resumo direito e política - lêda boechat rodrigues
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Resumo da obra Direito e Política de Lêda BoechatTRANSCRIPT
RESUMO
DIREITO E POLÍTICAOs Direitos Humanos no Brasil e nos Estados Unidos
LÊDA BOECHAT RODRIGUES
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1 Sumário1OS GRUPOS DE PRESSÃO NO GOVERNO REPRESENTATIVO.....................................4
1.1AÇÃO DOS GRUPOS DE PRESSÃO..............................................................................4
1.2GRUPOS DE PRESSÃO NO BRASIL.............................................................................4
1.3INFLUÊNCIA DOS GRUPOS DE PRESSÃO.................................................................5
2FEDERALISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL.................................................5
2.1JUDICIAL REVIEW.........................................................................................................5
2.2SUPREMACIA DA SUPREMA CORTE..........................................................................6
2.3SUPREMACIA NACIONAL............................................................................................6
2.4LIBERDADES CIVIS.......................................................................................................6
2.5CLÁUSULA DE COMÉRCIO..........................................................................................6
2.6REDISTRIBUIÇÃO DE DISTRITOS ELEITORAIS.......................................................7
3A SUPREMA CORTE AMERICANA E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL..................7
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2 OS GRUPOS DE PRESSÃO NO GOVERNO REPRESENTATIVO
A autora começa o seu texto utilizando uma frase de Veblen, segundo a qual o governo
representativo significa, principalmente, a representação de interesses econômicos. O que a
autora parece pretender demonstrar em seu texto, é de que forma se processaria essa tal
representação. Para tanto, nesta fase introdutória do texto, preocupa-se em demonstrar em
diversos setores e nações a atuação, diga-se, pressão, de diversos grupos de interesses sobre o
executivo, legislativo e judiciário. De início, essa pressão era realizada através de lobby, que
consistia sobretudo na influência direta e recorria frequentemente ao suborno. Depois, com a
espantosa proliferação dos grupos de pressão, passou-se a dar ênfase à propaganda, ou à
criação de atitudes públicas favoráveis às pretensões de determinados grupos. Ou seja, em vez
de tentar influenciar diretamente a feitura das leis, procuram criar uma aparência de apoio
público às suas pretensões.
Os estudiosos dividem-se em duas correntes. Uma sustenta que os grupos de pressão,
ou melhor, a ação dos seus membros, suplementa a dos partidos políticos geograficamente
mal distribuído. Assim, os grupos de pressão promoveriam o interesse público e exerceriam
verdadeiro direito de petição. A outra corrente insiste nos grave inconvenientes da ação dos
grupos de pressão, a saber, a luta desenfreada de interesses particulares em detrimento do
interesse geral, o poder sem responsabilidades, a desunião dos membros da comunidade, etc.
2.1 AÇÃO DOS GRUPOS DE PRESSÃO
A principal característica desses grupos é a de procurar influir através de interpostas
pessoas, sem ocupar posições políticas de responsabilidade. Contudo, pode acontecer de um
grupo apenas interessado em vantagens econômicas decida posteriormente lançar-se de modo
aberto na luta política, para a conquista do poder.
A forma pela qual agem os grupos de pressão são as chamadas táticas de influência.
Incluem desde o contato pessoal direto dos agentes dos grupos interessados com os
representantes do governo, até as ações coletivas e as formas mais sutis de propaganda e
formação de uma opinião pública favorável às reivindicações dos grupos, ou as contribuições
para as campanhas eleitorais de candidatos sabidamente favoráveis a determinados interesses.
Pessoalmente, os representantes dos grupos procuram, antes de tudo, persuadir, prestar
informações técnicas ou confidenciais, fazer pequenos favores ou dar presentes que não
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compram consciências, mas predispõem favoravelmente os beneficiários. Em casos extremos,
podem recorrer à intimidação ou ao suborno.
Quando é mais indicada a ação coletiva, esta pode manifestar-se de diversos modos: a
avalancha de correspondência dirigida às autoridades, o comparecimento maciço dos
integrantes do grupo a determinado lugar, as greves, as obstruções do tráfego, o fechamento
das lojas comerciais durante algumas horas ou um dia, como protesto contra a decretação de
impostos, a cessação das entregas e a destruição de gêneros de primeira necessidade, visando
à elevação dos preços, etc.
A pressão pode ser também exercida a fim de favorecer nomeações para os cargos
governamentais importantes ou, em sentido contrário, a fim de forçar ou contribuir para a
demissão de altos funcionários, prefeitos e até Ministros de Estado.
Algumas técnicas de ação visam a traduzir a exasperação de diversas categorias
sociais que se julgam lesadas ou prejudicadas pelas decisões das autoridades. E, na maioria
dos casos, a principal vítima é o público.
2.2 GRUPOS DE PRESSÃO NO BRASIL
As ações expostas acima podem ser facilmente identificadas em diversos grupos do
Brasil, sobretudo os de interesses comerciais, industriais, grandes concessionárias de serviço
público, sindicatos, associações, profissionais, estudantis, femininas, etc.
A autora traz neste tópico alguns exemplos de sua época, como por exemplo o próprio
Exército, que sem dúvidas influenciou bastante na política; os estudantes, organizados em
União Nacional ou Estadual, ou, em outra época, utilização de lideranças através dos
Diretórios Estudantis; Federação de Progresso Feminino; Grupos econômicos, por exemplo o
da indústria de borracha, que aumentou o preço do pneu.
2.3 INFLUÊNCIA DOS GRUPOS DE PRESSÃO
Afirma a autora que é impossível medir o grau de influência real atingido em cada
caso. Em primeiro lugar, porque a complexidade das inter-relações psicossociais, econômicas
e políticas impede o estabelecimento de nexos causais; em segundo lugar, porque é
praticamente impossível determinar todos os fatores em jogo, para isolar, em estado puro, a
quantidade x de influência correspondente à ação de um ou mais grupos.
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Inobstante a impossibilidade de reduzir a uma expressão matemática o grau de
influência dos grupos, econômicos ou não, nada impede, evidentemente, que se reconheça que
ela de fato existe.
Assim, é possível reconhecer a influência dos grupos de pressão, sobretudo, na
economia. Quase todos querem uma ação positiva do Governo: subsídios à agricultura, à
indústria, às escolas privadas, auxílios, indenizações, prêmios, reembolso de despesas,
serviços, regulamentação favorável das tarifas, etc.
Dos estudos até agora realizados, afirma a autora, parece ressaltar a menor resistência
do Legislativo aos grupos de pressão e a maior capacidade do Executivo de superar a sua
influência e tornar-se o intérprete de todos, ou do interesse público.
Um ponto importante é como distinguir os interesses duradouros e os valores
permanente, em outras palavras, o interesse público, dos interesses dos grupos? Essa questão
daria margem a uma série de considerações que escapam aos limites deste trabalho, se bem
que não chegariam os estudiosos a nenhuma definição aceitável do conceito de interesse
público, e se esta questão teórica suscita ampla controvérsia, a ação prática em nome do
interesse público oferece margem às maiores divergências e perplexidades.
Em 1950, nos Estados Unidos, foi constituída uma Comissão Parlamentar para
investigar o lobby. O relatório foi bem interessante, dizia que “os custos das pressões
exercidas pelos grupos de interesses eram excessivamente altos em termo da promulgação de
dezenas de leis não equitativas e da rejeição, demora ou emasculação de medidas populares;
excessivamente altos em termos da disparidade das pressões exercidas pelos grupos no
processo político; excessivamente altos em termos do conflito ideológico e da confusão
pública resultantes de um crescente uso de uma opinião pública sobrecarregada como
instrumento de pressão; e excessivamente altos em termos de custo financeiro. E, finalmente,
que as presentes exigências dos grandes interesses totalizaram muito mais do que a nação
pode aguentar.”
Em última análise, o corretivo mais eficiente contra a influência excessiva
temporariamente exercida por determinados grupos ainda se encontra, nos países
democráticos, na maior coesão e disciplina partidárias, em eleições honestas, no mais amplo
sufrágio, no livre exercício das liberdades públicas e no livre uso dos modernos meios de
comunicação.
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3 FEDERALISMO NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL
Ao iniciar sua explanação, a autora atenta ao fato de que é muito difícil fazer um
estudo comparativo entre o Direito Constitucional americano e o brasileiro, isso porque
enquanto o brasileiro é estritamente teórico, o americano já pressupõe uma análise dos
julgados as Suprema Corte, que de certa forma é quase que estudar a história daquele país.
Autores, inclusive, afirmam que a Constituição americana é aquilo que os juízes da Suprema
Corte dizem que é, já que a interpretação da Constituição é feita de modo a interpretá-la às
necessidades do momento.
Pensamos, então, afirma a autora, que seria interessante tentar aplicar ao Brasil o
mesmo método de apresentação do direito constitucional americano, através de julgados do
STF, mostrando a evolução do nosso direito constitucional em face das situações concretas do
Brasil e da sua conjuntura social, política e econômica. Nessa perspectiva será mais fácil
acentuar os pontos em que a prática constitucional brasileira – aplicando principalmente a
Constituição de 1891, calcada na Constituição americana -, coincidiu com a prática
constitucional americana ou dela se afastou.
3.1 JUDICIAL REVIEW
Eis aqui a primeira e mais importante coincidência entre os dois sistemas: a judicial
review, ou controle jurisdicional da constitucionalidade das leis. Foi nos Estados Unidos a sua
criação através do caso Marbury v. Madison, julgado pelo juiz Marshall, em 1803.
Ali dizia Marshall: “A Constituição é a lei suprema, e a lei que a contraria é nula (...)
Tal teoria está essencialmente ligada a uma Constituição escrita e, consequentemente, deve
ser considerada por essa Corte como um dos princípios fundamentais da nossa sociedade.”
Também no mesmo caso que se firmou a doutrina das Questões Políticas, pela qual a
execução dos deveres discricionários por parte dos altos funcionários do Governo escapa à
apreciação judiciária.
No Brasil, o instituto foi sustentado pelo eminente jurista Rui Barbosa, baseado nas
funções atribuídas ao STF pela CF de 1891. Em 1937, pela primeira vez, a Constituição
impôs uma limitação política a atuação do Supremo Tribunal Federal de decidir sobre a
constitucionalidade das leis, embora essa hipótese não tenha chegado a se configurar. Em
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1946 finalmente foi explicitamente consagrado o instituto de forma mais semelhante como a
que se vê hoje.
3.2 SUPREMACIA DA SUPREMA CORTE
Os primeiros passos para afirmação da supremacia da Suprema Corte americana se
deu em 1816, onde em determinado caso se discutia a jurisdição recursal da Corte, afirmara o
seu poder de reformar as decisões dos tribunais estaduais e federais em questões de direito
constitucional. Essa posição foi reforçada mais tarde, em 1821, por Marshall.
No Brasil, a Constituição de 1891 estabelecia expressamente a competência recursal
do STF como última instância, e foi repetida pelas demais Constituições, acrescentando
alguns pontos.
3.3 SUPREMACIA NACIONAL
O próximo princípio afirmado por Marshall foi o da supremacia nacional. O primeiro
caso foi em 1819, havia um conflito entre a União e seus membros, se discutia o propósito de
uma lei federal que instituíra o segundo Bando dos Estados Unidos.
Com a morte de Marshall em 1835, a Suprema Corte passou a adotar um entendimento
de Federalismo dual, ou seja, reconhecendo a existência de dois governos independentes e
soberanos: o da União e dos Estados.
Somente sob a presidência de Chase (1864-1873) a Suprema Corte voltaria a dar
grande extensão ao poder nacional e condenaria maior número de leis estaduais do que
Marshall nos anos mais ativos.
No Brasil nunca houve a ideia do Federalismo dual, nossa Suprema Corte sempre se
manteve fiel à interpretação primeira de Marshall de que só existe uma soberania, a da União.
Defendendo o princípio da supremacia da União sobre os Estados, afirmou o Supremo
Tribunal solenemente, em acórdão de 1907, que “os Estados da União não são soberanos”.
Nos regimes federativos, disse ele, “a soberania reside exclusivamente na União: os Estados,
simples entidades autônomas, obrigados a respeitar em suas leis, quaisquer que elas sejam, os
princípios constitucionais da União, não podem, por isso mesmo, na reforma dessas leis,
rebelar-se contra as proibições que lhes são feitas na carta federal”.
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3.4 LIBERDADES CIVIS
Em 1883, a Suprema Corte impôs grande redução aos poderes do Congresso quando,
ao julgar os Civil Rights Cases, recusou estender a proteção desde às liberdades civis das
pessoas quando a violação partisse dos governos estaduais. Marca a decisão desses casos um
dos maiores retrocessos quanto à extensão do poder nacional.
Somente em 1963 a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou de maneira
categórica que a obrigação de das advogado ao réu miserável não era limitada ao governo
federal, mas se estendia também aos Estados. E a partir daí iniciou-se uma evolução na
jurisprudência americana.
No Brasil, o STF sempre afirmou a aplicação integral da Constituição Federal a todo o
território nacional, tratando todas as violações dos direitos individuais trazidas ao seu
conhecimento, seja na esfera federal, seja na esfera estadual, debaixo dos mesmos critérios e
como merecedoras, em princípio, do mesmo ampara e da mesma proteção.
3.5 CLÁUSULA DE COMÉRCIO
Outra fonte importante de jurisdição da Suprema Corte, que redunda em julgamentos
de interesse do ponto de vista do federalismo, é a cláusula de comércio. Em 1821, Marshall
afirmara, no caso Cohens vs. Virgínia, que “os poderes do Congresso eram competentes e
completos para toda a regulamentação comercial”. No entanto, sob uma nova presidência, a
Suprema Corte em diversos casos passou a adotar entendimento oposto. Por exemplo, em
1866 decidiu que estava fora do poder do Estado impedir tarifas discriminatórias no transporte
interestadual, ainda na ausência de legislação do Congresso.
Segundo a autora, em face das atuais condições, é hoje mais que em qualquer outra
época inteiramente impossível considerar os Estados compartimentos estanques: poucas
matérias deixam de atingir a nação como um todo.
Segundo a interpretação dada pela Suprema Corte à Lei Maior, a partir de 1937, não
existem obstáculos constitucionais à regulamentação da vida econômica. Por outro lado, uma
visão de conjunto do sistema federal, tal como opera agora, mostra-nos que, embora a
sociedade entre a União e os Estados possa algumas vezes parecer difícil, produziu, de fato,
resultados notáveis para a Nação como um todo.
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No Brasil, já em 1894 declarava o STF a inconstitucionalidade de lei de 1892 do
Estado da Bahia que criara, sob a denominação de imposta de estatística, verdadeiro imposto
de importação estadual sobre as mercadorias estrangeiras já tributadas pela União.
A partir de 1904, reiteradamente declarou o STF a nulidade de leis e decretos
estaduais, sobretudo nessa matérias das barreiras alfandegárias entre os Estados.
A Constituição de 1946, pondo fim a qualquer controvérsia, definiu o imposto de
exportação como aquele que recai sobre as mercadorias remetidas para o estrangeiro. A
Constituição de 1967 dá competência à União para decretar impostos sobre exportação para o
estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados.
De modo geral, também a concepção de Federalismo Cooperativo se expressa no
Brasil na criação de uma política federal para atender a determinados fins, nos diversos planos
de estradas de rodagens federais, universidades federais, planos de valorização das regiões
mais pobres do país e incentivos fiscais para o investimento no Norte e no Nordeste, planos de
erradicação de endemias, eletrificação, etc.
3.6 REDISTRIBUIÇÃO DE DISTRITOS ELEITORAIS
Importantíssima decisão do ponto de vista do federalismo foi tomada pela Suprema
Corte no caso Baker vs. Carr, julgado em 26 de março de 1962. Afirmou-se pela primeira vez,
e em total divergência com o entendimento anterior, que a distribuição de representantes nas
Assembleias Legislativas estaduais está sujeita ao escrutínio constitucional dos tribunais
federais.
Até então este assunto era considerado político e fora da jurisdição do Poder Judicial.
A suprema corte reconheceu nessa decisão histórica a ampla mudança sociológica operada no
país com o crescimento das áreas urbanas.
No Brasil, a afirmação de responsabilidade do Judiciário foi feita em 1964 pelo STF
no habeas corpus impetrado pelo Governador de Goiás. Deferiu a Corte o pedido preventivo
para não pudesse a justiça comum ou militar processar o paciente sem o prévio
pronunciamento da Assembleia Estadual. O ministro Gonçalves de Oliveira, então relator,
declarou que os juízes brasileiros não estavam dispostos a assistir de braços cruzados à
gradativa destruição dos direitos humanos. Assim, não pensou o Governo, que quatro dias
mais tarde decretou a intervenção federal em Goiás.
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4 A SUPREMA CORTE AMERICANA E O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
O presente capítulo mais parece uma repetição de tudo que já foi exposto até aqui. A
autora elenca diversos casos já trabalhados ao longo do texto, mais parece um texto avulso
que foi juntado a este, ou uma coletânea de textos.
Para estudar as Supremas Cortes, a autora faz um apanhado bem histórico, passando
por todos os marcos históricos dos Estados Unidos e também do Brasil.
Quanto aos Estados Unidos, cita o início do presidencialismo, a formação do
congresso, a composição da Suprema Corte, a passagem das presidências, e para tanto aborda,
sobretudo, o eminente Marshall que muito contribui para o direito constitucional. Sobre ele,
vale a pena observar uma passagem em que a autora diz que no período de 35 anos onde
esteve à frente da Suprema Corte, Marshall trabalhou para alcançar, em síntese, a afirmação
do papel da Suprema Corte como última intérprete da Constituição; a regra da interpretação
liberal dos poderes do governo nacional, ou teoria dos poderes implícitos do Congresso; o
entendimento segundo o qual o poder de regular o comércio com as nações estrangeiras, entre
os diversos Estados e com as tribos de índios é da competência exclusiva do Congresso
Nacional, constituindo maneira das mais efetivas de restringir os poderes dos Estados; e a
extensão da cláusula de obrigatoriedade dos contratos às concessões públicas feitas às
empresas privadas. Marshall também foi o primeiro a formular a doutrina das Questões
Políticas.
Outros acontecimentos também são trazidos pela autora nessa evolução histórica da
Suprema Corte Americana, como por exemplo o caso do Federalismo Dual, já visto
anteriormente; a cláusula de contrato; o princípio da supremacia, todos já analisados.
Os julgamentos da Suprema Corte durante as presidências de Marshall e Taney
deixavam patente aos olhos de todos que, como última intérprete da Constituição, ela era um
órgão eminentemente político, que exercia no conjunto do governo funções políticas além das
meramente judiciárias tradicionalmente atribuídas aos tribunais.
Influenciado por esta linha de pensamento, Pimenta Bueno, o maior constitucionalista
brasileiro antes da República, escreveu: “O poder judiciário, segundo o nosso direito público,
é um poder político distinto e independente, é, como os demais poderes, uma emanação da
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autoridade soberana da nação; (...) esse é também o princípio reconhecido pelo direito
constitucional da União Americana e da Inglaterra.”
“A independência da autoridade judiciária não foi instituída por amor dos juízes e sim
por considerações dos interesses sociais, por amor dos direitos individuais.”
Pimenta Bueno assumiu uma posição de defesa intransigente e absoluta dos direitos e
garantias individuais, que só encontrará igual na Suprema Corte dos Estados Unidos nos
juízes Hugo L. Black e William O. Douglas.
Outra questão importante na evolução histórica que a autora vem traçando é o
processo de integração racial, desde a declaração de cidadania dos ex-escravos até a
integração racial nas escolas públicas. Nesse sentido, a Suprema Corte atuou, por exemplo,
declarando a inconstitucionalidade da segregação racial nas escolas públicas.
Foi também com base na cláusula de igual proteção das leis, da 14ª emenda, que a
Suprema Corte tornou obrigatório, em 1963, dar-se advogado aos réus indigentes. Contudo, o
entendimento na época era de que a 14ª Emenda não era de observância geral, ou melhor, não
cabia à Suprema Corte decidir sobre a aplicação de direitos civis a todos os cidadãos. Assim,
por exemplo, negou a Suprema Corte a proteção da 14ª Emenda à primeira advogada do
Estado de Illinois que vira indeferido pelo tribunal superior estadual o seu pedido de inscrição
na Ordem dos Advogados local.
Enfim, era esse o Direito Constitucional americano, ou melhor, a interpretação
constitucional da Suprema Corte quando se proclamou em 1889 a República do Brasil.
Certamente esses pensamentos influenciaram bastante na elaboração da nossa primeira
constituição republicana, em 1891.
Rui Barbosa, autor da Constituição, copiou sem subserviência o texto da Constituição
de 1787, e inclui na Carta brasileira, alertado pela experiência norte americana, dispositivos
visando a impedir a intromissão indevida dos Poderes Executivo e Legislativo no Poder
Judiciário. Assim atribuiu expressamente aos juízes brasileiros o direito de declarar a
inconstitucionalidade das leis federais e estaduais e dos atos do Poder Executivo; determinou
a Constituição o número de juízes do Supremo Tribunal Federal e sua jurisdição; incluiu entre
as garantias constitucionais o habeas corpus, que fora introduzido no Brasil ainda no Império
pelo Código de Processo Criminal de 1832, e adotou outras modificações que seria longo
enumerar.
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São citados também outros casos já mencionados ao longo do texto, como a questão
do federalismo americano, a soberania igual entre Estados e União, e a posição da nossa corte.
Nos primeiros anos da República, enquanto os Estados brasileiros estavam entregues
aos desmandos de uma legislação antinacional e perturbadora do livre fluxo do comércio
interestadual, o Supremo Tribunal, apelando frequentemente para os precedentes da Suprema
Corte Americana, exerceu uma ação vigilante e corretiva, dando sua contribuição para que
não se agravassem ainda mais os problemas econômicos, já excepcionalmente graves, de todo
o país.
Um importante instituto que surgiu na doutrina brasileira foi o habeas corpus, que sem
dúvida serviu como instrumento para combate a várias injustiças. De 1899 a 1910, o STF
concede os primeiros habeas corpus para garantir o exercício de direitos políticos e de funções
legislativas, ainda sem conflito aberto com o Executivo, como acontecerá de 1910 em diante.
Nesse ponto vários casos são citados pela autora.
A Reforma Constitucional de 1926, impulsionada e dirigida pelo então Presidente
Artur Bernardes, impossibilitou a continuação dessa jurisprudência expansionista do habeas
corpus, ao determinar, taxativamente, que ele só protegesse o direito de locomoção. O juiz
pode interpretar a lei de modo lato, mas não pode julgar contra o seu texto expresso.
Em 1934, então, a Constituição trouxe o mandado de segurança como complemento
do habeas corpus, restringindo este aos limites da doutrina anglo-americana considerada até aí
dominante, ou seja, à proteção pura e simples do direito de locomoção. Alguns casos são
expostos pela autora com uma riqueza dos detalhes, mas que no fim servem para demonstrar a
importância e evolução histórica do mandado de segurança.
Passagem importante também diz respeito à EC 01/69, que outorgou ao STF a
faculdade de indicar, no seu Regimento Interno, atendendo à natureza, espécie ou valor
pecuniário das causas decididas em única ou última instância por outros tribunais, quais
recursos extraordinários ele julgará.
Em 1975, o STF aprovou a Emenda Regimental nº 3 que determina,
pormenorizadamente, como se processará, por instrumento, a arguição de relevância da
questão federal.
Já em vias de conclusão, a autora afirma que a função da Suprema Corte ou do
Supremo Tribunal terá de ser sempre a mesma para justificar a fé de Madison de que os
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tribunais de justiça independentes se considerarão, automaticamente, os guardas dos direitos
constitucionais.
Agora sim, finalizando, a autora transcreve uma fala de Rui Barbosa ao tomar posse
como Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros em 1914: “o STF (...) é a instituição
equilibradora, por excelência, do regime, a que mantém a ordem jurídica nas relações entre a
União e os seus membros, entre os direitos individuais e os direitos do poder, entre os poderes
constitucionais uns com os outros; sendo esse o papel incomparável dessa instituição, a sua
influência estabilizadora e reguladora influi, de um modo nem sempre visível, mas constante,
profundo, universal na vida inteira do sistema. Nem ela sem ele, nem ele sem ela poderiam
subsistir um momento”.