resumo metodologia da pesquisa - aula leila duarte

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RESUMO BOAVENTURA A sociologia do direito só se torna ramo especializado da sociologia geral depois da segunda guerra mundial. Só então a sociologia do direito contruiu sobre o direito um objeto teórico específico. A sociologia do direito se ocupa de um fenômeno social sobre o qual incidem séculos de produção intelectual cristalizada na idade moderna em disciplinas como a filosofia do direito, a dogmática jurídica e a história do direito. Século XIX - No período inicial, há o privilegiamento de uma visão normativista do direito em detrimento de uma visão institucional e organizacional e, dentro daquela, no privilegiamento do direito substantivo em detrimento do direito processual. É notório que a visão normativista e substantivista do direito domina, no século XIX a produção e as discussões teóricas, quer de juristas, quer de cientistas sociais. O debate polarizador da época é o que confronta a concepção de direito como variável dependente ( o direito deve se limitar a acompanhar e a incorporar os valores sociais e os padrões de conduta espontânea e paulatinamente constituídos na sociedade) e o direito como variável independente ( o direito deve ser um ativo promotor de mudança social tanto no domínio material quanto no da cultura e das mentalidades). O debate então se polariza entre os que concebem o direito como o indicador privilegiado dos padrões de solidariedade social, garante da composição harmoniosa dos conflitos por via da qual se maximiza a integração social e realiza o bem comum (Durkheim); e os que concebem o direito como expressão última de interesses de classe, um instrumento de dominação econômica e política que por via da sua forma enunciativa (geral e abstrata) opera a transformação ideológica dos interesses particularísticos da classe dominante em interesse coletivo universal (Marx). Século XX - Ehrlich, para alguns o fundador da sociologia do direito, desenvolveu o pensamento do direito vivo. É central a contraposição entre o direito oficialmente estatuído e formalmente vigente e a normatividade emergente das relações sociais pela qual se regem os comportamentos e se previne e resolve a esmagadora maioria dos conflitos.

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Resumo de parte da matéria da G1 (livro Um Discurso sobre as Ciencias) de Metodologia da Pesquisa, com a professora Leila Duarte.

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RESUMO BOAVENTURA A sociologia do direito s se torna ramo especializado da sociologia geral depois da segunda guerra mundial. S ento a sociologia do direito contruiu sobre o direito um objeto terico especfico. A sociologia do direito se ocupa de um fenmeno social sobre o qual incidem sculos de produo intelectual cristalizada na idade moderna em disciplinas como a filosofia do direito, a dogmtica jurdica e a histria do direito. Sculo XIX - No perodo inicial, h o privilegiamento de uma viso normativista do direito em detrimento de uma viso institucional e organizacional e, dentro daquela, no privilegiamento do direito substantivo em detrimento do direito processual. notrio que a viso normativista e substantivista do direito domina, no sculo XIX a produo e as discusses tericas, quer de juristas, quer de cientistas sociais. O debate polarizador da poca o que confronta a concepo de direito como varivel dependente ( o direito deve se limitar a acompanhar e a incorporar os valores sociais e os padres de conduta espontnea e paulatinamente constitudos na sociedade) e o direito como varivel independente ( o direito deve ser um ativo promotor de mudana social tanto no domnio material quanto no da cultura e das mentalidades). O debate ento se polariza entre os que concebem o direito como o indicador privilegiado dos padres de solidariedade social, garante da composio harmoniosa dos conflitos por via da qual se maximiza a integrao social e realiza o bem comum (Durkheim); e os que concebem o direito como expresso ltima de interesses de classe, um instrumento de dominao econmica e poltica que por via da sua forma enunciativa (geral e abstrata) opera a transformao ideolgica dos interesses particularsticos da classe dominante em interesse coletivo universal (Marx). Sculo XX - Ehrlich, para alguns o fundador da sociologia do direito, desenvolveu o pensamento do direito vivo. central a contraposio entre o direito oficialmente estatudo e formalmente vigente e a normatividade emergente das relaes sociais pela qual se regem os comportamentos e se previne e resolve a esmagadora maioria dos conflitos. Max Weber centrou a sua anlise no pessoal especializado encarregado da aplicao das normas jurdicas, as profisses jurdicas, a burocracia estatal. Segundo ele, o que caracterizava o direito das sociedades capitalistas era o construir um monoplio estatal administrado por funcionrios especializados segundo critrios dotados de racionalidade formal, assente em normas gerais e abstratas aplicadas a casos concretos por via de processos lgicos. 1960 - Dentre os grandes temas deste perodo: a discrepncia entre o direito formalmente vigente e o direito socialmente eficaz (law in books X law in action da sociologia jurdica americana); o papel do direito na transformao modernizadora das sociedades tradicionais. Em ambos, ntido o privilegiamento das questes normativas e substantivas do direito e a relativa negligncia das questes processuais, institucionais e organizacionais. Esta conjuntura intelectual dominante se altera, com a ajuda de condies tericas e condies sociais, as quais possibilitaram a orientao do interesse sociolgico para as dimenses processuais, institucionais e organizacionais do direito. Condies tericas: o desenvolvimento da sociologia das organizaes, dedicado ao estudo dos agrupamentos sociais criados deliberadamente para um fim especfico. Este ramo da sociologia desenvolveu um interesse especfico pela organizao judiciria e pelos tribunais.; o desenvolvimento da cincia poltica, que revelou um interesse pelos tribunais enquanto instncias de deciso e de poder polticos. As aes dos juzes passaram a ser analisadas em funo das suas orientaes polticas.; desenvolvimento da antropologia do direito, centrou-se nos litgios e mecanismos da sua preveno e resoluo, desviou a ateno das normas e orientou-se para os processos e instituies. Condies sociais: Lutas sociais por grupos at ento sem tradio de ao coletiva de confrontao, movimentos que procuraram aprofundar o contedo democrtico dos regimes sados do ps-guerra. Nesse contexto, as desigualdades sociais passaram a ser percebidas de outra forma. A igualdade dos cidados perante a lei passou a ser confrontada com a desigualdade da lei perante os cidados. A questo do acesso diferencial ao direito e justia por parte das diferentes classes e estratos sociais tomou relevo.; A ecloso da crise da administrao da justia. As lutas aceleraram a transformao do Estado liberal em assistencial, apostado na minimizao das desigualdades, o que significou a expanso dos direitos sociais e a integrao das classes trabalhadoras nos circuitos do consumo, houve mudanas radicais no comportamento familiar tambm, aumentando os litgios judiciais, com uma exploso de litigiosidade a qual a administrao da justia dificilmente poderia dar resposta. Tudo isto, na dcada de 70, quando comeava uma recesso e o Estado cada vez menos podia dar cumprimento aos compromissos assistenciais e providenciais assumidos. Esta situao repercutiu na incapacidade do Estado para expandir os servios de administrao da justia de modo a criar uma oferta de justia compatvel com a procura verificada.RESUMO DAS AULASHISTRIA DA SOCIOLOGIA DO DIREITOViso normativista do direito X Viso organizacional e institucional

1) CLASSIFICAO DAS NORMAS SEGUNDO A NATUREZA DO QUE DISPEM (Maria Helena Diniz):Normas substantivas: definem e regulam relaes jurdicas, criam direitos e impem deveres (normas de direito material).Normas adjetivas: regulam o modo ou processo de efetivar as relaes jurdicas (normas de direito processual).2) PRINCIPAIS DEBATES NO SCULO XIX- Direito como varivel dependente. Esta viso adotada por Bentham e defende que o direito deve se limitar apenas a acompanhar e incorporar os valores e padres de conduta da sociedade, que so espontaneamente criados dentro dela. Ele diz que h uma dependncia entre o direito e o esprito do povo e prope uma anlise histria e sociolgica do direito a partir do direito que existe em cada sociedade. Diz, ainda, que o direito objetiva aumentar a felicidade total da sociedade ao desestimular os atos que possam gerar ms consequncias.- Direito como varivel independente. Esta viso, abraada por Savigny, diz que o direito deve ser um fator responsvel pela promoo da mudana social, tanto no mbito material quanto no da cultura e mentalidades. baseado no utilitarismo: castigos e recompensas provocariam o comportamento adequado do ser humano.- Direito como conflito. Marx erguia esta bandeira, dizendo que o direito a expresso do conflito social, promove o interesse das classes dominantes (proprietrios dos meios de produo), instrumento de opresso que possibilita a dominao econmica e poltica, uma forma abstrata de impor os interesses da classe dominante ao interesse coletivo universal. Tal teoria deriva da teoria do materialismo histrico.- Direito como harmonia. Durkheim, por sua vez, pensa o direito como expresso de consenso social, promotor da harmonia e do bem comum, uma vez que garante a diminuio dos conflitos, maximizando a integrao social e expressa os valores compartilhados socialmente.Diviso do trabalho social -> Fato social: formas de solidariedade social -> expressas pelas sanes -> formas de direito.Relembrando solidariedade mecnica e orgnica...- Solidariedade mecnica. Ausncia de diviso do trabalho social e maior coeso pela conscincia coletiva. Comum do direito penal. Sociedade simples. Pessoas. Mecanismos de coero exercidos de forma violenta, imediata e punitiva. Direito repressivo e preventivo.- Solidariedade orgnica. Alta diviso do trabalho social, menos coeso pela conscincia coletiva e maior coeso pelas relaes de interdependncia. Comum do direito contratual. Sociedade complexa. Indivduos. Mecanismos de coero exercidos de forma mediata e mais formalizados. Predomnio do direito restitutivo.

3) SCULO XX- Ehrlich desenvolve a ideia de direito vivo, o qual aquele produzido tanto pelo Estado (positivado) quanto pelos juzes e pela sociedade. o direito eficaz, que ganha vida quando respeitado pela sociedade e quando o judicirio o aplica corretamente. Pensa o direito efetivamente praticado pela sociedade em vez daquele consagrado e positivado na letra fria da lei, pelo Estado. O direito tem eficcia, e no apenas validade. O estudo, a sociologia do direito, deve voltar-se para o direito resultante das relaes sociais (eficaz) ao invs do institudo pelo Estado (vlido), deve comear pelo estudo do direito vivo. A criao judiciria do direito consiste em aplicar as normas transformando-as de abstratas a concretizadas. Aprisionar o direito de uma poca ou povo na letra da lei, mant-lo morto.- Weber. A formao do Estado moderno pressupe um corpo de funcionrios encarregados de dizer e de aplicar o direito. O Estado possui competncia de estabelecer e aplicar o direito. A isso corresponde o tipo ideal de dominao denominado racional-legal. O pessoal especializado encarregado da aplicao das normas jurdicas so as profisses jurdicas, a burocracia estatal.

4) 1960 LAW AND SOCIETY- Law in books X Law in action. Discrepncia entre o direito totalmente vigente e o direito socialmente eficaz. Como afeta a vida das pessoas na realidade?- Law and development. Papel do direito na transformao modernizadora das sociedades tradicionais. Direito como instrumento de transformaes sociais e econmicas.

5) ACESSO JUSTIAO acesso justia se d por meio do Estado (funcionamento do poder judicirio, estrutura do poder judicirio) e da sociedade (formas alternativas de resoluo de conflitos).

O DIREITO NO PENSAMENTO SOCIAL CONTEMPORNEO- ... universos conceituais que exerceram influncia nesse sculo: cincias sociais especficas, escolas filosficas, doutrinas polticas, estilos marcantes na arte e literatura...Quem produz o pensamento social? O pensamento social produzido pelos prprios ativistas sociais e polticos e pelo crescente exrcito de acadmicos profissionais.1) PARADIGMA EPISTEMOLGICO- O que paradigma? um paradigma aquilo que os membros de uma comunidade cientfica partilham e, inversamente, uma comunidade, cientfica consiste em homens que partilham um paradigma. Um paradigma governa no um objeto de estudo, mas um grupo de praticantes da cincia. No necessariamente as comunidades cientficas so homogneas. Elas se diferenciam de acordo com o paradigma que seguem.- O que epistemologia? Ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento. o estudo sobre a produo do conhecimento. Epistemologia das cincias o estudo de como se constri um conhecimento de natureza cientfica, processo de produo do conhecimento cientfico sobre algo.- O que paradigma epistemolgico? Padres compartilhados pela sociedade cientfica sobre como deve ser construdo o conhecimento cientfico.- Qual o novo paradigma epistemolgico? O paradigma epistemolgico moderno objetivo, disciplinar, separa a cincia natural na cincia da natureza e o sujeito do objeto, racional, neutro, baseado na experimentao, com a necessidade de dominao da natureza, busca leis naturais com o objetivo de previsibilidade, trabalha com campos disciplinares estanques, que no se comunicam; valora apenas aquilo que cientfico.- O paradigma ps moderno/emergente. Nunca neutro, h uma aproximao entre sujeito e objeto, interdisciplinar e valora o conhecimento no cientfico.

PLURALISMO JURDICOFaz oposio ao monismo jurdico. Aquele a percepo de que o direito Estatal importante, mas ao lado dele existem outras formas de direito regulando a realidade. Refuta-se o humanismo. Existem ordens jurdicas plurais, variadas. Dependendo de onde se move, utiliza-se um ou outro direito e ambos so vlidos; Este a crena de que s existe um direito, s se percebe o direito positivado, Estatal, negando qualquer outra forma de direito. Esta uma necessidade da construo do Estado Moderno e ruptura com o feudalismo. Paradigma humanista.1) CARTOGRAFIAAplicada ao estudo do pluralismo jurdico.Para o pluralismo jurdico, circulam vrias formas de direito na sociedade vrios modos de juridicidade h uma pluralidade de ordens jurdicas. Cada forma de direito um mapa social, que usa mecanismos de escala, projeo e de simbolizao para representar a realidade.Mapas so formas de representao social. O Direito e mapas so representaes da realidade. Toda representao distorce a realidade. Os mapas distorcem a realidade atravs de escalas, projees e smbolos.A sociologia cartogrfica rompe com as cincias disciplinares.a) Projeo. Depende da ideologia do cartgrafo. Cada mapa tem um centro. Cada forma jurdica (superestatal, nacional, infraestatal) tambm construda a partir de um centro, o qual decorre do fato jurdico considerado mais importante. Cada ordem jurdica se estrutura a partir de um super fato, um centro que determina a projeo. Contrato super fato do direito das sociedades capitalistas. Terra e habitao super fato das reas urbanas perifricas.

b) Escala. A escolha da escala determinada em funo de dois itens: a finalidade do mapa e a convenincia da escala. De acordo com o nvel de detalhamento, que segue o objetivo do mapa. No campo social tambm, de acordo com a escala vamos ver ou no os problemas, de modo que uma questo de poder. Um exerccio de poder. Se a escala cria o fenmeno, as escalas criam diferentes realidades jurdicas. Trs espaos jurdicos:Formas infraestataisLocal Grande escalaFormas estataisNacional Mdia escalaFormas supraestataisGlobal Pequena escalaObservar de longe: apenas se enxerga formas jurdicas supraestatais (direito global), grande escala.Observar de escala mdia: se enxergam formas jurdicas estatais (direito nacional), mdia escala.Observar de perto: possibilita enxergar formas jurdicas infraestatais (direito comunitrio local), pequena escala.c) SmbolosSmbolos grficos utilizados para assinalar as caractersticas da realidade.

2) INTERLEGALIDADEBoaventura, atualmente, mudou sua viso de pluralismo jurdico para interlegalidade. O que acontece, na verdade, que esses trs espaos/ ordens jurdicas esto em sobreposio, articulao e interpenetrao, se contaminam umas as outras apesar de distintas. A interlegalidade refere-se mistura de cdigos, a apropriao da lgica de uma forma jurdica pela outra, mistura de cdigos.