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    Bioetanol de cana-de-acarEnergia para o desenvolvimento

    sustentvel

    Resumo executivo

    BNDES, CGEE, FAO e CEPAL

    2008

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    Resumo executivo1

    A crescente necessidade de ampliar de modo sustentvel o uso de fontes renovveis

    de energia, para proporcionar maior segurana ao suprimento energtico e reduzir os

    impactos ambientais associados aos combustveis fsseis, encontra no bioetanol de

    cana-de-acar uma alternativa vivel economicamente e com significativo potencial

    de expanso. A produo e o uso de bioetanol como combustvel veicular so

    praticados regularmente no Brasil desde 1931, com notvel evoluo durante as

    ltimas dcadas, alcanando maturidade e consistncia, segundo um modelo

    produtivo que pode ser adaptado e implementado em contextos similares. Por meio do

    bioetanol e da bioeletricidade, a cana-de-acar representa atualmente a segunda

    mais importante fonte primria e a principal forma de energia renovvel na matriz

    energtica brasileira.

    Esta obra apresenta, sob vrios pontos de vista, as caractersticas desse

    biocombustvel e de sua agroindstria, com nfase na experincia brasileira e, em

    alguns casos, cotejando com outras tecnologias bioenergticas. Desenvolvido em

    nove captulos, brevemente descritos a seguir, o trabalho orientado para leitores

    brasileiros e de outros pases com interesses em bioetanol,.

    Bioenergia e biocombustveis

    Atravs da fotossntese, a radiao solar se converte em produtos vegetais, que

    podem ser utilizados como combustvel, diretamente ou depois de processados. A

    lenha de eucalipto e o bioetanol, produzido com base na cana-de-acar ou no milho,

    so exemplos de vetores bioenergticos. Em suas formas tradicionais, o uso de

    bioenergia se confunde com a histria da humanidade, mas, mediante tecnologiasmodernas e eficientes, como biocombustveis lquidos, vem sendo considerado nos

    ltimos tempos uma fonte energtica renovvel alternativa aos combustveis fsseis,

    capaz de atenuar graves problemas ambientais. Uma condio fundamental a ser

    observada para a viabilidade da produo bioenergtica a eficincia na captao da

    energia solar, associada produtividade por unidade de recursos naturais utilizados.

    1 Foram suprimidas as referncias bibliogrficas. Para mais detalhes, referir-se ao texto

    completo original.

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    A produtividade vegetal depende, essencialmente, das condies climticas

    (disponibilidade hdrica, insolao e temperatura) e da fertilidade do solo cultivado,

    variando de acordo com a espcie vegetal. Entre as plantas utilizadas para fins

    bioenergticos, as gramneas se destacam, como o caso da cana-de-acar, cuja

    eficincia fotossinttica das mais altas entre todos os vegetais. Considerados tais

    pressupostos, as regies tropicais midas, especialmente na Amrica Latina e na

    frica, apresentam-se indiscutivelmente como as mais promissoras para a produo

    bioenergtica, a ser promovida, naturalmente, de forma sustentvel.

    Sem considerar a bioenergia como a virtual substituta de todas as formas

    convencionais de energia em uso pela sociedade moderna, mas uma componente

    necessria de um novo contexto, constata-se que, em carter global, existe grande

    disponibilidade de rea para a produo vegetal e um uso ainda muito limitado daradiao solar, que incide generosamente em amplas regies do planeta. Desse

    modo, razovel supor que nos prximos anos a bioenergia se desenvolva de modo

    importante.

    Etanol como combustvel veicular

    O etanol apresenta algumas diferenas importantes em relao aos combustveis

    convencionais, derivados de petrleo. A principal delas o elevado teor de oxignio,que constitui cerca de 35% em massa do etanol. De modo geral, as caractersticas do

    etanol possibilitam uma combusto mais limpa e o melhor desempenho dos motores

    (ciclo Otto), o que contribui para reduzir as emisses poluidoras. Para o uso de etanol

    hidratado puro (com cerca de 5% de gua), os motores devem ser adaptados, mas,

    para o emprego de misturas com teores at 10% de etanol, podem ser utilizados os

    motores convencionais a gasolina sem qualquer ajuste. Nos motores flexveis (flex-fuel

    vehicle FFV), com grande penetrao no mercado brasileiro, podem ser utilizadas

    misturas com qualquer teor de etanol.

    Na comparao com a gasolina pura, uma anlise detida dos aspectos mais

    relevantes do uso das mesclas gasolina/etanol, como octanagem, volatilidade,

    desempenho, separao de fases, compatibilidade de materiais (elastmeros e

    metais) e emisses de gases de escape (incluindo monxido de carbono, xidos de

    nitrognio, de enxofre e aldedos), mostra como esse biocombustvel pode ser

    utilizado sem problemas de ordem tcnica e ambiental. Com efeito, a expressiva

    maioria dos fabricantes de automveis aceita o uso de gasolina com 10% de etanol

    em seus motores.

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    Confirmando a maturidade desse biocombustvel, diversos motores aeronuticos (para

    avies agrcolas e de pequeno porte) tm sido homologados para uso de etanol puro.

    A utilizao de etanol em motores diesel apresenta perspectivas interessantes, mas

    ainda se encontra em desenvolvimento.

    Do ponto de vista econmico, a anlise dos custos de oportunidade do bioetanol de

    cana-de-acar, frente ao acar e ao melao, e a comparao dos preos pagos aos

    produtores de bioetanol no Brasil com os preos internacionais da gasolina durante a

    ltima dcada confirmam a atratividade do emprego desse biocombustvel e reforam

    a importncia de que sejam promovidos em bases competitivas e, na extenso

    possvel, sob reduzida interveno governamental. No entanto, para desenvolver

    adequadamente o mercado do bioetanol e potencializar suas vantagens, o Estado

    deve assumir responsabilidades importantes, como definir as especificaes dobioetanol e os teores mnimos compulsrios de mistura na gasolina, assim como

    estabelecer um marco tributrio equilibrado no mercado dos combustveis.

    Para completar a reviso dos aspectos relacionados ao uso do etanol como

    combustvel, cabe comentar a logstica para esse biocombustvel, em que a

    sazonalidade da produo impe a formao de estoques de entressafra, cujo volume

    depende diretamente da extenso do perodo produtivo. Para a movimentao do

    bioetanol, pode-se recorrer aos modais usualmente empregados para os demais

    combustveis, inclusive o dutovirio.

    Produo de bioetanol

    A produo de bioetanol efetuada em bases comerciais por duas rotas tecnolgicas,

    utilizando matrias-primas doces, diretamente fermentveis, como a cana-de-acar e

    a beterraba aucareira, ou matrias-primas amilceas, como o milho e o trigo, cujo

    amido deve ser convertido em acares (sacarificado) antes da fermentao, como

    esquematizado na Figura 1. Uma terceira rota, utilizando a biomassa disponvel em

    materiais como o bagao e a palha, hidrolisa as cadeias celulsicas e produz uma

    soluo fermentvel de acares, apresentando grande interesse graas ao baixo

    custo da matria-prima. Contudo, essa rota de valorizao energtica da biomassa

    ainda no est disponvel em escalas comerciais, embora haja expectativas de que

    nos prximos anos possa alcanar viabilidade econmica.

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    Figura 1 Rotas tecnolgicas para produo de bioetanol

    Em funo das diferenas entre a produtividade agrcola e a produtividade industrial,

    os volumes de bioetanol produzido por unidade de rea cultivada variam bastante,

    conforme o Grfico 1. No caso da cana-de-acar, so valores representativos uma

    produtividade agrcola de 80 toneladas de cana-de-acar por hectare e um

    rendimento industrial de 85 litros de bioetanol, resultando numa produo de 6.800

    litros de bioetanol por hectare cultivado. Nesse grfico, para a cana-de-acar,

    considera-se ainda a produo de etanol dos resduos celulsicos, tecnologia ainda

    em desenvolvimento, assumindo a utilizao de 30% do bagao disponvel e metade

    da palha, convertida em bioetanol razo de 400 litros por tonelada de biomassa

    celulsica seca. Dos 51 bilhes de litros de bioetanol produzidos em 2006, a produo

    norte-americana, com base no milho, e a brasileira, com base na cana, representaram

    70% do total. Os outros grandes produtores de bioetanol so a ndia, a China e a

    Unio Europia, mas em escala bem menor.

    Biomassa aucarada

    (cana, beterraba)

    Soluo aucarada fermentvel

    Biomassa amilcea

    (milho, trigo,mandioca)

    Fermentao

    Destilao

    Bioetanol

    Extrao por

    presso ou difuso

    Triturao

    Hidrlise

    enzimtica

    Biomassa celulsica

    (em desenvolvimento)

    Triturao

    Hidrlise cida ou

    enzimtica

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    Grfico 1 Produtividade mdia de bioetanol por rea para diferentes culturas

    0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000

    Cana

    Beterraba

    Milho

    Mandioca

    Sorgo sacarino

    Trigo

    litro/ha

    Etanol de resduo

    celulsico

    Um dos cultivos de maior importncia em todo o mundo, a cana-de-acar ocupa mais

    de 20 milhes de hectares, nos quais foram produzidos cerca de 1,3 bilhes de

    toneladas em 2006/2007, com destaque para o Brasil, que, com uma rea plantada de

    cerca de 7 milhes de hectares, respondeu por cerca de 42% do total produzido. O

    clima ideal para o cultivo da cana aquele que apresenta duas estaes distintas:

    uma quente e mida, para proporcionar a germinao, o perfilhamento (formao de

    brotos) e o desenvolvimento vegetativo, seguida de outra fria e seca, para promover a

    maturao e o conseqente acmulo de sacarose nos colmos. O ciclo produtivo da

    cana-de-acar , geralmente, de seis anos, dentro do qual ocorrem cinco cortes,

    quatro tratos de soqueiras e uma reforma, com reduo gradual da produtividade, que

    torna mais interessante reformar o canavial do que efetuar um novo corte. O perodo

    da colheita da cana varia de acordo com o regime de chuvas, para possibilitar as

    operaes de corte e transporte e para permitir alcanar o melhor ponto de maturao

    e acumulao de acares. Nas condies mdias do Centro-Sul brasileiro, a cana

    colhida apresenta teores de sacarose e de fibra da ordem de 14% e 13%,

    respectivamente.

    No contexto brasileiro, a produo de bioetanol de cana-de-acar efetuada

    geralmente em unidades agroindustriais que produzem tambm acar, dando origem

    a melaos que podem, junto com o caldo de cana, compor mostos fermentveis, como

    mostrado na Figura 2. Assim, consegue-se uma boa sinergia entre os dois processosprodutivos, que utilizam em comum os equipamentos de extrao (tipicamente

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    diferenciado em funo da matria-prima utilizada. Considerando os cultivos

    usualmente mencionados como de interesse para a produo de bioetanol, na Tabela

    1 apresentam-se valores para o balano energtico e o nvel de mitigao das

    emisses de GEE.

    Tabela 1 Comparao das diferentes matrias-primas para a produo de

    bioetanol

    Matria-prima Relao de energia Emisses evitadas

    Cana 9,3 89%

    Milho 0,6 2,0 -30% a 38%

    Trigo 0,97 1,11 19% a 47%

    Beterraba 1,2 1,8 35% a 56%

    Mandioca 1,6 1,7 63%

    Resduos lignocelulsicos* 8,3 8,4 66% a 73%

    *Estimativa terica, processo em desenvolvimento.

    A efetiva reduo das emisses de gases de efeito estufa possivelmente um dos

    efeitos positivos mais importantes associados ao bioetanol de cana-de-acar.

    Conforme a Comunicao Brasileira para a Conveno-Quadro das Naes Unidas

    para Mudana do Clima, com valores para 1994, a utilizao da energia da canareduziu em 13% as emisses de carbono de todo o setor energtico. Nas condies

    atuais, para cada 100 milhes de toneladas de cana-de-acar destinadas a fins

    energticos, poderia ser evitada a emisso de 12,6 milhes de toneladas de CO2

    equivalente, considerando bioetanol, bagao e o excedente adicional de energia

    eltrica fornecida rede.

    Co-produtos do bioetanol de cana-de-acar

    Alm do bioetanol, a agroindstria de cana-de-acar produz uma gama crescente de

    outros produtos de uso final e matrias-primas intermedirias, que ampliam seu

    significado econmico e permitem, mediante sinergias interessantes, agregar valor ao

    processo como um todo. Entre esses produtos, destacam-se o acar, produto

    pioneiro e tradicional dessa indstria, e, nos ltimos anos, a energia eltrica.

    Atualmente, mais de 130 pases produzem acar, cuja produo mundial na safra

    2006/2007 atingiu 164,5 milhes de toneladas. Cerca de 78% do total foi produzido de

    cana-de-acar, cultivada principalmente em regies tropicais e subtropicais do

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    hemisfrio sul, e o restante utilizou a beterraba aucareira, cultivada nas zonas

    temperadas do hemisfrio norte. Como os custos de produo de acar de cana so

    inferiores aos custos com base na beterraba, cada vez mais amplia-se a frao

    produzida pelos pases em desenvolvimento, medida que so retiradas as barreiras

    comerciais que impedem o livre comrcio desse produto.

    O consumo mundial de acar tem se expandido de modo regular a uma taxa anual de

    2% ao longo das ltimas dcadas, o que significa cerca de 3 milhes de toneladas a

    mais na demanda a cada ano. O crescimento tem ocorrido principalmente nos pases

    em desenvolvimento, como um reflexo do aumento da renda dos consumidores e das

    mudanas nos padres alimentares. Esses mercados j representam, atualmente,

    mais de 60% do atual consumo mundial de acar.

    A produo de acar mostra uma larga faixa de custos de produo. O Brasilapresenta o menor custo entre todos os pases produtores, o que se deve, em grande

    parte, ao desenvolvimento da tecnologia agrcola e industrial associada expanso da

    produo de bioetanol.

    A bioeletricidade produzida h dcadas na agroindstria canavieira, utilizando o

    bagao como combustvel em sistemas de co-gerao que atendem tambm, com

    elevada eficincia, as necessidades de potncia mecnica e de calor de processo.

    Durante dcadas, a produo de energia eltrica limitava-se a atender s

    necessidades prprias da agroindstria. Entretanto, com a evoluo do marco

    regulatrio do setor eltrico, tornou-se possvel incrementar o desempenho dos

    sistemas de co-gerao que passaram a gerar excedentes para a rede pblica, com

    crescente importncia econmica, contribuindo para a oferta de eletricidade em muitos

    pases, como o Brasil.

    Como indicadores da maior disponibilidade de energia eltrica, enquanto as condies

    tpicas das caldeiras empregadas nas usinas brasileiras durante os anos 1980

    permitiam produzir excedentes da ordem de 10 kWh/tc (tonelada de cana processada),atualmente atingem cerca de 28 kWh/tc na maioria das unidades produtoras e 72

    kWh/tc nas usinas mais modernas. Com a utilizao de parte da palha da cana colhida

    e aperfeioamentos no processo industrial, os excedentes de energia eltrica podero

    atingir mais de 150 kWh/tc. No incio de 2008, a capacidade instalada nas usinas de

    acar e bioetanol no Brasil era de 3,1 GW e h perspectivas de que a gerao de

    energia eltrica para a rede pblica com base no bagao possa alcanar 15 GW at

    2015, ou 15% da atual potncia instalada nas centrais eltricas brasileiras.

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    Uma avaliao dos custos de oportunidade do bagao de acordo com cenrios

    prospectivos de rendimentos e custos de capacidade, nas configuraes tpicas de

    preos do bioetanol e da bioeletricidade indica que a produo de energia eltrica

    por essa via tende a ser mais atrativa que a produo de biocombustvel.

    A produo de energia eltrica com base no bagao elegvel para a obteno de

    crditos de carbono sendo a quantificao e a certificao desses crditos,

    estabelecidas nos termos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, conforme o

    Protocolo de Quioto.

    A cana-de-acar permite produzir bem mais do que bioetanol, acar e eletricidade.

    Entre os co-produtos tradicionais da cana, poderiam ser citados o melao, a

    aguardente, o bagao, a levedura, a torta de filtro e a vinhaa, enquanto a lista dos

    novos produtos, numerosa e variada, inclui desde realadores de sabor para aindstria de alimentos at plstico para embalagens. Um estudo publicado em 2005

    apresenta mais de 60 tecnologias empregando a cana-de-acar como matria-prima

    em diferentes setores industriais, em boa parte relacionados com a indstria de

    alimentos.

    Tecnologias avanadas na agroindstria da cana-de-acar

    Alm dos produtos e processos comentados anteriormente, tecnologias inovadorastm sido propostas para a utilizao da cana-de-acar como insumo industrial e

    energtico. Tais tecnologias envolvem a produo de bioetanol e consideram

    processos voltados para a valorizao dos materiais lignocelulsicos, mediante sua

    hidrlise ou gaseificao, e a produo de plsticos biodegradveis. Neste captulo,

    esses temas, que constituem linhas de pesquisas e desenvolvimento, em alguns

    casos em plantas-piloto, so comentados em seus aspectos tecnolgicos e quanto

    sua viabilidade econmica.

    As tecnologias de hidrlise para a obteno de bioetanol com base em materiais

    lignocelulsicos envolvem o fracionamento dos polissacardeos da biomassa em

    acares fermentescveis e sua posterior fermentao para a produo do bioetanol.

    Para executar essa tarefa, a hidrlise utiliza tecnologias complexas e multifsicas, com

    base no uso de rotas cidas e/ou enzimticas para a separao dos acares e

    remoo da lignina. H uma grande influncia da composio e da estrutura da

    matria-prima sobre o desempenho dos processos, sendo relevantes as fases iniciais

    de preparao e pr-tratamento. So igualmente importantes os processos defermentao das pentoses, ainda pouco desenvolvidos. Embora a hidrlise com cido

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    diludo esteja em um estgio de aperfeioamento mais avanado que as demais rotas,

    a hidrlise enzimtica tem mais viabilidade e concentra atualmente maior ateno, em

    especial nos processos com sacarificao e fermentao simultneas.

    Menos trabalhada, mas no menos importante, a outra linha de estudos para a

    valorizao dos resduos lignocelulsicos da agroindstria emprega processos

    trmicos, mediante sua gaseificao e posterior converso do gs obtido em

    biocombustvel ou bioeletricidade. As reaes envolvidas so complexas e o desenho

    dos gaseificadores ainda relativamente limitado em capacidade, impondo maiores

    esforos para seu desenvolvimento. A gerao de energia eltrica associada

    gaseificao de biomassa poder permitir o emprego de turbinas a gs e ciclos

    combinados de alta eficincia, mas a alimentao e a operao de gaseificadores

    pressurizados de grande capacidade, a limpeza do gs, com a separao de lcalis eparticulados, assim como a modificao das turbinas a gs para uso de combustvel

    com baixo poder calorfico so aspectos no totalmente equacionados. Na vertente da

    utilizao do gs de biomassa para a sntese de biocombustveis, em particular nos

    processos tipo Fischer-Tropsch, h tambm grande interesse e igual necessidade de

    aperfeioamento dos processos, equipamentos e catalisadores, com expectativas de

    viabilidade econmica em mdio prazo.

    Um extenso campo de aplicaes para a cana-de-acar e para o bioetanol, em

    especial, a produo de polmeros diversos, seja no contexto da indstria

    petroqumica convencional que tem passado a incluir o bioetanol entre os insumos

    para a fabricao de etileno e outros produtos intermedirios , seja no mbito da

    chamada etanolqumica, que contempla processos mais especficos e avanados,

    como a fabricao de plsticos biodegradveis, atualmente em desenvolvimento no

    Brasil.

    medida que toda a cana, com seus acares e fibras, passa a ser uma fonte de

    materiais de interesse, passvel de ser utilizada em uma ampla gama de produtos emprocessos integrados e interdependentes, as usinas de acar e bioetanol

    decididamente se configuram cada vez mais no contexto das chamadas biorrefinarias,

    que mimetizam as atuais refinarias da indstria do petrleo, mas em novas bases,

    renovveis e ambientalmente mais saudveis.

    O bioetanol de cana-de-acar no Brasil

    A histria quase secular do uso de bioetanol de cana-de-acar como combustvel noBrasil oferece perspectivas interessantes, desde a progressiva construo de um

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    arcabouo institucional e a evoluo dos parmetros tcnicos agroindustriais, que

    traam uma trajetria exemplar de ganhos de produtividade, at a gradual ampliao

    dos benefcios ambientais, como a reduo da demanda de gua e o crescente uso de

    processos de reciclagem.

    No desenvolvimento histrico do uso de bioetanol como combustvel no Brasil,

    intervieram visionrios e tcnicos dedicados, ao mesmo tempo em que se estabeleceu

    aos poucos uma base legal e institucional que permitiu a esse biocombustvel tornar-

    se um componente regular da matriz energtica brasileira. Em 1931, com base nos

    bons resultados de testes de campo de veculos utilizando bioetanol e com o objetivo

    de reduzir os impactos da total dependncia de combustveis derivados de petrleo,

    bem como de utilizar os excedentes de produo da indstria aucareira, o governo

    brasileiro editou o Decreto 19.717, determinando a mistura compulsria de, no mnimo,5% de bioetanol anidro gasolina. Em 1975, sob os efeitos do primeiro choque do

    petrleo, foi criado o Programa Nacional do lcool (Prolcool), mediante o Decreto

    76.593, com metas de produo (3 bilhes de litros de bioetanol em 1980) e incentivos

    para expandir a produo e o uso de bioetanol combustvel, inicialmente

    incrementando-se a adio de bioetanol anidro gasolina. Com o recrudescimento da

    crise do petrleo em 1979, o Prolcool foi intensificado e estimulou-se o uso de

    bioetanol hidratado em motores adaptados ou especificamente produzidos para o

    emprego desse biocombustvel. Em tais condies, a produo de bioetanol atingiu11,7 bilhes de litros em 1985, acima da meta inicialmente pretendida.

    Em sntese, o conjunto de incentivos adotados pelo Prolcool nessa poca, que se

    mostrou efetivamente capaz de motivar os agentes econmicos, inclua os seguintes

    pontos: a) definio de nveis mnimos mais elevados no teor de bioetanol anidro na

    gasolina, que foram, progressivamente, elevados at atingirem 25%; b) garantia de um

    preo ao consumidor para o bioetanol hidratado menor do que o preo da gasolina

    (nessa poca, os preos dos combustveis, ao longo de toda a cadeia produtiva, eram

    determinados pelo governo federal); c) garantia de remunerao competitiva para o

    produtor de bioetanol, mesmo frente a preos internacionais mais atrativos para o

    acar do que para o bioetanol (subsdio de competitividade), d) abertura de linhas de

    crdito com emprstimos em condies favorveis para os usineiros incrementarem

    sua capacidade de produo; e) reduo dos impostos (na venda de carros novos e

    no licenciamento anual) para os veculos a bioetanol hidratado; f) estabelecimento da

    obrigatoriedade de venda de bioetanol hidratado nos postos; e g) manuteno de

    estoques estratgicos para assegurar o abastecimento na entressafra.

    Com a reduo dos preos do petrleo e a recuperao dos preos do acar a partir

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    de 1985, foram revistas as polticas de fomento ao bioetanol, com o estmulo

    fabricao de acar para exportao. Nesse quadro de dificuldades e desateno

    governamental para com o bioetanol, o mercado se desorganizou e surgiram

    descontinuidades na oferta de produto, o que levou adoo de medidas

    emergenciais, como a reduo do teor de bioetanol na gasolina, a importao de

    bioetanol e o uso de mesclas de gasolina com metanol como substituto de bioetanol.

    A indstria sucroalcooleira no Brasil, bem como o mercado de combustveis, que por

    dcadas desenvolveram suas atividades com elevado nvel de interveno

    governamental, com a definio de mercados, cotas e preos, viveram durante os

    anos 1990 um processo de liberalizao, com a progressiva retirada dos subsdios e o

    fim do tabelamento dos preos. Como conseqncia, passou a vigorar um novo

    modelo de relacionamento entre produtores de cana-de-acar, produtores debioetanol e empresas distribuidoras de combustvel, no qual prevaleceram as regras

    de mercado atualmente adotadas no pas. Do quadro original de medidas legais e

    tributrias que permitiram consolidar o bioetanol combustvel no Brasil, permanece

    vigente apenas a tributao diferencial do bioetanol hidratado e dos veculos a

    bioetanol, que procuram manter em condies mais ou menos paritrias para o

    consumidor o uso de bioetanol hidratado ou gasolina.

    Atualmente, na configurao institucional da agroindstria do bioetanol, destacam-se

    os seguintes rgos: Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE), cujas

    atribuies incluem o estabelecimento de diretrizes para os programas de produo e

    uso dos biocombustveis; a Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e

    Biocombustveis (ANP), responsvel pela regulao e fiscalizao das atividades

    econmicas relacionados ao bioetanol e o biodiesel, pela implementao da poltica

    nacional desses produtos com nfase na garantia de suprimento em todo o territrio

    nacional e pela proteo dos interesses do consumidor; e o Conselho Interministerial

    do Acar e do lcool (Cima), entidade que delibera sobre as polticas relacionadas

    com as atividades do setor sucroalcooleiro no Brasil.

    A partir de 2003, com o advento dos carros flexveis e sua grande aceitao pelos

    consumidores, retomou-se o crescimento do consumo do bioetanol hidratado no

    mercado interno, abrindo-se novas perspectivas para a expanso da agroindstria da

    cana no Brasil, que se somam s possibilidades do mercado internacional de

    bioetanol anidro para uso em misturas com a gasolina. Desde ento, a agroindstria

    canavieira brasileira tem se expandido a taxas elevadas, como sintetizam os Grficos

    2, 3 e 4, que apresentam, respectivamente, a evoluo da produo de cana ebioetanol (anidro e hidratado) e acar, a evoluo do teor de bioetanol anidro na

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    15

    gasolina e o comportamento da produo de veculos a bioetanol hidratado.

    Grfico 2 Evoluo da produo de cana-de-acar, bioetanol e acar no

    Brasil

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    35.000

    75/76

    77/78

    79/80

    81/82

    83/84

    85/86

    87/88

    89/90

    91/92

    93/94

    95/96

    97/98

    99/00

    01/02

    03/04

    05/06

    07/08

    safra

    mil m3 / mil t

    0

    50.000

    100.000

    150.000

    200.000

    250.000

    300.000

    350.000

    400.000

    450.000mil t cana

    Etanol (mil m3)

    Acar (mil ton)

    Cana (mil ton)

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    de maior destaque a do Centro-Sul-Sudeste, que concentra mais de 85% da

    produo, com cerca de 60% no Estado de So Paulo.

    O sistema de produo envolve mais de 330 usinas, com capacidade entre 600 mil e 7

    milhes de toneladas de cana processada por ano. Uma usina mdia tem capacidade

    para moer cerca de 1,4 milho de toneladas anuais. A distribuio da capacidade de

    moagem apresentada no Grfico 5 (valores para a safra 2006/2007). Pode-se

    observar que as dez maiores usinas respondem por 15% do total de matria-prima

    processada, enquanto as 182 menores unidades processam metade da cana,

    sinalizando uma baixa concentrao econmica. Do ponto de vista do perfil de

    produo, as usinas brasileiras podem ser classificadas em trs tipos de instalaes:

    as usinas de acar, que produzem exclusivamente acar; as usinas de acar com

    destilarias anexas, que produzem acar e bioetanol; e as instalaes que produzemexclusivamente bioetanol, ou destilarias autnomas. A grande maioria das instalaes

    formada por usinas de acar com destilarias anexas (cerca de 60% do total),

    seguidas por um considervel montante de destilarias autnomas (cerca de 35%) e

    por algumas unidades de processamento exclusivo de acar. As usinas brasileiras

    trabalham, em mdia, com 80% da cana proveniente de terras prprias e arrendadas

    ou de acionistas e companhias agrcolas com alguma vinculao s usinas. Os 20%

    restantes so fornecidos por cerca de 60 mil produtores independentes, a maioria

    utilizando menos de dois mdulos agrcolas.

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    18

    Grfico 5 Distribuio da capacidade anual de processamento das usinas

    de acar e bioetanol no Brasil

    0,0

    2,0

    4,0

    6,0

    8,0

    0 50 100 150 200 250usinas de acar e etanol

    milho t/safra

    Conforme nmeros da safra 2006/2007, o agronegcio da cana-de-acar, que

    engloba a produo de cana, acar e bioetanol, movimentou em 2007 cerca de R$ 41

    bilhes, correspondentes a faturamentos diretos e indiretos. Foram produzidos 30

    milhes de toneladas de acar e 17,5 bilhes de litros de bioetanol e foramexportados 19 milhes de toneladas de acar (US$ 7 bilhes) e 3 bilhes de litros de

    bioetanol (US$ 1,5 bilho), representando 2,65% do Produto Interno Bruto (PIB). Alm

    disso, foram recolhidos R$ 12 bilhes em impostos e taxas e realizaram-se

    investimentos anuais de R$ 5 bilhes em novas unidades agroindustriais. Associada

    expanso da produo sucroalcooleira, tem ocorrido uma significativa diversificao

    da composio e da origem do capital investido na agroindstria, originalmente quase

    todo baseado em empresas familiares.

    importante observar que a expanso da produo de bioetanol e acar nas ltimas

    dcadas ocorreu no apenas com o aumento da rea cultivada, mas tambm com

    expressivos ganhos de produtividade nas fases agrcola e industrial, que

    apresentaram incrementos anuais acumulados de 1,4% e 1,6%, respectivamente, e

    resultaram em uma taxa de crescimento anual de 3,1% na produo de bioetanol por

    hectare cultivado, ao longo de 32 anos. Graas a esses ganhos de produtividade, a

    rea atualmente dedicada cultura da cana para produo de bioetanol, cerca de 3,5

    milhes de hectares, 38% da rea que seria requerida considerando a produoatual e a produtividade agroindustrial observada no incio do Prolcool, em 1975. Esse

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    notvel ganho de produtividade, multiplicando por 2,6 o volume de bioetanol produzido

    por rea cultivada, foi conseguido essencialmente mediante a contnua incorporao

    de novas tecnologias. Como conseqncia direta da evoluo da produtividade,

    observou-se uma progressiva reduo dos custos, configurando um processo de

    aprendizagem e consolidao similar ao apresentado por outras tecnologias

    energticas inovadoras.

    Na promoo do desenvolvimento tecnolgico, foi e importante a existncia de

    instituies pblicas, federais e estaduais, bem como empresas privadas voltadas para

    a agregao de conhecimento cadeia produtiva do bioetanol de cana-de-acar, em

    particular na etapa agrcola. Esse processo envolve melhoramento gentico,

    mecanizao agrcola, gerenciamento, controle biolgico de pragas, reciclagem de

    efluentes e prticas agrcolas conservacionistas de maior desempenho, apresentandoresultados efetivos e com promissoras perspectivas de ganhos adicionais de eficincia

    nos sistemas de produo.

    A sustentabilidade do bioetanol de cana-de-acar: a experincia brasileira

    Em uma acepo ampla, de um modo cada vez mais decisivo, impe-se que os

    sistemas energticos sejam no apenas conceitualmente renovveis, mas tambm

    efetivamente sustentveis. Contudo, determinar a sustentabilidade de um sistema

    energtico no uma tarefa simples, pois depende no apenas do vetor energtico,

    mas, fundamentalmente, do contexto de sua produo e utilizao, com

    procedimentos e mtodos ainda por consolidar. Entretanto, ainda que o debate sobre

    a sustentabilidade das bioenergias esteja em curso e, com freqncia, se polarize

    entre vises utilitaristas e preservacionistas, o aproveitamento pelas sociedades

    humanas da produo vegetal vem sendo praticado h milnios mediante a agricultura

    nos mais diferentes ecossistemas e deve ser considerado uma alternativa energtica a

    ser mais bem conhecida e promovida nos contextos em que se mostrar adequada.

    Nesse sentido, este captulo apresenta a produo de bioetanol de cana-de-acarsob o prisma da sustentabilidade, definida como a possibilidade de os sistemas

    bioenergticos manterem sua produo em largo prazo, sem depleo sensvel dos

    recursos que lhe do origem, como a biodiversidade, a fertilidade do solo e os

    recursos hdricos. Tal enfoque se baseia em uma das definies clssicas de

    sustentabilidade: "condio em que a produo pode ser mantida indefinidamente sem

    degradar os estoques de capital, incluindo-se os estoques de capital natural",

    considerados os seus trs pilares ambiental, social e econmico e avaliando-se a

    produo de bioetanol de cana-de-acar como praticada no Brasil.

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    Considerando os temas mais relevantes associados aos impactos ambientais na

    produo de cana e bioetanol, com base em diversos estudos de campo, possvel

    mostrar como a agroindstria canavieira no Brasil tem evoludo positivamente. As

    emisses de efeito global (gases de efeito estufa) so efetivamente mitigadas pela

    produo e o uso do bioetanol e do bagao, substituindo combustveis fsseis,

    enquanto as emisses de carter local, especialmente associadas queima pr-

    colheita da cana, vm se reduzindo pela adoo da colheita mecanizada da cana crua,

    em cumprimento aos protocolos firmados entre a agroindstria e o governo.

    Do ponto de vista dos recursos hdricos, constata-se uma notvel reduo da captao

    de gua e lanamento de efluentes, superior a 60%, alcanada mediante a

    racionalizao do uso e a adoo de tcnicas de reuso, enquanto a disposio final da

    vinhaa em sistemas de fertirrigao permitiu aumentar a produtividade agrcola ereduzir o emprego de fertilizantes. Quanto ao uso de fertilizantes e defensivos

    agrcolas, tem sido demonstrado como a cana-de-acar, comparada a outros cultivos

    de importncia, demanda menor aporte de agroqumicos, seja pela maior reciclagem

    dos nutrientes, seja pela ampla adoo de mtodos biolgicos de controle de pragas.

    A reduo da eroso e a proteo da fertilidade do solo so naturalmente favorecidas

    pelo fato de a cana ser um cultivo semiperene, mas tambm tm sido promovidas

    mediante tcnicas agrcolas adequadas. Da mesma forma, a biodiversidade tem sido

    objeto de maior ateno na agroindstria, pela proteo das reas de preservao

    permanente e pela renovao e diversificao da base de germoplasma em

    explorao. importante observar que a efetiva aplicao da legislao e a difuso de

    uma postura mais favorvel ao ambiente natural decorrem e dependem da presena

    clara e ativa do Estado, que tem a misso de implementar e fiscalizar a observncia

    da legislao ambiental.

    Como temas ambientais recentes e ainda pouco discutidos, analisam-se a emisso de

    gases de efeito estufa associada mudana do padro de uso do solo, com a perdade sua cobertura original, quando da implantao dos canaviais, e o processo indireto

    de desmatamento causado pela ocupao das reas de pastagens pela cana. No caso

    do bioetanol no Brasil, pouco provvel que possam ser associadas perdas de

    cobertura florestal produo de bioetanol, j que a expanso da lavoura canavieira

    tem ocorrido basicamente em reas antes ocupadas por pastagens de baixa

    produtividade ou culturas anuais destinadas, em grande parte, exportao, como a

    soja, casos em que o sistema radicular e a biomassa sobre o solo so, geralmente, de

    menor magnitude do que no caso da cana. Com referncia ao desmatamentoindiretamente induzido pela expanso da cultura da cana-de-acar, cabe comentar

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    que o Brasil, assim como diversos outros pases situados na regio tropical mida do

    planeta, possui terras disponveis para uma expressiva expanso da produo

    agrcola, podendo produzir de forma sustentvel alimentos e bionergia sem precisar

    abrir mo de seu patrimnio florestal. Os canaviais destinados produo de

    combustveis, no Brasil, correspondem a uma reduzida parcela da rea agrcola e do

    territrio do pas, como mostrado na Figura 3. Efetivamente, a produo de bioetanol

    de cana-de-acar no implica desmatamento, cuja complexa problemtica impe o

    ordenamento da expanso das atividades agropecurias na regio amaznica e o

    reforo das medidas de fiscalizao e execuo legal.

    Figura 3Uso da terra no Brasil

    Um instrumento importante para o ordenamento da expanso da agroindstria do

    bioetanol no Brasil, o Zoneamento Agroecolgico da Cana-de-Acar, desenvolvido

    pelo governo federal com base em informaes de mapas de solo, de clima, de reas

    de reserva ambiental, geomorfolgicos e topogrficos, estabelece as reas aptas e asregies para as quais no se recomenda essa cultura em grande escala. Por isso,

    esse trabalho pode ser utilizado como instrumento norteador de polticas de

    financiamento, investimentos em infra-estrutura e aperfeioamento do marco tributrio,

    bem como deve servir para eventuais certificaes socioambientais que venham a ser

    estabelecidas. Segundo esse levantamento, a rea disponvel e com aptido para a

    cultura da cana, sem considerar o uso da irrigao, supera os 110 milhes de

    hectares.

    rea plantada em cana para energia ( 3,6 Mha, 0,5%)

    rea cultivada ( 76,7 Mha, 9%)

    rea das propriedades rurais ( 355 Mha, 42%)

    rea total do pas ( 851 Mha, 100%)

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    Com referncia sustentabilidade econmica do bioetanol de cana-de-acar, como

    sintetizado nos Grficos 6 e 7, o bioetanol se mostra competitivo frente aos

    combustveis convencionais em termos de preos internacionais ao produtor (ex-

    tributos) nos mercados livres, bem como nos preos finais para o consumidor, nas

    condies praticadas no Brasil.

    Grfico 6 Evoluo dos preos pagos ao produtor de gasolina nos EUA e de

    bioetanol de cana-de-acar no Brasil, sem tributos

    0,00

    0,10

    0,20

    0,30

    0,40

    0,50

    0,60

    0,70

    jan-00 jan-01 jan-02 jan-03 jan-04 jan-05 jan-06 jan-07 jan-08

    US$/litro

    Etanol Anidro Brasil

    Gasolina Regular EUA

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    Grfico 7 Evoluo dos preos mdios ao consumidor do bioetanol

    hidratado e da gasolina comum e da relao entre esses preos no Brasil

    0,50

    1,00

    1,50

    2,00

    2,50

    jan-01 jan-02 jan-03 jan-04 jan-05 jan-06 jan-07 jan-08

    R$/litro

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    bioetanol hidratado

    gasolina comum

    % bioetanol/gasolina

    Considerando os custos de produo matria-prima, operao, manuteno e

    investimento , o custo final do bioetanol de cana-de-acar situa-se entre US$ 0,35 eUS$ 0,40 por litro de bioetanol, valores correspondentes ao petrleo entre US$ 50 e

    US$ 57 o barril equivalente, significativamente inferior aos valores de mercado desse

    combustvel fssil. provvel que, nas usinas em implantao nas novas fronteiras

    produtoras, os custos do bioetanol sejam inferiores, tendo em vista a localizao

    dessas plantas, com maior densidade dos canaviais (menores custos de transporte) e

    o fato de serem dedicadas apenas produo de biocombustvel, o que reduz os

    custos da matria-prima e os investimentos. Por outro lado, considerando as usinas

    mais antigas e completamente amortizadas, o bioetanol poder tambm apresentar

    menores custos de ordem financeira, do mesmo modo que nveis mais elevados de

    produo de energia eltrica com base no bagao tendem a melhorar os indicadores

    dessa agroindstria, de modo geral. Outra ressalva importante se refere ao impacto da

    taxa de cmbio adotada, pois a expressiva valorizao da moeda brasileira em anos

    recentes tem elevado bastante o valor dos produtos da agroindstria sucroalcooleira,

    quando avaliados em divisas.

    Se forem levadas em conta as possibilidades de continuidade no processo deincremento da produtividade agrcola e industrial, razovel esperar que os custos de

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    produo do bioetanol de cana-de-acar permaneam estveis ou se reduzam em

    termos relativos, enquanto, do lado dos combustveis fsseis, os cenrios esperados

    so de manuteno de preos elevados, sem perspectivas de reduo aos nveis

    praticados h algumas dcadas. Portanto, do ponto de vista econmico, a produo

    de bioetanol de cana-de-acar apresenta-se sustentvel, com preos e custos

    efetivamente viveis, sem necessidade de subsdios para competir com os

    combustveis convencionais, desde j.

    Para concluir a anlise da sustentabilidade da produo de bioetanol de cana-de-

    acar, do ponto de vista das implicaes sociais, oportuno demonstrar a relevncia

    da gerao de empregos e renda nessa agroindstria. Em 2005, havia 982 mil

    trabalhadores diretamente e formalmente envolvidos com a produo sucroalcooleira.

    Estimava-se para esse mesmo ano um total de 4,1 milhes de pessoas trabalhandode algum modo dependentes da atividade da agroindstria da cana. No tocante

    qualidade dos empregos, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de

    Domiclios (PNAD) e adotando como variveis o nvel educacional dos empregados, o

    grau de formalidade do emprego, o rendimento recebido no trabalho principal e os

    auxlios recebidos pelos empregados, foram definidos ndices quantitativos que

    permitem estabelecer uma avaliao objetiva das condies de trabalho e sinalizam

    melhorias importantes em diversos indicadores socioeconmicos para os

    trabalhadores na lavoura da cana-de-acar no Brasil nos ltimos anos, como ganhosreais de salrios, aumento e diversificao dos benefcios recebidos pelos

    trabalhadores, reduo expressiva do trabalho infantil e elevao da escolaridade.

    Apesar dessas melhorias, o trabalho na produo de bioetanol, especialmente nas

    atividades manuais no campo, geralmente pesado e compete ao Estado a

    permanente fiscalizao da estrita observncia da legislao trabalhista, fator

    essencial para coibir as distores ainda existentes e promover o progresso das

    relaes de trabalho nesse setor.

    A criao de oportunidades de trabalho e a distribuio entre trabalhadores do valor

    agregado na cadeia produtiva so duas das caractersticas mais importantes da

    bioenergia e, em particular, do bioetanol de cana-de-acar, constituindo um

    diferencial relevante entre essa tecnologia energtica e suas congneres. Mesmo com

    a progressiva adoo de tecnologias de alta produtividade, como a colheita

    mecanizada, a produo de bioetanol permanece uma grande geradora de empregos,

    cada vez de maior qualidade, com correspondente elevao dos requisitos de

    capacitao e da remunerao mdia. Do mesmo modo, cabe reconhecer o papelrelevante da atividade agroindustrial como geradora de renda e dinamizadora da

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    resduos, um quarto pela regenerao de terras degradadas ou marginais e o restante

    por terras agricultveis e, sobretudo, pastagens atuais.

    Com referncia ao mercado para o bioetanol, projeta-se para 2010 uma demanda

    global de 101 bilhes de litros, frente a uma oferta estimada em 88 bilhes de litros,

    quadro que tende ao equilbrio em 2015, quando a oferta dever situar-se perto de 162

    bilhes de litros, para uma demanda no patamar de 150 bilhes de litros, distribuindo-

    se entre as regies de modo heterogneo, conforme mostrado no Grfico 8.

    Como condio fundamental para que se desenvolvam nos prximos anos os

    potenciais de produo e, conseqentemente, o mercado global de bioetanol, polticas

    voltadas para a promoo dos biocombustveis tm sido propostas e implementadas

    em diversos pases, em grau varivel de clareza e objetividade. Uma anlise dessas

    polticas mostra que o aumento da segurana energtica e a mitigao de mudanasclimticas esto entre os mais importantes fatores de motivao para programas

    bioenergticos na maioria dos pases. As questes ambientais esto mais presentes

    nos pases industrializados, enquanto a promoo do desenvolvimento rural um

    objetivo relevante para os demais pases, propsito quase sempre alinhado a uma

    agenda de combate pobreza. Todos os pases destacam em suas polticas diversos

    objetivos centrais e concorrentes, o que pode tornar o desenvolvimento da bioenergia

    uma tarefa difcil, eventualmente alm das possibilidades de uma transio de bases

    energticas, que, por si s, configura-se complexa. De todo modo, positiva a clara

    insero da bioenergia na agenda das polticas pblicas.

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    alimentos, envolvendo o aproveitamento de nichos de produo, especialmente em

    casos de excedentes agrcolas, que podem representar um pequeno percentual do

    consumo interno de combustveis lquidos nesses pases. Tal realidade abre uma

    janela de oportunidade para a produo racional e sustentvel de biocombustveis no

    contexto de pases tropicais midos da Amrica Latina e Caribe, frica e sia, que

    gradualmente poderia permitir aos pases de alto consumo energtico atingir taxas de

    substituio bem mais elevadas, de 20% a 30%, sem afetar de forma relevante a

    produo de outros bens agrcolas e com um considervel potencial de

    desenvolvimento nessas regies.

    O efeito da produo de biocombustveis sobre a demanda de produtos agrcolas

    agravado pelas prticas protecionistas amplamente adotadas pelos pases

    industrializados, com srias implicaes, em pelo menos duas vertentes. Por um lado,a manuteno de preos de proteo para seus agricultores pressupe a existncia de

    barreiras tarifrias que dificultam ou impedem o acesso de produtos agrcolas oriundos

    dos pases em desenvolvimento aos mercados dos pases industrializados,

    desestimulando a produo para exportao. Por outro lado (e pior), os excedentes da

    produo subsidiada desequilibram de modo perverso o mercado mundial de bens

    agrcolas, o que causa o aviltamento dos preos internacionais e desestrutura a

    produo de alimentos na maioria dos pases de menor renda.

    A base de recursos naturais disponveis no planeta amplamente suficiente para a

    produo bioenergtica sustentvel em volumes razoveis, com reduzido impacto em

    outras atividades, desde que sejam adotadas rotas tecnolgicas racionais, como o

    bioetanol de cana-de-acar, que, por seus indicadores diferenciados de

    produtividade, dificilmente pode ser associado a uma crise de oferta e de preos dos

    alimentos. Alm disso, a adoo de tecnologias mais eficientes, que reduzam perdas e

    racionalizem os sistemas produtivos agropecurios, possivelmente ser ainda mais

    importante do que a larga disponibilidade de recursos naturais como fator mitigador da

    disputa entre produo de alimentos e bioenergia (e outros produtos agrcolas no-

    alimentares) por terras e demais recursos produtivos.

    Com o propsito de dar mais consistncia discusso sobre os nexos entre a

    produo de biocombustveis e a disponibilidade de alimentos, bem como para

    caracterizar correlaes entre os preos dos diferentes produtos, foi avaliada a

    evoluo dos preos internacionais para diferentes categorias de produtos agrcolas

    entre maro de 1990 e maro de 2008, agregados segundo sua relao direta, indireta

    ou no-relevante com a produo de biocombustveis. Embora tenha sido determinadoque h uma correlao clara entre os preos do petrleo e os dos produtos agrcolas

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    relacionados aos biocombustveis, no caso do acar, associado cana-de-acar, tal

    correlao bem menor. Esse dado confirma o reduzido nexo entre o bioetanol de

    cana-de-acar e a elevao dos preos dos alimentos.

    Existem bons motivos para promover, sob critrios de sustentabilidade, um mercado

    de bioetanol, que vo alm da possibilidade de que os pases produtores e

    consumidores desse biocombustvel possam cumprir os objetivos dos acordos

    ambientais internacionais. Nesse sentido, as estratgias nacionais devem atender

    adequadamente s suas perspectivas de desenvolvimento e s demandas de energia,

    agricultura e comrcio, o que implica considerar a entrada em um futuro mercado

    internacional de bioetanol ou priorizar o produto nacional para o desenvolvimento rural

    e para fornecimento de energia para uso domstico. Em qualquer caso, na proposio

    de programas consistentes para a produo e o uso de bioetanol, em pases ondeessa tecnologia energtica ainda incipiente, imperativo que sejam realizadas

    avaliaes e estudos prvios, para estabelecer metas coerentes base de recursos

    existentes. bem provvel que um mercado global para o bioetanol seja uma

    realidade em poucos anos. Contudo, sua magnitude e sua abrangncia entre os

    pases dependero de diversos elementos que ainda esto se delineando, tais como

    as polticas dos pases em relao aos seus mercados internos, discusses sobre

    critrios de sustentabilidade, negociaes de comrcio internacional e reao da

    sociedade civil nos pases em desenvolvimento e nos pases industrializados,compondo um quadro dinmico e em definio.

    Uma viso do futuro para o bioetanol combustvel

    A bioenergia representa uma das melhores alternativas para captar e armazenar a

    energia solar, um dos poucos recursos naturais subutilizados pela humanidade,

    sempre que se disponha de terras livres, clima adequado (luz, gua e temperatura) e,

    na mesma importncia, conhecimento suficiente e disposio empreendedora paraaplic-lo. Especialmente apta para o suprimento de combustveis veiculares, a energia

    solar na forma de bioetanol, produzido com eficincia e sustentabilidade, capaz de

    atender s urgentes demandas para reduo das emisses de gases de efeito estufa,

    melhorar a qualidade do ar nas metrpoles e competir em preo com as energias

    convencionais. Alm disso, essa rota pode proporcionar uma nova dinmica

    agroindustrial para os pases tropicais com disponibilidade de terras e disposio para

    superar esquemas energticos concentrados e ambientalmente problemticos, capaz

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    de conferir segurana energtica e trazer novas perspectivas de crescimento

    econmico.

    A experincia brasileira nesse campo pode e deve ser uma referncia para outros

    pases e contextos similares. So muitos os pases em condies de promover a

    produo e o uso de bioetanol de cana-de-acar, adaptando o exemplo do Brasil a

    suas caractersticas, potenciais e mercados. Esses pases, no entanto, ainda carecem

    de estudos e avaliaes mais detalhadas, para a adequada formulao e a

    implantao de programas nacionais, com eficincia e consistncia. Da mesma forma,

    diversos pases tm buscado reduzir sua dependncia energtica, diminuir suas

    emisses de carbono e melhorar a qualidade do ar de suas cidades, mas, de modo

    geral, ainda no incluem a utilizao de bioetanol de cana-de-acar entre suas

    alternativas, erigindo barreiras que protegem rotas pouco eficientes e no-sustentveis.

    Constatados concretamente e bem documentados com base na experincia de

    dcadas no Brasil, podem ser destacados os seguintes pontos que configuram o

    bioetanol de cana-de-acar como uma opo energtica estratgica e sustentvel,

    passvel de ser replicada e adaptada em outros pases com disponibilidade de terras e

    condies edafoclimticas adequadas:

    1. O bioetanol pode ser utilizado em motores veiculares, puro ou em

    misturas com gasolina, com bom desempenho e empregando

    essencialmente o mesmo sistema de distribuio e armazenamento existente

    para a gasolina. Em teores at 10%, os efeitos do bioetanol so quase

    imperceptveis sobre o consumo dos veculos, que podem, nesses nveis,

    empregar esse biocombustvel em seus motores sem qualquer modificao.

    2. O bioetanol de cana-de-acar produzido com elevada eficincia na

    captao e na converso de energia solar (relao produo/consumo de

    energia acima de 8), com produtividade agroindustrial bastante superior dosdemais biocombustveis. Esse produto alcana perto de oito mil litros por

    hectare e significativa disponibilidade de excedentes de interesse energtico,

    como biocombustveis slidos (bagao e palha) e, principalmente,

    bioeletricidade.

    3. O bioetanol de cana-de-acar, produzido nas condies brasileiras,

    mostra-se competitivo com o petrleo ao redor de US$ 50 o barril, com

    um custo de produo determinado principalmente pela matria-prima. A

    tecnologia empregada para sua produo est aberta e disponvel, podendo

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    ser, progressivamente, introduzida na agroindstria canavieira voltada para a

    fabricao de acar.

    4. Os impactos ambientais de carter local associados produo de

    bioetanol de cana-de-acar sobre os recursos hdricos, o solo e a

    biodiversidade e decorrentes do uso de agroqumicos, entre outros, podem

    ser e, em boa medida, foram efetivamente atenuados a nveis tolerveis,

    inferiores maioria de outras culturas agrcolas.

    5. O uso do etanol de cana-de-acar permite reduzir em quase 90% as

    emisses de gases de efeito estufa, contribuindo de modo efetivo para

    mitigar a mudana climtica. Nas condies atuais, para cada milho de

    metros cbicos de bioetanol de cana-de-acar empregado em mistura com

    gasolina, cerca de 1,9 milho de toneladas de CO2 deixam de ser emitidospara a atmosfera.

    6. So significativas as perspectivas de desenvolvimento tecnolgico na

    agroindstria do bioetanol de cana-de-acar, com aumento da

    produtividade e do desempenho energtico e diversificao da gama de

    produtos, com destaque para as rotas de hidrlise e gaseificao, de

    interesse no incremento da produo de bioetanol e bioeletricidade.

    7. Os empregos na agroindstria do bioetanol de cana-de-acarapresentam bons indicadores de qualidade e, ainda que a crescente

    mecanizao na colheita da cana-de-acar reduza o trabalho braal, a

    demanda de mo-de-obra permanece bastante elevada por unidade de

    energia produzida, em comparao com outras fontes energticas.

    8. A produo de bioetanol de cana-de-acar, como desenvolvida no Brasil

    e em outros pases com suficiente disponibilidade de terras, pouco afeta

    a produo de alimentos, ocupando uma rea muito reduzida em relao

    rea cultivada para alimentos e s reas disponveis para a expanso das

    atividades agrcolas em geral.

    9. A agroindstria do bioetanol de cana-de-acar articula-se com muitos

    setores da economia e promove o desenvolvimento de diversas reas,

    como a prestao de servios, a indstria de equipamentos agrcolas e

    industriais e a logstica.

    10. So amplas as possibilidades de expandir a produo de bioetanol de

    cana-de-acar, no apenas no Brasil, como tambm em outros pases

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    tropicais midos, considerando a disponibilidade de terras ociosas ou

    utilizadas com atividades pecurias de baixa produtividade e a existncia de

    clima adequado.

    A agroindstria da cana-de-acar ainda apresenta grandes possibilidades de

    diversificao de seus produtos e incremento das disponibilidades energticas, seja

    caminhando-se em direo s biorrefinarias, complexos produtivos capazes de

    fornecer bioenergia e biomateriais diversos, seja reforando a base de recursos

    genticos, inclusive com estudos ao nvel do processo fotossinttico. A agroindstria

    da cana-de-acar est apenas comeando a mostrar suas possibilidades.

    H, certamente, muito que fazer e desafios por superar para a expanso dos sistemas

    bioenergticos, mas os benefcios sero proporcionais, na medida em que um

    desenvolvimento energtico saudvel e consistente determinante para consolidaruma nova relao entre a natureza e a sociedade. com base nesse ponto de vista

    que a produo e o uso de bioetanol de cana-de-acar oferecem a perspectiva

    concreta de uma realidade energtica mais sustentvel e fazem dessa agroindstria a

    alavanca de desejveis transformaes sociais e econmicas. O modelo brasileiro,

    aperfeioado por dcadas e com possibilidades de expandir-se com produtividade e

    eficincia, est disposio dos pases que buscam reduzir competitivamente suas

    emisses de gases de efeito estufa e diversificar suas fontes de suprimento energtico

    ou que, por seu clima, seu solo e sua gente, podero replicar com sucesso a produo

    eficiente de biocombustveis, para uso e benefcio de todos.