Engenharia de Produção, bolsista do PGP/UNIDAVI, e-mail: [email protected].

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authorities, for the establishment of possible solutions to meet a manufacture process that doesn’t attackthe environment. Inside of this context the present work demonstrates the noxious aspects to the man andthe environment, along the using of cutting fluids in the machining processes. We will also focus thetypes of existent oils, using approaches, functions, discard, management, in an including way in order tothis work become a reference available for the society and for the technological companies that look forinformation in this area.

Keywords: Cutting fluids, Industry, Environment, Machining.

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INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, foram desenvolvidas novas maquinas e equipamentosque proporcionaram a criação de milhares de materiais sintéticos que, na sua maioria,não entram no ciclo da natureza, acumulando-se no meio ambiente. Muitos demoramcentenas de anos para se decompor, outros simplesmente não se decompõem.

Os impactos ambientais são ocasionados por confrontos diretos ou indiretosentre o homem e a natureza. Exemplos bem conhecidos de impacto ambiental são osdesmatamentos, as queimadas, a poluição das águas, o buraco na camada de ozônio,descarte de resíduos das indústrias, entre outros.

Como parte integrante dos processos de manufatura industrial encontra-se osprocessos de usinagem, que basicamente consistem em dar forma a peças e acessóriosatravés da remoção de material. Esta que por sua vez, é realizada com o auxilio demaquinas e ferramentas de corte apropriadas. Atualmente para melhorar o desempenhodas operações de usinagem nos processos industriais, tanto tecnológicas comoeconomicamente, normalmente utilizam-se fluidos de corte.

Estes fluidos não são totalmente consumidos durante o seu uso, e são geradossubprodutos, tais como, os resíduos do fluido e os cavacos (partículas sólidas provenientesdas peças usinadas), que são responsáveis diretos pelos aspectos nocivos atribuídos aosetor metal-mecânico.

Atualmente universidades e empresas de varias partes do mundo se dedicam auma nova linha de pesquisa, a usinagem ecológica, tendo como meta o desenvolvimentode estudos para contribuir na redução e/ou eliminação do uso de fluidos de corte nosprocessos de usinagem.

Partindo para esta linha de pesquisa a origem desta resultou da necessidade deinvestigação que vem crescendo na medida em que os aspectos ecológicos tornam-sefundamentais dentro da estratégia de produção das empresas. Este trabalho constitui-secomo subsidio a sociedade em geral, empresas industriais, que visam obter informaçõestecnológicas a respeito de fluidos de corte para seus sistemas produtivos.

METODOLOGIA

Como primeira etapa a pesquisa foi fundamentada a partir de uma forte revisãoda literatura existente, coletando e organizando informações até então isoladas em nossapercepção, com enfoque na área de meio ambiente e aos fluidos de corte com base nasleis e normas que a regem e regulamentam.

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Os instrumentos e técnicas utilizados para a coleta dos dados foram a busca em:• Material impresso em artigos;• Livros;• Dissertações e teses;• Material digital disponível pela internet.

Como segundo ponto de pesquisa, fez-se uma busca na biblioteca da UniversidadeFederal de Santa Catarina, através de informações cedidas pelo professor Helton Bertol,que nos indicou o material bibliográfico existente.

Assim o propósito desta pesquisa teve como objetivo geral dar um embasamentoa respeito de fluídos de corte. Os dados até então pesquisados foram analisados sobvários enfoques como: funções, tipo de óleos existentes, critérios de utilização, reutilização,formas de descarte, impactos ambientais, gerenciamento, danos causados a saúde dosseres humanos, danos causados ao meio ambiente, que foram descritos e referenciadosnesta pesquisa, a fim de minimizar o impacto ambiental, paralelo às tecnologias jáexistentes.

Para se atingir os objetivos propostos, devido à abrangência e o nível decomplexidade do assunto abordado não foram desenvolvidos novos métodos dereutilização e descarte, mas reuniu-se nesta pesquisa um acerto referencial, que estarádisponível para a sociedade em geral e para as empresas tecnológicas que utilizamfluidos de corte em seus sistemas produtivos, para quando for necessário um estudomais profundo da utilização de fluidos de corte de acordo com a legislação vigente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os fluidos de corte têm sido usados desde a antiguidade Os registros do significativoaumento na produtividade causado pelo uso de fluidos durante a usinagem datam acerca de 100 anos atrás. Em 1883 F.W. Taylor mostrou que a velocidade de corte poderiaser aumentada de 30 a 40% através da inundação da interface da peça/ferramenta comum forte fluxo de água. Desde então o desenvolvimento de fluidos de corte tem sidocrescente para melhorar o desempenho nas operações de usinagem (STEMMER,SCHROETER e TEIXEIRA).

Após pesquisa em um grande número de bibliografias, para um melhoresclarecimento foram encontrados diversos termos para definir os fluidos de corte,dentre eles: óleos lubrificantes, meios lubri-refrigerantes, meios auxiliares de corte, quese referem de forma generalizada a todas as substâncias utilizadas na indústria para

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“facilitar” os processos de fabricação metal mecânico. Nesta pesquisa quando nosreferirmos a fluídos de corte estamos especificamente sobre meios auxiliares de corte naforma líquida.

Freqüentemente são chamados de lubrificantes ou refrigerantes em virtude dassuas principais funções na usinagem que são reduzir o atrito entre a ferramenta e asuperfície em corte (lubrificação), e diminuir a temperatura na região de corte(refrigeração).

Os fluidos de corte são um “composto basicamente por óleos graxos e minerais,soluções sintéticas e água, além de aditivos à base de cloro, enxofre, nitrito de sódio,fósforo e aminas com seus empregos específicos a cada tipo de operação” (IGNÁCIO,1998). Sua origem pode ser mineral (derivado de petróleo) ou sintético (derivado devegetal ou síntese química).

Atualmente existe um conflito e uma dificuldade na padronização quanto àclassificação dos fluidos de corte, devido sua imensa variedade no mercado. A maisconhecida é citada por Motta e Baradie, que apresentam a classificação desse produtodividida basicamente em duas classes: integrais e solúveis.

Óleos Integrais ou minerais podem ser de origem animal, vegetal ou derivado depetróleo, possuem baixo custo, alto poder de lubrificação, reduz o atrito durante aoperação, porém tem baixo poder de refrigeração. Óleo Solúvel é um óleo integral comadição de aditivos (10% a 30%) como enxofre, cloretos, fósforo, entre outros.Proporcionam boa ação refrigerante e lubrificante, e também baixo custo.

Existe também óleo sintético e semi-sintético. Óleo Sintético é um fluído 100%sintético (não possuem óleo mineral), possuem alto poder de refrigeração e médiopoder de lubrificação, proporcionam vida longa ao sistema (sem descarte). Óleo semi-sintético é uma combinação de fluídos sintéticos com até 40% de óleo mineral. Tem bompoder de refrigeração e lubrificação.

Os fluidos de corte possuem propriedades ligadas às suas composições, comodescreve a tabela 1.

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TABELA 1 - Fluidos de Corte: principais composições e propriedades

Fonte: RUNGE (1990); STEMMER (1995).

O uso dos fluidos de corte nos processos de usinagem traz muitos benefícios,observados na qualidade e na produtividade, assim a escolha do fluido de corte influidiretamente na qualidade do acabamento superficial das peças, na produtividade, noscustos operacionais e também na saúde dos operadores e no meio-ambiente. Asqualidades exigidas variam de acordo com a aplicação, não existe um fluido decaracterísticas universais, que atende a todas as exigências.

Por estes motivos devem-se levar em consideração alguns critérios para seleçãodo fluido de corte ideal, só que esta situação é tão complexa quanto escolher o materiale o tipo de ferramenta. Deve-se então conhecer profundamente o processo no qual sequer aplicar o fluido e quais objetivos devem ser alcançados com sua utilização.

Estes aspectos podem ser tecnológicos (processos de usinagem), econômicos(custos nos processos), ecológicos (impactos causados ao meio ambiente), conformedemonstrada na figura 1.

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FIGURA 1 - Fatores integrantes de um moderno sistema produtivo.Fonte: TEIXEIRA, C.R. Minimização da Quantidade de Fluido de Corte em Processos de Usinagem comFerramenta de Geometria Definida.

São muitos os fatores que influenciam a escolha de um fluido de corte, dentre osmais comuns são, processo de usinagem, máquina-ferramenta utilizada, produção(diversidade de produtos e matérias), análise econômica, operadores e meio ambiente,recomendações dos fabricantes.

Nos fatores considerados acima, existem um série de sub-variáveis em cada item.Por exemplo, no processo de usinagem podemos levar em consideração se ausinabilidade será alta ou baixa, a velocidade de corte, lubrificação e refrigeraçãonecessários. Existe uma gama muito grande de fluidos no mercado que se enquadra namesma exigência do processo de fabricação, por isso detalhe do processo deve serconhecido muito bem, até para não ter custos desnecessários. Pode-se também levar emconsideração as recomendações dos fabricantes da máquina e da ferramenta.

Para se obter qualidades e propriedades desejáveis nos fluidos de corte, eles sãomodificados com aditivos, que são compostos químicos que melhoram propriedadesinerentes aos fluidos ou lhes atribuem novas características. Em geral, esses aditivoscaem em uma das duas classes: aqueles que afetam uma propriedade física, comoviscosidade e aqueles cujo efeito é puramente químico, como anticorrosivos eantioxidantes.

Os fluidos de corte cumprem nas suas aplicações uma ou mais funções e sãoutilizados quando as condições de trabalho na usinagem são desfavoráveis. De acordo

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com TEIXEIRA (2001), como funções primárias, são classificadas as funções importantesnos quais os fluidos de corte atuam no processo de usinagem na redução dos custos deusinagem pela redução do desgaste da ferramenta e na melhora da qualidade dasuperfície do componente usinado.

Como funções secundárias destacam-se a expulsão e transporte de cavacos,refrigeração da peça e ferramenta, lubrificação das interfaces peça/ferramenta e cavaco/ferramenta, evitar a adesão de partículas na ferramenta, proteção contra corrosão,reduzir as forcas e potência de corte, melhorar a eficiência de remoção de material.

Além das propriedades de lubrificar e refrigerar existe uma serie de outraspropriedades adicionais que é importante que os fluidos de corte possuam, como:propriedades anti-espumantes, propriedades anti-oxidantes, compatibilidade com omeio-ambiente, propriedades de lavagem, alta capacidade de absorção de calor, altacapacidade de umectação, boas propriedades anti-desgaste, boas propriedades anti-solda, estabilidade durante a estocagem e o uso, ausência de odor forte e/ou desagradável,ausência de precipitados sólidos ou outros de efeito negativo, viscosidade adequada etransparência, se possível.

Na tabela 2 temos uma exposição mais detalhada, dos tipos, características eaplicabilidade dos fluidos de corte.

TABELA 2 - Fluidos de Corte: tipo, características e uso.

8 Óleos com aditivos de extrema pressão (EP) são compostos de enxofre, cloro ou fósforo, que reagem em altas temperaturas(200 a 1000ºC), formando na zona de contato sulfetos, cloretos ou fosfatos, constituindo uma película anti-solda na face daferramenta e assim, minimizando a formação do gume postiço.

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Fonte: Pollution Prevention in Machining and Metal Fabrication. March 2001, Chapters 1, 2 and 4.

Existem problemas também no uso de fluidos de corte, seu uso incorreto podeacarretar resultados indesejáveis que vão desde o processo de fabricação, saúde dooperador e descarte do produto antes de sua validade recomendada.

Deve-se ter cuidados especiais na sua manipulação, manutenção, transporte earmazenagem, para que possam ser superados alguns problemas como corrosão depeças e/ou da máquina, infectação por bactérias, sujeiras e impurezas, risco de incêndio,ataque à saúde e Poluição do Meio-Ambiente.

Dentre os diversos aspectos existentes derivados da má utilização dos fluidos decorte, está o alto risco de doenças que pode causar ao homem, devido seus constituintese substâncias. Uma exposição prolongada da pele a qualquer substância química podeacarretar problemas.

As doenças do trabalho, ou doenças ocupacionais, profissionais, são aquelasdecorrentes da exposição dos trabalhadores aos riscos ambientais, ergonômicos ou deacidentes. Elas se caracterizam quando se estabelece o nexo causal entre os danosobservados na saúde do trabalhador e a exposição a determinados riscos ocupacionais,uma conseqüência é a atuação sobre o organismo humano que a ele está exposto,alterando sua qualidade de vida.

Essa alteração pode ocorrer de diversas formas, dependendo dos agentes atuantes,do tempo de exposição, das condições inerentes a cada indivíduo, de fatores do meioem que se vive.

Vários estudos realizados mostram que o contato permanente com os fluidos decorte e seus subprodutos podem causar vários tipos de doenças de pele, dermatites,alguns tipos de câncer e doenças pulmonares (Bennett, 1994 & 1995).

Estes efeitos ao homem aparecem do seu contato direto com o fluido durante suajornada de trabalho, ou através de vapores ou subprodutos formados durante a usinagem.

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Outra forma de ação negativa dos fluidos é através da ação indireta que envolve asperdas durante o processo (respingos, adesão ao cavaco, vaporização, etc.), por águasde lavagem e pelo descarte dos fluidos contaminados pelo uso (Bennett, 1994 & 1995).

Levando em consideração os aspectos com relação à saúde, devido aos óleosminerais atualmente em uso, a Portaria no. 3214/78 do Ministério do Trabalho, n- 15,anexo 13, diz: “Agentes químicos - hidrocarbonetos e outros compostos de carbono -Insalubridade em grau máximo: manipulação de alcatrão, breu, betume, antraceno,negro de fumo, óleos minerais, óleo queimado, parafina e outras substânciascancerígenas afins”.

Conforme esta portaria, portanto, óleos minerais são considerados comosubstâncias cancerígenas e sua manipulação constitui insalubridade em grau máximo,pois os meios lubrificantes atuais sejam eles: automotivos, industriais ou marítimos, sãoconstituídos de óleos minerais em percentual, normalmente acima de 80%.

Portanto nas empresas hoje o empregador deve dar condições adequadas paraque os operários trabalhem corretamente, tomando algumas medidas como:

• Providenciar equipamentos de proteção e cremes, quando se fizeremnecessários;

• Manter os fluidos de corte limpos;• Manter o lugar de trabalho limpo; o chão não deve ter poças que acumulem

fluidos, evitando assim o contato do mesmo com os pés;• Promover campanhas educativas para combater e evitar as dermatites.

De forma geral o contato com o óleo, num período não excessivamenteprolongado não causará dano à saúde, basta ter o cuidado de remover o fluido toda vezque entrar em contato com a pele, usando água e sabão ou detergente suave.

Os fluidos de corte como demonstrado possuem efeitos nocivos ao homem, poisdurante sua jornada de trabalho está exposto ao produto. Não só o homem, mas tambémo Meio Ambiente de uma forma ou de outra é agredido, já que o fluido de corte édescartado devido sua deterioração pelo seu uso.

A pressão de órgãos ambientais nas indústrias devido à destinação final dosfluidos de corte tem-se aumentado progressivamente, uma vez que métodos incorretossão praticados como manejo inadequado, ausência de tratamento, armazenageminadequada, transporte impróprio, entrega à receptores não autorizados e a disposiçãode resíduos em local não autorizado.

Quando produtos resultantes de atividades humanas nos processos de corte demetais como os fluidos de corte são despejados no meio ambiente sem nenhum controle

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e de forma indiscriminada, ocorrem alterações na natureza nas suas propriedadesfísicas, químicas e biológicas.

Na tabela 3 demonstramos os aspectos ambientais e os impactos no meioambiente, decorrentes de atividades normalmente realizadas quando utilizado naindústria.

TABELA 3 - Fluidos de Corte: Aspectos e Impactos Ambientais.

Fonte: DIAS (2001).

De acordo com IGNÁCIO (1998), os impactos, deverão ser avaliados nas áreasde estudo definidas e para cada um dos fatores estudados, apresentam características devalor (impacto positivo ou negativo), características de ordem (impacto direto ouindireto), características espaciais (impacto local, regional ou estratégico), característicasdinâmicas (impacto imediato, médio, longo prazo, temporário ou permanente).

Atualmente o descarte de fluidos de corte e seus resíduos, são feitas de formaincorreta por algumas empresas, por falta de informações técnicas e desconhecimentoda legislação peculiar. Existem diversos meios tecnológicos utilizáveis no tratamento erecuperação / reciclagem dos fluidos de corte, como filtração e pasteurização dos fluidos,sedimentação, flotação, floculação, separação magnética, centrifugação, decantação.

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Com a deterioração dos fluidos de corte pelo seu uso ele perde suas propriedadesdesejáveis para o corte de metais. A Resolução CONAMA 09/93, “os fluidos de corteusados podem ser reprocessados para o seu reaproveitamento ou descarte através dastécnicas de simples deposição, compostagem, aproveitamento energético direto ouindireto entre outras modalidades”.

De acordo com Ignácio (1998), a forma mais antiga e simples até hoje empregadade destinação final de resíduos é a técnica de disposição em aterros comuns, “ondenormalmente não se faz quaisquer tratamentos dessa massa ou apenas uma pré-seleçãode materiais facilmente recuperáveis.” Esta prática é uma solução indicada para resíduosestáveis, não perigosos, com baixo teor de umidade e que não contenham valores arecuperar. No entanto, é muito comum a prática de disposição de resíduos perigososprincipalmente em cursos de água por empresas desinformadas ou criminosas, pois éuma atitude condenável tanto do ponto de vista ambiental como de saúde pública.

Outra técnica que pode ser usada é a compostagem, onde, através de processobiológico, essa técnica tem a propriedade de produzir material orgânico. Do ponto devista ambiental a compostagem representa, entre outras técnicas, a forma deprocessamentos de resíduos mais consistentes e se adequa com rigor à dinâmica cíclicado ecossistema com elementos naturais reintegrando-se ao meio ambiente natural emforma orgânica, “permitindo, assim, a reprodução da vida no sistema ecológico em umaescala perene.” No entanto, é um processo que demanda tempo e mercado (IGNÁCIO,1998).

Pode-se utilizar também a “reciclagem” do fluido de corte, pois de acordo como Art. 1º, §V do CONAMA (1993), diz: Reciclagem de óleo lubrificante usado oucontaminado: consiste no seu uso ou regeneração. A reciclagem via uso envolve autilização do mesmo como substituto de um produto comercial ou utilização comomatéria-prima em outro processo industrial. A reciclagem via regeneração envolve oprocessamento de frações utilizáveis e valiosas contidas no óleo lubrificante usado e aremoção dos contaminantes presentes, de forma a permitir que seja reutilizado comomatéria-prima. Para fins desta Resolução, não se entende a combustão ou incineraçãocomo reciclagem.

Algumas empresas utilizam à técnica de incineração, que é a queima sob condiçõescontroladas, que visa primariamente destruir o produto tóxico ou indesejável, de formaa não causar danos ao meio ambiente.

Também existe o Refino, que é um processo industrial de remoção decontaminantes, produtos de degradação e aditivos dos óleos lubrificantes usados oucontaminados, conferindo as mesmas características de óleos básicos.

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Com base em todos os problemas abordados, existem leis ambientaisextremamente rigorosas e punitivas que aplicam pesadas multas e sanções às empresas,seus dirigentes e funcionários. Existe hoje um processo de conscientização ambiental oque proporcionou uma revisão dos textos constitucionais e legislativos em muitos paises.

No Brasil a partir da Constituição de 1988 o assunto referente ao meio ambiente étratado com maior profundidade e atualidade, muito porque esta se espelhou nos 26princípios fundamentais de proteção ambiental declarados em junho de 1972, quando daConferência das Nações Unidas, em Estocolmo, Suécia, e em constituições modernas depaíses que estão mais avançados no combate à poluição ambiental. Num primeiro momento,a referência ao meio ambiente parte do artigo 5º, alínea LXXIII, que confere a qualquercidadão a legitimidade para propor ação popular que vise neutralizar atos lesivos ao meioambiente, patrimônio histórico e cultural. No artigo 23, fica claro que é de competência daUnião, Estados, Distrito Federal e Municípios proteger e preservar o meio ambiente e seuspatrimônios naturais e combater a poluição em todas as suas formas.

Existem outras normas que as empresas devem verificar e analisar para oatendimento às legislações vigentes. Na tabela 4 podemos verificar as legislações vigentespara o uso e destinação dos fluidos de corte.

TABELA 4 - Legislações vigentes para o uso e destinação dos fluidos de corte.

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Fonte: DCAQ-045 - Planilha de análise de normas (2005).

De acordo com o visto anteriormente nas exigências da legislação e normasambientais, torna-se necessário o gerenciamento do fluido de corte tanto internamentedurante os processos de usinagem, como externamente a empresa devido ao descarte,não podendo agredir o meio ambiente.

Primeiramente o gerenciamento deve ser interno na atividade produtiva paraatingir-se os resultados predeterminados assim como avaliar seus efeitos e planejar amelhoria contínua do processo e para o atendimento das exigências do processo deusinagem.

Na visão de Ignácio (1998), o desenvolvimento e implementação de estratégiasambientalmente corretas na sua aplicação devem ser adotadas e, assim, garantir processosmais limpos e resolver o âmago da questão. Se as fontes geradoras de efeitosambientalmente negativos estão inerentes ao processo, processos alternativos devemser estudados. Um pré-requisito fundamental para o alcance desta alternativa é oconhecimento do processo tão amplamente quanto possível. O gerenciamento deve

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buscar a racionalização no uso deste produto nivelando-se a qualidade deste por cima,o que resulta em redução do número de fluidos de corte em uso, e assim, a redução deestoque e de erros de seleção e aplicação, entre outros benefícios. As emulsões e soluçõesque estão constantemente sob o ataque dos contaminantes devem ser controladaspraticamente todos os dias. A concentração do pH deve ser mantida diariamente no nívelideal para a estabilidade dos fluidos de corte e proteção dos usuários, normalmenteentre 8,5 e 9,3 o que deve ser recomendado pelos fabricantes. A contaminação porlíquidos estranhos, bactérias e fungos e o descontrole da higiene local resultam emprejuízos para a qualidade operacional e do ambiente de trabalho. Portanto, torna-se degrande importância o controle diário do pH das emulsões e semanalmente da proliferaçãode microorganismos.

As organizações hoje podem ter um sistema centralizado de fluido de corte cujasfunções são: levar o fluido até o lugar do corte, dissipar o calor, remover os cavacos edetritos e minimizar a possibilidade de crescimento microbiano. Tomando-se estescuidados pode-se prolongar a vida útil dos fluidos.

Em grandes sistemas, é aconselhável estabelecer-se um sistema de testeslaboratoriais periódicos para garantir a composição do fluido de corte e detectar variaçõestão logo estas apareçam. Os testes a serem feitos incluem: concentração e estabilidadedas emulsões, conteúdo de contaminantes, pH, alcalinidade livre, tensão superficial,qualidade do fluido concentrado de reposição e da água usada no preparo da emulsão.

No gerenciamento do destino final do fluido de corte, a organização deve buscarinformações em órgãos ambientais competentes para se certificar dos parâmetrosnormativos a serem observados e seguidos. Outra decisão que poderá ser tomada pelasorganizações é criar novas alternativas para se atingir os mesmos objetivos no processode corte.

Cada organização deve procurar estabelecer procedimentos internos e darcondições necessárias para o controle, segregação, separação, armazenamento e destinodos resíduos líquidos da usinagem, no caso fluido de corte, de forma segura, paragarantir a destinação correta dos resíduos gerados em toda empresa.

De acordo como visto há necessidade e importância das organizações do ramometal mecânico se adaptarem a um processo de usinagem mais ecológico, para nãosofrerem sansões pertinentes as leis de meio ambiente. Existem hoje meios alternativospara se reduzir ou eliminar o uso dos fluidos de corte.

De acordo com Teixeira (1997), pode-se citar como meios alternativos a usinagema seco, a usinagem com quantidade reduzida/mínima de fluido, a substituição do processoe a otimização da ferramenta.

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A usinagem a seco se apresenta como a melhor alternativa para resolver osproblemas causados pelos fluidos de corte, porém a usinagem a seco não consiste emsimplesmente interromper a alimentação de fluido de corte de um determinado processo,mas sim exige uma adaptação compatível de todos os fatores influentes neste processo

As funções primárias dos fluidos de corte que vimos como refrigeração,lubrificação e transporte de cavacos não existem na usinagem a seco. Também estaopção é inviável por estar restrita as exigências de qualidade da peça. A usinagem a secoé tida como ideal do ponto de vista ecológico,

Usinagem com Quantidade Reduzida/Mínima de Fluido, como o próprio nomediz, visa reduzir a quantidade de fluido de corte utilizada na usinagem. Para esta usinagemcom mínima quantidade deve-se ter um conhecimento técnico apurado, pois se têm quelevar em consideração diversos aspectos como ferramentas, máquinas e parâmetros decorte.

Segundo Teixeira (1997), ainda não existe um termo técnico que defina claramenteesta condição de usinagem, os critérios usualmente aceitos são: Quantidade Reduzidade Fluido de Corte e Quantidade Mínima de Fluido de Corte – QMFC.

A substituição do processo pode ser realizada em alguns casos, sendo que sedevem avaliar os processos alternativos em comparação com o processo usando,considerando as especificações e exigências que devem ser alcançadas.

Como alternativa para reduzir os impactos ambientais podemos utilizar tambéma otimização do ferramental de usinagem. Podem-se verificar as propriedades daferramenta, seu revestimento, geometria e modificar os parâmetros de corte como avançoe velocidade de corte, reduzindo ou eliminando assim o uso de fluidos de corte.

Apesar de insistentes tentativas das indústrias de eliminar completamente os fluidosde corte do processo produtivo, em muitos casos refrigeração e lubrificação ainda sãoindispensáveis para que se obtenha uma vida economicamente viável da ferramenta e asqualidades superficiais requeridas, satisfazendo aspectos econômicos e tecnológicosdo processo.

Levando-se em consideração todos os aspectos vistos, para cada fase do processode usinagem pode existir uma solução em particular, cabem as organizações planejareme procurarem soluções alternativas possíveis para se atingir uma forma de redução dosimpactos ambientais e adaptação de seus sistemas as exigências das normas ambientaisvigentes.

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CONCLUSÕES

Atualmente a atenção do homem tem se voltado para a preservação dos meiosnaturais. As indústrias, universidades e a sociedade em geral estão desenvolvendo umaconsciência ecológica devido a movimentos sócio-ambientais, que com o apoio deautoridades internacionais, são responsáveis pela criação de legislações e normasmundiais tendo por objetivo o estabelecimento de soluções para os problemas energéticosde produção e manufatura.

Dentro deste contexto desenvolveu-se estudos para contribuir na redução e/oueliminação do uso de fluidos de corte nos processos de usinagem, uma vez que estesprodutos são responsáveis por uma parcela significativa da agressão ao meio ambiente.

Levando-se em consideração todos os aspectos vistos, para cada fase do processode usinagem pode existir uma solução em particular, cabem as organizações planejareme procurarem soluções alternativas possíveis para se atingir uma forma de redução dosimpactos ambientais e adaptação de seus sistemas as exigências das normas ambientaisvigentes.

Na indústria de manufatura os fluidos de corte são largamente utilizados nosprocessos onde existe a remoção de cavaco. Com o grande aumento na demandaprodutiva, tornou-se necessária a utilização de grandes volumes de fluidos de corte, queapós sua utilização são descartados de forma inadequada causando a degradaçãoambiental.

A utilização e o descarte inadequado dos fluidos de corte alem de causar danosao meio ambiente podem ser responsável por perturbações na saúde dos trabalhadoresque mantém contato prolongado com este tipo de produto. Os fluidos de corte de formaalguma deverão ser considerados perigosos. Basta proporcionar as condições de trabalhoadequadas para que os aspectos nocivos ao homem e ao meio ambiente sejam sanados.

Devemos respeitar recuperar e preservar o meio ambiente no qual estamosinseridos, e para isso é preciso que todos se preocupem em prevenir a poluição, alémde atender às legislações ambientais vigentes.

Enfim a perspectiva na área de usinagem de metais é de que o futuro nos levaráde volta ao passado quando as usinagens eram feitas a seco, onde serão desenvolvidastécnicas para não se utilizar ou reduzir ao máximo os fluidos nas operações de corte.

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O USO DA CONTABILIDADE GERENCIAL NAS MICROS E

PEQUENAS EMPRESAS: SOBREVIVÊNCIA EMPRESARIAL1

Edilton Jahn2

Resumo: Este artigo retrata o uso da contabilidade como ferramenta indispensável para a sobrevivênciadas micros e pequenas empresas. Mostra sua importância identificando os principais fatores internos eexternos que exercem influência no sucesso das empresas e na sua fragilidade administrativa seminformações gerenciais. Com o desenvolver do trabalho notasse que o uso da contabilidade Gerencialcontribui para a segurança e o sucesso da empresa sendo para isto necessário uma mudança de paradigmasdos empresários, pois, a implantação de uma contabilidade gerencial requer adaptação de instrumentoscontábeis que visam a organização dos numerários. No desenvolver do trabalho, percebe-se que acontabilidade Gerencial pode contribuir com o sucesso da empresa, para isso é necessário que as partesenvolvidas tenham compreensão e estejam dispostas a seguir regras.

Palavras-chave: Sucesso, Mudanças, Características, Informação.

Abstract: This article portraies the use of the accounting as indispensable tool for the survival of themicrons and small companies. Sample its importance identifying the main internal and external factorsthat exert influence in the success of the companies and its administrative fragility without managementalinformation. With developing of the work it noticed that the use of the Managemental accounting contributesfor the security and the success of the company being for a this necessary change of paradigms of theentrepreneurs, therefore, the implantation of a managemental accounting requires adaptation of countableinstruments that aim at the organization of the money. In developing of the work, one perceives that theManagemental accounting can contribute with the success of the company, for this it is necessary that theinvolved parts have understanding and are made use to follow rules.

Wordkey: Success, Changes, Characteristics, Information.

1Artigo científico constituído no curso de especialização “Lato Sensu” Gestão de Negócios - UNIDAVI.2 Contador, graduado pela Universidade do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI. Especialista em Controladoria e Gestão de Negócios

(UNIDAVI), Especialista em contabilidade Gerencial (UNIDAVI). E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

A fragilidade administrativa e organizacional das micros e pequenas empresas temgerado muitos estudos das suas causas. Desta forma busca-se realizar a melhor forma defazer o empresário brasileiro se adquar as mudanças do mercado e da economia, atravésde formas práticas de organização financeira. Sabe-se que as micros e pequenas empresassão empresas que sofrem constantemente com a falta de estrutura e conhecimentomercadológico e é nestas horas que o contador deve desempenhar e mostrar os seusconhecimentos, mas para isso o empresário deve estar preparado para mudanças.

MICROS E PEQUENAS EMPRESAS

No Brasil as pequenas e médias empresas são as que constituem a maioria nouniverso de empreendimentos, representando cerca de cinco milhões de entidadesresponsáveis por quase 60% dos empregos, segundo pesquisas do SEBRAE em 2005.

A economia tem sugerido que as pequenas empresas estão cumprindo um papelmuito importante na sociedade, superando espectativas. Isto é fruto do reconhecimento dacapacidade das pequenas empresas de contribuir mais eficazmente ao desempenho dapolítica do Estado, ao fortalecimento econômico e a um desenvolvimento social verdadeiro.

Para dar seqüência no trabalho primeiramente definiremos o que é uma microempresa e o que é uma pequena empresa no Brasil, apesar da unanimidade sobre adelimitação do segmento, utilizaremos critérios para a sua definição. O quadro n. 1sintetiza os critérios adotados para enquadramento de micro e pequenas empresas.

Quadro 1 – Definição de micro e pequenas empresasFontes: Brasil. Lei 9.841 de 05 de outubro de 1999. Institui o estatuto da microempresa e empresa depequeno porte, dispondo sobre o tratamento jurídico diferenciado, simplificado e favorecido previsto nos art.170 e 179 da constituição Federal. Diário Oficial da União, poder executivo, Brasília, DF, 06 de outubro de1999. p.1, col.1; SEBRAE – Serviço Brasileiro de apoio as Micros e Pequenas empresas.

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O critério de classificação por número de pessoas ocupadas não leva em conta asdiferenças entre atividades com processos produtivos distintos, uso intensivo de tecnologiada informação (Internet, e-commerce, etc...)

No Brasil cito como exemplo as características gerais de uma micro e pequenaempresa:

- Baixa intensidade de capital;- Altas taxas de natalidade e de mortalidade;- Forte presença de proprietários, sócios e membros da família como mão-de-

obra ocupada nos negócios;- poder decisório centralizado;- Estreito vínculo entre os proprietários e as empresas (pouca diferenciação

entre pessoa Física e pessoa jurídica);- Registros contábeis pouco adequados ;- Utilização de mão-de-obra não qualificada ou semiqualificada;- Maior dificuldade de acesso a financiamentos de capital de giro

É trabalhando em cima das características citadas acima que foi selecionado omaior problema encontrado para as micros e pequenas empresa que é as altas taxas denatalidade e de mortalidade de empresas. As empresas em geral são abertas para teremtempo de vida indeterminada, salvo exceções, no caso de empresas que citam em seuscontratos o tempo de funcionamento. Geralmente as empresas são abertas por pessoasque possuem conhecimento em determinada área mas que lhes falta em outra. Citocomo exemplo uma pessoa que trabalhou a vida todo como torneiro mecânico (entendede produção) e que em determinada fase de sua vida resolve virar empresário. Aconteceque este se esquece que produção é apenas umas das funções de sua empresa e que aadministração e gerenciamento são outras funções que tem o mesmo peso para tomadasde decisões. É neste momento que o empresário deve procurar ajuda profissional e omais indicado é o contador, que tem como característica em sua profissão lidar comvárias situações profissionais nos mais variados tipos de serviços. De acordo com VilsonSchulle (Delegado do Conselho Regional de Santa Catarina – CRCSC em Rio do Sul –ano 2006), acredita que o contador de hoje deve ser um conhecedor de muitas áreas,além da contabilidade como administração, direito, consultoria gerencial, ter espírito deempreendedor e adaptabilidade.

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“O profissional deve ensinar os seus clientes a ter visão sobre planejamento,usando a contabilidade como controle gerencial para tomada de decisões nahora de aplicar, investir, financiar e até reduzir seus capital se for necessário”.

Conforme o prof. Dr. Antônio Lopes de Sá escreveu em seu artigo “Mortalidadenas pequenas empresas” cita “os maiores problemas para a falência das empresas é: 1)Má administração, 2) difícil presença no mercado, 3) excesso de ambição do Estado naarrecadação tributária, 4) pesados encargos. As referidas causas outras ainda se agregam(embora nem sempre em todos os casos), tais como, as relativas a problemas aéticosentre sócios, diferenças familiares, crises econômicas e etc.”

O quadro 2 mostra o comportamento predominante dos empresários de microse pequenas empresas no Brasil.

Quadro 2 – Comportamento predominante dos empresários de Micros e Pequenasempresas no BrasilFonte: adaptado da revista Sebrae n. 6, set/out 2002, p. 69,70. “A inserção de produtos no mercado” por arruda.

No momento atual, mais do que nunca, as organizações necessitam deinformações cada vez mais completas e complexas. Por sua vez, os usuários buscaminformações que extrapolam o lado financeiro das organizações e que abordem aspectosgerenciais, mercadológicos e outros aspectos relevantes do negócio.

Através do registro e controle patrimonial, a contabilidade fornece aosadministradores as informações necessárias à gestão do negócio, bem como aosproprietários do patrimônio e aos demais usuários da informação contábil, sobre asituação patrimonial e econômica da entidade. Para que uma informação seja considerada

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satisfatória, deve preencher vários requisitos, entre os quais: conteúdo, atualidade,relevância, confiabilidade, oportunidade e adequação à decisão. Outro atributo técnicoa ser observado é a relação custo benefício, ou seja, a decisão tomada com base nasinformações devem ser superiores ao custo de produzi-la.

De acordo com Osvaldir R. Wagner (diretor do SESCON - 2006) o empresáriodeve cobrar do contador as informações e orientações: “Não espere que só contadorvenha oferecer as informações. Os dois lados tem que trabalhar em parceria. Este é ogrande trunfo do negócio”.

Para se beneficiar das vantagens contábeis, as organizações precisam estar abertasàs novas tecnologias da informação. O Balanço Patrimonial de uma empresa retrata oestado da “saúde” financeira em um determinado momento. Devido às dificuldades daaplicação de determinadas ferramentas as micros e pequenas empresas deixam deutilizá-las. Cabe ao contador apresentar formas alternativas que viabilizem o seu controlee o fácil manuseio. Cito como exemplo o quadro 3 onde temos a posição patrimonialsem levar em considerações as estruturas definidas por lei.

Quadro 3 – Modelo de Situação Patrimonial.Fonte: A servo do autor.

Semelhante ao Balanço Patrimonial este relatório representa o quanto a empresatem em determinado momento. Se o empresário quiser pode desconsiderar os centavosproporcionando maior facilidade nas somas.

Para as contas de resultado deve-se levar em conta as mesmas idéias de simplicidadee adaptação para o relatório do empresário conforme exemplo citado no quadro 4.

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Quadro 4 - Situação do ResultadoFonte: A servo do autor.

Neste exemplo sugere-se um plano de contas ainda de forma mais simplificada emais compreensível, para isso sugere-se que abram as contas de Custo variável e custofixo deixando assim mais fácil o seu entendimento.

Com estas duas planilhas exemplos o empresário tem plenas condições de saberse sua empresa esta trabalhando de forma correta ou se exige correções na forma detrabalhar. Nada comparado com que as normas brasileiras de contabilidade exigem,onde, este serviço é executado pelo contador, profissional habilitado para este fim, masde grande utilidade par a sobrevivência empresarial.

Não poderia deixar de citar a importância do fluxo de caixa de uma empresa. Ofluxo de caixa demonstra as entradas e saídas de valores. Por meio dele temos a condiçãode saber se há capacidade de pagamento das dívidas, se há a possibilidade de realizarnovos investimentos. O fluxo de caixa também deve ser considerado para a tomada dedecisões de uma empresa. O quadro 5 apresenta um fluxo de caixa de fácil preenchimentoe trabalho.

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Quadro 5 – Fluxo de caixaFonte: A servo do autor.

As entradas representam todos os ganhos que obtiveram entrada de dinheiro naempresa. Já as saídas são classificadas com as saídas de dinheiro. É importante frisar quecom este simples controle o empresário tem a condição de provisionar e mensurar osseus gastos e recebimentos.

Com estes simples controles o empresário tem informação necessária para avaliaro seu desempenho empresarial e a “saúde” de sua empresa. Assim como um médicoutiliza-se de certos indicadores como pressão e temperatura para elaborar o estadoclínico do paciente, os índices financeiros permitem construir um quadro de avaliaçãoda empresa. Para que isto ocorra cito abaixo algumas das principais fórmulas e índices:

Liquidez corrente = Ativo circulante / Passivo cirulanteEste quociente nos dá a possibilidade de solução dos compromissos em caso de

conversão total dos nossos direitos a curto prazo.

Liquidez Seca = ativo Circulante – estoque / Passivo circulanteEste quociente nos indica a situação de solvabilidade da empresa em face das

obrigações, depois de recebidos os créditos.

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Liquidez Geral = Ativo circulante + Realizável LP / Passivo Circulante+ E.L.P.

Este quociente reúne todas as contas que possuem valores conversíveis em moeda, edetermina o estado de liquidez do organismo econômico em face as compromissos correntes.

Margem Bruta = lucro Bruto / receita operacional brutaEste índice nos mostra o quanto representa o lucro bruto da empresa em relação

a receita operacional da empresa.

Margem Líquida = Lucro líquido / Receita operacional BrutaEste índice nos mostra o quanto representa o lucro líquido (já descontados os

impostos) em relação a receita operacional da empresa.

Rentabilidade do Patrimônio líquido = lucro Líquido / Patrimôniolíquido

Este índice nos mostra o percentual de lucratividade que a empresa esta tendoem relação ao capital investido (capital próprio).

Deve-se deixar registrado que os índices utilizados para avaliar a situação de umaempresa varia de acordo com as necessidades empresariais. Todos os modelos expostosneste trabalho foram operacionalizados numa simples planilha eletrônica, onde sito amais conhecida que é a planilha eletrônica da Microsoft conhecido como “Excel”.

A contabilidade tem um potencial enorme de informação, pois, todos os fatosque são passíveis de expressão monetária podem ser agrupados dentro dessa área,objetivando uma visão sistêmica da situação das empresas. A contabilidade é umainstrumento que auxilia a gestão das empresas, sendo suas informações indispensáveispara aferir o resultado das decisões administrativas e para orientar os planos e políticasa serem seguidos.

Para que as pequenas e micros empresas comecem a utilizar-se destas ferramentascontábeis cabe ao contador mostrar-lhes a maneira mais fácil deles controlarem seus gastose seu patrimônio. O contador exerce papel fundamental na sobrevivência das empresas.

CONCLUSÃO

Uma empresa é formada por vários conjuntos de fatores. Fatores estes quedeterminam o sucesso ou a falência. As micros e Pequenas empresas vivem em umuniverso que sofrem com o impacto de diversos fatores da economia devido a suas

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bases limitadas de informações, sua posição no mercado e a deficiência de seus dirigentescom a falta de conhecimento e preparo no seu ramo de atividade. Quando os fatores queenvolvem as deficiências da empresa são internos, com a prática das informaçõesgerenciais, estes podem ser transformados no sucesso da empresa. É em cima destaferramenta que o empresário deve e recomenda-se o uso das informações gerenciais.Não cabe somente ao contador procurar o empresário para avisá-lo das ferramentasque ele pode utilizar, cabe ao empresário, principalmente, vontade para se adequar asmudanças exigidas. Ao estudar as micros e pequenas empresas, compreende-se quenão somente pela sua participação econômica ou pela sua contribuição para com asociedade, sua importância também é real porque eles representam para muitos aconquista de independência financeira e a realização pessoal / profissional.

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CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano XXXV,N. 157, Brasília: Janeiro/Fevereiro – 2006.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano XXXV,N. 158, Brasília: Março/Abril – 2006.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Revista Brasileira de Contabilidade. Ano XXXV,N. 160, Brasília: Julho/Agosto – 2006.

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MORI, Flávio de (organizador). Administrando Pequenos Negócios. 1. edição,Florianópolis: 1998.

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O USO DA INFORMÁTICA EDUCATIVA NO DESENVOLVIMENTO

DO RACIOCÍNIO LÓGICO1

Prof. MSc. Juliano Tonizetti. Brignoli2

Ana Claudia Ramos3

Resumo: Desenvolveu-se uma pesquisa bibliográfica buscando assuntos acerca da contextualizaçãosobre o uso da Informática como suporte ao processo de desenvolvimento do Raciocínio Lógico. Propõe-se a utilização de técnicas de Inteligência Artificial na construção de modelos de Jogos Interativos quepossam ser utilizados por alunos de disciplinas que necessitam do exercício para desenvolver a competênciade resolver problemas utilizando a capacidade do raciocínio lógico. Realizou-se uma revisão bibliográficacontemplando aspectos cognitivos do processo de aprendizado e uso do raciocínio lógico na resolução deproblemas, bem como, uma abordagem em torno do uso da técnica de Raciocínio Baseado em Casos. Apesquisa não pode concluir-se em termos práticos com a prototipação/implementação de um modelointerativo construído com o uso da linguagem de programação Java, devido às dificuldades quanto àaquisição dos métodos de testes que deveriam ser aplicados com uma amostra de usuários. A Psicologiaconta com um código de Ética que, de acordo com profissionais da área, existe um cuidado na divulgaçãodestas técnicas. Esta dificuldade de cooperação entre áreas de conhecimento impossibilitou um avançomaior da pesquisa em termos da real modelagem e simulação por meio de software, ficando desta formaapenas no âmbito de uma compilação e investigação teórica.

Palavras-chave: Informática, Raciocínio Lógico, Raciocínio Baseado em Casos.

Abstract: She is a literature search looking for subjects about the background on the use of InformationTechnology to support the development process of logical reasoning. The use of techniques of ArtificialIntelligence in the construction of models of interactive games that can be used by students in disciplinesthat require the exercise to develop the skills to solve problems using the ability of logical reasoning.There was contemplating a review of the cognitive process of learning and use of logical reasoning to solveproblems, and an approach around the use of the technique of Reasoning Based on cases. The search cannot be held in practical terms with the prototyping / implementation of an interactive model built using theJava programming language, due to difficulties regarding the acquisition of methods of testing that shouldbe applied with a sample of users. The psychology has a code of ethics that, according to professionals inthe area, there is a caution in disclosing these techniques. This difficulty of cooperation between fields ofknowledge impossible a greater advancement of research in terms of actual modeling and simulationthrough software, thus getting only as part of a compilation and theoretical research.

Keywords: Information Technology, Logical Reasoning, Reasoning Based on cases.

1 Artigo referente ao Projeto de Pesquisa do Artigo 170;2 Orientador, professor da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), mestre em Ciências da

Computação;3 Acadêmica de Curso de Sistemas de Informação, bolsista do Artigo 170.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto da preocupação com um grave problema que professores ealunos vem enfrentando há bastante tempo. O problema diz respeito ao rendimento dosalunos em disciplinas que necessitam de um raciocínio lógico mais desenvolvido.

Se levarmos em conta percentuais de aprovação por turma, em determinadoscasos estes percentuais são baixíssimos, pode-se constatar a existência de falhas noprocesso ensino-aprendizagem onde interagem professores, alunos e Instituição. Como passar dos anos, este problema vem se acentuando progressivamente em relação àscondições de aprendizagem, tempo de conclusão do curso.

Disso resulta uma insatisfação constante entre professores e alunos. Essainsatisfação tem trazido seqüelas prejudiciais a professores, que não vêem o fruto de seutrabalho, e para os alunos, que atrasam a conclusão de seu curso, em virtude de adisciplina ser pré-requisito para outras.

O que se observa também é que, na medida em que o aluno repete a disciplinapor mais de uma vez, menos motivação ele tem, o que interfere de modo negativo nascondições de aprendizagem.

Acreditando que vários fatores contribuem para o fraco desempenho dos alunos,mas especial temos como principal causador o baixo desenvolvimento do raciocínioLógico.

O raciocínio lógico desde os primórdios vem se demonstrado um aspecto deextrema importância ao individuo. Segundo Aristóteles o Raciocínio Lógico pode serdefinido como “Raciocinar corretamente, segundo as leis do pensamento”. Existemdiversas formas de raciocinar,de construir argumentos. Pra termos uma idéia de comoa lógica é usada sempre em nossas vidas, vamos supor que estamos em uma estrada etemos que decidir qual rua entrar, supondo que uma delas tenha um semáforo e a outranão a decisão de ir pela rua a qual não possui semáforo por que o espaço de tempoutilizado será menor, já pode ser qualificado como lógica.

O raciocínio exige pensamento lógico, que, segundo Piaget (1972), já se encontradesenvolvido no indivíduo adulto. Raciocinar logicamente deveria então, habilitá-lo atomar posições e solucionar questionamentos, facilitando a resolução de problemas.Como a lógica o individuo tem mais facilidade em organizar e apresentar idéias e,conseqüentemente, suas ações terão fundamentação mais clara e coerente.

No entanto nem todos os indivíduos têm completamente desenvolvido opensamento lógico plenamente desenvolvido, tendo assim em sua vida dificuldades emtomar decisões.

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Este estudo se propõe a usar a Informática para auxiliar estes cursos quenecessitam de um raciocínio lógico mais avançado, utilizando ferramentas interativascomo jogos, para a interação com o usuário, no entanto utilizando todas as capacidadesque a Informática pode nos auxiliar juntamente com a psicologia que traz consigo testesconfiáveis, com validação e fidedignidade.

AVALIAÇÃO E APRENDIZAGEM

Os professores concordam em unanimidade que a avaliação é uma área deenorme falta de preparação, os problemas mais gerais é a ausência de um conceitosobre o aluno, pois as provas analisam os alunos apenas em certos aspectos, isso semlevar em conta o papel intimidador que tem a palavra “avaliação”.

Para poder avaliar teremos de entender os Pontos Chaves da Aprendizagem.Segundo Bordenave, Juan e Perreira, Adair (1984) são oito pontos-chave,

citaremos aqui somente os que se aplicam mais a nossa pesquisa.

• O Aprendiz sente a necessidade de resolver o problema, seja por motivaçãoespontânea (curiosidade), Seja por motivação Induzida por outros.

• O Problema Constitui uma Barreira entre o individuo e o seu objetivo. Eleanalisa, pergunta, examina.

• A pessoa constata o sucesso ou o fracasso de sua ação e aprendi com a mesma.Se tiver êxito a repete ou se não faz outras tentativas e abandona aquelasanteriores. Conhecer o resultado das tentativas é crucial para a aprendizagem.O Próprio fato de Aprender, conhecer algo servirá como motivação,recompensa.

• Poderemos observar que junto com as mudanças cognitivas acontecem tambémprocessos emotivos no aprendiz. Sentimentos de curiosidade, tensão,ansiedade, angustia, entusiasmo, frustração, alegria, impaciência todas estasacompanham o processo de aprendizagem.

Sendo assim podemos afirmar que o sistema cognitivo interage com o ambientecaptando dados, que após serem processados assumem a forma de informações. Atravésde múltiplas interações, esse sistema passa por mudanças evolutivas que ampliam acapacidade de utilizar essas informações. As experiências da a elaboração derepresentações mentais da realidade, que não são simples cópias do que é experimentadocomo real nessas interações.

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CONTRIBUIÇÕES DE JEAN PIAGET

Para Piaget citado em [PIAGET, 2003] “o pensamento é a base em que esta aaprendizagem. O pensamento é a maneira de a inteligência manifestar-se, O pensamentoé um processo de construção continuo. Assim sendo o funcionamento da inteligênciaeste condicionado pelas etapas de desenvolvimento da própria base neurônica do celebro(experiências realizadas com o meio)” Cada etapa define um momento dedesenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas.

Cognitivas. Passando por quatro etapas distintas: o período sensório-motor, opré-operatório, o operatório -concreto e o período, operatório-formal.

De acordo com a teoria piagetiana, “cada estrutura cognitiva tem o seu momentopróprio de aparecer. A interação adequada com o ambiente fará com que ela apareça epossa ser utilizada em toda sua totalidade. A perda deste momento parece desastrosa;pois uma estrutura mental, se não exercitada no momento próprio, irá requerer, emetapa posterior, maior esforço tanto do sujeito em desenvolvimento quanto de quempretende facilitar-lhe este processo”.

O progresso de um estágio para outro é um processo que depende da maturaçãodo sujeito e de sua interação com o mundo. Por isso que certas crianças por aisincentivadas que sejam não assimilam certos conhecimentos que outras talvez já tenhamassimilado.

ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO

As etapas do pensamento podem ser divididas em quatro:

a) Sensório-MotorA partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas

de ação para assimilar mentalmente o meio. A inteligência é prática. As noções deespaço e tempo são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato,sem representação ou pensamento.

Exemplos:O bebê pega o que está em sua mão; “mama” o que é posto em sua boca; “vê” o

que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo elevá-lo a boca.

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b)Pré-operatórioTambém chamado de estágio da Inteligência Simbólica. Caracteriza-se,

principalmente, pela interiorização de esquemas de ação construídos no estágio anterior(sensório-motor).

A criança deste estágio:• É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente,

no lugar do outro.• Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos “por

quês”).• Já pode agir por simulação, “como se”.• Possui percepção global sem discriminar detalhes.• Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.Exemplos:Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a

forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois asformas são diferentes. Não relaciona as situações.

c) Operatório-concretoA criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade,...,

Já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não selimita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto parachegar à abstração.

Desenvolve a capacidade de representar uma ação no sentido inverso de umaanterior, anulando a transformação observada (reversibilidade).

Exemplos:despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a

criança diga se as quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que acriança já diferencia aspectos e é capaz de “refazer” a ação.

d) Operatório FormalA representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais à

representação imediata nem somente às relações previamente existentes, mas é capazde pensar em todas as relações possíveis logicamente buscando soluções a partir dehipóteses e não apenas pela observação da realidade. Em outras palavras, as estruturascognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-seaptas a aplicar o raciocínio lógico a todo as classes de problemas.

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Exemplos:Se lhe pedem para analisar um provérbio como “de grão em grão, a galinha

enche o papo”, a criança trabalha com a lógica da idéia (metáfora) e não com a imagemde uma galinha comendo grãos.

RACIOCINIO LÓGICO

A lógica tem sua origem na Grécia Antiga. O termo Lógica foi empregado pelaprimeira vez pelos estóicos e por Alexandre de Afrodisia, Aristóteles foi o primeiroestudioso a fazer uma representação do processo do pensamento, através dasistematização do raciocínio lógico. Já tratava da lógica em seu Órganon (conjunto deescritos sobre lógica). Aristóteles não classificava a lógica como uma ciência, pois elanão é um conhecimento teórico nem prático de nenhum objeto. Segundo Chauí citadopor Checchia (CHECCHIA 2005), para Aristóteles

“A lógica não se refere a nenhum conteúdo, mas à forma ou às formas dopensamento ou às estruturas dos raciocínios em vista de uma prova ou de umademonstração. [...] Os Analíticos (de Aristóteles) buscam os elementos queconstituem a estrutura do pensamento e da linguagem, seus modos de operação erelacionamento. [...] A lógica é uma disciplina que fornece as leis ou regras ounormas ideais do pensamento e o modo de aplicá-las na pesquisa e na demonstraçãoda verdade. Nessa medida, é uma disciplina normativa, pois dá as normas parabem conduzir o pensamento na busca da verdade”. (CHAUÍ, 2002, p. 357).

Vemos, portanto, que a lógica se caracteriza como um instrumento do pensamentopara o conhecer. Trata-se de um instrumento para as ciências, “pois somente ela podeindicar qual é o tipo de proposição, de raciocínio, de demonstração, de prova e dedefinição que uma determinada ciência deve usar”. (CHAUÍ, 2002, p. 357).

Desde os mais antigos tratados de lógica ela se dividia em lógica formal ou formal elógica maior ou material. A lógica menor estudaria simplesmente a forma dos argumentos,procurando determinar a validade ou invalidade dos mesmos. A lógica maior se ocupariacom o conteúdo dos argumentos procuraria determinar a verdade e falsidade daspreposições de um determinando argumento. Segundo Maritain, citado por Soares “Oprincipal objeto da lógica maior seria a argumentação como instrumento de saber, debusca da verdade e,por esse fato,muitas vezes recebeu o nome de metodologia”.

Essa divisão entre as lógicas predominou até o século XVII, atualmente a lógicaocupa-se somente com o aspecto formal. A chamado Lógica maior passou a fazer partedas ciências e da filosofia.

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O raciocínio lógico formal utilizado na resolução dos diferentes tipos de silogismosexige a compreensão de suas premissas (Os antecedentes de uma conclusão em umargumento). Esta, no entanto, poderá não ser usada deixando o informante de determinarconclusões corretas e recorrer a falácias, quando influenciado pelo conteúdo daspremissas, por suas crenças ou por não possuir habilidades que ela requer.

O raciocínio dedutivo preside ou condiciona praticamente a totalidade docomportamento diário, e que tanto as mais simples ações, reações ou atitudes quanto asmais complexas, implicam em raciocínio. O raciocínio prático é, sem dúvida, mais antigo,provavelmente tão antigo quanto a organização da linguagem. Nem sempre, entretanto,tem-se a consciência de se estar elaborando em si mesmo, um silogismo completo. Àsvezes, o que aflora no plano da consciência é apenas a conclusão, traduzida em expressãoverbal, em ações ou em comandos. Mas, antes dela, ou melhor, por baixo dela, subjazcomo nos icebergs, uma elaborada série de processos mentais, que fornece os elementosou dados para a generalização presente no silogismo.

Esse raciocínio exige pensamento lógico, que, segundo Piaget (1972), já seencontra desenvolvido no indivíduo adulto. Raciocinar logicamente deveria então, habilitá-lo a tomar posições e solucionar questionamentos, facilitando a resolução de problemas.Segundo Carraher (1983) citado por (tem de ver como fica aqui, pois o artigo tem maisde quatro nomes) aponta duas vantagens para o estudo da lógica. Primeiro, com seuuso, o informante tem mais facilidade em organizar e apresentar idéiase,conseqüentemente, suas declarações terão fundamentação mais clara e coerente.Segundo, o informante analisa com maior facilidade as idéias apresentadas por outros,sabendo interpretar argumentos complexos, esmiuçando-os com nitidez, para conseguirconclusões claras e coerentes. Essa segunda vantagem mostra-se importante, pois oleitor, na maioria das vezes, terá como tarefa a interpretação de idéias alheias que deleexigirão pensamento lógico para conseguir conclusões claras e específicas. Assim, ouso do raciocínio é um fenômeno comum na vida do ser humano, pois situaçõesproblemáticas aparecem-lhe freqüentemente.

RACIOCINIO BASEADO EM CASOS

Na maioria das vezes, ao procurarmos uma solução, ou uma explicação para umproblema que enfrentamos, lembramos de situações passadas nas quais nos deparamoscom a mesma questão. Raciocínio Baseado em Casos nada mais é do que isso, ummétodo de soluções de problemas usando adaptações de soluções anteriores similaresa estes problemas.

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O RBC também é usado extensivamente para raciocínio de senso comum no dia-a-dia. Quando pedimos uma refeição em um restaurante nos baseamos em outrasexperiências que tivemos para tomar decisões sobre o que deve ser bom. Quandoplanejamos nossas atividades domésticas, nos lembramos o que funcionou e o quefalhou, e usamos isso para criar nossos planos. Um sistema de RBC procura em umabase de casos, casos passados que se aplicam no problema atual.

O RBC resolve problemas através da recuperação e adaptação de soluçõesanteriores. Inspira-se na forma que o raciocínio humano recorda e aplica experiênciaspassadas para resolução de problemas Conceitos RBC não confiam somente emconhecimento geral de domínio do problema, ou fazendo associações contendo relaçõesgeneralizadas entre descrições de problemas ou conclusões Utiliza conhecimentoespecífico de situações de problemas concretos (casos). A base de conhecimento doRBC aumenta a cada incremento, a cada problema. Quanto mais experiência adquiridaa performance aumenta.

SISTEMAS BASEADOS EM RBC

Para a construção de um Sistema Baseado em Conhecimento, necessitamos deuma forma coerente de representação do conhecimento. No tópico em questão (RBC),o conhecimento é representado na forma de caso. Mas, o que é um caso?

A principal parte do conhecimento nos sistemas RBC está representada atravésde seus casos. Um caso pode ser entendido como a abstração de uma experiênciadescrita em termos de seu conteúdo e contexto, podendo assumir diferentes formas derepresentação. A representação dos casos é uma tarefa complexa e importante para osucesso do sistema RBC.

A representação dos problemas deve conter as metas a serem alcançadas naresolução do problema, restrições nestas metas, e características da situação e relaçõesentre suas partes. Quando montado um sistema, cada diferente solução ou interpretaçãodo problema é um novo caso. Os casos são obtidos, em geral, consultando um especialistahumano. Um profissional experiente, com certeza tem muito a ensinar, se inserirmostoda sua experiência em um sistema e recuperarmos os casos de maneira eficiente (ouseja, os casos recuperados têm que ser os que melhor respondem às necessidades),teremos um sistema inteligente.

Procedimento básico de funcionamento do RBC• Identificação do problema resolvido (problema de entrada);

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• Definição das principais características que identificam o problema;• Busca e recuperação na memória de casos com características similares;• Seleção de um ou mais dentre os casos recuperados;• Revisão deste(s) caso(s) para determinar a necessidade de adaptação;• Reutilização do caso adaptado para resolver o problema de entrada;• Avaliação da solução de entrada;• Inclusão do caso adaptado na memória de casos (aprendizagem).

RECUPERAÇÃO DE CASOS

O sistema recupera da base de casos, os casos mais próximos do atual.

Três fatores são necessários para a recuperação:• Eficiência: velocidade de recuperação dos casos• Precisão: grau de casos recuperados que podem ser utilizados para alcançar o

objetivo proposto• Flexibilidade: grau de recuperação de casos para raciocínio inesperados

Similaridade

A recuperação dos casos é feita em duas fases:• Recuperação de casos anteriores: o objetivo deste processo é recuperar um

conjunto de casos que apresentem potencialidade de serem aproveitados naspróximas etapas a serem executadas. Um caso será recuperado em função deaspectos que caracterizam uma determinada situação. Estes aspectos em geralsão os elementos que compõem as chaves de indexação dos casos armazenados;

• Casos selecionados anteriormente, selecionar um subconjunto dos melhorescasos: este processo seleciona um caso - ou mesmo um pequeno conjunto decasos - como mais promissor dentre os recuperados no processo anterior.

A habilidade de distinguir quais dos vários casos parcialmente-similares(partiallymatching)

Tem o potencial de ser mais útil que outros é a chave para fazer sistemas RBCfuncionarem.

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METODOS DE RECUPERAÇÃO

Matching e ranking• Match calcula a similaridade e ranking ordena os casos parcialmente similares,

determinando qual é o melhor que o outro.Vizinho mais próximoRecuperação indutiva• Classificam os casos similares em grupos (clusters)• São construídas árvores de decisão.

Flat Memory, Serial Search• Casos são armazenados em um array, testando seqüencialmente

Shared Feature Networks• Organiza hierarquicamente para diminuir o conjunto de dados durante a

recuperação

Discrimination Networks• Parte da discriminação dos casos sendo o agrupamento conseqüência.• Cada nó responde uma questão do nó pai.

a) Ciclo do RBC

Figura 1 – Ciclo do RBCFonte: CASTOLDI, Augusto César Santos. (2002)

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Nesse projeto especificarei mais o método do vizinho mais próximo, pois o acheia melhor solução o problema apresentado neste projeto.

b) Vizinho mais próximoÈ um dos métodos mais utilizados, Baseando-se nas características fundamentais

para resolução do problema, definindo pesos para cada um dos atributos. Sobre ela éfeita função de similaridade que retornará um valor entre o intervalo 0 e 1, sendo assimpossível ordenar os casos

Função de similaridadeSendo:N = um novo casoF = casos existentes na memória de casosn = número de atributosI = atributo individual variando de 1 a nw – peso do atributo i

c) AdaptaçãoA adaptação pode variar da substituição de um atributo da solução por outro, ou

mesmo uma complexa e total modificação da solução. Pode ser realizado de diversasformas:

Inclusão de um novo comportamento à solução recuperadaEliminação de um comportamentoSubstituição de parte de um comportamentoAdaptaçãoA reutilização de soluções de casos recuperados no contexto de casos novos

focalizam-se principalmente nas diferenças entre os caso passado e novo caso.

d) AprendizagemÉ possível afirmar que RBC é uma metodologia tanto para raciocínio quanto para

aprendizado. Para raciocínio por utilizar os caso para auxiliar na solução ou interpretaçãode novos problemas, e para aprendizado pela necessidade de armazenar as novassoluções ou interpretações geradas. O aprendizado torna o solucionador mais eficiente.

Um RBC guarda seu aprendizado de duas formas:• Através do acúmulo de novos casos: novos casos dão ao solucionador mais

conteúdo para resolver os problemas ou avaliar situações. Um solucionadoronde os casos abrangem tanto sucessos, quanto falhas, será melhor do queum que só abrange falha;

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• Através da associação de novos índices: novos índices fazem com que osolucionador lembre dos casos num tempo mais apropriado.

PROJETO DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA

Na maioria das Abordagens que encontramos entre a Informática e a Educaçãotem como característica, a preocupação com o processo de aprendizado que envolvemecanismos de cognição. Neste caso, o computador desempenha um papel muitopróximo ao do professor, sendo ele o responsável pelo processo de aprendizado doaluno. A faixa etária de seu público alvo é a de criança e adolescente, ou seja, deindivíduos considerados ainda em formação. Assim, pode-se dizer que o computador éa fonte, ou seja, o agente do raciocínio produzindo conhecimento para o indivíduo.Tem-se o computador com vida (humanizado).

Porém neste projeto apresentaremos, o aluno é o agente no processo de aprendizado.Ele, a pessoa, é a fonte, ou seja, o agente do raciocínio produzindo conhecimento para ocomputador. Ele, o aluno, é que tem os mecanismos principais de inferência e de cognição.O computador desempenha papel de máquina propriamente dita.

E visto como ferramenta de auxílio no processo de aprendizado. A faixa etária deseu público alvo é o de adulto, ou seja, de indivíduos considerados com formaçãocompleta. Por esta mesma razão usaremos o processo de analise por inteligência Artificial.

DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA

Para o desenvolvimento do projeto será utilizado a Linguagem Java em especial Applets.Este mesmo utilizará para analise das respostas do aluno Técnicas de Inteligência Artificial.

Será desenvolvido um sistema (Protótipo), que estará a disposição para seravaliado por professores dos cursos de Sistemas de Informação e outros interessados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O resultado final não foi completamente atingido. O projeto de pesquisa sedesenvolveu normalmente no que se relacionam as pesquisas bibliográficas, onde senotou a necessidade de ajuda na área da testagem psicológica. Diante do expostoprocurou-se orientação adequada da Psicologia.

No entanto este projeto não pode ser concluído, pois não se definiu o teste quedeveria ser executado, devido ao fato da área de Psicologia possuir um Código de Ética,não disponibilizando os testes. A partir da situação apresentaram-se as seguintes opções:

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• Desenvolver um novo teste psicológico para a analise da Lógica,onde o desafioseria desenvolver o teste e testar com uma amostra de 400 pessoas, onde seconferiria a integridade e confiabilidade do projeto;

• Utilizar Testes já prontos, pedindo assim aos seus criadores a disponibilidadedo uso de seus testes.

No entanto após varias tentativas de diálogo e conversa com a responsável, nãohouve algum progresso. A primeira opção se mostrava impossível em tão pouco tempoe segundo a mesma, algo que só seria possível e aceitável diante a uma pessoa graduadaem psicologia, e a segunda foi negada, pois segunda as mesmas pessoas que fizeramestes testes muitos já morreram ou até mesmo podem estar vivos, no entanto não residiriamem nosso país.

Diante disso apresentou-se uma outra idéia de que se pudéssemos então formarum teste baseado nestes testes, mas que somente conferiria o teste que seria aplicadopor algum aluno de psicologia. Uma idéia que tornou viável a aplicação do projeto. Noentanto após várias tentativas de contato percebeu-se que os especialistas na área,respeitando o Código de Ética , não apoiaram o projeto.

Por isso pode-se dizer que a falta de cooperação entre áreas de conhecimentoinviabilizou a proposta inicial. É notável que para algumas áreas, a Informática apresenta-se como uma ameaça ao exercício da profissão.

As ferramentas computacionais nada mais são do que a automação de umprocesso já realizado antes, no entanto para se automatizá-lo precisa-se conhecê-lo, épraticamente impossível automatizar sem a ajuda de um especialista.

REFERÊNCIAS

BORDENAVE, Juan Díaz; Pereira, Adair Martins. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. 6. ed.Vozes: Petrópolis, 1984.

CASTOLDI, Augusto César Santos, Marcos de Oliveira dos. Raciocínio Baseado em Casos.Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil Departamento de Informática e Estatística(INE) Bacharéis em Ciências da Computação, 2º Semestre, 2002. Disponível em: <http://www.inf.ufsc.br/~barreto/trabaluno/IA20022AugMarc.pdf>. Acessado em 10 nov. 2005.

CHECCHIA, Marcelo Amorim. Introductory reflections on logic and lacanian theory.Psicol. USP. [online]. Jan./June 2004, vol.15, no.1-2 [cited 23 September 2005], p.321-338.Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103642004000100028&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-6564>.Acessado em 15 Out. 2005.

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DIAS, Maria da Graça Bompastor Borges; ROAZZI, Antonio; RODRIGUES, Amariles Alves.Raciocínio lógico na compreensão de texto. Estud. psicol. (Natal), Jan 2002, vol.7, n.1,p.117-132. ISSN 1413-294X.

KURNIAWAN,Budi. Java para a Web Com Servlets, JSP e EJB. Ciência Moderna: Rio deJaneiro, 2002.

LUGER,George F. Inteligência Artificial Estrutura e Estratégias Para a solução deProblemas Complexos 4. ed. Bookman: São Paulo ,2002.

PAPERT ,Seymour. A Máquina das crianças das crianças: repensando a escola na era dainformática. Artes médicas Sul Ltda: Porto Alegre, 1994.

PIAGET, Jean. Seis Estudos da Psicologia. Forense: Rio De Janeiro, 2003.

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WELCOME TO SANTA CATARINA: A IMPORTÂNCIA

DA FLUÊNCIA EM LÍNGUA UNIVERSAL PARA A

PRESTAÇÃO DO SERVIÇO RECEPTIVO INTERNACIONAL

NO ESTADO DE SANTA CATARINA - BRASIL

Hélio Pereira Junior1

Lionara Arnt2

RESUMO: Este trabalho aborda a importância da fluência em língua universal (inglesa) para a prestaçãodo serviço receptivo internacional no Estado de Santa Catarina, Brasil, por profissionais dos meios dehospedagem. O objetivo geral constitui-se em valorar o aprendizado e fluência na língua inglesa naqualificação destes profissionais; os objetivos específicos concernem a levantar as principais dificuldadesenfrentadas na comunicação entre profissionais não fluentes em língua inglesa com turistas estrangeirosnos meios de hospedagem com relevante ocupação estrangeira no Estado de Santa Catarina; apresentar averdadeira relevância determinante para a satisfação do hóspede estrangeiro na utilização dos serviços dehospedagem referentes ao local de estudo quanto ao uso da língua inglesa e, por fim, propor um modelode curso de capacitação em língua inglesa para os profissionais dos meios de hospedagem. Quanto àmetodologia, aplicou-se o formulário de pesquisa durante os meses de abril a setembro de 2006 acolaboradores e hóspedes estrangeiros de meios de hospedagem em 07 (sete) regiões do Estado: PlanaltoSerrano, Sul Catarinense, Vale do Itajaí, Alto Vale do Itajaí, Leste Catarinense, Norte Catarinense e LitoralCatarinense. Como resultados obtidos, verificou-se que apenas 27% dos colaboradores possuem um nívelavançado de fluência no idioma, embora o mesmo tenha revelado-se como fator determinante na satisfaçãodo hóspede estrangeiro durante seu atendimento. Caracterizando-se desta forma a relevância da fluênciaem língua inglesa pelos colaboradores dos meios de hospedagem na qualificação do serviço receptivointernacional no Estado de Santa Catarina.

Palavras-chave: turismo receptivo internacional, meios de hospedagem, língua inglesa, qualificaçãoprofissional.

ABSTRACT: This work ranges the theme of the importance of the universal language fluency (English) forthe international incoming service in the State of Santa Catarina, Brazil, by the hotel professionals. Thegeneral objective is kept as valuing the learning of, and fluency in English Language at qualifying suchprofessionals; the specific objectives are concerned to identify the main difficulties faced by the hotelprofessionals non-fluent in English Language when communicating with foreign tourists at the hotels thathave a relevant presence of such guests in the State of Santa Catarina; to present the real and determinantrelevance of the fluency in English Language by the hotel professionals of the State of Santa Catarina whenserving the foreign guests in order to satisfy them, and, finally, to propose a model of a capacitating EnglishLanguage course for the hotel professionals. As for the methodology, it were applied 02 questionnaires

1 Acadêmico da 8ª Fase do Curso de Turismo com Ênfase em Hotelaria, da Área de Ciências Socialmente Aplicáveis, da Universidadepara o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – Rio do Sul, S.C.

2 Turismóloga e Mestranda do Programa de Pós-graduação e Mestrado Acadêmico em Turismo e Hotelaria – UNIVALI.

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from April to September, 2006, to hotel professionals and foreign guests from hotels located in 07 regionsof the State: Planalto Serrano, Sul Catarinense, Vale do Itajaí, Alto Vale do Itajaí, Leste Catarinense, NorteCatarinense e Litoral Catarinense. As the final results, it was verified that only 27% of the hotel professionalshave an advanced English Language fluency level; nevertheless, the language has proved to be a decisivefactor to satisfy the foreign guest when being served. Being indicated, on this way, that the EnglishLanguage fluency by the hotel professionals is extremely important at qualifying the international incomingservice in the State of Santa Catarina.

Key words: international incoming tourism, hotels, English Language, professional qualification.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda a temática da importância da fluência em línguauniversal (inglesa) para a prestação do serviço receptivo internacional no Estado deSanta Catarina, Brasil, por profissionais dos meios de hospedagem; o qual justifica-sepelo interesse e conhecimento do pesquisador nas áreas de estudo envolvidas (turismo,hotelaria e língua inglesa) considerando fatores que apontaram a extrema relevância dotema abordado, como a notória potencialidade do Brasil para o turismo receptivointernacional, a exemplo da matéria desenvolvida por Massari (2005), publicada no sitedo Centro de Excelência em Turismo (Universidade de Brasília), a qual demonstravaque nos oito primeiros meses do ano passado (2005), o setor já havia batido umrecorde, apresentando receita de US$ 2,526 bilhões, superando o desempenho dosetor de todo o ano de 2003, que foi de US$ 2,125 bilhões.

Por conseguinte, têm-se as oportunidades de fomento deste segmento de turismono Brasil, as quais apresentam-se, por exemplo, com o Governo Federal incitando odesenvolvimento por intermédio de propostas de gestão do setor como o “Programa deRegionalização do Turismo - Roteiros do Brasil” do Ministério do Turismo - para maioresinformações acerca do Plano Nacional de Turismo, acessar o endereço<www.turismo.gov.br>. Este programa do Governo Federal preconiza, principalmente,a organização do trade turístico para o progresso da atividade, disponibilizando o capitalpara projetos referentes e gerados por e de acordo com as necessidades das comunidades.Havendo aí o envolvimento, principalmente, de dois terços do tripé do turismo: o setorpúblico e a comunidade.

A terceira parte é o setor privado, composto por empresas das mais diversasáreas e principalmente as que cingem os empreendimentos turísticos, sendo os meiosde hospedagem, alimentação e transporte os mais perceptíveis prestadores de serviçosao turismo. Foca-se neste trabalho os meios de hospedagem.

Os objetivos traçados para este trabalho concernem 02 (duas) etapas principais:o objetivo geral, que é valorar o aprendizado e fluência na língua inglesa naqualificação de profissionais dos meios de hospedagem; e ainda, os objetivos específicosque são: levantar as principais dificuldades enfrentadas na comunicação entreprofissionais não fluentes em língua inglesa com turistas estrangeiros nos meios dehospedagem com relevante ocupação estrangeira no Estado de Santa Catarina; apresentara verdadeira relevância determinante para a satisfação do hóspede estrangeiro nautilização dos serviços de hospedagem referentes ao local de estudo quanto ao uso dalíngua inglesa e, por fim, propor um modelo de curso de capacitação em língua inglesapara os profissionais dos meios de hospedagem.

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Sendo os meios de hospedagem o foco principal deste trabalho dentre os serviçosofertados pelo trade turístico aos turistas estrangeiros, a problematização deu-se quantoà quais as principais dificuldades enfrentadas na tentativa de comunicação com hóspedesestrangeiros que não falem o português por profissionais dos meios de hospedagemnão fluentes em língua universal (inglês) e se esta mesma fluência é fator determinanteao que refere-se à satisfação do hóspede estrangeiro quanto ao serviço prestado.

Com base nestes questionamentos, pressupôs-se que a necessidade de umperíodo muito longo e conseqüente perda na otimização dos serviços em momentos doseu ciclo, como o check-in (momento em que o hóspede chega ao meio de hospedageme formaliza sua hospedagem, já reservada), walk-in (ocorre quando o hóspede chegaao hotel para hospedar-se, no entanto, sem ter efetuado sua reserva) e check-out(momento em que o hóspede definitivamente sai do hotel, efetuando o fechamento desua conta, ou seja, o pagamento de suas despesas) na tentativa de entendimento mútuoentre o profissional não fluente e o hóspede, seja uma das principais dificuldadesenfrentadas pelo primeiro.

Como metodologia aplicada neste trabalho, utilizou-se o método científicopermeado em todo seu processo pelo método racional, o qual abrange a prática dosmétodos indutivo, quanto à observação primária da situação problema, e dedutivo, querefere-se à aquisição de conhecimento sistematizado sobre esta situação através depesquisa bibliográfica e método exploratório. Ainda, para melhor perceber as condiçõesda situação problema, utilizou-se o método observacional com a técnica de observaçãoin loco e préstimo do diário de campo. Por fim, para a mensuração e interpretação dosefeitos desta situação problema e indicação de considerações finais a respeito,empregaram-se os métodos qualitativo e quantitativo utilizando-se da técnica de entrevistapessoal e auto-administrativa pela Internet e técnica estatística, com a aquisição de dadospertinentes por intermédio de 02 (dois) formulários de pesquisa: um respondido pelocolaborador e outro respondido pelo hóspede estrangeiro dos meios de hospedagemparticipantes da pesquisa.

Este processo de triagem dos informantes, ou seja, da amostra, desenvolveu-seatravés de seleção intencional por julgamento não probabilística com a escolha porregião de um ou mais hotéis com perceptível relevância no contexto do serviço receptivointernacional do Estado de Santa Catarina. As regiões são: Oeste Catarinense, PlanaltoSerrano, Sul Catarinense, Vale do Itajaí, Alto Vale do Itajaí, Leste Catarinense, NorteCatarinense e Litoral Catarinense. No entanto, embora 03 (três) meios de hospedagemlocalizados na Região Oeste do Estado tenham sido contatados (inclusive pessoalmentepela orientadora do projeto), nenhum destes respondeu ao formulário. Os turistas

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estrangeiros que responderam ao formulário eram os hóspedes dos meios dehospedagem participantes da pesquisa. O formulário aplicou-se pessoalmente com oscolaboradores dos meios de hospedagem das regiões do Alto Vale do Itajaí e LitoralCatarinense, nas demais regiões os formulários foram auto-administrados peloscolaboradores dos respectivos meios de hospedagem por intermédio do envio erecebimento por e-mail. A identidade dos meios de hospedagem ou municípios ondelocalizam-se, colaboradores ou hóspedes estrangeiros não estão revelados no presentetrabalho, conforme o acordado entre o pesquisador e participantes da pesquisa.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O INGLÊS ENQUANTO LÍNGUA UNIVERSAL

Diante do atual cenário mundial onde a concepção de mundo enquanto uma“aldeia global” torna-se cada vez mais perceptível, o turismo internacional desenvolveimportante papel na integração e intercâmbio entre indivíduos de diferentes nações.Richards, Hull e Proctor (1998) explicam que:

“[…] the term global village is used to describe the world and its people. In atypical village, however, everyone knows everyone else and the people face thesame kinds of problems. How can the world be a village, when it is home toalmost 6 billion people? Political and technological changes have made theglobal village possible” (RICHARDS, HULL & PROCTOR, 1998, p.65).3

Desta forma e para uma possível sinergia entre os povos destas nações, acomunicação é imprescindível, e neste sentido percebe-se que o inglês é o idioma quevem sendo empregado como o idioma universal – dos cerca de 6 bilhões de habitantesde nosso planeta, o inglês conta com 400 milhões de falantes e cerca de 300 milhões defalantes como a 2ª língua4 -; assim, a perícia em tal idioma pode trazer efeitos positivos nodesenvolvimento das mais diferentes ações de caráter internacional como a prestaçãodo serviço receptivo internacional no Estado de Santa Catarina por profissionais dosmeios de hospedagem.

3 Tradução do Pesquisador: “[...] o termo aldeia global é utilizado para descrever o mundo e seus habitantes. Em uma aldeiatípica, entretanto, todos conhecem todos e as pessoas enfrentam os mesmos tipos de problemas. Como pode o mundo seruma aldeia quando ele é a casa de quase 6 bilhões de pessoas? Mudanças políticas e tecnológicas têm feito a aldeia globalpossível”.

4 Pesquisa realizada no site <http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesa>. Acesso em 02/03/06.

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Quanto ao que determina qual idioma deve tornar-se universal, Crystal (1998)manifesta que o número de falantes nativos não é o responsável pela universalização deum idioma:

However, no language has ever been spoken by a mother-tongue majority inmore than a few countries (Spanish leads, in this respect, in some twenty countries,chiefly in Latin America), so mother-tongue use by itself cannot give a languageglobal status. To achieve such a status, a language has to be taken up by othercountries around the world. They must decide to give it a special place withintheir communities, even though they may have few (or no) mother-tongue speakers(CRYSTAL, 1998, p. 03).5

Também, a universalização de uma língua até o presente momento não ocorreude forma plebiscitária, considerando suas peculiaridades fonéticas ou gramaticais, massim devido ao êxito obtido pelos seus falantes nativos no cenário internacional, conformeexplica Crystal (1998):

“[...] language has no independent existence, living in some sort of mysticalspace apart from the people who speak it. Language exists only in the brains andmouths and ears and hands and eyes of its users. When they succeed, on theinternational stage, their language succeeds. When they fail, their language fails”(CRYSTAL, 1998, p. 05).6

Neste sentido, deve-se atentar que tal posição conferida a Língua Inglesa não éresultado intrínseco, mas que foi atingido através de inúmeros eventos históricos, deordem sócio-cultural, política e econômica – que precisam ser percebidos para quetenha-se uma compreensão sistemática acerca do seu status atual - nos quais seusfalantes nativos tomaram parte e certamente foram bem sucedidos. Crystal (1998),delineia estes eventos como:

5 Tradução do pesquisador: “De qualquer forma, nenhuma língua tem sido falada por uma maioria nativa em mais do que emuns poucos países (o espanhol lidera a este respeito em cerca de vinte países, principalmente na América Latina), então oidioma pátrio por si apenas não pode dar a uma língua o status global. Para atingir tal status a língua tem que ser aceita poroutros países do mundo. Eles precisam decidir dar a ela um lugar especial dentro de suas comunidades, mesmo que elaspossam ter poucos (ou nenhum) falantes nativos.”

6 Tradução do pesquisador: “[...] a língua não tem existência independente, existindo em algum lugar místico à parte daspessoas que a praticam. A língua existe somente nos cérebros e bocas e ouvidos e mãos e olhos dos seus usuários. Quandoeles têm sucesso, sua língua tem sucesso. Quando eles fracassam, sua língua fracassa.”

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In the seventeenth and eighteenth centuries English was the language of theleading colonial nation – Britain. In the eighteenth and nineteenth centuries itwas the language of the leader of the industrial revolution – also Britain. In thelate-nineteenth century and the early twentieth it was the language of the leadingeconomic power – the USA (CRYSTAL, 1998, p. 110).7

Ainda exemplifica-se quanto a fluência em língua universal que diante dadiversidade de idiomas e dialetos existentes no planeta nem sempre é possível dominartodos estes primeiros praticados pelos grupos sociais com os quais queira-se ou necessite-se estabelecer relações. É neste ponto que os benefícios de um idioma comum a grupossociais distintos podem apresentar-se em vias de facilitar a inteligibilidade mútua. Pois,cada grupo social poderia manter viva sua ou suas línguas-mãe como fator de identidadee unidade sócio-cultural ao mesmo tempo em que buscaria a proficiência em um outroidioma comum a todas as nações para questões de ordem internacional - o que denomina-se lingua franca -, e esta faculdade seria plenamente relevante no âmbito receptivo doturismo internacional.

O TURISMO INTERNACIONAL

Para versar acerca da tipologia “turismo internacional” no presente trabalho,faz-se mister estabelecer ou reportar-se a definições quanto ao que é “turismo”, o quedefine uma ação como “internacional”, qual a conceituação para “turismo internacional”e, por fim, o que é “turismo receptivo”; sem a extrema necessidade em ater-se aconceituações etimológicas ou estruturais dos termos, mas sim à praticidade dasconceituações funcionais.

Segundo Rosa (1999, p. 488), em seu “Minidicionário compacto da línguaportuguesa”, turismo significa “viagem de recreio”, o que delimita que a viagem turísticanão se caracteriza quando um indivíduo se desloca para um meio distante de suaresidência, com propósitos de negócios, motivações religiosas ou educacionais, aindaque por um curto período de tempo.

Andrade (2002, p. 32) explica que esta concepção acerca do tema provém dosprimórdios do estudo da atividade: “As primeiras tentativas coordenadas de conceituaçãoe o próprio sentido vulgar do termo turismo dimensionam a realidade apenas no que serefere às injunções e aspectos relacionados a viagens de recreio”; o autor acrescenta

7 Tradução do pesquisador: “Nos séculos XVII e XVIII o inglês era a língua da nação colonial líder – Grã-Bretanha. Nos séculosXVIII e XIX era a língua da líder da revolução industrial – também Grã-Bretanha. No final do século XIX e início do séculoXX era a língua do poder econômico líder – os EUA.”

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que este fato deve-se a alguns estudiosos lutarem para que esta conceituação restritivaseja mantida, pois segundo eles:

“[...] viagem para cumprimento de deveres de piedade é ato devocional e de fé;por isso obrigação moral impeditiva de finalidades turísticas, que se baseariamno lazer e no descompromisso, jamais na meditação e na prece. Viagens deempresários a feiras, de enfermos a estâncias hidrotermais ou climáticas, ou deintelectuais a congressos não se constituiriam em ação turística porque motivadospor objetivos profissionais ou por necessidades de sobrevivência” (ANDRADE,2002, p.32).

Entretanto, Andrade (2002) conclui que:

Felizmente, após muitos anos, surge uma febre de deserção entre os asseclas dadoutrina do lazer como base do turismo, porque as próprias estatísticasdemonstram que a realidade é diferente das teorias que pretendem sustentarque o turista é a pessoa que viaja para depois permanecer sem fazer coisa alguma(ANDRADE, 2002, p.32).

Partindo para a definição do que caracteriza uma atividade como internacional,esta concerne a “relações entre nações” (ROSA, 1999); que no âmbito turístico são asrelações desencadeadas entre os turistas estrangeiros e os autóctones das destinações(outros países) visitadas.

Por conseguinte, o turismo internacional “[...] se efetiva pela formação decorrentes turísticas ou de demandas externas ao receptivo e em país ou países distintosda pátria e do solo em que os turistas e visitantes residem.” (ANDRADE, 2002, p. 51)

No que se refere ao turismo receptivo, Dias (2005, p. 22) explica que o mesmo“[...] é realizado pelos visitantes que não são residentes no país, na região ou nalocalidade. São exemplos, no Nordeste, as visitas dos europeus a essa região; em Salvador,as visitas dos paulistas a esta cidade; no Brasil, as visitas dos argentinos.”

No presente trabalho, ainda que seguindo conceituações para uma melhorcompreensão dos termos acima relacionados, foca-se a qualidade do serviço receptivoprestado ao turista estrangeiro (hóspede).

A realidade de o turismo receptivo internacional estar sendo uma proeminentefonte geradora de divisas para os países visitados é também verificada no Brasil. No anode 2005, o Brasil contabilizou recordes quanto ao turismo internacional e divisas porele geradas e continuou obtendo êxito nos dois primeiros meses deste ano, conforme oexposto por Capellini (2006):

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O turismo internacional está crescendo no Brasil. O mês de fevereiro foi o melhorna história do turismo receptivo, com a entrada de US$ 359 milhões, e o terceiromaior desempenho de todos os tempos, atrás apenas de agosto e dezembro do anopassado, quando o volume de recursos foi de US$ 360 milhões, e de janeiro desteano, que teve uma entrada de US$ 402 milhões (CAPELLINI, 2006).

Mas, para que estes números mantenham-se e mesmo aumentem é necessárioofertar um serviço de qualidade internacional, utilizando-se também da fluência emlíngua universal (inglesa) como um meio de satisfazer as aspirações deste turistaestrangeiro enquanto consumidor e gerador de divisas; independendo de seu propósitode viagem/visita ao Brasil, país de origem ou tempo de estadia, para que o turista/hóspede estrangeiro que visita o País e que contribui para o sucesso da economianacional retorne em outras oportunidades, bem como torne-se um propagador daqualidade do receptivo brasileiro no exterior. Pois, se o serviço prestado ao turistaestrangeiro não corresponder às suas expectativas quando visitando o Brasil, se tornarámais difícil estimulá-lo a voltar ao país. Mas, se este turista já está visitando o Brasilmesmo que o país careça de um serviço receptivo internacional amplamente qualificado,pressupõe-se que os resultados serão ainda mais promissores se o setor qualificar-se.

OS MEIOS DE HOSPEDAGEM NO BRASIL

Inicialmente, explica-se que os empreendimentos que ofertam produtos ouserviços para viajantes com propósitos que acordem com as conceituações acerca doque é turismo ou não, são imprescindíveis para que a atividade turística, por sua vez,possa desenvolver-se seqüencialmente. Estes empreendimentos fazem parte da infra-estrutura que alicerça os interesses de consumo de viajantes – turistas ou não – quedesloquem-se à determinadas destinações, independente do nível de atratividade turísticaque seja conferido às mesmas. Campos e Gonçalves (2005, p. 69), evidenciando aatividade turística, explicam que “[...] o produto turístico compreende um conjunto deatrativos naturais e artificiais ou culturais, assim como uma diversidade de serviçosnecessários a seu desenvolvimento e expansão. Esses serviços constituem a infra-estrutura,sem a qual não se pode pensar a atividade turística”.

Os autores acrescentam que “dentre os equipamentos que compõem a infra-estrutura turística, os meios de hospedagem destacam-se por serem imprescindíveisà viabilização do turismo em qualquer uma de suas modalidades” (CAMPOS &GONÇALVES, 2005, p. 70); sendo também correto afirmar que independente da tipologiade turismo desenvolvida na destinação em questão, a relevância e mesmo a preferência

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dada pelo mercado consumidor à qualificação da estrutura e serviços ofertados pelosmeios de hospedagem – assim como em outras atividades comerciais -, seja no Brasil ouexterior, evoluiu paralelamente aos diferentes eventos históricos de ordem sócio-econômica e cultural pelos quais os grupos humanos tenham passado.

Abordando-se momentos desta evolução mais próximos a contemporaneidade,Campos e Gonçalves (2005, p. 79) explicam que “o crescimento do turismo, desde a décadade 50, isto é, após a II Guerra Mundial, estimulou a construção de hotéis nas capitais e nosprincipais centros de atração turística de diversos países”. Isto decorreu devido ao períodopacífico em que as sociedades humanas acreditavam estar vivendo, sentindo-se mais livres adeslocarem-se a destinações mais distantes de suas habitações. O desenvolvimento da aviaçãocivil também foi uma perceptível causa do crescimento da atividade turística, possibilitando àspessoas realizarem de forma mais rápida, viagens a outras nações.

Deste período até os dias atuais, Campos e Gonçalves (2005) salientam que:

Em conseqüência, estava dada a partida para o desenvolvimento de grandescorporações hoteleiras, cujos nomes são amplamente conhecidos em todo omundo: Accord, Holiday Inn, Hilton, Meridien, Sheraton, etc. Essas redeshoteleiras investem bilhões de dólares e ditam a evolução dos padrões dehospedagem, equipamentos e serviços, em nossa época (CAMPOS & GONÇALVES,2005, p. 79).

Os reflexos das ações destas corporações são cada vez mais perceptíveis noBrasil; pois, de acordo com a “[...] classificação da Horwath Consulting & SotecontiAuditores Independentes S/C8, realizada em janeiro de 1999, dentre as oito principaiscadeias hoteleiras que atuam no Brasil, três são de origem nacional” (HORWATHCONSULTING e BNDS, 1999, apud SAAB & DAEMON, 2001, p. 129); ou seja, pelaexperiência conquistada através dos anos, as cadeias internacionais – européias ouamericanas – estão liderando em quantidade também no mercado brasileiro.

Esta realidade traria um aprendizado mutante ao cenário dos meios dehospedagem do Brasil, os quais, inicialmente foram “[...] feitos por famílias ricas etradicionais que tinham outros negócios e as hospedagens serviam de vitrine do glamourpor elas desejado” (CRUZ, 2002, apud FERREIRA, 2002)9. Assim, os meios dehospedagem brasileiros tradicionalmente familiares e outrora bem sucedidos precisariam

8 Nota do pesquisador: as oito redes hoteleiras classificadas por esta pesquisa foram: Accor (1º), Othon (2º), Best Western(3º), Transamérica (4º), Tropical (5º), Meliá (6º), Hilton (7º) e Sheraton (8º); sendo a Othon, Transamérica e Tropicalnacionais.

9 Pesquisa realizada no site <http://www.unb.br/acs/unbagencia/ag0802-01.htm>. Acesso em: 11/10/06.

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adequar-se ao mercado competitivo estabelecido pelas redes hoteleiras, ou não teriamcondições de manter-se ativos.

Neste sentido, a solução encontrada por alguns meios de hospedagem nacionaisfoi o de unirem-se em redes para juntos terem mais força no mercado; conforme Cruz(2002, apud FERREIRA, 2002) “[...] a tendência atual de criação de redes é inevitável,principalmente porque favorece a publicidade, peça fundamental no mercadocompetitivo. Enquanto 46% dos hotéis americanos fazem parte de redes hoteleiras, 90%dos estabelecimentos brasileiros ainda pertencem a proprietários isolados”.10

O resultado conferido em algumas cadeias hoteleiras brasileiras, frutos do processode formação de redes nacionais frente à competitividade com as redes internacionais, éreconhecidamente positivo, pois:

Nas grandes cadeias nacionais têm-se observado, ultimamente, movimentos embusca da melhoria da qualidade dos serviços ofertados e incrementos na capacidadefísica hoteleira instalada, o que decorre da entrada de novas cadeias hoteleirasinternacionais no Brasil e representa um importante fator de competitividade parao produto turístico brasileiro (SAAB & DAEMON, 2001, p. 128).

Por conseguinte, indica-se que a gestão deste crescimento necessitaestar baseada em ferramentas fundamentais – principalmente aos meios de hospedagemnacionais que não possuem a mesma experiência das cadeias internacionais - como oconhecimento de mercado nos quais estes empreendimentos estão inseridos,planejamento e estratégia. Estes fatores importantes são melhor trabalhados quando osseus gestores possuem o perfil profissional que ajuste-se à realidade de um mercadoaltamente competitivo, os quais, por sua vez, precisam do apoio de um grupo qualificadode colaboradores que estejam cientes da complexa tarefa que é levar um meio dehospedagem a alcançar o êxito junto ao público “consumidor” - entenda-se “hóspede”-, de características tão diversificadas e que intrinsecamente os leva a ser mais exigentesquanto aos produtos e serviços que lhe são ofertados. Acerca deste profissionalismoque qualifica, destaca e, indubitavelmente, formata-se como ferramenta imprescindívelao meio de hospedagem na conquista de seu sucesso no mercado hoteleiro tratar-se-áno próximo capítulo, abordando-se enfaticamente a necessidade da qualificação doprofissional do meio de hospedagem na oferta do serviço receptivo internacional quantoà relevância que a fluência em língua inglesa deste profissional exerce em bem atendero hóspede estrangeiro.

10 Pesquisa realizada no site <http://www.unb.br/acs/unbagencia/ag0802-01.htm>. Acesso em: 11/10/06.

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A LÍNGUA INGLESA COMO FATOR DE QUALIFICAÇÃO DOS SERVIÇOSPRESTADOS PELOS MEIOS DE HOSPEDAGEM BRASILEIROS NOTURISMO RECEPTIVO INTERNACIONAL

A qualidade do serviço receptivo internacional brasileiro, no tangente aos meiosde hospedagem, ainda é falha, pois “uma das principais reclamações dos turistas quevêm ao Brasil todos os anos é a falta de treinamento dos funcionários dos hotéis”11,conforme afirmou Eraldo Alves da Cruz, presidente da ABIH, durante o 47º Conotel(Congresso Nacional de Hotéis), realizado de 20 a 23 de setembro de 2005, no Centrode Convenções do Anhembi, em São Paulo.

Na hotelaria, especificamente quanto à atividade receptiva internacional, prestarum serviço ao turista estrangeiro que não seja condizente com suas expectativas mínimas,como um quadro de funcionários treinados e capacitados, é o mesmo que sentenciá-laao fracasso. Pois:

Cada vez mais os clientes foram se tornando perceptivos a erros gritantes e aosdescasos de empresas e de profissionais e, conseqüentemente, migraram, comrazão, para ambientes mais acolhedores e interessados em serviços com qualidade.Empresas e profissionais desavisados tiveram que acordar para uma realidadeinquestionável: ou mudam ou estão fora do processo (SILVA, 2004, p. XIII-XIV).

Relegar a prestação de serviços a um mercado tão promissor quanto o receptivointernacional ao amadorismo, como não atender o turista estrangeiro em idioma universal,pode significar perder a oportunidade de incrementar a geração de renda, acordandocom Andrade (2002):

A boa qualificação do receptivo é de vital importância para qualquer país, ricoou pobre, desenvolvido ou subdesenvolvido, credor ou devedor, porque, alémda valorização de seus recursos naturais e artificiais, há o aspecto lucrativo daeconomia nacional: por sua natureza, o turismo receptivo é uma operaçãoeconômica correspondente à atividade de exportação de produtos, valorizadacom o privilégio de não depender de atos burocráticos externos com as mesmasinjunções características da exportação (ANDRADE, 2002, p. 52).

É possível ainda abordar-se o pensamento: uma vez que o turista estrangeiroesteja no Brasil, ele vai ter de consumir de acordo com sua necessidade de qualquer

11 Pesquisa realizada no site <www.htb.com.br>. Acesso em: 21/02/06.

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forma, independente do fato de quem o “servir” falar inglês ou outro idioma ou não -com o que se pode concordar. Por outro lado, qual será a impressão que este turistalevará do Brasil quanto a seus profissionais e respectivos serviços prestados e qual seráa propaganda “boca-a-boca” que o mesmo fará do Brasil em seu território em vias deestimular que seus conterrâneos também visitem o Brasil? E este turista terá boasimpressões o suficiente para voltar ao Brasil? Melhor do que trabalhar incógnitas éefetivamente profissionalizar a prestação do serviço receptivo internacional e asseguraro fluxo de turistas estrangeiros para dentro do Brasil, bem como o aumento deste fluxo.

Silva (2004, p. 128) ressalta quanto ao cliente que “[...] se as suas necessidades nãoforem satisfeitas ou sua percepção não for adequada ao que está sendo oferecido, não existerazão para que esse cliente exiba um comportamento de fidelidade para com a empresa.”

A frustração de um cliente pode passar despercebida por quem o atende, mastraz graves conseqüências futuras pois:

No momento do atendimento, frustrar um cliente de forma consciente ou não,propositadamente ou não, pode definir a continuidade de uma relação comercialsadia, porque as reações advindas desse cliente podem ser catastróficas. [...]Como se frustra um cliente? É muito simples, basta não satisfazer suas necessidades,provocá-lo com frases ou expressões faciais, não respeitá-lo ou não considerá-lo” (SILVA, 2004, p. 62).

E quando trata-se de turistas estrangeiros, mais complexa torna-se esta abordagem,pois toda sua bagagem histórica, percepção de realidade, personalidade e anseiosacordam com a conjuntura de seu país de origem, o que pode ser muito diferente dopaís visitado.

O autor exemplifica:

Alguns detalhes como indicar a um turista onde ficam o posto de gasolina, afarmácia, o restaurante ou a estrada que ele deve seguir, são excelentes formas deestimulá-lo a reagir favoravelmente à cidade em que se encontra. O termo “gentehospitaleira” nasce exatamente dessa forma, o que também é válido para umhotel, um restaurante etc (SILVA, 2004, p. 8).

Mas, para que estes “detalhes” acima elencados possam ser disponibilizados a turistasestrangeiros que não falem o português será necessário a fluência de quem está passando ainformação no idioma do turista. Como os turistas estrangeiros provêm de inúmeros núcleosemissores onde vários são os idiomas falados, mais uma vez a língua inglesa simplifica ainteligibilidade entre pessoas de nações distintas, enquanto língua universal.

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Mamede (2002, p. 109) explica em seu livro “Direito do Turismo” que para osmeios de hospedagem que seguem a classificação por estrelas12 e que estejamregularmente cadastrados na Embratur13 existem requisições formalizadas quanto aprofissionais que dominem um idioma estrangeiro “[...] nos empreendimentos de 4estrelas; 5 estrelas demandam serviços de reserva no período de 24 horas comatendimento bilíngüe, mudando para trilíngüe para 5 estrelas plus.”

Mamede (2002) acrescenta quanto ao ato de prestar informações aos hóspedes:

O pessoal apto a prestar informações e serviços de interesse do hóspede, com presteza,eficiência e cordialidade, deverá estar sob supervisão permanente de gerente ousupervisor capacitado, nos empreendimentos classificados com 5 estrelas. Aliás, nosempreendimentos classificados com 4 estrelas, a recepção deve dispor de pessoalque fale fluentemente (mínimo de uma pessoa em cada turno) pelo menos oportuguês e mais uma língua estrangeira; para a categoria 5 estrelas, português e maisduas línguas estrangeiras; já a categoria 5 estrelas plus exige pessoal que fale portuguêse mais três línguas estrangeiras (MAMEDE, 2002, p. 109).

Independente de o meio de hospedagem seguir a classificação de estrelas ounão, o empreendimento seguirá uma classificação equivalente e conseqüentemente asexigências ou expectativas do hóspede quanto ao meio de hospedagem estarão deacordo com esta classificação; ou seja, adequar o meio de hospedagem à sua classificaçãodemonstra compromisso com níveis qualitativos superiores.

De acordo com Crystal (1998) as conseqüências lingüísticas no âmbito dasviagens internacionais são imediatas:

The reasons for travelling abroad are many and various. They range from routinebusiness trips to annual holidays, and from religious pilgrimages andsports competitions to military interventions. Each journey has immediatelinguistic consequences – a language has to be interpreted, learned, imposed –and over time a travelling trend can develop into a major influence. If there is a

12 Nota do pesquisador: para maiores informações acerca das exigências para a classificação dos hotéis em estrelas em todosos quesitos que sejam abordados, inclusive no que se refere ao uso da língua inglesa, buscar em: CÂNDIDO, Índio; VIERA,Elenara Viera de. Gestão de Hotéis: técnicas, operações e serviços. Caxias do sul: Educs, 2003.

13 O governo federal reconheceu a importância das atividades turísticas para o país e por meio do Decreto nº 55 foi criada aEmpresa Brasileira de Turismo (Embratur), passando à condição de Autarquia a partir de 1991. Tem por objetivos formular,coordenar e fazer executar a Política Nacional de Turismo, cooperando como instrumento de desenvolvimento regionalsustentável, e, mais ultimamente, criar e melhorar a imagem do país a fim de possibilitar o aumento das atividades turísticasbrasileiras conforme suas potencialidades naturais (KUAZAQUI, 2000, p. 21).

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contemporary movement towards English use, therefore, we would expect it tobe particularly noticeable in this domain. And so it is (CRYSTAL, 1998, p. 95).14

O autor frisa desta forma que viagens internacionais estão diretamente relacionadasà interação lingüística e que o inglês é, de fato, a língua líder nesta esfera. O que indica,portanto, que o sucesso do Brasil no turismo internacional compreende a fluência deseus profissionais em língua inglesa e que esta aptidão deve estar paralela à qualificaçãopermanente do setor.

2 METODOLOGIA

No presente trabalho, foram empregados métodos racionais e métodos específicospara as ciências sociais. Os métodos racionais são compreendidos como indutivo, queé a análise, e o dedutivo, que é a síntese (FACHIN, 2003). O método indutivo parte deuma (ou mais) observação empírica da qual extrai-se uma análise genérica, a qual seinvestigará quanto à sua veracidade. Todo o conhecimento científico parte de umareferência empírica, pois enquadra-se aos fatos; a diferença entre conhecimento científicoe empírico ou vulgar está por conta do método utilizado no primeiro (SCHLÜTER,2003). Quanto ao método dedutivo, este parte da análise geral indutiva para a investigaçãoe aquisição de um conhecimento particular, auxiliado por outros métodos de pesquisa.

Semelhante ao método racional indutivo no que se refere ao âmbito de percepçãoempírica da “situações problema”, o método observacional - que é um dos métodosespecíficos às ciências sociais (FACHIN, 2003) - também ajustou-se a este trabalhocientífico. O método observacional empregou-se no desenvolvimento da técnica deobservações in loco nos meios de hospedagem selecionados em que tenha havido apossibilidade da visita do pesquisador.

Também abrangendo os métodos específicos das ciências sociais, utilizou-se ométodo exploratório, o qual consistiu-se em descobrir novas idéias e novas perspectivas eque esteve presente em todas as etapas de desenvolvimento deste estudo, preconizando-sea revisão de documentação atualizada sobre o tema e coleta de experiências de pessoasque vivenciaram ou vivenciam a situação problema (SCHLÜTER, 2003). Aplicando-se,neste sentido, as pesquisas bibliográfica e documental, no intento de obter uma base sólida

14 Tradução do pesquisador: “As razões para viajar ao exterior são muitas e diversas. Elas variam de viagens rotineiras anegócio a férias anuais e de peregrinações religiosas a competições esportivas a intervenções militares. Cada viagem temconseqüências lingüísticas imediatas – uma língua tem de ser interpretada, aprendida, imposta – e através do tempo umatendência em viajar pode tornar-se uma influência maior. Se há um movimento contemporâneo em direção ao uso do inglês,conseqüentemente, esperaríamos que isto fosse particularmente percebido nesta esfera. E de fato é.”

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de informações teóricas acerca dos temas referentes ao foco de estudo, que estãosistematizadas no referencial teórico deste. Fachin (2003) explica que:

A pesquisa bibliográfica diz respeito ao conjunto de conhecimentos humanosreunidos nas obras. Tem como finalidade fundamental conduzir o leitor adeterminado assunto e proporcionar a produção, coleção, armazenamento,reprodução, utilização e comunicação das informações coletadas para odesempenho da pesquisa (FACHIN, 2003, p. 125).

Quanto à pesquisa documental Fachin (2003, p. 136) descreve que esta “[...]corresponde a toda informação de forma oral, escrita ou visualizada. Ela consiste nacoleta, classificação, seleção difusa e utilização de toda espécie de informações,compreendendo também as técnicas e os métodos que facilitam a sua busca e a suaidentificação.”

Ainda, fez-se o uso dos métodos quantitativo e qualitativo, que por intermédio datécnica de entrevistas com o formulário de pesquisa quantificaram os profissionais dalinha de frente que são fluentes em língua inglesa e dimensionaram qualitativamente aconseqüência desta fluência no serviço receptivo internacional nos meios de hospedagemdo Estado de Santa Catarina. O processo de análise dos dados obtidos com a aplicaçãodo formulário de pesquisa deu-se através da técnica estatística por intermédio deinterpretação dos dados disponibilizados em gráficos, sendo que as questões abertas esemi-abertas tiveram suas respostas analisadas por categorização das variáveis e análisequalitativa.

Dencker (1998, p. 88), explica que “nem todas as pesquisas são realizadas poramostragem. A amostragem é indicada quando a análise de alguns casos é suficientepara permitir estimativas referentes ao universo”. No presente trabalho o tipo de amostradeu-se de forma intencional, sendo explicado por Dencker (1998, p. 88) que “o uso daamostragem intencional deverá ser justificado em função da teoria e dos critérios utilizadospara a sua definição”; complementando que “a determinação do tipo de amostra queserá usada no projeto deverá ser justificada pelo pesquisador em termos de sua adequaçãoao objetivo final” (DENCKER, 1998, p. 88).

Logo, o universo trabalhado foi o tangente ao uso da língua inglesa nos meios dehospedagem, tendo sido delimitada a população dos meios de hospedagem catarinensescom a amostragem de no mínimo um meio de hospedagem de cada região do Estado,direcionando-se aos municípios de maior apelo no turismo de negócios e meios dehospedagem com relevante ocupação estrangeira, através de seleção intencional porjulgamento não probabilística. As regiões participantes foram 07: Planalto Serrano, Sul

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Catarinense, Vale do Itajaí, Alto Vale do Itajaí, Leste Catarinense, Norte Catarinense eLitoral Catarinense. Quanto à região Oeste Catarinense, 03 (três) meios de hospedagemforam contatados (inclusive pessoalmente pela orientadora do projeto), no entantonenhum destes respondeu ao formulário de pesquisa.

Os turistas estrangeiros que responderam ao formulário eram hóspedes dosmeios de hospedagem pesquisados. O formulário foi aplicado pessoalmente pelopesquisador aos colaboradores dos meios de hospedagem das regiões do Alto Vale doItajaí e Litoral Catarinense, nas demais regiões os formulários foram auto-administradospelos colaboradores dos respectivos meios de hospedagem por intermédio do envio erecebimento por e-mail.

Especificamente quanto às técnicas de observação in loco e entrevista (pessoal eauto-administrada pela Internet) com o formulário de pesquisa, utilizou-se o diário decampo como instrumento da primeira. Referente ao formulário de pesquisa neste estudoaplicaram-se 02 (dois): um preenchido pelos colaboradores e outro pelos hóspedesestrangeiros dos meios de hospedagem pré-selecionados, este último foi disponibilizadoem língua inglesa.

O formulário de pesquisa respondido pelos colaboradores dos meios dehospedagem compôs-se de 15 perguntas, das quais: 12 eram fechadas e de respostaúnica e 03 abertas. Dentre as questões fechadas, uma utilizou-se de escala de freqüência.

O formulário de pesquisa respondido pelos hóspedes estrangeiros constava de11 perguntas, dentre as quais: 06 eram fechadas e de resposta única, 03 abertas e 02semi-abertas. Dentre as questões fechadas, uma utilizou-se de escala de freqüência.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta inicial deste trabalho de pesquisa enobrece-se ao verificar-se que omesmo constitui-se como ponto de referência para outros trabalhos na área, além deindicar formas de sanar uma barreira à qualificação do serviço receptivo internacional:a não fluência em língua inglesa de cerca de 73% dos colaboradores dos meios dehospedagem no Estado de Santa Catarina.

Prova do êxito deste trabalho é tornar público que todos os objetivos inicialmentepropostos foram substancialmente alcançados. A exemplo do objetivo geral expressopor “valorar o aprendizado e fluência na língua inglesa na qualificação deprofissionais dos meios de hospedagem”, o qual tem sua conquista contextualizadacom a análise final dos gráficos dos colaboradores e hóspedes estrangeiros, apontando-se a relevância que a fluência em inglês pelos primeiros representa para bem atender os

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segundos. Ou seja, a fluência em língua universal confere “valor” à qualificação doserviço receptivo internacional no Estado de Santa Catarina.

Quanto aos objetivos específicos, explicita-se que o propósito de “levantar asprincipais dificuldades enfrentadas na comunicação entre profissionais não-fluentes emlíngua inglesa com turistas estrangeiros nos meios de hospedagem com relevanteocupação estrangeira no Estado de Santa Catarina” alcançou-se através das respostasdadas por colaboradores e hóspedes aos seguintes questionamentos: “cite as principaisdificuldades que você enfrenta ao atender os hóspedes estrangeiros que não falamportuguês e que utilizam basicamente, o inglês como meio de comunicação” e “cite asprincipais dificuldades que você enfrenta ao tentar comunicar-se em inglês com oscolaboradores do hotel que não sejam fluentes no idioma”. Respectivamente, asinformações coletadas por parte dos colaboradores foram: “falta de fluência pelocolaborador, pois o mesmo compreende o hóspede mas não consegue comunicar-se;sotaque do hóspede; hóspede fala muito rápido; vocábulos desconhecidos ousimilares a outros em pronúncia; nervosismo ao tentar comunicar-se em inglês porreceio de errar; atender a chamadas telefônicas em inglês; não compreensão do queo hóspede estrangeiro está solicitando e conseguir satisfazer este tipo de hóspede”;enquanto os hóspedes estrangeiros informaram: “não fluência do próprio hóspede eminglês; colaboradores do hotel com pouca fluência em inglês; dificuldades ao solicitarserviços internos ou externos ao hotel (hospedagem, lavanderia, transporte, informaçõesturísticas e falta de sinalização bilíngüe em algum ambiente do hotel)”. Estas informaçõessubsidiaram o desenvolvimento do modelo de curso de língua inglesa proposto por estetrabalho, direcionando o conteúdo programático do mesmo à realidade dos meios dehospedagem quanto ao atendimento a hóspedes estrangeiros.

O objetivo específico de “apresentar a verdadeira relevância determinante para asatisfação do hóspede estrangeiro na utilização dos serviços de hospedagem referentesao local de estudo quanto ao uso da língua inglesa” alcançou-se, principalmente, porintermédio dos seguintes questionamentos aos hóspedes estrangeiros: “você encontradificuldades para comunicar-se em inglês por parte dos colaboradores do(s) hotel(is)em que se hospedou devido ao idioma?”, e “você considera a fluência dos funcionáriosdo hotel em inglês: nada importante, pois conseguem se entender através da linguagemcorporal; não muito importante, pois sempre ‘dá-se um jeito’ para a compreensão;importante para a prestação de um bom atendimento; ou essencial para a prestação deum atendimento perfeito”.

Respectivamente, as respostas coletadas foram de que mais da metade (60%)dos hóspedes estrangeiros entrevistados tiveram dificuldade em comunicarem-se eminglês com os colaboradores dos meios de hospedagem. Esta mesma parcela informou

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que esta dificuldade gerou-se devido aos colaboradores não falarem ou entendereminglês (40%) ou mesmo por apresentarem um nível insatisfatório de fluência no idioma(20%). Somando, portanto, 60% de hóspedes estrangeiros que percebem dificuldadena comunicação devido à baixa ou nenhuma fluência em língua inglesa por parte doscolaboradores dos meios de hospedagem participantes da pesquisa. Ainda, comunanimidade, todos os hóspedes estrangeiros entrevistados relevaram a fluência emlíngua inglesa por parte dos colaboradores ao prestarem-lhes os serviços nos meios dehospedagem, pois 80% consideraram a fluência no idioma essencial para um atendimentoperfeito e 20% a consideraram importante para bem atendê-los. Comprovando-se arelevância que a fluência em língua inglesa confere à qualificação da oferta do serviçoreceptivo internacional nos meios de hospedagem do Estado de Santa Catarina; poisa não fluência na mesma traduz-se em barreiras na comunicação entre colaboradorese hóspedes estrangeiros, às quais estes últimos demonstraram-se extremamente sensíveis.

Quanto ao objetivo específico de “propor um modelo de curso de capacitaçãoem língua inglesa para os profissionais dos meios de hospedagem”, o pesquisador,utilizando-se de sua experiência de 05 anos como docente da atual língua universal emescolas de idiomas, munido de informações específicas coletadas através de observaçõesin loco em meios de hospedagem e aplicação do formulário de pesquisa, desenvolveuuma apostila para um curso de língua inglesa direcionado aos colaboradores dos meiosde hospedagem que tenham pouca ou nenhuma base cognitiva no idioma no intuito deauxiliá-los no atendimento a hóspedes estrangeiros que não falem português, mas queutilizem a língua inglesa para comunicarem-se.

Por fim, independente da proeminência teórico-prática deste trabalho de pesquisaque possa ser verificada pelos seus leitores (pesquisadores, docentes e discentes doturismo e hotelaria), a abordagem do mesmo não pretende esgotar a discussão acerca dotema proposto, mas contribuir diante da visível necessidade de desenvolver materialteórico quanto a uma temática ainda tão incipiente. Daí a relevância deste trabalho, o qualnobremente propõe um passo inicial rumo a uma capacitação e profissionalização maisefetiva dos colaboradores dos meios de hospedagem deste do Estado de Santa Catarina,através dos benefícios gerados pelo domínio da língua universal: a língua inglesa.

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PARA UM CONCEITO DE UNIVERSIDADE1

Estela Pamplona Cunha2

Niladir Butzke3

Desde o século XIX a universidade pretende ser o lugar por excelência daprodução do conhecimento científico.

A educação superior não escapa a realidade pública e política. Desde o séculoXIII, época da criação das primeiras universidades ocidentais, o poder constituído, laicoe religioso, e a própria sociedade, têm consciência de sua importância.

O objeto do presente trabalho pretende fazer uma investigação, ainda que semgrande profundidade, a respeito da universidade, em especial de um novo modelo deuniversidade que cada vez mais vem conquistando espaço na seara do ensino superiorbrasileiro: as universidades comunitárias.

Universidades estas, cuja maior luta entre tantas, tem sido a de firmar seu papel eprincipalmente provar que são estruturadas por pessoas que pensam, pesquisam,ensinam e agem para ampliar as condições de validação de um padrão de respeito

Este texto, se apresenta com um cunho muito mais informativo, partindo da óticados autores escolhidos para embasar o conteúdo, do que um espaço de discussãopropriamente dito.

Cientes de que a atividade de investigação pode colidir com vários problemas,entre eles, a escassez de referências, a instigação a respeito do que se entende por umauniversidade comunitária, enquanto uma iniciativa pública não-estatal e quais suasprincipais características surgiu a partir da constatação de que esta é a realidade na qualnos encontramos inseridos na Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale doItajaí. Assim, a curiosidade por compreender melhor a própria realidade de inserçãolevou ao desenvolvimento da pesquisa que resulta neste trabalho de curso.

Desta forma, será necessário fazer uma breve incursão na história da universidade,que identifique e delimite, ainda que de modo sumário, alguns momentos cruciais doprocesso de adoção de modelos pela universidade brasileira.

1 O presente texto apresenta-se na forma de resenha e não de artigo científico. Tal resenha baseia-se no primeiro capítulo dotrabalho de curso da acadêmica que assina a autoria, trabalho este, que abordou a questão da dimensão pública não-estataldas universidades comunitárias e cujo primeiro capítulo teve por objeto um estudo do conceito de universidade.

2 Acadêmica da décima fase do curso de Direito da Unidavi; aluna pesquisadora do Grupo de Pesquisa Filosofia da Mente eCiências Cognitivas (CNPq); desenvolveu durante o ano de 2007 o projeto de pesquisa intitulado “Universidades Comunitárias:o marco jurídico de um novo modelo de universidade”, pelo programa de bolsas de pesquisa financiado pelo Artigo 170.

3 Pró-reitora de ensino da Unidavi; professora universitária no curso de Direito da mesma instituição; advogada; orientadorado projeto de pesquisa intitulado “Universidades Comunitárias: o marco jurídico de um novo modelo de universidade”.

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Ao iniciar a redação de um trabalho, após definidos o objeto da pesquisa, o temae a metodologia, não raramente logo nos deparamos com uma gama considerável depalavras para as quais é necessário estabelecer conceitos, especialmente, no intuito deevitar que o texto venha a ser compreendido de forma diversa da que o autor se propõeao escrever.

Percebeu-se então, antes de discorrer sobre a evolução do ensino superiorbrasileiro e especificamente sobre a proposta das universidades comunitárias, que foranecessário buscar algumas considerações acerca do que se pretende entender comouniversidade, instituição universitária ou então instituição de ensino superior.

No entanto, não se objetiva aqui estabelecer um conceito rígido, imutável, até porque, isto já ultrapassaria em muito o escopo principal do presente trabalho. Em contrapartida,entende-se não ser possível concordar com as palavras de G. Gusdorf, quando este diz que“a quase totalidade dos estudantes, professores, administradores e políticos, são incapazesde dar uma definição precisa da Universidade [...]” (PAVIANI; POZENATO, 1984)

E assim sendo, a dificuldade de elaboração de um conceito não deve nos levar aoabandono da questão.

Ao iniciar uma discussão acerca das universidades, não se pode olvidar daAcademia, de Platão, e do Liceu, criado por Aristóteles. Ambas as instituições podem serconsideradas precursoras das instituições que mais tarde acabariam por tornarem-seuniversidades.

Rapidamente, comenta-se que a Academia de Platão (Academia Platônica,Academia de Atenas ou Academia Antiga) é nome da escola fundada por Platão,aproximadamente em 387 a.C., nos jardins localizados no subúrbio de Atenas,consagrados ao herói Academos. Caracterizou-se inicialmente, pela continuidade dostrabalhos desenvolvidos pelos pitagóricos, com os quais Platão mantinha estreita relação,particularmente com seu mestre Teodoro de Cirene e Arquitas de Tarento. Nela ingressouAristóteles com 17 anos de idade. Mulheres eram admitidas na Academia, mas tinhamque vestir-se como homens.4

O Liceu, foi criado por Aristóteles em 335 a.C. nos moldes da Academia, tambémem Atenas, mas ao contrário daquela, interessada apenas pela Matemática, o Liceuvoltava-se à pesquisa das Ciências Naturais.5 6

4 WIKIPÈDIA, 2008. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_de_Plat%C3%A3o>5 WIKIPÈDIA, 2008. Disponível em:<http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1370.html>6 Para uma idéia de “ciências naturais”, lemos no Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano: “[...] Comte distinguiria duas

espécies de ciências naturais: as ciências abstratas ou gerais, que regem as diferentes classes de fenômenos, e as ciências

concretas, particulares, descritivas, que consistem na aplicação dessas leis à história efetiva dos diferentes seres existentes.”(ABBAGNANO, 2003).

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Nos séculos XII e XIII, com o surgimento das primeiras Universidades da Europa,Salerno (1.150), Bolonha (1.158) e Paris (1.220), não houve a preocupação deconceituar a Universidade. O espírito da Universidade nascente só poderia serpesquisado nos decretos dos reis e nas bulas papais que regulavam a sua criação.(PAVIANI; POZENATO, 1984, p. 13)

Da obra “O conceito de Universidade”, de Kenneth Minogue, (1977, p. 15-16), abstrai-se:

No século XII, um conjunto de esforços intelectuais – editando, coletando,sistematizando – culminou com o estabelecimento do studia generalia porgrupos de estudiosos. Eram locais de aprendizagem que, em virtude da famade seus professores, puderam atrair estudantes de toda Cristandade: foiprecisamente este significado universal que tomou tal studia também generalia.Os dois centros que se tornaram modelos para as fundações posteriores, pormérito de sua considerável distinção, foram Paris e Bolonha; mas a eles sesucederam, rapidamente, muitos outros centros, de maneira que uma rede deinstituições se espalhou em breve pela Europa, desde a Espanha, de um lado,até a Polônia e Boêmia, de outro. Os professores em Paris e os estudantes emBolonha acharam vantajoso se agrupar numa corporação legal, econseqüentemente adotaram o termo universitas; um termo que podia serusado por qualquer espécie de associação legal, por volta do fim da IdadeMédia, ele já estava começando a ser restrito ao que denominamos agorauniversidades.

E continua:

Ainda não se explicou com exatidão as causas que deram origem à Universidadena Idade Média. Apenas sabemos que ela surgiu de um processo longo ecomplexo que teve origem na civilização greco-romana com o aparecimentodas primeiras escolas. Entretanto, estas escolas não representavam ainda umserviço autônomo e organizado e nem eram uma corporação de mestres ealunos como nos séculos XII e XIII. O sentido da expressão medieval“universitas” é de “collegium”, “corpus”, “societas”, isto é, corporação demestres e alunos com o objetivo de defender interesses comuns em relaçãoaos estudos. (MINOGUE, 1977, p. 16)

Com isso, pode-se entender que as universidades foram produtos da atmosferasocioeconômica e cultural da sociedade européia ocidental urbana desses períodos,

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e por isso mesmo destinada especialmente à formação dos filhos da elite.7 Contudo,apesar de ajudar a entender sobre a razão de sua criação e por isso ser informaçãoimportante, esta não resolve o problema da conceituação.

Segundo Paviani e Pozenato (1984):

A reflexão sistemática sobre a Universidade começa a partir do século XIX coma criação da Universidade de Berlim e da Universidade Católica da Irlanda.Desde então surgem diversos autores que merecem destaque: Kant, Fichte,Humboldt, Schelling, Rashdall, Nietzche, Newman. E especialmente no séculoXX destacam-se: Max Scheler, Whitehead, Ortega y Gasset, Jaspers, Catureli,Gusdorf, Darci Ribeiro, Anísio Teixeira [...]

Continuam os autores:

A universidade atual, conserva algumas características da tradição e, ao mesmotempo, possui características peculiares. Isto se deve às novas exigências históricas,tanto por parte da sociedade, como da renovação do pensamento filosófico ecientífico. A ciência moderna conhece novos procedimentos metodológicos,novas necessidades sociais a serem atendidas, novas tecnologias a serem criadas.Assim, a primeira característica da universidade atual é sua adaptação à revoluçãodo conhecimento científico. Ao lado das antigas funções, tem a tarefa deacompanhar e acrescentar um novo saber experimental e tecnológico. Assumenovos compromissos com a ciência e a tecnologia. (Id.)

Nesse ínterim, percebe-se que a universidade não subsiste sem passar porprofundas mudanças, essas decorrentes de influências nas suas funções e atividades,nas suas relações internas e externas, e inclusive, no seu financiamento.

A esta altura, a busca por um conceito de universidade nos faz perceber que seencontra mais facilmente escritos sobre as suas funções e não uma definição propriamentedita. Seguindo esse raciocínio, encontra-se na leitura de Sousa Santos (1999),mencionando os estudos de Ortega y Gasset, que a função da universidade não vai alémda transmissão da cultura, ensino de profissões, investigação científica e educação denovos homens de ciência.

7 As universidades foram produto (sic) do instinto pela associação, como a posicionou Rashdall, “que se esprai como umagrande onda sobre as cidades da Europa, no decorrer dos séculos XI e XII. E por muitos séculos, até que a soberania políticacomeçasse a enfraquecer sua independência, exerceram ao máximo a liberdade de associação do feudalismo. (MINOGUE,1977, p. 16)

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A respeito do dito ensino de profissões e da investigação científica, é interessanteo que nos diz mais uma vez Sousa Santos:

Se é verdade que o objetivo da formação profissional, apesar de toda atençãoque tem merecido desde a década de sessenta, não conseguiu eliminar o objectivo(sic) educacional geral da universidade, não é menos verdade que este, apesarde inerente à idéia de universidade, não conseguiu nunca suplantar o objectivoprimordial da investigação. Aliás, a investigação foi sempre considerada ofundamento e a justificação da educação de “nível superior” e a “atmosfera dainvestigação”, o contexto ideal para o florescimento dos valores morais essenciaisà formação do carácter (sic). (SANTOS, 1999, p. 199)

Estas e talvez outras funções da universidade não são estranhas mesmo ao ditosenso comum, claro que, sempre com diferença substancial na forma de sua expressão,e por isso mesmo, entende-se que ainda persiste a necessidade de delinear algunspontos que permitam conceituar mais concretamente o que podemos entender poruniversidade.

Nesse ínterim, novamente Paviani e Pozenato vêm contribuir:

Uma característica primordial da Universidade é seu caráter de instituição, nosentido jurídico e social deste termo. Busca sua institucionalização ou constituiçãoem torno de uma série de elementos: leis, decretos, estatutos, prédios, laboratórios,em perfeita harmonia. Como fenômeno cultural vive uma constante tensão entreas forças da tradição e do futuro. De um lado, tende a uniformizar-se, a conservar-se, e de outro lado, tende a mudar sua estrutura e funcionamento para realizaros fins e as funções exigidos pela sociedade de cada época. Outra característicada Universidade é a sua constituição em comunidade de mestres, alunos efuncionários, todos sujeitos de direitos e deveres. Aliás, a convivência universitária,o espírito universitário, o intercâmbio de experiência e conhecimentos entre aspessoas, é tão importante quanto as atividades docentes e de pesquisa, tãodecisivo para a formação dos indivíduos quanto as bibliotecas e os laboratórios.(PAVIAVI; POZENATO, 1984, p. 14-15)

Assim, pela conjuntura apresentada até o presente momento, à pergunta inicialreferente ao conceito de universidade, percebe-se que a mesma não permite serrespondida de modo geral ou mesmo, abstrato, fora de um contexto em que surgiu ouse desenvolveu este instituto. Logo, de forma resumida, nos é permitido então, chegar àseguinte consideração a fim de concluir este primeiro tópico do trabalho: as universidadesapresentam uma série de características próprias, que podem ser compreendidas como:

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a) instituição jurídica, regulada por lei, compreendendo um corpo de mestres, alunos efuncionários, sujeitos de obrigações e direitos; b) oferecimento de conjunto de disciplinasordenadas segundo critérios pré-estabelecidos; c) formação profissional; d) desenvolvimentodas ciências e das humanidades, através do ensino e da investigação científica; e) grausacadêmicos conferidos aos alunos no fim dos estudos. (PAVIANI; POZENATO, 1984, p. 16)

1 HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

No Brasil, a universidade é um instituo social recente, só instalado oficialmentequando sua presença se fez necessária. Nada tem em comum com os similaresestrangeiros, cuja fundação se conta por séculos. (PINTO, 1986, p. 17)

Falar sobre a história da universidade no Brasil se faz tão necessário quanto ainvestigação acerca do seu conceito.

Para facilitar o estudo e a compreensão, entende-se por bem fazer a divisão dahistória das universidades no Brasil dividindo-se a mesma inicialmente em três períodos:colonial, imperial e republicano.

No período colonial, diferentemente do que ocorreu nas colônias espanholas,não se criou universidades no Brasil, bastando dizer que no Colégio da Bahia, organizadoe mantido pelos jesuítas, ensinava-se os clássicos, as artes, a filosofia, a teologia e outrasciências, deixando claro o objetivo fundamentalmente eclesiástico, e que por isso nãopode ser considerada um instituição universitária nos moldes das que vinham sendoinstituídas nas colônias espanholas. (PAVIANI; POZENATO, op. cit., p. 64)

Aí se conferiam também graus de Bacharel, Licenciado e Mestre em Artes, massem equiparação universitária. Sobretudo, a formação dada no Colégio da Bahiavisava a preparação filosófica e doutrinária dos futuros missionários, dentro demoldes que podiam ser situados “exatamente ao nível dos colégios de Teologiamedievais que conhecemos pelo nome de universidades”. (PAVIANI; POZENATO,1984 apud MARTINS, 1977, p. 64)

De qualquer forma, o importante sobre o período colonial é saber que foram noscolégios Jesuítas que se manteve e difundiu-se a cultura intelectual, funcionando osmesmos como substitutivos do papel da Universidade. Não é difícil entender que a lutacontra essa cultura, que a partir do século XVIII passou a ser considerada ultrapassadae anacronicizante, tenha se tornado em luta contra os próprios jesuítas. 8

8 Ibid. p. 65.

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Ainda, sobre o período colonial, em relação às tentativas de criação dauniversidade no país, asseveram os mesmos autores:

No final do século XVIII, no bojo da Inconfidência Mineira, ressurge o projeto dese criar a Universidade, agora em Vila Rica. É sintomático que a idéia de implantara Universidade venha junto com a idéia de independência, e que ambas tenhamsido juntamente sufocadas. Enquanto isso, o Governo de Portugal limitava-se aimplantar Aulas Régias, que funcionavam como escolas isoladas para o ensino defilosofia, do latim, da retórica e da poética, ou seja, das Humanidades. Um fatoimportante foi a fundação, em 1771, da Academia Científica do Rio de Janeiro,dedicada aos estudos de física, química, história natural, medicina, cirurgia,farmacologia e agricultura. Essa linha de estudos correspondia às preocupaçõescientíficas do tempo, contrárias ao ensino escolástico tradicional. Eram as mesmasidéias que haviam levado à reforma da Universidade de Coimbra e à criação daAcademia de Ciências de Lisboa, pelo Marquês de Pombal, fatos que se refletiriamno Brasil. (PAVIANI; POZENATO, ibid., p. 65)

Infelizmente, em 1790 a Academia Científica do Rio de Janeiro não mais existia,apesar dos relevantes trabalhos realizados. Contudo, a vinda de D. João para o Brasil, em1808, reavivou a idéia da criação da universidade no Brasil.

A respeito, Wilson Martins (1977 citado por Paviani e Pozenato,1984, p. 65),comenta:

A criação da universidade fazia parte do pensamento oficial de D. João VI.Consta mesmo que o rei convidara José Bonifácio para reitor, quando de seuregresso ao Brasil em 1819. Os respectivos planos tinham sido elaborados porGarção Stockler, a convite do Conde da Barca, e previam certo número deestabelecimentos literários e científicos, interligados entre si e dependentes unsdos outros. (PAVIANI; POZENATO, 1984, P. 65 apud MARTINS, 1977)

Por fim, restou frustrada mais uma tentativa de instauração da universidade nopaís. O que se sabe é que Dom João acabou por criar apenas alguns cursos profissionais,sem interligação uns com os outros, no Rio de Janeiro e na Bahia.

As razões que levaram à não instituição de uma universidade no Brasil,habitualmente são tidas como a falta de pretensão de enraizamento com que osportugueses aqui aportaram. Desde sempre, soubesse que a Terra dos papagaios eratida como uma colônia de extração e não de povoamento.

E desta idéia não destoam Paviani e Pozenato:

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Na realidade, o verdadeiro motivo poderia estar na política de dependênciaeconômica, inicialmente comercial e depois industrial, com que Portugaladministrava a sua colônia. Para assegurar a dependência econômica, erafundamental dependência política. E para a manutenção desta última erafundamental a dependência da inteligência e da cultura. É possível que D. JoãoVI, enquanto mantinha a intenção de permanecer no Brasil, quisesse aUniversidade. Projeto que é abandonado assim que se reabre a perspectiva deretorno a Portugal. (Ibid. p. 66)

Estas, são hipóteses que devem ser consideradas, inclusive como ponto de partidapara a reflexão sobre o papel da Universidade na realidade brasileira.

No ano de 1823, por ocasião dos debates para elaboração da Constituição,reacende-se a idéia da criação de universidades, projeto que passaria a constar doartigo 179 da Carta Magna. É a realidade que começa a se destacar no período imperial.

Alguns anos mais tarde, no lugar das duas Universidades premeditadas, uma noNorte e outra no Sul, são criadas as Faculdades de Direito9 de São Paulo e doRecife. É uma sensível diminuição do ideal primitivo. Deve-se reconhecer contudoque essas duas faculdades, pelas efervescência de idéias – filosóficas, científicase políticas – que tiveram, funcionaram como verdadeiros pólos da elaboraçãode uma cultura nacional, com reflexos muito evidentes na posterior História danação. Tarefa sem dúvida prejudicada por falta de desenvolvimento integrado deoutras disciplinas, o que só seria possível numa instituição voltada para auniversalidade do saber, ou seja, a universidade. (id.)

Sem a pertinácia necessária para se caracterizar como universidade, o que sesabe é que seguiu-se no Brasil o modelo francês, de criar escolas profissionais autônomas,para a formação de profissionais liberais, como médicos, engenheiros e advogados. Esegundo Paviani e Pozenato (1984), esse modelo correspondia às necessidades daordem social vigente, no sentido de reforçá-la.

No período imperial, nada menos que doze projetos de criação de universidadesforam encaminhados e esquecidos. E em todos estes projetos, pode-se dizer que seobserva a mesma característica, segundo Paviani e Pozenato (1984): a Universidade éentendida apenas como um agrupamento de faculdades.

9 A documentação sobre a criação dos cursos jurídicos, inclusive os debates na Assembléia Constituinte de 1823, foi reunidapor Aurélio Bastos, em Criação dos cursos jurídicos no Brasil. Brasília, Câmara dos Deputados, Centro de Documentaçãoe Informação, 1977.

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E é este pensar que leva o governo a continuar criando apenas escolasprofissionais isoladas.10

Dando continuação à linha do tempo, chega-se ao período republicano11, eacerca do mesmo, o excerto de Paviani e Pozenato é o seguinte:

Os homens que fizeram a república não tinham idéias mais claras que os doimpério sobre o que é Universidade. A situação se torna ainda mais grave com opredomínio da ideologia positivista, contrária à criação de Universidades, porverem nelas um retrocesso ao medievalismo. Firma-se ainda mais a mentalidadepragmatista de cursos exclusivamente profissionais. (Ibid. 67.)

O primeiro projeto de universidade depois da proclamação da República,apresentado à Câmara dos Deputados em 1903 por Gastão da Cunha, citava no parágrafoprimeiro do artigo quarto como função da mesma “ministrar a instrução secundária esuperior por intermédio de suas Faculdades, tendo em mira dar ao ensino um cunhoeminentemente prático e profissional.” (PAVIANI; POZENATO, Ibid., p. 67)

Segundo Paviani e Pozenato (1984, p. 67-68):

Em 1920, finalmente, foi criada a Universidade do Rio de Janeiro12. Tivemosentão a instituição, mas não propriamente a Universidade. A mentalidade comque foi criada continuava a mesma. A instituição agora denominada Universidade,assumia a tradição do ensino superior no Brasil. Não tinha tradição universitáriaa assumir e não houve a preocupação de definir-se previamente um modelo deuma verdadeira Universidade.

Continuam os autores:

Depois de 1930, a grande maioria das Universidades hoje existentes foi criadapelo mesmo diapasão, isto é: pelo agrupamento de faculdades profissionais,sem um centro integrador e sem preocupação com as ciências fundamentais e ainvestigação. Apenas três – a Universidade de São Paulo (1834), a Universidadedo Distrito Federal (1935) e a Universidade Nacional de Brasília (1961) –

10 Ilustrativo a este respeito, é “A Universidade“, um dos mais antigos estudos sobre Universidade, publicado em 1882, porR. Teixeira Mendes, um dos chefes do positivismo brasileiro, toda orientada contra a Universidade, especificamente contraa Imperial Universidade Pedro II, projeto de criação de D. Pedro II.

11 A título de curiosidade, comenta-se que o período que vai da proclamação da República, em 1889, até a revolução de 1930,é chamado, comumente, de república velha, de primeira república ou de república oligárquica.

12 Neste mesmo período, especificamente no ano de 1927, se tem também a Universidade de Minas Gerais, que juntamente coma do Rio de Janeiro, foi a única que persistiu. (CUNHA, 1980, p. 133-134)

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nasceram de uma idéia adequada de Universidade. (PAVIANI; POZENATO,1984, p. 68)

A propósito, ao falar-se sobre a Universidade de São Paulo, do Distrito Federal eda Universidade Nacional de Brasília, não se pode deixar de falar também, ainda que demodo sucinto, sobre seus idealizadores, respectivamente, Fernando de Azevedo13, AnísioTeixeira14 e Darcy Ribeiro.15

Esses três educadores, compreendidos como verdadeiros clássicos, através desuas propostas marcaram o projeto educativo de educação superior no Brasil, por querepresentaram um momento importante da educação brasileira, consagrado pelo períododa Escola Nova. 16

Acerca do que foi comentado, Síveres (2006, p. 21), acrescenta:

Outro aspecto a se considerado é que a proposta desses teóricos foi implementadanas três experiências anunciadas, que estão contextualizadas, historicamente,no período que vai da Segunda República (1930), até o momento mais árduodo Regime Militar (1968). A retomada desses clássicos e das iniciativas utópicas,sem desmerecer outras experiências, é para indicar que foi possível “filosofarem brasileiro”, que foi plausível inaugurar uma universidade com base emprincípios político-filosóficos, e que foi viável instaurar um projeto marcadopelo compromisso com a sociedade.

Apesar dos desvios que as três sofreram com relação à sua concepção inicial,pelas leituras e estudos chega-se à conclusão de que foram estas que realmente iniciaramuma tradição universitária no Brasil e permitiram que a Reforma Universitária de 1968,

13 Fernando de Azevedo nasceu em São Gonçalo do Sapucaí – MG, em 2 de abril de 1894. Na sua vida profissional exerceu,dentre outros, o papel de Diretor geral da Instrução Pública do Distrito Federal, Secretário da Educação e Saúde do Estadode São Paulo, Diretor do Centro regional de Pesquisas Educacionais, Membro da Academia Paulista de Letras. Teve umaprodução literária significativa. Após seu exercício prolongado como professor, educador, crítico, ensaísta, sociólogo,faleceu em São Paulo – SP, em 18 de setembro de 1974. (SÍVERES, 2006, p. 31)

14 Anísio Teixeira nasceu em Caitité – BA, em 12 de julho de 1900. Durante sua vida se dedicou, de modo especial, à educação,podendo-se destacar algumas funções que exerceu: Inspetor Geral de Ensino do Estado da Bahia, Diretor Geral doDepartamento de Educação do Distrito Federal, fundador da Universidade do Distrito Federal, conselheiro da Organizaçãodas Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO), Secretário Geral da Comissão de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (CAPES), Diretor Geral do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), membro do ConselhoFederal de Educação, idealizador e reitor da Universidade de Brasília, consultor em educação na Fundação Getúlio Vargase da Editora Nacional. (SÍVERES, 2006, p. 46)

15 Darcy Ribeiro nasceu em 26 de outubro de 1922, em Montes Claros, MG. Formou-se em Ciências Sociais na Escola deSociologia Política de São Paulo, em 1946. Dentre as diversas funções que exerceu, vale a pena destacar: fundador do Museudo índio no Rio de Janeiro, assessor da Organização Internacional do Trabalho, Chefe da Casa Civil e Ministro da Educaçãoe Cultura, reitor da Universidade de Brasília, Vice-governador do Rio de Janeiro, Senador da República. (Ibid., p. 66)

16 Ibid., p. 21

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sobre a qual se falará adiante, propusesse enfim um modelo não comprometido apenascom o ensino profissionalizante. (PAVIANI; POZENATO, op.cit., p. 68).

2 A EVOLUÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DO ENSINO SUPERIOR DOBRASIL

Esquematicamente, examinaram-se alguns momentos decisivos da história daUniversidade do Brasil: o período colonial (1500 – 1822), o período imperial (1822 –1889), o primeiro período republicano (1889 – 1930) e o segundo período republicano(1930 – 1968). O ano de 1968, pelas profundas mudanças acontecidas em todos osplanos da vida nacional, inclusive na Universidade, pode talvez ser já indicado comoinício de um terceiro período republicado, no qual ocorre a “reforma universitária”,que será objeto de estudo no tópico seguinte. (Ibid., p. 64)

Neste momento, são oportunas as palavras de Sousa Santos (1999, p. 187),quando diz que “Um pouco por todo lado a universidade confronta-se com uma situaçãocomplexa: são-lhe feitas exigências cada vez maiores por parte da sociedade ao mesmotempo que se tornam cada vez mais restritivas as políticas de financiamento das suasatividades por parte do Estado.”

Paviani e Pozenato (1984, p. 14), autores já citados neste primeiro capítulo,comentam que, a universidade, vista como um produto cultural pode ser caracterizadae examinada em três momentos. Sem dúvida, a Universidade atual sofre influências dopassado e do futuro, pois todo presente se encontra determinado por estas duasdimensões.

A universidade atual intensificou sua função de preparação de profissionais dosmais diversos campos da atividade humana. Diante da expansão e da massificação doensino, procura enfrentar as necessidades do mercado e adaptar-se às novas carreirasprofissionais cuja escolha, muitas vezes, depende mais do dinheiro e do prestígio socialque elas oferecem do que propriamente das verdadeiras inclinações do homem e dastendências sociais. (Ibid., p. 17)

3 A REFORMA UNIVERSITÁRIA

Tendo feito uma digressão histórica a respeito do surgimento e do desenvolvimentodo ensino universitário brasileiro, indubitavelmente não pode-se olvidar da chamadaReforma Universitária, que viria a se tornar um grande marco para o ensino superiorbrasileiro.

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Inicialmente, e pela primeira vez no presente trabalho, interessante mencionarque o texto da Lei 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, dispõe sobre o ensino escolar noBrasil, e dali extrai-se de seu artigo primeiro o que se deve entender por educaçãoquando a palavra for utilizada no contexto brasileiro: “A educação abrange os processosformativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações dasociedade civil e nas manifestações culturais.”.

Mais uma vez, faz-se uso das palavras de Paviani e Pozenato (1984, p. 73), paraintroduzir o assunto:

O principal motivo que levou à Reforma Universitária brasileira foi a tomada deconsciência de que não havia Universidade no país e sim apenas instituições deensino superior, agências de formação de profissionais liberais. A atividade deformação profissional que deveria ser decorrência da atividade universitárias,era na realidade sua meta exclusiva. Em consequ6encia, a Universidade brasileiranão era um centro de ciência e de cultura e também não correspondia àsfunções que deveria exercer na sociedade.

Essa tomada de consciência iniciou com a Reforma Francisco Campos, em 1931,mas só se generalizou com os debates que cercaram a criação da Universidade deBrasília, em 1961. Professores, estudantes, autoridades universitárias e governamentaismantiveram, no início dos anos sessenta uma aceso debate sobre as mudanças quedeveriam ser feitas na Universidade brasileira. (Id.)

Ademais, pode-se dizer que:

Um motivo mais imediato, e de maior força, foi a nova situação criada no paíscom o surto desenvolvimentista deflagrado pelo Governo Juscelino Kubitschek.O desenvolvimento mostrou a necessidade de uma diversificação maior dehabilitações profissionais, além das tradicionais profissões liberais; passou aexigir a participação da Universidade na elaboração de novos conhecimentoscientíficos e tecnológicos; e, sobretudo, provocou um crescimento explosivo dademanda pela formação universitária, até então buscada somente pelas elitessociais. (PAVIANI; POZENATO, 1984, p. 74)

Diante de todas essas novas exigências, constatou-se que a Universidade brasileirase encontrava despreparada, obsoleta, elitista, bacharelesca, em suma, afastada da missãocultural e científica que dela passava agora a esperar a sociedade. (Ibid., p. 74.)

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Nesse ínterim, os autores já em comento neste item do trabalho, escrevem que, “a2 de julho de 1968, o Decreto nº 62.937 instituía um Grupo de Trabalho para “estudara Reforma da Universidade brasileira, visando a sua eficiência, modernização, flexibilidadeadministrativa e formação de recursos humanos de alto nível para o desenvolvimento dopaís.” (Id.) 17

É válido dizer que com base nos estudos desse grupo foi elaborada a legislaçãobásica sobre ensino superior.

A esse respeito, nas palavras de Fávero (2006 citando Fernandes 1974, p. 4-5):

Apesar dos limites que o Grupo de Trabalho atribui às suas funções, FlorestanFernandes observa que o Relatório: “... contém, de longe, o melhor diagnósticoque o Governo já tentou, tanto dos problemas estruturais com que se defronta oensino superior, quanto das soluções que eles exigem. Se a questão fosse deavanço ‘abstrato’ e ‘teórico’ ou verbal, os que participam dos movimentos pelareforma universitária poderiam estar contentes e ensarilhar suas armas. Entretanto,o avanço “abstrato” e “teórico” esgota-se [...] como se ele fosse uma verbalizaçãode circuito fechado.”.

O grupo de trabalho teve o reduzido prazo de trinta dias para concluir os estudose projetos. E já a 28 de novembro do mesmo ano era promulgada a Lei 5.540, conhecidacomo a Lei da Reforma Universitárias, que seria posteriormente complementada atravésde decretos e decretos-lei. (PAVIANI; POZENATO, 1984, P. 74)

Paviani e Pozenato, (1984, p. 74-75), trazem como pontos orientadores dareforma universitária os seguintes pontos: a) modernização administrativa; b) renovaçãodo conceito de ensino superior; c) integração da Universidade com o desenvolvimentoda sociedade e d) redefinição do papel do Estado com relação à Universidade.

Fávero (2006), também faz suas considerações:

Entre as medidas propostas pela Reforma, com o intuito de aumentar a eficiênciae a produtividade da universidade, sobressaem: o sistema departamental, ovestibular unificado, o ciclo básico, o sistema de créditos e a matrícula pordisciplina, bem como a carreira do magistério e a pós-graduação. Apesar de tersido bastante enfatizado que o “sistema departamental constitui a base daorganização universitária”, não seria exagero observar que, entendido odepartamento como unidade de ensino e pesquisa, a implantação dessa estrutura,até certo ponto, teve apenas caráter nominal. Por sua vez, embora a cátedratenha sido legalmente extinta, em muitos casos foi apenas reduzida sua autonomia.

17 A parte do texto que encontra-se entre aspas, corresponde a íntegra do primeiro artigo do Decreto mencionado.

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A departamentalização encontra resistências desde o início da implantação daReforma Universitária. Passadas mais de três décadas, observa-se ser odepartamento, freqüentemente, um espaço de alocação burocrático-administrativa de professores, tornando-se, em alguns casos, elemento limitadore até inibidor de um trabalho de produção de conhecimento coletivo. Com a Leinº 9.394/96, o departamento não constitui mais exigência legal.

Expostos os porquês da reforma universitária, necessária se faz uma apreciação.Dentre os pontos positivos, além da modernização administrativa, evidentementemeritória, podem ser destacados, segundo Paviani e Pozenato:

- A nova caracterização do ensino superior, não já exclusivamente prático-profissional, mas aberto à ciência e à cultura universais: nesse sentido, semdúvida a medida mas positiva foi a criação do primeiro ciclo de estudos gerais ebásicos, precedendo um segundo ciclo de formação técnico-profissional. Elasignifica trazer aos cursos de graduação o espírito universitário autêntico, que serealiza na abertura a todos os campos do saber, na preocupação contínua como rigor científico e na busca da fundamentação dos conhecimentos.- A vinculação do ensino à pesquisa, como sua fonte natural de aprofundamentoe atualização.- A criação do regime de tempo integral e dedicação exclusiva para o professor:“Enquanto não se extinguir essa anomalia, do professor que se ocupa do ensinosuperior “por bico” ou “por distração”, não se poderá esperar melhoria,diferenciação e expansão do ensino, intensificação da pesquisa ou criação deuma autêntica mentalidade universitária de padrão científico.- A norma da obrigatoriedade da representação estudantil nos órgãos colegiadosda Universidade, que inexistia, e a introdução da monitoria comoencaminhamento do estudante para uma futura carreira de docência universitária.(PAVIANI; POZENATO, 1984, p. 77)

Dentre os aspectos negativos, ou ao menos não adequadamente resolvidos,enumeram-se:

- A não superação do conceito tradicional de Universidade como instituição deensino, o que se reflete ainda hoje na linguagem “oficial”, que designainvariavelmente a universidade como “Instituição de Ensino Superior – IES”, eaté mesmo de “Escola de 3º Grau”. De fato, embora os acenos feitos para apesquisa e a extensão, toda a legislação da reforma está nitidamente orientadapara resolver apenas os problemas do ensino superior.- A falta de valorização da pesquisa como fonte de criação de conhecimentos

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científicos e tecnológicos: a vinculação da pesquisa ao ensino, se revitaliza este,não garante o desenvolvimento criativo daquela. A conseqüência é que a pesquisacientifica e tecnológica passa, ou continua, a ser feita fora das universidades.-a restrição excessiva à autonomia universitária, que se manifesta numa série deaspectos, mas principalmente nos procedimentos didáticos. (Id.)

Tendo apresentado alguns aspectos positivos e negativos atinentes a reformauniversitária, é de bom alvitre ainda se dizer que a implantação da reforma não tem sedesenvolvido a contento nas Universidades brasileiras. (Ibid. p. 78)

Ela enfrente problemas cruciais em relação ao primeiro ciclo, ao sistema curricularflexível, à coordenação dos cursos, ao sistema de departamentalização, ao concursovestibular, à administração acadêmica, à organização da pesquisa, e outros. O maiorobstáculo a que se resolvam esses problemas é a falta de tradição universitária. Ou melhor,o obstáculo é a existência de uma tradição que só dá valor ao ensino prático-profissionale que tende a privilegiar as profissões liberais como instrumentos de ascensão social. (Id.)

Conforme as palavras de Germano, (1994, p. 156):

Enfim, a política educacional no âmbito do ensino superior foi formulada no augedo Regime Militar com o firme propósito de conter as mobilizações estudantis e ospossíveis focos de resistência ao movimento de 1964 existentes nas universidades.A reforma universitária de 1968, principal fruto de tal política, tinha claros objetivosde restauração da ordem, mas também contemplava elementos de renovação. Aatuação do Estado se caracterizava pelo emprego desmedido da repressão políticamas, igualmente, da assimilação (desfigurada) de princípios avançados que haviamsido colocados por segmentos e experiências universitárias de caráter reformador.Esses princípios, contudo, foram negados na prática, revelando a discrepânciaentre elaboração e implementação de políticas.

E assim, passados alguns anos desde a primeira proposta para reforma do ensinosuperior no Brasil, outras propostas surgiram. A respeito, é interessante observar o quenos diz Sguissard (2006):

O projeto de lei de reforma da educação superior encaminhado pelo PoderExecutivo ao Congresso Nacional, em 12 de junho de 2006 (PL 7.200), apesarde revogar três leis, entre elas a Lei n. 5.540/68 (Lei da Reforma Universitária),e de alterar outras cinco, entre as quais a Lei n. 9.394/96 (Lei de Diretrizes eBases da Educação Nacional), se aprovado, ainda assim não conterá toda areforma. Tratar-se-á, na verdade, da última etapa, importante, de um processoque se desdobra há pelo menos uma década, isto é, desde o início do governo

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Fernando Henrique Cardoso (FHC), em janeiro de 1995. Esse projeto, em suapresente versão (quarta) da Casa Civil, com características diferentes da últimaversão do Ministério da Educação e do Desporto (terceira, de julho/2005) –como se verá mais adiante –, se aprovado na forma atual, poderá provocarmudanças na orientação da reforma da educação superior em curso nestaúltima década, embora mudanças muito aquém do que se poderia esperar doproposto pelo Plano do Governo Lula para o período 2002-2006.

E continua o mesmo autor:

A primeira dessas foram os procedimentos adotados em suas diferentes etapasde formulação, em que, durante cerca de dois anos, esteve aberta a ampladiscussão da sociedade civil organizada ou não. Isso, não independentementedo resultado final, poderá ser importante para o sucesso de sua eventual futuraimplantação. A segunda são as bandeiras desfraldadas ou os objetivos centraisque visaria alcançar: (i) constituir um sólido marco regulatório para a educaçãosuperior no País; (ii) assegurar a autonomia universitária prevista no art. 207 daConstituição, tanto para o setor privado quanto para o setor público, preconizandoum sistema de financiamento consistente e responsável para o parque universitáriofederal; e (iii) consolidar a responsabilidade social da educação superior,mediante princípios normativos e assistência estudantil.

O ensino superior no Brasil, é ao mesmo tempo o reflexo e o sustentáculo dacultura brasileira: uma cultura predominantemente repetitiva de padrões importados,ritualista, verbalista, não criativa. Uma cultura de fachada, gerando e sendo produzida porum ensino universitário sem espírito crítico, mais doutrinário que científico. (Ibid., p. 91)

É preciso lembrar que toda instituição vive um processo contínuo de mudançae por isso, nenhuma reforma é, portanto, definitiva.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FAVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. A universidade no Brasil: das origens àReforma Universitária de 1968. Curitiba, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602006000200003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em29 Ago. 2008.

GERMANO, José Wellington. Estado militar e educação no Brasil (1864 – 1985). 2ªed. São Paulo: Cortez, 1994.

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341Revista Caminhos, Rio do Sul, v. 1, n. 9, p. 325-341, jan./dez. 2008

MINOGUE, Kenneth. O conceito de Universidade. Brasília: Editora UnB, 1977

PAVIANI, Jayme; POZENATO, José Clemente. A universidade em debate. 3. ed. Caxias do Sul:Editora da Universidade de Caxias do Sul, 1984.

PINTO, Álvaro Vieira. A questão da Universidade. São Paulo: Cortez, 1986

SANTOS. Boaventura de Sousa. Da idéia de universidade a universidade de idéias. Pelamão de Alice – o social e o político na pós-modernidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

SGUISSARDI, Valdemar. Reforma universitária no Brasil - 1995-2006: precária trajetóriae incerto futuro. Educ. Soc. Campinas, v. 27, n. 96, 2006 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302006000300018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 29 de ago 2008.

SÍVERES, Luiz. Universidade: torre ou sino?. Brasília: Universa, 2006.

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REVISTA CIENTÍFICA DA UNIDAVI

A Revista de Divulgação Científica da UNIDAVI é uma publicação periódica(semestral), que busca problematizar, divulgar e empreender reflexões relativas aocampo educacional, privilegiando artigos produzidos e elaborados pelos professoresda instituição e fora dela.

Serão considerados para publicação: artigos científicos e resenhas. As publicaçõesvisam contribuir para divulgação de estudos e pesquisas bem como difundir oconhecimento resultante das diferentes atividades de pesquisa realizadas na instituiçãopelos professores.

NORMAS GERAIS PARA APRESENTAÇÃO

A Revista de Divulgação Científica da UNIDAVI publica trabalhos originais decolaboradores professores da UNIDAVI. Deverá ser inédito possuir consistência teóricae apresentar contribuição relevante para a educação e atender às normas para apublicação. Para os autores do artigo aprovados serão encaminhados um exemplar daedição.

1 APRESENTAÇÃO E ESTRUTURA DO ARTIGO:

Serão aceitos textos em português, inglês e espanhol.Os originais deverão conter, no mínimo 10 paginas e no máximo, 20 páginas,

incluindo resumo, tabelas, ilustrações e referências. Quanto as resenhas deverão conter,no mínimo 03 paginas e no máximo, 06 páginas.

2 A COMPOSIÇÃO DO TEXTO DEVERÁ SEGUIR ÀS SEGUINTESORIENTAÇÕES GERAIS:

a) Quanto ao trabalhoOs trabalhos ou resumos deverão utilizar o processador de texto Microsoft Word,

versão 6.0/95 ou superior, tamanho do papel: A4 (210 x 297mm) orientação retrato,margens, superior 30 mm, inferior 20 mm, direita 20 mm e esquerda 30 mm. Nãoenumerar as páginas e espacejamento simples.

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b) Quanto ao título do trabalhoO título deve vir centralizado, em Fonte Arial, tamanho de fonte – 12, em negrito

e maiúscula. Após o título do trabalho (caixa alta), chamada com número elevado (notade rodapé) ‘1’, a qual se associa a natureza do trabalho.

EXEMPLO: PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTIFICA DESENVOLVIDA NOS GRUPOS DEPESQUISA.

c) Quanto aos autoresOs nomes dos autores devem estar abaixo do orientador, alinhados a direita na

página, seguido por extenso de nome, prenome e sobrenome em letras minúsculas eminúsculas. Seguido do(s) nomes(s) autor(es) e titulação.

Em caso de mais de um autor, seus nomes serão escritos um abaixo do outro emfonte 12.

Charles Roberto Hasse 1

d) Quanto ao(s) nome(s) dos envolvidos no trabalhoEscritos dois espaços abaixo do título do trabalho. É necessário novas chamadas de

número elevado (notas de rodapé), ordenadas, identificando orientador e acadêmicos.Podem ser acrescentados endereço e E-mail. Tamanho da fonte deve ser 10.

e) Quanto às palavras-chaveEscritas dois espaços abaixo do texto do resumo, devendo ser no mínimo três e

no máximo cinco, intercalados por vírgulas. A expressão Palavras-chave deve ser escritoem negrito. E os Key-words – Palavras-chave em inglês.

f) Quanto ao texto do resumoO resumo deve constituir-se num texto redigido de forma cursiva, concisa e

objetiva. Limita-se a um parágrafo, devendo incluir palavras representativas do assunto.O texto do resumo deve vir logo abaixo do nome do(s) autor(es), após dois espaços de1,5 entre linhas, contendo o mínimo de 150 palavras e o máximo de 250palavras.

1 Professor Universitário, Mestre em Educação pela UFSC. Atualmente ocupa a função de Pró-reitor de Pós-graduação,Pesquisa e Extensão da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI, em Rio do Sul – SantaCatarina.

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Reproduz apenas as informações mais significativas, como: introdução,objetivos, metodologia, resultados obtidos (parciais ou finais) e conclusõespertinentes.

Deve ser elaborado o resumo em língua estrangeira.

3 NO CASO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

3.1 Estrutura de artigo

PRÉ-TEXTUAL – Título, Autoria, Resumo, palavras-chave, abstract, Key-words.TEXTUAL – Introdução, materiais e métodos, tabelas, ilustrações, considerações

finais.PÓS- TEXTUAL – Referências, anexos.

O corpo do artigo deve vir precedido de um resumo do conteúdo, em português,e outra língua estrangeira.

O resumo é constituído num único parágrafo, especificando o objetivo do trabalho,uma breve descrição da metodologia, os principais resultados e as conclusões.

As páginas deverão ser numeradas no canto superior direito a começar da página-título.

As ilustrações deverão ser numeradas seqüencialmente em algarismos arábicosna ordem que são inseridas no texto. O mesmo procedimento deverá ser observadoquanto às tabelas que receberão numeração independente, devem conter Titulação nocabeçalho e a Fonte. Os números deverão aparecer também nas costas de todos osoriginas e cópias para melhor identificação. As fotografias, gráficos ou tabelas serãopublicadas, em preto e branco, com dimensões mínimas de 10 x 7 cm. Toda arte-finaldeve estar pronta para publicação e as imagens em extensão JPG. NBR12256 da ABNT.

NOTAS DE RODAPÉ:

Devem ser indicadas no texto com número seqüenciais.

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REFERÊNCIAS

Devem ser apresentadas em ordem alfabética, e seguir as condições exigidaspara fazer referências às publicações mencionadas no trabalho serão estabelecidassegundo as orientações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), expressasna norma NBR 6023 de ago. de 2002.

ENDEREÇO PARA ENVIO DE ARTIGOS

Os artigos para a Revista UNIDAVI, uma cópia completa em disquete deverão serenviadas para a PROPPEx (Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão) Rua:Dr. Guilherme Gemballa, 13 – Cx. Postal, 193 – Centro CEP. 89160-000, Rio do Sul, aoscuidados do professor Ilson Paulo Ramos Blogoslawski, MSc. e ou poremail: [email protected].

A responsabilidade pelas afirmações e opiniões contidas nos trabalhos e a revisãoortográfica caberá inteiramente ao(s) autor(es).

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