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O "FILHO DA MÃE" (O PUER): RESGATANDO A SOMBRA MASCULINA O capítulo a seguir tratará de homens que não se identificam com um pai exageradamente masculino, podendo começar suas vidas como um puer, ou homem suave. Mitologicamente, aquele que voa bem alto acima do mundo é o puer (em uma mulher, puella) aeternus, o eterno jovem que não quer ou não pode crescer. A analista Marie-Louise von Franz focaliza o seu lado escuro, caracterizando o puer como um homem imaturo e pouco ancorado na terra, que não consegue se comprometer com nada. Ela acredita que ele tenha uma espiritualidade excessiva e uma atitude de cabeça-nas- nuvens, o que o deixa cego para as questões da sombra. Este problema, diz ela, é oriundo (no caso dos homens) de um excessivo apego à mãe pessoal, e ao fracasso em se separar dela, o que leva a dificuldade para formar novos apegos. Von Franz assinala que o puer recebe da mãe um sentimento de ser muito especial, o que por seu lado vai provocar um complexo de inferioridade, porque é impossível viver à altura deste tipo de expectativa. Para aqueles que foram aprisionados por este personagem, ela prescreve o trabalho com a sombra para evitar oorgulho excessivo (hubris) e ajudar a suportar o desapontamento dos ideais perdidos. James Hillman, por outro lado, focaliza o lado iluminado do arquétipo, e avalia o puer positivamente, dizendo que ele representa "o espírito da juventude e a juventude do espírito... É o chamado em direção à perfeição; o chamado em

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O "FILHO DA ME" (O PUER): RESGATANDO A SOMBRA MASCULINA O captulo a seguir tratar de homens que no se identificam com um pai exageradamente masculino, podendo comear suas vidas como um puer, ou homem suave. Mitologicamente, aquele que voa bem alto acima do mundo o puer (em uma mulher, puella) aeternus, o eterno jovem que no quer ou no pode crescer. A analista Marie-Louise von Franz focaliza o seu lado escuro, caracterizando o puer como um homem imaturo e pouco ancorado na terra, que no consegue se comprometer com nada. Ela acredita que ele tenha uma espiritualidade excessiva e uma atitude de cabea-nas-nuvens, o que o deixa cego para as questes da sombra. Este problema, diz ela, oriundo (no caso dos homens) de um excessivo apego me pessoal, e ao fracasso em se separar dela, o que leva a dificuldade para formar novos apegos. Von Franz assinala que o puer recebe da me um sentimento de ser muito especial, o que por seu lado vai provocar um complexo de inferioridade, porque impossvel viver altura deste tipo de expectativa. Para aqueles que foram aprisionados por este personagem, ela prescreve o trabalho com a sombra para evitar oorgulho excessivo (hubris) e ajudar a suportar o desapontamento dos ideais perdidos. James Hillman, por outro lado, focaliza o lado iluminado do arqutipo, e avalia o puer positivamente, dizendo que ele representa "o esprito da juventude e a juventude do esprito... o chamado em direo perfeio; o chamado em direo ao Ser." Portanto, diz ele, o puer no foi feito para caminhar, mas sim para voar. apenas do ponto de vista do ego que o puer um problema, diz Hillman. O ego exige que ele se adapte, seja um sucesso, seja poderoso e herico. Por esta razo, todas as influncias da socializao conspiram para cortar suas asas. Portanto, continua Hillman, o puer no deveria ser visto apenas como uma patologia baseada no complexo da me. A soluo: o puer precisa formar um par no com a me, mas com o pai, em um relacionamento imaginrio. O autor no quer dizer aqui o pai de verdade, mas o senex, ou velho homem sbio. Hoje em dia vemos uma epidemia de puers vivendo ao redor de nossa cultura, especialmente em subculturas voltadas para a espiritualidade ou para o crescimento pessoal. Do ponto de vista da cultura maior, que orientada para o senex, o puer parece ingnuo e infantil, excessivamente orientado para dentro, e perigosamente desinteressado da tica do trabalho. Alm disso, ele ou ela parecem portar fantasias de serem especiais ou grandiosos. Em seus sonhos, os puers voam sobre o mar sem restries. Este vo representa sua rejeio s limitaes humanas, seu amor pelo esprito, seus ideais elevados e possibilidades ilimitadas. Como caro, talvez tenham sido divinizados por uma me ou um pai que lhes deram asas para voar acima dos outros. Ou talvez tenham perdido suas conexes com o corpo e com a terra. Apesar do perigo evidente que representa a fuga que o puer faz da realidade, do ponto de vista da sombra cultural o puer representa juventude e abertura versus velhice e rigidez; espiritualidade versus materialismo; possibilidades criativas versus mera produo; e imaginao e talento versus convencionalidade e uniformidade. Para o homem fortemente influenciado por este padro, o trabalho com a sombra no significa apenas se endurecer ou ficar mais srio; no se trata de uma mera inverso para o plo oposto, a forma tradicional de masculinidade, o senex. Em vez disso, trata-se de encontrar um lugar adequado na mesa para o personagem puer, que ento poder sonhar com as possibilidades criativas futuras enquanto o homem, que trabalha para se tornar mais conectado ao seu corpo e alma masculinos, constri uma vida ancorada neste mundo. Esta tarefa de crescimento pode ser realizada por meio dos rigores do trabalho psicolgico, dos relacionamentos ntimos e da criatividade, todos capazes de dar voz aos personagens banidos e conectar a mente consciente s profundezas inconscientes.

BREVE RELATOO PAI.Iniciamos a sesso falando sobre como M. tinha ficado depois da conversa do encontro anterior, como tinha se sentido depois de analisar seu histrico de relacionamentos, sua vida amorosa. Disse que tinha sentido vontade de ligar para o pai, mas no fez isso, afirmou que tinha vontade de dizer para ele o quanto se importava com ele, que gostava dele e que no tinha esse hbito. Disse que no frequentava muito a casa do pai por causa do mal estar com a madrasta. Que at fazia visitas, mas no se sentia vontade. Comeamos a falar ento dos problemas nessa relao. Em como o pai cobrava dele uma posio em relao sua vida. O pai no concordava com a vinda para Curitiba, muito menos com a segunda graduao. Pensava que ele deveria investir na sua vida financeira, conseguindo autonomia. Conta que trabalhou na sua rea de formao apenas na empresa da famlia, na rea de logstica, chegando at a fazer uma ps-graduao na rea. Afirma porm que no ia todos os dias ao trabalho, que no tinha cobrana porque era um negcio da famlia. Ento nunca chegou a ter uma autonomia financeira, sempre permanecendo na dependncia de sua famlia, mas especificamente de sua me. RELAO DE DEPENDENCIA COM A ME E MEDO DA VIDA ADULTA. Comeamos a conversar ento sobre a sua dependncia da famlia, sobre o quo confortvel era sua situao. Afirma que vive uma situao temporria de dependncia, que escolheu isso para poder cursar psicologia, que uma profisso que combina melhor com as suas inclinaes e talentos, que est investindo no seu crescimento como pessoa, para ento se tornar um profissional melhor, um ser humano melhor. Planeja deixar essa dependncia materna, mas no sabe quando nem como. Perguntei se no sentia falta de autonomia e dependncia. Disse que sim, mas que estava bem na atuao situao. Alm do mais j tinha se desenvolvido bastante ao mudar de cidade, cuidar das coisas sozinho, e tinha o seu estgio que dava alguma remunerao, que era complementada (na maior parte) pela me. Questiono sobre as pernas obtidas com isso, sobre o medo que ele tem demonstrado em se revelar para a me e perder o sustento. Comea ento a dar voltas sobre a questo do sustento financeiro e de como isso importante no momento. Insisto e ele afirma que TEM MEDO DE DEIXAR A RELAO DE AJUDA MTUA QUE CONSTRUIU COM A ME. Fala que cuida da me e a me dele, que a me apia as suas decises e que hoje no teria coragem de assumir as coisas sozinho, fala que tem MEDO DE NO DAR CONTA DE SE SUSTENTAR, MEDO DE TER QUE RENUNCIAR AO PADRO DE VIDA QUE GANHOU, DE TER DE MUDAR PARA UM LUGAR MENOR. Reconhece que tem perdas com essa escolha, mas no se v ainda fazendo uma escolha diferente. Pergunto se j se considera adulto. Inicia uma reflexo terica sobre o tema que interrompo, perguntando se j se sente um adulto, independente da teoria. Sabe que ainda no um adulto e tem conscincia de que se espera uma autonomia maior em algum da sua idade. Fala muito da questo financeira, mas sabe que esse no o principal ponto. PROLONGANDO A SESSO.Quando encerro a sesso, pede para contar um sonho escrito em seu caderno. No permito, lembrando que pode voltara ao assunto semana que vem. Sai se dizendo perturbado pelas questes discutidas (parece meio perdido depois de pensar sobre a questo) .