resumo do livro curso de direito constitucional positivo prof 1 [1]. jos afonso da silva

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www.direitoria.net Resumo de Direito Constitucional 1 DIREITO CONSTITUCIONAL Resumo do livro “Curso de Direito Constitucional Positivo”, do Prof. José Afonso da Silva. Feito por Rodolpho Priebe Pedde Junior, em Videira, SC - junho de 1999. E-mail: [email protected] 1ª Parte I - DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DA CONSTITUIÇÃO DIREITO CONSTITUCIONAL Direito Constitucional é o ramo do Direito Público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado; é a ciência positiva das constituições; tem por Objeto a constituição política do Estado, cabendo a ele o estudo sistemático das normas que integram a constituição. O conteúdo científico do Direito Constitucional abrange as seguintes disciplinas: - Direito Constitucional Positivo ou Particular: é o que tem por objeto o estudo dos princípios e normas de uma constituição concreta, de um Estado determinado; compreende a interpretação , sistematização e crítica das normas jurídico-constitucionais desse Estado, configuradas na constituição vigente, nos seus legados históricos e sua conexão com a realidade sócio-cultural. - Direito Constitucional Comparado: é o estudo teórico das normas jurídico-constitucionais positivas (não necessariamente vigentes) de vários Estados, preocupando-se em destacar as singularidades e os contrastes entre eles ou entre grupo deles. - Direito Constitucional Geral: delineia uma série de princípios, de conceitos e de instituições que se acham em vários direitos positivos ou em grupos deles para classificá-los e sistematizá-los numa visão unitária; é uma ciência, que visa generalizar os princípios teóricos do Direito Constitucional particular e, ao mesmo tempo, constatar pontos de contato e independência do Direito Constitucional Positivo dos vários Estados que adotam formas semelhantes do Governo. DA CONSTITUIÇÃO 1)Conceito: considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de sus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias; em síntese, é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado. A constituição é algo que tem, como forma, um complexo de normas; como conteúdo, a conduta humana motivada das relações sociais; como fim, a realização dos valores que apontam para o existir da comunidade; e, finalmente, como causa criadora e refreadora, o poder que emana do povo; não podendo ser compreendida e interpretada, se não tiver em mente essa estrutura, considerada como conexão de sentido, como é tudo aquilo que integra um conjunto de valores. 2)Classificação das Constituições: quanto ao conteúdo: materiais e formas; quanto à forma: escritas e não escritas; quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas; quanto à origem: populares (democráticas) ou outorgadas; quanto à estabilidade: rígidas, flexíveis e semi- rígidas. A constituição material em sentido amplo, identifica-se com a organização total do Estado, com regime político; em sentido estrito, designa as normas escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais.

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    Resumo de Direito Constitucional 1

    DIREITO CONSTITUCIONAL Resumo do livro Curso de Direito Constitucional Positivo, do Prof. Jos Afonso da Silva. Feito por Rodolpho Priebe Pedde Junior, em Videira, SC - junho de 1999. E-mail: [email protected] 1 Parte I - DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DA CONSTITUIO DIREITO CONSTITUCIONAL Direito Constitucional o ramo do Direito Pblico que expe, interpreta e sistematiza os princpios e normas fundamentais do Estado; a cincia positiva das constituies; tem por Objeto a constituio poltica do Estado, cabendo a ele o estudo sistemtico das normas que integram a constituio. O contedo cientfico do Direito Constitucional abrange as seguintes disciplinas: - Direito Constitucional Positivo ou Particular: o que tem por objeto o estudo dos princpios e normas de uma constituio concreta, de um Estado determinado; compreende a interpretao , sistematizao e crtica das normas jurdico-constitucionais desse Estado, configuradas na constituio vigente, nos seus legados histricos e sua conexo com a realidade scio-cultural. - Direito Constitucional Comparado: o estudo terico das normas jurdico-constitucionais positivas (no necessariamente vigentes) de vrios Estados, preocupando-se em destacar as singularidades e os contrastes entre eles ou entre grupo deles. - Direito Constitucional Geral: delineia uma srie de princpios, de conceitos e de instituies que se acham em vrios direitos positivos ou em grupos deles para classific-los e sistematiz-los numa viso unitria; uma cincia, que visa generalizar os princpios tericos do Direito Constitucional particular e, ao mesmo tempo, constatar pontos de contato e independncia do Direito Constitucional Positivo dos vrios Estados que adotam formas semelhantes do Governo. DA CONSTITUIO 1)Conceito: considerada sua lei fundamental, seria, ento, a organizao dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurdicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisio e o exerccio do poder, o estabelecimento de sus rgos, os limites de sua ao, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias; em sntese, o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado. A constituio algo que tem, como forma, um complexo de normas; como contedo, a conduta humana motivada das relaes sociais; como fim, a realizao dos valores que apontam para o existir da comunidade; e, finalmente, como causa criadora e refreadora, o poder que emana do povo; no podendo ser compreendida e interpretada, se no tiver em mente essa estrutura, considerada como conexo de sentido, como tudo aquilo que integra um conjunto de valores. 2)Classificao das Constituies: quanto ao contedo: materiais e formas; quanto forma: escritas e no escritas; quanto ao modo de elaborao: dogmticas e histricas; quanto origem: populares (democrticas) ou outorgadas; quanto estabilidade: rgidas, flexveis e semi-rgidas. A constituio material em sentido amplo, identifica-se com a organizao total do Estado, com regime poltico; em sentido estrito, designa as normas escritas ou costumeiras, inseridas ou no num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organizao de seus rgos e os direitos fundamentais.

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    A constituio formal o peculiar modo de existir do Estado, reduzido, sob forma escrita, a um documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e somente modificvel por processos e formalidades especiais nela prpria estabelecida. A constituio escrita considerada, quando codificada e sistematizada num texto nico, elaborado por um rgo constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais sobre a estrutura do Estado, a organizao dos poderes constitudos, seu modo de exerccio e limites de atuao e os direitos fundamentais. No escrita, a que cujas normas no constam de um documento nico e solene, baseando-se nos costumes, na jurisprudncia e em convenes e em textos constitucionais esparsos. Ex. constituio inglesa. Constituio dogmtica a elaborada por um rgo constituinte, e sistematiza os dogmas ou idias fundamentais da teoria poltica e do Direito dominantes no momento. Histrica ou costumeira: a resultante de lenta formao histrica, do lento evoluir das tradies, dos fatos scio-polticos, que se cristalizam como normas fundamentais da organizao de determinado Estado. So populares as que se originam de um rgo constituinte composto de representantes do povo, eleitos para o fim de elaborar e estabelecer a mesma. (Cfs de 1891, 1934, 1946 e 1988). Outorgadas so as elaboradas e estabelecidas sem a participao do povo, aquelas que o governante por si ou por interposta pessoa ou instituio, outorga, impe, concede ao povo. (Cfs 1824, 1937, 1967 e 1969). Rgida a somente altervel mediante processos, solenidades e exigncias formais especiais, diferentes e mais difceis que os de formao das leis ordinrias ou complementares. Flexvel a que pode ser livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaborao das leis ordinrias. Semi-rgida a que contm uma parte rgida e uma flexvel. 3) Objeto: estabelecer a estrutura do Estado, a organizao de seus rgos, o modo de aquisio do poder e a forma de seu exerccio, limites de sua atuao, assegurar os direitos e garantias dos indivduos, fixar o regime poltico e disciplinar os fins scio-econmicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econmicos, sociais e culturais. 4) Contedo: varivel no espao e no tempo, integrando a multiplicidade no uno das instituies econmicas, jurdicas, polticas e sociais na unidade mltipla da lei fundamental do Estado. 5) Elementos: por sua generalidade, revelam em sua estrutura normativa as seguintes categorias: a) elementos orgnicos: que se contm nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder; b) limitativos: que se manifestam nas normas que consubstanciam o elenco dos direitos e garantias fundamentais; limitam a ao dos poderes estatais e do a tnica do Estado de Direito (individuais e suas garantias, de nacionalidade, polticos); c) scio-ideolgicos: consubstanciados nas normas scio-ideolgicas, que revelam a carter de compromisso das constituies modernas entre o Estado individualista e o social intervencionista; d) de estabilizao constitucional: consagrados nas normas destinadas a assegurar a soluo dos conflitos constitucionais, a defesa da constituio, do Estado e das instituies democrticas; e) formais de aplicabilidade: so os que se acham consubstanciados nas normas que estatuem regras de aplicao das constituies, assim, o prembulo, o dispositivo que contm as clusulas de promulgao e as disposies transitrias, assim, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata. SUPREMACIA DA CONSTITUIO 6) Rigidez e supremacia constitucional: A rigidez decorre da maior dificuldade para sua modificao do que as demais; dela emana o princpio da supremacia da constituio, colocando-a no vrtice do sistema jurdico.

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    7) Supremacia da Constituio Federal: por ser rgida, toda autoridade s nela encontra fundamento e s ela confere poderes e competncias governamentais; exerce, suas atribuies nos termos dela; sendo que todas as normas que integram a ordenao jurdica nacional s sero vlidas se se conformarem com as normas constitucionais federais. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 8) Inconstitucionalidade: a conformidade com os ditames constitucionais no se satisfaz apenas com a atuao positiva; exige mais, pois omitir a aplicao das normas, quando a Constituio determina, tambm constitui conduta inconstitucional, sendo reconhecida as seguintes formas de inconstitucionalidade: - Por ao: ocorre com a produo de atos legislativos ou administrativos que contrariem normas ou princpios da constituio; seu fundamento resulta da compatibilidade vertical das normas (as inferiores s valem se compatveis com as superiores); essa incompatibilidade que se chama de inconstitucionalidades da lei ou dos atos do Poder Pblico; - Por omisso: verifica-se nos casos em que no sejam praticados atos requeridos para tornar plenamente aplicveis normas constitucionais; no realizado um direito por omisso do legislador, caracteriza-se como inconstitucional; pressuposto para a propositura de uma ao de inconstitucionalidade por omisso. 9) Sistema de controle de constitucionalidade: estabelece-se, tecnicamente, para defender a supremacia constitucional contra as inconstitucionalidades. - Controle poltico: entrega a verificao de inconstitucionalidade a rgos de natureza poltica; - Jurisdicional: a faculdade que as constituies outorgam ao Judicirio de declarar a inconstitucionalidade de lei ou outros atos de Poder Pblico; Misto: realiza-se quando a constituio submete certas categorias de lei ao controle poltico e outras ao controle jurisdicional. 10) Critrios e modos de exerccio do controle jurisdicional: so conhecidos dois critrios de controle: Controle difuso: verifica-se quando se reconhece o seu exerccio a todos os componentes do Judicirio; controle concentrado: se s for deferido ao tribunal de cpula do Judicirio; subordina-se ao princpio geral de que no h juzo sem autor, rigorosamente seguido no sistema brasileiro, como na maioria que possui controle difuso. 11) Sistema brasileiro de controle de constitucionalidade: jurisdicional introduzido com a Constituio de 1891, acolhendo o controle difuso por via de exceo (cabe ao demandado argir a inconstitucionalidade, apresentando sua defesa num caso concreto), perdurando at a vigente; em vista da atual constituio, temos a inconstitucionalidade por ao ou omisso; o controle jurisdicional, combinando os critrios difuso e concentrado, este de competncia do STF; portanto, temos o exerccio do controle por via de exceo e por ao direta de inconstitucionalidade e ainda a ao declaratria de constitucionalidade; a ao direta de inconstitucionalidade compreende trs modalidades: Interventiva, genrica e a supridora de omisso. A constituio mantm a regra segundo a qual somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo rgo especial podero os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Pblico. (art. 97) 12) Efeitos da declarao de inconstitucionalidade: depende da soluo sobre a natureza do ato inconstitucional: se inexistente, nulo ou anulvel. A declarao de inconstitucionalidade, na via indireta, no anula a lei nem a revoga; teoricamente a lei continua em vigor, eficaz e aplicvel, at que o Senado Federal suspenda sua executoriedade (art. 52, X). A declarao na via direta tem efeito diverso, importa suprimir a eficcia e aplicabilidade da lei ou ato; distines a seguir: - Qual a eficcia da sentena que decide a inconstitucionalidade na via de exceo: resolve-se pelos princpios processuais; a argio de inconstitucionalidade questo prejudicial e gera um procedimento incidenter tantum, que busca a simples verificao da existncia ou do vcio alegado; a sentena declaratria; faz coisa julgada somente no caso e entre as partes; no que

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    tange ao caso concreto, a declarao surte efeitos ex tunc; no entanto a lei contnua eficaz e aplicvel, at que seja suspensa sua executoriedade pelo Senado; ato que no revoga nem anula a lei, apenas lhe retira a eficcia, da por diante ex nunc. - Qual a eficcia da sentena proferida no processo de ao direta de inconstitucionalidade genrica?: tem por objeto a prpria questo de inconstitucionalidade; qualquer deciso, que a decrete, dever ter eficcia erga omnes (genrica) e obrigatria; a sentena a faz coisa julgada material, que vincula as autoridades aplicadoras da lei, que no podero mais lhe dar execuo sob pena de arrostar a eficcia da coisa julgada, uma vez que a declarao de inconstitucionalidade em tese visa precisamente atingir o efeito imediato de retirar a aplicabilidade da lei. - Efeito da sentena proferida no processo de ao de inconstitucionalidade interventiva: visa no apenas obter a declarao de inconstitucionalidade, mas tambm restabelecer a ordem constitucional no Estado, ou Municpio, mediante a interveno; a sentena no ser meramente declaratria; no cabendo ao Senado a suspenso da execuo do ato; a Constituio declara que o decreto se limitar a suspender a execuo do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade; a deciso tem um efeito condenatrio que fundamenta o decreto de interveno; a condenao tem efeito constitutivo da sentena que faz coisa julgada material erga omnes. - Efeito da declarao de inconstitucionalidade por omisso: o efeito est no art. 103, 2 da Constituio, ao estatuir que, declarada a inconstitucionalidade por omisso de medida para tornar efetiva norma constitucional, ser dada cincia ao Poder competente para a adoo das providncias necessrias e, em se tratando de rgo administrativo, p ara faz-lo em 30 dias; a sentena que reconhece a inconstitucionalidade por omisso declaratria, mas no meramente, porque dela decorre um efeito ulterior de natureza mandamental no sentido de exigir a adoo das providncias necessrias ao suprimento da omisso. AO DECLARATRIA DE CONSTITUCIONALIDADE uma ao que tem a caracterstica de um meio paralisante de debates em torno de questes jurdicas fundamentais de interesse coletivo; ter como pressuposto ftico a existncia de decises de constitucionalidade, em processos concretos, contrrias posio governamental; seu exerccio gera um processo constitucional contencioso, de fato, porque visa desfazer decises proferidas entre as partes, mediante sua propositura por uma delas; tem natureza de meio de impugnao antes que de ao, com o mesmo objeto das contestaes, sustentando a constitucionalidade da lei ou ato normativo. 13) Finalidade o objeto da ao declaratria de constitucionalidade: essa ao pressupe controvrsia a respeito da constitucionalidade da lei, o que aferido diante da existncia de um grande nmero de aes onde a constitucionalidade da lei impugnada, sua finalidade imediata consiste na rpida soluo dessas pendncias; visa solucionar isso, por via de coisa julgada vinculante, que declara ou no a constitucionalidade da lei. O objeto da ao a verificao da constitucionalidade da lei ou ato normativo federal impugnado em processos concretos; no tem por objeto a verificao da constitucionalidade de lei ou ato estadual ou municipal, no h previso dessa possibilidade. 14) Legitimao e competncia para a ao: segundo o art. 103, 4, podero prop-la o Presidente da Repblica, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Cmara dos Deputados e o Procurador-Geral da Repblica, e o STF j decidiu que no cabe a interveno do Advogado-Geral da Unio no processo dessa ao. A competncia para processar e julgar a ao declaratria de constitucionalidade exclusivamente do STF.

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    15) Efeitos da deciso da ao declaratria de constitucionalidade: segundo a art. 102, 2, as decises definitivas de mrito nessas aes, produziro eficcia contra todos e efeito vinculante aos demais rgos do Judicirio e do Executivo; ter efeito erga omnes, se estendendo a todos os feitos em andamento, paralisando-os com o desfazimento dos efeitos das decises neles proferidas no primeiro caso ou a confirmao desses efeitos no segundo caso; o ato, dali por diante, constitucional, sem possibilidade de qualquer outra declarao em contrrio; pelo efeito vinculante funo jurisdicional dos demais rgos do Judicirio, nenhum juzo ou Tribunal poder conhecer de ao ou processo em que se postule uma deciso contrria declarao emitida no processo de ao declaratria de constitucionalidade pelo STF nem produzir validamente ato normativo em sentido contrrio quela deciso. EMENDA CONSTITUIO Emenda o processo formal de mudanas das constituies rgidas, por meio de atuao de certos rgos, mediante determinadas formalidades, estabelecidas nas prprias constituies para o exerccio do poder reformador; a modificao de certos pontos, cuja estabilidade o legislador constituinte no considerou to grande como outros mais valiosos, se bem que submetida a obstculos e formalidades mais difceis que os exigidos para a alterao das leis ordinrias; o nico sistema de mudana formal da Constituio. 16) Sistema brasileiro: Apresentada a proposta, ser ela discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada quando obtiver, em ambos, trs quintos (3/5) dos votos dos membros de cada uma delas (art. 60, 2); uma vez aprovada, a emenda ser promulgada pelas Mesas da Cmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo nmero de ordem; acrescenta-se que a matria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada no poder ser objeto de nova proposta na mesma sesso legislativa (art. 60, 5). 17) Poder constituinte e poder reformador: a Constituio conferiu ao Congresso Nacional a competncia para elaborar emendas a ela; o prprio poder constituinte originrio, ao estabelecer a CF, instituiu um poder constituinte reformador; no fundo, o agente ou sujeito da reforma, o poder constituinte originrio, que, por esse mtodo, atua em segundo grau, de modo indireto, pela outorga de competncia a um rgo constitudo para, em seu lugar, proceder s modificaes na Constituio, que a realidade exige; segundo o Prof. Manoel G. Ferreira Filho, poder constituinte de reviso aquele poder, inerente Constituio rgida que se destina a modific-la, segundo o que a mesma estabelece; visa permitir a mudana da Constituio, adaptao da Constituio a novas necessidades, a novos impulsos, a novas foras, sem que para tanto seja preciso recorrer revoluo, sem que seja preciso recorrer ao poder constituinte originrio. 18) Limitaes ao poder de reforma constitucional: limitado, porque a prpria norma constitucional lhe impe procedimento e modo de agir, dos quais no pode arredar sob pena de sua obra sair viciada, ficando sujeita ao sistema de controle de constitucionalidade, configura as limitaes formais. A doutrina distribui as limitaes em: Limitaes temporais: no so comumente encontrveis na histria constitucional brasileira; s a do Imprio estabeleceu esse tipo de limitao; visto que previa, que somente aps um certo tempo estabelecido, que ela poderia ser reformada (no caso 4 anos). Limitaes circunstanciais: desde 1934 estatui-se um tipo de limitao ao poder de reforma, qual seja a de que no se proceder reforma na vigncia do estado de stio; a Cf vigente veda emendas na vigncia de interveno federal, de estado de defesa ou estado de stio (art. 60, 1). Limitaes materiais: distingue, matrias explcitas (compreende-se que o constituinte originrio poder, expressamente, excluir determinadas matrias ou contedos da incidncia do poder de reforma) e implcitas (ocorre quando so enumeradas matrias de direitos fundamentais, insuscetveis de emendas)

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    19) Controle de constitucionalidade da reforma constitucional: toda modificao, feita com desrespeito de procedimento especial estabelecido ou de preceito que no possa ser objeto de emenda, padecer de vcio de inconstitucionalidade formal ou material, e assim ficar sujeita ao controle de constitucionalidade pelo Judicirio, tal como se d com as leis ordinrias. II - DOS PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DOS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS As normas so preceitos que tutelam situaes subjetivas de vantagem ou de vnculo, ou seja, reconhecem a pessoa ou a entidade, a faculdade de realizar certos interesses por ato prprio ou exigindo ao ou absteno de outrem; vinculam-nas obrigao de submeter-se s exigncias de realizar uma prestao. Os princpios so ordenaes que se irradiam e imantam os sistemas de normas; so como ncleos de condensaes nos quais confluem valores e bens constitucionais. 20) Os princpios constitucionais positivos: traduzem-se em normas da Constituio ou que delas diretamente se inferem; so basicamente de duas categorias: Princpios poltico-constitucionais: constituem-se daquelas decises polticas fundamentais concretizadas em normas conformadoras do sistema constitucional positivo, e so normas-princpio. Princpios jurdico-constitucionais: so informadores da ordem jurdica nacional; decorrem de certas normas constitucionais, e constituem desdobramentos dos fundamentais. 21) Conceito e contedo dos princpios fundamentais: constituem-se dos princpios definidores da forma de Estado, dos princpios definidores da estrutura do Estado, dos princpios estruturantes do regime poltico e dos princpios caracterizadores da forma de governo e da organizao poltica em geral; os da CF/88 discriminadamente so: a) princpios relativos existncia, forma, estrutura e tipo de Estado: Repblica Federativa, soberania, Estado democrtico de direito (art. 1); b) relativos forma de governo e organizao dos poderes: Repblica e separao de poderes (art. 1 e 2); c) relativos organizao da sociedade: princpio da livre organizao social, de convivncia justa e da solidariedade (art 3, I); d) relativos ao regime poltico: da cidadania, da dignidade da pessoa, do pluralismo, da soberania popular, da representao poltica e da participao popular direta (art. 1, pargrafo nico); e) relativos prestao positiva do Estado: da independncia e do desenvolvimento nacional, da justia social e da no-discriminao (arts. 3, II, III e IV); relativos comunidade internacional: da independncia nacional, do respeito dos direitos fundamentais da pessoa humana, da auto determinao dos povos, da no-interveno, da igualdade dos Estados, da soluo pacfica dos conflitos e da defesa da paz; do repdio ao terrorismo e ao racismo, da cooperao entre os povos e o da integrao da Amrica Latina (art. 4). 22) Princpios fundamentais e princpios gerais do Direito Constitucional: os fundamentais traduzem-se em normas fundamentais que explicitam as valoraes polticas fundamentais do legislador constituinte, contm as decises polticas fundamentais; os gerais formam temas de uma teoria geral do Direito Constitucional, por envolver conceitos gerais, relaes, objetos, que podem ter seu estudo destacado da dogmtica jurdico-constitucional. 23) Funo e relevncia dos princpios fundamentais: a funo ordenadora, bem como sua ao imediata, enquanto diretamente aplicveis ou diretamente capazes de conformarem as relaes poltico-constitucionais; a ao imediata dos princpios consiste, em primeiro lugar, em funcionarem como critrio de interpretao e de integrao, pois so eles que do coerncia geral ao sistema.

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    DOS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO ESTADO BRASILEIRO REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 24) O Pas e o Estado brasileiros: Pas se refere aos aspectos fsicos, ao habitat, ao torro nacional; manifesta a unidade geogrfica, histrica, econmica e cultural das terras ocupadas pelos brasileiros. Estado uma ordenao que tem por fim especfico e essencial regulamentao global das relaes sociais entre os membros de uma dada populao sobre um dado territrio; constitui-se de um poder soberano de um povo situado num territrio com certas finalidades; a constituio organiza esses elementos. 25) Territrio e forma de Estado: territrio o limite espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo o poder de imprio sobre pessoas e bens. Forma de Estado o modo de exerccio do poder poltico em funo do territrio. 26) Estado Federal - forma do Estado brasileiro: o federalismo, refere-se a uma forma de Estado (federao ou Estado Federal) caracterizada pela unio de coletividades pblicas dotadas de autonomia poltico-constitucional, autonomia federativa; a federao consiste na unio de coletividades regionais autnomas (estados federados, estados-membros ou estado). Estado federal o todo, dotado de personalidade jurdica de Direito Pblico Internacional. A Unio a entidade federal formada pela reunio das partes componentes, constituindo pessoa jurdica de Direito Pblico interno, autnoma em relao aos Estados e a que cabe exercer as prerrogativas da soberania do Estado brasileiro. A autonomia federativa assenta-se em dois elementos: a) na existncia de rgos governamentais prprios; b) na posse de competncias exclusivas. O Estado federal apresenta-se como um Estado que, embora parecendo nico nas relaes internacionais, constitudo por Estados-membros dotados de autonomia, notadamente quanto ao exerccio de capacidade normativa sobre matrias reservadas sua competncia. 27) Forma de Governo - a Repblica: Forma de governo conceito que se refere maneira como se d a instituio do poder na sociedade e como se d a relao entre governantes e governados. Repblica uma forma de governo que designa uma coletividade poltica com caractersticas da res pblica, ou seja, coisa do povo e para o povo, que se ope a toda forma de tirania. O princpio republicano (art. 1) no instaura a Repblica, recebe-a da evoluo constitucional. Sistema de Governo o modo como se relacionam os poderes, especialmente o Legislativo e o Executivo, que d origem aos sistemas parlamentarista, presidencialista e diretorial. 28) Fundamentos do Estado brasileiro: segundo o art. 1, o Estado brasileiro tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo poltico. 29) Objetivos fundamentais do Estado brasileiro: a Constituio consigna como objetivos fundamentais (art. 3): construir uma sociedade livre, justa e solidria; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalizao; reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e de outras formas de discriminao. PODER E DIVISO DE PODERES A diviso de poderes um princpio fundamental da Constituio, consta no ser art. 2 :so poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judicirio; exprimem , a um tempo, as funes legislativa, executiva e jurisdicional e indicam os respectivos rgos, estabelecidos na organizao dos poderes. 30) Poder poltico: pode ser definido como uma energia capaz de coordenar e impor decises visando realizao de determinados fins; superior a todos os outros poderes sociais, os quais reconhece, rege e domina, visando a ordenar as relaes entre esses grupos de

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    indivduos entre si e reciprocamente, de maneira a manter um mnimo de ordem e estimular o mximo de progresso vista do bem comum; possui 3 caractersticas fundamentais; unidade, indivisibilidade e indelegabilidade. 31) Governo e distino de funes do poder: Governo o conjunto de rgos mediante os quais a vontade do Estado formulada, expressada e realizada, ou , o conjunto de rgos supremos a quem incumbe o exerccio das funes do poder poltico; a distino das funes que so a legislativa, a executiva e a jurisdicional, fundamentalmente : - a legislativa consiste na edio de regras gerais (leis), abstratas, impessoais e inovadoras da ordem pblica; a executiva resolve os problemas concretos e individualizados, de acordo com as leis; a jurisdicional tem por objeto aplicar o direito aos casos concretos a fim de dirimir conflitos de interesse. 32) Diviso dos poderes: consiste em confiar cada uma das funes governamentais a rgos diferentes, que tomam os nomes das respectivas funes; fundamenta-se em dois elementos: a especializao funcional e a independncia orgnica. 33) Independncia e harmonia entre os poderes: a independncia dos poderes significa que a investidura e a permanncia das pessoas num dos rgos no dependem da confiana nem da vontade dos outros, que, no exerccio das atribuies que lhe sejam prprias, no precisam os titulares consultar os outros nem necessitam de sua autorizao, que, na organizao dos respectivos servios, cada um livre, observadas apenas as disposies constitucionais e legais. A harmonia entre os poderes verifica-se pelas normas de cortesia no trato recproco e no respeito s prerrogativas e faculdades a que mutuamente todos tm direito; a diviso de funes entre os rgos do poder nem sua independncia so absolutas; h interferncias, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, busca do equilbrio necessrio realizao do bem da coletividade. 34) Excees ao princpio: a Constituio estabelece incompatibilidades relativamente ao exerccio de funes e poderes (art. 54), e porque os limites e excees ao princpio decorrem de normas; Exemplos de exceo ao princpio: arts. 56, 62 (medidas provisrias com fora de lei) e 68 (delegao de atribuies legislativas). O ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO A democracia, como realizao de valores de convivncia humana, conceito mais abrangente do que o de Estado de Direito, que surgiu como expresso jurdica da democracia liberal. O Estado Democrtico de Direito rene os princpios do Estado Democrtico e do Estado de Direito, no como simples reunio formal dos respectivos elementos, revela um conceito novo que os supera, na medida em que incorpora um componente revolucionrio de transformao do status quo. 35) Estado de Direito: suas caractersticas bsicas foram a submisso do imprio a lei, a diviso de poderes e o enunciado e garantia dos direitos individuais. 36) Estado Social de Direito: transformao do Estado de Direito, onde o qualitativo social refere-se correo do individualismo clssico liberal pela afirmao dos chamados direitos sociais e realizao de objetivos de justia social; caracteriza-se no propsito de compatibilizar, em um mesmo sistema, 2 elementos: o capitalismo, como forma de produo, e a consecuo do bem-estar social geral, servindo de base ao neocapitalismo. 37) Estado Democrtico: se funda no princpio da soberania popular, que impe a participao efetiva e operante do povo na coisa pblica, participao que no se exaure, na simples formao das instituies representativas, que constituem em estgio da evoluo do Estado Democrtico, mas no o seu completo desenvolvimento; visa, assim, a realizar o princpio democrtico como garantia real dos direitos fundamentais da pessoa humana.

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    38) Caracterizao do Estado Democrtico de Direito: no significa apenas unir formalmente os conceitos de Estado de Democrtico e Estado de Direito; consiste na criao de um conceito novo, levando em conta os conceitos dos elementos componentes, mas os supera na medida em que incorpora um componente revolucionrio de transformao do status quo; um tipo de Estado que tende a realizar a sntese do processo contraditrio do mundo contemporneo, superando o Estado capitalista para configurar um Estado promotor de justia social que o personalismo e monismo poltico das democracias populares sob o influxo do socialismo real no foram capazes de construir; a CF de 88 apenas abre as perspectivas de realizao social profunda pela prtica dos direitos sociais que ela inscreve e pelo exerccio dos instrumentos que oferece cidadania e que possibilita concretizar as exigncias de um Estado de justia social, fundado na dignidade da pessoa humana. 39) A lei no Estado Democrtico de Direito: o princpio da legalidade tambm um princpio basilar desse Estado; da essncia do seu conceito subordinar-se Constituio e fundar-se na legalidade democrtica; sujeita-se ao imprio da lei, mas da lei que realize o princpio da igualdade e da justia no pela sua generalidade, mas pela busca da igualizao das condies dos socialmente desiguais. 40) Princpios a tarefa do Estado Democrtico de Direito: so os seguintes: princpio da constitucionalidade, democrtico, do sistema de direitos fundamentais, da justia social, da igualdade, da diviso de poderes, da legalidade e da segurana jurdica; sua tarefa fundamental consiste em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrtico que realize a justia social. PRINCPIO DEMOCRTICO E GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS REGIME POLTICO 41) Conceito de regime poltico: um complexo estrutural de princpios e foras polticas que configuram determinada concepo do Estado e da sociedade, e que inspiram seu ordenamento jurdico; antes de tudo, pressupe a existncia de um conjunto de instituies e princpios fundamentais que informam determinada concepo poltica do Estado e da sociedade, sendo tambm um conceito ativo, pois, ao fato estrutural h que superpor o elemento funcional, que implica uma atividade e um fim, supondo dinamismo, sem reduo a uma simples atividade de governo. 42) Regime poltico brasileiro: segundo a CF/88, funda-se no princpio democrtico; o prembulo e o art. 1 o enunciam de maneira insofismvel. DEMOCRACIA 43) Conceito de Democracia: um processo de convivncia social em que o poder emana do povo, h de ser exercido, direta ou indiretamente, pelo povo e em proveito do povo. 44) Pressupostos da democracia: a democracia no necessita de pressupostos especiais; basta a existncia de uma sociedade; se seu governo emana do povo, democracia; se no, no o ; a Constituio estrutura um regime democrtico consubstanciando esses objetivos de igualizao por via dos direitos sociais e da universalizao de prestaes sociais; a democratizao dessas prestaes, ou seja, a estrutura de modos democrticos, constitui fundamento do Estado Democrtico de Direito, institudo no art. 1. 45) Princpios e valores da democracia: a doutrina afirma que a democracia repousa sobre trs princpios fundamentais: o princpio da maioria, o princpio da igualdade e o princpio da

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    liberdade; em verdade, repousa sobre dois princpios fundamentais, que lhe do a essncia conceitual: o da soberania popular, segundo o qual o povo a nica fonte do poder, que se exprime pela regra de que todo o poder emana do povo; a participao, direta e indireta, do povo no poder, para que este seja efetiva expresso da vontade popular; nos casos em que a participao indireta, surge um princpio derivado ou secundrio: o da representao; Igualdade e Liberdade, tambm, no so princpios, mas valores democrticos, no sentido que a democracia constitui instrumento de sua realizao no plano prtico; a igualdade valor fundante da democracia, no igualdade formal, mas a substancial. 46) O poder democrtico e as qualificaes da democracia: o que d essncia democracia o fato de o poder residir no povo; repousa na vontade popular no que tange fonte do exerccio do poder; o conceito de democracia fundamenta-se na existncia de um vnculo entre o povo e o poder; como este recebe qualificaes na conformidade de seu objeto e modo de atuao; a democratizao do poder fenmeno histrico, da o aparecimento de qualificaes da democracia para denotar-lhe uma nova faceta, ou seja, a democracia poltica, a social e a econmica. 47) Exerccio do poder democrtico Democracia direta aquela em que o povo exerce, por si, os poderes governamentais, fazendo leis, administrando e julgando; Democracia indireta, chamada representativa, aquela na qual o povo, fonte primria do poder, no podendo dirigir os negcios do Estado diretamente, em face da extenso territorial, da densidade demogrfica e da complexidade dos problemas sociais, outorga as funes de governo aos seus representantes, que elege periodicamente; Democracia semidireta , na verdade, democracia representativa com alguns institutos de participao direta do povo nas funes de governo, institutos que, entre outros, integram a democracia participativa. 48) Democracia representativa: pressupe um conjunto de instituies que disciplinam a participao popular no processo poltico, que vem a formar os direitos polticos que qualificam a cidadania, tais como as eleies, o sistema eleitoral, etc., como constam nos arts. 14 a 17 da CF; a participao popular indireta, peridica e formal, por via das instituies eleitorais que visam a disciplinar as tcnicas de escolhas dos representantes do povo. 49) O mandato poltico representativo: a eleio gera, em favor do eleito, o mandato poltico representativo; nele se consubstanciam os princpios da representao e da autoridade legtima; o mandado se diz poltico representativo porque constitui uma situao jurdico-poltica com base na qual algum, designado por via eleitoral, desempenha uma funo poltica na democracia representativa. 50) Democracia participativa: o princpio participativo caracteriza-se pela participao direta e pessoal da cidadania na formao dos atos de governo; as primeiras manifestaes consistiram nos institutos de democracia semidireta, que combinam instituies de participao direta e indireta, tais como: a iniciativa popular (art. 14, III, regulado no art. 61, 2), o referendo popular (art. 14, II e 49, XV), o plebiscito (art. 14, I e 18, 3 e 4) e a ao popular (art. 5, LXXIII).

    51) Democracia pluralista: a CF/88 assegura os valores de uma sociedade pluralista (prembulo) e fundamenta-se no pluralismo poltico (art. 1, V); a Constituio opta, pois, pela sociedade pluralista que respeita a pessoa humana e sua liberdade; optar por isso significa acolher uma sociedade conflitiva, de interesses contraditrios e antinmicos; o papel poltico inserido para satisfazer, pela edio de medidas adequadas o pluralismo social, contendo seu efeito dissolvente pela unidade de fundamento da ordem jurdica.

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    52) Democracia e direito constitucional brasileiro: o regime assume uma forma de democracia participativa, no qual encontramos participao por via representativa e participao direta por via do cidado. A esse modelo, a Constituio incorpora princpios da justia social e do pluralismo; assim, o modelo o de uma democracia social, participativa e pluralista; no porm, uma democracia socialista, pois o modelo econmico adotado fundamentalmente capitalista.

    2 Parte

    DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

    I - A DECLARAO DOS DIREITOS

    1) A declarao dos direitos nas constituies brasileiras: a Constituio do Imprio j os consignava quase integralmente, havendo, nesse aspecto, pouca inovao de fundo, salvo quanto Constituio vigente que incorpora novidades de relevo; ela continha um ttulo sob rubrica confusa Das Disposies Gerais, e Garantia dos Direitos Civis e Polticos dos cidados brasileiros, com disposies sobre a aplicao da Constituio, sua reforma, natureza de suas normas e o art. 179, com 35 incisos, dedicados aos direitos e garantias individuais especialmente. J a Constituio de 1891 abria a Seo II do Ttulo IV com uma Declarao de Direitos, assegurando a inviolabilidade dos direitos concernentes liberdade, segurana e propriedade nos termos dos 31 pargrafos do art. 72; basicamente, contm s os chamados direitos e garantias individuais. Essa metodologia modificou-se a partir da Constituio de 1934 que abriu um ttulo especial para a Declarao de Direitos, nela inscrevendo no s os direitos e garantias individuais, mas tambm os de nacionalidade e os polticos; essa constituio durou pouco mais de 3 anos, pelo que nem teve tempo de ter efetividade. A ela sucedeu a Carta de 1937, ditatorial na forma, no contedo e na aplicao, com integral desrespeito aos direitos do homem, especialmente os concernentes s relaes polticas. A Constituio de 1946 trouxe o Ttulo IV sobre as Declaraes dos Direitos, com 2 captulos, um sobre a nacionalidade e a cidadania e outro sobre os direitos e garantias individuais, incluindo no caput do art. 141, o direito vida. Assim fixou o enunciado que se repetiria da Constituio de 1967 (art. 151) e sua Emenda 1/69 (art. 153), assegurando os direitos concernentes vida, liberdade, segurana individual e propriedade. A CF/88 adota tcnica mais moderna; abre-se com um ttulo sobre os princpios fundamentais, e logo introduz o Ttulo II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais, matria que nos ocupar a partir de agora.

    TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM

    2) Inspirao e fundamentao dos direitos fundamentais: a doutrina francesa indica o pensamento cristo e a concepo dos direitos naturais como as principais fontes de inspirao das declaraes dos direitos; fundada na insuficiente e restrita concepo das liberdades pblicas, no atina com a necessidade de envolver nessa problemtica tambm os direitos econmicos, sociais e culturais, aos quais se chama brevemente direitos sociais; outras fontes de inspirao dos direitos fundamentais so o Manifesto Comunista e as doutrinas marxistas, a doutrina social da Igreja, a partir do Papa Leo XIII e o intervencionismo estatal.

    3) Forma das declaraes de direitos: assumiram, inicialmente, a forma de proclamaes solenes; depois, passaram a constituir o prembulo das constituies; atualmente, ainda que nos documentos internacionais assumam a forma das primeiras declaraes, nos ordenamentos nacionais integram as constituies, adquirindo o carter concreto de normas jurdicas positivas constitucionais, por isso, subjetivando-se em direito particular de cada povo, que tem conseqncia jurdica prtica relevante.

    4) Conceito de direitos fundamentais: direitos fundamentais do homem constitui a expresso mais adequada a este estudo, porque, alm de referir-se a princpios que resumem a concepo do mundo e informam a ideologia poltica de cada ordenamento jurdico, reservada

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    Resumo de Direito Constitucional 12

    para designar, no nvel do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituies que ele concretiza em garantia de uma convivncia digna, livre e igual de todas as pessoas; no qualitativo fundamentais acha-se a indicao de que se trata de situaes jurdicas sem as quais a pessoa humana no se realiza, no convive e , s vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, no apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados; a limitao imposta pela soberania popular aos poderes constitudos do Estado que dela dependem.

    5) Natureza e eficcia das normas sobre direitos fundamentais: a natureza desses direitos so situaes jurdicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana; a eficcia e aplicabilidade das normas que contm os direitos fundamentais dependem muito de seu enunciado, pois se trata de assunto que est em funo do direito positivo; a CF/88 expressa sobre o assunto, quando estatui que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais, tm aplicao imediata.

    6) Classificao dos direitos fundamentais: em sntese, com base na CF/88. podemos classificar os direitos fundamentais em 5 grupos: 1 - direitos individuais (art. 5); 2 - direitos coletivos (art. 5); 3 - direitos sociais (arts. 6 e 193 e ss.); 4 - direitos nacionalidade (art. 12); 5 - direitos polticos (arts. 14 a 17).

    7) Integrao das categorias de direitos fundamentais: a Constituio fundamenta o entendimento de que as categorias de direitos humanos fundamentais, nela previstos, integram-se num todo harmnico, mediante influncias recprocas, at porque os direitos individuais, esto contaminados de dimenso social, de tal sorte que a previso dos direitos sociais, entre eles, os direitos de nacionalidade e polticos, lhes quebra o formalismo e o sentido abstrato; com isso, transita-se de uma democracia de contedo basicamente poltico-formal para a democracia de contedo social, se no de tendncia socializante; h certamente um desequilibro entre uma ordem social socializante e uma ordem econmica liberalizante.

    8) Direitos e garantias dos direitos: interessam-nos apenas as garantias dos direitos fundamentais, que distinguiremos em 2 grupos:

    - garantias gerais, destinadas a assegurar e existncia e a efetividade (eficcia social) daqueles direitos, as quais se referem organizao da comunidade poltica, e que poderamos chamar condies econmico-sociais, culturais e polticas que favorecem o exerccio dos direitos fundamentais; - garantias constitucionais que consistem nas instituies, determinaes e procedimentos mediante os quais a prpria Constituio tutela a observncia ou, em caso de inobservncia, a reintegrao dos direitos fundamentais; so de 2 tipos: gerais, que so instituies constitucionais que se inserem no mecanismo de freios e contrapesos dos poderes e, assim, impedem o arbtrio com o que constituem, ao mesmo tempo, tcnicas de garantia e respeito aos direitos fundamentais; especiais, que so prescries constitucionais estatuindo tcnicas e mecanismos que, limitando a atuao dos rgos estatais ou de particulares, protegem a eficcia, a aplicabilidade e a inviolabilidade dos direitos fundamentais de modo especial. O conjunto das garantias forma o sistema de proteo deles: proteo social, poltica e jurdica; em conjunto caracterizam-se como imposies, positivas ou negativas, aos rgos do Poder Pblico, limitativas de sua conduta, para assegurar a observncia ou, no caso de violao, a reintegrao dos direitos fundamentais.

    II - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS

    9) Conceito de direito individual: so dos direitos fundamentais do homem-indivduo, que so aqueles que reconhecem a autonomia aos particulares, garantindo a iniciativa e independncia

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    aos indivduos diante dos demais membros da sociedade poltica e do prprio Estado.

    10) Destinatrios dos direitos e garantias individuais: so os brasileiros e os estrangeiros residentes no Pas (art. 5); quanto aos estrangeiros no residentes, difcil delinear sua posio, pois o artigo s menciona brasileiros e estrangeiros residentes.

    11) Classificao dos direitos individuais: a Constituio d-nos um critrio para a classificao dos direitos que ela anuncia no art. 5, quando assegura a inviolabilidade do direito vida, igualdade. liberdade, segurana e propriedade; preferimos no entanto, fazer uma distino em 3 grupos: 1) direitos individuais expressos, aqueles explicitamente enunciados nos incisos do art. 5; 2) direitos individuais implcitos, aqueles que esto subentendidos nas regras de garantias, como direito identidade pessoal, certos desdobramentos do direito vida, o direito atuao geral (art. 5, II); 3) direitos individuais decorrentes do regime e de tratados internacionais subscritos pelo Brasil, aqueles que no so nem explcita nem implicitamente enumerados, mas provm ou podem vir a provir do regime adotado, como direito de resistncia, entre outros de difcil caracterizao a priori.

    12) Direitos coletivos: a rubrica do Captulo I, do Ttulo II anuncia uma especial categoria dos direitos fundamentais: os coletivos, mas nada mais diz a seu respeito; onde esto, nos incisos do art. 5, esses direitos coletivos?; muitos desses ditos interesses coletivos sobrevivem no texto constitucional, caracterizados, na maior parte, como direitos sociais (arts, 8 e 37, VI; 9 e 37, VII; 10; 11; 225) ou caracterizados como instituto de democracia direta nos arts. 14, I, II e III, 27, 4, 29, XIII, e 61, 2, ou ainda, como instituto de fiscalizao financeira, no art. 31, 3; apenas as liberdades de reunio e de associao, o direito de entidades associativas de representar seus filiados e os direitos de receber informao de interesse coletivo e de petio restaram subordinados rubrica dos direitos coletivos.

    13) Deveres individuais e coletivos: os deveres que decorrem dos incisos do art. 5, tm como destinatrios mais o Poder Pblico e seus agentes em qualquer nvel do que os indivduos em particular; a inviolabilidade dos direitos assegurados impe deveres a todos, mas especialmente s autoridades e detentores de poder; Ex: incisos XLIX, LXII, LXIII, LXIV, e etc.. do art. 5.

    DO DIREITO VIDA E DO DIREITO PRIVACIDADE

    DIREITO VIDA

    14) A vida como objeto do direito: a vida humana, que o objeto do direito assegurado no art. 5, integra-se de elementos materiais e imateriais; a vida intimidade conosco mesmo, saber-se e dar-se conta de si mesmo, um assistir a si mesmo e um tomar posio de si mesmo; por isso que ela constitui a fonte primria de todos os outros bens jurdicos.

    15) Direito existncia: consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender prpria vida, de permanecer vivo; o direito de no ter interrompido o processo vital seno pela morte espontnea e inevitvel; tentou-se incluir na Constituio o direito a uma existncia digna.

    16) Direito integridade fsica: a Constituio alm de garantir o respeito integridade fsica e moral (art. 5, XLIX), declara que ningum ser submetido tortura ou tratamento desumano ou degradante (art. 5, III); a fim de dotar essas normas de eficcia, a Constituio preordena vrias garantias penais apropriadas, como o dever de comunicar, imediatamente, ao juiz competente e famlia ou pessoa indicada, a priso de qualquer pessoa e o local onde se encontre; o dever da autoridade policial informar ao preso seus direitos; o direito do preso identificao dos responsveis por sua priso e interrogatrio policial.

    17) Direito integridade moral: a Constituio realou o valor da moral individual, tornando-a um bem indenizvel (art. 5, V e X); integridade moral do direito assume feio de

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    Resumo de Direito Constitucional 14

    direito fundamental; por isso que o Direito Penal tutela a honra contra a calnia, a difamao e a injria.

    18) Pena de morte: vedada; s admitida no caso de guerra externa declarada, nos termos do art. 84, XIX (art. 5, XLVII, a).

    19) Eutansia: vedado pela Constituio; o desinteresse do indivduo pela prpria vida no exclui esta da tutela; o Estado continua a proteg-la como valor social e este interesse superior torna invlido o consentimento do particular para que dela o privem.

    20) Aborto: a Constituio no enfrentou diretamente o tema, mas parece inadmitir o abortamento; devendo o assunto ser decidido pela legislao ordinria, especialmente a penal.

    21) Tortura: prtica expressamente condenada pelo inciso III do art. 5, segundo o qual ningum ser submetido tortura ou a tratamento desumano e degradante; a condenao to incisiva que o inciso XLIII determina que a lei considerar a prtica de tortura crime inafianvel e insuscetvel de graa, por ele respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evit-lo, se omitirem (Lei 9.455/97).

    DIREITO PRIVACIDADE

    22) Conceito e contedo: A Constituio declara inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5, X); portanto, erigiu, expressamente, esses valores humanos condio de direito individual, considerando-o um direito conexo ao da vida.

    23) Intimidade: caracteriza-se como a esfera secreta da vida do indivduo na qual este tem o poder legal de evitar os demais; abrangendo nesse sentido inviolabilidade do domiclio, o sigilo de correspondncia e ao segredo profissional.

    24) Vida privada: a tutela constitucional visa proteger as pessoas de 2 atentados particulares: ao segredo da vida privada e liberdade da vida privada.

    25) Honra e imagem das pessoas: o direito preservao da honra e da imagem, no caracteriza propriamente um direito privacidade e menos intimidade; a CF reputa-os valores humanos distintos; a honra, a imagem constituem, pois, objeto de um direito, independente, da personalidade.

    26) Privacidade e informtica: a Constituio tutela a privacidade das pessoas, acolhendo um instituto tpico e especfico para a efetividade dessa tutela, que o habeas data, que ser estudado mais adiante.

    27) Violao privacidade e indenizao: essa violao, em algumas hipteses, j constitui ilcito penal; a CF foi explcita em assegurar ao lesado, direito indenizao por dano material ou moral decorrente da violao do direito privacidade.

    DIREITO DE IGUALDADE

    28) Introduo ao tema: as Constituies s tem reconhecido a igualdade no seu sentido jurdico-formal (perante a lei); a CF/88 abre o captulo dos direitos individuais com o princpio que todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza; refora o princpio com muitas outras normas sobre a igualdade ou buscando a igualizao dos desiguais pela outorga de direitos sociais substanciais.

    29) Isonomia formal e isonomia material: isonomia formal a igualdade perante a lei; a material so as regras que probem distines fundadas em certos fatores; Ex: art. 7, XXX e XXXI;

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    Resumo de Direito Constitucional 15

    a Constituio procura aproximar os 2 tipos de isonomia, na medida em que no de limitara ao simples enunciado da igualdade perante a lei; menciona tambm a igualdade entre homens e mulheres e acrescenta vedaes a distino de qualquer natureza e qualquer forma de discriminao.

    30) O sentido da expresso igualdade perante a lei: o princpio tem como destinatrios tanto o legislador como os aplicadores da lei; significa para o legislador que, ao elaborar a lei, deve reger, com iguais disposies situaes idnticas, e, reciprocamente, distinguir, na repartio de encargos e benefcios, as situaes que sejam entre si distintas, de sorte a quinho-las ou grav-las em proporo s suas diversidades; isso que permite, legislao, tutelar pessoas que se achem em posio econmica inferior, buscando realizar o princpio da igualizao.

    31) Igualdade de homens e mulheres: essa igualdade j se contm na norma geral da igualdade perante a lei; tambm contemplada em todas as normas que vedam a discriminao de sexo (arts. 3, IV, e 7, XXX), sendo destacada no inciso I, do art. 5 que homens e mulheres so iguais em direitos e obrigaes, nos termos desta Constituio; s valem as discriminaes feitas pela prpria Constituio e sempre em favor da mulher, por exemplo, a aposentadoria da mulher com menor tempo de servio e de idade que o homem (arts. 40, III, e 202, I a III).

    32) O princpio da igualdade jurisdicional: a igualdade jurisdicional ou igualdade perante o juiz decorre, pois, da igualdade perante a lei, como garantia constitucional indissoluvelmente ligada democracia; apresenta-se sob 2 prismas: como interdio do juiz de fazer distino entre situaes iguais, ao aplicar a lei; como interdio ao legislador de editar leis que possibilitem tratamento desigual a situaes iguais ou tratamento igual a situaes desiguais por parte da Justia.

    33) Igualdade perante a tributao: o princpio da igualdade tributria relaciona-se com a justia distributiva em matria fiscal; diz respeito repartio do nus fiscal do modo mais justo possvel; fora disso a igualdade ser puramente formal.

    34) Igualdade perante a lei penal: essa igualdade deve significar que a mesma lei penal e seus sistemas de sanes ho de se aplicar a todos quanto pratiquem o fato tpico nela definido como crime; devido aos fatores econmicos, as condies reais de desigualdade condicionam o tratamento desigual perante a lei penal, apesar do princpio da isonomia assegurado a todos pela Constituio (art. 5).

    35) Igualdade sem distino de qualquer natureza: alm da base geral em que assenta o princpio da igualdade perante a lei, consistente no tratamento igual a situaes iguais e tratamento desigual a situaes desiguais, vedado distines de qualquer natureza; as discriminaes so proibidas expressamente no art. 3, IV, onde diz que:... promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminao; probe tambm, diferena de salrios, de exerccio de funes e de critrio de admisso por motivo de sexo, idade, cor, estado civil ou posse de deficincia (art. 7, XXX e XXXI).

    36) O princpio da no discriminao e sua tutela penal: a Constituio traz 2 dispositivos que fundamentam e exigem normas penais rigorosas contra discriminaes; diz-se num deles que a lei punir qualquer discriminao atentatria dos direitos e liberdades fundamentais, e outro, mais especfico porque destaca a forma mais comum de discriminao, estabelecendo que a prtica do racismo constitui crime inafianvel e imprescritvel, sujeito pena de recluso, nos termos da lei. (art. 5, XLI e XLII).

    37) Discriminaes e inconstitucionalidade: so inconstitucionais as discriminaes no autorizadas pela Constituio; h 2 formas de cometer essa inconstitucionalidade; uma consiste em outorgar benefcio legtimo a pessoas ou grupos, discriminando-os favoravelmente em detrimento de outras pessoas ou grupos em igual situao; a outra forma revela-se em se impor

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    Resumo de Direito Constitucional 16

    obrigao, dever, nus, sano ou qualquer sacrifcio a pessoas ou grupos de pessoas, discriminando-as em face de outros na mesma situao que, assim, permaneceram em condies mais favorveis.

    DIREITO DE LIBERDADE

    38) O problema da Liberdade: a liberdade tem um carter histrico, porque depende do poder do homem sobre a natureza, a sociedade, e sobre si mesmo em cada momento histrico; o contedo da liberdade se amplia com a evoluo da humanidade; fortalece-se, medida que a atividade humana se alarga. A liberdade ope-se ao autoritarismo, deformao da autoridade; no porm, autoridade legtima; o que vlido afirmar que a liberdade consiste na ausncia de coao anormal, ilegtima e imoral; da se conclui que toda a lei que limita a liberdade precisa ser lei normal, moral e legtima, no sentido de que seja consentida por aqueles cuja liberdade restringe; como conceito podemos dizer que liberdade consiste na possibilidade de coordenao consciente dos meios necessrios realizao da felicidade pessoal. O assinalado o aspecto histrico denota que a liberdade consiste num processo dinmico de liberao do homem de vrios obstculos que se antepem realizao de sua personalidade: obstculos naturais, econmicos, sociais e polticos; hoje funo do Estado promover a liberao do homem de todos esses obstculos, e aqui que a autoridade e liberdade se ligam. O regime democrtico uma garantia geral da realizao dos direitos humanos fundamentais; quanto mais o processo de democratizao avana, mais o homem se vai libertando dos obstculos que o constrangem, mais liberdade conquista.

    39) Liberdade e liberdades: liberdades, no plural, so formas de liberdade, que aqui, em funo do Direito Constitucional positivo, distingue-se em 5 grupos: 1) liberdade da pessoa fsica; 2) liberdade de pensamento, com todas as suas liberdades; 3) liberdade de expresso coletiva; 4) liberdade de ao profissional; 5) liberdade de contedo econmico. Cabe considerar aquela que constitui a liberdade-matriz, que a liberdade de ao em geral, que decorre do art. 5, II, segundo o qual ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei.

    40) Liberdade da pessoa fsica: a possibilidade jurdica que se reconhece a todas as pessoas de serem senhoras de sua prpria vontade e de locomoverem-se desembaraadamente dentro do territrio nacional; para ns as formas de expresso dessa liberdade se revelam apenas na liberdade de locomoo e na liberdade de circulao; mencionando tambm o problema da segurana, no como forma dessa liberdade em si, mas como forma de garantir a efetividade destas.

    41) Liberdade de pensamento: o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em cincia, religio, arte, ou o que for; trata-se de liberdade de contedo intelectual e supe contato com seus semelhantes; inclui as liberdades de opinio, de comunicao, de informao, religiosa, de expresso intelectual, artstica e cientfica e direitos conexos, de expresso cultural e de transmisso e recepo do conhecimento.

    42) Liberdade de ao profissional: confere liberdade de escolha de trabalho, de ofcio e de profisso, de acordo com as propenses de cada pessoa e na medida em que a sorte e o esforo prprio possam romper as barreiras que se antepem maioria do povo; a liberdade anunciada no acima (art. 5, XIII), beneficia brasileiros e estrangeiros residentes, enquanto a acessibilidade funo pblica sofre restries de nacionalidade (arts. 12 3, e 37, I e II); A Constituio ressalva, quanto escolha e exerccio de ofcio ou profisso, que ela fica sujeita observncia das qualificaes profissionais que a lei exigir, s podendo a lei federal definir as qualificaes profissionais requeridas para o exerccio das profisses. ( art. 22, XVI).

    DIREITOS COLETIVOS

    43) Direito informao: o direito de informar, como aspecto da liberdade de manifestao de pensamento, revela-se um direito individual, mas j contaminado no sentido

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    Resumo de Direito Constitucional 17

    coletivo, em virtude das transformaes dos meios de comunicao, que especialmente se concretiza pelos meios de comunicao social ou de massa; a CF acolhe essa distino, no captulo da comunicao (220 a 224). preordena a liberdade de informar completada com a liberdade de manifestao do pensamento (5, IV).

    44) Direito de representao coletiva: estabelece que as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, tm legitimidade para representar seus filiados em juzo ou fora dele (art. 5, XXI), legitimidade essa tambm reconhecida aos sindicatos em termos at mais amplos e precisos, in verbis: ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questes judiciais ou administrativas (art. 8, III).

    45) Direito de participao: distinguiremos 2 tipos; um a participao direta dos cidados no processo poltico e decisrio (arts. 14, I e II, e 61, 2); s se reputa coletivo porque s pode ser exercido por um nmero razovel de eleitores: uma coletividade, ainda que no organizada formalmente. Outro, a participao orgnica, s vezes resvalando para uma forma de participao corporativa, a participao prevista no art. 10 e a representao assegurada no art. 11, as quais aparecem entre os direitos sociais. Coletivo, de natureza comunitria no-corporativa, o direito de participao da comunidade (arts. 194, VII e 198, III).

    46) Direito dos consumidores: estabelece que o Estado prover, na forma da lei, a defesa do consumidor (art. 5, XXXII), conjugando isso com a considerao do art. 170, V, que eleva a defesa do consumidor condio de princpio da ordem econmica.

    47) Liberdade de reunio: est prevista no art. 5, XVI; a liberdade de reunio est plena e eficazmente assegurada, no mais se exige lei que determine os casos em que ser necessria a comunicao prvia autoridade, bem como a designao, por esta, do local de reunio; nem se autoriza mais a autoridade a intervir para manter a ordem, cabendo apenas um aviso autoridade que ter o dever, de ofcio, de garantir a realizao da reunio.

    48) Liberdade de associao: reconhecida e garantida pelos incisos XVII a XXI do art. 5; h duas restries expressas liberdade de associar-se: veda-se associao que no seja para fins lcitos ou de carter paramilitar; e a que se encontra a sindicabilidade que autoriza a dissoluo por via judicial; no mais tm as associaes o direito de existir, permanecer, desenvolver-se e expandir-se livremente.

    Regime das Liberdades

    49) Eficcia das normas constitucionais sobre as liberdades: as normas constitucionais que definem as liberdades so, via de regra, de eficcia plena e aplicabilidade direta e imediata; vale dizer, no dependem de legislao nem de providncia do Poder Pblico para serem aplicadas; algumas normas podem caracterizar-se como de eficcia contida (quando a lei restringe a plenitude desta, regulando os direitos subjetivos que delas decorrem); o exerccio das liberdades no depende de normas reguladoras, porque, como foi dito, as normas constitucionais que as reconhecem so de aplicabilidade direta e imediata, sejam de eficcia plena ou eficcia contida.

    50) Sistemas de restries das liberdades individuais: a caracterstica de normas de eficcia contida tem extrema importncia, porque da que vm os sistemas de restries das liberdades pblicas; algumas normas conferidoras de liberdade e garantias individuais, mencionam uma lei limitadora (art. 5, VI, VII, XIII, XV, XVIII); outras limitaes podem provir da incidncia de normas constitucionais (art. 5, XVI e XVII); tudo isso constitui modos de restries de liberdades que, no entanto, esbarram no princpio de que liberdade, o direito, que deve prevalecer, no podendo ser extirpado por via da atuao do Poder Legislativo nem do poder de polcia.

    DIREITO DE PROPRIEDADE

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    Resumo de Direito Constitucional 18

    Direito de Propriedade em Geral

    51) Fundamento constitucional: O regime jurdico da propriedade tem seu fundamento na Constituio; esta garante o direito de propriedade, desde que este atenda sua funo social (art. 5, XXII), sendo assim, no h como escapar ao sentido que s garante o direito de propriedade que atenda sua funo social; a prpria Constituio d conseqncia a isso quando autoriza a desapropriao, como pagamento mediante ttulo, de propriedade que no cumpra sua funo social (arts. 182, 4, e 184); existem outras normas que interferem com a propriedade mediante provises especiais (arts. 5, XXIV a XXX, 170, II e III, 176, 177 e 178, 182, 183, 184, 185, 186, 191 e 222).

    52) Conceito e natureza: entende-se como uma relao entre um indivduo (sujeito ativo) e um sujeito passivo universal integrado por todas as pessoas, o qual tem o dever de respeit-lo, abstraindo-se de viol-lo, e assim o direito de propriedade se revela como um modo de imputao jurdica de uma coisa a um sujeito.

    53) Regime jurdico da propriedade privada: em verdade, a Constituio assegura o direito de propriedade, estabelece seu regime fundamental, de tal sorte que o Direito Civil no disciplina a propriedade, mas to-somente as relaes civis e a ela referentes; assim, s valem no mbito das relaes civis as disposies que estabelecem as faculdades de usar, gozar e dispor de bens (art. 524), a plenitude da propriedade (525), etc.; vale dizer, que as normas de Direito Privado sobre a propriedade ho de ser compreendidas de conformidade com a disciplina que a Constituio lhe impe.

    54) Propriedade e propriedades: a Constituio consagra a tese de que a propriedade no constitui uma instituio nica, mas vrias instituies diferenciadas, em correlao com os diversos tipos de bens e de titulares, de onde ser cabvel falar no em propriedade, mas em propriedades; ela foi explcita e precisa; garante o direito de propriedade em geral (art. 5, XXII), mas distingue claramente a propriedade urbana (182, 2) e a propriedade rural (arts. 5, XXIV, e 184, 185 e 186), com seus regimes jurdicos prprios.

    55) Propriedade pblica: a Constituio a reconhece: - ao incluir entre os bens da Unio aqueles enumerados no art. 20 e, entre os dos Estados, os indicados no art. 26; - ao autorizar desapropriao, que consiste na transferncia compulsria de bens privados para o domnio pblico; - ao facultar a explorao direta de atividade econmica pelo Estado (art. 173) e o monoplio (art. 177), que importam apropriao pblica de bens de produo. *ver tambm os arts. 65 a 68 do CC; e 20, XI, e 231 da CF.

    PROPRIEDADES ESPECIAIS

    56) Propriedade autoral: consta no art. 5, XXVII, que contm 2 normas: a primeira confere aos autores o direito exclusivo de utilizar, publicar e reproduzir suas obras; a segunda declara que esse direito transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; o autor , pois, titular de direitos morais e de direitos patrimoniais sobre a obra intelectual que produzir; os direitos morais so inalienveis e irrenunciveis; mas, salvo os de natureza personalssima, so transmissveis por herana nos termos da lei; j os patrimoniais so alienveis por ele ou por seus sucessores.

    57) Propriedade de inventos, de marcas e indstrias e de nome de empresas: seu enunciado e contedo denotam, quando a eficcia da norma fica dependendo de legislao ulterior: que a lei assegurar aos autores de inventos industriais privilgio temporrio para sua utilizao, bem como a proteo s criaes industriais, propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnolgico e econmico do Pas (art. 5, XXIX); a lei, hoje, a de n 9279/96, que substitui a Lei 5772/71.

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    58) Propriedade-bem de famlia: segundo o inc. XXVI do art. 5, a pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de penhora para pagamento de dbitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; possui o interesse de proteger um patrimnio necessrio manuteno e sobrevivncia da famlia.

    LIMITAES AO DIREITO DE PROPRIEDADE

    59) Conceito: consistem nos condicionamentos que atingem os caracteres tradicionais desse direito, pelo que era tido como direito absoluto (assegura a liberdade de dispor da coisa do modo que melhor lhe aprouver), exclusivo e perptuo (no desaparece com a vida do proprietrio).

    60) Restries: limitam, em qualquer de suas faculdades, o carter absoluto da propriedade; existem restries faculdade de fruio, que condicionam o uso e a ocupao da coisa; faculdade de modificao coisa; alienabilidade da coisa, quando, por exemplo, se estabelece direito de preferncia em favor de alguma pessoa.

    61) Servides e utilizao de propriedade alheia: so formas de limitao que lhe atinge o carter exclusivo; constituem nus impostos coisa; vinculam 2 coisas: uma serviente e outra dominante; a utilizao pode ser pelo Poder Pblico (decorrente do art. 5, XXV) ou por particular; as servides so indenizveis, em princpio; outra forma so as requisies do Poder Pblico; a CF permite as requisies civis e militares, mas to-s em caso de iminente perigo e em tempo de guerra (art. 22, III); so tambm indenizveis.

    62) Desapropriao: a limitao que afeta o carter perptuo, porque o meio pelo qual o Poder Pblico determina a transferncia compulsria da propriedade particular especialmente para o seu patrimnio ou de seus delegados (arts. 5 XXIV, 182 e 184).

    FUNO SOCIAL DA PROPRIEDADE

    63) Conceito: no se confunde com os sistemas de limitao da propriedade; estes dizem respeito ao exerccio do direito ao proprietrio; aquela estrutura do direito mesmo, propriedade; a funo social se modifica com as mudanas na relao de produo; a norma que contm o princpio da funo social incide imediatamente, de aplicabilidade imediata; a prpria jurisprudncia j o reconhece; o princpio transforma a propriedade capitalista, sem socializ-la; constitui o regime jurdico da propriedade, no de limitaes, obrigaes e nus que podem apoiar-se em outros ttulos de interveno, como a ordem pblica ou a atividade de polcia; constitui um princpio ordenador da propriedade privada; no autoriza a suprimir por via legislativa, a instituio da propriedade privada

    III - DIREITOS SOCIAIS

    FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS

    64) Ordem social e direitos sociais: a CF/88 traz um captulo prprio dos direitos sociais e, bem distanciado deste, um ttulo especial sobre a ordem social, no ocorrendo uma separao radical, como se os direitos sociais no fossem algo nsito na ordem social; o art. 6 diz que so direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, o lazer, a segurana a previdncia social ......, na forma desta Constituio; esta forma dada precisamente no ttulo da ordem social, onde trata dos mecanismos e aspectos organizacionais desses direitos.

    65) Direitos sociais e direitos econmicos: a Constituio inclui o direito dos trabalhadores como espcie de direitos sociais, e o trabalho como primado bsico da ordem social

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    (arts. 7 e 193); o direito econmico tem uma dimenso institucional, enquanto os sociais constituem forma de tutela pessoal; o direito econmico a disciplina jurdica de atividades desenvolvidas nos mercados, visando a organiz-los sob a inspirao dominante do interesse social; os sociais disciplinam situaes objetivas, pessoais ou grupais de carter concreto.

    66) Conceito de direitos sociais: so prestaes positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condies de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualizao de situaes sociais desiguais.

    67) Classificao dos direitos sociais: vista do Direito positivo, e com base nos arts. 6 a 11, so agrupados em 5 classes: a) direitos sociais relativos ao trabalhador; b) relativos seguridade, compreendendo os direitos sade, previdncia e assistncia social; c) relativos educao e cultura; d) relativos famlia, criana, adolescente e idoso; e) relativos ao meio ambiente; h porm uma classificao dos direitos sociais do homem como produtor e como consumidor.

    DIREITOS SOCIAIS RELATIVOS AOS TRABALHADORES

    Questo de Ordem

    68) Espcies de direitos relativos aos trabalhadores: so de duas ordens: a) os direitos em suas relaes individuais de trabalho (art. 7); b) direitos coletivos dos trabalhadores (arts. 9 a 11).

    Direitos dos Trabalhadores

    69) Destinatrios: o art. 7 relaciona os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, mas seu pargrafo nico assegura categoria dos trabalhadores domsticos os direitos indicados nos incisos IV, VI, VIII, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV.

    70) Direitos reconhecidos: so direitos dos trabalhadores os enumerados nos incisos do art. 7, alm de outros que visem melhoria de sua condio social; temos assim direitos expressamente enumerados e direitos simplesmente previstos.

    71) Direito ao trabalho e garantia do emprego: o art. 6 define o trabalho como direito social, mas nem ele nem o art. 7 trazem norma expressa conferindo o direito ao trabalho; este ressai do conjunto de normas sobre o trabalho; no art. 1, IV, declara que o Pas tem como fundamento, entre outros, os valores sociais do trabalho; o 170 estatui que a ordem econmica funda-se na valorizao do trabalho; o 193 dispe que a ordem social tem como base o primado do trabalho. A garantia de emprego significa o direito de o trabalhador conservar sua relao de emprego contra despedida arbitrria ou sem justa causa , prevendo uma indenizao compensatria, caso ocorra essa hiptese (art. 7, I).

    72) Direitos sobre as condies de trabalho: as condies dignas de trabalho constituem objetivos dos direitos dos trabalhadores; por meio delas que eles alcanam a melhoria de sua condio social (art. 7, caput); a Constituio no o lugar para se estabelecerem as condies das relaes de trabalho, mas ela o faz, visando proteger o trabalhador, quanto a valores mnimos e certas condies de salrios (art. 7, IV a X), e, especialmente para assegurar a isonomia material (XXX a XXXII e XXXIV), garantir o equilbrio entre o trabalho e descanso (XIII a XV e XVII a XIX).

    73) Direitos relativos ao salrio: quanto fixao, a CF oferece vrias regras e condies, tais como: salrio mnimo, piso salarial, salrio nunca inferior ao mnimo, dcimo-terceiro salrio, remunerao do trabalho noturno superior do diurno, determinao que a remunerao da hora extra seja superior no mnimo 50% a do trabalho normal, salrio-famlia,

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    Resumo de Direito Constitucional 21

    respeito ao princpio da isonomia salarial e o adicional de insalubridade; quanto proteo do salrio, possui 2 preceitos especficos: irredutibilidade do salrio (inciso VI), e a proteo do salrio na forma da lei, constituindo crime sua reteno dolosa (inciso X).

    74) Direitos relativos ao repouso e inatividade do trabalhador: a Constituio assegura o repouso semanal remunerado, o gozo de frias anuais, a licena a gestante e a licena-paternidade (incisos XV e XVII a XIX).

    75) Proteo dos trabalhadores: a CF ampliou as hipteses de proteo, a primeira na ordem do art. 7 que aparece a do inciso XX: proteo ao mercado de trabalho da mulher; a segunda a do inciso XXII, forma de segurana do trabalho; a terceira do inciso XXVII, prev a proteo em face da automao, na forma da lei; a quarta a do inciso XXVIII, que estabelece o seguro contra acidentes de trabalho; cabe observar que os dispositivos que garantem a isonomia e no discriminao (XXX a XXXII) tambm possuem uma dimenso protetora do trabalhador.

    76) Direitos relativos aos dependentes do trabalhador: o de maior importncia social o direito previsto no inc. XXV, do art.7, pelo qual se assegura assistncia gratuita aos filhos e dependentes do trabalhador desde o nascimento at 6 anos de idade em creches e pr-escolas.

    77) Participao nos lucros e co-gesto: diz-se que direito dos trabalhadores a participao nos lucros, ou resultados, desvinculada da remunerao, e, excepcionalmente, a participao na gesto da empresa, conforme definido em lei (art. 7, XI); o texto fala em participao nos lucros, ou resultados; so diferentes; resultados, consistem na equao positiva ou negativa entre todos os ganhos e perdas; lucro bruto a diferena entre a receita lquida e custos de produo dos bens e servios da empresa; a participao na gesto da empresa s ocorrer quando a coletividade trabalhadora da empresa, por si ou por uma comisso, um conselho, um delegado ou um representante, fazendo parte ou no dos rgos diretivos dela, disponha de algum poder de co-deciso ou pelo menos de controle.

    DIREITOS COLETIVOS DOS TRABALHADORES

    78) Liberdade de associao ou sindical: so mencionados no art. 8, 2 tipos de associao: a profissional e a sindical; a diferena que a sindical uma associao profissional com prerrogativas especiais, tais como: defender os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, participar das negociaes coletivas, eleger ou designar representantes da respectiva categoria, impor contribuies; j a associao profissional no sindical se limita a fins de estudo, defesa e coordenao dos interesses econmicos e profissionais de seus associados. A Constituio contempla e assegura amplamente a liberdade sindical em todos os seus aspectos; a liberdade sindical implica efetivamente: a liberdade de fundao de sindicato, a liberdade de adeso sindical, a liberdade de atuao e a liberdade de filiao. A participao dos sindicatos nas negociaes coletivas de trabalho obrigatria, por fora do art. 8, VI. O inciso IV, do referido artigo autoriza a assemblia geral a fixar a contribuio sindical que, em se tratando de categoria profissional, ser descontada em folha, independente da contribuio prevista em lei.(arts. 578 a 610 da CLT). Sobre a pluralidade ou unicidade sindical, a CF adotou a unicidade, conforme o art. 8, II.

    79) Direito de greve: a Constituio assegurou o direito de greve, por si prpria (art. 9); no o subordinou a eventual previso em lei; greve o exerccio de um poder de fato dos trabalhadores com o fim de realizar uma absteno coletiva do trabalho subordinado.

    80) Direito de substituio processual: consiste no poder que a Constituio conferiu aos sindicatos de ingressar em juzo na defesa de direitos e interesses coletivos e individuais da categoria.

    81) Direito de participao laboral: direito coletivo de natureza social (art. 10), segundo o qual assegurada a participao dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos rgos

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    Resumo de Direito Constitucional 22

    pblicos em que seus interesses profissionais ou previdencirios sejam objeto de discusso.

    82) Direito de representao na empresa: est consubstanciado na art. 11, segundo o qual, nas empresas de mais de 200 empregados, assegurada a eleio de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

    DIREITOS SOCIAIS DO HOMEM CONSUMIDOR

    Direitos Sociais Relativos Seguridade

    83) Seguridade social: A Constituio acolheu uma concepo de seguridade social, cujos objetivos e princpios se aproximam bastante daqueles fundamentais, ao defini-la como um conjunto de aes de iniciativa dos Poderes Pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social (194).

    84) Direito sade: a CF declara ser a sade direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos a ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao, servios e aes que so de relevncia pblica (196 e 197).

    85) Direito previdncia social: funda-se no princpio do seguro social, de sorte que os benefcios e servios se destinam a cobrir eventos de doena, invalidez, morte, velhice e recluso, apenas do segurado e seus dependentes. (201 e 202)

    86) Direito assistncia social: constitui a face universalizante da seguridade social, porque ser prestada a quem dele necessitar, independentemente de contribuio (art. 203).

    Direitos Sociais Relativos Educao e Cultura

    87) Significao constitucional: a CF/88 deu relevante importncia cultura, formando aquilo que se denomina ordem constitucional da cultura, ou constituio cultural, constituda pelo conjunto de normas que contm referncias culturais e disposies consubstanciadoras dos direitos sociais relativos educao e cultura. (5, IX, 23, III a V, 24, VII a IX, 30, IX, e 205 a 2017).

    88) Objetivos e princpios informadores da educao: os objetivos esto previstos no art. 205: a) pleno desenvolvimento da pessoa; b) preparo da pessoa para o exerccio da cidadania; c) qualificao da pessoa para o trabalho; os princpios esto acolhidos no art. 206: universalidade, igualdade, liberdade, pluralismo, gratuidade do ensino pblico, valorizao dos respectivos profissionais, gesto democrtica da escola e padro de qualidade.

    89) Direito educao: o art. 205 contm uma declarao fundamental, que combinada com o art. 6, eleva e educao ao nvel dos direitos fundamentais do homem; a se afirma que a educao direito de todos, realando-lhe o valor jurdico, com a clusula a educao dever do Estado e da famlia (art. 205 e 227).

    90) Direito cultura: os direitos culturais so: a) direito de criao cultural; b) direito de acesso s fontes da cultura nacional; c) direito de difuso da cultura; d) liberdade de formas de expresso cultural; e) liberdade de manifestaes culturais; f) direito-dever estatal de formao de patrimnio cultural e de proteo dos bens de cultura, que, assim, ficam sujeitos a um regime jurdico especial, como forma de propriedade de interesse pblico (215 e 216).

    DIREITO AMBIENTAL

    91) Direito ao lazer: a Constituio menciona o lazer apenas no art. 6 e faz ligeira

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    Resumo de Direito Constitucional 23

    referncia no art. 227, e nada mais diz sobre esse direito social; como visto, ele est muito associado aos direitos dos trabalhadores relativos ao repouso.

    92) Direito ao meio ambiente:o art. 225 estatui que, todos tm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.

    DIREITOS SOCIAIS DA CRIANA E DOS IDOSOS

    93) Proteo maternidade e infncia: est prevista no art. 6 como espcie de direito social, mas seu contedo h de ser buscado em mais de um dos captulos da ordem social, onde aparece com aspectos do direito de previdncia social, de assistncia social e no captulo da famlia, da criana, do adolescente e do idoso (art. 227), sendo de ter cuidado para no confundir o direito individual da criana , com seu direito social, que alis coincide, em boa parte, com o de todas as pessoas, com o direito civil e com o direito tutelar do menos (art. 227, 3, IV a VII, e 4).

    94) Direito dos idosos: alm dos direitos, previdencirio (201, I) e assintencirio (203, I), o art. 230, estatui que a famlia, a sociedade e o Estado tm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua participao na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito vida, bem como a gratuidade dos transportes coletivos urbanos e, tanto quanto possvel a convivncia em seu lar.

    IV - DIREITO DE NACIONALIDADE

    95) Conceito de Nacionalidade: segundo Pontes de Miranda, nacionalidade o vnculo jurdico-poltico de Direito Pblico interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimenso pessoal do Estado; no Direito Constitucional vigente, os termos nacionalidade e cidadania, ou nacional e cidado, tm sentido distinto; nacional o brasileiro nato ou naturalizado; cidado qualifica o nacional no gozo dos direitos polticos e os participantes da vida do Estado.

    96) Natureza do direito de nacionalidade: os fundamentos sobre a aquisio da nacionalidade matria constitucional, mesmo naqueles casos em que ela considerada em textos de lei ordinria.

    97) Nacionalidade primria e nacionalidade secundria: a primria resulta de fato natural - o nascimento -; a secundria a que se adquire por fato voluntrio, depois do nascimento.

    98) Modos de aquisio de nacionalidade: so 2 os critrios para a determinao da nacionalidade primria: a) critrio de sangue, se confere a nacionalidade em funo do vnculo de sangue reputando-se os nacionais ou dependentes de nacionais; b) o critrio de origem territorial, pelo qual se atribui a nacionalidade a quem nasce no territrio do Estado de que se trata. Os modos de aquisio da nacionalidade secundria dependem da vontade: a) do indivduo; b) do Estado.

    99) O poliptrida e o heimatlos: poliptrida quem tem mais de uma nacionalidade, o que acontece quando sua situao de nascimento se vincula aos 2 critrios de determinao de nacionalidade primria; Heimatlos, consiste na situao da pessoa que, dada a circunstncia de nascimento, no se vincula a nenhum daqueles critrios, que lhe determinariam uma nacionalidade; geram um conflito de nacionalidade, que pode ser positivo ou negativo. O sistema constitucional brasileiro, oferece um mecanismo adequado para solucionar os conflitos de nacionalidade negativa em que se vejam envolvidos filhos de brasileiros (art. 12, I, b e c).

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    Resumo de Direito Constitucional 24

    DIREITO DE NACIONALIDADE BRASILEIRA

    100) Fonte constitucional do direito de nacionalidade: esto previstos no art. 12 da Constituio; s esse dispositivo diz quais so os brasileiros, distinguindo-se em 2 grupos, com conseqncias jurdicas relevantes: os brasileiros natos (art. 12, I), e os brasileiros naturalizados (art. 12, II).

    101) Os brasileiros natos: o art. 12, I, d os critrios e pressupostos para que algum seja considerado brasileiro nato, revelando 4 situaes definidoras de nacionalidade primria no Brasil, so elas: 1) os nascidos no Brasil, quer sejam filhos de pais brasileiros ou de pais estrangeiros, a no ser que estejam em servio oficial; 2) os nascidos no exterior, de pai ou me brasileiros, desde que qualquer deles esteja a servio do Brasil; 3) os nascidos no exterior, de pai ou me brasileiros, desde que venham a residir no Brasil antes da maioridade e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira; 4) os nascidos no exterior, registrados em repartio brasileira competente.

    102) Os brasileiros naturalizados: o art. 12, II, prev o processo de naturalizao, s reconhecendo a naturalizao expressa, aquela que depende de requerimento do naturalizando, e compreende 2 classes: a) ordinria: a concedida ao estrangeiro residente no pas, que preencha os requisitos previstos na lei de naturalizao, exigida aos originrios de pases de lngua portuguesa apenas residncia por um ano ininterrupto e idoneidade moral (art. 12, I, a); b) extraordinria: reconhecida aos estrangeiros, residente no Brasil h mais de 15 anos ininterruptos e sem condenao penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

    103) Condio jurdica do brasileiro nato: essa condio d algumas vantagens em relao ao naturalizado, como a possibilidade de exercer todos os direitos conferidos no ordenamento ptrio, observados os critrios para isso, mas tambm ficam sujeitos aos deveres impostos a todos; as distines so s aquelas consignadas na Constituio (art. 12, 2).

    104) Condio jurdica do brasileiro naturalizado: as limitaes aos brasileiros naturalizados so as previstas nos arts. 12, 3, 89, VII, 5, LI, 222.

    105) Perda de nacionalidade brasileira: perde a nacionalidade o brasileiro que: a) tiver cancelado sua naturalizao, por sentena judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; b) adquirir outra nacionalidade (art. 12, 4), salvo nos casos de reconhecimento de nacionalidade originria pela lei estrangeira; e imposio de naturalizao, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente no Estado estrangeiro, como condio para permanncia em seu territrio ou para exerccio de direitos civis (redao da ECR-3/94).

    106) Reaquisio da nacionalidade brasileira: salvo se o cancelamento for feito em ao rescisria, aquele que teve a naturalizao cancelada nunca poder recuperar a nacionalidade brasileira perdida; o que a perdeu por naturalizao voluntria poder readquiri-la ,por decreto do Presidente, se estiver domiciliado no Brasil (Lei 818/49, art. 36); cumpre-se notar que a reaquisio da nacionalidade opera a partir do decreto que a conceder, no tendo efeito retroativo, apenas recupera a condio que perdera.

    CONDIO JURDICA DO ESTRANGEIR