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PODER JUDICIÁRIOJUSTIÇA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 15ª REGIÃO
1ª VARA DO TRABALHO DE RIBEIRÃO PRETO
C O N C L U S Ã O
PROC. 0000655-30.2014.5.15.0004
S E N T E N Ç A
RECLAMANTE: DIEGO RODRIGUES DA SILVARECLAMADA: RODONAVES – TRANSPORTES E ENCOMENDASLTDA.
Vistos, etc.
DIEGO RODRIGUES DA SILVA ajuizou a presente demanda
em face de RODONAVES – TRANSPORTES E ENCOMENDAS LTDA.,
aduzindo em síntese: que laborou em sobrejornada, que não usufruiu
regularmente, que acumulava função, dentre outros. Pelas razões arrolou
pedidos de fl.11. Juntou documentos. Atribuiu à causa o valor de R$
70.000,00.
Frustrada a tentativa conciliatória. Na audiência inicial
realizada às fls.24/25, a Reclamada apresentou contestação com
documentos. Foi determinada a realização de perícia.
Laudo do Assistente Técnico da Reclamada, fls.172/175.
Laudo do Perito do Juízo, fls. 189/200.
Réplica, fls.206/214.
Manifestação da Reclamada quanto ao laudo, fl.235, vº.
Audiência de instrução, fls.236/237, foram ouvidas as partes
e duas testemunhas.
Razões finais remissivas.
Conciliação final rejeitada.
É o relatório.
DECIDE-SE
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ACÚMULO DE FUNÇÃO
Alegou o Reclamante que, além de eletricista, também
atuava como motorista e auxiliar de mecânico.
A testemunha do Reclamante informou que já presenciou o
Reclamante dirigindo veículo e não houve prova quanto às tarefas de
auxílio ao mecânico.
O fato do Reclamante dirigir veículo até o local em que
deveria fazer manutenção elétrica ou de eventualmente auxiliar o
mecânico, como, por exemplo, ajudando a carregar um peça pesada,
conforme mencionado à fl.236, não gera, por si só, direito ao pagamento
do acúmulo de função.
Não existe amparo legal para acréscimo de salário pelo
exercício, dentro de uma mesma jornada e para o mesmo empregador,
de funções mais amplas que as eventualmente previstas pelo contrato de
trabalho.
Ainda, não há norma coletiva prevendo referido acúmulo,
única hipótese a autorizar o pagamento a esse título.
Improcedente o pedido acúmulo/desvio de função e reflexos
e alteração de função em CTPS.
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE e PERICULOSIDADE
O laudo pericial de fls.189/200 afastou o direito ao
recebimento do adicional de insalubridade e concluiu serem perigosas as
atividades do Reclamante, por trabalhar próximo a área onde situavam
os tanques e bombas de gasolina.
A Reclamada na petição de fls.235, verso, concordou com o
laudo pericial.
Condena-se a Reclamada ao pagamento do adicional de
periculosidade (30% sobre o salário base), nos termos do artigo 193 da
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CLT, com reflexos em férias mais 1/3, 13º salário e FGTS (a ser
depositado em conta vinculada diante do pedido de demissão).
Honorários periciais, a cargo da Reclamada, arbitrado em R$
1.150,00, por força do art. 790 – B da CLT, já abatidos os honorários
prévios de fl.169.
DESCONTOS ILEGAIS/VERBAS RESCISÓRIAS
Narrou o Autor que sofreu desconto de R$ 2.487,88 quando
da rescisão, fl.09.
A Reclamada menciona que o Reclamante pediu demissão e
o desconto refere-se ao aviso prévio.
Conforme TRCT, fl.15, verifica-se que a Reclamada
descontou R$ 1.941,86 a título de aviso prévio, sendo a remuneração do
autor de R$ 1.377,99, pelo que devida restituição de R$ 563,87.
Ainda, a defesa não apresentou qualquer justificativa para o
desconto de R$ 159,27, constante do campo “outros descontos (não
especificados)”, pelo que também devida a devolução.
Quanto aos demais descontos, os mesmos são regulares.
Acrescente-se que no cartão de fl.105 há menção de atrasos e faltas
referente ao último mês de trabalho.
Devida a devolução de R$ 723,14 (R$ 563,87 + R$ 159,27).
Por fim, não pode o Reclamante inovar em réplica pleiteando
férias, fl.228, uma vez que em inicial limitou-se a pedir a restituição dos
descontos indevidos, fl.09.
MULTA DO ART. 477 DA CLT
Improcedente a multa do art. 477, da CLT, diante da
inexistência de valores rescisórios strictu sensu pagos com atraso.
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FGTS
O extrato de fl. 160 demonstra a ausência de depósitos do
FGTS em inúmeros meses, como por exemplo, março/13.
A Reclamada deverá regularizar os depósitos do FGTS, nos
termos do artigo 22 da Lei 8036/90, sob pena de responder pelo importe
equivalente, a ser depositado em conta vinculada.
Os valores já depositados na conta vinculada do Reclamante
deverão ser deduzidos para se evitar enriquecimento sem causa.
INTERVALO INTRAJORNADA
Afirmou o Autor que laborava em jornada das 22h00 às
07h30, com 01h00 de intervalo, sendo que 03/04 vezes por semana
estendia a jornada até 09h30, com 30 minutos de intervalo, fl.07.
A Reclamada informou que havia acordo de compensação
de horas com ausência de trabalho aos sábados e que os cartões de
ponto registram exatamente os horários em que o Reclamante se ativou,
fls. 47/48.
A testemunha do Reclamante confirmou que anotava
corretamente os cartões, tanto no horário de entrada, saída e intervalo,
pelo que válidos.
Verifica-se que não houve fruição integral do intervalo em
diversos dias, dias 20.01.12, 23.01.12, 30.01.12, fl.91, sendo que não
consta do holerite o pagamento respectivo, fl.122.
Cumpre ao juízo esclarecer posicionamento pessoal
relativamente a não concessão de regular intervalo para repouso e
alimentação em oposição ao previsto na OJ 354 da SDI I do TST.
A norma legal que determina a concessão de intervalo
intercalar é de ordem pública, e objetiva proporcionar ao trabalhador,
tempo para recomposição física e psicológica. A supressão destes
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intervalos conduz a um esgotamento físico do laborioso, motivo pelo qual,
procurou o legislador impor ao empregador que desrespeita a norma, uma
sanção, obrigando-o a indenizar o obreiro, pelo prejuízo causado. Assim,
o acréscimo de 50% sobre o valor da hora normal a que alude o artigo 71,
§ 4º, da CLT, introduzido pela Lei n.º 8.932/94, não equivale à
condenação em horas extras, pois não tem como finalidade remunerar a
sobrejornada. Trata-se, na verdade, de uma indenização que se destina a
compensar o empregado pela supressão de seu descanso intercalar, não
possuindo caráter retributivo de prestação de serviços.
Considerando que a finalidade da norma, qual seja a de
alimentação e repouso, não é atingida se o intervalo não for gozado em
sua integralidade, defere-se o pagamento de 00h60 min diários,
acrescidos do adicional de 50%, sempre que houver labor acima de 6
horas diárias e não houver a concessão de regular do intervalo
intrajornada nos termos do art.71 da CLT, observando os cartões de
ponto, evolução salarial e o disposto na Súmula 437, I, do TST.
Por não ter caráter salarial, não se há de falar em reflexos
em outras verbas.
HORAS EXTRAS
Conforme fundamentação acima, os cartões foram
considerados válidos.
À fl. 74 consta o acordo de compensação de horas, com
jornada de segunda a sexta-feira, das 22h00 às 06h33, com 01h00 para
refeições e descanso, contudo, verifica-se que o Reclamante laborou em
vários dias por mais de 08h40, o que descaracteriza o acordo de
compensação nos termos da Súmula 85, IV, do TST: “A prestação de
horas extras habituais descaracteriza o acordo de compensação de
jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada semanal
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normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas
destinadas à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional
por trabalho extraordinário”.
As horas extras foram apuradas considerando o acordo de
compensação, conforme fl.91, contudo, o mesmo foi considerado nulo,
pelo que existente diferenças.
O cálculo das horas suplementares observará: a) o disposto
na Súmula 85, IV, do TST, pelo que as horas que ultrapassarem a
jornada semanal normal de 44h00 serão pagas como horas
extraordinárias e, quanto àquelas destinadas à compensação, deverá ser
pago a mais apenas o adicional por trabalho extraordinário; c) a jornada
anotada nos cartões de ponto; d) evolução salarial; e) globalidade salarial
(incluindo o adicional de periculosidade ora deferido); f) divisor 220; g)
adicional convencional, observando a vigência das normas coletivas, e
na ausência, adicional legal de 50%; h) fechamento dos cartões todo o
dia 20 (fl. 48); i) dedução dos valores pagos a mesmo título nos
recibos de pagamento juntados aos autos na fase de conhecimento
Por habituais, devidos os reflexos das horas extras, no 13º
salário (S. 45 do TST), férias mais 1/3 (art. 142, § 5º da CLT), FGTS (S.
63 do TST), a ser depositado em conta vinculada, e descanso semanal
remunerado. Os descansos semanais remunerados assim enriquecidos
não produzirão novos reflexos para que se evite a duplicidade de
repercussões.
IMPUGNAÇÃO À GRATUIDADE PROCESSUAL – fl. 57
A Reclamada impugnou o pedido de assistência
judiciária gratuita sob o fundamento do Autor não preencher os
requisitos legais para tanto.
Nos termos da OJ nº 304, da SBDI I do TST, basta a
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simples afirmação do Reclamante ou de seu advogado, na petição
inicial, para considerar configurada a sua situação econômica.
Defere-se o requerimento da gratuidade processual, com a
isenção das custas e emolumentos, ante a demonstrada insuficiência de
recursos, fl.14, e o dever do Estado de prestar a assistência judiciária
integral e gratuita, nos termos do art. 790, parágrafo terceiro da CLT, art.
5º, LXXIV da CRFB/88 e da Lei 1060/50.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Indevidos os honorários advocatícios, vez que ausentes os
requisitos preconizados pela Lei n° 5.584/70, única hipótese legal que
autoriza o deferimento dos honorários pleiteados na Justiça do Trabalho,
conforme Súmulas 219 e 329 do C. TST.
DISPOSITIVO
Pelo exposto, o Juízo da 1ª Vara do Trabalho de RIBEIRÃO
PRETO decide, com base nos elementos constantes dos autos e nos
termos da fundamentação, julgar PARCIALMENTE PROCEDENTE o rol
de pedidos formulados na reclamação trabalhista ajuizada por DIEGO
RODRIGUES DA SILVA em face de RODONAVES – TRANSPORTES E
ENCOMENDAS LTDA., a fim de condenar a Reclamada ao pagamento
de:
1. adicional de periculosidade (30% sobre o salário base), nos termos do
artigo 193 da CLT, com reflexos em férias mais 1/3, 13º salário e
FGTS (a ser depositado em conta vinculada diante do pedido de
demissão);
2. R$ 723,14 descontados indevidamente;
3. 00h60 min diários, acrescidos do adicional de 50%, sempre que
houver labor acima de 6 horas diárias e não houver a concessão de
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regular do intervalo intrajornada, nos termos do art.71 da CLT;
4. horas extras, nos termos da fundamentação;
5. reflexos das horas extras em 13º salário, férias mais 1/3, FGTS e
descanso semanal remunerado.
- PROVIDÊNCIAS FINAIS
Defere-se a gratuidade processual ao Reclamante.
Honorários periciais, a cargo da Reclamada, ora arbitrados
em R$ 1.150,00.
- PROVIDÊNCIAS FINAIS
Liquidação por cálculos observando-se as épocas próprias e
a variação salarial, acrescidas de correção monetária a ser calculada
desde o momento em que o cumprimento da obrigação tornou-se
exigível, conforme Súmulas 200 e 381 do C. TST (no que couber),
autorizadas as retenções legais nos termos dos Provimentos 1/96 e 3/05
da E. Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho.
Os juros de 1% ao mês incidirão desde o ajuizamento da
ação, conforme art. 883 da CLT e art. 39, § 1º da Lei nº 8.177/91.
Observe-se, ainda, o disposto na OJ 400 da SDI I do TST.
Recolhimentos previdenciários e fiscais nos termos da S.368
do TST e da MP 497/2010, convertida na Lei 12.350/10, com
procedimentos delimitados na Instrução Normativa RFB nº 1.127, de 07
de fevereiro de 2011.
Em atenção ao disposto no art. 832, § 3º da CLT, para fins
de recolhimentos previdenciários, dos pedidos deferidos na presente têm
natureza salarial as seguintes verbas: adicional de insalubridade e
reflexos em 13º salário; horas extras e reflexos em 13º salário.
Custas pela Reclamada, calculadas sobre o valor arbitrado à
condenação de R$ 10.000,00, no importe de R$ 200,00.
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Cientes as partes nos termos da Súmula 197 do C. TST.
Ribeirão Preto, 13 de março de 2015.
ANDREA M. PFRIMER FALCÃO
Juíza do Trabalho Substituta
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