revista brasileira de bioenergia, v. 3, n. 7, agosto 2009. · a colheita manual ajudaria a gerar...

13
REVISTA BRASILEIRA DE BIOENERGIA, v. 3, n. 7, Agosto 2009.

Upload: ngohanh

Post on 11-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

REVISTA BRASILEIRA DE BIOENERGIA, v. 3, n. 7, Agosto 2009.

21

A

Fotos: Meryellen Duarte e Fernando Saker

O GRANDE ENCONTROBRASILEIRO DE BIOENERGIAAcadêmicos, cientistas e autoridades estiveram no ‘workshop’ que discutiu

teorias e práticas sobre o assunto em todo o mundo

conteceu nos dias 26 e 27 de agosto, noBiênio da Escola Politécnica da Universi-dade de São Paulo (USP), o workshop

Bioenergia: desafios e oportunidades de negócios,organizado pelo Centro Nacional de Referência emBiomassa (Cenbio) do Instituto de Eletrotécnica eEnergia (IEE) da USP. Financiado pelo Ministério deMinas e Energia (MME), por meio do convênio For-talecimento Institucional do Cenbio, o evento con-tou com a presença de diversos nomes importantesda área de bioenergia do Brasil e se dividiu em seispainéis: Biocombustíveis; Perspectivas das tecno-logias de segunda geração;Sustentabilidade dos bio-combustíveis; Perspectivas de projetos de mecanis-mos de desenvolvimento limpo (MDL);Oportunida-des de negócios; e Políticas públicas. Todos forampresididos por um chairmando setor e compostos

por uma série de palestras com especialistas em cadaárea.

As apresentações e os resultados de cada painelpodem ser conferidos em resumos preparados pelosseus respectivos chairmen, disponíveis no site (http://cenbio.iee.usp.br).

ABERTURAO evento foi oficialmente aberto pelo professor

José Aquiles Baesso Grimoni, diretor do IEE da USP.Coube a ele apresentar o IEE aos participantes doworkshop, contando um pouco da história e da mis-são. Também reforçou a vocação para pesquisas doinstituto, citando projetos em andamento, bem comoas dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Em seguida, Hamilton Moss de Souza, diretordo Departamento de Desenvolvimento Energético

P roje tos d o C e n b io

do MME, falou sobre Biomassa: pilar da sustenta-bilidade. Ele abriu sua explanação reforçando o pa-pel da biomassa dentro do conceito de energia sus-tentável e apresentou números que comprovam ocrescimento do setor. Segundo ele, em 2007 e 2008,a oferta interna de energia era de 238,8 milhões detoneladas equivalentes de petróleo (tep), dos quais110 milhões eram de energia renovável. Com o inevi-tável crescimento da demanda mundial de energia, abiomassa pode ganhar um papel crucial no futuro.Para isso, será preciso cuidar de alguns aspectos-chave, como segurança no abastecimento, modicidadetarifária e universalização do atendimento. “Abiomassa deverá representar 3% da matriz energéticabrasileira até 2030. O Brasil é um país renovável,nosso papel é passar isso para quem está chegando”,afirmou o palestrante.

PALAVRA DA EXPERIÊNCIAEncerrando a abertura do evento ouviu-se a pa-

lestraEtanol de 1ª geração: o “estado da arte”, apre-sentada pelo professor José Goldemberg, do IEE,profissional considerado como o grande patrono doCenbio.

Goldemberg apresentou um panorama do cená-rio atual da energia no mundo. Os combustíveis fós-seis, explicou, são problemáticos porque não sãoinexauríveis, ficam com acesso cada vez mais difícil etêm grande impacto ambiental. Apesar disso, 80% daenergia global hoje vêm de fontes não renováveis,enquanto a biomassa responde por apenas 1,83%.As emissões globais de CO

2, por consequência, cres-

cem 4% ao ano. Isso configura um problema queprecisa ser resolvido ainda neste século.

“O etanol é uma das soluções”, expôs o profes-sor. “O etanol brasileiro é competitivo com a gasoli-na em termos de preço e em nível internacional”,frisou ele. Goldemberg também combateu a ideia deque a expansão do etanol leva ao desmatamento. “Osdados mostram que o crescimento da agricultura estátomando a área de pastagens, e não de mata nativa”,argumentou, lembrando que o crescimento anual deárea cultivada no Brasil, desde 1968, é de 0,68%.“As discussões contra o etanol são todas em relaçãoà expansão da agricultura, mas isso é um argumentoreacionário, contrário ao desenvolvimento. Até por-que, para a África e Ásia, essa expansão significacomida”, afirmou.

Para encerrar sua exposição, Goldemberg disseestar contente com a realização do evento e confir-mou a importância de formar e informar as próximasgerações para que elas continuem desenvolvendo ostrabalhos na área de bioenergia. “Cabe a vocês levaresse barco para frente”, disse.

José Aquiles B. Grimoni Hamilton Moss de Souza

José Goldemberg Suani Teixeira Coelho

P roje tos d o C e n b io

22 Agosto/August 2009

23

P roje tos d o C e n b io

PAINEL 1: BIOCOMBUSTÍVEIS

O painel sobre biocombustíveis, que teve comochairman o professor José Roberto Moreira, do Cenbio,deu início à programação de palestras técnicas. A apre-sentação inicial foi Bioeletricidade – Reduzindo emissõese agregando valor ao setor elétrico, ministrada por CarlosSilvestrin, vice-presidente executivo da Associação daIndústria de Cogeração de Energia (Cogen).

Silvestrin falou sobre como os resíduos têm deixadode ser um problema para se tornar parte da solução.“Hoje, o bagaço é usado como adubo e na produção deenergia elétrica”, explicou o professor, chamando a aten-ção também para o aumento de projetos oficialmenteregistrados na Agência Nacional de Energia Elétrica(Aneel) sobre o assunto.

Silvestrin discorreu ainda sobre o processo de pré-secagem do bagaço em vez de este ser transportado dire-to da moenda. “Isso ainda é muito inicial”, opinou oprofessor. “É uma rota de desenvolvimento, mas não éainda uma área de pesquisa comercial pronta”, disse.

O painel continuou com a palestra Panorama dosbiocombustíveis no Brasil: Norte/Nordeste, apresentadapelo professor Sérgio Peres Ramos da Silva, da Universi-dade de Pernambuco (UPE). Sobre a falta de investimen-tos para produção de álcool na região, Peres afirmou:“No Nordeste, temos regiões montanhosas que não per-mitem a colheita mecanizada, o que aumenta o custo detodo o processo”.

Em contraste, Peres falou sobre o “novo Nordeste”que deverá surgir com a transferência do curso do rio SãoFrancisco, expandindo a irrigação de terras para dezesseismunicípios. “Prevemos a construção de sete usinas deaçúcar e álcool.”

O professor também apontou o uso de matérias-primas alternativas na região para produção de energia,como o sebo bovino e o óleo de frango. E lembrou que64,5% da produção de etanol a partir da mandioca estáno Norte e no Nordeste.

Em seguida, Suani Teixeira Coelho, coordenadora doCenbio, editora da Revista Brasileira de Bioenergia euma dos idealizadores do evento, apresentou a palestraPanorama dos biocombustíveis no Brasil: Centro/Sul.Seu tema apontou os biocombustíveis como “a únicasolução viável e comerciável na substituição das fontesnão renováveis”.

Suani explicou que o crescimento do etanol no Brasilsó foi possível devido aos incentivos governamentais noinício do Proálcool, na década de 1970, os quais permiti-ram que os custos de produção fossem reduzidos deforma significativa. Ela apresentou o índice de cresci-mento anual de 4% na produtividade do etanol, que tam-bém tem ajudado a reduzir os custos.

A coordenadora do Cenbio também discutiu a expan-são do cultivo de cana: com o zoneamento agrícola, serápossível, no futuro, ter 64 milhões de ha de área paracultivo sem que a mata nativa seja atingida. Além debeneficiar o etanol, esse zoneamento produzirá uma

agropecuária menos extensiva e mais eficiente.Por fim, Suani falou sobre certificação. “Nós não

podemos querer nem aceitar que os mesmos critérios decertificação usados no Brasil, um país avançado na área,sejam usados na África, por exemplo”, argumentou. “Pen-sar em fazer colheita mecânica na África, onde não háestrada, sob o custo de milhões, é algo intrigante quandoa colheita manual ajudaria a gerar emprego no campo.”

Marcelo Khaled Poppe, conselheiro da equipe técni-ca do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)apresentou a palestra Potencial dos biocombustíveis noBrasil. Segundo ele, em 2010, a produção mundial degasolina deverá chegar aos 80 bilhões de L: uma áreacultivada de 20 a 30 milhões de ha seria suficiente parasubstituir 10% desse montante por etanol.

Economicamente, esse não é um sonho distante. “Aprodução de etanol é uma atividade de grande impacto naeconomia brasileira e pode ser de outras também. Hojeem dia, em termos de volume, consome-se mais etanol doque gasolina no Brasil”, disse o palestrante, lembrandoque, desde a década de 1920, os carros no Brasil só utili-zam gasolina com pelo menos 25% de álcool. Essa ten-dência ao etanol, ponderou, configura uma “rota desustentabilidade agroecológica” que o país tem seguido.

PAINEL 2: PERSPECTIVASDA TECNOLOGIA DESEGUNDA GERAÇÃO

O segundo painel foi presidido por Antônio MariaFrancisco Luiz José Bonomi, do Centro de Ciência eTecnologia do Bioetanol (CTBE). Quem deu início aostrabalhos foi Marco Aurélio Pinheiro Lima, diretor doCTBE, com a palestra Estratégias do CTBE paraTecnologia de 2ª Geração.

Lima iniciou questionando: em que circunstâncias oálcool de segunda geração se torna atraente para ingressarno mercado? “O desafio brasileiro para o álcool de se-gunda geração é maior que o do resto do mundo porque ode primeira geração é muito forte”, explicou. Segundo oprofessor, na hora em que a demanda mundial por etanolse equiparar à do petróleo, o papel do Brasil será funda-mental.

Complementando essa explanação, Lima apresentouum software desenvolvido pelo CTBE que é capaz deestimar a produtividade do etanol de segunda geração, apartir de um cálculo que abrange todos os processos dacadeia produtiva. Ele permite verificar o avançotecnológico e avaliar se a produção do etanol de segundageração é ou não compensadora. “O desafio do CTBE éfazer com que engenheiros e cientistas trabalhem juntosnuma mesma missão para conseguir criar um programapróprio para o etanol de segunda geração”, concluiu opalestrante.

Quem tomou a palavra na sequência foi SuleimanJosé Hassuani, coordenador de Pesquisa e Desenvolvi-mento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), com aapresentação Desafios da gaseificação na geração de

José RobertoMoreira

CarlosSilvestrin

Sérgio PeresRamos

Marcelo KhaledPoppe

Antônio MariaBonomi

Marco AurélioPinheiro Lima

Suleiman JoséHassuani

24 Agosto/August 2009

P roje tos d o C e n b io

energia do setor sucroenergético. Ele explicou que agaseificação é um processo vantajoso de geração de ener-gia porque pode utilizar diferentes matérias-primas e di-minui a formação de resíduos. Suleiman afirmou que épossível adicionar outras biomassas, como a palha decana, ao tradicional bagaço, para a gaseificação, o querende mais energia. Também falou de avanços na área,como a estocagem de vapor (produzido a partir do calorda queima do bagaço) para uso na entressafra. Esse siste-ma, disse, já está começando a ser introduzido em algunslugares do Brasil.

Ademar Ushima, pesquisador do Instituto de Pes-quisas Tecnológicas (IPT), apresentou, em seguida, apalestraGaseificação do bagaço de cana: rota BTL (Bio-mass to liquid). Ushima expôs o ciclo de gaseificação debiomassa para combustíveis líquidos, com quatro partesessenciais: unidade de preparação de biomassa –gaseificador – sistema de limpeza e tratamento de gases –reator catalítico.

O painel foi encerrado por Maria Filomena de AndradeRodrigues, também pesquisadora do IPT, com a palestraProdução de etanol via hidrólise enzimática de bagaço.

O processo, basicamente, consiste em inserir enzimas nabiomassa para extrair moléculas de açúcar, convertendoesse açúcar em etanol.

Maria Filomena também falou sobre a submissão dobagaço a um processo prévio para aumentar a produtivi-dade da hidrólise enzimática. “Nós do Brasil ainda nãotemos um modelo padrão de pré-tratamento. Isso é umacarência da comunidade científica”, ponderou.

PAINEL 3: SUSTENTABILIDADEDOS BIOCOMBUSTÍVEIS

Encerrando as atividades do dia 26, o painel sobresustentabilidade foi presidido por Oswaldo Lucon, as-sessor técnico da Secretaria de Meio Ambiente do Esta-do de São Paulo. A palestra inicial, ministrada pelo pro-fessor Robert Boddey, pesquisador da Empresa Brasi-leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), foi Balançoenergético e as emissões de gases efeito estufa na produ-

ção de bioetanol da cana-de-açúcar em comparação com

outros biocombustíveis.Boddey apresentou pontos polêmicos da produção

do etanol, a partir da ideia de que, para ser realmente sus-tentável, é preciso contabilizar as emissões de CO

2 e tra-

balhar para minimizá-las. “Se é utilizada mais energiafóssil do que se produz de energia renovável, algo está er-rado”, apontou e exemplificou: uma plantação de cana-de-açúcar emite mais CO

2 do que outro tipo de cultura,

mas impede a emissão de toneladas de CO2 que seriam

emitidos pela combustão da gasolina. Na mesma medida,a queima da cana emite mais CO

2 do que a colheita meca-

nizada.A palestra seguinte foi Balanço energético e emis-

sões de carbono na produção de etanol, com Isaias deCarvalho Macedo, pesquisador associado do NúcleoInterdisciplinar de Planejamento Energético da Universi-

dade de Campinas. A apresentação se dedicou a explicaras três metodologias pelas quais é possível calcular osbalanços de energia que são vistos no setor. Macedo apon-tou problemas como o fato de algumas metodologias utili-zarem dados generalistas para toda a América do Sul (noque diz respeito à eficiência do transporte, por exemplo).

Fechando o painel, o professor Carlos Cerri, da Es-cola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), discorreu sobre O papel do carbono no solo naredução de gases do efeito estufa no agronegócio produ-

tor de bioenergia. O professor dedicou-se a explicar comoa absorção de CO

2 pelo solo pode ajudar no combate ao

efeito estufa.Segundo Cerri, o carbono é absorvido do ar, pelas

plantas, e passa para o solo por meio da decomposiçãodessas plantas quando elas morrem. Esse carbono se fixano solo e, em um sistema nativo, esse estoque é constan-te. Na ocasião de um desmatamento por meio de queima-da, ocorre a transformação de parte da biomassa em gás,o que faz com que o solo deixe de absorver esse carbono.

É por isso que a chamada agricultura conservacionistaprega o uso de métodos em que o solo absorva sempre omáximo de carbono que é capaz. Na produção do etanol,essa prática poderia ser aplicada na colheita da cana semqueima, por exemplo, porque, além do carbono que deixade ser emitido com a não transformação da biomassa emgás, há também o carbono que iria ao solo devido à de-composição da palha de cana. “Quanto mais limpo for oprocesso, maior será o valor agregado do etanol”, feznotar o palestrante.

PAINEL 4: PROJETOSDE MECANISMOS DEDESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL)

O segundo dia do workshop (27) foi aberto com umpainel dedicado aos MDLs, presidido por DemóstenesBarbosa da Silva, diretor de Gestão de Meio Ambiente eCréditos de Carbono do grupo AES Tietê. Luiz GylvanMeira Filho, pesquisador visitante do Instituto de Estu-dos Avançados (IEA), abriu os trabalhos com a palestraComo incluir os biocombustíveis no regime futuro de mu-

dança do clima. “Quero desafiar os senhores a pensarcomo o regime interno sobre mudança do clima pode aju-dar a promover o aumento do uso de biocombustíveis namatriz mundial”, disse Gylvan ao iniciar sua conferência.

Acordo recente entre os líderes mundiais, explicou,gerou um pacto para limitar o aumento da temperatura a2oC até o fim deste século, o que implica cortar em 60%as emissões de carbono em relação aos índices apuradosem 1990. “Não há solução mágica”, avaliou. “Osbiocombustíveis são parte dessa solução”.

Segundo Gylvan, o conceito de “adicionalidade fi-nanceira”, acrescentado recentemente às discussões so-bre sustentabilidade, visa a maximizar os ganhos finan-ceiros com os investimentos na área. Isso é mau para osetor de MDL porque as iniciativas na área são maiscaras e menos interessantes comercialmente. “Hoje, te-

RobertBoddey

Isaías deCarvalho Macedo

DemóstenesBarbosa da Silva

CarlosCerri

AdemarUshima

Maria FilomenaA. Rodrigues

Oswaldo Lucon

25

P roje tos d o C e n b io

da dependemos de transporte rodoviário, enquanto paí-ses como os Estados Unidos possuem redes de pipelinesque tornam a logística mais eficiente”, declarou Ono. Essacarência é contrastada com o potencial do País nessemercado. “Exportamos só 15% da nossa produção e ain-da assim somos o segundo maior produtor do mundo”,apontou Ono, salientando que, de todo o etanolcomercializado hoje no mundo, 68% é brasileiro.

Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), abriu sua pales-traO presente e o futuro da produção de biocombustíveisno Brasil mencionando o engenheiro urbano ErnestoStumpf, criador do Proálcool. Segundo ele, “todo empre-sário do setor de álcool deveria ter um busto de Stumpfna sua empresa”. Ele lembrou que, desde a década de1970, o Brasil não constrói nenhuma refinaria e classifi-cou como “propaganda enganosa” a ideia de que o paísserá autossuficiente em petróleo com o Campo de Tupi.Bertelli também argumentou que o governo federal deve-ria investir mais em etanol, já que seu biocombustível é omais ecológico e mais barato do mundo.

Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da Uniãoda Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), apresentou otemaOportunidades e desafios nos mercados nacional einternacional. Para ele, o mercado de etanol cada vezmais pede o envolvimento do setor privado, e este já nãopode mais ser considerado um assunto “do governo”.

Por outro lado, o mercado para os biocombustíveis,diferente do que acontece com outras commodities, nãosurge espontaneamente, o que leva à necessidade de po-líticas públicas para estimular seu desenvolvimento. Eisso dá resultado, como pode ser visto nos Estados Uni-dos, onde o consumo de biocombustíveis é seis vezesmaior que o brasileiro. Como conclusão, Sousa argumen-tou que o etanol é capaz de diminuir em 90% a emissãode CO

2 em toda sua vida útil, em relação à gasolina, e que

esse motivo, por si só, permite estimar um crescimentoda demanda no futuro.

Virginia Parente, professora do IEE, encerrou o pai-nel com a palestra Ganhadores e perdedores no comér-cio mundial de biocombustíveis: o que nos ensina a teo-

ria econômica. A conferencista explicou que o consensode que as políticas macroeconômicas eram a principalvariável no crescimento do PIB per capita já não é maisválido. Estudos mostram que a qualidade institucionaltem assumido o papel mais importante nessa conta. Alémdisso, Virgínia também sugeriu que o Brasil busque in-vestir e replicar iniciativas de bioenergia em países me-nos favorecidos, como algumas nações africanas, comoforma de se estabelecer no mercado internacional debiocombustíveis.

PAINEL 6: PROPOSTAS DEPOLÍTICAS PÚBLICAS

Encerrando os trabalhos do primeiro workshop doCenbio, o sexto painel, apontado por Suani Coelho comofundamental para nortear as políticas públicas que preci-sam ser criadas para o crescimento e desenvolvimento dosetor de bioenergia no Brasil, levou o público a refletir

mos uma necessidade desesperada de achar um mecanis-mo econômico que incentive os MDLs”, disse.

O próximo conferencista, Ricardo Esparta, sócio-diretor da empresa Ecopart, que falou sobre ProjetosMDL no setor sucroalcooleiro – Problemas recentes de

projetos brasileiros, explicou que “não basta um projetoreduzir as emissões de carbono. Ele tem de apresentarcomo, e esse ‘como’ precisa ser aprovado segundo crité-rios metodológicos”.

As duas metodologias internacionais atuais para osetor sucroalcooleiro têm criado problemas para o Bra-sil. De todos os projetos do País submetidos àsmetodologias AM15 (cogeração de energia a partir debagaço) e ACM6 (geração de energia a partir de resíduosde biomassa), apenas um foi aprovado. “A metodologia émuito abrangente, vale para o mundo inteiro, sendo queos critérios não se aplicam ao Brasil. Ou seja, somos bar-rados por problemas burocráticos”, alertou o palestrante.

Magno Botelho Castelo Branco, coordenador deMeio Ambiente da organização não governamental Inici-ativa Verde, deu prosseguimento ao painel com a apre-sentação Recomposição florestal e geração de energiano âmbito do MDL. Segundo Botelho, o território brasi-leiro apresenta altas taxas fotossintéticas que geram umvolume de biomassa ainda altamente inexplorado. É pre-ciso, então, na hora de calcular a emissão de carbono deum projeto, sempre levar em conta a taxa de sequestro decarbono – mas os cálculos atuais de sequestro em áreasflorestais ainda são imprecisos, o que precisa ser melhorado.

Finalizando o painel, a palestra Apresentação dosprojetos de MDL dos aterros Bandeirantes e São João

foi apresentada por Antônio Carlos Delbin, diretor téc-nico da empresa Biogás Energia Ambiental que explicoucomo são e funcionam as usinas que exploram gás a par-tir de aterros sanitários.

“O maior desafio, hoje, é administrar a saída de águae gás do aterro”, explicou Delbin, lembrando tambémque, em geral, a empresa que opera o aterro não é a mes-ma que explora o gás – e isso pode gerar conflitos even-tuais. Os custos maiores são em relação à rede de capta-ção do gás: no aterro Bandeirantes, ela soma 26 km dedutos, extensão monitorada diariamente para checar se ogás não está sendo contaminado pelo ar. O resultado,porém, compensa: juntas, as usinas do Bandeirantes eSão João já geraram 4,5 milhões de créditos de carbono.

PAINEL 5: OPORTUNIDADESDE NEGÓCIOS PARABIOCOMBUSTÍVEIS

O quinto e penúltimo painel discutiu as condiçõesdo mercado de biocombustíveis no mundo atualmente. Amesa foi presidida por Francisco Nigro, pesquisador daSecretaria de Desenvolvimento de São Paulo.

Martinho Ono, diretor da empresa SCA Etanol, co-meçou as atividades com a palestra Oportunidades denegócio: mercado externo e logística. Sua apresentaçãomostrou a carência do Brasil com relação a um sistema detransporte mais adequado para os biocombustíveis. “Ain-

Luiz GylvanMeira Filho

RicardoSparta

Magno BotelhoCastelo Branco

Antônio CarlosDelbin

FranciscoNigro

MartinhoOno

Luiz GonzagaBertelli

26 Agosto/August 2009

P roje tos d o C e n b io

sobre os temas discutidos até então. A mesa foi presididapor Emílio Lèbre La Rovere, professor associado daUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Quem abriu o painel foi Carlos Henrique de BritoCruz, membro do Conselho Superior da Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), coma palestra Desafios para a pesquisa em bioenergia em SãoPaulo. Brito apontou que, no Brasil, as políticas em relaçãoà pesquisa ainda estão muito focadas na cana-de-açúcar.

De fato, o Brasil possui hoje “grande produção cien-tífica” nesse campo. No entanto, em 2005, após o presi-dente americano (George W. Bush) falar sobre bioenergia,o assunto começou a receber atenção de outros países efoi gerada uma competição internacional na área científi-ca. Com isso, o Brasil, que foca suas pesquisas na cana,está ficando defasado em pesquisas sobre sustentabilidade,LUC, ILUC e outros. “Isso é grave. A disputa política ecomercial requer ciência”, afirmou o professor, chaman-do a atenção para o fato de que, atualmente, as pesquisasgiram em torno de dois temas principais, produtividade esustentabilidade, e que nossa estratégia de pesquisa pre-cisará estar voltada a eles também.

Fernando Cardoso Rei, diretor-presidente da Com-panhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), as-sumiu a palavra em seguida com a apresentação Políticaspúblicas para as mudanças climáticas no Estado de São

Paulo e declarou: “O primeiro passo para uma políticapública eficiente sobre as mudanças climáticas é reco-nhecer que elas afetam todos os níveis da sociedade”.

Rei também citou o Projeto ambiental estratégicomunicípio verdeazul, realizado pela Secretaria do MeioAmbiente do Estado de São Paulo, que estabeleceu 21projetos ambientais estratégicos. Segundo o palestrante,os paulistas são líderes na criação de políticas públicasambientais independentes desde 1995. “Por que faze-mos uma política independente? Porque São Paulo é pra-ticamente um país próprio”, definiu.

Para exemplificar, Rei lembrou que Francisco Gra-ziano Neto, secretário do Meio Ambiente de São Paulo,é também vice-presidente para América Latina e Caribedo Grupo The Network of Regional Governments forSustainable Development (NRG4SD), que promove odesenvolvimento sustentável em todo o mundo. A pales-tra foi finalizada com a prospecção de que a meta atual de20% na redução de emissões de carbono no Estado,estabelecida para 2020, será atingida já em 2010.

A palestra Políticas públicas para a expansão sus-tentável dos biocombustíveis no Brasil veio em seguida.Apresentada por Alexandre Betinardi Strapasson, dire-tor do Departamento da Cana-de-açúcar e Agroenergiado Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,seu conteúdo apontou a importância do ordenamentoterritorial no crescimento da produção de etanol.

De acordo com Strapasson, são três as principais fer-ramentas para realizar esse ordenamento: zoneamento eco-lógico-econômico, zoneamento agrícola e zoneamento agroe-cológico. Não há relações significativas entre os biocom-bustíveis e o aumento nos preços dos alimentos: “O Bra-sil é o maior produtor de etanol de cana do mundo e sóutiliza 1% do seu território para isso”, apontou o palestrante.

Strapasson concluiu dizendo que é importante esti-

mular a produção mundial de biocombustíveis, priorita-riamente em países com culturas eficientes, aptidão agrí-cola e disponibilidade de terras. O zoneamento agrícolapode contribuir para que essa expansão seja feita de for-ma ordenada. Além disso, frisou o palestrante, as próxi-mas gerações de biocombustíveis serão mais produtivas,o que reduzirá as pressões sobre novas áreas de cultivo.Por fim, ele afirmou que os fundos internacionais pode-riam estimular de forma mais eficiente a transferência detecnologias agrícolas aos países em desenvolvimento, oque aumentaria a produção e diminuiria a pobreza.

A tarefa de encerrar o ciclo de palestras técnicas dopainel e de todo o workshop ficou a cargo de Maria Ce-cília Wey de Brito, secretária de Biodiversidade e Flores-tas do Ministério do Meio Ambiente: Políticas públicaspara proteção ao meio ambiente no governo federal foio seu tema. Alguns desafios que o governo federal preci-sará enfrentar nos próximos anos foram listados pelaconferencista: a contínua perda da biodiversidade, asmudanças climáticas, a questão do desmatamento da Ama-zônia, o crescimento da demanda por combustíveis, afalta de informação e o aumento da demanda porbiocombustíveis para ajudar a suprir as metas de reduçãode emissões mundiais.

Em seguida, Maria Cecília citou algumas medidasadotadas pelo governo para superar esses desafios: aadesão à Convenção de mudanças climáticas, ao Proto-colo de Quioto, àConvenção de diversidade biológica eaoPlano nacional de mudanças climáticas, que tem comoobjetivos fomentar aumentos de eficiência no desempe-nho dos setores produtivos; manter elevada a participa-ção de energia renovável na matriz energética; fomentar oaumento sustentável da participação de biocombustíveisna matriz de transportes nacional; reduzir as taxas dedesmatamento; e fomentar o desenvolvimento de pes-quisas científicas.

Maria Cecília ainda falou de outros projetos e afir-mou que, em relação ao etanol, o objetivo do governo éfomentar a indústria para que o consumo cresça 11% aoano nos próximos dez anos.

ENCERRAMENTO

Patrícia Matai, professora da Escola Politécnica daUSP, fez o primeiro discurso de encerramento. Elogiou ainiciativa do Cenbio e espera ver o workshop ganharnovas edições no futuro. José Goldemberg lembrou queo poder público precisará cada vez mais das universida-des, de tecnologia e conhecimento. E disse ainda que aprópria realização do evento já é uma grande conquista.“Dez, vinte anos atrás, esse tipo de interação não apenasera incomum, como também não era bem-vinda”, afir-mou ele.

Por fim, Suani Coelho tomou a palavra para fazer osagradecimentos finais. “Tivemos a ambição de organizarum programa com grandes nomes da área e ficamos honra-dos, pois conseguimos a presença de todos”, disse ela.

Eduardo Leãode Sousa

VirgíniaParente

Emílio LebreLa Rovere

Carlos Henriquede Brito Cruz

FernandoCardoso Rei

Alexandre B.Strapasson

Maria CecíliaWey de Brito

31

O

THE GREAT BRAZILIANBIOENERGY MEETINGScholars, scientists and authorities attended the workshop which discussed

bioenergy theories and practices all over the world

n August 26th and 27th, the workshop Bio-energy: challenges and business opportu-

nities was held at the Polytechnic Schoolof the University of Sao Paulo (USP), organizedby the Brazilian Reference Center on Biomass(Cenbio) of the Institute de Electrotechnics andEnergy (IEE) of USP. Financed by the BrazilianMinistry of Mines and Energy (MME), by meansof the Cenbio Institutional Strengthening covenant,the event counted on the presence of severalimportant names in Brazil’s bioenergy area and wasdivided into six panels: Biofuels; Perspectives ofsecond-generation technologies; Biofuels

sustainability; Perspectives of clean developmentmechanism (CDM) projects; Business opportu-nities; and Public policies. They were all conducted

by a sector chairman and composed of a series oflectures by specialists in each area.

The presentations and the results of each panelcan be examined in summaries prepared by theirrespective chairmen, available at the site (http://cenbio.iee.usp.br).

OPENINGThe event was officially opened by Professor José

Aquiles Baesso Grimoni, director of IEE of USP, unitwhich houses the Cenbio. He was responsible forpresenting the IEE to the workshop participants, tellinga bit of its history and its mission. He also remarkedthe Institute vocation for researches, mentioningongoing projects, as well as the MSc dissertations anddoctoral theses.

Photos: Meryellen Duarte and Fernando Saker

31

C e n b io P roje c ts

32 Agosto/August 2009

Next, Hamilton Moss de Souza, director of theDepartment of Energy Development of the Ministryof Mines and Energy, presented Biomass: pillar ofsustainability. He opened his lecture stressing therole of biomass within the sustainable energy conceptand presented numbers that prove the growth in thesector. According to him, in 2007 and 2008, thedomestic energy supply was 238.8 million tons ofoil equivalent (toe), 110 million of which wererenewable energy. With the inevitable growth in theworld demand for energy, biomass can play a crucialrole in the future. For this, it will be necessary to seeto some key aspects, such as supply safety, tariffmodicity and service universalization. “Biomass willrepresent 3% of the Brazilian energy matrix by 2030.

Brazil is a renewable country, our role is to pass thison to those who are coming”, stated the speaker.

WORD OF EXPERIENCEClosing the opening of the event, the lecture First

generation ethanol: the “state-of-the-art” was presen-ted by professor José Goldemberg, from IEE, a pro-fessional considered the great Cenbio patron.

Goldemberg presented an overview of the presentenergy scenario in the world. Fossil fuels, heexplained, are problematic because they are notinexhaustible; it is increasingly more difficult to accessthem and they produce great environmental impact.Nevertheless, 80% of the global energy comes fromnon-renewable sources, whereas biomass accountsfor only 1.83%. The global CO

2 emissions, as a

consequence, grow by 4% a year. This configures aproblem that has to be solved still in this century.

“Ethanol is one of the solutions”, stated the pro-fessor. “The Brazilian ethanol is competitive withgasoline in terms of price and at international level,”he stressed. Goldemberg also countered the idea thatethanol expansion leads to deforesting. “Data showthat the growth in agriculture is taking pasture areas,and not native forest ones”, he argued, observingthat the annual growth in cultivated area in Brazil,since 1968, is 0.68%. “The discussions against theethanol are all related to agriculture expansion, butthis is a reactionary argument, contrary todevelopment. Even because, for Africa and Asia, thisexpansion means food”, he stated.

So as to close his speech, Goldemberg claimed tobe happy with the conduction of the event andconfirmed the importance of forming and informingthe next generations so that they keep developingworks in the bioenergy area. “It is up to you to keepthat boat going”, he said.

José Aquiles B. Grimoni Hamilton Moss de Souza

C e n b io P roje c ts

José Goldemberg Suani Teixeira Coelho

32 Agosto/August 2009

33

C e n b io P roje c ts

for example”, she argued. “To think of mechanicalharvesting in Africa, where roads are scanty, which wouldcost millions, is something intriguing when manual harvestwould help to generate jobs in the fields.”

Marcelo Khaled Poppe, counselor of the technicalteam of the Center of Management and Strategic Studies(CGEE) presented the talk Biofuels potential in Brazil.As stated by him, in 2010, the gasoline world productionwill reach 80 billion L: a cultivated area from 20 to 30million ha would be enough to replace 10% of this amountwith ethanol.

Economically, this is not a distant dream. “Ethanolproduction is an activity with great impact on theBrazilian economy and may impact others, too.Nowadays, in terms of volume, more ethanol is consumedthan gasoline in Brazil”, said the lecturer, remarking that,as from the 1920s, vehicles in Brazil only use gasolinewith at least 25% ethanol. This trend towards ethanol,he pondered, configures an “agricultural-ecologicalsustainability route” which the country has followed.

PANEL 2: PERSPECTIVESFOR SECOND-GENERATIONTECHNOLOGY

The second panel was chaired by Antônio MariaFrancisco Luiz José Bonomi, from the Bioethanol Scienceand Technology Center (CTBE). The person to open thesession was Marco Aurélio Pinheiro Lima, CTBE director,with the talk CTBE Strategies for Second-generationTechnology.

Lima started by inquiring: in what circumstances doessecond-generation ethanol get attractive to enter themarket? “The Brazilian challenge for the second-generation ethanol is greater than in the rest of the world,because the first-generation one is very strong”, heexplained. According to the professor, when the worlddemand for ethanol gets equivalent to that of oil, Brazil’srole will be crucial.

Complementing this explanation, Lima presented apiece of software developed by the CTBE which canestimate the second-generation ethanol productivity, froma calculation that comprehends all the productive chainprocesses. It allows verifying the technologicalimprovement and assessing whether the second-generation ethanol production is or is not worthwhile.“The CTBE challenge is to make engineers and scientistswork together in the same mission so as to create theirown program for the second-generation ethanol”, thelecturer concluded.

The next to speak was Suleiman José Hassuani,Research and Development coordinator of the Sugar CaneTechnology Center (CTC), with the presentationChallenges of gasification in power generation of the

sugar-energy sector. He explained that gasification is anadvantageous power generation process because it canuse different inputs and decreases waste formation.

PANEL 1: BIOFUELS

The panel on biofuels, chaired by professor JoséRoberto Moreira, from Cenbio, started the technicalspeech program. The initial presentation was Bioelectricity– Reducing emissions and adding value to the power

sector, made by Carlos Silvestrin, vice-CEO of the PowerCogeneration Industry Association (Cogen).

Silvestrin talked about how wastes have ceased to bea problem to be part of the solution. “Today, bagasse isused as a fertilizer and in electric power production”,explained the professor, also pointing out the increase inprojects on the subject officially registered at the BrazilianElectric Power Agency (Aneel).

Silvestrin also discussed the bagasse pre-dryingprocess instead of transporting it straight to the mill.“This is still very incipient”, said the professor. “It is adevelopment route, but it is not yet a ready commercialresearch area”, he said.

The panel proceeded with the talk Biofuels scenarioin Brazil: North/Northeast, presented by professor Sér-gio Peres Ramos da Silva, from the University ofPernambuco (UPE). On the lack of investments for ethanolproduction in the region, Peres affirmed: “In theNortheast, there are mountainous regions that do notallow mechanized harvesting, which increases the costof the whole process”.

By contrast, Peres talked about the “new Northeast”which will emerge after the transfer of the course of theRiver São Francisco, expanding the irrigation of lands tosixteen municipalities. “We foresee the construction ofseven sugar and ethanol plants.”

The professor also pointed out the use of alternativeinput in the region for power production, such as bovinefat and chicken oil. He remarked that 64.5% of the ethanolproduction as from manioc lies in the North and in theNortheast.

Next, Suani Teixeira Coelho, coordinator of Cenbio,editor of the Revista Brasileira de Bioenergia and one ofthe event organizers, presented the talk Biofuels scenarioin Brazil: Center/South. Her theme focused on biofuelsas “the only viable and tradable solution for replacingnon-renewable sources”.

Suani explained that the growth of ethanol in Brazilwas only possible due to the governmental incentivesfrom the beginning of Proalcool, in the 1970s, whichallowed the production costs to be significatively reduced.She also presented the 4% annual growth rate in ethanolproductivity, which has also helped to reduce costs.

The Cenbio coordinator discussed the expansion ofsugar cane growth, as well: with the agricultural zoning,in the future it will be possible to have 64 million ha ofarea for growing crops without harming the nativevegetation. Besides benefitting ethanol, this zoning willprovide less extensive and more efficient stockbreeding.

Finally, Suani talked about certification. “We cannotwish or accept that the same certification criteria used inBrazil, an advanced country in the area, are used in Africa,

33

José RobertoMoreira

CarlosSilvestrin

Sérgio PeresRamos

Marcelo KhaledPoppe

Antônio MariaBonomi

Marco AurélioPinheiro Lima

Suleiman JoséHassuani

34

C e n b io P roje c ts

Suleiman stated that it is possible to add other biomasses,such as sugar cane straw, to the traditional bagasse, forgasification, which yields more power. He also talkedabout enhancements in the area, such as steam (producedfrom the heat of bagasse burning) storage for usingintercrops. This system, he said, is already beginning tobe introduced in some places in Brazil.

Ademar Ushima, researcher of the Institute forTechnological Research (IPT) next presented the talkSugar canebagasse gasification: BTL (Biomass to liquid)

route. Ushima presented the biomass gasification cyclefor liquid fuels, with four essential parts: biomass pre-paration unit – gasificator – gases cleaning and treatmentsystem – catalytic reactor.

The panel was closed by Maria Filomena de AndradeRodrigues, also an IPT researcher, with the talk Ethanolproduction via bagasse enzymatic hydrolysis. The processbasically consists in inserting enzymes in biomass toextract sugar molecules, converting this sugar into ethanol.

Maria Filomena also talked about submitting bagasseto a previous process to increase enzymatic hydrolysisproductivity. “In Brazil, we still do not count on a pre-treatment standard model. This is a lack in the scientificcommunity”, she pondered.

PANEL 3: BIOFUELSSUSTAINABILITY

Closing the activities that day, the panel on sustaina-bility was chaired by Oswaldo Lucon, technical advisorof the State of São Paulo Secretariat for the Environment.The initial lecture, given by Professor Robert Boddey,researcher of the Brazilian Agricultural ResearchCorporation (Embrapa), was Energy balance and green-house gases emissions in sugar cane bioethanol pro-

duction as compared to other biofuels.Boddey presented polemic points of ethanol

production, from the idea that, so as to be reallysustainable, it is necessary to account for the CO

2

emissions and to work towards minimizing them. “Ifmore fossil energy is used than renewable energyproduced, there is something wrong”, he pointed out andexemplified: a sugar cane plantation emits more CO

2 than

some other crops, but it prevents the emission of tons ofCO

2 that would be emitted in gasoline combustion. In

the same measure, burning sugar cane emits more CO2

than mechanized harvesting.The next talk was Energy balance and carbon emissions

in ethanol production, by Isaias de Carvalho Macedo, anassociate researcher of the Interdisciplinary Nucleus ofEnergy Planning of the University of Campinas. Thepresentation was dedicated to explaining the threemethodologies by which it is possible to calculate theenergy balances found in the sector. Macedo pointed outsome problems, such as the fact that some methodologiesuse generalist data for the whole of South America(concerning the efficiency in transportation, for example).

Closing the panel, Professor Carlos Cerri, from theHigher School of Agriculture Luiz de Queiroz (Esalq-USP), discussed The role of carbon in the soil in reducinggreenhouse gases in the bioenergy production agri-

business. The professor concentrated on explaining howthe absorption of CO

2 by the soil can help to fight the

greenhouse effect.According to Cerri, carbon is absorbed by the air, by

plants, and goes into the soil by means of the decom-position of these plants when they die. This carbon isfixed to the soil and, in a native system, this stock isconstant. W hen there is deforesting by means of burning,there is the transformation of part of the biomass intogas, which makes the soil stop absorbing this carbon.

This is why the so-called conservationist agriculturerecommends the use of methods in which the soil alwaysabsorbs the most carbon it can. In ethanol production,this practice could be applied in sugar cane harvestingwithout burning, for example, because, besides the carbonthat fails to be emitted with the non transformation ofbiomass into gas, there is also the carbon that would gointo the soil due to the decomposition of the sugar canestraw. “The cleaner the process, the greater will be theethanol added value”, the lecturer remarked.

PANEL 4: CLEANDEVELOPMENT MECHANISM(CDM) PROJECTS

The second day of the workshop (27th) was startedwith a panel dedicated to CDMs, presided byDemóstenes Barbosa da Silva, Environment Managementand Carbon Credit Director of the AES Tietê group. LuizGylvan Meira Filho, visiting researcher of the Instituteof Advanced Studies (IEA), opened the works with thetalkHow to include biofuels in the future climate changeregime. “I would like to challenge you to think of howthe domestic regime on climate change can help to promotean increase in the use of biofuels in the world matrix”,said Gylvan when he started his lecture.

A recent agreement among world leaders, he explained,generated a pact to limit the increase in temperature to2oC by the end of this century, which implies cutting thecarbon emissions by 60% in relation to the ratesaccounted for in 1990. “There is no magic solution”, Hepondered. “Biofuels are part of this solution”.

According to Gylvan, the “financial additionality”concept, recently added to the discussions onsustainability, aims to maximize the financial gains frominvestments in the area. This is bad for the CDM sectorbecause the initiatives in the area are more expensive andless commercially interesting. “Today, we have a desperateneed to find an economic mechanism that stimulates theCDMs”, he said.

The next lecturer, Ricardo Esparta, partner-directorof the Ecopart company, who spoke about CDM Projectsin the sugar-ethanol sector – Recent problems of Brazilian

34 Agosto/August 2009

RobertBoddey

Isaías deCarvalho Macedo

DemóstenesBarbosa da Silva

CarlosCerri

AdemarUshima

Maria FilomenaA. Rodrigues

Oswaldo Lucon

35

C e n b io P roje c ts

projects, explained that “it is not enough for a project toreduce carbon emissions. It has to present how, and this‘how’ has to be approved according to methodologicalcriteria”.

The two present international methodologies for thesugar-ethanol sector have created problems for Brazil.Of all the projects in the country submitted to AM15(power cogeneration as from bagasse) and ACM6 (powergeneration as from biomass wastes) methodologies, onlyone was approved. “The methodology is very compre-hensive, it is valid for the whole world, yet the criteria donot apply to Brazil. That is, we are halted for bureau-cratic problems”, warned the lecturer.

Magno Botelho Castelo Branco, EnvironmentCoordinator of the non-governmental organization Inici-ativa Verde, proceeded with the panel with the pre-sentationForest recomposition and power generation inthe CDM ambit. According to Botelho, the Brazilianterritory presents high photosynthetic rates whichgenerate a biomass volume still highly unexplored. It isthus necessary, at the time of calculating the carbonemission of a project, to always take into account thecarbon sequestration rate – but the present sequestrationcalculations in forest areas are still imprecise and have tobe improved.

Closing the panel, the lecture Presentation of the CDMprojects of the Bandeirantes and São Joãolandfillswaspresented by Antônio Carlos Delbin, technical directorof the Environmental Biogas Energy company whoexplained how the plants that explore gas as from landfillsare and work.

“The greatest challenge, today, is to manage theoutflow of water and gas from the landfill”, explainedDelbin, also observing that, in general, the company thatoperates the landfill is not the same that explores the gas– and this may generate occasional conflicts. The greatestcosts are those concerning the gas capture network: atthe Bandeirantes landfills, it has 26 km of ducts, extensionwhich is daily checked to verify whether the gas is notbeing contaminated by the air. The result, however,compensates: together, the Bandeirantes and São Joãoplants have already generated 4.5 million carbon credits.

PANEL 5: BUSINESSOPPORTUNITIES FOR BIOFUELS

The fifth panel discussed the biofuels marketconditions in the world today. The session was chairedby Francisco Nigro, researcher from the São Paulo StateSecretariat for Development.

Martinho Ono, director of the SCA Ethanol company,started the activities with the talk Business opportunities:foreign market and logistics. His presentation showedthe gap in Brazil concerning a more adequate transportsystem for biofuels. “We still depend on road transport,whereas countries such as the United States have pipelinenetworks that make the logistics more efficient”, declared

Ono. This lack is a contrast with the Brazilian potentialin this market. “We export only 15% of our productionand even so we are the second largest producer in theworld”, pointed out Ono, stressing that, of all the ethanoltraded in the world today, 68% is Brazilian.

Luiz Gonzaga Bertelli, director of the São Paulo StateIndustry Federation (Fiesp), opened his talk The presentand the future of biofuels production in Brazil mentioningurban engineer Ernesto Stumpf, who created Proalcool.According to him, “every entrepreneur in the ethanolsector should have a sculpture of Stumpf in thecompany”. He observed that, since the 1970s, Brazil hasnot built any refinery and classified as “deceitful propa-ganda” the idea that Brazil will be self-sufficient inpetroleum with the Tupi Oilfield. Bertelli also arguedthat the federal government should invest more in ethanol,since its biofuel is the most ecological and the cheapestin the world.

Eduardo Leão de Sousa, CEO of the Brazilian SugarCane Industry Association (Unica), presented the themeOpportunities and challenges in the domestic and foreign

markets. For him, the ethanol market asks for more andmore involvement from the private sector, and this canno longer be considered a “government” issue.

Conversely, the market for biofuels, differently fromwhat occurs to other commodities, does not emergespontaneously, which leads to the need of public polici-es to stimulate its development. This works out, as canbe seen in the United States, where the biofuelsconsumption is six times as great as the Brazilian one. Asa conclusion, Sousa argued that the ethanol can reduceCO

2 emission by 90% all along its service life, in relation

to gasoline, and that this reason, by itself, allowsestimating a future growth in demand.

Virginia Parente, IEE professor, closed the panel withthe talk Winners and losers in the biofuels world trade:what does the economic theory teach us? The lecturerexplained that the consensus that the macroeconomicpolicies were the main variable in the per capita GDPgrowth is no longer valid. Studies show that theinstitutional quality has taken on the most importantrole in this account. Also, Virgínia also suggested thatBrazil should seek to invest and to replicate bioenergyinitiatives in poorer countries, such as some Africannations, as a way of getting them established in theinternational biofuels market.

PANEL 6: PUBLIC POLICIESPROPOSALS

Closing the works of the first Cenbio workshop, thesixth panel, pointed out by Suani Coelho as fundamentalto guide the public policies that have to be created for thegrowth and development in the bioenergy sector in Brazil,made the audience reflect on the themes discussed untilthen. The session was chaired by Emílio Lèbre La Rovere,associate professor of the Federal University of Rio deJaneiro (UFRJ).

35

Luiz GylvanMeira Filho

RicardoSparta

Magno BotelhoCastelo Branco

Antônio CarlosDelbin

FranciscoNigro

MartinhoOno

Luiz GonzagaBertelli

C e n b io P roje c ts

Eduardo Leãode Sousa

VirgíniaParente

Emílio LebreLa Rovere

Carlos Henriquede Brito Cruz

FernandoCardoso Rei

Alexandre B.Strapasson

Maria CecíliaWey de Brito

The panel was started by Carlos Henrique de BritoCruz, a member of the Higher Council of the State of SãoPaulo Research Foundation (Fapesp), with the lectureChallenges for the research on bioenergy in São Paulo.Brito pointed out that, in Brazil, the policies related toresearch are still very much focused on sugar cane.

Actually, Brazil today has “broad scientificproduction” in this field. Nonetheless, in 2005, after theAmerican President (George W. Bush) talked aboutbioenergy, the issue started to gain attention from othercountries and an international competition in the scientificarea was generated. W ith this, Brazil, which focuses itsresearches on sugar cane, is getting outdated in researcheson sustainability, LUC, ILUC and others. “This isserious. The political and commercial competitionrequires science”, stated the professor, calling attentionto the fact that, nowadays, researches revolve aroundtwo main themes, productivity and sustainability, andthat our research strategy will have to take them intoaccount, too.

Fernando Cardoso Rei, President of the São PauloState Environmental Agency (Cetesb), took the floor nextwith the presentation Public policies for climate changein the State of São Paulo and declared: “The first step foran efficient public policy on climate change is to recognizethat they affect all levels of society”.

Rei also mentioned the Strategic environmentalproject green-blue municipality, conducted by the Stateof São Paulo Secretariat for the Environment, whichestablished 21 strategic environmental projects. As statedby the lecturer, the paulistas are the leaders in creatingindependent environmental public policies since 1995.“W hy do we practice an independent policy? BecauseSão Paulo is practically a country in itself”, he defined.

In order to exemplify, Rei observed that FranciscoGraziano Neto, the State of São Paulo Secretary for theEnvironment, is also vice-president for Latin Americaand the Caribbean of The Network of RegionalGovernments for Sustainable Development Group(NRG4SD), which promotes sustainable developmentall over the world. The talk was concluded with theprospection that the annual goal for 20% carbonemissions reduction in the State, established for 2020,will be met as early as 2010.

The lecture Public policies for the sustainableexpansion of biofuels in Brazil came next. Presented byAlexandre Betinardi Strapasson, director of the SugarCane and Agro-Energy Department of the Ministry ofAgriculture, Livestock and Supply, the content stressedthe importance of territorial ordination in the ethanolgrowth production.

As stated by Strapasson, three are the main tools forconducting this ordination: ecological-economic zoning,agricultural zoning and agricultural-ecological zoning.There are no significant relationships between biofuelsand the increase in food prices: “Brazil is the greatestsugar cane ethanol producer in the world and only uses1% of its territory for that”, remarked the lecturer.

Strapasson concluded by saying that it is importantto stimulate the world production of biofuels, especiallyin countries with efficient crops, agricultural aptitudeand land availability. The agricultural zoning maycontribute for this expansion to be made in an ordinatedway. Moreover, stressed the lecturer, the next biofuelsgenerations will be more productive, which will reducethe pressures on the new cultivation areas. Finally, hestated that the international funds could more efficientlystimulate agricultural technology transfer to thedeveloping countries, which would increase productionand reduce poverty.

The task of closing the technical talks cycle of thepanel and of the whole workshop was incumbent toMaria Cecília Wey de Brito, Secretary of Biodiversityand Forests of the Brazilian Ministry for the Environment:Public policies for protecting the environment in the fede-

ral governmentwas her theme. Some challenges the fe-deral government will have to face in the next years werelisted by the lecturer: the continuous loss of biodiversity,climate change, the Amazon deforesting issue, the growthin demand for fuels, the lack of information and theincrease in demand for biofuels to help meet the worldemission reduction goals.

Next, Maria Cecília mentioned some of the measuresadopted by the government to overcome these challenges:the adherence to the Convention on Climate Change, totheKyotoProtocol, to the Biological Diversity Conventionand to the Brazilian Plan for Climate Change, whichaims to foster increases in performance efficiency of theproductive sectors; to keep the high participation ofrenewable energy in the energy matrix; to foster thesustainable increase of biofuels participation in theBrazilian transport matrix; to reduce the deforesting rates;and to foster the development of scientific researches.

Maria Cecília also talked about other projects andstated that, concerning ethanol, the government purposeis to stimulate the industry so that consumption rises by11% a year in the next ten years.

CLOSING

Patrícia Matai, professor of the Polytechnic Schoolof USP, made the first closing speech. She praised theCenbio initiative and hopes to see the workshop havenew editions in the future. José Goldemberg remarkedthat the public sector will need more and more universities,for technology and knowledge. He also said that the veryexistence of the event was already a great achievement.“Ten, twenty years ago, this kind of interaction was notonly uncommon, but also unwelcome”, he stated.

Finally, Suani Coelho took the floor to make the finalacknowledgements. “We had the ambition of organizinga program with great names in the area and were honored,as we managed to have the presence of all of them”, shesaid.

36 Agosto/August 2009