resumo - 10º ano - mobilismo geológico

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  Numa altura em que as teorias fixistas (1) eram ainda aceites, alguns cientistas tentaram apresentar ideias que viriam revolucionar o pensamento científico e em especial a Geologia. Até ao inicio do século XX, era da opinião geral que os continentes, massas terrestres que se encontram acima do nível dos oceanos, ocupavam as posições que sempre tiveram ao longo da História da Terra. Esta ideia era uma concepção fixista, basicamente afirmava-se que as coisas são como sempre foram. De facto a ideia de os continentes se movimentarem nunca tinha surgido na cabeça de ninguém, pois simplesmente nunca ninguém se apercebeu que estes se movimentassem. Durante a segunda década do século XX um cientista ousou contrariar este pensamento e afirmou que os continentes não só se deslocam uns em relação aos outros, como também afirmava que em tempos todas as massas terrestres estiveram já unidas. Esse cientista foi Alfred Wegener (1880-1930), um meteorologista alemão, o criador da Teoria da Deriva Continental. Esta teoria ia totalmente contra as teorias fixistas, pois afirmava que todos os continentes foram mudando de posições ao longo da História da Terra, um processo que deverá ter sido muito lento e gradual, desta forma a Deriva Continental é uma teoria gradualista uniformitarista. Toda esta nova teoria surgiu de uma simples observação, a de que haviam continentes que apresentavam formas complementares, isto é, parecem encaixar uns nos outros, quais peças de puzzle. De facto um simples observação de um mapa permite verificar que, por exemplo, a América do Sul e África parecem encaixar perfeitamente. (1)  Teorias fixistas  doutrina de pensamento aceite no século XVIII que defendia a imutabilidade das coisas na Natureza, “todo é como sempre foi”, isto é, as coisas são fixas. Biologia e Geologia 10º Ano Resumo Mobilismo Geológico Figura 1 - Alfred Wegener

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Numa altura em que as teorias fixistas(1) eram ainda aceites, alguns cientistas tentaram

apresentar ideias que viriam revolucionar o pensamento científico e em especial a Geologia.

Até ao inicio do século XX, era da opinião geral que os continentes, massas terrestres

que se encontram acima do nível dos oceanos, ocupavam as posições que sempre tiveram ao

longo da História da Terra. Esta ideia era uma concepção fixista, basicamente afirmava-se que

as coisas são como sempre foram.

De facto a ideia de os continentes se movimentarem nunca tinha surgido na cabeça de

ninguém, pois simplesmente nunca ninguém se apercebeu que estes se movimentassem.

Durante a segunda década do século XX um cientista ousou contrariar este

pensamento e afirmou que os continentes não só se deslocam uns em relação aos outros,

como também afirmava que em tempos todas as massas terrestres

estiveram já unidas.

Esse cientista foi Alfred Wegener (1880-1930), um

meteorologista alemão, o criador da Teoria da Deriva Continental.

Esta teoria ia totalmente contra as teorias fixistas, pois afirmava

que todos os continentes foram mudando de posições ao longo da

História da Terra, um processo que deverá ter sido muito lento e

gradual, desta forma a Deriva Continental é uma teoria gradualista

uniformitarista.

Toda esta nova teoria surgiu de uma simples observação, a

de que haviam continentes que apresentavam formas complementares, isto é, parecem

encaixar uns nos outros, quais peças de puzzle. De facto um simples observação de um mapa

permite verificar que, por exemplo, a América do Sul e África parecem encaixar perfeitamente.

(1)  – Teorias fixistas  – doutrina de pensamento aceite no século XVIII que defendia a imutabilidade das coisas na Natureza,

“todo é como sempre foi”, isto é, as coisas são fixas. 

Biologia e Geologia

10º Ano

Resumo

Mobilismo Geológico

Figura 1 - Alfred Wegener

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 Figura 2 - Representação do Supercontinente Pangeia, pode verificar-se que a América do Sul e África encaixamna perfeição. 

Segundo Wegener as massas continentais apresentam uma baixa densidade, e que por

esse motivo flutuam sobre as massas oceânicas de

densidade superior. Ao flutuarem os continentes

deslocam-se uns em relação aos outros. Assim

Wegener acreditava que os continentes já

estiveram, em tempos, todos unidos numa só

massa continental ao qual ele deu o nome dePangeia (um supercontinente). Este

supercontinente, que terá existido à 200 Milhões

de Anos, era rodeado por um único oceano que de

denominou de Pantalassa, mais tarde a Pangeia

ter-se-á fragmentado em porções mais pequenas

que se afastaram umas das outras, dando origem

aos actuais continentes.

Quando pediram a Wegener que

apresenta-se provas que sustentassem a sua

Teoria da Deriva Continental, este apresentou

quatro argumentos:

  Argumentos morfológicos;

  Argumentos geológicos;

  Argumentos paleontológicos;

  Argumentos paleoclimáticos.

Figura 3 - Deriva Continental, desde a Pangeia até ao presente.

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Argumentos morfológicos  – a primeira evidência da Deriva Continental era a própria

morfologia dos continentes, não poderia ser apenas coincidência o facto de tantos continentes

pareceram encaixar uns nos outros, isso só se poderia justificar se os continentes se tivessem

formado de uma massa continental única que se fragmentou.

Argumentos geológicos  – além do facto de alguns continentes encaixarem uns nos

outros, nas zonas de encaixe entre dois continentes encontraram-se rochas do mesmo tipo e

com a mesma idades, tal situação só se explica se no momento em que essas rochas se

formaram, os continentes estivessem unidos,

separando-se mais tardes as rochas no momento

em que os continentes se separaram.

Argumentos paleoclimáticos  – a

descoberta de fósseis de seres vivos tropicais

(adaptados a regiões climáticas quentes) em

regiões actualmente geladas como por exemplo a

Gronelândia, parecem indicar que estas massas

continentais tenham ocupado zonas diferentes do

Planeta no passado.

Argumentos paleontológicos  – estes

acabaram por ser dos argumentos mais fortes, ao

longo dos tempos foram descobertos muitos

fósseis, alguns destes são autênticos paradoxos.

Tomemos como exemplo as espécies de trilobites de água doce que tanto foram descobertas

na Europa como nos Estados Unidos. Isto representa um problema, pois estando hoje estes

continentes separados pelo Oceano Atlântico, isso impediria as trilobites de circular entre

estes dois locais. Assim a única explicação plausível da existência da mesma espécie de seres

vivos em dois locais separados por um oceano (e dado que estes não o poderiam atravessar)

será a de que estes continentes já estiveram unidos em tempos.

Tal como estas trilobites, muitos outros fósseis vieram provar a ideia da deriva

continental.

Figura 4 - Continuidade geológica das rochas nosimites da possível união entre a América do Sul efrica.

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Figura 5 - A distribuição de fósseis da mesma espécie em diferentes continentes, permitiu recriar a forma comoesses continentes estiveram já unidos.

Estes argumentos pareciam validar a ideia de que em tempos os continentes estiveram

 já unidos, no entanto uma das principais questões continuava por responder… 

“Que força seria capaz de deslocar massas tão grandiosas como continentes?” 

Ora para esta questão Wegener não tinha resposta e como tal as suas ideias foram

desacreditadas e após a morte deste cientista em 1930 a Teoria da Deriva Continental foi

abandonada, mas não esquecida.

Seria uma nova tecnologia desenvolvida durante a Segunda Guerra Mundial para

detectar submarinos que viria a dar um novo empurrão a Teoria da Deriva Continental.

Os sonares foram usados para detectar submarinos de guerra e inadvertidamente

acabaram também por fazer um levantamento topográfico do fundo oceânico.

Até a década de 50 do século XX, suponha-se que o fundo do oceano era liso e sem

grandes irregularidades, no entanto os sonares vieram provar que o fundo oceânico é muito

irregular, com zonas planas, grandes depressões e cadeias montanhosas que rasgam todo o

planeta por milhares de quilómetros.

Os cientistas depararam-se

então como uma nova imagem da

litosfera (constituída pela crusta e

manto superior) em que esta parecia se

encontrar fragmentada em placas. A

cada uma dessas placas deu-se o nome

de placas litosféricas ou tectónicas.

Figura 6 - Placas litosféricas.

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Quando os geólogos analisaram as placas verificaram que os limites destas coincidiam

ou com as zonas mais profundas ou com as zonas mais elevadas. Verificaram ainda que ao

nível das zonas mais elevadas as placas se afastam umas das outras, e que ao nível das zonas

de depressão as placas chocam umas com as outras. Há ainda zonas onde as placas nem se

aproximam, nem se afastam, mas antes deslizam umas pelas outras.

Assim definiram-se três tipos de limites entre as placas:

  Limites convergentes

  Limites divergentes

  Limites conservativos

Limites convergentes  – ao nível destes limites as placas deslocam-se umas contra as

outras, isto é, colidem. No caso da colisão ser entre uma placa oceânica e uma placa

continental, uma vez que a placa oceânica é mais densa, esta vai “mergulhar” sob a placa

oceânica. Tal situação dá origem às zonas mais

profundas dos fundos oceânicos, as fossas, sendo

também conhecidas como zonas de subducção.

Quando se verifica esta situação, ao nível da placa

continental formam-se cadeias montanhosas

pontuadas por vulcões (arco vulcânico). No casoda colisão ser entre placas oceânicas, embora

ambas tenham a mesma densidade, ocorre

também o fenómeno de subducção, levando à

origem de fossas, sendo que na placa oceânica

que fica por cima ocorre a formação de ilhas

vulcânicas (ilhas em arco).

Ao nível dos limites convergentes pode

ainda surgir outra situação, a colisão de duas

placas continentais, nesta situação ocorre a

formação de grandes cadeias montanhosas como é

o caso dos Himalaias, dos Alpes Suíços e dos

Pirenéus.

Como consequência do choque das placas

dá-se a destruição de placa, sendo que a placa que Figura 7 - Tipos de colisão em limitesconvergentes.

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se destrui é a que “mergulha”, pois à medida que a placa penetra no manto ocorre a fusão da

placa.

Limites divergentes  – neste tipo de limites as placas tectónicas afastam-se umas das

outras, esse fenómeno leva a que se forme uma fenda entre as placas que rapidamente é

ocupada por magma proveniente do interior da Terra. Assim ao nível dos limites divergentes é

muito comum um fenómeno de vulcanismo denominado de vulcanismo fissural. Como

resultado ocorrem elevações em ambas as bordas das placas formando as cristas oceânicas, à

fissura por onde o magma irrompe e que divide as cristas ao meio dá-se o nome de Rift.

Inicialmente julgava-se que as placas se afastavam pela força que o magma exercia nas bordas

das placas, no entanto, hoje em dia pensa-se que o processo de subducção puxe as placas e

seja responsável pela movimentação das placas.

Estes limites são também conhecidos por limites construtivos, pois à medida que o

magma vai saindo pelo Rift arrefece e forma nova placa litosférica.

Figura 8 - Zona de rift.

Limites conservativos   – tal como o próprio nome indica, nestes limites não há

destruição nem criação de placa, aqui as placas apresentam uma movimentação horizontal

umas em relação às outras. As placas deslizam umas pelas outras, ocorrendo ao nível dos

limites destas placas fenómenos que transformam as rochas em novas rochas, pelo que estes

limites são também conhecidos como limites transformantes. Os sismos são uma constante

nestes locais.

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Figura 9 - Fundos oceânicos.

Uma das principais observações que permitiu verificar que ao nível dos rifts ocorre

formação de novo fundo oceânico é o registo magnético das rochas. A quando da solidificação

dos materiais do magma (processo que leva à formação das rochas magmáticas) os minerais

orientam-se de acordo com o magnetismo do momento, isto é, qualquer rocha magmática que

se forme nos dias de hoje tem os minerais orientados de acordo com o campo magnético

actual (Norte-Sul). Sabe-se

que ao longo dos tempos ocampo magnético da Terra

tem-se modificado, na

realidade as reversões do

campo magnético (inversão

do Norte e do Sul) ocorrem

em média a cada 250.000

anos. Assim as rochas que se

formaram no passado

podem apresentar os

minerais orientados de

maneiras diferentes, de

acordo com o campo magnético da altura. Tal facto verifica-se de facto ao nível dos rifts onde

podemos verificar que há medida que nos afastamos da linha de rift as rochas apresentam

orientações dos minerais diferentes, tal observação é feita em ambos os lados dos rifts. Estes

dados mostram que ao nível do rift ocorre formação de placa litosférica, num processo lento e

gradual que tem vindo a ocorrer ao longo de milhões de anos. Mostra também que o processo

Figura 10 - Magnetismo registado nas rochas.

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ocorre de forma simétrica ao nível dos rifts que formam os limites das placas, mas também o

plano de simetria.

No entanto umas das principais questões explicativas de todo este processo

continuava por explicar… “Que força é capaz de fazer mover um continente?” 

Essa questão seria mais tarde respondida a partir do estudo do estudo da propagação

das ondas sísmicas no interior da Terra. O conhecimento de que a Terra será constituída por

diversas camadas que se encontram em estados físicos e temperaturas diferentes a medida

que a profundidade aumenta, veio mostrar que no interior da Terra ocorrem fenómenos de

convecção causados pela diferença entre material quente e material frio.

A entrada de material frio (placa litosférica) proveniente da superfície ao nível das

zonas de subducção faz com que este material se afunde no manto. À medida que a placa

mergulha em profundidade, vai aquecendo até ao ponto de fusão transformando-se em

material quente (magma). Este por sua vez por ser mais quente, logo menos denso, sobe em

direcção à litosfera onde, ao sair, solidifica dando origem a nova placa litosférica, que mais

tarde voltara a afundar nas zonas de subducção.

Este movimento continuo de material quente e frio cria as chamadas correntes de

convecção que em última análise levam à movimentação das placas tectónicas.

Figura 11 - Correntes de convecção.