resumo parcial da matéria de contratos

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RESUMO CONTRATOS CAPÍTULO I – O CONTRATO EM GERAL * Direitos reais e direitos pessoais: - Concebe-se a obrigação como um vínculo de direito que liga uma pessoa a outras, ou uma relação de caráter patrimonial, que permite exigir de alguém uma prestação. - Direito real é o poder direto do indivíduo sobre a coisa que se constitui de três elementos essenciais: a) o sujeito ativo da relação jurídica; b) a coisa, objeto do direito; c) a inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa. - Direito pessoal é a relação de pessoa a pessoa, seus elementos são o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação que ao primeiro deve o segundo. - Quando os direitos importam numa relação jurídica em que o ativo exerce um poder de sujeição sobre uma coisa, exigindo o respeito de todos os outros membros da coletividade, denominam-se reais; se concedem ao sujeito ativo o direito de exigir de determinada pessoa ou de certo grupo de pessoas a prática de um ato ou uma abstenção, o nomem é direito obrigacionais. - A obrigação surge por oposição ao direito real. O qual é uma relação jurídica que uma ou mais pessoas determinadas devem fazer, em favor de outrem ou outras, uma prestação de caráter patrimonial. * Ato jurídico, fato jurídico e negócio jurídico - O ato jurídico é determinado pela vontade do homem, com o propósito de obter certos efeitos jurídicos restritamente à sua pessoa. - O fato jurídico externa-se como todo acontecimento emanado do homem ou das coisas e que produz consequências jurídicas. - A distinção entre as duas espécies está no elemento vontade. O primeiro é volitivo e o último, no sentido estrito, ocorre independentemente da vontade humana. - Negócio jurídico é enquadrado como uma espécie entre os atos jurídicos. Equivale a uma declaração de vontade de uma ou mais pessoas capazes, com um sentido ou objetivo determinado, visando a produção de efeitos jurídicos relativamente a terceiros, desde que lícitos e não ofendam a vontade declarada e o ordenamento jurídico.

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Page 1: Resumo parcial da matéria de contratos

RESUMO CONTRATOS

CAPÍTULO I – O CONTRATO EM GERAL* Direitos reais e direitos pessoais:- Concebe-se a obrigação como um vínculo de direito que liga uma pessoa a outras, ou uma relação de caráter patrimonial, que permite exigir de alguém uma prestação.- Direito real é o poder direto do indivíduo sobre a coisa que se constitui de três elementos essenciais: a) o sujeito ativo da relação jurídica; b) a coisa, objeto do direito; c) a inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa. - Direito pessoal é a relação de pessoa a pessoa, seus elementos são o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação que ao primeiro deve o segundo. - Quando os direitos importam numa relação jurídica em que o ativo exerce um poder de sujeição sobre uma coisa, exigindo o respeito de todos os outros membros da coletividade, denominam-se reais; se concedem ao sujeito ativo o direito de exigir de determinada pessoa ou de certo grupo de pessoas a prática de um ato ou uma abstenção, o nomem é direito obrigacionais.- A obrigação surge por oposição ao direito real. O qual é uma relação jurídica que uma ou mais pessoas determinadas devem fazer, em favor de outrem ou outras, uma prestação de caráter patrimonial.

* Ato jurídico, fato jurídico e negócio jurídico- O ato jurídico é determinado pela vontade do homem, com o propósito de obter certos efeitos jurídicos restritamente à sua pessoa.- O fato jurídico externa-se como todo acontecimento emanado do homem ou das coisas e que produz consequências jurídicas.- A distinção entre as duas espécies está no elemento vontade. O primeiro é volitivo e o último, no sentido estrito, ocorre independentemente da vontade humana. - Negócio jurídico é enquadrado como uma espécie entre os atos jurídicos. Equivale a uma declaração de vontade de uma ou mais pessoas capazes, com um sentido ou objetivo determinado, visando a produção de efeitos jurídicos relativamente a terceiros, desde que lícitos e não ofendam a vontade declarada e o ordenamento jurídico. - O negócio jurídico é um ato jurídico, mas dirigido a um fim determinado, previamente, pela vontade das partes contratantes. O contrato é enquadrado na categoria dos negócios jurídicos.

* Conceituação do contrato- É um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos, ou sinteticamente, é um acordo de vontades com a finalidade de produzir efeitos jurídicos.

* Requisitos extrínsecos para a validade do contrato- Consideram-se requisitos extrínsecos aqueles que dão condições de validade aos contratos, que é a capacidade das partes, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e forma prescrita ou não defesa em lei.- a) Capacidade das partes: qualquer pessoa pode contratar se for capaz, dentro da ordem dos arts. 166, inc. I, e 3º, por outras palavras, não permite a lei que participem da relação contratual os menores de 16 anos; os que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário discernimento.- b) Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: quanto ao objeto, em primeiro lugar, deve o objeto revelar-se lícito como pressuposto para a validade do contrato.

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Em seguimento, é necessário que o objeto seja possível, ou que gire em torno de uma operação realizável. Se estabelecer prestação que jamais se efetivará, como por exemplo por contrariar as leis da natureza, ou ultrapassar as forças humanas, não terá validade.- O contrato envolverá objeto determinado ou determinável, isto é, que possa ser identificado, localizado, percebido, medido, aferido. - c) Forma prescrita ou não defesa em lei: exige-se, ainda, para a validade do contrato, a obediência à forma prevista em lei.A forma é o conjunto de solenidades a serem observadas para que o contrato alcance eficácia jurídica. No rol de tais atos com forma especial. Ordenada em lei, destacam-se o casamento, a instituição de bem de família e a escritura pública na constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário-mínimo vigente no país, nos termos do art. 108 do diploma civil.

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*Princípios que regem a formação do contratoa) Autonomia da vontade:- A partir de suas origens, assegurando à vontade humana a possibilidade de criar direitos e deveres, firmou-se a obrigatoriedade das convenções, equiparando-as, para as partes contratantes, à própria lei.- A autonomia da vontade, que alcançou o auge no período do liberalismo individualista do século XIX, resultado de uma longa reação contra as limitações impostas pelo Estado durante a Idade Média. - A autonomia da vontade está ligada à liberdade de contratar, que se submete, no entanto a limites, não podendo ofender outros princípios ligados à função social do contrato. b) Liberdade e função social do contrato:- - Justamente a exagerada autonomia da vontade leva a depararmos com inúmeras situações sociais conflitantes. Muitas pessoas revelam uma vontade fraca, deixam-se enlear na insídia, ou são desavisadas e desprovidas de uma visão real e ampla no mundo que as cerca. - Do outro lado, sempre foi e continuará sendo o objetivo maior dos negócios a vantagem antevista e perseguida. - A função social leva a prevalecer o interesse público sobre o privado, a impor o proveito coletivo em detrimento do meramente individual, e a ter em conta mais uma justiça distributiva que meramente retributiva. - A função social do contrato se opôs ao liberalismo decorrente da revolução industrial e que veio a ser adotada pela CF do Brasil de 1988, a partir do direito de propriedade passando a se impor como diretriz das relações jurídicas.- Rompe-se com o princípio suum cuique tribuere – dar a cada um o seu. Rompe-se ainda o individualismo que estava muito em voga nos século XIX e até metade do século XX, enfatizado por Anatole France.- A função social do contrato exprime a necessária harmonização dos interesses privativos dos contraentes com os interesses de toda a coletividade. Em outras palavras a compatibilização do princípio da liberdade com a igualdade, vez que para o liberal o fim principal é a expansão da personalidade individual e, para o igualitário, o fim principal é o desenvolvimento da comunidade em seu conjunto, mesmo que ao custo de diminuir a esfera de liberdade dos singulares. - A única forma de igualdade, que é a compatível com a liberdade tal como compreendida pela doutrina liberal, é a igualdade na liberdade, que tem como corolário a ideia de que cada um deve gozar de tanta liberdade quanto compatível com a liberdade dos outros.

c) Equivalência das prestações:- A margem normal de lucro é tolerada. Não se permite a vantagem escandalosa, o negócio desastroso. - O preço deve ser justo, isto é, equivalente ao valor aproximado da coisa vendida.- Necessário proceder com honestidade nos negócios jurídicos. O contrato, em essência, e por definição, é um congresso de vontades para formar um ato jurídico e não expediente de exploração do homem pelo homem.

d) Supremacia da ordem pública:

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- Embora a regra mais importante seja a autonomia da vontade, há restrições impostas por lei de interesse social, impedindo as estipulações contrárias à moral, à ordem pública e aos bons costumes, as quais não ficam subjugadas à vontade das partes.-Neste sentido leis e dispositivos especiais disciplinam, um exemplo é o limite na fixação da taxa de juros, que não podem ultrapassar a doze por cento ao ano, ou à taxa estabelecida para a mora do pagamento de impostos devidos à fazenda Nacional.- De modo especial, lembram-se as leis de proteção ao consumidor, à criança e ao adolescente, à família, e aos bens indispensáveis à família, que são impenhoráveis.

e) Obrigatoriedade dos contratos:- É irredutível o acordo de vontades, conforme regra consolidada no direito canônico, através do brocardo pacta sunt servanda. - O acordo das vontades, logo depois de declaradas, tem valor de lei entre os estipulantes, e impõe os mesmos preceitos coativos que esta contém.- A obrigatoriedade não atinge terceiros, contra os quais não podem ser invocadas as obrigações contratuais em que intervieram. É, a respeito deles, res inter alios acta.- As obrigações, no entanto, passam aos herdeiros e sucessores.- Mas há casos em que, por exceção, os efeitos se restringem aos contratantes e não passam aos herdeiros. Isso acontece quando tais efeitos são da natureza da convenção, ou quando assim expressamente se estipula. - O fundamento da obrigatoriedade está, segundo alguns, no dever da veracidade.- É necessário o cumprimento em virtude da palavra dada, e mais porque a lei ordena a obediência às clausulas, cominando sanções aos infratores. A estabilidade da ordem social e a necessidade de dar segurança às relações desenvolvidas são outros fatores que ensejam a irretratabilidade. - Uma das excludentes da obrigatoriedade do contrato é o caso fortuito ou força maior. A inevitabilidade do fato e a impossibilidade, ou ausência de culpa, ressaltam para tipificar o caso fortuito ou a força maior.

f) A probidade e a boa-fé:- As partes são obrigadas a dirigir a manifestação da vontade dentro dos interesses que as levaram a se aproximarem, de forma clara e autêntica, sem o uso de subterfúgios ou intenções outras que as não expressas no instrumento formalizado. A segurança das relações jurídicas depende, em grande parte, da probidade e da boa fé, isto é, da lealdade, da confiança recíproca, da justiça, da equivalência das prestações e contraprestações, da coerência e clarividência dos direitos e deveres. - Sem os princípios, fica viciado o consentimento das partes. A probidade envolve justiça, o equilíbrio, a comutatividade das prestações, enquanto a boa fé exige a transparência e clareza das cláusulas.

g) Dirigismo contratual:- O direito tende a uma constante socialização de suas normas. Os estipulantes assumem cada vez mais uma posição de igualdade legal, o que importa, com frequência, na intervenção do Estado para refrear a excessiva autonomia da vontade. - Consiste em regular o conteúdo do contrato por disposições legais imperativas, de modo que as partes, obrigadas a aceitar o que está predisposto na lei, não possam suscitar efeitos jurídicos diversos. Em consequência, a vontade deixa de ser autônoma e a liberdade de contratar retrai-se. Não mais há regras supletivas, que as partes observam se coincidem com seus interesses, mas normas imperativas, a cuja obediência não podem furtar-se.

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CAPÍTULO II – FORMAÇÃO DOS CONTRATOS:*Manifestação da vontade:- Nasce do interior do homem a disposição de contratar. É um primeiro momento na formação do vínculo obrigacional, situado na esfera subjetiva ou psicológica que representa o livre consentimento. - O germe de uma possível anulação, por vício de consentimento, está nesta fase, o que revela a sua incontestável importância.- Ao se exteriorizar a livre disposição, surge a manifestação da vontade. Duas ou mais pessoas dirigem as intenções no sentido de um negócio determinado. Há a integração simultânea das deliberações de cada contratante. Delineia-se o contrato, surgindo o vínculo obrigacional. A declaração da vontade gera obrigações que ficam circunscritas aos que a manifestaram. a) Manifestação expressa da vontade:- De regra, a declaração da vontade não depende de forma especial, desde que se manifeste e seja provada, nascem obrigações e direitos para os indivíduos que a emitirem. É o que encerra o art. 107 do CC (“A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.”)- Mas certas avenças, exigem a forma especial, diante da previsão legal expressa. Aliás, o requisito é condição para a sua validade. - Neste sentido, dependem de escrita pública: os pactos antenupciais – art. 1.653; os contratos constitutivos, translativos, modificativos ou de renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário-mínimo vigente no país – art. 108; o casamento – art. 1.536; e a instituição de bem de família – art. 1.714.- Nas hipóteses acima, o contrato classificar-se-á como expresso. Há disposição legal ordenando a forma expressa especial. Os meios de manifestação envolvem a palavra escrita por meio de escritura pública. - Em algumas situações, a lei não determina qual a forma, mas exige que a declaração seja expressa para ensejar a obrigação, sem, no entanto, impor uma forma especial ou solene. b) Manifestação tácita da vontade:- Tácita igualmente pode ser a declaração de vontade, a qual decorre de certos atos positivos, induvidosos e inequívocos. Infere-se o consentimento de vários atos do agente, incompatíveis com uma decisão contrária. Cria-se uma determinada situação contra a qual não se opõe a outra parte, levando a concluir a existência de concordância. - O silêncio, em inúmeros casos, se erige em um ato de vontade positivo, isto é, se traduz em um assentimento. Estabelece a lei possibilidades de se formarem situações jurídicas favoráveis a uma pessoa sempre quando, interpelado alguém para exercitar a preferência a um direito que lhe é assegurado, não há a sua manifestação ou não é dada a resposta. O silêncio no direito vale por anuência. Um exemplo é o art. 539 do CC: “O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo”.- É o silêncio circunstanciado que possui força ou valor probante. Silêncio circunstanciado é o silêncio acompanhado de circunstâncias, que importe em presunções graves, convincentes e concordantes, que é verificável em algumas situações.

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*Fase preliminar do contrato:- Uma fase negociatória, integrada pelos atos preparatórios realizados sem intenção vinculante marcante, desde os primeiros contatos das partes, até a formação de uma proposta contratual definitiva.-É uma fase decisória, constituída por duas declarações de vontade vinculativas, quer dizer, a proposta e a aceitação do contrato.- As partes formalizam as intenções e providenciam a confecção do contrato definitivo. Verifica-se uma simples promessa de contratar. Procede-se uma estipulação preliminar dos termos em que o contrato virá a ser outorgado, em data posterior. Os interessados realizam um trabalho de aproximação e exame das condições e exigências da relação que se desenvolverá. - Estudam-se as condições a se incluírem nas clausulas contratuais, posteriormente apresentadas à apreciação dos pretendentes, mormente no que se relaciona a preço, prazos, deveres e outras particularidades.- As negociações são propostas e contrapropostas que as partes elaboram, cada uma no próprio interesse, para tirar as maiores vantagens da convenção futura na discussão que se antepõe à confecção do contrato. - São propostas que precedem a convenção, por meio das quais as partes, sem intenção de se obrigarem, comunicam-se reciprocamente a intenção de contratar.

*A Proposta- A proposta vem a ser o primeiro momento no desenrolar dos atos que levam ao contrato propriamente dito. Uma das partes oferece a relação contratual pretendida a um possível interessado. - Denominada, também, policitação, visa solicitar a manifestação da vontade da outra parte, que se denominará aceitante, desde que a acolha e a aprove, a ela aderindo. - Distingue-se do contrato preliminar, ou pré-contrato, pois o âmbito da obrigação que ela encerra concentra-se em apenas uma pessoa, que é o proponente, ou policitante. - A regra matriz que a disciplina está no art. 427 do CC, cuja redação é: “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”.- Sobressai a obrigatoriedade. Para obrigar, dois requisitos devem estar presentes:- a) Que seja completa, isto é, contendo os pontos essenciais à conclusão do negócio, de modo que não se apresenta como simples convite para examinar e adquirir um bem. Poder-se-á considerar completa a proposta sempre que contenha os dados suficientes para a exata apreciação do negócio: intenção do proponente, objeto, preço, ou valor etc.., faltando só a aceitação para nascer o contrato. Alguns dos fatores do contrato pode ficar ao arbítrio do destinatário, por exemplo, quantidade, tempo, forma de pagamento etc.- b) Que seja séria, isto é, com a intenção de se obrigar, em caso de aceitação. A obrigatoriedade atinge também os sucessores do proponente, segundo a doutrina majoritária. - Proposta sem força obrigatória:- Exime-se de obrigatoriedade a proposta em várias hipóteses, contidas nos arts. 427 e 428.- Em primeiro lugar, dos termos da proposta pode exsurgir a ausência de força obrigatória. Por constar do art. 427 a expressão “se o contrário não resultar dos termos dela”, é possível a isenção de obrigatoriedade, quando se inserem ressalvas como as seguintes: “Sem compromisso”; “salvo confirmação”, e outras semelhantes.

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- “Não constituem, também, proposta definitiva: a) as perguntas ou anúncios, com que se pedem ou dão notícias de mercadorias ou outras coisas, com a indicação do ‘preço moderado’ ou ‘condições vantajosas’ etc.; b) as ofertas feitas ao público ou a pessoas determinadas, mesmo acompanhadas de amostras, como as dos produtos químicos ou farmacêuticos, mas sem indicação de preço por unidade, nem de quantidade...; c) as negociações entabuladas pelos caixeiros-viajantes, agentes ou representantes, que não têm a faculdade de vincular o mandante e cujos atos são feitos ad referendum e, nestes casos, o remoto cliente é que faz uma proposta de compra e venda”.- Em segundo lugar, o que se extrai igualmente do art. 427, a própria natureza do negócio leva a concluir a ausência de obrigatoriedade. Muitas propostas caracterizam-se mais como uma espécie de convite para gestionar sobre determinado negócio. A distribuição de uma propaganda detalhada, na modalidade de prospecto, a respeito de uma especificada mercadoria, com dados sobre o preço, condições de pagamento e garantias reclamadas, não equivale à aceitação de todos quantos receberam os convites. - Em terceiro lugar, as circunstâncias do caso podem tornar inexigível a proposta. É o que está escrito na parte final do art. 427, sem discriminá-las. Como exemplos, a demora na apresentação da reposta, o seu não encaminhamento dentro dos requisitos estabelecidos e a desobediência quanto aos aspectos formais. - No art. 428 prevê não ser obrigatória a proposta, nas seguintes situações:- I- “se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita”. Se alguém está presente ao ato da apresentação da oferta, a qual não vem acompanhada de prazo para a aceitação, caso não se manifeste na oportunidade, é em razão de seu desinteresse pelo negócio. Fica desobrigado o proponente, não se estabelecendo nenhum vínculo obrigacional, pois está evidente que a resposta positiva há de ser dada no correr da conversação, ou até o momento em que as partes se despedem. - Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante. As pessoas que contratam pelo telefone são tidas como presentes, embora se encontrem em cidades distintas. - II – “se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente”. Está ele obrigado a aguardar um lapso de tempo suficiente para que a proposta chegue ao destinatário e deste venha a resposta. O significado de “ausência” equivale à não presença física. Se os contratantes se encontram na mesma cidade, no mesmo edifício, mas se comunicam através de um mensageiro ou intermediário, a lei os reputa como ausentes. Se confabulam, porém, através de via telefônica, embora separados um do outro por considerável distância física, a lei tem as pessoas na condição de presentes.- III – “se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado”; Como no item anterior, a pessoa a que se dirige a proposta se encontra ausente, mas o proponente marca um prazo para a aceitação. E a oferta, em geral, se processa mediante carta, telegrama etc. Vencido o prazo concedido, desobriga-se o ofertante de qualquer compromisso. - IV – “se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.”. Ou seja, se a oferta é dirigida a um ausente, não mantém a exigibilidade se o proponente manifestar arrependimento. Mas urge que sua decisão seja conhecida pelo interessado em contratar antes de chegar a ele a oferta, ou, no máximo, simultaneamente. - A retratação não acarreta perdas e danos, eis que não se oportunizou a aceitação. Na eventualidade de chegar a retratação após a oferta, não fica o proponente obrigado a sustentar o negócio, pois não se consumara, ainda, o contrato. O desistente responde por

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perdas e danos, derivando sua responsabilidade não do contrato, que não se efetivara, mas da culpa que reveste sua ação.

- Proposta dirigida a pessoas indeterminadas ou oferta ao público:- Não é obrigatória a proposta se endereçada a pessoas determinadas e entrarem, como fatores decisivos, as qualidade ou condições que se exigem de alguém. - Mesmo anunciando-se a seleção a qualquer interessado, não se justifica obrigar a pessoa a aceitar o primeiro que aparecer. Assegura-se, sempre, a faculdade de recusa se as virtudes do candidato não se amoldam às exigências impostas. - Mas, se a proposta ou oferta é dirigida a pessoas indeterminadas, como quando feita ao público em geral, ou a um grupo mais ou menos extenso de indivíduos, utilizando-se de anúncios, cartazes e outras formas de propaganda, torna-se obrigatória para o primeiro que se destaca a declarar a sua pretensão de aceitar, sempre que o ofertante não tenha colocado ressalvas, ou não resultem elas circunstâncias do caso. - É opinião generalizada a de que desde o momento em que o comprador se apresenta para concluir o contrato, o comerciante não mais o direito de recusar a entrega a pretexto de revogação, assim como não tem o direito de exigir um preço superior, que seria maneira diferente de revogar a oferta primitiva, para substituí-la por outra. - Não pode fazê-lo, de acordo com a doutrina mais aceita, senão no caso em que o objeto já tivesse vendido no momento em que se produz a aceitação, e ainda supondo-se que não haja outro em depósito para ser entregue. Em suma, a oferta, uma vez feita, é considerada de acordo com os usos, como não comportando uma revogação arbitrária. - De acordo com o art. 429: “A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”. Assim, hão de constar a individuação do bem, o preço, a forma ou as condições de pagamento. Basta a indicação dos elementos básicos, de modo a tornar possível aferir os direitos e obrigações. - O parágrafo único desvincula a obrigatoriedade de atender se for revogada a oferta ao público, com a devida divulgação, mas ressalvados os negócios já concretizados: “Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada”. Nota-se a exigência da comunicação, sob pena de responde o ofertante pela indenização. - O contrato reputar-se-á celebrado com aquele cuja aceitação foi conhecida antes de todos os outros, não lícito ao proponente escolher entre eles, salvo não havendo igualdade de condições: solvabilidade, probidade, moralidade etc.- É de se indagar se nunca tem o proponente liberdade em recusar a aceitação, na oferta ao público. Desde que haja motivo ponderável, tolera-se a liberdade em não aceitar determinada operação com certas pessoas. As considerações de ordem pessoal não impedem a celebração do contrato. - Caráter autônomo da proposta:- Se o proponente, de regra, fica compelido a cumprir a oferta levada a efeito, com a sua morte os herdeiros se obrigam a satisfazer o compromisso assumido anteriormente pelo falecido. Se os herdeiros, pois, não ultimarem o negócio, estão sujeitos a arcar com perdas e danos, segundo os limites da herança deixada pelo ofertantes.- A oferta passa, deste modo, aos sucessores como qualquer outra obrigação. A morte intercorrente não desfaz tal promessa e esta é então um elemento passivo do patrimônio do policitante defunto.

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*A aceitação:- Quatro momentos verificam-se na proposta: a formulação, a expedição, a recepção e o conhecimento. O sujeito faz a proposta, remete-a, ela chega ao destinatário, e este, logo em seguida ou mais tarde, fica ciente do seu conteúdo. O momento decisivo é a recepção; só a partir desta a proposta adquire vigor, e o proponente não o pode retirá-lo livremente, incorrendo em responsabilidade civil se o fizer. Não interessa um conhecimento efetivo por parte do destinatário, basta que este receba a oferta. - Só após chega-se à aceitação, que é o ato pelo qual o destinatário manifesta o desejo de concluir o contrato, nos termos da proposta. É um ato livre, no sentido de poder o oblato dá-la ou negá-la. Vem a ser o segundo passo para a formulação do contrato, pois sucede a proposta. O solicitante dá a anuência àquilo que lhe ofereceu o proponente. Expressa a concordância plena aos termos da proposta. A aceitação é o reflexo da manifestação da vontade do solicitado ou oblato. - A aceitação há de equivaler à proposta feita. Uma aceitação parcial, ou condicional, ou mediante alteração na proposta, é verdadeira contraproposta, não significando a aceitação capaz de produzir o efeito imediato da formação do contrato. - A formulação chegará ao conhecimento do ofertante no prazo previsto, pois reza o art. 430 : “Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.”. - É o prazo requisito fundamental para o exercício da aceitação. Indispensável que seja a mesma conhecida dentro do interregno de tempo concedido na oferta ou legalmente previsto para obrigar o ofertante. - Aceitação em contrato formado por pessoas presentes e ausentes:- Na primeira hipótese, isto é, se estão presentes os contratantes, inclusive se a comunicação se dá pelo telefone, a aceitação ou a rejeição da proposta, a menos que o contrário fique convencionado, deve ser imediata.- Na segunda situação, a aceitação deve ser expedida dentro do prazo fixado pelo proponente – art. 428 inciso I. Ou, inexistindo prazo marcado, em tempo suficiente para chegar a resposta a conhecimento do proponente – art. 428 inciso II. - Ao proponente autoriza-se determinar a forma da aceitação, indicando a via pela qual a resposta deverá ser-lhe expedida, como pelo correio, ou telefone, telégrafo, através de interposta pessoa e mesmo por meio judicial, forma esta frequente nos direitos de preferência assegurados aos inquilinos e comunheiros, nas alienações de imóveis locados e indivisos em condomínios – art. 504 do CC. - Aceitação tardia:- A aceitação deverá ser estabelecida tempestivamente, ou seja, dentro do prazo proposto, se previsto tempo certo para o exercício; ou em período de dias razoável, se feita a proposta sem prazo a pessoa ausente, de sorte que decorra um lapso temporal suficiente para chegar a comunicação ao conhecimento do proponente – art. 428 inciso II do CC.- Na eventualidade de chegar a aceitação tardiamente ao conhecimento do proponente, não decorre obrigação para este em aceita-la. Mas, na forma do art. 430, cumpre-lhe comunica imediatamente a circunstância ao aceitante, sob pena de perdas e danos. - Atrasando-se a aceitação por razões imprevistas, ou chegando extemporaneamente ao conhecimento do proponente, cabe-lhe dar ciência ao aceitante. Ordena a lei o dever de comunicar ao interessado o serôdio recebimento de sua decisão, não havendo mais negócios a ser concretizado, de moda a não se considerar o oblato ou aceitante com direito ao possível contrato. Evitará, com isto, consequências prejudiciais e eventual direito daquele em reparação por perdas e danos.

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- É que, embora se exima de atender a proposta, atrasando-se em comunicar ao aceitante a chegada tardia da confirmação da resposta, cumpre-lhe reembolsar pelos prejuízos oriundo deste estado de coisas. - O silêncio do proponente que recebeu a aceitação fora do prazo estabeleceu uma presunção em favor do aceitante.- Mormente na proposta inter absentes, o prazo há de ser compreendido de molde a aguardar o transcurso de lapso de tempo suficiente para a chegada, às mãos do destinatário, do envio da resposta remetida pelo proponente. - O proponente somente responde pelas perdas e danos resultantes da sua culpa, consistente em não ter feito a comunicação imediata. - Aceitação tácita:- Sempre que expresso o propósito do aceitante sobre a proposta dirigida pelo ofertante, a aceitação é expressa. Mas, se a lei não exigir a forma expressa, a aceitação poderá ser tácita, que se manifestará por fatos que levam necessariamente a concluir que deles se deduz ou decorre o direito. - O art. 432 refere-se à aceitação tácita, ao rezar: “Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.”. - Duas são as hipóteses contidas no dispositivo para a aceitação tácita:a) Não se costume a aceitação expressa: um exemplo é o relacionamento existente entre as partes leva a dispensar a aceitação expressa.b) Dispensar o proponente a aceitação: um exemplo significativo é o pedido de reserva de acomodações em um hotel, declarando o interessado que se deslocará em determinada data, caso não receber aviso em contrário. Não recebendo resposta negativa, presume-se a aceitação da proposta. - Nem todo silêncio será havido como aceitação ou consentimento ao negócio proposto. Uma série de circunstâncias, indícios e presunções devem acompanhar o convite para uma relação contratual. - O proponente não pode impor a falta de resposta como aceitação de sua oferta. - Contraproposta:- Estabelece o art. 431: “A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.”. - Duas situações vêm contempladas no dispositivo:-1ª: A aceitação tardia, feita fora do prazo marcado pelo proponente, e a que, sem haver prazo prefixado, chega ao proponente quando ultrapassado o prazo normal, isto é, aquele em que o licitante, pela distância em que se acha o solicitado, pelas circunstâncias e pela natureza do negócio, deve esperar o tempo necessário à reflexão, que há de preceder a resposta. - 2ª: A aceitação parcial ou totalmente modificada, na qual o aceitante discorda de uma, de alguma ou de todas as condições da proposta. Contrapõe-se à aceitação pura, emitida pelo oblato que anui em tudo quanto lhe foi proposto, sem a menor objeção, verificando-se uma completa coincidência na manifestação das vontades, as quais convergem simultaneamente para a formação do contrato que, desta sorte, se torna perfeito e acabado. - Se o aceitante, em qualquer das situações, discordando da proposta no todo ou em parte, remete ao proponente modificações restritivas ou ampliativas à proposta, ocorrerá a figura da contraproposta.- Para valerem no sentido da contraproposta, as alterações, desdobradas em adições, restrições e modificações, conterão os pontos essenciais à conclusão do contrato, não prejudicando a proposta em tais pontos.

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- Retratação da aceitação:- Expõe o art. 433: “Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.”. - A retratação é o dissenso, a discordância ou a recusa à própria aceitação. Desde que não tenha chegado a aceitação ao conhecimento do proponente, não se confirma o contrato, do mesmo modo que se, antes dela, ou com ela, chegar a retratação do aceitante. - Se é conhecida após, o contrato está consumado, produzindo os seus efeitos.- Em se tratando de relações de consumo, realizadas entre o fornecedor e o consumido, há uma disciplina diferente. - Se a contraproposta transforma-se em uma nova proposta, a retratação precisa chegar ao conhecimento do primitivo proponente antes dela, ou concomitantemente com ela, incidindo, então, o disposto no art. 428, inciso IV.

*Momento da formação do contrato e lugar da celebração:- Caso celebrado entre presentes, não existe controvérsia. A formação se dá no ato imediato que segue à proposta, isto é, quando da aceitação, ou da resposta positiva à oferta. Reputa-se concluído tão logo o solicitado emite a aceitação.- Nos contratos entre ausentes, ou, como vinha no Código anterior, nos contratos por correspondência epistolar, ou telegráfica, tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, conforme o art. 434 do CC, exceto:- I: No caso do art. 433, que reza “Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante”.II: Se o proponente se houver comprometido a esperar a resposta.III: Se ela não chegar no prazo convencionado. - Do caput do art. 434 infere-se que o contrato reputa-se concluído desde o momento em que a aceitação é expedida.- Duas teorias sobressaem para equacionar o problema, ou demonstrar o momento em que se conjugam as manifestações das vontades, dando a formação imediata do contrato e obrigando as partes.- A teoria da cognição ou informação, preconizada por Troplong, Maynz, Laurent e outros, e adotada por alguns códigos civis, diz que considera-se formado o contrato depois das partes conhecerem a vontade expressa uma das outras, em sua totalidade. Surge o vínculo contratual na ocasião me que o policitante toma ciência da aceitação. Tem-se como inexistente uma aceitação não conhecida. A proposta pode ser retirada, assim, até que a aceitação seja conhecida pelo proponente. - O contrato entre ausentes se estabelece no preciso instante em que o proponente tem conhecimento da resposta do aceitante. Não basta que receba ele a resposta afirmativa; urge que dela se inteire. - A segunda teoria é a da agnição ou declaração, o qual tem-se como concluído o contrato quando o aceitante expede a sua declaração de anuência, ou a resposta afirmativa. Tão logo ocorra a expedição da correspondência contendo a resposta afirmativa, conclui-se o negócio. Fixa-se o momento na data da expedição. - Defendem outros que não bastam a formulação da resposta e a verificação da expedição. Algo mais é necessário: que o proponente receba a resposta do aceitante, sem necessidade de a ler ou tomar conhecimento de seu conteúdo. Será, pois, a recepção que determina o momento da formação do contrato. - Uma terceira corrente, para a qual relativamente aos contratos bilaterais, o proponente fica vinculado desde que se verifique a aceitação da proposta pela outra parte, obrigando-se o aceitante a partir do momento em que a resposta chega ao conhecimento

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daquele. O vinculo obrigatório não se forma ao mesmo instante para ambos os contratantes, mas, sim, de modo sucessivo. - O CC atual adotou a teoria da agnição ou declaração, na modalidade da expedição, o que importa em afirmar que não bata escrever a resposta favorável, mas é preciso remetê-la, circunstância expressa no art. 434, o qual considera perfeitos os contratos por correspondência epistolar, ou telegráfica, desde a expedição da resposta ou aceitação. - Pela teoria da expedição, considera-se formado o contrato quando a aceitação é enviada. Torna-se perfeito no momento em que o oblato expede resposta afirmativa. - A teoria da recepção obvia esse inconveniente, pois se o contrato só se forma quando o proponente recebe a resposta do aceitante, não é necessário tenha conhecimento do seu conteúdo, bastando que esteja em condições de conhecê-la, por ter chegado a seu destino. - Os incisos I, II e II preveem exceções à regra do caput do art. 434.- Reputa-se celebrado o contrato no lugar da emissão da proposta, nas palavras do art. 435: “Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.”. Tal lugar firmará a competência, para fins de discussões, de pagamento e para o cumprimento das cláusulas.

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CAPÍTULO VII – ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO E PROMESSA DE FATO TERCEIRO

ESTIPULAÇÃO EM FAVOR DE TERCEIRO

*Caracterização da estipulação:- O normal é a restrição dos efeitos dos contratos aos que o celebram, não podendo as partes prever sua extensão a terceiros. - Aos terceiros não se impõe o cumprimento das obrigações inseridas nas cláusulas, que se limitam aos que o assinaram; mas exige-se o respeito à relação estabelecida no contrato, por força da lei, que manda acatar as convenções celebradas pelas pessoas, tanto que ninguém pode ignorar os contratos de compra e venda, de locação, de depósito, e, assim, a generalidade de avenças, de modo a desconsiderar, por exemplo, a propriedade decorrente da compra e venda, ou o uso de um imóvel em decorrência de uma locação.- Em princípio, pois, os direitos e obrigações específicas dos contratos restringem-se àqueles que o subscreveram. - Na doação modal em favor de terceiro, espécie prevista no art. 553, que obriga o donatário a cumprir certos embargos, inclusive em benefício de terceiro; no seguro, em cuja apólice se indica a pessoa beneficiária do seguro, na ocorrência do sinistro previsto; no contrato de transporte, onde se convenciona, entre o remetente e o transportador, a entrega de mercadorias a um comprador, sem qualquer obrigação de parte deste; na constituição de renda, prevendo-se a entrega de determinada importância em dinheiro a uma pessoa estranha ao contrato. - Um contrato formado por 2 pessoas, sendo que uma delas se obriga a entregar uma vantagem ou proveito a uma terceira pessoa, a qual é completamente estranha à relação, não participando ou concordando na convenção.- Há a estipulação em favor de terceiro quando uma pessoa convenciona com outra certa vantagem em benefício de terceiro, que não toma parte no contrato. Num contrato, faz-se um ajuste, uma promessa, ou inclui-se uma clausula, onde se obriga a praticar um ato em favor de outra pessoa, a qual não está incluída no vínculo. - São três elementos indispensáveis:a) O estipulante: também conhecido como promissário, que é aquele que contrata com outra pessoa que ela prestará uma obrigação (benefício) a favor de um terceiro. Registre-se que o estipulante não é representante do beneficiário, mas age em nome próprio.b) O promitente: que vem a ser a pessoa que se obriga a cumprir a prestação junto ao estipulante. Ou seja, é o contratante que se obriga à prestação, perante o promissário, a favor de terceiro. c) O beneficiário: constituindo-se do terceiro a quem o contrato favorece, ou a cujo favor a obrigação será prestada. - Para se configurar a espécie, reclama-se, ainda, a identificação do benefício, e a sua gratuidade, não valendo a estipulação que imponha contraprestação.

*Consentimento do terceiro:- Não se reclama o consentimento do beneficiário à constituição do contrato, e, por conseguinte, à criação de vantagens em seu proveito, da mesma forma como o herdeiro adquire a herança no momento da abertura da sucessão, independentemente de sua aceitação, e até de sua ciência.

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- Não se pode, todavia, negar ao terceiro a faculdade de recusar a estipulação em seu favor, expressa ou tacitamente. O direito que se lhe atribui não entra automaticamente em seu patrimônio. Se não o quer, o efeito do contrato não se realiza. Daí não se segue, porém, que a validade do contrato dependa de sua vontade. Mas, sem dúvida, a eficácia fica nessa dependência. Manifestada a anuência do beneficiário, o direito considera-se adquirido desde o momento em que o contrato se tornou perfeito e acabado.- Se o terceiro aceita a estipulação, uma importante decorrência resulta. Perfectibiliza-se o contrato. Proíbe-se aos celebrantes fazer o distrato. Igualmente, inexistente o dito consentimento, é negada a faculdade de modificar o beneficiário ou as modalidades da prestação. A convenção adquire foros de lei entre os pactuantes.

*Exigibilidade da prestação na estipulação:- Está expressão no art. 436 que “O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.”. Ou seja, o contratante que recebe a promessa do promitente de que realizará uma prestação a favor do terceiro está habilitado a promover a execução da obrigação . Se ele contrata, tem a legitimidade e o título para exigir o cumprimento. - Inclusive o terceiro ou beneficiário arma-se de legitimidade para exigir a obrigação, o que encontra amparo no parágrafo único deste artigo, “Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438.”. - No art. 437 transparece uma limitação: “Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.”. Há o consenso geral de que ao estipulante se reserva a faculdade de exonerar o promitente da obrigação que lhe está afeta, desde que não se encontre no contrato cláusula assegurando ao beneficiário direito de exigir a execução da promessa. Mas inserindo-se no contrato a possibilidade de revogação da cláusula, independe o seu exercício do consentimento do terceiro. Acontece que as partes devem se sujeitar às condições e normas do contrato.

*Substituição do terceiro beneficiário na estipulação:- O art. 438 diz “O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante.”. Ou seja, ao estipulante se permite a substituição do beneficiário, como está consignado neste artigo. - O parágrafo único diz “A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.”. - Se o contrato contiver cláusula de autorização, é viável a substituição do beneficiário, que se leva a termo mediante uma simples disposição de vontade entre as partes que celebraram o contrato, ou uma disposição de última vontade, ou testamento. - Desse artigo, 2 regras vêm à luz:a) A primeira: que o promissário pode destinar exclusivamente para si, guardar para si. O verbo reservar, transitivo, tem, entre outros, esse significado, isto é, o direito de substituir o terceiro designado no contrato, sem que para isso necessite do consentimento quer do terceiro, quer do promitente. b) A segunda: o modo pelo qual essa substituição se pode dar, ‘por ato entre vivos ou por disposição de última vontade’. - Obviamente, a substituição será comunicada ao promitente, para que se possibilite o cumprimento de acordo com a nova indicação. É indispensável que ele saiba a quem

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deve satisfazer a obrigação, fazendo-se a comunicação por escrito, ou por idêntica forma como foi criado o vínculo obrigacional. O normal e mais apropriado é que se leve a efeito através de notificação.- Depois de ocorrer a mudança, ao anterior não remanesce qualquer direito do estipulante. - Um exemplo, é na instituição do seguro de vida, indica-se o beneficiário, podendo ser a esposa, ou os filhos. Posteriormente, diante da separação dos cônjuges, substitui-se o beneficiário por outra pessoa, passando a figurar o novo cônjuge, ou o companheiro.

* Pessoas indeterminadas:- É possível se estipular a obrigação em favor de pessoa indeterminada, mas não em favor de pessoa indeterminável. - Indeterminada: é quando não conhecida no momento do contrato, mas tornando-se certa após. No seguro contra acidente em favor de terceiros, a indeterminação diz respeito à pessoa que receberá a indenização, mas tornando-se conhecida quando ocorre o sinistro.- Indeterminável: é quando o terceiro, se não vem assinalado qualquer elemento indicativo. Não se pode, pois, estipular em favor de um pobre, ou doente, sem precisar algum caráter identificador. Faltará eficácia ao contrato, eis que o resultado será uma operação abstrata, sem a menor significação.

PROMESSA DE FATO TERCEIRO

- Na promessa de fato de terceiro, a pessoa se obriga a conseguir que terceira pessoa preste uma obrigação, respondendo por perdas e danos se não conseguir o cumprimento. Isso está previsto no art. 439 “Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar.”.- Essa promessa em sua essência é uma obrigação de fazer, que, não sendo executada, resolve-se em perdas e danos. - A relação contratual restringe-se entre 2 partes. Não é envolvida uma terceira pessoa. No entanto, se um dos contratantes se compromete que um estranho preste uma obrigação, obviamente subentende-se tenha conseguido o seu prévio consenso, que não virá expresso. Se declarado no documento o cumprimento, estende-se a ele o vínculo contratual, fazendo parte da relação, e não mais se enquadrando como terceiro. - Quando houver recusa, a responsabilidade da pessoa que prometeu surgirá da própria obrigação contratual assumida, ao tornar-se garante do fato, e a impossibilidade exterioriza-se na indenização do id quod interest a favor do credor que assim não tem ação contra o terceiro, da mesma forma que não a tem contra o devedor para o obrigar a cumprir, pessoalmente, o fato prometido.- No parágrafo único do art. 439 diz “Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.”. Ou seja, não há responsabilidade quando o terceiro for o cônjuge do que prometeu. - Como responde aquele que prometeu fato de terceiro se este não cumprir, naturalmente se ele garante conseguir anuência ou participação do cônjuge em uma transação imobiliária, com o qual casou pelo regime de comunhão universal de bens. E não conseguindo tal anuência, arcará com seu patrimônio na composição indenizatória. Dado o regime de comunhão universal, o próprio patrimônio do cônjuge do qual não conseguiu a participação ingressará no ressarcimento dos prejuízos.

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- No art. 440 diz “Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.”. Ou seja, aquele que se compromete por terceiro, e obrigando-se este a cumprir aquilo a que se obrigara a outra pessoa, não possui assegurada qualquer indenização se aquele que se obrigou não cumprir o avençado. - Nota-se que o terceiro se integra ao contrato, e dá sua anuência ao ato que lhe foi atribuído pelo promitente. Dando a anuência, de fato torna-se o terceiro devedor da prestação assegurada. Pode-se ir além, sustentando que a anuência implica a extinção do vínculo obrigacional relativamente ao promitente.

CAPÍTULO XIV – CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR* Tipicidade da figura:- Se contrata por alguém, ou uma pessoa se reserva a prerrogativa de nomear alguém que vá assumir sua posição de contratante. A nota característica reside na possibilidade de se permitir a um dos contratantes transferir a sua posição de credor de direitos, quando da conclusão do contrato. Aos figurantes que celebraram a relação contratual é autorizada a transferência de sua posição de credores, já indicando quem reveste-se de titularidade para recebe-los. - Veja-se o disposto no art. 467 “No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.”. - Está-se diante da substituição de parte final do contrato. O dispositivo é claro: somente quando da conclusão, isto é, do cumprimento do contrato. Tanto que aparece prevista a assunção dos direitos. Não está reservada a faculdade quando da celebração do contrato, ou do encerramento da fase da instrumentalização. - Trata-se do contrato que permite a indicação de pessoa, como titular para o recebimento dos direitos e assumir obrigações ainda pendentes, diferente da que aparece na posição de celebrante inicial. - Exs: encontram-se disposições inseridas geralmente no final do contrato obrigando o vendedor a entregar o bem prometido vender, ou a transferir o domínio do imóvel, ao promitente adquirente, ou a quem este indicar. Com isso, impede-se que, posteriormente, se proceda novo contrato, ou uma Segunda escritura, com a duplicação de custas, tributos e outros encargos.- Também se utiliza esta modalidade nas situações em que uma pessoa não oferece condições de garantia ou segurança para estar presente em um negócio, seja por não conseguir a prova de uma renda condizente com o vulto das obrigações, seja porque não dispõe de bens em seu nome, o que acontece especialmente nas compras que os pais fazem para os filhos. - Inadmissível enquadrar-se este tipo nos contratos de execução imediata, ou instantâneos, que se esgotam num só cumprimento, mediante uma única prestação, ou ocorrendo a sua execução em um único momento, sendo exemplos a compra e venda, a troca, a doação.- Não se estende aos contratos continuados, o que se verifica na locação, no arrendamento rural, na parceria, na prestação de serviços. Nestes tipos, se opera a distribuição da execução no tempo. Ao final do prazo, ou em seu término, extingue-se o objeto, nada havendo a ser cedido ou transferido.

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*Condições para a configuração:- O art. 468 diz “Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado.”. O principal requisito para se realizar esta espécie de contrato está na comunicação da indicação da pessoa a quem se transferem os direitos no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, desde que outro lapso de tempo não se tenha estabelecido. - Aquele que tem direitos a receber, com o adimplemento de suas obrigações, está obrigado a comunicar ao outro contratante a transferência dos direitos que lhe assistem pelo contrato, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de não ser ele obrigado a proceder como lhe é comunicado. Poderá, então, providenciar para que o contratante receba os direitos, ou seja, o domínio do imóvel, a posse definitiva da coisa, se for o caso. Se no contrato constar prazo diferente, será o mesmo obedecido, não prevalecendo, então, o de cinco dias. - O parágrafo único diz “A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato.”. Daí se depreende que não basta a mera indicação. Quem é contemplado para receber os direitos, deve expressar a aceitação, a qual há de chegar ao conhecimento do devedor de modo inequívoco. E esta aceitação terá efeito, fazendo prova cabal da validade, desde que ostentada pela forma que serviu para revelar o contrato assinado pelas partes. Se o contrato veio à luz por meio de escritura pública, a aceitação obedecerá esta maneira de se exteriorizar. Se elaborado por instrumento particular, basta a mera aceitação por escrito, sem outras solenidades. - Importa que haja a exteriorização inequívoca, de sorte a que o devedor dos direitos tenha segurança a quem deve a prestação.

*Momento da vigência dos efeitos na formalização da transferência:- Embora se dê a indicação quando da conclusão do contrato, os efeitos começam a surgir desde o seu começo. Aquele que aceita os direitos, assume as decorrências. Se algum vício ou falha se apurar no seu começo, o substituto é que arcará com as decorrências, podendo ser chamado para a responsabilização. Se um pagamento não se efetuou no passado, apurando-se a omissão somente depois da transferência dos direitos, junto ao aceitante se buscará a cobrança. - Assumida pela pessoa indicada a nomeação, retroagem os efeitos do vínculo sobre o nomeado. O contratante que efetuou a transferência fica liberado da obrigação. Opera-se a retirada do contrato quando da aceitação pelo indicado, mas a substituição passa a engendrar os efeitos a partir da data do contrato. Tudo o que está pendente, ou se tornar controvertido depois, passa para a responsabilidade do que recebe os direitos. - O art. 469 trata do assunto: “A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.”. - Naturalmente, tendo havido a indicação de pessoa diversa para receber os direitos daquela que figurou na celebração, desaparece esta da relação contratual. Tanto como ocorre com a cessão do contrato, o vínculo transfere-se para o beneficiário. As reclamações pelos vícios da coisa ou do bem objeto do contrato serão formalizadas pelo novo titular junto ao devedor originário, sem a participação daquele que transferiu os direitos.

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*Caso de eficácia restrita aos contratantes originários:- Há casos em que o contrato só vale em relação aos que firmaram originariamente, constando expressos no art. 470: “O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários:I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação.”- Quanto ao inciso I, é normal que se mantenha a validade restritamente aos que firmaram o contrato, caso não apontada uma terceira pessoa a quem se transferem os direitos. Tem-se, aí, o contrato comum, que vale restritamente em relação àqueles que o assinaram, não impondo obrigações ou expandindo direitos a outras pessoas. Embora presente a cláusula de indicação, se não exercida a faculdade, é mantido o vínculo original. - Igualmente se circunscrevem-se os efeitos aos que firmaram o contrato se a pessoa indicada recusar a aceitação, ou não a expressar concretamente. Pela mesma forma como se procedeu o contrato, deve ser exteriorizada a aceitação. É que o pressuposto básico para a transferência está na aceitação da pessoa favorecida, inclusive porque podem remanescer obrigações do contrato celebrado com aquele que transferiu os direitos, que passarão a recair, no futuro, na pessoa do favorecido. - Na previsão do inciso II, há a inviabilidade da transferência, não valendo se efetivada, no caso de insolvência da pessoa nomeada, fato desconhecida pelo outro contratante. Como podem surgir obrigações da relação estabelecida com o contratante originário, ensejando indenizações e outras reponsabilidades, as quais recairão na pessoa do aceitante, deve manter-se a capacidade econômica da pessoa indicada. Garante-se, com isso, o ressarcimento de uma pretensa ação para o cumprimento de obrigações que remanescem da relação contratual. - Mais no sentido de reforçar a inteligência do inciso II do art. 470, com a ampliação ao aceitante incapaz, torna o art. 471 a restringir os efeitos aos contratantes originários: “Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários”. É, pois, reafirmada a regra de manter-se a eficácia restritamente àqueles que firmaram a relação se revelar-se insolvente o aceitantes, ou se for ele incapaz, em obediência, nesta parte, ao art. 104, inc. I do CC, que exige a capacidade do agente como condição para a validade do negócio jurídico.