retrospectiva 2009

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faz parte integrante da edição n.º 917 deste jornal e não pode ser vendido separadamente SEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE O MIRANTE SUPLEMENTO ESPECIAL RETROSPECTIVA 2009 2009 As notícias e as pessoas que marcaram

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Retrospectiva 2009

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Personalidade do Ano

Pedro Barroso

“Investe-se muito em rotundas e pouco em inteligência” De que maneira é que o Ribatejo

influencia o seu trabalho?Ser menino no Ribatejo foi um privilé-

gio muito grande. Naquela altura, havia uma coisa que já não existe, chamada férias grandes. Eram três meses em que nós tínhamos um profundíssimo contacto com a natureza. E ao longo da vida a minha ligação com o Ribatejo nunca se quebrou. Obviamente, aprender a conduzir carroças desde criança, dormir sestas à sombra daqueles montes, fazer touradas a fingir, era para mim uma coisa fabulosa. Se isto tem influência ou não na criatividade, não lhe posso garantir. Claro que, romantica-mente o Tejo preside aos ritmos de todos nós, como todos os grandes rios. Poderá não ser necessariamente motivador, como Camões achou das Tágides, mas de alguma maneira o Ribatejo foi sedutor e influen-ciou a minha formação humana.

Foi para Riachos, concelho de Tor-res Novas, com poucos dias de vida e por ali cresceu algum tempo. Riachos é um refúgio?

Riachos é o meu lar. É a minha casa. Nasci praticamente ali. Fui para Riachos com oito dias. Depois mantive uma relação permanente que nunca se quebrou. Por morte do meu pai, em partilhas, eu achei por bem ficar com a casa de família porque

gostava muito. Na altura era muito novo, tinha 28 anos e foi um encargo que assumi. Decidi ficar com o Velho Casal da Raposa que é, no fundo, o meu lar. É uma questão de pele, da minha própria história.

Que conselho dá a um jovem que sonhe vir a ser músico?

É difícil dar conselhos nesta altura, porque estamos numa civilização em mu-dança. Hoje em dia, ainda abrimos uma porta com uma chave, mas já começam a ser abertas com códigos. Com o advento dos dvd, da música por computador, dos

mp3, do roubar música pela internet, os compositores, autores e músicos têm a sua sobrevivência ameaçada. Os conselhos que posso deixar são: aprender sempre, sempre. Querer editar à primeira é muito complicado. Amadurecer um projecto, até o projecto ter peso e consequência é outro dos meus conselhos. Em suma, aprender música a fundo e a sério e depois começar a compor e ser suficientemente crítico em relação ao que faz e, por último, não precipitar a carreira.

Há locais onde não existem escolas de música.

A um jovem que queira aprender música e que não tenha uma escola de música por perto, aconselho-o a ter a hu-mildade de ir a uma filarmónica. É uma óptima escola.

O seu filho, Nuno Barroso, também é músico. Gosta da música que ele faz?

Acho que ele é um bom melodista, mas é sobretudo um excelente pianista, muito mal aproveitado, sinceramente. Estou-lhe a dar a opinião de crítico. Evidentemente, que amo o meu filho Nuno, como um pai ama um filho. E de que maneira! Como compositor terá que evoluir, mas é um bom músico.

Acha que as autarquias fazem o suficiente para promoverem os nossos artistas?

O autarca modelo, em Portugal, existirá. Existirão outros que estão preocupados com a requalificação do seu concelho, dos passeios e da iluminação pública, das infra-estruturas. Muitos deles não vêem, aparentemente, o aspecto cultural. Exis-tem outros que fazem um esforço muito grande, com verbas que por vezes não dispõem. Digamos que isso já parte de base, do Ministério da Cultura, que é muito menos dotado de verbas para promover a cultura no próprio país. Isto é um circuito sem grande solução, em que se continua a investir muito em rotundas e pouco em inteligência.

* Excerto de entrevista dada a O MIRANTE em 10/07/2008

Muito mais que um cantor

Pedro Barroso completou 40 anos de carreira em 2009. O artista nasceu em Lisboa em 1950 mas a sua família é de Riachos, localidade do concelho de Torres Novas a que sempre esteve ligado e que considera ser o seu lar.

Pedro Barroso começou a sua carreira como cantor em 1969 com uma actuação num programa de televisão famoso na altura, chamado Zip-Zip, que era apresentado por Raul Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia. Grava o seu primeiro disco “Trova-dor” no ano seguinte.

Vindo de uma área de intervenção crítica de expressão popular, tem sido visível a progressiva opção temática de carácter mais abrangente, onde releva uma aprofundada procura dos seus grandes temas de sempre - o Amor, a Solidariedade, a Mulher, a História, a reflexão sobre a Vida, a portugalidade...- assumindo-se como um autor sério e rigoroso, cada vez mais respeitado enquanto cantor, poeta e compositor.

Artista multifacetado, fez teatro radiofónico, integrou durante al-guns anos a companhia de Teatro Experimental de Cascais, estudou, enquanto jovem, canto e piano. Tem livros editados de poesia e prosa. Como artista plástico amador, usa o heterónimo Pedro Chora e, como tal, tem exposto desenho e escultura em várias Galerias, tanto em exposições a solo como em colectivas.

Colabora activamente após o 25 de Abril em inúmeras actuações em todo o País e junto das Comunidades emigrantes. Escreve e apresenta programas de Rádio e Televisão, en-quanto mantém com regularidade uma produção discográfica.

Pedro Barroso é licenciado em Educação Física e foi professor efec-tivo no Ensino Secundário durante 23 anos. Mais tarde viria a tirar uma pós-graduação em Psicoterapia Comportamental tendo trabalhado na área da Saúde Mental e Musico-terapia durante alguns anos. Foi, neste campo, pioneiro no ensino de crianças surdas-mudas, numa escola de Ensino especial em Lisboa.

“A beleza da natureza é inspiradora. A “Menina dos olhos d’água” nasce precisamente à beira do rio Tejo, com um brevíssimo encanto que houve naquela altura. A canção ficou e durou realmente muito mais do que essa brevíssima relação amorosa inspiradora, que teve a natureza a acompanhar”.

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Política Feminino

Fernanda Asseiceira

“Não me peçam para dizer nada com que não concorde nem fazer nada que não defenda”

Alguma vez foi a um jogo do Monsanto, clube do seu concelho que está na 2ª divisão nacional?

Não percebo nada de futebol mas fui. Ainda não tinha tomado posse, fui convidada e fui ver o Monsanto em Tor-res Novas a jogar com o Benfica.

E antes disso?Também já tinha ido ver jogos quan-

do fui delegada do Inatel. Vi muitos jogos nessa altura. O campeonato do Inatel tem muitas equipas.

Tem algum clube predilecto, ape-sar de não gostar de futebol?

Não. Ainda sabe o que é ter tempos

livres?Não. E por vezes pergunto-me se

os meus tempos livres acabaram para sempre.

Do que sente mais falta?Gostava muito de ler e o cansaço,

por vezes, quando se chega a casa é tanto, depois de já ter lido tanta coisa, que aquela literatura que nos era tão agradável acaba por já não ter espaço.

Que livro tem na mesinha de

cabeceira?É o último do Miguel Sousa Tavares.

Está lá há uns três meses e já nem me lembro bem do título.

Um filme que a tenha marcado?Não sou pessoa de ficar marcada por

um livro ou por um filme. Até nisso sou completamente liberta. Gosto muito de ir ao cinema e quando estava em Lisboa ia muita vez. Lembro-me de um filme de que não gostei realmente, chamado “A Ponte”. Vi-o numa sala onde não estava mais ninguém. Era um documentário sobre situações de suicídio nas pontes e vim-me embora a meio.

Uma música que associe a um

momento de felicidade?“Moment of Glory”, dos Scorpions.

Foi a música que escolhi para a sessão de apresentação da minha candidatura e que voltou a ser tocada no encer-ramento.

É uma mulher vaidosa? Preocupa-se com a aparência?

Pode parecer que sim, mas não. Sou simples. Claro que gosto de andar mini-mamente apresentável e arranjada. Não gosto que me dêem opiniões sobre o que vestir. Gosto de ser eu a escolher as roupas, os sapatos. Estão-me sempre a pedir para mudar de penteado, mas sou muito conservadora.

Passa muito tempo nas lojas de roupas e calçado?

Não. Nem ao espelho. Quando gosto, compro. Mas agora até deixei de ter tempo para fazer compras. Pelo menos tem uma vantagem, que é a economia.

É solteira e não tem filhos. Isso dá muito jeito a quem se quer dedicar à política.

Assumo que a minha situação pes-soal e familiar permite uma enorme disponibilidade para me dedicar aos

“Não concordo com muitas coisas que se fazem na política. Da política feita nos bastidores. Gosto de fazer as coisas com frontalidade e com transparência. De assumir as coisas falando com as pessoas”.

projectos que abraço, mas também não é menos verdade que o facto de me entregar tanto aos projectos que abraço também se tem reflectido na minha vida pessoal e familiar.

Sente-se bem assim?É uma forma de estar na vida que me

permite ter uma maior disponibilidade para estes projectos. Há constrangimen-tos quando as pessoas têm de conciliar a vida política com a vida familiar. Não podem estar, se calhar, a trabalhar até à meia-noite ou esquecerem-se de almoçar ou jantar, por exemplo. Sinto-me bem como estou e sinto-me bem com o que faço.

Como vê as candidaturas de mo-vimentos independentes, como o de Alcanena que derrotou nas últimas autárquicas?

Devia haver coragem de repensar as chamadas candidaturas independentes e a legislação que as suporta. Na maior parte das vezes de independentes não têm nada. Trata-se apenas de pessoas que, pelo facto de não terem sido es-colhidas pelos seus partidos políticos protagonizam candidaturas contra eles.

Aceita bem a crítica?Aceito se for devidamente funda-

mentada, se for construtiva. * Excerto de entrevista publicada

em O MIRANTE a 26/11/2009

Autónoma e determinada

Fernanda Asseiceira, foi prota-gonista de uma das surpresas das eleições autárquicas de Outubro do ano passado. A ex-deputada socialista recuperou a câmara de Alcanena para o seu partido vencendo os independentes que governavam o município, muitos dos quais antigos militantes do PS. Natural da Chamusca, onde nasceu a 8 de Abril de 1961, mas a viver em Alcanena desde os 3 anos de idade é professora de ciências e matemática do 2º ciclo do ensino básico. Solteira e sem filhos diz que essa condição lhe dá uma maior disponibilidade para se dedicar ao bem comum.

Mulher determinada não teve receio de afrontar, em 2005, o líder do PS concelhio e distrital do PS, com quem tinha divergências políticas, tendo-o derrotado em eleições parti-dárias locais, passando, a partir dessa altura a ser vista como a candidata natural à câmara.

Licenciada em Marketing e um mestrado em Educação e Sociedade, foi coordenadora do Gabinete de Educação de Adultos do Centro da Área Educativa da Lezíria e Médio Tejo e Delegada Regional do Inatel em Santarém.

Exerceu e exerce vários cargos de direcção no Partido Socialista e foi deputada à Assembleia da República, tendo integrado a Co-missão de Poder Local Ambiente e Ordenamento do Território, Saúde e Educação e Ciência.

João Calhaz

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Política Masculino

Mário Pereira

“Sinto orgulho de contactar com pessoas que têm uma grande experiência de vida” Raramente usa gravata. É porque

os comunistas gostam de dar uma ima-gem de trabalhadores?

Há uma certa imagem do PCP associada a essa ideia, mas não costumo usar gravata porque não gosto. Às vezes, em certas situações, tenho que a usar, mas sempre que posso dispenso. É um hábito.

Se não fosse professor o que gostaria de ter sido?

Jogador de futebol. Joguei no Águias de Alpiarça desde os infantis aos seniores. Fiz parte do plantel sénior, embora não utili-zado porque ainda era júnior, que ganhou a Taça Ribatejo. Mas também podia ter optado por ser jornalista porque é uma área que gosto e porque adoro escrever.

Como é que se meteu na política?Aderi ao PCP aos 16 anos. Os meus fami-

liares já eram pessoas ligadas ao partido. Na altura já tinha alguma consciência social mas ainda pouco política, mas que foi sendo sistematizada ao longo do tempo.

Deve ter começado a colar carta-zes…

No início fui um militante pouco exemplar nesse aspecto, porque também passei algum tempo a viver fora de Al-piarça. Estive a estudar e a trabalhar em Braga. Quando regressei a Alpiarça, em 2000, comecei a ter uma participação mais activa no partido. E foi quando comecei a

aprender muitas coisas com os camaradas mais experientes.

Quando andava a estudar os seus co-legas gozavam-no por ser comunista?

Não. Mas viam a minha militância como algo exótico porque estava numa zona em que socialistas e sociais-democratas dominavam. Nunca escondi a minha faceta e isso até deu origem a debates e discussões políticas.

Costuma beber vinho de Alpiarça?Durante muitos anos convivi com

o sector vinícola. Os meus avós eram produtores e eu ajudava na adega. Bebo socialmente, num jantar com amigos por exemplo, e sempre que possível escolho marcas de Alpiarça.

Quando era estudante alguma vez foi expulso da sala de aulas?

Fui uma vez para a rua porque estava a conversar com um colega na aula de edu-cação visual. Não era um aluno exemplar mas também não me portava mal. Sempre tive algum sentido de responsabilidade e compreendia o esforço que a minha família fazia para que eu pudesse estudar.

Como é que se sente num partido em que a maior parte dos militantes têm mais de 65 anos?

A estrutura do PCP é um reflexo do envelhecimento da população de Alpiarça e do país. Tem havido tentativas de reju-venescimento do partido. Pessoalmente sinto-me bem porque as pessoas que têm um papel activo no partido são pessoas vá-lidas e com muita energia e muito para dar ainda à politica. Sinto um orgulho grande de poder contactar com pessoas que têm uma grande experiência de vida.

É fiel à doutrina partidária?A teoria só é válida se for associada à

realidade, à prática. Não abdicando de algumas linhas gerais de orientação que são fornecidas pela doutrina política ou ideológica, no nosso partido somos muito maleáveis.

É mais difícil ser presidente de câma-ra ou ser professor?

Não é fácil ser professor nestes tempos que correm, ainda por cima com as alte-rações permanentes na política educativa e com a forma como o ministério tem

encarado o papel do professor. São situa-ções que provocam grande desgaste e que levam à frustração de muitos professores. Ser presidente de câmara, pelo que me parece nestes primeiros tempos, não é uma tarefa muito simples. Não sei o que será mais difícil.

Ainda é uma pessoa tímida, como confessou quando se candidatou pela primeira vez à câmara em 2005?

Continuo a ser tímido. É um traço de carácter que não é fácil de contrariar, mas tem havido um grande esforço da minha parte para mudar e tem havido algum su-cesso. Aqui há uns anos não me imaginaria a fazer 15 por cento das coisas que tenho feito ultimamente.* Texto baseado em entrevistas concedidas

a O MIRANTE a 4/9/2008 e 3/12/2009

Um adepto do debate de ideias

Depois de três vitórias do PS no concelho de Alpiarça, Mário Pereira, um professor de história de 39 anos, recuperou a autarquia para a CDU protagonizando uma das surpresas eleitorais das eleições autárquicas. Futebolista no clube da terra dos infantis aos seniores gosta muito de escrever e a sua curiosidade pelo que se passa à sua volta leva-o a confessar que não se sentiria mal se tivesse enveredado pelo jornalismo. Um dos seus objec-tivos é dissipar o clima de crispação política que estava instalado no seu concelho.

Mário Pereira é licenciado em História e Ciências Sociais pela Universidade do Minho. Exerce a profissão de professor desde 1995. Quando se candidatou a presidente da câmara de Alpiarça leccionava em Moimenta da Beira o que o levava a estar afastado da família durante a semana. É filho único. O pai morreu antes dele nascer e foi criado pela mãe em Alpiarça. É casado e tem dois filhos.

Inscrito no Partido Comunista Português desde os 16 anos de idade, integra a Direcção da Organização Regional de Santarém e a Comissão Concelhia de Alpiarça do PCP. Foi 3º Candidato da CDU na lista para a Câmara Municipal de Alpiarça em 2001;foi o 1º Candidato da CDU na lista para a Câmara Municipal de Alpiarça, em 2005 e foi candidato na lista da CDU pelo distrito de Santarém às Eleições Legislativas de 2002 e 2005.

Foi pela primeira vez à Festa do Avante com a mãe, quando tinha 10 anos. Nos últimos anos trabalha pelo menos um dia na montagem da Festa e costuma assistir aos principais espectáculos.

Não gosta do conflito pelo con-flito mas também não é adepto da tranquilidade das águas paradas e acha fundamental o confronto político e o debate de ideias para que sejam encontradas as melhores soluções para os problemas.

“Não quero ter a arrogância de querer dar aulas a alguns políticos. Mas gostaria de estabelecer uma discussão política com alguns governantes aos quais temos dificuldade em aceder enquanto cidadãos”.

António Palmeiro

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Cultura Feminino

Cláudia Neves Martins

“Os bailarinos são atletas de alta competição sem horários”Ser bailarina era um sonho de

criança?Pode dizer-se que sim. Há pessoas que

divagam um pouco. Querem ser bailari-nas entre os cinco e os oito anos e depois desistem. Desde pequena que quis ser bailarina. Comecei a ter aulas de ballet aos três anos em Fátima. Mas o chama-mento aconteceu com os espectáculos do ballet Gulbenkian que vi em Leiria. Foi o primeiro grande apelo. Além das coisas que passavam na RTP 2, há muito tempo, e que via a horas tardias.

É bailarina profissional. E isso é trabalho ou prazer?

As duas coisas. Costumo usar uma expressão: não é só um trabalho é uma vocação. E muitas vezes não dá prazer nenhum. Dá muita dor, desespero, res-ponsabilidades, dá vontade de desistir, mas isso é o aliciante. Depois de ultra-passarmos tudo isso é que chegamos ao prazer.

Um dos últimos espectáculos chama-se “Waterproof” e centra-se na temática do aquecimento global. Interessa-lhe colocar a arte ao serviço de determinado tema?

Sim. Os artistas têm essa função de receber estímulos da sociedade, perceber os problemas e tentar alertar sempre que possível para eles. Tendo uma es-

cola, por exemplo, sentimos muito essa responsabilidade. “Waterproof” foi uma coisa dançada para públicos mais esco-lares que também teve o seu sucesso. É importante termos essa noção e não ficar fechados no estúdio a criar coisas muito evoluídas.

Trabalha com o seu companheiro. Torna tudo mais difícil ou é uma vantagem?

Há um lado bom e um lado mau (risos). Primeiro que tudo somos dois apaixo-nados pela dança. Eu não o puxei para nada nem ele a mim. Conhecemo-nos na Escola Superior de Dança, entrámos na Companhia Portuguesa de Bailado Con-temporâneo e decidimos sair para fazer o projecto a dois. Sempre construímos tudo a dois com sacrifícios. São duas sen-

sibilidades que se unem para trabalhar. O trabalho que surge é duplamente melhor. Mas há muitos problemas que vão para casa. E essa é a parte má.

Tem cuidados na alimentação?Sim. Os bailarinos são atletas de

alta competição. Com uma agravante: enquanto que os atletas são muito regrados, os bailarinos são atletas de alta competição sem horários. Não tem nada a ver com o atleta que corre e não parte o corpo. Nós levamos o corpo ao extremo diariamente. Eu tenho uma vantagem que às vezes é desvantagem. O meu corpo não assimila massa gorda. Para lubrificar as articulações seria bom assimilar. Por isso às vezes umas feijoadas também fazem bem (risos).

Quais são então os sacrifícios de uma bailarina?

Abdicar dos amigos, da família e trabalhar. É assumir que tenho esta paixão e que não posso ter outras coisas muitas vezes. Passar fins-de-semana a ver televisão com a minha mãe. Não fazer nada. Comer bolos à vontade. Não é um objectivo de vida, mas se tenho um espectáculo e sei que vou dançar de calção de lycra tenho que estar bem. Não somos pessoas normais.

E gosta da transformação do seu corpo?

Gosto do estereótipo de corpo de

bailarino que é um corpo marcado e definido. Diferente do trabalho que se faz no ginásio. Os bailarinos são mais franzinos. Temos as feições marcadas que é do esforço. São marcas genuínas. Sei o que fiz para ter os pés como tenho agora. Sei que o meu rabo está diferente porque fiz muitas aulas com afinco. Ver as transformações no corpo é quase um objectivo.

Entristece-a ter mais visibilidade lá fora do que na região?

Na região não há assim tantas salas, mas entristece-me já ter telefonado várias vezes para teatros, não ter resposta e vir a saber que recebem outros espectáculos. Mas já me preocupei mais com isso. Se um dia acharem que lá deva ir terei todo o gosto. Os lobbies existem, mas as coisas estão a mudar.

Em vez de comprar uma casa montou uma escola de ballet

A bailarina e coreógrafa Claúdia Neves Martins nasceu a 25 de Julho de 1979 em Coimbra, mas cresceu em Fátima, onde tem a sua família. É filha de uma cozinheira e de um professor de português e latim. Nasceu numa família de artistas, à sua maneira. O irmão, mais virado para a guitarra clássica, está a tirar o curso direito e está a ajudar a mãe no restaurante.

Cláudia Martins confessa que não tem poiso certo. Movimenta-se entre Fátima, Figueira da Foz, Lisboa e o mundo. “Somos como os ciganos”, diz. Em conjunto com o seu companheiro, Rafael Carriço, tem em funcionamento em Fátima a companhia de dança Vortice.Dance e a escola Tutuballet. “As pessoas ini-ciam a vida fazendo um empréstimo para a casa, nós investimos numa escola de ballet”, diz a sorrir.

A companhia ainda está sediada na Estrada de Minde, mas os dois coreógrafos estão de malas aviadas para a Figueira da Foz, onde con-seguiram mais apoio. Na cidade ficará apenas a escola de ballet onde um menino e 79 meninas, dos 4 aos 18 anos de idade, aprendem a dar os primeiros passos de dança clássica.

Cláudia Martins é licenciada pela Escola Superior de Dança, teve formação posterior numa escola holandesa e fez vários seminários em todo o mundo. A companhia que dirige é apoiada pelo Ministério da Cultura, mas é mais reconhecida lá fora que em Portugal. Finlândia, Japão, Hungria, Suíça e Letónia, onde foi premiada, já se renderam aos encantos da companhia que dirige.

O Teatro Arriaga, em Bilbao, é um dos seus espaços preferidos para dançar. O que lhe dá mais orgulho é conseguir conquistar público para ver espectáculos como “O Quebra Nozes”. Até o fornecedor de frutas da mãe já foi ver um espectáculo seu.

“O maior crítico do meu trabalho sou eu própria. Tenho muito a noção de quando ainda não está bem. Os artistas medíocres contentam-se com o resultado apriorista das coisas. Se pensam que está bom não evoluem”.

Ana Santiago

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Cultura Masculino

João Céu e Silva

“A classe política portuguesa tem pouca cultura” Os jornais em papel estão con-

denados a acabar?Quando estávamos perto de 2000 já

se dizia que a breve prazo não haveria jornais em papel. Que seria tudo virtual. Não aconteceu até agora e não acho que vá acontecer tão cedo. Mas mais 20 anos e acredito que a realidade será totalmente diferente. As inovações tecnológicas são muito grandes. Muitas pessoas, quando se levantam, já vão ler várias edições online. E nessa mudança Portugal estará na linha da frente.

Como é que olha para o jornalismo e para os jornalistas?

O jornalismo atingiu um ponto muito crítico. Os jornalistas não sabem para que públicos estão a trabalhar. As empresas, donas dos jornais, não sabem para que universo é que estão a vender o jornal. Em ambos os casos estão sem saber se a sua profissão tem futuro. O jornalismo está um pouco perdido. Fica preso à imagem, à notícia do dia e faz pouca reflexão. Principalmente o jornalismo televisivo que é demasiado imediatista, adolescente, faz pouca crítica e usam meios técnicos impressionantes. Contu-do o resultado é muito inferior àquele que deveria ser.

Que opinião tem da cultura por-

Jorge Afonso da Silva

“Os jornais portugueses, de um modo geral, não são maus e até têm estado na linha da frente da inovação. Mas os portugueses são pouco críticos e não penalizam imediatamente. Não têm uma atitude crítica e têm falta iniciativa. Não são empreendedores”.

tuguesa?Há falta de inovação, criatividade e

medo de fazer coisas novas ou recriar coisas antigas. O país acaba por não ter uma presença na cultura mundial como deveria. Em Portugal há demasiadas reticências no processo criativo. Os políticos estão demasiado preocupados em mostrar as suas posições e não têm tempo para ler um bom livro ou ver um bom filme. A classe política portuguesa tem pouca cultura. E mesmo os que têm muita fazem questão em não a exibir. Parece que há algum receio de mostrar que são pessoas cultas.

Editou vários livros sobre alguns

portugueses ilustres na colecção “Uma longa viagem com…”, como foi, por exemplo falar com pessoas tão dife-rentes como José Saramago e António Lobo Antunes?

São efectivamente personagens mui-to diferentes e os dois escritores mais importantes do país. O José Saramago é uma pessoa muito séria e tem a cabeça bem arrumada. É muito directo a respon-der e não admite qualquer brincadeira. É preciso ter muito cuidado na forma como se fala com ele. Fica muito irri-tado quando considera se houve algum mal-entendido. Almocei e fiquei várias vezes na casa dele em Lanzarote, onde foi escrito a segunda parte do livro. Não é uma pessoa difícil mas também não é fácil. O próprio Lobo Antunes também não é nada fácil mas a relação com ele funcionou muito bem. Falou sobre tudo. Cinema, arte e consegui que falasse dos livros dele, coisa de que não gosta. Esse foi um projecto que se tornou um pouco mais pessoal. Com o José Saramago era mais profissional. Com Lobo Antunes, a partir da quinta, sexta conversa já havia outra intimidade. Quase uma amizade.

Considera esses livros um trabalho jornalístico?

São. Esta série “a longa viagem” junta a entrevista, reportagem, investigação e

a crítica literária. É uma zona que ain-da não estava explorada. Um caminho diferente. Mas que fique bem claro. Podemos ser amigos e a conversar fala-mos de tudo. Mas quando chega a hora de escrever, sou imparcial. Não me vou censurar pelo facto de sermos amigos ou conhecidos.

Já escolheu o próximo escritor?Será o Manuel Alegre. O livro já está

em curso e já estamos a fazer as entre-vistas. Mas a meio do livro anunciou a candidatura à presidência da República. Isso veio alterar um pouco as coisas. É uma situação ligeiramente complicada pois queria falar com o poeta/político e a meio do jogo fico sem saber se estou a falar com o poeta/político ou o político/poeta. Mas penso que isso é ultrapas-sável e o livro deve sair em Outubro deste ano.

O jornalista que também é escritor

João Céu e Silva é jornalista mas tem ganho, nos últimos anos, notoriedade como escritor. No seu primeiro livro reuniu as crónicas da viagem ao Brasil feita em 2000 na caravela Boa Esperança para comemorar os 500 anos da desco-berta daquele país. Publicou ainda o romance “28 dias em Agosto” a que se seguiu o projecto “Uma longa viagem com”. Nos casos dos autores já falecidos – Álvaro Cunhal e Miguel Torga – João Céu e Silva partiu dos livros escritos pelos mesmos e falou com pessoas que os conheceram, para fazer o retrato de cada um.

Seguiu-se o desafio dos escritores José Saramago e António Lobo Antunes. No caso do primeiro o jor-nalista/escritor recorda que passou 18 meses divididos entre Portugal e Lanzarote. Uma entrevista que António Lobo Antunes concedeu a João Céu e Silva para o DN foi o ponto de partida para o livro com aquele escritor. “Foi um trabalho iné-dito em Portugal com 40 conversas. E Lobo Antunes não dá 40 entrevistas a ninguém”, diz. O próximo livro é sobre Manuel Alegre.

João Céu e Silva nasceu a 13 de Abril de 1959 em Alpiarça, onde viveu até aos seis anos. Viveu o resto da infância e a adolescência em Lagos mas continua a considerar-se alpiarcense e ribatejano e até planeia comprar casa na sua terra natal onde tem família.

Ainda jovem vai com os pais para o Brasil onde se licencia em história na Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro. Após o regresso a Portu-gal, ao fim de cinco anos, ajuda nos negócios da família.

A 10 de Outubro de 1989, com 30 anos de idade, João Céu e Silva, inicia um estágio de três meses no Diário de Notícias (DN) onde se mantém até hoje. É um dos grandes repórteres do jornal e responsável pela área da literatura, que integra o suplemento cultural editado aos sábados.

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Desporto Feminino

Equipa Feminina do CEF

“Gostávamos de ter um campeonato nacional feminino de futsal e uma selecção nacional”Como é que chegou a capitã da

equipa?Foi muito simples. Sou uma das joga-

doras mais antigas do plantel, as minhas companheiras confiam em mim, e os trei-nadores acreditam na minha experiência e na minha maneira de ser. Tudo isso se conjugou e naturalmente fui escolhida por unanimidade para ocupar esse lugar.

Desde quando é que o futsal faz parte da sua vida?

Tenho 22 anos, comecei a jogar futsal quando fui estudar para o Centro de Estudos de Fátima, já jogo há oito anos. Comecei no desporto escolar e continuei quando se formou a equipa federada.

É uma das ex-alunas que continua na equipa?

Sim. E faço-o com um grande orgu-lho.

A sua família não se opôs a que jo-gasse futebol?

Não. Viam que eu gostava tanto de jogar que até me chegaram a oferecer bolas de futebol. Sempre me apoiaram.

Foi só na escola que se interessou pelo futebol?

Não. Desde muito pequena que tive uma queda para jogar futebol. Pratiquei outros desportos mas é no futsal que eu me sinto como um pato na água.

Ainda continua a estudar?

Sim. Estou a estudar e a trabalhar. Fiz o curso de fisioterapia, trabalho que estou a exercer numa clínica em Lisboa, e ao mesmo tempo estou na faculdade a tirar o curso de osteopatia.

As modalidades femininas são dis-criminadas?

Não direi discriminadas. Mas direi que, nós as mulheres, gostaríamos de ver criado um campeonato nacional feminino de futsal e criada uma selecção nacional, seria uma meta importante para as jovens que gostam da modalidade, seria mais um incentivo para nos ajudar a progredir. Infelizmente os senhores da Federação Portuguesa de Futebol não conseguem perceber que há já excelentes jogadoras em Portugal.

Há quem diga que as jogadoras de

futebol são muito “masculinas” e que há muita homossexualidade. Sente isso no futsal feminino?

Isso não corresponde à realidade. Na maior parte dos casos as raparigas que jogam futebol até são muito femininas. As pessoas falam nisso porque ainda somos poucas mulheres a jogar futebol. Não sei se no futebol masculino não haverá mais homossexualidade do que no feminino.

As mulheres têm que proteger me-lhor algumas partes do corpo do que os homens?

Não. Não usamos qualquer protecção a não ser as caneleiras, porque são obri-gatórias.

É verdade que dentro do terreno de jogo no palavreado não se distinguem muito do vocabulário usado pelos homens?

Isso faz parte do desporto. No calor da luta saem sempre alguns palavrões que não dizemos no dia a dia.

Vai continuar a jogar por muito tempo?

Gostava de jogar até as pernas darem. Gostava de evoluir mais porque o futsal faz parte da minha vida. Adoro jogar futsal.

Acredita que o Centro de Estudos de Fátima vai continuar a apoiar a modalidade?

Acho que sim. É uma mais valia para o colégio, vestimos a camisola com orgulho,

dignificamo-la em todos os jogos. Penso mesmo que merecíamos mais apoio de outras entidades do concelho.

Tem tido muitas lesões?Algumas. Hoje aconteceu mais uma,

espero que não seja grave. Mas também nos preparamos para isso e o que preten-demos sempre é curá-las e esquecê-las o mais rápido possível.

Ainda quer jogar muitos anos. E o namorado e o casamento. E a família?

Namorado ainda não há. Actualmente namoro com o futsal. Quando houver vai ter que apoiar a nossa equipa. Quanto à família é natural que a quero construir mas a seu tempo, agora penso efectivamente em terminar o curso de osteopatia e fixar-me no meu trabalho.

(Entrevista com Mara Marcelino – capitã de equipa)

Novas ideias para reforçar uma equipa

A equipa do Centro de Estudos de Fátima (CEF) nasceu para o futsal no âmbito do Desporto Escolar. Essa situação tinha um contra. Quando as jovens jogadoras chegavam ao final dos estudos no colégio acabava-se o futsal para elas. A situação não agradava aos professores Bruno Neto e João Sousa, que resolveram elaborar um projecto e apresentá-lo à direcção do CEF. Um projecto para seis anos que passava por colocar a equipa a competir no Campeonato de Futsal da Associação de Futebol de Santarém. O projecto foi apro-vado e nasceu uma equipa forte, que logo no ano de estreia conquistou a Taça do Ribatejo.

O desporto escolar mantém-se, mas a equipa sénior progrediu e na época de 2008/2009 cometeu a proeza de se sagrar campeã distrital da primeira divisão e venceu a Super-taça do Ribatejo. O CEF tem ainda a competir no distrital de Leiria, uma equipa de juniores femininos, porque no distrito de Santarém não há campeonato neste escalão.

Esta é a sexta época em que a equipa sénior está a competir e segue destacada no primeiro lugar do campeonato, sem qualquer der-rota. O projecto inicial, pensado para seis anos, está a chegar ao fim. Os professores Bruno Neto e João Sousa já elaboraram um novo projecto que esperam ver aprovado pela direcção do CEF. Na equipa já jogam atletas que não frequentaram o colégio. A ideia é que a mesma seja reconhecida como um clube e possa ser apoiada por empresas e entidades oficiais.

Carolina, Flávia, Ana Roque, “Na”, “Paty”, “Pipa”, “Lila”, Mara, Daniela, Joana, “Anita”, Diana, “Ma” e Lídia, são o grupo de jovens jogadoras que compõem o plantel da equipa de Futsal do Centro de Estu-dos de Fátima (CEF). A este conjunto juntam-se Manuel Bento, director do CEF, Fernando Trezentos, delegado e os professores treinadores, Bruno Neto e João Sousa.

“Ainda existe essa ideia de ligar o futebol ao sexo masculino, mas por mim tenho a certeza de que as mulheres também têm cada vez mais uma palavra a dizer na modalidade. É pena que não sejamos ajudadas pelos dirigentes da modalidade”.

Fernando Vacas de Jesus

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Desporto Masculino

Rui Silva

“No atletismo não trocamos de camisola como no futebol porque no clube só temos direito a uma camisola por ano”

Porquê esta mudança do Cartaxo para a Maia (Porto) apesar de continuar ligado ao Sporting?

Foi apenas por uma questão técnica. Na altura deixei de treinar com o técnico Bernardo Manuel e a opção de treinar com o professor João Campos fez com que viesse para a Maia. Para fazer um trabalho em condições não fazia sentido treinar à distância.

Quando acabar a sua carreira de atleta vai ser treinador de atletismo?

Não vai ser muito fácil enveredar por aí. Para ser treinador é preciso uma gran-de sensibilidade que eu penso que não tenho. Fui sempre muito exigente comigo próprio e penso que como treinador podia exigir demais e isso não ser benéfico para os atletas.

Ao longo da sua carreira teve muitas lesões. Foram resultado dessa sua von-tade de se superar?

Não posso dizer que foi só isso, mas que contribuiu muito não tenho dúvidas. A vontade de ir sempre mais além, levou-me a cometer alguns exageros, faltou-me algum equilíbrio, que tem que ser feito pelo treinador.

Os tempos de paragem são duros para um atleta. Como os encarou?

As lesões também servem para crescer-mos. Quando tudo corre bem é muito fácil.

Quando acontecem as lesões é que toma-mos consciência do espírito de sacrifício que é preciso ter e tomamos consciência das pessoas que nos rodeiam. Ficamos a saber quem é que está efectivamente do nosso lado.

É o Rui que escolhe os seus equipa-mentos?

Basicamente é a marca que nos patro-cina que nos envia os equipamentos. Nós somos a montra das marcas.

Tem algumas sapatilhas com o seu nome?

Já tive. Na altura dos Jogos Olímpicos e do Campeonato do Mundo tive esse privilégio, que não está ao alcance de muitos atletas.

Guarda alguma peça do seu primeiro equipamento?

Não, já não tenho. Normalmente

quando recebo novos equipamentos vou dando os que ainda estão em bom estado a alguns companheiros meus que não são patrocinados. Os únicos ténis que tenho guardados são os que utilizei o ano passa-do no Campeonato da Europa, que têm precisamente o meu nome.

Também se desfaz das camisolas ou troca-as com outros atletas que entram nas mesmas provas como fazem os futebolistas?

Tenho algumas camisolas guardadas, principalmente aquelas com as quais venci as provas mais importantes. No atletismo não trocamos de camisola como no futebol porque no clube só temos direito a uma camisola por ano, e na selecção temos uma camisola por ciclo de dois anos, não nos podemos dar ao luxo de as trocar.

Como é que passa os tempos livres?Não tenho muitos tempos livres,

quando isso acontece estou com a minha mulher, o meu filho e a minha filha. Vamos dar uma voltinha ou ao cinema.

As críticas magoam-no? Neste momento encaro-as com norma-

lidade mas confesso que tive uma fase em que foi complicado. Não compreendia e continuo a não compreender como é que de um dia para o outro nos conseguem passar de bestiais a bestas. Admito que quando estamos mal tenhamos críticas negativas mas normalmente isso é feito

de uma forma que fere e magoa. Diz-lhe mais o Cartaxo do que San-

tarém?Sem dúvida que sim. Nasci em Santa-

rém e vivi nas Fontainhas até o meu pai falecer, vivíamos numa quinta um pouco à margem da cidade. Mas foi com a ida para Vila Chã de Ourique que se abriram outros horizontes. Identifico-me muito mais com o concelho do Cartaxo do que com Santarém. O Cartaxo tem feito muito mais por mim do que Santarém. Considero-me um verdadeiro cartaxeiro. Agora estou na Maia e penso que irei ficar por aqui nos próximos seis a oito anos, mas a minha casa da Ereira espera por nós.

Um atleta de eleição

Rui Manuel Monteiro da Silva, nasceu em Santarém no dia 3 Agosto de 1977 mas cedo se mudou para Vila Chã de Ourique. Com 13 anos estreia-se no atletismo em representação do Estrela Ouriquense, sagrando-se desde logo campeão nacional de juvenis de Corta-Mato.

Em 1997 muda-se para o Sporting, onde sob a orientação do técnico Bernardo Manuel alcança grandes sucessos. Um dos mais marcantes foi ter batido o recorde dos 1000 metros que pertencia há 16 anos a Carlos Cabral, por curiosidade, seu actual sogro.

Em 1998 coloca a fasquia do recorde dos 1500 metros numa “performance” já notável, tanto a nível nacional como internacional. Entretanto, estreia-se na conquista de medalhas em Campeonatos da Europa de Pista Coberta e ao Ar Livre, com ouro e prata, respec-tivamente e ainda um honroso segundo lugar na Taça do Mundo em Joanesburgo.

Na época seguinte continua em crescendo, desde o brilhantismo em Maebashi, nos Mundiais de Pista Coberta, a uma nova medalha de Ouro no Europeu de Sub-23. Em 2001 conquista a medalha de ouro nos Mundiais de Pista Coberta em Lisboa. No ano seguinte alcança o título de campeão da Europa de Pista Coberta e de terceiro melhor português de todos os tempos.

Em 2004 volta em grande, con-quistando a medalha de prata em Budapeste. E nos Jogos Olímpicos de Atenas, nos 1.500 metros, arrebatou a medalha de bronze, colocando Portugal em delírio. Em 2005 foi medalha de bronze nos mundiais de Helsínquia. Em 2007 foi a Espanha conquistar uma medalha de bronze nos Campeonatos da Europa de Corta-Mato. Em 2009, começou muito bem, voltou a ser o melhor nos 1500 metros do Campeonato da Europa de Pista Coberta, disputado em Itália, trazendo a medalha de ouro ao peito. Entretanto uma lesão afastou-o durante largos meses das pistas, onde já regressou com a mes-ma vontade de vencer que tinham quando iniciou a sua carreira.

“Vou mudar para o meio fundo e fundo. Vou preparar-me para os 5.000 e 10.000 metros. Sei que vai ser muito difícil alcançar as vitórias que consegui nos 1.500 metros, mas não vou virar a cara à luta”.

Fernando Vacas de Jesus

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04 Fevereiro 2010 | O MIRANTE18 | RESTROSPECTIVA 2009

Tauromaquia

Rui Salvador

“Falta-me sempre fazer mais e mais pela festa dos toiros”Tem que fazer muito exercício

para se manter em forma para tou-rear?

Durante o dia faço muita ginástica. Só a montar a cavalo são cerca de seis horas por dia. Ainda não é o exercício físico que devia fazer e tenho alguns quilos a mais mas tento estar bem preparado.

Já pensou fazer dieta?Já experimentei milhares de dietas. No

Inverno engorda-se sempre um pouco e depois há que fazer tudo para estar em forma no Verão.

Deve ser dos poucos toureiros li-cenciados e dos raros que exerce uma profissão que não está ligada à tauro-maquia. Isso traz-lhe alguma vantagem enquanto toureiro?

É sempre uma mais valia estudarmos e adquirirmos conhecimentos, seja em que área for. Mas foi uma complicação imensa conseguir conjugar os horários das aulas com as horas de treino.

É toureiro, organiza eventos, em-presário tauromáquico, arquitecto e agricultor. Como é que arranja tempo para isto tudo?

Não tenho tempo para uma coisa que queria, que é ser pai. A família é a que acaba por pagar e isso pesa-me na cons-ciência. Vejo os meus filhos crescerem e

tenho medo de não conseguir acompanhar as várias etapas que se vão sucedendo, lembrando-me que para mim foi impor-tante ter os meus pais ao lado em muitos momentos. De resto, é uma questão de gerir o tempo. Quem corre por gosto não cansa. E tenho a sorte na vida de fazer muita coisa que gosto, o que torna tudo mais fácil.

E para hobbies? Tem tempo para isso?

Gosto de coleccionar carros antigos. Tenho uns 23 carros puxados a cavalo, dois estão a ser recuperados. Esta colecção começou com o meu pai. Depois passei a coleccionar carros a motor. Quando há eventos na quinta costumo mostrar a colecção.

Já pensou no dia em que terá que

abandonar a actividade de cavaleiro tauromáquico?

Penso muitas vezes. O equilíbrio e constância que temos de mostrar dentro da praça para continuarmos a ser figuras de relevo no meio taurino dependem de nós próprios e do cavalo. Enquanto con-seguirmos ter bons cavalos continuamos a ser figuras de destaque. Como não me sinto neste momento inferiorizado em relação às minhas capacidades físicas, dependo única e exclusivamente do cavalo.

Como gostaria de sair?Gostaria sobretudo de ter o bom senso

de perceber quando é o momento exacto para me ir embora.

Quando era miúdo brincava muito? Como eram as suas brincadeiras?

No dia em que decidi que queria ser cavaleiro tauromáquico estava com o Gustavo Zenkl, um cavaleiro austríaco que conseguiu ser figura no nosso mundo e que foi a pessoa que de princípio me ajudou e me amparou mais. Ele foi um refugiado da segunda guerra mundial que foi recebido pela família Infante da Câmara em Vale de Figueira (Santarém). Nesse dia tinha ido lá, com os meus pais, treinar. Quando lhes comuniquei a minha decisão, o meu pai avisou-me que a partir dali tinha que abdicar de muita coisa. Que jogaria menos futebol, que ia ter menos tempo para brin-

car. E eu, com as lágrimas nos olhos, olhei para o meu pai e perguntei-lhe: “Mas posso andar às vezes de bicicleta?”

O que lhe falta fazer? Falta-me sempre fazer mais e mais pela

festa dos toiros que é uma tradição secular em Portugal e que tem sido mal apoiada pelo Governo e mal compreendida por algumas pessoas. Receio que os meus filhos não consigam explicar aos meus netos o que nós fomos, não só na tauromaquia mas como portugueses. Que não lhes consigam explicar a nossa história e cultura.

O toureiro que desenha as suas próprias casacas

Aos 45 anos, Rui Salvador sente que ainda tem muito para dar à tauromaquia nacional. Cavaleiro que tem sabido manter-se como figura de destaque da tauromaquia, Salvador completou em 2009 os seus 25 anos de alternativa. É uma pes-soa que não esquece quem o ajuda, nomeadamente os amigos com quem aprendeu e aprende. Tem no coração figuras da festa brava como José Mestre Baptista, João Moura e Gustavo Zenkl.

Natural de Lisboa onde nasceu a 1 de Janeiro de 1965, cedo se habituou a caminhar para Tomar onde os pais tinham uma quinta. Começou como cavaleiro aos 11 anos, apresentando-se em público na praca de Vila Nova da Barquinha. Fez a prova de cavaleiro praticante em 19 de Abril de 1981, em Tomar. E três anos depois, a 9 de Agosto de 1984 entrou na arena do Campo Pequeno (Lisboa) para a cerimónia de alternativa.

Levanta-se diariamente por volta das nove da manhã e gosta de se deitar tarde. Durante o dia anda pela Quinta do Falcão com botas de mon-tar e roupa de trabalho. Aproveita as noites para pôr os papéis em ordem no escritório porque é quando está sozinho e mais concentrado. Viaja frequentemente entre Lisboa, onde a mulher trabalha como gestora e onde estudam os filhos, e Tomar. Anda sempre com malas de roupa de um lado para o outro. Já esteve mais longe o desejo de fixar a família definitivamente em Tomar.

Estudou em Lisboa no Liceu Francês, fez o primeiro ano do curso de Arquitectura no Porto e fez os restantes quatro em Lisboa, cidade que diz adorar. Com jeito para o desenho, ou não fosse arquitecto, é ele que desenha os seus trajes de cavaleiro que enverga quando entra em praça.

Empenha-se com paixão na manutenção da praça de toiros de Tomar que tem o nome do seu pai, José Salvador, e cumpre reli-giosamente a tradição de organizar anualmente a corrida do emigrante. E agora está empenhado em criar a primeira escola de toureio a cavalo no país, projecto que iniciou no ano passado.

“Parti pernas, braços, clavículas, joelhos, fiz um sem número de rupturas de ligamentos. Já fui sujeito a três anestesias gerais. Mas apesar disso continuo com a mesma paixão com que iniciei a actividade de cavaleiro”.

António Palmeiro

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Associativismo

Shorinji Kempo

“Se não estivermos bem não vamos conseguir fazer bem aos outros”A Associação que fundou e

dirige, dedica-se a ensinar uma arte marcial e tem sucessos desportivos, mas curiosamente acaba por ficar co-nhecida por uma ligação a um acto de solidariedade.

O Shorinji Kempo é uma técnica de de-fesa pessoal oriunda do Japão mas assenta numa filosofia muito própria que é unir os povos em torno da paz, melhorando o mundo.

Como é que se muda o mundo no interior de um ginásio?

A primeira regra para ajudar os outros é fortalecermo-nos a nós próprios. Se não estivermos bem não vamos conseguir fazer bem aos outros.

Construir e mobilar uma casa para uma família carenciada foi um teste à forma como estavam a interiorizar a filosofia em que assenta o Shorinji Kempo.

Podemos não conseguir mudar o mundo na sua totalidade mas podemos ir mudando o nosso próprio mundo e o daqueles que vivem perto de nós. Se conseguirmos que essas pessoas se sintam satisfeitas cria-se um ambiente que é bom para todos e também para o desenvolvi-mento da sociedade.

A mãe das crianças pediu-lhe ajuda quando lhe tiraram os filhos e os leva-ram para um Centro de Acolhimento longe de Foros de Salvaterra?

“Fui ao Japão, onde nasceu o Shorinji Kempo quando já era Mestre há muito tempo. Queria tirar algumas dúvidas. Diziam-me que os Mestres eram pessoas simples e que eram respeitadas apenas pelo seu grande conhecimento. Tive que ir ver com os meus próprios olhos. E de facto é mesmo assim”.

Ninguém nos pediu ajuda. Nós é que reagimos a uma situação de extrema injus-tiça. Conhecíamos a família e as crianças e sabíamos que as acusações eram, e são, infundadas. Mexeram com crianças que frequentavam a Associação e tínhamos conhecimento que não havia perspectivas de solução para o caso uma vez que o casal não tinha bens materiais e financeiros para arranjar uma casa em condições. Por isso decidimos agir. Durante um ano membros da Associação juntamente com outros voluntários deram o melhor de si para construir uma nova habitação que permitisse o regresso da Tatiana, do Filipe e da Soraia.

Esperava a resposta que teve?Tinha esperança mas nunca tinha visto

uma onda de solidariedade tão grande da sociedade civil em torno de uma família. Espero que a técnica responsável pelo acompanhamento desta família deixe de ver este caso como uma guerra pessoal e reavalie as suas decisões.

O Shorinji Kempo começou a ser conhecido também pela sua vertente humanitária e não apenas pela vertente desportiva. Têm recebido pedidos de ajuda?

Sim, isso tem acontecido. Alguns são casos de pobreza extrema. Vamos tentando ajudar como podemos. Mas confesso que temos muito receio de encaminhar as pessoas para a Segurança Social e CPCJ de Salvaterra de Magos porque, pela experiên-cia que temos, as consequências não serão boas. É um risco as pessoas procurarem os organismos que tratam de crianças de risco neste concelho.

Que reflexos teve o Shorinji Kempo na sua vida?

Veio encaixar-se de forma perfeita na minha vida. O Shorinji moldou a minha personalidade dentro daquilo em que eu acreditava mas com alguma sistematiza-ção. Permite-me ver o mundo de forma mais defendida, os pensamentos utópicos de querer um dia mudar o mundo que eu tinha são agora mais racionais porque não se pode remeter essa responsabili-dade no além. As pessoas são as únicas responsáveis para conseguir mudar o mundo, é nelas que acredito. E para isso

é preciso agir.Em criança gostava de ver os filmes

de artes marciais?Os filmes de karaté ou kung-fu apa-

receram nos anos 70. Eram diferentes e atraíam-me. Gostava muito de ver o Bruce Lee apesar daquilo ser mais encenação do que outra coisa. Dos filmes mais recentes, gosto muito do Jackie Chan. Tem muita piada.

É inspector da Polícia Judiciária (PJ). Alguma vez teve que utilizar as técnicas do Shorinji Kempo na sua profissão?

Utilizei muitas vezes. As técnicas eram excelentes na minha actividade profis-sional porque eu, sem aleijar ninguém, resolvia algumas situações.

(Entrevista com o Mestre Jorge Monteiro)

* Parte da entrevista é retirada de uma outra publicada em 12/11/2009

Uma modalidade que era vista com desconfiança

A principal filosofia do Shorinji Kempo, uma técnica de defesa pessoal nascida no Japão, é unir os povos em torno da paz melhorando o mundo. A Associação de Shorinji Kempo de Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos, passou a um nível superior daquela arte marcial ao construir uma casa para que uma mãe pudesse voltar a ter consigo os três filhos menores que lhe haviam sido retirados por falta de condições de habitabilidade. Infelizmente, até agora, os princí-pios do Shorinji Kempo, ainda não foram absorvidos por quem decide e as crianças continuam à guarda do Estado. Criada há cerca de sete anos e dirigida por Jorge Monteiro, a associação tem quatro escolas no concelho de Salvaterra de Magos, frequentadas por 70 alunos com idades compreendidas entre os seis e os 15 anos e uma classe adulta.

O Mestre que fundou e dirige a Associação é Jorge Monteiro. Nasceu a 30 de Agosto de 1958 em Lisboa, vive em Foros de Salvaterra há cerca de 12 anos. Interessou-se pelo Shorinji Kempo aos 19 anos depois de praticar judo, karaté e boxe. Inspector da Polícia Judiciária, Jorge Monteiro conta que, quando come-çou a expandir a modalidade na sua zona de residência, era olhado com desconfiança porque as pessoas não sabiam o que era e o nome também não ajudava.

Nem o nome nem o símbolo utilizado, o Manji, que tem algumas parecenças com a cruz suástica. O próprio confessa que, sendo um defensor dos direitos humanos e por uma sociedade mais justa, teve algu-ma dificuldade em habituar-se.

O objectivo da Associação é expandir o Shorinji Kempo no con-celho de Salvaterra de Magos dando prioridade às freguesias mais desfa-vorecidas em actividades destinadas a crianças e jovens.

Ana Isabel Borrego

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Cidadania

Elza Chambel

“As competências que adquirimos ao longo da vida não se esgotam quando nos reformamos”

Nasceu no Brasil, viveu a juven-tude em Trás-os-Montes, como veio parar ao Ribatejo?

Era notária em Marvão, Alentejo, quando conheci o meu marido, que era director da Escola Industrial e Comercial em Santarém, no dia primeiro de Janeiro de 1966. Casámos em Setembro desse ano e resolvi que era mais fácil ser eu a aproximar-me. Concorri para o lugar de conservadora notária no Entroncamento e fiquei. Vivia em Santarém e ia todos os dias de comboio. Saía muito cedo e chegava tarde a casa, praticamente só via a minha filha a dormir. Entretanto convidaram-me para ir montar o conten-cioso da Caixa de Previdência e Abono de Família de Santarém, o que aceitei.

Qual foi a sua primeira experiência de voluntariado?

Fiz o liceu em Bragança e tinha, quan-do andava no terceiro ano, uma jovem professora de Física que nos convidava a ir com ela às visitas da Conferência de São Vicente de Paula. Que eram feitas a pessoas que viviam bastante mal.

Foi o seu primeiro contacto com a realidade crua da pobreza e da miséria?

Mais da miséria, porque em Trás-os-Montes as pessoas são pobres mas existe

João Calhaz solidariedade e reciprocidade.O paradigma da pobreza alterou-

se. Hoje é mais difícil identificar os pobres?

Não. Em Portugal temos um número muito elevado de população que vive no limiar de pobreza. Principalmente população idosa, mulheres, famílias monoparentais que vivem em situação de pobreza. Mas a pobreza também é es-trutural e vivemos uma crise económica e financeira.

Não há também agregados que se

habituam ao rendimento que lhes é proporcionado pelo Estado e que se acomodam?

Quando começou o Rendimento Míni-mo Garantido essa campanha aconteceu. E é recorrente. Não vou dizer que não haja casos em que as pessoas poderiam ter um emprego e não estarem tão de-pendentes do actual Rendimento Social de Inserção. Mas sem competências para terem um emprego, muitas vezes tendo sido realojadas em bairros em que estão mais longe do emprego e sem condições de transporte, como é que é? Tem de haver políticas sociais globais mas também empenho muito grande da parte das autarquias, associações e outras instituições. E o voluntariado pode ser uma resposta.

Continua a percorrer o país como presidente do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado. Onde vai buscar essas energias?

As competências que adquirimos ao longo da vida não se esgotam porque atingimos a idade de reforma. É o que ando a pregar por esse país fora. Não se esgotam e temos obrigação de as pôr a render. Enquanto puder ser útil, gostar daquilo que faço e sentir que posso, ao pôr uma pedrinha, estar a ajudar que a minha rua fique um bocadinho melhor

eu faço. Gosto do que faço e acho que sou uma pessoa feliz.

O que é o voluntariado? O voluntariado é um percurso de

cidadania em que não penso só nos meus direitos de cidadão mas também nos meus deveres para com os outros, para que os outros possam exercer os seus direitos de cidadania. Pode parecer um jogo de palavras, mas não é. E o voluntariado já não é só de cariz social. Há voluntariado cultural, no campo do ambiente, voluntariado jovem, mais sazonal, na luta contra os incêndios. Há voluntariado de proximidade para lutar contra a solidão.

* Excerto de uma entrevista publicada na edição de 24 de Dezembro de 2008.

De Copacabana para o coração do Ribatejo

A figura frágil engana à primeira vista. Elza Chambel irradia energia e continua a viver em alta rotação aos 73 anos de idade. Aposentação é pala-vra que não consta no seu dicionário. No dia em que a entrevistamos pela última vez preparava uma viagem a Angola, para avaliar um projecto de alfabetização no terreno. Como vo-luntária, diga-se. Na madrugada se-guinte à gala onde recebe o galardão Personalidade do Ano na categoria Cidadania, atribuído pela redacção de O MIRANTE, parte de automóvel para uma reunião em Sevilha nessa tarde. Em Dezembro passado esteve em São Paulo, no Brasil.

Nascida no Rio de Janeiro e com o carácter temperado pela infância e juventude que viveu em Trás-os-Montes, a actual presidente do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado fez grande parte da carreira ligada à Segurança Social em Santarém e Lisboa, depois de ter desempenhado funções como notá-ria em Aljezur, Barrancos, Marvão e Entroncamento.

Formada em Direito pela Uni-versidade de Coimbra em 1960, numa altura em que poucas eram as mulheres no curso, afirma-se como uma “feminista entre aspas” para ilustrar as batalhas onde se envolveu e que ajudaram à afirmação do sexo feminino na administração pública. Foi a primeira chefe de divisão em Portugal e chegou a lugares de topo na estrutura da Segurança Social, como directora distrital de Santarém e da Região de Lisboa e Vale do Tejo.

Hoje dedica-se a fazer o marke-ting do voluntariado, a agitar cons-ciências e a dar visibilidade à causa. Considera-se uma pessoa optimista e positiva, que não se deixa abater pelos dramas. Gosta de viver em Santarém, no sossegado bairro de São Bento, onde tem como com-panhia a mãe, que em Dezembro completou 104 anos. Elza Chambel tem uma filha, arquitecta paisagista, e é avó de duas meninas, de treze e nove anos.

“É preciso que o voluntariado seja comprometido, qualificado, formado, arrisco-me mesmo a dizer profissionalizado. No sentido de ser tão competente como as profissões, só que gratuito. O voluntariado às vezes é um golpe de entusiasmo. Mas depois, e isto acontece muito ainda, as pessoas não fazem aquilo que se comprometeram a fazer”.

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Vida

Joaquim Botas Castanho

“Sempre gostei de trabalhar com honestidade e em prol dos outros”Qual é o seu lema de vida?Trabalhar com honestidade, com con-

vicção, com esforço e sempre que possível em benefício dos outros. Toda a minha vida tem sido orientada nesse sentido, quer na minha actividade profissional como diri-gente de serviços públicos, como professor e depois como político e autarca.

Encara o envelhecimento com na-turalidade?

Sim, obviamente tentando manter dentro do possível a melhor qualidade de vida, mas não deixando de ter o temor, que todos nós teremos, de perder a autonomia funcional, que é fundamental.

Quais são as vantagens da maturi-dade?

Traz-nos tranquilidade, experiência e conhecimento. Ajuda-nos a seleccionar os verdadeiros amigos e hoje, se há coisa que muito prezo a par de outras, é ter um lote muito bom de amigos, uma família fantástica e poder tranquilamente praticar o gosto pela pesca, que é fundamental para o meu equilíbrio.

É um bom pescador?Podem considerar isso falta de mo-

déstia, mas acho que sim. Pelo menos se comparar com o meu companheiro de pesca.

Disse não ter especial fascínio pelo

“Sou uma pessoa que está de bem com a sua consciência. Isso para mim é fundamental. Podia, se calhar, ter muitos milhões, mas talvez não tivesse a consciência tão tranquila”.

João Calhaz exercício do poder político mas em 2009 lá teve de assumir o cargo de governador civil de Santarém por uns meses. Gostou da experiência?

Gostei, sinceramente. Não fiz nada, obviamente, para conseguir esse lugar. Também não fiz nada depois para sair. O que tem de ser é. É outro dos meus lemas de vida. Não forçar nunca a realidade.

Gostava de ter ficado mais uns tem-pos no Governo Civil?

Gostava era de não ter sido colocado perante esse dilema. Um dos meus receios na altura era, se fosse confrontado com essa situação de ficar ou não ficar, não saber o que responder. Porque, por um lado, gostei

do lugar, que acho que representei bem, e se calhar não teria coragem para dizer não. Por outro lado acho que isso não seria bom para a minha pessoa, para a família, para a qualidade de vida que, ao fim de 50 anos de serviço, acho que tenho direito.

Deu então algum jeito que não o tenham convidado para continuar?

Nesse aspecto deu, porque posso conti-nuar a fazer a vida pela qual optei.

A classe política tem vindo a perder qualidade?

Acho que sim. Pelo menos a nível da generosidade utopia e idealismo que nos alimentavam. As pessoas começaram a ser quase profissionais da política.

Como comenta o facto de haver muita gente a desempenhar cargos po-líticos sem praticamente ter experiência profissional consolidada?

Acho que se perde valor, os partidos per-dem muito nesse sentido. Era fundamental que estivessem baseados numa profunda experiência profissional, em conhecimento de vida. E isso nem sempre acontece com os tais profissionais da política.

Qual foi o primeiro local que visi-tou em Santarém, quando veio para a cidade?

O primeiro local onde entrei, literal-mente, há 43 anos, quando vim fazer uma entrevista na Caixa de Previdência, foi na

Pescador, cantor e cultor de amizades

Joaquim Botas Castanho nasceu há 70 anos no Alto Alentejo, em Seda, Alter do Chão, mas fez o seu percurso profissional em Santarém, como alto quadro dos serviços distritais de segurança social e de saúde. Licenciado em sociologia, foi professor, autarca e é cônsul honorário do Brasil na cidade onde reside há mais de 40 anos. Dedica o seu tempo à família, aos amigos e à pesca, uma actividade que considera fundamental para o seu equilíbrio.

Esteve oito anos na vida autár-quica. Enquanto vice-presidente da câmara e presidente da administra-ção dos Serviços Municipalizados de Santarém tem obra de que se pode orgulhar, como a cobertura do concelho com água canalizada praticamente a cem por cento. Quando deixou o cargo, no início de 2002 confessou ter ficado vacinado da política mas a vida prega partidas e em Junho de 2009 foi convidado para exercer o cargo de governador civil de Santarém. Como raramente recusa um desafio, aceitou. Após as eleições legislativas de Setembro, o novo Governo não lhe renovou o convite. E ele agradeceu. É o segundo militante mais antigo do PS escalabi-tano mas a sua participação limita-se ao pagamento das quotas.

Aposentado da função pública, dedica hoje muito do seu tempo à família, com especial atenção para as duas netas, e à pesca. Pelo menos uma vez por semana lá vai com o equipamento para as barragens de Montargil e do Maranhão, para a ribeira do Cabeção ou para o açude de Santa Margarida. É uma activida-de essencial ao seu “equilíbrio bio-psíquico”, confessa. “Tenho razões mais que suficientes para acabar com tudo o resto”, acrescenta.

De porte altivo e personalidade reservada - “só como defesa” -, Joa-quim Botas Castanho transfigura-se nos convívios com os amigos, seja na pesca seja nas incursões gastronómi-cas em que regularmente participa. Porque é dos que acreditam que as amizades se cultivam e aprofundam à volta da mesa. E há mesmo quem não dispense ouvi-lo a cantar fados, baladas ou o clássico poema Pedra Filosofal de António Gedeão. “Já an-tes do 25 de Abril cantava baladas do Zeca Afonso, tenho algum domínio de voz. Mas só canto entre amigos e só quando me pedem e eu estou bem disposto”, confessa o alentejano que há 43 anos foi viver para Santarém e lá fez vida.

Igreja do Milagre que fica ao lado dessas instalações onde hoje está a Segurança Social. Tinha chegado adiantado, sempre me preocupei em ser pontual, e decidi entrar e reflectir, porque é um ambiente propício. Daí ter um relacionamento muito profundo com esse templo.

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ESPECTÁCULO

A 11 de Fevereiro, no Cine-Teatro de Ourém, na noite da entrega dos prémios O MIRANTE que distinguem as personalidades do ano 2009, QuimZé Lourenço aquece o serão com canções do poeta José Carlos Ary dos Santos, uma personalidade indiscutível e eterna da poesia portuguesa.

O espectáculo já andou por palcos e palcos. Estreou dia 29 de Janeiro de 2009 e saiu para outros lugares. Dia 11, quinta-feira, é apresentado no cine-teatro de Ou-rém, no decorrer da entrega dos prémios Personalidade do Ano. QuimZé Lourenço

foi buscar dezena e meia de canções com poemas de José Carlos Ary dos Santos e interpretou-as à sua maneira. Uma forma de homenagear o poeta vinte e cinco anos após a sua morte.

“Os mais novos preferem o imediato, o fácil, as canções sem substância. Acredito que um dos nossos deveres é levar a poesia de Ary dos Santos a um público mais novo que a possa apreciar e meditar sobre ela”, refere o artista a O MIRANTE.

A musicalidade do projecto é um híbrido entre vários estilos, nomeadamente entre a música clássica, o jazz, o pop e a world music. “Desfolhada”, “Canção de Madru-gar”, “Tourada”, “Lisboa menina e moça” e “O amigo que eu canto” reaparecem com as mesmas palavras mas em tons diferentes daqueles que originalmente as

E agora para algo completamente diferente com QuimZé Lourenço e os poemas do Ary“Desfolhada”, “Canção de Madrugar”, “Lisboa Menina e Moça”, “O amigo que eu canto” e outras pérolas

embalaram.José Carlos Ary dos Santos nasceu em

Lisboa em 1937. Oriundo de uma família da alta burguesia, saiu inconformado de casa aos 16 anos e exerceu várias profissões para poder sobreviver. Impulsivo, apai-xonado, arrebatado, satírico, entusiasta, irreverente, deixou mais de 600 poemas para canções.

QuimZé Lourenço, o cantor que reinventa as canções de Ary dos Santos, nasceu na vila da Chamusca, em casa, a 6 de Dezembro de 1971, numa tarde anor-malmente quente e ensolarada. Desde cedo começa o seu interesse pelas palavras e pela música. Aos 6 anos de idade (acabados de fazer) declama o seu primeiro poema em público, por iniciativa e insistência do seu professor primário num evento escolar.

Aos 9 anos, o seu pai oferece-lhe uma gui-tarra clássica como presente de conclusão da instrução primária. Autodidacta desde aí, começa a tocar e a cantar as músicas que ouvia na rádio e na televisão e todas aquelas que tinha gravado na memória des-de tenra idade. Por influência de músicos locais, maioritariamente, ligados ao fado, acompanha fadistas amadores, hoje quase todos profissionais com carreira.

“Um pouco antes dos trinta anos meti na cabeça que era capaz de montar um es-pectáculo meu, enquanto cantor. Tive aulas de canto e fui para o coro da Gulbenkian. Fui evoluindo sozinho. Tinha vontade de tocar e aprender a tocar. Fui muito auto-didacta. Comecei a fazer amizades com muita gente do meio e depois tive alguém que me convenceu, ou eu mesmo, que se calhar era capaz de cantar”.

A par da música foi estudando outras matérias. “Sempre tive interesse em saber mais sobre relações humanas e o compor-tamento. Não tive dúvidas quando escolhi o curso de Sociologia porque era a ciência humana mais eclética, mais abrangente que conhecia. Estudei filosofia, política, economia, psicologia, antropologia. Fiz o curso, fui bom aluno e fiquei como assistente na Faculdade. No final do es-tágio apaixonei-me por Psicologia e pela capacidade de entrar dentro do outro. A partir desse momento comecei a fazer investigação nesta área e continuei com a minha carreira académica”.

A dispersão não apoquenta QuimZé Lourenço. “Sou um homem de paixões mas sou visceralmente infiel porque te-nho várias ao mesmo tempo. Sociologia, Psicologia, Música. Gosto de me apaixonar e fazer com que as coisas se transformem em amor. Sempre fui assim e hei-de morrer assim”, confessa.

Antes das canções de Ary dos Santos QuimZé Lourenço montou outros espec-táculos, com outras canções. Em inglês. Em português. Com os mais diversos músicos. Pelo meio foi produtor de espectáculos. Não é por acaso que os seus lemas de vida são “And now for something completely different...” (E agora para algo completa-mente diferente) - Frase celebrizada pelos Monty Python e “The Best Is Yet To Come” (O melhor ainda está para vir) - Título da última música que Sinatra cantou em público, a 25 de Fevereiro de 1995.

* Texto baseado em entrevistas dadas a O MIRANTE em 2008 e 2009

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Sociedade

Um ano marcado pelo inconformismoO ano de 2009 ficou marcado em

parte pelo inconformismo. Populares de Foros de Salvaterra mostraram o seu descontentamento perante a situação dos filhos retirados aos pais na freguesia e fizeram uma vigília a exigir o regresso dos três menores a casa. Muitos clientes da empresa intermunicipal Águas do Ribatejo também não se conformaram com as facturas de água astronómicas, o que provocou protestos sobretudo por parte de populares da Chamusca.

O caso das crianças de Foros de Salva-terra, concelho de Salvaterra de Magos, foi um dos casos mais representativos da forma como funcionam as instituições. Até agora a justificação que tem sido dada para que os menores tenham sido colocados à guarda de um centro de acolhimento é a de que a habitação da família não tem condições. Mas esta já

Esmeralda entregue ao pai

O início de 2009 ficou marcado tam-bém pela decisão do Tribunal de Torres Novas de entregar a menor Esmeralda à guarda do pai. Um caso que se arrastava há anos e que foi muito mediatizado. A criança deixou de viver com o casal Luís Gomes e Adelina Lagarto, que tinha a criança em Torres Novas para passar a viver com o pai e a estudar no concelho da Sertã. Actualmente o mes-mo tribunal está a avaliar um pedido de regulação paternal interposto pela mãe biológica.

Prisão do Vale do Tejo

Na edição de 22 de Janeiro noticiá-mos a suspensão parcial do PDM de Almeirim para viabilizar a construção do Estabelecimento Prisional do Vale do Tejo na Herdade dos Gagos. Um processo muito contestado pela opo-sição da Câmara de Almeirim que é contra o investimento e o arranque de sobreiros na herdade. O concurso para a construção foi entretanto lançado, mas acabou por ser anulado pelo facto das propostas apresentadas pelos concor-rentes terem valores muito superiores ao valor base. Agora vai ter que se fazer novo concurso.

Falta de médicos

O ano de 2009 ficou marcado por várias manifestações populares contra a falta de médicos nos centros de saúde. Em Alverca, concelho de Vila Franca de Xira, os utentes reclamaram o reforço de clínicos e a melhoria no serviço prestado pelo centro de saúde. Dos cerca de trinta mil inscritos perto de dez mil não têm médico de família. Em Alpiarça, onde metade da população não tinha médico, também houve um movimento a exigir melhor assistência no centro de saúde, que acabou por ser reforçado com dois médicos cubanos contratados pelo Estado ao abrigo de um programa para todo o país.

O drama da família a quem retiraram os filhos

Acabou o ano de 2009 e a família de Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos não conseguiu que os filhos, retirados pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens regres-sassem a casa. Os três menores foram tirados aos pais com a justificação de que a habitação não tinha condições e foram num centro de acolhimento. A Associação de Shorinji Kempo de Foros de Salvaterra e vários populares juntaram-se e fizeram gratuitamente obras na habitação, mas isso não foi suficiente para reverter a situação. O

António Palmeiro foi remodelada e as crianças continuam privadas de viver com os pais.

A população mobilizou-se para ajudar a reconstruir a casa mas a Segurança Social não cumpriu o seu papel. A secretária de Estado da Reabilitação, Idália Moniz, afir-mou que a medida de retirar menores aos pais deve durar o menor tempo possível e a família com problemas deve ser ajudada na criação de condições para reaver os filhos. O que não aconteceu. Quem não tem recursos, quem não tem acesso à informação, quem está desprotegido con-tinua a ter dificuldades em afirmar os seus deveres e garantir os seus direitos.

A situação das facturas da Águas do Ribatejo também veio demonstrar que as populações quando se sentem prejudica-das, quando lhes vão ao bolso, mobilizam-se e mostram o seu descontentamento. A população da Chamusca recolheu duas mil assinaturas a pedir a saída do muni-cípio da empresa, o que neste momento é incomportável. A entrada em funcio-namento da empresa veio tirar o ónus de cima de algumas câmaras municipais da Lezíria do Tejo, que apesar de serem accionistas, acabam por responsabilizar directamente os órgãos directivos da Águas do Ribatejo.

Mas em algumas situações os protestos obrigam quem tem o poder a mudar. Foi

o que aconteceu com o caso do registo de poços. A legislação saiu mas não houve informação, não houve sensibilização. Quando os proprietários se aperceberam o prazo estava a acabar e arriscavam-se a multas elevadas. O preenchimento dos formulários de registos não era fácil para muitos dos visados, grande parte pessoas idosas. Os protestos nesta situação foram ouvidos e o Governo decidiu prorrogar o prazo e comprometeu-se a disponibilizar a informação que não tinha dado.

Este ano que passou não foi ainda o do aumento da crença dos cidadãos na justiça. Apesar de algumas melhorias nos tribunais, há uma questão que ainda incomoda quem espera por justiça. E disso é exemplo os dez anos que os pais da jovem que morreu num acidente na Auto-Estrada nº 1 (Lisboa-Porto) perto de Aveiras de Cima esperaram por uma decisão do tribunal, que acabou por con-denar a concessionária da auto-estrada, a Brisa. Qualquer mês que passa, qualquer ano volvido é sempre demais para quem perde uma filha de 28 anos com uma carreira promissora pela frente.

Houve coisas boas que aconteceram, mas feitas as contas, situações negativas são em maior número e em áreas essen-ciais para a população, para a qualidade de vida, como a saúde que continua doente por falta de médicos de família, desde Vila Franca de Xira a Mação. Como a degradação das condições de vida das famílias. Como situações que continuam a chocar e de que são exemplo os casos de pedofilia. Com um novo ano resta a esperança que algumas coisas possam mudar… para melhor!

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caso levou à intervenção dos deputados Nuno Antão (PS), Vasco Cunha (PSD) e António Campos (PSD), que visitaram o local. Chegou a ser feita uma vigíla a pedir o regresso dos menores. Para já apenas foi conseguido que estes passassem o Natal em casa.

Suicídio do intendente Aguinaldo Cardoso

A 27 de Março o carro do segundo comandante do comando distrital de San-tarém da PSP é encontrado abandonado na Ponte D. Luís. Na altura suspeitou-se logo que o oficial se tenha atirado da ponte, alegadamente por causa de uma queixa de uma mulher com quem tinha um caso amo-roso e que o acusava de violação. Durante meses o desaparecimento do intendente esteve envolto em mistério porque apesar de buscas que duraram vários dias não se encontrava o corpo. O cadáver acabou por ser encontrado por pescadores em finais de Setembro na zona de Muge (Sal-vaterra de Magos). Foi necessário esperar ainda mais alguns dias até se confirmar a identidade no Instituto de Medicina Legal. O funeral realizou-se a 13 de Novembro com centenas de pessoas, entre as quais responsáveis por várias instituições da cidade e da região.

Acidentes mortais com máquinas

2009 foi um ano em que ocorreram vários acidentes graves com empilhadores e máquinas agrícolas. A 7 de Abril mor-reu um jovem de 26 anos num acidente com uma empilhadora na fábrica da Compal+Sumol de Almeirim. Antes, em Março, um técnico de manutenção de ae-ronaves perdeu a vida após uma queda de uma estrutura que servia para reparar um avião nas oficinas de Alverca. No domingo de Páscoa um trabalhador municipal de 39 anos ficou debaixo do tractor pessoal quando amanhava um terreno, em San-guinheira, concelho de Mação.

Contestação aos preços praticados pela Águas do Ribatejo

Com a entrada em funcionamento da empresa intermunicipal de águas e saneamento, Águas do Ribatejo, surge a contestação à forma como esta estava a fazer a cobrança das facturas. Registaram-se protestos contra facturas com valores astronómicos. As primeiras reacções políti-cas surgiram no final de Abril. O candidato do PS à Câmara de Salvaterra de Magos, Hélder Esménio, classificou os novos preços

como “uma violência inaceitável”. O PSD de Coruche disse que nesse concelho o aumento mínimo é de 20 por cento. Na Chamusca meia centena de populares foram à reunião de câmara protestar contra o preço da água. Posteriormente foi entregue na assembleia municipal um abaixo-assinado com duas mil assinaturas a pedir a saída da Chamusca da empresa.

Dificuldades na adopção

Em Maio O MIRANTE noticiava as di-ficuldades na adopção de crianças maiores de três anos e de raça que não a branca. De todas as famílias candidatas a adoptar uma criança no distrito de Santarém, nenhuma pretendia ficar com uma criança defi-ciente. O mesmo se aplicava aos menores que possuíam doenças graves. Na altura existiam 109 candidatos à adopção, apenas 17, não se importavam de ficar com uma criança com mais de seis anos de idade e 90 por cento das famílias pretendia um filho adoptivo branco.

Mortes por Gripe A na região

Os primeiros casos de Gripe A na região surgiram no final de Junho. Duas pessoas que participaram em excursão a Espanha, uma de Almeirim e outra de Vila Franca de Xira, apanharam o vírus. Uma terceira viria a ficar infectada por contacto com um dos excursionistas. Todos tiveram alta dias depois. A primeira morte pelo vírus H1N1 ocorreu no Hospital de Vila Franca de Xira em 17 de Novembro. Uma jovem de 24 com problemas de saúde não resistiu. Depois duas mulheres de 41 e 52 anos, uma residente em Almeirim e outra no Cartaxo, também vieram a morrer depois de terem sido internadas no Hospital de Santarém.

Confusão com o registo de poços

O mês de Julho ficou marcado por uma grande confusão com a obrigatorie-dade de se registarem os poços e furos de água. A falta de informação levou muitos proprietários a perderem dinheiro com registos, que nalguns casos não estavam obrigados a fazê-los. Outros tiveram que pagar a particulares e empresas para lhes tratarem do assunto. Nas instalações da Administração Hidrográfica do Tejo em Santarém chegaram a registar-se filas com centenas de pessoas que tinham sido apanhadas de surpresa com o prazo para os registos a terminar. O incumprimento é punido com multa de 25 mil euros aos 37.500 euros. A situação obrigou o Governo

a prorrogar o prazo até 31 de Maio de 2010, passa a ser a nova data limite.

Sequestrados dentro da própria casa

Em Setembro foi notícia o caso da mulher de 66 anos e do seu filho deficiente profundo, de 40 anos, que viveram durante 14 meses sob sequestro na sua própria casa, numa pequena aldeia do concelho de Co-ruche. Foram também alvo de extorsão e violência doméstica. Os autores dos crimes são um filho e uma nora da idosa, que foram

detidos pela Polícia Judiciária.

Projecto de luta contra a pobreza causa polémica

A presidente da Câmara de Alpiarça, Vanda Nunes (PS) recusou aceitar um projecto de luta contra a pobreza, no qual é parceira, gerido pela Fundação José Relvas, por causa dos ordenados dos técnicos. Dos 525 mil euros de orçamento do projecto, 363 mil euros destinavam-se aos ordenados de quatro pessoas. A fundação mostrou-se sempre indisponível para rever os valores.

- CLÍNICA GERAL- GINECOLOGIA/OBSTETRICIA- PEDIATRIA (d.crianças) - PSICOLOGIA;(orientação escolar, testes)- CARDIOLOGIA (d. coração)- UROLOGIA (d. urinárias)- ORTOPEDIA (d. ossos)- REUMATOLOGIA (d. reumático)- GASTROENTROLOGIA- MEDICINA DE TRABALHO- NEUROLOGIA (Dores de cabeça)- NUTRIÇÃO/OBESIDADE (emagrecimento)- DIABETES E DISLIPIDÉMIAS- CIRURGIA GERAL- OTORRINO (ouvidos, nariz e garganta)- CIRURGIA VASCULAR (varizes)- PSIQUIATRIA (D. Nervos)- NEUROCIRURGIA (Hérnias discais)- PSICÓLOGA CLÍNICA (Acompanhamento Psicológico)- DERMATOLOGIA (Doenças de Pele)- ENDOCRINOLOGIA (Doenças da Tiróide e diabetes)- OFTALMOLOGIA (Doenças dos Olhos)- ALERGOLOGIA (Doenças Alérgicas - Asma e Testes de alergia)- PNEUMOLOGIAELECTROCARDIOGRAMAS / ANÁLISES / ENFERMAGEM

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A Segurança Social ameaçou a institui-ção de que acabava com o projecto se não houvesse entendimento. O novo presidente da câmara, Mário Pereira (CDU), fez uma proposta formal de redução dos vencimentos e aguarda-se uma resposta.

Brisa condenada por morte de jovem

No final do ano é conhecida a decisão do Tribunal de Alenquer, que condenou a Brisa – Auto Estradas de Portugal a pagar uma indemnização aos pais de uma jovem de Santarém que morreu, em 22 de Novembro de 1999, num acidente provocado por um javali quando viajava na auto-estrada A1. Sandra Luís tinha 28 anos e era técnica do departamento de cultura da Câmara de Santarém e o acidente ocorreu entre Aveiras de Cima e Carregado.

Casos de pedofilia

O chefe da secretaria da escola de Alcanede, concelho de Santarém, foi detido pela Judiciária durante um ca-samento, por suspeitas de pedofilia. O homem de 56 anos, solteiro, ficou preso preventivamente a aguardar julgamento. Sobre ele recaem suspeitas de prática dos crimes de abuso sexual de crianças, actos sexuais com adolescentes e recurso à prostituição de menores. O Ministério Público de Santarém acusou também um

monitor do Lar dos Rapazes da Santa Casa da Misericórdia de Santarém de abuso de menores da instituição. Os casos de que está indiciado o funcionário decorreram ao longo de vários anos até 2008.

Militares feridos em acidente

Uma carrinha desgovernada atingiu um pelotão de instruendos que seguia na faixa de rodagem da Estrada Nacional 3, junto ao quartel dos pára-quedistas, em Tancos, concelho de Vila Nova da Barquinha. O acidente feriu 16 militares. O pelotão fazia exercício físico na faixa de rodagem, no mesmo sentido em que seguia a viatura, e os tropas não usavam coletes reflectores. O Exército abriu um inquérito para apurar se foram violadas as regras de segurança, mas ainda não são conhecidos os resultados.

Vendaval provoca rasto de destruição

O ano acabou com um vendaval que provocou um rasto de destruição um pouco por toda a região. Registaram-se telhados danificados, árvores derrubadas e estradas cortadas, entre outros. Seis pes-soas ficaram desalojadas temporariamen-te nos concelhos de Tomar, Barquinha e Santarém. Registaram-se também danos em cemitérios como os de Chamusca, Vale de Figueira e Moçarria (Santarém), devido à queda de árvores.

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Política

O ano de todas as eleiçõesÉ nos períodos eleitorais que os

partidos e os políticos melhor se revelam e mostram de que massa são feitos. Cum-plicidades transformam-se em traições. O verniz estala entre comadres e descobrem-se algumas verdades inconvenientes. E o revanchismo instala-se e tem terreno fértil para medrar. Tudo isso e muito mais se viu por estas bandas. Um exemplo disso são as listas independentes que vão surgindo, sem grandes resultados, diga-se, habitualmente criação e refúgio de gente ressabiada ou ostracizada pelos directórios partidários locais ou regionais. A excepção foi o

David Catarino deixa Câmara de Ourém

O presidente da Câmara de Ou-rém, David Catarino (PSD), suspen-de o mandato autárquico no início de Janeiro para assumir a liderança do Turismo de Leiria/Fátima, seguindo as pisadas do seu colega de Alpiarça Rosa do Céu (PS), que meses antes havia trocado a Câmara de Alpiarça pelo Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. O cargo é assumido por Vítor Frazão, que será mais tarde o can-didato do PSD à câmara e perde a autarquia de Ourém para o PS.

Mação fora do Médio Tejo

O município de Mação deixa de integrar a comunidade intermunici-pal do Médio Tejo, ficando vinculado ao Pinhal Interior Sul. Uma decisão escorada na nova configuração terri-torial imposta pelo Governo. Mação é o único concelho do distrito de Santarém que não integra as asso-ciações de municípios ribatejanas. Ao longo do ano os autarcas locais bem protestaram, mas sem efeitos concretos.

Actor ajuda a roubar maioria ao PS em Vila Franca de Xira

O actor João de Carvalho apre-senta-se como candidato do PSD à Câmara de Vila Franca de Xira, contribuindo mais tarde, tal como a CDU, para a retirada da maioria absoluta da socialista Maria da Luz Rosinha. Com quem haveria de partilhar o poder ao aceitar pelouros para o PSD e assim garantir a gover-nabilidade do município.

António Mendes e Nelson Carvalho deixam câmaras

Um dos “dinossauros” do poder local ribatejano anuncia logo no primeiro trimestre que não se re-candidata à presidência da Câmara de Constância. António Mendes (CDU) esteve no poder 23 anos. Meses mais tarde, será a vez do presidente da Câmara de Abrantes, Nelson Carvalho, anunciar a mesma decisão. São os únicos presidentes de câmara que não se candidatam a novo mandato. Que para muitos será o último por imperativo da lei de limitação de mandatos.

Moção de censura ilegal em Almeirim

No final de Fevereiro, a bancada

João Calhaz movimento independente de Alcanena, resultante de cisões no PS local, que este-ve no poder até Outubro e tem a morte anunciada a prazo.

Já o antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965) dizia que, na política, os adversários estavam na oposição e os inimigos encontravam-se no seu partido. E confirmaria mais uma vez a sua convicção se tivesse assistido à forma como Miguel Relvas foi afastado da lista de candidatos a deputado por Santarém pela líder nacional do PSD Manuela Ferreira Leite. Um saneamento exemplar, a fazer lembrar os tempos do PREC, que afinal de contas não foi assim há tanto tempo.

Mas os partidos também têm a sua face sensível e humana e não abandonam os seus desde que estes não façam muitas ondas quando são chutados para canto, seja pelo povo nas eleições seja nos processos de escolha internos para elaboração de listas. A disciplina partidária compensa, porque, mais tarde, muitos deles acabam por ser chutados para cima. E há sempre fortes probabilidades de um candidato derrotado pelo povo num município ir parar a governador civil. Ou um excluído das listas de candidatos a deputado chegar a secretário de Estado ou a assessor num qualquer organismo da administração pública.

Talvez seja por estas e por outras que o povo se vá afastando da política e catalogue os seus agentes, na maior parte das vezes,

com adjectivos pouco abonatórios. Num ano com três eleições, as taxas de abstenção revelaram-se pouco edificantes para um país que só conheceu a democracia e a liberdade de voto há 35 anos. Esse desinte-resse dá que pensar, mas isso é coisa para a qual não estamos muito inclinados. Com isso ganha o populismo, a demagogia e a política fácil das papas e bolos com que se enganam os tolos.

Em 2009, ano de eleições, o PS foi, na região, o grande derrotado das legislativas de 27 de Setembro. Perde dois dos seis deputados: um para o Bloco de Esquerda, que elege pela primeira vez um represen-tante por Santarém, e outro para o CDS/PP, que recupera o deputado perdido há quatro anos. O PSD e a CDU mantêm três e um parlamentares.

Nas autárquicas de 11 de Outubro houve muitas novidades. Paulo Fonseca conquista pela primeira vez a Câmara de Ourém para o PS. Isaura Morais (PSD) vence o “dinossauro” socialista Silvino Sequeira em Rio Maior. Fernanda As-seiceira recupera a Câmara de Alcanena para o PS e os comunistas reconquistam o simbólico bastião de Alpiarça pela mão de Mário Pereira. Juntam-se ainda como caras novas no poder autárquico Maria do Céu Albuquerque (PS) em Abrantes e Máximo Ferreira (CDU) em Constância, que se mostraram à altura dos seus antecessores e mantiveram as autarquias nas mãos das suas cores políticas.

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04 Fevereiro 2010 | O MIRANTE28 | RESTROSPECTIVA 2009

do PS na Assembleia Municipal de Almeirim propõe e aprova uma mo-ção de censura ao eleito socialista e ex-presidente da assembleia Armindo Bento. Uma posição imprevista na lei, que apenas destina as moções de cen-sura ao executivo camarário. A cisão entre socialistas motiva o surgimento, meses mais tarde, de um movimento independente que concorre aos órgãos autárquicos sem grande êxito.

Mais uma baixa na equipa de Moita Flores

No início de Março, a vereadora Lígia Batalha (PSD) suspende o mandato

na Câmara de Santarém por razões “políticas, pessoais e profissionais”. É o terceiro elemento da maioria PSD liderada por Moita Flores a abandonar o barco. Da equipa inicial do PSD só Moita Flores chegou ao fim.

Assembleia Distrital serve para quê?

No final de Abril a Assembleia Dis-trital de Santarém volta a ser notícia. E mais uma vez pela negativa. O órgão não reúne há muito tempo por falta de quórum. E a colónia balnear da Nazaré, o seu património mais valioso, degrada-se a olhos vistos.

As provocações de Moita Flores

O presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flores (PSD), não foge a uma boa polémica. Em Maio, a pretexto da saída do socialista Paulo Fonseca do Governo Civil de Santarém para ser can-didato à Câmara de Ourém, Moita Flores elogia Paulo Fonseca no seu habitual artigo de opinião semanal no Correio da Manhã. As palavras caem mal no PSD. A candidatura do PS em Ourém aproveita o artigo a seu favor.

Mulheres ao poder

As eleições autárquicas de 2009 ficam na história, pelo menos na da região, com a chegada ao poder municipal de um número invulgar de mulheres num país onde a política só há pouco deixou de ser coutada quase exclusivamente masculina. Candidatas a presidente não faltaram e algumas delas foram eleitas ou reeleitas. Em Outubro, as presidentes das câmaras de Salvaterra de Magos e Vila Franca de Xira passam a ter homólogas em Alcanena, Abrantes e Rio Maior.

Viva o 10 de Junho!

As comemorações nacionais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas transformam Santarém por dois dias na capital política do país. O Pre-sidente da República, o primeiro-ministro e boa parte do Governo e do corpo diplo-mático passam pela cidade. O município não olhou a meios para dar grandiosidade ao momento. As contas ainda estão por fazer. E prometem dar que falar.

Barreiro e Antão fora de jogo

A disputa por um lugar nas listas do PS às legislativas de 27 de Setembro começou

a fazer sangue em Julho em Santarém. O ex-presidente da Câmara de Santarém Rui Barreiro e o deputado Nuno Antão são derrotados na votação interna. O partido dá-lhes a mão mais tarde: Barreiro sobe a secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural e Antão integra a equipa de Sónia Sanfona no Governo Civil de Santarém. O “eterno” Jorge La-cão, mais tarde promovido a ministro, encabeça a lista.

Manuela Ferreira Leite afasta Miguel Relvas

Em pleno Verão, o deputado Miguel Relvas é afastado da lista do PSD por San-tarém às legislativas, para onde tinha sido indicado como número um pela distrital “laranja”. A decisão da líder do partido, Manuela Ferreira Leite, deixa o partido em polvorosa na região e Moita Flores não perde a oportunidade para lançar mais umas farpas a Ferreira Leite, dizendo que não vai votar nela nas legislativas.

Sócrates medalhado

Em Agosto o primeiro-ministro, José Sócrates, elogia a “coragem” da Câmara de Santarém em lhe atribuir a Medalha de Ouro da Cidade. A decisão tomada em Junho pelo executivo camarário, sob proposta do seu presidente, é legalmente duvidosa e incomoda o PSD. A decisão de distinguir o Presidente da República e o primeiro-ministro foi tomada numa reunião marcada com pouca antecedência e em que só participaram cinco dos nove elementos do executivo. Os dois vereado-res militantes do PSD faltaram alegando razões de saúde.

A primeira vez do Bloco

O PS é o grande derrotado na região nas eleições legislativas de 27 de Setem-bro. Perde dois dos seis deputados: um

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para o Bloco de Esquerda, que elege pela primeira vez um representante por Santarém, e outro para o CDS/PP, que recupera o deputado perdido há quatro anos. O PSD e a CDU mantêm três e um parlamentares.

Mudanças em Alcanena, Alpiarça, Rio Maior e Ourém

As eleições autárquicas de 11 de Outubro são fartas em novidades, pelo menos tendo em conta o panorama dos tempos mais recentes. Paulo Fonseca

conquista pela primeira vez a Câmara de Ourém para o PS. Isaura Morais (PSD) vence o “dinossauro” socialista Silvino Sequeira em Rio Maior. Fer-nanda Asseiceira recupera a Câmara de Alcanena para o PS e os comunistas reconquistam o simbólico bastião de Alpiarça pela mão de Mário Pereira. Juntam-se ainda como caras novas no poder autárquico Maria do Céu Albu-querque (PS) em Abrantes e Máximo Ferreira (CDU) em Constância, que se mostraram à altura dos seus anteces-sores e mantiveram as autarquias nas mãos das suas cores políticas.

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Economia

Isto é que vai uma crise!Crise. Foi provavelmente a palavra

mais ouvida nos círculos económico e político (e, já agora, nas conversas de café) e foi em torno desse conceito que a economia girou, ou se despenhou, tanto na região como no país e no mundo. A globalização tem destas coisas e o espirro sentido nos Estados Unidos em 2008 de-pressa se transformou numa constipação à escala planetária. Em Portugal, Estado, autarquias, empresas e famílias, ninguém escapou aos efeitos da crise financeira e económica cujas consequências ainda estão longe de poderem ser avaliadas.

João Calhaz Tanto a nível económico como social. O flagelo do desemprego, que vem batendo recordes pela negativa, não augura nada de bom.

Para já, e por cá, a crise serviu de álibi para muito do que aconteceu de negativo no campo empresarial e para o muito que não se fez, por exemplo, a nível autárqui-co. As câmaras bateram financeiramente no fundo e, em ano de eleições autárqui-cas, não souberam antecipar a tempo e horas o decréscimo abrupto das receitas. Sobretudo as que são oriundas do sector da construção civil, que sempre foram um dos alimentos principais das tesourarias municipais.

Quem pagou, ou melhor, quem ficou a arder, foi a procissão de pequenos e grandes fornecedores dos municípios. Não é exagero dizer que as dificuldades de muitas pequenas e médias empresas tive-ram origem nas dívidas da administração local. Em Alpiarça, uma cooperativa de construção, a Planotejo, acusou mesmo o município, nos tempos em que era

liderado pelo socialista Rosa do Céu, de ser responsável pela sua falência.

Será ainda a crise que aparecerá como má da fita na ficha técnica quando se con-tar a história de empresas emblemáticas desta região, que geraram emprego duran-te décadas e de repente estouraram. Como a Platex e a João Salvador, em Tomar, ou a Constantino Mota em Alcanena.

A crise foi tão excepcional que moti-vou posições pouco habituais da parte de quem defende um mercado aberto e de livre concorrência. A Associação Empre-sarial da Região de Santarém – Nersant chegou a apelar aos municípios da região que contratassem empresas dos seus con-celhos nas obras adjudicadas por ajuste directo. É o proteccionismo à sua escala mais reduzida. A Nersant queixou-se ain-da das elevadas taxas de juro praticadas por alguns bancos, habituais parceiros do meio empresarial que de repente se transformaram em verdugos. O capitalis-mo no seu melhor, diriam os seguidores de Karl Marx.

Os tempos de crise são também tempos de oportunidades, dizem os economistas. E a mesma Nersant que defende a pro-ximidade nos negócios é a que advoga a aposta na internacionalização do tecido económico regional como nunca se tinha verificado. Arábia Saudita, Angola, Mo-çambique, Líbia e Tunísia entram na rota da cooperação e da busca de melhores negócios.

Mitsubishi no Tramagal com produção a meio gás

A crise no mercado automóvel leva a fábrica da Mitsubishi no Tramagal, que produz o modelo Canter, a reduzir a produção. Segundo Jorge Rosa, presi-dente do Conselho de Administração, no total do primeiro semestre, a labo-ração “pode parar entre 40 a 45 dias”. Esse período temporal “reverterá para um Banco de Horas ou será utilizado em formação dos funcionários”, nú-mero que se cifra em 357.

Constantino Mota manda 100 para o desemprego

A fábrica de peles Constantino Mota, em Alcanena, fecha portas no início de Fevereiro após apresentar no tribunal local o pedido de insolvência. Os cerca de 100 trabalhadores rece-bem a notícia com surpresa apesar de já não terem recebido os salários de Dezembro e Janeiro.

Eco-Parque do Relvão cresce apesar da crise

No início de Fevereiro, autarcas da Chamusca fazem uma visita formal ao Eco-Parque do Relvão e ficam agrada-dos com o que vêem. As sete empresas visitadas, algumas delas já em labo-ração, somam um investimento que ultrapassa os trinta milhões de euros e criaram dezenas de postos de trabalho. E as perspectivas são de crescimento, tanto mais que em Setembro é anun-ciado que a Câmara da Chamusca vai liderar um consórcio de 11 entidades que prevê um investimento global de 150 milhões de euros no Eco-Parque do Relvão, considerado uma infra-estrutura única no país na recolha e aproveitamento de resíduos.

Protecção social para pequenos empresários

Em Fevereiro, a direcção da Ner-sant toma posição em defesa dos seus associados. O pano de fundo, como não podia deixar de ser, é a crise. Os empresários em nome individual e os gerentes de micro e pequenas em-presas devem ter os mesmos direitos, em termos de protecção social, que os trabalhadores em casos de falência. Designadamente a atribuição de subsídio de desemprego. O presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém, José Eduardo Carvalho reclama ainda a suspensão das exe-cuções fiscais sobre as residências de empresários. E lança o apelo aos municípios para que adjudiquem a empresas da região as empreitadas

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que possam ser atribuídas através de ajuste directo, se-gundo as novas regras implementadas pelo Governo.

Nersant contra taxas de juro “escandalosas”

Algumas agências bancárias da região estarão a prati-car taxas entre os 18 e os 21 por cento sobre empréstimos contraídos por empresas. A denúncia parte da Nersant, que pondera divulgar publicamente as taxas de juro mais “escandalosas”. O que não se veio a verificar. Essa é uma das medidas inseridas no plano de acção que a associação delineou para combater a crise.

Vinho ribatejano aposta na marca Tejo

O Vinho Regional Ribatejano adopta a designação Tejo, uma marca que os produtores acreditam ser mais fácil de afirmar, sobretudo no mercado internacional. A decisão não é consensual entre os produtores e alguns autarcas também não brindam à nova desig-nação. Paulo Caldas, do Cartaxo, diz que há coisas mais importantes para resolver do que simplesmente uma mudança de marca. O presidente da Câmara de Santarém, Moita Flores, considera que um vinho do Tejo também pode ser espanhol. E realça que o que tem uma carga muito forte, que é o Ribatejo, pode perder-se com esta mudança.

Uma falência 5 estrelas

Os 15 funcionários da Estalagem Vale Manso, unidade hoteleira de cinco estrelas localizada em Martinchel, Abrantes, junto à Barragem do Castelo de Bode, decidem suspender os contratos de trabalho em Fevereiro devido a ordenados em atraso. Pouco tempo depois a única unidade hoteleira de 5 estrelas da região fecha portas e em Dezembro é decretada a insolvência da empresa.

Beneficiários querem revolucionar rega na Lezíria Grande

Os beneficiários da Lezíria Grande, em Vila Franca de Xira, querem revolucionar o sistema de rega que serve a ilha. A Associação de Beneficiários da Lezíria Grande anuncia em Março que prepara a expansão do sistema de rega e a construção da nova estação elevatória das Galés para garantir o abastecimento de água com baixo teor de sal às culturas de metade do mouchão.

Fiação de Torres Novas paga ordenados às prestações

Os trabalhadores da Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas, S.A., uma empresa têxtil que produz atoalhados e roupões em tecido turco, vivem dias de incerteza. Os cerca de 160 funcionários, na sua maioria mulheres, ainda não receberam o sub-sídio de férias e de Natal correspondente aos anos de 2008 e 2009.

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O estranho caso da Adega Cooperativa da Chamusca

Em Abril contamos a história da Adega Cooperativa da Chamusca, encerrada no Verão de 2007. Foi vendido equipamento e viaturas, mas vários sócios não sabem onde pára o dinheiro. A direcção remete-se ao silêncio. Quase dois anos depois do encerramento e na altura com mais de um milhão de euros de dívidas à banca e aos cooperantes, ainda não foi pedida a insolvência da cooperativa, nem por parte da direcção nem dos credores. Por isso a adega não foi extinta enquanto personalidade jurídica e para todos os efeitos mantém-se activa.

OGMA com lucro de 5,5 milhões de euros

As Oficinas Gerais de Material Aero-náutico (OGMA) de Alverca do Ribatejo fecharam o ano de 2008 com lucros de 5,5 milhões de euros, mais do dobro do realizado em 2007. De acordo com a infor-mação distribuída aos trabalhadores, “os resultados do exercício reflectem já um esforço da gestão no sentido de preparar a empresa para um período de crise ge-neralizada cujos efeitos começaram a ser sentidos no segundo semestre” de 2008. No fim de Outubro, os trabalhadores concentram-se junto às instalações da empresa para protestar contra a extinção de postos de trabalho e a imposição de rescisões amigáveis.

Nersant suspende participação no Gabinete de Crise

A Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant anuncia em Maio a suspensão no Gabinete de Crise criado no Governo Civil de Santarém para acom-panhar a situação nas empresas de maior

relevância durante este período de reces-são. Em causa a estratégia dos sindicatos (que também têm assento no gabinete) no caso da IFM/Platex lamentando que “legítimos conflitos laborais” sejam trans-formados em “acções de grande impacto mediático, mas comprometedoras da viabilidade das empresas”.

Ministro acusa dirigentes do CNEMA de “partidarice” e “politiquice”

No rescaldo de mais uma Feira Na-cional de Agricultura, em Santarém, o ministro da Agricultura critica os organi-zadores do certame. Jaime Silva diz numa entrevista a O MIRANTE em Junho que os dirigentes da CAP e do Centro Nacio-nal de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) preferem a “politiquice” e a “partidarice” em vez de defenderem os interesses dos agricultores. E acusa os responsáveis de “confundirem as coisas”, quando não o convidaram nem ao primeiro-ministro para essa edição da Feira Nacional da Agricultura.

Central meleira de Mação pioneira na região

É um exemplo de aproveitamento das potencialidades económicas de uma re-gião e da aposta num produto tradicional. Com um investimento de 200 mil euros, a central meleira de Queixoperra, em Mação, é a “primeira e única da região licenciada para embalar e comerciali-zar mel”. A cooperativa engloba 400 apicultores.

Projecto de energia solar avança em Abrantes

A Assembleia Municipal de Abrantes aprova em Julho a compra de um terreno

pelo município para a instalação de um Projecto Integrado de Energia Solar que prevê criar 1.800 postos de trabalho. O ter-reno, situado na freguesia de Concavada, perto da Central Termoeléctrica do Pego, tem 82 hectares e foi comprado por um milhão de euros. O investimento de 818 milhões de euros da empresa RPP Solar na “produção de energia limpa” prevê criar 1.800 postos de trabalho directos.

Fogo consome Tipografia Nabão dias depois de ser pedida a insolvência

Um incêndio destrói na madrugada de 2 de Agosto o pavilhão industrial da Tipografia Nabão, em Tomar, onde se concentrava toda a produção e arma-zenagem da empresa. O fogo ocorreu dois dias depois de ter sido entregue, no Tribunal de Tomar, o pedido de insolvência da empresa fundada em 1947 e que chegou a empregar cerca de oito dezenas de pessoas. Os 16 tra-balhadores “que sobreviveram às várias crises” perdem a “pouca esperança que tinham” de ajudar a salvar a empresa cujas máquinas já não funcionavam há mais de um mês. Tinham três meses de salários em atraso e subsídio de férias por receber. Foi a morte da empresa.

Vindimas nocturnas para obter melhores vinhos

A qualidade é um factor de distinção importante e a razão para que alguns produtores de vinho da região apostem na vindima nocturna. No último dia de Agosto, O MIRANTE acompanha os trabalhos na Quinta Nova, em Azambu-ja, propriedade da empresa produtora de vinhos Fiuza & Bright que usa esta técnica para poupar nos gastos e obter o melhor aroma das uvas.

Funcionários da Platex suspendem contratos

Os trabalhadores da IFM/Platex, de Tomar, estão em ‘lay-off’ e em Agosto decidem avançar para a suspensão dos contratos de trabalho até receberem os ordenados em atraso que a empresa lhes deve. No final de Dezembro dá entrada no Tribunal do Comércio de Lisboa o pedido de insolvência da empresa.

E.Leclerc e Decathlon apostam em Santarém

Se há sector onde a crise não parece chegar é às grandes superfícies comer-ciais. O E. Leclerc abre um hipermer-cado em Santarém num investimento de 10 milhões de euros, com a criação de 110 postos de trabalho directos e 80 indirectos. Em Dezembro é a vez da Decathlon, uma grande superfície dedicada ao desporto, apostar na capital de distrito.

O fim da construtora João Salvador

No fim de Outubro dobram os sinos pela construtora João Salvador. Não foi encontrada uma saída feliz para a construtora de Tomar, cuja administra-ção pediu a liquidação total da empresa na assembleia de credores. Foi o fim da crónica de uma morte anunciada.

Espanhóis interessados na cervejeira Cintra

Os espanhóis da Font Salem, Grupo Damm, entregam uma proposta para aquisição da cervejeira Drink In, em Santarém, pelo valor de 15,5 milhões de euros. O anúncio de venda da Drink In, Companhia de Indústria de Bebidas e Alimentação S.A., mais conhecida pela designação de Fábrica de Cervejas Cintra, em processo de insolvência, im-punha um valor de licitação mínimo de 12,5 milhões de euros.

Credores aprovam plano de viabilização da Cimianto

É uma espécie de prenda de Natal para os trabalhadores da Cimianto. O plano de viabilização da empresa de Alhandra é aprovado depois de três adiamentos por falta de consenso e de muitas incertezas quanto ao futuro. Três instituições bancárias (credoras) unem-se formando um sindicato bancá-rio e permitindo a aprovação do plano de viabilização da empresa. Dos 79 trabalhadores, 20 terão de abandonar a empresa que começará a laborar até Fevereiro.

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Cultura

Fatias de cultura quanto baste

Rosa Esperança

Um jovem encenador de Rio Maior, advogado de profissão, preparou um espectáculo de teatro baseado em his-tórias reais de mulheres com uma luta em comum: o cancro da mama. Rui Germano, 37 anos, é o “comandante” e sabe do que fala. Primeiro foi a mãe. Venceu a doença há 26 anos. Depois, a amiga Cláudia partiu demasiado cedo. “Rosa Esperança” foi o nome escolhi-do para a peça. Rosa - nome de mulher e da luta contra o cancro da mama. Esperança - porque é aquilo que todas as mulheres têm quando iniciam o processo. Qualquer semelhança com a realidade é intencional. O projecto do grupo “Quem não tem cão” (http://equemnaotemcao.blogspot.com/) continua vivo e recomenda-se.

Vila Franca do Cartoon

“Por qué no se callan”?, pergunta Sócrates e o nariz é o prolongamen-to de um cigarro acesso. O desenho esteve em destaque no Cartoon-Xira em Vila Franca de Xira. A assinatura é de António Antunes, cartoonista do Expresso, e retrata um dos temas de 2008. A entrada em vigor da polémica lei antitabagista é marcada pelo epi-sódio do primeiro-ministro apanhado a fumar num voo fretado que levava a comitiva portuguesa em viagem oficial. António Gonçalves prefere ilustrar a “Europa de José Manuel” com Durão Barroso inebriado num sofá com duas garrafas caídas: “bebeu” da Constituição Europeia e do Tratado de Lisboa 2002. Cid coloca Manuela Ferreira Leite a pedir sugestões de ‘gaffes’. Maia brinca com os aumentos dos preços. Cristina Sampaio, a autora dos desenhos que já ilustraram peças do “Público”, é uma das caras novas. Entre os cartoons estão desenhos do argentino Hermenegildo Sàbat. Com a décima edição o certame ganha dimensão internacional e o impulsio-nador do evento, António, diz que é um modelo para seguir.

Café tertúlia das quintas à noite

O tradutor Miguel Serras Pereira apresenta-se a 26 de Fevereiro como primeiro convidado das quintas-feiras do Fatias de Cá Bar É, em Constância, iniciativa que animaria as noites uma vez por semana até Abril. Segue-se Carlos Antunes, conhecido por ter sido líder das Brigadas Revolucionárias, o realizador Fonseca e Costa, o escritor Mário Zambujal, o cartoonista Au-gusto Cid e o jornalista e ex-director de comunicação do Benfica, João Malheiro. O actor João de Carvalho, o escritor Baptista-Bastos e o músico

Haverá maior inspiração para a arte do que a própria vida? Lúcia Sigalho, encenadora residente em Santarém, inspirou-se na história da mulher que foi assassinada à porta do local de tra-balho, no Vale de Santarém, em 2008, pelo antigo companheiro, para construir uma peça de teatro. Espantada com as curvas da vida empenhou-se em levar ao palco as contradições de um país que

expõe e condena em vez de arregaçar mangas e procurar soluções.

E “Quem não tem cão…” – nome de um grupo de teatro de Rio Maior – caça com o que tem com o mesmo propósito. As lutadoras da vida real podem ser sur-preendentes actrizes. “Rosa Esperança” é a prova de que os fantasmas do cancro se despistam em palco com ensaios que funcionam como verdadeiras terapias de grupo.

A cultura não acompanha a tendência económica da crise na região. A criati-vidade está bem cotada. Sobretudo, e quase sempre, quando não se é subsidio-dependente.

Um café, em jeito de tertúlia, tam-bém ajuda as ideias a fervilhar até ao ponto. Se as fatias forem depois servidas em tom intimista, com personalidades interessantes à mistura, tanto melhor. Carlos Antunes, Fonseca e Costa, Mário Zambujal, Augusto Cid, João Malheiro, João de Carvalho, Baptista-Bastos e José Niza. Encontros marcados no Cine-Tea-tro de Constância. Foram quintas-feiras quentes, estas de “Fatias de Cá Bar É”, organizadas pelo grupo de teatro de Tomar, Fatias de Cá.

Santarém - cidade que recebeu as comemorações do Dia de Portugal – não

ficou atrás e recebeu vestida de gala um concerto único no país com José Carre-ras. Mas o tenor não foi o único famoso a fazer uma visita à região. Em 2009 o cineasta Manoel de Oliveira recordou as filmagens de “O Quinto Império”, em Tomar, homenageado pelo “Plano Extraordinário” – Clube de Cinema de Tomar. Também o premiado com o No-bel da Literatura, José Saramago - ainda antes das polémicas declarações sobre o último livro “Caim” - aceitou ver des-cerrar a escultura em sua homenagem na aldeia mais portuguesa do Ribatejo que é a sua, Azinhaga.

A cidade de Vila Franca de Xira voltou a vestir-se a rigor para o Colete Encarnado. José Júlio regressou à arena cinquenta anos depois da alternativa e as largadas de toiros voltaram a en-cher as ruas. Mas a cultura continua a funcionar ao jeito de alguns. A Casa Museu Mário Coelho, em Vila Franca de Xira, registou 10 mil visitantes e pela primeira vez recebeu um vereador da cultura. Mário Coelho congratulou-se pelo facto de João de Carvalho ser o primeiro a visitar a casa já que até 5 de Novembro de 2009 nenhum se tinha dignado a entrar no espaço - único no país e dos mais visitados da terra.

Resta-nos ter esperança no nosso ano e fazer um brinde aos que já percorreram 40 anos de carreira por mérito próprio. E que Pedro Barroso continue a cantar. “Vivi povo e multidão / sofri ventos sofri mares / passei sede e solidão / muitos lugares/sofri países sem jeito / p’r’ó meu jeito de cantar / mordi penas no meu peito / e ouvi braços a gritar”.

Ana Santiago

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e compositor José Niza foram os senhores que se lhes seguiram. Opiniões, confissões, desabafos de artistas. Encontro marcado no cine-teatro de Constância. O con-ceito é simples. Jantar, momento de teatro em ambiente café-tertúlia, conversa com um convidado especial e um final ligeiro e divertido para a despedida.

Saramago de bronze

A aldeia mais portuguesa do Ribatejo, berço de um prémio nobel da literatura, inaugura uma estátua em homenagem a José Saramago. A escultura em bronze é da autoria do artista de Alpiarça, Armando Ferreira. Tem uma dimensão superior ao tamanho natural e representa o escritor sentado num banco de jardim com um livro na mão. Saramago surge pensativo, a olhar na direcção da porta de Francisco Carreira, o “sapateiro prodigioso”, a quem dedicou duas páginas de um dos seus livros. A bronze estão escritas as palavras de um texto sobre a Azinhaga, Golegã, onde foi menino. O pólo da Fundação José Saramago fica a poucos metros e também por isso a escultura foi ali colocada.

Carreras na Cavalaria

A lotação não esgotou, mas não faltou muito. San-tarém vestiu-se de gala para o único concerto do tenor espanhol este ano no nosso país. José Carreras encantou na noite de 25 de Julho nas instalações da antiga Escola Prática de Cavalaria (futura Fundação da Liberdade), em Santarém. O recinto tinha mais de oito mil lugares sentados. José Carreras deliciou a assistência com a pri-meira ópera intitulada “Cançó d’amor i de guerra – Les neus de les muntanyes”, acompanhado pela Orquestra Filarmónia das Beiras dirigida pelo maestro David Giménez. Ao lado do tenor em algumas árias esteve a solista portuguesa Isabel Alcobia que também cantou sozinha músicas como a “Canção do Mar”.

Os sonetos de Camões

O livro “Sonetos e Outros Poemas de Luís Vaz de Camões”, editado com a chancela de O MIRANTE, é apresentado nas instalações do antigo presídio de Santarém agora transformado na Casa de Camões e de Portugal. Joaquim Veríssimo Serrão volta a aparecer em público a 7 de Julho para falar da sua terra. A iniciativa assinala as comemorações do 10 de Junho que em 2009 se realizaram em Santarém.

Manoel de Oliveira no Convento de Cristo

O cineasta Manoel de Oliveira visita a 13 de Junho o Convento de Cristo, em Tomar, onde filmou “O Quinto Império”, em 2004. Confessa que no monumento clas-sificado como património da Humanidade se tornou difícil escolher entre tantas escadarias, corredores, pátios, cantos e recantos.

Foi homenageado pelo “Plano Extraordinário” – Clube de Cinema de Tomar. O cineasta que nasceu no Porto a 11 de Dezembro de 1908 entrou na sala do Cine-Teatro Paraíso. Assim que subiu ao palco foi aplaudido. Agradeceu o gesto, de pé, acenando.

Bravo Colete Encarnado

Vila Franca de Xira engalanou-se para receber milha-res de visitantes durante as festas do Colete Encarnado, uma das tradições mais antigas do Ribatejo. Em três dias de animação e divertimento não faltaram as largadas de toiros, os concertos, as sardinhas e a habitual ho-menagem ao campino a que se seguiu um desfile pelas principais ruas da cidade. José Júlio voltou à arena para assinalar os 50 anos da sua alternativa. A festa é uma paleta de representações da multiplicidade cultural da terra. O toiro bravo e os campinos podem ter lugar de destaque mas sozinhos não conseguiriam mostrar

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a alma ribatejana que mora numa terra antiga banhada pelo Tejo. E é uma festa de forte gente, aquela que ali acontece todos os anos.

10 de Setembro

Cristina Branco deu voz a um concerto de solidariedade na Praça de Toiros de Almeirim. Sete mil euros renderam a favor da família de um jovem que mor-reu num acidente de trabalho e deixou um filha menor. O dinheiro angariado é para a família pagar contas que surgiram de internamentos e de tratamentos que Paulo Mendes necessitou, quando lutou contra um cancro que acabou por vencer pouco tempo antes de morrer.

A tragédia da cultura

No ano em que o grupo de teatro “Esteiros”, de Alhandra, comemora 35 anos, João Santos Lopes prepara-se para receber pela terceira vez o prémio do concurso nacional INATEL/Teatro Novos Textos. Em entrevista a O MIRANTE o actor, encenador e dramaturgo faz duras críticas à política cultural do concelho de Vila Franca de Xira e acusa a autarquia de querer “asfixiar” os grupos amadores. Considera o museu do neo-realismo um “elefante branco” e lamenta a falta de visibilidade dos dramaturgos portugue-ses, recusando “vender-se”.

Gala Santareno

Santarém foi capital do teatro com a quarta edição da Grande Gala San-tareno que homenageia o dramaturgo escalabitano. Ruy de Carvalho recebeu o prémio Carreira, tal como a consagrada actriz Lurdes Norberto. Luísa Cruz e José Raposo foram premiados na categoria Interpretação. Carla Galvão ganhou o

prémio Revelação no feminino. Sérgio Praia foi prémio Revelação masculino. “Esta noite improvisa-se”, encenação de Jorge Silva Melo, ganhou o prémio Espectáculo. Subiram ainda ao palco três galardoados na categoria Especial: António Júlio, veterano actor do Veto Teatro Oficina de Santarém; Rui Madei-ra, director da Companhia de Teatro de Braga, natural de Santarém; e Joaquim Benite, director do Festival de Teatro de Almada. O Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno foi entregue a Do-mingos Lobo, pela peça “Não deixes que a noite se apague”.

Um drama em palco

A notícia sobre uma mulher assassi-nada pelo ex-companheiro à porta do local de trabalho, no Vale de Santarém, em 2008, foi o ponto de partida para uma peça de teatro. Lúcia Sigalho, uma encenadora com raízes ribatejanas, re-sidente em Santarém, chamou-lhe: “E a mulher teve morte quase instantânea”. Uma alusão aos comentários que surgem quando a morte não tem justificação.

Viva quem canta

O cantor Pedro Barroso celebra “40 anos de música e palavras”. “Vivi povo e multidão / sofri ventos sofri mares / passei sede e solidão / muitos lugares/sofri países sem jeito / p’r’ó meu jeito de cantar / mordi penas no meu peito / e ouvi braços a gritar”. A série de concertos que o músico e compositor Pedro Bar-roso deu ao longo do ano para assinalar quatro décadas de carreira encerrou a 12 de Dezembro, no Teatro Virgínia, em Torres Novas. O artista, que saltou para a ribalta no programa Zip-Zip”, nasceu em Lisboa mas é à vila de Riachos que chama terra.

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Desporto

Atletismo com boa nota e futebol sénior em queda livre

Tristezas no futebol

Em Janeiro O MIRANTE noticiou o fim do Abrantes Futebol Clube, numa decisão já esperada, o Conselho de Dis-ciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) desclassificou-o da II Divisão, suspendendo-o por duas épocas, dos campeonatos nacionais e da Taça de Portugal. Como se pre-via o clube de Abrantes acabou por fechar portas.

Atletismo dá alegrias

Vera Santos promete um ano de 2009 ainda mais auspicioso do que 2008. A atleta riomaiorense, que foi distinguida por O MIRANTE com o Prémio Perso-nalidade do Ano do Desporto Feminino de 2008, entrou em 2009 com toda a for-ça e foi distinguida internacionalmente, logo em Janeiro, sendo considerada pela Federação Internacional de Atletismo terceira melhor atleta do mês. No início de Fevereiro o atleta ribatejano Rui Silva, brilhou, mais uma vez, a nível internacional. Sagrou-se, pela terceira vez, campeão europeu dos 1.500 metros em pista coberta, nos campeonatos que decorreram em Turim (Itália). Rui Silva, repetiu o ouro conquistado em Valência1998 e Viena2002, e garantiu que só percebeu que ia “ser campeão europeu na recta da meta”.

A violência continua a fazer-se sentir no desporto

Logo no início de Fevereiro, os ânimos andaram exaltados para os lados do Cartaxo, os adeptos da equipa de juniores do Sport Lisboa e Cartaxo tentaram agredir um árbitro assisten-te e por isso o árbitro foi obrigado a terminar o jogo. Mas pior foi o que aconteceu logo a seguir em Amiais de Baixo. Chega a parecer impossível mas é uma realidade, os espectadores dos recintos desportivos estão cada vez mais violentos, nem no basque-tebol jovem conseguem respeitar as crianças. O último jogo da final a quatro do Campeonato Distrital de Sub-12 femininos, que se disputou em Amiais de Baixo, terminou antes do fim do tempo regulamentar porque nas bancadas do pavilhão os adeptos do Amiense e Santarém Basket se envolveram em cenas de pancadaria. A situação foi grave porque estavam a jogar crianças de 10-12 anos.

Marco Chagas quer mostrar espólio de dezoito anos dedicados ao ciclismo

O ex-ciclista Marco Chagas, quatro vezes vencedor da Volta a Portugal

No ano de 2009 a região de abrangência de O MIRANTE ficou com menos dois clubes nos campeonatos nacionais. De cinco passou para dois. O Fátima que disputa a Liga de Honra e o Monsanto na Segunda Divisão nacional. O Clube Atlético Riachense foi campeão distrital e devia ter subido mas recusou. O futebol da região ficou mais pobre e os jogadores com menos possibilidades de singrar. Os dirigentes

justificam a situação com os proble-mas financeiros. As equipas seniores são apontadas como sorvedouros de dinheiro.

Devido às dívidas acumuladas há clubes que deixam de existir, como aconteceu com o Abrantes Futebol Clube e com o Grupo Desportivo dos Ferroviários do Entroncamento. E há outros salvos in extremis como o Grupo Desportivo “O Coruchense”. Os seus dirigentes conseguiram resolver o pro-blema das dívidas e o clube regressou ao desporto da região.

O Triatlo, o Atletismo e a Patinagem Artística foram pedradas no charco no panorama desportivo. O Alhandra Sporting Clube sagrou-se campeão Nacional de Triatlo e o seu atleta João Pereira continuou a mostrar grandes potencialidades. Fez parte, juntamente com outro ribatejano, Miguel Arraiolos, da equipa nacional que conquistou a medalha de prata no Europeu de Triatlo.

No início de Fevereiro o atleta ri-batejano Rui Silva, brilhou, mais uma vez, a nível internacional. Sagrou-se, pela terceira vez, campeão europeu dos 1.500 metros em pista coberta, nos campeonatos que decorreram em Turim (Itália). Rui Silva, repetiu

o ouro conquistado em Valência1998 e Viena2002. João Ferreira, da Póvoa de Santa Iria, conquistou o título de campeão nacional dos 200 metros, e ganhou o passaporte para, ao lado de Francis Obikwelo, representar Por-tugal no Campeonato do Mundo de Atletismo.

As mulheres continuam a dar cartas em várias modalidades, incluindo o futebol. A riomaiorense Sofia Vieira foi contratada pelo Atlético de Madrid para jogar futebol na sua equipa prin-cipal. Inês Gigante, da União Artística Vilafranquense, foi campeã nacional de solo dance. Vera Santos destacou-se no Mundial de Marcha.

No campo das infra-estruturas des-portivas o ano foi razoável, para além de beneficiações em alguns pavilhões, foram inaugurados relvados sintéticos em Vila Nova de São Pedro, Azambuja. Na Golegã também foi inaugurado um sintético e uma nova sede do Futebol Clube Gole-ganense e ao campo de jogos foi dado o nome de Manuel Bento, um goleganense que se destacou como guarda-redes do Benfica e da Selecção Nacional de Futebol. Na cidade do Entroncamento o complexo desportivo continua em desenvolvimento e é já um dos melhores e mais modernos da região.

Fernando Vacas de Jesus

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em Bicicleta, quer expor e doar o espólio, de uma vida dedicada ao ciclismo. A promessa de doação à freguesia foi feita em 2004, mas até agora, nem os responsáveis da Câmara do Cartaxo, nem da Junta de Freguesia de Pontével, conseguiram encontrar um local para criar o espaço onde expor publicamente as marcas de uma vida, única condição que impôs para entregar os troféus, placas, medalhas, camisolas reunidos ao longo de 18 temporadas. No Cartaxo, também aconteceu festa, o Ateneu Artístico Cartaxense voltou a ter o seu pavilhão desportivo em condições para a prática das suas modalidades. O recinto estava sem possibilidades de utilização há cerca de um ano, devido a um incên-dio que destruiu uma grande parte das instalações. O fim-de-semana de 4 e 5 de Março, foi de festa porque determinou a reabertura do espaço.

As alegrias e tristezas do futebol

Os meses de Abril e Maio foram férteis em alegrias e tristezas no futebol da região. A alegria maior veio do Centro Desportivo de Fátima que garantiu o regresso à Liga de Honra de Futebol Profissional, após golear, por 4-1, e mais tarde, como O MIRANTE noticiou na edição de 4 de Junho, a equipa de Fátima sagrou-se Campeã Nacional da Segunda Divisão. O Carregado, na segunda mão do “play-off” do Campeonato Nacional da Segunda Divisão. O clube do Carregado acabou também por subir à Liga de Honra, beneficiando dos castigos aplicados a clubes com dívidas ao fisco, a joga-dores e à Segurança Social. No campo das dívidas aos jogadores salientou-se o União de Rio Maior, que não pagou os últimos seis meses de subsídios ao jogadores, que passaram por graves problemas. O clube acabou por garantir a manutenção nos nacionais, mas incapaz de pagar as dívidas acabou por descer ao escalão mais baixo do futebol distrital.

Ribatejano na equipa de duatlo que conquistou medalha de Ouro no Campeonato da Europa

São os desportos chamados de mais amadores que vão trazendo alegrias para o país e para a região. No dia 28 de Maio, O MIRANTE notícia que a Selecção Nacional de Duatlo composta pelo ribatejano Sérgio Silva, Lino Barruncho e Pedro Palma, conquistou a medalha de Ouro no Campeonato da Europa de Duatlo.

As dificuldades continuam a acabar com colectividades carismáticas

Com todas as contas penhoradas, com os directores sujeitos a penhora dos seus bens, o carismático Grupo Desportivo do Entroncamento viu os seus sócios decidi-rem em Assembleia-Geral, realizada no dia 29 de Maio, acabar com o clube. Curiosamente os mesmos dirigentes fundaram, pouco tempo depois, um novo clube.

Futebol ribatejano está cada vez mais pobre

Às descidas do Cartaxo, Rio Maior e Fazendense ao distrital, junta-se a decisão da direcção do Clube Atlético Riachense de prescindir da subida à terceira divisão nacional, os jogadores tinham ganho esse direito em campo ao conquistarem o título de campeão distrital. Assim na área de abrangência de O MIRANTE, só o Fátima e o Monsanto se mantêm nos campeonatos nacionais.

Atletismo compensa com algumas alegrias

Em duas notícias inseridas na edição de 18 de Junho podemos ler que Tiago Marto, do Grupo de Atletismo de Fátima, se sagra campeão nacional de decatlo. E a equipa feminina de atletismo do Zona Alta de Torres Novas foi

vice-campeã da terceira divisão. São feitos como este que vão fazendo girar o desporto na região.

Duas jovens na alta roda internacional

Inês Gigante, patinadora da União Desportiva Vilafranquense sagrou-se campeã nacional de solo dance, uma variante da patinagem artística. A jovem que se desloca de Oeiras para Vila Franca para treinar, já conquistou duas medalhas de ouro e três de bronze em Taças da Europa, quer agora chegar ao título mun-dial. A riomaiorense, Sofia Vieira destacou-se noutra modalidade, no futebol e transferiu-se para o Atlético de Madrid. Na bagagem leva o sonho de fazer uma carreira de sucesso em Espanha.

João Ferreira sagra-se campeão nacional dos 200 metros

João Ferreira é um atleta de qualidade. Aos 22 anos, o jovem da Póvoa de Santa Iria, conquistou o título de campeão nacional dos 200 metros, e ganhou o passa-porte para, ao lado de Francis Obikwelo representar Portugal no Campeonato do Mundo de Atletismo. Agora sonha com uma presença nos Jogos Olímpicos de 2012. Também na edição de O MIRANTE de 20 de Agosto, damos conta do excelente quinto lugar alcan-çado por Vera Santos no Campeonato do Mundo, nos 20 quilómetros marcha.

Diogo Ganchinho entre os melhores do mundo nos trampolins

Em entrevista a O MIRANTE do dia 3 de Setembro, o ginasta de Santo Estêvão, Benavente, Diogo Ganchi-nho, que está entre os melhores do mundo, dá conta dos seus sonhos. O jovem que actualmente é campeão nacional e esteve presente nos Jogos Olímpicos de Pequim, trabalha agora para estar presente nos Jogos Olímpicos de 2012. Ainda em Setembro, são os atletas da zona sul do Ribatejo a destacar-se. O triatleta Alhan-drense, João Pereira conquistou a medalha de bronze no Campeonato do Mundo de Triatlo Sub-23.

Com o início dos campeonatos distritais começam as dificuldades dos clubes

Com o início dos campeonatos distritais voltaram as dificuldades financeiras aos clubes. O União de Almeirim que já tinha dívidas aos jogadores da época anterior, não arranjou dinheiro para pagar nesta época e os jogadores abandonaram o clube. É mais um clube histórico à beira do fim. Noutra vertente, o dia 17 de Outubro vai ficar marcado a letras de ouro na história do Grupo Desportivo de Monsanto. O clube da pequena

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aldeia do concelho de Alcanena recebeu o Sport Lisboa e Benfica em jogo a contar para a Taça de Portugal, foi goleado (6-0) mas a festa foi grande e deixou cerca de 37 mil euros nos cofres do clube.

Recondução no Vilafranquense

Ainda há dirigentes que lutam pelo desenvolvimento e continuação dos clu-bes. O exemplo vem de Joaquim Pedrosa que foi reconduzido na presidência da União Desportiva Vilafranquense por-que se propõe sanear financeiramente o clube, continuar a apostar na formação e dinamizar a secção cultural. Outro bom exemplo chegou bem no fim do ano: um grupo de cidadãos de Coru-che, chegou a consenso com a câmara municipal e o Grupo Desportivo “O Coruchense” liquidou a dívida de 330 mil euros às Finanças e vai retomar o seu lugar no desporto do distrito de Santarém.

Mais um relvado sintético no concelho de Azambuja

A população de Vila Nova de São Pedro, concelho de Azambuja, não quis faltar à inauguração do novo relvado sintético do campo de jogos da União Cultural e Desportiva Vilanovense e encheu o recinto na cerimónia. O relvado veio ao encontro da ambição antiga da população e custou aos cofres da autar-quia 325 mil euros, um valor que também será suportado pela colectividade.

Árbitros do Inatel em greve

Chega a parecer mentira mas a maio-ria dos árbitros do Inatel resolveram parar em sinal de protesto pela tabela de compensações que lhes foi apresentada. Por isso a maioria dos jogos que se dis-putaram no fim-de-semana de 21 e 22 de Dezembro foram arbitrados por árbitros repescados na assistência.

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