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RESUMOS XI SEMINÁRIO DE PESQUISA/V SIMPÓSIO DE LITERATURA QUESTÕES LITERÁRIAS CONTEMPORÂNEAS (1980/2010) Resumos I - PALESTRANTES E CONVIDADOS Mesa-redonda 1: “Teorias e crítica da narrativa” REPRESENTAÇÃO: LITERATURA E ARTES PLÁSTICAS Regina DALCASTAGNÈ (UnB) O paralelo entre literatura e artes plásticas é, com frequência, limitado à indicação de referências cruzadas (temas literários em obras pictóricas, referências a obras visuais em narrativas ou em descrições poéticas). Busco um caminho diverso: literatura e artes plásticas são dois meios expressivos diferentes que, no entanto, se defrontam com um conjunto similar de problemas, relacionados à questão da representação. Neste rumo, aproprio-me, para entender a literatura, da reflexão que o crítico norte-americano Harold Rosenberg produziu pensando em alguns nomes do expressionismo abstrato, como Pollock, De Koonning e Hofmann: a consciência dolorosa de que se a arte não envolve o criador com as dificuldades de seu tempo, ela se esgota em sua própria realização. Isso porque ―nenhum problema essencial da arte, salvo dificuldades técnicas, pode ser resolvido somente pela arte‖. A ―ansiedade da arte‖, como diz Rosenberg, surgiria ―não como um reflexo da condição dos artistas, mas como resultado da reflexão que eles fazem sobre o papel da arte em outras atividades humanas‖ e se manifestaria, sobretudo, no questionamento da própria arte. A investigação que apresento ancora-se no enfrentamento em paralelo de obras de escritores e artistas plásticos brasileiros dos séculos XX e XXI: o contista Samuel Rawet e o gravador Oswaldo Goeldi, o romancista Autran Dourado e o pintor e gravador Iberê Camargo, o pintor João Câmara e o contista e romancista Sérgio Sant‘Anna. CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRÍTICA LITERÁRIA ATUAL Cleusa Rios Pinheiro PASSOS (USP) Nas últimas décadas, marcadas pelo ―pós-modernismo‖, a literatura vem sendo pensada como um saber a mais, no amplo panorama dos ―estudos culturais‖, tendendo-se a esquecer seu caráter artístico e transfigurador, por excelência. Esse olhar, que a torna uma espécie de espaço dedicado à ―depositária da memória cultural‖

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RESUMOS

XI SEMINÁRIO DE PESQUISA/V SIMPÓSIO DE

LITERATURA QUESTÕES LITERÁRIAS CONTEMPORÂNEAS (1980/2010)

Resumos I - PALESTRANTES E CONVIDADOS

Mesa-redonda 1: “Teorias e crítica da narrativa”

REPRESENTAÇÃO: LITERATURA E ARTES PLÁSTICAS

Regina DALCASTAGNÈ (UnB)

O paralelo entre literatura e artes plásticas é, com frequência, limitado à

indicação de referências cruzadas (temas literários em obras pictóricas, referências a

obras visuais em narrativas ou em descrições poéticas). Busco um caminho diverso:

literatura e artes plásticas são dois meios expressivos diferentes que, no entanto, se

defrontam com um conjunto similar de problemas, relacionados à questão da

representação. Neste rumo, aproprio-me, para entender a literatura, da reflexão que o

crítico norte-americano Harold Rosenberg produziu pensando em alguns nomes do

expressionismo abstrato, como Pollock, De Koonning e Hofmann: a consciência

dolorosa de que se a arte não envolve o criador com as dificuldades de seu tempo, ela se

esgota em sua própria realização. Isso porque ―nenhum problema essencial da arte,

salvo dificuldades técnicas, pode ser resolvido somente pela arte‖. A ―ansiedade da

arte‖, como diz Rosenberg, surgiria ―não como um reflexo da condição dos artistas, mas

como resultado da reflexão que eles fazem sobre o papel da arte em outras atividades

humanas‖ e se manifestaria, sobretudo, no questionamento da própria arte. A

investigação que apresento ancora-se no enfrentamento em paralelo de obras de

escritores e artistas plásticos brasileiros dos séculos XX e XXI: o contista Samuel

Rawet e o gravador Oswaldo Goeldi, o romancista Autran Dourado e o pintor e

gravador Iberê Camargo, o pintor João Câmara e o contista e romancista Sérgio

Sant‘Anna.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRÍTICA LITERÁRIA ATUAL

Cleusa Rios Pinheiro PASSOS (USP)

Nas últimas décadas, marcadas pelo ―pós-modernismo‖, a literatura vem

sendo pensada como um saber a mais, no amplo panorama dos ―estudos culturais‖,

tendendo-se a esquecer seu caráter artístico e transfigurador, por excelência. Esse olhar,

que a torna uma espécie de espaço dedicado à ―depositária da memória cultural‖

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(cf. alguns críticos), reduz seu alcance estético, além de provocar mudanças no perfil de

seus intérpretes. Nesse sentido, o rigor da análise textual – sem ignorar contextos –

parece ser deslocado pela diversidade de perspectivas que se mesclam e nem sempre

confluem de modo claro, levando-nos a perguntar, em nível geral, qual seria o papel (e

lugar) da literatura, qual a função da crítica atual e, no âmbito deste seminário, quais as

correntes responsáveis pela crítica no momento? Seria possível determiná-las? E, ainda,

até que ponto se poderia preservar o exercício crítico, respeitando-se a singularidade

literária, sem abdicar das contribuições dos novos tempos?

Mesa-redonda 2: “Teorias e crítica do drama”

O TEATRO DO OPRIMIDO: FENÔMENO ESTÉTICO, POLÍTICO E SOCIAL

Profa. Dra. Elizabete Sanches Rocha (UNESP/Franca/Araraquara)

Uma das questões que perpassam os chamados estudos culturais diz respeito ao

papel exercido pela cultura como expressão estética e também como expressão de uma

ética contemporânea. Assiste-se à instrumentalização da cultura no chamado

capitalismo tardio. George Yúdice (2004) aborda tal temática em seu livro A

conveniência da cultura: usos da cultura na era global. Para ele, organismos e agências

internacionais, como a UNESCO, por exemplo, tomam o conceito de cultura de um

modo alinhado com a sociedade capitalista e neoliberal em que vivemos. Os resultados

dessa operação são os mais variados, desde processos importantes de emancipação até

simplesmente a artificial valorização do cultural como mero produto. Projetos sociais

voltados para grupos marginalizados têm assumido cada vez mais o uso da cultura – em

suas mais variadas expressões – como recurso capaz de solucionar problemas como

violência e altos índices de desistência escolar. O Brasil, particularmente, é considerado

um celeiro de iniciativas nessa direção. Nesse contexto, o teatro vem assumindo

importante papel nas tentativas de se encontrarem soluções para problemas sociais das

mais diversas ordens e, por conseqüência, o Teatro do Oprimido, criado pelo

dramaturgo brasileiro Augusto Boal, tem sido uma das formas estéticas mais celebradas

no mundo.

Palavras-chave: Teatro do Oprimido; cultura; sociedades.

O CARÁTER HÍBRIDO DA DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA

Samir YAZBEK (Dramaturgo e diretor teatral)

A palestra tem como objetivo abordar algumas tendências históricas da

dramaturgia universal, enfatizando como os autores contemporâneos, fiéis às

necessidades criativas, dialogam com seus predecessores para criar textos e espetáculos.

Entre essas tendências, estão o Teatro Aristotélico, o Teatro Elisabetano, o Teatro

Naturalista, o Teatro Épico e o Teatro do Absurdo.

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A fala também se beneficiará da experiência do próprio palestrante como

dramaturgo, abordando seu processo de criação.

Palavras chaves: dramaturgia, contemporaneidade, hibridismo.

Mesa-redonda 3: “Teorias e crítica da poesia”

POESIA, SUBJETIVAÇÃO E ENDEREÇAMENTO

Célia de Moraes Rego PEDROSA (UFF)

Estudo de textos de poetas contemporâneos, visando a identificar os modos

através dos quais neles se esboça a subjetividade no/como movimento de aproximação e

distanciamento entre quem fala/escreve e a quem se fala/escreve. Esse movimento está

presente desde manifestações bem remotas da poesia lírica, podendo ser mesmo

considerado como intrínseco à subjetividade paradoxal que através dela se configura. A

partir dele, pode-se refletir sobre os diferentes dispositivos de definição do discurso

poético, relacionados aos que incidem sobre suas estratégias de leitura, articulando

assim o singular e o comum e retomando questões teórica e criticamente radicalizadas

com a modernidade.

CORPO LÍRICO: A CORPOREIDADE NA DISCUSSÃO DO SUJEITO LÍRICO

NA POESIA CONTEMPORÂNEA

Elaine Cristina CINTRA (UFU)

O corpo na lírica contemporânea apresenta-se como índice de subjetividade,

espaço de autoconhecimento e autosondagem, uma vez que o sujeito totalitário descrito

na Estética de Hegel está definitivamente rompido pelo movimento de reificação

consolidado por um sistema político-econômico de fragmentação do sujeito. Através da

reiteração dos dizeres do corpo nas líricas dos anos 00, o discurso poético dimensiona

um ambiente de dor e dilaceramento, no qual a falta e o esvaziamento apontam para

uma falência das organizações sociais instituídas.

Mesa-redonda 4: “História literária e crítica”

OS ESTUDOS LITERÁRIOS: PRINCÍPIOS E FIM(NS)

Roberto Acízelo de SOUZA (UFRJ – UERJ)

Fundamentos históricos e conceituais da ideia de ―estudos literários‖:

universalismo clássico, nacionalismo romântico, transnacionalismo contemporâneo.

Reflexões sobre seus fins e a hipotética iminência do fim, ante a alegada obsolescência

do objeto (a literatura) e a desconsideração dos limites disciplinares (os estudos

culturais).

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O CÂNONE DA HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA NA TRAVESSIA

DO MILÊNIO: UM PERMANENTE DESAFIO

Luiz Roberto Velloso CAIRO (UNESP/Assis)

O cânone da história da literatura brasileira construído, não muito

tranquilamente, pelos críticos românticos permaneceu vivo, apesar das diferentes

leituras e releituras, que, como um permanente desafio, modernos e pós-modernos dele

fizeram ao longo dos anos. Na minha fala, pretendo abordar algumas dessas revisões

propostas nas últimas décadas do século XX, em alguns textos a respeito da

historiografia literária brasileira.

Mesa-redonda 5: “Relações intersemióticas”

O MODELO DE UMA SEMIÓTICA INTERTEXTUAL E O DISCURSO

LITERÁRIO: HIPÓTESES

Edward LOPES (UNESP)

Desde que M. Bakhtin elaborou o primeiro conceito de intertextualidade, a

crítica procura trabalhar a obra literária como mensagem interdisciplinar, localizada no

cruzamento dos diferentes domínios da lógica, da estética, da narratologia, da

linguística, da sociologia, etc. Se, de um lado, o conceito de intertextualidade permitiu à

crítica literária libertar-se de uma estéril servidão a "influxos e influências"

historicamente sempre questionáveis, de outro lado esse posicionamento impôs aos

estudiosos a obrigação de examinar o discurso literário como uma formação complexa,

uma mensagem sincrética, cujos constituintes e funções dificilmente se deixam isolar,

em seu papel formal e conteudístico. A hipótese levantada por essa palestra testa a

possibilidade de que o modelo de uma semiótica intertextual, cujos primeiros

delineamentos surgiram com os estudos de semióticas sincréticas, seja o melhor dos

instrumentos de que dispomos, hoje, para realizar aqueles desideratos.

LITERATURA, COMPLEXIDADE, TRANSDISCIPLINARIEDADE:

MODELOS ANALÍTICOS CONTEMPORÂNEOS

Julieta HAIDAR (INAH – México)

O objetivo principal desta exposição é revisar alguns modelos analíticos para o

estudo e a análise da literatura contemporânea, que é o tema nuclear deste seminário.

Para iniciar, faz-se uma breve exposição do que é a complexidade e a

transdisciplinariedade, considerando que nem todos compartilham estas posições

epistemológicas. Uma das premissas básicas que possibilita esta articulação é

apresentada por Edgar Morin, autor que propõe que, desde a Epistemologia da

complexidade, existe um continuum entre as ciências sociais, as ciências naturais, as

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ciências quantitativas e as ciências artísticas, na qual incluímos a literatura. Neste

sentido, não deixa de criar inquietações quando se concebe ao artístico como ciência.

Nesta perspectiva, vamos revisar trajetórias analíticas para destacar algumas

propostas contemporâneas pouco conhecidas e pouco difundidas. Uma das mais

interessantes, pelos umbrais que abre e pelas projeções que tem, é a proposta de Iuri

Lotman, da Escola de Tartu na Estônia. Este grande analista da literatura eslava, em

primeiro lugar, e depois da Semiótica da Cultura, tem propostas enriquecedoras para a

teoria do texto, porque utiliza o texto literário para analisar a cultura como texto.

Outra proposta é a da Sociocrítica, de Perpignan, com Claude Duchet e Edmod

Cross, que revisa a produção literária considerando uma convergência entre posições

estruturalistas, não clássicas, e posições contemporâneas da relação entre literatura e as

varias dimensões que se cruzam, como a social, a cultural, a ideológica entre outras.

SEMIOTICISTAS AVANT LA LETTRE

Luiz TATIT (USP)

As ideias concebidas num domínio figurativo podem obter alto rendimento

teórico, desde que seus elementos relacionais sejam devidamente semiotizados. Ignácio

Assis Silva buscou os autores dessas ideias principalmente entre os chamados ―artistas

modernos‖, aqueles que se dedicaram à ―desmontagem do signo‖. A semiótica de hoje

não abandona a espinha dorsal epistemológica erigida na esteira de Saussure-Hjelmslev-

Greimas, mas já não pode mais prescindir do pensamento de escritores e artistas que,

assim como os semioticistas, sempre estiveram preocupados com a construção do

sentido.

Resumos II – COMUNICAÇÕES

MEMÓRIA E IDENTIDADE EM LEITE DERRAMADO, HERANÇAS E OLHO

DE REI

Adriana DUSILEK (UNESP/Assis/CNPq)

Orientadora: Profa. Dra. Sílvia Maria Azevedo

Programa de Pós-Graduação em Letras (UNESP/Assis)

O objetivo desta comunicação é refletir sobre a construção da identidade através

da memória dos narradores nos romances Leite Derramado, de Chico Buarque,

Heranças, de Silviano Santiago e Olho de Rei, de Edgard Telles Ribeiro. Nos três

romances é possível observar o narrador-personagem que, já no fim da vida, procura,

pelo resgate da memória, reviver: em Heranças e Olho de Rei, através da escrita; em

Leite Derramado, pela oralidade. Todos eles comungam ainda com um sentimento de

deslocamento, ausentes de si e dos seus.

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Palavras-Chave: Narrativa brasileira contemporânea; memória; Chico Buarque;

Silviano Santiago; Edgard Telles Ribeiro.

A EXTENSÃO DA IRONIA EM O DEUS DA HORA E DA NOITE DE MIGUEL

JORGE

Albertina VICENTINI (PUC/GO – PQ/CNPq)

O artigo procura demonstrar o caráter experimental do novo romance de Miguel

Jorge, O Deus da Hora e da Noite (2008), através da ironia estendida às narrativas

autorreferenciais que povoam a ficção contemporânea. Os recursos que assume podem

ser distinguidos no tema, a história da criação de uma história, mas sobretudo no

diálogo socrático entre autor e personagem, na descontinuidade autor-obra-leitor e na

ironia do processo criador, que levam Miguel Jorge a dialogar com o realismo mágico,

com o surrealismo, o grotesco e o domínio do personagem sobre o autor.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; ironia estendida; Miguel Jorge.

O ESPAÇO EXISTENCIAL NA POESIA DE DENISE EMMER

Alexandre Bonafim FELIZARDO (USP /CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Raquel de Sousa Ribeiro

Programa de Pós-Graduação em Literatura Portuguesa – Doutorado (USP)

Na poesia de Denise Emmer, os espaços sofrem uma espécie de exaltação, de

concentração, tornando-se ―centros de vida‖, conforme as palavras de Bachelard.

Nesses lugares de predileção, nesses ambientes de existência concentrada, o drama

humano irá se desenrolar, ganhando conotações simbólicas e metafóricas. Dessa forma,

a natureza e a cidade serão mais que meros cenários; estes tornar-se-ão receptáculos das

indagações do sujeito lírico, ―correlatos objetivos‖ (conforme expressão de Eliot) do

drama espiritual do eu poético. Com efeito, Denise enraíza seus assombros, sua

perplexidade, na materialidade dos elementos físicos. Terra, água, ar e fogo são

símbolos imantados por um estado anímico perplexo, elétrico, pulsante. O espaço,

assim, com toda a sua concretude, é perscrutado por um eu lírico a se indagar pelo

sentido da vida humana no aqui e no agora. Em sua arrebata paixão pelo real, Denise irá

delinear uma incansável busca pelas formas do mundo sensível, empreendendo uma

mimese do mundo, em que os objetos, lugares e seres tornam-se surpreendentes, densos,

feéricos. Para a poeta, parodiando Novalis, na poesia, quanto mais fidelidade ao real,

mais o mundo se torna poético, fantástico. Dessa maneira, por essa intensificação

existencial dos espaços, palcos do drama humano, a autora irá desvelar o sagrado, o

tempo forte do mito, conforme propostas de Mircea Eliade. Denise Emmer, portanto,

descende da linhagem dos poetas videntes, dos poetas proféticos e intuitivos, para os

quais a arte poética é um fecundo mergulho nas pulsões vitais e na concretude viva do

cosmos.

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Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; espaço; poeta vidente; quatro

elementos.

HUMANIZAÇÃO DOS DEUSES NA POESIA DE ALEXEI BUENO

Alexandre de Melo ANDRADE (UNESP/ Araraquara/CAPES)

Orientador: Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Doutorado (UNESP/Araraquara)

Um dos tópicos da lírica contemporânea é a retomada do estilo e dos motivos

clássicos. Poetas como Ivan Junqueira e Alexei Bueno reabsorvem a estética clássica,

fundindo o tempo mítico ao tempo histórico, de onde emerge uma poesia metafísica,

que interroga a dúvida contingente por meio de grandes arquétipos da Antiguidade.

Alexei une o formalismo poético classicizante a uma sensibilidade que lhe desponta na

camada dos versos.

Nessa perspectiva, propomo-nos a uma leitura de alguns dos poemas de Alexei,

intentando elaborar aspectos críticos sobre a retomada da tradição clássica em sua

poesia. A obra Poemas gregos (1984) serve-nos de apoio para entender os aspectos

basilares sobre os quais se assentam os poemas do escritor carioca. Já no primeiro

poema – ―Dos homens, porque as têm,‖ – o poeta manifesta a oposição entre a

efemeridade e a permanência. Esta oposição é possível pela consciência da passagem

irreversível do tempo, que aparece sob o disfarce das Parcas. Daí surge a ideia fixa da

morte como único destino certo mediante uma realidade transitória.

Os poemas ―Os deuses, como nós, não sabem nada‖ e ―Tudo, menos tu, Cronos,

morrer pode‖ – da obra supracitada – serão pensados como representativos da alusão

que o poeta faz à mitologia para falar da condição precária do homem. O poema ―Tanto

por nós os deuses se interessam‖ nos permitirá perceber a descrença do poeta em

relação ao domínio das entidades mitológicas, já que distantes do tédio e da dor do

homem comum. Ainda outros poemas permitirão uma discussão sobre o cruzamento do

tempo mítico com o tempo histórico, de onde emerge toda a poética de Alexei. O poeta

dessacraliza os deuses ao incorporá-los na finitude. Entender este processo de

humanização dos deuses em Poemas gregos será nosso objetivo.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; tradição clássica; Alexei Bueno.

MITO E METÁFORA NA OBRA DE MANOEL DE BARROS

Alexandre Silveira CAMPOS

Orientador: Profa. Dra. Maria de Lourdes O. Gandini Baldan

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários - Doutorado (UNESP/Araraquara.

Doutorado

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É possível pensar a partir dos problemas de construção da imagem e do contato

com a poesia manoelina, como o uso do recurso da metáfora serve, não só para a

construção e elaboração de formas próprias da poesia, ou tradicionalmente ligadas a ela,

mas também pode estar relacionado com a abordagem de temáticas e conceitos

variados.

Um caso bastante elucidativo sobre esse aspecto da metáfora pode ser observado

em como a filosofia, tal qual representação de um pensamento metafísico ocidental,

desde os seus textos primordiais – pensemos, como exemplo, nos diálogos de Platão –

utiliza recursos metafóricos. E, sendo assim, busca no ―mundo irreal‖ o qual tem sua

instauração irremediavelmente ligada a tais recursos, respostas para o ―mundo real‖.

É recorrente na poesia de Manoel de Barros o ―buscar‖ na memória, o que já é

na verdade um procedimento de leitura, imagens ligadas à infância, sendo que ela

própria pode ser vista como uma temática ―mítica‖, ou estar ligada diretamente a mitos

que encontrem nesse período da vida do homem explicações, respostas ou somente

representações na determinação do seu futuro e na construção da sua história.

Assim, o recurso da metáfora, transita e ao mesmo tempo cria uma espécie de

ligação entre esses dois posicionamentos, aparentemente opostos, frente ao homem: o

da poesia que trata do homem essencialmente como sujeito, subjetivando aquilo que lhe

é próprio, e o da filosofia que trata do como homem como evento, historiando aquilo

que lhe é próprio.

Portanto, a ligação entre mito e poesia tem na metáfora um ponto de contato que

pode ser descoberto tanto em uma como em outra forma de pensar. Justifica-se assim, a

procura pela afloração da expressão mítica na poesia de Manoel de Barros, sem nos

preocuparmos se ela é intencional ou não, mas simplesmente para ao observarmos as

formas, os modos e determinadas nuances que o mito, propriamente dito ou a

conseqüência de suas releituras e significados, aparece nos poemas através da

construção e do jogo metafórico.

Palavras-chave: Literatura brasileira, literatura contemporânea, poesia, Manoel de

Barros.

O MITO E O INSÓLITO NO CONTO “VIA CRUCIS”, DE CLARICE

LISPECTOR

Aline Brustello PEREIRA (UFU/CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Marisa Martins Gama-Khalil

Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado (UFU)

Neste trabalho far-se-á primeiramente uma abordagem sobre a conceituação de

mito, através de um percurso histórico. Em seguida, arrolará uma análise do conto ―Via

Crucis‖ (in A via crucis do corpo, 1974), de Clarice Lispector, com o objetivo de

delinear os percursos mitológicos do conto. Esse percurso será traçado com base em três

pontos principais como: semântica dos nomes bíblicos, glutonaria, no conto e para a

moral cristã. Não obstante, haverá ainda um estudo do mito bíblico prescrito no conto,

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assimilado à sexualidade transgressora, à sexualidade da mulher e o corpo feminino.

Visto isso, demonstrar-se-á como, por intermédio de todas essas ―condutas‖ de moral

cristã presentes na história corroboram para a construção da ironia em ―Via Crucis‖,

que, por sua vez, enraíza a hesitação, criando o insólito-fantástico presente no conto. A

fundamentação teórica será feita em autores como MIELIETINSKY (2001) e

TODOROV (1998).

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; conto; mito; insólito; corpo.

SUBMISSÃO E DOMINAÇÃO – AS MULHERES NA OBRA DE LUIZ VILELA

Aline de Jesus SENA

Orientador: Prof. Dr. Rauer Ribeiro Rodrigues

Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens – Mestrado (UFMS/Campo

Grande)

Este estudo volta-se para a obra Te amo sobre todas as coisas, uma novela de

1994 do escritor mineiro Luiz Vilela. A partir dos estudos de Simone de Beauvoir sobre

a condição feminina na sociedade ocidental, voltamo-nos para as concepções do

feminino e os modos pelos quais o contexto sócio-histórico conforma o que é ser

mulher. Visamos apresentar as particularidades das personagens femininas de diversas

obras de Vilela a partir da proposição de que Edna, personagem central da novela Te

amo sobre todas as coisas, surge como amálgama – da submissão à dominação, em

trajetória que cobre mudanças comportamentais verificadas ao longo do século XX –

das facetas das demais personagens femininas do ficcionista.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; feminino, submissão, dominação.

A AUTOINTERTEXTUALIDADE NA OBRA FICCIONAL DE MIA COUTO

Ana Cláudia da SILVA (CNPq)

Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Doutorado (UNESP/Araraquara)

Nesta comunicação, pretendemos apresentar os resultados de nossa tese de

Doutorado, na qual abordamos a autointertextualidade como um processo de criação

ficcional na obra de Mia Couto. Para isso, procedemos à conceituação e apresentação de

elementos que comprovam a relação autointertextual existente entre o conto "Nas águas

do tempo" (1996) e o romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

(2003). Discutimos, em seguida, a função dessa estratégia composicional na obra

coutiana, a qual adquire relevância tendo em vista o projeto literário do autor, que é o de

preservar, mediante a recriação poética, elementos advindos das culturas moçambicanas

da oralidade.

Palavras-chave: Narrativa contemporânea moçambicana; Mia Couto;

autointertextualidade.

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CIDADES, TABERNAS, E BALADAS: CORRELATIVO OBJETIVO NA

POESIA DE MANUEL DE FREITAS

Ana Isabel SOARES

(Universidade do Algarve /Universidade de Lisboa/UFSCar)

Manuel de Freitas (n. 1972) tem vindo a publicar poesia desde 2000. Com mais

de vinte e cinco livros editados e várias composições dispersas por revistas de poesia,

além de responsável pela casa editorial Averno, é uma voz prolixa na recente criação

poética portuguesa.

O que proponho é fazer uma introdução e uma análise da obra, tomando como

ponto de partida e eixo interpretativo alguns dos tópicos mais frequentes nos versos de

Manuel de Freitas: as tabernas – assumidas na presença do vocábulo, metonimicamente

através da referência ao taberneiro, a um balcão ou aos copos, como cibercafé, de

Lisboa ou do vale de Santarém –, as cidades – portuguesas mas não só – e as canções, a

que aqui chamo baladas, de cânones vindos quer da música popular quer da música

erudita do ocidente.

Recorro ao conceito de ―correlativo objetivo‖ proposto por T. S. Eliot no seu

ensaio de 1922, ―Hamlet and his problems‖, de modo a sugerir como estes elementos ou

tópicos se organizam na poesia de Manuel de Freitas para ―expressar emoção sob a

forma de arte‖. Assim, pretendo refletir acerca do que nestes poemas poderá ser

entendido como a articulação de dois planos (o da expressão em arte e o daquilo a que

se faz corresponder um correlativo); do que poderá ser identificado como ―correlativo

objetivo‖; e ainda do que poderá ser, neles, o real escolhido como correlativo da

emoção.

Palavras-chave: Poesia portuguesa contemporânea; correlativo objetivo.

EM BUSCA DO TEMPO PASSADO: LE CLÉZIO E PROUST

Ana Luiza Silva CAMARANI (UNESP/Araraquara)

O título da obra de Le Clézio, Révolutions (2003), diz respeito à evolução do

tempo que deixa no passado períodos completos, acabados, indicadores da finalização

de um ciclo; nesse sentido, configura-se como um signo característico da época

moderna e de suas grandes mudanças. Também sob essa perspectiva, mas considerando

o duplo significado da palavra ―revolução‖, o autor recupera três revoluções

sociopolíticas: a Revolução Francesa, a revolta dos escravos marrons e a Guerra da

Argélia -, trazendo o passado para o presente da narrativa e alimentando-a com uma

consistência histórica importante. Temos então, em Révolutions, primordialmente uma

memória histórica, enquanto a obra de Proust estrutura-se em torno da memória

individual, configurando-se como auto-ficção. Como Proust, porém, Le Clézio traz à

tona a história passada da família, incluída nos movimentos sociais e políticos de

diferentes épocas. Alguns pontos permitem estabelecer a dialogia que o autor

contemporâneo estabelece com a obra de Proust, À la recherche du temps perdu: a

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presença da xícara de chá no momento do despertar das lembranças e a importância dos

nomes dos lugares na revelação da memória. A partir desses elos sutis, mas explícitos,

com a tradição literária, Le Clézio reitera procedimentos formais e temáticos que lhe são

característicos: a organização do texto em torno da palavra oral, da figura de um

contador de histórias, tia Catherine, que extrai de suas lembranças, durante e depois do

ritual da degustação do chá, a história da família avidamente absorvida pelo

protagonista Jean Marro; e o tema do paraíso perdido, ligado ao mito das origens, que

ao mesmo tempo em que remete à origem mauriciana dos ancestrais do autor, alude à

colonização francesa da Ilha Maurício e inclui o tema da mescla de culturas.

Palavras-chave: Literatura comparada; literatura francesa; narrativa; tempo; memória.

RETORNO DO EXÍLIO, MISTICISMO, POBREZA: PAYS SANS CHAPEAU,

DE DANY LAFERRIÈRE

Andressa Cristina de OLIVEIRA (FAPESP)

Pós-doutoranda – DLM (FCL – UNESP/Araraquara)

Supervisora: Profa. Dra. Guacira Marcondes Machado Leite

Dany Laferrière é um escritor canadense de origem haitiana, famoso, sobretudo,

pelas obras Comment faire l’amour avec un Nègre sans se fatiguer e Vers le Sud e suas

respectivas traduções em várias línguas e adaptações cinematográficas. Nos anos 70, no

momento em que a ditadura dos Doc estava em seu apogeu no Haiti, Laferrière

refugiou-se em Miami e em Montréal, passando cerca de vinte anos exilado de seu país.

Em Pays sans chapeau o autor nos relata a volta ao país natal, o reencontro com a mãe,

a surpresa com as cores locais, as sensações, o calor tórrido, o cheiro dos frutos, as

multidões nas ruas, o sentimento de viver situações políticas e econômicas nada

agradáveis, como as grandes mazelas sofridas pelos haitianos e, sobretudo, de maneira

irônica, a relação do povo com o vodu – os haitianos acreditam que os mortos estão

entre os vivos, daí o título da narrativa publicada em 1996 – ―país sem chapéu‖ é para

onde vão os mortos. A narrativa divide-se entre o ―país real‖ e o ―país sonhado‖.

Contudo, as questões do exílio, do retorno, do vodu servem como pretexto para

abordagem de dois temas centrais: o Haiti e a fome.

Palavras-chave: Narrativa francófona contemporânea; Dany Laferrière; autobiografia;

misticismo.

OS JOGOS FRUTAIS E O POEMA: NATUREZA VIVA; NATUREZA-MORTA

Antônio Donizeti PIRES (UNESP/Araraquara)

Talvez menos requisitadas pela poesia do que as flores ou outros elementos

naturais, mesmo assim as frutas comparecem na lírica desde a Grécia antiga, e atingem

na Era Colonial da literatura brasileira um valor alegórico de afirmação nativista. Com

acréscimos patriótico-nacionalistas, tal se estende pelo Romantismo, que combinará

outras nuanças metafóricas entre flores e frutas, em relação à figura feminina. No século

XX, o desfrute erótico da mulher-fruta culmina na poesia de João Cabral de Melo Neto,

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enquanto outros aproveitam a exuberância e a beleza das frutas tropicais (aromas,

formas, cores, texturas) para a composição de naturezas-mortas, agora em evidente

diálogo intersemiótico com a pintura.

Contudo, chama a atenção o modo sui generis por que o motivo das frutas

(podres, geralmente) aparece em toda a poesia de Ferreira Gullar, de A luta corporal

(1954) a Muitas vozes (1999), com evidente requinte semântico-metafórico que pode

atingir desde questões metapoéticas até questões implicadamente político-sociais,

aspecto recorrente na obra do autor.

Assim, este trabalho objetiva a análise de alguns momentos significativos do

motivo das frutas na poesia de Ferreira Gullar, com vistas a uma reflexão crítica sobre o

alcance do procedimento levado a efeito pelo poeta de São Luís do Maranhão.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; Ferreira Gullar; metapoesia; aspectos

político-sociais.

MEMÓRIA EM FABRÍCIO CORSALETTI: UMA ESTRATÉGIA DO SUJEITO

LÍRICO CONTEMPORÂNEO

Carolina Molinar BELLOCCHIO

Orientadora: Profa. Dra. Elaine Cristina Cintra

Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária – Mestrado (UFU)

Este trabalho tem como objetivo investigar como a concepção de sujeito lírico se

dimensiona na poesia brasileira contemporânea a partir da obra de Fabrício Corsaletti.

Partindo do seu livro de estréia Movediço, pretende-se analisar uma das estratégias

utilizadas pelo poeta para fundar sua subjetividade, a saber, a noção de memória.

Diversos poemas desse livro apontam o resvalo da categoria biográfica em sua

produção. Acredita-se, no entanto, que o poeta utiliza a memória como estratégia

específica que possibilita a emersão da subjetividade lírica. Investigando tal estratégia,

mapeia-se a fragmentada noção de sujeito lírico que funda a contemporaneidade.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; memória; Fabrício Corsaletti.

OS TANKAS DE WILSON BUENO: TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

Cícera Rosa S. YAMAMOTO (CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Kelcilene Grácia-Rodrigues

Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado (UFMS/Três Lagoas)

A cultura de um povo traz uma série de fatores que tornam determinadas

questões muitas vezes cristalizadas. O passado vira tradição e a tradição torna-se algo

sagrado. Os textos em versos, por exemplo, seguem, em geral, padrões que podem se

alterar conforme a cultura, a língua e o momento histórico de um período. É o que se

percebe com a forma arcaica tanka, que surgiu no Japão por volta do século XVII, e foi

transformada, posteriormente, em renga. Com o tempo, o renga originou dois novos

gêneros poéticos: o kusari renga, elaborado segundo uma infinidade de normas rígidas e

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complexas, e o haikai renga, com regras mais simples. Ambos os gêneros coexistem

através dos séculos com certas alterações conforme a época, mantendo-se, porém,

inalteradas os postulados básicos de cada um. Autor de várias obras, com diferentes

estilos e gêneros, Wilson Bueno busca em uma tradição oriental milenar, os tankas, a

inspiração para duas de suas obras: Pequeno tratado de brinquedos (1996) e Pincel de

Kyoto (2008). Segundo Alice Ruiz (1996), a poesia de Wilson Bueno ―[...] vem à tona

do velho tanque de Bashô, com esses tankas saborosos. Mais uma vez pesquisando na

antiguidade o que ela pode oferecer de mais moderno, mais uma vez lançando a tradição

para o futuro [...]‖. Assim, as poesias tankas do escritor paranaense, envolventes e

cheias de enigmas, trazem certa curiosidade de saber de onde vêm e como se dá a

construção desse tipo de poesia. Sob essa perspectiva, a presente comunicação tem

como objetivo pesquisar as relações da poesia tanka tradicional com os tankas

contemporâneos de Wilson Bueno, explorando traços de similaridades e diferenças num

contexto entre tradição e inovação, por intermédio de uma leitura de algumas poesias do

livro Pequeno tratado de brinquedos (1996).

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; tradição japonesa; tanka; Wilson

Bueno.

A MEMÓRIA EM XEQUE: O HOLOCAUSTO DEPOIS DA ÚLTIMA

TESTEMUNHA

Claudia Fernanda de Campos MAURO (UNESP/Araraquara)

Esta comunicação tem como objetivo analisar algumas obras de ficção que têm

como tema a questão do Holocausto. Já Adorno e Elie Wiesel consideravam que a

literatura, enquanto forma artística, não poderia dar conta de uma experiência tão

indizível como a do Lager (campo de concentração). Hoje, porém, diante do inevitável

desaparecimento das testemunhas da Shoah (Holocausto), nos vemos diante da

necessidade de ―aceitar‖ as obras de ficção que tratam deste tema, considerando-as um

tipo de ―solução‖ para que o universo do extermínio nazista não seja esquecido ou, pior

ainda, não seja omitido às gerações futuras. A literatura do Holocausto, de certa forma,

faz renascer de um inevitável esquecimento pessoas, rostos e histórias que o Lager, de

maneira terrível e anônima, eliminou. Através desse tipo de ficção, nós leitores somos

levados, pelas mãos das personagens, para dentro do processo de extermínio e podemos

começar a compreender ou, pelo menos, visualizar razões, medos, ódios, rancores etc.

Podemos, então, pensar em uma geração de escritores ―netos de Auschwitz‖, ou seja,

escritores que não são vítimas diretas deste fato histórico, mas que o entendem como

ponto de partida para a formação de uma compreensão do mundo em que vivem. Estes

escritores, que tiveram sua formação nos textos memorialísticos de Primo Levi, Elie

Wiesel, Jean Améry e muitos outros que puderam dar seu testemunho, têm consciência

de que os acontecimentos dos campos nazistas não podem ser arquivados como ―fatos

históricos‖, mas devem continuar existindo como ―fatos humanos‖. A fim de

demonstrar como se dá, na literatura italiana, a ficcionalização, a monumentalização do

fato histórico, lançamos mão de algumas obras da escritora Edith Bruck e de Paolo

Maurensig. A primeira é uma sobrevivente de Auschwitz que, após uma fase de

escritura memorialística, passa a escrever um tipo de ficção em que está sempre

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presente algum elemento que leva ao Lager. Paolo Maurensig, por sua vez, pertence ao

grupo dos herdeiros de Auschwitz e escreve um romance muito interessante onde

presente e passado se enfrentam, em uma partida de xadrez.

Palavras-chave: Narrativa italiana contemporânea; holocausto; história e ficção.

A IMAGEM DA CASA EM JÚBILO, MEMÓRIA, NOVICIADO DA PAIXÃO, DE

HILDA HILST

Danielle Stephane RAMOS (CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Enivalda Nunes Freitas e Souza

Programa de Pós-Graduação em Teoria Literária – Mestrado (UFU)

Este trabalho tem por objetivo analisar a representação da imagem da casa em

Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974), de Hilda Hilst. A casa, para a persona

lírica hilstiana, é a representação da impossibilidade de uma completude amorosa e a

necessidade de expressar-se por meio da palavra. Hilst identifica a intimidade do espaço

da casa com a experiência vivida por esse eu-lírico que espera e que se torna também

uma ―Casa‖ simbólica como ela mesma escreve em um de seus poemas: ―A minha Casa

é guardiã do meu corpo/ E protetora de todas minhas ardências. E transmuta em

palavra/Paixão e veemência‖. A ―Casa‖ é nesse momento equivalente ao corpo que

sente e que sofre a ausência de um amado fugidio.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; Hilda Hilst; imaginário; casa.

POSSIBILIDADE DE TRANSCENDÊNCIA EM SOLOMBRA, DE CECÍLIA

MEIRELES

Delvanir LOPES (FAPESP)

Orientadora: Profa Dra. Ana Maria Domingues de Oliveira

Programa de Pós Graduação em Letras (UNESP/Assis)

A obra Solombra, de Cecília Meireles (1901-1964), foi a última publicada em

vida pela escritora, em 1963, e ainda é objeto de poucos estudos críticos. De um modo

geral, nos artigos e teses em que o livro é mencionado ou trabalhado mais

consistentemente, reitera-se o caráter de melancolia e de pouca ou nenhuma

possibilidade de transcendência nos versos de Solombra. É a respeito dessas

constatações que discorre este artigo, procurando mostrar que transcendência é possível

e está em muitos dos poemas da obra, ainda que isso seja sutil e não tão evidente como

aspectos de sombra e morte. É importante mencionar que a possibilidade de transcender

em Solombra é um recorte de um dos aspectos trabalhados na tese que tem como objeto

de estudo essa obra, intitulada ―Dizer com claridade o que existe em segredo – uma

leitura poético-filosófica de Solombra”. Desse modo, como se trata de uma leitura

amparada pela filosofia, de modo especial, a de Martin Heidegger (1889-1976), será

desta forma que a transcendência será analisada na obra ceciliana. Não se trata de um

estudo filosófico, mas sim literário, ou seja, poesia e filosofia aprendem quando se dá o

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embate entre eles. Assim, a partir da discussão sobre versos da obra poética, a intenção

é verificar em quais situações da existência se dá a transcendência e se ela possui

alguma relação com o fazer poético que transparece na obra.

Palavras-chave: Poesia brasileira; modernismo; Cecília Meireles; Solombra;

existência; transcendência.

DISCURSO CONSTELAR E CONTINGÊNCIA:

UMA LEITURA MALLARMAICO-LACANIANA DO HOMEM

CONTEMPORÂNEO

Diana Junkes Martha TONETO (UNAERP)

A tentativa de compreensão da obsessão do escritor moderno para conter a

deriva dos sentidos, o acaso e garantir a ―originalidade‖ de sua obra, instigou caminhos

de pesquisa em que Análise do Discurso Francesa e a Psicanálise cruzam as fronteiras

dos Estudos Literários. O objetivo desta comunicação é discutir a contingência a partir

da leitura do poema Um lance de dados de Mallarmé, estabelecendo algumas interfaces

entre a poesia e as vertentes teóricas mencionadas. Esta comunicação ensaia uma

mistura, engendra uma alquimia entre diferentes formas de pensamento e aceita o risco

da dispersão e da deriva a que essa algaravia teórica pode dar lugar, embora se procure

ao máximo vencê-la. Cabe aqui, ao se tratar desse diálogo de visadas teóricas, retomar a

lição aprendida de Jakobson. O poeta da linguística disse, em Linguística e Poética:

―Todos nós que aqui estamos, todavia, compreendemos definitivamente que um

lingüista surdo à função poética da linguagem e um especialista de literatura indiferente

aos problemas lingüísticos e ignorante dos métodos lingüísticos são, um e outro,

flagrantes anacronismos.‖ (JAKOBOSON, 1999, p.162). Jakobson não viveu o bastante

para que pudesse dimensionar os desdobramentos da análise discursiva, da teoria

literária e da obra de Lacan; este, grande admirador seu. Mas suas palavras demonstram

a necessidade de busca de caminhos de análise que se enriqueçam mutuamente,

ampliando as contribuições sociais das ciências da linguagem. Diante disso, poder-se-ia,

então, acrescentar, ao dizer do linguista russo, que um especialista em literatura que

desconsidere os procedimentos linguísticos e a análise discursiva é, hoje, um profundo

anacronismo. Atenta aos ruídos das inúmeras leituras do poema de Mallarmé e

disponível à escuta teórica que contribui para a análise crítica do mesmo, a leitura aqui

empreendida lança os dados sobre a página em branco e aposta nas chances que o

discurso mallarmeano tem de se tornar um meio de compreensão de certo ser e estar no

mundo do homem contemporâneo, se considerado em clave mais ampla.

Palavras-chave: Teoria e crítica literária; psicanálise; discurso; Mallarmé: Um lance de

dados (1897).

O DESGASTE DA CONTRACULTURA: CAPITALISMO TARDIO,

ESQUIZOFRENIA E HISTÓRIA EM CAIO FERNANDO ABREU

Ettore Dias MEDINA

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Orientadora: Profa. Dra. Eliana Maria de Melo Souza

Programa de Pós-Graduação em Sociologia – Doutorado (UNESP/Araraquara)

A Literatura Brasileira, sendo fruto da literatura europeia, é marcada pela tensa

relação entre o local e o global, ou, se quisermos, entre o nacional e o estrangeiro. Esta

relação toma configurações distintas graças às mudanças históricas que afetam a vida

social e também a produção cultural e artística brasileiras. Esta comunicação tem por

objetivo mostrar como um momento histórico específico, qual seja, a passagem da

ditadura militar brasileira para o regime democrático, um momento onde a indústria

cultural já havia se instalado no Brasil, tem presença na obra Morangos Mofados, livro

de contos escrito em 1982 por Caio Fernando Abreu. Nossa análise volta-se para os

contos O dia que júpiter encontrou saturno e O dia que urano encontrou escorpião.

Nesses contos, a já referida passagem da ditadura militar para o regime democrático

estará representada pela presença de elementos da contracultura e da sociedade do

consumo em meio ao tempo e ao espaço narrativos, e também nas ações e diálogos das

personagens. Esses elementos, como aponta Fredric Jameson na obra Pós-modernismo:

a lógica cultural do capitalismo tardio, e a nosso ver, dão mostra da interferência de uma

dominante cultural externa, norte-americana, na produção cultural e literária brasileiras.

Em outras palavras, podemos dizer que há, nos contos em questão, uma tensão entre a

lógica cultural imposta pelo capitalismo tardio e o modelo cultural brasileiro. Assim, um

dos grandes méritos de Caio Fernando Abreu seria a capacidade de estabelecer uma

mediação entre a presença da nova organização do capitalismo e o modelo literário

nacional. Essa mediação apresenta-se como uma mudança na temática que estava

presente na literatura brasileira da década de 70, uma literatura fortemente marcada pela

ditadura militar.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; Caio Fernando Abreu; conto;

capitalismo tardio; ditadura militar.

ARMANDO FREITAS FILHO E JOÃO CABRAL DE MELO NETO:

DIÁLOGOS DE POÉTICAS

Fabiane Renata BORSATO (UNESP/Araraquara)

Armando Freitas Filho, em muitos poemas, convoca a poesia de João Cabral e,

neste diálogo, sob procedimento similar ao do poeta pernambucano, apresenta sua

estética da descontinuidade, elaborada num tempo presente paradoxalmente inextenso e

incontido, mas instável. Freitas Filho gera um método que apresenta distanciamentos e

proximidades com o projeto cabralino de concepção artística sabidamente coerente e

solidamente aprendida.

Ao conciliar objetividade discursiva e subjetividade enunciativa, Freitas Filho

re-significa a herança cabralina e constrói dicção própria. O legado de João Cabral,

baseado no rigor construtivo, é recriado na poesia de Freitas Filho, especialmente nos

incontidos impulsos líricos. Essa poesia contemporânea enfrenta-se à modernista de

João Cabral a fim de que dela aprenda lições poéticas até o desprendimento e a

autonomia de sua linguagem.

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Enquanto João Cabral adota enunciadores discretos para privilégio da palavra

poética; Freitas Filho faz do eu poético seu objeto, ainda que despersonalizado e

projetado no enunciado de uma perspectiva ajustada por afastamento e contenção.

O enunciador de Freitas Filho, consciente da cisão entre sujeito e escrita,

apresenta em seus poemas tanto reflexões sobre o processo de composição da poesia,

revelando a coerência com a poética de João Cabral que privilegia mais o fazer que o

produto; quanto preocupação com o eu poético e suas pulsões líricas.

O estudo intertextual das duas vozes deverá descrever a relação moderna e

contemporânea do sujeito com o objeto-escrita, revelando a tensão do eu lírico

contemporâneo, as fragmentações do verso em enjambements violentos, a dicção

elíptica e enigmática da produção poética atual.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; João Cabral; Armando Freitas Filho;

metalinguagem; jogos enunciativos.

CONFIGURAÇÕES DA CONTEMPORANEIDADE – UM OLHAR SOBRE

MÍNIMOS, MÚLTIPLOS, COMUNS, DE JOÃO GILBERTO NOLL

Fabiula NEUBERN (FAPESP)

Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

Um estudo que se propõe a analisar criticamente determinada manifestação da

literatura contemporânea não pode prescindir de uma análise dos fatores que interferem

direta ou indiretamente na produção e recepção da mesma. Dentre esses fatores, está a

atual configuração de mundo em que, como propõe Adauto Novaes, ―entramos nos

domínios das mutações na sensibilidade, nos costumes e mentalidades, nos valores e nas

noções de espaço e tempo, no progresso sem limites e na organização do mundo em

grandezas apenas mensuráveis‖ (NOVAES, 2008, p.9)1.

Fruto das mutações identificadas pelo professor Novaes é a configuração do

mercado editorial brasileiro que, desde os anos 70, vem sendo transformado por

influência da chamada indústria cultural. Sua lógica (as leis de mercado interferem

diretamente na produção e na recepção das obras, através de sofisticadas estratégias de

venda) estabeleceu-se em nossos campos de entretenimento e, assim, a geração de

escritores dos fins dos anos 80 e dos anos 90 não pôde escapar de um complexo

contexto de produção e recepção que envolvia a forte segmentação do mercado, a

profissionalização do autor e a consolidação da indústria do best-seller.

A literatura passou por um processo de espetacularização. Os escritores,

transformados em celebridades, frequentemente aparecem em palestras nas bienais cada

vez menos conteudísticas e nas festas e festivais literários que entraram para o

calendário turístico das cidades. No entanto, dados do mercado editorial revelam

tiragens mínimas e crise nas vendas da literatura nacional, que parece ter um público

leitor restrito a professores, jornalistas, sociólogos e outros poucos, mas não a parcela

leitora formada pelo cidadão comum. Longe de condenar tais fenômenos, este estudo

pretende entender como tais processos podem ter influenciado a produção de Mínimos,

1 NOVAES, Adauto. Herança sem testamento? In: NOVAES, A. (Org.). Mutações. Rio de Janeiro: Agir;

São Paulo: SESC-SP, 2008.

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múltiplos, comuns, do escritor gaúcho João Gilberto Noll, publicado em 2003 pela W11

Editores e elaborado a partir de narrativas ultracurtas produzidas para uma coluna

literária veiculada e projetada pela Folha de S. Paulo entre 1998 e 2002. Seria a

organização do livro uma estratégia mercadológica?

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; conto; João Gilberto Noll;

indústria cultural.

BALADA DA PRAIA DOS CÃES: DISCURSOS EM (DES)SINTONIA

Fernando Henrique C. CORDEIRO (CAPES)

Orientadora: Profª Drª Sônia Helena de O. Raymundo Piteri

Programa de Pós-Graduação em Letras (UNESP/IBILCE)

O romance Balada da Praia dos Cães, de José Cardoso Pires, é constituído por

variados registros assimilados de diferentes fontes. Paralelamente à presença do

discurso científico/policial, literário, musical, este trabalho visa analisar, mais

especificamente, a atuação do discurso jornalístico nessa obra do escritor português,

pois a incorporação de textos provenientes de determinados meios de comunicação,

revela, por um lado, uma atitude crítica da narrativa em relação ao contexto político-

social português durante a década de 60 e, por outro, é um dos mecanismos pelos quais

se constrói a ironia no romance cardoseano. A crítica ao salazarismo se dá,

principalmente, pelo desnudamento de um governo que procura manter seu poder por

meio da censura e da violência. A ironia, por sua vez, já está presente no próprio recurso

ao texto jornalístico, pois ele tem uma função dúplice no interior da obra: de um lado, a

inserção de textos ―não-ficcionais‖ salienta a facticidade do relato, aproximando, de

certo modo, o texto fictício do ―real‖; de outro lado, a mobilização desse registro por

uma obra literária impinge ficcionalidade ao documento, avizinhando, portanto, o texto

documental da ficção. Depara-se, assim, com um romance que orquestra de forma

ambivalente todo esse processo de documentação, uma obra no fio da navalha.

Palavras-chave: variedade de registros, discurso jornalístico, ironia, Balada da Praia

dos Cães

“ENUNCIAÇÃO TRADUTÓRIA”:

A COMUNICAÇÃO NARRATIVA EM TRADUÇÃO

Gilca Machado SEIDINGER

Doutora em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

A semiótica da leitura, focalizando a dimensão intersubjetiva da interlocução,

mostra-nos que o sentido se constrói também pela leitura: a interlocução que tem lugar

na comunicação narrativa convoca subjetividade. Se, nesse contexto, voltamos os olhos

para o texto literário em tradução, somos levados a considerar que ali também se faz

presente, de modo especialíssimo, a dimensão discursivo-enunciativa, tornando-se

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viável que se fale, por analogia com a enunciação narrativa, em ―enunciação tradutória‖.

A dimensão enunciativa, que tem sido examinada em profundidade pelas teorias do

texto e da narrativa, continua merecendo maior investimento por parte dos estudos de

tradução literária. As relações entre enunciação, enunciado e história – entre narração,

discurso e diegese, na perspectiva da narratologia genettiana – não têm sido levadas em

conta, pelo menos não como mereceriam, por leituras críticas e estudos da tradução

desenvolvidos entre nós. Entretanto, a interface entre os dois campos vem sendo

explorada por alguns estudiosos, sobretudo no continente europeu. Nesta oportunidade,

apresentamos um modelo gráfico que procura representar a comunicação narrativa, o

processo tradutório e as relações entre texto-fonte e texto-alvo, convocando ainda o

auxílio da topologia para discutir as transformações decorrentes desse processo e para

entender a nova dimensão narração-discurso-diegese que passa a existir com a tradução.

A versão alemã de Tutaméia, datada de 1994, provê a discussão de alguns exemplos

práticos e concretos.

Palavras-chave: Narratologia; tradução literária; alemão; João Guimarães Rosa;

Tutaméia.

A NARRATIVA DO IMPASSE EM NATÁLIA, DE HELDER MACEDO

Gregório F. DANTAS (FACAMP/Campinas)

O objetivo deste trabalho é compreender o último romance de Helder Macedo,

Natália (2009), como o desdobramento de um percurso iniciado em 1991, com Partes

de África. De livro a livro, vem-se desenhando um debate sobre as formas possíveis do

romance, baseado no discurso metaficcional e na relação entre o ficcional e o histórico.

Em Partes de África, o narrador, caprichoso e volúvel, questiona as formas

possíveis do romance, mas confere, com sua própria presença, unidade à forma

aparentemente anárquica do livro. Em Pedro e Paula, valendo-se mais uma vez de

personagens que simbolizam o momento histórico retratado, o autor cria uma narrativa

que, tematizando constantemente a forma romanesca, ainda demonstra confiança nela,

como prova o enredo algo folhetinesco e o fato inegável de que a fragmentação, desta

vez, está a serviço de se contar uma história.

Em Vícios e virtudes, tal confiança se mostra abalada. Macedo sobrepõe o tema

da restauração do mito sebastianista com o da redação de um romance dentro do

romance — sobre uma mulher que representaria uma personagem histórica —, projeto

que fracassa: o narrador que antes ironizava o leitor agora é vítima do blefe ficcional.

Sem nome dá continuidade ao tema: agora o autor-narrador desaparece, dando lugar a

uma voz em terceira pessoa, cujas opiniões se fazem ouvir no corpo do texto, direta ou

indiretamente, mas não é mais o autor-personagem dos romances anteriores. Consolida-

se assim um percurso rumo ao impasse. A confiança no romance e na História parece

cada vez mais frágil, até se consolidar, em Sem nome, em um romance quase ―sem

título‖ e um enredo de duplos falhados e correspondências históricas artificiosas.

Já Natália mantém uma protagonista escritora dedicada a escrever sua própria

história, que é também a história de seu país. Pela primeira vez, porém, a narração se faz

em primeira pessoa, o que sugere novas configurações para o mesmo impasse narrativo.

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Palavras-chave: Narrativa portuguesa contemporânea; Helder Macedo; literatura e

História.

AS POESIAS DE CARLOS FELIPE MOISÉS E ANTONIO CICERO

João Carlos BIELLA

Pós-doutorando – Departamento de Literatura (FCL – UNESP/Araraquara)

Supervisora: Profa. Dra. Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite

As poesias de Carlos Felipe Moisés e Antonio Cicero serão descritas e

valorizadas como vozes significativas da poesia do presente. Os temas prioritários do

estudo serão o anacronismo, a versificação e as dificuldades formais.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; poesia do presente; anacronismo e

versificação.

O FANTÁSTICO EM AURA E INQUIETA COMPAÑÍA, DE CARLOS FUENTES

Jucely Aparecida AZENHA (CNPQ)

Orientadora: Profa. Dra. María Dolores Aybar Ramírez

Programa de Pós Graduação em Estudos Literários – Mestrado (UNESP/Araraquara)

A proposta que ora apresentamos tem como objetivo discutir a figura arquetípica

da bruxa em narrativas específicas de Carlos Fuentes – Aura (1962) e Inquieta

Compañía (2004). Para isso, levaremos em conta as particularidades de nosso objeto de

estudo, quer dizer, a pertença ao gênero literário fantástico e o diálogo com o universo

mítico-imaginário.

Aura é narrada na segunda pessoa do singular, voz que profetiza insólitos

acontecimentos que vão se passar no casarão pertencente ao duo emblemático de

personagens Aura-Consuelo, supostamente, sobrinha e tia, que, no entanto, revelam-se

uma única pessoa. O artifício de mostrar-se ora como uma bela jovem, ora como anciã é

parte de um plano para atrair o jovem historiador Felipe – que no fim das contas

descobre que ele próprio era o falecido marido de Consuelo, uma bruxa cuja obsessão é

ser eternamente jovem. Diante disso, temos encerrada uma circularidade narrativa,

através do recomeço de uma história de amor que se desvencilha das amarras do tempo.

Por sua vez, em Inquieta Compañía aparecem seis narrativas cujos enredos são

não menos insólitos que o de Aura, descrito anteriormente. Além disso, à exceção de

Vlad, materializa-se artisticamente nas narrativas uma abordagem que oferece

centralidade à mulher, em especial a personagem da mulher-bruxa. El amante del

teatro, La gata de mi madre, La buena compañía, Calixta Brand e La bella durmiente –

narrativas que compõem Inquieta Compañía – de maneira semelhante ao que sucede em

Aura, incidem num estreitamento de relações com a mitologia e o imaginário. Além

disso, são estabelecidas conexões com o eterno retorno, próprio dos relatos míticos.

Conforme apontamos, nas narrativas que nos propomos a estudar emergem com

ímpeto e vigor as convergências entre o imaginário e o fantástico. Fuentes recupera a

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tradição fantástica por meio do uso de estruturas linguísticas, motivos e temas muito

específicos, os quais pretendemos investigar.

Palavras-chave: Narrativa contemporânea hispano-americana; arquétipo da bruxa:

fantástico; mito.

AINDA O SERTÃO?

Juliana SANTINI (UFU – FAPEMIG)

O impasse que se esboça entre a aceitação e a recusa do conceito de

regionalismo na prosa contemporânea serve de mote para o tema deste trabalho, que

procura observar de que maneira o romance Galiléia, publicado em 2008 por Ronaldo

Correia de Brito, opera a incorporação estética de um sertão que aparece, desde o

princípio, rasurado pelo elemento contemporâneo. Interessa, nesse sentido, questionar

se a prosa de feição regionalista publicada nos últimos vinte anos sustenta e reitera a

mesma representação de uma ―realidade documentária‖ a que Antonio Candido se

referia, no Brasil, quando apresentou pela primeira vez seu artigo ―A literatura e a

formação do homem‖, ou se a incorporação de traços regionalistas se faz acompanhada

da renovação dos modos de representação do real no interior do paradigma. Coloca-se

em questão, portanto, o próprio conceito, que aqui será retomado à luz do debate latino-

americano em torno das noções de transculturação narrativa, de Angel Rama, e de

heterogeneidade, de Antonio Cornejo Polar.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; regionalismo; representação.

REFLEXÕES SOBRE A FORTUNA CRÍTICA DE LOBIVAR MATOS

Juliano Antunes CARDOSO (CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Kelcilene Grácia-Rodrigues

Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado (UFMS/Três Lagoas)

Objetiva-se neste trabalho apresentar uma breve fortuna crítica feita sobre a obra

do poeta corumbaense Lobivar Matos, demonstrando o método de coleta e classificação

de dados e também o aporte teórico utilizado nesse processo. Procura-se também fazer

uma reflexão sobre a qualidade dos registros críticos escritos no decorrer dos 75 anos do

lançamento das obras Areôtorare (1935) e Sarobá (1936), desde os recortes recolhidos

pelo próprio poeta até sua redescoberta feita pela crítica acadêmica em meados dos anos

90. Esta fortuna crítica é parte da dissertação de mestrado, em processo de qualificação,

intitulada Profecias de um Areôtorare: a poesia metafórica de Lobivar Matos, que tem

por escopo fazer uma análise sobre a metáfora na poesia lobivariana e, por conseguinte,

ser mais um esforço para trazer a poesia deste poeta desconhecido ao foco da crítica.

Palavras-chave: Poesia brasileira; regionalismo; crítica.

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MÍMESIS – O ELO ENTRE LITERATURA E REFERÊNCIA

Katiane Iglesias Rocha ARAUJO (FUNDECT)

Orientador: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Marchezan

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Doutorado (UNESP/Araraquara)

As discussões que envolvem a relação entre Literatura e Realidade têm sido

evidenciadas no decorrer dos tempos. Aristóteles, na Poética, ocupou-se de tal questão

quando ressaltou a necessidade humana de imitar, envolvendo, nesse âmbito, também

outra questão, a da verossimilhança. Com o passar dos tempos, e as posições tomadas

pela Teoria Literária, as discussões em torno da mimese passaram por modificações,

desde o seu completo repúdio pelas correntes estruturalistas, à sua reabilitação na

contemporaneidade. O trabalho ora proposto tem como objetivo traçar o percurso

teórico da mímesis, buscando, ainda, demonstrar tais perspectivas na Literatura a partir

da análise comparativa de excertos da épica de Homero e da epopeia moderna, o Ulisses

de James Joyce.

Palavras-chave: Teoria literária; mímesis; referência.

O REALISMO MÁGICO E OS SÍMBOLOS EM IL BARONE RAMPANTE, DE

ITALO CALVINO

Kelli Mesquita LUCIANO

Orientadora: Profa. Dra. Karin Volobuef

Co-orientadora: Profa. Dra. Claudia Fernanda de Campos Mauro

Programa Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado (UNESP/Araraquara)

Il barone rampante (1957), segundo romance da trilogia I nostri antenati (1950-

1960), de Italo Calvino. Trata-se de um texto com características de vários gêneros

próximos entre si – fantástico, maravilhoso e realismo mágico. Por isso, uma das etapas

de nossa investigação é fazer um levantamento de traços que marcam e distinguem

essas formas literárias. Consideramos que essa parte da investigação nos permitirá

averiguar, com maior segurança, a inclusão do romance no perímetro do realismo

mágico, além de nos debruçarmos sobre os elementos simbólicos encontrados nessa

obra. Para tanto, será realizada a análise de certos elementos insólitos da narrativa,

partindo-se das teorias de estudiosos como Coalla, Spindler, Todorov, Roas, Chiampi,

etc. A análise dos elementos simbólicos será conforme Todorov, Mello, Goethe,

Chevalier & Gheerbrant.

Na análise de Il barone rampante evidenciam-se as incertezas, o conflito entre o

interior do indivíduo e a realidade externa – o que se expressa mediante a ocorrência de

acontecimentos insólitos. O enredo se passa no século XVIII e os acontecimentos nos

são relatados pelo narrador-personagem Biagio di Rondò, irmão mais novo do

protagonista Cosimo di Rondò. Filho de uma família da aristocracia decadente em terras

genovesas, o protagonista discute com seu pai, o Barão Armínio di Rondò, passando a

morar na copa das árvores, de onde nunca mais desce até o resto de sua vida.

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Com base nesse evento – que não é sobrenatural (o que exclui o fantástico sob a

ótica de Todorov), mas certamente é inusitado e até insólito – Calvino aborda questões

existenciais, que traduzem a busca por uma totalidade inatingível, a fragmentação do

homem contemporâneo, a ruptura com a sociedade tradicional e a recusa dos papéis por

ela atribuídos ao indivíduo. É amplo o leque formado por esses aspectos – que inclusive

não excluem a interface com eventos da realidade sócio-histórica da Itália na primeira

metade do séc. XX. A análise da dimensão simbólica desses aspectos do texto é a etapa

final de nossa pesquisa.

Palavras-chave: Literatura italiana; Italo Calvino; realismo mágico; símbolo.

TEATRO E CINEMA: RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS EM ELES NÃO

USAM BLACK-TIE, DE LEON HIRSZMAN

Laila Rotter SCHMIDT (CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Josette Monzani

Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som – Mestrado (UFSCar)

A peça Eles não usam black-tie, escrita por Gianfrancesco Guarnieri em 1958,

constituiu importante marco na história das artes cênicas no país, tendo por tema a

organização de uma greve, em torno da qual se desenvolve um conflito ideológico entre

pai e filho. O clima progressista vivido pelo Brasil na época, os movimentos de quase

um milhão de grevistas em 1952 e a vitoriosa greve geral de 1953 formaram um cenário

propício para a aceitação da peça pela crítica e pelo público, sendo especialmente

elogiada em função do diálogo que estabelecia entre a realidade social e política vivida

na época de sua montagem e a as novas formas de expressão estética que tinham lugar

nos palcos. Quando Hirszman realizou a adaptação de Eles não usam black-tie para o

cinema, 20 anos mais tarde, a temática grevista estava novamente no centro das

discussões sociais e políticas do país, em meio ao surgimento das lideranças sindicais e

à efervescência do movimento grevista dos metalúrgicos do ABC. Esse contexto, ainda

que tenha proporcionado grande atualidade ao tema, trouxe novos desafios à produção.

Era necessária não apenas a tradução semiótica da linguagem verbal para a audiovisual,

mas também toda uma nova ambientação para a história, considerando-se que não

apenas a sociedade, mas os próprios movimentos sociais e políticos que se

desenrolavam em torno das greves haviam mudado. Com isso em mente, podemos

pensar na peça e no filme como duas formas de expressão artística – teatro e cinema –

representando dois momentos sócio-políticos importantes da história do Brasil, através

de uma mesma trama. Nosso interesse é relacionar essas duas obras a partir da forma

como cada uma articula elementos poéticos que lhe são específicos ao representar as

questões sociais e políticas que se propõem apresentar. Procuraremos analisar como

uma obra migra de um sistema semiótico para outro, no sentido desenvolvido por

Haroldo de Campos. Sob essa luz, pretendemos apontar a reciprocidade entre texto

teatral e representação cinematográfica, tendo sempre em mente que as transposições

operadas no plano estético são também pautadas pelas questões sociais e políticas que

as ensejaram.

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Palavras-chave: Tradução intersemiótica: teatro e cinema; cultura brasileira

contemporânea.

WALKIE/TALKIE. ALGUMAS TROCAS ENTRE A POESIA ARGENTINA E A

BRASILEIRA DO PRESENTE

Luciana Maria di LEONE (CAPES – PEC/PG)

Orientadora: Profa. Dra. Célia Pedrosa(UFF)

Programa de Pós-Graduação em Literatura Comparada (UFF)

Numa visão panorâmica sobre os trabalhos poéticos dos últimos dez anos, pode-

se observar uma zona – mais ou menos nítida, mas decididamente intensa – de

cruzamentos e trocas entre as produções de Brasil e Argentina. Esses cruzamentos, no

entanto, não devem ser estudados apenas como exemplos de um diálogo entre países,

pois estão estreitamente relacionados com procedimentos utilizados por cada poeta, com

ações editoriais, com acontecimentos da vida literária, que marcam diferentes posições

dos artistas no campo literário que não têm por horizonte fronteiras geográficas, mas

insistem em trabalhar ―transitivamente‖, inclusive problematizando a identificação

nacional.

Podemos dizer, então, que essa predisposição ao encontro, a uma relação

marcada pelo trânsito entre diferentes vozes, caracteriza a escrita de vários dos poetas

argentinos e brasileiros que produzem atualmente. Nesse sentido, e no marco de uma

pesquisa sobre a configuração do campo da poesia argentina e brasileira do presente,

meu trabalho pretende analisar o exemplo do ―diálogo‖ que se estabelece entre dois

poetas: Aníbal Cristobo e Marília Garcia, através de uma parceria escriturária em

particular – w/t, publicado na revista Etc. – e de diversas outras parcerias editoriais,

autorais e de tradução. Intentarei evidenciar de que forma a produção desses poetas

mostra, tanto separadamente, quanto nas tarefas compartilhadas, o que poderíamos

chamar de uma ―vontade de fazer comunidade‖, visível através de procedimentos que

contemplam formas particulares de estabelecer diálogos, de perlaborar as vozes que

atravessam os próprios textos (Jean François Lyotard), de administrar as escritas

anteriores (José Luis Brea), de transitar afetivamente entre elas (Gilles Deleuze), de se

colocar à escuta (Jean Luc Nancy).

Palavras chave: Poesia contemporânea: Brasil e Argentina; transitividade; afeto;

Marília Garcia; Aníbal Cristobo.

A ESCRITA NO ESPELHO: BUDAPESTE E A METAFICÇÃO

Márcia Valéria Zamboni GOBBI (UNESP/Araraquara – PQ/Reitoria)

O romance Budapeste, de Chico Buarque, publicado em 2003, coloca em cena a

figura do escritor anônimo, ghost writer que sobrevive da escrita que é atribuída a

outros. Dessa sobreposição de vozes e imagens escriturais vem a motivação para que a

narrativa seja discutida em seu próprio fazer: a escrita é tematizada e os procedimentos

discursivos que articulam a trama do romance podem ser tratados como metaficcionais,

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já que, segundo Barthes (1970, p. 28), a literatura, como metalinguagem, é ―objeto

olhante e ao mesmo tempo olhado [...], fala e fala dessa fala‖. É a descrição de alguns

desses procedimentos o que propõe esta comunicação, com o objetivo de lançar

questões sobre as razões dessa prática narrativa, tão recorrente na literatura

contemporânea, que já foi definida por Linda Hutcheon (1980) como narcísica. Afinal, a

literatura que fala de si deixa de falar do mundo?

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; ficção e história; procedimentos

metaficcionais.

LOURENTINHO, DONA ANTÓNIA DE SOUSA NETO & EU: SUBJETIVIDADES

DO EXÍLIO

Marcio Roberto PEREIRA (UNESP/Assis)

Escritor dos mais representativos na moderna literatura de expressão em Língua

Portuguesa, José Luandino Vieira constrói na obra Lourentinho, Dona Antónia de Sousa

Neto & Eu, publicada em 1981, o itinerário de personagens que vivem o cotidiano da

exclusão e do abandono e procuram, como solução para seus dramas existenciais, a

revisão de suas estórias por meio de uma narrativa que reconstrói espaços perdidos, uma

linguagem coloquial e uma subjetivação dos destinos, em que o mundo natural se

contrapõe a um processo de urbanização e apagamento do indivíduo. Assim sendo, este

trabalho analisa o processo de construção do passado nas duas novelas que compõem a

obra Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto & Eu e propõe uma reflexão sobre a

construção do espaço em sintonia com a trajetória dos heróis em ambas as novelas.

Palavras-chave: Narrativa africana contemporânea; Luandino Vieira; espaço; exílio.

AUTOBIOGRAFIA E HISTÓRIA EM ROMANCES CONTEMPORÂNEOS

Maria Célia LEONEL (UNESP/Araraquara)

José Antonio SEGATTO (UNESP/Araraquara)

Dois romances brasileiros recentes, Leite derramado de Chico Buarque e

Heranças de Silviano Santiago, ambos de 2009, podem ser classificados como de

narrativa autoficcional. Os narradores autodiegéticos dessas obras são homens

moribundos que narram a própria vida. Os romances – como é comum em obras desse

tipo – suscitam várias indagações como as relações com autobiografia, memórias,

confissão (literárias e não-literárias). O objetivo do trabalho é comparar os dois

romances, tendo em vista, principalmente, os recursos literários que os escritores

utilizam para construir a imagem que os narradores projetam de si e a imagem do

processo histórico do país bem como a relação desse com a vida dos protagonistas e de

suas famílias. Para tanto, buscamos nos balizar em estudos como os de Philippe

Lejeune, Vincent Colonna, Michel Beaujour entre outros analistas de tal subgênero

literário.

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Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; autobiografia; história.

INTERTEXTOS E INTERDISCURSOS HISTORIOGRÁFICOS

NA FICÇÃO DE JOSÉ J. VEIGA

Maria Luíza Ferreira Laboissière de CARVALHO (PUC/GO)

A narrativa metaficcional historiográfica considera a excentricidade de seus

protagonistas. Como figuras anônimas, tais protagonistas representam o discurso da

margem que irá dizer o que ainda não foi dito ou subverter o já dito. Os intertextos de

extração histórica em A casca da serpente (1999) estruturam o processo de

narrativização literária de fatos históricos.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; metaficção historiográfica; José J.

Veiga; A casca da serpente.

A REPRESENTAÇÃO DA FAMÍLIA BURGUESA EM O CASTELO DE MINHA

MÃE DE MARCEL PAGNOL

Marina Lourenço MORGADO

Orientador: Prof. Dr. Adalberto Luis Vicente

Programa de Pós Graduação em Estudos Literários (UNESP/ Araraquara)

Em O castelo de minha mãe temos como núcleo temático a família. Este tema sempre

foi abordado na literatura. É um tema, de certa forma, universal, recorrente. Nesse

romance temos uma idealização da família que apesar de sua origem humilde, é

perfeita, constituída de pessoas unidas que se relacionam de forma harmônica. Dessa

forma esse romance vai contra a corrente realista de não idealização dos objetos

representados, ou seja, não tem uma preferência por temas ligados ao homem e a sua

existência. O cotidiano, a vida comum, difícil e muitas vezes trágica, aparece nessa obra

de forma suave. Percebe-se que não há uma postura crítica com relação ao tema da

família. Isso causa no mínimo estranheza, pois trata-se de um romance publicado nos

primeiros anos do pós guerra, num clima de fragmentação, numa época em que a

instituição familiar sofria profundas transformações, ou seja, se afastava daquele

modelo de família do século anterior, daquele modelo familiar patriarcal. Contudo,

Marcel Pagnol não quer mostrar essa fragmentação, essa transformação da instituição

familiar, ele quer idealizar e mostrar como era ou mesmo deveria ser uma família antes

de todas essas mudanças fruto principalmente de duas grandes guerras mundiais.

Portanto, não há, efetivamente essa objetividade realista no tratamento que Pagnol dá ao

tema família o que confere certa originalidade à sua obra.

Palavras chave: Literatura francesa, romance francês, família burguesa

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NÃO É O CHISTE RASA COISA ORDINÁRIA

Maryllu de Oliveira CAIXETA

Orientadora: Profa. Dra. Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Doutorado (UNESP/Araraquara)

O título dessa comunicação foi extraído do prefácio ―Aletria e hermenêutica‖ de

Tutaméia (1967), que foi a última obra publicada por João Guimarães Rosa em vida.

Em sentido lato, o chiste é um dito espirituoso de humor fino e gracejo adequado.

Segundo Costa Lima (2007, p. 109) na Trilogia do controle, o romântico Friedrich

Schlegel elegeu a agudeza do chiste como instrumento de uma engenharia poética

irônica que coloca o leitor na posição de quem deve completar o que vai sendo sugerido

pela obra sem nunca afastar a dúvida. A obra que recorre seguidamente ao chiste quebra

as continuidades no desenvolvimento narrativo em favor de saltos interpretativos que

tornam problemática a noção também romântica de um todo orgânico. Essas quebras

fazem variar as perspectivas no desenvolvimento narrativo e o chiste revela ângulos

novos que insinuam o incondicionado ou o absoluto. Tutaméia conta com dois índices,

um de leitura e outro de releitura. Cada um deles apresenta uma epígrafe de

Schopenhauer e prometem uma nova luz a cada outra leitura dessa obra caracterizada aí

como organicamente ordenada. Conforme Suzuki (1998, p. 195, 199, 204 e 211) no

estudo O gênio romântico, os românticos intentavam a invenção de um gênero que

reunificasse todos os outros, um gênero supremo. Apontando possibilidades de outras

perspectivas, o chiste como a mitologia operam a linguagem mais originária e radical.

Ainda, Schlegel apresenta a mitologia como ―o chiste mais antigo‖, ponto original de

tudo ou da própria linguagem. O chiste serviria de vínculo sugestivo entre os saberes e o

domínio ―técnico-gramatical‖ de seus mecanismos seria estratégico à formação humana

projetando, a princípio, um horizonte enciclopédico: índice fragmentário que comunica,

por partes, um saber completo. Também Tutaméia indica um projeto semelhante de

representação enciclopédica. Entre elas, os índices com os títulos em ordem alfabética,

de ―a‖ (o prefácio ―Aletria e hermenêutica‖) até ―z‖ (o conto ―Zingaresca‖). Nesta

comunicação, propomos o estudo comparado do chiste romântico com o de Tutaméia

(1979, p. 3), em que no referido prefácio o narrador afirma que o chiste ―escancha os

planos da lógica, propondo-nos realidade superior e dimensões para mágicos novos

sistemas de pensamento‖.

Palavras-chave: Guimarães Rosa, Tutaméia, chiste, ironia.

TRADIÇÃO POÉTICA DOS HAIKUÍSTAS YUBA

Michela Mitiko Kato Meneses de SOUZA (CAPES)

Orientadora: Profa. Dra. Kelcilene Grácia-Rodrigues

Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado (UFMS/Três Lagoas)

Conforme Paz (1980), a literatura japonesa é o exemplo de amadurecimento.

Esse é o caso do haiku, desenvolvido no período Genroku, da Época Edo, e ganhou

contornos espontâneos e populares com Matsuo Bashô, no século XVII, que, aos

poucos, transformou o ―hokku‖, dando-lhe características da natureza e maior

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profundidade. Com a vinda dos japoneses para o Brasil, em 1908, o haiku é a forma

encontrada por esses imigrantes para expressarem seus sentimentos de tristeza, de

saudade de sua origem e de valorizarem a beleza da terra que os acolheu. Desse modo,

Paz diz que (1991, p.197) ―[...] o Japão tem sido para nós uma escola [...] de

sensibilidade. Ao contrário da Índia, não nos ensinou a pensar, mas a sentir‖. Entre as

pessoas que divulgaram o haiku no Brasil, destaca-se Nempuku Sato, que teve como

seguidor Masuda Goga. Em 1987, um grupo de brasileiros fundou, em São Paulo, o

Grêmio Haicai Ipê. Significa que a geração nipo-brasileira mantém viva a manifestação

literária do haiku, por meio da arte cultural em suas comunidades e associações

espalhadas pelo país. É o que acontece na Comunidade Yuba, localizada no município

de Mirandópolis (SP), bairro Primeira Aliança, a 600 km de São Paulo. A presente

comunicação objetiva elucidar o processo de criação e de socialização dos haikus da

Comunidade Yuba do dia 28/02/2010, a partir da observação in locu. Assim, será

possível: a) descrever as etapas de produção utilizadas pelos haikuístas Yuba; b) mostrar

se os membros da comunidade têm alguma estratégia para criar o haiku. Para tanto, nos

valeremos dos postulados de Octávio Paz, Masuda Goga, Teiiti Suzuki, Paulo

Franchetti, Teruko Oda e Olga Savary.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; tradição japonesa; haiku;

comunidade Yuba.

O LUGAR DA FANTASIA

Mirane Campos MARQUES (CAPES)

Programa de Pós-Graduação em Letras (UNESP/IBILCE)

Aparentemente há uma tendência, atualmente, de se realizar uma confusão entre

―literatura infantil‖ e narrativa de fantasia. Tal confusão resulta, de um modo geral, em

uma identificação entre esses dois tipos de textos. Este trabalho se propõe como uma

discussão sobre essa questão, buscando delimitar qual é a relação entre eles e por que se

acredita que as histórias de fantasia sejam necessariamente infantis ou infanto-juvenis.

Para tanto nos serviremos fundamentalmente, por um lado, das formulações de J. R. R.

Tolkien sobre as histórias de fantasia, bem como da discussão que ele propõe sobre o

lugar dessas histórias na literatura e, por outro, de autores que conceituam e discutem a

literatura dita infantil, entre eles, Arroyo (1967), Ceccantini (2004) e Zilberman (1998).

Palavras-chave: fantasia, literatura infantil, J. R. R. Tolkien.

A QUEBRA DA AURA NA OBRA DE ARTE: UMA VISITA AO MUSEU DE

VICTOR GIUDICE

Mirella GUIDOTTI

Orientadora: Profa. Dra. Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

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- Está péssimo.

Senti um calafrio:

- O quadro?

O alívio chegou pela metade:

-Non, a moldurra.

O Museu Darbot, Victor Giudice

Através de uma visita ao ―Museu Darbot‖, narrativa do escritor Victor Giudice,

investiga-se os elementos estéticos que configuram uma parte da literatura

contemporânea. O conto narra a biografia inventada de Jean Baptista Darbot, pintor

nascido na França e transformado após sua morte em celebridade no mundo das artes. A

narrativa, a princípio estabelecida dentro do realismo mais perfeito, desemboca em

temáticas de cunho teórico, esfumaçando as fronteiras existentes entre obra e crítica

literária, adentrando assim numa auto-reflexão da obra de arte, temática cara à estética

contemporânea.

Esta reflexão da arte dentro da própria arte, por sua vez, nos impele a adentrar ainda nas

especificidades desta reflexão, já que não se trata somente de narrar a história de

Darbot, na verdade anagrama afrancesado do caboclo vindo de Salvador Darci Botelho,

mas de uma reflexão sobre da própria arte na contemporaneidade. Chamada de

sociedade pós-industrial, sociedade pós-moderna, sociedade de consumo, sociedade de

mídias, sociedade de massas, ou ainda, sociedade da informação e eletrônica: não

importa. Esta profusão de termos pretende abarcar uma nova configuração na qual a

estética não é mais pensada em termos de perfeição, sendo difícil estabelecer uma

resposta segura à questão – o que é arte? É pois, ancorados na idéia de quebra da aura

da obra de arte, da dessacralização da arte na sociedade contemporânea, que

percorremos, no conto de Victor Giudice, temáticas como alta cultura versus cultura

popular; explosão dos limites entre realidade e ficção; papel do autor; descentramento

da idéia de obra como instância verdadeira, essencial; arte e sociedade de consumo e

bricolagem.

Palavras-chave: narrativa contemporânea; aura; O Museu Darbot.

MARCEL PROUST E MENALTON BRAFF: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

Natalí Fabiana da Costa e SILVA

Mestre em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

Este trabalho pretende comparar duas obras: Moça com chapéu de palha (2009),

recente publicação do autor contemporâneo Menalton Braff, e À sombra das raparigas

em flor, um dos livros que compõem a série Em busca do tempo perdido (1913 a 1927),

de Marcel Proust. Nos romances, dois aspectos serão analisados: o uso da técnica

impressionista da literatura e o condicionamento social presente nas obras.

Partimos do pressuposto de que, em relação à técnica impressionista, ambas as

obras se assemelham por possuírem descrições plásticas, liberdade de ideias associadas,

raciocínios interrompidos e retomados ao sabor das impressões, uso da memória e fluxo

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de consciência, vagueza dos limites e predominância do tempo psicológico em

detrimento do cronológico.

Quanto às questões sociais, buscamos apontar – sempre a partir de estruturas

intrínsecas à narrativa como o tempo, o espaço, o narrador, entre outros aspectos – o elo

entre os romances e o condicionamento social, pois se verifica que em ambas as

narrativas os protagonistas estabelecem inúmeras reflexões acerca do contexto.

Para este estudo utilizaremos: Antonio Candido, Literatura e Sociedade (1965) e

Formação da literatura brasileira (1997); além de teóricos como René Wellek e Austin

Warren, João Alexandre Barbosa e Luís Costa Lima.

Palavras-chave: Literatura comparada; narrativa brasileira contemporânea; narrativa

moderna francesa; aspectos sociais; técnica impressionista.

A AUTORIA FEMININA SOB A PERSPECTIVA DA CRÍTICA FEMINISTA

NORTE-AMERICANA: SANDRA GILBERT E SUSAN GUBAR

Natalia Helena WIECHMANN (CAPES)

Orientador: Prof. Dr. Alcides Cardoso dos Santos

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado (UNESP/Araraquara)

Este trabalho pretende discutir como a crítica literária de vertente feminista, em

especial a corrente anglo-americana desenvolvida por Sandra Gilbert e Susan Gubar,

recebe e compreende os textos literários de autoria feminina a partir da questão das

representações da identidade feminina em relação ao conceito de patriarcalismo. É nesse

sentido que Gilbert e Gubar discutem, em The Madwoman in the Attic: The Woman

Writer and the Nineteenth-Century Literary Imagination, como o patriarcalismo da

sociedade do século XIX aprisionou as mulheres a estereótipos extremos a partir da

visão masculina do que seria o ideal feminino. Esse ideal, por sua vez, impunha às

mulheres um comportamento marcado pela ausência de autonomia enquanto sujeito

construtor das próprias ações e pela subserviência à autoridade masculina, autoridade

essa que tem a criação como algo essencialmente masculino.

Nesse âmbito, a produção literária, isto é, a autoria, associa-se à idéia de autor

como pai do texto tendo em vista que a escrita é vista como um ato criador e criativo, o

que faz da pertença ao gênero masculino ou feminino um fator indissociável da obra

literária. Inseridas nessa tradição patriarcal, as escritoras do século XIX, por sua vez,

sofreriam de uma dupla angústia da autoria: angústia em relação à tradição literária

eminentemente masculina e à consequente ausência de modelos literários femininos. Ao

contrário, a história literária exprime uma relação entre o escritor e seus predecessores

marcada pelo peso da influência dos pais literários, excluindo, em absoluto, a mulher da

produção artística em literatura.

Em vista disso, a ―angústia da autoria‖ teria incitado, nas escritoras anglo-saxãs

oitocentistas, uma busca por ―irmãs literárias‖, isto é, por uma audiência feminina que

partilhasse com elas os esforços por uma auto-definição e auto-criação. Para isso, as

escritoras teriam desenvolvido como estratégia de expressão literária a criação de um

subtexto compreensível apenas à audiência feminina, por meio do qual teria sido

possível a estas autoras exprimir suas angústias e contornar as limitações impostas pelas

instituições patriarcais oitocentistas, sobretudo a literária.

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Palavras-chave: Crítica literária; teoria literária; autoria feminina; subtexto.

MARGINAL TROPICAL: OS LINKS POÉTICOS TROPICALISTAS NA OBRA

DE CACASO

Patrícia Anzini da COSTA (CAPES)

Orientador: Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado (UNESP/Araraquara)

Acreditando na força artística como transformadora da sociedade, o

Tropicalismo surge, no final da década de 60, para repensar radicalmente as questões

relativas à modernização, à dependência econômica e ao consumo de ideias importadas.

Conscientes de que a forma, muito mais virulenta como força de subversão que a

palavra, os artistas tropicais colocam na pauta do dia a urgência de uma revisão crítica

da cultura brasileira frente ao domínio dos meios de comunicação de massa que

chegavam para redimensionar as relações estruturais do fazer artístico. Em um

panorama dominado pela arte engajada, defensora da palavra como arma política e

responsável por restringir as experimentações formais, esse movimento tropical expõe

as entranhas do Brasil e assume a pluralidade da linguagem como sua maior força. Com

o recrudescimento do regime militar após o decreto do AI-5, em 1968, o Tropicalismo

sai de cena e é substituído por algumas mercadorias artesanais que começam a

proliferar: livrinhos mimeografados que, distribuídos de mão em mão, repensavam o

lugar da poesia frente ao auge da modernização brasileira, consequência do que ficou

conhecido como milagre econômico. Cacaso (1944-1987) destaca-se nessa produção,

conhecida como marginal do mimeógrafo. Assim como os tropicalistas, o poeta elege a

desconfiança e o diálogo com os novos recursos para explorar ao máximo as diferentes

linguagens na contradição entre modernidade e tradição. Portanto, através de uma

exposição que propõe o diálogo entre Cacaso e Tropicalismo, essa comunicação

objetiva mostrar de que forma o poeta reativa os links poéticos colocados em prática

pelos tropicalistas, sobretudo em alguns poemas de duas obras significativas: Grupo

Escolar (1974) e Na corda bamba (1978). Dessa forma, algumas características

relevantes, tais como a antropofagia, a paródia, a montagem, a alegoria e a

fragmentação terão destaque no decorrer das análises.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; Tropicalismo; Geração Marginal;

Cacaso.

MURILIAMES NA LÍRICA MINEIRA CONTEMPORÂNEA:

IACYR ANDERSON FREITAS E FERNANDO FÁBIO FIORESE FURTADO

Patrícia Aparecida ANTONIO (CNPq)

Orientador: Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado (UNESP/Araraquara)

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Esta comunicação tem por objetivo discutir o modo como a lírica mineira

contemporânea dialoga com a obra de Murilo Mendes (1901-1975). Para tanto, tomar-

se-á como exemplo (nunca de caráter exclusivo) dessa lírica mineira contemporânea

dois conjuntos de poemas: Messe (1995) de Iacyr Anderson Freitas, incluído em

Quaradouro (segundo volume da obra poética reunida do autor, publicado em 2007); e

dicionário mínimo (2003) de Fernando Fábio Fiorese Furtado. Quanto ao primeiro,

nosso olhar se volta mais especificamente à série de três poemas intitulados

―Muriliames‖ nos quais se sobressai uma notável similaridade temática e de tom,

especialmente quando se tem por horizonte obras como As metamorfoses (1944) e

Poesia liberdade (1947). Fernando Fábio Fiorese Furtado, por seu turno, estabelece em

seu pequeno dicionário uma relação cerrada com a poética final de Murilo Mendes. Sob

a forma do poema em prosa, alguns desses verbetes apresentam a passada

memorialística de A idade do serrote (1968); os lances linguísticos de Convergência

(1970); a organização e a inflexão dos poemas de Poliedro (1972). De um modo geral,

espera-se que nossas leituras tragam à tona a reflexão sobre a poesia que a lírica

contemporânea constrói a partir do diálogo com a tradição e como esta última

(representada aqui pela obra de Murilo Mendes) é (re)lida, alargada, potencializada em

função do engendramento de uma dicção marcadamente pessoal dos poetas da

atualidade. Nesse sentido, afloram questões importantes como o lugar do eu-lírico, a

manipulação e a problematização dos gêneros literários e as formas da obra (o poema

em prosa, o dicionário), e os ecos modernistas/concretistas na poesia brasileira

contemporânea.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; poesia lírica; Iacyr Anderson Freitas;

Fernando Fábio Fiorese Furtado; Murilo Mendes.

O PERFUME, DE PATRICK SÜSKIND: UMA MISCELÂNEA PÓS-MODERNA

Paula Cristina PIVA

Orientadora: Profa. Dra. Silvana Vieira da Silva

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Mestrado (UNESP/Araraquara)

Como parte das reflexões a serem feitas nesse evento dedicado às questões

literárias contemporâneas, esta comunicação se dispõe a discutir os procedimentos

adotados na composição do romance de estreia de Patrick Süskind, O perfume (Das

Parfum, die Geschichte eines Mörders). O escritor alemão publicou-o inicialmente em

série no Frankfurter Allgemeine Zeitung, no outono de 1984, e na primavera de 1985

lançou-o em forma de livro. O perfume atraiu tanto o público de massa quanto a elite

literária e foi considerado um dos mais importantes romances da década de 80 do século

passado. Desde então nunca mais deixou de ser reeditado, totalizando quatro milhões de

exemplares vendidos só na Alemanha, e 15 milhões em países estrangeiros, tendo sido

traduzido em 42 línguas. Embora seja um sucesso de mercado, o romance em questão

não se configura como literatura trivial. Além da nítida inspiração (que resultou em

acusações de plágio) na obra do historiador Alain Corbin, Saberes e odores, detectamos

uma combinação de narrativas – policial, fantástica, gótica, picaresca, histórica,

Künstlerroman (romance de artista) – tecidas através de elementos do Barroco, do

Romantismo, do Pré-Romantismo e do Pós-Modernismo. Ora, o romance é um gênero

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híbrido por natureza, mas a mescla contida em O perfume só é permitida na pluralidade

pós-moderna. Seu teor literário está justamente em sua forma híbrida, numa mistura de

estilos que são colocados num mesmo patamar. O ecletismo contido na pós-

modernidade favorece e, principalmente, instiga a produção de arte que engloba

diversos estilos e tendências; desse modo, fala a vários tipos de audiência. Com a

proposta de criar uma miscelânea, une literatura de massa e de elite, sem que o leitor

tenha noção de qual é qual, e, dessa maneira, carrega a obra de valor estético.

Palavras-chave: Narrativa alemã contemporânea; narrativa híbrida; pós-modernismo.

A POESIA DOS ANOS 80: CONTENSÃO, DESENCANTO E

METALINGUAGEM

Paulo ANDRADE (UNESP/Assis)

A produção poética dos anos 80 de José Paulo Paes, Régis Bonvicino,

Armando Freitas Filho e Sebastião Uchoa Leite configura-se como uma poética "de

beco sem saída" e se defronta com o impasse de viver entre a permanência do projeto

modernista e sua ruptura, após o ofuscamento das renovações estéticas das pós-

vanguardas. É sob a ótica da angústia causada pelo esvaziamento do espaço do sujeito

que fala a poesia dos poetas em foco. Os quatro suscitam uma reflexão sobre o

esgotamento da aventura do dizer, bem como a falta de lugar e sentido para a poesia

num mundo banalizado e reificado. Ao mesmo tempo em que incorpora a tradição

moderna da poesia, o eu lírico se reconhece perdido por entre labirintos e fragmentos da

história.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; anos 80; esgotamento do discurso;

metalinguagem.

“ENCONTROS NA PENÍNSULA”: UM „ENCONTRO‟ DE MILTON HATOUM

COM MACHADO DE ASSIS

Priscila Maria Mendonça MACHADO

Mestre em Letras

O premiado escritor contemporâneo Milton Hatoum foi convidado para realizar

a abertura do Simpósio Internacional Caminhos Cruzados: Machado de Assis pela

Crítica Mundial, no qual estudiosos estrangeiros ministrariam palestras sobre a obra

machadiana em comemoração ao centenário de morte deste. Para esse momento, Milton

Hatoum preparou um conto que foi lido no dia 25 de Agosto de 2008, abertura do

evento. Em 2009, este conto, com o título ―Encontros na Península‖, foi publicado em

um livro, que reuniu vários contos inéditos ou publicados em outros meios, A Cidade

Ilhada. Trata-se da história de um estudante brasileiro, que morava na Espanha, e

conseguiu, como emprego, aulas particulares para uma mulher que gostaria de aprender

o português do Brasil para poder ler as obras de Machado de Assis. Durante sua

narrativa, que descreve as causas do interesse da mulher pelo autor brasileiro e

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discussões sobre política, Milton Hatoum elenca vários intertextos para compô-la, mas a

que mais se destaca é a presença de vários textos machadianos usados na descrição de

momentos e das personagens. Em um texto composto para homenagear Machado de

Assis, vê-se um ‗encontro‘ literário entre os dois autores que tornam o conto mais

intrigante, mais comovente, mais literário.

Palavras-chave: Milton Hatoum, Machado de Assis, intertextualidade.

O JARDIM, O SERTÃO E O CORPO NO INSTÁVEL

UNIVERSO POÉTICO DE DORA RIBEIRO

Rauer Ribeiro RODRIGUES (UFMS/Campo Grande)

Ao lançar, em 2009, pela Companhia das Letras, a teoria do jardim, a poeta dora

ribeiro, nascida em Campo Grande, MS, em 1960, e que estreou em 1984 com ladrilho

de palavras, evidencia a escolha de sempre, da autora, por grafar até mesmo o próprio

nome sempre com minúsculas. Na obra mais recente, a poeta deu sequência à sua

peculiar trajetória autoral, marcada por poemas que edificam o eu-lírico na mesma

medida em que, na aparência, se recusa a expor o sujeito biográfico. Seus versos, entre

o simples e o inusitado, evidenciam a reflexão existencial e metapoética que norteiam a

feitura do discurso, e essa trajetória meditada se traduz na escolha do título, pois o sema

―jardim‖, metáfora usual de espaço livre e de devaneios, no qual os desejos se

manifestam, se vê condicionado — e, aparentemente, constrangido — pelo sema

―teoria‖, palavra que carrega conotações de estudo, aplicação, sistematização lógica. Já

a capa do livro, assinada por ―warrakloureiro‖, apresenta grafismo de um labirinto,

dotado de centro irradiador para o qual convergem todos os caminhos, como a

evidenciar, nos múltiplos becos, um eu irresoluto, mas medido, convulso, porém

racional. Nosso esforço, nesse estudo, é o de delinear o ethos da teoria do jardim de

dora ribeiro. Nosso método é o do garimpeiro, lançando à bateia os poemas e colhendo

os versos que faiscarem respostas ao nosso problema. Intuímos que a teoria proposta

pela poeta se dá por sucessivas ressemantizações do conceito de jardim. Desse modo,

trata-se de jardim mítico, jardim primordial, jardim que é signo da trajetória e que é

metáfora do corpo; nesse caso, como exigência de erotismo, é prenúncio do gozo. O

corpo surge como metonímia do mundo que se opõe ao eu, existência simultaneamente

móvel (em trânsito pelo jardim que é cidade, urbe) e gregária (e, nesse caso, fixada no

sertão). Temos, pois, um universo poético fluido, instável, deslizante, dialético. Em dora

ribeiro, o limes enunciado-enunciação emerge como tensão fórica no labirinto cujos

becos são epifanias re-desveladoras de vasos comunicantes entre mundos paralelos que

coexistem, coalescentes, e que, opondo-se entre si, são complementares, concrescentes,

indissolúveis, indivizíveis um do outro.

Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea; erotismo; regionalismo; metáfora.

RETORNO AO REAL E EXPLOSÃO DA SUBJETIVIDADE EM J. G. NOLL

Rejane Cristina ROCHA (UFSCar)

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A crítica literária que se debruça sobre a ficção produzida no Brasil nas últimas

décadas tem refletido sobre a questão da representação e diagnosticado uma espécie de

―retorno ao real‖. Nesse sentido, as discussões têm se pautado em posicionamentos que

ora identificam a situação literária narrada ao contexto referencial, extra-literário,

apontando para um esgarçamento da mediação entre a construção ficcional e a realidade

extra-literária, ora identificam a situação literária a uma rede de simulacros na qual só

há mediação e o referente é inacessível. A ficção de João Gilberto Noll coloca em xeque

tais posicionamentos críticos antagônicos. Seus romances – é deles que trataremos neste

trabalho – problematizam a representação desde um posicionamento que é, simultânea e

paradoxalmente, a do sujeito contemporâneo que, embora se saiba como centro gerador

de sentidos do que se coloca como realidade, sabe que não tem meios afetivos,

subjetivos e cognitivos para narrá-la. Discutir quais os principais recursos narrativos

explorados pelo autor para colocar em questão tal paradoxo é o objetivo desta

comunicação.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; representação; realidade.

AGOSTO: A TRADIÇÃO DO ROMANCE HISTÓRICO NO SÉCULO XXI

Rosária Cristina Costa Ribeiro

Orientador: Prof. Dr. Sidney Barbosa (orientador)

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

Após seu surgimento durante o Romantismo, o romance histórico estabeleceu-se como

um gênero muito popular entre os leitores. Prova disso é o sucesso que obras como

Ramsés (1996), de Christian Jacq, e outros tantos da Literatura em língua portuguesa e

da universal podemos lembrar-nos. Ao envolverem acontecimentos relatados pela

ciência histórica e a ficção, trazem a tona uma tradição não tão antiga, mas muito

importante para o gênero romance. O romance histórico pode ser considerado um fruto

de uma literatura comercial que tomou corpo a partir do século XIX, apesar de suas

origens mais antigas, e hoje encontra um terreno fértil no campo do marketing e das

trocas comerciais graças às novas tecnologias de informação. Atualmente, além de ser

possível adquirir a obra sem sair de casa, o leitor já não tem mais a necessidade da

presença física do livro: pode-se ler por meio da internet ou, como já é o caso de muitos,

ouvi-los. Se a teorização lukacsiana baseia-se, em Le Roman Historique, 1936, na

narrativa verossimilhante da História registrada nos livros, hoje em dia nossos

contemporâneos dispõem de sites que conduzem seus leitores. Da mesma forma que

ocorreram mudanças no conteúdo do romance histórico, sua teorização também

adaptou-se a todas as transformações não só tecnológicas, mas também ideológicas dos

sentidos da palavra história, historiografia e ficção (Linda Hutcheon). É nesse ínterim da

transformação e representação do romance histórico contemporâneo que analisamos

neste trabalho Agosto de Rubem Fonseca, 1990. Assim, este trabalho amplia nossas

perspectivas para além do século XIX francês, chegando até nossa contemporaneidade

brasileira.

Palavras-chaves: Romance Histórico; George Lukacs; Linda Hutcheon.

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TRAÇOS PÓS-MODERNISTAS EM O HOMEM DUPLICADO, DE JOSÉ

SARAMAGO

Roseli Deienno BRAFF

Mestre em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

Este trabalho tem o objetivo de analisar os traços pós-modernistas presentes no

romance O homem duplicado, de José Saramago. Nossa reflexão será pautada pelas

contribuições teóricas da professora Ana Paula Arnaut a respeito desse novo período

literário, em seu livro Post-Modernismo no romance português contemporâneo. De

acordo com Arnaut (2002), devemos entender Pós-Modernidade como um contexto

sócio-político-cultural mais amplo do qual faz parte o Pós-Modernismo – um novo

período literário, uma nova estética com características peculiares encontradas em

diversas obras.

Em Portugal, essa estética tem como marco inicial o romance O delfim, de José

Cardoso Pires; o ano é 1968, emblemático período de lutas e contestações em toda a

Europa. Tal efervescência político-ideológica cria diferentes demandas culturais,

literárias em particular.

A deslegitimação das grandes narrativas, propugnada pela metaficção

historiográfica, os exercícios metaficcionais que expõem o fazer literário por meio da

metalinguagem, a paródia, o resgate de subgêneros travestidos com roupagem irônica, a

intertextualidade, o papel do leitor como coartífice da construção da narrativa são as

bases em que se fundamenta tal período.

Alguns desses procedimentos têm sido utilizados por José Saramago ao longo de

sua obra em geral, em particular n‘O homem duplicado, romance publicado em 2002.

Destacamos em nossa análise, sobretudo, a metalinguagem, isto é, o exercício

metaficcional, presente em outros romances do autor, que deixa à mostra seu trabalho

artesanal; o resgate do subgênero romance policial, já que a narrativa se constrói em

torno de uma investigação; a paródia da comédia Anfitrião, de Plauto, cujo tema é o

mito do duplo, comédia aqui transformada em tragédia; a intertextualidade, realizada

pelo diálogo constante com ditados populares; a reflexão a respeito da História

(representada pelo professor Tertuliano Máximo Afonso) e da ficção (representada pelo

ator António Claro); e, finalmente, o papel do leitor – que interage não como mero

receptor de uma trama, mas como ativo interlocutor – constitui mais um traço pós-

modernista. Esse novo leitor reflete sobre o que lê, questiona, busca respostas, ajuda a

montar o puzzle criado pelo autor, tornando-se seu cúmplice.

Palavras-chave: Narrativa portuguesa contemporânea; pós-Modernismo; José

Saramago.

O FACTUAL NA CONSTRUÇÃO DO LITERÁRIO: UMA LEITURA DO

CONTO “POR FALAR NA CAÇA ÀS MULHERES”

Sílvia de Cássia Rodrigues Damacena de OLIVEIRA

Doutora em Teoria da Literatura (UNESP/IBILCE)

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RESUMO: Quando fui morto em Cuba, publicado em 1982, encerra o chamado Ciclo

da Coca-Cola de Roberto Drummond. Nos contos que compõem a obra, considerada por

muitos críticos como de transição, o fio condutor é, praticamente, o mesmo desde a

publicação do primeiro livro em 1975: a onipresença dos meios de comunicação de

massa como base de formação do caráter das personagens. À semelhança do

procedimento da serigrafia pop (na Arte Pop), o escritor costuma se valer de fatos

amplamente divulgados pela imprensa como matriz para a criação de muitos dos seus

contos. Neste trabalho, buscamos mostrar como se dá esse processo no conto ―Por falar

na caça às mulheres‖ (que abre a segunda parte do livro Quando fui morto em Cuba),

em que um crime passional – amplamente divulgado pela mídia da época – alicerçou a

criação do texto literário.

Palavras-chave: ―Por falar na caça às mulheres‖; mídia; literatura. Arte Pop.

RECURSOS DO HUMOR NA NARRATIVA BRASILEIRA

CONTEMPORÂNEA

Sylvia Helena Telarolli de Almeida LEITE (UNESP/Araraquara)

A proposta desta comunicação é desenvolver a análise de elementos

constitutivos do humor nos livros Estive em Lisboa e lembrei de você (2009), de Luiz

Ruffato, e Leite derramado (2009), de Chico Buarque de Holanda. O cômico, entendido

aqui como uma espécie de gênero, comporta distintas modalidades, delimitadas por

nuances às vezes sutis; partimos do pressuposto de que nos dois textos encontra-se

muito marcante a presença do humor. Entende-se humor como expressão vinculada à

comicidade, mas que amalgama em sua constituição elementos cômicos e trágicos. É

possível observar essa mistura em várias passagens dos romances em questão, pois,

misturada ao riso provocado pelo ridículo das situações, infiltra-se a tristeza, resultante

da constatação da tragicidade que perpassa a vida de personagens que revelam pouca ou

quase nenhuma consciência a respeito da própria condição. Ademais, os dois romances

registram a ―excentricidade de estilo‖, apontada por Pirandello (O humorismo) como

uma das características do texto de humor, fator que contribui também para a

constituição do riso. Os dois textos expõem, em diferentes perspectivas e percursos, a

crise do sujeito, tema tão caro à ficção contemporânea.

Palavras-chave: Narrativa brasileira contemporânea; humor; estilo.

REFLEXÕES SOBRE MEMORIAL DE UMA FAXINEIRA E OUTRAS

HISTÓRIAS CONTADAS E RECONTADAS DE WILSON DAHER.

Tieko Yamaguchi Miyazaki (UNESP- IBILCE/UNEMAT)

Reflexão sobre a variação estilística na obra do riopretense Wilson Daher é o objeto

desta comunicação. Composta de narrativas de dimensões variadas – conto curto,

conto mais extenso e uma narrativa longa (novela?), - ela se caracteriza paralelamente

por uma variação estilística, sobre um fundo comum que é preciso determinar. Numa

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linguagem elegante sempre, os textos menores lembram na temática e principalmente no

humor Nélson Rodrigues de A vida como ela é, enquanto na narrativa maior

curiosamente, numa outra vertente, semelhanças com a ficção de Milton Haotum

chamam a atenção, principalmente em seus primeiros livros. Como situar esta obra no

contexto da produção brasileira contemporânea?

Palavras-chave: estilos, variedade contemporânea, ecos da tradição.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O BARROCO/NEOBARROCO NA LITERATURA

HISPANO-AMERICANA

Thiago Miguel ANDREU (CNPq)

Orientadora: Profa. Dra. Ana Luiza Silva Camarani

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (UNESP/Araraquara)

―Todo debate sobre a modernidade na América Latina que não inclua o barroco é

parcial e incompleto‖ nos diz Irlemar Chiampi. É essa perspectiva que assumimos na

discussão proposta neste trabalho. Estabelecemos aqui duas etapas de desenvolvimento:

a primeira será apresentar a migração e, por conseguinte, ―americanização‖ do termo

barroco que, ao sair de seu âmbito universal, particulariza-se como projeto estilístico na

literatura hispano-americana das décadas de 50 e 60 do século passado. Percorreremos,

então, em linhas gerais, a produção literária de Rubén Darío e Borges (onde estaria a

possível gênese da migração do termo), passando por Lezama Lima e chegamos a Alejo

Carpentier (1904-1980). Na segunda parte, teremos como corpus de análise o romance

carpentieriano Concierto barroco, que será utilizado para uma breve aplicação dos

tópicos estruturais do barroco/neobarroco, propostos pelo autor cubano Severo Sarduy,

em seu ensaio ―Por uma ética do desperdício‖. Aqui, articularemos ainda estes

mecanismos de estrutura com a temática barroca que se instaurou de forma definitiva na

produção conhecida como boom latino-americano. Essa leitura com ressonâncias

culturais se faz pertinente, uma vez que o próprio Carpentier nos chama a atenção para o

seguinte fato: ―nuestro arte siempre fue barroco: desde las espléndidas esculturas

precolombinas y el de monastérios de nuestro continente‖. Segundo o autor, a

compreensão da identidade americana se dá a partir do barroquismo, já que é ela

(América) a ―tierra de elección del Barroco‖. Esse recorte proposto em nosso estudo

coloca-se como uma tentativa de se discutir o barroco/neobarroco, tanto em seu aspecto

formal como temático, aproximando-os, pois a apreensão da problemática de tal

conceito, como também o entendimento das circunstâncias da produção literária

hispano-americana do século passado reclamam estudos que coloquem em confluência

texto e contexto.

Palavras-chave: Narrativa hispano-americana; barroco/neobarroco; Alejo Carpentier;

Concierto barroco.

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RESUMOS III – PROJETOS DE PESQUISA DE ALUNOS

DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS

LITERÁRIOS DE ARARAQUARA E DE OUTROS

PROGRAMAS DA UNESP

O LÚDICO E SEUS DESDOBRAMENTOS NA POESIA DE JACQUES

PRÉVERT E MARIO QUINTANA

Adriana Rodrigues Simões (CNPq)

Guacira Marcondes Machado Leite

Pretendemos neste trabalho estabelecer uma comparação entre a poesia do

francês Jacques Prévert (1900 – 1977) e do gaúcho Mario Quintana (1906 – 1994)

levando em consideração, principalmente, o aparecimento de um caráter lúdico na obra

destes dois autores. Ao entrarmos em contato com o livro Homo ludens de Johan

Huizinga, percebemos a ligação da poesia com este elemento da sociedade primitiva,

caracterizado como lúdico pelo autor e, a partir dessas asserções, desenvolvemos nosso

projeto de mestrado. Segundo Huizinga, o surgimento da poesia está profundamente

ligado a um espírito lúdico primitivo. Com a evolução da sociedade, formas complexas

da vida em grupo vão perdendo a influência do jogo, mas a poesia nunca abandona a

esfera lúdica em que nasceu. Enquanto as formas da vida contemporânea perderam o

contato com o jogo, a função do poeta ainda se situa dentro desta esfera. Também

pretendemos utilizar neste trabalho outros autores que teorizaram sobre o lúdico, como

Umberto Eco, Friedrich Schiller, John Dewey, Ludwig Wittgenstein, entre outros

teóricos.

Além de investigar a manifestação e a natureza desse elemento na poesia de

Prévert e Quintana, será necessário também investigar as implicações existentes entre

esse lúdico e a poesia moderna. Acreditamos que esta poesia possui um caráter

essencialmente lúdico e que ela intenta, através desse elemento, um retorno às origens

míticas da poesia. Desse modo será importante a utilização alguns teóricos da poesia

moderna, como Hugo Friedrich, Maurice-Jean Lefebve, Michael Hambúrguer, Octavio

Paz, entre outros.

Palavras-chave: Poesia; lúdico; modernidade.

MITO E METALINGUAGEM EM NIEBLA, DE MIGUEL DE UNAMUNO

Alexandre Silveira Campos

Maria de Lourdes O. Gandini Baldan

A proposta deste trabalho de doutorado surgiu a partir da observação de umas

das temáticas principais que se apresenta na novela Niebla (1914), do escritor e filósofo

espanhol Dom Miguel de Unamuno: a questão do lugar do autor na obra – daí a

contraposição do lugar do autor no ―mundo real‖ –, e os problemas da intenção e da

metalinguagem.

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Escrita entre os anos de 1907 e 1912, e publicada pela primeira vez em 1914,

portanto, no mínimo seis anos antes de Seis Personagens à Procura de um Autor – peça

que foi publicada em 1921, pelo italiano Luigi Pirandello –, Niebla é considerada um

marco na história do romance moderno. Pois trata, com procedimentos narrativos

inovadores e inéditos até então, sobre a questão da autonomia da personagem, do

nivelamento das vozes do autor e do herói – se pensados em termos bakhtinianos

(BAKHTIN, 1997) -, das possibilidades do gênero ―romance‖ e dos limites da criação

literária.

Tais questionamentos podem gerar uma leitura ou uma interpretação que

demonstrem uma formulação, uma opinião, ou no mínimo, uma preocupação de

Unamuno com as configurações das estruturas do mito e da linguagem. Vistas, é claro,

dentro das possibilidades de uma construção narrativa.

Portanto, o trabalho tem por um de seus objetivos encontrar no romance Niebla

momentos em que as expressões ou motivos míticos encontrem nas formas de

construções metafóricas uma possibilidade de leitura, ou releitura, original. E, a partir

da possível comprovação dessa tese, encontrar no texto unamuniano abordagens

originais de motivos recorrentes na literatura feitas através de procedimentos

metafóricos e levantar questões a cerca da relação metalinguagem/metáfora e mito.

Palavras-chave: Literatura espanhola; romance; Miguel de Unamuno; existencialismo.

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NEGRA EM MACHADO DE ASSIS

Ana Luiza Pereira Bruno (CAPES)

Wilton José Marques

A presente pesquisa procura realizar uma análise da representação da mulher

negra na obra de Machado de Assis. O corpus de análise, ainda em construção,

compreenderá uma seleção de textos literários machadianos privilegiando-se contos e

poemas, obedecendo-se o critério da pertinência da reflexão sobre as figuras femininas

negras. Pretende-se, inicialmente, a leitura da mulher negra a partir do conto ―Mariana‖,

publicado em 1871. Durante esta primeira fase da pesquisa, muito embora o foco seja a

análise literária da representação de tais personagens, pretendem-se estabelecer o

contexto histórico brasileiro oitocentista, as questões relativas à escravidão e a inserção

de Machado de Assis, como importante intelectual deste período. Desta forma, buscar-

se-á, de um lado, delinear qual foi seu papel no trato literário da temática da escravidão

e, de outro, lançar um olhar para a elaboração estética destas personagens negras,

refletindo sobre suas condições sociais e políticas. Para tanto a bibliografia inicial conta

com a leitura de referenciais da história do Brasil e da crítica literária sobre Machado de

Assis e sua obra. Em decorrência da relativa escassez de estudos que versem sobre a

relação do autor com a temática da escravidão tem-se o desafio de dialogar com a crítica

existente, ainda que grande parte desta considere Machado de Assis um absenteísta,

tendo-se privado do tema da escravidão em sua produção literária. A presença e a

representação das mulheres negras sugerem que o posicionamento ideológico de

Machado de Assis é marcadamente de repúdio à escravidão, desautorizando, deste

modo, uma suposta postura absenteísta, apregoada, sobremaneira, pela crítica existente.

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Palavras-chave: Literatura brasileira; escravidão; Machado de Assis; mulher negra;

personagens femininas.

THE LORD OF THE RINGS E A ESTÉTICA DA FINITUDE

André Luiz Rodriguez Modesto Pereira (FAPESP)

Karin Volobuef

A obra do autor inglês John Ronald Reuel Tolkien (1892 – 1973), em especial

The Lord of the Rings, tem sido, por um lado, objeto de polêmicas e discussões, por

outro, negligenciada como assunto digno de um trabalho sério. Frente ao silêncio ou ao

alvoroço paira sempre a questão do valor e da importância de sua obra diante da

literatura de vanguarda e da constante busca pelo novo. Seguindo uma corrente diversa,

Tolkien recupera tradições não incorporadas ao cânone ocidental – como os textos em

inglês arcaico e de tradições pagãs nórdicas e germânicas –, atualizando-as, através da

narrativa romanesca, em uma forma que, ao mesmo tempo em que pode parecer

antiquada, é indiscutivelmente uma obra de seu época, visto que incorpora, também,

elementos de tradições mais recentes, como o romance de viagens, o Märchen, a

epopeia, o romance de formação, e, de certa forma, algo da narrativa de memórias – já

que o texto teria sido escrito primeiramente pelas próprias personagens do livro, a saber,

Bilbo, Frodo e Sam. O processo de escrita de The Lord of the Rings pode, então, ser

considerado mais como uma síntese de diversas correntes literárias do que uma busca

ruptura e inovação diante delas.

Embora tenha se mantido distante das discussões teóricas e movimentos

estéticos que movimentaram a primeira metade do século XX, não seria correto dizer

que J. R. R. Tolkien não tivesse, também, um projeto literário definido. Apesar de nunca

ter escrito nenhuma teoria sobre seu trabalho artístico, é possível entrever em seus

escritos filológicos um programa que consiste não apenas na recuperação de textos

antigos por seu valor histórico, mas em sua retomada como obra de arte que fala ao

leitor moderno. É assim o autor trata, por exemplo, textos como Beowulf e os contos de

fadas, convertendo-os em fonte para uma literatura de reatualização do mito e que não

se distancia do sentimento do leitor contemporâneo.

Palavras-chave: Tolkien; romance; gêneros literários; maravilhoso.

O REALISMO LITERÁRIO E A CONSTRUÇÃO DO EFEITO DE REALIDADE

NOS CONTOS “O ALIENISTA”, “A SERENÍSSIMA REPÚBLICA” E

“EVOLUÇÃO” DE MACHADO DE ASSIS

Bianca Cristina de Camargo

Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan

Joaquim Maria Machado de Assis é um dos grandes expoentes da literatura

brasileira, e apresenta uma vasta obra que contempla todos os gêneros literários. Com

esta pesquisa, pretendemos estudar rigorosamente os temas e figuras que promovem o

efeito de real, - que se convoca pela adequação das figuras ao universo da ―realidade‖

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representada no discurso -verificando como eles comparecem nos contos: ―O alienista‖,

―A Sereníssima República‖ publicados em Papéis Avulsos (1882), e ―Evolução‖,

presente em Relíquias da Casa Velha (1906) todos pertencentes à fase mais madura do

escritor. O embasamento teórico para a realização das análises literárias circulará entre

as noções de tema e figura, advindas das semióticas de inspiração greimasiana.

Ademais, sabendo que o objetivo da arte não é o de traduzir uma verdade por meio de

uma simples imitação fiel do real, já que o ser humano é um tipo de ser que tanto

mimetiza o mundo que o cerca, quanto, simultaneamente, foca e aborda uma

perspectiva diferente para a realidade, a questão da relação entre literatura e realidade,

mimesis e verossimilhança, entre outras que se convocam pelo tema, serão discutidas a

partir das reflexões propostas por Aristóteles, Roland Barthes, Luis Costa Lima e

Antonie Compagnon, para ficar entre os mais importantes. A ideia de mímesis pode ser

confundida com o conceito de realismo; no entanto, tais conceitos não se comportam da

mesma maneira em uma obra literária, se considerarmos a idéia de ― efeito de

realidade‖. Sendo assim, estudaremos o realismo literário apoiando-nos nas

considerações do russo Roman Jakobson, a fim de verificar os tropos responsáveis pelo

efeito de realidade. Assim, a partir da leitura dos textos literários machadianos

selecionados, tentaremos verificar em que medida a construção figurativa recobre o

conjunto de temas reconhecido, e oferece subsídios para a criação do efeito real,

tentando responder se os textos de Machado de Assis constroem, além do universo de

valores universais, imagens que mostrem a ―cor local‖ do seu tempo e espaço, e a

maneira como eles fazem para provocar esses efeitos.

Palavras-chave: Machado de Assis; temas; figuras; efeito de realidade.

TENDÊNCIAS SIMBOLISTAS NA POESIA DE JORGE DE LIMA

Bianca Cristina de Carvalho Ribeiro (CAPES)

Guacira Marcondes Machado Leite

A obra de Jorge de Lima contém as principais diretrizes da poesia brasileira da

primeira metade do século XX. Dentre os diversos procedimentos e tendências da obra

poética limiana, encontramos aspectos marcadamente simbolistas, tais como a

musicalidade, a ironia e a analogia, os quais ainda não foram explorados

sistematicamente. Nossa pesquisa propõe a investigação de alguns aspectos simbolistas

na poesia de Jorge de Lima, tendo em vista a importância do Simbolismo para a

constituição da consciência e da criação literária modernas. Esse estudo comporta o

exame da manifestação das duas tendências simbolistas citadas por Edmund Wilson em

O Castelo de Axel: a coloquial-irônica e a sério-estética, encontradas respectivamente

em Poemas, Poemas Novos, no Livro de Sonetos e em Invenção de Orfeu. Ambas as

linhas relacionam-se também às duas tendências da poesia moderna apontadas por

Octavio Paz em A outra voz: a ironia e a analogia, corroborando nossa perspectiva. O

ponto de partida para a execução deste trabalho será a leitura e revisão das obras que

embasarão a compreensão do simbolismo, para que então seja realizada a seleção e

análise dos poemas mais representativos do movimento na obra de Jorge de Lima. Para

a análise dos poemas selecionados também serão realizadas as leituras teóricas sobre

poesia, além da fortuna crítica sobre o poeta. Desse modo, a pesquisa complementará a

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leitura sobre o impacto da proposta simbolista e seus alcances na poesia moderna

brasileira. Além disso, o trabalho contribuirá para o resgate da historicidade da poesia

limiana, a qual reflete, por sua vez, o desenvolvimento da linguagem poética entre nós.

Palavras-chave: simbolismo; Jorge de Lima; poesia moderna; teoria e crítica de poesia.

ESTUDOS COMPARATIVOS ACERCA DO ESPAÇO E DO TEMPO EM “O

GATO PRETO” E “O PROCESSO”

Breno Rodrigues de Paula

Luiz Gonzaga Marchezan

O espaço e o tempo apresentam-se como elementos estruturais de fundamental

importância na narrativa literária, podendo assumir funções diversas. No caso da

narrativa literária, os métodos e os recursos narrativos que o escritor dispõe são

variados. A instauração do espaço e do tempo gera uma relação entre ambos de valores

estéticos e narrativos muitas vezes diferentes para cada obra. Cada escritor projeta-os

segundo a sua concepção estética – literária e ao seu estilo. Partindo deste axioma, que é

a existência do espaço e do tempo como categorias narrativas, pretendemos analisá-los

em duas obras literárias específicas: no conto ―O gato preto‖, de Edgar Allen Poe e no

romance O Processo, de Franz Kafka. A partir da análise das respectivas obras,

pretendemos verificar como ambas categorias narrativas se apresentam em um conto e

em um romance em questão.

Objetivaremos ressaltar as especificidades de como Poe e Kafka retratam o

espaço e o tempo em ambas narrativas. Com este percurso esperamos demonstrar que

cada gênero literário também condiciona as categorias do espaço e do tempo, de modo

que o gênero conto e o gênero romance possuiriam diferenças na forma de instaurá-los e

de trabalhá-los. Pretendemos estudar, desta forma, os principais aspectos narrativos do

conto e do romance em questão de modo a ressaltar as suas especificidades, elencando

as suas funções narrativas. Trabalharemos com os conceitos de Espaço tópico e descrito,

além dos aspectos do Tempo a partir do nível narrativo e do nível diegético.

Palavras-chaves: espaço; tempo; narrativa; Poe; Kafka.

HAGIOGRAFIA: RELEITURAS DO GÊNERO POR EÇA DE QUEIRÓS E

TEIXEIRA DE PASCOAES

Bruna Giro (FAPESP)

Márcia Valéria Zamboni Gobbi

O presente trabalho tem por intenção explorar o caso das hagiografias modernas

na literatura portuguesa. O corpus escolhido para tal empreitada será composto pelas

obras de Eça de Queirós, com a narrativa de São Cristóvão, e Teixeira de Pascoaes, com

São Jerônimo e a trovoada.

A hagiografia é classificada tradicionalmente pelas histórias literárias como

sendo um subgênero da historiografia, e sua fertilidade literária compreende o período

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histórico da Idade Média – uma época influenciada pela religião, sobretudo a Igreja

Católica. Porém, a história literária registra que autores da era Moderna (período que se

inicia no Romantismo) retomaram o gênero. Este estudo visa uma investigação com o

intuito de compreender o porquê desta retomada e como se dá a revisitação do gênero

nas narrativas de Eça de Queirós e Teixeira de Pascoaes.

Assim sendo, a análise consistirá em esclarecer em que medida os escritores

portugueses que fazem parte do corpus da pesquisa decidiram retomar o gênero

hagiográfico, cujo ápice da produção literária se deu na Idade Média. Também serão

explorados, através de um estudo comparativo entre as hagiografias modernas e as

medievais, as diferenças e pontos comuns entre essas obras.

Ademais, será importante discutir como as obras se adequam ao projeto cultural e

literário de cada autor, defendendo a saudade que se manifesta nas obras como elemento

integrante da cultura portuguesa.

Por fim, a pesquisa se direcionará para uma análise do imaginário religioso

presente nas obras escolhidas.

Palavras-chave: Eça de Queirós; Teixeira de Pascoaes; hagiografia; saudade.

O MARAVILHOSO EM APULEIO E O FRENÉTICO EM NODIER:

ESTILOS E POÉTICAS

Bruno Sérgio Sedenho

Márcio Natalino Thamos

Ana Luiza Silva Camarani

Este trabalho objetiva analisar duas obras literárias, a fim de compará-las. Para

tanto, buscando estabelecer a poética de cada autor, pretende-se fixar certos parâmetros

estilísticos recorrentes tanto em Metamorfose, de Apuleio, mais conhecida como O

Asno de Ouro, escrita no século II d.C., quanto no conto Smarra ou Les Démons de la

Nuit, de Charles Nodier, publicado em 1821. A obra O Asno de Ouro é composta por

onze livros, sendo que há uma história principal, cujo protagonista, que se chama Lúcio,

transforma-se em um burro, e há outras narrativas que são inseridas na narrativa

principal, ou seja, trata-se de narrativas emolduradas. No entanto, para este projeto, a

análise se restringirá principalmente ao livro primeiro e alguns outros fragmentos dos

demais livros que possam ser relevantes para a comparação com Nodier. Segundo o

estudioso Castex, Smarra pertence ao gênero frenético, que se desenvolveu a partir do

romance gótico ou roman noir, do pré-romantismo inglês. Contudo, Nodier foge à

literatura de massa, como era considerado o romance gótico, ao contrário, faz uma obra

extremamente poética, trabalhando a linguagem e as estruturas narrativas. No entanto,

enquanto Apuleio cria narrativas emolduradas, Nodier utiliza-se de narrativas em mise

en abyme. Quanto à metodologia para a análise, são utilizados os procedimentos

propostos por Marouzeau, que escreveu tratados de estilística latina e francesa. Neste

trabalho, dá-se a ênfase ao estudo estilístico dos recursos morfossintáticos utilizados

pelos autores para a construção do efeito poético empregado, principalmente, na

manifestação do sobrenatural presente em suas obras. Sendo assim, esta pesquisa busca

fazer esse estudo estilístico das expressões linguísticas para poder perceber a possível

relação dessas com a estrutura do conto, dos temas, do espaço, do tempo, e, sobretudo,

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do maravilhoso, a fim de se comparar as obras, sempre no intuito de perceber a

homologação entre a expressão e o conteúdo, que seria a base de toda literariedade.

Palavras-Chave: Literatura comparada; literatura latina e francesa; maravilhoso;

estilística.

O LUGAR DE RESSURREIÇÃO NA TRADIÇÃO DO ROMANCE

ROMÂNTICO BRASILEIRO

Carlos Rocha (CAPES)

Wilton José Marques

Tendo a incumbência de criar um discurso que expressasse a imagem de país

independente, de país livre, o romance romântico brasileiro se preocupou em

sobrevalorizar a temática da cor local. Daí a recorrência das descrições da natureza, dos

índios e dos costumes. Ao desenvolver tais descrições, de forma idealizada, o romance

romântico elaborou uma realidade forjada, provocando um descompasso entre a noção

de realidade e a sociedade que tencionava recriar. Tal descompasso criou não apenas um

problema de verossimilhança, como também incongruências ideológicas. Se por um

lado, a tradição romanesca pretendia expressar a identidade nacional, por outro gerou

romances de pouca complexidade temática e, por conseguinte, um público leitor

mediano.

Pensado especificamente no romance Ressurreição (1872), de Machado de

Assis, a obra tem uma narrativa que suscita uma dissonância em relação a essa mesma

tradição romanesca. Tal consideração pode ser observada já no prólogo do romance, em

que o próprio Machado de Assis salienta se tratar de ―um ensaio‖, esclarecendo que sua

ideia não era escrever um romance de costumes, mas tentar ―o esboço de uma situação e

o contraste de dous caracteres‖. O autor estabelece, assim, um diálogo ―diferenciado‖

com os romances românticos anteriores à Ressurreição.

O narrador se constitui como o elemento fundamental da obra, quando oscila

entre o protagonista (Félix) e o leitor, seja para esquadrinhar os sentimentos e os

pensamentos de Félix, seja para orientar o leitor no entendimento do romance. Com

isso, a complexidade psicológica de protagonista, a maneira de narrar e a dupla imagem

do leitor (empírico e virtual) criam uma narrativa em que a dubiedade torna-se o ponto

central da obra. O que parece é que no ponto nevrálgico dessa dubiedade, Machado de

Assis tenta tratar, ainda que timidamente, da problemática da inverossimilhança, da

incongruência ideológica e do público leitor.

Em suma, pretende-se analisar o romance Ressurreição (1872), à luz dessa

tradição romanesca, procurando evidenciar como Machado trabalhou tais problemáticas,

por meio de um estudo do narrador e dos recursos constitutivos da estrutura

composicional do texto. A partir disso, pretende-se entender a relação de Ressurreição

com o projeto literário do escritor.

Palavras-chave: Dubiedade; narrador; protagonista; verossimilhança; leitor.

PHOENISSAE DE SÊNECA: ESTUDO INTRODUTÓRIO, TRADUÇÃO E

NOTAS

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Cíntia Martins (CAPES)

Márcio Natalino Thamos

O projeto que aqui se inscreve apresenta como córpus a tragédia Phoenissae,

escrita no século I por Sêneca (4 a.C.? - 65 d.C.), e consiste em uma tradução do texto

latino para o português, acompanhada de notas com comentários e de um estudo

introdutório sobre o texto. Phoenissae, título da peça de acordo com manuscritos,

traduzido para o português como As fenícias, denomina dois excertos que, segundo as

pesquisas realizadas sobre Sêneca e sua obra, pertencem a uma mesma tragédia que

pode estar incompleta - ou por não tê-la terminado seu autor ou por se terem perdido no

tempo as partes restantes da obra.

É importante aqui ressaltar que a tragédia As fenícias de Sêneca ainda não tem

nenhuma tradução comercial publicada em português. Também se justifica este trabalho

pelo fato de o estudo de As fenícias refletir o diálogo da cultura romana com a nossa.

Aliás, Phoenissae trata de temas universais, tais como o destino, a inquietação interior,

a morte. São temas muito comuns em toda a história da literatura e da arte em geral.

Tanto que Sêneca influenciou obras produzidas no período da Renascença muito mais

que outros tragediógrafos da Antiguidade.

O córpus do projeto é constituído pelo texto de Phoenissae na edição

apresentada pela Loeb, uma das coleções mais prestigiadas do acervo da Literatura

Latina.

Com base na investigação textual, será elaborado ainda um estudo introdutório

com informações a respeito do autor e sua obra.

Após a defesa pública do trabalho, e feita sua revisão, pretende-se enviá-lo

integralmente à publicação.

Palavras-chave: Phoenissae; latim; Sêneca; tradução.

A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO DA ESCRITA NA FICÇÃO

CONTEMPORÂNEA

Claudia Regina Bergamim

Márcia Valéria Zamboni Gobbi

Esta pesquisa situa-se no campo amplo das relações entre história e literatura,

apoiando-se na produção literária contemporânea, mais especificamente no seguinte

corpus: O ano da morte de Ricardo Reis (1984), de José Saramago, Nove noites (2002),

de Bernardo Carvalho, e O outro pé da sereia (2006), de Mia Couto.

O objetivo do trabalho é analisar o modo de composição dessas narrativas

ficcionais, a fim de entender o processo de manipulação do material intertextual,

refletindo sobre esse procedimento narrativo enquanto um possível instrumento de

representação da história nessas obras literárias de língua portuguesa.

Por se considerar o corpus em questão um tanto vasto, efetuou-se esse recorte

específico, que delimita o modo de construção do espaço da escrita nessas narrativas.

Dentro, então, de uma perspectiva comparativa, serão analisados os três romances,

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tendo em vista os tratamentos que podem afetar enunciados intertextuais, as

modificações imanentes a que pode estar sujeita a intertextualidade e as implicações

desse processo de manipulação do material intertextual na inserção ―problematizada‖ da

história na literatura contemporânea.

Para fundamentar a análise, este estudo apóia-se em teorias sobre a

intertextualidade, como a de Laurent Jenny, e em teorias sobre a presença da história na

literatura contemporânea, como a de Linda Hutcheon, observando-se as afinidades entre

as obras literárias escolhidas, além de suas particularidades, pois se trata de narrativas

moldadas pela verdade histórica, mas tecidas pelo viés da lógica estética do discurso

ficcional.

A presença da história na literatura constitui material farto para investigação.

No panorama literário atual, essa presença se mostra, além de significativa, instigante,

motivo de reflexão deste estudo.

Palavras-chave: Relações entre ficção e história; romance contemporâneo em língua

portuguesa; intertextualidade; estudos comparados.

E. A. POE: A UNIDADE DE EFEITO E A NARRATIVA FANTÁSTICA

Daniel Leite Machado

Ana Luiza Silva Camarani

Edgar Allan Poe afirma a respeito de seu poema The raven, em seu ensaio The

philosophy of composition, que ―[...] nenhum ponto de sua composição se refere ao

acaso, ou à intuição, que o trabalho caminhou, passo a passo, até completar-se, com a

precisão e a sequência rígida de um problema matemático‖, demonstrando, assim, que

ele entendia ser o processo criativo um ato puramente lógico, consciente e analítico. E,

de fato, a análise de seus textos comprova a proposição citada. Além disso, o autor

americano é considerado por grande parte da crítica literária como o mestre do horror,

figurando alguns de seus textos no cânone das obras primas do fantástico, sendo quase

que indispensável a presença de algum de seus contos em uma coletânea dessa categoria

literária. Partindo-se, então, desses dois elementos foi possível levantar a hipótese de

que, como a obra poeana está tão intimamente relacionada ao fantástico, a análise de seu

racional e sistemático método composicional poderá conduzir à inclusão de novos

elementos – talvez ainda não observados pelos teóricos – à estrutura já existente da

literatura fantástica. Assim, a presente pesquisa vem procurando sistematizar o peculiar

modus operandi de Poe através da análise de seus contos The black cat, The fall of the

house of Usher, The oval portrait, The man of the crowd, William Wilson, Ligeia, e

ensaios The philosophy of composition, The rationale of the verse, para em seguida

contrastar os resultados obtidos com as teorias da literatura fantástica, em especial a de

Todorov. Até o momento já foi possível verificar que alguns procedimentos utilizados

por Poe, como a unidade de efeito, a brevidade do texto artístico e a construção às

avessas, são elementos fundamentais para a criação de uma narrativa fantástica de boa

qualidade, permitindo estabelecer, dessa forma, pouco a pouco, uma outra leitura da

literatura fantástica, sob a ótica da própria teoria pessoal de Edgar Allan Poe.

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Palavras-chave: Poe, fantástico, Filosofia da Composição.

MIA COUTO: A TEMÁTICA DA VIAGEM NA (DES)CONSTRUÇÃO DA

IDENTIDADE

Daniela de Brito (UNESP/SJRP)

Sônia Helena de Oliveira Raymundo Piteri

Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE/UNESP/SJRP

Este projeto de pesquisa pretende investigar a viagem como possibilidade de

(des)construção da identidade cultural, levando-se em consideração, entre outros

aspectos, a pluralidade da obra de Mia Couto, que demonstra a diversidade num

processo semelhante à transculturação. Atentar-se-á, então, para a questão espaço-

temporal configurada nas narrativas, para as dualidades expostas no contato da

oralidade com a escrita, da tradição com a modernidade, da prosa com a poesia, e

transfiguradas no percurso do homem moçambicano, marcado por culturas

aparentemente próximas, mas, na verdade, ainda muito distantes. Para tanto, objetiva-se

analisar os procedimentos narrativos de que se serve Mia Couto em Terra Sonâmbula

(1992) e Antes de nascer o mundo (2009), percorrendo-se também outros romances

seus: A varanda de frangipani (2007), Vinte e zinco (1999); O último vôo do flamingo

(2005), Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (2003), O outro pé da sereia

(2006), e Venenos de Deus, remédios do diabo (2008), conjugando-se o uso dos

recursos literários ao percurso da viagem associada à questão da identidade. A pesquisa

proposta busca contribuir para os estudos sobre a obra de um escritor que defende a

necessidade de o Brasil conhecer a África, sobretudo a África de Língua Portuguesa,

descaracterizada, em parte, por longos processos de colonização, que deixaram marcas

profundas em seu povo e relativizaram as suas culturas pela imposição de valores

coloniais, o que resultou em uma luta à procura de um espaço para a ―africanidade‖,

aos poucos metamorfoseada na literatura produzida a partir do final do século XX.

Palavras-chave: viagem; identidade; dualidades; Mia Couto.

INTERTEXTUALIDADE E DIALOGISMO NAS CANÇÕES DE RENATO

RUSSO: POSSÍVEIS LEITURAS

Elaine Cunha de Oliveira Alves

Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan

No referido projeto de pesquisa, pretendemos estudar as manifestações

intertextuais presentes nas letras das canções de Renato Russo, ex-líder da banda de

rock nacional Legião Urbana. No processo de criação de seus textos, esse autor utiliza-

se de referências a obras literárias e autores consagrados. Tais referências, explícitas e

implícitas, aparecem em títulos, em personagens e finalmente diluídas nas ideias

propostas e cantadas nas canções desse compositor. Seguindo orientações de Mikhail

Backtin que em seus estudos teóricos afirma que as palavras de um falante,

inevitavelmente, estão sempre perspassadas pelas palavras do outro; que para constituir

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seu discurso, um enunciador necessariamente leva em conta o discurso do outro, elabora

seu discurso a partir de outros discursos, observamos que a intertextualidade e o

dialogismo acontece o tempo todo na obra de Renato Russo. As palavras, em seu trajeto

migratório, carregam as marcas de outros contextos dos quais fizeram parte e sofrem

mudança de sentidos em sua passagem por diferentes espaços, tempos e sujeitos. Assim,

ao ocupar um novo contexto elas são re-significadas. Partindo das considerações de

Backtin sobre dialogismo e polifonia, pretendemos verificar que a intertextualidade

configura-se como um procedimento constitutivo das letras das canções de Renato

Russo e a partir do diálogo estabelecido analisar as possibilidades de leitura e

construção de novos sentidos nas canções desse autor, considerando novos sujeitos,

tempos e espaços.

Palavras-chave: Renato Russo; Bakhtin; intertextualidade; dialogismo.

O SÍMBOLO E A ALEGORIA EM AFINIDADES ELETIVAS

Elis Piera Rosa (CNPq)

Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas

Pretende-se, através do presente projeto, desenvolver uma sistematização da

oposição símbolo/alegoria em Goethe (por meio da pesquisa em textos teóricos do

escritor unida à consulta de noções linguísticas e filosóficas sobre o tema), a fim de

utilizá-la como ideia teórica principal subjacente à análise de uma obra ficcional do

mesmo autor que, segundo nossa hipótese a ser exposta na descrição do trabalho, lida de

modo peculiar com estes dois conceitos: Afinidades eletivas.

Palavras-chave: símbolo; alegoria; Goethe; romantismo; classicismo.

ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS NARRATIVOS DA CIROPEDIA DE

XENOFONTE

Emerson Cerdas (FAPESP)

Maria Celeste Consolin Dezotti

A obra Ciropedia de Xenofonte, escrita no século IV a.C., apresenta, dentro da

sua tessitura narrativa, uma peculiar hibridez de elementos históricos e ficcionais,

sendo, por isso, um dos principais modelos para o romance grego posterior. Ao narrar a

vida de Ciro, o velho, grande imperador Persa, personagem histórica, Xenofonte está

mais preocupado em criar um modelo de líder do que na verossimilhança histórica.

Segundo a definição de Scholes & Kellogs (1977) o romance (ficção em prosa) nasce da

síntese de elementos históricos, romanescos e didáticos, que apareceram unidos pela

primeira vez na épica homérica. Preocupamo-nos em nosso estudo averiguar a

construção narrativa no que tange a esta síntese. Dessa forma, estruturamos nossa

dissertação em três momentos: no primeiro, observamos a relação entre a obra de

Xenofonte com a dos historiadores precedentes, principalmente a de Heródoto, já que

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no livro I de sua obra, o autor compõe uma narrativa sobre Ciro. A leitura de ambas as

narrativas nos mostra uma evidente modificação dos elementos narrativos feita por

Xenofonte. Portanto, averiguar em quais momentos e por quais técnicas se deram essas

mudanças é extremamente significativo para pensarmos nos porquês de tais

modificações, pois ao tornar matéria da ficção um dado momento histórico, o autor

busca expressar uma verdade distinta daquela do discurso histórico. Em seguida,

procuramos analisar as narrativas secundárias, classificadas pela crítica (Due, 1989;

Gera, 1993) como estruturas verdadeiramente romanceadas. Por fim, analisamos o

papel da educação na construção da personagem, papel este que valeu à obra a

classificação por Bakhtin de um proto-romance de formação, gênero cuja gênese se

vincula com a obra de Goethe, Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister.

Buscamos nos estudos sobre romance de formação, elementos típicos desse gênero

narrativo para averiguar, dentro da tessitura narrativa da Ciropedia, a presença destes,

em especial no que comporta a categoria narrativa da personagem e o grau de

assimilação do tempo histórico. Isso é fundamental na medida em que pensamos as

formas literárias como gêneros discursivos vivos, em constante evolução pela

intercomunicação das obras. Pensamos que, dessa forma, poderemos compreender a

organização estética da obra de forma aprofundada.

Palavras chaves: Narrativa; romance antigo; história; literatura de formação.

SHENIPABU MIYUI: LITERATURA E MITO

Érika Bergamasco Guesse

Karin Volobuef

Diante da potencial contribuição indígena para o cenário cultural e literário

brasileiro e diante da escassez de estudos acadêmicos voltados à compreensão das

narrativas e criações poéticas que apresentam o índio como autor/criador

(principalmente na região Sudeste do Brasil), o presente projeto de pesquisa tem por

objetivo fazer uma análise de um grupo de doze narrativas, contidas na obra Shenipabu

Miyui (1995). Hoje, o próprio índio escreve sobre os índios – e também sobre os

brancos – para que, principalmente, outros índios leiam. Podemos dizer que está em

processo de configuração, em nosso país, uma escrita do índio para o índio. Assim, faz-

se necessário ampliarmos as perspectivas da literatura brasileira para compreendermos

um universo aparentemente tão distinto do nosso (uma vez que somos pautados pelo

referencial europeu), mas que, no entanto, apresenta inegáveis e importantes pontos de

intersecção. Os índios dividem o tempo em antes e depois e essa divisão determina duas

categorias básicas para a classificação das suas narrativas: as histórias de hoje

(narrativas de histórias acontecidas, reais; baseadas num contexto historiográfico) e as

histórias de antigamente (histórias que narram os mitos indígenas). Shenipabu Miyui é

uma obra de autoria coletiva dos índios Kaxinawá, organizada pelo professor indígena

Joaquim Mana Kaxinawá. As histórias de antigamente – narrativas míticas – que

compõem a obra foram narradas pelos mestres da tradição indígena em versões tanto na

língua indígena Kaxinawá quanto em língua portuguesa (contadas por índios que

dominavam a ―língua dos brancos‖). Obviamente, são essas versões em português que

formam o corpus de trabalho de nossa pesquisa, que abrangerá basicamente quatro

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tópicos: estudo do mito – um levantamento de suas especificidades enquanto matéria

cultural e literária; discussão sobre a configuração do que poderíamos chamar de

literatura indígena contemporânea; estudo dos mitos indígenas e seu processo de

migração da oralidade para a escrita, bem como a importância desse processo para as

comunidades indígenas e para a manutenção e conservação de suas histórias e costumes.

E por fim, análise dos mitos do povo Kaxinawá, considerando esses textos enquanto

realização literária, com a função de complementar e exemplificar o terceiro tópico.

Palavras-chave: literatura e mito; literatura contemporânea indígena; histórias de

antigamente.

A RELIGIÃO, A MAGIA E O CANTO DE ORFEU NA ARGONÁUTICA DE

APOLÔNIO DE RODES

Fábio Gerônimo Mota Diniz (CNPq)

Maria Celeste Consolin Dezotti

Esse trabalho pretende analisar os aspectos significativos do personagem Orfeu

dentro da obra Argonáutica, de Apolônio de Rodes, verificando três características

principais de sua composição: (i) a função de Orfeu como líder religioso da expedição,

(ii) o papel de Orfeu como figura mágica dentro do poema e, por fim, (iii) o seu papel

como aedo e alter ego do próprio narrador, tendo em vista como essas características do

personagem se relacionam entre si, para a construção do mesmo.

Analisar-se-ão também todas as passagens que envolvam religião, magia e

canto, levando em conta os contextos que circundam cada uma das situações, de

maneira a compreender como esses elementos se relacionam na Argonáutica.

Pretende-se, ainda, realizar a análise e tradução, acompanhadas das devidas

notas e comentários, de cada uma das passagens onde o personagem Orfeu aparece na

Argonáutica, estabelecendo-se uma antologia de Orfeu dentro do poema. O

levantamento e a análise de todas essas passagens, mais a investigação das ocorrências

de certas estruturas-chave e a análise do vocabulário relacionado ao personagem Orfeu,

permitirão aprofundar o exame de sua participação na organização da Argonáutica,

tendo sempre por base os contextos que envolvam religião, magia e música e poesia.

Palavras Chave: Apolônio de Rodes; Argonáutica; Orfeu; magia; religião.

A ARQUITETURA DA CRIAÇÃO – UM ESTUDO DE MÍNIMOS, MÚLTIPLOS,

COMUNS, DE JOÃO GILBERTO NOLL

Fabiula Neubern (FAPESP)

Luiz Gonzaga Marchezan

Publicado em 2003, Mínimos, múltiplos, comuns, de João Gilberto Noll é

singular e instigador para o campo dos estudos literários. A afirmação baseia-se no

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objeto de seu conteúdo: são trezentas e trinta e oito narrativas mínimas – cerca de cento

e trinta palavras – que dão conta da temática da Criação em sua visão ocidental.

Na presente pesquisa pretendemos refletir, com pertinência teórico-crítica, a

respeito de questões que envolvem esse projeto editorial (inserido no contexto da

indústria cultural) e que ajudarão a identificar e a repensar o papel da autoria nesta obra

e na contemporaneidade. Para tanto, parte-se do fato de os textos terem sido produzidos

para a coluna Relâmpagos do caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, já para a

publicação em livro, João Gilberto Noll e o crítico Wagner Carelli optaram por elaborar

cinco grandes conjuntos, que são subdivididos, formando uma espécie de organograma

da trajetória humana, bem como de tudo aquilo que nos rodeia.

A referida divisão revela uma preocupação editorial em não apenas repetir o que

já fora publicado no jornal, portanto, preocupação com a recepção, bem como com o

mercado livreiro.

Assim, no organograma que compõe a já referida trajetória, parte-se do informe

que, aos poucos, configura-se em Gênese. A seguir, agregam-se Os elementos que

permitem o surgimento dAs criaturas, as quais interagem nO mundo até chegarem aO

retorno. Essa divisão, que mantém uma profunda relação com a Bíblia, remete-nos à

interdiscursividade, o que vai ao encontro de aspectos identificados na literatura

contemporânea que acaba por revisar/revisitar textos canônicos ao mesmo tempo em

que se ―desprende‖ deles. O autor (es?) comporta-se como um demiurgo que ao elaborar

seus instantes ficcionais está a propor a sua visão da concepção e organização do

mundo.

Para a nossa pesquisa, detivemo-nos no conjunto Gênese, pois acreditamos que

os 42 contos que o integram dão amostra das características, ou seja, da poética de seu

autor. A escrita nolliana beira à prosa poética. Seus textos têm profundo caráter

descritivo e nos remetem a estados de vaguidão, inconsciência e inusitabilidade.

Elementos que o alinham à prosa intimista de Clarice Lispector de quem Noll é leitor.

Palavras-chave: conto; autoria; recepção; Noll.

A DIALÉTICA DO ESPELHO: UMA LEITURA DO TEATRO GENESÍACO DE

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

Fernanda Cristina Pirola

Renata Soares Junqueira

Este projeto pretende situar as peças de teatro de Mário de Sá-Carneiro –

principalmente Amizade (1912), escrita em parceria com Tomás Cabreira Júnior, e Alma

(1913), fruto de uma parceria com António Ponce de Leão – na gênese da sua poética.

Trata-se de verificar a hipótese de que, escritas um pouco antes de 1913, essas peças

dramáticas desempenharam um papel primordial na gestação da obra maior, de poesia e

de ficção mais maduras, que o poeta de Orpheu publicaria em 1914 (Dispersão e A

confissão de Lúcio). A análise das peças de teatro mostrará que, ostensivamente na sua

temática, mas também já na forma dramática que as sustenta, nelas se faz presente a

mesma dialética – aqui chamada dialética do espelho – que inspirou o jogo de duplos,

de sombras, de identidades dissociadas que perpassam toda a obra literária posterior de

Sá-Carneiro, evidentemente mais arrojada e mais moderna.

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Com efeito, esse teatro apresenta-se, curiosamente, como um teatro de passagem

ou de transição, que não rompe ainda com o modelo naturalista – os seus diálogos ainda

são, convencionalmente, os do drama burguês, e as suas personagens ainda se

relacionam entre si, embora possamos já detectar, aí, algo como um prenúncio do

colapso das relações intersubjetivas –, mas que se situa já na antecâmara, digamos

assim, do teatro propriamente moderno. É que, ao compor personagens que se esforçam

por ocultar a sua verdadeira face (ou os seus desejos mais secretos), Sá-Carneiro sugere

já, mesmo que muito timidamente, algo que estaria posteriormente explícito na sua

poesia e na sua novelística mais maduras: a sua adesão à dialética da alma dissociada,

do sujeito intermédio entre o Eu e o Outro.

Palavras-chave: Teatro português; Mário de Sá-Carneiro; Pré-Modernismo; duplo;

século XX.

QUOUSQUE TANDEM: ESTUDO RETÓRICO-SEMIÓTICO DAS

ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS UTILIZADAS EM AS CATILINÁRIAS,

DE CÍCERO

Fernanda Elias Zucarelli

João Batista Toledo Prado

A leitura de textos jurídicos (peças processuais, especificamente contestações)

mostra que é muito comum o advogado de defesa apresentar, na primeira parte do texto,

um resumo do que foi relatado pelo advogado acusador e, na sequência, reconstruir o

caso, destacando os aspectos que favorecem seu cliente. Com isso, diferentes verdade

ficam evidentes e, como consequência, para um leitor mais crítico emergem

questionamentos: o que faz uma versão (verdade) ser melhor que a outra? Quais

elementos participam efetivamente na validação de um discurso como verdadeiro?

Quais procedimentos discursivos possibilitam ao enunciador produzir efeitos de sentido

que levam o enunciatário a crer naquilo que foi dito?

A constituição de um córpus para essa pesquisa levou em conta a intenção de

estudar a construção argumentativa do que se concebe como a verdade do discurso.

Como a ideia para o trabalho surgiu da leitura de Contestações (peças processuais de

defesa, de natureza cível), um primeiro impulso levaria a trabalhar com textos jurídicos

atuais, o que seria desafiador, no entanto o córpus seria extenso demais e exigiria um

exaustivo trabalho de seleção, o qual não anularia o risco de manusear textos sem

elementos interessantes ao desenvolvimento deste projeto. Optou-se, então, por estudar

As Catilinárias, de Cícero, assegurando, com essa escolha, um córpus com valor

literário reconhecido, qualidade argumentativa constatada e o gênero jurídico que

originou a pesquisa proposta.

Primeiramente, pretende-se fazer a leitura de As Catilinárias em latim, o que

permitirá evitar possíveis contaminações por ruídos de tradução. Será, portanto,

organizada uma tradução de estudo, ou seja, uma tradução que se produzirá

especificamente para este trabalho, pois priorizará o objeto de estudo do projeto: os

elementos argumentativos construídos por Cícero.

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Em um segundo momento, com a tradução pronta, far-se-á um levantamento das

estruturas argumentativas mais recorrentes, para, então, organizar o estudo teórico, ou

seja, para verificar como a Retórica Aristotélica, a Nova Retórica e a Semiótica Tensiva

analisam os argumentos previamente selecionados. Por fim, será possível investigar

intersecções entre as teorias e, não se pode descartar, haverá oportunidade para

estruturar novas leituras teóricas a partir da pesquisa Retórica.

Palavras-chave: Retórica; semiótica, Cicero, As Catilinárias.

ILUSÃO E TÉCNICA NARRATIVA EM O ATENEU, DE RAUL POMPÉIA

Franco Baptista Sandanello (participante, CNPq)

Wilton José Marques

Estruturado ao redor de um narrador autodiegético, O Ateneu, romance escrito

por Raul Pompéia em 1888, despertou uma série de contradições a respeito de seu

processo narrativo, ora compreendido pela crítica a partir do discurso de seu próprio

autor, ora a partir de uma narração estreitamente vinculada à sociedade brasileira do

Segundo Reinado. Nesse sentido, a preocupação central deste trabalho é a de avaliar e

discutir o papel complexo do narrador dentro do romance de Pompéia, atentando para a

dinâmica que se estabelece entre o presente da narração e o passado distante da diegese,

isto é, entre seu discurso e sua narrativa.

Tendo em vista este tratamento do foco narrativo no romance O Ateneu como um

todo, a metodologia do presente trabalho de pesquisa fundamenta-se sobre um sistema

de análise do texto narrativo. Para esse fim, adota-se como padrão de análise literária a

proposta de investigação presente no livro O discurso da narrativa, de Gérard Genette,

bem como, a fim de corroborar e problematizar a análise de tais elos entre as funções do

narrador e o universo de sua narrativa, a discussão realizada por Antonio Candido em

Literatura e Sociedade acerca da posição social do artista e da possibilidade ou não de

um público leitor como mediador da criação literária nacional. Desta forma, busca-se

evidenciar os limites de uma compreensão textual / contextual dos diversos aspectos da

perspectiva narrativa no romance, considerando-a a partir de seu diálogo tanto com seu

universo narrativo quanto com seu grupo virtual de leitores.

Palavras-Chave: Literatura Brasileira; Raul Pompéia; Ateneu; narrador; focalização.

BRANQUINHO DA FONSECA E O TEATRO DE VANGUARDA EM

PORTUGAL

Isabelle Regina de Amorim-Mesquita (CAPES)

Renata Soares Junqueira

O autor português António José Branquinho da Fonseca (1905-1974) vincula-se

ao chamado ―Segundo Modernismo‖ português. Este movimento está atrelado aos

ideais estéticos divulgados pela revista presença, fundada no ano de 1927, em Coimbra,

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pelo próprio escritor, por José Régio e João Gaspar Simões. A produção literária de

Branquinho mais conhecida é a prosa, sendo a novela O barão (1942) a sua obra de

maior destaque no ambiente acadêmico. Entretanto, o autor também se dedicou a outros

gêneros da literatura, como o poema e o drama, os quais são pouco conhecidos e

estudados tanto em Portugal como no Brasil. Esta pesquisa de Doutorado procura

resgatar uma parte da produção branquiniana que ainda não recebeu da crítica um

estudo específico: o teatro. A dramaturgia de Branquinho da Fonseca chama-nos a

atenção por trabalhar com os mesmos temas que o consagraram como ficcionista e

também devido ao fato desta produção experimentar novas formas para o gênero

dramático que, em sua época, ainda não eram praticadas pelos demais dramaturgos

portugueses.

Palavras-chave: Branquinho da Fonseca; modernismo português; teatro.

TESS OF THE D’URBERVILLES: TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E CRISE DE

VALORES

Isaías Eliseu da Silva

Maria das Graças Gomes Villa da Silva

Esta pesquisa de mestrado tem como objetivo arregimentar elementos no

romance Tess of the d’Urbervilles (1891), de Thomas Hardy, que permitam evidenciar a

dramatização da crise dos valores sociais e humanos que se apresenta na obra. O

romance, publicado no final do século XIX, chocou público e crítica pelo tom fatalista e

por um desenlace irreversível conferido à protagonista, uma personagem que incorpora

o sentimento de desilusão lançado sobre o homem daquela época, abatido pela

consciência de sua pequenez perante as demandas de um mundo cada vez mais

exigente. O contexto histórico daquele momento é o da Revolução Industrial e, na sua

esteira, são conflagradas mudanças de comportamento terminantemente responsáveis

pela instauração de uma crise de identidade nos indivíduos. Com a efervescência

cultural e capitalista, antigos valores perdem espaço para novas práticas e o choque

entre o novo e o velho nem sempre se dá de maneira pacífica. Raymond Williams

enxerga em Hardy um arauto da mudança: sendo um autor da era vitoriana, apresenta

em sua obra o prenúncio do Modernismo. Em Tess of the d’Urbervilles estão presentes

os expedientes vitorianos, tais como a questão do casamento, a submissão feminina e os

valores convencionados, entretanto, a desesperança e a sensação de falha do homem já

antecipam alguns dos temas cultivados pelo Modernismo que se avizinhava. Muito mais

do que apenas apresentar a dinâmica da velha Inglaterra rural, Hardy expõe as

implicações que se davam por conta da mudança do modo de produção: o avanço

tecnológico decorrente da Revolução instalava o capitalismo em redutos até então

organizados de maneira feudal e, dessa forma, surgiam os conflitos que culminavam na

crise de valores que se vê dramatizada no romance.

Palavras-chave: Literatura vitoriana; Thomas Hardy; valores sociais; mudança.

AS IMAGENS DA DIFERENÇA: O ESPAÇO EM O GRANDE GATSBY

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Jassyara Conrado Lira da Fonseca

Márcio Natalino Thamos

O romance O Grande Gatsby pode ser enxergado como uma crônica de toda a

década de 20, por contar com diversas marcas desse momento da história americana. E

Francis Scott Fitzgerald, seu autor, é considerado o porta voz dessa geração. Uma

geração que passava por transformações drásticas na economia e na sociedade, causadas

por uma guerra recém terminada. Para aqueles afetados diretamente pela crise esse

período foi de extrema privação. Para outros, como o protagonista da história, esse

momento histórico possibilitou o acúmulo de riquezas. Nessa atmosfera de absurdas

diferenças é que se desenvolve a narrativa de Nick Carraway, que é o único personagem

que caminha por todos os espaços. A proposta desse estudo é a análise dos espaços

narrados e de como as diferenças na sociedade são marcadas nos cenários. A

caracterização dos espaços é fundamental para a apreciação da obra. Os personagens,

inseridos nesses cenários, complementam essa caracterização e também os compõem.

A pesquisa está sendo desenvolvida através de estudos bibliográficos. As análises

deverão ressaltar as questões sobre o espaço/ambientação, literatura da década de 1920,

conceitos semióticos para a literatura e adaptação cinematográfica, bem como as duas

narrativas, uma literária e outra cinematográfica, incorporam essas questões e o

contexto histórico, e como a diferença de formato entre as artes faz com que elas se

aproximem ou se afastem.

Palavras chaves: Fitzgerald; O Grande Gatsby; cinema e literatura; espaço.

O ARQUÉTIPO DA BRUXA: DE AURA A INQUIETA COMPAÑÍA

Jucely Aparecida Azenha

María Dolores Aybar Ramírez

Obras do escritor mexicano Carlos Fuentes, Aura e o conjunto de narrativas que

compõem Inquieta Compañia são pertencentes ao gênero fantástico. Outro aspecto

fundamental das obras é a organização mítica que lhes serve como suporte estrutural,

além da temática tangenciada pela personagem arquetípica da bruxa – à exceção de

Vlad, de Inquieta Compañía. Tendo em vista as especificidades do gênero das

narrativas, o diálogo estabelecido com o imaginário e ademais, evidentemente, da

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literariedade das obras, nosso estudo se propõe a desvendar a materialização da figura

arquetípica da bruxa e suas diversas representações no texto fantástico. Para isso,

primeiramente nos fundamentaremos nos estudos acerca do fantástico realizados por

Louis Vax, Irène Bessière e Tzvetan Todorov, e em seguida, contaremos com o suporte

oferecido pela teoria de Gilbert Durand, a saber, a arquetipologia geral.

Palavras-chave: arquétipo da bruxa, literatura e mito, literatura fantástica.

ESCRITA DO CORPO: A CICATRIZ DE NOLL

Júlio Cézar Alves de Melo Lima

Luiz Gonzaga Marchezan

A pesquisa constitui uma proposta de discussão e reflexão sobre a escrita de

João Gilberto Noll como acontecimento que segue os movimentos dos corpos. Este

trabalho busca percorrer e explorar algumas das diversas vias com que os contos se

apresentam na obra de Noll. A partir das teorias e críticas da narrativa, nosso objetivo

geral é examinar como a figura do corpo encontra-se representada no interior do

sentimento do mundo do autor e em A máquina de ser (2006). O corpus é selecionado

entre os 24 contos do escritor; direciona a pesquisa na hipótese de que instala, no

discurso, os fios que tecem a narrativa e reverbera o sentido da ficção de João Gilberto

Noll.

Palavras-chave: linguagem; corpo; narrativa; João Gilberto Noll.

A OBSTINAÇÃO NACIONALISTA: O CORTIÇO E A TRADIÇÃO DE

REPRESENTAÇÃO DO BRASIL

Júlio Cezar Bastoni da Silva (CAPES)

Wilton José Marques

A pesquisa tem como intuito pensar a tradição de representação do Brasil na

literatura oitocentista. Neste século, o romance tem como paradigma na construção da

identidade nacional a produção romântica, que apresenta uma aparente ruptura em

relação à literatura realista-naturalista, que reconfigura, mas não exclui, o debate e o

interesse pelas facetas locais e a construção de um sentido para a nacionalidade. Nesse

sentido, a linha de continuidade que exerce influência cabal nestas produções é a relação

específica de cada autor e obra com as matrizes literárias européias, bem como com

correntes de pensamento e práticas sociais estrangeiras. A expectativa, pois, dos

intelectuais brasileiros de criar uma literatura e uma identidade nacional não se dava a

despeito de outros países, mas por meio de uma relação de apropriação local das

representações ideológicas estrangeiras. Isto foi um fator importante que caracterizou as

possibilidades de interpretação e representação do Brasil pelos nossos escritores.

No naturalismo houve, portanto, uma continuidade da interpretação nacional,

ainda que lançando mão de métodos diferentes dos românticos. Isso significou uma

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continuidade não apenas enquanto tema, mas como maneira de apropriação ideológica,

que se reproduz na forma romanesca. Este trabalho, portanto, tem como proposta

investigar a interpretação naturalista do Brasil em seu romance mais representativo, O

cortiço, considerando a inserção e a especificidade deste na tradição romanesca de

representação do país, bem como a relação das idéias naturalistas – e românticas – em

chão social outro, de país industrial para país dependente. Trata-se de uma tentativa de

síntese, mas, sobretudo, de agregação de novas leituras a estes momentos da tradição

literária nacional, tendo como base sua confluência com o processo social da época.

Palavras-chave: Nacionalismo; naturalismo; romantismo; O cortiço.

O PROMENEUR ROMÂNTICO

Karina de Oliveira (FAPESP)

Guacira Marcondes Machado Leite

Esta pesquisa tem por objetivo explorar as características formais e temáticas

associadas à figura do promeneur na literatura romântica francesa, desde Jean-Jacques

Rousseau até suas manifestações tardias, como é o caso de Gérard de Nerval. Trata-se,

pois, de um trabalho de base historiográfica, mas que envolve igualmente os

procedimentos de leitura crítica e de formulações teóricas. Pretende-se, inicialmente,

fazer um levantamento, em livros de história literária e de teoria, dos autores e obras

que tenham empregado o conceito de ―promeneur‖. Com isso, será possível dirigir o

foco do trabalho para a análise crítica propriamente dita, no sentido de discernir e

sistematizar os fenômenos estéticos que se articulam em função desse conceito,

estabelecendo sempre um paralelo com o modelo rousseauniano, que, com Les rêveries

du promeneur solitaire, teria fornecido à literatura o arquétipo do promeneur romântico.

Palavras-chave: Literatura francesa; romantismo; história literária; crítica literária;

promeneur.

O CALEIDOSCÓPIO DA LINGUAGEM NA OBRA DE LLANSOL

Karina Marize Vitagliano (UNESP/SJRP/CAPES)

Sônia Helena de Oliveira Raymundo Piteri

Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE/UNESP/SJRP

A obra da escritora portuguesa contemporânea Maria Gabriela Llansol provoca

instabilidade no eixo do significante/significado ao promover a mutabilidade e a

expansão do signo, que se desdobra em combinações inusitadas. Alguns termos,

cunhados pela própria autora, explicitam esse processo de construção de sua escrita,

como é o caso de ―cena fulgor‖, ―dom poético‖ e ―textualidade‖, entre outros. Esses

vocábulos aliam-se à formação múltipla e desconcertante de imagens observada num

caleidoscópio, pois propiciam o movimento contínuo do texto, que se irradia sob a

forma de ―textolábio‖, ―textualino‖, ―textuante‖. Diante dessa percepção, este projeto

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propõe-se a analisar a metamorfose incrustada na escrita de Llansol, tendo em vista que

seu texto cria e recria uma congeminação de ―imagens‖ em uma velocidade que exalta a

potencialidade das palavras, ocasionado a mutação do próprio processo metamórfico.

Com essa perspectiva de visão, constituem o corpus desta pesquisa os livros:

Lisboaleipzig I: o encontro inesperado do diverso (1994), Um falcão no punho (1998),

Onde vais drama-poesia?(2000), Parasceve: puzzles e ironias (2001), O jogo da

liberdade da alma (2003) e Amigo e amiga: curso de silêncio de 2004 (2006). Nesses

textos, a encenação da escrita mobiliza não apenas os vocábulos, mas também sinais

gráficos, espaços em branco, pausas, silêncio, burlando o poder da língua e subvertendo

as diferentes categorias narrativas, um texto onde tudo existe em fluxo permanente.

Palavras-chave: escrita; caleidoscópio; imagem; Maria Gabriela Llansol.

LITERATURA, REPRESENTAÇÃO E HISTÓRIA - A OBRA DE PAULO

CORRÊA DE OLIVEIRA

Katiane Iglesias Rocha Araujo (FUNDECT)

Luiz Gonzaga Marchezan

Mesmo na contemporaneidade, ainda é possível encontrar obras que, embora de

grande valor representativo, estejam desconhecidas da maior parte da população. Dessa

forma, a produção de Paulo Corrêa de Oliveira surge no cenário de Mato Grosso do Sul

como uma iniciativa de unir a produção cultural, considerada no âmbito literário e

teatral, às questões sociais, históricas e culturais que demarcam a identidade cultural do

Estado. Assim, o resgate, a valorização e a divulgação, além da análise crítica de tais

obras, é o que propõe a presente pesquisa.

Palavras-chave: Literatura; representação literária; teatro; história; identidade cultural.

O REALISMO MÁGICO E OS SÍMBOLOS EM IL BARONE RAMPANTE, DE

ITALO CALVINO

Kelli Mesquita Luciano

Karin Volobuef

Claudia Fernanda de Campos Mauro

Este projeto tem como objetivo o estudo do realismo mágico e dos elementos

simbólicos presentes em Il barone rampante (1957), segundo romance da trilogia I

nostri antenati (1950-1960), de Italo Calvino. Trata-se de um texto com características

de vários gêneros próximos entre si - fantástico, maravilhoso e o realismo mágico. Por

isso, uma das etapas de nossa investigação é fazer um levantamento de traços que

marcam e distinguem essas formas literárias. Consideramos que essa parte da

investigação nos permitirá averiguar, com maior segurança, a inclusão do romance no

perímetro do realismo mágico.

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Para tanto, será realizada a análise dos elementos insólitos da narrativa, partindo-

se das teorias de estudiosos como Coalla, Spindler, Todorov, Roas, Chiampi, etc. A

análise dos elementos simbólicos será conforme Todorov, Mello, Goethe, Chevalier &

Gheerbrant.

Outra etapa do estudo terá em vista a peculiaridade da ficção calviniana. Para

conhecê-la melhor, diversos comentadores e especialistas de sua obra serão consultados,

merecendo destaque Asor Rosa, Bonura, Manacorda, entre outros.

Na análise de Il barone rampante evidenciam-se as incertezas, o conflito entre o interior

do indivíduo e a realidade externa – o que se expressa mediante a ocorrência de

acontecimentos insólitos. O enredo se passa no século XVIII e os acontecimentos nos

são relatados pelo narrador-personagem Biagio, irmão mais novo do protagonista

Cosimo. Filho de uma família da aristocracia decadente em terras genovesas, o

protagonista discute com seu pai, o Barão Armínio, passando a morar na copa das

árvores, de onde nunca mais desce até o resto de sua vida.

Com base nesse evento – que não é sobrenatural (o que exclui o fantástico sob a

ótica de Todorov), mas certamente é inusitado e até insólito – Calvino aborda questões

existenciais, que traduzem a busca por uma totalidade inatingível, a fragmentação do

homem contemporâneo, a ruptura com a sociedade tradicional e a recusa dos papéis por

ela atribuídos ao indivíduo. É amplo o leque formado por esses aspectos – que inclusive

não excluem a interface com eventos da realidade sócio-histórica da Itália na primeira

metade do séc. XX. A análise da dimensão simbólica desses aspectos do texto é a etapa

final de nossa pesquisa.

Palavras-chave: Italo Calvino; realismo mágico; símbolo.

TRISTAN CORBIÈRE: O SUJEITO POÉTICO E A BUSCA DA IDENTIDADE

Lilian Yuri Yoshimoto (CAPES)

Silvana Vieira da Silva

O poeta francês Tristan Corbière (1845-1875) destaca-se comumente no cenário

da poesia do fim do século XIX pela maneira jocosa com que constrói seus versos e,

embora tenha vivenciado a edificação do ideal simbolista de arte, sendo frequentemente

identificado com este ideal, demonstra uma postura que nega veementemente o

espiritualismo e a poética da transcendência. Este trabalho visa destacar o tema central

da busca pela identidade do eu poético mediante os aspectos modernos da única obra

publicada por Corbière, o livro Les amours jaunes (1873). A obra é composta por sete

capítulos ou seções que iniciam e fecham com o motivo da morte, aliando o

cosmopolitismo parisiense ao regionalismo bretão. Manifestam-se jogos de palavras ou

figuras de linguagem como metáforas inusitadas e oxímoros reveladores de uma postura

que, de certa forma, desconstrói o canône literário, negando e afirmando crenças

simultaneamente. A paródia de textos da Antiguidade clássica revela o caráter satírico

do poeta, que busca negar também o padrão idealizante da arte em voga na época,

propagado pelos representantes de movimentos estéticos como o Romantismo e o

Simbolismo. Como um expoente da modernidade estética do século XIX, a qual teve

por precursor o poeta Charles Baudelaire (1821-1867), Corbière encara a arte de forma

redentora, em seu niilismo, coloquialismo e aparente negação da tradição e de

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instituições, há uma ânsia por algo talvez inatingível, ou seja, uma identificação

definitiva do eu poético que resultaria em um consequente e confortante encontro com o

próprio eu empírico, como costumam ressaltar os críticos que aproximam estes dois de

forma contundente. O discurso assim pautado por elementos e anseios recorrentes entre

os epígonos da modernidade coloca Corbière como mais uma face dessa época que se

caracteriza por obras que visam renovar os padrões cristalizados da arte. O teor

desconcertante dos textos corbierianos, com sua negação e sua ironia, permeadas pela

morte, ilustram a busca por uma definição de si mesmo, poética e empiricamente, bem

como manifestam a busca por uma poética renovadora.

Palavras-chave: Tristan Corbière; identidade; modernidade; negação; eu poético.

IMPRESSÕES E MITOS EM OS PESCADORES, AS ILHAS DESCONHECIDAS

E OS OPERÁRIOS DE RAUL BRANDÃO

Mágna Tânia Secchi Pierini (FAPESP)

Guacira Marcondes Machado Leite

A partir das discussões levantadas na dissertação de mestrado referentes à

constituição de uma linguagem poética e mítica em Os Pescadores (1923), a presente

pesquisa busca o aprofundamento e ampliação dessas questões para As Ilhas

Desconhecidas (1926) e Os Operários (1984), ainda pouco exploradas pela crítica.

Escritor português do período de transição entre os séculos XIX e XX, Raul Brandão

vivenciou e participou de várias mudanças estéticas.

As impressões que se encontram nos romances selecionados podem ser

agrupadas em poéticas, pictóricas e labirínticas. Nas impressões poéticas estão as

percepções do narrador e dos personagens sobre a natureza e os lugares, a vida e a

existência humana. Elas são expressas por meio de metáforas, símbolos, ritmos e

sinestesias. As pictóricas manifestam-se através de vocábulos próprios da pintura, da

freqüente presença da luz e cor, por exemplo. Já as impressões labirínticas referem-se às

percepções dos narradores durante os caminhos percorridos nas obras, tanto em relação

aos elementos exteriores (costa e ilhas portuguesas, fábricas) como interiores (alma do

homem português).

Os mitos se apresentam no âmbito do sagrado e da estrutura narrativa, na

configuração do tempo mítico por meio de referências freqüentes às partes do dia ou às

estações do ano e também nas relações espaciais ou nos itinerários percorridos pelos

narradores. Outra forma de se notar essa presença é pela identificação de metáforas que

fazem alusão a mitos clássicos.

Esses aspectos mencionados serão discutidos partindo principalmente dos

elementos textuais a fim de transpô-los em sentidos que levem às composições das

dualidades do ser. Já a obra Os Operários apresenta algumas particularidades referentes

à composição estrutural, pois, a mesma passou por ajustes referentes a possíveis ordens

de capítulos, reescrita textual devido ao desgaste do papel, entre outros. Portanto, o seu

estudo se baseará na escolha da linguagem que se aproxima do documentário e nos

sentidos das reflexões brandonianas acerca da situação do trabalhador português do

início do século. Dessa forma, será possível mostrar que as obras escolhidas como

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corpus desse trabalho também apresentam grande valor literário, assim como outras

importantes obras do mesmo autor.

Palavras-chave: Impressões; mitos; hibridismo; literatura portuguesa.

O FEMININO EM CHICO BUARQUE: ESTUDO DO ETHOS DO

ENUNCIADOR

Marcela Ulhôa Borges Magalhães (CAPES)

Maria de Lourdes Ortiz Gandini Baldan

Nesta pesquisa de mestrado, nosso objetivo é realizar um estudo sobre os eu

líricos femininos presentes na obra de Chico Buarque de Holanda. Selecionamos para

nossas análises as letras de canção ―Atrás da porta‖ (2007), ―Com açúcar, com afeto‖

(2007), ―O me amor‖ (2007), ―Não sonho mais‖ (2007), ―Teresinha‖ (2007) e trechos

do drama Gota d’água (1998). É importante salientar que desautomatizamos o olhar

que, em geral, recai sobre a canção, pois nos focamos apenas na parte verbal que a

constitui, motivo pelo qual lidamos com os efeitos de sentido provocados pelo texto

verbal, e não pela canção como um todo.

A teoria que conduz nossos estudos é a Semiótica greimasiana de linha

francesa, cujas bases estão em Saussure e Hjelmslev, autores que também são de exímia

importância no desenvolvimento de nosso trabalho. O feminino foi muito estudado por

meio de teorias de fundo psicanalítico e cultural, mas pouco a parir de teorias que

enfocassem o texto em si, como é o caso da Semiótica.

Pretendemos demonstrar aqui, por meio da análise da obra de Chico Buarque,

que é perfeitamente possível a escrita feminina em um texto de registro masculino, já

que acreditamos que o feminino é um efeito de sentido que emana próprio texto,

alcançado por meio de estratégias discursivas. É o modo como o enunciador manipula o

discurso que cria, no leitor, o efeito de sentido do feminino. Como essas questões

imbricam-se, inevitavelmente, à problemática da autoria, recorremos ao estudo do ethos

discursivo, definição que tomamos emprestada da Retórica e da Análise do Discurso de

linha francesa, o qual é definido como a imagem do enunciador projetada nos textos que

escreve.

A partir da análise exaustiva do córpus selecionado, verificamos que há, de fato,

diversas recorrências de elementos composicionais, tanto temáticos quanto expressivos,

presentes nesses textos, situação que evidencia a existência do ethos de um enunciador

feminino na obra de Chico Buarque, cujas características serão delineadas conforme o

prosseguimento da pesquisa.

Palavras-chave: Chico Buarque; efeito de sentido, ethos, feminino, semiótica.

UMA SAFRA DE LAGRÍMAS:

A RELAÇÃO ENTRE HYBRIS E ÁTE EM OS PERSAS DE ÉSQUILO

Marco Aurelio Rodrigues (FAPESP)

Fernando Brandão dos Santos

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O tragediógrafo Ésquilo, nas obras que chegaram até nós, sempre abordou em

cena um aspecto extremamente importante do pensamento grego: a relação entre

homens e deuses. Tamanha é a importância deste fato que, na obra Os Persas, o autor

faz uso do conceito de hybris e áte, relacionando-os, para justificar a derrota do povo

persa nas Guerras Médicas. Xerxes, na tragédia, é tido como um déspota que, por

influência da personificação do erro (Áte), sucumbe em excessos e atitudes desmedidas

(hybris). Sendo assim, o que se pretende analisar é a relação entre os conceitos de hybris

e áte e de que forma Ésquilo apresentou-os ao público, mostrando o desequilíbrio entre

Xerxes e os deuses, o que acabaria por gerar, nas palavras do próprio autor, ―uma safra

de lágrimas‖.

Palavras-chave: Ésquilo; tragédia, Os Persas, hybris, áte

A REPRESENTAÇÃO FEMININA EM VIRGINIA WOOLF

Maria Aparecida de Oliveira

Maria Clara Bonetti Paro

Este projeto de pesquisa investiga como as concepções feministas de Virginia

Woolf presentes em A room of one’s own, Three Guineas e Women and Fiction podem

ser discutidas a partir das obras Mrs. Dalloway e To the lighthouse. Pretende-se com

isso demonstrar uma coerência na obra de Virginia Woolf que aponta para um projeto

estético, o qual definiria sua escritura. Para tal investigação, a pesquisa conta com o

embasamento teórico apresentados em Madwoman in the attic e No Man’s Land de

Sandra M. Gilbert e Susan Gubar; A literature of their own e The female Malady:

Women, Madness and English Culture de Elaine Showalter; Gender Problems de Judith

Butler entre outros.

Tanto em Madwoman in the attic como em A literature of their own, as autoras

buscam mapear a tradição literária feminina e ambos tomam como base o texto original

de Virginia Woolf A room of one’s own para estabelecer uma crítica feminista, ao

mesmo tempo que constroem uma história literária feminina e questionam o cânone

tradicional. Para Showalter, a crítica feminista e a história literária feminina não

dependem apenas da descoberta de um único grande gênio literário, mas

principalmente, da continuidade e legitimação da escrita feminina como uma forma de

arte.

Já as autoras Sandra M. Gilbert e Sandra Gubar refletem sobre a libertação das

escritoras de um confinamento social e literário, a partir das redefinições estratégicas do

―eu‖, da arte e da sociedade. Elas deveriam recuperar não apenas a literatura feminina,

mas, sobretudo, uma história feminina, que tem sido negligenciada ao longo da história

das civilizações.

Palavras chaves: Crítica feminista; tradição literária feminina; história literária

feminina.

O ESPAÇO EM LE CHÂTEAU DE MA MÈRE E LA GLOIRE DE MON PÈRE DE

MARCEL PAGNOL

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Marina Lourenço Morgado

Adalberto Luis Vicente

Nos romances La gloire de mon père e Le château de ma mère, o autor retrata

um período de sua infância em que, juntamente com sua família, passava as férias numa

casa de campo, chamada Bastide Neuve, próxima de Marseille. Marcel Pagnol faz uma

pintura da Provença utilizando como espaço geográfico as suas colinas, rios e florestas,

onde Marcel e seu amigo Lili eram livres para explorar a floresta e caçar. Essa pintura

contribui para o efeito realista da descrição de toda a paisagem selvagem da Provença

que é uma região repleta de cores naturais e odores, que contribui para essa riqueza de

detalhes presentes na narrativa. Além disso, o espaço simbólico em Le château de ma

mère e La gloire de mon père contribui para representar as características da Provença.

Existe um anseio em sentir cheiros, texturas e temperaturas que percorre a direção que

vai do autor aos personagens. A floresta e o seu espaço são os temas principais do

romance e mostram todo o amor que Pagnol dedicou a terra provençal. Dir-se-ia que

esse espaço significa um retorno à sua vida passada e ao caminho de sua infância,

vivendo a presença de seus familiares e amigos. Desse modo, a Provença e sua natureza

marcam a obra de Pagnol de modo excepcional, sendo os principais símbolos as colinas,

a casa de veraneio Bastide Neuve e os animais. Verifica-se que toda a simbologia

presente nesse espaço condiciona os elementos que o fazem ser não apenas um pano de

fundo para ações, mas um poderoso universo simbólico que condiciona as outras

categorias narrativas.

Palavras chave: Literatura francesa; romance francês; espaço geográfico; espaço

simbólico.

A IRONIA EM “TERCEIRAS ESTÓRIAS: TUTAMÉIA”

Maryllu de Oliveira Caixeta

Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite

Propomos o estudo comparado da ironia, uma espécie de beleza lógica produzida

por distanciamento crítico conforme o romântico Friedrich Schlegel, com ―Tutaméia:

terceiras estórias‖, de João Guimarães Rosa. Os título e subtítulo da referida obra

apontam a ambigüidade avaliativa do termo ―tutaméia‖ (quase nada e todas as minhas

coisas) associada ao gênero estória que estreara na obra anterior de Rosa: Primeiras

estórias; obras que também se diferenciaram em relação às primeiras do autor por certa

ênfase auto-avaliativa combinada ao afastamento de padrões realistas de representação.

O primeiro dos quatro prefácios de Tutaméia apresenta o modo de ser da estória que

toma por paradigmas formas narrativas comunitárias (anedota de abstração, adivinha,

Koan, mito). Os efeitos da estória são aproximados aos do chiste calcado no postulado

romântico de um gênero híbrido de amplitude mítica, apontando também para o valor

do leitor no processo interativo aí pressuposto. Para análise, tomaremos inovações

estruturais que, além de sinalizarem diretamente a ordenação irônica de Tutaméia pelo

autor têm a estória como ponto de correlação: o título duplo e ambíguo da obra, quatro

prefácios que apresentam o gênero estória contextualizando e desenvolvendo questões a

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ele vinculadas, as epígrafes junto aos índices de leitura e releitura que, entre outras

coisas, declaram tratar-se de uma obra ―orgânica‖, uma metáfora romântica. Esse corpus

encaminha-nos a um direcionamento teórico aliado ao estudo comparado da tradição

romântica aí retomada e modificada. Nossa hipótese: Parece-nos que as referidas

inovações estruturais são pistas que caracterizam um projeto irônico de representação. O

gênero estória nos serve como ponto de correlação entre as outras inovações estruturais

elencadas por sinalizarem traços gerais da ordenação irônica dessa obra pelo autor.

Nosso objetivo: A partir do estudo da referida ironia romântica, investigar como se dá a

ordenação irônica de Tutaméia por seu autor.

Palavras-chave: Tutaméi;, ironia; representação.

CAMINHOS DO MELODRAMA EM PORTUGAL

Michele Cristina Voltarelli Barbon (CAPES)

Renata Soares Junqueira

Ao estudarmos o melodrama português oitocentista percebemos que ele sofreu

diversas alterações ao longo do século, de acordo com o momento no qual estava

inserido. Embora haja referências de sua presença em Portugal já no final do século

XVIII, é no Romantismo que ele se destaca, inicialmente acompanhando o período das

contendas políticas entre liberais e conservadores; mais tarde, ao atingir o final do

século, quando têm início as manifestações em prol da proclamação da república, ainda

permanece em voga. Entretanto, para acompanhar as mudanças referentes ao contexto

político, histórico e social teve que se adaptar, passando por alterações tanto formais,

quanto temáticas, além de sofrer a concorrência de outros tipos de teatro – como o teatro

simbolista, por exemplo. Isto nos faz afirmar que, embora tenha como principais

características o maniqueísmo das personagens, o excesso de sentimentalismo e a

presença obrigatória da vitória redentora da virtude (leia-se ―moral‖), o melodrama

revela uma notável capacidade de adaptação, o que lhe possibilitou manter-se

constantemente presente ao longo do século nos palcos portugueses, inclusive

adentrando já o século XX. Neste momento de nossa pesquisa dedicamo-nos às peças de

D. João da Câmara: O Pântano (1894) e A Rosa enjeitada (1901), como textos

paradigmáticos que demonstram a permanência e a resistência típicas do melodrama, no

final do século XIX e início do XX, buscando demonstrar de que modo o gênero

assimilou influências sociais e estéticas finisseculares.

Palavras-chave: Melodrama; século XIX; Portugal; D. João da Câmara.

OS ENTREMEIOS DA CRÍTICA NA CRÔNICA MARIOANDRADINA

Michelle Aranda Facchin

Sylvia Helena Telarolli de A. Leite

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Baseamo-nos no estudo do riso, considerando-o como instrumento do fazer

crítico de Mário de Andrade na escrita das crônicas, organizadas e publicadas em

coletânea (Os Filhos da Candinha) após terem feito parte da coluna ―Táxi‖, do jornal

Diário Nacional. Dentre as 8 crônicas escolhidas para a realização da presente

pesquisa, propomo-nos a apresentar nossa proposta de análise d‘ ―O Diabo‖, a fim de

demonstrar como o riso é um elemento difusor da crítica de Mário de Andrade e quais

relações intertextuais e interdiscursivas, obtidas por meio do estudo do cômico,

podemos estabelecer entre seus textos e aqueles que possivelmente o influenciaram.

Mário foi um eterno pesquisador de seu tempo e, sendo assim, utilizou seu

conhecimento para parodiar, criticar e ironizar seja por meio das inovações no plano

estético, seja no esforço para manter-se como escritor social, tentativa esta iniciada após

1930, período em que Mário já apresenta em seus textos um retorno às origens das

‗tradições que maduram‘, sob a influência do ―Espírito Novo‖ de Apollinaire, e põe-se a

criticar sua própria arte de ‗individualista‘. Daí em diante, a proposta do escritor

apresentou-se-nos como uma perfuração do plano estético para fazê-lo trabalhar em

conjunto com o ideal de valorização nacional e de participação social. Por meio do tom

crítico, Mário utilizou o espaço da crônica para tratar de diversas questões que o

incomodaram. Podemos considerá-lo precursor de seu tempo, no momento em que o

pensamos enquanto estudioso que caminhou por textos diversos e soube, por meio do

risível, estabelecer sua crítica, fundamentada no dever da ‗constante pesquisa‘ da

realidade social e da estética do texto, diferentemente do que os outros modernistas de

seu tempo propuseram-se a fazer.

Palavras-chave: Riso; crônicas; Mário de Andrade; interdiscursividade;

intertextualidade.

ZWECKMÄSSIGKEIT OHNE ZWECK: IDÉIAS KANTIANAS NA ESTÉTICA

DE GOETHE

Mirella Guidotti

Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas

O projeto investiga a influência da Terceira Crítica kantiana na estruturação

daquilo que chamaremos de pensamento estético goetheano, abordando os elementos

presentes nos ensaios escritos a partir de 1786, ano em que Goethe realiza a famosa

viagem a Itália e espécie de marco da consolidação de sua estética. Em resumo, trata-se

da abordagem do diálogo teórico com a obra do filósofo de Königsberg que permeia,

implicita ou explicitamente, o texto de Goethe , através de conceitos tais como símbolo,

sublime, idéia estética e finalidade sem fim, traduzidos no pensamento goetheano na

recusa da mera apreensão conceitual da obra de arte em favor de uma fruição, ou

interpretação, atenta ao inaudito, ao não traduzível que ela contém. Goethe defende

assim uma teoria da arte que não despreze o sentimento, o imprevisível, o indizível da

arte, reconhecendo a impossibilidade de explicar completamente o belo artístico.

Palavras-chave: Goethe; Kant; estética.

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ASSOCIAÇÃO E MEMÓRIA EM THE MOONS OF JUPITER DE ALICE

MUNRO

Narayana Anunciato Alves (CNPq)

Maria das Graças Gomes Villa da Silva

Este trabalho tem por objetivo demonstrar que o ponto central unificador dos

contos ―Chaddeleys and Flemings‖ e ―The Moons of Jupiter‖, de Alice Munro, são as

associações realizadas a partir do emprego da memória que propicia o retorno ao

passado. Com o intuito de demonstrar as estratégias narrativas desta autora canadense, a

memória é abordada a partir dos estudos freudianos, portanto, como engrenagem do

inconsciente, cujo trabalho é marcado pelo desejo na busca de sempre obter o prazer no

jogo constante de vida e morte. No conto inicial, que se desdobra em dois, há uma

protagonista às voltas com sua infância pobre e seu relacionamento conflitante tanto

com seu marido de família abastada quanto com seus familiares; no último, a mesma

protagonista acompanha seu pai durante a hospitalização dele para realizar uma cirurgia

cardíaca, em que seus laços afetivos são reatados. Calcados no cotidiano, cada conto é

centrado em uma situação em que noções anteriores entram em conflito com fatos atuais

na vida de uma protagonista, levando-a a uma revisão de si própria para que tais

conflitos possam ser solucionados e o sofrimento atenuado. Assim, tem-se o desejo do

prazer - segundo Freud, inato ao ser humano - mediando não apenas as operações

mnemônicas, mas também a constituição da identidade individual. No plano textual,

retalhos do passado, presente e digressões alternam-se, estreitamente interligados por

associações particulares à personagem que fazem com que o leitor mova-se pela

narrativa como se estivesse dentro da mente da protagonista. Além de demonstrar

pontos de vista pessoais distintos em relação ao tema de cada narrativa, tal configuração

plasma no texto a expressão da subjetividade humana, aproximando o leitor. Portanto,

no presente caso, a construção do sentido no texto literário ocorre em paralelo ao

movimento de revisão do passado, sendo tal modo de estruturação da narrativa um dos

elementos característicos do estilo da escritora.

Palavras-chave: Alice Munro; Freud; memória; conto contemporâneo; literatura

canadense.

ASPECTOS DA AUTORIA FEMININA NA POESIA DE EMILY DICKINSON

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Natalia Helena Wiechmann (CAPES)

Alcides Cardoso dos Santos

Esta pesquisa tem por objetivo estudar a poesia de Emily Dickinson a partir de

uma perspectiva teórico-literária que confronte as concepções da sociedade patriarcal do

século XIX em relação ao fazer literário com a intensa produção poética de Dickinson

para que, dessa forma, possamos definir e explorar as marcas da presença do feminino

na obra da poeta.

Considerando que, no patriarcado, a figura masculina impõe sua autoridade

sobre as mulheres e as relega a um papel de completa subserviência, a criação é tida

como algo essencialmente masculino. A produção literária, portanto, relaciona-se

intrinsecamente a essa condição, uma vez que a escrita é um ato criador e criativo, o que

faz da pertença ao gênero masculino ou feminino um fator indissociável da obra

literária. Para contornar essa tradição literária patriarcal, as autoras do século XIX

teriam desenvolvido, como estratégia de expressão literária, a criação de um subtexto

compreensível apenas à audiência feminina. Na obra de Emily Dickinson, esse subtexto,

revelador da constituição do feminino na escrita, estaria contido, por exemplo, nas

imagens e motivos de sua poesia.

Algumas questões que fazem parte deste estudo são, por um lado, a tradição

literária marcadamente masculina e os estereótipos aos quais as mulheres foram

confinadas dentro e fora da literatura. Por outro lado, examinamos as formas que estas

questões tomaram na poesia de Emily Dickinson, dentre elas o subtexto que denuncia o

grau de consciência da autoria feminina, as imagens poéticas que condensam a

experiência da poeta com a autoridade poética e social masculina e a sua dicção poética

particular, que indica uma atitude de resistência poética às convenções lingüísticas e

literárias de seu tempo.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, partimos de textos fundamentais da

crítica literária feminista: Mary Woolstonecraft, Virginia Woolf, Elaine Showalter,

Sandra Gilbert e Susan Gubar, além das estudiosas brasileiras Luiza Leite Bruno Lobo,

Nadilza Martins de Barros Moreira, Christina Ramalho e Rita Therezinha Schimidt.

Palavras-chave: poesia; autoria feminia; Emily Dickinson.

ESPAÇO E FOCALIZAÇÃO EM THE AMBASSADORS DE HENRY JAMES

Natasha Vicente da Silveira Costa

María Dolores Aybar Ramírez

O objetivo dessa pesquisa é explorar as relações entre o espaço e a focalização

na obra The Ambassadors do escritor americano Henry James. Os teóricos que servirão

de base a esse estudo são Iuri Lotman (1978) com A estrutura do texto artístico e

Osman Lins (1976) com Lima Barreto e o espaço romanesco referente às questões do

espaço. Com relação à focalização ou ponto de vista narrativo, estão Wayne C. Booth

(1983) com The rhetoric of fiction, Gérard Genette (1995) com Discurso da narrativa e

Mieke Bal (2001) com Teoría de la narrativa. Investigar-se-á, então, de que forma o

espaço de Paris, onde a narrativa ocorre, é um elemento essencial para a caracterização

de ambientes, evocação de memórias e construção psicológica e social de personagens.

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Da mesma forma, será estudado o efeito de sentido provocado pela adoção,

principalmente, do ponto de vista do protagonista Lewis Lambert Strether. Em The

ambassadors, Henry James faz uso de linguagem metafórica, alusões e discurso indireto

livre, por exemplo, para construir um romance cujo espaço contribui para a investigação

de temas como o belo, a juventude e a passagem do tempo. Nesse sentido, também é

válido verificar de que forma a cultura americana e parisiense são caracterizadas no

romance, tendo em foco a categoria do espaço e suas funções. Finalmente, busca-se a

elaboração de um trabalho que mostre como James destaca-se na manipulação da

focalização narrativa e na construção espacial ao utilizá-la não somente para situar

personagens, mas de forma mais rica e significativa.

Palavras-chave: Espaço; focalização; romance americano.

TROPICÁLIA MARGINAL: CACASO, UM POETA ANTROPÓFAGO

Patrícia Anzini da Costa (CAPES)

Antônio Donizeti Pires

O objetivo dessa dissertação é ressaltar de que forma o poeta mineiro Antônio

Carlos de Brito, o Cacaso (1944-1987), pertencente à geração da década de setenta que

ficou conhecida como marginal do mimeógrafo, explora os recursos estéticos

proporcionados pelo movimento cultural anterior, intitulado Tropicalismo. Assim, o

choque ocasionado pelos tropicalistas que proporcionou uma ruptura aos valores

estabelecidos de uma sociedade mascarada pela repressão político-ideológica do golpe

militar ocorrido em 1964, é reavivado pelo escritor marginal de modo notável. A

desconfiança frente ao discurso mítico-nacionalista advindo dos militares, a urgência de

se criar uma identidade cultural nacional através da instauração antropofágica das mais

diferentes manifestações artísticas e a necessidade de dar prosseguimento à crítica de

um país em cacos, propondo sua atualização, ecoa nos versos do poeta. A poesia do

autor mineiro também reflete temática e esteticamente uma sociedade incapaz de

compreender as mudanças do seu próprio sistema; sociedade esta que necessitava

urgentemente abrir diálogos mundiais, admitir sua condição de diversidade cultural e

questionar a técnica e o progresso como valores fundamentais para o desenvolvimento

de uma nação. Dessa maneira, propõe-se, através da apresentação crítica de alguns

poemas dos livros intitulados Grupo Escolar (1974) e Na corda bamba (1978), revelar

os ingredientes de reconstrução e desmistificação da realidade brasileira que Cacaso se

apropria e que estão intimamente conectados com as propostas dos tropicalistas.

Portanto, a inquietude em relação à influência que os versos do poeta sofreram, assim

como a reflexão desse sincretismo tropical e a contestação em relação aos padrões

institucionais que tanto tropicalistas quanto marginais colocaram em prática, são os

pontos que norteiam esse projeto.

Palavras-chave: Tropicalism; poesia marginal; Cacaso.

TEXTO-COISA, POEMA-OBJETO: A POLIÉDRICA P(R)OESIA DE MURILO

MENDES E FRANCIS PONGE

Patrícia Aparecida Antonio (CNPq)

Antônio Donizeti Pires (Orientador)

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O muriliano Poliedro (1972) e o pongiano Le parti pris des choses (1942)

conformam as bases deste trabalho. Com efeito, a pergunta que se faz, quando da

menção às obras e aos autores, é da alçada mesmo de sua natureza e da de seus

criadores: em que se afinam ou se distanciam Murilo Mendes e Francis Ponge?

Considerando as duas obras é visível o embate entre prosa e poesia, a vontade do

(in)acabamento do poema, as inclinações dicionarescas, a presença da coisa, do objeto

(como fundador daquilo que ali se instaura), a aparição do natural, o humor muito

marcado, dentre tantas outras aproximações. Todavia, mais importante é o

distanciamento entre os dois poetas: um Murilo Mendes que ainda traz muito da

doutrina católica, que ainda deve ao Surrealismo e suas técnicas, um essencialista, um

crítico da bomba atômica e do momento presente; e um Francis Ponge, poeta das coisas

(que vai às coisas, para falar com a fenomenologia), da linguagem enxuta que mostra

(esconde) o objeto, que estabelece o jogo entre palavra e objeto, um declarado anti-

poeta. Este trabalho tem por objetivo uma leitura comparada entre Poliedro e Le parti

pris des choses e o fim último de que três pontos sejam analisados: a relação entre eu-

lírico e coisa e suas implicações (em que pesem o grau de objetividade ou

subjetividade); a ideia de que, em tais universos poéticos, o poema é objeto entre outros

objetos – tornando-se um texto-coisa, um poema-objeto; e, finalmente, como este se

coloca no mundo, na realidade em que se insere.

Palavras-chave: Poesia lírica; poema em prosa; sujeito lírico; poesia brasileira; poesia

francesa.

TUTAMÉIA: LABIRINTO DE IMAGENS E SÍMBOLOS

Paula Aparecida Volante

Guacira Marcondes Machado Leite

Os contos rosianos são caracterizados pela condensação, sintetismo e por um

regionalismo que alcança o universal. Os personagens são seres distintos, guiados pelo

devaneio, capazes de ver o mundo em toda sua profundidade e magia. Aceitam sua

condição, fraquezas e fracassos, alegrias e tristezas, sem nunca se abater diante das

dificuldades. Sua esperança e fé inabaláveis os mantêm no caminho da transcendência.

Vivem numa realidade hostil, mágica e perigosa, na qual as fronteiras são diluídas e a

imensidão predomina. Lugar de intensas batalhas, onde os opostos se unem para

construir um enigma que simboliza a própria essência do texto.

A linguagem é a base que sustenta esse universo. Guimarães faz renascer

palavras, cria vocábulos, universaliza regionalismos, enfim, constrói uma linguagem

dupla e poética para expressar um mundo também poético e duplo. A palavra é

devolvida ao estado de pureza original e enriquecida por uma imensa energia criadora,

capaz de renovar o mundo e cicatrizar o sofrimento, incorporando a poesia no cotidiano.

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Em meio a esse universo de lutas e de poesia, o símbolo surge como peça

fundamental na construção da poeticidade. Rompe com qualquer limite, unindo os

extremos e criando em torno de si um mistério. Possui a capacidade de revelar o lado

obscuro do ser, transformando os valores da realidade, a qual passa a ser guiada por um

preciso sistema de correspondências e assimilações. A imagem também é fundamental

no texto rosiano, pois pode representar um mundo através da palavra, criando verdades

que ultrapassam a realidade e explicam-se na sua incompletude. Tem-se ainda a

metáfora, estrutura baseada na relação de semelhança entre um termo e outro, e a

alegoria, representação concreta e finita do abstrato.

A inquestionável relevância do símbolo, da imagem, da metáfora e da alegoria

na composição do texto rosiano justifica o objetivo deste trabalho, que visa

compreender a função desses elementos, sua relação com os personagens e como

colaboram para a composição da unidade da obra, trama perfeita e harmoniosa, que

busca desvendar as profundezas e os mistérios da alma humana.

Palavras-chave: Tutaméia; linguagem; símbolo; imagem.

PHILÍA EM EURÍPIDES

Paula Cristiane Ito (CAPES)

Fernando Brandão dos Santos

O termo grego philía, de um modo geral, tem sido traduzido por amizade (em língua

portuguesa) – friendship em inglês, amitié em francês, amistad em espanhol, amicizia

em italiano, freundschaft em alemão. No entanto, se forem consideradas concepções

modernas de amizade, a versão não parece satisfatória, uma vez que, analisado em seus

diversos contextos na Antiguidade grega, o vocábulo apresenta uma variação

considerável de sentido, verificada em sua transformação ao longo do tempo; no cotejo

entre textos de um mesmo período pertencentes a modalidades textuais distintas; e

mesmo nos escritos de autores contemporâneos e cultivadores de um mesmo gênero.

Assim, a proposta de nossa pesquisa é verificar as possíveis significações desta palavra

e dos termos a ela relacionados nos textos euripidianos, a fim de compreender o

conceito por eles expresso, para este autor. As hipóteses que justificam a escolha deste

corpus são, essencialmente, a conjectura de que philía, em Eurípides, carrega um

sentido particular, na maior parte das vezes diferente daquele encontrado em textos de

seus predecessores e contemporâneos; a crença em que tal especificidade linguística

possa estar relacionada aos eventos da Guerra do Peloponeso; e ainda que este uso seja

antecipador de determinadas reflexões filosóficas sobre o conceito de amizade. Dessa

forma, pretende-se examinar as conotações do termo na obra restante de Eurípides,

seguindo sua cronologia e confrontando-a aos acontecimentos da Guerra do Peloponeso,

conforme registrados por Tucídides, ao passo que deverão ser investigadas as acepções

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do termo nos textos de maior relevância na Antiguidade grega, a partir de estudiosos de

seus autores e do período.

Palavras-chave: Tragédia grega, Eurípides, Tucídides, Philía, amizade.

OS POETAS DE ORFEU: UM ESTUDO SOBRE A POÉTICA DA

EXPRESSÃO (EM VERSOS DE OVÍDIO E DE VIRGÍLI O),

SEGUIDO DE TRADUÇÃO E NOTAS

Paulo Eduardo de Barros Veiga (CAPES)

Márcio Natalino Thamos

O interesse por poesia, particularmente pela expressão poética, motivou o estudo

do conceito semiótico de figuratividade, que permite compreender mais profundamente

o fenômeno poético. Dessa forma, a fim de analisar a estrutura da poesia, tomam-se os

efeitos de sentido captados pela percepção como dados de base na investigação do

arranjo particular da linguagem, responsável pela expressão desses efeitos. A

figuratividade, então, é analisada em seu papel de engendramento do sentido, sob a

perspectiva de uma poética da expressão, buscando ressaltar não apenas os efeitos da

figuração básica no tratamento de determinado tema, mas reconhecer, quando possível,

efeitos da iconização, etapa final da figurativização do texto, que têm como objetivo

criar uma ilusão ou impressão referencial.

Os versos escolhidos para pesquisa foram escritos por autores clássicos da Roma

Antiga, especificamente, Ovídio e Virgílio, cujas obras são, respectivamente,

Metamorfoses e Geórgicas. O tema dos textos selecionados refere-se ao mito de Orfeu,

poeta e músico da Trácia, que, ao ter perdido, no dia do casamento, a sua esposa, a ninfa

Eurídice, picada por uma cobra, desceu ao reino dos mortos para convencer Plutão, o rei

do mundo subterrâneo, a restituir a vida da esposa. Em se tratando de versos de dois

autores latinos que trabalham com o mesmo tema, há também a possibilidade de

compará-los, sempre com ênfase na expressão, a fim de analisar em que medida eles

dialogam.

As teorias fundamentais à base da pesquisa encontram-se nos postulados de

Saussure, lidos em Curso de Linguística Geral, nas ideias de Hjelmslev, ao longo dos

Prolegômenos a uma teoria da linguagem, e na teoria de Greimas, buscando-se assim

um desenvolvimento aprofundado e coerente no estudo da semiótica. Para o estudo da

Poética voltada à expressão apoia-se nas ideias do linguista Jakobson, desenvolvidas

principalmente em Linguística e Comunicação. Dessa forma, investigam-se o signo, a

sua expressão e os efeitos de sentido que contribuem principalmente para a formação do

sentido poético e estético do texto. Do mesmo modo, examina-se a estrutura poética a

fim de descobrir, detalhadamente, isto é, verso a verso, de quais recursos de expressão o

poeta utilizou-se para alcançar o efeito de sentido suscitado.

Palavras-chave: Poética; literatura latina; semiótica.

MANIFESTAÇÕES DO HERÓI TRÁGICO CLÁSSICO E MODERNO EM O

TEMPO E O VENTO, DE ÉRICO VERÍSSIMO

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Rafhael Borgato

Wilma Patricia Marzari Dinardo Maas

O presente estudo trata de como se deu no romance O tempo e o vento, de Érico

Veríssimo, a representação da dicotomia entre duas épocas do pensamento humano: a

clássica e a moderna, sendo a primeira defensora dos valores morais aristocráticos e a

segunda advinda da ascensão da burguesia e consequente derrocada dos valores

anteriormente tidos como atemporais. Este exercício crítico tem como pressuposto

teórico o debate em torno da formação de uma literatura propriamente burguesa,

partindo dos ensaios de Lessing presentes na Dramaturgia de Hamburgo e do esforço

de formação de uma literatura nacional na Alemanha do século XVIII. Procedemos

dessa forma por entender que o caso alemão demonstra claramente as diferenças entre

um fazer literário aristocrático e um fazer literário burguês. Pretendemos analisar tais

diferenças por meio da abordagem feita por Lessing da estética neoclássica francesa

como paradigma de literatura clássica e de Shakespeare como paradigma da então

incipiente modernidade literária. Com isso, poderemos nos debruçar sobre o estudo

proposto em torno do romance de Érico Veríssimo, voltando-nos para a análise de

personagens centrais das três partes da trilogia, em torno dos quais se concentra a

questão central a ser tratada por este trabalho de mestrado. Discutiremos, então, a

problemática, abordada no estudo de Lessing e em nossa comparação entre a estética

neoclássica francesa e a obra shakesperiana, referente às profundas mudanças de

preceitos básicos dos valores humanos e o modo como os indivíduos representados em

O tempo e o vento se veem afetados por tais mudanças.

Palavras-chave: trágico; narrativa; Hamlet; épico; modernidade.

O CONTO MARAVILHOSO CELTA E OS FATORES ENVOLVIDOS NA

TRANSFORMAÇÃO DE SUA MORFOLOGIA

Raquel de Vasconcellos Cantarelli

Maria de Lourdes Ortiz G. Baldan

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Este trabalho tem como objetivo verificar a natureza de elementos tardios

presentes na narrativa maravilhosa celta, tais como vestígios de elementos

socioculturais, práticas ritualísticas e mitos tardios, pertencentes à sociedade celta ou

advindos de outras culturas, inseridos em sua composição, bem como alterações no

estilo poético padrão deste gênero.

Nas análises morfológicas realizadas em 10 contos celtas, de um total de 20,

retirados de coletâneas celtas de Jacobs, Ellis e Campbell, foram primeiramente

identificados seus elementos constituintes principais (funções), bem como os

pertencentes a sua forma fundamental, e então isolamos os fatores secundários,

evidenciando os que possivelmente foram acrescentados posteriormente, com base,

principalmente, em autores como Vladimir Propp e Max Lüthi.

A seguir, foram realizadas análises genéticas e históricas dos motivos presentes

em cada conto, bem como suas características estilísticas, e depois a conexão entre

motivos para a formação do conto como um todo, para então compararmos os contos

entre si.

Até o momento, pudemos averiguar que as principais alterações se dão no

princípio do conto (especificamente no estabelecimento da situação inicial e

recebimento do auxiliar mágico), onde há desvios de ordem estilística, principalmente

com a introdução de nomes de locais celtas (irlandeses), nomes de personagens e

apresentação de topografia específica da região insular, como montanhas no lugar do

que geralmente seria a floresta. No meio do conto (travessia ao Outro Reino e aventuras

no Outro Mundo) há elementos mitológicos advindos tanto da tradição celta, como a

menção de objetos e deuses venerados por esses povos, quanto elementos da mitologia

Clássica. Uma peculiaridade é a predominância da descrição do Outro Reino como uma

região do além-mar, constituído de ilhas e praias – características comuns nos contos de

regiões insulares. No final do conto, a principal alteração se limita ao motivo do

casamento por adequação às normas sociais vigentes.

Esse trabalho é importante por estabelecer parâmetros de como tais contos se

desenvolvem nessa sociedade, possibilitando a especificação de cânones em sua

evolução, cujas informações poderão ser utilizadas como ferramentas comparativas em

estudos posteriores relativos à composição de narrativas populares de outras sociedades,

localizadas em diferentes regiões do mundo.

Palavras-chave: conto maravilhoso; formas fundamentais; formas derivadas.

AS CATEGORIAS DA NARRATIVA E O ROMANCE HISTÓRICO

TRADICIONAL: O PAPEL DO TEMPO, ESPAÇO E PERSONAGENS PARA A

CONSTRUÇÃO DO ROMANCE HISTÓRICO HUGOANO

Rosária Cristina Costa Ribeiro

Sidney Barbosa

O francês Victor Hugo (1802-1885), dizem alguns críticos literários de seu país,

foi imenso como o século XIX. De fato, sua produção literária é extensa e diversificada:

romances, poemas, teatro, gravuras. Já aos quatorze anos queria ―être Chateaubriand ou

rien". No que tange à parte romanesca de sua obra, pode-se dizer que é dispersa por

várias fases de sua vida. Existem produções que o ajudaram a iniciar sua carreira

literária, como Bug-Jargal (1826, escrito no final da década de 1810), que o

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consagraram, como com Notre-Dame (1830), e outras que encerram sua produção,

como é o caso de Quatrevingt-treize (1874). Para realizar nossa proposta de tese de

doutoramento, analisaremos os romances de Victor Hugo Notre-Dame, L‟homme qui

rit e Quatrevingt-treize, a partir de um eixo central, enquadrando-os no gênero

romance histórico tradicional (Lukàcs, 1936). Para tanto, trabalharemos principalmente

com base em três categorias da narrativa, a saber, espaço, tempo e personagem,

fundamentais para a caracterização historicizada dos romances, além de contextualizá-

los na obra hugoana e seus respectivos períodos de produção. Dessa forma, pretende-se

encontrar os pontos de confluência entre os aspectos da narrativa e o gênero literário

aqui proposto como objeto de estudo, além de determinar qual a importância do gênero

romanesco histórico para a literatura romântica no século XIX.

Palavras-chave: narrativa francesa, romantismo, romance histórico, Victor Hugo.

O UNIVERSO IMAGINÁRIO EM MÁRIO QUINTANA:

UMA EXPERIÊNCIA PARA LEITORES DE TODAS AS IDADES

Rosilene Frederico Rocha Bombini

Guacira Marcondes Machado Leite

O poeta Mário Quintana quase não figura entre os autores mais estudados da

literatura brasileira, no entanto, é um dos poetas brasileiros contemporâneos mais

populares. Sua poesia destaca experimentações literárias em que ele demonstra sua

originalidade, oscilando entre o tradicional e o moderno, inventando e reinventando

temas e formas para envolver o leitor. Em sua obra, o autor apresenta-se multifacetado,

ora com características simbolistas, ora realistas ou surrealistas e outras ainda com visão

irônica (modernista) em relação à vida do homem contemporâneo. Analisando a obra do

poeta, percebe-se o aparecimento da reflexão criadora na sua linguagem poética e no

processo de criação da sua poesia. Para Quintana, imaginação é uma atividade

produtora, criadora de novas realidades, não meramente reprodutora de realidades pré-

existentes. Se tentássemos resumir o que é a essência da poesia para Mário Quintana,

esse vocábulo seria imaginação e, por conseguinte, a capacidade de se criarem imagens.

Em sua obra, poesia e imaginação se confundem; são, na realidade, uma mesma coisa.

Sua poesia é essencialmente lírica, individualista, criadora de um mundo ideal em que

fantasia, sonho e real se confundem. A leitura de sua obra provoca prazer aos leitores,

num constante jogo de imagens, ritmos, reflexões literárias, anotações líricas,

transformando-a em uma brincadeira, uma interlocução entre autor e seus leitores. No

imaginário do poeta há espaço para os mais diferentes assuntos e temas; decorrente

disso, Quintana dedicou ainda obras ao público infantil: as rimas, as aliterações, a

sonoridade, as imagens transmitidas pelas metáforas são recursos da linguagem que se

aproximam do lúdico e conquistam a criança por tornar sua leitura uma espécie de jogo,

uma brincadeira com as palavras. Decorrente disso, qual percurso o leitor fará ante a

obra quintaneana? A leitura do texto poético pode se tornar um jogo? Como os aspectos

lúdicos da obra Quintaneana são captados pelo leitor de diferentes idades? Essas

indagações sobre a poética de Quintana parecem justificar a pertinência em se estudar e

cotejar os textos de sua obra chamada principal e sua obra infantil, o que nos conduz

para o trabalho aqui proposto.

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Palavras-chave: poesia; lírica; imaginação; literatura infantil.

INVESTIGAÇÕES SOBRE UMA PERSONAGEM AZEVEDIANA

Simone Aparecida Alves Lima

Sylvia Helena Telarolli de Almeida Leite

Entre bilontras, tribofes, pelintras e capadócios, buscamos traçar o perfil (ou

perfis) da figura do malandro na obra de Arthur Azevedo (1855-1908), escritor e

dramaturgo maranhense, que viveu na cidade do Rio de Janeiro. Entendemos ser esta

pesquisa relevante, uma vez que objetiva destacar as qualidades estéticas e literárias de

um autor cuja contribuição no cenário literário brasileiro, sobretudo na dramaturgia,

enfatiza-se cada vez mais, principalmente em estudos mais recentes. Com o intuito de

alcançar o objetivo proposto, pretendemos selecionar, dentre as comédias azevedianas

mais destacadas segundo a crítica, em ordem cronológica (entre 1874 e 1908), aquelas

que trazem a personagem do malandro. Na sequência, buscaremos historiografar

brevemente, de acordo com a teoria de comicidade e riso mais adequada, o emprego

dessa personagem na dramaturgia daquele período. Pretendemos, ainda, correlacionar a

utilização desse recurso cômico com o movimento histórico de então. Neste trabalho a

tripartição parece-nos, até agora, a forma de se alcançar a meta almejada, portanto nele

embasam a abordagem da figura do malandro os estudos de Antonio Candido, Roberto

Schwarz, Roberto Damatta, Sérgio V. Mota, entre outros. Já, para as teorias da

comicidade e do riso, estudiosos como Henri Bergson, Vladimir Propp, João A. Hansen,

George Minois, Mario M. González, mostram-se relevantes. Quanto aos estudos sobre

dramaturgia, consideramos expressivos os teórico-críticos do próprio Arthur Azevedo,

Décio de Almeida Prado e, mais recentes, Neyde Veneziano, João Roberto Faria e

Cláudia Braga.

Palavras-chave: Arthur Azevedo; comicidade e riso; figura do malandro.

HOMENS E DEUSES NA ILÍADA: AÇÃO E RESPONSABILIDADE NO

MUNDO HOMÉRICO

Thárea Raizza Hernandes

Fernando Brandão dos Santos

Muito se têm estudado sobre o homem homérico, suas concepções e seu modo

de vida. Contudo, não podemos analisá-lo sob uma perspectiva de nosso mundo, mas

compreender o mundo espiritual homérico e interpretar sua linguagem a partir do que

encontramos no próprio Homero, não cometendo enganos de tomá-la como uma

linguagem que serviria a qualquer homem moderno.

Equívocos acontecem quando tentamos achar correspondências exatas com as

palavras σῶμα υστή e traduzi-las com a nossa noção de corpo e alma, pois segundo

Aristarco a primeira não designaria, em Homero, o corpo vivo, apenas o cadáver. O

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emprego normal seria o de palavras no plural como γσῖα e μέλεα que se referem aos

membros do corpo, enquanto articulados e dotados de força, respectivamente.

Algo semelhante ocorre com o espírito/alma, na Ilíada, pois assim como o

corpo era concebido em diversas partes (membros ou órgãos corporais), a alma também

seria concebida como uma série de órgãos anímicos articulados, sede de suas atividades

distintas – θσμός, νοός, φρήν

entre a concepção da υστή homérica e a nossa noção de alma.

Com isso, alguns estudiosos acreditam que o homem homérico, sem

consciência de sua unidade física e espiritual, não se concebia como origem das

decisões e atribuía as ações aos deuses ou agentes externos, não havendo, portanto, a

noção de responsabilidade sobre a decisão. Para outros, entretanto, a falta de uma

palavra que reúna os aspectos de θσμός e υστή, não significa que o homem não se

concebesse como unidade, pois essa seria expressa em falas e atos das personagens.

Nosso trabalho, portanto, pretende abordar as questões sobre a concepção do

homem, na Ilíada, e de como isso afeta a visão de si mesmo diante dos outros e,

principalmente, dos deuses. Visamos a contrapor as idéias, no que se refere à ação e

responsabilidade, no caso, tanto a humana quanto a divina, e procurar entender, através

do texto homérico, o quanto elas nos são colocadas como próprias ou motivadas, seja

por um ser superior (Áte) ou pela moral.

Palavras-chave: Ilíada; homem; deuses; responsabilidade; Áte.

DES(CONCERTO): UMA LEITURA DA CRIOULIDADE EM CONCIERTO

BARROCO, DE ALEJO CARPENTIER

Thiago Miguel Andreu

Ana Luiza Silva Camarani

O presente trabalho constitui uma investigação acerca dos elementos

articuladores da narrativa (em seus aspectos formal e temático) apresentada no romance

Concierto Barroco, do escritor cubano Alejo Carpentier Apoiamo-nos, para tal tarefa,

em estudos de literatura culturalista, bem como assumimos como ponto de partida o

conceito de crioulidade, proposto por Bernabé, Chamoiseau e Confiant, em seu Elogio

da Crioulidade. A crioulidade (referencial central, deflagração sugestiva a organizar

esteticamente) à que se referem os teóricos supracitados é, aqui, a porta de entrada para

discussões de entendimento da postura carpentieriana frente, não somente à literatura

sui generis, como também e, principalmente à literatura hispano-americana, uma vez

que, na análise à que nos propomos, nos deparamos com o barroquismo como

articulador do discurso narrativo, o realismo maravilhoso como postulado temático (em

alguns casos, também este participando dos elementos formais do romance) e, por fim, a

carnavalização da História, que nos dá margem a especulações sobre a formação

identitária na América Latina. Passamos por considerações relacionadas à mescla de

elementos temáticos de ordens sócio-cultural, histórica, religiosa e linguística, a título

de breve ilustração: articulação da palavra com a música; ou ainda, a presença do

diálogo entre o clássico e o moderno; a religião católica impregnada por caracteres

provenientes de outras religiosidades, inclusive sua articulação com o paganismo; a

coexistência, no plano da narrativa, de um Vivaldi e um Montezuma. Ainda, por ser

este estudo um recorte da fortuna literária de Carpentier, já que tal autor, além de

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romances, soma ainda ensaios, contos, estudos sobre música e História de Cuba,

fixamo-nos nas três nuanças acima assinaladas (barroquismo, realismo maravilhoso e

carnavalização da História), pois, se por um lado elas transbordam nos textos

carpentierianos, participando ora da temática, ora da forma de Concierto Barroco e de

outras obras suas, por outro, perpassam e assinalam, ainda, a face do paradigma

narrativo hispano-americano moderno, participando do processo de consolidação da

literatura de língua espanhola na América.

Palavras-chave: Barroquismo, crioulidade, realismo maravilhoso.

PRIMEIRAS ESTÓRIAS EM INGLÊS A PARTIR DE UMA POÉTICA

ROSIANA DA TRADUÇÃO

Vanessa Chiconeli Liporaci (CAPES)

Maria Célia de Moraes Leonel

Ricardo Maria dos Santos

Nosso trabalho tem como objetivo principal a análise da correspondência

trocada entre Guimarães Rosa e seus tradutores, principalmente Edoardo Bizzarri, Curt

Meyer-Clason e Harriet de Onís em busca de componentes que, para Guimarães Rosa, são

essenciais para a tradução. Buscamos nessa correspondência, o que o escritor mineiro

considera a respeito da tradução de modo geral, da tradução de suas obras e também da

construção literária, para que possamos construir uma espécie de poética rosiana da

tradução que, por sua vez, torne-se ferramenta de análise de traduções de obras rosianas.

Com auxílio da poética que almejamos depreender da análise dessa correspondência,

passaremos ao estudo da tradução de Primeiras estórias para o inglês – The third bank of the

river and other stories de Barbara Shelby – para comparar a proposta estabelecida com essa

tradução. Para tanto, selecionamos quatro narrativas para serem analisadas mais

pormenorizadamente, a saber: ―A menina de lá‖, ―A terceira margem do rio‖, ―Nenhum,

nenhuma‖ e ―A benfazeja‖ e suas respectivas traduções para o inglês. O cotejo entre texto

original e tradução será realizado a partir das recorrências identificadas na poética, da análise

das ―tendências deformadoras‖ apontadas por Antoine Berman em A tradução e a letra ou o

albergue do longínquo, e do levantamento e análise de dois elementos constitutivos das

narrativas que são certas figuras essenciais e três tipos diferentes de frases, as quais

denominamos: antecipatórias, lapidares e proverbiais. Esse tipo de análise abre espaço para

outra essência do traduzir, segundo a qual a letra deve ser salva e mantida para que a

―significância‖ do texto original possa estar presente também na sua tradução, como

produtora de sentido e não como um sentido pronto e acabado. É possível que esse conceito

de tradução como reconstrução da significância esteja em consonância com a posição de

Guimarães Rosa acerca da tradução. O embasamento teórico do trabalho é composto de

estudos de quatro tipos: teoria da tradução, ensaios críticos sobre a obra rosiana de modo

geral, ensaios referentes às Primeiras estórias e trabalhos sobre narrativa e linguagem poética.

Com relação aos estudos sobre tradução, teremos como apoio, principalmente, Antoine

Berman e Mário Laranjeira.

Palavras-chave: Guimarães Rosa; Primeiras estórias; tradução.