resumo relatório stern_o estado da competitividade responsavel20

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  • A Competitividade Responsvel um ingrediente essencial para mercados globais eficazes. Ela une estratgias corporativas avanadas, polticas pblicas inovadoras e uma sociedade civil vibrante e engajada. Trata-se da criao de uma nova gerao de produtos e processos comerciais lucrativos calcados em regras que apiam de forma abrangente os objetivos sociais, ambientais e econmicos da sociedade. O Estado da Competitividade Responsvel demonstra o potencial prtico das estratgias de competitividade responsvel para disseminar negcios e investimentos, e ao mesmo tempo alcanar um equilbrio entre os interesses nacionais e globais, entre o benefcio pblico e o privado.

    Pascal Lamy, Diretor Geral, Organizao Mundial do Comrcio

  • AccountAbility 3

    Sumrio 5 Prefcio por Al Gore

    7 Prefcio Edio Brasileira por Alex MacGillivray e Cludio Boechat

    O ndice da Competitividade Responsvel

    11 O Estado da Competitividade Responsvel 2007, Simon Zadek, Diretor Executivo e Alex MacGillivray, Diretor de Programas, AccountAbility

    32 O ndice da Competitividade Responsvel, Paul Begley, Pesquisador, AccountAbility; Edna do Nascimento, Estatstica, Fundao Dom Cabral; Alex MacGillivray, Diretor de Programas, AccountAbility e Cludio Boechat, Professor, Fundao Dom Cabral

    Construindo mercados com baixa emisso de gs carbnico

    43 O Relatrio Stern Review. Dimitri Zenghelis, Consultor Econmico, HM Treasury (Ministrio Britnico da Fazenda), Reino Unido e Nicholas Stern, IG Patel Chair da London School of Economics and Political Science

    50 Preparativos para um futuro com baixa emisso de gs carbnico, Jonathan Lash, Presidente, World Resources Institute

    54 Reformulando Mercados por meio de um Fundo Internacional do Carbono, Nick Butler, Diretor do Cambridge center of Energy Studies, Judge Business School

    Questes-Chave da Competitividade Responsvel

    61 Reconstruindo o Comrcio Mundial e as Regras Econmicas, Guy Ryder, Secretrio-Geral, International Trade Union Confederation

    64 Transparncia e Responsabilizao como Incentivos para o Crescimento, Peter Eigen, Presidente do Conselho Consultivo Transparency International e Jonas Moberg, Dirigente do Secretariado da Extractive Industries Transparency Initiative

    69 Better Work: Promovendo Padres de Trabalho atravs da Competitividade Responsvel, Ros Harvey, Administradora Global do Better Work Programme, Organizao Internacional do Trabalho; Houria Sammari, Administradora Snior do Programa, Environmental and Social Development Department e Annemarie Meisling, Especialista de Desenvolvimento do Setor Privado, International Finance Corporation

    74 Igualdade de Gnero para Vantagem Competitiva, Laura Tyson, Professora de Administrao Empresarial e Economia, Haas School of Business, University of California em Berkeley

    77 A Sociedade Civil e a Competitividade Responsvel, Kumi Naidoo, Secretrio- Geral e Lorenzo Fioramonti, Pesquisador Snior, CIVICUS: World Alliance for Citizen Participation

  • O Estado da Competitividade Responsvel 20074

    84 A F pode Incentivar a Competitividade? Ambreen Waheed, Diretor Executivo e Faiz Shah, Co-fundador, Responsible Business Initiative

    88 Construindo Vantagens Competitivas por meio de Prticas de Negcios Responsveis, Jean- Philippe Courtois, Presidente, Microsoft International

    Perfil de Pases e Regies

    97 Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e Competitividade: Conside-raes da Comisso Europia, Gnter Verheugen, Vice-presidente da European Commission encarregado do setor de Enterprise and Industry

    101 Sudeste Asitico: Fomentando a Competitividade atravs de Responsabi-lidade Mtua, Anwar Ibrahim, Presidente Honorrio, AccountAbility

    108 BRICS (Brasil, Rssia, ndia e China) e a Competitividade Responsvel, Cludio Boechat, Professor, Edna do Nascimento, Estatstica, e Luana de Albuquerque Dapieve, Assistente de Pesquisa, Fundao Dom Cabral

    113 RSC com Caractersticas Chinesas: Desbravando um Caminho, Aron Cramer, Presidente e CEO, Business for Social Responsibility

    117 Competitividade Responsvel em Nvel Regional, Jeremy Nicholls, Diretor, Urban Strategy Associates e Paul Begley, Pesquisador, AccountAbility

    125 Anexo

  • AccountAbility 5

    Dou minhas calorosas boas vindas ao novo relatrio referencial da AccountAbility, O Estado da Competitividade Responsvel 2007. Um futuro sustentvel implica em mercados que recompensem o desempenho a longo prazo. Isso significa en-carar a prtica empresarial responsvel como a linha mestra para a qualidade dos negcios e da sua administrao. Implica polticas pblicas e aes de cidadania que ajudem as empresas a fazerem o que certo.

    Na Generation Investment Management ns unimos pesquisas de ponta voltadas para a sustentabilidade com anlises de classe mundial do mercado financeiro. Vejo hoje a competitividade responsvel no topo da agenda para um nmero cada vez maior de CEOs que encontro. Ao ajudar a organizar o Live Earth em nove cida-des espalhadas pelo mundo, fiquei emocionado com o crescente comprometimento de lderes polticos e empresariais, bem como de cidados participantes, sobre a questo da sustentabilidade.

    Isso torna o novo relatrio da AccountAbility especialmente til para investidores, formadores de opinio, lderes empresariais e pesquisadores. O relatrio ambi-cioso em sua abrangncia fornecendo informaes sobre a competitividade res-ponsvel em 108 pases, cobrindo mais de 95 por cento da economia global. Seu escopo vasto, abrangendo desenvolvimentos chave no combate s mudanas climticas, melhorias de padres trabalhistas, eliminao das diferenas entre os sexos e reduo da corrupo.

    O Estado da Competitividade Responsvel 2007 desafiador em suas conclu-ses, mas fundamentalmente animador: mais e mais companhias esto gerando valor para os investidores de forma duradoura, e o comprometimento possvel em todos os estgios do desenvolvimento.

    O relatrio aponta oportunidades de mercado animadoras, como tambm riscos que polticos, empresrios e investidores precisam administrar. Em suma, O Esta-do da Competitividade Responsvel 2007 um guia indispensvel para entender como os mercados esto se reformulando para recompensar a competitividade no sculo XXI.

    Al Gore

    Prefcio

    Por Al Gore

  • O Estado da Competitividade Responsvel 20076

  • AccountAbility 7

    Em dezembro de 2003, AccountAbility e FDC se juntaram pela primeira vez para trazer a pblico os estudos sobre Competitividade Responsvel, um conceito in-troduzido pela organizao internacional sem fins lucrativos AccountAbility e seu Presidente Simon Zadek. Foi por ocasio do III Frum de Aprendizagem do Pacto Global, realizado no campus da FDC em Nova Lima, e o primeiro relatrio foi lan-ado e distribudo para os cerca de 250 representantes de mais de 30 pases. O Pacto Global dava ainda seus primeiros passos para se firmar como o, hoje, forte instrumento de inspirao do mundo empresarial. De l para c, vrios passos foram dados, como pode ser verificado no artigo in-trodutrio deste Relatrio, de autoria dos profissionais da AccountAbility. Sempre com a parceria das duas entidades, AccountAbility e FDC, aprofundou-se a con-sistncia conceitual, depurou-se a busca de dados, aprimorou-se a metodologia de clculo, encontraram-se novos canais de difuso do conhecimento gerado. Como pode atestar-se pela quantidade, diversidade e qualidade das contribuies dos diversos autores do Relatrio 2007 (alguns de renome internacional, como Al Gore), o trabalho vem se firmando em nvel internacional, atendendo viso de seus cria-dores: contribuir para a eficcia da ao empresarial na construo de um mundo sustentvel.

    Produzir a verso brasileira do Relatrio O Estado da Competitividade Respons-vel 2007 tem, pelo menos, uma grande razo: popularizar o conhecimento sobre a Competitividade Responsvel. Esperamos que a maior transparncia dos fatores chave da Competitividade Responsvel aumente o grau de conscincia de empre-srios, trabalhadores, governantes e lderes sociais a respeito de como construir uma sociedade cada vez mais responsvel.

    Agradecemos a nossos patrocinadores (Petrobras e Banco Real), apoiadores (Construtora Andrade Gutierrez e Serasa) e equipes tcnicas a viabilizao desta iniciativa.

    Alex MacGillivray AccountAbility (www.accountability21.net)Cludio Boechat Fundao Dom Cabral (www.fdc.org.br)

    Fevereiro 2008

    Prefcio Edio Brasileira

  • O ndice da Competitividade Responsvel

  • AccountAbility 11

    Por Simon Zadek e Alex MacGillivray

    Reformulando a competitividade

    A competitividade responsvel trata de fazer valer o desenvolvimento sustentvel nos mercados globais. So os mercados que recompensam prticas de negcios que geram melhores resultados sociais, ambientais e econmicos; e implicam su-cesso econmico para naes que encorajam essas prticas comerciais atravs de polticas pblicas, normas sociais e aes de cidadania.

    O Estado da Competitividade Responsvel 2007 um relatrio de progressos que tem uma abrangncia global. Ele avalia prticas de negcios responsveis em 108 pases. E destaca quais pases tm condies sociais e esto colocando em prtica polticas pblicas que encorajam a competitividade responsvel.

    A concluso deste relatrio que a responsabilidade pode e deve reforar a com-petitividade, para pases em todos os nveis de desenvolvimento.

    A competitividade responsvel parcialmente incentivada pelas foras do merca-do. No nvel micro de empreendimentos individuais, estratgias que incorporam os princpios e as prticas da competitividade responsvel so cada vez mais reco-nhecidas como tendo enorme potencial na criao de valor econmico e resultados lucrativos. Ao longo da ltima dcada, a responsabilidade corporativa evoluiu do foco no que deveria ser evitado para uma agenda de inovao empresarial, que traduz os desafios sociais e ambientais da nossa poca em oportunidades para a criao de valor econmico. No nvel macro, o dramtico crescimento econmico global das ltimas dcadas tirou centenas de milhes de pessoas da misria. Os mercados globais fomentam o comrcio internacional, que representa agora mais de 20% do Produto Econmico Global, e tem um papel crucial no impulso dos resultados positivos do sucesso econmico. Sociedades economicamente mais abastadas tm capacidade de serem mais responsveis em relao aos cidados e ao meio ambiente, e so mais bem sucedidas em mercados onde educao, tecnologia, instituies maduras, cidados engajados e o cumprimento das leis so estmulos cruciais para a competitividade. H muito que se esperar da nova gerao de exportadores emergentes (China, Mxico, Turquia, ndia, Indonsia, a Federao Russa, Malsia, Tailndia, Nigria, frica do Sul, Brasil e Venezuela), os assim chamados EE12, que so responsveis por mais de um trilho de dlares em mercadorias exportadas.

    Vantagens competitivas nos impacientes mercados da atualidade no iro por si s cumprir a promessa do desenvolvimento sustentvel. Foras competitivas de-senfreadas encorajam vises de curto prazo na obteno de lucros e estratgias nacionais de competitividade enraizadas no mercantilismo paroquial e no naciona-lismo econmico. Investidores voltados para lucros de curto prazo e consumidores absortos em conseguir preos mais baixos frequentemente impedem que estrat-gias empresariais de longo prazo consigam trao no mercado. As posies privi-legiadas das naes mais ricas da atualidade nas cadeias globais de valor foram, afinal de contas, conquistadas atravs da imposio de um fardo social, ambiental e econmico sobre comunidades mais fracas. A fora motriz do comrcio global atual, embora extraordinria, continua a pesar sobre muitas naes mais pobres e enfra-quecidas, convencidas de que aceitar a inevitabilidade de condies de trabalho

    O Estado da Competitividade Responsvel

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200712

    e controles ambientais inadequados so o preo a ser pago para se ter acesso aos benefcios da especializao internacional. E as novas geraes de potncias eco-nmicas e polticas nacionais esto, em grande parte, repetindo e reforando esse padro. O seu direito prosperidade econmica coincide com nossa incapacidade coletiva de apoiar esse direito sem exacerbar os maiores desafios sociais e ambien-tais da atualidade das mudanas climticas escassez de gua potvel, a segurana energtica, migraes e direitos civis.

    Mercados que no valorizam o que realmente conta na sustentao de sociedades iro continuar gerando resultados negativos para as pessoas e para o meio ambien-te. Competitividade irresponsvel tem conseqncias catastrficas. Os primeiros impactos da mudana climtica j esto nos afetando, derretendo no apenas os plos, mas tambm o sustento arduamente conquistado de milhes de pessoas. Os mercados e a poltica econmica mais abrangente da atualidade so cada vez mais encarados como cmplices no crescimento das desigualdades entre e dentro das naes, escassez crnica de gua potvel, nas migraes caticas, na corrupo sem fim e no aumento do nacionalismo econmico. Sem a reverso desses fatores a legitimidade dos negcios e dos prprios mercados ser enfraquecida, como tam-bm o seu potencial para contribuir na gerao de solues imprescindveis para estes mesmos desafios.

    Competitividade responsvel requer regras globais para reformular os mercados s necessidades do futuro. A competitividade que leva em conta o que importante na sustentao de sociedades deve ser guiada por regras efetivas que rejam o negcio dos negcios, e o seu impacto no trato com a fora de trabalho e com as comunidades, a imposio dos direitos humanos conquistados a duras penas e a administrao eficiente de nosso patrimnio ambiental. Um exemplo so os princ-pios do Parto Global da ONU (Tabela 1). As instituies intergovernamentais cria-das ao longo do sculo XX se provaram eficientes no estabelecimento de ntidos fundamentos normativos para orientar tais regras, exemplificados pela Declarao Universal dos Direitos Humanos da Organizao das Naes Unidas. Entretanto, muitas instituies multilaterais enfrentam dificuldades na implementao de acor-dos globais que correspondam s nossas necessidades mais prementes, das mu-danas climticas e fontes de energia seguras ao livre comrcio e os padres tra-balhistas. Falhas podem facilmente ser atribudas a uma ou outra das partes. Mas as repetidas decepes frente a desafios to tenebrosos levantam dvidas quanto a se a atual estrutura global de governana, herdada do passado, adequada s necessidades do amanh.

    Trazer a competitividade responsvel para o centro das tendncias atuais requer inovaes profundas, tanto em estratgias e prticas empresariais quanto em uma abordagem mais ampla nos meios de governo. Como argumenta Gnter Verheu-gen, Vice-presidente da Comisso Europia, empresas de todos os portes devem considerar os papis que iro desempenhar na sociedade contempornea ao to-marem decises estratgicas e operacionais. Modelos empresariais existentes oferecem ganhos modestos quando as oportunidades so facilitadas como, por exemplo, produtos mais saudveis, processos de produo mais seguros e justos. Mas prticas que lucrem cuidando e renovando nossos recursos, e construindo-comunidades sustentveis requeriro o que Jonathan Lash, Presidente do World Resources Institute, chama de um distanciamento da viso incremental de como se construir mercados, uma mudana significativa da cultura das estratgias de negcios e talvez, fundamentalmente, nos propsitos. Jean-Philippe Courtois, pre-

  • AccountAbility 13

    sidente da Microsoft International, ilustra esse tipo de prtica e de pensamento lateral em sua descrio sobre como o uso inovador de software por cidades pode ajudar a lidar com as mudanas climticas.

    Estamos presenciando tambm os primeiros estgios de uma revoluo nas for-mas de governana e de como lidar com os negcios globais. Assegurar padres trabalhistas adequados como uma vantagem competitiva em mercados globais to distintos como o txtil, o de bananas e o de componentes eletrnicos tornar-se- uma realidade pois as empresas esto se unindo a organizaes trabalhistas e civis com o intuito de reformular as regras sob as quais esses produtos so co-mercializados e, portanto, produzidos. O Better Work Programme (da organizao Internacional do Trabalho e Finance Corporation um timo exemplo de tal colabo-rao. Peter Eigen e Jonas Moberg descrevem outra iniciativa semelhante focada na transparncia financeira dos setores de leo, gs e minerao: a Extractive In-dustries Transparency Initiative (EITI) Iniciativa de Transparncia das Indstrias de Extrao. Da mesma forma, recursos florestais e martimos esto sendo preser-vados atravs de iniciativas colaborativas encorajando o manejo sustentvel como fundamento da vantagem competitiva. Programas de regulamentao cujo objetivo a reduo da emisso de gs carbnico sero implementados por causa de coa-lizes entre empresas e organizaes ambientais, que juntos iro advogar as suas opes perante governos resistentes, ou simplesmente evitando-os por completo e estabelecendo estas diretrizes regionalmente. Um exemplo dramtico a Climate Action Partnership (Parceria Ativa para o Clima) nos EUA.

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200714

    O Estado da Competitividade Responsvel 2007

    Estratgias e prticas bem sucedidas de competitividade responsvel oferecem enorme potencial para empresas e sociedades:

    De acordo com Sir Nicholas Stern e seus associados, em 2050, os merca- dos para tecnologias de baixas emisses de gs carbnico valero cerca de US$500 bilhes;

    Eliminar as diferenas entre os sexos, assegurando s mulheres as mesmas oportunidades de acesso a sade, educao e trabalho pode gerar, apenas na sia e no Pacfico, mais de US$40 bilhes, argumenta a professora da Haas, Laura Tyson;

    Desenvolver a governana e a prestao de contas reduziria os 10% do PIB que o Banco Interamericano de Desenvolvimento estima serem perdidos anu-almente por causa da corrupo. O combate corrupo, de acordo com pesquisas do Banco Mundial, pode, a longo prazo, aumentar os rendimentos nacionais em aproximadamente quatro vezes;1

  • AccountAbility 15

    Lidar com os padres trabalhistas e com a produtividade simultaneamente pode levar a incrementos de produtividade de at 50% nas fbricas mais di-nmicas, considerando-se experincias na indstria de vesturio do Camboja, atualmente um negcio de US$1 bilho.

    Competitividade Responsvel requer inovao constante e colaborao no aban-dono de modelos empresariais e abordagens de governana ultrapassadas, alm da criao de uma nova gerao de mercados e economias sustentveis. O fracas-so pode ocorrer, e desencadearia foras polticas e ambientais que podem se tornar impossveis de conter, e pior ainda de reverter. Embora escrevendo sob pontos de vistas diferentes e sobre desafios diversificados, os ensastas de O Estado da Competitividade Responsvel 2007 concordam em um ponto: a necessidade da competitividade responsvel urgente e irrefutvel. O debate poltico sobre como torn-la uma realidade.

    Competitividade ResponsvelPontuao 2007

    70+

    69-60

    59-50

    49-40

    39-30

    Dados indisponveis

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200716

    Tabela 1: Os Princpios do Pacto Global da ONU

    O Pacto Global da ONU arregimenta agncias da ONU, empresas, organizaes trabalhistas e sociedades civis ao redor do mundo no apoio a princpios ambientais e sociais universais. Desde o seu surgimento em julho de 2000, o Pacto Global vem promovendo a cidadania corporativa responsvel enfatizando dez princpios uni-versais:

    As empresas devem apoiar e respeitar a proteo dos direitos 1. humanos proclamados internacionalmente.

    As empresas devem evitar a cumplicidade nos abusos dos 2. direitos humanos.

    As empresas devem defender a liberdade de associao e o 3. reconhimento efetivo do direito da negociao coletiva.

    As empresas devem eliminar todas as formas de trabalho for-4. ado ou compulsrio.

    As empresas devem erradicar efetivamente o trabalho infan-5. til.

    As empresas devem eliminar a discriminao no que emprego 6. e na ocupao.

    As empresas devem apoiar uma abordagem precaucionria 7. para as desafios ambientais.

    As empresas devem assumir iniciativas para promover uma-8. maior responsabilidade ambiental.

    As empresas devem encorajar o desenvolvimento e a difuso 9. de tecnologias ambientalmente saudveis.

    As empresas devem combater a corrupo em todas as suas 10. formas, inclusive extorso e propina.

  • AccountAbility 17

    Compreendendo a competitividade responsvel

    O Relatrio sobre a Competitividade Responsvel 2007 da Ac-countAbility o nosso quarto relatrio bianual sobre competiti-vidade responsvel no mundo desde 2001. O primeiro relatrio, Corporate Responsibility and the competitiveness of nations, foi lanado em uma reunio entre a Comisso Europia e o nosso parceiro de pesquisas, o Copenhagen Center, rgo do gover-no dinamarqus. Esse relatrio inicial demonstrou o desafio de como melhor aumentar o escopo e o impacto das aes res-ponsveis nos negcios, para tornarem-se a alavanca princi-pal no aumento de produtividade, criao de riqueza e sucesso econmico. Pascal Lamy, ento Comissrio para o comrcio da Comisso Europia, esquematizou as prioridades da Competitividade Responsvel no prefcio do relatrio.

    At agora, o debate deu grande nfase naquilo que as empresas, individu-almente, podem fazer para incrementar seus objetivos de desenvolvimento sustentvel. Este folheto explora alguns desafios, dilemas e tenses envol-vendo o debate sobre RSC- responsabilidade corporativa social, e, principal-mente, a relao entre a RSC e o patrimnio competitivo das naes, o papel das parcerias entre as empresas, a sociedade civil e o setor pblico, e a con-tribuio que as polticas pblicas poderiam fazer para reforar as ligaes entre responsabilidade corporativa e a competitividade.

    O segundo relatrio bianual, o ndice da Competitividade Respon-svel (ICR), foi lanado no final de 2003 em Nova Lima, Brasil, no UN Global Compact Learning Forum organizado pela ONU. O relatrio apresentava um piloto do ndice da Competitividade Responsvel, fornecendo, pela primeira vez, um ndice abran-gendo todo o pas, explorando atravs de anlise quantitativa a relao entre competitividade nacional e a situao nacional de responsabilidade corporativa. A inovao metodolgica consistiu no desenvolvimento de uma medida para a situao da compe-titividade responsvel do pas como um todo, atravs do fluxo de informaes embasadas de terceiros, e o uso dessa medida na avaliao de resultados contra medidas de competitividade nacional fornecidas pelo Frum Econmico Mundial.

    Foi desafiador quantificar essa relao de forma apropriada devido a deficincias nas informaes e ao complexo problema da causalidade. Contudo, desde en-to, investimentos macios permitiram que melhorssemos a qualidade do ICR, e tambm atravs de nossa parceria com a Fundao Dom Cabral, uma escola de negcios brasileira. Assim, o ICR tornou-se uma ferramenta poderosa para aumentar a conscientizao e conduzir os debates para alm dos casos-modelo, na direo de uma explorao mais sistmica de como melhor implantar prticas de negcios responsveis no mercado global.

    Nota do tradutor

    *Os autores se referem ao III Internacional Global Compact Learning Forum Meeting, realizado no Campus da Fundao Dom Cabral, em dezembro de 2003

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200718

    O terceiro relatrio bianual, Responsible Competitiveness 2005, foi lanado em dezembro de 2005, em Xangai no UN Global Compact Summit e, posteriormente, em Washington, Genebra e Salvador com diferentes parceiros, incluindo o Ban-co Mundial, a UNCTAD e o Banco Interamericano de Desen-volvimento. Isso incorporou uma nova srie de metodologias inovadoras. Fundamentalmente baseou-se no Dilogo Global sobre Competitividade Responsvel, durante dois anos, en-volvendo dezenas de assemblias de diferentes stakeholders em que participavam centenas de organizaes e profissionais interessados, de Santiago a Londres, e de Nova Dli a Joanes-burgo. Alm disso, foi includo um conjunto de estudos seto-riais de casos sobre a Competitividade Responsvel na prtica, dando nfase ao papel chave das iniciativas colaborativas em mercados menos favorecidos e com impedimentos polticos para promover prticas de negcios responsveis nos mercados globais. Pela primeira vez, foi preparada uma verso regional do relatrio para Amrica Latina - Competitividad Responsable - com dois outros parceiros, a INCAE, escola de negcios da Amrica Central e a Fundemas, grupo RSC de El Salvador.

    A iniciativa da Competitividade Responsvel promovida pela AccountAbility explorou a prtica e o potencial de setores, fatores e aspectos geogrficos especficos. Nosso recente re-latrio, Responsible Competitiveness in Europe, baseado em extensos dilogos entre vrios stakeholders conduzidos pelos nossos quatro parceiros, duas escolas de negcios europias de renome, a ESADE e a INSEAD, o European Policy Center e a European Academy of Business in Society - EABIS, pesquisou como a competitividade internacional de trs setores europeus, finanas, tecnologia da informao e comunicao, e farmacu-ticos, poderia ser melhorada atravs de aes e iniciativas cola-borativas para impulsionar todos os setores a praticarem aes responsveis. Um estudo concludo em 2006 para a UNIDO (Organizao das Naes Unidas para o Desenvolvimento Industrial) enfatizou como o desempenho de pequenas e m-dias empresas de pases em desenvolvimento poderia ser melhorado atravs da integrao das mesmas a clusters de responsabilidades mantidos por instituies pblicas com participao de organizaes da sociedade civil. Baseados nisso, Jeremy Nicholls e Paul Begley descrevem em seu artigo um esforo pioneiro para medir e implementar competitividade responsvel regional e localmente.

    Competitividade Responsvel o DNA das estratgias eficazes para que a globa-lizao crescente tenha uma face humana. Pesquisas prticas de meia dcada revelam padres contemporneos importantes e oportunidades associadas para o melhoramento de prticas regionais. No cerne dessa aprendizagem est o poten-cial para reformular os mercados atravs de inovaes na criao de valor econ-mico e responsabilizao.

    Construindo valores . A integrao dos impactos sociais, ambientais e econ-micos aos mercados pode ser intensificada e acelerada com o incentivo de oportunidades associadas gerao de valor econmico e ao sucesso nos negcios, ao invs de se dar nfase exclusivamente em normas de confor-midade.

  • AccountAbility 19

    Governana colaborativa . Uma forma vigorosa para vencer as barreiras do mercado ao avano das prticas de negcios responsveis desenvolver e promover uma nova gerao de padres voluntrios e transformaes institu-cionais atravs de iniciativas colaborativas de diferentes stakeholders.

    O Estado da Competitividade Responsvel

    O quarto relatrio bianual da AccountAbility, O Estado da Competitividade Respon-svel 2007, aproveita o impulso dos ltimos anos no avano da compreenso das prticas e do potencial da competitividade responsvel, atravs de:

    Melhorias significativas no ndice da Competitividade Responsvel (ICR), que agora traz mais e melhores informaes, oferece uma cobertura mais abran-gente de pases e utiliza mtodos estatsticos e analticos mais slidos.

    Uma coleo nica de ensaios de experts de destaque mundial sobre as co- nexes entre questes especficas, impactos empresariais e competitividade internacional, inclusive mudanas climticas, sociedade civil, corrupo, g-nero, trabalho e crenas, bem como anlises por pases e por regies.

    O ICR 2007 aprofunda a nossa compreenso das foras motrizes da competitivida-de responsvel atravs de uma adoo aprimorada de mais e melhores fontes de dados. Atualmente as economias emergentes representam metade da economia mundial e a maioria dos habitantes do planeta. Ns cumprimos com o nosso com-promisso de aumentar a cobertura de pases pelo ICR, ampliando este grupo para 108 pases, comparados aos 83 da segunda edio e aos 51 do ICR piloto de 2003. A lista agora inclui pases que, juntos, somam 96% do Produto Interno Bruto global e inclui 17 pases menos desenvolvidos. Essa maior abrangncia inevitavelmente restringiu o uso de informaes s sries de dados que cobrem a lista completa dos pases. Apesar dessa restrio, aumentamos para 21 o nmero de bases de dados quantitativos e qualitativos utilizadas, que agrupamos em trs domnios primrios:

    Impulsionadores de polticas : sete medidas da fora das polticas pblicas e do soft power que estimulam as prticas empresariais responsveis;

    Ao Empresarial : sete medidas para as empresas sobre a aplicao de boas prticas, cdigos e sistemas de gesto voltados para a governana, o social e o meio ambiente; e Habilitadores Sociais ; sete medidas do ambiente social e poltico que permi-tem s empresas, aos governos e s organizaes da sociedade civil constru-rem colaboraes efetivas na reformulao dos mercados.

    Crucialmente, todos os grupos de dados so obtidos de fontes externas oficiais, que vo desde a Transparency International ao World Bank Institute e ao Frum Econmico Mundial. Cada um desses trs domnios conjuga dados quantitativos-com descobertas baseadas em opinies (ver Figura 1).

    Assegurar prticas empresariais responsveis e de sucesso s possvel atravs dos esforos combinados de empresas engajadas, polticas pblicas inteligentes e uma sociedade civil atuante. Assim, o ICR 2007 valoriza a medidas que refletem o papel da combinao de foras impulsoras que englobam estratgias e prticas empresariais, polticas pblicas, sociedade civil e ativismo e engajamento trabalhis-ta. A importncia relativa desses elementos ir, obviamente, variar entre os pases e ao longo do tempo, como esclarece Aron Cramer, o Chief Executive Officer da BSR, em sua anlise das caractersticas da responsabilidade corporativa na China.

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200720

    Isto requer um ndice dinmico que leve em conta as necessidades, habilidades e nveis de desenvolvimento do pas. No captulo a seguir, explicaremos mais deta-lhadamente a metodologia do ndice da Competitividade Responsvel, e faremos observaes sobre a qualidade dos dados, sensibilidade dos ndices e cautelas estatsticas. O que vem a seguir uma anlise dos principais resultados do ndice de 2007.

  • AccountAbility 21

    Figura 1: Impulsionando a Competitividade Responsvel

    O Ndice da cOmPeTiTividade

    ResPONsvel 2007

    108 pases

    imPUlsiONadORes de POlTicas:

    Assinatura e ratificao de tratados yambientais

    Ratificao de direitos trabalhistas bsicos yndice da inflexibilidade no emprego ySeriedade da Regulamentao Ambiental yEmisso de CO2 por bilho de dlares yEmprego de mulheres no setor privado yAmbiente fiscal responsvel y

    aO emPResaRial:

    Eficcia dos conselhos Corpotativos ou ydiretorias

    Comportamento tico das companhias yIgualdade salarial para cargos similares ySolidez dos padres de auditoria e ycontabilidade

    Extenso de treinamento do contingente yde trabalho

    Quociente de certificao ISO yFatalidades ocupacionais y

    HabiliTadORes sOciais:

    ndice de percepo da corrupo yOrientao dos consumidores yLiberdade de imprensa yTransparncia das transaes yAfiliao a Organizaes no yGovernamentais (ONGs)

    Liberdades civis yImpacto da salubridade do ar e da gua ynas operaes empresariais

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200722

    Principais resultados

    Os resultados mais marcantes do ICR 2007 indicam que naes maduras ou de-senvolvidas, particularmente pases europeus, so os mais avanados na assimila-o de prticas empresariais responsveis no cerne de suas economias.

    Pases nrdicos encabeam a lista, com a Sucia em primeiro lugar e Dina- marca, Finlndia, Islndia e Noruega ocupando as primeiras seis posies, ao lado do Reino Unido.

    Treze dos top 20 da lista so pases europeus. A eles se unem Hong Kong, Japo e Singapura, na sia; Canad e Estados Unidos, e Austrlia e Nova Zelndia.

    A frica do Sul lidera os assim chamados BRICS, na 28 posio, com o Bra- sil, a ndia, a Rssia e a China a seguir, nesta ordem (o artigo da Fundao Dom Cabral analisa o desempenho desses pases detalhadamente).

    Economias emergentes como o Chile, Malsia e a Repblica da Coria esto entre o primeiro quartil e, de certa forma, com desempenhos melhores que vrios pases que recentemente se juntaram Unio Europia;

    Entre os pases de baixa renda, Zmbia e Uganda tm melhor desempenho que outros pases com nveis de desenvolvimento comparveis, enquanto no Camboja, Marrocos e em Bangladesh as iniciativas de competitividade res-ponsvel no nvel setoriais ainda esto por produzir resultados tangveis no nvel nacional.

    Anlise Comparativa

    Os resultados do ICR 2007 podem ser comparados com os de 2005. Nos pases analisados tanto em 2005 quanto em 2007 podemos observar um pequeno, mas perceptvel avano na competitividade responsvel, de uma pontuao mdia de 56 para 59. Entretanto, este progresso no foi universal, havendo um significativo nmero de pases que alcanaram grandes progressos, um grupo que aparenta ter atingido um patamar natural e ainda outro que retrocedeu.

    A comparao do ICR 2007 com medidas relevantes de competitividade e de de-senvolvimento empresarial demonstra uma forte correlao entre a competitividade responsvel dos pases e o seu vigor econmico. Algo especialmente interessante, considerando-se a diversidade dos dados utilizados para os respectivos ndices.

    A correlao entre o ICR e o Growth Competitiveness Index R 2 = 0.85 do Frum Econmico Mundial, aponta para uma forte correlao entre responsa-bilidade e a principal medida da competitividade dos pases.

  • AccountAbility 23

    Figura 2: O ndice de 2007 de competitividade responsvel e de competitividade do crescimento.

    A correlao entre o fator da ao empresarial do ICR e o ndice Facilidade para Fazer Negcios (Ease of doing Business) do Banco Mundial (R2=0.53) indica que pases que tm bom desempenho na implementao de prticas de responsabilidade empresarial tendem a ser lugares mais fceis de se fazer negcios.

    Uma crtica aos esforos globais para medir a responsabilidade empresarial refere-se ao fato de que pases abastados podem alcanar pontuaes elevadas exterio-rizando os impactos sociais e ambientais negativos que geram para suas cadeias de suprimentos globais o que, consequentemente, desfavorece pases que sediam etapas importantes dessas cadeias de fornecimento (a assim chamada Pollution Haven Hypothesis - Hiptese dos Portos de Poluio). Por exemplo, um estudo recente mostrou que at 40% dos poluentes do ar no delta do Rio Prola, na China, que tem baixa pontuao, esto relacionados s exportaes para importadores com pontuaes elevadas da Europa e Amrica do Norte.2 Infelizmente, nesse es-tgio, no h dados sistemticos adequados de nossa ampla amostra de pases para testar esta hiptese dentro do ICR principal. Analisamos essa questo fazendo a correlao entre um subgrupo de pases do ICR com dados obtidos da UNCTAD sobre importaes de bens e servios poluentes. No encontramos correlao. Ou a hiptese de que uma melhor contabilizao aproximaria os resultados das pon-tuaes mais baixas e mais elevadas no ICR enganosa, ou ento, e talvez mais provavelmente, os dados ainda so insuficientes, nesse estgio, para testar essa hiptese com segurana. Comprometemos-nos a realizar mais pesquisas sobre essa questo em edies futuras.

    Fonte: Growth Competitiveness Index Frum Econmico Mundial 06/07

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    Figura 3: O ndice de 2007 de competitividade responsvel e de facilidade para fazer negcios.Fonte: Ease of Doing Business, www.doingbusiness.org, 2007

    Anlise de clusters

    A comparao entre pases com alta pontuao como a Blgica, Malsia e Costa Rica, como pases de baixa pontuao com Paraguai, Paquisto e Mali tem impli-caes polticas limitadas, como em outros ndices internacionais abrangentes tais como o ndice de Desenvolvimento Humano e os ndices de Competitividade do Frum Econmico Mundial. O exame de subgrupos de pases mais proveitoso. Nossa anlise revelou um conjunto estatisticamente robusto de quatro clusters de pases, amplamente distintos em seus estgios de desenvolvimento. O que esses grupos mostram que no pode haver uma abordagem padronizada, de linha de produo na consolidao da competitividade responsvel. Os pases precisam desenvolver as suas prprias estratgias, unindo ao empresarial, foras polticas e habilitadores sociais nas combinaes mais efetivas e apropriadas aos seus es-tgios de desenvolvimento. No obstante, algumas generalizaes so possveis na anlise desses quatro abrangentes grupos de pases.

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    Figura 4: identificando clusters de pases pelo desempenho da competitividade responsvelFonte: Growth Competitiveness Index, Frum Econmico Mundial 06/07

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    Inovadores

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    Figura 5: O desempenho dos clusters em cada sub-ndice

    Iniciantes (grupo quatro): este cluster, o de pontuao mais baixa, composto de 31 pases, ou 29% da lista total. Os maiores pases inclusos neste grupo so a China, Bangladesh e a Federao Russa. Muitos desses pases j assi-nalaram o seu comprometimento com a responsabilidade atravs da assinatu-ra e de tratados internacionais, alm de outros impulsionadores polticos, mas ainda lutam para implementar o bsico, como sade e segurana no trabalho e liberdade de organizao entre empresas. A necessidade dos Iniciantes de darem nfase a esses direitos bsicos fortemente destacada por Guy Ryder, secretrio geral da International Trade Union Confederation. Esses pases, em sua maioria, tm um escopo limitado a exportaes de baixo valor e, no raro, de baixa qualidade, e esto longe de se elevarem na cadeia de valor ou de desenvolverem marcas globais.

    Cumpridores (grupo trs): A ndia um caso a parte por ser uma economia de baixa renda, enquanto os outros 32 cumpridores so classificados como pases de renda mdia. Outros grandes pases nesse grupo so o Brasil, a Turquia e o Mxico. Os Cumpridores so responsveis por cerca de US$1 trilho do comrcio mundial. Estes pases procuram evidenciar os progressos em alcanar padres trabalhistas, ambientais e de qualidade internacionais e, portanto, esto aumentando a capacidade de participao de mercado nas cadeias de suprimentos globais de marcas e consumidores mais atentos qualidade. A sociedade civil nacional no uma fora motriz significativa no grupo dos Cumpridores.

    Impulsionadores de Polticas Ao empresarial Habilitadores sociais

    Iniciantes Cumpridores Assertivos Inovadores

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    Tabela 1: Os pases em cada grupo

    Iniciantes Cumpridores Assertivos Inovadores

    AngolaBangladeshBeninBolviaBurquina FasoCamaresCambojaChadeChinaEquadorEtipiaGmbiaMadagascarMalawiMaliMarrocosMauritniaMoambiqueMongliaNepalNigriaPaquistoParaguaiQuniaQuirguistoRssiaTanzniaUcrniaUgandaZmbiaZimbbue

    AlbniaArgentinaBrasilBulgriaCazaquistoColmbiaCrociaEgitoEl SalvadorFilipinasGergiaGuatemalaHondurasndiaIndonsiaJordniaLesotoMacedniaMxicoMoldviaNambiaNicarguaPanamPeruPolniaRepblica DominicanaRomniaSri LankaTrinidad e TobagoTunsiaTurquiaUruguaiVenezuela

    Botsuanafrica do SulChileCosta RicaEmirados rabes UnidosEslovaquiaEslovniaEspanhaEstniaGrciaHungriaIsraelItliaJamaicaKuwaitLetniaLituniaMalsiaMaurcioPortugalRep. CoriaRepblica TchecaTailndiaTaiwan, China

    AustrliaAlemanhaustriaBlgicaCanadDinamarcaEstados UnidosFinlndiaFranaHong Kong, ChinaIrlandaIslndiaJapoNoruegaNova ZelndiaPases BaixosReino UnidoSingapuraSuciaSua

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200728

    - Assertivos (grupo dois): esse grupo consiste de 24 pases, um pouco menos de um quarto da lista total. Os pases que esto provando as suas credenciais assertivas de responsabilidade englobam a Espanha, a Itlia e os Emirados rabes Unidos. Os Assertivos so pases que deram um passo frente, apro-veitando as oportunidades da competitividade responsvel. Alguns, como o Chile e a frica do Sul, esto ativamente engajados no desenvolvimento e na promoo de padres internacionais que lhes proporcionaro uma vantagem competitiva. Alguns Assertivos esto criando marcas nacionais associadas a prticas empresariais e de governo responsveis que atraiam investimentos estrangeiros diretos e promovam uma primeira gerao de produtos globais e marcas corporativas. Para muitos dos pases Assertivos, uma sociedade civil vibrante que desafia as empresas, mas que est pronta a colaborar na busca de solues um elemento crtico no avano do projeto nacionail mais abrangente.

    - Inovadores (grupo um): esse grupo, com a maior pontuao, composto de 20 pases, e a lista encabeada pela Europa, vindo a seguir outros pa-ses da OECD Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico). Os Inovadores trabalham para imbuir responsabilidade no cerne dos seus mercados domsticos, direcionada por regulamentaes relativamente bem aplicadas, estratgias de responsabilidade corporativa bem formuladas, na maioria das vezes enfatizada por ONGs atuantes, observadores da mdia e consumidores que exigem novos produtos responsveis. Alm disso, a inova-o baseada em conhecimento acarreta no fator de liderana de todas essas economias. A inovao sustentada no contexto de talentos parcos e altamente volveis requer condies de trabalho flexveis e instituies pblicas e priva-das dinmicas e confiveis. Tambm exige ateno aos detalhes, delegando responsabilidades s empresas de pequeno ou mdio porte e a investimentos no exterior, alm de empresas domsticas de grande porte. Para esse grupo, a competitividade responsvel no mais um adendo, mas o corao do mo-delo econmico.

    Portanto, o ICR no apenas uma tabela de ganhadores e perdedores, mas sim uma ferramenta para o diagnstico do progresso e do potencial de pases no de-senvolvimento de suas economias e no incentivo dado s suas instituies para que se beneficiem dessas novas fontes de oportunidades econmicas em patama-res mais elevados da cadeia de valor.

    Dentro desses quatro grupos, pases podem melhorar os seus desempenhos jun-tamente com o processo orgnico de desenvolvimento. Mas o ICR demonstra que ter uma pontuao baixa no um fenmeno natural que deve ser tolerado at que a prosperidade os alce escala acima. Ao contrrio, o ICR uma medida da eficincia das foras combinadas das estratgias e prticas empresariais com as polticas pblicas no aprimoramento da posio econmica e no papel de um pas no mercado global. como uma lente que identifica as prioridades para cada pas, regio, cidade ou comunidade para que se alinhe de forma a avanar de um grupo a outro, mais elevado na cadeia de valor.

    A competitividade responsvel, tanto no nvel de uma empresa quanto para as co-munidades, regies e naes, fundamenta-se em estratgia e inovao.

    Fomentando a competitividade responsvel

    A competitividade responsvel personifica o potencial do empresariado e da eco-nomia de atender s nossas necessidades mais prementes atravs da combinao de inovao em produtos e processos e novas formas de colaborao e regulamen-tao civil. A iniciativa da AccountAbility de competitividade responsvel, baseada

  • AccountAbility 29

    em pesquisa e prtica envolvendo uma crescente rede de parcerias, destaca o potencial que a juno dessas duas formas de inovao oferece. Esse potencial cada vez mais reconhecido por lderes de empresas e governantes de todo o mun-do. A iniciativa ecomagination da GE exemplifica uma estratgia que efetivamente transforma desafios prementes, no caso mudanas climticas, em novas fontes de criao de valor. A GE atualmente possui um portflio de 45 produtos e servios que consomem menos energia e no prejudicam o meio ambiente, e que tm como objetivo gerar pelo menos US$20 bilhes at 2010.3 Da mesma forma, a expanso e o potencial competitivo da governana colaborativa exemplificado pelo apoio da empresa a um marco regulatrio de captura e comrcio das emisses de carbono para os EUA, como parte de uma iniciativa conjunta de proteo envolvendo organi-zaes comerciais e ambientais. O diretor do Cambridge Center for Energy Studies, Nick Butler, descreve o nascimento de mais uma empresa inovadora, a Hydrogen Energy, uma parceria da Rio Tinto e da BP.

    Estratgias de competitividade responsvel exigem fortes condutores de polticas. No se trata de coincidncia, por exemplo, que os pases que esto progredindo no EIII (Extractive Industries Transparency Initiative) so tambm aqueles que tm desempenhos slidos no nosso sub-ndice referente aos Habilitadores Sociais. Ou-tro exemplo o engajamento do Reino de Lesoto com o Frum MFA, uma iniciativa conjunta que trabalha para o avano de padres trabalhistas nacionais nos setores txteis e de vesturio como uma vantagem competitiva que envolve empresas, a sociedade civil, organizaes trabalhistas e instituies pblicas internacionais. Os 45.000 trabalhadores txteis de Lesoto temiam um eclipse completo da indstria quando as concesses do Multi-Fibre Arrangement (MFA) chegaram ao fim em 2005. Em 2007 as exportaes txteis j estavam na casa dos US$500 mihes e as condies de trabalho haviam melhorado.4 Como descreve Annemarie Meisling e seus colegas no ensaio sobre Betler work; o Vietn, a Jordnia e o Marrocos tambm esto adotando e implementando programas de competitividade respon-svel no setor de vesturio.

    A realidade que o potencial prtico da competitividade responsvel ainda no suficientemente apreciado por lderes empresariais e polticos. Essa deficincia nociva em grande parte enraizada em convenes retrgradas, conselhos ultra-passados, estatsticas medicres e falta de competncia:

    Empresas retardatrias , freqentemente com averso a riscos e provenientes de setores decadentes ou de associaes empresariais cautelosas demais, efetivamente atravancam mudanas impulsionadas por polticas ou pelos ne-gcios, de modo a continuar obtendo ganhos provenientes de prticas que desnecessariamente prejudicam as pessoas e o meio ambiente. Na frica do Sul, na Rssia e na Hungria h uma cauda longa de companhias cujo desempenho est muito atrs dos lderes, de acordo com o ndice de res-ponsabilidade anual (AccountAbility Rating). Kumi Naidoo, secretrio geral da CIVICUS, descreve a sensao de imunidade que algumas grandes compa-nhias acreditam desfrutar nos pases em desenvolvimento.

    Muitos governos ainda no se convenceram de que a competitividade pode ser fundamentada em inovaes que criem valor associadas a novas formas de responsabilidade. Esses governos esto contaminados por prticas em-presariais atrasados e pelo foco de seus assessores de competitividade no cumpimento legal ao trat de questes sociais e ambientais, e na abordagem da ao voluntria a partir de um marco exclusivamente empresarial. Pases como a Nicargua vm perdendo prestgio por suas pontuaes sempre bai-xas nos principais ndices de competitividade.

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200730

    A sociedade civil e as organizaes trabalhistas do importncia demais a campanhas que visam conformidade, e no compreendem a necessidade de alavancar oportunidades de criao de valor para as empresas, para os consumidores e para as comunidades locais. E tambm no sabem como faz-lo. Essa deficincia no se restringe a mercados emergentes, como a Bolvia e o Egito; empresas em muitos pases da Europa enfrentam dificulda-des no engajamento de ONGs em prol da inovao responsvel.

    So necessrias, portanto, polticas que superem a inrcia institucional e impulsio-nem perspectivas e comportamentos mais criativos e, produtivos.

    Recomendaes

    Para liberar o potencial das estratgias de competitividade responsvel neces-srio que esses impedimentos sejam superados. Felizmente estudos aplicados e a prtica esclarecer em como esses objetivos podem ser alcanados por meio de um programa com trs tpicos:

    Estabelecer um Fundo de Competitividade ResponsvelA. como um elemento central da prxima gerao de aes de auxilio para o comrcio, que podem germinar as iniciativas colaborativas cujo alvo a superao da inrcia institu-cional no avano da competitividade responsvel em cadeias de suprimentos globais, e em estratgias e prticas nacionais e regionais. Tal fundo deveria:

    Estar focado em Financiar a construo de conhecimento, dilogos e coali- zes, que so pr-requisitos para as iniciativas de competitividade respon-svel, sejam elas especficas de um setor, como o Frum MFA, ou temticas como as da EITI;

    Ser interinstitucional, e consequentemente, acessvel atravs de instituies chave de desenvolvimento internacional ou regional;

    Ter abordagens mais comparveis a estudos abragendo vrios pases, com acordos de boas prticas entre os gerdores de dados sobre a incluso de variveis chave e uma lista mnima de pases, levando em conta as questes das economias emergentes, e mantendo em evidncia as pequenas e mdias empresas, juntamente com uma abordagem setorial consistente;

    Estar associado a conselhos de competitividade nacionais e entidades simi- lares que precisam se engajar no avano das estratgias da competitividade responsvel;Ser ilegitimados na governana e capacitados para agrupar e alavancar fun- dos existentes e outras fontes de investimento para financiar implementaes em longo prazo, e capazes de apoiar monitoraes e avaliaes independen-tes.

    B. Aprimorar a eficcia das iniciativas colaborativas que comprovadamente se tornam elementos crticos no avano da competitividade responsvel, e que abrangem desde instituies criadoras de mercado de grande destaque como a International Carbon Fund, propostas neste relatrio, at iniciativas de pa-dres voluntrios em setor exportadores chave, tomando as seguintes medi-das:

    Fortalecer e esclarecer o seu potencial de impacto nos regimes de comrcio e de investimento; Aumentar sua credibilidade atravs do fortalecimento da governana e da res- ponsabilidade;Expandir sua influncia ao engajar os BRICS e outros governos de economias

  • AccountAbility 31

    emergentes, empresas e habilitadores sociais em prol do desenvolvimento de colaboraes eficazes;

    Constituir um Observatrio para o avano de boas prticas de governana colaborativa.

    C. Fomentar a conscincia da relao entre a competitividade e as prticas em-presariais responsveis atravs de:

    Anlises melhores na avaliao dos desempenhos atuais da competitividade responsvel, dos cenrios e trajetrias potenciais em grupos especficos de pases, sub-regies, cidades e em setores chave (como por exemplo, uma fora tarefa de anlise sobre como as Tecnologias de Informao e Comuni-cao podem fornecer solues para a diminuio de emisso de carbono em grandes cidades; ou um relatrio de benchmarking das abordagens regionais em relao competitividade responsvel no nvel Nrdico ou da Europa em geral, nos estados da Amrica do Norte ou em cidades-estado da sia);Expanso de horizontes para compreender melhor como o ICR pode ser mais bem adaptado para atender s necessidades de informaes dos gerencia-dores de riscos, de investidores estrangeiros e gerentes da cadeia de su-primentos a anuciantes, gerentes de marcas nacionais e at a comunidade diplomtica;Estudos aplicados sobre os impactos provveis de intervenes polticas de- finidas, principalmente mudanas nas polticas de comrcio, investimento e concorrncia. Uma nfase especial deveria ser em como facilitar os estimula-dores e capacitadores fora da infra-estrutura do comrcio internacional; outro foco seria o impacto de padres da diminuio voluntrios das emisses de carbono sobre os exportadores de baixa renda; um terceiro enfoque seria uma abordagem sistemtica na alocao dos impactos das exportaes de produ-tos altamente poluentes;Anlise e compreenso de como as estratgias de negcios podem se alinhar para oferecer produtos e servios que aprimorem as condies para os5 bi-lhes de habitantes de baixa renda do mundo todo.

    A AccountAbility tem o compromisso de trabalhar junto a empresas, governos, so-ciedades civis e parceiros de pesquisas ao redor do mundo nessas e em outras oportunidades para fazer valer a responsabilidade nos mercados globais.

    Sobre os autores:

    Notas finais1 Huguette Labelle, http://www.oas.org/speeches/speech.asp?sCodigo=06-0197, acessado em junho de 2007. The cost of corrup-

    tion (O custo da corrupo): http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/NEWS/ontentMDK:20190187~menuPK:34457~pagePK:34370~piPK:34424~theSitePK:4607,00.html

    2 Modeling Study of Air Pollution Due to the Manufacture of Export Goods in Chinas Pearl River Delta (Modelo de estudo da polui-o do ar causada pela manufatura dos bens de exportao fabricados no delta do Rio das Prolas na China) David G. Streets, Carolyne Yu, Michael H. Bergin, Xuemei Wang, e Gregory R. Carmichael, Environ. Sci. Technol.; 2006; 40(7) pp 2099 - 2107; (Policy Analysis Anlise poltica) DOI: 10.1021/es051275n.

    3 GE Unveils Breakthrough ecomagination Products, Technologies and Services, Press Release, 24 de maio de 2007. 4 http://www.finance.gov.ls/documents/Budget_Speech_2007.pdf

    Simon Zadek o Diretor Executivo da AccountAbility e Senior Fellow da Kennedy School of Government da Harvard University.

    Alex MacGillivray o Diretor de Programas da AccountAbility

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200732

    O ndice de Competitividade ResponsvelPor Paul begley, edna do Nascimento, alex macGillivray e cludio boechat

    A Competitividade Responsvel significa mercados que sistematicamente e de for-ma abrangente recompensem as empresas por estratgias e prticas que se pre-ocupem explicitamente com os impactos sociais, econmicos e ambientais. Fazer com que o desenvolvimento sustentvel conte no mercado futuro requer a imple-mentao de polticas pblicas efetivas por parte dos lderes polticos, de empre-sas e da sociedade civil, e que reforcem as condies sociais e apiem mercados responsveis. Ento, como esta to idia abrangente pode ser analisada de forma slida e imanejvel?

    O ndice de Competitividade Responsvel (ICR) foi formulado pela AccountAbility em associao com a escola de negcios brasileira Fundao Dom Cabral. O ICR pretende ser uma anlise slida do desempenho dos pases em seus esforos para promover prticas de negcios responsveis. O ndice 2007 mostra o desempenho de 108 pases, cobrindo mais de 96% do PIB global, com representao geogrfica nos 5 continentes.

    A AccountAbility construiu com solidez sua competncia na avaliao da a competi-tividade responsvel, com o seu ndice piloto publicado em 2003. Este artigo expli-ca a arquitetura do ndice, detalha os indicadores usados, fornece uma metodologia resumida e no tcnica, e identifica nossos planos para continuar aprimorando o ndice no futuro. Os leitores interessados em um relatrio tcnico mais detalhado podem baix-lo da internet atravs do www.accountability21.net.

    Elaborando o ICR

    O ICR utiliza 21 indicadores de 13 fontes independentes. Cada indicador explora quais pases esto implementando estratgias de competitividade queconsiderem de forma explcita seus impactos sociais e ambientais. Esses indicadores esto organizados em trs sub-ndices, cada um com sete indicadores:

    Os Impulsionadores de polticas incluem indicadores que demonstram os compro-missos do governo, tais como a assinatura e ratificao de tratados internacionais, a composio de um sistema responsvel de impostos, a implementao de regu-lamentos ambientais severos e medidas para reduzir as desigualdades entre os sexos. os impulsionadores de polticas eficazes requerem a coordenao de vrios departamentos e agncias do governo, e (particularmente em grandes pases), me-canismos mais eficientes para combinar polticas centrais, regionais e locais. A Fi-gura 1 demonstra a correlao positiva entre direcionadores de poltica e o Growth Competitiveness Index (GCI) do Forum Econmico Mundial (R2=0.34). Claramente, parece que a correlao seria mais forte se os ndices de competitividade levassem em considerao, a igualdade sexual como deveriam tendo em vista os slidos benefcios econmicos de se sanar a desigualdade entre os sexos detalhados no artigo de Laura Tyson.

  • AccountAbility 33

    Figura 1: impulsionadores de Polticas e o ndice de competitividade do CrescimentoFontes: Growth Competitiveness Index do World Economic Forum Frum Econmico Mundial 06/07

    Ao Empresarial: no nvel das companhias, os sistemas de gesto responsveis incluiro aes eficazes em questes como treinamento de funcionrios, segurana e sade ocupacional, e reduo dos impactos ambientais. Milhares de empresas, incluindo as de pequeno e mdio porte (PME) minsculo comprometeram-se com iniciativas voluntrias de responsabilidade corporativa, conforme evidenciado do padro ISO e na participao no Pacto Global da ONU. Em muitos pases as em-presas tambm tm critrios sobre se e como implementar regulamentos. Alguns elementos da prtica de negcios responsvel so agora formalmente reconhe-cidos como componentes de ndices de competitividade como o GCI. A Figura 2 mostra que a relao entre nosso conjunto de aes empresariais e o ndice GCI do Frum Econmico Mundial bastante slida (R2=0.77).

    Impulsionadores de Polticas

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  • O Estado da Competitividade Responsvel 200734

    Figura 2: Aes Empresariais e ndice de Crescimento da Competitividade 06/07

    Fonte: Erowth competitiveness Index, Frum Econmico Mundial 06/07

    Impulsionadores Sociais: medida que os negcios avanam alm da implemen-tao de sistemas de gesto de responsabilidade bsicos, e conforme os governos coordenam suas polticas de apoio ao setor privado, elas adentram um territrio em que a vantagem do primeiro a agir desaparece. Um forte tecido social torna-se necessrio para apoiar outros progressos a favor da competitividade responsvel: incluindo uma cultura da transparncia, uma imprensa livre e inquiridora, intolern-cia corrupo e uma rede densa de organizaes no governamentais. As orga-nizaes da sociedade civil estimulam o cumprimento das leis e regulamentaes existentes e fornecem uma fonte e um grupo teste para inovao e colaborao com empresas. A Figura 3 mostra a importncia desse conjunto de impulsionadores sociais para a competitividade como um todo. (R2=0.73).

    Ao Empresarial

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  • AccountAbility 35

    Figura 3: Habilitadores sociais e ndice de competitividade do crescimento

    Fonte: Growth Competitiveness Index, Frum Econmico Mundial

    disponibilidade de informao

    H hoje mais de 600 conjuntos de dados internacionais relevantes para a competiti-vidade responsvel, variando de impactos dos negcios na qualidade do ar e fora da regulamentao anti-monoplio ao uso de e-mail na cadeia de suprimentos e a opacidade de diferentes sociedades. Usamos seis critrios de seleo no ICR. Os Indicadores devem ser:

    Relevantes para modelos comumente aceitos da prtica de negcios respon- svel;Explicveis atravs de teoria estabelecida ou evidncia emprica. Por exem- plo, pases capazes de maximizar os recursos do capital humano capital hu-mano atravs da oferta de melhores oportunidades para mulheres so prova-velmente mais competitivos;Independentes, contudo, complementares. H inmeros meta-estudos rele- vantes, embora muitos incluam em um nvel ou outro um trabalho de re-ferncia, tal como o Transparency Internationals Corruption Perception Index (ndice de Percepo da Corrupo da Transparncia Internacional);

    Disponvel ao pblico atravs de fontes seguras, usando metodologias sli- das e transparentes. Centenas de estudos procuram testar, demonstrar ou refutar o argumento de que prticas de negcios responsveis tm benefcios econmicos estratgicos, mas com freqncia a metodologia utilizada para apresentar a informao no clara;

    Indicadores devem ser amplos quanto ao escopo geogrfico e produzidos re- gularmente. Vrios conjuntos de dados promissores tm uma cobertura pe-quena de pases ou so realizados excepcionalmente;

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  • O Estado da Competitividade Responsvel 200736

    Os indicadores devem ser receptivos e captar o desempenho real do pas. Nos ltimos anos as reas como as de emisses de carbono das indstrias tornaram-se tpicos de polticas e aes empresarias, enfatizando a importncia de se identifi-carem as mais recentes informaes disponveis.

    Aps cuidadosa considerao, identificamos 21 indicadores que atendiam a esses critrios. Os indicadores provm de fontes de uma ampla variedade e combinam estatsticas concretas de desempenhos reais com pesquisas de opinio pblica ou de profissionais experientes. Esses indicadores so mostrados na Tabela 1.

    Tabela 1: detalhamento dos indicadores do ndice 2007 de com-petitividade Responsvel 2007

    Impulsionadores de Polticas

    A Assinatura e Ratificao de Tratados Ambientais refere-se a quatro tratados internacionais importantes: o United Nations Framework Convention on Climate Change (Conveno Marco da ONU sobre Mudana de Clima) em Nova York em 1992, a Convention on Biological Diversity (Conveno sobre Diversi-dade Biolgica) no Rio de Janeiro em 1992, o Kyoto Protocol to the United Nations Framework Convention on Climate Change (Protocolo de Kyoto para a Conveno Marco da ONU sobre Mudana de Clima) em Kioto em 1997, e a Cartagena Protocol in Biosafety (Protocolo de Cartagena para Biosegurana) em 2000;

    A Ratificao das Convenes Bsicas dos Trabalhadores abrange oito tratados: Freedom of association and collective bargaining (Liberdade de associao e negociao coletiva) (convenes em 87 e 98); Elimination of forced and compulsory labour (Eliminao de trabalhos forados e compulsrios) (con-venes 29, 105); Elimination of discrimintion in respect of em-ployment and occupation (Eliminao da discriminao relativo a emprego e ocupao) (convenes 100, 111); Abolition of child labour (Abolio de trabalho infantil) (convenes 138,182);

    ndice de Rigidez Empregatcia , que engloba trs sub-ndices: ndice de dificuldade de contratao, ndice de rigidez de horas e ndice de dificuldade de demisso;

    Rigor da Proteo Ambiental;

    Emisses de Dixido de Carbono pelo Produto Interno Bruto, em bilhes de dlares;

    Contratao de Mulheres pela iniciativa privada ;

    Ambiente Fiscal Responsvel que combine o nmero de paga-mentos de impostos a cada ano e o tempo necessrio para que uma empresa cumpra.

    Aes Empresariais

    Eficcia dos Conselhos Empresariais ;Comportamento tico das Empresas ;

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    Igualdade de Salrios para Trabalhos Similares ;Rigidez dos padres de Auditoria e Modelos Contbeis ;Extenso do Treinamento de Funcionrios Razo de certificaes ISO 14001 por ISO 9001 : a aplicao de sistemas de gerenciamento ambiental comparado a outros pa-dres ISO;

    Fatalidades no trabalho .

    Habilitadores Sociais

    ndice de Percepo da Corrupo;

    Grau de orientao dos clientes;

    Liberdade de imprensa;

    Transparncia das transaes;

    Afiliao a ONGs

    Liberdades civis : a existncia de direitos polticos e liberdades ci-vis bsicas, medidas em comparao a partes relevantes da De-clarao Universal dos Direitos Humanos;

    Impacto de ar e gua limpos nas operaes empresariais .

    Em conjunto, esses indicadores fornecem informao sobre 108 pases.

    Pode-se dizer que um ndice com apenas 21 indicadores oferece um enfoque mi-nimalista sobre a competitividade responsvel, se comparado a anlises como o banco de dados do Doing Business do Banco Mundial. Existem algumas reas sobre as quais atualmente no h dados confiveis tais como a prevalncia de infraes dos padres de trabalho, ou a concentrao da economia em setores de exportao que intensificam a poluio. Entretanto, os 21 indicadores do ICR ofe-recem uma abrangncia considervel sobre vrias questes. Sempre que possvel, procuramos examinar a adequao dos dados disponveis frente a outras variveis, muitas vezes disponveis apenas em estudos exclusivos ou em amostras pequenas de pases. Essas comparaes se encaixam bem, como por exemplo, entre o sub-ndice de aes empresariais e um ndice piloto sobre trabalho infantil.

    Calculando o ICR

    Os 21 indicadores esto agrupados em trs sub-ndices; impulsionadores de pol-ticas, aes empresariais e habilitadores sociais, baseados em anlises de regres-so e ajuste terico. Esses trs fatores formam um modelo conceitual simples para a construo da competitividade responsvel.

    O ICR usa uma metodologia sistemtica compatvel com outros estudos de com-petitividade complexos e suas tcnicas estatsticas. Aps a identificao de cada indicador, ns calculamos o desempenho de cada pas com uma porcentagem ba-seada na melhor pontuao possvel para cada indicador. Os sete indicadores de cada sub-ndice so igualmente considerados e rateados para fornecer a pontua-o percentual para cada sub-ndice.

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200738

    Ento, atribudo a cada pas includo no ICR um nvel de desenvolvimento base-ado em dados do Banco Mundial utilizando o mtodo Atlas, em que os pases so classificados como: baixa renda ($875 ou menos o PIB per capita), renda mdia ($876-$10,725 PIB per capita) ou alta renda ($10,726 ou mais PIB per capita). Essa classificao pode ser encontrada no Anexo. Observaes detalhadas de verses anteriores do ICR indicam que o nvel de desenvolvimento uma varivel impor-tante para se compreenderem as diferentes prioridades na elaborao de uma es-tratgia para a competitividade responsvel na Blgica ou em Benin. Cada estgio do desenvolvimento sugere uma ponderao diferente para cada sub-ndice, uma metodologia de acordo com o ndice de Competitividade do crescimento e outros ndices de grandes amostras de pases.

    A pontuao e o ranking do ICR so calculados atravs de um modelo de regresso multilinear, incorporando o nvel de desenvolvimento (como 0; 5,6 ou 9,2 quando apropriado) usando-se a seguinte equao:

    ndice de 2007 da Competitividade Responsvel = nvel de desenvolvimento + (0,16* Impulsionadores de Polticas) + (0,46* Ao Empresarial) + (0,23* contexto habilitador)

    Os pressupostos e validade deste modelo foram conferidos usando-se uma va-riedade de tcnicas estatsticas e o modelo parece ser confivel e slido. Por fim, aplicamos anlise de clusters para criar quatro grupos, e esses resultados so apresentados no captulo anterior. Maiores detalhes desses testes podem ser en-contrados no nosso relatrio tcnico.

    Aprimorando o ndice de Competitividade Responsvel

    O ICR analisa os melhores dados disponveis usando metodologias confiveis e testadas. Contudo, ainda h muito espao para aperfeioamento no futuro. No n-vel das empresas, esto sendo disponibilizados cada vez mais dados, como, por exemplo, atravs da Accountability Rating (Classificao de Responsabilidade) e do Carbon Disclosure Project (Projeto de Informaes sobre Carbono). Menos re-cursos so direcionados para a medio do impacto cumulativo de prticas empre-sariais responsveis em nvel nacional. Dos estudos nacionais existentes, muitos enfatizam temas, como direitos humanos, corrupo e trabalho infantil, e so exer-ccios piloto ou tm recursos limitados e pequena amostragem de pases. Enquanto instituies como o Banco Mundial e o Frum Econmico Mundial disponibilizam uma vasta gama de indicadores de alta qualidade, sua abrangncia das questes sobre responsabilidade permanece limitada, e essas organizaes so a exceo e no a regra. H falta de dados em muitas reas essenciais, ou quando disponveis, so, pobres.

    Mesmo com os melhores dados disponveis, so necessrias algumas observa-es:

    H defasagem de tempo em alguns dados. Algumas mtricas apresentadas em publicaes respeitadas. apresentam dados com atrasos de trs ou quatro anos. Um exemplo evidente so as emisses de dixido de carbono, em que a escala de dados mais abrangente geograficamentedata de 2004;

    Alguns indicadores podem prejudicar pases com um grande setor de peque- nas e mdias empresas ou setor informal, j que eles levam em conta mais provavelmente aes de empresas maiores. Por exemplo, ao olharmos o le-

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    vantamento da ISO 14001 (Environmental Management Systems Sistema de Gesto Ambiental), importante discriminar essa informao para conside-rar a capacidade dos pases para implementar certificaes ISO em geral;

    Muitos dos mais recentes e maiores conjunto de dados so baseados em pesquisas de opinio entre especialistas. Os crticos questionam a confiabili-dade e a comparabilidade de questionrios completados por amostragem de empresrios, pois espera-se que possam fornecer respostas mais confiveis a algumas questes do que o pblico em geral, enquanto em outras reas sua imparcialidade pode ser questionada;1

    Mesmo a mais confivel e legtima fonte pode, simplesmente, falhar em forne- cer informaes exatas. Um ponto em questo so os dados sobre acidentes de trabalho. A proporo de acidentes relatados Organizao Internacional do Trabalho de apenas 3,9% do nmero de acidentes estimados no mundo todo.2

    Esses so problemas intrnsecos e inerentes coleta de dados, mas aes com-binadas ajudariam a melhorar a qualidade de dados disponveis para aprimorar nosso entendimento acerca da competitividade responsvel. Precisamos, primeira-mente, expandir a abrangncia geogrfica da coleta de dados. Em todo este pro-jeto, encontramos conjuntos de dados fascinantes como empresas que devem dar presentes em reunies com o inspetor do trabalho ou a porcentagem de empresas que fazem parte de redes de negcios, e at mesmo um ndice que demonstra quo dispostos esto os governos em abrir suas transaes aos cidados, s em-presas e sociedade civil. Em cada caso, o nmero de pases muito limitado para ser assimilado ao nosso ndice ou mesmo para permitir uma comparao tranversal proveitosa com nossa amostra de 108 pases.

    Segundo, necessitamos de uma grande melhora na atualizao desses conjuntos de dados chave para aumentar a compreenso e permitir a elaborao de um ben-chmarking anual de competitividade responsvel. Em parte, isso uma questo de capacidade: bancos de dados como o CIRI Human Rights (CIRI Direitos Humanos) poderiam reduzir o atraso com mais recursos. Mas trata-se, tambm, de uma ques-to de comprometimento institucional. Em assuntos importantes como violaes trabalhistas ou intensidade de poluio, os rgos internacionais responsveis es-to investindo pouco na aquisio de informao.

    Terceiro, h necessidade de direcionar mais recursos para algumas das questes chave da competitividade responsvel. Estamos mal informados, por exemplo, quanto fora de iniciativas colaborativas, sobre o grau de participao nacional nos padres de sustentabilidade voluntrios. Tambm desconhecemos os aspectos principais relativos ao esforo contra as desigualdades sexuais e raciais nos locais de trabalho. Sequer existe um mecanismo, no momento, para reunir os resultados de milhares de inspees a fbricas feitas por dezenas de organismos de inspeo no mundo todo. Esses e outros conjuntos de dados com relao ao progresso da competitividade responsvel poderiam, facilmente, e com baixo custo, ser gerados, e nosso grupo de pesquisadores est comprometido para que tal fato se materia-lize.

    Por fim, nosso trabalho de trs ciclos, de 2003 at a presente data, no resolve a questo da causalidade em exerccios como este. A meta perseguida compreen-der melhor os mecanismos atravs dos quais as estratgias de responsabilidade e o desempenho econmico trabalham juntos. O quanto isso depende de um merca-do inovador e de liderana poltica? quanto depende de uma abordagem colaborati-

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    va para reformular os mercados? Para responder a essas perguntas, o exerccio do ICR precisa ser suplementado por estudos detalhados de cidades, regies, setores e pases que esto adquirindo vantagem competitiva e melhorando sua responsa-bilidade. Na seo seguinte, especialistas de ponta examinam exatamente essas questes, dando exemplos prticos de esforos estratgicos para que o desenvol-vimento sustentvel seja levado em conta em mercados futuros.

    Sobre os autores:

    Notas Finais

    1 Aaron Chatterji and David Levine, Breaking Down the Wall of Codes, California Management Review, 2006.

    2 Pivi Hmlinen, Jukka Takala and Kaija Leena Saarela, (2006) Global Estima-tes of Occupational Accidents, Safety Science 44, pg. 137 156.

    Paul Begley Pesquisador da AccountAbility.

    edna do Nascimento Estatstica Associada e Conferencista na FDC. Tem experincia em Comrcio Internacional e Estatstica e Professora de Estatstica na Faculdade Milton Campos.

    Alex MacGillivray Diretor de Programas na AccountAbility.

    Cludio Boechat Professor da Fundao Dom Cabral. Ele ensina e pesquisa gesto responsvel de negcios, liderana responsvel e questes correlatas. Sua experincia anterior era como executivo de negcios.

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    Construindo mercados com baixa emisso de gs carbnico

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200742

  • AccountAbility 43

    O Relatrio Stern ReviewPor dimitri Zenghelis e Nicholas stern

    O relatrio Stern Review comissionado pelo Tesouro do Reino Unido estabeleceu os custos econmicos da mudana climtica contra os custos econmicos de se tomar medidas para impedir o aquecimento global. Em seguida, exps a larga abrangncia dos instrumentos polticos e estruturas que seriam mais adequadas para motivar medidas coletivas internacionais razoveis, e com custo eficaz. Ele enfatizou os custos e benefcios na reduo das emisses a um nvel que pararia a concentrao de gases de efeito estufa na atmosfera, elevando acima de 550 partes por milho (ppm) de dixido de carbono (C02) e gases equivalentes. Se essa meta for atingida, podero ser evitados os impactos mais catastrficos da mudana climtica, mas ainda h a probabilidade de 50% de o planeta aumentar o aqueci-mento em 3C, com riscos significativos. Muitos julgam que isso constitui um salto em qualquer escala de estabilizao. O relatrio considerou que o custo esperado de cortar emisses para chegar a esse objetivo seria uma mdia de 1% do PIB (GDP) mundial por ano. Contudo, est claro que os custos no sero distribudos, uniformemente, por todos os pases e regies.

    Um objetivo importante da poltica definida para mitigar emisses mudana de comportamento. Isto no ser possvel sem que os preos relativos dos bens pro-duzidos com emisses de gs de efeito estufa mudem, para que os mercados pos-sam realocar recursos para atividades no poluentes. possvel que isto signifi-que que as atividades poluentes tornem-se mais caras. Isto pode ser feito atravs de vrios mecanismos, incluindo, regulamentaes diretas e estabelecimento de padres, como por exemplo, os aplicados s construes, emisses de veculos e a eficincia de energia dos utenslios domsticos. A longo prazo, empresas e economias de xito sero aquelas que se ajustarem s mudanas globais prefe-renciais, tecnolgicas e de mercado, e puderem transferir recursos rapidamente e com flexibilidade para incrementar novos mercados. Alm do mais, provvel ser mais atraente, para a maioria dos pases, um caminho de desenvolvimento de baixas emisses de carbono do que o contrrio, promovendo eficincia de energia e ao mesmo tempo induzindo inovao, reduzindo poluio e, em muitos casos, promovendo segurana energtica e independncia.

    Contudo, o desafio ser o gerenciamento da transio para atividades de baixas emisses de gases de efeito estufa. Uma preocupao especial surge quando al-guns pases, regies ou empresas mudam mais rapidamente que outros na soluo das emisses. O medo que esses pases se defrontaro com uma carga des-proporcional de transio de custos medida que as atividades carbono-intensivas encerrem suas atividades e se desloquem para jurisdies menos restritivas inter-nacionalmente. Isto no s poder exacerbar o custo econmico para os pases que tomam as medidas cabveis, mas acrescentar pouco na soluo de emisses globais, j que os poluidores, simplesmente, se deslocam para outro lugar.

    Trs questes so levantadas: qual o preo certo para o carbono alcanar esta-bilizao? O quanto a economia suscetvel a essa mudana de preos relativos causados por esse custo do carbono? E qual a probabilidade das empresas de rea-locarem suas atividades, se as jurisdies se movem em velocidades diferentes?

    Impacto na reduo de custos

    Uma anlise objetiva pode fornecer a resposta para essas questes, evitando ar-gumentaes especiais e ultrapassando interesses particulares. Temos uma esti-

  • O Estado da Competitividade Responsvel 200744

    mativa do preo do carbono necessrio para reduzir, significativamente, os riscos da mudana climtica, que o relatrio Stern Review coloca em aproximadamente trinta dlares por tonelada do equivalente de dixido de carbono, compatvel com a estabilizao a 550ppm (equivalente a CO2) na atmosfera; conhecemos a estrutura de produo da maioria das economias; temos ainda uma evidncia-base ampla para examinar a resposta comportamental das empresas.

    O custo total de energia fssil representa apenas, aproximadamente, 5% dos cus-tos variveis da produo da maioria dos pases. Isto se compara, por exemplo, a custos variveis de mo-de-obra, que na maioria dos setores, representam entre um quarto e meio dos custos variveis. Contudo, a percepo pblica sobre a im-portncia do custo de energia permanece crtica. Em economias desenvolvidas, em parte por causa das lembranas do desempenho econmico fraco que coincidiu com o choque do preo do petrleo e racionamento no abastecimento nos anos 70. Contudo, hoje amplamente aceito que as recesses dos anos 70 foram causadas por muitos fatores, sendo que o choque do petrleo representou uma pequena parte. Mas a energia ainda um insumo significante para a produo, logo, vital entendermos o provvel impacto do preo do carbono.

    Entre os maiores usurios dos produtos de petrleo esto os setores de agricultura, silvicultura, pesca, qumica e transporte. Os principais usurios de carvo so ele-tricidade e cimento. Os principais usurios de eletricidade incluem o prprio setor de eletricidade, vrias indstrias de manufaturados (como alumnio) e as empresas de servios de gs e gua.

    No Reino Unido, o custo total de energia fssil representa 3% dos custos variveis da produo do pas. Com este preo, o custo de produo de toda a economia po-der sofrer um aumento nico de apenas 1%. Ao nvel mais desagregado, somente 19 entre 123 setores de produo, representando menos de 5% da produo total do Reino Unido, veriam os custos variveis aumentarem em mais de 2%, e somen-te seis sofreriam um aumento de 5% ou mais. Os custos na maioria dos setores subiriam menos de 1%. Na realidade, a oportunidade para substituir tecnologias alternativas baratas por combustveis fsseis, provavelmente, limitar o aumento do custo a nveis ainda mais baixos a longo prazo.

    Mas mesmo essa estimativa da mudana nos preos relativos, resultante da ado-o do custo social do carbono nas atividades de produo, est bem dentro dos limites da escala normal de variao de preos sofrida em uma economia aberta. Flutuaes normais em custos de insumos devido taxa de cmbio e o preo mun-dial do petrleo impedem, no curto prazo, o aumento do custo de energia primria resultante do preo do carbono. Contextualizando, o preo do petrleo subiu de $27 por barril (Brent spot price, mdia anual) em 2003 para cerca de $70 em fins de 2005. Comparativamente, o preo do carbono somaria apenas $10 a um barril de petrleo.

    Impacto no comrcio e na localizao

    Os preos relativos mudam constantemente com a mudana no custo de suprimen-tos e produo e com a mudana internacional de gostos e preferncias. O relatrio Stern Review ressaltou uma forte mitigao, sendo totalmente consistente com as aspiraes para o crescimento econmico continuado e desenvolvimento em pa-ses pobres e ricos. Medidas para mudar nosso uso de energia e nossa gesto do

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    solo no ameaaro o crescimento, mas, ao contrrio, correspondero a um nico aumento de 1% no ndice de custo.

    E, como ficam os setores carbono-intensivos particularmente expostos competi-o do exterior? notvel que esses setores que so, praticamente, todos carbo-no-intensivos, costumam ser menos comerciveis alm das suas fronteiras. Utili-zando-se estatsticas do Reino Unido como ilustrao, e aplicando-se os $30 do preo do carbono, podemos esperar que o preo ao consumidor da eletricidade e do gs aumente em mais de 15%, mas o produto destinado quase que exclusi-vamente para o mercado domstico. Em todos os outros casos, os aumentos de preo esto limitados para baixo em geral bem abaixo 10%, com a maior parte dos produtores se defrontando com aumentos de custos abaixo de 1%.

    Mesmo assim, poucos setores so vulnerveis. Independentemente da gasolina refinada, esses incluem pesca, carvo, papel e celulose, ferro e ao, fertilizantes, transporte areo e martimo, qumicos, plsticos, fibras e metais no-ferrosos, dos quais o alumnio responsvel por aproximadamente metade do valor agregado. Alm do mais, o nvel de agregao usado nesta anlise mascara a probabilidade de que certos processos e as instalaes dentro de setores sero extremamente enrgicos e expostos competio global. Contudo, mesmo esses setores so responsveis por uma frao muito pequena e de crescimento lento da produo do Reino Unido.

    A questo surge: seriam as empresas de setores que possuem custos de insumos de energia acima da mdia as mais provveis de se realocarem cada vez mais? Um aspecto notvel que muitos produtos carbono-intensivos que so comercializados do outro lado da fronteira costumam no o ser a longas distncias. A intensidade do comrcio cai sete vezes mais na indstria do cimento, quando somente o comrcio entre pases fora da Unio Europia considerado, j que cimento volumoso e difcil de ser transportado em longas distncias. O comrcio de produtos agrcolas frescos produz quedas de um fator 5 quando restrito somente a pases fora da Unio Europia. Outra queda maior no comrcio ocorre com celulose e papel, plstico e fibras. Aqui, a intensidade do comrcio mantida fora do nvel da Unio Europia. A intensidade do comrcio de plstico, ferro e ao e transporte rodovirio, assim como pesca e fertilizantes cai dois teros. Por fim, a intensidade do comrcio de transporte areo e produtos de refinaria est parcialmente em concordncia com a mdia de todos os setores.

    Esta lista contm alguns dos maiores setores de combustveis fsseis intensivos; recomendando que restries aplicadas no nvel da Unio Europia diminuiriam muito qualquer impacto de competitividade nas restries de carbono. Contudo, o Reino Unido talvez no seja um exemplo para todos os pases. Pases que gastam muita energia e que fazem fronteira com jurisdies com polticas fracas contra os gases do efeito estufa, podem sofrer uma ameaa significativa sua competitivi-dade de forma mais evidente que no Reino Unido. importante que esses pases executem suas avaliaes dos riscos de seus setores produtivos, e considerem que medidas melhor atenderiam s dificuldades que poderiam surgir.

    Comrcio e localizao

    Valeria examinar, nesta fase, a teoria que est por trs da susceptibilidade das decises por parte das empresas com relao legislao ambiental. Isso nos

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    revela que pequenas mudanas em qualquer fator de custo, provavelmente no causariam uma realocao importante de produo, mesmo nos setores com altos gastos de energia, e mesmo onde os pases se movem em diferentes velocidades ao aplicarem polticas de abatimentos. Isto se d porque as polticas ambientais so apenas uma determinante nas decises para a localizao de uma fbrica. Outros fatores de investimentos so mais determinantes para a localizao e comrcio. Em prazos mais longos, a competitividade de toda a economia est associada a uma gama de fatores que, no fundo, determinam o crescimento da produtividade, como o tamanho e a qualidade do capital e da fora de trabalho, acesso a tecnologias e infra-estrutura, proximidade dos mercados consumidores, acesso aos parceiros do comrcio, alm de estruturas polticas, legais, regulamentais e fiscais.

    Isto explica a diferena substancial no custo mdio de salrios entre os pases em desenvolvimento e os desenvolvidos, que podem ser dez vezes maiores ou mais. Por comparao, provvel que o aumento nico nos custos de produo do preo do carbono faa uma diferena muito pequena nos padres de produo e oportu-nidades. A grande diferena no custo de mo-de-obra reflete as diferenas de van-tagens comparativas para que a produo e o comrcio em pases desenvolvidos aconteam de forma to rentvel quanto em pases com salrios baixos, apesar das diferenas nos custos da mo-de-obra.

    Mas a questo da propenso das empresas realocarem suas fbricas em resposta ao preo do carbono , em ltima instncia, comportamental, logo, importante observarmos a evidncia emprica. O exame do impacto das regulamentaes am-bientais nos estados dos Estados Unidos e em pases de todo mundo sugere que as polticas ambientais afetam o comrcio e a produo marginalmente, mas com pouca evidncia de realocaes expressivas. provvel que isto seja verdadeiro mesmo em pases com fronteiras com grandes parceiros comerciais, com regimes mais abertos, como a Espanha, que fica perto do Norte da frica, ou com pases do leste da Unio Europia que fazem fronteiras com a Ucrnia e a Rssia. Mesmo em pases que possuem fronteiras abertas e jurisdies similares (como as dos Estados Unidos e Canad) as empresas costumam apresentar o que chamado vis domstico, onde o comrcio atravs da fronteira menos intenso que o co-mrcio domstico com distncias similares. Este chamado vis domstico limita o grau de liberdade que as empresas possuem para se realocar quando defrontadas com o preo do carbono. o bem-vindo aumento dos padres de vida dos pases desenvolvidos que est colocando presso nas emisses globais, e no o risco dos gases de efeito estufa provocado por atividades carbono-intensivas realocadas para esses pases.

    A evidncia emprica por trs das decises de realocao revisada no Captulo 11 do relatrio Stern Review, mas, geralmente, esses riscos so considerados limita-dos. Por exemplo, h evidncia sugerindo que alguns estados dos Estados Unidos, como a Califrnia, no s no sofreram custos econmicos significativos com os rigorosos regulamentos ambientais, como tambm ganharam oportunidades subs-tanciais provenientes do estabelecimento de padres de mercados e desenvolvi-mento de tecnologias.

    Promovendo medidas coletivas

    Os impactos de competitividade so pequenos e podem ser reduzidos com medi-das conjuntas. Isto requer comunicao e um entendimento comum da natureza do

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    problema, assim como uma distribuio equilibrada de esforos para a reduo de emisses nos pases desenvolvidos e em desenvolvimento. O Protocolo de Montre-al de 1989 apresenta um exemplo de medida coletiva global rpida na reduo de emisses de hidrocarbonetos halogenados para impedir a diminuio da camada de oznio. Havia uma compreenso mundial do problema, a indstria enfrentou o desafio de forma realista sem exagerar os custos e foram tomadas providncias. Com relao mudana climtica, a mensagem est sendo passada. Se as em-presas acreditam ser provvel que o mundo todo v ter restries ao carbono, possvel que os benefcios tenham curta durao ao mudar os investimentos e equi-pamentos para uma nova localizao. Alm do mais, ao fracassar em investimentos de tcnicas e produtos de baixas emisses de carbono, as empresas se arriscam a perder sua participao no mercado.

    Como mostra o exemplo californiano, a diminuio do carbono pode promover ino-vao na tecnologia limpa, e dirigir a vantagem comparativa de um pas a aumentar os setores limpos incentivando outras melhorias na produtividade em grupos de negcios correlatos. As economias e empresas com grande capacitao, capacida-de tecnolgica, mercados flexveis e governos que prevem tendncias gerencia-ro melhor a transio. A Islndia usou energia limpa para atrair clientes com altos gastos energticos, como as empresas de alumnio. A China comeou a taxar a exportao de produtos que gastam muita energia na sua produo. Todos os pa-ses da OECD (Organization for Economic Co-operation and Development Organi-zao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico) possuem estratgias para mitigao e ajuda para energia de fontes renovveis. Empresas contemporneas como a BP e a Toyota esto vendo oportunidades no futuro com baixas emisses de carbono. Fundos de investimentos esto tambm se animando ante essas pos-sibilidades. Recentemente,