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Rev. Inst. Med. top. Sã.o Paulo24(4) :24O.245, julho-agosto, 1982
PARACOGC|DIOIDOMICOSE GEN|TAL MASCULTNA (*)
Maríli¡ s' CEGHELLA (1), carlos R. MELO (t)**, rvantr s. MEr¡o (r), a. T, L(}NDERO (z)**Sérglo Menna BARRETO (t) e Ana Mari¡ GAIGER (4)
RESUMO
São relatados sete casos de paracoccidioidomicose com comprometimento dosórgãos genitais masculinos. com exceção de um caso, os sintomas pulmonares'precederam o envolvimellto genital. O epidídimo e testículo foram os órgã,os maisfrequentemente atingidos. os aspectos histopatológicos foram ressaltactos.
Caso 1 - Hom€m de 48 ano,s natural deRestinga Seca, RS, foi internad,o por apresen-tar odinofagi,a e emagrecimento, corn históriade 1 a,r¡o de duração. Com tratamento, melho-rou d,a disfagia, porém continuou ernagrecen-do (10 kg). Há 6 meses, apre,sentou disriria epolaciúria, que melhorara¡n com trata,rnento.Há 2 meses, notou aumenùo d.e volume progres-sivo e endurecimento do testículo direito. Aoexame físico dos órgãos genitais, verificou-seaumento de ,yolume do epidÍdimo direito, quemostrava consistência endurecida e se a.deriafirmemente ao testículo. Este, também aumen.tado d"e volume tinha consistência normal.Próstata apresentava tamanho e consistêncianormal. Dos exames laboratoriais, a urináliserevelou pH 5,5; bacteriúria moderada; 15-20leucócitos e 0-3 hemácias por carnpo; culturade urina negativa. Radiografia de tórax mostroulesões granulornatosas nas regióes média e su_perior de ambos os pulmões. Exame microscó_pico do escarro não evidenciou bacilos álcool-ácido-resistentes e nem elementos fúngicos. poringuinotomia direta, verificou-se intensa pa-quivaginalite e discreta hidrocele. Esvaziada ahidrocele, o testículo moÊtrava aspecto normal,porém o epidÍdimo, aumentado de volume e
cDU 6t6.992.282
RELATO DOS CASOS
endurecido, deixava extravasar material puru-lento, Após a epididimectomia, foi feito examehistológico, revelando intensa e difusa reaçã,oinJlamatória supurativa, caracterizada por gran-de número de polimorfonucleares neutrófilosno interstício e em toda a luz tubul,ar do ór-gão (Fig. 3). Não havia formaçáo de granulo-mas característicos. Elementos parasitários ca-racterísticos de P. brasiliensis foram encontra-dos, ern grande quantidade, em meio às cé-lulas inflamatórias.
Caso 2 - Homem d.e 44 anos, procedentede Cerro Largo, RS, há 6 meses passou a apre-sentar lesã,o ulcerada da pátpebra superior es-querda. Pouco tempo .após, começou a ema-grecer, sentir d.or e ardência nas gengivas enotou que os dentes afrouxaram. IIá 2 mesessurgiu dor no testículo direito e observou au-rnento de volume da bolsa escrotal. O examefísico revelou paciente com estado geral regu-lar, com ulceraçáo palpebral medindo 2 cm,rasa e de base granulon:¡atosa. Õs testÍcuios,aumentados de volume, erarn dolorosos à pal-pação. Frêmito tóra€o-vocal estava diminuídoe auscultavam.s€ estertores bolhosos dissemi-nados. Radiogtafia de tórax revelou infiltrado
Universidade Fedetal de Santa Ma¡ia, RS. Erasit(*) Trabalho realizad.o nos Departamentos de patologia da(1) Microbiologia e parasitologia da UFSM(2) Medicina Interna ala UFRGS
(3) Patoloeia da pUC, porto Alegre(-*) (4) Pesquisadores do CNpq
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CECHELLA, M. S.; MELO, C. R.; MELO, I. S.; LONDERO, Á. T.; BARRETO, S. M. & GAIGER, .4. M. - peracoccidioi-
domicose genital masculina. Rev. Inst. Med, trop. São Paillo 24i24ù245, 1982.
parasitas, característicos do P. brasiliensis,eram vistos dentro de células gigantes e nasáreas de necrose caseo'sa.
Caso 6 - Homem de 51 anos, de Charquea-das, FùS, foi internado em 1973 por apresentardor de garganta, disfonia, linfadenopatias cer-vicais e submaxilares. dor e aumento de vo-lume do testlculo esquerdo. Houve regressãodos sintomas e das lesões. com sulfamidotera-pia m,antida por um ano. Reinternado em 19?6porque há B meses vinha apresentando tossecom expectoração mucóide e, ultimamente,dispnéia progressiva e emagrecimento acentua"do. Há um mês notara aumento de volume edor no testículo esquerdo. Os achados do exa,me físico restringiram-se ao aparetho genita,l:aumento de volume do testículo esquerdo, quese apresentava endurecido; o enidídimo e,squer-do, muito aumenta,<io de volume e corn consis-tência pétrea; lobos laterrais da próstata au-mentados de volume e de consistência pétrea,com sulco mediano conservado.
Radiografia de tórax revelou infiltração in-tersticial e alveolar difusa em ambos os pul-mões. Exames laboratoriais não esclareceramo diagnóstico. Náo fotam evidenciados bacilosálcool-ácido-resistentes no exarne mictoscópicodo escarro e nem células neoplásicras no examecitopatológico. Foi feita punção biopsia da prós-tata e biopsia incisional do tesficulo e epidídi-mo. Nos cortes histológicos d.essa,s biopsias feram evidenciados, no interstício, pequenos gra-nulornas de células epitelióides e células gi-gantes, no interior dos quais havia alguns pa.rasitas com características de p. brasiliensis.Em outras áreas havia extensa zona de necrosecaseo,sa, com reação granulomatosa em torrro.
Caso ? - Com história de prostatismo dedois meses de duraçáo, o paciente de ?2 anos,procedente de Uruguaiana, RS, foi internado.Os sinais fÍsicos limitavam-se ao aparelho gêni-to-urinário. Uma uretrocistografia demonstrouobetfução do colo vesical pela existência dem¿lssa tumoral, provavelmente da próstata; amucosa da bexiga apresentava aspecto trabecu-lado, sem outra anormalidade. Feita a cistoto-mia, com biopsia d.e próstata e de bexiga. Oexame histológico tevelou, nos cortes de prós-tata, reaçáo grar¡ulomatosa com células epite-lióides e células gigantes multinucleadas, alémde diminuta área de necrose câseosa. No interior de algumas células gigantes havia mode-
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rada quantidade de parasita,s, característicosde P. brasiliensÍs.
COMENTÁRIOS
O comprometimento uro-genital na paracoc*cidioidomicose é resultante da disseminaçãodo fungo por via hematogênica2. Usualmente,tem sido descrita sua ocorrência tardiamenteem casos de infecçáoe (casos 4 e 5), ou emconcomitância com lesões em outros órgáos,frequentemente o pulmão2 (casos 1, 2 e 6).Raramente o acometimento genital manifesta-se como queixa inicial ¡ (caso T) ou como úni.ca queixa. Nesses casos, usualmente, um exa-me clÍnico mais cuidadoso revelaria lesões ernoutros órgáos:.
Á,s lesões histológicas comumente mostram-se como reação granulomatosa tuberculóide ousarcóide2,6 (casos 3, 6, ?). Pode ocorrer necro-se caseosa (casos 2, 4,5, 6 e ?) ou reação mis-ta granulomatosa e p¡ogênica, com formaçãode microabscessos3 (c'asos,.2, 4, 5), porem sáoraro6,extensos processos inflamatórios supura-tivos (caso 1). Somente a pf,esença de fofmasteciduais características do fungo, as quais sãoobservadas livres ou dentro de células gigan-tes¡ permite a caracterização dessas reaçõesfeciduais.
Quanto à localização, o epidÍdimo e o testí-culo são os órgã.os mais frequentemente aco-¡¡suflos 1,5_e,rz,r*,r0, seguindo_se, em ordem de:crescente de freqüência, a próstal¿ 3,6,12,18,re e¡¡¡sfs¡2,18,re e o pênis11. Provavelmente, a pre-valência das. lesões genitais seria maior se fos-sem usados rotineiramente exames micológicoscom maferial adeguado. Deve-se ressaltar quetodos os casos relatados d€ paracoccidioidomi-cose genital, ocorreram no sexo masculino. Sea raridade das micoses sistêmicas na mulhertem sido explicada por fatores hormonais 13,
não surpreende, portanto, a ausência de aco-metimento do sistema gênito-urinário femini-no por P. brasiliensis.
STJMMARY
Male genital paracoccidioidomycosis
Seven rnases of male patients presentinglesions locaüed on the genital s5¡stem and. alsoelseïvhere are reported. The epididimis and thetestis were mo,re frequentfy affected. Histop4.thological pictures were pointed out.
OEOHELLA, M. s.; MEI0, c. R,.i MEI.O, r. s.; LONDERO, A. T.; BARRETO, s. M. & cArcER, A. M. - ra¡acocciaiåi;domicose genital masculina. Rev, Inst. Meal. trop. São pa,rg,lo ?/.t240-248, lggÌ.
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Receþido para publica4ão em 4/5/L9Bl:
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