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Resumo
O objectivo desta investigação é reflectir como inserir a cultura no ensino de uma
língua. Neste caso a língua alvo é o português e os aprendentes são falantes de sérvio.
Na aprendizagem ou no ensino de uma língua além da gramática e do vocabulário,
a cultura ocupa um papel importante. Uma língua como objectivo principal tem a
comunicação. Para comunicar com os outros, alguém tem de perceber o contexto do
uso desta língua, as situações, ter conhecimento e saber sociocultural da outra língua.
Todos estes aspectos são indispensáveis no ensino de uma língua e de uma cultura.
Palavras-‐chaves: língua estrangeira (LE), língua segunda (L2), cultura,
comunicação, competência comunicativa e competência intercultural
2
Abstract
The aim of this research is to reflect on how to insert a culture in a language
teaching. In this case the target language is Portuguese and the learners are Serbian
speakers.
In the process of learning or teaching a language, besides grammar and
vocabulary, culture plays an important role. A principal objective of any language is
communication. To communicate with the others, one must understand the context
of the use of the language and the situations, has to be aware of sociocultural
knowledge of the other language. All these aspects are essential in teaching a
language and a culture.
Key words: foreign language (FL), second language (SL), culture, communication,
communicative competence and intercultural competence
3
Agradecimentos
À minha orientadora, Professora Doutora Maria José dos Reis Grosso pela atenção
e instrução na elaboração deste trabalho.
Ao Instituto Camões, ao André Cunha, diretor do Centro Camões em Belgrado e
aos professores da Faculdade de Filologia em Belgrado, pela oportunidade de estudar
em Portugal e de aprofundar os meus conhecimentos sobre a cultura portuguesa.
Aos meus caros amigos e colegas pela amizade e ajuda nos momentos difíceis.
Aos meus pais e ao meu irmão pelo contínuo apoio.
Ao Davide, pela infinita compreensão e paciência, pelo apoio e incentivo
constantes.
4
Índice
Introdução .............................................................................................................................................. 5
Capítulo I
Cultura -‐ origens e heranças .................................................................................................. 6
Capítulo II
Ensino da cultura na aprendizagem de LE .................................................................... 14
Capítulo III
Estereótipos e consciência intercultural ....................................................................... 25
Capítulo IV
Métodos do ensino .................................................................................................................. 36
Capítulo V
Desenvolvimento do estudo ................................................................................................ 54
Capítulo VI
Exemplo prático – os gráficos ............................................................................................. 56
Conclusão ........................................................................................................................................... 71
Referências bibliográficas: .............................................................................................................. 73
5
Introdução
Trabalhando como professora durante alguns anos, e principalmente tendo sido
aluna durante quase toda a minha vida, tive a possibilidade de me cruzar com muitas
pessoas e de conhecer as suas motivações e ideias sobre a aprendizagem e o ensino
de uma língua. Alguns trabalham para aprender, memorizando lições e decorando
frases fazendo lembrar o ciclo de aprendizagem de um robot. Outros focam-‐se no
material essencial para conseguir comunicar, dando menos ênfase ao conteúdo
gramatical. Seja qual for o meio de aprendizagem, todos têm em comum a motivação,
interesse e curiosidade sem qual esta não seria possível.
O domínio de línguas estrangeiras é, cada vez mais, uma necessidade. No entanto,
mais importante quiçá do que adquirir essa competência, digo, a capacidade de
comunicar numa língua que não a materna, será perceber o contexto do uso da
mesma. Isto porque, para assegurar o diálogo numa língua estrangeira, é também
crucial, adequar o discurso ao conhecimento e saber sociocultural.
Assim o ensino-‐aprendizagem de uma língua estrangeira tem de incluir um
processo de conhecimento dos hábitos e tradições indígenas (de cultura alvo), de
forma para que os aprendentes desenvolvam a possibilidade de comunicar em vários
contextos e domínios, conforme as suas necessidades.
O objectivo desta investigação consiste em reflectir acerca da forma de inserção da
cultura no ensino de uma língua. Neste caso, a língua alvo é a língua portuguesa e os
aprendentes são falantes de sérvio.
Para falar de cultura, temos de começar pelo princípio. Não só do início da
formulação de teorias sobre a cultura e suas definições, mas também do
desenvolvimento do nosso carácter enquanto indivíduo integrado numa sociedade. A
percepção que temos de nós próprios e da nossa cultura, depende da interacção que
vamos tendo com as demais que conhecemos ao longo da vida.
6
Capítulo I
Cultura -‐ origens e heranças
“Culture consists essentially in the external storage, interchange, and transmission
of an accumulating fund of personal and social experience by means of tools and
symbols... Culture is the unique and exclusive possession of man, explainable thus far
only in terms of itself.”
Case, 1927: 9201
A palavra cultura vem do verbo latino colere, que significa cultivar, e apresenta um
conceito de várias interpretações.
Desde o final do século passado, os antropólogos vêm elaborando inúmeros
conceitos sobre cultura. Apesar das mais de 160 definições, ainda não chegaram a um
acordo sobre o significado exacto do termo. Para alguns, cultura é comportamento
aprendido; para outros, não é comportamento, mas abstracção do comportamento; e
para um terceiro grupo, a cultura funda-‐se em ideias. A interpretação mais corrente é
a definição formulada por Edward B. Tylor, antropólogo britânico considerado o pai
do conceito da cultura moderna.
A sua importância na Antropologia deve-‐se sobretudo à obra Primitive Culture,
publicada em 1871. Nesta obra, Tylor utilizou pela primeira vez um conceito que
ficou célebre – o conceito de “sobrevivências” como uma noção bastante abrangente
de cultura que é hoje considerada clássica:
“A cultura ou civilização, entendida no seu sentido etnográfico mais amplo, é
o conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a
1 Culture as a distinctive human trait, Case, Clarence Marsh, in American Journal of Sociology 32 (1927)
7
lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem
como membro da sociedade”. (1871, Primitive Culture)
Tylor, baseando-‐se nas teorias de Darwin, defendeu a ideia de unidade psíquica da
espécie humana em que a cultura se desenvolvia de um modo progressivo, linear e
uniforme. Neste contexto, o desenvolvimento das culturas realizava-‐se por etapas,
sendo a Europa a civilização mais avançada.
Apesar das teorias evolucionistas propostas por Tylor e outros antropólogos
estarem hoje ultrapassadas, as suas ideias tiveram uma grande aceitação na época,
havendo ainda alguns autores contemporâneos que insistem em comparar culturas
com percursos completamente distintos e defender hipóteses desta teoria
evolucionista.2
Como já vimos, a palavra cultura tem diversos sentidos consoante a sua aplicação
em diferentes áreas do conhecimento humano.
Ciências sociais – do ponto da vista da Sociologia e Antropologia a cultura é um
conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais artificiais
aprendidos de geração em geração por meio da vida em sociedade. Claro, as
definições dependem do sociólogo e antropólogo em questão.
Para Ralph Linton3, a cultura da qualquer sociedade “consiste na soma total de
ideias, reacções emocionais condicionadas a padrões de comportamento habitual
que seus membros adquiriram por meio da instrução ou imitação e de que todos, em
maior ou menor grau, participam” (1965: 316). Este autor atribui dois sentidos ao
termo cultura: um geral, significando “a herança social total da humanidade”; outro
específico, referindo-‐se a “uma determinada variante da herança social”;
Franz Boas define cultura como “a totalidade das reacções e actividades mentais e
físicas que caracterizam o comportamento dos indivíduos que compõem um grupo
social...” (1964: 166)4;
Malinowski em 1944, em A scientific theory of Culture and other essays, qualifica
cultura como “o todo global consistente de implementos e bens de consumo, de cartas
2 Cultura primitiva. Tylor, Edward B. (1871) 3 O homem: uma introdução à antropologia, Linton, Ralph (1959) 4 Cuestiones fundamentales de antropologia cultural. Boas, Franz (1964)
8
constitucionais para os vários agrupamentos sociais, de ideias e ofícios humanos, de
crenças e costumes” (2002: 36)5;
Clifford Geertz (1973) propõe que “a cultura deve ser vista como um conjunto de
mecanismos de controlo – planos, receitas, regras, instituições – para governar o
comportamento”, para ele estes mecanismos consistem naquilo a que chamam
símbolos significantes, ou seja, “palavras, gestos, desenhos, sons musicais, objectos ou
qualquer coisa que seja usada para impor um significado à experiência” (1978: 37).6
O conceito da cultura varia no tempo, no espaço e na sua essência. Várias situações
do dia-‐a-‐dia permitem apreender a cultura como um todo, sob os vários enfoques.
A cultura pode ser analisada, portanto, como uma apresentação de: ideias
(conhecimento e filosofia); crenças (religião e superstição); valores (ideologia e
moral); normas (costumes e leis); atitudes (preconceito e respeito ao próximo);
padrões de comportamento (monogamia, tabu); abstracção do comportamento
(símbolos e compromissos); instituições (família e sistemas económicos); técnicas
(artes e habilidades); e artefactos (tecnologia).
“Language stands for the whole culture because language represents culture
in the minds of its speakers. Conversely, culture also symbolizes language
and is summed in the economic, religions, and philosophical systems of a
country.”7
A relação entre a língua e a cultura envolve uma estimulação recíproca que conduz
à evolução de ambas. A língua actua como veículo para expressarmos as nossas
ideias e conceitos que dependem muito do momento e da situação. Conforme
desenvolvemos as nossas capacidades linguísticas, também os nossos hábitos
culturais se vão alterando. Os valores e os comportamentos dos indivíduos sofrem
modificações que irão ser notáveis na língua. O conhecimento cultural é crucial para
alcançar a proficiência linguística. 8
5 A scientific theory of culture and other essays, Malinowski, Bronislaw(1944/2002,p.36, capítulo 4, google books) reprinted 2002 by Routledge, 11 New Fetter Lane, London
6 http://www.indiana.edu/~wanthro/theory_pages/Geertz.htm 7 Instructional Strategies for ESL leaders 8 Linguistics across Cultures: The impact of Culture on Second Language Learning , on-‐line scribd
9
Modelos da cultura
Segundo Leslie A. White9, o antropólogo dos Estados Unidos conhecido pelas suas
teorias quanto à evolução cultural, as coisas e os acontecimentos que constituem a
cultura, encontram-‐se no espaço e no tempo, sendo classificadas em três tipos da
cultura:
a. intra-‐orgânica – dentro de organismos humanos (conceitos, crenças, emoções,
atitudes);
b. inter-‐orgânica – dentro dos processos de interacção social entre os seres
humanos;
c. extra-‐orgânica – dentro dos objectos materiais (fábricas, caminho de ferro,
vasos de cerâmica) situados fora dos organismos humanos, mas dentro dos
padrões de interacção social entre eles.
Para este autor, um item qualquer – conceito, crença, acto, objecto – deve ser
considerado um elemento da cultura, desde que:
a. Haja simbolismo (representação por meio de símbolos)
b. Seja analisado num contexto extra-‐somático.10
9 The Evolution of Culture: The Development of Civilization to the fall of Rome. White, Leslie A.,1ª edição 1959, p.3-‐33 10 Cultura. Marconi (In: MARCONI, Marina de Andrade. Antropologia: uma introdução. 5ª.ed. São Paulo: Atlas, 2001. pg.42-‐
67)
10
Princípio fundamental da cultura
A cultura tem por base as ideias, crenças e comportamentos.
Ideais – são concepções mentais de coisas concretas ou abstractas, ou seja, uma
variedade de conhecimentos e crenças teológicas, filosóficas, científicas, tecnológicas,
históricas, etc.
Abstracções – consistem naquilo que se encontra apenas no domínio das ideias, da
mente, excluindo-‐se totalmente as coisas materiais.
Comportamentos – são modos de agir comuns a grupos humanos ou conjuntos de
atitudes e reacções dos indivíduos face ao meio social. A cultura resulta da invenção
social; é aprendida e transmitida por meio da aprendizagem e da comunicação.
Segundo White, os actos e objectos não são comportamento humano, mas “uma
concretização do comportamento humano”. A cultura consiste numa série de coisas
reais que podem ser observáveis e examinadas num contexto extra-‐somático. Para
ele, há três tipos de simbolismos (significados):
1. ideias
2. actos evidentes
3. objectos materiais.
Classificação da cultura
A cultura pode ser classificada de diversas maneiras: material ou imaterial (não
material, espiritual), real ou ideal.11
Cultura material (“ergologia” – é a perspectiva científica e filosófica que tem como
objectivo estudar o trabalho humano em todas as suas dimensões) – consiste em
coisas materiais, bens tangíveis, incluindo instrumentos, artefactos e outros objectos
materiais, apresenta o fruto da criação humana e de determinada tecnologia.
Abrange produtos concretos, técnicas, construções, normas e costumes que
regularizam o seu emprego.
11 Idem
11
Cultura imaterial – refere-‐se a elementos intangíveis da cultura, que não têm
substância material. Entre eles encontram-‐se as crenças, conhecimentos, aptidões,
hábitos, significados, normas, valores.
Cultura real – é aquela em que todos os membros de uma sociedade praticam ou
pensam nas suas actividades quotidianas. Não pode ser entendida na sua totalidade,
apenas parcialmente e, para isso, é necessário que os investigadores a organizem e
demonstrem em termos compreensíveis.
Cultura ideal (normativa) – consiste num conjunto de comportamentos que,
embora expressos verbalmente como bons para o grupo, nem sempre são praticados.
Função da cultura
A cultura é formada de milhares de traços culturais selecionados e integrados
formando um todo. Cada desses traços possui forma e função.
-‐ forma -‐ feição ou maneira como uma coisa se apresenta ou se manifesta.
-‐ função -‐ tipo de acção ou procedimento inter-‐relacionado de traços de cultura.
Cada traço cultural dá à cultura uma contribuição, e o modo como eles se inter-‐
relacionam leva à estrutura da mesma.
Existem outros dois fenómenos que temos de mencionar quando falamos sobre a
cultura. O relativismo e o etnocentrismo cultural são as ideologias que mostram
olhares sobre a cultura do ponto de vista antropológico.
O relativismo cultural: “É a visão de que os sistemas morais ou éticos, que variam de cultura para
cultura, são todos igualmente válidos e que nenhum sistema é realmente
"melhor" do que qualquer outro. Isto é baseado na ideia de que não existe um
padrão definitivo do bem ou do mal, então cada decisão sobre certo e errado é
um produto da sociedade. Portanto, qualquer opinião sobre a moralidade ou
ética está subordinada à perspectiva cultural de cada pessoa. Em última análise,
isso significa que nenhum sistema ético ou moral pode ser considerado o
12
"melhor" ou "pior", e nenhuma posição moral ou ética em particular pode
realmente ser considerada "certa" ou "errada.”12
Esse princípio foi estabelecido na pesquisa antropológica por Franz Boas, nas
primeiras décadas do século XX. Contudo, o relativismo não é um “mero axioma”, isto
é, algo que não precisa de ser provado, é sim parte das conclusões que são
produzidas através da observação e da convivência com outros grupos e respectivas
convicções. O ponto de vista dos relativistas culturais tem como fundamento a ideia
de que todos os indivíduos são condicionados e contextualizados a um certo modo de
vida por meio de processo de “endoculturação”.
A endoculturação apresenta um “processo que explica a transmissão e a
aprendizagem de comportamentos dentro de uma mesma cultura (geralmente
quando se é criança), feito pela educação, pela imitação e pelo condicionamento do
meio social.”13
Este processo de aprendizagem é permanente e estende-‐se desde a infância de um
indivíduo até à idade adulta. Ao longo do nascimento, crescimento e
desenvolvimento de indivíduo, ele aprende, envolve-‐se e reage de acordo com o que
lhe foi ensinado.
De um modo geral, todas as culturas são diferentes em relação aos postulados
básicos, embora tenham características comuns. O relativismo cultural não concorda
com as ideias e normas de valores absolutos, defende sim que as conclusões devem
ser relativas à própria cultura onde surgem. Portanto, os valores ou costumes,
mesmo que sejam rejeitados, podem ser válidos em relação ao ambiente cultural.
O etnocentrismo cultural apresenta “a atitude pela qual um indivíduo ou um grupo
social, que se considera o sistema de referência, julga outros indivíduos ou grupos à
luz dos seus próprios valores. Pressupõe que o indivíduo, ou grupo de referência, se
considere superior àqueles que ele julga, e também que o indivíduo, ou grupo
12 http://www.allaboutphilosophy.org/portuguese/relativismo-‐cultural.htm, acedido em 15/08/2011 13 http://www.infopedia.pt/$endoculturacao, acedido em 15/08/2011
13
etnocêntrico, tenha um conhecimento muito limitado dos outros, mesmo que viva na
sua proximidade.”14
Os indivíduos que são portadores desse sentimento têm a tendência de avaliar e
julgar as outras culturas segundo os moldes da sua própria. Basicamente, temos um
grupo étnico que se considera superior a outro e cuja avaliação é baseada nos
preconceitos. Os indivíduos têm dificuldade em aceitar a diferença, não conseguem
ver o mundo através dos olhos do outro.
O ser humano tem tendência para considerar a sua própria cultura e modo de
reagir como melhor e mais correto, o que provoca numerosos conflitos sociais.
Aquilo que é diferente e impercebível é negado e repudiável.
Para ultrapassar esse pensamento, os grupos sociais têm de ser observados não
como superiores ou inferiores, mas como diferentes. Mesmo que sejam
imperceptíveis para nós, as práticas das outras culturas representam o modo de vida
das mesmas e, como tal têm de ser respeitadas.
O etnocentrismo pode ter dois lados; além do negativo, que se expõe em actos e
atitudes de superioridade, hostilidade, discriminação e agressividade, existe o lado
menos negativo, onde este fenómeno pode ser visto como a valorização do próprio
grupo que favorece o bem-‐estar individual e a integração social.
14 http://www.infopedia.pt/$etnocentrismo, acedido em 15/08/2011
14
Capítulo II
Ensino da cultura na aprendizagem de LE
Alguns autores afirmam que é possível aprender uma língua só para trabalho, ou
só para comunicação, mas irei concentrar-‐me nas pessoas que aprendem uma língua
porque a acham melódica, bonita, adoram a literatura ou simplesmente gostam das
pessoas e do país onde a essa língua é falada. Estas pessoas querem aprender sobre a
música, os livros, as tradições, as coisas do quotidiano com que se relacionam e
servem de ponte entre os indivíduos e língua que estão a aprender.
Os motivos que nos levam a aprender uma língua são vários; a música, as obras
literárias, a arquitectura, etc. Há séculos atrás, por causa do comércio e das guerras
intensificou-‐se este desejo de ler obras escritas em outras línguas, assim, começou
esta prática e esperamos que nunca acabe. Ter o desejo e vontade de aprender uma
língua, traz consigo o desejo de conhecer bem o país, as pessoas, a tradição, os
costumes, tudo aquilo que marca e pertence a uma língua.
Nem sempre as pessoas querem aprender tudo o que está associado a uma língua.
É frequentemente concentrarem-‐se na aprendizagem da estrutura gramatical ou de
vocabulário, porque os consideram elementos suficientes para realizar a
comunicação em língua estrangeira.
O alvo deste trabalho é mostrar que a aprendizagem de uma língua estrangeira
implica a aprendizagem da cultura, mesmo que isto não seja tão evidente assim.
Para obter uma comunicação efectiva a nível, social, físico e literário, é preciso,
não apenas uma proficiência na língua em questão, mas também saber como e
quando usá-‐la.
A aprendizagem de LE consiste em vários componentes, incluindo competência
gramatical, competência comunicativa, proficiência em língua, entre outras. Para
professores e educadores, a competência cultural, isto é, o conhecimento das crenças,
15
costumes e atitudes apresenta a parte crucial do ensino de LE e muitos deles querem
incorporar a aprendizagem da competência cultural no curriculum da língua. Além
disso, como confirma Grosso (1999:246) “as práticas pedagógicas diferentes exigem
da parte do professor, além do saber científico, um conhecimento do público-‐
aprendente e das técnicas pedagógicas que integram a metodologia de ensino-‐
aprendizagem.”
Podemos dizer que a competência comunicativa, de alguma maneira, abriu o
caminho para a competência cultural, através de conceitos como o contexto e as
circunstâncias. Por outras palavras:
“(…) Knowledge of the grammatical system of a language (grammatical
competence) has to be completed by understanding (sic) of culture-‐specific
meanings (communicative or rather cultural competence).” Byram & Morgan
(1994:4)15
Bachman (1990) refere que, ultimamente, as teorias sobre a competência
comunicativa exigem, além do conhecimento das regras gramaticais, a inclusão de
regras e conhecimentos que explicam como a língua pode ser usada para obter
determinados alvos da comunicação e estabelecer a sua posição como processo
dinâmico.16
“Sociolinguistic knowledge enables us to create or interpret language that is
appropriate to a particular language use setting.” Bachman & Palmer (1996:70)
Nos últimos vinte anos surgiu o interesse pelo estudo da língua em relação à
sociedade, mas ainda existem algumas dúvidas sobre o ensino das línguas que
deviam ser esclarecidas na aprendizagem de uma LE. Um dos mal-‐entendidos é
considerar uma língua como um código aprendido através das regras da gramática e
do contexto onde se encontra, enquanto que, pelo contrário, “one language is
15 in: The Importance Of Teaching Culture In The Foreign Language Classroom. Thanasoulas, Dimitrios 16 Fundamental Considerations in Language Testing. Bachman (1990), p.81-‐85
16
essentially (albeit not easily) translatable into another” (Kramsch, 1993:1). Esta ideia
ajudou na promoção das várias abordagens de aprendizagem de LE, mas por outro
lado, sem entrar no próprio núcleo de uma sociedade e cultura, pode provocar
essencialmente mal-‐entendidos e uma má comunicação cross-‐cultural (Kramsh,
1993).
De uma maneira ou de outra podemos considerar que a aprendizagem de uma
língua estrangeira é a aprendizagem da cultura daquela língua. Desta forma, as
questões que se põem são:
O que é a cultura? e Como integrá-‐la no ensino e na aprendizagem de uma
língua?
Muitos autores abordaram esta temática e neste trabalho vamos voltar com
frequência às afirmações da autora americana Claire Kramsch, especialmente nas
suas duas obras Language and Culture e Context and Culture in Language Teaching.
“Culture in language learning is not an expendable fifth skill, tacked on, so to
speak, to the teaching of speaking, listening, reading, and writing. It is always
in the background, right from day one, ready to unsettle the good language
learners when they expect it least, making evident the limitations of their
hard-‐won communicative competence, challenging their ability to make
sense of the world around them.” (Kramsch, 1993:1)
Os professores “não são agentes de viagem”17 e assim não podem transmitir
somente a informação e mostrar apenas lado positivo relacionado à língua alvo. O
conhecimento do grupo-‐alvo é muito importante, mas abordar uma cultura não devia
ser só através dos factos e das experiências. Como Kramsch (1993) nota:
“(…)to learn a foreign language is not merely to learn how to communicate
but also discover how much leeway (flexibility) the target language allows
learners to manipulate grammatical forms, sounds, and meanings, and to
17 Doutora Clara Riso, leitora do Instituto Camões em Hungria (Anexo IV)
17
reflect upon, or even flout, socially accepted norms at work both in their own
or the target culture.”
Então, primeiro temos de reflectir sobre a nossa própria cultura para sermos
capazes de perceber as crenças e atitudes das outras. Como se afirma no QECR
(2001:150) “o conhecimento, a consciência e a compreensão da relação
(semelhanças e diferenças distintivas) entre ʹ′o mundo de onde se vemʹ′ e ʹ′o mundo da
comunidade-‐alvoʹ′ produzem uma tomada de consciência intercultural.”
Quando falamos de competência comunicativa temos de ter sempre em conta que
existem diferentes pontos de vista e percepções uma vez que há culturas diferentes.
Isto pode reduzir ou até inibir o próprio acto da comunicação. Não podemos
esquecer que a comunicação exige a compreensão e constante ligação e comparação
entre a própria cultura e a da língua alvo. Caso contrário, o nosso ensino vai
transformar-‐se no ensino do simples símbolos que podem nem ter sentido, e isto
pode confundir os alunos e levá-‐los a associar os símbolos a sentidos errados.
“If we teach language without teaching at the same time the culture in which it
operates, we are teaching meaningless symbols or symbols to which the student
attaches the wrong meaning…” (Politzer, 1959: 100-‐101)18
O conceito da cultura ao longo dos anos
Durante os séculos XIX e XX haviam vários métodos a abordagens para o ensino-‐
aprendizagem das línguas estrangeiras. Na sua obra “Fundamental Concepts in
Language Teaching”, H.H. Stern expõe alguns dos que foram usados ao longo dos
anos. A prevalência de um determinado método esteve, algumas vezes, dependente
18 Politzer, R. 1959. Developing Cultural Understanding Through Foreign Language Study. Report of the Fifth Annual Round
Table Meeting on Linguistics and Language Teaching, pp. 99-‐105. Washington, D.C.: Georgetown University Press.
18
da situação política que se vivia na época (exemplo de American Army method,
durante a II Guerra Mundial).
Naquele período de 100 anos podemos distinguir 4 etapas:
1ª etapa: 1880-‐1920 -‐ método directo
2ª etapa: 1920-‐1940 – comprised method/reading method (BASIC English);
Modern Foreign Language Study (Estados Unidos/Canadá);
3ª etapa: 1940-‐1950 – abordagem linguística para o ensino da língua (American
Army method; intensive language teaching);
1950-‐1960 – audiolingual (Estados Unidos) e audiovisual (França/Inglaterra)
métodos; laboratórios de língua; psicolinguística;
1960-‐1970 – audiolingual habit theory vs. cognitive code learning (Carroll 1966);
impacto da teoria de Chomsky; sociolinguística; investigação de metódos; análise de
metódos (Mackey 1965)
4ª etapa: 1970-‐1980 – a separação do conceito do método; desenvolvimento de
novos métodos e abordagens que levam à comunicação -‐ abordagem comunicativa;
ênfase no curriculum (análise de discurso lingual para “necessidades especiais”,
níveis de proficiência, etc.) ênfase nos recursos humanos, ênfase na investigação do
ensino da língua (L1 e L2, análise do erro, etc.); os novos métodos como: silent way,
community language learning, suggestopedia, etc.
Nos anos 70, a ênfase em sociolinguística levou a um maior destaque do contexto
situacional da LE. O método áudio-‐lingual foi substituído pela abordagem
comunicativa, onde autores como Canale e Swain (1973) confirmaram que, através
de uma abordagem comunicativa, efectua-‐se uma integração mais natural da língua e
cultura até hoje, finalmente chegarmos aos manuais para professores que incluem
capítulos sobre o ensino da cultura com um alvo predominante: a comunicação no
contexto cultural da língua alvo.19
Só nos anos 80 é que investigadores, como Byram e Morgan, começaram a
pesquisar acerca das dinâmicas da cultura e a sua contribuição no ensino de LE. Nos
anos 80 e 90 continuaram os avanços em direcção a uma abordagem mais
pragmática e sociolinguística, mostrando o verdadeiro núcleo da língua e criando o
19 In: The Importance of Teaching Culture In The Foreign Language Classroom. Thanasoulas, Dimitrios
19
desejo de transformar o tipo de ponte através de cultural gap que existe no ensino
das línguas estrangeiras numa ponte que facilite o mesmo.20
Kramsch (1993)confirma também que a cultura devia ser ensinada como um
processo interpessoal e não através dos factos. Os professores deviam ajudar e
assistir os alunos nesta passagem da própria cultura à cultura do outro.
O ensino da cultura na aprendizagem de LE foi durante muitos anos, e ainda é,
muito subvalorizado, mas não devia visto que o conceito de cultura está no modus
vivendi das pessoas, nas suas crenças, atitudes, em tudo aquilo que representa o
núcleo das suas vidas.
Depois de todas as investigações realizadas, verifica-‐se que ainda existem alguns
formadores que consideram a cultura como mais uma competência, the fifth skill
(Kramsch), e não como parte integrante da competência comunicativa. Para
contrariar esta abordagem, é preciso que consideremos o ensino da cultura como
forma de desenvolver a noção e a sensibilidade para admitir o valor da tradição das
pessoas cuja língua aprendemos.
“Developing an awareness of, and sensitivity towards, the values and traditions of
the people whose language is being studied” (Tucker & Lambert, 1972:26)21
Até agora, entre as várias abordagens, encontrámos duas que mostraram ter uma
maior influência no ensino da cultura. Uma concentra-‐se nos factos sobre a cultura
alvo, isto é, costumes, hábitos, folclore, etc. Esta abordagem representa uma visão
muito simplista dos factos, menosprezando os sentidos dos mesmos, desta forma, os
alunos aprendem as “regras” do comportamento e dos hábitos sem perceber bem o
sentido delas. A segunda abordagem baseia-‐se na psicologia cross-‐cultural ou na
antropologia, tentando ajustar a cultura e encaixá-‐la numa determinada Framework
e, ao mesmo tempo, criar ligações entre a cultura dos aprendentes e a cultura alvo.
20 Valdes (1986), citado em The Importance of Teaching Culture In The Foreign Language Classroom 21 Idem
20
Mas esta última abordagem tem algumas limitações. Esta pretende dar aos
aprendentes um conhecimento cultural da língua ou da cultura alvo, mas deixa a
cargo dos mesmos a integração dos ditos conhecimentos com o conhecimento da
própria cultura.
É impossível fazer uma distinção clara entre a língua e a cultura, são ambas tão
cruzadas que, com o ensino da língua, já estamos a ensinar a cultura, visto que o uso
da língua apresenta “the most visible and available expression of (a) culture”. (Brown,
1986)
Porque temos de ensinar a cultura?
“To be part of a culture means to share the propositional knowledge and the
rules of inference necessary to understand whether certain propositions are
true (given certain premises). To the propositional knowledge, one might
add the procedural knowledge to carry out tasks such as cooking, weaving,
farming, fishing, giving a formal speech, answering the phone, asking for a
favor, writing a letter for a job application” (Duranti, 1997: 28-‐29)22
A linguagem do nosso dia-‐a-‐dia é carregada de factos e elementos culturais, no
entanto, a maioria das pessoas não está consciente disso. No acto de falar já
assumimos algumas normas sociais e culturais que estão profundamente plantadas,
tanto que já nem reparamos nelas.
“Culture defines not only what it members should think or learn but also
what they should ignore or treat as irrelevant” (Eleanor Armour-‐Thomas &
Sharon-‐ann Gopaul-‐McNicol, 1998:56)23
22 in The Importance Of Teaching Culture In The Foreign Language Classroom 23 ibidem
21
A citação mencionada apresenta bem quanto presente está a cultura na nossa vida
e de que maneira a governa. As normas, já integradas nas nossas vidas, dizem-‐nos o
que temos de fazer em dada situação; como, quando e de que forma cumprimentar os
outros, como comportar-‐se em dadas situações de carácter formal ou informal, etc.
“Language does not exist apart from culture, that is, from the socially
inherited assemblage of practices and beliefs that determines the texture of
our lives’ (Sapir, 1970: 207). In a sense, it is ‘a key to the cultural past of a
society’ (Salzmann, 1998: 41), ‘a guide to “social reality”’ (Sapir, 1929: 209,
cited in Salzmann, 1998: 41)24.
“Culture and communication are inseparable because culture not only
dictates who talks to whom, about what, and how the communication
proceeds, it also helps to determine how people encode messages, the
meanings they have for messages, and the conditions and circumstances
under which various messages may or may not be sent, noticed, or
interpreted... Culture...is the foundation of communication.” (Samovar, Porter
& Jain, 1981: 24)25
Existem vários exemplos no nosso dia-‐a-‐dia onde se podem ver os efeitos que a
cultura tem na língua e vice-‐versa.
‘[A] grammar of culture consists of rules for the generation of patterns of
behavior’ (Howell & Vetter, 1976: 376)26. Como forma de esclarecimento, o autor
apresenta como exemplo a situação em que um americano vê um autocarro
aproximar-‐se, este tende a empregar o present progressive (“the bus is coming”), por
outro lado, um japonês, no mesmo caso, prefere usar o present perfect (“the bus has
come”).
24 Ibidem 25 Idem 26 Idem
22
A cultura nunca é a mesma, está sempre a evoluir. Esta noção não foi considerada
nas primeiras investigações sobre a aprendizagem de LE mas é, hoje, vista de outra
perspectiva. Primeiro, os aprendentes têm de saber o que significa participar na sua
própria cultura para serem capazes de compreender as outras.
Por exemplo, no caso dos sérvios, seria interessante olhar para o hábito dos
portugueses de almoçar por volta do meio-‐dia ou de usar diferentes expressões para
dizer “bom dia”, isto é, usar o “bom dia” antes do almoço e o “boa tarde” logo depois.
Outro exemplo que salienta as diferenças entre as culturas e problemas e os
consequentes problemas, é dado por Henrichsen, (1998) que demonstra um conflito
linguístico devido à situação política.
“A new teacher from the U.S. was teaching English in a Palestinian school in
Israel, working with a fairly advanced group of students and trying to help
them understand and use the present perfect tense. To this end, she began
with the question, “Have you ever lived in Israel?” Some of the students
answered, “No,” while the rest of the class seemed a bit confused, shaking
their heads in lack of comprehension. The teacher repeated the question,
only to receive the same response. Then, a student said, “Palestine, teacher,
Palestine,” thus shedding light on the misunderstanding. Even though the
students understood the question, they refused to give Israel recognition as
a nation, even by name. ‘The students knew the grammar principle very well;
they would simply not acknowledge the political circumstances it
assumed”.27
As culturas levantam e resolvem problemas. Por isso, é importante ter noção da
cultura do outro, de maneira a que possa ser apresentada como componente
promotora da competência comunicativa.
A questão que se põe é, se existem tantas outras componentes, porque é que
temos de prestar atenção ao ensino da cultura?
27 http://linguistics.byu.edu/classes/ling577lh/culture.html
23
Primeiro, o ensino da cultura facilita a compreensão de uma nova língua. Segundo,
ajuda a quebrar ou evitar estereótipos. E, por mostra que os alunos conseguem
controlar o próprio conhecimento e aprendizagem, o que lhes permite avaliar e
questionar a sua aprendizagem no geral.
Tomalin & Stempleski (1993: 7-‐8)28, modificando os modelos de Seelye (1988)
‘Seven goals of cultural instruction’, expõem a forma como o ensino da cultura pode
ajudar o aluno e quais os meios nos quais os professores se devem apoiar, tais
como:29
-‐ ajudar os alunos a desenvolver e perceber o facto de todas as pessoas
expressarem comportamentos que são condicionados pela sociedade;
-‐ ajudar os alunos/aprendentes a desenvolver e perceber que variantes sociais
como idade, sexo, classe social e residência influenciam a maneira como as pessoas
falam e se comportam;
-‐ motivar os aprendentes para que sejam mais conscientes do comportamento
convencional em situações comuns da cultura alvo;
-‐dar aos aprendentes/alunos a sua noção das conotações culturais de palavras e
frases na língua alvo;
-‐ auxiliar os alunos no desenvolvimento da habilidade/capacidade de avaliar e
afinar generalizações sobre a cultura alvo, com o apoio de provas/mostras;
-‐ munir os alunos das habilidades necessárias para localizar e organizar
informações sobre a cultura alvo;
-‐ Estimular a curiosidade intelectual dos alunos sobre a cultura alvo, encorajando
a empatia para com as pessoas que pertencem à nova cultura.
Para termos um bom ensino da cultura paralelamente ao ensino da língua,
devemos ter em atenção que:
-‐ temos de conhecer as instituições da cultura alvo, isto é, temos de estar
conscientes da nova cultura e tudo o que esta traz consigo (The big C, como
descrevem Tomalin e Stempleski);
28 The Importance Of Teaching Culture In The Foreign Language Classroom. p.12
29 Idem
24
-‐ temos de nos familiarizar com os valores, a “psyche” do país, aquilo que é
importante para as pessoas, tal como a família, hospitalidade, patriotismo, etc.
-‐ devemos estar conscientes do comportamento cultural, como as rotinas do dia-‐
a-‐dia, “The little c”
-‐ temos de tentar incutir nos alunos algumas técnicas culturais, sensibilidade e
consciência intercultural, usando a língua (no caso de Tomalin e Stempleski foi o
inglês) como meio da interacção.
Tomalin explica que a importância de conhecer as línguas está sempre a crescer,
com o desenvolvimento da tecnologia, para além dos adultos, também os jovens
entram neste mundo intercultural, através de redes como Facebook, Twitter e outras.
Desta forma, aumentam as técnicas da comunicação intercultural que lhes vão servir
de muito no futuro.
Mas, mesmo no ensino da cultura e conhecendo factos sobre a cultura alvo, nem
sempre desenvolvemos a sensibilidade e a consciência que são necessárias para
saber qual comportamento ter adequado a determinadas situações. Esta representa a
quinta técnica (Kramsch, 1993) e explica como usar uma língua, como apreciar e
compreender os novos valores e, principalmente, como devemos ser flexíveis e
tolerantes, aceitando estes valores mesmo que sejam bastante diferentes dos nossos.
25
Capítulo III
Estereótipos e consciência intercultural
A origem da palavra estereótipo vem do grego stereos e typos, criando assim o
conceito de “impressão sólida”. Foi introduzida pelo francês Firmin Didot, no fim de
século XIX, que a usou para descrever a placa metálica criada para imprimir a
impressão em tipografia.
O termo “estereótipo” (stereotype), como o conhecemos hoje, foi introduzido em
1922 pelo jornalista americano Walter Lippman. O termo era usado para descrever
um molde nas oficinas tipográficas, mas Lippman usou-‐o em referência a
determinada característica que uma pessoa observa associa a grupo e aos seus
membros. Por exemplo, todos os alemães são “frios”, todos os japoneses são
“disciplinados” ou todas as mulheres são “emotivas”, etc. As pessoas procuram
classificar as suas experiências integrando-‐as em sistemas e categorias, criando
categorias com base em certas generalizações que podem resultar em estereótipos.
Podemos dizer que os estereótipos são:
“Crenças socialmente compartilhadas a respeito dos membros de uma
categoria social, que se referem a suposições sobre a homogeneidade grupal
e aos padrões comuns de comportamento dos indivíduos que pertencem a
um mesmo grupo social. Sustentam-‐se em teorias implícitas sobre os
factores que determinam os padrões de conduta dos indivíduos, cuja
expressão mais evidente encontra-‐se na aplicação de julgamentos
categóricos, que usualmente se fundamentam em suposições sobre a
26
existência de essências ou traços psicológicos intercambiáveis entre os
membros de uma mesma categoria social”.30
No âmbito das relações sociais e étnicas é muito importante fazer a distinção entre
realidade e estereótipos, sendo que por vezes é difícil estabelecer uma fronteira.
Mesmo que grande parte de um grupo social ou étnico possua uma característica
específica, isto não implica que todos os membros daquele grupo tenham a mesma
característica. 31
Outro conceito que aparece juntamente com o estereótipo é preconceito. Veio do
grego prae (antes) e conceptu (conceito) e representa a captura de uma série de
crenças e valores que são aplicados a determinadas realidades antes que essa
realidade seja objectivamente vivida e avaliada por si mesma. Em termos sociais ou
étnicos, o preconceito consiste numa ideia construída sobre o “outro” antes de o
conhecer efectivamente. Este conceito exclui a necessidade dessa experiência, já que
o conceito mental substitui a própria realidade. Ambos os conceitos, o estereótipo e o
preconceito, representam generalizações, a diferença é que enquanto que no
primeiro caso temos uma realidade que é objectivamente distinguida e depois
generalizada, no segundo temos uma “invenção” ou uma “ideia” de uma realidade
subjectiva.32
Não podemos esquecer que quando falamos da língua portuguesa não estamos
somente a falar de um país que se chama Portugal. Esta noção não está tão presente
na realidade sérvia, talvez porque, para os sérvios, o português seja ainda uma língua
exótica partilhada por Portugal e o Brasil. A primeira acção deverá ser informá-‐los
acerca dos outros países lusófonos e, claro, falar sobre a colonização e a forma como
esta marcou a cultura, por exemplo, conhecer um pouco da história.
30 http://estereotipos.net/2008/07/05/definicao-‐de-‐estereotipos/, acedido em 27/07/11 31 www.infopedia.pt/$estereotipo, acedido em 27/07/11 32 www.infopedia.pt/$estereotipo, acedido em 27/07/11
27
“Se queremos dar algum sentido à galáxia lusófona, temos de vivê-‐la, na medida
do possível, como inextricavelmente (inseparavelmente) portuguesa, brasileira,
angolana, moçambicana, cabo-‐verdiana ou são-‐tomense.”33
Quebrar os estereótipos seria a primeira etapa no ensino da cultura. É óbvio que,
para ensinar a cultura de um país ou de um povo ou nação, temos de conhecer bem
os dois, o que não é possível aprender com livros ou numa viagem de 10 dias.
Podemos ter a primeira impressão, positiva ou negativa, mas a profundidade do
assunto ganha-‐se com tempo e experiência. Depois de viver há quase dois anos neste
país, não posso dizer que conheço bem Portugal e os portugueses, porque ainda não
vi tudo e nem conheci todos. Eu própria estou sempre a tentar pôr-‐me no lugar do
outro para ter uma perspectiva mais objectiva. Claro que, ao compararmos duas
culturas, existe sempre uma dose de estereotipia que é inevitável, mas não devia isto
motivarmos para descobrir se é mesmo assim?
Quando se trata do ensino sem preconceitos e estereótipos, a informação cultural
devia ser transmitida de uma forma não-‐critica, não confrontando os valores das
duas culturas, “nativa” e “alvo”. Kramsch (1993)34 descreve a terceira cultura, a
cultura da língua na sala da aula, como um espaço neutral que os alunos podem criar
e usar para explorar e reflectir sobre a própria cultura e a cultura alvo. Assim, os
alunos/estudantes adquirem o papel dos antropólogos, explorando e tentando
perceber a relação entre a própria cultura e a cultura alvo, de forma a atingirem um
nível de empatia e apreço pela outra cultura e pela maneira como ela se manifesta.
Também é muito importante explicar aos alunos que as culturas não são
monolíticas, isto é, não são homogéneas, e que vários comportamentos são possíveis
33 Eduardo Lourenço “A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia” (1999), p.112
34 Context and culture in language teaching. Kramsch (1993)
28
para várias situações e interacções em cada cultura. Os alunos têm de observar e
explorar do seu ponto de vista as interacções culturais e encontrar o seu lugar entre
as duas, respeitando-‐as igualmente.
Como podemos ultrapassar os eventos que podem provocar mal-‐entendidos e,
assim saltar os preconceitos e estereótipos?
Quando as pessoas viajam e mudam o contexto da sua cultura com uma outra, às
vezes, aparecem algumas diferenças que podem provocar mal-‐entendidos. A
exposição e as reacções àquelas situações formam o fundamento do
desenvolvimento intercultural. Mas quais são as situações que ajudam a esse
desenvolvimento e mudam as perspectivas dos indivíduos incluídos nas situações?
Adaptação sociocultural: para “fit in”35 os indivíduos têm de perceber que o
conhecimento e as habilidades que eles têm nem sempre são suficientes. Algumas
das técnicas (skills) são expostas em encontros com a cultura alvo, outras requerem a
mudanças (conduzir na parte “errada” da estrada, etc.).
Que tipos de encontros podem revelar os pressupostos culturais? Cada evento
pode servir como um objecto que nos revela algum pressuposto (compras nos
supermercados/mercados, meios de transporte, bancos, correios, etc.) O resultado
depende também do quão diferentes são as culturas. Se diferença não esta grande,
vamos ter menos revelações ou pressupostos. Ward e Kennedy (1999), explorando o
trabalho de outros autores (Furnham & Bochner, 1982; Trower, Bryant & Argyle,
1978), identificaram a lista de encontros e eventos que podem ser relevantes para a
adaptação sociocultural. A escala inclui por volta de 20 itens como: fazer amigos, usar
um transporte público, fazer compras, resolver problemas, habituar-‐se à comida
local, entrar em contacto com autoridades, perceber o ponto de vista das pessoas do
local (Ward, Bochner, Furnham 2001).36
“Ensinar a cultura é desconstruir os mitos que às vezes uma aprendizagem da
língua demasiado primária pode provocar.”37
35 Context and culture in language teaching. Kramsch (1993), p.2 36 The psychology of culture shock, Ward, Bochner, Furnham (2001)
37 André Cunha, direitor do Centro Camões em Belgrado, Sérvia
29
Temos, como professores, de provocar o sentido crítico dos alunos, fazê-‐los
pensar de forma construtiva e crítica e não como fotocópia de um postal perfeito.
Desde que se começou a considerar que diversidade e multiculturalismo estão
cada vez mais presentes no nosso dia-‐a-‐dia, educadores e professores preocupam-‐se
com a vasta gama de estereótipos. Como Byram e Moragan (1994:41), citados em
Krashen (1982), notam que:
“(textbook writers) intuitively avoid bringing learners´ existing hetero-‐
stereotypes into the open and hope that (their) negative overtones…will
be…counteracted by presenting positive...images of the foreign country.”
É importante apresentar uma variedade de características que ultrapassem os
estereótipos definidos, essas que são, muitas vezes, surpreendentes. Por exemplo, o
facto da imigração em Portugal. Para os alunos sérvios que não conhecem bem a
história de Portugal pode ser interessante e surpreendente o facto de que, hoje em
dia, quase 10 % da população portuguesa é proveniente de outros países. Também é
importante falar dos outros países lusófonos, porque a cultura portuguesa não é só a
cultura proveniente de Portugal, mas também do Brasil, Moçambique, Angola, Índia
ou Macau. É essencial falar do salazarismo e das colónias, ver sempre os dois lados de
cada característica e tentar discuti-‐las com os alunos. Isto funciona não só como
forma de aproximar culturas diferentes, como também permite criar um pensamento
crítico que pode ajudar os alunos a compreender melhor a cultura de outro.
Despertar a curiosidade funciona sempre como maneira de motivar e incentivar as
pessoas a aprender algo novo e a ultrapassar aquilo que lhes é imposto. Sem
curiosidade não existe conhecimento, não existiriam tantos países, tantas teorias,
tantos produtos... A curiosidade representa um aparelho que nos pode servir para
exterminar estereótipos e os professores deviam tentar provocá-‐la nos alunos, assim,
o processo da aceitação e percepção de uma nova cultura e língua vai ser menos
difícil e sem tantos obstáculos como aqueles que um pensamento fechado pode criar.
30
“The problem lies in equating the racial, ethnic, national identity imposed on
an individual by the state’s bureaucratic system, and that individual’s self-‐
ascription. Group identity is not a natural fact, but a cultural perception (…).
Our perception of someone’s social identity is very much culturally
determined. What we perceive about a person’s culture and language is what
we have been conditioned by our own culture to see, and the stereotypical
models already built around our own.”38
No entanto, nem todos os estereótipos são negativos ou funcionam como
preconceitos. Na verdade, muitos estereótipos são necessários para estabelecer
relações entre as pessoas, funcionando como guias de comportamento e códigos de
comunicação. É o caso dos conceitos de idade, sexo, profissão, religião, classe social,
etc., que ajudam, por um lado, a prever comportamentos e, por outro, na criação de
laços entre as pessoas.
“A compreensão dos modelos socioculturais que envolvem o
desenvolvimento de uma proficiência comunicativa, na língua da sociedade
de acolhimento, é particularmente relevante para uma comunicação cordial
sem mal-‐entendidos, sendo de acentuar o papel do ensinante/formador
como mediador intercultural e de educar para uma cidadania democrática
para uma cultura universal e cosmopolita.”39
Os cinco elementos (savoirs) mais importantes da competência intercultural são:
-‐ Savoir être: ser curioso e estar disposto a suspender as descrenças sobre as
outras culturas e crenças sobre a própria;
38 Language and Culture, Kramsch (1998), p. 67 39 Português para falantes de outras línguas: o utilizador elementar no país de acolhimento, M.J. Grosso, A. Tavares, M.
Tavares (2008)
31
-‐ Savoir comprendre: ser capaz de interpretar um documento ou acontecimento
que esteja ligado à outra cultura, conseguir explicar e relacionar com os documentos
e acontecimentos da própria cultura;
-‐ Savoirs: conhecimento sobre os grupos sociais, produtos e práticas da própria
cultura e da cultura de outro;
-‐ Savoir aprendre/savoir faire: ser capaz de adquirir novos conhecimentos sobre as
culturas e pô-‐los em prática em conjunto com atitudes e técnicas na comunicação e
interacção;
-‐ Savoir s´engager: ser capaz de avaliar, modo crítico, as perspectivas, práticas e
produtos da própria e da cultura de outro.
Lingua e cultura
Kramsch explica a relevância da identidade cultural e a sua conexão com a língua:
“it is widely believed that there is a natural connection between the language
spoken by members of a social group and that’s group identity. By their
accent, their vocabulary, their discourse patterns, speakers identify
themselves and are identified as members of this or that speech and
discourse community”(Kramsch 1998:65).
Por isso, é importante conhecer vários géneros discursivos, usá-‐los correctamente
e no momento adequado.
“Despite the entrenched belief in the one language=one culture equation,
individuals assume several collective identities that are likely not only to
32
change over time in dialogue with others, but are liable to be in conflict with
one another.” Kramsch (1998)
A autora expõe que a identidade nacional não é fácil de estabelecer e que é
completamente diferente ter de um lado, por exemplo, um indivíduo que tem
passaporte turco e do outro um indivíduo de naturalidade turca mesmo que tenha
nascido, sido criado e instruído na Alemanha e seja falante nativo de alemão, mas
com pais turcos.
Em outro dos seus livros, a autora trata a ligação entre o contexto e a cultura,
“Context and culture in language teaching” (1993), falando acerca da importância do
uso de textos literários como um dos meios para ensinar a cultura.
“As language teachers are encouraged to help their students not only to read
texts for information, but to interpret them for their many layers of meaning,
it would seem natural to draw on literature as a means of teaching
language.(…) Texts can be read on different levels of meaning. Whether they
are texts of information or works of literature, language is the stuff they are
made of. The pedagogical question may not be whether language teachers
should teach literature or not, but rather: how can language teachers help
learners read texts at a variety of levels of meaning?”40
O confronto da língua e da cultura -‐ Language versus culture – pode trazer-‐nos
mais esclarecimentos.
O ensino de línguas vem frequentemente descrito como o ensino de quatro
técnicas mais cultura (the four ´skills plus culture´, Kramsch). Por vezes, a cultura é
vista como uma informação meramente comunicada pela língua e não como uma
particularidade em si. Por isso, a consciência cultural torna-‐se um objectivo da
educação, para além da língua.41
40 Context and Culture in Language Teaching. Kramsch (1993) pp.7-‐8 41 Ibidem
33
Mas, se olharmos para língua como uma prática social, a cultura torna-‐se o núcleo
do ensino das línguas. Desta forma a consciência cultural tem duas metas:
estabelecer a proficiência na língua e apresentar a reflexão dessa proficiência.
Vários investigadores exploraram esta teoria, entre os quais, Halliday. A
linguística sistémica de Halliday dá-‐nos o enquadramento teórico desta dicotomia.
De acordo com a gramática da “teoria da experiência humana” (theory of human
experience) e o texto a “forma linguística da interacção social” (the linguistic form of
social interaction) (1990), Halliday mostra uma nova abordagem onde “anchors
culture in the very grammar we use, the very vocabulary we choose the very
metaphors we live by.”
A questão que se põe é:
“Given that we want to teach language in such a way that learners are
initiated into its social and cultural meanings, how many of these meanings
must be made explicit, how many can be understood implicitly?
“(Kramsch)42
Como podemos ensinar a forma como os indivíduos vêm a própria cultura através
de conceitos e valores aprendidos numa cultura educacional?
“Once we recognize that language use is indissociable from the creation and
transmission of culture, we have to deal with a variety of cultures, some
more international than others, some more conventionalized than others.”
(Kramsch)43
O que faz falta na sala da aula são as dimensões culturais do contexto. Às vezes os
alunos não sabem, nem lhes é ensinado, de que forma os nativos poderiam
interpretar e entender um texto em dadas situações.
42 Context and Culture in Language Teaching, p.9 43 Idem
34
“Teaching culture means therefore teaching not only how things are and
have been, but how they could have been or how else they could be. Neither
history nor ethnography provide this imaginative leap that will enable
learners to imagine cultures different from their own. Breaking down
stereotypes is not just realizing that people are not the way one thought they
were, or that deep down "we are all the same".44
Ao longo dos anos, uma tradição do ensino das línguas limitou o ensino da cultura
à transmissão das informações sobre as pessoas do grupo alvo e as suas atitudes em
geral. Habitualmente ignora-‐se o facto de que a maior parte da cultura implica uma
construção social que expõe as percepções individuais.45
“The only way to start building a more complete and less partial
understanding of both C1 (native culture) and C2 (target culture) is to
develop a third perspective, that would enable learners to take both an
insider’s and an outsider’s view on C1 and C2. It is precisely that third place
that cross-‐cultural education should seek to establish.” Kramsch (1996)46
Segundo Kramsch e a sua teoria da compreensão cross-‐cultural (Cross-‐cultural
understanding) existem quatro abordagens que podem ajudar e melhorar a
compreensão da língua e cultura alvo:
1. Reconstruir o contexto da produção e recepção do texto na cultura alvo (C2,
C2´)
2. Construir com os alunos estrangeiros o contexto da recepção deles, p. ex.
encontrar um fenómeno equivalente na C1 e construir aquele fenómeno da C1
com a sua própria rede dos sentidos (C1, C1`)
3. Examinar como os contextos C1`e C2` determinem os contextos C1``and C2`, p.
ex. a percepção que as culturas têm uma da outra.
44 The cultural componente of language teaching. Kramsch (1996) 45 Context and culture in language teaching , Kramsch (1993:205) 46 Idem, p.210
35
4. Formar a base para um diálogo que pode contribuir para a mudança de
opinião.
“What we should seek in cross-‐cultural education are less bridges than a
deep understanding of the boundaries. We can teach the boundary, we
cannot teach the bridge. We can talk about and try to understand the
differences between the values celebrated in the American Coca-‐Cola
commercial and the lack or the existence of analogous values in its Russian
or German equivalents. We cannot teach directly how to resolve the conflict
between the two.” (Kramsch 1996)47
Existem várias abordagens para a compreensão da C2, cujos exercícios não são
fáceis e requerem muita dedicação dos alunos e dos professores. O objectivo não é
alcançar uma resposta certa ou errada, mas sim perceber os limites de cada um.
Através do diálogo e da tentativa de se perceberem mutuamente, cada indivíduo
deve tentar ver o mundo através dos olhos do outro sem perder a própria identidade.
Como nos diz Grosso (1999: 132) “a educação intercultural desenvolve uma maior
capacidade de comunicar entre pessoas com línguas e culturas diferentes (...) e terá
como consequência uma maior sensibilidade à diversidade, mais tolerância, mais
interesse em conhecer e mais imaginação.”
47 Context and culture in language teaching, Kramsch 1993, p.228
36
Capítulo IV
Métodos do ensino
“Aprender a aprender uma língua estrangeira, fazer com que o aprendente
descubra as suas próprias estratégias de aprendizagem, são as marcas essenciais das
metodologias e didácticas actuais.” (Richterich, 1985)48
Em 2001 foi constituído o Quadro Europeu Comum de Referências -‐ QECR
(Common European Framework of Reference for Languages) que apresenta um
instrumento linguístico que ajuda à harmonização do ensino e aprendizagem de
línguas na Europa.
O QECR tem como objectivo ajudar os utilizadores no ensino, na aprendizagem e
na avaliação das línguas, encorajando os professores e os aprendentes. Os capítulos
em que reflectirei sobre esta temática (capítulos IV, V e VI) são aqueles que tratam
mais o uso da língua, o contexto e a metodologia.
Como já foi dito no inicio do capítulo IV (QECR 2001:73), o estudante, na
aprendizagem de uma nova língua, não aprende só um novo modo de actuar e
comunicar, mas “torna-‐se plurilingue e desenvolve a interculturalidade”. Estas novas
competências ajudam o aprendente a desenvolver o seu conhecimento e a sua
personalidade. Elas ajudam-‐no a criar novos pontos de vista, modos de pensar,
alargando a sua percepção do mundo que o rodeia.
“As estratégias são um meio que o utilizador da língua explora para
mobilizar e equilibrar os seus recursos, para activar capacidades e
48 in Casanova (2006)
37
procedimentos, de modo a estar à altura das exigências de comunicação em
contexto e a completar com êxito a tarefa em causa, da forma mais exaustiva
ou mais económica, segundo os seus objectivos pessoais.” (QECR 2001:90)
Para obter aproveitamento nas tarefas e nas actividades que vai enfrentar, o aluno
de LE deve utilizar um determinado número das competências que adquiriu ao longo
da vida. Por outro lado, o uso dessas competências tem como resultado um maior
desenvolvimento das competências do aprendente e o alargamento do seu
conhecimento em geral. (QECR, 2001:148)
O conhecimento do mundo e o conhecimento sociocultural são aspectos muito
importantes quando estamos a ensinar/aprender uma língua. Ambos derivam da
experiência, da educação, das várias fontes da informação, etc.
O conhecimento do mundo engloba todo o conhecimento que o aluno tem sobre, p.
ex., o país onde a língua alvo é falada, as características geográficas, ambientais,
económicas, etc.
O conhecimento sociocultural está ligado ao conhecimento do mundo, englobando
as seguintes características:49
1. A vida quotidiana, p. ex.:
-‐ comidas e bebidas, refeições, maneiras à mesa;
-‐ feriados;
-‐ horários e hábitos de trabalho;
-‐ actividades de tempos livres (passatempos, desportos, hábitos de leitura, meios
de comunicação social).
2. As condições de vida, p. ex.:
-‐ nível de vida (variantes regionais, sociais e étnicas);
49 QECR 2001: 148-‐150
38
-‐ condições de alojamento;
-‐ cobertura da segurança social.
3. As relações interpessoais (incluindo relações de poder e de solidariedade), p. ex.
em relação a:
-‐ estrutura social e relações entre classes;
-‐ relações entre sexos (género, intimidade);
-‐ estruturas e relações familiares;
-‐ relações entre gerações;
-‐ relações no trabalho;
-‐ relações entre público e polícia, organismos públicos, etc.;
-‐ relações entre comunidades e raças;
-‐ relações entre grupos políticos e religiosos.
4. Os valores, as crenças e as atitudes em relação a factores como:
-‐ classe social;
-‐ grupos socioprofissionais (académicos, quadros, funcionários públicos, artesãos,
trabalhadores manuais);
-‐ riqueza (rendimento e património);
-‐ culturas regionais;
-‐ segurança;
-‐ instituições;
-‐ tradição e mudança social;
-‐ história;
-‐ minorias (étnicas ou religiosas);
-‐ identidade nacional;
-‐ países estrangeiros, estados, povos;
-‐ política;
-‐ artes (música, artes visuais, literatura, teatro, música e canções populares);
-‐ religião;
-‐ humor.
5. A linguagem corporal:
39
-‐ os gestos
6. As convenções sociais, p. ex. no que respeita à hospitalidade (dar e receber):
-‐ pontualidade;
-‐ presentes;
-‐ roupa;
-‐ refrescos, bebidas, refeições;
-‐ convenções e tabus da conversação e do comportamento;
-‐ duração da visita;
-‐ modo de sair/de se despedir.
7. Os comportamentos rituais em áreas como:
-‐ prática religiosa e ritos;
-‐ nascimento, casamento, morte;
-‐ comportamentos do auditório e do espectador em espectáculos públicos e
cerimónias, celebrações, festivais, bailes, discotecas, etc.
A consciência intercultural ajuda-‐nos a perceber informações, crenças e costumes
que vêm do mundo da língua e cultura alvo e a aceitá-‐los mesmo que sejam
diferentes dos nossos. A consciência intercultural promove:
-‐ a capacidade para estabelecer uma relação entre a cultura de origem e a cultura
alvo;
-‐ a sensibilidade cultural e a capacidade de identificar e usar várias estratégias
para estabelecer contacto com as pessoas provenientes de outras culturas;
-‐ a capacidade para desempenhar o papel de mediador cultural entre a sua
própria cultura e a cultura alvo e de gerir com eficácia as situações de mal-‐
entendidos e de conflitos interculturais;
-‐ a capacidade para ultrapassar relações estereotipadas.50
50 QECR 2011:151
40
Ao longo dos últimos 10 anos, houve uma mudança no pensamento relativamente
ao papel da língua como uma componente social. Novos pontos de vista e novas
abordagens foram transpostas para o ensino da língua e da cultura.
Kramsch (1993) propõe os seguintes métodos para promover a compreensão
intercultural:
-‐ Estabelecer uma esfera da interculturalidade (Sphere of interculturality)
A ligação entre as formas linguísticas e a estrutura social não é dada e, por isso,
tem que ser estabelecida. A abordagem intercultural do ensino de língua é diferente
da simples transmissão de informações, uma vez que inclui a reflexão das duas
culturas, C1 e C2. “Understanding a foreign culture requires putting that culture in
relation with one´s own.”
-‐ Ensinar a cultura como um processo interpessoal (Teaching culture as an
interpersonal process)
“If meaning emerges through social interaction, then it is pointless to try and
teach fixed, normative phenomena of language use. Rather we should, as
many educators advocate (e.g. Abdallah-‐Pretceille 1983, Muller-‐Jaquier
1986), replace the presentation/prescription of cultural facts and behaviors
by the teaching of a process that applies itself to understanding foreignness
or “otherness”. 51
Zarate (1986) promove a abordagem que defende que os professores deviam ser
encorajados a reconhecer os pontos da ruptura na lógica das explicações trazidos
pelos alunos, de modo a transferir os aspectos cross-‐culturais da comunicação.
-‐ Ensinar a cultura como a diferença (Teaching culture as difference)
A generalização dos traços culturais como: os franceses fazem isto, os alemães
fazem aquilo, ou “o que significa ser francês ou alemão?” Nas últimas décadas tornou-‐
se difícil de responder a estas questões devido ao número crescente da
multietnicidade e multiculturalidade nas sociedades francesa e alemã.
-‐ Atravessar as fronteiras das disciplinas (Crossing disciplinary boundaries)
51 in Kramsch, 1993
41
Muitos educadores e investigadores encorajam os professores a abranger mais
materiais no ensino da língua. Além da literatura, deveriam incluir ensaios dos
sociólogos, etnólogos, antropólogos que os podem beneficiar no rendimento o ensino
ulterior mais perceptível.52
O papel da cultura na aprendizagem de LE ou L2
Como sempre no início põem-‐se algumas perguntas ou dúvidas: quando é que os
professores devem começar com o ensino da cultura? Como é que a cultura deve ser
ensinada? Porque é importante que os alunos aprendam sobre a cultura da língua
alvo? Alguns cientistas acham que a cultura e a língua não podem ser ensinadas uma
sem a outra. Se os alunos estão ainda no princípio do estudo e não dominam bem a
língua alvo, a cultura pode ser ensinada na língua materna e assim procurar empatia
por parte dos alunos. Para responder à pergunta de como se deve ensinar cultura,
muitos syllabi de língua incluem partes onde são tratados assuntos sobre a cultura
para ajudar professores a incorporar os temas no ensino.
A língua e a cultura não podem ser separadas durante a aprendizagem, dado que o
ensino da cultura pode ajudar na futura aprendizagem dos alunos, no entanto, isto
não é um facto muito explorado. Falamos então, mais uma vez, no desenvolvimento
de empatia e compreensão das outras culturas, visto que o ensino da cultura ajuda os
alunos e estudantes a perceber e viver melhor com as culturas dos outros, essencial
na aprendizagem de línguas.53
A cultura apresenta “the total way of life of a people” Hammerly (1982)54
A relevância do ensino da cultura durante o ensino da língua está na ideia de que
as duas estão interconectadas, “without the study of culture, foreign language
instruction is inaccurate and incomplete” Peck (1998)
52 Context and culture in language teaching. Kramsch (1993), p.206 53 The Role of Culture in Second or Foreign Language Teaching: Moving beyond the classroom experience . Fleet, 2010 54 Synthesis in second language teaching: an introduction to linguistics, volume 1 of the Series in Languistics (Blaine,
Washington: Second Language Publications)
42
O ensino da cultura como parte do syllabus da língua ajuda a desenvolver a
competência comunicativa (Canale, 1983; Canale & Swain, 1979, etc.). Peterson e
Coltrane (2003) afirmam que “in order for communication to be successful, language
use must be associated with other culturally appropriate behaviour” senão os
estudantes vão aprender só enunciados (utterances) e não aquilo que é
culturalmente apropriado face àqueles enunciados (Hendon, 1980). Hendon (1980)
também afirma que a cultura devia ser o foco principal da aprendizagem da lingua
senão os alunos não vão comunicar até “the fullest extent”.55
O modelo de Canale e Swain (1979) mostra quatro áreas da competência:
gramatical, sociolinguística, discursiva e estratégica.
Competência gramatical: domina os aspectos verbais e não-‐verbais da língua,
vocabulário, pronúncia, e outras regras gramaticais.
Competência sociolinguística: é lida com os enunciados (utterances) e com o
contexto dos enunciados. Competência discursiva apresenta a habilidade dos alunos
para criar diversos textos (cartas, discursos, histórias, etc).
Competência estratégica na comunicação representa um tipo de táctica para o
caso de haver algum mal-‐entendido ou quebra da comunicação entre interlocutores.
Assim, faculta aos falantes uma forma de compensar a falta da comunicação através
do uso de expressões faciais, gestos, paráfrases ou outros modos verbais e não-‐
verbais.
A importância do ensino da cultura não assenta apenas numa comunicação com
êxito mas também na compreensão e conhecimento sociocultural do outro (Canale &
Swain, 1979, p.28). Stern (1983) expressa também uma opinião semelhante quando
sugere a abordagem com um curriculum multidimensional, visto que “both a cultural
and a communicative syllabus become essentials in language teaching as much as a
more formal approach.”56
As vantagens do ensino da cultura de que os estudantes podem usufruir:
-‐ Mais ensino da língua autêntica: os alunos podem “feel, touch, smell, and see the
foreign peoples and not just hear their language” (Peck, 1998). O ensino da língua
torna-‐se mais real, mais autêntico e tem mais sentido.
55 in: The Role of Culture or Foreign Language Teaching: Moving beyond the Classroom Experience 56 Fundamental concepts of language teaching. H.H.Stern (1983)
43
-‐ Motivar os alunos a aprender línguas: o ensino da cultura desperta o interesse do
aluno, motivando-‐o a aprender a língua mais facilmente (Hammerly, 1982)
-‐ Quebrar mitos e estereótipos: os professores podem explicar aos alunos e
discutir com eles as ideias ou estereótipos sobre a cultura alvo, reflectindo sobre as
razões que estão por detrás das mesmas (saudade, café, preguiça, etc.). Podem
também cruzar os ideais sobre a sua cultura com a cultura do outro e assim criar
uma aceitação cross-‐cultural (Kramsch). Isto representa um modo de perceber
determinada cultura e os seus fenómenos (empatia, etnocentrismo, estereótipos,
discriminação, choque cultural, etc.)
Quando ensinar a cultura?
Hammerly (1982:517)57 sugere que o ensino da cultura “should take place in the
second language program from the first day of class”. Para conseguir isso, Sellami
(2002) sugere três etapas, onde a primeira etapa ocorre no nível principal. Neste
nível, são apresentados factos sobre a cultura alvo aos alunos que estão no início do
conhecimento da nova cultura (a cultura pode ser ensinada em LM, se os alunos
ainda não compreendem LE/L2). Daí, continuam para a fase dois, que é mais
adequada para alunos do nível intermédio, onde eles podem comparar a própria
cultura com a cultura da língua alvo, estes “attempt(s) at understanding, empathy,
appreciation and acceptance of the other are still in their embryo stage” (Sellami,
2002). A fase final é adequada para alunos de níveis avançados, onde os alunos
entram contacto profundo com a nova cultura e onde os alvos da fase dois são
aplicados e capazes.
57Synthesis in second language teaching: an introduction to languistics, Hector Hammerly 1982
44
Como ensinar a cultura?
O melhor modo de ensinar a cultura é criar uma atmosfera aberta e tolerante
dentro da sala da aula e entre os alunos da mesma, aceitar as diferentes culturas e
respeitá-‐las, cria uma consciência cultural nos alunos e ensina-‐os a ser tolerantes em
relação a outras culturas. Como confirma Clark (1990)58, “competent teachers
understand that positive self-‐concept and positive identification with one’s culture is
the basis for academic success” e assim o objectivo do professor em relação ao aluno
devia ser que este desenvolvesse apreciação pela sua própria cultura antes de poder
apreciar a cultura da língua alvo.
O papel do professor
A tarefa do professor é apresentar os factos da cultura em questão de um modo
objectivo. Clark (1990) explica que, “[teachers] must possess the skills necessary to
validate the culture of their students and help them develop a positive sense of
self”59. Para o papel do professor “é necessário que ao mesmo tempo que se ensina a
entender as coisas, se ensine também a dizê-‐las e a fazê-‐las, ou seja, a pô-‐las em
prática e vice-‐versa.” (Coménio, 1966/Grosso, 2005:34)60
Por vezes, o professor é o único modelo para o aluno e, por isso, ele ou ela tem
uma obrigação significativa e central em ajudar o aluno e de lhe ensinar as duas
competências, linguística e cultural da L2 ou LE. O professor precisa de ter
conhecimento sobre a matéria que está a ensinar, sendo também responsável pela
compreensão da cultura alvo e todas as variações que vêm com esse ensino. Além de
ensinar uma nova língua, a gramática ou a cultura, os professores “têm de ensinar os
alunos a pensar”.61
58 The State of the Art in Research on Teacher Training Models with Special reference to Bilingual Education Teachers. Clark,
1990 59 Idem, p.13 60 in Casanova (2006) 61 André Cunha, o leitor do Instituto Camões em Belgrado
45
No modelo de competência intercultural de Byram (1997), este sugere que a
responsabilidade de professor é desenvolver nos alunos “critical culture awareness”,
isto é, “savoir s´engager”. Ajudar os professores a aprender a proficiência cultural e
sensibilidade cultural, são os dois alvos principais dos programas do treino para
professores. É preciso só saber o que ensinar e, principalmente, como o fazer.
“(...) no ensino de português a abordagem intercultural é fulcral no sentido
de favorecer o desenvolvimento harmonioso da personalidade do
aprendente e da sua identidade, que não raramente está dividida entre duas
culturas, dando uma resposta à experiencia enriquecedora da alteridade em
matéria da língua e da cultura.”62
Estratégias e métodos de ensino da cultura
O número de métodos e estratégias do ensino muda de dia para dia, e é
importante ter em conta que, às vezes, os métodos mais simples podem ajudar
imenso o aluno na aquisição de uma nova língua.
Como afirma Atalaia (2005:130), “não existe um método único e perfeito (..)
importante é que o processo de ensino/aprendizagem contribua para o alargamento
da competência comunicativa do aprendente.”
Os professores podem usar vários materiais:
-‐ Jornais, música, filme, vídeos
É importante perceber se os alunos reagem bem ao estímulo em forma da música,
filmes, jogos, uma vez que o ensino vem disfarçado e apresenta-‐se de uma forma fácil
e mais apreensível, como refere Delgado-‐Martins (1992:21):
“Os meios de comunicação escritos e audiovisuais estão hoje de tal maneira
presentes no dia-‐a-‐dia que é indispensável a sua utilização na escola. Pela
62 QuaREPE – Quadro de referência para o ensino português no estrangeiro, 2011
46
quantidade e qualidade de informação que oferecem, os meios audiovisuais
parecem fornecer uma via privilegiada de aprendizagem em qualquer
disciplina.”63
-‐ Internet: eventos actuais, elementos culturais, etc.
Hackett (1996) afirma que os recursos da internet podem “provide a direct,
immediate link to the target culture” e servir como “a multimedia mirror on the
target culture”64. Desta forma, os alunos podem contactar directamente e falar com
os nativos da língua alvo para obter repostas sobre a cultura directamente da “fonte”,
tendo sempre em conta o uso qualitativo e justificado destes meios na sala da aula.
-‐Virtual Realia:
Smith (1997) define a Virtual Realia na aprendizagem da língua como “digitized
objects and items from the target culture which are brought into the classroom as
examples or aids and used to stimulate spoken or written language production”. Ele
afirma que introduzir virtual realia na sala da aula vai motivar os alunos e provocar
mais interesse face à língua e à cultura alvo.
“[Virtual Realia] reveals the similarities and differences between native and target
cultures as well as raises (multi-‐) cultural awareness. Virtual Realia can improve the
quality and availability of culturally-‐based, authentic …materials. It was designed
with the belief that studying a foreign language is a means to a greater end—
communicating meaningfully with another culture and its people” (Smith, 1997)65.
63 Atalaia (2005) 64 Intercultural Development: Topics and Sequences 65 Idem, p.4
47
-‐ Reformulação:
Aparece como um dos modos de ensino que pode ajudar numa melhor
compreensão da língua e cultura alvo; os alunos explicam aquilo que lerem ou viram.
(Cullen & Sato, 2000)66
-‐ Investigação:
Baseia-‐se na pesquisa sobre a cultura alvo (tradições, hábitos, comida, etc.)
-‐ Mostrar diferentes pontos de vista (das culturas em questão): a ideia é
contrastar alguns fenómenos culturais, como semelhanças vs. diferenças, vida
urbana vs. vida rural, etc.
-‐ Personalizar o conteúdo cultural: para que os alunos possam falar de si e das
suas ideias relativamente a váris situações, etc.
-‐ Apresentação dos mal-‐entendidos culturais:
Sugere-‐se a apresentação de alguns mal-‐entendidos na sala da aula que, na vida
“real”, podem provocar raiva, confusão ou ofensa. Assim, os alunos têm a
possibilidade de se pôr nos “sapatos do outro” e tentar resolver a situação da melhor
maneira possível, desenvolvendo a consciência intercultural.
-‐ Apresentações culturais:
Os alunos têm como tarefa apresentar determinado aspecto da cultura alvo,
tentando ser criativos e escolher informações importantes para apresentar ao grupo
e obter uma melhor compreensão da cultura alvo. Falar das regiões, da cozinha, dos
costumes, da música, etc.
66 Practical Techniques for Teaching Culture in the EFL Classroom
48
-‐Learning Cycle – o círculo da aprendizagem:
“A sequence of lessons designed to have students engage in exploratory
investigations, construct meaning out of their findings, propose tentative
explanations and solutions, and relate (Spanish) language and culture concepts to
their own lives.”67
O alvo deste método é de promover empatia e compreensão relativamente às
pessoas provenientes da outra cultura.
-‐ Componentes verbais e não-‐verbais:
Além de todas as componentes da uma cultura, as não-‐verbais não podem ser
saltadas no ensino da cultura, como gestos e expressões faciais. Shumin (1997)68,
afirma que “ignorance of the nonverbal message often leads to misunderstanding”.
Outra autora, Deborah Peck, (1998)69, confirma que o uso de gestos ajuda na
aquisição da lingual: “Learning the gestures which are culturally acceptable in the
target language adds to the authenticity of the language experience and can make the
language elements more interesting and meaningful to students”.
Existe ainda muita investigação em curso relativamente aos métodos que os
professores podem usar. No entanto, o ensino da língua nunca é um processo
terminado e determinado, existem sempre modos de o desenvolver e melhorar.
“Through role-‐play, students are able to put themselves in the shoes of a
native speaker, reacting as that person would linguistically and non-‐verbally
to the situation that he or she finds himself in (Hendon, 1980) while at the
67 Minister of Education, Citizenship and Youth (2004) “Spanish Language and Culture Six-‐ Year Junior/Senior High School
Program Implementation Manual”. Western and Northern Canadian Protocol for Collaboration in Basic Education: Winnipeg,
Manitoba. Manitoba Education, Citizenship and Youth, School Programs Division. p.90 68 Intercultural development: Topics and Sequences, p.17 69 Teaching culture: Beyond Language, 1998
49
same time developing empathy for the person being represented in the role-‐
play (Minister of Education, Citizenship and Youth, 2004).”70
O ensino de gestos e a prática dos mesmos ajuda os alunos a lidar com situações
da vida real, caso haja mal-‐entendidos ou alguma falha de comunicação. Conhecer
alguns gestos e expressões faciais pode ajudar os alunos que estão no nível principal
ou intermédio e ainda não governam bem a língua, nesses casos podem usufruir do
conhecimento dos gestos e perceber a conversa que está fora do alcance deles. Esta
competência entra na competência estratégica segundo Canale e Swain (1979).71
Muitos autores investigaram maneiras de abordar o ensino e a aprendizagem de
línguas e de desenvolver e melhorar a aquisição. Um deles é Stephen Krashen, no seu
livro Second Language Acquisition and Second Language Learning (1982), mostra-‐nos
que existem várias maneiras de obter um optimal input para aquisição de uma língua,
e todas derivam da Hipotése do Input (Input Hypothesis).
-‐ Optimal input é compreensível (comprehensible) – se o aprendente não percebe a
mensagem não haverá a aquisição. Neste caso, o “barulho” (noise) ou
incompreensível input não ajudam. Segundo Krashen, isto explica porque é que
équase impossivél que alguém aprenda uma segunda língua somente ouvindo no
rádio, se não seja o caso das línguas muito próximas. O exemplo que o autor dá, é do
falante monolingue de inglês que ouiça o polaco no rádio, e neste caso ele não
adquire nada porque o input para ele apresenta o “barulho” e não é compreensível.
Temos a questão como ajudar a compreensão de L2/LE – talvez seja a pricipal
tarefa do professor de fazer o input compreensivél, como diz o autor: “to do for the
adult what the “outside world” cannot or will not do.” 72
O professor pode facilitar a compreensão da língua nova de duas formas:
linguistica e não-‐linguistica. Hatch (1979), citado em Krashen (1982), identifica
alguns aspectos linguisticos que promovem a compreensão:
70 Intercultural Development: Topics and Sequences. p.18 71 Idem 72 Second Language Acquisition and Second Language Learning. Krashen (1982), p.64
50
a) Articulação mais clara e lenta que ajuda os aprendentes a definir os limites das
palavras e que deixa mais tempo para as processar;
b) Uso de vocabulário mais frequente; usar menos as expressões de calão;
c) Simplificação sintáctica; frases curtas.
As maneiras não-‐linguísticas de ajudar a compreensão – os professores devem
aproveitar o conhecimento do mundo que alunos têm. Falar sobre os temas que são
mais familiares aos alunos, pode ajudar, porque uma nova mensagem pode ser dificil
de perceber, mas tambem de outro lado, a mensagem conehcida pode não provocar o
interesse. Nos queremos que o aluno esteja focado na mensagem, e esta mensagem
deve ter em si algo que o aluno quer ouvir o ler. Então, “comprehension is necessary
but not sufficient.”73
Para ajudar na compreensão, o input deve ser interessante e/ou relevante.
-‐ Optimal input focaliza a atenção do aluno (adquirente?isto existe?) na mensagem
e não na forma, sendo o optimal input tão interessante que o aluno talvez não note
que está codificado em língua estrangeira.
É sempre muito difícil decidir qual é a matéria que pode ser interessante para os
alunos, havendo pessoas de várias aréas de interesse nos grupos. Existem vários
exemplos de input que, embora seja compreensível, aparece desinteressante e
irrelevante, como por exemplo, os exercícios chamados “pattern drills” e a maioria
dos exercicios que têm diálogos. 74
-‐ Optimal input não é gramaticalmente em sequência
Se o input não é gramaticalmente dividido, ele contém uma variedade da
estrutura. E se é compreensivel, vamos ter, como Krashen classifica, i+l, onde i
representa a competência actual, e o i+l o nível seguinte.
Se o foco estiver na gramática, a comunicção vai sofrer, uma vez que não vai
existir input interessante o suficiente. Os manuais e materiais que se usam na sala da
aula estão essencialmente focados na “contextualization” e apresenta a invenção do
73 Idem, p.66 74 Second Language Acquisition and Second Language Learning. Krashen (1982), p.67
51
contexto realístico para representar uma regra gramatical ou uma parte do
vocabulário.
-‐ Optimal input deve existir em quantidade suficiente
Existe uma grande quantidade de requerimentos para os principiantes e os níveis
mais altos de proficiência. Krashen propõe que os alunos ganham mais com uma
leitura compreensível e regular, “reading for meaning”, e através da participação em
conversas do que só a ouvir exercícios de compreensão.75
Outros elementos e métodos que encorajam a aquisição:
-‐ os alunos não deviam ser postos em defesa, “on the defensive”, como explica
Krashen (1982).
Se o tema em discussão é interessante e relevante, a pressão associada à língua vai
ser menor e vai haver aquisição de mais e melhor conhecimento. A ideia é que o
aluno “esqueça” que a mesagem está em LE. Por outro lado, a correcção do erro deve
ser suspensa, porque põe muita pressão nos alunos (este procedimento é muito
usado na Natural Approach). O melhoramento advém da não correcção de erros e
pode vir mais rapidamente se o filtro for baixo uma vez que os alunos não vão estar
na “defensiva”.
No livro “Cultural mediation in language learning and teaching”, (Council of
Europe, 2004) Geneviève Zarate fala-‐nos das suas conclusões acerca do ensino de
empatia na sala da aula e explica-‐nos como esta ajuda na compreensão e aquisição da
língua e cultura do outro.
“(…) it is important to recognize empathy in its simple, logical form as a
transitive relation between people, a purposeful four-‐dimensional
attitudinal skill, an important component of cultural competence and part of
cultural mediation.”76
75 Idem, p.73 76 Krashen “Second Language Acquisition and Second Language Learning" (1982) p.129-‐130,
52
Na sala da aula e na comunicação do dia-‐a-‐dia, a empatia é praticada para cumprir
e realizar várias micro-‐funções: pedir desculpa, encorajar, queixar-‐se, mostrar
compreensão, etc. Segundo os dados recolhidos do Conselho da Europa (Zarate,
2004), as aulas que têm mais sucesso são aquelas em que os professores aplicaram o
uso de acções empáticas. A comunicação do dia-‐a-‐dia tornou-‐se mais efectiva quando
os alunos usaram acções empáticas verbais ou não-‐verbais. Um dos próximos passos
vai ser descobrir a eficácia da empatia como mediador nas diferentes esferas da
comunicação. 77
Sugestões pedagógicas
Existem várias formas que visam aprofundar a percepção da cultura do
outro/cultura alvo, como questionários, experiências pessoais dos alunos ou dos
professores, observação de vídeos, etc. Zarate (2004) dá-‐nos alguns exemplos:78
1) reflexões sobre encontros interculturais:
-‐ pensar sobre as próprias experiências relacionadas com as últimas viagens que
fez -‐ pensar sobre algum comportamento “estranho” ou “surpreendente” enquanto
estava com pessoas locais; tentar explicar isto em termos interculturais;
-‐ imaginar receber um estrangeiro em sua casa – equacionar possíveis desacordos
e na forma como os resolveria e evitaria possíveis mal-‐entendidos;
-‐ ver vídeos alusivos às diferentes matérias (extractos dos filmes e
documentários) que mostram atitudes de hospitalidade
2) comparar comportamentos culturais
-‐ saudações e cumprimentos; comportamento gestual (beijinhos, abraços, aperto
de mão)
3) Explorar padrões culturais de comportamento
77 Ibidem 78 Cultural mediation in language learning and teaching. Zarate (2004), p.151, capítulo 5
53
-‐ escolher algumas perguntas e colocá-‐las a amigos estrangeiros (neste caso,
portugueses, brasileiros ou angolanos) e discutir as respostas (semelhanças,
diferenças, possíveis desacordos)
4) Preparação para uma mediação cultural
-‐ escolher uma situação (jantar com hóspedes, primos, etc.) e explicar todos os
“passos”: saudações, prendas, hábitos, etc.
Obviamente, todos os exemplos devem ser ajustados às situações e necessidades.
“The teacher´s role as a mediator and facilitator is fundamental. Taking
account of the cultural dimension of the language, the language teacher
needs to be able to raise student´s awareness of the cultural patterns and
prepare students to embrace them in intercultural encounters. Hospitality is
just one example among others of subject that vary widely within Europe
and which are, consequently, totally relevant to the language teaching
context.”79
O professor tem de ser o mediador cultural “who designs and puts in place devices
that make it possible to restore meaning where meaning has broken off, namely, he
or she provides the one who does not understand with the means to understand. His
or her contribution consists in both knowledge (savoir) and skill (savoir-‐faire); it
bears as much on method as on content. It renders the senseless intelligible.”80
Estas definições abrem algumas perspectivas metodológicas que nos podem
ajudar na aproximação das duas culturas em questão, através do esforço para
explicar as diferenças nacionais numa abordagem que as rendera transcendentais.81
79” In Cultural mediation in language and teaching as a process 80 Ibidem 81 Idem, p.220
54
Capítulo V
Desenvolvimento do estudo
Neste capítulo vai ser exposto o plano da elaboração de um inquérito realizado
por meio de um questionário escrito, com o objectivo de identificar e caracterizar o
público aprendente.
No Departamento de Estudos Ibéricos na Faculdade de Filologia em Belgrado
existem, oficialmente desde 2007 cursos de língua portuguesa. O crescente interesse
pela língua e cultura lusófona trouxe novos alunos às salas de aula. Alguns deles, já
familiarizados com as línguas românicas, queriam aprender mais uma língua e
expandir os seus conhecimentos. Outros chegaram através da música ou porque
leram uma das famosas obras da literatura portuguesa. O que todos têm em comum é
a curiosidade de conhecer uma nova língua, a mesma curiosidade que move o mundo
desde sempre em busca dos novos horizontes do pensamento humano.
O Departamento de Língua e Cultura portuguesa é também composto por falantes
nativos da língua portuguesa como principais educadores/professores. Com ajuda
deles, os alunos aprendem a língua e muito mais.
O questionário foi feito para os alunos de A1 e B1, para ver quais os principais
motivos que os levaram a aprender português.
O questionário é composto por seis perguntas (Anexo I), entre as quais duas
pretendem responder directamente aos objectivos propostos anteriormente;
sobretudo, os motivos que os levaram a interessar-‐se pela língua e as principais
características da cultura. Considerando que existe a possibilidade dos alunos de
nível A1 não conhecerem ainda bem os aspectos da cultura portuguesa, a segunda
pergunta foi mais reflectida nas respostas do nível B1 (havendo eles já dois anos de
estudo da língua e cultura portuguesa).
55
Queria descobrir quais são os aspectos da cultura portuguesa que provocam mais
curiosidade ou interesse da parte de aprendentes e se estes lhes dão uma verdadeira
noção da cultura, e por isso, coloquei a mesma pergunta a alguns portugueses (Anexo
III). Desta forma tentei obter a perspectiva deles sobre a própria cultura. Todos os
resultados serão expostos no Capítulo VI.
56
Capítulo VI
Exemplo prático – os gráficos
Neste capítulo veremos os resultados obtidos através de questionários feitos na
Sérvia e em Portugal. Estes questionários foram feitos em forma de inquéritos e os
resultados apresentados em gráficos do Excel. Os questionários para alunos sérvios
têm seis perguntas, para sérvios que moram em Portugal sete e para portugueses
apenas duas. Não vão ser analisadas todas as perguntas e respostas, apenas aquelas
que têm maior importância para a presente investigação.
O perfil do público pode ser caracterizado segundo três grupos:
1º grupo: constituído por alunos de idade entre 20 e 29 anos que estudam
português no mínimo há 3 meses e até 3 anos na Faculdade de Filologia em Belgrado;
2º grupo: compreende os sérvios que vivem em Portugal (período de estadia entre
8 meses e 15 anos), sendo que alguns deles fugiram da situação difícil do país e
outros são estudantes com bolsas do estudo;
3º grupo: são os portugueses: colegas e amigos de várias regiões de Portugal.
A ideia de fazer estes inquéritos foi baseada na tentativa de realizar uma
comparação entre as ideias que os alunos da Sérvia e os sérvios que moram em
Portugal têm sobre a cultura portuguesa. No fim, quis ainda fazer uma comparação
com as noções dos portugueses sobre a própria cultura. Havendo alunos dos quais a
maioria nunca visitou Portugal e pessoas que vivem/viveram um curto período de
tempo no país, achei que seria uma boa ideia comparar opiniões e obter algumas
respostas para a temática desta investigação. Obviamente, todas as respostas são
muito subjectivas e não representam uma atitude “oficial”, no entanto as noções
pessoais dos indivíduos estão de uma ou de outra ligados a Portugal e à sua cultura.
O questionário para alunos sérvios em Belgrado contém seis perguntas, das quais
analisarei as respostas das perguntas 3 e 4: Quais foram os motivos principais para
começar a aprender português? e Quais são, segundo a sua opinião, as principais
57
características da cultura portuguesa?. Estas perguntas foram escolhidas
principalmente porque através delas é possível ver qual é a imagem que os alunos
estrangeiros, neste caso sérvios, têm sobre a língua e cultura alvo, e quais os motivos
que os levaram a aprender dada língua.
6.1. Motivação para aprender português
No gráfico 6.1. estão as respostas de ambos os níveis, A1 e B1, de modo a
obtermos uma melhor comparação e demonstração dos resultados. Como podemos
ver, a linha vermelha indica as respostas dos alunos do nível A1 enquanto que a linha
azul traduz as respostas dos alunos do nível B1.
Com o maior número de respostas temos o som da língua como motivo principal.
Esta resposta não surpreende tanto porque é através da audição que conhecemos
uma língua.
Seguidamente podemos ligar o som da língua à música, sendo um dos meios mais
disponíveis para ouvir uma língua estrangeira..
Depois do som e da música, o gosto pelos países e as línguas românicas aparecem
com uma frequência significante.
A maneira mais fácil de ouvir uma nova língua é procurar música interpretada na
língua alvo. Por outro lado, temos alunos na Faculdade de Filologia que são também
58
alunos do Departamento de Línguas Românicas, que inclue a língua alvo e, por isso,
têm grande vantagem na aprendizagem.
Para além destas três respostas mais abundantes -‐ som da língua, música e línguas
românicas – podemos encontrar mais quatro.
A resposta “gosta dos países” pode ser explicada como um desejo de visitar
Portugal ou Brasil e, por isso, surge esse interesse, mais presente no nível A1, como
podemos notar. Mesmo que não apareça como um motivo muito elaborado ou
justificado, é suficientemente frequente entre os principiantes para ser mencionado.
Aqui está patente o nosso (sérvio) desejo de conhecer países localizados longe de nós
e perto do mar.
Como outro motivo que desencadeou a aprendizagem aparece o trabalho: os
alunos querem aprender uma língua que os ajude no futuro profissional e, sendo o
português a quinta língua mais falada do mundo82, é natural que aproveitem a
oportunidade.
A curiosidade é mais um motivo que levou os alunos a aprender português, (A1-‐
8%, B1-‐8%). Mesmo que este motivo não esteja explicitamente no primeiro lugar da
motivação, podemos dizer que está sempre presente. Foi a curiosidade que levou as
pessoas a ouvir determinada música ou a ver o filme x e esta está sempre presente
mesmo que inconscientemente. Gostamos de um país porque ouvimos que há bonitas
praias, as pessoas são muito acolhedoras e queríamos aprender mais. É isso que nos
motiva, a curiosidade. Também pode ser que, neste caso, os alunos a considerem
num contexto muito vasto e, daí, aparecer só em algumas respostas. Mesmo assim, a
curiosidade é grande motivadora e spiritus movens da aprendizagem.
A cultura em geral, numa noção mais vasta, aparece como uma das respostas com
percentagem significativa (A1-‐5%, B1-‐ 12%). Entre outras, aparecem mais duas
respostas com um valor significativo, a originalidade com 8% das respostas dos
alunos de B1 e a amizade com 7% dos alunos de A1. Este segundo valor tem de ter
82 Wikipedia.pt/língua portuguesa
59
um lugar especial, porque mostra que a Sérvia, depois de tantos anos de isolamento,
abre-‐se agora e aceita com vontade as pessoas provenientes de outros países. O
crescente interesse pela capoeira e pelo fado, trazem pessoas da Sérvia que almejam
viajar mais e conhecer os países de “interesse”.
Com uma menor percentagem, aparecem também: mar, comida, telenovelas,
literatura, futebol, etc. É interessante ver que uma pequena parcela (2%) de nível A1,
escolheu as telenovelas como um dos motivos para aprender português. É
importante salientar que se trata de telenovelas provenientes do Brasil, com um
vasto público na Sérvia. Para além da capoeira, as telenovelas brasileiras trazem um
pedaço da cultura lusófona além do oceano. E assim, o português do Brasil instalou-‐
se no público e ganhou a atenção dos futuros alunos. Infelizmente ainda não tivemos
como professores, leitores provenientes do Brasil nem de outros países lusófonos,
mas esperamos que em futuro isto vá mudar.
No gráfico 6.2 são apresentadas as respostas dos níveis A1 e B1 em conjunto com
as respostas dos sérvios que moram em Portugal, para ter uma noção mais vasta dos
valores. Note-‐se que o inquérito feito para os sérvios em Portugal (Anexo II) contém
algumas perguntas que são iguais às perguntas para os alunos de nível A1 e B1, como
a seguinte pergunta exposta no gráfico abaixo. As respostas dos sérvios que moram
em Portugal estão representadas pela linha amarela (SPT).
6.2. Quais são as principais características da cultura portuguesa?
60
No gráfico 6.2. podemos ver os resultados da pergunta Quais são as principais
características da cultura portuguesa?. O motivo para pôr esta pergunta foi na
tentativa de descobrir as ideias ou noções que os alunos sérvios têm sobre a cultura
portuguesa; o que significa, para eles, o termo “cultura portuguesa”.
Queria fazer esta comparação para investigar as diferenças e as semelhanças que
os alunos que estão fora do contexto da língua têm sobre a cultura alvo, e o que as
pessoas que já estão dentro do contexto há um determinado período podem expôr
com as suas experiências. Podemos ver que algumas respostas são diferentes entre
os níveis e, na maioria dos casos, depende do tempo da aprendizagem, porque os
alunos no início do estudo ainda não tiveram a oportunidade de saber mais sobre a
cultura e a língua que estão a aprender. Os alunos de nível A1 estão a aprender
português há três meses e, até ao período do inquérito, não atingiram o nível
suficiente para falar sobre as características da cultura portuguesa. A pergunta foi-‐
lhes posta para ver quais as ideias que eles têm e para as comparar com as dos
alunos que já aprendem a língua há algum tempo ou que tiveram oportunidade de
conhecer o país. Os resultados são comparados com as respostas dos sérvios que
moram em Portugal para obter uma imagem “verídica” e “aprendida”das
características da cultura por parte dos sérvios.
Podemos ver que a maior percentagem tem como resposta “música/fado”, com
13% para sérvios em Portugal, 33% dos alunos de A1 e 31% dos alunos de B1. Como
já notámos no gráfico 6.1, a música, mais uma vez, surge como uma característica da
cultura portuguesa. Obviamente, esta noção pode ser explicada através da
importância dos media, televisão, internet, onde agora é mais fácil do que antes
encontrar a música dos vários países. Por outro lado, a música está presente na
aprendizagem, porque já foi mostrado que é um dos modos de atingir o público e
manifestar a criatividade de uma cultura. Existem vários exercícios que incluem
música e até agora mostraram-‐se como um bom caminho para uma melhor
aprendizagem da língua.
Durante as conversas com os meus professores de português e também durante o
meu estudo, a música foi apresentada como o mecanismo principal da transferência
61
de ideias. Especialmente a música relacionada com a revolução de 25 de Abril que
marca um período muito importante para a cultura portuguesa de Portugal.
Tivemos, como alunos, a oportunidade de ver por outra perspectiva e de viver a
emoção que existe por detrás daquelas canções, confirmando a importância da
aprendizagem da cultura, uma vez que, quem não conheça a história de Portugal, vai
ter dificuldades em perceber a mensagem que aquela música leva consigo e será
apenas mais uma canção qualquer.
Os nossos professores tentaram sempre usar a música e as suas letras para nos
explicar o uso de determinadas formas gramaticais ou para desvendarmos o
significado das letras e as histórias que estão por trás. Aqui também entra a música
que apresenta uma mistura de moderno e antigo (Madredeus é a banda mais
conhecida na Sérvia).
Entre outros valores distinguem-‐se o futebol com 29% em global, a conexão com o
mar com 17%, a comida com 17%, a saudade com 17%, o vinho e a hospitalidade com
14%, etc.
Em algumas das respostas dos sérvios que moram em Portugal e dos portugueses
(que vamos ver no gráfico seguinte), apareceu o famoso dito de “Três F” -‐ Fado,
Fátima e Futebol. Acho esta caracterização muito interessante, mesmo que haja uma
certa estereotipia, ela dá-‐nos uma ideia certa das atitudes dos outros e dos próprios
portadores da cultura que esteja em questão.
Curiosamente existem algumas respostas dadas só da parte dos sérvios que
moram em Portugal, como por exemplo a tradição (12%), onde podemos ver que
esta noção pode ser obtida apenas no contexto e que os alunos talvez não tenham
conhecimento acerca da importância da tradição e religião em Portugal.
A história também tem uma percentagem significativa de 17%, mas só da parte de
nível B1 e dos sérvios em Portugal, o que nos leva a concluir que o conhecimento
veio ao longo do tempo de estudo, no caso do nível B1, e que os alunos de A1 ainda
não chegaram até este ponto.
62
A hospitalidade é mais um valor importante que aparece nas respostas, é mais
evidente nas respostas das pessoas que moram em Portugal, e isto também pode ser
explicado pela presença em contexto da língua e cultura alvo.
Aparecem mais alguns valores, e mesmo que não tenham uma percentagem
significativa, deveriam ser mencionados; algumas delas não estão no gráfico, mas
apareceram nas respostas: liberdade, alegria, originalidade, orgulho, arte, literatura e
turismo, e outros como: passividade, pouca organização e indiferença.
Para obter um melhor confronto de respostas, a mesma pergunta foi posta ao
portugueses. No gráfico 6.3. podem ser vistos os resultados desta pergunta do
inquérito.
A ideia foi obter respostas reais e objectivas, e este resultado irá mostrar-‐nos se
existem algumas sobreposições e quais as diferenças na caracterização da cultura
portuguesa do ponto de vista sérvio e do ponto de vista português.
6.3. Quais são as características da cultura portuguesa?
“(…) melancolia romântica que não deixa avançar.”83
83 Anexo III
63
No gráfico 6.3. podemos ver que aquilo que os portugueses acham mais
característico da sua cultura, é o interesse pelo futebol, seguido pelo fado e pelo mar.
Estes factos são interessantes porque estão de acordo com as ideias que os alunos
sérvios têm sobre as características da cultura portuguesa. A saudade é mais uma
característica que aparece nas respostas de ambos grupos, sérvios e portugueses.
Na comparação entre os grupos, podemos ver que a maior parte das respostas dá
importância às mesmas características, que são, para além das mencionadas, a
religião, a poesia, a comida, a história. A importância da família é mais uma
característica significativa que, talvez por estar tão enraizada, não apareceu muito
nas respostas dadas pelos portugueses.
Os gráficos seguintes vão tratar as diferenças e semelhanças entre as duas
culturas, isto é, as ideias e noções que os alunos da faculdade e sérvios que moram
em Portugal partilharam e divergiram. Consciente de que algumas ideias podem ser
percebidas como estereótipos ou preconceitos, queria salientar que as respostas são
subjectivas e apresentam uma generalização, mesmo que eu tenha noção que
qualquer generalização não representa sempre a melhor solução para definir grupos,
vamos considerar as respostas como um tipo de experimento ou prova para explicar
possíveis desacordos ou desarmonias que podem aparecer nas ideias que os
indivíduos têm sobre as duas culturas.
É sempre muito delicado falar sobre as diferenças entre os povos e as culturas e,
por isso, é importante dizer que as atitudes e as declarações aqui expostas não
representam as atitudes oficiais, mas sim experiências pessoais e subjectivas.
O gráfico 6.4. fornece-‐nos as respostas da pergunta: Existem algumas diferenças
entre a cultura portuguesa e a cultura sérvia? São abrangidas as respostas dos níveis
A1 e B1 e dos sérvios em Portugal, mais uma vez com o objectivo de obter respostas
mais verídicas e noções e ideias mais esclarecedoras.
Obviamente, falar de diferença, hoje, é falar de muito mais do que só a diferença.
Mas, o objectivo aqui é conhecer melhor a outra língua e cultura e, para fazer isto,
temos primeiro de conhecer e perceber aquilo que nos difere e tentar usá-‐lo e aplicá-‐
64
lo numa melhor aprendizagem da língua. Através do conhecimento de uma nova
língua, conhecemo-‐nos a nós próprios e compreendemos melhor os outros.
6.4. Existe algo na cultura portuguesa que acha diferente da cultura sérvia?
Como mencionei no Capítulo III, sobre os estereótipos, é muito importante
perceber se as ideias e as opiniões que alguém tem sobre uma cultura vêm de uma
realidade objectivamente apercebida ou de uma realidade subjectiva.
No gráfico 6.4. distinguem-‐se respostas como comida/alimentação com a maior
percentagem, A1 31%, B1 17%, mas o que é interessante é que foram dadas por
alunos da faculdade, isto é, as pessoas que estão fora do contexto. Pessoalmente,
posso testemunhar que a maior parte da comida é igual, a única diferença é nos
produtos de mar e na alimentação baseada nestes.
Outra característica que mostra uma grande percentagem das respostas, é a
música. O fado e a bossa-‐nova, os ritmos africanos são muito diferentes dos ritmos da
música sérvia. Esta resposta é dada só por parte de alunos da faculdade também.
Aqui, podemos ver um facto que pode ser implementado na continuação da
aprendizagem da língua, onde os professores podem usar estas diferenças como
meio de atingir o público, os alunos, e de os aproximar a uma parte da cultura alvo.
65
A conexão com o mar, com 28% de nível B1, e 0% de nível A1 e SPT (sérvios em
Portugal), era surpreendente o número das respostas do nível B1, mas conhecendo o
programa das aulas, posso concluir que a temática dos textos no segundo ano de
estudo concentra-‐se mais na características intrínsecas da língua e da cultura, e
talvez isso seja o motivo destes valores.
O temperamento aparece em todos os grupos com uma percentagem significativa,
A1 14%, B1 17%, SPT 19% onde talvez possamos juntar a resposta dada só da parte
dos SPT onde reclamem que a sociedade portuguesa é mais fechada (A1 0%, B1 0%,
SPT 27%). Esta resposta pode provocar muitas debates e, por isso, tentei pesquisar e
explorar alguns factos que podem confirmar ou contestar este comunicado.
Como eu própria estive na situação de ter que me habituar ao novo contexto e
passar pela experiência de ter de começar desde o início num pais estrangeiro. Posso
dizer que as pessoas, geralmente, depois de viverem no próprio país durante vários
anos, quando mudam de ambiente, têm o habito de comparar o novo e desconhecido
contexto com o antigo, bem conhecido. É assim que se criam dificuldades na
habituação, uma vez que as pessoas continuam com a vida anterior num novo
contexto que pode ser bastante diferente do original. Cada início, dentro de uma nova
cultura, pode provocar um tipo de choque, em alguns casos com menos e noutros
com mais efeito.
Importante é conhecer ou, pelo menos, saber algo sobre os hábitos, sobre a
cultura, o modo da vida do país para onde vamos, se queremos integrar-‐nos numa
nova sociedade ou não. Portugal e os portugueses, como todos os povos do mundo,
têm uma história que deixou uma grande marca e continua a marcar o tempo
presente. Pode ser, como confirmam nas suas obras José Gil e Eduardo Lourenço,
citados neste trabalho, que exista um certo medo que se manifesta nas expressões
como “deixa-‐nos no nosso cantinho” ou “deixa andar, logo se vê” ou “fico por aqui”
(?é isto?). Não estou habilitada para dar uma explicação científica, mas,
pessoalmente, acho que todos temos algumas características que estão mais ou
menos evidentes em dadas situações.
66
O caso de Portugal é muito diferente do caso da Sérvia num facto significante, a
imigração. Quase 5% da população portuguesa são imigrantes84. Por outro lado, na
Sérvia, este “fenómeno” ainda não está presente e, por isso, talvez possamos tentar
encontrar motivos para esta problemática relativamente à integração, num sentido
em que talvez os sérvios não tenham passado pela experiência de ter uma taxa tão
alta da imigração no seu país e, portanto, ainda não tenham sido obrigados a lidar
com as problemáticas que a imigração traz associada.
No gráfico seguinte, 6.5., estão apenas as respostas dos SPT (sérvios em Portugal)
sobre algumas dificuldades relativamente à habituação à nova sociedade.
6.5. Existe algo na cultura portuguesa que achou difícil de aceitar ou de habituar-‐se?
Aparece, outra vez, a característica “fechados” com a maior percentagem. Logo, se
segue a maneira de cumprimentar, os beijinhos quando se conhecem as novas
pessoas. Na Sérvia, as pessoas cumprimentam-‐se com o aperto da mão e apenas com
beijinhos quando são próximos, amigos ou primos.
84 http://www.presidencia.pt/?idc=24&idi=1743, acedido em 24/07/11
67
“A determinação de fazer as coisas acontecer que é evidente na atitude dos
Sérvios que conheço, que contrasta notoriamente com a postura Portuguesa
de deixar tudo para amanhã… A forma de interacção das pessoas é
completamente diferente, pois no caso Sérvio é um processo espontâneo, ao
passo que os Portugueses só se exprimem depois de serem provocados de
alguma forma.”85
Nem sempre a habituação a um novo ambiente tem de provocar choque, pelo
contrário, como em todas as culturas, existem aspectos em comum.
6.6. Existem algumas semelhanças entre a cultura sérvia e a cultura portuguesa?
A frase de um amigo português descreve, em geral, aquilo que pode ser dito acerca
de todas as culturas deste mundo:
85 Anexo III
68
“O gosto pelas suas tradições e o orgulho que nutrem pela sua gastronomia e
outros produtos específicos dos seus países (caracterizam as culturas sérvia e
portuguesa).”86
Não existe um país ou uma cultura que não seja orgulhosa da sua gastronomia. Os
portugueses, tal como os sérvios, adoram boa comida e mesa abundante. Por
exemplo, existe um prato que é considerado tradicional e típico em ambos países, o
arroz doce. Claro, isto deve-‐se a herança árabe e turca dos dois países, aliás, este
prato também é muito conhecido em São Tomé e Príncipe e no Brasil.
Além da comida, com uma alta percentagem também, aparece, mais uma vez, o
temperamento mas agora como aspecto em comum.
“Os dois povos são modestos e simples, hospitaleiros e orgulhosos.”87
A cultura tradicional, como os costumes, as festas, a tradição em geral, representa
um aspecto muito importante em ambas culturas. A rica tradição dos dois povos
nota-‐se na preservação de artesanatos antigos, nas festas dos santos populares,
bailaricos, etc.
A vanglória é um aspecto muito surpreendente, uma vez que tem respostas de
todos os grupos, mas, na verdade, apenas pode ser percebida no contexto.
Relativamente à história, existem semelhanças que se podem ver no facto que
ambos os povos terem vivido sob a ditadura no passado. O resto da história não tem
muito em comum, porque a Sérvia nunca tomou parte de conquistador nas guerras
do passado.
Da parte da história existem semelhanças que se podem ver no facto que ambos os
povos eram sob a ditadura no passado.
Interessante é que só o nível A1, com 27%, respondeu que acha que as culturas
são muito diferentes, este facto surpreende porque o nível A1 é dos principiantes e
podemos considerar que o conhecimento sobre a cultura alvo baseia-‐se nos
86 Ibidem 87 Doutora Joana Câmara, Anexo III
69
pressupostos. Os professores deviam aproveitar estes factos para apresentar a nova
cultura de um ponto de vista esclarecedor e ajudar os alunos a percebê-‐la.
Entre outras respostas aparecem também o gosto pela vida fácil, a influência da
cultura islâmica, o futebol, que os dois povos são comunicativos e aceitam a
responsabilidade.
Relativamente à história, existem semelhanças que se podem ver no facto que
ambos os povos terem vivido sob a ditadura no passado. O resto da história não tem
muito em comum, porque a Sérvia nunca tomou parte de conquistador nas guerras
do passado.
Ao gráfico 6.6. podíamos juntar o gráfico seguinte que contém as respostas de SPT
sobre a facilidade de habituação ao novo ambiente.
Como esperava, as respostas com a maior percentagem são a gentileza e cortesia e
a hospitalidade e acolhimento. Da experiência pessoal e das conversas com muitos
estrangeiros que conheci em Portugal posso confirmar que esta característica é
muito notável.
6.7. Existe algo na cultura portuguesa que gostou muito e o que aceitou facilmente?
“The teacher´s role as a mediator and facilitator is fundamental. Taking
account of the cultural dimension of the language, the language teacher
70
needs to be able to raise student´s awareness of the cultural patterns and
prepare students to embrace them in intercultural encounters. Hospitality is
just one example among others of subject that vary widely within Europe
and which are, consequently, totally relevant to the language teaching
context.” 88
A característica apontada como a falta da agressividade baseia-‐se no facto de que
uma parte dos sérvios que vinham para Portugal, estava à procura de uma nova casa,
refugiando-‐se da guerra e, para eles, Portugal representava um lugar longe da guerra,
onde não havia conflitos há muitos anos.
A comida e o ritmo da vida são mais dois aspectos que facilitam a habituação a um
novo ambiente.
Por fim, podemos concluir que as ideias dos alunos sérvios e dos portugueses
estão em concordância na maioria dos casos, como no facto de defenderem que o
futebol, o fado, a hospitalidade e a comida são as características mais reconhecidas
da cultura portuguesa. Por outro lado, aparecem algumas características novas e
interessantes, como a percepção da sociedade, dos hábitos e de modo de vida.
De qualquer modo, estamos no início do processo e o ensino-‐aprendizagem da
língua e cultura portuguesa na Sérvia ainda tem um longo caminho pela frente.
Possivelmente, com a ajuda dos professores e com um constante desenvolvimento e
investigações na área do ensino da cultura, esperamos que todos os obstáculos sejam
superados e que os alunos sérvios tenham oportunidade de aprofundar o
conhecimento e a percepção de tudo o que a cultura portuguesa traz consigo.
88 Cultural mediation in language and teaching as a process; A. Gohard-‐Radenkovic, D. Lussier, H. Penz, G. Zarate (2004)
71
Conclusão
O enfoque dos estudos da cultura, como a parte integral do ensino das línguas
estrangeiras, apresenta um dos meios de render conscientes os professores da
oportunidade de perseguir educação em sua forma original, de fazê-‐la lucrativa para
todos, mesmo que seja concebida para alguns.
O fim do ensino-‐aprendizagem de línguas estrangeiras não é só de combinar
utilidade e valor educacional, mas de mostrar aos alunos como podem e devem
interagir com o mundo internacional e globalizado onde eles já estão.89
O alvo desta tese foi descobrir a abordagem e os aspectos da cultura que podem
facilitar a aprendizagem de português para falantes de sérvio. Devido às respostas
obtidas via inquéritos e as pesquisas feitas ao longo do trabalho, podemos concluir
que a importância da competência e consciência intercultural no ensino das línguas
têm um lugar obrigatório. Esta competência não pode faltar o curriculum do ensino-‐
aprendizagem de línguas estrangeiras e como tal apresenta uma parte crucial para o
melhor desenvolvimento de alunos como indivíduos e a melhor percepção de
culturas que as línguas portam ou vice-‐versa.
O ensino da cultura pode levantar a consciência cultural, a apreciação e aceitação
do Outro, e também aumenta a consciência da própria cultura de aluno, e como tal
deve ser considerado a parte crucial do ensino de línguas.
89 From Foreign Language Education to Education for Intercultural Citizenship, Essays and Reflections, Michael Byram, (p.227-‐
237)
72
“Establishing a tolerant classroom atmosphere in which all cultures are
celebrated and explicitly teaching about the target culture enables language
teachers to affect student attitudes towards the target language and culture
in a positive way. The goal is to foster an intercultural competence that
language students can take with them when the language classes are over in
order to be fully capable of handling all of the communicative challenges of
speaking a L2 or a FL and of interacting with the target language peoples.”90
O encontro de duas culturas diferentes exige, quanto dos alunos tanto dos
professores, um esforço significativo de ultrapassar e abranger todas as semelhanças
e diferenças que existem, para que formassem uma boa base para o melhoramento
do ensino da língua-‐alvo e para o próprio progresso e aperfeiçoamento.
90 Intercultural Development: Topics and Sequences, V. Savicki, I. Adams, A. Wilde, F.Binder (p.25-‐26)
73
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