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ANO VII Nº 34 outubro-dezembro de 2007 ISSN 1981-4615 Feneis revista da Publicação trimestral da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos 20 anos em prol do surdo Espaço Acadêmico Artigos tratam de educação, família e liderança surda Espaço Acadêmico Artigos tratam de educação, família e liderança surda 20 anos em prol do surdo Conquistas obtidas em duas décadas de caminhada são avaliadas em evento Conquistas obtidas em duas décadas de caminhada são avaliadas em evento

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ANO VII • Nº 34 • outubro-dezembro de 2007 ISSN 1981-4615

Feneisr e v i s t a d a

Publicação trimestral da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

20 anos em prol do surdoEspaço AcadêmicoArtigos tratam de educação, família e liderança surda

Espaço AcadêmicoArtigos tratam de educação, família e liderança surda

20 anos em prol do surdo Conquistas

obtidas em duas décadas de caminhada são avaliadas em evento

Conquistas obtidas em duas décadas de caminhada são avaliadas em evento

Este ano, o MEC comprou mil exemplares do livro/DVD do estudante e mil exemplares do livro/DVD do professor para distribuir para as universidades, já que a Libras será disciplina obrigatória e esse será o material utilizado pelos instrutores/professores nessa disciplina. Adquira também o seu material didático para o ensino da Libras!

As novas edições de 2007 estão revisadas, ampliadas e mais ilustradas. Todos os ouvintes e surdos que forem aprovados no exame do ProLibras poderão adquirir o livro/DVD do professor para ministrar o Curso Básico de Libras nas universidades e em outras instituições.

Os interessados deverão depositar o valor total da compra no Banco do Brasil, agência 3010-4, c/c 30450-6. Posteriormente, deverá ser enviado para a Feneis o comprovante de depósito para a Feneis/RJ, via fax ou correio, com a relação do material desejado. O endereço da Feneis é Rua Major Ávila, 379, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Cep 20511-140, tel (021) 2567-4880, fax (021) 2284-7462. A cada livro solicitado deverá ser acrescentada a quantia de R$ 5,00 (cinco reais) referente às despesas de correio pelo envio do material registrado.

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Revista da Feneis | 31

Feneis-RJ inaugura nova sede

evento | inauguração

Corte da fita inaugural

Agradecimento aos ex-presidentes da Feneis

Atual diretoria com os ex-presidentes Fernando Valverde e Antônio Campos

O coquetel de inauguração da nova casa reuniu representantes de instituições públicas e privadas que atuam ao lado da Feneis

FMS, Feneis e Sec. Regional Sulamérica

Representantes de diversas associações de surdos presentearam a Feneisdurante a inaugurção da nova casa

Descerramento da placa de inauguração da sede (ao lado) e da que homenageou o presidente da Feneis Antônio Mário (acima)

Fotos: Feneis

Homenagem à Max Heeren, diretor financeiro e responsável pela reforma da Sede

Com a presença de ex-presidentes, amigos, representantes de associações de surdos e outras instituições nacionais e internacionais, a Feneis inaugurou no dia 27 de setembro a nova sede do Rio de Janeiro, que abrigará parte das suas atividades. O novo espaço de trabalho reflete mais uma vez a expansão da entidade e a busca por um atendimento cada vez melhor ao surdo. Na sede anterior funcionarão os cursos de Libras e outras atividades ligadas à área educacional e cultural da Federação. Veja as fotos do evento:

Page 3: RevFeneis34

Revista da Feneis | 3

DIRETORIA

Diretor-PresidenteAntônio Mário Sousa DuarteDiretor Primeiro Vice-PresidenteMarcelo Silva LemosDiretor Segundo Vice-PresidenteShirley VilhalvaDiretora AdministrativaMárcia Eliza de PolDiretor Financeiro e de PlanejamentoMax Augusto Cardoso HeerenDiretora de Políticas EducacionaisMarianne Rossi Stumpf

DIRETORIAS REGIONAIS

Rio de Janeiro – RJDiretor Regional: Walcenir Souza Lima

Porto Alegre – RSDiretor Regional: Ricardo Morand Góes Diretora Regional Administrativa: Vânia Elizabeth ChiellaDiretora Regional Financeira: Denise Kras Medeiros

Teófilo Otoni – MGDiretor Regional: Luciano de Sousa GomesDiretora Regional Administrativa: Sueli Ferreira da SilvaDiretora Regional Financeira: Rosenilda Oliveira Santos

Recife – PEDiretor Regional: Nelson do Rego Valença JúniorDiretor Regional Administrativo: Sueli Cristina dos SantosDiretor Regional Financeiro: Thereza de Fátima Araújo Fragoso

Brasília – DFDiretor Regional: Messias Ramos CostaDiretora Regional Administrativa: Edeilce Aparecida Santos BuzarDiretor Regional Financeiro: Amarildo João Espíndola

Belo Horizonte – MGDiretora Regional: Rosilene Fátima Costa Rodrigues NovaesDiretor Regional Financeiro: Antônio Campos de Abreu

São Paulo – SPDiretor Regional: Neivaldo Augusto ZovicoDiretora Regional Administrativa: Neiva de Aquino AlbresDiretor Regional Financeiro: Richard Van Den Bylaardt

Curitiba – PRDiretora Regional: Elizanete FavaroDiretora Regional Administrativa: Iraci Elzinha Bampi SuzinDiretor Regional Financeiro: Angelo Ize

Manaus – AMDiretor Regional: Marlon Jorge Silva de AzevedoDiretora Regional Financeira: Waldeth Pinto Matos

Fortaleza – CEDiretora Regional: Maria Maísa Farias JordãoDiretora Regional Administrativa: Mariana Farias LimaDiretor Regional Financeiro: Rafael Nogueira Machado

Florianópolis – SCDiretor Regional: Luciano AmorimDiretora Regional Administrativa: Idavania Maria de Souza BassoDiretor Regional Financeiro: Patrícia Matos Leal

CONSELHO FISCAL

Efetivo1º Membro Efetivo e Presidente: José Tadeu Raynal Rocha2º Membro Efetivo e Secretário: Carlos Eduardo Coelho Sachetto3º Membro Efetivo: Vago

Suplentes1º Membro suplente: Luiz dinarte Farias2º membro suplente: Antônio Carlos Cardoso 3º membro suplente: Clara Ramos Pedroza

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Carlos Alberto Góes José Onofre de SouzaSílvia Sabanovaite Marcus Vinicius CalixtoBetiza Pinto Botelho

EDITORIA

Conselho Editorial Editora e Jornalista responsávelShirley Vilhalva Nádia Mello (MT 19333)Ana Regina e Souza CampelloGladis Perlin DiagramaçãoNádia Mello Areté Programação Visual

Oportunidade de avaliar a caminhada

O Dia do Surdo é sempre uma oportunidade de discussão de políticas referentes à edu-cação do surdo no Brasil. É uma oportunidade de avaliar a caminhada, refletir sobre as conquistas e o que ainda falta trilhar. Foi o que aconteceu durante a programação ocorrida no Rio de Janeiro por ocasião da data, que reuniu representantes de instituições da área em nível nacional e internacional. O evento teve como pano de fundo os 20 anos da Federação, que apro-veitou para, através da palavra de seus atuais e antigos diretores, contar um pouco mais de sua história, das lutas e das vitórias em todo esse tempo.

E por falar em vitórias, uma delas foi a aquisição da nova sede do Rio, que foi inaugurada um dia antes do even-to realizado pelo Dia do Surdo. O novo espaço abrigará todos os setores e atividades da Feneis (Página 31). A casa antiga será utilizada para cursos e programas voltados para a cultura do surdo brasileiro. Sem dúvida alguma, o que está por trás de tantas novidades é o objetivo que sem-pre acompanhou a trajetória da Feneis: um atendimento adequado e excelente aos surdos, familiares e pessoas envolvidas com a causa.

É sempre bom destacar que todas as mobilizações rea-lizadas pela nossa entidade nesses 20 anos de existência têm buscado o bem-estar e mais qualidade de vida para o surdo brasileiro. A Feneis, como representante de todos os surdos, está voltada especificamente para defesa dos direitos e dos interesses desse segmento, lembrando em todas as instâncias das suas necessidades.

Dessa forma, a manifestação realizada no Ceará e a passeata ocorrida em São Paulo, ambas promovidas pela Feneis naquelas regiões, lembraram os direitos educacio-nais e a importância das classes especiais, chamando a atenção para a Lei 10432/02 e a sua posterior regulamen-tação (Páginas 8 e 9).

Afim de ajudar cada um de nós a alcançar uma cons-ciência maior com relação a todas as problemáticas que envolvem o surdo, os artigos publicados no Espaço Acadêmico desta revista expõem sobre liderança, cultura surda, classes especiais e o ensino em Língua de Sinais, entre outros.

Como podem ver, a revista está recheada de assuntos interessantes. Tenha uma boa leitura.

Antônio Mário Souza DuarteDiretor-Presidente

Feneis

palavra do presidente

Publicação trimestral da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

ISSN 1981–4615

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4 | Revista da Feneis

Espaço AbertoA pessoa surda e a vivência familiar

Um artigo de Helena Sperotto busca compreender o comportamento da pessoa com surdez com base na influência familiar. Segundo a autora, a família exerce forte influência na formação do comportamento das pessoas surdas. Página 22

Passeatas no Ceará e no Sul Alunos surdos, professores, intérpretes e simpatizantes da causa surda do Rio Grande do Sul e Ceará foram convocados a participar de um movimento em prol dos direitos humanos e lingüísticos dos surdos. No Ceará, a manifestação veio na forma de passeata. Tratou-se da VII Caminhada dos Surdos. No sul, o movimento se concentrou numa praça de Porto Alegre. Página 8

Em prol das classes especiaisNo dia 29 de novembro uma manifestação contra a Portaria nº 555, do Ministério da Educação (MEC) mobilizou a comu-nidade surda de São Paulo. O documento proíbe a criação de novas escolas especiais para deficientes e obriga as já existentes a se transformarem em centros de atendimento, funcionando como um complemento educacional. O protesto reuniu cerca de mil manifestantes. Página 9

SMPD homenageia FeneisA Feneis, ao lado de outras instituições de defesa e apoio ao deficiente, recebeu um prêmio oferecido pela Secretaria Muni-cipal da Pessoa com Deficiência – SMPD, do Rio de Janeiro, no mês de dezembro. Walcenir Souza, diretor regional da Feneis-RJ recebeu a homenagem, em nome da instituição, das mãos de Leda de Azevedo, da SMPD. Página 15

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SUMÁRIO

Feneis comemora 20 anosO Dia do Surdo foi motivo para ser duplamente comemorado pela comunidade surda. A data marcou também o aniversário de 20 anos da Feneis. Para festejar em grade estilo, a Federação or-ganizou um evento, que contou com a participação de palestran-tes nacionais e internacionais que tiveram como principal objetivo debater o tema Integração e Su-peração: marcas de 20 anos de caminhada. Página 10

Palavra do Presidente 3

Cartas do Leitor 6

Comunicando 7

Notícias Regionais 8

Espaço Acadêmico 16

As narrativas surdas: resistência a uma proposta educacional atual 16

“Existir para existir!” 19

A vivência familiar e sua influência no comportamento interpessoal da pessoa surda 23

“Uma cultura... em outra cultura” 26

Evento/inauguração 31

SUMÁRIOSUMÁRIO

CAPA

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6 | Revista da Feneis

Meu nome é Maria Cecilia de Moura. Sou doutora em Psicologia Social e estudo a questão da surdez há mais de 20 anos. Meus estudos me levaram a realizar várias viagens e a conhecer espe-cialistas na área da surdez que muito me ajudaram a compreender melhor essa complicada área.

Uma das pessoas que prezo imensamente é a Dra. Kristina Svartholm, da Suécia. Em nome da comunidade Surda brasileira, pedi para que ela elaborasse um documento a respeito da inclusão de crianças Surdas, o que ela fez com prazer (carta ao Mec – Publicada na seção Espaço Acadêmico). Quero fazer das palavras dela as minhas palavras.

Encaminhei o documento por ela elaborado, traduzido por Helena Moura de Almeida e revisto por mim e pela profa. Dra. Kathryn Harrison, para a Feneis e para a Associação de Surdos de São Paulo para que eles pudessem apreciá-lo. Soube pelo Sr. Neivaldo Augusto Zovico, Diretor Regional da Feneis-SP e Conselheiro do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora com Deficiência, que o documento será encaminhado ao MEC.

Para finalizar, desejo apenas reiterar que concordo com tudo o que é colocado pela Dra. Svartholm e me coloco à disposição para maiores informações que se façam necessárias.

Profa. Dra. Maria Cecilia de Moura Faculdade de Fonoaudilogia PUC/SP

Parabéns Feneis!

Meu nome é Edvaldo Luiz e durante muitos

anos trabalhei com a Feneis aqui na fundação, no

IPEC. Bem, hoje dando uma olhada na Internet,

nos meus favoritos, achei o site da Feneis. Resolvi

ver o que tinha de novidade e descobri que a

Feneis completou 20 anos. Então me perguntei:

será que eu faço parte deste acontecimento? Afinal

de contas, trabalhei durante quase 5 anos com

ela. (...) Até hoje guardo grande admiração por

todos. Foi através da Feneis que conquistei minha

autoconfiança e vi que mesmo sendo portador de

deficiência temos um mundo a conquistar, e tam-

bém temos que ser respeitados como pessoa.

Agradeço a todos da Feneis por tudo aquilo que

me foi ensinado nesses quase 5 anos e por tudo

que conquistei no tempo que estive com vocês.

Parabéns! São muitos anos de ensinamentos para

várias pessoas, sejam elas deficientes ou não.Edvaldo Luiz Neves de Araujo

Solicitação de revista

A Biblioteca Anísio Teixeira, como Instituição

Pública, prepara-se para ser referência no atendi-

mento ao surdo na Bahia. Por isso, gostaríamos

de saber se há possibilidade de receber a Revista

da Feneis, a fim de dar continuidade ao nosso

projeto e disponibilizar a inclusão social, cultural

e educacional do surdo baiano.Ângela C.F.D. da Silva

Diretora

Feneis respondeOs pedidos de solicitação de revistas gratuitas

são examinados pela Diretoria da Feneis e tão logo aprovados encaminhamos as publicações. Ficamos felizes com o interesse pela Revista.

cartas do leitor

Site da Feneis

www.feneis.org.br

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Revista da Feneis | 7

comunicando

Oficina aberta de Libras é Legal

“Inclusão, Ação e Cidadania”

Cultura surda

ERRATA 1

Os créditos correspondentes ao artigo ‘Questões emergentes sobre a contratação dos intérpretes de Língua Brasileira de Sinais”,

publicado na Revista da Feneis nº 33 (julho-setembro) corretos são: Silvana Aguiar dos Santos, intérprete de Língua de Sinais na Uni-

versidade do Sul de Santa Catarina e na Universidade Federal de Santa Catarina; Josiane Aguiar dos Santos, acadêmica do curso de

Direito da Universidade do Vale do Itajai (Univali) .

ERRATA 2

No artigo “Metas para a realização do projeto Índio Surdo no Brasil”, de Shirley Vilhalva, publicado na Revista da Feneis nº33

(Julho-Setembro) a pesquisa realizada por Marisa Giroletti, mencionada no texto (página 21), é em Ipuaçu (SC), com o grupo indígena

Kaingang, e não no Rio Grande do Sul como foi informado.

Aconteceu em São Paulo a primeira oficina aberta do projeto Libras é Legal. O evento or-ganizado pela equipe do projeto Libras é Legal juntamente com a Feneis-SP foi realizado no segundo semestre de 2007, às 14h, no auditório

do Centro Universitário Assunção (Unifai). A ofi-cina esteve aberta aos surdos, pais, educadores, empresários, colaboradores e a todos os interes-sados, e foi mais uma oportunidade de divulgação do Kit Libras é Legal.

A Prefeitura de Belo Horizonte promoveu, de 21 a 30 de setembro, a 14ª Semana da Pessoa com Deficiência. O tema deste ano foi: “Inclusão, Ação e Cidadania”. Participou um número expressivo

de pessoas de todas as áreas de deficiência, que puderam trabalhar questões importantes ligadas às dificuldades e possibilidades de inclusão em nossa sociedade.

Com os objetivos de mapear espaço e local da cultura surda, analisar as contribuições da educação de surdos e identificar as relações entre as dife-rentes perspectivas e possibilidades de pesquisas, foi realizado de 12 a 14 de novembro, na Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima, o Primeiro Seminário Nacional de Cultura Surda, em Caxias do Sul. O evento trouxe a experiência de instrutores, professores, pesquisadores e outros profissionais que trabalham com surdos.

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8 | Revista da Feneis

notícias regionais

Passeatas no Ceará e no Sul em prol dos surdos

A militância surda e as es-colas de surdos através de seus alunos, professores, intérpretes e simpatizantes da causa surda do Rio Grande do Sul e Ceará foram convocados a participar de um movimento em prol dos direitos humanos e lingüísticos dos surdos. No Ceará, a manifes-tação veio na forma de passeata. Tratou-se da VII Caminhada dos Surdos. No sul, o movimento se concentrou numa praça de Porto Alegre. Ambas aconteceram em setembro, com direito a bandei-ras, faixas e camisetas sobre o movimento. Em Fortaleza, hou-ve ainda apresentação artística, grupo de dança com surdos e o Hino Nacional em Libras. Embo-ra tenha acontecido em lugares diferentes, o objetivo era único.

Decreto nº 5.626No documento de convoca-

ção, a FENEIS do Rio Grande do Sul declara: “Precisamos lembrar aos nossos governantes sobre o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e o Art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000”. A partir de um ano da publicação desse Decreto, os sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as

de educação superior deveriam incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério.

Isso está acontecendo?De acordo com os organiza-

dores da Feneis-RS, as universi-dades precisam abrir suas portas para a diferença surda. Conforme o art. 10, as instituições de edu-cação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Li-bras – Língua Portuguesa.

Já no art. 12, é dito que as ins-tituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem via-bilizar cursos de pós-graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação do Decreto nº 5.626. Mesmo com todo esse respaldo legal, a Federação, percebendo que nada tem acon-tecido para fazer valer esse Lei, levanta alguns questionamentos: “Até quando teremos de implorar por intérpretes em eventos públi-cos, no Detran, em órgãos públi-cos? Que políticas estão sendo pensadas para os surdos?”

Contratação de professores surdos

“Queremos a contratação de professores surdos nas diferentes disciplinas em escolas estaduais e municipais, e que concursos públicos tenham as provas de Li-bras”, declarou os organizadores do movimento no Sul. De acordo com o art. 29, o Distrito Fede-ral, os estados e os municípios definirão os instrumentos para a efetiva implantação e o controle do uso e difusão de Libras e de sua tradução e interpretação, referidos nos dispositivos deste Decreto.

Já o art.30 define que os ór-gãos da administração pública estadual, municipal e do Distrito Federal viabilizarão as ações previstas neste Decreto com dotações específicas em seus orçamentos anuais e plurianuais, prioritariamente as relativas à formação, capacitação e quali-ficação de professores, servido-res e empregados para o uso e difusão da Libras e realização de tradução e interpretação de Libras.

Embora seja claro o texto legal, percebe-se uma grande dificuldade de ele ser colocado em prática. Situação como essa, torna manifestações como as de Fortaleza e Porto Alegre cada vez mais legítimas.

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Revista da Feneis | 9

notícias regionais

Surdos de São Paulo se manifestam a favor das classes especiais

A luta pelos direitos dos surdos, que já vem ganhando terreno ao longo dos anos, ga-nhou fôlego novo no dia 29 de novembro com uma manifesta-ção contra a Portaria nº 555, do Ministério da Educação (MEC). O documento proíbe a criação de novas escolas especiais para defi-cientes e obriga as já existentes a se transformarem em centros de atendimento, funcionando como um complemento educacional. Dessa forma, pessoas com e sem deficiência passariam a conviver num mesmo ambiente, nas esco-las regulares.

Segundo os organizadores, o protesto levou às ruas mil manifes-tantes. No entanto, a Polícia Militar disse que foram 700. Instituições da comunidade surda como a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis) e a Associação Suíço-Brasileira de Ajuda à Criança (Brascri), entre outras, pediram modificações no conteúdo da Portaria.

Neivaldo Zovico, diretor re-gional da Feneis em São Paulo, deu voz à comunidade surda. “O objetivo principal da manifesta-ção é pelo não fechamento das escolas especiais. Os surdos têm cultura e identidade próprias, e acredito que seria um erro im-possibilitar uma criança surda

do convívio com outras iguais a ela, pelo menos no início do processo educacional. O MEC não consultou ninguém da nossa comunidade. O processo precisa ser revisto”, declarou Zovico, que usava camiseta com os dizeres “Inclusão social, sim. Inclusão na Educação, não”, um dos slogans da passeata.

tiane do Prado, diretora da Escola Municipal de Educação Básica Especial (Emebe) Neusa Basset-to, de São Bernardo do Campo (SP), que trabalha com crianças surdas há 9 anos. “Acredito que a convivência no ambiente regular deva ocorrer no ensino médio e superior, quando a formação já se encontra num estágio avança-do”. Mais de duas centenas de crianças da instituição também participaram da passeata.

No entanto, havia vozes a favor da Portaria. Eugênia Fáve-ro, Procuradora do Ministério Público Federal e mãe de um filho com síndrome de Down, chamou a atenção para outros aspectos. “Estamos vivenciando um momento histórico único. A iniciativa da portaria vem ao en-contro da história e dos interesses das pessoas com deficiência e de suas famílias, para que seus filhos não precisem mais estudar exclu-sivamente segregados em insti-tuições filantrópicas. Não se trata de extinguir escolas especiais, mas de aprimorar sua atuação junto às pessoas com deficiência, assumindo um papel de suporte ao sistema regular de ensino”. Ao que tudo indica, trata-se de uma longa discussão. Espera-se que no desfecho os direitos dos surdos sejam preservados.

Escolas especiais, pais de alu-nos surdos e os próprios alunos participaram da manifestação, que se concentrou no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP) e depois seguiu por uma das faixas da Avenida Paulista. “A Língua Brasileira de Sinais, a Li-bras, é a primeira língua do surdo e todo o trabalho pedagógico é feito em cima dela”, afirmou Cris-

A manifestação reuniu cerca de mil pessoas

Fotos: Feneis

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10 | Revista da Feneis

notícias regionais

O diretor regional da Feneis-RJ recebe a homenagem representando a instituição:

“esse prêmio é o reconhecimento de uma entidade que luta pelos direitos dos surdos e que tenta também ajudar

os demais deficientes”

Foto: arquivo Feneis

Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência homenageia Feneis

A Feneis, ao lado de outras instituições de defesa e apoio ao deficiente, recebeu um prêmio oferecido pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPD), do Rio de Janeiro, no mês de dezembro. Walcenir Souza, diretor re-gional da Feneis-RJ, recebeu a homena-gem, em nome da instituição, das mãos de Leda de Azevedo, da SMPD.

“Esse prêmio é o reconhecimento da Feneis como uma entidade que luta pe-los direitos dos surdos, mas que na me-dida do possível tenta também ajudar os demais deficientes”, afirmou Walcenir. Na ocasião, ainda foram contempladas cerca de 20 instituições, ONG’s, em-presas privadas e públicas. O prêmio, que já está na sua sétima edição, foi dividido em sete categorias.

Sobre os projetos para 2008 da Feneis-RJ, Walcenir declarou que um deles é “fazer mais convênios, porque ainda existem muitos surdos que estão desempregados devido ao problema da baixa escolaridade, sendo que só alguns poucos, com uma escolaridade melhor estão bem empregados”. Também se-gundo Walcenir, as empresas ainda não estão conscientes de que os deficientes precisam de emprego e por isso a Feneis está lutando para abrir novas oportuni-dades de trabalho.

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Revista da Feneis | 11

Feneis comemora 20 anosO dia 26 de setembro de 2007

teve motivo para ser duplamente comemorado pela comunidade surda. Além do Dia do Surdo, lembrado todos os anos, a data marcou o aniversário de 20 anos da Feneis. Para festejar em gran-de estilo, a Federação organizou um evento no dia 28, no Senai-RJ, que contou com a participação de palestrantes nacionais e in-ternacionais que tiveram como principal objetivo debater o tema Integração e Superação: marcas de 20 anos de caminhada.

Após a execução do Hino Nacional em Libras, foram apre-sentados os primeiros integrantes da mesa composta pela a ex-presidente Ana Regina e Souza Campello, o ex-presidente e um

dos diretores regionais da Feneis Antônio Campos de Abreu e o atual presidente instituição, An-tônio Mário Souza Duarte.

A primeira convidada a falar foi Ana Regina, que contou a todos como foi a origem da Feneis, men-cionando o primeiro Congresso para pessoas deficientes, reali-zado em Pernambuco e como, a partir daí, a idéia de construir uma federação para a defesa dos surdos foi sendo consolidada. Ela contou ainda como foi a transição de uma diretoria toda composta por ouvintes para uma diretoria formada por surdos, que, segundo ela, é muito mais apropriada, já que conhece de perto as neces-sidades das pessoas que repre-senta. Ana Regina ainda falou de

quantas assembléias precisaram ser realizadas para que os surdos obtivessem um novo estatuto e de como a inclusão das legendas favoreceu o acesso à informação e ao entretenimento.

Depois de Ana Regina foi a vez do também ex-presidente da Feneis, Antônio Campos se pro-nunciar. Ele expôs sobre algumas curiosidades como o significado da logomarca da Federação, que apresenta as duas mãos como um símbolo de força e união, e mostrou uma relação de nomes cogitados para a Federação na época em que foi criada.

Em seguida, os presentes ouvi-ram a palavra do atual presidente da Feneis Antônio Mário, que reiterou a sua posição de manter

capa

Auditório do Senai lotado durante as comemorações pelos 20 anos da Feneis e pelo Dia do Surdo

Fotos: Feneis

capa

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12 | Revista da Feneis

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sempre a Feneis de portas abertas para os surdos, para que eles cri-tiquem e sugiram melhorias e as-sim possam construir um legítimo órgão de representação. Ele ainda falou da vitória que foi a inaugura-ção da nova sede da Feneis e da sala de intercâmbio, que pretende promover a convivência e a troca de experiências entre surdos de todo o mundo. Encerrando a sua exposição, Antônio Mario cha-mou ao palco os ex-funcionários do INES, Sebastião e Natalino, para homenageá-los pelo trabalho realizado como inspetores desde que o próprio Antônio Mario era aluno. Logo em seguida, Ana Regina e Antônio Mário também

foram agraciados com placas em homenagem à grande contribui-ção à causa dos surdos.

O terceiro palestrante Gus-tavo Vergara, representante da Associação dos Surdos do Chile, que discursou sobre os primór-dios da associação de surdos de seu país, quando as reuniões aconteciam na sua própria casa e explicou como essa mesma casa hoje, após diversas reformas, ainda abriga essa associação que, felizmente, cresceu e já pode garantir o básico de qualidade vida para os seus representados. Dentro dessa entidade funciona ainda um grupo voltado para os jovens, atuando com elementos

lúdicos e com peças de teatro para promover a conscientização da população em torno da causa surda. Além disso, a instituição oferece um espaço aberto aos idosos que buscam o convívio e a integração com seus semelhan-tes e investe na elaboração de projetos e de relatórios que são encaminhados oas governantes do país. Durante a sua palestra, ela exibiu um acervo de fotogra-fias sobre o trabalho realizado com os surdos do Chile.

A próxima palestrante a ocu-par o palco foi a presidente da Confederação Nacional dos Surdos argentinos, Maria Rosa Druetta, que iniciou a sua expla-nação parabenizando a Feneis pelo trabalho realizado no Bra-sil. Ela esclareceu que o maior problema com as associações de surdos da Argentina é o fato de cada uma delas ficar muito dis-tante das outras, o que dificulta uma unificação. Ela ressaltou que, apesar de possuir grande poten-cial para a luta, os surdos daquele país acabam sendo prejudicados pela questão da distância, mas que pretende lutar para que essa realidade seja superada. Após mostrar algumas fotos do trabalho dos surdos, Maria Rosa falou sobre a importância de se promover discussões em toda a América Latina sobre os assuntos de interesse dos surdos, para que, por meio desse intercâmbio se chegue à soluções comuns a todos. Ela terminou sua palestra ressaltando a importância de se ter garra e não desanimar, mesmo diante dos maiores empecilhos.

Depois disso, foi oferecida uma homenagem ao deputado fe-deral Otávio Leite pelos esforços

O presidente Antônio Mário, diretores da Feneis-RJ e funcionários: satisfação com o resultado do evento

Intérpretes que atuaram durante o evento ao lado do presidente da Feneis Antônio Mário (ao centro)

capa

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Revista da Feneis | 13

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empenhados na causa dos surdos. Ele, que não pôde comparecer ao evento, enviou sua representante que elogiou a fidelidade do públi-co surdo e prometeu continuar a lutar pelos seus direitos.

A palestra seguinte foi coorde-nador de Projetos Sociais/gestor de contratos da Fundação Oswaldo Cruz, Jorge da Hora, que falou sobre o conceito de empregabi-lidade e como ele se aplica aos surdos. Para ele, esse conceito está cada vez mais ligado à idéia de formação profissional e destacou que, embora atualmente 185 tra-balhadores surdos componham os quadros da Fundação, apenas um deles tem formação superior. Ele declarou que é imprescindível in-vestir na educação e no aperfeiçoa-mento profissional e que a política da Fiocruz é de sempre incentivar seus funcionários a retomarem as suas atividades acadêmicas. Ele reconheceu as dificuldades de se obter educação adequada e citou o exemplo e esforços da própria fundação nesse sentido, oferecen-do cursos de Libras, de informática e intérpretes em todos os cursos de atualização da empresa.

Também esteve presente ao evento a presidente do Centro dos Surdos do Paraguai,Maria Cristina Mongelo, que falou sobre a atuação das associações para a defesa dos direitos dos surdos e congratulou a Feneis pelo seu trabalho.

O assunto abordado em se-guida foi o projeto Libras é legal, abordado por Marcelo Silva Lemos, primeiro vice-presiden-te da Feneis, que relatou toda a trajetória do projeto até a sua realização que tem como meta capacitar instrutores de Libras. Para isso, houve a distribuição de diversos kits compostos por

livros, dicionário de Libras e livros para os surdos, seus fami-liares e educadores. O projeto, patrocinado pela Petrobrás, veio preencher uma lacuna deixada após a regulamentação da Libras, que evidenciou que apenas mui-to poucos estavam de fato aptos a trabalhar com essa Língua. Os resultados têm sido muito posi-tivos, o que encoraja a expansão do projeto por todo o Brasil.

Na ocasião, a linguista e coor-denadora do Projeto Interiorizan-do a Libras/MEC Tânia Amara Felipe que agradeceu e parabe-nizou a Feneis pelas inúmeras conquistas e depois questionou

Homenagem da Feneis aos funcionários aposentados do Ines

Representante do deputado federal Otávio Leite recebe homenagem

O movimento foi intenso na recepção do evento realizado no Senai

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sobre qual delas teria sido a mais importante. Após citar inúmeros itens, Tânia reiterou a sua ad-miração pela Benedita da Silva que prestou um grande serviço durante o processo de regula-mentação da Libras. Em seguida, a representante de Benedita da Silva, secretária Estadual de Direitos Humanos , foi ao palco para receber a homenagem da Feneis e falou sobre a importân-cia de se continuar na luta por melhores dias para os surdos.

Dando seqüência aos traba-lhos, a segunda vice-presidente da Feneis Shirley Vilhalva, expôs sobre as diversas vitórias obtidas pelos surdos nos últimos anos, como a conquista da nova sede, a veiculação de legendas e as parcerias com as demais associa-ções de surdos. Falou também de como ela se sente realizada de ter participado ativamente de todos esses processos.

O diretor da regional da Fe-neis/DF, Messias Ramos Costa, foi o convidado seguinte a subir

ao palco. Ele falou sobre a criação e sobre o histórico da regional, apresentando fotografias sobre os trabalhos desenvolvidos por ele e por sua equipe. O convidado seguinte foi o chileno Alexeis Vergara Estibill, representante da Secretaria Regional Sulamérica da Federação Mundial de Surdos (FMS),que falou sobre a grande responsabilidade de representar os povos surdos de todo o mun-do, apesar das enormes diferen-ças regionais. Entre outras ques-tões, ele falou da importância de se identificar questões comuns a todos, a fim de serem levadas à próxima reunião que deverá ocor-rer em 2008, no Equador.

Na seqüência, Marcelo Ca-margo, representante da empresa de legendas Drei Marc, falou das novidades em termos de legendas e da satisfação em desenvolver essa parceria com a Feneis.

O intérprete da Feneis Evan-dro Oliveira, que fez uma avalia-ção do trabalho dos intérpretes de Libras no Brasil, mencionando

as dificuldades da profissão e apontando novos rumos para os que desejam se dedicar a esse trabalho.

Teve vez também a psicóloga da Feneis, Eliane Gonçalves, que especificou a sua função na área de Recursos Humanos e sobre como é feito o acompanhamento dos surdos que atuam em empre-sas parceiras da Feneis.

Antes do encerramento, o presidente Antônio Mário entre-gou uma placa de homenagem ao ex-presidente da Feneis, Fernando de Miranda Valverde, que não pôde receber no início do evento com os demais ex-pre-sidentes da Feneis. Na ocasião, ele anunciou a apresentação do Grupo Teatro Brasileiro de Surdos, que ofereceu à platéia a encenação de dois contos estran-geiros. O grupo, que já foi pre-miado e representou o Brasil em um festival de teatro em Madrid, agradou em cheio o público, que antes de deixar o auditório, ainda participou de sorteios.

Neivaldo Zovico, da Regional de São Paulo, entregando prêmios aos que participaram dos sorteios

Integrantes do Teatro Brasileiro de Surdos que se apresentaram na ocasião

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Jorge da Hora, representante da Fiocruz

Ana Regina e Souza Campello,ex-presidente da Feneis

Antônio Campos, ex-presidente e atual diretor Reg. da Feneis/BH

Gustavo Vergara, da Associação dos Surdos do Chile

Marcelo Camargo, da Drei Marc

Marcelo Lemos, primeiro vice-pres. da Feneis e representante do “Libras é Legal”

Antônio Mário Sousa Duarte, presidente da Feneis

Neivaldo Zovico, diretor regional da Feneis/SP

Evandro Oliveira, intérprete da Feneis e palestrante

Shirley Vilhalva, segunda vice-presidente da Feneis

Alexeis Estibill, da Sec. Reg. Sulamérica da FMS

Maria Cristina Mongelo, do Centro dos Surdos do Paraguai

Maria Rosa Druetta, pres. da CNS da Argentina

Eliane Gonçalves, da área de Recursos Humanos da Feneis

capa | os palestrantes

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AS NARRATIVAS: O QUE OS SURDOS NOS CONTAM?

As histórias surdas revelam um saber fundamental para a construção de políticas edu-cacionais inclusivas bilíngües, uma vez que traz à tona, sa-beres outrora subalternizados, tutelados pelo saber científico baseado na clínica. Esse saber subalternizado é denominado por Foucault (2002) de “saberes sujeitados”. E por “saberes sujei-tados”, Foucault (2002) entende o seguinte:

[...] são blocos de saberes his-tóricos que estavam presentes e disfarçados no interior dos conjuntos funcionais e siste-máticos, e que a crítica pôde fazer reaparecer pelos meios, é claro, da erudição. [...] toda uma série de saberes que estavam desqualificados como saberes insuficientemente elaborados: saberes ingênuos, saberes hie-rarquicamente inferiores, saberes abaixo do nível de conhecimento ou da cientificidade requeridos (FOUCAULT, 2002, p. 12).

E foi justamente no reapare-cimento desses saberes, desses “saberes de baixo” ou des-qualificados, ou seja, o saber do “deficiente auditivo”, do

As narrativas surdas: resistência a uma proposta educacional atual

Lucyenne Matos da Costa*

anormal surdo, dos intérpretes, e dos professores surdos que surgiu a crítica. E esses saberes reaparecem com as narrativas surdas sobre a educação e a po-lítica. Foucault (2002) denomina esses saberes de “saberes das pessoas”, que não é, segundo o autor, de modo algum, um saber de senso comum. Mas se trata de um “saber particular, um saber local, regional, um saber diferencial, incapaz de unanimidade” (FOUCAULT, 2002, p. 12) que deve a sua força exatamente ao fato de se opor àqueles que os rodeiam, e os desqualificam.

E ao me encontrar com os narradores surdos, as primei-ras histórias que me contavam estavam relacionadas à escola. Histórias catárticas, marcadas por denúncias, humor, verdades e exageros. Mas, todas elas re-presentavam principalmente as resistências e as críticas a tudo que se chamava historicamen-te de educação de surdos, ou ainda, educação do deficiente auditivo.

Essas narrativas, além de romperem com a ordem do discurso impresso, constituem uma outra ordem, uma outra singularidade, pontuada por

críticas, denúncias, queixas, propostas. Muito tem o surdo a dizer e, por isso, muito temos nós a saber.

A supressão do uso da Língua de Sinais

Skliar (2003) afirma que a surdez, para a maioria dos ou-vintes, representa uma perda de comunicação, um protótipo de auto-exclusão, solidão, silêncio. Em nome dessas considerações sobre a pessoa surda, continuam sendo praticadas as mais incon-cebíveis práticas de controle:

“[...] a violenta obsessão por fazê-

los falar; a localização na oralida-

de do eixo único e essencial do

projeto pedagógico; a tendência a

preparar os surdos jovens e adul-

tos como mão-de-obra barata; a

formação paramédica e religiosa

dos professores; a proibição de

utilizar a língua de sinais e sua

perseguição e vigilância em todos

os lugares; [...], a ausência da

língua de sinais na escolaridade

comum, o desmembramento, a

dissociação, a separação, a fra-

tura comunitária entre crianças

e adultos surdos etc.” (SKLIAR,

2003, p.163).

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Tendo em vista as coloca-ções do autor, vale ressaltar as principais denúncias dos surdos, que são relacionadas justamente com a supressão do uso da Lín-gua de Sinais. Isso se dava com violência psicológica (até hoje há esse tipo de violência) e, mui-tas vezes, com violência física (mais incidentes no passado). Os surdos sempre iniciam suas nar-rativas com essas denúncias.

“Eu estudava na APAE e lá, na minha terra, não existia nada para mim. Eu estava totalmente fora da realidade. As pessoas moviam as bocas perto de mim apenas. Não conhecia os signi-ficados das palavras. Por exem-plo, CASA é o quê? CARRO? Absolutamente nada. Só sabia as palavras erradas. Falava os nomes errados. Eu tinha muita tristeza. Eu só fui aprender sinais com minhas colegas surdas, no dia-a-dia. Eu via os sinais e pen-sava: nossa... como é legal! Mas, quando eu comecei a aprender os sinais, na escola era proibido usá-los. As professoras batiam na mão. Falavam que era coisa de macaco. No entanto, eu apren-di as palavras, os sentidos, por exemplo: água, casa, escola etc. Tudo passou a ter sentido! E eu só aprendi sinais mesmo com 20 anos! Até essa idade, eu não sabia nada” (S., 32 anos).

“Eu vi uma situação uma vez que me chocou: a professora mandava a gente comer banana quando errávamos uma palavra. Não precisava comer a banana se, por acaso, acertássemos a palavra falada. Mas se errás-semos tínhamos que comer a banana. Era como se estivesse nos chamando de macacos. O surdo sofre mesmo. Isso foi na APAE” (E., 23 anos).

As práticas pedagógicas/clínicas na escola: o currículo e as práticas rotineiras

As narrativas surdas são fon-tes muito ricas de análise do cur-rículo praticado até hoje com os surdos. São inclusive fontes para propostas de novas pedagogias, novas formas de dar aulas. No meio de muitas críticas e de-núncias de como é praticado o ensino nas escolas de surdos, há também muitas propostas de novas possibilidades. Afinal, todos os surdos reivindicaram mudanças nessa situação.

“Eu larguei a escola porque ninguém agüentava as ativida-des repetidas. Era sempre a mes-ma coisa. Todos os dias a mesma coisa, a mesma coisa... Eu me revoltei e não quis saber mais. A professora sempre ensinava: A-B-C-D e, no dia seguinte, A-B-C-D. Ai, horrível! As professoras velhas que ensinam a mesma coisa até hoje precisam sair. É preciso tirá-las de lá. E no lugar devem ficar professoras que saibam e ensinem em Libras, pessoas com novos cursos de formação. Quando eu estava lá, nunca mudava. Sempre era a mesma coisa. O ensino da Lín-gua Portuguesa era fraco, muito fraco. E de Matemática, era adição e subtração apenas. Só isso que se ensinava. Eu queria que também ensinassem multi-plicação, divisão. Isso elas não davam para mim. Só a mesma coisa. Conteúdo de bebê. Elas passavam atividade e iam tricotar na sala de aula. Ou ainda bater papo com outros professores e até fumar no corredor. Era horrível. Eu achava um absurdo. Nunca concordei. Sempre fiquei muito revoltado. As aulas eram dadas falando, oralmente. Os

surdos não entendem nada. Não ouvem nada mesmo! Isso acon-tecia numa escola própria para surdos. Elas escreviam no quadro e perguntavam: ‘Entendeu?’ Bla-bla-bla-bla-bla-bla-bla. Os surdos ficavam sem entender nada. Elas nos tratavam como ouvintes. Parecíamos ouvintes. Parecíamos iguais aos ouvintes, mas não ouvíamos. Simplesmen-te abandonei a escola. Eu larguei a escola em 1978. Eu aprendi muito mais com a vida. Entrei na política e aprendi muito mais vivendo por aí questionando e criticando. Não aceito ser tra-tado como criança. Dentro da escola era pior. Eu queria apren-der Português. Eles colocavam um palito de picolé na boca da gente, mandavam a gente falar A-A-A-A, B-B-B-B, e colocavam o fone: A-A-A-A, B-B-B-B. Mas o que era A-A-A-A, B-B-B-B? Um dia eu encontrei na rua aquele alfabeto manual e pensei: ‘Ah, isso sim é A-A-A-A, B-B-B-B. Puxa, que legal’. Isso foi dentro de um ônibus, porque, na escola, elas nunca se interessaram e di-zer o que era A-A-A-A, B-B-B-B. Por causa da Língua de Sinais, eu abandonei a escola. Eu vi a Língua de Sinais e aprendi muito. O mundo se abriu. Foi aí que eu aprendi e descobri que a escola era péssima” (E., 50 anos).

A “escola dos ouvintes”: o movimento atual de inclusão escolar em foco

Ao tratar de assuntos escolares, os narradores diversificavam seus pontos de consenso. Apesar de todos contarem histórias muito parecidas (neste trabalho temos apenas recortes), um dos pontos de consenso é a crítica e a des-confiança das políticas municipais

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que, no momento, primam pelo afinamento com o discurso da in-clusão como política educacional. Quero esclarecer que os surdos não são contra a inclusão, mas desconfiam dessa inclusão que o MEC aponta, que trata de colocá-los na mesma sala dos ouvintes sem ao menos uma discussão teórica mais relevante sobre os processos desse tipo de política. Vamos, neste espaço, falar de questões relevantes apontadas pelas narrativas surdas em conso-nância com as pesquisas que têm sido construídas nesse aspecto.

“Numa escola ouvinte, o surdo fica isolado. Só recebendo men-sagens faladas sem ter contato em Língua de Sinais. Só se aprende com um amigo do lado, porque a gente copia tudo do amigo. O professor ouvinte é muito chato. Dá muito trabalho. Uma escola, para mim, tem que ter intérprete em todas as disciplinas, e profes-sores surdos. Os ouvintes atrapa-lham. Eu sonho com intérpretes... Nós entenderíamos mais rápido. Esse é o jeito do surdo. É melhor assim” (C., 32 anos).

Eu fico até confuso: a escola do surdo tem surdo mas não pode fazer sinais. A escola do ouvinte não têm surdos e pode fazer sinais. Mas eu vou fazer si-nais com quem? Então não pode sinais em nenhum dos dois! É muito difícil para o surdo. É muita confusão. Seria mais fácil escolas para surdos e escolas para ouvintes. Por que misturar? O Governo não quer é pagar intérpretes” (C., 23 anos).

interessante observar também que os surdos narram suas expe-riências nas “escolas dos ouvin-tes”, sem realmente conhecer o sinal da palavra inclusão, tão comumente utilizada no meio

acadêmico e escolar, principal-mente. Apesar de a palavra inclu-são ter um sinal correspondente na Língua de Sinais, foi traduzida na seguinte expressão: “surdos misturados com ouvintes nas escolas dos ouvintes”.

Não existe por parte dos sur-dos, um sentimento de pertenci-mento ao grupo da “escola dos ouvintes”. Muitas desconfianças, muita descrença e a possibilida-de de estar só são fatores muito negativos que os surdos cultivam em relação a esse movimento da política educacional.

A PROPOSTA EDUCACIONAL DOS NARRADORES SURDOS

“Meu sonho é uma escola com professores surdos, com surdos aprendendo tudo em sinais. Com intérpretes também. As crianças precisam aprender sinais” (C., 32 anos).

“Penso que, no futuro, a escola dos surdos deve dar os conteúdos em Libras. Eu sou apaixonada pela Libras. Hoje dou aula de Libras para profes-sores e para as crianças. Mas queria trabalhar os conteúdos. Todas as crianças devem apren-der Libras. É o que diz a lei. Eu fico muito feliz. Para que elas não passem pelo que passei para chegar aqui onde estou. E nada de surdos com ouvintes misturados. É melhor que os sur-dos fiquem juntos. Eles também precisam conversar e aprender os conteúdos de forma profun-da. E outra coisa, com os sinais se aprende muito mais a Língua Portuguesa” (M., 24 anos).

“Libras como L1 e Português como L2. É assim que deve ser na escola dos surdos futuramente. E eu serei professor” (C., 40 anos).

Alguns pontos podem ser observados na proposta educa-cional dos narradores surdos: a valorização da Língua de Sinais como a primeira língua do sur-do; a não infantilização do con-teúdo: um currículo acessível; a relação surdo-surdo: a consti-tuição das marcas culturais e a busca por uma pedagogia visual e bilíngüe.

CONSIDERAÇÕES FINAISParaf raseando Foucault

(2005): quando os surdos co-meçaram a falar, viu-se que eles tinham uma teoria sobre a educa-ção, sobre os poderes aos quais eram submetidos. Essa espécie de discurso contra o poder, esse contradiscurso expresso pelos surdos, ou por aqueles que são chamados de deficientes auditi-vos, é fundamental, e não uma teoria sobre a surdez.* Mestre em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Professora bilíngüe e intérprete de Língua de Sinais. Coordenadora do trabalho com surdos no município de Vila Velha no Estado do Espírito Santo. [email protected]

ReferênciasCOSTA, Lucyenne Matos. Traduções e marcas

culturais dos surdos capixabas: os discursos desconstruídos quando a resistência conta a história. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2007.

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

. Microfísica do poder. 21. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2005.

SKLIAR, Carlos. Pedagogia (improvável) da diferença: e se o outro não estivesse aí? Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

NotasEste artigo é parte dos dados da minha pesquisa de mestrado pela Universidade Federal do Espí-rito Santo: COSTA, Lucyenne Matos. Traduções e marcas culturais dos surdos capixabas: os discursos desconstruídos quando a resistência conta a história. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2007.Em minha pesquisa (COSTA, 2007) trago esse saber local como narrativas de resistência da comunidade surda capixaba, anos surpreendendo o oralismo vigente e, hoje, vivendo as controver-tidas políticas educacionais inclusivas.

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Produzir, resistir e organizar-se. O slogan dos estudantes no campus universitário da UFSC, na cidade de Florianópolis, me levou a questionar, refletir e proceder ao poder, por meio de “negociação”, conforme mostra o discurso dos estudantes da UFSC e que servirá de moldes para os surdos-mudos.

A palavra “negociar”, no di-cionário Aurélio, quer dizer que é “fazer negócios, comercializar“ ou “manter relações para con-cluir tratados ou convênios” ou “concluir, ajustar” ou “comprar ou vender”. Todos os significa-dos dependem do contexto que impere na estrutura da Língua Portuguêsa, no caso do verbo, seja ele o transitivo direto, transi-tivo indireto, ou transitivo direto e indireto (bitransitivo).

Porém, o mais interessante é que a “negociação é uma arte”, e esta arte não se encontra em qualquer pessoa, por vários fatores: educação, economia, cultura, lingüística, política, classe social, entre outros.

Na Pré-Histórica, quando:

“...o Homo sapiens andou pelo

mundo milhares e milhares de

quilômetros quase se extinguiu

“Existir para existir!”Slogan do Campus Universitário da UFSC – Florianópolis (SC)

Ana Regina Campello*

em novos ciclos de eras glaciais,

encontrou o Neanderthal e o

Homo erectus, travaram guerras

pela sobrevivência, para dominar

o melhor território de caça, pes-

ca, coleta, as melhores cavernas,

além de enfrentar mamutes e ani-

mais pré-históricos, e apesar disso,

tudo sobreviveu. O Neanderthal e

o Homo erectus se extinguiram.”

(Coelho, p.407, 2002)

Na Idade Média, a negocia-ção envolveu a divindade como predominância que vigorou todo período medieval, cujo rei ou a rainha tinha o papel de “obedecer a Deus e servir à Igreja; assegurar a justiça e a paz ao seu povo; e prover suas ne-cessidades” (Piovezani, p. 133, 2004). Este foi um dos caminhos da dessacralização do poder1 divino para humanizar o poder político do povo feudal.

Com isso, a burguesia apro-veitou os trâmites da “negocia-ção” como elevação de status econômica e passou a criar um novo conceito: civilização, no intuito de “controlar a mente, corpo político e poder discipli-nar” (FOUCAULT, 1987)

Na Idade Clássica, com a elevação do status econômico,

passou a agir de acordo com regras como: comportar-se com estilo, higienizar, usar boas maneiras, modo de falar e de etiqueta para diferenciar a elite aristocrástica os demais estratos2 sociais mais abastados e sem poder político.

Com a Revolução Francesa, o “terceiro estado”3 passou a ter acesso unitário: igualdade, fraternidade e justiça. Houve a unificação da língua nacional, como uma “negociação” para estabelecer o direito: liberdade como cidadão.

Com este direito, como cida-dão, os Surdos-Mudos estão inseridos no processo histórico e da construção da comunidade e nação Surda-Muda, através de “negociação”, como o famoso “Banquete de l’Epèe”, em que em todos os anos reuniam-se os famosos escritores, pintores, cronistas, jornalistas franceses e um terço da população Sur-da-Muda que nunca foi para a escola. Este banquete foi um “estopim” para a criação de Associações de Surdos-Mudos, porque a necessidade dele pro-vém de um discurso construído pelos líderes Surdos-Mudos franceses. Tudo era engajado

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na filosofia: defender os direitos como cidadãos franceses e o uso da Língua de Sinais francesa, como processo de comunica-ção e de instrução por meio da modalidade viso-gestual.

Do processo histórico até a presente data, não podemos deixar escapar a “negociação”, que acontece todos os dias, em todos os momentos da vida, e, para isso, preconizo a importân-cia de saber “negociar” na hora certa e no momento certo.

As técnicas de “negociação” variam de lugar para lugar, de es-tado para estado, de aspecto po-lítico para aspecto politíco parti-dário, de identidade surda-muda para identidade surda-muda, de identidade múltipla facetada para múltipla facetada; se é um líder ou deseja ser um líder é preciso usar a “negociação” de modo eficiente para abrir o ca-minho para o sucesso.

De modo geral, há várias uti-lidades em jogo. É importante saber organizar por ordem de prioridade e determinar para si próprio quais são negociáveis e quais não entram sequer em discussão, focando os seguintes pontos:

Os seus objetivos ideaisVocê poderia realizar-se se

o seu “negociador” ou “adver-sário” estivesse de acordo com o que ele pede, por exemplo: a inclusão salarial ou inclusão presencial do Intérprete de Lín-gua de Sinais nas salas de aulas; inclusão salarial ou a inclu-são presencial dos professores Surdos-Mudos nas atividades curriculares nas faculdades, e vários outros.

Os seus objetivos realistasO “negociador” ou “adversá-

rio” oferece resistência. Pode-se encontrar em vários lugares por vários fatores: desconheci-mento da Língua de Sinais, da capacidade intelectual, afetiva e cognitiva dos Surdos-Mudos e do problema epistemológico elaborado pelos “ouvintistas” (Skliar, 1999)”4.

As prioridades para atingir o mínimo

Há muita luta de ambas as partes para “raspar o fundo do prato”. Podem-se achar várias alternativas para se apresentar até atingir a meta mínima, como diz o ditado: “melhor do que nada.

As negociações giram em torno do princípio da troca, mas

nunca para submeter e ser sub-metido: “é preciso dar para po-der receber” (grifo meu). Um dos pontos mais importantes para qualquer negociação é que cada um deles deve tirar vantagens das concessões que fazem. Para entender, “negociar” com vitó-ria nunca deveria resultar num vencedor nem num perdedor. Os dois vão receber o resultado satisfatório. No caso de derrota, ela só é mostrada quando a meta mínima não é realizada.

Para atingir o objetivo, é preciso separar as duas coisas: necessidade e desejo. Desejar é uma coisa, mas tem que estar em detrimento à necessidade, como por exemplo: ter vontade (este é um desejo) de trabalhar ou criar uma escola de Surdos-Mudos (todo mundo quer também), mas é necessário saber, sondar, articu-lar e se embasar com argumentos e com os poderes públicos para realizar esta necessidade.

Na “negociação”, é importan-te saber, conhecer e entender o outro lado do negociador. Às vezes, os negociadores são oriundos de poderes públicos, cujas leis são familiarizadas e de alto nível, como o governo, em-presa de grande porte, empresa de terceirização, associações corporativista, e muitos outros. O importante é “sondar” com as pessoas que estão à sua frente o que elas já conseguiram realizar no passado, para evitar maiores surpresas. Os negociadores nun-ca são os mesmos, mas o proces-so ideológico permanece.

Para convencer o negocia-dor, por meio de concessões ou aceitar os compromissos, apresento as técnicas:

DO PROCESSO HISTÓRICO

ATÉ A PRESENTE DATA,

NÃO PODEMOS DEIXAR

ESCAPAR A “NEGOCIAÇÃO”,

QUE ACONTECE TODOS

OS DIAS, EM TODOS OS

MOMENTOS DA VIDA, E,

PARA ISSO, PRECONIZO A

IMPORTÂNCIA DE COMO

SABER “NEGOCIAR”

NA HORA CERTA E NO

MOMENTO CERTO.

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• mostrar as vantagens que o negociador irá ter;

• criar um compromisso cons-trutivo e aberto que futura-mente poderá aproveitar as contrapropostas;

• reagir com entusiasmo às propostas do negociador para elaborar o argumento para fazer uma contraproposta;

• usar sempre os sinais: “O que você faria se estiver no meu lugar...” ou “O que é que você acha....” e estes sinais mostram a decisão sem forçar um ao outro. E os dois sairão ganhando as mesmas oportunidades.Quando você estiver nego-

ciando, use sempre as táticas para não deixar esmorecer, dan-do a impressão de que o negocia-dor pode usar mais poder do que você, permitindo que você fique no papel de “opressor”:1. Peça para não negociar com

pressão. Peça para trabalhar de forma construtiva;

2. Pergunte sempre o “porquê” das afirmações e peça as pro-vas concretas, como porcen-tagem, gráficos, documentos comprobatórios ou teóricos que focalizem sobre o tema dos Surdos-Mudos;

3. Discuta sempre a colocação que seja aceitável para todos. Se aparecer uma divergência interna, dê uma pausa para um cafézinho.

4. Não mude a pauta ou misture as conversas informais nas reuniões com o intuito de des-viar o assunto do dia. Pergunte se as afirmações têm uma base, e repita que procura compromissos honestos sem prejuízo entre para as partes.

Não deixe as pessoas Surdas-Mudas sem instrução ter um efeito “nó”: quando tem uma coisa que os Surdos-Mudos não entendem, pergunte e não se esqueça que a única pergunta boba é aquela que não é feita.

2. Fique de olhos abertosObserve, olhe e visualize. Apren-da com as pessoas que respeita, como as pessoas que não são do seu território. Observe a diferen-ça da “fronteira” (Babha, 1998) que nos distancia e o modo co-mo eles nos tratam.

3. Trabalhe de verdadeSeja sério no seu trabalho. Mos-tre-se interessado, ativo e cheio de idéias novas. Faça mais do que lhe compete quando fot possível.

4. Dê atenção à comunidade Surda-Muda

O apoio à comunidade Sur-da-Muda é indispensável. Entrar ou participar das Associações de Surdos-Mudos significa, às vezes, uma mudança regular do pensamento para um novo local. Encare essas mudanças como necessidade positiva. En-contrar um bom equilíbrio entre o trabalho e a vida privada é um desafio.

5. Ganhe experiênciaNão deixe de aceitar vários

trabalhos dentro da Associação ou trabalho beneficente, mesmo que estes não signifiquem nenhu-ma subida na hierarquia. Quanto mais conhecer as associações, cultura, identidade e Língua de Sinais, melhor para si e para a sua formação como líder.

DE MODO GERAL, HÁ

VÁRIAS UTILIDADES EM

JOGO. É IMPORTANTE SABER

ORGANIZAR POR ORDEM DE

PRIORIDADE E DETERMINAR

PARA SI PRÓPRIO QUAIS

SÃO NEGOCIÁVEIS E QUAIS

NÃO ENTRAM SEQUER EM

DISCUSSÃO.

O MANDAMENTO DE 12 DICAS PARA UM LÍDER

Nenhum deles nasce como líder. O aprendizado da vida ensina a moldar a lideran-ça considerando os três “R”: responsabilidade, respeito e raciocínio.

1. Aprenda a cultura dos Surdos-Mudos

Entenda a cultura, sua po-lítica, sua Língua de Sinais e conheça os princípios básicos que rege a organização social da Comunidade Surda-Muda, pois como diz Lane (p. 21, 1992) a cultura tem suas regras: “Dife-rentes culturas têm diferentes normas constituídas”5, assim como a Comunidade Surda-Muda vê o conceito cultural baseado na visualidade. Todo debate só pode ser realizado num âmbito cultural próprio, sendo necessário comparar com as outras culturas, ou fazer inserção de “metáforas”.

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6. Procure um bom conselheiro surdo-mudo, mais velho e experiente

Procure, “sonde” e ache um bom conselheiro. Aprenda a co-nhecer a história dos Surdos-Mu-dos, fatos narrativos, piadas, lutas e folclores e tire frutos com as experiências deles. Peça sempre o seu conselho, seja atencioso e perceba a importância de ter bons colegas, pois também eles podem ajudar a construir a liderança.

7. Realize o seu objetivoTudo acontece no momento

certo. Aconteça o que acontecer, não perca o seu objetivo. Se al-guma coisa não der certo, aceite a derrota e siga em frente.

8. Desenvolva uma rede de amizade

Aproveite todos os momen-tos para estabelecer contatos governamentais, particulares, estatais, com associações de surdos-mudos e muitos outros. Participe das conferências, se-minários, cursos. São ótimos para aprender as variedades de assuntos. Conheça Surdos-Mudos e Não-Surdos-Mudos de sucesso e de liderança que fazem o mesmo que você.

9. Desenvolva as suas capacidades

Liste as suas capacidades e desenvolva capacidades espe-cíficas que podem fazer com que você cresça dentro do seu conhecimento e experiência. Informe-se sobre as possibilida-des de formação para adquirir novos conhecimentos por meio de cursos extracurriculares, par-ticulares e universitários. Abra o

seu “leque” de possibilidades. Muitas pessoas, ou seja, “ne-gociadores”, gostam de debater os assuntos com quem conhece ou compartilham da mesma experiência. Invista você mes-mo na sua formação. Se puder, pague do seu bolso.

10. Faça um plano ou projetoElabore um plano ou projeto.

Coloque no seu bolso e vá em busca das empresas, ou vários órgãos do governo ou particular. Ofereça sua proposta. Para isso, marque com antecedência e deixe seu nome e número de telefone ou email para contato. Não tem que cumprir o plano rigorosamente, mas delinear objetivos, pensar neles, visualizá-los e escrevê-los. Isso ajuda a pessoa a focar-se no que realmente quer fazer. Avalie o planejamento da sua carreira cons-tantemente e procure uma pessoa de confiança que pode ajudá-lo a determinar os seus objetivos.

Analise também as tendên-cias econômicas, as vantagens e as novidades que podem gerar um bom nome na área da educação ou da produtividade com auto-suficiência. É bom estar sempre atualizado, lendo jornais, revistas ou pegar as informações nos sites.

11. Observe onlineNão acredite muito no poder

da Internet. A internet é apenas um meio para entrar em contato, adquirir conhecimento e trocar experiências. Pela Internet você pode aumentar a sua lista de contatos quando buscar alguns interessados em “negociar” a sua proposta. Lembre-se que a Web é também uma fonte ilimitada de informação.

12. Seja esperto e não seja submetido à opressão

Como diz Lane (p.21, 1992) sobre os Surdos-Mudos:

“... isto é, como nós vemos, um pri-

vilégio na cultura dos Surdos: ser

Surdo no comportamento, valores,

conhecimentos e ser fluente em

ASL. Se respeitarmos os direitos

dos cidadãos de outras culturas,

incluindo aqueles que fazem parte

de nosso país, ter as suas próprias

normas constituídas, das quais

podem ser diferentes de nós (nós

podemos recusar de fazer sob o

risco de sermos ingênuos, apenas

porque acreditamos que isto não

é possível), então nós devemos

reconhecer que a surdez da qual

eu falo não é uma deficiência, mas

apenas outro modo de ser”.6

Se nós, os surdos-mudos, temos o nosso modo de ser e podemos fazer como os não-surdos-mudos fazem, por que não começamos a fazer? Por que não? Mãos à obra!!!!

* Doutoranda de Educação e Processo Inclusivo da UFSC / Mestranda em Lingüística da UFSC

Referências COELHO, Eliana Machado. Sem Regras Para

Amar.: São Paulo: Lúmen 2003.LANE, Harlan. The mask of benevolence;

disabling the Deaf community. New York: Vintage Books. 1992.

PIOVEZANI, C. Entre vozes, carnes e pedras: a língua, o corpo e a cidade na construção da subjetividade contemporânea. In: SARGEN-TINI, Vanice & NAVARRO-BARBOSA, Pedro. (Org.). Foucault e os domínios da linguagem: discurso, poder e subjetividade. São Carlos: Claraluz, 2004.

Siteswww.bizrevolution.com.brwww.investshop.com.br/hom/index.asp

Notas1 Passagem do poder divino para um poder absolutista humanizado (Piovezani Filho, p. 137, 2004).2 Classes.3 Camada popular ou povo.4 Pessoas que desconhecem ou não acreditam a constituição dos Surdos Mudos por meio da identidade, cultura e de língua de sinais.5 Tradução minha.6 Tradução minha.

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A vivência familiar e sua influência no comportamento interpessoal da pessoa surda

Compreender o comporta-mento da pessoa com surdez com base na influência familiar é de vital importância, pois, na relação vivência, tempo e espa-ço é que o sujeito se constrói. Sendo assim, a família exerce influência na formação do com-portamento na fase adulta das pessoas surdas?

Para Perlin1 (1998, p. 56), ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não au-ditiva. O reconhecimento dessa realidade é o aprofundamento das discussões sobre a identi-dade no campo da surdez, no qual se procura estabelecer uma norma teoricamente chamada identidade surda, esclarecendo que as análises correspondentes a essa identidade sejam uma norma cultural correspondente à cultura surda.

Felipe2 (2006, p. 20), argu-menta que:

Helena Sperotto*

A Libras, como toda Língua de si-

nais, é uma língua de modalidade

gestual-visual que utiliza, como

canal ou meio de comunicação,

movimentos gestuais e expres-

sões faciais que são percebidos

pela visão.

Os sujeitos observados for-mam profissionais surdos que atuam no Centro de Apoio ao surdo da cidade de Rio Branco (CAS/AC), a fim de que os profis-sionais ouvintes que trabalham junto com esse grupo tomem conhecimento de como se dá à relação interpessoal entre surdos e ouvintes numa perspectiva histórica e social da dialógica humana.

A pesquisa efetivou-se atra-vés de referenciais bibliográficas e de observações do compor-tamento interpessoal e das ati-tudes dos sujeitos da pesquisa, visando determinar os resulta-

dos de acordo com os objetivos propostos.

A PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL DA PESSOA COM SURDEZ DIANTE DA FAMÍLIA E DA SOCIEDADE

Wallon, no livro Introdução à Psicologia da Educação, salienta que:

Incapaz de efetuar algo por si

próprio, ele [o recém-nascido] é

manipulado pelo ‘outro’ e é nos

movimentos desse ‘outro’ que

suas primeiras atitudes tomarão

forma. As atitudes, vinculadas

aos estados de desconforto,

de necessidades, imprimem,

na relação, aspectos culturais

distintos, configurando a singu-

laridades e a historicidade de

cada criança. Nesse sentindo,

o adulto é um mediador entre a

criança e ela mesma, entre ela

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e os elementos do mundo cul-

tural onde nasceu. (CARRARA3

2004, p.161)

Por ser um grupo minoritá-rio, sentindo-se reprimidos, e muitas vezes por não terem um entendimento, os mesmos vão de encontro ao relacionamento pela falta de confiabilidade na comunicação, que se não for clara paira dúvidas que levam a um desentendimento que gera conflitos até obter o devido es-clarecimento.

Para Vygotsky (1989), a tra-jetória principal do desenvol-vimento psicológico da criança é uma trajetória de progressiva individualização, ou seja, é um processo que se origina nas relações sociais, interpessoais e se transforma em individual, intrapessoal.

A personalidade de um indiví-duo pode ser considerada como a combinação de um sistema de comportamento, aprendido e inato, que é característico de seu portador, enquanto a cultura é um sistema de padrões de com-portamento adquiridos dos pró-prios membros da sociedade.

Segundo Goleman4 (1997, p. 21,22), a família é nossa pri-meira escola de aprendizado. Os pais que se envolvem com os filhos são pais preparados emocionalmente. Portanto, se-guindo o raciocínio acima, há pais que são ótimos professores e há pais péssimos professores no que diz respeito ao equilí-brio emocional que transmitem aos filhos, influenciando no

relacionamento interpessoal. É por meio do convívio que a criança surda irá enriquecer sua socialização com as pessoas, e com isso ela passa a perceber e a identificar as atitudes e o comportamento adequado.

com as demais de forma sociá-vel, sabendo que temos regras para uma convivência harmo-niosa entre as pessoas.

Através da leitura bibliográfica e das observações realizadas é evidente a importância do su-porte da família no processo de desenvolvimento comportamental do individuo junto à família e à sociedade de forma igualitária. Foram observados cinco profissio-nais surdos, três do sexo feminino e dois do sexo masculino, no período setembro a dezembro de 2006, onde obtivemos a seguinte análise:

Dois surdos se encontram no contexto de sentimento de superproteção familiar que os levaram a tornarem-se pessoas com as seguintes características de relacionamento interpessoal: dependentes, inseguros (pes-soal, profissional e emocional-mente) incorporando valores de outrem ao seu auto-concei-to, sem nem sequer perceber isso, desencadeando relações de subjulgação e inferioridade pessoal. Quando ocorre este fenômeno denominado inter-jeição negativa (desprezo, des-respeito e falta de amor), surge uma obstrução na comunicação do indivíduo com ele mesmo e com o mundo.

Dois surdos refletem um comportamento de indepen-dência pessoal, profissional e emocional. Percebe-se com nitidez que os mesmos tiveram a oportunidade junto aos fami-liares, por terem estabelecido uma boa comunicação desde a infância. Na fase adulta, apre-

A INTERJEIÇÃO POSITIVA

(ATENÇÃO, CARINHO, RESPEITO

E AMOR) REVELA A EXPRESSÃO

DE VALORES DE PESSOAS

SIGNIFICATIVAS AO LONGO

DE TODA A NOSSA VIDA: DA

FAMÍLIA, DA PROFESSORA,

DA(O) NAMORADA(O), OU

DE UM PROFISSIONAL DE

DESTAQUE QUE ADMIRAMOS,

GERANDO A CAPACIDADE DE

RELACIONAR-SE, CONVIVER

OU COMUNICAR-SE COM

OS OUTROS, ATRAVÉS DE

UMA LIGAÇÃO DE AMIZADE,

AFETIVA, PROFISSIONAL E

CONDICIONADA POR UMA

SÉRIE DE ATITUDES RECÍPROCAS

QUE A RELAÇÃO INTERPESSOAL

ESTABELECE.

ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

A referida pesquisa tem como cunho de fundamentação a in-fluência da família para que a pessoa com surdez se relacione

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sentam um comportamento equilibrado entre as pessoas, tendo entendimento do que é certo e errado, ou do que po-dem e não podem fazer, não apresentando nenhum trauma, pois a família soube impor os li-mites necessários para que estes adquirissem um desenvolvimen-to comportamental satisfatório. A interjeição positiva (atenção, carinho, respeito e amor) revela a expressão de valores de pes-soas significativas ao longo de toda a nossa vida: da família, do professor, do namorado, de um profissional de destaque que admiramos, gerando a ca-pacidade de nos relacionarmos, convivermos ou comunicarmos com os outros, através de uma ligação de amizade, afetiva e profissional, condicionada por uma série de atitudes recípro-cas que a relação interpessoal estabelece.

Um surdo apresenta um comportamento de neutrali-dade e imparcialidade diante da relação interpessoal, seja ela pessoal, profissional ou emocional. Se a mesma não estabelecer uma relação de confiabilidade não criará vincu-lo de afetividade, mas, sim, uma barreira de relacionamento. A esse autoconceito são incorpo-rados na pessoa com surdez va-lores que na verdade expressam o desejo de seus pais, gerando conflitos e sofrimentos difíceis de terem suas causas identifi-cadas, porque, afinal, somos o que somos, e não aquilo que devemos ser.

CONSIDERAÇÕES FINAISOs surdos crescem segundo

os valores, as crenças, os símbo-los, os modos de agir e de pen-sar de um sistema socialmente instituído e em transformação.Discorrendo desse modo, esse processo acima citado ocorre continuamente no meio social de pessoas ouvintes. Ou melhor, descrevendo o desenvolvimento da pessoa surda, observamos que se dá segundo os valores, as crenças, os símbolos, os modos de agir e de pensar de um siste-ma constituído por ouvintes e surdos. Culturas específicas não expressam uma cultura diferente, apenas indicam a particularidade de um grupo dentro de um siste-ma social apresentado. Em outras palavras: não há como conceber uma idéia de cultura surda e de seu oposto, cultura ouvinte.

Concluímos que o surdo é um ser humano como qualquer outro. O que o diferencia é que o mesmo pertence a um grupo lingüístico minoritário, e, como conseqüência, tem a sua própria cultura baseada na Língua de Sinais, ou seja, na comunicação, mas que a família detém uma in-fluência no seu desenvolvimento como ser humano, pois na sua grande maioria, ele não tem uma comunicação ou esclarecimento para sua formação, sendo que falam línguas diferentes. O que nós defendermos neste artigo é que para a formação da relação interpessoal, a família é a base, sendo que na cultura surda é fundamental a Língua de Sinais (espaço-visual); na ouvinte, é a

língua oral-auditiva (audição e fala). Quando os pais não sabem a Língua dos Surdos – LIBRAS, não detêm subsídios para aju-dá-los, deixando-os a mercê na formação comportamental como ser humano. E quando adultos, os mesmos sofrem as conseqüências no relacionamento interpessoal, seja na própria família, entre amigos ou no trabalho.

* Bacharel em Administração de Empresa, pela FIRB-AC, Pós-graduação na Educação Especial – IESACRE, atualmente cursando pedagogia pela UNB, em parceria com a Secretaria de Educação do Estado do Acre, atua como coordenadora do Centro de Apoio ao Surdo CAS/AC, cursando

ReferênciasBRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Pro-

grama de Capacitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental Deficiência Auditiva, Série Atualidades pedagógicas, volume I, Brasilia, 1998.

CARRARA, Kester, Introdução à psicologia da educação, Seis abordagens, Avercamp, São Paulo, 2004.

FELIPE, Tanya Amara, Artigo Escola Inclusiva e os direitos lingüísticos dos surdos, publicado na revista da FENEIS (Federação Nacional de educação e Integração do Surdo), Rio de Janeiro, 2005

GOLEMAN, Daniel, Ph.D. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos: como aplicar os conceitos da inteligência emocional para uma nova compreensão da relação entre pais e filhos, Objetiva, Rio de Janeiro, 1997.

PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as di-ferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.

Notas 1 PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.2 FELIPE, Tanya Amara, Libras em contexto, livro do professor, 6ª edição, Rio de Janeiro, 2006. Doutora em Lingüística pela Universidade Fede-ral do Rio de janeiro / University of Rochester, U. R, Estados Unidos, Prof. Titular da UPE, Coordenadora Nacional de apoio à Educação de Surdos , Coordenadora do programa interio-rizando LIBRAS nos estados, através do curso de metodologia para o ensino de LIBRAS.3 CARRARA, Kester, Introdução à psicologia da educação, Seis abordagens, Editora AVERCAMP, São Paulo, 2004.4 GOLEMAN, Daniel, Ph.D. Inteligência emocio-nal e a arte de educar nossos filhos: como aplicar os conceitos da inteligência emocional para uma nova compreensão da relação entre pais e filhos, editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1997.

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O texto pretende levar ao conhecimento a existência de surdos na aldeia de Ipua-çu-Oeste de Santa Catarina, na EIEB, da Escola Indígena Cacique Vanckre, situada na região da Secretaria Regional de Xanxerê. Apresenta uma discussão sobre a comunica-ção existente entre os surdos Kaingang e o uso da Língua de Sinais na escola.

Levanta o conceito de cul-tura numa perspectiva pós-colonial, que tratará da cultura como estratégia de sobrevi-vência. Sob esta ótica, traçará alguns parâmetros para ana-lisar a Língua como comuni-cação dos educandos surdos Kaingang e a fusão desta com a Língua Brasileira de Sinais.

A problematização se dá na análise do sinal no contexto de criação de forma descritiva e na observação da fluência ou não deste sinal. Eleva-se o fator cultural, a discussão parte de questões relevantes dentro da Libras na cultura de

“Uma cultura... em outra cultura”

Marisa Padilha F. Giroletti*

ouvintes Kaingang e na cultura surda Kaingang.

Neste contexto, a pesquisa está buscando construir um referencial teórico com bases em autores1 que nos trazem margens para a própria cons-trução. No Brasil, existem mui-tas pesquisas no que se refere à Educação Indígena, porém, não no que se refere aos edu-candos Surdos Indígenas.

Justifica-se a importância de que esta pesquisa pretende abranger, para que seja vista como um referencial e como marco para muitas outras pes-quisas que virão.

A PESQUISA COM OS SURDOS KAINGANG

Os surdos Kaingang da Es-cola Indígena Estadual Básica Cacique Vanckre, da cidade de Ipuaçú oeste de SC, fazem parte da Política de Educação de surdos de Santa Catarina, implantada em 2004 nesta escola, e oficialmente em 2005 pela Fundação Catarinense de

Educação Especial (FCEE) e pela Secretaria de Educação (SED).

O instrumento de maior relevância nesta pesquisa é o diário de campo, buscando efetuar estes registros com veridicidade optou-se pela docência da pesquisadora na escola. A pesquisa investiga e acompanha a turma de surdos Kaingang, registrando os sinais no contexto cultural destes educandos surdos na turma e na comunidade da aldeia.

Com aquisição da L1 em quase 4 anos de trabalho, o empenho indispensável e sig-nificativo da professora regente bilíngüe Sonimara da Silva e a atuação de um instrutor surdo (que não era o tempo todo, mas que realizava o contato para os surdos desta aldeia), os educandos surdos começavam a nos responder muitos ques-tionamentos que a princípio não tínhamos retorno.

Alguns dos questionamen-tos que levantávamos eram

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referentes à forma como está-vamos conduzindo a educa-ção destes educandos; seria a Libras a Língua indicada para estes? Deveria ser ensinado como 2ª Língua o Kaingang ou a Língua Portuguêsa? Ou seria uma educação trilingue? Como eles estavam sendo vistos na aldeia e por seus familiares? E a Libras como estava sendo articulada na aldeia, visto que havia a predominância por uma Lingua oral na cultura Kaingang? Como trabalhar com o jeito tímido e arredio dos surdos Kaingang?

OS SINAIS NO CONTEXTO KAINGANG

A comunicação dos surdos Kaingang no início das inves-tigações, como já foi citado, não nos era clara e nem apare-cia como uma forma conven-cional de comunicação.

Convivendo com estes sur-dos Kaingang sob a forma de docente e intérprete, a partir dos relatos da professora So-nimara da Silva, e da forma de pesquisa na pesquisa-ação, chegamos ao ponto que tentá-vamos ver desde o princípio, isto é, uma comunicação que existisse fluência convencio-nada na aldeia.

O objetivo era fazer o re-gistro e a análise do sinal na cultura surda Kaingang, assim como nos coloca BHABHA, (1995, p.49) “Como transfor-mar o valor formal da diferen-

ça lingüística numa analítica de diferença cultural?”.

Estávamos em dúvida quan-to à convenção dos sinais, e, com nossas observações, aos poucos, as dúvidas foram

a cultura em questão. Preten-díamos buscar a transforma-ção na análise cultural que coloca Bhabha.

O primeiro sinal relevante e que por vários meses foi o de “neném”. Este sinal, sem dúvida, é bastante significa-tivo e nos deu o “clique” nas observações. Partindo, assim, para outros, os quais serão apresentados futuramente, sob a pretensão de um primeiro di-cionário de Sinais Kaingang.

(...) é o sinal de “neném” se faz

num gesto de embalar no colo.

Na Libra, “neném” ou criança

pequena até dois anos mais ou

menos, na aldeia Kaingang se

faz batendo com a mão direita

no antebraço esquerdo, porque

os nenês são carregados num

braço, acavalados na cintura.

“Neném” recém-nascido até

mais ou menos uns cinco me-

ses é feito no braço, com duas

leves batidas da outra mão,

como se estivesse deitado e

com expressão do rosto de

dormir, com a cabeça levemen-

te inclinada para o lado onde

bate.2 (citação da pesquisa que

está em fase de conclusão)

Alguns aspectos dos “povos indígenas” e dos “povos sur-dos” são semelhantes quan-do nos referimos à “Língua”, quando nos referimos ao homem branco e ao homem ouvinte. Quando referencia-mos as questões complexas

ALGUNS ASPECTOS DOS

“POVOS INDÍGENAS” E DOS

“POVOS SURDOS” SÃO

SEMELHANTES QUANDO

NOS REFERIMOS À LÍNGUA,

QUANDO NOS REFERIMOS

AO HOMEM BRANCO E

AO HOMEM OUVINTE.

QUANDO REFERENCIAMOS

AS QUESTÕES COMPLEXAS

QUE ENVOLVEM UMA

LÍNGUA, ESTAMOS FALANDO

DE IDENTIDADE, DA LÍNGUA

ENQUANTO MARCA DE

UM POVO.

dando espaço ao que bus-cávamos. Nessa busca por significados destes sinais na cultura Kaingang, foi preciso, sem oscilar, conhecer melhor

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que envolvem uma Língua, estamos falando de identida-de, da Língua enquanto marca de um povo.

O2 Projeto de pesquisa está em

fase de conclusão, sob o tema:

“Cultura surda Kaingang no

Oeste de Santa Catarina: Olha-

res sobre a Língua de Sinais”, o

qual pretende analisar os pro-

cessos de negociações que os

surdos utilizam na comunicação

em casa e na escola. Seja com

seus pais ou familiares, entre

ouvintes e surdos no ambiente

escolar.

Bhabha nos coloca o de-safio de pensar a Língua en-quanto cultura, e a cultura enquanto movimento, cons-trução híbrida numa visão pós-colonial;

“No projeto pós-colonial, em

oposição ao conceito domi-

nante de cultura como algo

estático, substantivo e essencia-

lista, a cultura passa a ser vista

como algo híbrido, produtivo,

dinâmico, aberto, em constante

transformação; não mais um

substantivo, mas um verbo,

‘uma estratégia de sobrevivên-

cia’. É essa estratégia de sobre-

vivência é tanto transnacional

quanto tradutória”.

Lynn Mario, 2004.p.125. IN:

Margens da Cultura.

Nesta perspectiva pós-co-lonial, os discursos e os enun-

ciados vêm atrelando para o reconhecimento das diferen-ças enquanto alteridade, que nos requer uma outra visão de cultura, de povo, de língua, de ser humano. Requer perder al-guns significados que ao longo da história foram construídos, não podendo existir a diferen-ça enquanto certo ou errado, feio ou bonito, superior e inferior, mas simplesmente a idéia de diferente.

o foco principal da pesquisa. “Problema”, para Kerlinger (1980, p.35), “é uma questão que mostra uma situação ne-cessitada de discussão, investi-gação, decisão ou solução”.

Neste pensar que pretendia levantar aspectos culturais e re-levantes para aquela comunida-de de surdos, e, nesse sentido, o problema da pesquisa defi-niu-se por: Quem sinaliza? O que sinalizam e existe fluência enquanto Língua?

Tudo isso tendo em vis-ta que trabalhávamos numa abordagem Intercultural, a qual discute e analisa a cul-tura dentro de uma educação diferenciada. Como nos ensina FLEURI (1998 p.09), sobre o horizonte que constitui a Edu-cação Intercultural, buscarmos no contexto da pesquisa, novas e diferentes formas de educa-ção, com relação à cultura; neste universo pesquisado dos surdos “Kaingang”.

Pensar nestes surdos Kain-gang, nos remete de imediato a direcionar o nosso olhar para o “novo, uma nova pe-dagogia de qualidade ³“Como falava Freire, “Uma Pedago-gia como à noção de quali-dade”“... Falava de uma “nova qualidade”.

Assim com Freire; ³Per-lin também nos presenteia com suas reflexões sobre a Pedagogia da Diferença, onde nos mostra uma nova pedagogia, ou um jeito novo

NESTA PESQUISA-AÇÃO E PELA

HISTÓRIA QUE ANTECEDE O

PRÓPRIO PROJETO PODEREMOS

ESTABELECER CONTATOS

IDENTIFICANDO A LÍNGUA

USADA PELOS EDUCANDOS

ENTRE SI NO ESPAÇO ESCOLAR

E COM SEUS FAMILIARES, ASSIM

COMO A RELAÇÃO QUE A

ESCOLA ESTABELECE COM ESTAS

FAMÍLIAS DE PAIS OUVINTES

COM SEUS FILHOS SURDOS.

Diante de tantas questões elencadas na pesquisa, e no decorrer dos registros, foi difí-cil chegar a uma pergunta, ao problema que contemplasse

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de ver a pedagogia e de ser pedagogas. Ela como profes-sora e pesquisadora, sendo surda, escreve a partir de suas próprias experiências e sua cultura.

Nesse contexto, o novo era encontrar o problema que nos possibilitasse enten-der aqueles sinais que por ora eram diferentes, mas em certos momentos iguais; em outros, uma fusão da Libras e dos sinais articulados com a cultura. Podemos pergun-tar em três partes: “Quem sinaliza?” Vimos que é de fundamental importância pesquisar; saber se são os educandos que sinalizam, se são os familiares, a professora ou os ouvintes da aldeia. E “O que sinalizam?” Partindo da análise dos sinais ansiamos em saber que sinais são estes; são sinais caseiros, são sinais específicos individualizados por família, é sinal articulado com a cultura? Continuando na procura pelo “caminho” na última parte da pergunta, é importante observar e re-gistrar se existe fluência nes-tes sinais, isto é, se os sinais são usados somente momen-taneamente para estabelecer uma comunicação, ou se são fluentes como Língua destes educandos, sendo a própria linguagem destes surdos Kaingang.

CONSIDERAÇÕES FINAISAmbiciona-se com este

projeto, a construção do re-ferencial numa discussão teó-rico Pós-colonial; e realizar os registros dos sinais Kain-gang, contextualizando-os numa análise da articulação enquanto linguagem própria da comunidade. Conseqüen-temente, almeja-se também, neste projeto, documentar e difundir a existência dos surdos Kaingang na região oeste de Santa Catarina-Ipu-açú, assim como o processo de aprendizagem, fluência e fusão na Libras.

Nesta pesquisa-ação e pela história que antecede o próprio projeto poderemos estabelecer contatos identifi-cando a Língua usada pelos educandos entre si no espaço escolar e com seus familiares, assim como a relação que a escola estabelece com estas famílias de pais ouvintes com seus filhos surdos. É possível estabelecer ainda a exploração e o conhecimento do local de pesquisa com os grupos Kaingang, a cultura e a representação destes surdos na comunidade escolar.

A atual proposta pretende dar apenas início aos regis-tros desta Língua na aldeia com os surdos Kaingang; porque se acredita que sendo considerada Língua, haverá evolução natural da Língua enquanto Linguagem e neste

intuito não há um fim, mas uma continuidade de criação de sinais dentro da cultura destes.

* Mestranda da UFSC/2006/2007

ReferênciasGIROLETTI, Padilha Fátima Marisa. A cultura

Surda Kaingang no Oeste de Santa Catarina: “Olhares sobre a Língua de Sinais”. Disserta-ção UFSC. 2007.

. SKA- Sinais Kaingang na Aldeia. Primei-ro dicionário de sinais dos surdos Kaingang. UFSC. 2007. Em construção de pesquisa.

PERLIN, Gládis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferen-ças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.

SKLIAR, Carlos (Org.). Educação e exclusão. Abordagens sócio-antropológicas em edu-cação especial. Porto Alegre: Editora Me-diação, 1997.

. Os estudos surdos em educação: problematizando a normalidade. Mediação-Porto Alegre. 2000

. (Org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.

. Atualidade da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999.

SOUZA, Lynn Mario T. Menezes de. Hibridismo e tradução cultural em Bhabha. In: ABDA-LA JÚNIOR, Benjamin (org). Margens da cultura: mestiçagem, hibridismo & outras misturas. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004. P. 113-133.

Notas1BHABHA, Homi K. O Local da Cultura-tradução de Myríam Ávila, Eliane Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves-Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.1 PERLIN, Gládis T.T. Enfatização cultural e valo-ração da diferença: resposta/proposta às questões de anormalidade/deficiência. (Português) Artigo pra publicação/2006. 1 BRAND, Antonio J.; NASCIMENTO, Adir Casaro. A escola indígena e sustentabilidade: perspectivas e desafios. (Português). Artigo para publicação/2006.1 REBOLLEDO, Nicanor Rosendiz. Bilingüismo e Alteridade Indígena. (espanhol) Artigo para publicação/2006.1 NOTZOLD, Vulfe Lúcia Ana. Mitos e Lendas Kaingáng: ouvir Memórias Contar Histórias; Santa Maria: Palloti, 2006.

. O Ciclo de Vida Kaingáng; Florianópo-lis: UFSC, 2004.

. Nosso Vizinho Kaingáng; Florianópolis: UFSC, 20032 Documento do MEC: portal.mec.gov.br/secad1 Disponível: www.entreculturas.pt/Glossario.aspxm3GIROLETTI, Padilha Fátima Marisa. Os Sinais Kaingang. Primeiro dicionário de sinais dos surdos Kaingang. UFSC. 2007. Em construção de pesquisa.

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30 | Revista da Feneis

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Feneis – Ceará Av. Bezerra de Menezes, 549 São GerardoFortaleza (CE)60325-000Telefax (85) 3283-9126 [email protected]

Feneis – Paraná Rua Alferes Poli, 1.910RebouçasCuritiba (PR)80220-050Telefax (41) 3334-6577

Feneis – Santa Catarina Rua José Boiteux, 53CentroFlorianopólis (SC)88020-560Telefax (48) [email protected]

endereços

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Revista da Feneis | 31

Feneis-RJ inaugura nova sede

evento | inauguração

Corte da fita inaugural

Agradecimento aos ex-presidentes da Feneis

Atual diretoria com os ex-presidentes Fernando Valverde e Antônio Campos

O coquetel de inauguração da nova casa reuniu representantes de instituições públicas e privadas que atuam ao lado da Feneis

FMS, Feneis e Sec. Regional Sulamérica

Representantes de diversas associações de surdos presentearam a Feneisdurante a inaugurção da nova casa

Descerramento da placa de inauguração da sede (ao lado) e da que homenageou o presidente da Feneis Antônio Mário (acima)

Fotos: Feneis

Homenagem à Max Heeren, diretor financeiro e responsável pela reforma da Sede

Com a presença de ex-presidentes, amigos, representantes de associações de surdos e outras instituições nacionais e internacionais, a Feneis inaugurou no dia 27 de setembro a nova sede do Rio de Janeiro, que abrigará parte das suas atividades. O novo espaço de trabalho reflete mais uma vez a expansão da entidade e a busca por um atendimento cada vez melhor ao surdo. Na sede anterior funcionarão os cursos de Libras e outras atividades ligadas à área educacional e cultural da Federação. Veja as fotos do evento:

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ANO VII • Nº 34 • outubro-dezembro de 2007 ISSN 1981-4615

Feneisr e v i s t a d a

Publicação trimestral da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

20 anos em prol do surdoEspaço AcadêmicoArtigos tratam de educação, família e liderança surda

Espaço AcadêmicoArtigos tratam de educação, família e liderança surda

20 anos em prol do surdo Conquistas

obtidas em duas décadas de caminhada são avaliadas em evento

Conquistas obtidas em duas décadas de caminhada são avaliadas em evento

Este ano, o MEC comprou mil exemplares do livro/DVD do estudante e mil exemplares do livro/DVD do professor para distribuir para as universidades, já que a Libras será disciplina obrigatória e esse será o material utilizado pelos instrutores/professores nessa disciplina. Adquira também o seu material didático para o ensino da Libras!

As novas edições de 2007 estão revisadas, ampliadas e mais ilustradas. Todos os ouvintes e surdos que forem aprovados no exame do ProLibras poderão adquirir o livro/DVD do professor para ministrar o Curso Básico de Libras nas universidades e em outras instituições.

Os interessados deverão depositar o valor total da compra no Banco do Brasil, agência 3010-4, c/c 30450-6. Posteriormente, deverá ser enviado para a Feneis o comprovante de depósito para a Feneis/RJ, via fax ou correio, com a relação do material desejado. O endereço da Feneis é Rua Major Ávila, 379, Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Cep 20511-140, tel (021) 2567-4880, fax (021) 2284-7462. A cada livro solicitado deverá ser acrescentada a quantia de R$ 5,00 (cinco reais) referente às despesas de correio pelo envio do material registrado.